Banas Qualidade

Transcrição

Banas Qualidade
Ano XXIV | Junho de 2015 | Edição 276
A EXPERIÊNCIA DE
QUEM CONHECE
Pag 52
Estudo de Caso: CRAYOLA
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 1
As simulações de
Monte Carlo nunca
foram tão fáceis.
Faça login para sua assinatura de avaliação
2 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
ww
w. d e v ize .co m
Estatística pode ser
poderosa.
Com o Quality Trainer, um curso de
aprendizado on-line da Minitab, você aprende
a estatística necessária para suas tomadas de
decisões baseada em seus dados. Entenda
como analisar os seus dados e tenha poder
para melhorar o seu negócio.
e-learning for statistics
w w w. q u a l i t y t r a i n e r. c o m
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 3
Editorial
Hayrton R. do Prado Filho
Mudanças extremas
O
que as mudanças climáticas farão no futuro é aumentar
a variabilidade natural e aumentar a frequência dos
fenômenos climáticos extremos. A seca como a que
atingiu São Paulo em 2014 é um fenômeno muito
raro. E, supondo que isso poderia ocorrer, naturalmente, uma vez
a cada 100 anos, pode-se afirmar que se tudo isso continuar o
período de recorrência será menor. Ou seja, o que a mudança
climática faz: havia certa variabilidade de fenômenos extremos
muito raros e, de repente, por conta do problema, começam a
ficar mais frequentes. Esse aumento da frequência torna os
eventos extremos mais prováveis ao longo do tempo. Além disso,
a mudança climática pode, também, intensificá-los.
Especificamente na
cidade de São Paulo,
onde acompanho o
processo, o efeito
climático dominante
é o da ilha urbana
de
calor,
gerado
pelo
crescimento
e adensamento de
mudança da cidade,
com a eliminação
de áreas verdes e a
impermeabilização do
solo. A temperatura
média global à superfície elevou-se em 0,8º C desde a revolução
industrial. Contudo, em São Paulo, nos últimos 70 anos, subiu
entre 3º C e 4º C, em média.
De acordo com os cenários do IPCC, se nada for feito para
reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa nas
próximas décadas, as temperaturas médias globais poderão
chegar (no ano de 2100) de 3º C a 4º C acima dos níveis préindustriais. Na região do estado de São Paulo, haveria uma
elevação de 3º C, 3,5º C.
O impacto no Brasil central seria de 4º C, 5º C e o impacto
na Amazônia em 5º C ou 6 º C. No melhor cenário, caso
sejam tomadas medidas para impedir a subida de mais 2ºC na
temperatura média global, acima dos níveis pré-industriais até
2100, a temperatura no estado de São Paulo subiria da ordem de
2º C. Se nada for feito, as coisas tendem a piorar.
4 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Revista Banas Qualidade
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A Revista Banas Qualidade - DIGITAL
é publicada pela EDILA-Editorial Latina Ltda.
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A publicação não se responsabiliza pelas opiniões e
conceitos aqui emitidos por seus articulistas e colunistas.
ISSN - 1676-7845
Ano XIV - Edição 276
Junho de 2015
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 5
Sumário
04 - Editorial
Mudanças extremas
08 - Pelo Mundo
Os principais fatos internacionais
10 - Eventos
Treinamentos e eventos de julho
12 - Opinião
Começar de novo
18 - Comportamento:
20 questões fundamentais sobre sua
empregabilidade
20 - MASP
Afinal, qual é mesmo o problema?
22 - Acessibilidade
Os deficientes também precisam se
divertir II
62 - Certificação:
Por que o esquema de certificação
de produtos e serviços no Brasil só
aumenta as tragédias e os acidentes
de consumo?:
A normalização
é o primeiro
passo para se
atingir alguma
qualidade tanto
de produtos
como de
serviços e é por
meio dela que
se pode manter
a evolução
das empresas
em busca da melhoria contínua.
Algumas instituições e profissionais, por
desconhecimento ou má-fé, advogam que
as normas técnicas, diferentemente dos
regulamentos técnicos, são voluntárias.
88 - Ferramentas
Mapeamento de Fluxo de Valor
90 - Inside
Por dentro da Notícia
106 - Normalização
Capacetes de segurança para uso
ocupacional
118 - Metrologia
Produtos e Serviços
120 - Normas e Diretrizes
123 - Cartas
124 - Ponto Crítico
Causos de Assistência Técnica
84 - Gestão
Desempenho na
Construção Civil NBR 15575:2013
Nova norma de desempenho revisada e
publicada oficialmente em 2013 promete
estabelecer os critérios para avaliação
de desempenho em habitações e é um
avanço para a construção civil.
6 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Junho de 2015 - Edição 276 - Ano XXIV
94 - Meio Ambiente:
A Água no Brasil: O país
detém 12% da água doce
de superfície do mundo, o
rio de maior volume e um
dos principais aquíferos
subterrâneos, além de
invejáveis índices de
chuva. Mesmo assim, falta
água no semiárido e nas
grandes capitais, porque a
distribuição desse recurso
é bastante desigual.
Ano XXIV | Junho de 2015 | Edição 276
A EXPERIÊNCIA DE
QUEM CONHECE
104 - Meio Ambiente
A solução para acrise hídrica esta mais
perto do que se imagina
Pag 52
Estudo de Caso: CRAYOLA
Especial - Lean Seis Sigma
26 - Cristina Werkema
A lamentável banalização do Lean Seis Sigma
32 - Rick Tucci e Sergio N. Assiz
Melhorando o retorno do investimento
do Lean Seis Sigma com equipes de
Ação Rápida
40 - Eduardo C. Moura
As virtudes e limitações de TOC, Lean e
Six Sigma
44 - Fundação Carlos Alberto
Vanzolini
Aplicação do Lean no Agronegócio
110 - Metrologia:
Método Multirresíduo de agrotóxicos
organofosfatados:
O uso de agrotóxicos é uma das
principais fontes de contaminação do
sistema hidrológico. Devido aos riscos
pelo consumo de água contaminada,
realizou-se esta pesquisa com o objetivo
de avaliar método multirresíduo de
agrotóxicos organofosforados por CG/
FPD e extração em fase sólida em disco
(SPE - em disco C18).
48 - Alexandre Andrioli Iwankio
Os hábitos dos Black Belts de sucesso
52 - Minitab
A cor da Qualidade: Como a Crayola usa
dados para fornecer o giz de cera perfeito
58 - Luis Oliveira
Uma grande estratégia em tempos de crise
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 7
Pelo Mundo
Membro Honorário ASQ
Congresso FNQ
de Excelência em Gestão
O Congresso FNQ de Excelência em
Gestão, acontecerá dia 23 de Junho
em São Paulo. Com tema “O novo
Capitalismo”, o evento terá debates e
networking, para discutir tendências
inovadoras para a construção de novas
ideias e soluções. Um dos principais
palestrantes será o economista
indiano Pavan Sukhdev, principal
autor do relatório The Economics
of Ecossystems and Biodiversity, da
ONU. É esperado um público de 350
pessoas e será realizado no Centro
de Convenções Rebouças, das 8h30
às 19h30. http://www.fnq.org.br/
CEG2015/index.php
Noriaki Kano,
professor emérito
da Universidade
de Ciência de
Tóquio, será
reconhecido como
o mais recente
membro honorário
da ASQ na
Conferência Mundial ASQ do próximo
mês em Qualidade e Melhoria em
Nashville, TN. Também é conhecido
por promover os métodos de gestão
da qualidade total japonesa. Ele vai
se tornar o 25º membro honorário da
história da ASQ. Kano irá se juntar
aos outros 22 homenageados que serão
apresentados com medalhas e prêmios
ASQ no evento.
Documentos informativos
Ranking 30 maiores
empresas de mídia do mundo
De acordo com o levantamento feito pela consultoria
ZenithOptimedia vinculada ao francês Publicis de “Os 30
Maiores Donos de Mídia em 2015", o Google está em primeiro
lugar, seguido da Disney. O primeiro teve uma receita 136%
maior que o segundo. O Facebook passou da 24ª para a 10ª
posição no ranking, um crescimento de 63% de 2014 para
2015. O Baidu ficou na 14ª posição, na frente do Yahoo (18ª)
e Microsoft (21ª). Para o ranking, é considerada a receita
de mídia, com o objetivo de determinar as empresas mais
importantes para o setor de marketing. Veja lista completa:
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1629787google-lidera-ranking-de-30-maiores-empresas-de-midia-domundo.shtml
8 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
O Fórum Internacional de Acreditação,
publicou os seguintes documentos
informativos que serão úteis para
organizações que planejam transição
para as novas normas:
• Orientação para o plano de
transição para ISO 9001: 2015
• Orientação para o plano de
transição para ISO 14001: 2015
• Informações sobre a Transição
do Sistema de Gestão de
Credenciamento da ISO/IEC
17021:2011 para ISO/IEC 170211:2015.
Para mais informações, acesse: http://
www.iaf.nu/
Por Jeannette Galbinski
ASQ Vídeos: ISO 9001:2015
Novos vídeos que mostram
especialistas analisando os diferentes
aspectos nas mudanças das normas
foram liberados no Canal ASQ
Standards.Mais vídeos abordando
diferentes temas estão programados
para lançamento nos próximos meses,
já que a liberação formal da nova
revisão da norma está próxima. Para
mais informações, acesse:http://videos.
asq.org/asq-standards-channel
ISO nas Prefeituras
A NBR ISO
18091:2014 Sistemas de Gestão
da Qualidade Diretrizes para
a aplicação da
ABNT NBR ISO
9001:2008 em prefeituras tem como
objetivo fornecer às prefeituras as
diretrizes para a obtenção de resultados
confiáveis por meio da aplicação
da norma. Todas as orientações
indicadas na norma ISO 18091:2014
são genéricas e aplicáveis a todos os
governos locais, independentemente do
seu tipo, tamanho e produto ou serviço
fornecido. O usuário pode aplicar as
orientações contidas na norma ISO
18091: 2014 conforme necessário. Para
mais informações: http://www.iso.org/
iso/catalogue_detail?csnumber=61386
Dia Mundial da Acreditação
Dia 09 de Junho será comemorado o Dia Mundial da
Acreditação 2015, que tem foco na acreditação e fornece apoio
na prestação de saúde e assistência social. Para comemorar
o dia e para apoiar as atividades que estão ocorrendo em
cada economia, o Laboratório Internacional de Acreditação e
Cooperação e o Fórum Internacional de Acreditação criaram
um conjunto de materiais que estão disponíveis para download.
Para mais informações, acesse: http://www.iaf.nu/articles/
World_Accreditation_Day_2015__Accreditation_Supporting_
the_Delivery_of_Health_and_Social_Care/409
A revisão da ISO 31000 sobre gestão de risco
Com objetivo de garantir
a relevância para os
usuários, a norma ISO
31000 que fornece
princípios e diretrizes
genéricas para a gestão de
riscos, está sendo revisada.
As normas são revisadas a
cada 5 anos e a revisão da
ISO 31000 foi realizada
em Março, em Paris. Além disso, todos os termos e definições
da norma também estão contidos no Guia ISO 73, desta forma
qualquer alteração aos termos e definições da ISO 31000
deve ser idêntico em ambos os documentos. Dependendo das
etapas de revisão, a norma deve ser publicada até 2017. Mais
informações: http://www.iso.org/iso/home/news_index/news_
archive/news.htm?Refid=Ref1963
Jeannette Galbinski: Doutora em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. Master of Science em Qualidade e Confiabilidade pelo Technion Institute of Technology. Graduada em
Estatística pela USP, com especialização em Administração Industrial pela FundaçãoVanzolini. Master Black
Belt e consultora internacional especialista na implementação de Ferramentas e Sistemas da Qualidade e
projetos de Seis Sigma.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 9
Eventos
Outubro - 2015
ANUGA
Realizada em Colônia, na
Alemanha, reúne dez setores
alimentícios apresentando as
tendências do mercado em um
mesmo local. A feira aborda
diversos setores do gênero
alimentício: alimentação dietética,
bebidas, mercearia fina, fast-food,
peixe, alimentos congelados,
lacticínios, carnes, artigos de
pastelaria, frutas, legumes,
conservas, café, sorvetes,
equipamentos para cozinhas
grandes, assadores, fornecimento
de comidas, distribuidores
automáticos e franchising.
Data: 10 a 14 de Outubro
Local: Colônia / Alemanha
Informação: http://www.
anuga.com/anuga/index-2.php
02
06
14
17
Conceitos básicos e
ferramentas preliminares em
Mapeamento de Processos
Capacitar o profissional
sobre as principais técnicas e
ferramentas de mapeamento
de processos, como
BPMN (Business Process
Management Model and
Notation) e Service Blueprint –
Mapa de processo de serviço
Data: 02 de julho
Local: São Paulo/SP
Informação: http://www.
vanzolini.org.br/eventos.
asp?cod_site=0&id_
evento=1980
A nova ISO 9001:2015
Contribuir com a capacitação
dos profissionais em sistemas
de gestão da qualidade com o
objetivo de adequar seus atuais
sistemas e implantar novos
sistemas com foco em atender à
nova versão da norma ISO 9001,
que será publicada em 2015.
Data: 06 de julho
Local: São Paulo/SP
Informação: http://www.
vanzolini.org.br/eventos.
asp?cod_site=0&id_
evento=1794
Administração do Tempo
Este curso permite que o
participante conheça novas
diretrizes para tomada de
decisões, ajuda-o a refletir sobre
os pontos de desperdício de
tempo que possui e auxilia na
redefinição do seu planejamento
pessoal
Data: 14 de julho
Local:São Paulo /SP
Informação: http://www.
vanzolini.org.br/eventos.
asp?cod_site=0&id_
evento=1900
O Líder Resiliente
Desenvolver nos líderes
práticas de como desenvolver
estratégias em resiliência
na vida pessoal e de como
praticá-las na rotina de trabalho,
favorecendo o alinhamento e a
realização de metas e superação
de obstáculos.
Data: 17 de julho
Local: São Paulo/SP
Informação: http://www.
vanzolini.org.br/eventos.
asp?cod_site=0&id_
evento=1973
Construindo um Sistema de Gestão da Qualidade
Um livro especialmente escrito para os profissionais que pretendem IMPLANTAR um Sistema de Gestão da
Qualidade ,VERIFICAR o sistema já implantado na empresa ou TREINAR sua equipe interna. http://qualistore.com.br/produtos/construindo-um-sistema-de-gestao-da-qualidade-isbn-9788589705455/
10 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Julho
Julho - 2015
20/22
ENERSOLAR
A 3ª edição da Enersolar
+ Brasil, a maior feira de
energias renováveis da América
Latina, com a presença dos
principais players mundiais do
setor, apresentara as últimas
novidades em tecnologias a um
público focado e interessado
na realização de negócios e
parcerias. Estamos dando mais
um passo para mitigarmos o
risco dessa crise. Trazendo
alternativas e opções de mercado
para tomadas de decisões de
empresários e governantes.
Data: 15 a 17 julho
Local: São Paulo/SP
Informação: http://www.
enersolarbrasil.com.br/
Gestão de Projetos
Oferecer formação básica
a profissionais iniciantes na
carreira de gestão de projetos e
que pretendam conhecer o Guia
PMBOK®.
Data: 20 a 22 de julho
Local: São Paulo
Informação: http://www.
vanzolini.org.br/eventos.
asp?cod_site=0&id_
evento=1776
18
20/21
23
30/31
5S e Gerenciamento Visual
Este curso apresenta a
filosofia 5S e a estratégia
de implementação a ser
utilizada, além de permitir a
padronização da implantação
da filosofia entre as diversas
plantas e áreas da sua
empresa
Data: 18 de julho
Local: São Paulo/SP
Informação: http://www.
setecnet.com.br/convite.
php?id_turma=3428
APQP 2ªEd. + PPAP 4ª Ed
Apresentar aos participantes
o processo completo do
APQP/PPAP e discutir
o planejamento para o
gerenciamento. Detalhar e
analisar as fases e todos os
elementos correspondentes,
levando em consideração os
objetivos, responsabilidades e
as ferramentas de qualidade e
produtividade.
Data: 20 a 21 de julho
Local: São Paulo/SP
Informação: http://www.
setecnet.com.br/convite.
php?id_turma=3766
Gestão da Sustentabilidade
Apresentar e discutir as atuais
tendências nas estratégias de
gestão da sustentabilidade na
produção de bens e/ou serviços.
Reestruturação da produção
sob o paradigma da
sustentabilidade, eco-inovação
e mercados “verdes”,
sustentabilidade na cadeia
produtiva, logística reversa.
Data: 23 de julho
Local: São Paulo/SP
Informação: http://www.
vanzolini.org.br/eventos.
asp?cod_site=0&id_
evento=1769
FMEA 4ª Edição
Desenvolver FMEA de
Sistema, Projeto e Processo,
examinar com profundidade
as diferenças entre os
tipos de FMEAs e suas
inter-relações, aplicar os
Conceitos de Identificação
de Características Especiais;
- Criar estratégias
Data: 30 e 31 de julho
Local: São Paulo/SP
Informação: http://
setecnet.com.br/convite.
php?id_turma=3776
Implantando a ISO 9001:2008
Kit para implantação do Sistema de Gestão da Qualidade na empresa. O Kit Passo a Passo traz todos os
materiais necessários para a aplicação completa da norma. http://qualistore.com.br/produtos/implante-vocemesmo-a-iso-9001-em-sua-empresa/
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 11
Opinião
Começar
de novo
No período de 1950 a 1980 o mundo assistiu o surgimento do Japão como
potência econômica mundial, conquistando mercados pela qualidade de
seus produtos. Este foi um fato inédito na história da humanidade, pois pela
primeira vez o poder econômico de uma nação foi conquistado sem golpes
políticos e sem derramamento de sangue. Nos anos seguintes, outros países
seguiram o exemplo, com maior ou menor êxito. E em praticamente todas
as empresas do planeta, palavras como “qualidade total”, “satisfação do
cliente” e “melhoria contínua” tornaram-se jargão do dia-a-dia. É verdade
que em muitos casos (a grande maioria, na minha opinião) a coisa ficou por
aí mesmo, no nível das palavras.
12 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Por Eduardo C. Moura
M
as em todos os continentes,
independentemente da cultura local, são
inúmeros os casos de líderes empresariais
que souberam colocar em prática os
ensinamentos dos “gurus” da Qualidade, e conduziram
suas organizações a um processo de transformação,
obtendo resultados nunca antes imaginados.
Entretanto, no cômputo geral mundial, cerca de
70% das empresas fracassaram na implementação
do TQM (Total Quality Management). E esta
estatística não tem sido menos desastrosa no caso
de metodologias mais recentes como a Teoria
das Restrições, Seis Sigma e Lean. Os analistas
desavisados e os oportunistas se apressam em lançar
a culpa às metodologias, e rapidamente passam a
propor um novo modismo. Entretanto, a verdade é
que a “culpa” não está na metodologia, assim como
a absoluta maioria dos acidentes de trânsito não está
na tecnologia automotiva, mas sim na imprudência
dos motoristas. Na verdade, existe um grande fator
determinante que pode explicar aquela estatística
sinistra: a falta de liderança verdadeira e esclarecida.
Há dois adjetivos importantes a considerar aqui:
“verdadeira” e “esclarecida”.
Primeiro, liderança verdadeira. Os verdadeiros
líderes empresariais são figuras raras. A enorme
maioria das pessoas colocadas na cabeça das
organizações não merecem o título de líderes. São
no máximo administradores bem intencionados,
munidos de uma confiança cega na experiência
acumulada e nos ensinamentos que receberam em
sua formação acadêmica, uma boa parte dos quais
estão perdidamente obsoletos. Confirma ninguém
menos que Peter Drucker:
“À medida que nos aprofundamos no conhecimento
econômico, vemos que as premissas básicas de
muito o que é ensinado e praticado sob o nome de
‘gestão’ está irremediavelmente desatualizado... De
fato, a maioria de nossas premissas sobre negócios,
tecnologia e organização tem pelo menos 50 anos
de idade; duraram mais do que deviam... Como
resultado, estamos pregando, ensinando
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 13
Opinião
e praticando políticas
contraproducentes, cada vez
mais fora de sintonia com a
realidade. Tais premissas,
que determinam as coisas
para as quais devemos estar
atentos e quais devemos
ignorar, são normalmente
mantidas no subconsciente
de professores, escritores
e praticantes em todo o
mundo. Logo, elas são
raramente
analisadas,
raramente estudadas ...
raramente
desafiadas,
e até mesmo raramente
explicitadas” [1].
Um pequeno exemplo
que atesta o fato: a grande
maioria dos profissionais e
executivos tomam decisões críticas para o negócio
com base no “custo do produto”, esse intocável
conceito tacitamente aceito como vaca sagrada da
administração tradicional. Entretanto, os que sabem
algo sobre Teoria das Restrições já aprenderam
que “custo do produto” é na verdade um fantasma
contábil que, nas atuais condições empresariais,
pode distorcer completamente nossa visão da
realidade e levar-nos a decisões equivocadas [2].
O verdadeiro líder possui várias características
distintas, mas sem dúvida a principal é seu ideal
ou visão de longo prazo, baseada em princípios
fundamentais.
Tal
característica
contrasta
frontalmente com o estilo gerencial predominante,
o qual normalmente se resume ao estabelecimento
arbitrário e cobrança insana de metas numéricas de
curto prazo, uma malfadada prática (infelizmente
reforçada pelo BSC – Balanced Scorecard) que
Deming já criticava duramente há décadas atrás [3].
Em segundo lugar, liderança esclarecida. Um
paradoxo da liderança (e a História não me deixa
mentir) é que a própria paixão que o líder tem
por seus ideais é, por um lado, a chave do seu
sucesso, mas por outro lado o acaba cegando para
outras verdades. Os líderes empresariais, “gurus” e
consultores se dedicam apaixonadamente a difundir
suas idéias, mas isto muitas vezes lhes bloqueia a
visão. Muitos executivos que implementaram com
êxito o TQM falharam em absorver as contribuições
de outras metodologias.
A grande maioria das empresas de consultoria
oferecem a seus clientes apenas uma única forma
de abordar os problemas da organização, e a
vendem como se fosse uma panacéia milagrosa
em qualquer situação. Afinal, para quem só
tem um martelo na mão, todas as coisas ao
redor passam a ter cara de prego... É o caso das
instituições especializadas em TOC-apenas, ou
Seis Sigma-apenas, ou Lean-apenas.
A liderança esclarecida tem tanto a humildade
de reconhecer que todos os métodos de melhoria
têm limitações, como também tem a sabedoria
de combinar as melhores contribuições de cada
abordagem, em cada situação específica. Integração
é a palavra chave, quando se trata de extrair máximo
proveito do que Qualide Total/Seis Sigma, Lean,
TOC e outras metodologias têm a oferecer [4].
Outro aspecto importante é que o líder esclarecido
14 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
sabe que não é eterno, e portanto trata de construir um
sistema que se perenize quando ele finalmente tenha
que sair de cena. Infelizmente a maioria dos líderes não
tem essa virtude, pois suas raras qualidades tendem
a incliná-los para o egocentrismo, e assim sua saída
deixa um tremendo vazio, colocando a organização em
um processo de “desaprendizado organizacional”.
Este fato é magistralmente ensinado no livro
“Built to Last” [5], que confronta a figura do
líder carismático estilo “time-teller” (vidente do
futuro) versus o líder esclarecido estilo “clock
builder” (construtor de um sistema que se autoperpetua). Na verdade, levando em conta todas estas
considerações, acho até otimista a estatística de que
30% das organizações têm exito na implementação
de metodogias de melhoria contínua, se definirmos
como “êxito” a obtenção de resultados sustentáveis
no longo prazo e a consolidação de uma cultura
organizacional orientada para a excelência.
Um fato cada vez mais evidente é que a maioria
dos líderes empresariais que participaram ao
vivo do movimento mundial pela Qualidade já se
aposentaram, e a nova geração que assumiu seus
lugares não sabe o que é Qualidade com Q maiúsculo.
Alguns a vêem como uma remota matéria aprendida
na universidade (num momento de suas carreiras em
que não tinham experiência empresarial suficiente
para apreciar a importância do assunto); outros
a associam a uma incômoda auditoria semestral
necessária para manter vigente alguma certificação
normativa; já outros têm uma visão mais abrangente,
mas apenas no nível das políticas e práticas da
empresa (o “know-how” da Qualidade), sem porém
conhecer os princípios filosóficos fundamentais (o
“know-why” da Qualidade).
Mas o fato é que a Qualidade continua sendo uma
estratégia competitiva vital, talvez hoje mais do que
nunca. As empresas mais competitivas são aquelas
que não apenas reconhecem este fato tão óbvio mas
também enfrentam o trabalho duro de torná-lo uma
realidade consistente. Digo isto não apenas como
experiente profissional da Qualidade (já são mais de
30 anos nessa caminhada), mas com base em dados
estatísticos irrefutáveis: o projeto PIMS (Profit
Impact of Market Strategies, www.pimsonline.com),
originado na General Electric e posteriormente
mantido pela Harvard Business School é com
certeza o mais extenso estudo, feito a partir de uma
base de mais de 3.000 unidades de negócio em todo
tipo de atividade , desde os anos 60 até os dias de
hoje. E a principal constatação deste estudo pode
ser resumida na seguinte frase: “No longo prazo, o
fator isoladamente mais importante que impacta o
desempenho financeiro das unidades de negócio é
a qualidade de seus produtos e serviços, conforme
percebida pelos seus clientes, em comparação com
os competidores” [6].
Portanto, é necessário recuperar e por em prática
o ensinamento dos grandes mestres da Qualidade:
Deming, Juran, Ishikawa, porém sem repetir os erros
do passado. E para não errar, é preciso saber integrar
harmoniosamente as melhores contribuições das mais
poderosas metodologias de melhoria organizacional hoje
disponíveis: Teorias das Restrições, Lean, Seis Sigma
e Gestão por Processos (esta última, que desenvolvi a
partir de 1994, é minha modesta contribuição à lista de
metodologias de melhoria). Resumindo: o que muitas
empresas precisam fazer hoje é: começar de novo!t
Referências Bibliográficas
[1] Peter Drucker, declaração na revista Forbes de 5 de
Outubro de 1998.
[2] E. M. Goldratt, “The Haystack Syndrome – sifting
information out of the data ocean”, North River Press,
1990.
[3] W.E. Deming, "Qualidade, A Revolução da
Administração", Editora Marques Saraiva, 1990.
[4] E. C. Moura, “Excelência 360°”, revista Banas
Qualidade, Setembro 2006.
[5] J. Collins, J. Porras, “Built to Last: Successful Habits of
Visionary Companies”, Harper Business, 1994.
[6] R. D. Buzzell and B. T. Gale, “PIMS (Profit Impact
of Market Strategy) Principles: Linking Strategy to
Performance”, The Free Press, 1987.
Eduardo C. Moura, Qualiplus Excelência Empresarial,
[email protected]
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 15
Comportamento
20 questões
fundamentais
sobre a sua
empregabilidade
Para conhecer seu grau
de empregabilidade
preencha o teste
16 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Por Ernesto Berg
E
mpregabilidade é a capacidade
da
pessoa
desenvolver
determinadas competências,
habilidades e conhecimentos
do interesse do mercado de trabalho
e que são importantes e atraentes
para as empresas. Para conhecer seu
grau de empregabilidade preencha o
teste abaixo. Para que o resultado seja
fidedigno responda a cada questão com
a máxima sinceridade retratando a sua
situação atual e não a ideal.
S = SIM / N = NÃO / + - = MAIS OU MENOS
1. Eu me envolvo completamente.
Trabalho no emprego como se o
negócio fosse meu.
Sim
Não
+ ou -
2. Sou fluente na língua inglesa
(conversação, leitura, escrita).
Sim
Não
+ ou -
3. Adapto-me rapidamente a todos
tipo de mudanças na empresa.
Sim
Não
+ ou -
4. Minha profissão está totalmente de
acordo com minha vocação.
Sim
Não
+ ou -
5. Crio constantemente desafios
profissionais para mim mesmo.
Sim
Não
+ ou -
6. Faço pelo menos um curso de curta
duração (de 8 a 24 horas) a cada
seis meses.
Sim
Não
+ ou -
7. Estou sempre atento às
oportunidades de trabalho que
surgem no mercado, ligadas à
minha profissão.
Sim
Não
+ ou -
8. No trabalho que faço na empresa
sou substituível a qualquer momen
to.
Sim
Não
+ ou 9. Tenho grande iniciativa e estou
sempre inovando no meu trabalho.
Sim
Não
+ ou -
10.Cuido da minha aparência e utilizo
sempre roupas adequadas ao
ambiente em que estou.
Sim
Não
+ ou -
11. Tenho uma rede contatos e
relacionamentos profissionais fora
da empresa que podem abrir-me
oportunidades de trabalho rapidamente.
Sim
Não
+ ou -
12.Estou sempre me atualizando e
fazendo cursos de aperfeiçoamento
de média e longa duração em minha
área profissional.
Sim
Não
+ ou -
13.Tenho disponibilidade para viajar ou
mudar de cidade, se necessário for.
Sim
Não
+ ou -
14.Tenho facilidade de me relacionar
com qualquer tipo de pessoa.
Sim
Não
+ ou -
15.Se eu fosse demitido hoje, teria
uma nova colocação no máximo em
dois ou três meses.
Sim
Não
+ ou -
16.Eu, não minha empresa, sou
o maior responsável pelo
desenvolvimento da minha carreira
e da minha profissão.
u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 17
Comportamento
Sim
Não
+ ou -
1. Tenho facilidade de vender minhas
ideias aos outros.
Sim
Não
+ ou -
2. Me sinto inibido em dar palestras e
enfrentar público.
Sim
Não
+ ou -
3. Trabalhar em equipe e interagir com
pessoas é um dos meus pontos fortes.
Sim
Não
+ ou -
4. Não me abalo com facilidade.
Sei tomar decisões sob pressão e
trabalhar em ambientes estressantes.
Sim
Não
+ ou -
Faça sua Contagem de Pontos
• Marque um ponto para cada resposta
SIM dadas às afirmações: 1, 2, 3, 4,
5, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16,
17, 19, 20
• Marque um ponto para cada resposta
NÃO dadas às afirmações: 8, 18
• Marque meio ponto para cada
resposta MAIS OU MENOS
TOTAL DE PONTOS_________
Sua avaliação
• De 18 a 20 pontos. Parabéns. O
desemprego não aflige você, porque
sua empregabilidade está no auge.
Você sabe investir em você e se
destacar no trabalho, tem um bom
network extra empresa, está atento
ao que ocorre ao seu redor e às
tendências do mercado. Se viesse
a perder o emprego rapidamente
conseguiria outra colocação.
• De 15 a 17,5 pontos. Sua
empregabilidade esta entre média
e boa. Você procura se atualizar e
busca ser reconhecido pela empresa,
embora, talvez, nem sempre o
consiga. Demonstra interesse pelo
18 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
que ocorre no mercado embora,
necessariamente, não signifique que
queira trocar de emprego. É provável
que você tenha que melhorar seu
network. Veja as questões onde
você não pontuou, ou obteve meio
ponto, pois elas podem dar-lhe boas
indicações do que necessita melhorar.
• De 12 a 14,5 pontos. Sua empregabilidade
é apenas regular. Apresenta várias
brechas que podem dificultar seu trabalho
ou sua garantia de emprego. Procure
analisar como anda seu aprimoramento
profissional, seu relacionamento com
entidades externas e profissionais da
área e, sobretudo, como você está
vendendo seu serviço dentro da própria
empresa. Veja as questões onde você
não pontuou, ou obteve meio ponto,
pois elas podem dar-lhe boas indicações
do que necessita melhorar.
• Abaixo de 12 pontos. Sua
empregabilidade é baixa. Talvez você
ande desmotivado ou não esteja dando
importância à sua carreira, mas existem
muitas brechas que precisam ser
ajustadas. Não subestime seu trabalho,
sua empresa ou o mercado de trabalho.
Se você trabalha numa organização
onde não existe estabilidade de
emprego você tem que investir forte em
si e em sua carreira. Boas colocações
requerem trabalho intenso e continuado,
aperfeiçoamento contínuo, e uma boa
rede de contatos. Veja as questões onde
você não pontuou, ou obteve meio
ponto, pois elas podem dar-lhe boas
indicações do que necessita melhorar.t
Ernesto Berg é consultor de empresas,
professor, palestrante, articulista, autor de
14 livros, especialista em desenvolvimento
organizacional, negociação, gestão do
tempo, criatividade na tomada de decisão,
administração de conflitos [email protected]
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 19
MASP
V
Por Claudemir Oribe
Afinal, qual é mesmo
o problema?
ocê está trabalhando arduamente para
resolver um problema. Depois de dias
de trabalho, percebe que, na verdade,
o problema não era aquele, mas outro.
Tempo e recursos foram gastos inutilmente para
descobrir que o problema estava em outro lugar.
Mas, o que consola é que a situação poderia
ser ainda pior: se nem o problema real tivesse
sido encontrado, restando dúvida, desculpas e
sentimentos de fracasso e impotência.
Essa situação ilustra como uma identificação
correta do problema é crucial para uma resolução
eficiente e eficaz. Definir um problema corretamente
nem sempre é uma tarefa fácil, mas pode se tornar
depois de aprender a fazê-lo corretamente.
Existem vários conceitos de problema. Uma
delas afirma se tratar do resultado indesejado de
um trabalho A definições são bastante parecidas
mas, o que importa na realidade, é que a
definição do problema atenda dois critérios: seja
um fato incontestável – critério da objetividade
- e, que seja a consequência final de causas
desconhecidas – critério do efeito.
Para ilustrar essa situação, vamos imaginar
que alguém esteja numa estrada e seu carro pára
de funcionar. Ele estaciona e telefona para um
amigo mecânico. O amigo então pergunta: - Qual
é o problema? A única resposta que atende aos
dois critérios é “meu carro parou de funcionar”.
Qualquer coisa diferente disso como, por exemplo,
o motor deu um defeito, a correia dentada
arrebentou ou acabou a gasolina, pode ser uma
resposta prematura. Nada que não tenha sido
confirmado deve ser atribuído como um problema.
A definição do problema é estabelecida com a
primeira constatação do fato concreto e incontestável.
Dessa forma:
• A assertiva “não consigo trabalhar” é um
problema. Já, “estou doente” não pode ser
definido como um problema, enquanto um
diagnóstico incontestável não tenha sido feito.
• Da mesma forma, a afirmativa “o equipamento
tem um defeito" não é um problema. Já, “o
equipamento caiu de rendimento” pode ser
definido como um problema.
Entretanto, essa primeira definição, embora
correta e até tratável, pode ser apenas um sintoma
e, por isso, ajuda muito pouco na resolução da causa
do problema. Assim, a redefinição é um processo de
substituir a definição anterior por uma mais precisa
e mais próxima possível da causa raiz.
As condições de objetividade e efeito devem
continuar a ser satisfeitas. Isso deve ser feito
sucessivamente e, quanto mais for feita, mais
próximo da causa raiz se chegará e fácil será a
solução. A confirmação das causas mais óbvias
é o primeiro passo para redefinir o problema.
Quando uma das perguntas for confirmada, então
novas perguntas sobre suas causas potenciais
devem ser formuladas e respondidas para
redefinir o problema.
O processo somente pára quando alguma pergunta
não pode ser mais respondida. O problema é, então,
o último que foi definido.
Voltando ao nosso caso, o do carro, o amigo
mecânico poderia fazer algumas perguntas para
tentar redefinir o problema, acerca da gasolina,
do motor de arranque ou sobre os freios. Se, por
exemplo, o motor não dá partida quando a chave
é virada, então o problema pode ser redefinido
como “motor não funciona”. Isso pode acontecer
devido a diversos motivos, mas o mais óbvio é
a falta de gasolina. Se há gasolina, então uma
nova causa deve ser tentada.t
Claudemir Oribe é Mestre em Administração, Consultor e
Instrutor de MASP, Ferramentas da Qualidade e Gestão de
T&D. E-mail [email protected]
20 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Ousar
Cristina Werkema
Para obter o máximo de
sucesso na implantação do
Lean Seis Sigma, escolha a
parceria de quem mais
entende do assunto.
O Grupo Werkema é dirigido por Cristina Werkema, que é a consultora pioneira em Seis Sigma
no Brasil e a autora do primeiro livro sobre o tema escrito por um autor brasileiro.
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America (DPA), Danisco, Distribuidora Cummins Minas, Embraer, Esab, Faurecia, Fiat Automóveis,
Fleury Medicina e Saúde, Fumagalli Automotive Wheels, Fundação Dom Cabral, Garoto, Georadar,
Gerdau, Grupo Boticário, Grupo Société Générale, Harsco, Hermes Pardini, InterCement, Invensys,
Iochpe-Maxion, ITAK, Itambé, Johnson & Johnson, Karcher, Komatsu, Kraft Foods, Labcor, Liasa, Líder
Aviação, Liebherr, Log-In, Lojas Americanas, Magal, Mahle, Marcosa, MBR, Medabil, Merck, Metso,
Micelli, Microlite, Microsol, Motorola, MRS Logística, Mueller Eletrodomésticos, MWM International
Motores, Nestlé, Nokia, Nova Cimangola, Novelis, Novo Nordisk, Oi, Omint, Óxidos do Brasil, Painco,
Pilkington, Porto Seguro, Previ, Raízen, Rhodia, Rolls-Royce, Sadia, Samarco, Schaeffler, Seara,
Séculos, Shell, Singer, Stola, Stora Enso, Submarino, Supermix Concreto, Suzano Petroquímica,Tam,
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de |2015
t Revista Banas Qualidade - 21
Acessibilidade
Os Deficientes
também precisam se
divertir (II)
Q
uando ministro um curso de
formação em tecnologias
sociais para jovens, nas
conversas que temos durante
as aulas, fica muito clara a dualidade das
tecnologias. Quando falo em dualidade,
me refiro ao fato de a tecnologia ter dois
lados: um positivo e outro negativo; um
científico e outro social; um material e
outro imaterial; um presencial e outro a
distância e assim por diante.
A internet, as mídias sociais, os
dispositivos móveis, os games e outras
tantas tecnologias são bons exemplos
disso. A internet, ao mesmo tempo em
que nos permite o acesso a um mundo
cheio de novidades, informações,
conhecimentos, entretenimento, ou
seja, nos proporciona estudo, trabalho,
diversão, relacionamentos etc. de qualquer
lugar, com qualquer pessoa, a qualquer
hora, também propicia diversos crimes.
Bandidos e pessoas mal-intencionadas
se aproveitam das facilidades, do acesso,
da inocência ou descuido das pessoas
para roubar, extorquir, praticar bullying,
aliciar menores, etc.
A mesma coisa acontece com as redes
sociais, que nos colocam em contato
com tantas pessoas, mas, ao mesmo
tempo, nos tornam escravos, pois é
preciso “curtir” o que seus amigos
postam, compartilhar, estar atento o
dia todo, ou melhor, o tempo todo, para
não “perder” nada, nem ser excluído.
Você precisa participar dos grupos
22 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
do Facebook, do LinkedIn, curtir as
páginas, estar no Whatsapp, no Viber,
no Skype, no Wechat, no Instagram, etc.
Os dispositivos móveis são uma
panaceia neste contexto, pois permitem
que tudo isso seja feito de qualquer lugar,
a qualquer momento, na palma da sua
mão. Por outro lado, você fica sempre
“no ar”, disponível, pois ninguém quer
mais “largar”... desligar o aparelhinho.
As pessoas permanecem grudadas nele,
mesmo quando está carregando.
É preciso que pais, educadores,
psicólogos, pedagogos, empresas,
governos e sociedade civil observem
com mais atenção este fenômeno e
vejam como isso vem afetando positiva
e negativamente as pessoas. Em casa,
é preciso regras para que haja tempo
para tudo: fazer as lições escolares,
curtir a família, participar das decisões
e afazeres domésticos etc. E isso vale
para pais, mães e filhos.
Na escola, é preciso que haja uma
maior utilização dessas tecnologias para
que professor e aluno se compreendam
e se relacionem melhor, além, é claro,
de criarem novas formas e roteiros de
estudos facilitados pelas tecnologias,
inclusive as móveis. Isso pode melhorar
a interação dos alunos, seu interesse pela
escola e pelos estudos, seus resultados,
sua saúde e até mesmo sua psique. No
trabalho, é necessário compreender que
há tempo para tudo e que tudo pode ter
um novo lado.
Por Dolores Affonso
Em vez de ser considerado um vilão da
produtividade, a internet, os dispositivos móveis,
os games etc. podem ser aliados das organizações,
dos projetos, dos profissionais e promover
maior interação e comunicação entre pessoas,
departamentos, clientes, parceiros, etc. Um
dispositivo móvel, como um smartphone ou um
tablet podem ser lupas digitais, assistentes virtuais,
leitores de tela, GPS, conversores de mídias (áudio,
vídeo, imagem etc.), meio de comunicação, de
transmissão de dados, informações, documentos e
conhecimentos.
Pode ser uma agenda incrível, uma lanterna, uma
plataforma de gestão de projetos, de interação e
comunicação interna, de aprendizagem a distância e
muito mais! O potencial para as pessoas, as escolas,
as empresas e a sociedade é ilimitado.
Recentemente, li uma reportagem sobre uma nova
tecnologia de holografia que permitiria às pessoas se
comunicarem de qualquer lugar do mundo como se
estivessem frente a frente. Outra tecnologia muito
interessante é a de materialização do som, ou seja,
cada objeto, imagem, paisagem, pessoa etc. pode ser
transformado em resposta por áudio que se converte
numa “massa” de energia, mas que pode ser tocada.
Voltando à dualidade, imagine seu uso na
medicina, na visualização de tumores, cirurgias etc?
Salvaria muitas vidas! Mas imagine também, este
uso no meio corporativo, escolar, social? Também
salvaria muitas vidas! Por exemplo, poderia
oferecer às empresas a possibilidade de analisar
novos produtos, tocando sua forma num protótipo
de massa de energia gerada por som. Poderia, ainda,
oferecer a um aluno cego a possibilidade de sentir
as formas dos objetos, das paisagens... Imagine uma
criança cega descobrindo a forma de um vulcão,
tocando na sua forma virtual?
Mas para saber usar as tecnologias a seu favor
e a favor de uma sociedade melhor, é preciso estar
pronto para isso. Você está? A grande maioria não
está preparada. De qual lado da tecnologia você
está? Sempre é possível contar com a ajuda de um
profissional, como um consultor ou coach em novas
tecnologias para novos fins e mudar o lado em que
você está hojet
Dolores Affonso é coach, palestrante, consultora,
designer instrucional, professora e idealizadora do
Congresso de Acessibilidade www.congressodeacessibilidade.com
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 23
uma excelente ideia
Nossa missão é contribuir para que nossos clientes melhorem
competitivamente o desempenho de seus produtos, serviços e processos de trabalho.
Atuando desde 1984 com esse foco, a Qualiplus é uma das primeiras consultorias em
Excelência Empresarial, tanto no Brasil como na América Latina. Desde o princípio, temos
pesquisado e desenvolvido metodologias para ajudar as empresas a obter resultados
substancialmente melhores no que chamamos de “as três atividades vitais” de qualquer
sistema de negócios:
Planejamento e gestão
Desenvolvimento de novos produtos
Melhoria contínua de processos
Mundialmente inovadora
Em 2001, esse contínuo trabalho de investigação nos levou a conceber o
modelo Excelência 360º, que permite integrar de maneira harmoniosa as quatro metodologias que mais contribuem para um aumento da competitividade nas atividades vitais
citadas:
Teoria das Restrições (foco no problema central do negócio)
Gestão por Processos (foco na integração sistêmica e fluxo das atividades)
Sistema Lean (foco na eliminação de desperdícios e agregação de valor)
Seis Sigma (foco na satisfação do cliente e redução da variabilidade)
Essa integração idealizada pela Qualiplus foi um
insight inovador e pioneiro em nível mundial, e
ao longo do tempo sua eficácia tem sido confirmada,
inicialmente com Lean Seis Sigma e mais recentemente com TOC-Lean-Seis Sigma.
Tudo isso nos coloca em posição diferenciada
das
demais consultorias (inclusive em nível mundial), as
quais tipicamente se concentram em apenas uma ou duas metodologias. Além disso, a
Qualiplus possui parcerias com consultorias internacionais de ponta, entre elas:
Advanced Projects, ASI – American Supplier Institute, GSI – Goal Systems International, Lean Concepts e Minitab.
24 - Revista
Banas Qualidade
t Junho de 2015 t BQ 276
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L 2015
Ê N t
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I A
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M P RQualidade
E S A R -I 25
A
BQ 276 t
L
Especial - Lean Seis Sigma
A lamentável
banalização
do
Lean Seis Sigma
26 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Cuidado para não
“comprar gato por
lebre” no que diz
respeito à utilização
do Lean Seis Sigma.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 27
Especial - Lean Seis Sigma
Por Cristina Werkema
N
os últimos anos o Lean Seis
Sigma vem passando por
um processo de diminuição
gradativa de sua força, o
qual é provocado, principalmente, por
empresas de treinamento e consultoria
que se intitulam especialistas na
implementação da metodologia mas
que, simplesmente, “atropelam” os
requisitos necessários para que ela possa
receber, de fato, a denominação “Lean
Seis Sigma” e produzir os expressivos
resultados alcançados pelas empresas
pioneiras na sua utilização, como
Motorola e GE.
É claro que, com a afirmação acima,
não desejo desmotivar nenhuma empresa
que esteja planejando a utilização do
Lean Seis Sigma ou que esteja nos
estágios iniciais de sua implementação
ou, ainda, que esteja em níveis mais
avançados, mas sem obter os resultados
almejados – meu objetivo é alertar para
os perigos que surgem quando não são
seguidos os pontos essenciais de seus
conceitos e princípios.
Na época atual, temos as seguintes
DISTORÇÕES EM RELAÇÃO
À UTILIZAÇÃO DO LEAN SEIS
SIGMA:
1
Transformação dos treinamentos
para Belts em meros cursos sobre
técnicas estatísticas, com a eliminação
de tópicos importantes do conteúdo
programático e dos verdadeiros
objetivos da formação de um Belt do
Lean Seis Sigma.
Há empresas de treinamento e
consultoria, por exemplo, que vendem
o curso para formação como Black Belt
com carga horária total de 60 horas,
sendo 40 horas para formação como
28 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Green Belt e 20 horas para upgrade de
Green Belt para Black Belt. Essa carga
horária é insuficiente para apresentar,
de modo apropriado, o conteúdo
programático mínimo necessário para a
formação de um Black Belt.
Além disso, esses cursos são diluídos
em um longo período de tempo,
geralmente com aulas noturnas com
cerca de três horas de duração, em
alguns dias da semana, formato que
é totalmente desfavorável para uma
boa aprendizagem. E esses cursos são
vendidos diretamente para pessoas
físicas, com opção de pagamento em
“suaves e longas prestações”.
Para agravar o quadro, a grande
maioria das instituições que ministram
os cursos não enfatiza a realização
de projetos Lean Seis Sigma
após a conclusão do curso. Essas
instituições simplesmente entregam
aos participantes, após a assistência
às horas – insuficientes – do curso,
um “certificado de especialista Green
ou Black Belt do Lean Seis Sigma”,
o que é um desvirtuamento, pois
o certificado de especialista não
possui qualquer valor sem que haja
o desenvolvimento, com sucesso
comprovado, de um projeto para a
empresa que esteja implementando
o Lean Seis Sigma e com a qual o
participante tenha vínculo.
Vale lembrar que, na essência do
Lean Seis Sigma, é mandatória a
formação de pessoas com o perfil
apropriado para Black Belts e Green
Belts, visto que essas pessoas, além de
se transformarem em especialistas no
método e nas ferramentas da estratégia,
devem ser agentes de mudanças, que
implementarão a “cultura Lean Seis
Sigma” na organização.
Portanto, nesse cenário equivocado
atual, os cursos passam a ser vistos
como um fim em si mesmos e como
um mecanismo para tentar enriquecer
o currículo de profissionais que buscam
oportunidades no mercado de trabalho,
o que representa uma enorme distorção
do “verdadeiro” Lean Seis Sigma.
2
Desconsideração do principal fator
para o sucesso do Lean Seis Sigma,
que é o elevado comprometimento da
alta administração da empresa , isto
é, LIDERANÇA.
Sobre a importância da liderança,
Jack Welch uma vez afirmou “Este não
é um programa ‘de baixo para cima’: o
CEO deve ser o dono do Seis Sigma”.
Na prática, o principal executivo
da organização é responsável por
garantir a existência de um forte
patrocínio de toda a alta gestão.
Se esse comprometimento estiver
ausente, o fracasso do programa
no longo prazo será inevitável. E é
importante destacar que a alta gestão
deverá responsabilizar-se por criar
e manter um vigoroso patrocínio da
média gestão no dia a dia do Lean
Seis Sigma.
3
Desconsideração da importância
da execução dos projetos Lean
Seis Sigma.
A execução de projetos Lean
Seis Sigma associados às metas
prioritárias da empresa, ou seja,
que exerçam um impacto elevado
sobre os objetivos estratégicos da
organização, é fundamental. Também
é mandatório que os projetos
possuam as características adequadas
para serem executados por meio da
metodologia do Lean Seis Sigma.
4
Falta de mensuração direta do
sucesso do programa pelo aumento
da lucratividade da organização.
Para assegurar que os resultados
dos projetos Lean Seis Sigma sejam
traduzidos para a linguagem financeira,
é necessária uma forte atuação da
controladoria da empresa, para a
validação dos ganhos resultantes dos
projetos, o estabelecimento de critérios
claros para quantificação dos ganhos,
a identificação de oportunidades para
potenciais projetos e o auxílio dos Belts
nos cálculos financeiros. O profissional
da controladoria alocado para essas
funções costuma receber a designação
Money Belt.
5
Inexistência da infraestrutura
necessária à implementação bemsucedida do Lean Seis Sigma.
São fundamentais a criação e a
manutenção de uma infraestrutura na
organização, com papéis bem definidos
para os patrocinadores e especialistas do
Lean Seis Sigma: executivos da alta e
da média gestão atuando efetivamente
como Sponsors e Champions, executivo
da média gestão desempenhando a
função de Coordenador, membros
do staff técnico exercendo os papéis
de Master Black Belts, Black Belts e
Green Belts e profissionais dos níveis
de supervisão e operacional atuando
como Yellow Belts e White Belts. Como
o Lean Seis Sigma é uma estratégia de
negócio, todas as pessoas da empresa,
nos diferentes níveis de aprofundamento
do programa, são responsáveis por u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 29
Especial - Lean Seis Sigma
conhecer e implementar seus
conceitos e sua metodologia.
É imediato deduzir que a essência
das distorções acima é considerar ser
possível apenas obter os benefícios do
Lean Seis Sigma, mas sem investir de
modo continuado nos custos necessários
para a geração desses ganhos.
Para finalizar, é importante destacar
os CUIDADOS QUE DEVEM SER
TOMADOS NA ESCOLHA DE UMA
CONSULTORIA EM LEAN SEIS
SIGMA para auxiliar uma empresa na
implementação do programa.
A escolha de uma consultoria é similar
à seleção de um médico: é necessário
avaliar a experiência, a reputação e
as credenciais da empresa e também
apreciar se será possível estabelecer
uma relação harmônica e de confiança
com a organização e o consultor que
será alocado para liderar as atividades.
Portanto, essa abordagem é muito
diferente dos procedimentos de
licitação, concorrência ou tomada de
preços, nos quais solicita-se que os
potenciais fornecedores apresentem
uma proposta comercial para os
serviços e escolhe-se a empresa
que oferecer o menor valor. Essa
ótica não se aplica à seleção de uma
consultoria em Lean Seis Sigma!
Será que adotaríamos esse modo de
ação para escolher o nosso médico?
É claro que queremos ter o melhor
médico disponível, a menos que seu
preço seja proibitivo e não realista.
Na avaliação de uma consultoria
em Lean Seis Sigma, é fundamental
que sejam contatadas as empresas
às quais a consultoria já prestou
30 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
serviços e que sejam apreciadas as
publicações (livros e artigos) de
seus profissionais. Também devem
ser solicitados os currículos dos
consultores, para que seja possível
confirmar que a empresa conta em
seus quadros com pessoas altamente
capacitadas em Lean Seis Sigma,
com ampla visão de negócios e
experientes nas melhores práticas
em gestão pela qualidade, gestão por
processos e gestão de mudanças.
É ainda importante que se avalie o
portfólio e o conteúdo programático
dos cursos oferecidos (Master Black
Belt, Black Belt, Green Belt, Yellow
Belt, White Belt e treinamentos para
as lideranças) e o método adotado
para acompanhamento dos projetos
Lean Seis Sigma e avaliação dos
profissionais
para
certificação
como Belts.t
Cristina Werkema é proprietária e diretora
do Grupo Werkema e autora das obras da
Série Seis Sigma Criando a Cultura Lean
Seis Sigma, Design for Lean Six Sigma:
Ferramentas Básicas Usadas nas Etapas
D e M do DMADV, Lean Seis Sigma:
Introdução às Ferramentas do Lean
Manufacturing, Avaliação de Sistemas de
Medição, Perguntas e Respostas Sobre o
Lean Seis Sigma, Métodos PDCA e DMAIC
e Suas Ferramentas Analíticas, Inferência
Estatística: Como Estabelecer Conclusões
com Confiança no Giro do PDCA e DMAIC
e Ferramentas Estatísticas Básicas do Lean
Seis Sigma Integradas ao PDCA e DMAIC,
além de oito livros sobre estatística aplicada
à gestão empresarial, área na qual atua há
mais de vinte anos.
[email protected].
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 31
Especial - Lean Seis Sigma
Melhorando o
retorno do investimento
do lean seis sigma com
equipes de ação rápida
Os líderes da implantação Lean Seis Sigma
devem expandir suas ideias e adotar novas
abordagens para acelerar os resultados e
melhorar o retorno do Sistema.
32 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
E
Por Rick Tucci e Sergio N. Assiz
ste briefing expõe uma
abordagem inovadora e de
alta confiabilidade, o Processo
da Equipe de Ação Rápida
e descreve as bases da pesquisa, a
mecânica e “o que deve e o que não deve
ser feito” para agregar esta ferramenta
inovadora ao Lean Seis Sigma.
Como acelerar substancialmente os
resultados e ao mesmo tempo elevar
a moral no desenvolvimento do Lean
Seis Sigma utilizando-se uma ideia
diferenciada?
Nesses tempos difíceis de crise
econômica, muitos líderes de implantação
do Lean Seis Sigma parecem estar “entre
a cruz e a espada” tendo que reduzir o
recrutamento e treinamento de Belts e
ao mesmo tempo enfrentar o desafio de
obter mais ganhos líquidos.
Estes líderes enfrentam ainda outros
grandes obstáculos para a melhoria dos
resultados do Lean Seis Sigma.
Conforme relatado em um recente
benchmark, feito nos EUA, mais de 70%
dos líderes de Lean Seis Sigma citaram
como dificuldades crônicas à obtenção
de resultados melhores e mais rápidos a
falta de atenção por parte dos principais
executivos, a relutância dos gerentes de nível
intermediário em abrir mão das pessoas para
que ocupem os cargos de Belts e a resistência
dos funcionários da linha de frente.
Sem aumentar substancialmente o
investimento nos Belts e em treinamento,
existiria maneira para as implantações de
Lean Seis Sigma oferecerem resultados
melhores e mais rápidos?
A solução é surpreendentemente
óbvia: Fazer com que mais funcionários
se engajem produtivamente nas
atividades Lean Seis Sigma. Isso se
traduz em participação ativa nos projetos
de melhoria e liderança de equipes.
Infelizmente o histórico não é
promissor nesse aspecto. Na verdade,
a implantação do Lean Seis Sigma
envolve em média menos de 15 %
da força de trabalho e a esmagadora
maioria dos
funcionários treinados
como Green ou Yellow Belts nunca
completa um projeto de melhoria.
Nossa experiência no trabalho com
organizações ao longo dos últimos
15 anos sugere que as implantações
do Lean Seis Sigma podem quebrar
o padrão de baixo engajamento dos
funcionários e fazê-lo de modo eficiente
em termos de custos.
Contudo, isso requer uma mudança
fundamental na maneira de pensar sobre
como estimular os funcionários gerentes
com relação à mudança e torná-los
dispostos a investir seu próprio tempo e
esforço para fazer acontecer.
Pensar diferente para que mais
funcionários participem
Há mais de 15 anos após o insucesso
da implantação ampla do TQM (Total
Quality Management) nas empresas norteamericanas, a American Quality Foundation
procurou responder a uma pergunta simples:
O que motiva os funcionários a participarem
de esforços de melhoria da qualidade e o
que não os motiva? A resposta, resultado de uma
pesquisa mundial e da observação de
organizações na América do Norte,
Europa e Japão foi provocativa, para
dizer o mínimo. Como destacado na
Figura 1, os ganchos motivacionais
para impulsionar a participação,
especialmente de funcionários norteamericanos, tinham menos a ver com os
resultados organizacionais e mais a ver
com maior satisfação no trabalho. u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 33
Especial - Lean Seis Sigma
Figura 1:
Motivadores
Pessoais
para engajar os
funcionários na
melhoria contínua
O estudo continuou sugerindo que
esforços no sentido de doutrinar funcionários
acerca da teoria e ferramentas da melhoria
da qualidade provavelmente não produzirão
resultados caso não se dê maior atenção aos
gatilhos psicológicos capazes de motivar
uma mudança de comportamento. A ciência
da melhoria da qualidade é poderosa,
mas apenas se o público estiver realmente
ouvindo e engajado.
Analisando o processo convencional
de implantação do Lean Seis Sigma
usado ao longo nos últimos 10 anos
pode se compreender porque o Lean
Seis Sigma não causa entusiasmo
generalizado por parte da maioria dos
funcionários (exceto aqueles designados
para ocuparem a posição de Belt em
tempo integral).
Diferente dos Black Belts (e em
menor escala dos Green Belts), cuja
satisfação vem do domínio do amplo
conjunto de ferramentas para a solução
de problemas complexos, a maioria
dos funcionários da linha de frente,
supervisores e até mesmo gerentes de
nível intermediário nunca desfrutarão
dessa recompensa.
Alguns argumentaram que a solução
para esse problema de aculturação é
fazer com que todo gerente passe pelo
34 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
treinamento de Green Belt e participe de
um projeto Lean Seis Sigma como parte
obrigatória das metas de desempenho.
Mas para a maioria das empresas essas
estratégias não provaram ser eficientes
nem práticas e, em alguns casos bem
documentados (mais notadamente GE, 3M
e Home Depot), essas estratégias tiveram
efeito contrário e criaram insatisfação.
Ironicamente, a força central da
filosofia Lean Seis Sigma impediu um
maior engajamento do funcionário. O
foco na coleta e análise de dados para
verificar as causas antes de partir para
as soluções cria uma barreira natural à
participação daqueles que não têm as
habilidades ou o tempo para fazer esse
tipo de trabalho.
Não obstante, os funcionários são
verdadeiros arquivos de fatos, dados e
ideias para a melhoria do desempenho
apenas esperando para serem abertos.
A maioria dos funcionários está ansiosa
para dizer o que sabe. O problema da
maioria das implantações do Lean Seis
Sigma é que existem poucas maneiras,
se houver alguma, de converter de forma
econômica e confiável essas ideias em
ação efetiva e em resultados sustentáveis.
A evolução do processo de Equipe
de Ação Rápida – da GE a Toyota
e ao Lean Seis Sigma
A busca da Leap Technologies
pela melhor maneira de engajar os
funcionários na melhoria contínua
começou na General Electric Company
no final dos anos 80. Tivemos a
oportunidade de avaliar o Processo de
Work-Out da GE – uma abordagem
simples, porém naquela época,
revolucionária para resolver problemas
complexos de desempenho reunindo
grandes grupos de interessados em
explorar as soluções e forçar decisões
em períodos de tempo muito curtos –
geralmente três dias ou menos.
Trabalhando com a GE e uma série de
outras grandes organizações na busca de
uma alternativa aos tradicionais métodos
de TQM para melhorias conduzidas
pelos funcionários, desenvolvemos o
processo Ação Workout™.
A Ação Workout combinava a
orientação de ação rápida do Work-Out
GE com um conjunto de ferramentas de
implementação disciplinada segundo
um formato de aprendizado just-in-time
de fácil utilização por pequenas equipes
de melhoria de seis a oito funcionários.
Qual a diferença entre a Ação
Workout e outros métodos de melhoria
para equipes multifuncionais?
Em poucas palavras: Velocidade (60
dias a contar do lançamento da equipe até
os resultados); Simplicidade (projetado
para alavancar o know-how existente
e aprender durante a execução, sem
treinamento inicial para os membros
da equipe); e Resultados (um foco na
tomada de decisões e medidas com
ferramentas embutidas para documentar
e relatar ganhos financeiros).
A Ação Workout foi implementada
com grande sucesso em uma variedade
de organizações industriais, de serviços
e governamentais nos anos 90. O
método foi visto como uma alternativa
eficiente para os sistemas de sugestões
e uma metodologia mais econômica
e confiável para pequenas equipes
solucionarem problemas operacionais
básicos, disseminar as melhores práticas
e eliminar o desperdício.
Com a popularização do Seis Sigma
no final dos anos 90, diminuiu o interesse
na Ação Workout e em outros métodos
de mudança rápida como ele.
Os defensores do Seis Sigma foram
decisivos na crítica desses métodos
julgados prejudiciais à meta de criar uma
cultura orientada para fatos e dados. Em
muitas empresas grandes, foi relatado
que os recém-ungidos como Black Belts
desencorajavam a prática das reuniões
de Workout por ser uma perigosa
dependência do “conhecimento tribal”.
Por meio da nossa associação
com a Motorola University, a Leap
Technologies foi à escola para estudar
métodos e ferramentas Seis Sigma
de modo a encontrar oportunidades
apropriadas para integrá-los a Ação
Workout. O resultado foi a adição de
uma lista de checagem DMAIC “ligth”
ao processo para testar a eficácia da
solução antes da implementação.
Uma série de organizações Seis
Sigma (incluindo Burger King, Black
e Decker, Cott Beverages, IMC
Global, Mosaic e Standard Register
dentre outras) incorporaram essa Ação
Workout enriquecida em seus modelos
de implantação para colher os frutos
maduros dos galhos mais baixos. A
Ação Workout provou ser um acréscimo
valioso a caixa de ferramenta para ampliar
a participação dos funcionários na
solução dos problemas sem necessidade
de treinamento em sala de aula.
Com a disseminação do “Lean
Thinking” aumentou o reconhecimento
da importância de se ter uma caixa de
ferramentas robusta para se conseguir a
melhoria contínua e ciclos de projeto
mais rápidos. De fato, o conceito de
mudança rápida de processo, incorporado
na metodologia do evento Kaizen
promovida no Sistema de Produção
Toyota, estendeu-se às organizações
de serviços na procura de melhorias
inovadoras e rápidas no atendimento ao
cliente e na redução de custos.
Contudo, as organizações de serviços
também acharam muito difícil replicar
a cultura de equipes pequenas para
implementar e sustentar a melhoria u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 35
Especial - Lean Seis Sigma
promovida
no Sistema de
Produção Toyota. A
Leap Technologies
descobriu que a
Ação Workout com
o acréscimo da caixa
de
ferramentas
do Lean Thinking
poderia preencher
essa
lacuna
eficientemente,
especialmente
em situações nas
quais as equipes
de melhoria são
interfuncionais
e
não conseguem se
reunir todos os dias.
O Processo de
Equipe de Ação
Rápida resultante
(
apresentado
inicialmente pela
Leap Technologies
em 2006) inclui
os
gatilhos
psicológicos que criam motivação
para melhorar (Ação Workout) com
as ferramentas científicas (Lean e
Seis Sigma) para garantir resultados
sustentáveis.
Como funcionam as Equipes
de Ação Rápida: velocidade
controlada é a chave
Uma
premissa
fundamental
compatível com o “Lean Thinking” é
o reconhecimento de que existe uma
rica variedade de oportunidades de
melhoria a ser encontrada indo-se ao
“GEMBA” (GEMBA é o termo em
japonês para “o lugar onde a verdade
pode ser encontrada”. Significa ir aonde
o trabalho é feito). O desafio é explorar
36 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
essa fonte de conhecimentos e então
convertê-la eficiente e efetivamente em
ação de melhoria.
O Processo de Equipe de Ação Rápida
soluciona esse desafio reconhecendo
quatro verdades baseadas na experiência
com mudança no nível da linha de frente.
• As pessoas nas linhas de frente estão
ocupadas fazendo seus trabalhos e
têm pouca tolerância com processos
lentos de melhoria.
• Em questões de eficiência operacional
diária, os funcionários de linha de
frente têm muitas ideias de melhoria,
mas geralmente lhes falta uma maneira
fácil e eficaz de transformar essas
ideias em ação.
• Quando é dada uma direção clara e
apoiada por ferramentas fáceis de
usar, equipes pequenas podem ser
muito eficientes em tomar ações para
atingir uma meta compartilhada.
• Treinar os funcionários da linha de
frente em ferramentas avançadas
de solução e análise de problemas
é louvável, mas raramente
produtivo. (É melhor deixar as
ferramentas avançadas para alguns
especialistas em tempo integral
mantendo os funcionários no foco
de fazer acontecer.)
Esses princípios (validados ao longo
dos últimos 15 anos através de mais de
5000 aplicações da abordagem de Equipes
de Ação Rápida) modelam um ponto de
partida diferente e a estrutura para engajar
os funcionários no Lean Seis Sigma.
Esse ponto de partida começa onde a
energia e a motivação do funcionário para
mudança são maiores – a oportunidade
de partilhar ideias para melhorar o
desempenho. As ferramentas analíticas
e de planejamento necessárias para criar
melhoria sustentável devem seguir na
esteira da “explosão de energia” gerada
Campos de Oportunidades de Melhorias
com Equipes de Ação Rápida
pelo compartilhamento de ideias.
O Processo de Equipe de Ação
Rápida preenche uma lacuna crítica nas
implantações convencionais do Lean
Seis Sigma oferecendo uma maneira
rápida, confiável e única que satisfaz
o funcionário, expande o engajamento
e melhora a produtividade dos Belts.
Equipado deste conjunto de ferramentas
complementares, o Lean Seis Sigma
pode aumentar sua contribuição tanto
para o resultado final como preencher a
lacuna na dimensão humana da melhoria
de desempenho da organização.
Essa é uma potente fórmula de sucesso
– nos bons tempos e nos difíceis.t
Rick Tucci é Presidente da Leap Tecnologies e
desenvolvedor da abordagem Lean Seis Sigma
Rápido que provê um retorno maior e mais
rápido para a implantação da metodologia.
[email protected]
http://www.improvefaster.com
Sergio N. Assiz, Sócio Diretor da C.A.N.
Consultoria, representante da Leap
Technologies no Brasil, tem trabalhado com
lideres de uma grande variedade de empresas
para acelerar resultados na implantação
de Lean Seis Sigma e outros programas de
inovações e melhoria de processos.
[email protected] / http://www.can.com.br
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 37
Resultados em curto prazo
Visão de longo prazo
Gestão Estratégica Gestão por Processos Gestão de Pessoas
• Planejamento Estratégico
• Desdobramento de
Objetivos e Metas
• Hoshin Kanri/A3
• Diagnósticos
Organizacionais
• Gestão por Diretriz
• Coaching
• Desenvolvimento de Projetos
Lean Six Sigma
• Excelência Operacional
• Melhoria da Eficiência e
Eficácia dos Processos
• Mapeamento e Estruturação
de Processos
• Staff de Melhoria Contínua
• Desenvolvimento de
Competências Técnicas e
Comportamentais
• Formação de Especialistas
Lean Six Sigma (KPO, Green
Belt / Black Belt)
• Equipes de Alta Performance
• Gestão por Competência
Rua Coronel Joaquim Teixeira da Silva Braga, 100 - Aclimação - CEP 01536-020 - São Paulo/SP - Brasil
Telefones: (11) 3341 2483 - (11) 2337 6861 - E-mail: [email protected]
38 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Treinamentos de
Alto Impacto
BrinqLean
O BrinqLean apresenta uma nova abordagem didática
que utiliza jogos e dinâmicas para promover um
aprendizado prático, interativo, lúdico e divertido.
Através de dinâmicas que simulam processos
de manufatura e transacionais, os participantes
experimentam e vivenciam as dificuldades e
desperdícios comuns nos processos.
A velocidade racional do Lean com a
força e a profundidade do Seis Sigma
LEAN
A ÓTIMA utiliza o Lean e o Six Sigma como suas
principais metodologias para estruturar e melhorar os
processos, levando a organização a um novo patamar
de Gestão, reduzindo os prazos do negócio e trazendo
ganhos expressivos em produtividade, qualidade e
redução de custos.
CUSTOS
SIX
SIGMA
www.otimaeg.com.br
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 39
Especial - Lean Seis Sigma
As virtudes
e limitações de TOC,
Lean e Six Sigma
40 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Por Eduardo C. Moura
J
á faz bem uns 10 anos que venho
“pregando” a integração de TOC,
Lean, Six Sigma e Gestão por
Processos, através do modelo
Excelência 360º. E o principal motivo
pelo qual proponho essa integração é
o fato de que não existem panacéias
metodológicas.
É claro que qualquer empresa
que aplicar qualquer uma dessas
metodologias de melhoria organizacional
vai obter resultados muito superiores
ao empirismo vigente, pelo menos nos
primeiros anos. Pois cada uma dessas
metodologias traz uma contribuição
única e imprescindível para qualquer
organização seriamente empenhada em
melhoria continua:
• Através do foco no problema central
que impede o desenvolvimento
organizacional,
nenhuma
metodologia contribui tanto para
aumentar a prosperidade financeira
do que a Teoria das Restrições (TOC
- Theory of Constraints), produto da
mente brilhante de Goldratt.
• Através do foco na eliminação
de todo tipo de desperdícios no
fluxo de criação de valor, nenhuma
metodologia contribui tanto para
reduzir o “time-to-cash” do que o
Sistema Lean (ou Sistema Toyota)
de Produção, resultado de décadas
de observação e reflexão liderados
principalmente por Ohno e Shingo.
• Através do foco na redução da
variabilidade de parâmetros chave
de produtos e processos, nenhuma
metodologia contribui tanto para
aumentar a satisfação do cliente do
que Six Sigma, legítima herdeira do
movimento mundial pela Qualidade
Total deflagrado por Deming, Juran
e Ishikawa (pra citar apenas os
principais nomes).
• Através do foco na padronização
integrada dos processos de negócio,
nenhuma metodologia contribui
tanto para aumentar a satisfação de
todas as partes interessadas do que
a Gestão por Processos (conforme o
método que desenvolvi desde 1994,
a partir de conceitos e técnicas de
Ishikawa, Harrington e Mizuno).
Mas apesar dessas contribuições
únicas e imprescindíveis, nem TOC,
nem Lean, nem Six Sigma e nem Gestão
por Processos podem, isoladamente,
resolver eficientemente todos os
problemas de um sistema de negócios.
Em um ou outro aspecto, cada uma dessas
metodologias apresenta limitações,
algumas das quais são inerentes à
metodologia e outras agravadas por
praticantes equivocados (este último
procurarei desenvolver num próximo
artigo). Em minha forma de ver, essas
são as principais limitações atualmente
apresentadas por essas quatro grandes
metodologias:
1
TOC: envolve apenas a gerência no
desenvolvimento das soluções, não
contando com meios para envolver os
demais colaboradores de forma mais
ampla e participativa. Além disso, toma
a variabilidade como um fato, propondo
soluções que apenas compensam a
variação, em vez de atuar sobre suas causas
raízes. Finalmente, tende a ter um foco
estritamente financeiro, sem considerar, por
exemplo, a questão dos valores e demais
elementos da ideologia organizacional. u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 41
Especial - Lean Seis Sigma
2
Lean: tende a focar apenas os fluxos
de valor internos à empresa. Não
leva em conta as restrições de mercado,
o que pode levar a empresa a dedicar-se
a “kaizens” cada vez mais refinados em
seus processos internos, quando talvez
a prioridade é vender mais (algo similar
a discutir a melhor forma de arranjar as
mesas no restaurante do Titanic).
3
Six Sigma: tende a super-valorizar
a análise estatística, buscando
situações que envolvem medição e
análise de dados numéricos e deixando
de atentar para situações onde a melhoria
vem mais rápido por meios mais
simples. E por um sinistro casamento
com o MBO distorcido, tipicamente
tem a redução de custos como objetivo
dos projetos de melhoria, desviandose do propósito central de assegurar a
satisfação do cliente.
4
Gestão por Processos: apesar de
estabelecer uma estrutura integrada
de processos, não fornece as ferramentas
específicas para melhoria contínua de
cada processo.
Pelo exposto acima podemos constatar
que as limitações de uma metodologia
são sanadas pelas demais. Concluímos,
portanto, que a melhor saída é a integração
harmoniosa das quatro metodologias.
Que é exatamente o que propomos com a
Excelência 360º...
Como provocar o
fracasso das iniciativas de
melhoria organizacional
Algumas dicas infalíveis para fazer que TOC, Lean, Six Sigma e Gestão
por Processos dêem com os burros n’água..
P
rezado leitor: talvez você (como
eu) conheça algum executivo
empenhado
em
fazer
fracassar
iniciativas de melhoria organizacional.
Não cabe aqui discorrer sobre os
motivos de tal comportamento, quer
sejam intencionais ou não. Porém, se
você achar que tal pessoa tem agido
de forma muito amadora, ofereço aqui
algumas dicas capazes de convertêlo num carrasco profissional das
iniciativas de melhoria! Para facilitar a
consulta e aplicação imediata, as dicas
estão organizadas em algumas poucas
categorias vitais:
42 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Princípios e conselhos práticos gerais
• Princípio Número 1: “Money
first”. Isso de valores ou princípios
organizacionais é coisa pra filósofo.
• Nunca questione o status quo ou o
que você aprendeu na escola. Afinal,
tanta gente não pode estar errada por
tanto tempo.
• Não perca muito tempo com análise
e planejamento. Considerando o seu
nível de inteligência e experiência,
bastam um ou dois dias (quando
muito) para definir uma estratégia.
• Continue gerenciando através de
departamentos. Estabeleça metas
•
•
•
•
numéricas para cada departamento e
exerça tremenda pressão para que sejam
cumpridas. Exija explicação para o
mínimo desvio em relação às metas.
Não meça nada; paute-se sempre
pela sua grande experiência. Mas
o extremo oposto é também uma
alternativa eficaz: meça tudo;
transforme a coleta de dados
e a elaboração de relatórios e
apresentações numa refinada arte,
amplamente praticada na empresa.
Não padronize nada; o TIRO (a
Técnica Intuitiva para Remover
Obstáculos) e o improviso devem ser
os principais métodos para buscar
melhorias. Ou se preferir o extremo
oposto, burocratize tudo; implemente
controles em abundância.
Não delegue nada; afinal ninguém
fará melhor do que você. Mas
se preferir, delegue tudo; não se
envolva diretamente com nada (o
alto do Olimpo Corporativo é bem
mais seguro).
Concorde com tudo. Faça lindos
discursos, mas não vá muito além
disso. Depois de algum tempo o
modismo passa e tudo volta ao normal,
exatamente como sempre esteve.
Gestão da Operação
• Primeiro Corolário (derivado do
Princípio No. 1): A prioridade é
reduzir custos. Sempre será possível
espremer um pouquinho mais.
• Quando alguma melhoria trouxer
aumento de produtividade, aproveite
para reduzir os gastos com a mão
de obra: demita. E exija que os que
ficaram continuem buscando mais
produtividade.
• Sempre que possível, assegure-se
de que todos os recursos produtivos
(pessoas
inclusive)
estejam
trabalhando a 100% (ou mais) de
sua capacidade. Se houver acúmulo
crônico de trabalho em algumas
áreas, não afrouxe e nem desanime.
Isso é até bom, pois assegura que eles
sempre terão trabalho pra realizar.
Gestão Pessoal
• Não invista muito em ter pessoal
competente; isso custa muito caro.
Em vez disso, estabeleça controles
rígidos para evitar que cometam
erros ou que “folguem”.
• Mantenha um sofisticado sistema de
remuneração variável. Fisgue o seu
pessoal pelo estômago: quem não
estiver acima da média, que ganhe
bem pouquinho. Quem sabe assim
eles se animam, e no futuro todos
terão desempenho acima da média...
• Exija que todo projeto de melhoria dê
retorno financeiro de pelo menos X
dólares (coloque um valor de X bem
alto, que seja um “stretch target”).
• Não hesite em interferir em assuntos
operativos diretamente. De vez em
quando é bom “passar por cima” do
responsável direto. Vantagens: sua
autoridade será reforçada, e todos
saberão que têm um chefe.
• Estenda o Balanced Scorecard até o
nível individual.
Sobre Clientes
• Não desperdice tempo e recursos
em investigar o mercado e conhecer
os clientes. Afinal, você e seus
pessoal técnico já sabem o que eles
necessitam.
• Coloque o cliente no seu devido
lugar: em segundo plano. Lembre-se
do primeiro princípio: “money first”.
Bem, não se trata de uma lista
exaustiva, mas já é um “bom”
começo...t
Eduardo C. Moura, Qualiplus Excelência
Empresarial, [email protected]
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 43
Especial - Lean Seis Sigma
APLICAÇÃO DO LEAN NO
AGRONEGÓCIO
Os significativos resultados obtidos pela Toyota por
meio da aplicação do Sistema Toyota de Produção
(“Lean”) fizeram com que este rompesse as barreiras
da manufatura e fosse disseminado em áreas tais como
serviços, saúde e entretenimento.
44 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
C
Por Carlos Eduardo Moretti
ontudo, apesar da farta
informação sobre o tema,
uma pesquisa realizada pelo
Manufacturing Performance
Institute (Cleveland-USA) constatou
que entre 440 empresas, apenas 2%
atingiram os resultados esperados com
a implantação do Lean e que 74%
obtiveram pouco ou nenhum progresso.
A conclusão é que a diferença entre
o sucesso e o fracasso de um processo
de implantação do Lean reside na
capacidade dos agentes de promover
a indispensável mudança da Cultura
Organizacional, definida por Edgar
Shein (“Coming to a new awareness of
organizational culture” - Sloan Manager
Review), como sendo o...
“Conjunto de crenças que um grupo
desenvolveu ao aprender a lidar com
problemas de adaptação externa ou
integração interna, que funcionou bem o
suficiente para ser considerado válido e,
portanto, transmitido a novos membros
como a forma correta de pensar, perceber
e se sentir em relação a esses problemas.”
Ou seja, uma vez que a aplicação de
uma prática provou ser reiteradamente
eficaz em determinadas situações,
os membros de um grupo não mais
questionarão se devem ou não utilizála, recorrendo a ela de forma instintiva
e não por uma decisão explícita.
Schein afirmou ainda que uma Cultura
Organizacional pode ser dividida em
três níveis. Mas como aplicaríamos
este modelo à Cultura Lean? No livro
Chasing the Rabbit, Steven Spear,
professor no MIT, definiu as 4 Crenças
das pessoas da Empresa Lean:
1. Devemos projetar processos para
que os problemas sejam notados
“imediatamente”
2. Todos devemos solucionar problemas
e promover a Melhoria contínua
3. Devemos compartilhar o conhecimento
gerado nos processos de Solução de
Problemas e de Melhoria.
4. Líder=Mestre.
Líderes
devem
desenvolver as 4 “crenças” nos
membros da equipe.
A aplicação do Lean no Agronegocio
Ilustraremos a aplicação destes
conceitos
discorrendo
sobre
a
implantação do Lean numa empresa
prestadora de serviços de terceirização
de colheita e plantio mecanizado de
cana de açúcar, para usinas de produção
de etanol, em Goiás.
1
Projetando Processos para que
os problemas sejam notados
“imediatamente”
PADRÕES
Inicialmente, a produção, medida
em hectares (1 hectare = 10.000 m2)
plantados aferida mensalmente, passou
a ser monitorada diariamente, por
meio de controles visuais, no Gemba
(termo, em japonês, que significa “local
‘real’ ou local onde é adicionado o
valor). De maneira qualitativa e com a
colaboração dos operadores, chegouse ao consenso de que os Padrões de
Produção não estavam sendo atingidos
em função de problemas na operação
dos equipamentos e do número de horas
de manutenção corretiva nos mesmos.
INSTRUÇÕES DE TRABALHO
Para garantir um Padrão na utilização
e na inspeção dos equipamentos,
criaram-se Instruções de Trabalho,
seguindo-se os conceitos do Training
Within Industry (TWI). O passo
seguinte foi a elaboração de Matrizes de
Versatilidade, para “diagnosticar” o grau
de conhecimento de cada colaborador u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 45
Especial - Lean Seis Sigma
em relação ao conteúdo das diversas
Instruções de Trabalho. As lacunas
percebidas foram preenchidas com o
estabelecimento de uma estrutura e
cronograma de treinamentos. Passaram
a ser registradas as horas paradas por
necessidade de manutenção corretiva.
O padrão de treinamentos baseado em
Instruções de Trabalho facilitou, não só a
multiplicação do conhecimento inerente
a cada atividade mas, principalmente, a
verificação de sua correta utilização.
A partir deste momento, experimentouse o crescimento do “sentimento de
propriedade” por parte dos operadores, visto
que esta equipe passou a participar ativamente
da conservação dos equipamentos.
O número de horas de manutenção
corretiva baixou consideravelmente.
TROCA RÁPIDA
O tempo de abastecimento de adubo
foi diagnosticado como um “gargalo” do
processo. A ação corretiva foi a definição
de Padrões de tempo de abastecimento
de adubo, apoiando-se na técnica de
Troca Rápida de Ferramentas (TRF): O
processo foi filmado e decomposto em
atividades, que posteriormente foram
reagrupadas ou eliminadas. A técnica de
Troca Rápida também foi aplicada ao
processo de mudança de área de plantio,
quando toda a estrutura de máquinas e
equipamentos (tratores, área de vivência,
caminhões de manutenção, plantadoras,
entre outros) deve ser transportada a
distâncias que podem chegar a 60 km
CONEXÕES
Dado o grande número de variáveis no
processo de plantio das mudas de cana,
fora do controle do pessoal da empresa
(topologia, tipo de solo, variedade da cana,
entre outros), foi impossível estabelecerse o fluxo contínuo entre as operações de
sulcação e de plantio da muda. Desta forma,
estabeleceu-se um “estoque padrão” de 10
hectares de sulcos preparados, entre o trator
sulcador e a plantadora.
46 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
2
Todos deveos solucionar
problemas e promover a melhoria
contínua.
KAIZEN TEIAN
Com a estrutura de treinamentos
atuando de forma adequada, todos
os colaboradores foram treinados em
Kaizen Teian – técnica que promove
a melhoria contínua dos processos.
Iniciou-se um sistema de premiação
semestral, em função do número de
Kaizens aprovados por colaborador,
distribuindo prêmios tais como
lanternas, fornos de micro-ondas, etc.
São considerados válidos Kaizens
que trazem benefícios relacionados
à Segurança, Produção, Qualidade,
Custos ou eliminam, pelo menos, 1 dos
7 desperdícios. O proponente também
deve analisar a causa-raiz do problema
com o uso dos “5 porquês”.
Nos primeiros 18 meses do programa,
foram aprovados e implantados mais de
120 Kaizens. Aproximadamente, 40%
destes Kaizens focaram em melhorias
nos tratores e implementos, fato que
veio reforçar o comprometimento dos
colaboradores com o perfeito estado de
funcionamento destes.
SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Em abril/14, o controle de produção
(hectares plantados) passou a ser efetuado
hora-a-hora. A programação da produção
começou a ser feita diariamente, com a
previsão da área a ser plantada no dia seguinte
considerando variáveis como topologia, tipo
de solo, distâncias entre a colheita de mudas
e plantio. Se houver desvios em relação ao
padrão, a equipe se reúne, busca as causas-raiz
dos problemas – por meio de um Diagrama
de Ishikawa – e define as contramedidas
cabíveis. A padronização das contramedidas é
garantida por meio de revisões ou elaboração
de novas Instruções de Trabalho. Em paralelo,
pode-se verificar a eficiência do processo de
manutenção preventiva e definidas ações
para aprimora-las.
3
Devemos compartilhar o conhecimento
gerado nos processos de solução de
problemas e de melhoria.
YOKOTEN (aprendizado horizontal)
Além das constantes atualizações das
Instruções de Trabalho e respectivos
treinamentos, os Kaizens Teian são exibidos
aos colaboradores por meio de um quadro,
posicionado no posto de gasolina, onde os
trabalhadores tomam os ônibus que os leva até
as áreas de colheita e plantio das mudas.
4
Líder = Mestre. Líderes devem
desenvolver as 4 “crenças” nos
membros da equipe.
A participação da Liderança – apoiando
e dando suporte às mudanças - foi crucial
para o sucesso do projeto.
RESULTADOS
Nos primeiros 24 meses, o principal indicador
de produtividade – Hectares plantados por
mês – experimentou um acréscimo de,
aproximadamente, 30% (mantidos o número
de máquinas e colaboradores).
CONCLUSÃO
Independentemente
do
segmento,
empresas que confundem a implantação
do Lean com a implantação de
ferramentas estão fadadas ao fracasso:
O sucesso da jornada Lean depende
única e exclusivamente de uma profunda
mudança de Cultura Organizacionalt
Carlos Eduardo Moretti - Engenheiro pela
Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo com mais de 20 anos de experiência
em melhoria de processos em autopeças,
produção de alimentos, higiene pessoal,
calibração de instrumentos de medição,
tubos flexíveis, agronegócios, corretagem de
seguros e outros Co-autor do livro “Toyota
by Toyota: Reflections from the inside leaders
on the techniques that revolutionized the
industry”. Instrutor de Lean Manufacturing
e Lean Service na Fundação Vanzolini.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 47
Especial - Lean Seis Sigma
OS HÁBITOS DOS
BLACK BELTS DE SUCESSO
Por Alexandre Andrioli Iwankio
A
o longo de quase 10 anos
atuando na formação e
certificação de Black e Green
Belts, foi possível observar
que o sucesso dos Belts depende de
muitas variáveis que vão além do
domínio da metodologia Lean 6 Sigma
e de ferramentas de análise qualitativa
e quantitativa para a excelência
operacional.
Segundo a ASQ (American Society
for Quality), o perfil desejado para
um Black Belt engloba as seguintes
características:
48 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
• Ser capaz de explicar as filosofias e
princípios Lean 6 Sigma, de descrever
seu impacto em vários processos de
negócios em toda a organização.
• Entender os vários papéis e
responsabilidades dos profissionais
Lean 6 Sigma.
• Ser capaz de compreender diferentes
medidas de desempenho financeiro
de negócios.
• Ter uma compreensão fundamental
de técnicas de gestão de equipes.
• Ser capaz de compreender os
elementos de Project Charter/
Business Case para acompanhar o
andamento do projeto.
• Ser capaz de usar o feedback
do cliente para identificar suas
necessidades.
• Possuir capacidade de utilizar
técnicas estatísticas e de qualidade
para melhorar processos, como:
• identificação e interpretação dos
7 desperdícios clássicos
• técnicas de coleta de dados
• mapeamento e análise de processo
• análise de sistemas de medição
• conceitos de probabilidade e
distribuições
• cálculos estatísticos e de capacidade
de processo
• correlação e regressão
• testes de hipóteses e análise
variância
• FMEA e ferramentas de análise
de causa raiz
• planejamento de experimentos (DOE)
• kaizen, kaizen blitz e teoria das
restrições
• controle estatístico do processo (CEP)
• manutenção produtiva total de (TPM)
• planos de controle e manutenção
de resultados
• Etc...
Isto basta? Este perfil garante sucesso
no Lean 6 Sigma?
Todas essas características são
essenciais a um bom Black Belt, mas não
são suficientes para o seu sucesso.
É preciso adquirir hábitos que farão
diferença na condução dos projetos
Lean 6 Sigma, gerando resultados
extraordinários à empresa, com trabalhos
consistentes e valorização de pessoas.
Conforme o dicionário Michaelis,
hábito
significa
“costumes
ou
caracteres de um indivíduo; inclinação
por alguma ação, ou disposição de
agir constantemente de certo modo,
adquirida pela frequente repetição de um
ato; modo padronizado de pensar, sentir
ou agir, adquirido e tornado em grande
parte inconsciente e automático”.
Os hábitos dos Black Belts de sucesso
Business
Focam em resultados de negócios
Não se concentre nos "inputs" de seus
esforços:
• Quantos projetos você desenvolveu;
• Com que rapidez você os concluiu;
• Quantas ferramentas você domina.
Concentre-se nos resultados que você
está gerando para o seu negócio:
• Quantos projetos tiveram um
impacto real, sustentável e
positivo sobre o desempenho
geral do negócio?
• Como você está ajudando a
impulsionar o desempenho dos
negócios e a tornar a vida de seus
colegas mais fácil?
Compreendem os propósitos do negócio
Desenvolva a capacidade de descer para
os detalhes de um determinado processo
e entender seus meandros técnicos.
Contudo, jamais perca de vista a
razão maior dos negócios, as metas
estratégicas da companhia.
Comunicação e relacionamento
Traduzem a mensagem para cada público
As organizações são compostas por
diferentes tipos de públicos:
• Diferentes níveis de formação e
experiência;
• Papéis e responsabilidades distintos;
• Interesses e propósitos específicos.
Uma abordagem de comunicação uniforme
e linear simplesmente não funciona.
Compreenda o que vai importar mais para
o seu público - colocando-se no lugar
dele. Comunique-se assertivamente! u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 49
Especial - Lean Seis Sigma
Evitam excessos de termos técnicos e jargões
Pode ser tentador empregar termos como "desviopadrão“, "níveis sigma“, “faixa característica de
processo”, etc., ilustrando o quanto você sabe sobre
6 Sigma.
Sendo conhecedor de Lean, você pode mostrar
como domina o assunto falando sobre Poka-Yoke,
Muda, Kaizen...
Comunique-se em português claro e objetivo, o que é
suficiente para a maioria das coisas que você tem a dizer.
Para conceitos mais complexos, metáforas e exemplos
práticos ajudam a equipe a compreender os conceitos.
A comunicação não é para fazer você parecer
inteligente... é para fazer outras pessoas entenderem
a mensagem.
Ouvem as pessoas
Seus ouvidos são uma dádiva e é incrível o que pode
acontecer quando você os usar de forma eficaz.
Úteis para coletar informações, eles também podem
ser usados para identificar possíveis resistências a
uma proposta de solução.
Ouça frequentemente aos parceiros, clientes
e colaboradores. Isso o torna mais eficaz na
identificação dos projetos e iniciativas que irão
fornecer grande valor para a organização. Além
disso, aumenta a probabilidade de que mudanças
no processo serão aceitas e sustentadas pelos
colaboradores e pela liderança.
Pensam no impacto das
mudanças do processo nas pessoas
Imagine como seria fácil se você pudesse
mudar alguma coisa e essas mudanças fossem
imediatamente seguidas por todos, sem qualquer
dúvida ou hesitação.
Claramente, não é assim que funciona.
Mudanças no processo têm impacto real sobre o
emprego das pessoas.
• Elas terão de fazer ajustes em hábitos e habilidades
que desenvolveram ao longo dos anos.
• Elas precisam, em muitos casos, aprender
uma maneira inteiramente nova de fazer algo.
Considere o elemento humano e entenda como as
mudanças de processo impactarão as pessoas que
precisam realmente fazer o trabalho.
Aprendizado e disseminação
Estão constantemente aprendendo
A vida seria muito mais fácil se nós nascêssemos
sabendo tudo o que precisaríamos saber.
Entenda a importância de aprender e evoluir o seu
conjunto de habilidades de forma contínua.
Este hábito pode envolver:
• Benchmarking;
• Participar de conferências;
• Fazer cursos;
• Aprender com os fracassos (bem como com os
sucessos);
• Praticar networking e compartilhar ideias
com outros profissionais.
Praticam coaching e mentoring
Mobilize os talentos da organização, em vez
de tentar conduzir as iniciativas de melhoria
por conta própria.
Embora possa parecer um trabalho difícil
“ensinar as pessoas a pescar“, você vai colher
belos frutos se parar de tentar apanhar os
peixes sozinho e ensinar aos outros como
chegar aos resultados desejados.t
Alexandre Andrioli Iwankio: Diretor da Iwankio
Consulting, empresa de consultoria especializada
em melhoria de processos e implementação da
metodologia Lean 6 Sigma. Larga experiência na
formação de Black e Green Belts e na orientação
de projetos de melhoria para empresas como
ALL, Alcast, Arotubi, Banco Real, Behr, Boticário,
Colorfix, Contax, CST, DPA/Nestlé, Electrolux,
GVT, Kraft Foods, Metalgráfica Trivisan, MWM
International, Plastilit, Prati-Donaduzzi, Ritmo,
Samarco, Stora Enso, Tupy, Vale e Villares Metals.
Professor em MBAs e cursos de Especialização na
EBS e PUCPR. Coordenador técnico do curso de
Pós-Graduação em Lean 6 Sigma – Certificação
Black Belt na PUCPR. Mestrando em Engenharia
de Produção e Sistemas pela PUCPR, Especialista
em Engenharia da Manufatura Enxuta pela PUCPR
e em Gestão Estratégica e Controladoria pela UTP,
Economista Bacharelado pela UFPR.
50 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Cursos de Atualização
Sinal de excelência em
Lean Manufacturing
MELHORE OS PROCESSOS COM FERRAMENTAS LEAN. ESCOLHA O SEU CURSO.
Mapeamento do Fluxo de Valor - Manufatura
Fornece os conceitos necessários para elaboração de Mapas de Fluxo de Valor (MFV) em processos industriais.
TambémconhecidocomoValueStreamMapping(VSM),forneceumavisãográficaesistêmicadofluxode
materiais, processos e informações de uma família de produtos. É uma ferramenta essencial no diagnóstico de
desperdícios e indicação de ações corretivas em processos produtivos
Mapeamento do Fluxo de Valor - Administrativo/Serviços
Curso focado em elaboração de Mapas de Fluxo de Valor (MFV) para processos administrativos. As atividades
dotreinamentodiscutemosconceitosbásicos,asaplicaçõesespecíficaseestudosdecasodesucessoem
processos de prestação de serviços.
Gestão por Resultados
Discute a aplicação de planejamento e controle de ações operacionais alinhadas aos resultados estratégicos
esperadospelaempresa.AstécnicasdeGestãoporResultadopermitemaidentificação,análiseeação
corretiva em processos de negócios com ganhos expressivos no curto prazo.
Ferramentas Analíticas e Operacionais da Produção Enxuta (Lean)
Apresenta as principais ferramentas de diagnóstico de desperdícios em processos industriais e a aplicação
de ferramentas operacionais da Produção Enxuta - Lean Production - para aumentar a produtividade dos
recursos utilizados.
Coloqueumsinaldeexcelênciaemsuacarreira:Curso de Atualização Vanzolini.
e-mail: [email protected]
0800 770 06 08 (Estado de São Paulo)
ou (11) 3145-3717 (outras localidades)
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 51
Especial - Lean Seis Sigma
A cor da qualidade:
Como a Crayola usa
dados para fornecer o
giz de cera perfeito
Aqui temos uma caixa novinha com 64 gizes de cera.
Escolha sua tonalidade favorita e depois pinte o quanto
quiser sem precisar de cuidado! Olhe agora para o giz de
cera. Ele ainda está inteiro e até mesmo mantém uma ponta
decente. Isso não é nenhuma surpresa pois se trata de um
giz de cera da Crayola.
52 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
A
Crayola fabrica gizes de cera
em suas instalações no leste
da Pensilvânia há mais de
100 anos, período em que se
tornaram indiscutivelmente os líderes no
fornecimento de gizes de cera e outros
itens coloridos que as crianças usam
para expressar suas criatividades. Todo o
mundo conhece o nome, porém poucos
reconhecem a dedicação da Crayola em
garantir que os 2,2 bilhões de gizes de
cera que fabricam todos os anos atendam
aos mais elevados padrões.
A Crayola se baseia em uma cultura
de melhoria contínua impulsionada
por dados para melhorar a qualidade
de seus gizes de cera, sem mencionar
suas canetinhas, tintas, massinhas de
modelar e outros produtos, e eles confi
am no Minitab Statistical Software para
analisar esses dados. “Começamos com
a suposição de que tudo o que fazemos,
podemos melhorar”, explica Gary
Wapinski, vice-presidente de fabricação.
“Por isso, o Minitab é fundamental
pois ele nos ajuda a compreender a
análise estatística e permite que os
dados revelem o que precisamos fazer”.
Compromisso demonstrado
em prática e apoiado lá de cima
Aqui temos uma caixa novinha com
64 gizes de cera. Escolha sua tonalidade
favorita e depois pinte o quanto quiser
sem precisar de cuidado! Olhe agora
para o giz de cera. Ele ainda está inteiro e
até mesmo mantém uma ponta decente.
Isso não é nenhuma surpresa pois se
trata de um giz de cera da Crayola.
A Crayola fabrica gizes de cera em
suas instalações no leste da Pensilvânia
há mais de 100 anos, período em que se
tornaram indiscutivelmente os líderes
no fornecimento de gizes de cera e
outros itens coloridos que as crianças
usam para expressar suas criatividades.
Todo o mundo conhece o nome, porém
poucos reconhecem a dedicação da
Crayola em garantir que os 2,2 bilhões de
gizes de cera que fabricam todos os anos
atendam aos mais elevados padrões. u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 53
Especial - Lean Seis Sigma
A Crayola se baseia em uma cultura
de melhoria contínua impulsionada
por dados para melhorar a qualidade
de seus gizes de cera, sem mencionar
suas canetinhas, tintas, massinhas de
modelar e outros produtos, e eles confi
am no Minitab Statistical Software para
analisar esses dados.
Os rigorosos projetos
de melhoria conduzida
por dados da Crayola
ajudam a empresa a
manter e melhorar
a qualidade de seus
gizes de cera e eles
confiam no Minitab
Statistical Software
para analisar esses
dados.
“Começamos com a suposição de
que tudo o que fazemos, podemos
melhorar”, explica Gary Wapinski,
vice-presidente de fabricação. “Por isso,
o Minitab é fundamental pois ele nos
ajuda a compreender a análise estatística
e permite que os dados revelem o que
precisamos fazer”.
Rich Titus, um consultor de Lean
Six Sigma e membro adjunto do corpo
docente da Universidade Lehigh, treina
os green belts e black belts da Crayola e
os ajuda a manter os projetos em linha.
Ele dá crédito à liderança da Crayola por
fornecer o apoio necessário para iniciar
e manter um programa bem-sucedido de
melhoria contínua.
“Os executivos estão envolvidos
ativamente na seleção e aprovação
de projetos e nos reunimos com os
líderes de projeto para examinar seu
progresso frequentemente”, observa
Titus. “Mesmo que essas sessões de
revisão possam durar até três horas,
54 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
os executivos não ficam respondendo a
e-mails ou saindo para fazer ligações,
eles estão envolvidos e fazem perguntas
sobre cada projeto”.
“Saber que seus líderes levam isso
a sério ajuda as equipes a apreciar
a importância dessa metodologia
conduzida pelos dados”, diz James
Collins, gerente de melhoria contínua
e Six Sigma na Crayola. “Os líderes
de projeto precisam ser capazes de
apoiar suas recomendações com
dados. Ter uma ideia para melhorar
algo é excelente, mas quando se é
possível provar com gráficos, cartas e
estatística, você tem fundamento para
fazer uma mudança”.
Todavia, os líderes da Crayola não
fazem apenas a revisão dos projetos
de melhoria, eles criam seus próprios
projetos. O projeto mais recente de
Wapinski economizou um quarto de
milhão de dólares. Quando o projeto
começou,
funcionários
altamente
experientes foram designados para
supervisionar pequenas equipes de
funcionários com menos experiência
que colocavam componentes de artes
e artesanatos em kits. “Usei o Minitab
para comparar linhas dirigidas por
funcionários veteranos com linhas
conduzidas por funcionários menos
experientes”, diz ele, “e não encontrei
diferenças na segurança, eficiência
ou qualidade”. Pagar funcionários
habilidosos para liderar essas equipes
não fornecia benefícios, pois o processo
de montagem de kits é muito limitado.
Assim pudemos transferir esses
funcionários habilidosos para áreas
onde suas experiências tinham um
impacto real.
Não é nenhuma surpresa que muitos
projetos da Crayola contribuem para
o objetivo de se fabricar o giz de cera
perfeito. Os engenheiros da empresa
usaram ferramentas como a Análise
dos Sistemas de Medição (MSA) e
Planejamento de Experimentos (DOE)
para estudar a resistência dos gizes de
cera à quebra: esforços que levaram a
novos padrões e mesmo à criação de
uma nova máquina de teste de quebra
de gizes de cera.
“Fabricamos gizes de cera há mais
de 100 anos, mas não tínhamos uma
medição de resistência de giz de cera
confiável e consistente até agora”,
diz Bonnie Hall, vice-presidente de
qualidade global e melhoria contínua.
“Sempre
que
testávamos
uma
alteração de fórmula, precisávamos
quebrar dezenas de milhares de gizes
de cera para saber se havia alguma
diferença. Agora é muito mais fácil e
rápido avaliar a resistência de nossos
gizes de cera”.
ferramenta poderosa como o Minitab, é
algo que me atrai naturalmente”.
Às vezes, usar o Minitab vira a sabedoria
convencional de cabeça para baixo, como
quando um processo foi melhorado através
da redução da velocidade da linha e redução
da equipe de 10 para 5 pessoas. “Algumas
pessoas estavam convencidas de que essas
alterações significariam menos produção,
mas o estudo de capacidade no Minitab
mostrou que obtínhamos a mesma produção
com uma velocidade menor e metade da mão
de obra”, diz Wapinski. “Fazer a máquina
funcionar mais rápido só introduzia mais
tempo de inatividade e descartes. Além disso,
as pessoas na linha de produção estavam
muito mais felizes, pois não estavam mais
lutando para acompanhar a máquina
naquelas velocidades altas”.
Causas principais e soluções reais
Gary Wapinski testemunhou muitos
exemplos ruins de análise de dados antes
de trabalhar na Crayola. “Vi pessoas gastar
mais tempo tentando descobrir como
encontrar dados que apoiassem suas teses
em vez de permitir que os dados revelassem
o que eles precisavam fazer”, diz ele.
“Muitas pessoas não querem fazer
o trabalho pesado de chegar à causa
principal de um problema. Se um
equipamento para de funcionar a cada
três minutos, eles preferem acreditar
que podemos comprar uma nova
máquina para resolver o problema. Mas
se a causa principal está relacionada
com nossos processos, materiais ou
treinamento dos nossos funcionários,
então uma nova máquina não resolverá
nada. Quero fazer melhorias reais, não
falsas, por isso combinar resolução de
problemas com disciplina com uma
Embora seu trabalho possa mudar, ninguém
na Crayola perdeu o emprego como
resultado de um projeto de qualidade.
“Quando começamos com esses projetos,
os funcionários tinham dúvidas sobre o
que estávamos fazendo e se seus empregos
estavam em risco”, diz Ruggiero. “Agora
todos compreendem que estamos investindo
em melhoria contínua para aumentar nossa
competitividade e preservar empregos”. u
Analisar os dados com
o Minitab ajudou os
engenheiros da Crayola
a visualizar como a cor
e a posição dentro de
um molde afetavam a
resistência das pontas
de seus gizes de cera.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 55
Especial - Lean Seis Sigma
para zero em apenas
um ano, e quando os
defeitos começaram
a reaparecer, outro
benefício
de
se
prestar muita atenção
aos dados se tornou
evidente. “A análise
de rotina nos avisou
claramente quando a
qualidade começou a
cair e o resultado foi
que trabalhamos muito
mais rapidamente com
o fornecedor para
resolver o problema”.
Uma cultura de
conscientização de
dados
As equipes de
qualidade da Crayola
usam frequentemente
o menu do Assistente
no Minitab Statistical
Software, que guia os
usuários durante suas
análises e fornece
resultados e gráficos
claros e de fácil
compreensão.
Melhorias sustentadas
A Crayola deseja que essas melhorias
sejam sustentáveis e as economias de
projeto apareçam no orçamento. “Não
se deve apenas fazer um PowerPoint
e citar as economias”, diz Ruggiero.
“Recalculamos o custo padrão daquele
processo baseado naquelas economias
e depois fornecemos sobre aquelas
economias”.
O uso de dados também afeta os
fornecedores da Crayola. Por exemplo,
a empresa firmou uma parceria com um
fornecedor para reduzir a quantidade de
embalagens onduladas para remessas
com defeito. “Precisamos realmente de
embalagem perfeita”, diz Hall.
“Se tiverem qualquer deformação, elas
não passam nas empacotadoras de
caixas automáticas”.
O projeto cortou US$ 56.000 em defeitos
56 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
As
pessoas
envolvidas
na
iniciativa de qualidade
da Crayola sabem que
esse é um esforço de longo prazo. “Você
não se torna uma excelente empresa
apertando um botão”, diz Wapinski.
Mas a análise de dados usando o Minitab
já faz parte das operações diárias.
Gráficos de Pareto, boxplots, testes de
hipóteses, cartas de controle e análises
de capacidade são de uso comum.
“O Minitab é uma ferramenta diária
para gerenciar e explorar nossos
dados”, diz Hall. “Como usamos o
Minitab, é muito mais fácil comunicar
os problemas comerciais. Há uma
expectativa de que você tenha uma
boa compreensão de seus dados e isso
nos leva à causa do problema mais
rapidamente”.
Poder analisar e agir com os dados
transformou a maneira de como a
Crayola conduz o seu negócio e isso
beneficia toda a operação. “Isso nos
permitiu concentrar os recursos em
áreas onde podemos lucrar mais”,
diz Ruggiero. “Passamos de uma
cultura em que ‘quando tiver um
problema, enterre-o’ para ‘temos um
problema e precisamos visualizá-lo
para que possamos resolvê-lo”.t
Usar o Minitab para analisar dados ajudou a Crayola a
desenvolver novos padrões para lidar com a resistência de
seus gizes de cera e garantir que as novas cores e criações
cumprissem exigências rigorosas de qualidade.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 57
Especial - Lean Seis Sigma
UMA GRANDE ESTRATÉGIA EM
TEMPOS DE CRISE
58 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Por Luis Oliveira
T
odo empreendedor sabe
que momentos de crise
também são momentos de
oportunidade. O mundo
corporativo está repleto de exemplos
de crescimento e sucesso em
cenários de retração de mercados e
dificuldades econômicas. Para aqueles
que reconhecem o momento de alta
complexidade vivenciado no Brasil,
mas têm a visão de que não apenas é
possível sobreviver ao atual turbilhão
sócio-político-econômico em que o
País mergulhou, mas, principalmente,
criar uma estrutura sólida de
crescimento capaz de enfrentar
aspectos conjunturais extremos, o
Lean Six Sigma é, com certeza, uma
estratégia extremamente oportuna.
Um programa de melhoria contínua
tem como principal objetivo construir
uma cultura que promova a melhoria
nas atividades e processos de toda
a organização, propiciando ganhos
estruturais nos principais indicadores
do negócio, como aumento de
produtividade, redução dos custos e
prazos, aumento de lucratividade e
competitividade da empresa, suportando
o crescimento do negócio.
A metodologia Lean Six Sigma
permite estruturar o programa de
melhoria fundamentado em filosofias
e metodologias de alto impacto, que
trazem no seu escopo ferramentas
analíticas e de melhoria capazes
de garantir que todos os objetivos
estratégicos esperados pela Liderança
da empresa sejam alcançados.
A visão para a implantação de
um programa de melhoria necessita
ser de longo prazo, dado que a sua
concretização deve ser uma prática
natural, enraizada e consolidada na
cultura corporativa. Esta construção
é lenta e necessita de anos de
investimento, foco, persistência,
ajustes e resiliência requerida por
qualquer iniciativa fundamentada
na participação, envolvimento e
comprometimento das pessoas.
Apesar de necessitar de um plano
de longo prazo para sua implantação
efetiva, o Lean Six Sigma, quando bem
utilizado, tem a qualidade e a vantagem
de gerar ganhos excepcionais no curto
prazo para a organização.
Num momento de crise, no qual
fatores externos à organização, como
retração do mercado, economia
recessiva, aumento de inflação etc
afetam o crescimento e os resultados das
empresas, o Lean Six Sigma, pode ser
uma das melhores formas de a empresa
se reinventar e reorganizar sua atuação
para superar os desafios impostos por
este ambiente adverso.
Isto é possível pelo fato de as
organizações, mesmo com inúmeras
inciativas já realizadas, terem sempre
um grande potencial de melhoria em
termos de eficiência, otimização e
simplificação dos seus processos, além
de muitas sugestões dos colaboradores
que podem contribuir significativamente
no esforço de superação. É fundamental
que consigamos realizar todo este
potencial e aprimoramento.
O Lean Six Sigma tem no seu DNA
exatamente tudo o que é necessário para
alcançar as melhorias desejadas pela
empresa, justamente porqueu
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 59
Especial - Lean Seis Sigma
utiliza
ferramentas
altamente
eficazes para identificação, priorização
e execução de ações que irão eliminar
desperdícios, racionalizar e otimizar
processos. Podemos entender que é uma
combinação perfeita esta combustão
entre as oportunidades de melhoria
existentes nas organizações com uma
metodologia poderosa para explorar
e concretizar as mudanças e ajustes
necessários para atender as demandas
deste momento.
Um fator fundamental para viabilizar
a estratégia de utilizar o Lean Six
Sigma para blindar a empresa em
tempos de crise é o olhar diferenciado
da Liderança frente a um momento que,
apesar de trazer incertezas e restrições
orçamentárias, pode ser entendido como
uma oportunidade de fazer os ajustes e
promover as mudanças que não puderam
ser efetivadas até então. Em tempos
de crescimento e mercado aquecido, a
exploração de melhorias e de aumento
da eficiência muitas vezes não ocorre
justamente pelo fato dos recursos
estarem direcionados para atender a alta
demanda do mercado.
O fato é que este momento de
uma menor demanda, mostra-se
extremamente oportuno direcionar a
energia e o foco de todos para explorar
melhorias internas. Sendo uma grande
oportunidade para repensar políticas,
processos,
padrões,
produtos,
serviços, estratégias de mercado,
enfim, tudo o que realmente importa
na gestão do negócio. Como diz o
ditado, “A necessidade é a mãe da
criatividade”. Para superar os desafios
impostos pelo País, a empresa precisa
usar toda a sua criatividade para se
60 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
reinventar, sem perder de vista o
crescimento futuro.
Envolvendo todos
nos esforços de melhoria
A concretização das mudanças
oriundas de um programa estruturado
e sustentável de melhoria tem que
estar fundamentada na participação e
comprometimento de todos na empresa.
Para tanto, é necessário construir
uma cultura voltada para a busca
pela excelência com a participação
de todos, o que, por sua vez, só
será possível se estes valores forem
compartilhados
espontaneamente
pelas pessoas. Naturalmente, será
necessário que as iniciativas para
construção de uma nova cultura
consigam estimular cada um na
organização, a seu tempo, desenvolva
e incorpore os valores necessários
para que participem de forma genuína
nos esforços de melhoria.
Esta construção tem que começar de
alguma forma e podemos estruturá-la
para que ocorra dentro de um horizonte
de curto e médio prazo. O Lean Six
Sigma é robusto suficiente para gerar
transformações positivas e resultados
consistentes e significativos para o
negócio já nos estágios iniciais do
programa de melhoria.
As oportunidades identificadas no
início de um programa de melhoria
são aquelas que chamamos de “frutas
maduras”, ou seja, melhorias que
são fáceis de identificar e também
de realizar, sem necessidade de
muito tempo ou a aplicação de
metodologias complexas. É para
estas oportunidades que temos
que direcionar os esforços e
metodologias para que possamos,
de forma rápida, trazer benefícios
que mantenham a empresa saudável
durante esta fase de transição, até o
mercado retomar sua dinâmica.
Desmistificando o Lean Six Sigma
Apesar da complexidade metodológica
do Lean Six Sigma e da visão de longo
prazo necessária para um programa
de melhoria, sua implementação pode
ser feita de forma gradual, contínua,
consistente, respeitando o tamanho,
segmento e cultura de cada empresa e
das pessoas. O segredo é saber dosar o
ritmo e a complexidade metodológica.
Este processo tem que ser estruturado em
um modelo evolutivo de forma que seja
natural ao ambiente corporativo, sem
agredir sua cultura.
Um programa que consiga equilibrar
as demandas e oportunidades de
melhoria existentes com as metodologias
necessárias e assertivas, cria todas
as condições para se obter ganhos
sustentáveis no curto prazo, que fazem
a diferença na estratégia para aumento
da competitividade e sobrevivência no
longo prazo das organizações.t
Luis Oliveira - Sócio - Diretor da
ÓTIMA Estratégia e Gestão. Bacharel
em Estatística pela UNICAMP, PósGraduado pela FGV, Master Black Belt
Lean Six Sigma, Lead Assessor ISO
9000, Examinador do PNQ por diversos
anos. Especialista na definição e
implantação de Gestão Estratégica
de Resultados fundamentadas na
metodologia Lean Six Sigma.
http://www.otimaeg.com.br.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 61
Certificação
Por que o esquema
de certificação de
produtos e serviços
no Brasil só aumenta
as tragédias e os
acidentes de consumo?
62 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
A normalização é o primeiro passo para se atingir
alguma qualidade tanto de produtos como de serviços
e é por meio dela que se pode manter a evolução das
empresas em busca da melhoria contínua. Algumas
instituições e profissionais, por desconhecimento
ou má-fé, advogam que as normas técnicas,
diferentemente dos regulamentos técnicos, são
voluntárias. Não há obrigatoriedade em adotá-las.
Assim, só os produtos e os serviços com certificação
obrigatória ou compulsória (definida pelo Inmetro em
seus regulamentos para a avaliação de conformidade)
devem cumprir as normas técnicas. Será que não é isso
que aumenta os recalls, os acidentes de consumo e as
tragédias?
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 63
Certificação
P
Por Hayrton Rodrigues do Prado Filho
ara iniciar esse texto, contatei
o diretor de Avaliação da
Conformidade do Inmetro,
Alfredo Carlos Orphão Lobo
e enviei as seguintes questões para
ele: por que são poucos os produtos e
serviços que são obrigados a cumprir as
normas técnicas?; comente o aumento
de tragédias e acidentes de consumo no
Brasil e se isso está relacionado com o
número diminuto de produtos e serviços
que necessitam cumprir as normas
técnicas?; quais os planos do Inmetro
para solucionar essa situação?; acrescente
o que for necessário para esclarecer os
leitores da revista sobre o assunto.
“Como não poderia deixar de ser,
em nossa atividade é fundamental
trabalhar com dados e fatos
e os que hoje dispomos não
se coadunam com a visão tão
pessimista como a por você
externada, a seguir comentadas”,
explica Lobo.
“O Inmetro dispõe de um robusto
banco de dados de acidentes de consumo
ocorridos no Brasil, que contempla
valiosas informações sobre o tema.
Paralelamente, através de acordos, com
a CPSC, nos EUA, e com o Rapex, na
Europa, acompanha relatos de acidentes
de consumo e recalls pelo mundo afora
e podemos afirmar que o que ocorre
no Brasil nesse campo não é muito
diferente do que acontece mundo afora.
De qualquer forma, estas informações
extraídas de bancos de dados, oriundos
do país e do exterior, colaboram
sobremaneira para decidirmos quanto à
conveniência de intervenções do Estado
nas relações de consumo.
64 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Um bom exemplo para corroborar
esta afirmativa diz respeito a recente
crise mundial no setor de brinquedos,
ocasião em que foram registrados
diversos acidentes no mundo,
com os produtos fabricados pela
empresa Mattel, que, à época,
detinha 80% do mercado mundial
de brinquedos, inclusive com a
ocorrência de mortes em países
como EUA, Inglaterra e Austrália.
Orgulhamo-nos de afirmar que
nenhum acidente ocorreu no mercado
brasileiro, muito em função de
nossa regulamentação e das ações
de acompanhamento no mercado
que, em 2014, ultrapassaram a casa
de um milhão e cinquenta mil. Por
lei, o Código Brasileiro de Defesa
do Consumidor assegura que todo
produto colocado no mercado
brasileiro, em existindo norma ou
regulamento aplicável ao produto,
deve obrigatoriamente atender a um
destes dispositivos.
Compete ao Departamento de
Proteção e Defesa do Consumidor, da
Secretaria Nacional do Consumidor,
do Ministério da Justiça fazê-lo
cumprir, o que é executado em parceria
com cerca de 800 Procons estaduais e
municipais existentes no País.
Quando um produto oferece riscos
eminentes à saúde, a segurança e ao
meio ambiente, cabe à autoridade
regulamentadora, com base na norma
aplicável, estabelecer um Regulamento
Técnico e, eventualmente associálo a uma certificação compulsória,
o que deve ser precedido de estudos
de impacto e de envolvimento com as
partes interessadas.
De acordo com o marco legal
que rege as atividades do Inmetro,
o Instituto atua na questão da
segurança de produtos em caráter
supletivo, o que implica em dizer
que somente pode desempenhar este
papel em setores onde não exista
uma autoridade regulamentadora
legalmente constituída, o que nos
impede, por exemplo, de atuar, nos
setores de alimentos, medicamentos,
agricultura e telecomunicações.
O cenário de economia globalizada
fala hoje em desregulamentação.
Alguns países, em especial os do Reino
Unido, vêm caminhando fortemente
nesta direção e muitos deles o
fazem com financiamento do Banco
Mundial. Isto não implica em dizer
que os países que vêm praticando
a desregulamentação não estejam
preocupados com a proteção do
consumidor. Na verdade, eles exigem
a autodeclaração da conformidade,
alicerçado em um sistema jurídico
que penaliza duramente a empresa e
o empresário que colocar um produto
inseguro no mercado e provocar um
acidente de consumo. É óbvio que
ainda não é a realidade de nosso país.
De qualquer forma, cabe destacar
a razão disso. A regulamentação
associada a uma exigência de
certificação, sem dúvida, aumenta a
confiança na segurança dos produtos,
mas paralelamente onera o fabricante,
que inevitavelmente repassa estes
custos aos consumidores. Não só
onera o consumidor como prejudica a
competitividade da indústria nacional
frente à concorrência internacional.
Além disso, em muitas das vezes, a
regulamentação associada à exigência
de certificação cria obstáculos
desnecessários
ao
comércio
internacional, o que é combatido, em
especial, pela Organização Mundial do
Comércio. Por conta do cenário acima
descrito, o Inmetro atua na questão da
segurança de produtos observando
as boas práticas de regulamentação
acordadas
internacionalmente,
que contemplam, dentre outros, os
seguintes mecanismos:
Elaboração de uma agenda
regulamentadora, com horizonte de
quatro anos, com a participação das
diferentes partes interessadas, como
setores produtivos, entidades de
defesa dos consumidores, agências
regulamentadoras, meio acadêmico
e governo, o que é feito obedecendo
a critérios de identificação e
priorização
estabelecidos
pelo
Conselho Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial(Conmetro); acompanhamento de sites
internacionais de órgãos congêneres,
no sentido de identificar produtos
inseguros que causam acidentes de
consumo em outros mercados que não
o brasileiro; uma vez identificado e
priorizado um determinado produto
e, portanto, colocado na agenda
regulamentadora, é conduzido um
estudo de impacto regulatório sob a
ótica social, ambiental e econômica,
só sendo desenvolvido o regulamento
se os resultados sinalizarem que a
regulamentação é necessária, viável,
conveniente; acompanhamento no
mercado, de forma a avaliar os
resultados esperados pelo regulamento
e, eventualmente seu aperfeiçoamento,
fruto das ações de fiscalização,
conduzidas pelos institutos estaduais
de pesos e medidas, que por delegação
do Inmetro atuam em todo o território
nacional, cobrindo mais de 5.500
municípios. Como anteriormente u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 65
Certificação
mencionado, somente em 2014,
foram feitas mais de 1,05 milhões de
ações de fiscalização; ainda na linha
de acompanhamento no mercado,
cabe destacar a parceria firmada
com a Receita Federal Brasileira,
que nos permite adentrar nas zonas
alfandegarias, de forma a barrar
produtos não conformes.
No
ambiente
de
economia
globalizada, país que não detém
um bom controle de suas fronteiras
vira receptor de produtos inseguros,
ou seja, de lixo. Respondendo às
perguntas específicas formuladas,
cabe esclarecer: quanto aos poucos
produtos e serviços que são obrigados
a cumprir as normas técnicas, além
das considerações acima enunciadas,
que revelam que suas afirmações
estão desconectadas da realidade
fática, destacamos os seguintes dados,
relacionadas às nossas atividades:
possuímos hoje 156 famílias de produtos
certificados compulsoriamente que
devem obedecer a requisitos mínimos
de segurança antes de serem colocados
no mercado, além de 38 certificados
voluntariamente; estas 156 famílias
de produtos representam cerca de 540
diferentes produtos usados em nosso
dia a dia, que para serem colocados
no mercado têm que ostentar o selo do
Inmetro; representam ainda a existência
de 602.000 modelos de produtos
colocados no mercado brasileiro com
o selo do Inmetro. Definitivamente não
são números desprezíveis e estamos
certos que são adequados à realidade
socioambiental do país. Entendemos
que não cabe comentar o aumento de
tragédias e acidentes de consumo no
Brasil, uma vez que não condiz com o
cenário que conhecemos, mas não nos
furtaremos de analisar outros cenários
66 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
desde que alicerçados por dados e fatos
consistentes.
Quanto aos planos do Inmetro para
solucionar essa situação, ainda que a
afirmativa não seja condizente com os cenários
por nós acompanhados, cabe destacar a
agenda regulatória com horizonte quadrienal,
anteriormente mencionada, disponibilizada
no sitio do Inmetro.
Quanto a acrescentar o que for
necessário para esclarecer os leitores da
revista nos parece oportuno: reafirmar
que temos adequado grau de confiança
na segurança dos produtos colocados
no mercado nacional, naquilo que é de
responsabilidade do Inmetro; informar
que nos países desenvolvidos poucos
são explicitamente regulamentados com
exigência de certificação compulsória;
destacar ainda que, na verdade, em
todo o mundo há um aumento de casos
relatados de acidentes de consumo,
devido a maior complexidade da
sociedade moderna, ao maior número
e complexidade de diferentes produtos
postos no mercado e ainda à maior
conscientização da população, cada vez
mais educada, conectada e exigente.
Felizmente isto também ocorre no Brasil.
Definitivamente somos melhores
consumidores que há 20 anos.
Inovações tecnológicas constantemente
introduzidas nos produtos em geral
demandam uma necessidade de
permanente vigilância de mercado, para
mitigar os riscos de acidentes.
Quem há poucos anos falava em
ftalatos, nitrosaminas, nanopartículas.
Isto impõe um grande desafio para
as autoridades regulamentadoras
e o Inmetro com toda sua robusta
infraestrutura laboratorial e de
pessoal especializado faz isto tal como
entidades internacionais de excelência
similares.”
Essa é a verdade: um país, com as
dimensões do Brasil e a sua importância
no cenário mundial, possui apenas 156
produtos e oito serviços ou, como o
próprio Lobo diz, 540 diferentes produtos
usados no dia a dia, que para serem
colocados no mercado têm que ostentar
o selo do Inmetro, o que representam
ainda a existência de 602.000 modelos
de produtos colocados no mercado
brasileiro com o selo do Inmetro. Ainda
acho: é muito pouco quando se faz a
seguinte pergunta: quantos produtos
e serviços existem em uso no país, 2
milhões, 3 milhões, 5 milhões?
Acrescente-se, a esses números,
mais 16 produtos com declaração do
fornecedor compulsória; produtos
com declaração de conformidade do
fornecedor: isqueiros descartáveis a
gás; oficinas instaladoras de sistemas
de GNV, para utilização em veículos
bicombustível; cantoneiras de aço
laminadas para torres de transmissão
de energia elétrica; oficinas de inspeção
técnica e manutenção de extintores de
incêndio; sistemas não metrológicos
de registro de avanço de sinal; e
oficinas reformadoras de pneus; e um
processo com certificação compulsória:
concessão em florestas públicas.
Brasil tem por baixo umas 8.000
normas técnicas editadas, sem contar
as internacionais que podem ser
usadas. Se houvesse uns 2 milhões
de produtos obrigados a ter o selo
do Inmetro pode ser que ninguém
reclamasse,
principalmente
eu.
Pode ser que houvesse uma sensível
diminuição nos acidentes de consumo e
tragédias, como explosões e incêndios
em locais públicos. Imagine o leitor
se fossem 10.000 produtos e serviços
obrigados a serem certificados. Podese até afirmar que a competitividade
brasileira seria modificada.
Internacional
Regional
Nacional
Empresarial
Observe-se que, essas mesmas
pessoas, que advogam o não
cumprimento obrigatório das normas
técnicas, reconhecem que o seu
atendimento pode auxiliar as empresas
no cumprimento das suas obrigações
legais relativas a determinados assuntos
como segurança do produto e proteção
ambiental, havendo a impossibilidade
de vender seus produtos em alguns
mercados a menos que estes atendam
certos critérios de qualidade e segurança.
Estar em conformidade com normas
pode poupar tempo, esforço e despesas,
dando a tranquilidade de estar de acordo
com suas responsabilidades legais.
Embora não sejam leis, as normas
técnicas têm força obrigatória e quando
não são cumpridas representam um
ato ilegal. Deve-se distinguir o caráter
voluntário, que existe na iniciativa
e no processo de elaboração das
normas técnicas, da obrigatoriedade
do seu cumprimento, quando em
vigor. A iniciativa da elaboração pode
ser voluntária, porque depende de
empresas, entidades e consumidores
interessados se organizarem para propor
a sua elaboração, mas o cumprimento
das normas, depois de aprovadas, tem
caráter obrigatório.
u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 67
Certificação
No livro “Tragédias, crimes e práticas
infrativas decorrentes da não observância
de normas técnicas brasileiras –
NBR”, de autoria de Mauricio Ferraz
de Paiva, podem ser lidas ideias
bastante interessantes sobre o assunto.
“Infelizmente, no Brasil, a visão egoísta
de alguns centros públicos de geração
de informações tecnológicas, dificultam
o fácil acesso às essas informações,
por, muitas vezes, as tratarem como
negócio, em detrimento aos reais
benefícios que essas informações, se
amplamente disseminadas, poderiam
trazer ao país e à sociedade..
Essa equivocada visão, diferente da
visão dos países desenvolvidos, interfere
drasticamente no desenvolvimento
tecnológico do Brasil, na medida em
que as pessoas ou organizações deixam
de investir grande parte de seu trabalho
para o aprimoramento do conhecimento
já existente, desperdiçando-o na tarefa
de reinventar a roda.
Outro grave problema que esta
situação gera é o risco legal nos negócios
das organizações, principalmente das
micro e pequenas empresas, pois os
produtos e serviços fornecidos por
esses tipos de empresas, por falta de
conhecimento ou recursos ao acesso
68 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
às informações tecnológicas básicas,
acabam não atendendo os requisitos
mínimos necessários, para garantir
a segurança e saúde das pessoas, a
preservação do meio ambiente, o bom
desempenho, etc., estando sujeitas as
penalidades constantes na legislação
em vigor, tais como Código de Defesa
do Consumidor, etc. Podemos ter
a dimensão da importância desse
assunto se observarmos que a rede
mundial de computadores (internet),
quando criada nos Estados Unidos da
América, teve como um dos objetivos
iniciais e principais agilizar o acesso
às informações científicas e promover
seu intercâmbio entre seus centros de
geração de informação.
Considerando a atual variedade de
ferramentas eletrônicas existentes e a
facilidade de contratação de serviços
para informatização de processos, criar
um ambiente informatizado de gestão do
conhecimento, que torne disponível um
conjunto de informações organizadas,
deixou de ser o ponto crítico dessa questão.
Um
sistema
de
gestão
de
conhecimento deve ser projetado para
alcançar os seguintes objetivos: facilitar
o acesso ao conhecimento; centralizar o
conhecimento; agilizar a busca e acesso;
garantir a utilização de informações
atualizadas; tornar ágil e seguro o
controle das informações; e reduzir os
custos na distribuição dos documentos.
Para tanto, uma das etapas principais e
iniciais para a implantação desse tipo de
ambiente é a identificação e definição
das características das informações que
devemos incluir no Sistema. Podemos,
a grosso modo, dividir o tipo de
informação em dois grandes grupos:
Informações Críticas e Informações
Complementares.
As informações críticas são aquelas
informações essências e indispensáveis
ao dia a dia dos negócios da organização.
Essas informações, também podem
ser subdivididas em dois grupos:
Documentos Externos e Documentos
Internos.
Como
Documentos
Externos, podemos entender: Normas
Técnicas (Brasileiras, Estrangeiras
ou
Internacionais),
Regulamentos
Técnicos, Legislação, Relatórios de
Pesquisas, etc., ou seja, toda informação
documentada criada externamente da
organização, que se faz necessária no
dia a dia da organização.
Já os Documentos Internos seriam,
por exemplo: Procedimentos internos
da qualidade, manuais, instruções,
contratos, relatórios, projetos, etc., ou
seja, as informações documentadas
criadas internamente na organização e
que necessitem ser compartilhadas e/ou
utilizadas com frequência.
O grupo composto pelas Informações
Complementares, seria formado por
informações, com relacionamentos
específicos às informações críticas, para
facilitar ou enriquecer o entendimento e
aplicação dessas informações.
Os informativos, eventos, matérias
técnicas, etc., são exemplos para
desse grupo. Conforme mencionado
acima, essa seria a etapa inicial para a
implantação de um Sistema de Gestão de
Conhecimento. Porém, já nessa primeira
etapa, nos deparamos com obstáculos
sérios para o uso de algumas informações
públicas
"Documentos
Externos",
especificamente junto aos organismos
que publicam Normas Técnicas,
Regulamentos Técnicos, Pesquisas, etc.,
quando esses organismos, conforme
já dito acima, resolvem transformar o
acesso a essas informações públicas,
em negócio, muitas vezes, contrariando
os princípios da democratização da
informação pública para atender
interesses pessoais e particulares.
Transformar o acesso às informações
públicas em negócio, significa basicamente,
monopolizar as referidas informações e, dessa
forma, estabelecer unilateralmente quais
valores, meios de acesso e principalmente
restrições àqueles que
u
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BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 69
Certificação
possam agregar valor a essas informações
públicas, como por exemplo, disseminálas, em condições mais acessíveis, através
de Sistemas de Informação.
Ciente do papel importante e
fundamental que temos na comunidade
científica e considerando nosso
compromisso com os usuários de
informações tecnológicas públicas, a
Target vem obtendo vitórias na justiça
contra aqueles que insistem em restringir
o acesso a essas informações.
A sociedade e os governantes
devem se conscientizar dessa situação
preocupante e não medir esforços
para, através dos Fóruns adequados,
criarem uma política de acesso às
informações tecnológicas básicas,
para que o uso e aplicação dessas
informações, tão necessários para o
desenvolvimento tecnológico do país,
sejam amplamente fomentados e não
dificultados por obstáculos de acesso
a elas. A intenção desse livro é tentar
explicar de forma prática, e infelizmente
mostrando tragédias, como as normas
técnicas estão no nosso dia a dia. Elas
devem ser levadas a sério quanto à
sua observância obrigatória e o poder
público precisa editar leis para esse
cumprimento por parte da sociedade
produtiva e de serviço. Nos próximos
capítulos, vocês poderão verificar que
procurei, na prática, mostrar como
as normas técnicas brasileiras NBR,
estão diretamente ligadas a situações
de problemas cotidianos e em tragédias
ocorridas.
Também procurei mostrar que,
na quase totalidade dos problemas
apresentados, se as Normas Técnicas
relacionadas diretamente a esses
problemas tivessem sido observadas,
muito provavelmente esses problemas
não teriam acontecido. Enfim, o discurso
irresponsável do Inmetro e da própria
70 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
ABNT, de que as normas técnicas
brasileiras são de observância voluntária,
faz com que acidentes e negligências
sejam inseridos na mesma cesta, o que,
em uma sociedade organizada, não pode
ser declarado como verdade”.
Ou seja, a norma é de observância
obrigatória, já que isso está plenamente
definido no ordenamento jurídico
brasileiro. O cumprimento das normas
é constitucional, não depende de
concordância do Inmetro, dos Ipems
e da ABNT. O sistema jurídico
brasileiro tem uma hierarquia lógica:
a constituição, as leis federais, as leis
estaduais, regulamentos, portarias e
outros documentos.
Para garantir os direitos básicos dos
cidadãos, o Estado cria esse sistema
jurídico. O Código de Defesa do
Consumidor (CDC), lei de caráter geral
e nacional, editado com fundamento no
artigo 5º, inciso XXXII, da Constituição
brasileira, aprovado pela Lei nº 8.078,
de 11-9-1990, ao disciplinar as vedações
aos fornecedores de produtos ou serviços
com o intuito de coibir práticas abusivas
estabelece em seu artigo 39, VIII: É
vedado ao fornecedor de produtos
ou serviços: colocar, no mercado de
consumo, qualquer produto ou serviço
em desacordo com as normas expedidas
pelos órgãos oficiais competentes ou,
se normas específicas não existirem,
pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas ou entidade credenciada pelo
Conselho Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial
(Conmetro).
Assim,
quando
não
existir
regulamentação técnica específica de um
assunto, qualquer produto ou serviço tem
que seguir a norma técnica. Quem não
segue, está comercializando um produto
ou serviço ilegal. A definição fundamental
do termo ilegal é contrária à lei.
Ou seja, colocar no mercado de
consumo qualquer produto ou serviço
fora dos requisitos das normas técnicas,
contraria o artigo 39, §VIII do Código
de Defesa do Consumidor (CDC), Lei nº
8.078, de 11-9-1990, e, sendo assim, está
expressamente praticando um ato ilegal.
A comercialização de produtos ou
serviços ilegais (falsificados, piratas,
contrabandeados e outros) é um fato
generalizado que deve ser combatido
por toda sociedade civil e autoridades
competentes. A compra de produtos ou
serviços de origem ilegal representa
uma ameaça, pois esses produtos além
de não respeitarem as normas técnicas
brasileiras, não possuem garantia e
podem afetar a saúde e segurança dos
consumidores.
Os
consumidores
podem
influenciar direta e efetivamente para
a continuidade ou não da expansão
deste tipo de comércio. Para que a
decisão dos consumidores seja cada
vez mais consciente, considerando não
só os prejuízos pessoais que a compra
de produtos ilegais pode causar, mas
também as consequências negativas
para toda sociedade, é necessário que
eles estejam bem informados de seus
direitos e, principalmente, de como
podem identificar esses produtos e
evitar sua compra.
Os acidentes de consumo podem
ser definidos como os vícios de
qualidade por insegurança que afetam
os consumidores e, às vezes, causam
lesões permanentes e até mesmo a
sua morte. Dessa forma, é causado
pela inobservância da qualidade de
segurança, pelo não cumprimento das
normas técnicas, e isso é uma obrigação
e um dever do fabricante ou prestador de
serviços a fim de garantir a qualidade e
segurança do seus produtos ou serviços.
Quando se fala em relação de consumo
em sentido amplo e, de outro lado
na responsabilização civil contratual
ou extracontratual do fornecedor de
produtos e/ou serviços, é comum se u
Tipos de Produto Ilegais
FALSO
É cópia do
produto
original mas
sua qualidade
é inferior
CONTRABANDEADO
Produtos que
têm sua
importação
proibida.
Clandestinos
DECORRENTE DE
DESCAMINHO
Produtos
importados
sem
autorização e
sem
recolhimento
de impostos e
taxas
PIRATA
Produtos que
não
respeitam os
direitos
autorais.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 71
Certificação
deparar com conceitos privativistas
que estão há muito tempo superados,
não só pelos princípios informativos
da relação de consumo contidos na
lei consumerista (vulnerabilidade,
hipossuficiência, transparência, boafé objetiva, etc.), como também pela
teoria da responsabilidade objetiva
do fornecedor que advém dos deveres
inerentes à atividade econômica, ou
seja, da responsabilidade pelo risco
da atividade.
Tanto a ABNT como o Inmetro
precisam
entender
sobre
a
responsabilidade que o Código de Defesa
do Consumidor impõe ao fornecedor
(de produtos ou de serviços) como um
dever de qualidade e de segurança.
Isto quer dizer que aquele que coloca
um produto ou um serviço no mercado
tem a obrigação legal de ofertá-lo sem
risco ao consumidor no que diz respeito
à sua saúde, à sua integridade física e
psíquica, bem como ao seu patrimônio.
Essa responsabilidade não é ilimitada
e sua compreensão deve se dar dentro
de um contexto do razoável, ou seja,
deve ser entendida como um dever de
qualidade segurança que será limitado,
na forma como consta do § 1° do art.
12 do CDC: “a segurança que dele
legitimamente se espera”. Logo não
se trata “de uma segurança absoluta,
mesmo porque o CDC não desconhece
ou proíbe que produtos naturalmente
perigosos sejam colocados no mercado
de consumo, ao contrário, concentra-se
na ideia de defeito, de falha na segurança
legitimamente esperada”.
Assim, a segurança está diretamente
relacionado com a qualidade, o que
significa dizer que se o produto
apresentar defeito ou vício de qualidade,
que possa acarretar algum prejuízo ao
consumidor, poderão ser acionados
os
instrumentos
administrativos
72 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
ou judiciários para a prevenção ou
correção do problema apresentado.
Quando trata da responsabilidade do
fornecedor pelos defeitos de produtos
(art. 12) e de serviços (art. 14), que
a responsabilidade de indenizar
independe da existência de culpa, logo
se trata de responsabilidade objetiva.
Os produtos ilegais apresentam
irregularidades técnicas e não têm
garantia de qualidade. Podem causar
diversos problemas para quem os
compra ou utiliza. Quem compra ou
utiliza estes produtos: patrocina o
crime; estimula a ilegalidade; e coloca
sua saúde e segurança em risco. Além
disso, estimula o crime organizado;
as obras sociais perdem importantes
investimentos devido a sonegação de
impostos; concorrência desleal com
empresas que respeitam as leis, gerando
falências e desemprego; prejuízos ao
meio ambiente pela não observação das
normas que visam sua preservação.
Em consequência, os empresários
que não seguem as normas estão
na ilegalidade, passíveis de sanção
penal, como fechamento de seu
estabelecimento, multa, recolhimento
de produtos, etc.
A obrigatoriedade de cumprimento da
normas técnicas decorre de vários fatores
e princípios, previstos implícita ou
expressamente em diversos dispositivos
legais e aplicáveis às relações de um
modo geral, quer se tratem de relação
de consumo, quer não.
São obrigações que se enquadram
no plano geral de responsabilidades,
cujo descumprimento, a exemplo das
leis, traz consequências para seu autor,
provando que as normas técnicas têm
eficácia. Além dos fatores de natureza
jurídica, é de se destacar que há fatores
de ordem comercial que impõem
a obrigatoriedade de atendimento
às normas técnicas, pois no mundo
globalizado em que se vive seria
inviável a exportação de produtos se os
países compradores imaginassem que
os produtos importados não possuíssem
os requisitos básicos de qualidade, ou
seja, não seguem as normas técnicas.
As normas técnicas são prescrições
científicas e consensuais com uma função
orientadora e melhoria do mercado.
Originam-se da necessidade de o homem
registrar o seu aprendizado, de modo a
poder repetir e reproduzir as suas ações,
conseguindo os mesmos resultados
sempre com foco na segurança,
desempenho e características que visem
a salvaguarda dos direitos fundamentais
dos cidadãos. Podem ser também
conceituadas como os registros de um
concentrado de conhecimentos, gerando
procedimentos normativos, colocados à
disposição da sociedade e sem os quais
não se pode controlar a qualidade nem
certificar o produto ou serviço.
A sua utilização traz inúmeros
benefícios: elimina a variedade
desnecessária,
reduz
os
custos
operacionais, promove a segurança,
protege a saúde e o meio ambiente,
permite
a
intercambialidade
e
incrementa a produtividade, mantendo
adequada a qualidade.
São de propriedade comum e são
regras criadas pela sociedade técnica,
chanceladas por órgão vinculado ou
autorizado pelo governo, que expressam
um fator de conhecimento em benefício
de toda a sociedade. São instrumentos u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 73
Certificação
de desenvolvimento, de qualidade e
não podem ser privativas, principalmente
em uma sociedade industrial, em que
a produção é feita em massa, sem
conhecimento
dos
consumidores,
cuja segurança e confiança provêm
minimamente do cumprimento de regras
estabelecidas pela sociedade técnica.
A certificação de conformidade é
a demonstração formal de que um
produto, devidamente identificado,
atende aos requisitos de normas ou
regulamentos técnicos específicos. Esta
atividade tem suas ações detalhadas
pelo Sistema Brasileiro de Avaliação
da Conformidade (SBAC), que possui
regras e procedimentos de gestão
próprios para regular as atividades
de
credenciamento,
certificação
e treinamento, conduzidas pelos
organismos de certificação.
O SBAC estabelece duas modalidades
de certificação de conformidade:
compulsória ou voluntária. A certificação
compulsória é exigida pelo governo
para a comercialização de produtos com
impacto sobre a saúde, a segurança do
consumidor ou sobre o meio ambiente.
Para tanto, utilizam-se os regulamentos
técnicos como critério de conformidade.
Em resumo, a compulsória é aquela
que tem caráter obrigatório quanto à
certificação dos produtos relacionados
à área de segurança, saúde e meio
ambiente. O interessado somente
poderá comercializar seu produto após
a Obtenção do Certificado concedido
por Organismo de Avaliação da
Conformidade, acreditado pelo Inmetro.
Para este tipo de certificação é
obrigatória a colocação da identificação
constituída de um símbolo ou selo de
identificação destinado a identificar
exclusivamente o produto certificado.
Ela é representada pelo modelo definido
pelo CGCRE/Inmetro nos Regulamentos
74 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
de Avaliação da Conformidade
específico de cada produto.
Segundo o Inmetro, as modalidades
de certificação de produtos mais
utilizadas são:
• Modelo 1 – Ensaio de Tipo: é o mais
simples dos modelos de certificação.
Fornece uma comprovação de
conformidade de um item de um
produto, em um dado momento. É
uma operação de ensaio, única no
seu gênero, efetuada de uma só vez,
limitando aí os seus efeitos.
• Modelo 2 – Ensaio de Tipo seguido
de verificação através de ensaio de
amostras retiradas no comércio:
modelo baseado no ensaio de
tipo mas combinado com ações
posteriores para verificar se a
produção continua sendo conforme.
Essas ações compreendem ensaios
em amostras retiradas no comércio.
• Modelo 3 – Ensaio de Tipo seguido
de verificação através de ensaio em
amostras retiradas no fabricante:
também baseado no ensaio de tipo,
porém combinado com intervenções
posteriores para verificar se a
produção continua sendo conforme.
Compreende ensaios em amostras
tomadas na própria fábrica.
• Modelo 4 – Ensaio de Tipo seguido
de verificação através de ensaio em
amostras retiradas no comércio e
no fabricante. Combina os modelos
2 e 3, tomando amostras para
ensaios tanto no comércio quanto
na própria fábrica.
• Modelo 5 – Ensaio de Tipo,
Avaliação e Aprovação do Sistema
da Qualidade do Fabricante,
acompanhamento
através
de
auditorias no fabricante e Ensaio em
Amostras retiradas no comércio e no
fabricante. É um modelo baseado,
como os anteriores, no ensaio de
tipo, mas acompanhado de avaliação
das medidas tomadas pelo fabricante
para o Sistema de Gestão da
Qualidade de sua produção, seguido
de um acompanhamento regular,
por meio de auditorias, do controle
da qualidade da fábrica e de ensaios
de verificação em amostras tomadas
no comércio e na fábrica. Este é o
modelo mais utilizado no SBAC.
Este modelo proporciona um sistema
credível e completo de avaliação da
conformidade de uma produção em
série e em grande escala.
• Modelo 6 – Avaliação e aprovação do
Sistema da Qualidade do fabricante.
É um modelo no qual se avalia a
capacidade de uma indústria para
fabricar um produto conforme
uma especificação determinada.
Este modelo não é adequado para
certificação de produção já que o que
é avaliado é a capacidade da empresa
em produzir determinado produto em
conformidade com uma especificação
estabelecida, mas não verifica a
conformidade do produto final.
• Modelo 7 – Ensaio de Lote: nesse
modelo, submete-se a ensaios
amostras tomadas de um lote do
produto, emitindo-se, a partir
dos resultados, uma avaliação
sobre a conformidade a uma dada
especificação.
• Modelo 8 – Ensaio 100%: é um
modelo no qual cada um dos itens é
submetido a um ensaio para verificar
sua conformidade com uma dada
especificação.
O Inmetro utiliza, ainda, a Declaração
do Fornecedor processo pelo qual
um fornecedor, sob condições préestabelecidas, dá garantia escrita de
que um produto, processo ou serviço
está em conformidade com requisitos
especificados, ou seja, trata-se de um
modelo de Avaliação de Conformidade
de 1ª parte. O conteúdo mínimo que deve
constar na declaração, de acordo com
ABNT NBR ISO/IEC 17050: Avaliação
da Conformidade - Declaração de
conformidade - Parte 1: Requisitos Gerais.
A Inspeção é definida como avaliação
da conformidade pela observação e
julgamento acompanhados, conforme
apropriado, por medições, ensaios
ou uso de calibres. É importante
distinguir o mecanismo inspeção dos
mecanismos de ensaio e certificação.
Os resultados podem ser utilizados
para apoiar a certificação e a
etiquetagem, e o ensaio pode fazer
parte das atividades de inspeção.
Essas atividades são centrais à
avaliação da conformidade de produtos
e serviços, e podem incluir o ensaio
de produtos, materiais, instalações,
plantas, processos, procedimentos de
trabalho ou serviços, durante todos os
estágios de vida desses itens. Visam
à determinação da conformidade aos
regulamentos, normas ou especificações,
e o subsequente relato de resultados.
Etiquetagem diz que os Os produtos
etiquetados são os que apresentam
etiqueta informativa indicando seu
desempenho de acordo com os critérios
estabelecidos. Esta etiqueta pode ser
comparativa entre produtos de um
mesmo tipo ou somente indicar que
o produto atende a um determinado
desempenho especificado, podendo
ser, ainda, de caráter compulsório
ou voluntário. A etiquetagem pode
ser uma importante ferramenta para
a competitividade industrial e pode,
também, contribuir para o sucesso
de outros objetivos voltados ao
desenvolvimento econômico e social.
Por fim, os Ensaios que é uma operação
técnica que consiste na determinação de u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 75
Certificação
uma ou mais características de um dado
produto, processo ou serviço, de acordo
com um procedimento especificado.
É o mecanismo de avaliação da
conformidade mais utilizado, podendo
ser em conjunto a com inspeção.
Os laboratórios de ensaios podem
ser operados por uma variedade de
organizações, incluindo agências
governamentais,
instituições
de
pesquisa e acadêmicas, organizações
comerciais
e
institutos
de
normalização. Podem ser divididos
em duas principais categorias: os
laboratórios que produzem dados que
serão utilizados por terceiros; e os
laboratórios que produzem dados para
uso interno das organizações.
Esquema de certificação ideal?
A NBR ISO/IEC 17067 de 04/2015
- Avaliação da conformidade Fundamentos para certificação de
produtos e diretrizes de esquemas
para certificação de produtos descreve
os fundamentos para certificação
de produto e fornece diretrizes para
a compreensão, desenvolvimento,
operação ou manutenção de esquemas
de certificação de produtos, processos
e serviços. Destina-se ao uso por todos
com interesse na certificação de produto
e, principalmente, por proprietários de
esquemas de certificação.
Nesta norma, o termo “produto”
também pode significar “processo”
ou “serviço”, exceto nos casos onde
prescrições separadas são estabelecidas
para “processos” ou “serviços”. As
definições de produto, processo e serviço
são fornecidas na NBR ISO/IEC 17065.
A certificação de produtos, processos
e serviços é uma atividade de avaliação
da conformidade de terceira parte (ver
NBR ISO/IEC 17000), realizada por
76 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
organismos de certificação de produtos.
Os requisitos para os organismos
de certificação de produtos são
especificados na NBR ISO/IEC 17065.
A norma descreve os fundamentos
para certificação de produto e fornece
diretrizes para esquemas de certificação
de produto. Nesta norma as referências
ao termo “produto” também podem
significar “serviços” ou “processos”.
Conforme os produtos são projetados,
produzidos, distribuídos, utilizados
e, finalmente, descartados, eles
podem dar origem a preocupações
com compradores, usuários e com a
sociedade em geral.
Tais preocupações podem se
relacionar à segurança, saúde ou
impactos ambientais, durabilidade,
compatibilidade, adequação para os
fins pretendidos ou para condições
estabelecidas.
Geralmente,
estas
preocupações são tratadas especificando
os atributos requeridos do produto em um
documento normativo, como uma norma.
Em seguida, o fornecedor do produto
tem a tarefa de demonstrar que o produto
está em conformidade com os requisitos
do documento normativo. Pode ser
suficiente para o fornecedor avaliar e
declarar sua conformidade do produto,
porém, em outros casos, o usuário ou um
órgão regulamentador pode requerer que
a conformidade seja avaliada por uma
terceira parte competente e imparcial.
A avaliação e a atestação de terceira
parte imparcial de que o atendimento
dos requisitos especificados foi
demonstrado para o produto são
denominadas como certificação do
produto. Esta norma descreve como os
esquemas para a certificação de produto
podem ser estruturados e gerenciados.
Ela identifica as técnicas de avaliação
comuns que são utilizadas como base
para a certificação de produto, como
u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 77
Certificação
Sistema de certificação
de produto
Regras, procedimentos,
gestão
Esquema de
certificação de
produto
Esquema A de
certificação de produto
Regras, procedimentos e
gestão relativos a grupo
particular de requisitos
especificados
Aplicação de sistema a
grupo particular de
requisitos especificados A
Esquema B de
certificação de produto
Aplicação se sistema a
grupo particular de
requisitos especificados B
a) Esquema único para certificação
de produto
b) Sistema para certificação de produto
relativo a diversos esquemas
Figura 1: Relacionamento entre o esquema para certificação de produto e o sistema
para certificação de produto
Esta norma destina-se ao uso por
aqueles que estão envolvidos com a
certificação de produto, especialmente
os que são, ou que estão pensando em
se tornar, proprietários do esquema
de certificação de produtos. Os
proprietários do esquema de certificação
de produtos podem incluir: organismos
de certificação de produtos; governo e
órgãos reguladores; agências de compra;
organizações não governamentais;
indústria e associações de varejo; e
organizações de consumidores.
Esta norma fornece somente
orientações e não contém requisitos.
Ela é compatível com a NBR ISO/IEC
17065, que especifica os requisitos para
organismos de certificação de produtos.
Nesta norma, as seguintes formas
verbais são utilizadas: “convém que”
78 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
indica uma recomendação; “pode” as
vezes indica uma permissão, as vezes
indica uma possibilidade ou uma
capacidade. O verbo modal “deve”,
que indica um requisito, não é utilizado
porque esta norma fornece somente
diretrizes. Detalhes adicionais podem ser
encontrados na Diretiva ABNT, Parte 2.
A certificação de produto é a avaliação e
a atestação de terceira parte imparcial de que
o atendimento aos requisitos especificados
foi demonstrado. A certificação de produto é
realizada por organismos de certificação de
produto, os quais convêm que estejam em
conformidade com a NBR ISO/IEC 17065.
Os requisitos especificados para
produtos geralmente estão contidos em
normas ou outros documentos normativos.
A certificação de produto é uma atividade
de avaliação da conformidade estabelecida
que fornece confiança aos consumidores,
reguladores, indústria e outras partes
interessadas de que os produto estão
em conformidade com os requisitos
especificados, incluindo, por exemplo,
desempenho, segurança, interoperabilidade
e sustentabilidade do produto.
A certificação de produto pode facilitar
o comércio, o acesso ao mercado,
a concorrência leal e a aceitação do
consumidor de produtos em níveis
nacional, regional e internacional. Os
objetivos fundamentais para certificação
de produto são: tratar das necessidades dos
consumidores, usuários e, de modo geral,
de todas as partes interessadas, fornecendo
confiança relativa ao atendimento de
requisitos especificados; permitir que os
fornecedores demonstrem ao mercado
que seu produto foi atestado para atender
aos requisitos especificados por um
organismo de terceira parte imparcial.
Convém que a certificação de produto
forneça: confiança para aqueles que têm
interesse no atendimento de requisitos,
e valor suficiente, de modo que os
fornecedores possam efetivamente
comercializar seus produtos. Convém que
os esquemas para certificação de produto
implementem a abordagem funcional,
conforme descrito na NBR ISO/IEC
17000:2005, Anexo A. A Tabela 1 ao
lado, mostra como construir um esquema
para certificação de produto, utilizando
essas funções, e descreve algumas das
combinações de atividades em uso
em uma ampla gama de campos onde
certificação de produto é empregada.
As funções são: seleção, que inclui
atividades de planejamento e preparação,
a fim de coletar ou produzir todas
as informações e dados de entrada
necessários para a função de determinação
subsequente; determinação, que pode
incluir atividades de avaliação da
conformidade, como ensaio, medição,
inspeção, avaliação de projeto, avaliação
de serviços e processos e auditoria para
fornecer informações sobre os requisitos
do produto, como dados de entrada
para as funções de análise e atestação;
análise, que significa a verificação da
adequação, suficiência e efetividade das
atividades de seleção e determinação, e os
resultados dessas atividades relativos ao
atendimento de requisitos especificados
(NBR ISO/IEC 17000:2005, 5.1); decisão
sobre a certificação; atestação, que
significa a emissão de uma declaração de
conformidade, com base em uma decisão
após a análise, de que o atendimento dos
requisitos especificados foi demonstrado
(NBR ISO/IEC 17000:2005, 5.2);
supervisão (quando necessário), que
significa a repetição sistemática de
atividades de avaliação da conformidade
como uma base para a manutenção da
validade da declaração de conformidade
(NBR ISO/IEC 17000:2005, 6.1)..
• O esquema tipo 1b envolve
a certificação de todo um lote
de produtos, após a seleção e
determinação conforme especificado
no esquema. A proporção a ser
ensaiada, que pode incluir ensaio
de todas as unidades do lote (ensaio
de 100 % do lote), seria baseada,
por exemplo, na homogeneidade
dos itens do lote e na aplicação de
um plano de amostragem, quando
apropriado. Se o resultado da
determinação, análise e decisão
for positivo, todos os itens do
lote podem ser descritos como
certificados e podem ter uma marca
de conformidade afixada, se isto for
incluído no esquema.
• O esquema tipo 2 envolve a
retirada periódica de amostras do
produto do mercado e submetendoas às atividades de determinação
para checar se os itens subsequentes
produzidos à atestação inicial
atendem aos requisitos especificados.
Enquanto esse esquema pode
identificar o impacto do canal de
distribuição sobre a conformidade,
os recursos que ele requer podem ser
extensos. Além disso, quando não
conformidades significativas forem
encontradas, as medidas corretivas
efetivas podem ser limitadas, uma
vez que o produto já foi distribuído
para o mercado.
• O esquema tipo 3 envolve a
retirada periódica de amostras do
produto do ponto de produção,
submetendo-as às atividades de
determinação para checar se os itens
subsequentes produzidos à atestação
inicial atendem aos requisitos
especificados. A supervisão inclui
a avaliação periódica do processo
de produção. Esse esquema não
fornece qualquer indicação do u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 79
Certificação
• impacto que o canal de distribuição
desempenha sobre a conformidade.
Quando graves não conformidades
forem encontradas, a oportunidade
pode existir para resolvê-las antes de
ocorrer a distribuição generalizada
ao mercado.
• O esquema tipo 4 permite a
escolha entre a retirada periódica
de amostras do produto do ponto de
produção, ou do mercado, ou ambos,
e submetendo-as às atividades de
determinação para checar se os itens
subsequentes produzidos à atestação
inicial atendem aos requisitos
especificados. A supervisão inclui a
avaliação periódica do processo de
produção. Esse esquema pode indicar
o impacto do canal de distribuição
sobre a conformidade e fornece
um mecanismo de pré-mercado
para identificar e resolver graves
não conformidades. Duplicações
significativas de esforços podem
ocorrer para esses produtos cuja
conformidade não é afetada durante
o processo de distribuição.
• O esquema tipo 5 permite a
escolha entre a retirada periódica
de amostras do produto do ponto de
produção, ou do mercado, ou ambos,
e submetendo-as às atividades de
80 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
determinação para checar se os itens
subsequentes produzidos à atestação
inicial atendem aos requisitos
especificados. A supervisão inclui a
avaliação periódica do processo de
produção ou auditoria do sistema
de gestão, ou ambos. A extensão
pela qual as quatro atividades de
supervisão são conduzidas pode
ser variada para uma determinada
situação, conforme definido no
esquema. Se a supervisão incluir
a auditoria do sistema de gestão,
uma auditoria inicial do sistema de
gestão será necessária.
• O esquema tipo 6 aplica-se
principalmente à certificação de
serviços e processos. Embora
os serviços sejam considerados
geralmente
como
intangíveis,
as atividades de determinação
não são limitadas à avaliação de
elementos intangíveis (por exemplo,
a efetividade dos procedimentos,
atrasos e capacidade de resposta da
administração de uma organização).
Em
algumas
situações,
os
elementos tangíveis de um serviço
podem suportar a evidência de
conformidade
indicada
pela
avaliação de processos, recursos e
controles envolvidos. Por exemplo,
inspeção da limpeza de veículos para
a qualidade do transporte público.
Na medida em que os processos são
tratados, a situação é muito similar. Por
exemplo, as atividades de determinação
para processos de soldagem podem
incluir ensaio e inspeção de amostras
das soldas resultantes, se aplicável.
Para ambos os serviços e processos,
convém que a parte da supervisão desse
esquema inclua auditorias periódicas do
sistema de gestão e a avaliação periódica
do serviço ou processo. A Figura 1
ilustra a relação entre um esquema para
certificação de produto e um sistema
para certificação de produto.
Sempre correndo atrás
A constatação é que o Inmetro está
sempre correndo atrás dos acidentes e
tragédias. Por exemplo, muitas crianças
estão sofrendo acidente com cordões
em roupas. O que se faz? Edita-se
uma norma, no caso a NBR 16365 de
04/2015 - Segurança de roupas infantis
- Especificações de cordões fixos e
cordões ajustáveis em roupas infantis e
aviamentos em geral - Riscos físicos, e
depois o Inmetro faz um Regulamento
Avaliação de Conformidade (RAC)
baseado nessa norma obrigando os
fabricantes a cumpri-la. Não seria mais
fácil simplesmente obrigar os produtores
dessas roupas a cumprir a norma.
Ela especifica os requisitos para
cordões fixos e cordões ajustáveis em
roupas infantis, incluindo trajes com
capuz para crianças com até 14 anos
de idade, bem como descreve outros
riscos com aviamentos presentes nas
roupas. Não contempla todas as fontes
de risco identificáveis em determinados
estilos/design de roupas dentro de uma
determinada faixa etária que pode tornar
a roupa insegura, segundo preconiza
a NBR ISO 31000. É recomendado
que uma avaliação de risco individual
seja realizada em qualquer roupa e
comprovada por meio de pesquisa, a fim
de assegurar que ela não apresente um
risco ao usuário.
Faz parte do desenvolvimento das
crianças correr, pular, escalar, girar e
brincar de muitas formas. As crianças
até os cinco anos, geralmente, não têm
noção dos riscos e não sabem como
reagir a uma situação de perigo. Elas
são curiosas, e um pequeno botão no seu
casaco pode ser uma grande descoberta
para morder e sugar.
Segundo a norma, durante a fase que
vai de 1 a 5 anos as crianças passam por
um período chamado de experimentação.
É uma fase onde elas começam a
explorar o mundo ao seu redor. Isto
porque elas passam a desenvolver
melhor seu equilíbrio (que permite
que elas andem, corram) e também sua
coordenação motora fina (que permite
que elas segurem objetos, principalmente
os menores, com maior facilidade).
Porém,
junto
com
esse
desenvolvimento, vêm também os
riscos. Ao ganhar mais liberdade de
movimentos e ações, as crianças ficam
expostas a perigos, como se enroscar
e se engasgar com peças pequenas
ao levá-las a boca. Por isso as roupas
precisam oferecer segurança e nenhum
risco oculto a elas. As roupas com
cordões com mais de 5 cm, botões,
capuzes, costuras grossas ou partes
protuberantes, etiquetas costuradas com
fios de poliamida, que para um adulto
não seriam um foco de atenção, podem
ser um perigo escondido para as crianças,
principalmente para as menores.
Qualquer lesão de criança é uma lesão
grave, principalmente se for por omissão à
segurança e à prevenção. Elas podem ficar
penduradas pelo cordão no trepa trepa
do parquinho, enroscadas por uma parte
protuberante da roupa na porta do carro
ou do ônibus, engasgar com botões mal
costurados, cortar-se com costuras grossas
e expostas ou por zíperes sem proteção, e
até mesmo comprimir partes importantes
do abdômen com a fivela do cinto.
Os dados oficiais brasileiros não
são específicos sobre acidentes com
vestuário, mas mostram que mais de
500 crianças foram hospitalizadas,
vítimas de acidentes em parquinhos, e
que a sufocação é a principal causa deu
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 81
Certificação
mortes de bebes até um ano de idade1. A
Consumer Product Safety Commission
(CPSC), nos Estados Unidos, publicou
que, de 1985 a 2011, foram 110 casos
de acidentes com crianças envolvendo
vestuário, sendo oito mortes.
Entre janeiro de 2012 e dezembro de
2013, a CPSC anunciou mais de 760
lembretes de roupas e acessórios infantis
por diferentes motivos, desde cordões
longos que poderiam oferecer risco de
estrangulamento, até o não atendimento
aos requisitos de inflamabilidade. Com
o intuito de promover a segurança das
crianças, prevenir os acidentes e orientar
a indústria de vestuário infantil para os
critérios desta fabricação, o objetivo desta
norma é minimizar o risco de acidentes
devido ao uso de cordões, cintos e
aviamentos em geral da roupa infantil,
Isso deve ser feito, levando em
consideração: a idade da criança; o
comportamento normal e as atividades
das crianças para sua idade e estágio
de desenvolvimento, por exemplo,
brincando em playgrounds, subindo em
árvores, no uso de transportes onde pode
haver enganchamentos ao entrar ou sair
deles, sendo considerado também a
capacidade de cuidar de si mesmas e,
quando relevante, o nível de supervisão;
os riscos de acidentes graves envolvendo
cordões fixos e cordões ajustáveis em
roupas infantis recaem em dois grupos
principais por idade da criança: crianças
mais jovens: enganchamento de cordões
fixos de capuz em equipamentos de
playground, como escorregadores,
resultando em mortes; crianças mais
velhas e adolescentes: enganchamento
de cordões e cadarços da cintura
e bainhas inferiores de roupas em
veículos em movimento, como portas de
ônibus, carros, motocicletas, teleféricos
e bicicletas, resultando em ferimentos
graves ou morte por serem arrastadas ou
82 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
atropeladas pelo veículo.
Enfim, tragédias como incêndios em
locais públicos, viadutos que caem,
escadas metálicas que quebram pernas
e quadris, etc. vão continuar a ocorrer
no país. Bastava o governo ou Inmetro
exigir que quando se trata de segurança,
saúde e meio ambiente, quem não
cumpre as normas técnicas comete um
crime. a norma técnica brasileira tem a
natureza de norma jurídica, de caráter
secundário, impositiva de condutas
porque fundada em atribuição estatal,
sempre que sinalizada para a limitação
ou restrição de atividades para o fim
de proteção de direitos fundamentais e
do desenvolvimento nacional, funções,
como já se afirmou, eminentemente
estatais. Pode ser equiparada, por força
do documento que embasa sua expedição,
à lei em sentido material, uma vez que
obriga o seu cumprimento. As normas
técnicas brasileiras, que alcançam todo
o território nacional e se impõem aos
órgãos públicos e privados por expressa
disposição legal ou regulamentar, são,
como todas as normas jurídicas – únicas
que podem impor comportamentos
– imperativas em seu cumprimento
e acarretam, também por expressa
determinação legal ou regulamentar, em
caso de descumprimento, a aplicação
de penalidades administrativas – e
eventualmente até de natureza criminal.
Assim, as NBR são regras de conduta
impositivas para os setores produtivos
em geral, tendo em vista que, além de seu
fundamento em lei ou atos regulamentares,
tem em vista cumprimento da função
estatal de disciplinar o mercado com
vistas ao desenvolvimento nacional e à
proteção de direitos fundamentais tais
como os direitos relativos à vida, à saúde,
à segurança, ao meio ambiente, etc.
O
descumprimento
das
NBR
legitimadas no ordenamento jurídico
brasileiro em leis gerais (Lei 5.966/73,
9933/99 e em atos regulamentares
transcritos) e em legislação especial
(Código de Defesa do Consumidor – Lei
7078/1990 – e respectivo regulamentar
Decreto 2.181/97), além de outras como
a Lei 8.666/93 (Lei das Licitações), Leis
Ambientais, (Leis de saúde pública e
atos regulamentares), sujeita o infrator
às penalidades administrativas impostas
em leis e regulamentos, sem prejuízo
de sanções de natureza civil e criminal
também previstas em leis..
As normas técnicas, por imporem
condutas restritivas de liberdades
fundamentais (liberdade de iniciativa,
de indústria, de comércio, etc.) e
destinarem-se a proteger o exercício de
direitos fundamentais (direito à vida, à
saúde, à segurança, ao meio ambiente,
etc.), expressam atividade normativa
material secundária do poder público,
ou seja, podem ser qualificadas de atos
normativos equiparados à lei em sentido
material, por retirarem sua força e
validade de norma impositiva de conduta
de atos legislativos e regulamentares do
ordenamento jurídico brasileiro.
E com tragédias e acidentes de
consumo a sociedade brasileira vai buscar
cada vez mais nos tribunais o direito de ter
produtos e serviços seguros, a fim de que
os culpados sejam punidos.
O descumprimento da norma implica
em: sanção, punição, perda e gravame.
As consequências do descumprimento
vão desde indenização, no código civil,
até processo por homicídio culposo
ou doloso. Quando se descumpre uma
norma, assume-se, de imediato, um
risco. Isso significa dizer que o risco
foi assumido, ou seja, significa que se
está consciente do resultado lesivo. A
consciência do resultado lesivo implica
em uma conduta criminosa, passível de
punição pelo código penal. Igualmente,
no link http://www.inmetro.gov.br/
qualidade/comites/atas/ata22ro_
anexoIII.pdf, há uma nota conjunta do
Ministério da Justiça reconhecendo
que “são obrigatórias todas as normas
técnicas expedidas pelos órgãos oficiais
competentes...” E o Inmetro não vem
cumprindo essa determinação.t
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 83
Gestão
Desempenho na
Construção Civil
NBR 15.575:2013
Nova norma de desempenho revisada e publicada
oficialmente em 2013 promete estabelecer os critérios para
avaliação de desempenho em habitações e é um avanço
para a construção civil.
84 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Por Gilberto Strafacci Neto
A
primeira versão da norma,
publicada
em
2008,
apresentou ao mercado
brasileiro uma série de
requisitos, muito inéditos à época,
com foco na análise de desempenho da
edificação e seus sistemas construtivos.
O conteúdo da norma teve por
objetivo introduzir e padronizar, após
muitas discussões, as condições de
comportamento mínimo em uso dentro
do período de vida útil, ou seja, uma
visão alternativa às normas prescritivas
que estabeleciam as melhores práticas
com base na especificação dos produtos
e não no resultado final para o usuário.
Como
referência
ao
método
prescritivo, por exemplo, pode-se citar
o “Código de Edificações do Município
de São Paulo” de 1975, no qual é comum
o estabelecimento de especificações
como referências para o mercado. O
método prescritivo, como será discutido
a seguir, pode ser um limitante ao
desenvolvimento de inovações para
mercado da construção civil.
A norma NBR 15.575:2013, em sua
última versão, é composta por seis
partes que abordam os requisitos gerais
e os principais sistemas construtivos das
edificações habitacionais. Para definição
do desempenho de toda habitação, foi
necessário estabelecer os requisitos,
critérios e métodos de avaliação para
os níveis de desempenho específicos
requeridos para cada parte da habitação
adicionalmente às normas específicas já
existentes. A garantia do desempenho
mínimo de cada um dos principais
sistemas garante o desempenho da
estrutura como um todo.
A parte 1 atua como um índice de
referência e nela são apresentados o
conceito de vida útil do projeto, definição
de responsabilidades e parâmetros de
desempenho mínimo (compulsório),
intermediário e superior.
A segunda parte trata dos requisitos
para os sistemas estruturais de
edificações habitacionais estabelecendo
quais são os critérios de estabilidade
e resistência do imóvel, indicando os
métodos para medir quais os tipos de
impacto que a estrutura deve suportar
sem que apresente falhas ou rachaduras.
A terceira parte da NBR 15.575: 2013
normatiza os sistemas de pisos internos
e externos com a definição do sistema
de pisos como a combinação de diversos
elementos e não somente a camada de
revestimento ou acabamento. A quarta
parte estabelece os requisitos, critérios e
métodos para avaliação de desempenho
para os sistemas de vedação vertical em
uma edificação. São contemplados os
requisitos relacionados à estanqueidade
ao ar, à água, à rajadas de ventos e ao
conforto acústico e térmico. Foram
incluídos, nessa parte, os critérios
relativos ao desempenho estrutural e
os critérios relativos à segurança ao
fogo. As partes 5 e 6 estabelecem,
respectivamente, o conteúdo para os
sistemas de cobertura com foco na
resistência ao fogo e os sistemas prediais
de água fria e de água quente, de esgoto
sanitário e ventilação, além dos sistemas
prediais de águas pluviais.
De acordo com a visão apresentada
pela norma, o objetivo é estabelecer a
condição de operação, dentro da vida
útil, que atenda as necessidades mínimas
dos usuários com foco na segurança,
conformidade, conforto e satisfação.
Inicialmente, alguns requisitos e
critérios podem ser considerados
insuficientes ou insatisfatórios para todo
o perfil de usuários e tipos de
u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 85
Gestão
habitação, mas devemos considerar que,
sob diversos aspectos, a discussão sobre
a definição dos requisitos mínimos é
extremamente complexa. Tendo em
vista a atual condição habitacional
brasileira, a norma de desempenho é o
resultado da discussão com a sociedade
que visa equilibrar o cuidado para não
se encarecer as habitações e tão pouco
abrir mão da qualidade para o usuário.
Como método e forma de abordagem
é extremamente moderna e em termos
de requisitos e critérios, um excelente
ponto de partida.
De forma geral, a edificação é
avaliada do ponto de vista de seus
principais sistemas que a compõe e
através de uma abordagem que define
os requisitos, critérios e métodos de
avaliação. Uma das principais vantagens
dessa abordagem, diferentemente do
método prescritivo, é que se permite
que sejam avaliados componentes
construtivos inovadores que não fazem
parte das práticas tradicionais de
mercado. O foco é a garantia primordial
do resultado, da durabilidade e da
manutenabilidade da edificação e não
somente a especificação de soluções
históricas reconhecidas através de anos
de aplicação. Isso permite que, ademais
dos componentes e formas construtivas,
seja mantido o nível requerido e
desejado de qualidade da habitação,
86 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
pelo menos, segundo critérios mínimos.
Mais do que isso, estabelece também
uma forma de avaliação dos próprios
métodos tradicionais além das normas
específicas de caracterização que são
amplamente utilizadas.
Dessa forma, a norma NBR 15.575:
2013 se baseia no método de avaliação
de desempenho e estabelece os critérios
para garantia da segurança e potencial
satisfação da maioria dos usuários.
Em função da sua complexidade e
abrangência, introduz, muitas vezes,
critérios mínimos e discutíveis em
termos de qualidade. Independentemente
disso, presta grande serviço ao reforçar
a importância da avaliação do resultado
final e não somente à prescrição de
soluções tradicionais reconhecidas.
Dessa forma, incentiva a discussão
sobre os requisitos e critérios que definem
os resultados que garantem a satisfação
para os diversos tipos de usuários ao
longo da vida útil da edificação, explicita
as carências em termos de métodos
para manutenabilidade e permite a
inovação de métodos e componentes
para a construção sem se abrir mão da
qualidade e da conformidade em uso.t
Gilberto Strafacci Neto: Engenheiro Mecânico
e mestrando em Engenharia Mecânica com
ênfase automotiva pela Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo e Master Black Belt
pelo Setec Consulting Group. Consultor de Lean
Seis Sigma e Instrutor de diversos treinamentos
nas áreas da Qualidade (MASP; FMEA; 8D;
APQP; PPAP entre outros) e Produtividade (5S,
Lean, Kanban, Gerenciamento Visual entre outros).
Responsável pelo desenvolvimento dos treinamentos
de GD&T na Setec e especialista em trabalhos de
mapeamento dos processos, cronoanálise e redução
de desperdícios. Atuou como consultor na área de
Lean Seis Sigma em alguns clientes da Setec como
Foxconn, Gás Natural, Grupo Coca-Cola, Ford,
Rebic, entre outras empresas.
BERIC.
A marca da
certificação
de produtos
das grandes
marcas.
A BERIC é especializada em gestão de processo de certificação de produtos,
o selo de qualidade, agilidade e transparência por trás das grandes marcas.
Tem excelente network com os principais institutos e laboratórios nacionais e internacionais,
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Se a sua empresa precisa certificar produtos, simplifique. Fale com a BERIC.
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BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 87
Ferramentas
As Ferramentas do Lean Manufacturing
Mapeamento do Fluxo do Valor
N
esta edição vamos abordar o
Mapeamento do Fluxo do Valor, uma
ferramenta que nos ajuda a entender a
nossa situação atual e onde podemos
fazer melhorias.
Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV) é uma
ferramenta que nos permite visualizar e mapear
todo o fluxo de materiais e de informações, desde a
matéria prima até a entrega para o cliente.
Através do Mapeamento do Fluxo do Valor
conseguimos entender a situação atual, através da
identificação dos gargalos, desperdícios, atrasos,
redundâncias,.....
As atividades relacionadas com o Mapeamento do
Fluxo do Valor podem ser divididas em várias etapas.
Na metodologia descrita abaixo, o Mapeamento é
composto de 4 etapas :
Preparação: Definição da área que será mapeada :
• Produto ou Linha / Família de Produtos
• Responsável pelo Mapa
• Grupo de Trabalho
• Objetivos
• Indicadores
Mapa do Estado Atual: Representação do fluxo
de materiais e das informações desde a matéria
prima até o produto final entregue para o cliente.
As informações relacionadas com o estado atual
devem ser coletadas através de caminhadas no local,
ao longo do fluxo de material e de informações.
Recomenda-se que o mapeamento seja realizado no
contra-fluxo do processo, ou seja, iniciando-se na
expedição e finalizando na matéria prima ou pedido
do cliente.
Em cada etapa do processo, deve-se descrever
algumas informações, como :
• Nome do processo
• Tempo de Ciclo
• Tempo de Montagem
• Eficácia Geral do Equipamento (OEE)
• Taxa de refugo
• Tamanho das embalagens
• Tamanho de lotes
• Quantidade de tipos de produtos
• Tempo de trabalho
• .....
Algumas medidas devem ser calculadas :
• Necessidade do cliente = Demanda / Período
• Tempo Takt = Tempo de trabalho disponível /
Necessidade do cliente
• Tempo de Ciclo = Tempo mínimo necessário
para realizar um ciclo completo, ou seja, um
ciclo com toda a sequência de trabalho.
Neste Mapeamento, mais algumas informações
podem ser úteis :
• Tempo de Ciclo do Processo
• Número de turnos
• Número de operadores
• Necessidades diárias
• Confiabilidade do processo
• ....
Após o levantamento destas informações, os
dados podem ser coletados para que o prazo atual
de entrega para o cliente seja calculado :
• Prazo de entrega = Tempo de ciclo + Prazo
de entrega da produção.
Da mesma forma, pode-se avaliar o tempo de
valor agregado com relação ao tempo de valor não
agregado.
Tempo de valor agregado é composto dos tempos
das atividades que agregam valor ao transformar um
produto que é fornecido ao cliente. Tempo de valor
88 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Por Roberta Pithon
agregado pode ser pensado como a soma
dos tempos das atividades que o cliente
está disposto a pagar. E o Coeficiente de
valor agregado pode ser calculado :
Mapa de fluxo de valor
Informação
VA = Tempo Total de Valor Agregado
/ Tempo Total ou Prazo de Entrega
Mapa do Estado Futuro
Nesta etapa as ferramentas do Lean
são utilizadas para se identificar as
principais fontes de desperdícios:
• Excesso de produção
• Espera
• Transporte
• Excesso de Processamento ou
Processamento Incorreto
• Excesso de Estoque
• Movimentação
• Defeitos ou Correção
• Conhecimento
/
Criatividade
dos
Colaboradores
Cada uma das Ferramentas do Lean deve ser
avaliada para decisão de como utilizá-las :
• 5S
• TPM ou MPT (Manutenção Produtiva Total)
• Fluxo Contínuo
• Kanban
• Trabalho Padronizado
• Poka Yoke
• SMED
• Just in Time
• …
A fim de orientar a condução desta etapa, algumas
questões devem ser respondidas / analisadas :
• Existe alguma forma diferente de realizar as
atividades ?
• O que deve ser feito / alterado para que a
demanda seja atendida ?
• Quais atividades podem ser excluídas ?
• Quais melhorias devem ser implementadas ?
• ....
Uma sugestão para obtenção destas e de muitas
outras respostas é através de Eventos Kaizens.
Fluxo de
Produção
Material
Baseado nestas análises / respostas, um Mapa do
Estado Futuro deve ser elaborado.
Plano de Implementação
Um Plano de Ação deve ser elaborado para que
o Mapa do Estado Futuro possa ser colocado em
prática / implementado.
Os eventos Kaizens também podem ser muito
úteis nesta etapa.
O Mapeamento do Fluxo do Valor pode ser
utilizado em qualquer tipo de processo, processos
de produção e administrativos.
É uma excelente ferramenta para eliminação
dos desperdícios e otimização do fluxo do valor de
qualquer tipo de processo.t
Roberta Pithon: Pós-Graduada em Qualidade, em
Sistemas Integrados de Gestão e em Gestão Empresarial.
Mestranda em Engenharia Mecânica – Unicamp, CQE,
CMQ/OE, CSSBB, CSSGB, CSSYB, CQA, CQT, CQPA e
CQIA pela ASQ. Lead Auditor ISO 9001, ISO/TS 16949,
ISO 14001 e OHSAS 18001. Professora de Graduação
e Pós Graduação de disciplinas da Qualidade e
de Sistemas de Gestão. Sócia-diretora, consultora,
instrutora e auditora da Excelint Gestão Empresarial.
[email protected]
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 89
Inside
Eficiência
e custo mais baixo
Norma da ISO regula a
implantação de sistemas de
gestão que podem trazer
redução de até 60% no uso de
energia em vários setores da
economia.
Às vésperas de um ciclo de
forte aumento das tarifas de
energia, a adoção de sistemas
de gestão de energia pelas
empresas pode trazer ganhos
ao tornar mais eficiente o
uso deste insumo, reduzir
desperdícios e despesas na
área, além de conter emissões
de carbono e de outros gases
formadores do efeito estufa.
Esses sistemas já vêm sendo
certificados pelo ICQ Brasil,
seguindo um conjunto de
normas que o País ajudou
a escrever no âmbito da
International Organization for
Standardization (ISO).
Até 2011, afirma Telmo
Azambuja, engenheiro civil,
consultor e auditor de sistemas
de gestão, não existiam
normas específicas para a
gestão de energia no mundo, a
despeito das novas demandas
geradas pela necessidade de
poupar recursos naturais,
evitar emissões e enfrentar o
aquecimento global. Em junho
daquele ano, concluindo um
processo de debates iniciado
ainda em 2005 em diversos
países, a ISO baixou a NBR
50001, fixando requisitos
para a implantação de
sistemas integrados de gestão
de energia, envolvendo a
implantação e operação de
políticas energéticas pelas
organizações, fixação de
responsabilidades da direção
nesta área e instituindo
definições para a verificação e
análise crítica dos mesmos.
“O Brasil teve atuação
marcante na geração da ISO
50001”, reforça Azambuja.
Os Estados Unidos sediaram a
primeira reunião para discutir
a norma em setembro de 2008
e o segundo encontro ocorreu
no Brasil, em março do ano
seguinte. De acordo com
o especialista, os trabalhos
foram conduzidos pelo Comitê
Técnico TC 242, da ISO, sob
coordenação dos EUA, que
dividiram com o Brasil, por
meio da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), a
secretaria executiva do comitê.
A versão brasileira da norma,
aprovada em 15 de junho de
2011, lembra ainda Azambuja,
entrou em vigor em 17 de julho
do mesmo ano.
90 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Na visão da ISO, conforme
o consultor, “num cenário de
mudanças climáticas, a norma
colabora para a redução de
gases do efeito estufa (GEE)
relacionados ao setor de
energia” e parte do pressuposto
de que o uso do insumo
“precisa ser bem gerenciado”
pelos usuários finais, já que
estes não podem, sozinhos,
interferir em políticas e
decisões tomadas globalmente
pelos governos e outros
agentes nesta área.
Para que isso possa ocorrer,
Azambuja afirma que será
“preciso conectar especialistas
em eficiência energética com
especialistas em sistemas de
gestão”.
Aplicável a todos os tipos
de organização, nas atividades
sobre as quais elas podem ter
controle, o sistema de gestão
permite melhoria contínua do
desempenho energético nas
empresas, com maior eficiência
no uso e consumo de energia.
Por Fernando Banas
3D - Fabricação do futuro A fabricação aditiva - conhecido
na cultura popular como a
impressão 3D - é um conceito
que tem captado a atenção de
muitos com suas conotações de
ficção científica. No entanto, a
tecnologia é importante não só
para as suas capacidades atuais,
mas ainda mais para o seu
potencial futuro.
A Manufatura aditiva (AM),
muitas vezes erroneamente
chamada de impressão 3D , é um
mercado em rápida expansão.
No ano passado registou uma
taxa de crescimento de 34,9%,
a maior em 17 anos. De acordo
Materiais de referência de drogas ilícitas
já estão em produção nos laboratórios do Inmetro
O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
(Inmetro) em parceria com o Ministério da Justiça começou
a produzir Materiais de Referência Certificados (MRCs) para
drogas de abuso com
elevada pureza como,
por exemplo, a cocaína.
O MRC é um padrão
de análise da mais
alta confiabilidade
metrológica utilizado
para calibração,
controle de qualidade,
validação de métodos
e determinação da
exatidão dos resultados.
As investigações
criminais ganharão força com a análise de drogas que
utilizem um MRC, já que é uma ferramenta essencial para as
metodologias de análise de drogas de abuso e que contribuirá
para se chegar a um resultado preciso e inequívoco. http://www.
inmetro.gov.br/noticias/verNoticia.asp?seq_noticia=3657
com o Relatório Wohlers 2014 a referência sobre os progressos
da indústria do amanhã - o setor
de máquinas industriais e de
negócios faz mais uso desta
tecnologia com uma quota de
mercado de 18,5%, seguido
por bens eletrônicos, veículos
automotores e dispositivos
médicos. A área aeroespacial
através de empresas como a
Airbus está usando os processos
AM para produzir peças
metálicas para aeronaves.
http://www.iso.org/iso/home/
news_index/news_archive/news.
htm?refid=Ref1956
PROTESTE avalia pacotes
de Internet Security
A PROTESTE testou 12 pacotes
de Internet Security pagos e quatro
antivírus gratuitos e constatou que
muitos destes programas falham
na proteção por firewall. Entre
os produtos pagos, cinco foram
avaliados como ruins: Avira,
F-Secure Safe, Kaspersky, Panda
e Trend Micro; e três antivírus
gratuitos: Avira, AVG e Microsoft
Windows 8.1. No teste que
avaliou a proteção de páginas de
internet infectadas, quatro pacotes
pagos tiveram desempenho fraco:
Avira, Avast!, F-Secure Safe, G
Data e Panda. E todos os antivírus
gratuitos foram avaliados como
ruins ou fracos neste item. http://
www.proteste.org.br/institucional/
imprensa/press-release/2015/
proteste-avalia-pacotes-de-internetsecurity-e-constata-que-programasfalham-na-protecao
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 91
Inside
FDIS aguardado para junho
O Comitê Técnico ISO 207 / WG 5,
que é responsável pelas mudanças da
norma ISO 14001 - Sistema de Gestão
Ambiental, concluiu a revisão dos
comentários recebidos. O Final Draft
International Standard (FDIS) será
agora publicado em Junho de 2015, mas só estarão disponíveis para os
organismos nacionais para utilização em 2 meses, quando um período de
votação terá início até agosto de 2015. Estes prazos sugerem que a ISO
14001: 2015 estará disponível no mercado em setembro de 2015.
Nanomanufatura Torna
Aço 10 Vezes Mais Forte
Relatório Corporativo,
nova ferramenta on-line da
ISO 26000
Um novo processo barato pode
aumentar a força de metais como
aço em até 10 vezes, e os torna
mais resistentes à corrosão. Se os
metais modificados passarem no
teste de campo, o novo processo
pode ser usado para fazer pontes
e outras obras de infraestruturas
durar muito mais tempo; ele
também pode dar origem a
carros mais leves e, portanto,
mais eficientes em combustível.
A empresa Modumetal, está
comercializando o material, em
parte, com uma colaboração
com as empresas de petróleo
Chevron, Conoco-Philips e
Hess.
Peças feitas usando a tecnologia
estão sendo testadas em campos
de petróleo. Alguns óleos
contém produtos químicos
altamente corrosivos como
o sulfeto de hidrogênio
que rapidamente danificam
equipamentos de produção.
A nova tecnologia pode fazer
essas partes durarem muito
A norma ISO para a
Responsabilidade Social é um
ingrediente chave e que agora
esta disponibilizada em uma
nova ferramenta on-line para
a comunicação corporativa.
Acaba de ser publicado para
acesso gratuito o Relatório
Corporativo da norma ISO
26000. Um mapa paisagem
com algumas das iniciativas
mais importantes do mundo
corporativo oferecendo idéias
para ajudar as organizações em
todos os lugares que enfrentam
mais exigências de informação.
O relatório foi desenvolvido
como parte do Corporate
Reporting Dialogue, uma
iniciativa destinada a responder
aos apelos do mercado
para uma maior coerência,
consistência e comparabilidade
entre os frameworks, padrões e
requisitos relacionados.
http://www.iso.org/iso/home/
news_index/news_archive/news.
htm?refid=Ref1959
mais tempo e, assim, reduzir o
custo da buscar por fontes não
convencionais de petróleo. Essa
pode ser apenas a primeira de
uma vasta gama de aplicações.
O avanço é baseado no fato
de que o controle da estrutura
de metal em nano-escala pode
impregnar os materiais com
novas propriedades. Modumetal
desenvolveu um processo que
lhe confere controle preciso
sobre a estrutura dos metais
e que permite a fabricação
de peças que têm metros de
comprimento.
http://www.technologyreview.
com.br/read_article.
aspx?id=47040
92 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Por Fernando Banas
9 maneiras
de engajar
seus diretores
na qualidade
Dicas de Jason Arkell - Business Improvement e
Gestão da Qualidade da empresa de petróleo e gás
Amec Foster Wheeler - Inglaterra, para a venda de
qualidade para a direção da empresa.
1
Acredite no que você está fazendo: Se você
não tem uma paixão pela qualidade, então você
não está indo para obter de seus diretores um
engajamento.
Tenha um plano: Saiba o que você quer
conseguir, o que você precisa para atingi-lo e
como você vai fazê-lo.
Envolva-se com uma boa equipe: A qualidade
é um esforço de equipe e sua equipe terá de ser
capaz de entregar o que está sendo prometido.
Eduque o topo: Explique aos seus diretores,
gerentes e clientes que a qualidade pode ajudar
a organização e que vai trazer maior valor ao
negócio.
Faça a lição de casa: Se você souber de
um problema de má qualidade, explique aos
diretores como o engajamento com a função de
qualidade poderia ter evitado este problema.
Seja paciente: Mudança leva tempo,
especialmente em uma grande organização.
Seja ousado: Se você tiver uma visão ou
um plano de qualidade, exponha sua idéia.
Nenhuma empresa pode sobreviver se não mudar e
se adaptar.
Seja respeitoso: A última coisa que você
gostaria de fazer é insultar seus diretores de
negócios.
Mantenha seu olho no negócio: Todas
as indústrias estão enfrentando novos
desafios. Certifique-se de que você está
desafiando a si mesmo para chegar a novas
formas de qualidade e podendo agregar valor
ao negócio da organização.
2
3
4
5
6
7
8
9
Finlândia ou tigres asiáticos:
qual é o melhor modelo de educação
para a América Latina?
Um pequeno país do norte da Europa, com pouco
mais de cinco milhões de habitantes, tem sido
um exemplo para outros países na educação por
mais de uma década. O desejo de aprender com
o modelo finlandês levou o Brasil e o Chile, entre
outros, a estabelecer programas de cooperação com
professores visitantes. Mas a queda da Finlândia
em rankings internacionais como nos testes do
PISA - exame internacional da Organização para a
Cooperação Desenvolvimento Econômico (OCDE)
- levantou dúvidas sobre o sistema do país, que
dá enfase à formação de professores e busca se
libertar da "camisa de força" do currículo baseado
em disciplinas. Para alguns especialistas, o modelo
finlandês é um "conto de fadas". Para outros, é o
modelo do futuro. Recentemente, o sistema de
educação do país voltou a atrair atenção quando
diversos veículos publicaram que a Finlândia
iria abolir as disciplinas - como matemática
ou geografia - do currículo escolar. O governo
esclareceu, porém, que apenas iniciou uma reforma
em que haverá mais projetos interdisciplinares,
com um tópico - por exemplo, a União Europeia
- visto no contexto de diversas matérias. Para
Leonor Varas, doutora em matemática e especialista
em educação da Universidade do Chile, e que
dirigiu durante três anos um projeto de pesquisa
bilateral do país com a Finlândia, a América Latina
ainda tem muito o que aprender com o sistema
finlandês. http://www.bbc.co.uk/portuguese/
noticias/2015/05/150508_finlandia_educacao_lab
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 93
Meio Ambiente
A água
no
Brasil
94 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
O país detém 12% da água doce de superfície do
mundo, o rio de maior volume e um dos principais
aquíferos subterrâneos, além de invejáveis índices de
chuva. Mesmo assim, falta água no semiárido e nas
grandes capitais, porque a distribuição desse recurso
é bastante desigual
Da Redação
S
e o país tem muita água, a verdade
é que enquanto um morador de
Roraima tem acesso a 1,8 milhão
de litros de água por ano, quem
vive em Pernambuco precisa se virar
com muito menos - o padrão mínimo
que a ONU considera adequado é de 1,7
milhão de litros ao ano. A situação pode
ser pior nas regiões populosas, nas quais
o consumo é muito maior e a poluição
das indústrias e do esgoto residencial
reduz o volume disponível para o uso.
É o caso da bacia do rio Tietê, na região
metropolitana de São Paulo, onde os
habitantes têm acesso a um volume de
água menor do que o recomendado para
uma vida saudável.
Um problema sério está relacionado
com a poluição. No caso de são
Paulo, é a ocupação irregular das
margens de rios e represas, como a
de Guarapiranga, que fornece água
para 3,7 milhões de paulistanos. A
seu redor, vivem cerca de 700 mil
habitantes. Com o desmatamento das
margens para a construção das casas,
grande quantidade de sedimentos foi
arrastada para a represa, que perdeu sua
capacidade de armazenamento e ainda
recebe o esgoto de muitas residências.
O problema se repete na represa
Billings, também responsável pelo
abastecimento de São Paulo. Esse
manancial é destino final das águas
poluentes que são bombeadas dos rios
Tietê e Pinheiros para manter seu curso.
A alternativa foi trazer água de uma bacia
hidrográfica vizinha, a do rio PiracicabaJundiaí-Capivari, que abastece a metade
da metrópole paulistana. Isso acabou
gerando uma disputa regional.
No total, 58 municípios compartilham
esse manancial, e a solução foi criar
o Banco das Águas, um acordo que
estabelece cotas de captação para a
região metropolitana de São Paulo (31
metros cúbicos por segundo) e para
o conjunto dos municípios da região
de Piracicaba (5 metros cúbicos por
segundo). Nesse sistema, tanto um lado
como o outro podem ir além desses
limites como compensação, caso tenha
retirado menor quantidade de água em
períodos anteriores.
Um levantamento com a medição da
qualidade da água em 111 rios, córregos
e lagos de cinco estados brasileiros e
o Distrito Federal – o mais amplo até
hoje coordenado pela Fundação SOS
Mata Atlântica – revelou que 23,3%
apresentam qualidade ruim ou péssima.
Os dados foram coletados entre março
de 2014 e fevereiro de 2015, em 301
pontos de coleta distribuídos em
45 municípios. A análise incluiu o
monitoramento realizado em 25 rios da
cidade de São Paulo e 12 da cidade do
Rio de Janeiro.
u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 95
Meio Ambiente
A situação é preocupante, visto que a
poluição diminui ainda mais a oferta de
água para consumo da população.
A lista completa de rios e pontos
avaliados está disponível no link
http://bit.ly/Agua2015. Dos resultados
medidos,
186
pontos
(61,8%)
apresentaram qualidade da água
considerada regular, 65 (21,6%) foram
classificados como ruins e 5 (1,7%)
apresentaram situação péssima.
Apenas 45 (15%) dos rios e mananciais
mostraram boa qualidade – aqueles
localizados em áreas protegidas e que
contam com matas ciliares preservadas.
Nenhum dos pontos analisados foi
avaliado como ótimo.
No Estado de São Paulo, dos
117 pontos monitorados, 5 (4,3%)
registraram qualidade de água boa; 61
(52,1%) foram avaliados com qualidade
regular, enquanto que 46 (39,3%) estão
em situação ruim e 5 (4,3%) péssima.
Já entre os 175 pontos analisados
nos municípios do Rio de Janeiro,
39 apresentaram água boa (22,3%), a
maioria (120 pontos) está em situação
regular (68,6%), e 16 tiveram índice
ruim (9,1%).
Na cidade do Rio de Janeiro, os
indicadores aferidos revelam uma piora
na qualidade da água. Dos 15 pontos em
que a coleta foi realizada na área urbana,
somente 5 (33,3%) apresentaram
qualidade regular e os outros 10 pontos
(66,7%) registraram qualidade ruim. Em
2014, 9 pontos tinham qualidade regular
(60%) e 6 ruim (40%). Nenhum dos
pontos analisados apresentou qualidade
boa ou ótima.
“Esses indicadores revelam a precária
condição ambiental dos rios urbanos
monitorados e, somados aos impactos
da seca, reforçam a necessidade urgente
de investimentos em saneamento
básico. A falta da água na região sudeste
96 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
é agravada pela indisponibilidade
decorrente da poluição e não apenas da
falta de chuvas. Rios enquadrados nos
índices ruim e péssimo não podem ser
utilizados para abastecimento humano
e produção de alimentos, diminuindo
bastante a oferta de água”, alerta Malu
Ribeiro, coordenadora da Rede das
Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.
Outros quatros estados tiveram rios e
córregos analisados neste levantamento.
Em Minas Gerais, o rio Jequitinhonha,
na altura do município de Almenara,
apresentou situação regular. Já o rio
Mutum, na cidade de Mutum, e o
córrego São José, em Bicas, estão em
situação ruim.
No Rio Grande do Sul, foram
analisados a Lagoa do Peixe (qualidade
boa), Rio Tramandaí (regular) e Lago
Guaíba, na altura da Barra do Ribeiro
(ruim). Em Brasília, a análise de dois
pontos do Córrego do Urubu apresentou
qualidade regular. Já em Santa Catarina,
o Rio Mãe Luiza, na cidade de
Forquilhinha, está em situação regular.
Na comparação com os pontos
coletados no levantamento anterior,
realizado pela SOS Mata Atlântica no
período de março de 2013 a fevereiro
de 2014, a cidade do Rio de Janeiro,
que teve 15 pontos analisados no último
levantamento, apresentou aumento de
amostras com qualidade ruim, de 40%
para 66,7%. São Paulo, por outro lado,
reduziu de 74,9% para 44,3% o número
de pontos de coleta com qualidade ruim
ou péssima, apresentando alta de 25%
para 55,4% as amostras com qualidade
regular ou boa.
Segundo Malu Ribeiro, a seca em
São Paulo diminuiu o escoamento
de poluentes para os rios, refletindo
na redução de pontos de coleta com
qualidade ruim ou péssima: “A falta
de chuvas na capital paulista teve um
impacto positivo na qualidade da água
dos córregos e rios urbanos que não
receberam a chamada poluição difusa,
responsável por cerca de 40% dos
poluentes que contaminam os corpos
hídricos após as chuvas que lavam
as cidades. Com a seca, os pontos
monitorados deixaram de receber
resíduos sólidos ou lixo, sedimentos com
solos contaminados, fuligem de veículos
e materiais particulados. Embora o
volume de água tenha diminuído nesses
rios durante os meses prolongados
de seca, a coleta e o tratamento de
esgotos nessas microbacias de São
Paulo contribuíram para que a condição
de qualidade da água passasse a ser
melhor”, explicou.
u
Resultados
Cidade do RJ
IQA 2014
IQA 2015
Otima
0
0,0%
0
0,0%
Boa
0
0,0%
0
0,0%
Regular
9
60,0%
5
33,3%
Ruim
6
40,0%
10
66,7%
Péssima
0
0,0%
0
0,0%
Total
15
100%
15
100%
Resultados
Cidade de SP
IQA 2014
IQA 2015
Otima
0
0,0%
0
0,0%
Boa
0
0,0%
1
2,7%
Regular
9
25,0%
19
52,7%
Ruim
23
63,8%
15
41,6%
Péssima
4
11,1%
1
2,7%
Total
36
100%
36
100%
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 97
Meio Ambiente
Nos rios da capital carioca ocorreu
o processo inverso, “devido à falta de
investimentos em saneamento básico
e ao aumento de resíduos sólidos
descartados nas margens de rios e
de esgotos, que se concentraram nos
pontos de coleta dos rios com baixa
vazão”, assinalou Malu. Segundo a
coordenadora, as altas temperaturas na
região também favoreceram a formação
de algas que consomem o oxigênio da
água, provocando aumento no odor
e a rápida perda da qualidade, com
agravamento da poluição.
Os municípios do Estado de São
Paulo também tiveram melhora na
qualidade dos rios analisados. Entre os
53 pontos de coleta em rios paulistas
que foram analisados nos dois estudos,
o percentual de amostras com qualidade
regular subiu de 30,2% para 50,9%.
Malu Ribeiro esclareceu que,
dependendo da qualidade da água, os
rios podem ser melhor aproveitados pela
população. “Os rios em São Paulo que
registraram indicadores na faixa regular
poderão ter o seu enquadramento, com
base na legislação que trata da qualidade
da água, fixado em rios de classe 3 e 2,
cujas águas podem ser utilizadas para
usos múltiplos. É isso que a sociedade
espera conseguir conquistar para os rios
urbanos: águas saudáveis. Isso ocorreu
onde as populações se engajaram na
conservação de pequenas faixas ciliares
ou áreas verdes, no cuidado com a
destinação correta de resíduos sólidos
e na cobrança sistemática da coleta e
tratamento de esgotos”.
A Fundação SOS Mata Atlântica
acredita que, para enfrentar a crise da
água e melhorar a qualidade de vida
nas cidades, é essencial recuperar
os rios urbanos com investimentos e
avanços nos índices de tratamento de
esgoto, gestão dos resíduos sólidos e
98 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
recuperação das áreas de preservação
permanente.
“Um exemplo foi encontrado no
monitoramento realizado: o indicador
mais surpreendente foi registrado junto
a uma nascente no bairro da Pompéia,
em São Paulo, que melhorou a qualidade
da água para boa após a comunidade
ter promovido a recuperação do seu
entorno”, finalizou Malu.
A coleta para o levantamento,
que têm como base a legislação do
Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), é realizada por meio de um
kit desenvolvido pelo programa Rede
das Águas, da SOS Mata Atlântica,
que possibilita uma metodologia para
avaliação dos rios a partir de um total
de 16 parâmetros, que incluem níveis de
oxigênio, fósforo, o PH e aspecto visual.
O kit classifica a qualidade das águas
em cinco níveis de pontuação: péssimo
(de 14 a 20 pontos), ruim (de 21 a 26
pontos), regular (de 27 a 35 pontos),
bom (de 36 a 40 pontos) e ótimo (acima
de 40 pontos).
Uma outra dificuldade se relaciona
com a perda de água. A média brasileira
de perdas de água é de aproximadamente
40% (incluindo perdas reais e
aparentes), mas em algumas empresas
de saneamento essas perdas superam
60%. O elevado índice de perdas de
água reduz o faturamento das empresas
e, consequentemente, sua capacidade de
investir e obter financiamentos.
Além disso, gera danos ao meioambiente na medida em que obriga as
empresas de saneamento a buscarem
novos mananciais. O número insuficiente
de profissionais do setor – e muitas vezes
a qualidade técnica -, como ocorre em
algumas regiões do Brasil, é um dos
maiores entraves para o enfrentamento
do problema, como analisa o presidente
da Associação Brasileira de Engenharia
Sanitária e Ambiental (ABES), Dante Entorno do Rio
Ragazzi Pauli. “As perdas de água Pinheiros em São
representam um dos maiores desafios e Paulo
dificuldades para a adequada distribuição
de água no Brasil e o nível de combate
às perdas tem sido muito desigual pelos
estados brasileiros”.
Para Dante, há a clara necessidade
de mínima adequação (qualitativa e
quantitativa), por parte dos operadores,
dos profissionais que serão alocados
na atividade, a capacitação deles, a
garantia de recursos financeiros e muita
perseverança. “As estratégias brasileiras
para redução de perdas de água devem
combinar ações estruturantes (de
gestão de ativos) e ações estruturais (de
ampliação e melhoria dos ativos).”
No Brasil, os indicadores estão longe
do observado em países desenvolvidos
(Japão, Alemanha, Austrália podem ser
citados como referenciais) e a situação
de perdas é muito desigual quando
se comparam unidades da federação,
operadores públicos e privados de
saneamento básico. O Plansab, aprovado
em dezembro de 2013, e do qual não
se tem notícias, definiu para o índice o
valor de 31% em 2033.
u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 99
Meio Ambiente
Perda de agua no
Brasi, supera os 40%
“Ocorre que
a situação atual
dos prestadores
de serviço não
favorece
os
investimentos
em redução de
perdas.
Parte
importante dos
operadores
brasileiros
não possui quadro de profissionais
suficientementepreparadostantodopontode
vista quantitativo como qualitativo. Assim,
desconhece as principais características do
sistema que opera; em alguns, há escassez
de equipamentos e instrumentos, como
macro e micromedidores”, explica.
Além disso, devem ser citados
outros problemas, tais como a ¬baixa
capacidade dos operadores de se
financiar e a ausência de flexibilidade
das operadoras de saneamento para
alterar seus orçamentos. “Cabe aos
operadores, independentemente da
estratégia que adotem para o combate
às perdas, o pleno conhecimento dos
sistemas que operam.”
O presidente da ABES observa que a
atual crise hídrica que assola boa parte
do Brasil faz aparecer uma série de
“especialistas” no assunto, que passam
a impressão de que a queda de perdas a
níveis aceitáveis é tarefa simples. “Não
é, ainda mais ao perceber a situação
caótica de muitos de nossos operadores
e a falta de comprometimento de boa
parte de nossos governantes nas três
esferas de governo. Lembremos que
o Japão, já acima citado como uma de
nossas referências, demorou décadas
para atingir o índice atual. Tóquio, hoje
tem perdas que beiram os 5%”.
Para Dante, as estratégias que podem
ser adotadas jamais podem perder
de foco que o ponto de partida para
100 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
enfrentar o problema das perdas de
água é o estabelecimento, por parte
dos operadores, de um mínimo de
profissionais destacados para o desafio.
Soma-se a tudo isso que, no Brasil, as
zonas rurais estão esvaziando enquanto
que as cidades estão se tornando quase
proibitivas para viver, pois, atualmente,
82% da população estão jogadas nas
zonas urbanas. Com isto a poluição toma
outro rumo: dos agrotóxicos à poluição
por merda, lixo e urina, etc. nos rios
urbanos. Para o poder político nada muda,
pois saneamento básico não dá voto.
O brasileiro, em sua caminhada pelo país
usando os rios como meio de locomoção,
está transformando os rios em cloacas à
céu aberto. Poluição, mudanças de rumo
de alguns rios e o denominado progresso,
aquele que é visto como forma única de
enriquecimento monetário, são alguns dos
itens que mais prejudicam o meio ambiente.
A cidade de São Paulo consome
diariamente 250 milhões de litros de
água por hora e, ao mesmo tempo,
despeja, no poluído Tietê, quase 2 mil
toneladas/dia de dejetos. Atualmente,
São Paulo não possui recursos hídricos
suficientes para suprir a população e o
abastecimento é feito por recursos que
vêm de fora do estado.
Minas Gerais sofre enchentes que são
causadas pelo assoreamento dos rios. No
Rio de Janeiro, apenas 40% dos esgotos
recebem tratamento antes de serem
jogados nos rios e na Baia da Guanabara.
A qualidade da água dos rios e represas
brasileiros está longe do ideal. Dados
do Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável (IDS), do IBGE, revelam quais
bacias de água doce estão em situação mais
crítica. Os Índice de Qualidade da Água
(IQA) mais baixos são os dos altos cursos
dos rios Tietê e Iguaçu, que atravessam,
respectivamente, as regiões metropolitanas
de São Paulo e Curitiba..
Índice de Qualidade da Água (IQA)
Rio Doce, Minas Gerais (10º lugar) – Com um
percurso total de 853 km, drena os estados do Espírito
Santo e Minas Gerais, sendo a mais importante bacia
hidrográfica totalmente incluída na Região Sudeste.
Sem controle ambiental, a contaminação química e
urbana ameaça a saúde dos moradores das cidades
às suas margens e a escassez de água nos afluentes
agrava a cadeia de problemas.
Rio Paraiba do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro
(9º lugar) – Formado pela confluência dos rios
Paraitinga e Paraibuna, o rio nasce na Serra da
Bocaina, no Estado de São Paulo, fazendo um
percurso total de 1.120Km, até a foz em Atafona,
no Rio. Pode-se citar como fontes poluidoras mais
significativas as de origem industrial, doméstica
e da agropecuária, além daquela decorrente de
acidentes em sua bacia.
Rio Caí, Rio Grande do Sul (8º lugar) – A
bacia hidrográfica do rio Caí equivale a 1,79%
da área do estado do Rio Grande do Sul e
possui municípios com atividade industrial
bastante desenvolvida. Destacam-se os
municípios de Caxias do Sul e Farroupilha,
localizados na Serra, com indústrias de alto
potencial poluidor, principalmente do ramo de
metalurgia e metal – mecânica.
Rio Capibaribe, Pernambuco (7º lugar) – Nasce
na serra de Jacarará, no município de Poção, em
Pernambuco, e banha 42 cidades pernambucanas.
O rio recebe carga de resíduos de uma população
estimada em 430 mil habitantes em seu entorno. O
crescimento urbano desordenado foi responsável
pela deterioração dos recursos ambientais que
circundavam o rio, comprometendo a qualidade
de vida das populações ribeirinhas.
Rio das Velhas, Minas Gerais (6º lugar) –
Com nascentes na cachoeira das Andorinhas,
município de Ouro Preto (MG), é o maior
afluente em extensão do rio São Francisco. A
presença de arsênio, cianeto e chumbo reflete a
interferência do diversificado parque industrial
da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Rio Gravataí, Rio Grande do Sul (5º lugar)Separa as cidades de Canoas e Porto Alegre.
São apontados como motivos para a poluição o
esgoto que é jogado no rio sem tratamento, os
resíduos sólidos largados por comunidades que
trabalham com reciclagem e criam porcos e a
poluição gerada por empresas, notadamente de
adubo e areia.
Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul (4º lugar)
– Repleto de curvas, o rio nasce nos morros do
município de Caraá e percorre um percurso de
cerca de 190 km, desembocando no delta do
Jacuí. A alta carga poluente é proveniente de
esgotos e indústrias, o que, além de provocar
a mortandade de milhares de peixes, causa a
proliferação de mosquitos.
Rio Ipojuca, Pernambuco (3º lugar) – Corta
vários municípios de Pernambuco, inclusive
nomeando um. O Ipojuca nasce em Arcoverde,
no Sertão, e deságua em Suape, ao Sul do
Grande Recife. O lixo e o esgoto, que são
despejados no rio acabam aumentando os riscos
de contaminação de doenças como leptospirose,
casos de hepatite A e diarreia.
Rio Iguaçu, Paraná (2º lugar) – Segundo rio mais
poluído do país, ele é o maior do estado do Paraná
e faz divisa natural com Santa Catarina. Segundo
biólogos, dois fatores podem explicar o elevado
nível de poluição: passivo ambientalu presente
há algumas décadas, com falta de investimento
no saneamento ambiental, e o alto número de
habitantes em volta do rio.
Rio Tietê, São Paulo (1º lugar) – Com 1.010
km², nasce em Salesópolis, na serra do Mar, e
atravessa o estado de São Paulo, banhando 62
municípios. Ocupa o topo do ranking por receber
o esgoto doméstico e industrial no trecho da
capital – menos da metade dos moradores da bacia
do Alto Tietê têm esgoto tratado. A mancha de
poluição do rio que, na década de 1990, chegou a
cem quilômetros, tem se reduzido gradualmente
no decorrer das obras do projeto Tietê.u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 101
Meio Ambiente
E o saneamento básico, como fica?
Um estudo do Instituto Trata Brasil e do
Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável revelou
que a parcela da população brasileira
com acesso à coleta de esgoto passou de
40,6% para 48,7% entre 2009 e 2013.
Nesse período, a população com acesso
ao saneamento cresceu de 78,6 milhões
de pessoas para 97,9 milhões de pessoas
(aumento de 24,6%). A despeito dos
avanços, o número de moradias sem
acesso ainda é enorme e o desafio da
universalização é cada vez maior.
Os resultados apontam para números
alarmantes. No Brasil, ainda ocorrem
cerca de 340 mil internações por doenças
infecciosas associadas à falta de saneamento,
com mais de 2 mil mortes (dados de 2013).
O desdobramento econômico é imediato:
além do gasto com a saúde, o trabalhador
que adoece se afasta do trabalho,
comprometendo sua produtividade.
As análises estatísticas realizadas
evidenciaram que o acesso à rede geral
de coleta de esgoto e à água tratada
pode elevar a renda de um trabalhador
em mais de 14%. No caso de crianças e
adolescentes, a doença causa o afastamento
da escola, com efeito expressivo sobre seu
desempenho escolar.
102 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Além desses fatos, o estudo
identificou um efeito expressivo da
falta de saneamento sobre as atividades
econômicas que dependem de boas
condições ambientais para seu exercício
pleno. Do ponto de vista do mercado
imobiliário, foi identificado que o
acesso à rede geral de coleta de esgoto e
à água tratada pode elevar o valor de um
imóvel em até 16,7%.
No caso do turismo, uma das
atividades para as quais a degradação
ambiental é mais prejudicial, o
estudo mostrou que o acesso ao
saneamento tem impactos elevados,
com ampliação das oportunidades de
trabalho e da renda de empregados e
empresários de hotéis, restaurantes,
bares, etc. Em termos internacionais,
o Brasil está muito atrasado na
área de saneamento. Tanto a água
tratada quanto a coleta e tratamento
de esgoto estão muito distantes do
acesso universal.
Isso implica prejuízos à qualidade de
vida e à economia. E como a situação
brasileira é particularmente mais grave
no que diz respeito ao acesso à rede
geral de coleta de esgoto, o impacto
ambiental também é excessivamente
elevado, o que deprime o valor dos
ativos imobiliários e o potencial
econômico de atividades que dependem
de boas condições ambientais para o seu
exercício pleno.
Os
dados
comparativos
internacionais
mais
recentes
colocam o Brasil na 112º posição
num ranking dos 200 países. Essa
colocação é, sem sombra de dúvidas,
vergonhosa para a nação que é a 7ª
maior economia do mundo..
O atraso relativo do Brasil na área de
saneamento tem uma origem histórica
distante. Há 50 anos apenas uma em cada
três moradias estava ligada à rede geral
de coleta de esgoto ou à rede fluvial.
Isso significa dizer que apenas 1/3 da
população tinha o esgoto afastado de
seu local de residência. No que respeita
ao tratamento a situação era muito pior:
do esgoto coletado, sequer 5% recebia
algum tratamento antes do despejo no
meio ambiente.
Enfim,
em
2013,
segundo
informações do DataSus, foram
notificadas mais de 340 mil internações
por infecções gastrintestinais em
todo o país. Cerca de 173 mil foram
classificados pelos médicos como
“diarreia e gastrenterite origem
infecciosa presumível”, pouco mais
de 4,6 mil casos como “amebíase,
shiguelose ou cólera” e 162,7 mil,
como “outras doenças infecciosas
intestinais”. Metade desse total, ou
seja, 170,7 mil internações, envolveu
crianças e jovens até 14 anos, um
grupo etário em que esse tipo de
doença é particularmente perigoso.
O número de notificações é o menor
dos últimos anos, indicando avanços
no combate às doenças intestinais
infecciosas. Foram quase 125 mil casos a
menos do que o verificado em 2009, ano
de referência da publicação anterior do
Instituto Trata Brasil sobre o tema. Entre
2009 e 2013, o saneamento brasileiro
apresentou avanços: estima-se que
19,3 milhões de pessoas passaram a ter
acesso à rede geral de coleta de esgoto,
elevando de 40,6% para 48,7% a parcela
da população coberta pelo sistema.
Contudo, o volume de internações
ainda é grande, assim como é
pequena a parcela da população com
acesso ao sistema de coleta. O que
chama mais a atenção é o fato de
que a maior parte dessas internações
ocorreu justamente nas áreas com
menor acesso ao esgotamento
sanitário: Norte e Nordeste. No Norte
do país, foram registradas 16,8%
das internações, uma participação
extremamente elevada considerando
que apenas 8,5% dos brasileiros
habita na região.
A taxa de incidência é de 3,37 casos
por mil habitantes no ano, um valor
duas vezes o da média nacional e seis
vezes a incidência na região Sudeste.
Vale destacar que no Norte está o déficit
relativo de saneamento mais intenso
do país: 93,2% das pessoas não tinham
esgoto coletado em 2011 segundo dados
do Sistema Nacional de Informações de
Saneamento(SNIS).
Por fim, pode-se dizer informar
sobre as águas subterrâneas, aquelas
que ocupam os espaços existentes
entre as rochas do subsolo e se movem
pelo efeito da força da gravidade. Seu
volume é calculado em cerca de 100
vezes mais do que o das águas doces
superficiais (rios, lagos, pântanos,
água atmosférica e umidade do solo).
No território brasileiro, as reservas de
águas subterrâneas em aquíferos são
estimadas em 112 trilhões de metros
cúbicos, e o mais importante deles é o
Aquífero Guarani.
Trata-se da principal reserva
subterrânea de água doce da América do
Sul e ocupa 1,19 milhão de quilômetros
quadrados. Esse aquífero se estende
pelo subsolo de Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais,
São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e
Santa Catarina e por partes do território
do Uruguai, do Paraguai e da Argentina.
Uma camada de rocha basáltica retém
as águas e as protege de contaminação.
Pelos atuais estudos, o Aquífero Guarani
tem armazenados 45 trilhões de metros
cúbicos de água, dos quais 160 bilhões
são extraídos por ano para diversos fins.
No momento, ainda é pouco usado para
esse fim, embora haja poços artesianos que
captem suas águas. Em pontos nos quais
chega mais perto da superfície, já está
sofrendo ameaças de contaminação.u
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 103
Meio Ambiente
A solução para a crise hídrica mais
perto do que se imagina
Por Sergio Werneck Filho
A
crise hídrica que afeta quase 1.000 municípios
brasileiros das regiões Nordeste e Sudeste é algo
histórico que, certamente, deixará grandes lições. O
tema tem sido o principal foco de discussões, tanto na
esfera pública como privada.
Um ponto, porém, merece atenção. Até o
momento, o grande enfoque está em como suprir
a demanda diante dos baixíssimos índices dos
reservatórios. Alternativas para trazer água de
regiões cada vez mais distantes e, claro, a discussão
em torno da recuperação dos mananciais norteia
grande parte das preocupações.
Porém, a solução, não apenas para esta crise, mas
para todo o sistema de abastecimento de grandes
centros, não está somente nas alternativas para se
obter novas fontes de água. Pelo contrário. O que
precisamos é nos atentar à forma com que a água
retorna ao sistema. Precisamos enxergar as regiões
metropolitanas como grandes sistemas de reuso
Para abastecer a Região Metropolitana de São
Paulo, por exemplo, são necessários 80 metros cúbicos
de água bruta por segundo. Sabe-se que grande parte
deste volume (cerca de 20%) se perde no caminho.
Ou seja, 1 em cada 5 litros de água captada não chega
às residências, indústrias, escritórios ou comércios.
Esta questão já é amplamente discutida e, para ser
solucionada, requer investimentos na rede atual. Assim,
precisamos focar na água que chega ao consumidor.
Quando entregue, a água é utilizada para diferentes
fins, desde limpeza, higiene pessoal, consumo ou
processos industriais. Mesmo utilizada em todos estes
processos, ela não desaparece. Estima-se que, do total
de água entregue, são consumidos ou evaporados
apenas 11,2 metros cúbicos por segundo (20% da água
entregue). E o restante? Qual é a destinação desta água?
O que fazemos com ela?
O fato é que, se não se perde, não é consumida ou
evaporada, esta água retorna ao sistema, seja como
efluente ou como esgoto. Este volume representa
quase 65% de toda água bruta que chega ao sistema
de abastecimento.
O problema é que, apesar de ser um volume
significativo, a capacidade de tratamento atual não é
suficiente. A estrutura hoje consegue tratar apenas 18
metros cúbicos por segundo. Pelos nossos cálculos,
o total de efluentes e esgoto que chega ao sistema é
de 51 metros cúbicos por segundo.
Ou seja, 33 metros cúbicos por segundo de esgoto
liberados na Região Metropolitana de São Paulo não
são tratados. Se considerarmos os dados mensais,
os números são ainda mais expressivos. Em 30
dias, estamos falando em 85,5 bilhões de litros que
poderiam retornar ao sistema tratados.
Se, ao invés de buscarmos alternativas para abastecer
o sistema, buscássemos formas eficazes de melhorar a
qualidade da água que retorna aos rios e de reduzir as
perdas iniciais das águas captadas, o cenário seria bem
diferente. Ao reduzir as perdas de 20% para 10%, teríamos
uma economia de 7 metros cúbicos por segundo.
Se, além disso, fossem feitos os investimentos
necessários para dobrar a capacidade de tratamento de
esgoto da região e ampliação da rede coletora, teríamos
mais 18 metros cúbicos por segundo de insumo para
reuso. Com estas três iniciativas (menos perdas,
mais coleta e mais tratamento), mesmo ainda não
conseguindo tratar 100% do esgoto que retorna aos rios,
conseguiríamos um volume de 44 metros cúbicos por
segundo, ou 114,0 bilhões de litros por mês, equivalente
aos sistemas Cantareira e Alto Tiete somados.
A resposta para a crise hídrica atual e todos os
possíveis desdobramentos futuros deve privilegiar
o tratamento adequado do esgoto. A água precisa
retornar com qualidade semelhante a que foi retirada.
Assim, muito mais do que buscar novas fontes, o
que a Região Metropolitana de São Paulo – e tantas
outras – precisa é o controle da qualidade do descarte.
Se cuidarmos de como devolvemos a água para os
rios, vamos sofrer bem menos com a falta de chuvas
e/ou problemas nos mananciais. A solução existe e é
mais viável do que muitos podem imaginar.t
Sérgio Werneck Filho é CEO da Nova Opersan.
104 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
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BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 105
Normalização
Capacetes de
segurança para
uso ocupacional
Derivado do elmo, uma proteção feita em couro, ferro e malha,
utilizado no ambiente bélico para defender a cabeça do soldado em
guerras antigas e medievais, os capacetes de segurança de uso em
atividades ocupacionais é um equipamento de proteção individual
(EPI) capaz de prevenir acidentes do trabalho relacionados a
impactos, choques elétricos e fontes geradoras de calor
106 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Por Mauricio Ferraz de Paiva
S
egundo dados do governo,
em média, são registrados
anualmente
mais
700.000
acidentes de trabalho e desse
mais de 23.000 são relatados como
sendo a cabeça a parte atingida. Se for
incluídas as lesões nos ouvidos, olhos,
boca, mandíbula e outras partes da face,
o número sobe para mais de 57.000.
À primeira vista, pode parecer pouco
frente ao número total, já que esse tipo
de acidente representa cerca de 8,2%
do total registrado, mas os seus danos
podem ser grandes.
Pode-se afirmar que a cabeça é a parte
do corpo humano que melhor deve ser
protegida. Ela guarda o centro do sistema
nervoso central, o cérebro, e qualquer
dano a ele, por menor que seja, pode
ocasionar uma série de consequências. É
impreciso, portanto, dizer que proteger
o crânio previne somente prejuízos de
ordem física – há uma ampla literatura
médica que relaciona pancadas na
cabeça a efeitos como perda de memória
recente, problemas de concentração,
síndrome do pânico, transtorno
obsessivo-compulsivo, depressão e
outras enfermidades psíquicas.
Se não é difícil justificar porque é
importante que nosso cérebro fique
bem resguardado, é fácil compreender
a importância dos equipamentos
destinados à proteção da cabeça em
diversos ofícios. É fundamental atentar
ao fato de que a proteção do capacete não
exime o trabalhador de todos os perigos.
Caso não seja utilizado em conjunto
com outras medidas de segurança, pode
não ser suficiente. O capacete não tira
a necessidade de outras soluções de
engenharia, como a calha e as redes ao
redor das construções, amarrar bem os
materiais e outras boas práticas, que
continuam sendo necessárias.
Contudo, se não há um equipamento de
proteção contra queda, por exemplo, e o
trabalhador sofrer uma queda, o capacete
pode não ser o bastante. Assim como o
impacto de um objeto muito pesado que
não estava devidamente acomodado
pode ser fatal, independentemente do
que a pessoa veste.
De qualquer maneira, o capacete
é o principal EPI que previne danos
na cabeça. Em um mundo envolvido
pela tecnologia em vários segmentos
da indústria, ele pode até parecer um
objeto arcaico, lembrando os guerreiros
medievais. Mas a verdade é que o
equipamento evoluiu muito e continua
avançando, principalmente quando é
obrigatoriamente fabricado conforme a
norma técnica.
A NBR 8221 de 04/2015 - Capacete
de segurança para uso ocupacional
- Especificação e métodos de ensaio
estabelece tipos e classes de capacetes
de segurança para uso ocupacional,
fixa os requisitos mínimos quanto às
características físicas e de desempenho,
e prescreve os ensaios para a avaliação
dos referidos capacetes, os quais são
destinados à proteção da cabeça contra
impactos, penetração e riscos elétricos
no uso ocupacional. Na verdade,
os capacetes de segurança para uso
ocupacional destinam-se a reduzir a
quantidade de força de um golpe de
impacto mas não podem oferecer total
proteção à cabeça em casos de impacto
e penetração severos.
O uso de capacetes de segurança
nunca deve ser visto como substituição
às boas práticas de segurança e controles
de engenharia.
As alterações, o
acoplamento de outros equipamentos de
proteção individual (EPI) ou adição deu
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 107
Normalização
acessórios podem afetar o desempenho
do capacete. Eles são projetados para
oferecer proteção acima das linhas de
ensaio, que são claramente definidas
nesta norma.
Os capacetes podem se estender abaixo
das linhas de ensaio por estilo ou propósitos
práticos, mas isso não implica proteção
abaixo destas. O capacete de segurança é
classificado conforme a proteção oferecida
quanto aos riscos de impacto e elétricos,
sendo classificado como Tipo I ou Tipo II,
quanto à sua proteção contra impactos e
Classes G, E ou C, quanto a sua proteção
contra riscos elétricos.
O capacete Tipo II contempla os
requisitos do capacete Tipo I, assim
como o capacete Classe E contempla
os requisitos das Classes G e C. O
capacete Classe G contempla os
requisitos da Classe C. O capacete
de segurança Tipo I é concebido para
reduzir a força de impacto resultante de
108 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
um golpe no topo da cabeça.
O do Tipo II é concebido para reduzir a
força de impacto resultante de um golpe no
topo ou nas laterais da cabeça. O capacete
de segurança Classe G é concebido para
reduzir o risco de choque elétrico quando
houver contato com condutores elétricos de
baixa tensão, e é ensaiado com 2.200 V.
O capacete de segurança Classe E
é concebido para reduzir o risco de
choque elétrico quando houver contato
com condutores elétricos de alta tensão,
e é ensaiado com 20.000 V. O de Classe
C não oferece proteção contra riscos
elétricos.
Cada capacete deve ter marcações
permanentes e legíveis, em qualquer
região do casco, contendo as seguintes
informações: nome ou marca de
identificação
do
fabricante
ou
importador; data de fabricação; e lote
de fabricação. Cada capacete deve
ter marcações legíveis, em qualquer
região do casco, contendo as seguintes
informações: número e ano desta norma;
indicações aplicáveis de Tipo e Classe.
As cabeças padrão para os ensaios
descritos nesta Norma devem atender
aos requisitos do Anexo A e da Figura
1 (disponível na norma), e para o ensaio
de transmissão de força, devem atender
ao Anexo B. As dimensões constantes
nos Anexos A e B devem ter tolerâncias
de ± 1,0 %. As dimensões fornecidas
nos Anexos A e B para confecção das
cabeças padrão de ensaios são referentes
a um perfil completo de cabeça, porém
estas dimensões só são relevantes para
esta norma acima das linhas de ensaio,
sendo então permitida a construção de
cabeças com adaptações dimensionais
abaixo destas linhas de ensaio.
Enfim,
todas
as
atividades
profissionais que possam imprimir
algum tipo de risco físico para o
trabalhador devem ser cumpridas com
o auxílio de EPI, que incluem óculos,
protetores
auriculares,
máscaras,
mangotes, capacetes, luvas, botas, cintos
de segurança, protetor solar e outros
itens de proteção. Esses acessórios são
indispensáveis em fábricas e processos
industriais em geral.
O uso do EPI é fundamental para
garantir a saúde e a proteção do
trabalhador, evitando consequências
negativas em casos de acidentes de
trabalho. Além disso, o EPI também é
usado para garantir que o profissional
não será exposto a doenças ocupacionais,
que podem comprometer a capacidade
de trabalho e de vida dos profissionais
durante e depois da fase ativa de trabalho.
Para que uma empresa possa conhecer
todos os equipamentos de proteção
individual que devem ser fornecidos
aos seus funcionários, é necessário
elaborar um estudo dos riscos
ocupacionais. Esse tipo de trabalho
facilita a identificação dos perigosos
dentro de uma planta industrial, por
exemplo, e ajuda a empresa a reduzilos ou neutralizá-los.t
Mauricio Ferraz de Paiva é engenheiro
eletricista, especialista em desenvolvimento
em sistemas, presidente do Instituto
Tecnológico de Estudos para a Normalização
e Avaliação de Conformidade (Itenac)
e presidente da Target Engenharia e
Consultoria - [email protected]
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 109
Método
multirresíduo
de agrotóxicos
organofosforados
O uso de agrotóxicos é uma das principais fontes de contaminação do
sistema hidrológico. Devido aos riscos pelo consumo de água contaminada,
realizou-se esta pesquisa com o objetivo de avaliar método multirresíduo de
agrotóxicos organofosforados por CG/FPD e extração em fase sólida em
disco (SPE - em disco C18).
110 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Por Nakano V.E., Rocha S.B., Lemes V.R.R., Kimura I.A., Kussumi T.A., Oliveira M.C.C.,
Ribeiro R.A., Torre P.P., Faria A.L.R., Waldhelm K.C. e Nascimento S.
O
Brasil, país detentor de um grande
potencial agrícola, está entre os maiores
consumidores mundiais de agrotóxicos,
com média anual duas vezes superior à do
resto do mundo [1-2]. O uso de agrotóxicos é uma
das principais fontes de contaminação do sistema
hidrológico. Podem atingir as águas superficiais
diretamente pela deriva das pulverizações aéreas, por
meio das águas da chuva e da irrigação, através da
erosão dos solos, pelo descarte e lavagem inadequados
de tanques e embalagens ou as águas subterrâneas
pela drenagem e percolação no solo [3-7].
Os organofosforados constituem uma classe
importante de agrotóxicos e seu uso como inseticida
é o mais empregado no Brasil tanto na agricultura
como em campanhas de saúde pública [8]. São ésteres
fosfóricos derivados do ácido fosfórico e inibidores
da enzima acetilcolinesterase. Efeitos adversos à
saúde em populações humanas e em espécies animais
devido ao intenso uso de agrotóxicos na agricultura
estão descritos na literatura, como: neurotoxicidade,
imunotoxicidade, carcinogenicidade, desregulação
endócrina e alterações no desenvolvimento [9-10].
Embora esses se degradem rapidamente em água,
existe a possibilidade de permanecerem resíduos
e subprodutos em níveis relativamente tóxicos
para a saúde [11]. Apresentam possibilidade de
contaminação aguda [3], pela proximidade do ponto
de aplicação ou disposição.
A presença de seus resíduos e produtos de
transformação nos mananciais pode trazer
dificuldades no tratamento da água em virtude da
necessidade de tecnologias mais complexas do que
as usadas para a potabilização [4, 12]. No Estado
de São Paulo, a qualidade da água para consumo
humano tem sido monitorada pelo Programa de
Vigilância Estadual (PROÁGUA). Além da Portaria
do Ministério da Saúde nº 2.914, de 12 de dezembro
de 2012 [13] que dispõe sobre os procedimentos de
controle e de vigilância da qualidade da água para
consumo humano e seu padrão de potabilidade, os
parâmetros de resíduos de agrotóxicos encontram-
se na resolução RDC nº 274 de 22 de setembro de
2005, regulamento técnico para águas envasadas e
gelo [14], e na Resolução do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA) nº 357/053, de 17 de
março de 2005, que trata dos recursos hídricos por
classe [15].
Neste estudo foi desenvolvido e avaliado método
para determinação multirresíduo de agrotóxicos
organofosforados em água por cromatografia a gás
com detector fotométrico de chama e extração em
fase sólida em disco (SPE em disco C18).
MÉTODOS E MATERIAIS
Foram utilizados padrões com alto teor de pureza de
agrotóxicos, adquiridos de Dr. Ehrenstorfer GmbH
(Alemanha) ou Riedel de Häen - Sigma Aldrich
Co.Ltd (Reino Unido), com certificados de análise.
Sistema de extração em fase sólida em disco, Spec
Disk Agilent composto por manifold de seis posições
com frascos de capacidade para 1L de amostra e
tubos coletores. Disco de extração em fase sólida
monolítico de resistência ácida, C18EC, 47mm de
diâmetro, poros de 70Ǻ. Solventes orgânicos (grau
resíduo) e reagentes usados: 2,2,4-trimetilpentano
(isooctano) (Tedia, Estados Unidos), acetona
(Merck, Alemanha), diclorometano (Mallinckrodt
Chemicals, Estados Unidos), acetato de etila (Tedia,
Estados Unidos), metanol (Sigma Aldrich, Canadá),
ácido sulfúrico P.A. (Merck, Alemanha), sulfato
de sódio anidro P.A. (Merck, Alemanha) e água
ultrapura (sistema de purificação MilliQ).
O método utilizado foi baseado no descrito pela
Environmental Protection Agency (USEPA.) [16]
com adaptações .
Preparo de padrões/Curvas analíticas
Soluções padrão estoque (solução-mãe) foram
preparadas na concentração 0,01% m/v em
isooctano e estocadas em freezer a 4ºC, sob proteção
da luz. A partir da solução mãe, foram preparadas
soluções intermediárias em isooctano:tolueno (9:1)
e, posteriormente, soluções de trabalho deu
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 111
PROMOÇÃO
ESPECIAL
Produtos com este selo podem
ser adquiridos no distribuidor
através do Cartão BNDES.
112 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
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BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 113
concentrações conhecidas em acetato de etila
(AcEt) em seis níveis (triplicatas) para construção
das curvas analíticas e avaliação do método.
Preparo da amostra
Em 1L de volume de amostra, ajustou-se o pH <2
com ácido sulfúrico 9N. Adicionaram-se 2,5mL de
metanol (MeOH) e 2,5mL de acetona com agitação.
Para o estudo de recuperação, adicionou-se 1mL
da solução de padrão preparada em acetona, após
acidificação da amostra branco (água ultrapura).
Condicionamento do disco
Condicionou-se o disco de extração em fase sólida
C18 no sistema de extração com 10mL dos solventes:
diclorometano (MeCl2), AcEt e MeOH. Adicionouse 10mL de água ultrapura acidificada (pH <2 com
ácido sulfúrico 9N), deixando uma camada de água
na superfície do disco para não secar.
Extração da amostra
Após o condicionamento, transferiu-se a amostra
ao sistema de extração sob fluxo de 70mL/min.
Aplicou-se vácuo máximo por 20 minutos até a
completa secagem do disco. Iniciou-se a extração,
adicionando-se 3mL de MeOH, três vezes 5mL de
AcEt e três vezes 5mL de MeCl2, recolhendo em
tubo coletor. Os eluatos combinados foram filtrados
em sulfato de sódio anidro, lavando-se o tubo
coletor com MeCl2. Concentrou-se o extrato em
fluxo brando de gás nitrogênio comum até o volume
de 0,3mL e ressuspendeu-se o extrato para 1mL com
AcEt para a injeção no cromatógrafo a gás.
Identificação e quantificação
Foram investigados e quantificados 21
agrotóxicos da classe química dos organofosforados,
incluindo produtos de transformação (Tabela 1)
por cromatografia a gás (HP6890) com detector
fotométrico de chama (FPD) com filtro de fósforo
e coluna capilar de sílica fundida (30m, 0.25mm
i.d., 0.25μm de espessura de filme) com fase
estacionária CPSil 19CB (14% phenylcianopropyl
86% dimethylsiloxane), nas seguintes condições
cromatográficas: Temperaturas do injetor e detector:
220ºC e 250ºC, respectivamente; programação de
temperatura do forno: 80°C (0 min); 10°C/min;
150°C (30 min); 3°C/min; 210°C (0 min); 10°C/min;
260°C (10 min). Nitrogênio ultrapuro e ultraseco foi
usado como gás de arraste na pressão de 80 kPA,
modo de injeção: splitless, volume de injeção: 2μL.
Parâmetros para avaliação do método
Após otimização das condições analíticas, foram
estudados os seguintes parâmetros: faixa linear de
trabalho, seletividade, exatidão, precisão, limite de
detecção, limite de quantificação.
Seletividade
A seletividade foi avaliada em seis replicatas com
água ultrapura. Previamente foram efetuados os
testes de efeito da matriz, adicionando-se mistura
dos padrões ao extrato das amostras branco.
Exatidão e precisão
O método desenvolvido foi avaliado, sob
condições de repetitividade em seis replicatas nos
níveis do limite de quantificação (LQ) e duas vezes
o LQ. A exatidão foi avaliada pelos resultados dos
estudos de recuperação e a precisão foi calculada
pelo desvio padrão relativo (RSD) para cada nível
estudado [18].
Limites de Detecção (LD)e de Quantificação (LQ)
Os limites de detecção e quantificação foram
estabelecidos como a média das amostras branco
mais três e dez vezes o desvio padrão dos resultados
obtidos das fortificações no nível de 1LQ, sob
condições de repetitividade (N=6) [17].
Critérios para avaliação do método
O critério para aceitabilidade dos resultados de
recuperações, sob condições de repetitividade foi
de 50-120% para exatidão. A precisão foi avaliada
pelos respectivos desvios-padrão relativos (RSD) os
quais deverão ser menores ou iguais a 30% [18].
Resultados e discussões
Anecessidade de metodologias para análise de resíduos
de agrotóxicos em amostras ambientais em níveis de
114 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
traços tem levado pesquisadores a desenvolverem
técnicas capazes de atender às necessidades em
relação à sensibilidade e à seletividade. O método
clássico de preparo de amostras normatizado pela
ASTM é baseado na extração líquido-líquido [19]
e requer grandes volumes de amostra e solventes,
além de ser relativamente lento e gerar um grande
volume de descarte.
O presente estudo utilizou a Extração em Fase
Sólida (SPE), que emprega menores volumes de
amostras e solventes, reduz o tempo de análise
e possibilita a remoção de partículas, bem como
a automação. É uma técnica de extração e préconcentração baseada nos princípios de separação
da cromatografia líquida de baixa pressão, onde
a amostra é percolada tradicionalmente em um
cartucho contendo o adsorvente e os analitos
são retidos e extraídos com solventes orgânicos
adequados. O emprego do SPE em disco para a
determinação simultânea de ingredientes ativos de
agrotóxicos organofosforados em água possibilita
resultados mais robustos, maior rapidez nas análises,
maior área superficial, minimiza problemas de
obstrução e apresenta leito mais homogêneo sem
formação de caminhos preferenciais em relação ao
SPE em cartucho [20].
O método apresentado foi considerado aceitável
para análise de 21 ingredientes ativos, conforme
Tabela 1. As amostras em branco não apresentaram
interferentes nos limites de quantificação do
método. Comparando-se os resultados da mistura
de padrões preparados em solventes com os
adicionados no branco não foi observada a
interferência do efeito de matriz.
Os limites de detecção
Tabela 1 – Resultados dos estudos de recuperação do método (variação, média e desvio
e
quantificação
foram
padrão relativo), faixa linear de trabalho, limites de detecção e de quantificação
0,01μg/L
a
0,06μg/L
Recuperações
Recuperações
e 0,1μg/L a 0,2μg/L,
Faixa
Nível: 1 LQ
Nível: 2 LQ
Agrotóxicos
LQ
linear de
respectivamente.
As
LD (µg/L)
(µg/L)
trabalho
organofosforados
Média
RSD
Média
RSD
recuperações sob condições
(ug/L)
(%)
(%)
(%)
(%)
de repetitividade (N=6)
Azinfós etílico
0,06-0,6
0,03
0,20
103
7,0
119
8,3
variaram de 53% a 103%
0,12-1,2
0,02
0,40
94
8,8
119
10,5
Azinfós metílico
para o nível de 1LQ e de
Carbofenotiona
0,03-0,3
0,02
0,10
55
6,5
67
4,4
50% a 119% para o nível de
Clorpirifós etílico
0,03-0,3
0,01
0,10
55
4,3
57
2,4
2LQ. O método apresentou
Diazinona
0,03-0,3
0,02
0,10
64
5,0
56
2,8
boa precisão com desvios
Etiona
0,03-0,3
0,02
0,10
54
6,7
70
4,7
padrão relativos de 3,6% a
Etoprofós
0,03-0,3
0,01
0,10
77
4,8
70
3,4
10,1% e 2,4% a 23,2% para
0,06-0,6
0,06
0,20
73
17,4
73
12,7
Fenamifós
1LQ e 2LQ, respectivamente
Fenitrotiona
0,03-0,3
0,01
0,10
81
5,1
77
3,9
(Tabela 1). Estes resultados
Fentoato
0,03-0,3
0,01
0,10
77
4,5
76
3,4
estão de acordo com o
0,03-0,3
0,02
0,10
53
7,8
50
3,9
Forato
estabelecido pela AOAC
Fosmete
0,06-0,6
0,02
0,20
86
6,4
99
6,3
[18], cujas recuperações
Malaoxona
0,06-0,6
0,01
0,20
94
10,1
109
11,0
devem estar entre 50 e 120%
Malationa
0,03-0,3
0,01
0,10
80
3,6
116
4,2
e desvios padrão relativos
Metidationa
0,03-0,3
0,01
0,10
87
5,0
86
4,3
menores ou iguais a 30%,
Paraoxona metílica
0,08-0,3
0,02
0,10
72
10,3
75
7,8
para níveis até 1ppb.
Parationa metilica
0,03-0,3
0,01
0,10
81
5,6
80
4,5
As legislações brasileiras
0,06-0,6
0,02
0,20
92
6,7
110
7,4
Pirazofós
referentes
à
qualidade
Pirimifós metílico
0,03-0,3
0,01
0,10
78
4,6
73
3,4
de
águas
normatizam
Profenofós
0,03-0,3
0,02
0,10
84
6,3
95
6,0
um
pequeno
número
de
Triazofós
0,06-0,6
0,03
0,20
77
8,8
101
23,2
agrotóxicos u
LD: Limite de Detecção; LQ: Limite de Quantificação, RSD: Desvio Padrão
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 115
organofosforados, como: parationa metílica,
malationa e profenofós que foram incluídos neste
estudo. Outros ingredientes ativos estudados que
não constam nas legislações estão na Tabela 1.
Os agrotóxicos organofosforados são utilizados na
agricultura, horticultura e em campanhas de saúde
pública contra insetos vetores de doenças. A presença
de organofosforados em sua forma primária pode ser
indicativo de contaminação recente e pode causar
danos principalmente nas populações residentes
próximas às áreas de aplicação dos mesmos. Ao
atingir fontes de água potável, esses compostos
sofrem degradação em água e podem gerar resíduos
e subprodutos em níveis relativamente tóxicos à
saúde [3]. A parationa metílica em águas decompõese rapidamente pela ação de bactérias e luz solar,
formando a paraoxona metílica, produto mais tóxico
[21]. Segundo a EPA, os níveis de parationa metílica
na água potável que não causam efeitos nocivos
para a saúde em longo prazo são de 0,002mg/L
[22]. A malationa presente em água se converte
em malaoxona durante o processo de cloração
em estações de tratamento de água [23]. Em vista
disso, destaca-se a importância da investigação
da presença dos produtos de transformação de
relevância toxicológica.
Para controlar a exposição humana aos resíduos
de agrotóxicos e assegurar a saúde pública, agências
reguladoras de vários países, como Estados Unidos
e membros da Comunidade Européia, têm criado
programas de monitoramento incluindo os resíduos
de agrotóxicos em águas destinadas ao consumo
humano. O monitoramento permite avaliar a
qualidade da água consumida pela população, bem
como identificar os fatores de riscos associados ao
consumo em níveis fora dos padrões de potabilidade
estabelecidos, para a prevenção de agravos e a
manutenção da saúde humana. O desenvolvimento de
pesquisas nesta área é relevante; no Brasil há poucos
estudos e não há monitoramento sistemático da
avaliação da qualidade da água [3]. A determinação
de resíduos de agrotóxicos da água consumida
pela população possibilita a identificação de riscos
associados ao consumo.
Enfim, o método estudado mostrou ser adequado
para análise multirresíduo de agrotóxicos
organofosforados em águas e contribui para
programas de monitoramento e pesquisas, escassos
no país. Fornece subsídios aos órgãos envolvidos
com a saúde e o meio ambiente para ações de
prevenção à Saúde Pública e atualização da
legislação à realidade do país.t
Reconhecimentos
Agradecemos à Antonia Lima de Silva pelo apoio
técnico na realização das análises e à Agilent
Technologies pelo fornecimento dos consumíveis.
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116 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Determina a publicação do “Índice das monografias dos
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Federativa do Brasil, Brasília, DF, 02 set. 2003, Seção
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“Determinação de pesticidas organofosforados em água
usando microextração em fase sólida e CGAR-EM”, Química
Nova (1999) 22(2): 197-200.
[12] FERNANDES NETO M.L.; SARCINELLI P.N.,
“Agrotóxicos em água para consumo humano: uma
abordagem de avaliação de risco e contribuição ao processo
de atualização da legislação brasileira”, Eng. Sanit.
Ambient.(2009) 14(1): 69-78.
[13] BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em
Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Coordenação
Geral de Vigilância em Saúde Ambiental. Programa
Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para
Consumo Humano. Orientações técnicas para o
monitoramento de agrotóxicos na água para consumo
humano. 2012a. 13p. [acesso jun 2014]. Disponível
em:
[http://pisast.saude.gov.br:8080/pisast/saudeambiental/vigiagua/orientacoes-tecnicas-paraomonitoramento-de-agrotoxicos-na-agua-para consumo
humano/ Orientacoes%20tecnicas%20para%20o%20
monitoramento%20de%20agrotoxicos%20na%20
agua%20para%20consumo%20 humano.pdf].
[14] SÃO PAULO. Secretaria de Vigilância Sanitária. Resolução
RDC nº 274/05. Dispõe sobre o regulamento técnico para
fixação de identidade e qualidade de água mineral e potável de
mesa. [acesso jun 2014]. Disponível em: [http://www.cetesb.
sp.gov.br/Solo/agua_sub/arquivos/RDC_274_2005.pdf].
[15] CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente).
Resolução n° 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a
classificação de copos de água e diretrizes ambientais para seu
enquadramento, bem como estabelece condições e padrões
de lançamento de efluentes e dá outras providências. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília DF, 18 de
mar de 2005; Seção I, 53:58-63.
[16] USEPA (United States Environmental Protection
Agency), “Determination of organic compounds in drinking
water by liquid-solid extraction and capillary column gas
chromatography/mass spectrometry. national exposure”,
Método EPA 525.2, rev.2 by J.W.Munch, 525.2-1 to 25.2-60
(1995) in Research Laboratory Office, Office of Research and
Development, Cincinnati, OHIO 45268.
[17] EC (European Commission). SANCO (Directorate
General Health and Consumer Protection). Method validation
and quality control procedures for pesticide residues analysis
in food and feed. SANCO/12495/2011. 41p. [acesso em
jun. 2014] Disponivel em: [http://ec.europa.eu/food/plant/
protection/pesticides/docs/qualcontrol_enpdf].
[18] Horwitz,W.; Kamps, R.L.; Boyer, K., “Quality Assurance
in the analysis of foods for trace constituents”, Journal of
AOAC Int (1980) 63 (6): 1345-1354.
[19] AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION.
American Water Works Association.Water Environment
Federation. Standard methods for the examination of water and
wastewater. Washington (2005), 19 th ed., capítulo 6, 114-128.
[20] Agilent Technologies, “Sample Preparation Fundamentals
for Chromatography” (2013) [acesso em jun. 2014].
Disponivel
em:
[http://www.chem.agilent.com/Library/
primers/Public/5991-3326EN_SPHB.pdf]
[21] ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
Brazilian Health Surveillance Agency). “Índice das monografias
dos ingredientes ativos de agrotóxicos, domissanitários e
preservantes de madeira” (2012) [acesso Jan. 2013]. Disponível
em: [http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/
Anvisa/Inicio/Agrotoxicos+e+Toxicologia/Assuntos+de+
Interesse/Monografias+de+Agrotoxicos].
[22] ATSDR (Agency for Toxic Substances and Disease
Registry). Toxicological Profile for Methyl Parathion.
Update. Atlanta, GA: U.S. Department of Health and
Human Services, Public Health Service (2001) [acesso
em set. 2014]. Disponível em: [http://www.atsdr.cdc.gov/
toxfaqs/tf.asp?id=635&tid].
[23] USEPA (United States Environmental Protection
Agency), ”Mosquito Control Malathion”, [acesso em jun.
2014]. Disponivel em: [http://www2.epa.gov/mosquitocontrol/
malathion]. Last updated on August 4, 2014.
Nakano V.E., Rocha S.B., Lemes V.R.R., Kimura
I.A., Kussumi, T.A., Oliveira M.C.C., Ribeiro
R.A., Torre, P.P., Faria A.L.R., Waldhelm K.C.
trabalham no Instituto Adolfo Lutz, Núcleo de
Contaminantes Orgânicos/CC – vnakano@ial.
sp.gov.br e Nascimento S. é funcionária da Agilent
Technologies.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 117
Produtos & Serviços
Máquina de Medição
por Imagem 2D - Modelo
QuickImage QI-A1010C
com software QIPAK V5
Medidor de Contorno
Modelo CONTRACER CV2100M4
Desenvolvido para medição de
perfis complexos com alta exatidão
e maior rapidez que os modelos
convencionais.
Oferece maior produtividade na
preparação para medição por possuir
eixo Z com sistema de movimentação
rápida através de haste manual e
maior exatidão com seu eixo X com
sistema de Dial de controle.
De grande aplicação na medição
de perfis em peças e componentes
da indústria automobilística, naval,
aeronáutica e de eletrodomésticos,
entre outras. O mecanismo de
inclinação dentro de ±45° torna
possível efetuar medições em
praticamente todas as formas
geométricas com grande facilidade
de posicionamento e seu sistema
de escala em arco angular de alta
exatidão aumenta a confiabilidade
metrológica.Principais características
técnicas: Mesa com dimensão de 600
x 450mm. Capacidade horizontal
de 100mm e vertical de 40mm.
Resolução de 0,2µm no eixo X (por
escala linear) e 0,5µm no eixo Z (por
escala em arco angular).
Este novo equipamento de
medição sem contato por imagem
foi desenvolvido para atender as
necessidades de maior qualidade e
produtividade na medição de peças
de tamanho reduzido e geometria
complexa.
Utilizando uma câmera colorida
digital de alta resolução com 3
megapixels o sistema possibilita
medições
de
alta
exatidão
dimensional e alta repetitividade
de cores, além da capacidade de
armazenamento das imagens. O
processo de medição dispensa a
necessidade de posicionamento
e
alinhamento
da
peça,
economizando assim todo o
tempo de preparação dos sistemas
convencionais. A medição é
realizada em um único clique
após a fixação da peça na mesa
de medição, isto é, esta função
detecta automaticamente a posição
da peça e executa os programas de
118 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
medição preestabelecidos. Este
método é altamente produtivo em
peças em série. Para medição em
peças tridimensionais escalonadas
ou cilíndricas um sistema óptico
telecêntrico de grande profundidade
focal torna desnecessárias as
constantes refocalizações durante
o processo de medição. A análise
dos resultados numa mesma tela
facilita a interpretação incluindo
julgamentos do tipo Passa-Não
Passa em tolerâncias. Possui
modos de medição normal e de alta
resolução que podem ser utilizados
de forma alternada, melhorando
assim a exatidão e economizando
tempo em situações de tolerâncias
maiores. No modo Normal a
exatidão na tela de medição é de
±4µm com repetitividade de ±2µm
e no modo de Alta Resolução esses
valores correspondem à metade
respectivamente.
O Software QIPAK V5 de medição
geométrica, além de um completo
acervo de funções de medição
e análise fornece inovadores
recursos gráficos e de comparação
de perfis (de arquivos CAD).
Produtos & Serviços
MiCATPlanner – Para
Geração de Programas de
Medição.
Software que num único clique
revoluciona a maneira como o
metrologista programa a máquina de
medição por coordenadas. Capaz de,
em poucos segundos, transformar
um extenso programa de medição
tridimensional em apenas alguns clicks.
Este novo lançamento identifica e exibe
as tolerâncias e o GD&T contidas em
modelos 3D que possuam PMI (Product
Manufacturing Information). Com um
único clique gera automaticamente
o programa de medição com base
nas tolerâncias contidas no modelo,
selecionando automaticamente as
pontas de medição, módulos e ângulo
do cabeçote de medição mais adequado.
Permite inserir novas tolerâncias
e referências Datum nos modelos
3D, além de permitir a otimização
do programa, função que organiza
a sequência de medição no mínimo
tempo. Permite também configurar
regras de medição tais como quantidade
de pontos, sequência e estratégia para
cada elemento, além da padronização
de medição independente do operador.
O software informa também o
tempo estimado de medição. A
redução no tempo de programação
pode chegar a 95% em relação aos
métodos convencionais.
Relógios Comparadores Digitais Série ID-C
Três novos modelos de Relógios Comparadores digitais eletrônicos são
lançados para atender três tipos de necessidades de medição. Todos os
modelos foram projetados para medição em velocidades sem limitação. A
amostragem no processo interno de medição do relógio é realizada 50 vezes
por segundo para garantir a obtenção de valores seguros.
DESCRIÇÃO DOS MODELOS:
• Medição direta de grandes diâmetros ou raios de curvatura, externos
ou internos. Identificado por uma linha vermelha ao redor do display
LCD este modelo estabelece um coeficiente de deslocamento do fuso
pela fórmula: Ax’ + B + Cx’ – 1 (x ’= x + valor de desvio introduzido).
Utilizado com dispositivos de dois pontos de apoio no raio da peça.
• Medição e registro de excentricidade mediante valores de pico (máximo
e mínimo). Identificado por uma linha verde ao redor do display LCD
este modelo registra a excentricidade e o valor resultante dos valores
máximo e mínimo apalpados.
• Medição de furos por detecção de valores mínimos. Identificado por uma
linha azul ao redor do display LCD este modelo registra o valor mínimo
com Comparadores de Diâmetros Internos.
CARACTERÍSTICAS COMUNS: Resolução milesimal, Multifunções, Painel
LCD com gráfico de barras, Diversos acessórios.
Microscópio de Medição
Modelo TM-505
Este novo modelo incorpora sistema de iluminação
por LED’s de grande durabilidade que o tornam
mais econômico, além deoferecer imagens de
excelente contraste. De grande aplicação na
indústria de fabricação de pequenas peças e
componentes, tais como automobilística, eletrônica,
médico-odontológica, etc. Compacto, robusto e de
fácil operação pode ser instalado em laboratórios
ou setores produtivos. Embora compacto atinge altura de medição de até
115mm. Em sua versão básica a ampliação é de 30X, porém, com acessórios
opcionais pode ficar na gama de 20x a 200x. Possui mesa de 150 x 150mm
com capacidade de medição de 50 x 50mm e resolução dependendo do
cabeçote opcional a ser utilizado (digital de 0,001mm ou mecânico de
0,01mm). Medição angular de 360° com resolução de 6’ por nônio.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 119
Normas e Regulamentos
publicadas pela ABNT
em diversas áreas
Argamassa
colante
industrializada
para
assentamento de
placas cerâmicas
A ABNT publicou
a norma ABNT
NBR 14081-2:2015
- Argamassa colante industrializada
para assentamento de placas cerâmicas
- Parte 2: Execução do substratopadrão e aplicação da argamassa
para ensaios, que revisa a norma
ABNT NBR 14081-2:2012, elaborada
pelo Comitê Brasileiro de Cimento,
Concreto e Agregados (ABNT/CB18). A ABNT NBR 14081-2 estabelece
os procedimentos para execução e
caracterização do substratopadrão e
para aplicação da argamassa colante
industrializada para os ensaios de tempo
em aberto, resistência de aderência à
tração e deslizamento.
Qualificação de pessoas para a
construção civil - Perfil
A ABNT publicou a norma ABNT
NBR 16366:2015 - Qualificação de
pessoas para a construção civil - Perfil
profissional do telhadista, elaborada
pelo Comitê Brasileiro de Qualificação
de Pessoas no Processo Construtivo
para
Edificações
(ABNT/CB-90).
Esta Norma especifica o perfil de
competências do telhadista.
120 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Fitas de vedação PTFE não
sinterizado - Dimensões,
características físicas e químicas Requisitos e métodos de ensaio
A ABNT publicou a norma ABNT
NBR 16368:2015 - Fitas de
vedação PTFE não sinterizado Dimensões, características físicas
e químicas - Requisitos e métodos
de ensaio, elaborada pela Comissão
de Estudo Especial de Fitas de
Politetrafluoretileno (PTFE) para
Vedação de Roscas (ABNT/CEE-172)
Esta Norma especifica os requisitos
mínimos e métodos de ensaio
para fabricação das fitas de polite­
trafluoretileno (PTFE) não sinterizado
utilizadas na vedação de juntas
roscadas onde a vedação é feita pela
rosca, com composição mínima de
99 % de resina de PTFE e, indicadas
para a temperatura de trabalho mínima
de - 197 °C e a máxima de 260 °C
(característica intrinseca da resina).
Buchas para transformadores
imersos em líquido isolante
A ABNT publicou a
norma ABNT NBR
5435:2015 - Buchas
para transformadores
imersos em líquido
isolante - Tensão
nominal 15 kV,
24,2 kV e 36,2 kV
Especificações,
que revisa a norma
ABNT NBR 5435:1984, elaborada
pelo Comitê Brasileiro de Eletricidade
(ABNT/CB-03). Esta Norma especifica
as buchas com tensão nominal de 15
kV, 24,2 kV e 36,2 kV, e correntes até
160 A, utilizadas em transformadores
imersos em líquido isolante.
Motociclos e veículos similares
A ABNT publicou a norma ABNT
NBR 16369:2015 - Motociclos e
veículos similares - Determinação de
hidrocarbonetos, monóxido de carbono,
óxidos de nitrogênio e dióxido de carbono
no gás de escapamento, elaborada pelo
Comitê Brasileiro Automotivo (ABNT/
CB-05). Esta Norma especifica o método
para determinação de hidrocarbonetos
totais (THC), monóxido de carbono
(CO), óxido de nitrogênio (NOx) e
dióxido de carbono (CO2), emitidos
pelo motor através do tubo de descarga
de motociclos e veículos similares,
funcionando sobre um dinamômetro de
chassi simulando uma condição de uso
normal médio em vias urbanas.
Auxílios visuais elétricos em
aeroportos
A ABNT publicou a norma ABNT
NBR 16370:2015 - Auxílios visuais
elétricos em aeroportos - Instalação
elétrica para iluminação e balizamento
em aeroportos - Regulador de corrente
constante (RCC), elaborada pelo Comitê
Brasileiro de Aeronáutica e Espaço
(ABNT/CB-08). Esta Norma especifica
os requisitos para um regulador de
corrente constante (RCC) que tem saída
nominal de 6,6 A para o uso em um
circuito de série de corrente constante
para iluminação aeronáutica no solo.
Entretanto, o RCC pode ser fabricado
tendo uma potência nominal (kVA) e
níveis de corrente diferentes daqueles
especificados nesta Norma a fim de
serem usados em circuitos existentes.
Implantes para cirurgia - Remoção e
análise de implantes cirúrgico
A ABNT publicou a norma ABNT
NBR ISO 12891-2:2015 - Implantes
para cirurgia - Remoção e análise de
implantes cirúrgicos - Parte 2: Análise
de implantes cirúrgicos removidos, que
revisa a norma ABNT NBR ISO 128912:2003; e cancela as normas ABNT NBR
ISO 12891-3:2003, ABNT NBR ISO
12891-4:2003, elaborada pelo Comitê
Brasileiro Odonto-Médico-Hospitalar
(ABNT/CB-26).
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 121
Etanol combustível
- Determinação
dos teores de
metanol e etanol por
cromatografia gasosa
A ABNT publicou
a
norma
ABNT
NBR 16041:2015 Etanol
combustível
- Determinação dos teores de metanol
e etanol por cromatografia gasosa,
que revisa a norma ABNT NBR
16041:2012, elaborada pelo Organismo
de Normalização Setorial de Petróleo
(ABNT/ONS-34). Esta Norma estabelece
o método para a determinação quantitativa
de metanol e/ou etanol em etanol
combustível por cromatografia gasosa.
Televisão digital terrestre –
Receptores
A ABNT publicou a norma ABNT
NBR 15604:2015 - Televisão digital
terrestre - Receptores, que revisa
a norma ABNT NBR 15604:2007
Versão Corrigida:2008, elaborada
pela Comissão de Estudo Especial de
Televisão Digital (ABNT/CEE-85).
Esta Norma especifica o conjunto de
funcionalidades essenciais requeridas
dos dispositivos de recepção de
televisão digital de 13 segmentos (fullseg), assim como os de um segmento
(one-seg), destinados à receber sinais na
modalidade fixa, móvel e portátil.
122 - Revista Banas Qualidade t Junho de 2015 t BQ 276
Materiais refratários densos Determinação do ataque por escória
pelo método estático
A ABNT publicou a norma ABNT NBR
9641:2015 - Materiais refratários densos
- Determinação do ataque por escória
pelo método estático, que revisa a norma
ABNT NBR 9641:1995, elaborada pelo
Comitê Brasileiro de Refratários (ABNT/
CB-19). Esta Norma prescreve o método
para a determinação do ataque por escória
pelo método estático, em materiais
refratários densos a altas temperaturas.
Peças brutas de ferro fundido cinzento
- Afastamentos dimensionais
A ABNT publicou a norma ABNT
NBR 6598:2015 - Peças brutas de
ferro fundido cinzento - Afastamentos
dimensionais, que revisa a norma ABNT
NBR 6598:1984, elaborada pelo Comitê
Brasileiro da Fundição (ABNT/CB-59).
Esta Norma especifica as variações
admissíveis para as dimensões sem
indicação de tolerância, em peças brutas
de ferro fundido cinzento produzidas
em moldes de areia.
Aquicultura - Criação de peixes
redondos - Requisitos básicos
A ABNT publicou a norma ABNT NBR
16375:2015 - Aquicultura - Criação de
peixes redondos - Requisitos básicos,
elaborada pela Comissão de Estudo
Especial de Aquicultura (ABNT/
CEE-192). Esta Norma especifica os
requisitos básicos para criação dos
peixes redondos, tambaqui (Colossoma
macropomum),
pacu
(Piaractus
mesopotamicus), pirapitinga (Piaractus
brachypomus) e seus híbridos, em
tanques-rede,
viveiros
escavados
e barragens, desde a implantação
do empreendimento aquícola até a
despesca, para a produção de pescado
seguro, viável e com qualidade.
Cartas
Inclusão essencial
Luiz Gonzaga Bertelli – São Paulo - SP
A inclusão de pessoas com
deficiência no mercado de trabalho
vem aumentando com o passar dos
anos. Entre os principais fatores
estão: maior consciência social por
parte dos empregadores, legislação
mais eficaz com a política de cotas
e maior eficiência na capacitação
prática dos jovens.
O CIEE é uma das instituições
filantrópicas que possuem essa
preocupação. Em seu programa
Pessoas com Deficiência, capacita
jovens por meio do estágio e
da aprendizagem para exercer
variadas funções nas organizações.
Esse é o caso de inúmeras empresas
conveniadas do CIEE, como a
Embraer, em São José dos Campos,
e a Bauducco, em Guarulhos, que
mantêm pessoas com deficiência
pelo Programa Aprendiz Legal
– parceria do CIEE com a
Fundação Roberto Marinho, que,
combinando a prática na empresa
e aulas teóricas de capacitação,
forma jovens para o mercado de
trabalho. Muitos deles, que não
tinham grandes perspectivas no
mundo do trabalho, conquistaram
por méritos próprios seu espaço e
conseguiram ser efetivados.
A capacitação prática ajuda os
jovens a aprender novas funções,
conhecendo mais profundamente
o mercado, com possibilidades
reais de desenvolvimento da
carreira. Para as empresas também
é positiva, já que as organizações
terão a oportunidade de treinar
o estagiário ou aprendiz dentro
de sua cultura, observando suas
aptidões. Com isso, resolvem-se
dois problemas: o primeiro, a falta
de qualificação profissional e o
segundo, a dificuldade da inserção
Escreva para o Editor Hayrton do Prado: [email protected]
da pessoa deficiente no mercado de
trabalho.
Outro problema que dificultava
a inclusão profissional dessas
pessoas era o Benefício de
Prestação Continuada (BPC),
instituído na Constituição de 1988,
para deficientes incapacitantes
temporários
ou
permanentes.
Muitos indivíduos, que possuíam o
benefício, tinham receio de perdêlo ao se dedicar a uma função
laboral. De acordo com a Lei nº
12.470/2011, quem participa de
programas de aprendizagem e de
estágio pode acumular essa renda
assistencial com o salário recebido
até o final do período de formação
profissional.
Essa foi uma forma que o governo
federal encontrou para estimular
que pessoas com deficiência
busquem se capacitar. Aumentar a
autoestima e promover a cidadania
são pontos fundamentais para que
esse público consiga garantir seu
merecido espaço na sociedade.
Empresas familiares
Amauri Nóbrega – São Paulo - SP
Parece ficção, mas não é. Em um
dos meus trabalhos de consultoria,
presenciei o diálogo abaixo,
entre dois sócios de uma empresa
familiar, casados e que estavam
discutindo o futuro de um filho na
organização.
– Você precisa dar oportunidade a ele.
– Mas eu já dei e não deu certo, está
na hora de ele procurar experiências
fora daqui.
– Não, está errado, temos o nosso
negócio e ele deve aprender aqui
dentro, pois isso tudo será dele.
– Não concordo, ele pode muito
bem buscar experiências fora e
depois voltar mais maduro para
assumir novas responsabilidades,
acredito ser o caminho mais
acertado.
– Você está sempre contra mim,
nunca concorda com o que eu falo, é
assim aqui e lá em casa, tudo que eu
falo, você contesta, por isso nossa
situação está da forma que está.
– Tudo bem…
Já seria a terceira passagem dele na
corporação, mesmo com apenas 25
anos. Acredito que dê para imaginar
como foram as duas primeiras…
Nas empresas familiares, é de suma
importância separar as discussões
sobre os negócios do almoço de
domingo. Não é fácil, pois muitas
vezes as culturas das regiões são
muito fortes. Falo isso porque
uma empresa familiar no Nordeste
é bem diferente de uma no Sul,
são culturas muito distintas e isso
influencia também na forma de
gestão do negócio.
O que vimos acima é um exemplo
claro e cotidiano na maioria dos
negócios familiares, com uma
parte querendo tomar a decisão
de forma paternalista e, a outra,
de maneira profissional. Como
a forma paternalista joga com as
emoções, acaba colocando este tipo
de conteúdo em cima da mesa, o
que esquenta a discussão. Se a outra
parte continuar argumentando,
pode colocar em risco o lado
harmonioso da família e, para não
atrapalhar o clima do almoço do
domingo, ela, na maioria das vezes,
cede às chantagens emocionais do
outro “sócio”.
Como, então, ser possível
enfrentar
essas
questões?
Criando foros especiais para
essas discussões, e o ideal é que
esses debates fiquem no foro
familiar. O Conselho de Família
é um órgão ideal para arbitrar
sobre temas como esse.
BQ 276 t Junho de 2015 t Revista Banas Qualidade - 123
Ponto Crítico
Roberto Shoichi Inagaki
Causos de assistência técnica –
Peças brutas de ferro fundido cinzento -
O
cliente ou o consumidor sempre tem razão! Este
“slogan” tem várias origens e as mais aceitas
são as duas a seguir: Loja Macy´s (ex-Marshall
Fields de Chicago) ou o norte-americano Harry
Gordon Selfriedge.
Os “causos” mostrados na edição anterior e nesta edição
reforçam a tese de que nem sempre o cliente ou consumidor
tem razão na reclamação, principalmente quando eles ligam
para o lugar errado para reclamar (existem casos que ligam
para o concorrente para reclamar do produto, pensando que
tivessem comprado da marca tal).
Alguns dos “causos” mostram que dentro do setor médicofarmacêutico os casos são graves, porém não deixam de ser hilários...
Convoco os leitores a mandar para a redação histórias sobre
“causos” de assistência técnica. Não precisam se identificar,
basta dizer que aconteceu com um “amigo”....
Caso 3: Produto oftálmico
Uma determinada empresa fabricante de produtos
oftálmicos recebeu uma reclamação de um colírio. É um colírio
de preparo extemporâneo - vem em forma de comprimido e
deve ser dissolvido no veículo e então aplicado nos olhos.
A atendende do SAC que recebeu a reclamação ficou muito
intrigada com a afirmação do cliente dizendo que o “gosto” do
produto era muito ruim.
- Como assim “gosto” ruim? - perguntou a atendente.
- Sim, o comprimido tem um gosto ruim e além do mais vem pouca
água para gente tomar. A água tem um gosto muito “amargo”.
Conclusão: existem pessoas que realmente não leem a
famigerada “posologia e modo de usar”.
Caso 4: Uso indevido de supositório.
Mais um exemplo de assistência técnica para produtos
médico-farmacêuticos.
Conta um colega que era supervisor do SAC em uma
empresa farmacêutica fabricante de supositórios, que uma das
reclamações mais frequentes era sobre o “gosto” do produto.
Outro concorrente de reclamação era quanto ao produto poder
ser utilizado com grande frequência e isto causar dependência.
Conclusão: auto-medicação é sempre um perigo.
Caso 5: Uso inadequado do produto ou uso não previsto
Relatarei aqui apenas a sugestão dada por um consumidor/
usuário de um barbeador elétrico. Vocês podem convir comigo
que não merece resposta....
- Caro fabricante do barbeador elétrico modelo LALALA, adquiri
o produto há alguns dias e resolvi usá-lo na região do saco escrotal
além de usar no rosto, mas não obtive muito sucesso. Acho que o produto não foi projetado adequadamente para
estas partes do corpo, estou com fortes dores devido aos cortes
que me causaram no local. As minhas tentativas com o produto
não foram oportunas, por isto gostaria de dar uma sugestão de
alterar o design do aparelho para que este possa ser utilizado
na região frontal e traseira íntima.
Conclusão: uhhh, sem conclusão.....
Avalie a prática da sua empresa ao analisar as informações do
atendimento do cliente.
1- A política adotada pela sua organização para a área
responsável por receber as informações do cliente é:
a) Avaliar a informação e determinar a procedência ou não da mesma
b) O cliente terá sempre razão
c) O cliente nunca terá razão, portanto convença-o, caso não
consiga faça a “ligação cair”
2- Qual o procedimento dado às informações coletadas pela
área de atendimento ao cliente?
a) Separadas entre procedentes e não procedentes e as mais
relevantes levadas para a direção
b) Usadas como mais um indicador da qualidade
c) Arquivo vertical (lixo) se for impresso e “tecla del” se for digital
3- Qual é o tempo médio de resposta de uma solicitação do cliente?
a) 24 horas
b) uma semana
c) responder para quê? Se demorarmos o cliente esquece
4- Qual é a frequência em que sua empresa aparece no
”www.reclameaqui.com.br”?
a) Nunca
b) Ocasionalmente
c) Muito frequentemente
5- O comportamento da alta direção perante às reclamações
reportadas pela assistência técnica é:
a) altamente comprometida
b) altamente envolvida
c) pensa seriamente em cortar a conta 0800; só dá problema...
Conclusão – a= 10 pontos, b= 5 pontos, c=1 ponto
Respostas somam acima de 40 pontos = parabéns há
salvação no 0800
Respostas somam entre 20 e 40 pontos = tudo bem, o
concorrente deve estar pior
Respostas somam menos que 19 pontos = sua empresa deve
ser a campeã do site “reclameaqui”
Roberto S. Inagaki é Consultor Empresarial.
[email protected].
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