efeitos da temperatura aves de corte

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efeitos da temperatura aves de corte
EFEITOS DA TEMPERATURA, UMIDADE RELATIVA E VELOCIDADE DO AR EM
FRANGOS DE CORTE
Carlos Moisés Medeiros1, Fernando da Costa Baêta2, Rita Flávia Miranda de Oliveira3, Ilda
de Fátima Ferreira Tinôco4, Luiz Fernando Teixeira Albino5, Paulo Roberto Cecon6
RESUMO
Com o objetivo de analisar o efeito da temperatura, umidade relativa e velocidade do ar, em
frangos de corte, foi conduzido um experimento com frangos machos, Avian Farm, criados de 1
a 21 dias de idade em galpões convencionais e de 22 a 42 dias em câmaras climáticas. Os
tratamentos compreenderam combinações de cinco temperaturas (16, 20, 26, 32 e 36°C), cinco
umidades relativas (20, 34, 55, 76 e 90%) e cinco velocidades do ar (0,0; 0,6; 1,5; 2,4 e 3,0
m.s-1 ), feitas com base no delineamento composto central rotacional da metodologia de
superfície de resposta. Foram observados o desempenho zootécnico, mortalidade, respostas
fisiológicas e o comportamento animal pela manhã, tarde e noite, para cada tratamento.
Verificou-se que, em ambientes com índice de temperatura de globo e umidade (ITGU)
variando de 69 a 77, as aves mostraram-se calmas, normalmente dispersas e altamente
produtivas.
Palavras-chave: frangos de corte, ambiência avícola, conforto térmico, comportamento.
ABSTRACT
Effects of Temperature, Relative Humidity and Air Speed on Broiler Chickens
The effects of the temperature, relative humidity and air speed on broiler chickens were
evaluated. An experiment was carried out with Avian Farm chickens, raised from 1 to 21 days of
age in conventional Brazilian broiler building and from 22 to 42 days under climatic chambers
conditions. The statistical treatments were based on combinations of five temperatures (16, 20,
26, 32 and 36°C), five relative humidities (20, 34, 55, 76 and 90%), and five air velocities (0.0;
0.6; 1.5; 2.4 and 3.0 m.s -1 ) on the central rotatable composite design of response surface
methodology. The animal performance, mortality, physiologic response and animal behavior
were observed on the morning, afternoon and night. for each treatment. According to the
results, the birds showed to be calm, usually dispersed, besides being highly productive under
environment Black Globe Index of emperature and humidity.
Key words: broiler chickens, poultry environment, thermal comfort, behavior.
1
Prof. Adjunto, D.S., Departamento de Engenharia Agrícola, UA, E-mail: [email protected]
Prof. Titular, Ph.D., Departamento de Engenharia Agrícola, UFV, E-mail: [email protected]
3
Prof. Adjunto, D.S., Departamento de Zootecnia, UFV, E-mail: [email protected]
4
Prof. Adjunto, D.S., Departamento de Engenharia Agrícola, UFV, E-mail: e [email protected]
5
Prof. Titular, D.S., Departamento de Zootecnia, UFV, E-mail: [email protected]
6
Prof. Adjunto, D.S., Departamento de Informática, UFV, E-mail: [email protected]
2
Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.13. n.4, 277-286, Out./Dez., 2005
277
INTRODUÇÃO
As aves são animais classificados como
homeotermos,
pois
apresentam
a
capacidade de manter a temperatura interna
constante.
Além
disso,
podem
ser
consideradas um sistema termodinâmico
aberto, por estarem em troca constante de
energia com o ambiente (Baêta & Souza,
1997).
Entretanto, este mecanismo possui maior
eficiência quando a temperatura do
ambiente encontra-se dentro de certos
limites. As aves não se ajustam,
perfeitamente, em extremos de temperatura,
podendo, inclusive, ter a vida ameaçada.
Dessa forma, é importante que estes
animais sejam alojados em ambientes, onde
seja possível o balanço térmico (Rutz,
1994).
De acordo com Curtis (1983) e Esmay &
Dixon (1986), quando as condições
ambientais no interior da instalação não
estão dentro de limites adequados (zona de
termoneutralidade), o ambiente térmico
torna-se desconfortável, porém, o organismo
animal ajusta-se fisiologicamente para
manter sua homeotermia, seja para
conservar ou dissipar calor. Para isso,
ocorre dispêndio de energia, resultando na
redução da sua eficiência produtiva. Os
autores afirmam que a faixa de temperatura
na zona de conforto térmico para frangos de
corte criados em galpões convencionais é
de 18 a 28°C com umidade relativa variando
de 50 a 70% e velocidade do ar em torno de
1,0 a 2,5 m.s-1. Contudo, Medeiros (2001)
comenta que a máxima produtividade de
frangos para as condições climáticas
brasileiras é obtida, quando a temperatura
está no intervalo de 21 e 29°C, com
umidade relativa de 50 a 80% e velocidade
do ar de 1,5 a 2,5 m.s-1. Nesta situação, as
aves Avian Farm machos apresentam, aos
42 dias de idade:2.300 g de peso médio;
consumo diário de ração em torno de 150 g;
conversão alimentar de 1,87; 3% de
mortalidade; 41,5°C de temperatura retal; e
freqüência respiratória de 47 resp.min-1.
Desde o início do século XX, o homem
vem tentando quantificar o ambiente
térmico animal, utilizando correlações nas
278
quais são empregadas as variáveis:
temperatura, umidade, velocidade do ar e
radiação. Em alguns casos, também são
consideradas outras variáveis como a taxa
metabólica, o tipo de isolamento, e outros.
Esses estudos tiveram início quando
Houghten & Yaglou (1923) propuseram o
Índice de Temperatura Efetiva – ITE,
baseado na temperatura, umidade e
velocidade do ar, usando humanos para
comparar sensações térmicas instantâneas,
experimentadas em diferentes ambientes.
Do mesmo modo, diversos autores
propuseram outros índices, como: o P4SR
(Predicted Four Hour Sweat Rate) que é a
estimativa da taxa de suor, por quatro
horas, McArdle (1947); Índice de Estresse
Calórico, Belding & Hatch (1955); Índice
de Desconforto, mais tarde denominado
Índice de Temperatura e Umidade – ITU,
Thom (1959); Índice de Humiture,
Hevener
(1959)
e
o
Índice
de
Temperatura Aparente, Steadman (1979).
Todavia esses índices mencionados
foram desenvolvidos, especificamente,
para seres humanos. Buffington et al.
(1981), trabalhando com vacas leiteiras
propuseram, com base no Índice de
Temperatura e Umidade, o Índice de
Temperatura de Globo Negro e Umidade
– ITGU; Rosenberg et al. (1983)
propuseram o Índice de Temperatura
Baixa e Vento – ITBV e, a partir de
estudos em câmaras climáticas, Baêta
(1985) propôs o Índice de Temperatura
Equivalente, para gado de leite.
Desses índices, o mais empregado até
à década de 80 para avaliar o ambiente
térmico animal foi o ITU e na década de
90, o ITGU; sendo que este último
apresenta a vantagem de incorporar em
um único valor, chamado de temperatura
de globo negro, os efeitos da temperatura
do ar, umidade, ventilação e radiação.
Como os índices foram, inicialmente,
desenvolvidos para vacas leiteiras, o
presente estudo teve como objetivos:
determinar e analisar os efeitos de
diversas combinações de temperatura,
umidade e velocidade do ar sobre o
desempenho zootécnico, mortalidade,
respostas fisiológicas e comportamento
de frangos de corte.
Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.13, n.4, 277-286, Out./Dez., 2005
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido nos
meses de maio, junho e julho, em câmaras
climáticas do Laboratório de Bioclimatologia
Animal do Departamento de Zootecnia da
Universidade Federal de Viçosa. Foram
utilizados 1.500 pintos de um dia, machos,
Avian Farm, criados, até atingirem 21 dias de
idade, em galpão convencional com
condições climáticas do interior do galpão
normais, sem uso de equipamentos para
promoção de acondicionamento térmico. A
partir dos 22 dias, foram selecionadas 960
aves, posteriormente agrupadas em 48 aves
por tratamento e alojadas em câmaras
climáticas, onde receberam água e ração ad
libitum. As aves permaneceram nas câmaras,
expostas aos mesmos pares de temperatura
e umidade de cada tratamento, durante todo
o período até o abate, aos 42 dias de idade.
Para este tipo de estudo, diversos
autores afirmaram que o delineamento
composto central rotacional da Superfície de
Resposta é o método de análise de
resultados,
que
proporciona
mais
informações (Box & Wilson, 1951; Box,
1954; Cochran & Cox, 1957; Henika, 1972;
Giovani, 1983).
Com base nesse delineamento, cuja
codificação predefinida é -1,682; -1; 0; 1;
1,682, estabeleceu-se a combinação entre
as variáveis climáticas (16, 20, 26, 32 e
36°C de temperatura; 20, 34, 55, 76 e 90%
de umidade relativa e 0,0; 0,6; 1,5; 2,4 e 3,0
m.s-1 de velocidade do ar), resultando 15
tratamentos e 5 repetições do ponto central
(0,0,0), que estão mostrados no Quadro 1.
Quadro 1. Tratamentos experimentais, variáveis climáticas combinadas e codificadas pelo
delineamento composto central rotacional
Tratamentos
Variáveis climáticas combinadas
-1
Variáveis codificadas
t (°C)
u (%)
v (m.s )
t
u
v
1
20
34
0,6
-1
-1
-1
2
20
34
2,4
1
-1
-1
3
20
76
0,6
-1
1
-1
4
20
76
2,4
1
1
-1
5
32
34
0,6
-1
-1
1
6
32
34
2,4
1
-1
1
7
32
76
0,6
-1
1
1
8
32
76
2,4
1
1
1
9
16
55
1,5
-1,682
0
0
10
36
55
1,5
1,682
0
0
11
26
20
1,5
0
-1,682
0
12
26
90
1,5
0
1,682
0
13
26
55
0,0
0
0
-1,682
14
26
55
3,0
0
0
1,682
15
26
55
1,5
0
0
0
16
26
55
1,5
0
0
0
17
26
55
1,5
0
0
0
18
26
55
1,5
0
0
0
19
26
55
1,5
0
0
0
20
26
55
1,5
0
0
0
Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.13. n.4, 277-286, Out./Dez., 2005
279
Foram utilizadas
quatro câmaras
climáticas, sendo que cada uma foi
dividida em duas, por meio de um painel
de madeira laminada, possibilitando a
execução de dois tratamentos numa
mesma câmara, desde que esses
tratamentos possuíssem as mesmas
temperaturas e umidades relativas, porém
com diferentes velocidades do ar,
reduzindo o tempo do experimento.
A movimentação do ar no interior das
câmaras climáticas foi feita, utilizando-se
ventiladores comuns, equipados com
difusores e feitos de papelão, a fim de
distribuir uniformemente o ar na direção
das aves. A velocidade do ar foi aferida,
diariamente, no centro de cada gaiola,
empregando-se anemômetro de hélice
digital.
As aves foram pesadas antes de serem
alojadas nas câmaras climáticas, sendo
selecionadas
aquelas
com
pesos
aproximados.
Cada
tratamento
foi
composto de 48 aves, distribuídas em 12
gaiolas, resultando em 4 aves por gaiola.
Para a análise do comportamento
animal, foram registrados o desempenho
zootécnico (ganho de peso e consumo de
ração diário), mortalidade, parâmetros
fisiológicos (temperatura retal e da pele,
freqüência respiratória) e comportamento
das aves (tranqüilidade, tremor, dispersão,
ofegação, prostração, sonolência), que
foram classificados segundo a escala de
intensidade (pouquíssima, pouca, normal,
bastante, muita, muitíssima).
Para o ganho de peso, as aves foram
pesadas no início do experimento (22 dias
de idade) e no final do período
experimental (42 dias de idade); O
consumo de ração, por ave, foi feito a
partir da ração colocada em recipientes
plásticos com capacidade para 15 kg de
ração, correspondentes a cada gaiola
com grupos de quatro aves. A ração que
caía do comedouro era recolhida,
diariamente, no final do ciclo. As
quantidades restantes nos comedouros,
recipientes
plásticos
e
aquela
desperdiçada foram pesadas e subtraídas
da quantidade inicial, obtendo-se, assim,
o valor total consumido, que, dividido pelo
280
número de aves por grupo, resultou no
consumo individual médio.
O número de aves mortas foi
registrado,
diariamente,
para
cada
tratamento,
sendo
a
porcentagem
calculada em relação ao número inicial de
aves de cada unidade experimental. As
determinações das temperaturas retais e
da pele, bem como a freqüência
respiratória dos animais foram feitas em
intervalos de seis em seis dias (28, 34 e
40 dias de idade), às nove horas da
manhã, em uma ave por grupo, escolhida
ao acaso. Na medição da temperatura
retal, utilizou-se o termômetro de
termistor, Digi-sensi, com ± 0,1°C de
precisão, com o sensor (sonda 400)
introduzido no reto das aves, por um
minuto; Para a temperatura da pele, foi
utilizado
termômetro
de
superfície
infravermelho Rayger ST6, com ± 1°C de
precisão, o qual foi direcionado para a
região peitoral da ave, devido ser o centro
de
massa
corporal.
A
freqüência
respiratória foi obtida, a partir do número
de
movimentos
peitorais
durante
determinado período de tempo. Nesse
processo, utilizou-se um cronômetro
digital para registro do tempo.
O índice de temperatura de globo e
umidade (ITGU) é usado para qualificação
do ambiente térmico e foi obtido pela
equação desenvolvida por Buffington et
al. (1981), que é dada por
ITGU = tgn + 0,36 (tpo) – 330,08
em que,
tgn = temperatura de globo negro, K; e
tpo = temperatura ponto de orvalho, K.
O ITGU foi calculado em função das
variáveis climáticas fornecidas em cada
tratamento e aferido pelos instrumentos,
instalados dentro das câmaras climáticas.
O comportamento animal foi registrado,
por uma máquina fotográfica digital e
classificado segundo a escala de
intensidade anteriormente apresentada.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para cada tratamento, composto da
combinação das vaiáveis temperatura (t),
umidade relativa (u) e velocidade do ar
(v), foram calculados o Índice de
Temperatura de Globo Negro e Umidade
(ITGU), assim como as respostas
produtivas (ganho de peso diário - GPD,
consumo de ração diária - CRD) e
fisiológicas
(Mortalidade
MORT,
temperatura retal - TR, temperatura da
pele - TP e freqüência respiratória - FR)
observadas, o que está apresentado no
Quadro 2.
No
Quadro
3,
apresenta-se
a
intensidade
dos
padrões
comportamentais de frangos de corte,
em seus respectivos ambientes térmicos,
durante o período de 22 a 42 dias de
idade das aves, criadas em câmaras
climáticas.
Os ambientes foram classificados de
acordo com as temperaturas e com o
ITGU. Ambientes frios apresentam
temperaturas variando de 16 a 20°C e
ITGU de 59 a 67. Para os ambientes
considerados confortáveis, a temperatura
foi de 26°C e o ITGU variou de 69 a 77.
Nos ambientes considerados quentes, a
temperatura variou de 32 a 36°C e o
ITGU de 78 a 88. Notadamente, foram
observados comportamentos distintos
para cada ambiente, sendo este fato
bastante conhecido pelos pesquisadores
desde a década de 60.
Nos Quadros 2 e 3, considerando os
ambientes térmicos que compreendem a
região central como sendo confortáveis
(ITGU de 69 a 77), observou-se que o
comportamento das aves para os
ambientes considerados frios (ITGU de
59 a 67) é, na verdade, um conjunto de
reações que vão sendo colocadas em
prática à medida que a temperatura do ar
decresceu de 26 para 16 o C.
Quadro 2. Respostas produtivas e fisiológicas de frangos de corte machos submetidos a
diferentes ambientes térmicos
Tratamentos
ITGU
-1
T(°C); u(%), v(m.s )
Resposta animal
GPD
-1
(g.dia )
CRD
-1
(g.dia )
CA
MORT
(%)
TR
TP
(°C)
(°C)
FR
-1
(resp.min )
T9
(16; 55; 1,5)
59
66,05
144,64
2,19
14,6
40,9
36,6
45
T2
(20; 34; 2,4)
63
69,77
143,81
2,06
14,6
41,1
39,0
48
T1
(20; 34; 0,6)
64
74,00
145,35
1,96
10,4
41,0
38,8
46
T3
(20; 76; 0,6)
67
76,53
145,10
1,90
10,4
41,0
38,5
48
T4
(20; 76; 2,4)
67
74,66
146,77
1,97
10,4
41,1
38,4
49
T11 (26; 20; 1,5)
69
76,75
146,08
1,90
2,1
41,0
39,0
45
T15 (26; 55; 1,5)
73
77,09
140,18
1,82
2,1
41,1
39,6
45
T14 (26; 55; 3,0)
73
79,00
144,78
1,83
8,3
41,0
39,1
47
T13 (26; 55; 0,0)
74
74,50
136,48
1,83
0,0
41,2
40,1
41
T12 (26; 90; 1,5)
77
76,13
135,45
1,78
6,3
41,4
39,9
45
T5
(32; 34; 0,6)
78
65,10
123,15
1,89
0,0
41,7
40,6
82
T6
(32; 34; 2,4)
78
70,15
132,10
1,88
0,0
41,7
40,3
72
T7
(32; 76; 0,6)
85
62,42
121,05
1,94
2,1
42,2
40,9
108
T8
(32; 76; 2,4)
86
63,97
122,90
1,92
0,0
42,1
40,8
105
T10 (36; 55; 1,5)
88
25,00
79,78
3,19
0,0
43,0
43,4
110
Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.13. n.4, 277-286, Out./Dez., 2005
281
Quadro 3. Intensidade dos padrões comportamentais observado nas aves expostas a
diferentes ambientes térmicos
Tratamentos
Comportamento das aves
Ambiente
-1
t (ºC); u (%); v (m.s ) Térmico
Tranqüilidade Tremor
Dispersão
Ofegação
Prostração
T9 (16; 55; 1,5)
muitíssima
muito
nenhuma
-
-
muita
bastante
pouquíssima
-
-
muita
pouca
muita
normal
pouquíssima
-
-
bastante
pouca
bastante
normal
pouca
-
-
bastante
pouca
T4 (20; 76; 2,4)
bastante
pouco
pouca
-
-
bastante
pouca
T11 (26; 20; 1,5)
bastante
-
normal
-
-
normal
bastante
bastante
-
normal
-
-
normal
bastante
bastante
-
normal
-
-
normal
bastante
T13 (26; 55; 0,0)
bastante
-
normal
-
-
normal
bastante
T12 (26; 90; 1,5)
bastante
-
normal
-
-
normal
muita
T5 (32; 34; 0,6)
normal
-
bastante
pouca
pouca
moderada
moderada
T6 (32; 34; 2,4)
pouca
-
bastante
normal
normal
moderada
moderada
T2 (20; 34; 2,4)
T3 (20; 76; 0,6)
frio
T1 (20; 34; 0,6)
T14 (26; 55; 3,0)
T15 (26; 55; 1,5)
T7 (32; 76; 0,6)
confortável
quente
Alimentação Sonolência
pouca
pouca
pouca
-
muita
bastante
bastante
pouca
pouca
T8 (32; 76; 2,4)
pouca
-
muita
bastante
bastante
pouca
pouca
T10 (36; 55; 1,5)
pouquíssima
-
muitíssima
muita
muita
pouquíssima pouquíssima
Neste contexto, a primeira reação da
ave é desviar a energia oriunda da
alimentação (145,13 g.dia-1) para a
produção de mais calor, para aquecimento
do corpo. Conseqüentemente, o ganho de
peso é reduzido (72,20 g.dia-1) e a
eficiência alimentar diminui em torno de
10%. Em seguida, elas ficam trêmulas e
amontoam-se (Figura 1a), aumentam a
freqüência respiratória de 45 para 47
respirações.min-1
e
fazem
a
vasoconstrição periférica para aumentar a
(a)
pressão
sangüínea,
acelerar
os
movimentos cardíacos e fazer com que a
transferência do calor oriundo do núcleo
corporal para a periferia seja mais rápida.
Contudo, como o ar ambiente também é
muito frio, este processo vai sendo
prejudicado e, aos poucos, deixa de ser
empregado; então, a ave parte para o
aumento do isolamento térmico, a partir do
eriçamento das penas e da pele (Figura
1b).
(b)
Figura 1. Aves com pouco empenamento e amontoadas (a) e aves bem empenadas (b)
282
Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.13, n.4, 277-286, Out./Dez., 2005
Com a presença de ventilação, a situação
ambiental piora, uma vez que ocorre a
aceleração na dissipação do calor corporal, o
que leva a uma sensação de frio cada vez
mais intenso. Com a diminuição da umidade
relativa, as trocas de calor entre o animal e o
ambiente por via latente são aumentadas e,
em condições de frio, o animal apresenta
desenvolvimento
mais
rápido
do
empenamento, melhorando o isolamento
térmico e bloqueando a transferência de
calor. Ressalta-se, ainda, que as aves
passam o tempo todo emitindo sons (piando),
sendo estes diferentes daqueles observados
em ambientes considerados confortáveis. Por
fim, nessa situação, a mortalidade alcançou
valores elevados (12,1%), sendo que o
diagnóstico para a maioria das mortes foi a
ascite.
A síndrome ascítica (SA), também
conhecida como síndrome da hipertensão
pulmonar, é uma condição patológica
caracterizada pelo extravasamento de líquido
dos vasos sanguíneos e seu acúmulo na
cavidade abdominal, devido a um déficit de
oxigenação tecidual, que culmina na hipóxia
sistêmica e aumento do débito cardíaco.
Segundo Wildeman & Tackett (2000), o
rápido crescimento das aves e o ambiente
frio são considerados os principais fatores
predisponentes no desenvolvimento da SA.
Em ambientes considerados confortáveis,
ITGU de 69 a 77, as aves apresentaram-se
bastante tranqüilas, sem tremor, com
dispersão normal (Figura 2a), com bom
consumo de ração, bom ganho de peso,
excelente conversão alimentar, bastante
sonolentas
(Figura
2b),
freqüência
respiratória considerada normal e fezes
pastosas.
O ambiente caracteriza-se por apresentar
temperatura do ar amena (26°C). Nessas
condições, a umidade relativa e a velocidade
do ar têm pouca influência no desempenho
do animal e em suas atividades fisiológicas.
Praticamente, não ocorre desvio da energia
alimentar para aquecimento do corpo ou
combate do estresse; conseqüentemente, o
ganho de peso diário atinge altos valores, em
torno de 76,69 g.dia-1.ave-1, para um
consumo de ração em torno de 140,59 g.dia1
.ave-1, resultando uma conversão alimentar
em torno de 1,83.
Quanto aos parâmetros fisiológicos,
observou-se que a temperatura retal
apresenta-se dentro de uma faixa
considerada normal 41,1°C; freqüência
respiratória em torno de 45 respirações.min-1;
e mortalidade em torno de 3,8%. Conforme
diagnóstico, ocorreu principalmente, morte
súbita, devido ao rápido crescimento
corporal em detrimento do crescimento dos
órgãos; entretanto o valor observado é
considerado como normal pelo fornecedor
dos animais.
Nos ambientes considerados quentes
(ITGU de 78 a 88), observou-se que à
medida que a temperatura do ar é elevada de
26 para 36°C, umidade relativa de 34 para
76% e a velocidade do ar reduzida de 2,4
para 0,6 m.s-1, o ambiente tornava-se cada
vez mais desagradável. As aves ficam
agitadas e se dispersam para aumentar a
dissipação do calor corporal para o
ambiente; têm a temperatura retal
aumentava em 1,3°C (de 41,7 para 43°C), a
temperatura da pele em 2,8°C (de 40,6
para 43,4°C) e a freqüência respiratória em
28 resp.min-1 (de 82 para 110 resp.min-1).
Nessa condições, as aves abrem as asas,
visando o aumento da área de dissipação
de calor, diminuem o consumo de ração em
43,37 g.dia-1 (de 123,15 para 79,78 g.dia-1)
para reduzir a produção de calor
metabólico, e, conseqüentemente, têm o
ganho de peso prejudicado em 40,01 g.dia-1
(de 65,10 para 25,00 g.dia-1). Com o passar
do tempo, param de movimentar-se, ficam
bastante ofegantes (Figura 3a), prostradas
(Figura 3b) e têm a freqüência respiratória
cada vez mais aumentada, chegando a 110
respirações.min-1, a fim de dissipar mais
calor por via latente, o que leva à alteração
do equilíbrio ácido-básico e aumento do pH
do sangue.
Em condições severas de calor, o
animal aumenta, consideravelmente, o
consumo de água, as fezes ficam
líquidas e ocorre aumento da umidade na
cama, com conseqüente redução de seu
poder
de absorção,
elevando
as
concentrações de amônia no ar, que
pode atingir níveis perigosos. Com a
permanência dessas condições, o animal
apresenta polipnéia e pode chegar à
morte.
Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.13. n.4, 277-286, Out./Dez., 2005
283
À medida que o ambiente térmico vai
tornando-se cada vez mais estressante,
sem que a temperatura retal chegue a
pontos letais, o animal percebe o risco
de vida e deixa de priorizar o acúmulo
de energia e a reprodução passando a
concentrar-se
somente
em
sua
sobrevivência, razão pela qual, neste
experimento,
a
mortalidade
nas
condições
do
experimento
foi
relativamente baixa (0,4%).
Os comportamentos apresentados
pelas aves neste trabalho já tinham
sido, anteriormente, observados por
Curtis (1983), Esmay & Dixon (1986),
Rutz (1994) e Baêta & Souza (1997).
(a)
(b)
Figura 2. Aves tranqüilas e normalmente dispersas (a); e aves sonolentas (b)
(a)
(b)
Figura 3. Aves ofegantes (a); aves prostradas (b)
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Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.13, n.4, 277-286, Out./Dez., 2005
CONCLUSÕES
Com
base
nos
resultados
de
desempenho, parâmetros zootécnicos e
comportamento animal nos diferentes
ambientes térmicos, verificou-se que nos
ambientes considerados confortáveis (ITGU
de 69 a 77), as aves mantiveram-se bastante
tranqüilas, normalmente dispersas, boa
alimentação satisfatória, muito sonolentas e
apresentaram a maior produtividade e
melhores parâmetros zootécnicos. Assim
sendo, o conjunto de variáveis ambientais t,
u, e v mais recomendado, para frangos
adultos destinados ao corte, seria de 26°C,
55% e 1,5 m.s-1.
Nos ambientes considerados frios (ITGU
de 59 a 67), as aves apresentaram redução
de 14% no ganho de peso diário e aumento
de 12,1% da mortalidade, além de alterações
consideráveis nos parâmetros fisiológicos.
Por outro lado, nos ambientes considerados
quentes (ITGU de 78 a 88), não houve
mortalidade, porém, houve redução de 67%
no ganho de peso diário e 43% na ingestão
de alimentos.
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