Reestruturação Industrial e Alta-Tecnologia no Brasil.

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INTRODUÇÃO
Introdução
I. Indagações, Objetos e Objetivos
O
interesse em relação ao tema Reestruturação Industrial
(RI) e Alta-Tecnologia (AT) vem se ampliando entre os pesquisadores de diferentes áreas do
conhecimento preocupados em refletir as suas interrelações com a sociedade e o território. O
motivo deste interesse reside na necessidade de constatar qual o peso e a influência da AT na
constituição do atual processo de reestruturação industrial global (PRIG) do capitalismo,
principalmente nos novos países industrializados (NPIs).
Este trabalho pretende por à tona este debate procurando abrir uma perspectiva teórica
interessada em desvendar, porquê, como, quando e onde se dá a inserção da produção de AT
no Brasil, dentro do processo de reestruturação global, impingido pela fase atual do capitalismo.
A estreita relação e o imbricamento entre os conteúdos RI e AT, suscitam o elemento
lógico de compreensão entre a história do pensamento geográfico, através das teorias da
localização, e a emergência das atuais formas locacionais da produção industrial de AT no Brasil.
O estudo do fenômeno da RI no Brasil, revelou, a partir de evidências empíricas, a
natureza dos processos (sociais, políticos, econômicos e espaciais) que reorganiza e modifica, do
ponto de vista estratégico, o significado dado à constituição, produção e reprodução de capital
no território. Foi a partir desta constatação que surgiu a idéia de desenvolver um estudo com o
tema da Reestruturação Industrial e Alta-Tecnologia no Brasil: As Indústrias de
Informática em São Paulo. A escolha do município de São Paulo, como objeto de
investigação das indústrias de informática se deveu ao fato deste município possuir 7 das 15
maiores indústrias de computadores (Gazeta Mercantil,1993:278), em 1993, e 62% das
indústrias do setor de informática no Brasil (ABINEE, 1993).
2
Os propósitos desse estudo foram: estudar a natureza lógica dos processos que presidem
a RI e o surgimento das indústrias de AT no Brasil, através do exame dos mecanismos
promotores da política industrial-estatal e dos processos de constituição e reprodução do capital
no território; proceder o mapeamento e o plotamento digitalizado, por Estados e municípios, das
indústrias de AT do setor de informática e do segmento de computadores para a reconstituição
do processo histórico de estruturação e reestruturação territorial; discutir e criticar, a partir
também das informações oferecidas pelo mapeamento acima, as iniciativas de sistematização
teóricas e conceituais, utilizadas pelas vertentes da geografia para a compreensão, explicação e
indicação metodológica de estudos do processo de RI no Brasil.
3
II. Alta-Tecnologia: definição e conceito
O conceito de Alta-Tecnologia (AT) que perpassa nesta tese, está compreendido dentro
de uma perspectiva próxima àquela fornecida pelos trabalhos de WEISS e CASTELLS.
Segundo WEISS (1985:81), no meio acadêmico e de estudos políticos dos EUA:
“a indústria de Alta-Tecnologia é definida em cima da média percentual da força de
trabalho engajada na engenharia, científica, profissional, e trabalhos técnicos.”
Para CASTELLS (1985:11-12) a:
“Alta Tecnologia não é uma técnica particular, mas uma forma de produção e
organização que pode afetar todas as esferas de atividade pela transformação de suas
operações de modo a adquirir grande produtividade e melhor desempenho através do
conhecimento ampliado do seu próprio processo.
Estas tecnologias interagem com a estrutura espacial de três modos fundamentais:
1. com a nova lógica informacional de produção e gestão que cria um novo
espaço de produção, cujo desenvolvimento remodela fundamentalmente a
estrutura regional e a dinâmica de cada cidade, concedendo uma importância
funcional às suas características sociais, econômicas, e institucionais, para o
novo sistema de produção;
2. através do impacto direto de novas tecnologias (particularmente das
tecnologias de comunicação) sobre o modo de trabalhar e viver tende a
modificar a forma urbana;
3. pela mediação dos efeitos da AT por amplos processos sociais e econômicos que
estruturam seus usos.”
Mas há, também, quem se oponha ao conceito de AT, como PORTER (1993:14):
“A mudança tecnológica é generalizada e constante. Tecnologias de ampla aplicação,
como a microeletrônica, materiais avançados e sistemas de informação tornaram
obsoletas as distinções tradicionais entre indústrias de alta e baixa tecnologia. O nível
de tecnologia empregado numa indústria difere acentuadamente, com freqüência, entre
as empresas de diferentes países.”
Todavia a AT é a própria expressão permanente do paradigma técnico-econômico
(PEREZ,1985), porque é capaz de produzir a mudança tecnológica, ou seja, é capaz de alterar e
reconstituir a composição dos processos sócio-econômicos e territoriais. Ela é, nesse sentido, o
conteúdo político da metamorfose do capitalismo e da contratendência lógica às suas crises.
Para reforçar a idéia de que a AT é um conteúdo de inovações tecnológicas heterogêneo
que produz a mudança, o desenvolvimento do direito internacional de patente, parece estar
tornando difícil a defesa da idéia de que a mudança tecnológica é ainda generalizada e constante,
4
a produção programada de inovações baseadas na AT é uma meta constante no capitalismo, elas
estão cada vez mais difíceis de serem obtidas de forma generalizada por todos os competidores
globais. Se houvesse a generalização dos últimos estágios de desenvolvimento da tecnologia, a
lógica da vantagem competitiva das nações não existiria, porque todas as nações estariam em
igualdade de posição e concorrência em termos de tecnologia, o que representaria a realização da
utopia do fim do capitalismo, já que o capitalismo supõe níveis diferenciados e desiguais de
apropriação e exploração tecnológica entre as indústrias. A AT existe, ela é o produto de
inovações, por isso persiste e oscila a vantagem competitiva entre as nações.
Não existe, ainda, uma unanimidade entre outros autores, também, sobre o que estes
entendem por AT, são inúmeras denominações como, por exemplo: tecnologia de ponta,
tecnologia de vanguarda, tecnologia novíssima, tecnologia nova, tecnologia avançada, etc.
Todavia, o que há de comum nessas denominações é o uso freqüente de adjuntos
adnominais pouco esclarecedores, que são usados para tentar qualificar ou estabelecer um
conteúdo adicional ao nome “tecnologia”. A intenção do uso desses adjuntos parece ser definir
um caráter ou um conteúdo de diferenciação na substância do ser do nome.
Pode-se perceber em todas estas tentativas de nomeação, a necessidade de se
diferenciar uma substância, que já se faz existir, por isso nesta pesquisa optou-se pela criação de
um neologismo que pudesse representar esta substância em um único vocábulo, surgindo a
palavra composta ALTA-TECNOLOGIA, que traz na sua composição seu próprio atributo
diferenciador.
Em essência, a expressão AT é utilizada para que se possa inferir as alterações de
qualidade que se desenvolveram no conteúdo do termo tecnologia. Isso fica claro quando há
autores que utilizam os termos: nova tecnologia (MEDEIROS,1990:02), tecnologia avançada
(SANTOS,1987:13) ou então tecnologia de ponta (SUZIGAN,1989:22), como uma sinonímia
de AT.
O uso apenas distintivo de adjetivos ou locuções adjetivas propicia a constituição de
dúvidas quando à caracterização e à significação atribuída ao termo. Procurando corrigir essas
5
deficiências, existem autores que utilizam expressões superlativas ou de reforço, é o que podemos
perceber quando um determinado autor (RANGEL,1982:42) utiliza: nova tecnologia e tecnologia
novíssima ou de vanguarda para caracterizar e contextualizar as metástases tecnológicas,
enquanto contraponto dialético de implantação desigual da nova tecnologia no Japão e na
Alemanha, que levou o país que mais se capitalizou com esta implantação nos pós-guerra, os
EUA, a ser superado pela novíssima tecnologia que se projetou mais intensivamente naqueles
dois países (TOLMASQUIM,1991:29-30).
Do termo tecnologia derivam outras expressões (tecnologia de ponta, tecnologia de
vanguarda, tecnologia novíssima, tecnologia nova, tecnologia avançada) que são apenas
significações resultantes da mudança de qualidade do seu conteúdo.
A definição, no sentido concreto, é a explicitação do conteúdo dos elementos que
compõem uma substância (o real), daí o termo composto “Alta-Tecnologia” representar dois
elementos que se amalgamam para formar uma substância.
Mas é preciso, também, elucidar o conceito de um termo (ou o significado abstrato), que
é a revelação mais profunda da verdade de uma substância (o real) (HEGEL,1976:512), senão a
definição (ou o significado concreto) de um termo torna-se imprecisa e mal explicitada.
A definição de AT se consolidou no meio científico, a partir do exame de modificações
adquiridas por alguns setores industriais contemporâneos produtores de tecnologia,
principalmente o setor eletroeletrônico. Por isso, a sua formulação conceitual encontra-se na
esteira das questões-problemas da política urbano-industrial da atualidade, pois esta é o
fundamento de uma caracterização em que se pretende justificar ações e estratégias de
intervenções governamentais e estatais. Esta formulação originou e definiu diversos conteúdos de
regulação e controle: legislação, subsídios, subvenções, tributação, fomento e incentivo.
As áreas industriais de computadores e componentes microeletrônicos (circuitos
integrados) (WEISS,1985:81), pertencentes ao setor eletroeletrônico, aparecem em quase todas
as “definições” de AT, o que de certo modo contribui, também, para a delimitação do seu
significado. Os avanços recentes no processamento de informações, combinados com o
6
desenvolvimento das indústrias de tecnologia de informação e telecomunicações, contribuem para
uma possível caracterização do setor de AT.
O motivo de estarem sendo priorizadas as indústrias de AT, do ponto de vista político, é
principalmente econômico, isto devido ao fato destas estarem crescendo, enquanto outros setores
estão estagnando ou em crise (HALL,1985; SCOTT e STORPER,1988a). Este fato reveste
essas indústrias de um conteúdo estratégico, em termos de investimento social, principalmente
devido ao processo generalizado de desindustrialização e da recessão econômica, que está
alterando às perspectivas de competitividade industrial. Isso tem motivado alguns autores a
pensarem o setor de AT, submetido às esferas de ações da política industrial-estatal, como um
setor eminentemente estratégico para o empreendimento de políticas de desenvolvimento
industrial e territorial.
O crescimento da produção a partir do uso da AT pode ser constatado através: do
produto, das vendas brutas, do lucro, das exportações de mercadorias. Nos EUA, este setor tem
influído e auxiliado no alívio do déficit do balanço comercial (WEISS,1985:81). Existem outros
setores industriais que estão também apresentando progressivo crescimento nestes aspectos, mas
nem por isso foram qualificados como pertencentes ao setor de AT; trata-se dos setores
vinculados à produção agrícola, petrolífera (SUZIGAN,1989:23), extração de gás, aeroespacial
e de equipamento militar. A razão para o não enquadramento qualificativo, está no fato desses
setores terem contribuído com uma pequena participação no crescimento absoluto e na
percentagem de crescimento de empregos (WEISS,1985:82), comparando esta performance
com a obtida pelas áreas de computadores e componentes de microeletrônica.
Uma perspectiva, contrária às postulações acima, ocorre com a biotecnologia, que é
considerada como AT, porque embora não oferecesse crescimento direto em emprego e nos
outros aspectos indicados, contribui indiretamente para o crescimento de outros setores, como os
de saúde e o farmacêutico (WEISS,1985:83), pois, a biotecnologia contribui na constituição de
novos produtos e materiais; o que não acontece com os dois últimos setores, que não aparecem
7
nas listas internacionais de caracterização das indústrias de AT, mesmo nos casos onde estes
setores apresentaram elevado padrão de uso de equipamentos de AT (WEISS,1985:84).
Existem problemas metodológicos para a definição do que se entende por AT e uma
imensa variedade de proposições são oferecidas.
A origem e o crescimento substancial de pequenas empresas, conjuntamente com a
constituição de novos ramos e corporações no setor de tecnologia de informação, deve-se ao
incentivo conquistado nas esferas local e estadual. Estas esferas têm discutido e adotado políticas
de promoção e atração das indústrias vinculadas ao setor de AT. Estratégias similares às
experiências do Silicon Valley e da Route 128 (SAXENIAN,1985b; WEISS,1985) estão sendo
desenvolvidas por outras localidades dos EUA e até mesmo no Brasil, através do programa de
criação de Pólos Tecnológicos, como em São José dos Campos, Florianópolis e Campinas.
Nesta duas últimas cidades o governo municipal ofereceu terrenos em áreas de grande valor
imobiliário, bem como favorecidas de serviços e infra-estrutura básica interligada por cabos de
fibra ópticas, próxima aos grandes centros universitários, para a instalação das indústrias de AT
(MEDEIROS,1990). Isso tudo no sentido de atrair, facilitar, e fortalecer a constituição de
grandes aglomerações vinculadas às indústrias de AT.
É importante pesquisar se as indústrias de AT, enquanto setor de produção de “novas”
mercadorias, possuem ainda um mercado promissor não saturado, ou se estas já estão
enfrentando problemas relacionados à competição global; ou então se estas estão se organizando
para produzir novas demandas, para auxiliar o governo à preservar conquistas em parcelas do
mercado (nacional e internacional) nas próximas décadas.
Também, é importante estudar a constituição do novo espaço de produção industrial
(SANTOS,1991:148), analisando como este vem sendo submetido ao domínio de uma nova
forma de produção baseada na AT. O processo de remodelação que neste é impetrado, possui o
significado de alteração da substância de seu ser no território, que é definida pela conjugação de
inúmeros vetores econômicos e por um tipo de clivagem política e social ou “dualidades”
8
(RANGEL,1987b:62), onde a dinâmica desses espaços, seus fluxos, relações e sua estrutura
tendem a ser metamorfoseados pelo processo produtivo global.
É preciso desenvolver perspectivas mais concretas (MARKUSEN, HALL e
GLASMEIER, 1986) para perquerir o que se entende por AT e refletir os problemas existentes
nas definições correntes e aceitas do que se caracterizava como AT, procurando reexaminar,
criticamente, a definição e o seu contexto.
Como já foi colocado acima, existem várias acepções para o significado de AT, mas é
preciso criticar aquelas que o articula com a emergência dos setores industriais tecnológicos, que
estão trazendo possibilidade de:
a) solução para o alto grau de desemprego, através da reindustrialização (HALL,1985);
b) produção e criação de novos produtos, novos processos de produção que requerem menos
trabalho e que, portanto, reduza os custos de produção;
c) cumprimento da promessa de renovação da competitividade da América (MARKUSEN,
HALL e GLASMEIER, 1986).
Para as acepções “otimistas” acima, a AT e as inovações tecnológicas seriam capazes de
proverem mais empregos, aperfeiçoarem a produtividade das indústrias nacionais, protegerem e
manterem a competitividade econômica e produzirem novos produtos socialmente úteis e
mecanismos que ampliarão o padrão de vida social.
Mas, ao analisar as diferentes formas ou critérios de definição das indústrias de AT, talvez
fosse mais sensato defini-los com base no nível histórico de sofisticação, competência
incorporada nas ocupações técnicas e, no elemento crucial para a caracterização e diferenciação
do que é AT, no componente “capital humano” do processo de trabalho (MARKUSEN, HALL
e GLASMEIER, 1986).
Diferentemente das formulações sugeridas por CASTELLS e WEISS, existem tendências
(MARKUSEN, HALL e GLASMEIER, 1986) que admitem quatro outros significados
incorporados pela literatura científica para a definição de AT:
•
grau de sofisticação do produto produzido pela indústria e o seu caráter inovativo;
9
•
percentagem de crescimento em emprego;
•
percentagem de vendas e intensidade de despesas em pesquisa e desenvolvimento;
•
estrutura ocupacional.
Os conteúdos acima serviram de critérios para a definição de AT e foram estabelecidos
por instituições encarregadas de classificarem e analisarem a situação dos setores relacionados à
AT nos EUA. Mas estes conteúdos apresentaram problemas básicos de caracterização e
ofereceram uma definição e uma classificação que não é ainda clara sobre o significado de AT
pois falta uma maior precisão conceitual.
As principais objeções que se pode fazer destas tentativas de definições foram: a
sofisticação do produto; o crescimento em empregos; intensidade de pesquisa e desenvolvimento
e a estrutura ocupacional.
No primeiro caso acima, sobre a sofisticação do produto, não foi colocado um critério
para estabelecer as relações de trabalho visando classificar e diferenciar a Alta-Tecnologia da
baixa-tecnologia.
No segundo caso, sobre o crescimento em empregos, tendeu-se a não considerar que
alguns setores da indústria de AT nem sempre possuem um desempenho capaz de gerar um
retorno elevado em emprego; por exemplo, a biotecnologia que proporciona mais crescimento
em emprego indireto que direto (MARKUSEN, HALL e GLASMEIER, 1986). Todavia existem
setores tradicionais que não são caracterizados como de AT, mas são capazes de gerarem mais
emprego direto, até mesmo em períodos recessivos.
No terceiro caso, sobre a “intensidade de pesquisas e desenvolvimento”, gastos ou
despesas com pesquisa e tecnologia, apesar de não se constituírem, inteiramente, uma boa
caracterização, podem ser um importante indicador, fazendo-se a ressalva de que esta definição é
mais apropriada para empresas cujo estágio de desenvolvimento do produto ainda não
amadureceram suficientemente, deixando a desejar, como indicador de identificação, as empresas
que atingiram elevado nível de maturação e de desenvolvimento do produto, pois neste caso, só
uma pequena minoria de pesquisas não possui uma orientação básica voltada a criar esforços de
10
retorno econômico de curto prazo, enquanto a grande maioria das pesquisas, além de possuírem
estágios, estão sujeitas a grandes custos, riscos e exigem estratégias de propaganda e marketing
(MARKUSEN, HALL e GLASMEIER, 1986);
No quarto e último caso, sobre a “estrutura ocupacional”, as indústrias de AT foram
definidas com base no perfil ocupacional, que identificou-as segundo a proporção de engenheiros,
técnicos em engenharia, cientistas de computação, cientistas da vida e matemáticos que exceda o
percentual relativo às tradicionais manufaturas (MARKUSEN, HALL e GLASMEIER, 1986).
No Brasil, houve algumas tentativas de resolver a questão: o que são empresas de
tecnologia avançada? SANTOS, S.A (1987:13-14) em Criação de empresas de alta
tecnologia , definiu-as como:
“aquelas que operam com processos, produtos ou serviços onde a tecnologia é considerada
nova ou inovadora”.
Para SANTOS, o surgimento deste tipo de empresa relaciona-se:
“aos resultados de pesquisa aplicada, onde produtos novos ou inovadores aparecem como
potenciais soluções para problemas de produção e mercado. O valor do conteúdo tecnológico
agregado ao produto destas unidades empresariais é muito elevado.”
Para a definição de SANTOS, os campos de atuação das empresas de AT são:
•
•
•
•
a informática;
a mecânica de precisão;
a biotecnologia;
a química fina.
Diante das considerações acima, que mostram tantos posicionamentos diferentes, que, às
vezes, se complementam ou até se contradizem, será que não seria mais apropriado considerar a
AT como um conceito, ao invés de uma definição?
A tecnologia, enquanto componente lógico do conceito de AT, vem passando, ao longo
dos diferentes contextos histórico, por inúmeras modificações e metamorfoses qualitativas
(PIRES,1992). Metamorfoses que transformam a sua relação com o trabalho vivo e com o
trabalho abstrato (conhecimento), fazendo emergir novas categorias de trabalho, que
consubstanciam uma nova práxis científica baseada na informação “privilegiada”.
A essência do processo de constituição de novas tecnologias reside nas novas formas de
concorrência, estimuladas pela capacidade de reconversão criativa do capital para aprimorar e
11
obter taxas crescentes de lucro no mercado, realizadas através de inovações tecnológicas
capazes de assegurar, relativamente, a reprodução contraditória da produção e no consumo em
diferentes contextos históricos.
Neste sentido, é preciso ter claro que a definição requer uma exposição genética
(HEGEL,1976) de seu conteúdo que só o conceito consegue revelar sua lógica objetiva. Os
pressupostos para a definição de AT tenderam, no processo histórico, a adquirir uma forma ou
aparência que se volatiza no devir do processo produtivo.
É preciso entender que “o conceito é a verdade da substância” (HEGEL,1976) e,
nesse sentido, se apóia na necessidade que é sua relação determinante. No caso do conceito de
AT, a necessidade de criar mecanismos de contratendência à queda das taxas de lucros, de
manutenção e reprodução da atividade econômica e do processo de acumulação, passam a exigir
mais investimento em pesquisa e desenvolvimento, modificações no processo de gestão
administrativa e tecnológica, alterações nas condições de concorrência, a conquista de novos
mercados e a implantação de novas bases técnicas no processo produtivo, através de inovações
tecnológicas.
No caso da AT, o conceito pode ser constituído tomando como juízo a presença ou nível
de composição de trabalho abstrato ou complexo em uma mercadoria (visível ou invisível),
resultante do contexto histórico do processo de produção. Este pressuposto tende a ser definido
porque a cada dia estão sendo formadas novas categorias de trabalho, estas nem sempre estão
sendo catalogadas ou registradas pelos recentes recenseamentos, como também estão surgindo
novos setores industriais de produção.
Portanto, faz-se necessário também analisar as condições em que surgem as “novas”
atividades profissionais, como estas são incorporadas pelas novas formas de relações de
trabalho, e quais são os seus ritmos de obsolescência-concreta. Em algumas das chamadas áreas
prósperas dos EUA, muitas vezes, um engenheiro ou um técnico de alto nível chegam a receber
um salário inferior ao que era recebido por um operário americano no início dos anos setenta. O
que hoje passa a ser definido como AT (ser-posto), corre o risco de ser amanhã considerado de
12
outra forma (ser-outro), altíssima-tecnologia, sendo criado por outras necessidades, em termo
de qualidade, ou pela mesma lógica.
Ao desvendar a natureza do desenvolvimento da AT, pode-se revelar como e porque o
processo de reestruturação industrial global ocorre, qual a lógica da sua articulação (geográfica e
econômica) com os novos setores industriais de AT, com as relações de produção que
empregam AT e com uma clivagem específica de forças políticas ou “dualidades”
(RANGEL,1982), que atuam no território, através da política industrial-estatal.
Para desvendar a natureza do desenvolvimento da AT no Brasil, esta pesquisa mostra as
etapas de estruturação, desenvolvimento e reestruturação das indústrias de informática, tendo
como objeto de estudo o mais importante centro de produção de Alta-Tecnologia (CPAT) do
território nacional, o município de São Paulo.
13
III. O Conceito de Reestruturação Industrial
O processo de reestruturação industrial representa um contraponto lógico à crise
capitalista, também chamado de contratendência a queda das taxas de lucro, trata-se de uma
reação lógica do sistema de produção capitalista para restaurar e re-estruturar as estruturas
sociais e territoriais de acumulação. Este processo é muito mais do que o esforço ou a iniciativa
de restaurar o “equilíbrio
das
instituições
capitalistas”,
como propuseram Ó
HUALLACHÁIN e MATTHEWS (1994:400).
Quando MARX analisou, no Capital Vol. IV (1988:154, Seção III), os elementos que
impulsionavam a Lei da Queda Tendencial da Taxa de Lucro, procurou evidenciar que o aumento
do emprego de capital constante, a diminuição progressiva de uso do trabalho vivo, promovido
pelo processo de objetivação da produção (automatização) e a perspectiva constante de valor e
da produtividade, poderiam acarretar uma queda tendencial das taxa de lucros; mas, MARX
também admitiu a possibilidade de constituição de 6 componentes de contratendências do
processo de queda tendencial das taxas de lucro:
1. Elevação do grau de exploração do trabalho, na atualidade chamado de
“flexibilidade” (POLLERT,1988);
2. Compressão do salário abaixo de seu valor;
3. Barateamento dos elementos constantes do capital;
4. Superpopulação Relativa;
5. Comércio exterior;
6. Aumento do capital por ações.
“O desenvolvimento industrial”, oriundo do processo de barateamento dos elementos
constantes do capital, propiciados pelos avanços do emprego da ciência e de inovações
tecnológicas, possibilitou, segundo MARX, o aumento da produtividade do trabalho social, a
diversificação dos ramos de produção e dos tipos de produção, ou seja, “as mesmas causas
14
que geram a tendência à queda da taxa de lucro também moderam a realização dessa
tendência” (MARX,1988:171,Vol.IV).
Nesta perspectiva de contratendência e desenvolvimento industrial, reestruturação
industrial significa recriar e recuperar performativamente as condições de concorrência e de
produção, circulação e reprodução do capital no espaço, através da adoção de medidas criativas
e restauradoras dos padrões industriais de acumulação; a Alta-Tecnologia e a constituição de um
“novo paradigma técnico-econômico” (PEREZ,1985), estão desempenhando um papel
primordial neste processo.
Segundo CASTELLS e HENDERSON (1987:03-04), no processo de reestruturação da
competição industrial global:
•
•
•
•
•
•
a inflação é controlada por medidas de austeridade fiscal, monetária, restrições e tratada por
políticas de parcial desacionamento do Estado do Bem-estar;
os custos com o trabalho são reduzidos pelo rebaixamento forçado dos salários e pela redução
das despesas com condições de trabalho e benefícios sociais. Favorecendo,
conseqüentemente, equivalentemente e proporcionalmente ao aumento das taxas de lucros;
a produtividade e a lucratividade das empresas estão crescendo, através da redução do tempo
de trabalho, pelo desenvolvimento de inovações tecnológicas, e pelo crescimento da
performance do trabalho;
os setores industriais estão reestruturados, como um resultado de um maciço desinvestimento
nos setores, regiões e empresas que têm se tornado menos lucrativos, e reinvestimento em
novos produtos e atividades geralmente vinculadas à indústria de AT, corporações de serviços
e miscelâneas de serviços de consumo. Assim, os sintomas do processo de reestruturação
industrial têm se refletido mais intensamente nos países da América Latina e Europa, através de
uma maior interferência do setor público associada à “privatização” das propriedades estatais e
de um extraordinário crescimento do setor informal;
o processo de internacionalização da economia resulta de vantagens mais favoráveis para
localização da produção, gerenciamento e controle de mercados mantido como um todo
interconectado num amplo sistema mundial;
o esforço das economias centrais está em controlar preços mundiais de matérias primas e
energia de modo a assegurar uma estabilidade do preço do sistema e dos fluxos de trocas.
Os desdobramentos do processo de reestruturação afetam não somente a dinâmica do
capital, do Estado e do trabalho, como supôs KOLKO (1988), mas afetam, também, o território
e suas estruturas territoriais de acumulação, pois o capital busca incessantemente e
estrategicamente as melhores condições de investimento, adequação e alocação de suas
estruturas de produção e reprodução no território.
15
IV. Organização dos Capítulos
Depois de evidenciar as indagações, o objeto, os objetivos, os conceitos de AltaTecnologia e de Reestruturação de Industrial, esta parte da tese mostra a organização de seus
capítulos.
O Capítulo 1 revela o cenário no qual a temática Reestruturação Industrial e AltaTecnologia (AT) se insere e, investiga:
a) os instrumentais teóricos básicos que foram utilizados por especialistas internacionais para
analisar, cientificamente, o processo lógico de estruturação e reestruturação territorial das
atividades industriais vinculadas à AT de seus países;
b) como a crise mundial e a emergência do processo de reestruturação industrial global (PRIG)
do capitalismo se refletiram na estrutura industrial ou no padrão tecnológico de vários países,
e como estes procuraram, através de suas políticas de proteção e desenvolvimento industrialestatais, definir os seus processos de reestruturação industriais (RI), através de investimentos
em pesquisa e desenvolvimento e incentivos à constituição de capital direcionados para a
promoção do setor de AT;
c) os fatores locacionais, exigidos pelas indústrias de AT, no processo lógico de constituição,
estruturação, desenvolvimento dos espaços industriais nesses países;
d) se esse processo de localização resulta de um novo regime de acumulação ou do
desenvolvimento de um novo paradigma de organização das relações de trabalho e quais as
conseqüências deste no desenvolvimento do chamado modelo de especialização flexível.
Nesta perspectiva, este capítulo examina a reintegração internacional do capitalismo, a
influência das inovações técnicas e tecnológicas e a constituição de novas relações de trabalho no
processo de reconfiguração global das economias avançadas e dos novos países industrializados
16
(globalização), e a constituição do novo imperativo da reestruturação da indústria global através
do setor de AT, também chamado de novo paradigma técnico-econômico.
O Capítulo 2 oferece uma visão histórica geral sobre o surgimento dos computadores
eletrônicos, a mais importante inovação tecnológica deste século. O propósito desta iniciativa é
desvendar e indicar a essência da articulação existente da evolução da indústria de computadores
mundial com o desenvolvimento deste segmento industrial no Brasil, ou seja, fornecer elementos
para elucidar como e quando aconteceu a inserção da produção industrial de computadores
brasileiros no contexto do processo de desenvolvimento desta indústria em termos globais.
A idéia de oferecer uma visão panorâmica sobre o processo de surgimento e evolução da
indústria de computadores, sua territorialização nos EUA e no Brasil, representa, também, uma
iniciativa que revela a importância do potencial emergente, deste novo paradigma técnicoeconômico, para o desenvolvimento de um novo estilo tecnológico territorial de produção
industrial, que tem reflexos sobre diferentes esferas territoriais da produção global.
O Capítulo 3 analisa as formas e fases de modernização e a reestruturação
industrial no Brasil, a partir do exame das crises do capitalismo e da lógica da articulação de
seus reflexos no Brasil, para compreender a sua influência na constituição das políticas de
desenvolvimento industrial-estatal e na natureza lógica dos processos que tendem a presidir o
surgimento do fenômeno da reestruturação industrial (RI), impingido pela perspectiva de
constituição de políticas e de investimentos de capital direcionados à promoção de indústrias de
AT.
A emergência das contradições sociais, relacionadas com o crescimento da exclusão
social no Brasil, tem revelado a inadequação do tradicional debate sobre a ambivalência que se
colocava entre modernização e desenvolvimento. Esse debate sugeria, ideologicamente, que a
modernização traria o desenvolvimento, e que o desenvolvimento seria resultante do processo de
modernização. No entanto, o crescimento da exclusão social, no Brasil, não se contrapôs à
modernização, embora se contraponha ao desenvolvimento.
17
Para a Geografia, o temário: As Formas e Fases de Modernização e Reestruturação
Industrial no Brasil sugere o desafio de se refletir a questão: como a modernização e o processo
de reestruturação, forma, conforma, organiza e modifica no espaço suas relações, processos,
estruturas, configurações e paisagens?
Ao incorporar esta questão, a modernização tende a ser tratada como um objeto que se
tridimensionaliza porque se relaciona com as transformações experenciadas pela sociedade no
território. Nesta perspectiva, o território é a base histórica concreta, e singular de representação
do processo de modernização burguês.
O objetivo deste capítulo é interpretar as características sócio -político-econômicas dos
tipos de modernidades que se consolidaram, e suas influências no processo de surgimento e
desenvolvimento das novas tecnologias (a AT) e do crescimento da exclusão social no território,
a partir dos estudos do desenvolvimento contraditório entre os estilos tecnológicos (forças
produtivas) e de suas relações com a estrutura técnica de organização do trabalho (relações de
produção) no capitalismo tardio brasileiro.
O Capítulo 4 revela a gênese da AT no Brasil, a partir dos estudos dos processos de
capacitação tecnológica e de desenvolvimento da primeira indústria de computadores nacional, a
Cobra.
Esta investigação desvenda os fatores estruturadores da AT e a articulação setorial e
territorial desse segmento industrial no Brasil. A pesquisa presente neste Capítulo tomou por base
a contribuição de várias teses, estudos históricos e pesquisa setoriais efetuadas por jornalistas,
sociólogos, economistas e associações ou entidades representativas desse setor industrial.
O Capítulo 5 desvenda a natureza do processo de reestruturação industrial e o papel
da regulação político-territorial da tecnologia de informática.
Este capítulo surge da necessidade de compreender como se estruturou o sistema de
regulação político-territorial do Estado Nacional, para o desenvolvimento das indústrias de
computadores, através da políticas de substituição de importações e reserva de mercado e,
também, verificar se houve ou não, os processos territoriais de interiorização ou periferização, de
18
desindustrialização, de desverticalização, de deseconomia de aglomeração; ou então se houve
uma intencionalidade geopolítica na intervenção estatal, impulsionada pela reestruturação do
processo de acumulação capitalista global, para a implantação das indústrias de AT no Brasil e,
se esta configura realmente uma versão periférica de constituição desses espaços, chamados de:
“novo espaço industrial”; antes “meio técnico-científico”, agora “meio técnico-científico
informacional”; “novos pólos tecnológicos brasileiros”: (Campinas, São José dos Campos,
São Carlos, Santa Rita do Sapucaí, Campina Grande, Florianópolis); “embrião do projeto
geopolítico da modernidade”.
O Capítulo 6 mostra como os processos de automação bancária e de inovações
tecnológicas no setor dos bancos e dos grandes conglomerados financeiros (GCFs), contribuíram
para o desenvolvimento e o crescimento da tecnologia de informática e, como estes processos
influenciaram à reestruturação das formas de gestão do trabalho e das operações financeiras no
território.
Este capítulo envereda, também, no estudo das conseqüências ou nos impactos territoriais
da automação bancária no trabalho.
O Capítulo 7 investiga se e como os processos de localização e reestruturação recentes
das indústrias de informática, no Brasil, configuram a lógica da articulação de seu
desenvolvimento territorial ou de suas estratégias locacionais. A ausência de um mapeamento
preciso das indústrias de AT e da análise da lógica de sua localização no território, constituiu o
primeiro impasse prático. Na intenção de superar este impasse prático, este capítulo oferece, a
partir de vários mapas, uma nova visão das modificações na espacialização das indústrias de
informática no Brasil e no Município de São Paulo, desenvolvida a partir de vários zooms
meticulosos resultantes da pesquisa e da plotagem dos dados oferecidos pela ABINEE, IDGCOMPUTERWORLD DO BRASIL, ABICOMP, AUTOMÁTICA, GAZETA MERCANTIL,
EXAME, BRAZILIAN COMPUTER DIRECTORY.
19
Este capítulo representa um estudo sobre os processos de estruturação e de
reestruturação competitiva das indústrias de informática no Estado de São Paulo e de suas
estratégias locacionais.
Os 10 mapas desta pesquisa permitem que sejam vistas, as diferentes unidades
produtoras da indústria de informática e seus produtos por: Estados, municipalidades, regiões,
zonas, distritos e lugares no território. A intenção é oferecer uma dimensão que propicie inferir a
lógica dos processos territoriais e sua inscrição espacial, através da perspectiva de um subsetor
da indústria eletroeletrônica, a indústria de informática no Município de São Paulo.
20
Capítulo 1
Capítulo: 1
Reestruturação Industrial e
Reestruturação da Competição Industrial
1.1. Reconfiguração da Base Territorial
da Produção Capitalista Global
Para
analisar o atual período de reestruturação industrial e
globalização da economia mundial, é importante reconstituir os processos e os “fatores” que
condicionaram e impeliram as modificações atuais do capitalismo em escala global. Este
procedimento metodológico de reconstituição ou método é obtido através do estudo das
construções (formulações) teóricas dos modelos de periodização dos contextos e das
conjunturas históricas que explicam estas modificações.
O método de pesquisa é o instrumento da investigação científica, sua compreensão surge
da constituição de uma concepção social de mundo, filosófico-crítica da existência concreta dos
processos sociais e materiais.
A orientação metodológica desta tese segue a perspectiva lógico-dialética e históricoestrutural de interpretação da totalidade contraditória dos processos e fenômenos que presidem o
real. A teoria do conhecimento ou a compreensão gnosiológica dialético-processual de
investigação apreende historicamente a totalidade do fenômeno não apenas em seus nexos
externos (aparência), mas procurando examinar sua lógica e estrutura interna (essência):
contradições e processos intrínsecos. Esta perspectiva procura examinar os conteúdos políticos
que presidem as relações técnicas e sociais de uma determinada formação sócio -territorial.
Assim, o método de pesquisa, como já foi dito, é a visão social de mundo do
pesquisador, sua compreensão e concepção histórico-teórica básica.
22
O modelo teórico é, quase sempre, uma aproximação interpretativa da realidade, o real
não é inteiramente revelado ou capturado por modelos teóricos, os modelos, sejam de
periodização ou de construção teórica, resultam das diferentes iniciativas de interpretação do real
e suas permanentes metamorfoses e mutações. O modelo ou a teoria não devem obliterar o real
(BEAUREGARD,1989).
A partir deste ponto de vista metodológico, pode-se observar que diferentes correntes do
pensamento científico se formaram em íntima e contraditória conexão teórica e metodológica, mas
neste estudo apenas cinco tendências, enquanto referencial teórico, serão assinaladas: a teoria de
Kondratieff dos Investimentos de Capital ou dos Longos Ciclos, a teoria Neo-Schumpeteriana da
Inovação, a teoria da Regulação, a teoria marxista das Estruturas Sociais da Acumulação e, mais
recentemente, a teoria “neo-ricardiana” da Vantagem Competitiva. Estas teorias
1
procuram
explicar e reconstituir as recentes mudanças da “ordem” territorial desencadeadas pelo processo
de reestruturação da produção industrial em escala global, a partir de um conjunto diversificado
de interpretações de várias áreas do conhecimento científico.
Partindo do instrumental teórico fornecido por algumas destas tendências, pode-se
identificar três grandes períodos de reconfiguração da base territorial da produção capitalista
entre as nações na segunda metade deste século, são eles:
a) 1945-1972-- “Anos Dourados” de reintegração internacional do Capitalismo, ou o “Longo
Boom” (TYLECOTE,1991:248) do pós-guerra, período que correspondeu à expansão e ao
surgimento das corporações globais (indústrias globais) sob a hegemonia do padrão
tecnológico dos EUA;
b) 1973-1987-- “A segunda Grande Depressão Mundial”, período estagflacionário de
reestruturação
e
constituição
KAFKALAS,1992:05),
e
de
do
processo
oscilação
da
de
globalização
vantagem
(DUNFORD
competitiva
das
&
nações
(PORTER,1993:545);
c) 1988-1994-- Período de reconfiguração da ordem mundial e de Reestruturação Industrial
(RI) em escala global, conduzido pela emergência de inovações desencadeada pelo novo
23
paradigma técnico-econômico da microeletrônica (FREEMAN,1982:186; PEREZ,1985:444;
ANGEL,1994:113) ou da Alta-Tecnologia (AT), para o restabelecimento territorial das
estruturas sociais de acumulação.
24
1.2. Os “Anos Dourados” da Reintegração
Internacional do Capitalismo: O surgimento
das indústrias globais (1945-1972)
Os quase trinta anos de expansão do capitalismo (1945-72) teve como “paradigma” de
produção ou modo de acumulação do capital o fordismo (GRAMSCI,1978:311;
LIPIETZ,1982:34). Este período se caracteriza por uma gestão científica da organização do
trabalho que se constituiu num modelo de desenvolvimento complexo, assentado em uma forma
típica de regulação institucional do trabalho.
Durante o pós-guerra, a territorialização ou montagem estrutural dos requisitos de
produção do fordismo constituiu uma forma particular de configuração da produção mundial de
bens que teve como nação hegemônica os Estados Unidos da América (EUA).
Esta modalidade de configuração territorial da produção mundial consolidou, a nível
global, um sistema de produção de massa hierárquico, do ponto de vista de sua concentração,
localização espacial, divisão internacional do trabalho e da presença de recursos, face às
características diferenciadas e produtivas das formações sócio -territoriais 2.
Nesta configuração, os EUA, enquanto nação hegemônica pós-guerra, tenderam a ditar,
além do desenvolvimento desigual entre as nações, a ordem financeira, fixando o dólar como
padrão monetário entre as nações, em substituição ao padrão ouro fixado no século XIX
(AGLIETTA, 1982:15; POLANYI,1992:38); ou seja, 35 dólares equivalia a uma onça de ouro.
Esta ordem financeira foi implantada a cinqüenta anos atrás, através da conferência de BrettonWoods de 1944 (KOTZ,1987:30; DUNFORD & KAFKALAS,1992:06), realizada na cidade
de New Hampshire. A partir desta conferência, quatro importantes instituições multilaterais foram
criadas: O Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, o Banco Internacional pela
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e, posteriormente, em 1947, surgiu o fórum
25
internacional (GATT) para regular, através da concordância das nações signatárias, a redução
das tarifas e as regras do sistema de troca (PIORE & SABEL,1984:107).
Os EUA possuíam a hegemonia (direção e controle) militar, monetária e tecnológica. A
Europa e o Japão eram economias complementares, que procuravam se reintegrar e obter uma
nivelização de suas estruturas de acumulação territoriais em relação aos EUA.
O mesmo processo, que desenvolveu e aprofundou a reintegração e nivelização das
estruturas acumulação territoriais da Ásia, Japão e Europa, a descentralização do aparato
produtivo industrial (KOWARICK & CAMPANÁRIO, 1994: 54), é o mesmo que,
contraditoriamente,
possibilitou
a
constituição
às
avessas
dos
processos
de
descomplementariedade, deshierarquização e reconfiguração da “velha” ordem bipolar mundial.
Os componente espaciais, elementos chaves desencadeadores das mudanças que
alteraram a configuração da produção mundial, instituída no pós-guerra, foram o surgimento das
indústrias globais, as inovações tecnológicas e o fortalecimento do processo de autonomia e de
capacitação tecnológica, pelos Estados Nacionais, das condições político-territoriais de produção
e da concorrência (AMSDEN,1989:14/1990:12). O elemento lógico propulsor do processo de
reconfiguração da “ordem” mundial, tão tradicional quanto a produção de mercadorias, foi a
concorrência individualizada das indústrias globais pela apropriação global de “vantagens
competitivas” entre as nações. Estas mudanças provocaram uma onda de oscilação nos termos
de troca e nas “vantagem adquiridas” entre os países 3.
O Estado Nacional 4, principalmente no Japão, Coréia do Sul e Brasil, cumpriu um
importante papel no processo de reconfiguração da “ordem” global, ao estruturar a cadeia
territorial de valores e ao aproveitar as brechas competitivas da concorrência interindustrial para
ampliar a produtividade nacional e o processo de autonomia territorial, através de mecanismos de
incentivos, proteção e reserva de mercado (embargo territorial) e de desenvolvimento de novas
tecnologias via substituição de importações. A globalização das escalas político-territoriais de
produção fez emergir uma nova divisão internacional do trabalho policêntrica, estruturada em
26
cima de “Blocos Regionais” de produção (THORSTENSEN et al., 1994) e regulada por Estados
supranacionais.
O fim da era fordista está sendo, ao mesmo tempo, o marco de ruptura global da
hegemonia creditícia e de reestruturação industrial dos EUA. Em 1971, o sistema de troca
instituído pela conferência de Bretton Woods entrou em colapso, os EUA deixa de regular o
sistema monetário mundial. Segundo a opinião de alguns economistas neoclássicos, as instituições
financeiras encarregadas da gestão do sistema monetário mundial apresentaram quatro grandes
tipos de “imperfeições”:
1. Não foram estruturadas para enfrentar a insolvência dos Estados Nacionais;
2. Faltou uma rede internacional de trabalho para estabilizar o sistema monetário mundial da alta
inflação dos países e do capital especulativo internacional;
3. Falhou ao mobilizar o mercado
5
de capital multi-bilionário de dólares globais para prover
uma ajuda extra para devedores e sistemas nacionais falidos;
4. Afastou-se das práticas sigilosas de observação do desempenho dos devedores.
Mas, este sistema sobreviveu, também, canalizando dinheiro, que possuía em abundância,
para o Brasil, para o México e outros grandes devedores: Bulgária, Polônia, Argentina,
Venezuela, Bolívia, Peru, etc. (KNOX & AGNEW,1994:19)
A crise econômica dos Estados Unidos nos anos 80 resultou dos problemas de sua
organização econômica por sua vez, resultantes da perda gradual de posição no sistema de trocas
internacionais; da manutenção de um sistema ultrapassado e pouco favorável de regulação das
relações de trabalho e de gestão da produtividade nacional (PORTER,1993:585) em alguns
setores indústrias, como: robótica, semicondutores e telecomunicações; ou seja, da perda
paulatina de competitividade industrial em relação ao Japão e aos quatro Tigres Asiáticos (Coréia
do Sul, Taiwan, Hong Kong, Cingapura).
O “boom” econômico e tecnológico do Japão e da Alemanha Ocidental, nos anos 50 e
60, parece ser um resultado do preenchimento momentâneo das lacunas do comércio exterior
dos Estados Unidos e, também, originário do crescimento, em termos de qualidade, custo e
27
preço, da participação das indústrias de equipamentos, tecnologicamente mais avançadas,
implantadas nestes dois países durante o pós-guerra (produtos eletrônicos, máquinas ferramentas,
bens de capital e bens de produção).
Tendo em vista, principalmente que o Japão e a Alemanha se viram, durante o período do
pós-guerra, impedidos de produzirem armamentos e artefatos bélicos, as restrições impostas ao
Japão e a Alemanha e a ajuda financeira americana aparentemente redirecionaram os
investimentos de pesquisa e tecnologia para as atividades civil e industrial (BRANSCOMB et al.,
1993:22). Devido a este fato, a expansão econômica do Japão e da Alemanha Ocidental esteve
articulada ao processo de implantação das indústrias de novíssima tecnologia (RANGEL,
1982:56), que foi implantada nas estruturas econômicas destes países sob princípios mais
convencionais, fortalecendo o ímpeto “mais tradicional” de produção de mercadorias para a
generalização do consumo civil, ampliação de mercados, diversificação de produtos,
desenvolvimento tecnológico, ou seja, garantindo a reprodução do capital do território 6 (PIRES,
1990:764).
A “opção exportadora” parece ter sido a condição central do crescimento econômico
dos Novos Países Industrializados (NPIs) asiáticos (Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong,
Cingapura). O “boom” econômico da grande maioria desses países ocorreu no período de 1960
a 1977 (CASTELLS,1993:26). O desdobramento dos programas de defesa dos Estados Unidos
na costa do pacífico, os maciços investimentos estrangeiros do Japão e dos Estados Unidos,
associados a uma política industrial e a uma coordenação de atividades e de aproveitamento das
“vantagens competitivas” (disponibilidade territorial de fatores de uma nação) do comércio
internacional, parecem ser os componentes cruciais de explicação do fenômeno de suas recentes
industrializações. Desenvolver uma política estatal de substituição de importações e integrar
diversos setores industriais, implantar indústrias intensivas de trabalho e capital doméstico,
importar, copiar, adequar e desenvolver tecnologias pelo aprendizado (AMSDEN,1992:135), a
fim de constituir uma infra-estrutura tecnológica própria, foram os primeiros passos.
28
O processo de integração e crescimento de alguns desses países, principalmente os
asiáticos, parece ser em parte o resultado de uma nova cultura organizacional
(PHEYSEY,1993:165) que está baseada:
a) no desenvolvimento comercial integrado;
b) na abertura seletiva para o exterior e diferenciação;
c) nos estímulos à constituição de novos quadros empresariais e à produção exportadora;
d) no impulso contínuo para o desenvolvimento e a diversificação contínua de novos produtos
manufaturados;
e) na introdução de métodos de trabalho e novas formas organizacionais flexíveis de produção
intensiva e vertical;
f) no aproveitamento das oportunidades de integração de processos de produção e mercados
intra-continental e inter-continental;
g) na política de incentivos à melhoria da base de integração de transporte e comunicação;
h) nos investimentos concentrados em Pesquisa e Desenvolvimento (P & D) e em tecnologias de
ponta.
As antigas teorias do desenvolvimento e da dependência econômica, e o seu quase
ressurgimento atual (CARDOSO,1993:157) não conseguem mais explicar ou dar conta do atual
processo de industrialização dos Novos Países Industrializados (NPIs) (STORPER,1994:28).
Sem os estudos do processo lógico de constituição, crescimento, organização, expansão,
articulação e integração produtiva dessas formações econômico-sócio-espaciais e suas políticas
territoriais, torna-se difícil compreender a especificidade e a dinâmica do processo de produção
que redefine a atual divisão internacional do trabalho e o desenvolvimento dos novos setores
indústrias vinculados a AT.
O processo de globalização, que foi originário da crise do capitalismo ou do fordismo
(CLARK,1991:128), esteve associado, também, ao surgimento das instituições supranacionais
(SANTOS, 1993:19) e das indústrias globais fora das regiões centrais, cuja escala de regulação e
atuação é o mercado mundial.
29
Este surgimento das indústrias globais contribuiu para libertar e liberar as empresas do
aprisionamento da base locacional dos recursos de fatores de uma única nação. A presença de
indústrias globais em um território ou sua “cadeia de valores”, passou, em princípio, a ser
influenciada pelas possibilidades de obtenção de vantagens competitivas no mercado internacional
(PORTER,1993:15).
A lógica e a estratégia capitalista “liberal”, para reverter e diminuir a expansão dos NPIs,
nesse processo de globalização, tenta se impor procurando desestabilizar e enfraquecer o poder
financeiro do Estado Nacional, através da erosão de sua autonomia político-territorial, praticada a
partir dos processos:
•
acelerados de desestatização de empresas públicas;
•
de transformação e da desregulamentação das escalas de regulação territorial das relações de
produção e de trabalho;
•
de redefinição dos processos territoriais de concentração e desconcentração dos
investimentos econômicos;
•
de incentivo à constituição das cidades globais (SASSEN,1991:63).
Neste sentido, a crise do Fordismo e do Estado-Previdência (Welfare State) tenderam a
impulsionar o processo de globalização do capitalismo, no pós-guerra, que é um resultado da
reterritorialização ou da recuperação político-territorial do poder de trocas das indústrias globais
para obtenção de “vantagens competitivas” entre as nações, nos três principais “blocos
econômicos” (Ásia, Europa e América) 7.
30
1.3. “A Segunda Grande Depressão Mundial”:
A reconfiguração pela acumulação
flexível global (1973-1987)
A crise do capitalismo ou do fordismo afetou, de forma diferenciada e desigual, todos os
Estados Nacionais do centro à periferia do sistema mundial. Ela foi a expressão de uma era de
reconfiguração da hegemonia creditícia e da produção em escala global.
Embora o projeto original do fordismo não tenha sido nem o desenvolvimento do
Welfare State Keynesiano nem do New Deal (CLARK,1991:141), a “débàcle” do fordismo é,
também, a crise do modo de acumulação e do projeto institucional de regulação das relações de
trabalho, implantado pela social-democracia (HIRSCH & ESSER,1989:421) durante o ciclo
expansivo do pós-guerra (1945-1972), o “Keynesianismo” e o “Welfare State”
(TAVARES,1991:86).
Os sintomas da crise atestaram de forma generalizada a falência e o colapso global
(KURZ,1992:199) do modelo industrial do pós-guerra, inaugurando um processo de RI global
que deu origem a um novo padrão de acumulação, baseado na produção flexível, na
especialização flexível (HARVEY,1987:263/1989:140; SCOTT,1988b:175/1988c:109; HIRST
& ZEITLIN,1991:33) e no “neo-fordismo”.
A emergência do processo de reconfiguração e reestruturação da produção industrial
global estão articulados à crise do capitalismo, inaugurada pela fase B do 4o ciclo do Kondratieff
8
, ciclo este que não deve ser analisado apenas como um fenômeno econômico, mas como um
processo social total, muito complexo (RANGEL,1987:53; PEREZ, 1985; BECKER,1988a:104
e BECKER,1991:47). Esse processo e suas conseqüências podem ser conceituados como um
contraponto lógico da crise ou uma reação lógica do sistema de produção capitalista
(HALL,1985:01), onde reestruturar significa tentar recuperar ou romper, performativamente, a
31
hegemonia (produtiva, tecnológica, científica e informacional) do território perdido das trocas
globais, o mercado.
O declínio da atividade industrial, iniciada em meados dos anos 70, foi um resultado do
esgotamento do padrão de crescimento econômico capitalista (SUZIGAN,1989:07;
DIAS,1989:105)
e
da
tendência
de
continuidade
da
queda
da
produtividade
(SUZIGAN,1989:08; LIPIETZ,1986a:21); do rebaixamento das taxas de lucro, que nos EUA
declinaram, do período do pós-guerra até a metade da década de 70, aproximadamente de 30 a
40%
(MOSELEY,1992:115);
do
declínio
do
salário
real
(HARRISON
&
BLUESTONE,1990:355); influenciou, também, o aumento do custo do petróleo e matérias
primas (KOLKO,1988:25; MANDEL,1989:39). Do ponto de vista territorial, os reflexos da
crise se manifestaram nos processos de:
a) desindustrialização de regiões industriais (HALL,1985:02; MASSEY & MEEGAN,1982;
BLUESTONE & HARRISON,1982:35) e, conseqüentemente, aumento do desemprego
(recessão) e da capacidade ociosa do sistema produtivo (estagnação de setores tradicionais);
b) relocalização e reindustrialização (reterritorialização), que afetaram à constituição de regiões e
“novos complexos industriais” (DUNFORD & KAFKALAS,1992:14; SCOTT &
STORPER,1988:304), ocasionando modificações, declínio e crescimento seletivo de
estruturas espaciais. O conteúdo dessa lógica resulta da redefinição de estratégias de
mobilidade territorial do capital, em termos de sua reprodução global (intra e interterritorial),
direcionadas a alterar o ciclo do produto e ampliar o lucro e o valor (ou a “vantagem
competitiva”) entre regiões 9 e nações;
c) reorganização do processo produtivo, que alguns autores estão chamando de novo padrão de
produção ou novo paradigma de competitividade, a produção flexível (TAVARES,1991:88;
QUANT,1992:374).
Estes fatores passaram a exigir, do setor produtivo, a adoção de medidas criativas e
restauradoras de sua capacidade produtiva e competitiva, que requisitaram ajustes nos níveis da
estrutura técnica da economia global.
32
Para enfrentar a crise, os países centrais (EUA, Japão, Alemanha, Inglaterra, França)
redefiniram e reestruturaram o processo de acumulação e regulação de suas economias, através
do fortalecimento do processo de produção baseado na AT, na exploração intensiva de capital e
das relações de trabalho, da produção flexível, e do desacionamento do Estado-Previdência
(Welfare State), mas este processo de reestruturação não tem nada a haver com o “pósfordismo” (CLARK,1991:150).
O padrão de acumulação emergente, ao alterar as formas de produção e do consumo e,
também, a organização das relações de trabalho, está alterando o paradigma de regulação da
produção (TAVARES,1991:87), que redefine o conteúdo e a forma institucional atual da
produção e o consumo em escala global. Isso se confirma porque a reorganização e redefinição
do setor produtivo é uma necessidade permanente da disputa concorrencial ou competitiva entre
as empresas capitalistas (LOVERING,1990:171).
O processo de reconfiguração emergente passou a se desenvolver a partir da
transferência seletiva de capital para outros países a partir do desenvolvimento de novas formas
de competição, provenientes de novas estratégias locacionais de reprodução do capital
(PEET,1987; SMITH & FEAGIN,1987). Esta transferência de capital significou a exportação de
empregos para o além mar e o crescimento do desemprego no território, provocados pelo
processo de desindustrialização (BLUESTONE & HARRISON,1982:42).
Isto vem propiciando a constituição de um cenário diferente de inserção da produção dos
países no atual processo de acumulação global, passando a constituir uma nova divisão global
do trabalho, responsável pela industrialização parcial dos países do terceiro mundo, como foi o
caso do Brasil, ou pela integração transnacional (KNOX & AGNEW,1993:384) com o aumento
de suas produções manufatureiras (SMITH & FEAGIN,1987:11). A grande maioria desses
países é quase impedida de desenvolver uma gestão independente de sua política industrial ou
mesmo de eleger, estrategicamente, setores que merecessem ser privilegiados ou reestruturados
com investimentos estatais em pesquisa e desenvolvimento, com exceção da política de reserva
33
de mercado no Brasil. Esse atrelamento da gestão e da política industrial aconteceu,
principalmente, devido:
•
ao processo de esgotamento da capacidade de endividamento e da crise fiscal desses países
(RANGEL,1982:77);
•
ao controle e às imposições dos agentes financeiros internacionais que supervisionam o
processo
de
reestruturação
destes
países
(PEET,1985:27;
KOWARICK
&
CAMPANÁRIO, 1994:54).
A atual RI, desenvolvida pelas indústrias globais, tem sido implementada de modo
seletivo e desigual entre os países, e vem conferindo, à base desse sistema de diferenciação, uma
nova forma de divisão global de trabalho baseada na reorganização da produção e na utilização
do exército industrial de reserva em escala global, por intermédio de uma apropriada subdivisão
do processo de produção e do emprego de avançadas tecnologias de transporte e
telecomunicações (AT). O sistema global de exploração capitalista (variante capitalista global)
está integrado em escala internacional, e está reduzindo as barreiras nacionais e regionais de
apropriação de mais-valia (SHAKOW, D.M; GRAHAM, J & GIBSON, K.D.,1992:38).
Este processo de transferência e mobilidade da indústria global para os mercados dos
NPIs está possibilitando um desenvolvimento industrial paralelo e complementar que pode
produzir, também, de forma competitiva, para o mercado mundial (FROBEL, HEINRICHS &
KREYE,1980:44). Como exemplo, a partir da segunda metade dos anos 80, a Coréia se tornou
um dos maiores produtores de automóveis e o Japão assumiu, provisoriamente, a hegemonia de
boa parte da produção tecnológica no setor de AT: semicondutores, DRAMs (dynamic randon
acess memory) de circuitos integrados (ANGEL,1994:65); instrumentos e elementos ópticos;
equipamentos de comunicação por satélite; fax; robôs e a dianteira na produção de:
equipamentos de som; videocassetes; caminhões (PORTER,1993:28).
Em 1987, os EUA deixaram de ser a economia mais dinâmica do mundo, os problemas
de desempenho administrativo agravaram ainda mais a situação da dívida externa e interna, da
dívida pública e do déficit comercial dos EUA (O’CONNOR,1977:194,1984:64;
34
PRESTOWITZ,1989:64; MOSELEY,1992), o que os tornaram no maior devedor do mundo,
pois sua dívida já havia ultrapassado a dívida do Brasil e do México juntos.
A perda da hegemonia creditícia dos EUA pode ser revelada a partir da seguinte
constatação: dos dez maiores bancos do mundo, em 1986, sete eram japoneses, ou seja, o Japão
havia se tornado o maior credor mundial (PRESTOWITZ,1989:93).
Assim, no atual contexto de reconfiguração global, o processo de RI, além de ser uma
reação lógica à crise do capitalismo contemporâneo (contratendência), pode ser visto, também,
como o resultado da: amplificação performática da concorrência entre os países; reorganização
do processo de gestão da produção; relocalização territorial da produção de mercadorias,
através de inovações tecnológicas e de tecnologias informacionais e de modificação das regras
institucionais (mudanças institucionais) de relacionamento entre capital e trabalho. Esta forma de
conceituar o processo de RI competitivo se diferencia da conceituação formulada por
CASTELLS (1985:12/1993:06) quando o coloca como uma nova lógica informacional de
produção, pois, em conteúdo, a lógica do sistema produtivo continua a mesma, o que mudou foi
o conteúdo de realização e de apropriação da produção de valor social global, ou seja:
•
recriação de estratégias de mercado, produção e consumo, através de uma redefinição da
divisão internacional do trabalho;
•
criação de mecanismos de obtenção de lucros, ou seja, ter um maior e melhor desempenho
em relação à produção e à concorrência (qualidade e produtividade), ampliando, em parte, o
volume de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), e a experiência exigida no
processo produtivo;
•
elevação das taxas de lucros, procurando modificar o ciclo do produto;
•
criação de novas mercadorias para produzir e ampliar o consumo de novos produtos com
tecnologia de desenvolvimento;
•
intensificação qualitativamente do processo de automação (a partir do uso de tecnologias
informacionais e organizacionais) e de negação do trabalho vivo, para aprimorar a capacidade
de exploração do tempo socialmente necessário para a produção;
35
•
estabelecimento da formas mais ágeis de gestão das relações de trabalho, alterando a
organização das relações sociais de trabalho, tornando-as mais fragmentadas (flexíveis)
menos rígidas, através da modificação das regras estabelecidas socialmente pelos sindicatos,
ou instituições representativas dos interesses dos trabalhadores (TOMANEY,1990:53),
“limitando os direitos trabalhistas nas empresas” (FERREIRA, HIRATA, SALERNO et
al.,1991; POLLERT, 1988:52).
•
redução da capacidade ociosa através de ajustes na estrutura tecnológica do setor produtivo
e no fornecimento de produtos, via just-in-time ou kaban, que é uma técnica de organização
e controle da produção, voltada para aumentar a agilidade para suprir demandas e para
diminuir custos com os estoques de matérias primas e produtos partilhados por empresas
(fornecedores, distribuidores e produtores).
36
1.4. Inovações e Reconfiguração Global
das Relações de Trabalho: A “Reestruturação
Industrial Global” (1988-1994)
Esta última década do século XX está evidenciando a constituição de um cenário de
dramáticas mudanças propiciado pelo extraordinário desenvolvimento das inovações 10
tecnológicas, onde o conteúdo ou o imperativo dessas modificações é influenciado pelas atuais
estratégias espaciais de competição em escala global, ou seja, um outro contexto de
reestruturação da competição industrial está sendo impulsionado pelo desenvolvimento das
estratégias político-territoriais das indústrias globais e pelo desenvolvimento da AT.
Com o aumento seletivo do desempenho da produção global, os países que demoraram a
estabelecer, no mercado global, os mecanismos fantásticos de inovação da produção, através da
RI, como foi o caso dos países do Leste Europeu, praticamente entraram em colapso e tornaram
“instáveis” os seus “inflexíveis” sistemas de produção (CARNOY & CASTELLS,1993:04;
ALTVATER,1993:253).
A alteração dos ciclos de desenvolvimento tecnológico da produção está acelerando a
obsolescência de produtos e tecnologias num ritmo sem igual na atualidade. Padrões
tecnológicos, relativamente estáveis, estão sucumbindo aos imperativos da competição global
(ERBER,1990). A ênfase em novos produtos
11
e novas tecnologias, justificada por uma política
de constituição e regulação de preços e pela busca desenfreada de novas formas de obtenção de
lucro e valor, está fazendo com que o que hoje foi considerado novo no mercado, em algum
laboratório ou centro de pesquisa, mantido por um conjunto de corporações ou indústrias globais,
venha a ser mais um novo-velho produto, suplantado pela força da “destruição criativa” das
inovações, força esta cada vez mais regulada, sob as formas de obsolescência programada, de
patente e direito legal de controle de tecnologia, pelos grandes laboratórios dos “países ricos” e
37
pelas grandes corporações transnacionais. Este controle está estabelecendo uma “nova forma de
reserva de mercado” de conhecimentos e de informações e um novo ethos tecnológico.
A reconfiguração e reestruturação da indústria global representa o reordenamento setorial
e político-territorial das relações de trabalho, produção, circulação e consumo, resultante das
novas estratégias espaciais da competição global. As estratégias das indústrias globais afetam e
tem implicações que se manifestam, também, em termos regionais e ambientais.
Nos EUA, para algumas empresas líderes no setor de AT do Silicon Valley
(ANGEL,1994:32; SAXENIAN,1994:166), a antiga Meca da Alta-Tecnologia, muitas vezes, a
liderança no mercado setorial e regional não é garantida apenas pelos investimentos em Pesquisa
e Desenvolvimento.
A liderança setorial, no atual período, está sendo fortalecida por quatro grandes tipos de
reestruturação inovativas: a reestruturação da estrutura-técnica da produção; a reestruturação da
gestão organizacional da produção; a reestruturação das estratégias territoriais de produção e
reprodução do capital; a reestruturação desregulamentativa ou reestruturação institucional das
formas de regulação do trabalho e da produção.
A reestruturação da estrutura-técnica da produção é promovida pelo aumento da
composição orgânica do capital, a partir da difusão de novas tecnologias informacionais, de
automação da produção e do design, e do crescimento nos investimentos em pesquisa e
desenvolvimento.
Este processo foi também refletido do ponto de vista das transformações produzidas pela
produção industrial de AT e defesa nos EUA (GLASMEIER, 1985; MARKUSEN &
BLOCH,1985), nas cidades (CASTELLS,1985) e regiões do Vale do Silício e Estrada 128
(SAXENIAN,1985ab), Corredor M14 na Inglaterra (HALL,1985), e nas cidades da região do
Sunbelt.
Em contrapartida, algumas pesquisas têm procurado efetuar o resgate histórico do
processo de reestruturação territorial da estrutura-técnica da produção (SAXENIAN,1983;
SAXENIAN,1985ab), revelando como, em um determinado contexto histórico-conjuntural, o
38
conteúdo da política industrial pode transformar uma região agrária em uma região urbana e
industrial, como no caso do Vale do Silício nos EUA. Este novo espaço industrial se
transformou em um fenômeno internacional da produção de AT. As condições e a conjuntura do
processo de reestruturação possibilitaram que as indústrias de AT fossem incentivadas a se
desenvolverem e desencadearem a expansão da sua produção nas mais longínquas regiões do
mundo.
A reestruturação da gestão organizacional da produção ocorre através da modificação da
organização do trabalho e reconcepção de tarefas e atividades, sob princípios multifuncionais
(SALERNO,1991:118), que melhorem a qualidade, a performance, a flexibilidade organizacional
da produção, via automação e design intensivo de produtos e uso de sofisticadas ferramentas
manufatureiras; com o estabelecimento da qualidade total para pesquisa e design; da integração
da tecnologia de desenvolvimento com a produção e modificação do ciclo de produção; da
redução do tempo de vida competitivo de uma geração de produtos e antecipação na
constituição de novos produtos e preços. Este tipo de reestruturação está sendo desenvolvida por
inúmeras empresas japonesas, européias, norte americanas e dos NPIs.
Marx, nos Grundrisse, já havia previsto que o avanço na organização da produção e a
criação de novos produtos seriam criadores de sujeitos consumidores:
O objeto de arte -- como qualquer outro objeto -- cria um público sensível a arte, capaz do
gozo estético. Do mesmo modo que a produção não somente produz um objeto para o sujeito, mas
também um sujeito para o objeto. A produção produz, pois, o consumo, 1) criando o material deste; 2)
determinando o modo do consumo; 3) provocando no consumidor a necessidade de produtos que ela
tem criado originalmente como objetos. Em conseqüência, o objeto do consumo, o modo do consumo
e o impulso ao consumo.” (MARX,1978:13-14)
Nesse sentido, novos produtos e mercadorias implicam em novos consumidores no
mercado (SCHUMPETER,1989).
A reestruturação das estratégias territoriais de produção e reprodução do capital estão
sendo propiciadas pela ampliação dos laços de proximidade e cooperação (solidariedade) entre
produtores, fornecedores e consumidores e o governo local. Esta instituiu um sistema de coesão
financeira do capital, com os objetivos de criar uma rede local de desenvolvimento de facilidades
globais, de incentivar a organização intersetorial e intrasetorial e de expandir o mercado de
39
oportunidades da produção local. Este tipo de reestruturação pode ser encontrada na Alemanha
e Japão (DUNFORD & KAFKALAS,1992:07).
No Japão, a interferência do Ministério de Comércio Internacional e Indústria (MITI), a
partir da década de 80, teve um papel essencial na formulação dos critérios para reestruturação
das estratégias territoriais de produção e reprodução do capital e na definição da formação das
20 regiões destinadas à implantação de tecnopólos (FUJITA,1988). A conjuntura histórica da
crise econômica mundial, o aumento nos preços do petróleo e nas matérias primas essenciais,
praticamente obrigou as autoridades japonesas à definição de estratégias de RI que transformasse
as indústrias japonesas do ponto de vista de sua estrutura competitiva e produtiva.
Esta modalidade de reestruturação assumiu, no Japão, características territoriais
eminentemente corporativistas, quanto à localização de empresas de AT nas cidades
(FUJITA,1988). A implantação de tecnopólos suscitou inúmeros processos contraditórios, pois,
além de beneficiar as grandes empresas, visava à instalação de novas relações de trabalho
assentadas na exploração compulsiva da força de trabalho feminina, principalmente em regiões
distantes das grandes metrópoles japonesas (FUJITA,1988). Os investimentos em pesquisa e
desenvolvimento nestas áreas foi fator para o agravamento de tensões regionais, revelando uma
face do corporativismo do Estado Japonês, representado significativamente pelo MITI.
A reestruturação desregulamentativa ou reestruturação institucional das formas de
regulação do trabalho e da produção, nem sempre ocorre sem conflitos. Este processo, quase
sempre, pode implicar em perdas de poder político e econômico da classe trabalhadora e para o
Estado Nacional, porque supõe o desenvolvimento de formas de desregulamentação (políticas e
institucionais). A competição global e a vantagem competitiva obtida por algumas empresas que
utilizam estratégias de enfoque nos custos (PORTER,1993:50), redução do tempo e do preço da
produção de produtos, estão forçando os setores trabalhistas a rever e negociar posições e
conquistas de forma “realista” (TOMANEY,1990:53; CLARK,1991:148).
A administração de conflitos trabalhistas tornou-se uma exigência e já é parte do atual
processo de discussão e gestão das transformações das relações de trabalho, entre os setores
40
trabalhistas e empresariais. Esta forma de reestruturação tem tido implicações: no fortalecimento
dos ganhos sobre a produção de capital e P&D; na desconcentração dos investimentos de P&D
e transferência para os níveis supranacional, regional ou local das funções de regulação; no
desenvolvimento de estruturas localizadas de regulação; na constituição de uma política gradual
de abertura do mercado e estímulo à competição; na criação de condições vantajosas em:
incentivos, isenções fiscais, relações sociais e contratuais mais flexíveis, desregulamentação do
protecionismo econômico; nas políticas indústrias de promoção da atividade produtiva 12.
Estes quatro tipos de reestruturações têm sidos cunhados pela lógica reativa e inovativa
do capital para enfrentar a crise e a competição em escala global. Os investimentos para a criação
de novos produtos e AT são estimulados seletivamente pela disputa por novos mercados. A
inocência do acaso inovativo está sucumbindo à lógica laboratizada de criação, cada vez mais
controlada, de inovações tecnológicas.
A rápida absorção e generalização das inovações criadas pelo paradigma técnicoeconômico da microeletrônica, revelou a capacidade reativa de aprendizado do grande capital
para enfrentar a força da destruição criativa das inovações. O grande capital se reestruturou para
também enfrentar, controlar e criar destrutivamente inovações, o desiderato Neo-Schumpeteriano
sucumbiu à lógica reativa do aprendizado do capital, as crises são, mais uma vez, inevitáveis.
41
NOTAS
1. Partindo deste ponto vista, para quem deseja efetuar um estudo mais aprofundado sobre estas cinco teorias
recomendo as seguintes leituras:
a) Sobre os Longos Ciclos: GOLDSTEIN, J. S. (1988) Long Cycles: Prosperity and War in the modern Age e
TYLECOTE,A. (1991) The Long Wave in the World Economy: The current crisis in historical perspective,
etc.;
b) Sobre a Teoria Neo-Schumpeteriana da Inovação: FREEMAN, C. (1982) The Economics of Industrial
Innovation; PEREZ, C. (1985) Microelectronics, Long Waves and World Structural Change: News
Perspectives for Developing Countries.
c) Sobre a Teoria da Regulação: BOYER, R. (1990) A Teoria da Regulação: Uma Análise Crítica; BRENNER,
R. R and GLINK, M. (1991) The Regulation Approach: Theory and History”; DUNFORD, M. (1990)
Theories of Regulation; JESSOP, B. (1990b) Regulation theories in retrospect and prospect. Economy and
Society; POSSAS, M.L. (1988) O projeto teórico da escola da regulação: alguns comentários;
NASCIMENTO, E (1993) Notas a respeito da Escola da Regulação, etc.;
d) Sobre a teoria das Estruturas Sociais de Acumulação: KOTZ,D..M.; MCDONOUGH,T. and
MICHAEL,REICH Ed. (1994) Social Structures of Accumulation: The political economy of growth and
crisis, Cambridge Univ. Press.
e) Sobre a teoria da Vantagem Competitiva: PORTER, M.E. (1993) A Vantagem Competitiva das Nações e
PORTER, M.E. (1980) Estratégia Competitiva.
2. O conceito de Formação Sócio-Territorial, diferentemente do significado de país, compreende a combinação,
articulação, acumulação e integração histórica da totalidade de diferentes modos de produção ou de modos de
vida, no processo de produção social, constituído por uma superestrutura política e ideológica de poder
territorial (formas de regulação), é o resultado de uma estrutura-técnica de produção (padrão tecnológico)
expresso geograficamente e por um conjunto de processos de exploração e apropriação do valor produzido
pela sociedade (modo de acumulação ou estrutura social de acumulação). Sobre o conceito de Formação Social
ver BOBBIO et al. (1992:509-517).
3. Esta oscilação dos termos de troca onde cada subperíodo registra a variação em ganhos ou perdas em
Mercado por Mercadorias das indústrias estudadas, pode ser observada a partir do análise da Tabela 1:
42
Tabela 1
Classificação das Regiões Mundiais e Países de Acordo com sua
Performance na Exportação de Manufaturados -- (1967-86)
(De 1/1000 partes da Troca Mundial)
1973/67
1980/73
1986/80
Japão
15.6
9.0
10.4
Novos Países Industrializados da Ásia
14.7
17.0
9.4
Antiga Alemanha Ocidental
9.0
-17.4
6.6
Sul da Europa
6.1
4.0
5.5
Itália
-8.7
4.9
4.4
China
-0.6
0.5
4.2
Países Alpinos
-1.8
0.7
2.8
Brasil
5.0
3.3
2.0
Holanda
0.7
-4.0
1.5
Argélia/Líbia
---0.6
0.9
Indonésia
0.4
0.5
0.8
Escandinávia
-1.5
-3.1
0.5
México
1.8
-0.2
0.2
Meio Leste
0.2
-0.7
0.2
Norte da África
-1.2
-0.4
0.1
Região do Golfo Pérsico
0.9
0.7
--Nigéria-Gabão
-0.2
0.1
--Outros Países Asiáticos
-0.4
4.0
-0.1
Venezuela-Equador
-0.1
0.5
-0.2
Todo Leste Europeu
4.1
0.8
-0.4
Outros Países Africanos
-1.9
-1.9
-0.7
Índia
-0.9
-0.9
-0.8
Outros Países da América Latina
-2.7
0.6
-1.5
Bélgica-Luxemburgo
2.7
-6.7
-1.6
África do Sul
-1.8
1.5
-1.9
Austrália-Nova Zelândia
3.8
-4.2
-2.2
Canadá
-5.4
-4.3
-3.4
França
2.5
-3.0
-4.4
Inglaterra
-17.8
2.0
-13.1
Estados Unidos
-22.9
1.5
-21.1
Fonte: CEPII, CHELEM banco de dados sobre trocas internacionais,1989.
In CASTELLS(1993:26).
4. O Estado Burguês, é uma “força” político-administrativa que representa a “livre vontade abstrata” da nação
(HEIDEMANN,1983) é uma potência que permite a realização dessa forma de autonomização dos diferentes
interesses contraditórios da sociedade capitalista, expressos no território, enquanto espaço da soberania do
“povo”, e princípio constitucional do exercício político da cidadania. Suas instituições possuem conteúdos
culturais, políticos, econômicos, geográficos, jurídicos de atuação e regulação mais amplos e permanentes,
voltados, aparentemente, para atender aos interesses da sociedade burguesa.
5. O Mercado, é o espaço de realização, circulação e comercialização da produção mercadoria em um território,
nas formas de valor de uso e de troca; é o espaço ou a esfera da circulação e da realização da mais -valia
(KURZ,1992:92). É, portanto, a “dimensão” histórico-territorial de reprodução e exploração das relações
sociais de trabalho, onde o sancionamento ou a regulação desta dimensão é efetuado pelo Estado Nacional
(ALTVATER,1993:72).
6. O Território é tratato, enquanto conceito, como o espaço de expressão e representação da nação e de um
“povo”. É a dimensão de realização política do princípio de cidadania, é o espaço de produção e apropriação
43
das relações sociais, é o espaço de exercício da soberania do Estado político burguês e da vontade livre e
abstrata da sociedade civil (MARX,1972:140), é o espaço ou a jurisdição constitucional de suas intervenções.
Segundo Robert D. SACK, a Territorialidade significa: “o esforço de um indivíduo ou grupo (x) para
influenciar, afetar, ou controlar objetos, pessoas, e relações (y) pela delimitação e pelo controle firmado
sobre uma área geográfica. Esta área é o território” (SACK,1983:56).
Segundo RAFFESTIN: o Território “É o espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e
informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder” (RAFFESTIN,1980:144).
7. Uma nova hierarquia dos blocos regionais, do ponto de vista do ranking e da distribuição das indústrias
globais, parece se configurar, como pode ser visto no pequeno quadro esquemático abaixo:
a) Bloco das Américas: EUA, Canadá, como países centrais, México (NPI) como subcentro, Brasil (NPI),
Chile, Venezuela, Colômbia e a Argentina como periferia e o resto do Sul do Continente como subperiferia;
b) Bloco Europeu: Alemanha e Suécia como países centrais, Reino Unido, França e Itália como países
subcentrais, Dinamarca, Suíça, Espanha, Portugal e Grécia como periferias, Marrocos, Turquia e Tunísia
como semi-periferias. Os países do leste Europeu, possuem uma série de economias com níveis diferentes
e não aparecem nesta relação porque estão ainda numa fase de recuperação da crise e estagnação dos 47
anos de Stalinismo e Capitalismo de Estado (CALLINICOS,1992), manifestada de modo mais acentuado em
1989, após a queda do Muro de Berlim (ALTVATER,1993), e se estendeu até 1991;
c) Bloco Asiático: Japão como país central, Coréia, Taiwan, Hong Kong e Cingapura (NPIs) como periferia e
a China, Austrália, Filipinas, Índia e Tailândia (ASEAN) como semi-periferias (PIRES, 1990).
8. Entre os vários precursores dos estudos sobre os Longos Ciclos ou Longas Ondas (GOLDSTEIN,1988),
merece ser destacado o economista marxista russo Nicolai Kondratieff, fundador da Teoria do Investimento de
Capital, para ele os longos ciclos no sistema capitalista resultam de sólidos investimentos ou de sua
depreciação em infra-estrutura, como: ferrovias, portos, canais, indústrias, saneamento básico, eletrificação,
construção civil, etc. Nestes ciclos a fase de expansão é caracterizada por superinvestimentos em bens de
capital e, na fase de depressão, por um processo de depreciação. Os ciclos representavam, para ele, épocas do
desenvolvimento do capitalismo. Em 1926, Kondratieff foi o primeiro a antever a idéia dos longos ciclos de 55
anos de duração. Sua intenção não era constituir ou colocar os fundamentos de uma Teoria apropriada dos
longos ciclos, mas somente de provar a sua existência a partir de evidências empíricas presentes e expressas
na história da economia mundial. Com esse propósito, ele catalogou informações e dados de quase todos os
países, principalmente da França, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha, procurando demonstrar
empiricamente que os mecanismos e leis que condicionam as longas ondas, são provenientes de:
Modificações Técnicas; Guerras e Revoluções; Assimilação de Novos Países dentro da Economia Mundial e
Flutuações na Produção de Ouro (KONDRATIEFF,1944).
Para fundamentar suas hipóteses, Kondratieff procurou examinar o comportamento de variáveis
econômicas e sua dinâmica, efetuando, ao longo dos anos, a análise do movimento médio das séries e
indicadores de: preços de mercadorias; taxas de juros; investimentos de Bancos; salários dos trabalhadores em
atividades agrícolas e industriais; alterações populacionais; importação e exportação; depósitos e poupanças
bancárias; total de comércio exterior; consumo e produção de carvão; produção de ferro gusa; produção de
cereais por acres e produção líder. Considerando impossível fixar exatamente os anos que assinalam o
momento decisivo dos longos ciclos, Kondratieff, recorrendo a um método estatístico para analisar esses
dados, constatou que suas tentativas de periodização incorriam num erro de 5 a 7 anos na determinação dos
anos de tais tendências (V.Quadro I), e concluiu que os limites destes ciclos podiam todavia ser representados
como sendo aqueles ma is prováveis:
44
Quadro I:
Longos Ciclos de Kondratieff
a
a
LONGOS CICLOS
FASES A (1 Expansão); B (2 Declínio)
1a A expansão durou do fim dos anos de
Primeira longa onda
1780 ou começo dos anos de 1790 até 1810-17;
a
2 O declínio durou de 1810-17 até 1844-51;
1a A expansão durou de 1844-51 até 1870-1875;
Segunda longa onda
2a O declínio durou de 1870-75 até 1890-1896;
1a A expansão durou de 1890-1896 até 1914-20;
Terceira longa onda
2a O declínio provável começa nos anos de 1914-20.
Fonte: KONDRATIEFF (1944:32) In The Long Waves in Economic Life.
Ao examinar a natureza dos longos ciclos, do ponto de vista das modificações nas técnicas de
produção, Kondratieff observou que as regularidades do processo ajudam a estabelecer algumas regras
empíricas para o movimento das longas ondas. E dentro desta perspectiva, em um curto mas importante trecho,
Kondratieff revelou o papel das modificações nas técnicas nos longos ciclos:
"Modificações nas técnicas têm sem dúvida um papel muito influente sobre o curso do
desenvolvimento do capitalismo. Mas ninguém provou que elas têm uma origem acidental e
externa.
Modificações nas técnicas de produção presume (1) que relevantes descobertas e invenções
científicas foram feitas, e (2) que é economicamente viável usá-las. Seria um erro óbvio negar o
elemento criativo das descobertas e invenções científico-técnicas. Mas de um ponto de vista
objetivo, ocorreria ainda um grande erro se alguém acreditasse que a direção e a intensidade
destas descobertas e invenções fossem meramente acidentais; é muito mais provável que a
direção e a intensidade sejam uma função das necessidades da vida real e do desenvolvimento
precedente da ciência e da técnica.
Invenções científico-técnicas por si mesmas, portanto, são insuficientes para trazer uma
mudança real na técnica de produção. Elas podem se manter inefectivas tanto quanto as
condições econômicas favoráveis de suas aplicação estiverem ausentes. Isto está revelado no
exemplo das invenções científico-técnicas do século XVII e XVIII que foram usadas em larga
escala somente durante a revolução industrial e início do século XVIII. Se isto é verdade, então a
suposição de que as modificações técnicas são de caráter aleatório e não de fato a fonte
nascente de necessidades econômicas perde o seu peso. Nós vimos antes que o
desenvolvimento das técnicas em si é parte do ritmo das ondas longas."
(KONDRATIEFF,1944:35-36)
Para Kondratieff, as modificações técnicas representam o mecanismo desencadeador do
desenvolvimento tecnológico (HALL,1985:13) capaz de criar novas oportunidades econômicas e deste modo,
gerar a expansão econômica dos setores produtivos com mercados saturados ou em recessão. Para ele ainda,
de igual modo, as guerras e as revoluções são conseqüências dos longos ciclos e resultam da luta por mercado
e matéria prima, da distribuição dos frutos do crescimento e da expansão econômica.
No Brasil a maior expressão da Teoria dos ciclos longos foi Ignácio RANGEL, que em 1957, no Texto
publicado pelo ISEB: A Dualidade Básica da Economia Brasileira foi o primeiro economista a introduzir as
idéias de N. Kondratieff para o exame da economia brasileira (MAMIGONIAN,1987; BRESSER PEREIRA &
REGO,1993).
9. Região é uma noção polissêmica que expressa as diferentes formas de representação, manifestação e lutas
(MARKUSEN,1981:85) (cultural, étnica, política, econômica e ecológica) das forças, categorias, classes ou
blocos sociais de um espaço. É o espaço de construção e produção da identidade nacional (CASTRO,
1994:163), política, cultural e étnica das categorias, dos blocos ou das classes sociais.
45
10. Para J. Schumpeter --- economista austríaco e professor da Universidade de Harvard, formulador da teoria
da Inovação (SCHUMPETER, 1989:62-77) --- os longos ciclos resultam da conjugação ou da combinação de
inovações, que cria um setor líder na economia, ou um novo paradigma, que impulsiona o crescimento rápido
desta economia (KLEINKNECHT,1990:89). Este setor promove, antes de consolidar a sua hegemonia, uma
avalanche de transformações e de destruições criativas, ou seja:
“O Capitalismo, então, é, pela própria natureza, uma forma ou método de mudança econômica,
e não apenas nunca está, mas nunca pode estar estacionário. E tal caráter evolutivo do processo
capitalista não se deve meramente ao fato de a vida econômica acontecer num ambiente social
que muda e, por sua mudança, altera os dados da ação econômica; isso é importante e tais
mudanças (guerra, revoluções e assim por diante) freqüentemente condicionam a mudança
industrial, mas não são seus motores principais. Tampouco se deve esse caráter evolutivo a um
aumento quase automático da população e do capital ou dos caprichos dos sistemas
monetários, para os quais são verdadeiras exatamente as mesmas coisas. O impulso fundamental
que inicia e mantém o movimento da máquina capitalista decorre de novos bens de consumo,
dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de
organização industrial que a empresa capitalista cria....
A abertura de novos mercados -- estrangeiros ou domésticos -- e o desenvolvimento
organizacional, da oficina artesanal aos conglomerados... , ilustram o mesmo processo de
mutação industrial... que incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro ,
incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando uma nova. Esse processo de
Destruição Criativa é o fato essencial do capitalismo. É nisso que consiste o capitalismo e é aí
que têm de viver todas as empresas capitalistas.” (SCHUMPETER,1984:112-113).
Todavia, quando as tecnologias introduzidas pelo setor líder se tornam praticamente incorporadas ao
sistema de produção ou se difunde por quase todos os setores, o retorno dos investimentos tendem a diminuir
e a economia caminha para um processo de acomodação, que é seguido por uma depressão, nesta última fase
são encorajados os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, fazendo ressurgir uma nova era de
inovações. Em 1936, Joseph Schumpeter além de refinar e aprofundar a teoria de Kondratieff (HALL,1985:06),
analisou a depressão de 1930, baseando-se nas depressões ocorridas em 1825 e 1873, e formulou uma Teoria
sobre os Ciclos dos Negócios, lapidando-a a partir dos conceitos de: inovação, revoluções técnicas, setor líder
da economia, novas firmas, novas formas organizacionais, mudanças institucionais, oceano competitivo,
destruição criativa, racionalização do trabalho. Segundo Henrique RATTNER numa versão adaptada dos
ciclos de negócios de Schumpeter, os ciclos podem ser retratados da seguinte maneira:
Quadro II:
Longos Ciclos Adaptados de Schumpeter
FASES
CICLOS
1o
DECOLAGEM
A
1770-1785
EXPANSÃO
B
1786-1800
RECESSÃO
C
1801-1813
DEPRESSÃO
D
1814-1827
2o
3o
1828-1842
1843-1857
1858-1869
1870-1885
1886-1897
1898-1911
1912-1925
1926-1937
4o
1938-1952
1953-1973
1974-1985
1986...
Fonte: RATTNER (1988:63).
Cada longa onda de expansão, que é comandada por um setor líder ou um novo paradigma técnico
econômico (PEREZ,1985:442), estava associada com uma base tecnológica histórica particular
(GOLDSTEIN,1988) ou tecnologias fundamentais (STOFFAES,1991). O Quadro II, abaixo, apresenta a
perspectiva teórica oferecida por Schumpeter e seus seguidores (MENSCH, VAN DUIJN, FREEMAN) para a
reconstituição dos longos ciclos e suas tecnologias fundamentais.
46
Quadro III:
Longos Ciclos e Tecnologias Fundamentais
Longos Ciclos da
Economia Mundial
1790-1847
(1o Longo Ciclo)
1848-1893
o
(2 Longo Ciclo)
1894-1945
o
(3 Longo Ciclo)
1946-1973
(4o Longo Ciclo)
Fase A
Tecnologias Fundamentais e
Setores Líderes Industriais
Máquina a Vapor, Tear,
Madeira e Ferro;
Carvão, Fundição, Estradas de Ferro
de Ferro, Materiais de Construção;
Aço, Eletrônica, Motor à Combustão Interna,
Mecânica, Química Mineral e Produção de Gás;
Inovações
(Quant.)
15
46
72
Petroquímica, Pequeno Motor Elétrico,
Radiofonia, Televisão, Computador Eletrônico,
Energia Nuclear, Satélites, Aviação Comercial,
Transístor, Semicondutor;
Microeletrônica e o Chip, Telecomunicações,
Robótica, Química Fina, Biotecnologia,
27
1974-1993
o
60*
(4 Longo Ciclo)
Fase B
Fibras Óticas, Novos Materiais, etc.
Baseado em: STOFFAES (1990:337 e 362); GOLDSTEIN (1988:94).
(*)Obs.: Número Aproximado de Inovações.
Este novo paradigma técnico-econômico, que representa um “conjunto de orientações do senso
comum para decisões tecnológicas e de investimento” (PEREZ,1985:443), quando eclode, emerge de forma
demolidora, transformando as formas de organização, distribuição e realização da produção. Às vezes a
semente deste novo paradigma é consubstanciada em condições de hegemonia e decolagem (take-off) do
antigo modelo de produção (ou do velho paradigma). A idéia evolucionista de nova e velha competição,
fartamente utilizada na atualidade (BEST,1990; FERRAZ, RUSH & MILES, 1992ab), surgiu desses enunciados.
Para Schumpeter, a inovação é um conjunto de novas funções evolutivas que alteram os métodos de
produção, criando novas formas de organização do trabalho e, ao produzir novas mercadorias, possibilita a
abertura de novos mercados através da criação de novos usos e consumos.
Dentro ainda desta perspectiva evolucionis ta, Schumpeter praticamente generalizou as diferentes
formas de concorrência, como se elas ocorressem em igualdade de condições para todos os concorrentes em
qualquer parte do mundo e, praticamente, deixou de elucidar os impactos negativos da “destruição criativa da
inovações” sobre o trabalho vivo e abstrato. Para ele sobrevive os mais aptos, a falência é uma forma de
sanção (STOFFAES,1990) aos que não souberam ser “criativos ou inovativos”. Efetuando uma crítica a essa
idéia da concorrência, desenvolvida por Schumpeter, Robert KURZ coloca:
“Marx nunca deixou de ver o lado positivo, progressista, emancipatório da concorrência,
chamando-o de “missão civilizatória do capital”. Quase admirado observa Josef Schumpeter que
Marx, apesar de sua crítica fundamental do capital, apesar de pronunciar sua “sentença de
morte”, deu no fundo uma “descrição quase entusiasmada dos resultados que trouxe o
capitalismo” (Schumpeter, 1980[1942], pp.23 ss.)
Na verdade, a crítica da economia política de Marx somente tem em conta a ambigüidade da
dinâmica capitalista. Apesar de sua força destrutiva frente aos homens e à natureza, a máquina
da concorrência é ao mesmo tempo emancipação negativa, por alcançar inevitavelmente,
mediante desenvolvimento ininterrupto das forças produtivas, o ponto de uma “abolição do
trabalho”, isto é, do trabalho de produção abstrato, repetitivo, somente destinado a “criar
valores”; com isso, no entanto, suprime também sua razão de ser, fazendo-se obsoleta a si
mesma. O entrelaçamento dos conteúdos da reprodução num sistema global de socialização
direta opõe-se às categorias da mercadorias, aperfeiçoado até trazer seu fim em sim mesmo, que
cria essa penetração das ciências e esse entrelaçamento, fazendo nascer, ao perseguir
47
inconscientemente seu objetivo limitado, “sem sentido”, seu próprio antagonista. A
concorrência trabalha, sem saber e sem querer, na destruição de seu próprio fundamento.
Em outras palavras: a abolição do trabalho no invólucro do sistema produtor de mercadoria,
não nasce como alegria e felicidade, mas somente em forma negativa, como crise, e finalmente
como crise absoluta da reprodução realizada dessa forma, situação que já se anunciou por uma
seqüência histórica de crises de ascensão relativas da sociedade de trabalho moderna....
Até a segunda metade do século XX, o desenvolvimento empírico não forneceu nenhum
indício que dessa razão à crítica de Marx, cuja lógica precisamente por isso parecia obscura. O
desenvolvimento das forças produtivas não tinha alcançado aquele ponto a partir do qual se
torna obsoleto o princípio básico da sociedade do trabalho. Por isso a crítica da concorrência
permanecia ainda durante muito tempo dentro do horizonte da sociedade do trabalho, parecendo
duvidosa. Na base dessa concepção era impossível reconhecer o lado emancipatório da
concorrência.” (KURZ,1992:80-82).
11. O caso do Chip Pentium da Intel e sua rápida superação pelo Power PC da Motorola/IBM, retratada na
evolução dos tipos de PCs em função do crescimento de memória (RAM): PC, XT, 286, 386 SX/DX, 486 SX/DX,
Pentium, Power PC, etc.; a evolução dos Mouses: Mouseman, Ballpoint, AccuPoint e agora o Penmouse,
Cordless; o surgimento da memória “flash” e os diferentes sistemas de compactação e crescimento de memória
(ROM); o desenvolvimento da realidade virtual; o crescente processo de miniaturização de produtos
eletrônicos (máquinas de calcular, fax, modem, televisões, rádios, CDs, etc. ), impressoras à laser e
microcomputadores a partir da descoberta do LCD: Laptop, Notebook, Subnotebook, Palmbook; a constituição
das tecnologias em “Wireless Connections”, da telefonia móvel e o TDD (telefone para surdos); o surgimento
da multimedia, CD roms; a expansão das televisões de assinatura e cabo, a nível global; a revolução dos
softwares e CAD/CAM; a generalização do intercâmbio acadêmico e comercial pela internet e o crescimento de
tecnologias de desenvolvimento são alguns exemplos típicos da constituição de novos produtos.
12. O Japão, em 1994, promoveu um amplo processo agressivo de desregulamentação de 781 itens para
estimular os setores econômicos “preguiçosos”, a partir do excedente de trocas de US$ 59 bilhões, obtido com
os EUA.
48
Capítulo 2
Capítulo: 2
Gênese da Tecnologia do Computador:
“A Máquina que produz Máquinas”
2.1. O Surgimento dos Primeiros Computadores
A iniciativa de buscar desenvolver vários artefatos ou artifícios
para quantificar objetos e coisas (o Cálculo) em dispositivos físicos e máquinas faz parte da
história do processamento de dados, desde a invenção do ábaco, há mais de 5.000 anos atrás, e
foi se aprimorando com:
•
Blaise Pascal (1623-1662), matemático, físico, escritor e artista francês, que inventou a
primeira máquina de calcular do mundo, para efetuar os cálculos dos tributos que eram
coletadas por seu pai na metade do século XVII (BITTER, 1984:27) 1. Em função de seu
grande prestígio como matemático e inventor, Pascal foi homenageado, no início da década
de 70, com o nome de uma linguagem de programação de computador (software),
desenvolvida por Niklaus Wirth, no Institut fur Informatik em Zurique;
•
Baron Gottfried Wilhelm von Leibnitz (1646-1716), na Alemanha, que inventou uma máquina
de calcular, mais avançada que a Pascalina, pois fazia as quatro operações. A máquina de
Leibnitz exerceu forte influência inspiradora no desenvolvimento das modernas pequenas
máquinas de calcular do início dos anos 70;
•
Joseph Marie Jacquard (1752-1834), inventou na França a máquina de tear com cartão
perfurado, utilizada nas atividades industriais para a produção têxtil. Jacquard foi dos
precursores do processo de automação industrial, sua invenção praticamente revolucionou a
indústria têxtil, impulsionando a produção de roupas, tecidos e sendo responsável pela
destruição de inúmeros postos de trabalho no início do século XIX, na França. Sua invenção
50
foi repudiada pela classe trabalhadora francesa, que via no seu engenho a expressão
demoníaca de um progresso, que naquele tempo era praticamente irrecusável. Ele foi o
precursor das máquinas de comando numérico e das máquinas ferramenta, da atualidade;
•
Charles Babbage (1792-1871), inventou na Inglaterra o primeiro computador mecânico com
o “pilot model or prototype of the difference engine”, posteriormente, “analytical
engine”, que não era simplesmente uma máquina de calcular, porque imprimia tabelas,
estocava números e alterava instruções;
•
Herman Hollerith (1860-1929), nos EUA, que inventou a máquina eletromecânica de
estatística por tabulação de cartões ou o sistema de tabulação estatística, criado em 1889 e
utilizada no Censo dos EUA de 1890. Hollerith organizou sua própria companhia, the
Tabulating Machine Company, que através do “leasing” prosperou nos EUA e se
transformou, em 1924, a partir da fusão com outras empresas, na Internacional Business
Machines (IBM), em New York (BASHE et al. ,1986; BITTER,1984; BRITO,1983;
FREEMAN,1982:82; ROSENBERG,1976:200; FLAMM,1988:30).
Esta forma de buscar quantificar objetos, coisas (o Cálculo) em dispositivos físicos ou
máquinas, passou a ser chamado de processamento de dados ou processamento de informações.
O processamento de dados e sua quantificação, possui uma longa história, não é o
objetivo aqui enveredar por essa história, mas, assinalar como, onde, quando e porque surgiu, da
evolução
das
técnicas
de
processamento
de
dados,
a
“máquina
inteligente”
(TYLECOTE,1991:56), o computador eletrônico ou a máquina que produz máquinas
(WALKER,1993:675), e a microeletrônica, que lhe sucedeu.
51
2.2. A 1a Geração Pré-Comercial de
Computadores do Mid-Atlantic nos EUA:
Os Deselegantes “Mainframes”
As regiões do Mid-Atlantic (New Jersey, New York e Pennsylvania) e da New England
(Massachussets), se constituíram no núcleo inicial, mais importante, da produção dos primeiros
computadores elétricos à válvula nos EUA. A concentração de investimentos governamentais
militares e de empresas como: IBM, General Electric e Silvanya, em New York; RCA, em New
Jersey, e a presença de grandes laboratórios como AT&T-Bell, Western Electric e da University
of Pennsylvania, em New Jersey, constituíram os fatores decisivos para a maturação regional das
indústrias de computadores e semicondutores no nordeste dos EUA.
As duas primeiras décadas da história dos primeiros computadores eletrônicos, podem
ser caracterizadas como o período dos grandes computadores (mainframes).
A maioria dos grandes computadores produzidos no período, que se estende de meados
dos anos 40 até o início dos anos 50, eram não comerciais, e foram utilizados pelo governo
americano, além dos fins militares (BRETON,1987:124), para o censo, cálculos financeiros,
administrativos e estatísticos, e, também, para fins científicos. Os custos desses “mainframes”
eram bastante caros, sua produção requeria o emprego de muito trabalho e os métodos de
organização, conservação e transcrição dos dados por cartões perfurados, eram feitos por meio
de técnicas de tradição originada no final do século XIX, estes conteúdos e fatores explicam, em
parte, o porquê da preexistência de grandes investimentos estatais, unidades fabris e laboratórios,
como requisitos estruturais de sua produção.
Como os investimentos em pesquisa básica para a criação do primeiro computador
eletrônico foram provenientes, na sua grande maioria, de recursos governamentais, a exploração e
a expansão do processo de comercialização definitiva desses computadores só aconteceu no
início dos anos 60, por motivos “estratégicos e militares”. E é só no final dos anos 70 que os
52
microcomputadores entram em cena, do ponto de vista comercial (DORFMAN,1987:43), ou
seja, o caráter inovativo, em termos de usos e comercialização, da invenção dos computadores
só emerge duas décadas depois de sua descoberta.
O surgimento do primeiro computador eletrônico digital da chamada 1a Geração
Tecnológica foi concebido em 1939 por John Vincent Atanasoff, professor de física, e Clifford
Berry, seu assistente, ambos do Iowa State College, que o chamaram de Atanasoff-Berry
Computer ou ABC. Este computador foi desenhado para solucionar equações algébricas lineares
(BITTER, 1984:33).
Em 1944, a partir do rápido desenvolvimento da eletrônica, um grupo de cientistas da
Universidade de Harvard e da IBM, liderados por Howard Aiken, conceberam o Harvard’s
Automatic Sequence-Controlled Calculator -- o Mark I, um computador que funcionava com
tecnologia e instrumentos eletromecânicos. Sua programação e suas instruções eram efetuadas
por intermédio de fitas de papel gravadas ou codificadas. Para efetuar cálculos, o Mark I levava
6 segundos para multiplicar dois fatores de 10 algarismos.
Em 1946, tomando como base um exótico experimento eletrônico criado por Atanasoff
& Clifford Berry, o “functional prototype electronic adder”, J. Presper Eckert e John W.
Mauchly construíram, no departamento de engenharia elétrica da Universidade da Pensilvânia, na
Philadelphia (FLAMM,1988:31; DORFMAN, 1987:45), a partir dos progressos técnicos na
eletrônica, o ENIAC (Eletronic Numeric Integrator and Calculador), que teve seu projeto iniciado
2
em 1943 (STERN,1981). O ENIAC, parecia mais “um monstro” , pesava 30 toneladas, media
170 metros quadrados, possuía: 18.000 válvulas eletrônicas, 70.000 resistores, 10.000
capacitores e 6.000 interruptores; trabalhava com sistema de numeração binário; executava
cálculos com mais velocidade que seu antecessor, de 5 toneladas, o Mark I; conseguia multiplicar
dois fatores de 10 algarismos em 0,0003 segundos. As máquinas de calcular de hoje fazem estes
cálculos centenas de vezes mais rápido.
53
Os sistemas de válvulas eletrônicas, que representou o componente central da 1a Geração
de Computadores, foram largamente difundidos tanto nos sistemas de telefonia, como nos de
rádios, amplificadores e outros equipamentos eletrônicos (PRESTOWITZ,1998:123).
Na época o objetivo principal de construção do ENIAC foi o de auxiliar a produção de
armas, ou seja, este faria os cálculos necessários para a criptoanálise, confecção de bombas
atômicas, cálculos das tabelas balísticas da marinha e dos primeiros mísseis nucleares. A grande
maioria das pesquisas científicas estavam voltadas para auxiliar a indústria de defesa
(FLAMM,1988:38).
Depois de ajudar a criar o ENIAC, os dois principais responsáveis pelo projeto na
Universidade da Pensilvânia resolveram criar uma empresa, cujo nome era o produto da fusão
dos seus sobrenomes: Eckert-Mauchly Computer Corporation. A idéia deles era comercializar
suas invenções para grandes instituições públicas e privadas, interessadas em utilizar esta
tecnologia para fins estatísticos e, também, militar. Esta idéia de se tornar um pequeno
empreendedor foi copiada, com sucesso, posteriormente, por inúmeros engenheiros de renome,
oriundos de importantes universidades nos EUA.
Em 1950, a Eckert-Mauchly Computer Corporation adquiriu um contrato para efetuar o
processamento dos dados do recenseamento nos EUA, obtendo uma inserção de caráter civil da
tecnologia por ela produzida. Mas a Eckert-Mauchly Computer Corporation teve uma vida
produtiva muito curta, sendo absorvida ainda neste mesmo ano pela Remington Rand.
Estimado em mais de US$ 500.000, o ENIAC, parecia apresentar problemas de
excessivo consumo de energia e de queima permanente de válvulas, já que quando ele estava
funcionando a temperatura ambiente alcançava 120oF, ou seja, quase 49 oC. Mais tarde com a
contribuição do matemático húngaro J.V.Neumann, surge o Electronic Discrete Variable
Computer - EDIVAC, o primeiro computador a armazenar, em forma codificada e com uma
nova “arquitetura”, dados em sua memória. Os propósitos tendiam a ser os mesmos, produzir
tecnologia para a “defesa” e cálculos estatísticos e de balística.
54
O avanço do hardware prosseguiu com o surgimento do Universal Automatic
Computer - UNIVAC, no início da década dos anos 50, seis vezes menor, com 5 toneladas,
mas ainda com 5 mil válvulas. O UNIVAC foi o primeiro computador a armazenar programas;
sua concepção foi um produto de pesquisas militares realizadas na Universidade da Pensilvânia
durante a guerra (ROSZAK,1986:22). O desenvolvimento dos UNIVAC foi fomentado pelos
contratos com o National Bureau of Standards and Prudential Insurance, com transferência de
patente para a Remington-Rand (posteriormente Sperry-Rand).
Em 1951, o período de produção comercial dos computadores foi inaugurado pela
Sperry-Rand (desde 1986 Unisys) (CASTELLS,1989:63), com o início da fabricação do
UNIVAC I, o primeiro computador eletrônico utilizado para efetuar o censo daquele ano,
composto de logiciais produzidos por transístor, memória de núcleos magnéticos e batch remoto.
O surgimento público do UNIVAC “foi um truque dos meios de comunicação” 3. O
UNIVAC foi emprestado a CBS para previsões das eleições de 1952, e a partir de 5 a 7% dos
votos apurados, projetou a vitória de D.Eisenhower, contrariando as expectativas dos
especialistas, com um erro mínimo estimado em 1% do total de votos (ROSZAK,1986:22-23).
A Sperry-Rand, em 1954, era a segunda maior empresa em vendas de computadores
digitais nos EUA (ver, Tabela 2), neste período a IBM era a quarta do “ranking”.
55
Tabela 2:
EUA, Produtores Líderes de Computadores Digitais
1954
Total de Vendas
Empresas
(em Milhões de Dólares) Mercados
RCA
941
Financeiro
Sperry Rand
696
Financeiro e Científico
Bendix Aviation
608
Científicos
IBM
461
Financeiro e Científico
NCR
259
Financeiro e Científico
Minneapolis-Honeywell
229
Financeiro e Científico
Raytheon Manufacturing
182
Financeiro e Científico
Burroughs
169
Financeiro e Científico
Underwood
76
Financeiro
Moroe Calculating Machine
30
Financeiro
a
Marchant Calc ulator
21
Financeiro
Electrodata
1
Financeiro e Científico
Fonte: Arthur D.Leite, Inc., with the White, Weld & Co. research department, The Electronic Data
Processing Industry: Present Equipament, Technological Trends, Potencial Market (New York:
White, Weld &Co, 1956) in FLAMM (1988:82).
a. Vendas efetuadas em 1953.
Mas, em 1955, quando os criadores do UNIVAC I, J. Presper Eckert e John W.
Mauchly, desapareceram, a hierarquia do “ranking” se alterou, a liderança do mercado de
computadores passou a ser dominada pela IBM que detinha mais de 70% do valor dos sistemas
em uso em todo mundo.
A hegemonia da IBM na produção de computadores foi obtida por duas razões:
primeiro, por ter efetuado pesados investimentos em pesquisa e desenvolvimento, para atender às
demandas estatais de concepção científico-computacionais de sistemas de defesa, fabricando
produtos militares como o “701 Defense Calculator”, ao contrário da sua rival, a Sperry Rand,
que preferiu continuar no mercado de aplicações financeiras; segundo, porque os produtores do
UNIVAC negligenciaram os investimentos requeridos em P&D em novos produtos para
poderem continuar preservando a liderança tecnológica.
A IBM continuou seus investimentos no mercado militar, e construiu o computador
valvulado o”Bomb-Nav”, este último produzido para atender às necessidades dos B-52
56
(FLAMM,1988:87) e, serem utilizados no sistema de defesa aéreo (SAGE) e para outros fins
militares.
Grande parcela dos produtores de tecnologia de informação, nos Estados Unidos, do
setor de informática, eram mantidos pela indústria militar. O aperfeiçoamento da indústria de
defesa, durante o pós-guerra, estabeleceu uma estrutura de produção e acumulação militar para
empresas de Alta-Tecnologia, que gozavam do privilégio da “estabilidade” sem a concorrência,
pois contavam com “investimentos seguros” custeados pelo Estado, e estavam menos suscetível
às oscilações de preço e mercado do que o restante das atividades civis competitivas.
Depois do sucesso comercial alcançado pela IBM e da ampliação do seu poder de
mercado, na década de 50, as transformações e as inovações na estrutura do Hardware fez surgir
a segunda geração de computadores.
57
2.3. A Mobilidade Territorial da Produção Industrial
dos Computadores nos EUA: O Surgimento
da Tecnologia dos Minicomputadores
A participação dos Laboratórios Bell, de Murray Hill em New Jersey, da American
Telephone & Telegraph-AT&T, ou AT&T-Bell, desde 1939, constituiu um fator de forte
influência no processo de construção de computadores, principalmente sob a “batuta” do
matemático americano George R. Stibitz. Foram estes Laboratórios que, através de seus
cientistas, conseguiram resolver o problema causado pelo consumo excessivo de energia e
queima das válvulas dos ENIACs, inventando o Transistor (Transfer Resistor ou “resistor de
transferência”) 4, em 1947.
Esta inovação foi um produto de pesados investimentos nas áreas de pesquisa e
desenvolvimento (FREEMAN,1982:92). Seu aperfeiçoamento só pode ser concretizado a partir
de uma base gigantesca de desenvolvimento obtida em grandes laboratórios, como os
Laboratórios Bell, que chegaram a empregar mais de 2.000 profissionais no final da década de
40 (DORFMAN, 1987:172).
Vinte e cinco por cento do orçamento das pesquisas em semicondutores, de 1949 a
1958, eram provenientes de contratos de defesa estabelecidos pelo governo federal
(FLAMM,1988:16; SCOTT & STORPER,1988a:31; PIRES,1992:71-72) 5.
O Transístor, assim como outros dispositivos úteis, tais como: o diodo semicondutor,
diodotúnel, etc., fazem uso de semicondutores de impurezas, que resultam da adição controlada
de certas impurezas a semicondutores intrínsecos (TRIPLER,1981:288).
Os Laboratórios Bell construíram, em 1950, o primeiro computador transistorizado,
chamado de LEPRECHAUN. Mas, só em 1960, a IBM lançou seus primeiros modelos
transistorizados de computadores 6.
58
A comercialização definitiva desta nova geração de computadores só se efetiva na prática
no final da década de 50 através da Sperry Univac, provando que nem sempre o tempo de
descoberta de uma invenção é o mesmo de sua inovação ou comercialização, ou mesmo de seu
reconhecimento, como foi o caso do prêmio Nobel dado aos inventores do Transístor em 1956,
quando a descoberta ocorrera em 1948.
A era do Transístor se iniciou em 1948, quando John Bardeen, Walter Brattain e William
Shockley, físicos do estado sólido, todos de Bell Telephone Laboratories, deram início a primeira
revolução
na
eletrônica
com
a
invenção
do
transístor
(PRESTOWITZ,1988:124;
TYLECOTE,1991:56). Mas só em 1956, estes três cientistas americanos receberam o Prêmio
Nobel de Física pelos seus trabalhos.
Em 1954, antes de receber o prêmio Nobel, Shockley deixa a AT&T’s Bell Laboratories
para comercializar sua invenção, depois da frustada iniciativa de estabelecer uma firma de
Transístor em Massachussetts.
Em 1956, William Shockley, que era de Palo Alto, Califórnia, foi indicado pelo professor
e empresário Frederick Terman, que fundou, em 1951, o Parque Industrial de Stanford
(CASTELLS,1989:44), para ser professor de Engenharia Elétrica da Universidade de Stanford.
Lá Shockley estabeleceu a Shockley Transistor Corporation (SAXENIAN,1994:25),
procurando atrair jovens e talentosos físicos, químicos e engenheiros, como foi o caso mais tarde
de Robert Noyce, doutor em física do estado sólido pelo MIT.
Como Shockley “não era um bom administrador de empresa”, dois anos depois, do
grupo de excelentes cientistas que possuía na sua empresa, oito, incluindo Robert Noyce e
Gordon Moore, resolveram implantar em 1957, com o apoio do banqueiro Arthur Rock e o
suporte da Fairchild Camera and Instrument Company de New York, o núcleo da Fairchild
Semiconductor
Company
(DORFMAN,1987:181;
SAXENIAN,1994:25;
PRESTOWITZ,1988:125).
A Fairchild ao introduzir inúmeros avanços tecnológicos tornou-se a mais importante
empresa de semicondutores dos EUA, mas os problemas de gestão reapareceram, e o antigo
59
grupo dos oito se dissolveu e um grande número de pesquisadores e executivos da Fairchild, se
reorganizaram e formaram várias outras empresas de semicondutores, como foram os casos da:
•
Rheem Semicondutor, formada em 1959;
•
Signetics e da Amelco (depois Teledyne Semiconductor), formadas em 1961;
•
Molectro (outra filial da Fairchild) dentro da National Semiconductor como o maior
competidor, formada em 1967;
•
Intel, formada por dois fundadores da Fairchild, em 1968;
•
Advanced Micro Devices, formada pelo gerente de marketing e mais sete empregados da
Fairchild em 1968.
A importância regional de Santa Clara Valley pode ser, em parte, creditada a Fairchild,
que foi o ancestral comum de 21 das 23 empresas de semicondutores da região, além dos
investimentos milionários do Pentágono para pesquisa eletrônica, na Universidade de Stanford,
que ajudaram a criar o Instituto de Pesquisa de Stanford (DICKEN,1992:328) e ajudaram a
criar, também, o Lawrence Livermore National Laboratory ligado a Universidade da Califórnia
(CASTELLS,1989:53).
Em 1980, as vendas de semicondutores das empresas americanas representavam 6
bilhões de dólares (DORFMAN,1987:127), sem considerar que a tecnologia dos
semicondutores se transformou em um quase-insumo tecnológico, do qual o desenvolvimento
industrial não pôde mais prescindir na produção de diferentes atividades comerciais,
principalmente eletro-eletrônicas.
A Universidade de Stanford, tendo conhecimento estratégico sobre a produção de AltaTecnologia, concedeu, desde 1951, a título de contrato de aluguel, terras para estas empresas,
com o objetivo de promover e criar o ambiente necessário para o desenvolvimento de tecnologias
inovativas na região.
A lógica territorial de implantação das indústrias de AT nos EUA (Semicondutores,
Biotecnologia, Computadores, etc. ), foi no início, de certo modo, ditada pela “magia” dos
grandes Laboratórios e Universidades do Nordeste e do Leste da região do Snowbelt, depois
60
passou a assumir um caráter estratégico de localização e foi transferido para o Sul 7, o Oeste e
para as regiões de deserto e do Sunbelt: Austin, Dallas-Fort Worth, Houston Phoenix, San
Diego, Santa Clara County, e outros centros (SCOTT,1988b:160), onde fortes investimentos
estatais de defesa começaram a se concentrar 8.
61
2.4. A Emergência Espacial do Silicon Valley na Califórnia
A flor da Alta-Tecnologia não emergiu apenas do acaso no “deserto” ou no “west”, ou da
imaginação dos historiadores.
Durante o período da guerra da Coréia, no pós guerra, uma ação estatal quase deliberada
e programada, com o apoio de um empreendedor individual Frederick Terman, cunhou de forma
quase intencional a semente da AT, nesta paisagem-berço, que mais tarde passou a ser chamado
de Silicon Valley 9 (MARKUSEN et al., 1986). Esta ação teve como fundamentos:
•
a segurança nacional;
•
o ambiente aprazível, a atmosfera cultural, a qualidade de vida e o bom clima da região
(CASTELLS,1989:52);
•
as possibilidades de exploração mercados de trabalho (ANGEL, 1991:1509) e criação de
relações sociais de trabalho interfronteiriças, onde existe forte presença de imigrantes ilegais
(SCOTT & STORPER, 1988c:41);
•
o melhor acondicionamento do futuro parque industrial, longe dos grandes centros e dos
sindicatos (DAVIS,1986:194) 10;
•
a proximidade de centros Universitários e laboratórios de excelência;
•
a disponibilidade de novos materiais e a necessidade de realização dos testes para a
aprovação de dispositivos bélicos, principalmente de defesa (SAXENIAN,1994:11-27).
Esta lógica da reestruturação territorial das atividades industriais de AT, promoveu
estrategicamente nos EUA, desde a década de 50, em parte, a gênese dos processos de
desindustrialização (BLUESTONE & HARRISON,1982:30; SOJA,1994:159)
11
e da
reindustrialização seletiva e verticalizada, que originou o Silicon Valley 12, Orange Valley e as
novas cidades informacionais (CASTELLS,1989), também denominadas saudosamente de pósindustriais por Daniel Bell.
62
Em 1970, o Silicon Valley, antiga Meca da AT, tinha se expandido com mais de 1.500
firmas não sindicalizadas e 200.000 trabalhadores sem o mínimo de organização sindical
(DAVIS,1986:130), tornando-se o maior centro nacional de AT dos EUA e o mais dinâmico
setor da economia regional na produção de inovações em semicondutores, superando a produção
da região berço-mater da AT, a Route 128 (SAXENIAN,1994:25).
O processo de territorialização das indústrias de computadores e das indústrias de
semicondutores, obedece às características diferenciadas e peculiares de cada setor industrial, já
que as indústrias de computadores são maiores e mais diversificadas que as indústrias de
semicondutores. Estas características, influenciam o processo de implantação e mobilidade
territorial dessas indústrias, a mobilidade das indústrias de computadores é, relativamente, menos
expressiva do que as indústrias de semicondutores (CASTELLS,1989:57).
63
2.5. A Era do Silício nos Computadores e a Produção
dos Circuitos Integrados
A expressão “Era do Silício” se refere ao período da utilização do Circuito Monolítico ou
o Circuito Integrado--CI (WOLFF,1977:44), que permitiu reunir numa única pastilha de silício
mais de 450.000 componentes: transístores, diodos, capacitores, registores e indutores, criado
por Jack Kilby e Robert Noyce, ambos da Texas Instruments-TI, com alguns impasses técnicos,
em 1958. Surge, destas inovações tecnológicas, a terceira geração de computadores que
inaugura esta era e o começo da segunda revolução na eletrônica.
A redução dos componentes de um computador numa minúscula pastilha estimulou
pesquisas que procuravam, cada vez mais, diminuir o tamanho desses componentes, através do
processo de miniaturização.
Os computadores desta geração eram mais rápidos e tinham uma capacidade maior de
estocar dados. Esta geração de computadores difundiu os usos de acessórios ou periféricos
acoplados (modem, acionadores de discos e acionadores magnéticos) e de linguagens de
programação (Cobol, Fortran, Basic, APL, Pilot, Pascal, etc. ).
A tecnologia desta geração permitiu o uso compartilhado de um mesmo computador por
mais de uma pessoa, através da introdução de sistemas de múltiplos usuários (BITTER,1984:55).
Uso inicial desta tecnologia esteve direcionado para atividades de caráter geopolítico dos
programas espaciais de defesa da NASA. Neste período, segundo um comitê do congresso,
85% das pesquisas e desenvolvimento americanas em eletrônica foram financiadas pelo governo
federal (FLAMM,1988:16); estes investimentos são explicados pela conexão da Califórnia com
os mercados militares (CASTELLS,1989:54).
Durante quase uma década o circuito integrado teve seu uso restrito ao departamento de
defesa, já que em 1960, um ano depois de sua descoberta, a Força Aérea dos EUA garantiu a
Texas Instruments um contrato para construir o primeiro computador que utilizaria o CI, que só
64
ficou pronto em 1961. A Força Aérea havia decidido que utilizariam o CI no míssil Minuteman II
e, em 1965, o CI era o quinto produto em vendas na indústria de Alta-Tecnologia
(FLAMM,1988:18).
Por isso, só depois da segunda metade da década de 60, depois do aprimoramento na
produção de Circuitos Integrados e redução dos custos de produção, a Texas Instruments
diversificou e difundiu a sua produção comercial, tornando-se um dos maiores produtores
mundiais de calculadoras manuais e computadores (CASTELLS,1989:46).
É neste período de desenvolvimento dos circuitos integrados que novos competidores
começam a emergir, foram eles Burroughs, National Cash Register (NCR), Digital Equipament
Corporation (DEC), Hewlett-Packart e a Honeywell, que produziram computadores de médio e
largo porte, velozes, resistentes e de baixo custo (BITTER,1984:57).
65
2.6. A Era dos Chips e dos Microcomputadores
Duas décadas depois da Era do Silício, mais exatamente em 1971, Marcian E. Hoff, Jr.
(Ted Hoff) da Intel Corporations 13, inventou o microprocessador (Chip), que consistiu em reunir
numa micropastilha de silício um computador inteiro com vários Circuitos Integrados, mais a
Unidade Central de Processamento - CPU, e milhares de transístores.
Foi dessas inovações que surgiu a quarta geração de computadores, cuja característica
central era a presença de circuitos integrados de larga escala de integração (LSI). Esta geração
dos microcomputadores, embora tenha sido usada no início para atividades de baixa aplicação,
como simples calculadoras (FLAMM,1988:237), inaugurou a era dos Chips e o começo da
terceira revolução na eletrônica e, praticamente, revolucionou as aplicações da microeletrônica na
sociedade global 14.
O microcomputador criado pela Intel resultou de inesperadas (casuais) descobertas a
partir de um pedido, efetuado por uma empresa Japonesa de calculadoras, a Busicom, para a
criação de chips de calculadoras de diferentes design; mais tarde, a Intel concebeu o design de
um chip programável por um software. Em 1971, depois de observar o extraordinário valor da
tecnologia que havia criado com a Busicom, a Intel procurou renegociar o contrato e reter os
direitos de compra e venda (Marketing) para produzir o primeiro microcomputador
(DORFMAN,1987:196).
No final da década de 70 e início dos anos 80, esta geração, através da redução dos
custos de produtos e do surgimentos de algumas inovações no processo de miniaturização de
componentes, na capacidade de retenção de memória dos microprocessadores (4bits, 8bits, 16
bits, 32bits, etc.) foi responsável pelo surgimento do computador pessoal (PC) e pelo seu
sucesso comercial em massa, que ocorreu a partir da segunda metade da década de 80.
66
A primeira empresa a produzir um computador em um Chip foi a Texas Instruments, que
patenteou o seu invento e procurou comercializá-lo para usos em: instrumentos musicais,
brinquedos, copiadoras, calculadoras, vídeo-games (DORFMAN,1987:197).
Em 1980, a IBM introduziu o IBM 3081, duas vezes mais veloz que os seus modelos
anteriores, trabalhando com um sistema chamado de “very-large scale integrated circuits
(VLSI)” (BITTER,1984:59).
As primeiras empresas a comercializarem microcomputadores, com tecnologia VLSI,
depois da Texas Instruments e da IBM, foram: Apple, Commodore, Radio Shack, Atari, Pet,
Osborne, Timex/Sinclair.
A capacidade dos computadores cresceram, os custos caíram e os computadores se
difundiram entre os países, no cotidiano da sociedade, através dos bancos, repartições e
instituições públicas, escritórios, laboratórios, instituições de pesquisas, empresas aéreas, agências
de turismo, lazer, clubes, hospitais, pequenos negócios, escolas, universidades, bibliotecas,
supermercados, carros, residências, máquinas e através das redes mundiais de comunicação por
satélites. A introdução na vida cotidiano transformou radicalmente a sociedade industrial e tende a
fazer surgir, como anteviu Daniel Bells, uma nova sociedade pós-industrial ou da informação.
67
2.7. A Era dos Chips no Brasil
No Brasil, como em vários outros NPIs, a obtenção da AT constituiu uma verdadeira
“luta ideológica e política” (ADLER,1986). O enredo desta “estória” foi objeto de inúmeras
pesquisas e publicações.
O crescimento e a evolução da indústria de computadores no Brasil e em alguns NPIs, no
final da década dos anos 70 e nos anos 80, provenientes da adoção de políticas de substituição
de importação e embargo comercial aos grandes produtores de computadores, revelaram-se
como um surpreendente processo de ruptura histórica do quadro da produção mundial
oligopolizada mantido pelas Corporações Multinacionais -- CMs (ERNST, 1989).
A constituição e a localização da produção industrial de chips e componentes para
computadores no Brasil, apresenta um componente geográfico distinto do observado nos EUA.
Enquanto nos EUA a produção de componentes e semicondutores nasce articulada aos grandes
laboratórios da região norte e nordeste e se desenvolve, em função do mercado de trabalho
(ANGEL, 1991:1509) e das demandas estatais do Departamento de Defesa, nas cidades do Sul
e do Oeste (Sunbelt). No Brasil, no final dos anos 70 e início dos anos 80, a carência de uma
capacitação tecnológica nas atividades que estavam articuladas a indústria de computadores
(TIGRE, 1985:128), praticamente influenciou a constituição do processo de concentração da
produção de AT nos grandes centros metropolitanos (São Paulo e Rio de Janeiro) e impediu a
descentralização das atividades de produção, no território.
Esse processo de concentração tendeu a contrariar as iniciativas de descentralização
industrial desenvolvidas pelo governo federal, principalmente em São Paulo. Mesmo com o
crescimento verificado de 1970 a 1980 (de 7% para 21,6%) das indústrias de telecomunicações,
microeletrônica e componentes, em Campinas (NEGRI, 1988:24). Isso porque, a grande maioria
destas indústrias estavam mais vinculadas ao segmento profissional de eletroeletrônica comercial
68
do que de Alta-Tecnologia. No Rio de Janeiro, na região metropolitana, as iniciativas de
descentralização e suburbanização das atividades industriais vinculadas a setor de informática,
foram inicialmente bem sucedidas, a criação da empresa estatal de computadores, a Cobra, em
Jacarepaguá, foi um passo decisivo neste sentido.
Diante do contexto histórico acima evidenciado, emergem duas grandes questões:
1. Como estes países, que não possuem os elevados estágios de concepção técnica e de
engenharia, romperam com a tradicional divisão internacional entre produtores e
consumidores de AT, e conseguiram reconstituir territorialmente em seus laboratórios — com
a exígua disponibilidade de recursos, investimentos e capitais — o processo de produção e
criação de AT, principalmente com a resistência das grandes empresas no processo de
concessão e licenciamento de tecnologia?
2. Como estes países conseguiram romper com as dificuldades colocadas pelo estabelecimento
do direito internacional de patente e de proteção de criação do intelectual de software e
tecnologia, que vem privando muitos desses países do acesso de tecnologia, informação e
condições científicas para o desenvolvimento de inovações e da competitividade de suas
indústrias na economia global capitalista?
Para responder estas questões e desvendar a natureza deste processo de ruptura, é
preciso elucidar os componentes de natureza econômica e políticos-territoriais que favoreceram e
promoveram o surgimento da indústria de informática no Brasil, a partir do:
•
desenvolvimento de um sistema de cooperação industrial e financeiro;
•
surgimento de instituições Estatais de regulação das atividades no território;
•
estabelecimento de uma política industrial para o setor de informática e a regulamentação da
Lei de Informática, que decretou a reserva territorial do mercado, para os segmentos de mini
e microcomputação.
69
NOTAS
1. Segundo Gary G.BITTER (1984:27) Computers in Today’s World:
“Blaise Pascal, filho de Coletor de Taxa Francês, desenvolveu uma máquina mecânica para fazer
operações aritméticas em 1642. Os números de 0 a 9 eram marcados sobre uma pequena roda, que
era conectada por engrenagens. No fim de um completo giro da roda, um dente da engrenagem se
conectaria com a engrenagem do próximo disco, movendo-o à frente um décimo de uma volta e
deste modo desempenhando a adição. A reversão da volta permitiu-o fazer a subtração.
Impressionante para o seu tempo, a máquina chamada de Pascalina é olhada agora como totalmente
primitiva. Entretanto, ela foi a primeira calculadora do mundo como também a base para muitas
outras invenções como, por exemplo, o contador de quilometragem do automóvel e dos medidores
de gás e de eletricidade.”
2. Albert BRESSAND & Catherine DISTLER (1989:15 e 42) em seus livro O Mundo de Amanhã; ou BRITO,P.
(1983:24-31 e 79), no seu artigo: O Computador Sem Mistério.
Segundo Theodore ROSZAK, p.22, In O Culto à Informação:
“A palavra computador entrou para o vocabulário do público na década de 50, quando os modelos
de aparelhos mais avançados eram ainda dinossauros mecânicos do tamanho de um quarto que
consumiam suficiente eletricidade para apresentar um sério problema de refrigeração.”
3. Segundo ainda Theodore ROSZAK, pp.22-24, In O Culto à Informação:
“... o surgimento público do UNIVAC foi um truque dos meios de comunicação. A máquina foi
emprestada à rede de televisão CBS para previsões dos resultados das eleições de 1952. Este
gigantesco e ruidoso animal (continha 5 mil válvulas, mas utilizava um novo sistema de tape
magnético compacto, ao invés dos cartões perfurados para armazenamento de dados) foi
programado para analisar as estatísticas da votação para a CBS em distritos-chave, comparando-os
com os primeiros resultados da noite da eleição. Desta forma, o UNIVAC fornecia uma projeção que
rapidamente poderia efetuar os cálculos que indicariam o candidato de vitória mais provável.
... Esta foi uma demonstração impressionante daquilo que um processador avançado de dados
poderia fazer, tão impressionante que durante algum tempo a marca UNIVAC ameaçou substituir a
palavra genérica computador.”
4. O Transís tor consiste na constituição de agregados de materiais capazes de produzir a semicondutividade
(trata-se dos cristais de germânio, silício e do flúor borato de gálio). O Transístor resulta da dopagem ou
encrustamento do fósforo (semicondutor de elétrons) mais o boro (semicondutor de buraco) no silício
(semicondutor intrínseco). O objetivo era formar um semicondutor extrínseco com a dopagem do fósforo mais o
boro no silício. Como este último é um cristal de alta condutividade e exige elevada quantidade de temperatura
para se tornar um semicondutor, com o encrustamento de “sandwich” do fósforo e do boro em uma pastilha de
silício, foi criado o semicondutor de impurezas que exige menor quantidade de temperatura e produz a
amplificação da corrente elétrica em estado sólido. Ver TRIPLER,P.A. (1981) A Física dos Materiais.
5. É a Rosa LUXEMBURGO (1985:311-320) que coube o legado e a iniciativa pioneira de aprofundar e examinar
o inter-relacionamento existente entre técnica e militarismo, em: A Acumulação do Capital, Cap.XXXII: O
Militarismo como Domínio da Acumulação do Capital. No meu artigo, PIRES,H.F (1992:57-89), As
Metamorfoses Tecnológicas do Capitalismo no Período Atual, procurei rediscutir este tema, já vastamente
estudado, sobre a íntima relação existente entre as mais importantes descobertas da ciência contemporânea e
os avanços das técnicas de produção militar.
6. Neste período, no Brasil, a prefeitura do Recife introduziu esta tecnologia da IBM, durante as gestões de
Arthur Lima Cavalcanti e Augusto Lucena, implantando computadores com lógica transistorizada para as
70
atividades financeiras e administrativas desta municipalidade (PIRES,1988:42). O que representou um
pionerismo em relação às prefeituras das outras grandes cidades do Brasil.
7. Segundo CASTELLS (1989:53): “O MIT recebeu muito dos grandes contratos militares, e durante a 2a Guerra
Mundial teve um papel muito mais importante que a Stanford.” Mas, segundo ainda ele, talvez merecesse ser
considerado a mobilidade das indústrias de Semicondutores do Leste para o Oeste, como elemento histórico
explicativo de constituição de vantagens para o crescimento, no Silicon Valley, de indústrias mais orientadas
para a produção militar que para pesquisa militar, como no MIT.
8. Segundo DAVIS,M. (1986:195), Prisoners of The American Dream, houve uma grande transferência dos
investimentos do setor militar para a região do Sunbelt, como pode ser visto no Quadro IV sobre os Recursos
Militares Transferidos para o Sunbelt:
Quadro IV:
Transferência de Investimentos Militares para o Sunbelt
(a) % de contratos primários
1951
1976
Áreas Centrais
73%
44%
Sunbelt
27
56%
(b) % alterações nos contratos
1951-76
primários*
Nordeste
-29.5
Centro Norte
-45.8
Sul
+109.0
Oeste
+ 32.1
Fonte: DAVIS, M. (1986:195).
*Obs: Concedidos para mudanças de populações
9. Segundo SAXENIAN,A. (1994:178), Regional Advantage, a expressão Silicon Valley foi cunhada pelo
jornalista Don C. HOEFLER, quando ele se referia ao condado de Santa Clara e a atividade de Alta-Tecnologia
que era desenvolvida pelos condados de San Mateo, Alameda e Santa Cruz.
10. Segundo DAVIS (1986:130), baseando-se no San José Mercury News, November 5, 1985, 4C:
“O Silicon Valley, claro, é também um caso extremo de uma tendência emergente em direção a uma
estrutura polarizada entre os profissionais altamente bem pagos e os trabalhadores de produção de
baixa remuneração. Enquanto um engenheiro elétrico freqüentemente recebe acima de US$ 80,000,
os trabalhadores de linha de montagem nas indústrias de semicondutores (75% mulheres e 61%
minorias) iniciam ganhando US$ 5.22 por hora, aumentando nos postos mais altos para US$ 8.82.
Portanto, a grande maioria do circuitos impressos e componentes de companhias são de “Oldfashioned sweatshops” (ou locais onde trabalhadores são forçados a trabalhar por baixos salários e
em péssimas condições de vida, ultrapassados), pagando um salário mínimo de US$3.35,
escondendo trabalhadores sem carteira assinada ou refugiados do Sudeste Asiático.”
11. Segundo BLU ESTONE & HARRISON (1982:30), a mobilidade territorial do capital nos EUA, que
desencadeou o processo de desindustrialização, teve forte impactos regionais na criação e na destruição de
empregos e indústrias, conforme revela a Tabela 3:
71
Tabela 3
Empregos Criados e Destruídos Resultantes da Abertura, Fechamento, Relocalização,
Expansão e Contração de Empresas Privadas Estabelecidas nos EUA: 1969-76 (por mil empregos)
Mudanças
1969-76
Empregos Criados
Regiões
Número de
Empregos
em 1969
Por Abertura
e Imigração
Expansão
no
Emprego:
Empregos Destruídos
Por
Fechamento
e Êxodo
22302.3
Alterações de
Empregos
Consideradas
Contrações
57936.1
25281.3
19056.1
13183.2
EUA com um Todo
32701.2
11321.5
9470.4
11351.7
7212.1
Frostbelt
15824.6
4940.4
4347.5
5881.5
3589.0
Nordeste
3905.3
1251.2
1131.0
1437.2
952.1
Nova Inglaterra
11919.3
3689.2
3216.5
4444.3
2636.9
Meio-Atlântico
16876.6
6381.1
5123.0
5470.2
3623.2
Meio-Oeste
12563.6
4670.6
3581.8
3962.6
2651.7
East North Central
4313.0
1710.6
1541.2
1507.6
971.5
West North Central
25234.9
13959.8
9585.7
10950.5
5971.0
Sunbelt
16044.5
8934.2
5964.6
6824.3
3803.3
Sul
8204.1
4651.2
2913.0
3547.9
2014.2
Atlântico Sul
3065.2
1518.2
1089.9
1211.0
631.9
East South Central
4775.2
2764.8
1961.7
2065.4
1157.2
West South Central
9190.4
5025.6
3621.1
4126.2
2167.8
Oeste
1941.9
1226.1
953.6
977.9
481.0
Montanha
7248.5
3799.6
2667.6
3148.3
1686.8
Pacífico
Fonte: David L. BIRCH, The Job Generation Process (Cambridge, Mass. : M.I.T. Program on
Neighborhood and Regional Change, 1979), In: BLUESTONE & HARRISON (1982:30).
8851.9
2228.1
-182.6
-7.1
-175.5
2410.7
1638.1
772.7
6624.0
4271.2
2002.1
765.2
1503.9
2352.7
720.8
1632.1
12. Mas foi AnnaLee SAXENIAN, The Genesis of Silicon Valley, In: HALL, P. & MARKUSEN, A.(1985)
Silicon Landscape; que através deste artigo efetuou o resgate histórico da constituição do Silicon Valley,
procurando revelar como este se tornou um fenômeno contemporâneo de expressão internacional, analisando
as condições e conjunturas em que as empresas de Alta-Tecnologia lá se instalaram e como estas foram
incentivadas a se desenvolverem, além de evidenciar quais foram os efeitos desencadeados pela expansão
dessas indústrias nesta região. Para Ann MARKUSEN et al. (1986) in High Tech America, a compreensão da
gênese do Silicon Valley, abordado por Saxenian, é um resultado do:
“..papel crucial colocado pela justaposição de uma instituição (Stanford University), um
empreendedor individual (professor Frederick Terman) e uma demanda historicamente determinada
(pelo Pentágono, no período da Guerra Fria e da Coréia).”
13. Empresa fundada por Robert Noyce em 1968, segundo Clyde V. PRESTOWITZ, Trading Places, (1989:127).
14. Segundo TIGRE, P.B. (1983:04) Computadores Brasileiros: os desafios da crise, o uso de LSI para
fabricação de microcomputadores teve uma influência no surgimento de novos fabricantes de micros:
“ Já que os circuitos integrados de larga escala de integração (LSI) podiam ser adquiridos de
fabricantes independentes, novas pequenas empresas com equipes técnicas engenhosas,
alcançaram um imenso sucesso no desenvolvimentos de produtos que incorporavam a nova
tecnologia. Um exemplo ilustrativo é a empresa Apple Computer Inc. A empresa foi fundada em
meados dos anos 70 na garagem de um de seus jovens fundadores. Em apenas sete anos a Apple se
transformou em uma das líderes do mercado mundial de microcomputadores com vendas superiores
a US$ 400 milhões em 1982. Até fins de 1983 a Apple deverá ter vendido mais de um milhão de
microcomputadores em todo mundo.”
72
Capítulo 3
Capítulo: 3
Formas e Fases de Modernização e
Reestruturação Industrial no Brasil
3.1. Os Fatores Desencadeadores das
Formas e Fases de Modernização no Brasil
O
processo de modernização burguesa, que inaugura a
aceleração do crescimento e do aprofundamento da acumulação capitalista competitiva no Brasil,
se instaura a partir de meados dos anos 30 (FERNANDES,1975:216-217). Para efetuar a
análise de sua evolução optou-se pelos seguintes referencias teóricos:
•
a Teoria dos Ciclos Longos (KONDRATIEFF,1944; MANDEL,1990; SCHUMPETER,
1930;
FREEMAN,1982;
PEREZ,1985;
GOLDSTEIN,1988;
TYLECOTE,1991;
KOTZ,1987) que fornece uma importante contribuição, do ponto de vista macro-econômico,
para a investigação dos estilos tecnológicos e da evolução dos Ciclos Médios ou Juglares
(RANGEL,1986a,1987; BRESSER PEREIRA, 1986) e suas fases, A-ascendente e Bdescendente, no Brasil;
•
a Teoria da Regulação (AGLIETTA,1982,1987; LIPIETZ,1985,1989; BOYER,1990;
BRENNER & GLINK,1991; DUNFORD,1990; POSSAS,1988; NASCIMENTO,1993;
JESSOP, 1990b), que fornece um instrumental teórico que possibilitou a interpretação da
constituição dos pólos hegemônicos (grupos dominantes) e a reconstituição da organização
do trabalho e dos regimes de acumulação no Brasil (PIRES,1992:58-59).
Estas teorias já foram objeto de amplo debate científico, por isso não será necessária uma
explanação sobre elas neste trabalho, tarefa esta que fugiria da proposta desta pesquisa.
74
Partindo deste referencial teórico, pode-se identificar três grandes períodos (Ciclos
Longos) de modificações do padrão tecnológico da produção capitalista global: Boom/A 1940/73; Crise/B -1974/87; e Crash Mundial -1988/93, que ilustram e exerceram forte influência
conjuntural no desenvolvimento dos quatro grandes períodos (Ciclos Breves) que correspondem
as quatro (4) formas e fases de modernização (FERNANDES,1975:281) da base territorial da
estrutura de acumulação capitalista no Brasil: 1a Forma: 1935-54; 2a Forma: 1955-66; 3a Forma:
1967-85; e 4a Forma:1986-93.
Mas,
além
dos
Ciclos
Longos
ou
Padrões
de
Acumulação
(BRESSER
PEREIRA,1986:185), dos Ciclos Breves e da Teoria da Regulação as formas de modernização
da estrutura de acumulação do capitalismo no Brasil podem ser explicadas, também, pelo setor
coordenador do estilo tecnológico; pela organização do trabalho e pelos pólos políticos
hegemônicos.
Todos estes processos desencadeadores das formas e fases de modernização da
estrutura de acumulação do capitalismo no Brasil, que compreende o período de 1935 a 1993,
estão articuladas no Quadro V abaixo e, cada ciclo breve, em concatenação com os outros
processos, será detalhado nos itens à frente:
75
Quadro V:
Ciclos ou Padrões de Acumulação, Formas e Fases de Modernização,
Organização do Trabalho e Pólos Políticos Hegemônicos no Brasil
1935-1993
CICLOS
CICLOS
TIPOS OU FORMAS
SETOR COORDENAÇÃO DO ORGANIZAÇÃO
LONGOS
BREVES
MODERNIZAÇÃO
ESTILO TECNOLÓGICO
Anos
Anos
1940/73
1935/50
BOOM/A
Juglar/A
Boom
1951/54
1 a Forma
Regime
Acumulação
Moderada Departamento I: Pré-industrial Pré-Capitalista
Substituição
ou
Restringida
Importação:
Estado Novo, “Era
Juglar/A
Boom
1974/87
de Departamento II: Industrial:
de Importações:
JK:P.Metas,Brasília
Indústrias Intermediárias
2 a Forma
Substituição Acelerada
Indústria Bens de Consumo
1961/66
Ditadura Militar
Juglar/B
1967/73
3 a Forma
Substituição Intensiva ouDepartamento I: Bens
Capital,
Pesada de Importações: Indústria Pesada e Atividades
Juglar/A
Boom
1974/85
e Pré-taylorismo
Capitalista
Competitiva
(Manufaturados);Industrializaç e Taylorismo
ão sem Reforma Agrária
Taylorismo e
Indústrias
Leves
e
de Pré-fordismo
Construção
Civil, Transporte Ferroviário
Juglar/B Crise Vargas”, Populismo
1955/60
DO TRABALHO
Setor e Estilo
PÓLO
POLÍTICO
HEGEMÔNICO
de Grupo
“Dominante”
Capital Mercantil
Interno/aliança
com o Capital
Industrial Externo
Capitalista
Capital. Industrial
Monopolista
e
Fordismo Interno/aliança
Sanguinário
ou Periférico
com o Capital
de
Financeiro
Externo
Abertura Política
Intensivas
de
Exportação,Reserva
CRISE/B
Juglar/B
Nova República
de Mercado e Oligopolização Fordismo Periférico
Confinada
2o
1986/88
4 a Forma
Capitalista Financeira Capital
“CRASH”
e
Financeiro
MUNDIAL Bolha de
Esgotamento dos.
Departamento I Moderno:
Produção Flexível:
Interno mais
1988/94
Crescimento Modelos de Substituição Privatização dos Serviços de CCQ,Just-inCapital
Financeiro
Reestruturaçã
de Importação,
Utilidade Pública, Crescimento Time, Automação
Externo
o
Global
1989/93
Reestruturação Industrial dos
Setores
de
Energia de Desing, etc.
e
Elétrica,
Juglar/B Crise Inserção Competitiva Telecomunicações
e
Informática
(Recessão) da Indústria Brasileira
Fonte: PIRES, 1994:347.
76
3.2. Modernização e Substituição Moderada
ou Restringida de Importações (1935-1954)
A formulação e a constituição dessa primeira forma de modernização guardam uma
relação histórica com o território que tem haver com a idéia de Projeto Nacional, política de
desenvolvimento (econômico ou industrial) ou com as aspirações da sociedade nacional, levada a
termo no período da Ditadura do Estado Novo ou da “Era Vargas”. Mas, também, possui uma
relação com o tipo de configuração global do Capitalismo, no período pós-depressivo (1929/32).
No Brasil, o período pós-depressivo foi marcado por dois ciclos quase decenais ou
juglares (RANGEL,1986a:21,1987:51), o primeiro de 1935/50 representou um ciclo breve
ascendente (A), e o segundo, de 1951/54, representou um ciclo breve descendente (B), ambos
os
ciclos
A
e
B
corresponderam
ao
período
de
industrialização
restringida
(TAVARES,1985:103). Estes ciclos ou padrões de acumulação exerceram influências sobre a
constituição das políticas de modernização que foram adotadas pelo Estado Nacional. No final
do primeiro ciclo breve (1948/50), o crescimento médio da indústria era de 13,9%, contra 7,4%
do primeiro ciclo breve da década de 50 (1951/54). A partir dos dados das taxas anuais de
crescimento do: Produto Nacional Bruto -- PNB Real, Setor Agrícola, Setor Industrial e Inflação
(NUNES,1990:235, RANGEL,1986a:51; SERRA,1984:58), pode-se fazer um estudo do
crescimento médio destes setores, como mostra o Gráfico 1.
77
Gráfico 1
Brasil: Taxa Anual de Crescimento
1948-1951
15
12
9
6
3
0
%
Import
Export
1948
Industria
1949
1950
PNB Real
o
Fontes: De 1948 a 1950: FGV, Conjuntura Econômica,Vol. 25, N 9, 1971.
SERRA, 1982:61.
A modernização, desencadeada nesta fase, responsável pela implantação do processo de
industrialização do Brasil, via substituição das importações, ocorreu sem a reforma agrária, e sem
mudanças nas relações de propriedade do campo ou na estrutura de produção rural, mas
provocou uma série de modificações institucionais de regulação do trabalho; como a criação do
Ministério do Trabalho, e a institucionalização do salário mínimo, que constituíram estratégias de
homogeneização dos níveis de salários.
Este “Projeto Nacional” foi mediado pelo Estado Nacional (FERNANDES,1975:217),
que representava a expressão histórica de uma combinação das forças sociais no território
(IANNI,1993). Neste período, esta mediação foi o produto de uma clivagem de forças, ou
constituição de um pólo hegemônico, entre representantes dos segmentos do capital mercantil
78
(fazendeiros e latifundiários do setor cafeeiro) com o capital industrial interno (burguesia industrial
nascente) e externo (a grande indústria internacional emergente).
O impulso da substituição das importações empreendido pelo Estado, reverteu o cenário
de crise interna (reversão da crise), permitindo um crescimento superior a 50% do PNB na
década de 30 e o crescimento, incipiente, do mercado interno.
A industrialização brasileira começou pela implantação das indústrias de bens de consumo
duráveis
(Departamento
II),
de
capital
intensivo
e
poupadora
de
mão-de-obra
(RANGEL,1986a:22-23). Os setores industriais que mais cresceram foram: cimento, siderúrgico,
metalúrgico, papel, material elétrico (NUNES,1990:171) e, posteriormente, petroquímico.
Este impulso não foi suficiente ou capaz de criar um forte setor de bens de capital, mas foi
suficiente para formar o embrião do capital bancário brasileiro. O Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico, criado em 1952, teve um papel fundamental na constituição das
indústrias emergentes, porque ajudou a implantar um forte setor de bens manufaturados e de
consumo, e iniciou a exploração do petróleo, via Petrobrás inaugurada em 1954.
A fisionomia ou paisagem da modernização, moldada pelo Projeto Político da Sociedade
Nacional, sob a mediação do Estado Nacional, foi um resultado da integração do território, via
implantação de uma malha rodoviária de integração do mercado interno e do processo de
industrialização.
As mudanças impretadas na produção agrícola, a partir da política de proteção do café,
culminou com o crescimento do setor agro-exportador, e, posteriormente, no período de
recessão interna (1951/54), acirrou as contradições das relações de trabalho no campo e
estimulou a constituição de uma mobilidade social do trabalho para a cidade, pois as “relações de
produção herdadas do passado não se conciliavam com o desenvolvimento das forças
produtivas” (RANGEL, 1988:23-25). O final da Era Vargas foi bastante conturbado, repleto de
lutas sociais e trabalhistas (NUNES, 1990:184).
79
3.3. Modernização e Substituição
Acelerada de Importações (1955-1966)
Esta fase foi marcada por dois ciclos breves, o primeiro de 1955/60, ascendente (A) ou
“expansionista” (SERRA,1984:72), o segundo de 1961/66, descendente (B). Ela pode ser
caracterizada como uma continuação do período anterior de crescimento para dentro, persistindo
o esforço de manter a política de crescimento interno através da substituição acelerada das
importações. Enquanto no ciclo recessivo endógeno anterior (1951/54), o setor industrial teve um
crescimento médio de 7,2%, no segundo ciclo breve da década de 50 (1955/60), o crescimento
médio do setor industrial foi de 10,15%, como pode ser visualizado nos Gráficos 2 e 3:
Gráfico 2
Brasil: Taxa Anual de Crescimento
1951-1954
18
15
12
9
%
6
3
0
Import
Export
1951
Industria
1952
1953
PNB Real
1954
Fontes: De 1951 a 1954: FGV, Conjuntura Econômica,Vol. 25, N o 9, 1971.
SERRA, 1982:61.
80
Internamente no Brasil, durante o segundo Juglar da década de 50 (1955/60), ocorreram
a elevação da produção industrial e um ajuste incremental da estrutura tecnológica herdada do
ante-guerra. Os setores de comunicação ou telecomunicação (DIAS,1986:32), material elétrico
pesado (SERRA,1984:75) e transporte cresceram, este último com concentrados investimento no
setor automobilístico (BRESSER PEREIRA, 1982:48), conforme pode ser observado, também,
no Gráfico 3.
Gráfico 3
Brasil: Taxa Anual de Crescimento
1955-1960
Transp/Comun.
18
Import
15
12
%
Export
9
6
Industria
3
0
1955
PNB Real
1956
1957
1958
1959
1960
o
Fontes: De 1955 a 1960: FGV, Conjuntura Econômica,Vol. 25, N 9, 1971.
SERRA, 1982:61.
No início do processo da industrialização, a capacidade de importação de bens de
capital, no Brasil, era uma resultante do volume geral de crescimento das exportações,
conseqüentemente, do total de divisas geradas por estas exportações. Quando as exportações se
81
retraiam, a importação de bens de capital ficava, em parte, comprometida. Mas, na segunda
metade dos anos 50, esta configuração foi relativamente alterada pela estratégia de modernização
empreendida no governo Juscelino Kubitschek, que fez uma opção pelo crescimento através:
•
da política de desvalorização contínua do cruzeiro e da ampliação dos setores exportadores;
•
do desenvolvimento de políticas protecionistas e de embargo comercial via substituição de
importações;
•
do estímulo à produção de produtos essenciais (matérias primas, produtos intermediários,
peças e componentes, bens finais);
•
do crédito e do subsídio para a aquisição de bens de capital, a baixo custo, para o setor
industrial;
•
do repasse do excedente gerado pelos setores exportadores para o setor industrial, o que
representou o fortalecimento do pólo hegemônico liderado pelos representantes nacionais do
Latifúndio e da Burguesia Industrial emergente e, no lado externo, pelos representantes das
Industriais Globais em expansão;
•
da pressão nos preços de produtos produzidos para abastecer o mercado interno (via
inflação), apesar dos preços externos diminuírem;
•
da ampliação da participação das indústrias globais na economia;
•
do processo de endividamento econômico (SERRA,1984:78).
Nesta fase ascendente do segundo Juglar da década de 50, o governo JK modificou a
configuração geopolítica do poder Estatal, ao construir a nova capital administrativa de Brasília,
que deu um grande impulso no setor de construção civil, e implementou uma política
desenvolvimentista, através do Plano de Metas, que fortaleceu ainda mais o setor de bens de
consumo duráveis (SERRA,1984:75) 1 , a indústria automobilística e leves (RANGEL,1986a:12),
em detrimento do transporte de massa baseado no metrô. Como ocorreu em São Paulo, em
1957, quando o prefeito resolveu desistir da construção do metrô de São Paulo
82
(SOMEKH,1987:87). Estas políticas inauguram os mecanismo de montagem do sistema do
fordismo periférico brasileiro (LIPIETZ,1985)
2
, e da indústria de bens de consumo
intermediário, que impulsionou horizontalmente o crescimento econômico. O crescimento geral da
economia foi estabelecido a partir dos maciços investimentos em diferentes setores produtivos,
financiado pelo processo de endividamento Estatal.
Passado o período de gigantismo e concluída a fase dos investimentos capitalista, iniciouse um novo ciclo médio inflacionário, Juglar B (1961/66), e de crise que se estendeu até meados
da década dos anos 60; a taxa média anual do produto industrial declinou para 2,6%
(SERRA,1984:72), como pode ser observado no Gráfico 4.
Gráfico 4
Brasil: Taxa Anual de Crescimento
1961-1966
13
10
7
4
%
1
-2
1961
-5
1962
Import
1963
1964
Export
1965
1966
Industria
PNB Real
o
Fontes: De 1961 a 1966: FGV, Conjuntura Econômica,Vol. 25, N 9, 1971.
SERRA, 1982:61.
83
A concentração dos investimentos e incentivos governamentais nas regiões sul e sudeste,
centro dinâmico do território, acentuaram o processo de desenvolvimento desigual entre as
regiões e fortaleceram o processo de divisão inter-regional do trabalho.
Como as condições internacionais dos termos de trocas internacionais não se alteraram
(NUNES,1990:188), continuando desfavorável para a constituição interna de divisas (SINGER,
1980:50), restavam as alternativas de uma reforma agrária e de um aperfeiçoamento da estrutura
econômica, através do aproveitamento das “vantagens competitivas”, como fizeram os NPIs
asiáticos e a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático: Filipinas, Indonésia, Malásia
e Tailândia) (OLIVEIRA, 1989:12; THORSTENSEN et al., 1994:207). Estas surgiriam do
aumento da “especialização” do setor industrial, da diminuição das desigualdades sociais e de
maior investimento em ciência e tecnologia que aumentariam a autonomia da tecnologia nacional
em relação à tecnologia importada; mas nenhuma dessas alternativas foram levadas a contento
plenamente, o que aprofundou ainda mais a crise iniciada na primeira metade dos anos 60,
quando a inflação, em 1963, que era de 88,4%, acabou por derrubar o governo constitucional
(RANGEL,1986a:30).
O Golpe militar de 1964, eliminou a possibilidade de constituição dessas vias alternativas
de desenvolvimento, que já faziam parte do “discurso” dos políticos populistas, e restabeleceu o
“projeto político nacional” mediado, também, pelo Estado Nacional, que era a expressão
histórica de uma clivagem das forças sociais no território. Esta mediação foi o produto da
constituição de uma polarização, ou de um pacto de classes entre representantes do capital
mercantil (fazendeiros e latifundiários agroexportadores), dos setores militares de extrema direita,
do capital industrial nacional emergente (burguesia industrial) e do capital externo (representantes
das indústrias globais e do capital financeiro).
84
3.4. Modernização e Substituição Intensiva
ou Pesada de Importações (1967-1973)
A fase que vai de 1967 a 1973 (Juglar/A), caracterizada como Milagre Econômico
(SINGER,1980; RANGEL,1986a; FURTADO,1983), foi um período de intenso crescimento
para dentro, persistindo o esforço de manter a política de crescimento interno, através da
substituição intensiva das importações. Enquanto no ciclo recessivo endógeno anterior ou de
desaceleração (1961/66), o setor industrial teve um crescimento médio de 3,9%, no segundo
ciclo breve ascendente de 1967 a 1973, o crescimento médio do setor industrial foi de 12,0%,
como pode ser visualizado no Gráfico 5.
Gráfico 5
Brasil: Taxa Anual de Crescimento
1967-1973
30
25
Inflacao
20
Import
%
15
Export
10
5
Industria
0
1967
1968
PNB Real
1969
1970
1971
1972
1973
o
Fontes: De 1967 a 1973: FGV, Conjuntura Econômica,Vol. 33, N 12, 1979.
85
SERRA, 1982:61.
A taxa anual de inflação, em 1974, já estava próxima a de 1968. A inflação, que
representa crescimento de ativos de papéis no mercado sem lastro correspondente em produto,
favoreceu os grandes conglomerados financeiros que sempre retiraram vantagens com a inflação e
precisaram investir em AT e em inovações tecnológicas para aperfeiçoarem o processo de
automação dos bancos. Em 1974, também, foi fundada com o apoio dos bancos privados
nacionais e públicos, e empresas públicas, a Cobra, Computadores do Brasil S.A.
O crescimento acelerado da economia foi obtido através de fortes investimentos em
infraestrutura, energia, transportes, comunicação e às custas da repressão à organização dos
trabalhadores no campo e na cidade, da proibição do direito de greve, da eliminação da
estabilidade do emprego, do aumento das desigualdades sociais e regionais e do arrocho salarial.
Em 1974, o valor real do salário mínimo correspondia a 55% do seu valor em 1952
(MATTOSO, 1988:28; MATTOSO & OLIVEIRA, 1990:113), ou seja, às custas de um
processo compulsório de constituição de poupança interna e opressão do trabalho.
Entre as correntes do pensamento geográfico brasileiro, que têm examinado o processo
de modernização no Brasil, existe uma (BECKER,1988a; BECKER,1988b; BECKER &
EGLER,1989) que privilegiou uma perspectiva próxima do que se pode chamar de enfoque
teleológico (PIRES,1992:85). Esta vertente tendeu a revelar que a preexistência de fatores
decisórios, estratégicos e geopolíticos foram responsáveis pela constituição de um Embrião do
Projeto Geopolítico da Modernidade no Vale da Paraíba e suas ramificações
(BECKER,1988a:117) 3 .
Para este enfoque, a compreensão e a leitura do processo de produção do complexo
espaço global contemporâneo (BECKER,1988a:121) é possível a partir do resgate da
Geopolítica, expressão e instrumento das relações de poder atuantes neste espaço. O Estado,
mesmo não sendo identificado como única unidade de poder, foi tratado como o único ator capaz
de promover, de maneira racional, a inserção do vetor científico-tecnológico da modernidade
86
no território. O domínio deste vetor é colocado como premissa básica de seu poder e chave da
autonomia, enquanto requisito básico de consolidação da soberania e da segurança nacional.
A modernização, como a fisionomia ou paisagem moldada pelo projeto político
hegemônico (JESSOP,1982), sob a mediação do Estado Nacional, foi responsável pela
promoção de grandes investimentos no setor imobiliário e de construção civil, em São Paulo
(SOMEKH, 1987:82-83; SOUZA,1994:136)
4
; pela integração do território, através da
implantação de uma vasta malha rodoviária (Transamazônica) do desenvolvimento da informática
e das telecomunicações ou telemática (via Telebrás e Embratel); pelo avanço na produção de
energia nuclear, de novíssimas tecnologias e novos materiais (BOAS,1987); pela constituição
embrionária da indústria de computadores nacionais; pela gradual inserção da produção
econômica nacional a nível global; e pela implantação das indústrias de bens de capital (pesadas),
ou seja, o Departamento I Moderno, formado pelo conjunto de indústria: aço bruto, cimento,
tratores agrícolas, caminhões e ônibus, etc. (RANGEL,1986a:56-57;1989:24).
87
3.5. Modernização e Esgotamento do Modelo
de Substituição de Importações (1974-1988)
A fase que vai de 1974 até 1985 pode ser caracterizada como de ingresso da economia
brasileira no imenso rebanho recessivo das economias de mercado (RANGEL, 1991). Foi um
período de perda continua de reservas (capacidade de poupança) caracterizado pelo abuso da
capacidade de endividamento, numa época de oferta de capitais sem precedentes
(RANGEL,1986a:64). A partir de 1975, o regime militar não tinham mais condições objetivas de
se manter, a abertura política foi inevitável, o crescimento para dentro começou lentamente, até
1979, a recrudescer.
O esforço de manter a política de crescimento interno, através da substituição intensiva
das importações, começou a se enfraquecer, ou seja, a crise além de desmantelar o regime
militar,
iniciou
uma
cadeia
crescente
de
dificuldades
que
começaram
emergir
(RANGEL,1986a:17). A principal dificuldade, neste novo contexto de recrudescimento da
capacidade de atração de capital dos investimento externos globais, foi a de continuar mantendo
uma política territorial de regulação e controle do mercado nacional, já que, a nível interno, o
Estado Nacional, a partir do crescente processo de endividamento (externo e interno), perdera a
sua capacidade de manter as condições gerais de reprodução do capital e do trabalho. O
crescimento do movimento sindical e dos trabalhadores refletiriam este contexto e, a nível
externo, era pressionado, pelos representantes do capital financeiro internacional, a ceder parte
de seu poder de regulação no mercado interno.
Enquanto no ciclo expansivo endógeno anterior (1967/73), o setor industrial teve um
crescimento médio de 12,0%, no primeiro ciclo breve descendente da década de 70 (1974/80),
o crescimento médio da economia foi de 6,8% e o setor industrial foi de 3,7%
88
(RANGEL,1990,1991); um processo de desaceleração da atividade industrial havia se
instaurado (Cf. Gráfico 6), mas esta desacelaração não foi um resultado da senilidade da
tecnologia ou dos instrumentos empregados pelas empresas 5 .
Gráfico 6
Brasil: Taxa Anual de Crescimento
1974-1980
Import
Export
Industria
12
10
8
6
%
4
PNB Real
2
0
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
Fonte: The World Bank. In World Tables, 1994.
SERRA, 1982:61.
Para enfrentar a pior crise industrial de nossa história (1981/86) (Cf. Gráfico 7),
(MAMIGONIAN,1987:68), o Estado Nacional se fundiu à nova configuração de classe do pólo
hegemônico no poder, que era formada pelos representantes internos do Capital Industrial
(Burguesia Industrial), do Capital Financeiro, do Latifúndio Capitalista e Empresariado Agrícola.
Esta força hegemônica que havia adotado, em meados dos anos 70, em consenso parcial com os
representantes externos do Capital Financeiro e do Capital Industrial Global (automobilística),
89
algumas políticas protecionistas (FLEURY,1987:43) e defensivas de Reserva do Mercado para
proteger, também, as indústrias que estavam efetuando a informatização das Instituições
Bancárias. Como estas “estratégias”, poderia preservar algumas empresas e corporações da
concorrência internacional, o que reduziu ainda mais as possibilidades de investimentos externos
no território.
Gráfico 7
Brasil: Taxa Anual de Crescimento
1981-1988
29
26
23
20
17
14
11
8
%
5
2
-1
-4
-7
-10
-13
-16
-19
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988
PNB Real
Industria
Export
Import
Fonte: The World Bank. In World Tables, 1994.
A reserva de mercado, em 1984, e a institucionalização dos mecanismos de proteção
industrial, representaram a certidão de nascimento (RANGEL,1982:102) das indústrias de
informática e vários setores de automação industrial: máquinas de comando numéricos, robôs,
CAD, controladores programáveis (PC e PLC) e equipamentos que utilizam microprocessadores
(DIEESE, jan.1989b:30); com estes mecanismos, a indústria brasileira avançou na produção de:
90
satélites (INPE); fibras ópticas (Telebrás, ABCX-TAL) (MAMIGONIAN, 1992a); relógios e
termômetros digitais para grandes cidades e relógios com tecnologia digital para medir o nível de
poluição de uma cidade (CETESB); aviões de pequeno e médio porte (Embraer); biotecnologia e
biogenética; mini e microcomputadores (Itaú), chips e semicondutores; máquinas operatrizes de
comando numérico (Romi); novos materiais, química fina; locomotivas e vagões.
Mas, o ciclo médio descendente que se inicia, no Brasil, no final dos anos 70 e se
prolonga até o final dos anos 80, coincidiu com o segundo “Crash” mundial, que agravou ainda
mais a crise no território (RANGEL,1991).
91
3.6. Reestruturação Industrial Competitiva
no Brasil e o Colapso da Regulação
Espacial da Reserva de Mercado (1989-1994)
A chamada Década Perdida, de crescimento nulo, revelou, endogenamente, as
repercussões da crise externa sobre a indústria em geral brasileira e sobre o modelo de
desenvolvimento de substituição de importações, apesar do crescimento extraordinário verificado
no setor de informática, em média 15,8% ao ano (ABINEE,1991:06), porque em 1983, a
produção industrial foi 15% menor que a de 1980 (RANGEL,1990) e, em 1992, a produção
industrial decresceu 4,7%, situando num patamar inferior ao de 1980, esse impacto passa a ser
ainda maior quando todos os postulados de abertura generalizada apregoados pelos setores
políticos neo-liberais se concretizam e, também, se constituem novos mecanismos de regulação
supranacional.
O desempenho da economia, experienciado entre o biênio de 1986 até 1988, pode ser
caracterizado como uma bolha de crescimento produzida pelos sucessivos planos inercialistas:
Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Verão (RANGEL,1990). Foi um dos períodos de maior
exportação de capital para honrar os compromissos com endividamentos herdados na época do
milagre. Nenhum desses planos foram capazes de eliminar a contradição básica entre o
desenvolvimento dos estilos tecnológicos (forças produtivas) e a manutenção das formas
autoritárias de organização do trabalho (LEITE,1994b:72) no território (relações de produção),
principalmente nesta fase de crise geral.
No final dos anos 80 e início do anos 90, desenha-se um processo de modernização
tecnológica e de reestruturação industrial competitiva, impulsionado por uma clivagem de forças
políticas 6 de orientação econômica e política neo-liberal articuladas aos interesses das indústrias
globais (MAMIGONIAN,1992a). Este processo vem se revelando como uma reação contrária à
92
constituição dos mecanismos de oligopolização confinada, que foram originários das políticas
de substituição de importações, de embargo comercial, de reserva de mercado e de proteção das
indústrias nacionais, que diminuíram as chances de uma disputa mais concorrencial por
importantes fatias do mercado nacional e desestimulou as práticas de inovação competitiva que
são frutos da disputa intercapitalista pelo controle do mercado. A crítica principal dos ideólogos
neo-liberais em relação aos mecanismos de proteção do mercado pelo Estado, era que estes
estimulavam as empresas a adotarem práticas cartoriais e monopolistas, avessas aos
investimentos necessário às inovações competitivas. Contra esses mecanismos de proteção e
favoráveis à “reestruturação industrial competitiva”, as principais ações do novo governo
neo-liberal dirigiam-se para atrair os investimentos externos e recuperar a “competitividade
perdida” do setor industrial brasileiro, através das seguintes mudanças institucionais:
a) redução de barreiras tributárias e abertura para capital externo;
b) privatização acelerada de empresas estatais e eliminação da política de subsídio;
c) desregulamentação, reveladas nos “novos” conteúdos de relacionamento entre capitaltrabalho, através da destruição dos mecanismos de política salarial via livre negociação,
desindexação e, também, a partir do incentivo à flexibilização e à mudança das práticas de
organização do trabalho 7 ;
d) eliminação da reserva de mercado para a atividade de informática do setor eletroeletrônico.
Neste caso, a reação das empresas do setor desencadearam um processo de reestruturação
competitiva, que teve como meta: a melhoria da organização da produção; a constituição de
alianças, joint-venture, subcontratação com empresas estrangeiras e a modernização
tecnológica, ou seja, o processo de reestruturação competitiva desencadeado pelas indústrias
de informática, configura uma reação e uma estratégia político-territorial, contra os
mecanismos de abertura generalizada da economia adotados pelo governo neo-liberal.
93
A modernização tecnológica e a reestruturação industrial no Brasil são componentes do
processo de inserção global e seletiva, sem precedentes, de parte do setor produtivo nacional
com o de outras economias 8 .
A modernização brasileira, enquanto código social, tornou-se apartadora porque instituiu
e ampliou a desigualdade como convenção no espaço, no consumo, na educação, na língua, na
cultura e na moeda. Segundo Florestan FERNANDES (1975:278):
“o novo padrão de desenvolvimento capitalista está ampliando e aprofundando as desigualdades
econômicas, sociais e políticas preexistentes. Não só aumentou o fosso entre o “pobre” e o “rico” ou
a distância sócio econômica, político-cultural e histórica entre as classes despossuídas e as classes
possuidoras: o caminho para chegar à riqueza e ao poder fundado na riqueza tornou-se muito mais
áspero e difícil.
O território é a grande referência simbólica desta convenção apartadora. As favelas, os
mocambos, os condomínios clandestinos são expressões da apartação no território, assim como
o contraste dos condomínios fechados (ou os espaços de auto-exclusão social), das mansões, as
habitações luxuosas e suntuosas, e as imensas despesas da burguesia e do capital financeiro
nacional com segurança. A pobreza é o principal símbolo da convenção do poder “arbitrário” do
projeto de modernização, implantado pela clivagem histórica de forças políticas que assumiram o
aparato Estatal.
A modernidade ou o projeto de modernização, em sua formulação original vinculada ao
período pós-64, pode ser considerada um modelo de modernização sem mudança ou
conservador, porque foi concebido para concentrar renda e preservar privilégios, já que não
houve transformações territoriais na qualidade de vida de grande parte da população trabalhadora
e nas relações de poder entre as classes sociais.
Este
modernização
tipo
modernização
incompleta
burguesa (KURZ,1992:53), também chamado de
(SANTOS,1990:183)
ou
de modernização tecnológica
(LEITE,1994a:582), além de ser concentrador em termos de renda, foi implantado baseado em
tecnologias de uso intensivo de capital (a indústria de bens de consumo duráveis) e de inovações
tecnológicas. Este processo freou a possibilidade da geração de novos postos de trabalhos nas
94
atividades potencialmente mais produtivas e melhor remuneradas e ampliou o processo de
exclusão do trabalho (RANGEL,1986a:23). Isso fica mais claro quando se examinam os dados
fornecidos pelo recente Mapa do Mercado de Trabalho no Brasil, produzido pelo IBGE e pelo
Ministério do Trabalho, sobre a situação da grande maioria da População Economicamente Ativa
no Brasil 9 e, também, com os dados fornecidos pelo DIEESE (1989ab;1991ab; 1994ab).
No Brasil, os lucros aumentaram na razão direta do crescimento da produtividade do
trabalho, proporcionado pelo processo de reestruturação e modernização dos métodos de gestão
empresarial, ou seja, pelo processo de “racionalização e informatização dos processos
produtivos” (Círculos de Controle de Qualidade, Just-in-Time, Qualidade Total, Automação
Flexível, Automação de Design, Tecnologia de Desenvolvimento, etc.), mas as empresas, apesar
dos lucros obtidos, continuam diminuindo os postos de trabalho, em 1992 o nível de emprego
estava próximo ao de 1976, e reduzindo a sua estrutura física, (FEIJÓ & CARVALHO,1993;
POLLERT,1988) o que não impede ou interfere no crescimento, em termos de escala ou escopo
de atuação no mercado.
As técnicas avançadas, utilizadas pelos novos setores industriais, aumentaram a
produtividade do trabalho (PT), que é o produto da produção física (PF) pelo pessoal
empregado na produção (POP), ou seja, (PT= PF/POP). O seu crescimento foi praticamente
ininterrupto nos anos 70 e 80 mas diminuiu a proporção do emprego e do pessoal empregado na
produção. Cresce a produção física sem aumentar o número de horas pagas (NHP) e o emprego,
este último que está reduzindo, também, devido à recessão provocada pelo processo de
“destruição criativa das inovações” e de abolição do trabalho (KURZ,1992:80) como pode
ser visualizado no Gráfico 8.
95
Gráfico 8:
Brasil: Emprego, Jornada Média, Produtividade na Indústria
1986-1993
120
100
80
%
PF/NHP
60
PT
POP/NHP
40
PF
20
NHP
0
1986
POP
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
Fonte: IBGE/DPE/DI, 1992; IBGE (1994:57), In Brasil em Números Vol.3.
Legenda: Pessoal Ocupado na Produção (POP), Número de Horas Pagas(NHP), Produção Física (PF),
Jornada Média (POP/NHP), Produtividade por POP (PF/POP), Produção por NHP (PF/NHP).
Em
nome
da
pseudo-modernidade,
instituiu-se
políticas
econômicas
desregulamentativas que decretaram a perda contínua de conquistas políticas e do poder de
compra da classe trabalhadora, que elevaram as taxas de empobrecimento da grande maioria da
população nas grandes cidades e penalizam o trabalho com a perda continua do emprego.
Este tipo de “modernidade” e o seu correspondente processo de reestruturação,
constituíram-se
numa
hegemonia
irrecusável
de
um novo
sistema
de
técnicas
(SANTOS,1989:59) ou de um novo sistema tecnológico (TYLECOTE,1991:18) mas, esse
mesmo modelo de modernização, que negligencia a reprodução dos serviços de consumo
coletivo, é responsável, também, pelo fortalecimento da indústria global no Brasil e pela
constituição dos grandes conglomerados financeiros e dos oligopólios10 , principalmente na
indústria de informática (mini e microcomputadores, automação bancária, automação comercial,
96
automação industrial), que controlam o consumo no mercado interno como forma de exploração
intensiva do lucro e condição para o confronto competitivo no mercado externo e interno.
Entretanto, neste processo de reestruturação industrial, no setor eletroeletrônico a área de
atividade que chama mais a atenção é a de informática (Cf. Gráfico 9) (ABINEE,1991,1993),
principalmente o de automação bancária que, na década de 80 (DEPIN,1991), mesmo no
período de esgotamento do modelo de substituição de importações, em um contexto inflacionário
e de recessão, teve um crescimento excepcional.
Gráfico 9:
Brasil: Desempenho pela Variação % do PNB, da Indústria em Geral,
e da Indústria de Informática
1980-1992
31
28
25
22
19
16
13
%
10
1980
7
1982
4
1984
1
-2
1986
-5
1988
1990
Ind.Informatica
Ind.Geral
1992
PNB Real
Fontes: The World Bank (1994:40-41), In World Tables. ABINEE (1991:06;1993:06)
Guia ABINEE de Material Elétrico e Eletrônico.
97
Notas
1. Segundo SERRA (1984:75) Ciclos e Mudanças Estruturais na Economia Brasileira do Pós-Guerra, o
período do governo JK (1956-60) se caracterizou pela intensa diferenciação industrial, em curto intervalo de
tempo, e teve o Estado como articulador privilegiado:
“Nesse período instalaram-se no país as indústrias automobilística, de construção naval, material
elétrico pesado e outras máquinas e equipamentos, permitindo uma significativa ampliação do setor
de bens de capital. Ao mesmo tempo, expandiram-se consideravelmente indústrias básicas como a
siderúrgica, a de metais não-ferrosos, química pesada, petróleo, papel e celulose.”
2. Para um maior aprofundamento na discussão do fordismo (periférico) no Brasil, torna-se crucial ler os
seguintes trabalhos: LIPIETZ,A.(1988:153-208) Miragens e Milagres; SCHMITZ,H & CARVALHO,R.Q.
(1990:148-156) O Fordismo está vivo no Brasil. Novos Estudos CEBRAP, (27); SILVA,E.B.(1990) Refazendo a
Fábrica Fordista, e SILVA,E.B.(1994:107-120) Pós-Fordismo no Brasil. Revista de Economia Política, 14(3)e
ler, também, a crítica de CLARK,S. (1991:117-150) Crise do Fordismo ou Crise da Social-democracia. Lua Nova,
(24) sobre a teoria da Crise do Fordismo desenvolvida pela escola da regulação.
3. Cf. BECKER,B e EGLER,C. (1989:08). Esta sobrevalorização será objeto de discussão mais aprofundado à
frente no Capítulo 5.
4. Segundo Nádia SOMEKH (1987), foi neste período (1967/72) que São Paulo experienciou uma extraordinária
ascensão do crescimento vertical, impulsionada pelos investimentos do BNH no setor de construção civil.
5. Segundo O GLOBO, 06/06/1993:54, Economia, em 1993, a idade média dos equipamentos nas empresas
brasileiras era relativamente pequena, 69% possuíam até 10 anos, ou seja:
• Até 5 anos, equivaliam a 30%;
• Entre 6 e 10 anos, correspondiam a 39%;
• Mais de 11 anos, correspondiam a 31%.
6. Segundo Florestan FERNANDES (1986:60):
“Os propósitos “modernizadores” se concentram e se intensificam na esfera da produção, dos
níveis de consumo e dos padrões de vida. “Modernizar” não quer dizer realizar as reformas e as
revoluções capitalistas que tornam o desenvolvimento capitalista, nos seus limites históricos, um
fator de transformação da sociedade civil, da cultura e do Estado. “Modernizar” significa reajustar
as economias periféricas às estruturas e aos dinamismos das economias centrais, para que o fluxo
da expropriação dual do excedente econômico alimente as taxas de crescimento da acumulação
capitalista nos ritmos necessários ao “bom andamento dos negócios”, ao assalto pirata do botim
nacional.”
7. Algumas empresas que procuraram adotar novas formas de organização do trabalho, importaram e
aperfeiçoaram práticas de gestão e organização provenientes do Japão, como as de: Círculos de Controle de
Qualidade, difundida desde o início dos anos 80 (1981/82), em Diadema, pela Kubota Tekko, produtora de
microtratores; Just-in-Time/Kabans, implantado no Brasil em 1984, por uma empresa japonesa, de Campinas, de
motores diesel para microtratores e pequenos geradores, posteriormente difundida para as empresas de
autopeças e algumas montadoras de veículos (linha Escort, linha Kadett), para empresas de motores e para o
setor eletroeletrônico (DIEESE, jan1989b:25-31); Automação Flexível, desenvolvida mais amplamente por
empresas de microeletrônica, eletrônica e de equipamentos de transporte; Automação de Design, empregado
mais fortemente por empresas que trabalham com papel e polpa, de química, metalurgia, bens de capital,
agroindustriais e que utilizam sistemas de tipo CAD (FERRAZ; RUSH & MILES,1992:122).
98
8. Segundo MATESCO, V.R. (1995:48-51) A dinâmica da reestruturação produtiva. Conjuntura Econômica,
Ano 49, No 5:
“No Brasil, até dezembro de 1994, segundo a ABNT --Associação Brasileira de Normas Técnicas --,
cerca de 500 empresas, na sua maioria de grande porte, já haviam sido certificadas (pela série ISO9000), notadamente as localizadas no eixo Rio--São Paulo. Em termos de comparação com outros
países, tem-se que, nos EUA, 1.600 empresas já obtiveram a certificação; na França, 1.300; no
Canadá, 1.500; e na Itália, 1.500. Na Argentina, apenas 15 empresas obtiveram o certificado
internacional.”
9. Cf. Jornal Ciência Hoje (1994:05), No294, segundo este documento:
• Apenas 16 milhões de brasileiros, dos 64 milhões da PEA, possuem carteira assinada;
• No contingente de 5 milhões de brasileiros que trabalham sem nenhuma remuneração, 2 milhões são de
crianças;
• Existem 27 milhões ganhando menos de dois salários mínimos e 5,6 milhões ganhando mais de 20 salários
mínimos.
10. Além do tradicional oligopólio mantido pelo setor automobilístico merecem ser destacados os seguintes
oligopólios, ver Quadro VI:
Quadro VI:
Principais Oligopólios
Produtos
Sorvete
Cigarros
Lã de Aço
Cervejas
Creme Dental
Lâminas de Barbear
Fibras e Fios Sintéticos
Índigo
Refresco em Pó
Cimento
Televisores
Detergente
Margarinas
Aguardentes
Empresa
% Mercado
Kibon (Philip Morris)/Nestlé
Souza Cruz/Philip Morris
Bombril
Brahma/Antártica/Skol/Kaiser
Kolynos/Golgate
Gillette
Rhodia/Vicunha/Celbrás
Vicunha/Alpargatas-Santista
Philip Morris
Votoratim/João Santos
Sharp/Philips/Philco/Semp-Toshiba
Gessy Lever/Orniex
Gessy Lever/Piraquê/Sambra
Pirassununga 51/Velho Barreiro/Pitu
100
98
94
94
86
81
75
72
70
70
69
65
61
51
Fonte: O Globo, 27/03/94
99
Capítulo 4
Capítulo: 4
Gênese da Alta-Tecnologia no Brasil
4.1. Gênese da Indústria Nacional de Computadores:
Da “Era Hollerithiana” dos Computadores
Eletromecânicos à Implantação do Primeiro
“Mainframe” Valvulado Comercial no Brasil
A era
“Hollerithiana” (BASHE et al., 1986), no Brasil, se
estendeu de 1917 até 1957, quando foi implantado o primeiro computador eletrônico 1. Ela foi
caracterizada pela presença de computadores eletromecânicos com tecnologia de cartões
perfurados, que foram utilizados nas atividades de processamento de dados, estatística
administrativa e financeira, tanto dos serviços públicos quanto dos privados. Assim, desde
meados da segunda década do século XX, pode-se constatar evidências da constituição de uma
tradição do processamento de dados no Brasil.
Mas, foi através de operações de “leasing” que a IBM iniciou, em 1917
(PIRAGIBE,1985:108), a partir de suas atividades comerciais essa tradição, alugando
posteriormente seus equipamentos para a Diretoria de Estatística Comercial poder tabular os
dados, em andamento na época, do Censo Demográfico de 1920. Foi através da prestação de
serviços para instituições públicas e privadas, que muitas das grandes corporações começaram a
consolidar suas bases comerciais e a adquirirem reconhecimento no Brasil.
O governo brasileiro, em 1924, na gestão Arthur Bernardes, autorizou a instalação das
subsidiárias da IBM (antes The Tabulating Machine Company) e da Burroughs, para o
desenvolvimento de atividades de comercialização e prestação de serviços (PIRAGIBE,
1985:108) 2.
98
A Prefeitura do Recife, em 1939, calculava e tributava o Imposto Predial e Territorial
Urbano (IPTU), por intermédio de máquinas de cartão perfurado (EMPREL, 1981:05), isso em
pleno período do Estado Novo na era Vargas, durante a gestão de Agamenon Magalhães,
interventor governamental em Pernambuco. As máquinas que faziam parte deste sistema eram
capazes de executar grandes operações aritméticas, por processos eletromecânicos. Estas
máquinas eram alugadas da World Trade Corporation (WTC), que executava este tipo de
“leasing” no Brasil, através da empresa Serviços Hollerith Ltda (EMPREL, 1981:05).
Neste período, este sistema desempenhou um papel importante nas atividades financeiras
e nos serviços da antiga Divisão de Mecanização da Secretaria de Finanças do Recife, e se
baseava na tecnologia inaugurada pelo funcionário do Departamento Federal de Estatística dos
EUA, Herman Hollerith.
A IBM, que em 1939 havia inaugurado, na zona norte do Rio de Janeiro, em Benfica, a
sua primeira indústria, fora dos EUA, dedicada à produção de relógios, máquinas de escrever e
máquinas de tabulação (PIRAGIBE, 1984:108); em 1949, dez anos depois, havia adquirido o
controle acionário da WTC (FLAMM,1988:101) e passou a ser, nas grandes municipalidades do
Brasil, a principal empresa de aluguel de computadores e a fornecedora número um, por
excelência, de tecnologias, desde as antigas tecnologias de Válvulas a Vacum às Transistorizadas
(PIRES,1988:41-45).
O crescimento da participação da IBM no mercado brasileiro, praticamente, motivou o
investimento e a escolha estratégica, em 1971, de localização de uma nova fábrica no município
de Sumaré, próximo a Campinas. Este assunto será rediscutido no Capítulo 7 dedicado à
Reestruturação Industrial e Estratégicas Locacionais das Indústrias de Alta-Tecnologia do
Complexo Industrial Eletrônico, mais à frente.
A segunda maior corporação na atividade de processamento de dados no Brasil, a
Burroughs, iniciou, em 1953, suas atividades industriais, produzindo caixas eletrônicas e
calculadoras. Só em 1967 a Burroughs instala uma nova fábrica, em Veleiros, São Paulo, para
produzir: periféricos para computadores e sistemas de contabilidade (PIRAGIBE,1984:109).
99
No rol mundial das empresas mais importantes do setor de computadores, que se
estabeleceram no território: a Control Data, a DEC, a Data General e a Fujitsu (ex-Facom), só se
instalaram internamente, no início dos anos 70 (PIRAGIBE, 1988:112).
No Brasil, como em outras partes do mundo, desde a era “Hollerthiana” à era dos
grandes “mainframes”, as atividades e as indústrias de processamentos de dados foram
dominadas pelas grandes Corporações Multinacionais (CMs), que haviam se instalado desde o
início do século.
O primeiro computador eletrônico a válvula, da 1a Geração, a operar no Brasil, foi
implantado em 1957. Era um Sperry-Univac-120, adquirido pelo Governo do Estado de São
Paulo, para calcular o consumo de água na capital. Este computador, equipado com 4.500
válvulas, era capaz de executar 12.000 operações de soma e subtração por minuto e efetuar
2.400 contas de multiplicar ou dividir, ao mesmo tempo (DANTAS,1988:29; DANTAS,
1989:15).
Um ano depois, incentivada pelo Governo Federal, a Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-RJ) assumiu a linha de frente no uso deste tipo de tecnologia de
computadores, tornando-se a primeira Universidade brasileira a trabalhar com um grande
mainframe eletrônico da 1a Geração à Válvula, o sistema B-205 da Burroughs (DANTAS,
1989:15; PIRAGIBE, 1984:109; EVANS, 1986:792).
Mas, só em 1961, foi montado no Brasil o primeiro “mainframe” transistorizado da
IBM, o modelo 1401. Internamente, algumas Prefeituras logo passaram a adquirir esta tecnologia
da IBM, como foi o caso da Prefeitura do Recife, que resolveu adquiri-la, no início da década de
60, na gestão Arthur Lima Cavalcanti (PIRES, 1988). Externamente, a comercialização desta
tecnologia veio a ocorrer quatro anos depois de sua implantação no território (PIRAGIBE,
1984:109).
Como se pôde observar acima, a implantação da tecnologia dos computadores esteve
relacionada às subsidiárias das CMs norte-americanas, que em 1965 controlavam 100% do
mercado nacional 3. Nos estágios iniciais de desenvolvimento desse setor industrial, um ambiente
100
de produção tecnológica passou a ser gestado e aos poucos foi conquistando, a partir de
importações tecnologias e do saber-fazer pelo aprendizado (BATISTA, CAULLIRAUX,
POSSAS e TAUILE,1990), a condição territorial de produção de tecnologia, tanto de processo
quanto de produto.
A forte concentração desse setor nas grandes cidades industriais mais importantes do
Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo), tornou-se uma característica lógica dos primeiros “estágios”
da territorialização industrial desse setor, devido: à elevada participação econômica dessas duas
cidades no território; à presença de recursos humanos qualificados; à existência de poderosos
centros e institutos de pesquisa, e às agências de fomento e instituição de pesquisa
(REGO,1990).
Com o desenvolvimento do processo de industrialização e crescimento do setor de
informática, no início dos anos 70 4, o mercado brasileiro cresceu em importância e havia se
transformado no 12o do mundo mas, apesar de toda a panacéia sobre o seu crescimento, este
mercado equivalia, em 1984, a apenas 1,3% da taxa de consumo de mini e microcomputadores
nos Estados Unidos (ADLER, 1986).
101
4.2. O Primeiro Computador
Transistorizado Nacional
O primeiro computador não-comercial transistorizado totalmente nacional foi criado em
1961, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica --ITA, de São José dos Campos em São Paulo 5,
concebido como trabalho de fim de curso por José Ellis Ripper, Fernando Vieira de Souza,
Alfred Wolkmer e Andras Vásárhelyi, depois de uma visita que estes quatro alunos do curso de
engenharia eletrônica fizeram, em Paris, à empresa Machines Bull (RIPPER,1977:59; DANTAS,
1988:22; EVANS,1986:792), e batizaram-no pelo nome de Zezinho 6.
Naquela época, o Brasil não possuía nenhuma tradição na produção de “mainframe” ou
de computador eletrônico com tecnologia valvulada, mas começava a enveredar na pesquisa dos
transistorizados.
Voltado para fins didáticos, o projeto de criação deste computador recebeu um
financiamento do CNPq de 350 dólares e a valiosa orientação de Richard Robert
WALLAUSCHEK, professor chefe da divisão eletrônica do ITA. Foi, então criado, com uma
tecnologia proveniente da 2a geração dos computadores, o transístor. O computador Zezinho foi
montado com transístores (1500) e diodos, produzidos nacionalmente 7, pela Ibrape, uma
subsidiária da Philips. Os conectores das placas dos circuitos integrados foram feitos através de
transformações de soquetes de válvulas usadas doados pela fábrica de válvulas da RCA
(RIPPER,1977:59).
A intenção de só utilizar componentes nacionais tinha como meta contribuir para que se
formasse uma nova mentalidade para o futuro desenvolvimento da produção, em escala, de
componentes eletrônicos para a indústria digital. Esta indústria de componentes começou a dar os
seus primeiros passos, embora ainda em caráter restrito, a partir de 1975, com o surgimento da
firma Transit (BORGES,1977:50).
102
A criação do Zezinho revelou o enorme potencial dos engenheiros brasileiros -- oriundo
do desenvolvimento das Universidades e Institutos de Pesquisa Tecnológica no Brasil -- e,
também, o interesse que os empreendedores militares no Brasil começavam a despertar pelo
desenvolvimento nacional da tecnologia de informática. A ideologia da segurança nacional
transformou-se no argumento e no discurso desse interesse.
103
4.3. Capacitação e Autonomia na Produção de Tecnologia:
O G10, o primeiro minicomputador brasileiro
As universidades brasileiras, representadas pela Escola Politécnica de São Paulo
8
ea
PUC do Rio de Janeiro tiveram, no final dos anos 60, um papel enorme no desenvolvimento da
engenharia eletrônica e da eletrônica digital no Brasil, e se encontravam capacitadas para
desenvolver projetos de “protótipos” de computadores para as forças armadas (DANTAS,1988)
9
. Foi o caso do projeto “piloto” da Marinha para o desenvolvimento de equipamentos de
processamento de dados, onde a Poli, que havia começado a se projetar na área de hardware, e
a PUC, que possuía uma larga tradição com a área de software (TEIXEIRA,1976/77:45),
trabalharam juntas para desenvolver o primeiro computador, que depois foi aperfeiçoado e
comercializado industrialmente, o “Patinho feio”, de 8 bits/4 Kb de memória. Estas universidades
efetuaram com o apoio da Digibrás, Grupo de Trabalho Especial e dos Ministérios da Marinha e
do Planejamento, em 1973, o aperfeiçoamento tecnológico deste computador, produzindo o
minicomputador Guaranys 10 ou G-10, desenvolvido pelo Laboratório de Sistemas Digitais da
USP-- LSD, com duas mil horas de testes, e pelo Núcleo de Processamento de Dados da PUC,
com mil e duzentas horas (DADOS & IDÉIA,fev/mar1976:35; TEIXEIRA,1976/77:44). A
configuração básica do G-10, era 64 Kbites, disco removível de 10 Mbites, leitora de cartões de
80 colunas, com capacidade para 300 cartões por minuto, impressora de mil linhas por minuto,
console, sistema operacional de disco e software básico (DADOS & IDÉIA,fev/mar1976:36).
O projeto do G-10, permitiu a inserção definitiva da engenharia brasileira no
desenvolvimento da tecnologia de eletrônica mundial. Técnicos e engenheiros brasileiros,
encontravam-se habilitados, para conceber, confeccionar e fabricar a arquitetura de
computadores, circuitos integrados e softwares básicos. O G-10, em 1978, foi aprimorado e
passou a ser G-11, sendo comercializado pela Cobra no final dos anos 70, mas, depois da feira
da Sucesu, no Hotel Nacional no Rio, tornou-se, por razões de ordem competitivas, quando
104
comparado aos minis fabricados pela Labo, SID e Edisa, um fracasso comercial
(HELENA,1984:64), mas isso não diminuiu a importância que este computador teve para a
capacitação tecnológica nacional.
Paralelamente ao desenvolvimento do G-10 pela USP e a PUC, a Universidade do Rio
de Janeiro desenvolveu um projeto de criação de um Terminal Inteligente do Núcleo de
Computação Eletrônica -- NCE (TINCE). Esta universidade contribuiu com esse projeto para a
capacitação de uma equipe treinada no desenvolvimento comercial de tecnologias para a
produção de microcomputadores. Além da USP, PUC e UFRJ, outras universidades como a
UFRGS e a UNICAMP, estavam empenhadas também no desenvolvimento de tecnologias
digitais (BORGES,1977:51).
Durante ainda o regime militar no Brasil, a produção transistorizada de computadores e
de Alta-Tecnologia começou, também, a estar associada à indústria militar ou de defesa, como
nos EUA. Este assunto será objeto de discussão mais a frente, quando tratar-se-á do surgimento
da primeira indústria de computadores nacional.
À medida que o Brasil se lançava num rápido processo de industrialização, os
engenheiros foram se tornando a principal força de trabalho, o “sujeito” do processo de
aceleração das inovações na indústria nacional. A capacitação desta categoria dos trabalhadores
demonstrava o crescimento de um novo potencial criador para o desenvolvimento da indústria
nacional. (KAWAMURA,1986; EVANS,1986).
Mas, ao contrário de surgir um sentimento de entusiasmo, prevalecia um sentimento de
frustração e inferiorização em inúmeros engenheiros formados por importantes universidades
brasileiras e dos EUA, muitos com pós-graduação provenientes do Vale do Silício e de Stanford;
do MIT; de Siracuse; de Wiscounsin; de Houston; etc. A causa era a estrutura de emprego
adotada pelas CMs no setor de informática, com pouco investimento nas áreas de P&D, já que a
grande maioria desses engenheiros eram induzidos profissionalmente a exercerem a contragosto o
papel de técnicos de nível secundário ou a trabalhar como vendedores para as grandes
corporações multinacionais. Este mesmo sentimento fez emergir um ideário “pragmático
105
antidependentista” (ADLER,1986), que passou a exercer um fascínio quase ideológico e
nacionalista, do qual compartilhavam parte do meio acadêmico (CLINE,1987), alguns políticos
da “esquerda”, setores militares e, oportunamente, os representantes dos grandes conglomerados
financeiros nacionais.
O “discurso” nacionalista, que se transformou em bandeira de luta, apelidado por alguns
pesquisadores de “guerrilha ideológica”, foi o fundamento para a criação, em 1973, da reserva
de mercado, apregoada como a condição institucional necessária para gerar a autonomia da
produção da Alta-Tecnologia no Brasil.
Atrelada a esta situação, as dificuldades de obtenção do licenciamento de tecnologia
junto às grandes CMs e o receio dos empreendedores militares de terem o sistema geopolítico de
defesa nacional vinculado à tecnologia proveniente de outro país, praticamente instigou os
representantes do setor militar a procurarem estabelecer formas de alianças e intercâmbio com
produtores internacionais do segundo nível para o desenvolvimento nacional da produção de
Alta-Tecnologia
10
(TIGRE,1983; HELENA,1984; BATISTA, CAULLIRAUX, POSSAS e
TAUILE, 1990), como foram os casos das associações com as firmas Ferranti, empresa de
capital inglês, e Sycor, empresa de capital estadunidense. Com esta última empresa, a Cobra
obteve o licenciamento necessário para produção das séries 400, conforme será tratado mais a
frente.
Foi dentro dessa conjuntura, aludida acima, que a criação da Cobra foi em parte
justificada, as razões estratégicas de ordem militar (HELENA, 1984:18) e de “segurança
nacional”, foram primordiais para o seu surgimento.
106
4.4. O Surgimento da Primeira Empresa
Brasileira de Minicomputadores: A Cobra
A idéia de criar uma empresa nacional que produzisse e disseminasse estrategicamente a
Alta-Tecnologia no Brasil, surgiu em meados dos anos 60 (HELENA,1977,1980;1984), mas só
no final dos anos 60 e início dos anos 70 esta idéia pôde se consolidar, pois o Brasil tinha,
naquele momento, as condições materiais e técnicas necessárias para a sua viabilização 11.
As necessidades da Aeronáutica de aperfeiçoar as atividades do setor aeroespacial,
desenvolvidas pelo Centro de Treinamento da Aeronáutica -- CTA, e da Marinha, de atualizar
tecnologicamente suas fragatas e de produzir um minicomputador à semelhança do FM1600-B,
adquirido em 1971 da Ferranti (HELENA,1984), corroboravam um rol de intenções que se
constituíam num importante fator de demanda do setor Estatal para a produção de um
computador nacional (CLINE, 1987; BECKER & EGLER,1993) 12. Mas, foi com a criação da
Cobra, Computadores e Sistemas Brasileiros S.A, em 1974, que essa idéia pôde em fim ser
experienciada e consolidada.
Sediada no Rio de Janeiro, em Jacarepaguá na Estrada dos Bandeirantes, a Cobra, a
primeira empresa genuinamente brasileira a produzir computadores 13, foi o resultado do apoio do
Ministério do Planejamento, através do BNDES, e da associação de três empresas: a primeira, a
Equipamentos Eletrônicos (EE), empresa privada nacional; a segunda, a Digibrás, holding estatal,
criada nesse mesmo ano para fomentar o desenvolvimento da indústria de Alta-Tecnologia no
Brasil; e a terceira, a firma inglesa Ferranti Ltda, responsável pelo fornecimento de equipamentos
eletrônicos para a Marinha brasileira (HELENA, 1977,1980;1984; PIRAGIBE,1985; ADLER,
1986; EVANS,1986; ROSENTHAL,1987; BECKER & EGLER,1993).
O apoio crucial do BNDES tinha em vista estender o êxito alcançado, por esta demanda
pública de caráter estritamente militar, para a sociedade, direcionando boa parte da produção da
Cobra para o mercado. Se isso não acontecesse, segundo a antevisão dos diretores do BNDES,
107
a Cobra poderia ter a tecnologia e a rentabilidade de sua produção comprometidas
(HELENA,1984).
A primeira iniciativa de produzir um computador tipicamente nacional, contou com a
participação de importantes Universidades e Instituições de Pesquisas brasileiras, a primeira
tentativa foi o G-10 (TEIXEIRA,1976/77; SCHWARTZMAN,1988), já tratado anteriormente,
mas devido a rápida mudança e obsolescência tecnológica dos produtos, ele logo se transformou
num fracasso comercial. Na segunda tentativa, a Cobra lançou um modelo mais aperfeiçoado o
Argus 700, criado pela Ferranti, para o controle de processos industriais. Foi a partir deste
momento que a indústria brasileira de computadores deixou de estar meramente vinculada à
produção de serviços (públicos) e ao desenvolvimento da tecnologia de informação militar, e
passou a estar ensejada, no final da década de 70 e início da década de 80, também, na
produção industrial de interesse civil.
Mesmo com todo o esforço em 1976 para adaptar-se às necessidade do mercado
nacional, a Cobra passou neste ano por uma grave crise. Preocupada com a crise e com a
necessidade de ajustar seus produtos às necessidades dos usuários, a Cobra resolveu investir em
alguns novos produtos:
•
lançando o Cobra 400, entre os anos de 1976 e 1977, com o objetivo de se expandir no
segmento de entrada de dados concentrados, transmissão de dados e aplicações comerciais
de pequeno e médio porte. Esta linha de computadores foi uma versão aprimorada do
minicomputador da empresa norte-americana de segundo nível, a Sycor;
•
lançando-se em 1978 na ofensiva para conquistar o mercado de transcrição, formatação e
comunicação de dados, criou as linhas TD 100 e TD 200;
•
enveredando em 1979 pelo segmento de administração, no desenvolvimento de terminais
remotos, entrada de dados, a partir do lançamento do Cobra 300, o primeiro
microcomputador nacional;
•
produzindo em 1980 o primeiro “mini-médio” inteiramente nacional, o Cobra 530, concebido
para o gerenciamento empresarial e processamento por lotes;
108
Com sete anos de aprendizado no mercado e um pouco mais amadurecida, a Cobra já
havia instalado mais de 6000 unidades por todo o território (Cf. Mapa 1), garantindo, a partir do
crescimento dos investimento em pesquisa e desenvolvimento, a maior rede de assistência técnica
nacional, em mais de 37 cidades do país (ABICOMP,1981:10). Entre os anos de 1980 e 1981,
a participação da Cobra, no parque nacional de minicomputadores instalados, deixou claro a sua
conquista desta fatia do mercado, conforme pode ser verificado, segundo informações fornecidas
pelas SEI, nos Gráficos 10 e 11 :
Gráfico 10:
Minicomputadores
Instalados - Ano 1980
163
95
119
19
COBRA
LABO
SID
EDISA
SISCO
918
o
Fonte: SEI, Boletins Informativos n 3 e 8 (TIGRE, 1984: 67-68).
109
Gráfico 11:
Minicomputadores
Instalados - Ano 1981
180
269
90
335
COBRA
LABO
SID
EDISA
SISCO
1418
o
Fonte: SEI, Boletins Informativos n 3 e 8 (TIGRE, 1984: 67-68).
Os processos de implantação, crescimento e desenvolvimento da indústria de
computadores e sua articulação territorial no caso brasileiro, remete a algumas constatações
preliminares:
a) existem algumas diferenças básicas em relação a estes processos, quando aplicados para os
EUA e para o Brasil; neste último, a espacialização da indústria de computadores ou a sua
articulação a nível territorial se fez em moldes “menos convencionais”, já que a indústria
nasceu vinculada à produção de serviços (públicos e privados) e ao desenvolvimento da
tecnologia de informação e só, posteriormente, durante o período do regime militar, passou a
estar vinculada ao processo de acumulação militar como nos EUA;
b) no início dos anos 80, a localização dessas indústrias no Brasil esteve relacionada nos
estágios iniciais de surgimento da indústria, ver Mapa 1, ao desenvolvimento de um ambiente
de produção tecnológica (meio técnico-científico) (SANTOS,1985), que aos poucos foi
conquistando, a partir do saber-fazer e pelo aprendizado (BATISTA, CAULLIRAUX,
110
POSSAS e TAUILLE, 1990), a condição de Centros de Produção de Alta-Tecnologia
(CPAT), tanto de processo quanto de produto;
c) a elevada concentração e a segmentação desse setor, nas municipalidades mais importantes
do Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro), como pode ser constatado no Mapa 1, tornou-se
uma característica lógica desde os primeiros “estágios” de sua territorialização industrial. Este
fato se deveu à elevada participação econômica dessas duas cidades e, principalmente, aos
grandes conglomerados financeiros nacionais, que são além dos maiores usuários de
computadores os maiores investidores e empreendedores de sua produção (SCHMITZ &
HEWITT,1992:35).
111
112
NOTAS
1. Este capítulo foi estruturado tomando por base as seguintes fontes bibliográficas: RIPPER,1977;
TEIXEIRA,1976/77; HELENA,1977/1980/1984; PIRAGIBE,1985; ADLER, 1986; ROSENTHAL,1987; VERA
DANTAS,1988; MARCOS DANTAS,1989; CLINE, 1988; TIGRE,1978/1984/1990; EVANS,1986/1989, e outros
que aparecem ao longo do texto.
2. Vera PIRAGIBE (1985), In Indústria de Informática: Desenvolvimento Brasileiro e Mundial, revelou,
através da Tabela abaixo, quais foram os anos de implantação ou de origem das principais subsidiárias de
Empresas Multinacionais no Brasil, ver Quadro VII:
Quadro VII
Subsidiárias das Empresas Multinacionais de Equipamentos de
Processamento de Dados no Brasil -- Ano de Fundação e
Origem do Capital
Empresa
IBM
Burroughs
Sperry (ex-Univac)
Olivetti
NCR
Honeywell
Hewlett-Packart
Fujitsu (ex-Facom)
Control Data
Digital Equipament (DEC)
Data General
Datapoint
Ano de Fundação da
Filial Brasileira
1924
1924
1950
1952
1957
1960
1967
1972
1974
1974
1975
1981
Origem do
Capital
EUA
EUA
EUA
ITÁLIA
EUA
EUA
EUA
JAPÃO
EUA
EUA
EUA
EUA
Fonte: PIRAGIBE, (1985:111).
3. Segundo PIRAGIBE, (1985:110) e o Diagnóstico Setorial: A Indústria Brasileira de Computadores, publicado
conjuntamente, pela Secretaria de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia; Universidade de Campinas;
Instit uto de Economia e o Conselho Estadual de Política Industrial, Comercial e Agro-industrial -COINCO, em
outubro de 1985, p.08:
“A partir daí, verifica-se, ao longo dos anos sessenta, o início do processo de difusão do uso dos
computadores no país, em escala ainda reduzida, sendo o mercado atendido basicamente por
importações, em sua maioria provenientes das empresas norte-americanas do setor.
Uma estatística pioneira realizada por HERZ (Herz, Georg. Data Processing Magazine, maio
1965) a ponta, para o ano de 1965, a existência de 89 sistemas de computadores instalados no país,
dos quais a quase totalidade era de origem norte-americana (IBM -55; UNIVAC-23; Burroughs-8;
NCR-1). Apenas 2 eram de origem não-americana e procediam da empresa francesa Bull.
Uma outra estimativa, esta referente ao ano de 1970, realizada por RAPPAPPORT(Rappaport,
José. “Os Bureaux de Processamento de Dados e seu mercado no Brasil”. Revista de Administração
em Empresas, Jul/Set 1971), apresenta uma situação semelhante à apontada acima. Do total de 512
computadores instalados no país, naquele ano, a IBM era responsável por 320; Burroughs, 93;
UNIVAC, 69; NCR, 10; Bull-Honeywell, 18; Siemens-RCA, 2.”
113
4. Segundo o Diagnóstico Setorial, (1985:09):
“A base instalada passou de cerca de 506 computadores, em 1970, para 3843, em 1975, segundo
estimativa da Secretaria Especial de Informática -SEI (Boletim Informativo, no 5, ago/set/out, 1981,
p.09), apresentando taxa média anual de crescimento de mais 55%.”
5. Cumpre ressaltar que o Vale do Paraíba e o município de São José dos Campos (SJC), desde a fundação do
ITA, no final da década de 40, sempre se destacou por apresentar a maior concentração de indústrias de
sistemas de armamentos e insumos sofisticados. Segundo The Brazilian Defense Directory (1987), cerca de
80% da indústria de armamentos do Brasil está localizada nesta área. Por isso esta região passou a materializar,
o embrião territorial do projeto da modernidade no Brasil (BECKER & EGLER,1989;1993). Entretanto, quando se
faz um estudo genealógico sobre a evolução dos setores de Alta-Tecnologia, nesta região, considerando-os
para o exame do desenvolvimento da localização de sua produção, os que mais se destacaram, por possuírem
uma maior autonomia tecnológica, foram os de mini e microcomputadores e material aeronáutico
(ERBER,1980:67) e, estes dois, as localidades, onde estes receberam o impulso inicial de seus projetos de
produção, foram as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo. O primeiro, o setor de mini e
microcomputadores, foi aperfeiçoado pela COBRA (Computadores e Sistemas Brasileiros S.A), em
Jacarepagua; e o segundo, o setor de aeronáutica, embora tenha tido, em sua concepção, as participações de
Demétre Sansand Lavaud, em Osasco 1910, e Francisco Pignatari, que criou em São Paulo em 1942 a
Companhia Aeronáutica Paulista --CAP, teve como maior empreendedor, em 1946, o industrial Henrique Lages,
que instalou na ilha do Viana, no Rio de janeiro, a Companhia Nacional de Navegação Aérea, que chegou a
projetar e fabricar mais de 140 variedades de aviões (SILVA,1982; PIRES,1994).
6. Segundo RIPPER,J.E. (1977), O professor Zezinho. Dados & Idéias, 3(1):60, engenheiro eletrônico pelo ITA,
mestre e PhD em Engenharia Elétrica pelo MIT, e em 1977, professor de Física da UNICAMP e cooordenador
de um projeto de comunicação por laser para a Telebrás, um dos idealizadores do Zezinho, os principais
passos para a confecção do Zezinho, foram:
“ A primeira etapa do programa foi o detalhamento do computador. A participação do professor
Tien Wei Chu foi fundamental neste estágio, uma vez que o assunto não havia sido abordado em
nossos cursos... Como, porém, era didática a finalidade do Zezinho, optamos por dar ênfase às
facilidades de visualização do funcionamento e de aplicação de suas características. Demos pouca
importância à capacidade, reduzida apenas a um mínimo capaz de demonstrar o funcionamento de
um computador digital... Para melhor visualização do funcionamento da máquina, planejamos dois
modos de operação para o computador. Um, “rápido”, com programas cíclicos repetitivos, que
permitia a observação da operação nos diversos pontos do computador por meio de um
oscilocóspio; outro bastante lento, para observar a evolução das operações através de lâmpadas de
néon ligadas a pontos-chave... Esta parte do projeto foi enormemente dificultada pela falta de
controle de qualidade dos transístores obtidos... A pouca confiabilidade dos componentes
nacionais, principalmente no caso dos transístores, significou considerável aumento do volume de
trabalho... foram precisos, à medida que o projeto progedia, ajustes e até modificações em cada
circuito construído. A inexistência, na época, de tecnologia de circuitos impressos levou-nos a
procurar uma solução “parecida”. Ou seja, técnica capaz de assegurar a produção, em linha de
montagem, de circuito idênticos, com a possibilidade de conserto e melhoria de circuitos individuais
sem alterar o ritmo de produção do conjunto.... Adotamos então, como solução, placas de baquelite
furadas, com componentes mo ntados de ambos os lados. Os contatos eram proporcionados por
soquetes de válvulas cortados, onde eram montadas as placas. Foram usadas, no total, cerca de 300
placas de 20 tipos diferentes. Os circuitos eram ligados por meio de soquetes em quatro grandes
painéis: dois de memória e dois de controle e operação, de onde partiam as ligações ao painel de
controle, programação e observação. Os pontos principais dos circuitos estavam ligados ao painel,
o que permitia:
1. acesso às memórias de dados e programas, tornando possível a programação por meio de um
lápis metálico ligado a terra;
2. observação do funcionamento de cada circuito, por meio de um osciloscópio.
114
Alguns circuitos estavam também ligados a lâmpada de néon no painel, o que proporcionava
possibilidade de observação direta, da evolução das operações do computador. Usava-se um
relógio ultra lento (1/3 c.p.s.). O resultado do trabalho foi superior ao imaginado por nós, alunos,
que rejeitamos a idéia de deixar a uma segunda turma a conclusão do projeto. Para terminar o
projeto, trabalhamos 40 horas por semana, e não apenas as 9 previstas, e conseguimos colocar o
computador em operação duas semanas depois da formatura.”
Outra interessante narrativa sobre o surgimento do Zezinho foi efetuada pela Jornalista Vera Dantas,
segundo Vera DANTAS, Guerrilha Tecnológica: a verdadeira história da política nacional de informática,
(1988:23):
“O Zezinho tinha capacidade para fazer vinte operações. Seu painel, com dois metros de largura por
um metro e meio de altura, dividia-se em três partes. A primeira reproduzia a memória do
computador, através de pares de ilhoses que representavam as unidades de informações, os 0 e 1,
os abre e fecha da corrente elétrica. Para programá-lo bastava tocar com uma caneta elétrica alguns
daqueles pontinhos. Para atender ao objetivo de mostrar, didaticamente, como a informação se
processava dentro do computador, permitindo que os alunos se familiarizassem com a máquina,
empregaram duas formas de representação, ocupando as demais partes do painel. Em uma, um
conjunto de lâmpadas néon, acendendo e apagando em ciclos de dois segundos, mostrava as
informações sendo processadas em ritmo lento. No terceiro painel, o processamento era produzido
na velocidade normal, podendo ser acompanhado em um osciloscópio.... Embora um sucesso, o
Zezinho não sobreviveu durante muito tempo. Foi canibalizado pelos alunos das turmas seguintes,
que utilizaram seus circuitos para novas experiências. Tampouco foi considerado um trabalho
superior ao de outros alunos da mesma turma, como um sistema de FM estéreo que gerou uma
patente, ou sistema de circuito fechado de televisão. Ganhou, entretanto, lugar na história como o
primeiro computador projetado e construído no Brasil.”
7. Segundo Vera DANTAS (1988), p.23:
“As características de cada transístor eram tão diferentes que se tornava impossível tentar definir
um conjunto de parâmetros capaz de fazer funcionar os circuitos eletrônicos de cada bit da memória.
Para não jogar na lata do lixo 95% dos transístores, a equipe fez o caminho inverso, adaptando cada
circuito, bit a bit, às características dos componentes. Foram utilizados cerca de 1500 transístores.”
8. A Poli ajudou a formar alguns importantes quadros do empresariado nacional no setor de informática, um
exemplo típico foi a criação, por três de seus engenheiros, da Scopus Tecnologia em 1975, empresa sediada em
São Paulo voltada à produção de terminais de vídeo e microcomputadores, consagrada em 1983, pela revista
Exame, como a melhor empresa em desempenho global, na frente da Elebra Informática, da Cobra e de outras
importantes indústrias nacionais.
9. Segundo DANTAS (1988:49):
“...A Poli, como sempre foi carinhosamente chamada por seus professores e alunos, estava para a
Marinha assim como o IME para o Exército e o ITA para a Aeronáutica... seus alunos e professores
do curso de pós -graduação em eletrônica digital estavam concluindo a construção de um
computador de oito bits.”
10. Segundo Paulo Bastos TIGRE ex-Diretor de Planejamento da Cobra (TIGRE, 1983), este foi o caso típico
vivenciado pela Cobra quando esta empresa tentou desenvolver frustadas parcerias com empresas
estrangeiras (DEC, Fujitsu) e negociações de transferência de tecnologia para a superminis:
“A principal alternativa ao desenvolvimento próprio dos supermínis é a negociação de novos
acordos de transferência de tecnologia. No entanto, tal alternativa esbarra na disposição das
empresas multinacionais detentoras de tecnologia em ceder seus projetos nas condições requeridas
pelo Brasil. A Digital Equipment Corporation (DEC), a maior fabricante de minicomputadores com
vendas de US$ 4 bilhões em 1982, por exemplo, negociou uma licença de fabricação de
minicomputadores com a Cobra em meados dos anos 70. No entanto, as negociações falharam
porque a DEC exigia participação acionária majoritária na empresa brasileira. A Cobra tentou obter a
licença de fabricação junto da Data General mas a empresa americana não concordou em ceder os
direitos sobre a tecnologia final do contrato. Em conseqüência, a Cobra e os outros fabricantes
115
nacionais de minis tiveram que recorrer a empresa de segunda linha, em geral de origem européia ou
japonesa.” (TIGRE,1983:05).
Mas, segundo Emanuel ADLER, Ideological ‘guerrillas’ and the quest for technological autonomy:
Brazil’s domestic computer industry, International Organization , 40(3)1986:688, a Cobra conseguiu em 1976
com a Sycor o licenciamento necessário para produzir os seus micros da série 400.
11. Segundo TIGRE,P.B. (1985:75) Computadores Brasileiros: Indústria, Tecnologia e Dependência:
“A política nacional de informática começou a se delinear nos início dos anos 70, quando o
crescente uso de computadores, aliado à disponibilidade de técnicos e engenheiros de alto nível
para projetar e desenvolver alguns tipos de equipamentos de processamento de dados, alertou para
a possibilidade do Brasil buscar uma certa autonomia tecnológica no setor. A primeira tentativa de
estabelecer uma capacidade técnica própria para desenvolver computadores foi feita em março de
1971 através do projeto FUNTEC111. O projeto foi elaborado conjuntamente pelo BNDE e
Ministério da Marinha e consistia em financiar o desenvolvimento do minicomputador G-10 pela
PUC do Rio (software) e a Politécnica da USP (hardware) ao custo de US$ 2 milhões.”
12. Segundo BECKER,B. & EGLER,C. (1993:132):
“A marinha teve também um importante papel na política nacional para a indústria de computadores
e de semicondutores. Desde 1971, um grupo de trabalho associado ao Banco Nacional de
Desenvolvimento (BNDE) visou à criação de um computador de produção nacional. Naquele
momento, graças ao grande mercado interno e ao avanço da engenharia industrial, o governo
decidiu estimular a indústria nacional de computação, e o primeiro passo nesse sentido foi dado em
1977, quando o governo negou a permissão à IBM e a outras empresas transnacionais para
fabricarem mini e microcomputadores no Brasil. ... Em 1979, foi criada a Secretaria Especial de
Informática (SEI), órgão especial diretamente subordinado ao Conselho Nacional de Segurança em
Brasília, encarregado de formular uma política nacional para o setor, reservado temporariamente o
mercado interno para firmas nacionais, política que foi reafirmada em 1984. A indústria de
microcomputação vem experimentando desde então um crescimento rápido e custos decrescentes,
desenvolvendo a capacidade interna de inovar e transformado-se numa importante fonte de
emprego ..., mas desenvolveu-se também um ponto de conflito com os Estados Unidos.”
13. Sobre este assunto, ver o livro da jornalista Sílvia HELENA (1984), Rastro de Cobra, editado pela Cobra.
Uma obra de caráter histórico que procurou recuperar e desvendar a trajetória dos 10 anos (1974/84) desta
empresa no Brasil.
116
Capítulo 5
Capítulo: 5
Reestruturação Industrial, Regulação Territorial e
Política Estatal na Indústria Brasileira de Informática
5.1. O Papel da Política Industrial-Estatal e o
Processo de Reestruturação Industrial no Brasil
O debate desta temática ainda se encontra em sua fase inicial
no Brasil, bastando apenas verificar o tratamento que vem recebendo nas recentes pesquisas e
artigos (SUZIGAN,1989; DIAS,1989; FRITSCH & FRANCO,1991; CANO,1994;
LENCIONI,1994).
A idéia de que o processo de reestruturação industrial (PRI) do Brasil é uma forma de
competitividade “espúria”, ou de que o PRI é um produto de políticas malogradas de
industrialização empreendidas desde o pós-guerra, políticas estas predominantemente defensivas,
caracterizadas “por um protecionismo exagerado e indiscriminado”, não consegue elucidar o
processo e a trajetória da reestruturação industrial (RI) no Brasil 1.
Esta abordagem monta um “sistema” de argumentação que caracteriza o desenvolvimento
industrial brasileiro como o resultado do fechamento da economia (substituição das exportações,
reserva de mercado) e do “protecionismo frívolo” não competitivo (SUZIGAN,1989:28-29), não
permitindo que se deduza como se constituíram as estratégias de desenvolvimento, suas
articulações com as políticas industriais e a disputa pelo mercado entre as grandes corporações
nas economias periféricas.
Um outro enfoque define a política industrial, no Brasil e nos NPIs, como um resultado de
um modelo de RI “imposto” (PEET,1985:27), desenvolvido por artifícios internos e adaptações
às pressões políticas macroeconômicas dos agentes financeiros externos.
121
A afirmação de que “o Brasil parece estar atrasado em relação a essas novidades do
cardápio internacional de sugestões de política de desenvolvimento” (TAVARES,1991:86)
sugere pouca coisa, além da mera reflexão de nosso atraso. Mas há considerações que afirmam,
em contraposição, que o Brasil padece de uma política industrial que priorize a constituição
estratégica
de
capital
e
de
tecnologia
em
estado
puro
(RANGEL,1982;
MAMIGONIAN,1992a).
O atual processo de reestruturação territorial da produção industrial possui características
peculiares e singulares que devem ser examinadas, logicamente, a partir do conteúdo políticoeconômico que consubstancia a condições de produção e reprodução de capital no território.
A RI, em curso no território, tende a se evidenciar mais acentuadamente, enquanto
expressão espacial, nos setores mais dinâmicos do processo produtivo, setores estes que se
destacam -- como no caso do embrião do projeto geopolítico da modernidade (São José dos
Campos e Vale do Paraíba) -- relativamente, pelo grau dos conteúdos dos investimentos em
pesquisa e desenvolvimento.
O caráter do processo de reestruturação,
se
defensivo ou se positivo
(SUZIGAN,1989), está articulado com as prioridades estratégicas da política industrial-estatal de
acionamento da capacidade ociosa (RANGEL,1982) e de reestruturação da estrutura de
acumulação no território, promovida pelas diretrizes contraditórias que são definidas pela postura
do bloco político hegemônico no território pela disputa do mercado.
A idéia de que “... a tecnologia de ponta não é importante, e na verdade pouca
significativa,
para
a
retomada
do
desenvolvimento
econômico
brasileiro”
(MAMIGONIAN,1990) ou o pressuposto de que “não basta que em um lugar exista uma
tecnologia
mais
sofisticada
para
que
um
país
tenha
seu
domínio
virtual”
(TOLMASQUIM,1991:30) são deduções provenientes da concepção de que é preciso o
“estímulo econômico” concorrencial necessário para aplicar “as inovações tecnológicas”... “aos
fins de produção” (RANGEL,1980:85).
122
Embora “o objetivo do desenvolvimento possa ser definido como a organização da
atividade produtiva...”, é sabido que a lógica que impulsiona esta “organização” nem sempre é
inteiramente regulada pela ação das forças políticas que consubstanciam o ser do Estado,
responsáveis prioritárias pelo planejamento estratégico das atividades industriais.
A estrutura técnica da economia industrial brasileira, consolidada na fase B do terceiro
Kondratieff, é um produto de níveis diferenciados de composição tecnológica no território. A
expansão da capacidade produtiva ociosa exige soluções modernizadoras de convertibilidade das
inovações tecnológicas para o seu acionamento e não o contrário, como está acontecendo.
O PRI atual do Brasil não é apenas o resultado intencional ou geopolítico de integração
competitiva do território patrocinada por um liberalismo autoritário que se manifesta através de
uma flexibilização sui generis do Estado (BECKER,1991:52 e 54) mas, parece ser, o requisito
lógico, no processo global de acumulação capitalista, de absorção das condições internas de
reprodução do capital por capitais estrangeiros para o desenvolvimento de atividades produtivas
que, na concorrência global, estão enfrentando perdas de mercado para empresas e produtos
com elevado grau de incorporação de AT.
123
5.2. Reestruturação Industrial
e Meio Técnico-Científico Informacional
A partir da segunda metade dos anos 80, a Geografia brasileira começou a empreender
estudos sobre o processo atual de transformação do território sob o signo do período “técnicocientífico” (SANTOS,1985; 1988; 1991:146) 2.
As premissas teóricas assentadas em uma periodização evolutiva da história das técnicas
desenvolvidas pela sociedade humana (ELLUL, 1964:325; FRIEDMANN, 1966:94;
SANTOS,1985:23 e SANTOS,1988:58-57), tendem a se revelar pouco consistentes para
caracterizar as influências do período técnico-científico no processo de reestruturação do espaço
global, principalmente no período atual da crise no capitalismo.
O estudo das crises no capitalismo e do surgimento das inovações tecnológicas
possibilitam uma melhor compreensão do tipo de modernidade e dos novos paradigmas que se
consolidam (PEREZ,1985), do ponto de vista político e econômico, nas formações sócio espaciais (SANTOS,1978:195; 1979:15). Supor que esta modernidade se constitui numa
hegemonia irrecusável de um novo sistema de técnicas (SANTOS,1988:59) é quase revalidar os
postulados do determinismo tecnológico, mas este imperativo se constituiu de fato. No entanto,
existem outras possibilidades de se apropriar dos novos sistemas de técnicas, sem utilizar somente
os meios excludentes do seu conteúdo burguês capitalista.
A concepção sistêmica funcionalista exerce ainda uma antiga forte influência em algumas
correntes do pensamento geográfico brasileiro (SANTOS,1985:33; SANTOS,1991:141). Esse
traço, que lhes é por vezes característico, ofusca suas reflexões, sobre a análise do processo de
transformação do território (SANTOS,1991:146), tornando-as abstratas demais em suas
postulações e nitidamente funcionalistas para dar conta de sua questão 3.
As explicações e formulações teóricas sobre a constituição de um meio técnico-científico
informacional 4, em contrapartida à discussão sobre a constituição do PRI no Brasil, sugerem
124
estruturas argumentativas que, inintencionalmente, se assemelham as de Daniel BELLS, quando
este procurou explicar a constituição da Sociedade Pós-Industrial (1977). Estas idéias tendem a
desembocar numa teoria evolucionista 5, que afirma haver uma quase sobreposição completa do
“meio técnico-científico” em relação ao meio geográfico, proposição esta quase determinista que
também pode ser encontrada em ELLUL 6. Tal formulação supõe, ao que parece, uma natureza
completamente tecnificada, o que é uma exacerbação do processo de produção dos novos
conteúdos técnicos no território. Georges FRIEDMANN (1968:53), em seu livro “7 Estudos
sobre o Homem e a Técnica”, imputou a “Metrópole mecanizada”, enquanto novo meio técnico,
a capacidade de alterar e mudar os “modos de sentir e pensar” (percepção) do homem.
Explicar o processo de transformação do território pelo crescimento do uso de mais
ciência e mais técnica ou então pela difusão e crescimento do trabalho intelectual
(SANTOS,1991:147) não esclarece suficientemente. Não basta afirmar que os Estados do sul e
do sudeste parecem ser a expressão brasileira deste “meio técnico-científico” ou que este se “dá
como manchas em outras áreas do território”, porque não se tinha como agora (Cf. Mapa 02, 03
e 05) uma visibilidade clara dos novos conteúdos de composição tecnológica das indústrias de
AT no território, principalmente do subsetor de informática, que pudesse constituir a nomeada
emergência de um novo espaço industrial (SANTOS,1991:148); ao que tudo indica, estes
conteúdos tendem a ser o resultado da articulação da ação do Estado e das grandes firmas com
forte capacidade de inovação que mudam o significado do mercado das cidades locais
(SANTOS,1988).
É importante apresentar a força necessária das evidências empíricas para consubstanciar
o conteúdo dos processos de transformação ou de reestruturação desenvolvidos no território.
Que rede urbana e hierarquias funcionais formam o objeto principal destas deduções? O
conceito de “hierarquias funcionais do sistema urbano” -- desenvolvido pela Teoria das
Localidades Centrais, na década de 30, por CHRISTALLER (1966), a partir da Teoria da
Localização Industrial de WEBER (1909) e dos estudos sobre a organização da produção
industrial de SOMBART (1931; 1946), necessita de pressupostos reais para ser admitido
125
(CORRÊA,1987b; 1982:50), o que implica na verificação ou no exame dos processos (socia is,
políticos, econômicos e espaciais) e sua lógica contraditória, e não apenas no exame de funções,
variáveis, atividades, fluxos e elementos de coesão interna e externa que se relacionam
logicamente como um sistema.
O estudo do crescimento econômico e industrial de algumas cidades do interior paulista
(Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Sorocaba, São Carlos, etc.) parece indicar
como está sendo desenvolvido, com ou sem a constituição de novas formas superestruturais de
organização, o PRI no Brasil. Mudanças institucionais e organizacionais, articuladas a uma
seqüência de renovações parciais e setoriais da economia, estão sugerindo a ocorrência de fortes
modificações estruturais que corroboram o sentido do processo de reestruturação
(RANGEL,1987).
As alterações nas relações de produção internas ao território não podem ser
compreendidas sem o exame profundo das transformações nas relações de produção externas,
que são determinantes, em última instância, do desenvolvimento das forças produtivas internas no
território (MAMIGONIAN,1987).
O fenômeno da desmetropolização, a partir do crescimento de regiões periféricas, tem
sido chamado de “involução urbana” (SANTOS,1990:184). O argumento desta assertiva é que a
involução urbana conduz à involução metropolitana, onde o fator causal “não se trata de nada
parecido com o que nos anos 60 se chamou de ruralização da cidade” (SANTOS,1988:62) 7.
Essa questão ainda vai render grandes discussões porque existem indicações e
explicações diferentes deste fenômeno, que o apresentam como uma resultante dos processos de:
terciarização; deseconomia de aglomeração (CORDEIRO,1980:173; SCOTT & STORPER,
1987:37;
STORPER,1990:129);
desconcentração
(ASSIS
et
al.,1992:15;
LENCIONI,1994:203) e descentralização urbana (CANO,1994:594; NEGRI,1988:30;
ROLNIK, KOWARICK & SOMEKH et al., 1992:140); desintegração vertical; reversão da
polarização (AZZONI,1986:26) (Cf. Gráfico 12); desenvolvimento poligonizado ou
126
descentralização concentrada (DINIZ,1994:295-296); desindustrialização do centro ou “core” da
produção industrial no território (o Município de São Paulo).
Gráfico 12
Estado de São Paulo: Valor da Transformação Industrial (%)
1960-1985
Capital
RMSP
Interior
60
55
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1960
1970
1975
1980
1985
Fonte: FIBGE: Censos Industriais de 1960, 1970, 1975, 1980 e 1985.
Essas iniciativas de interpretação tentam explicar, no caso do Município de São Paulo (a
Capital), o fato de que seu crescimento, desde o início da década de 70, em termos de valor da
produção industrial e do valor adicio nado, a cada ano, vem se retardando em relação ao interior
do Estado (SANTOS,1988) (ver, Tabela 4), e que este processo de crescimento configura uma
outra tendência de localização desconcentrativa das atividades industriais.
Tabela 4
Regiões do Estado de São Paulo: Valor da Produção Industrial (VPI) 1940-1985 (%)
Regiões
Capital
RMSP
Interior
ESP
1940
53,93
10,53
35,54
100
1950
54,19
12,14
33,67
100
1953
58,73
12,19
29,08
100
1956
51,12
15,48
33,40
100
1960
51,68
19,42
28,90
100
1970
43,75
26,94
29,31
100
1975
37,04
28,85
34,11
100
1980
30,07
28,58
41,35
100
1985
27,92*
28,58*
43,50
100
Fontes: FIBGE: Censos Industrial de 1940, 1950, 1960, 1970, 1975, 1980 e 1985.
FIBGE: Pesquisa Industrial de São Paulo 1953 e 1956; ROLNIK, KOWARICK & SOMEKH, et al.,
(1992:142). *Valores estimados para o ano de 1985, a partir do crescimento constante da RMSP
(K = 28,58), para o valor resultante da soma do (VPI% da Capital + VPI % da RMSP = 56,5%)
127
(LENCIONI,1994:199).
Evidências sobre estas considerações
8
podem ser constatada, também, através da
pesquisa sobre “Espacialização da Indústria de São Paulo”, realizada pela Fundação Sistema
Estadual de Análise de Dados -- SEADE em 1990. Esta pesquisa revelou que, no período de
1970/80, a indústria no Município de São Paulo teve um crescimento de 11,4% ao ano, enquanto
no interior cresceu 15,8% ao ano, crescimento este superior a média nacional que era de 12,3%.
Segundo ainda esta pesquisa, este crescimento só foi suplantado pela Região Metropolitana de
São Paulo (SEADE, 1990:05).
Esta constatação não deve assumir o caráter da observação peremptória, principalmente
quando surge evidências que apontam outras tendências do desenvolvimento industrial do Estado
de São Paulo.
O processo de interiorização da indústria, também, ocorreu de forma seletiva, quase
hierárquico e funcional, é o que foi constatado nas indústrias de AT do setor eletroeletrônico, no
caso em especial as indústrias do subsetor de informática; ou seja, quase sempre todo o estudo
generalizante tende a indicar alguma fragilidade, por trás de algumas generalizações sobre a
indústria em geral, tende-se a obscurecer as especificidades setoriais e subsetoriais das indústrias,
principalmente das indústrias de AT.
Por trás das diferentes formas (aparência do fenômeno) de modificações na estrutura
territorial da produção, está a redefinição das estratégias de localização do capital no território,
que é o elemento chave de comp reensão da emergência das novas formas territoriais de
concorrência e de composição do capital. Ao examinar-se a mobilidade ou transferência das
sedes de alguns bancos do Rio de Janeiro para São Paulo, sugere-se algumas indicações para a
interpretação desse fenômeno.
128
5.3. O Projeto Geopolítico da Modernidade e
os Estudos dos Pólos Tecnológicos Brasileiros
Uma das tentativas de explicação, pela Geografia brasileira, para o surgimento,
desenvolvimento e concentração da moderna indústria de Alta-Tecnologia no território, foi a idéia
do “Projeto Geopolítico da Modernidade”. Para esta acepção, as forças armadas e o Estado
Nacional, constituíram “intencionalmente” um “Projeto” de inserção da economia nacional na
“nova era mundial”, onde o domínio do vetor científico-tecnológico se constituiu na condição
deliberada de autonomia e soberania nacional da doutrina de segurança nacional.
Como já foi dito, esta vertente entende que “a instrumentalização do espaço” para a
consecução do Projeto Geopolítico da Modernidade é efetuada “pelo Estado” para remover “os
obstáculos materiais à expansão capitalista moderna” no território (BECKER,1988a:118 e
BECKER,1991:48). Ao Estado é imputado uma série de papéis quase antropomórficos. Neste
discurso, o Estado, enquanto referente, é, várias vezes, representado anaforicamente pelo
pronome “ele” (BECKER,1988a:104 e 118) e passa a assumir papel semântico de um sujeitoagente (causador voluntário), capaz de definir uma “estratégia espacial” (BECKER,1988a:119),
“impor uma racionalidade” (BECKER,1988a:104), “controlar fluxos e estoques econômicos e
produzir uma malha de duplo controle, técnico e político (BECKER,1988a:104), “institucionalizar
uma nova esfera de poder..., criar um novo território..., implantar a infra-estrutura básica para a
produção do espaço transnacional...”(BECKER,1988a:119).
O Estado é tratado, por esta perspectiva, como um sujeito que possui uma agentividade,
ou seja: é dotado de volição, é causador deliberado e controlador dos processos no espaço. A
transformação metonímica do Estado em sujeito-agente é quase, aparentemente, “natural”
(BADIOU,1994:43-44), mas esta figura de linguagem pode camuflar (fetichizar) os agentes reais
dos processos de decisão, que precisam ser cientificamente identificados no interior do Estado.
129
A definição de uma política estatal, voltada especificamente para o desenvolvimento
científico e tecnológico, foi moldada, em 1968, através da atuação das instituições CNPq,
BNDE, FINEP, Secretaria de Tecnologia Industrial e do FIPEC do Banco do Brasil, quando
foram estabelecidos:
a) o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED);
b) os mecanismos financeiros especiais para as atividades científicas e tecnológicas;
c) a estrutura institucional para o planejamento da área;
d) os planos básicos para o desenvolvimento da ciência e tecnologia: I e II (PBDCT), referentes
aos períodos 1973/74 e 1975/79 (ERBER,1980:53).
Mesmo em pleno auge “do milagre”, o dispêndio de recursos envolvidos para a atividade
de ciência e tecnologia no Brasil parecia ser “claramente insuficientes para transformar a ciência e
a tecnologia na força motora do desenvolvimento nacional”. Nos programas de apoio ao
desenvolvimento de tecnologia para as empresas nacionais, no período de 1974-78, o maior
número de beneficiários foram do setor privado com 56% dos recursos (ERBER,1980:55); o que
de fato revela mais o caráter corporativista no projeto de definição das estratégias de acumulação
por parte do Estado do que a condição de sujeito do projeto de modernidade.
Segundo estes geógrafos (BECKER & EGLER, 1989), as “redes técnicas”, constituídas
no território, são o produto geopolítico da intencionalidade prévia da decisão, também, de um
sujeito-agente (a burguesia nacional e os militares), que preestabeleceu, a partir de um grande
“projeto político”, uma estratégia geopolítica e um conjunto de relações políticas no espaço 9.
Mas, para estes geógrafos, a constituição das “novas redes técnicas do espaço”
representa a criação de “uma nova tecnologia espacial de poder estatal” 10, ou seja, “a moldagem
científico-tecnológica do território” é presidida pela intencionalidade dos agentes políticos. Parece
ser negligenciada a interferência competitiva ou concorrencial de capitais estrangeiros e das
relações econômicas externas no processo de reestruturação engendrado no território e o papel
das forças armadas no processo político de “moldagem científico-tecnológica do território” ou na
130
determinação da inscrição do fenômeno no espaço foi sobrevalorizado11 (BECKER & EGLER,
1993:125).
O conteúdo teleológico pode ser percebido, nestes autores, quando eles admitem a
criação intencional de uma “malha programada” no território, ou quando anunciam a “moldagem
científico-tecnológica do território” por um poder, ao que tudo indica, emanado pela mão invisível
do Estado. Tal formulação se aproxima da sugerida por TOURAINE (1981:110), quando este
trata do surgimento da “sociedade programada” no seu livro sobre o Pós-Socialismo.
Para não se atribuir uma “onisciência” e onipotência intencional a um dos agentes políticos
da sociedade (BECKER & EGLER,1989), seria necessária uma discussão sobre a estrutura
econômica e as relações sociais em que esta se apóia no processo de estruturação e
reestruturação industrial no território.
Outra importante fonte de estudos é a desenvolvida pelos pesquisadores que estudam a
constituição dos pólos tecnológicos brasileiros, que procura fornecer uma explicação
transplantacionista para o desenvolvimento dos centros produtores de empresas de base
tecnológica ou de Alta-Tecnologia no território. Estes identificaram 16 pólos tecnológicos
existentes no Brasil.
Os recentes estudos sobre o surgimento dos pólos tecnológicos brasileiros
(MEDEIROS,1990; DROULERS,1990; MARCHI,1990; LIMA,1994) ressentem-se de uma
análise mais detalhada sobre a articulação dos mecanismos de reestruturação e transformação das
relações de produção territoriais internas com as externas; ficando nítido a ausência da inserção
do conteúdo de constituição econômico-espacial dos pólos tecnológicos brasileiros dentro do
contexto da economia global, o que prejudica a construção de uma teoria científica sobre a
gênese destes pólos.
No Brasil, a definição de pólo tecnológico foi concebida através de modelo de
simplificação teórica, como “um conjunto formado de quatro componentes”, onde governo e
Estado parecem ser tratados como sinônimos (MEDEIROS,1990) 12.
131
Neste sentido, a tentativa de formulação do conceito de pólo tecnológico
(MEDEIROS,1990), desprovida do exame de sua articulação territorial com a economia
internacional, revela-se inconsistente na essência e na substância de seu conteúdo lógico espacial,
enquanto “expressão mais representativa do fenômeno”. A teoria dos pólos tecnológicos revive
idéias da tradição de teóricos franceses sobre pólos de crescimento (PERROUX,
BOUDEVILLE), que parecem ter sido negligenciadas por seus porta-vozes atuais, pois quase
nenhuma consideração é feita para diferenciar a teoria atual dos pólos tecnológicos da teoria dos
pólos de crescimento, que no Brasil foi amplamente popularizada sob a ideologia dos pólos de
desenvolvimento.
Ao estabelecer a diferença existente entre uma metrópole e um pólo tecnológico, os
porta-vozes desta teoria pouco esclarecem o conteúdo de suas articulações territoriais e
produtivas. Acreditam que os pólos tecnológicos “decorrem de algumas pré-condições existentes
em determinado local” (MEDEIROS,1990), evidenciando-as através de três tipos estruturais de
“formatações dos pólos”: a primeira, configura um “Pólo com Estrutura Informal”, que não
possui uma estrutura organizacional formal, mas possui projetos e ações direcionados ao
desenvolvimento da articulação de instituições de ensino e pesquisa com empresas de base
tecnológica; a segunda, configura um “Pólo com Estrutura Formal”, que possuiu uma instituição
ou entidade formal coordenadora, encarregada de promover vínculos institucionais com o
governo e empresas nascentes; a terceira, configura um “Parque Tecnológico” que congrega,
dentro da esfera das iniciativas de P&D universitárias, prédios e terrenos para abrigar empresas,
disponíveis para locação e compra (MEDEIROS, STAL, MATTEDI, & MARCHI, 1990;
ADELINO MEDEIROS, ATAS MEDEIROS, MARTINS, PERILO, 1992:22-23).
A “estrutura organizacional” parece ser o ponto de diferenciação essencial para a
definição das características de formatação dos pólos tecnológicos. Esta ênfase nos aspectos da
“estrutura organizacional” tende a apresentar os pólos como um fenômeno em si, desvinculado de
suas relações sociais, econômicas e territoriais.
132
Para os formuladores das políticas de desenvolvimento dos Pólos Tecnológicos, a
intervenção da política industrial-estatal, na consolidação das “estruturas organizacionais” dos
pólos, deve-se restringir-se as ações de planejamento, co-financiamento e avaliação de
atividades, ou seja, deve promover o treinamento em gestão tecnológica; deve ser capaz de gerar
facilidades e infra-estrutura; deve incentivar, reduzir tributos e criar linhas de crédito para o capital
de risco.
Os modelos de interpretação e explicação, para a constituição e desenvolvimento dos
Pólos Tecnológicos, enquanto centros de produção de empresas de base tecnológica ou de AltaTecnologia, sugerem que estes se localizam ao redor de algumas metropóles, pertencentes ao
complexo industrial militar, ou então, que estes são resultantes, como outras “paisagens
tecnológicas”, do “Projeto Geopolítico do Embrião Territorial representado pelo Corredor
Metropolitano entre Rio e São Paulo”, no caso o Vale do Paraíba (LIMA, 1992:357). Esta
dedução é ainda insuficiente, do ponto de vista de seu corolário econômico e territorial, para
explicar a constituição e a concentração desses centros de produção de Alta-Tecnologia.
133
5.4. Reestruturação e Regulação Político-Territorial
da Indústria de Informática
Desde a “era Hollerithiana” (BASHE et al., 1986) da tecnologia de processamento de
dados no Brasil (1917/57), que o mercado refletiu o controle aparentemente indelével dessa
tecnologia pelas Corporações Multinacionais no território.
Com a internacionalização e territorialização, no Brasil, da produção de grandes
mainframes pela IBM, em 1939, e pela Burroughs, em 1953, parecia que ninguém iria perturbar o
“tranqüilo domínio” territorial deste mercado, controlado pelas CMs por quase setenta anos
(1917/76). Até meados da década de 70, a IBM sozinha controlava 64% do mercado e a
Burroughs ficava com a fatia de 20% (FRITSCH & FRANCO,1991:96)
Durante o período “expansionista” que vai de 1967 a 1973 (Juglar/A), caracterizado
como “Milagre Econômico”, o esforço de manter a política de crescimento interno e das
iniciativas estatais voltadas à criação de condições para a capacitação e autonomia da tecnológica
nacional, passou a ser uma meta no II PND (PIRAGIBE,1985:122), através do aumento da
participação do capital nacional neste processo.
A diferença desse ciclo “expansionista” (1967/73) para o ciclo recessivo endógeno
anterior (1962/66) foi a existência de conjuntura favorável para consolidação de projetos de
caráter mais nacional, baseado no modelo de substituição de importação, já que a economia
demonstrava, em vários setores, sinais de vitalidade e crescimento.
Neste período (1967/73), os burocratas de algumas instituições do Estado Nacional
mediaram o projeto de inserção da indústria de eletrônica digital no mercado interno, ao
tornarem-se responsáveis pelos processos de estruturação territorial e regulação políticoterritorial desta tecnologia.
O primeiro passo nesse sentido foi a criação, em 1971, a partir do decreto no 68.287, de
um Grupo de Trabalho Especial-GTE, financiado pelo FNDCT/FINEP e pelo FUNTEC/BNDE
134
(HELENA,1984; PIRAGIBE, 1985; EVANS,1986; ADLER,1986; DANTAS,1988), sua meta
era o desenvolvimento e a construção de computador eletrônico para operações estratégicas da
marinha e criar as bases para a indústria brasileira de minicomputadores (BORGES,1977:50).
A criação do GTE foi fruto de iniciativas anteriores encabeçadas conjuntamente por
“burocratas” (ADLER,1986) do Ministério da Marinha e do BNDE, interessados em criar as
condições propícias para melhorar a capacitação e a autonomia tecnológica da indústria nacional
de computadores.
A falsa polarização do debate sobre os interesses de duas tendências, uma interessada na
abertura do mercado (tendência Liberal) e a outra no controle do mercado (tendência Antidependentista), pouco tem a acrescentado para revelar como surgiu e se consolidou a gestão
estatal da produção da tecnologia de informática no território.
Empenhado na constituição de joint venture
13
em condições favoráveis, a partir do
licenciamento de tecnologia oriunda do exterior, o GTE acreditava que essa forma de
transferência de tecnologia e a identificação de instituições nacionais de pesquisa que seriam
capazes de levar à frente o projeto de autonomia tecnológica nacional, iria ser crucial no processo
de criação de uma empresa nacional de computadores. O esforço desse grupo na caracterização
e no desenvolvimento potencial dessa empresa nacional se estendeu até meados dos anos 70,
quando foi fundada a Cobra.
O segundo passo na implantação institucional de uma política de regulação territorial do
setor de informática, aconteceu em 1972, através do decreto no 70.370, com a criação pelo
ministério do Planejamento da Comissão de Atividades de Processamento Eletrônico - CAPRE;
em suas atribuições estavam as funções de:
a) racionalização do uso dos equipamentos de informática do governo federal;
b) efetuar o censo e o registro dos computadores e equipamentos de processamento de dados
instalados no governo federal;
c) promover, a partir de programas de treiname nto, a capacitação de pessoal do serviço público
para as atividades de processamento de dados.
135
A Política Nacional de Informática foi concebida sob égide do modelo de substituição de
importação e sua realização só foi possível com a criação de instrumentos institucionais de
regulação. A edição da resolução 01/76, em 1976, através do decreto no77.118, que delegou a
CAPRE a responsabilidade para definir recomendações sobre a política nacional de informática
(HELENA, 1984; PIRAGIBE, 1987), representou o início da criação desses instrumentos, um
passo para a apropriação regulamentativa do mercado por empresas nacionais, ou seja, um
passo rumo à reserva de mercado. Este decreto praticamente redefiniu, em termos
organizacionais, as funções da CAPRE, naquele momento cabia-lhe a iniciativa legal de “Propor
as Diretrizes da Política de Informática e o Plano Integrado de Informática” (HELENA,1984).
Munida deste instrumento jurídico e imbuída de novas funções organizacionais, outorgado
pelo decreto no 77.118, a CAPRE recomendou a reserva de mercado para o segmento de
minicomputadores microcomputadores, segmento este que apresentava fortes perspectivas de
crescimento e desenvolvimento, principalmente, porque a IBM parecia não estar empenhada com
a política de investir competitivamente em P&D, para a aquisição do mercado deste segmento,
que era dominado, internacionalmente, pelas empresas DEC, Hewlett Packard, Data General
(EUA), Nixdorf (RFA), que chegaram a faturar de US$ 250 milhões a US$ 1 bilhões por ano,
neste segmento.
Na época, as empresas de minicomputadores brasileiras mais favorecidas foram: a
Cobra, empresa do setor público; a Labo, a Medidata, a Prológica e a Scopus, empresas do
setor privado, constituídas no período anterior da resolução; e as empresas de minicomputadores
e microcomputadores recém criadas: a SID, a Edisa e a Sisco, constituídas no final dos anos 70.
Assim como na França e Inglaterra, onde o Estado protegeu as suas principais indústrias
(Telemechanique e Logobax; International Computer Limited--ICL), da concorrência externa, no
Brasil, esta resolução significou, em parte, a transformação política do domínio territorial e
tecnológico das forças econômicas nacionais no mercado de mini e microcomputadores, e
representou, também, a consolidação do poder de regulação estatal, onde o Estado, de forma
136
corporativa (JESSOP,1990a:111), passou a ser, através de seus burocratas, o gestor político do
mercado da informática nacional.
A edição da Reserva do Mercado serviu para proteger e fortalecer o corporativismo das
indústrias, que estavam efetuando a informatização das instituições bancárias, e para preservar
algumas empresas emergentes dos grandes conglomerados financeiros nacional e corporações da
concorrência internacional. Ela foi, também, ideologicamente, justificada para preservar o
“interesse nacional” e evitar a evasão de capitais causada pelo crescimento das importações.
A reserva de mercado para os segmentos de mini e micro, foi imposta sem a resistência
da principal CM produtora de computadores, no caso a IBM, que fez “corpo mole” à edição da
reserva e ao “não” da CAPRE e do Conselho de Desenvolvimento Econômico para a montagem
de seu minicomputador Sistema/32 (CONCEIÇÃO,1977:35), isso por lograr vantagens com o
segmento de grandes mainframes, já que a reserva na sua edição de 1976 era destinada apenas
aos segmentos de mini e microcomputação, segmentos estes que a IBM não tinha ainda uma forte
política de pesquisa e desenvolvimento, como os outros concorrentes, que seriam mais fortemente
ameaçados por esta lei (HAMMER & GHAMPY, 1993:69) 14.
A conquista político-territorial do mercado ou a reserva de mercado, foi obtida pela via
institucional, a partir de uma resolução protecionista e corporativa que garantiu a sobrevivência
das empresas recém-criadas, principalmente, no segmento de microcomputação, onde a
revolução da microcomputação abriu uma “janela de oportunidades” para as empresas brasileiras
de computação (SCHWARTZMAN,1988). Neste sentido, antes de ter acorrido informatização
do território, aconteceu a territorialização confinada e corporativa da indústria de informática no
Brasil.
O processo de apropriação regulamentativa do mercado por empresas nacionais ocorreu
quando uma relativa estrutura sócio-territorial de acumulação do capital, vinculada ao setor
emergente da tecnologia de informação, começava a emergir, e uma clivagem significativa de
forças (sujeito histórico) por ela gerada passou a definir, através do Estado, o caráter normativo e
137
político (nacional ou internacional) das ações econômicas, no palco peculiar dessas lutas: o
território.
Inicialmente voltada para o segmento de minicomputadores, em 1976, e posteriormente,
em 1981, estendida
para os segmentos de microcomputadores, periféricos, produtos de
comunicação, terminais bancários e de uso geral, máquinas de controle numérico (CLINE,1987),
a reserva de mercado teve um papel regulador, do ponto de vista institucional, e foi crucial no
desenvolvimento da indústria de informática brasileira e fundamental, também, na criação de uma
estrutura de acumulação nos segmentos de mini e microcomputação.
Mas, só em 1984, através da Lei 7232, é que o caráter de regulação estatal do mercado
de informática se legitima com a instauração da Política Nacional de Informática e da Lei de
Reserva de Mercado.
138
5.5. Acumulação e Estrutura Territorial Corporativa
de “Oligopólio Confinado” no Setor de Informática
O acirramento da competitividade internacional, através das inovações tecnológicas, criou
um processo de oscilação das vantagens competitivas setoriais por algumas empresas
multinacionais no mercado globalizado. Esta oscilação ampliou a disputa pela escala de produção
dessas empresas. O mercado “perdido” brasileiro passou a ser objeto de uma disputa
diplomática das chancelarias do Brasil e dos EUA (FELDER & HURREL,1988; EVANS,1989).
Ao contrário do que apregoavam os defensores acadêmicos nacionalistas da reserva de
mercado (ADLER,1986; EVANS,1986; TIGRE,1984), a excessiva proteção da indústria
brasileira de computadores criou uma estrutura corporativa de “oligopólio confinado”, onde
três processos territoriais atuaram de forma decisiva na sua determinação: os processos de
concentração, integração vertical e desintegração vertical na escala e no escopo da produção e
da territorialização industrial corporativa (CLINE, 1987; STORPER, 1994, SCOTT,1988;
REGO,1990).
A criação de um processo territorial reservado de acumulação para o segmento de mini e
microcomputação culminou com o crescimento de uma estrutura territorial corporativa de
oligopólio confinado, que se fez sentir:
•
nos preços dos produtos (CLINE, 1988) e na sua qualidade;
•
nas precárias formas de atualização destes produtos, através da engenharia reversa,
“clonização” e “pirataria”, frente às inovações introduzidas pelos concorrentes internacionais,
inclusive competidores dos NPIs asiáticos;
•
na perda de participação gradual nas exportações (DEPIN,1991) e no crescimento do
volume ilegal de importação (contrabando) de produtos, por consumidores pouco satisfeitos
com o custo e qualidade do produto oferecido no mercado interno. Em meados dos anos 80,
139
as estimativas do valor sobre contrabando indicavam uma importação ilegal de equipamentos
que variava de US$ 50milhões a US$ 100milhões (TIGRE, 1987:75);
•
nas práticas de desenvolvimento confinado ou insular de tecnologia;
•
no controle do mercado dos segmentos de periféricos, mini e microcomputação, sem
concorrência, por algumas grandes empresas vinculadas, em sua grande maioria, aos
conglomerados financeiros nacionais.
A recessão de 1979 a 1988, não tinha abalado o crescimento e a expansão do setor de
informática. Mesmo com a inflação, do setor de informática, através da automação bancária
cresceu e se sofisticou de forma quase fulminante.
Mas qual era a vinculação da inflação com a informática? O crescimento dos ativos e
papéis que impulsionava a inflação, requereu o monitoramento da tecnologia de informação, e a
informática já era reconhecida “como a espinha dorsal” do setor que mais lucrou com a inflação e
“operações financeiras especulativas”, o setor bancário (DEPIN,1991:59). Segundo SCHMITZ
& HEWITT: “Os Bancos nacionais tinham a propriedade ou controle de seis das dez maiores
empresas de computadores nacionais” (SCHMITZ & HEWITT,1992:35).
Com o desenvolvimento das condições de produção e as dificuldades impostas pelos
grandes produtores internacionais para o licenciamento e a concessão de tecnologia, a aquisição
de tecnologia nos primeiros estágios de implantação da indústria nacional ocorreu, com a
intervenção Estatal, através da conhecida reserva de mercado, que constituiu o projeto
hegemônico legal (JESSOP,1982:187) e estratégico de acumulação (JESSOP,1990a:199) e de
negociação com os segmentos de segundo nível da produção internacional (BATISTA,
CAULLIRAUX, POSSAS e TAUILE, 1990).
Apesar do grau de maturidade alcançado pelo desenvolvimento da indústria de
informática, a informatização da “sociedade brasileira” ainda é muito pequena quando comparada
a dos países mais ricos; a manutenção da reserva e a preservação da estrutura corporativa de
oligopólio confinado (CLINE, 1987; STORPER,1994) represou, em parte, este processo de
informatização da sociedade.
140
Embora,
o
mercado
brasileiro
seja
o
6o(sexto)
em
termos
mundiais
(MOTOYAMA,1994:439), com um parque instalado estimado em mais de 2 milhões de micro,
falta ainda dimensionar os impactos da reserva de informática sobre a informatização da
sociedade. Pode-se afirmar que o processo de oligopolização confinado restringiu e retardou a
socialização da tecnologia de informática na sociedade. No México, há 4.500 micros para cada
milhão de habitantes, no Brasil existem apenas 2.900. O mercado brasileiro de informática é
1,6% do PIB, no México e na Argentina, esta proporção é maior, representa 2,5% do PIB
(EXAME, Jul - 1994:89).
Mas a sociedade começa a participar, enquanto usuária, a acompanhar e a experienciar
os processos de transformação da automatização (industrial, comercial, bancária e burocrática)
das atividades econômicas no território.
O território não se informatizou ainda (SANTOS, 1990), embora tenha sido apropriado
pelos fluxos e refluxos da teia de relações financeiras dos grandes conglomerados financeiros, das
grandes redes de televisão, de comunicação e de comercialização de produtos (os
supermercados e shopping centers). E em relação a expansão territorial das indústrias de
informática, o grau de concentração desse setor continuou ainda muito elevado, restringido-se aos
principais Centros de Produção de Alta-Tecnologia do Brasil, como revelam os Mapas: 2 e 3:
141
142
143
No caso das indústrias brasileiras de informática, a consolidação corporativa dos
instrumentos de regulação estatal do processo territorial de acumulação foi proveniente de várias
tendências:
•
do avanço na capacitação científica;
•
do surgimento de um “novo paradigma técnico-econômico” (PEREZ,1985) e a constituição
de “janelas de oportunidades” abertas pela revolução no setor de microtecnologia;
•
do surgimento de iniciativas de regulação e o estímulo ao desenvolvimento da indústria de
informática no Brasil;
•
da emergência de uma clivagem significativa de forças políticas geradas desde o processo de
industrialização;
•
do caráter ideológico e estratégico que o desenvolvimento da tecnologia de informática
passou a adquirir no discurso de alguns de seus defensores acadêmicos da reserva de
mercado;
•
da consolidação territorial de uma relativa estrutura territorial de serviços de automação
bancária implantados corporativamente pelos grandes conglomerados financeiros.
O avanço na capacitação científica (CLINE,1987), dos engenheiros brasileiros formados
no Brasil e em universidades americanas; as mudanças nos programas educacionais, o
aprendizado de 48 anos adquiridos com o uso da tecnologia de computadores, fornecida pelos
produtores estrangeiros de grandes mainframes: as CMs. Foram fatores importantes para a
consolidação das indústrias brasileiras de informática. Esta “demora” no aprendizado não
constituiu nenhum atraso como imaginaram alguns pesquisadores (DANTAS, 1989;
FLEURY,1987) mas, se revestiu em um processo de capacitação e de constituição de uma
reserva técnica de conhecimentos científicos.
Em termos conjunturais, o surgimento de um “novo paradigma técnico-econômico”
(PEREZ,1985) e a constituição de “janelas de oportunidades” abertas pela revolução no setor de
microtecnologia, passou a inspirar e atrair inúmeros pesquisadores e cientistas brasileiros, que
viam, no exemplo do desenvolvimento das pequenas empresas do Silicon Valley, uma
144
possibilidade que poderia ser também incorporada pela emergente indústria nacional (TIGRE,
1983).
O surgimento de iniciativas de regulação e o estímulo ao desenvolvimento da indústria de
informática no Brasil, implementadas desde a criação, em 1972, com a Coordenação das
Atividades de Processamento Eletrônico de Dados (CAPRE) e, em 1979, com o surgimento da
Secretaria Especial de Informática -- SEI, representou, também, um fator decisivo na
estruturação das indústrias de informática brasileiras.
A emergência de uma clivagem significativa de forças políticas geradas desde o processo
de industrialização, pela estruturação territorial do setor bancário e empresarial, passou a definir o
caráter político (nacional ou internacional) das ações econômicas para o desenvolvimento do
setor de informática no Brasil.
O caráter ideológico e estratégico de triplo significado que o desenvolvimento da
tecnologia de informática passou a adquirir no discurso de alguns de seus defensores acadêmicos
da reserva de mercado, no período do fim do “milagre” (Juglar A --1967/73) (PIRES, 1994), ou
seja: primeiro, para a Aeronáutica e a Marinha como fatores de “segurança nacional”; segundo,
durante o período da crise do petróleo, por representar um segmento novo capaz de
proporcionar rapidamente uma relativa autonomia tecnológica para a indústria brasileira de
informática; terceiro, como vetor industrial capaz de gerar divisas e aliviar as condições negativas
do balanço de pagamento da economia. Este último aspecto, teve pouca influência na
composição média dos custos no mercado interno e quase nenhum alívio gerou para a redução
do déficit do balanço de pagamento do Brasil (CLINE,1987).
Foi, também, fator crucial para a estruturação da indústria de informática brasileira, a
consolidação de uma relativa estrutura territorial de serviços de automação bancária implantados
corporativamente pelos grandes conglomerados financeiros, com um enorme potencial de
acumulação para o desenvolvimento industrial da indústria de informática, principalmente através
dos produtos que foram reservados de forma segmentada pela Lei de Informática, de 1984, no
caso, os segmentos mais ilustrativos, de mini e microcomputação e de periféricos.
145
Além dos fatores, acima descritos, de consolidação, estruturação e acumulação das
indústrias de informática, o desenvolvimento de inovações tecnológicas foram, também,
impulsionadas pela aceleração do processo de automação bancária, desenvolvida pelos Grandes
Conglomerados Financeiros - GCFs 15.
146
NOTAS
1. Segundo SUZIGAN, W. (1989:27), a política de Substituição de Importações:
“ ... conjuntamente com a política cambial, .... favoreceram taxas de rentabilidade mais elevadas no
mercado interno relativamente ao mercado internacional, criando assim uma tendenciosidade à
produção para o mercado interno e um viés anti-exportação. O resultado foi uma indústria com
elevado grau de ineficiência, por isso mesmo não competitiva interna e internacionalmente (com as
exceções de praxe), e com ausência de criatividade”.
2. Cf. SANTOS, M. (1988:58-62). O meio técnico-científico e a urbanização no Brasil. Espaço e Debates, n o 25.
Seu artigo pretendia ser uma: “...convocação à modernização da epistemologia das disciplinas territoriais”. Este
artigo representa uma reflexão sobre as tendências e possibilidades abertas pelo período técnico-científico no
novo processo de urbanização das cidades brasileiras, período esse que não conseguiu se consolidar
inteiramente no Brasil, mas que parece prefigurar, segundo Santos, suas influências “no território nacional do
futuro”.
3. Para SANTOS, M. (1988:59), o seu modelo teórico dedutivo supõe o reconhecimento da presença de um
“comportamento sistêmico das variáveis novas que dão uma significação nova à totalidade... variáveis que
chegaram para ficar, dando um novo caráter às realidades que nos cercam”. Segundo ainda SANTOS, agora
mais do que em qualquer outro momento, “graças à mundialização capitalista, há uma solidariedade das
mutações em plano mundial...em grande parte, administrada”, propiciando um novo tipo de dependência
recíproca, entre países e firmas, “sobretudo nos países subdesenvolvidos”. Além dessa concepção sistêmica
SANTOS, M. (1991:148) demonstra, também, uma forte influência funcionalista quando afirma: “A definição do
lugar é, cada vez mais no período atual, a de um lugar funcional à sociedade como um todo. Os lugares seriam,
mesmo, lugares funcionais de uma metrópole. E, paralelamente, através das metrópoles, todas as localizações
tornam-se hoje funcionalmente centrais.”
4. Segundo SANTO, M. (1991) as mutações no urbano possuem um caráter qualitativo e se realizam “como
parte das mutações concomitantes da sociedade e do espaço”. Este novo conteúdo espacial, SANTOS
chamou de meio técnico-científico e informacional, o que a seu ver constituía um produto da “fase atual”,
guardiã por excelência do momento em que o espaço é construído e reconstruído por conteúdos cada vez
maiores de “ciência, tecnologia e informação”.
5. Para SANTOS, M. (1991) as conseqüências do processo evolutivo, dividido em três períodos, foram o
desenvolvimento de tendências e mudanças importantes:
a) na composição “técnica do território”, graças a: cibernética, biotecnologia, novas químicas, informática e
eletrônica; este fenômeno ocorre paralelamente à “cientifização do trabalho”;
b) “o território se informatiza”, com a economia e a sociedade, o processo de informatização se efetua através
dos objetos geográficos que fornecem a configuração territorial. Talvez, nesta parte, SANTOS tenha incorrido
em uma sobrevalorização em suas deduções sobre “informatização do território”, pois conter a informatização,
reter algumas instituições, empresas e firmas informatizadas parece não ser o mesmo que estar complemente
informatizado, pode-se contrapor a esta formulação a idéia de que são as formas de regulação e de gestão do
território que estão informatizando e não o território;
c) os objetos do território são dotados de intencionalidade específica, acolhem e emitem “fluxos” que se
multiplicam, qualitativamente e quantitativamente, resultantes da especialização das suas “funções
produtivas”. Nesta parte SANTOS transforma os objetos em um sujeito, quando o sujeito são as relações
sociais concretas que os define e lhes dão significado;
d) o território sofre um processo de “diferenciação” que se define em função da disposição de informação
necessária ao seu uso (aproveitamento econômico) e pelo nível de informação que este dispõe em termos da
realidade fiscal;
147
e) o campo tende a ser, na atualidade, mais susceptível à penetração de capital que a cidade, novas formas
tecnológicas, organizacionais e ocupacionais se instalam com maior rapidez no seu interior. Isso se deve ao
fato de que a destruição e a transformação de capital fixo na cidade são mais dispendiosas que no campo.
6. Cf. ELLUL, J. (1968:87). A técnica e o desafio do século. Tal semelhança de enfoque também encontramos em
TOURAINE, A. (1981:98) O Pós-Socialismo, quando este escreve:
“É um fato que somos atingidos pela multiplicidade das descobertas técnicas e pela criação dum
meio técnico que escapa aos nossos sentidos.”
7. Cf. SANTOS, M. (1991:62). Segundo SANTOS:
“A involução metropolitana vem do fato de que, se tomamos os dados com que de costume se
mede o crescimento econômico, as grandes cidades no Brasil crescem menos, relativamente menos,
do que a maior parte das cidades médias e menos, relativamente menos, de que as zonas rurais, de
tal maneira que o crescimento econômico metropolitano é menor do que o crescimento econômico
das áreas mais facilmente atingidas pela modernização tecnológica e científica.”
8. Segundo ROLNIK; KOWARICK & SOMEKH (1992:142):
“Os dados apresentados mostram que o parque industrial metropolitano apresentou em relação
ao interior do Estado um desempenho mais elevado até o início da década de 70, e que partir deste
momento entra em processo decrescente que se prolonga até 1980.
O cotejo dos dados de valor da produção industrial (VPI) e de valor adicional no período
permitem afirmar que o parque industrial da Grande São Paulo não só tendeu a tornar-se menor em
termos relativos, como também apresentou níveis de produtividade mais baixos. Esta situação corre
paralelamente ao crescimento industrial do interior que se dá com a incorporação de técnicas que
incrementaram a produtividade, diminuindo o peso relativo dos custos de matérias primas salários
no valor global da produção.
A indústria no Município mostrou desempenho progressivamente mais declinante que o
metropolitano. Os dados indicam com clareza que o parque fabril de São Paulo, em relação ao
conjunto da metrópole, também apresentou tendência de queda no que se refere à produtividade.
Mas, apesar do desempenho decrescente, o Município concentrava em 1980 cerca de 30% do VPI e
40% do pessoal empregado do Estado.”
9. Como mostra as evidências, esta hipótese não conseguiu se concretizar, pois segundo ERBER, F. (1980:67):
“Não é por acaso que nesse contexto a iniciativa de política tecnológica de maior autonomia cabe
ao Estado e não aos empresários nacionais, em tese seus principais beneficiários: estes, em face da
presença de competidores estrangeiros instalados no país, tinham no uso da tecnologia importada a
opção mais segura e rentável a curto prazo, tendência reforçada pela competição entre empresários
nacionais usando tecnologia importada.... É bem verdade que o uso da tecnologia importada expõe
os empresários nacionais a uma perda de decisão .... No entanto, no caso brasileiro, esse fator
parece ter sido insuficiente para levar os empresários nacionais a se engajar num projeto econômico
e político distinto do prefigurado pelo padrão dependente -- associado.”
10. Cf. BECKER, B. e EGLER, C. (1989:04). O embrião do projeto geopolítico da modernidade: o Vale do
Paraíba e suas ramificações:
“trata-se da imposição no território nacional de uma poderosa malha de duplo controle - técnico e
político - corresponde aos programas e projetos governamentais e de empresas públicas e privadas
- a que chamamos “malha programada” ou “projetada””.
11. Esta sobrevalorização talvez seja resultante da leitura de BECKER, B. e EGLER, C. (1989:08), efetuada, dos
dados disponíveis no Brazilian Defense Directory (1987), já apresentados na nota 5 do Capítulo 4. Mas, a
sobrevalorização da participação dos militares na montagem do “Projeto Geopolítico da Modernidade” não se
justifica, principalmente quando, segundo ERBER, F. (1980:70):
“ao nível de dispêndios efetivados, a prioridade concreta dessa política não cai sobre a big
technology de interesse militar, como seria de esperar caso fosse esse o seu único propósito -- os
gastos com atividades espaciais, nucleares e de oceonografia respondem por pouco mais de 10%
dos gastos totais (do II PBDCT, referente ao triênio 75-78). Mesmo os gastos com tecnologia de
ponta (aeronáutica e eletrônica) parecem ser reduzidos ... Embora o apoio militar tenha
148
desempenhado um papel importante nesses programas setoriais de ponta, os gastos com defesa
não dão o tom dominante à política de P&D”.
12. Segundo José Adelino de MEDEIROS (1990:02) As novas tecnologias e a constituição dos pólos
tecnológicos brasileiros:
“Um pólo tecnológico - ou pólo científico-tecnológico (expressão mais representativ a do fenômeno
mas pouco utilizada) - é definido por um conjunto que possui quatro componentes:
1. instituições de ensino e pesquisa que se especializaram em pelo menos uma das novas
tecnologias;
2. aglomerado de empresas envolvidas nesses desenvolvimentos;
3. projetos de inovação tecnológica conjuntos (empresa-universidade), usualmente estimulados
pelo governo dado o caráter estratégico das novas tecnologias (projetos chamados
mobilizadores); e
4. estrutura organizacional apropriada (mesmo informal).”
13. Esta expressão já se encontra dicionarizada, incorporada ao léxico de nossa língua, segundo o AURÉLIO
(1986:990):
“joint venture [Ingl.] Associação de empresas, não definitiva, para explorar determinado(s)
negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica.”
14. Ao refletir sobre o descaso da IBM sobre os segmentos de mini e microcomputação Michael HAMMER &
James CHAMPY (1993:69) Reengenharia: Revolucionando a Empresa, concluíram:
“Mesmo Thomas J. Watson, o fundador da IBM, caiu vítima dessa miopia comum ao proclamar que
a demanda mundial de computadores não ultrapassaria cinqüenta máquinas. Vinte anos depois, os
fabricantes de computadores mainframe e gerentes de informática das empresas rejeitariam o
minicomputador classificando-o de brinquedo. Dez anos depois disso, o computador pessoal teve a
mesma recepção. ‘Para que precisamos de microcomputadores’, rezava o pensamento convencional,
‘se as nossas necessidades são perfeitamente atendidas pelos de grande porte?’ A resposta,
conforme podemos ver atualmente, foi que o grande poder dos minicomputadores e, depois, dos
PCs não estavam em repetir o que as máquinas maiores já faziam, mas em dar à luz a classes
inteiramente novas de aplicativos”.
Ainda sobre esse assunto a Maria da CONCEIÇÃO (1977:36), no seu artigo: O Sistema /32 e a Nova
Legislação do Setor:
“Apesar de tudo isso, a IBM continua a tratar com os clientes ‘como se nada tivesse acontecido’.
Pelo menos é o que garantem os representantes de algumas empresas que firmaram o contrato de
compra do /32.”
15. Para BAER, M. (1986:45) A Internacionalização Financeira do Brasil, o surgimento dos grandes
conglomerados financeiros nacionais resultou do desenvolvimento integrado de atividades transacionais entre
as instituições financeiras. Segundo ela:
“Com raras exceções, a instituição chave destes conglomerados é o banco comercial, a partir do
qual se constituíram as outras empresas financeiras associadas. Este processo de agrupamento não
é uma característica exclusiva dos privados nacionais, mas também se apresenta entre bancos
públicos e instituições financeiras estrangeiras.”
149
Capítulo 6
Capítulo: 6
Conglomerados Financeiros, Automação Bancária e
Reestruturação Organizacional da Gestão do Trabalho
e dos Fluxos Financeiros no Território
6.1. A Cobra e a Participação Acionária dos Grandes
Conglomerados Financeiros Nacionais
As iniciativas pioneiras de produção dos primeiros computadores,
genuinamente brasileiros, foram o resultado de vários anos de trabalho e pesquisa de duas importantes
instituições universitárias brasileiras a PUC do Rio de Janeiro e a Politécnica da USP. A “evolução no
aprendizado”, proporcionou o surgimento da Cobra, empresa estatal que se destacou no início dos anos
80 na produção de minicomputadores, e recebeu o apoio acionário dos representantes dos grandes
conglomerados financeiros nacionais -- GCFs (BAER,1986:45), que eram também os principais
usuários desses minicomputadores no país (TIGRE, 1987:64).
O “sucesso” deste esforço empreendedor só foi possível devido as restrições impostas, desde
1975, às empresas de capital estrangeiro produtoras de pequenos computadores e à importação de
periféricos, pela Comissão de Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico -- CAPRE,
instituição criada em 1972 pela Seplan, para desenvolver a política de informática e de automatização
dos serviços públicos.
Estas restrições
1
estimularam, também, os grandes conglomerados financeiros privados
nacionais, que necessitavam continuar o desenvolvimento da tecnologia para a automação bancária
(ADLER,1986) a investirem na implantação da indústria de informática nacional 2.
A participação acionária de alguns bancos privados e estaduais em 1976 (ver Gráfico 13)
através da Empresa Digital Brasileira -- EDB, representava quase 39% das ações da Cobra. Faziam
parte deste grupo de acionistas associados os bancos privados: Banco Bradesco, Banco Bamerindus,
151
Banco Itaú, Banco Nacional, Banco Econômico, Banco de Crédito Nacional, Bolsa de Valores do Rio
de Janeiro e Bolsa de Valores de São Paulo; e os bancos estaduais: Caixa Econômica do Estado de
São Paulo, Banco Auxiliar de São Paulo, Banco do Estado da Bahia, Banco do Estado de São Paulo,
Banco Noroeste do Estado de São Paulo. Além das participações acionárias dos bancos federais:
Caixa Econômica Federal, com 13%; Banco do Brasil, também 13%, e BNDE, com 12% das ações
da Cobra; outras instituições públicas, como o Serpro e a Digibrás, participavam respectivamente
com 13% e 5% das ações; os antigos acionistas privados, a Ferranti e a Equipamentos Eletrônicos
(E.E), participavam com apenas 4,5% e 0,5% do montante restante das ações (ADLER,1986;
HELENA,1977,1980,1984; EVANS,1986:794; DANTAS,1988; ROSENTHAL,1987).
Gráfico 13:
Ações de Bancos e Empresas Públicos e Privados na Cobra
1976 (%)
5
13
4.5
0.5
12
13
39
EDB
CEF
BB
BNDE
DIGIBRAS
SERPRO
E.E
OUTROS
13
Fonte: HELENA, S. In Rastro de Cobra, (1984: 46).
Esta composição acionária e a participação dos bancos não seriam mais as mesmas no final da
década de 70, alguns bancos resolveram investir por conta própria na criação de suas próprias
empresas e resolveram colocar os 39% de suas ações à disposição do governo (HELENA, 1984), e
alguns antigos diretores resolveram montar suas próprias empresas, a partir da experiência na Cobra;
152
isso acirrou ainda mais a concorrência e a competitividade entre as empresas de informática do Brasil.
São exemplos desta mudança: o Bradesco; o Itaú e a Conpart.
O Bradesco 3, o maior grupo financeiro da América Latina (CASSIOLATO, 1992:61), junto
com a Sharp, ajudou a fundar, em 1978, a SID Informática S/A, sediada em Curitiba (fábrica), que
desenvolveu a produção da automação bancária, da automação comercial e da minicomputação. Em
1979, este banco fundou, também, como acionista majoritário, a empresa Laboratórios Digital S/A -Digilab (Ver Quadro VIII), sediada em São Paulo, que produziu impressoras de grande porte 4;
equipamentos de automação bancária, pioneiros em termos internacionais (terminais de caixa; terminais
de extrato; terminais dispensadores de dinheiro; terminais de vídeo; interface de comunicação;
servidores de disco e winchester); e equipamentos de proteção de transmissão. A Digilab, em 1992,
estava concluindo uma joint venture com a NEC e controlava ou tinha participação em mais de 25
outras empresas; a Scopus neste período possuía a mesma diretoria da Digilab:
Quadro VIII:
Empresas Controladas pela Digilab do Grupo Bradesco
1992 (%)
Empresas
Controle Acionário
Produtos
Scopus
96
Micros
CPM
72
Mainframes Hitachi
PDV
50
Automação Comercial
Matel
48
Telecomunicações
Fonte: KANITZ, (1992:33).
O Itaú, o segundo maior grupo financeiro da América Latina (CASSIOLATO, 1992:61),
fundou, em 1979, a Itautec Informática, sediada em São Paulo, que desenvolveu produtos voltados
para as áreas de automação bancária, automação comercial, comunicação de dados, automação de
escritórios, software e microcomputação.
A Conpart, sediada no Rio de Janeiro em Jacarepaguá, foi criada, em 1980, por antigos
diretores da Cobra (Diocleciano Pegado e Carlos Augusto) e do ex-presidente do BNDE (Marcos
Viana) em sociedade com o Grupo Tristão, fabricante de fitas magnéticas e formatadores, prestadora
de serviços nas áreas de Consultoria e Engenharia de Sistemas. Mais tarde a Conpart se subdividiu,
fazendo surgir a “Software House”, especializada em periféricos e softwares.
153
No final dos anos 70 e início dos anos 80, o crescimento de demandas estatais por tecnologia
de automação bancária praticamente acelerou e provocou uma relativa expansão na produção de
minicomputadores da Cobra (TIGRE,1985:67;1987). Mas, este êxito da Cobra como a maior indústria
de minicomputador brasileira durou pouco tempo (de 1978 a 1981), uma queda brusca nas taxas de
lucro, em 1982, provocada pela emergência de empresas privadas concorrentes, no segmento de
microcomputadores, ocasionou enormes prejuízos nas empresas nacionais de minis: a Cobra, foi a
empresa que apresentou o maior prejuízo (EXAME, 1982:225), seguida da SID (Bradesco/Sharp),
Edisa (grupo Iochpe), Labo (Forsa/Brasilpar/Moreira Salles e outros), por ordem de perdas, pois os
principais acionistas da Cobra haviam se tornados concorrentes.
Posteriormente, dando continuidade ao trabalho do CAPRE, foi criada em 1979, a Secretaria
Especial de Informática -- SEI, secretaria vinculada ao Conselho de Segurança Nacional.
Em 1984, a transformação do regime político desencadeou um conjunto de mudanças
institucionais, as funções normativas do Estado e a definição da Política Nacional de Informática (PNI),
que vinha sendo efetuada pelo antigo Conselho Segurança Nacional de inspiração militar, sofreu
modificações.
A sustentabilidade político administrativa dos agentes responsáveis pela continuidade do
desenvolvimento da tecnologia de informática exigiu a transformação dos instrumentos normativos de
controle e de regulação. A Lei de Informática, N o 7232, aprovada pelo Congresso, em 1984, garantiu e
preservou esta estrutura político administrativa das instituições responsáveis pela regulação estatal do
setor de informática e criou o Conselho Nacional de Informática e Automação (CONIN). Ao CONIN
coube legislar e propor, a cada 3 anos, o Plano Nacional de Informática e Automação. A SEI passou, a
partir da promulgação da Lei de Informática, a ficar subordinada ao CONIN.
Assim, os GCFs continuaram a expansão do processo de automação bancária, com a nova
PNI e introduziram um conjunto de inovações tecnológicas, que praticamente contribuíram para
modificar as formas de gestão (métodos) do trabalho e dos fluxos financeiros no território, pode-se,
assim, baseado em 12 indicadores obtidos de várias fontes de pesquisa (desenvolvimento setorial;
gestão e crescimento territoriais; desempenho transacionais; nível de territorialização dos serviços;
sindicalização; emprego; desemprego; emprego gerado; grau de automação (composição orgânica);
154
gestão organizacional do trabalho; índice de produtividade; índice lucratividade), identificar três períodos
dos processos de gestão do trabalho e dos fluxos financeiros dos grandes conglomerados financeiros,
no território, que são: 1964/73; 1974/86; 1987/93; correspondem respectivamente, segundo revela o
indicador de desenvolvimento setorial, às fases: de implantação da automação bancária; de sua
expansão e de sua oligopolização.
As formas de gestão e crescimento territoriais das atividades bancárias, nestes períodos,
revelaram a constituição de três processos ou formas de gestão dos fluxos financeiros: a gestão
centralizada baseada numa forte concentração territorial dos fluxos financeiros e na ampliação da escala
de atuação; a gestão descentralizada assentada na territorialização da automação bancária dos fluxos
financeiros, na segmentação, na integração vertical e na continuação da ampliação da escala de atuação;
a gestão instantânea desenvolvida a partir do processo de reestruturação territorial dos fluxos e das
operações financeiras, efetuado através da desintegração vertical, da diferenciação e da ampliação do
escopo de atuação das atividades.
Os indicadores de desempenho transacionais, nestes períodos, demonstraram o uso de três
processos de operacionalização das informações e decisões: no primeiro, as informações e decisões
eram centralizadas em grandes centros de processamento de dados (CPDs), interligados pela rede
nacional de telex (RNTx); no segundo, as informações e decisões passaram a ser efetuadas por
processamento de dados distribuíd os, compartilhados regionalmente por minicomputadores, automatic
teller machines (ATMs) e terminais de transferência de fundos (TTFs), interligados por telex, hipertexto
e satélite; no terceiro, as informações e decisões passaram a ser tratadas instantaneamente em tempo
real, via on line, em várias redes locais integradas por servidores e microcomputadores, telefones,
faxs/modens, ATMs, TTFs, interligados por satélites.
Os indicadores do nível de territorialização dos serviços adotados pelos bancos mostram,
nestes períodos, a constituição de três processos de generalização espacial dos serviços: no primeiro, a
área de atuação dos serviços restringia -se ao espaço das grandes metrópoles, definida pelo nível de
abrangência dos serviços de Telex, que se entendiam por 50 localidades (CORDEIRO,1989), o que
indicava um nível baixo de territorialização dos serviços; no segundo, a área de atuação dos serviços
155
bancários, em 1985, havia se ampliado da região das grandes metrópoles, paras as cidades
intermediárias e algumas empresas, estendendo-se por 4.096 municipalidades (DIEESE,mar1988), o
que indicava um nível alto de territorialização dos serviços; no terceiro, a área de atuação dos serviços
bancários, em 1987, havia ampliado da região das grandes metrópoles para as cidades de porte médio,
empresas e residências dos clientes, através do “home banking”, mesmo com a diminuição do número
de municipalidades atendidas por estes serviços para 3.429, o nível de territorialização dos serviços
continuou alto, pois passou a abranger os clientes usuários de fax, modem e birôs de prestação de
serviços pela Internet (BBS).
Os indicadores de sindicalização, emprego, desemprego e emprego gerado, revelaram-se,
nestes períodos, revelaram-se respectivamente: baixo, alto, médio a baixo; alto, médio e baixo; sem
dados, no primeiro período, mas, em 1986, no segundo período, 109.000 trabalhadores, cerca de
10,93% da categoria dos bancários, perderam o emprego na 1a grande onda de desemprego do setor
na década de 80, em 1987, no terceiro período, mais 77.273 trabalhadores, cerca de 8,5% da
categoria, perderam emprego na 2a grande onde de desemprego do final dos anos 80; sem dados, no
primeiro período, mas no segundo período, durante a 1a grande onda de desemprego, em 1985, 45.000
novos postos de trabalho foram criados, o que demonstrou uma forte rotatividade da força de trabalho,
e no terceiro período, da 2a grande onda de desemprego de 1987 até 1989, 34.285 novos posto de
trabalho foram criados, o que revelou a continuidade da política de rotatividade do emprego.
Os indicadores do grau de automação ou de aumento da composição do orgânica do trabalho,
nestes períodos, revelaram o crescimento de investimentos em inovações tecnológicas que passaram a
ser incorporadas pelos bancos no território, três modalidades de automação foram identificadas: a
primeira, constituída pelo uso crescente de CPDs e pela ampliação das redes de comunicação por
telex; a segunda, resultante da implantação e difusão de ATMs, TTFs, e surgimento dos serviços dos
Bancos: Instantâneo, Eletrônico, Interlig, 24 Horas; a terceira, caracterizada pela informatização, pela
terciarização acelerada e pelo crescimento dos investimentos em reestruturações inovativas e em novas
tecnologias digitais.
156
As modificações nas formas de gestão do trabalho, associadas aos processos de automação
tecnológica, nestes períodos, influíram nos indicadores de produtividade, de lucratividade e na
competitividade das atividades bancárias: no 1o período, de 1964 a 1973, durante a fase da gestão
taylorista do trabalho, a produtividade era média, mas a lucratividade era alta; no 2o período, de 1974
a 1986, na fase da gestão fordista, a produtividade passou a ser alta e a lucratividade também; no 3o
período, de 1987 a 1993, na fase de gestão flexível (DIEESE,1994b), a produtividade continuou a ser
alta, mas a lucratividade, embora continuasse alta, passou a ser regida pelas influência dos planos
econômicos, quando maior era a taxa de juros e a inflação, maior era a rentabilidade dos bancos.
Todos estes indicadores, períodos e processos da automação da gestão e dos fluxos financeiros
no Brasil, que compreende os anos de 1964 a 1993, estão articulados sinteticamente no Quadro IX e,
cada período, em concatenação com os outros processos, serão detalhados nos itens 6.2, 6.3 e 6.4.
157
Quadro IX:
Indicadores, Períodos e Processos da Automação da Gestão do trabalho e dos Fluxos
Financeiros no Brasil (1964-1993)
INDICADORES
Desenvolvimento
Setorial
Gestão e Crescimento
Territoriais
Desempenho
Transacionais.
Nível de
Territorialização dos
Serviços
Sindicalização
Emprego
PERÍODOS E PROCESSOS
o
1 Período: 1964-1973
Implantação da AB
Gestão centralizada baseada na
concentração territorial das
atividades e na ampliação da
escala de atuação.
2o Período: 1974-1986
Expansão da AB
Gestão
descentralizada
e
territorialização da AB baseada
na segmentação, integração
vertical e na continuação da
ampliação da escala de atuação.
As informações e decisões
eram Centralizadas em CPDs e
grandes mainframes, instalados
de modo preferencial nos
centros de gestão territorial
(São Paulo, Rio de Janeiro,
Brasília e Belo Horizonte),
interligados via Rede Nacional
de Telex (RNTx).
As informações e decisões
começaram efetuadas por
sistema de processamento de
dados distribuídos ou a ser
distribuídas em bancos de
dados
compartilhados
regionalmente
por
minicomputadores, automatic
teller machines (ATMs) e
terminais de transferência de
fundos (TTFs) interligados via
telex, hipertexto e satélite.
Médio e Alto
Área de atuação, em 1985, dos
serviços bancários: 4.096
municipalidades
(DIEESE,
mar1988);
-- Metrópoles, Cidades e
Empresas.
Baixo
Área de atuação dos serviços
de telex: 50 localidades
(CORDEIRO,1989);
-- Metrópoles.
Baixa
Alto
Sem dados
Desemprego
Sem dados
Emprego Gerado
Grau
Automação
(composição orgânica)
Gestão do trabalho
Produtividade
Lucratividade
Média
(Constituição
de
CPDs,
ampliação de redes de
comunicação por telex)
Taylorista
Média
Alta
Alta
Médio
a
1 Onda em 1986:
-109.000, -10,93%
45.000 novos postos de
trabalho em 1985
Alta
(Implantação e difusão de
Automatic teller machines
(ATMs) e terminais de
transferência de fundos (TTFs,
e surgimentos dos serviços:
Instantâneos,
Eletrônicos,
Interlig e do Banco 24 Horas)
Fordista
Alta
Alta
3o Período: 1987-1993
Oligopolização da AB
Gestão
instantânea
e
reestruturação
territorial,
baseada na desintegração
vertical, na diferenciação e na
ampliação do escopo de
atuação.
As informações e as decisões
passaram a ser executadas
instantaneamente em tempo
real, via on line, em várias
redes locais integradas por
grandes
computadores
e
microcomputadores, telefones,
faxs/modens, automatic teller
machines (ATMs) e terminais
de transferência de fundos
(TTFs),
interligados
via
satélite.
Alto
Área de atuação, em 1987, dos
serviços bancários: 3.429
municipalidades
(DIEESE,
mar1988);
-Metrópoles,
Cidades,
Empresas e Residências dos
Clientes (Home Banking), via
fax e internet.
Média ou Baixa
Médio ou Baixo
a
2 Onda em 1990:
-77.273; -8,50%
34.285 novos posto de
trabalho de 1987 até 1989
Alta
(Informatização, terciarização
acelerada e crescimento dos
investimentos em inovações e
em novas tecnologias)
Flexível (DIEESE,1994b)
Alta
Média (P.Cruzado) ou Alta
158
6.2.Origens da Automação Bancária no Brasil (1964-1973):
Centralização e concentração da gestão dos fluxos
financeiros no território
A era Vargas foi, em princípio, o marco inicial de crescimento e expansão do sistema bancário
brasileiro, o modelo restringido (TAVARES, 1985:103) de substituição de importações, o
fortalecimento da industrialização e territorialização das relações de troca, a intensificação do sistema de
crédito nacional, impulsionaram a circulação do capital, apesar da redução dos investimentos no setor
de telecomunicações, nas décadas de 40 e 50 (DIAS,1989:32). De 1935 a 1965, criaram-se 212
novos bancos, o número de agências bancárias neste mesmo período cresceu de forma surpreendente,
passando de 624 para 7.721 (BAER,1986:11).
O crescimento da velocidade de circulação de capital, através da ampliação dos sistemas de
telecomunicações e de controle interno (contas correntes, folhas de pagamento, carteiras de título, etc.),
influiu no processo de automação bancária (AB), que se intensificou em meados da década dos anos
605, mas foram a criação dos instrumentos de ação normativa e regulamentativa do setor de
telecomunicações, através do Código Brasileiro de Telecomunicações (DIAS,1989:32); as reformas
bancárias e as políticas do Banco Central, em 1964 e 1967, dirigidas à redução dos custos
operacionais do sistema financeiro (ACCORSI,1990:18; CORDEIRO,1993:320), que contribuíram e
acentuaram os processos de expansão, concentração e conglomeração do setor bancário 6 (Cf. Quadro
X).
159
Quadro X:
Expansão do Sistema Bancário
1941-1985
Anos
1941
1952
1961
1971
1985
A-Bancos
512
408
333
145
90
B-Agências
1.134
2.614
5.247
7.679
15.070
B/A
2,2
6,4
15,7
52,9
167,4
Fontes: 1941, 1952, 1961, 1971 - SEEF.Min. da Fazenda; 1985 -Banco Central, in
CORRÊA,R.L (1989:15) Concentração Bancária e Centros de Gestão do Território.
A AB teve também uma repercussão no “enxugamento” (racionalização) das instituições
financeiras, reduzindo o número de postos de trabalho, ampliando a velocidade de circulação das
atividades financeiras e melhorando a qualidade e a eficiência dos serviços bancários.
O processo de concentração das atividades bancárias se caracterizou pela diminuição do
número de Bancos e aumento do número de agências, que proporcionaram a ampliação da escala de
atuação e de gestão dos bancos no território e sua fraca integração nacional (CORRÊA, 1989:13-22).
A AB transformou os métodos tayloristas de contabilidade tradicionais, realizados com o
emprego intensivo de trabalho vivo, pelo processamento de dados, que era efetuado com o emprego de
grandes “mainframes” ou “máquinas inteligentes” 7. O processo de AB foi primordialmente
desenvolvido, nos seus estágios iniciais, através da concentração e da centralização (CASSIOLATO,
1992:60) das atividades dos Centros de Processamento de Dados (CPDs)
8
e de contabilidade
financeira dos bancos, nos grandes centros de gestão territorial (CGT): São Paulo, Rio de Janeiro e
Belo Horizonte 9.
O crescimento dos volumes de depósitos e de transações financeiras, a partir de meados dos
anos 60, passaram a requisitar a utilização da tecnologia dos CPDs (ACCORSI, 1990:34). A estrutura
de “hardware” dos CGT era formada por grandes “mainframes” que efetuavam nos CPDs o
processamento centralizado das informações do sistema financeiro nacional
10
(DANTAS,1988:222),
interligado pelo telex (CORDEIRO, 1988;1989). As modificações na estrutura tecnológica do
“hardware” implantado e dos sistemas de telecomunicações, influíram decisivamente nas formas
territoriais de gestão das informações centralizadas em grandes CPDs.
160
Como no restante do mundo, até meados dos anos 70, o controle oligopólico da produção de
“hardware”, no território, pertencia às empresas de capital norte-americano e europeu (BURROUGHS,
IBM, UNIVAC, NCR, BULL-HONEYWELL, SIEMENS-RCA), que forneciam a tecnologia
essencial para o desenvolvimento da AB. A IBM sozinha controlava, nesta mesma época, mais de 63%
da produção de computadores no Brasil (COINCO, 1985).
Mas, foi com os incentivos, em 1970, dados pela Resolução 144 do Banco Central
(ACCORSI,1990:34), e com as restrições imposta pelo GTE, a partir de 1971, e posteriormente pela
CAPRE, em 1975, e pela SEI, em 1979, que os investimentos nacionais no setor de AB ganharam um
outro impulso, alterando a antiga estrutura oligopólica, controlada por empresas de capital transnacional,
para uma outra forma de oligopolização internamente diferenciada e confinada (TAVARES,1985:71;
CLINE,1987:70), que começava a se integrar verticalmente.
161
6.3. Expansão Territorial da Automação Bancária (1974-1986):
A gestão descentralizada dos fluxos financeiros
O crescimento segmentado do emprego de mini e microcomputadores e de inovações
tecnológicas no processo de AB, estimulado pela reserva de mercado, repercutiu no arranjo geométrico
e na qualidade dos processos territoriais de tomada de decisão dos grandes conglomerados financeiros
(BAER, 1986:45). A concentração de informações em grandes CPDs passou a ser a redefinida,
fazendo emergir formas regionalmente descentralizadas de coordenação e de relacionamento
interbancário e intrabancário.
A expansão territorial das atividades financeiras promoveu um extraordinário alastramento
(espraiamento) territorial e um crescimento das agências bancárias, que aumentaram, no período de
1965 a 1986, de 7.721 para 14.679; abrangendo mais de 4.096 municipalidades com serviços
bancários, em 1985 (DIEESE, mar1988). O número das instituições bancárias, de 1964 a 1986
diminuiu de 336 para 105 (CASSIOLATO,1992:60-61), refletindo a continuação do processo de
concentração, mais acentuado com os processos de fusão, incorporação
11
e de surgimento dos
grandes conglomerados financeiros, incentivados pelas políticas protecionistas do Banco Central,
através da integração vertical das atividades.
O processo de integração vertical de capitais bancários e sua correspondente conglomeração
financeira favoreceram os bancos privados na “quebra de braço” com os bancos estatais
12
. A
rentabilidade dos 30 maiores bancos privados, entre 1975 e 1985, de 15,8%, superou a das 500
maiores empresas do país, de 12,7%, no mesmo período (DIEESE, mar - 1988:05-06).
O crescimento espacial do número de agências guarda, então, uma estreita relação da
territorialização da circulação de capital das empresas com o regime de expansão financeira dos bancos
comerciais, e revela o estabelecimento territorial de economias de escalas pelos grandes
conglomerados financeiros nacionais
13
. Um exemplo de expansão das atividades financeiras foi o
crescimento do número de agências do Bradesco que, de 1961 para 1985, cresceu de 201 agências
162
para 1841 (CORRÊA,1989:20); este número de agências do Bradesco, em 1985, era quase igual ao
número de agências Bancárias do Brasil em 1952.
As modificações na estrutura do hardware, permitindo o estabelecimento de fluxos e nexos
informacionais e comunicacionais remotos distribuídos, se constituiu num fator crucial no processo de
descentralização das decisões interbancárias e intrabancárias. A digitação remota efetuada por telex, a
transmissão e impressão remota por comutador e o processamento a longa distância por telefone e fax
foram fatores decisivos no processo de descentralização do processamento de dados. Os CPDs
passaram a amarzenar menos volumes informacionais. Mesmo com o surgimento de formas de gestão
descentralizada, o processo de integração vertical dos bancos não refluiu.
O processo de gestão informacional dos dados e das decisões interbancárias e intrabancárias
passou a ser estrategicamente descentralizado. Do ponto de vista espacial, a coordenação das ações
podia ser distribuída territorialmente, principalmente, do ponto de vista de investimentos em função do
acompanhamento da produtividade e rentabilidade das agências e dos processos de constituição de
valor social no território. A criação de subcentros de processamento de dados (ACCORSI, 1990),
consolidados regionalmente através do dimensionamento da performance das agências, revelou o
surgimento de um outro arranjo geométrico dos fluxos transacionais e informacionais no território.
163
6.3.1. O Advento do Banco Eletrônico
O crescimento das atividades financeiras no território e a disputa pelo “nicho” no mercado de
automação bancária possibilitaram que algumas empresas, não vinculadas aos grandes conglomerados
financeiros, assumissem também, como estratégia de competitividade, a concorrência na produção de
equipamentos, sistemas e inovações tecnológicas, foram os casos das empresas: Digirede, sediada em
Diadema, São Paulo, constituída em 1977; Edisa, antes sediada em Gravataí, no Rio Grande do Sul,
constituída em 1977; Moddata, sediada no Rio de Janeiro, fundada em 1976; Racimec, sediada,
também, no Rio de Janeiro, constituída em 1966; Procomp, sediada em São Paulo, constituída em
1985.
A Digirede, foi fruto da iniciativa independente e pioneira de um analista de sistemas
(DANTAS, 1988:212), Arnon Schreiber, que a partir de experiências, colhidas em empresas e
instituições bancárias -- Olivetti e Banorte respectivamente, esta última introduziu o sistema “Interlig” de
automação bancária no início dos anos 80 -- resolveu criar sua própria empresa para produzir
equipamentos e sistemas voltados para AB (sistemas de automação bancário; sistema de transferência
eletrônica de fundos; sistemas automático de resposta audível; concentrador de terminais de videotexto;
sistemas multiusuários).
A Edisa, agora sediada em Barueri e fábrica em Campinas, São Paulo, se estruturou a partir da
importação de tecnologia (licenciamento) da Hewllet-Packard para produzir, além de impressoras,
equipamentos de AB (terminais de caixa bancário; terminal de consulta bancário; vídeos de sistemas
bancários).
A Moddata, optou pela tecnologia de teleinformática, produzindo equipamentos de
comunicação (modens, centrais de comutação telefônica, etc.), para uso e gerenciamento interativo de
banco de dados entre agências.
164
A Racimec, desenvolveu atividades nas áreas sistemas e prestação de serviços de informática,
criando, em 1980, uma Divisão Eletrônica que se especializou na produção de equipamentos de AB
(terminais financeiros, leitora de cartão magnético, impressoras).
A Procomp, foi criada por um grupo de engenheiros que deixaram a SID para atuar no
mercado de automação bancária (CASSIOLATO, 1992:70), agências bancárias, transações
financeiras, comércio geral e auto-atendimento. O crescimento desta empresa, em termos de produção
e inovações tecnológicas, rendeu-lhe excelentes parcerias com importantes empresas internacionais, a
sua carteira de pedidos de sistemas ATMs da Interbold, corresponderam a US$25 milhões, em 1994
(ver Quadro XI).
Empresas
Interbold
VeriFone
Stratus
Sun
FIC
Compaq
Quadro XI:
Principais Parceiros da Procomp
1994
Produtos e Atividades
Automatic Teller Machines-ATMs
Terminais de transferência de fundos
e débitos em conta
Processadores front-end
Processadores Risc
PCs e CPUs
Distribuição de produtos
País
EUA
EUA
EUA
EUA
Taiwan
EUA
Fonte: Brazilian Computer Directory (1994:38-39) Anuário Informática Hoje.
Em meados dos anos 80, a Cobra perde de liderança, em termos de retorno dos investimentos
na produção de minicomputadores, devido ao surgimento destas empresas privadas vinculadas aos
conglomerados financeiros nacionais, que investiram em inovações tecnológicas (Caixas Eletrônicos ATM ou Bancos Instantâneos; Terminais de Transferência Eletrônica de Fundos -TTF) direcionadas,
prioritariamente, à automação bancária e à microcomputação. Foi o caso da SID Informática S/A, já
tratada acima, empresa criada em 1978, pertencente aos grupos Sharp, de Mathias Machline, e
Bradesco; este último possuía 18% das ações. A SID, em 1984, respondia por 55% do faturamento e
controlava 37% desse mercado, com um parque instalado de 1500 minicomputadores, 15 terminais;
isso tomando por base o número de agências usuárias de seus sistemas (EXAME, set - 1985:231) 14.
165
No mesmo grupo destas empresas que optaram pela fatia do mercado de automação bancária
estava o Banco Itaú, do empresário Olavo Setúbal, militante orgânico do empresariado nacional pela
reserva de mercado. Este banco constituiu as empresas Itautec e Itaucom.
Itaú Tecnologia (Itautec), sediada em São Paulo, foi constituída em 1979, voltou-se para as
áreas de automação bancária e comercial. Em 1985, tornou-se a sétima maior empresa de
computadores e periféricos, em receita operacional do Brasil, e em 1988, já produzia uma linha de mais
de 100 produtos. No final dos anos 80 e início dos anos 90, passou a investir forte em inovações no
setor de AB, principalmente na criação dos chamados Bancos Eletrônicos 15.
A Itaú Componentes S.A (Itaucom), sediada em Jundiaí, São Paulo, e a Itautec Componentes
da Amazônia (Itaucom-AM), empresa do grupo Itautec, sediada em Manaus, foram criadas em 1983,
voltadas à produção de 16 produtos que vão de circuitos integrados, semicondutores, até componentes.
Os Bancos de médio porte, resolveram, também, introduzir inovações tecnológicas e se
automatizarem, o passo decisivo neste sentido foi a criação da empresa Tecnologia Bancária S.A,
formada em 1989, por um conglomerado de mais de 36 instituições bancárias, três empresas de cartões
de crédito e uma financeira, para produzir e implantar os Bancos 24 Horas e Automatic Teller
Machines -- ATMs (EXAME,05/04/89:06).
166
6.4. Reestruturação Competitiva e Inovações
Organizacionais (1987-1993): A gestão “instantânea”
dos fluxos financeiros e o fim da reserva de mercado
A expansão territorial da automatização dos serviços financeiros, em meados dos anos 80, que
se caracterizou pela ampliação da escala de atuação dos Bancos e pela modificação da estrutura e do
parque instalado dos bancos, revelou a inflação como “ímpeto” lógico de crescimento do processo da
AB.
Mas, durante o período do Plano Cruzado, elaborado em fevereiro de 1986, este ímpeto
recrudesceu, temporariamente, obrigando os bancos a adotarem estratégias territoriais de
reestruturação e de racionalização de suas operações administrativas no território e de mobilidade
territorial.
As conseqüências desses processos foram o fechamento de várias agências bancárias de
bancos privados, em 1986, o que reduziu, temporariamente, a teia de atuação dos fluxos financeiros no
território, provocando a demissão em massa, também chamada de “1 a onda recessiva” na segunda
metade dos anos 80, de 109.771 bancários (DIEESE, mar1988:06), o que correspondeu a uma perda
de 10,93% do emprego no setor financeiro privado.
O crescimento do processo de automação, as mudanças organizacionais na gestão do trabalho,
instituindo o controle de qualidade e a flexibilização, não geraram um incremento proporcional nas taxas
de emprego, eles desencadearam, também, a desqualificação e a obsolescência gradual de antigas
funções bancárias (as operações de lançamento, balancetes, conferência e consulta, destruição de
sistemas de apoio à decisão e de compensação de cheques). O uso do sistema de código de barras nos
cheques e de cartões magnéticos, também, eliminou inúmeras antigas funções bancárias.
Em 1986, na liderança do ranking no processo de comercialização de produtos voltados para
AB (ATMs, Concentradores e Terminais Bancários
16
), duas grandes empresas pertencentes aos
GCFs, a SID/Digilab e a Itautec, se destacaram na competição pela apropriação dessa fatia do
mercado. Neste período, o Banco 24 Horas era constituído por um consórcio de 29 bancos.
167
Quadro XII:
Número de Cartões e ATMs por Fabricantes
1986
Banco
Bradesco
Itaú
24 Horas
Totais
N o de Cartões
4.200.000
1.200.000
2.000.000
7.400.000
No de ATMs
188
150
126
464
Fabricante
SID
Itautec
SID
Fonte: Estudo de Gregório Robles Novas, nov. de 1986,
EXAME INFORMÁTICA, mar - 1987:06.
Mas a adoção de um conjunto de medidas recessivas pelo governo neo-liberal, como a
liberalização das importações, as medidas de contenção de crédito (confisco de poupança), a
privatização de empresas públicas, a redução de carga fiscal sobre produtos importados, atuaram sobre
a capacidade tecnológica dos setores de AB, que se viram sobre um novo regime de pressão
competitiva, o que aumentou ainda mais a incerteza gerada nos agentes produtores deste sistema.
Os efeitos desencadeados pela política recessiva se traduziram na transformação do arranjo dos
competidores no mercado de produtos oferecidos à AB
17
. O valor líquido proveniente da
comercialização de produtos destinados a AB, sofreu também uma pequena redução de 10,4%, de
1989 a 1990, o que correspondeu a perda de US$ 23,702 milhões, como mostra a Tabela 5.
168
Tabela 5:
Unidades e valor líquido proveniente da comercialização de produtos
de Processamento de Dado da categoria de Automação Bancária
1988-1990
Categorias/Produtos
Automação Bancária
Concentrador
Terminal Financeiro
ATM (Automatic Teller
-Machine)
Caixa Pagadora
Máquina Contadora
de Cédulas
Leitor de CM-7
Outros
Total
Número de
Empresas
Unidades
Comercialização
Líquida
(US$ Milhões)
1988
1989
1990
1988
1989
1990
4
6
4
3.517
23.348
394
6.872
38.799
1.535
8.995
39.950
1.952
13,318
46,796
1,370
15,825
61,315
2,661
34,339
58,107
8,758
3
3
21.856
1.539
15.459
858
7.511
2.743
36,834
0,909
31,768
9,078
44,425
21,695
4
4
15
3.142
0
53.796
2.826
102
66.451
4.543
537
66.191
4,954
2,588
106,769
5,180
101,813
227,639
8,850
27,762
203,937
Fonte: DEPIN/SCT (1991:59) Séries Estatísticas.
Mesmo com a redução do valor líquido proveniente da comercialização total de produtos
destinados a AB, de 1988 a 1990, a venda de concentradores, ATMs, Caixa Pagadoras, Máquinas
Contadoras de Cédulas e Leitoras de Cartões Magnéticos, continuaram crescendo.
No final dos anos 80, a Procomp assume a hegemonia na disputa pelo “nicho” da AB, em
contra posição às grandes empresas dos GCFs nacionais (ver, Tabela 6 ). As razões do “sucesso”
alcançado pela Procomp foram o fim da Lei de Informática e da reserva de mercado, anunciada pelo
novo governo de orientação neo-liberal, no início do anos 90; a associação, via joint ventures, da
Procomp com as maiores empresas norte-americanas do setor de AB, já tratadas acima, que provocou
a redução brusca dos custos de automação, em 40 por cento, para agências de tamanho médio,
forçando a redução das margens de lucros entre os competidores; a transferência de tecnologia de
última geração em automação bancária efetuada pelos novos parceiros externos (EUA e Taiwan).
A resposta dos GCFs nacionais a este contexto, foi a adoção de severas mudanças
organizacionais: fizeram a automação acelerada das atividades administrativas, organização flexível do
trabalho, crescimento da rotatividade com aumento do tempo médio do trabalho (DIEESE, ago 1994a:12); constituiram novas parcerias, em condição vantajosa, com empresas estrangeiras de forte
169
tradição tecnológica no setor de AB e de informática. Foi o caso da Itaú que formou parcerias com as
empresas: IBM, WESTERN DIGITAL, RIMA, NOVELL, INTEL, KONICA ZIKOM,
SISTEMATRIX e mais recentemente com a PHILCO. À frente, no Capítulo 7, apresentaremos outros
exemplos; reduziram a teia de atuação dos fluxos financeiros e transacionais no território, com
repercussões menos acentuadas na estrutura de emprego do que na “1a onda recessiva”, mas, a
redução dos fluxos financeiros e transacionais, provocou a redução do consumo total e das vendas da
categoria de produtos do setor de AB, como mostra a Tabela 6.
Tabela 6:
Vendas de concentradores e terminais bancários por empresas (%), (1984-1988)
Empresa
Itautec
SID/Digilab
Procomp
Digirede
Outros
1984 1985
33.9 38.4
38.1 34.7
--0.1
28.0 24.5
0.1
0.5
Concentradores
1986 1987 1988 1984
29.8 16.1 9.6 22.4
21.1 19.3 11.7 39.9
14.9 26.5 38.2
--27.4 11.5 24.8 28.0
6.8 26.6 15.7 9.7
Terminais Bancários
1985 1986 1987 1988
24.6 36.8 16.1 21.0
41.5 30.7 43.5 27.1
0.1
7.2 15.3 35.3
24.0 18.1 NA
NA
9.8
7.2 25.1 16.6
Fonte: SEI, Panorama da Indústria de Informática, Agosto de 1988 e Séries Estatísticas,
o
N 1, Agosto de 1989, In CASSIOLATO, (1992:71).
As mudanças organizacionais na gestão do trabalho e as políticas neo-liberais, durante o Plano
Collor I, foram responsáveis pelo surgimento da “2 a onda recessiva” do setor bancário (DIEESE, jan 1991a:07). Em 1990, acarretando uma perda de 77.273 postos de trabalho, o que correspondeu a uma
perda de 8,50% do emprego no setor financeiro privado. Os papéis para o preenchimento de guias
bancárias praticamente desapareceram em alguns bancos.
Essas mudanças na hegemonia ou na posição do “ranking” das empresas de AB foram
provenientes, também, do conjunto das estratégias de associação (joint venture) das empresas nacionais
de informática do setor bancário com as empresas estrangeiras de capital e do processo de
reestruturação organizacional, tanto quanto a aceleração do ritmos de desenvolvimento e a introdução
de novos produtos, como supôs CASSIOLATO (CASSIOLATO, 1992:70).
Segundo pode ser observado na tabela acima, a hegemonia mantida pelas quatro empresas
(Itautec, SID/Digilab, Procomp e Digirede) no mercado de concentradores e terminais bancários
170
configura uma estrutura típica de oligopólio confinado. Isso porque essas empresas controlavam mais de
80% desta fatia do mercado.
Os investimentos em inovação organizacional, o avanço e o crescimento do mercado de
automação bancária foram impelindo, seletivamente, uma nova configuração setorial e territorial de
desenvolvimento e capacitação tecnológica para as empresas privadas de computadores, de modo geral
e, não somente vinculadas aos grandes conglomerados financeiros nacionais.
Para estas empresas e para as empresas privadas independentes, que investiram em inovações
no setor de AB, a opção pela desintegração vertical e ampliação do escopo de produtos passou a
refletir uma nova estratégia competitiva para fazer frente ao crescimento da concorrência,
principalmente, nos segmentos de microcomputadores e de automação comercial. Oferecendo uma
gama maior de produtos diferenciados para os clientes, veio a se tornar, também, um novo imperativo
competitivo, produzia-se quase todo tipo de equipamento: mini e superminis; micros e supermicros;
equipamentos para a automação bancária e comercial. Alguns bancos começaram, desde meados dos
anos 80, também, a disputar o mercado de automação comercial existente no território, instalando
terminais em vários locais de compra: supermercado, restaurantes, shopping centers, lojas, vídeolocadoras.
Os avanços e inovações conquistadas na automatização dos serviços financeiros no Brasil,
durante o período considerado como a década perdida, foram relativamente maiores que os alcançados
nos EUA e em muitos países europeus
18
(CASSIOLATO,1992:74; FREEMAN, 1993:629), e
refletem, em parte, as conseqüências dos processos de concentração, segmentação e oligopolização
confinado do setor de informática no território, apoiados pelo Estado.
A presença de grandes centros de P&D, a elevada concentração de usuários de grandes
mainframes e o desenvolvimento da Política Nacional de Informática, reservando os segmentos de mini
e microcomputação, permitiram a estruturação de inúmeras indústrias de computadores vinculadas aos
grandes conglomerados financeiros nacionais, em sua maioria estabelecidos nas duas municipalidades
mais importantes do Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo), o que tornou-se uma característica lógica dos
primeiros “estágios” de sua territorialização industrial. Este fato se deveu a elevada participação
171
econômica e transacional dessas duas cidades e suas periferias, e, principalmente, pela forte presença
dos grandes conglomerados financeiros.
172
6.4.1. Reestruturação Territorial da AB: As estratégias
territoriais dos GCFs em São Paulo e no Rio de Janeiro
Em 1992, os processos, nos grandes centros de gestão territorial, de concentração,
territorialização, reestruturação da AB e de produção industrial de computadores, guardam uma estreita
relação com as características de articulação lógica:
•
de localização da estrutura dos bancos brasileiros próxima das áreas que reúnem um grande volume
de circulação ou movimentação financeira;
•
do processo de automatização dos serviços financeiros para produzir novos produtos e atrair novos
clientes;
•
da ação das políticas territoriais de regulação, desenvolvidas pelo Estado, através da legislação que:
limitou o número agências dos bancos estrangeiros no território; estabeleceu a reserva de mercado
para a produção de equipamentos de AB; e definiu a constituição de novas atividades bancária
como, por exemplo, a legislação que permitiu o surgimento dos Bancos Múltiplos19.
Mas estes processos foram, também, a expressão da “geometria territorial” das estratégias
territoriais desenvolvidas pelos GCFs, que definem as formas de reestruturação e de mobilidade do
capital.
No caso, dos Bancos do Município do Rio de Janeiro, dois tipos de mobilidade territorial se
constituíram, a intra-urbana e a interurbana.
A mobilidade intraurbana é provocada pela constituição de complexas estratégias de política
territoriais, na escolha do lugar “optimu” e na definição exata do ponto para a implantação de uma
agência. Nesta definição é efetuada uma pesquisa pelo Banco, sobre o volume de depósitos à vista
captados; depósitos a prazo; impostos recolhidos e os empréstimos efetuados, em um bairro de uma
grande cidade. Com base nestas informações é efetuada a decisão de implantação de uma agência. Foi
baseado neste tipo de levantamento “logístico” que a Associação dos Bancos do Rio de Janeiro
(ABERJ), em 1991, pôde revelar a inúmeros bancos, as áreas que reúnem forte potencial para a
173
instalação de agências bancárias. Neste estudo alguns subúrbios como Ramos e a Penha, na zona norte,
apresentam volumes de depósitos à vista e a prazo, quatro vezes superior ao da Barra da Tijuca, um
bairro com forte concentração de agrupamentos sociais com média alta de renda. A transferência do
Citibank, da rua da Assembléia para a rua do Ouvidor, em busca de um ponto “estratégico” no Centro
do Rio de Janeiro, revela a importância da tradição dos estudos de localização geográfica para a
consecução dos processos decisórios de localização territorial (GATTO & BRUM,1991:08)
20
.
A mobilidade interurbana, é uma reação lógica dos bancos, que reduziram as operações de
crédito no Rio de Janeiro e cresceram estas operações em São Paulo. Em 1988, os bancos do Rio de
Janeiro possuíam 25,44% das operações de crédito do sistema bancário, mas em 1992, estas
operações foram reduzidas a apenas 16,08%, como mostra Tabela 7.
Tabela 7:
Comparativo entre Rio de Janeiro e São Paulo em relação ao Brasil
Principais itens do sistema bancário -- ativo (1988-1992)
Rio de Janeiro
1988
1989
1990
1991
Set/92
92/88
Encaixe
Operações de crédito
Financ. rurais
Outros
Total
São Paulo
3,94
25,44
1,35
27,70
24,85
1988
2,84
25,38
1,18
26,89
24,53
1989
10,74
20,36
0,89
22,02
20,28
1990
12,34
20,97
0,78
22,97
20,91
1991
17,12
16,08
0,75
17,75
16,13
Set/92
333,96
-36,70
-44,47
-35,94
-35,09
92/88
Encaixe
Operações de crédito
Financ. rurais
Outros
Total
54,85
30,28
15,03
31,71
30,96
55,96
34,88
18,77
35,88
35,67
38,63
36,83
21,63
38,13
36,84
40,86
36,74
18,90
38,44
36,77
42,41
44,16
17,34
47,07
44,08
-22,69
45,84
15,34
48,45
42,37
Fonte: Bacen. Elaboração DIEESE/SEEBRJ (1993:09).
Esta redução nas operações financeiras representada pela queda do número de clientes e
total de depósitos à vista e a prazo, de poupança que caíram de 13,37% para 12,06% (ver
Tabela 8), foi, também, conseqüência do desaquecimento da atividade industrial ou
“esvaziamento econômico” temporário do sistema financeiro do Rio de Janeiro
(DIEESE,1993:06), a soma desses processos provocou uma forte mobilidade do capital
bancário e de indústrias da área de informática para outros Estados, principalmente para o
174
município de São Paulo, o fechamento de sedes de instituições bancárias e de inúmeras agências
bancárias e redução dos investimentos em modernização. O fechamento da sede do Banco
Holandês Unido no Rio de Janeiro e sua transferência para São Paulo, onde este desenvolvia
mais de 60% de suas operações, constituiu um exemplo desse tipo de mobilidade e de
recrudecimento da atividade econômica, como pode ser comprovada pela Tabela 8:
Tabela 8:
Comparativo entre Rio de Janeiro e São Paulo em relação ao Brasil
Principais itens do sistema bancário -- passivo (1988-1992)
Rio de Janeiro
depósitos
a vista
à prazo
de poupança
outros
Total
São Paulo
depósitos
a vista
à prazo
de poupança
outros
Total
1988
11,49
14,95
15,45
5,44
12,40
13,37
1988
54,42
33,85
57,83
69,94
49,86
47,58
1989
13,81
21,54
13,94
4,36
15,72
12,12
1989
51,48
38,17
55,78
62,00
48,93
39,69
1990
10,82
14,49
11,28
5,12
11.55
10,48
1990
53,66
39,36
61,74
56,97
52,28
38,53
1991
10,92
14,44
11,50
5,16
13,35
9,67
1991
53,23
37,92
57,32
56,58
51,39
38,07
Set/92
13,64
14,80
11,72
5,64
22,77
12,06
Set/92
54,67
34,15
56,49
56,84
55,10
43,48
92/88
18,75
-1,02
-24,10
3,68
83,63
-9,82
92/88
0,47
0,87
-2,31
-18,74
10,50
-8,00
Fonte: Bacen. Elaboração DIEESE/SEEBRJ (1993:09.
A concorrência interbancária se ampliou e aprofundou o processo de reestruturação territorial
entre os grandes conglomerados financeiros nos centros de gestão financeira do território
(CORRÊA,1989), estimulando o crescimento dos investimentos em Marketing, influenciando o
desenvolvimento de inovações informacionais e organizacionais na gestão do trabalho, obrigando aos
Bancos a redefinirem as suas estratégias territoriais para reduzir os impactos provocados pela abertura
do mercado e a redução da circulação de capitais bancários no mercado, resultante do colapso do
padrão de financiamento Estatal e da crise de regulação da estrutura social de acumulação.
175
NOTAS
1. As restrições impediam e limitavam, também, a abertura de agências bancárias para os Bancos de Capital
Estrangeiro. Estas restrições e as reformas do sistema financeiro, do início dos anos 70, contribuíram para o
fortalecimento e processo de concentração conglomerativa dos Bancos Nacionais. Segundo CASSIOLATO, a
legislação brasileira, ao contrário da legislação anti-truste dos países desenvolvidos, praticamente estimulou a
constituição dos conglomerados bancários ao permitir que estes diversificassem suas atividades, quando estes
podiam operar como bancos de investimentos, seguradoras, sociedades construtoras, ou até como empresas no setor
de informática (CASSIOLATO, J. (1992:61)).
2. Segundo HELENA, S. (1984:33-39):
“O ano de 1976 começava com o rigoroso controle às importações, o que afetava particularmente a um
importante segmento da economia brasileira: os bancos. Os bancos vinham de tornar-se conglomerados.
As grandes dimensões de cada uma das organizações, mais as grandes dimensões do país, impunham a
utilização de computadores -- que não entravam no Brasil. Aí, estava claro um bom mercado. Os bancos
precisavam do equipamento e não tinham fornecedor. (...) Com as importações severamente controladas, os
bancos possuíam enorme demanda de equipamentos de entrada de dados. A Cobra tirou partido dessa
situação de forma bastante competente.... Passou mais ou menos um ano e meio, entre meados de 1977 e
início de 1979, como fornecedora possível, atendendo à demanda reprimida dos bancos, tornados sócios
de empresa. Esta foi a fórmula que permitiu o salto da empresa.”
3. Segundo CASSIOLA TO, baseado em várias fontes, as empresas nas quais o Bradesco tinha participação via sua
Holding Digilab, em 1989, como mostra o Quadro XIII, eram:
Quadro XIII:
Empresas de Tecnologia de Informação nas quais
o BRADESCO tem participação (Via Digilab)
Empresas
Scopus
Digilab
Divisão de Ações
%
70,0
Volume em US$
(Mil)
72,432
100,0
57,539
11,5
14,6
114,750
NA
50,0
29,326
30,0
26,3
32,328
70,593
1,4
34,0
50,0
100,0
17,0
99,849
NA
NA
NA
NA
SID
SID Microeletrônica
CPM
Elebra
Matel Tec. de Teleinf.
Cobra
Victori Comunicações
PDV
DNI Informática
Rima Impressoras
Produtos Principais
Micros e Terminais
Impressoras,
Terminais de Caixa,
Drives
Minicomputadores,
Micros e Terminais
Bancários
Componentes
Processadores de
Comunicação
Supermicros,
Automação Bancária
Teleinformática
Supermicros,
Micros, Superminis
Telecomunicações
NA
NA
Impressoras
Fonte: CASSIOLATO, J. (1992:63).
176
4. A maior parcela das receitas da Digilab, em 1992, cerca de 40%, segundo Cândido Leonelli, presidente da empresa,
foi proveniente das vendas de impressoras de grande porte; em segundo lugar, estava a venda de equipamentos de
automação bancária, que respondia por 18%. A grande maioria desses equipamentos foi destinada ao Bradesco
(EXAME, 1992:33).
5. Segundo ACCORSI, A. (1990:17) Automação: Bancos e Bancários, as reformas: fiscal, agrária, administrativa,
tributária, e cambial ao lado da reforma bancária alterou, durante o período de consolidação do regime militar, a
estrutura de acumulação do capital no território:
“Através de várias medidas buscou-se estabelecer controle sobre as instituições financeiras, criar novos
esquemas de financiamento aos setores privados e público, assim como conferir maior especialização e
flexibilização ao conjunto do sistema financeiro, possibilitando e estimulando o desenvolvimento da
intermediação não bancária.”
6. A automação, seja ela qual for, embora seja um processo lógico de negação do trabalho vivo e de aumento da
composição orgânica do capital, ou seja, a redução do emprego do trabalho vivo e aumento do capital constante,
como anteviu MARX no O Capital, não deve ser tratada, no caso da AB, apenas como a simples substituição do
trabalho vivo por “máquina inteligentes”, pois a redução de custos, o aumento da produtividade e do desempenho
nos serviços (eficiência), a melhoria na realização das atividades transacionais e informacionais, e a necessidade de
mudar a imagem dos bancos junto aos usuários, exerceram, também, forte influência na implantação deste processo,
que se transformou em um imperativo da emergência da “nova” era informacional, no Brasil.
7. Para CASSIOLATO, J.E. (1992:60) The user-producer connection in hi-tech: A case-study of banking automation in
Brazil, in SCHMITZ, H. & CASSIOLATO, J.E. Eds. Hi-Tech for Industrial development: Lessons from the Brazilian
experience in electronics and automation:
Os Bancos, junto com as empresas estatais, foram pioneiros no uso de computadores desde o início
dos anos 60. Seguindo uma tendência observada internacionalmente, os principais Bancos Brasileiros
organizaram serviços de processamento de dados centrais, naquele período, o que tornou possível o
trabalho burocrático ser centralizado. Esta fase da automação correspondeu a uma organização do trabalho
altamente Taylorizada, que tinha claramente limitações técnicas, já que as transações ainda eram
controladas por contadores e o processamento de cheques ainda requeria manipulação mesmo se somente
para uma quantia limitada.
Mas isso foi somente nos anos 70 que o rápido pro cesso de crescimento e centralização do setor
financeiro Brasileiro impôs e criou condições e meios para uma, relativamente, rápida automação do setor.
Historicamente, o sistema bancário no Brasil se desenvolveu através de um grande número de bancos
regionais de pequeno e médio porte que atendiam às especificidades regionais em um país de dimensão
continental.
8. Segundo Vera DANTAS (1988:222):
“Ao lado das empresas estatais e órgãos de governo, os bancos foram os primeiros usuários de
computadores no país. O Bradesco foi o pioneiro, instalando, na Cidade de Deus, em 1961, um IBM 1401
para controlar seu serviço de cobrança de títulos. No final do ano seguinte foi a vez do Banco Nacional
adquirir um Burroughs B205. Em 1965, a Federal Itaú implantou seu CPD, com um IBM 1401. A partir de
1968, o Bamerindus processava em um Univac 1005 as contas correntes de seus clientes.”
9. Segundo CORRÊA, R.L.(1989:16), a análise da localização (Cf. o Quadro 2 da pesquisa de CORRÊA) das sedes do
setor financeiro revela, por ordem de importância, a emergência de: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte como
os principais centro de gestão da atividade financeira no território. Esta análise evidencia, também, uma inversão do
Ranking da gestão territorial das atividades financeiras, pois, até 1961, o Rio de Janeiro controlava mais de 30% dos
bancos e São Paulo 22%. Mas, CORRÊA salienta a importância e a prevalecência de São Paulo sobre o resto do país:
“A importância de São Paulo aparece ainda quando se constata que nela estão localizadas as ‘sedes
regionais’ de 14 bancos estrangeiros, e no Rio de Janeiro apenas 5; que em São Paulo estão 140
representantes de bancos estrangeiros e no Rio de Janeiro 81, e que do total de 15.070 agências bancárias
do país, 41% é controlada pelos bancos paulistanos.”
10. Para Marcos DANTAS, V. (1989:18):
177
“Desde os anos 60, os bancos usavam computadores. A partir dos anos 70, o volume e a diversidade das
aplicações cresceram aceleradamente como resultado da própria sofisticação do mercado financeiro e da
política de concentração bancária induzida pelo Governo Federal. Os grandes conglomerados financeiro se
espraiaram de norte a sul do país. Em 1970, 41,7% dos municípios brasileiros contavam com agências
bancárias. Em 1980, 82,7% dos CPDs dos bancos viravam noite processando um volume enorme de
informações que chegava das agências, com muito trabalho para os digitadores. Crescia a transmissão de
dados entre os CPDs, CPDs regionais e agências, o que não era muito confiável nem barato.”
11. Segundo CORRÊA , R.L. (1989:20):
“O Itaú, por exemplo, entre 1962 e 1984, incorporou, entre outros, o Banco da América, de São Paulo, o
Banco Irmãos Guimarães e o Português do Brasil, do Rio de Janeiro...”
12. Segundo o DIEESE (mar1988:06):
“Entre 1965 a 1987, os empréstimos dos bancos oficiais revelaram queda de 41,4% para 35,9%, do total dos
empréstimos do setor financeiro. O Banco do Brasil, que chegou a deter, em 1965, 23,5% dos empréstimos
concedidos ao setor privado, reduziu sua participação para 11,0% em 1985, e recuperou-se em 1987,
atingindo 17,0%.”
13. De acordo com a tabela abaixo (CASSIOLATO,1992:61), pode-se verificar, conforme foi tratado acima, o processo
de concentração da atividades financeiras, através do extraordinário crescimento do número de agências e a redução
do número de instituições bancárias, como mostra a Tabela 9:
Tabela 9
Bancos Comerciais no Brasil: número total de número de agências
1983-1986
Número de Bancos
Privados
Brasileiros
Estrangeiros
Federais
Banco do Brasil
Estatais
Total
1983
85
66
19
4
1
24
113
1984
84
64
19
4
1
24
111
1985
78
60
18
5
1
24
107
Número de Agências
1986
76
57
19
5
1
24
105
1983
8.629
8.570
59
2.694
2.400
3.113
14.436
1984
8.902
8.843
59
2.711
2.401
3.123
14.736
1985
9.062
9.000
62
3.187
2.489
3.173
15.422
1986
8.375
8.312
63
3.150
2.458
3.154
14.679
Fonte: Banco Central do Brasil, In SCHMITZ & CASSIOLATO, 1992:61.
14. Para ACCORSI, A. (1990:33), o crescimento da participação do grandes conglomerados no setor de informática
ficou revelado, de forma acentuada, em meados dos anos 80:
• dos 10 maiores usuários de grandes mainframes do Brasil, quatro eram bancos (Bradesco, Itaú, Banco do
Brasil e Bamerindus);
• dos 10 maiores usuários de minicomputadores, seis eram bancos (Bradesco, Banco do Brasil, Banerj, CEF,
Safra e Bamerindus);
• dos 10 maiores usuários de micros, cinco eram, também, bancos (Itaú, Banco do Brasil, Citibank, Bradesco
e Banco Central).
15. O primeiro passo era reunir engenheiros e técnicos capacitados na produção de inovações na área de AB. O passo
seguinte foi a criação de uma estrutura de produção tecnológica autônoma, no caso a Itautec, que fosse capaz de
produzir e projetar essas inovações competitivas. Assim o Itaú evoluiu da interligação da rede nacional via telex para
a criação de sistemas de gerenciamento de redes e processamento de dados interligados em tempo real via satélite.
Para que isso pudesse ocorrer, surgiram inúmeros projetos que foram desde a criação de alguns equipamentos e
sistemas de AB (terminais caixas, terminais administrativos, terminais de saldo e extrato, microcomputadores,
componentes, semicondutores, sistemas de processamento on line, agências automatizadas, criação de leitoras dos
códigos de barra impressos no cartão magnético, sistemas de gerenciamento de rede via hipertexto) ao
desenvolvimento dos Bancos Eletrônicos.
Em um estudo conduzido pela Gregório Robles Novas, em 1986, (ver, Tabela 10) fica clara a disputa entre
produtores e fornecedores pelo mercado de terminais bancários:
178
Tabela 10:
Número de Terminais Instalados
1986
Fabricante
Digirede
Itaú
Itautec
Edisa
Racimec
Cobra
Outros
Totais
o
N de Bancos
32
5
6
5
2
3
5
58
Mercado de Terminais
o
o
N de Agências
N de Terminais Instalados
900
20.000
680
21.000
600
11.000
36
2.600
82
3.000
16
1.200
24
1.800
2.338
60.600
Fonte: Estudo de Gregório Robles Novas. In EXAME INFORMÁTICA, (mar - 1987:06).
16. Segundo CASSIOLATO, J. (1992:71), estas duas grandes empresas viram as suas combinadas divisão dos
mercados de Concentradores e Terminas caírem de 72 e 62,3% em 1984 para 21,3 e 47,8% em 1988. A entrada da
Procomp na concorrência pela venda de produtos de AB, em 1985, praticamente alterou a antiga configuração
dominada por empresas pertencentes aos grandes GCFs nacionais.
17. Segundo PIRAGIBE, V. (1985:238):
“ As moderadas taxas de crescimento de minicomputadores levaram as firmas do setor a diversificarem-se
em direção aos segmentos mais dinâmicos da indústria. Dessa forma, todas essas empresas lançaram seus
próprios microcomputadores em resposta à concorrência, e aqueles pertencentes a grupos financeiros
diversificaram-se em sistema de automação bancária (sobretudo a SID, com participação acionária do
Bradesco, o maior conglomerado financeiro privado do país).”
18. Segundo FREEMAN, C. (1993:629) Tecnical change and future trends in the world economy . Future, (25)6:
“Cassiolato revelou que, a despeito das extraordinárias dificuldades da economia brasileira na década de 80
(grande inflação, estagnação macroeconômica e grandes problemas de endividamento), o setor bancário
estava realmente a frente dos EUA e de muitos países europeus na automação eficiente dos serviços
financeiros. Isto foi fundamentalmente devido a colaboração entre os usuários do Tecnologias de
Comunicação e Informação e os produtores de software e equipamentos necessários, estimulados por
políticas públicas apropriadas e o empreendimento dos bancos privados. Somente o Japão e possivelmente
Cingapura tiveram uma igual articulação entre a demanda e a intima colaboração técnica dos usáriosprodutores.”
19. Segundo o DIEESE (abr - 1993:08), só no Rio de Janeiro, esta legislação permitiu o ingresso de 52 corretoras na
disputa pela fatia do mercado financeiro.
20. Segundo Coriolano GATTO e Friederick BRUM (1991:08), no artigo: A Geografia dos Capitais, publicado pelo
Jornal do Brasil, no Caderno Negócios e Finanças, domingo, 5 de maio.
179
Capítulo 7
Capítulo: 7
Reestruturação Territorial e Estratégias Competitivas
das Indústrias de Informática em São Paulo
7.1. Centros de Produção de Alta-Tecnologia
e Complexos Industriais Eletrônicos
Os
centros de produção de Alta-Tecnologia (CPAT) são
estruturas de acumulação político-territoriais que comportam uma ou mais de uma unidade
territorial de produção de Alta-Tecnologia e “sistemas” em interligações horizontais e verticais,
também chamados de Complexos Industriais Eletrônicos -- CIEs (ERBER,1983; MELO,1987;
STOFFAES,1991)
1
, cuja dinâmica competitiva articula as partes (setores, subsetores,
segmentos e gêneros industriais) em ritmos desiguais e, às vezes, de forma seletiva, diversificada
ou integrada com o todo e com os outros CIEs do território nacional. É caso das indústrias
pertencentes ao setor eletroeletrônico que estão integradas na produção de bens eletrônicos para
a produção de tecnologia de informação.
Os centros de produção de Alta-Tecnologia podem, também, ser considerados motores
territoriais de inovação tecnológica. As novas indústrias que compõem os CIEs são responsáveis
pela montagem de um conjunto de inovações inter-relacionadas que interfere e afeta todos os
outros setores (TIGRE,1991) 2 da economia espacial do CPAT. Mas são, também, o resultado
da constituição de estruturas espaciais de acumulação (CORRÊA,1989b) e de iniciativas de
regulação política e territorial desenvolvidas primordialmente pelo Estado Nacional Burguês.
Os CPAT constituem uma forma de composição territorial do capital, onde um conjunto
interdependente de técnicas está se articulando em redes globais de trabalho (global networks)
para a produção de mercadorias e “bens eletrônicos” informacionais.
180
Alguns tipos de CPAT incorporam indústrias e tecnologias com características
ubiqüitárias que facilitam a mobilidade do capital no território. É o caso da indústria de
informática, que será examinada mais à frente.
Embora, as empresas pertencentes a um CIE de um CPAT possuam um nível de
liberdade maior na sua localização em termos intra-urbano, é, relativamente, prematuro afirmar
que estas indústrias estão cada vez mais sem raízes locacionais ou “menos enraizada”
(AZZONI,1986:33), principalmente sem especificar a escala territorial deste desenraizamento
(inter ou intra-municipal, inter ou intra-estadual), e o grau dos requisitos tecnológicos e científicos
para este desenlace.
Ao se examinar os fatores que influenciam ou mesmo determinam a localização e a
mobilidade do capital no território, pode-se afirmar, com relativa tranqüilidade, que o processo
de alocação não é aleatório ou “contingente” 3, mas lógico e político-econômico (PIRES,1992).
Segundo uma farta tradição teórica da Geografia, que estuda o processo territorial de
autonomização e de constituição de estruturas espaciais de acumulação do capital, não se pode
negligenciar ou subestimar imperativo lógico dos fatores econômico-sociais, políticos e territoriais,
tais como:
•
mercado e demandas estatais (CASTELLS,1989) 4;
•
preços ou custos de fatores locacionais como: insumos, energia, transporte, terra e qualidade
de constituição da força de trabalho;
•
presença e tradição de instituições de excelência em P&D;
•
isenções e incentivos fiscais;
•
presença de empresas competitivas e inovativas;
•
clima de negócios;
•
concentração de fluxos informacionais e financeiros;
•
possibilidade de produção e apropriação vantajosa de valor social.
181
7.2. Evolução e Performance das Indústrias
Eletroeletrônicas dos CPAT no Brasil
Examinando a evolução e crescimento econômico nas indústrias eletroeletrônicas que
compõem os CPAT, desde os anos 50, pode-se perceber um enorme contraste nas variações
das médias anuais de seus faturamentos. Estas indústrias de 1950 até 1979 apresentaram um
crescimento médio de 16,16% e, de 1980 até 1989, durante a chamada “década perdida”, estas
passaram por um forte período de retração e queda de faturamento, apresentando um
crescimento médio de 2,2%. Durante os primeiros anos de governo neo-liberal, de 1990 a 1992,
estas indústrias enfrentaram a maior recessão em 42 anos de atividades, apresentando queda
acentuada no faturamento e crescimento negativo de 13,2%, como mostra o Gráfico 14.
Gráfico 14:
Brasil: Evolução e Médias Anuais de Faturamento
das Indústrias Eletroeletrônicas dos CPAT
1950-1992 (%)
-13.2
1990-92
2.2
1980-89
18.1
1970-79
17.1
1960-69
13.3
1950-59
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
Variações médias em %
Fonte: ABINEE (1993:06). In Guia ABINEE de Material Elétrico e Eletrônico.
182
A evolução e o desempenho das indústrias eletroeletrônicas que compõem os CPAT
brasileiros, nos primeiros anos de governo neo-liberal da década de 90, foi de queda e de
retração. A política de abertura do mercado e de eliminação da reserva de mercado obrigou as
empresas dos CIEs a adotarem medidas de reestruturação organizacional de suas atividades.
Todos os subsetores da indústria eletroeletrônica (Componentes Elétricos e Eletrônicos;
Eletrodomésticos; Equipamentos industriais; Geração, Transmissão e Distribuição de Energia
Elétrica; Imagem e Som; Informática; Automação Industrial e Telecomunicações), sem exceção,
sofreram com o crescimento da pressão competitiva. Os subsetores de Telecomunicação e
componentes foram os mais afetados pela crise setorial, pois apresentaram crescimento negativo
a partir do final dos anos 80, já o subsetor de informática apresentou um grande decréscimo no
seu crescimento, embora não fosse negativo como nos demais subsetores, mas foi, em 1992, que
este subsetor sofreu mais fortemente os impactos das políticas industriais produzidas pelo governo
Neo-Liberal, apresentando um crescimento que equivalia a 58,5% do realizado em 1989, como
mostra o Gráfico 15.
Gráfico 15:
Brasil - Variação do Desempenho dos Subsetores de
Informática, Telecomunicações e de Componentes 1980-1992 (%)
30
20
10
0
-10
-20
Informatica
-30
Telecomunicacoes
Componentes
-40
-50
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992
Fonte: ABINEE (1991:06; 1993:06).
183
7.3. Características das Indústrias Eletroeletrônicas
nos Complexos Industriais Eletrônicos do
Estado de São Paulo (1983-88)
No período que se estende de 1983 a 1988, as indústrias que compõem os CIEs,
representadas pelo setor de material elétrico e de telecomunicações no Estado de São Paulo,
cresceram quase 5% no número de estabelecimentos; em 1988, este número era 2.646, contra
2.521 em 1983, concentrando 228.358 trabalhadores, ou 8% do total do emprego gerado no
setor secundário da economia.
Em 1988, a indústria de material elétrico e de comunicações estava presente em 141
municipalidades do Estado, onde 54 destas eram responsáveis por 97% do emprego (ASSIS et
al.,1992). A grande maioria das empresas desse setor, 83% dos estabelecimentos, eram
constituídas de micro e pequena empresas e correspondiam a apenas 19% do número de
empregos. Enquanto, um pequeno número de média e grande empresas, 17% dos
estabelecimentos, respondiam por 81% do emprego industrial no setor, como mostra o Quadro
XIV:
Quadro XIV:
Empregados segundo o porte dos Estabelecimentos
das Indústria de Material Elétrico e de Comunicações
1983-1988
Empregados segundo o
Estabelecimentos
porte ou o tamanho dos
1983
1988
o
o
Estabelecimentos
N
%
N
%
micro (1 a 4 empreg.)
438
17,4
629
23,8
pequeno (5 a 99 empreg.) 1.078 42,8 1.561 59,0
médio (100 a 499 empreg.) 236
9,4
357
13,5
grande (500 e mais empreg.) 73
2,9
97
3,7
Totais
1.827 72,5* 2.646 100
Empregados
1983
o
N
974
29.223
53.088
79.064
162.349
1988
%
0,6
18,0
32,7
48,7
100
o
N
1.370
42.246
81.524
103.218
228.358
%
0,6
18,5
35,7
45,2
100
Fontes: MTb/RAIS - 1988. In ASSIS et al., p.61 e MELO, p.32.(*)
Obs.: Em 1983 dos 2.521 estabelecimentos só 72,5% (ou 1.827) forneceram informações, contra 27,5% (ou 694)
sem informação.
184
A geração de postos de trabalho nos CIEs reflete, em grande parte, as conjunturas
econômicas e políticas vivenciadas no território. Na década de 70, época do “milagre
econômico” e auge do regime militar ditatorial, foram gerados 80 mil novos postos de trabalho.
De 1980 a 1983, no início da chamada “década perdida”, foram destruídos quase 50 mil
empregos, contra 18 mil novos postos de trabalho criados até o final dos anos 80 (ASSIS et
al.,1992).
Alguns estudos recentes revelaram a constituição de uma tendência de dispersão e
interiorização da produção em todo os setores industriais. Mas, no do setor de material elétrico e
de telecomunicações esta tendência não se evidenciou de forma acentuada como nos outros
setores industriais (SEADE,1991:51), a Região Metropolitana de São Paulo, embora tenha
diminuído relativamente a sua participação neste setor em quase 20%, em termos de pessoal
ocupado e valor da produção, continua concentrando mais de 75% das indústrias do setor
elétrico e de comunicações. A região interiorana do Estado, cresceu mais de 10% entre os anos
70 e anos 80, tanto do ponto de vista do percentual de pessoal ocupado, de 10,1% em 1970,
para 23,7% em 1988, quanto no percentual do valor de produção: cresceu de 7,0% em 1970
para 21,6% em 1980, no Valor de Transformação Industrial (VTI); e cresceu de 16,7% em
1980 para 23,3% em 1987, no Valor Adicionado (VA), como mostra o Gráfico 16.
185
Gráfico 16:
Regiões do Estado de São Paulo: Pessoal Ocupado e Valor da
Produção da Indústria de Material Elétrico e de Comunicações
1970-1988
75
Capital
70
RMSP
Interior
65
Pessoal Ocupado %
60
Valor da Producao %
55
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1970
1980
Decada de 70
1980
1983
1985
Decada de 80
1988
1970
1980
1980
1987
Decada de 70(VTI) Decada de 80(VA)
Fonte: ASSIS et al.,1992:61.
Nos anos 70, os indicadores de produtividade, produção média e salário médio também
indicavam logicamente a formação do conteúdo de vantagens competitivas se constituindo no
interior do São Paulo, em algumas regiões administrativas. A constituição dessas vantagens
competitivas, criaram as condições favoráveis de atratividade regional para alguns segmentos da
indústria eletroeletrônica 5.
O Vale do Paraíba foi a região metropolitana que mais se destacou nesta tendência, como
mostra o Gráfico 17.
186
Gráfico 17:
Regiões do Estado de São Paulo: Produtividade, Produção Média e
Salário Médio do Setor de Material Elétrico e de Telecomunicações
1970-1980
320
300
280
RMSP
260
Litoral
Vale do Paraiba
Sorocaba
240
220
200
Campinas
Ribeirao Preto
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1970
1980
Produtividade (1)
1970
1980
Producao Media (2)
1970
1980
Salario
Fonte: SEADE (1990:51).
(1) Produtividade: Valor da Transformação Industrial
Pessoal Ocupado Total
(2) Produção Média: Valor da Transformação Industrial
Número de Estabelecimentos
(3) Salário Médio:
Salário Total
.
Pessoal Ocupado Total
Mas o processo de interiorização ocorreu de modo seletivo, não se estendeu
integralmente às todas indústrias do setor eletroeletrônico, como foi o caso das indústrias de
informática. Esta seletividade é quase um imperativo lógico do grau de desenvolvimento científico
e tecnológico do CPAT, da capacidade de autonomização de sua rede de trabalho (“network”) e
de sua estrutura de acumulação territorial.
187
7.4. Localização e Modificações na Dispersão
das Indústrias de Informática em São Paulo
Para desvendar o conteúdo da natureza lógica dos processos de localização e de
modificação na dispersão das indústrias de informática dos CIEs em São Paulo, foram
necessários, representar, em primeiro lugar, a dimensão geográfica, setorial e produtiva de seus
circuitos imagéticos; e responder, em segundo lugar, a questão: “as indústrias de Alta
tecnologia tendem à polarização ou à difusão no Território?” (MACHADO, 1992:402). Só
um mapeamento histórico e global do processo de localização das unidades industriais de um
CPAT, a partir do cruzamento de informações e dados, plotados de mapas temáticos setoriais,
pôde revelar parte desta natureza e sua forma, como foi o caso das indústrias de informática do
setor de material eletroeletrônico.
As informações sobre a dispersão e a localização do subsetor de informática por
Estados, segundo os números de indústrias, empregados e os portes dos estabelecimentos no
Brasil, foram fornecidas pela ABICOMP, para os anos de 1981 e 1988, e pela ABINEE, para o
ano de 1992. Estas revelaram uma forte concentração dessas indústrias nos Estados pertencentes
às regiões Sudeste e Sul. Na região sudeste, os Estados que apresentam as maiores
concentrações de indústrias do subsetor de informáticas foram: São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais; estes Estados constituem os principais CPAT do Brasil 6, seguidos dos Estados da
região Sul: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Das mais de 1000 indústrias do setor de material eletroeletrônico catalogada pela
ABINEE, apresentada em maio de 1993, foram identificadas 159 indústrias que produzem
produtos relacionados à área de informática. Estas indústrias empregavam um total de 57.993
trabalhadores. Como a metade destas indústrias produz produtos, também, para 7 das 8 áreas de
atividades catalogada pela ABINEE, foram selecionadas 86 destas 159 indústrias, que possuem
de 50% a 100% de seus produtos dirigidos para o subsetor de informática do Brasil. A decisão
188
de adotar este critério, baseado na proporção de produtos produzidos no setor eletroeletrônico,
permitiu caracterização mais precisa e fiel das indústrias pertencentes ao subsetor de informática.
Se este procedimento não fosse adotado corria-se o risco de se mascarar o quadro desta área de
atividade.
As indústrias de informática, no Estado de São Paulo, correspondiam, em 1992, segundo
os dados fornecidos pela ABINEE, a 76% da indústria nacional, 97% do número de indústrias
verificado em 1988, ou seja, houve uma ligeira queda de 3% na participação deste Estado,
proporcionalmente, em relação ao percentual do número de indústria do Brasil, mas queda
mesmo foi apresentada pelo Estado do Rio de Janeiro que, em 1981, possui 31% das indústrias
e, em 1988, este número decresceu para 15%, ou seja, o Rio sofreu uma evasão excepcional de
indústrias.
O percentual do número de indústrias registrado em 1988 era duas vezes menor do que o
de 1981. Em 1992, esta tendência continuou, o Rio apresentou uma queda de 2,5
proporcionalmente em termos de sua participação no percentual do número de indústrias
verificado em 1988, ou seja, em 1992, o Rio representava apenas 6% das indústrias do Brasil, o
mesmo percentual de participação verificado pelo Estado de Minas Gerais, representado pela
cidade de Belo Horizonte. Minas foi o Estado que mais cresceu proporcionalmente nesta
participação no percentual do número de indústrias de informática em termos do Território.
O Rio de Janeiro, de 1988 a 1992, perdeu mais de 4.246 empregos na área de
informática, esta perda pode ser atribuída, em grande parcela, aos efeitos da política econômica
do governo neo-liberal e ao aumento da pressão competitiva gerada pelo fim da reserva de
mercado. Assim como os Bancos, as indústrias de informática procuraram se estabelecer em
mercados onde a circulação e os fluxos transacionais, representados pelos depósitos à vista e os
depósitos a prazo, eram mais atraentes, como eram em São Paulo.
Em relação ao porte das indústrias, segundo os dados fornecidos pela ABINEE, o
Estado de São Paulo apresentou, em 1992, uma queda de participação no número de indústria
de grande porte de aproximadamente 59%, em relação ao número que possuía em 1988, isso
189
levando-se em consideração os dados fornecidos pela ABICOMP. Este número seria de
impressionar, não fosse o fato da ABINEE não ter podido catalogar os dados de 7 CMs (a
Compaq, a Fujitsu, Hitachi, a Intel, a Microsoft, a Motorola e a Epson), que foram registrados
posteriormente pelo IDG, além de não ter incluído os dados de algumas indústrias nacionais,
como a Digilab e a Prológica, presentes no Município de São Paulo porque muitas dessas
indústria só vieram a fazer parte da paisagem urbana de São Paulo a partir de 1993, após o fim
da reserva de mercado. O Guia da ABINEE teve grande mérito de registrar a maioria dos dados
levantados sobre as indústrias de informática, em 1992, mas estes dados já não poderiam mais
servir de referência para caracterizar o perfil da indústria nacional a partir de 1993, pois, neste
ano, o Município de São Paulo ampliou relativamente a sua participação no número de indústrias
de grande porte, no território, de 14 indústrias, em 1988, para 16 indústrias, em 1993; o Estado
de São Paulo, também, aumentou a sua participação no número de indústrias de grande porte de
17 indústrias em 1988, para 19 indústrias, em 1993.
Em relação às indústrias de médio e pequeno porte, ocorreu, tanto no Município de São
Paulo como no Estado de São Paulo, um crescimento extraordinário destes grupos de
estabelecimentos, mas esta tendência foi decorrente do processo de reestruturação das indústrias,
que reduziram os seus tamanhos, diminuindo o número de empregados, alteraram as estratégias
de produzir em grande escala procurando novas estratégias de crescimento do escopo dos
produtos, procurando fortalecer os mecanismos de diferenciação e de inovação tecnológica. Com
o fim da reserva e aumento da pressão competitiva, abriram-se, também, grandes oportunidades
de constituição de parcerias, fusão, incorporação, subcontratação e joint venture com o capital
estrangeiro.
O desenvolvimento da estrutura territorial de acumulação das indústrias pertencentes ao
setor eletroeletrônico, no Município de São Paulo, foi constituído por dois tipos de configurações
territoriais: a primeira foi influenciada pela Lei da Reserva de Mercado e pelo crescimento de
investimentos concentrados no subsetor de informática e de automação (bancária, comercial,
industrial e terciária); a segunda determinada pelo fim da reserva de mercado neste subsetor e
190
pelo processo de reestruturação industrial e organizacional, direcionado para restabelecer o
padrão de competividade da indústria de informática. Estes dois tipos de configurações
territoriais, relacionadas às políticas de inovações empreendidas pelas instituições de pesquisa,
pelos grandes conglomerados financeiros e por alguns setores industriais privados e estatais,
transformaram a estrutura de acumulação territorial, deste Município , no maior e mais importante
CPAT do Brasil, como mostra a Tabela 11 (ver também, Mapa 04).
191
192
A gênese dessas indústrias nos CPAT foi determinada pelos processos de industrialização
e modernização e, em última instância, pela participação dos fatores político-territoriais, que
interferiram e redefiniram a composição territorial do capital industrial, através dos conteúdos de:
a) concentração e de estruturação tecnológica do capital;
b) negociação e exploração vantajosas da força de trabalho;
c) articulação lógica (geográfica e econômica) com os outros setores industriais que empregam
tecnologias de larga aplicação produtiva;
d) constituição de novas formas de relações sociais de produção ou de novas formas
organizacionais de administração do trabalho;
e) composição corporativa ou “cooperativa” com as forças políticas que atuam no território, via
política industrial-estatal e criação de condições para estruturação do processo de
acumulação do capital no território;
f) apropriação e produção territoriais vantajosas de valor social.
Sendo assim, os processos de concentração e de desintegração vertical
(SCOTT,1988:35e36); de desenvolvimento poligonizado (DINIZ,1994) da produção industrial;
de
deseconomia
de
aglomeração
(RICHARDSON,1978;
CORDEIRO,1980;
STORPER,1993); ou de involução urbana (SANTOS,1994), possuem características peculiares
e singulares que merecem ser examinadas a partir do conteúdo espacial da estrutura de
acumulação setorial do capital e do contexto político-econômico, que consubstanciam as
condições de produção e reprodução desse capital no território. A expansão territorial do
processo de desintegração vertical revelada, por alguns setores menos dinâmicos da estrutura
produtiva do CPAT de São Paulo, foi objeto de algumas pesquisas acadêmicas e institucionais
(BECKER & EGLER,1992; SEADE,1990; ASSIS et al.,1992).
O grau de estruturação territorial do capital e dos conteúdos demandadores de mercado
como: incentivos governamentais; isenções tributárias; fluxos financeiros; preço das terras;
investimentos em pesquisa industrial e desenvolvimento; inovações tecnológicas e organizacionais;
qualificação do trabalho e mudanças nas relações de trabalho, explicam, em parte, a presença de
193
algumas “ilhas de modernidade” e sua relativa expressão econômica no mercado interno. É o
caso da região de Campinas, com 37 indústrias de material elétrico e de comunicações; e José
dos Campos, em relação à indústria bélica e de aeronáutica; do Município de Barueri, em relação
à indústria de material eletrônico e de comunicação.
O caso de Barueri, Município da região noroeste da Grande São Paulo, com 130.248
habitantes (EMPLASA, 1991), a partir do final da década de 80, tem-se revelado como um
quase fenômeno de crescimento: cresceu 673% no pessoal empregado na indústria de material
elétrico e de comunicação (2.052 em 1988); passou a representar 0,72% da produção ou 15a
municipalidade, na ordem de classificação setorial das indústrias de material elétrico e de
comunicações do Estado, em termos de VTI e VA; concentrou 29,2% da força de trabalho da
subatividade de material eletrônico (599 funcionários); passou a possuir 43,5% da força de
trabalho da subatividade de comunicações (893 funcionários) (ASSIS et al., 1992) e tinha, em
1993, 6,7% das empresas de informática e automação do Brasil, 7 empresas (ABCR
Computadores Ltda, Ecil Yokogawa S/A, Edisa/HP S/A, Esca Engenharia de Sistemas S/A,
Key-Tec Indústria de Produtos Eletrônicos Ltda, MCS Engenharia Ltda e Unicontrol Sistema de
Medição Controle Ltda) (AUTOMÁTICA,1993).
Barueri, com seu mercado sofisticado de produtos e condomínios fechados de luxo (ou
espaço de autoexclusão urbana), conseguiu atrair grandes investimentos imobiliários de luxo e
indústrias do subsetor de informática. Foi o caso, no início dos anos 90, da sede da
Edisa/Hewlett-Packard-HP S/A (AUTOMÁTICA,1993:02; IDG, set1993:30), a 4a maior
indústria no ranking nacional, em 1993, que representa uma joint venture da poderosa Hewlett
Packard-HP, de capital estadunidense, com a Edisa, empresa brasileira. Mas, a Edisa/HP
mantém sua fábrica em Campinas, que é o 3o maior CIE de São Paulo (ABINEE,1993:136;
IDG, 1993:30). Barueri começa a se transformar em um “novo espaço industrial” do CPAT da
região metropolitana de São Paulo.
Mas é, em Sumaré, Município próximo à Campinas, onde se localiza, desde 1971, a mais
importante indústria multinacional do subsetor de informática no Brasil (1a do ranking), a IBM.
194
Investimento de US$ 31 milhões (PIRAGIBE,1985:110), ela está produzindo nesta
municipalidade, além de grandes computadores, micros PS/1 e PS/2 de linha 486 que estão
recebendo o Chip Pentium da Intel, já disponível no mercado. Estes micros custaram, em 1993,
US$ 2,6 mil a US$ 4,0 mil. Sumaré possui a maior parte da mão-de-obra da indústria de material
elétrico e de comunicações, 1.478 funcionários, (58%) alocada na subatividade eletrônica
(ASSIS et al.,1992).
No Estado de São Paulo, a produção do subsetor de informática começa a indicar, como
no conjunto da indústria de transformação, uma tendência de interiorização e de periferização,
mas não tão intensas quanto nos casos dos outros segmentos menos dinâmicos da indústria
eletroeletrônica e da indústria de transformação. Esta constatação relativiza a idéia, propagada no
meio acadêmico, sobre os processos de periferização industrial, de desindustrialização, de
reversão da polarização, etc. A aparência desses fenômenos, revelada pela expansão dos setores
menos dinâmicos da indústria de transformação, quase ofuscou a percepção essencial dos
processos, ou seja, existe um crescimento desconcentrativo ou uma dispersão para interior das
indústrias de informática (ver, Tabela 12), mas ele é ainda funcional (ROLNIK, KOWARICK &
SOMEKH, et al.,1990:140), seletivo ou diferenciado e começa a se estender para todos os
setores vinculados à produção de AT.
195
Tabela 12
Brasil, Estado de São Paulo e Município de São Paulo e Interior de São Paulo
Participação Percentual do Número de Indústrias Eletroeletrônicas com 50 a
100% de seus produtos dirigidos à área de Informática, por Número de
Empregados e Porte dos Estabelecimentos
1981-1992
Indústrias
Empregados
Áreas
SP
Brasil
1981
23
45*
1988
47
60*
Grande
1992 1981 1988 1992 1981 1988 1992
65
8.552 27.157 26.071
8
17
10
86* 15.614 36.945 30.551 10
23
12
**MSP
Int.SP
SP/BR
MSP/BR
MSP/S P
Int./BR
Int./SP
Int./MSP
20
3
51,11
44,44
86,95
06,66
13,04
15,00
42
5
78,33
70,00
89,36
08,33
10,63
11,90
53
12
75,58
61,63
81,54
13,95
18,46
22,64
7.694
856
54,77
49,27
89,97
05,48
10,00
11,13
24.115
3.042
73,50
65,27
88,79
08,23
11,20
12,61
21.660
4.411
85,33
70,89
83,08
14,44
16,91
20,36
6
2
80,00
60,00
75,00
20,00
25,00
33,33
14
3
73,91
60,87
82,35
13,04
17,64
21,42
7
3
83,33
58,33
70,00
25,00
30,00
42,85
Porte dos Estabelecimentos
Médio
Pequeno
1981 1988 1992 1981 1988
1992
5
16
24
10
4
27
14
20
33
20
7
37
5
0
35,71
35,71
100,00
00,00
00,00
00,00
14
2
80,00
70,00
87,50
10,00
12,50
14,28
19
5
72,72
57,57
79,17
15,15
20,83
26,31
9
1
50,00
45,00
90,00
05,00
10,00
11,11
4
0
57,14
57,14
100,00
00,00
00,00
00,00
23
4
72,97
62,16
85,18
10,81
14,81
17,39
Fontes: ABICOMP (1981;1988); DANTAS (1989:45); AUTOMÁTICA (1993); ABINEE (1993), GAZETA
MERCANTIL (1993); IDG (1993).
Na relação do número de indústrias entre o Município de São Paulo e os outros
municípios do Estado revela que, em 1981, o Município de São Paulo possuía 44,4% da indústria
e 49,3% do emprego da área de informática do Brasil e as outras municipalidades (Campinas,
Sumaré, Votoratim) representavam 6,7% da indústria e do 5,5% do emprego. Em 1988, o
Município de São Paulo passou a ter 70,0% da indústria e 65,3% do emprego do Brasil,
crescendo de 1981 a 1988, em 25,7% na indústria e 16,0% no emprego, as outras
municipalidades do Estado (Barueri, Campinas, Sumaré e Mogi das Cruzes) passaram a
representar 8,3% da indústria e 8,2% do emprego, crescendo de 1981 a 1988, 1,6% em relação
ao crescimento das indústrias e 2,7% do emprego do município. Em 1992; o percentual de
crescimento das indústrias de informática em São Paulo, de 62%, quando comparado a 1988, de
70,0%, passou a ser negativo, em menos 8%, entretanto, neste mesmo período, a interiorização
das indústrias de informática no Estado passou a ser mais efetiva, passando a representar 13,95%
das indústrias de informática do Brasil (Cf. Gráfico 18), com um crescimento de 5,65%, as
196
indústrias do interior do Estado passaram a equivaler, proporcionalmente, a 22,64% das
indústrias e 20,36% do emprego no Município de São Paulo.
Gráfico 18
Brasil, Estado de São Paulo, Município de
São Paulo e Interior de São Paulo
Participação do Número de Empregados e de Indústrias
Eletroeletrônicas, com 50 a 100% de seus produtos dirigidos à área
de Informática.
1981-1992
Empregos %
Industrias %
90
85
80
75
70
65
60
55
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
SP/BR
MSP/BR
INTERIOR/BR
1981
1988
1992
1981
1988
1992
Fontes: ABICOMP (1981;1988); AUTOMÁTICA (1993); ABINEE (1993),
GAZETA MERCANTIL (1993); IDG (1993).
Mas, neste processo de interiorização, algumas indústrias não foram catalogadas pelo
Guia da ABINEE, surgiram 10 novas indústrias nestas municipalidades: a Compaq, se instala em
Jaguariúna, municipalidade da Grande Campinas; a Edisa, sai de Gravataí, transferindo sua sede
para Barueri e instalando sua fábrica em Campinas; a antiga Microtec, hoje Microtec/Digital, que
fez um joint venture com a Digital, de capital estadunidense, abandona o Butantan e muda para
Cotia; a Digirede sai de Santa Cecília e vai para Diadema; e outras indústrias são constituídas a
197
partir do final da segunda metade da década de 80 (Engecom, em Santo André; Moldaço e
Multidata, em Guarulhos; MTM, em São Bernardo; Sysdata, em Itatiba; Acess, em Limeira;
Datanav, em São José dos Campos); a IBM, de Sumaré constituída em 1971, e a Olivetti, em
Guarulhos, são as duas maiores indústrias do interior do Estado de São Paulo. Cumpre salientar
que aproximadamente 64% dessa “interiorização” ocorreu em 8 municípios (Barueri, Cotia, Santo
André, São Bernardo, Diadema e Guarulhos) pertencentes à Grande São Paulo ou à
circunvizinhança de São Paulo, como mostra o Mapa 05 no fim desse Capítulo.
A explicação para este fato residiu no nível de complexidade exigido pela rede de
trabalho (network) para produção, circulação e concepção de produtos informacionais, tais
como: elevada presença de mão-de-obra de nível superior; presença de grandes centros de
excelência em pesquisa e desenvolvimento; presença de redes estabelecidas de fornecedores e
produtores de novos “insumos” tecnológicos; mercado diversificado e desenvolvido em
tecnologias de informação; ambiente favorável para negócios; presença de fortes concorrentes,
elevado nível transacional de circulação de mercadorias e de concentração de fluxos
informacionais especializados (CORDEIRO, 1989; SANTOS,1994:42-43). Estas qualidades
locacionais para a produção de AT podem ser encontradas, também, nos CIEs de: Guarulhos, o
2o maior do Estado de São Paulo; Campinas, o 3o maior; São José dos Campos, o 4o maior.
Campinas possui duas grandes empresas do subsetor de informática: a Edisa/Hewlett PackardHP e a Texas Instruments, e sua região metropolitana possui 2 fábricas das maiores CMs da
indústria de informática mundial: a IBM, em Sumaré e a Compaq, em Jaguariúna. Em um futuro
próximo, esta municipalidade e sua região metropolitana tenderão a ser como São Paulo, ou seja,
suficientemente fortes para atraírem grandes concentrações da indústria de informática e de
computadores.
Assim, enquanto dispersam-se os outros subsetores da indústria eletroeletrônica, dirigidos
para atividades de reprodução material urbana, os segmentos mais avançados, vinculados às
recentes inovações tecnológicas e às indústrias de AT ainda estão concentrados no CPAT
7
de
198
São Paulo (Cf. Gráfico 19), que é o principal “motor” territorial de produção de inovações
tecnológicas no Brasil.
199
Gráfico 19
Estado de São Paulo, Município de
São Paulo e Interior de São Paulo
Participação do Número de Empregados e de Indústrias
Eletroeletrônicas, com 50 a 100% de seus produtos dirigidos à área
de Informática.
1981-1992
Industrias %
Empregos %
90
80
70
60
MSP/SP
50
INTERIOR/SP
INTERIOR/MSP
40
30
20
10
0
1981
1988
1992
1981
1988
1992
Fontes: ABICOMP (1981;1988); AUTOMÁTICA (1993); ABINEE (1993),
GAZETA MERCANTIL (1993); IDG (1993).
Estes dados significativos, nas formas equivalentes de composição e concentração das
indústrias de computadores, são encontrados na estrutura intra-urbana do Município de São
Paulo, que representava, em 1992, 61,6% da mancha de concentração da indústria nacional de
informática, como mostra o Quadro XV.
200
Quadro XV
Número e % de Concentração das Indústrias de Informática no Estado
de São Paulo e sua relação com a Indústria Nacional - 1981, 1988 e 1992
Indústrias de Informática no Estado de São Paulo
Anos
1981
1988
1992
Localização
MSP ESP NAC MSP ESP NAC MSP ESP NAC
Total em %
44,4 51,1 100 70,0 78,3 100 61,6 75,5 100
Total Absoluto
20
23
45
42
47
60
53
65
86
Fonte: ABICOMP (1981;1987/88) e ABINEE (1993), (*) Obs.: Segundo a ABICOMP, em 1981, existiam três
municipalidades, fora da região metropolitana no interior de São Paulo, que possuíam indústrias de informática:
Campinas, S.J. dos Campos e Votorantim. O município de Sumaré não foi cadastrado pela ABICOMP, apesar
deste possuir uma fábrica da IBM.
O processo organização dos dados das indústrias de informática, da estrutura intraurbana do Município de São Paulo, apresentado nos quadros e nas tabelas à frente, foi
estabelecido a partir da metodologia para zoneamento, criada pela Empresa Metropolitana de
Planejamento da Grande São Paulo - Emplasa (Emplasa,1992:08), que dividiu o Município de
São Paulo em 9 Zonas, 57 Distritos (ver, Mapa 6).
Das 9 Zonas, existentes no Município de São Paulo, 3 se destacaram em termos de
concentração de indústrias de informática, em 1992. Em primeiro lugar, está a Zona do Centro
expandido, com 9 distritos e 16 indústrias, totalizando mais de 12.755 empregos; em segundo
lugar, encontra-se a Zona do Centro Histórico, com 6 distritos e 11 indústrias, apresentando mais
de 3.206 empregos; em terceiro lugar, vem a Zona Sul, com 4 distritos e 11 indústrias,
aglutinando mais de 3.195 empregos. A quarta maior Zona a se destacar, em termos de
concentração na indústria de informática, foi a Oeste, com apenas 1 distrito, 4 indústrias e mais
de 1.553 funcionários; a quinta Zona mais importante foi a Sudeste, com 2 distritos, 5 indústrias e
mais 625 funcionários; as outras Zonas (Leste 1, Norte 1 e Norte 2), com os seus 6 distritos,
possuem juntos 6 indústrias, 4 localizadas na Zona Norte 2, e 582 funcionários (ver, Mapa 7),
como revela o Quadro XVI.
201
Quadro XVI
Indústrias de Informática por Zonas de Concentração
no Município de São Paulo: 1981, 1988 e 1992
Concentração Espacial
Número de Indústrias
Número de Funcionários
Zonas
1981
1988
1992
1981
1988
1992
Centro Expandido/SP
11
16
16
4.432
17.807 12.755
Centro Histórico
3
9
11
1.061
2.617
3.206
Sul
5
5
11
1.131
1.332
3.195
Oeste
0
10
4
0
1.579
1.553
Sudeste
1
0
5
1.070
0
625
Outras
0
2
6
0
780
582
Município de São Paulo
20
42
53
7.694
24.115 21.660
Fonte: ABICOMP, 1981,1988; ABINEE, 1993.
Mas, dentro destas Zonas, que distritos ou localidades se sobressaem em termos de
concentração e produção das indústrias mais importantes de informática no Brasil?
A estrutura intra-urbana do Município de São Paulo, o Centro Expandido, com uma
população de 1.036.799 habitantes 8, em 1991, era a Zona que possuía, em 1992, a maior
concentração de indústrias de informática do Brasil: 16 indústrias, correspondentes a 18,6% da
indústria nacional; além de concentrar, também, o maior número de sedes de instituições
financeiras do território, isso sem considerar as informações não catalogadas pela ABINEE sobre
6 importantes CMs do subsetor de informática (Microsoft, Intel, Hitachi, Fujitsu, Motorola e
Epson) que estão presentes nesta Zona. Para suprir esta lacuna, foi fundamental completar as
informações sobre a localização destas indústrias nesta Zona através do Anuário de Informática
da Computerworld do Brasil (IDG), publicado em setembro de 1993, 5 meses depois da edição
do Guia ABINEE -- 1993.
Em relação ao emprego industrial, esta Zona, em 1988, chegou a representar 48,19% do
emprego da indústria brasileira e a 73,84% do emprego deste Município; e em 1992,
correspondeu a 42% do emprego da indústria de informática nacional e a 58,83% do emprego
do Município de São Paulo, ou seja, no período de 5 anos, esta Zona perdeu 5.052 posto de
trabalho, 15,15% a menos do percentual de emprego verificado em 1988. As tendências de
202
aumento da competitividade industrial, a reestruturação organizacional dos GCFs; conjuntamente
com o desenvolvimento das estratégias de redução da escala de produção e de ampliação do
escopo de produtos e a decretação do fim da reserva de mercado, podem ter influenciado na
redução do porte de algumas empresas e no número de funcionários nesta Zona, já que quase
não houve redução do número de indústrias. Embora duas importantes CMs (Fujitsu e Hitachi)
nesta Zona, no distrito de Cerqueira César, não tenham sido cadastradas pela ABINEE em
1992.
Os distritos mais importantes da Zona do Centro Expandido, em termos de concentração
e localização das indústrias de informática do Município de São Paulo, foram: em 1981, os
distritos de Cerqueira César e Jardim América (ver, Mapa 8), este último distrito perdeu
importância com o surgimento do Centro Berrini, no Jardim Paulista, que praticamente
“seqüestrou” algumas de suas importantes indústrias de informática; em 1988 (ver, Mapa 9),
foram os distritos de Cerqueira César e Jardim Paulista; em 1992, Cerqueira César e Jardim
Paulista.
O distrito de Cerqueira César, a 2,8 km do Centro (a Sé), no início deste século era um
antigo subúrbio (Vila Cerqueira César) ocupado por operários e membros das chamadas
camadas médias (ROLNIK, 1983:127), pertencente ao aristocrático bairro de Higienópolis
(PETRONE,1958:115). No período atual, este distrito além de possuir uma população com forte
poder de compra (“de média e alta rendas”) (ROLNIK; KOWARICK & SOMEKH,
1990:57), possui a maior concentração financeira do país na Av. Paulista (CORDEIRO,
1980:137; SOUZA, 1986:144) e a maior e a mais significativa concentração local de
empregados na produção industrial do subsetor de informática do Brasil, com mais de 8.157
empregados; próximo à Av. Paulista, em 1992, existem 4 grandes Corporações Multinacionais
(IBM/Filial, Fujitsu, Hitachi e NEC), destas 4, as 3 primeiras são grandes produtoras de
mainframes (ver, Mapa 10). A IBM/Filial, de capital estadunidense, é a 1a no ranking nacional,
com 4.200 funcionários, produzindo além de minicomputadores e microcomputadores,
concentradores de terminais, discos magnéticos, terminais de vídeo, unidades de disco flexível,
203
unidades de fitas magnéticas, e conta com 44 canais de comercialização, no Brasil, sendo 3
canais de distribuição e 9 revendas, em São Paulo (IDG,1993:76-85). A Fujitsu, é a 1a no
ranking nacional no comércio varejista de informática e a 3a no ranking nacional na produção de
mainframes (GAZETA MERCANTIL, 1993:333; EXAME, 1993:61), produz, também, além de
4 tipos de mainframes, impressoras a laser de alta velocidade. A Hitachi, de capital japonês, com
607 funcionários, além de produzir mais de 25 tipos de mainframes, produz, também,
equipamentos para área de refr igeração e nesta área de atividade é a 3a maior no ranking nacional
(GAZETA MERCANTIL, 1993:262). A NEC, 1a indústria no ranking nacional na produção de
centrais telefônicas, de capital japonês, com 3.053 funcionários; tem a 1a indústria no ranking
nacional na produção de teleinformática.
Este distrito também possui a Alcatel, com 1.985 funcionários 9, a 3a maior indústria de
centrais telefônicas no ranking brasileiro; e conta, ainda, com 1 indústria de periféricos; 1 indústria
de componentes e monitores e 4 indústrias de minicomputadores e microcomputadores, entre
estas cumpre destacar a Itautec, que com toda sua rede de parcerias (Western Digital, IBM,
Rima Novell, Intel, Konica Zikom, Sistematrix, Philco) ou “network”, possui, de seus 58 canais
de comercialização no Brasil, 16 canais de revenda em São Paulo (IDG,1993:85). A Itautec,
com seus 3.812 funcionários, é a 1a indústria no ranking nacional na produção de
minicomputadores e microcomputação, para a revista EXAME (1993:61) ou a 3a no ranking,
contando com as duas principais CMs desta atividade de produção, a IBM e a Unisys, segundo a
revista da GAZETA MERCANTIL (1993:278); além destes produtos, a Itautec produz
impressoras, monitores, copiadoras, leitoras de código de barra, interfaces, comutadores de
canais, terminais administrativos, terminais de caixa automático, terminais de caixas registradoras,
terminais de ponto de venda, terminais de vídeo, terminais financeiros, unidades de supervisão de
redes de comunicação, concentradores de linhas telefônicas, respostas audíveis de sistemas, telex
convencionais e fac-símiles.
Outra importante indústria deste distrito, também não catalogada pela ABINEE, é a
CM&A, 8a indústria no ranking nacional de computadores, com seus 60 funcionários (GAZETA
204
MERCANTIL, 1993:278). O processo de automatização bancária estimulada pela reserva de
mercado, a forte concentração de Bancos e de instituições financeiras exerceu um papel
importante na localização destas indústrias neste distrito e na constituição de mais de 1.355 novos
postos de trabalho. O crescimento dos postos de trabalho deste distrito em relação ao
crescimento verificado na Zona, reflete o relativo dinamismo desse distrito, enquanto o
crescimento do emprego no distrito, de 1988 a 1992, foi de 16,6%, a perda de emprego na
Zona, no mesmo período, foi de 28,3%.
Em relação ao porte das indústrias, o distrito de Cerqueira César possui 6 (Alcatel,
Itautec, IBM/Filial, NEC, Fujitsu e Hitachi) das 14 maiores indústrias do setor eletroeletrônico
com produtos na área de informática do Município de São Paulo, duas indústrias de informática
neste distrito (Fujitsu e Hitachi) não faziam parte do Guia ABINEE de 1993, e mais 5 indústrias,
pertencentes preponderantemente aos outros subsetores do setor eletroeletrônico de outros
distritos, não foram contabilizadas na Tabela 11 acima, por motivos e critérios de prevalecência
de produtos na área de informática.
O distrito de Jardim Paulista, a 5 km do Centro, constituído pelos antigos e
aristocráticos “bairros-jardins” (PETRONE,1958:124) “da alta burguesia de formação
recente” (CORDEIRO, 1980:74), construídos a partir de 1915 pela Companhia City, de
capitais ingleses, além de ser, na atualidade, um importante centro empresarial, possui também um
importante “corredor” de concentração da produção industrial na área de informática, trata-se da
Av. Engenheiro Luiz Carlos Berrini, também chamado de Centro Berrini 10, concebido, na década
de 70, pelo arquiteto Carlos Bratke (SOUZA, 1994:116). Próximo a Av. Engenheiro Luiz Carlos
Berrini estão as indústrias: Microsoft, WGB, SID Informática, SID Telecom, STC, Opto e a
Prológica (ver, Mapa 10). Este distrito conta ainda com 6 indústrias preponderantemente da área
de informática (ABINEE,1993), 4 entre as 15 maiores no ranking nacional, como: SID/Telecom,
a 6a maior indústria de Teleinformática, e a SID/Informática, 2a maior indústria de
minicomputadores e microcomputadores (EXAME,1993:61), indústrias vinculadas ao grupo
Bradesco e associadas a IBM. A primeira possui 32 funcionários e atua predominantemente na
205
área de telecomunicações, produzindo fios e cabos, centrais de comutação de pacotes,
controladores de comunicação, aparelhos telefônicos, caixa de emenda para fibra óptica,
multiplex telefônicos, rádios de microondas para telecomunicações, telefonia móvel celular,
terminais de linhas ópticas, atenuadores ópticos, conectores ópticos, sistema roteado; a segunda,
com 1.323 funcionários atua preponderantemente na área de informática, produzindo caixas
eletrônicos para bancos, minicomputadores e microcomputadores, terminais administrativos,
terminais de caixas automáticos, terminais de caixa bancário, terminais de consulta, terminais de
caixas registradoras, terminais de ponto de venda, terminais de vídeo, terminais financeiros,
unidades de disco flexível, unidades de disco rígido, terminais de auto serviço bancário, servidor
de rede, terminais dispensador de talões de cheque.
Outras importantes indústrias de informática deste distrito são: a Prológica, 13a indústria
de computadores no ranking nacional, com 1.530 funcionários (GAZETA MERCANTIL,
1993:281), que produzem minicomputadores e microcomputadores, impressoras, unidades de
disco flexível, unidades de disco rígido; a CMW- Equipamentos S.A, produtora de periféricos e
1a no ranking das indústria de automação industrial (GAZETA MERCANTIL, 1993:281).
Entre as indústrias deste distrito, não cadastrada pela ABINEE, estão duas importantes
CMs (Microsoft e Intel): a primeira, a Microsoft, que é a maior empresa na área de software, em
termos global, possui 90 canais de comercialização, no Brasil, dos quais 5 canais são de
distribuição e 9 são revendas localizados em São Paulo; a segunda, a Intel, que é a maior
empresa de Chips e componentes a nível global. O distrito de Jardim Paulista possui, também, a
segunda maior concentração local das indústrias de computadores do Brasil.
Em relação ao porte das indústrias, em 1988, este distrito apresentou um número maior
de indústrias de grande porte, a presença de grandes indústrias como: a Elebra, com 4.500
funcionários; a Multitel, com 2.179 funcionários; da Prológica, com 1.350 funcionários, explica
porque este distrito apresentou naquele ano o maior número de empregados do Centro
Expandido de São Paulo, mais de 8029 empregados, sem contar o número de empregados das
pequenas e médias indústrias. Em 1992, o crescimento da pressão competitiva provocada pelo
206
fim da reserva de mercado, influiu na redefinição no tamanho das indústrias e nas suas estratégias
organizacionais, algumas dessas grandes empresas optaram pelo PRI: reduzindo o número de
empregados; movendo-se para áreas onde o custo da locação ou o valor imobiliário era menor;
reduzindo a escala de produção e ampliando o escopo de produtos; procurando novas parcerias
ou mesmo abrindo concordata. Mas grandes e novas indústrias também resolveram se
estabelecer nesse distrito como: a SID Informática, a SID/Telecom, a Intel e Microsoft, o que
atenuou um pouco a queda do emprego neste distrito, de 1988 a 1992, foi reduzido em quase
40%, ou seja, 5.160 postos de trabalho desapareceram, contra apenas 5,3% de redução no
número de indústria em relação ao Município de São Paulo. Se fosse contabilizado o ingresso de
empresas não cadastradas pelo Guia da ABINEE, em 1993, esta discrepância, deixaria ainda
mais nítido o conteúdo desse PRI neste distrito, pois cresce o número de pequenas e médias
empresas que requisitam cada vez menos trabalho.
Outros distritos do Centro Expandido do Município de São Paulo como Pinheiros,
Santa Cecília e a Lapa, possuem também um grande número de indústrias de informática.
O distrito de Pinheiros, a 7 km do Centro, formado por antigos bairros operários
situados nas proximidades da várzea do rio Pinheiros e dos bairros residenciais ricos, começou a
se integrar a estrutura de acumulação industrial da cidade, Centro Principal (CORDEIRO,
1980:60), a partir do início dos anos 50 e se transformou na terceira mais importante área
comercial da cidade, ainda no final daquela década (PETRONE, 1958:153-155). Possui três
indústrias com produtos voltados para a área de informática: uma de capital brasileiro, a Dimep, e
duas CMs, não cadastradas pelo Guia da ABINEE, a Motorola e a Epson, de capital
estadunidense. A Dimep com 394 funcionários realiza atividades mais na área de instrumentação
do que no subsetor de informática, produz sistemas personalizados de controle e registro,
terminais de marcação de ponto, relógios de eletrônicos de controle de ponto e controles de
horário e de acesso. A Motorola, indústria de informática e telecomunicações, produz mainframes
de médio porte, minicomputadores e microcomputadores, e equipamentos para telefonia celular.
A Epson, indústria preponderantemente de informática, produz microcomputadores, impressoras
207
e componentes, possui 71 canais de comercialização no Brasil, dos quais 3 canais são de
distribuição e 6 são de revenda de seus produtos em São Paulo (IDG,1993:76-86). Os dados
das empresas deste distrito cadastrado pela ABINEE, não expressam a verdadeira pujança local
da estrutura de produção deste distrito, as informações oferecidas pelo IDG complementaram,
em parte, a visualização aproximada da imagem da concentração local das atividades industriais
no subsetor de informática neste distrito, como mostra o Mapa 10.
O distrito de Santa Cecília, a 2 km do Centro, antiga área de Chácaras, pertencente ao
centro comercial e bancário que geria a economia do café, veio a se transformar em bairro em
1872 (MATOS,1958:87). Na atualidade, possui uma indústria brasileira de infomática, a
Centertap, e duas grandes CMs (ABC-Bull e Elgin). A primeira, a Centertap, com apenas 5
funcionários, produz Modens; a segunda, a ABC-Bull, de capital francês, com 300 funcionários,
produz predominantemente produtos do subsetor de informática, como grandes mainframes e
microcomputadores; e a terceira, a Elgin, indústria de capital estadunidense constituída em 1952,
com 1.738 funcionários, produz apenas impressoras como produto do subsetor de informática,
grande parcela de sua produção está concentrada na produção de eletrodomésticos, como:
equipamentos e componentes de refrigeração, máquinas de costurar, componentes para
eletrodomésticos, condicionadores de ar para automóveis, telecomunicações e uso doméstico.
O distrito da Lapa, localizado a 8,5 km do Centro, antigo bairro fabril com grandes
concentrações de habitações populares e casas operárias (ROLNIK,1983:131). Na década de
80, este distrito apresentou crescimento nos ramos industriais mais modernos (metalurgia,
mecânica, material elétrico, de comunicações e transporte), que aglutinam e polarizam a maioria
dos empregos (ROLNIK, KOWARICK & SOMEKH, et al.,1990:142). Possui 5 indústrias
eletroeletrônicas, das quais 3, são preponderantemente de informática, responsáveis por 5,7% do
emprego das indústrias de informática do Município de São Paulo em 1992.
A segunda Zona mais importante, em termos de concentração e localização de indústrias,
é Centro Histórico do Município de São Paulo, com uma população absoluta de 282.364
208
habitantes, esta Zona é responsável por 20,7% do número das indústrias de informática e por
15% do número de emprego.
Os distritos mais importantes da Zona do Centro Histórico, em termos de concentração e
localização das indústrias de informática do Município de São Paulo, são: Barra Funda, Sé e
Brás.
O distrito da Barra Funda, a 4 km do Centro, importante área industrial formada pelos
efeitos de externalidade produzidos pelo crescimento do parque industrial do centro e pela
expansão das primeiras vias férreas. Além de possuir o Memorial da América Latina, onde foi
efetuado o lançamento nacional pela Microsoft do software Windows’95, tem na sua
circunvizinhança, o Palácio de Convenções do Anhembi, onde são realizadas as duas maiores
feiras de informática da América Latina, a Fenasoft e a Comdex Sucesu-SP. Este distrito,
responde por 5,7% do emprego da indústria de informática no Município de São Paulo e possui
5 indústrias de porte médio vinculadas à atividade de informática: a Dismac, a Alfadigital, a
Telemática e a Metal Leve. A Dismac, fundada em 1973, com 242 empregados, em 1992,
produz caixas registradoras eletrônicas, calculadoras (portáteis, de mesa, estatística, solares, etc),
microcomputadores, terminais de ponto de venda e unidade híbrida de controle de terminais. A
Alfadigital, indústria de pequeno porte, 2a no ranking nacional de comércio varejista de produtos
de informática (GAZETA MERCANTIL, 1993:333), produz microcomputadores, teclados
eletrônicos, impressoras matriciais, interfaces, monitores de vídeo monocromáticos e
policromáticos e mouses. Duas outras indústrias, a Telemática e Metal Leve Controles
Eletrônicos atuam mais na área de equipamentos direcionados à automação comercial e industrial
do que na área de informática. A primeira, com 181 funcionários, produz leitoras de código de
barra, terminais de coleta de dados, terminais de marcação de ponto, relógios de ponto
eletrônicos, tarifadores de energia diferenciada, telex convencionais e micro-telex; a segunda, é
uma indústria de renome que goza do prestígio internacional pela qualidade de seus produtos,
possui 247 funcionários, produz leitoras de código de barras, controladores compactos e de
209
grande porte programáveis, controles estatísticos da produção, sistema digitais para acionamento
e automação, sistema de visão e microcomputadores industriais.
O distrito da Sé, marco zero no Centro, possui 3 indústrias com atividades vinculadas ao
subsetor de informática: a Basf, a MLX-Medidata/Labo e Videocompo. A Basf, com 3.018
funcionários, produz mais produtos dirigidos à área de imagem e som do que à área de
informática, como: fitas magnéticas para audio e vídeo, fitas em rolos para audio; os produtos
dirigidos à área de informática são fitas magnéticas em cassete e em rolo para equipamentos de
informática. A MLX- Medidata/Labo é o produto da fusão das indústrias Medidata, criada em
1976, e Labo, fundada em 1977, conta com 493 funcionários, que produzem minicomputadores
e microcomputadores. A Videocompo com os seus 130 funcionários produz basicamente
monitores de vídeo monocromático e policromático.
O distrito do Brás, a 2 km do Centro, que era considerado um “immense quartier
populaire et laborieux” do início do século (PETRONE, 1958:118), foi a área onde, a partir do
centro e da ferrovias, se desenvolveu o parque industrial paulista (ROLNIK; KOWARICK &
SOMEKH, et al., 1990:140; BERNARDES; AB’SABER, 1958:182). Neste está localizada
apenas uma indústria de computadores: a CM NCR, de capital estadunidense, com 135
funcionários, produz 5 tipos de computadores de médio porte, 9 tipos de computadores
multiusários, 3 tipos de microcomputadores (notebooks), terminais de caixas automáticos e
terminais de pontos de venda.
A Zona Sul é a terceira maior área de concentração de indústrias de informática do
Município de São Paulo, possui três distritos que se destacam em termos de localização das
indústrias de informática, são eles por ordem de importância: Socorro, Santo Amaro e Jabaquara.
O distrito de Capela do Socorro, a 20 km do Centro, representa uma área recentemente
incorporada ao processo de expansão da metrópole. Possui 5 indústrias com produtos voltados à
atividade de infomática, empregando mais de 2.515 funcionários, cerca de 11, 6% do número de
funcionários empregados em São Paulo. Estas 5 indústrias são: a Unisys (Fábrica), a Xerox
(Filial), ambas de capital estadunidense, a TDA, a FTD, a PWM e a Produfix. A Unisys possui
210
uma fábrica em Veleiros no Socorro e a sede em Vitória no Espírito Santo, com 1.941
funcionários, produz grandes mainframes, minicomputadores e microcomputadores, impressoras
matriciais e de linha margarida, impressoras a laser e a jato de tinta, impressoras de código de
barra. Com sede no Rio de Janeiro, a filial da Xerox em Interlagos possui 120 funcionários e
produz apenas copiadoras ou máquinas de reprografia. A TDA, com 400 funcionários, produz
preponderantemente
produtos
da
área
de
informática,
como:
minicomputadores
e
microcomputadores, modens, terminais administrativos, terminais de vídeo, terminais inteligentes e
compressor de dados. A FTD, com 11 funcionários, é uma indústria basicamente do subsetor de
telecomunicações, produz fusíveis, armários de distribuição, ondas portadoras e, na área de
informática, produz microcomputadores comerciais ou profissionais. A PWM, com 30
funcionários, é uma indústria tipicamente de equipamentos industriais, o único produto que produz
para a área de informática é estabilizador de voltagem. A Produfix, com 54 funcionários, é uma
indústria preponderantemente da área de informática, porque produz impressoras de código de
barra e impressoras comuns.
O distrito de Santo Amaro, a 13,8 km do Centro, “cuja fundação remonta aos
tempos coloniais” (PETRONE,1958:109), é o mais populoso do Município de São Paulo, com
uma população absoluta, em 1991, de 931.549 habitantes (Emplasa, 1992:49), teve o seu
crescimento como um resultado do processo de expansão das linhas de bondes, provenientes do
Brooklyn Paulista e da Vila Mariana. Na década de 80 este distrito assim como a Lapa
apresentou crescimento nos ramos industriais mais modernos, que aglutinam a maioria dos
empregos, expressando uma tendência de dinamismo e de reacomodação da produção industrial
na estrutura intra-urbana do Município (ROLNIK, KOWARICK & SOMEKH, et
al.,1990:142). Este distrito possui 6 indústrias com atividade na área de infomática: a Philips,
Zentranx, XTPO, Módulo Informática, Toledo, Embracom e a Compaq, esta última não
catalogada pela ABINEE. A Philips com 1.400 funcionários é uma indústria basicamente dos
subsetores de Componentes, Eletrodoméstico e Imagem e Som, para os quais ela produz mais de
61 tipos diferentes de produtos; para o subsetor de Informática, ela só produz 2 produtos:
211
monitores monocromáticos e monitores policromáticos. A Zentranx possui 60 funcionários e atua
mais na área de Equipamentos industriais com 8 tipos de produtos e, para o subsetor de
Infomática, produz estabilizadores e filtro de linha. A XTPO, com 36 funcionários, produz
apagadores de memória, comutadores para periféricos, expansão de memórias, interface serial de
comunicação, interface outras, leitoras de código de barra, programadores de memórias,
terminais de coleta de dados, testadores de semicondutores. A Módulo Informática possui 250
funcionários e produz interface outras e microcomputadores industriais. A Toledo do Brasil possui
957 funcionários e produz mais para a área de instrumentação do que para a área de informática,
para a primeira área produz cerca de 16 tipos de produtos e para a segunda, 1 produto:
impressoras de código de barra. A Embracon, com 210 empregados, figura como a 10a indústria
de periféricos do ranking nacional (GAZETA MERCANTIL, 1993:278) e produz 4 produtos da
área de informática: interfaces para microcomputadores, interfaces outras, modens e fontes de
alimentação; os outros 11 produtos estão direcionados para a área de Telecomunicações. A
Compaq, indústria de capital estadunidense, foi fundada, em 1992, durante o período de
decretação do fim da reserva de mercado, localizada junto a Marginal Pinheiros, como uma
subsidiária comercial, esta empresa teve um crescimento extraordinário da vendas de seus
computadores; em 1993, instalou uma fábrica em Jaguariúna, municipalidade do CIE da Grande
Campinas. Nos EUA, esta indústria é uma das mais poderosas em vendas de
microcomputadores, trabalha na fabricação de microcomputadores, servidores, notebooks, com
chips 486 e de “penúltima geração”, o Pentium da Intel.
O distrito de Jabaquara, a 11 km do Centro, possui 5 indústria e produz produtos
direcionados ao subsetor de informática: CIS, ADD, Digibyte, Tantech, Televolt, HBD, mas
dessas apenas 3 possuem produção predominantemente direcionada para a área de informática.
Este distrito contribui com 5,7% do emprego do setor no Município de São Paulo.
A Zona Oeste, era formada por dois distritos Osasco e Butantan, mas na década de 60
Osasco se desmembra do Município de São Paulo e se transforma em municipalidade, a partir
deste período o Butantan, a 11 km do Centro, se tornou no único distrito da Zona Oeste. Sua
212
origem está articulada a expansão da cidade a partir do desenvolvimento da ferrovia, que
interligava o centro em direção a Osasco, através de Pinheiros, acompanhando a Estrada de Itu
(PETRONE,1958:109). Este distrito possui a Universidade de São Paulo - USP, criada em
1934, e o seu Instituto de Pesquisas Tecnológica (IPT/USP), tiveram, no final da década de 70,
um importante papel na constituição dos primeiros computadores fabricados no Brasil; possui 8
indústrias de informática (ABINEE,1993), das quais: 3 são indústrias de microcomputadores,
entre estas está a 5a maior indústria de informática do Brasil, a Monydata; 3 são indústrias de
impressoras, entre estas estão a Rima, 2a maior indústria de “periféricos” do ranking (GAZETA
MERCANTIL, 1993:278), a Procomp, que é a 1a no ranking nacional das indústrias de
automação bancária e a 4a maior produtora de periféricos (EXAME, 1993:61); 2 indústrias de
terminais, dentre estas merece destaque a Ensec, 2a maior empresa de automação industrial
(GAZETA MERCANTIL, 1993:278).
A Zona Sudeste, possui 5 indústrias de informática, 4 no distrito de Ipiranga e 1 no
distrito de Saúde. Estas indústrias respondem por 2,8% do emprego da área de informática no
Município.
O distrito de Ipiranga, a 7 km do Centro, era um bairro-subúrbio operário no início do
século, localizado nas áreas tanto das várzeas quanto das vertentes do Tamanduateí, teve, assim
como o Brás, a Lapa, o Butantan, a ferrovia como ancestral comum de crescimento. Este distrito
possui 2,7% do emprego na indústria de informática do Município de São Paulo e 4 indústrias de
informática (Tecsimi, Elebra dados, Syncro e Nasa). A Tecsimi com 80 funcionários produz
impressoras, leitoras de cartões magnéticos e leitoras de código de barras. A Elebra Dados é
membro do Grupo Elebra, constituída de 4 indústrias (Elebra Ciaputadores S/A, Elebra
Informática Ltda, Elebra Telecom Ltda, Elebra Impressoras S/A), possui 461 funcionários, é a 2a
maior indústria no ranking nacional no subsetor de telecomunicações e atua, também, nas áreas
de microeletrônica e de informática, nesta última área produz modens. A Syncro, com 29
funcionários, produz micro e minimotores e motores para unidades de discos flexíveis. A Nasa,
possui 20 funcionários e produz microcomputadores de uso comercial e profissional.
213
O distrito de Saúde, a 7,7 km do Centro, possui apenas uma indústria a Zero, que com
35 funcionários produz microcomputadores profissionais e comerciais. A Tabela 13, mostra com
mais detalhes a participação e a concentração da indústria de informática em outras Zonas (Leste
1, Norte 1 e 2) e distritos de São Paulo:
Tabela 13:
Localização e Dispersão das Indústrias Eletroeletrônicas que possuem
de 50 a 100% de produtos dirigidos para a área de Informática
no Município de São Paulo por Distritos e Número de Empregados (1981-1992)
São Paulo
Indústrias
Percentual ao Ano
Emprego
Percentual ao Ano
Distritos/Zonas
Cerqueira César
Consolação
Indianapolis
Jd. América
Jd. Paulista
Perdizes
Pinheiros
Sta. Cecília
Vila Mariana
C. EXPANDIDO
81
4
0
0
3
2
0
0
1
1
11
88
5
0
1
0
7
0
1
1
1
16
92
4
1
0
1
6
1
0
2
1
16
81
20,0
0,0
0,0
15,0
10,0
0,0
0,0
5,0
5,0
55,0
88
11,9
0,0
2,4
0,0
16,6
0,0
2,4
2,4
2,4
38,10
92
7,5
1,88
0,0
1,88
11,3
1,88
0,0
3,77
1,88
30,09
81
2454
0
0
605
576
0
0
410
387
4432
88
6802
0
s.d
0
8556
0
21
1500
928
17807
92
8157
5
0
100
3396
12
0
305
780
12755
81
31,89
0,0
0,0
7,86
7,48
0,0
0,0
5,32
5,02
57,60
88
28,2
0,0
s.d
0,0
35,5
0,0
0,08
6,2
4,0
73,98
92
37.6
0,02
Barra Funda
Brás
Cambuci
Lapa
Sé
Sta. Ifigência
C. HISTÓRICO
Vila Formosa
LESTE 1
Pirituba
NORTE 1
Casa Verde
Limão
N.S.do Ó
Vila Maria
NORTE 2
1
1
1
0
0
0
3
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
0
2
3
2
0
9
0
0
0
0
0
0
1
1
2
3
1
1
3
2
1
11
1
1
1
1
1
1
1
1
4
5,0
5,0
5,0
0,0
0,0
0,0
15,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
4,76
0,0
4,76
7,1
4,76
0,0
21.38
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
2,4
2,4
4,8
5,66
1,88
1,88
5,66
3,77
1,88
20,73
1,88
1,88
1,88
1,88
1,88
1,88
1,88
1,88
7,52
800
11
250
0
0
0
1061
0
0,0
0
0
0
0
0
0
0
195
0
1839
583
s.d
0
2617
0
0,0
0
0
0
0
s.d
780
780
423
135
20
267
623
1738
3206
35
35
136
136
30
140
20
50
240
10,39
0,14
3,24
0,0
0,0
0,0
13,78
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,8
0,0
7,6
2,4
s.d
0,0
10,8
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
s.d
3,2
3,2
1,95
0,6
0,1
1,2
2,87
8,0
14,72
0,16
0,16
0,62
0,62
0,13
0,64
0,10
0,23
1,10
Ipiranga
Saúde
SUDESTE
0
1
1
0
0
0
4
1
5
0,0
5,0
5,0
0,0
0,0
0,0
7,5
1,88
9,38
0
1070
1070
0
0
0
590
35
625
0,0
13,90
13,90
0,0
0,0
0,0
2,7
0,16
2,86
Ibirapuera
Jabaquara
Socorro
Sto. Amaro
SUL
0
2
2
1
5
0
0
1
4
5
1
3
4
3
11
0,0
10,0
10,0
5,0
25,0
0,0
0,0
2,4
9,5
11,9
1,88
5,66
7,5
5,66
20,7
0
300
793
38
1131
0
0
835
497
1332
20
364
2515
296
3195
0,0
3,89
10,30
0,49
14,69
0,0
0,0
3,5
2,1
5,6
0,1
1,7
11,61
1,4
14,81
0,46
15,7
0,05
0,0
1,4
3,6
58,83
214
Butantan
OESTE
0
0
10
10
4
4
0,0
0,0
23,8
23,8
7,5
7,5
0
0
1579
1579
1553
1553
0,0
0,0
6,5
6,5
7,2
7,2
Totais
20
42
53
100
100
Fontes: ABICOMP (1981; 1988); ABINEE (1993).
100
7694
24115
21660
100
100
100
Para uma melhor visualização e compreensão sobre localização e distribuição geográfica
das indústrias de informática do Município de São Paulo, já tratadas acima, os 8, 9 e 10 mostram
a evolução das manchas de concentração das indústrias de informática, segundo as Zonas e
distritos do Município de São Paulo, por “categorias de produtos” (Grandes Mainframes,
Minicomputadores, Microcomputadores, Periféricos, Impressoras, Componentes, Terminais,
Softwares, Suprimentos) 11.
Precisa-se, no entanto, explicar melhor como o processo de “transformação do território”
ocorre e porque este é provocado pelo crescimento do uso de mais ciência e mais técnica ou,
então, pela difusão e crescimento do “trabalho intelectual” (SANTOS, 1991). Serão, estes
atributos, condição para essa transformação? Existem fortes indícios confirmando a força desses
atributos, mas onde entram os mecanismos políticos territoriais?
Afirmar que os estados do sul e do sudeste parecem ser a expressão brasileira deste
“meio técnico-científico”, ou que este se “dá como manchas em outras áreas do território”, é
importante, mas é preciso, antes, ter tido a visibilidade dos novos conteúdos de composição
tecnológica e industrial dentro do espaço local, para que, então, se possa reconstituir a nomeada
emergência desses novos espaços industriais.
Os novos espaços industriais no setor de AT tendem a emergir como uma decorrência da
circulação de grandes fluxos financeiros e, também, da articulação da ação Estatal e das grandes
firmas com forte capacidade de inovação tecnológica, que se globalizam ou segmentam, mudando
o significado do mercado das cidades, tanto do interior como dos espaços intra-urbanos.
Em resposta à crise das instituições Estatais, “mudanças institucionais e organizacionais”
(RANGEL, 1987), articuladas a uma seqüência de renovações parciais e setoriais da economia,
estão interferindo e impulsionando alterações no padrão industrial de acumulação e automação
das formações sócio -espaciais. Essas alterações nas relações de produção internas no território
215
não podem ser compreendidas sem o exame profundo das transformações nas relações de
produção externas, através do processo de globalização, que são determinantes, em última
instância, do desenvolvimento das forças produtivas internas no território.
7.5. Reestruturação e Estratégias Territoriais nos CPAT
As estratégias territoriais nos CPAT estão relacionadas com as estratégias do capital na
disputa intercapitalista pela vantagem competitiva entre as empresas no território
(PORTER,1993); estas estratégias interferem no arranjo geométrico que é uma conseqüência das
mudanças institucionais, da reestruturação territorial ou da alteração da disponibilidade ou
indisponibilidade de fluxos transacionais de capitais.
Em conjunturas macroeconômicas e políticas específicas, as estratégias territoriais
representam um conjunto de ações ou reações lógicas desenvolvidas pelas diferentes formas de
capital no território, em função de seus níveis de especialização econômica, de suas capacidades
de inovação tecnológica e organizacional. Os grandes conglomerados financeiros, tratados
anteriormente, constituem um exemplo típico neste sentido.
O desempenho de uma empresa pode ser alterado ou reestruturado pela possibilidade e
disponibilidade de condições específicas de políticas industriais (fim da reserva de mercado) e
especiais de inovações: tecnologia (automação do design e da produção), investimentos (P&D),
mudanças
organizacionais
(just-in-time,
quality
circles),
modernização
tecnológica
e
aperfeiçoamento técnico (segmentação, automação flexível) (FERRAZ et al.,1992b).
O desempenho dessas indústrias é resultante da gestão de condições específicas
desenvolvidas adquiridas pelo capital (política industrial, mercado, preço, qualidade, organização
da produção, gestão do trabalho, etc.).
As principais formas de estratégias territoriais das Indústrias dos CPAT são: a
globalização; seletividade espacial; fragmentação; antecipação; marginalização e percepção de
ambientes inovativos.
216
A globalização ou a mobilidade Global do capital (empresas multidomésticas) forjadas em
ambientes (intraurbanos e intermunicipais), ocorre onde podem ser encontrados benefícios
locacionais ou atributos territoriais competitivamente vantajosos como:
•
mercados atraentes de consumo e potencialmente aperfeiçoados, é o caso da sede
Edisa/Hewlett/Packard S/A, em Alphaville 12;
•
disponibilidade espacial de capital circulante e fixo, infra-estrutura, insumos, “matériasprimas”, baixos custos de transporte e energia, e serviços;
•
políticas de constituição e qualificação de recursos humanos;
•
políticas de incentivo a P&D, estimulando a constituição de laboratórios e instituições de
pesquisa;
•
possibilidades de “associações” (subcontratação e representação jurídica) e investimento
estrangeiro, já descritos acima;
•
capacidade inovativa dos empreendedores, fornecedores e distribuidores;
•
políticas de regulação e de desregulamentação estatal vantajosas: incentivos, isenções fiscais,
relações sociais e contratuais flexíveis, ausência de protecionismos e políticas de abertura de
mercado;
•
políticas industriais de promoção da atividade produtiva;
•
forte presença de poupança e capital circulante.
A seletividade espacial é a opção de concentrar ou dispersar um conjunto de atividades
procurando uma melhor configuração ou adequação dos segmentos de uma mesma empresa no
território, via produção em escala ou através da integração vertical foi o caso da IBM em
Sumaré em São Paulo.
A fragmentação é uma forma de diferenciação encontrada por uma empresa, em um
ambiente de forte competição entre indústrias correlatas, no aproveitamento de condições
específicas de mercado e dos fatores locacionais. Atuar pela diferenciação ou pela produção em
escopo via desintegração vertical, eis a razão da fragmentação.
217
A Dimep, localizada no distrito de Pinheiros, Município de São Paulo, sempre trabalhou
na produção de relógios digitais de pontos e de ruas, equipamentos eletromecânico, agora
começa a atuar no segmento de Informática, produzindo, através do sistema de código de barras,
relógios de coleta de dados (Micropoint) (ABINEE,1993).
A antecipação se constitui na localização de uma empresa numa determinada localidade
antes do mercado se formar. Significa agir cedo na competição global, buscando se apropriar de
possibilidades de mudanças estruturais e de vantagens adicionais potencialmente existentes no
território (PORTER,1993). É o que a IBM, desde os anos 70 fez em Sumaré, e outras
importantes empresas de telefonia celular estão fazendo em São Paulo
13
: NEC, Motorola,
Fujitsu, Panasonic, Mitsubishi, Audiovox e Telephone.
A marginalização é o abandono, êxodo ou evasão de empresas de antigas localidades ou
economias de aglomeração (CORRÊA, 1989a), que estão apresentando um processo de
“involução urbana”, também, chamado de deseconomias de aglomeração. Trata do êxodo de
localidades com dificuldades de manter e reproduzir as condições gerais de acumulação do
capital.
Este fenômeno é ocasionado e está ocasionando a desindustrialização ou a
mortalidade industrial, de um conjunto diversificado de grupos e subgrupos de atividades, o
que é bem diferente do significado de fagia mercadológica, que representa processo de asfixia
territorial provocado pela pressão “demográfica e competitiva” de inúmeras empresas, do mesmo
setor, procurando disputar um mercado saturado pela concorrência. Um exemplo típico de
marginalização pode ser extraído da mobilidade do capital dos Bancos, já tratada anteriormente
no Capítulo 6, e das indústrias de informática no Estado do Rio de Janeiro 14.
O Rio de Janeiro, mesmo possuindo a sede do escritório de representação da mais
importante empresa de computadores do mundo: a IBM (1a no ranking); não conseguiu manter a
sede da Unisys (2a maior), a segunda maior empresa de informática no Brasil, que se transferiu,
em 1993, para o Município de Vitória (ES). Estas duas empresas respondiam juntas, em 1988,
por quase 98% das exportações brasileiras de produtos de informática (TIGRE,1990). O Rio de
218
Janeiro, sofre, ao que tudo indica, um processo crescente de perda de representação e de
participação industrial ou desindustrialização. Em relação às indústrias de informática, este Estado
participava, em 1981, com 31,1% da indústria nacional e, em 1992, esta participação foi
reduzida a menos de 6%, o que representou uma redução em 5 vezes na sua participação neste
segmento (ver, Tabela10).
A percepção de ambientes inovativos é a antevisão dos espaços onde a circulação e fluxo
de informações científicas e tecnológicas ocorrem de forma intensa e constante. Estes espaços
resultam da natureza concentrativa e seletiva dos investimentos em pesquisa e tecnologia, são
preceptores de acasos e precursores de inovações tecnológicas, formam um “meio técnicocientífico informacional” (SANTOS, 1985; 1994b). É o caso da IBM, em Sumaré, no subsetor
de Informática, da Telebrás e das indústrias de telecomunicações e fibras ópticas
15
, em
Campinas, que investem no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento -- CPqD, para obterem
competitividade, novos produtos e novas tecnologias.
Os novos conteúdos locacionais que, na atualidade, têm redefinido e determinado as
formas de estratégias dos CPAT são:
•
constituição de novos grupos de atividades (“clusters”) e crescimento do mercado de
capitais;
•
fortalecimento do potencial de crescimento e investimento em tecnologia e P&D;
•
possibilidade de constituição de novas parcerias com capital estrangeiro (joint-venture,
alianças, subcontratação). A indústria de informática é rica em exemplos deste caso, pois os
produtores nacionais preferem mais estes mecanismos de constituição de parcerias do que
investirem no desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente, neste período de
eliminação da reserva de mercado (FERRAZ et al.,1992ab). Por outro lado, as grandes CMs
preferem efetuar estes tipos de parcerias (subcontratação, joint venture, etc.), ou mesmo
comprar as indústrias nacionais, do que investir na constituição jurídica e física de uma nova
empresa.
219
No período atual de Globalização da produção, a lógica capitalista exige uma
transformação permanente das formas de competir. Padrões tecnológicos novos tendem a se
estruturar e consolidar, sob a égide da produção flexível, um novo regime de acumulação flexível (
KAPLINSKY,1989:12; DIEESE,1992).
As estratégias locacionais e a composição territorial das formas do capital industrial,
expressas nos chamados: “CIE”, “tecnopólos”, “clusters”, “enclaves industriais ou ilhas de
modernidade”, etc., são resultantes, também, da transferência física de unidades industriais
(mobilidade do capital), da tonicidade da circulação livre do capital no mercado, de demandas
estatais, do desempenho global dos setores industriais (Cf.Capítulo 1 e 2), de conjunturas
políticas específicas (Cf. Capítulo 3) e da presença de fatores territoriais propícios, “motores de
inovação tecnológicas”.
No atual processo de globalização, a competição se intensificou, fortalecendo a posição
particular do território, da região e seu mercado, e da localidade dentro da divisão internacional
do trabalho, novas empresas multi-regionais ou multi-domésticas estão se formando. O espaço
local adquiriu uma forma de primazia, nunca antes vista, ao concentrar parte da produção global e
ao atrair, também, investimentos globais (SANTOS, 1993:20).
Dentro desta perspectiva, o estudo de partes ou de segmentos da produção industrial
territorial é rico em exemplos e nuanças que podem desvendar o imbricado processo que nos
revela o local no “global”.
Em decorrência desses conteúdos e aspectos, o mapeamento, que foi feito procurou
representar o comportamento global e setorial das indústrias produzido no território pelo
processo de RI, onde a unidade básica de análise, a unidade produtora nos CPAT (a indústria),
constitui quase um pixel ou ponto na paisagem digitalizada dos mapas (VIRILIO,1993) 16.
220
221
222
223
224
225
226
227
NOTAS
1. Segundo ERBER, F.S. (1983:03) O “Complexo Eletrônico” -- Estrutura, Evolução Histórica e Padrão de
Competição, esta unidade técnica de produtos e sistemas:
“... vai além dos processos de produção -- baseia-se sobre um conjunto completo de atividades
produtoras de componentes (eletrônicos, ópticos etc.), insumos elaborados, como silício e o vidro
eletrônico, e matérias primas como terras e metais raros, bem como sobre um conjunto de
conhecimentos técnicos (eletrônica micrônica, optoeletrônica etc.) e científicos (física do estado
sólido, lingüística etc.).”
Já MELO, M.J. (1987:11), inspirada por ERBER, sugere que o Complexo Eletrônico:
“É o conjunto completo de atividades produtoras de componentes, insumos, matéria-prima e
conhecimentos técnicos e científicos, com interligações horizontais e verticais. Os sistemas e
produtos compreendidos no complexo eletrônico caracterizam as seguintes áreas: informática,
eletrônica de escritórios, telecomunicações/telemática, instrumentação técnica e científica-serviços,
eletrônica profissional, automatismos/robótica, eletrônica médica e eletrônica de massa.”
2. Segundo TIGRE, P.B. (1990:01) Análise do Complexo Eletrônico Brasileiro, o complexo eletrônico seria:
“...um cluster de inovações inter-relacionadas que afeta, direta ou indiretamente, todos os outros
setores da economia...”, agrupando “as indústrias de componentes, computadores, bens de
consumo de base eletrônica, comunicações, eletrônica embarcada e automação industrial”.
Ainda para ele, (1990:25), as indústrias do CIE:
“... podem ser definidas, segundo a taxinomia de Pavitt (1984), como baseadas em ciência. Tais
indústrias mantêm vínculos com o sistema gerador de atividades científicas, elevados investimentos
em P&D e oferecem elevado grau de oportunidades tecnológicas e apropriabilidade (o que favorece
a lucratividade). Cabe lembrar que, além da base científica eletrônica, a indústria depende de
inovações em outras áreas do conhecimento como ótica, mecânica de precisão, novos materiais ,
software e comunicação por satélites.”
3. Mas alguns geógrafos fundamentados nos princípios teóricos da escola da regulação econômica
(AGLIETTA,1979; BOYER,1990) anunciam o surgimento de um “novo regime de acumulação flexível”
(HARVEY,1987/89; SCOTT,1988b; STORPER,1985; SCOTT e STORPER,1988cde, STORPER e WALKER,1989).
Outra corrente mais ortodoxa e marxista (PEET,1989:44-45) procura recuperar uma perspectiva geo-estrutural,
se posicionando contra a idéia de “função” e do novo viés funcionalista, devido à interpretação pouco
consistente dos precursores dessa escola, que explicaria o processo de reestruturação como um resultado da
força de “fatores contingentes” que estariam promovendo uma restauração criativa do processo produtivo
dentro da crise capitalista contemporânea.
Talvez, um relativo entusiasmo em pretender desvendar a natureza lógica do processo de
reestruturação territorial e a sua relação com o novo paradigma técnico-econômico tem levado alguns
geógrafos a privilegiarem, em demasia, a forma e a performance dos “Novos Espaços Industriais” ou dos
CPAT (SCOTT,1988a e SCOTT,1988b) como uma resultante dos novos regimes de acumulação pós-fordistas,
desenvolvidos nestas novas regiões de produção (é o caso da Terceira Itália), de onde, segundo Ash AMIM,
“se procurou obscurecer realidades e a selecionar aspectos que pudessem sustentar o argumento” ou o mito
da emergência de um “novo regime de especialização flexível” (AMIN,1989:19).
Os pressupostos daqueles que se aproximam teoricamente da Escola da Regulação na geografia
(SCOTT e STORPER,1988c) fazem com que estes investiguem a estreita relação da interpretação neoSchumpeteriana da teoria da inovação, ao utilizarem os conceitos de “esferas tecno-econômicas” e “suporte
sócio-institucional” (STORPER,1990:131) para explicarem a constituição do “novo regime de acumulação”
(AMIN,1990).
228
Parece que um novo dualismo (POLLERT,1988) ou binarismo funcionalista emerge destas idéias
(AMIN,1990), onde o novo seria a “produção flexível” (STORPER,1990) pós-fordista e o velho, a produção
fordista estática; como se no fordismo não houvesse dinamismo; há também quem adote outro tipo de
binarismo que se baseia nas formas de competição: a nova e a velha (BEST,1990). Pode-se identificar, também,
uma “tendência evolucionista” entre os precursores na geografia da teoria da regulação, quando estes
consideram a acumulação flexível como o advento histórico de uma nova época social ou, então, quando
propõem uma nova ortodoxia ou um novo esquema teórico-conceitual, que não interpreta a natureza dos
processos político-territoriais, enquadrando-se na rede teórica de reflexões que se aproximam quase do
funcionalismo -estrutural (AMIN,1990).
4. Um outro contraponto crítico à teoria da constituição “contingente” das indústrias no território (ou a teoria
das empresas “sem raízes locacionais”) (AZZONI,1986:33-34), pode ser encontrado em CASTELLS, M.
(1989:41), quando ele fornece indicações plausíveis sobre o surgimento da Texas Instruments em Dallas, ou
explica o desenvolvimento das indústrias de Alta-Tecnologia em Austin e em Phoenix, no Arizona, e da
Motorola. Segundo CASTELLS:
O papel de Dallas na indústria de semicondutores parece ser o resultado da alocação da Texas
Instruments, prosseguindo uma lógica relativamente próxima ao isolacionismo tático da IBM. Em
1930, a Texas Instruments era uma pequena companhia de Dallas engajada nos negócios do
petróleo. Ela expandiu sua capacidade eletrônica durante a Segunda Guerra Mundial, quando ela se
adequou a fabricação de detectores anti-submarinos. Depois da Guerra, a Texas Instruments decidiu
consolidar, baseada no recente desenvolvimento da descoberta do transístor, suas pesquisas e
atividades de produção em componentes eletrônicos, significativamente voltando-se para os
mercados que poderia desenvolver de seus contatos com a Marinha de Guerra. Em 1953, ...., a Texas
Instruments contratou Gordon Teal, uma liderança na pesquisa em semicondutores dos
Laboratórios Bell. Por volta de 1956 a Texas Instruments tinha-se tornado líder em transístores de
silício, com sua grande produção direcionada aos mercados militares.
Outra contribuição, para a crítica da “teoria das empresas sem raízes”, foi fornecida por
SAXENIAN (1983, 1985a, 1985b), MARKUSEN et al. (1986).
5. Segundo AZZONI, C.R (1988:37):
“... regiões com alto crescimento da produção apresentarão também alto crescimento de
produtividade (idéia conhecida como Lei de Verdoorn). Esse argumento pode ser representado
matematicamente por: p = f (y), sendo p a taxa de crescimento da produtividade da mão-de-obra e y
a taxa de crescimento da produção regional. Espera-se que a produtividade seja uma função
crescente de y, isto é, (dp/dy) > 0.”.
6. Para obter as informações necessárias para este mapeamento foi efetuada uma pesquisa de campo em várias
instituições que trabalham e estudam a indústria de informática do setor eletroeletrônico: ABICOMP,
AUTOMÁTICA, ABINEE, SENAI, Confederação Nacional das Indústrias, Instituto de Economia do Rio e
inúmeras bibliotecas nacionais. Os dados referentes aos anos de 1981 e 1988, foram obtidos do Catálogo das
Indústrias brasileiras de Informática da ABICOMP. Mas, a ABICOMP foi extinta e no seu lugar surgiu a
Associação Brasileira das Indústrias de Informática e Automação -- AUTOMÁTICA, os dados fornecidos não
eram apenas das indústrias de informática como na época da ABICOMP, a relação dos associados não
fornecia, em 1993, informações sobre produtos e número de empregados, não havia uma distinção entre o que
constituía uma empresa de uma indústria. Estes fatores, praticamente me impulsionou a procurar outras fontes
de informações as informações da SEI eram muito genéricas, e ofereciam um panorama setorial não detalhado,
do ponto de vista geográfico sobre a indústria de informática no Brasil. Procurei, também, o IBGE e para minha
frustação, depois de esperar por mais de 6 meses e ter pago caro pela obtenção dos dados, as informações que
o IBGE dispunha era do Censo Industrial de 1985, onde não havia nem um sistema de codificação e
diferenciação dos produtos das indústrias de informática dos demais produtos da indústria de Material Elétrico
e de Telecomunicações, no IBGE as informações sobre a indústria de informática apresentavam-se diluídas e
mascaradas pelas informações do setor de Material Elétrico e Telecomunicações. Foi então que pesquisando
na biblioteca do SENAI, fui indicado por Nagissa Abi a procurar dados mais confiáveis na ABINEE, instituição
com mais de 30 anos de tradição e trabalho pesquisando e catalogando indústrias pertencentes ao setor
229
Eletroeltrônico. Os dados fornecidos pelos Guias da ABINEE das Indústria de Material Elétrico e Eletrônico
(1991; 1993), se tornaram na fonte mais importante para o desenvolvimento deste Capítulo, porque continham,
em maio de 1993, informações precisas sobre: Endereço, CEP, Telefone, Telefax, Telex, Número de
Funcionários, Área construída (m2) e Linha de Produção, de 8 áreas de atividades, como: Componentes
elétricos e eletrônicos; Eletrodomésticos; Equipamentos industriais; Geração, Transmissão e Distribuição de
Energia Elétrica; Imagem e som; Informática; Automação Industrial e Telecomunicações. Isso mesmo a
ABINEE não catalogando os dados de importantes indústrias do Subsetor de Informática O Além da ABINEE;
a AUTOMÁTICA; a antiga SEI, hoje Departamento de Política de Informática e Automação -- DEPIN; o IDG,
as Revistas Dados e Idéias; Brazilian Directory; GAZETA MERCANTIL e o Anuário de Informática Hoje, etc.,
foram valiosas fontes de Dados.
7. Esta tendência também foi constatada por Claude MANZAGOL (1985:141-142) Lógica do Espaço Industrial,
em seu Estudo de Caso sobre a IBM e, mais recentemente, por Milton SANTOS (1994:42) Por uma Economia
Política da Cidade.
Segundo MANZAGOL:
“Esta forte dissemetria certamente corresponde a importância seletiva do mercado americano, mas
também recorda o conceito coeur-envelope: as funções nobres, vitais, são espacialmente
concentradas, as funções banais disseminam-se de maneira muito ampla.”
Para SANTOS, M.:
“... enquanto as atividades de produção material tendem a se dispersar estes novos terciários
tendem a ser geograficamente concentrados... As necessidades de concentração desses “novos
serviços”, elemento dinâmico do processo de cooperação neste novo período, tendem, porém, a ser
maior que as exigências de concentração do período anterior.”
8. Todos os dados sobre população das Zonas e Distritos que serão apresentados neste Capítulo foram
retirados do Sumário de Dados da Grande São Paulo, fornecidos pela Emplasa em 1992. Os dados sobre o
número de indústrias, de número empregados e porte das empresas de 1992, foram obtidos do Guia ABINEE
em 1993.
9. Este número de funcionários da Alcatel não foi contabilizado para efeito de caracterização do subsetor de
informática, esta mesma decisão foi adotada também com relação as indústrias: Philips, Basf, Metal-Leve,
Xerox, NEC, etc., isso porque estas indústrias produzem pouco produtos para a área de informática, logo não
devem ser caracterizadas, em termos prevalecência e quantidade de produtos, como indústrias de informática.
10. Segundo CORDEIRO, H.K. (1993:325-326) este Centro surgiu:
“... na continuação virtual do corredor da Avenida Faria Lima, em direção à via expressa da Avenida
Marginal Pinheiros, iniciada pela instalação do Centro Empresarial de São Paulo (1977) e pelo
empreendimento imobiliário programado pela construtora Bratke e Collet para a implantação de uma
centena de edifícios de escritórios de alto padrão na Avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini. Esta
singular empresa privada vem realizando, no Centro Berrini, o mais notável esforço de
reestruturação urbana de que temos notícia no Brasil.”
11. A paisagem revelada pelos mapas acima, confirma a suposição de Raquel ROLNIK, Lúcio KOWARICK e
Nadia SOMEKH (1990:142):
“A Cidade prepara-se, neste final de século para recepcionar o novo modelo técnico-industrial...
Isto pode possibilitar a simultaneidade de processos sócio -econômicos caracterizados pela alta
tecnologia, novas formas de cooperação e de relações de produção, conhecimentos sofisticados,
profissionais especializados e bem pagos conjuntamente com uma força de trabalho numerosa e
pauperizada.”
12. É o caso da EDISA/HEWLETT/PACKARD S/A, quando esta empresa praticamente abandona Porto Alegre
e escolhe Alphaville, em Baruerí, como espaço preferencial para investimentos e para localização de sua sede.
13. Cf. O Jornal Folha de São Paulo , Caderno de Informática de 7 de julho de 1993.
14. Cf. O Jornal Folha de São Paulo, no dia 28 de Junho de 1993, publicou no Segundo Caderno uma
reportagem revelando o processo de esvaziamento financeiro do Rio de Janeiro.
15. A mais importante indústria de fibras ópticas do Brasil está localizada em Campinas, a ABCXtal
Microeletrônica S.A, com 428 empregados (ABINEE, 1993:128).
230
16. Segundo VIRILIO, P. (1993:83) na Quarta Parte: A Dimensão Perdida, baseando-se em Jorge Luis Borges:
“... se o esquecimento é indispensável à projetividade da imaginação e à propagação do
pensamento, o ponto só será um “ponto de referência” da projetividade geométrica na medida em
que for uma falta, uma ausência de dimensão (u m buraco negro), uma obscuridade tão necessária à
revelação das aparências físicas quando a câmara escura o é em relação às aparências objetivas da
fotografia e do “fotograma” cinematográfico (o que é confirmado tanto pelos pigmentos dos filmes
quanto pelo pixel das imagens telemáticas). Desta forma, o ponto é esta dimensão perdida que
permite que nós nos reencontremos, este chip, este microprocessador de nossas representações
(matemáticas, estéticas) e de nossas configurações temporais e espaciais...
Finalmente, se a informática surge hoje como uma energética, um modo de formação, é porque,
nela, o punctum de ação eletrônica é instantâneo, ou quase ... Se o acidente é a provável iminência,
na criação com o auxílio de computadores, o ponto, o pixel, é a iminência das dimensões físicas, o
acidente de transferência do traçado, assim como de toda projetividade (superficial ou
volumétrica)”.
231
Conclusão
Conclusão
Durante o pós-guerra, nos “Anos Dourados” de reintegração
internacional do capitalismo, o grande capital apátrido e seus fartos investimentos movia-se para o
território dos países, e lá lapidava as forças do capital constituído nestas estruturas territoriais de
acumulação em formação.
Posteriormente, com o desenvolvimento dessas estruturas territoriais de acumulação, o
capital constituído, sob as formas de empresa, indústria, conglomerado e monopólios, adquiriu
autonomia e se diversificou, ampliando as bases de sua escala de articulação do nível territorial
para o nível regional e, mais recentemente, do nível regional para o nível mundial.
O estabelecimento de novas bases territoriais de comércio e mercado, pelas empresas
dos países emergente, capturou em definitivo parcela do mercado internacional antes dominado
pelo grandes oligopólios das nações hegemônicas, os componentes estratégicos desse processo
de “captura competitiva” foram a alta-tecnologia e as inovações tecnológicas. Oscilações
competitivas entre as nações, demonstraram em definitivo que o mercado era global e que as
economias emergentes se tornaram especializadas, industrializadas e modernizadas.
A crise global e a perda de hegemonia tecnológica do capitalismo “made in USA”,
transformou a luta pela constituição desterritorializada dos mercados regionais emergentes ou a
supranacionalidade dos blocos econômicos regionais numa tarefa vital para a manutenção da
escala de reprodução da indústria global. Antes, o grande capital apátrido buscou eliminar as
fronteiras territoriais para internacionalização de sua produção, hoje, este mesmo capital procura
se reestruturar inovativamente e desenvolve uma luta política e ideológica para eliminar as
fronteiras territoriais de regulação e de regulamentação, e criar novas regiões supranacionais
com estruturas de regulação e de regulamentação mais flexíveis para sua globalização. Fronteiras
232
estas criadas, pelos Estados nacionais dos novos países industrializados emergentes, para a
reprodução das estruturas territoriais de acumulação.
As pressões pela abertura dos chamados mercados reservados ou protegidos
praticamente fez os modelos institucionais de regulação e as bases regulamentativas dos Estados
Nacionais periféricos começarem a se “flexibilizar”. O esgotamento do modelo de substituição de
importação foi antecipado pelo crescimento da recessão mundial. A disputa acirrada por novos
mercados se transformou numa luta política. Vantagens foram adquiridas mais por imposições e
concessões do que por inovações. Em jogo, nessas concessões, estavam créditos externos e
investimentos de capital para as nações, sem capacidade de criá-los a curto prazo.
A estruturação territorial das indústrias do subsetor de informática, além de ser uma
decorrência da promulgação da Lei de Reserva de Mercado, foi o produto do modelo de
substituição de importação desenvolvido pelo Estado Nacional Burguês e da consolidação de
uma estrutura estatal corporativa favorável aos interesses dos GCFs, que estavam desenvolvendo
o processo de automação dos Bancos no território, no Brasil, foi um resultado, no contexto de
eliminação da reserva de mercado, da constituição de estratégias defensivas das indústrias de
informática para preservação de suas estruturas territoriais de acumulação.
O PRI dos NPIs esteve longe de ser um processo desferido sem barganha política ou
imposto, como supôs alguns estudos menos atentos sobre a questão. O exemplo positivo dessa
barganha foi a constituição de alianças, fusões produtivas, parcerias, joint ventures, etc.. O PRI
depende de condições específicas das indústrias em suas estruturas territoriais de acumulação.
O processo de Reestruturação Industrial experienciado, no Brasil, pelas indústrias de AT
do subsetor de informática e automação, desfez a antiga idéia de que este processo é um
fenômeno isolado e só está acontecendo nos países mais desenvolvidos.
O PRIG influiu na reconfiguração da base territorial da produção capitalista global e, no
Brasil, as repercursões desta reconfiguração são recentes e revelaram estratégias particulares de
reprodução territorial das indústrias. A concentração da produção de AT nos CPTA, faz parte de
233
uma estratégia de reprodução setorial das indústrias mais dinâmicas, estritamente vinculadas aos
grandes fluxos transacionais e informacionais dos GCFs nacionais.
Se a Lei de Reserva de Mercado no Brasil foi a certidão de nascimento nacional das
indústrias de informática, ao que parece a sua destruição não representou nenhuma certidão de
óbito. Os quase 19 anos de embargo comercial foi tempo suficiente para se aprender a saber
fazer e inovar. Mesmo os problemas de limitada capacidade de inovação e as práticas
corporativas e oligopolistas estão, pelo menos provisoriamente, tendendo à desaparecer.
Quando a abertura e a eliminação da reserva de mercado foi decretada pelo governo
neo-liberal, uma razoável estrutura técnica dominada pelas GCFs já havia se consolidado e a
indústria de informática, relativamente, tinha se expandido pelo território, através das grandes
regiões metropolitanas. No período em que foi promulgado fim da reserva, no início dos anos 90,
a expansão territorial das indústrias perdeu a sua pujança e uma mobilidade seletiva entre
indústrias passou a ser efetuada. As indústrias como os bancos preferiram regiões com uma
quantidade de serviços especializados, onde os fluxos financeiros e transacionais eram mais
efetivos.
A pressão competitiva, a insegurança e o crescimento de uma “era de incertezas”,
propiciou a constituição de estratégias de reestruturação inovativas. A reação das indústrias de
informática neste contexto foi quase logística, e a reestruturação competitiva praticamente
transformou em um imperativo as decisões: de efetuar mudanças organizacionais na gestão da
produção; de reduzir o pessoal empregado; de ampliar o mercado de atuação e de produção; de
constituir novas formas de associação, fusão ou subcontratação; de reduzir os custos; de
aumentar a qualidade do produto e inovar.
Pesquisar a lógica existente entre o processo de reestruturação industrial, baseado na
alta-tecnologia, e os mecanismos de constituição dos novos espaços industriais no território
(concentração-desconcentração, centralização-descentralização, verticalização-horizontalização,
etc.), eis a principal meta deste trabalho.
234
Apesar de ter efetuado todo o processo de plotamento e mapeamento, semi-detalhado,
voltado para o estudo do Município de São Paulo, foram efetuados mais 5 mapas semidetalhados de localização das indústrias de informática no Município do Rio de Janeiro, para a
interpretação destes mapas seria necessária mais uma outra pesquisa por Zonas e Distritos no
Rio, diante desta situação, será mais interessante utilizar este material para um futuro trabalho, que
abrangerá, inclusive, outros importantes CPAT em constituição no território nacional.
235
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