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DIÁLOGO E INTERAÇÃO
volume 2 (2009) - ISSN 2175-3687
http://www.faccrei.edu.br/dialogoeinteracao
TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO DIFUNDIDA
NOS PERIÓDICOS DA ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: 1930-2000
Me. Lana Ferreira de Lima (UFG/CAC)1
Me. Roseane Patrícia de Souza e Silva (UFG/CAC)2
RESUMO: Recuperar a memória da produção do conhecimento da área da Educação
Física, veiculada nos periódicos brasileiros, foi o objetivo central deste estudo.
Analisou-se, em diversos números de 36 periódicos da referida área, publicados no
período de 1930-2000, os seguintes aspectos: problemas relativos à periodicidade;
região geográfica de publicação e autores com maior índice de publicação. A fonte de
coleta de dados foi o Catálogo de Periódicos de Educação Física. Os resultados
evidenciam que desde os anos 30, do século XX, se expressa o interesse da comunidade
da área em difundir, de forma sistemática, os conhecimentos produzidos.
PALAVRAS-CHAVE: Revistas. Educação Física. Produção do conhecimento.
ABSTRACT: Recovering the memory of knowledge production in the area of Physical
Education, conveyed in Brazilian journals, was the main objective of this study. This
has looked at several numbers of 36 journals that area published between 1930-2000,
the following: problems of periodicity, geographic region of publication and authors
with the highest rate of publication. The source of data collection was the Catalog of
Periodicals of Physical Education. The results show that since the 30th of the twentieth
century, expressed the interest of the area to spread systematically, the knowledge
produced.
KEY-WORDS: Magazines, Physical Education, Knowledge production.
1. INTRODUÇÃO
Recuperar a memória da produção do conhecimento da área da Educação Física,
veiculada pelos periódicos brasileiros, foi o objetivo central deste estudo. Essa opção se
justifica porque os periódicos representam um importante papel no processo de
disseminação do saber produzido, nos programas de pós-graduação e em outras
instâncias de produção do conhecimento.
Além disso, as revistas científicas ocupam lugar de destaque no meio acadêmico,
uma vez que possibilitam que o conhecimento científico circule mais rapidamente do
que por meio de outras formas de divulgação como, por exemplo, os livros técnicocientíficos.
Comparadas às teses e dissertações, as revistas científicas são mais acessíveis ao
meio acadêmico, por fazerem parte dos acervos das bibliotecas de diferentes
universidades, enquanto que as teses e dissertações ficam, em geral, restritas aos
programas nos quais foram defendidas.
1
Professora do Curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão
(UFG/CAC) e aluna do Curso de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG).
2
Professora do Curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão
(UFG/CAC)
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Alguns autores, em nível nacional, têm ressaltado a importância do estudo dos
periódicos científicos. Dentre eles podem ser destacados Catani & Bastos (1997) que
ressaltam a dupla alternativa oferecida pelas revistas aos estudos histórico-educacionais
ao serem tomadas, simultaneamente, como fontes ou núcleos informativos que
possibilitam compreender os discursos, as relações e as práticas que as modelam.
Morosini & Sguissardi (1998) também chamam atenção para a importância de
desenvolvermos estudos sobre os periódicos nacionais. Ao investigarem o tema da
educação superior nos periódicos brasileiros levantam questionamentos bastante
significativos para todos aqueles que se dedicam ao estudo da produção científica: o que
entendemos por produção científica? Como se dá o processo de comunicação dessa
produção?
A falta de análise crítica daquilo que se veicula no meio acadêmico-científico
limita o avanço da ciência. O estudo dessa produção pode contribuir para indicar
tendências, explicitar lacunas e limitações e, desse modo, reorientar os rumos que vêm
sendo seguidos tanto pelas pesquisas produzidas, quanto pelas opções editoriais
adotadas pelas revistas científicas.
Pelos motivos expostos e a partir do objetivo geral deste estudo, a questão
central que o orienta pode ser assim formulada: Quais as características das revistas
científicas analisadas no que se refere à sua periodicidade, à região geográfica de
publicação e aos autores com maior índice de publicação?
Como fonte principal de coleta de dados, foi utilizado o Catálogo de Periódicos
de Educação Física, publicado pelo PROTEORIA3, com o apoio do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Também foram consultadas
outras fontes bibliográficas e documentais voltadas para o estudo de periódicos
brasileiros.
O Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esportes (1930-2000), insere-se
na perspectiva da criação de “pesquisa-instrumento”, ou seja, foi desenvolvido com
vistas a contribuir nas investigações e estudos do campo da Educação Física e do
Esporte, bem como para auxiliar os pesquisadores a encontrar materiais e informações.
Assim, se considerarmos o estado dos arquivos e bibliotecas de nosso país, a dispersão
3
O PROTEORIA é o Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física que, dentre vários
objetivos, tem por finalidade realizar pesquisas sobre problemas relevantes nas interseções entre os
campos da História, da Educação e da Educação Física, bem como promover publicações que assegurem
a difusão do conhecimento, buscando projetar outras práticas de intervenção no campo da Educação e da
Educação Física que procurem analisar, compreender e significar o papel da Educação Física na
instituição educacional. O Instituto tem sua origem vinculada ao desenvolvimento do projeto “A
constituição de teorias da Educação Física no Brasil: o debate em periódicos no século XX
(PROTEORIA), projeto esse que é um desdobramento dos estudos iniciados e configurados no livro:
FERREIRA NETO, Amarílio. A pedagogia no exército e na escola: a educação física brasileira (1880 –
1950). Aracruz – ES, FACHA, 1999. O PROTEORIA, pretende construir o itinerário de sistematização
da(s) teoria(s) da Educação Física brasileira no século XX, de modo a captar suas características
científico-pedagógicas, tendo como referência sua inserção, limites e contribuições para a implantação e
consolidação da Educação Física como componente curricular nas escolas do Brasil. Os principais
periódicos que fazem parte do acervo organizado pelo PROTEORIA são: Revista Educação Física (da
EsEFEx), Revista Educação Physica, Arquivos da ENEFD, Revista Brasileira de Educação Física (fase de
Inezil Penna Marinho e fase sob responsabilidade editorial do INEP), Bolletim de Educação Física,
Revista Comunidade Esportiva, Boletim da FIEP, Revista Desporto e Educação, Revista Brasileira de
Ciências do Esporte, Revista Sprint, Revista Corpo e Movimento da APEF – SP, Revista de Educação
Física da USP, Revista Motrivivência, Revista Movimento (da ESEF – UFRGS), Revista Kinesis, Revista
Discorpo, Revista Motriz, Revista de Educação Física de Maringá, Revista Motus Corporis, Revista
Artus. Disponível em: <http://www.proteoria.org> Acesso em: 12 dez.2009.
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das fontes e as condições desfavoráveis nas quais muitas vezes, os materiais são
encontrados, podemos avaliar a importância e contribuição dos estudos dessa natureza.
O referido Catálogo apresenta 36 periódicos da área da Educação Física e
Esportes em ordem cronológica de sua veiculação; cataloga os textos na ordem em que
aparecem em cada período; indica os acervos institucionais e pessoais utilizados para a
elaboração do trabalho e, aponta as instituições que oferecem as melhores condições de
acesso aos periódicos catalogados.(FERREIRA NETO, 2002).
Assim, foram analisados os diversos números de 36 periódicos da área da
Educação Física, publicados no período de 1930-2000 (Quadro 1).
Nome Do Periódico
Periodicidade
Revista de Educação Física
Ano de
Criação
1932
Bimestral
Região
Geográfica
Sudeste
Educação Physica
1932
Mensal
Sudeste
Boletim de Educação Física
1941
Trimestral
Sudeste
Revista Brasileira de Educação Física
1944
Mensal
Sudeste
Arquivos da Esc. Nacional de Ed. Física e Desportos
1945
Anual
Sudeste
Revista da APEF – São Paulo
1953
Semestral
Sudeste
Revista Brasileira de Educação Física e Desportos
1968
Bimestral
Centro-Oeste
Boletim da FIEP
1969
Mensal
Sudeste
Revista Esporte e Educação
1969
Bimestral
Sudeste
Revista Artus
1970
Anual
Sudeste
Revista Brasileira de Ciências do Esporte
1979
Quadrimestral
Sul/Sudeste
Comunidade Esportiva
1980
Mensal
Sudeste
Revista APEF - Londrina
1982
Semestral
Sul
Sprint
1982
Bimestral
Sudeste
Corpo e Movimento
1983
Semestral
Sudeste
Revista Kinesis
1984
Semestral
Sul
Revista Paulista de Educação Física
1986
Semestral
Sudeste
Revista Brasileira de Ciência & Movimento
1987
Trimestral
Sul
Motrivivência
1988
Anual
Sul
Revista da Educação Física/UEM
1989
Anual
Sul
Educativa
1991
Quadrimestral
Sudeste
Discorpo
1993
Anual
Sudeste
Revista Mineira de Educação Física
1993
Semestral
Sudeste
Motus Corporis
1993
Semestral
Sudeste
Pesquisa de Campo
1994
Anual
Sudeste
Caderno de Debates
1994
Anual
Sul
Revista Movimento
1994
Semestral
Sul
Revista Motriz
1995
Semestral
Sudeste
Revista Brasileira Atividade Física & Saúde
1995
Trimestral
Sul
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Corporis
1996
Anual
Nordeste
Corpoconsciência
1997
Semestral
Sudeste
Perfil
1997
Anual
Sul
Pensar a Prática
1998
Anual
Centro-Oeste
Licere
1998
Anual
Sudeste
Conexões: Educação, Esporte, Lazer
1998
Semestral
Sudeste
Quadro 1 – Demonstrativo das revistas organizadas por nome do periódico, ano de criação,
periodicidade e região geográfica, no período de 1930 a 2000.
A partir da ordenação cronológica de cada número publicado, os periódicos
foram organizados em três grupos: dos anos 30 aos anos 60; dos anos 70 aos anos 80;
dos anos 90 a 2000. (Quadros 2, 3 e 4 respectivamente).
2. PUBLICAÇÕES DA ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL DOS
ANOS 30 AOS ANOS 60, DO SÉCULO XX
No período dos anos 30 aos anos 60, do século XX, temos na área da Educação
Física a publicação de nove periódicos, sendo estes: Revista de Educação Física (1932),
Educação Physica (1932), Boletim de Educação Física (1941), Revista Brasileira de
Educação Física (1944), Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e Desportos
(1945), Revista da APEF – São Paulo (1953), Revista Brasileira de Educação Física e
Desportos (1968), Boletim da FIEP (1969) e Revista Esporte e Educação (1969)
(Quadro 2).
Nome do
Periódico
Ano de
Criação
Periodicidade
Região
Geográfica
Freqüência de
Publicação
Revista de Educação Física
1932
Bimestral
Sudeste
Com irregularidade
Educação Physica
1932
Mensal
Sudeste
Com irregularidade
Boletim de Educação Física
1941 a 1945
Trimestral
Sudeste
Com irregularidade
1955 a 1958
1944
Anual
Mensal
Sudeste
Sudeste
Com regularidade
Com regularidade
1945
Anual
Sudeste
Com regularidade
1953
Semestral
Sudeste
Com irregularidade
1968
Bimestral
Centro-Oeste
Com irregularidade
1969
Mensal
Sudeste
Com irregularidade
1969
Bimestral
Sudeste
Com irregularidade
Revista Brasileira de
Educação Física
Arquivos da Escola
Nacional de Educação Física
e Desportos
Revista da APEF – São
Paulo
Revista Brasileira de
Educação Física e Desportos
Boletim da FIEP
Revista Esporte e Educação
Quadro 2 – Demonstrativo das revistas organizadas por nome do periódico, ano de criação,
periodicidade e região geográfica e freqüência de publicação no período de 1930 a 1960.
Fonte: Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esportes (1930-2000)
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No que se refere à periodicidade destas publicações observa-se que as revistas
Educação Physica (1932), Revista Brasileira de Educação Física (1944) e Boletim da
FIEP (1969) tiveram periodicidade mensal. Destas apenas a Revista Brasileira de
Educação Física (1944) apresentou regularidade em suas publicações.
As Revistas de Educação Física (1932), Revista Brasileira de Educação Física e
Desportos (1945) e Revista Esporte e Educação (1969) apresentaram publicações
bimestrais irregulares.
O Boletim de Educação Física (1941) apresentou, no período de 1941 a 1945,
publicações trimestrais com irregularidade. Durante dez anos deixou de ser publicado,
sendo retomando a partir do ano de 1955 até 1958, período em que seus exemplares
passam a ter caráter anual e regularidade em sua periodicidade.
A Revista da APEF – São Paulo (1953) apresentou publicações semestrais com
irregularidade. O periódico Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e
Desportos (1945) apresentou neste período publicações anuais com regularidade. No
período em estudo, apenas o Boletim de Educação Física (1941) apresentou
periodicidade trimestral, entretanto, o mesmo não apresentava freqüência em suas
publicações o que só ocorre a partir do momento em que passa a ser publicado
anualmente.
Verifica-se ainda que, nesse período, há uma maior expressão de revistas
mensais e bimestrais o que indica frequência maior de publicações na área da Educação
Física.
No que diz respeito à região geográfica em que foram publicados os nove
periódicos da área da Educação Física identificamos que, de 1930 a 1960, oito revistas
foram publicadas na Região Sudeste do País. Apenas a Revista Brasileira de Educação
Física e Desportos (1945) originou-se na Região Centro-Oeste, com início em 1968.
Em relação aos autores que apresentaram maior índice de publicação, destacamse Inácio de Freitas Rolim, autor que apresentou artigos versando sobre a Educação
Física militar; Antonio Pires de Castro e Antonio Pires de Castro Filho, os quais
enfocaram o tema do remo e embarcações; Fernando de Azevedo tratando da origem e
evolução da Educação Physica e Oswaldo e Octávio Murgel Rezende, autores que
publicaram textos com ênfase nas técnicas de esportes como o basquetebol, voleibol,
bem como o esporte nas penitenciárias.
3. PUBLICAÇÕES DA ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL DOS
ANOS 70 AOS ANOS 80, DO SÉCULO XX.
Nos anos 70 e 80, vamos observar a criação de novas revistas na área da
Educação Física, quais sejam: Revista Artus (1970), Revista Brasileira de Ciências do
Esporte (1979), Comunidade Esportiva (1980), Revista APEF – Londrina (1982), Sprint
(1982), Corpo e Movimento (1983), Revista Kinesis (1984), Revista Paulista de
Educação Física (1986), Revista Brasileira de Ciência & Movimento (1987),
Motrivivência (1988), Revista da Educação Física/UEM (1989). (Quadro 3).
Nome do
Periódico
Revista Artus
Ano de
Criação
1970
Periodicidade
Anual
Região
Geográfica
Sudeste
Freqüência de
Publicação
Com irregularidade
Revista Brasileira de
1979
Quadrimestral
Sul/Sudeste
Com regularidade
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Ciências do Esporte
Comunidade Esportiva
1980
Mensal
Sudeste
Com irregularidade
Revista APEF - Londrina
1982
Semestral
Sul
Com irregularidade
Sprint
1982
Bimestral
Sudeste
Com regularidade
Corpo e Movimento
1983
Semestral
Sudeste
Com regularidade
Revista Kinesis
1984
Semestral
Sul
Com regularidade
Revista Paulista de
Educação Física
Revista Brasileira de
Ciência & Movimento
Motrivivência
1986
Semestral
Sudeste
Com irregularidade
1987
Trimestral
Sul
Com regularidade
1988
Anual
Sul
Com irregularidade
Revista da Educação
1989
Anual
Sul
Com regularidade
Física/UEM
Quadro 3 – Demonstrativo das revistas organizadas por nome do periódico, ano de criação,
periodicidade e região geográfica e freqüência de publicação no período de 1970 a 1980.
Fonte: Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esportes (1930-2000)
Comparando-se os Quadros 2 e 3, observa-se, em relação ao período de 1930 a
1960, que tínhamos nove revistas. Houve um aumento de dois números, passando a ter
onze periódicos na área da Educação Física que circulam em todo o país.
No que diz respeito à periodicidade, observa-se, a partir do Quadro 3, que
tivemos a Revista Comunidade Esportiva (1980) com publicação mensal e irregular. A
Revista Sprint (1982) apresentou publicações bimestrais regulares durante todo o
período analisado.
Na Revista Brasileira de Ciência & Movimento (1987), identificamos
trimestralidade em suas publicações, apresentando regularidade em sua frequência.
Com caráter quadrimestral foi identificada a Revista Brasileira de Ciências do
Esporte (1979), a qual desde sua criação vem mantendo a sua regularidade e configurase como o periódico científico de maior legitimidade na área devido não só à
regularidade de sua periodicidade, mas também à sua indexação, seu corpo editorial e o
sistema "duplo cego" que observa na análise dos trabalhos que lhe são encaminhados
com vistas à publicação. Nela pode ser encontrado, ainda, um panorama da pluralidade
político-acadêmica da área nas duas últimas décadas.
As revistas APEF – Londrina (1982), Corpo e Movimento (1983), Kinesis
(1984) e a Revista Paulista de Educação Física (1986) apresentaram semestralidade no
que se refere à periodicidade. Em termos de frequência, apenas as revistas Corpo e
Movimento (1983) e Kinesis (1984) mantiveram a regularidade em suas publicações.
Identificamos no período de 1970 a 1980 três revistas publicadas com caráter
anual: Revista Artus (1970), Motrivivência (1988), Revista da Educação Física/UEM
(1989), das quais apenas a última manteve regularidade.
No que refere-se à região geográfica em que foram publicados, dos onze
periódicos identificados, de 1970 a 1980, cinco foram criados na Região Sudeste e
outros cinco na Região Sul do País.
Dentre os onze periódicos analisados, um, a Revista Brasileira de Ciências do
Esporte (1979), configurado como o periódico científico da área que maior
legitimidade, conquistou credibilidade junto à comunidade acadêmica, por força de seus
22 anos de existência sem interrupção de periodicidade - quadrimestral -, apresentando
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parte de sua editoração na Região Sul e parte na Região Sudeste, o que se deve à
mudança das gestões editoriais da mesma.
No que diz respeito aos autores que apresentaram maior índice de publicação no
período de 1970 a 1980, identificamos o seguinte: Cláudio Gil Soares de Araújo aborda
em seus textos temáticas relacionadas ao somatotipo de judocas e ginastas olímpicos do
Brasil; Manoel José Gomes Tubino versa em seus artigos sobre treinamento desportivo;
Victor Matsudo enfoca em seus trabalhos os chamados testes de aptidão física geral;
Alfredo Gomes de Faria Júnior discute aspectos relacionados à participação de
educandos na avaliação da aprendizagem em Educação Física; Valter Bracht discute a
temática da Educação Física Escolar; Apolônio Abadio do Carmo enfoca em seus
artigos a problemática da deficiência no Brasil; Celi Neuza Zulke Taffarel fala sobre
formação profissional e desporto educacional; Adroaldo Gaya discute em seus artigos
temas referentes à produção do conhecimento na área da Educação Física e Elenor Kunz
aborda aspectos referentes ao esporte de rendimento e escolar.
4. PUBLICAÇÕES DA ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL NO
PERÍODO DE 1990 A 2000
A partir do período de 1990 a 2000, observa-se, no contexto da área da
Educação Física, um aumento significativo no número de revistas, o qual se expressa
por meio da criação de um total de quinze periódicos. Verifica-se, a partir dos dados do
Quadro 4, que em 1993, 1994 e 1998 são criados três periódicos por ano.
Nome do
Periódico
Educativa
Ano de
Criação
1991
Discorpo
Revista Mineira de
Educação Física
Motus Corporis
Periodicidade
Quadrimestral
Região
Geográfica
Sudeste
Freqüência de
Publicação
Com irregularidade
1993
Anual
Sudeste
Com irregularidade
1993
Semestral
Sudeste
Com regularidade
1993
Semestral
Sudeste
Com irregularidade
Pesquisa de Campo
1994
Anual
Sudeste
Com irregularidade
Caderno de Debates
1994
Anual
Sul
Com irregularidade
Revista Movimento
1994
Semestral
Sul
Com regularidade
Revista Motriz
1995
Semestral
Sudeste
Com regularidade
Revista Brasileira
Atividade Física & Saúde
Corporis
1995
Trimestral
Sul
Com irregularidade
1996
Anual
Nordeste
Com irregularidade
Corpoconsciência
1997
Semestral
Sudeste
Com regularidade
Perfil
1997
Anual
Sul
Com regularidade
Pensar a Prática
1998
Anual
Com regularidade
Licere
1998
Anual
CentroOeste
Sudeste
Com regularidade
Conexões: Educação,
1998
Semestral
Sudeste
Com regularidade
Esporte, Lazer
Quadro 4 – Demonstrativo das revistas organizadas por nome do periódico, ano de criação,
periodicidade e região geográfica e frequência de publicação no período de 1990 a 2000.
Fonte: Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esportes (1930-2000)
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No cenário nacional da área são criadas, portanto, as seguintes revistas:
Educativa (1991), Discorpo (1993), Revista Mineira de Educação Física (1993), Motus
Corporis (1993), Pesquisa de Campo (1994), Cadernos de Debates (1994), Revista
Movimento (1994), Revista Motriz (1995), Revista Brasileira Atividade Física & Saúde
(1995), Corporis (1996), Corpoconsciência (1997), Perfil (1997), Pensar a Prática
(1998), Licere (1998) e Conexões: Educação, Esporte, Lazer (1998).(Quadro 4)
Identificamos em relação à periodicidade que a Revista Brasileira Atividade
Física & Saúde (1995) foi a única a ser publicada trimestralmente neste período, porém
apresentando irregularidades em sua frequência. Em caráter quadrimestral encontramos
apenas a Revista Educativa (1991), a qual também se encontra com frequência irregular.
Dentre as quinze revistas, criadas no período de 1990 a 2000, um total de seis
possuíam publicação semestral. Destas apenas a Motus Corporis (1993) não tem
conseguido cumprir com regularidade sua periodicidade, o que indica dificuldades por
parte dos editores para manter a publicação dentro de uma periodicidade desejável.
Um número significativo de revistas (um total de sete) passa a ser publicado em
caráter anual. Desse total, as revistas Perfil (1997), Pensar a Prática (1998) e Licere
(1998) apresentam publicação regular. Já as revistas Discorpo (1993), Corporis (1993),
Pesquisa de Campo (1994) e Cadernos de Debates (1994) não conseguiram garantir
regularidade na sequência das publicações
Em relação à periodicidade e frequência das revistas, observamos que, em
comparação aos períodos anteriores, estas deixam de ser publicadas mensalmente e
bimestralmente, passando a destacarem-se as publicações com periodicidade
quadrimestral, semestral e anual.
No que se refere à localização geográfica das revistas publicadas continuam em
evidência as regiões Sul e Sudeste. Dentre as quinze revistas criadas neste período,
observa-se que nove localizam-se na Região Sudeste, quatro na Região Sul, uma no
Centro-Oeste e uma na Região Nordeste. Esses dados explicitam que há, ainda, uma
maior expressividade da Região Sudeste em termos de publicações de periódicos na
área da Educação Física.
Quanto aos autores com maior índice de publicação no período de 1990 a 2000
destacam-se: Silvana Vilodre Goellner, abordando temas como atividades corporais e
esportivas e a mulher na sociedade brasileira, bem como a história da Educação Física;
Tarcísio Mauro Vago, refletindo sobre o esporte na escola; Vicente Molina Neto
abordando a questão da prática dos professores de Educação Física nas escolas públicas;
Alexandre Fernandez Vaz, discutindo a questão do esporte em Theodor W. Adorno e
Max Horkheimer; Hugo Lovisolo que discute a questão da globalização e o
conhecimento na Educação Física; Victor Andrade de Melo, com a temática história da
Educação Física e; Jocimar Daolio que discute corpo e cultura.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados do estudo permitiram explicitar que, apesar de a produção
científica da área da Educação Física ter se intensificado no Brasil a partir dos anos 80,
com a criação dos cursos de pós-graduação stricto sensu, desde os anos 30, do século
XX, se expressa o interesse da comunidade da área de difundir de forma sistemática os
conhecimentos produzidos.
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O problema da garantia da periodicidade tem acompanhado esse veículo de
informação e divulgação científica desde as suas primeiras investidas na tentativa de
difusão do conhecimento produzido pelos profissionais da área. Importantes periódicos
não conseguiram superar as dificuldades e barreiras que ainda hoje comprometem a
socialização do conhecimento científico brasileiro.
Dos anos trintas do século passado aos dias atuais, as regiões Sul e Sudeste,
especialmente o eixo Rio - São Paulo, vêm concentrando as publicações de periódicos
da área, o que ocorre em função da concentração de riqueza oriunda do crescimento e
desenvolvimento de grandes fábricas e indústrias nessas regiões.
Outro aspecto que contribuiu para que ocorresse uma concentração de
publicação de revistas nas regiões Sul e Sudeste refere-se ao fato de que nelas se
localizam e concentram-se as maiores universidades do País.
Agregado a esse fato, temos que considerar que, nessas regiões, foram criados os
primeiros cursos de Pós-Graduação em Educação Física no Brasil. Assim, vamos
observar que a produção dos artigos disseminados nos periódicos esteve e está, muitas
vezes, relacionada aos objetivos e áreas do conhecimento implementados pelos
programas de pós-graduação.
Pode-se dizer que foi somente no final dos anos 70 e início dos anos 80, do
século XX, que os pesquisadores da área da Educação Física brasileira intensificaram a
produção de conhecimentos e começaram a difundi-la em canais específicos. Por isso, a
década de 80 é considerada como um marco no processo de produção e difusão do
conhecimento em Educação Física no Brasil. Nessa época surgiram cursos de PósGraduação lato sensu e stricto sensu; houve o incremento das pesquisas e,
principalmente, a criação de revistas especializadas destinadas a divulgar os novos
conhecimentos produzidos na área.
As diversas crises econômicas enfrentadas pelo País, ao longo desses últimos
cinqüenta anos, trouxeram como uma de suas conseqüências a dificuldade financeira
para editoração de publicações científicas nacionais. Isso fez com que algumas das
revistas criadas nos anos 80, e até aquelas criadas em anos anteriores, interrompessem
sua produção, muitas sendo até mesmo extintas.
Se por um lado, o final dos anos 70 e o decorrer dos anos 80 marcaram as
diversas áreas do conhecimento e diferentes setores sociais pelo caráter autoritário e
repressivo do Governo, por outro possibilitou que se explicitassem várias contradições.
As diversas formas de resistência ao regime autoritário instalado a partir de 1964
possibilitaram a construção de alternativas de denúncia e oposição às práticas
autoritárias.
Nesse ponto, a universidade de forma geral, a pós-graduação e os periódicos
científicos, em particular, representaram um importante papel na busca de caminhos
mais democráticos voltados para a construção de uma sociedade justa em que
prevalecessem a igualdade de condições e de oportunidades tanto no que se refere ao
acesso e à permanência à educação escolar, à garantia ao trabalho, à saúde, ao lazer e à
moradia, quanto aos demais direitos sociais que viabilizassem uma vida digna, não
apenas para uma parcela da população, mas para a sua totalidade.
Os anos 90s, apesar dos avanços possibilitados pela abertura política, foram
marcados por uma grande crise científica e tecnológica. Segundo Silva (1997), as
denúncias feitas por cientistas, políticos e jornalistas, já no início desse período (19921993), dão uma ideia da preocupante situação da ciência e tecnologia nos últimos
governos daquele período. Como cita a autora, manchetes como: “Trágica Ciência”,
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volume 2 (2010) - ISSN 2175-3687
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“Brasil dá salto ‘para trás’ em tecnologia”, “SBPC fecha reunião com críticas ao
governo”, “Crise no CNPq”, “Burocracia emperra pagamento de bolsistas”, “A lenta
agonia da ciência no Brasil”, “Governo abandona reunião da SBPC”, “Cientistas
cobram saída de Jaguaribe”, “CNPq não sabe quando pagará 4.333 bolsas”, “SBPC
afirma que verba sai a conta-gotas”, “Mal-estar na ciência”, exemplificam o conteúdo
da discussão estabelecida nessa década.
Silva (1997) menciona que ainda em 1992, na administração Collor, mais de
2000 projetos já aprovados foram suspensos pelo CNPq e quase 4000 cientistas
deixaram de viajar para o exterior por falta de pagamento das bolsas (também) já
aprovadas. Explica que esse fato, denunciado por vários cientistas, não foi, porém, o
único caso de descumprimento, por parte daquele governo, dos acordos formais
estabelecidos com os pesquisadores. Além do pagamento das bolsas, não foi cumprido,
em tempo, o acordo com a área econômica para corrigir o valor das bolsas com base nos
aumentos salariais dos professores universitários.
De fato, o ano de 1989, com a eleição de Fernando Collor de Mello para a
presidência da república, foi demarcado pela comunidade científica quase
consensualmente como o início de uma política de abertura econômica brasileira ao
capital internacional, seguindo as determinações do “Consenso de Washington” e a
política econômica neoliberal para os países em desenvolvimento. Isso teve reflexos no
Brasil: contenção da inflação, arrocho salarial, recessão econômica, diminuição do
Estado, flexibilização dos elos da cadeia produtiva. Este último item, sem dúvida, foi o
que mais atacou as forças produtivas brasileiras.
Já em 1994, no governo de Itamar Franco, a 46a Reunião Anual da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) teve como tema: “Ética na consolidação
da democracia”. Nesse Encontro foram amplamente discutidos os problemas advindos
da escassez de recursos e da inexistência de um projeto político consistente para a
ciência e tecnologia no Brasil.
Uma rápida observação dos oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso
(FHC) esboçou dados alarmantes e muito preocupantes para a ciência e tecnologia do
País. O orçamento do Ministério da Ciência &Tecnologia em 1998, por exemplo, sofreu
corte de R$ 169,8 milhões e caiu de R$ 907,2 milhões para R$ 737,4 milhões (Jornal da
Ciência/SBPC - 10/11/1998). Nesse período não foram poucas as vezes que a imprensa
e a comunidade científica denunciaram os cortes feitos por FHC e sua equipe para
setores da educação e saúde, por exemplo, visando com isso seguir à risca a cartilha do
Banco Mundial.
Esse descaso dos governos para com o setor científico e tecnológico teve e tem
implicações que se expressam, por exemplo, no baixo índice de publicações científicas
dos docentes vinculados às universidades; nas dificuldades para a manutenção da
periodicidade dos periódicos científicos, no abandono da carreira acadêmica por
pesquisadores ainda jovens, desestimulados pelos entraves econômicos, políticos e
burocráticos; evasão de pesquisadores para outros países com melhores condições para
o desenvolvimento da pesquisa científica e na qualidade da pesquisa desenvolvida em
nível nacional. (SILVA,1997).
Em relação aos autores com maior índice de publicação, verificamos que são
profissionais com formação na área da Educação Física e que, também, são oriundos de
instituições localizadas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
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Identificamos que vários autores que iniciaram suas produções em periódicos
nacionais, a partir da década de 80, mantiveram uma frequência em suas publicações
nos anos subsequentes.
Dessa maneira, estudiosos de diferentes campos da Educação Física
desempenharam papéis relevantes na construção do debate acadêmico e do pensamento
científico, ao trazerem contribuições de áreas do conhecimento como a Filosofia, a
Sociologia, a História, a Antropologia e a Educação, para as discussões e reflexões
desenvolvidas em diferentes campos.
Os constantes debates sobre o pluralismo de idéias e a interdisciplinaridade na
produção do conhecimento na área contribuíram para a criação de novos periódicos,
bem como promoveram mudanças significativas naqueles já existentes. Dessa forma, as
questões referentes à cultura corporal humana, passaram a contar com a contribuição de
diversos cientistas advindos não apenas das áreas da Fisiologia, Biologia, Anatomia,
Nutrição entre outras, as quais exerceram forte influência nas primeiras publicações da
área da Educação Física, mas também de áreas como: Educação, Sociologia, Filosofia,
Antropologia e Psicologia.
Essas diversas áreas do conhecimento foram de suma importância para a
história das revistas, visto que apesar dos muitos percalços de ordem técnica e
financeira em suas editorações têm obtido grande aceitação e reconhecimento pelo seu
estilo alternativo.
De modo geral, o estudo permitiu resgatar a forte presença dos periódicos na
área da Educação Física no país. Acreditamos que estudá-los com maior profundidade,
em futuras investigações, nos permitirá, cada vez mais, resgatar uma importante via de
consolidação da área e da construção dos caminhos e vertentes de sua produção
científica.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CATANI, Denice Bárbara; BASTOS, Maria Helena Camara (Orgs.). Educação em
revista: a imprensa periódica e a História da Educação. São Paulo: Escrituras, 1997.
FERREIRA NETO, A. Catálogo de periódicos de Educação Física e esportes (19302000). Vitória: Proteoria, 2002.
MOROSINI, M.; SQUISSARDI, V. (Orgs). A educação superior em periódicos
nacionais. Vitória: FCAA/UFES, 1998. 319 p.
SILVA, R. V. de S. e. Pesquisa em Educação Física: determinações históricas e
implicações epistemológicas. 1997. 278f. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de
Educação – Unicamp. Campinas,SP. 1997.

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