FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O PASTORADO

Transcrição

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA O PASTORADO
FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA
O PASTORADO E A VIDA PASTORAL
NILSON PEREIRA DE MOURA
Brasília – DF
NILSON PEREIRA DE MOURA
O PASTORADO E A VIDA PASTORAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade
Teológica Batista de Brasília, como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em Teologia.
Orientador: Prof. Dr. Allan Pereira de Amorim
Brasília – DF
NILSON PEREIRA DE MOURA
O PASTORADO E A VIDA PASTORAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade
Teológica Batista de Brasília, como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em Teologia.
Orientador: Prof. Dr. Allan Pereira de Amorim.
Brasília – DF, dezembro de 2015
Aprovado pelos membros da banca examinadora em 12/02/2016, com menção 9.5 (nove
ponto cinco).
Banca Examinadora:
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Allan Pereira de Amorim (Presidente)
______________________________________________________________________
Prof. Esp. Rogério Moreira Junior (Examinador)
5
O PASTORADO E A VIDA PASTORAL
NILSON PEREIRA DE MOURA1
RESUMO:
Este trabalho de Conclusão do Curso em Bacharel em Teologia desenvolverá o tema o
Pastorado e a Vida Pastoral aprovada por Deus. Contemplará os pressupostos para o chamado
pastoral, não apenas para ser um “profissional religioso”, mas um pastor segundo o coração
de Deus. Para isso, será necessário preparo acadêmico e espiritual, o caráter ilibado e
abnegado, uma vida devocional de leitura e meditação na Palavra de Deus. São qualificações
mínimas para quem deseja a excelente função do pastoreio do rebanho de Deus. Rebanho que
Ele adquiriu com derramamento de sangue do Senhor Jesus Cristo.
PALAVRAS-CHAVE: Pastor Aprovado. Oração. Devocional. Preparo. Família.
INTRODUÇÃO
O pastorado e a vida pastoral precisam ser tratados com muito cuidado, por serem
assuntos de suma importância para a vida em nossos dias tão conturbados pela ideia da pósmodernidade que tem colocado o pastor como algo “desnecessário” para vida espiritual das
pessoas nessa nova sociedade. Essa visão pós-moderna tem substituído os pastores por outros
modelos e métodos de mentoria espiritual. As pessoas tem buscado uma “espiritualidade” sem
o compromisso. Espiritualidade individualizada, utilitarista, sem se importar com seu
próximo, ou seja, procuram uma vida espiritual apenas do ponto de vista do indivíduo e da
relação com Deus em função das benesses recebidas.
Além disso, há pastores que vivem os mesmo problemas de parte dessa sociedade,
pois também têm construído suas próprias “ilhas” para se protegerem do mundo e dos colegas
de pastorado por julgarem o outro uma ameaça. Essa visão se torna míope por desconsiderar o
papel relevante do pastor como um mentor espiritual.
1
Aluno da Faculdade Teológica Batista de Brasília. Pastor Batista, membro da PIBSobradinho-DF.
6
Os fundamentos para o tema serão conhecidos ao longo do desenvolvimento deste
trabalho. Dentre estes destacam-se as ideias contidas na introdução de justificativa da
publicação do livro O Pastor Aprovado, de Richard Baxter, em que James M. Houston afirma:
“Para o cristão, a Bíblia é o texto básico para leitura espiritual. Todas as outras leituras
devocionais são secundárias e jamais deverão substituir as Escrituras” (BAXTER, 1989, p.8).
O assunto a ser abordado tem como inspiração principal a Sagrada Escritura, a
motivação complementar do livro de Baxter (1989), o Pastorado Aprovado e da perícope da
carta de 2 Tm 2.15-16, em que o apóstolo Paulo, exorta o pastor Timóteo com beleza, ternura
e firmeza:
Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se
envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade. Evite as
conversas inúteis e profanas, pois os que se dão a isso prosseguem cada vez
mais para a impiedade. (2 TIMÓTEO, NVI, p. 953).
Os princípios delineados acima pelo apóstolo Paulo para o bom exercício da função
pastoral bem como da própria vida ministerial pode ser enumerados em: Primeiro, apresentarse a Deus aprovado; segundo, não ter nada do que se envergonhar; terceiro, manejar, utilizar
corretamente a palavra da verdade; e quarto, evitar conversas inúteis e profanas.
A pergunta a ser feita é: quais seriam as qualidades para essa aprovação? O próprio
Paulo em (1 Tm 3.1-7 || Tito 1.6-9) elabora o perfil para o exercício da função pastoral em sua
época, perfil esse que se aplica atualmente. Desta forma, este trabalho buscará fundamentar a
orientação de que o pastor deve ser irrepreensível, “boa reputação”; marido de uma só mulher,
ou seja, não bígamo; moderado; sensato; respeitável “caráter reto e integro”, [...] “hospitaleiro
e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho e nem violento, mas amável; pacífico e
não apegado ao dinheiro”, ou seja, não ser ganancioso; administrar bem sua família com
dignidade para poder ser espelho para sua igreja; não ser recém-convertido e ser de boa
reputação com os de fora da igreja. Portanto, o texto compromete-se a justificar porque essas
qualificações são indispensáveis àquele que deseja a excelência do pastorear. O primeiro
ponto da recomendação do apóstolo Paulo logo chama a atenção, porque ele afirma que o
pastor deve apresentar-se aprovado diante de Deus.
O Pr. Jaziel G. Martins, em Manual do Pastor e da Igreja afirma: “a pessoa adquire as
qualificações acima de três maneiras: pelo dom natural, pela graça de Deus e pela preparação
ao ministério da palavra” (MARTINS, 2002, p.56).
7
Em linhas gerais, também serão abordadas as onze qualidades prévias para quem
deseja ocupar a função pastoral. Essas qualidades objetivas devem ser uma constante na vida
de todo cristão, mas em especial, e de forma contínua na vida daquele que exerce o pastorado
do rebanho de Deus. Cabe ressaltar que o Pastor Hernandes Dias Lopes afirma: “A vida do
ministro é a vida do seu ministério. O pastorado não é uma plataforma de privilégios, mas um
campo de serviço; não uma feira de vaidades, mas lugar de trabalho humilde e abnegado”
(LOPES, 2008, p.36).
A partir dessa realidade, é preciso enxergar o pastorado e a vida pastoral como um
espelho para o mundo. O que deve ser visto mais especificamente quanto ao seu caráter, ao
seu preparo, à sua vida devocional, quanto aos perigos a serem vencidos pelo pastor e à sua
vida familiar, pois sendo assim a vida pastoral será aprovada por Deus.
Este trabalho propõe traçar alguns aspectos indispensáveis ao pastorado e à vida
pastoral e tratar do porque da importância do pastorado e vida pastoral na sociedade e na
igreja de Cristo em nossa época.
O artigo será composto de quatro partes, destacando respectivamente, o caráter
adequado do pastor, o preparo necessário ao exercício dessa missão, aspectos pertinentes a
sua vida devocional, os perigos e desafios a ele apresentados, subdivididas em vocação,
ganância e instabilidade emocional e fundamentação teológica. Por fim, a conclusão do
trabalho sem a intenção de esgotar tão vasto e instigante tema que é o ministério pastoral.
Após a escolha do tema, o autor procurou fundamentar seus pressupostos na
metodologia de pesquisa de revisão bibliográfica. Utilizando os títulos e autores elencados a
seguir. O Pastor Aprovado, modelo de Ministério e Crescimento Espiritual, de Richard
Baxter; A Bíblia na Versão Internacional; Poder pela Oração, de E.M. Bounds; Práticas
Devocionais – exercícios de Sobrevivências e Plenitude Espiritual, de Elben César; A
Celebração da Disciplina: caminho do crescimento espiritual e a Liberdade da simplicidade –
encontrando a simplicidade num mundo complexo, de Richard Foster; A arte de pastorear, de
David Hansen; A oração: caminho para quem busca a amizade com Deus, James Houston;
De: Pastor, A: Pastor. Princípios para ser um pastor segundo o coração de Deus, de Hernandes
Dias Lopes. Manual do Pastor e da Igreja; dentre outros.
A partir dessa base bibliográfica qualitativa serão exploradas as nuanças do
pensamento sobre pastorado e a vida pastoral.
8
1. O CARÁTER DO PASTOR
Em relação ao caráter do Pastor, Richard Baxter, em seu livro, o Pastor Aprovado,
(Baxter, 1989), escreveu sobre o axioma: “de ser e de agir” para consolidar o caráter da pessoa
do pastor. Ele afirma: “A abnegação é essencial” (BAXTER, 1989, p.35). O pastor deve
realizar o seu ministério pastoral “exclusivamente para Deus e pela salvação do Seu povo”.
Esta abnegação é muito importante para o desenvolvimento e amadurecimento do caráter do
pastor. Baxter afirma ainda:
O interesse próprio é uma escolha infeliz e contraproducente. Assim a
abnegação, a autonegação, é absolutamente necessária a todo cristão. Mas é
duplamente necessária ao ministro do evangelho, porque é seu dever ter
redobrada santificação e dedicação a Deus. Sem abnegação, nem por uma
hora ele poderá servir a Deus. (BAXTER, 1989, p.35)
Ao escrever sobre a abnegação e a autonegação Richard Baxter (1989) tem em mente
tratar da pureza, motivos e da intenção para o exercício da função pastoral. O motivo e a
intenção devem ser o exclusivo serviço a Deus e aos que poderão ser salvos por intermédio da
vida e do ministério pastoral. A partir da verdadeira motivação e intenção para o exercício do
pastorado é que o autor mencionado orienta sobre vida pastoral. Ele fala da diligência, esforço
e do trabalho duro do pastor afirmando:
A obra do ministério deve ser realizada com muita diligência e esforço, pois
ela é de infinita importância para os outros e para nós mesmos. Nossa tarefa
é livrar-nos e os outros da tentação, dominar o diabo, destruir o seu reino e
edificar o reino de Deus. É nosso dever ajudar outros a alcançar a glória
eterna. (BAXTER, 1989, p.36)
O que Baxter (1989) propõe é que os pastores “ponham em prática o que pregam”;
ou seja, no pastorado e na vida pessoal é preciso viver o que se prega e pregar o que se vive. É
necessário ter esta dimensão espiritual. Para Baxter, “Ensinar Cristo ao nosso povo é ensinar
tudo”. (BAXTER, 1989, p. 37-8). Esses valores devem fazer parte do caráter daquele que
almeja o pastorado como obra santa de Deus. Daí a necessidade de seu preparo para o
ministério.
O preparo ministerial levará o pastor aprovado por Deus a focalizar no conteúdo
essencial da Palavra de Deus. Baxter (1989) afirma que a mensagem deve focar no que é
essencial, ou seja, “Os pontos essenciais são comuns e óbvios. São com as coisas supérfluas
que desperdiçamos tempo, trabalhando por elas e lamentando que não as conseguimos
9
realizar” (BAXTER, 1989, p. 38), corrobora com a opinião de Baxter, a exortação do apóstolo
Paulo a Timóteo, o pastor da igreja de Éfeso:
Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos
por sua manifestação e por seu Reino, eu exorto solenemente: Pregue a
palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte
com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a
sã doutrina; ao contrário, sentido coceira nos ouvidos, juntarão mestres para
si mesmos, segundo os seus próprios desejos. (2 TIMÓTEO, NVI, p. 954)
Para Baxter (1989) é a pregação da Palavra que faz a transformação e o
amadurecimento do caráter do pastor aprovado diante de Deus e das pessoas que estão sob sua
mentoria espiritual. São palavras que nos incomoda e também nos acomoda no Reino de
Deus. É a Palavra verdadeira, a sã doutrina que combatem os falsos mestres e os que têm
coceiras nos ouvidos e andam segundo os próprios desejos.
2. O PREPARO DO PASTOR
O preparo do pastor é de suma importância tendo em vista o que vem ocorrendo no
mundo “evangélico”. Devemos preferir a denominação “protestante” para diferenciar quem
são os verdadeiros dos falsos protestantes. As palavras evangélicos e protestantes vêm entre
as aspas, pois atualmente há grande dificuldade em mensurar quem é quem nesse mundo
hiperdenominacional. Essa “babel” religiosa está ligada à falta de preparo da liderança
pastoral. Há ainda de se considerar, entretanto, que todo protestante é um evangélico, mas
nem todo evangélico é um protestante. O protestante é aquele com sólidas raízes históricas
advindas da Reforma.
O escritor e pastor Hernandes Dias Lopes escrevendo sobre o preparo pastoral
afirma:
O pastor é um estudioso. Deve ser um erudito. Precisa conhecer a Palavra,
alimentar-se da palavra e pregar a palavra [...] Precisamos apresentar-nos
como obreiros aprovados. Precisamos realizar o ministério com um padrão
de excelência. Pastor também precisa ter um vasto conhecimento geral.
Precisa ser um pastor atualizado. Precisa ler o texto e o contexto. Ler a
Bíblia e ler o povo. Tem de ter a Bíblia em uma mão, e o jornal na outra. O
pastor não poder ser um alienado. Precisa ser um profundo conhecedor da
época. (LOPES, 2008, p.45-6)
10
Assim é essencial a formação, o preparo acadêmico e espiritual para o exercício da
função pastoral. A falta de preparo e a falta de moral pode fomentar a proliferação de pastores
despreparados para o ministério. Daí, o Pastor Seiji Kikuti escrevendo sobre o assunto2
afirma:
Algumas habilidades e até mesmo dons, talentos naturais podem ser
interpretadas como um "sinal" de que alguém tenha um chamado Pastoral.
Mas temos que ter muito cuidado com isso. O fato de alguém saber falar em
público, ter presença de palco, saber usar as palavras e fazer lindas
pregações, não torna esta pessoa um Pastor. (KIKUTI, postado, 2/12/2014)
Coopera com afirmação acima o que diz Hernandes Dias Lopes: “A maior crise que
a nação atravessa não é econômica nem social, mas moral. Estamos vivendo uma crise de
integridade”. (LOPES, 2008, p.47). Ao falar sobre a crise moral da nação, o autor tem em
mente a crise que atravessa também as instituições religiosas representadas por seus
“pastores” em crise moral, acadêmica, emocional e espiritual. Daí a necessidade de preparo
dos pastores em todas as áreas da vida.
O pastor e escritor Edward Mckendree Bounds (1835-1913) em seu livro, o Poder
pela Oração. Ao tratar do preparo do pastor, afirma: “Uma boca santificada faz-se com
oração, com muitas orações”. (BOUNDS, 2010, p.51-2). Esse assunto deve ser considerado
para além do preparo acadêmico. Bounds (2010) escreveu: “É preciso preparar o coração”.
Levando-nos a concordar com Bounds (2010) que é importantíssimo investir no preparo do
seu coração, pois existem pastores mais preocupados com seu preparo intelectual do que com
o preparo do espiritual do coração. Ele afirma que para se preparar o coração é necessário que
o pastor seja um homem de oração:
A oração faz do pregador um pregador que prega com o coração. A oração
põe o coração do pregador no sermão do pregador; a oração põe o sermão do
pregador no coração do pregador. Coração faz o pregador. Grande é o
coração dos grandes pregadores. [...] Um coração preparado é bem melhor
que um sermão preparado. Um coração preparado criará um sermão
preparado. (BOUNDS, 2010, p.51-2)
Evidentemente, o autor não está dizendo que não é preciso o preparo acadêmico,
intelectual, mas que muitos têm substituído o preparo espiritual, moral pela formação apenas
da mente e não do coração e da alma. Diante dessa realidade Bounds afirma:
2
http://serpastore.blogspot.com.br
11
De nada adianta dizer que os pregadores estudam demais. Alguns não
estudam nada; outros não estudam o suficiente. Inúmeros deles não estudam
a maneira correta para se mostrarem obreiros aprovados por Deus. Mas o
que muito nos falta não é a cultura da mente, mas a cultura do coração;
nosso defeito deprimente não é falta de conhecimento, e sim a falta de
santidade. (BOUNDS, 2010, p.52)
Na opinião de E.M. Bounds, o preparo cultural e espiritual do pastor depende
exclusivamente da revelação divina, ele afirma:
A revelação de Deus não precisa da luz do espírito humano, o lustro e o
vigor da cultura humana, o brilhantismos do pensamento humano, a força do
cérebro humano para enfeitá-la ou fazê-la executar; de ato, exige a
simplicidade, a docilidade, a humildade e a fé do coração de uma criança.
(BOUNDS, 2010, p.53)
O autor E.M. Bounds justifica sua preocupação: “nossa grande necessidade é
preparar o coração”, ele afirma:
Não estamos afirmando que os homens não devem pensar nem usar o
intelecto, mas emprega melhor o intelecto aquele que melhor cultiva o
coração. Não estamos dizendo que os pregadores não devem ser estudiosos,
mas estamos dizendo que o grande estudo deles deve ser a Bíblia, e estuda
melhor a Bíblia aquele que guarda o coração com diligência. (BOUNDS,
2010, p.53), (negrito do autor)
Além da maturidade espiritual a partir do coração, a revelação também se faz
fundamental. Bounds (2010) apenas reafirma o que Jesus Cristo já havia dito aos seus
discípulos quando falou que a revelação é uma ação especial de Deus. Ele, no diálogo com
seus discípulos a respeito de quem o povo, pensava que ele fosse e em relação ao que Simão
Pedro afirmou sobre quem é Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. (Mateus 16.16,
NVI; p. 782). Jesus sentenciou: “Feliz é você, Simão filho de Jonas, porque isto não lhe foi
revelado por carne ou sangue, mas meu Pai que está nos céus”. (MATEUS 16.16-7, NVI, p.
782). A formação e preparo do pastor carece da revelação especial de Deus e do preparo
acadêmico na formação intelectual daquele que almeja a função nobre do pastorado do
rebanho de Deus. Ele (Deus) deseja que seu rebanho seja pastoreado conforme a sua vontade
expressa pelo presbítero Pedro, quando ele ordena:
Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele,
não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso
por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos
12
que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. (1 PEDRO
5.3-5, NVI, p. 973)
Portanto, Jesus Cristo, o apóstolo Paulo e o presbítero Pedro concordam que a
condição sine qua non para o perfeito conhecimento e preparado para a vida ministerial tem
sua origem na vontade reveladora de Deus.
É preciso concordar que nos dias atuais, como nos dias dos apóstolos e também nos
dias de E. M. Bounds, estamos carecendo de homens aprovados por Deus que se dediquem à
sua formação intelectual e espiritual para perceber que a revelação de Deus é superior à
“revelação” puramente humana.
Conclui-se que E.M Bounds quer nos ensinar que o preparo intelectual, moral e
espiritual deve estar afinado com um coração que busca a Deus na beleza de sua Santidade
com dedicação acadêmica e espiritual.
O próprio Mestre Jesus escolheu 12 discípulos para estarem com Ele e serem
preparados para a missão mais importante em baixo do céu. Segundo Jesus Cristo: “salvar o
que havia se perdido” (LUCAS 19.10, NVI, p. 1951). Ele passa três anos ou mais ensinando
de forma teórica e prática a arte do pastoreio. No evangelho de Marcos, o primeiro dos
escritos relatando o ministério pastoral de Jesus é dito:
Jesus subiu a um monte e chamou a si aqueles que ele quis, os quais vieram
para junto dele. Escolheu doze, designando-os apóstolos, para que
estivessem com ele, os enviasse a pregar e tivessem autoridade para expulsar
demônios. Estes são os doze que ele escolheu: Simão, aquém deu o nome de
Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais deu o nome de
Boanerges, que significa “filho do trovão”; André; Filipe; Bartolomeu;
Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Tadeu; Simão, o Zelote; e Judas
Iscariotes, que o traiu. (MARCOS 3.13-19, NVI, p. 798)
O mesmo relato é tratado pelo evangelista Lucas que diz: “Num daqueles dias, saiu
Jesus para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus
discípulos e escolheu doze deles, a quem também designou apóstolos” (LUCAS 6.12-13,
NVI, p. 823). A escolha dos seus discípulos [alunos] foi precedida de muita oração e
dependência de Deus. Essa foi a maior e melhor escola [faculdade] que alguém poderia
estudar para ser [pastor aprovado] pelo Senhor. (destaque meu).
Logo, para essa entrega de coração e alma ao Senhor, único Deus, se faz necessário
que aquele que deseja ser um pastor aprovado busque ter uma vida de devoção, a exemplo do
Mestre Jesus Cristo, pois mesmo sendo o Filho de Deus procurou desenvolver uma vida de
dependência e devoção ao Pai celestial.
13
3. A VIDA DEVOCIONAL DO PASTOR
O Apostolo Paulo entendeu que para o desenvolvimento da vida devocional do
Pastor é necessário ter em mente três aspectos: a leitura da Palavra, a meditação e a oração
como prática diária. O apóstolo Paulo escrevendo ao pastor Timóteo que se encontrava em
Éfeso, aconselha-o para exercer bem seu ministério pastoral uma vida de devoção que
contemplasse esses três aspectos:
[...] mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no
amor, na fé e na pureza. Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública
da Escritura, à exortação e ao ensino. Não negligencie o dom que lhe foi
dado por mensagem profética com imposição de mão dos presbíteros. Seja
diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam
o teu progresso. Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina,
perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si
mesmo quanto aos que o ouvem. (1 Timóteo 4.12b-16, NVI, p.950)
Nesta orientação do apóstolo, pode ser percebida a sua preocupação com a vida
devocional de Timóteo, o jovem pastor. Ele pede: “não seja desprezado por ser jovem”, mas
seja um exemplo para os “fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé, e na pureza” para
demonstrar uma vida devocional digna a ser seguida. O pastor Timóteo deveria ser dedicado à
Escritura, à exortação e ao ensino, sem negligenciar e sem esquecer que recebeu um dom de
Deus. Ele tem responsabilidade perante Deus e perante aqueles que o confiaram a Deus pela
imposição de mãos. Ele precisa meditar sobre o que Paulo está lhe dizendo. Para ser dedicado
à Escritura, entende-se que é necessário dedicar tempo à meditação sobre o que foi lido. Em
Celebração da Disciplina Richard Foster dedica um capítulo sobre a disciplina da meditação.
Ele ensina: “Enquanto o estudo das Escrituras gira em torno da exegese, a meditação procura
internalizar a passagem e torná-la pessoal. A Palavra escrita torna-se viva dirigida a você”
(FOSTER, 1988, p.61).
Outro aspecto da vida devocional que precisa ser considerado em continuidade à
meditação, é a vida de oração do Pastor. No livro o Poder pela Oração, E. M. Bounds
escreveu que os primeiros apóstolos: “conheciam a necessidade e valor da oração para o
ministério”. Ele traz à memória o episódio relatado em Atos 6.1-6, quando surge o problema
de ordem eclesiástica, ou seja, administrativo, entre duas classes de judias: as de fala hebraica
e as de fala grega. Destaca-se a importância da oração e da Palavra, nos versos 2b-4, é dito:
14
Não é certo negligenciarmos o ministério da Palavra de Deus, a fim de servir
às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho,
cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos
dedicaremos à oração e ao ministério da Palavra. (ATOS 6.2b-4, NVI, p.
875) (Grifo meu)
Nestas palavras dos apóstolos do Senhor é dada a verdadeira importância da oração
na vida do Pastor, pois este, tendo o espírito voltado para a oração poderá levar a Igreja a
seguir seu exemplo de dedicação à oração e meditação na Palavra. Corrobora com essa
afirmação, o que disse E. M. Bounds:
A oração apostólica era tão árdua, laboriosa e imperativa quanto à pregação
apostólica. Eles oravam poderosamente dia e noite para levar seu povo às
mais altas regiões da fé e da santidade. Oravam ainda mais poderosamente
para se manterem nessa elevada altitude espiritual. (BOUNDS, 2010, p.72)
O Senhor Jesus ao tratar da necessidade da oração na vida de seus discípulos deixa
claro que para um bom ministério pastoral, os discípulos Dele deveriam ser homens dedicados
à oração como forma de manter a intimidade com Deus, o Pai. O Mestre Jesus passa a ensinálos a prática da oração, dizendo-lhes:
E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar
orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos
outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas
quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está
em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará. E quando
orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os
pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais
a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o
pedirem. Vocês, orem assim: Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja
o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como
nos céus. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas,
assim como perdoamos aso nossos devedores. E não nos deixes cair em
tentação, mas livra-nos do mal [maligno], porque teu e o Reino, o poder e a
glória para sempre. Amém. (MATEUS 6.5-13, NVI, p. 771)
Os pastores quando discipulados pelo Senhor Jesus também precisam ter a
sensibilidade e a humildade de total dependência de Deus, o Pai, sabendo que Ele é Senhor
dos céus e da terra e que sempre suprirá suas necessidades, antes mesmo que os peçam, pois
Ele é rico em misericórdia.
Em outra ocasião, Jesus vai além das expectativas dos seus discípulos quando pede
que eles fiquem com Ele no seu mais profundo sofrimento e na maior expressão de sua
humanidade. Ele os leva até o Monte das Oliveiras e apenas pede que eles o acompanhem em
15
um momento de completa dependência do seu Pai enquanto homem preparado para o
calvário. Ele pede apenas que eles vigiem e ore para não entrarem em tentação:
Como de costume, Jesus foi para o monte das Oliveiras, e os seus discípulos
o seguiram. Chegando ao lugar, ele lhes disse: “Orem para que vocês não
caiam em tentação”. Ele se afastou deles a uma pequena distância, ajoelhouse e começou a orar: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não
seja feita a minha vontade, mas a tua”. Apareceu-lhe então um anjo do céu
que o fortalecia. Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o
seu suor era como gotas de sangue que caiam no chão. Quando se levantou
da oração e voltou aos discípulos, encontrou-os dormindo, dominados pela
tristeza [cansaço]. Por que estão dormindo? Perguntou-lhes. Levantem-se e
orem para que vocês não caiam em tentação. (LUCAS 22.39-45, NVI, p.
843)
A oração deve ocupar lugar central no pastorado e na vida privada do pastor
comprovando sua inteira dependência de Deus para enfrentamento do maligno e de todas as
intempéries do ministério pastoral. O pastor precisa alinhar sua vida de estudo, pregação e
meditação ao exercício de sua sublime função de ser pastor do rebando de Deus comprado
com o sangue precioso de seu Filho Jesus Cristo, o Supremo Pastor aprovado desde a
fundação do mundo para a salvação da humanidade. David Hansen ao escrever sobre a
importância da oração aponta o caminho a ser seguido pelos pastores que estão prontos a
interceder por seu rebanho e de forma especial, por sua família, ele afirma:
O pastor precisa ser advogado a favor da congregação e pleitear com Deus,
fortemente, em favor dos amados. Muitos pastores temem orar dessa
maneira, porque temem que isso os faça parecer arrogantes, como se eles
mesmos não precisassem de perdão ou do derramamento do Espirito Santo.
Mas se a congregação conhece a humildade e amor do pastor, eles aceitarão
a oração intercessora como sendo o elemento mais terno e humilde da oração
pastoral. (HANSEN, 2001, p.122-3)
A dimensão da oração pastoral é a de apresentar as variadas necessidades do seu
rebanho diante do trono da graça de Deus, em nome de Jesus, por iluminação do Espírito
Santo que também intercede juntamente com o pastor perante Deus Pai. O pastor deve ser
aquele que estuda, prega, medita e intercede por meio da oração.
Outro exemplo que alinha a pregação da Palavra à oração encontra-se em Efésios
capítulos: 2.15-23 || 3.14-21:
Por essa razão, desde que ouvi falar da fé que vocês têm no Senhor Jesus e
do amor que demonstram para com todos os santos, não deixo de dar graças
por vocês, mencionando-os nas minhas orações. Peço que o Deus de nosso
16
Senhor Jesus Cristo, o glorioso Pai, lhes dê espírito de sabedoria e de
revelação, no pleno conhecimento dele. Oro também para que os olhos do
coração de vocês sejam iluminados, a fim de que vocês conheçam a
esperança para a qual ele os chamou, as riquezas da gloriosa herança dele
nos santos. [...] Por essa razão, dobro meus joelhos perante o Pai, de quem
toda família nos céus e na terra recebe o nome, para que, segundo as
riquezas da sua glória, vos conceda que sejais interiormente fortalecidos com
poder pelo seu Espírito. E que Cristo habite pela fé em vosso coração, a fim
de que, arraigados e fundamentados em amor, vos seja possível
compreender, juntamente com todos os santos, a largura, o comprimento, a
altura e a profundidade desse amor, e assim conhecer esse amor de Cristo,
que excede todo o entendimento, para que sejais preenchidos até a plenitude
de Deus. Àquele que é poderoso para fazer bem todas as coisas, além do que
pedimos ou pensamos, pelo poder que age em nós, a ele seja a glória na
igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém.
(EFÉSIOS, 2002, NVI, p. 936-7)
São duas orações profundas que podem ser extraídas dos textos mencionados acima,
em que Paulo nos ensina na primeira oração, a pedir para que o rebanho tenha “espírito de
sabedoria e revelação no conhecimento dele, (de Deus)” e na segunda, a pedir que o rebanho
seja “fortalecido com poder pelo Espírito Santo” e “que Cristo habite pela fé no coração” das
ovelhas com a finalidade de serem “arraigadas e fundamentadas em amor” e possam
compreender o que Deus fez incluindo os nãos judeus na família de Deus.
O pastor deve ter em mente a dimensão da oração por si mesmo e por todo o rebanho
a ele confiado; como é declarado em Atos 20.28: “Cuidem de vocês mesmo e de todo o
rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de
Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue”. Essa é uma realidade que precisa ocupar a
vida do pastor e a vida da sua igreja.
O pastor E.M. Bounds discorrendo sobre essa necessidade primordial que é a oração
parece clamar quando escreveu:
Uma boca santificada faz-se com oração, com muita oração; uma boca
intrépida faz-se com oração, com muita oração. A igreja e o mundo, Deus e
o céu, devem muito à boca de Paulo; a boca de Paulo deve seu poder à
oração [...] A oração faz do pregador [pastor] um pregador [pastor] que
prega com o coração. A oração põe o coração do pregador [pastor] no
sermão do pregador [pastor]; a oração põe o sermão do pregador [pastor]
no coração do pregador [pastor]. (BOUNDS, 2010, p.51). (acréscimos meu)
Pode-se compreender dos ensinos de Jesus, das palavras do apóstolo Paulo e do que
pensa Bounds sobre a oração dependente exclusiva de Deus que qualquer pastor por mais
preparado que esteja do ponto de vista humano naufragará se não desenvolver um espírito
carente e dependente da oração como forma de diálogo com o Pai das luzes.
17
4. VENCENDO OS PERIGOS DO PASTORADO
Ao tratar dos desafios e perigos enfrentados pelos ministros de Deus, serão
destacados apenas alguns aspectos mais relevantes para que o Pastor seja um vencedor.
Vencedor, mas não um super-homem da fé e da moral, pois se assim fosse seria muito fácil
vencer os perigos e obstáculos a serem enfrentados no exercício da função pastoral. Neste
tópico serão usados alguns conceitos de Hernandes Dias Lopes (LOPES, 2008, p. 11-34),
quando ele trata do tema com muita propriedade. Assim ao tomá-lo como modelo, seremos
enriquecidos do ponto de vista do conhecimento e da espiritualidade. Não será uma cópia do
trabalho do autor epigrafado, apenas serão considerados os pontos avaliados de maior
importância para o propósito deste trabalho, os quais serão abordados a seguir.
4.1 A VOCAÇÃO MINISTERIAL
Em várias áreas do conhecimento e do trabalho humano se valoriza o aspecto do
“talento” e do “conhecimento” para o exercício de qualquer profissão, entretanto, o pastorado
não poderá ser visto apenas do ponto de vista profissional – uma espécie de “técnico da fé”,
mas também como um importante ingrediente da verdadeira crença da presença cristã em
cada coração, ou seja, o pastorado deverá ser exercido como uma vocação de Deus.
Hernandes Lopes afirmou: “a vocação é a consciência de estar no lugar certo, fazendo a coisa
certa”. Lopes acrescenta: “Há muitos pastores que jamais foram chamados por Deus para o
ministério. Eles são voluntários, mas não vocacionados. Entraram pelos portais do ministério
por influências externas, e não por um chamado interno e eficaz do Espirito Santo”. (LOPES,
2008, p.14).
Desse modo, há muitos “pastores” exercendo a função pastoral sem a convicção do
seu chamado para o ministério pastoral, considerando que entraram nesta sublime função por
iniciativa própria e preparo próprio, mas sem jamais ter ouvido o chamado de Deus. Entram
para o ministério pastoral somente porque muitas outras portas profissionais se fecharam para
ele. Então julgam que Deus está chamando para ser pastor. Hernandes Dias Lopes afirma
ainda: “vocação é quando você tem todas as outras portas abertas, mas só consegue enxergar a
porta do ministério. Vocação é como algemas invisíveis” (LOPES, 2008, p.16).
A vocação para o ministério deverá ser sempre avaliada e medida diante dos homens
e diante de Deus para que se tenha a certeza que não se está enganado quanto ao chamado
18
para tão nobre função de representar Deus diante das pessoas e representar as pessoas diante
de Deus.
4.2 A GANÂNCIA PASTORAL
Esse é um problema sério nos dias atuais. Atualmente sem muito esforço pode ser
notado que há muitos aventureiros abrindo “igrejas” como se fosse uma empresa ou na pior
das hipóteses como “bares” em qualquer esquina ou avenida. Hernandes Lopes escreve algo
que ao ler dói o coração e a alma. Ele diz que: “Há pastores que organizam igrejas como uma
empresa particular, onde prevalece o nepotismo. Transformam o púlpito em balcão, o
evangelho em um produto, o templo em uma praça de negócios, e os crentes em
consumidores”. (LOPES, 2008, p.17).
É lamentável ver como muitos estão transformando “casas de orações” em casas de
ladrões e oportunistas em nome não de Deus, mas na verdade, casa da ganância humana. É
lamentável que o projeto de Deus para sua igreja como lugar de libertação, de cura, de vida
tenha se tornado lugar de escárnio para os homens e para o Diabo e seus anjos. Corrobora
com essa lamentação o que Dias Lopes afirma:
Hoje estamos assistindo ao fenômeno do mercadejamento da fé. Pastores e
mais pastores estão se desvinculando da estrutura eclesiástica e rompendo
com suas denominações para criar ministérios particulares, em que o líder se
torna o dono da igreja. A igreja passa a ser uma propriedade particular do
pastor. O ministério da igreja torna-se um governo dinástico, em que a
esposa é ordenada, e os filhos são sucessores imediatos. (LOPES, 2008,
p.18)
São muitos os chamados “ministérios particulares” em que se criam falsas igrejas, as
quais passam a ser fonte de rendimentos para os seus “pastores” e para toda a “família
pastoral”. Criam-se verdadeiros feudos eclesiásticos justificados por visões ministeriais
particulares. É lamentável.
4.3 INSTABILIDADE EMOCIONAL
Esse é um assunto que muitos pastores, em perigo ou sob elevado risco psicológico,
procuram empurrar para debaixo dos tapetes pastorais: A instabilidade emocional deveria ser
tratada em nível mais profundo antes que tais pastores viessem a assumir qualquer
compromisso com o pastorado, pois é a instabilidade emocional que leva muitos ministros de
19
Deus a caírem em pecados. Segundo o Pastor Hernandes Lopes, os pastores sob estresse e em
instabilidade emocional deveriam: “estar sendo pastoreados, mas estão pastoreando”. Ele
ainda afirma: “Um pastor sem equilíbrio emocional pode trazer grandes prejuízos para si, para
sua família e para igreja” (LOPES, 2008, p.18).
Essa é uma realidade que é vista todos os dias, basta estar atentos aos noticiários, seja
no meio eclesiástico ou da grande mídia. O pastor precisa ser um homem bem resolvido e
bem tratado do ponto de vista do equilíbrio emocional e psíquico para bem exercer sua função
pastoral, para não viver o tempo todo com medo de cair nas garras do maligno ou mesmo nas
suas próprias garras. Nem sempre o pastor é levado à queda por pura tentação do Diabo. Ele
em muitos casos pode cair por falta de equilíbrio emocional e por falta de domínio próprio ou
autoconfiança.
O apóstolo Tiago, o irmão do Senhor, afirma que “Cada um, porém, é tentado pelo
próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido” (TIAGO 1.14, NVI, p. 967), e o
pastor Hernandes Dias Lopes constata:
Mais de 50% das pessoas que entram em um gabinete pastoral são do sexo
feminino, e mais de 50% dos assuntos tratados estão ligados à vida
sentimental e sexual. Um pastor emocionalmente vulnerável pode envolverse emocionalmente com suas consulentes ou deixar-se envolver por elas. Há
um amontoado de pastores que perderam o ministério dentro de um gabinete
pastoral. (LOPES, 2008, p.19)
Esse fato é de suma importância para a vida pastoral, pois nesse ponto ele precisa ser
um pastor aprovado por Deus e pelas pessoas que circundam seu ministério pastoral. São
tentações externas e tentações internas agindo no íntimo e nas emoções do pastor.
4.4 FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS
Esse é um fator de muita relevância para o exercício da função pastoral, o seu
preparo teológico com fundamentos seguros à luz da Escritura Sagrada, pois, se sua teologia,
do ponto de vista bíblico estiver sem esses fundamentos, o pastor terá grande dificuldade no
exercício pastoral. Poderá ser levado de um lado para outro por todo vento de doutrina como
afirmou apóstolo Paulo:
O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para
outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e
pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a
20
verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.
(EFÉSIOS 4.14-5, NVI, p. 937)
Essa ausência de fundamentação teológica tem levado muitos pastores a pregarem
uma mensagem esvaziada do verdadeiro evangelho pregado por Jesus Cristo e por seus
primeiros apóstolos. Hernandes Dias Lopes afirma: “vemos prosperar nessa terra uma igreja
que se diz evangélica, mas que não tem evangelho. Prega sobre prosperidade, e não sobre
salvação. Fala de tesouros e riquezas na terra e não de tesouros no céu”. (LOPES, 2008, p.22).
Esses pregadores dizem acreditar na Bíblia como única regra de fé e prática, mas não
acreditando na totalidade das Escrituras como fonte inerrante da Palavra de Deus. Hernandes
Lopes sobre esse tópico afirma:
Dizem crer na Bíblia, mas, ao mesmo tempo, são evolucionistas [...] dizem
estar servindo a Deus, mas negam a inspiração das Escrituras [...] O
liberalismo deve ser abandonado, se o que queremos é uma igreja sólida na
palavra, piedosa e comprometida com a obra missionária. Não há antídotos
para uma igreja que abandona a sã doutrina e nada de braços dados com o
liberalismo. (LOPES, 2008, p.24)
Ao concluir esse tópico sobre os perigos enfrentados pelos pastores no exercício da
função pastoral, faz-se necessário trazer o ponto de vista do pastor Hernandes Dias Lopes, em
que ele sumariza:
Há muitos pastores que já estão sangrando, com a vida arrebentada. Há
muitos obreiros que já perderam a sensibilidade espiritual e o temor a Deus.
Estão vivendo na prática de pecado e, ao mesmo tempo, pregando,
ministrando a ceia e aconselhando os aflitos. São hipócritas que tentam curar
outros enquanto deviam estar buscando cura para si mesmos. [...] É tempo de
a igreja orar pelos pastores! É tempo de os pastores botarem a boca no pó e
clamarem a Deus por uma visitação do céu e um tempo de restauração.
(LOPES, 2008, p.34)
Evidentemente não foram abordados todos os perigos e desafios a que pastores
enfrentam no dia-a-dia da vida pastoral. Esses exemplos apenas servem como alerta e como
meios para levar pastores a buscarem uma vida de maior dependência de Deus. Dependência
que pode ser fortalecida por meio da leitura da Palavra, da meditação e da oração constante.
21
5. A VIDA FAMILIAR DO PASTOR
Por último, como fator a ser abordado no presente estudo, mas não menos
importante, é o aspecto relacionado à vida familiar do pastor. Essa ênfase na relação familiar é
muitas vezes é negligenciada em função das muitas atividades que a maioria dos pastores
assume diante de uma religiosidade escravizante, onde a instituição passa a ter mais valor do
que vida em família. O Pastor Hernandes Dias Lopes, corrobora com esse tópico dizendo:
“Há lares quebrados, há pastores em crise no casamento. Há famílias pastorais arrebentadas
emocionalmente”. (LOPES, 2008, p.59).
É um contrassenso, pois a própria Bíblia afirma que o bispo, o pastor deve ser um
exímio conselheiro familiar, um exímio administrador da família quando diz em 1 Tm 3.4-5:
“Ele deve governar bem sua família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda dignidade. Pois,
se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da Igreja de Deus?”.
O pastor não deve encarar seu pastorado de forma leviana nem tratar das coisas
familiares sob um pressuposto equivocado e em segundo plano. Sua conduta e atenção devem
ser exemplos tanto para o rebanho quanto para sua própria família.
É de extrema relevância na vida do pastor aprovado por Deus a preocupação com os
membros de sua família, em especial por seus filhos e sua esposa, conforme se constata
quando o pastor David Hasen (2001) afirma:
Os pais [pastores] cristãos oram por todos os aspectos das vidas de seus
filhos. Oram por sua saúde e por sucesso em sua escola e carreira. Se o filho
está doente, oram com urgência por cura. Se o filho ou filha é candidato a
uma bolsa de estudos ou promoção no serviço, eles oram para que a receba.
Os pais [pastores] não tem que ser neutros para orar. Os pais [pastores]
oram, para que seus filhos sigam Cristo. Oram, para que os pecados dos
filhos sejam perdoados. Oram, para que Deus tenha misericórdia dos filhos.
Oram pelo desenvolvimento do caráter deles. (p.120-1) (acréscimos meu)
Em relação à esposa o pastor deverá ser responsável e desenvolver o amor tendo
como pano de fundo a teologia constante na orientação do apóstolo Paulo em que orienta aos
esposos que amem suas esposas se espelhando em nosso Senhor Jesus Cristo. Ele afirmou:
Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e
entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água
mediante a palavra, e para apresenta-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem
mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Da mesma
forma, os maridos devem amar cada uma a sua mulher como a seu próprio
22
corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. (EFÉSIOS 5.25-28, NVI, p.
938)
É uma responsabilidade que Deus dá a todos os homens, mas de forma mais
profunda ao pastor e marido, porque seus familiares também fazem parte do rebanho de Deus,
que Ele a comprou com próprio sangue.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O pastorado e uma vida pastoral aprovada por Deus com certeza deverá ser
contemplada com os pressupostos delineados neste trabalho, porque o pastor não é chamado
para ser apenas um “profissional religioso”, mas para ser um pastor segundo o coração de
Deus, tendo uma vida exemplar no que diz respeito ao preparo acadêmico e espiritual, ao
caráter ilibado e abnegado, a uma vida devocional de leitura da Palavra e meditação na
mesma, enfrentando os perigos ligados ao exercício pastoral com muita oração e ter uma vida
familiar sob a orientação de Deus.
Estas são qualificações mínimas para quem deseja a excelente, mas desafiadora
função de ser pastor do rebanho de Deus que por meio do Senhor Jesus Cristo ele adquiriu e
sob a égide do Espírito Santo confiou aos seus pastores para cuidar e alimentar como
aprovados de Deus e que não tem do que se envergonhar.
Pastores de fato são considerados apenas aqueles que atuam segundo o coração e
vontade de Deus. Entendendo que é o próprio Deus quem define o perfil para os seus
escolhidos ao pastorado. Ele disse: “Então eu lhes darei governantes [pastores] conforme a
minha vontade [o meu coração], que os dirigirão com sabedoria e com entendimento”, se essa
é a realidade para o exercício da função pastoral cabe a todo aquele que almeja essa função
nobre estar sempre se avaliando diante de Deus, que diligentemente define o perfil do pastor
para julgar se ele está sendo aprovado por Deus na condução do se rebanho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado: modelo de ministério e crescimento espiritual. São
Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1989.
BÍBLIA Sagrada: Nova versão internacional. São Paulo: Vida, 2002.
BOUNDS, E. M.. O poder pela oração. São Paulo: Vida, 2010.
23
CÉSAR, Elben M. Lenz. Práticas Devocionais: exercícios de sobrevivência e plenitude
Espiritual. Viçosa: Últimato Ltda., 2005.
FOSTER, Richard J. A celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 2. ed.
São Paulo: Vida, 2007.
_____________. Richard J. A liberdade da simplicidade: encontrando a simplicidade num
mundo complexo. 2. ed. São Paulo: Vida, 2008.
HANSEN, David. A arte de pastorear. São Paulo: Shedd, 2001.
HOUSTON, James M. A oração: caminho para quem busca a amizade com Deus.
Brasília: Palavra, 2009.
KEMP, Jaime. Pastores ainda em Perigo: ajuda para pastor, esperança para a igreja. São
Paulo; Sepal, 1996.
_____________. Jaime. Pastores em Perigo: ajuda para pastor, esperança para a igreja. 2. ed.
São Paulo: Sepal, 1996.
LOPES, Hernandes Dias. De: Pastor. A: Pastor: princípios para ser um pastor segundo o
coração de Deus. São Paulo: Hagnos, 2008.
MARTINS, Jaziel Guerreiro. Manual do Pastor e da Igreja. Curitiba: A.D. Santos Editora,
2002.
MURRAY, Andrew. Com Cristo na Escola da Oração.São Paulo: Editora Clássicos, 2009.
PERTERSON, Eugene; DAWN, Marva J. O pastor desnecessário: redescobrindo o
chamado. Rio de Janeiro: Textus, 2001.
POIRIER, Alfred. O pastor pacificador: um guia bíblico para a solução de conflitos na
Igreja. São Paulo: Vida Nova, 2011.

Documentos relacionados

ilustrações selecionadas - alcides conejeiro peres

ilustrações selecionadas - alcides conejeiro peres marido ainda exigiu da esposa que ela preparasse uma refeição para eles. Ela, no seu espírito religioso, o fez, sem se queixar. Os outros, diante de tanta singularidade, perguntaram-lhe: - Por que ...

Leia mais