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INVENTÁRIO DA ARBORIZAÇÃO DAS VIAS PÚBLICAS DE INCONFIDENTES-MG E ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOS CORRÊA, Rony Felipe Marcelino Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] PINTO, Lilian Vilela Andrade Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas, Campus Inconfidentes (IFSULDEMINAS) [email protected] RESUMO: O presente trabalho teve como objetivos inventariar quali-quantitativamente a arborização urbana em vias públicas de Inconfidentes-MG, seus impactos negativos, as espécies mais frequentes e as que trazem mais problemas para que posteriormente a prefeitura municipal possa traçar um plano de arborização urbana. Para atender esses objetivos foi realizado um inventário quali-quantitativo das espécies arbóreas e arbustivas encontradas na arborização de 35 quadras da cidade, sendo identificados 408 indivíduos distribuídos em 40 espécies e 21 famílias botânicas. As espécies que apresentaram maior frequência foram a Caesalpinia peltophoroides (sibipiruna) totalizando 27%, Ficus benjamina (fícus) com 11%, Delonix regia (flamboyant) com 8% e Murraya exótica (murta) com 7,5%. Pôde-se constatar que 226 indivíduos (55,39%) geram algum tipo de conflito, sendo os maiores conflitos relacionados com fios, calçadas e pedestres, e apenas 182 indivíduos (44,61%) não geram nenhum tipo de conflito. PALAVRAS-CHAVE: Arborização urbana; planejamento urbano; gestão ambiental. ABSTRACT: This study aimed to elaborate a qualitative and quantitative inventory urban forestry on public roads MG-Inconfidentes, its negative impacts, the most frequent species and bring more problems for the municipal government may later develop a plan for urban forestry. To meet these objectives we performed a qualitative and quantitative inventory of tree and shrub species found in the afforestation of 35 city blocks, being identified 408 individuals in 40 species and 21 botanic families. The species with the highest frequency were Caesalpinia peltophoroides ) totaling 27%, Ficus benjamina with 11%, Delonix regia with 8% and Murraya exotic with 7.5%. It might be noted that 226 individuals (55.39%) generate some kind of conflict, with the biggest conflicts over power lines, sidewalks and pedestrians, and only 182 individuals (44.61%) did not generate any kind of conflict. KEYWORDS: urban forestry, urban planning, environmental management. 1. INTRODUÇÃO O planejamento da arborização urbana é indispensável para o desenvolvimento urbano, evitando que traga prejuízos ao meio ambiente, levando em consideração os diversos benefícios diretos e indiretos que traz ao homem, através da estabilização climática, embelezamento gerado pelo colorido das árvores, da sombra e lazer que fornece às praças, parques, ruas e avenidas das cidades (Dantas & Souza, 2004). A caracterização física de cada rua é essencial no planejamento da arborização para, assim, definir as espécies mais adequadas para cada área. Nessa caracterização não se pode esquecer alguns critérios básicos tais como, o aspecto visual-espacial, limitações físicas e biológicas que o local impõe ao crescimento das árvores, espécies que melhoram o microclima e condições ambientais locais (Amir & Misgav, 1990 apud Dantas & Souza, 2004). A escolha das espécies adequadas é essencial na hora de se planejar a arborização, pois a escolha de espécies com características inapropriadas aos locais de plantio faz com que muitas vezes a árvore Interciência & Sociedade 41 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. seja percebida como um elemento negativo na cidade. Não só a má escolha da espécie, mas também a mudança do espaço público onde a espécie foi plantada será negativo, causando danos às edificações, atrapalhando trânsito de pedestres e veículos, causando interferência na rede de serviços públicos (Programa de Arborização Urbana, 2005). Apesar de em muitas cidades a população tomar para si a responsabilidade de realizar plantios e até mesmo podas de árvores, é importante salientar que a responsabilidade é das prefeituras municipais, que devem ter leis que tratem especificamente da arborização urbana. Ainda que a responsabilidade seja das prefeituras, parcerias devem ser feitas entre prestadoras de serviços públicos e privados no que se A diz respeito à arborização e, também, a população deve ser orientada para colaborar nos planos de arborização (Bahia, 2002). O presente trabalho teve como objetivos conhecer a arborização urbana em vias públicas de Inconfidentes-MG, seus impactos negativos, as espécies mais frequentes e as que trazem mais problemas, para que posteriormente a prefeitura municipal possa traçar um plano de arborização urbana. 2. Material e Métodos A partir do mapa da cidade (Figura 1) foram selecionadas 35 quadras para serem inventariadas, totalizando 70% da área total da cidade. B Figura 1: Cidade de Inconfidentes-MG: A) Mapa das quadras da cidade; B) Mapa das quadras inventariadas. Fonte: Autores. O mapa de Inconfidentes foi adquirido junto à Prefeitura Municipal que, segundo informações, foi confeccionado por alunos da Universidade Federal de Ouro Preto, onde os mesmos realizaram as medições das quadras e a locação de seus respectivos lotes. A partir do mapa foi constatado que as larguras das ruas e calçadas não coincidiam com a realidade dessas medidas na cidade e, por isso, teve-se que adicionar esses parâmetros na planilha de avaliação das quadras. Para medição da altura dos indivíduos arbóreos e arbustivos ao longo da cidade foi elaborado um metro, feito a partir 42 de duas barras de ferro e um cano PVC ligados entre si, através de conectores em PVC, que foi devidamente graduado com auxílio de fita métrica. A medição de ruas e calçadas foi realizada por meio de uma trena de 50 metros, a circunferência a altura do peito (CAP) foi mensurada fazendo uso de uma fita métrica de 1 metro e em troncos maiores utilizou-se a trena de 50 metros. As medições da CAP foram efetuadas a 1,30 metros do solo. A metodologia adotada para obter as informações em campo foi do tipo censo, ou seja, foram avaliados todos os indiInterciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados víduos individualmente, em quadras pré-determinadas na cidade. As planilhas com a determinação dos dados referentes às características e localização das espécies (Tabela 1) e das características espaciais das vias públicas (Tabela 2) foram desenvolvidas seguindo orientações encontradas na literatura de Gonçalves & Paiva (2004) e Soares (1998). Tabela 1. Características e localização das espécies. QUADRA “X” Garagem Sinalização Fios Postes Iluminação Muro Veículos Casas P CONFLITOS ESPACIAIS Pedestres A Formação Ótima (1) Boa (2) Regular (3) Ruim (4) Calhas C Marquises Altura Calçada Espécie Fonte: Autores. Tabela 2. Características espaciais das vias públicas. Orientação da Rua N/S/ E/O Largura da Rua QUADRA “X” Largura da Rede elétriCalçada ca Sim/não Edificações com marquises ou toldos Nº médio de mudas à plantadar Fonte: Autores. A formação do indivíduo arbustivo-arbóreo foi caracterizada com os conceitos de ótima, boa, regular e ruim, seguindo os seguintes critérios: i) Ótima: quando a formação do indivíduo era bem definida, com copa bem formada, tronco perfeito e aspecto sanitário bom; ii) Boa: quando o indivíduo apresentava imperfeições em 1 dos 3 aspectos descritos acima; iii) Regular: quando o indivíduo apresentava imperfeições em 2 dos 3 aspectos descritos no conceito “ótima”; iv) Ruim: quando o indivíduo apresen- tava imperfeições nos 3 aspectos descritos no conceito “ótima”. 3. Resultados e discussão O inventário das espécies arbóreas e arbustivas das 35 quadras que representam 70% da cidade de Inconfidentes é apresentado na Tabela 3. Nas 35 quadras amostradas foram identificados 408 indivíduos distribuídos em 40 espécies e 21 famílias botânicas. Interciência & Sociedade 43 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. Tabela 3. Inventário de 35 quadras do município de Inconfidentes contendo informações sobre a família, nome científico, nome comum, número de indivíduos, frequência e origem. Famílias Anacardiaceae Apocynaceae Arecaceae Bignoniaceae Espécies Nome comum Número de indivíduos Freqüência (%) Origem Mangifera indica mangueira 3 0,74 exótica Schinus molle aroeira-salsa 11 2,70 nativa Thevetia peruviana chapéu-de-napoleão 1 0,25 exótica Nerium oleander espirradeira 10 2,45 exótica Roystonea oleracea palmeira-imperial 24 5,88 exótica Syagrus romanzoffiana palmeira-jerivá 2 0,49 nativa Archontophoenix alexandrae palmeira-real 1 0,25 exótica Tabebuia chrysotricha ipê-amarelo 2 0,49 nativa Tabebuia heptaphylla ipê-roxo 1 0,25 nativa Tecoma stans ipê-mirim 23 5,64 exótica Boroginaceae Cordia superba baba-de-moça 2 0,49 nativa Chrysobalanaceae Licanea tomentosa oitizeiro 4 0,98 nativa Combretaceae Terminalia catappa sombreiro 4 0,98 exótica Delonix regia flamboyant 32 7,84 exótica Caesalpinia pulcherrima flamboyant-mirim 6 1,47 exótica Schizolobium parahyba guapuruvu 1 0,25 nativa Leucaena leucocephala leucena 22 5,39 exótica Bauhinia variegata pata-de-vaca 13 3,19 nativa Caesalpinia peltophoroides sibipiruna 109 26,72 nativa Tamarindus indica tamarindo 1 0,25 exótica Lythraceae Lagerstroemia indica resedá 15 3,68 exótica Fabaceae Malvaceae Hibiscus rosa-sinensis hibisco 1 0,25 exótica Melastomataceae Tibouchina granulosa quaresmeira 3 0,74 nativa Meliaceae Muntingia calabura calabura 1 0,25 exótica Ficus benjamina fícus 43 10,54 exótica Ficus boni fícus-boni 1 0,25 exótica Ficus benjamina var. variegata fícus-variagata 3 0,74 exótica Moraceae Myrtaceae Oleaceae Pinaceae Ficus doliaria gameleira 1 0,25 exótica Callistemon viminalis esponja-de-garrafa 2 0,49 exótica Eugenia involucrata cereja-do-rio 15 3,68 nativa Eugenia uniflora pitangueira 4 0,98 nativa Eugenia pyriformis uvaia 1 0,25 nativa Jasminum officinale jasmim 1 0,25 exótica Ligustrum lucidum legustrum 3 0,74 exótica Pinus sp. pinus 5 1,23 exótica Proteaceae Grevillea robusta grevilha 1 0,25 exótica Punicaceae Punica granatum romã 2 0,49 exótica Rosaceae Eriobotrya japonica nêspera 1 0,25 nativa Rutaceae Murraya exotica murta 31 7,60 exótica Solanaceae Cestrum nocturnum dama-da-noite 2 0,49 exótica 408 100 TOTAL Fonte: Autores. 44 Interciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados As espécies que apresentaram maior frequência foram a Caesalpinia peltophoroides (sibipiruna) totalizando 27%, Ficus benjamina (fícus) com 11%, Delonix regia (flamboyant) com 8% e Murraya exótica (murta) com 7,5%. O restante das espécies ficou abaixo dos 6%. Segundo Ferreira Junior (2000) deve-se por razões estéticas e fitossanitárias estabelecer o número de espécies a utilizar e a proporcionalidade de uso de cada espécie em relação ao total de árvores a ser plantado, sendo que cada espécie não deve ultrapassar 15% da população total de árvores. Seguindo essa orientação verificou-se que somente a sibipiruna está acima dos padrões recomendados. Segundo Pivetta & Filho (2002), na cidade de Piracicaba-SP, a frequência de sibipiruna foi alta (56,1%), pouco maior que o dobro da mesma espécie encontrada na cidade de Inconfidentes-MG. Em um conjunto habitacional de Santa Maria-RS, Teixeira (1999) constatou que somente a espécie Melia azedarach (cinamomo) apresentou 18,07% do total inventariado, ultrapassando os limites máximos de espécies recomendadas. Já na cidade de Jacareí-SP, segundo Faria et.al. (2007), destacam-se as espécies Tipuana tipu (tipuana) com 21,7%, Anadenanthera colubrina (angico) com 11,5% e sibipiruna com 11,2%. Observa-se que em Jacareí-SP, somente a tipuana ultrapassa os limites recomendados. Na cidade Águas de São Pedro-SP a sibipiruna também é a de maior frequência com 13,63% dos indivíduos inventariados (Bortoleto, 2004). Das 21 famílias botânicas presentes em Inconfidentes-MG as que apresentaram o maior número de espécies foram Fabacea (7), Myrtaceae (4), Moraceae (4), Arecaceae (3), Bignoniaceae (3) e Proteaceae (3) (Tabela 3), englobando 60% das 40 espécies presentes na cidade (Tabela 3). Nas vias públicas inventariadas nas cidades de Jacareí-SP, Águas de São Pedro-SP e no conjunto habitacional de Santa Maria-RS foram constatadas 28 (Faria et al., 2007), 161 e 112 espécies (Bortoleto, 2004), respectivamente. Com relação ao percentual de espécies encontradas verificou-se que a soma das 10 espécies mais frequentes na arborização de vias públicas de Inconfiden- tes-MG totalizaram juntas 79,68% dos 408 indivíduos inventariados. Na cidade de Jaboticabal-SP as 10 espécies mais frequentes totalizam 71,25% do total de indivíduos (Bortoleto, 2004), situação próxima a de Inconfidentes-MG. Já no Conjunto Habitacional Tancredo Neves a soma das 10 espécies mais frequentes totalizaram 63,58% de um total de 2.788 indivíduos (Teixeira, 1999), valor muito mais preocupante que em Inconfidentes-MG por apresentar um número baixo de espécies considerando o grande número de indivíduos inventariados. Na cidade de Águas de São Pedro-SP as 10 espécies de maior frequência correspondem a 48,33% de toda arborização viária (Bortoleto, 2004). Na arborização urbana é comum poucas espécies representarem a maior parte da arborização, mesmo não sendo uma situação desejável (Silva, 2000 apud Faria et al., 2007). Em Céu Azul-PR foram encontradas 18 espécies em uma análise quali-quantitativa total da cidade, que tem 11.755 habitantes, sendo que somente um tipo de espécie, Lagerstroemia indica (resedá), representou 66% do total de indivíduos (Pivetta & Filho, 2002), indicando uma frequencia bastante elevada. Na arborização de vias públicas de Inconfidentes-MG foi constatado que as origens das espécies se dividem em 35% de nativas e 65% de exóticas que são plantadas por sua beleza e por serem observadas em muitas cidades, servindo de referência para os moradores. Na arborização do conjunto habitacional de Santa Cruz a maior parte das espécies são exóticas (Teixeira, 1999). Klein (1985) apud Teixeira (1999) afirma que o sucesso obtido por meio da introdução das espécies exóticas se deve a fatores como a adequada seleção das espécies, metodologia silvicultural desenvolvida e grande facilidade de coleta de sementes. Na composição da arborização urbana das vias públicas que contém mais árvores em Jacareí-SP verificou-se a mesma quantidade de nativas e exóticas (Faria et al., 2007). Os conflitos gerados pelo plantio de espécies inadequadas ao local e/ou a má condução das mesmas encontram-se na Figura 2. Os maiores conflitos foram com fios, calçadas e pedestres. Com relação aos fios da rede elétrica e telefônica, Interciência & Sociedade 45 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. 103 indivíduos estão em conflito. Isso se deve ao fato da má escolha de espécies, cujo porte não é compatível com o local de plantio, por exemplo, a utilização de árvores de médio e grande porte sob fiações. Segundo Vasconcelos (2000), o contato entre galhos de árvores e componentes das redes de distribuição de eletricidade pode causar curtos circuitos com pequenas interrupções no fornecimento de energia e até mesmo acidentes fatais com pessoas. O autor ressalta que no ano de 2000 a CEMIG estimou que 500.000 árvores de grande porte se encontravam em conflito com suas redes, o que causou 15.000 desligamentos em 1998. Segundo Rocha et al. (2004), 45% dos indivíduos analisados nas vias públicas de Nova Iguaçu-RJ apresentavam conflitos evidentes, com necessidade de poda e substituição de algumas árvores por outras mais adequadas. Figura 2: Conflitos gerados pelo plantio de espécies inadequadas ao local e/ou a má condução das mesmas no município de Inconfidentes. Fonte: Autores. Já em relação à calçada, 87 indivíduos (21,3%) geraram conflitos pela má escolha da espécie e também pela falta de área livre impermeável ao redor da árvore, fazendo com que a mesma provocasse o levantamento das calçadas. Em Piracicaba-SP, os maiores problemas gerados pelos indivíduos é também com relação ao conflito com a calçada, representando 62,3% dos indivíduos inventariados por Lima (1993). Outro conflito significante foi em relação 46 aos pedestres, onde 58 indivíduos (14,2%) geravam problemas pelo fato de não terem sido conduzidos adequadamente, apresentando as primeiras bifurcações abaixo de 1,80 metros, atrapalhando o trânsito dos pedestres. Pode ser constatado também que 226 indivíduos (55,39%) geram algum tipo de conflito e que 182 indivíduos (44,61%) não geram nenhum tipo de conflito (Figura 3). Interciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados 240 220 200 Nº de indivíduos 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 SIM NÃO Geram conflitos Figura 3: Número de indivíduos arbóreos e arbustivos que geram conflitos nas vias públicas de Inconfidentes. Fonte: Autores. Entre as espécies inventariadas, a sibipiruna é a que mais traz transtornos na cidade, sendo que dos 109 indivíduos de sibipiruna avaliados 41 (37,61%) estão em conflito com fios e 49 (44,95%) estão em conflito com calçadas. Quando foi realizada a primeira arborização pela prefeitura do município, no ano de 1967, foram selecionadas sibipirunas para o plantio em calçadas, o que era muito utilizado na arborização da maioria das cidades do Brasil, e flamboyant para plantio nos canteiros centrais. Em Piracicaba-SP, ao longo do tempo, a sibipiruna e outras árvores de maior porte foram cortadas devido às inúmeras solicitações dos munícipes incomodados com a queda de folhas, entupimento de calhas e danificação de calçadas. Houve um processo de intensa retirada arbórea na região central de Piracicaba-SP, sem a devida reposição (Aguirre Junior et al., 2007). Na cidade de Maringá-PR a sibipiruna apresentava-se com uma frequência de 49,8% do total de espécies, sendo, o seu plantio, proibido pela prefeitura no município pelo fato da grande densidade e frequência dessa espécie. Outra espécie que traz preocupação na cidade de Inconfidentes-MG é a fícus, por promover o levantamento de calçadas, interferência na rede de esgoto, problemas com muros e fios no local onde está plantada, sendo solicitado a prefeitura o corte destas árvores. A alta densidade dessa espécie, representando 11% dos indivíduos avaliados, pode ser explicada pelo fato dos moradores ficarem encantados com sua sombra e beleza de suas folhas. Na cidade do Rio de Janeiro-RJ, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente promoveu a substituição da espécie fícus na arborização da cidade por estarem provocando danos significativos em edificações e calçadas, e o plantio de novas mudas da espécie está proibido tanto nas ruas como em praças (Secretaria de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro-RJ, 2008). A formação dos indivíduos inventariados foi satisfatória, sendo que a soma de indivíduos com formação ótima e boa totalizaram 85,54%, restando apenas 14,46% na soma de regular e ruim (Figura 4). A classificação da qualidade de formação não Interciência & Sociedade 47 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. leva em conta o espaço físico ao entorno do indivíduo, mas sim sua formação natural, como por exemplo, em uma análise da copa do indivíduo não foi levado em consideração se o mesmo está em conflito ou não com os fios, mas sim a formação da copa do mesmo. Nas vias analisadas na cidade de Jacareí-SP, Faria et al., (2007) relatou que 84% dos indivíduos apresentavam-se, numa análise semelhante à realizada na ci- dade de Inconfidentes-MG, em ótimo e bom estado, e que o restante se encontrava em situação de regular a ruim. Na análise qualitativa da arborização viária de Águas de São Pedro-SP, Bortoleto (2004) constatou que 79,18% dos indivíduos apresentavam condição ótima e boa e 20,82% dos indivíduos apresentavam-se em uma condição de regular, péssima e morto. 140 Nº de indivíduos 120 100 80 60 40 20 0 Ótima Boa Regular Ruim Formação Figura 4: Formação dos indivíduos arbóreos e arbustivos das vias públicas de Inconfidentes. Fonte: Autores. A altura dos indivíduos mais frequentes na cidade ficou entre 2,98 a 7,07 metros (66,18%) (Figura 5), porte considerado adequado que pode promover benefícios à fauna, clima, psicológico para munícipes e para o paisagismo da cidade. Com 8,5 metros de altura foram constatados quase que exclusivamente os indivíduos da espécie flamboyant e entre 12 a 20 metros somente as Roystonea oleracea (palmeira imperial). Tanto os flamboyant quanto as palmeiras imperiais tinham espaço para 48 crescer por se encontrarem em canteiros centrais da cidade. Como exceção, destaca-se uma árvore de sibipiruna e uma de Tabebuia heptaphylla (ipê-roxo) com 12 metros cada uma, localizadas em calçadas da cidade. Vale ressaltar que, segundo Gonçalves & Paiva (2004), de um modo geral, o porte inadequado das árvores na arborização urbana conflita com as redes de energia elétrica e prejudica também a iluminação pública, as fachadas dos prédios e as placas de sinalização. Interciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados 110 100 90 Nº de indivíduos 80 70 60 50 40 30 20 10 0, 26 -1 1, ,62 62 -2 2, ,98 98 -4 4, ,34 34 -5 5, ,71 71 -7 7, ,07 07 -8 8, ,43 43 9, 9,7 79 9 11 11 ,1 ,15 512 12 ,5 ,51 113 13 ,8 ,87 715 15 ,2 ,24 416 16 ,6 ,60 017 17 ,9 ,96 619 19 ,3 ,32 220 ,6 8 0 Altura (m) Figura 5: Altura dos indivíduos arbóreos e arbustivos das vias públicas de Inconfidentes. Fonte: Autores. A circunferência a altura do peito (CAP) da maior parte dos indivíduos (17,64%) foi de 0,99 a 1,20 metros (Figura 6). As CAP de 1,41 a 3,08 metros apareceram com mais freqüência para as espécies sibipiruna, flamboyant e palmeira imperial. Na cidade de Águas de São Pedro-SP a situação encontrada foi semelhante a de Inconfidentes, tendo as maiores CAP os indivíduos de sibipiruna, flamboyant, ficus e sombreiro representando 16,47%, 7,16%, 5,13% e 4,92%, respectivamente. 80 70 Nº de indivíduos 60 50 40 30 20 10 -0 ,0 50 0, ,15 15 -0 0, ,36 36 -0 0, ,57 57 -0 0, ,78 78 -0 0, ,99 99 -1 1, ,20 20 -1 1, ,41 41 -1 1, ,62 62 -1 1, ,83 83 -2 2, ,04 04 -2 2, ,25 25 -2 2, ,46 46 -2 2, ,67 67 -2 2, ,88 88 -3 ,0 8 0 CAP (m) Figura 6: Circunferência a altura do peito (CAP) dos indivíduos arbóreos e arbustivos. Fonte: Autores. Interciência & Sociedade 49 CORRÊA, R. F. M.; PINTO, L. V. A. Um dos problemas para planejar a arborização de vias públicas de Inconfidentes-MG se deve ao fato da rede elétrica estar presente na maior parte das calçadas e por não se estabelecer um padrão de largura mínima de calçadas para novos loteamentos implicando muitas vezes no plantio de espécies de pequeno porte e arbustivas, impedindo o plantio de espécies de médio e grande porte. Constatou-se que nos 125 lados das quadras avaliadas, 77 (61,6%) continham rede elétrica (Figura 7). Em Piracicaba-SP, a presença de fiação aérea também é um problema, sendo encontrada em 55,9% das ruas (Pivetta & Filho, 2002), resultando numa escolha pouco adequada das espécies quanto ao local de plantio. 80 Lado de quadras 60 40 20 0 Não Sim Rede elétrica Figura 7: Número de lados de quadras com rede elétrica no município de Inconfidentes. Fonte: Autores. No município de Inconfidentes, a troca da rede elétrica convencional pela compacta ou subterrânea permitiria um melhor convívio das árvores com as redes de distribuição de energia, evitando conflitos. Outra solução para as redes elétricas seria uma padronização no sistema de distribuição de energia, deixando livre de rede elétrica as calçadas que devem receber espécie de médio e grande porte e com presença de rede elétrica as calçadas que receberão árvores de pequeno porte. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O inventário das espécies arbustivas e arbóreas na cidade de Inconfidentes- 50 -MG mostrou que a arborização urbana de vias públicas segue o padrão encontrado em outros municípios brasileiros. Houve uma grande ocorrência da espécie sibipiruna (27%) superando os limites de frequência de cada espécie indicados por alguns autores que é de 15%. A espécie traz grandes benefícios na arborização, desde que seja plantada em local compatível. A espécie ficus também teve uma frequência considerável (11%), sendo que esta não é indicada para plantio em calçadas pelos danos que ela traz ao local. Espécies exóticas são encontradas com frequência na arborização urbana devido sua adaptação comprovada com o meio, salientando que as mais indicadas são as nativas. Interciência & Sociedade Inventário da arborização das vias públicas de Inconfidentes-MG e análise dos impactos gerados Os conflitos provocados pelo plantio inadequado de espécies em vias públicas foram considerados altos, constatando que 55,39% das espécies geravam algum tipo de conflito. Este alto índice deve-se ao fato de a cidade não ter um plano de arborização, ficando para a população o objetivo de plantar qualquer espécie que julgue conveniente. Árvores que geram conflitos significantes com grandes danos a população devem ser substituídas gradualmente a médio prazo. As características físicas largura das ruas e calçadas não limita o plantio de espécies e portes diversificados em grande parte da cidade, mas a presença de rede elétrica convencional limita o plantio de espécies de médio e grande porte. Uma das maiores dificuldades em convencer os moradores a deixarem plantar uma árvore em frente a sua residência é resultado da má impressão que a sibipiruna passa para a população. As reclamações são muitas, exigindo a retirada das mesmas por estarem “quebrando” a calçada, por estarem em contato com casas, por entupirem as calhas através de suas folhas e por provocarem muita sujeira, além do impacto visual devido às inúmeras podas mutiladoras que as árvores sofreram ao longo dos anos. A educação ambiental é imprescindível para a conscientização da população sobre a importância da arborização urbana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIRRE JUNIOR, J.H.; FILIK, A.V.; LIMA, A.M.L.P. 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Rony Felipe Marcelino Corrêa é graduado em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Inconfidentes-MG, pós-graduado em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Faculdade São Luís de Jaboticabal-SP e acadêmico do curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” de Mogi Guaçu-SP. Lilian Vilela Andrade Pinto possui graduação, mestrado e doutorado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Atualmente é coordenadora e professora do curso de Gestão Ambiental no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Inconfidentes-MG. 52 Interciência & Sociedade
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