FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O PASTORADO
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FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O PASTORADO
FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O PASTORADO E A VIDA PASTORAL NILSON PEREIRA DE MOURA Brasília – DF NILSON PEREIRA DE MOURA O PASTORADO E A VIDA PASTORAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade Teológica Batista de Brasília, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Teologia. Orientador: Prof. Dr. Allan Pereira de Amorim Brasília – DF NILSON PEREIRA DE MOURA O PASTORADO E A VIDA PASTORAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade Teológica Batista de Brasília, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Teologia. Orientador: Prof. Dr. Allan Pereira de Amorim. Brasília – DF, dezembro de 2015 Aprovado pelos membros da banca examinadora em 12/02/2016, com menção 9.5 (nove ponto cinco). Banca Examinadora: ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Allan Pereira de Amorim (Presidente) ______________________________________________________________________ Prof. Esp. Rogério Moreira Junior (Examinador) 5 O PASTORADO E A VIDA PASTORAL NILSON PEREIRA DE MOURA1 RESUMO: Este trabalho de Conclusão do Curso em Bacharel em Teologia desenvolverá o tema o Pastorado e a Vida Pastoral aprovada por Deus. Contemplará os pressupostos para o chamado pastoral, não apenas para ser um “profissional religioso”, mas um pastor segundo o coração de Deus. Para isso, será necessário preparo acadêmico e espiritual, o caráter ilibado e abnegado, uma vida devocional de leitura e meditação na Palavra de Deus. São qualificações mínimas para quem deseja a excelente função do pastoreio do rebanho de Deus. Rebanho que Ele adquiriu com derramamento de sangue do Senhor Jesus Cristo. PALAVRAS-CHAVE: Pastor Aprovado. Oração. Devocional. Preparo. Família. INTRODUÇÃO O pastorado e a vida pastoral precisam ser tratados com muito cuidado, por serem assuntos de suma importância para a vida em nossos dias tão conturbados pela ideia da pósmodernidade que tem colocado o pastor como algo “desnecessário” para vida espiritual das pessoas nessa nova sociedade. Essa visão pós-moderna tem substituído os pastores por outros modelos e métodos de mentoria espiritual. As pessoas tem buscado uma “espiritualidade” sem o compromisso. Espiritualidade individualizada, utilitarista, sem se importar com seu próximo, ou seja, procuram uma vida espiritual apenas do ponto de vista do indivíduo e da relação com Deus em função das benesses recebidas. Além disso, há pastores que vivem os mesmo problemas de parte dessa sociedade, pois também têm construído suas próprias “ilhas” para se protegerem do mundo e dos colegas de pastorado por julgarem o outro uma ameaça. Essa visão se torna míope por desconsiderar o papel relevante do pastor como um mentor espiritual. 1 Aluno da Faculdade Teológica Batista de Brasília. Pastor Batista, membro da PIBSobradinho-DF. 6 Os fundamentos para o tema serão conhecidos ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Dentre estes destacam-se as ideias contidas na introdução de justificativa da publicação do livro O Pastor Aprovado, de Richard Baxter, em que James M. Houston afirma: “Para o cristão, a Bíblia é o texto básico para leitura espiritual. Todas as outras leituras devocionais são secundárias e jamais deverão substituir as Escrituras” (BAXTER, 1989, p.8). O assunto a ser abordado tem como inspiração principal a Sagrada Escritura, a motivação complementar do livro de Baxter (1989), o Pastorado Aprovado e da perícope da carta de 2 Tm 2.15-16, em que o apóstolo Paulo, exorta o pastor Timóteo com beleza, ternura e firmeza: Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade. Evite as conversas inúteis e profanas, pois os que se dão a isso prosseguem cada vez mais para a impiedade. (2 TIMÓTEO, NVI, p. 953). Os princípios delineados acima pelo apóstolo Paulo para o bom exercício da função pastoral bem como da própria vida ministerial pode ser enumerados em: Primeiro, apresentarse a Deus aprovado; segundo, não ter nada do que se envergonhar; terceiro, manejar, utilizar corretamente a palavra da verdade; e quarto, evitar conversas inúteis e profanas. A pergunta a ser feita é: quais seriam as qualidades para essa aprovação? O próprio Paulo em (1 Tm 3.1-7 || Tito 1.6-9) elabora o perfil para o exercício da função pastoral em sua época, perfil esse que se aplica atualmente. Desta forma, este trabalho buscará fundamentar a orientação de que o pastor deve ser irrepreensível, “boa reputação”; marido de uma só mulher, ou seja, não bígamo; moderado; sensato; respeitável “caráter reto e integro”, [...] “hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho e nem violento, mas amável; pacífico e não apegado ao dinheiro”, ou seja, não ser ganancioso; administrar bem sua família com dignidade para poder ser espelho para sua igreja; não ser recém-convertido e ser de boa reputação com os de fora da igreja. Portanto, o texto compromete-se a justificar porque essas qualificações são indispensáveis àquele que deseja a excelência do pastorear. O primeiro ponto da recomendação do apóstolo Paulo logo chama a atenção, porque ele afirma que o pastor deve apresentar-se aprovado diante de Deus. O Pr. Jaziel G. Martins, em Manual do Pastor e da Igreja afirma: “a pessoa adquire as qualificações acima de três maneiras: pelo dom natural, pela graça de Deus e pela preparação ao ministério da palavra” (MARTINS, 2002, p.56). 7 Em linhas gerais, também serão abordadas as onze qualidades prévias para quem deseja ocupar a função pastoral. Essas qualidades objetivas devem ser uma constante na vida de todo cristão, mas em especial, e de forma contínua na vida daquele que exerce o pastorado do rebanho de Deus. Cabe ressaltar que o Pastor Hernandes Dias Lopes afirma: “A vida do ministro é a vida do seu ministério. O pastorado não é uma plataforma de privilégios, mas um campo de serviço; não uma feira de vaidades, mas lugar de trabalho humilde e abnegado” (LOPES, 2008, p.36). A partir dessa realidade, é preciso enxergar o pastorado e a vida pastoral como um espelho para o mundo. O que deve ser visto mais especificamente quanto ao seu caráter, ao seu preparo, à sua vida devocional, quanto aos perigos a serem vencidos pelo pastor e à sua vida familiar, pois sendo assim a vida pastoral será aprovada por Deus. Este trabalho propõe traçar alguns aspectos indispensáveis ao pastorado e à vida pastoral e tratar do porque da importância do pastorado e vida pastoral na sociedade e na igreja de Cristo em nossa época. O artigo será composto de quatro partes, destacando respectivamente, o caráter adequado do pastor, o preparo necessário ao exercício dessa missão, aspectos pertinentes a sua vida devocional, os perigos e desafios a ele apresentados, subdivididas em vocação, ganância e instabilidade emocional e fundamentação teológica. Por fim, a conclusão do trabalho sem a intenção de esgotar tão vasto e instigante tema que é o ministério pastoral. Após a escolha do tema, o autor procurou fundamentar seus pressupostos na metodologia de pesquisa de revisão bibliográfica. Utilizando os títulos e autores elencados a seguir. O Pastor Aprovado, modelo de Ministério e Crescimento Espiritual, de Richard Baxter; A Bíblia na Versão Internacional; Poder pela Oração, de E.M. Bounds; Práticas Devocionais – exercícios de Sobrevivências e Plenitude Espiritual, de Elben César; A Celebração da Disciplina: caminho do crescimento espiritual e a Liberdade da simplicidade – encontrando a simplicidade num mundo complexo, de Richard Foster; A arte de pastorear, de David Hansen; A oração: caminho para quem busca a amizade com Deus, James Houston; De: Pastor, A: Pastor. Princípios para ser um pastor segundo o coração de Deus, de Hernandes Dias Lopes. Manual do Pastor e da Igreja; dentre outros. A partir dessa base bibliográfica qualitativa serão exploradas as nuanças do pensamento sobre pastorado e a vida pastoral. 8 1. O CARÁTER DO PASTOR Em relação ao caráter do Pastor, Richard Baxter, em seu livro, o Pastor Aprovado, (Baxter, 1989), escreveu sobre o axioma: “de ser e de agir” para consolidar o caráter da pessoa do pastor. Ele afirma: “A abnegação é essencial” (BAXTER, 1989, p.35). O pastor deve realizar o seu ministério pastoral “exclusivamente para Deus e pela salvação do Seu povo”. Esta abnegação é muito importante para o desenvolvimento e amadurecimento do caráter do pastor. Baxter afirma ainda: O interesse próprio é uma escolha infeliz e contraproducente. Assim a abnegação, a autonegação, é absolutamente necessária a todo cristão. Mas é duplamente necessária ao ministro do evangelho, porque é seu dever ter redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35) Ao escrever sobre a abnegação e a autonegação Richard Baxter (1989) tem em mente tratar da pureza, motivos e da intenção para o exercício da função pastoral. O motivo e a intenção devem ser o exclusivo serviço a Deus e aos que poderão ser salvos por intermédio da vida e do ministério pastoral. A partir da verdadeira motivação e intenção para o exercício do pastorado é que o autor mencionado orienta sobre vida pastoral. Ele fala da diligência, esforço e do trabalho duro do pastor afirmando: A obra do ministério deve ser realizada com muita diligência e esforço, pois ela é de infinita importância para os outros e para nós mesmos. Nossa tarefa é livrar-nos e os outros da tentação, dominar o diabo, destruir o seu reino e edificar o reino de Deus. É nosso dever ajudar outros a alcançar a glória eterna. (BAXTER, 1989, p.36) O que Baxter (1989) propõe é que os pastores “ponham em prática o que pregam”; ou seja, no pastorado e na vida pessoal é preciso viver o que se prega e pregar o que se vive. É necessário ter esta dimensão espiritual. Para Baxter, “Ensinar Cristo ao nosso povo é ensinar tudo”. (BAXTER, 1989, p. 37-8). Esses valores devem fazer parte do caráter daquele que almeja o pastorado como obra santa de Deus. Daí a necessidade de seu preparo para o ministério. O preparo ministerial levará o pastor aprovado por Deus a focalizar no conteúdo essencial da Palavra de Deus. Baxter (1989) afirma que a mensagem deve focar no que é essencial, ou seja, “Os pontos essenciais são comuns e óbvios. São com as coisas supérfluas que desperdiçamos tempo, trabalhando por elas e lamentando que não as conseguimos 9 realizar” (BAXTER, 1989, p. 38), corrobora com a opinião de Baxter, a exortação do apóstolo Paulo a Timóteo, o pastor da igreja de Éfeso: Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu exorto solenemente: Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentido coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. (2 TIMÓTEO, NVI, p. 954) Para Baxter (1989) é a pregação da Palavra que faz a transformação e o amadurecimento do caráter do pastor aprovado diante de Deus e das pessoas que estão sob sua mentoria espiritual. São palavras que nos incomoda e também nos acomoda no Reino de Deus. É a Palavra verdadeira, a sã doutrina que combatem os falsos mestres e os que têm coceiras nos ouvidos e andam segundo os próprios desejos. 2. O PREPARO DO PASTOR O preparo do pastor é de suma importância tendo em vista o que vem ocorrendo no mundo “evangélico”. Devemos preferir a denominação “protestante” para diferenciar quem são os verdadeiros dos falsos protestantes. As palavras evangélicos e protestantes vêm entre as aspas, pois atualmente há grande dificuldade em mensurar quem é quem nesse mundo hiperdenominacional. Essa “babel” religiosa está ligada à falta de preparo da liderança pastoral. Há ainda de se considerar, entretanto, que todo protestante é um evangélico, mas nem todo evangélico é um protestante. O protestante é aquele com sólidas raízes históricas advindas da Reforma. O escritor e pastor Hernandes Dias Lopes escrevendo sobre o preparo pastoral afirma: O pastor é um estudioso. Deve ser um erudito. Precisa conhecer a Palavra, alimentar-se da palavra e pregar a palavra [...] Precisamos apresentar-nos como obreiros aprovados. Precisamos realizar o ministério com um padrão de excelência. Pastor também precisa ter um vasto conhecimento geral. Precisa ser um pastor atualizado. Precisa ler o texto e o contexto. Ler a Bíblia e ler o povo. Tem de ter a Bíblia em uma mão, e o jornal na outra. O pastor não poder ser um alienado. Precisa ser um profundo conhecedor da época. (LOPES, 2008, p.45-6) 10 Assim é essencial a formação, o preparo acadêmico e espiritual para o exercício da função pastoral. A falta de preparo e a falta de moral pode fomentar a proliferação de pastores despreparados para o ministério. Daí, o Pastor Seiji Kikuti escrevendo sobre o assunto2 afirma: Algumas habilidades e até mesmo dons, talentos naturais podem ser interpretadas como um "sinal" de que alguém tenha um chamado Pastoral. Mas temos que ter muito cuidado com isso. O fato de alguém saber falar em público, ter presença de palco, saber usar as palavras e fazer lindas pregações, não torna esta pessoa um Pastor. (KIKUTI, postado, 2/12/2014) Coopera com afirmação acima o que diz Hernandes Dias Lopes: “A maior crise que a nação atravessa não é econômica nem social, mas moral. Estamos vivendo uma crise de integridade”. (LOPES, 2008, p.47). Ao falar sobre a crise moral da nação, o autor tem em mente a crise que atravessa também as instituições religiosas representadas por seus “pastores” em crise moral, acadêmica, emocional e espiritual. Daí a necessidade de preparo dos pastores em todas as áreas da vida. O pastor e escritor Edward Mckendree Bounds (1835-1913) em seu livro, o Poder pela Oração. Ao tratar do preparo do pastor, afirma: “Uma boca santificada faz-se com oração, com muitas orações”. (BOUNDS, 2010, p.51-2). Esse assunto deve ser considerado para além do preparo acadêmico. Bounds (2010) escreveu: “É preciso preparar o coração”. Levando-nos a concordar com Bounds (2010) que é importantíssimo investir no preparo do seu coração, pois existem pastores mais preocupados com seu preparo intelectual do que com o preparo do espiritual do coração. Ele afirma que para se preparar o coração é necessário que o pastor seja um homem de oração: A oração faz do pregador um pregador que prega com o coração. A oração põe o coração do pregador no sermão do pregador; a oração põe o sermão do pregador no coração do pregador. Coração faz o pregador. Grande é o coração dos grandes pregadores. [...] Um coração preparado é bem melhor que um sermão preparado. Um coração preparado criará um sermão preparado. (BOUNDS, 2010, p.51-2) Evidentemente, o autor não está dizendo que não é preciso o preparo acadêmico, intelectual, mas que muitos têm substituído o preparo espiritual, moral pela formação apenas da mente e não do coração e da alma. Diante dessa realidade Bounds afirma: 2 http://serpastore.blogspot.com.br 11 De nada adianta dizer que os pregadores estudam demais. Alguns não estudam nada; outros não estudam o suficiente. Inúmeros deles não estudam a maneira correta para se mostrarem obreiros aprovados por Deus. Mas o que muito nos falta não é a cultura da mente, mas a cultura do coração; nosso defeito deprimente não é falta de conhecimento, e sim a falta de santidade. (BOUNDS, 2010, p.52) Na opinião de E.M. Bounds, o preparo cultural e espiritual do pastor depende exclusivamente da revelação divina, ele afirma: A revelação de Deus não precisa da luz do espírito humano, o lustro e o vigor da cultura humana, o brilhantismos do pensamento humano, a força do cérebro humano para enfeitá-la ou fazê-la executar; de ato, exige a simplicidade, a docilidade, a humildade e a fé do coração de uma criança. (BOUNDS, 2010, p.53) O autor E.M. Bounds justifica sua preocupação: “nossa grande necessidade é preparar o coração”, ele afirma: Não estamos afirmando que os homens não devem pensar nem usar o intelecto, mas emprega melhor o intelecto aquele que melhor cultiva o coração. Não estamos dizendo que os pregadores não devem ser estudiosos, mas estamos dizendo que o grande estudo deles deve ser a Bíblia, e estuda melhor a Bíblia aquele que guarda o coração com diligência. (BOUNDS, 2010, p.53), (negrito do autor) Além da maturidade espiritual a partir do coração, a revelação também se faz fundamental. Bounds (2010) apenas reafirma o que Jesus Cristo já havia dito aos seus discípulos quando falou que a revelação é uma ação especial de Deus. Ele, no diálogo com seus discípulos a respeito de quem o povo, pensava que ele fosse e em relação ao que Simão Pedro afirmou sobre quem é Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. (Mateus 16.16, NVI; p. 782). Jesus sentenciou: “Feliz é você, Simão filho de Jonas, porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas meu Pai que está nos céus”. (MATEUS 16.16-7, NVI, p. 782). A formação e preparo do pastor carece da revelação especial de Deus e do preparo acadêmico na formação intelectual daquele que almeja a função nobre do pastorado do rebanho de Deus. Ele (Deus) deseja que seu rebanho seja pastoreado conforme a sua vontade expressa pelo presbítero Pedro, quando ele ordena: Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos 12 que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. (1 PEDRO 5.3-5, NVI, p. 973) Portanto, Jesus Cristo, o apóstolo Paulo e o presbítero Pedro concordam que a condição sine qua non para o perfeito conhecimento e preparado para a vida ministerial tem sua origem na vontade reveladora de Deus. É preciso concordar que nos dias atuais, como nos dias dos apóstolos e também nos dias de E. M. Bounds, estamos carecendo de homens aprovados por Deus que se dediquem à sua formação intelectual e espiritual para perceber que a revelação de Deus é superior à “revelação” puramente humana. Conclui-se que E.M Bounds quer nos ensinar que o preparo intelectual, moral e espiritual deve estar afinado com um coração que busca a Deus na beleza de sua Santidade com dedicação acadêmica e espiritual. O próprio Mestre Jesus escolheu 12 discípulos para estarem com Ele e serem preparados para a missão mais importante em baixo do céu. Segundo Jesus Cristo: “salvar o que havia se perdido” (LUCAS 19.10, NVI, p. 1951). Ele passa três anos ou mais ensinando de forma teórica e prática a arte do pastoreio. No evangelho de Marcos, o primeiro dos escritos relatando o ministério pastoral de Jesus é dito: Jesus subiu a um monte e chamou a si aqueles que ele quis, os quais vieram para junto dele. Escolheu doze, designando-os apóstolos, para que estivessem com ele, os enviasse a pregar e tivessem autoridade para expulsar demônios. Estes são os doze que ele escolheu: Simão, aquém deu o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais deu o nome de Boanerges, que significa “filho do trovão”; André; Filipe; Bartolomeu; Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Tadeu; Simão, o Zelote; e Judas Iscariotes, que o traiu. (MARCOS 3.13-19, NVI, p. 798) O mesmo relato é tratado pelo evangelista Lucas que diz: “Num daqueles dias, saiu Jesus para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze deles, a quem também designou apóstolos” (LUCAS 6.12-13, NVI, p. 823). A escolha dos seus discípulos [alunos] foi precedida de muita oração e dependência de Deus. Essa foi a maior e melhor escola [faculdade] que alguém poderia estudar para ser [pastor aprovado] pelo Senhor. (destaque meu). Logo, para essa entrega de coração e alma ao Senhor, único Deus, se faz necessário que aquele que deseja ser um pastor aprovado busque ter uma vida de devoção, a exemplo do Mestre Jesus Cristo, pois mesmo sendo o Filho de Deus procurou desenvolver uma vida de dependência e devoção ao Pai celestial. 13 3. A VIDA DEVOCIONAL DO PASTOR O Apostolo Paulo entendeu que para o desenvolvimento da vida devocional do Pastor é necessário ter em mente três aspectos: a leitura da Palavra, a meditação e a oração como prática diária. O apóstolo Paulo escrevendo ao pastor Timóteo que se encontrava em Éfeso, aconselha-o para exercer bem seu ministério pastoral uma vida de devoção que contemplasse esses três aspectos: [...] mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza. Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino. Não negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética com imposição de mão dos presbíteros. Seja diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o teu progresso. Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem. (1 Timóteo 4.12b-16, NVI, p.950) Nesta orientação do apóstolo, pode ser percebida a sua preocupação com a vida devocional de Timóteo, o jovem pastor. Ele pede: “não seja desprezado por ser jovem”, mas seja um exemplo para os “fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé, e na pureza” para demonstrar uma vida devocional digna a ser seguida. O pastor Timóteo deveria ser dedicado à Escritura, à exortação e ao ensino, sem negligenciar e sem esquecer que recebeu um dom de Deus. Ele tem responsabilidade perante Deus e perante aqueles que o confiaram a Deus pela imposição de mãos. Ele precisa meditar sobre o que Paulo está lhe dizendo. Para ser dedicado à Escritura, entende-se que é necessário dedicar tempo à meditação sobre o que foi lido. Em Celebração da Disciplina Richard Foster dedica um capítulo sobre a disciplina da meditação. Ele ensina: “Enquanto o estudo das Escrituras gira em torno da exegese, a meditação procura internalizar a passagem e torná-la pessoal. A Palavra escrita torna-se viva dirigida a você” (FOSTER, 1988, p.61). Outro aspecto da vida devocional que precisa ser considerado em continuidade à meditação, é a vida de oração do Pastor. No livro o Poder pela Oração, E. M. Bounds escreveu que os primeiros apóstolos: “conheciam a necessidade e valor da oração para o ministério”. Ele traz à memória o episódio relatado em Atos 6.1-6, quando surge o problema de ordem eclesiástica, ou seja, administrativo, entre duas classes de judias: as de fala hebraica e as de fala grega. Destaca-se a importância da oração e da Palavra, nos versos 2b-4, é dito: 14 Não é certo negligenciarmos o ministério da Palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da Palavra. (ATOS 6.2b-4, NVI, p. 875) (Grifo meu) Nestas palavras dos apóstolos do Senhor é dada a verdadeira importância da oração na vida do Pastor, pois este, tendo o espírito voltado para a oração poderá levar a Igreja a seguir seu exemplo de dedicação à oração e meditação na Palavra. Corrobora com essa afirmação, o que disse E. M. Bounds: A oração apostólica era tão árdua, laboriosa e imperativa quanto à pregação apostólica. Eles oravam poderosamente dia e noite para levar seu povo às mais altas regiões da fé e da santidade. Oravam ainda mais poderosamente para se manterem nessa elevada altitude espiritual. (BOUNDS, 2010, p.72) O Senhor Jesus ao tratar da necessidade da oração na vida de seus discípulos deixa claro que para um bom ministério pastoral, os discípulos Dele deveriam ser homens dedicados à oração como forma de manter a intimidade com Deus, o Pai. O Mestre Jesus passa a ensinálos a prática da oração, dizendo-lhes: E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará. E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem. Vocês, orem assim: Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aso nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal [maligno], porque teu e o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém. (MATEUS 6.5-13, NVI, p. 771) Os pastores quando discipulados pelo Senhor Jesus também precisam ter a sensibilidade e a humildade de total dependência de Deus, o Pai, sabendo que Ele é Senhor dos céus e da terra e que sempre suprirá suas necessidades, antes mesmo que os peçam, pois Ele é rico em misericórdia. Em outra ocasião, Jesus vai além das expectativas dos seus discípulos quando pede que eles fiquem com Ele no seu mais profundo sofrimento e na maior expressão de sua humanidade. Ele os leva até o Monte das Oliveiras e apenas pede que eles o acompanhem em 15 um momento de completa dependência do seu Pai enquanto homem preparado para o calvário. Ele pede apenas que eles vigiem e ore para não entrarem em tentação: Como de costume, Jesus foi para o monte das Oliveiras, e os seus discípulos o seguiram. Chegando ao lugar, ele lhes disse: “Orem para que vocês não caiam em tentação”. Ele se afastou deles a uma pequena distância, ajoelhouse e começou a orar: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua”. Apareceu-lhe então um anjo do céu que o fortalecia. Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como gotas de sangue que caiam no chão. Quando se levantou da oração e voltou aos discípulos, encontrou-os dormindo, dominados pela tristeza [cansaço]. Por que estão dormindo? Perguntou-lhes. Levantem-se e orem para que vocês não caiam em tentação. (LUCAS 22.39-45, NVI, p. 843) A oração deve ocupar lugar central no pastorado e na vida privada do pastor comprovando sua inteira dependência de Deus para enfrentamento do maligno e de todas as intempéries do ministério pastoral. O pastor precisa alinhar sua vida de estudo, pregação e meditação ao exercício de sua sublime função de ser pastor do rebando de Deus comprado com o sangue precioso de seu Filho Jesus Cristo, o Supremo Pastor aprovado desde a fundação do mundo para a salvação da humanidade. David Hansen ao escrever sobre a importância da oração aponta o caminho a ser seguido pelos pastores que estão prontos a interceder por seu rebanho e de forma especial, por sua família, ele afirma: O pastor precisa ser advogado a favor da congregação e pleitear com Deus, fortemente, em favor dos amados. Muitos pastores temem orar dessa maneira, porque temem que isso os faça parecer arrogantes, como se eles mesmos não precisassem de perdão ou do derramamento do Espirito Santo. Mas se a congregação conhece a humildade e amor do pastor, eles aceitarão a oração intercessora como sendo o elemento mais terno e humilde da oração pastoral. (HANSEN, 2001, p.122-3) A dimensão da oração pastoral é a de apresentar as variadas necessidades do seu rebanho diante do trono da graça de Deus, em nome de Jesus, por iluminação do Espírito Santo que também intercede juntamente com o pastor perante Deus Pai. O pastor deve ser aquele que estuda, prega, medita e intercede por meio da oração. Outro exemplo que alinha a pregação da Palavra à oração encontra-se em Efésios capítulos: 2.15-23 || 3.14-21: Por essa razão, desde que ouvi falar da fé que vocês têm no Senhor Jesus e do amor que demonstram para com todos os santos, não deixo de dar graças por vocês, mencionando-os nas minhas orações. Peço que o Deus de nosso 16 Senhor Jesus Cristo, o glorioso Pai, lhes dê espírito de sabedoria e de revelação, no pleno conhecimento dele. Oro também para que os olhos do coração de vocês sejam iluminados, a fim de que vocês conheçam a esperança para a qual ele os chamou, as riquezas da gloriosa herança dele nos santos. [...] Por essa razão, dobro meus joelhos perante o Pai, de quem toda família nos céus e na terra recebe o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais interiormente fortalecidos com poder pelo seu Espírito. E que Cristo habite pela fé em vosso coração, a fim de que, arraigados e fundamentados em amor, vos seja possível compreender, juntamente com todos os santos, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade desse amor, e assim conhecer esse amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais preenchidos até a plenitude de Deus. Àquele que é poderoso para fazer bem todas as coisas, além do que pedimos ou pensamos, pelo poder que age em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém. (EFÉSIOS, 2002, NVI, p. 936-7) São duas orações profundas que podem ser extraídas dos textos mencionados acima, em que Paulo nos ensina na primeira oração, a pedir para que o rebanho tenha “espírito de sabedoria e revelação no conhecimento dele, (de Deus)” e na segunda, a pedir que o rebanho seja “fortalecido com poder pelo Espírito Santo” e “que Cristo habite pela fé no coração” das ovelhas com a finalidade de serem “arraigadas e fundamentadas em amor” e possam compreender o que Deus fez incluindo os nãos judeus na família de Deus. O pastor deve ter em mente a dimensão da oração por si mesmo e por todo o rebanho a ele confiado; como é declarado em Atos 20.28: “Cuidem de vocês mesmo e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue”. Essa é uma realidade que precisa ocupar a vida do pastor e a vida da sua igreja. O pastor E.M. Bounds discorrendo sobre essa necessidade primordial que é a oração parece clamar quando escreveu: Uma boca santificada faz-se com oração, com muita oração; uma boca intrépida faz-se com oração, com muita oração. A igreja e o mundo, Deus e o céu, devem muito à boca de Paulo; a boca de Paulo deve seu poder à oração [...] A oração faz do pregador [pastor] um pregador [pastor] que prega com o coração. A oração põe o coração do pregador [pastor] no sermão do pregador [pastor]; a oração põe o sermão do pregador [pastor] no coração do pregador [pastor]. (BOUNDS, 2010, p.51). (acréscimos meu) Pode-se compreender dos ensinos de Jesus, das palavras do apóstolo Paulo e do que pensa Bounds sobre a oração dependente exclusiva de Deus que qualquer pastor por mais preparado que esteja do ponto de vista humano naufragará se não desenvolver um espírito carente e dependente da oração como forma de diálogo com o Pai das luzes. 17 4. VENCENDO OS PERIGOS DO PASTORADO Ao tratar dos desafios e perigos enfrentados pelos ministros de Deus, serão destacados apenas alguns aspectos mais relevantes para que o Pastor seja um vencedor. Vencedor, mas não um super-homem da fé e da moral, pois se assim fosse seria muito fácil vencer os perigos e obstáculos a serem enfrentados no exercício da função pastoral. Neste tópico serão usados alguns conceitos de Hernandes Dias Lopes (LOPES, 2008, p. 11-34), quando ele trata do tema com muita propriedade. Assim ao tomá-lo como modelo, seremos enriquecidos do ponto de vista do conhecimento e da espiritualidade. Não será uma cópia do trabalho do autor epigrafado, apenas serão considerados os pontos avaliados de maior importância para o propósito deste trabalho, os quais serão abordados a seguir. 4.1 A VOCAÇÃO MINISTERIAL Em várias áreas do conhecimento e do trabalho humano se valoriza o aspecto do “talento” e do “conhecimento” para o exercício de qualquer profissão, entretanto, o pastorado não poderá ser visto apenas do ponto de vista profissional – uma espécie de “técnico da fé”, mas também como um importante ingrediente da verdadeira crença da presença cristã em cada coração, ou seja, o pastorado deverá ser exercido como uma vocação de Deus. Hernandes Lopes afirmou: “a vocação é a consciência de estar no lugar certo, fazendo a coisa certa”. Lopes acrescenta: “Há muitos pastores que jamais foram chamados por Deus para o ministério. Eles são voluntários, mas não vocacionados. Entraram pelos portais do ministério por influências externas, e não por um chamado interno e eficaz do Espirito Santo”. (LOPES, 2008, p.14). Desse modo, há muitos “pastores” exercendo a função pastoral sem a convicção do seu chamado para o ministério pastoral, considerando que entraram nesta sublime função por iniciativa própria e preparo próprio, mas sem jamais ter ouvido o chamado de Deus. Entram para o ministério pastoral somente porque muitas outras portas profissionais se fecharam para ele. Então julgam que Deus está chamando para ser pastor. Hernandes Dias Lopes afirma ainda: “vocação é quando você tem todas as outras portas abertas, mas só consegue enxergar a porta do ministério. Vocação é como algemas invisíveis” (LOPES, 2008, p.16). A vocação para o ministério deverá ser sempre avaliada e medida diante dos homens e diante de Deus para que se tenha a certeza que não se está enganado quanto ao chamado 18 para tão nobre função de representar Deus diante das pessoas e representar as pessoas diante de Deus. 4.2 A GANÂNCIA PASTORAL Esse é um problema sério nos dias atuais. Atualmente sem muito esforço pode ser notado que há muitos aventureiros abrindo “igrejas” como se fosse uma empresa ou na pior das hipóteses como “bares” em qualquer esquina ou avenida. Hernandes Lopes escreve algo que ao ler dói o coração e a alma. Ele diz que: “Há pastores que organizam igrejas como uma empresa particular, onde prevalece o nepotismo. Transformam o púlpito em balcão, o evangelho em um produto, o templo em uma praça de negócios, e os crentes em consumidores”. (LOPES, 2008, p.17). É lamentável ver como muitos estão transformando “casas de orações” em casas de ladrões e oportunistas em nome não de Deus, mas na verdade, casa da ganância humana. É lamentável que o projeto de Deus para sua igreja como lugar de libertação, de cura, de vida tenha se tornado lugar de escárnio para os homens e para o Diabo e seus anjos. Corrobora com essa lamentação o que Dias Lopes afirma: Hoje estamos assistindo ao fenômeno do mercadejamento da fé. Pastores e mais pastores estão se desvinculando da estrutura eclesiástica e rompendo com suas denominações para criar ministérios particulares, em que o líder se torna o dono da igreja. A igreja passa a ser uma propriedade particular do pastor. O ministério da igreja torna-se um governo dinástico, em que a esposa é ordenada, e os filhos são sucessores imediatos. (LOPES, 2008, p.18) São muitos os chamados “ministérios particulares” em que se criam falsas igrejas, as quais passam a ser fonte de rendimentos para os seus “pastores” e para toda a “família pastoral”. Criam-se verdadeiros feudos eclesiásticos justificados por visões ministeriais particulares. É lamentável. 4.3 INSTABILIDADE EMOCIONAL Esse é um assunto que muitos pastores, em perigo ou sob elevado risco psicológico, procuram empurrar para debaixo dos tapetes pastorais: A instabilidade emocional deveria ser tratada em nível mais profundo antes que tais pastores viessem a assumir qualquer compromisso com o pastorado, pois é a instabilidade emocional que leva muitos ministros de 19 Deus a caírem em pecados. Segundo o Pastor Hernandes Lopes, os pastores sob estresse e em instabilidade emocional deveriam: “estar sendo pastoreados, mas estão pastoreando”. Ele ainda afirma: “Um pastor sem equilíbrio emocional pode trazer grandes prejuízos para si, para sua família e para igreja” (LOPES, 2008, p.18). Essa é uma realidade que é vista todos os dias, basta estar atentos aos noticiários, seja no meio eclesiástico ou da grande mídia. O pastor precisa ser um homem bem resolvido e bem tratado do ponto de vista do equilíbrio emocional e psíquico para bem exercer sua função pastoral, para não viver o tempo todo com medo de cair nas garras do maligno ou mesmo nas suas próprias garras. Nem sempre o pastor é levado à queda por pura tentação do Diabo. Ele em muitos casos pode cair por falta de equilíbrio emocional e por falta de domínio próprio ou autoconfiança. O apóstolo Tiago, o irmão do Senhor, afirma que “Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido” (TIAGO 1.14, NVI, p. 967), e o pastor Hernandes Dias Lopes constata: Mais de 50% das pessoas que entram em um gabinete pastoral são do sexo feminino, e mais de 50% dos assuntos tratados estão ligados à vida sentimental e sexual. Um pastor emocionalmente vulnerável pode envolverse emocionalmente com suas consulentes ou deixar-se envolver por elas. Há um amontoado de pastores que perderam o ministério dentro de um gabinete pastoral. (LOPES, 2008, p.19) Esse fato é de suma importância para a vida pastoral, pois nesse ponto ele precisa ser um pastor aprovado por Deus e pelas pessoas que circundam seu ministério pastoral. São tentações externas e tentações internas agindo no íntimo e nas emoções do pastor. 4.4 FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS Esse é um fator de muita relevância para o exercício da função pastoral, o seu preparo teológico com fundamentos seguros à luz da Escritura Sagrada, pois, se sua teologia, do ponto de vista bíblico estiver sem esses fundamentos, o pastor terá grande dificuldade no exercício pastoral. Poderá ser levado de um lado para outro por todo vento de doutrina como afirmou apóstolo Paulo: O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a 20 verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. (EFÉSIOS 4.14-5, NVI, p. 937) Essa ausência de fundamentação teológica tem levado muitos pastores a pregarem uma mensagem esvaziada do verdadeiro evangelho pregado por Jesus Cristo e por seus primeiros apóstolos. Hernandes Dias Lopes afirma: “vemos prosperar nessa terra uma igreja que se diz evangélica, mas que não tem evangelho. Prega sobre prosperidade, e não sobre salvação. Fala de tesouros e riquezas na terra e não de tesouros no céu”. (LOPES, 2008, p.22). Esses pregadores dizem acreditar na Bíblia como única regra de fé e prática, mas não acreditando na totalidade das Escrituras como fonte inerrante da Palavra de Deus. Hernandes Lopes sobre esse tópico afirma: Dizem crer na Bíblia, mas, ao mesmo tempo, são evolucionistas [...] dizem estar servindo a Deus, mas negam a inspiração das Escrituras [...] O liberalismo deve ser abandonado, se o que queremos é uma igreja sólida na palavra, piedosa e comprometida com a obra missionária. Não há antídotos para uma igreja que abandona a sã doutrina e nada de braços dados com o liberalismo. (LOPES, 2008, p.24) Ao concluir esse tópico sobre os perigos enfrentados pelos pastores no exercício da função pastoral, faz-se necessário trazer o ponto de vista do pastor Hernandes Dias Lopes, em que ele sumariza: Há muitos pastores que já estão sangrando, com a vida arrebentada. Há muitos obreiros que já perderam a sensibilidade espiritual e o temor a Deus. Estão vivendo na prática de pecado e, ao mesmo tempo, pregando, ministrando a ceia e aconselhando os aflitos. São hipócritas que tentam curar outros enquanto deviam estar buscando cura para si mesmos. [...] É tempo de a igreja orar pelos pastores! É tempo de os pastores botarem a boca no pó e clamarem a Deus por uma visitação do céu e um tempo de restauração. (LOPES, 2008, p.34) Evidentemente não foram abordados todos os perigos e desafios a que pastores enfrentam no dia-a-dia da vida pastoral. Esses exemplos apenas servem como alerta e como meios para levar pastores a buscarem uma vida de maior dependência de Deus. Dependência que pode ser fortalecida por meio da leitura da Palavra, da meditação e da oração constante. 21 5. A VIDA FAMILIAR DO PASTOR Por último, como fator a ser abordado no presente estudo, mas não menos importante, é o aspecto relacionado à vida familiar do pastor. Essa ênfase na relação familiar é muitas vezes é negligenciada em função das muitas atividades que a maioria dos pastores assume diante de uma religiosidade escravizante, onde a instituição passa a ter mais valor do que vida em família. O Pastor Hernandes Dias Lopes, corrobora com esse tópico dizendo: “Há lares quebrados, há pastores em crise no casamento. Há famílias pastorais arrebentadas emocionalmente”. (LOPES, 2008, p.59). É um contrassenso, pois a própria Bíblia afirma que o bispo, o pastor deve ser um exímio conselheiro familiar, um exímio administrador da família quando diz em 1 Tm 3.4-5: “Ele deve governar bem sua família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da Igreja de Deus?”. O pastor não deve encarar seu pastorado de forma leviana nem tratar das coisas familiares sob um pressuposto equivocado e em segundo plano. Sua conduta e atenção devem ser exemplos tanto para o rebanho quanto para sua própria família. É de extrema relevância na vida do pastor aprovado por Deus a preocupação com os membros de sua família, em especial por seus filhos e sua esposa, conforme se constata quando o pastor David Hasen (2001) afirma: Os pais [pastores] cristãos oram por todos os aspectos das vidas de seus filhos. Oram por sua saúde e por sucesso em sua escola e carreira. Se o filho está doente, oram com urgência por cura. Se o filho ou filha é candidato a uma bolsa de estudos ou promoção no serviço, eles oram para que a receba. Os pais [pastores] não tem que ser neutros para orar. Os pais [pastores] oram, para que seus filhos sigam Cristo. Oram, para que os pecados dos filhos sejam perdoados. Oram, para que Deus tenha misericórdia dos filhos. Oram pelo desenvolvimento do caráter deles. (p.120-1) (acréscimos meu) Em relação à esposa o pastor deverá ser responsável e desenvolver o amor tendo como pano de fundo a teologia constante na orientação do apóstolo Paulo em que orienta aos esposos que amem suas esposas se espelhando em nosso Senhor Jesus Cristo. Ele afirmou: Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresenta-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Da mesma forma, os maridos devem amar cada uma a sua mulher como a seu próprio 22 corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. (EFÉSIOS 5.25-28, NVI, p. 938) É uma responsabilidade que Deus dá a todos os homens, mas de forma mais profunda ao pastor e marido, porque seus familiares também fazem parte do rebanho de Deus, que Ele a comprou com próprio sangue. CONSIDERAÇÕES FINAIS O pastorado e uma vida pastoral aprovada por Deus com certeza deverá ser contemplada com os pressupostos delineados neste trabalho, porque o pastor não é chamado para ser apenas um “profissional religioso”, mas para ser um pastor segundo o coração de Deus, tendo uma vida exemplar no que diz respeito ao preparo acadêmico e espiritual, ao caráter ilibado e abnegado, a uma vida devocional de leitura da Palavra e meditação na mesma, enfrentando os perigos ligados ao exercício pastoral com muita oração e ter uma vida familiar sob a orientação de Deus. Estas são qualificações mínimas para quem deseja a excelente, mas desafiadora função de ser pastor do rebanho de Deus que por meio do Senhor Jesus Cristo ele adquiriu e sob a égide do Espírito Santo confiou aos seus pastores para cuidar e alimentar como aprovados de Deus e que não tem do que se envergonhar. Pastores de fato são considerados apenas aqueles que atuam segundo o coração e vontade de Deus. Entendendo que é o próprio Deus quem define o perfil para os seus escolhidos ao pastorado. Ele disse: “Então eu lhes darei governantes [pastores] conforme a minha vontade [o meu coração], que os dirigirão com sabedoria e com entendimento”, se essa é a realidade para o exercício da função pastoral cabe a todo aquele que almeja essa função nobre estar sempre se avaliando diante de Deus, que diligentemente define o perfil do pastor para julgar se ele está sendo aprovado por Deus na condução do se rebanho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado: modelo de ministério e crescimento espiritual. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1989. BÍBLIA Sagrada: Nova versão internacional. São Paulo: Vida, 2002. BOUNDS, E. M.. O poder pela oração. São Paulo: Vida, 2010. 23 CÉSAR, Elben M. Lenz. Práticas Devocionais: exercícios de sobrevivência e plenitude Espiritual. Viçosa: Últimato Ltda., 2005. FOSTER, Richard J. A celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2. ed. São Paulo: Vida, 2007. _____________. Richard J. A liberdade da simplicidade: encontrando a simplicidade num mundo complexo. 2. ed. São Paulo: Vida, 2008. HANSEN, David. A arte de pastorear. São Paulo: Shedd, 2001. HOUSTON, James M. A oração: caminho para quem busca a amizade com Deus. Brasília: Palavra, 2009. KEMP, Jaime. Pastores ainda em Perigo: ajuda para pastor, esperança para a igreja. São Paulo; Sepal, 1996. _____________. Jaime. Pastores em Perigo: ajuda para pastor, esperança para a igreja. 2. ed. São Paulo: Sepal, 1996. LOPES, Hernandes Dias. De: Pastor. A: Pastor: princípios para ser um pastor segundo o coração de Deus. São Paulo: Hagnos, 2008. MARTINS, Jaziel Guerreiro. Manual do Pastor e da Igreja. Curitiba: A.D. Santos Editora, 2002. MURRAY, Andrew. Com Cristo na Escola da Oração.São Paulo: Editora Clássicos, 2009. PERTERSON, Eugene; DAWN, Marva J. O pastor desnecessário: redescobrindo o chamado. Rio de Janeiro: Textus, 2001. POIRIER, Alfred. O pastor pacificador: um guia bíblico para a solução de conflitos na Igreja. São Paulo: Vida Nova, 2011.
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