5-15 cinema e literatura . 17-20 educação . 21-28 livros 30

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5-15 cinema e literatura . 17-20 educação . 21-28 livros 30
Nº 3 . MARÇO 2014
ESCUELAS OFICIALES DE IDIOMAS DE LEÓN Y VALLADOLID (ESPAÑA)
UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR DA COVILHÃ (PORTUGAL)
5-15 cinema e literatura . 17-20 educação . 21-28 livros
30-31 entrevista a pilar del río . 34-37 criação
39-42 música
.
43-47 viagens e gastronomia
nós-otros
Diretora do projeto
Concha López Jambrina
Conselho da Redação
Gabriela da Cunha Amandi
Armando Gutiérrez
María José Fernández
Isaac Macho
Coordenadores
EOI-Leão: Armando Gutiérrez
EOI-Valladolid: Isaac Macho
UBI: Dra. Noemí Pérez
Colaboradores
Abilio Chamorro, Ana Andaluz,
Ana Carolina Martins, António
Duarte, Armando Gutiérrez,
Atalí Fernández, Carmen
Méndez, Débora Martín, Édgar
Boán, Elena Díez, Gloria Maté,
Goyi Plaza, Gonçalo Silva, Isaac
Macho, Isabel Fonseca, Isabel
Sanz, Javier G. Lorente, José
Antonio González, José António
Pinho, José Antonio Vallejo,
José Miguel Gándara, Julia
Molina, Margarita Cueto, María
José Fernández, Natalia Fernández, Noelia Medina, Patricia
Piñeiro, Rubi Tôrres.
Ilustradores
Adrián Martínez: behance.
net/mdlm; Beatriz Aguilera:
[email protected]; Carlos
Puerta; Dámaris Alejo: [email protected]; Daniel
Vélez: danielvhernando@
gmail.com; David Melendro:
[email protected];
Edgar Álvarez: edgarednella@
outlook.es; Elena Sandoval;
Esteban García: estebangl@
msn.com; Iris Rodríguez:
[email protected];
Jesús Rueda: [email protected]; Luis Fernández;
contenidos
María Campo; María Mayo:
[email protected];
Ricardo Rodríguez: ricardo.
rodriguez.liebana@gmail.
com; Rubén Herrero: [email protected]; Sara
Gómez: [email protected]; Tomás Rodríguez:
[email protected]
05
CINEMA E LITERATURA
Os olhos de João César
Monteiro _ [Hugo Milhanas
Machado]
El cine de Zé - O Outro
amor _ [Isaac Macho]
Na cidade do Cinema _ [Mª José Fernández Calleja]
“Indie Lisboa” _ [Natalia Fernández)
O Eco de Umberto _ [Atalí Fernández]
A homossexualidade _ [Débora Martín]
A saudade da terra _ [Ana Carolina Martins]
Ojo discreto _ [Pedro Serra]
17
EDUCAÇÃO
Uma educação
próxima do futuro _
[Natalia Fernández
Picado]
A cultura para construir pontes _ [Carmen Méndez Rojo]
Cómo evaluar un idioma _ [Miguel Á. Sánchez]
Bullying, un juego peligroso _ [Conçalo Silva]
A cultura desde as Embaixadas _ [Filipa Soares e
Eduardo Tobal]
22
LIVROS
Um abraço à vida _ [José A.
González González]
Raízes sebásticas _ [Jorge
Manrique Martínez]
A morte na obra e na vida de
José Saramago _ [Édgar Boán
González]
¿Una ruta cultural para el siglo XXI? _ [David
Mota Álvarez]
Imagem peninsular de Lêdo Ivo _ [Margarita
Cueto Veiga]
En busca de la aldea natal de E. Lourenço _
[José Luis Puerto]
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CARTOON
¿A qué jugamos? _ [Jesús Rueda Pastrana]
Fotógrafos
Paula Maiquez, José Luis
Carrasco
Colaboradores especiais
Gabriela Da Cunha Amandi,
David Mota, Eduardo Tobar,
Filipa Soares, Hugo Milhanas,
Jorge Manrique, José Luis
Puerto, M. A. Sánchez, Pablo
J. Pérez, Pedro Serra, RAMÓN
Capa
Tomás Rodríguez Isla
Ideia, desenho e maquetização
Ignacio Gil Zarzosa
Agradecimentos
Canarias 7, Cargraf, Escuela
Oficial de Idiomas de León, Escuela Sup. de Arte de Valladolid,
Eurobook, Carnicería Gutiérrez,
Dibujo Técnico/MecánicaZamora, Fotocopiadoras Amandi,
Librería Jambrina, Librería Maisa,
Librería Miguel Núñez, Librería
Milhojas, Librería Semuret, Papelería Lesmes y Pescadolid.
Edição
EOI-Leão, EOI-Valladolid (España) e a Universidade da Beira
Interior-Covilhã (Portugal)
Depósito Legal
LE-195-2014
otras portadas
El proyecto educativo-pedagógico NÓS-OTROS ha estado unido desde
el comienzo, hace tres años, a la Escuela Superior de Arte de Valladolid.
Los alumnos del ciclo superior de Ilustración nos han acompañado durante este tiempo enriqueciendo los contenidos literarios con sus aportaciones gráficas. En este tercer número de la revista, hemos incrementado
la colaboración de los creativos, gracias al aliento e impulso de la profesora Rosa Rico.
En el caso de la portada, los estudiantes han plasmado su particular
visión de lo que es la carta de presentación de una revista de estas características. En este espacio queremos mostrar otros cuatro originales,
además de la primera plana de Tomás Rodríguez, todos merecedores de
ocupar ese lugar. A ellos les agradecemos su esfuerzo y dedicación.
2
Sara Gómez
Ricardo Rodríguez
Iris R
editorial
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CRIAÇÃO
A paixão de Mariana Alcoforado
em 5 cartas _ [Gloria Maté]
As ciudades adormecidas _ [Elena
Díez Valbuena]
Benvindos à noite das bruxas _
[Patricia Piñeiro]
O conto A Cartomante, pura superstição? _ [Rubiane Tôrres]
39
MÚSICA
La canción protesta _ [António
Duarte]
Un deber de ciudadanía _ [José
António Pinho]
A inquisição musical está cá? _
[Javier García Lorente]
Domingos con sabor a flamenco _
[Isabel Sanz Sobaler]
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LAZER
Umas velhas e fortes árvores _
[Julia Molina]
O meu paraíso alentejano _ [Goyi
Plaza Parra]
A minha primeira viagem a Portugal _ [Ana Andaluz]
Pode-se sobreviver só com “a dieta do palhaço”? _ [Noelia Medina]
Por los sabores del Miño _ [Isabel
Fonseca Martins
POESIA
Tu nunca o soubeste _ [José Antonio Vallejo Aller] | pg. 16
Deixá-lo lá _ [L. Miguel Gándara] | pg. 27
(Sin título) _ [Pablo J. Pérez] | pg. 38
Perda de tempo?
A formação do estudante vai para além de instituições, livros e professores.
Se, durante anos, os Movimentos de Renovação Pedagógica se empenharam
em marcar as regras da aprendizagem baseadas no desenvolvimento integral
da pessoa, são contudo muitos os intervenientes da Comunidade Educativa que
questionam, na prática, os seus méritos educativos.
Philip W. Jackson, considerado o pai do chamado currículo oculto, entende
que “o que aluno aprende na escola não é só o que aparece nos documentos
curriculares, mas é também algo mais complexo”. Vem a propósito dizer que há
outras dimensões éticas cognitivas, afetivas e político-sociais que também são
parte indissolúvel do processo educativo.
A monotonía na aula, a avaliação sancionadora e o controlo do professor, quase de maneira exclusiva, são, segundo este investigador norte-americano, sinais
de alerta na senda do discurso pedagógico.
Pedagogos y psicólogos coinciden en que las actividades extraescolares, voluntarias y fuera del horario lectivo, brindan beneficios evidentes a los alumnos,
aunque no figuren en los currículos oficiales: sentido crítico, habilidades sociales, autonomía personal, estimulación de la creatividad o aceptación de errores.
Cuando los contenidos de estas acciones se centran en una lengua extranjera, entonces, la mejora apunta al respeto e interés con los hablantes de otras
lenguas, la conciencia intercultural, ampliación del horizonte personal, y acercamiento a otras formas de vida diferentes.
Lástima que con frecuencia los educandos tengan que recurrir a la frase de uno
de los personajes de Lewis Carroll en Alicia en el país de las maravillas: “nunca
tuve la ocasión de aprender esa asignatura”. ¿Cómo es posible que todavía haya
algún profesor de Universidad que considera a la enseñanza fuera de las aulas
como una pérdida de tiempo? ¿Y si las escuelas mataran la creatividad?
ramón
ENTREVISTAS
Entrevista a Pilar del Río _ [Goyi
Plaza Parra] | pg. 30
Entrevista a Martín Manceñido _
[Armando Gutiérrez] | pg. 48
Rodríguez Fernández
David Melendro
3
OPINIÃO
A LITERATURA na pluriculturalidade
CONCHA LÓPEZ JAMBRINA
Bhartes em leçon inaugural au Collège de
France diz que uma língua se define menos
pelo que deixa dizer que pelo que obriga
a dizer. A língua enquanto ferramenta da
linguagem é sempre fascista. Sendo isto assim, a nossa única hipótese é passar uma
rasteira à língua. Ouvir a língua fora do poder, e isto é o que comum chamamos literatura. A única solução possível é brincar
com as palavras. Fazer uma heteronímia
das coisas dentro da própria língua.
Os alunos que nas escolas procuram uma
língua minoritária, se calhar procuram um
espaço para crescer e fugir ao poder dominante de uma língua franca que leva dentro
dela a transmissão de um pensamento único, que no caso do inglês é muitas vezes a
transmissão de um pensamento neoliberal
e uma subcultura em que vigora o Capital.
Não estamos a fazer a defesa da substituição do império do Inglês pelo império do
Português, não, acabaria por ser a mesma
coisa. O que está em causa é a defesa do
plurilinguismo veiculado à interculturalidade.
Foucault em “la pensé du dehors” afirmou que é na literatura que a linguagem se
põe fora de si, talvez por isso não há outra
maneira já de ver a invisibilidade do visível
senão fora, na duplicidade ou até na infinita multiplicidade como ensinou Pessoa. O
homem do século XXI procura-se também,
como Pessoa, nas máscaras. Nesse contínuo rumor e fluir que é agora a linguagem,
nesse esquecimento e vazio encontra-se a
emoção de poder dizer aquilo que por óbvio
já é só dizível “de outra maneira”.
E é um privilegio para o espanhol ter tão
próximo o país que tem a mais importante
literatura europeia a exceção e continuação
da grega.
* CONCHA LÓPEZ JAMBRINA é professora da Língua Portuguesa na EOI-Leão e diretora de
NÓS-OTROS
O entusiasmo
Mª GABRIELA DA CUNHA AMANDI
Ser professor ou professora de português
não é fácil uma vez que, para além de ensinar a falar e a escrever, precisamos de
cativar alunos, quer seja com a nossa forma de trabalhar, quer seja porque há que
atrair novos “clientes” que talvez nunca
pensassem que aprender português fosse
necessário.
Muitos querem aprender esta língua porque sim, porque foram alguma vez a Portugal e gostaram imenso, porque foram ao
Brasil e ficaram apaixonados, porque em
quase todos os continentes se fala português ou simplesmente porque se aperceberam de que há um pequeno país aqui ao
lado, do qual não sabem quase nada. Também há quem queira aprender uma língua
que pensa ser “fácil”. Enfim, todos merecem o nosso respeito e eu tenho a certeza
absoluta de que os nossos alunos são os
melhores e por isso tenho uma sorte imen-
4
sa de lhes ensinar português. Além disso,
também sei que eles nos exigem algo mais
do que umas simples aulas.
Quando cheguei à Escola Oficial de Idiomas de Leão, vinha cheia de expetativas,
com imensa vontade de fazer coisas que
entusiasmassem os alunos. Não sei se
consegui, mas, naquela altura, havia uns
50 alunos. Hoje há mais do dobro e, provavelmente, poderiam ser mais, mas a crise
não o permite. Por aqui já passaram outras
professoras e passaram também auxiliares
de conversação. Todas estas pessoas contribuíram e contribuem para que o ensino
do português seja cada vez mais procurado. Por tudo isto, só me resta dizer: muito
obrigada e venham aprender português,
vale a pena.
* Mª GABRIELA DA CUNHA AMANDI é a chefe do
Departamento de Português na EOI-Leão
cinema
e
literatura
ESTEBAN GARCÍA LÓPEZ
CINEMA E LITERATURA
HUGO MILHANAS MACHADO
Não sei bem se escutei aquelas
palavras de João César Monteiro
nalguma gravação, nalguma entrevista, se as li, não sei, mas recordo
perfeitamente a ocasião de estar a
ver ou ir começar a ver um filme
de João César Monteiro, e termos
pensado (quem?, quantos lá estávamos?) um pouco à volta do tom
empregue nesta consideração, dispondo-nos a ver o filme que íamos
ver na ressaca deste postulado. O
que também é certo é que visito de
vez em quando estas ideias, penso
nisso da duração, na duração das
palavras achadas juntas em frases
do português, sento-me perto e
tento perceber o tamanho, afinal,
das durações, se pode trabalhar
alguma coisa que se diga, assim,
a durar. O que dura e como dura.
O que digo de um modo e que
podia dizer doutro, nos mesmos
tempos, e quase com vontades
semelhantes, uma vitória todavia
inscrita em lances diversos, talvez
desconhecidos. A duração é coração de qualquer coisa, e neste
caso a redundância acústica, rima
aberta, caprichada, acaba mesmo
por valer.
Um filme fora do tempo
Eu queria falar aqui hoje de um
filme que já vi umas quantas vezes, embora não seja, como já disse numa outra ocasião num texto
não muito longe sobre uma escada
que não se subia, embora não seja,
ia a dizer, um filme de se ver ou um
filme que depois se possa contar
6
Lembro com frequência
aquelas palavras do cineasta
português João César Monteiro
sobre a duração das imagens
como segredo do cinema. Não
é exactamente assim que diz,
o segredo veio agora, mas,
em todo o caso, recordo as palavras mais ou menos nestes
termos, e depois começo logo
a pensar em madeiras, nas
imagens como madeiras e
paus que, por uma qualquer
vontade, vontade expressa e
rebocada, se combinam e se
encontram, imagens que são
madeiras e que têm mesmo
o cheiro das madeiras quando chove. Lembramo-nos da
madeira quando chove.
OS OLHOS
de João César Monteiro
ou resumir, procurando despir e
reconstruir as linhas do seu desenvolvimento como filme e como
história de uma pequena ficção e
que se possa reduzir em palavras
ou signos ou aproximações mais
pequenas. É um filme fora do tempo, um filme que dura num lugar
franco ausente das nossas vidas,
num lugar fora dos lugares e onde
podemos gozar naquela estranha
felicidade que neste caso resolvemos com o fascínio da máquina
de embrulhar imagens, a máquina
boa que não falha nunca. Mas o
cinema deve ser exactamente isto,
penso, uma impressão desconti-
nuada da nossa experiência, mas
intimamente enquistada nas formulações e esperanças daquela. E
eu vejo o filme assim.
Um comboio
João está sentado num comboio e
medita em todas estas questões laterais a uma película de João César
Monteiro, na qual o cineasta interpreta o papel de outro João, o João
dos filmes de João César Monteiro.
E aqui o João na carruagem quase
vazia de um comboio a meio da semana que o leva de novo a uma cidade perdida no meio de Espanha,
o João que faz e acontece em toda
O cinema deve ser exactamente isto, penso, uma impressão
descontinuada da nossa experiência, mas intimamente
enquistada nas formulações e esperanças daquela
CINEMA E LITERATURA
própria indústria nestas horas sozinhas da noite e adquirem um capital de recordação tão fulgurante
como efémero. É uma coisa um
tanto maluca eu aqui a ver tudo
isto de uma maneira só minha, que
ninguém poderá ver jamais, e vou
esquecendo e acabarei por abandonar tudo isto. É bonito, pensa, é
bonito ver o filme da nossa posição
e sabê-lo diferente de quando
contado por corpos espectadores
tão quentes como o nosso. Tenho
fome. João vai mais tarde adormecer encostado ao vidro húmido da
janela do comboio, e as terras continuarão a passar ao lado do seu
corpo noite fora.
e qualquer situação de gramática
ensinada na escola. Não vai jantado, cabelo por lavar, o do aluno
João. Pensa nos filmes de João César Monteiro e pensa nas imagens
que vão passando do outro lado da
janela ou que se vão acumulando
na janela, vidro cristal de todas essas coisas e todos esses objectos
que fazem os seus cinemas sem
espectadores ou máquinas de reprodução, estrelas fugazes, e que,
no entanto, possuem a sua muito
Inglés
Francés
Alemán
Portugués
O interior do autocarro
Quando fores ter com a tua amada, João, nunca te esqueças de levar o chicote, diz a pequena Dafne
naquela árvore metida no centro
do jardim do Príncipe Real, em Lisboa, João Vuvu sentado, a branca
princesa movendo-se entre troncos
de madeira e folhas verdes e castanhas. É a cena final de um filme
de João César Monteiro, Vai e Vem,
de 2003, é o tal filme quase todo
ele, mas pouco, tão pouco, quase
todo ele gravado no interior do autocarro em que andávamos quando éramos miúdos e queríamos ir
ver o rio ao Mercado da Ribeira.
*Hugo Milhanas Machado é professor leitor do Instituto CamõesUniversidade de Salamanca.
Italiano
Chino
Español lengua extranjera
...
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7
Saramago:
el cine de Zé
Delibes:
o outro amor
8
ISAAC MACHO
Fue un gran aficionado al cine. Nada más nacer, el destino ya apuntaba que el niño que acababa de llegar al mundo venía cargado de
fantasía porque le pusieron el apellido Saramago por un error en el
registro ya que, en realidad, era el apodo de la familia en su localidad
de nacimiento, Azinhaga.
Distintos directores del séptimo arte han llevado a la gran pantalla
películas basadas en novelas, cuentos, relatos y ensayos de este pensador crítico y comprometido con los problemas de la sociedad. De la
pluma de José Saramago salieron títulos como Ensayo sobre la ceguera que fue llevado al cine como Blindness, El Hombre duplicado que
lo tradujeron a imágenes en Enemy o La balsa de piedra que cuenta
cómo después de un cataclismo, la Península Ibérica queda a la deriva
por el océano Atlántico. Embargo es otra de las cintas, realizada por
António Ferreira, basada en un cuento homónimo del novelista incluido en el libro Casi un objeto.
El que fuera traductor, corrector, editor, crítico literario y dramaturgo
también tuvo ocasión de acercarse al lenguaje audiovisual con motivo
del cortometraje La flor más grande del mundo, basado en un texto
suyo de igual nombre y narrado por el propio escritor. La televisión se
interesó, asimismo, por sus reflexiones político-sociales al llevar a la
pequeña pantalla la obra teatral Que farei com este libro?
Pero, sin duda, es el documental José y Pilar, dirigido por Miguel
Conçalves, su trabajo cinematográfico de mayor proyección. De la cinta, Saramago dijo que era “la dedicatoria de amor a su mujer, Pilar, una
película sobre la vida y las relaciones”. De hecho, Portugal eligió este
filme para acudir a los Óscar (2012). La siguiente novela en ser llevada
al cine será O Evangelho segundo Jesus Cristo.
I.M.
Miguel Delibes se não tivesse sido escritor, ter-se-ia, certamente,
convertido num cineasta. Era um grande apaixonado pela sétima arte.
Começou a sua carreira literária como crítico de cinema no jornal El
Norte de Castilla e também desenvolveu a sua capacidade como guionista. Considerado um clássico literário moderno, quase uma dúzia das
obras do novelista castelhano, foram adaptadas ao cinema.
Os espectadores puderam ver no grande ecrã títulos como El Camino,
Retrato de Familia, La guerra de papá, Los santos inocentes, El disputado voto del Sr. Cayo, El Tesoro, La sombra del ciprés es alargada, Una
pareja perfecta e Las Ratas. O seu filme mais conhecido é Os santos
inocentes, um trabalho que recebeu destacados prémios no Festival
de Cannes (1984). O autor de Cinco horas con Mario, pelo amor que
tinha à linguagem cinematográfica, deixava liberdade aos diretores
para que fizessem com as suas novelas o que quisessem.
Tinha tanto prestígio que o encarregaram de adaptar os diálogos ao
espanhol correto do Doctor Zhivago, “um trabalho que o encantou”
segundo o testemunho da sua filha, Elisa Delibes, a presidente da Fundação Miguel Delibes. Pouco antes de morrer, quando já ouvia mal, o
distribuidor Paco Heras ofereceu-lhe um livre trânsito para que fosse
sempre que quisesse, de manhã, aos seus cinemas. Por essa altura,
sozinho nas salas, o técnico podia subir-lhe o som sem haver queixas
de ninguém. Ali viu, uma manhã, com a sua filha, Brokebach Mountain, uma história de amor homossexual. Agradou-lhe imenso, fiel reflexo dum ser livre.
CINEMA E LITERATURA
Na cidade
do cinema
MARÍA JOSÉ FERNÁNDEZ CALLEJA
Cheguei pela primeira vez a Valladolid em 1994 e muito tinha ouvido, grandes e cultíssimos aficionados do cinema, falar da Seminci.
Por isso, tinha mitificado este certame já que a Seminci descobriu
tantos e tão bons filmes e diretores
que posterioriormente se tornaram
célebres, tiveram um grande sucesso ou impacto de bilheteira.
Naqueles dias da minha chegada,
no início do ano académico, com a
luz amortecida do verão, Valladolid
cheirava a humidade e a cinema:
cartazes da Seminci brilhavam nas
paredes e os programas de rádio
comentavam a semana cinematográfica que se ia celebrar na segunda quinzena de outubro.
Na minha escola, os professores,
em rodopio, procuravam a programação para escolher os filmes
que gostariam de ver com os seus
alunos. E de resto, quanto fervor
e gozo pelo cinema! Nas salas de
projeção faziam-se longas filas para
comprar os bilhetes e podiam-se
ver os filmes desde manhã, muito
cedo, até à meia-noite.
Encontrei-me com uma cidade entregue, apaixonada por este
Festival e mesmo atualmente, ainda continua o entusiasmo por ver
outros filmes possíveis e diferentes
que oferece a Seminci.
E desde então, quando se aproximam estas datas fico sempre ansiosa porque a Seminci trouxe-me
um espaço de liberdade, uma janela aberta para o mundo; levou-me a outras culturas, a ver com
outros olhos e a uma completíssima
galeria de Arte.
María Mayo
Em 1994, 39ª edição, quem ganhou o máximo galardão La Espiga
de Oro foi o cineasta Abbas Kiarostami (Irão e França) com o filme A
través de los olivos (Zir e darâkhatân é zeyton), e só com este nome
já podemos ter uma ideia da dimensão da Seminci. Além disso,
na secção de curtas-metragens,
obteve a La Espiga de Oro a curta-metragem portuguesa Os Salteadores de Abi Feijó.
Novos autores
Posso dizer, sem risco de me
enganar, que La Semana Internacional de Cine de Valladolid é um
dos festivais mais antigos e consolidados da Europa. Iniciou o seu
percurso em 1956, e desde então
caracterizou-se por introduzir, em
Espanha, novos autores e filmogra-
A Seminci trouxe-me um
espaço de liberdade, uma
janela aberta para o mundo; levou-me a outras
culturas, a ver com outros
olhos e a uma completíssima galeria de Arte
fias desconhecidas e onde sempre
esteve presente uma exigência de
qualidade.
Passou por diferentes etapas,
coincidentes com as sucessivas
direções do Festival: nos primeiros
tempos teve de ultrapassar a censura, mais tarde apostou por mostrar a obra dos grandes cineastas
e a descoberta de novos valores.
O Festival continuou a crescer
até atingir o espaço internacional;
acrescentou as secções de curta-metragem e documentais, por
exemplo, um dedicado à História.
Remeto-os à página da internet
oficial da Seminci: www.seminci.es
e ao interessantíssimo blogue do
diretor Javier Angulo http://semincioficial.blogspot.com.es/
Nesta altura, e já celebradas 58
edições, o palmarés não podia ser
mais prestigioso: Nikita Mikhalkov, Stanley Donen, Arthur Penn,
Abbas Kiarostami, Ken Loach... É
também de destacar praticamente
todos os realizadores, diretores, ou
atores e atrizes espanhóis. Alguns
deles tornaram-se depois notáveis
figuras: Pedro Almódovar. São muitos e como não gostaria deixar a
ninguém de fora, leiam na página
da internet.
9
NATALIA FERNÁNDEZ
El Certamen Indie Lisboa se ha
convertido en el festival de cine
más importante del país portugués
desde que comenzara su primera
edición en el 2004. Una selección
de los cortos y largometrajes con
mayor proyección a nivel nacional
e internacional.
El certamen cuenta con diez
secciones diferentes. Una competición internacional donde se presentarán los cortos y largometrajes
realizados por autores nacionales
y extranjeros después del anterior
festival Indie. Las obras se dividen
en diferentes categorías: ficción,
animación, documentales y películas experimentales.
La otra gran sección del festival
es la competición nacional, donde
únicamente pueden participar autores portugueses.
Ser premiado en la competición
internacional supone un gran impulso para el autor también en el
ámbito económico, pues hacerse
con el primer premio de esta modalidad con un largometraje supone un premio de 10.000 euros, y
hacerlo con un corto, con 4.000
euros.
Pero el espectáculo va más allá y
hay reconocimiento para cineastas
consagrados, para cine emergente
y se premia al autor que lucha por
un cine completamente libre en la
sección llamada “Herói Independente”.
Fiesta real
Un claro ejemplo de la proyección
que puede llegar a tener el festival
es la película Um planeta solitario
de Julia Loktev que fue premiada
en la edición del 2012 como mejor
largometraje de cine emergente.
Tras dos años de su proyección en
el Indie Lisboa este mes de febrero
saldrá al mercado en DVD.
10
La XI edición del Festival
Internacional de Cinema
Independiente de Lisboa,
Indie Lisboa, tendrá lugar
entre el próximo 24 de abril y
el 4 de mayo. Su principal
preocupación: buscar el mejor
largometraje no emitido antes
en Portugal.
FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA INDEPENDIENTE DE LISBOA
Indie Lisboa
La repercusión del Indie Lisboa atraviesa las fronteras y gran
muestra de ello son las películas
que están nominadas para los Óscar 2014 y que participaron el año
pasado en el festival portugués.
En la edición anterior se proyectaron 245 obras con una amplia
representación iberoamericana de
países como España, Argentina,
Perú, Cuba o Paraguay. Esta fiesta
Uno de los cortos más
esperados en la edición de
2014 es “White Roses”, realizado por el autor portugués
Diogo Costa Amarante.
del cine también tiene un espacio
para los autores más jóvenes a los
que van dedicados la sección “Novíssimos”, donde empiezan a mostrar sus primeros pasos en el mundo de la pantalla, e “Indiejúnior”.
Durante los once días que dura
el festival, la capital portuguesa
quiere que el cine no haga diferenciación entre autor y público,
y establece la denominada “Indie
by Night”, donde varios establecimientos nocturnos de Lisboa sirven de punto de encuentro entre
creadores y espectadores.
Desde el propio portal virtual de
Indie Lisboa describen el evento
como “una fiesta internacional y
generalista, historias reales para
personas reales”.
CINEMA E LITERATURA
O Eco de
Umberto
ATALÍ FERNÁNDEZ
Umberto Eco é uma das referências da literatura universal. Foi em
1980 que escreveu O nome da
rosa, romance de mistério enquadrado na época medieval, quando
o clero e a inquisição eram muito
importantes. A acção passa-se
numa zona do norte de Itália que,
posteriormente, no ano de 1986,
foi usada pelo diretor alemão Jean
Jacques Annaud para fazer o filme.
O romance é baseado numa série
de mortes que não têm explicação
aparente.
Apenas o facto de consultar um
dos livros da biblioteca do Mosteiro
(que foi uma das mais importantes
da história e que infelizmente desapareceu), faz com que os monges
morram e o único em comum é
que tinham a língua e o dedo pretos, motivo pelo qual o protagonista
e o seu pupilo são chamados para
o resolver.
É surpreendente a maneira como
o texto foi adaptado para filme.
Temos de saber que o romance é
muito mais longo que o filme e portanto há muitos elementos que não
têm espaço mas o principal está
tudo lá. Exemplo disso é a fala em
latim e nas outras línguas vernáculas que Salvatore usa. Também é
importante a semelhança dos personagens que é quase igual às do
É interessante a forma como
a mulher é tratada no romance, onde tem o mesmo ar que
o demónio, causa de muitos
dos problemas do mosteiro,
sendo a solução , desde o
ponto da vista da Inquisição,
a sua morte
romance, mas o que mais chamou
a minha atenção, é a adaptação
do mosteiro. Usou-se o Monte Calascio como cenário principal, e
também a importância de autores
como Aristóteles ou Beato de Liébana como referências literárias,
que são muito importantes na vida
medieval, já que na obra, tanto a
vida monástica como a literatura e
o estudo dos autores anteriores a
esta época são os fios condutores.
Para mim é interessante também
a forma como a mulher é tratada
no romance, onde tem o mesmo
ar que o demónio, causa de muitos dos problemas do mosteiro,
sendo a solução, desde o ponto da
vista da Inquisição, a sua morte. É
sem dúvida um dos romances com
mais êxito. É um passeio pela história da literatura universal.
LIBROS DE LA ESCUELA OFICIAL DE IDIOMAS | FOTOCOPIAS
TFNO-FAX: 983230272
11
A homossexualidade
DÉBORA MARTÍN JACOBO
A homossexualidade não é uma
coisa de agora, nem tão-pouco
uma moda. A homossexualidade
tem estado presente desde tempos imemoráveis. No entanto, nem
sempre foi aceite.
O mesmo acontece nos filmes,
sendo que a homossexualidade
tem sido representada ao longo
do século XX. Aqui sim, de muitas
maneiras diferentes.
Contudo, apesar de este tópico
estar presente ao longo do século, no seu segundo quarto tentou
censurar-se. Porém, não se conseguiu totalmente já que por meio
de sinais ou expressões corporais
dos personagens percebia-se essa
condição perfeitamente implícita.
Além disso, houve filmes que apesar de terem cenas censuráveis,
conseguiram ludibriar a censura.
Podemos, por exemplo, lembrar o
filme Benhur, filme com cenas claramente homossexuais e que viu a
luz do dia no final dos anos 50.
Como já, anteriormente, disse, os
diretores representaram a homossexualidade nos filmes de maneiras
muito diferentes. Hoje, podemos
dizer que este tópico sofreu uma
evolução. Os primeiros filmes com
personagens gays levavam a troçar
deles. Ou seja, o objectivo era fazer
chacota dos homossexuais.
12
Depois, os personagens com esta
condição sexual costumavam ser
os maus da fita. Como exemplo, podemos relembrar o filme Basic Instinct onde a protagonista, Sharon
Stone, é uma escritora bissexual
pouco comum, é uma assassina.
Visconti e Almodóvar
Este filme teve muitas críticas, sobretudo de uma associação de lésbicas, as quais consideravam que
o filme projectava uma imagem negativa delas. Só mais recentemente é que os filmes tentam dar, aos
espetadores, uma visão da dureza
de ser gay e “sair do armário”. E só
há bem pouco tempo que os trata
com dignidade e respeito.
Alguns dos diretores de cinema
que trataram este tópico, nos seus
filmes, são, por exemplo, Luchino
Visconti e Pedro Almodóvar.
Em todos os filmes de Almodóvar
está presente a homossexualidade,
mas há alguns onde esta é a trama do filme. Estou, por exemplo,
a lembrar-me de A má educação
onde se narra a história de Enrique, um diretor de cinema gay.
Em Portugal, não há filmes sobre
esta temática até à morte de Salazar. Hoje, há um festival de cinema
sobre este assunto.
Nos filmes de Luchino Visconti,
director abertamente bissexual,
quase sempre aparece alguma
personagem gay. O seu filme mais
emblemático é Morte en Venecia.
Este filme não conta, propriamente dito, a história de um homossexual, é bem mais uma história
sobre a beleza ideal, sobre o cânone de beleza e como um homem
namora essa beleza mais do que a
pessoa em questão.
Finalmente, há um filme americano que também foi muito famoso
na sua época. Trata-se de Brokeback Mountain, o qual narra como
dois jovens namoram, no verão,
nessa aldeia (Brokeback Mountain), e de como evolui a sua relação quando casaram com as
suas “namoradas”.
CINEMA E LITERATURA
A GAIOLA DOURADA
ANA CAROLINA MARTINS
O filme de Ruben Alves veio demonstrar como se pode registar a
vida do emigrante português em
França sem fazer dele apenas
uma caricatura. A Gaiola Dourada
conseguiu mostrar não só a vontade de querer agradar ao patrão
e manter as aparências, a “fofoca” à portuguesa, as refeições
bem acompanhadas pela família e
amigos e bem regadas pelo vinho
tinto, mas também a parte mais
dolorosa: as saudades da terra que
deixaram para trás, o dilema de ter
filhos que pertencem a um país
que não é o deles e ainda o facto de o português continuar a ser
o trabalhador rentável e fiável que
o patrão prefere aumentar do que
deixar ir embora com medo de não
arranjar outro semelhante.
Este filme comprova que a realidade é a melhor contadora de
histórias. Há que saber olhar para
os outros e com eles aprender em
vários aspectos e, quando se alia a
componente profissional com o que
a realidade entrega de mão beijada, surgem obras valiosas. Ruben
Alves soube, através da sua história
de filho de emigrantes, olhar para
as realidades portuguesa e francesa sem cair numa troça comum e
vazia, pois consegue chegar aos
pontos característicos do emigrante
português e do patrão francês sem
os exagerar somente para ter mais
uma piada fácil.
ou a saudade da terra
Neste momento, seria importante
que os jovens cineastas portugueses começassem a tomar como
exemplo as suas próprias realidades e a darem valor à colaboração,
pois são visões e experiências diferentes que enriquecem as obras e
os espectadores.
Ruben Alves soube, através
da sua história de filho de
emigrantes, olhar para as
realidades portuguesa e
francesa sem cair numa
troça comum e vazia
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13
NOTAS SOBRE BLANCANIEVES
DE JOÃO CÉSAR MONTEIRO
Ojo discreto
PEDRO SERRA
Blancanieves (2000) de João César
Monteiro empieza por ‘dar a ver’ y
‘dar a leer’ al espectador una especie
de errata, como si trajera para dentro
de la película una operación filológica. El espectador se vuelve espectador al leer la imagen-texto del título y
la imagen-texto de la errata, siendo
espectador del espectáculo de la lectura. Pero, ¿de qué modo puede un
error oído ser una errata? ¿Cómo funciona la errata en una lectura hablada y oída en el oscurecimiento de la
pantalla? En la oscuridad, el espectador sigue siendo sujeto de visión,
pero se le impone subjetivarse como
oidor. Lee por los oídos –lectura del
texto del poeta Robert Walser bajo
la forma de palabra hablada–, visionando en la penumbra una pantalla
grisácea –no negra–, iluminación de
baja intensidad a la que progresivamente se acostumbran los ojos y que
también le permite ver, sin contornos
definidos, a los demás espectadores,
sus siluetas, sus movimientos apenas perceptibles.
César Monteiro rechazó la asimilación de su película al que pudiera ser emblema mayor de una ‘obra
al negro’, el opus nigrum que fue
justamente el Cuadrado Negro de
Malevitch. De hecho, el cineasta
portugués fue negando diferentes
analogías, entre las que también se
encuentra Blue de Dereck Jarman,
su película última en que se presenta la pantalla inundada por una
saturación azul a la que se añade
una banda sonora en off de diferentes voces testimoniales de la vita del
malogrado director. En este sentido,
cobra especial relevancia que Monteiro propusiera como una suerte de
intertextos Susana de Luís Buñuel,
además de la execración por la fe católica contra la blasfema obstinación
de los judíos que hablan portugués y
14
en Madrid fijaron los carteles sacrílegos y heréticos, aconsejando el remedio que ataje lo que, sucedido en
este mundo, con todos los tormentos
no se puede empezar a castigar y,
también, Gracias y desgracias del ojo
del culo de Francisco de Quevedo.
Fueron estos los textos que, en el día
“diplomático” de inicio del rodaje,
leyó alternativamente con lo actores.
Del primero –“texto anti-semita que
recomiendo vivamente”, según sus
palabras– dirá ser una pieza “sobre
las tropelías [argentarias] que los judíos portugueses hicieron en la corte de Felipe IV en el siglo XVII”. Del
segundo, recoge la inspiración para
“hacer una película que tomase el
punto de vista del ojo ciego, el ojo
que no ve, el ojo discreto”.
Nesgas de cielo
En Blancanieves la reducción radical de imágenes no conlleva que
dejen de significar un pasado que
‘presiona’ a todo instante el presente, cumpliendo así la función de toda
imagen: la tapicería del inicio o la
pieza musical de Rossini –que traen
el siglo XIX como tiempo de una ya
imposible joie de vivre–; las fotos de
Robert Walser muerto en la nieve en
los alrededores del manicomio suizo
de Herisau; los restos de la mezquita
que yacen sepultados bajo la Sé de
Lisboa –que nos devuelven la Historia como estractificación arqueológica de sucesivas edades de violencia
y exclusión–; los insertos de “nesgas
de cielo” que van golpeando la penumbra que se instala en la sala de
cine; o el plano final del cineasta en
el Jardín Botánico pronunciando sin
sonido la palabra “No”, secuencia
que nos retrotrae los orígenes del cinematógrafo y el cine mudo.
El cinematógrafo –en tanto sucesión de instantes que han vaciado el
momento aurático–, aunque parezca
paradójico, impone la necesidad de
oscuridad para hacer visible, para
producir visibilidad. René Thoreau
Bruckner lo explicita de modo lapidario: “El cinematógrafo hace uso
de sus convincentemente concretos
‘instantes’ para poner entre paréntesis el invisible movimiento que se
sucede entre ellos. Sumados ambos
(muy rápidamente) estos dos componentes producen la imagen en
movimiento”. El espectador devenido espectador en y desde la oscuridad no se distingue de la propia
imagen-movimiento, cuya visibilidad
es posibilitada por una oscuridad intervalar no perceptible. Oscurecer la
pantalla –que, como subrayó César
Monteiro, no es negra y sí grisácea,
lo que supone per se una equívoca
CINEMA E LITERATURA
fotofobia (en rigor, sí hay luz en la
pantalla, es decir sí hay imagen)–
hay que indexarla a una posibilidad
de la imagen cinematográfica –y,
también, a una limitación suya– que
tiene como significación añadida el
producir un tipo de superficie bidimensional que trabaja en contra de
un cine y una imagología mediática
que es idolatría.
Amor-deseo
Quizás podamos añadir un par de
imágenes y textos más que valdrá la
pena poner en común con Blancanieves y que, tanto cuanto puedo saber, han pasado desapercibidas hasta ahora por la crítica. En la pequeña
sinopsis de la película, firmada por
Marie-Louise Audiberti y João César
Monteiro, el penúltimo párrafo, una
sola frase, es una cita: “Le bonheur
n’est pas gai” (Nicolau, 2005: 452).
Dos películas inmediatamente vienen a la retentiva. Por una parte, Le
Bonheur de Agnès Varda, de 1965.
Por otra parte, Vivre sa Vie. Filme en
douze tableaux, de 1962, de Jean-
Luc Godard. El décimo “tableaux”
tiene por título “Un trottoir – un type
– le bonheur n’est pas gai”. Pero, en
realidad, la que ciertamente es aludida es el maravilloso tríptico Le Plaisir
de Max Ophüls, adaptación cinematográfica de 1952 de tres narrativas
de Guy de Maupassant, concretamente Le masque, La maison Tellier
y Le modéle. En este último corto,
el amigo de Jean, pintor-Pigmaleón,
encierra la película con la siguiente
última réplica, subrayada por el Ave
Verum de Mozart: “Mais mon cher, le
bonheur n’est pas gai”.
Cualquiera de estos objetos fílmicos comparte con Blancanieves un
rasgo que me parece que hay que
subrayar: la imagen, como dijera Vilém Flusser, funciona como metacódigo del texto literario (cf. 2007). Guy
de Maupassant o Robert Walser son
transcodificados en Le Plaisir, Vivre
la Vie, La Bonheur o Blancanieves.
Es verdad que nos sería posible también ajustar ‘temáticamente’ estos
diferentes objetos.
Muy concretamente por el hecho
de que son versiones de los binomio
amor/deseo, dicha/placer, cinismo/
inocencia y todo lo que conlleva e
importa para la definición –social, ontológica– de la humana ‘humanidad’.
Marie-Louise Audiberti y João César
Monteiro escriben en la sinopsis de
la película: “He aquí el príncipe y la
joven, tan pura como su nombre indica –nombre que nos evoca la muerte
de Walser en la nieve–, aterrorizados
por una escena bestial entre la reina
y el cazador. El hombre está plantado
en cima de la mujer y sus actitudes
le parecen a los dos inocentes de
una brutalidad espantosa. ¿Será esto
el amor? ¿Será el amor una lucha
encarnizada?” (Nicolau, ed. cit., loc.
cit.). Pero en realidad, lo que bajo mi
concepto Monteiro recoge en Max
Ophüls es la dialéctica agónica texto/
imagen que el cineasta alemán dispone en Le Plaisir.
La pantalla grisácea
Me refiero, muy concretamente,
al efecto iris que sobreviene a los
créditos, oscureciendo la pantalla.
Tenemos, entonces, la voz de Jean
Servais como Guy de Maupassant,
diciendo entre otras cosas que
siempre le ha gustado la oscuridad.
La identidad de esta voz no es determinada por la película, como ha
puesto de manifiesto el crítico británico Victor F. Perkins: “Nowhere does Servais claim the name of
Maupassant, but he makes us hear
an author’s savoring of language and
his relish for storytelling. The voice
falls on our ears as the spirit of the
writing, not as a phantom but what
lives on in the work of fiction after the
death of its creator […] implying that
Maupassant’s work transcends the
material form of printed merchandise” (2009: 16). Ahora bien, en Blancanieves, João César Monteiro amplifica este proceso, que no es otro
que la metacodificación del texto por
la imagem, ya que hemos aceptado
que efectivamente hay imagen en la
película: la pantalla grisácea, visión
obscurecida de un “ojo discreto”
que, como en la mencionada entrevista del cineasta portugués, no es
como si introdujéramos la cabeza en
un “agujero negro”.
*PEDRO SERRA es profesor titular y
coordinador del grado en Estudios
Portugueses y Brasileños en la
Universidad de Salamanca.
15
POESIA
Tu nunca o
soubeste
JOSÉ ANTONIO VALLEJO ALLER
Tu nunca o soubeste, mas eu amava-te
e escrevia o teu nome nos cadernos de classe
e nas folhas ímpares dos livros de texto
e na cortiça das árvores do passeio
e nos entardeceres e nos espelhos rotos
e na areia,
e no reverso do quadro que pendurava
no meu dormitório de criança.
Tu nunca o soubeste; eu nomeava-te
quando amanhecias na minha rua com os teus risos,
quando emaranhavas as minhas ilusões nas tuas tranças,
quando brincavas de corda nas veredas do parque
e o miúdo cascalho, ao impacto dos teus pés, pulava para mim
e fazia chaguinhas na minha alma.
Tu nunca o soubeste; eu escrevia-te
fervorosos poemas de amor, e lançava-os no ar
ou convertia-os em barquinhos de papel que soprava na água
para que navegassem mansamente aonde tu,
à beira donde tu, ignorante de mim,
rompias com os dedos as ínfimas ondas da lagoa.
Tu nunca o soubeste: eu sonhava-te
no sono, na noitada, no silêncio,
na partida de futebol rueiro com os meus amigos,
na minha carteira, na lista dos reis da casa de Bragança,
no mapa cor-de-rosa, nas aulas práticas de física
e nas equações de segundo grau, tão complicadas.
Eu olhava-te; eu olhava-te sempre,
e isso o sabias, sim. Eu percebi-o pelos teus risos cúmplices
na tua roda de amigas, revoada de pombas,
enquanto estavas a abraçar os teus livros,
para assim me esconder a incipiente turgidez dos teus seios,
inclinado o teu corpo um bocadinho para a frente.
O tempo cresceu-nos e deixamos de nos ver,
mas eu fizera para ti um tabernáculo
velado no lugar mais profundo da minha alma,
e ali é que eu te conservei, quase sem eu o saber,
como uma pulsação, como uma batida silenciosa,
como um lamento mudo, vagamente doente.
Muitos anos depois alguém mo disse,
um bocadinho como se não viesse ao caso,
que a morte, essa velha ciumenta,
decidiu segar na flor o teu sorriso,
e uma chaga abriu-se naquele instante
no almário secreto onde eu te guardara
e empapou-me por dentro com esse brando sangue
que só corre pelas veias da alma
e que se chama, dum modo muito impreciso, desconsolo.
Agora não me doís já.
Pouco resta do precedido adolescente que se alojou no meu corpo,
e, de aquela paixão sem sexo, apenas uma úlcera cicatrizada já,
que nenhum pode olhar, porque é incorpórea
e só magoa quando, cada vez menos, te recordo
e sussurro, com a ténue esperança de que agora me olhas ,
onde quer que tu estejas: “Tu nunca o soubeste, mas eu amava-te”.
16
Beatriz Aguilera
EDUCAÇÃO
Uma educação
próxima do futuro
NATALIA FERNÁNDEZ PICADO
É fácil julgar ou louvar uma cultura, um pai ou uma educação desde fora, sem verdadeiramente a
conhecer. Gostamos de comparar o
que é nosso, espanhol, com o dos
vizinhos, português, e muitas vezes
queremos ganhar em aspetos que
não conhecemos.
Nós espanhóis gostamos de dizer
que temos grandes cantores, escritores, que a nossa comida é melhor,
que ganhamos em futebol a Portugal... mas, somos verdadeiramente
superiores no âmbito da educação?
Após ao meus dois primeiros anos
estudando jornalismo, em Valladolid, graças a uma bolsa Erasmus,
fui estudar para Lisboa. No final do
primeiro quadrimestre não me atreveria a dizer que uma é melhor do
que a outra. Poderia, sim dizer que
a portuguesa tende a ser mais prática. Ambas educações têm o programa Erasmus como eixo central.
As aulas, em Lisboa, são menos teóricas e mais práticas, desde o primeiro dia fica claro que se aprende
mais com trabalhos, muitos, é certo,
que memorizando dados.
“A maior diferença que há entre a
minha universidade (Universidade
de Bilbao) e a de aqui, é que em Lisboa tudo é mais prático, mas também pode ser porque cá estou a fa-
zer o terceiro ano e os dois primeiros
são sempre mais teóricos”, diz uma
estudante de Publicidade e Relações
Públicas que este ano está a estudar
na Escola Superior de Comunicação
Social de Lisboa. Além disso, acrescenta que “cá, tenho mais variedade
de aulas porque separam o meu curso em dois diferentes”.
A não pontualidade
Uma das coisas que mais me
tem surpreendido é a pontualidade dos portugueses, ou, melhor dito, a não pontualidade dos
portugueses. As aulas têm uma
hora de inicio que poucas vezes
é a hora do seu verdadeiro início. Mais do que uma vez fiquei
preocupada por chegar 5 minutos atrasada à aula e fui a primeira a chegar. Normalmente, as
aulas começam 15-20 minutos
mais tarde do que o previsto.
A hora do almoço é das 12.30
às13.30 horas. É frequente ter
aulas da parte da tarde pelo que
a maioria parte dos alunos fica
a almoçar na universidade. Alguns levam a sua comida, outros
preferem almoçar na cantina da
universidade. Pelo preço de 2,40
euros têm direito a dois pratos,
sobremesa, pão e bebida.
A educação espanhola e a
educação portuguesa apesar
de seguirem o Programa Bolonha são diferentes no modo
de dar aulas. Bastaram-me
só frequentar seis meses uma
universidade, de Lisboa, para
ver as diferenças entre esta
e a minha universidade de
origem.
Outro aluno da Universidade de
Valencia, que está em Lisboa desde setembro, diz que “cá os grupos
são mais pequenos o que faz com
que o trabalho seja mais central e
dinâmico”.
Em Espanha, desde 2010 com o
programa Erasmus, continua-se
apostando mais nos testes teóricos,
ainda que cada vez mais sejam mais
práticas as aulas. Continua sendo
um grande problema o elevado número de alunos que há nas aulas.
Enquanto na universidade de Lisboa os testes escritos não chegam
a superar os 30% da nota final (o
resto apura-se com trabalhos) a forma de utilizar as percentagens, na
maior parte das universidades espanholas, são o oposto.
É sabido que é essencial uma base
teórica para poder chegar-se à prática,
mas é preciso memorizar tudo? Será
melhor fazer mais trabalhos práticos
para conseguir essa base teórica?
Não se trata de ser melhor ou pior,
Trata-se de ser mais prático e de
estar mais perto do futuro que nos
espera ao sair da universidade.
17
TE VOY A MATAR
LENTA
FRIKI
BULLYING,
TORPE
NEGRO GORDA GITANO
un juego peligroso
PAGAFANTAS EMPOLLONA SUDACA
CHIVATO MORO LOCO GAFOTAS
MONGÓLICA PUTONA PRINGRADO
GONÇALO SILVA
El acoso escolar es un concepto
muy reciente aunque lo hayamos
practicado toda la vida. El acto placentero de infligir daño psicológico
o físico a otras personas se mezcla,
fácilmente, con las llamadas bromas o jugarretas.
No voy a entrar a debatir las consecuencias negativas que tiene
esta práctica, todo el mundo lo
sabe, sino lo bien que se disimula. Me parece que esta situación
ocurre solamente porque el resultado es placentero para quienes
lo infligen. ¿Por qué lo hacemos?
Algunos estudios indican que existe una predisposición genética y
social como factores principales,
pero, sin duda, habrá algo más.
Lograr un espacio relevante en la
pirámide del poder, entre los com-
pañeros de clase o escuela, es
muy cautivador.
Cuando provocamos a alguien, le
golpeamos o simplemente le robamos el dinero para la comida, llenamos un hueco en nosotros mismos. No es pura maldad, no existe
solamente el deseo de ver a otras
personas en apuros; hay una evidente intención que nos transmite
algún tipo de satisfacción oculta.
Todo el mundo ha gastado bromas a alguien o ha hecho una que
otra trastada, sin embargo, solemos restarle importancia porque lo
vemos como una acción inocente o
justificada, como en el caso de las
novatadas en la universidad. En los
institutos, lo vemos constantemente entre los jóvenes. Tal vez por su
inexperiencia o deseo de superiori-
Todo el mundo ha gastado
bromas a alguien o ha hecho
una que otra trastada, sin
embargo, solemos restarle
importancia porque lo vemos como una acción inocente o justificada.
dad, el hecho cierto es que ocurre
más de lo deseado y a pesar de todos los intentos, los responsables
públicos aún no han encontrado
una solución adecuada a este problema.
Los mayores no nos lo tomamos
en serio y los jóvenes lo acaban
pagando. Es un problema difícil
de identificar y de corregir, pero no
seamos tan ilusos como para pensar que desaparecerá, si seguimos
mirando a otro lado.
san torcuato, 48
tfnos: 980 537 396
690 934 378
[email protected]
18
O
EDUCAÇÃO
ATIVIDADES EOI-LEÃO
A cultura
para construir
pontes
CARMEN MÉNDEZ ROJO
A revista Nós-otros não está connosco pela casualidade. Só há uma
explicação para a sobrevivência
dela: a vontade das pessoas. Pessoas dum e outro lado da raia seguimos crendo em partilhar, em construir pontes de união e amizade.
Quando começaram as aulas tivemos a oportunidade de conhecer,
pela mão de António Pinelo Tiza,
a afeição dos povos ibéricos pelas
máscaras e pela magia. Apresentou os livros Mascaradas e pauliteiros e também O diabo e as cinzas.
Depois fizemos, por Portugal, uma
viagem com o Agustín Remesal e
Don Miguel de Unamuno (Por tierras de Portugal. Un viaje con Unamuno).
A Virginia López assegurou-nos
duas coisas, uma que De Espanha
nem bom vento nem bom casamento é só um refrão e a outra que
tanto de um lado como do outro,
temos um mesmo problema: a cor-rupção (Impunidade).
Poesia e música
A jovem poetisa Ana Carolina
Martins introduziu-nos na Nova
Poesia Portuguesa e no quotidiano. A Ana María Romero Yebra fez
uma caminhada por toda a sua
poesia, onde pudemos ver a grandeza dos seus poemas e da pessoa
que ela é.
Com o Pablo Javier Pérez López
passamos a conhecer melhor Pessoa, os seus livros, o seus desejos
e o seu carácter, também nos falou
do Iberismo, uma constante nas
palestras.
No campo da música o Hugo Milhanas Machado ofereceu-nos uma
tarde-noite de sonho com versões
diferentes, espectaculares e surpreendentes de um fado além de
outras músicas que estão, agora, a
fazer-se em Portugal.
Ainda tivemos tempo de recorrer
os Caminhos da Liberdade com o
António Pinho, o António Duarte,
grandes, grandes eles e as suas
companheiras de viagem D. Cândida Bernardo e D. María João Cassapo. A generosidade e o esforço
de todos eles ficaram acreditados.
Para o ano, festejaremos outra vez
todos juntos o Magusto português.
Oxalá.
Cómo evaluar un idioma
MIGUEL ÁNGEL SÁNCHEZ SÁNCHEZ
Las Escuelas Oficiales de Idiomas (EOI) desempeñan una función fundamental en la enseñanza de las lenguas en nuestro país. Los
profesores de estos centros, conscientes de la
importancia de aprender un idioma y del valor
de garantizar la validez de nuestros certificados, decidimos, en los 90, sentar unas bases
globales de certificación. Buscábamos homogeneidad en las pruebas de evaluación y el reconocimiento de las titulaciones.
A partir del momento en que la normativa
articula nuestras enseñanzas en los niveles Básico, Intermedio y Avanzado, surge la necesidad de establecer unas bases globales y unas prácticas
de certificación en la red de estos centros. De hecho, en la actualidad, las
EOI son más exigentes, a la hora de garantizar una adecuación real de las
pruebas de certificación, que muchas de las instituciones privadas que
certifican dichos niveles. En los últimos años, hemos dado pasos significativos en los controles unificados de certificación de ámbito nacional.
Podía plantearse un debate a la hora de elegir los ejercicios como una
forma de medición académica en aspectos como las listas de control utilizadas en la evaluación continua o la observación cotidiana del profesor…,
pero esas propuestas no pueden considerarse “pruebas” desde el punto de vista objetivo. Evaluar es un concepto más amplio. Ahí estaríamos
hablando de valorar la eficacia de métodos, tipo y calidad del programa,
satisfacción del alumno y del profesor, eficiencia de la enseñanza, etc.
Todo este vademécum académico puede resumirse en tres pilares: validez,
fiabilidad y viabilidad.
*MIGUEL ÁNGEL SÁNCHEZ SÁNCHEZ es director de la EOI-León
19
EDUCAÇÃO
O português em Espanha
FILIPA SOARES
A Embaixada de Portugal, através
do Camões – (Camões,I.P.), promove
ações nas áreas educativa e cultural
para promover a língua e a cultura portuguesas em todo o Estado espanhol.
O trabalho conjunto em matéria
educativa e cultural, iniciou-se em
1970, através do Acordo Cultural
entre Portugal e Espanha, assinado,
em Madrid, a 22 de maio, e foi reforçado pelo Memorando de Entendimento no âmbito do Ensino não
Superior e da Língua, a 9 de maio
de 2012, no decorrer da XXV Cimeira
luso-espanhola,
A rede de ensino a nível do ensino
regular concentra-se fundamentalmente nas comunidades autónomas
de Astúrias, Catalunha, Castela e
Leão, Comunidade Autónoma de
Madrid, Comunidade Foral de Navar-ra, Extremadura e Galiza.
Temos quatro estruturas Camões
que desenvolvem atividade docente, investigadora e cultural própria.
A saber: Centros de Língua Portuguesa (CLP) em Barcelona, Cáceres
e Madrid e Centro Cultural Casa de
Arines, em Vigo. No âmbito univer-
sitário, apoiamos igualmente a prossecução dos objetivos estabelecidos
pelas Cátedras José Saramago, na
Universidade Autónoma de Barcelona, e a Cátedra de Estudos Portugueses, da Universidade de Salamanca.
Tradição e modernidade
Além das atividades mencionadas,
realizamos exames de certificação,
promovidos pelo CAPLE. Em relação
à promoção cultural, destacam-se
duas iniciativas: Mostra Portuguesa
e Portugal Convida. Ações que pretendem projetar uma imagem atual
da cultura portuguesa, combinando
tradição e modernidade.
Em termos cultuais a Embaixada e o
Camões, I.P., têm apoiado a vinda de
artistas portugueses em plataformas internacionais como: PhotoEspaña, Festival de Fado de Madrid, Festival Escena Contemporánea, FAD – Prémios de
Arquitetura e Design, EXTREMA’doc
– Festival Internacional de Cinema Documental da Extremadura.
O Camões, I.P., atua, de igual
modo, nos contextos EUNIC e CPLP,
realizando atividades conjuntas,
como foi o caso da participação da
artista plástica Patrícia Reis na Exposição Internacional “Who Makes Europe”, no Centro de Criação Contemporâneo – El Matadero, em Madrid.
Em 2013 destacamos: 8ª edição da
Mostra de Cinema Europeu “Cidade
de Segóvia” (MUCES) e a X Edição
de Cinema Europeu de Sevilha; ou
atividades como o Festival de Fado
de Oviedo, ou Prémio de Tradução
Giovanni Pontiero.
*FILIPA SOARES é coordenadora da
CEPE Espanha e Andorra do Camões, I.P., e diretora do Centro de
Língua Portuguesa em Madrid.
El español en Portugal
EDUARDO TOBAR
La Consejería de Educación de la
Embajada de España en Lisboa se
encarga principalmente de apoyar el
estudio del español como lengua extranjera en Portugal. Para ello cada
año se desarrolla un programa de
formación del profesorado en colaboración con el Instituto Cervantes y las
universidades portuguesas. Este año
las actividades principales tendrán
lugar en Coimbra, Braga y Faro. Además tenemos un plan de publicaciones entre las que podemos destacar
una selección de unidades didácticas
llamada “Azulejo para el aula de español” y “Anaquel” que es el boletín
informativo de la Consejería. Este año
publicaremos una recopilación de artículos sobre las dificultades específicas de la enseñanza del español a
lusohablantes que llevará el título de
20
“El español como lengua extranjera
en Portugal: retos de la enseñanza
de lenguas cercanas”.
Auxiliares de Conversación
Gestionamos además el programa de Auxiliares de Conversación
portugueses en España, algunos de
cuyos participantes escriben en esta
misma revista. En este momento hay
17 plazas en las cuatro comunidades
autónomas limítrofes con Portugal.
En paralelo coordinamos el programa
de Lectores El Corte Inglés en universidades portuguesas que cuenta en
este momento con siete plazas. Otro
programa importante es el Premio
Pilar Moreno al mejor diseño de proyecto de viaje cultural a España.
El Centro de Recursos en Lisboa
cuenta con una colección de más de
6.000 libros, además de vídeos, discos
y otros materiales. Estos recursos se
prestan de modo gratuito en Portugal.
En nuestra página web tenemos
más información y enlaces para poder
seguirnos por email o por Facebook:
http://www.mecd.gob.es/portugal/
*EDUARDO TOBAR es Asesor Técnico
de la Consejería de Educación de la
Embajada de España en Lisboa.
LIVROS
Um livro para ti
ABILIO CHAMORRO
Situado numa estante, quase
sempre acompanhado, está a esperar que o tomem as tuas mãos, que
o abras e mergulhes no seu interior,
lendo-o. Trata-se de um livro. O exterior já diz coisas dele, se é novo,
altivo, grande, pequeno, velho. Se
é um livro de alto nível e categoria,
encadernado em couro, com gofrados e outros adereços ou, pelo
contrário a sua encadernação é em
brochura, mais simplificada e económica, e assim poder comprá-lo e
aceder à sua “alma”, ou seja, lê-lo,
que sem dúvida é para aquilo que
os livros são produzidos. A sua finalidade é a de passar seus ensinamentos, mensagens, conclusões...
O livro também chama a atenção
pela sua estética e tem muitos coleccionadores, que gostam de o
apanhar como objecto, que gostam
de possuir e admirar e que sabem
que mantém dentro o que chamamos a “alma” e que não raramente
é de valor incalculável.
Quando lhe dediques tempo, o
tenhas nas tuas mãos e vás descobrindo página após página os seus
segredos, aprendendo o seu ensino,
deliciares-te com a sua poesia, com
as suas narrações ou sofrendo com
as suas mágoas, quando estiveres
envolvido nos seus textos e imagens
com essa magia que ocorre quando isso tão material como ele é, um
conjunto de folhas de papel impresso, que consegue fazer-te desfrutar,
viajar, sentir, sofrer, pôr a pele arrepiada..., então, é maravilhoso!, que
coisa prodigiosa!
Esta é a magia dos livros. Ensinam- nos, educam- nos, acompanham-nos, fazem-nos pessoas mais
livres. É verdade que, para determinadas pessoas, ler alguns livros,
levou-as a grandes mudanças nas
suas vidas.
Desfrutar e aprender
Houve outros tempos passados muito obscuros, no referente ao
saber e a liberdade do conhecimento, em que eram assustadores, metiam medo, receio, inveja. De que
tratará esse livro que o meu vizinho
tem? Alguns foram atirados ao fogo,
outros foram apreendidos e tiveram
de ser escondidos para evitar que
desaparecessem. Há alguns que
chegaram até nós, velhos, decrépitos, “estafados” (é como são chamados agora). Estão sem brilho nas
suas capas, com marcas de fogo,
pontos sujos, folhas soltas..., mas
mantendo a sua “alma” e conseguiram trazer-nos a informação que
as suas folhas contêm.
Nestes dias, em pleno século XXI,
quando os meios de comunicação e
de alienação das massas obstinam-se em fazer um valor crescente
da estupidez e tentam brutalizar
o maior número de pessoas possíveis, a única solução que posso
encontrar para combater a idiotice
é pegar um desses livros da prateleira e ler. Desfrutar e aprender com
bons livros, é a melhor maneira de
combater esta falta de interesse
pela cultura.
Em todas as épocas da tua vida,
em todas as épocas, em todos os
momentos, há sempre um livro para
ti, que vem através de diferentes
canais, um dom, um presente, não
importa como, mas vai apresentar-se, não hesites, levá-lo, senti-lo,
cheirá-lo, acariciá-lo e mergulhar
dentro dele. Ele vai contar todos os
seus segredos, será o seu companheiro, seu professor, seu conselheiro, seu melhor amigo. Não caias
na apatia e gosta de ler um bom livro. Ele é um dos grandes prazeres
que nós ainda podemos pagar.
21
LIVROS
Um abraço à vida
JOSÉ ANTONIO
GONZÁLEZ GONZÁLEZ
Abraço é uma recopilação de
textos publicados de 2001 a 2011
em diversos meios pelo escritor
alentejano, José Luís Peixoto. O
título expressa proximidade, verdade, bondade. Tudo isto e muito
mais podemos encontrar no livro.
Por isso, talvez, quando cada um
está a lê-lo sente uma identificação
especial com o autor e, por meio
dele, com o que nos rodeia todos
os dias.
E como o consegue? O método
não é fácil: os sujeitos de quem
fala estão próximos, são os que nos
rodeiam, os que encontramos, os
que olhamos, os que sentimos (E
digo “nós” porque Peixoto faz com
que sintamos o que ele sente mas
nós não temos a possibilidade de
dizê-lo com a sua claridade, musicalidade e elegância.)
Alguns temas são frequentes: a
família, os seus amigos e vizinhos
da sua aldeia, Galveias, os objetos mais quotidianos, os quais são
convertidos em matéria literária.
Mas o melhor da escrita de Peixoto
é que tudo isto tão próximo o converte em algo universal, pela força
dos sentimentos que desprende.
Tão universal como quando fala de
Deli, do barulho dos casinos de Las
Vegas, duma paixão em Cabo Verde ou quando descreve Tóquio ou
Moscovo. Quando trata dos temas
que interessam a todos fá-lo com
uma sinceridade que as distâncias,
geográficas ou temporais, não são
impedimento para que cheguem
22
Destaca a musicalidade da
prosa, não tem importância o sujeito que discorra: é
igual uma lista de nomes da
sua aldeia que a descrição
duma cidade ou os sentimentos que despertam os
objetos e as pessoas
ao nosso coração, porque a grande
literatura não conhece distâncias:
sabe como transmitir os sentimentos de todos. As viagens de Peixoto aproximam-nos a muitas partes
do mundo, provocando sensações
ricas, mas não há menos riqueza
quando fala das suas experiências
em Galveias: Peixoto é um cidadão
do mundo.
A eternidade
Outras referências são as literárias; não somente fala da criação
literária como também de alguns
autores que admira: Dostoievski,
Rulfo, Manoel de Barros, Clarice
Lispector, Saramago ou Joyce.
Outros temas presentes na obra
são a solidão, o amor, a solidariedade ou o passo inexorável do tempo (“A eternidade, onde estiver, ri-se de mim”). Talvez isto provoca
a importância que ele dá às lembranças, de onde esteve.
Na criação literária também “...
temos a linguagem...” Uma frase resume-o bem: “o meu corpo
atravessou as palavras” É verdade,
Peixoto está cheio de palavras, de
literatura, de necessidade de ex-
pressão. Destaca a musicalidade
da prosa, não tem importância o
sujeito que discorra: é igual uma
lista de nomes da sua aldeia que a
descrição duma cidade ou os sentimentos que despertam os objetos
e as pessoas. Esse ritmo musical
está feito também de metáforas
que parecem brotar da essência
própria dos objetos. Por outro lado,
as personificações abundantes fazem que nos acheguemos a um
mundo cheio de vida. E tudo isto
exprimido numa linguagem direita,
com uma agilidade natural que penetra no leitor e o conquista.
Definitivamente, o que faz Peixoto é mostrar a vida por meio das
coisas mais simples e quotidianas.
Ele diz que “quase tudo é metáfora
da vida” uma vida que tem rasgos
especiais contada pela sua escrita.
A leitura de Peixoto ajuda a encontrar-nos a nós próprios e ao mundo
que nos envolve.
LIVROS
Raízes sebásticas
JORGE MANRIQUE MARTÍNEZ
O mito português mais salientado é, sem dúvida, aquele que tem
ateado a crença esperançosa do
regresso de uma real personagem
que desapareceu. Com essa representação de alguém desejado, mas
afastado e encoberto, o paradigma
volitivo dos três tempos do âmago
luso –passado, presente e saudade– fica sempre em tensão.
Olhar por entre a grande literatura portuguesa a quem mergulhava
no dia 4 de Agosto de 1578 na batalha de Alcácer-Quibir não é uma
saída pelos campos de Ourique;
desde Camões (que o viu como a
“nascida segurança da Lusitana
antiga liberdade e não menos certíssima esperança”) até Agostinha
Bessa-Luís –em O Mosteiro–, Fernando Campos –em A Ponte dos
Suspiros– ou Deana Barroqueiro, a
mais hodierna caneta, que eu saiba, entranhada no tema sebástico
com o romance D. Sebastião e o
Vidente.
Foram, no entanto, os românticos
os primeiros que fitaram na proteica natureza de el-rei D. Sebastião
para refestelar-se nela quanto ente
de razão e engenho; embora não
seja até 1867 –com o romance O
Senhor do Paço de Ninães– que
a desafeição camiliana comece a
explorar em cheio a veia sebástica para feitios mais pessoais e,
por graus, mais desancorados a
respeito da historicidade. Convém
JU
lembrar, porém, que foi um jovem
escritor valhisoletano quem, em
1849, deteve de chofre o sebastianismo histórico-político, aferrolhou-o e lançou-o para uma estética
vizinha do simbolismo. A insubmissa torga ibérica possui lançadas raízes e algumas das mais cavadas —além do
que se vê às vezes— abrangem
de lés a lés as
dobradiças que
ligam os painéis
do nosso antigo
díptico com recriações literárias
que afagam uns
anelos e um jeito
de ser bem entremeados.
O drama mais
pessoal
No seu texto,
José Zorrilla alicerça uma desassossegada história pessoal –tantinho pessoana– fornecida com um dos seus
mais audazes núcleos poéticos: o
fingido leva infinda vantagem ao
verdadeiro, “la mentira es más bonita”. O drama de 1849, com os
segredos que arrecada, sabe mais
a saudade do que a arquivos. A
peça, assim, exerce como esconjuro dos mais fundos abantesmas
do autor.
UTIÉRR
STINO G
EZ TASIS
Foram os românticos os
primeiros que fitaram na
proteica natureza de el-rei
D. Sebastião para refestelar-se nela quanto ente de
razão e engenho
Na sua nostalgia do porvir, lateja
uma tenção que prenuncia a que
os intelectuais ligados à revista
portuense A Águia desenharão
para Portugal, dando à revolução
de 1910 uma viragem ontológica
e um conteúdo regenerante, cheio
de estetismo e de simbolização.
Misturando no seu próprio imo história sebástica, devaneio poético e
magoados depoimentos próprios,
Zorrilla tem criado o drama mais
cismado, mais pessoal e mais saudoso: Traidor, inconfeso y mártir.
Avda Madrid, 38
Laguna de Duero :: 47140 Valladolid
Telfs. 983 54 03 35 :: 983 54 08 83
[email protected]
23
LIVROS
A morte na obra
e na vida de
José Saramago
ÉDGAR BOÁN GONZÁLEZ
Falar de José Saramago é falar de
um dos grandes génios do século
XX. Filho de uma família de agricultores da vila de Azinhaga, cedo se
interessou pela cultura e os estudos, interesse esse que durou até
à morte.
A obra de José começou em 1947
com a publicação do romance Terra do Pecado e continua até à sua
morte. Prémio Nobel de literatura
no ano de 1998 e Prémio Camões, o
mais importante prémio literário de
Portugal, José foi um dos mais importantes personagens na defesa da
união ibérica e o laicismo do estado.
A polémica também foi protagonista na vida de José Saramago. No
ano de 1991 a novela O evangelho
Segundo Jesus Cristo levou-o a um
confronto com a Igreja e o Estado
Português, e por sua causa José
mudou-se para a ilha de Lanzarote.
Estes pontos de vista da religião e
da morte são o que vou desenvolver no meu artigo. Para entender
a visão que tem o autor da morte
usarei o documentário José y Pilar
e o livro As intermitências da Morte.
“Lo malo de la muerte es haber
estado y ya no estar, parece una
cosa obvia pero es aquí donde radica la cuestión” Essa é a resposta
dada por José quando é questionado acerca da morte no documentário José y Pilar é a visão da morte
do autor. A morte é algo banal, simples, não tem mais importância que
não viver, por isso Saramago diz
24
que a morte não o preocupa, mas
as consequências que isso tem. O
seu ateísmo é protagonista sempre
nesta visão da morte. “Nosotros
somos una máquina, que funciona
bien durante un tiempo, que después comienza a funcionar menos
bien, y llega siempre el día en que
deja de funcionar. Imagina que
no fuera así”. Com estas palavras
mostra-se que, para o autor, não há
uma vida após a morte. As pessoas
são só um mecanismo que morre
quando já não funciona.
O inferno?
Para José não há céu nem inferno,
não há mesmo nada, essas ideias
da vida após a morte são o produto das religiões que precisam disto
para atrair seguidores que tenham
medo da morte e lutem pela sua salvação. Tudo isto se pode mostrar na
sua obra As intermitências da Morte
(2005).
José Saramago mostra um país
em que a partir do dia 1 de janeiro
ninguém morre, neste momento em
que já não há mortes a Igreja começa
a ver a sua instituição ameaçada já
que dependem da morte para manter o seu dogma de fé. No mesmo
livro mostra-se como o autor humaniza a morte, a morte está desmitificada, os seus sentimentos e o amor
são mais importantes que o seu dever. A morte namora um violoncelista e não pode matá-lo, este facto fez
com que se tornasse humana e que
já ninguém morra de novo.
Para Saramago a morte é apenas
o fim da vida, a vida é o verdadeiro protagonista para José, é por
isso que o autor escreveu até o fim
do seus dias. A morte para a visão
ateísta do autor é apenas o fim.
LIVROS
Oliveira Martins (1845-1894)
es un autor fundamental en
la historia de la cultura peninsular, y sin embargo, es
injustamente desconocido
por el gran público. Autodidacta, trabajador en diversas
compañías, periodista, divulDAVID MOTA ÁLVAREZ
Podríamos calificarlo, al menos,
como iberista cultural. Vive en España como administrador de las
Minas de Santa Eufemia (Córdoba)
y de la Compañía Minera de Ciudad
Real. En 1891 asiste al Ateneo de
Madrid para pronunciar una conferencia en el marco del IV Centenario
del descubrimiento de América. Los
intelectuales españoles lo admiran
y mantienen correspondencia con
él. El gobierno español le concede
la Gran Cruz del Mérito Naval y la
Orden de Isabel la Católica.
Entre el 5 y 23 de Junio de 1894,
poco antes de morir, emprende su
último viaje a España: Salamanca,
Zamora, Toro, Medina del Campo,
etc. Redacta doce cartas que su
hermano recopilará póstumamente bajo el título Cartas Peninsulares.
Viajero del siglo XIX
Su intención es redactar O Príncipe Perfeito, biografía sobre el rey,
João II de Portugal. Decide visitar
Toro, donde se enfrentaron en 1476
las tropas de Isabel la Católica y los
ejércitos portugueses de Afonso V,
defensores de la causa de la Beltraneja.
Las cartas son un ejemplo de la
imagen de un viajero portugués
del siglo XIX sobre España, y sobre
todo, de Castilla y de lo castellano,
que puede emparentar con la imagen, real o ficticia, de la Generación
del 98. Si bien es cierto, que en
algunas ocasiones, el propio autor,
no se olvida de que está pisando
tierras del antiguo Reino de León,
encuentra, aquí, su síntesis.
“En el corazón de la vieja Castilla,
donde nos encontramos, son, con
gador científico, historiador,
intelectual, político, miembro
de la Generación portuguesa
del 70 -junto a Antero de
Quental, Teófilo Braga, Eça
de Queiroz, etc.-, al final de
su vida formó parte de los
Vencidos da vida.
¿Una ruta
cultural para
el siglo XXI?
todo, muchos los trazos que denuncian su primera fusión con asturianos y leoneses”.
Difiere, en parte, de la visión reductora y tópica que sobre España
tiene el viajero romántico extranjero
del siglo XIX, una imagen distorsionada que la hace coincidir mayoritariamente con la “imagen andaluza”.
Originalidad
Nuestro autor no busca guitarras
de flamenco, ni bandoleros, ni toreros, ni el orientalismo que procuraban otros viajeros extranjeros, cree
hallar en España la originalidad:
“quien, en los viajes, quiera buscar
lo pintoresco, venga a España, que
es tal vez el último lugar de Europa
donde la vida antigua, por fuera y
por dentro, se conserva intacta”.
Como buen turista visita los edificios más emblemáticos de las ciudades que visita. En Salamanca y
en Zamora, en Medina del Campo
y en Toro.
Por las Cartas Peninsulares desfilan los personajes y los episodios
más destacados de la Historia de
España. Las leyendas también
encuentran su hueco. El viajero
portugués emite también diversas
observaciones sobre la realidad española que encuentra a su paso.
La situación económica de la región está dominada por el sector
agrario (el vino y su bajo precio, el
cereal).
En Salamanca advierte las disputas entre el Kraussismo y el Neotomismo de su Universidad. ¿Por qué
no proponer el libro de las Cartas
Peninsulares de Oliveira Martins
como ruta cultural por Castilla y
León para el público portugués?
25
LIVROS
Imagem peninsular
de Lêdo Ivo
MARGARITA CUETO VEIGA
Existem diversas maneiras de explorar as relações entre cinema e
literatura, mas, considerando que
ambas expressões artísticas possuem semelhanças e diferenças,
hoje, “na era da interdisciplinaridade, nada mais saudável do que
tentar ver a verbalidade da literatura pelo viés do cinema, e a iconicidade do cinema pelo viés da
literatura” (Brito, 2006: 131).
Escrever e filmar este discurso de
interdependências, tornou-se um
desafio que o diretor Werner Salles
Bagetti, quis enfrentar, em 2003,
com o documentário Imagem Peninsular de Lêdo Ivo. O filme, feito
para a televisão, marcou uma época na sétima arte alagoana e ajudou a divulgar a obra do escritor. O
resultado foi uma imagem múltipla
de cinquenta minutos, um passeio
poético pelas memórias de Lêdo
através da sua voz e das declarações de especialistas.
Olhos irrequietos
Rodado em Alagoas, Pernambuco e Rio, não faltam fotos raras,
objetos pessoais e a sua máqui-
26
na de escrever, para contar a sua
aventura com a literatura desde a
sua infância. O percurso abre-se,
como um romance diante de olhos
irrequietos, e descemos com Ivo os
degraus que o levarão até o nosso
cenário.
Poeta e ensaista, memoralista e
narrador, Lêdo Ivo nasceu em 1924,
em Maceió, Alagoas, uma cidade
mítica onde as águas se misturam
com a terra. No Rio de Janeiro, matriculou-se na Faculdade de Direito
e colaborou em suplementos literários, enquanto ao mesmo tempo
desenvolvia a sua atividade literária.
Abraçou a alquimia da poesia com
a obra As imaginações (1944), a
que se seguiram, entre outras, Ode
e elegia (1945), Acontecimento do
soneto (1948), Magias (1960), Estação Central (1964), Rumor da
noite (2000), Mormaço (2011) e o
livro póstumo Aurora (2013). Eterno cosmopolita, em 1982, Lêdo recebeu o Prémio Mário de Andrade
pelo conjunto da sua obra.
O rumor e o silêncio
Foi eleito imortal em 1983 e oito
SOCIEDADEDOSPOETASAMIGOS.BLOGSPOT
Transgressor da Geração de
45, o poeta construiu o seu
universo como uma contemplação da qual emanam
mais perguntas do que
respostas
anos mais tarde, conseguiu o Prémio Leteo, na cidade de León.
Transgressor da Geração de 45,
o poeta construiu o seu universo
como uma contemplação da qual
emanam mais perguntas do que
respostas. Desde o início, o leitor
distingue um diálogo entre as formas do mundo e os seus opostos:
o rumor e o silêncio, o sol e o vento, “o barulho do mar, o salitre, a
chuva, os mortos que são como os
navios, os morcegos...” e por uns
instantes, movidos por aquela voz,
transladavamo-nos ao Brasil. Lêdo,
que foi todos os poetas, evocou
que “a minha pátria não é a língua portuguesa” porque nenhuma
língua pode querer aspirar a ser
pátria. A linguagem plasma um papel social e o poeta comprometido
“serve para dar voz e música aos
que não tem”.
Neste tempo de silêncio, desde
que o capitão partiu em 2012, o
documentário tem sido o guardião
da sua memória, o espelho que
torna o ausente, presente. “Quero
tudo a que tenha direito”. Lêdo Ivo
adorava repetir esse verso entre risos; sem dúvida, sabia que tinha
direito a não morrer nunca.
POESIA
Y no encuentro esperanza, ni refugio,
ni asilo, y en mis noches, pobladas de
febriles quimeras...
Amado Nervo
Deixá-lo lá
JOSÉ MIGUEL GÁNDARA
Deixá-lo ali, sentado nessa cadeira cor verde apaziguado,
eles tinham puxado os meus meandros taciturnos para
o exterior, algo tão estranho como virulento como eu
me arrastar algumas vidas cabecearam e cambalearam
para lá daquele lugar, dentro dos limites de uma pandemia
de desconhecido, e aí eu tive que sair, eu era como que levitando
rosto e corpo fumegantes mistérios, porque ela é um mistério,
é uma luz ainda em falhar, não preso em meus caminhos, indescritível, conheça suporia a transmutação dos nortistas que
sempre escondeu arcana nos -Valle-Inclán acima de Rosalíafora da luz reveladora, revelando corajosamente.
Na televisão emitiam “as virgens suicidas” uma história de
busca do mistério das mulheres e eu voltei a lembrar que lá tinha
deixado, descansando em suas pernas, com um caderno no
qual marcando seus sonhos de iniciação, a paisagem em
direção a duas horas seu pensamento estava planejando
construir um fatídico e inextricável, e que ninguém poderia
reconhecer.
Assim, muitos feitiços e fadas predestinatórias ficou entre os
nossos olhos, assim muitos mundos e enterrado em columbário
galego, preso entre as colinas verdes do amante terra pássaros
escondidos e homens que foram banidos para sempre.
Deixá-lo ali sentado naquela cadeira verde idade precoce.
A una sonrisa gratuita y sin requiebros, a Isabel
A una amistad de distancias físicas, pero magnética en su esencia, a Tere.
27
LIVROS
En busca de la aldea natal de
Eduardo Lourenço
JOSÉ LUIS PUERTO
Portugal siempre es una cercanía
física, pero, para los españoles –en
un pasado reciente- ha sido una
lejanía mental y anímica que, afortunadamente, con la llegada de la
democracia, se ha ido diluyendo
y hemos comenzado a conocer
mejor y a valorar más adecuadamente, como se merece, ese país
hermano, sus gentes, su cultura y
su historia.
Durante las largas dictaduras de
ambos países, las fronteras estaban cerradas a cal y canto, de
ahí que la raya no fuera una línea
imaginaria que unía más que separaba, sino una barrera real infranqueable.
Pero ya, entre finales del XIX y
primeros años del XX, hubo pioneros, avanzados, que trataron de
crear un territorio de fraternidad
peninsular que recibió el nombre
de iberismo. Miguel de Unamuno
fue, de este lado de la raya, uno
de tales pioneros. Su conocimiento de Portugal fue profundo, como
demostró en ese hermoso libro de
viajes que publicara en 1911, titulado Por tierras de Portugal y de
España, una verdadera interpretación de Portugal y de lo portugués,
al tiempo que una obra maestra,
en su género, dentro de nuestra
literatura contemporánea.
Carlos Puerta Reguera
28
Itinerario común
Del otro lado de la raya, Oliveira
Martins, en su História da civilização ibérica, aborda la de toda la
península desde el punto de vista
de esa fraternidad entre pueblos
hermanos que nunca han de vivir
de espaldas, pues tienen, en no
pocos aspectos, un itinerario histórico civilizador común.
La pasada primavera, aprovechando las vacaciones de la Semana Santa y Pascua, con unos
amigos salmantinos, realicé un humildísimo viaje portugués. Desde
Ciudad Rodrigo, donde quedamos,
nos dirigimos a Fuentes de Oñoro,
pasamos a Vilar Formoso y, desde
allí, nos adentramos en Almeida, la
villa fortificada, inscrita en una estrella defensiva, que pareciera caída de un cielo protector, tal como
el narrador y aventurero norteamericano Paul Bowles tituló su novela
más deslumbrante.
En Almeida, probamos –cómo noel bacalao y un arroz caldoso, al
tiempo que las palabras amistosas
y cordiales se iban desgranando.
Y todo ello iba consolidando una
amistad asentada en el espíritu de
la tierra, ese sustrato tan perceptible
en toda la obra del gran autor portugués Miguel Torga, cuyo extraordinario escrito autobiográfico, La
creación del mundo, acabamos de
releer en nuestros días albercanos.
Tras la comida, fuimos a visitar un
pueblecito, este sí auténticamente
de la raya, a escasos kilómetros de
Vilar Formoso. Tal localidad une en
su nombre un hagiotopónimo y un
hidrónimo: São Pedro do Rio Seco,
esto es, San Pedro del Río Seco.
Su peculiaridad, y también su
nombradía, se debe a ser el lugar
natal del gran pensador y ensayista
portugués contemporáneo Eduardo Lourenço.
En su honor las universidades
de Coimbra y Salamanca conjuntamente han instituido un premio
(que se falla en Guarda), para destacar la labor cultural de una personalidad portuguesa o española, y
del que he tenido la fortuna de ser
miembro del jurado en una ocasión.
São Pedro do Rio Seco tiene una
hermosa arquitectura popular de
piedra, unos cruceros y un conmovedor calvario de granito en su
ejido, una fuente romana granítica
también y unos huertecillos deliciosos y mínimos constelados de
cigüeñales y de populares y cuidadosos sistemas de riego. Merece
la pena visitarlo, pues, aparte de
MENTE UNIVERSAL
Eduardo Lourenço aborda, siempre desde perspectivas críticas,
desde una mente muy abierta y muy lúcida, y sin dejar adscribirse a
escuela de pensamiento alguna, el ensayismo político, literario y una
constante reflexión sobre la identidad portuguesa.
Para adentrarse en este extraordinario ensayista portugués, aparte
de su obra inicial, recomendamos leer su ensayo existencial-literario
Tempo e Poesia (1974), o esa indagación en la identidad portuguesa,
ese psicoanálisis mítico del destino portugués que es O labirinto da
saudade (1978). Después, podemos seguir por donde queramos.
Ah, y si tenemos ocasión, no estará de más acercarnos a São Pedro
do Rio Seco, esa hermosa y humilde aldea portuguesa de la raya,
donde se respira un telurismo milenario y, donde un ya lejano día,
viniera al mundo Eduardo Lourenço.
conocer una aldea portuguesa de
frontera casi intacta, sin apenas
profanaciones arquitectónicas ni
medioambientales, tiene el encanto añadido de ser la matria natal de
uno de los grandes ensayistas europeos contemporáneos.
La aldea, desde su humildad,
desde su recogimiento, desde
esa alianza milenaria con la tierra,
rinde homenaje a su hijo más célebre con un rótulo en el edificio
donde fue a la escuela y con una
sobria placa de hierro oxidado,
en la que se recorta el rostro de
Eduardo Lourenço, bajo el que el
escritor luso, en un breve texto,
reitera un universal muy hermoso:
la verdadera patria del hombre es
la niñez… y el lugar de origen.
Eduardo Lorenço nacería en esta
aldea de São Pedro do Rio Seco,
casi junto a la raya, a escasísimos
kilómetros de ella, el 23 de mayo
de 1923. Su biografía es ya muy
amplia.
Formativa e intelectualmente está muy vinculado a la Universidad
de Coimbra. Aunque Francia, y
ese abierto espíritu europeo que
en Francia se respira, ha sido y es
también decisiva en el itinerario
humano e intelectual de Eduardo
Lourenço.
No es casual que su primera
obra llevara el título de Heterodoxia
(1949), lo que revelaba ya, a finales de los años cuarenta, una gran
amplitud de miras, viniendo de un
intelectual que tenía que vivir en
un país irrespirable, marcado por
tantas ortodoxias.
* JOSÉ LUIS PUERTO es catedrático de
Literatura Española de Enseñanza
Secundaria, poeta, ensayista y traductor de poesía portuguesa
29
ENTREVISTA
JOSÉ LUIS CARRASCO/CANARIAS7
PILAR DEL RÍO
Presidenta de la Fundación José Saramago
“Mi sueño es que las personas
puedan compartir y disfrutar
del entorno de Saramago”
GOYI PLAZA PARRA
GOYI PLAZA.- Se Saramago estivesse vivo, teria optado pela literatura ou
antes pelos seus artigos jornalísticos
de crítica, denúncia e compromisso,
nesta época crise que vivemos?
PILAR DEL RÍO.- No puedo decir lo
que haría una persona que no está,
pero todos podemos observar la trayectoria de José Saramago y sacar
conclusiones: nunca dejó de escribir, nunca renunció, por eso, a ser el
ciudadano que era, le costara lo que
le costara. Era su forma de lucidez y
de honestidad.
P.- Quando o autor de Terra de Pecado
declarava de uma maneira tão absoluta a sua ideología e o seu compromisso nos seus livros, fazia-o para
provocar os leitores?
30
É uma mulher curiosa, culta,
de ideias quase redondas
perante a vida, a história, a
literatura, a cultura… tão sensível quanto austera. Pilar del
Río manifesta-nos a sua generosidade porque permite que
os leitores de José Saramago
tenham acceso à intimidade
do grande génio. Ainda que
partilhassem a mesma maneira de estar no mundo, sem ela,
o grande mestre não estaria
por completo na dimensão
pessoal. Com esta entrevista
ficamos a conhecer melhor o
pensamento do prêmio Nobel.
R.-Lo hacía porque sentía la necesidad –intelectual, moral- de expresarse sin censuras. La provocación
no formaba parte de la forma de estar en el mundo de José Saramago,
sí el respeto y la libertad.
P.- Compreender o universo de José
Saramago seria impossível sem a Pilar, uma mulher de hoje, complementar do grande escritor. Como é que
lida com o facto de ser uma figura
atual da cultura?
R.- Sin falsas humildades respondo que en absoluto es necesaria mi
función para comprender a José Saramago… Cada lector tiene su propia autonomía para entender el libro
que lee o al autor que lo ha escrito,
yo fui solo la persona que vivió con
el ser humano. Por lo demás, trato
de hacer el trabajo en la Fundación,
o como traductora, de la forma más
honesta posible, sabiendo que no se
puede sustituir al autor.
P.- Saramago dizia constantemente
que não tinha tido nenhuma ambição
na vida. Em relação ao seu legado,
quais são os seus principais sonhos?
R.- Mi mejor sueño es que muchas
personas, durante el tiempo que sea
posible, puedan compartir y disfrutar
del entorno de José Saramago. Sus
libros ante todo, que eso es posible
para cualquier lector, pero también
los lugares que habitó y donde escribió, los espacios que llenó con su
vida, sus objetos… Por eso decidí
abrir la casa y la biblioteca de Lanzarote a la visita pública, para compartir el legado y la vida de un ser
humano impresionante que, si es
verdad que no tuvo ambiciones personales, las tuvo todas para con los
pobres diablos que somos.
P.- Quais são os objetivos que, neste
momento, a Fundação José Saramago
pretende levar a cabo?
R.- En la declaración de principios
tenemos varios objetivos: fomentar el
debate cívico y cultural, intervenir en
la defensa del medio ambiente, provocar la Declaración Universal de Deberes Humanos, tan necesaria para
que se cumplan los derechos. Por
supuesto, catalogar originales y el
gran legado que José Saramago dejó.
P.- Há investigadores que têm interesse em aprofundar o conhecimento
sobre Saramago como ser humano,
isolando a sua faceta literária?
R.- Hay estudios –o estudiosospara obra y vida: desde las comas
en sus novelas al sentido moral de
sus palabras. La potencia de José
Saramago es tanta que cada día se
descubre una nueva perspectiva. En
la Fundación nos quedamos fascinados con los motivos de estudio que
nos anuncian o de los que nos enteramos por casualidad.
P.- Atualmente, tem tempo para exercer a sua profissão, o jornalismo ou a
tradução?
R.- Siempre hay tiempo, si lo buscamos o lo organizamos bien, imagine no encontrar tiempo para el honor
de traducir… En el periodismo solo
colaboro semanalmente.
“En la Fundación nos
quedamos fascinados con los
motivos de estudio que nos
anuncian o de los que nos
enteramos por casualidad”
P.- Você acha que desde 1975, na
obra do Prémio Nobel, a literatura
foi o primeiro e o mais importante
espaço para aspirar à melhora do
mundo, ou é só um palco mais para
acrescentar aos outros que já tinha
empregado anteriormente?
R.- José Saramago era escritor
cuando escribía, pero el resto del
tiempo era un ciudadano. Por supuesto, se respetaba así mismo y
respetaba la Literatura como para
no hacer panfletos de sus novelas,
aunque tanto en sus novelas como
en otras narrativas, esté el autor por
entero. José Saramago distinguía
bien entre literatura, articulismo y
ensayos.
P.- Pensa que Saramago condicionava o estilo e a forma do uso da linguagem para exprimir, em primeiro lugar,
as emoções e os sentimentos todos?
R.- El estilo es muy importante,
pero malo sería que condicionara
intelectualmente… No: cuando José
Saramago concebía una historia traducía ese pensamiento a palabras y
a novela, teatro, poesía, de acuerdo
con un estilo y con un bagaje cultural. Siempre, por supuesto, desde la
libertad absoluta y con la conciencia
clara de lo que estaba haciendo.
P.-Julga que Saramago se servia de
temas aparentemente simples para
que os leitores se apercebessem das
humilhações e das falsidades que
continuam a existir?
R.- Se valía de temas y de personajes que conocía o podía conocer. Él
dijo que jamás haría personaje de
una de sus historias a un lobo de las
finanzas, por ejemplo, porque esa
gente no formaba parte de su universo cultural o social. Escribía para
comprender, pero determinadas posiciones no le interesaban; sí, y mucho,
las consecuencias que se derivan de
quienes se creen con poder absoluto.
No escribía para dar lecciones, escribía urgido por una doble tensión, la
tensión humana, la literaria.
P.- Para si, que importância tem o autobiográfico nos romances do autor
de Azinhaga?
R.- José Saramago dijo innumerables veces que no había que hacer
autobiografía en las novelas. Otra
cosa es que experiencias personales
pasasen a formar parte de la carne
de los personajes, pero jamás como
hechos biográficos sino como recursos narrativos. Solo en Las pequeñas
memorias contó su vida hasta los 14
años.
P.- Considera que no que se refere
aos palcos, Saramago precisava de
conhecer os lugares nos quais se
deslocavam as suas personagens e
tinha necessidadede que o desenvolvimento das suas histórias fosse
numa cena conhecida?
R.- Depende de las novelas y de
los asuntos. Claro, que para escribir
Memorial del convento necesitaba
conocer Mafra, o Lisboa para El año
de la muerte de Ricardo Reis, pero
¿cuál es la ciudad de los ciegos de
Ensayo sobre la ceguera? Para José
Saramago no era necesario conocer
los lugares, algunos son producto de
su imaginación y de las necesidades
narrativas concretas: no existe el
archivo histórico de Todos los nombres, ni la sala de la muerte de Intermitencias, ni los camaratas de Ensayo sobre la ceguera y sin embargo
están descritos con la mayor de las
minuciosidades y hoy son reales.
P.- Poderia explicar-nos o porquê de
tantas anormalidades, amputações,
em muitas das personagens criadas
por José Saramago e o motivo da lucidez, a força e a autenticidade das
personagens femininas?
R.- No sé si hay anomalías o somos
así: ciegos que viendo no vemos,
gente con problemas, mundos en
contradicción… En las situaciones
de tensión que el autor crea, o incluso en la cotidianidad, son las mujeres las que guardan, acogen y sostienen quizá porque no se les asignó el
papel de héroes o no se les inculcó
que lo que vale es el poder… Por las
razones que fuera, José Saramago
eligió como personajes fuertes, centrales en sus libros, a las mujeres.
31
SECCION
32
SECCIÓN
33
JESÚS RUEDA PASTRANA
CRIAÇÃO
A paixão de Mariana Alcoforado
em cinco cartas
GLORIA MATÉ GONZÁLEZ
Embrenho-me nas diferentes
culturas que se desenvolveram na
Região do Baixo Alentejo. Admiro-as no Museu Rainha D. Leonor,
em Beja. Alentejo desconhecido.
Esconde os inumeráveis tesouros
dos homens que habitaram estas
terras. Conserva-se ainda no conjunto a Igreja, a Sala do Capítulo
e o Claustro composto por quatro
galerias. Uma delas -a quadra da
Portaria- servia de entrada para o
convento. Tanto os espantosos azulejos, até metade da altura, como
as janelas de duplo arco fazem-me relembrar o olhar de Mariana
Alcoforado, presa de ansiedade
por detrás de uma dessas janelas
do Convento da Nossa Senhora da
Conceição donde se vêem as portas de Mértola e não posso esquecer evocar uma imagem, um profundo ar de desencanto. Sinto um
arrepio de nostalgia.
“Desse lugar te vi muitas vezes
com ares que me enfeitiçaram. Estava nessa janela no dia fatal em
que comecei a sentir os efeitos da
minha malfadada paixão”.
Nesse preciso instante quem trespassa a porta é um oficial francês.
Uma mulher entendida do convento é quem o espera. Galante, gentil e bem feito; é o vivo socorro de
França, é Noel Bouton, Marquês
de Chamilly, que vem para lutar
contra o exército espanhol que encontrasse em terras alentejanas.
Este homem agradou-lhe, persuadiu-a, enfeitiçou-a.
Doida de amor
“Estava nessa janela no
dia fatal em que comecei
a sentir os efeitos da minha malfadada paixão”. Foram tantas vezes nas quais
o oficial entrou pelas portas
da clausura... Entro, piso o
mesmo solo. Ele disfarçado de operário graças aos
trabalhos que tinham sido
realizados no velho prédio durante meses. Eu,
representante do olhar
dos tempos. Meses de
desvarios e sobressalto
para Mariana. Minutos
de contemplação
Édgar Álvarez Allende
34
Trinta anos tinha ele e
quatro menos Mariana
Alcoforado. Doida de amor
ansiava vê-lo a toda hora...
As idas e vindas de Noël
Bouton duraram até aquele
Dezembro de 1667 quando
a França declara guerra a
Espanha
inesquecível do Claustro para mim.
O agrado levou-a à persuasão e
esta à angústia. A surpresa levou-me à leitura das suas incertezas e
à contemplação viva de uma história que desperta o interesse de
todo o mundo.
“Todos os que falam comigo
crêem que estou doida… desde
que partiste nunca mais tive saúde, e todo o meu prazer consiste
em repetir o teu nome mil vezes
por dia…”
Trinta anos tinha ele e quatro menos Mariana Alcoforado. Doida de
amor ansiava vê-lo a toda hora...
As idas e vindas de Noël Bouton
duraram até aquele Dezembro de
1667 quando a França declara
guerra a Espanha. O oficial tem de
permanecer naquele país. Não voltará mais. Porém, ainda se sente
no Convento.
“Fique sabendo que estou convencida que é indigno de todos os
meus sentimentos… O seu procedimento não é de uma pessoa de
bem... Quebrou-se o encanto”.
A mágoa fica reflexa nas cinco
cartas que ela lhe escrevera. A
paixão de uma escrivã que perdura
no tempo e que começou naquela janela através da qual retorno
agora àquele olhar desesperado,
aos efeitos de um amor distante
e constante e que me fez sentir a
ausência e presença dos tempos
e encontros felizes envolvidos nos
avatares de uma guerra. Num lugar além do Tejo.
As cidades
adormecidas
Daniel Vélez
ELENA DÍEZ VALBUENA
Há dias vulgares em que gostaria
de habitar outra cidade. A minha
tem-se convertido em rotina domesticada pelo costume. Então,
sinto-me abrumada de cansaço e
não suporto os pais, o marido, a
casa e até mesmo a rua. Como os
habitantes de Entropia (a cidade
invisível de Italo Calvino), gostaria
de partir para a cidade vizinha,
para o país vizinho que está à espera com novas paisagens, passatempos, amizades, etc.
O viajante que atravessa a fronteira não muda apenas de país muda
a sua vida com esperanças renovadas. É uma fome que nada que
tem a ver com o estômago e que
devora por dentro. A ansiedade de
ser outro.
O Porto ou Lisboa são no meu
imaginário, tal como Región o Macondo locais mágicos onde a vida
começa cada dia. Sempre igual e
sempre distinta.
O viajante pode ir a Lisboa da forma que quiser e vai encontrá-la
adormecida, ancorada no tempo
como aquele rei que perdeu a vida
em Alcácer Quibir e que para muitos está a dormir para regressar
um dia.
Não existe no mundo um país
mais adormecido do que Portugal.
É por isso que o tempo, em Portugal é distinto de outro qualquer.
Cada qual pode passear pelas ruas
e largos e pensa que nunca partiu.
As cidades portuguesas podem ser
modernas e continuarem a ser as
mesmas, com esse tempo dos passos lentos em que as horas passam ao contrário como aquele velho relógio do British Café no Cais
do Sodré, perto do antigo porto de
Lisboa, no qual as ponteiros se movíam ao contrário.
O tempo português
É este um sinal do tempo português, que está a correr para outro
LIBRERIA - PAPELERIA
Plaza del Maestro 49014 Zamora
Teléfono 980 53 16 26
Fax 980 53 48 95
[email protected]
lado ou um capricho em permanecer enquanto tudo está a mudar e a
ser idêntico, graças à globalização,
a qualquer lugar no mundo? Esse
espírito em que o viajante, no percurso das ruas, acredita ser parte
de um fado, do tempo antigo dos
cafés e dos poetas.
‘Nunca sabes onde vais mas voltas sempre a Lisboa’ ‘No cais onde
nunca parto à maresia dos dias’,
disse o poeta.
‘Porto é para mim, o lugar onde
começam as maravilhas e todas as
angústias’, disse a escritora Sophia
de Mello Breyner. O viajante que
chega ao Porto, onde o recebe o
Douro majestoso, no qual vertera
as aguas meia Ibéria, e contempla
a imagem de bilhete postal não
a esqueçerá jamais e cairá baixo
o feitiço desse desenho de cores
sobre um céu inesquesível, sem
conhecer ainda as entranhas da cidade, nas quais habitam mistérios
e vontades
A cidade invisível está sempre à
espera, vazía e velha. Idêntica a
si própria. Oferece-se inteira, sem
pedir nada em troca.
São cidades invisíveis e adormecidas que existirão enquanto alguém
ficar a pensar nelas, em percorrer
as ruas sem necessidade de saber
o destino e com a certeza de que
nunca partimos delas.
35
SECCION
SEXTA-FEIRA 13
Benvindos à
noite das bruxas
PATRICIA PIÑEIRO
Aliando o dia da semana do azar, a sexta-feira com
o número do infortúnio, o treze, tem-se o mais azarado dos dias, a sexta-feira 13, também conhecida
como a “noite das bruxas”. Uma noite de arrepiar
com feitiços e encantamentos, gatos pretos, duendes, diabos, bruxas, mafarricos e outras assombrações vindos do imaginário andam à solta pelas
ruas.
Mas, fiquem tranquilos, ainda não comecem a tremer, ou talvez sim? Eu conheço um sítio onde nessa
noite o medo não tem lugar, pois se até lá te acercasses transformar-te-ias numas dessas criaturas da
escuridão só para desfrutar de uma noitada mágica
que, de certeza, ficará por tempo na vossa memória.
É Montalegre. Uma vila portuguesa no distrito de
Vila Real, na região do Trás-os-Montes onde estes
seres fantásticos nos vêm visitar de quando em vez.
Esta iniciativa da celebração das sextas-feiras 13
começou, a brincar, em 1992 entre uns amigos e é
desde 2002 que a própria Câmara Municipal aproveita esta data como potencial para divulgar o concelho. Hoje em dia é um dos maiores eventos culturais
do Norte de Portugal, um acontecimento que atrai
multidões, não só de Portugal mas também da vizinha Espanha, multiplicando a sua população por 20.
O esconjuro da queimada
As lojas, restaurantes e hotéis, todos eles malfadados, decoram-se com motivos ligados a esta data de
azar. Oferecem jantares infernais com uma ementa
a preceito como o caldo de urtigas ou vinhos benzidos pelo diabo que infernizam as refeições dos convivas com seres demoníacos a atormentá-los.
Os visitantes trajados a rigor misturam-se num
cenário de figuras “do além” percorrendo as ruas
para cima e para baixo, chegando até ao castelo,
que baixo o olhar da lua enche-se de festa com um
espectáculo de fogo e música, concertos e nomeadamente o esconjuro da queimada, poção mágica
à base de aguardente aquecida, recitando a ladainha: “mochos, corujas, sapos e bruxas, demónios,
trasgos e diabos, espíritos das enevoadas veigas...”
que simbolizam o livrar de feitiços, maus-olhados e
bruxedos. A diversão e animação continuam, até de
madrugada, pelos bares e discotecas.
Será que já estão com vontade de montar na vassoura voadora ?... pois podem começar a contagem
decrescente, a única sexta-feira 13 do ano 2014
tem lugar em Junho.
Vemo-nos lá. A noite da escuridão não vai passar
em branco mas, cuidado que este ano a lua cheia
quer ter o seu lugar neste cenário de misticismo,
talvez muitas coincidências para não tomar alguma
precaução.
36
CRIAÇÃO
“Hamlet observa a Horácio
que há mais cousas no céu e
na terra do que sonha a nossa
filosofia”. Assim começa o
conto “A cartomante” de Machado de Assis, e sobre o qual
queria tratar abordando um
aspecto que acho que o autor
nos mostra de uma maneira
óbvia e ao mesmo tempo sútil
ou sucinta: a superstição do
povo brasileiro.
<
RUBIANE TORRES
Poder-se-ia dizer que esta oração
é só uma homenagem a Hamlet e a
Horácio. Mas, talvez por ser brasileira, prefiro crer que também tem
a ver com algo bem brasileiro: o
fato de sermos superticiosos. Pois,
ainda que tenhamos em casa imagens e quadros religiosos, também
há sítio para um Buda, uma bruxa,
um gnomo, uma estátua de Iemanjá, uma figa, uma coruja, um patuá,
um olho de boto, um pé de coelho e
tantas outras coisas e amuletos para
espantar o mau olhado, atrair felicidade ou dinheiro, curar doenças e
outras mandigas. Porque “se mal
não faz...”. E talvez por isso, sempre que releio este conto, associo-o
a esse meu/nosso colectivo imaginário e cultural.
É certo que o conto nos fala da
história de Vilela, Rita e Camilo
(Será Rita a cartomante? Não direi
nada, caro leitor! Deixo cá o argumento em suspense). Mas para
mim também é certo que dá uma
pequena mostra deste aspecto da
cultura brasileira: o de crer em coisas entre o céu e a terra - e entre
elas está a cartomante. E quem
nunca foi a uma? Toda a gente
nega pois diz que se ela soubesse
adivinhar o futuro já teria acertado
na lotaria montes de vezes. Será?
O conto A Cartomante,
pura superstição?
quem nunca teve uma desilusão
amorosa? Ou assinou papéis? É o
que todos respondem. Crer ou não
crer, eis a questão... E se voltarmos ao texto encontrar-nos-emos
com trechos onde se fala dessa
maneira do ser humano de crer
ou não: 1-“(...) Os homens são assim; não acreditam em nada.(...)”;
2-“Tu crês deveras nessas coisas?”; 3-“(...) em criança, e ainda
depois, foi supersticioso, teve um
arsenal inteiro de crendices, que a
mãe lhe incutiu(...); 4-“(...) nunca
ele desejou tanto crer na lição das
cartas.(...)”; 5-“(...) e do fundo das
camadas morais emergiam alguns
fantasmas de outro tempo, as
velhas crenças, as
superstições
antigas.(...)”; ou 6- “(...) Era assim,
lentas e contínuas, que as velhas
crenças do rapaz iam tornando ao
de cima(...)”
Será uma opinião do autor ou é
o que pensa toda a gente? Não
podemos dizer nada ao certo mas
é maravilhoso entrar nesta magia
que nos permite a literatura, a de
dar asas à imaginação e interagir
com o texto e o autor. Por isso gosto de pensar que a superstição sim
é tratada no texto, e de uma forma
amena e simpática, independentemente do que venha a ocorrer no
desenlace do conto. Crer ou não
crer, eis a questão...o conto, é pura
superstição?
Rubén Herrero
Crer ou não crer
Você vai ter uma alegria...uma
desilusão amorosa...vai fazer uma
viagem... assinar papéis... receber
um dinheiro... são possíveis frases
do repertório das cartomantes. E
37
POESIA
Todas as beiras dos grandes rios são as mesmas
É preciso parar junto do Tejo, à tarde, para sabê-lo
Lisboa e Montevidéu são a mesma cidade.
Cacilhas é Montevidéu no Domingo
quando o barco traspassa o espelho
de haver um rio entre as almas.
Sabiam-no bem Lautrémount e Bernardo Soares
Montevidéu que se ouve como um verso
Segundo disse aquele poeta cego
que podia ver nas almas longínquas
é a outra beira deste rio nosso
por onde nos passam os barcos tímidos
está na outra beira do Tejo
e posso cheirar a sua contida saudade
cada manhã quando amanhece.
Acordo em Lisboa e passeio por Montevidéu
nesta tarde cheia do denso tédio
dos homens sábios que contemplam
o mesmo tédio filho do tempo,
Quero entrar em ti devagar
como a memória no meu peito cansado
Deixar cair meu coração no chão
feito de sonhos e pedras
até aquele barco que nos leva
à Índia de nós próprios.
somos do rio, da beira detida
onde o navio da memória
faz soar a sua buzina cada noite
esperando haver mar no fim do dia.
*PABLO JAVIER PÉREZ LÓPEZ é investigador na
Universidade Nova de Lisboa
38
Esteban García López
MÚSICA
De los diversos estilos musicales de Portugal, entre los que se encuentran el fado
y la canción protesta o política, es prácticamente imposible determinar de forma
correcta sus orígenes. Recurro, por tanto, a mi testimonio vital para explicarlos.
La canción protesta
ANTÓNIO DUARTE
La canción protesta, canción política, surge como continuación de
la balada de Coimbra, que a su
vez surgió del fado de Coimbra.
José Afonso y Adriano Correia de
Oliveira, personas que conocí de
cerca, le dieron vida. En los años
sesenta, del siglo pasado, y después del inicio de la guerra colonial y la emigración en masa, tomó
fuerza renovada la canción política.
En mi opinión, José Afonso fue su
máximo exponente, ¡el hombre de
Grândola Vila Morena! Mientras él
era autor, compositor e intérprete,
los demás cantaban poemas de
otros autores. Es necesario destacar también a Manuel Alegre, poeta y locutor en la clandestinidad de
Radio Portugal Libre, en Argelia. La
canción protesta fue la llave para la
liberación del país, el 25 de Abril de
1974, con Grândola Vila Morena.
En esa fecha, me encontraba
cumpliendo los tres años de servicio militar obligatorio en Lisboa. En
aquel tiempo el fado, según algunos cantantes revolucionarios de la
época, era considerado aliado del
fascismo, pues era cantado y apoyado por la corriente salazarista.
Pienso que esto no sería más que
una afirmación “en caliente” y en
el momento. ¡El fado es el pueblo!
En una sesión de fados a la que
asistí, en la casa de fados “Pátio
de Santana” de Lisboa, un amigo
me explicaba sus orígenes y sus
variados estilos. Según él, el origen descansa en diversos barrios
típicos de Lisboa: Moraria, Alfama,
Mandragoa, Bairro Alto, etc. Cada
barrio tiene y defiende su propio
estilo, al que da nombre. Son todos
José Afonso fue el máximo
exponente de la canción
protesta, ¡el hombre de
Grândola Vila Morena!
Mientras él era autor, compositor e intérprete, los
demás cantaban poemas
de otros autores
básicamente idénticos, sólo existen algunas diferencias en la melodía. Así, encontramos el estilo de
Alfredo Marceneiro, castizo y triste
y después el de la grande Amália
Rodrigues y Hermínia Silva, ya con
melodías más alegres; sin olvidar
tampoco el fado-marcha : véase el
Embossado, el Fadinho Serrano o
hasta Casa da Mariquinhas. Son
todos alegres.
Patrimonio
de la humanidad
Además de éstos, hay muchos
otros tipos de fado y cada uno tiene el nombre de su autor. No voy
a enumerarlos todos, quiero sólo
dejar constancia de ese hecho. En
esta nueva corriente de fado, que
es muy fuerte, ya que hay nuevos
cantantes de gran calidad como
Carminho, Ana Moura, Mafalda Arnault, Cátia Guerreiro, etc., los estilos se mantienen, pero de una forma más viva, más moderna, pues
disponen de nuevos instrumentos
para el acompañamiento que enriquecen más la melodía. Aunque el
fado típico y castizo se mantenga
en los locales más tradicionales,
la modernidad le vino a dar más
alegría. Sin embargo, esto no ha
sido fácil debido a que los cantantes y músicos conservadores están
oponiendo resistencia a esta evolución. Por otro lado, hay algunos
fadistas, Mariza por ejemplo, que
viven a costa de Amália Rodrigues,
de su imagen exterior, no innova
nada, gana millones y “jazzifica”
el fado, sacándolo fuera de su contexto. Sé que hay mucha gente
que la venera, pero mi opinión es
distinta. El fado es patrimonio de
la humanidad y como tal debemos
conservarlo: genuino y moderno,
sí, pero sin exagerar, pues deja de
ser fado para convertirse en música ligera.
39
SECCION
JOSÉ ANTÓNIO PINHO
Un deber de
ciudadanía
¡No tengo tiempo...! Frase muy oída cuando se pide a alguien colaborar en una actividad orientada a los demás.
El ciudadano consciente de sus responsabilidades sociales
debe disponer de tiempo para mirar en el entorno de sí
mismo, en particular, para su círculo más cercano y, sobre
todo, para la personas con menos medios.
La sociedad ibérica a la que pertenecemos está regida por
dos grandes movimientos de pensamiento. Por un lado, el
cristianismo en el que todos deben considerarse hermanos, y por otro, el republicanismo donde todos se deberían
regir por los principios de libertad, igualdad y fraternidad.
Así, nuestro deber de ciudadanía debe atender a quien
más lo necesita, y es en el cumplimiento de este principio
donde se desarrollan nuestras actuaciones que muchas veces, se alargan durante horas. En las asociaciones, divulgamos libros y escritores, presentamos poetas y músicos
donde la canción protesta es un privilegio; en las escuelas,
reivindicamos el gusto por los sueños y el encanto de nuevas historias donde vamos introduciendo canciones populares que hablan de la vida en familia, la amistad o el estudio.
En los hogares, mejor dicho, en las residencia de ancianos, llevamos un mensaje: el derecho a vivir con dignidad,
de alimentar el deseo y la necesidad de leer, de cantar, de
bailar y de mantener el espíritu de vivir con la cabeza alta y
de creer que todavía es tiempo -siempre hay tiempo- de ser
feliz y hacer felices a aquellos que nos rodean.
Antonio Duarte, Cándida Bernardo y María Juan formamos el núcleo duro de nuestra intervención cívica y en la
que, puntualmente, también colaboran Lena Reis, Acacio
Morujo, Pedro Gato y Paulo Madeira.
Al comienzo de nuestras actuaciones, todos nosotros sentimos la frialdad y la apatía del público. Pero el silencio va
rompiéndose, poco a poco, cuando aparece una mirada
curiosa o vamos notando el interés por las letras que vamos
diciendo, declamanado o cantando.
Un amor acaba de nacer
Pero la recompensa, la gran satisfacción, la extraordinaria alegría, aquello que nos da la seguridad de que está
mereciendo la pena –y siempre vale la pena- es ver el rostro, la mirada tranquila, todavía brillante de quienes nos
oyen y que por su edad, por sus cabellos blancos podrían
ser nuestros hermanos o hermanas, padres o madres que
van abriendo sus corazones y notamos cómo sus voces se
unen a las nuestras. Y al terminar la actuación, sabemos
ellos y nosotros, que una amistad, un amor acaba de nacer.
Una cosa es cierta, volveremos. Nuestra intención es contribuir a humanizar la permanencia de nuestros ancianos
en este tipo de centros. Colaborar en una transformación
sin prisa, pero sin pausa, y eficiente de estas residencias
en centros de placer y actividades cuanto más diversificadas mejor.
Leer y oir música, cantar y bailar, jugar a las cartas o al
dominó, probar a la loto, hacer gimnasia y pasear son actividades tan o más importantes que el dormir o el comer.
Tantos ciudadanos sin empleo y tantos jubilados, ¿por qué
no tendrán tiempo para los demás?
40
MÚSICA
A inquisição musical está cá?
JAVIER GARCÍA LORENTE
Isso é o que muitas bandas questionam. Todos gostamos, em maior
ou menor medida, de ouvir música ao vivo quando estamos num
bar, restaurante, discoteca... Bem
como ouvir uma suave música
ambiental, ou ainda assistirmos a
algum concerto. E normalmente
agradecemos encontrar estes grupos que nos animan e nos fazem
sentir bem. Até aquí tudo parece
simples. Às vezes parece que não
há evolução, que as coisas são mais
difíceis que em outros tempos que
conhecemos. Nunca foi fácil para
uma banda começar. O verdadeiramente curioso é que hoje é mais
C/ Ramos Carrión, 21,
49001 Zamora
fácil que nunca ter instrumentos e
amplificadores, guitarras, baterias,
equipas de som... há muitas ofertas, e muito mercado de segunda
mão, e acesso a comprar pela net
com bons preços.
Também, por outro lado, há muita informação, na net, sobre outros
grupos, manuais e vídeos de aprendizagem para conhecer outras músicas e para aprender a tocar um
instrumento ou para cantar uma
canção. Será por isso que há mais
grupos que antes? Posso lembrar,
nos anos 80 as dificuldades de um
grupo para poder ter um equipamento. Era muito caro. E muito
difícil de encontrar. E também era
mais difícil aprender. Havia poucos
livros, pouca informação, não existia internet.
Actualmente, as bandas da nossa cidade têm muitos problemas
para encontrar lugares onde possam tocar ao vivo. Quando as dificuldades que nós tivemos no passado pareciam por fim esquecidas,
encontramos uma situação muito
complicada.
Tel. 980 53 56 34
Contra a cultura popular
Um dos principais problemas é a
falta de uma normativa clara para
os estabelecimentos onde é possível tocar. Há uma confusão de licenças que é uma verdadeira embrulhada. Ao não ter uma lei que
o regule, cada Câmara Municipal
faz o que quer. E no final, quando
uma Câmara Municipal está contra
a cultura popular, é quase impossível que a música possa ter um
mínimo desenvolvimento fora da
programação municipal.
Na nossa cidade, Valladolid, só
há três locais que têm licença para
se ouvir música ao vivo. Somos
uma cidade de mais ou menos
400.000 habitantes. Muitos locais
Tomás Rodríguez Isla
têm interesse em fazer concertos,
mas sempre têm, sem nenhuma
razão, um parecer negativo da
autoridade. Além disso, há uma
perseguição activa aos locais que
organizam concertos ou qualquer
outra actividade cultural. A polícia vigia e multa de uma maneira
bastante agressiva os locais. É um
beco sem saída. Se pedem uma licença para um concerto, esta não
vai ser concedida.
E é por isso que há uma grande
frustração entre os grupos musicais e também entre a gente que
gosta da música perante esta situação. Acho que nunca houve
tantas bandas, de todos os estilos
como agora há. Nem tantos locais
com necessidade de promover atividades para poder activar o seu
negócio. Mas a realidade é uma
verdadeira contradição. A minha
sensação é que a inquisição está
cá.
41
MÚSICA
Ana Oliveira e Carmo, diretora y apresentadora de La hora del flamenco
do sido escolhido como passível de
poder ter um patrocínio La Hora
del Flamenco.
Domingos com sabor a flamenco
ISABEL SANZ SOBALER
Desde há três meses, a música
flamenca converte-se cada domingo, durante uma hora, na trilha
sonora dos portugueses. O culpado disto é um novo programa de
rádio, La Hora del Flamenco, que
todos os domingos, das 11 às 12
horas, a partir da Rádio Amália
abre, em Portugal, uma porta a
esta arte espanhola, bem como
às áreas diretamente associadas à
cultura espanhola. Um espaço semanal único nas ondas portuguesas onde o objetivo é apresentar
artistas de flamenco que o elevaram, hoje, a fenómeno de cultura
mundial , sem esquecer as raízes e
referências históricas desta arte. É
o primeiro programa, em Portugal,
de música espanhola.
O programa nasceu pela
mão de Ana Oliveira e Carmo, uma apaixonada pelo
flamenco desde os anos
que passou em Madrid, e
mais tarde como coordenadora do Festival de Flamenco de Lisboa, que se
celebra desde 2008. “Nesse momento, comecei a ter
42
mais contacto com os artistas flamencos e foi a partir dessa altura
que senti que cada vez havia mais
interesse pelo flamenco. Foi então
que decidi que era a altura de ter
um programa que difundisse mais
o flamenco em Portugal.”, assinala
Oliveira.
Uma vez com a ideia e os objetivos prontos, foi necessário conseguir o apoio para poder torná-la
realidade. O projeto dirigido por
Ana Oliveira, produzido pela Associação Flamenco Atlântico, que
não tem fins lucrativos, conseguiu
a colaboração do Ministério da Cultura e Assuntos Exteriores dentro
das suas políticas de ajudas atribuídas, em concurso público, ten-
O flamenco acorda em Portugal
Se há uma coisa que chame a
atenção neste programa é a emissora onde em cada domingo La
Hora del Flamenco tem lugar, a
Rádio Amália, uma emissora que
só emite fados e que rende homenagem ao maior expoente desta
arte, Amália Rodrigues. “Escolhemos a Rádio Amália porque pensamos que fazia todo o sentido. O
fado e o Flamenco são património
mundial da humanidade ambas
cantam a música de um povo e
ambas falam sobre um sentimento
interior, que só um povo sabe refletir em toda a sua intensidade e
sensibilidade. Penas e alegrias, em
“clave” de música”, comenta Ana
Oliveira.
Passado, presente e futuro do flamenco unem-se durante uma hora
para “informar e difundir” esta
arte, duas palavras que sempre estão presentes quando se fala deste
programa. “Quero aproximá-los a
“los palos”, à introdução dos grandes poetas e as suas letras dentro
da métrica do flamenco, porque há
muitos portugueses que gostam do
flamenco, mas que o não entendem”.
Se há um momento que mudou
parte da história do flamenco em
Portugal foi quando a Unesco nomeou esta arte, em 2010, como património imaterial da humanidade. Uma nomeação que
despertou ainda mais o interesse dos portugueses pela
arte espanhola. Um fato que
unido à realização anual do
Festival de Flamenco, em Lisboa, “motivou os produtores
portugueses a trazer artistas
de flamenco a Portugal e cada
vez têm mais audiência”.
LAZER
E são pela sua idade, pelo seu porte e porque
têm resistido, há muito tempo e anos em pátios, praças empedradas ou à beira de prédios
e passeios com muita passagem de pessoas,
autênticas árvores monumentais, que associado ao seu natural valor intrínseco, as
converte em elementos patrimoniais, as quais
devem ser preservadas de maneira ativa. São
histórias da minha cidade, Valladolid.
Umas velhas
e fortes árvores
9 metros, capaz de tolerar solos secos prosperou em locais como este.
Para sua sorte, tolera a poluição atmosférica e é resistente à poda
porque vive diante da rua, com
muito trânsito de carros durante
todo o día . É denso, muito ramificado de copa arredondada, ramos
acinzentados, e triste no inverno.
Mas com as suas folhas grandes e
atractivas flores brancas na primavera chama a atenção das pessoas.
Dámaris Alejo
JULIA Mª MOLINA GONZÁLEZ
Há, na nossa cidade, nomeadamente no centro, exemplares que
merecem ser assinalados. Vou
falar de cinco árvores , que como
as antiguidades, têm mais de cinquenta anos de idade. E viveram
obras de construção sem cair, e
até a guerra e a dura pós guerra
sem que ninguém as transformasse em lume. Têm entre 60 e 100
anos, são muitos os pássaros com
os seus ninhos que têm vivido nas
suas ramas e muitas as pessoas
que delas falaram.
As primeiras, e as mais novas deste
pequeno grupo, com 60 anos, são
quatro palmeiritas, giras, elegantes,
a emergir dum chão também elegante, no pátio da biblioteca que
se chama Santo Nicolas. Crescem
até aos 11 metros com um caule
firme e umas palmas a voar ao ar
que trouxeram da floresta distante
de outros lares muito diferentes a
nossa Castela. Mas, queres saber
um segredo? Estas quatro têm um
par de irmãs na escola das freiras
da Companhia de María, diante da
sua igreja. São tão altas e tão bonitas como as primeiras, e a sua casa
é também um pátio.
A seguir, em idade, está um sabugueiro. Tem 70 anos, e está na
rua do Santuário. Cresceu até aos
Um cedro e uma estátua
A seguinte tem 90 anos. Está na
praça de São Paulo, e é muito mais
famosa do que as anteriores. É a
mais alta, eleva-se até aos 20 metros. Falamos dum cedro, espécie
que atinge dimensão assinalável
e têm sido bastante plantadas em
parques e jardins. Este aqui tem vivido toda a sua vida acompanhando uma estátua, a de o rei Felipe II.
Por último, chan, chan, chan a
árvore mais velha, 100 anos. Podes vê-la na rua do voluntariado
social. Atinge 14 metros de altura,
muito para a sua espécie. Como é
perenifólia está sempre verde, muito ramificada desde a base, copa
densa, forma piramidal ampla com
ramos horizontais. É muito bonita,
e parece que fica escondida.
Não queremos deixar de referir
que... ah! casualidade, elas vivem
perto dos centros de ensino, uma
biblioteca, um convento, uma
praça dedicada a voluntariado social... Será por acaso?
43
SECCION
O meu paraíso alentejano
GOYI PLAZA PARRA
Tenho a sorte e o privilégio de
possuir uma casa maravilhosa no
Alto Alentejo, apesar de não ser o
proprietário. Os meus amigos espanhóis, a Kyra e o Quini, construiram-na há seis anos já que ele, o Doutor Joaquim, trabalha lá há quinze.
Compraram um monte de oliveiras que só tinha uma casa pequena, mas com o seu bom gosto e
as mãos especialistas de pedreiros portugueses transformaram-no
num lugar único, inimitável, mágico - um verdadeiro paraíso.
No centro uma piscina com vasos
lindíssimos cujas flores coloridas
decoram e perfumam o ambiente.
À volta há árvores variadas: laranjeiras, limoeiros, loureiros, oliveiras e
a “rainha”, uma figueira centenária.
Ao redor da piscina levantam-se a
moradia dos donos e os diversos
anexos: a casa para os convidados,
para os animais de estimação, as
garagens, os arrumos e uma enorme cozinha e sala de jantar para todos partilharmos as refeições.
As paredes estao caiadas e pintadas com faixas azuis, respeitando assim todos os pormenores da
arquitectura tradicional alentejana,
44
como também por exemplo, a típica
chaminé. Neste lugar, onde vou não
só nos verões, apesar de ser essa a
época de que mais gosto, percebi
que a terra pertence sempre a alguém, apesar de, na verdade, suceder exatamente o contrário: as
pessoas é que pertencem à terra.
A felicidade existe
Nessas tardes de verão em que o
calor derrete e as oliveiras parecem
de prata, os rostos alentejanos parecem ensombrados enquanto a tarde
vai caindo, ainda luminosa. Esta paisagem é belíssima, o silêncio é profundo e o cheiro das plantas deixa-me absorta nas minhas reflexões.
As árvores têm uma presença intensíssima. Há sobreiros até ao céu?
Mais silêncio, um silêncio estranho,
total, mas que é necessário para
aqueles minutos e serões inesquecíveis que partilho com a minha amiga Kyra. Lá, à noite, com as nossas
conversas no alpendre, a felicidade
existe e sinto que não encontraria
mundo mais harmonioso.
Porque têm os homens tanta dificuldade em aprender as coisas
boas e facilidade em repetir as
más? Lá, está-se muito bem. Uma
sensação de paz como aquela, não
a experimentei em mais nenhum
lugar. Embora me parecesse, ao
princípio, que esta povoação ficava
à margem do tempo, assistindo ao
passar dos anos sem se modificar,
sinto-a viva interiormente, ouço-lhe
bater o coração. Nao é verdade Ti
Clarice, Mª José? Desde sempre
me disseram: “Entre, esteja na sua
casa”. Obrigadíssima.
A luz milagrosa é cúmplice para
ir olhando e reflectindo: lagares de
azeite e vinho, o que pode humanizar uma simples chaminé, as palavras ditas que são às vezes quase
um dorido enternecimento (porque
o alentejano, geralmente, não tem o
sorriso fácil; ele diz: “Tem de ser”...)
Pergunto-me: a grande propriedade é sempre inimiga da densidade populacional?
A brancura das casas, o trabalho,
a terra, a revolução, o calor, a sede,
o latifúndio...
Por muitas vezes que lá volte,
tenho sempre a mesma impressão
de descoberta, de novo encontro.
E estou sempre com saudades de
voltar ao “Monte da Figueira”.
LAZER
A minha primeira viagem a Portugal
ANA ANDALUZ
No verão do ano de 1970, quando tinha apenas oito anos, senti-me importante porque ia viajar,
pela primeira vez, ao estrangeiro,
com as minhas tias que costumavam levar-me de férias. Aquele ano
calhou Portugal.
Saímos num desses comboios noturnos que tinham o corredor num
lado e os compartimentos para seis
ou oito pessoas noutro. O percurso desde Valladolid até ao Porto
demorava a noite toda e havia ali
uma enchente tal que ficámos sem
lugares para nos sentarmos. No
verão, os trabalhadores portugueses regressavam à sua terra depois
de terem trabalhado em diversos
países da Europa. Iam carregados
de prendas, malas, comida. Logo
naquele primeiro contato comecei
a apreciar o feitio português, pois
alguns daqueles homens levantaram-se e cederam-nos os seus lugares. Além disso ofereceram-nos
da sua comida e até nos amenizaram a viagem com música que saía
como que por magia de um gira-discos a pilhas que um deles trazia.
Aquela viagem significou para
mim uma aventura magnífica, na
qual não faltaram carabineiros a
inspecionar, na fronteira, as bagagens e os documentos de identidade. Para completar aquela noite fantástica, ao alvorecer, pouco
tempo antes de chegarmos ao
Porto, o comboio, que era muito
comprido, descarrilou sem consequências graves. Com certeza, as
minhas tias sofreram e até tiveram
medo, mas eu, pelo contrário, vivi
aquilo com tanta emoção como se
tratasse de um filme no qual eu era
a protagonista.
Já em terra portuguesa, encontrámos-nos com outros parentes
de Madrid, que tinham viajado no
seu Seat-600. A partir daquele momento, todas as deslocações curtas
pelo país, fazíamo-los os sete no
carro; nem faço ideia como conseguíamos metermo-nos todos nele.
Dos locais que visitámos não
tenho tantas lembranças como
de situações que para mim foram
marcantes, como a imagem das
mulheres que caminhavam de joelhos ensanguentados pela estrada
que conduz ao Santuário de Nossa
Senhora de Fátima ou o tratamento
que tínhamos nos hotéis, onde as
minhas tias eram Excelentíssimas
Senhoras.
Conhecer a sua cultura
Contudo, o melhor da viagem foi
para mim a visita a Portugal dos
Pequenitos, em Coimbra. Foi um
sonho. Fiquei encantada, a entrar
e sair e das casinhas feitas à minha
medida e a correr entre as ruelas.
Tivesse ficado lá a viver!
Finalmente, houve algo que me
inquietou. Quase não se viam
meninos na rua. Onde estavam?
Estava sempre à procura de algum, para brincarmos. A questão
preocupou-me, pois pouco tempo
atrás tinha visto o filme musical
Chitty Chitty-Bang Bang, onde as
crianças tinham sido sequestradas. Teria acontecido a mesma
coisa em Portugal?
Regressei a Espanha e o enigma ficou por decifrar, mas tenho
a certeza que aquela viagem foi
a semente que fez germinar há
já alguns ano a aprendizagem da
língua portuguesa, cresceu com o
desejo de conhecer a sua cultura
e frutificou nos meus bons e queridos amigos portugueses.
Aquela viagem significou
para mim uma aventura
magnífica, na qual não
faltaram carabineiros a
inspecionar, na fronteira, as
bagagens e os documentos
de identidade
Para completar aquela noite
fantástica, ao alvorecer,
pouco tempo antes de chegarmos ao Porto, o comboio,
que era muito comprido,
descarrilou sem consequências graves.
LIBRERÍA MAISA
LIBROS DE TEXTO Y UNIVERSITARIOS
C/ Ramón y Cajal, 14
24002 León
Tel. 987 22 38 83
45
SECCION
FAST FOOD DEPENDÊNCIA
Pode-se sobreviver
só com “a dieta do
palhaço”?
NOELIA MEDINA
Num mundo acelerado como o
nosso, qualquer coisa que nos ofereça comodidade e conveniência a
baixo custo, tem futuro garantido.
É por ir ao encontro destas nossas
«necessidades», que a indústria
“fast food”, que prolifera nos dias
de hoje como cogumelos numa floresta, se tem conseguido enraizar
nas nossas vidas.
Peritos em saúde pública denunciaram há já algum tempo, a existência de problemas associados à
chamada “comida de conveniência”, devido à sua composição à
base de ingredientes pouco saudáveis; assim como estudos recentes
comprovaram que em cada três
americanos, dois estão acima do
peso ou são obesos. Mas por que a
população americana é tão obesa?
E de quem é a culpa? Você pode
arriscar um palpite depois de assistir a Super Size Me, um filme
que mostra o que a ingestão de
fast food lhe pode fazer.
No documentário Super size me,
Morgan Spurlock, o realizador, vai
numa cruzada para apurar a veracidade destes argumentos. A viagem levou-o a atravessar os Estados Unidos, à procura dos factos,
colocando também o seu próprio
corpo à prova, alimentando-se
apenas no McDonald’s, durante
um mês, com apenas três regras:
uma, sem opções: tinha que comer o que estava disponível; dois,
não podia comer o menu grande,
excepto se oferecido, e três, tinha
de comer todos os itens do menu
pelo menos uma vez.
46
Luis Fernández
Antes de iniciar a viagem, fez inúmeros exames médicos, que o declararam em perfeita saúde.
No entanto, durante a sua cruzada, o seu estado de saúde foi-se alterando, drasticamente, e Spurlock
começou a sentir dores no peito,
dificuldades em respirar, a entrar
em depressão, sofrer de insónias
e ter o colesterol nas nuvens. O
seu fígado deixou de funcionar e o
médico implorou-lhe que parasse.
Estava no vigésimo dia. Mas ele
persistiu e acabou com 12 quilos a
mais e bem mais pobre.
A fast food é chamada de conveniente, porque, para nós, é exactamente isso: conveniente para nós.
Mas também o é para o fabricante, e esta conveniência provém da
produção em massa e barata dos
ingredientes.
Consequências perigosas
O valor nutricional do produto é
sacrificado em detrimento desta
conveniência. Para devolver todos
os sabores perdidos durante o processamento dos ingredientes, são
adicionadas grandes quantidades
de açúcares, gorduras e sal, para
Para devolver todos os sabores perdidos durante o processamento dos ingredientes, são adicionadas grandes
quantidades de açúcares,
gorduras e sal
que nos proporcionem as sensações adequadas.
A experiência de Morgan Spurlock
levou-o a uma exposição constante
a grandes quantidades destas comidas de alto risco. E o facto das
consequências potencialmente perigosas, num período tão curto de
tempo, serem tão graves e óbvias,
é um problema, ao qual devemos
estar alerta.
“Somos o que comemos”. E se
consumimos produtos elaborados com altas doses de pesticidas, fitossanitários, transgénicos,
adoçantes, corantes e substâncias
que nos tornam viciados em fastfood, isto acaba, mais cedo ou
mais tarde, tendo consequências
na nossa saúde.
LAZER
Por los sabores del Miño
ISABEL FONSECA MARTINS
El Miño es un lugar donde rezuma el romanticismo que nos
transmiten sus monumentos, sus
paisajes dignos de leyendas de caballería, de reyes y reinas, y su gastronomía, aspecto diferenciador
estrechamente ligado a la riqueza
cultural y a sus tradiciones rurales.
Cuando se habla del Miño, la
región verde de Portugal, se asocia obligatoriamente a su comida,
dado que es la preferida de los
portugueses. El Miño es conocido
por su hospitalidad, íntimamente
relacionada con el buen comer y
beber.
Los muy variados platos son conocidos por ser elaborados con
verduras de cosecha propia, animales criados en casa y pescado
de los ríos de la región. Suelen
acompañarse con un buen vinho
verde y con postres conventuales,
como “leite-creme” o “aletria”.
Los manjares principales del Miño
son el famoso “arroz de Sarrabulho” (Ponte de Lima) y las “papas
de Sarrabulho”, acompañados de
“rojões”. El “arroz de Sarrabulho”
está acompañado con carne de
ternera, pollo y cerdo, además
de chorizo, sangre de cerdo y sus
vísceras mezcladas (corazón, pulmón…). Se condimenta con especias, principalmente comino. La
guarnición de este arroz son los
“rojões”, carne de cerdo marinada,
cortada en cubitos y mezclada con
tripas enharinadas, chorizo, hígado
y sangre. Es un plato tradicional
elaborado con mucha delicadeza y
minuciosidad.
CALDO VERDE
En esta verde región, llena de
tradición, también puede degustarse un delicioso “cozido à
portuguesa” entre los meses de
octubre y febrero, debido a la
estacionalidad de sus variados
componentes (jamón, chorizo,
ternera, pollo, oreja de cerdo,
tocino, farinheira, verduras,
etc.). El más sabroso se come
en Terras de Bouro y Arcos de
Valdevez. En esta ciudad se
pueden visitar los monumentos megalíticos, en particular
las Antas da Serra do Soajo,
ejemplo único de tumbas prehistóricas. No podemos olvidar
el famoso “Caldo verde”, una
sopa hecha sólo con patatas y
mucha col gallega. Se sirve en
un cuenco acompañada de una
rodaja de chorizo (a tora). Por
toda esta tradición gastronómica, Ramalho Ortigão escribió:
“Sólo hay un banquete portugués que supera todas las cenas de París, y las supera absolutamente: la cena en la víspera
de Navidad en nuestras tierras
del Miño”.
En Viana do Castelo, tras visitar
el Templo do Sagrado Coração de
Jesus, más conocido como Templo de Santa Luzia, desde donde
se descubre una maravillosa panorámica de la región, que abarca
el mar y el valle del río Lima, no
se debe dejar de probar el “Bacalhau à minhota”. Un bacalao que
se enharina y se fríe en aceite de
oliva. Se le agrega cebolla cortada
en finas rodajas y ajo laminado,
vino blanco, pimienta y pimentón.
El bacalao se sirve cubierto con las
cebollas y patatas en rodajas que
han sido fritas en el mismo aceite
del bacalao.
En Monção, Esposende y Caminha, la reina es la lamprea capturada en el Miño. Y en Ponte da Barca y Paredes de Coura, se come la
mejor trucha de río. Comiendo en
estas ciudades, se puede sentir la
conocida hospitalidad de la acogedora gente del Minho.
Ternera “barrosa”
Para seguir disfrutando de toda
esta rica, casera y sabrosa gastronomía, se debe degustar el Cabrito
do monte, plato típico de Melgaço.
Vieira do Minho es conocida por la
excelente calidad de su ternera: la
“posta de vitela Barrosã”. Ésta es
una carne excelente, caracterizada por el sabor de los verdes prados del norte, del maíz y el raigrás
sembrados por los agricultores de
la región. Por esta razón, en el siglo
XIX, se exportaban miles de animales para la Corte inglesa. Y aún hoy
día es común encontrar el nombre
de “portuguese beef” en restaurantes londinenses donde se sirve
la ternera Barrosã. Es una carne
tierna, muy jugosa y sabrosa. El
filete debe tener un espesor de 3
a 4 cm. y se asa a la parrilla sazonado sólo con sal. Después se le
añade una salsa de aceite de oliva,
vino blanco, vinagre, pimienta, ajo
y romero.
47
MARTÍN MANCEÑIDO FUERTES
Presidente da Associação de Amigos de Portugal em Espanha
“Amo tudo o que é espanhol,
mas nada do que é português
me é indiferente ou alheio”
Fundou a Associação de Amigos de Portugal, em Espanha,
em 1995. Está à sua frente há
10 anos, em duas alturas, e o
seu objectivo é o de reforçar
os laços entre os dois países
ibéricos.
ARMANDO GUTIÉRREZ
Poderá falar-nos de algum projecto
em concreto?
As atividades que desenvolvemos ao longo do ano potenciam
os laços de amizade e solidaridade
com as pessoas, entidades e instituções públicas e privadas, tanto
de Portugal como de Espanha. Entre outras podermos citar viagens,
cursos, conferências, jornadas culturais, gastronómicas ou de intercâmbios empresariais, concertos,
congressos, celebração de efemérides Portuguesas ou os Prémios
Nacionais à Amizade Hispano-Portuguesa, etc.
Como é que surge a ideia de criar
a Associação e quais são os seus
objetivos?
A ideia de criar a Associação de
Amigos de Portugal, em Espanha,
foi amadurecendo à medida que
conhecia melhor Portugal. A minha
condição de Presidente dos Dadores do Sangue e a boa relação com
a Federação Portuguesa fez com
que tivesse ocasião de visitar durante alguns anos muitas aldeias
e cidades e logicamente conhecer
muitas pessoas. Essa proximidade
e conhecimento humano foi fascinante e ao mesmo tempo desencorajante porque não existia uma
realidade biunívoca desde Espanha, onde a percepção era a contrária. Propus a ideia a uma data
de amigos do mundo da educação,
da empresa e ao próprio Cônsul de
Portugal em Leão e todos gostaram
da iniciativa.
Há mais motivos de separação do
que de união entre os dois paises?
Não, pelo contrário. Há muito mais motivos de união que de
separação. O que se passa é que,
mesmo que seja uma ideia pré
concebida, nem sempre os vizinhos e os irmãos são os que têm
mais afinidade entre si. Acho que
é o que se passa entre o Portugal
e Espanha
Existem muitas diferenças entre os
habitantes de um e outro lado?
A única diferença é a nivel de
conhecimento mútuo, com maior
deficit da parte espanhola que o
oposto. Por sorte, ainda que seja
recente, isto está a mudar a bom
ritmo
Qual é a sua opinião em relação à
nossa iniciativa de criar a revista
NÓS-OTROS?
Fantástica. Se algo assim se tivesse feito há mais tempo não estaríamos nesta situação. O nosso empobrecimento é fruto da indiferença e
certamente do complexo de superioridade dos espanhóis para com
o Portugal e os portugueses, e um
sentimento de prevenção de sua
parte. Por sorte, tudo está mudando, ainda que não tão rápido como
gostaríamos, apesar de compartilhar uma realidade europeia.
Em algum momento, nós espanhóis
falaremos português da mesma
maneira que os portugueses falam
castelhano?
Falaremos, sim. A língua portuguesa tem mais falantes do que o
francês o alemão. Trata-se de duas
línguas entre as cinco mais faladas
do mundo, o que está a dizer que,
tanto os estudantes portugueses
como os espanhóis estão concertados e além do mais, contribuís
da melhor forma para a amizade
e o entendimento entre os povos
irmãos.
Ser presidente da associação mu-
PAULA MAIQUEZ
“Gostaria que os
portugueses se abrissem
um pouco mais e fizessem
um esforço para deixar de
lado os receios”
dou a sua forma de se relacionar
com os seus amigos portugueses?
Não, pelo contrário. Mas gostaria que também os portugueses
se abrissem um pouco mais e fizessem um esforço para deixar de
lado os receios. E entendam que
desde a Associação trabalhamos
pela amizade, o conhecimento, o
respeito e a união.
Qual é a maior ilusão como Presidente da Associação?
Boa pergunta, mas acredito que
a minha ilusão fica muito clara ao
longo da entrevista. Citarei uma
das máximas da Associação: “Amo
tudo o que é espanhol, mas nada
do que é português me é indiferente ou alheio”. Se inverteres a frase
também fica perfeita.

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