Novembro/Dezembro 2013
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Novembro/Dezembro 2013
2º ENCONTRO REGIONAL 2013 ELEIÇÕES TRIÉNIO 2014 / 2016 – COMM Restaurante – O PÁTEO - Rua do Açúcar, 54 LISBOA (Xabregas) 7 de Dezembro, pelas 13:00 EMENTA Entradas Paio de porco preto, azeitona britada, pataniscas de polvo Pratos quentes Massada de cherne e lombo de porco assado Bebidas Vinho tinto e branco da casa, sumos vários, água, cerveja, café Sobremesas Salada de fruta e doces vários servidos em buffet Preço: — €20/pessoa Reservas: até 29 de Nov. Tel: 913421221 e [email protected] SUMÁRIO Pag. ● Notícias Soltas ........................ 4 ● Editorial .................................. 5 ● As Rotas Polares .................... 6 FUNCIONAMENTO DA SEDE DO COMM O horário de funcionamento é o seguinte, contando com a colaboração do Sr. João Piteira: ● À 2ª, 3ª, 5ª e 6ª feira: ------------- das 15:00 às 18:00 ● À 4ª feira: -------------------------- das 15:00 às 21:00 Comparece e convive. ● Marinha de Pesca .................. 8 ACTUALIZAÇÃO DO SITE E DO E-MAIL DO COMM ● MCS Cruzeiros 2014 ............ 10 ● Histórias Passadas ............... 15 Faz-te ouvir [email protected] Os artigos assinados expressam a opinião do autor, não necessariamente a posição da Direcção. Ficha Técnica: Publicação Bimestral – Distribuição gratuita aos sócios do COMM. Propriedade: CLUBE DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE. Tv. S. João da Praça nº 21 – 1100-522 Lisboa Telefone : 21 888 07 81 ● [email protected] Reg. Publ. : Nº 117 898 ● Depósito Legal Nº 84 303 Correio Editorial: Despacho ● DE05682013RL/RCMS. Director: Daniel C. de Spínola Pitta. Tipografia: Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA). Colaboraram neste número: Luís Miguel Correia; Alberto Fontes; Humberto Ferreira; Joaquim Saltão e Marques Damas. ● Contributos para a História da Marinha ...... 12 www.comm-pt.org e dispõe de um fórum de discussão. Põe as tuas questões, dá as tuas opiniões e sugestões. DELEGAÇÃO DO NORTE Todas as terceiras sextas-feiras de cada mês, realizar-se-à um almoço de convívio dos Colegas do Norte, em Leixões, pelas 12:30, no restaurante MAURITÂNIA GRILL, em Matosinhos. Se és do Norte, aparece. Na passada 6ª feira, dia 25 de Outubro, realizou-se mais um almoço mensal, promovido pela DELEGAÇÃO DO COMM NO PORTO DE LEIXÕES, em que estiveram presentes 13 colegas. E s t e E v e Este evento mensal, que já existe há bastantes anos, tem proporcionado momentos de muito companheirismo e amizade, que aliás é um dos objectivos no nosso Clube, fundado em 20 de Julho de 1990. O almoço seguinte realizar-se-á no dia 29 de Novembro. O tema deste almoço será: Outono – S. Martinho (embora um pouco afastado do dia). Neste dia não faltarão castanhas e vinho novo. Capa: — N/M “FUNCHAL” – Luís A organização destes eventos está a cargo dos Colegas: António FerMiguel Correia reira e Hugo Bastos: Tlm: – 91 905 08 24 – [email protected] e Tlm: – 96 739 510 7 – [email protected] ALMOÇOS NA SEDE DO CLUBE Todas as quintas-feiras realiza-se um almoço de convívio na sede do COMM, na Travessa de São João da Praça, 21, em Lisboa. Todas as semanas é enviado um e-mail aos Colegas associados, com a informação do prato e, quem estiver interessado e disponível, só tem que confirmar a sua presença, igualmente por e-mail. Com estes almoços procuramos incrementar um convívio entre Colegas. BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 4 Revista do CLUBE DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE Nº 119 Novembro/Dezembro de 2013 EDITORIAL TRANSPORTE AMIGO DO AMBIENTE É graças à vasta rede de regras mundiais elaboradas pela IMO, e adoptadas ao longo dos anos, que hoje é possível afirmar ser o transporte marítimo um meio de transporte seguro e sem perigo, limpo, respeitador do ambiente e muito económico do ponto de vista energético. A sensibilização crescente do sector marítimo às questões ambientais observada nos últimos anos revelou-se como uma evolução bastante encorajadora. Esta tendência é demonstrada não só pela aceitação generalizada das normas ambientais da IMO e pelas iniciativas que o próprio sector marítimo adoptou para evitar que as suas actividades tivessem um impacto negativo sobre o meio ambiente, mas também pela sua diligência em combater e apagar a sua injustificada imagem negativa e, através de vários meios de comunicação, restabelecer a sua reputação no plano ecológico, evidenciando a sua contribuição para o desenvolvimento sustentável e o facto de que os resultados obtidos nesta matéria, serem cada vez melhores. As preocupações ambientais do sector do transporte marítimo são também ilustradas através da sua determinação em limitar e combater as emissões de gases dos navios e em reduzir as emissões de gás com efeito de estufa, permitindo, assim, atenuar o seu impacto na atmosfera e contribuir para os esforços desenvolvidos à escala mundial na luta contra as mudanças climáticas e o aquecimento global. O peso das medidas tomadas pela IMO está ligado a um certo número de factores. Em primeiro lugar, nenhuma delas foi elaborada de um dia para o outro, sem reflexão ou feita em cima do joelho na sequência de um acidente ou de um incidente. Mesmo se, em alguns casos, foram motivados por acontecimentos particulares – e a IMO sempre interveio de uma forma rápida e apropriada – os instrumentos da IMO são o resultado de um trabalho técnico aprofundado e largamente ponderado, ao qual estão associados peritos marítimos dos mais reputados a nível mundial. Não só os Governos Membros da IMO enviam os seus mais conceituados peritos a participar nas várias reuniões técnicas da Organização, como também organizações não-governamentais e intergovernamentais especializadas, contribuem largamente no processo. Representando todos os sectores do transporte marítimo assim como um grande número de outros interesses da sociedade civil e geográfica. Estas organizações, desempenham um papel activo e determinado, nas vastas áreas de actividade da IMO. E a sua contribuição para o sucesso da Organização, é altamente apreciada. Outra das razões pelas quais as medidas da IMO têm uma tão larga aceitação, é o facto de, no seio desta Organização, as decisões serem geralmente tomadas por consenso. Existe, evidentemente, um processo de votação mas que é muito raramente utilizado no decurso do trabalho normal da IMO. Este consenso permite ultrapassar a relutância natural que poderia suscitar a aplicação de medidas que não tivessem sido plenamente aprovadas numa primeira fase. Um acordo por consenso significa que todos os países têm interesse em que as medidas sejam aplicadas e que desejam realmente exercer a responsabilidade que decorre do sentimento de se considerarem parte integrante. Pronta a enfrentar novos desafios e sempre útil ao transporte marítimo, ao serviço do qual se encontra desde há longa data, a IMO apresenta, assim, uma frente unida. O transporte marítimo promove e contribui, por excelência, de modo significativo, para o crescimento económico à escala mundial. Como tal, a missão da IMO (de promover a segurança e a protecção, a eficácia do transporte marítimo, assim como as suas responsabilidades em matéria ambiental) ultrapassa muito largamente o quadro dos partenariados directos da Organização e toca a vida de qualquer indivíduo no planeta. 5 BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro de 2012 AS ROTAS POLARES DIFICULDADES E OBRIGAÇÕES As ROTAS POLARES DE NAVEGAÇÃO constituem um valioso estudo dum tema que tem ultimamente entusiasmado muita gente. Contudo, em nossa opinião, os benefícios apontados para a navegação são uma meta difícil de alcançar. Comecemos pela questão ambiental. Se o Árctico desaparecesse seria a maior calamidade para todo o planeta. Não iremos, por óbvio, descrevê-la. O degelo pode ser um problema para as próximas décadas ou até séculos, mas os cientistas admitem que o inverso também se pode dar. Ainda recentemente apareceu uma corrente cientista que considera o Sol em extinção e por consequência todo o sistema solar irá gelar. O período e a intensidade do degelo no Árctico não têm ainda um consenso dos ambientalistas quanto à sua aceleração ou regressão. Os períodos glaciares não foram dados por findos. A era da industrialização emissora de CO2 pode regredir e o ciclo de aquecimento das massas atmosféricas voltar a anos de arrefecimento. Contudo, mesmo aceitando as previsões de alguns meios científicos actuais, a navegação polar continuará cheia de dificuldades e obrigações para os seus frequentadores, por muitos e muitos anos adiante. E sempre a realizar-se seis meses do ano fora do período da noite polar. O aquecimento polar tem agravado a segurança da navegação, em vez a de a facilitar, com maior número de icebergues flutuantes em vez de gelo fixo. A navegação polar comercial há já décadas que tem vindo a ser tentada, em especial na passagem do noroeste, mas as dificuldades e custos encontrados, levaram as instâncias internacionais (em especial a IMO – à época dessas discussões estávamos naquela organização e seguimos de perto muitos dos debates então havidos sobre o tema –) a emitir legislação específica para tal tipo de navegação. Dizer-se que as “rotas” são completamente navegáveis durante os meses de verão, três meses apenas e não sempre livres (ainda no verão passado alguns navios ficaram presos dos gelos durante duas semaBORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 6 nas, nas costas da Sibéria), por navios com potência suficiente (aqui entra-se logo em contradição com a economia de combustível feita numa viagem mais curta, obrigando a utilizar navios mais potentes e de maior consumo) para quebrar os gelos, não basta. A navegação comercial tentada teve por base navios graneleiros, e em especial petroleiros, mas os elevados custos, para vencer as suas dificuldades, não entusiasmaram os armadores e carregadores. As dificuldades consequentes da navegação polar, tais como gelos fixos (sua pressão e fricção) e flutuantes (icebergues sem sinalização), baixas temperaturas, riscos oceanográficos, canais variáveis e limitações aos sistemas electrónicos de navegação afectam os três elementos básicos que executam tal tipo de viagem: OS NAVIOS, AS TRIPULAÇÕES E AS MERCADORIAS ANALISEMOS OS NAVIOS Primeira obrigação para os armadores: actualmente os navios não podem fazer as rotas polares, ou operar em águas polares, sem serem construídos e certificados para tal objectivo pelas Sociedades de Classificação; os PACS (Navios da classe polar). Cumprir as regras das CONVENÇÕES SOLAS e MARPOL e os “REQUIREMENTS FOR SHIPS OPERATING IN POLAR WATERS” dos países confinantes àquelas águas. Terão na sua origem de ter um casco e um aparelho do leme resistentes à pressão dos gelos, motores mais potentes do que os instalados em outros navios da mesma tonelagem, arrefecimentos adequados, sistemas de equilíbrio transversal e longitudinal e equipamentos, canalizações e alojamentos para suporte de baixas temperaturas. Navios que custam em média um terço mais do valor dum navio do mesmo tipo para rotas normais. As primeiras grandes dificuldades daqui resultantes para o Armador são: o financiamento para tais unidades navais específicas (que nem todos os estaleiros constroem) e um mais elevado prémio de seguros par as apólices “casco”. ANALISEMOS AS TRIPULAÇÕES. Os navios “Ice Class” são, de acordo com a Convenção STCW-10, obrigados a ter tripulações (pelo menos os Comandantes e os Oficiais) certificadas para operarem em águas polares. Certificação essa, que só é concedida depois de formação e experiência com aquele tipo de navios e estas não são fáceis de alcançar fora das zonas ou da áreas de navegação dos navios pertencentes a países confinados às áreas polares. Presentemente, a maior parte das experiências extras àqueles serviços, têm sido feitas com navios de carga uniforme – petroleiros e graneleiros – (os autores do artigo do BORDO LIVRE tal confirmam ao referir que a DIANA SHIPPING INC. encomendou recentemente dois graneleiros. Acresce, do mesmo que para as duas análises anteriores, os prémios de seguro das mercadorias em contentores, serem igualmente mais elevados do que em viagem normal e difíceis de se obter sem grande discussão. CONCLUSÃO Nenhum armador pode dar ordem a um seu navio para zarpar de Shangai e seguir para Roterdão, via rota do Nordeste, se esse navio não satisfizer os três requisitos básicos – navios, tripulações e mercadorias – acima registados. E não estamos a ver os armadores constituírem com o entusiasmo que se diz, frotas com navios mais caros, maior dificuldade em os tripular, e mais elevados custos de manutenção e prémios de seguros elevadíssimos, para puderam apenas em três meses de verão compensar tais custos (acresce sempre a obrigatoriedade de quebra gelos e pilotagem ao longo de quase toda a rota) com as viagens mais reduzidas nos rotas polares e sem poderem garantir datas aos seus clientes. Se assim fosse a Nicarágua não tinha decidido recentemente construir um canal (paralelo ao Panamá) que se iniciará em 2015 e se concluirá em 2020. O sonho continuará, por certo por alguns séculos mais, nos nossos actuais navegadores tal como a Gaspar Corte Real no século XV. Formação essa que obviamente custa dinheiro e acaba por ser suportada pelo armador da unidade em questão. Acresce que tal como para os navios tanques petroleiros e químicos, cujo pessoal tem também formação específica, os vencimentos dos tripulantes dos ICE CLASS são superiores aos normais dos navios de carga. Finalmente, outra grande dificuldade para o armador deste tipo de navios o facto de quando em viagem necessitar de substituir um ou mais tripulantes, num porto de escala, nos registos oficiais das tripulantes disponíveis (as capitanias) dificilmente encontrará elementos para tal substituição, certificados. E estamos em crer que nas próximas décadas pouco ou nada desta situação se modificará. ANALISEMOS AGORA A QUESTÃO DAS MERCADORIAS TRANSPORTADAS Neste caso as dificuldades com as viagens em águas polares não se colocam só sobre os armadores mas também sobre os carregadores e por com seguinte sobre os donos das mercadorias. E se no caso dos navios e tripulantes depende em exclusivo do armador decidir a rota do navio, já quanto às mercadorias os seus responsáveis não aceitam que, sem seu acordo, elas possam cruzar as águas polares sujeitas a baixíssimas temperaturas que a deteriorem ou mesmo as destroem. Cargas higroscópicas sujeitas a forte condensação, como produtos alimentares, acurares, farinhas, frutas, especiarias, legumes, etc., não podem circular naquelas rotas em vulgares contentores. Medicamentos, material electrónico e móveis não podem igualmente ser sujeitos a baixas temperaturas pois arriscam-se a graves avarias. Dum modo geral um navio com 10 mil TEUs transporta no seu interior cerca de 30% de mercadorias com perecibilidade às baixas temperaturas. Actualmente a maior parte dos navios classificados para as rotas polares destinam-se a operar (transportar suas cargas) para as necessidades portuárias da zona. As mercadorias são normalmente devidamente acondicionadas e preparadas para aqueles climas. Não há serviços regulares – que garantem datas – entre portos asiáticos ou americanos e europeus por via das rotas polares. Joaquim Ferreira da Silva 7 BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 NOTÍCIAS DA MARINHA DE PESCA navios IUU (ILLEGAL, UNREPORTED AND UNREGUVESSELS) está a ser fortemente combatida pela comunidade dos Estados, face ao reconhecimento do risco dessa actividade poder afectar a economia e a sustentabilidade das espécies dos Estados ribeirinhos. A MARINT usa satélites comerciais para numa cobertura mundial, procurando continuamente monitorizar estes navios. Este tipo de serviços, que até agora não existiam na oferta comercial, começa a estar disponível, face ao interesse de vários países, nomeadamente em África, onde apareceu um partenariado regional denominado FISH- I – Africa, que engloba para já a Libéria, Seychelles e Maurícias, no intuito de bloquear escalas portuárias, à actividade destes navios. FUNDO EUROPEU DOS ASSUNTOS MARÍTIMOS E DA PESCA As regras do instrumento financeiro para apoiar a POLÍTICA COMUM DE PESCAS e a gestão do meio marinho nos próximos sete anos, foram votados no Parlamento Europeu. As ONGs portuguesas defenderam que os financiamentos europeus no sector da pesca sejam aplicados em inovação e formação e não em novas embarcações que aumentem a actividade em espécies já sobre exploradas. A aquicultura em offshore com armações no mar do Algarve está a crescer e, nos últimos meses, foram apresentados 83 projectos no valor de 28 milhões de euros, sendo a produção de mexilhão e ostra os principais investimentos, naquilo que se começou a chamar a economia azul. FISH TOUR UM PRODUTO TURÍSTICO DO GRUPO DE ACÇÃO COSTEIRA DO OESTE Trata-se de um projecto da ESCOLA SUPERIOR DE TURISMO E TECNOLOGIAS DO MAR (ESTM), que pretende relacionar as pescas, a biologia marinha e o turismo. Ainda a referir o ADD VALUE, que é também um projecto dedicado à reorientação da pesca e diversificação das espécies capturadas, desenvolvido no centro de investigação CETEMARES, em Peniche e ainda o MTM (MARITIME TOURISM MARKETING) que prevê a construção de um plano de marketing para a fileira da pesca, de forma a contribuir para alavancar a actividade marítimo-turística, na região Oeste. O GAC Oeste, pertence à Rede Nacional de Grupos de Acção Costeira, com uma intervenção financeira, numa área composta pelas freguesias litorais dos concelhos da Nazaré, Alcobaça, Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche e Lourinhã. INVESTIGAR, INVESTIR E INOVAR NO MAR PORTUGUÊS A 4 de Novembro 2013, no auditório da DGRM, no Pólo de Estudos Náuticos em Paço de Arcos, decorreu um workshop de reflexão estratégica, organizado pela FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA. LATED PESCANOVA A 12 de Setembro, tomaram posse os novos administradores da empresa, tendo como accionistas, a cervejeira DAMM, controlando 6.2% e Alfonso PazAndrade pela administração galega, em quem se deposita enorme confiança na recuperação e retirada da sociedade da situação de insolvência. Acreditam ainda fortemente no plano de negócio aplicado na unidade de Mira que é a maior produtora mundial de pregado, onde têm 170 trabalhadores e representou um investimento de 140 milhões de euros. PESCAS EM ANGOLA Com intuito de melhorar o controlo das pescas nas águas angolanas o Ministério das Pescas encomendou à DAMEN SHIPYARDS GALATI, três navios para fiscalização dos seus recursos. Foi entregue o primeiro navio, com 62 metros comprimento, o “Ngola Kiluange”, um FISV (FISHERY INSPECTION SURVEILLANCE VESSEL) 6210 e iniciaram a construção de dois mais pequenos, com 28 metros de comprimento, DAMEN FRV 2810. O financiamento é assegurado pelo programa ORET do governo holandês e pelo ING.BANK, envolvendo o estaleiro DAMEN num programa de manutenção, fornecimento de sobressalentes e formação de pessoal. POLICIAMENTO DOS MARES ABERTOS Confrontados com a dificuldade de policiar o mar alto, tem vindo a ser procurado fazê-lo sem necessidade de navios e marinheiros. Poderá a tecnologia terminar com a pirataria na pesca? A actividade dos BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 8 e compreender, para ter sucesso nas exportações. O Japão é o mercado de pescado mais evoluído do mundo. Os patamares de exigência de qualidade são altíssimos. Exportar para este país é simultaneamente uma escola e um cartão-de-visita. Em Portugal, a sardinha (30 milhões euros por ano) e a cavala, lideram a lista das espécies mais pescadas em 2012 mas, o seu valor pago aos pescadores é motivo de preocupação, face ao diferencial do valor a que chega ao consumidor. Promete a tutela como solução, o aparecimento de mecanismos que visem a venda directa pelos pescadores. Já no Algarve o polvo não é uma espécie ameaçada e tem posturas a rondar os 500 mil óvulos. Além disso, possui um ciclo de vida muito curto, entre um ano e ano e meio. Neste contexto, a ARMALGARVE POLVO (ASSOCIAÇÃO DOS ARMADORES DA PESCA DO POLVO DO ALGARVE), reclama que é impensável a imposição governamental ou europeia de quotas de captura, as quais só poderão existir pela vontade conjunta dos armadores, a fim de disciplinar o mercado e torna-lo mais rentável. O polvo neste momento é vendido em lota a cerca de 2.00 € por quilo. A frota pesqueira nacional perdeu mais de duas mil embarcações nos últimos dez anos. Um debate onde se procurou identificar prioridades nacionais em investigação e inovação para o mar, visando conseguir que em 2020, a economia azul seja mais competitiva. Ali se ouviu falar nas vantagens estratégicas inteligentes nomeadamente para os Recursos Alimentares Marinhos, onde cabem pesca, aquicultura, in-land e OFF-SHORE, indústria do pescado, salicultura e segurança alimentar. A procura no aumento do valor acrescentado dos produtos, numa produção orientada para o mercado, na preferência dos consumidores e valorização da imagem do produto e da marca de origem. No que respeita aos recursos da pesca de mar profundo pouco haverá a esperar, confrontados com a desejada resiliência dos ecossistemas e a enorme apetência na exploração da mineração e dos recursos energéticos não renováveis. Foram colocadas aos convidados duas questões para brainstorming: 1. – Considerando as vantagens competitivas do País para a Economia Azul, que capacidades e oportunidades emergem para a promoção de sinergias que potenciem a criação de conhecimento e a inovação e a progressão nas diversas cadeias de valor. Qual a visão para 2020? 2. – Que medidas e instrumentos de política devem ser mobilizados para uma intervenção pública, eficiente e eficaz, que responda às falhas, quer de mercado, quer institucionais e que concretize as soluções adequadas para permitir que Portugal corresponda às metas de 2020? Esperemos que SECRETARIA DO ESTADO DO MAR e a SECRETARIA DE ESTADO DA CIÊNCIA possam identificar potencial no âmbito dos sectores da ESTRATÉGIA NACIONAL PARA O MAR, de forma a ser considerado também como prioridade para a ESTRATÉGIA NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO. O MERCADO DA SAUDADE PARA A FILEIRA DO PESCADO A comunidade Portuguesa espalhada pelo mundo, continua a ser um destino importante das nossas exportações. O bacalhau e a sardinha estão no topo das preferências deste mercado da saudade. Cada mercado tem gostos e preferências muito específicas que é fundamental estudar Alberto Fontes 9 BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 MCS CRUZEIROS 2014 PROPOSTAS NOVAS PARA 74 CRUZEIROS EM LISBOA E FUNCHAL As companhias de cruzeiros têm conseguido equilibrar as contas e alcançar satisfatórias taxas de ocupação, desde a crise financeira internacional de 2008 – já lá vão cinco anos – graças à adopção de dinâmicas acções de marketing, e da introdução de diferenciados serviços de bordo, visando satisfazer os vários segmentos da procura, entre o luxuoso estilo europeu e as viagens económicas. Na prática, os armadores conseguiram, assim, absorver o impacto do aumento da capacidade dos novos navios, entretanto inaugurados, com mais passageiros a pagar preços mais altos nos escalões superiores, e outros com preços mais baixos nas variadas promoções desenvolvidas sob uma acertada gestão ao ritmo das reservas e diversificação da procura. CATÁLOGO PARA O MERCADO PORTUGUÊS Eduardo Cabrita, director geral da MSC CRUZEIROS PORTUGAL, aproveitou a recente escala do “MSC Poesia” em Lisboa para apresentar a bordo o novo catálogo português 2013-2014 (com 346 páginas), contendo algumas inovações e os cruzeiros propostos à partida de Portugal e de outros portos (com voos de ligação disponíveis através de vários pacotes promovidos pela MSC, para embarques e desembarques, programados além de Lisboa e Funchal). A MSC continua a apostar em itinerários em cinco pólos internacionais: no Mediterrâneo, costa Ocidental e Norte da Europa, Emirados Árabes Unidos, América do Sul, África do Sul, e Caraíbas, além das grandes viagens MSC intercontinentais para e da América do Sul, Caraíbas, África do Sul e Médio Oriente. Com uma novidade, os navios MSC passam a operar todo o ano em dois pólos: no «Mediterrâneo e Ilhas Atlânticas» e nas Caraíbas. Uma terceira novidade foi anunciada em Lisboa: um inovador sistema com quatro escalões de tarifas para quatro diferentes experiências de serviço MSC, mantendo-se os conceitos «tarifa mínima e tarifa máxima», em cada escalão, com as seguintes sugestivas BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 10 marcas e características: Programa BELLA – a experiência mais acessível, garantindo todo o encanto e elegância da animação programada nos cruzeiros da MSC, de natureza artística, desportiva, social, cultural, gastronómica, de bem-estar e entretenimento, em confortáveis camarotes interiores, ou com vista de mar, ou varanda privativa. Programa FANTÁSTICA – um escalão com privilégios extra, tais como «camarotes superfamília», com serviço de quarto 24 horas, pequeno-almoço no camarote, prioridade na escolha do turno de jantar e nas diversões teatrais, e actividades dedicadas às crianças, sessões de cozinha «master chef» e jogos em língua estrangeira. Programa ÁUREA – dedicado aos que apreciam relaxar o corpo e a mente, mantendo excelente forma física. Proporciona prioridade no embarque, oferta de produtos de bem-estar, roupão e chinelos MSC, refeições servidas a qualquer hora numa zona especial do restaurante, com bebidas gratuitas (pacote cheers), exclusividade do terraço privado para um cocktail de boas-vindas a bordo, pacote spa, massagem balinesa, solário e acesso ao spa termal durante o cruzeiro. Os camarotes Áurea têm varanda, ou são suites. Programa YACHT CLUB – é uma das melhores experiências em cruzeiros internacionais em termos de exclusividade, desde as luxuosas suites Yacht Club com serviço de mordomo 24 horas e um concierge dedicado, às refeições gourmet no restaurante privativo Yacht Club, e bebidas ilimitadas no exclusivo espaço do MSC Yacht Club. Uma experiência de luxo que, tal como as restantes três, está pormenorizada online em www.msccruzeiros.pt/ – Nova Estrutura de Tarifas. MAIS CRUZEIROS MSC EM LISBOA E FUNCHAL De Outubro de 2013 a Novembro de 2014 estão previstos 43 cruzeiros de Lisboa e 31 do Funchal, com um», pacote tudo incluído a bordo. O CRESCIMENTO DA MSC CRUZEIROS Em 11 anos a MSC Cruzeiros criou uma nova frota de 12 unidades, com uma capacidade diária para 40 000 passageiros, tendo atingido 6 milhões de passageiros embarcados em 2011, e representando a maior frota com bandeira italiana, de propriedade europeia. As companhias concorrentes integram grupos sediados na América. O grupo MSC está sediado em Geneve e tem uma tradição de 300 anos, actuando em 45 países, com modernas frotas e linhas de navios de cruzeiro, porta contentores, e ferries, estes das marcas SNAV e GRANDI NAVE VELOCI, com 23 unidades, que operam no Mediterrâneo. A MSC Cruzeiros foi a primeira companhia a receber o prémio «7 Golden Pearls», atribuído pelo BUREAU VERITAS em reconhecimento do alto cuidado na protecção ambiental dos seus navios. E recebeu, em termos de segurança alimentar, a mais elevada certificação «ISO 9001 e ISO 22000» pela qualidade do catering e dos equipamentos alimentares. Em 2014 os navios da MSC com 74 escalas, vão ser presença frequente nos dois portos portugueses com mais cruzeiros internacionais. excelentes opções para o Norte da Europa, Mediterrâneo, Ilhas Canárias, ou travessias do Atlântico de e para o Brasil e Argentina. 15 Cruzeiros são LisboaLisboa, 28 proporcionam embarque ou desembarque em Lisboa; 14 são Funchal-Funchal e 17 facilitam embarque ou desembarque na Madeira. A MSC vai operar em 2014 quatro navios na América do Sul, o que corresponde a oito grandes viagens transatlânticas, quatro para o Sul, e quatro com chegada a portos da Península Ibérica e Mediterrâneo. Este novo catálogo em português mantém uma secção inteiramente dedicada ao nosso mercado, entre as páginas 80 e 111. São nove os belos navios posicionados para esta série de cruzeiros: “MSC Prezioza”, “Magnífica”, “Poesia”, “Armonia”, “Orchestra”, “Divina”, “Música”, “Opera”, “Sinfonia”. Outra vantagem especial assenta nos pacotes MSC com a CP, incluindo os transfers no Alfa Pendular, desde 14 cidades portuguesas para embarques em Lisboa, assim como uma nova parceria com a empresa Empark, facilitando o estacionamento de viaturas em Santa Apolónia e Santo Amaro, beneficiando de tarifa especial, além dos populares e compensadores pacotes de bebidas extras, excursões, de comemorações especiais para grupos a bordo, e o «Alegrissimo Premi- Humberto Ferreira 11 BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DA MARINHA amarrado com o nome de “Oppama”. Passados alguns anos aparece em cena um grande senhor do shipping Internacional, considerado o maior armador independente à época, de nome Chao Yung Tung, também conhecido pelo “Onassis do Oriente”. Era originário de Shangai, mas refugiado em Hong Kong desde a revolução chinesa de 1945-1949. Em 1930, com 18 anos, iniciou-se nas lides do shipping como caixeiro de mar, dedicando toda a sua vida a esta actividade, descrita numa impressionante biografia em 4 volumes (que custam mais de US$ 600), a pugnar com idealismo, profissionalismo e exclusiva dedicação pela realização de um sonho, que era possuir uma frota mercante que tivesse a áurea dos grandes navios do tesouro do Alm. Zheng He, da época da dinastia Ming(1). Em 1976, esse grande Senhor geria mais de 150 navios, que movimentavam mais de 10 milhões de toneladas. Era também proprietário do que foi o maior paquete da sua época, o “Seawise University”, ex“Queen Elizabeth”, comprado em 1971. No seu tempo foi também o maior transatlântico e acabou os seus dias afundando-se na baía de Hong Kong, depois de um misterioso incêndio, que deflagrou simultaneamente em sete lugares distintos. Parte dos restos deste célebre paquete, que não foi recuperado para a sucata, jazem debaixo dos aterros que foram feitos para a construção do novo aeroporto internacional de Hong Kong. Pelos vistos, Mr. C. Y. Tung pensava em grande, e em 1979 resolveu comprar o “Oppama”, com a condição de este ser alongado de modo a passar das 480 000 dwt para as 564 763 dwt. Foi acrescentada uma secção e o “Oppama”, em 1981, estava concluído, tendo sido renomeado “Seawise Giant” e tornando-se a construção móvel mais comprida do mundo, até hoje construída. Depois de reconstruído ficou com o LOA de 458.45 m, boca 68.80 m, calado máximo de 24.61 m, GT 260 851, pontal 29.82 m e uma capacidade de carga de 658 362 m3 (4 240 865 barris), e deslocamento 647 955 t. Tudo o que é criado à superfície da Terra parece ter um destino marcado, embora muitas vezes alterado, consciente ou inconscientemente, pela mão do homem ou influenciado por acontecimentos fortuitos. O maior navio do Mundo, construído no século passado, é um caso do que acabamos de referenciar. O ”Knock Nevis”, o maior navio jamais construído – a maior construção metálica móvel que já teve outros nomes, concorrendo com os heterónimos do nosso, também grande e prestigiado internacionalmente Fernando Pessoa –, tinha sido inicialmente concebido com outras dimensões, mas o tal destino estava marcado para ser o primus inter pares. Este navio foi encomendado por um armador grego aos estaleiros Oppama Shipyard, actualmente Yokosuka Shipyard, da Sumitomo Heavy Industries, Ltd, Japão. Foi projectado para um LOA de 377 m e 480 000 dwt, com o casco nº.1016. Devido à guerra de Yom Kippur, desencadeada no dia mais sagrado do calendário judaico às 14:00 do dia 06/10/1973, e ao consequente embargo do crude, estabelecido pelos países árabes filiados na OPEP, estabeleceu-se o pânico mundial. O crude triplicou de preço, atingindo os US$ 70 por barril. A procura do crude baixou e, consequentemente, a procura dos VLCC e ULCC acompanhou a baixa. Os navios que não ficaram amarrados, à espera de melhores dias, foram abatidos para a sucata. Diz-se que o armador grego, perante tal conjuntura, faliu, e a construção foi abandonada ao seu destino. Há outra versão, em que a construção teria sido recusada devido às fortes vibrações sentidas na caixa redutora durante as experiências de mar. O armador grego era um grande conhecedor do seu métier, e não tinha sentido ficar com um navio novo nas mãos destinado a ser vendido, após as provas de mar, pelo preço de sucata. O destino, como se costuma dizer, só a Deus pertence ou está no céu, embora resolvido na terra, e o navio construído em Dezembro de 1976, com o nome de “Porthos”, após as experiências de mar acaba BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 (1) Os navios do tesouro eram gigantescos navios, para a época, com 146 m de LOA, 55 m de boca, de casco duplo e com dezasseis compartimentos estanques, dois dos quais se podiam alagar sem causar problemas de estabilidade. Eram impulsionados por nove mastros, que envergavam 12 velas redondas de seda, muito resistentes e de cor vermelha. Cada navio de tesouro tinha capacidade para carregar 2 000 t de carga. Isto passava-se no ano de 1405, ou seja, 92 anos antes de Vasco da Gama ter chegado a Calecute na caravela São Gabriel, que se supõe ter tido uma arqueação de 100 a 120 tonéis e um comprimento entre 20 e 25 metros. 12 Começou a sua actividade impulsionado por um hélice de 9 m de diâmetro, que rodava a 85 rpm., movido por turbinas a vapor que desenvolviam uma potência de 50 000 hp (372 987 kW), podendo evoluir à velocidade de 13 nós. Os custos de operação deste navio eram de tal ordem que raramente gerava lucros para o proprietário. Esteve largos períodos sem conseguir fretamento. Operou no Golfo do México e Caraíbas e esteve quase três anos em Galvestone, no Texas, operando como Storage Tank. Em 1986 regressou ao Golfo Pérsico, para se envolver na exportação do crude iraniano. Em 14/05/1988, durante a guerra Iraque-Irão, quando se encontrava no terminal da Ilha de Kharg, operando como storage tank – com o tanque espanhol “Barcelona”, de 230 000 dwt, atracado ao seu costado para onde já tinha transferido 140 000 t de crude –, foi atacado pelos Mitrage F1 iraquianos. Foi atingido com pelo menos 5 bombas e mísseis Exocet, que provocaram um devastador incêndio em ambos os navios, tendo sido ambos deliberadamente encalhados em águas pouco profundas, para não se afundarem num local onde futuramente seria difícil a sua remoção. Neste ataque aéreo, foram também afectados com grandes prejuízos os petroleiros “ARGOSY”, de bandeira cipriota, e o “Burmah Endeavour”, de bandeira britânica. Em 17/05/1988, três dias após o ataque aéreo, quando ainda se procedia ao rescaldo do incêndio do “Barcelona”, deu-se uma grande explosão num dos tanques deste navio, provavelmente devido a uma bomba por deflagrar. De tal modo foi a explosão que o rebocador “Scan Partner” se incendiou e afundou, morrendo os seus cinco tripulantes. Dois outros tripulantes do rebocador “Ferdinand Verbiest”, devido à onda de choque da explosão, foram projectados borda fora com morte imediata. Os rebocadores “Safir” e “Beaufort” também foram atingidos ficando seriamente danificados. O “Barcelona”, com os seus 330.21 m de LOA, construído nos Astilleros Españoles SA, de Cadiz, com bota abaixo em 01/07/1973, acabou por ser cortado em dois e vendido para a sucata, tendo a parte da proa sido vendida para Gadani Beach, em 12/1989, e a parte da popa rebocada para Umm al Qaiwain e, posteriormente, em 12/1990, para a sucata em Alang. O “Barcelona” nunca teve muita sorte. Em 30/06/1981 foi varado na posição 26º 59´ N e 50º 21´ E, depois de falhar a válvula de lastro quando terminava as operações de carga no terminal de Juaymah, na Arábia Saudita, tendo sido posto a flutuar de novo em 08/07/1981.Este navio costumava docar nos estaleiros da Lisnave-Margueira. O “Seawise Giant” foi considerado perda total pelas companhias seguradoras e permaneceu encalhado, à espera de melhores dias, com um enorme rombo a BB, por de vante de meio-navio, produzido por um dos mísseis dos Mirage iraquianos. Mas este navio tinha nascido com outro destino e alguns meses após o fim da guerra Iraque-Irão, em Agosto de 1988, foi comprado pela companhia Norman International, ao que se consta para ter o privilégio de possuir o maior navio do mundo. Foi posto a flutuar e, depois de uma estadia na baia de Burnei, onde era mal-amado e indesejado, foi novamente rebocado para Keppel Shipyard, em Singapura, iniciando-se a sua recuperação em Outubro de 1990 e terminando um ano depois. Foram repostas 3700 t de aço e 32 quilómetros de tubagem. A casaria foi toda reconstruída, numa operação que custou à época 60 milhões de dólares americanos. Após a conclusão da sua reconstrução foi rebaptizado com o nome de “Happy Giant”, nome apropriado para um gigante feliz que se livrara da morte certa. Depois de reabilitado fez o seu primeiro carregamento em Juaymah-Arábia Saudita. Em 1999 foi vendido para a companhia norueguesa Jahare Wallen e renomeado “Jahre Viking”. Com este nome atravessou pela primeira vez o Canal de Suez em 25/01/1995, tendo sido efectuada uma grande cobertura pelos media locais e internacionais. O 1º Ministro do Egipto e o Governador do Canal de Suez fizeram questão de embarcar no majestoso navio e percorrer os 163 km de extensão que separa Suez de Port Said. O Presidente da República do Egipto, Mohammed Hosni Mubarak, não quis ficar atrás e permaneceu em Ismaília para ver o navio passar. Foi oferecido ao comandante do navio Cap. Surrinder Kumar Mohan, de nacionalidade indiana, pelo Governador do Canal, uma chapa comemorativa pela passagem por aquele canal. Em Março de 2004 entrou nas Dubai Drydocks para ser reconvertido numa unidade FSO, acrónimo de Floating Storage Offloanding, já como propriedade da First Olsen Tankers, tendo sido mais uma vez rebaptizado com o nome de “Knock Nevis”. A sua reconversão incluiu o revestimento de todos os tanques com uma pelicula especial, manutenção correctiva e preventiva de todos os encanamentos, um novo sistema de amarração e uma nova plataforma para helicópteros. 13 BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 De todas as torres actualmente construídas somente a Taipei 101, em Taipei-Taiwan, com 101 andares e 508 m de altura, acabada em 2004 e uma das mais originais do Mundo, não caberia no convés do “Knock Nevis”. Continuando com os números, um inspector de navios que tenha que reclassificar um navio desta grandeza terá que percorrer 9 997 m de escadas (o Monte Evarest tem 8 848 m), inspeccionar 1 200 km de soldaduras, quase duas vezes a distância por estrada de Viana do Castelo a Faro, e inspeccionar 300 000 m2 de chapa de aço. É provável que jamais se construa um navio desta grandeza para transporte de crude, não só pela dificuldade de infra-estruras portuárias para os receber, mas também pela exigência do casco duplo que os torna inviavelmente rendíveis. Existiram seis navios tanques que ultrapassaram as 500 000 dwt, todos eles abatidos, e que foram: — “Pierre Guillaumat”, de 555 059 dwt; “Prairial”, de 554 974 dwt; ”Battilus” e “Bellamya”, de 553 662 dwt cada; “Esso Atlantic” e “Esso Pacific”, de 516 000 dwt cada. O navio que em breve o poderá alcançar em grandeza será o projectado “Freedom”, a cidade flutuante onde não se paga impostos. Um local único para viver, mas só para os mais abastados ou para aqueles que têm que lá trabalhar. Com os seus 1 372 m de comprimento, 229 m de boca, 107 m de altura, onde no convés superior funcionará um aeroporto capaz de receber aviões comerciais ou particulares até 40 passageiros, dará a volta ao mundo cada dois ou três anos à velocidade de 10 nós. Está previsto viver nesta cidade flutuante 50 000 pessoas em regime permanente, servidas por 15 000 trabalhadores e visitada por 30 000 pessoas. É a colonização dos oceanos. A partir deste gigante poderão fazer-se negócios com as regiões a visitar e haverá um grande intercâmbio comercial, não só pelo que se pode comprar a bordo desta cidade flutuante, mas também pelos abastecimentos que serão necessários para suprir as necessidades dos residentes. Neste hiper navio haverá serviço de hidrofoils e aviões, que farão a ligação a terra, e na zona da popa está prevista uma marina. Assim vai o Mundo dos navios, ao sabor das inovações que o constante desenvolvimento da tecnologia pode proporcionar. Em Julho de 2004 foi celebrado um contrato com a Maersk Oil por três anos, com a opção de o renovar por mais dois anos, para operar em Al Shaheen Oilfield nas águas do Qatar. Este gigantesco navio parece recusar-se abandonar o 1º lugar do pódio do maior navio do mundo. Para se ter uma ideia da sua grandeza, o melhor é usar unidades de medida que temos sempre presentes no nosso subconsciente. Vejamos: no seu convés de 31 541 m2 pode albergar quatro campos de futebol ou, em alternativa, podíamos estivar lado a lado dois “Titanic” e dois “Vera Cruz” no sentido do comprimento e, no espaço que sobrava, estivaríamos quase 7 “Creoulas” em fila indiana, sobrando ainda uma faixa de 3.9 m de largura a todo o comprimento. O maior navio actualmente a navegar do mundo, que é o porta-contentores “Emma Maersk”, com os seus 397 m de Lpp, também cabia no seu convés. O seu porte comporta 5 porta-aviões classe “Nimitz”. O seu hélice de 9 m de diâmetro tem a grandeza de um prédio de 3 andares com 9 metros de largura, que girasse a 85 rpm. A sua boca pode ser comparada com um prédio de 23 andares. O seu calado equivale a um prédio de 8 andares. Os seus 49 tanques, com capacidade 667 380 m3, chegariam para armazenar a gasolina suficiente para alimentar um automóvel que gastasse 100 litros por semana, durante 126 608 anos. Para suprir as necessidades de todo o gasóleo consumido em Portugal durante o ano de 2006 seriam necessários 8.43 carregamentos efectuados pelo “Knock Nevis”. Para suprir o consumo em Portugal, durante o ano de 2006, de gasolina s/chumbo 95 octanas, eram suficientes 2.47 carregamentos efectuados pelo “Knock Nevis”. Actualmente, se ainda navegasse, o valor da sua carga seria da ordem dos 341 775 milhões de euros, separada do mar apenas por 3.5 cm de espessura da chapa do costado. Um avião Airbus A380, o maior avião de passageiros, actual, custa 250 milhões de euros. A Torre Eiffel também caberia no seu convés, e ainda sobravam 140.45 m. BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013 P.S. – Este artigo foi escrito e corrigido em Fevereiro de 2007. Eventualmente, poderá estar sujeito a qualquer imprecisão, proveniente das constantes mudanças induzidas por eventos ou desenvolvimento tecnológico. Joaquim Bertão Saltão 14 HISTÓRIAS PASSADAS… saber mais tarde. O único filho do Comandante Zé Bela (como lhe chamávamos) esse sim, chamava-se João José Pereira da Bela e foi meu condiscípulo no liceu José Estêvão, de Aveiro, do 4º ao 7º ano. Apetece-me aqui contar uma história, que se passou comigo nessa minha primeira viagem a bordo do “Santo André”, em viagem para a Terra Nova. O Comandante Bela, que admirava muito o meu pai, de quem era muito amigo, tinha-me dito um dia: quero que você embarque comigo quando terminar o curso da Escola Náutica. Ele era um homem culto e, com um sentido de humor engraçado e cativante, sempre com uma piada qualquer a respeito de tudo e de nada, além de um bom contador de anedotas. Nessa minha primeira viagem e, à saída de Lisboa, disse-me: — olhe Damas vou traçar o rumo para a Terra Nova, mais pelo Sul do que normalmente deveria fazer, porque nesta altura do ano há muito mau tempo para Norte e assim tentamos fugir a ele. Enganou-se. E, logo à saída de Lisboa, começámos a apanhar "porrada" da grossa. Eu, enjoado que nem uma lula, amarelo e doente, fazia o quarto de pernas abertas na ponte e agarrado às janelas onde o mar batia com força. Ele que me viu assim disse-me: Damas, vá-se deitar que eu faço o quarto por si. Claro que recusei e continuei a correr para a borda a chamar pelo "Gregório". Pergunta-me ele então: olhe lá ó Damas, porque raio é que você vai ai agarrado e de pernas abertas!?... É para não cair, digo-lhe eu. Você é o contrário das mulheres que, quando abrem as pernas é que caem. Isto revela, a meu ver, o homem bem-disposto que era e o sentido de humor que lhe era peculiar. Acabo de receber a BORDO LIVRE de Setembro/ /Outubro. Como sempre a revista lê-se com agrado e desperta interesse mesmo a quem não está ligado ao Mar. Gostei, particularmente, do artigo do Colega Aníbal Caetano sobre o Museu de Ílhavo e o “Santo André”, actualmente também ele transformado em museu. É sobre ele, o “Santo André”, que tenho um ligeiro reparo a fazer: — a certa altura, o articulista falando do primeiro comandante do navio, diz ele ter sido o Comandante João Pereira da Bela. Para elucidar sobre tal comando, permito-me contar a minha própria história como iniciado marinheiro e porque a penso oportuna. Em 1949, quando terminei o curso da Escola Náutica, esta ainda na Rua do Arsenal, embarquei no “Santo André”. Matriculei nele ainda em 1949, mas o navio só saiu para a pesca do bacalhau em 1950. Era então o Comandante o Cap. JOSÉ PEREIRA DA BELA, e não João Pereira da Bela, como referido no artigo do BL. Por curiosidade apenas, a tripulação era então assim constituída: — Comandante, José Pereira da Bela; Imediato, um colega da Gafanha e do qual não lembro do nome de momento; eu, o 2º Piloto e Praticante o Manuel Valeriano Neves de Vasconcelos, madeirense, e um excelente rapaz e óptimo colega, com o qual me dei sempre muito bem. Faleceu cedo, segundo vim a Marques Damas “IN MEMORIAM” DE MANUEL CASIMIRO SOARES DE SOUSA Partiste, assim, inexplicavelmente; Mas que choque tremendo eu sofri! Vim para o Sul nem de ti me despedi Vou lamentá-lo, Manuel, eternamente; Foste por mim sempre em vida apreciado Pela postura e personalidade. Foste homem bom, calmo e educado. Esta a grande a enorme verdade Por isso tudo hás-de ser sempre lembrado Com ternura e imensa saudade. Foste em vida um homem bom, inteligente, Com quem dava prazer se conversar, Mas também foste ilustre homem do mar Conhecido e respeitado comandante, RIP Marques Damas 15 BORDO LIVRE | Novembro/Dezembro 2013