A Floresta e o Protocolo de Quioto

Transcrição

A Floresta e o Protocolo de Quioto
A Floresta e o Protocolo de
Quioto
Paulo Canaveira
Acção de Formação
A Floresta Nacional: Mitos e
Realidades
CENJOR, 26 de Maio de 2006
CELPA, Associação da Indústria Papeleira
Pomos o Futuro no Papel
Relação entre CO2 e Temperatura
Floresta Nacional Mitos e Realidades - A Floresta e o Protocolo de Quioto
2
Nos últimos 4 ciclos glaciares
Níveis Actuais (∼360ppm) são
os mais altos dos últimos
420.000 anos
E estão a CO
subir
rapidamente...
Variação “estreita”
2 :
~180 ppm a ~280 ppm
Períodos quentes, 280 ppm
Glaciações, 180 ppm
Floresta Nacional Mitos e Realidades - A Floresta e o Protocolo de Quioto
Petit et al., 1999
3
Hoje
Futuro?
CO2
Um
comportamento
estável nos
últimos 750
milhões de anos
Temperatura
Falkowski et al., 2000
Floresta Nacional Mitos e Realidades - A Floresta e o Protocolo de Quioto
4
Alterações Temperatura nos
Últimos 1000 Anos
Temperatura Hem. Norte (°C)
2
1
0
-1
1000
1200
1400
1600
1800
Floresta Nacional Mitos e Realidades - A Floresta e o Protocolo de Quioto
Ano
2000
5
5
4
Investigação recente
sugere que os
valores mais altos
são os mais
prováveis
3
Maiores no
Hemisfério Norte e
nas zonas terrestres
Temperatura Hem. Norte
(°C)
2
1
1
0.5
0
0
-0.5
1000 1200 1400 1600 1800 2000
IPCC TAR Projections
2100 ADFloresta Nacional Mitos e Realidades - A Floresta e o Protocolo de Quioto
6
Temperatura Global (°C)
Alterações Temperatura nos
Próximos 100 Anos
6
Objectivo da UNFCCC
UNFCCC
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre
Alterações Climáticas
Artigo 2º
... estabilização das concentrações de
gases com efeito de estufa na
atmosfera a um nível que impeça uma
interferência antropogénica perigosa
com o sistema climático...
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7
Ciclo Global do Carbono
O Carbono existe
num CICLO, não é
permanentemente
armazenado
Floresta Nacional
Mitos e Realidades
- A Floresta
e o Protocolo
de Quioto
8
Este ciclo natural
existe
há, pelo
menos,
4 épocas
glaciais
Balanço Global de Carbono
Acumulação Atmosférica
+ 3,2 GtC por ano (1990s)
Atmosfera
Superfície
+ 6,3
+ 2,2
-2,9
Combustíveis Alterações Sumidouro
Fósseis, Uso Solo Terrestre
Indústria
-2,4
Sumidouro
Oceânico
- 0,7
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9
Opções Globais para a
Estabilização GEE na Atmosfera
Acumulação Atmosférica
+- 0 GtC por ano
REDUZIR FONTES
EMISSÃO
AUMENTAR
SUMIDOUROS
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10
Opções Nacionais para a
Estabilização GEE na Atmosfera
Compra
Créditos
Re d
uçã
o de
Emis
sões
Aumento de Sumidouros
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Florestas e Alterações Climáticas
como e porquê são importantes as florestas
Relativamente às alterações climáticas as
florestas podem ser:
1. Soluções para o problema
–
Sumidouros de carbono
–
Desflorestação
–
Adaptação
–
Sumidouros no produto
–
Substituição de combustíveis fósseis
2. Contribuintes para o problema
3. Vítimas do clima
4. Fontes de matérias-primas ricas em
carbono
5. Fontes de energia renovável
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Sumidouros de Carbono
florestas como soluções do problema
• As florestas acumulam carbono enquanto
crescem. Nesse processo é removido CO2
da atmosfera.
Aumento de Carbono = “sumidouro”
gestão florestal
florestação
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Sumidouro Florestal em Eucaliptal
Fixação de Dióxido de Carbono ao Longo da Vida de um Eucaliptal
400
32
Folhas
350
28
Casca
300
24
Lenho
Fixação anual
250
20
200
16
150
12
100
8
50
4
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
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17
18
19
20
14
ton CO2 fixado por ha (por ano)
ton CO2 fixado por ha (acumulado)
Ramos
Sumidouro Florestal em Carvalhal
Remoção Anual de CO2 em Florestas de Carvalho Negral
20
Classe de Qualidade 1 (muito alta)
18
Classe de Qualidade 3 (média)
16
Classe de Qualidade 5 (muito baixa)
ton CO2 / ano
14
12
10
8
6
4
2
0
0
20
40
60
80
100
idade do povoamento
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Desflorestação
florestas contribuem para o problema
• Quando as florestas são destruídas, a sua
biomassa perde-se. No processo o seu CO2
é libertado para a atmosfera
A desflorestação representa 20 a 25% das emissões
mundiais
Perda de Carbono = “emissão”
degradação florestal
desflorestação
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“Hotspots” de Desflorestação
Áreas sob grandes
taxas de alteração de uso do solo
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entre 1980 e 2000
Figure 9.4 (MAP) of AR4 WG3
Gestão Florestal Sustentável
florestas são neutras para o problema
• As florestas geridas de forma sustentável
têm uma biomassa média constante ao
longo do tempo. Nestas condições, são
neutras para as alterações climáticas
Carbono Médio Armazenado Constante = “neutral”
gestão florestal
reflorestação
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Sumidouros ou Emissões?
(Mike Apps)
“Sumidouro” = declive positivo
Conteúdo de
Carbono Ci
Neutral
- Sumidouro
Emissão
Sumidouro
“Emissão”
= declive negativo
“Neutral”
= declive zero
t Carbono existente
nas plantas +
detritos + solos
+ Sumidouro
tempo
Quanto maior o declive maior
é a emissão ou o sumidouro
Os sumidouros e emissões do uso de solo estão relacionados de forma causal
– Não se tem um sem ter o outro
Uma determinada área pode ser um sumidouro durante uma parte da sua
história e ser uma emissão mais tarde
E vice versa – uma emissão hoje pode ser um sumidouro amanhã
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Adaptação
florestas vítimas das alterações climáticas
• As florestas poderão sofrer com as
alterações climáticas de duas
formas principais:
– Aumento da probabilidade de
acontecimentos climáticos extremos
– Alteração das condições médias de
crescimento na maior parte dos locais
da terra
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20
Adaptação
Florestas como “Vítimas” das Alterações Climáticas
• Acontecimentos meteorológicos extremos
podem causar danos severos às florestas
–
–
–
–
Tempestades de gelo, vento e neve
Fogos Florestais
Cheias
Seca Severa
• Se forem ultrapassados certos níveis de
resistência das florestas podem ocorrer
degradação florestal ou desflorestação
local
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Eventos Extremos
Tempestade de gelo no Mississipi
Tempestade de Neve na Suécia
Cheias no Reino Unido
Fogos Florestais
Floresta Nacional
Mitos e Realidades
- A Floresta
e o Protocolo de Quioto
22
Tempestade
de vento
na Suiça
Seca nos EUA
Em Portugal
Alteração das Condições médias
de Crescimento
Temperatura máxima no Verão
1961-1990
Projecção
Alterações na
Precipitação Anual
Fonte: ProjectoFloresta
SIAMNacional Mitos e Realidades - A Floresta e o Protocolo de Quioto
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Alteração das Condições Médias
Consequências para a Floresta
• Podem as espécies “mover-se” a
tempo?
• Que espécies devemos plantar e
onde?
Sumidouros
óptimo
degradação
florestal
óptimo
actual
futuro
extinção
local
Florestais
colonização
de novas
áreas
Emissões
Florestais
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Sumidouros nos Produtos
carbono florestal fora da floresta
• O carbono florestal é preservado nos produtos com
origem na madeira. Este armazenamento dura até
se degradarem naturalmente ou serem incinerados.
• Stocks crescentes de produtos florestais em uso na
sociedade são equivalentes a sumidouros florestais
• A reciclagem atrasa a emissão desse carbono de
volta para a atmosfera
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Sumidouro de Carbono
Exemplo dos Produtos Papeleiros
• A pasta para papel colocada no mercado
em 2004 continha 1.023.660 ton C
– equivalente a 3.753.420 ton CO2
• O papel produzido em Portugal em 2004
continha 619.010 ton C
– equivalente a 2.269.700 ton CO2
• O Papel reciclado em Portugal em 2004
continha 109.520 ton C
– evitou uma emissão de 401.570 ton CO2
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Substituição Combustíveis Fósseis
florestas como fontes de energia renovável
• A biomassa florestal
pode ser utilizada para
produção de energia
• Quando substitui
combustíveis fósseis,
ocorre uma redução
de emissões igual à
quantidade de
combustíveis fósseis
que não foram
queimados
CO2
atmosfera
emissão
fuel
C petróleo e
gás natural
CO2
atmosfera
emissão
absorção
fuel
C biomassa
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Componentes de Biomassa
Bicada
(incluindo copa e fuste)
Copa
O que é
biomassa?
Copa
(sem bicada nem fuste)
• Também é biomassa:
Podas
Madeira
Fuste
Madeira morta
Casca
Legenda:
Biomassa com interesse
para produção industrial
Cepo
Raiz
Biomassa com interesse
para produção energia
Raiz
Biomassa com potencial
para produção energia
Biomassa com interesse
apenas para quantificação
de carbono
(sem cepo)
Outra Vegetação
(matos e herbáceas)
Limpezas &
Desbastes
(pré-comercial)
Folhada
– Licor negro (da
produção de pasta)
– Aparas e pó de madeira
(das serrações, dos
aglomerados de
madeira e do mobiliário)
– Papel e cartão (dos
resíduos urbanos e das
embalagens)
– Mobiliário, rolhas, outros
produtos transformados,
etc.
Solo
Floresta Nacional Mitos e Realidades - A Floresta e o Protocolo de Quioto
Matéria-orgânica
© Paulo Canaveira
(no solo)
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Biomassa para Energia
• A madeira deve ser utilizada na indústria e
não na produção de energia
– maior valor e mais emprego
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Biomassa para Energia
• A biomassa para energia deve ser utilizada
na produção de calor e em cogeração e
não na produção dedicada de
electricidade
– Maior eficiência energética
• A exploração de biomassa para energia
deve acomodar preocupações com a
sustentabilidade da exploração desses
materiais
– Exportação de nutrientes e impacto sobre
fertilidade do solo e erosão
– Impactos sobre a biodiversidade
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Florestas em Quioto
como as florestas são tratadas no Protocolo
• Florestação, Reflorestas e Desflorestação
– Artigo 3.3
• Gestão Florestal
– Artigo 3.4
• Projectos Florestais – CDM & JI
– Artigo 6 (JI) e Artigo 12 (CDM)
• [Biomassa para energia]
• [Sumidouros nos produtos]
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Projectos Florestais
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
• Os créditos são gerados confrontando
uma baseline com o desempenho real do
projecto no período de cumprimento
– Restringido a florestação e reflorestação
Quantidade de
tCER utilizáveis
Período de
Cumprimento
desempenho do projecto
Baseline – sem projecto
tempo
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Directiva Comércio de Emissões
nenhuma relação com florestas (Europa ou Mundo)
• A DCE EXCLUI as florestas do seu âmbito
– As florestas europeias não são um sector no
mercado Europeu de emissões
– Proprietários florestais Europeus não podem
gerar créditos
– Valor do carbono florestal Europeu = ZERO
• A Directiva Linking permite usar créditos
CDM mas exclui créditos florestais
– As florestas do resto do Mundo também não são
um sector no mercado Europeu de emissões
• As Empresas Europeias não podem usar
créditos florestais de nenhum tipo para
cumprir com os seus objectivos de redução
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Florestas e Regimes Climáticos Futuros
um debate que apenas começou
• Contabilização plena de sumidouros
– Acabar com a separação entre florestas “novas” e
“existentes”
– Acabar com o tratamento “especial” do sector de
uso de solo e florestas
• Evitar desflorestação
– Como ferramenta para reduzir as emissões mundiais
– Alargar o âmbito do CDM para incluir também
“desflorestação evitada”
• Sumidouros nos produtos
– Reconhecer e quantificar o papel dos produtos
baseados na madeira como sumidouros
• Um regime climático único (emissões e
sumidouros) ou um regime separado para uso
de solo e florestas (desflorestação)
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Situação em Portugal
Oportunidades
Ameaças
• Nível de gestão baixo
• Aumento de incêndios
– Potencial de
aumento dos stocks
médios da área
existente
• Área disponível para
arborização
• Potencial para
expansão de projectos
de bioenergia
– Alterações climáticas
– Abandono de gestão
• Perda de
produtividade
– Alterações climáticas
– Abandono de gestão
• Impacto negativo de
projectos de
bioenergia
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