Marfim Cobra – Parte 5/8

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Marfim Cobra – Parte 5/8
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similar à presente.
Considerando que alguns dos artigos aqui publicados não são exclusivos
da CyanZine, tendo sido incorporados a partir do site de seus respectivos
autores, por vezes a licença do CyanZine se torna ainda mais restritiva do
que a original (mas nunca menos restritiva). Portanto, convém visitar a
publicação diretamente para o caso de se precisar de uma licença mais
flexível do que esta.
Quinta edição do CyanZine. Continuando com a fórmula adotada:
reunindo artigos interessantes de vários blogs e priorizando o formato
ePUB para distribuição. Alguns questionamentos deverão ser feitos em
breve a respeito destas decisões, mas deixo para a próxima edição (e
última deste ano).
Uma mudança sutil já aparece: a personalização dos banners de sessões
fixas ou exclusivas. Quem sabe um dia consigamos aumentar o número
de sessões exclusivas, não é mesmo? Vamos em frente.
O mundo é um lugar cada vez mais difícil de se viver. A mão pesada das
empresas donas do mundo continuam esmagando os que trabalham. Tudo
pelos lucros. Protestos pipocam mundo afora. Greves e manifestos
populares. É interessante acompanhar, ao menos um pouco, o que
aconteceu em Teresina. Mais um protesto descentralizado, viabilizado
graças às redes sociais. É a tecnologia mostrando a que veio, mostrandose uma ferramenta possível, dentre tão poucas que temos, para nos
defendermos das injustiças e desmandos dos mais poderosos.
Muitos questionamentos. O CyanZine mais uma vez está inundado de
artigos do blog Trezentos. Dentre vários, há um novo blog que está aqui
representado é um blog de Videogames, mas com um artigo mais pra se
pensar, falando da suspensão de descrença. Enfim, leiam esta modesta
seleção do que pude encontrar de interessante nesse último mês. Bom
proveito e boa leitura!
Cárlisson Galdino
http://cyanzine.bardo.ws/
Foto desta edição: http://www.flickr.com/photos/briweldon/6189557052/
Technomyrmex Pallipes
Primeiro, o Trisquel. Não poderia ser diferente. O Trisquel 5 é a grande
novidade desta nova versão do CyanPack. Lançado em setembro trazendo
como codinome o deus celta Dagda, o Trisquel (agora baseado no Ubuntu
11.04) continua evoluindo. Uma novidade interessante é a habilitação da
leitura de tela já por padrão. Ou seja, se você colocar o DVD no drive e
reiniciar o computador, o instalador já vai funcionar com leitura de tela
habilitada, sem que nada mais precise ser feito.
No material de leitura, temos a adição da Revista Nintendo Blast. Talvez
por um lado não seja tão bom assim colocar uma revista voltada a um
mundo de software privativo, mesmo que de entretenimento. Por outro
lado, a revista tem grande qualidade em todo a sua criação e está
disponível sob licença Creative Commons. Se você conhecer revistas
interessantes sob licenças permissivas, sugira!
Dos softwares para Windows, temos o Firefox 7 e a adição de dois
grandes softwares livres que já são conhecidos de usuários GNU. O
Deluge, cliente de Bittorrent; e o Banshee, player de audio e video com
suporte a podcast. Além de outras atualizações.
Baixe lá o seu Technomyrmex Pallipes (CyanPack 11.7). Em DVD e CD.
http://cyanpack.bardo.ws/
Séries Antigas e Séries Novas
Em um mês houve uma série de novidades no site. Vamos começar pela
publicação do Castelo do Rei Falcão, um cordel longo, certamente o mais
longo que já escrevi. Narra uma história em clima de conto de fadas, uma
história de rei, plebeia e um castelo no alto de uma colina.
http://x.bardo.ws?ld
Estou escrevendo o livro Sinas – Copos e Minas há vários anos. A escrita
do livro acontece em tempo real, ou seja, se eu for escrever um parágrafo
novo, escreverei diretamente no site. A novidade é que o capítulo 8 foi
concluído e iniciado o capítulo 9. http://sinas.bardo.ws/
Uma ideia me ocorreu, a de escrever séries textuais com atores. Eu tenho
escrito séries textuais, como Warning Zone e Redblade. A ideia de usar
atores é que os personagens principais teriam um ator cada. Seria
responsabilidade do ator definir estilo, personalidade, linguajar do
personagem. Não como RPG, mais como gravação mesmo. O autor
define a história e os personagens, superficialmente. Os atores
complementam a definição dos personagens. As cenas, porém, seguem
um roteiro pré-determinado. Se a ideia vai dar certo ou não, não sei, mas
estou fazendo testes de um piloto. Se funcionar, a gente transforma em
série. A história é de Speckman, o Homem-Grão, o único super-herói de
um mundo.
Por falar em séries, a primeira que escrevi foi Jasmim e ela será lançada
impressa no dia 28 de outubro na Bienal do Livro em Maceió. Se você for
para Maceió para participar do V Encontro Nordestino de Software Livre,
dá um pulinho lá na Bienal também! Quem comprar na ocasião receberá
um brinde bacana (quantidade limitada).
Lembram a greve dos técnicos-administrativos das Instituições de Ensino
Superior? A greve terminou de um jeito fraco. Mesmo com o direito
constitucional de greve garantido por uma liminar judicial, o governo se
negou a negociar com a categoria e terminou vencendo o grupo pelo
cansaço. A UFAL e mais umas universidades continuam em greve, mas
com pauta local. E agora entram os Correios e os bancos. Melhor sorte
para eles.
O projeto wzSync está se concluindo. A série Warning Zone já está
sincronizada com a Revista Espírito Livre, falta o site, o que deve
concluir lá pra novembro. A ideia era, uma vez concluído o wzSync ,
iniciar o rbSync, sincronizando a série textual Redblade com a Revista
BrOffice. Como a revista está demorando muito para sair, vou terminar
iniciando uma nova série textual. Portanto, acompanhem o site porque em
breve estará no ar a enquete com quatro candidatas para que você ajude a
escolher qual vai ser a próxima série. http://bardo.ws
O Melhor do Mundo
http://x.bardo.ws?lo, 15 de setembro de 2011
Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/
Conheci um cordelista
Que lançou só dez cordéis
Se gabando ele de ter
O melhor cordel do mundo
Mas espere um segundo!
Naquela mesma cidade
Na rodoviária vende
Obras bem mais grandiosas
E pensando nesse mundo
Me pergunto: quem julgou?
Se é um ou outro melhor?
O mundo já analisou?
Para o mundo decidir
O melhor, tem que escolher
Será que ele analisou
Todo e qualquer concorrente?
Que critérios que ele usa
Para essa avaliação?
Qual com escolas de samba
Separam e pontuam à mão?
Foi assim que de pensar
Concluí com meus botões:
Pra ser o melhor do mundo
Basta alguém acreditar
O Novo MinC é Veneno na Veia do Povo Brasileiro
http://www.trezentos.blog.br/?p=6278, 23 de agosto de 2011
Por Carlos Henrique Machado Freitas
Impressiona a expansão em escala acelerada das diferentes formas de se
produzir um inferno na vida cultural do Brasil. Mal saímos de uma notícia
tirana vinda do MinC, sua ideologia produz em seguida uma outra ação
destrutiva, sempre contra o povo brasileiro.
A pergunta é simples: qual a interpretação que se faz hoje do governo
Dilma na área da cultura? O aprofundamento dos ataques da gestão de
Ana de Hollanda à cultura brasileira carrega toda a crueldade dogmicida,
toda uma matemática para fragilizar as bases sociais da cultura do Brasil.
Ninguém acredita que isso seja uma caduquice da ministra. Os polos
magnéticos que desviam o curso das políticas implantadas no governo
Lula não nos deixam outro raciocínio que não um tratado feito por
conjugação de forças de extrema direita criadas em laboratórios para se
tornarem fatais a todos os avanços que tivemos nos últimos oito anos.
Mas essas transformações radicais que mais se assemelham com o pior
dos exploradores estão em consonância com a palavra final da Presidenta
Dilma? A opinião pública não faz outra pergunta. Dilma não está vendo
esse jogo de músculos que parece um vergonhoso vale-tudo? Ou isso é
um cavalo de tróia plantado pelos demotucanos via Grassi? É enorme a
quantidade de brasileiros que já passaram da condição de descontentes
com o MinC. A água já atingiu a fervura máxima.
Todos hoje falam de maneira firme do horror que é a política do MinC de
Ana de Hollanda. Não há desenho esculpido ou pintura que mostre mais
claramente que Ana atende a uma disciplina de um sistema imposto por
corporações e que se transforma a cada dia em regimento no MinC,
ignorando por completo a opinião da sociedade. Eles estão atacando e
destruindo o programa Cultura Viva, a reforma da Lei Rouanet, sem falar
que não sabemos como anda a reforma da LDA, o que sabemos é que a
ferocidade dessa política mudou por completo a paisagem da cultura
brasileira em somente oito meses.
Espero sinceramente que as pessoas se coloquem de maneira mais
explícita sem se restringirem às críticas francas. Não há mais tempo para
guarda-freios, ou damos uma resposta direta a toda essa brutalidade do
MinC ou nos transformaremos em assoalho dos barões do século XXI.
Ana e Grassi são dois bonecos que atendem à nova arquitetura de poder
que as corporações tentam construir pelas janelas da cultura.
A carta da Deputada Alice Portugal a Ana de Hollanda espinafrando o
MinC não basta? A CPI do Ecad, um escritório tatuado na alma da
ministra e na sua própria administração, todos os dias nos traz notícia de
uma ação de cartel, de construção de uma máfia que invadiu o território
da cultura brasileira. E com esse modelo que tem sonoridade de forma
escancarada dentro do MinC reduzindo qualquer noção de moralidade
pública não é suficiente para dar um xeque-mate nos caciques do MinC?
O Ministério da Cultura do Brasil certamente é hoje um dos símbolos a
serviço do poder econômico, das transnacionais e seus movimentos
globalizadores e seletivos. O MinC hoje é veneno na veia do povo
brasileiro. Ou seja, é bom lembrar aos artistas, amigos particulares da
ministra que foram à mídia defendê-la que, “O Veneno Está na Mesa”, na
mesa da ministra da cultura.
Artigo 14: Estranha numerologia do direito à
privacidade
http://www.trezentos.blog.br/?p=6290, 28 de agosto de 2011
Por Rodrigo Pereira
Algumas pessoas estão atentas quanto a questão da retenção do registro
de IPs, principalmente com a situação do Brasil. E nesse contexto você se
depara com estranha numerologia que soa como uma profecia ainda não
cumprida. Independente de toda as idéias conspiratórias e místicas,
podemos tirar uma lição e questões muito importantes sobre tudo isso:
“A provisão de conexão à Internet impõe ao administrador do
sistema autônomo respectivo o dever de manter os registros de
conexão sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo
prazo máximo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento.”
Art. 14 da minuta do projeto do marco civil da internet
O tom ao qual foi escrito o tal artigo permite uma interpretação bastante
irônica sobre o que seria esse “prazo máximo”. Principalmente quando se
observa o projeto apresentado no congresso nacional ontem (dia 25 de
agosto), o qual estente desse prazo “possível”, e agora fixo, para 1 ano. O
que seria esse prazo máximo? Talvez um limite como “você será filmado
por câmeras 24h por dia mas a câmera não passará do limite máximo da
porta do banheiro”. Ou talvez lhe filmem por 6 meses e depois apaguem
as filmagens. Parece bom, não é? Me parece que a sua privacidade vai ser
reipeitada, ninguém vai te filmar tomando banho. Ou não? É óbvio que
este artigo foi escrito dessa forma apenas para confundir, colocar a
questão da retenção de logs como uma coisa estabelecida, mas que na
verdade, não é. Exatamente como coloca Renato Opice Blum na última
audiência sobre o projeto de lei Azeredo: “Logs é uma questão superada e
consolidada”. Será mesmo? Retenção de logs está sendo debatida no
mundo todo, recentemente uma lei na Alemanha de retenção de logs foi
considerada ilegal por entrar em conflito com direitos fundamentais da
constituição desse país, assim como a diretiva de retenção de dados da
União Européia se demonstra incompatível com muitas constituições
européias. A malícia é gritante e muitas pessoas esclarecidas não
perceberam.
Para ter uma idéa de prazos que sejam razoáveis, vamos olhar outro
artigo 14:
“An IIS providing services related to information, the publishing
business, and e-announcements shall record the content of the
information, the time that the information is released, and the
address or the domain name of the Web site.
An Internet service provider (ISP) must record such information as
the time that its subscribers accessed the Internet, the subscribers’
account numbers, the addresses or domain names of the Web sites,
and the main telephone numbers they use.
An IIS provider and the ISP must keep a copy of their records for
60 days and furnish them to the relevant state authorities upon
demand in accordance with the law.”
Artigo 14 da lei que regula a Internet Chinesa.
Calma lá! Então quer dizer que a proposta de regras de retenção de
logs de IP no Brasil é pior que as regras estabelecidas no país que
mais censura e tenta controlar a internet no mundo? Você pode tirar
suas conclusões sobre o que é pior: 60 dias ou 6 meses/1 ano. O que você
acha? Alguma coisa me diz que o Governo Chinês gostaria de manter
esses registros por muito mais tempo mas existe uma limitação de custos
para isso. Afinal o Cardeal Richelieu já sabia: “Mostrem-me seis linhas
escritas pelo mais honesto dos homens e eu encontrarei um motivo para
enforcá-lo”. Registros antigos é algo que o Governo Chinês poderia usar
muito bem contra qualquer pessoa que ousasse lhe desafiar. Só que em
matéria de internet chinesa estamos falando de 457 milhões de usuários.
Um volume imenso de dados para se guardar, tenho certeza que já tem
um grande custo para fazer isso por 60 dias. O que demonstra também um
total desconhecimento dos aspectos técnicos da retenção de logs por parte
dos proponentes dessa lei.
Mas uma coisa que muitos chineses sabem fazer muito bem é se desviar
dessa vigilância, e sobretudo dos bloqueios impostos a sites pelo governo.
Eles usam serviços de proxys e VPNs protegendo com criptografia
pessada seu tráfego de dados e criando um rota alternativa dentro da
internet para ocultar os dados finais ou os IPs que acessam. Isto é como
um proxy ou VPN funciona genericamente: Ele pode deixar apenas uma
informação para qualquer espião (os provedores) que estiverem no meio
do caminho – Que a pessoa usou o IP do proxy para alguma coisa em
determinado horário, nada mais. É análogo a usar um desses cartões prépagos para fazer chamadas internacionais: Na sua conta de telefone só vai
constar que você ligou para um número local, quando, na verdade, você
conversou com o Dalai Lama na India. Mas o governo nunca vai saber
para quem você ligou, a não ser que tenha acesso a algum registro na
empresa de ligações internacionais ao qual você usou. O que acontece
com proxys e VPNs é que geralmente eles estão em outros países e fora
da jurisdição. E muitos proxys são pagos e encaram a privacidade como
um negócio, então pode acreditar que eles deliberadamente não mantêm
logs de suas conexões como uma medida para se proteger e ao seu
negócio, e também para proteger seus usuários.
Vamos a outro artigo 14:
“Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e
de gozar asilo em outros países.”
Artigo 14 da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Muitas pessoas parecem exercer esse direito intuitivamente quando usam
proxys ou VPNs para proteger a sua privacidade. Mas não por uma
questão legal, mas técnica. Todos nós sabemos que Os Direitos Humanos
são destreipeitados em todo o mundo, principalmente na China. Posso até
esboçar um paralelo ao uso dessas tecnologias com a o índice de
desrespeito aos Direitos Humanos.
Na China, tentam bloquear proxys, mas sempre há uma alternativa. Na
Suécia, os usuários da Internet se defendem com próxies contra a diretiva
de rerenção IPRED. Em Portugal, usuários de redes p2p são processados
a partir de seus registros de IPs. Então, conclamo os Hackers, como
todos nós, a montar nossa própria resistência com proxys e VPNs e
qualquer nova tecnologia para assegurar o nosso direito à
privacidade. Com certeza muitas pessoas acharão uma causa justa. Ou
talvez você apenas enxergue nisso uma oportunidade de negócio para
vender a privacidade que o governo insiste em tirar. A questão é: Se há
controle, pode acreditar que sempre vai haver resistência. Ela pode se dar
de muitas formas: No front tecnológico, no âmbito legal ou no político.
Nós vamos lutar.
•
Minuta - http://culturadigital.br/marcocivil/debate/
•
Lei na Alemanha – http://x.bardo.ws?rx
•
Lei na Internet Chinesa – http://x.bardo.ws?ry
•
457 milhões de usuários na China – http://x.bardo.ws?rz
•
Na Suécia – http://x.bardo.ws?s0
•
Em Portugal - http://www.partidopiratapt.eu/arquivos/1101
•
http://opartidopirata.blogspot.com/
Várzea Alegre: Porque querem o fim do
anonimato online
http://www.trezentos.blog.br/?p=6299, 31 de agosto de 2011
Por Roney B
Fala-se muito aqui no Trezentos sobre o Marco Civil e a criminalização
da Internet, no entanto creio que ainda não falamos o suficiente e além
disso não devemos deixar passar em branco nenhum ataque á liberdade de
expressão e ao nosso direito de cobrar dos políticos que não sejam
corruptos.
Recentemente o prefeito de Várzea Alegre, José Helder Máximo de
Carvalho, processou o Google para tirar do ar um blog anônimo que
denuncia prática de corrupção em seu mandato (links no final do post).
O Google se recusou a tirar o blog do ar tendo sido condenado até o
momento a pagar 225 mil reais mais 5 mil diariamente. Provavelmente
ainda vão recorrer.
Pessoalmente não creio que empresas devem estar acima das leis locais,
ou seja, ao ser obrigado pela justiça a tirar o blog do ar o Google deveria
acatar a ordem.
Os responsáveis por impedir que nossas vozes sejam caladas por uma
justiça que não atende os princípios da liberdade de expressão é nosso:
seu e meu que estou aqui sem anonimato me colocando ao lado do
denunciante anônimo querendo a explicação para uma obra de 140 mil
reais estar no estado que está na denúncia vista no blog.
No entanto o mais importante aqui é: como um cidadão comum que
morasse na região e constatasse as irregularidades poderia fazer as
denúncias correndo o risco de encarar os gastos de um processo dessas
dimensões?
Deve ficar claro para nós que o anonimato é um instrumento essencial
nesse momento para que possamos ser informados das irregularidades dos
nossos políticos.
Sem o anonimato nossa democracia continuará se arrastando como fez
nas décadas passadas quando raramente a corrupção era denunciada.
A onda atual de denúncias pode ser explicada em parte pelo confronto
entre facções políticas, mas sem o olho atento da mídia, incluindo a mídia
informal de jornalistas independentes que pressionam a mídia de massa se
dedicar empenhadamente às denúncias talvez a onda não passasse de
marola…
Não que ainda não seja apenas uma marola, podemos esperar um tsunami
a caminho, mas para isso precisamos de instrumentos para fazer
denúncias.
Não estou aqui defendendo a prática do anonimato, sou contra. Tudo que
digo é de cara limpa e acredito no direito de fazer isso, mas o fato de uma
denúncia ser anônima não desobriga o denunciado de se explicar.
Estou convencido que, no momento, o combate ao anonimato é
impulsionado não pela preocupação com o crime digital, mas sim
com a denúncia anônima de irregularidades muito bem
identificáveis.
Referências
•
Várzea Alegre Real – O blog processado http://vazeaalegrereal.blogspot.com/
•
Notícia no Gizmodo – http://x.bardo.ws?s3
•
Lista de processos no Tribunal de Contas dos Municípios –
http://x.bardo.ws?s4
•
Vlogger comentando o caso – http://x.bardo.ws?s5
Coletivo pela liberdade na internet do Brasil
conquista prêmio FRIDA
http://www.trezentos.blog.br/?p=6302, 2 de setembro de 2011
Por João Carlos Caribé
Movimento Mega Não foi a única iniciativa Brasileira a conquistar o
prêmio internacional para as iniciativas que tenham contribuído com o
uso da Internet como catalisador para a mudança.
O movimento brasileiro Mega Não foi anunciado ontem (01), como um
dos cinco ganhadores do Prêmio FRIDA. Os jurados consideraram que o
ativismo do projeto teve destaque na luta contra a censura de conteúdos
na Internet. Como parte do Prêmio, o Mega Não representará o Brasil no
6º encontro anual do IGF e no LACNIC XVI.
Lançado esse ano, o Prêmio FRIDA é oferecido pelo Registro de
Endereços Internet para a América Latina e o Caribe (LACNIC), o Centro
Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento (IDRC) e a Internet
Society (ISOC). Seu objetivo é reconhecer projetos e iniciativas que
colaboram de forma significativa com o uso da Internet como catalisador
para a mudança na América Latina e o Caribe. Seguindo a temática desse
ano para o encontro anual do Fórum de Governança da Internet – IGF
2011, a premiação se dividiu em quatro áreas (acesso, liberdade,
desenvolvimento e inovação) e ainda abriu espaço para a melhor
campanha 2.0.
O Movimento Mega Não – criado por um grupo de ativistas para lutar
contra o vigilantismo e pela liberdade na Internet – foi a única iniciativa
brasileira a conquistar o Prêmio FRIDA. Concorreram 123 projetos de 34
países, incluindo Canadá, México, Argentina e Chile. Só do Brasil, foram
inscritos 51 projetos, dentre os quais o Cidade Democrática, a
Transparência Hacker e a MetaReciclagem.
O anúncio dos ganhadores foi realizado nesta última quinta feira, por
meio do site oficial do Prêmio e por email:
Es un placer informarle que su proyecto fue elegido por el jurado
del Premio FRIDA IGF 2011 como el mejor de la categoría
Libertades. El jurado consideró su iniciativa como “un proyecto
que muestra una destacada actividad a nivel público y político
para evitar la censura de los contenidos de Internet”.
É um prazer lhe informar que seu projeto foi eleito pelo juri do
Prêmio FRID IFG 2001 como o melhor na categoria Liberdades.
O Jurado considerou sua iniciativa como “um projeto que mosta
uma destacada atividade à nivel público e político para evitar a
censura dos conteúdos da Internet”.
Além do Mega Não, foram premiados o uruguaio Plan Ceibal, na
categoria acesso; a Red Educativa Mundial, na categoria
Desenvolvimento e o argentino Mercedes y Marcos Paz Digital, na
categoria Inovação. Como parte do Prêmio, os vencedores irão ao
próximo Encontro Anual do Fórum de Governança da Internet em
Nairóbi, no Quênia (27-30 setembro 2011) e no LACNIC XVI em
Buenos Aires, Argentina (3-7 outubro 2011).
O reconhecimento Internacional por importantes instituições ligadas à
governança da rede e ao fomento do desenvolvimento, demonstram que o
Movimento “Mega Não” esta no caminho certo. Além dos frutos
plausíveis nesta luta das multidões utilizando a web como principal
ferramenta para seus objetivos.
A conquista do Prêmio FRIDA levará o Movimento Mega Não à um novo
patamar, possibilitando alianças com movimentos semelhantes na
América Latina e na Africa formando uma forte frente para garantir o
direito de expressão e liberdade na rede em prol do progresso e da luta
das minorias nestas nações.
Sobre o Mega Não
O Movimento Mega Não surgiu a partir da luta da sociedade Brasileira
contra o PL 84/99 que havia acabado de retornar do Senado para a
Câmara dos Deputados. O principal objetivo do movimento foi de
concatenar em um único site todos os movimentos e eventos contra este
projeto que irá criar uma forte camada de controle na web sob o
argumento de coibir cibercrimes. A agenda de movimentos foi adicionado
uma série de estudos com o objetivo de embasar a luta pela liberdade na
rede. O movimento a partir deste ponto foi ganhando visibilidade e hoje
tornou-se sinônimo da luta pela liberdade na web.
•
http://meganao.wordpress.com/
•
http://www.premiofrida.org/por/
•
http://lacnic.net/pt/index.html
•
http://www.idrc.ca/EN/Pages/default.aspx
•
http://www.isoc.org/
O MinC que fala grosso com os pobres e fala fino
com os ricos
http://www.trezentos.blog.br/?p=6316, 4 de setembro de 2011
Por Carlos Henrique Machado Freitas
A triunfalista Ministra da Cultura, Ana de Holanda, ganha do valor
econômico, em mais uma desastrosa entrevista, a etiqueta de “Menos
show e mais ação”. E partiu mesmo para a ação de criminalizar
cinicamente os pontos de cultura e defender vergonhosamente o Ecad e a
Lei Rouanet.
Até aí nada de novo. Sob seu comando, o MinC, em oito meses de
permanente crise, promoveu um desastre contra as classes sociais menos
favorecidas e colocou os ricos no olimpo. Mas a Ministra na entrevista
deu também um show de soberba e, ao mais puro estilo “comigo ninguém
pode” fez seu primeiro arroto real sentada no trono, dizendo não temer a
travessa das bananas, pois muitos que declararam guerra a ela, juravam
que sua gestão não passaria das festas de São João, tripudia do alto de sua
onipotência.
Durante a entrevista, a Ministra, de boca cheia, fala de sua tipoia, a
Secretaria da Economia Criativa, mesmo que ninguém, nem mesmo a sua
secretária Claudia Leitão tenha noção do que a Ministra exclama como
augusta obra-prima em seu cenário de papelão já surrado até mesmo nos
bastidores da política nacional. O Ministério da Cultura tem se revelado
um fiasco tão grande que até seus canzarrões não levam mais a majestade
ao pé da letra. Mas ela põe uma estrela na porta de seu camarim, suspira e
segue saltitante na entrevista, “o apoio do mundo da cultura foi
praticamente total”. Upa!
Ocorre que Ana de Hollanda criou um império de normas que dá cada vez
mais força ao papel dominante das normas privadas na esfera pública.
Isso mais do que desnorteou a atmosfera cultural do Brasil, produziu
insegurança e medo de que a politização da cultura se generalize com
rapidez, além de outros processos negativos em diversos níveis do
governo. E é neste momento que nas plenárias a presença de Ana se torna
um processo distorcido. Coincidência ou não, já se tornou tradição o
distanciamento do Palácio do Planaldo da imagem da Ministra. Na
realidade é péssimo para a visibilidade de Dilma posar ao lado de Ana de
Hollanda. E num típico fenômeno de quem não tem remédio, Ana
praticamente não se encontrou com a Presidente Dilma, jamais esteve em
seu gabinete para uma reunião, no máximo, chegou à Casa Civil.
Na verdade ninguém no governo quer levá-la a sério tamanha dificuldade
que suas ações têm provocado com seus desequilíbrios e distorções na
forma de agir na base estrutural do Ministério da Cultura. O MinC hoje
mudou negativamente a paisagem geopolítica do governo Dilma.
Preocupada em acomodar a fidalguia do Ecad e os Rouantes, institutos,
fundações e os captadores corporativos associados, Ana, dentro do
governo, virou macaco em loja de louça. Ninguém atura mais seu apelo
exagerado de auto-piedade. Ela consegue o impossível a ponto de ser
quase unanimidade negativa no território de nossa cultura.
Não há, portanto, a menor hipótese do seu vergonhoso sentimentalismo
reverter essa pantomima de aforismos. A realidade é que todos estão
cansados do niilismo original que se transformou em espetáculo de
absurdos em um MinC contemplativo e redentor do mercado. É comum
Ana ser considerada simplesmente como uma figura inventada na
política, até porque jamais procurou inserir um pensamento humano que
desse sentido à sua genealogia moral. Ana trabalha fortemente pelo poder
dominante, é aí que ela aparece forte e contundente, sobretudo quando
não aceita sob qualquer hipótese que o Ecad seja fiscalizado pelo Estado
e, na entrevista, solta esta pérola de cinismo. “Não houve mudança. Eu
nunca falei a palavra “fiscalizador” e continuo não falando”.
O fato é que, além dos cordeiros, e as aves de rapina que arrebatam
milhões de recursos públicos via Lei Rouanet, não existe uma pessoa que
não combata hoje esta “dourada vitória” da Minista sobre a cultura do
povo brasileiro. Ela já nem disfarça mais que seu objetivo é, além de lutar
para que os poderosos retomem a luz dentro do MinC, é sobretudo,
criminalizar e isolar os pontos de cultura. E aproveita o ensejo para atacar
milhões de brasileiros envolvidos com o Cultura Viva. “Se for para o
Estado se tornar paternalista e assistencialista, eu sou contra. É preciso
buscar formas de independência da ajudinha do governo.”
Não podemos sequer dizer que Ana mercantiliza a cultura. Quando
olhamos através do espelho do MinC, podemos dizer com consciência
tranquila que Ana mercantilizou os aportes públicos justamente onde lhe
convém, dando aos porcos da captação, os sutis iluminados do
capitalismo cultural, o atrativo maior de suas vidas, milhões de recursos
públicos. Portanto, agora, onde teceu um tratado com as trevas, a Ministra
continua preparando as festas das “bodas de marfim” dos elefantes de
ouro, institutos e fundações erguidos e sustentados com dinheiro público
via Rouanet.
Na entrevista da Ministra ao Valor Econômico, o que não deixou dúvidas
é que ela não pretende deixar qualquer lacuna entre o poder dominante e
o MinC. E assim permitir que o ideal ascético domine a atmosfera
cultural do Brasil. Igualmente, no entanto, a índole da Ministra deixa
claro que todas as modificações ébrias para destruir as bases sociais da
cultura brasileira serão tratadas como um sistema prioritário e, portanto, a
marginalização e a aplicação metódica de penitências aos Pontos de
Cultura serão sempre objeto de uma prudente preocupação de sua gestão.
A Ética da Mídia Tradicional
http://x.bardo.ws?re, 7 de setembro de 2011
Por Cacilhας, La Batalema – http://montegasppa.blogspot.com/
Hoje passei o dia no HMLJ, porque minha esposa passou mal.
Não ficamos esperando ser atendidos… fomos rapidamente atendidos e
minha esposa passou por uma bateria de exames para tentar identificar a
causa das dores. Fomos muito bem atendidos e minha esposa teve toda
atenção que precisou.
Porém…
Enquando eu esperava por minha esposa, apareceu uma equipe de
reporcagem reportagem da Band.
O repórter perguntou a cada pessoa que pôde se ela estava sendo
negligenciada e a resposta era quase unanimente que a pessoa tinha sido
atendida sem muita espera e estava sendo dispensada a atenção médica
necessária.
Dada a resposta em favor do corpo de médicos, o repórter
automaticamente se desinteressava daquela pessoa, indo para a próxima,
até encontrar uma mulher muito zangada com o atendimento
supostamente ruim – Onde? – que falou muito mal do hospital. A essa sim
o repórter deu atenção.
Depois foi chatear o pessoal da fila de visitantes, sem ver que o paciente
acompanhado pela tal mulher zangada, supostamente precisando de
internação, saiu andando e vendendo saúde – só queria atenção mesmo.
Essa é a ética da mídia tradicional: não há investigação de fatos, a
reportagem é pré-concebida na redação e o repórter pseudo-investigativo
ignora todas as evidências contra a hipótese que se deseja provar.
•
http://www.hospitalsworldwide.com/listings/12678.php
Vale a pena publicar um livro?
http://x.bardo.ws?rh, 23 de setembro de 2011
Por Alessandro Martins - http://livroseafins.com/
Já se sabe que o mercado está saturado. Muitas matérias em jornais e
revistas apontam esse momento de ajuste entre oferta e demanda de livros
impressos. O fato é que há espaço para tudo e para todos, muito embora
haja esta oscilação no momento. Algumas experiências apontam sucesso
como, por exemplo, no caso da criadora do site blurb.com. Contudo, o
sucesso da explosiva demanda de produção de livros (impressos) ainda
não reflete com cuidado o que vai acontecer depois com os autores de
livros. O que virá após?
Há muitas razões para que uma pessoa publique um livro, quer por uma
editora convencional, quer por meio da autopublicação. Mas o objetivo da
editora não é necessariamente o objetivo do escritor, portanto, as visões
de lucros, custos e realizações pairam em circustâncias bem diferentes.
Na semana de 5 a 9 de setembro de 2011, o canal G1 divulgou uma série
de reportagens, mostrando estratégias de escritores iniciantes que levaram
ao sucesso. Isso mesmo! Vendo a reportagem, todo mundo vai acreditar
poder ser um escritor finaceiramente e pessoalmente realizado. Porém,
isso não reflete a maioria, a regra. O momento está difícil e complicado
para todos os seguimentos. E a oferta de profissionais é e sempre foi farta.
E nesse jogo de intuição, capacidade, cálculos e apostas muita gente boa
acaba ficando para trás, ao posso que muito material ruim segue adiante,
mas tem sempre uns azarões que surpreendem. O jeito, pelo visto, é
apostar na informação, na criatividade, nas estratégias para seduzir um
leitor que tem fama de ler pouco e um mercado que está sofrendo uma
grande transformação.
•
Digitalização - http://networkedblogs.com/mWUqQ
•
Problemas de estocagem: superprodução de livros http://x.bardo.ws?ri
•
Alternativas para o futuro - http://www.nuvemdelivros.com.br/
•
Excesso na autopublicação - http://x.bardo.ws?rj
•
A criatividade e o estilo Nintendo http://oxisdoproblema.com.br/?p=331
•
De olho na bibliodiversidade - http://x.bardo.ws?rk
•
Aqui tem mais. - http://x.bardo.ws?rl
Vou listar aqui para os escritores ou pretendentes a escritores algumas
indicações para a autopublicação:
•
Clube de Autores - http://clubedeautores.com.br/
•
Fábrica de livros – http://www.fabricadelivros.com.br/
•
Singular digital - http://www.singulardigital.com.br/
•
Libro Virtual - http://www.librovirtual.org/
•
AGBOOK - http://www.agbook.com.br/
•
Simplíssimo - http://www.simplissimo.com.br/
•
Lulu.com - http://www.lulu.com/
•
Blurb.com - http://www.blurb.com/
•
Perse - http://perse.doneit.com.br/
* Colaboraram com essa postagem os amigos do Livros, livreiros,
livrarias e editoras e as meninas do Luluzinha-Camp.
•
http://www.facebook.com/groups/livrosfb/
•
http://www.luluzinhacamp.com/
Uma manifestação que já dura vários anos –
#contraoaumento
http://blog.filipesaraiva.info/?p=368, 4 de setembro de 2011
Por Filipe Saraiva
Esse post faz parte da Série #contraoaumento, que estou escrevendo sobre
minhas impressões dos atos pela qualidade do transporte público em
Teresina. Saiba mais neste link. (http://blog.filipesaraiva.info/?p=376)
Desde o dia 29 de agosto, uma segunda-feira, estudantes e moradores de
Teresina fazem manifestação por qualidade no transporte público
municipal. Serão agora, 5 dias consecutivos de manifestação. O estopim
do ato foi o aumento do preço da passagem no apagar das luzes do dia 26
de agosto, sexta-feira, que elevou a tarifa para R$ 2,10.
O sistema viário de Teresina opera desde 1988 sem licitação. Teresina é a
única capital do país que não tem integração entre as linhas de transporte.
Não há qualidade no transporte no que concerne às especificidades da
cidade: em Teresina, cidade muito quente, os ônibus não possuem
cortinas ou vidros fumês para proteção solar, e nem um sistema de
ventilação ou refrigeração adequados. A planilha que aponta qual é o
valor a ser cobrado dos usuários do sistema é anacrônica (data de 1994) e
sujeita a manipulações de todos os tipos. O acesso a ela é difícil, e até
certo tempo era considerada lenda nos círculos de conversas dos que se
importam com o assunto. Falando do mais básico: Teresina não tem
parada de ônibus adequada! O ministério público estadual já ajuizou
várias ações contra a prefeitura, por conta de todas estes pontos acima.
Acompanho a questão há pelo menos 9 anos, desde 2002. Durante esse
tempo, meu interesse e participação gravitaram em vários níveis. Existem
pessoas que acompanham a mais tempo; outras começaram recentemente.
Basta lembrar que, ainda nos anos 80, ônibus foram queimados na UFPI
pelos estudantes da época. Logo, temos um velho problema que se arrasta
há anos em nossa cidade.
Sempre que houve aumento no preço da passagem, o SETUT, STRANS e
PMT indicavam que o aumento havia sido dado pela planilha. E a
planilha, invisível; ninguém sabia dizer onde estava. Enquanto o preço da
passagem foi aumentando, em nada mudou a qualidade do serviço.
Os diferentes prefeitos que pude acompanhar os mandatos (Firmino,
Silvio Mendes e Elmano) sempre foram muito prestativos com o SETUT.
Por exemplo, a instalação dos cartões passe-verde foi paga pelos usuários
do sistema, incluídas na dita “planilha”. Além de todo aumento pedido
pelo SETUT ser prontamente atendido pelo prefeito de ocasião.
E os vereadores? Nesses anos todos, pouco fizeram. Nem eles tem ideia
de como funciona a bendita planilha de custos do SETUT. E parece que
pouco se interessam em saber, pois nunca houve um movimento com
resultados práticos da casa para verificar ou debater o transporte público
na cidade.
Em todos estes anos, todo aumento do preço levou à manifestação
estudantil. A maioria delas foram mais tranquilas, pacíficas. Em 2005
houve radicalização – ônibus foram destruídos nas praças do centro e
queimados na UFPI. A polícia enfrentou os estudantes no Fripisa,
inclusive com tiros em nossa direção. Infelizmente, nada foi conseguido e
as pessoas foram desmobilizadas.
Agora em 2011, as coisas estão bem diferentes. O ministério público, que
entrou com representação no TJ-PI para auditoria da planilha e suspensão
de aumentos de passagem em 2010, teve o ganho de causa deferido em
2011. A passagem deveria voltar a custar R$ 1,75, e só poderia haver
reajuste após auditoria da planilha. O resultado do julgamento chegou no
interessante momento em que a prefeitura já discutia mais um aumento de
passagem.
O que a prefeitura fez? Ao invés de seguir a decisão judicial, ela utilizou
sua própria procuradoria para garantir a manutenção do valor em R$ 1,90!
Ela recorreu ao STJ e conseguiu derrubar a liminar do TJ-PI. Então,
cidadão, entenda: você acredita que a prefeitura utilizou seu próprio
aparato jurídico para derrubar uma decisão judicial que só privilegiaria os
empresários do SETUT? Pois foi isso o que aconteceu.
Após conseguir a manutenção em R$ 1,90, a prefeitura aumentou
novamente o preço da passagem, agora para os já citados R$ 2,10. E sem
esperar auditoria na planilha, sem dar indicativos da melhora da
infraestrutura do sistema viário, enfim, sem nada para o passageiro – só o
aumento ficou para ele.
Por tudo isso, a manifestação dos estudantes de Teresina, que começou na
segunda e foi até esta última sexta, é mais do que justa. E ela trás em si
um alento para todos aqueles que, menos anos mais anos, acompanharam
a história da luta dos movimentos sociais em Teresina por um sistema
viário de qualidade.
A decisão do prefeito Elmano de suspender o aumento da tarifa durante
30 dias (prorrogáveis por mais 30), até auditoria na planilha do SETUT, é
uma vitória dos estudantes. Entretanto, ela indica outra questão: que essa
luta, que já dura anos, pode durar ainda mais tempo.
Fiquemos de olho.
•
http://blog.filipesaraiva.info/?tag=contraoaumento
Nas redes, nas ruas – #contraoaumento
http://blog.filipesaraiva.info/?p=374, 4 de setembro de 2011
Por Filipe Saraiva
Algo interessante que o #contraoaumento (ou #aumentonaothe e, mais
tarde, #vitoriadopovothe) mostrou foi quanto ao poder mobilizador que a
rede dá para as pessoas, quando usada com inteligência e quando as
pessoas querem ir às ruas também.
As formas de mobilização que se apoiam na comunicação via rede já
deram várias demonstrações de força, em especial porque as
manifestações que delas ecoam se tornaram, em sua maior parte,
manifestações de grande proporção. Recomendo fortemente a leitura do
texto da Aracele Torres, Da Rede para as Ruas, no qual ela faz um
apanhado dos principais movimentos que ocorreram no mundo nos
últimos dois anos que se utilizaram da internet como meio de
comunicação catalizador, além de teorizar sobre as possibilidades de
interação ciberespaço – ruas.
Para mim, a grande mobilização das pessoas nas ruas foi motivada pelo
uso massivo das redes sociais. O prefeito aumentou a passagem na sexta a
noite, o ato foi puxado para segunda de manhã. Como explicar aquele
monte de estudantes nas ruas?
Lembro que na era pré-internet massificada, há poucos anos atrás,
articular um a manifestação era muito complexa por conta da
comunicação. No movimento estudantil, passávamos semanas planejando
entre as várias entidades. Essas entidades deveriam avisar os demais
estudantes de cursos e colégios específicos.
Passávamos então pelo boca-a-boca. Falas em corredores. Panfletagem
em salas de aula, RU, biblioteca. Entrada em sala de aula. Carro de som
rodando pela universidade… enfim. Esperávamos que as demais
entidades fizessem algo parecido. E, no dia do ato, lá iam os que se
importavam para as ruas.
Mas agora, a comunicação foi feita diretamente com os estudantes. Os
que se importavam repassaram para o seu ciclo de amigos. E estes para
seus respectivos ciclos. O efeito cascata foi potencializando a página do
ato. Quem se interessava chegava lá e escrevia algo. Quem se interessava
pelo que estava escrito, comentava. E assim o ato foi sendo articulado. E
assim o ato saiu das mãos de entidades, organizações e pessoas que
tiveram o oportunismo de se intitularem “líderes” do ato – apesar das
sucessivas manobras e da iniciativa da mídia em apontá-los como tais.
Para mim, isso explica a presença massiva de estudantes secundaristas na
manifestação. Universitários e populares que já passaram anos
participando de manifestações olharam e se indagaram: “de onde saiu
tanto estudante secundarista? Onde essa galera estava?”. Não dá pra dizer
que foi alguma entidade secundarista, como UMES ou AMES, que
articulou essa galera. E ainda, haviam muitos estudantes de escolas
particulares da cidade. Essa galera viu a chamada do ato na internet – e
foram às ruas. Sem intermediários, sem entidades burocráticas os
“organizando”.
Além da própria articulação do ato, a internet serviu também para
informar o que estava acontecendo, em tempo real. Manifestantes
munidos de celulares com conexão à rede enviavam mensagens a todo
momento. Tiravam fotos. Faziam videos. Ativistas que não puderam se
fazer presencialmente, repercutiam esse material para os demais.
Produziam textos, repassavam. Não é de se admirar, é notório que quem
acompanhou a cobertura da manifestação pela rede achou-a bem melhor
que qualquer outro portal de notícias, ou imprensa convencional, de
rádio-tv-jornal.
Os estudantes fizeram a sua mídia e contaram a sua versão dos fatos. O
jornalismo piauiense vai ter que conviver com essa questão daqui por
diante: os manifestantes agora tem poder para também serem a mídia, e
fazerem o contraponto ao discurso hegemônico de criminalização do
movimento que repercutiu na maior parte dos veículos de comunicação da
cidade (e do país também). De outra parte, as entidades políticas também
terão que aprender como usar estas ferramentas para potencializar seus
atos e entrar na guerra pela opinião pública – que sempre defendi. Para
mim, a luta social é também uma batalha midiática. Se não nos
atentarmos para este front, perdemos tudo.
Mas não caia no engano de que a rede é tudo. Fui entrevistado para o
Cidade Verde, que deve sair na revista em setembro, sobre a importância
das redes na manifestação. A jornalista me perguntou se a questão da
redes foi o motivo do sucesso da manifestação. Falei que não: o que
motivou o sucesso foram as pessoas nas ruas e a radicalização do ato. O
que a rede propiciou foi um outro nível e estilo de comunicação e
construção da memória do ato. Se por exemplo, as pessoas não estivesse
afim de ir às ruas, ou se os motivos não fossem suficientes (o que são, há
muitos anos), não haveria internet que conseguisse uma vitória, mesmo
que inicial, sobre o SETUT+PMT.
Não vamos confundir as ferramentas de auxílio com o processo de luta
em si.
Outra característica interessante deste ato é que, além da comunicação e
construção do ato via internet, ela também foi utilizada como front de
ataque direto.
Os sites de algumas instituições sofreram ataques conhecidos como
defacement. Estes ataques tem como finalidade colocar uma mensagem
de protesto ou chamada de atenção em um determinado site. É um dos
ataques mais prezados por ciberativistas que pretendem espalhar
mensagens. Neste ataque, normalmente bancos de dados ou contas de email não são invadidos, mas há hackers que fazem vários ataques
combinados, vazando dados e provocando o defacement também.
Podemos, em certa medida, comparar o defacement com a pichação.
No primeiro dia de manifestação, o próprio site do SETUT foi alvo de um
defacer. A mensagem colocada era a hashtag #contraoaumento, que
linkava a página na rede Twitter onde os usuários trocavam mensagens
sobre o ato. Esta invasão potencializou a manifestação de madrugada,
levando a palavra SETUT a atingir os tópicos mais comentados da rede
no Brasil, naquele horário.
No dia seguinte o site do PSTU também sofreu um ataque defacement. A
mensagem falava de uma pessoa (alguém) que estava indignada com a
questão do reajuste das passagens e da falta de mobilização da maioria da
população.
Já na última sexta, último dia da manifestação, um grupo de hackers fez
um defacement no site do Diário Oficial do Piauí, ligado ao governo do
estado. A mensagem mostrava o apoio do grupo aos manifestantes do
#contraoaumento.
Será que agora teremos mais ataques defacement ou de outros tipos nas
mobilizações sociais em Teresina?
Suspensão de descrença: como os games nos
fazem aceitar o impossível
http://x.bardo.ws?ra, 7 de setembro de 2011
Por Bruno Grisci - http://www.nintendoblast.com.br/
Quando estamos jogando, lendo ou assistindo a um filme ou
programa, em geral não nos preocupamos com algumas coisas
absurdas que acontecem nessas obras. O que nos faz aceitar tão
facilmente que encanadores cresçam quando comem cogumelos ou
que beber algum remédio genérico possa curar totalmente
alguém?
Dá para acreditar?
A reação das pessoas mencionada acima recebeu o nome de suspensão de
descrença, que basicamente refere-se a uma disposição voluntária dos
espectadores de uma obra de ficção em abrir mão de certas premissas da
realidade, como, digamos, a lei da gravidade, e passe a aceitar aquelas
que são apresentadas pela história, não importando se são possíveis ou
não. Você renuncia o julgamento racional que faria no mundo real
(dizendo ao seu amigo que ele não irá voar se sair pela janela, por
exemplo), esperando receber entretenimento em troca.
Um retrato de Samuel Coleridge, como devem suspeitar.Como bons
curiosos, vocês devem estar se perguntando (ou não) como surgiu essa
expressão. Pois bem, o primeiro a usá-la foi o poeta, crítico e ensaísta
inglês Samuel Taylor Coleridge, em sua Biographia Literaria, de 1817.
Como o próprio escreveu:
"... Foi aceito que meus esforços devem ser dirigidos a pessoas e
personagens sobrenaturais, ou pelo menos românticos, mas de
forma que transfira da nossa natureza interior um interesse
humano e uma aparência de verdade suficientes para obter dessas
sombras da imaginação a suspensão voluntária da descrença por
um momento, o que constitui a fé poética.” - Samuel Taylor
Coleridge, Biographia Literaria
Esse conceito, é claro, não era totalmente novo, pois já era percebido
desde a antiguidade, especialmente na Roma antiga, mas Coleridge deu
destaque ao assunto.
Agora você está em outro mundo
E qual a importância disso tudo? A suspensão de descrença é
especialmente significativa para a ficção, ou de outra forma a nossa
capacidade de criação seria extremamente limitada. Imagine como seriam
nossas histórias se exigíssemos uma grande verossimilhança, e tudo
precisasse ser feito de acordo com a realidade. Poderíamos dar adeus à
maioria das grandes obras, em todos os gêneros. Mesmo um enredo com a
ação num mundo comum e pessoas normais necessita de alguns escapes
para fluir, e então não precisamos nos preocupar tanto em como nosso
personagem principal faz para ir no banheiro e outros fatos não tão
importantes.
Link carregando seus itens: nada prático.Nos videosgames, esse
fenômeno é claro. Se o Link consegue transportar todos aqueles itens
embaixo de uma túnica verde, ótimo. Talvez onde vivemos isso não seja
possível, mas, bem, Link vive em Hyrule, lá isso pode ser feito e ponto
final, até porque ninguém gostaria de ter a tela da TV tapada por uma
bolsa enorme recheada de itens. Mesmo em simuladores, que inclusive
possuem fãs que defendem que quanto mais realístico, melhor, ainda
existem coisas bem diferentes da realidade. Ou você acha que uma guerra
em Modern Warfare é igual a uma de verdade?
Não, os jogos simplesmente não funcionariam se precisassem ser fiéis ao
nosso mundo, até mesmo por questões de mecânica. O que acontece se
falarmos com algum personagem e, logo após, falarmos novamente?
Quase sempre ele repetirá exatamente o que disse antes, não importa
quantas vezes seja necessário, bem diferente do que aconteceria na
realidade. Essa é uma decisão tomada para que o jogador possa acessar
novamente uma informação caso precise, e nós aceitamos isso. Outras
quebras de realidade, como alienígenas falando inglês, baús de tesouro
em locais aleatórios ou poder saltar de grandes alturas sem se machucar
são decisões tomadas para facilitar a experiência.
Quebrando a suspensão
Apesar do que foi dito anteriormente, a suspensão de descrença nem
sempre ocorre como deveria, por culpa do autor, na maioria das vezes.
Afinal, se ela é voluntária, o público não engolirá qualquer coisa.
Considere isso: a suspensão de descrença libera a ficção de precisar ser
fiel à realidade, então temos total liberdade para criar novos universos
onde animais falam, carros voam e mágica existe. Estamos abertos para
essa “nova realidade”. Mas isso não quer dizer que qualquer fato será
aceito.
Alguém precisa dar umas explicações.Assim como um animal falante não
faz sentido no nosso mundo, num outro onde animais falam, alguns deles
serem mudos que não faz sentido (o que inclusive cria aquele tipo de
discussão sobre porque o Pateta e o Pluto, da Disney, são tão diferentes,
embora sejam ambos cachorros). Em suma, um universo ficcional não
precisa atender às leis da nossa realidade, mas sim da sua própria. Daí
vem o pensamento popular de que “você pode pedir à audiência que
aceite o impossível, mas não o improvável”. A história precisa funcionar
dentro de sua própria lógica, transformar nosso impossível em normal e
mantê-lo consistente.
O que não falta são exemplos de enredos que se contradizem, até porque
não é fácil criar vários elementos e encaixá-los como se existissem
naturalmente. Certas decisões quase certamente causarão uma perda na
suspensão pela inserção de algo desconexo na história, resultando, por
exemplo, em Deus Ex Machina.
Nesse ponto, algumas pessoas podem ficar um pouco confusas. Afinal,
estamos dizendo que existe total liberdade para a criação de um mundo,
mas ao mesmo tempo ele obedece algumas regras. Então por que
qualquer coisa que acontecesse não poderia ser aceita? Porque, apesar de
diferente do nosso, esse mundo criado ainda obedece regras, as suas
próprias, que surgiram junto com ele. Logo, é razoável aceitar que
elementos destoantes causem estranheza ou até mesmo desconforto, não
por serem inventados, mas por não harmonizarem com o resto da obra.
Por isso, inclusive, que uma comédia que use esses “absurdos” como
piadas não sofrerá com esse problema, já que uma de suas regras é a
utilização desses recursos.
Jogar, ler e assistir a filmes é muito bom, e pode ser uma
experiência ainda mais interessante se sabemos um pouco mais
sobre o “interior” desses meios. Suspensão de descrença é um
conceito bastante discutido e nos permite entender ainda mais
como funcionam as narrativas.
•
Deus Ex Machina – http://x.bardo.ws?rb
Quem faria bom proveito do WebOS?
http://x.bardo.ws?ru, 26 de agosto de 2011
Por Fabio Luiz - http://falcon-dark.blogspot.com/
Prólogo
O mundo da indústria de TI parece cada vez mais maluco. O PC está
virando uma espécie de commodity, aquele tipo de coisa que você compra
sem pensar pois sabe que precisa de qualquer jeito, como gasolina. E
ainda assim apresenta vendas estagnadas. Qualquer estacionamento de
esquina tem um PC funcionando. Bancos, lojas de departamentos,
supermercados, aonde quer que existam filas de consumidores há dezenas
de PCs. Todos conectados em rede fazendo suas tarefas de formiguinha.
Em casa todo mundo tem (ao menos) um. Pelo menos todo mundo que
está acima da linha da pobreza. E no primeiro a maioria das casas tem
mais de um. E fica fácil de entender porque as vendas não evoluem.
Diferente da gasolina não se compra PC toda semana. E como os Sony
Vaio ficaram muito parecidos com os Acer (por dentro e por fora) o
consumidor começou a achar que PC é igual Miojo, não importa o sabor
que está escrito na embalagem todos tem o mesmo gosto.
No mundo do PC miojo commodity o mercado (ao menos nos EUA)
passou a procurar diferenciais. E ainda que fosse impossível encontrar
algum PC diferente por dentro a Apple estava oferecendo PCs diferentes
por fora. E bem diferentes. Não conheço alguém que ache os Macs feios e
todo mundo que já pensou em gastar mais do que R$4mil em um
notebook certamente estava encarando um MacBook em alguma vitrine
da vida.
E a explosão de mercado dos Macs aconteceu. Sim, explosão. Nos EUA
eles já são responsáveis por mais de 10% da base instalada de
computadores e no mercado de notebooks com preço superior a US$999
Macs respondem por 60% das escolhas dos consumidores. Na verdade
quando se fala de computadores caros praticamente só se vende Macs. Os
PCs se tornaram a escolha de quem tem um orçamento apertado ou
precisa de uma máquina com propósitos absolutamente genéricos. Esse
movimento é tão forte que tornou a Apple o quinto maior fabricante
mundial de PCs. Seria pouco não fosse o fato de que a margem por
máquina vendida da Apple é seis vezes a obtida pela HP. Ou seja, a HP
precisa vender 6 máquinas para conseguir o mesmo lucro que a Apple por
cada PC entregue. Mas a HP não tem 60% do mercado. Isso significa que
no mundo dos PCs miojo commodity quem mais ganha dinheiro é quem
não transformou seu PC em miojo nem em commodity.
E por que isso é importante? Porque gerou momento e confiança para a
Apple partir para o movimento da Era Pós-PC.
Deixando o PC para trás
A Apple capturou a atenção do mercado de tal forma que sentiu confiança
para criar um tablet. Ela já tinha tentado ter um PDA antes, o Newton,
quando o PDA parecia ser o bicho que destronaria o PC. A Palm não
deixou que as ambições da Apple se tornassem realidade. Mas a maioria
das pessoas olhava para o Palm e perguntavam: pra quê preciso disso?
Para nada. E ele não destronou o PC.
O tablet não era novidade, a MS já havia demonstrado dezenas de vezes
um notebook sem teclado rodando Windows XP. Mas as pessoas não
queriam Windows nem em seus computadores, quem diria tê-lo em ainda
mais dispositivos? Não me critique, essa é a verdadeira razão pela qual o
Windows não vingou em nada que não seja um PC. As pessoas não
querem aquilo em seus telefones, carros, GPS, etc. E se 90% da
população do planeta fosse rica era o Mac OS quem teria 90% do
mercado de sistemas operacionais. O share do SO da Apple condiz com o
share da população que tem grana sobrando para comprar um
computador. Ou seja, se as pessoas tivessem dinheiro para escolher não
usariam Windows.
Mas mesmo depois de o mercado ter recusado o conceito de tablet
algumas vezes a Apple sentiu-se confortável para tentar. Os sucessos de
iPod e iPhone somados à grande tração dos Macs no mercado parece ter
gerado na Apple a certeza de que sua versão para um conceito perdedor
seria um sucesso. E foi mesmo. O iPad é uma unanimidade e a Apple
vende todas as unidades que consegue fabricar. Para o varejo isso é uma
festa, quando mais iPads se compra, mais se vende. É como vender água
no deserto.
A Apple sorri e diz que inaugurou a Era Pós-PC, onde as pessoas só
precisam de um PC quando vão fazer algo muito complexo do ponto de
vista técnico, como desenvolver uma aplicação para o iPad. E os
fabricantes de PC, o que dizem dessa coisa de Era Pós-PC? Eles
concordam!!! Como assim?
O que não tem remédio, remediado está
Os fabricantes de PC concordam que a Apple inaugurou a Era Pós-PC
porque assim parece que a Apple está batendo nas empresas de
equipamentos de telefonia móvel. Porque ele é um dispositivo de acesso à
internet móvel. Se os fabricantes de PC quisessem que o iPad fosse
classificado como um computador eles estariam em apuros porque a
Apple então se tornaria a maior fabricante mundial de computadores
pessoais, ou PCs. Nada mal pra quem estava falida em 1996 não? É
melhor admitir que seu produto está uma geração defasado do que
assumir que você não consegue competir em seu próprio campo com uma
empresa que não leva o mercado corporativo a sério.
Se somarmos as vendas de Macs e iPads a Apple é a empresa que mais
vende computadores no mundo. Mas a indústria do PC fez questão de
dizer, ei isso não é um PC. É um legítimo representante da Era Pós-PC,
portanto não é problema nosso. Quem foi tentar concorrer com o iPad? As
fabricantes de celulares, obviamente. Mas elas nunca tinham feito
computadores ou sistemas operacionais como poderiam fazer algo além
do PC sem nunca ter feito um PC? Bom, elas não fizeram. Até agora
nenhum produto foi capaz de superar o iPad. Tentaram e falharam as
então gigantes do mercado de telefones RIM (BlackBerry), Motorola,
Samsung e HP. HP????? O que a HP está fazendo nesta lista?
Comprei um par de asas, acho que posso voar!
A HP adquiriu a Palm para entrar no mercado de smartphones, tablets e
sistemas operacionais móveis. Por alguma razão a direção da HP achou
que gastar 1,2bi de dólares para entrar em um mercado ainda mais
competitivo e com ainda menores margens que o de PCs era uma grande
idéia. A HP acreditou que o webOS, um brilhante SO desenvolvido sobre
o Linux pela Palm para smartphones, em suas mãos poderia ser um forte
concorrente no marcado dominado pelo iPad. Alguns modelos de
smartphones foram lançados, sem alarde e sem sucesso, mas eram
projetos da Palm e não houve motivo para preocupação. O HP TouchPad,
esse sim, desenvolvido e comercializado pela propria HP é que mostraria
o potencial da empresa.
A HP seguiu a mesma receita da Samsung, Motorola e RIM. Um
hardware muito potente nos specs e muito fraco na prática. Em parte pela
falta de cuidado no projeto, em parte pela falta de polimento no SO.
Acontece que esses dois aspectos são onde a Apple brilha. Some a isso a
escassez de aplicativos no momento do lançamento e você tem tablets que
ninguém quer. Mas tem mais. Venda esses tablets pelo mesmo preço que
o iPad. Aliás, não venda, porque eles não serão levados para casa por
ninguém. Apenas um mês no mercado foi o bastante para que a HP
percebesse o óbvio. Que não basta um rostinho bonito para concorrer com
o iPad. É necessário um ou dois anos de projeto cuidadoso, elevado ao
extremo em cada detalhe, para produzir um dispositivo ímpar. E depois
vendê-lo tão barato a ponto de sangrar o caixa da empresa. Ninguém
(nem a IBM) fez isso contra o Windows. Ninguém (nem a Microsoft) fará
contra o iPad.
Ter um produto que venda mais que o iPad é algo tão difícil de executar
(e tão perigoso) que nenhum CEO em sã consciência vai tentar convencer
sua empresa a fazer. Seria preciso um CEO tão demente quanto o Steve
Jobs com uma empresa tão fanática por seu lider quanto a Apple para
criar um produto que concorresse com o iPad. Não vai acontecer. É uma
verdade que a HP percebeu, que a RIM vai perceber em breve, que o
Google vai perceber com a Motorola (mas não vai admitir nunca) e como
a Samsung vai fingir não ter percebido. O iPad é o Windows da Era PósPC e, como tal, terá 90% do seu mercado até que o mercado decida que
quer outro conceito. A diferença é que não vai durar tanto tempo. O
reinado do iPad será mais breve mas tão absolutista quanto o do
Windows.
Aos vencidos, as batatas
Ao perceber a eminência do xeque-mate a HP fez o óbvio. Enfiou a mão
no tabuleiro e acabou com o jogo. Com um mês de mercado o TouchPad
foi descontinuado. A HP aproveitou para aposentar também o webOS
descontinuando o desenvolvimento de qualquer dispositivo móvel que
pudesse usá-lo. E de brinde ainda falou que vai transformar sua divisão de
PCs em uma empresa separada e tentar vendê-la a algum idiota outra
empresa interessada em produzir porcarias baratas PCs para para
empresas e consumidores. No melhor estilo "se não pode vencê-lo pegue
a bola e vá embora" a HP deixa de concorrer com a Apple focando em
serviços a empresas, segmento onde a maçã não atua.
A HP ressaltou que considera a hipótese de licenciar o webOS para
terceiros, assim as empresas que se sentirem incomodadas com a compra
da Motorola Mobility pelo Google podem usar o webOS como alternativa
ao Android e ao Windows Phone 7, 8, 9...?
Isso é uma pena, porque eu acho que o webOS é a única alternativa viável
ao iOS se o Google continuar mantendo o Android 3 fechado. O webOS
não vai conseguir sair da casca em mais essa aventura. Porque seus
concorrentes tem uma coisa que o pobre webOS não tem: um pai (ou
mãe) disposto a gastar dinheiro para ver o filhote feliz. Google e
Microsoft são enfiar as mãos nos bolsos e ajudar as empresas a subsidiar
os custos de smartphones e tablets com Android e WP, para concorrer
com o iOS. A HP, ao contrário, vai tentar cobrar para que incluam seu
webOS na jogada. Não vai dar certo.
À alguém isto pode ser útil
Mas (e sempre tem um "mas") uma empresa pode usar o webOS para
suas alimentar suas ambições. E pode até querer pagar por isso. Essa
empresa tem como mascote um lagarto vermelho e é conhecida por uma
raposa flamejante e há pouco tempo atrás anunciou que planeja
desenvolver uma API que funcione via web e que gostaria até mesmo de
ter seu próprio sistema operacional para smartphones. Acertou quem aí
gritou Mozilla!
Eu aposto que neste momento tem alguém na Mozilla considerando
licenciar o webOS para torná-lo o sistema operacional móvel da empresa.
Isso faria sentido pois além do webOS estar quase pronto para o mercado
ele pode ser adaptado para ser uma API que funciona sobre outros
sistemas operacionais e permitiria à Mozilla criar um ambiente universal
para rodar suas Apps com uma interface consistente e uniforme em vários
tablets, smartphones e até nos PCs.
Como a Mozilla já anunciou a intenção de ter ambas peças, um sistema e
uma API, ela poderia chegar a um acordo com a HP para usar o webOS.
Poderiam dividir a receita com a venda de Apps e publicidade na
plataforma. A HP poderia rentabilizar o capital já gasto com a aquisição
do webOS e a Mozilla acharia uma alternativa à única fonte de receita
que tem que é a pesquisa em seu navegador para PCs. Seria bom pra todo
mundo e o webOS sairia vivo.
Quem tem twitter não precisa de caminhão
http://x.bardo.ws?k6, 28 de agosto 2011
Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/
Minha mãe fala que meu bisavô adorava frases de parachoque de
caminhão. Ele anotava num caderninho. Tem algumas que ela fala que
são bem interessantes, especialmente as acompanhadas de historinhas.
Tinha um sujeito que era apaixonado por uma menina chamada Glória, e
colocou no caminhão "Boa era a Glorinha". O problema é que a mulher
casou com o delegado que, ao saber que o caminhão tinha voltado à
cidade com aquela frase, chamou o sujeito e o obrigou a tirar aquilo. No
ano seguinte, ele chega à cidade com o caminhão trazendo uma nova
frase: "Continuo com a mesma opinião".
Outra que acho legal é a do "Soldado e mulher feia comigo não passeia".
O pessoal pegou o caminhoneiro e raspou a frase. Depois ele voltou com
"Rasparam, mas não passeiam".
A necessidade de colocar frases para o mundo é tão grande que tem gente
que nem tem caminhão mas tem "frase de parachoque" adesivada no
carro. "O que eu tenho foi Deus que me deu" ou "É velho, mas está
pago"... O legal é que, nos dias de hoje, todo mundo pode ter esse tipo de
coisa. Quem tem twitter não precisa de caminhão!
Então, aproveito para listar alguns felizes proprietários deste e-caminhão,
legais de se seguir, que têm um estilo bem parachoque mesmo:
O Criador (@ocriador)
•
O Cristianismo não é opensource. Portanto parem de pegar Minha
palavra, modificar e sair vendendo como se fosse sua.
•
Meus filhos, cumprir 7 dos 10 mandamentos não os fazem passar
por média.
•
Não, filho, "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” não é
o slogan do Wikileaks.
•
Na Minha "Computação em nuvem", dá para baixar espírito via
torrent.
•
O inferno hoje está um alvoroço: música alta, bebidas e fogos de
artifício. Feliz dia do advogado!
Não é Amor (@naoehamor)
•
Ironia é passar trote pra uma garota de programa e ela ficar puta.
•
O amor não é aquilo que te ajuda a segurar a barra. O nome disso é
instrutor de academia. O amor é outra coisa.
•
O amor não é aquilo que não sai da tua cabeça. O nome disso é
"Pôneis Malditos". O amor é outra coisa.
•
O amor não é aquilo que te faz perder o equilíbrio. O nome disso é
labirintite. O amor é outra coisa.
•
Kiwi é uma fruta tão ruim que se fizesse parte da brincadeira
'salada mista' seria equivalente a uma dedada.
Piadas Nerds (@piadasnerds)
•
Soldados-robôs movidos a bateria sobem o morro. Qual o nome do
filme? R: Tropa de E-Lítio. #DiaDoSoldado
•
O amor não é fogo que arde sem se ver. O nome disso é Metanol.
O amor é outra coisa.
•
Como uma mula-sem-cabeça zumbi come seu cérebro? // Não
come, mas cozinha pros outros zumbis comerem.
•
Estagiários são como Magikarps. Ninguém dá a mínima, mas
quando evoluem (depois de muito tempo), todo mundo paga pau.
•
Qual é a especialidade de um técnico em informática evangélico?
R: Converter arquivos.
Frases Ditas (@FrasesDitas)
•
"Fuja das tentações... Mas devagar, para que elas possam te
alcançar"
•
"A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse
preguiça de caminhar, não teria inventado a roda."[M.Quintana]
•
"Um grama de exemplos vale mais do que uma tonelada de
conselhos"
•
"É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que vc é um
idiota do que falar e acabar com a dúvida"[A.Lincoln]
•
"Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que
levam os homens a fazer."[C.D.Andrade]
Sábio Brasileiro (@SabioBrasileiro)
•
Todo furacão tem nome de mulher: Katrina, Irene, Rita... acho que
os cientistas já comprovaram que uma mulher faz tanto estrago
quanto eles.
•
Steve Jobs não é mais presidente da Apple e vai mudar o nome
para Steve Vacations.
•
"Rir é o melhor remédio". Chega na farmácia e pede 20mg de
HAHAUHAUAHUAHUA pra dor de cabeça então.
•
No Mister Pizza você come pizza. No Burguer King você come
um hamburguer. Pela lógica, no Subway voce devia comer um
metrô.
•
Como responder algo no Yahoo Respostas: fale algo idiota e no
final, escreva "MAS PROCURE UM MÉDICO E ELE TE
AJUDARÁ MELHOR"
E claro, não deixem de me seguir (@carlisson), o GUSLA (@guslabot) e
a banda Infinnita (@infinnita)
•
O Criador - http://twitter.com/OCriador
•
Não é Amor - http://twitter.com/naoehamor
•
Piadas Nerds - http://twitter.com/PiadasNerds
•
Frases Ditas - http://twitter.com/FrasesDitas
•
Sábio Brasileiro - http://twitter.com/SabioBrasileiro
•
Cárlisson - http://twitter.com/carlisson
•
GUSLA - http://twitter.com/guslabot
•
Infinnita - http://twitter.com/infinnita
A História dos Games: Nintendo
http://x.bardo.ws?l4, 6 de setembro 2011
Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/
A Nintendo já dominou dividiu os domínios do mundo dos jogos
eletrônicos com a SEGA em eras passadas. Depois "sumiu" do mapa e
hoje tem foco novamente, apesar de não estar tão bem assim nas rodadas
mais recentes...
Segundo a Wikipedia, Nintendo é um provérbio japonês que significa
"Deixe o destino para o céu". Apesar de a era dos videogames ser bastante
recente, a empresa já tem mais de 100 anos. Claro, atuava em outras áreas
antes dos eletrônicos chegarem. Criava baralhos especiais, pode-se dizer
assim. Ao ver seus negócios ameaçados pelos jogos eletrônicos da Atari e
Bandai foi que, na melhor filosofia "se não pode vencê-los, junte-se a
eles", ela mergulhou nesse mercado que crescia.
O primeiro produto dela nessa área foi um tal de Game & Watch, que era
como um minigame de um jogo só. O formato é curioso, pois inspirou o
atual Nintendo DS. Mas vamos por partes.
O sucesso da Nintendo creio que começou com o Donkey Kong. A partir
daí, alguns arcades e anos passaram até surgir o Nintendo Entertainment
System (NES, 8 bits), o Game Boy (portátil), o Super Nintendo
Entertainment System (SNES, 16 bits). Depois disso, a Nintendo perdeu
sua força. Veio o Nintendo 64 contra o PlayStation, mas era o início da
Era Sony. Depois, a Nintendo ainda tentou com o Game Cube.
A Nintendo voltou a chamar a atenção do mundo dos consoles em 2006,
com o Nintendo Wii, um console com uma nova forma de interação. O
jogador teria movimentos captados com o Wii-Mote, e os movimentos
seriam reproduzidos no jogo. Em jogos de tiro é possível empunhar o
joystick, ou girá-lo em cenas de espadas ou jogos de tênis. Assim,
enquanto os outros fabricantes de jogos investem no realismo e no poder
de processamento e renderização, a Nintendo vinha trazendo novos
conceitos. Devido, além dessas características bem particulares, ao menor
custo, o Nintendo Wii ganhou algum mercado e encarou os concorrentes
da Sony e da Microsoft.
Claro, não foram só os conceitos que mantiveram a Nintendo no topo no
século passado e hoje a mantêm competitiva, foram os jogos. A Nintendo
tem costume de fazer jogos focando a diversão pelo jogo, pelo que ele
traz e não necessariamente pelo realismo, como parece ser a regra das
outras hoje em dia. Personagens consagrados como Super Mário, Link
(de Zelda) e Samus Aran (de Metroid), com reforço da turma do Pokémon
anos depois. Pessoalmente, eu prefiro jogos dos consoles da Nintendo. A
impressão que tenho é exatamente a que falei neste parágrafo: os outros
estão focando muito o realismo e às vezes os jogos se tornam divertidos
além de realistas. A maioria é apenas realista.
No mundo dos portáteis, parece-me que a Nintendo sempre reinou (ou
pelo menos nunca perdeu de goleada, digamos assim). O cinzento
GameBoy se manteve na sua época, mesmo com concorrentes coloridos
como o Game Gear... E em 2004 veio o Nintendo DS que, assim como o
Wii, trazia sua própria inovação: uso de duas telas, uma superior e outra
inferior, sendo a inferior sensível também a toque. Este ano saiu o 3DS,
que acrescenta, além do direcional em cruz, um manche (comum nos
joysticks de uns anos pra cá, para jogos 3D) e a capacidade de enviar
imagens diferenciadas para cada um dos olhos do jogador, criando assim
imagens tridimensionais. Seu principal concorrente é o PSP, da Sony.
Recentemente, anunciaram uma significativa redução de preços no
Nintendo 3DS, visando a não perder mercado.
Nos consoles está previsto, no próximo ano, o Wii U, que trará joysticks
com telas de 6 polegadas, sensíveis a toque e com acelerômetro e
giroscópio. Será o suficiente para se manter no páreo? O tempo dirá.
•
Nintendo - http://en.wikipedia.org/wiki/Nintendo
•
Wii U – http://x.bardo.ws?1o
A Plataforma Nintendo DS
http://x.bardo.ws?n8, 22 de setembro 2011
Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/
Sempre admirei muito a Nintendo, mas fiquei longe dela por anos. Há um
tempo tive contato com o líder no mercado de videogames portáteis da
atualidade e realmente o que a Nintendo fez foi algo muito bom.
O Nintendo DS é a plataforma de videogame portátil que sucedeu a
plataforma Game Boy Advance. Falo de plataformas porque essas duas
plataformas começaram com um modelo só e terminaram recebendo
companhia de outros modelos, mas ainda para o "mesmo mundo".
Para quem esteve viajando nos últimos anos e não conhece o Nintendo
DS, aqui vão alguns conceitos que o tornam especial:
1. Já nasceu com uma infinidade de jogos à disposição, já que roda
também jogos do Game Boy Advance (o mesmo que acontece com
o Nintendo Wii, que roda jogos do Game Cube além dos seus
próprios)
2. Controles estilo Super Nintendo. Com isso quero dizer
exatamente: um direcional em cruz, mais quatro botões
distribuídos em losango - Y, X, B, A -, mais dois botões a serem
usados com os indicadores: os famosos L e R;
3. Duas telas: isso pode parecer confuso e tal, mas é fantástico você
poder andar por um labirinto numa tela vendo o mapa em tempo
real na outra, ou ver outras informações igualmente úteis.
4. A tela inferior é sensível ao toque. Aqui está o toque de mestre da
Nintendo neste console. Hoje pode parecer trivial esse conceito,
mas o Nintendo DS original foi lançado em 2004.
5. Também tem um microfone no aparelho.
6. Aparelhinhos próximos podem se comunicar para que jogadores
joguem em rede, bastando estarem próximos fisicamente.
7. Acesso à rede da Nintendo através de Internet sem fio, permitindo
que se jogue online com amigos (através da troca de um código
gigantesco) ou com desconhecidos.
8. A sua estrutura faz com que ele se feche em si mesmo para ser
guardado, protegendo as telas e os botões de controle. Isso é algo
simples a princípio, mas é fantástico pela proteção que se dá ao
equipamento e por funcionar como um "stand-by" instantâneo.
Basta fechar o aparelhinho que o jogo é pausado, tudo é suspenso e
ele entra em modo de economia da bateria. Reabrindo-o, ele volta
instantaneamente ao ponto do jogo onde tinha parado.
O uso da tela sensível varia de jogo para jogo. Em parte deles é apenas
uma forma alternativa de interação (além dos botões), em outras é a única
forma de interação.
Há um jogo com o Yoshi que começa com o bebê Mário despencando
pendurado em balões de ar. A caneta é usada para criar nuvens que
desviem o Mário dos obstáculos até que ele chegue ao chão em segurança
e o Yoshi possa pegá-lo.
Feel the Magic, da Sega, tem uma mecânica simples, mas usa e abusa da
tela sensível. O personagem principal tem que enfrentar os mais diversos
desafios em várias fases para conquistar uma garota.
Em Zelda: Spirit Tracks, o controle do Link (personagem principal da
franquia Zelda, para quem incrivelmente não conhece) é feito com cliques
na tela. Golpes de espada são feitos deslizando a canetinha na tela no
sentido que o jogador quer que Link desfira golpes. E o mais legal é a
flauta sendo tocada: o usuário sopra no microfone e desliza a flauta para
os lados usando a canetinha. É um conceito muito simples e muito
divertido.
Sem contar o sucesso Nintendogs, jogos de Pokémon, de outras
produtoras tempos Sonic, Castlevania, Final Fantasy... Acho que já deu
pra dar uma ideia de como é o mundo do Nintendo DS, ao menos em
conceito. Agora, os consoles...
Depois do Nintendo DS, a Nintendo lançou o DS Lite, uma versão
otimizada, reduzida, com bateria melhor. Depois veio o DSi,
acrescentando câmera, recursos melhores para conectividade e compra de
jogos na forma online pelo DSiWare. Até aí trata-se basicamente da
mesma plataforma (apesar de DSi permitir algumas gracinhas que o DS
não permite, não se vê jogos por aí feitos para DSi). A coisa mudou este
ano com o 3DS, que cria uma nova plataforma.
Em tamanho, pelo que li a respeito, o 3DS é bem aproximado do DS Lite.
As diferenças principais são os acréscimos para jogos 3D. Além de uma
capacidade de processamento e renderização muito superiores à do DS, o
3DS acrescenta um direcional analógico e é o primeiro dispositivo
vendido capaz de gerar efeito de 3 dimensões sem necessidade de óculos
especiais. Vê só... Como se não bastasse, ainda acrescenta acelerômetro e
giroscópio.
Ainda traz três câmeras (duas frontais, que permitem captura de imagens
em três dimensões) e vem com um pacote de softwares.
Algo que achei curioso é que o Nintendo DS parece fazer homenagem ao
primeiro videogame da Nintendo, o Game & Watch (assim como o
controle do Wii lembra um controle de um videogame pré-histórico que
não recordo no momento). Se foi intencional, é muito bacana esse resgate
em forma de homenagem, ao mesmo tempo em que traz novidades reais
ao mundo dos jogos, que vão além da busca frenética por mais poder de
processamento.
O que sempre gostei da Nintendo foi que ela costuma focar a diversão.
Jogos de Nintendo 8 bits continuam divertidos até hoje, o que é bem
diferente dos jogos atuais dos outros fabricantes. Parece que a regra é
fazer jogos o mais realistas possível e torcer pra que isso os torne
divertidos. Alguns conseguem ser divertidos, mas a maioria não.
Continua admirando essa empresa, mesmo que seja um ícone do mundo
privativo. Fazer o quê? O mercado dos jogos é um mercado caro de se
entrar... Seria muito bom se aparecesse uma arquitetura aberta de console
de última geração, com APIs e toolkits amplamente disponibilizados.
Creio que muitos jogos incríveis apareceriam, grande parte feitos pela
própria comunidade. Enquanto isso não acontece, fico aqui torcendo para
ter oportunidade num futuro próximo de me atualizar no mundo dos
games de forma mais prática e de ter meu Wii e meu 3DS (se eu pudesse
escolher de graça entre Playstation 3, Xbox 360 e Wii, eu ficaria com o
Wii).
•
Nintendo DS – http://x.bardo.ws?sa
•
Yoshi - http://x.bardo.ws?sb
•
Feel the Magic – http://x.bardo.ws?sc
•
Game & Watch – http://x.bardo.ws?sd
Cordel Encantado
http://x.bardo.ws?oi, 25 de setembro 2011
Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/
Cordel Encantado acabou. Foi muito bom o fato de terem dado valor à
Cultura nordestina (mesmo que na forma de homenagem). Também foi
muito bom terem feito mais uma novela que foge daquele cenário atual
urbano Rio-São-Paulo. Agora que acabou, vamos falar um pouco do que
foi essa novela.
Para quem não conhece, o cordel é bastante forte e tradicional no
Nordeste brasileiro. Já existia em Portugal e aqui ganhou força. É bem
verdade que antes mesmo do cordel português, poesias épicas enormes
sempre tiveram lugar nas mais variadas líguas e culturas.
Cordel é uma poesia enorme, mas com características próprias. O nome
vem do hábito de ser vendido em feiras, em livretos (um livreto por
história/poesia), pendurados em barbantes, chamados na época de cordéis.
Hoje o cordel continua vivo.
São temáticas comuns em cordel os casos regionais e as pelejas. Usam-se
elementos folclóricos por vezes, como lobisomem e mula sem cabeça; por
vezes envolve-se personagens memoráveis como Lampião e Seu Lunga.
A peleja é uma disputa, fruto de um duelo entre dois personagens. A
peleja pode ser um registro de uma disputa de repentistas ou pode retratar
um confronto hipotético ou fictício.
Quanto à capa, há os mais diversos tipos de ilustrações: fotos de lugares,
fotos de esculturas (como é o caso dos cordéis do pernambucano Mestre
Galdino) e desenhos em papel (ou em computador, como os meus).
Apesar de todas essas possibilidades, o mais comum e o realmente
tradicional é o uso de xilogravuras. O procedimento é: esculpe-se em
madeira uma espécie de carimbo para a imagem do cordel, daí imprimese a imagem.
Pessoalmente, tenho alguns cordéis meus por aqui. Em especial,
recomendo o Cordel da Pirataria, a Peleja de Pelé contra Roberto Carlos,
o Castelo do Rei Falcão e o Cordel Digital, como exemplo desta
literatura. Fugindo um pouco das regras de cordéis, recomendo os cordéis
Castelo Gótico, Você tem os fontes também e Asas Negras.
Agora falando da novela especificamente, vamos começar pelo seu ponto
mais forte: a abertura.
Primeiro, a música do Gilberto Gil é excelente. Passa um ar épico por si
só e resume o roteiro, em parte. Coisa de gênio que ainda não deixou de
pensar e de inventar coisas novas.
Já a animação é outra pérola. Inspirada na xilogravura, mas com conceito
de camadas, com sombra e com movimentação dos elementos, me
chamou muito atenção e me fez imaginar como seria bacana um jogo
eletrônico inspirado em xilogravuras, nesse jeitão. Alguém se habilita a
fazer um? (ou já conheceu algum assim?)
Quanto à novela em si, ela foi feliz ao trazer o foco para o mundo do
Cordel. A ideia de juntar rei e cangaceiro é por si um elemento rico se
bem explorado. A princesa sumida... O figurino foi bem trabalhado, atores
muito bons. O prefeito de Brogodó, por exemplo.
Era uma novela que tinha tudo para ser fenomenal: um bom conceito, boa
equipe de produção, bons elementos chave... Algumas coisas, porém, não
funcionaram tão bem quanto poderiam.
O conflito dos cangaceiros com o vilão da história, o coronel Timóteo, foi
muito infeliz. A infantilidade de imaginar que homens forjados na batalha
do dia a dia dentro da mata teriam pena de matar o sujeito nas infinitas
oportunidades que apareceram, ou de deixá-lo pegar armas no chão
quando estava rendido e cercado, e atitudes similares, fizeram os
cangaceiros parecerem mais com senhoras beatas do que com cangaceiros
de fato. Pode-se dar um desconto à falta de violência deles devido ao
horário em que a novela passou, mas não à falta de sagacidade.
Apesar de o cordel fazer uso muitas vezes de elementos externos, como
referência, homenagem ou mesmo releitura de clássicos, a novela abusou
do recurso. O Homem da Máscara de Ferro, o Fantasma da Ópera, o
Conde de Montecristo, dentre outros. É bacana esse tipo de homenagem.
Quando você escreve uma história de alto nível, criativa, o uso de
elementos externos enriquece a sua história e é digno de elogios. Quando
você escreve uma história que se desenrola de um jeito meio forçado,
repetitivo e previsível, o abuso das referências pode levar a crer que as
homenagens não são bem homenagens, mas tábuas de salvação na falta de
criatividade.
Não há muito o que falar sobre o último episódio. É a forçada de barra
extrema de sempre. Todos os personagens se acertam, se casam e tudo se
resolve. Até passa o que aconteceu vários anos depois pra ficar provado
que todos se acertaram muito bem acertado. Parece até que o quão bem
termina a novela é usado como prova de competência do autor. Detesto
mesmo isso. Não há nada mais artificial.
Por fim, volto ao que disse no início: parabéns à Globo pela abertura da
novela, pela ideia de fazer uma novela inspirada em cultura popular
nordestina e pela fuga da mesmice. De qualquer forma, no balanço geral
foi muito melhor que a média das novelas que ela faz. Agora que acabou,
posso voltar à minha vida sem novelas.
•
Cordel Encantado - http://cordelencantado.globo.com/
•
Cordéis do Bardo – http://x.bardo.ws?se
•
Cordel da Pirataria – http://x.bardo.ws?bt
•
Peleja de Pelé contra Roberto Carlos – http://x.bardo.ws?0o
•
O Castelo do Rei Falcão – http://x.bardo.ws?ld
•
Cordel Digital – http://x.bardo.ws?1j
•
Castelo Gótico – http://x.bardo.ws?am
•
Você tem os fontes também – http://x.bardo.ws?3x
•
Asas Negras – http://x.bardo.ws?6h
Vida de Programador
http://x.bardo.ws?s8, 1 de setembro de 2011
Vida de Programador
http://x.bardo.ws?r2, 3 de setembro de 2011
Vida de Programador
http://x.bardo.ws?s9, 20 de setembro de 2011
Marfim Cobra – Parte 5/8
Marfim Cobra está disponível na íntegra em http://mc.bardo.ws/ e para
venda em http://www.bookess.com/read/7286-marfim-cobra/
Por Cárlisson Galdino
Sábado, 13 de junho. Maceió está mais deserta à noite, desde o dia em
que um esqueleto começou a caminhar sobre seu chão. Pobres mortais,
que não conhecem a face de seu salvador...
Marfim aparece. Mas não onde queria. Está na mesma rua de onde saiu,
diante do corpo fulminado pela luz laranja.
"É claro! Não deu certo. Se não sei como é o inimigo, como posso chegar
a ele assim? Pelo menos, agora sei que isso funciona. Mas, quem eu devo
procurar?" Pensa Marfim e pára pra refletir por algum tempo. "Claro!
Áquos!" Ele concentra energia, aponta o braço para seus próprios pés e
parte a serpente de energia branca, que o envolve em um casulo. O casulo
desaparece e Marfim ressurge no mar.
É dia, e Marfim se vê imerso nas águas do oceano, diante de Áquos, mas
não do Áquos que conheceu. Está diante de um Áquos ferido, apoiado no
tridente. Áquos fez sinal para que o seguisse e saiu. Marfim o
acompanhou até a praia. Lá poderiam ter uma comunicação melhor.
Áquos parecia estar mal.
- Onde estamos? - pergunta ao enfraquecido Áquos.
- Onde estamos... Não sei. Numa ilha, eu acho.
- E eles? Lunar e Corvo?
- Devem estar recuperando suas energias. Corvo no céu e Lunar em
alguma montanha ou algo assim.
- Pode me dizer o que exatamente aconteceu?
- Claro. Vim em busca de zumbis e encontrei um bom punhado de
esqueletos miseráveis. ...sem querer ofender.
- E como estão?
- Como deveriam: mortos.
- Não sabe como isso me deixa mais tranqüilo. Disseram-me que havia
um novo avatar de Fimiq, pensei que...
- Quem disse isso?
- Um homem misterioso, que disparava raios laranjas...
- Raios laranjas!?! Não pode ser!
- Qual o problema?
- Tem certeza de que eram laranjas?
- Sim, claro.
- Eram poderosos?
- Sim, mas me diga qual é o problema?
- Só conheço um ser que dispara raios laranjas e fortes. Redry, em sua
forma humana.
- O deus da vida?!?
- O próprio.
- Isso significa que...
- ...se já houve tempo para se formar um avatar, pode já existir outro.
Eles param e pensam por algum tempo. Por alguns instantes imaginam
como seria se Fimiq conseguisse vir à Terra. Sabe-se que raríssimos são
os que conseguem sobreviver a um combate contra um avatar. Eles
pensam em silêncio, temendo terem que combater alguém assim. E o
silêncio permanece, até que Marfim nota quão cansado está seu colega.
- Você recupera energia no mar?
- É.
- Pois é bom ir descansar: você está péssimo.
- Tem razão. - ele se vira e volta ao mar, em passos lentos.
Marfim Cobra está só na praia. A praia está deserta, com certeza por
causa desses tantos incidentes envolvendo seres sobrenaturais. Ele resolve
caminhar, e caminha pela praia por uma ou duas horas, até ver um ponto
se aproximando pelo céu. Marfim parou e esperou que chegasse a ele. O
portador do punhal das serpentes cria ser o Corvo, desde o princípio. À
medida em que se aproximava, tinha mais certeza disso. Ele chegou e
pousou diante de Marfim.
- O que houve com suas roupas? - perguntou.
- O tempo, as batalhas... E você, está melhor?
- Estou, o brigado. E você? O que faz aqui? Passeando?
- Talvez Fimiq tenha conseguido vir à Terra como avatar.
- Sério? Que bom, pois estou com uma vontade de arrebentar a cara
dele...
- Não brinca. O caso é sério.
- Como você veio aqui? Não me diga que foi por magia...
- Foi, algum problema?
- Claro! Uma viagem tão longa pode ter deixado seus poderes mágicos no
fim do poço. - fala Corvo, mas Marfim não responde. - Você não pode
enfrentar Fimiq assim. Tem que reabastecer as forças.
- Não, eu me sinto ótimo.
- Não diga... Tente usar o mesmo poder.
- Em quê?
- Sei lá! Qualquer coisa. - Eles olham em volta e vêem alguns pássaros
voando perto. Marfim aponta o braço direito para lá, concentra energia
e... nada. Concentra mais, e nada. Na terceira vez a serpente branca sai,
para sumir após percorrer apenas três metros, dissolvendo-se no ar como
fumaça.
- Não lhe falei?
- É, você está certo. O que faço para carregar?
- Como vou saber? Cada um de nós tem como santuário um tipo de canto
diferente. A resposta deve estar no seu passado. A propósito, também
preciso recarregar mais minhas energias mágicas. Preciso ir, só passei
mesmo pra dizer "oi".
- Tá, obrigado.
- Por nada. - fala o Corvo que, já prestes a decolar, pára e diz - Ah, antes
que eu me esqueça: Oi!
E vai embora para o céu.
"Bem, no meu passado... Onde eu poderia recarregar minhas energias?"
Marfim reflete por alguns segundos, até chegar a uma conclusão: "o
cemitério!" Isso! Todos os problemas estariam resolvidos.
"Mas... onde acho um cemitério?" Agora a preocupação retorna. Mas não
há muito o que pensar, só há um modo de resolver esse problema: sair à
procura de um. Ele sai na esperança de encontrar. Caminha e, só algumas
horas depois de iniciar a busca, finalmente encontra um lugar de repouso
dos corpos de quem já cumpriu seu papel na Terra. Já era noite quando o
encontrou. Mas não estava tudo certo. Havia algo errado e Marfim não
tinha certeza de qual era o problema. Havia apenas uma sensação
estranha, uma sensação de que o perigo estava próximo. Não estava
errado. Quando diante do aterrador prédio, dos dois extremos da rua
vinham esqueletos. "Lá estão mais deles..." Eles se aproximam em passos
sem pressa, alguns mais rápidos, outros mais lentos, mas sem pressa para
chegar.
Marfim Cobra lutou, com seu Punhal das Serpentes, e derrubou os
esqueletos, um a um. Terminada a batalha, seu corpo estava exausto, e de
novo se viu cansado, e precisando de repouso. Ele caminhou em direção
ao cemitério e nele entrou. Uma vez lá, andou até bem próximo de seu
centro. Já era noite e Marfim se sentou e tentou relaxar. Conseguiu fazê-lo
em poucos minutos. Dormiu. Dormiu sem que chegasse a perceber que
alguém o vigiava. Dormiu sem saber que, no instante em que fez isso,
todo o seu corpo desaparecia. Dormiu sem perceber que, no centro do
cemitério, só havia agora seu punhal: o Punhal das Serpentes. Dormiu
sem saber que nele havia agora, no fim do cabo, um pequeno e
aparentemente decorativo crânio branco. Dormiu sem perceber que na
verdade estava sendo chamado.
E lá estava mais uma vez naquele escuro sem fim. Lá estava Marfim
Cobra em uma escuridão iluminada por alguma luz inexistente, com uma
névoa branca que lhe alcançava os joelhos. E de novo lhe apareceu aquele
ser com seis braços e duas pernas, embora, exceto por esse último
detalhe, parecesse totalmente humano. Sim, era mesmo o deus daquela
corajosa pilha de ossos. Era aquele de cujo nome Marfim não ousaria
esquecer.
- Kin-Rá. - deixa escapar o nome de seu deus, enquanto abaixa a cabeça.
- Levante-se. - fala a voz de Kin-Rá, carregada de justiça e luta. Marfim o
faz. O silêncio perdura por longos minutos, enquanto o sobrenatural
justiceiro começa a ficar angustiado pela demora. Mas Kin-Rá finalmente
recomeça. - Você já sabe que perigo enfrentará. Você já conhece, por
palavras e feitos, o inimigo da vida. As batalhas que seguirão não serão
fáceis, pois ele é o que promete vida eterna sobre a Terra, e poder. Erguerse-ão, em pouco tempo, generais mortos-vivos de todas as partes do
mundo, liderando exércitos de esqueletos, zumbis e fantasmas. Ele já está,
mas não totalmente - pára por alguns segundos, e prossegue. - Nessas
batalhas menores vocês não estarão sós, o deus da vida, o da guerra e a
dos ventos com certeza farão parte dessa guerra. Mas nas batalhas
principais, eles não poderão interferir de forma direta. - Mais uma vez
Kin-Rá pára. Desta vez ele se vira, ficando de costas para o esquelético
herói. - Pode ir. Mas não se esqueça de apenas uma coisa: siga sempre seu
senso de justiça. Ele não te trairá, pois é justo.
- Obrigado. - É a única coisa que Marfim consegue dizer, pois antes
mesmo que pensasse em uma forma de sair, já estava despertando. Não
era noite ainda, mas também não era dia. O céu estava vermelho e o Sol
já não podia ser visto. A noite mais uma vez se aproximava, mas Marfim,
que acabara de ressurgir próximo ao punhal - que voltou a ser como era
antes - , continuava cansado. Por isso, resolveu não caçar essa noite, mas
permanecer no cemitério e só lutar se as circunstâncias pedissem.
Ficou alerta e, quando cansava de ficar parado, caminhava por todo o
cemitério, às vezes até checando a rua dos portões. Por azar ou por sorte,
a noite de Marfim se resumiu a isso. Com Áquos, submerso em água, e
Lunar, em uma montanha qualquer, a noite não foi tão diferente. Mas em
alguns pontos da cidade novos esqueletos surgiam e só o Corvo pôde ver.
Como uma unidade de justiça, ele não resistiu e desceu para enfrentar tais
criaturas. A muito custo ele conseguiu derrotar algumas. Entretanto, são
tão poucos vencidos de tantos que invadem o lugar, que alguém acharia
que foi apenas um martírio. Ao fim de tão pequena luta, o Corvo se sente
cansado. Mas não só isso. Há também felicidade em seus olhos e, ao
amanhecer, ele se dirige aos céus esperando se recuperar para as próximas
batalhas que hão de vir.
Cansado da monotonia, Marfim começa a riscar o chão com seu punhal.
Risca signos ilegíveis para pessoas de hoje. Para muitos seriam
simplesmente símbolos. Para alguém com mais imaginação (se seu lado
psíquico sobreviver à visão de um esqueleto que tem chamas no lugar dos
olhos, riscando o chão, com certeza seria enormemente ampliada sua
capacidade imaginativa), significariam a execução de um ritual mágico
qualquer. Os dois estariam errados. São alguns dos signos da escrita de
seu tempo e lugar. Ele não escrevia muito, já que quanto mais voltamos
no tempo, mais voltada aos que podem é a escrita. Ele havia aprendido
pouco, e agora, cansado de caminhar por todo o cemitério sem resultados,
e sem poder sair por não estar recuperado totalmente, escreve só para se
lembrar do passado. Embora não tenha propriedades mágicas, os
símbolos no chão começam a abrir um portal para o passado. Para o
passado das recordações.
Uma equipe inspirada em super-heróis dos quadrinhos ou séries japonesas
invade o cemitério. Os seis membros, vestidos em trajes coloridos,
correm contornando a capela, quando chegam os primeiros raios do Sol.
Três por cada lado, correndo. Eles se encontram nos fundos e lá só há
símbolos antigos, de uma língua morta, desenhados na areia, com um
punhal largado em seu centro. Um punhal com um cabo feito de duas
serpentes, talvez de metal. As cabeças separam o cabo do gume, como
proteção. Suas caldas prendem um crânio em miniatura, imitando um
crânio humano. Nem sinal de Marfim Cobra. O marrom do grupo se
aproxima e toma o punhal em suas mãos. Ele sinaliza, chamando os
outros com a cabeça, enquanto se dirige às pressas ao portão. Os outros
cinco o seguem.
Para que possamos tomar fôlego, vamos parar um pouco a cena para que
o leitor obtenha mais detalhes sobre essa equipe que entrou de forma tão
rápida e inesperada na história.
Faz uma semana que o mundo conheceu a Força Corvo. São seis pessoas,
cada uma com o poder de uma das seis pedras mágicas, cristalinas e cada
qual com uma cor própria. Uma preta, uma rosa, uma marrom, uma
vermelha, uma amarela e uma laranja. Tais pedras estavam em um museu.
Em um acidente, uma delas flutuou no ar e começou a girar em torno da
cabeça de um visitante. Como se estivesse se desfazendo em pó, começou
a descer, mantendo os mesmos movimentos circulares de antes, mas
deixando na "vítima" uma estranha roupa colante. Ao chegar aos pés,
quando restava apenas um pedaço do tamanho de um giz, subiu e
desenhou uma espada no ar, terminando por se desfazer por completo. O
visitante ganhava uma roupa cor-de-laranja e uma espada. Ele ficou tão
assustado que desmaiou em alguns minutos. Tudo que havia formado
desapareceu e ressurgiu a pedra laranja ao lado da cabeça do visitante.
Assim se descobriu como ativar e desativar a magia das pedras do Corvo.
Cada pedra trazia o desenho de um capacete, lembrando um corvo, e era
perfeitamente lapidada. O capacete surgia idêntico ao desenho, quando o
traje era invocado.
As pedras foram recolhidas por uma entidade governamental, e também
se procurou aumentar enormemente a segurança dos museus no mundo
todo. Seis membros das forças especiais da nação foram convocados para
utilizar o equipamento. Nem bem tiveram tempo para treinar o uso dos
artefatos, já tiveram que sair à caça de esqueletos, numa trilha que
terminou por colocá-los diante do punhal de Marfim e os signos que ele
havia deixado na areia - fato descrito na cena anterior. Voltemos à ação.
O sexteto abandona o cemitério correndo. Não é medo. Eles sabem que
ainda têm muito o que fazer. Não precisam virar esquinas para encontrar
mais um monte de esqueletos. O corvo marrom, que seguia na frente, saca
o punhal - o seu, não o de Marfim - e começa a enfrentar os detestáveis
rivais. O Punhal das Serpentes ele arremessa para o alto.
- Rose, é com você! - grita, enquanto se abaixa. O corvo rosa pisa em suas
costas e salta cerca de seis esqueletos, pegando no caminho o punhal de
Marfim Cobra. Mal chega ao chão, saca sua arma. Um bastonete que cria
um globo de fogo ligeiramente rosado. Sabe aqueles aparelhos de defesa
pessoal, que dão choque elétrico? Ele funciona aproximadamente da
mesma forma, só que, como já disse, cria um globo de fogo. Globo esse
que pode atingir um metro de raio. Ela rapidamente ativa tal arma e corre,
com a arma em sua frente, abrindo caminho entre os esqueletos, que caem
em chamas mágicas vindas de tão fantástico artefato. Ela corre dessa
forma até avistar a moto, ao lado do carro. Corre e monta. Não há quase
nenhum esqueleto por aqui, mas Rose não perde tempo, e acelera em
direção ao seu QG.
- Toma isso, seu magrela! - grita o corvo vermelho, ao mesmo tempo em
que desce o machado, quebrando o crânio do esqueleto-alvo. Junto com
os corvos laranja e negro, lidera a força de ataque, abrindo caminho entre
os mortos-vivos, enquanto mais deles se aproximam. Os corvos restantes
cuidam da retaguarda.
- Quantas vezes tenho que dizer? Não somos heróis de seriado infantil. fala o corvo amarelo, lutando cautelosamente com seu bastão.
- Qualé, cara? Vai amarelar agora? - responde prontamente o vermelho,
aplicando outro golpe em outro esqueleto.
- Peter... - fala o laranja, em tom interrogativo.
- Só queria saber de onde vem tanto esqueleto... - responde o corvo
marrom.
- Aahhh!
Em outro lugar da cidade, uma esquina. Em uma das ruas, nada. Na outra,
milhares de esqueletos. No meio um rastro de pneus queimados. No fim
do rastro, o corvo rosa em sua moto, quase caída.
- Só faltava essa! - grita nervosa, diante de uma multidão de esqueletos.
Ativando sua arma, tenta enfrentar alguns. Até que a chama se apaga. Que é que eu faço agora...
- Precisa de ajuda, corvinha? - a voz, que é totalmente estranha, vem do
céu. Ela olha para cima e vê o Corvo, a unidade de justiça de Kin-Rá.
- Quem é você?
- Eu sou o Corvo. Agora, - ele desce e a segura pelos braços - vamos
deixar de conversa que eles estão muito perto.
Ao sentir que já está no ar, e ver os esqueletos alcançando sua moto, ela
suspira fundo e deixa ser levada pelo estranho. Ele voa com ela até um
edifício próximo.
- Em outra ocasião, eu teria o maior prazer em derrubar esses malditos um
a um, mas... Ai, minhas costas! Bem, o que fazia uma avezinha sem asas
no meio daquela festa?
Ela ergue a cabeça e encara, pela primeira vez, o Corvo. Ela vê através de
dois buracos no elmo, o lugar onde deveriam estar seus olhos.
- Quem... O quê é você? - pergunta, recuando assustada. - Não tem
ninguém aí dentro!?!
- Ih! Sabia que tinha esquecido alguma coisa...
- Você está com eles, não é? - pergunta, aos berros, apontando para baixo.
- Eu? Nem em sonho! Eu tô aqui justamente para matá-los.
Ela fica calada. O Corvo dá um passo e ela saca a arma.
- Não se aproxime. - E a ativa, quase atingindo a unidade de justiça de
Kin-Rá.
- Hei! Calma aí! - Ela insiste em se manter como estava. O Corvo saca a
espada. - Foi você quem pediu. Quer fogo, não é? Eu também tenho. Aoh
Eker Joh!
Imediatamente sua espada entra em chamas. Os dois ficam frente a frente
por um bom tempo, até que a arma dela apaga. Rose vê o Corvo parado,
com a espada em chamas na mão. Eles se encaram novamente, por mais
algum tempo. Então o Corvo sacode a espada no ar, como se isso, por si
só, fizesse com que as chamas fossem extintas. Mas elas apagam.
- Calma. Se eu fosse seu inimigo teria te matado. - fala o Corvo, então, de
forma calma e sugestiva. Ela fica parada por algum tempo, até que
finalmente responde.
- Certo. Seus argumentos são convincentes, mas não me convenceram.
Quem é você, e o que faz aqui?
- Sou uma unidade de justiça de Kin-Rá...
- Quem?
- Kin-Rá. Nunca ouviu falar do deus da justiça, do deus-aranha?
- Não.
- É, esqueci. Kin-Rá é sempre o primeiro deus a chegar e a sair. Vai ver
por isso foi esquecido, mas, continuando...
- O que você é afinal? Um morto-vivo?
- De certa forma. Somos paladinos de Kin-Rá...
- Somos?
- Somos quatro agora. Voltando ao assunto, nós estamos aqui pra acabar
com Fimiq, o responsável por esses esqueletos.
- Você sabe quem é o responsável!?!
- Sim. ...e não. É o avatar do deus da destruição. Ele quer destruir toda a
vida da Terra, mas não o conhecemos ainda.
- Avatar... É um protegido desse deus?
- Não. É o próprio Fimiq na forma humana.
- Se está na forma humana, o único problema é encontrá-lo, certo?
- Claro que não! Você é maluca? Um deus na forma de avatar tem poderes
tão grandes que você jamais sonharia existir. Eu diria mais: localizá-lo é
um excelente e inofensivo passa-tempo, comparado à luta que nos espera.
- Mas você tem um deus do seu lado.
- Um deus, simplesmente, não tem grandes poderes, de forma direta. Eles
não têm acesso direto a esse mundo de forma fácil. O deus da morte seria
uma formiga diante de um avatar da deusa dos ventos. Por isso os deuses
se usam de sacerdotes. Eles são o elo entre eles e a Terra, enquanto eles
estão na forma de deuses.
- Certo. Isso é problema... - ela pára um pouco, até que se lembra da
adaga. - Espere! Tenho que levar isso aqui pra base, com urgência. Você
poderia me ajudar?
- De forma alguma! Esse é o Punhal das Serpentes e pertence a Marfim
Cobra. O que foi feito dele!?!
- Não sei! Esse punhal estava largado no cemitério, quando chegamos...
- Pouco provável. Marfim Cobra jamais abandonaria sua arma. Entregueme o punhal.
- Não senhor, sem essa. E se esse punhal for poderoso, você estiver
mentindo, e estiver do lado dos esqueletos? Quem sabe até seja o
verdadeiro responsável por eles. Agora não dou mesmo! E essa caveira
fortalece ainda mais minhas suspeitas.
- Caveira?
- Ela ergue o punhal rapidamente, e o Corvo vê a pequena caveira presa
ao punhal como se houvesse sido feito assim.
- Caveira... - repete o Corvo, dando as costas e caminhando em passos
lentos, pensativo.
- Que foi agora? Outro truque?
- Não. Só acho que meu amigo ainda vive. Bem, aonde você precisava ir
mesmo?
- À minha base, mas... Será que posso confiar em você?
- E você tem escolha? Quem mandou não ter asas? Um corvo sem asas...
A propósito, qual é o seu nome?
- Pode me chamar de Rose. Vamos logo que tenho muito o que fazer hoje.
O Corvo pega Rose e a leva para os céus, através dos quais, a partir de
informações da passageira, chega à base dos corvos.
- Senhor. Há algo estranho se aproximando, pelo céu.
- Deixa ver... Hmmm... Deixe se aproximar, traz Rose. Reúna os cinco
outros corvos.
- É ali. - diz Rose, apontando para a base. O Corvo a leva até lá.
- Já chegaram? - pergunta, ao chegar.
- Parece que não adiantou muito ter vindo na frente. Mas isso não importa
agora. Quem é ele?
- Deixe-me contar toda a história. Eu vinha de moto até aqui, mas no
caminho, justo numa esquina, apareceram milhares de esqueletos. Eu lutei
o quanto pude, até minha arma falhar. Foi quando ele apareceu e me
salvou. Levou-me para o topo de um edifício... - E contou toda a história
que o leitor acabou de acompanhar.
- Obrigado pela ajuda, mas, se quiser ficar por aqui, terá que entregar a
espada. - diz o homem vestido de terno azul.
- Ficar eu quero, mas não é justo que eu fique aqui desarmado. Todos
vocês estão armados, menos eu. A espada não entrego.
- Você está em nosso território.
- Aí! Mais uma prova de que estou sendo injustiçado. Essa área é toda de
vocês. E quem garante que vocês não trabalham pra Fimiq?
- Tudo bem, não temos tempo a perder. - ele se vira para o corvo amarelo.
- Hoje você cuida da imprensa.
- Imprensa? - pergunta o Corvo.
- Vê se não amarela de novo. - ironiza o corvo vermelho.
- John e Rose. Vocês acompanham a visita aonde ela for, enquanto estiver
aqui dentro. Os outros podem descansar. - o autoritário homem de terno
estende a mão para Rose e pega o Punhal das Serpentes.
- Cuidado com isso. - recomenda o Corvo.
- Eu sei cuidar dos meus assuntos. - responde, antes de sair.
Quatro corvos e os homens de terno vão embora. De modo que, no topo
do prédio dos corvos, restam apenas o Corvo; Rose, o corvo rosa, e John,
o corvo laranja.
- Não quer entrar? - convida Rose.
- Não, prefiro ficar aqui, ao vento. - responde o Corvo, e passa a fitar o
horizonte. - Vocês falam com a Imprensa?
- É, por quê? Algum problema?
- Disseram coisas péssimas dela.
- Nós...
- É um mal necessário. - John interrompe.
Eles conversam até o fim da tarde, lá em cima. Claro que os corvos
humanos, durante esse tempo, alimentam-se, entre outras coisas. Mas há
algo mais importante.
- Já é quase noite! - grita o Corvo, interrompendo uma construtiva
conversa sobre magia.
- E daí? - pergunta Rose.
- Daí que o Marfim deve despertar e eu tenho que estar por perto ou ele
vai causar o maior estrago!
- Quem é Marfim?
- Marfim Cobra, outra unidade de justiça... Onde está o punhal?
- Com os cientistas, mas você não pode entrar lá.
- Vocês vão precisar desses cientistas depois?
Os dois membros da Força Corvo se olham, pasmos diante do desespero
do visitante.
- Onde está? Não temos tempo a perder!
- Bem, - começa John. - nós podemos fazer um acordo... Você deixa a
espada conosco, por enquanto, e pode ir ver o punhal. Que acha?
- Isso não é acordo, isso é chantagem.
- São quase seis...
- Está certo. Você venceu. Onde está o punhal? Rápido! - o Corvo entrega
a espada.
- Siga-me. - depois John entrega a espada a um funcionário e desce todos
os andares de escada, seguido pelo Corvo e por Rose, nesta ordem.
John caminha pelo corredor (os dois o acompanham). Caminha até achar
uma porta. Segura a maçaneta e espera que os outros cheguem.
- Ele está aqui.
Abre a porta. Um brilho verde majestoso, tão definido e belo quanto o de
um raio, preenche todo lugar. Eles caminham apressados por entre as
prateleiras da enorme sala, e chegam em tempo de ver uma magnífica
cena. O punhal, flutuando a mais de um metro do chão, dispara alguns
relâmpagos verdes para as lâmpadas, o chão e as paredes, ao mesmo
tempo em que brilha uma luz não-natural, nem artificial. Simplesmente
uma luz mágica, também verde. Do nada aparece, segurando o punhal,
Marfim Cobra, com seus olhos em chamas vermelhas no meio da luz
verde, com ar imponente.
Quando o Corvo olha em volta, os dois corvos estão se deslocando
lentamente. Um pela esquerda, outro pela direita, para cercarem Marfim.
Quando estão quase lá, Marfim Cobra percebe suas presenças e, num
movimento rápido, segura o punhal com o gume para baixo, mas antes
que possa gritar as palavras mágicas...
- Parem todos! - o Corvo interrompe. Os dois parecem não se
incomodarem tanto com o grito. Simplesmente param, mas continuam de
armas em mão e a postos. - Parem! Ele é meu amigo! A outra unidade de
justiça de que falei!
- Que bom te ver! Amigos seus? - pergunta Marfim, fingindo não dar
mais atenção aos quase agressores. Ele sai andando em direção ao Corvo
e o cumprimenta.
- Quê? - pergunta finalmente Rose, com expressão de quem não entende
mais nada.
- Não há o que entender. Ele está com os mortos! - Do meio das estantes
vem o corvo vermelho, correndo com o machado na mão, seguido pelos
corvos restantes. Os dois paladinos de Kin-Rá saltam habilmente para
trás.
Os corvos vermelho e negro continuam em disparada, quando se ouve um
estrondo do outro lado da sala. A parede caiu. - um pedaço dela, pelo
menos.
- Encontramos. Agora, vamos à luta. Não temeis: a cavalaria chegou! - é
Áquos, com Lunar, que acaba de abrir caminho no meio da parede.
Aproveitando-se da surpresa dos presentes, eles partem e tomam de
Marfim e Corvo seus dois adversários. O Corvo aproveita e voa para
perto de Rose (entenda por perto uma distância segura). Antes que
Marfim pudesse pensar no que fazer, alcança-o o corvo marrom, e os dois
passam a lutar com seus punhais.
- Você mentiu - grita Rose, com raiva, segurando fortemente a arma.
- Não! Eles são unidades de justiça, como eu.
O corvo amarelo, antes de entrar na luta, olha toda a cena e vê dois do seu
time conversando com o estranho. Corre pra perto para saber melhor o
que acontece.
- Eles invadiram nossa base!
- Não! Marfim entrou aqui através do punhal. Já os outros, ao chegarem,
nos viram em perigo e resolveram ajudar!
- Parem! - John resolve finalmente gritar para todos, mas eles não param.
- Parem! - fortalece o Corvo. Um líder não faz parar um exército que já
está em combate, mas representantes dos dois lados, juntos, podem fazer
os dois exércitos pararem.
O resultado é que eles cessam a agressividade.
- Suponho que houve um mau-entendido. - grita John. - Peço que todos os
invasores se identifiquem.
- Invasores!?! - grita Marfim.
- Esqueça isso. - intervém o Corvo. - Vamos, identifiquem-se logo para
que isso termine o quanto antes.
- Sou Marfim Cobra, unidade de justiça de Kin-Rá, e não faço a menor
idéia do que possa estar fazendo aqui.
- Sou Áquos, unidade de justiça de Kin-Rá. Eu e Lunar estamos aqui
porque nosso deus assim nos ordenou.
- Lunar.
- Ele é outra unidade de justiça. - completa o Corvo. - Não estranhem o
seu mutismo: ele não é de falar muito. ...agora, chegou a vez de se
apresentarem a nós. Julgo termos esse direito.
- Certamente. Nós somos a Força Corvo, uma equipe a mando do
governo, com o objetivo de salvar o mundo.
- Rose... não diria melhor. - elogia o corvo amarelo.
- Eu sou Rose, o corvo rosa; estes são John, o corvo laranja, e Tommy, o
amarelo. Esses três são Stevie, o corvo negro; Peter, o marrom e Gilbert,
o vermelho.
Por alguns instantes mais os grupos permanecem calados. Eles se fitam,
como se inseguros quanto às palavras dos outros. Até que Áquos resolve
se aproximar do Corvo.
- Os sinais de Kin-Rá nos trouxeram aqui. Creio que não sem um motivo
forte.
- Tem razão. Temos que partir e lutar contra os esqueletos o quanto antes.
- Temos? Você não pode ir: parece muito fraco.
- E daí? Não vai ser por falta da minha participação que Fimiq vai vencer.
Eu vou lutar.
- Tudo bem.
Neste instante Lunar se volta para o buraco na parede - que ele mesmo
havia feito - , grunhe e corre em direção a ele. Sai da base enquanto todos
se olham com estranheza. Por olhares decidem o óbvio: resolvem sair
atrás dele. Marfim Cobra, estando mais próximo da passagem, é o
primeiro a alcançar a rua, em busca de Lunar, que rapidamente vira uma
esquina. Ouve-se então várias pancadas, rápidas e sucessivas, como uma
bala de canhão atravessando várias paredes finas de gesso: Lunar
encontrou seu objetivo.
Os últimos integrantes do grupo formado pela aliança entre as unidades
de justiça e a Força Corvo chegam.
- Seu amigo tem um ótimo faro! - comenta Gilbert, o corvo vermelho. Vamos lá, galera! Tão esperando o quê? Madeira!
- Corvo, poupe-se tanto quanto puder. - recomenda Áquos, pouco antes de
todos correrem ao encontro dos esqueletos, com os quais o Lunar já
começara uma batalha violenta.
Seguindo a recomendação do colega e amigo, o Corvo fica um tanto pra
trás. Felizmente não tanto que o prive do prazer de derrubar alguns dos
inimigos. Tommy, o corvo amarelo, encontra-se com ele. Não por pedido
dos amigos, mas por ter um certo temor quanto à guerra. Embora já
mortos, os esqueletos não são fáceis de serem derrotados, pois lutam
como homens primitivos e sem emoções - jogando violentamente os
membros contra os oponentes, ou tentando lhes prender para machucar
enquanto os outros acertam os golpes com maior facilidade - , com a
vantagem de, como esqueletos, serem mais duros e machucarem mais.
No entanto, esqueletos estão longe da perfeição. A eles não voltam os
espíritos de quando vivos. São simples ferramentas de quem os conjura, e
da vida só trazem a chance de morrer. Embora não sintam dor, a força que
os mantém de pé - a que alguns associam a pequenos demônios - se esvai
após alguns golpes, talvez a quantidade de que necessitavam para morrer,
quando o fizeram. As unidades de justiça já estavam acostumadas a isso.
Até Marfim Cobra, antes de morrer, já enfrentou alguns. Quanto aos
humanos, parecia que aprendiam rápido.
Dessa forma a luta prosseguia: muitos golpes violentos e certeiros do lado
de Marfim, enquanto poucos dos desferidos pelas criações de Fimiq
atingiam alguém. Os esqueletos no começo somavam mais de cinqüenta,
mas quem pararia no meio de uma guerra pra contar os inimigos? O fato é
que, pouco a pouco, fosse qual fosse o número inicial, ele baixava, mais e
mais, até que só havia um duelo. Dois esqueletos. E num golpe voraz o
Punhal das Serpentes executou o último inimigo.
- Você ficou aí atrás o tempo todo? - ironiza Gilbert, dirigindo-se ao
Tommy.
- Não enche.
- Foi rápido, não? E agora, o que a gente faz? - Rose perguntava,
convencida de que haviam feito um excelente trabalho. Mas antes que o
Corvo começasse a expor sua opinião de que não estava tudo acabado, os
olhares do grupo viam, dos lados opostos, Stevie e Lunar fitando
extensões opostas da rua, faiscando de ódio. Simples: dois grupos de
esqueletos se aproximavam. Dessa vez cada lado deve ter muito mais que
o exército que foi derrotado.
- Esperem. - fala Áquos, com a mão no ombro de Lunar, que estava
prestes a correr para lutar. - Vamos esperar que venham até nós.
- Com todos nós juntos, eles não poderão nos cercar individualmente. completa Peter. - Não quero que ninguém se distancie.
- Além do mais, eles não pararão antes de chegar até nós.
Desta forma, o heróico grupo se põe em forma de um círculo, voltado
para fora. Os esqueletos se aproximavam, e não se via o fim de nenhum
dos dois exércitos. Uma certa inquietude tomava conta dos guerreiros,
quando repentinamente todas as armas saem de suas mãos, com uma
força de tal forma inesperada que ninguém pôde oferecer resistência. Até
a do Corvo, que ainda estava na base.
- Que...
- Minha arma!
Todas as armas se reúnem no centro do círculo que eles haviam formado.
Do céu vem um brilho de aço inexplicável, e uma espada enorme surge e
aponta para as armas. Marfim se recorda então o que Kin-Rá dissera: "o
deus da vida, o da guerra e a do vento".
- Calma! É para o bem! - grita Marfim, antes que alguns pusessem em
ação seus planos de correr e retomar as armas. - É o deus da guerra. KinRá garantiu que ele está do nosso lado.
Mal Marfim Cobra acabava de pronunciar estas palavras, quando um raio
parte da espada ao chão, atingindo todas as armas, com o mesmo brilho
metálico, numa ofuscante explosão prateada. Quando todos começam a
enxergar, vêem que já estão com as armas nas mãos, e que os esqueletos
já estão a alguns passos. As armas estão mais poderosas, e todos
percebem.
John é o primeiro a lutar, salta com sua espada e, com dois giros, cinco
esqueletos vão ao chão, enquanto um rastro prateado que a espada deixou
se desfaz no ar.
- À luta!
Todos saltam com igual fúria, e começam a destruir os esqueletos aos
milhares, mas milhares de novos esqueletos surgem no alcance de suas
visões.
Quanto ao fortalecimento das armas, as modificações mais interessantes
foram na arma de Rose, que era capaz de criar globos de fogo e agora
disparava os globos criados, de fogo prateado; a do Corvo que ganhou um
maravilhoso fogo prateado ao grito "Aoh Eker Joh" e a de Marfim, que
agora deixa um rastro mesclado, meio verde, meio metálico.
A essa altura, o círculo já se expandira a um raio de pelo menos três vezes
o original. Se antes eram pouco atingidos, agora eram praticamente
intocáveis. Voltemos nossos olhos ao corvo amarelo, de cujo bastão
ganhara agora a fúria e consistência de um martelo. Com golpes precisos
e cautelosos, Tommy começava a fortalecer sua auto-confiança. Alguns
crânios quebrados lhe mostravam que não era ele menos capaz que os
outros.
Quando quebrava mais um crânio, viu, de relance, o Corvo começando a
se deslocar de forma mais lenta.
- Ele está fraco! - gritou, no mesmo instante, John, do outro lado da
batalha.
Desde o início Tommy era o mais próximo do Corvo. Os esqueletos
começam a cercar o paladino voador. Alguns golpes, o Corvo cai de
joelhos.
"Chega!" O corvo amarelo se prepara, enquanto, com um só golpe,
derruba quatro esqueletos que dele se aproximavam. Isso lhe dá espaço
para a manobra pretendida. Ele corre em direção ao espancamento e, uma
vez que se vê próximo o suficiente, rola no chão por entre os esqueletos,
parando a quatro passos do Corvo, que estava cercado e já deitado no
chão. Com alguns golpes, alguns como um batedor profissional de
baseball, outros como se empunhando uma lança, ele se livra dos
agressores e dos que estavam mais próximos. O Corvo está caído no chão,
ainda se move, mas de forma muito lenta. Só então ele vê: estão longe
demais do círculo inicial. Empolgavam-se tanto com a luta que nem
perceberam. Além do mais, um utilizava o outro como referência para não
se afastar. Os esqueletos já se aproximam, por todos os lados. Ele resolve
tomar uma atitude estranha. Ergue o Corvo, passa o bastão entre seus
braços, pelas costas e apoia o ferido nas próprias costas. Reunindo toda
sua força, ele impulsiona o bastão para cima. Como um canhão, no
momento exato em que o Corvo é arremessado, tanto o bastão quanto o
uniforme de corvo se desfazem no ar, juntando-se em uma pedra preciosa
que cai no chão. Não há mais corvo amarelo, há Tommy apenas.
Enquanto o Corvo cai nos braços de Áquos, que se dirigiu ao lugar da
queda, dentro do círculo, Tommy se abaixa e pega a espada do Corvo. Ela
é pesada agora que está sem armadura, mas ele não pretende se entregar.
Ergue a espada e consegue desferir uns dois golpes antes de ser atingido
pelas costas por um golpe violento. O golpe o leva ao chão e o faz largar
a espada. O herói desaparece no mar de ossos.
- Não! - Gilbert grita ao ver seu amigo sumir nesse oceano brancoamarelado, que parece não ter fim. - Tommy!!!
Já é quase dia. O último esqueleto cai por um machado, mas não com
fúria e coração como lutava há algumas horas. Agora, com frieza e ódio.
Concluída a batalha, ele corre para junto dos ossos onde deveria estar
Tommy. A rua está repleta de ossos, mas ele gravou bem o lugar. Lá
chegando, pôde ver um homem estendido no chão, numa poça de sangue,
já semi-coagulado. Estava irreconhecível: uma assombrosa figura
estraçalhada. Ele se abaixa e toma em suas mãos a pedra do corvo
amarelo e a espada do Corvo. Os outros corvos se aproximam. Do outro
lado da rua, as três unidades de justiça se reúnem ao redor do Corvo. Só
agora suas forças começaram a voltar.
- Você está melhor? - pergunta Marfim.
- Sim. Não muito, mas... Onde está o corvo amarelo? Lembro que ele me
salvou...
Os outros abrem espaço e ele pode ver, do outro lado, os corvos reunidos.
Com passos difíceis pelo cansaço, ele chega lá, seguido pelas outras
unidades.
- O que houve?
- Ele usou todo o poder da pedra para conseguir salvar sua vida. Não teve
tempo para se transformar de novo e se foi. - responde John.
Antes que o Corvo pudesse assimilar totalmente a notícia, o corvo
vermelho se levanta, entrega-lhe a espada e segue em direção à base.
Cinco metros atrás, segue-o o corvo negro. Os outros dois ficam mais um
pouco até que resolvem ir também.
- Rose, é esse seu nome? - pergunta Marfim, que ajuda o Corvo a andar.
- É.
- Pedir-lhe-ei uma coisa: você poderia, assim que houver tempo, levar o
Corvo para o topo do prédio de vocês para que se recupere?
- Claro, mas...
- Desculpe, não tenho muito tempo. - Ele lhe entrega o Corvo e segue até
Áquos. - Até a noite.
Os primeiros raios do Sol chegam e Marfim Cobra desaparece, alterando
seu punhal da forma que já foi dita. Áquos se abaixa, pega o punhal e
entende o pedido do colega. Guarda-o.
- Você está melhor? - pergunta Rose ao Corvo.
- Estou sim.
Eles seguem. São os últimos a entrar na sala e ver sobre a mesa três
pedras: uma amarela, uma vermelha e outra negra. Da janela, Peter via o
carro partir.
- Somos três por enquanto. Se alguém mais resolveu desistir, aproveite a
ocasião. - pede, virando-se para os presentes.
- Não, ainda estou aqui. - responde Rose.
- Estou contigo. - e John.
- Tudo bem, dispensados.
- Desculpe, mas - Áquos se dirige a Peter - entendo porque o vermelho
desistiu, mas, e o outro?
- Os dois disseram que não podiam mais se enganar. Que não eram heróis
e o único herói que havia aqui acabara de partir.
Do topo do prédio, Rose e o Corvo vêem o céu. Olham as nuvens,
lembram-se da batalha. Praticamente venceram todos os esqueletos que
havia na cidade. Eles olham o céu. O Corvo já está bem melhor. Os dois
sabem que não acabou. Isso é óbvio até, há um avatar que precisa ser
vencido. Mas será que conseguirão encontrar força suficiente para vencêlo? Depois de ontem... Tudo bem, não importa, eles pretendem lutar
mesmo assim. A única coisa que não querem é ter que enfrentar
esqueletos de novo.

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