Alargar o nosso horizonte Somos instrumento de Deus As rolas
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Alargar o nosso horizonte Somos instrumento de Deus As rolas
PORTUGAL CCE DEVESAS DE05582008GRC ctt correios TAXA PAGA PODE ABRIR-SE PARA VERIFICAÇÃO POSTAL AUTORIZADO A CIRCULAR EM INVÓLUCRO FECHADO DE PLÁSTICO OU PAPEL PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS OBRA DE RAPAZES, PARA RAPAZES, PELOS RAPAZES Quinzenário • Fundador: Padre Américo Director: Padre João Rosa Chefe de Redacção: Júlio Mendes C. P. N.° 7913 21 de Junho de 2008 • Ano LXV • N.° 1677 Preço: € 0,33 (IVA incluído) Propriedade da OBRA DA RUA ou OBRA DO PADRE AMÉRICO Redacção, Administração, Oficinas Gráficas: Casa do Gaiato • 4560-373 Paço de Sousa Tel. 255752285 • Fax 255753799 • E-mail: [email protected] Cont. 500788898 • Reg. D.G.C.S. 100398 • Depósito Legal 1239 Alargar o nosso horizonte A O folhearmos as Normas de Vida dos Padres da Rua na parte que diz respeito ao seu Agir, no número 82, pode ler-se: «Em primeiro lugar por ordem cronológica e na extensão do serviço, é o amparo da criança abandonada, que a Obra realiza nas Casas e Lares do Gaiato». Trata pois da finalidade da Casa do Gaiato: «o amparo da criança abandonada». Numa Sociedade como a nossa, na qual, cada vez mais, rareiam as crianças nas famílias e se multiplicam as respostas de integração social para as que estão em risco de abandono e mau-trato, que fica a sobrar para nós? Eis uma pergunta que frequentemente se ergue no nosso horizonte existencial, de forma aguda. Em vários escritos d’O GAIATO o temos referido. Padre Telmo, no seu último apontamento para O GAIATO, o exprimiu C ALVÁRIO As rolas de forma contundente, ao observar, com tristeza, a ausência dos «Batatinhas» em todas as nossas Casas, confrontando esta situação com a «multidão de crianças em Angola…» que fazem jus à «alegria de ser mãe» e à «alegria de nascer» — sentimentos tão arredados desta nossa Europa fria e infértil. Em tal contexto sociológico é importante redimensionar o nosso lugar e na fidelidade ao Espírito de Deus que suscitou o carisma da Obra da Rua no coração de Pai Américo, estar atento aos sinais dos tempos numa linha de abertura e de aposta na Missão evangelizadora da Igreja principalmente junto dos mais Pobres. As nossas Casas em Portugal começam a ser observadas como quintas enormes, naturalmente belas e verdejantes — bom augúrio de êxito do projecto educativo na linha do pensamento do Padre Américo — mas estão ficando vazias! E permanecer nelas só para tomar conta do património é a morte! De outras latitudes chegam-nos apelos, gritos inocentes de dor e sofrimento a que não podemos P ASSEIAM-SE na nossa quinta, procurando no solo grãos de sementes. Vão ao lago debicar umas gotas de água. Depois, voam de mansinho, como que levadas pelo vento, até aos ramos das carvalhas, onde poisam lentamente, desafiando as leis da gravidade. A brisa que sopra fá-las baloiçar, despreocupadamente. À noite, recolhem-se nos densos ramos das tuias onde fazem os ninhos. Parece que nada as inquieta. Andam felizes porque se aceitam como são. Vivem contentes com elas próprias. Ora, como as rolas despreocupadas, também o João na cadeira de rodas passa os dias sereno. Para ele não há problemas. É infantil, apesar de quarentão. Basta-lhe um relógio no pulso, mesmo parado, e um rádio para ter o mundo todo na mão. Não aspira a grandes coisas. Aceita-se como é, paraplégico. Não questiona a vida, mesmo a ausência dos seus que muito raramente o visitam. Não faz comparações, nem inveja a vida dos que andam pelo seu pé. Está contente com ele próprio, com a vida que leva. Muitos têm pena dele. Ele não tem pena de ser assim. Para se ser feliz temos, primeiramente, de nos aceitar como somos, com a nossa identidade, com as nossas capacidades e limites; com a nossa grandeza ou com a nossa pequenez; com as nossas virtudes, mas também com os nossos defeitos. Depois, aceitar a amizade dos que nos rodeiam ou a antipatia daqueles que nos repelem — isso é com eles; aceitar os outros como eles são. E, ainda, aceitar o meio em que vivemos, o mundo que nos cerca. Contemplar a natureza é tónico eficaz para nos encantarmos. Muitos não são felizes porque desejam ser diferentes do que são. Aspiram a posições sociais diversas daquelas que possuem. Sonham com coisas que não podem possuir ou usufruir. Não aceitam a vida como ela é e vivem numa insatisfação permanente. As condicionantes materiais ou físicas não roubam a paz de quem a encontrou. As Bem-Aventuranças são norma que conduz à felicidade, mas poucos as conhecem e vivem. Felizes as rolas meigas nos píncaros das árvores! Padre Baptista Continua na página 4 O mais novo e o mais velho dos baptizados, em 18 de Maio, na Capela da Casa do Gaiato, em Paço de Sousa. M OÇAMBIQUE Somos instrumento de Deus C HEGARAM à Alfândega e já o Senhor Ministro das Finanças isentou de impostos, o contentor e a palette que traz a grua para retirar os telhados das Casas da nossa Aldeia e recuperar as estruturas e colocar nova telha. Não é que esteja tudo perdido, mas devido à péssima confecção da telha a água tem entrado quando chove, a ponto de os Rapazes terem de fugir de seus quartos. Várias vezes substituímos telhas, mas outras aparecem partidas. Não há outro remédio. Só dinheiro é que não temos. A Casa do Gaiato de Paço de Sousa, sobre quem recaem todas as necessidades das de África, além de estar com a recuperação da casa-Mãe, sangrou demais para nos enviar tudo, e nem tudo coube do que havia. Muito foi comprado, a remessa marítima é cara, aqui também não fica nada barato, apesar da isenção alcan- çada, trazer tudo para dentro de Casa. Quantos passos perdidos, quantas arrelias, transtornos na nossa vida de Casa, idas diárias à cidade, durante quinze dias, não chegam. Até que tudo saia do porto. Depois, é uma festa. Todo o mundo ajuda. Roupa e calçado para um lado, comida e material escolar para o seu. O que é das oficinas para elas, o que é do campo para lá, o que é das obras para o seu lugar e o camião regressa vazio à cidade em pouco mais de uma hora. Os nossos planos, tão longamente preparados e tão desejados de fazer uma reparação geral às casas dos Rapazes e ao Salão, estão, porém, comprometidos. Dependemos absolutamente da misericórdia de Deus. Só Ele faz maravilhas. Porque somos pecadores, porque não valemos nada aos olhos do mundo, porque fizemos aliança com os que sofrem à nossa volta, só acreditamos firmemente na palavra do Evangelho. É manifesto que Deus tem uma predilecção pelos marginalizados e eles são a nossa parte, são a herança que Pai Américo nos deixou. E porque tantas vezes vêm em nossa ajuda, aqueles que se julgam marginalizados por Deus ou até nada querem com Ele, mas são afinal seu instrumento preferido porque acreditam em nós que O servimos, também acreditamos neles. Nunca o dinheiro há-de ser um obstáculo para as obras de Deus Assim, confiantes, jubilosos, de mãos dadas, vamos caminhando no dia-a-dia que o Senhor nos dá para viver. Às vezes a tremer, com a saúde em perigo, mas Ele é que sabe, conforta-nos a certeza de estar nas Suas mãos. Desde que chegue para caminhar e a cabeça funcione, graças a Deus. Padre José Maria