desenvolvimento propagado: os anúncios governamentais
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desenvolvimento propagado: os anúncios governamentais
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR Giliane Perin DESENVOLVIMENTO PROPAGADO: OS ANÚNCIOS GOVERNAMENTAIS VEICULADOS NO JORNAL TRIBUNA POPULAR VILHENA/RO 2011 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR Giliane Perin DESENVOLVIMENTO PROPAGADO: OS ANÚNCIOS GOVERNAMENTAIS VEICULADOS NO JORNAL TRIBUNA POPULAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal de Rondônia/Unir, sob a orientação da Professora Elizabeth Kimie Kitamura, como parte da avaliação para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. VILHENA/RO 2011 3 Giliane Perin DESENVOLVIMENTO PROPAGADO: OS ANÚNCIOS GOVERNAMENTAIS VEICULADOS NO JORNAL TRIBUNA POPULAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal de Rondônia/Unir, sob a orientação da Professora Elizabeth Kimie Kitamura, como parte da avaliação para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. Data: ______________________________________________________________________ Resultado: __________________________________________________________________ BANCA EXAMINADORA Prof. ______________________________________________________________________ Assinatura __________________________________________________________________ Prof. ______________________________________________________________________ Assinatura _________________________________________________________________ Prof. ______________________________________________________________________ Assinatura _________________________________________________________________ 4 Aos meus pais Adair Antônio Perin e Leane Perin, que possibilitaram e incentivaram o meu ingresso nos estudos, desde o jardim de infância no SESI, passando pelo pré-escolar, ensino médio na Escola Concórdia, até chegar ao curso de Comunicação Social/Jornalismo na Universidade Federal de Rondônia. Este trabalho é o símbolo da dedicação de vocês à minha educação. O diploma que receberei pertence mais a vocês do que propriamente a mim. 5 AGRADECIMENTOS À minha família, em especial aos meus pais. À minha mãe, pelo apoio incondicional, pelas longas conversas e pelos mínimos detalhes. Ao meu pai, por sua determinação, garra e coragem de fundar um jornal no interior da região amazônica. A sua coragem me motivou a seguir o seu caminho e a registrar a sua história. Ao meu querido Tainá. Mesmo que se por ventura, algum dia, o destino nos separe, você foi essencial para o meu êxito. Você foi o remédio para as minhas dores de cabeça e o calmante para os meus estresses. Você me aguentou em um momento da minha vida em que eu mesma não me suportava. À minha orientadora, Elizabeth Kimie Kitamura. Você me deu um novo ânimo e me fez chegar até aqui. Os puxões de orelha e a destreza com que me fazia enxergar além dos horizontes foram fundamentais para a realização deste trabalho. Agradeço em especial a minha amiga Patrícia Klein, que me acompanha desde o primeiro ano do ensino fundamental, passando pela graduação, me seguindo ao longo da vida. E aos meus amigos Sandro Melo, Ellen de Souza e Dhiony e Costa e Silva. Vocês fizeram Vilhena valer a pena. Agradeço também aos colegas e demais pessoas que estiveram sempre ao meu lado. As mais singelas palavras de apoio me fortaleciam a cada momento e foram fundamentais. 6 “Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte”. Gabriel Garcia Marquez 7 8 RESUMO O presente trabalho analisa 12 propagandas governamentais veiculadas pelo Governo Federal e Estadual no Jornal Tribuna Popular, da cidade de Cacoal, estado de Rondônia. Esta pesquisa pretende analisar o ideal desenvolvimentista propagado pelos governos e a experiência vivida pelos migrantes no início da década de 1980, com a aplicação da metodologia da análise de conteúdo destas propagandas institucionais. Neste exercício, foi possível perceber a intenção do Governo Militar em integrar política e economicamente a Amazônia Ocidental aos principais centros do país. Através da pesquisa bibliográfica foi possível conhecer parte da realidade vivida pelo colono que veio à Rondônia atraído, principalmente, pela propaganda governamental. Neste sentido, este trabalho pretende analisar os anúncios governamentais veiculados pelo Tribuna Popular no período entre 1980 e 1984 e as influências destes ideais propagados nas frentes de expansão no estado de Rondônia. PALAVRAS-CHAVE: Amazônia Governamental. Jornal Tribuna Popular. Ocidental. Rondônia. Migração. Propaganda 9 ABSTRACT This research analyzes 12 advertising of the Federal and State Government in the Jornal Tribuna Popular, from Cacoal City, Rondônia State. This research intends to analyze the developmental ideal diffused by the governments and experienced in the life by the migrants in the beginning of 1980’s, with the application of the methodology of content analysis of the institutional advertising. In this work it was possible to notice the Military Government’s purpose to integrate politically and economically the Western Amazon to the main centers of the country. Through the bibliography research it was possible to know a part of the reality experienced by the settlers who came to Rondônia mainly attracted, by the government advertising. In this way, this research intends to analyzes the government advertisement conveyed by Tribuna Popular between 1980 and 1984 and there ideals influences propagated in the fronts of expansion en Rondônia State. KEY-WORDS: Amazônia Ocidental. Rondônia. Migração. Propaganda Governamental. Jornal Tribuna Popular. 10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Jornal em língua inglesa .............................................................................................. 28 Figura 2 – Gráfico Categorias ...................................................................................................... 45 Figura 3 – Gráfico Subdivisões das categorias ............................................................................. 46 Figura 4 – Gráfico Subdivisões das categorias ............................................................................. 46 Figura 5 – Sefin – Campanha Rondonzinho................................................................................. 50 Figura 6 – Sefin – Campanha Rondonzinho................................................................................. 51 Figura 7 – Sefin – Campanha Rondonzinho................................................................................. 52 Figura 8 - Sefin – Emancipação ................................................................................................... 53 Figura 9 – Codaron – Emancipação ............................................................................................. 54 Figura 10 – Governo do Estado/Emancipação ............................................................................. 55 Figura 11 – Governo Federal – A incrível história ....................................................................... 56 Figura 12 – Governo Federal – Você Poupou .............................................................................. 57 Figura 13 – Governo Federal – Quem produz mais ..................................................................... 58 Figura 14 – Governo Federal – Feijão .......................................................................................... 59 Figura 15 – Governo Federal – ABC da Terra ............................................................................. 60 Figura 16 – Governo Federal – BR – 364 .................................................................................... 61 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS FUNAI Fundação Nacional do Índio E.F.M.M. Estrada de Ferro Madeira-Mamoré SUDAM Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia INCRA Instituto de Colonização e Reforma Agrária PROTERRA Programa de Redistribuição de Terras e Estímulo à Agricultura do Norte PIN Plano de Integração Nacional PIC Projetos Integrados de Colonização PAD Projeto de Assentamento Dirigido IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PAR Projetos de Assentamento Rápido UNIR Universidade Federal de Rondônia PIB Produto Interno Bruto PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PCHS Pequenas Centrais Hidrelétricas PT Partido dos Trabalhadores PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro PDS Partido Democrático Social FEC Faculdade de Educação de Cacoal Unesc Faculdades Integradas de Cacoal Facimed Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal Unopar Universidade Norte do Paraná AM Amplitude Modulation - Modulação em Amplitude FM Frequency Modulation - Modulação da Frequência SGC Sistema Gurgacz de Comunicação SIC Sistema Imagem de Comunicação RBN (TV) Rede Boas Novas EBC Empresa Brasil de Comunicação CODARON Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia SEFIN Secretaria Estadual de Finanças – Rondônia RO Rondônia MT Mato Grosso 12 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13 1 RONDÔNIA E O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO .......................................... 16 1.1 PROJETOS OFICIAIS DE COLONIZAÇÃO .................................................... 19 1.2 RODÔNIA HOJE ................................................................................................ 22 1.3 CACOAL – A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE ............................................. 24 1.3.1 A colonização encorajada pelo governo ........................................................... 25 2 O JORNALISMO IMPRESSO EM RONDÔNIA ................................................ 28 2.1 O INÍCIO DO JORNALISMO IMPRESSO NAS PRINCIPAIS CIDADES DO INTERIOR DE RONDÔNIA ........................................................... 29 2.2 O CENÁRIO ATUAL DA COMUNICAÇÃO EM RONDÔNIA ...................... 32 2.3 UM BREVE HISTÓRICO DO JORNAL TRIBUNA POPULAR ..................... 15 2.3.1 O Jornal Tribuna Popular passa por algumas mudanças .................................. 35 2.3.2 Tribuna hoje...................................................................................................... 37 3 MÉTODO E CONCEITOS .................................................................................... 39 3.1 METODOLOGIA: A ANÁLISE DE CONTEÚDO ........................................... 39 3.1.1 Afinal, o que é análise de conteúdo? ................................................................ 40 3.1.2 Os caminhos para análise ................................................................................. 41 3.2 OS ANÚNCIOS GOVERNAMENTAIS VEICULADOS DURANTE 1981 – 1984 .......................................................................................... 43 3.3 PESQUISA: O MATERIAL DE PESQUISA ..................................................... 45 3.3.1 Categorias e subdivisões................................................................................... 45 3.3.2 O que dizem as propagandas? .......................................................................... 46 3.3.2.1 O Governo Federal ........................................................................................ 47 3.3.2.2 O Governo Estadual....................................................................................... 48 3.4 UM OLHAR EM CADA ANÚNCIO ................................................................. 49 3.5 O DIÁLOGO ENTRE O ANÚNCIO E O REAL ............................................... 61 3.5.1 O desenvolvimento que propiciou a devastação............................................... 62 3.5.2 O propagado( pelo Governo) e o vivido (pelos migrantes) ............................. 64 13 3.5.3 A Propaganda que universaliza a ideologia do governo militar ....................... 66 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 74 APÊNDICES ............................................................................................................. 77 ANEXOS ................................................................................................................... 96 14 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo analisar as propagandas institucionais veiculadas pelos Governos Federal e Estadual no Jornal Tribuna Popular, da cidade de Cacoal, no estado de Rondônia. É notório que a partir da década de 1970, as propagandas divulgadas pelo Governo Federal, para incentivar o desenvolvimento e a integração da região amazônica ao resto do país, foram ferramentas importantes como política de comunicação do governo militar para atrair milhares de migrantes que vieram colonizar a região, inclusive o estado de Rondônia. Esta estratégia política de ocupação da Amazônia Ocidental, no entanto, dá continuidade às medidas adotadas nos primeiros anos do governo militar (1964 – 1985) quando este mostrou o seu interesse em integrar a região amazônica em 1966. O então presidente na época, o general Castelo Branco lançou a principal campanha para a ocupação da Amazônia sob o lema “Integrar para não Entregar” e deu início a uma série de propagandas para auxiliar na colonização do norte do país. A propaganda do governo foi intensa e parece ter cumprido o seu objetivo de mobilizar milhares de brasileiros a ocuparem a Amazônia Ocidental, a última região, até então isolada do resto do país. O crescimento populacional foi enorme e aconteceu de forma rápida, de acordo com Perdigão e Bassegio (1992, p. 176), no início da década de 1970, Rondônia tinha 111.064 mil habitantes, dez anos após a implantação do primeiro Projeto Integrado de Colonização (PIC), em 1980, Rondônia já contava com 493.000 mil habitantes. Neste contexto, este trabalho pretende analisar 12 propagandas que foram veiculadas no Jornal Tribuna Popular, entre 1980 e 1984, pelos Governos Federal e Estadual. Segundo Perdigão e Bassegio (1992, p. 176) apenas neste período da década de 1980, a população do estado de Rondônia aumentou de 493.000 para 870.000 habitantes. Foram 377.000 mil novos migrantes em apenas quatro anos, o que confirma o grande fluxo migratório à época da fundação e dos primeiros anos do jornal Tribuna Popular. O Jornal Tribuna Popular foi escolhido para ser base deste trabalho por ser o jornal mais antigo do interior do Estado e o segundo mais antigo de Rondônia, em circulação. Foi fundado em 1980 e acompanhou, veiculando propagandas e reportagens, o desenvolvimento de Rondônia. Durante a execução deste trabalho, foi possível verificar que ainda são poucas as pesquisas disponíveis em Rondônia que analisam a história da imprensa regional e as 15 propagandas que foram veiculadas pelo governo militar sobre a autonomia e o desenvolvimento de Rondônia. Para chegar aos resultados pretendidos neste trabalho foi necessário cumprir com alguns objetivos específicos. No primeiro capítulo a metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, que permitiu relatar a história e a colonização de Rondônia, desde a chegada dos jesuítas, no século XVII, passando pelos ciclos da borracha à colonização encorajada pelo Governo Federal, até chegar à configuração atual do Estado. Para caracterizar a cidade de Cacoal, seguiu-se praticamente o mesmo processo, iniciando a partir da colonização através dos primeiros seringais, da construção da Ponte entre Pimenta Bueno e Cacoal ao longo da BR 364, à consolidação do PIC Gy-Paraná, bem como seu desenvolvimento ao longo dos anos. As fontes que serviram como bases bibliográficas para a execução deste primeiro capítulo foram: Walfredo Tadeu, Ovídio Amélio Oliveira, João Batista Lopes, Confúcio Moura, Jacob Binsztok, Francisco Tarcisio Lisboa, Lurdes Kemper, Reginâmio Bonifácio de Lima, Francisco José Nascimento, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Portal do Governo de Rondônia, Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Prefeitura Municipal de Cacoal, Assembleia Legislativa de Rondônia, Folha de São Paulo, Francinete Perdigão e Luiz Bassegio. No segundo capítulo, que aborda o cenário da comunicação no Estado, foi feito um apanhado geral sobre a comunicação em Rondônia desde os primeiros jornais impressos em língua inglesa até a configuração atual das mídias em Rondônia. As fontes utilizadas foram o jornalista Lúcio Albuquerque, o site donosdamidia.com.br, um projeto desenvolvido pelo jornalista Daniel Herz, que “reúne dados públicos e informações fornecidas pelos grupos de mídia para montar um panorama completo da mídia no Brasil”, incluindo Rondônia, e o jornalista e fundador do jornal Tribuna Popular, Adair Antônio Perin. A partir do terceiro capítulo, tem início a análise dos anúncios. Para isto é apresentada a metodologia escolhida para a pesquisa, além da apresentação dos conceitos utilizados no trabalho. Neste capítulo, foram utilizados, principalmente, os autores Laurence Bardin e Roque Moraes para nortear os processos de análise de conteúdo; J.B. Pinho, Elizabeth Pazito Brandão, Heloísa Matos e Raquel Cavalcanti Ramos Machado para contextualizar os termos propaganda e comunicação e Philip Martin Fearnside, Yan Boechat, Martin Coy, W. Belinati e A. Costa e Silva para contextualizar aspectos econômicos e políticos estudados nesta pesquisa. 16 Por último, através do conteúdo das propagandas governamentais e da pesquisa bibliografia sobre história regional, é possível constatar que o Governo Federal e o Governo de Rondônia atraíram milhares de migrantes para a região amazônica. É notório que as propagandas exerceram importante poder de persuasão nos migrantes que chegaram à Rondônia a partir da década de 1970. Dessa forma, o objetivo principal é confrontar o que foi veiculado pelo governo e o que os migrantes realmente encontraram e vivenciaram ao chegar à nova fronteira agrícola do país. 17 1 RONDÔNIA E O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO Foi durante a segunda metade do século XX, a partir da década de 1960, que a região amazônica recebeu o seu maior fluxo migratório. A partir de propagandas do Governo Federal com o slogan “Integrar para não Entregar”, milhares de brasileiros vieram para a Amazônia para se tornarem donos de suas próprias terras. Mas antes que se chegue a esse período da história da Amazônia, em especial do Estado de Rondônia, é interessante conhecer as primeiras tentativas de colonização do “El Dourado” brasileiro. Segundo Afonso (2008, p. 35), os primeiros relatos de ocupação de Rondônia datam os séculos XVII e XVIII, com o início da exploração do homem branco em terras amazônicas. Esse primeiro contato aconteceu por jesuítas, bandeirantes e outros aventureiros que vieram à região para explorar1 as suas potencialidades, minérios e drogas do sertão. O que surtiu efeito, uma vez que foi descoberto o ouro em afluentes do rio Guaporé. De acordo com Teixeira e Fonseca (2001, p. 46), a descoberta do ouro atraiu o interesse da Corte Portuguesa que fundou, em 1748, a Capitania de Mato Grosso2 como forma de se fixar na região. Conforme Oliveira (2003, p. 23-25), além da fundação da Capitania, a Coroa implementou ações de povoamento com o objetivo de garantir a posse da região. Contudo, devido à intensa exploração de ouro e outros minérios, no final do século XVIII, a mineração entrou em decadência, fazendo com que a Coroa Portuguesa abandonasse a região por um período aproximado de 100 anos. Embora existisse um mercado consumidor, o vale do Guaporé perdera sua maior fonte de riqueza, o ouro, que não era mais encontrado com facilidade. 1 2 Em busca de riquezas, os primeiros exploradores encontram em Rondônia muitos índios, com os quais entram em conflito, sobre tudo por usá-los como mão-de-obra escrava. Contudo, pouco se sabe sobre os indígenas dos séculos XVI, XVII, XIV. O pouco que se encontra são relatos, muitas vezes literários dos encontros entre índios e homens brancos. É apenas no surgimento do século XX que surgem referências concretas sobre a realidade indígena no Brasil. De acordo com estimativas da FUNAI, existiam no Brasil, antes da chegada dos europeus, cerca de 10 milhões de índios, sendo que, deste total, 5.600.000 habitavam a bacia amazônica. Infelizmente, esses números diminuíram de maneira drástica. Segundo pesquisas da FUNAI, vivem hoje, no Brasil, aproximadamente 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, o que não corresponde a mais de 0,25% da população brasileira. FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (S/D). Os índios hoje. Disponível em <www.funai.gov.br/indios/conteudo.htm#HOJE>. Acesso em 21/01/11. O território ocupado pela Capitania de Mato Grosso abrangia parte da área onde hoje está o Estado de Rondônia. 18 Isso causou o abandono progressivo da região, uma vez que as fronteiras já haviam sido demarcadas. (OLIVEIRA, 2003, p. 25). Apenas no final do século XVIII, a partir de 1877, com a descoberta da borracha, Rondônia voltou a ser ocupada. Dessa vez, por seringueiros vindos do nordeste brasileiro, principalmente cearenses que, na época, enfrentavam uma de suas piores secas. A exploração da borracha teve o seu auge entre os anos de 1879 e 1912, o que foi chamado o 1º Ciclo da Borracha. Assim como apontam os estudos de Teixeira e Fonseca (2001, p. 119-124) a mão-de-obra para a extração de látex era proveniente de várias regiões do Brasil, principalmente nordestinos, e ainda indígenas escravizados e bolivianos que vinham à Rondônia através dos rios. Estes trabalhadores acabaram por ocupar, gradativamente, o Vale do Madeira. Com a desvalorização da borracha no mercado mundial, os seringueiros foram abandonados à própria sorte nos seringais. Segundo Oliveira (2003, p. 39-40), a região ficou estagnada por cerca de trinta anos quando, entre 1942 e 1945, a borracha teve sobrevida, devido à 2ª Guerra Mundial. Os Governos do Brasil e Estados Unidos assinaram o Acordo de Washington3, que incentivava a extração da borracha nas terras amazônicas e que culminou com o 2º Ciclo da Borracha4. Nesse novo período de extração do látex, milhares de migrantes chegaram à Amazônia e se estabeleceram nos seringais remanescentes do Primeiro Ciclo da Borracha, incluindo os seringais de Rondônia. Contudo, com o final da Segunda Guerra Mundial, a borracha brasileira perde espaço para a concorrente asiática5 e entra em decadência. Os seringalistas são novamente abandonados. 3 4 5 Durante a Segunda Guerra Mundial, foi realizado um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos, Tratado de Washington (1942), cujo objetivo era incentivar a produção do látex brasileiro. Nesse acordo ficou estabelecido que caberia aos Estados Unidos sanar a malária na região, fornecer os meios de produção e suporte e financiar 42% do capital inicial para a constituição do Banco da Borracha. Já ao Brasil caberia financiar 58% do capital inicial para a consolidação do Banco da Borracha, explorar os seringais e recrutar seringueiros. Foi neste contexto que surgiu o soldado da borracha, que em sua maioria, era de nordestinos recrutados pelo governo brasileiro por um período de dois anos para trabalharem na extração do látex. (OLIVEIRA, 2003, p. 39-40). Foi em 1943, durante o 2º Ciclo da Borracha, que o então Presidente, Getúlio Vargas, assinou o Decreto-Lei nº 5.812, que definiu, em 13 de setembro, a criação do Território Federal do Guaporé. Em 1956, o Território passa a ser denominado de Território Federal de Rondônia. (LOPES, 2007, p. 41) Em 1876, os ingleses haviam contrabandeado sementes de hevea-brasiliensis da Amazônia para o Jardim Botânico de Londres. Lá, por meio de enxertos, desenvolvem variedades mais resistentes, que posteriormente são enviadas para suas colônias na Ásia - Malásia, Ceilão e Cingapura - onde tem início uma exploração intensiva da borracha natural. A diferença técnica de plantio e extração do látex no Brasil e na Ásia foi determinante para os resultados da exploração como negócio. MULTBORR, Larbos. A borracha natural. Disponível em <www.larbosmultborr.com/portal>. Acesso em 13/10/2010. 19 Foi durante os Ciclos da Borracha, especialmente no primeiro, que se iniciou o projeto da construção de uma estrada de ferro próxima aos Rios Madeira, Mamoré e Guaporé. Porém, a construção efetiva da ferrovia teve início em 1907 e seu último trecho foi inaugurado em 1912. A ferrovia tinha como principal objetivo escoar o látex e outros produtos da região, mas foi prejudicada pela baixa no preço da borracha, pela concorrência com ferrovias do Chile e da Argentina e, em 1914, pela abertura do Canal do Panamá. Entre esses e outros fatores, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foi sendo parcialmente desativada a partir de 1930. (LOPES, 2007, p. 35-37). A construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (E.F.M.M.) foi um marco no desenvolvimento do estado de Rondônia. Para a construção da ferrovia, muitos migrantes vieram para a região. Durante este período, 1907 até 1914, as empreiteiras responsáveis pelas obras encaminharam 21.817 trabalhadores para Rondônia. “Esses trabalhadores tinham como origem, principalmente, países como Antilhas, Alemanha, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Colômbia e Itália”. (AFONSO 2008, p. 38). Doenças tropicais, ataques de índios e outros acidentes ceifaram as vidas de milhares desses trabalhadores. Do restante, parte voltou aos seus países de origem e outra parte se estabeleceu na região de Porto Velho e Guajará-Mirian, contribuindo na colonização de Rondônia. Trabalharam na construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré aproximadamente 21.817 operários, provenientes de diversas nacionalidades. Faleceu um total de 1.593 operários. (AFONSO, 2008, p. 39). Outro acontecimento que contribuiu para a integração do estado foi a instalação das Linhas Telegráficas Estratégicas, no início do século XIX, que propiciou a colonização da região. A instalação das Linhas Telegráficas, a partir de 1907, pelo Marechal Cândido Rondon, ligaria a Amazônia ao estado de Mato Grosso que, por sua vez, já estava interligado às demais regiões do país. A conclusão da Linha telegráfica aconteceu em 1912. Foi seguindo as demarcações da Linha Telegráfica de Marechal Rondon, que em 1960, inicia-se a construção da BR – 364. (TADEU, S/D, p. 108-110). Um fator importante para a consolidação de Rondônia, uma vez que a estrada ligava, fisicamente, o Estado ao resto do país. Foi ao longo da BR e nas imediações dos postos instalados ao longo da linha telegráfica que surgiram as principais cidades de Rondônia. Traçado esse breve histórico das frentes de colonização do Estado de Rondônia, desde o século XVI até a abertura da BR-364, é possível analisar agora os primeiros projetos oficiais do Governo Federal Brasileiro para colonizar a região amazônica, em especial, Rondônia. 20 1.1 PROJETOS OFICIAIS DE COLONIZAÇÃO A partir da década de 1960 o Governo Federal começou a pensar e desenvolver os primeiros projetos oficiais de colonização e ocupação da região amazônica. Colonizar a Região traria soluções para dois problemas: o primeiro era integrar a última região isolada ao resto do país; o segundo, acabar com os conflitos de terra existentes nas demais regiões do Brasil, visto que a Amazônia oferecia uma vasta área a ser desbravada. Para viabilizar a colonização da região, de acordo com Reginâmio Bonifácio de Lima e Francisco José Nascimento (S/D), o Governo Federal teve que implantar políticas públicas de suporte. Foi quando surgiu a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Programa de Redistribuição de Terras e Estímulo à Agricultura do Norte (PROTERRA). Tanto o INCRA quanto o PROTERRA faziam parte das metas do Plano de Integração Nacional (PIN) do Governo Federal para a ocupação da região amazônica. O Governo Federal, através do INCRA, desenvolveu dois tipos de projetos de colonização para a Amazônia, o PIC e o PAD. No primeiro, Projetos Integrados de Colonização, o INCRA assumia a responsabilidade da distribuição de lotes, de organização territorial e de instalação da infraestrutura de apoio aos colonos; o segundo, Projeto de Assentamento Dirigido, era voltado, principalmente, ao profissional liberal/agricultor, em que o beneficiário da distribuição de terra era mais especializado, com um pouco mais de recursos e experiência com crédito bancário. Outra diferença entre esses dois tipos de assentamento era o tamanho da área: nos PICs, 100 hectares e no PAD, lotes de 250, 500 e 1000 hectares. (LISBOA, 2009). Em Rondônia, foram os Projetos Integrados de Colonização que guiaram a colonização do Estado, que teve início com o projeto de assentamento do PIC Ouro Preto em 1970, assim como traz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010): Em 1970, o INCRA iniciou em Ouro Preto, antiga área de seringais, região de terra roxa, à 40 km da cidade de Ji-Paraná (antiga Vila de Rondônia), o assentamento de 500 famílias migrantes através de Projeto Integrado de Colonização, PIC – Ouro Preto, depois de já iniciada a corrente migratória para Rondônia. O plano inicial do INCRA previa uma capacidade de atendimento de 2.000 famílias, mas em 1973 já contava com mais de 3.000 famílias localizadas na área, cada uma com 100 hectares de terra. O total de 21 migrantes que se dirigiram a Ouro Preto, em pouco mais de três anos foi calculado em cerca de 25.000 pessoas. Após forte propaganda feita pelo Governo Federal em todo o Brasil, migrantes vieram de todas as partes do país em busca da terra prometida para se tornarem donos da própria terra. As facilidades apresentadas pelo Governo para a colonização da Amazônia foram o maior atrativo da região, como salienta Binsztok (2008, p. 4): Analisando o processo de colonização implantado pelo INCRA nos anos 70, verificamos que o Regime Militar utilizou dois instrumentos para viabilizar a ocupação dos chamados “vazios demográficos” de Rondônia. Inicialmente, priorizaram a consolidação da BR-364, principalmente no trecho Cuiabá/ Porto Velho, que direcionou o fluxo de camponeses expropriados pela modernização agrícola ocorrida nas regiões Sul e Sudeste do país. Posteriormente foram implantados os Projetos Integrados de Colonização (PIC), que ocuparam uma faixa de 100 km de cada lado da BR-364, repartindo em lotes de aproximadamente 100 ha, distribuídos pelo INCRA para atenuar os inúmeros focos de tensão existentes no espaço agrário do sul e sudeste do país. A BR-364 e o Projeto Integrado de Colonização (PIC) cumpriram suas finalidades geopolíticas, pois criaram novas esferas de poder local e contribuíram para a construção de uma nova ordem territorial em Rondônia. A implantação dos PICs trouxe para Rondônia migrantes de todos os lugares do país, principalmente, da Região Sul e Nordeste. De acordo com Perdigão e Bassegio (1992, p. 176), no início da década de 1970, Rondônia tinha 111.064 mil habitantes. Dez anos após a implantação do primeiro Projeto Integrado de Colonização, em 1980, Rondônia já contava com 491.069 mil habitantes. Enquanto o Brasil crescia, nesse período (70/80), 2%, o Estado de Rondônia tinha um crescimento populacional de 16,01%. As cidades que mais recebiam migrantes eram: Vilhena, Pimenta Bueno, Cacoal, Ji-Paraná, Ouro Preto, Ariquemes e Porto Velho. Rondônia foi sacudida pelo mais espetacular movimento humano. O silêncio das florestas foi interrompido. A propaganda do governo tinha dado certo. Mobilizou o país inteiro com comunicação pesada para implantar o maior projeto de reforma agrária – a colonização da Amazônia. [...] Uma nova fronteira agrícola. A frase caiu como uma bomba. Mexeu com os interesses e esperanças de milhares de pobres sem terras de todas as regiões do país. (MOURA, 2002, p.44). Entre os anos de 1970 e 1974, foram criados cinco Projetos Integrados de Colonização. Posteriormente, todos esses cinco projetos deram origem aos municípios de Ouro Preto do Oeste, Guajará Mirim, Jaru, Cacoal e Colorado d’Oeste. A migração foi tão intensa que, em pouco tempo, as áreas destinadas para colonização se esgotaram, fazendo 22 surgir novos projetos. Por fim, já na década de 1980, foram desenvolvidos os Projetos de Assentamento Rápido (PAR), a fim de dar conta do intenso fluxo de migrantes que chegava à Rondônia. (OLIVEIRA, 2007, p 118-122). Contudo, a demanda continuava grande e o governo já não conseguia suprir as necessidades da população. Os migrantes que chegavam à busca de terra fácil não a encontravam e passaram a entrar em conflito com os migrantes que já haviam conquistado o direito e possuíam lotes de terra. Os conflitos, mais o fluxo migratório, fizeram com que o Governo Federal buscasse medidas para solucionar os problemas na colonização. A saída encontrada foi elevar Rondônia à categoria de Estado. Assim, em 22 de dezembro de 1981, Rondônia se tornou Estado através da sanção do Presidente Militar João Batista Figueiredo, pela Lei Complementar 41. O processo de instalação do Estado aconteceu em quatro de janeiro de 1982, sendo Jorge Teixeira de Oliveira nomeado primeiro governador do Estado. (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE RONDÔNIA, 2011). A instalação do Estado deu-se em 4 de janeiro de 1982, sendo nomeado, então, o Coronel Jorge Teixeira como o seu primeiro Governador. A posse do governo deu-se no mesmo dia e dentre seus principais atos destacam-se a estruturação do judiciário e a criação do Tribunal de Contas do Estado de Rondônia. Em 7 de junho de 1983, foi aprovada pela comissão de revisão constitucional da Assembleia Estadual de Rondônia a Constituição do Estado. (TEIXEIRA; FONSECA, 2001, p. 179). Após a elevação de Rondônia à categoria de Estado, Jorge Teixeira continuou trabalhando para melhorar a infraestrutura do estado. Ainda em sua gestão, Teixeira concluiu a pavimentação da BR-364, a construção do Hospital de Base e de um complexo penitenciário em Porto Velho, implantou o Banco do Estado de Rondônia, a Universidade Federal de Rondônia - UNIR, e ainda construiu dezenas de colégios em diversas cidades do estado. (OLIVEIRA, 2003, P.144). Como visto anteriormente, todas essas ações foram pensadas e fizeram parte do Plano de Integração Nacional, uma vez que era necessário oferecer infraestrutura para que os migrantes se fixassem na região. As políticas desenvolvimentistas, características do regime Militar, foram o principal instrumento para viabilizar a ocupação de Rondônia. Dessa forma, foram essas políticas desenvolvimentistas, propagadas ao restante do país, através de propagandas governamentais, que atraíram milhares de migrantes para Rondônia. É neste sentido, que nos próximos capítulos, este trabalho pretende analisar as propagandas governamentais divulgadas entre 1980 e 1984. Mas antes, precisamos entender 23 como se configura, hoje, o Estado de Rondônia, uma vez que o cenário atual é resultado das políticas que guiaram a ocupação desta região. 1.2 RONDÔNIA HOJE Atualmente, o Estado de Rondônia é composto por 52 municípios, cuja capital é a cidade de Porto Velho. As cidades mais populosas são Porto Velho, Ji-Paraná, Ariquemes, Cacoal e Vilhena, todas ao longo da BR-364. De acordo com o IBGE, em 2009, a população do Estado era de, aproximadamente, um milhão e meio de habitantes. O que torna Rondônia o 3º estado mais populoso da Região Norte. A população rondoniense é heterogênea. Destacam-se paranaenses, paulistas, mineiros, gaúchos, capixabas, baianos e mato-grossenses, que integram, principalmente, o interior do estado, além da presença marcante de cearenses, maranhenses, amazonenses e acreanos na capital Porto Velho. Rondônia é responsável por 11,2% do Produto Interno Bruto (PIB) da Região Norte, o que o torna o 3º estado mais rico dessa região. Possui ainda o 3º maior Índice de Desenvolvimento Humano, o 3º maior PIB per capita, a 2ª menor taxa de mortalidade infantil e a 3ª menor taxa de analfabetismo entre todos os estados das regiões Norte e Nordeste do país. (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO-PNUD, 2005). De acordo com o IBGE, em 2006, a população de Rondônia se dividia da seguinte forma: na religião, 57,5% católicos; 27,8% protestantes; 4,5% espíritas; 4,5% integram outra religião e os que não possuem nenhuma religião representam 10,2% da população. Em relação às etnias, 53,8% da população do estado se consideram pardos; 36,8%, brancos; 7,3%, negros; e 2,2% se consideram amarelos ou indígenas. A economia do Estado de Rondônia tem como principais atividades a agricultura, a pecuária, a indústria alimentícia e o extrativismo vegetal e mineral. Rondônia tem se tornado destaque no setor energético. O estado conta com a Usina Hidrelétrica de Samuel, localizada no município de Candeias do Jamari e diversas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Além disso, estão sendo construídas em Rondônia, duas grandes obras, as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. 24 A aprovação da construção dessas usinas, por sua vez, gerou amplas discussões sobre os possíveis impactos ambientais na região. Estas discussões reverberaram tanto, na mídia regional, nacional e internacional, que divulgaram conteúdos de diferentes grupos, como ambientalistas, construtoras, representantes do governo, entre outros. De acordo com o Governo Federal, as usinas de Santo Antônio e Jirau seriam importantes para reduzir as deficiências do Brasil no setor energético e também de obras, para suprir a infraestrutura necessária para que a região possa se alinhar economicamente ao resto do país. Contudo, com as obras aprovadas e em andamento, os ambientalistas já não são o foco das atenções. Agora, as discussões giram em torno de centrais sindicais e de pessoas que não veem as usinas como uma grande obra em benefício dos rondonienses. Na verdade, nem mesmo os rondonienses ainda entenderam como as Usinas irão beneficiá-los. No andamento das obras destas usinas emanam os problemas sociais que questionam a execução de grandes projetos, como aponta a reportagem veiculada na Folha Online (2011). Após o início das obras no Rio Madeira, a criminalidade em Rondônia aumentou significativamente, entre os principais crimes estão homicídios e exploração sexual de crianças e adolescentes. A região das obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, registra uma explosão de criminalidade e de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. O aumento dos problemas supera o ritmo do crescimento populacional. [...] As usinas começaram a ser construídas no segundo semestre de 2008. A população de Porto Velho, onde estão as duas obras, cresceu 12,5% entre aquele ano e 2010. A expansão populacional de Rondônia foi de 2,7%. [...] o número de homicídios dolosos na capital aumentou 44% no mesmo período. [...] O número de estupros em Rondônia cresceu 76,5% de 2008 a 2010. A quantidade de crianças e adolescentes vítimas de abuso ou exploração sexual subiu 18% no período. (FOLHA.COM, 2011). Outro fato que atraiu a atenção do Brasil para Rondônia foram os conflitos intensos entre trabalhadores das usinas que reivindicaram melhores condições de trabalho em março de 2011. A precariedade das instalações e a dificuldade em visitar suas famílias, desencadearam uma série de ações violentas que resultaram em carros e alojamentos incendiados nas instalações mantidas pelo consórcio de Jirau. A violência dos conflitos levantou uma polêmica no país inteiro sobre as condições de trabalho oferecidas aos mais de 20 mil trabalhadores das Usinas do Madeira. De acordo com o Governo Federal, a construção das Usinas do Madeira são obras que visam ao desenvolvimento do Estado de Rondônia. Esse discurso atual do governo pode ser 25 visto como uma reedição da política desenvolvimentista da ditadura, que com o objetivo de integrar o estado ao resto do país, dotou Rondônia de grandes obras de infraestrutura como a pavimentação da BR-364 e a construção da usina Hidrelétrica de Samuel. Através destes dois momentos da história de Rondônia, percebe-se que o desenvolvimento do Estado foi amparado por grandes obras de infraestrutura, e são essas obras que acabam se tornando os grandes atrativos para Rondônia. Se entre a década de 1970 a 1980, a população de Rondônia aumentou em mais de 300 mil habitantes, nos dois anos após o início da construção das usinas, o crescimento populacional da cidade de Porto Velho, girou em torno de 12%. 1.3 CACOAL – A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE Os primeiros registros de ocupação da área que compreende o município de Cacoal datam o ano de 1920. Foi nessa época que o paraibano Anísio Serrão de Carvalho, responsável pelos trechos entre as estações telegráficas de Pimenta Bueno e Presidente Hermes, atualmente Presidente Médici, requereu do Governo uma extensão de terras para cultivar e extrair borracha. Anísio tomou posse de uma área que, hoje, compreende parte do município de Pimenta Bueno até o atual centro urbano de Cacoal. O Coronel Rondon sugeriu ao seu guarda-fios Anízio Serrão de Carvalho que construísse uma casa às margens do Rio Machado ou Ji-Paraná, nas proximidades da foz do Igarapé Pirarara, e requeresse o local para instalação de um seringal. No lugar havia muito cacau nativo, o que levou o Sr. Anízio Serrão denominar de Cacoal a sede do seringal que se formava. (IBGE, 2010). Foi a partir da instalação de Anísio Serrão, na área onde hoje está Cacoal, que vários outros seringueiros se instalaram. Eram basicamente nordestinos vindos, principalmente, da Paraíba e do Ceará e que deram início à colonização da cidade de Cacoal. Uma das principais situações, que contribuiu de forma efetiva para a ocupação da cidade de Cacoal, foi a BR-364. “A partir da construção da rodovia, na década de 1960, várias famílias se estabeleceram entre Cacoal e Pimenta Bueno para trabalhar na construção de uma ponte que ligaria as duas cidades”. (KEMPER, 2006, p. 26). 26 Dessa forma, é possível afirmar que os primeiros moradores de Cacoal foram seringueiros, trabalhadores da BR-364 e, posteriormente, migrantes que chegaram à região para fornecer subsídios aos que já moravam entre as duas cidades, como aponta Binsztok (2008): A expansão da Vila e o aumento do tráfego pela rodovia motivaram alguns pioneiros para iniciativas inovadoras, como a construção de pequenos estabelecimentos comerciais destinados ao atendimento do fluxo rodoviário: restaurantes, postos de gasolina, oficinas de reparos de veículos, hotéis, etc. 1.3.1 - A Colonização Encorajada Pelo Governo A colonização definitiva de Cacoal, assim como a do restante do Estado de Rondônia, começa a partir da década de 1970, quando o Governo Federal cria os Projetos de Colonização para desafogar os grandes centros do país. Foram com os Projetos Integrados de Colonização que Rondônia e Cacoal receberam milhares de migrantes vindos, principalmente, das regiões sul e nordeste. Como já visto anteriormente, a implantação dos PICs em Rondônia teve início com o PIC – Ouro Preto. Com a consolidação desse PIC, na região das cidades de Ouro Preto D’Oeste e Ji-Paraná aconteceu, em 1972, a demarcação e distribuição, pelo INCRA, de lotes do PIC Gy-Paraná. O Projeto foi implantado na região de Cacoal devido à concentração natural de migrantes ainda na época dos seringais e da construção da BR-364 na área onde, hoje, se localiza a cidade. O PIC Gy-Paraná foi implantado com uma área prevista de 486.137 ha e assentamento de cinco mil famílias por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA- e pela portaria nº 1.443. O Governo instalou em 17 de junho de 1972 a agência do Projeto Integrado de Colonização – PIC- Gy-Paraná. Pesquisando as origens das cidades de Rondônia, Silva Filho (1995), relata os primórdios da cidade de Cacoal, mostrando que, em 1972, à margem da antiga BR 29 (364), perto do barracão de uma antiga fazenda, acamparam um razoável número de pioneiros provenientes de vários pontos do país e ficaram aguardando a demarcação e distribuição pelo INCRA de lotes do Projeto Integrado de Colonização Ji- Paraná, com uma área prevista de 486.137 ha destinada ao assentamento de 5.000 famílias. (BINSZTOK, 2003, p. 9). 27 Devido à facilidade de adquirir terras e a rapidez do INCRA em assentar os migrantes, o fluxo de migração em Cacoal foi se tornando cada vez mais intenso e passou a dificultar e atrasar o serviço do INCRA. Devido a essa situação, o Governo teve que tomar suas primeiras medidas em relação ao PIC-Gy-Paraná. A primeira foi o envio de uma Guarda Territorial para conter os conflitos pela aquisição de terras, que haviam se tornado constantes. Em seguida, houve a nomeação do primeiro administrador do subdistrito de Cacoal, Antônio José de Araújo Lima. (KEMPER, 2006, p. 54-55). Posteriormente, várias outras medidas foram sendo tomadas para facilitar e promover a permanência dos migrantes em Cacoal. Até 1976 o INCRA já havia assentado, aproximadamente, 3 mil famílias, e a população da Vila de Cacoal, em 4 anos, era formada por, aproximadamente, 10 mil habitantes. Devido ao crescimento acelerado da região, depois da forte propaganda feita pelo Governo Federal para a colonização da Amazônia, em 11 de outubro de 1977 foi criado o município de Cacoal, através da lei sancionada pelo então Presidente, Ernesto Geisel. Catarino Cardoso dos Santos foi nomeado o primeiro prefeito de Cacoal. Os procedimentos do INCRA, em consonância com o ordenamento proposto pelo regime militar, rapidamente elevaram Cacoal à categoria de município. Assim, o município foi criado pela lei nº 6.448, de 11 de outubro de 1977, com limites definidos pelo Decreto nº 81.272, de 30 de janeiro de 1978 [...] Os limites do município foram assim estabelecidos: ao norte com o Estado de Mato Grosso; ao oeste com o município de Ministro Andreazza; ao sul com o município de Rolim de Moura; a leste/sudeste com o município de Pimenta Bueno e a leste/norte com o município de Espigão D’Oeste. (BINSZTOK, 2001). Desde a instalação do PIC Gy-Paraná, Cacoal foi colonizada, principalmente, por migrantes vindos das regiões sul, sudeste e nordeste. Esses últimos, que já ocupavam a região desde os ciclos da borracha, continuavam encabeçando a ocupação de Rondônia. Vale lembrar que Cacoal foi emancipada quando Rondônia ainda não havia se tornado estado, sendo apenas Território Federal. Rondônia se emanciparia apenas em 1981. É a partir de 1980 que Cacoal começa a se desenvolver. Na política, as primeiras eleições municipais aconteceram em novembro de 1982. Nessa primeira eleição, a cidade elegeu prefeito, vice e quinze vereadores. PT, PMDB e PDS foram os três partidos que concorreram na primeira eleição municipal de Cacoal. (KEMPER, 2006, p. 78). Em 1983, seis anos após ser elevada à categoria de município, Cacoal atingiu o maior contingente populacional de sua história, cerca de 120 mil habitantes. Contudo, Rolim de Moura, que ainda fazia parte do território de Cacoal, foi emancipada em agosto do mesmo ano e absorveu cerca de 40% da população de Cacoal. (KEMPER, 2006, p. 114). 28 A educação no município de Cacoal começa a ganhar destaque a partir de 1987, quando se instala na cidade a primeira instituição particular de ensino superior do estado de Rondônia, a Faculdade de Educação de Cacoal - FEC. Dois anos depois, Cacoal recebe um Campus da Universidade Federal de Rondônia e a criação da Escola Família Agrícola Padre Ezequiel Ramim6. Em 2009, de acordo com o IBGE, Cacoal possuía 48 instituições com o Ensino Fundamental, 15 com o Ensino Médio e 27 com a Pré-Escola. Além disso, Cacoal possui duas instituições privadas de ensino superior, Unesc e Facimed, além de um campus da Universidade Federal de Rondônia e uma instituição de Ensino a Distância - Unopar. O primeiro hospital de Cacoal foi construído ainda em 1974. Funcionava de forma improvisada e era o único dessa região do estado. Vários outros hospitais surgiram ao longo dos anos. Em 2010, a cidade contava com 30 instituições de saúde, entre eles o Hospital Regional, mantido pelo Governo do Estado e o Hospital do Câncer – São Daniel Comboni, inaugurado em outubro de 2011, um hospital filantrópico através de uma iniciativa da Igreja Católica. Além disso, a cidade conta com 8 estabelecimentos de saúde mantidos pela Prefeitura Municipal e 21 instituições privadas de saúde. (IBGE, 2010). De acordo com o censo do IBGE - 2010, o PIB total da cidade de Cacoal chega a R$832 milhões. A economia do município gira em torno, principalmente, da agropecuária, responsável por R$163.034 milhões do PIB, da indústria R$ 122.044 milhões e do setor de serviço, como saúde e educação, responsável por R$547.689 milhões do PIB do município. A atividade comercial de Cacoal é diversificada, são cerca de quatro mil empresas ativas. Conforme o censo do IBGE - 2010, a população de Cacoal é de 78.601 habitantes. A população é formada, principalmente, por pessoas oriundas dos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais e dos estados do Nordeste. 6 Padre Ezequiel Ramim foi um missionário italiano assassinado por fazendeiros em Rondolândia MT, a 75 quilômetros de Cacoal, em 1985. Pe. Ezequiel defendia os direitos dos índios, posseiros e lutava pela dignidade do povo da região, principalmente de Cacoal. 29 2 O JORNALISMO IMPRESSO EM RONDÔNIA A história do jornalismo em Rondônia surgiu quando Rondônia não era, nem mesmo, Território Federal. Segundo o jornalista Lúcio Albuquerque (2009, p. 17), “o primeiro jornal a circular na região onde hoje se situa Rondônia, foi o jornal Humaithense7 em 1891”. O jornal circulou até pouco depois do fim do primeiro ciclo da borracha. Os primeiros jornais que foram impressos na região do Estado de Rondônia eram todos em língua inglesa. Isso porque, eram produzidos pelos construtores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. O primeiro jornal a circular em inglês foi o The Porto Velho Times em 1909, com 200 exemplares. O segundo jornal em língua inglesa foi o The Porto Velho Marconigam que circulou pela primeira vez em 1911. Outro jornal que circulou também em inglês foi o The Porto Velho Courier. Todos esses jornais eram impressos na cidade de Porto Velho. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 25-27). Figura 1 – Jornal em língua inglesa Fonte: Albuquerque, 2009. 7 Em 1891, a área onde se situava a cidade de Humaitá – AM englobava a região onde hoje está a cidade de Porto Velho – RO. Isso porque até 1943 o território de Rondônia estava dividido entre Amazonas e Mato Grosso. Foi nesse ano que a área do atual Estado de Rondônia se tornou Território Federal do Guaporé. 30 Depois do surgimento de jornais em língua inglesa, circulou em Santo Antônio o primeiro jornal em português de Rondônia, o Extremo Norte. O jornal era semanário e circulou pela primeira vez em janeiro de 1913. Em Porto Velho, o primeiro jornal em língua portuguesa circulou em 1915. O Município tinha uma tiragem de 200 exemplares e circulava aos domingos. O jornal teve vida curta. Em 1917 seu maquinário e todos os equipamentos foram vendidos para o jornal O Alto Madeira, cuja primeira edição circula em 15 de abril de 1917. O Alto Madeira foi um dos principais jornais de Rondônia e esteve presente em muitos fatos que marcaram a história do estado, como observa Albuquerque (2009, p. 31-33): Dentre outros fatos, o AM (Alto Madeira) noticiou o fim da I Guerra Mundial, os problemas com a quebra da borracha, a nacionalização da Madeira-Mamoré, a visita do presidente Getúlio Vargas em 1940, a criação do Território, as primeiras disputas políticas, a descoberta da cassiterita, a abertura da BR-29 (BR-364), a implantação dos primeiros municípios na BR-364, a luta pela criação do Estado, as crises políticas, a questão das duas hidrelétricas do Madeira. O primeiro órgão oficial do Governo foi o semanário O Guaporé, que circulou pela primeira vez em 1947. Este veículo de comunicação sobreviveu apenas por um ano e sua última edição circulou no dia 31 de julho de 1948. O primeiro jornal de Rondônia a ser impresso em rotativa foi A Tribuna, que surgiu em 1976 e circulou as segundas-feiras. Este circulou até o final da década de 1980. Em 1980 foi criado então O Estadão do Norte e foi o primeiro a circular, de forma efetiva, em todas as cidades do Estado. Este jornal foi o primeiro de Rondônia a implantar um caderno especial sobre política e também com a cobertura diária de notícias das cidades do interior do estado, foi o primeiro de Rondônia a implantar um caderno especial sobre política. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 43-50). 2.1 O INÍCIO DO JORNALISMO IMPRESSO NAS PRINCIPAIS CIDADES DO INTERIOR DE RONDÔNIA Na década de 1980, dois jornais entraram em circulação em Guajará-Mirim. O primeiro foi o jornal O Imparcial e sua primeira edição circulou em novembro de 1951, no inicio da década de 1980, passou a ser impresso na cidade de Porto Velho, mas teve curta 31 duração. Também na década de 1980, surge o jornal Mamoré, que continua circulando em Guajará-Mirim. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 67-68). Em Ariquemes, o primeiro jornal foi o semanário O Parceleiro, em 1970. Logo após a sua criação, o jornal passa a circular diariamente, se tornando o primeiro jornal diário do interior de Rondônia. Devido a inúmeras dificuldades, O Parceleiro circulou apenas até a primeira metade da década de 1980. Entre as dificuldades enfrentadas pelo jornal, estavam a falta de energia, constante em Rondônia, e a não pavimentação da BR-364. Esses problemas foram enfrentados por muitos jornais do interior do estado, que pela inviabilidade e dificuldade tiveram vida curta. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 69). Quando Ji-Paraná ainda era denominada Vila de Rondônia8, surgiu o jornal A Palavra, que circulou até a década de 1980. Dez anos após a extinção deste jornal, surgiu o jornal Correio Popular, que circula até hoje nas cidades da região de Ji-Paraná. Já no final da década de 1990, em 1999, nasceu o jornal Folha de Rondônia, com circulação diária, é distribuído em todas as cidades do estado e já se tornou um dos maiores jornais de Rondônia. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 71-72) . O primeiro jornal a surgir na cidade de Pimenta Bueno foi o jornal Voz da Terra, em 1983, que circulou apenas até 1984, quando surgiu o jornal O Povo, também com vida curta. Atualmente um dos principais jornais de Pimenta Bueno é o Folha Pimentense, que circulou sua primeira edição na década de 1990. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 73). A cidade de Vilhena é uma das que mais se destaca em relação ao jornalismo impresso no interior de Rondônia. A cidade conta com os jornais: Folha do Sul, Correio de Notícias e Folha de Vilhena. Além destes três principais veículos, Vilhena conta ainda com os jornais Rondosul e Jornal do Servidor. Já em Cacoal, o primeiro jornal a ser impresso foi o jornal Tribuna Popular, em 1980. O jornal é o mais antigo do interior do estado em funcionamento. Ainda em Cacoal, surgiu em 1993, o jornal A Gazeta de Rondônia, que atualmente tem circulação diária em todo o estado. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 70). 8 A atual cidade de Ji-Paraná já foi denominada, sucessivamente, Vila Urupá, Presidente Penna e Vila de Rondônia. Em 11 de outubro de 1977, o presidente Ernesto Geisel concedeu emancipação política à Vila de Rondônia, onde surgiu a cidade de Ji-Paraná. 32 2.2 O CENÁRIO ATUAL DA COMUNICAÇÃO EM RONDÔNIA Um dos poucos estudos sobre a imprensa e os veículos de comunicação no estado de Rondônia, consta no “Projeto Donos da Mídia”, desenvolvido pelo jornalista Daniel Herz (2011). Como aponta o próprio site, o donosdamidia.com.br “reúne dados públicos e informações fornecidas pelos grupos de mídia para montar um panorama completo da mídia no Brasil”. No site estão detalhadas diversas informações sobre emissoras e retransmissoras de TV; rádios AM, FM, Comunitárias; operadoras de TV a cabo; canais de TV por assinatura; e as principais revistas e jornais impressos. De acordo com o projeto Donos da Mídia, existem em Rondônia, atualmente, noventa e três (93) veículos de comunicação. O estado recebe o sinal de 14 redes de TVs, através de seis geradoras de TV e 155 retransmissoras, quatro delas pertencem a grupos religiosos, entre eles a Igreja Assembleia de Deus. Rondônia ainda possui 18 rádios AMs e 26 FMs, onde se destaca o Sistema de Rádio e Comunicação/Sistema Meridional de Comunicação, que possui sete veículos, o Grupo é afiliado a duas redes de televisão, SBT e Band, e possui ainda 5 rádios FM. Outro grupo de grande destaque no estado de Rondônia é o Sistema Gurgacz de Comunicação (SGC), que atua em vários segmentos, entre eles televisão, através da RedeTV, e no jornalismo impresso através do jornal Diário da Amazônia. Outros grupos se destacam no estado, entre eles a Rede Amazônica, afiliada à rede Globo, o Sistema Imagem de Comunicação (SIC) - afiliado à rede Record, Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Amazonas - que controla a rede RBN (TV) e ainda o grupo Gov. BR, que controla a rede de televisão EBC. O site Donos da Mídia registra ainda 11 jornais impressos, sendo três na capital do estado, Porto Velho: Diário da Amazônia, O Estadão do Norte e O Guaporé. No interior do estado, os jornais se distribuem por Vilhena, Folha de Vilhena e Folha do Sul; Ariquemes, O Vale do Jamari; Ji-Paraná, Folha de Rondônia e Correio Popular de Rondônia; Espigão D’Oeste, O Cone Sul; e Cacoal, A Gazeta de Rondônia e Tribuna Popular. De acordo com levantamento realizado, entre abril e julho de 2011 não constam no “Projeto donos da mídia” os jornais: Voz do Povo e Jornal de Rondônia, de Alta Floresta; Folha do Vale, região do Vale do Guaporé; Jornal Nossa Folha, de Ariquemes; A Notícia, de Jaru; Alto Madeira, O Observador e O Rondoniense, de Porto Velho; Folha da Mata, de Rolim de Moura; Vale do Jamari, do Vale do Jamari; Por Dentro da Notícia, de Presidente 33 Médici; Rondosul, Jornal do Servidor e Correio de Notícias, de Vilhena; O Clarim e O Liberal, de Cacoal. 2.3 UM BREVE HISTÓRICO DO JORNAL TRIBUNA POPULAR A história do jornal Tribuna Popular está intimamente ligada ao desenvolvimento da Amazônia. A implantação das políticas desenvolvimentistas do Governo Militar e a propaganda estatal atraíram, a partir da década de 1970, um grande contingente populacional para o Estado de Rondônia. Após este auge9 da colonização de Rondônia, surge em 1980, o primeiro jornal do município de Cacoal. Adair Antônio Perin nasceu em nove de março de 1953 na cidade de Chapecó, Santa Catarina. Filho de pais gaúchos, Perin e sua família mudaram para o Paraná, quando ele ainda era criança. Naquele estado, a família vivia basicamente da agricultura, tendo em curtos períodos, se dedicado a pequenos comércios, como um pequeno hotel e também um bar. Foi ainda no Paraná que Perin teve a primeira experiência com o escrever e publicar. Quando cursa o ensino fundamental em uma escola de Toledo, Perin e um amigo decidiram publicar um pequeno jornal estudantil. No início O Reflexo era impresso em um mimeógrafo, com quatro páginas. Este abordava assuntos do ambiente escolar e era custeado por Perin e seu colega que, muitas vezes, contavam com a colaboração de alunos e professores da escola. A publicação escolar que era impressa em mimeógrafo foi, posteriormente, reproduzido em uma gráfica da cidade, como relata Perin (2011): Nós tivemos acesso a uma gráfica, para fazer um outro material impresso (a parte), e nós comentamos com a dona da gráfica que nós imprimíamos um jornalzinho estudantil no mimeógrafo, daí a dona da gráfica sugeriu da gente imprimir na gráfica. Ela fez um orçamento pra gente e tal, daí sim nós fomos atrás de patrocinadores para poder imprimir o jornal. Daí nós começamos a ir atrás de publicidade e o jornal começou até a ser rentável. Nós pagávamos as despesas e ainda sobra um dinheirinho no caixa. Quando nós imprimíamos em mimeógrafo, nós distribuíamos uns 200 exemplares pela 9 Assim como visto no capítulo 1 deste trabalho, de acordo com o IBGE (1991, 1995), no início da década de 1970, Rondônia tinha 111.064 mil habitantes. Dez anos após a implantação do primeiro Projeto Integrado de Colonização, em 1980, Rondônia já contava com 491.069 mil habitantes. Enquanto o Brasil crescia, nesse período (70/80), 2,48%, o Estado de Rondônia tinha um crescimento populacional de 16,03%. 34 escola, mas depois, quando começamos a imprimir na gráfica, passamos a atender a todo o alunado da escola, passava de 400 exemplares. [sic] Foi a experiência neste jornal estudantil que ofereceu a Perin a chance de trabalhar em um jornal da cidade. A gráfica onde Perin imprimia O Reflexo era a dona do jornal Voz do Oeste, da cidade de Toledo. Assim surgiu a proposta para que o jovem trabalhasse na área comercial do semanário. Esporadicamente, Perin escrevia matérias sobre assuntos diversos. O trabalho no jornal Voz do Oeste era feito nos horários vagos de Perin, que também acumulava a função de contador na prefeitura de Toledo. Quando ainda trabalhava no jornal e na prefeitura, Perin resolveu visitar alguns parentes que, em 1972, se mudaram para Rondônia. Esses parentes, pais, irmãos e cunhados, vieram para Rondônia influenciados pela propaganda do governo federal para colonizar a região. Em busca da terra fácil, parte da família de Perin e muitas outras famílias do Brasil se mudaram para o então Território Federal de Rondônia. Perin conheceu Rondônia em 1979, quando visitou os parentes na cidade de Cacoal. A sua primeira impressão da nova terra foi boa, como conta o próprio jornalista: A gente fez uma opção de vir conhecer Rondônia e nos entusiasmamos com Cacoal, que era na época, aquela vibração toda [...] como todo o pessoal, tinha o sonho da terra. [...] Era uma cidadezinha pequena, com muita poeira. Praticamente todas as casas eram de madeira. Mas um movimento muito grande, muito animador. O pessoal era entusiasmado, alegre e a gente se envolveu nessa onda aí também, e resolvemos vir pra cá. [...] A minha irmã que morava aqui sabia que eu trabalhava na prefeitura lá de Toledo e disse que era fácil arrumar um emprego aqui em Cacoal, e ela foi junto comigo falar com o prefeito. Aí eu lembro que o prefeito olhava a minha carteira de trabalho e analisava, ele fez algumas perguntas, [...] aí eu expliquei tudo pra ele e ele disse: “Pode vir, você está contratado” e para ganhar um pouco mais do que eu ganhava em Toledo. Não teve como deixar de vir! [sic] (PERIN, 2011). Apesar do grande fluxo migratório e das milhares de pessoas que chegavam à Cacoal, a mão de obra especializada na cidade era pouca. Dessa forma, por possuir certa experiência na área de contabilidade, Perin foi contratado de imediato, quando fazia apenas uma visita aos parentes. Com a proposta de trabalho, Perin voltou ao Paraná, convenceu a esposa e se mudaram para Rondônia, ainda em 1979. Com menos de um ano morando em Cacoal, Perin notou a ausência de veículos de comunicação na cidade. As informações que chegavam de fora, geralmente vinham com atraso, já na cidade, as notícias eram transmitidas apenas por um alto-falante. Neste cenário, 35 Perin decidiu montar um jornal e em 1980, com apoio da prefeitura municipal, o jornalista fundou o jornal Tribuna Popular: A ideia (de montar um jornal) foi logo que eu cheguei. Eu estava acostumado no meio da comunicação e aqui não existia nada. Só existia um serviço de alto-falante, não tinha jornal. O jornal que vinha de Porto Velho chegava uns três ou quatro dias atrasado. Na televisão a programação era toda atrasada. O fantástico de um domingo a gente assistia no outro domingo e assim por diante. Então a gente viu que tinha essa lacuna e a gente entendia que com um jornalzinho a gente podia ajudar muito, daí a gente teve a ideia de começar este trabalho. [sic] (PERIN, 2011). Com o intuito de publicar o seu jornal, Perin foi à busca de anunciantes para custear a edição. Os empresários gostaram da novidade e aceitaram investir na veiculação de seus anúncios. No entanto, a falta de hábito e a falta de confiança ainda persistiam nesta relação comercial, pois estes empresários só pagariam a Perin quando vissem seus anúncios devidamente impressos na edição. Para contornar esta dificuldade econômica, Perin conta como conseguiu publicar a primeira edição com a impressão feita na gráfica do extinto jornal O Guaporé: Sem dinheiro a gente tentou fazer o jornal. A ideia minha era que eu levantasse uma quantidade de anúncios suficiente para pagar o jornal e obter um pequeno lucro em cima. Eu reuni todas as matérias e anúncios e fui a Porto Velho para imprimir o jornal. Mas eu fui sem dinheiro, só com o dinheiro para cobrir as despesas da viagem. Eu entendi que se eu chegasse lá e desse um cheque, a pessoa esperaria alguns dias até que eu chegasse, apresentasse a edição do jornal, recebesse o dinheiro da publicidade e pagasse a edição. Daí, para o meu engano, na hora da edição pronta, o cidadão, dono da gráfica, seu Hermano Pontes Pinto, que era o dono do jornal “O Guaporé” onde eu imprimia a edição, não quis liberar a edição pra mim. Aí eu tive que, no desespero, procurar uma forma de trazer a edição, para receber e poder pagar. Daí eu contei com o apoio de uma pessoa que era uma autoridade no estado, ela me ajudou a liberar a edição para eu levar para Cacoal, mediante a apresentação de um cheque para poucos dias. Quando eu cheguei a Cacoal recebi as publicidades, daí eu consegui cobrir os cheques e levantar um lucro para a próxima edição. [sic] (PERIN, 2011). Foi assim, com todas as dificuldades da época, que Perin conseguiu montar um jornal em uma região em plena colonização. Com dez páginas e com uma tiragem de 3.000 exemplares, o primeiro número do jornal trazia notícias de novos moradores que chegavam à região, o anseio da população por instituições de ensino e a implantação de um ônibus entre Cacoal e a capital, Porto Velho. Após a distribuição da primeira edição, Perin começou a receber o pagamento dos anúncios e acertou as contas, o que facilitou as negociações das próximas edições. No início, 36 a circulação do jornal Tribuna Popular era mensal, pois as dificuldades eram grandes, principalmente, na sua distribuição, pois as estradas que interligavam as cidades do interior de Rondônia não eram pavimentadas, inclusive, entre Cacoal e Porto Velho. 2.3.1 O Jornal Tribuna Popular passa por algumas mudanças Após dois anos imprimindo o jornal na gráfica tipográfica do jornal O Guaporé, em Porto Velho, Perin começou a imprimir o jornal em Manaus, na gráfica do jornal A Crítica. A mudança aconteceu, porque em Manaus o jornal seria impresso em maquinário Off-set, o que melhoraria a qualidade da impressão. O contato com a gráfica de Manaus possibilitou a Perin encontrar máquinas que ele poderia comprar para formar a sua própria gráfica. Dessa forma, em 1983, Perin conseguiu inaugurar sua primeira gráfica. A primeira edição, em maquinário próprio, foi produzida em agosto de 1983, sendo que para isso, o jornal voltou a ser impresso no maquinário em sistema tipográfico. Em partes foi bom, pois acabaram as viagens e alguns outros custos, por outro foi difícil, porque tive que trazer profissionais de fora e quando dava problema nas máquinas tinha que vir técnicos de outros estados. Só começou a melhorar quando começamos a investir em profissionais da cidade. [sic] (PERIN, 2011). Nos primeiros anos do jornal Tribuna Popular, entre 1980 e 1984, as propagandas governamentais foram de extrema importância para que Perin pudesse mantê-lo. À época, os serviços básicos de infraestrutura ainda eram precários, o que dificultava a produção e impressão do jornal. Entre os fatores que mais dificultavam, estavam as constantes interrupções de energia e a péssima qualidade das estradas. Apesar de ter contratos privados de publicidades, eles não eram suficientes para manter o jornal em longo prazo, por isso a importância das propagandas institucionais do governo. A prefeitura a gente já contou com o apoio desde o início, antes que o jornal circulasse. Mediante as publicações, a gente apresentava as faturas e recebia. Não era tão burocrático quanto é hoje. O governo demorou até um tanto para começar a anunciar. Depois começaram a desenvolver algumas campanhas, 37 daí a gente começou a divulgar as publicidades que tinham e assim conseguimos ir mantendo o jornal. [sic] (PERIN, 2011). Através das propagandas governamentais e também de reportagens sobre Cacoal e o Estado, divulgadas no início da década de 1980, o jornal Tribuna Popular tem sua parcela de responsabilidade no desenvolvimento da região. De acordo com Perin, muitas pessoas que vinham visitar Rondônia levavam consigo exemplares do jornal para mostrar às pessoas das outras regiões como era o estado de Rondônia, assim dispõe o próprio Perin (2011): Ah, eu acho que sim (o jornal contribuiu com a divulgação do desenvolvimento de Rondônia), porque tudo girava em torno de uma amplitude para divulgar o objetivo de criação do Estado e era aquela expectativa do povo. Estávamos todos vinculados nos acontecimentos. Era uma forma de altruísmo, perseverança, então a gente anunciava e o pessoal prestava atenção mesmo, pegavam, liam. [...] Além disso, muitas pessoas utilizavam o jornal para poder convencer parentes que não queriam vir para cá, que temiam pelo futuro. Daí esses anúncios eram mandados pra fora, e o pessoal se convencia e chegava cada vez mais gente. Isso não só através do Tribuna Popular, mas de vários veículos também, que utilizavam para poder divulgar e atrair mais gente para Rondônia. Como a gente falou né, era considerado o novo El Dourado, então a propaganda era muito grande para atrair o povo, e a gente acaba sendo seguido pelo povo. Aqui tinha terra, então faziam a propaganda que o futuro de cada um era vir pra cá. [sic] São estas propagandas institucionais do governo que pretendemos analisar nesta pesquisa. Anúncios que propagaram amplamente o potencial e as oportunidades oferecidas pela região amazônica e que colaboraram para atrair milhares de migrantes para colonizar a região. É neste contexto que este trabalho pretende analisar a influência exercida pelas propagandas governamentais utilizadas como persuasão do ideal desenvolvimentista divulgadas no jornal Tribuna Popular no período entre 1980 e 1984. Para este trabalho, é também importante conhecer o jornal Tribuna Popular hoje, após 31 anos de sua criação. Este jornal foi criado em 1980 e é um dos poucos jornais que sobreviveu às dificuldades financeiras da região. É hoje o jornal mais antigo do interior do estado de Rondônia e o segundo mais antigo do Estado, ficando atrás apenas do Jornal O Alto Madeira, da capital Porto Velho. 38 2.3.2 Tribuna hoje Impresso em maquinário offset10 Tribuna Popular tem tiragem de três mil exemplares e é distribuído, além de Cacoal, nas principais cidades da região central do estado de Rondônia. Aproximadamente 200 exemplares são distribuídos em Pimenta Bueno, 100 em Espigão d’Oeste, 200 em Rolim de Moura, 80 em Presidente Médici, 100 em Ministro Andreazza e ainda 200 exemplares são distribuídos na capital Porto Velho. Também distribuímos o jornal via Correio, para pessoas que moravam em Cacoal e se mudaram, mas ainda querem receber o jornal. De vez em quando também mandamos para Brasília. E às vezes algumas empresas de fora também solicitam exemplares do nosso jornal. [sic] (PERIN, 2011). A equipe do jornal Tribuna Popular é composta pelo jornalista Adair Antônio Perin e por sua filha, Giliane Perin, estudante de jornalismo, contando ainda com Tales Donat Perin, seu outro filho, o diretor administrativo. Na diagramação do jornal, trabalham Moisés Oliveira e Tainá Dettmer Dorta, além disso, o jornal conta com o chefe de impressão Edson Artur e a secretária Maria Suênia. Além do quadro fixo de funcionários, o jornal conta ainda com o correspondente de Porto Velho, Zé Luiz, os colunistas Jusmar Lustoza e Silvana Lustoza, bem como com os jornalistas Paulo Henrique e Daniel Paixão. O jornal é semanal e circula as sextas-feiras. Com tamanho Standart, Tribuna Popular mantém a impressão em preto e branco, sendo que, apenas o cabeçalho da primeira página é impresso na cor verde. A quantidade de páginas nas edições do Tribuna Popular varia entre 12 e 24 páginas. Além de notícias e propagandas, o jornal veicula as colunas: Boca Maldita (coluna composta por notas curtas de crítica e humor); Tribuna Livre (espaço aberto aos leitores); Papudiskina (coluna assinada pelo jornalista Daniel Paixão); De Porto Velho (coluna assinada pelo jornalista Zé Luiz, com notícias da capital do Estado: Café Society (coluna social assinada 10 Dizem que ela foi fabricada na época da Guerra e os alemães que produziram. Foi produzida na Alemanha essa máquina né! E ela é para ter toda uma estrutura de alumínio, que era para ser um material mais leve para poder ser transportada em um avião. Aí eles faziam impressos e distribuíam onde tinha população, conflitos da guerra. (...) Eu comprei ela em 1994, e a gente instalou ela e começamos a imprimir em off-set. Eu lembro que foi 18 mil, não lembro bem a moeda da época! Acho que não era o real ainda, acho que era cruzeiro. A máquina foi comprada com nota fiscal da gráfica de Brasília, então não teve problema para transportá-la de Brasília pra cá. Essa máquina é de uma marca com nome bem complicado “Kilckbusch”, é uma marca de origem alemã. Ela data de 1954. [...] (PERIN, 2011). 39 pela colunista Silvana Lustoza); e Ponto de Encontro (assinada pelo colunista Jusmar Lustoza, que mescla artigos diversos, sobre saúde, educação e entretenimento). 40 3 MÉTODO E CONCEITOS 3.1 METODOLOGIA: A ANÁLISE DE CONTEÚDO Com o objetivo de analisar as propagandas institucionais veiculadas no Jornal Tribuna Popular, no período entre 1980 e 1984, será utilizada como metodologia para esta pesquisa a Análise de Conteúdo. Antes que se inicie, contudo, é necessário conhecer e entender esta técnica de análise, proposta por Laurence Bardin. De acordo com Bardin (1977, p. 15-22), a Análise de Conteúdo surgiu no início do século passado, desenvolvendo-se nos Estados Unidos. O primeiro estudioso que se destaca nesta técnica de pesquisa é H. Lasswell, que a partir de 1915 faz análises de imprensa e de propaganda. Bardin (1977, p.15-16) aponta que, entre os anos de 1940 e 1950, ainda nos Estados Unidos, os departamentos de ciências políticas tiveram destaque na Análise de Conteúdo, contribuindo para o seu desenvolvimento. Estudos sobre a Segunda Guerra Mundial e outros assuntos relacionados à política contribuíram para o aperfeiçoamento da técnica. Os analistas desenvolviam um trabalho criterioso na investigação de jornais e periódicos, com o objetivo de revelar alguma mensagem ou propaganda subversiva dos inimigos do país. A partir de 1950, a Análise de Conteúdo começa a ser difundida e utilizada em pesquisas, nas mais diversas áreas e disciplinas. É um período onde acontecem grandes aperfeiçoamentos técnicos da metodologia. A objetividade torna-se menos rígida, se aceita melhor a combinação entre análise sistemática e compreensão clínica do material estudado. A inferência, dedução lógica do analista, passa a ser aceita e tida como um dos recursos para a análise. A partir de 1960, com o advento da informática, a Análise de Conteúdo entrou em um novo momento. O computador ofereceu novas possibilidades à Análise. O tratamento informático permitiu uma análise mais rápida de quantidades, frequência, e ainda aplicou fórmulas estatísticas aos dados que iam sendo obtidos. Contudo, com a informática, a Análise passou a ser mais rigorosa em todas as fases dos procedimentos. Quanto mais recursos, mais eficiente ela deveria ser. 41 3.1.1 Afinal, o que é Análise de Conteúdo? A Análise de Conteúdo é uma metodologia de pesquisa que permite ao analista interpretar o conteúdo de vários tipos de documentos, textos e anúncios. Esta metodologia é aplicada na análise de qualquer tipo de comunicação. A Análise de Conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações. (BARDIN, 1977, p.31). Conforme Bardin (1977, p. 32), “qualquer comunicação, isto é, qualquer transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não por este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo”. De acordo com Bardin (1977, p. 30), a Análise de Conteúdo possuiu duas funções, que na prática podem ou não se dissociar: Função Heurística: a análise de conteúdo enriquece a tentativa exploratória, aumenta a propensão à descoberta. É analise de conteúdo <<para ver o que dá>>. Função de <<administração da prova>>: Hipóteses sob a forma de questões ou de afirmações provisórias servindo de directrizes apelarão para o método de análise sistemática para serem verificadas no sentido de uma confirmação ou de uma infirmação. É análise de conteúdo <<para servir de prova>>. Além da definição de Bardin, outro estudioso que conceituou a Análise de Conteúdo foi B. Berelson. Segundo Berelson, a Análise de Conteúdo é “uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto nas comunicações” (BERELSON apud BARDIN, p. 19). Para que se cumpra com a objetividade e a rigidez da investigação, em Análise de Conteúdo é necessário seguir critérios rigorosos na execução das técnicas de análise. Para que a aplicação da Análise de Conteúdo seja eficiente é necessário cumprir com várias etapas, a começar pela Organização da Análise, Codificação, Categorização, Inferência e, Tratamento Informático, definidas por Bardin (1977). Moraes (1999) definiu as etapas da seguinte forma: 1 – Preparação das Informações; 2 – Unitarização ou transformação dos conteúdos em unidades; 3 – Categorização ou 42 classificação das unidades em categorias; 4 – Descrição; 5 – Interpretação. Através das definições e dos conceitos de Moraes (1999), percebe-se que a Análise de Conteúdo já não se restringe apenas ao texto, permitindo ao pesquisador uma interpretação sobre o material analisado. De acordo com Moraes (1999), “uma boa análise de conteúdo não deve limitar-se à descrição. É importante que procure ir além, atingir uma compreensão mais aprofundada do conteúdo das mensagens através da inferência e interpretação”. Por essa visão mais abrangente da metodologia de Análise de Conteúdo, os estudos de Moraes nortearam esta pesquisa. 3.1.2 Os caminhos para análise Uma vez de posse de todas as informações que serão analisadas, é preciso, antes de tudo, submeter estas informações a um processo de preparação. De acordo com Moraes (1999), este processo consiste em: “Identificar as diferentes amostras de informação a serem analisadas”. Nesta etapa é necessário realizar uma primeira leitura dos materiais selecionados e, a partir desta leitura, tomar as primeiras decisões sobre quais informações são realmente condizentes com o direcionamento da pesquisa a ser realizada. O material deve ser pertinente ao objetivo que o levou a análise. Após esta primeira leitura e tomada de decisões, tem-se início o processo de codificação do material, estabelecendo um código que possibilite identificar rapidamente cada elemento a ser analisado. “Este código poderá ser constituído de números ou letras que a partir deste momento orientarão o pesquisador para retornar a um documento específico quando assim o desejar”. (MORAES, 1999). Após este primeiro processo de identificação das diferentes informações, selecionando o material realmente condizente com os objetivos da pesquisa, chega a vez de transformar os conteúdos de análise em unidades. Para isso, Moraes (1999) aconselha: Reler cuidadosamente os materiais com a finalidade de definir a unidade de análise, também denominada “unidade de registro” ou “unidade de significado. A unidade de análise é o elemento unitário de conteúdo a ser submetido posteriormente à classificação. [...] Toda categorização ou classificação necessita definir o elemento ou indivíduo unitário a ser classificado. Na análise de conteúdo, denominamos este elemento de unidade de análise. A natureza das unidades de análise necessita ser definida 43 pelo pesquisador. As unidades podem ser tanto as palavras, frases, temas ou até mesmo os documentos em sua forma integral. Após identificar e codificar todas as unidades de análises, o pesquisador estará pronto para desenvolver a próxima etapa da análise de conteúdo, a categorização. “A categorização é um procedimento responsável por agrupar dados, considerando a parte comum entre eles. Classifica-se por semelhança ou analogia, segundo critérios previamente estabelecidos ou definidos no processo”. (MORAES, 1999). Segundo Moraes, estes critérios podem ser semânticos, categorias, temáticos e sintáticos, categorias a partir de verbos, substantivos e adjetivos. Para Olabuenaga e Ispizúa (apud MORAES, 1999), “o processo de categorização deve ser entendido em sua essência como um processo de redução dos dados. As categorias representam o resultado de um esforço de síntese de uma comunicação, destacando neste processo seus aspectos mais importantes”. Desse modo, a construção das categorias precisa obedecer a uma série de critérios rigorosos. As categorias devem ser válidas, exaustivas e homogêneas. Ou seja, a classificação de qualquer elemento em uma categoria deve ser mutuamente exclusiva. Como exemplo, um mesmo elemento não pode fazer parte de duas categorias diferentes. A penúltima etapa do processo de análise de conteúdo é a descrição. Onde o pesquisador, seja por meio de gráficos ou tabelas, ou textos-sínteses, deverá descrever os resultados encontrados após a categorização do material, assim como explica Moraes (1999): O momento da descrição é sem dúvida, de extrema importância na análise de conteúdo. É o momento de expressar os significados captados e intuídos nas mensagens analisadas. Não adianta investir muito tempo e esforço na constituição de um conjunto de categorias significativo e válido, se no momento de apresentar os resultados não se tiver os mesmos cuidados. Será geralmente através do texto produzido como resultado da análise que se poderá perceber a validade da pesquisa e de seus resultados. Por último, assim como afirma Moraes (1999), uma boa análise de conteúdo não deve se limitar apenas à descrição. Para que se alcance uma compreensão mais profunda do conteúdo analisado, o pesquisador precisa ir além, através da interpretação e inferência dos resultados. De qualquer modo, seja a partir de um fundamento teórico definido a priori, seja a partir da produção de teoria ou a partir dos materiais em análise, a interpretação constitui um passo imprescindível em toda a análise de conteúdo, especialmente naquelas de natureza qualitativa. O termo 44 interpretação está mais associado à pesquisa qualitativa, ainda que não ausente na abordagem quantitativa. (MORAES, 1999). 3.2 OS ANÚNCIOS GOVERNAMENTAIS VEICULADOS DURANTE 19811984 O material veiculado pelos Governos Federal e Estadual, no Jornal Tribuna Popular, pode ser conceituado neste trabalho como “o conjunto de técnicas e atividades de informação e persuasão destinadas a influenciar, num determinado período histórico, as opiniões, os sentimentos e as atitudes do público receptor”. (SILVA apud PINHO, 1990, p. 22). Para uma conceituação apropriada sobre estes anúncios veiculados pelo governo militar, em vigor neste período, recorremos aos apontamentos de Pinho (1990, p. 132): A propaganda é definida por Laswell como “técnica para influenciar ações humanas pela manipulação de representações”, para Katz e Schank, “a propaganda é uma tentativa organizada de manipular as massas para uma ação determinada, por meios indiretos”. Já Newcomb se refere a ela como “tentativa sistemática de influenciar atitudes, através dos meios de comunicação de massa”. Ao veicular estes anúncios no Jornal Tribuna Popular, a intenção do governo parece motivar a população de Rondônia a apoiar as políticas econômicas da época. Através de mensagens como, Plante mais feijão. O preço mínimo é Cr$ 14.400,00, mais correção; Quem produz mais, paga menos e ganha mais; A incrível história do povo que acreditou. O Brasil encontrou a saída. Vamos todos crescer; Você poupou, a solução começou; Abc da Terra Leia com atenção e conheça seus direitos e obrigações sobre a propriedade da terra, o governo parece tentar persuadir o leitor a aderir aos planos e pensamentos do governo. Vale ressaltar que, o material publicitário utilizado neste trabalho pode ser entendido como instrumentos da comunicação. Pela característica de seus conteúdos e da grande parcela de público que pretende alcançar - a população de um país, de um estado, de um município ou cidade - a maioria dos instrumentos utilizados pela comunicação feita pelo Estado ou governo está focada na mídia - campanhas publicitárias, impressos e produtos em geral de divulgação. (BRANDÃO, 2006. p. 7). 45 Heloísa Matos (1997) reforça ainda mais esta ideia, afirmando que o uso da propaganda dentro da Comunicação Governamental tem características ideológicas e possui como “traço distintivo, a persuasão”. A Comunicação Governamental é mais pontual, e se refere a redes de comunicação formais inseridas nas organizações públicas, e que têm como tarefa difundir junto à opinião pública questões ou temas significativos que ocorrem na esfera governamental – visando ao conhecimento e a participação do cidadão. Seu traço distintivo é a persuasão, principalmente através de mecanismos de propaganda ideológica. (MATOS, 1997). O termo Propaganda é bastante abrangente. Tentando particularizar e detalhar todo e qualquer tipo de Propaganda, Pinho (1990) listou, em um de seus trabalhos, diversos termos como: Propaganda Ideológica, Propaganda Política, Propaganda Eleitoral, Propaganda Governamental, Propaganda Institucional, Propaganda Corporativa; Propaganda legal, Propaganda Religiosa e Propaganda Social. Propaganda governamental - tem por objetivo criar, reforçar ou modificar a imagem de um determinado governo, dentro e fora de suas fronteiras. A propaganda governamental – feita pelo próprio governo ou por companhias estatais – representa uma grande parcela do volume total de propaganda veiculado no Brasil, o que demonstra a preocupação do governo (em seus três níveis: federal, estadual e municipal) com a opinião pública. (PINHO, 1990, p. 23). Além disso, as propagandas analisadas neste trabalho foram veiculadas no final do período da Ditadura Militar pelo qual passou o Brasil entre os anos de 1964 a 1985. Neste contexto, Raquel Cavalcanti Ramos Machado (2008) enfatiza o uso, pelos governos ditatoriais, deste tipo de Propaganda, o que reforça a escolha deste conceito para abordar o material publicitário analisado nesta pesquisa. É inegável a importância do diálogo entre governantes e governados ao longo dos tempos, como forma de legitimação do poder. Os recursos utilizados, evidentemente, foram os mais diversos, mas os propósitos talvez não se tenham alterado tanto. Ao contrário do que se pode imaginar, não há governo que se mantenha apenas com o uso da força. Prova disso é que a propaganda governamental foi e vem sendo usada, sobretudo, em ditaduras, como forma de conquistar a população na adesão às ideias do chefe do executivo. (MACHADO, 2008). 46 3.3 PESQUISA: O MATERIAL DE PESQUISA Nesta pesquisa serão analisadas 12 Propagandas Governamentais veiculadas pelos Governos, Federal e Estadual, no Jornal Tribuna Popular, da cidade de Cacoal, Rondônia. O material analisado foi veiculado entre 1980 e 1984. Para facilitar o estudo do material que será analisado através da metodologia da Análise de Conteúdo, proposta por Moraes (1999), o material foi dividido em duas categorias maiores: Governo Federal (6 propagandas) e Governo Estadual (6 propagandas). Estas duas categorias se subdividem como veremos a seguir. 3.3.1 Categorias e Subdivisões Dentro da categoria Governo Federal, surgiram as subdivisões em anúncios sobre: Inflação; Terra/Agricultura e Infraestrutura. Já a categoria Governo Estadual foi subdividia em anúncios da: Secretaria de Finanças/Campanha Rondonzinho e Emancipação de Rondônia. Dessa forma, os 12 anúncios analisados se dividiram em duas categorias, originando 5 subdivisões. Conforme mostram as tabelas abaixo: Figura 2 – Gráfico Categorias 47 Figura 3 – Gráfico Subdivisões das categorias Figura 4 – Gráfico Subdivisões das categorias 3.3.2 O que dizem as propagandas? Todas as propagandas veiculadas, tanto pelo Governo Federal quanto Estadual, abordam questões relativas ao desenvolvimento do país e do estado11. Entre o período de 1980 11 A partir do Golpe Militar de 1964, o Governo brasileiro se empenhou em buscar saídas para promover o desenvolvimento acelerado do Brasil. Desta forma começou a promover ativamente, em vez de limitar, o investimento estrangeiro nas riquezas do país; introduziu uma série de incentivos fiscais e tributários para promover projetos de pecuária e agroindústria na Bacia Amazônica; e em 1970, lançou o Plano de Integração Nacional. (DAVIS, 1977. P. 57-69). 48 a 1984, Rondônia passou pelo processo de transição de Território Federal à Estado da Federação. Desta forma, todas as propagandas veiculadas pelo Governo Estadual, abordavam questões pertinentes ao avanço em questões como infraestrutura e arrecadação de impostos, além de outras medidas necessárias para a emancipação política e formação do Estado. No mesmo período, 1980 a 1984, o Brasil superava uma das piores crises econômicas de sua história, com a alta da inflação e estrangulamento das contas do país. Assim, o material propagado pelo Governo Federal, abordava a superação dessa crise, e veiculava propagandas de incentivo à agricultura, e obras de infraestrutura no país. 3.3.2.1 O Governo Federal No período analisado, o Governo Federal veiculou, através do Jornal Tribuna Popular, 6 propagandas. Três dela, de incentivo à agricultura, duas sobre a superação da crise econômica, ocasionada pela crise do petróleo, e uma sobre a construção da Rodovia Marechal Rondon/BR-364, entre Cuiabá – MT e Porto Velho – RO. Os anúncios sobre a crise econômica enfatizam alta da inflação, o estrangulamento das contas externas, o desemprego no setor industrial, a falta de evolução no comércio internacional e a expectativa de fracasso que havia, em relação às safras nordestinas. Segundo o anúncio, foi através da contribuição do povo brasileiro, que o país voltou a crescer, superando os momentos difíceis e os desafios. Desta forma, com a superação da crise, a inflação baixou, houve a contenção do crescimento da dívida externa, a reanimação da indústria, o crescimento das exportações industriais e avanço da agricultura no Sul do país, Região Central e na nova fronteira do Extremo Oeste. As duas propagandas reforçam a participação do povo brasileiro na solução e superação da crise econômica. Além disso, enfatiza o desenvolvimento da agricultura, o crescimento industrial, o crescimento da produção de energia e da produção de petróleo, o saldo comercial positivo, a queda da inflação e subsequente, o crescimento do país. O anúncio sobre a Rodovia Marechal Rondon aborda a construção da BR-364, entre Rondônia e Mato Grosso, desde as dificuldades econômicas enfrentadas até o desenvolvimento do país. Enfatiza as dificuldades da população antes da construção da rodovia e as vantagens e benefícios da obra. Além disso, o anúncio enaltece a redução dos 49 gastos e a antecipação do prazo de término da obra, homenageia Marechal Rondon, dando seu nome à Rodovia, e faz comparações entre as linhas telegráficas de Rondon e a obra de construção da Rodovia do Presidente Figueiredo. Também enfatiza a expansão agrícola que a Rodovia irá permitir e o dinamismo e desenvolvimento dos estados de Mato Grosso e Rondônia. Os outros três anúncios veiculados pelo Governo Federal são de incentivo à Agricultura. Um dos anúncios aborda o desenvolvimento da agricultura no país, alcançado devido ao sucesso de grandes safras. Define ainda, o futuro do país como promissor e aborda as vantagens da produtividade rural, lançando incentivos aos produtores, com premiações aos produtores rurais modelos. Um segundo anúncio aborda a valorização do feijão, com a alta do preço, e também lança incentivos aos produtores, para a plantação do feijão, fornecendo meios para garantir bons lucros. O terceiro anúncio parece funcionar como uma cartilha, abordando os direitos e deveres do produtor rural. A propaganda cita a Constituição Federal e ainda fala sobre o Estatuto da Terra, abordando as funções sociais da terra. Além disso, o anúncio faz explicações em relação ao Programa Nacional de Política Fundiária e enaltece a figura do Presidente João Figueiredo, que torna intensas as ações do governo, em relação à agricultura. O anúncio ainda discorre sobre a distribuição de terra, o progresso e desenvolvimento do país, alicerçado na agricultura, enfatiza a paz e justiça social. Aborda os Projetos de Colonização, enfatiza os órgãos de Terra (MEAF, INCRA, GETAT, GEBAM), a necessidade de acabar com latifúndios improdutivos e minifúndios antieconômicos com a desapropriação por interesse social, e o direito de Propriedade, impostos, conservação de propriedade e do respeito aos recursos naturais. 3.3.2.2 O Governo Estadual Entre o período de 1980 e 1984, o Governo do Estado de Rondônia veiculou 6 propagandas institucionais. Quatro são de autoria da Sefin, Secretaria de Finanças do Estado, uma da Codaron - Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia, uma do próprio Governo. Três anúncios, Codaron, Governo e um da Sefin abordam a emancipação política de Rondônia, e as outras três da Sefin, abordam a campanha de arrecadação de impostos, desenvolvida pela Secretaria. 50 A Secretaria Estadual de Finança aderiu ao personagem Rondonzinho para divulgar a campanha de arrecadação de impostos, onde surgiu até mesmo um álbum de figurinhas, como forma de atrair o cliente. Ao preencher o álbum ou adquirir uma figurinha “carimbada”, o cliente ganhava uma premiação, que variava desde um carro Zero Km, caderneta de poupança, bicicleta, geladeira, entre outros. Por cada Cr$ 500,00 em Notas Fiscais, Tíquetes ou Cupons Especiais, o cliente tinha direito a cinco figurinhas do álbum. Os sorteios eram realizados com base na extração da Loteria Federal. Estas três propagandas foram veiculadas entre 1981 e 1982. A campanha tinha como objetivo atrair o contribuinte para que este pagasse os impostos em dia, o que possibilitaria, segundo a Secretaria de Finanças, investir em infraestrutura, como construção de escolas, hospitais, estradas, rede elétrica, entre outros. Duas propagandas enfatizam o álbum de figurinhas, os prêmios, os locais de troca, como proceder com a troca. A terceira é a divulgação dos ganhadores dos prêmios. Os outros três anúncios tratam da emancipação de Rondônia. A propaganda da Codaron aborda a participação desta Companhia ao fornecer estrutura para a Agricultura no Estado, fortalecendo a principal atividade econômica da região, possibilitando a elevação à categoria de Estado. A propaganda da Sefin segue pela mesma linha do anúncio da Codaron. Aborda a participação da Secretaria de Finanças, através da arrecadação de impostos, possibilitando a execução de diversas obras de infraestrutura, como construção de escolas, hospitais e estradas. Obras necessárias para que o Governo Federal emancipasse Rondônia. O anúncio do Governo Estadual foi veiculado como uma forma de agradecimento e exaltação ao povo rondoniense engajado no desejo da emancipação, ao Presidente João Figueiredo, que sancionou o decreto de elevação de Rondônia à categoria de Estado, aos ministros envolvidos no processo, aos senadores e deputados federais que aprovaram a emancipação de Rondônia e ao próprio Governo Estadual, que dotou o estado de infraestrutura necessária para a sua emancipação política. 3.4 UM OLHAR EM CADA ANÚNCIO Os três anúncios da Secretaria de Finanças do Estado de Rondônia utilizam o 51 personagem Rondonzinho para ilustrar e tentar, através das crianças, influenciarem os pais a aderirem à campanha de arrecadação de impostos do Governo de Rondônia. A SEFIN lança até mesmo um álbum de figurinhas para atrair ainda mais a atenção das crianças. Além disso, para fortalecer a arrecadação de impostos, a SEFIN lança premiações como uma forma de estimular o pagamento dos impostos, principalmente nos prazos certos. Desta forma, a figura infantil de Rondonzinho foi um forte apelo junto às crianças para que os adultos mantivessem os impostos em dia. Este anúncio, Muito satisfeito, Rondonzinho estende até setembro o prazo de trocas da Série Dois, foi veiculado na edição nº 13 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 15 a 30 de agosto de 1981. O anúncio de 24,5 cm de altura e 32,5 cm de largura foi publicado na página 5 do jornal. Figura 5 – Sefin – Campanha Rondonzinho A princípio o olhar recai ao título que ocupa 1/3 do anúncio e está localizado na parte superior da propaganda. Escrito em letras maiúsculas, o título ocupa três linhas e ainda se destaca com o fundo preto. Em seguida, o olhar se direciona a uma linha de apoio, logo abaixo do título. A linha de apoio explica a “missão” de Rondonzinho que é promover a arrecadação de impostos. No restante do anúncio, em aproximadamente 2/3 do espaço, o texto da propaganda foi dividido em sete subtítulos, distribuído em quatro colunas. Cada subtítulo fornece explicações sobre a campanha de arrecadação e o álbum de figurinhas, como por exemplo: como participar; como realizar as trocas de figurinhas; os locais de troca; e prazos para troca. Nesse sentido, o olhar acompanha os subtítulos, seguindo, ao longo das quatro colunas, a ordem em que foram colocados. 52 O anúncio se encerra no canto inferior direito da página, onde se localizam a logomarca da arrecadação de impostos, Amigos do Rondonzinho e a logomarca do Governo Estadual. O segundo anúncio – Chegou o novo álbum do Rondonzinho. Agora são 6.026 prêmios maravilhosos – foi veiculado pelo Governo de Rondônia, através da Secretaria de Finanças, na edição nº 16 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 05 a 20 de dezembro de 1981. O anúncio de 28,5 cm de altura e 33,5 cm de largura foi publicado na página 3 do jornal. Figura 6 – Sefin – Campanha Rondonzinho Neste anúncio, o título ocupa ¼ do espaço superior da propaganda. Assim como no primeiro anúncio, o título foi escrito em três linhas, em letras maiúsculas e houve a utilização do fundo preto para melhor destacá-lo. Após perpassar pelo título, o olhar recai no primeiro parágrafo do texto, no canto esquerdo do anúncio. Seguindo o mesmo padrão da primeira propaganda veiculada pela Sefin, aqui o texto do anúncio foi dividido em quatro colunas, subdividido em sete subtítulos. Cada subtítulo fornece explicações sobre a campanha de arrecadação e o álbum de figurinhas, como por exemplo: como participar; como realizar as trocas de figurinhas; os locais de troca; e prazos para troca. Nesse sentido, o olhar se direciona ao longo dos subtítulos, no decorrer das quatro colunas. 53 Diferente do primeiro anúncio, nesta propaganda foi utilizada a imagem do Rondonzinho. Há uma figura maior do Rondonzinho que parece segurar uma nota fiscal, objeto de troca pelas figurinhas. Abaixo, há mais três pequenas imagens que mostram Rondonzinho trocando a nota fiscal pelo álbum. A segunda pequena imagem mostra Rondonzinho, na companhia de um amigo, preenchendo o álbum. A terceira imagem exibe Rondonzinho, com o álbum completo, feliz por ter ganhado prêmios. Neste anúncio, o olhar se encerra no canto inferior direito, onde se localizam a logomarca da arrecadação de impostos, Amigos do Rondonzinho, e a logomarca do Governo Estadual. O anúncio – Aqui estão os ganhadores dos prêmios do Rondonzinho. Agora são 6.026 prêmios maravilhosos – foi veiculado na edição nº 26 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 23 a 29 de abril de 1982. Ele tem 26 cm de altura e 33,5 cm de largura e foi publicado na página 3 do jornal. Figura 7 – Sefin – Campanha Rondonzinho Neste anúncio são apresentados os ganhadores das premiações da Campanha do Rondonzinho. Ao todo, são 10 ganhadores que receberam diversas premiações, como um carro 0 km, caderneta de poupança, TV em cores, geladeiras e bicicletas. Ao visualizar o anúncio, o olhar recai diretamente ao título, que ocupa 1/3 do espaço total da propaganda e encontra-se na parte superior do anúncio. Depois disso, o olhar recai sobre uma pequena linha de apoio, composta por duas linhas, centralizada abaixo e junto ao título. 54 Em seguida, o texto se divide em três colunas, na primeira estão os números dos prêmios, na segunda estão os carnês sorteados na promoção e, na terceira estão os prêmios sorteados. O anúncio, como um todo está centralizado, e assim o olhar se encerra nas logomarcas da campanha do Rondonzinho e do Governo de Rondônia, que estão centralizados no espaço inferior da propaganda. O quarto anúncio – O Rondonzinho ajudou nesta conquista – foi veiculado na edição nº 17 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 21/12/1981 a 04/01/1982. O anúncio de 27 cm de altura e 34 cm de largura foi publicado na página 3 do jornal. Figura 8 – Sefin – Emancipação Neste anúncio, inicialmente, o olhar se dirige ao título da publicidade no canto superior esquerdo: O Rondonzinho ajudou nesta conquista. Após o título, o olhar se direciona à bandeira do Estado de Rondônia, no canto superior esquerdo, para então, perpassar pela figura de Rondonzinho (personagem criado pela Secretaria de Finanças do Estado para popularizar seus anúncios) e para o corpo do texto que ocupa o lado esquerdo e, em seguida, finalizar este trajeto do olhar com o corpo do texto no lado direito e a logomarca do Governo do Estado de Rondônia, que encerra o anúncio. 55 O anúncio “O Rondonzinho ajudou nesta conquista” aborda a parcela de contribuição da Secretaria de Finanças, através do Rondonzinho, para a elevação de Rondônia à categoria de Estado. O anúncio da Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia – E da terra nasceu a estrela. – foi veiculado na edição nº 17 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 21/12/1981 a 04/01/1982. O anúncio de 27 cm de altura e 34 cm de largura foi publicado na página 7 do jornal. Figura 9 – Codaron – Emancipação Este anúncio aborda a contribuição da Codaron no processo de emancipação do Estado de Rondônia. Fala sobre os programas voltados para a agropecuária e a tarefa de dotar o estado de infraestrutura. O título ocupa 1/3 do espaço superior do anúncio e, para maior destaque, foi utilizado o fundo preto. Ao lado do título há a figura de uma planta germinando, com o brilho de uma estrela em destaque, enfatizando o título da notícia. Ao longo do texto, dividido em quatro colunas, há seis pequenas ilustrações, como plantas, tratores, um comércio e uma casa de sítio, demonstrando as condições necessárias para a fixação do homem no campo. As imagens estão inseridas entre os parágrafos, separando-os um do outro. 56 O texto, intercalado pelas imagens, ocupa 2/3 do anúncio. Após o olhar perpassar pelo título, ele segue para o início do texto, na primeira coluna à esquerda. O olhar acompanha o texto, passando pelas quatro colunas e tendo fim na logomarca da Codaron. Vencemos: Nossa estrela brilha no azul da União, esse anúncio do Governo do Estado de Rondônia foi veiculado na edição nº 17 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 21/12/1981 a 04/01/1982. O anúncio de 68 cm de altura e 34 cm de largura foi publicado na página 11 do jornal. Figura 10 – Governo do Estado/Emancipação Ao estabelecer o primeiro contato visual, o olhar se direciona imediatamente ao título do anúncio, que ocupa um terço da página e é escrito todo com fonte maiúscula. Após o título, o olhar se recai à imagem de um círculo negro, pela metade, onde da esquerda para a direita, em sentido de elevação, surge uma estrela, que remete novamente o autor ao título do anúncio, que por sua vez se refere à elevação de Rondônia à categoria de Estado da Federação. A imagem ocupa 1/3 do anúncio. Após a imagem, o olhar é lançado para o texto da publicidade, onde o Governo Estadual explica os processos que levaram à emancipação do Estado, agradece à Presidência da República, Ministros, Senadores e Deputados Federais que colaboraram com o processo, e 57 ainda enfatiza o apoio e contribuição do povo rondoniense. Após o texto, o olhar se encerra na logomarca do Governo de Rondônia – Jorge Teixeira, no canto inferior direito do anúncio. O anúncio do Governo Federal - A incrível história do povo que acreditou. O Brasil encontrou a saída. Vamos todos crescer – foi veiculado na edição nº 30 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 21 a 27 de maio de 1982. O anúncio de 27,5 cm de altura e 20 cm de largura foi publicado na página 11 do jornal. Figura 11 – Governo Federal – A incrível história O anúncio trata da superação da crise econômica enfrentada pelo Brasil, devido à alta da inflação no início da década de 1980. O texto aborda a união e contribuição do povo brasileiro, na imagem representado por pessoas sorridentes de diferentes faixas etárias e profissões, que venceram e conseguiram superar a crise. Além disso, enfatiza as medidas positivas tomadas pelo governo e os resultados alcançados. O olhar do leitor neste anúncio recai inicialmente na leitura do título dividido em duas partes nos cantos superiores direito e esquerdo da página; entre eles, o corpo do texto que descreve porque o Brasil encontrou a saída. Desta forma, o olhar percorre primeiro as laterais superiores do anúncio, depois se direciona ao corpo do texto, que lança o olhar para a imagem de brasileiros. Esta imagem se encontra na parte inferior do anúncio, ocupando 1/3 do espaço. O anúncio tenta retratar a população do país, através de crianças e pessoas mais 58 velhas, um executivo de terno e gravata e um operário usando um capacete de construção, um agricultor com chapéu de palha, e ainda homens e mulheres, jovens e adultos. O próximo anúncio do Governo Federal – Você poupou, a solução começou. – foi veiculado na edição nº 32 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 13 a 20 de junho de 1982. O anúncio de 24,5 cm de altura e 17 cm de largura foi publicado na página 5 do jornal. Figura 12 – Governo Federal – Você Poupou O título “Você poupou, a solução começou.” foi escrito em quatro linhas, e foi posicionado no centro e na parte superior do anúncio, atraindo o olhar, que logo após se direciona à reprodução de uma nota de Cr$ 1.000, que ocupa, praticamente 2/3 do espaço total da propaganda. O título e o texto ocupam 1/3 do anúncio. O texto do anúncio foi dividido em dois parágrafos, posicionados um de cada lado do título da propaganda. O texto ocupa os cantos superiores do anúncio. Este anúncio também fala da superação da crise econômica, enfatizando, novamente, a contribuição do povo que poupando, ajudou o país a superar a inflação. Observe a agora, este anúncio do Governo Federal – Prêmio de Produtividade Rural – 1983 – veiculado na edição nº 41 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 04 a 09 de setembro 59 de 1983. O anúncio de 24 cm de altura e 16 cm de largura foi publicado na página 3 do jornal. Figura 13 – Governo Federal – Quem produz mais Este anúncio discorre sobre o Prêmio de Produtividade Rural – 1983, uma premiação ao produtor rural modelo, que desenvolveu a agricultura da melhor maneira. A princípio, o olhar recai diretamente ao título, que enfatiza os ganhos a quem mais produz. Em seguida, o olhar desce para uma imagem de dois agricultores sobre o trator, circundados pela plantação. A imagem ocupa um pouco mais da metade do anúncio. O olhar se encerra abaixo do corpo da mensagem, onde há o selo “Produtor Modelo 1983” e os autores da mensagem: Ministério da Agricultura, Ministério Extraordinário para Assuntos Fundiários e INCRA. Veiculado na edição nº 51 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 11 a 01 de dezembro de 1983, o anúncio do Governo Federal – Plante mais feijão. O preço mínimo é Cr$ 14.400,00, mais correção. – tem 24 cm de altura e 24 cm de largura e foi publicado na página 9 do jornal. 60 Figura 14 – Governo Federal – Feijão O título no canto superior esquerdo é o primeiro a chamar a atenção; posteriormente o olhar desce para a imagem, que ocupa a maior parte do anúncio, no canto inferior esquerdo. Após a imagem o olhar se direciona para o texto da publicidade, no canto inferior direito. O texto fala sobre as garantias que o Governo Federal, através do Ministério da Agricultura e com o apoio do Banco do Brasil, dá ao produtor que plantar feijão. O texto pretende fazer com que o produtor, com a garantia de benefícios como seguro e crédito, “plante mais feijão”, oferecendo um preço mínimo pela sua produção. No mesmo espaço, o olhar termina em uma pequena logomarca do programa de agricultura, com os dizeres: “Vamos reconstruir nossa terra plantando”, acompanhado de uma semente de feijão, germinando. O anúncio do Governo Federal, “ABC da Terra”, foi veiculado na edição nº 53 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 14 a 20 de janeiro de 1984. O anúncio de 21 cm de altura e 16 cm de largura foi publicado na página 9 do jornal. Neste anúncio, predomina o texto que está subdividido por letras, de “A” a “P”, em duas colunas, e trata de assuntos referentes à propriedade de terra, constituição e programas do Governo federal, veja: 61 Figura 15 – Anúncio - Governo Federal – ABC da Terra O título ocupa o espaço superior do anúncio. Após o título, o olhar acompanha o texto ao longo das duas colunas e chega ao fim no canto inferior direito, na imagem da cartilha com o “ABC da Terra”. Este anúncio aborda os direitos e os deveres do agricultor e do dono da terra. Além da importância da agricultura, enfatizando o Estatuto da Terra. O último anúncio – Rodovia Marechal Rondon. BR-364 - Cuiabá – Porto Velho – foi veiculado na edição nº 83 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 15 a 22 de setembro de 1984. O anúncio de 45 cm de altura e 32 cm de largura foi publicado na página 5 do jornal. Este anúncio contém inúmeros elementos visuais, desde o título, que ocupa praticamente um quarto do espaço, e imagens complementares inseridas ao longo do anúncio, intercalando-se com o texto. O título está centralizado na parte superior do anúncio. O texto do anúncio tem início na lateral esquerda e ao longo do anúncio é subdividido por tópicos onde, no intervalo de cada parágrafo, foi inserida uma imagem ilustrativa. 62 Figura 16 – Governo Federal – BR – 364 O anúncio aborda a pavimentação da BR-364, desde a instalação das linhas telegráficas estratégicas, marcos do traçado da rodovia, até os atoleiros e dificuldades da construção. Nesse mesmo sentido, as imagens servem como ilustração do texto. Ao todo são seis imagens, distribuídas no anúncio. O texto foi dividido em quatro colunas. O olhar se encerra no canto inferior direito, onde leem-se os autores do anúncio: Governo Federal e Ministério dos Transportes. 3.5 O DIÁLOGO ENTRE O ANÚNCIO E O REAL As propagandas institucionais veiculadas no jornal Tribuna Popular divulgaram, indubitavelmente, a visão desenvolvimentista tanto do Governo Federal quanto do Governo Estadual. A necessidade de colonizar uma nova fronteira agrícola, minimizando os conflitos por terra em outros estados, por parte do Governo Federal, e a busca pela emancipação de Rondônia, de Território Federal para Estado da União, por parte do Governo Estadual foram divulgadas por campanhas publicitárias, de incentivo e motivação, para garantir o “desenvolvimento” do país. 63 Desta forma, em boa parte dos anúncios veiculados, o discurso desenvolvimentista pregado pelos governos serviu como uma forma de camuflar, de um lado o desgaste e os conflitos agrários existentes em outras regiões do país, como no caso do nordeste, a devastação das florestas de Rondônia, uma vez que tudo era movido e justificado pelo ideal desenvolvimentista, de outro a contradição entre o anúncio de terras fáceis para todos e os problemas enfrentados pelos colonos, onde muito deles não conseguiram garantir as suas terras, apesar das facilidades propagadas pelo Governo. 3.5.1 O desenvolvimento que propiciou a devastação O anúncio do Governo Federal sobre a Rodovia Marechal Rondon aborda a construção/pavimentação da BR-364 que liga a capital de Rondônia, Porto Velho à capital mato-grossense, Cuiabá. A BR-364 se tornou a principal rodovia de Rondônia, cortando o estado de uma ponta a outra, desde Vilhena até Porto Velho, passando pelas principais e maiores cidades de Rondônia. O percurso da BR-364 seguiu os traçados das Linhas Telegráficas Estratégicas, implantadas em Rondônia, no início do século XVI, pelo Marechal Candido Mariano da Silva Rondon. Marechal Rondon foi o primeiro desbravador que ligou Rondônia ao resto do país, através da instalação das linhas. Desta forma, assim como Rondon ligou o território rondoniense ao Brasil, o Presidente João Figueiredo, através da construção da BR-364, ligou, definitiva e fisicamente, Rondônia ao resto do país. Essa comparação entre Rondon e Figueiredo é abordada no anúncio, alem de histórias de homens que trabalharam na construção da rodovia, as empreiteiras responsáveis pelas obras, e outras curiosidades. O anúncio aborda, principalmente, a construção da BR-364 como a “última grande rodovia de integração nacional [...] consolidando a expansão das novas fronteiras agrícolas dos estados de Mato Grosso e Rondônia e, assegurando condições para a fixação do homem à terra, numa região que se transformou em símbolo da nossa década, pelo dinamismo do seu desenvolvimento”. O dinamismo e o desenvolvimento são as palavras-chave utilizadas pelo Governo para ilustrar a importância desta rodovia para o então Território Federal de Rondônia, contribuindo, principalmente, para a sua transformação em Estado. 64 A abertura e consolidação de estradas, construção de hospitais e escolas, entre outras obras, era uma das principais formas de dotar uma região de infraestrutura para suportar o seu desenvolvimento, tanto econômico como político. Acontece que a construção da BR-364 não caracterizou apenas o desenvolvimento da região de Rondônia, uma vez que foi um dos principais fatores que contribuíram para a devastação e desmatamento da floresta, dando ao estado, uma característica não tão desenvolvimentista, uma vez que Rondônia é um dos estados que mais se destaca em relação à devastação de suas florestas. Desta forma, a BR-364 não só levou o desenvolvimento à Rondônia, como também contribuiu, de forma intensa, para a elevação dos índices de desmatamento do estado, assim como apontou Philip Martin Fearnside (1986): [...] ambos os mapas de quantidades (de florestas) derrubadas em 1978 como as taxas exponenciais implícitas de derrubadas no intervalo de 1975-1978, revelam focos de derrubadas intensas ao longo da rodovia Belém-Brasília (BR-010) e ao longo da rodovia Marechal Rondon (Cuiabá-Porto Velho: BR-364) Através de Mato Grosso e Rondônia. O asfaltamento da rodovia Marechal Rondon (Cuiabá-porto Velho: BR-364), completada em setembro de 1984 com financiamento do empréstimo da POLONOROESTE do Banco Mundial, removeu um dos maiores empecilhos para os migrantes. A rodovia Cuiabá-Porto Velho, existente desde 1967, deteriorou dramática e regularmente entre a primeira vez que viajei por ela em 1973 e os primeiros anos de 1980. Em um estudo mais recente, Yan Boechat (2008) explica a devastação da floresta como uma condição imposta pelo Governo Federal para garantir a posse da terra, assim como foi visto no primeiro capítulo deste trabalho. Pelo decreto (decreto lei que instituiu o Plano de Integração Nacional, assinado pelo presidente Emílio Garrastazu Médici, em julho de 1970) um raio de 100 quilômetros nas margens das rodovias federais que cortavam a Amazônia seria destinado à colonização. A cada migrante, um lote de 100 hectares. Por lei, cada um deles deveria desmatar 50% de suas terras para ter a posse oficial da área, concedida pelo INCRA. Quem não colocasse a floresta abaixo era considerado um agricultor não-produtivo e perdia as terras doadas pelo governo. (BOECHAT, 2008). 65 3.5.2 O propagado (pelo Governo) e o vivido (pelos migrantes) Como visto no capítulo 1 deste trabalho, a partir da década de 1960 o Governo Federal começou a pensar e desenvolver os primeiros projetos oficiais de colonização e ocupação da região amazônica, onde surgiram os principais Projetos Integrados de Colonização em Rondônia, como o PIC Ouro Preto em 1970, PIC Sidney Girão em 1971 e o PIC Gy-Paraná em 1972. Colonizar a região traria soluções para dois problemas enfrentados pelo Governo: o primeiro era integrar a última região isolada do resto do país; o segundo, acabar com os conflitos de terra existentes nas demais regiões do Brasil, visto que a Amazônia oferecia uma vasta área a ser desbravada. Rondônia é parte integrante da região amazônica e é considerada “fronteira agrícola”. O que se entende por fronteira agrícola? Numa primeira visão, sua característica é de espaço a princípio “vazio”, para onde são “empurrados” os contingentes populacionais excedentes dos centros urbanos e do meio rural. Para este contingente, Rondônia seria a garantia de sobrevivência. [...] Aparentemente, justifica-se a criação de uma fronteira agrícola para ter uma função social bastante clara; que é a distribuição de terras para quem não as tem e quer trabalhá-las. (PERDIGÃO e BASSÉGIO, 1992. p. 149). Assim, foi a partir da década de 1960, que a região amazônica recebeu o seu maior fluxo migratório. Através de propagandas do Governo Federal com o slogan “Integrar para não Entregar”, milhares de brasileiros vieram para a Amazônia para se tornarem donos de suas próprias terras. Mas como visto no capítulo 1, o fluxo migratório superou as expectativas do Governo e o INCRA, órgão responsável pela distribuição de terras, não conseguiu acompanhar o ritmo da migração. A propaganda do Governo, que enfatizava a facilidade em adquirir terras, a garantia de infraestrutura necessária para a fixação do homem, e o incentivo e o apoio ao migrante, logo passou a ser contrariada, uma vez que as dificuldades encontradas pelos migrantes eram muitas, e muitos deles acabaram ficando sem os lotes prometidos. Através da análise de uma propaganda veiculada pelo Governo de Rondônia e do estudo de dois autores específicos, é possível confrontar a realidade vivida pelos migrantes de Rondônia e as maravilhas propagadas pelo governo para a colonização do estado: 66 A Codaron, além de cumprir as metas para que fora criada, desenvolvia um trabalho paralelo de grande valor: ajudava a implantar as bases de um Novo Estado. Sem produção, não há fixação do homem à terra. Fixando-se o homem, fixam-se as bases para o desenvolvimento. E, para atender a toda essa demanda, a Codaron criou o Sistema Agrícola de Rondônia para o pequeno produtor, com a montagem de núcleos urbanos de apoio rural, com Escolas, Postos de Saúde, Armazéns, Estradas secundárias, construídas e conservadas pelas próprias pessoas que as usam. O Governo do Estado, através da Codaron, fornece tratores e equipamentos, dando condições ao povo de melhorar as condições de vida. (CODARON – Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia. Anúncio veiculado na Edição nº 17, entre os dias 21/12/1981 a 04/01/1982, no Jornal Tribuna Popular). Os anúncios institucionais Veiculadas pela Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia enfatizam as condições de infraestrutura no Estado de Rondônia necessárias para fixar o homem à terra, como escolas, postos de saúde, apoio rural, estradas, entre outros. Martin Coy (1983/84), por sua vez, contraria esta propaganda, em praticamente todas as questões abordadas: Interrogando colonos sobre suas condições de vida (pesquisa de campo do autor no PIC Ouro Preto 1983/84), podemos identificar um conjunto de problemas sócio-econômicos predominantes dentro do espaço rural rondoniano [...] mencionamos, sobretudo as consequências sócioeconômicas da malária, perigo permanente para a força de trabalho familiar, base da economia camponesa. Da mesma forma, outras doenças amazônicas [...] problemas de agrotóxicos (doenças das principais culturas) e restrições geográficas (situação topográfica, hidrográfica, variações na distribuição dos solos, etc.). [...] A insuficiência da infra-estrutura é predominante. Trata-se, neste caso, da insuficiência da rede rodoviária, da impraticabilidade de muitas estradas de penetração durante a estação das chuvas, que dura de sete a oito meses, e, consequentemente, do isolamento de muitos camponeses, além da falta de entrepostos para a produção agrícola, falta de escolas rurais, bem como insuficiência de assistência médica. Dentro da terceira categoria, em primeiro lugar devem ser considerados os problemas de comercialização e de financiamento da produção agrícola. Tais problemas são fortemente influenciados pela política econômica enquanto expressão do modelo brasileiro de desenvolvimento, no qual os problemas dos pequenos camponeses não são representados senão de forma insuficiente. (COY, 1983/84. p.12). Além de Coy, Perdigão e Bassegio (1992, p. 177) também apontam as mesmas contradições: Nos encontros de migrantes, realizados em 1987 e 1988 [...] os migrantes apontaram os seguintes motivos que os obrigam a se desfazer dos lotes: Tratamento de saúde - Muitas famílias são obrigadas a vender os lotes para se tratar da malária ou faz uma operação, por exemplo; Falta de estradas – Efetivamente muitas famílias recebem lotes, que às vezes estão a quarenta 67 ou mais quilômetros dentro da mata. Ao migrante restam duas alternativas: abandonar o lote ou passá-lo adiante para outros companheiros que, provavelmente, ao ver que a estrada não será aberta logo, fará o mesmo; Preço dos produtos – Há uma enorme desproporção entre o que o lavrador ganha com o seu produto e o que ele gasta para adquirir os produtos industrializados. O quilo de café que o lavrador vendia em 1986 por quarenta cruzados, em dois anos teve um aumento de apenas 50%; já o fardo de açúcar que ele adquiriu no comércio, no mesmo período, aumentou 1.400%. É possível fixar o homem no campo desta forma? Qual é o apoio que o parceleiro está recebendo do governo? Através deste confronto entre o que foi propagado pelo Governo e o relato dos migrantes, através de Coy e Perdigão e Bassegio, é possível afirmar que a propaganda governamental foi utilizada como uma forma de persuadir o leitor, no caso à migrar para Rondônia, garantindo-lhes apoio e infraestrutura, condições que, posteriormente, foram contrariadas pelo próprio migrante. Ainda neste sentido, um bispo da cidade de Ji-Paraná, D. Antônio Possamai, se viu tentado em contrastar, não só as propagandas veiculadas em jornais, mas também em redes de televisão: Não acreditem em propaganda de TV. A imagem que é projetada no Sul a respeito de Rondônia não corresponde à realidade. (Assim, não é verdade que todos que chegam recebem terra, que há escolas para todos, que o sistema de assistência a saúde é bom, que a terra é das melhores, que os preços dos produtos são justos e que os financiamentos são melhores que em outros pontos do país. O povo que vem sem dinheiro é a grande maioria. [...] aqui só tem vez quem tem dinheiro para comprar terras; pior ainda, para comprar influências e favores. Para estes as terras existem e até boas e em bons lugares. Diria, então, a quem ler estas linhas: Não acreditem em propaganda que é apresentada pela televisão. Esta é enganadora (POSSAMAI, 1988, apud PERDIGÃO E BASSEGIO, 1992). 3.5.3 A propaganda que universaliza a ideologia do governo militar Através de duas propagandas sobre a economia brasileira veiculadas no Jornal Tribuna Popular, o governo federal enfatiza largamente a participação e o apoio da população na superação da crise econômica, acarretada pelos altos preços do petróleo, vivida pelo país nas décadas de 1970 e 1980. 68 Nas duas propagandas analisadas neste trabalho: “A incrível história do povo que acreditou. O Brasil encontrou a saída. Vamos todos crescer” e “Você poupou, a solução começou”, o governo demonstra a intenção de persuadir o leitor para que este se sinta incluído na vitória contra a crise econômica. Neste sentido, Nélson Jahr Garcia (1999, pág. 7) afirma que “consegue-se, com isso, que cada um dos que ouvem a mensagem concorde com ela, por acreditar que diga respeito a si e a seus interesses e necessidades, e acabe apoiando o sistema econômico e o regime político.” Esta intenção em incluir o brasileiro nas ações do governo, pode ser comprovada em vários trechos das propagandas, como por exemplo: Durante este tempo, cada brasileiro provou que dentro dele há uma semente de confiança no seu próprio futuro. E muita vontade para superar os momentos difíceis. Você trabalhou mais, poupou tudo o que foi possível na vida de cada dia e ajudou o Brasil a encontrar a saída. [...] Você foi muito importante nesta conquista. Vencemos o desafio. A sua confiança abriu espaço para o Brasil voltar a crescer. (GOVERNO FEDERAL, Campanha: O Brasil encontrou a saída – Vamos todos crescer, 1982). Ou ainda: No ano passado, o Brasil só tinha problemas e uma grande riqueza: a vontade de sua gente. Agora ele tem soluções: Poupando e trabalhando mais, cada um de nós ajudou o Brasil a encontrar uma bela saída. [...] Economizamos tudo o que foi possível na vida de cada dia. [...] Afastamos de uma vez por todas o fantasma da inflação sem limite. Ninguém mais duvida que ela vai continuar caindo. O esforço de cada um superou os momentos difíceis do ano passado. Você acreditou. O país inteiro ganhou. Agora ele só tem uma direção: crescer. (GOVERNO FEDERAL, Campanha: O Brasil encontrou a saída – Vamos todos crescer, 1982). Neste contexto, Garcia (1999) explica que a universalização é a forma mais utilizada pelo Governo na elaboração de suas ideologias. Ou seja, as ideias, que neste contexto histórico refletia o pensamento e interesses do governo militar, são veiculadas como se o objetivo principal fosse atender e beneficiar a todos os brasileiros. Garcia (1999, p. 13) conclui que “no Brasil, isto tem sido constantemente feito com relação às medidas governamentais, apresentadas através de fórmulas do tipo: benefícios para o povo, progresso do país, desenvolvimento nacional, para o bem de todos, para todos os brasileiros.” Desta forma, é incontestável que durante todo o período do Regime Militar, o governo brasileiro veiculou propagandas com altas doses de otimismo, confiança, patriotismo, sempre baseado em uma mentalidade desenvolvimentista. Ou seja, todas as ações realizadas pelo Governo eram motivadas visando ao desenvolvimento do país. 69 Neste sentido, o Governo Militar investiu maciçamente em propagandas. Primeiro para legitimar o Golpe de 196412, que levou os militares ao Governo e depois para justificar todas as ações que desenvolviam no país. Mesmo assim, Garcia (1999, p. 7) alega que: Muitos feitos foram exagerados e dramatizados ao extremo, com o objetivo de sugestionar os ouvintes. Sugeria-se que naquele período se fizera mais que em toda a história anterior do país; inúmeras construções eram apresentadas como as maiores do mundo. Afirmava-se que todas as realizações visavam ao bem estar da população em geral, ocultando-se que os maiores beneficiados eram os detentores do grande capital. A estratégia parece ter dado certo, uma vez que o Regime Militar se manteve no poder ao longo de 21 anos. Incluir o cidadão comum nas ações do governo, mesmo que essas ações 12 Em abril de 1964, alguns militares, com apoio de políticos, empresários e segmentos da classe média, tomaram o poder através de um golpe de estado. O novo regime político foi redefinido no sentido de restringir a participação popular, impedindo quaisquer reivindicações, movimentos ou conflitos. Paralelamente, propunha-se a reorientação do sistema econômico para um modelo de desenvolvimento que, diferentemente das propostas nacionalistas anteriores, permitiria maior penetração de capital externo no país. Essas diretrizes eram fixadas em função dos interesses das empresas multinacionais, dos grandes proprietários de terras, industriais, comerciantes e banqueiros. Através delas, estimulava-se a acumulação de capital sem os incômodos das tensões causadas pela luta reivindicatória dos trabalhadores. Mas esses objetivos não poderiam ser realizados sem o apoio e a colaboração dos trabalhadores em geral e da classe média. Necessitavam-se dos operários nas fábricas, dos colonos nas fazendas e dos funcionários nas repartições. Era preciso que todos trabalhassem e se esforçassem o mais possível, sem grandes exigências, para promover a expansão econômica. É claro que tal apoio não seria conseguido se as pessoas visadas não estivessem convencidas de que atuavam em função de seus próprios interesses e benefícios. Para isso o governo promoveu uma intensa campanha de propaganda ideológica, que se resolveu durante vários anos. Inicialmente improvisada e pouco sistemática, a propaganda logo passaria a ser orientada por órgãos especialmente criados para coordenar as campanhas. A Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência de República (AERP) encarregou-se da propaganda nos governos de Costa e Silva e Médici. Geisel teve a Assessoria de Imprensa e Relações Públicas (AIRP), depois desmembrada em duas. Figueiredo criou a Secretaria da Comunidade Social (SECOM), posteriormente substituída pela Secretaria de Imprensa e Divulgação (SID). Organizou-se, em todo o país, um sistema de censura de tal forma rigoroso que quase nada podia ser divulgado sem prévia autorização. Qualquer informação ou notícia que não estivesse de acordo com a ideologia oficial do governo era proibida e podia acarretar a punição do responsável. Estabelecido, dessa forma, o controle absoluto das informações, a propaganda passava a desenvolver-se sem nenhum obstáculo. O primeiro passo foi justificar o golpe do estado e o regime implantado. Explicava-se que os militares haviam tomado o poder porque o Brasil era um país desorganizado pelas crises econômicas e distúrbios políticos constantes que os governantes e administradores corruptos não conseguiam solucionar. A dramática ameaça de subversão e guerra revolucionária, orientada por comunistas portadores de “ideologias exóticas e alienígenas”, era o pretexto anunciado para justificar o caráter autoritário e repressivo do governo. Procurando legitimar o regime, a propaganda encarregou-se de enaltecer os presidentes, apresentando-os como líderes os mais indicados para serem chefes de governo. Com a construção de uma imagem positiva dos presidentes, esperava-se conseguir despertar a confiança da população para as suas decisões, explicações e esclarecimentos. Pretendia-se obter, também, a submissão às convocações de mobilização para o trabalho e apoio ao governo. (GARCIA, 1999, p. 7). 70 eram voltadas para grupos definidos, funcionou. O governo manteve suas estratégias de persuasão, onde as propagandas governamentais foram as principais delas, desde o início do Regime Militar, assim como mostra Garcia (1999, p. 7): Otimismo e confiança passaram a ser a tônica das mensagens. “Chegou a hora de crescer sem inflação” (Castelo Branco). “Confiamos no Brasil” (Costa e Silva). “Ninguém segura o Brasil” (Médici). “Este é um país que vai pra frente” (Geisel). “O Brasil encontrou a saída. Vamos todos crescer” (Figueiredo). Foram épocas e slogans diferentes, mas sempre o mesmo sentido. 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante o período selecionado para esta pesquisa, de 1980 a 1984, foram veiculadas 12 propagandas dos governos Federal e Estadual no Jornal Tribuna Popular da cidade de Cacoal, no Estado de Rondônia. É importante observar que neste período, o presidente do Brasil era o general João Batista Figueiredo - o último governante nomeado indiretamente para o cargo durante o governo militar (1964 – 1985), e no governo do estado de Rondônia, no cargo de governador nomeado, o Coronel Jorge Teixeira de Oliveira (1979 – 1985). As propagandas deste período fornecem um material de pesquisa interessante e significativo, uma vez que divulga as ações e intenções do governo em relação às políticas relacionadas com a região Amazônica. Para a efetivação das análises destas propagandas governamentais, foi preciso seguir passo a passo os processos da análise de conteúdo para direcionar e restringir as ações que possibilitaram a exploração destes anúncios. A opção escolhida foi tentar fazer uma análise visual e individual de cada anúncio, para posteriormente, contrapor o que foi propagado pelos Governos e a realidade vivida pelos migrantes de Rondônia, através da pesquisa bibliográfica. Para isso, foi feita uma pesquisa bibliográfica que permitiu contextualizar a história de Rondônia, desde as primeiras frentes de colonização do século XVII, passando pelos ciclos da borracha no século XIX, pelos Projetos Oficiais de Colonização implantados pelo Governo Federal a partir da década de 1970, até chegar à estrutura política, social e econômica atual do Estado de Rondônia. Desta forma, foi possível entender como os migrantes chegaram à Rondônia, nas mais diversas frentes de colonização, incluindo o fluxo migratório que teve início nos primeiros anos de 1970, continuando ao longo da década de 1980. Como visto em capítulos anteriores, esse movimento migratório foi densamente encorajado pelo Governo Federal através de campanhas publicitárias persuasivas e com forte teor político e ideológico. Colonizar a região Amazônica, inclusive Rondônia, traria soluções para dois problemas enfrentados pelo governo brasileiro, amenizar os conflitos por terra em outras regiões do Brasil e integrar a última região, até então isolada, do resto do país. Além disso, a colonização serviu como uma estratégia para a defesa da Amazônia contra ameaças externas. Colonizando a Amazônia, o Governo Brasileiro garantia a posse e a proteção do vasto território amazônico, diante de possíveis ameaças condizentes à região de fronteira. 72 Por esses motivos, a propaganda do Governo Federal foi intensa e amplamente divulgada pelos veículos de comunicação disponíveis na região, mobilizando milhares de migrantes que chegavam à Rondônia em busca de sua terra prometida. Como confirma a entrevista concedida pelo jornalista e fundador do Jornal Tribuna Popular, Adair Antônio Perin, durante a intensa colonização de Rondônia, ao longo da década de 1980, a maioria dos veículos de comunicação no Estado divulgava as ações do governo para enaltecer o desenvolvimento de Rondônia. Além disso, Perin firma que, no início da década de 1980, muitos migrantes buscavam os jornais para, através das reportagens e propagandas veiculadas, convencer parentes de outras regiões do país a virem para Rondônia. Ele ainda destaca que isso era também recorrente em outros veículos de comunicação, como rádio, televisão e outros jornais impressos que os migrantes utilizavam para poder divulgar e atrair mais gente para Rondônia. De acordo com Perin, no início dos anos 1980, a propaganda foi intensa, objetivando atrair ainda mais migrantes para a região de Rondônia. “Aqui tinha terra, então o Governo fazia a propaganda que o futuro de cada um era vir pra cá” [sic], concluiu Perin (2011). Contudo, de acordo com Martin Coy (1984), o Governo não conseguiu acompanhar o fluxo intenso de migrantes e passou a dificultar e atrasar a distribuição de lotes de terra. Dessa forma, a maioria dos migrantes que chegavam à Rondônia teve dificuldades em adquirir a terra prometida e intensamente propagada pelo Governo, e muitos desses migrantes, impossibilitados de cumprir as inúmeras condições que passavam a ser impostas pelo Governo (para aquisição de lotes e terrenos), acabaram ficando sem o seu pedaço de terra, como prometia o governo na época. Coy (1984) afirma que embora Rondônia tenha sido considerado frequentemente uma fronteira agrícola “bem-sucedida”, constatam-se processos de diferenciação social no campo, reproduzindo assim as estruturas sociais das regiões de “expulsão rural” no “centro” sócio-econômico do país. Do mesmo modo, mostra-se um aumento dos conflitos de terra, sobretudo em função do desequilíbrio cada vez maior entre demanda e oferta de terras de colonização. Através desta pesquisa, foi possível perceber que o desenvolvimento pretendido pelo Governo Militar foi propagado, sem que o mesmo executasse antes ações importantes que direcionassem adequadamente estas frentes de expansão econômica e humana. Os grandes 73 projetos executados com financiamentos de bancos multilaterais não cumpriram alguns itens importantes constantes nos contratos firmados entre o governo e estes.13 Buscando conhecer a realidade vivida pelo colono que veio à Rondônia persuadido pela intensa campanha publicitária veiculada pelo governo, foi possível confrontar o real e o propagado e, deste confronto, surgiram inúmeras contraposições. Como exemplo, podemos citar o anúncio veiculado pelo Governo de Rondônia, assinada pela Codaron – Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia. Neste anúncio, há uma ênfase maior nas condições de infraestrutura oferecidas pelo Estado, como escolas, estradas, postos de saúde, etc. Em contrapartida, depoimentos de migrantes encontrados em livros sobre a história regional relatam uma região inóspita, que não oferece nem mesmo infraestrutura básica para fixar o homem no campo. A abertura da BR-364, em 1960, e a sua pavimentação, na década de 1980, também contradizem o que foi propagado pelo Governo Federal através dos impactos reais gerados pela abertura de uma estrada em meio à floresta amazônica. Para o governo da época, a abertura de uma rodovia, interligando fisicamente uma parte ainda isolada da Amazônia ao resto do país, fomentaria positivamente o desenvolvimento econômico da região. O desenvolvimento econômico, sob esta política econômica desenvolvimentista, gerou também significativos impactos ambientais. Foram às margens da rodovia BR-364 que surgiram os principais focos de desmatamento do estado de Rondônia. A abertura de uma estrada em meio à floresta e a possibilidade de escoar a madeira, grande atrativo econômico 13 O Programa de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste) nasceu com objetivos gerais de pavimentar a estrada que une Cuiabá – Porto Velho (BR-364), área de considerável potencial de produção, objeto de rápidos fluxos migratórios, e, ao mesmo tempo, proporcionar os investimentos necessários ao desenvolvimento sócio-econômico ordenado da área influenciada pela estrada e à proteção do ambiente físico e da população indígena da Região. [...] O Decreto Presidencial, de 27 de maio de 1981, definiu os objetivos e recursos do Programa, que se basearam em amplos estudos realizados anteriormente na respectiva área. Consoante o Decreto, os objetivos gerais do Polonoroeste são os seguintes: a)Integrar as regiões marginais da economia nacional; b)Assegurar o povoamento ordenado; c)Aumentar a produtividade, renda, saúde e bem-estar social dos migrantes; d) Proteger as comunidades indígenas, os recursos da terra e do ambiente. O custo total do Polonoroeste foi estimado, preliminarmente, em US$1,5 bilhões. Destes, cerca de 53% foram destinados à construção de estradas, 40% ao desenvolvimento rural e assentamentos, e o saldo para saúde, proteção aos índios, ao ambiente e para administração. Os fundos foram aprovados pelo Ministério do Planejamento, em coordenação com a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste – SUDECO, do Ministério do Interior, que coordena e administra todas as atividades do Programa. A Área do Programa Polonoroeste - Com uma área aproximada de 410.000 km2, a Região Noroeste do Brasil equivale a cerca de três quartos da superfície da França, embora corresponda a pouco menos de 5% do território do Brasil. A Região inclui todo o Estado de Rondônia e 14 municípios do Oeste do Estado de Mato Grosso, todos oficialmente considerados incluídos na área de influência da rodovia 364. (BELINATI, W.; e COSTA E SILVA, A, 1988). 74 nas décadas de 1970 e 1980, motivou e facilitou a derrubada da floresta. Essa relação entre a construção de estradas e o desmatamento foi explicada por Fearnside (1982, p. 587) quando ele afirma que a relação entre desmatamento e construção de estradas não é, provavelmente, uma simples reação de causa e efeito em qualquer direção, mas uma espécie de coevolução entre as duas, como um processo de retroalimentação positiva. Na medida em que as estradas vão sendo construídas ou melhoradas, e as estradas vicinais vão sendo acrescentadas, mais migrantes vão chegando à região, e os já presentes aumentam dramaticamente os índices de desmatamento. Por último, os dois anúncios da Campanha O Brasil encontrou a saída – Vamos todos crescer veiculados no Jornal Tribuna Popular demonstram as estratégias utilizadas pelo Governo Militar para atrair o apoio do brasileiro e assim legitimar as suas ações. Em seu discurso, veiculado através das propagandas, o Governo explana suas ações e intenções sempre incluindo brasileiro, fazendo com que este se sinta parte dessas ações. Através da persuasão, o Governo convence o cidadão de que tudo o que está sendo e for feito é exclusivamente visando o seu beneficio. Garcia afirma que estas estratégias são apresentadas através de fórmulas do tipo: benefícios para o povo, progresso do país, desenvolvimento nacional, para o bem de todos, para todos os brasileiros. Ou seja, as ideias, que no contexto histórico refletia o pensamento e interesses do governo militar, são veiculadas como se o objetivo principal fosse atender e beneficiar a todos os brasileiros. 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, Lúcio. Da caixa francesa à internet, 100 anos da imprensa em Rondônia. Porto Velho: [S.E.], 2009. ÁLVARES-AFONSO, Frederico Monteiro. Rondônia - ocupação, crescimento e organização agrária. Fortaleza: Realce Editora & Indústria Gráfica, 2008. ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE RONDÔNIA. O estado de Rondônia - História de Rondônia. [S.L.]: [S.E.], [S.D.]. Disponível em: <www.ale.ro.gov.br>. Acesso em 21 de setembro de 2010. BARDIN, Lawrence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BELINATI, W.; COSTA E SILVA, A. Coordenação, avaliação e acompanhamento dos projetos de pesquisa em saúde do Programa Polonoroeste. São Paulo: [S.E.], 1988. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em 07 de novembro de 2011. BINSZTOK, Jacob. 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Em Santa Catarina, minha família possuía um pequeno hotel, em Guatambu, distrito de Chapecó. Mas no Rio Grande do Sul eram agricultores. Meus pais eram semianalfabetos, meu pai não escrevia e não lia. Minha mãe já conseguia ler e escrevia um pouco. Como aconteceu a mudança de Santa Catarina para o Paraná? Em função da vontade e vocação pela terra. Tinha uma grande propaganda em relação às terras do Paraná, foi onde nos mudamos para a região oeste, em Assis Chateaubriand e depois Toledo. No Paraná, nós sobrevivíamos da agricultura. Até quando eu atingi uma certa idade de 14 anos e o pai resolveu mudar para a cidade, tentado a viver na área comercial com um bar, com jogo de bolão, foi assim que nos estabelecemos. Como aconteceu o seu primeiro contato com o jornalismo? Isso foi no Ensino Fundamental, nós tínhamos uma vocação de realizar eventos, coisas. Até que um amigo falou comigo: “Vamos fazer alguma coisa Perin, Adair, na escola?” Aí trocamos uma ideia e ele mesmo sugeriu de montarmos um jornalzinho estudantil. Acho que começou com quatro páginas, impresso no mimeógrafo da prefeitura (Perin e seu amigo trabalhavam também na prefeitura de Toledo). Vocês tinham algum custo com o jornal estudantil? Tínhamos! Nós tínhamos que comprar o estêncil que era como uma chapa para imprimir e nós tínhamos o custo do papel, era em papel sulfite e a gravação saia do estêncil que rodávamos no mimeografo. No começo nós custeávamos as edições por conta própria. Depois nós passamos a pedir colaborações, alguns ajudavam, outros desprezavam. A colaboração vinha dos alunos, às vezes alguns professores. Isso enquanto nós imprimíamos na base do mimeógrafo. Mas nós tivemos acesso a uma gráfica, para fazer outro material impresso (a parte), e nós comentamos com a dona da gráfica que nós imprimíamos um jornalzinho estudantil no mimeógrafo, daí a dona da gráfica sugeriu da gente imprimir na gráfica. Ela fez um orçamento pra gente e tal, daí sim nós fomos atrás de patrocinadores para poder imprimir o jornal. Daí nós começamos a ir atrás de publicidade e o jornal começou até a ser rentável. Nós pagávamos as despesas e ainda sobrava um dinheirinho no caixa. Quando nós imprimíamos em mimeógrafo, nós distribuíamos uns 200 exemplares pela escola, mas depois, quando começamos a imprimir na gráfica passamos a atender a todo o alunado da escola, passavam de 400 exemplares. Através do jornal estudantil, surgiu a oportunidade de trabalhar em um jornal de Toledo, como aconteceu tudo isso? Quando nós começamos a imprimir o jornal na gráfica, em off-set, essa gráfica também imprimia um jornal da cidade e a diretora da gráfica propôs para que eu trabalhasse com ela. Mas mais nas horas de folga e na área comercial. Ela viu que eu vendia propaganda para manter o jornalzinho estudantil, aí ela propôs para eu fazer isso também para o jornal 80 dela. Mas aí, quando eu podia, eu escrevia alguma coisa para o jornal, além da parte comercial. Onde eu escrevia sobre assuntos quaisquer. Por quanto tempo você trabalhou neste jornal e no jornal estudantil? Acho que nesse jornal de Toledo foram uns dois anos. O estudantil durou enquanto nós estávamos no colégio. Acho que foram uns dois anos também. AUDIO 2 - 10’20’’ Como surgiu a ideia de vir para Rondônia? A vinda para Rondônia não teve nada a ver com o jornalismo. A gente fez uma opção de vir conhecer Rondônia e tal, daí nos entusiasmamos com que Cacoal, que era na época, aquela vibração toda e como todo o pessoal, tinha o sonho da terra, aí nós decidimos vir pra cá. Nós tínhamos parentes aqui, aí então nós tivemos apoio dos próprios parentes que moravam aqui. A minha irmã que morava aqui sabia que eu trabalhava na prefeitura lá de Toledo e disse que era fácil arrumar um emprego aqui em Cacoal e ela foi junto comigo falar com o prefeito. Aí eu lembro que o prefeito olhava a minha carteira de trabalho e analisava e tal, aí ele fez algumas perguntas, o porquê de um aumento por merecimento, aí eu expliquei tudo pra ele e ele disse: “Pode vir, você está contratado” e para ganhar um pouco mais do que eu ganhava em Toledo. Não teve como deixar de vir! Como os seus parentes vieram para Rondônia? Os parentes vieram vários anos antes que a gente. E vieram em função da terra que era doada, cedida, para quem viesse para Rondônia, que era considerada o novo El dourado. Então os parentes se animaram e vieram para cá conhecer, foram se ajeitando, conseguiram terras para sobreviver e estão até hoje aqui. A propaganda do governo Federal para colonizar a Amazônia, influenciou a vinda da sua família? Exatamente, a propaganda era muito grande, principalmente em cima de Cacoal, e dessa região aqui. Eu lembro que a revista VEJA até tinha uma reportagem do Dr. Ideval Munin que dizia que ele suportava uma inflação de mil por cento no tempo em que a inflação estava alta. E tudo isso ajudou a trazer muita gente pra cá. E assim vieram os meus cunhados, irmãos, irmãs, sobrinhos, meu pai e minha mãe também vieram. Isso em 1972, depois em 1979 nós também viemos. Como era Cacoal a primeira vez que você veio? Era uma cidadezinha pequena, com muita poeira. Praticamente todas as casas eram de madeira. Mas um movimento muito grande, muito animador. O pessoal era entusiasmado, alegre e a gente se envolveu nessa onda aí também e resolvemos vir pra cá. Qual era o clima na cidade? Otimismo, desenvolvimento? Sem dúvida. Aqui o pessoal vinha, quem não era casado tinha que casar. Eram jovens namorando e casando para pegar os seus 42 alqueires de terra. E isso era muito normal acontecer. Era um clima de ânimo, de vontade do povo de alavancar aqui, a localidade. E assim foi se instalando e é hoje o que é. 81 Como era a propaganda do governo na época? Era em cima de fixar povoamentos e colonizar a região? Ah sim! O governo era um governo nomeado, governo militar na época. O presidente da República e o governo federal animavam todos para que viessem pra cá, pegar terra. Podia desmatar até 50%. Eu mesmo tive condições de pegar uns dois mil hectares de terra, mas não tive coragem, porque eu não tinha nem como fazer 10 alqueires de derrubada e precisava fazer 50%. A gente pensava que tinha mesmo que obedecer a lei, que a lei na época era mesmo isso aí, de desmate de 50%. E nós não tínhamos como fazer. Nós tivemos a possibilidade de pegar 2000 hectares que terra, a qual foi oferecida pelo próprio INCRA, mas a gente não tinha como fazer nem 10 alqueires e como é que ia pegar dois mil hectares? Então a gente desprezou, a gente simplesmente desprezou pegar uma terra dessas. Hoje, no entanto, é o contrário, quem está com a preservação é quem está certo, quem desmatou é que está errado, que vai ter que reflorestar, replantar. Quais foram as principais dificuldades que você e sua família encontraram quando vieram morar em Cacoal? Eram muitas né! Principalmente na área de saúde. Tanto é que quando a nossa primeira filha, a Adriane nasceu, a Leane (esposa) foi para Toledo, no Paraná, para fazer o parto por lá, por que aqui não confiava. Cacoal estava muito aquém das necessidades, e o pessoal geralmente saía para fora para fazer tratamento de saúde. Mas tem coisas que impressionaram a gente, e se for pra comparar, no Paraná demorou muito mais para chegar as escolas, aqui, na área rural, de 4 em 4 quilômetros tinha uma escolinha. Enquanto que no Paraná, quando nós chegamos lá, em 1960 por aí, não tinha essa estrutura toda que tinha aqui. Você disse anteriormente que veio para Rondônia, pois recebeu uma proposta de trabalho na prefeitura de Cacoal, a mão de obra naquela época, era escassa? Na época não dependia de concurso e a pessoa, mostrando conhecimento nas áreas, tinha facilidade em conseguir emprego. Eu cheguei numa época em que estavam precisando de pessoas com conhecimento e eu trabalhava na contabilidade da prefeitura de Toledo, com uma experiência de 6 anos e aqui nós conseguimos mostrar que tínhamos conhecimento de causa, que sabíamos o que era necessário dentro da prefeitura e fomos contratados. Mas não fiquei, acho que nem um ano na prefeitura. Aí fui me dedicar à causa que eu criei que era o Jornal Tribuna Popular. Quando e como surgiu a ideia de montar um jornal? A ideia foi logo que eu cheguei. Eu estava acostumado no meio da comunicação e aqui não existia nada. Só existia um serviço de alto-falante, não tinha jornal. O jornal que vinha de Porto Velho chegava uns três ou quatro dias atrasados. Na televisão a programação era toda atrasada. O fantástico de um domingo a gente assistia no outro domingo e assim por diante. Então a gente viu que tinha essa lacuna e a gente entendia que com um jornalzinho a gente podia ajudar muito, daí a gente teve a ideia de começar este trabalho. Como você conseguiu montar esse jornal? Essa é uma história bem longa e até complicada. Sem dinheiro a gente tentou fazer o jornal. A ideia minha era que eu levantava uma quantidade de anúncio suficiente para pagar o jornal e obter um pequeno lucro em cima. Eu reuni todas as matérias e anúncios e fui a Porto Velho para imprimir o jornal. Mas eu fui sem dinheiro, só com o dinheiro para cobrir com as despesas da viagem. Eu entendi que se eu chegasse lá e desse um cheque a pessoa esperava alguns dias até que eu chegasse, apresentasse a edição do jornal, recebesse o dinheiro da publicidade e pagasse a edição. Daí, para o meu engano, na hora da edição pronta, o cidadão, 82 dono da gráfica, seu Hermano Pontes Pinto que era o dono do jornal “O Guaporé” onde eu imprimia a edição não quis liberar a edição pra mim. Aí eu tive que, no desespero, procurar uma forma de trazer a edição, para receber e poder pagar. Daí eu contei com o apoio de uma pessoa que era uma autoridade no estado, e ela me ajudou a liberar a edição para eu levar para Cacoal, mediante a apresentação de um cheque para poucos dias. Quando eu cheguei a Cacoal eu recebi as publicidades, daí eu consegui cobrir os cheques e levantar um lucro para próxima edição. Quem eram os funcionários, colaboradores do jornal nas primeiras edições? Eu tinha alguns colaboradores que me ajudavam. No caso o Marcos Paraíba me ajudou, o chefe de gabinete da prefeitura, Ademar Romano também me ajudou, porque ele tinha uma experiência em redação. Assim eu fui levantando o material para as primeiras edições do jornal. AUDIO 3 - 13’46’’ Como você descobriu onde e como imprimir o jornal? Tinham as gráficas que imprimiam os jornais de Porto Velho. Existia “O Guaporé”, “O Alto Madeira”, o jornal “A Tribuna”. Daí a gente procurou qual das gráficas que podia imprimir e aí a gente descobriu a gráfica do jornal “O Guaporé”, que é extinto hoje, mas era um dos mais antigos jornais. Combinamos o valor e tudo, e como eu já expliquei, fui atrás de patrocínios para poder pagar a edição e continuar imprimindo o jornal. E o projeto gráfico do jornal? Era a própria gráfica que fazia? Sim, a gente levava as matérias e todo o resto e os profissionais do jornal lá nos ajudavam, dando sugestões de como podia ser feito e tal, e assim a gente fazia. Quem vendia os anúncios do jornal? Eu mesmo! No início era tudo a gente que fazia. Depois começaram a aparecer colaboradores. Para começar, a gente primeiro vendeu as publicidades, foi levantado o valor para pagar a edição do jornal e a gente começou a reunir o material para ser publicado no jornal. Quem eram os primeiros anunciantes do Tribuna Popular? Lojas, farmácias, supermercados... E em relação a governo e prefeitura, como eram feitos os contratos? Bom, prefeitura a gente já contou com o apoio desde o início, antes que o jornal circulasse. Mediante as publicações a gente apresentava as faturas e recebia. Não era tão burocrático quanto é hoje. O governo demorou até um tanto para começar a anunciar. Depois começaram a desenvolver algumas campanhas, daí a gente começou a divulgar as publicidades que tinham. Na época, o governo já contava com um departamento, uma equipe para lidar com a comunicação? Tinha, tinha! Tinham o setor, departamento de comunicação do Governo que autorizava, mandava produzir as artes finais para a publicação e mandava pra gente. 83 No início, qual foi a receptividade do jornal, por parte da população? Foi muito boa né! Era uma novidade, não existia nada. Daí surgiu o jornal. Só que o jornal era só tabloide né! Não deu uma representação como deu quando a gente passou a editar o jornal em tamanho standart, daí repercutiu melhor. Eu até me lembro de uma pessoa que disse “Agora Cacoal tem um jornal!” depois que passou a standart. Na questão financeira, qual era a maior dificuldade do jornal? Ah, sempre era muito difícil conquistar as coisas. Não era nada fácil. A gente não podia almejar muito porque Cacoal era uma cidade muito pequena ainda. Havia muitos comércios até, mas para investir em publicidade era uma dificuldade muito grande. O pessoal preferia o serviço de alto-falantes que existia na época. Alguns empresários que ajudavam no jornal. A gente ia também à Pimenta Bueno, atrás de publicidade. Porque Cacoal só não tinha material suficiente pra gente sobreviver. Quem investia e anunciava gostava, porque via o jornal circulando de mão em mão, e a publicidade dele estava ali. Então quem anuncia não tinha dificuldade em continuar anunciando. Com maquinário próprio, você chegou a trabalhar com as linotipos, como foi isso? Essas linotipos a gente localizou em Manaus, porque a gente imprimiu o jornal um ano em Manaus. Aí a gente comprou a impressora tipográfica e a linotipo. A gente negociou e trouxe para cá em 1983. O transporte foi até fácil né, porque existia a estrada de Porto Velho à Manaus, na época né! Tinha a estrada com asfalto, tudo. Então o transporte não foi nada difícil. Foi arrumar um caminhão e trazer. Esse maquinário que vocês utilizam hoje tem história, qual a história dele? Dizem que ela foi fabricada na época da Guerra e os alemães que produziram. Foi produzida na Alemanha essa máquina né! E ela é para ter toda uma estrutura de alumínio, que era para ser um material mais leve para poder ser transportada em um avião. Aí eles faziam impressos e distribuíam onde tinha população, conflitos da guerra. Como você encontrou essa máquina? Essa máquina foi um amigo da gente, de Brasília, que localizou ela e daí deu a dica de que havia essa máquina; ele que comprou essa máquina, tudinho pra gente, e veio montar ela aqui. O preço que você pagou nesta máquina, na época, você lembra? Bom, eu comprei ela em 1994, e a gente instalou ela e começamos a imprimir em offset. Eu lembro que foi 18 mil, não lembro bem a moeda da época! Acho que não era o real ainda, acho que era cruzeiro. A máquina foi comprada com nota fiscal da gráfica de Brasília, então não teve problema para transportá-la de Brasília pra cá. Essa máquina é de uma marca com nome bem complicado “Kilckbusch”, é uma marca de origem alemã. Ela data de 1954. No começo foi bem complicada, porque o cara que veio montar ela aqui montou bem superficialmente. E daí o pessoal foi ajeitando ela, montando, descobrindo os detalhes dela. Agora sobre os dias atuais... Qual a circulação do Tribuna Popular? São três mil exemplares, com quantidade de páginas variáveis, vai de 12 a 20, 24, páginas e circula semanalmente as sextas-feiras. A distribuição é em Cacoal e nos municípios circunvizinhos. Cacoal é a distribuição principal, aí vem Pimenta Bueno, Espigão do Oeste, Ministro Andreazza, Rolim de Moura, Presidente Médici, e Porto Velho. 84 Quanto, aproximadamente, é distribuído em cada município? Depende do município. A quantidade que vai para Ministro Andreazza é bem menor da que vai para Pimenta Bueno. Vão uns 100 exemplares para Ministro Andreazza, uns 200 para Pimenta Bueno, 200 para Rolim, uns 100 para Espigão, para Médici vão uns 80 exemplares, para Porto Velho vão uns 200. A distribuição é mais em Cacoal mesmo. Também tem alguns jornais que distribuímos também via Correio, para pessoas que moravam em Cacoal e se mudaram, mas ainda querem receber o jornal. De vez em quando mandamos para Brasília. O Tribuna Popular é um dos poucos jornais que se mantém em preto e branco, porque essa opção? Por causa do financeiro (rs). Por questão financeira. E outra é porque para imprimir o jornal do tamanho que é o nosso, tamanho standart, vai depender de um investimento em maquinário que é muito mais caro. Então a gente sempre pesquisa e conversa com amigos da área, e a gente sempre teve o conselho de manter do jeito que sempre foi, até porque o pessoal já está habituado. Você adquiriu um novo maquinário e tem a opção de imprimir o jornal colorido, mas para isso teria que diminuir o tamanho, o que você pensa sobre isso? Porque como eu falei antes, quando a gente começou o jornal era tablóide, e quando lançamos ele standart o pessoal falou, “Agora a gente tem um jornal”. Então a gente leva isso em consideração. E para condensar tudo o que a gente tem, para publicar no tamanho standart é mais fácil, enquanto que no tablóide a gente tem que aumentar a quantidade de páginas, que influencia até mesmo nos custos. Então a gente faz a opção de continuar desta forma. AUDIO 4 – 7’50’’ Eu estou analisando as propagandas governamentais do período entre 1980 a 1984. Quem fazia a propaganda do governo estadual? Era uma agência chamada OANA, de Manaus, que adquiriu o direito de fazer a publicidade do governo. Esta agência existe até hoje, em Manaus, a Oana Publicidade. Então os contratos do jornal eram feitos através da Oana. Você sentia nas propagandas e no discurso do governo, o ideal desenvolvimentista do governo militar em relação à Amazônia? O governo tentou fazer a publicidade máxima possível! Porque era um objetivo transformar Rondônia em Estado, e pra que ele se transformasse em estado, tinha que mostrar os motivos para isso acontecer. A propaganda era o carro chefe! E onde eles podiam desenvolver a divulgação, eles procuravam fazer. O jornal Tribuna Popular conseguiu auxiliar nesta divulgação? Ah, eu acho que sim, porque tudo girava em torno de uma amplitude para divulgar o objetivo de criação do estado e era aquela expectativa do povo. Estávamos todos vinculados nos acontecimentos. Era uma forma de altruísmo, perseverança, então a gente anunciava o pessoal prestava atenção mesmo, pegavam, liam. E naquela época eram mais textos mesmo, não tinha muita imagem, era mais texto, o que se ia fazer. Além disso, muitas pessoas utilizavam o jornal para poder convencer parentes que não queriam vir para cá, que temiam pelo futuro. Daí esses anúncios eram mandados pra fora, e daí o pessoal se convencia e chegava cada vez mais gente. Isso não só através de Tribuna Popular, mas de vários veículos 85 também, que utilizavam para poder divulgar e atrair mais gente para Rondônia. Como a gente falou né, era considerado o novo El Dourado, então a propaganda era muito grande para atrair o povo e a gente acaba sendo seguido pelo povo. Aqui tinha terra, então faziam a propaganda que o futuro de cada um era vir pra cá. Você acha que em certos aspectos, essa propaganda exagerada, chegou a ser um pouco enganosa? É, propaganda enganosa... Porque a propaganda existia e realmente, muita gente tentava e não conseguia pegar terra, outros conseguiam. Acho também, por causa da forma desordenada, muita terra para alguns, pouca terra para muitos. Então teve esse tipo de problema. Quanto à propaganda de trazer gente pra cá, a gente sentiu mesmo, que teve propaganda demais e o povo veio mesmo para Rondônia. Aí teve esses problemas todos de Reforma Agrária. Muitos pensavam que era só chegar e pegar a terra e não conseguiam. Você vê até hoje aí, grandes fazendas, e muitos ficaram sem terra. Por isso nem tudo o que foi divulgado era bem o que o povo pensava. Quem tinha dinheiro conseguia mais, quem não tinha conseguia pouco, e depois quem tinha dinheiro tinha como comprar e como manter, às vezes da forma, mas alheia, para tentar manter aquela terra toda. Por isso tinha tantas confusões também, se falava tanto em mortes por causa desse negócio de terra. Aconteciam muitas tragédias. Em relação ao governo federal, como você conseguiu os contratos? Eu acho que o governo se utilizava dos cadastros de veículos que tinha no próprio governo do estado e daí pegavam o endereço dos jornais e mandavam para gente a publicação. Partiu deles, vinham direto deles lá, pra gente. Acho que eles descobriram através da Oana, dos cadastros dos veículos junto ao departamento de comunicação do governo estadual, e através dessas informações eles mandavam anúncios pra gente publicar. Vinha a autorização, tudo certinho, pra gente publicar. 86 APÊNDICE B – Transcrição das Propagandas em Documento do Word PROPAGANDA 1 – PLANTE MAIS FEIJÃO. O PREÇO MÍNIMO É Cr$ 14.400,00, MAIS CORREÇÃO. Ano passado o preço mínimo garantido do feijão foi de 5.985,00 cruzeiro. Para esta safra, ele subiu 14.400 cruzeiros. E ainda tem correção, de julho até novembro. Este é o melhor motivo para você plantar cada vez mais feijão. Mas têm outros. Você tem crédito e seguro para cobrir sua produção. O VBC é de 100% para todos os produtores. Financiamento total. O seguro agora protege a sua safra e o seu dinheiro. Você tem a garantia de preços mínimos corrigidos. Você conta ainda com a assistência técnica e orientação para conseguir bons lucros. 14.400 cruzeiros é o preço garantido do feijão, mais correção. Com este preço mínimo, você vai poder plantar o máximo. VAMOS RECONSTRUIR NOSSA TERRA, PLANTANDO. Procure sua cooperativa, um banco ou um técnico da extensão rural. Você só tem a ganhar. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA APOIO: BANCO DO BRASIL S.A. Rodovia Marechal Rondon BR-364 Cuiabá – Porto Velho Acionando ao máximo a capacidade de conviver com as dificuldades econômicas sem abrir mão do nosso desenvolvimento, o Governo João Figueiredo, através do Ministério dos Transportes, inaugura a Rodovia Marechal Rondon, Cuiabá-Porto Velho, com 1.450 km de extensão, constituindo-se na última grande rodovia de integração nacional. PROPAGANDA 2 – Conheça a Rodovia Marechal Rondon Até 1981, as viagens rodoviárias para Porto Velho só eram possíveis com grandes dificuldades, pois nos períodos chuvosos diversos trechos da rodovia tornavam-se intransitáveis, acarretando perdas de cargas perecíveis e prejuízos que aumentavam significatiamente o custo dos transportes e dos gêneros alimentícios. Esta é uma estrada pontilhada de estórias de aventuras humanas, sacrifícios pessoais, determinação. De caminhoneiros que passaram meses nos atoleiros, com fome, sendo obrigados a beber até a água retida na própria estrada para saciar a sede. De homens como Alberico Oliveira, topógrafo, moço, que, liderando uma equipe de 12 companheiros, abrindo picadas, enfrentou uma onça em seu acampamento. Como Deomar Gonçalves de Castro, que chefiou 5.000 trabalhadores desbravando a estrada, a machado, árvore por árvore, seguindo a “linha Rondon”, aberta por aquele outro grande pioneiro. E como João Veloso ou “João da Pamonha” que ficou rico cozinhando pamonha, dia e noite, para atender aos caminhoneiros que permaneciam com seus caminhões retidos por cerca de dois meses em filas de até 10 km de extensão. 87 É por causa de homens como esses que a estrada aí está. 1450 Quilômetros de asfalto para você Seguindo as diéreses de racionalização, sem desperdícios, do Ministério dos Transportes, pôde o DNER concluir a rodovia no prazo de 1.078 dias, 290 dias antes da data contratada. E a um custo 30% menor do que o previsto pelo Banco Mundial, que forneceu parte dos recursos, sem prejuízo da qualidade da obra. Para isso, o DNER mobilizou as principais empreiteiras do País, que empregaram mais de seis mil homens, utilizando cerca de 1.400 equipamentos diversos. Trabalharam na obra as empreiteiras Mendes Júnior, Queiroz Galvão, CCQ, Constran, EIT, C.R. Almeida, Serveng-Civilsan, Contek, EBEC, Tratex, Convap, ECEX, além dos 5º e 9º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército. Primeiro Rondon, agora Figueiredo A BR-364 foi batizada de Rodovia Marechal Rondon em homenagem ao brasileiro que desbravou a região, ali estendendo a primeira linha telegráfica, a partir de 1912. Agora a trilha do Marechal Rondon torna-se a maior obra rodoviária do Governo João Figueiredo, consolidando a expansão das novas fronteiras agrícolas dos estados de Mato Grosso e Rondônia e assegurando condições para a fixação do homem à terra, numa região que se transformou em símbolo da nossa década, pelo dinamismo do seu desenvolvimento. MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES Departamento Nacional de Estradas e Rodagem – DNER Governo João Figueiredo PROPAGANDA 3 – Muito satisfeito, Rondonzinho estende até setembro o prazo de trocas da Série Dois. Construir uma vida melhor para todos através da arrecadação do ICM. Essa é a missão de Rondonzinho e seus amigos. E, ela está sendo tão bem cumprida, que a satisfação de Rondonzinho não encontra limites. Assim, o prazo de troca de figurinhas e alguns da série Dois foi estendido, afim de que os amigos do Rondonzinho tenham a oportunidade de aumentar a intensidade do brilho de sua Estrela da Sorte. Apresse-se em encher os álbuns da Série Dois. Você não pode ficar de fora. Continue ajudando o Rondonzinho e continue recebendo muitos prêmios grátis! Para continuar ajudando o Rondonzinho você já sabe, é só continuar exigindo as Notas Fiscais, Tiquetes de máquinas registradoras e Cupons especiais. Depois, por cada Cr$ 500,00 em Notas Fiscais, Tiquetes ou Cupons Especiais você recebe 5 figurinhas e, em pouco tempo, seu álbum de 80 figurinhas estará preenchido, porque são todas fáceis. E ainda existem as carimbadas. Carimbadas: É achar e ganhar! Não perca tempo! São 5.000 figurinhas carimbadas. E já saíram muitas delas. Se você encontrar um carimbo estampado na frente da marca da Nova Estrela, corra até o posto mais próximo e receba o prêmio designado no verso. Você é um felizardo. 88 Agora os grandes prêmios finais dobram. Álbum completo! Parte para eles. Se o seu álbum está completo, vá agora mesmo trocá-la por um Cupom Numerado e concorra pela extração da Loteria Federal de Agosto a estes prêmios sensacionais: Série Única – Série Dois 1º Prêmio: 1 Caderneta de Poupança – no valor de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros) 2º Prêmio: 1 Aparelho de Som 3 em 1: 3º Prêmio: 1 TV a cores de 20 polegadas; 4º Prêmio: 1 Geladeira Climax; 5º Prêmio: 1 Geladeira Climax; 6º Prêmio: 1 Geladeira Climax; 7º Prêmio: 1 Geladeira Climax; 8º Prêmio: 1 Geladeira Climax; 9º Prêmio: 1 Bicicleta Monark; 10 Prêmio: 1 Bicicleta Monark; Receber álbuns ou trocar figurinhas é muito fácil: Basta você se dirigir a qualquer um dos postos da Secretaria de Finanças de Porto Velho ou no Interior com suas Notas Fiscais, Cupons Especiais ou Tiquetes para receber seu álbum e figurinhas do Rondonzinho. Levando as figurinhas carimbadas você recebe os prêmios designados no verso. Postos de Troca: Capital - SEFIN – Av. Faquar - Divisão de Arrecadação ED EFMM - CAT – Av. Prudente de Morais, ao lado da Delegacia da Receita Federal; - Agências Bancárias; - Supermercados; - Trailers Volantes. Interior - Agências de Rendas da SEFIN-RO; - Agências Bancárias; - Supermercados. Postos de Recebimento de Prêmios Capital - Coordenadoria de Administração Tributária – CAT - ED EFMM Interior - Agências de Rendas da SEFIN-RO Notas ficais que valem para troca: O Rondonzinho relembra os seus amigos que só serão válidas para troca as Notas Fiscais, Cupons Especiais ou Tiquetes de máquinas registradoras emitidas a partir de 20 de 89 Abril por firmas sediadas no Território Federal de Rondônia, relativas a vendas ao consumidor. Não valerão as notas de vendas combustíveis, lubrificantes ou veículos automotores. Prazo para os colecionadores do Rondonzinho: ÁLBUM SÉRIE ÚNICA SÉRIE DOIS NOTAS FISCAIS POR FIGURINHAS Até 13.08.81 Até 13.09.81 ÁLBUM POR CUPOM HORA GRANDE SORTEIO Até 16.08.81 Até 16.09.81 12:00hs 12:00hs 19.08.81 19.09.81 AMIGOS DO RONDONZINHO ICM – ARRECADAR PARA CRESCER GOVERNO DE RONDÔNIA Jorge Teixeira de Oliveira RONDÔNIA SECRETARIA DE FINANÇAS PROPAGANDA 4 – Chegou o novo álbum do Rondonzinho. Agora são 6.026 prêmios maravilhosos. O Rondonzinho voltou com muito mais prêmios. Além da diversão, cada um de nós vai aprender uma porção de coisas novas, colecionando o novo álbum. Fazendo isso nós vamos ajudar a crescer a arrecadação do ICM. Sabemos que com esse dinheiro dos Impostos o Governo constrói escolas, hospitais, avenidas, redes-elétricas e uma porção de outras coisas que facilitam a vida da gente. O Rondonzinho explica o novo sistema de trocas: Continua fácil colecionar o álbum do Rondonzinho. Basta exigir a Nota Fiscal, o tíquete de compra das máquinas registradoras, ou ainda o cupom especial, em todas as compras que você fizer. Em seguida cada Cr$ 1.000,00 destes comprovantes de compra, você troca por um álbum, ou um envelope contendo 5 figurinhas. O novo álbum tem agora 160 figurinhas, mas nenhuma delas é difícil. Somente a carimbada, mas esta dá prêmio. Figurinha carimbada: achou, ganhou! Agora tem 6.016 figurinhas carimbadas. Portanto os prêmios aumentaram em volume e qualidade. Quando você encontrar a marca da Nova Estrela, com um carimbo em vermelho estampado na frente, vire rápido e leia no verso o prêmio que você ganhou. Depois é só levar ao posto de troca e receber o prêmio. Ao completar o álbum, prepare-se para concorrer aos grandes prêmios! Quando seu álbum estiver completo, leve ao posto de troca mais próximo e mande carimbar as figurinhas. Em seguida eles vão destacar a lapelas da última capa. O número que já está carimbado na lapela do álbum é o seu número da sorte para concorrer pela extração da Loteria Federal, a estes prêmios incríveis: 1º Prêmio – 1 carro Zero Km – Voyage 2º Prêmio – 1 caderneta de Poupança de Cr$ 200.000,00 90 3º Prêmio – Aparelho de som 3 em 1 4º Prêmio – TV à cores 20” 5º Prêmio – TV à cores de 16” 6º Prêmio – Geladeira 7º Prêmio – Geladeira 8º Prêmio – Geladeira 9º Prêmio – Bicicleta de 10 marchas 10º Prêmio – Bicicleta de 10 marchas Onde trocar suas figurinhas: Exigem dezenas de Postos de Troca em toda a cidade de Porto Velho, e ainda nas cidades do interior, onde existem postos da SEFIN. Basta levar suas Notas Fiscais, tíquetes de máquinas registradoras ou os cupons especiais a qualquer agência da Secretaria de Finanças, e você recebe seu álbum e suas figurinhas do Rondonzinho. Notas Fiscais válidas para troca: Só valem Notas Fiscais, tíquetes de máquinas registradoras ou os Cupons Especiais emitidas PR firmas com sede em Rondônia, e com data a partir de 1º de Outubro de 1.981 e relativas a vendas ao consumidor. Não são válidas notas de venda de combustíveis e lubrificantes, e notas de vendas de veículos automotores. Prazo dos colecionadores do Rondonzinho: Troca de figurinhas: Até 14 de Abril/82 (18:00hrs) Recebimento de álbuns completos para destaque dos cupons numerados: Até 17 de Abril/82 (18:00hrs) Sorteio pela Loteria Federal: 24 de Abril de 1.982 Postos de troca: Capital - SEFIN – Av. Farquar - Divisão de Arrecadação Ed. EFMM - CAT – Av. Prudente de Morais ao lado da Delegacia da Receita Federal. - Agências bancárias - Traillers volantes. Interior - Agência de Rendas SEFIN/RO - Agências bancárias - Supermercados Postos de recebimento de prêmios: Capital: Coordenadoria de Administração Tributária – CAT - Ed. EFMM 91 Interior - Agência de Rendas da SEFIN/RO. AMIGOS DO RONDONZINHO ICM – ARRECADAR PARA CRESCER GOVERNO DE RONDÔNIA Jorge Teixeira de Oliveira RONDÔNIA SECRETARIA DE FINANÇAS PROPAGANDA 5 – Aqui estão os ganhadores dos prêmios do Rondonzinho Estes são os felizardos, que ganharam prêmios do Rondonzinho, no sorteio do dia 24 de abril, pela Loteria Federal. Veja se o seu nome está na lista e venha buscar o seu prêmio: 1º Prêmio – 2º Prêmio – 3º Prêmio – 4º Prêmio – 5º Prêmio – 6º Prêmio – 7º Prêmio – 8º Prêmio 9º Prêmio – 10º Prêmio – Carnê Nº 40.854 Carnê Nº 01.761 Carnê Nº 34.425 Carnê Nº 67.729 Carnê Nº 33.200 Carnê Nº 65.878 Carnê Nº 70.949 Carnê Nº 15.123 Carnê Nº 74.284 Carnê Nº 06.297 1 carro Zero Km – Voyage 1 caderneta de Poupança de Cr$ 200.000,00 Aparelho de som 3 em 1 TV à cores 20” TV à cores de 16” Geladeira Geladeira Geladeira Bicicleta de 10 marchas Bicicleta de 10 marchas AMIGOS DO RONDONZINHO ICM – ARRECADAR PARA CRESCER GOVERNO DE RONDÔNIA Jorge Teixeira de Oliveira RONDÔNIA SECRETARIA DE FINANÇAS PROPAGANDA 6 – E da terra nasceu a estrela. E, de repente, as mãos se multiplicaram no serviço da terra, que se tornou fértil e vicejou. De repente, o Estado se cobriu de lavouras e produziu o sustento de muitos. E o café, o cacau, o arroz, o milho, o feijão, a seringueira, os bois e os búfalos se espalharam por estas terras, distribuindo riquezas e construindo o futuro. E um futuro calcado no trabalho, único meio que nos dá riquezas sólidas. E a terra explodiu numa seara iluminada pelo sol da Amazônia, mostrando a certeza do nosso esforço e sentimo-nos recompensados. 92 A Codaron, além de cumprir as metas para que fora criada, desenvolvia um trabalho paralelo de grande valor: ajudava a implantar as bases de um Novo Estado. Sem produção, não há fixação do homem à terra. Fixando-se o homem, fixam-se as bases para o desenvolvimento. E, para atender a toda essa demanda, a Codaron criou o Sistema Agrícola de Rondônia para o pequeno produtor, com a montagem de núcleos urbanos de apoio rural, com Escolas, Postos de Saúde, Armazéns, Estradas secundárias, construídas e conservadas pelas próprias pessoas que as usam. O Governo do Estado, através da Codaron, fornece tratores e equipamentos, dando condições ao povo de melhorar as condições de vida. Todo este esforço conjunto deu-nos a certeza de que a Estrela seria alcançada. Criando, através de trabalho sério e continuo condições de sobrevivência, cada vez melhores, o progresso da agricultura do Estado seria questão apenas de trabalho. E como trabalhou este povo, sentindo-se amparado. Notou-se sentido progresso em todos os setores de atividade agrícola e cada vez mais, famílias oriundas de todos os pontos do país, vinham fixar-se entre nós. E Rondônia é um exemplo de progresso bem planificado. Seu futuro está assentado em bases sólidas, pelo trabalho dos braços fortes desses colonos que plantam o amanhã, liderados pelo incansável Governador Jorge Teixeira. É assim que Rondônia está colhendo os frutos de seu trabalho sem esmorecimentos. E a colheita está ultrapassando a mais otimista expectativa. Isto porque, orgulhosamente, podemos dizer: E DA TERRA NASCEU A ESTRELA. Willian José Curi – Presidente da Codaron CODARON – Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia PROPAGANDA 7 – O Rondonzinho ajudou nesta conquista. Arrecadar para crescer, o lema do Rondonzinho foi seguido à risca por todos e Rondônia cresceu tanto que virou Estado. Governo e povo irmanados na luta comum conquistaram a estrela. E, se pensarmos bem, até que foi fácil, com o espírito que sempre norteou o Rondoniense. A Secretaria de Finanças se sente gratificada por ter colaborado decisivamente, nesta empreitada cívica, que colocou Rondônia nas páginas da história e modificou a geografia do Brasil. Ora, se nós todos modificamos Rondônia, por completo, transformando-a de Território em Estado, porque não iríamos ver o reflexo do nosso trabalho em todos os cantos do país. Antes de tudo, no entanto, o Rondonzinho quer agradecer ao Governo Federal pelo presente que nos deu, muito maior do que todos aqueles que o Rondonzinho distribuiu até hoje. E, ao Governo do Estado, pelo apoio às nossas iniciativas, pois sabia que nós todos visávamos, apenas, a elevação de categoria de nossa terra. Agora somos uma Estrela e, como tal, temos em mãos problemas de Estrela. Se nós todos, irmanados, crescemos tanto, temos a obrigação de crescer muito mais. Para valorizar os votos da Câmara e do Senado e o esforço do Presidente Figueiredo, para nos transformar no mais novo Estado da Federação. Vamos agradecer crescendo sem parar. E, agora, os nossos melhores agradecimentos ao povo e, especialmente, as crianças de Rondônia, que dando uma lição de grandeza e de elevação de alma, nos deu meios de alcançar as metas necessárias, para a fixação de objetivos. Foi com a arrecadação “RECORDE” que nós construímos Escolas, 93 Estradas, Hospitais, Redes Elétricas e de Esgotos, Armazéns, Postos de Atendimento, o Terminal Pesqueiro e Ginásio Coberto de Porto Velho e, tantas outras obras de vulto, que chegaram a influir nos destinos do País. Afinal, o Brasil de apenas 22, agora tem 23 Estados e o Rondonzinho está muito feliz por ter ajudado nesta conquista. Governo Jorge Teixeira de Oliveira Rondônia Secretaria de Finanças PROPAGANDA 8 – Vencemos: Nossa estrela brilha no azul da União Quando o povo de nosso Estado está em festa pela conquista de sua Estrela e todas as esperanças se traduzem na mais palpável realidade, o Governo de Rondônia reexamina todos os momentos de nossa luta e todos os aspectos que a fizeram digna deste final, que nos emociona. Não faltaram sacrifícios em nossa jornada cívica, mas, em contra-partida, não nos faltaram apoio e assistência, de parte daqueles órgãos, em cujas decisões se cimentavam nossas esperanças maiores. Sem essa ajuda, nada poderíamos ter feito, apesar de nossa constância e nossa fé inquebrantáveis. O Governo do Estado sente-se grato, em nome de todo o nosso povo, ao Governo Federal, pelo muito que se realizou em tão pouco tempo, dando estrutura a setores dos mais importantes, tais como: Transportes, Agricultura, Educação, Saneamento Básico e Assistência Médica, através da liberação das verbas necessárias, para que pudéssemos alcançar o nosso objetivo. O nosso Presidente acreditou que estávamos pronto para receber a nossa estrela e vê agora, que suas expectativas não foram fraudadas. Respondemos com muito trabalho e organização, a fé que nos foi depositada e fizemos por merecer, desta forma, a transformação em Novo Estado da Federação. Não poderíamos deixar de estender nossos agradecimentos aos senhores Ministros de Estado, por terem cerrado fileiras no objetivo comum: estruturar Rondônia para chegar à meta tão fortemente almejada. Os Ministros sempre deram sua parcela de atenções nesta luta de todo o povo e, com sua providencial ajuda, facilitaram a solução de nossos problemas. Com tanto que recebemos, nestes dois anos, o final não poderia ser diferente: a resposta aí está: somos um Estado, mercê de muito trabalho e muito progresso, alcançado pela pertinácia do povo Rondoniense. Nossos agradecimentos se voltam, finalmente, para a Câmara de Deputados e Senado que pressentiram ter chegado o momento e, com seus votos, nos deram a dignidade desta elevação. E, agora, o povo de Rondônia terá que corresponder, com sua parcela de esforço, à credibilidade depositada pelos senhores Senadores e Deputados Federais no futuro deste pedaço de nação. Por último, o Governo de Rondônia não poderia deixar de frizar a ajuda inestimável que lhe foi prestada por todos os seus assessores. Nos mais variados campos de atividade. E a todo o povo, que representa a mais viva parcela de trabalho, nesta colmeia em que se transformou, em tão pouco tempo, o nosso Estado. Aos Agricultores, Criadores, Seringalistas, Cacaueiros, Técnicos Agrícolas, Empresários, enfim, a todos quantos Rondônia 94 fica a dever esta honra, os melhores agradecimentos do Governo. Afinal, foi pelo esforço geral que podemos dizer: Vencemos: Nossa Estrela Brilha no Azul da União. Governo Jorge Teixeira de Oliveira Rondônia PROPAGANDA 9 – Quem produz mais, paga menos e ganha mais. PRÊMIO PRODUTIVIDADE RURAL – 1983 Pelo quarto ano seguido, o Ministério da Agricultura, através do INCRA, vai premiar quem está semeando o futuro do País. O homem do campo. Agricultor que este ano deu ao Brasil outra grande safra. Os produtores rurais modelo vão ganhar cheques, viagens, devolução de ITR, diplomas e medalhas de ouro. Participe você também. Peça informação na Prefeitura de sua cidade, na Secretaria de Agricultura do seu Estado, na EMATER ou entidade de Crédito Rural que opere no município, no Sindicato Rural ou no Banco do Brasil. Quem produz mais, paga menos e ganha mais. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA MINISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO PARA ASSUNTOS FUNDIÁRIOS INCRA- INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA PROPAGANDA 10 – A incrível história do povo que acreditou. O Brasil encontrou a saída. Vamos todos crescer. No ano passado, o Brasil enfrentou alguns dos piores problemas que podem atingir a economia de um país ao mesmo tempo. A inflação parecia fora de controle. A ameaça de estrangulamento nas contas externas parecia inevitável. O setor industrial conhecia a enorme dificuldade em manter o emprego de milhões de brasileiros. O comércio internacional não evoluía e colocava muitas restrições aos países em desenvolvimento. E ainda havia uma expectativa de novo fracasso das safras nordestinas pela persistência da seca. Um ano depois, as soluções foram aparecendo. Durante este tempo, cada brasileiro provou que dentro dele há uma semente de confiança no seu próprio futuro. E muita vontade para superar os momentos difíceis. Você trabalhou mais, poupou tudo o que foi possível na vida de cada dia e ajudou o Brasil a encontrar a saída. A inflação perdeu a velocidade. Ela começou a declinar e já ninguém duvida que vai cair ainda mais. O crescimento da dívida externa foi controlado. Este ano vai ser mais fácil amortizá-la. A indústria já vê os primeiros sinais de reanimação. Ninguém mais fala em demitir trabalhadores. As exportações industriais derrubaram as barreiras no exterior e transformaram um déficit de 2,9 bilhões de dólares em um saldo positivo de 1 bilhão e 200 milhões de dólares. O 95 avanço da agricultura no Sul do país, na Região Central e na fronteira do extremo Oeste afastou de vez o fantasma da escassez de alimentos e agora pode abastecer inclusive o Nordeste. Você foi muito importante nesta conquista. Vencemos o desafio. A sua confiança abriu espaço para o Brasil voltar a crescer. Campanha: O BRASIL ENCONTROU A SAÍDA – VAMOS TODOS CRESCER GOVERNO FEDERAL E ainda havia uma expectativa de novo fracasso das safras nordestinas pela persistência da seca. (...) O avanço da agricultura no Sul do país, na Região Central e na fronteira do extremo Oeste afastou de vez o fantasma da escassez de alimentos e agora pode abastecer inclusive o Nordeste. PROPAGANDA 11 – Você poupou, a solução começou. No ano passado, o Brasil só tinha problemas e uma grande riqueza: a vontade de sua gente. Agora ele tem soluções: Poupando e trabalhando mais, cada um de nós ajudou o Brasil a encontrar uma bela saída. Hoje estamos plantando como nunca. A confiança na terra garante mais colheita e mais empregos para todos. No campo e nas cidades. A Indústria aumentou as exportações e abriu espaço para crescer. Produzimos mais energia. Produzimos mais petróleo. Economizamos tudo o que foi possível na vida de cada dia. Com isso, a balança de pagamentos pesou para o nosso lado: o saldo comercial do país saiu do vermelho e já alcançou a soma de 1 bilhão e 200 milhões de dólares positivos. Afastamos de uma vez por todas o fantasma da inflação sem limite. Ninguém mais dúvida que ela vai continuar caindo. O esforço de cada um superou os momentos difíceis do ano passado. Você acreditou. O país inteiro ganhou. Agora ele só tem uma direção: crescer. Campanha: O BRASIL ENCONTROU A SAÍDA – VAMOS TODOS CRESCER PROPAGANDA 12 – ABC DA TERRA. Leia com atenção e conheça seus direitos e obrigações sobre a propriedade da terra. A O agricultor tem direito à propriedade da terra garantido pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Terra. Mas, para garantir esse direito, ele tem que respeitar a função social da terra. B A terra cumpre sua função social quando seu uso proporciona o bem estar de todos os que dela dependem. Para isso, precisamos cultivar e aproveitar corretamente a terra, fazer a terra render. A terra deve trazer benefícios ao proprietário e a todos os que nela trabalham. C O Governo ajuda o homem do campo a ser dono da terra. E, também, procura criar condições para o aproveitamento da terra: constrói estradas, presta assistência técnica, apóia com financiamentos, orienta o comércio de produtos agrícolas, cuida da educação e saúde da população rural. D Foi para tornar mais intensa a ação do Governo Federal que o Presidente João Figueiredo criou o Programa Nacional de Política Fundiária, dirigido pelo Ministro Extraordinário para Assuntos Fundiários. 96 E O trabalho que o Programa Nacional de Política Fundiária coloca em primeiro lugar é a melhor distribuição da terra, para que o homem do campo tire proveito da sua lavoura ou criação e o País possa progredir e se desenvolver em clima de paz e justiça social. F Para os agricultores sem terra o Governo Federal destina parcelas ou lotes em projetos de colonização. Eles devem se inscrever nos órgãos de terra – MEAF, INCRA, GETAT, GEBAM e outros. Os agricultores com experiência e com maior número de dependentes têm preferência. G Quando uma terra particular encontra-se abandonada pelo seu dono, ela está sujeita à usucapião especial. Os agricultores que explorarem essa terra por cinco anos, com posse mansa e pacífica, poderão tornar-se seus legítimos proprietários. H Para distribuição, o Governo Federal utiliza de preferência terras não ocupadas do próprio Governo, conhecidas como terras devolutas. O homem do campo com direitos reconhecidos recebe seu título e sua propriedade é garantida, dentro da lei. I O Governo está agindo para acabar com o mau uso da terra, como os latifúndios improdutivos e os minifúndios antieconômicos. Essas terras podem ser desapropriadas por interesse social e destinadas aos homens do campo que desejam torná-las produtivas. Os latifúndios estão ainda sujeitos a impostos mais elevados. J O primeiro passo para manter o acesso a terra deve ser sempre através da inscrição ou consulta aos órgãos de terra do Governo. O trabalhador rural deve usar somente de meios legais para garantir a propriedade da terra. L Se a terra estiver cumprindo a função social, o direito de propriedade pode ser assegurado mediante uma documentação legítima. Antes de registrar seu direito de propriedade nos cartórios de registro de imóveis, tire as dúvidas junto aos órgãos de terra. M As propriedades rurais trabalhadas de maneira adequada e que desempenham sua função social independente do tamanho, grandes ou pequenas, não estão sujeitas à desapropriação. Merecem a proteção da lei e pagam impostos menores. N Quando o homem do campo recebe um título do Governo, ele deve cumprir suas obrigações explorando corretamente a terra adquirida, conservando sua propriedade e não negociando com ela. Se passar a terra adiante, o Governo não lhe dará outra nunca mais. O O agricultor deve cuidar da terra para que não se estrague, evitando erosão, conservando as matas, os rios e os animais silvestres. Respeitar os recursos naturais é uma obrigação do homem do campo. P Como o nosso território é muito grande, existem soluções diferentes para cada região. Por isso, para ter orientações sobre a terra, consulte os técnicos dos órgãos rurais do Governo na sua localidade. Ou faça uma consulta direta ao MEAF, INCRA, GETAT ou GEBAM. GRÁTIS Retire grátis o ABC da Terra no INCRA, GETAT, GEBAM, ou outro órgão de terra de sua localidade. MEAF Ministério Extraordinário para Assuntos Fundiários 97 ANEXOS 98 ANEXO A VIZEU, Rodrigo; VARGAS, Rodrigo. Usinas hidrelétricas levam criminalidade a Rondônia. Jornal Folha de São Paulo, 2011. Disponível em: <www.folha.com>. Acesso em: 28 de agosto de 2011. Usinas hidrelétricas levam criminalidade a Rondônia RODRIGO VIZEU DE SÃO PAULO RODRIGO VARGAS ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO A região das obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, registra uma explosão de criminalidade e de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. O aumento dos problemas supera o ritmo do crescimento populacional. A obra de Jirau foi palco de revolta de trabalhadores na semana passada -- o canteiro foi depredado. As usinas começaram a ser construídas no segundo semestre de 2008. A população de Porto Velho, onde estão as duas obras, cresceu 12,5% entre aquele ano e 2010. A expansão populacional de Rondônia foi de 2,7%. Já o número de homicídios dolosos na capital aumentou 44% no mesmo período. Para o promotor Aluildo de Oliveira Leite, que acompanha o impacto das obras, o efeito social das obras foi "subdimensionado". A ampliação do hospital de base da cidade, que era prevista, não foi concluída. Em janeiro, os Ministérios Públicos Estadual e Federal cobraram do governo do Estado e da prefeitura "ações sociais efetivas" para o distrito de Jaci-Paraná. O objetivo, segundo o documento, é "reduzir a alarmante prostituição e tráfico de drogas" no local. Segundo Raiclin Silva, do Juizado da Infância, as áreas próximas aos canteiros tinham participação mínima nos resgates de menores e agora são metade do total. O número de estupros em Rondônia cresceu 76,5% de 2008 a 2010. A quantidade de crianças e adolescentes vítimas de abuso ou exploração sexual subiu 18% no período. Mais de 37 mil funcionários, na maioria homens vindos de outros Estados, trabalham nas duas obras. "É como se houvesse um garimpo", diz Silva. 99 ANEXO B BOECHAT, Yan. Estado está ausente em região que desmata. Fonte: Valor Econômico, 2008. Disponível em: <www.amazonia.org.br>. Acesso em 22/10/201. Estado está ausente em região que desmata Yan Boechat Data: 19/05/2008 Local: São Paulo - SP Fonte: Valor Econômico Link: http://www.valoronline.com.br/ O paranaense Ismael Osório Meira já derrubou árvores em toda sorte de lugares em Rondônia: reservas estaduais de mata nativa, reservas federais, áreas indígenas, propriedades de pequenos e grandes agricultores, áreas de extração legalizadas pelos órgãos ambientais. Para ele, nunca fez muita diferença de onde tirava a madeira. "Mata é mata, é tudo igual", gosta de repetir. Nunca lhe pediram - e ele nunca deu - qualquer tipo de documento das árvores que pôs abaixo. Toras entregues, dinheiro no bolso, simples assim. Nos últimos 14 anos ele tem se embrenhado nos restos da floresta amazônica que ainda existem no Norte de Rondônia em busca das árvores que se tornaram a madeira cobiçada pelos consumidores da Europa e, principalmente, do Sul e Sudeste do Brasil. A experiência de mais de uma década percorrendo as ilhas de mata fechada quase na divisa com o Estado do Amazonas lhe ensinou a identificar com facilidade o que é um ipê, um jequitibá-rosa ou um tauari, algumas das espécies que conseguem os melhores preços nos grandes centros consumidores. A bordo de um antigo trator equipado na dianteira com uma grande pá, Ismael passou esses anos todos abrindo pequenas "estradas" em meio à floresta até chegar onde estava a árvore que pretendia derrubar. Após transformada em toras de até cinco metros de comprimento, a árvore é puxada pelo mesmo trator até a beira da estrada, onde um caminhão aguarda para fazer o transporte à serraria que está pagando melhor pelo metro cúbico no momento. Ismael mora em uma casa de madeira bastante simples, à margem da esburacada estrada de terra que liga os municípios de Cujubim e Machadinho do Oeste, responsáveis por quase 50% dos mais de 1 milhão de m3 de madeira extraídos em Rondônia em 2006. Essa região, que faz divisa com o Amazonas, é considerada uma das 36 áreas que mais desmataram a floresta amazônica no último ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE. Por conta disso, há mais ou menos dois meses o governo federal enviou para lá homens da Força Nacional, policiais federais e agentes do IBAMA, sob a Operação Arco de Fogo, a fim de estancar o que a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva classificou como a sangria desatada. Ismael, que sempre soube que muitas das árvores não podiam, legalmente, sair de onde estavam, foi indiciado por crimes ambientais. Para ele, isso nem foi o pior. Ruim mesmo foi perder o trator e o caminhão. Sem eles não há como puxar tora, diz. E sem tora não há dinheiro. 100 Para o governo, ambientalistas, ONGs, IBAMA, Ministério Público Federal e para as leis ambientais brasileiras Ismael Meira é um criminoso. Ele mesmo sabe disso. Mas para sua companheira de mais de 25 anos, Salete Fiametti e para o filho Cristiano, é um herói. "São pessoas como ele que construíram esse Estado trabalhando duro, indo para esse mato de dia, de noite, na chuva para ganhar a vida", diz ela olhando com admiração para o marido, que mantém o olhar baixo e ensaia um sorriso quase melancólico. Inegavelmente, Ismael não vive um dos melhores momentos de sua vida. Aos 47 anos de idade, 20 deles em Rondônia, ele não sabe muito o que fazer agora sem seus instrumentos de trabalho. "Não há mais nada para fazer aqui, esse é meu trabalho e preciso esperar a poeira baixar, arrumar outro trator e voltar pra lida, não tem jeito", diz, com o olhar insistentemente voltado para o copo de café fumegante que Salete acabou de passar. Para as cerca de 50 mil pessoas que vivem em Machadinho e Cujubim, Ismael não é nem criminoso nem herói. É apenas um dos muitos elos de uma cadeia produtiva que responde por quase 100% da economia local e se estende até as casas das famílias de classe média alta de cidades como Rio, São Paulo ou Frankfurt. Assim como ele, de uma forma ou de outra, quase 10% das cerca de 1,5 milhão de pessoas que vivem em Rondônia dependem diretamente da madeira. Se pessoas como Ismael não trabalham, quase ninguém trabalha em Cujubim, Machadinho ou outras tantas cidades que têm sua produção econômica baseada quase que exclusivamente na madeira. Profissionais como Ismael, conhecidos por "toreiros", existem às dezenas nessas duas cidades que se tornaram o alvo da Operação Arco de Fogo, em Rondônia. Quase todos têm perfil muito semelhante. Migrantes, principalmente do Sul e do Sudeste do país, que foram para o Estado por conta das campanhas de colonização do governo federal nas décadas de 70 e 80. Chegaram com a obrigação de colocar abaixo 50% da floresta para começar a produzir nos lotes de 100 hectares que recebiam do INCRA na época e, só então, ter o título provisório da área. Muita gente nem se preocupou com a madeira que tinha em suas terras. A lógica era colocar fogo na mata e começar a plantar o mais rápido possível. No início da década de 80, famílias de madeireiros do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina passaram a seguir os rumos dos pequenos agricultores, expulsos por uma produção agrícola cada vez mais mecanizada. Também apoiados pelo governo federal, foram para Rondônia, onde a matéria-prima cada vez mais escassa no Sul era abundante. A família de Nereu Mezzomo fez esse caminho no final da década de 70. Saíram da catarinense Abelardo Luz e foram parar em Ariquemes, hoje o maior pólo madeireiro de Rondônia. "Meu Deus, como havia madeira aqui", diz Nereu, que responde alguns processos por crime ambiental, assim como quase todos os madeireiros de Rondônia. "Me lembro do pessoal colocar fogo em mogno porque a madeira estava manchada, se jogou muito dinheiro fora", relembra ele, que hoje é dono de uma das maiores madeireiras de Ariquemes. Por quase uma década, famílias como a Mezzomo controlaram a economia de Rondônia, fortemente baseada na extração da madeira. Em 1989, menos de 20 anos atrás, 60% da produção industrial do Estado estava ligada diretamente à madeira. O número de serrarias cresceu de forma vertiginosa em menos de 30 anos. Enquanto em 1953 havia apenas quatro delas no então território do Guaporé, nos anos 80 já eram mais de mil. Essa expansão contou com a bênção do governo federal, principalmente no fim dos anos 70 e início dos anos 80, por meio de financiamentos, doações de terra e subsídios. "A estratégia dos militares com a campanha "Integrar para Não Entregar" criou um processo de colonização muito semelhante ao que os portugueses fizeram no Brasil nos séculos XVII e XVIII", diz Osvaldo Pittaluga, superintendente do IBAMA em Rondônia. "A lógica aqui era extrair o máximo possível e ampliar as fronteiras produtivas", diz ele, um gaúcho que se diz meio Inter meio Grêmio e ocupa uma posição política delicada. Ao mesmo tempo em que é funcionário de carreira da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental 101 do Estado, órgão duramente criticado pelo Ministério Público Federal e organizações ambientais, ocupa a superintendência do IBAMA por indicação partidária. O resultado dessa política de ocupação teve efeitos rápidos. Entre 1983 e 1985, a área desmatada saltou de 5,7% para 11,4% da área total do Estado. Dez anos depois, em 1996, ela já chegava a 22,5% da área total. Hoje, de acordo com dados do próprio Estado, a área desmatada já atinge mais de 31% da área total de Rondônia. Nenhum Estado na região amazônica destruiu a floresta com tanta intensidade e tão rapidamente. Se depender de Delano Rosevelt Nantes, um agricultor de Cujubim, isso vai continuar. Dono de um lote de 22 hectares nesse município que vive exclusivamente da madeira, Delano era um dos participantes mais exaltados na reunião em que representantes do IBAMA e da Polícia Federal diziam o que os soldados armados com fuzis e metralhadoras da Operação Arco de Fogo estavam fazendo de fato ali. O encontro aconteceu no mesmo dia em que o Brasil recebia o grau de investimento pela agência Standard & Poor"s. Em uma sala quente, abafada, em que o odor exalado pelos corpos suados era quase palpável, representantes do governo federal tentavam explicar as leis ambientais vigentes no país. Mais, tentavam convencer dezenas de homens e mulheres de que tudo o que vinham fazendo há duas décadas estava errado. No turbilhão de comentários desencontrados, Delano pediu a palavra e fez uma pergunta quase inocente, quase sarcástica: "O doutor pode explicar como vamos viver da terra com as árvores em pé?". Não teve resposta. E sem resposta os agricultores chegaram a uma conclusão unânime e fatídica: "Se não puder mais tirar madeira Cujubim vai desaparecer do mapa", repetiam, um a um, aqueles que volta e meia buscavam um pouco de ar fresco sob o sol amazônico no quintal da casa que abriga a Câmara Municipal de Cujubim. Tirando as 13 mil pessoas que vivem ali, segundo o IBGE, provavelmente pouca gente ia se dar conta se Cujubim realmente deixasse de existir. Distante quase 100 quilômetros da estrada asfaltada mais próxima, Cujubim é quase um estereótipo das profundezas do Brasil. Tem apenas uma rua calçada e meia dúzia de outras que se transformam em lamaçal quase intransponível na época de chuvas, entre setembro e março. São quatro escolas pequenas, um posto de saúde, uma dúzia de bares e cerca de 30 serrarias. Luz só por geradores. Localizada na última fronteira do desmatamento em Rondônia, já quase no Amazonas, Cujubim é uma cidade esquecida pelo Estado. O único representante do governo federal na cidade é uma franquia dos Correios, que não tem carteiros no quadro de funcionários. Apesar das armas, das ameaças e das promessas de que agora haverá, de fato, fiscalização por ali, Delano e a maior parte dos agricultores que participaram da reunião parecem não ter se intimidado muito. Os efeitos dos primeiros dias da operação, quando a economia da cidade praticamente parou por conta da dura fiscalização, só reforçaram a determinação dos moradores de Cujubim. Como Delano, quase todos plantam café, feijão, milho e mandioca. A terra não é das melhores e não há quase nenhuma assistência técnica. Mas a maior dificuldade mesmo é a completa falta de financiamento agrícola. Como o INCRA nunca concluiu a regularização fundiária dos assentados em Rondônia, quase ninguém tem a escritura final de suas terras. E, sem ela, não há como acessar os programas de financiamento da União, como o Pronaf. A estimativa é que apenas 2% dos pequenos agricultores da região de Machadinho e Cujubim tenham a escritura definitiva dos lotes. Sem financiamento, com terras pouco produtivas e quase nenhuma tecnologia, poucos são os agricultores que sobrevivem de suas lavouras. A saída, como vem sendo há muitos anos, é a madeira. Seja trabalhando nas muitas serrarias da cidade, seja atuando como "toreiros" ou mesmo retirando as árvores mais valiosas das áreas de reserva de suas propriedades. Quando a coisa aperta, Delano faz isso. Contata um dos "toreiros" que conhece, informa a árvore que tem, negocia o preço e a vende. Tudo sem nota, sem autorização 102 ambiental ou fiscalização. O "toreiro" então leva as toras à serraria e a revende por cerca de R$ 200 o metro cúbico. Uma árvore de Ipê, por exemplo, tem em média de cinco a seis metros cúbicos e cada metro cúbico é vendido aos distribuidores do Sudeste ou do exterior por cerca de US$ 900. Para legalizar a madeira, muitas serrarias se utilizam de um complexo sistema de guias florestais autênticas, geradas de forma ilegal. Com as guias em mão e depois de serrada, a árvore, retirada de uma propriedade como a de Delano ou de reservas, se torna legal. "Depois que corta não tem mais como saber de onde veio, madeira não tem código de barras", diz um atravessador de madeira de Votuporanga (SP), que garante se chamar João Belini. Todas as serrarias de Rondônia afirmam que só extraem madeira de áreas autorizadas pelo órgão ambiental estadual por meio dos chamados planos de manejo. Mas todas também admitem que há extração ilegal. Pelos cálculos do vice-presidente do Sindicato dos Madeireiros de Ariquemes, João Daniel Kalsing, o mais forte do Estado, cerca de 50% da madeira extraída na região é ilegal. O Ministério Público Federal acredita que só 40% é legalizada. Já o Ibama prefere não fazer uma estimativa. Somente o secretário de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia, Cleto Muniz de Brito é enfático sobre o volume de madeira ilegal que é extraída em Rondônia: "Nós podemos garantir com a maior segurança que nem um metro cúbico de madeira ilegal sai do Estado". Ismael, Delano e tantos outros pequenos agricultores ou simples trabalhadores da indústria madeireira não parecem preocupados com as estatísticas. O objetivo deles é simples e direto: sobreviver da melhor maneira possível. Sem alternativas econômicas viáveis, é difícil acreditar que, após a saída das forças de repressão do governo federal, eles vão deixar de buscar na floresta a renda que não vem da agricultura nem da fraca economia monotemática. Por mais assustadora que possa parecer para qualquer pessoa com um mínimo de consciência ambiental, a teoria de Amóz Martins, madeireiro de Ariquemes, talvez traduza da melhor forma o sentimento de boa parte da população dessas cidades esquecidas no meio da Amazônia brasileira: "Agora estão querendo fazer com a árvore o que os indianos fazem com as vacas, torná-las sagradas. Mas eles a gente até entende, porque vaca dá leite e pode virar um belo churrasco. Mas árvore? O que a gente vai fazer com árvore em pé?".