FLORAÇÃO DO CAFEEIRO: UM ENÍGMA

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FLORAÇÃO DO CAFEEIRO: UM ENÍGMA
FLORAÇÃO DO
CAFEEIRO: UM ENIGMA
Alemar Braga Rena
Fisiologista Vegetal
Cafeicultor há 32 anos
[email protected]
1. Fases da floração

(i) iniciação floral

(ii) diferenciação floral

(iii) período de dormência do botão floral

(iv) abertura da flor, florada
FORMAÇÃO DA FLOR
INICIAÇÃO FLORAL
nov., dez., jan., fev.? Gema
< 300 m Indução ..................................
(produção do estímulo floral)
quando ...?
< 1 mm Evocação ................................. Botão
(definição floral irreversível)
DIFERENCIAÇÃO DAS PARTES FLORAIS (E4)
Botões de 4 - 8 mm
DORMÊNCIA DO BOTÃO FLORAL
(quiescência?)
COMPLETA CRESCIMENTO E DIFERENCIAÇÃO
DAS PARTES FLORAIS
ABERTURA DA FLOR OU ANTESE
 Fatores que influenciam a floração
Genética
Água
Temperatura
Luz
DPV
Minerais
Etc.
Energia
(ATP,
Carboidratos)
Substâncias de
Crescimento
Indução
Evocação
Diferenciação
Antese
Efeitos na:
Folha
Gema
Raiz
2. Aspectos morfológicos
O que se sabe?

Bases morfofisiológicas da floração do café
e sua regulação
• Grandes hiatos de ignorância.
REFERÊNCIAS MAIS INDICADAS

Moens, P. La Cellule, 63: 165-244. 1963.

Majerovicz, N. Tese de Mestrado, Unicamp. 1984

Crisosto, C.H. et al. Tree Physiol., 10: 127-139. 1992.

Camayo V., G. C. & Arcila P., J. Cenicafé, 47: 121-139. 1996

Camayo V., et al. Cenicafé , 54: 35-49. 2003.

Majerovicz, N. & Söndahl. M. Braz. J. Plant Physiol. 17: 247-254. 2005.
E0
E1
E2
E2
E0
E2
E1
E2
E3
E3
E4
E4
E5
E5
E6
FASE DE INICIAÇÃO
E0
EVOCAÇÃO COMPLETA
E1
FIGURA 4
RAMIFICAÇÃO
PLAGIOTRÓPICA
PRIMÁRIA
RAMIFICAÇÃO
GLOMÉRULO
PLAGIOTRÓPICA
SECUNDÁRIA
TODOS OS BOTÕES AINDA EM DIFERENCIAÇÃO DAS PARTES
FLORAIS

Permanecem 20% a 30% de gemas seriadas
dormentes para futuras ramificações
• Não poderia parte delas ser transformada
em flor na próxima safra?
3. Iniciação floral

Esse é o grande gargalo da pesquisa e onde a
ignorância do processo se concentra
• Exames microscópicos e bioquímicos
são imprescindíveis
• Quantidade de material para estudo

Muitas pesquisas em fenologia têm adotado o
E2 como ponto de partida

Em condições não controladas ficam
confundidos as fases do processo e os efeitos
de
• Luz
• Temperatura
• Água
• Déficit de pressão de vapor (DPV) da
atmosfera
Etc.
4. Formação do botão floral

Os primórdios florais recém diferenciados
• Crescem continuamente por cerca de
dois meses, até atingirem tamanho de 4 a
8mm (E4)
• O E4 é o único sensível aos fatores
ambientais que levam à abertura da
flor

Ocorre, então, uma pausa de semanas ou
meses de dormência
• Dependendo das condições de seca /
chuva / frio mínimos

A conexão do xilema no pedicelo do
glomérulo dormente com o caule é precária
• O lúmen dos vasos aumenta muito com a
retomada do crescimento de E4
 O aumento é maior nos botões que
que sofreram tensão hídrica.
• Assim, como se dá a nutrição mineral do
botão em formação, especialmente dos
elementos imóveis no floema, como o
cálcio e o boro?
 Esse aspecto tem gerado grande
polêmica!...
5. Imposição e “quebra” da dormência

Normalmente, no campo, a pausa de crescimento
do E4 coincide com
• Seca e redução do crescimento vegetativo

Mas a importância do déficit de água na
paralisação do crescimento de E4 é contraditória
• Sob irrigação constante, próxima da CC, a
dormência é em geral permanente
•Necessário certo déficit hídrico prévio para a
florada, após nova irrigação

Contudo, déficits internos de água podem
ocorrer mesmo em cafeeiros irrigados
• Como nos solos arenosos e no clima
quente de algumas regiões marginais
• Altas temperaturas parecem ajudar, via
DPV alto do ar
• Há ainda muitas contradições

O período de dormência parece ser fase bem
definida do desenvolvimento do botão
• E4 se torna “maduro” para reagir aos
estímulos do ambiente

Não há florada até que E4 experimente um
período de seca, seguido de água ou frio
F
L
O
R
E
S
P
O
R
N
Ó
POTENCIAL HÍDRICO DE ANTE-MANHÃ (MPa)

Do ponto de vista prático, maior período de
dormência faz com que
• Botões iniciados em diferentes ocasiões
alcancem E4, ao final
• E com isso se estabelece a concentração
das floradas e maturação dos frutos

Portanto, colheita de alta concentração de
cerejas depende da uniformidade da
• Iniciação floral
• Desenvolvimento do botão floral
• Abertura da flor

Acontece que os nós e as gemas seriadas de
cada nó são hierarquizados !?
6. Abertura da flor (florada)


A maioria dos estudos da “floração do café”
aborda apenas esta fase
Em condições naturais é provocada pelas
primeiras chuvas , após seca, mas
• Chuva / queda de temperatura / menor
DPV estão geralmente associados
 Só estudo em condições
controladas solucionará
7. Vingamento da flor e pegamento do
fruto

Acima de 50% só em lavouras excepcionais

Em geral 30 – 40%

O problema das “flores estrelinhas” – mais
pesquisas
8. Floração e maturação do fruto

A floração desordenada de agosto a março dos
últimos anos deve continuar ocorrendo
• Solução somente na genética e na
biotecnologia

Por quê não na fisiologia?
• Há ordem cronológica e hierárquica entre
os ramos plagiotrópicos, nós e gemas seriadas

Sua resposta fisiológica é fortemente influenciada
pelo ambiente x genótipo

A não ser nas regiões marginais para a cultura
do café, onde há pequena variação térmica, e o
período seco do “repouso vegetativo” é
absoluto, é possível concentrar a floração

Na região sudeste, em geral, pouco se pode
fazer com certeza mínima

Mas ......?
Cafeeiros em Barreiras, BA,
sob pivô central

Não se deve depositar grandes esperanças no
uso de reguladores de crescimento como
• Amino-etoxivinilglicina (AVG)
• Ethrel - gerador de etileno na planta

Razões
• Primeiro, a ignorância é grande
• Segundo, os preços são exorbitantes
• Terceiro, erros podem ser desastrosos
• Quarto, porque não resolvem mesmo!

Nas condições brasileiras
• O ideal fisiológico e agronômico seria ter
mesmo floração parcelada para evitar
 Exaustão da planta em carboidratos
 Decadência fisiológica como
* Morte de raízes
* Seca-de-ponteiros
É POSSÍVEL ACABAR COM A
BIENALIDADE?
8. Conclusões

A floração do cafeeiro compreende seqüência
complexa de eventos de natureza
• Genético-bioquímica
• Fisiológica
• Morfológica

E é influenciada por diversos fatores como
•Luz
•Temperatura
• Disponibilidade hídrica
• Relação carbono/nitrogênio
• Carga de frutos
• Dentre outros

Mas são eles críticos?

Quando?

Em que grau?

Como influenciam as várias fases?

Qual a função reguladora dos hormônios no
processo global?

Todas as evidências até o momento são
circunstanciais

Como será, então, possível controlar a floração
nas condições de lavoura?

E, por via de conseqüência, a
• Frutificação?
• Produtividade?
• Qualidade?

Este deveria ser o objetivo precípuo da pesquisa
na área de fisiologia do cafeeiro!

E a pesquisa só será profícua se realizada em
ambiente controlado

Infelizmente, essa meta não tem sido buscada
• Primeiramente por falta de instituições e
pesquisadores qualificados e interessados no
tema
• E, depois, porque os estudos são de médio a
longo prazos e muito caros
ESTES SÃO DESAFIOS PARA
PESQUISADORES JOVENS
OBRIGADO