MensageM do 90.º Capítulo geral dos CarMelitas

Transcrição

MensageM do 90.º Capítulo geral dos CarMelitas
Mensagem do 90.º Capítulo Geral
dos Carmelitas Descalços
(Fátima 18 Abril - 8 Maio 2009)
Queridos Irmãos, Irmãs Carmelitas Descalças, membros do Carmelo Secular, membros associados na
Família Carmelitana e todos os Amigos do Carmelo:
1. Nós, os participantes no 90.º Capítulo Geral dos Carmelitas Descalços, aproveitando a fraterna hospitalidade da Domus Carmeli, saudamo-vos calorosamente desde Portugal, «Terra de Santa Maria», próximo
do Santuário a ela consagrado em Fátima. E vos enviamos uma calorosa saudação: «Que o Deus da esperança vos encha plenamente de alegria e de paz na vossa crença, para que abundeis na esperança pela
virtude do espírito Santo (Rom 15:13)
2. A experiência destas três semanas fez-nos experimentar a fraternidade que a todos nos une na vocação e
na missão do Carmelo. Rezámos juntos e juntos partilhámos o pão da vida. Prestámos atenção aos dossiês
do Prepósito Geral e do Ecónomo Geral. Assim, depois de ter referido as linhas principais da acção do
Definitório Geral e sublinhado as novidades do sexénio de 2003-2009, o Padre Geral sublinhou a actualidade e a vitalidade do carisma teresiano. Depois recordou o desafio sempre actual da formação inicial e da
formação permanente, a fim de se tornar mais profunda a nossa vida espiritual, maior a nossa comunhão,
mais autêntico o nosso espírito missionário. Tendo em vista tudo isto, reservamos o tempo necessário
para avaliar a situação presente das nossas instituições: o Teresianum de Roma; o CITES de Ávila e a
origem da Ordem, o Monte Carmelo.
3. Escolhemos uma equipa de governo renovada, liderada pelo novo Prepósito Geral P. Saverio Cannistrà,
da Província toscana. Escutámos as informações e as expectativas do Carmelo Secular cujo esforço se
centra sobretudo na formação. No encontro com as nossas irmãs Carmelitas — vieram ao Capítulo as
presidentes de onze Federações de todo o mundo — fez-nos sentir o espírito de família que nos une, de tal
modo que não nos podemos definir uns sem as outras e vice-versa. O que Teresa de Jesus ensinou a João
da Cruz foi precisamente o estilo de fraternidade, e o nosso diálogo foi disso sinal vivo. É essa orientação
que nós queremos seguir. Outro sinal de fraternidade foi a presença neste capítulo dos nossos religiosos
irmãos; eles recordam-nos a beleza da sua própria vocação, o seu lugar insubstituível na nossa história, a
sua participação diferenciada no apostolado da espiritualidade, o apoio da sua oração e os seus conselhos.
Juntos, Irmãos e Sacerdotes, havemos de construir o nosso testemunho carmelitano.
Em resumo: nós reflectimos, tomamos decisões e votamos. Estes são os actos próprios dum capítulo. E
agora, o que vamos fazer? Que queremos viver?
Um olhar virado para o V Centenário do nascimento de Teresa de Jesus
4. O Carmelo necessita de «fogo no coração, palavras nos lábios, f«profecia no olhar» (Paulo VI, Audiência
geral de 29 de Novembro de 1972) para permanecer fiel à sua triple vocação mística, profética e missionária. No nosso mundo em mudança é necessário sermos sólidos e solidários, e trabalhar na direcção que
é nossa desde a origem, a de «irmos começando sempre» (Cfr F 29:32) em fidelidade criativa ao Espírito
Santo. O novo sexénio de 2009-2025 seguirá o dinamismo da esperança iniciado em 2003: «A caminho
com Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz: voltar ao essencial». E é assim que nos orientaremos para a
celebração do V Centenário do nascimento de Teresa de Ahumada (28 de Março de 1515), aquela a quem
chamamos a nossa Santa Madre: Teresa de Jesus. O documento capitular «Para vós nasci» será o guia que
orientará o novo sexénio.
Ler, meditar e deixar-se renovar pelos escritos da nossa Santa Madre Teresa
5. Desejamos para todos os membros da nossa Ordem uma nova primavera na nossa vida de seguimento de
Jesus. A nossa formação permanente deve ser uma autêntica educação, maturação e crescimento na vida
religiosa, na vida comum e na vida de oração. Para isso convidamos a todos e cada um e cada uma de vós
para um encontro pessoal com Teresa, a entrar no diálogo que ela própria inicia nos seus escritos quando
diz: «Irei falando com elas no que irei escrevendo» (Prólogo do Castelo Interior). Um contacto de pessoa
a pessoa não é possível a não ser no mais profundo centro da alma na esteira do caminho de oração, da
aventura de amizade com Jesus, o rosto humano de Deus e rosto divino do Homem.
Transformados pela experiência de Deus
6. O nosso desejo é o de constituir os escritos da Santa madre no pão nosso de cada dia. A sua palavra vive
para nos transmitir o sabor de Deus: «A minha intenção é a de seduzir as almas para um bem tão alto» (V
18:8). Perguntemo-nos: o nosso modo de vida actual tem um real espaço contemplativo de Deus? Somos
testemunhas da sua grande bondade, da sua mão generosa, da sua obra libertadora (Cfr V4:10; 23:1)?
Eis, pois, o esforço verdadeiro e radical que temos de realizar por nós mesmos e pelos outros, a fim de
voltarmos a dizer aos homens quem é deus na nossa vida. «Deus é amor», o seu amor é vivificante, transformante e libertador.
7. Teresa convida-nos a «caminhar na verdade diante de Deus e dos homens de todas as maneiras que pudermos» (6M 10:6). Como discípulos e servidores da Palavra de Deus nós buscamos a verdade, avançamos
para a luz e alcançamos a liberdade. É a partir desta soberana liberdade que nos podemos constituir em
anunciadores e testemunhas, entregando-nos inteiramente a Quem se entregou por nós em seu Filho, o
verdadeiro Amigo.
Fiéis ao convite profético
8. Pela liberdade alcançada após a entrega ao Senhor Teresa pôde elevar a sua voz de mulher em tantas páginas críticas e valentes, onde ela denuncia as intrigas, vaidades e mentiras da sociedade do seu tempo.
O seu amor à «santíssima Humanidade» de Cristo ressuscitado apurou o seu olhar e conferiu-lhe lucidez
de verdadeira filha da Igreja, perante as condições injustas que alienam o homem de si mesmo e de Deus
Teresa respondeu aos desafios do seu tempo preferindo a pobreza e o humanismo cristão para as suas
fundações sustentadas numa sóbria e amigável vida comunitária e marcada pelas virtudes evangélicas da
suavidade, da humildade e da alegria. Também para nós, hoje, a pobreza massiva e tudo que a provoca,
isto é, as desigualdades crescentes e a injustiça em todas as suas formas, são para nós um desafio. A nossa
vida contemplativa revela-nos o rosto sofredor de Cristo nos rostos doridos dos pobres.
Seguindo o impulso missionário da nossa Santa Madre
9. «A oração acesa pelo fogo do amor» é a alavanca que levanta o mundo, diz-nos Teresa do Menino Jesus,
herdeira do espírito missionário da Santa Madre. O dinamismo missionário que nos anima alimenta e
mantém viva a nossa paixão pela humanidade. No movimento de contínua saída de nós mesmos pomonos ao serviço do futuro da humanidade, desejamos suscitar novas formas de esperança concreta. A emergência da globalização, como nova ordem mundial, convida-nos à partilha dos nossos recursos humanos,
espirituais e materiais através duma colaboração mais eficaz entre as várias circunscrições e o centro da
Ordem, a fim de continuar e consolidar a expansão da Ordem no mundo. Nós tivemos a alegria de ver um
sinal disso mesmo: a erecção da Coreia como nova província da Ordem. E ainda outro: a formação dum
novo grupo capitular, o coetus africano constituído irmãos de África e Madagáscar; sinal de crescimento
da nossa presença naquele continente.
10. Porém, a globalização também divide o mundo em fragmentos onde se multiplicam os refugiados e novas
formas de miséria. É urgente devolver a dignidade ao homem e de restaurar uma sociedade estropiada. O
nosso mundo caracteriza-se pela interconexão mais profunda e pela maior fragmentação de que há memória. Neste contexto podemos oferecer o testemunho e a hospitalidade da nossa vida fraterna sustentada
na amizade com Jesus que «destruiu os muros de ódio que nos separavam», como nos diz a carta aos Efésios (2:14). A nossa Santa Madre Teresa de Jesus assumiu plenamente esta humanidade ferida e suportou
a dor e a compaixão, sobretudo através da experiência espiritual do «inferno» (Cfr V 32). Este amor pela
salvação e libertação total do homem anima a nossa vida e o nosso apostolado. O nosso desejo é o de nos
convertermos em «servos do amor» (V 11:1) «verdadeiros espirituais», segundo a descrição que Teresa
elaborou: «tornar-se escravos de Deus que marca com o ferro da cruz, porque a Ele é dada a sua liberdade
a fim de que os possa vender como escravos de todo o mundo, tal como Ele o foi» (7M 4:8)
Sob a protecção de Nossa Senhora
11. Na história da nossa Santa madre Teresa de Jesus, como na história do Carmelo, a gloriosa Virgem Maria
ocupa um lugar singular. Somos do Carmelo porque pertencemos a uma família consagrada à Virgem
Maria. O nosso Capítulo, reunido em Fátima, foi eco desta realidade. A Irmã Lúcia e os dois outros Pastorinhos, os Bem-aventurados Francisco e Jacinta, contemplaram Nossa Senhora com o hábito do Carmo
convidando-nos a todos a orar pelos pecadores e pela paz. A sua Mensagem alimenta também a nossa
esperança: «O meu Coração Imaculado triunfará». Que quer isto dizer? Que o coração aberto de Deus,
purificado pela contemplação divina, é mais forte que as espingardas ou qualquer tipo de arma. O fiat de
Maria, a palavra do seu coração, mudou a história do mundo, porque graças a este «sim» Deus pôde fazerse homem no nosso mundo e assim permanece agora e por todo o sempre (J. Ratzinger, A Mensagem de
Fátima, Congregação para a Doutrina da Fé, 2000).
Recorrendo ao coração de Maria, à profundidade da sua fé, expressa nas palavras do Magnificat, renovamos cada vez melhor em nós a consciência de que não se pode separar a verdade sobre Deus que salva
do Deus que é fonte de todos os dons, da manifestação do seu amor preferencial pelos pobres e pelos
humildes, amor dito nas palavras e acções de Jesus (Cfr João Paulo II, Redemptoris Mater 37).
12. Ao longo destes dias nós fomos sentindo a oração das nossas Irmãs Carmelitas, a proximidade dos nossos frades doentes e velhinhos, e as expectativas cheias de esperança dos nossos jovens religiosos. Ler e
meditar as obras da nossa Santa Madre, pessoalmente ou em comunidade, assimilar a sua doutrina que
nos mostra o caminho da santidade, partilhá-la entre nós e ainda renovar a nossa maneira de falar. Eis
o programa do sexénio «Para vós nasci», que desejamos ver concretizado cada ano através de fichas de
leitura, como uma fonte de graça e de renovação para toda a Família do Carmo.
Da nossa Santa Madre Teresa de Jesus, mãe dos espirituais e primeira mulher doutora da Igreja, podemos
dizer o que dela disse S. Teresa Benedita da Cruz: «A sua irradiação estende-se muito para além das fronteiras do seu povo, da sua Ordem e chega mesmo a alcançar aqueles que estão fora da Igreja. A força da
sua linguagem, a sinceridade e a simplicidade de estilo dos seus escritos abrem os corações e depositam
neles a vida divina. Só no dia do juízo final conheceremos o número dos que, graças a ela, encontraram o
caminho da Luz» (Teresa Benedita da Cruz, Eine Meisterin der Erziehungs- und Bildungsarbeit: Teresia
von Jesus, 1935).
Fátima, 7 de Maio de 2009

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