Tudo sobre a Wayne Jacobsen

Transcrição

Tudo sobre a Wayne Jacobsen
Tudo sobre a
Conferência COM
O ESCRITOR
Wayne Jacobsen
Edição Especial GrupoNews - Ano 12 Edição 64 - Novembro/2009 a Fevereiro/2010 - www.gruponews.com.br
Nov/2009 a Fev/2010
2
editorial
Nossa jornada em busca da igreja verdadeira
POR EZEQUIEL NETTO
Século 16 – período das grandes descobertas. No princípio, era a Igreja Católica. Mas nem ela nem o Papa estavam com
Deus, segundo os protestantes que chegaram. Por outro lado, para os católicos,
eram os protestantes que se haviam afastado da Santa Igreja. Esses dois grupos de
cristãos estão brigando durante 500 anos
pelo direito de serem considerados os detentores do cristianismo verdadeiro.
Século 20 – chegada do novo milênio.
Aparecem novos polemistas, dentre eles
Frank Viola, proclamando que não existem
diferenças marcantes entre a fé católica e
a evangélica. E mais: o culto evangélico
não passa de uma missa levemente modificada, e o cristianismo verdadeiro não
pertence a nenhum dos segmentos – o
que eles praticam é um cristianismo pagão! O que a igreja atual segue não é o
modelo bíblico, mas a religião fundada
pelo imperador Constantino.
Muitas pessoas, desanimadas com as
atividades religiosas, encontraram força
nesses novos escritores e se afastaram
da igreja. Mesmo sem perder o interesse
por Deus, estavam sem rumo. Deus não
estava sendo encontrado em sua própria
casa. Em Belém (que quer dizer “a casa do
pão”), não havia mais pão. Mas a notícia é
que não existe Pão em lugar algum. A multidão dos “sem-igreja” cresce dia a dia. E
os que ficaram não são melhores do que
os que saíram – estão cansados e abatidos, como ovelhas que não têm pastor (Mt
9.36-37).
Essa era a condição da multidão que
frequentava as sinagogas nos dias de Jesus. Atrás da solução de Deus, seus discípulos foram enviados às aldeias, e não
aos ambientes religiosos. Procuravam
GRUPO
NEWS
casas dignas onde seriam estabelecidas
as verdadeiras igrejas. Seria somente no
ambiente familiar que estas pessoas, que
buscavam a Deus na religião mas continuavam famintas e sem direção, encontrariam o pastoreio de que necessitavam
e teriam a força e a esperança restabelecidas. Jesus não queria restaurar as sinagogas judaicas. Fazendo um paralelo com
a igreja atual, a religião cristã fundada por
Constantino nos anos 300 não poderia ser
restaurada. Simplesmente pelo único motivo de não ter começado de acordo com
o plano original de Deus.
Nesta hora, cabe uma explicação sobre o que vem a ser reforma e restauração,
já que usamos muito esses termos em relação à igreja. A reforma de uma casa trazlhe melhorias, modernização em relação
à construção original. Já na restauração,
o objetivo é devolver o imóvel ao seu aspecto original. Na reforma, a casa vai ficando cada vez mais diferente da primeira
construção. Na restauração, o processo
é inverso – toma-se uma casa totalmente
modificada e vai-se reparando-a até ficar
do jeito como foi no passado. Na igreja,
o processo é semelhante – as sucessivas
reformas foram modernizando a Casa de
Deus a ponto de não ter mais nada que
lembre o projeto original, como surgiu à
época dos apóstolos. Deus quer restaurar
sua casa e tirar dela todas as modificações
que não fazem parte do que ele projetou.
Nesta linha, surge a visão de Igreja nos
Lares, que cresce a passos largos em todo
o mundo. Fomos muito impactados com
o livro “Casas que transformam o mundo”
e, em 2007, recebemos a visita de seu autor, Wolfgang Simson. Como um profeta e
mestre das igrejas nos lares, foi enfático
em nosso meio: temos que sair da igreja catedral e partir para as casas. E sem
É uma publicação da Associação
Grupo Unido de Irmãos e Amigos
Jornalista Responsável: Ivonete Camargo Pegnolazzo - MTB 16.844
Diagramação e Arte: Marina Venuto, Renata Ribeiro e Rubens Fernando
Revisão: Maurício Bronzatto
Tiragem: 3000 exemplares / bimestral
Impressão: Gráfica Lance
Tel.: 11 4198-4616
e-mail: [email protected]
nenhuma transição. Se você está em um
ônibus e descobre que ele está indo na direção errada, não deve continuar – desça
imediatamente! Muitos atenderam a esse
apelo, deixaram as igrejas catedrais e entraram no movimento de igreja nos lares.
Mas a igreja nos lares não foi a resposta que precisávamos. Em muitos lugares,
a igreja pequena que surgia reproduzia em
menor grau o culto que acontecia nas “catedrais”. Saímos da religião, mas ela não
saiu de nós. Estávamos nos reunindo por
algum bom motivo relacionado com Cristo, mas não em torno do próprio Cristo. E
as pessoas continuavam cansadas e abatidas...
Wayne Jacobsen vem tratando este
assunto com mais clareza. Ele não condena a igreja institucional, não a chama
de Babilônia e nem acha que precisamos
sair dela. Diz apenas que não podemos
confundir o que a Bíblia chama de igreja
com as instituições religiosas atuais que
se autodenominam igreja. E vai além: não
vê qualquer diferença entre as denominações e igrejas nos lares. Elas podem até
ter como membros pessoas que fazem
parte da igreja, mas elas mesmas não são
igrejas. São instituições religiosas e, segundo ele, algumas até estão funcionando
bem, de acordo com o que se propuseram
a fazer.
Então, o que faremos? É melhor sairmos da igreja? A confusão continua para
quem pensa assim. Você só vai sair da
igreja se abandonar a Cristo. Sair de uma
instituição religiosa não quer dizer que
está saindo da igreja. Mas, afinal, quem
é igreja? A igreja é formada por todas as
pessoas que mantêm um relacionamento
de comunhão crescente com Deus Pai e
têm a Jesus como Senhor e líder de suas
vidas. Muitas dessas pessoas estão nas
instituições religiosas, outras não fazem
parte de nenhuma – frequentar atividades religiosas não faz a mínima diferença
quando se está procurando quem é ou
quem não é igreja. Esse relacionamento
íntimo com o Pai deve ser algo pessoal.
Você não faz parte da igreja pelo fato de
seguir alguém que tenha essa comunhão
com Deus. Você tem que fazê-lo por si
mesmo.
Alguns irmãos, no entanto, entendendo que as instituições religiosas não estão
lhes proporcionando nada de bom, resolvem caminhar sozinhos. Mas esses tam-
bém não são igreja. Como o Pai, o Filho
e o Espírito Santo vivem em comunhão
eterna, essa característica passa a fazer
parte de todos os que andam na presença de Deus – têm sede de comunhão com
outros irmãos. Vemos a Deus através de
uma janela embaçada. Mas cada um consegue enxergar um pouquinho, de forma
diferente dos outros. É na comunhão que
teremos a revelação completa. Por isso
Paulo diz que a igreja, o Corpo de Cristo, é
a plenitude daquele que a tudo enche em
todas as coisas (Ef 1.23).
O problema das instituições e igrejas
nos lares está justamente neste ponto. As
pessoas vão se agrupando porque pensam da mesma forma, creem nas mesmas
doutrinas e gostam do mesmo estilo de
reuniões. Não é que elas não conseguem
ver a Deus, mas todos o veem pela mesma
fresta na janela, alcançando uma pequena
fração. Mas se existem várias pessoas falando a mesma coisa, orando pelos mesmos motivos, cometem o erro de acharem
que já sabem tudo, tornando-se arrogantes. Todos os demais, que pensam e fazem algo diferente, estão errados.
Atualmente, devemos ter muito cuidado
ao lidar com estas questões, para não cometermos os mesmos erros que os irmãos
do passado. Se você faz parte de uma instituição religiosa, não se apresse em sair
dela. Procure dentre seus membros aqueles que têm fome e sede de se relacionar
com Deus, e não apenas seguem alguém
que faça isso por eles. Se a instituição
em nada o atrapalha nessa jornada, e até
o ajuda, facilitando o encontro desses irmãos, que são a verdadeira igreja, por que
sair dela? Mas se você está entediado por
inúmeras atividades religiosas meramente
simbólicas, que não contribuem com nada
para aproximá-lo de Deus e dos irmãos,
peça a Deus uma direção do que fazer. Enquanto isso, amplie seus horizontes. Olhe
para além dos muros religiosos. Procure
manter contato com outros irmãos em sua
cidade e região. Não reclame que eles são
fechados, que não demonstram interesse
por comunhão. Convide você a eles, para
um café, um almoço, um sorvete. Quem
sabe, um cinema, uma festinha de aniversário. E lembre-se: o que importa de fato
não são nossas intenções e ideias, mas
nossas ações – faça alguma coisa. Pequenas sementes, pequenas ações, no reino
de Deus, geram grandes resultados.
Nov/2009 a Fev/2010
Sobre esta
edição especial
O conteúdo que ora disponibilizamos é a versão escrita da Conferência 2009, evento realizado nos dias
05 e 06 de dezembro no sítio Vale da
Águia, em Sorocaba, SP. Os textos,
obviamente com pequenas adaptações, são bastante fiéis às exposições
de Wayne Jacobsen, nosso convidado
especial, autor de “Por que você não
quer mais ir à igreja?”, obra que inspirou a terceira edição deste acontecimento anual.
Nesta cobertura, ocupamo-nos
em registrar as duas mensagens que
Jacobsen compartilhou na Conferência: “Vivendo como filhos amados de
Aba” e “A cruz como cura, não como
castigo” e, em torno delas, a sessão de
perguntas e respostas que se seguiu
visando à ampliação do entendimento. Resolvemos também organizar
uma seção com perguntas e respostas
sobre aspectos práticos da jornada no
amor do Pai, conteúdo que foi sendo
gerado na interação com os conferencistas. A edição também contempla
pequenas narrativas, originalmente
partes de exposições e explicações
mais extensas do preletor, que julgamos oportuno, dada a sua autonomia,
destacar e apresentar separadamente.
Além disso, Paulo Roberto da Silva,
amado irmão que foi decisivo nos contatos prévios com Wayne, nos conta
alguns bastidores que envolveram
a vinda do escritor ao Brasil. Finalmente, anexamos um texto do próprio
autor, produzido após a Conferência
para o seu site www.lifestream.org,
em que compartilha as impressões de
sua viagem ao nosso país.
Advertimos que a necessidade de
adequações aos espaços nos fizeram
realizar pequenas edições, o que não
nos impediu de oferecer aos nossos
leitores um registro bem amplo do
que foram os dois dias de Conferência. O material integral, em áudio e vídeo, estará disponível em breve (veja
anúncio na página 4). Desejamos a
todos – aos que lá estiveram, aos que
acompanharam pela internet, aos que
ouviram falar e aos que somente agora
estão se inteirando – que os textos a
seguir deem início ou continuidade à
jornada no Pai de vivermos amados e
amando. Aproveite!
Conselho Editorial
3
Sobre o livro que inspirou a Conferência 2009
“Por que você não quer mais
ir à igreja?” é um título muito
esquisito para um livro de ficção
que, aliás, não tínhamos a intenção de imprimir. Um amigo e eu
o escrevemos para irmãos e irmãs que estavam querendo realmente saber quem era o Deus da
Bíblia e que, nessa busca, ficaram
perdidos em todas essas práticas
religiosas daquilo que nós chamamos de igreja.
Havia muita gente nos perguntando por que, apesar de
muito esforço para conseguir o
favor de Deus, o relacionamento
com ele não se tornava mais real,
e o vazio interior permanecia. Foi
então que resolvemos contar a
história de como Jake aprendeu a
viver como um dos filhos de Deus
na terra.
A princípio, o plano era divul-
gar somente na internet. Nós iríamos
escrever o livro todo em um ano, um
capítulo por mês, mas não aconteceu como pretendíamos. Meu amigo
(Dave Coleman, o co-autor) teve câncer e precisou se submeter a cirurgia
e tratamento, e eu me mudei para
outra cidade. Então, em vez de gastar um ano, gastamos quatro e meio;
em vez de um mês para cada capítulo
aparecer na internet, eram necessários quatro.
Algumas pessoas com as quais
conversei durante a Conferência
disseram que ficaram chateadas de
chegar ao fim do livro porque queriam ler mais. Imagine as pessoas
que estavam lendo na internet! Elas
terminavam o capítulo quinto e logo
procuravam avançar para o sexto,
mas então surgia uma mensagem
desanimadora na tela do seu computador: “nós ainda não o escrevemos”.
Eu recebi algumas cartas
de
pessoas
bem nervosas.
Uma,
por exemplo,
dizia:
“São
três
horas
da manhã, e
estou lendo
seu livro. Eu
quero saber o que você vai dizer”.
Elas tiveram que esperar quatro
anos. Eu me sentia mal com isso,
mas não teve como ser diferente. Quando nós terminamos de
publicar na internet, as pessoas
nos pediram para imprimir, e,
daquele dia em diante, realmente
esses escritos ganharam uma dimensão e um alcance bem maiores.
Sobre a coautoria em “A Cabana”
Depois de finalizar “Por que
você não quer mais ir à igreja?”,
envolvi-me com o livro “A cabana”,
que é uma história que um amigo
escreveu para os filhos dele. Ele me
entregou os originais e apenas disse: “Espero que você tenha interesse em ler”. Eu amei as percepções
da natureza do Pai que aquele livro
me trouxe. Perguntei a William se
podia publicar. “Não vou publicar,
eu escrevi para os meus filhos”, ele
respondeu. Além disso, ele não estava bem certo se valia a pena. Eu o
fiz acreditar que valia muito a pena.
É verdade que havia alguns problemas teológicos que não eram os
melhores e também algumas dificuldades com a história. Então eu o
encorajei a reescrever e dei-lhe algumas sugestões sobre como acertar. Ele disse que não faria isso sem
mim. Minha resposta foi a seguinte: “Não vou ajudar. Você escreve,
é seu livro; eu tenho livros que eu
quero escrever. Você escreve o seu”.
Mas ele não queria e ficou insistindo para eu ajudá-lo, do contrário
não faria mais nada com o livro.
Eu estava decidido: não iria ajudar
mesmo. Mas alguns meses depois,
o Espírito Santo bateu à porta do
meu coração: “Você não vai ajudar
seu irmão a terminar o livro dele?”. Eu
não queria, mas é um pouco mais difícil
falar não para o Espírito Santo. Então
eu cedi. Gastei dezesseis meses ajudando William a reescrever aquele livro.
Depois levamos para várias editoras
de todos os Estados Unidos. Todas rejeitaram. As editoras cristãs diziam: “É
muito controvertido”. E as seculares:
“Tem Jesus demais aqui neste livro”.
O que fizemos foi imprimir algumas cópias e colocar na garagem de um
amigo. Isso foi em maio de 2007. Dois
anos e meio depois, “A cabana” já vendeu mais de 10 milhões de exemplares,
foi traduzido em 30 línguas e está em
48 países no mundo.
O que eu amo neste livro é ver, pela
primeira vez, a teologia sobre quem
Deus é colocada dentro de um relacionamento. Ao final de cada dia, o protagonista, Mackenzie, não obtém respostas para todas as suas perguntas,
mas vem a conhecer mais o Pai. Um
Pai muito mais real e poderoso do que
qualquer pergunta que ainda ficasse
sem resposta em seu coração. Eu acho
que esse é o poder da encarnação.
Muitas pessoas vieram me falar que
“A cabana” significava mais para elas
do que a Bíblia. Isso não me torna feliz. Eu ainda acho que a melhor história
sobre o relacionamento que Deus quer
ter
conosco
está na Bíblia.
Esse livro é
muito melhor
que “A cabana”: a história
de Jesus vindo
aqui para esse
mundo, vivendo entre nós e
nos convidando para um relacionamento com
seu Pai, é cem vezes melhor do que
a de uma negra numa cabana com
Jesus e o Espírito Santo, porque a
primeira aconteceu de verdade.
Jesus realmente veio e morou
entre nós e nos convidou a conhecer seu Pai. “Venha a mim, eu estou no Pai, e o Pai está em mim”.
Essas são as palavras de João 14
(citação livre). “Naquele dia, vocês saberão que eu estou no Pai, e
que vocês estão em mim, e que eu
estou em vocês”. Através de Jesus
Cristo, nós fomos convidados a entrar num relacionamento incrível.
O Deus todo-poderoso, que fez os
céus e a terra, está nos convidando para dentro da sua vida a fim
de o podermos conhecer e sermos
transformados por Ele. Isso é o
evangelho.
Nov/2009 a Fev/2010
4
Os bastidores da vinda de Wayne Jacobsen ao Brasil
POR PAULO ROBERTO DA SILVA
A primeira vez que ouvi falar sobre
o Wayne e o seu livro foi através de um
despretensioso e-mail que um amigo, o
Maurício, enviou-me no final de julho
de 2009. Mal imaginava aonde aquelas
poucas linhas me levariam. Considerei
ler o livro em algum momento no futuro, afinal as indicações do Maurício
costumam ser muito boas. Naquela
ocasião, eu estava passando um mês no
exterior e já preocupado com a quantidade de tarefas que me aguardavam
quando retornasse ao Brasil. Assim
que cheguei em casa, o e-mail seguinte
do Maurício me sondava sobre a possibilidade de intermediar a vinda do autor para participar da nossa Conferência. Francamente fui tentado a declinar
desse pedido, pois estava chegando de
viagem, retomando o trabalho com alguns incêndios a serem apagados, e a
Neide, minha esposa, encontrava-se
na fase final da gravidez. Trazia muitas preocupações comigo, e várias coisas exigiam minha atenção. Assumir
a responsabilidade de manter contato
com o Wayne seria mais uma tarefa na
minha já tumultuada agenda. Expus ao
Maurício os meus motivos para não assumir aquela incumbência e fiquei torcendo para que ele fosse compreensivo
comigo. Para a minha alegria futura,
ele não foi tão condescendente quanto
eu gostaria. Tive que aceitar o encargo.
(Que bom!).
A primeira providência era, portanto, iniciar a leitura do livro imediatamente, para ter “autoridade moral” de
fazer contato com o autor. À medida
que fui avançando na história, sofrendo com o Jake Colsen, que ansiava por
encontrar o João na próxima esquina
e enxergar uma luz no fundo do túnel,
eu ia me identificando com cada acontecimento ao longo do livro, como se
ele não fosse uma ficção, porém uma
história real. Contatar o autor foi, por
consequência, uma agradável incumbência. Trocamos muitos e-mails e até
algumas ligações telefônicas, apesar
do curto período de tempo. Desde o
seu primeiro e-mail em 13 de agosto
até sua confirmação de disponibilidade em 16 de setembro, um aspecto
ficou muito evidente em suas respostas: ele se parecia muito com o João
do livro. Foi muito prazeroso constatar isto! Parecia que eu estava falando
com o próprio personagem João: “...
Nós podemos orar sobre uma oportu-
nidade futura de nos encontrarmos, se
esta for a vontade de Deus...”; “Vamos
orar sobre isto e ver o que o Pai vai nos
mostrar...”; “Eu ainda não recebi uma
resposta clara de Jesus sobre isto...”;
e ainda: “...Francamente eu ainda não
recebi nenhuma indicação de Deus sobre quando ir ou se talvez ir somente
em 2010... eu ainda estou aguardando
uma confirmação...” Essas eram as respostas que eu recebia do João, digo, do
Wayne.
O que começou engraçado e até
inusitado foi ficando tenso à medida
que eu não tinha dele uma resposta
definitiva sobre sua vinda ao Brasil.
Senti-me como o próprio Jake Colsen.
Quanto mais eu o pressionava, mais
claro ele deixava que não faria nada
sem uma autorização do Pai. E do lado
de cá, o Maurício também estava me
pressionando, desejoso de ter um sinal verde. Preocupado, gastei dois dias
para entender que nós estávamos pressionando a pessoa errada. A resposta
não viria do Wayne, a resposta viria de
Deus. Se era o Pai que iria dar a resposta, nós deveríamos ir até Ele. “Poxa,
como eu não pensei nisto antes?!”, falei para mim mesmo. E então orei, e
orei, e pedi também para o Maurício
mobilizar outros, pois Deus precisava
mostrar para o Wayne que Ele estava
de acordo. Quando recebi um e-mail
do Wayne sugerindo uma data, suspirei aliviado, pois Deus tinha ouvido
nossas orações. Mal sabia eu que muitas outras orações seriam necessárias a
partir daquele ponto.
O e-mail do Wayne de 7 de outubro
chegou à minha caixa de entrada carregado de preocupação: o consulado brasileiro que daria a autorização a vinda
ao Brasil estava distante de sua casa
640 km, e ele somente poderia dar início ao processo de pedido de visto após
seu retorno da viagem da África do Sul,
em 3 de novembro. O site do consulado
brasileiro alertava que o procedimento
para obtenção de visto era bem burocrático e demorava pelo menos 10 dias.
Dá-lhe oração.
Já o e-mail do dia 7 de novembro
caiu na minha caixa de entrada como
uma bomba: ele foi a prova de que as
coisas sempre podem piorar. Nele o
Wayne classificava sua primeira visita
ao consulado brasileiro como um “pesadelo” (foi exatamente este o termo
que ele usou). Sentei-me na cadeira
para continuar a leitura do relato que
de fato parecia um pesadelo. A aten-
dente do nosso consulado não havia
sido nem um pouco cordial. Na verdade, havia sido muito rude e pouco
atenciosa. Ao receber seu passaporte,
rispidamente instruiu-o a retornar no
dia 2 de dezembro, véspera da viagem
ao Brasil. Quando ele argumentou que
o site mencionava o prazo de 10 dias
para obtenção de visto, a atendente
deu uma gargalhada e, após responder grosseiramente que estavam muito
ocupados para devolver seu passaporte
em 10 dias, convidou-o a se retirar do
consulado. Wayne relatou, chocado,
que nunca havia sido tão maltratado.
A atendende havia sido grosseira e
intimidadora. Sobre sua cabeça, pregado na janela, estava um cartaz que
avisava: “Ser rude ou agressivo com
um agente oficial resultará na não concessão do seu visto”. Dá-lhe oração, e
aguenta coração!
Mas o Senhor estava no controle.
Sugeri para o Wayne que seu próximo livro fosse: “Por que você não quer
mais ir ao Brasil?”, prefaciado pelo
consulado brasileiro da Califórnia. Rimos bastante... para não chorar. Estávamos esperando um milagre de Deus.
Felizmente ele veio, para alívio de todos, na véspera da viagem, com a liberação do visto.
Encontrar Wayne no sítio em Sorocaba foi uma grande satisfação. Cheguei na sexta-feira à noite, bem tarde, e
quando adentrei o quarto, ele já estava
dormindo na parte de baixo de um beliche, a respiração pesada denunciando o quanto exausto ele estava em virtude da longa viagem. Acomodei-me
na parte superior do beliche vizinho e,
antes de cair no sono (ou será que foi
durante o sono?), ensaiei uma breve
apresentação para a manhã seguinte.
Acordei com um pulo da cama, às
8h40 da manhã, perguntando-me se o
Wayne ainda estava no quarto ou se já
havia saído. Para minha surpresa, ele
continuava dormindo. E agora? Deveria acordá-lo, eu, que sequer havia me
apresentado ainda? É claro que sim,
respondi para mim mesmo! Ao acordálo, a apresentação que ensaiei na noite
anterior não foi mais necessária, pois
me pareceu que éramos amigos de longa data. Estávamos bem à vontade um
com o outro. Conversamos algumas
amenidades, enquanto ele e eu nos
aprontávamos. Após colocar sua pequena bíblia no bolso de trás da calça,
me convidou: “Vamos?” No caminho
para o café da manhã, rimos novamente sobre a epopeia da sua vinda, sobre
a sua “fã” no consulado e outras coisas
de que não me lembro agora.
Bom, o resto é história. E ela está
devidamente registrada através deste
jornal, das fotos e do DVD que em breve você poderá adquirir. Gostaria apenas de acrescentar que o Wayne é real.
Ele está retratado em um livro de ficção, na pessoa enigmática do personagem João, mas ele é real. Eu amei estar
em contato com ele. E também me senti amado por ele. Desde o momento em
que toquei seu ombro, no beliche, até
o abraço de despedida que ele me deu
antes de iniciar a sessão de perguntas
finais do encontro, eu me senti amado.
Sim, eu fiquei muito impressionado
com o seu livro. Mas fiquei mais impressionado ainda com ele, como pessoa, como servo, como irmão. Ele exala
o amor de Deus, ele vive no amor do
Pai, ele prega o que ele vive.
Atualmente estou lendo o seu livro
“He loves me”. Estou sendo muito impactado por seu conteúdo. Ele estava
certo, este é o seu melhor livro. Já lhe
mandei um e-mail dizendo que deveria
retornar ao Brasil para expor o conteúdo deste livro para nós. Adivinha qual
foi sua resposta? “É, quem sabe o que o
Pai tem para o futuro?” Este Wayne..
Nov/2009 a Fev/2010
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Vivendo como filhos amados de Aba
A melhor apresentação do evan- do. Assim, todo o mundo saberá que a nossa própria religião. Jesus nunca
gelho que já ouvi veio da boca de um vocês são meus discípulos”. Na sequ- quis que fôssemos presos à religião,
ateu. Isso talvez surpreenda a muitos, ência da conversa, minha pergunta mesmo à cristã. Ele veio nos convidar
como, à ocasião, aconteceu comigo. não poderia ser outra: “Por que você a um relacionamento com o Pai dele,
Há cinco anos, tomei um avião em não acredita?” A resposta dele foi: “Eu por meio do qual podemos ser transLos Angeles com destino a Pittsburg. nunca vi alguém viver isso”. Ele pen- formados. Não conseguiremos de ouSentei-me perto de um homem que sava que aquilo que Jesus nos ensinou tro modo. Acreditar em qualquer coisa
trazia uma revista secular cuja capa não poderia ser real porque seus se- diferente disso nos fará fabricar novas
anunciava a história sobre o conflito guidores não conseguiram colocar em regras e criar um sistema que premie
os cristãos que melhor seguirem tais
entre cristãos e a política nos Esta- prática.
regras, distinguindo-os dos dedos Unidos. Na primeira
mais.
oportunidade, perguntei se
O problema ocorrido muito cedo
Quando as pessoas me perpoderia ler assim que ele
em nossa história cristã é que
guntam se eu sou cristão, eu
tivesse terminado. Depois
digo assim: “Depende do que
de certificar-se do meu inpassamos de pessoas que estavam
você quer dizer com cristão. Se
teresse pelo artigo, dispaencontrando amor no Pai para
você quer me perguntar se eu
rou: “Eu odeio vocês, crispratico a religião cristã, a restãos”. Eu nem havia dito a
pessoas que praticam a religião
posta é não. Eu era, mas parei
ele que era cristão, e ele já
chamada cristianismo
de fazer isso há muito tempo.
me odiava. “Por quê?”, eu
No entanto se você quer me perquis saber. Ele demonstrou
guntar se estou apaixonado por
ressentimento pelo fato de,
A única coisa que Jesus nos pediu Jesus Cristo, se quero seguir os seus
em sua opinião, os cristãos quererem
forçar as outras pessoas a viverem de foi que amássemos uns aos outros caminhos e viver como ele viveu nescomo ele nos amou. Lamentavelmen- te mundo, com certeza sou cristão”.
acordo com as crenças deles.
Travamos uma conversa de conhe- te, é a única coisa que nós realmen- Esse é o tipo de cristão que eu quero
cimento: atividades profissionais, fa- te não fizemos. Por dois mil anos de ser, alguém que se parece com Cristo
mília, origens, destino da viagem. Na história religiosa, não aprendemos a neste mundo. Não porque aprendi a
minha vez, disse que fazia todo o tipo amar uns aos outros. A igreja média me comportar direito, mas porque fui
de coisas. Nos aviões, por exemplo, ti- comum nos EUA divide-se a cada 6,6 transformado por ele.
nha o costume de me apresentar como anos. Somos conhecidos por brigar
Onde o amor começa
alguém que vagueia pelo planeta aju- entre nós, por discordar sobre o que
Tantas pessoas no mundo inteiro –
dando pessoas a entender o que real- cremos, por estarmos mais preocupamente Jesus ensinou. Ele olhou para dos com nossa doutrina do que com Europa, África do Sul, Austrália, Índia
mim um tanto assustado e perguntou amar as pessoas. Paulo nos alertou – estão ficando esgotadas pela nossa
se eu gostaria de saber o que ele, um em 1 Coríntios 13: é possível estarmos religião cristã. Leem a Bíblia, oram,
ateu que odeia cristãos, pensava sobre certos sobre tudo, mas sem amor no tentam ser justas, reúnem-se com ouo que realmente Jesus ensinou. Disse- coração, pouco ou nenhum proveito tros cristãos, lutam, mas continuam
vazias por dentro, desconfiadas de não
lhe que sim e ouvi a melhor apresen- terá nossa retidão teológica.
Jesus veio para nos tornar pesso- estarem fazendo as coisas certas. Não
tação do evangelho com que já tomara
contato em toda a minha vida: “Eu as que amam. O problema ocorrido lhes resta outra coisa senão se esforacho que Jesus nos ensinou que temos muito cedo em nossa história cristã é çarem ainda mais. O resultado final é
um Pai que nos ama mais do que sa- que passamos de pessoas que estavam esgotamento.
Mas há um outro lado bastante anibemos e que se pudéssemos entender encontrando amor no Pai para pessoisso, saberíamos como tratar uns aos as que praticam a religião chamada mador: por todas as partes do planeta,
cristianismo. Muitos de nós realmente há pessoas acordando para a paixão
outros”.
Eu fiquei boquiaberto, chocado. achamos que Jesus veio para essa ter- de viver amadas pelo Pai. Não tem
Ele quis saber o motivo do meu es- ra começar uma religião chamada cris- nada a ver com ir ou não à igreja, espanto. “Tenho ido a todas as partes do tianismo. Eu acredito que Jesus veio a teja ela constituída num prédio, numa
mundo. Já ouvi todo o tipo de pesso- esse planeta para fazer ruir no espírito casa ou numa reunião debaixo de uma
as compartilharem o evangelho, mas humano aquilo que procura o consolo árvore. O importante é conhecer o
nunca ouvi alguém dizer melhor o que falso de todas as religiões, inclusive do Pai. Sem isso, não é possível enconJesus queria dizer”. Desconfiado, ele cristianismo. Este era o propósito no trar vida com outros irmãos e irmãs
perguntou por que eu diria uma coi- livro “A cabana” (ver boxe na página nem aprender uma maneira de viver
sa daquelas. Respondi-lhe que ele ha- 3): o cuidado de não apresentar Jesus no mundo revelando a glória de Deus.
via dito exatamente o que Jesus diria. como sendo um cristão, pois quando Esse relacionamento acontece não
Contei-lhe que em sua última noite estava aqui no planeta, ele era judeu, quando estamos tentando, mas quancom os discípulos, Jesus pronunciou e não cristão. Ele não começou o cris- do não estamos tentando; quando
as seguintes palavras: “Eu vou dar a tianismo; fomos nós que o fizemos estamos simplesmente vivendo como
vocês um novo mandamento: amem com nossas tentativas humanas de to- filhos desse Pai, amando como temos
uns aos outros como eu os tenho ama- mar os ensinamentos dele e construir sido amados e então nos envolvendo
no mundo com a beleza daquilo que
ele tem feito.
Mais ou menos seis meses atrás,
recebi um telefonema de um grupo
de 24 professores universitários de
12 universidades diferentes dos EUA.
Eles tinham 2,5 milhões de dólares
para investir num estudo sobre o
amor divino. Estavam tentando criar
a base para uma nova disciplina acadêmica que envolveria, entre outras
coisas, teologia, psicologia e filosofia.
Uma vez que eu tinha colaborado em
“A cabana” e escrevi um outro livro
chamado “Ele me ama” (He loves me,
que será traduzido e lançado no Brasil
em junho de 2010 pela Ed. Sextante), eles queriam me entrevistar por
algumas horas. De saída, disseramme que a pesquisa estava baseada no
“grande mandamento”. Eu disse que
gostaria de ouvir deles qual era esse
mandamento. “Amar o Senhor teu
Deus, com todo o teu coração, alma,
força e entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo”, foi a resposta.
Ao ouvir isso, sorri e disse: “Então
esse é um estudo da Velha Aliança”.
Eles pareceram não entender, afinal
tinha sido o próprio Jesus quem havia pronunciado mais de uma vez esse
mandamento. Eu confirmei que se
tratava da Velha Aliança, a forma antiga, que Jesus veio mudar. Ou seja, o
amor não começa em nós.
Eu não saberia dizer o que significa hoje amar o Senhor Deus de todo o
coração, força, alma e entendimento.
Que pessoa já fez isso alguma vez na
vida? Foi essa a razão de Jesus deixar
um novo mandamento: não é mais alguém o amando, mas o quanto Jesus
ama cada pessoa. Como ele nos ama
(portanto o amor começa nele), devemos nos amar uns aos outros. Jesus
amava as pessoas como o Pai o amava
porque ele estava no Pai. E o Pai estava nele. Seus discípulos puderam conhecer o amor do Pai através do Filho.
Jesus pediu-lhes então que vivessem
dessa forma, que dessem a outras pessoas aquilo que estavam recebendo.
O que precisamos saber hoje é que
não podemos nem começar a amar
alguém até conhecermos o amor do
Pai. Nossa versão humana de amor
geralmente significa retribuição e está
condicionada aos benefícios que precisamos receber e oferecer para manter vivas as relações. Nosso senso de
amor humano é simplesmente uma
Nov/2009 a Fev/2010
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acomodação das nossas necessidades. Deus não nos ama porque consegue alguma coisa de nós. Ele nos ama
como eu amei a minha netinha de um
minuto. Quando olhei para Emie, antes que ela pudesse fazer alguma coisa
para mim (ela não podia falar comigo,
não podia me dar nada de que eu precisava, não podia corresponder aos
meus afetos), eu a segurei nos meus
braços e soube que a amava com todo
o meu ser.
O amor do Pai não é um compromisso dele conosco, muito menos a
vontade dele de nos mudar. O amor
do Pai simplesmente é. Não há no
mundo inteiro uma única pessoa que
ele não ame com todo o seu ser. Ele
nos amava antes mesmo que o pudéssemos conhecer. A religião não pode
fazê-lo nos amar mais. Não importa o
quanto alguém leia a Bíblia ou tente
ser um bom cristão.
Um Deus amedrontador
No entanto nós lemos a Bíblia e
pensamos que Deus é uma pessoa assustadora. Ele sempre parece nervoso
e mau, pronto a matar muita gente.
Não resta muita escolha: ou as coisas são feitas do jeito dele, ou então
vai nos tornar miseráveis. Esse não
era um Deus que valia muito a pena
conhecer, a não ser que a outra opção
fosse ir para o inferno. E, infelizmente, muitos de nós não viemos a ele
porque o amávamos, mas porque não
queríamos ir para o inferno.
O inferno não é um lugar para
onde Deus quer mandar alguém, mas
a estação final do pecado, seu ponto
culminante, seu amadurecimento. É
a destruição da nossa alma. Desde o
dia em que Adão e Eva caíram no jardim, Deus tem estado trabalhando
no mundo não para mandar pessoas
ao inferno, mas para resgatar para si
mesmo pessoas que abandonem as
ambições egoístas do seu próprio coração e venham a saber que são amadas pelo Pai de todos.
A maioria das pessoas fica muito
assustada com o Deus do Velho Testamento. Mesmo o sumo sacerdote, que
não podia entrar no santíssimo lugar
a não ser uma vez por ano e somente
depois de ter feito todos aqueles sacrifícios. O que aconteceria se entrasse
no Santo dos santos com impureza?
Ele morreria. É por isso que quando lá
estava, trazia amarrada ao tornozelo
uma corda. Caso não acertasse tudo,
morreria naquele compartimento
do tabernáculo e seria arrastado por
fe. Debaixo dessa compreensão, devemos fazer o que ele quer ou sofrer as
consequências. Eis a forma como a lei
nos controlava e impedia de fazer absurdos. Mas não era o coração do Pai.
Jesus nos chama de amigos e faz
com que nos tornemos filhos do seu
Pai. Paulo fala disso mais claramente em Romanos 8.15. No meio de um
capítulo que começa afirmando não
existir mais nenhuma condenação
para os que estão em Cristo e finaliza
garantindo que nada pode nos afastar
de seu amor, encontramos: “... não recebestes o espírito de escravidão para
viverdes, outra vez, atemorizados, mas
recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”. Algo
está mudando. Não é mais um espírito
de temor que leva à escravidão. Recebemos agora um espírito de adoção por
Não mais escravos atemoriza- meio do qual o coração clama “Aba”.
Notemos quanto poder há nisso. Não
dos
Mas o Filho veio e viveu entre eles. somos mais escravos com medo, mas
Como o Pai estava nele, era Deus mes- crianças com muita afeição no colo de
mo circulando no meio das pessoas. Aba. Aba, ou “papa”, é do que minha
Jesus não era só o lado bom de Deus. neta Amie me chamou quando tinha
De acordo com Hebreus 1, Jesus era um ano de idade. E do que a pequena
Lenzie, mia exata
nha outra
represenneta, agora
tação da
me chama.
natureza
Se nós entendermos quem é o Pai,
É isso que
do Pai.
seremos a igreja no mundo. Em
Paulo está
Ele não
qualquer lugar em que irmãos
falando em
era Deus
Romanos
tentando
e irmãs vivem o amor, a igreja
8.15. Jesus
ser agraacontece
veio à terdável. Ele
ra para que
era como
não fôsseDeus é,
de verdade, como visto no Filho. Essa mos mais servos aterrorizados de um
imagem parece não se coadunar com rei, mas filhos, objetos da afeição do
a de Deus no Velho Testamento. Por Aba. E isso não é uma conclusão intenós não o termos compreendido, ele lectual. Paulo disse que é um espírito
precisou ser revelado no Filho. Por de adoção por meio do qual nosso coisso Jesus, no dia da sua ressurreição, ração clama.
Para a maioria de nós, talvez a
anda com dois discípulos para Emaús
e percorre todas as escrituras para maior experiência que tivemos nesse
lhes mostrar como o Filho estava sen- sentido foi no dia em que nos encontramos com ele, o primeiro dia em que
do revelado no Velho Testamento.
Com a vinda de Cristo, a linguagem lhe abrimos o coração. Sabíamos que
muda. Não se trata mais de realeza e ele nos amava como éramos e não preescravidão. Não é o mestre e o senhor cisávamos fazer nada para merecer. E
dos escravos. Agora nós temos os ter- naquela fase nem éramos crentes muimos de afeição. Jesus começa isso. to bons: ainda não sabíamos ir para a
“Eu não mais vos chamo escravos” igreja, ler a Bíblia ou discernir o que
(João 15.15). Mas Jesus alguma vez os era ou não pecado. A única coisa que
chamou de escravos ou servos? Nada sabíamos era que o Pai tinha vindo
é registrado a esse respeito. Tenho a para nós e nos tornado seus filhos. Ele
impressão de que ele está falando de nos amava tanto e perdoara todos os
uma coisa maior. Por toda a história nossos pecados sem que precisásseda humanidade, temos pensado em mos fazer nada para merecer. Como
nós mesmos como escravos e, conse- era maravilhoso!
quentemente, em Deus como um cheaqueles que o estivessem esperando
do lado de fora. Esse é o Deus que queremos conhecer? Esse é o Deus que
desejamos encontrar quando acordamos de manhã? Esse é o Deus que parece apaixonado por nós?
Jesus veio falando de seu Pai de
uma forma bem diferente. Porém ele
sabia que as pessoas – acostumadas a
conceberem não um Deus agindo com
amor para preservar um povo para a
vinda do seu filho, mas alguém sempre pronto a castigar – teriam muita
dificuldade para acreditar num Pai
como o estava descrevendo. Jesus
sabia tudo sobre o Velho Testamento
e como isso teria tornado Deus amedrontador para elas. Certamente não
era um Deus que um pescador pudesse conhecer.
Quando o primeiro amor está
presente, a igreja acontece
Mas com o passar do tempo, começaram a nos ensinar como sermos
bons cristãos, e então passamos a nos
esforçar. Logo desviamos o foco, perdemos a alegria, abandonamos o espírito de adoção. Passamos a ser filhos
que “trabalham duro” para que o Pai
os aprove.
Em Apocalipse 2, quando escreve
para a igreja em Éfeso, Jesus diz: “Vocês têm toda a sua doutrina, desenvolveram tudo o que é a verdade. Sabem
claramente o que é um erro e se apartam daqueles que ensinam as coisas
erradas, mas eu tenho isto contra vocês: perderam o seu primeiro amor”.
Esse texto nos deixa condenados. A
reação imediata é: “Temos que fazer
alguma coisa”. Mas Jesus não está falando sobre isso. O primeiro amor não
é o quanto nós amamos a Deus, e sim o
quanto ele nos ama. “Nisto consiste o
amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou
e enviou o seu Filho como propiciação
pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10).
Primeiro amor não é fazermos de
conta que amamos a Deus do jeito
como o amávamos no início. Primeiro amor é achar o nosso caminho de
volta para Aba. É entender que essa
jornada começa no amor do Pai e nos
convida para uma permanência nesse
amor todos os dias. Esse amor é tudo
de que precisamos para podermos ser
filhos dele aqui na terra. É como ele
nos toca. É como ele nos muda. Vivemos transformados no poder desse
amor que começa nele. É isso o que
perdemos.
Cresci como um jovem cristão muito esforçado. A maioria das coisas que
me ensinaram eram corretas. Eu tinha
boa doutrina, era um cara bem disciplinado. Como queria ser um ministro,
entrei no ministério de tempo integral
e fui aprender a Bíblia na faculdade.
Logo me tornei um pastor e assim
vivi por 20 anos. E eu dei duro. Não
era um falsário. Mas de alguma forma
perdi o amor do Pai no coração. Então
eu procurava melhores maneiras para
fazer a igreja acontecer, acreditando
que certamente o problema estava na
igreja, no jeito de nos reunirmos.
Acreditamos que se apenas consertarmos a igreja, vamos torná-la melhor. Ficamos tão focalizados na igreja que desviamos a atenção do amor
do Pai revelado na vida do Filho. Em
qualquer lugar em que irmãos e irmãs
vivem o amor, a igreja acontece. O
Nov/2009 a Fev/2010
contrário também é verdadeiro: onde carro ou debaixo de uma árvore –, para o inferno se o fizesse. Eu era um
o amor não está presente, não impor- Deus se faz conhecido, e a igreja co- cara bom: os meninos usavam drogas, e eu não; meus colegas estavam
ta o que façamos, teremos uma igreja meça a se expressar no mundo.
no sexo, e eu esperando o casamento.
nominal, não a vida de Deus.
A religião do temor e a vida de Eu agia assim não porque amasse a
Jesus está nos convidando para viDeus, mas porque tinha medo do que
afeição no Pai
vermos novamente dentro do amor do
Em sua primeira carta, João segue ele faria comigo se o desobedecesse.
Pai. Quando vivemos sendo amados
pelo Pai, vamos amar todas as cone- dizendo: “Deus é amor”. Deus não tem Por isso sempre vivia com certa inxões que se dão entre irmãos e irmãs. amor, ele é o próprio amor. Ele ama veja dos outros, de como conseguiam
Teremos pessoas com quem andar e porque é a natureza dele. Na sequên- viver em pecado. Mas não deixava de
compartilhar o modo como Jesus está cia, lemos: “O perfeito amor lança fora pensar: “Um dia ainda vão ser castigase revelando. Juntos encontraremos o medo porque medo tem a ver com dos”. Então, nos anos 70, na Califórmeios para amar as pessoas do mundo castigo, e aquele que teme não pode nia, Deus derramou o Espírito Santo
e convidá-las para o amor do Pai, não ser aperfeiçoado no amor” (1 João sobre os hippies. Chamávamos o mo4.18). A religião prospera onde há te- vimento de “Jesus People”. Todas espara a igreja ou reunião.
O livro “Por que você não quer mor do Senhor. Sob essa influência, sas pessoas que estavam no sexo, nas
mais ir à igreja?”, se bem o notamos, temos que fazer o bem porque Deus drogas agora tinham Jesus. E eu não
não é sobre a igreja. É sobre um ho- é santo e vive com raiva dos nossos fiquei feliz. Eu pensei: “Isso não é cermem que perdeu seu relacionamento pecados. E se nós não formos santos, to. Sexo, drogas e Jesus. Eu só ganhei
com Jesus e recebeu um convite para Deus tem que nos castigar. Eu apren- Jesus”. Hoje eu não mais me sinto asvoltar a esse relacionamento. Quando di isso desde pequeno. Acreditava que sim. O temor do Senhor me protegeu,
começou a viver amado, passou a vi- isso era o evangelho. Que boa notícia guardou-me de coisas de que mais tarver diferentemente no mundo. As coi- é esta: “Deus é santo, ele está nervo- de me arrependeria. Mas o temor do
so; esforce-se mais ou seja castigado”? Senhor não me tornou santo: eu era
sas velhas não cabiam mais.
orgulhoso e julgador daqueles que não
A religião só faz sentido para pes- Isso não é o evangelho.
estavam agindo como eu. Não
soas que querem conhecer a
me deu o coração do Pai para
Deus e pensam que podem
Uma vez que conhecemos o amor
o mundo. Antes, transformoufazer pelo seu próprio esfordo Pai, não vamos precisar mais
me no irmão mais velho da paço. Religião é sempre sobre
rábola do filho pródigo.
o que podemos fazer, sobre
do temor. O amor do Pai vai nos
Aquele irmão mais velho
como nos tornamos melholevar, na vida de Deus, além do
não ficou feliz quando o irmão
res. Eu tenho um bom amigo
mais novo chegou. Como era
cuja esposa morreu de câncer
que qualquer medida de temor
possível, depois de ter desperpoucos anos antes de eu o
possa fazer
diçado o dinheiro do pai com
conhecer. Ele vive atualmenprostitutas, voltar para casa
te em Chicago. Alguns anos
João diz a nós: o perfeito amor lan- e ainda receber uma festa de boasatrás, eu estava passando por lá e recebi um convite para ficar o dia com ça fora o medo. Aquele que teme não vindas com direito a bezerro cevado
ele. Depois do jantar, suas duas filhas é aperfeiçoado no amor. Mas não es- e participação dos amigos? O irmão
saíram para uma reunião de jovens na taria isso em contradição com escritu- mais velho ficou nervoso. Disse ao pai
igreja, e aproveitamos para ter uma ras tais qual “O temor do Senhor é o que em todos aqueles anos tinha viboa conversa. Ele pôde falar dos seus princípio da sabedoria”? Davi e Salo- vido como um escravo e nunca tivera
ressentimentos com Deus pela perda mão escreveram isso. Está na Bíblia. como recompensa sequer um bezerro
da esposa. O Pai veio ao nosso encon- É, portanto, verdade. Sim, o temor do para festejar com os amigos. Ele desetro naqueles momentos. Um pouco Senhor é o início da sabedoria. Mas java ver o irmão gastador sendo castimais tarde, as filhas voltaram e foram não é o fim. Se não amamos a Deus, gado. O pecado dele tinha que ter coninterpeladas pelo pai que queria saber é bem aconselhável que o temamos. sequências. O pai não podia premiar
como tinha sido a reunião daquela Mas o que João está dizendo é: uma aquele tipo de comportamento.
Mas o pai não castiga o filho. O
noite. Uma delas voltou-se e respon- vez que conhecemos o amor do Pai,
deu: “Oh, pai, você sabe: a mesma não vamos precisar mais do temor. O jovem está voltando para casa arrecoisa de sempre: Deus é bom, você é amor do Pai vai nos levar, na vida de pendido, julgando-se indigno de ser
Deus, além do que qualquer medida recebido como filho. Pede para ser
ruim, tente mais”.
tratado como escravo, mas o pai não
Isso é religião. Quando vivemos na de temor possa fazer.
Em termos humanos, isso é mui- dá ouvidos às justificativas que lhe são
religião, nós morremos. Com o evangelho é diferente: somos amados in- to difícil de captar porque reagimos apresentadas. No momento em que
condicionalmente pelo Pai. Quando bem melhor com o temor do que com vê o filho, quando este ainda está disaprendermos isso, saberemos tratar o amor. Nós aprendemos medo em tante, vai correndo em direção a ele e
as pessoas ao redor. É a isso que Deus lugar do amor: medo da lei, medo envolve-o num abraço afetuoso. Em
está nos convidando nestes dias. Se, de consequências. Medo é o que nos seguida, dá ordens para que uma festa
como igreja, estamos compartilhando mantém controlados. Eu fui criado na seja preparada.
O irmão mais velho nesta parábola
religião – não importa se num prédio, Califórnia na década de 60. Aqueles
se numa casa –, vamos matar uns aos eram os dias dos hippies. Valia tudo. está tão perdido quanto o mais novo.
outros. Mas quando somos irmãos e Cresci no meio disso como um meni- Ele é aquele que ficou na religião. Trairmãs, vivendo esse amor inacreditá- no fariseu. Não praticava as mesmas balhava como escravo na fazenda, mas
vel do Pai – numa casa, prédio, avião, coisas que eles porque sabia que iria sem paixão pelo pai. Tanto que no dia
7
mais feliz da vida desse pai, não podia
compartilhar da sua alegria. O filho
estava nervoso e queria que o irmão
fosse castigado.
O pai dessa história é Deus. Ele
está rindo à toa e diz ao filho mais velho: “Tudo o que eu tenho é seu”. O
coração extravagante do amor do Pai
vai nos mudar de uma maneira que o
temor não pode fazer. É por isso que
João está dizendo que aquele que
teme não pode ser aperfeiçoado no
amor. A morte de Jesus na cruz resolveu o problema desse medo constante
de consequências para que agora pudéssemos viver num relacionamento
de amor com o Pai.
É o amor, e não o temor, que nos
leva à santidade. Em Gálatas 5, Paulo nos diz que o amor cumpre toda a
lei. Como Jesus cumpriu a lei quando
esteve aqui? Será que estudou todas
as regras do Velho Testamento? Não,
ele viveu no amor do Pai. Não vamos
pecar quando amamos. O amor tira
o lugar do pecado. Aquele que ama é
aperfeiçoado.
Deixamos de viver o amor
quando decidimos edificar a
igreja
Foi isso o que comecei a descobrir
há 15 anos e que mudou a minha vida.
Quando a editora no Brasil queria publicar “Por que você não quer mais ir à
igreja?”, eu pedi que traduzissem “Ele
me ama – aprendendo a viver na afeição do Pai”. Este é o melhor livro que
já escrevi. É a história da minha transformação, de um escravo dominado
pelo medo para um filho que ama o
Aba.
Se nós entendermos quem é o Pai,
seremos a igreja no mundo. Jesus só
usou a palavra igreja duas vezes. Basicamente, o que ele disse sobre a igreja
é o seguinte: “eu construirei”. “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela”.
De alguma forma, nós traduzimos isso
para significar algo como: “Por favor,
vá edificar a minha igreja”. Por dois
mil anos, estamos tentando construir
a igreja. Quando queremos construir
a igreja, não estamos vivendo o amor.
Eu fiz isso por vinte anos até descobrir que não era serviço para mim. Eu
deveria viver sendo amado e amando,
proclamando o evangelho onde quer
que estivesse, ajudando pessoas a conhecerem o Pai. Tudo o que Deus quer
fazer em nós vem de viver o amor. Se
nós vivermos assim, a igreja de Jesus
Cristo vai aparecer na terra de algumas formas inacreditáveis.
Nov/2009 a Fev/2010
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?!? Perguntas
& Respostas
Sobre a mensagem “Vivendo como filhos amados de Aba”
CONFERENCISTA: E se eu não me sentir amado? Eu sei na minha mente que sou
amado por Deus e talvez até tenha vivido
momentos em que ele revelou a mim o seu
amor, mas não sinto isso hoje, não estou vivendo nisso hoje. O que eu faço?
WAYNE: O amor não é um sentimento. Não
importa se você se sente ou não amado pelo Pai.
Você é amado. Acreditar ou não nisso não muda o
fato.
Uma das perguntas mais frequentes que fazem
a mim é: “Como eu pego aquilo que está na minha
cabeça e coloco no coração?”. Do Iluminismo para
cá, já são quase 400 anos em que o homem moderno procura considerar o intelecto como senhor. O
nosso raciocínio é uma parte muito importante da
pessoa que Deus criou, mas pode nos enganar. A
mesma coisa pode ser dita das nossas emoções. Em
Romanos 5, Paulo escreve sobre o amor de Deus,
que foi derramado no coração pelo Espírito Santo. Ele não está se referindo ao coração físico, mas
ao cerne do nosso ser, a quem nós somos. O seu
coração já sabe que você é amado, mas a razão começa a discutir: “Não, eu não. Eu não sou suficientemente espiritual. Eu ainda luto com o pecado, eu
ainda tenho dificuldades com dúvidas. Como é que
Deus pode me amar?” E a nossa mente acaba nos
convencendo de que não merecemos o amor que o
coração já conhece que é verdade.
Se nós queremos crescer nessa experiência de
viver como pessoas amadas, vamos ter que viver a
partir do coração, e não baseados na nossa mente.
Teremos que permitir que o coração informe o intelecto ao invés de tentar fazer a cabeça convencer
o coração. A cabeça convencer o coração depende
de nós. E será que ainda não notamos que não temos o poder de mudar a nós mesmos? No máximo,
conseguimos melhorar por um tempo o comportamento quando nos empenhamos um pouco mais.
A essência de Jesus ter vindo significa o seguinte: você não tem o poder de se transformar. Se tivesse, ele não precisaria ter vindo. Mas de alguma
forma a religião continua insistindo: “depende de
você, basta ser bom cristão”. Tudo se resume a fazer algumas coisas e deixar de fazer outras. Somos
convencidos de que temos que nos esforçar para
fazer o que é certo.
Com Jesus, a proposta é outra: ele quer que você
ame como foi amado. Mas a transformação acontece dentro de você, não porque obtém sucesso ao
tentar ser bom, mas porque aprendeu a viver como
uma pessoa amada. E aprender a viver como uma
pessoa amada é o que Deus faz em você, não o que
você faz por ele. Você não precisa tentar viver como
uma pessoa amada. A única coisa que pode fazer,
quantas vezes você quiser, quantas vezes pensar
nisso, é pedir: “Pai, eu quero conhecer o teu amor.
Pai, mostra o teu amor por mim de uma forma que
eu possa entender”. Não se trata de uma fórmula
mágica para repetir, mas de entrar em contato com
o verdadeiro clamor que está no seu coração. Deus
conquista esse espaço de maneiras muito diferentes. Pode ser através das palavras de um irmão ou
de uma irmã, de alguma coisa que você leia na bíblia ou num outro livro. Pode ser por meio de alguma coisa que esteja ouvindo na televisão, no rádio.
De repente, Deus começa a lhe mostrar que você é
amado.
Desde o jardim do Éden, fomos criados para
conhecer e falar a linguagem do amor, mas a queda roubou isso de nós. Ao invés de confiar no Pai,
Adão e Eva correram para se esconder. “Não é mais
seguro ficar perto de Deus. Ele está irado. Nós estragamos tudo”, eles pensavam. É mais fácil acre-
ditar na voz que diz: “Você não está se
empenhando suficientemente, eu não
amo você” do que naquela que vem de
Deus: “Eu sou louco por você. Eu amo
você. Você é meu filho, minha filha,
você é o meu prazer”.
Ele falou isso no seu coração, você
sabe que é verdade. Mas então você
se perde numa circunstância e passa
a pensar que Deus só o ama quando
você merece. Se o amor é alguma coisa que você pode ganhar por mérito,
então o amor é uma coisa que você
pode perder. Mas não há como perder
o amor desse Pai.
O pai do filho pródigo não ama menos o seu filho quando este está desperdiçando a herança com as meretrizes. Eu creio que a parábola nos ensina o seguinte: o amor do Pai é a única
coisa constante no universo inteiro.
Este Pai é amor, ele ama você especialmente. Não é porque ele ama todos os humanos,
e você, por ser humano, acaba obrigatoriamente
entrando no pacote. Não é assim. Deus ama você
no singular. O espírito de adoção que clama “Aba”
é a sua realidade, e Deus quer que você saiba disso
e viva isso. Aprender essa realidade é uma jornada
de uma vida inteira. Não é um botão “liga-desliga”.
Antes de “A cabana” entrar na minha vida, eu
estava trabalhando num livro chamado “A jornada
em Deus”. Estávamos chamando-o de “o livro antidiscipulado”, pois ele não dava receitas de como
construir um relacionamento com Deus. Esse livro
é sobre como reconhecer Deus edificando um relacionamento com você. E é isso que tem que mudar
na nossa maneira de pensar. Viver como uma pessoa amada não é o que eu ganho por mérito. É um
dom que Deus nos dá. Se eu tivesse uma criança de
dois anos aqui, a minha netinha Lenzie, por exemplo, e quisesse ter um relacionamento com ela, eu
teria que fazer todo o trabalho para isso acontecer.
Eu tenho que entrar no mundo dela, brincar com
princesas e tartarugas e ler livrinhos para ela que
me dão um enfado terrível. Eu tenho que envolvêla, ensinar-lhe uma nova linguagem, participar da
sua vida. Só então ela vai crescer e entrar nessa realidade. Se isso é verdade para mim e uma criancinha de dois anos, quanto mais entre o Deus eterno
e a humanidade caída.
Deus tem que me ensinar a falar a linguagem
dele, a viver como uma pessoa amada. Ele precisa consertar todos os circuitos quebrados na minha maneira de pensar que me fazem considerar
a mim mesmo uma pessoa não amada. Isso é uma
jornada, pode levar meses, às vezes anos, mas ele
conquista isso em meu coração pela obra de Jesus.
Nov/2009 a Fev/2010
C.: Como você vê a realidade de Atos 5,
o conhecido texto de como Deus julgou de
forma dura a Ananias e Safira? Três horas
depois da morte de Ananias, com tempo
suficiente para refletir sobre o ocorrido e
amar Safira, preferindo apenas exortá-la,
Pedro mantém a posição inicial, e ela é julgada por Deus ali.
W.: Sempre que falo sobre o amor de Deus, eu
ouço essa pergunta. Parece que temos uma facilidade maior para estar em contato com as escrituras que tratam do temor do que com aquelas sobre
o amor. Tudo o que Jesus fez para nos conquistar
para um relacionamento de amor, tudo o que ele
disse sobre ser nosso amigo parece se desvanecer
diante de um incidente que provocou a morte de
duas pessoas e deixou a igreja atemorizada. Mas
isso não anula o que o restante do Novo Testamento traz. Tampouco significa que Ananias e Safira
eram odiados. Eles eram amados por Deus. E não
foi Pedro quem os matou; o Espírito Santo foi responsável por isso.
Billy Graham disse o seguinte: “Se Deus não começar a matar mais cristãos, ele vai ter que pedir
desculpas a Ananias e Safira”. Podemos brincar
com o fato, mas as escrituras não dizem por que
isso aconteceu. O Espírito Santo tratou com a situação daquela forma. Nós presumimos, por causa
do que aprendemos na religião, que Deus tem uma
personalidade esquizofrênica. Há escrituras que
parecem revelar Deus como um juiz irado, matando pessoas o tempo inteiro. Como isso se compatibiliza com outras passagens que falam sobre AbaPai? A religião resolveu da seguinte forma: Deus é
amoroso, mas ele fica irado às vezes. O tipo de relacionamento que vamos receber depende de nós.
Se formos bonzinhos, teremos o Deus amoroso;
se procedermos mal, seremos surpreendidos por
um Deus pronto a açoitar-nos até que retornemos
ao amor. É, no mínimo, contraditório. Deus não é
amoroso às vezes; Deus é amor o tempo inteiro.
Não lemos que o que aconteceu em Atos 5 foi
a ira de Deus; somente que Ananias e Safira venderam um pedaço de terra e iam ofertar todo o dinheiro para a igreja. Não foi o que fizeram, embora
tenham levado as pessoas a acreditarem dessa forma. Eles deram até uma boa parte, mas guardaram
o restante. Será que alguém, além de mim, já fez
alguma coisa pior do que isso? Se é Deus matando
as pessoas porque mentiram, todos nós já teríamos
morrido. Não é isso.
Havia algo acontecendo na história desse novo
grupo de cristãos: eles iam viver juntos como um
povo. Havia uma grande generosidade entre eles:
estavam vendendo as propriedades para ajudar as
pessoas que estavam em necessidade. Era um quadro lindo da graça de Deus. Ananias e Safira parecem ter sido os primeiros a contaminarem algo
que Deus queria muito preservar. Mais tarde, isso
seria inevitável, mas, de alguma forma, Deus queria que aqueles cristãos primitivos soubessem que
não precisavam fingir para fazer parte do corpo de
Cristo.
Pedro chegou até a dizer ao casal que a pro-
9
priedade era deles, nem precisavam vender; mas,
se vendessem, não precisavam dar tudo. Eles não
estavam quebrando regras. Não era Deus exigindo
que dessem tudo o que tinham. Eles poderiam dispor do campo como quisessem.
A forma de Deus resolver a situação foi chamando-os para casa. A morte não era o castigo. Um dia
todos nós vamos morrer e comprovar que a vida
para sempre com Deus é muito melhor do que
qualquer coisa que nós tivemos aqui. Nós pensamos que a morte do casal foi castigo. Eu penso diferente: era uma lição para que todos vissem que o
fingimento é a coisa que mais causa dano ao corpo
de Cristo. Se diante de um outro irmão precisamos
fingir alguma coisa que não somos, acabamos contribuindo para destruir a vida no corpo. E a religião tem tudo a ver com fingimento: vamos para a
igreja e colocamos as melhores roupas; as pessoas
perguntam como nós estamos, e dizemos que tudo
está maravilhoso; ninguém na igreja nunca tem pecado ou dúvidas, cobiças, fofocas, lascívias. Sempre fazemos de conta que somos melhores do que
realmente somos. Depois queremos saber por que
não temos verdadeira comunhão.
Não perdemos a vitalidade
do corpo de Cristo porque
saímos dos lares e estamos
nos reunindo em prédios,
mas porque saímos da
autenticidade de um
relacionamento e adotamos o
fingimento da religião
Ananias e Safira foram as primeiras pessoas que
fingiram no corpo de Cristo. E Deus falou assim:
“Com licença, eu vou usá-los para ensinar uma lição aos demais”. Talvez a morte deles tenha sido o
seu ministério, a sua contribuição. Uma vez que começamos a fazer de conta, não podemos ser amados. Se alguém que convive comigo finge ser alguma coisa que não é, eu não consigo amá-lo. Eu só
estou amando aquele produto da sua imaginação.
É por isso que nós perdemos a vitalidade do
corpo de Cristo. Não é porque saímos dos lares e
estamos nos reunindo em prédios. É porque nós
saímos da autenticidade de um relacionamento e
adotamos o fingimento da religião. Lembrem-se de
que Jesus falou para os discípulos fugirem da hipocrisia dos fariseus.
Foi uma grande lição que Deus quis ensinar. Eu
não acho que foi castigo pelo pecado porque não
era o que Jesus fez. Veja como ele tratou a mulher
que foi pega em adultério. Era um pecado pior do
que vender a propriedade, trazer a maior parte do
dinheiro e depois mentir sobre isso. Parece para
nós uma coisa pequena, mas Deus sabia que era
preciso tratar com isso. E não significa que não
amasse Ananias e Safira. Quando você for para
casa, irá descobrir que não morreu no dia em que
Deus não amava mais você. Nós vamos viver no
amor do Pai, morrer no amor do Pai e ressuscitar
no amor do Pai.
C.: Quais prejuízos as estruturas teriam
se hoje começássemos a andar no amor
verdadeiro de Deus? O que você pensa que
aconteceria?
W.: Eu acho que nós precisamos descobrir isso.
Com certeza, iria implodir um monte de coisas. Se
estamos começando a conhecer o Pai pelo Filho,
não fazem mais sentido todos aqueles sermões e rituais. Para que ir à igreja se o objetivo deixa de ser
tentar consertar o que está quebrado? Não é isso o
que estamos fazendo sempre?
Eu acredito que a nossa vida ia começar a se parecer bem mais com a dos irmãos da igreja de Atos:
passaríamos a querer compartilhar a vida de Cristo com outros, ajudaríamos pessoas que precisam
de ajuda e deixaríamos de ficar constrangidos de
sermos socorridos pelos irmãos. Quase nem conseguimos descrever o que a igreja deles parecia.
Sabemos que não tinham prédios e que se reuniam
nas casas durante as refeições, que era bem mais
divertido fazê-lo, não uma obrigação, e que achavam a vida de comunidade irresistível.
A religião é forte porque se vale da necessidade
de aprovação das pessoas. Segundo Dallas Willard,
autor de “A conspiração divina”, esse sistema administra nossa culpa e vergonha. Mas a comunidade do povo de Deus não está administrando nada
disso, não procura explorar a vergonha e a culpa de
ninguém. Está, antes, interessada em que as pessoas vivam de forma autêntica, real. E isso provavelmente vai estourar muitas de nossas estruturas.
Talvez não todas.
Eu visito congregações que se reúnem em prédios, de maneira tradicional, mas que estão realmente querendo viver o amor e já dão sinais de que
estão crescendo nisso. E à medida que alguns desses grupos começarem a viver o amor, passarão a
questionar por que fazem tantas coisas e deixarão
de ver sentido na maioria delas, embora continuem
a viver como irmãos e irmãs.
Eu conheço um grupo em Dublin, na Irlanda,
cujas pessoas, há quarenta anos, decidiram não
mais viver como uma igreja tradicional, mas apenas
como irmãos e irmãs. Desde então têm convivido
nas casas, às vezes saem de férias juntos, celebram
aniversários. Hoje muitos deles são pais e avós;
seus filhos e netos cresceram nisso. Formam um
grupo maravilhoso de cerca de 400 pessoas, uma
comunidade de relacionamento. A reunião de toda
a comunidade acontece à medida que Deus orienta, nunca mais do que uma vez a cada dois anos. No
entanto, em grupos menores, estão sempre juntos
nas casas uns dos outros, orando, encorajando-se,
amando-se, ensinando, crescendo.
Se vivermos o amor, provavelmente explodirá
tudo mesmo, mas qualquer pessoa que sobrevive a
essa explosão, nunca se arrepende. Essa é a minha
experiência: meus piores dias agora, vivendo dessa
forma, são cem vezes melhores do que os meus melhores dias na religião.
Nov/2009 a Fev/2010
10
A cruz como cura, não como castigo
Eis o que tem sido ensinado sobre
a cruz por toda a história do cristianismo: uma vez que os nossos pecados
ofenderam sua santidade, Deus precisa necessariamente castigar alguém.
Mas ele tem um grande plano: punir
o seu filho em nosso lugar. Se esta é a
única chance que temos para sermos
amigos de Deus, o que esta solução
nos diz sobre ele?
Imagine que dias depois de eu ter
feito um amigo, essa pessoa me causasse algum prejuízo material, tal
como danificar meu lap top e, não
satisfeita, passasse a me insultar e espalhar mentiras sobre mim. Imagine
também que, arrependida, esta pessoa
me procurasse para pedir que a desculpasse. Tendo já bolado um plano,
começo, então, a lhe dizer: “Eu gostaria muito de perdoar-lhe, mas tenho
que satisfazer a minha justiça primeiro. Acumulei muita raiva por causa do
seu pecado, mas não se preocupe: ao
invés de descontar a minha raiva em
você, irei até a minha casa, tomarei
meu filho de 29 anos e, de posse de
uma grande vara, eu o açoitarei até à
morte por causa do seu pecado. Estou
decidido: vou matar o meu filho em
seu lugar. Depois, eu irei à sua procura, e nós poderemos ser bons amigos”.
Quem iria querer ser meu amigo? Eu
acho que nenhuma pessoa honesta
concordaria em ser amiga de alguém
assim, pois pensaria que existe alguma coisa seriamente errada comigo.
Recebi recentemente um vídeo elaborado por um ateu cujas intenções
de zombar dos cristãos eram claras.
Trata-se de um cartoon de Jesus sentado no céu ao lado dos anjos. “Eu tenho um novo e grande plano”, Jesus
anuncia. “Quantas pessoas vão ter que
morrer dessa vez?”, os anjos ironizam.
Mas Jesus responde que ninguém
terá que morrer, pois ele mesmo está
prestes a ir para a terra e salvar os homens. “Eu vou oferecer um sacrifício
para me aplacar, e a melhor coisa sobre este sacrifício é que vou sacrificar
a mim mesmo para aplacar a minha
ira”. Sem entender, um dos anjos diz:
“Isso não faz sentido”.
Como Deus mata a si mesmo para
aplacar a própria ira? Ora, foi o que
aprendemos sobre a cruz. O que isso
fala sobre o Deus que nós amamos?
Se a única maneira de Deus nos salvar
é matando seu filho, talvez até aceitemos, afinal não queremos ir para o
inferno, mas dificilmente deixaremos
de ficar desconfiados. Nossa adesão
acaba se dando pelo medo; não há
afeição envolvida, pois Deus é muito
amedrontador. Ah, sim, ele também
é santo, mas está nervoso, e quando
isso acontece, ele mata tudo o que vê
pela frente. Eu não quero que ele me
mate, então vou aceitar a salvação.
Mas um Deus assim não é uma pessoa
que queremos conhecer.
E pedia constantemente a Deus que
me conduzisse à verdade.
Se a religião tem mentido para nós
sobre muitas coisas, por que não mentiria também sobre a cruz? Pode ter
distorcido essa mensagem, como fez
com muitas outras, a fim de poder nos
controlar com o temor de Deus, em
vez de nos liberar para viver no amor
dele. Precisamos reexaminar as escrituras e verificar se a cruz é sobre o Pai
castigando o Filho em nosso lugar ou
sobre seu desejo de curar algo em nós
que nos separava dele.
O início da nova jornada
Com a idade de 42, depois de passar 20 anos na religião, estava na
Austrália, onde deveria falar num
Com medo de Deus
acampamento. Dois outros irmãos
Existem duas maneiras de ver a
ministraram nos
cruz: uma de10 primeiros dias.
las é conhecida
Quando me pegacomo a visão de
Se a religião tem mentido aplacar Deus:
ram no aeroporto
e estávamos indo
Jesus teve que
para nós sobre muitas
para o acampamorrer
para
coisas, por que não
mento, quis saber
satisfazer a ira
mentiria também sobre a de Deus. Esta é
sobre o que esses
irmãos estiveram
a teoria da procruz?
falando no início
piciação, que
do retiro. O orgacoloca
Jesus
nizador do evento estava maravilha- morrendo para Deus. Mas Jesus não
do: o assunto tinha sido a cruz. Com a morreu para Deus. Em nenhum lugar
minha boca, eu disse: “Oh, a cruz, que da Bíblia, temos que Jesus morreu
maravilha!” Mas na minha mente, eu para o Pai. Por quem morreu então?
refletia: “Como isso pode ser emocio- Jesus morreu por nós. Ele não morreu
nante?” Isso é para mostrar o quanto para satisfazer alguma coisa em Deus,
eu era arrogante.
mas para satisfazer alguma coisa em
Cheguei ao acampamento a tempo nós.
de acompanhar um resumo do que
A religião nos ensinou que Deus
aqueles irmãos estiveram comparti- não pode olhar para o pecado, porlhando sobre a cruz naqueles 10 dias. tanto virou as costas para ele, e que
Virei-me para minha esposa e disse- Jesus teve que morrer para que Deus
lhe: “Nós nunca ouvimos isso antes, pudesse nos olhar através do filho
nunca vimos a cruz dessa forma”. Ao dele e nos amar. Isso vai contra tanprimeiro contato, algo em meu cora- tas escrituras. “Deus amou o mundo
ção disse: “Isso é verdade”. Mas mi- de tal maneira que enviou seu Filho
nha mente relutava: “Não há como ser ao mundo...” é um exemplo. Jesus não
verdade”.
morreu para que Deus nos amasse.
Como foi possível crescer numa Deus já nos amava. Sempre nos amou.
igreja e ser treinado numa faculdade Sempre nos amará. Essa é uma consque crê na Bíblia, pastorear por 20 tante no universo: esse Pai tem grananos e nunca ouvir sobre o que acon- de afeição por nós.
teceu entre o Pai e o Filho na cruz?
Quando Adão e Eva caíram no jarPassei a tarde com um dos preleto- dim, não foi Deus que se afastou deles.
res e pedi que compartilhasse comi- Eles é que fugiram de Deus porque tigo tudo o que sabia sobre o assunto. nham feito o que Deus proibira. A priFiz muitas anotações e voltei para meira evidência do pecado na vida de
casa dizendo: “Deus, isso é verdade. Adão e Eva foi o fato de eles ficarem
Eu quero conhecer”. Meu coração já envergonhados da própria nudez, a
sabia, mas minha mente não. E nos ponto de terem que se cobrir com fopróximos seis meses, li tudo o que as lhas de figueira. Estar nus no jardim
escrituras descreviam sobre a encar- não era pecado antes nem depois da
nação, a crucificação e a ressurreição. queda. O fato é que não se sentiam
mais seguros, por isso precisavam se
esconder.
Ao entardecer, quando vem para
andar com o casal no jardim, Deus
já sabe do ocorrido. Adão e Eva escondem-se nos arbustos. Não podem
encarar Deus porque a vergonha deles faz com que não se sintam aceitos.
Deus não os tinha rejeitado. Eles é
que tinham rejeitado a Deus. Eles não
mais se sentiam seguros na presença
de Deus. É isso o que vemos durante todo o Velho Testamento: quando
Deus aparece, as pessoas escondem-se
de medo. Deus se aproxima no Monte
Sinai, e as pessoas ficam apavoradas
e pedem a Moisés que as represente
diante dele. Isaías tem uma visão do
trono de Deus e, a seguir, cai com o
rosto em terra, sentindo-se indigno de
estar na presença de Deus.
Será que era isto que Deus queria:
que os filhos de Israel tivessem medo
dele? Que Isaías ficasse aterrorizado
na presença dele? Eu acho que não,
porque Jesus vem – e ele é Deus em
carne; ele está no Pai, e o Pai está nele;
quem vê Jesus vê o Pai –, e as pessoas
não correm dele dessa forma. Desde
a época do jardim, quando Deus chegava perto de alguém, as pessoas se
afastavam. Não queriam conhecê-lo,
pois ele as assustava. Agora ele chega
num corpo humano, e senta com as
pessoas, e come com elas. É a primeira vez, desde o Éden, que Deus pode
estar com humanos sem que eles estejam com medo dele. Dá para imaginar o que Deus sentiu nessa hora? “Eu
posso comer com essas pessoas novamente, e elas não têm medo de mim”.
O terror em nossos corações causado pelo Deus santo não foi Deus quem
nos deu. Foi o que o pecado nos deu. O
nosso senso de indignidade fez Deus
se tornar uma pessoa de quem precisássemos fugir, e não alguém para
quem correríamos.
O Deus que será o seu próprio
sacrifício
O senso de aplacar a ira da divindade é tão antigo quanto a humanidade, remonta às civilizações pagãs, que
criavam seus deuses falsos e sacrificavam a eles com intuito de garantir a
fertilidade da colheita e serem livres
de pragas e intempéries do clima.
Tempos de instabilidade podiam significar que os deuses estivessem nervosos. Quando o Deus verdadeiro co-
Nov/2009 a Fev/2010
meça a se tornar conhecido na terra, o
homem já está condicionado a pensar
que ele precisa ser aplacado também,
como todos os deuses falsos.
Quando Abraão saiu e foi para a
Palestina, provavelmente viu crianças
sendo oferecidas em rituais do paganismo. Um dia, o Deus vivo que ele
queria conhecer pediu-lhe um sacrifício, e Abraão concedeu. Por que não?
Todos os outros deuses que ele conhecia exigiam sacrifícios de crianças
para serem aplacados. Assim, Abraão
toma o seu único filho e leva-o para o
Monte Moriá para sacrificá-lo ao Deus
que lhe tinha pedido. No caminho em
direção ao monte, Isaque desconfia do
sacrifício, pois lhes faltava o animal
do oferecimento. Abraão simplesmente diz que Deus providenciaria o
sacrifício. Traduzido literalmente do
hebraico, o que Abraão estava dizendo não era que Deus iria providenciar
o seu próprio sacrifício, mas que Deus
seria o seu próprio sacrifício.
Eu penso que Abraão não sabia o
que estava dizendo. Estava somente
querendo distrair Isaque. Prossegue
nos preparativos. Prestes a imolar
seu próprio filho, Abraão é impedido
por Deus. Parece que o que Deus está
mostrando a Abraão e a todos nós,
desde o início, é: “Eu não sou como os
deuses falsos, irados, que vocês criaram, que precisam ser pacificados por
sacrifícios. Eu sou o Deus que vai se
sacrificar por vocês”.
O Filho tornado pecado para
que algo fosse satisfeito em
nós
Muitas profecias do Antigo Testamento sobre a cruz compreendem-na
como um castigo de Deus. Os nossos
irmãos do antigo regime viviam em
vergonha, sentiam esse terrível senso
de indignidade para estar na presença de Deus. Acreditavam que deviam
dar a Deus o seu melhor, o fruto do
seu corpo pelo pecado da sua alma.
Mas quando Jesus vem, ele fala sobre a cruz de forma diferente. Paulo a
descreve como sendo a cura de nossa
vergonha e pecado, a solução que permite que nos encontremos com Deus
novamente em amor e sem temor.
Podemos ver isso em todos os relatos finais dos quatro evangelhos.
João 10 é outro lugar. Neste capítulo,
Jesus falar sobre ser o bom pastor que
dá livremente a vida pelas ovelhas.
Ninguém tira essa vida dele. Portanto
a cruz não matou Jesus. Ele se entregou voluntariamente. A cruz também
é central em todo o livro de Romanos,
11
especialmente nos capítulos 5 a 7. Em ciência não era purificada. Ele ainda
1 Coríntios 1, Paulo diz que a cruz, carregava a vergonha e a indignidade
mais do que um evento histórico, é o da queda. Mas aquilo que os sacrifípoder de Deus para a nossa salvação. cios do V.T. não podiam fazer, Jesus
Em 2 Coríntios 5, somos chamados de fez. No seu filho na cruz, Deus consuembaixadores da reconciliação. Um miu ou condenou o pecado na sememorreu por todos, logo todos morre- lhança da carne pecaminosa para que
ram. Nós não vivemos mais para nós nós agora não vivêssemos mais debaimesmos, mas para aquele que morreu xo de nenhuma condenação.
por nós. Ele nos deu o ministério da
Em Cristo não há nenhuma conreconciliação que convida a todos a se denação. O que me separava de Deus
reconciliarem com Deus porque Deus era eu mesmo. O que Jesus fez na cruz
estava em Cristo, na cruz, reconcilian- não satisfez algo no Pai. Satisfez algo
do o mundo consigo. Não devemos em mim para que a condenação fospensar que Deus estava longe, que se destruída. Aconteceu o seguinte na
ficou a uma distância segura da cruz cruz: Jesus se tornou pecado e, fazene viu seu filho sofrer. Não, Deus esta- do isso, não entrou apenas no fracasva em Cristo reconciliando o mundo, so do nosso pecado, mas também na
não mais atribuindo os pecados dos vergonha dele.
homens a eles. Isso não é só para os
cristãos. É para o mundo inteiro. A
Deus não virou as costas para
boa notícia é que Deus não está mais
o Filho na cruz
levando em conta os nossos pecados.
Na cruz, Jesus ficou sabendo o que
Na cruz, o Pai fez o filho, que não era se sentir separado do Pai que ele
conhecia pecado, tornar-se pecado sempre tinha conhecido: “Meu Deus,
por nós para que pudéssemos nos tor- meu Deus, por que me desamparasnar justiça de
te?” Eu havia
Deus em Cristo
sido ensinado
Jesus. Esse é o
que quando JePrecisamos reexaminar
último versículo
sus se tornou
de 2 Coríntios
culpado
dos
as escrituras e verificar
5. Não há como
nossos pecados,
se a cruz é sobre o Pai
assumir
uma
Deus teve que
castigando o Filho em
visão de castivirar as costas
go da cruz sem
para o seu filho,
nosso lugar ou sobre seu
que ela entre
porque
Deus
desejo de curar algo em nós não
em conflito com
aguenta
esse texto. Jesus
olhar o pecado.
que nos separava dele
não foi feito culIsso não é verdapado por nossos
de. Deus sempre
pecados. Jesus
pôde olhar para
foi feito pecado. Ele, que não conhe- o pecado. Tanto que ele foi ao enconcia pecado, tornou-se pecado por nós. tro de Adão e Eva, depois da queda.
Para quê? Não foi para que Deus pu- Éramos nós que não podíamos olhar
desse castigar o pecado, mas condená- para ele em nossos pecados. O pecado
lo. São duas coisas diferentes. Pode- nos cegou para ele. Ele não se afasmos ver isso em Romanos 8.1,3: “Ago- tou de nós, muito menos de Jesus na
ra, pois, já nenhuma condenação há cruz. Como isso seria possível, se espara os que estão em Cristo Jesus. (...) tava em Cristo reconciliando o mundo
Porquanto o que fora impossível à lei, consigo mesmo? É possuir uma visão
no que estava enferma pela carne, isso muito defeituosa da Trindade pensar
fez Deus enviando o seu próprio Filho que Deus podia virar as costas para
em semelhança de carne pecaminosa si mesmo, que podia abandonar a si
e no tocante ao pecado; e, com efeito, mesmo. Isso não faz parte da natureza
condenou Deus, na carne, o pecado”.
de Deus. Em 2 Timóteo 2.13, vemos
De acordo com Hebreus, o que os que se formos infiéis, ele permanece
sacrifícios do V.T. nunca poderiam fa- fiel porque de maneira nenhuma pode
zer era limpar a consciência do adora- negar-se a si mesmo. Nosso Deus é fiel
dor. Não permitiam que ficassem com até o cerne. Ele jamais poderia virar as
Deus como se nunca tivessem pecado. costas para o seu filho da mesma forÉ por isso que o sumo sacerdote en- ma como nós faríamos para o nosso.
trava no Santo dos santos com a corDeus estava em Cristo, mas porque
da amarrada nos tornozelos. Ele não Cristo entrou em nossa vergonha, não
sabia se estava limpo ou não. Fazia o podia mais ver o Pai que estava junto
melhor, mas não sabia, pois a cons- dele. Não é esse o grande problema do
pecado? Já não houve momentos em
nossa vida em que nos sentimos como
que abandonados por Deus, completamente sozinhos? Anos depois, no
entanto, pudemos ver além: ele esteve
sempre muito perto, apenas não conseguíamos vê-lo, cegos como estávamos pelo pecado e pela vergonha.
Portanto o que Jesus veio fazer na
cruz não é o mesmo que voltarmos
para casa e matarmos o próprio filho
a fim de conseguirmos amar as pessoas. Não. Deus, por meio do corpo
do seu filho, estava curando algo que
o pecado havia causado. Cinco coisas
convergem na cruz: 1. Um Pai e seu
filho (embora o Espírito também estivesse presente); 2. Pecado e vergonha; 3. O filho se tornando pecado; 4.
O filho abraçando a vergonha, que ele
despreza; e 5. A ira de Deus.
A ira de Deus: a plenitude do
seu amor contra tudo o que
nos destrói
Aprendemos a ficar com medo da
ira de Deus, do juízo de Deus. Curioso,
no entanto, é observar os Salmos, algumas vezes, descrevendo as árvores
batendo palmas e os outeiros dançando. O motivo? Deus está vindo para
julgar o mundo, e a criação fica rejubilando. Mas basta ouvirmos que em
breve Deus vem para julgar, e o terror
se instala. E tudo porque não sabemos
realmente o que isso significa. Quando surge para julgar, Deus vem acertar aquilo que o pecado desencaminhou. Deus está vindo tornar inteiro
novamente o que o pecado consumiu.
Ele vem para nos julgar, ou seja, para
nos resgatar. Mas nós achamos que
o propósito do julgamento é outro:
Deus está vindo nos castigar.
Que castigo Jesus deu à samaritana lá no poço de Jacó? E para a mulher apanhada em adultério? Que castigo recebeu Zaqueu? Que castigo o
pai do filho pródigo lhe aplicou? Não
está no coração de Deus castigar. Sua
intenção é resgatar. A ira de Deus não
é o contrário do amor de Deus, mas a
plenitude desse amor dirigida contra
tudo aquilo que impede a sua afeição,
o seu amor.
A melhor figura de ira que eu conservo veio de um acontecimento com
a minha esposa Sara quando estávamos acampando nas montanhas com
nossos filhos pequenos. O mais novo,
à época com dois anos, brincava a
uma pequena distância entre as árvores. De repente, começou a gritar.
Sara já disparara em sua direção para
resgatá-lo. Minha esposa tem fun-
Nov/2009 a Fev/2010
12
cionamento e reações diferentes dos
meus. Quando eu escuto uma criança gritar, primeiro me certifico se de
fato há um problema sério solicitando a minha intervenção. Mas minha
mulher é uma mãe. Por via das dúvidas, ela sempre vai ao encontro da
criança. Nem bem escutou o grito de
nosso filho, e já estava correndo. Da
rede, onde eu confortavelmente lia
um livro, observei que ele estava no
meio de um enxame de abelhas. Pulei
da rede e gritei para Sara parar, que
eu socorreria o nosso filho, pois ela é
alérgica a ferroadas de abelhas, e nós
não dispúnhamos de nenhum remédio conosco. Para piorar, estávamos
a duas horas de distância do hospital
mais próximo. Mas Sara é uma mãe;
ela não para. Mais tarde, a caminho
do hospital, disse-lhe que tinha gritado para que parasse. Mas para minha
surpresa, ela não ouviu nada. Diante
do perigo iminente, ela não racionaliza muito. Sem calcular os riscos para
si mesma, ela se atirou no meio do enxame e resgatou nosso filho.
Mesmo apavorado pelas abelhas,
quando vê Sara, Andy passa a ter
medo dela. A expressão que vê no rosto da mãe não é nada boa. Eu conheço
bem isso. Andy pensa que ela está nervosa com ele. Não sabe ainda que a ira
dela não era contra ele, mas a seu favor. Sua raiva estava direcionada para
?!? Perguntas
as abelhas que estavam destruindo
seu pequeno. Demora até Andy perceber que está sendo salvo pela mãe. Só
então ele se acalma e relaxa nos braços dela.
Essa é a melhor figura de ira que
eu conheço. Na cruz, vemos Deus correndo contra o enxame de abelhas por
nossa causa. Pecado e vergonha estão
destruindo o que ele ama. Ele não tem
outra saída: “Eu vou me enfiar lá e
resgatar”.
Um grande amigo morreu dois
anos atrás com melanoma, um tipo de
câncer extremamente agressivo. Existe quimioterapia capaz de destruir o
melanoma, mas não há como ser administrada numa quantidade mínima
suficiente para não matar também a
pessoa antes de acabar com o tumor.
Este é o problema da quimioterapia:
trata-se de veneno. Meu amigo recebeu o tratamento mais agressivo que
existe contra o melanoma. Os médicos
deram o suficiente para não matá-lo e
esperavam que a dosagem talvez pudesse resolver o problema, mas não
resolveu. Meu amigo não aguentou a
cura de que precisava para ser livre
daquele câncer.
Essa é a nossa história. Pecado e
vergonha nos infecta a todos. E a ira
de Deus é a quimioterapia que cura o
pecado. Mas o problema é que não resistimos à ira em quantidade suficien-
te que consiga purificar-nos dos pecados antes que sejamos destruídos.
Não é a verdade do Velho Testamento? Todas as vezes que a ira de Deus
irrompia, pessoas morriam. Quando
Jesus estava na cruz e se tornou o próprio pecado, ele assumiu toda a nossa
doença nele e teve que beber o cálice
da ira do Pai: toda a ira que foi necessária para consumir todos os nossos
pecados, pelo menos três horas de
ira, até que Jesus finalmente dissesse:
“Está consumado”. O que ele quis dizer com isso? O pecado foi consumido
pelo amor; a ira condenou, consumiu
o pecado no Filho.
Salvos não do Pai, mas para
o Pai
Por que foi necessário consumir
um ser humano perfeito se as regras
diziam que somente “a alma que pecar, essa morrerá”? Como Jesus nunca
tinha pecado, a ira de Deus não podia
matá-lo. Ninguém podia tomar a sua
vida, por isso ele a entregou voluntariamente. Jesus foi o perfeito hospedeiro para que pecado e vergonha se
encontrassem com a ira de Deus. No
seu corpo, Jesus assumiu a cura para
todos nós. Por essa causa não há mais
nenhuma condenação para aqueles
que estão em Cristo Jesus.
Deus não estava finalmente castigando o pecado na cruz. Ele estava
curando em si mesmo o nosso pecado.
Quando Adão e Eva pecaram naquele jardim, Deus sabia que ele mesmo
iria pagar o preço mais alto. Eis o tipo
de amor que o Pai concedeu-nos a fim
de que pudéssemos ser chamados filhos e filhas de Deus. Deus não estava
castigando alguém para agradar a si
próprio. A religião nos traz Jesus nos
salvando do Pai dele. Não precisávamos ser salvos do Pai. Precisávamos
ser salvos para o Pai.
Jesus não morreu para o Pai. Morreu por nós. Seria como se os médicos
pudessem pegar o melanoma do meu
amigo e o implantar em outra pessoa,
em virtude de ela, por ter mais resistência, poder suportar o tratamento
de quimioterapia
Na visão de pacificação da cruz, eu
entendia como Jesus me amava, mas
não como o Pai me amava. Nesta visão da cruz, que é a visão de Paulo, eu
entendo tanto o amor do Filho quanto
o amor do Pai. E se o meu pecado e
vergonha foram tratados pela obra do
Filho, então eu posso estar com Deus
hoje, sem medo nem vergonha, mas
com liberdade para conhecer o Deus
que eu não conheço. Como uma criança pequena, posso subir no seu colo e
saber que esse é o lugar mais seguro
para eu estar.
& Respostas
Sobre a mensagem “A cruz como cura, não como castigo”
CONFERENCISTA: Gostaria que você comentasse o texto de Isaías 53.5: “O castigo
que nos traz a paz estava sobre ele”.
WAYNE: Muitos autores do V.T., quando olhavam para a cruz numa perspectiva futura, falavam
dela em termos de castigo. Era a única forma como
a conseguiam compreender. Em sua primeira carta, Pedro menciona como os profetas indagavam
acerca de coisas vindouras sobre as quais ainda não
tinham muito discernimento. Por essa razão, essas
pessoas descreviam a cruz como o castigo que Jesus
aceitou em nosso lugar. Debaixo de vergonha, não
conseguiam ver outra coisa. Mas quando Paulo escreve sobre a cruz, tendo sua consciência já sido purificada, pode perceber o mesmo evento não como
castigo pelos nossos pecados, mas como cura. Então
existem duas perspectivas diferentes sobre o mesmo
evento. Eu creio que a perspectiva do V.T. não está
errada, apenas incompleta.
C.: Quando diz “O castigo que nos traz a
paz estava sobre ele”, então Isaías não esta-
va apresentando as duas perspectivas? Veja
se meu pensamento é correto: como era um
castigo que eu, embora merecesse, não suportaria, então a fim de me livrar dele e me
curar, Deus fez cair o castigo sobre o seu Filho. Trata-se, portanto, de um castigo que
me traz cura.
W.: Eu não vejo mais dessa forma. É mais ou
menos como se eu estivesse passando por uma cirurgia: estou sendo aberto para que o médico possa arrumar alguma coisa no meu organismo, o que
pode ser muito doloroso para mim, todavia não é
um castigo. O médico não está me castigando por
causa da minha enfermidade, mas me curando dela.
A mente religiosa quer ver Deus castigando. A
primeira coisa que Deus falou sobre nosso pecado
foi: “A alma que pecar, essa morrerá”. Muitos podem ver isso como castigo, mas eu penso que o que
Deus está falando é que ele queria encerrar o pecado
no finito. A razão por que ele lança Adão e Eva fora
do jardim não era para castigá-los. Deus os expulsou do jardim porque sabia que se eles comessem
da árvore da vida, tendo se tornado pecaminosos,
permaneceriam pecaminosos para sempre. E se nós
formos pecaminosos para sempre, Deus não poderá
nos salvar.
Deus preservou a eternidade, aquilo que é santo, sem contaminação pelo pecado, para poder nos
salvar para a vida eterna. Então quando ele assegura que a alma que pecar morrerá, eu não vejo isso
como um ato de castigo, mas como seu primeiro ato
de redenção: o pecado seria mantido dentro do que
é temporal. Ou seja, se o pecado leva à morte, então
Deus resgata o homem do pecado para uma eternidade que é pura.
Se alguém enxerga isso como castigo, não há por
que discutir, mas eu penso que há um entendimento
maior, que alcança o coração da natureza de Deus.
Será que ele é uma pessoa que castiga ou ele é um
salvador? A grande evidência das escrituras é que
Deus está trabalhando no mundo para redimi-lo, e
isso custa muito caro, tanto para nós quanto para
ele.
Nov/2009 a Fev/2010
C.: Há uns 20 anos, foi publicado um livro que se chama “Conhecimento de Deus”,
com grande repercussão à época. O autor
deu muita ênfase ao conceito de propiciação
que, para ele, vai além da expiação, uma vez
que se relaciona diretamente com a ira de
Deus descarregada sobre Jesus. Eu gostaria
de saber qual o seu entendimento sobre propiciação.
W.: A palavra que João usa para propiciação, em
1 João 4.10, é muito rara no grego. Não existem muitas outras fontes para comparar como essa palavra
foi usada. Então conseguir achar o seu significado
mais preciso é incrivelmente complicado. Os estudiosos têm discutido sobre essa palavra há séculos
e permanecem não chegando a um entendimento
muito claro sobre o seu significado. Eu acredito que
“propiciação” descreve Jesus assumindo o nosso pecado e aceitando a quimioterapia para combatê-lo
até que o mal seja completamente destruído nele.
Ele se torna o verdadeiro substituto para a doença a
fim de permitir que Deus possa curá-la no único corpo capaz de suportar o tratamento. E à medida que
eu vivo nele, a sua obra se torna a dádiva de Deus
para mim.
C.: Você falou que a visão do Velho Testamento é mais voltada para o castigo e que, no
Novo Testamento, Paulo e os outros escritores trazem uma compreensão mais ampla ou
melhorada. Eu gostaria que você me explicasse, a partir disso, o versículo de Hebreus
12.6: “Porque o Senhor corrige ao que ama e
açoita a qualquer que recebe por filho”.
W.: Muitas pessoas veem a cruz como Deus fazendo Jesus culpado dos nossos pecados e depois o
castigando de uma forma a resolver o problema. Hebreus 12.6, no contexto de todo o capítulo, teria uma
melhor tradução se empregássemos disciplina ao
invés de castigo. Disciplina não é dar uma surra em
alguém como punição por ter feito algo errado, mas
tem a ver com treinamento na justiça. Somos treinados para seguir Jesus, e isso muitas vezes acontece
através das consequências das nossas próprias decisões. É Deus operando em nossas vidas para nos
ajudar a entender a futilidade dos nossos próprios
caminhos e a maravilha dos caminhos dele. O autor
aos Hebreus não está se referindo a um castigo de
retribuição, mas a uma disciplina, um treinamento
para seguirmos o Senhor. Eu vejo isso como algo
bem distinto de castigo.
C.: Você deu a entender, por tudo o que
disse, que se Deus não nos castiga pelos nossos pecados, é porque ele não vê culpa em
nós. Então, se a culpa não é nossa, de quem
é? Existe alguma diferença entre nós, que
nascemos no pecado, e o que Adão fez? Deus
vê culpa em Adão? Se não, de quem é a culpa?
W.: O que você quer dizer com culpa?
C.: Deus é justo, e a justiça dele vai ser satisfeita de alguma forma. Ou o pecado não é
problema para Deus?
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W.: As escrituras nunca dizem que a justiça de
Deus tem que ser satisfeita. Isso é conversa doutrinária. É o que nós temos concluído. A santidade de
Deus significa que ele é puro, ele anda na luz porque
ele é a luz. Ele vê tudo como é e responde com amor
perfeito e verdade e quer que nós vivamos com ele
nessa realidade. Eu não sei se Deus achou culpa em
Adão e Eva. Mas percebo que Adão e Eva sentiramse envergonhados; a culpa vinha da parte deles. É
claro que eram responsáveis, mas Deus não desceu
para machucá-los. Desde o início, eu não penso que
a intenção de Deus era castigar, mas redimir e restaurar. Não é difícil para mim entender que os escritores do V.T. veriam as consequências do pecado
como castigo de Deus. É assim que eles viam, mas
não quer dizer que era assim que Deus sentia. Deus
estava tentando redimir, mas tinha que destruir
o pecado; não para castigar, mas para erradicar o
pecado do universo. Nosso Deus é um fogo consumidor, e esse fogo tem que consumir o pecado que
destrói a nós e ao mundo que Deus fez. Isso não me
parece castigo, mas redenção.
As consequências do pecado são horríveis, e há
muita vergonha no mundo onde as pessoas vivem
em pecado. Só nos livramos de condenação se estivermos num único lugar: no Filho. Ele se tornou um
lugar seguro para nos refugiarmos. Fora do Filho há
todo tipo de condenação. Mas não se trata de atribuir a culpa a alguém.
Nascemos, sim, no pecado. Como Efésios 2 diz,
nós vivíamos nas paixões da nossa carne e éramos
hostis, inimigos de Deus. Isso não quer dizer que
Deus era nosso inimigo. Nós o considerávamos assim. Mas Deus, no seu grande amor e misericórdia,
falou sempre sobre redenção, não sobre castigo. A
religião tem nos oprimido com a teologia de que o
Deus santo tem que punir a humanidade pecaminosa. Mas uma leitura atenta dos evangelhos mostra
que Jesus não usava essa linguagem. Ele veio revelar um Deus redentor, não alguém que castiga. Jesus
disse de si mesmo: “O filho do homem não veio para
condenar o mundo, mas para redimir o mundo”.
C.: E o que pensar sobre o dilúvio?
W.: Eu creio que nós compreendemos mal o dilúvio. O ensinamento corrente é de que o mal cresceu tanto que Deus não mais suportou a humanidade. Só havia um homem e algumas poucas pessoas com quem ele se importava: Noé e sua família.
Então Deus bolou um plano para resgatá-los, mas
como odiava todo o resto do mundo, exterminou
tudo por meio de um grande dilúvio.
Você pode achar que eu sou louco, mas eu acho
que as escrituras estão contando uma história bem
diferente. Nós vemos a atividade de Deus no V.T.
como castigo aos pecadores de quem ele tinha raiva
e não como uma tentativa de redimir a humanidade
para ele mesmo. Eu não sei exatamente o que aconteceu no dilúvio, mas deixe-me oferecer uma outra
possibilidade. Não estou dizendo que é verdade porque as escrituras não dizem claramente, mas não
tem nada nas escrituras que desminta o que eu vou
propor.
Uma das grandes questões que eu tinha quando
ouvi sobre a misericórdia e graça de Deus derrama-
das na cruz era: por que ele esperou tanto? Por que,
depois da queda, passaram-se 2.500 anos, além de
mais outros 1500 de lei, e só então a cruz? Por que
não podíamos ter a queda na segunda, a lei na quarta e a cruz na sexta? Uma semana resolveria tudo, e
poderíamos viver a vida de Deus. Mas as escrituras
mostram Deus preparando cuidadosamente o mundo para a vinda do Filho. Seria o primeiro momento
na história da humanidade sobre o qual Deus tinha
expectativas de que abraçássemos a sua graça. O
fato é que o mundo precisava chegar a um desenvolvimento que as escrituras chamam de a “plenitude
dos tempos”, o momento quando a cruz podia ter
um efeito máximo.
Se isso é verdade, e eu tenho impressão de que é,
então o que Deus está fazendo na geração de Noé?
O pecado contaminou tanto o mundo, que Deus não
conseguiria fazê-lo perdurar por 4000 anos até Jesus chegar. Só restava um homem. Estavam nele as
esperanças de manter a raça humana viva tempo
suficiente até Deus poder entrar no mundo. Assim,
o que aconteceu na geração de Noé foi o seguinte:
Deus teve que “dar reset” na máquina, ou seja, precisou reinicializá-la.
Acho que Deus tinha que fazer isso na civilização. O pecado cresceu tanto que ia contaminar tudo.
Então Deus tira todas aquelas pessoas não porque
as odiava; ele as amava profundamente, mas não
podia deixar o pecado destruir o que ele amava. O
filho ainda não podia ser trazido para o mundo, então Deus “dá um reset” e começa uma nova geração
de pessoas com esperança de segurá-las um tempo
maior para não cair tão profundamente em pecado
até a “plenitude dos tempos”. Sei que pode parecer
loucura, mas é assim que eu vejo.
C.: Qual é o significado de tomar a cruz a
cada dia para seguir a Jesus?
W.: Esta é uma passagem maravilhosa que foi
compartilhada num contexto específico, quando Pedro declarou que Jesus era o Cristo. Jesus sabia que
esse acerto era obra do seu Pai. Pedro nunca poderia
fazê-lo por si mesmo. Mas o fato é que nesta revelação estava o fundamento sobre o qual a igreja seria
edificada. Animado, Pedro, que sempre se equivocava, passa em seguida a repreender Jesus quando
este informa que teria que ir a Jerusalém, onde seria
crucificado. “Deus proíba” ou “Deus não queira” é a
tradução para o inglês. Como Deus não devia querer
algo por que tanto aguardava?
Jesus é tentado a não ir. As palavras de Pedro
o desencorajam a seguir adiante. Com “Arreda-te,
Satanás” não quer significar que Pedro seja Satanás, mas que este falou por meio das palavras de
Pedro. Voltando-se para os discípulos, diz: “Vocês
estão procurando os interesses do homem e não os
de Deus”. Os interesses do homem apelam para que
seja feito o que o deixa confortável.
O Pai tem um propósito que está se desenvolvendo no mundo. Muitas vezes, ele nos pede para fazer
coisas que não queremos fazer. Tomar a cruz significa segui-lo e não os próprios desejos. A maioria dos
cristãos, infelizmente, vive para os próprios desejos.
Quando ouvem a mensagem do amor de Deus, entendem que ganharão tudo o que desejam. Chegam
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a pensar em Deus como uma fada madrinha.
Deus está envolvido neste mundo resgatando
pessoas para si mesmo, e quando resgata alguém,
planeja, através dessa pessoa, resgatar muitas outras. Haverá momentos em que ele pedirá coisas que
não desejamos fazer, mas a nossa vida não é nossa.
Tomar a cruz, para mim, significa a mesma coisa
que “arrependa-se e creia”. Ou seja, “abandone a
sua agenda e siga a minha”.
Eu jamais viajaria para qualquer lugar do mundo se Deus não me pedisse. Eu não sou um viajante
do mundo. Não gosto de avião, de ficar em camas
estranhas, de estar com pessoas que não conheço.
Não seria a minha escolha. Quando recebi o convite para vir ao Brasil, eu tinha acabado de chegar da
África do Sul. Eu gostaria de vir para o Brasil algum
dia, não esse ano. Mas o Espírito Santo começou a
tocar em meu coração: “Eu quero que você vá para o
Brasil”. Eu costumo negociar com Deus, mas sempre perco essas negociações porque já dei a Deus o
meu sim para tudo. Mas ainda restava a desculpa do
visto para o embarque. As dificuldades para obtê-lo
foram um argumento forte a meu favor. Mas Deus
insistiu comigo. E ele sempre ganha.
Tomar a cruz é vir para o Brasil e deixar a Sara
por sete dias. Todo noite que eu durmo longe da
Sara não é minha escolha, mas de Deus. Embora
esteja amando tudo o que estou vendo por aqui, eu
não teria vindo se dependesse de mim. Muitas coisas que eu faço não são tão divertidas quanto estar
no Brasil. Deus me pede coisas muito dolorosas,
algumas até o ponto de desejar que tivesse morrido. A maneira como vivo a minha vida todos os dias
não é fazendo o que o Wayne quer, mas o que Deus
quer. Nem sempre estou com as pessoas com quem
desejo. Meus amigos de Dublin, na Irlanda, me convidaram para estar com eles. Se dependesse de Wayne, eu estaria em Dublin hoje, mas não dependia de
mim. Dependia de Deus, então eu estou no Brasil.
Da próxima vez que ele me pedir para vir ao Brasil,
não será mais tomar a cruz, pois agora tenho grandes amigos aqui.
Deus pode nos pedir coisas que vão colocar nossa
vida em risco. E a questão não é se queremos ou não,
mas se quem está falando é o Senhor. Viver no amor
de Deus vai nos dar muitas oportunidades para tomar a cruz. Se escolhermos viver somente para nossa própria alegria e conveniência, vamos ficar muito
na superfície do amor de Deus. O amor de Deus nos
leva mais profundamente em sua vida para conhecermos tanto o poder da sua ressurreição quanto
a comunhão dos seus sofrimentos. Só entregamos
a vida quando estamos convencidos de que ele nos
ama. De outra forma, escolhemos nos poupar. Jesus
foi tentado a fazer isso. Diante da cruz, gostaria de
ter sido salvo daquela hora, mas desejou glorificar o
nome do Pai fazendo a vontade do Pai.
C.: Fomos ensinados, ao longo de nossa
carreira cristã, a ter temor de Deus e que
todo erro, todo pecado tem as suas consequências e talvez até o seu castigo. Você falou
desse amor avassalador, extravagante, incondicional, do qual possivelmente não tenhamos a revelação completa. Hoje, depois
do sacrifício de Jesus, nós ainda continuamos tendo castigo e sofrendo as consequências dos nossos pecados?
W.: A religião quer que enxerguemos o pecado
como as coisas que desgostam a Deus e, portanto,
merecem castigo para não se repetirem mais. Paulo olha o pecado de um modo um pouco diferente.
Em seus ensinamentos, o pecado é uma realidade
contra a qual, antes de Cristo, não temos nenhuma
força. Ele não vê o pecado como se escolhêssemos
praticá-lo. Para Paulo, nascemos em pecado, e a
maneira egoísta e centrada no eu como vivemos nos
captura. E será que Deus castiga isso? Em certo sentido, talvez. Mas no que Paulo está mais interessado
é que entendamos que o pecado, sendo uma realidade, obviamente traz consequências.
Enquanto estamos sendo
transformados, ainda somos
vítimas do pecado e convivemos com
consequências dolorosas disso. Mas
elas não têm nada a ver com a ira do
Pai
Aos olhos de Deus, pecado é algo que deforma
toda a raça humana, cria nossas guerras e conflitos,
nossas brigas, nossos ciúmes, nossas tentativas de
controlar uns aos outros. Todo o mal que acontece
em nosso mundo vem do pecado em nossos corações. O fato de que Jesus morreu na cruz para perdoar nossos pecados não muda essa realidade. Nossos pecados ainda nos corrompem.
O perdão da cruz permite-nos ter acesso a Deus
mesmo que estejamos no nosso pior estado, mas
não nos livra de consequências. Se alguém engravida fora do casamento, em adultério, e pede a Deus
para perdoar, Deus perdoa, mas não vai mudar a
gravidez, não vai mudar a traição. Essas são consequências reais num mundo caído.
Quando Deus nos salva do pecado, ele quer nos
transformar para que não vivamos mais na natureza
do pecado nem façamos as coisas que machucam a
nós e aos outros, mas vivamos na liberdade crescente do conhecimento de quem ele é. Ele sabe que nós
só podemos fazer isso dentro de um relacionamento
com ele. Com nossas próprias forças, é impossível.
O objetivo da cruz era purificar nossa consciência do
pecado para que pudéssemos iniciar um relacionamento com o Pai e fôssemos sendo transformados
dia a dia.
Mesmo com o risco de simplificar demais, poderíamos dizer que a finalidade da lei e da Velha Aliança era a seguinte: quanto mais justo conseguíssemos
ser, mais de Deus poderíamos conhecer. Quem pode
subir ao monte santo do Senhor e ficar na presença
do Altíssimo? Aquele que fala a verdade de coração
e pratica toda aquela lista de exigências que os Salmos trazem. Quando Jesus veio, ele inverteu isso.
Não é mais “quanto mais justos, mais de Deus”, porque ninguém é justo, nenhum sequer. Se qualquer
um de nós pudesse ser justo sem a obra da cruz,
Cristo teria morrido em vão, de acordo com o que
Gálatas diz. Se uma única pessoa, em toda a história
da humanidade, tivesse poder para ser justa vivendo
separada de Deus, então a cruz teria acontecido em
vão.
A cruz foi necessária porque nós não podíamos
nos mudar. Por meio dela, é possível termos nossa
consciência purificada do pecado e das obras mortas. Agora, mesmo em meio ao pecado, podemos
nos sentar com o Pai e, com base em seu amor, sermos transformados da velha para a nova natureza.
Na Nova Aliança, Jesus ensina: quanto mais relacionamento com Deus nós temos, mais justos nos
tornamos. A nossa justiça não nos qualifica para
ter um relacionamento; é o relacionamento que
nos possibilita ter justiça. Enquanto estamos sendo transformados, ainda somos vítimas do pecado
e convivemos com consequências dolorosas disso.
Raras vezes Deus muda esse fato. Mas essas consequências não têm nada a ver com a ira do Pai. Isso
foi resolvido na cruz. Ele não precisa castigar. Ele
perdoa. E perdoando, purifica. E purificando, ele
nos treina para viver de uma forma transformada.
Pessoas que falam sobre a graça como uma licença para pecar não conhecem o mesmo Pai que eu conheço. É por isso que eu não falo sobre a graça como
doutrina. Graça é uma realidade. Ela não desculpa o
meu pecado, mas me convida à presença do Pai com
o meu pecado. E qualquer pessoa que conhece esse
meu Pai quer ser semelhante a ele, quer ser transformada. Não é possível conhecer esse Deus e continuar gostando do pecado. Ser perdoado apenas, e
não transformado, nos faria viver o pior dos mundos. Deus perdoa e transforma. João diz: “Como ele
é, assim também somos nós neste mundo”.
Eu cresci com um conhecimento religioso de
Deus, sempre com medo do seu castigo, sempre
lutando para agradar-lhe. Eu não era um hipócrita
sobre essas coisas. Eu dava duro mesmo. Era como
Paulo antes de vir a Cristo: lia as escrituras e me esforçava na justiça mais que qualquer pessoa que eu
conheço. Cresci no conhecimento sobre Deus, mas
não o conhecia no relacionamento. Conhecer as coisas de Deus mas não conhecer a Deus me tornou
mais fariseu, me fez tratar a outros, que não se esforçavam tanto quanto eu, com desprezo.
Eu fazia de conta que não pecava. Embora conseguisse conter a ira em meu coração na maior parte
do tempo, havia momentos em que ela extravasava.
Isso, obviamente, acontecia em casa. Meus filhos
ainda falam dessa época como dos “dias antigos
quando papai era nervoso”. Eu os assustava, faziaos correr do quarto. Para mim, justiça significava
sentir raiva e reprimi-la.
Mas nessa jornada, desde aquela época, eu vi Jesus me transformando. Nas minhas velhas maneiras
religiosas de viver, podia ser até justo exteriormente,
mas interiormente vivia cheio de raiva e de desprezo. Nessa nova jornada, Deus resolveu essas coisas
que me enfureciam. Hoje reconheço que, na maior
parte do tempo, era de Deus que eu estava com raiva. Eu nunca admitiria, mas estava dando duro para
Deus. Eu fazia mais para ele do que qualquer pessoa
que eu conhecia, mas ele não me retribuía como eu
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achava que merecia. Ele não curava meu filho, não
fazia meus livros ficarem famosos no mundo inteiro,
então eu ficava bravo com ele. Mas como não podia
expressar a minha raiva para ele, já que meu coração de fariseu não permitia, acabava direcionando-a
para outras pessoas, como a raiva de Saulo.
Antes de se encontrar com Cristo, Paulo disse
que era fariseu dos fariseus e, segundo a lei, irrepreensível. Quanto à justiça legalista, era perfeito.
Depois que Deus se encontrou com ele no caminho
de Damasco, Paulo se viu como o pior dos pecadores
do planeta. Embora externamente justo, estava matando o povo de Deus em nome de Deus por causa
de sua visão distorcida de Deus. Um dia Deus conseguiu consertar isso, revelando-se, tal como realmente era, a Paulo.
Quando pergunta “Quem és tu, Senhor?”, estando cego pela visão que lhe aparecera no caminho de
Damasco, depois de ser informado que estava perseguindo o dono daquela voz que falava com ele, Paulo está muito atemorizado. Ao ouvir “Eu sou Jesus,
a quem tu persegues”, parece preparar-se para se
encontrar com o Deus irado das pessoas que vinha
perseguindo. Mas ao invés de olhos de vingança, ele
se encontra com olhos de amor. A partir daí, toda
vez que Paulo contar essa história, vai se referir ao
amor de Cristo que o dominou. Paulo sabia: tendo
todo o direito de acabar com sua vida, Cristo lhe fizera um convite em amor.
Paulo não foi castigado por nenhum dos seguidores de Cristo que havia matado. Ao invés de encontrar um Deus irado, Paulo foi surpreendido por um
salvador amoroso. Esse momento mudou radicalmente a vida dele. Ele foi enviado ao mundo inteiro
para demonstrar esse amor. Tornou-se apóstolo não
porque se viu envolvido com as doutrinas do cristianismo, mas porque se encontrou face a face com
o Cristo vivo. Ele nunca tinha visto o amor daquela
forma antes. Isso mudou a vida dele. E é isso o que
nos muda também.
Mais do que ouvir sobre o amor de Deus, precisamos ir a um lugar quieto e deixar Deus no-lo revelar.
Se contemplarmos sua glória a cada manhã, isso vai
nos mudar. Nossa religiosidade será vista como realmente é: vazia e sem sentido.
Não se trata de uma teologia para crer, mas de
uma pessoa para conhecer. Seu coração não quer
nos castigar pelos nossos pecados, pois sabe que,
nessa vida pregressa, já fomos castigados o suficiente. Mas não é assim que pensa o fariseu. Ele não
achará justo que alguém não tenha a punição devida
pelos pecados que cometeu.
Posso ilustrar isso com a história de Brenda.
Com pouco mais de vinte anos, essa jovem viveu em
nossa casa por um tempo. Éramos muito próximos.
Eu e Sara estávamos ajudando-a a seguir Jesus. Um
dia, Brenda marcou um almoço conosco, para o qual
também convidou uma amiga. Durante a refeição,
contou-nos algo doloroso: acreditava que era homossexual. Apresentou-nos a amiga como sua parceira e pediu-nos que abençoássemos essa união.
Meu coração ficou quebrado. Olhei para Brenda e
disse-lhe: “Brenda, eu amo você com todo o meu
coração. Não poderia amá-la mais, mesmo se fosse
minha filha. Eu amo você e o Deus que você quer
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conhecer, mas Deus disse que esse tipo de relacionamento não é do seu agrado, porém uma forma
distorcida a que o pecado conduziu. Você não pode
me pedir para apoiar, abençoar ou celebrar isso.
Mas eu lhe digo o seguinte, Brenda: se seguir em
frente no relacionamento, eu quero que saiba que
eu e Sara sempre vamos amá-la. Nós não apoiamos
a sua decisão, mas a apoiamos como pessoa, numa
jornada em cujo desfecho esperamos que você encontre Deus”.
Ela ficou muito desapontada, pois queria o nosso apoio, e levantou-se para sair. Nós a abraçamos.
Mesmo não conhecendo a outra moça, também a
abraçamos. Dissemos a ambas que as amávamos,
lamentando não poder apoiá-las, mas que oraríamos para que Deus se revelasse a elas.
Não vimos mais Brenda depois daquele dia. Ela
foi viver com a parceira. Sara e eu ficamos tristes
com aquela escolha. Não tínhamos nenhum telefone
para poder falar com ela nem endereço para mandar
cartas, então só oramos. Cinco anos depois, quando
ainda era pastor e estava ensinando um grupo de
pessoas num domingo de manhã, vi Brenda entrar
pela porta de trás. Eu não a via desde aquele almoço.
Naquele momento, conheci um pouquinho do que o
pai do filho pródigo sentiu quando viu o filho voltando para casa. Eu não conseguia continuar falando.
O sermão que eu estava pregando não tinha mais
importância. Passei o microfone para o copastor e
pedi-lhe, para sua surpresa, que terminasse o meu
sermão. Fiz sinal para Sara me acompanhar. Ela
olhou para mim como se eu estivesse doido. “Brenda está aqui”, foi só o que eu disse. Os olhos dela
brilharam, e nós corremos para as portas do fundo.
Eu não sabia se Brenda tinha se arrependido,
mas não precisava saber. A moça que eu amava estava ali. Nós corremos até ela e a abraçamos. A caminho do estacionamento, contou-nos como Deus se
revelara a ela. Agora tinha decidido voltar para casa
para achar Deus na sua vida. Não havia uma parte do meu ser, minúscula que fosse, que precisasse
castigar Brenda. Os cinco anos naquela vida, vivendo uma mentira num relacionamento que a estava
destruindo por dentro, foram punição suficiente. O
que eu podia acrescentar a isso? Eu queria tê-la de
novo como filha em nossas vidas, e ela seguiu em
frente numa viagem maravilhosa para ser transformada por Jesus.
Essa é a vida de que nós estamos falando. Quando entendemos o que é pecado, não precisamos
castigar quem quer que seja. Quando conhecemos
o Pai, passamos a odiar o nosso pecado tanto quanto ele odeia. Mas odiar o nosso pecado não significa
que teremos que nos odiar no pecado: o Deus que
nos ama nos encontra em nosso pecado e anda conosco para fora disso, à medida que nos introduz na
vida dele.
C.: Você falou que a ira de Deus consumiu
o pecado e não Jesus. Se esse sacrifício foi
feito em prol do mundo todo, o mundo todo
está sem pecado e então nenhuma pessoa
pode ser condenada ao inferno?
W.: Não é minha conclusão. Pecado e vergonha
foram resumidos em Jesus, portanto nesse perío-
do da revelação de Deus, o problema está resolvido para aqueles que estão no Filho. É verdade que
Deus não imputa mais os pecados a ninguém, mas
isso não quer dizer que o pecado não esteja consumindo pessoas que ainda não acharam o seu refúgio
em Jesus.
Se Deus salva além disso, as escrituras não tornam claro. Eu tenho bons irmãos que creem nisso,
mas não me convenceram. Nem por isso deixo de
considerá-los irmãos.
C.: Eu já nasci fora da igreja, não tenho
doutrina. Será que posso dizer: “Pai, o que
foi feito, faz em mim, não precisa nem me
explicar”? Como flui para mim o lado prático da cruz?
W.: Pode dizer se quiser, mas o que ajuda a
conhecer melhor o Pai é saber o que ele nos fez. É
nesse ponto que a jornada começa e não no que temos que fazer para Deus. Eu não acho que o conhecimento substitui a fé, mas também não vejo como
o conhecimento esteja em conflito com ela. Jesus
disse para conhecermos a verdade, e ela nos libertaria. Eu acho maravilhoso que queiramos viver essa
vida, mas saber quem Deus é e o que ele fez é absolutamente essencial para vivermos. Se você não
cresceu com toda essa doutrina religiosa, então você
tem menos do que se despojar. Mas para muitos de
nós que vimos Deus como um feitor extremamente
severo, um pai meio abusivo que ficava sempre no
nosso pé, é muito importante enxergá-lo da forma
como Cristo o revelou aqui no mundo. Por isso eu
acho que conhecimento é muito importante. Eu leio,
estudo e dialogo com pessoas o tempo todo.
Se você lê as cartas de Paulo, vai notar que os
primeiros dois terços de todas elas não incluem um
encorajamento para você fazer alguma coisa, mas
tratam do que Deus fez, através de Cristo, pelo seu
grande amor. Somente depois de sermos apresentados a tudo o que Deus fez, é que somos convidados
a nos despirmos do velho homem e a nos vestirmos
do novo. Mas tudo por causa do que ele fez, não por
causa daquilo que nós fizemos. Colossenses diz bem
esse mistério: “Cristo em vós, esperança da glória”.
Minha esperança da glória não está em minha habilidade, não está em minha capacidade, talentos ou
sabedoria, mas no fato de que Cristo vive em mim, e
eu nele, e à medida que esse relacionamento cresce,
tudo o que ele quer fazer em minha vida será feito
através dele.
João 15 diz a mesma coisa: Jesus é a videira, nós
somos os ramos. Se queremos dar fruto, devemos
permanecer nele. Separados, não podemos fazer
nada. Tudo o que é transformado em nós acontece
pela obra de Cristo. Essa é a transição que vemos
Paulo descrevendo em suas cartas: somente se entendemos o que Deus fez, podemos saber como viver. É comum ver as epístolas dispensando aos destinatários o tratamento de “filhos santos e amados
de Deus”. Esse é o novo homem, o filho de Deus,
já santo, já amado, embora ainda convivendo com a
velha natureza que o pecado distorceu. As duas pessoas acordam de manhã: o novo e o velho Wayne.
Eles vão brigar a vida inteira, mas eu vou aprender,
dia a dia, a viver como filho amado de Deus.
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?!? Perguntas
& Respostas
Outros aspectos práticos da jornada no amor do Pai
CONFERENCISTA: Eu gostaria que você falasse sobre a igreja relacional funcionando no
ambiente de uma instituição religiosa, no ambiente de uma igreja no lar e também de forma
independente como igreja relacional na cidade.
WAYNE: O que eu amo a respeito do corpo de
Cristo na terra é que ele toma centenas de expressões
diferentes. Eu posso falar sobre a vida que compartilhamos entre irmãos e irmãs lá na minha cidade, sobre
um grupo perto de Melbourne, na Austrália, ou sobre
alguns grupos na África do Sul ou em Dublin, na Irlanda. Cada um é diferente. Viver de forma relacional
significa simplesmente o seguinte: eu vivo como uma
pessoa amada e amo as pessoas que Deus colocou ao
meu lado.
Se nós quisermos ser a igreja, que modelo devemos
usar? Há igrejas nos lares, igrejas em células, igrejas
sensíveis às pessoas, centenas de modelos. Vou ser honesto: eu acho que nenhuma dessas coisas faz diferença para Deus. Ele se preocupa com que nos relacionemos com ele como Pai. Assim compartilharemos este
amor com outros e aprenderemos a ouvir e a seguir
Jesus juntos. Se nós estivermos fazendo isso, podemos
estar numa igreja institucional, numa igreja nos lares
ou junto com irmãos sem ter nenhuma formalidade ou
sistema. A essência da igreja é que ela é uma família,
não um prédio, um grupo, uma reunião ou uma metodologia.
Ser igreja é fazer parte de algo da mesma forma
como eu faço parte da família Jacobsen. Onde eu estiver, há um Jacobsen. Quando estou no Brasil e toda
a minha família nos EUA, eu não deixei de fazer parte
da família Jacobsen. Eles são minha família. Nós nos
reunimos e nos relacionamos o tempo todo. Estamos
por perto para apoiar uns aos outros. Se Jesus nos pede
para fazermos algo juntos, nós fazemos. Um dos livros
que publiquei, “Relacionamentos autênticos”, escrevi
junto com meu irmão. Deus nos pediu que fizéssemos
alguma coisa juntos. E nós fizemos. Eu não escrevo todos os livros com ele nem ele comigo. Ele já escreveu
outros três livros sozinho. Nós não nos reunimos toda
semana, mas nos mantemos em contato. Lá em casa,
meus irmãos e minhas irmãs, as pessoas com quem eu
ando bem de perto, sabem o que acontece na minha
vida, e eu sei o que se passa na vida deles. Se nós nos
reunimos para jantar, jogar golfe ou se vamos a um
concerto juntos, estamos sempre falando de Jesus,
como ele está modelando a nossa vida, e o que nós estamos aprendendo. Às vezes talvez nós queiramos fazer
um encontro mais intencional, uma vez por mês, uma
vez por semana, e fazemos isso por um tempo. E passamos a dividir a vida juntos. Depois Deus pode nos guiar
para andar com outras pessoas. Então nós deixamos
isso bastante flexível.
Nós podemos nos reunir de qualquer forma que
Deus queira. Podemos, por exemplo, nos ajuntar numa
noite para louvor e cânticos. Ou para orar e discernir
a vontade de Deus para alguém que se sente chamado para o campo missionário. A igreja é uma realidade
que nós vivemos. Eu amo meu relacionamento com Jesus, mas também amo meu relacionamento com outros
irmãos e irmãs. Eu amo a sabedoria que eles acrescentam à minha vida. Eu amo poder me importar com eles
quando eles precisam da minha ajuda. E eles fazem a
mesma coisa comigo.
Então a igreja pode se expressar de muitas maneiras diferentes. O que é mais importante para mim é
que nós estamos encontrando o relacionamento com o
Pai primeiro. Somente depois nós deixamos que a igreja se manifeste como produto desse relacionamento. A
mentira que nós temos acreditado é a seguinte: se nós
descobrirmos o jeito certo de fazer a igreja, de viver a
igreja, nós vamos ter discípulos e vida, mas eu acho que
isso está na ordem inversa. O primeiro livro que eu escrevi foi “A igreja nua”. Embora goste de muita coisa
nele, tenho que confessar que foi edificado numa premissa errada. O que nós fizemos foi analisar o livro de
Atos e mostrar como deveríamos nos comportar como
igreja. Achávamos que copiando o que eles fizeram, teríamos a mesma vida. Nós realmente copiamos, conseguimos que as pessoas seguissem regras, mas não
conseguimos a vida. Nós podíamos fingir ser comunidade, mas não éramos, em essência, uma comunidade,
porque estávamos copiando um modelo.
Nada nem ninguém pode
ser um substituto do
relacionamento que eu não
tenho com Deus
O que estávamos perdendo era o seguinte: a igreja primitiva não agia como agia porque Jesus ensinou
assim. Não era um modelo que eles copiavam. Em vez
disso, a igreja primitiva ficou viva na realidade de Jesus e no amor do Pai. As pessoas que recebem vida em
Jesus vão compartilhar vida juntos. É simplesmente
assim que acontece. Não precisa mandar. Esta vida de
Jesus, em amor, dá fruto em amar aos outros. Viver
como pessoas amadas cria uma paixão pela verdade,
por comunhão, por compartilhar. E conhecendo o
Deus generoso, eu me torno generoso para com as pessoas. Então é a vida de Jesus que vem primeiro; a vida
da igreja é o resultado disso.
Eu passei 20 anos pensando o contrário: se nós
conseguíssemos acertar a igreja, teríamos a vida de Jesus. Mas assim que começamos a copiar um modelo,
paramos de seguir o cabeça. E quando isso acontece,
não importa o modelo utilizado: vai falhar, e nós vamos
ficar desapontados.
Assim que eu peço que alguém seja para mim um
substituto do relacionamento que eu não tenho com
Deus, eu fiz desse alguém um ídolo. E os relacionamentos vão quebrar porque ninguém pode ser Deus para
o outro. Jesus não nos pede que edifiquemos a igreja, mas que façamos discípulos e os ensinemos a viver
como pessoas amadas. Só então a igreja vai acontecer.
Edifique a igreja, e o amor não acontecerá.
A igreja se expressa de muitas maneiras: irmãos e
irmãs vivendo juntos, fazendo tarefas juntos. Isso pode
ser feito de milhões de maneiras diferentes, mas não
é a primeira coisa, é o fruto de outra coisa. Nossa responsabilidade não é o fruto. Nossa responsabilidade é
equipar as pessoas e assistir enquanto a igreja se manifesta.
C.: Você falou bastante sobre aspectos pessoais: fé e relacionamento com o Senhor. Porém nós temos uma noção de que na prática
essa comunhão vertical reflete-se horizontalmente e esse reflexo horizontal é recíproco
e acontece entre muitos irmãos. Qual é a sua
prática hoje com vários irmãos, amigos, pessoas com quem convive e que têm a ver com a sua
vida pessoal de fato e de verdade?
W.: Você não consegue amar o Pai e ficar sozinho.
É impossível amar o Pai e não ficar loucamente apaixonado pela sua família. A nossa comunhão não é uma
obrigação, é uma dádiva. Sara e eu temos interação
com irmãos todos os dias, todas as semanas. As pessoas vêm jantar conosco, nós vamos almoçar juntos.
Às vezes um grupo se reúne para discutir um assunto. E se tem alguma coisa acontecendo na vida de alguém que precisa ser confrontado, nós confrontamos
dentro da nossa amizade. Às vezes os relacionamentos
são quebrados, mas nunca por um voto meu. Se você é
meu amigo, eu vou ficar com você, não importa o que
aconteça. Se você quiser se afastar de mim, tudo bem,
mas eu não vou me afastar de você só porque enxergamos uma mesma coisa de maneiras diferentes. Para
nós agora é uma coisa bastante flexível. De duas e três,
de cinco e seis pessoas, nos reunimos compartilhando
a vida.
Eu escrevi um artigo há pouco tempo sobre amigos e amigos de amigos. Nós temos amigos com quem
gostamos de estar juntos nesta jornada. Quando eu conheço uma pessoa nova, eu a chamo para jantar comigo e convido também alguns outros amigos para que os
relacionamentos possam crescer. Nós não temos uma
reunião fixa, nem mensal, nem semanal. Mas também
não somos contra isso. Nós não estamos tentando evitar isso. A nossa comunhão já está bem rica da maneira
que está. Então, no momento, se fôssemos determinar
dias e horários, parece que iria pesar muito. Nós estamos sempre procurando ouvir Deus, e ele pode mudar
isso a hora que ele quiser. Aí nós poderíamos ter uma
coisa mais fixa sobre reunir por algum tempo. Nós não
acharíamos interessante fazer isso para sempre. Vamos fazer isso enquanto Deus determinar e vamos ver
como Deus vai dirigir depois disso. Mas Sara e eu sempre estamos orando e pedindo a Deus que nos mostre com quem ele quer que andemos. Estamos sempre
procurando pessoas que estão precisando de um irmão
ou de uma irmã para andar ao lado delas. Estamos enfatizando mais relacionamentos do que reuniões.
Nov/2009 a Fev/2010
C.: Tenho uma pergunta sobre a vida da
igreja relacional dentro da igreja institucional.
Quando existem conflitos e diferenças de pensamento em relação a uma interpretação bíblica, como pode haver continuidade nos relacionamentos se os líderes da igreja institucional
proíbem, a partir dessa diferença, a manifestação daqueles que têm pensamento discordante? Sinceramente, onde existe instituição, não
acredito que a igreja relacional possa acontecer. Qual a sua opinião?
W.: Como um verdadeiro relacionamento pode
continuar se eu tenho que fazer de conta que sou uma
pessoa que, na realidade, não sou? Se não posso ser
honesto sobre as coisas que estou descobrindo porque
alguém não gosta, porque acha que é um erro, como eu
posso crescer? Nós crescemos em tudo naquele que é o
cabeça, de acordo com Efésios 4, falando a verdade em
amor. Se pararmos de falar a verdade em amor, a vida
da comunidade morre. E tantas instituições precisam
de conformidade. Não é permitido às pessoas discordarem da liderança da igreja porque parece rebelião.
Então, com medo da rebeldia, exige-se conformidade,
e a pessoas têm que ser desonestas.
Posso viver um relacionamento num ambiente desses? Com as pessoas, sim. Os fariseus não gostavam
muito do que Jesus falava, mas isso não o impedia de
continuar falando. Como, então, viver um relacionamento num ambiente institucional? Se Deus me chama
para viver perto de pessoas que estão vivendo institucionalmente, eu vou assistir às reuniões ao lado delas,
vou convidá-las para almoçar e jantar. Assim vou começar a conhecer pessoas. Não vou desencorajá-las
a acreditar naquilo em que estão crendo nem tentar
convencê-las de que estão erradas, e eu, certo, pois isso
é obra do Espírito Santo. Eu só vou amá-las e compartilhar o que estou conhecendo sobre o Pai para ver se
estão com fome da mesma coisa. Se estiverem, nós
vamos conversar sobre isso. Se preferem falar de coisas de denominação, eu vou respeitar, pois não quero
tornar sua vida difícil. Se querem me perguntar coisas
com que se preocupam, vou falar sobre isso. Mas eu
não venho a um grupo de pessoas para ser um agente
de mudanças. Eu não quero mudar ninguém, apenas
amar todas as pessoas nos lugares onde elas se encontram em Cristo.
Deus não tem inimigos, a não ser o maligno, portanto não devemos lutar contra carne e sangue. Quando temos o amor de Deus no coração, sabemos que ele
ama a todos e aprendemos a viver perto de todo tipo de
pessoas. Não é diferente se se trata de uma pessoa de
uma instituição ou de um ateu num avião, do lado de
quem às vezes nos sentamos. É só uma conversa sobre
quem é Deus e se a pessoa quer conhecê-lo. E se ela
quiser, eu tenho muita alegria em ajudar.
C.: De acordo com a Bíblia, marcar encontros e reuniões para estar em comunhão, compartilhar oração e praticar a ceia seria errado?
Esse tipo de situação seria como marcar um
horário para Deus realizar as coisas?
W.: Pode ser verdade. Eu acho que nós temos muito mais reuniões do que Deus deseja. Ele disse ao povo
de Israel, por meio de Isaías, que havia cansado de suas
festas e de todas as suas reuniões. Eu não vejo nada de
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errado com irmãos e irmãs organizando uma reunião
no final de semana para orar, cantar e falar de Jesus,
para ter ensinamento sobre graça e justiça. Acho tudo
isso muito bom, mas nós precisamos forçar Jesus a
aparecer nessas coisas.
Onde dois ou três se reúnem no nome dele, ele vai
estar lá. Eu gostaria que ele tivesse dito “quando só
dois ou três se reúnem”, mas ele não disse. É o mínimo, mas não o máximo. Comunhão é melhor em dois
ou três. As melhores conversas acontecem quando dois
ou três estão comendo juntos.
Não é errado estarmos numa conferência como
esta, mas o melhor é quando podemos sentar com mais
um ou mais dois e fazer perguntas e processar tudo de
que temos necessidade. Ter aulas particulares de golfe
com Tiger Woods, por exemplo, é muito melhor do que
me reunir com mais dez mil pessoas num estádio para
ouvi-lo.
A realidade de dar no Novo
Testamento não é baseada em
dízimos, mas na generosidade de
Deus
C.: Gostaria que você comentasse o texto de
Hebreus 10.25: “Não deixemos de congregarnos, como é costume de alguns...”
W.: Alguém pode passar um longo tempo frequentando a congregação e nunca realmente reunir a sua
vida com a de outro cristão. Existe muita gente solitária
em nossas igrejas. De fato, muitos reconhecem: a igreja
acontece mais no estacionamento do que nas reuniões.
O motivo é claro: o envolvimento mútuo, que a igreja
primitiva tanto prezava, não se garante com a frequência às reuniões porque, geralmente, estes momentos
não têm sido os melhores para os irmãos se conhecerem, travarem um diálogo honesto, encorajarem-se
uns aos outros na jornada. Hebreus 10 não é um texto
para congregações tradicionais, para exigir que todos
assistam às reuniões, mas é um bom alerta para nós
de que essa não é uma jornada independente: fomos
convidados ao Pai, portanto a uma família com a qual
temos que nos envolver, não importa a maneira como
Deus nos dirige para compartilhar vida e comunhão.
Jesus serviu os discípulos lavando-lhes os pés. Nós
não estamos servindo quando ficamos juntos sentados
num prédio, olhando a nuca uns dos outros, mas nos
envolvendo com pessoas nos detalhes mais simples e
concretos de suas vidas. Na nossa cultura, como podemos lavar os pés dos outros? Ajudando-os a mudar de
casa, a encontrar emprego, a ter o sustento. Serviço é
algo muito prático que nos ajuda a atravessar a vida
juntos.
C.: O que você acha dos dízimos e ofertas
nessa nova abordagem?
W.: Basicamente, nosso problema é o seguinte: a
religião cristã, dentro da qual muitos nos encontramos,
não passa de uma reformatação das realidades da Velha Aliança rebatizadas com a terminologia da Nova.
Perdemos quase tudo o que Jesus nos trouxe na cruz:
ainda temos sacrifícios, a lei, ofertas e sacerdotes. Pe-
gamos todas as coisas das quais Cristo nos libertou e
as adaptamos para uma religião chamada cristianismo, com princípios divinos para seguir ao invés de um
Deus para amar.
Eu não estou convencido de que dízimos e ofertas conseguiram passar da Velha Aliança para cá. Os
crentes do Novo Testamento não foram encorajados a
dar dízimos. Isso foi o que Deus pediu à nação judaica
para a manutenção dos sacerdotes e das festas. Mas
nós pegamos tudo isso e carregamos para o Novo Testamento.
Dízimo é um jeito fácil de arrecadar dinheiro para
suprir todos os prédios e as equipes das nossas instituições. Nós precisamos de um número significativo
de pessoas dando 10% de sua renda para sustentar
toda essa estrutura. Se entendemos que Deus nos chamou para estar em determinada estrutura e estamos
nos beneficiando dela, espera-se que estejamos dando os 10% de nossa renda. Mas isso não é uma dádiva
a Deus; é uma cobrança de sócio de um clube. Pouco
aproveita à extensão do reino de Deus no mundo.
Hebreus diz que tudo na Velha Aliança era uma figura de uma realidade maior que ainda viria. Isso é
verdade sobre sacrifícios, e creio que também sobre o
sacerdócio, porque agora todos somos sacerdotes. Jesus proibiu que chamássemos alguém de mestre. Todos temos um Pai, somos, portanto, irmãos e irmãs.
Paulo nunca se denominava apóstolo. A igreja primitiva não via ministérios como identidade, mas como
função. Paulo falava da liderança como uma função na
família, não como um novo sacerdócio. Todos somos
sacerdotes do Senhor Deus.
A realidade de dar no Novo Testamento não é baseada em dízimos, mas na generosidade de Deus. É o
que aconselha Paulo em 2 Coríntios 7, 8 e 9: as contribuições aos santos em Jerusalém deviam ser feitas
com coração generoso, não por obrigação; cada qual
devia participar de acordo com o que tivesse proposto
no seu coração.
Dízimo é uma figura de dar. A realidade é o seguinte: quando sabemos que temos um Pai generoso, que
derrama a vida dele em nossa vida, somos tocados pelas necessidades de outras pessoas e agimos de forma
generosa com elas. Há necessidades no mundo todo.
Tudo, no entanto, deve ser feito com alegria, pois Deus
ama quem dá com alegria. Ele não gosta de gente pagando contas. Se vivermos na generosidade de Deus,
no fim de um ano, especialmente se as circunstâncias
forem boas, teremos dado bem mais do que 10%. Esse
percentual vai parecer muito pequeno porque a generosidade de Deus é imensurável.
Infelizmente, a maioria de nós não conhece a Deus
como um Pai generoso. O deus da religião não é generoso. É preciso mendigar e pedir tudo o que você conseguir dele. Parece que ele é meio avarento.
Não é assim o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando o conhecemos, experimentamos sua provisão
de maneiras inimagináveis. Como consequência, dar
a outros torna-se uma alegria. E a maneira como nós
podemos conhecer o Deus generoso é saindo de nossa
agenda e assumindo a dele. Possivelmente já notamos
que Deus não é muito generoso com nossa agenda. Ele
não quer sustentar o nosso egoísmo dando-nos tudo
aquilo que queremos. Ao contrário, ele quer que vivamos nele para que nos dê tudo o que ele deseja dar. E
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convenhamos: isso é bem melhor do que o que achamos que queremos para nós.
Eu tenho 56 anos de idade. Atualmente, não estou
fazendo nada do que sonhei quando era um jovem no
ministério e pedia a Deus influência e oportunidade.
Não estou vivendo nada do modo como eu via, mas não
troco o que eu estou vivendo hoje em Jesus por nada
do que eu costumava sonhar. Deus desapontou minhas
expectativas porque tinha para mim coisas maiores do
que eu jamais poderia saber. As coisas que eu queria
estavam na falsidade da religião, não na realidade de
uma vida transformada. Essa vida é bem melhor. Eu
queria falar com multidões de milhares de pessoas,
agora eu prefiro falar com 20 pessoas ou menos. Eu sei
que acontece mais numa conversa do que numa palestra. Jesus ensinou multidões e não teve tanto sucesso,
mas compartilhou o evangelho com grupos menores de
pessoas e assim ele se difundiu. Paulo está totalmente
correto quando, em Efésios 3, diz que o que Deus tem
em mente para nós vai extremamente além do que podemos pensar e imaginar.
C.: Como falar de Jesus sem ser religioso e
sem evangelizar?
W.: Se você é religioso, é assim que agirá nas mais
diferentes situações. E se você não é religioso, sua forma de viver trará essa marca. O que nós somos vai ser
comunicado às pessoas. À medida que vai perdendo
suas obrigações e treinamentos religiosos, você vai se
tornando mais relevante no mundo, e as pessoas passam a querer conversar com você sobre o Deus que
você conhece. Quando tudo já vem embrulhado no pacote da religião, o mundo não tem interesse. As pessoas podem até ser educadas com você, mas não vão se
envolver. Como não ser religioso com o mundo? Abandonando sua religião à medida que anda com Jesus.
Assim, você vai aprender a amar as pessoas. Quando
ama as pessoas, você não quer manipulá-las. E também não quer manipular a conversa. Como resultado,
as pessoas passam a se importar com o que você tem
para lhes falar.
C.: Quem se frustrou com a igreja e com
toda a estrutura, quando lê o seu livro, animase com uma proposta de ser amado por Jesus,
de viver um relacionamento sem ser preso à estrutura. Mas existem ainda pessoas que amam
a estrutura e não conseguem pensar numa vida
de ser igreja sem estar na estrutura. Eu estive
conversando com uma amiga e perguntei se ela
já tinha lido o livro. Ela olhou séria para mim
e falou: “Não li porque eu ainda vou à igreja”.
Existe um jeito de conversar com essas pessoas
sem que haja um conflito? Há uma maneira de
viver a igreja e não viver na igreja?
W.: A resposta fácil é não. A melhor coisa que eu
vejo sobre viver como uma pessoa amada e amando é
que você não precisa convencer os outros a esse respeito. Eu sei que nós queremos fazer isso. Nós queremos
que nossos amigos desfrutem daquilo que nós estamos
desfrutando. O que eu amo nesta jornada é que ela é
um convite para as pessoas que têm fome. Aqui está o
maior erro que eu cometi quando era pastor: eu queria
alimentar os famintos, mas acabava gastando 90% do
meu esforço e do tempo do sermão no domingo tentan-
do convencer e motivar as pessoas acomodadas.
Em João 16, Jesus menciona que a obra de convencimento é exclusiva do Espírito Santo. Nos últimos 15
anos, eu não tenho desperdiçado um segundo do meu
tempo tentando convencer alguém. Eu vivo a vida que
Deus me chamou para viver.
Não somos suficientemente brilhantes, não temos
capacidade de convencer as pessoas que não veem o
que nós vemos. Na verdade, quando tentamos fazer
isso, às vezes colocamos as pessoas ainda mais na defensiva, deixando-as mais hostis àquilo que nós estamos querendo mostrar. Então eu parei com isso há
muito tempo. Eu apenas aconselho as pessoas a verificarem se sua participação numa determinada comunidade de cristãos vem ajudando-as a conhecer mais a
Deus. Eu tenho notado o seguinte: quando eu paro de
tentar convencer as pessoas, elas ficam muito curiosas,
e então surge uma oportunidade maravilhosa de conversar com elas.
Minha preocupação hoje é equipar os famintos. Eu
posso amar os acomodados e os meus inimigos, eu posso ser bondoso, gracioso com eles, mas não vou tentar
convencê-los mais. Creio que era isso o que Jesus fazia.
As parábolas são um exemplo disso. Ele disse que usava esse recurso para que os fariseus não entendessem o
que ele estava dizendo. Eu ensinei durante muito tempo que Jesus passava as verdades em códigos para os
verdadeiros discípulos porque não queria que os fariseus soubessem. Naquela época, eu achava que era um
dos verdadeiros discípulos, logo mais amado do que
outros. Mas o que Jesus estava dizendo era algo bem
diferente: “Eu não consigo colocar a verdade diante
dos fariseus agora porque eles não estão prontos para
corresponder a ela. A verdade vai fazer com que fiquem
na defensiva, e eles vão afundar mais ainda no buraco
em que já estão”. Eu tenho visto isso na minha própria
vida. Quanto mais eu tento convencer alguém, mais
esse alguém fica na defensiva e passa a viver numa escravidão ainda maior, tentando provar para mim que
eu estou errado.
Um dia antes de viajar para cá, eu me encontrei com
um amigo bem íntimo que está tomando uma decisão
muito idiota. Ele queria falar sobre isso comigo para
obter a minha aprovação, embora já achasse que eu não
iria aprovar. Eu confirmei sua previsão e dei-lhe uma
razão para minha posição. Ele começou a argumentar.
Eu simplesmente disse que não estava tentando parálo, apenas dando minha opinião. Eu não apoiaria sua
decisão, pois estava claro que levaria a problemas, mas
me manteria a seu lado para o que desse e viesse, continuando a amá-lo. Era tão engraçado: quanto mais eu
tentava não convencê-lo, tanto mais ele queria que eu
o convencesse, mas eu não ia fazer isso. Eu falei: “Irmão, está entre você e Deus. Ele é o seu mestre. Você
vai ficar em pé ou vai cair diante dele. Se este for um
erro, Deus é maior do que os seus erros”. Eu já passei
várias vezes por isso e pude ver, mais adiante, o quanto
tinha sido idiota, mas também o quanto Deus me amava assim mesmo e sabia usar a minha confusão para a
glória dele.
Eu acho que nada que nós possamos dizer vai convencer alguém. Deixe as pessoas começarem a conhecer a sua verdadeira vida, seu coração. E quando começarem a discutir, afaste-se um pouco. Quando estiverem com fome, então você poderá lhes mostrar.
Estive com um homem em Mianmar há uns dois
anos, numa ocasião em que estava ensinando um grupo de pessoas. Eu disse algumas coisas sobre a cruz que
ele nunca tinha ouvido antes, e essas coisas o assustaram. Depois de dois dias, ele falou com um dirigente
que achava que eu era o anticristo, e eu fui comunicado
disso. Às vezes isso acontece comigo. Eu estava falando de algumas coisas que sabia que iam ser difíceis de
eles entenderem. Esse homem nunca tinha lido nada
do que eu escrevi, ele não estava ali com sede dessas
coisas que Deus tem feito na minha vida. Era tudo
novo, parecia-lhe que todas as estruturas religiosas em
que confiava estavam desmontando, e isso o assustou.
Então começou a me atacar, mas eu o encorajei a permanecer conosco mais um dia. Talvez conseguíssemos
chegar a um outro ponto que pudesse testificar a realidade em seu coração. Mais dois dias depois, ele se
aproximou e caiu de joelhos diante de mim, agarrado
aos meus tornozelos. Enquanto chorava, dizia: “Você é
um apóstolo de Deus, você precisa vir para Mianmar”.
Eu recusei aquela reverência, dizendo que não era um
apóstolo, mas apenas um irmão que está numa viagem.
Às vezes, as pessoas que lutam mais, que resistem
mais são as que estão mais próximas, que estão quase
enxergando. Elas simplesmente ainda não se entregaram, não se renderam. Devemos amá-las da mesma
forma. A parte de amar é o que Deus pediu a nós. A de
convencer pertence ao Espírito Santo.
C.: Como é que, nesse estilo de vida, nessa
jornada, se aprende sobre o Senhor Jesus se
não é através de pregação da palavra, de estudos bíblicos, que é aquilo com o que nós estamos acostumados? O poder de demonstrar
o amor e ser amado por esse ser que nos ama
incondicionalmente é a chave para atrair pessoas?
W.: Existem milhões de maneiras para aprender.
Na essência de tudo, nós precisamos estar aprendendo dele. Várias escrituras no Novo Testamento falam
que nós não vamos precisar mais de mestres. Não será
necessário sair falando um com o outro: “... conhece
o Senhor, porque todos me conhecerão, do menor ao
maior.” Isso está em Hebreus 8. A primeira carta de
João diz que cada um tem a unção do Senhor, e ela nos
ensina todas as coisas. É por isso que você pode ouvir
alguma coisa, e algo dentro de você produzir ou não
testificação. A religião nos ensina a ignorar isso: “Confie em nós, pois somos estudiosos da Bíblia. Nós podemos falar qual é a verdade”.
Jesus disse que as ovelhas conhecem a sua voz. Ao
estranho elas não vão seguir. Basicamente nossa instrução tem que vir do nosso relacionamento com o Pai,
mas isso não significa que não precisamos de livros, de
mestres, lugares aonde nós vamos para aprender melhor as coisas que Deus quer nos mostrar. É por isso
que eu escrevo, é por isso que eu viajo. No entanto há
uma diferença entre ir a um professor para complementar o que Deus está nos mostrando e ir para um
professor como um substituto. No segundo caso, a nossa confiança passa a ser em outra pessoa ou em algum
tipo de teologia.
Eu ouço muito hoje sobre a mensagem da graça.
Muitos me perguntam: “Você ensina a mensagem da
graça?”. Graça para mim não é uma mensagem, mas
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uma realidade dentro da natureza de Deus. Se começo a
ser um defensor da mensagem da graça, eu já não estou
mais representando Jesus. Eu quero que as pessoas tenham vida nele. Eu falo sobre a graça, sobre crescer no
relacionamento, mas não quero ser um substituto para
a jornada de outra pessoa. Eu penso que qualquer bom
professor vai ajudar a conhecer o Pai, mas não tentar
tomar o lugar dele na vida de ninguém. Se nós entendermos isso, poderemos ler, conversar com as pessoas,
ouvir mensagens em áudio. Eu faço tudo isso. Eu leio
centenas de livros por ano. Eu interajo com pessoas
que veem as coisas de uma maneira diferente. Eu ouço
transmissão de mensagens, ensinamentos. Às vezes eu
me encorajo com a jornada de uma outra pessoa. Mas
bem no coração de tudo isso tem que estar o Espírito
Santo dizendo: “Isso é verdade”, “Isso não é verdade”.
Na maior parte da história do cristianismo, a igreja
tem procurado ser esse substituto. Nós acabamos decidindo o que está certo e o que está errado. Eu conheço
alguns pastores que não permitem que ninguém na sua
congregação leia livros que não estejam na lista dos
aprovados. Eu sei porque eu recebo cartas de pessoas.
Quando me pedem a indicação de um livro, eu não vou
ao pastor daquelas pessoas pedir permissão para mandar um livro a elas.
Depois de vender por seis meses “A cabana”, um
grupo de livrarias nos Estados Unidos, preocupado
com a recepção de seus leitores, reuniu os seus teólogos para debater sobre as possíveis heresias contidas
no livro. Tendo concluído que os erros não eram muitos, houve uma discussão para saber se o livro continuaria sendo vendido nas livrarias do grupo. A solução
a que chegaram foi mantê-lo à exposição para venda,
mas com uma ressalva que prevenisse o leitor de que
o livro era muito controvertido e deveria ser lido com
bastante discernimento. Nós demos risada. Como se os
outros livros não precisassem ser lidos com discernimento.
C.: Há anos temos ouvido – e eu creio que
esse foi o meio como muitos de nós fomos alcançados – sobre uma fórmula, às vezes mecânica, baseada naquilo que Bill Bright criou, as
quatro leis espirituais, que deram origem até
mesmo a algumas expressões de como aceitar
Jesus. Na prática, quando se trata de falar a
um incrédulo, como é que você compara essa
fórmula mecânica com a abordagem que esta
conferência nos apresenta?
W.: Durante os últimos cem anos, nós temos visto
salvação, sobretudo por meio das muitas abordagens
evangelísticas, como Deus nos livrando do inferno e
resolvendo o nosso destino eterno. O anúncio invariavelmente adverte e propõe: “Você merece ir para o
inferno, mas se aceitar a Jesus, poderá ir para o céu”.
Embora não negasse a realidade do inferno, não era
assim que Jesus fazia o convite para o reino. Seu convite para a salvação não tinha como objetivo resolver o
destino de quem quer que fosse, mas oferecer um relacionamento com o Pai. Se o nosso único propósito de
salvação é livrar as pessoas do inferno, então a visão
da cruz como um castigo é suficiente. Mas se o nosso
propósito é convidar as pessoas a um relacionamento,
a visão de castigo não basta.
Podemos ilustrar isso da seguinte maneira: eu con-
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vido alguém para ser meu amigo, mas antes que essa
pessoa se decida, derramo gasolina em sua cabeça e,
com um palito de fósforo pronto a ser riscado, refaço o
convite: “Você quer ser meu amigo?”. Infelizmente, as
pessoas se relacionam com Deus dessa forma: aceitam
ser amigas dele não porque se afeiçoaram a ele, mas
porque estão com medo de ir parar no inferno. E quando um relacionamento é gerado pelo medo, sempre fica
no mínimo.
Deus é visto como um sequestrador que nos enche
de ameaças. Nos EUA, temos a história de uma garota
que, aos 14 anos, foi sequestrada e estuprada. Ela acabou se casando com o homem que a violentou e teve
três filhos com ele. Quando a polícia a encontrou, somente dezoito anos depois, ela não mais queria voltar
para casa. Tinha aprendido a viver dentro daquele relacionamento.
Se o convite é para relacionamento, então precisamos mais do que castigo. A cruz precisa ser a história
que não só nos une em afeição a Jesus, que tomou nosso lugar, mas que também cria um relacionamento de
afeto com o Pai, que nos ama.
Eu apresento as pessoas a Jesus da
mesma maneira que eu apresentaria
alguém a Sara, minha esposa. Deus
fará o restante
O convite de Jesus é para vendermos tudo e adquirirmos a pérola de maior valor, o conhecimento do Pai.
“Arrepender-se e crer” são termos que usamos muito,
embora o façamos de uma forma bastante religiosa.
Quando pensamos em arrependimento, muitos de nós
o associamos à desistência dos pecados, a mudar nossa mente para viver de uma maneira diferente. E crer
significa aceitar que Jesus é o Cristo. Trata-se de uma
concordância teológica com os credos, a doutrina da
igreja, o fato de Jesus ter nascido de uma virgem, sua
vida sem pecado, a morte na cruz, a ressurreição ao terceiro dia, o estar sentado à direita do Pai e a expectativa de seu retorno à terra em poder e glória. Tudo isso é
verdadeiro, mas não o que Jesus queria dar a entender.
Quando falava sobre arrepender-se e crer, a linguagem que Jesus usava não era semelhante à linguagem
religiosa do seu tempo. Os fariseus não falavam em arrependimento e fé. João Batista e Jesus, ao fazeremno, empregavam um termo secular. Josefo, o historiador judeu, conta a história de dois generais romanos
que chegaram a um campo de batalha para ajudar uma
terceira legião romana que estava sendo derrotada
pelos insurgentes. Segue-se uma acalorada discussão
entre os generais em que cada qual tenta fazer prevalecer a sua estratégia militar de ajuda. Depois de muito argumentar, um deles diz ao outro: “Arrependa-se
e creia em mim”. Estaria ele exortando o outro a ter
remorso pelos seus pecados e a abraçar a verdade das
escrituras? Não. Era algo bem diferente: “Abandone o
seu plano e abrace o meu” era o sentido.
Então quando Jesus disse “Arrependa-se e creia”,
ele não estava tratando especificamente do problema
do pecado, mas de abandonarmos toda a agenda que
nos coloca como centro da nossa vida. Significa viver
não mais em função daquilo que eu quero ou daquilo
que eu acho que preciso. Significa abandonar a minha
necessidade de agradar a mim mesmo e passar a acreditar na agenda de Deus para mim.
Quando falo com pessoas que não creem, eu não
digo “O reino de Deus está próximo” porque elas não
vão entender. O reino de Deus era um assunto do povo
judeu daquela época. O ateu, nas ruas da América, não
entende isso. Então eu procuro expressá-lo numa linguagem que possa ter significado para ele. Muitas vezes eu falo alguma coisa mais ou menos assim: “Você
tem um Pai que o ama mais do que qualquer outra
pessoa nesse planeta já o amou ou pode amá-lo”. Para
mim, esse é o cerne do evangelho. Foi assim que Jesus
falou com a mulher no poço: “Se você beber da água
que eu lhe der, nunca mais terá sede”. Ele não está falando com ela “O reino de Deus está próximo” porque
ela é samaritana. Não é a linguagem dela. Ela está indo
buscar água fora da cidade, no calor do dia, por causa
da vergonha da sua vida: ela já se divorciou cinco vezes. Naquele tempo, a mulher não tinha o direito ao
divórcio. Isso significa que não foi ela que abandonou
cinco casamentos, mas que cinco homens a tinham
rejeitado. E o homem com quem ela morava naquele
momento não era seu marido. Jesus não confrontou o
seu pecado. Ela já sabia suficientemente qual era ele e
tinha muita vergonha disso. Jesus viu nela não alguém
que não podia fazer um compromisso de casamento,
mas uma mulher sedenta por amor, que até então andara bebendo de todas as fontes erradas. Então para
ela Jesus disse: “Eu tenho água que você não conhece”.
O problema da metodologia mecânica para compartilhar o amor de Deus é que geralmente a outra pessoa
se sente manipulada. Sentamos num avião e usamos
a seguinte abordagem para a pessoa do lado: “Se esse
avião cair, você vai para o céu ou para o inferno?”. Depois ficamos sem entender por que a pessoa não quer
conversar conosco. Quando eu me sento num avião,
procuro me interessar pela vida da pessoa a meu lado,
mas nunca forço uma conversa. Se o assunto chegar a
Jesus é porque partiu da outra pessoa. Começa com
uma pergunta que me fazem. A única maneira para eu
levantar o assunto é se Deus me der uma palavra de
conhecimento, alguma percepção sobre aquela pessoa.
Então pode ser que eu faça uma pergunta sobre ela
para abrir a porta à conversa.
Eu apresento as pessoas a Jesus da mesma maneira que eu apresentaria alguém a Sara, minha esposa.
Deus fará o restante. Ele é muito bom nisso, já está
nesse negócio há muito tempo. Ele sabe como se revelar às pessoas.
Watchman Nee costumava orientar da seguinte forma os incrédulos que, depois de ouvi-lo, vinham a ele
declarando que ainda não tinham sido convencidos da
existência de Deus: “Experimente, nessa noite, ao chegar em casa, dizer a Deus que não acredita nele”. As
pessoas não viam sentido em fazer isso, mas Watchman
Nee insistia: “Ora, se você não acredita mesmo, não
tem importância dizer, não é verdade?” Alguns voltavam na noite seguinte, completamente transformados.
Contavam que haviam feito como Nee aconselhara: tinham dito a Deus que não acreditavam nele. Para sua
consternação, Deus devolvia: “E por que não?”.
Nov/2009 a Fev/2010
20
A fé que cresce com o relacionamento
Quando cremos que Jesus é o Cristo,
entramos num relacionamento de confiança com o Pai de todos. E quando confiamos em Deus, nós não pecamos, não
temos ansiedade nem medo. O medo é
sinal de que estamos mais focados em
nós do que nele, estamos vivendo a partir do velho homem. Então o crescimento do novo homem é um crescimento na
fé em Deus, mais hoje do que ontem. É
confiança que nos transforma. Se Adão
e Eva soubessem quem Deus era quando o inimigo mentiu a eles, com certeza iriam rir dele. Se alguém viesse para
mim nesta manhã e fizesse insinuações
sobre Sara, eu não ia ficar nem um pouquinho preocupado, mas dar boas risadas. Sara não é assim. Eu confio nela
completamente. Nós passamos muito
de nossas noites separados por causa de
minhas viagens, mas nunca temos o mínimo de medo sobre o que o outro esteja
fazendo durante essas ausências. Essa é
uma realidade por 34 anos de casamento. Mas não começamos nesse ponto.
Fomos chegando a isso gradualmente.
Deus quer nos levar a esse ponto no
relacionamento com ele. Quando começamos a conhecê-lo, não confiamos
muito nele. Até dizemos que confiamos
de todo o coração, mas não é verdade.
A confiança cresce à medida que o relacionamento cresce. Nós temos sido
ensinados que confiança é uma escolha:
escolhemos ou não confiar em Deus. No
fundo, sabemos que isso não é verdade.
Basta lembrar de algumas situações que
produziram ansiedade em nós e que resolvemos confiar a Deus em oração. Um
momento depois, e lá estava a mesma
ansiedade rondando e inquietando os
nossos pensamentos. Não resta dúvida:
não estávamos confiando, de fato, em
Deus naquela oportunidade. Ele sabia
que queríamos confiar, mas que nosso
relacionamento com ele não era forte o
suficiente para isso.
Precisamos pedir a ele que nos ensine a confiar. Ora, ele é o autor e consumador da nossa fé. Até isso é obra dele
em nós. Não é o que fazemos por ele,
pois, nesse caso, transformaríamos a fé
numa outra obra religiosa. Ou seja, ouvimos tanto que precisamos ter mais fé
que acabamos fazendo força para crer. A
fé cresce à medida que o relacionamento cresce. Quanto mais eu sei que ele me
ama, mais livre eu sou para confiar nele.
Que tal pedirmos: “Senhor, o que eu
ainda não sei sobre ti que poderia me fazer confiar mais quando estiver nesta ou
naquela circunstância?”. Às vezes, leva
semanas e meses, mas Deus responde
a essa oração. Ele quer que cresçamos
no conhecimento dele. Foi isso o que ele
fez com Abraão. Abraão ficou conhecido como o pai da fé, mas não começou
assim. No início da jornada, para salvar
a própria pele, mentiu sobre sua esposa
e viu-a indo parar nos braços de Faraó.
Definitivamente, Abraão não era um homem de grande fé, mas Deus começou a
se revelar a ele. À medida que esperava
o cumprimento de uma promessa que
lhe trouxe muitas frustrações, Abraão
aprendia a confiar em Deus. Ele teve que
crescer para se tornar um homem de fé.
Deus quer que você e eu cresçamos na
fé: esse é o assunto dessa vida espiritual. Hoje ainda não cremos do jeito como
gostaríamos porque ainda não sabemos
o quanto ele nos ama. Talvez saibamos
disso teologicamente apenas.
Quanto mais confiamos, mais livres
passamos a viver. E naquilo em que ainda não conseguimos confiar, sigamos
pedindo que ele nos ajude. Essa é a jornada. Gasta anos, não dá para ser um
cristão perfeito de uma noite para outra.
Não dá para acertar tudo. Não temos
inteligência nem bondade suficientes,
apenas somos amados pelo Pai. E viver
sendo amados transforma nossa vida.
Portanto, quando a confiança nos
faltar, sejamos honestos. Nesses momentos, ao invés de fugir de Deus, imaginando-nos um fracasso, devemos correr em sua direção pedindo ajuda para
confiar.
Compartilhando a cruz no Brasil
As impressões de Wayne Jacobsen
sobre sua passagem pelo Brasil
Este é o 6º dia em São Paulo, e
estou tendo uma viagem incrível. Eu
realmente adoro o povo que encontro
em viagens como esta, especialmente aqueles que estão começando a ver
como o Deus da Bíblia tem sido desfigurado pelas mentiras da religião. A
maioria das pessoas que tenho encontrado me conhece apenas através da
leitura do “Por que você não quer mais
ir à igreja?”. O livro foi traduzido e publicado no Brasil pela mesma editora
que publicou “A Cabana”. Tem vendido incrivelmente bem através das lojas
seculares e tem causado um grande
burburinho neste país. Igrejas tradicionais e pastores têm falado contra
o livro, e muitos têm alertado o povo
para não ler algo tão ameaçador. Mas
muitos outros leram, discerniram sua
mensagem e quiseram que eu viesse
para falar mais sobre esta maravilhosa
vida com Deus e o jeito diferente de ver
a igreja.
Nós tivemos um retiro de final de
semana em que cerca de 200 pessoas
se reuniram para conversar comigo. O
evento também foi transmitido ao vivo
pela internet. Eles nunca tinham ouvido sobre o He Loves Me (o livro Ele me
Ama). Infelizmente a maioria não fala
inglês, e eu não falo português, então
tive que trabalhar via tradução, o que
faz tudo ficar um pouco mais difícil.
Mas eu tive alguns tradutores maravilhosos, e uma jovem que acabou de se
formar num colégio nos Estados Unidos ficou comigo todo o tempo para
ajudar nas conversas pessoais. Foi fantástico conversar com tantas pessoas e
ouvir o que Jesus está revelando para
elas, bem como ajudá-las nas suas perguntas.
Eu tenho falado sem parar desde
quando cheguei, portanto estou muito
cansado. Nós tivemos um encontro de
5 horas ontem numa casa com grande
número de perguntas sobre como viver
esta vida individual e coletivamente.
Eu amo o coração destas pessoas, o
que eles já sabem sobre Ele e o que Ele
está moldando em suas vidas.
Deixe-me dizer sobre um momento
que me tocou profundamente. Sábado
à noite, eu compartilhei o ensinamento sobre a cruz, que teve um grande
impacto. É uma visão da cruz que não
tem sido ensinada no Brasil e que muitos estão processando pela primeira
vez. Nós tivemos um diálogo incrível
depois dela. Mas sempre é difícil ensinar tal conteúdo usando tradutores
porque existem muitas nuances, e eu
nunca estou seguro como a mensagem
está sendo interpretada.
Quando terminei, sentei-me próximo de uma jovem que eu sei que entende inglês. Eu me inclinei até ela e
perguntei se tudo aquilo que ela ouviu
fazia algum sentido. Tanta teologia em
tão pouco tempo, eu queria ter certeza
que a mensagem havia sido comunicada através da tradução. Ela se virou
para mim, e seus olhos se encheram
de lágrimas. Com um semblante estarrecido, agradecido, entregue, no bom
sentido, e quase sem voz, me disse: “Eu
nunca havia ouvido isto antes”, pois
acabava de descobrir a ternura do Pai
que ela nunca havia conhecido antes. E
então ela chorou. E eu também chorei.
Mexeu muito comigo ver profundamente como Deus se fez conhecer para
ela de forma tão simples e profunda.
Se as pessoas me perguntam por
que eu viajo pelo mundo, apertado em
aviões lotados por horas a fio, dormindo em camas que não são as minhas,
comendo comidas estranhas de que eu
nem sempre gosto, sentindo saudades
da Sara, de meus filhos e dos meus netos, bem como do conforto e alegria da
minha casa, momentos como este são a
resposta. Aquele momento único faria
a viagem toda valer a pena para mim
se nada mais tivesse acontecido aqui.
Uma filha que encontra o Pai que ela
nunca soube que tinha. Ver sua alegria
mexeu profundamente comigo.
Sim, eu acho que Ele se comunicou.
Tem sido tão transformador para ela
e para tantos. Um após outro, vários
vieram até mim ao final e disseram o
quanto a mensagem tinha mudado sua
forma de pensar sobre Deus. Outros tiveram dificuldades para compreender,
como eu tive quando ouvi pela primeira vez. Você quer acreditar que isto é
verdade, mas tanta tradição religiosa
nos ensinou o contrário.
Um homem me perguntou por que
eu arrisco compartilhar isto. Bem, porque eu acredito que isto é a realidade
fundamental na qual tudo o mais é
construído. A maioria das pessoas vê
Deus mais como o “atormendador” de
Jesus do que como o Pai que estava em
Cristo reconciliando o mundo consigo
mesmo. Por causa disso, tantos cristãos vivem suas vidas tentando apaziguar um Deus exigente e zangado, ao
invés de viver na afeição de um Pai
gracioso. Se nós não entendermos isto
da maneira correta, nós nunca aprenderemos o que significa crescer Nele,
compartilhar vida com sua família, ou
amar o mundo com a mesma compaixão que Jesus amou. Um dia mais por
aqui, e então eu voo para casa, para
passar os feriados com minha família.
Traduzido do site www.lifestream.
org por Paulo Roberto da Silva

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