Consumo consciente - Clube do Brinquedo

Transcrição

Consumo consciente - Clube do Brinquedo
Consumo consciente
por
DANILO
Itiomaz
^Brinúue
junto e gaste
1
Melhor do que
comprará alugar
brinquedos para seu
filho. Esta opção
já existe no país
Ana Carolina Sita e
Felipe, em carrinho
alugado: "Criança
enjoa rápido, tem
brinquedo que não
compensa comprar"
FOTO: CAROL CARQUEJEIRO
Quando Gabriela, hoje com 9 meses, nasceu, Wagner Heilman sabia
que não compensava gastar muito
dinheiro com brinquedos. Quem
lhe mostrou isso? Gustavo, seu filho mais velho, de 3 anos. Como
toda criança, o garoto se cansava
rapidamente dos brinquedos que
ganhava e que nos primeiros dias
não queria abandonar de jeito nenhum. E os brinquedos, caros, se
acumulavam em casa e ocupavam
cada vez mais espaço.
Mas ele não poderia deixar a
caçula sem brinquedos. Crianças
não só gostam como precisam
deles para desenvolver seu raciocínio, sua habilidade motora
e sua criatividade. O que fazer?
Heilman saiu à procura de uma
empresa que alugasse brinquedos para crianças. Mas não encontrou nada do tipo no Brasil.
"Descobri que o serviço (aqui)
só existe para festas."
Disposto a prestar aos outros
um serviço que procurava obter,
ele entrou em contato com locadoras de brinquedos no exterior
para conhecer melhor seu método
de trabalho. E inaugurou, em abril
de 2010, o Clube do Brinquedo, a
primeira locadora privada desses
produtos no Brasil, que segue o
mesmo modelo de outras do exterior, como as americanas Toy
Rental Club e Rental That Toy e
a neozelandesa Rent a Toy, mas
com pequenas variações.
No Clube do Brinquedo, de
São Paulo, os planos são pagos
de acordo com o número de itens
locados, as reservas são todas feitas pela internet, a locação é por
um mês e os brinquedos são entregues em sua casa. Já na Toy
Rental Club, a entrega é cobrada à parte, você pode alugar o
brinquedo tanto para a criança
utilizá-lo no espaço da empresa
quanto em casa, e o preço muda
de acordo com o tipo de produto
locado e o tempo de uso. Na Rent
That Toy, o preço varia de açor- >•
'E/flssLucros
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Consumo consciente
do com o número de brinquedos
locados e você paga uma taxa de
entrega. Pode-se cancelar o aluguel caso a criança não goste do
brinquedo. A neozelandesa Rent
a Toy funciona da mesma forma.
Heilman, porém, não quis
que seu negócio fosse apenas
uma locadora. Com produtos
voltados, sobretudo, para crianças de até 3 anos, o Clube do
Brinquedo quer ajudar os pais
a economizar tempo e dinheiro
e a conscientizar os filhos sobre
a questão da sustentabilidade,
assunto que entrou para a cartilha educacional das crianças.
"Trabalhei muito tempo em
banco, conheci vários projetos
voltados para essa área", diz. O
foco do negócio do empresário
nesse setor é o consumo consciente. Para ele, ao contrário
do que pensam as marcas e lojas de brinquedos, deve-se ter
"aproveitamento daquilo que foi
fabricado, (o produto deve) ter
utilidade para várias pessoas."
E completa: "Os lojistas estão
contra a minha idéia". Naturalmente. Se a moda pega, eles
perderão os clientes.
A advogada Cíntia Vinci, de
32 anos, também quer educar a
filha, Maria Fernanda, de 7 me-
ses, dentro da lógica defendida
por Heilman. "Ela vai ter essa
consciência de consumo, de poupar, economizar e se programar."
Filiada ao Clube do Brinquedo
desde maio, ela aguarda a fatura
do próximo cartão de crédito para ver quanto economizou com a
opção. Mas tem uma leve noção.
Clube do Brinquedo, em São 'Taulo,
os planos são pagos de acordo com o
número de itens locados e os brinquedos
são entregues na casa do cliente
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í/fls&Lucros
Segundo ela, um dos brinquedos
que alugou, o exersaucer, que
substitui o andador dos bebês,
custa 499 reais nas lojas, mais
que o dobro do plano mais caro do Clube do Brinquedo. E a
filha, quase um mês depois, já
estava enjoada dele. "Eu já comprei muito brinquedo. Você não
vence comprar. Vai acumulando
em casa", diz Cíntia.
Agora, o dinheiro economizado ela vai investir na filha. Ainda
não decidiu como, mas pensa em
"fazer um aporte de previdência
privada" para Maria Fernanda.
Mãe de Felipe, um garoto de
11 meses, a empresária Ana Carolina Sita enfrentava o mesmo
problema. Gastava um dinheiro
mais que razoável em brinquedos para, um mês depois, ter de
se preocupar em encontrar um
lugar para guardá-los. "Criança enjoa rápido, tem brinquedo
que não compensa comprar. Eu
vi isso agora. Aluguei, ele usou
e logo enjoou."
Há dois meses inscrita no clube,
ela conta que já economizou bastante dinheiro - e espaço - com o
aluguel. "Eu opto por brinquedos
com valor agregado maior, como
um tipo de 'carro esportivo' para crianças", o último item que
alugou. O dinheiro economizado foi todo para o filho, com a
compra de roupas e outros itens.
"Agora só invisto nele."
Para Ricardo Oliani, coordenador de jogos e dinâmicas e
projetos de mobilização comunitária do Instituto Akatu, uma
ONG com projetos voltados para
a sustentabilidade e o consumo
consciente, ao alugar brinquedos
FOTOS: DIVULGAÇÃO
são deles é educar as pessoas para o consumo e tirá-las da lógica
"compra, uso e descarte." Para
ele, deve-se "comprar algo que
vai ser efetivamente utilizado".
Segundo Oliani, a criança
passa a ter poder de escolha t
capacidade de adquirir uma
consciência de consumo aos 13
anos, quando já recebe mesada
dos pais e passa a decidir o que
comprar. "Antes disso, cabe aos
pais frear o consumo dos filhos",
afirma. "A publicidade infantil é
muito voltada para o consumo
de brinquedos. E a criança não
tem capacidade de discernimento.
Ela vê e pede. Se os pais derem
tudo, vão criar um consumista.
Se pararem repentinamente de
dar tudo, quando a criança crescer vão ter um filho frustrado."
Assim como Heilman, ele destaca a importância de pais e filhos
brincarem juntos. Para Oliani,
"quanto mais brinquedos uma
criança tem, menos ela brinca",
e os pais ficam sem saber o uso
que ela faz do que ganha. "É importante dar um aspecto lúdico
ao brinquedo", completa.
O Clube do Brinquedo é, no
momento, a única locadora privada do Brasil. Mas há outras
opções, como as brinquedotecas
públicas, nas quais você pode
alugar um brinquedo e levar
do consumo consciente a partir para casa, e as do Sesc, onde se
de duas plataformas: educação podem alugar brinquedos, ape- por meio de palestras, uso de nas para uso interno, mediante
mídia, publicações na imprensa a apresentação da carteira de
- e comunicação - em que são identidade. Lá, você e seu fidesenvolvidos projetos próprios lho podem desfrutar de bons
dentro de empresas ou em comu- momentos juntos, brincando.
nidades, com conteúdo teórico e No fim das contas, é isso o que
prático. Oliani conta que a mis- realmente importa, não é?
o
Variedade de cores
e formas ajuda
a desenvolver
o raciocínio, a
habilidade motora
e a criatividade
para seus filhos, os pais devem
"deixar claro que não é por falta
de dinheiro que estão alugando
em vez de comprar. É para compartilhamento, para o bem comum, para que outras crianças
possam brincar também".
O Akatu atua desde 2001 na
questão da sustentabilidade e
TLlass, Lucros