A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS NOS CURSOS TÉCNICOS
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A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS NOS CURSOS TÉCNICOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA POLÍTICAS PÚBLICAS E PRÁTICAS EDUCATIVAS ANA LÚCIA FERREIRA DE QUEIROGA A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS NOS CURSOS TÉCNICOS DO CEFET− −PB: limites e contradições JOÃO PESSOA 2006 ANA LÚCIA FERREIRA DE QUEIROGA A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS NOS CURSOS TÉCNICOS DO CEFET− −PB: limites e contradições Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, como requisito à obtenção do título de Mestre em Educação. Orientadora: Profª Drª Emília Maria da Trindade Prestes João Pessoa 2006 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Nilo Peçanha – CEFET-PB 37.013 Q3p Queiroga, Ana Lúcia Ferreira de. A pedagogia das competências nos cursos técnicos do CEFETPB: limites e contradições. / Ana Lúcia Ferreira de Queiroga. – João Pessoa: UFPB, 2006. 119 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – UFPB/CE Orientação: Profª Drª Emília Maria da Trindade Prestes. 1. Educação. 2. Prática pedagógica. 3. Modelo pedagógico das competências. 4. Educação profissional. 5. Políticas públicas. I. Título. ANA LÚCIA FERREIRA DE QUEIROGA A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS NOS CURSOS TÉCNICOS DO CEFET− −PB: limites e contradições Dissertação defendida e aprovada com distinção em 25 de julho de 2006, para obtenção do título de Mestre em Educação, no programa de Pós−Graduação em Educação − linha de pesquisa Políticas Públicas e Práticas Educativas da Universidade Federal da Paraíba. BANCA EXAMINADORA: ____________________________________ Profª Drª. Emília Maria da Trindade Prestes Orientadora ____________________________________ Profª Drª. Adelaide Alves Dias ____________________________________ Prof. Dr. Joabson Nogueira de Carvalho João Pessoa Julho/2006 Não posso reconhecer os limites da prática políticoeducativa em que me envolvo se não sei, se não estou claro em face de a favor de quem o pratico. O a favor de quem pratico me situa num certo ângulo, que é de classe, em que diviso o contra quem pratico e, necessariamente, o por que pratico, isto é, o próprio sonho, o tipo de sociedade de cuja invenção gostaria de participar. Paulo Freire Dedico ao meu filho Lucas, razão maior da minha vida, e protagonista de um longo caminho na busca do conhecimento e de suas realizações. AGRADECIMENTOS A uma força superior, para enfrentar os desafios que a vida nos impõe. Aos meus pais, pelo exemplo de vida. Aos meus irmãos, em especial as minhas irmãs Tânia e Socorro, pelo incentivo constante. A minha orientadora Emília, pela competência com a qual soube levar esse trabalho, compartilhando os momentos de angústias, incertezas e conquistas durante todo o processo de construção. À professora Drª Marise Ramos, pelo olhar e contribuições valiosas. Em especial, à equipe pedagógica do CEFET−PB que, diante da não−liberação pela instituição, soube apoiar e compreender, flexibilizando o meu horário de trabalho, para que eu pudesse desenvolver este trabalho. Aos professores Luiz de Souza Júnior e Jimmy Léllis, pelas observações e sugestões apresentadas no momento da minha qualificação. Aos amigos Thadeu, Dantas e Aires, pelas observações e pelo incentivo. Aos colegas do Mestrado, que demonstraram muita determinação diante dos obstáculos e com os quais tive oportunidade de construir novas amizades e reafirmar outras. LISTA DE ABREVIATURAS BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento CEB- Câmara da Educação Básica CEFET-PB-Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba CEFETAL- Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas CIEE- Coordenação de Integração Escola Empresa CNE- Conselho Nacional de Educação CNI- Confederação Nacional da Indústria DCNETs- Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico EJA- Educação de Jovens e Adultos ETFs- Escolas Técnicas Federais FAT- Fundo de Amparo ao Trabalhador FUNETEC- Fundação de Educação Tecnológica IFETs- Instituições Federais de Educação Tecnológica LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC- Ministério da Educação e Cultura OIT- Organização Internacional do Trabalho PDI- Plano de Desenvolvimento Institucional PL 1.603/96- Projeto de Lei PPP- Projeto Político-Pedagógico PROEP- Programa de Expansão da Educação Profissional PROEJA- Programa de Educação de Jovens e Adultos RCNETs- Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico SEBRAE- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEMTEC- Secretaria de Educação Média e Tecnológica SETEC- Secretaria de Educação Tecnológica SENAC- Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI- Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAR- Serviço Nacional de Aprendizagem Rural SENAT- Serviço Nacional de Aprendizagem em Transportes SESC- Serviço Social do Comércio SESI- Serviço Social da Indústria SINASEFE- Sindicado Nacional dos Servidores Federais de Educação Básica e Profissional SINTEF- Sindicado dos Trabalhadores Federais de Educação Básica e Profissional UNED- Unidade de Ensino Descentralizada UNESCO-Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura RESUMO Esta dissertação baseou-se na avaliação das práticas pedagógicas, a partir do modelo pedagógico das competências, implementado nos cursos técnicos do CEFET−PB em 2001, tendo como espaço empírico os cursos de Instalação e Manutenção de Sistemas Eletrônicos, Instalação e Manutenção de Equipamentos de Informática e Redes e Instalação e Manutenção de Equipamentos Médico-Hospitalares da área de Eletrônica. Tomamos as representações de professores, alunos e pedagogia relativamente à concepção de competências por eles apropriadas e subjacentes às práticas vivenciadas na sala de aula. Buscamos nessas conceituações identificar as contradições e formas de interpretação e ressignificação das competências, pedagogia norteadora dos documentos curriculares oficiais. A revisão de literatura, através de diferentes visões das competências, fortaleceu nosso conhecimento, possibilitando-nos estabelecer um olhar crítico sobre a pedagogia em questão; além de respaldar a opção por uma abordagem metodológica de dimensão qualitativa. Nesse sentido, a pesquisa foi realizada em torno da seguinte sistemática: inicialmente foram aplicados questionários, em seguida, entrevistas para aprofundamento de algumas questões, como também diálogos com os agentes do processo educativo e análise de planos de cursos da instituição. As evidências empíricas mostraram a pouca explicitação da noção de competência como referencial para orientar a prática educativa, bem como o descompasso existente entre o currículo oficial, consubstanciado nos dispositivos legais e nos projetos dos cursos técnicos de eletrônica, e as condições concretas nas quais a prática pedagógica está sendo construída, marcada pelas contradições adesão/resistência/reprodução da reforma da educação profissional de nível técnico estabelecida via decreto. Palavras-chave: Competências. Práticas pedagógicas. Mudanças. ABSTRACT This work was based on the evaluation of the pedagogical practices, through the pedagogical model of the competence implemented in the technical courses at CEFET-PB in 2001, having as empirical environment the courses Installation and Maintenance of Electronic Systems, Installation and Maintenance of Computing and Net Equipments and Installation and Maintenance of Medical-Hospitalar Equipments in the area of Electronics. The teachers, the students and the pedagogy representations related to the competence conception which was incorporated by them and underlying the classroom pratices were taken into consideration. By means of these concepts, we tried to identify the contradictions and ways of interpreting and establishing the competence´ meaning, pedagogy which guides the oficial curriculum documents. The literature review, through different views of the competence, reassured our knowledge, enabling us to have a critical look about the pedagogy in question, as well as supporting the option for a methodological approach of qualitative dimension. In this aspect, the research was accomplished regarding the following systematics: first of all, questionnaires were applied, then, interviews for deeper knowledge of some questions, in addition to dialogues with the agents of the educational process and course design analysis of the institution. The empirical evidence showed how little the competence notion was as a reference to guide the educational pratice as well as the existing gap between the oficial curriculum, based on the legal devices and on the technical courses projects in Electronics, and the real conditions in which the pedagogical pratice is being designed, set up by the contradictions/ junction/ resistance/reproduction of the professional education reform of technical level. Key-words: Competence. Pedagogical Pratices. Changes. SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS RESUMO ABSTRACT APRESENTAÇÃO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 1.1 O OBJETO DE ESTUDO, A PROBLEMÁTICA INVESTIGADA, AS QUESTÕES DE PESQUISA, A HIPÓTESE E OS OBJETIVOS ........................... 22 1.2 A SISTEMÁTICA DE TRABALHO...................................................................... 29 1.2.1 O objeto empírico de estudo: O CEFET− −PB....................................................... 29 2 A NOÇÃO DE COMPETÊNCIAS: DIFERENTES VISÕES ........................... 32 2.1 A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS ............................................................. 40 3 A REFORMA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL......................................................................................................... 3.1 Da Escola de Aprendizes Artífices ao CEFET-PB ............................................. 3.2 As mudanças no CEFET− −PB .............................................................................. 3.3 O ensino no CEFET− −PB: tendências atuais ....................................................... 49 55 57 60 4 O MODELO DAS COMPETÊNCIAS NA PERSPECTIVA DO MEC ................ 64 5 AS COMPETÊNCIAS NA VOZ DE SEUS ATORES ............................................ 78 5.1 REPRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES DOS CURSOS TÉCNICOS DE ELETRÔNICA DO CEFET-PB............................................................................. 78 5.1.1 O conceito de competências dos professores........................................................ 80 5.1.2 Os procedimentos metodológicos utilizados pelos professores .......................... 85 5.1.3 Os procedimentos avaliativos utilizados pelos professores ................................. 89 5.2 REPRESENTAÇÃO DOS ALUNOS DOS CURSOS TÉCNICOS DE ELETRÔNICA DO CEFET-PB.............................................................................. 96 5.2.1 O conceito de competências dos alunos................................................................ 98 5.2.2 Os procedimentos metodológicos na visão dos alunos........................................100 5.2.3 Os procedimentos avaliativos na visão dos alunos .............................................101 5.3 REPRESENTAÇÃO DA EQUIPE PEDAGÓGICA DO CEFET-PB .....................104 5.3.1 O conceito de competências da equipe pedagógica.............................................105 5.3.2 Os procedimentos metodológicos na visão da equipe pedagógica......................106 5.3.3 Os procedimentos avaliativos na visão da equipe pedagógica ...........................107 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 110 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................115 ANEXOS APRESENTAÇÃO O foco desta pesquisa é o modelo pedagógico das competências, concepção orientadora dos currículos da educação profissional de nível técnico, sob a égide da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional−LDB nº 9394/96, que instituiu a reforma da educação profissional brasileira. Pela necessidade de delimitação da pesquisa, da vivência e do conhecimento da realidade da educação profissional, decidimos pela investigação nos cursos técnicos da área de Eletrônica do CEFET−PB, nos quais a pedagogia das competências foi implementada a partir de 2001. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo principal avaliar como as práticas pedagógicas1 em referência vêm sendo efetivadas. Para tanto, partimos da visão de docentes e discentes dos cursos técnicos de Eletrônica e da pedagogia, buscando apreender as concepções de competências por eles apropriadas e as mudanças realizadas no processo educativo. Esse procedimento adotado considerou não haver até então informações se o currículo implementado na sala de aula corresponde ao currículo institucionalmente prescrito, ou mesmo se há uma aproximação entre o discurso dos professores e os processos pedagógicos. O estudo considerou, ainda, a necessidade de verificar as maiores dificuldades vivenciadas pelos agentes do processo educativo, uma vez que esse modelo que está sendo implementado precisa ser avaliado. Convém destacar que esta pesquisa está inserida no contexto das políticas públicas definidas para a Educação Profissional no Brasil, tendo por base as transformações estabelecidas pelo Ministério da Educação, através das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico-DCNET contidas no Parecer CEB/CNE nº 16/99, e adotadas pelo Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba (CEFET−PB). 1 Prática pedagógica prática social específica, de caráter histórico e cultural. Ela vai além da prática docente, das atividades didáticas em sala de aula, abrangendo os diferentes aspectos do projeto pedagógico da escola e as relações desta com a comunidade e a sociedade (SALGADO, 2000, p.13). 13 1 INTRODUÇÃO A idéia em torno da investigação do tema proposto surgiu em função das mudanças ocorridas no cenário educacional brasileiro, instituídas a partir da aprovação da Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e do Decreto nº 2.208/97, instituindo um elenco de reformas na educação profissional, particularmente nos cursos técnicos profissionalizantes. Essas mudanças trazem consigo a necessidade de modificações na ação educativa do ensino técnico, pois o desenvolvimento de competências passa a ser a base da mudança de paradigmas desta reforma que é fundamental para esta pesquisa. Soma-se a isso o fato de ter vivenciado, enquanto pedagoga, as inquietações do corpo docente diante de uma prática pedagógica baseada nas competências, considerando que todo processo de mudanças implica a ruptura com valores e comportamentos. Segundo Constantino (2005, p.1), a “mudança”, como fenômeno, é algo que surge no decurso de um conjunto de alterações, provocadas pela ruptura com valores ou pressupostos que se passam a considerar insuficientes ou inadequados, para fazer face aos novos desafios no sentido da concretização de metas comuns a um grupo de pessoas ou apenas idealizadas por um sujeito. Assim concebida, é certo que a escola não pode estar à margem desse processo de evolução nas diferentes esferas da sociedade, o que pressupõe uma constante reflexão e a atualização das práticas pedagógicas. Todavia, entendemos que a mudança não acontece por força de um decreto. Ultimamente as políticas têm sido implementadas de forma impositiva, subestimando a capacidade dos profissionais e desconsiderando a sua larga experiência e a possibilidade de construírem os seus caminhos a partir dessa prática refletida. No seu Art. 39, a LDB nº 9.394/96, caracteriza a educação profissional como uma modalidade, como um subsistema, diferentemente da legislação anterior, que preconizava o ensino profissionalizante integrado ao ensino médio. Nesse sentido, determina que 14 a educação profissional seja desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por outras estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho. A educação profissional integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao pleno desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Para Moreyra (2002, p.89), a expressão “vida produtiva” traz consigo o entendimento da produção de mercadoria, fincada na concepção capitalista de geração de riqueza, de capital como propriedade de poucos. A autora denuncia essa visão2. Nessa perspectiva, a educação é concebida, através de sua vertente instrumentalizadora, como se ela existisse apenas para adequar os alunos ao fazer socialmente proposto pelo sistema capitalista3. De acordo com a LDB, nos seus Arts. 40 e 41, “o conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos”. Ainda de acordo com o texto da LDB, Art. 42, “as escolas técnicas e profissionais, além de seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento do aluno e não necessariamente ao nível de escolaridade”. A partir desses dispositivos gerais, o Decreto nº 2.208/97, de 17 de abril de 1997, regulamenta o parágrafo 2º do Art. 36 e os Arts. 39 a 42 da Lei Federal nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Conforme o Decreto, no seu Art. 2º, a educação profissional compreende os seguintes níveis: básico, destinado à qualificação e reprofissionalização de trabalhadores, independente de escolaridade prévia; técnico, destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados ou egressos do ensino médio e tecnológico, correspondente a cursos de nível superior na área tecnológica, destinado a egressos do ensino médio e técnico. No que concerne ao ensino técnico, afirma o Art. 5º do referido Decreto, “a educação profissional de nível técnico terá organização curricular própria e independente do ensino médio, podendo ser oferecida de forma concomitante ou seqüencial a este”. Portanto, o Decreto nº 2.208/97 determina os níveis básico, técnico e tecnológico e modalidades da 2 3 A autora classifica essa visão como estreita, limitada, não contemplando nem criando possibilidades para a criatividade fluir, para o pensamento autônomo se manifestar, para a beleza de outras atividades (também produtivas, mas não necessariamente mercadológicas) se revelar. Sobre isso ver artigo: Princípios Filosóficos dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o “Novo Ensino Médio” (Revista Principia, João Pessoa, n.12, Abr. 2005). 15 educação profissional brasileira, além de definir as formas de articulação da educação profissional com o ensino regular e detalhar a nova organização a ser implantada nos CEFETs e nas ETFs. Por conseguinte, como eixos da reforma da educação profissional de nível técnico, enfatizadas no Decreto nº 2.208/97, encontram-se: a desvinculação do ensino técnico do ensino médio; a organização do ensino em módulos; a flexibilidade, permitindo ao indivíduo cursar módulos em diferentes instituições de ensino e receber o certificado da instituição onde cursar o último módulo, obedecendo ao prazo de cinco anos e o atendimento às exigências do mercado de trabalho. O problema é que essa flexibilidade representa um risco para a instituição que vai conceder o diploma de Técnico, uma vez que esta não teve nenhuma inferência no itinerário de formação anterior desse profissional. No caso brasileiro, as mudanças processadas no sistema educacional foram influenciadas pelo encontro de Jomtien, realizado na Tailândia em 1990, onde foi elaborada a Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Nessa direção, Vasco Pedro Moretto, citado por Gentile e Bencini (2000, p.01), afirma que “ficou claro que reformar a educação era uma prioridade mundial e as competências seriam o único caminho para oferecer de fato, uma educação para todos”. Para o autor, tudo havia mudado: a sociedade, o mercado de trabalho, as relações humanas; somente a educação continuava a mesma. Com isso, na década de 1990, as competências são adotadas como conceito central da prática educativa da educação profissional de nível técnico, no Brasil, cujo foco não é mais a transmissão de conhecimentos, mas o desenvolvimento de competências. O conceito de competências ressurge, assim, e a sua relevância no contexto da formação escolar é resultante do trabalho de autores como o sociólogo suíço Philippe Perrenoud, a mais conhecida referência conceitual no que concerne à competência. Para esse autor, outro pressuposto fundamental desse modelo das competências não é apenas a exigência da adoção de nova organização curricular, mas, sobretudo, de procedimentos metodológicos nos quais o aluno seja colocado como sujeito do processo de aprendizagem; as práticas pedagógicas dos cursos técnicos têm cada vez mais a atribuição de construir competências voltadas para pedagogias que focalizem metodologias dinâmicas e direcionadas à valorização das experiências pessoais dos alunos, possibilitando ao docente a utilização de diferentes estratégias pedagógicas apropriadas às situações e estilos diversos de aprendizagem. Apesar de os problemas detectados não serem apenas de caráter metodológico, as reformas deram ênfase a esse aspecto. 16 Entretanto, sabe-se que na prática as ações pedagógicas não são unificadas, ou seja, os processos que se dão na sala de aula resultam da combinação de várias metodologias, podendo coexistir, numa mesma instituição ou na mesma disciplina, práticas diversificadas e voltadas para um mesmo objetivo. Por outro lado, quando se discute a implementação de inovações educativas, não se pode perder de vista a importância do professor dentro desse processo, por dar direção à prática pedagógica e concretizar os projetos e currículos. O professor se reveste dessa importância em função do seu papel de protagonista das mudanças efetivadas no espaço contraditório da sala de aula, visto então como produtor e reprodutor do saber. Na verdade, é ele que, no espaço da escola, transforma em realidade os dispositivos legais e o ideário presente nos projetos curriculares. Para Domingues, (2000), geralmente as reformas curriculares não decorrem de necessidades nacionais coletivas, porém a transposição curricular estrangeira tem sido uma constante nessa área. Os professores, por sua vez, quando supostamente ouvidos no processo de elaboração, são tomados como recursos, e não como sujeitos nessas propostas. Ante esse quadro, é preciso ter clareza de que os docentes, apesar de serem responsáveis pelas decisões didático-pedagógicas processadas na sala de aula, eles não são os únicos responsáveis pelo êxito ou insucesso das orientações inovadoras, uma vez que existem inúmeras outras variáveis que dificultam a ruptura de um paradigma4 e a implementação de um “novo” modelo. Para Toralles Pereira (1997), a mudança de paradigma, analisada primeiramente por Kuhn (1970), resulta da acumulação de crises no interior de um paradigma, toda vez que este não consegue resolver ou responder aos problemas que se colocam. Para a autora, a cada momento histórico e em cada sociedade, predomina um determinado quadro epistêmico, produto de paradigmas sociais dando origem a um novo quadro. Somando-se a isso, a questão é que, sempre que existe uma possibilidade de mudança, desenvolve-se uma idéia geral de que finalmente encontrou-se a solução correta. Nesse sentido, parte-se do pressuposto de que o que se vinha fazendo estava errado; portanto, é ruim, arcaico e ultrapassado. O “novo”, por sua vez, é bom, moderno e eficiente. De acordo com Touraine (1999, p.25), 4 “Paradigma” é uma limitação rígida em torno de crenças e idéias específicas, em que a mudança deve ser encarada como o processo doloroso e prolongado de reinvenção, reordenamento e redefinição. (CONSTANTINO, 2005, p.1). 17 é certo que não devemos nos adaptar passivamente a uma sociedade e a uma cultura de massa, através das quais se escondem forças muito reais de dominação que devem ser balizadas e combatidas; mas a escolha que fizemos não é entre a defesa da ordem passada e a aceitação da desordem presente; devemos conceber a construir novas formas de vida coletiva e pessoal. Na verdade, está surgindo um novo paradigma, denominado por Santos (1996) de paradigma emergente5. Na sua obra, Um discurso sobre as ciências, ele afirma que os sinais conhecidos nos permitem tão-somente especular sobre esse paradigma que emergirá deste período revolucionário, entretanto, desde já, se pode afirmar com segurança que colapsarão as distinções básicas em que assenta o paradigma dominante. Para isso fundamenta-se nas teorias da relatividade e da física quântica, que buscam uma nova leitura do mundo e uma maneira diferente de o homem se posicionar, como também no pensamento que trata as coisas em sua totalidade. Nele estão presentes todas as contradições que o paradigma tradicional nega, admitindo a não-neutralidade do conhecimento, reconhecendo a intencionalidade e concebendo a ciência como um ato humano, historicamente situado. Convém destacar o contexto da década de 1990, quando os gestores e profissionais de educação dos CEFETs, das ETFs, e das Escolas Agrotécnicas tinham iniciado um processo nacional de discussão sobre a função social do ensino técnico, visando, através de avaliações conjuntas – pela instituição e a comunidade – efetivar a revisão de seus currículos e a construção do seu Projeto Político−Pedagógico (PPP), sob a coordenação do Ministério da Educação e Cultura - MEC, por intermédio da então Secretaria de Educação Média e Tecnológica – SEMTEC, hoje denominada Secretaria de Educação Tecnológica – SETEC. Considerando que toda ação pedagógica é um ato político que traduz uma concepção de mundo, de educação, do cidadão que se pretende formar, o PPP deve ser elaborado com a participação de todos os sujeitos – professores, alunos, pedagogos, comunidade – e expressar as diretrizes do processo educativo, partindo da realidade da instituição e definindo o caminho a ser seguido por esta. Apesar do esforço para uma discussão coletiva sobre a revisão dos projetos curriculares e a realização de mudanças necessárias à educação profissional de nível técnico, essas propostas foram “engavetadas”. E, no ano de 1995, durante encontro de Escolas Técnicas e CEFETs, realizado numa Unidade Descentralizada do Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas – CEFET−AL, o então secretário da SEMTEC, Ruy Berger, 5 Sobre isso, ver Boaventura Santos, Um discurso sobre as ciências (1996). 18 apresentou o Projeto de Lei – PL nº 1.603/96, regulamentando uma nova proposta de educação profissional, cujo eixo central foi a separação da educação profissional da educação regular, esvaziando, assim, a função do ensino técnico. Além desse, constavam ainda no PL nº 1.603/96, os seguintes princípios: qualificar os alunos, através da ampliação das oportunidades e incremento no número de vagas no ensino técnico; estruturar o ensino em módulos e atender à demanda do mercado de trabalho. Tal proposta foi totalmente de encontro aos anseios e posições evidenciadas pelas IFETs, desde 1995, nos encontros regionais, tendo por base o pensamento coletivo da comunidade que delineava novos rumos para o ensino técnico. Essa atitude, por parte do MEC, acabou gerando uma crise institucional sem precedentes na rede federal de ensino. Apesar do posicionamento contrário e de mobilizações das Instituições Federais de Educação Tecnológica – IFETs e das resistências internas de docentes, discentes e técnicos educacionais, principalmente com relação às novas concepções de educação profissional, em 1997 o projeto se concretizou com a edição do Decreto Lei nº 2.208/97, principal instrumento jurídico normativo da reforma, reestabelecendo quase integralmente os termos do PL nº 1.603/96 e empreendendo, assim, profundas modificações no contexto da educação profissional, principalmente no ensino técnico. É preciso considerar que os CEFETs e as ETFs, até a promulgação da LDB nº 9.394/96, formavam um subsistema de ensino técnico de 2º grau. A partir da LDB e com a promulgação do Decreto nº 2.208/97, o ensino técnico passa a ser uma modalidade de ensino com o objetivo de promover a transição entre a escola e o mundo do trabalho, capacitando jovens e adultos com conhecimentos e habilidades gerais e específicas para o exercício de atividades produtivas, além de especializar, aperfeiçoar e atualizar jovens e adultos trabalhadores com qualquer nível de escolaridade. Um outro aspecto a ser considerado, ainda, no modelo das competências situa-se no caráter de complementaridade da educação profissional de nível técnico, pressupondo uma sólida formação geral que muitos alunos não possuem. Será que não se corre o risco de, em função do aligeiramento dos cursos cuja duração de quatro anos foi reduzida para um ano e meio, apressar e precarizar ainda mais o processo formativo, provocando a saída de profissionais para o mundo do trabalho sem os requisitos necessários ao desempenho de 19 competências previstas no perfil profissional6 dos cursos? Ou ainda, o que é mais preocupante, a transmissão de conhecimentos ou informações que lhes confiram uma suposta “empregabilidade”, sem, contudo, permitir ao educando compreender os processos e estruturas complexas com os quais trabalha? Além da possibilidade de as instituições empregadoras e a sociedade em geral não reconhecerem a qualificação dos profissionais formados nestes cursos? Esses são alguns dilemas estabelecidos com a adoção do modelo pedagógico das competências. Por outro lado, se as instituições não implementarem ações condizentes com os princípios e diretrizes da reforma da educação profissional de nível técnico, estas correm o risco de ficar apenas no discurso ou formuladas num documento formal. Sabe-se que há uma diferença entre pretender e lidar realmente com essas mudanças. Não se podem desconsiderar as dificuldades dos professores em reformularem suas práticas pedagógicas, pois estas não são procedidas apenas por força de decreto, pois implicam rupturas na cultura organizacional, na dinâmica interna dos espaços escolares. Outra dificuldade em fazer essa ruptura com a prática centrada exclusivamente no ensino tem a ver com a historiografia do ensino superior, responsável pela formação de professores, o que tem revelado uma formação fragmentada, rigorosamente disciplinar, fundamentada na dicotomia teoria/prática, não favorecendo uma prática pedagógica centrada na aprendizagem. Na verdade, a escola tem sido utilizada pelo sistema para reprodução e manutenção da sociedade na qual está inserida. Para Gauthier (1998), durante muito tempo se pensou, e muitos ainda continuam pensando, que ensinar consiste apenas em transmitir um conteúdo a um grupo de alunos, reduzindo o saber necessário para ensinar unicamente o conteúdo da disciplina. Contudo, quem ensina sabe muito bem que, para ensinar, é preciso muito mais do que simplesmente conhecer a matéria, mesmo que esse conhecimento seja fundamental. Pensar sob essa ótica, é reduzir uma atividade tão complexa quanto o ensino a uma única dimensão, aquela que é mais evidente, e, sobretudo, negar-se a refletir, de forma mais profunda sobre a natureza desse ofício e dos outros saberes que lhe são necessários. Para o autor (op. cit.,), de acordo com a vasta literatura sobre o saber profissional dos professores, alguns estudiosos, apoiados em inúmeras pesquisas, afirmam que existe, hoje, um 6 Perfil profissional é a descrição do que idealmente é necessário saber realizar no campo profissional correspondente a determinada qualificação. É o marco de referência, o ideal para o desenvolvimento profissional, que pode ser confrontado com o desempenho real das pessoas, indicando se eles são ou não competentes para atuar em seu âmbito de trabalho. É constituído pelas competências profissionais e pelo contexto de trabalho da qualificação (Glossário CNI−SENAI, 2002, p.48). 20 repertório de conhecimentos pedagógicos que possibilita ao professor ensinar melhor. Segundo ele, quem ensina sabe que tem que planejar, organizar, avaliar, e que também não pode esquecer os problemas de disciplina, devendo estar atento aos alunos mais agitados, mais tranqüilos, mais avançados, muito lento etc. Todos que integramos o CEFET−PB sabemos que o corpo docente não teve essa preparação para implementar a pedagogia das competências, uma vez que não participou do processo de formulação da reforma, atuando apenas como meros executores dessa política de governo. Apesar do esforço dos dirigentes em trazer consultores do MEC, estes enfatizavam o discurso oficial. Na indefinição em torno de concepções e de operacionalização, impunham mais dúvidas do que certezas. Contudo, mesmo com todas essas dificuldades; foram constituídas comissões que elaboraram os projetos dos cursos técnicos. Fazendo parte da equipe técnico-pedagógica, participamos de forma efetiva no acompanhamento pedagógico aos cursos e áreas e tomando parte na elaboração e na implantação do novo modelo pedagógico das competências. Portanto, sabemos das dificuldades dos docentes em implementar o uso de novas metodologias e novas formas de avaliação, na perspectiva de uma pedagogia cujo elemento, segundo Ramos (2006), que mais causou instabilidade nas instituições foi a tese de que desenvolver competências se contrapõe a ensinar conteúdos, além de provocar a desintegração do currículo. Conforme observações em reuniões, conversas com profissionais de outras Instituições Federais de Educação Tecnológicas – IFETs– e diálogos com profissionais da educação de outras instituições, as falas contemplam as opiniões: “como trabalhar por competências, se não sabemos o seu significado?”; “como trabalhar a partir de situações problemas, quando o foco da nossa formação foram as disciplinas?”; “há a falta de diálogo com representantes do MEC e de unidade em termos de discursos dos consultores”, ou ainda “como implementar um modelo na rede federal, se não existe ainda uma experiência consolidada ?” Em suma, o cenário da escola hoje mostra novos desafios para os professores com relação aos procedimentos, estratégias e modos de atuação da sua prática pedagógica. Contudo não se percebe a definição de políticas de valorização desse profissional, dentre elas, o aperfeiçoamento da sua prática ou programas de formação continuada. Tendo em vista que a Portaria do Ministério da Educação nº 30/2000 condicionou a oferta de cursos de nível técnico, a partir de 2001, somente organizados de acordo com os princípios instituídos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais – Resolução nº 04/99, acredita- 21 se que as dificuldades na efetivação do modelo pedagógico das competências não sejam um problema específico do CEFET− −PB. Essas diretrizes, de natureza obrigatória para as instituições de educação profissional de nível técnico, são constituídas por um conjunto articulado de princípios, critérios, definição e procedimentos a serem observados pelos sistemas de ensino de forma geral e pelo ensino técnico de forma particular, servindo para a organização e o planejamento dos cursos técnicos profissionais. Além das DCNETs, outro documento orientador das escolas na elaboração dos perfis de conclusão e no planejamento dos cursos foram os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico – RCNETs. Conforme Frigotto (2005, p.7), o ideário pedagógico das diretrizes curriculares centra-se numa concepção produtivista e empresarial das competências e da competitividade, cujo papel é o de desenvolver habilidades de conhecimentos, valores, atitudes e de gestão de qualidade, definidas no mercado de trabalho e cujo objetivo é o de formar em cada indivíduo um banco ou reserva de competências que lhe assegure empregabilidade7. Não se pode perder de vista a articulação nas DCNETs entre competências e empregabilidade, através da ênfase na relevância de o trabalhador adquirir a capacidade de atuar em várias atividades. Sabe-se que, em alguns países da Europa, o conceito de competência saiu do âmbito da produção para o da formação técnica profissional. Citando, por exemplo, países como Estados Unidos, Inglaterra, França, que possuem seu modelo de educação escolar consubstanciado no desenvolvimento de competências profissionais (op.cit.) Na verdade, essas reformas produzidas nos sistemas educacionais objetivam torná-los compatíveis à sociedade que passa por um processo acelerado de mudanças, produzindo as condições para alcançar “escolas eficazes”. No caso brasileiro e, sobretudo, nas Instituições Federais de Educação Tecnológica, como esse modelo ainda é inovador, as poucas informações que se têm não possibilitam maiores avaliações sobre seus impactos e resultados concretos. Entretanto, tendo por base as avaliações de alunos e professores em reuniões pedagógicas, há uma preocupação com a falta 7 Noção de empregabilidade - diz respeito à passagem da situação de desemprego para a de emprego, ou seja, “poderia ser definida como probabilidade de saída do desemprego ou, formulada de maneira positiva, como capacidade de obter um emprego” (HIRATA 1997, p.33). Ver mais em Gentilli (2002) e Frigotto (2002 e 2004). 22 de envolvimento e de articulação entre os diferentes professores em torno da implementação dos projetos dos cursos de Instalação e Manutenção de Sistemas Eletrônicos, Instalação e Manutenção de Equipamentos de Informática e Redes e Instalação e Manutenção de Equipamentos Médico-Hospitalares da área de Eletrônica; com a falta de unidade pedagógica em termos de procedimentos metodológicos e avaliativos e com a falta, sobretudo, de subsídios teórico-conceituais consistentes para uma prática pedagógica centrada nas competências. Apresentadas essas questões e considerando as conseqüências educacionais, políticas e organizacionais vivenciadas pelas IFETs nesse processo de discussão e implementação do modelo das competências, esperamos que a pesquisa propicie informações que possibilitem uma avaliação do modelo das competências adotado na realidade concreta do CEFET−PB, como também possa subsidiar as discussões na perspectiva de construção de uma nova referência – da integração, da politecnia. Nesse sentido, entendemos a relevância deste estudo não somente pela sua atualidade, mas, sobretudo, pela possibilidade de contribuir com a redefinição e novos rumos para os cursos técnicos dos CEFETs e ETFs. 1.1 O OBJETO DE ESTUDO, A PROBLEMÁTICA INVESTIGADA, AS QUESTÕES DE PESQUISA, A HIPÓTESE E OS OBJETIVOS Os sistemas educacionais internacionais têm vivenciado, nas últimas décadas, um processo de reestruturação, por meio de reformas, apontadas como necessárias, em função das mudanças processadas na organização do trabalho pela denominada revolução tecnológica. Para Antunes (2000, p. 210): A década de 80 presenciou, nos países de capitalismo avançado, profundas transformações no mundo do trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura produtiva, nas formas de representação sindical e política. (...) nessa década de grande salto tecnológico, a automação e as mutações organizacionais invadiram o universo fabril, inserindo-se e desenvolvendo-se nas relações de trabalho e de produção do capital. (...) novos processos de trabalho emergem, onde o cronômetro e a produção em série são substituídos pela flexibilização da produção, por novos padrões de produtividade, por novas formas de adequação da produção à lógica do mercado. 23 As reformas educacionais justificadas como necessárias para atender às mudanças processadas no âmbito da produção, na força produtiva e na organização do trabalho, modificam o cotidiano da escola, dos atores envolvidos e das concepções de ensino, formação e qualificação. Para tanto, faz-se necessária a migração do enfoque da qualificação, voltada para o desempenho de tarefas prescritas em postos de trabalho, para uma perspectiva mais ampla das competências e da polivalência8. Ou seja, o conceito de formação profissional desloca-se do parâmetro das novas formas de fazer para o parâmetro que articula conhecimentos, atitudes e comportamentos. No entendimento de Ramos (2001, p. 1), as reformas realizadas em alguns países europeus−França, Inglaterra e Espanha − e latino−americanos − México, Chile, Argentina e Brasil − têm-se justificado pela necessidade de adequar a educação às demandas do mundo contemporâneo, tomandose como base pressupostos e teorias psicológicas. Tem-se, assim, verificado uma forte adesão a uma concepção construtivista de aprendizagem, para a qual são de grande importância as idéias de memorização compreensiva, funcionalidade do conhecimento e aprendizagem significativa. O referencial piagetiano está presente na fundamentação da proposta das competências, mas, ao serem objetivadas na forma de uma “pedagogia”, as competências acabam se revertendo numa abordagem condutivista. Para a autora (2002), o pensamento piagetiano sobre o desenvolvimento cognitivo atravessa toda a fundamentação teórica da proposta das competências presente nos documentos oficiais. Pela teoria de Piaget, a construção do conhecimento ocorre mediante ações físicas ou mentais sobre objetos, resultando na construção de esquemas ou operações mentais que se modificam e se tornam cada vez mais refinados por processos sucessivos de assimilação e acomodação. Assim, o modelo das competências destaca-se dentre as mudanças apresentadas e justificadas em relação aos novos tempos. Seus conceitos e orientações doutrinárias e operacionais fundamentam as atuais políticas públicas educacionais brasileiras implementadas 8 Polivalência - atributo de um profissional possuidor de competências que lhe permitam superar os limites de uma ocupação ou um campo circunscrito de trabalho para transitar para outros campos ou ocupações da mesma área ou de áreas afins (PARECER do CNE/CEB nº17/99). 24 ao longo dos anos 90, cujas referências básicas apóiam-se na epistemologia genética de Jean Piaget9 e na lingüística de Noam Chomsky10. Aliás, é do lingüística Noam Chomsky a introdução da competência na lingüística, daí que uma analogia desse domínio pode ajudar-nos a compreender melhor a especificidade da competência profissional. Segundo ele, a competência lingüística é o que permite a um sujeito produzir e compreender um número infinito de enunciados gramaticalmente bem construídos (“desempenhos”) a partir de um vocabulário de base e de um número determinado de regras. Para LeBoterf, (2003, p.63) “a competência lingüística não se reduz ao conhecimento das regras e das palavras, ainda que os suponha”. Segundo o autor, esse desvio pela analogia lingüística pode ser muito esclarecedor, pois ela mostra que a competência não é assimilável aos conhecimentos, aos procedimentos ou às regras nem ao desempenho. Nesse sentido, ela está nesse saber integrar que os ultrapassa; a competência é um saber fazer, “esse algo” que torna possível fazer. Em síntese, Chomsky concebe a competência como a capacidade de continuamente improvisar e inventar algo novo, sem lançar mão de uma lista preestabelecida. A pedagogia das competências emerge na educação como um “novo” paradigma de ensino, no qual alteram-se os papéis do professor e do aluno, de modo que ao professor é atribuída não a mera transmissão de conhecimentos, mas a adoção de situações de aprendizagem baseadas em projetos integradores, realização de pesquisa, estudos de caso, visitas técnica e práticas profissionais, estratégias que despertem no aluno o desenvolvimento de uma postura ativa nesse novo contexto de continuar aprendendo. É preciso ficar atento ao “novo”, denominado por Ramos (2005) “transformismo conceitual ou teórico”, que representa a pedagogia das competências. Ou seja, a crítica ao ensino “tradicional” de emancipação dos sujeitos não é oriunda desta, entretanto essa pedagogia se apropriou das idéias e conceitos de teorias progressistas para fazer essa defesa, na perspectiva de adaptação desses sujeitos à sociabilidade contemporânea do capitalismo. De acordo com o arcabouço legal da reforma da educação profissional, as práticas pedagógicas dos currículos devem estar voltadas para o desenvolvimento de competências, caminhando no sentido de atender aos princípios da flexibilidade, da interdisciplinaridade e da 9 Piaget−psicólogo, suíço. Para ele a construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam na construção de esquemas ou conhecimentos. 10 Chomsky−lingüista, americano, um dos propositores da lingüística da gramática generativo-transformacional, que procura identificar regras que governam as relações entre partes de uma sentença, assumindo que, sob alguns aspectos como a palavra, existe uma estrutura fundamental (RAMOS, 2001, p.161). 25 contextualização. A flexibilidade deve se traduzir na construção de currículos diversificados que permitam ao aluno construir seu itinerário de formação, de acordo com seu interesse. A interdisciplinaridade vista como mecanismo de superação da fragmentação disciplinar, por meio da qual as disciplinas isoladas são modificadas, passando a caracterizar uma relação de interdependência entre todas. Nessa perspectiva, as práticas fechadas e estanques das disciplinas unitárias isoladas cedem lugar às tarefas abertas e às situações formuladas em torno de problemas. A contextualização, por sua vez, promete mecanismos propícios à construção de significações, pois agrega aprendizagens que têm sentido para o aluno como a sua realidade e a do mundo do trabalho. Os alunos desafiados a resolver situações−problema11 devem construir, ao longo de sua formação, uma matriz de competências. Todavia sabe-se que no Brasil não existe, ainda, nenhuma experiência de práticas pedagógicas inovadoras na formação por competências e que o conceito da pedagogia das competências foi introduzido na educação escolar antes da conclusão de estudos para seu emprego na educação profissional. No caso da educação brasileira, como implementar um modelo pedagógico, quando não existe, ainda, nenhuma experiência consolidada, exceto no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI? Reportando a Ramos (2001), não se pode perder de vista o risco demonstrado pelo ensino baseado nas competências, ao fazer recortes nos conteúdos que devem ser ensinados, restringindo-os a sua utilização instrumental, atrelando-a a tarefas e desempenhos observáveis. Tal fato empobrece a sua formação, tornando-a mínima, talvez isso justifique a resistência dos professores em implementar práticas orientadas nas competências. Por outro lado, a ampliação das finalidades e espaços pedagógicos escolares, em função da ampliação das competências a serem desenvolvidas e avaliadas, corre o risco de dissolver a especificidade da função da escola. A autora (2001) defende como princípio que o ensino e a aprendizagem devam conduzir o estudante a compreender o processo sócio-histórico da construção do conhecimento científico, possibilitando-o fazer uma leitura crítica do mundo, estabelecer relações entre fatos, idéias e ideologias, realizar atos e ações – voluntários ou compulsórios – de forma crítica e criativa, compreender e construir ativamente novas relações sociais. 11 Situação-problema: proposição hipotética ou não, de ordem teórica e prática, que envolve elementos relevantes na caracterização de um desempenho profissional, levando a pessoa a mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes na busca de alternativas de solução (Glossário 2002). 26 Do ponto de vista pedagógico, é preciso ficar atento quando se mencionam as competências, pois, apesar de indicarem um movimento de maior flexibilidade, na formação e na ruptura a modelos fechados de saberes e disciplinas, elas são apropriadas pelas propostas oficiais, correndo o risco de constituir um modismo e de manter-se no discurso, quando as condições concretas do contexto educacional não forem alteradas. Com isso, queremos afirmar que, apesar da imposição normativa do “desenvolvimento de competências” no sistema educacional brasileiro, algumas questões subjazem esses princípios. Por exemplo: a epistemologia que orienta esta proposta e a concepção de conhecimento que temos; o que mudou com a reforma, principalmente nas metodologias de ensino e nos procedimentos avaliativos, a partir da introdução das competências e como os professores e alunos representam suas atitudes diante da pedagogia das competências. E é com base nessas questões que formulamos o nosso problema de pesquisa: como se dá a relação entre o modelo pedagógico das competências, proposto para o ensino técnico pelas normativas legais, e as práticas pedagógicas em adoção nos cursos técnicos de Eletrônica do CEFET−PB, a partir de 2001? Ou seja, como o currículo baseado nas competências está se realizando na dinâmica escolar dos cursos técnicos da área de eletrônica? Na verdade, não se sabe se há uma coerência entre o currículo estabelecido e as práticas pedagógicas implementadas na sala de aula. Nesse sentido, partimos da constatação hipotética de que, apesar de os currículos dos cursos técnicos da área de eletrônica estarem estruturalmente organizados com base no modelo das competências, existem contradições em termos de aproximação entre o ideário estabelecido nos projetos dos cursos e as práticas pedagógicas implementadas no contexto escolar da sala de aula. Essa constatação pode ser explicada pelo fato de que a mudança de uma cultura organizacional, através das normas, não implica a ruptura de valores, costumes, crenças, nem a aquisição de novas atitudes por parte dos indivíduos, provocando mudanças no seu comportamento anterior. Para que isso ocorra, essas mudanças devem surgir de uma necessidade, a partir de avaliações realizadas pelos agentes envolvidos no processo educativo, nas quais são identificadas falhas, distorções e necessidades de ajustes e/ou modificações. Em se tratando de uma política em nível de governo, faz-se necessário que seja discutida e elaborada com a participação desses agentes. 27 Dessa forma, passa também pelo estabelecimento de discussões e, sobretudo, de ações dialógicas sobre a necessidade de mudar e de se estar aberto a estas. Todavia resistir à mudança é um processo cultural do ser humano e, portanto, não deve ser resolvido através da coerção e imposição, uma vez que não se trata de rebeldia ou insubordinação, mas uma forma de mostrar que não queríamos que o processo educativo se reduzisse a um modelo que, além de proporcionar a fragmentação do currículo, pudesse levar ao condutivismo no qual se prescreve comportamentos a serem produzidos no processo de ensino e aprendizagem. No caso específico do CEFET−PB, partimos do princípio de que, se os envolvidos diretamente no processo tivessem participado das tomadas de decisão sobre as mudanças que se desejavam implementar e se estas tivessem considerado a experiência docente, a partir da pedagogia que já vinha sendo desenvolvida, acreditamos que não tinha havido tanta resistência, principalmente por parte dos professores e pedagogos. Sob essa ótica, haveria uma maior abertura a novas aprendizagens através do diálogo e da tomada de decisão de forma coletiva − a participação democrática do grupo orientada para a mudança de comportamento; o diálogo compreendido enquanto um procedimento capaz de possibilitar consenso, decisão e transformação, bem como ação entre iguais e os diferentes, admitindo-se as relações dialógicas, mesmo quando as relações de poder são assimétricas. Na verdade, defendemos que havia a necessidade de mudanças no ensino do CEFET−PB, principalmente no ensino técnico, não na perspectiva da pedagogia das competências, mas dentro de uma perspectiva histórica que há muito vem sendo defendida pelos educadores “progressistas”. Para Kuenzer (1989), faz-se necessário superar essa visão estreita tomada pela profissionalização, para pensar a perspectiva de uma formação que possibilita um fazer refletido, no qual teoria e prática estão aliadas e mediadas pela construção histórica de como ele foi construído. Não obstante, este trabalho tem como categorias teóricas de análise as concepções de Resistência e de Adaptação, uma vez que, diante de imposições de mudanças, identificam-se atitudes de conformismo/aceitação/adequação e, principalmente, de resistência desencadeada no confronto das novas experiências com os comportamentos anteriores que estão sendo desafiados. De acordo com Giroux (1997), as escolas são espaços de contradição, pois, ao mesmo tempo em que reproduzem a sociedade mais ampla, contêm espaço para resistir a sua lógica de dominação. Embora não defina claramente esses conceitos, em sua investigação Chauí (1986) pauta-se em fatos e situações da cultura popular nos quais podem ser 28 constatadas manifestações de conformismo e de resistência. A autora trata a questão da resistência e do conformismo destacando a ambigüidade desses conceitos que, por serem resultantes de práticas sociais e históricas determinadas, carregam subjetividade. Portanto, podem ser isto e aquilo ao mesmo tempo. Nesta pesquisa, definimos como Objetivo Geral avaliar as práticas pedagógicas dos cursos técnicos de Eletrônica do CEFET−PB, a partir da implantação do modelo pedagógico das competências em 2001. Para tanto, delineamos objetivos específicos que nos possibilitaram direcionar o foco ao objeto de pesquisa: • Verificar entre os docentes, alunos e pedagogos as concepções de competências e suas aplicações nos cursos técnicos da área de Eletrônica do CEFET−PB. • Confrontar as orientações normativas da reforma da educação profissional de nível técnico com as ações desenvolvidas nos currículos dos cursos técnicos. • Conhecer as práticas pedagógicas dos docentes dos cursos técnicos da área de Eletrônica, tendo por base seus procedimentos metodológicos e suas práticas avaliativas. • Identificar as dificuldades e facilidades enfrentadas pelos professores, alunos e pedagogos na implementação do modelo das competências. Em síntese, a pedagogia das competências aponta para uma mudança na postura metodológica do trabalho docente, no sentido de adoção de novos métodos de ensino focados na construção de competências, nos quais os conteúdos devem constituir-se num meio para a construção destas em contextos interdisciplinares de ensino e de avaliação. Será que restringir as reformas da educação a mudanças dos procedimentos metodológicos vai resolver o problema? Como lidar pedagogicamente com essa questão? 29 1.2 A SISTEMÁTICA DE TRABALHO 1.2.1 O objeto empírico de estudo: O CEFET−PB Esta é uma pesquisa pautada na tentativa de compreender a relação entre o currículo normatizado nos cursos técnicos de Eletrônica e as práticas pedagógicas implementadas na sala de aula. Os dados foram coletados em 2005, através de questionários, e as informações organizadas e analisadas. Os professores entrevistados foram questionados quanto à concepção de competências, metodologia utilizada em sala de aula, instrumentos de avaliação e outras variáveis referentes às práticas pedagógicas dos docentes, pertinentes ao objetivo deste estudo. Portanto, a análise dos dados foi realizada com o propósito de responder aos objetivos da pesquisa. A investigação teve como campo de observação os cursos técnicos de Eletrônica do CEFET−PB: Instalação e Manutenção de Sistemas Eletrônicos, Instalação e Manutenção de Equipamentos de Informática e Redes e Instalação e Manutenção de Equipamentos MédicoHospitalares. De acordo com a avaliação de professores de Eletrônica, pelo fato de ter sido o pioneiro na estrutura modular baseado nas competências, este configurou-se com um caráter mais generalista. Com a sua implementação, foram sendo identificados alguns problemas como a superposição de conteúdos. Após uma avaliação, foi extinto e desmembrado em outros dois cursos focados numa ocupação no mercado de trabalho: Instalação e Manutenção de Equipamentos Médico-Hospitalares e Curso de Instalação e Manutenção de Equipamentos de Informática e Redes. Apesar da sua extinção, ainda foi possível conversar com alguns alunos, que apontaram uma série de dificuldades enfrentadas durante o curso. Inicialmente, foi aplicado um questionário para proceder a um apanhado geral sobre questões específicas da área nos procedimentos metodológicos e avaliativos. Feito esse levantamento e sua categorização, vistos os pontos de semelhança e diferença, partimos para a entrevista, a fim de que as questões fossem mais aprofundadas e explicadas. Por exemplo, 30 quando o professor dizia que a avaliação objetivava “verificar o conhecimento adquirido pelo aluno”, essa questão serviu de base para a elaboração do roteiro de entrevista, na qual tentouse operacionalizar o que era esse conhecimento para ele; como isso se materializou nos cursos técnicos e que instrumento ofereceu condições para dizer se o aluno estava apto a prosseguir. Além de questionários e entrevistas, foram utilizadas conversas com alunos. Os dados coletados foram primários, através da aplicação de questionários com perguntas abertas e fechadas, da realização de entrevistas semi-estruturadas e da participação em reuniões com professores e alunos. Utilizou-se ainda a pesquisa documental, para a coleta de informações. Vale destacar que o fato de os alunos fazerem avaliações mais qualitativas enriqueceu ainda mais essa pesquisa. A população desta pesquisa foram docentes, alunos dos cursos técnicos de Eletrônica que estavam cursando o módulo III, e equipe pedagógica − englobando doze professores de um total de dezoito; quarenta alunos de um total de noventa e cinco e uma pedagoga de um total de seis. Constituíram-se, assim, representantes de uma determinada situação para elucidar a problematização, os objetivos e a hipótese da pesquisa. As variáveis objeto de avaliação foram os Tipos de Procedimentos Metodológicos e os Tipos de Procedimentos Avaliativos, referenciados pelo modelo das competências e pelo modelo tradicional, conforme demonstrado abaixo na matriz de avaliação. Matriz de Avaliação INDICADORES PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS COMPETÊNCIAS Situações de aprendizagem TRADICIONAIS Aulas expositivas PROCEDIMENTOS AVALIATIVOS COMPETÊNCIAS TRADICIONAIS Acompanhamento Avaliação Situações que envolvem problemas Visitas Técnicas Práticas profissionais Prova Projetos integradores Projetos integradores Práticas em laboratório Práticas profissionais Observação Projetos interdisciplinares Portifólio 31 O procedimento adotado neste trabalho está organizado da seguinte forma. No primeiro capítulo, fazemos uma contextualização da reforma da educação profissional e modelo das competências, para possibilitar ao leitor adentrar no objeto de pesquisa, na sua problemática, na sistemática de trabalho e no objeto empírico da pesquisa. No segundo capítulo, procedemos a uma revisão de literatura, apresentando a noção de competências na visão de diferentes autores e remetendo-as à instância do sistema educativo, mais especificamente no âmbito da formação profissional. Complementamos a discussão sobre esse “novo” modelo com a pedagogia das competências. No terceiro capítulo, fazemos a descrição do processo de implementação da reforma da educação profissional nos cursos técnicos do CEFET−PB, lançando um rápido olhar na origem do CEFET−PB e sua evolução. Também realizamos uma síntese das mudanças ocorridas na instituição a partir de 2001, apontando os cenários e tendências atuais do ensino no CEFET−PB. No quarto capítulo, tratamos do modelo das competências na perspectiva do MEC, destacando as orientações para elaboração dos planos dos cursos técnicos e de ações para implementação da reforma. No quinto capítulo, expomos o desenvolvimento da pesquisa, descrevendo os processos peculiares das práticas e dos procedimentos pedagógicos na voz de seus atoresocentes, alunos e pedagogia. Nesse tópico, são apresentados depoimentos e avaliações dos sujeitos que participaram da pesquisa. No sexto e último capítulo, procedemos a algumas considerações, resultantes das reflexões realizadas no percurso da pesquisa, tendo em vista colaborar para o avanço do entendimento da problemática em questão e contribuir para a avaliação dos cursos técnicos no âmbito de ETFs e CEFETs. 32 2 A NOÇÃO DE COMPETÊNCIAS: DIFERENTES VISÕES Às finalidades tecnocráticas dos gerenciadores se opõem às finalidades humanistas dos pedagogos. Ropé A oposição entre o conhecimento técnico e o das humanas expressa pela epígrafe acima nos conduz ao modelo pedagógico das competências que orientou as reformas dos sistemas nacionais de formação profissional na Europa, a partir dos anos 80. Aliás, a discussão em torno da competência e da sua relação com conhecimentos encontra-se no âmago das reformas curriculares em vários países. Na França, sua implementação no campo educacional ocorreu na década de 1990, a partir das gerências dos recursos humanos no contexto empresarial, no qual a formação e o desempenho da força de trabalho estão vinculados ao atendimento das exigências do mundo do trabalho. Esse modelo serviu de base para a reforma da educação profissional em toda a América Latina nos anos 90, inclusive no Brasil. No caso da sua aplicação aos modelos educacionais, sua disseminação ocorreu no final da década de 1970 vinculada ao condutivismo e à psicologia norte-americana. No caso do Brasil, a pedagogia das competências foi incorporada nos discursos oficiais, a partir da década de 1990. Considerando o seu caráter contraditório e a plasticidade do seu conceito, buscamos apreender, por intermédio da visão de alguns autores, a noção de competências que deve orientar as práticas pedagógicas dos cursos técnicos do CEFET−PB. De acordo com o Glossário de Termos Técnicos da Organização Internacional do Trabalho-OIT (2002), o ensino baseado em competências surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 70, tendo como base cinco princípios. O primeiro princípio é que toda aprendizagem é individual. O segundo é que o indivíduo, como qualquer sistema, orienta-se por metas a serem atingidas. O terceiro é que o processo de aprendizagem é mais fácil quando o aluno sabe precisamente a perfomance que se espera dele. O quarto é que o conhecimento preciso dos resultados a serem atingidos favorece a aprendizagem. Consoante o quinto princípio, é mais provável que o aluno faça o que se espera dele e o que deseja de si próprio, se lhe for concedida responsabilidade nas tarefas de aprendizagem. Quando o ensino para competências foi introduzido nos Estados Unidos, ele foi aliado à concepção da época de planejamento 33 sistêmico e serviu para introduzir, na educação, os conceitos de modulação, análise de conteúdos e itinerários de aprendizagem. Ainda segundo o Glossário da OIT (2002, p.22), competência significa a capacidade de articular e mobilizar conhecimentos, habilidades, atitudes e práticas, necessários para o desempenho de uma determinada função ou atividade, de maneira eficiente, eficaz e criativa, conforme a natureza do trabalho. Capacidade produtiva de um indivíduo que se define e se mede em termos de desempenho real e demonstrado em determinado contexto de trabalho e que resulta não apenas da instrução, mas em grande medida da experiência em situações concretas do exercício ocupacional. Conforme Perrenoud, competência em educação é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações ou de problemas. Para o autor, a abordagem por competências é uma maneira de levar a sério um problema antigo, o de transferir conhecimentos. No sentido de impulsionar o debate, questiona o papel da escola diante das competências: Desenvolver competências é assunto da escola? A escola deve limitar-se à transmissão de conhecimentos? Na sua concepção, em geral a escola se preocupa mais com ingredientes de certas competências do que em colocá-las em sinergia nas situações complexas. Assim, a abordagem do desenvolvimento de competências na escola passa, necessariamente, pela reflexão dos rumos que a educação está tomando, em que contexto se desenha esse desafio de mudança e, sobretudo, nas ações dos envolvidos nessas práticas. No entendimento do autor (1997), a noção operacional de competências se refere a situações que requerem a tomada de decisões e a resolução de problemas. Isso significa que deter conhecimentos ou capacidades sobre algo não implica possuir competências. Ou seja, pode-se conhecer regras da matemática, mas não saber aplicá-las no momento certo. Na lógica do seu pensamento, uma competência permite ao indivíduo a mobilização de conhecimentos para enfrentar uma determinada situação, isto é, trata-se de uma capacidade de encontrar vários recursos, no momento e na forma adequados. O sentido de competência implica, portanto, uma mobilização dos conhecimentos e dos esquemas para desenvolvimento de respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas novos. 34 De acordo com Machado (2000, p.5), as competências constituem padrões de articulação do conhecimento a serviço da inteligência. Podem ser associadas desde os esquemas mais simples de ação até às formas mais elaboradas de mobilização do conhecimento, como a capacidade de expressão nas diversas linguagens, a capacidade de argumentação na defesa de um ponto de vista, a capacidade de tomar decisões, de enfrentar situações problemas, de pensar e elaborar propostas de intervenção na realidade. Segundo o autor (2002), é interessante analisar o parentesco semântico que existe entre as idéias de competência e competitividade. A origem comum é o verbo competir (com + petere), que no latim significa buscar junto com, esforçar-se junto com ou pedir junto com. Apenas no latim tardio passou a prevalecer o significado de disputar junto com. No contexto educacional, a noção de competência é muito mais fecunda e abrangente, mantendo o caráter de mediação com a idéia de disciplina. Conforme Resende (2000), existem várias acepções para a palavra competência, mas tradicional e freqüentemente o termo tem sido usado com os seguintes significados: • atributo para realizar uma incumbência: “este assunto é de sua competência”. • prova de idoneidade: “a pessoa indicada tem competência para responder pelo grupo”. • atributo de poder de decisão: “somente a diretoria tem a competência para resolver essa questão”. • condição de suficiência: “ele é competente bastante para cuidar do assunto”. Para o autor, o conceito de competência se aplica a uma característica ou a um conjunto de características ou requisitos, conhecimentos, habilidades ou aptidão, atribuídos a um indivíduo ou conjunto de indivíduos, sendo indicado ainda como uma condição capaz de produzir resultados e de solucionar problemas. David C. McClelland, citado por Resende (2000), define as competências como características individuais, conhecimentos, habilidades, objetivos e valores capazes de predizer/causar efetiva ou superior performance no trabalho ou em outra situação de vida de uma pessoa ou grupos de pessoas. 35 Novaes (2001) ressalta três perspectivas para a definição de competências: como um conjunto de tarefas independentes; como um conjunto de atributos indispensáveis para o desempenho efetivo de profissionais considerados excelentes e como um conjunto estruturado holístico em que se combina a perspectiva de atributos do indivíduo com o contexto no qual está inserido. Léa Depresbiteris (2001) define competência como a capacidade de uma pessoa desenvolver atividades de maneira autônoma, planejando, implementando e avaliando. Ou, ainda, como a capacidade para usar habilidades, conhecimentos e atitudes em tarefas ou em combinações de tarefas ocupacionais. Segundo a autora (1999), a aplicabilidade do conceito no contexto educacional depende quase sempre dos autores nas quais as idéias foram baseadas, das metodologias de análise das atividades do mundo do trabalho e das maneiras como as competências serão traduzidas para os currículos. Para Deffune e Depresbiteris (2002, p.78), as competências são aprendidas ao longo da vida, e todas as experiências podem se constituir em ocasiões de aprendizagem. Assim, tem-se que levar em conta que o conceito de competências está intrinsecamente relacionado ao de educação continuada. Nesse sentido, não se pode falar num processo linear de competências, porém numa perspectiva de educação continuada, na qual estejam presentes todas as oportunidades oferecidas à pessoa, seja pela escola, por diferentes instituições da sociedade ou especificamente pelo mercado de trabalho. No entendimento de Ropé e Tanguy (1997), a noção de competência atualmente substitui o que antigamente chamávamos de “saber”, no campo educacional, e “qualificação”, no campo do trabalho. Não significa que esses conceitos deixem de ser usados, mas que perderam sua posição central em relação ao novo termo (op. cit.,). Por isso, na atualidade a noção de competência é polissêmica e reveste-se de uma função geral incerta, ensejando múltiplas interpretações, nem sempre com a necessária clareza epistemológica, o que demanda cuidados. Entende-se assim que competência, para as autoras, é a capacidade para resolver um problema em uma situação dada, que implica sempre uma ação que só pode ser mensurada através da aferição de resultados. De acordo com Pena Firme (2000), competências são essencialmente as evidências do que o indivíduo é capaz de fazer com aquilo que sabe. Para Hirata (1994, p.132-133), a noção de competência é oriunda do discurso empresarial nos últimos dez anos na França, tendo sido 36 retomada na atualidade por economistas e sociólogos. É uma noção ainda bastante imprecisa e decorreu da necessidade de avaliar e classificar novos conhecimentos e novas habilidades geradas a partir das novas exigências de situações concretas de trabalho, associada, portanto, aos novos modelos de produção e gerenciamento e substitutiva da noção de qualificação, ancorada nos postos de trabalho e nas classificações profissionais que lhe eram correspondentes. Segundo essa autora, a polêmica em torno da substituição do conceito de qualificação pelo conceito das competências está apoiada em falsos pressupostos. O que parece surgir dessa discussão é que ambos os conceitos, qualificação e competência, escamoteiam a dinâmica que se realiza entre as forças produtivas e as relações de produção. Manfredi (1998), explica que as expressões qualificação e competência parecem ter matrizes distintas, ou seja, enquanto a noção de qualificação está associada ao repertório teórico das ciências sociais, a noção de competência está historicamente ancorada nos conceitos de capacidades e habilidades, constructos herdados das ciências humanas: psicologia, educação e lingüística. Para Alexim e Lopes (2005), é possível admitir duas concepções de competências: a primeira, mais afinada com os empregadores e que só reconhece competência quando o conhecimento é filtrado pela experiência prática em situação real de trabalho. A segunda visão, mais ligada aos processos educativos, fala de um potencial que é criado e pode ser aplicado em diferentes situações, se uma demanda concreta se apresenta. Segundo Ramos (2001), a noção de competências extrapola o campo teórico para adquirir materialidade pela organização dos currículos e programas escolares. Nesse contexto, ela pode ser analisada na perspectiva das pedagogias psicológicas, desde sua identidade original com o condutivismo12 até a aproximação mais recente com o construtivismo13. De acordo com a autora (2001, p.89), 12 Condutivismo − advém da estrutura comportamentalista de Skinner e é apropriada pedagogicamente por Bloom. O uso de competência deve-se à necessidade de se expressarem claramente os objetivos de ensino em termos de condutas e práticas observáveis (RAMOS, 2001, página 90). 13 Construtivismo − uma tendência da psicologia cognitiva influenciada principalmente pelos trabalhos de Piaget. Para os cognitivistas, o conhecimento é produzido internamente como uma construção mental e individual do sujeito em uma relação que envolve o conhecimento existente com o conhecimento novo. Nessa concepção, o pressuposto principal é do sujeito como construtor do conhecimento Em síntese, o construtivismo trata-se de um enfoque teórico que aborda o conhecimento como uma construção humana de significados na interpretação do mundo. Ver Ramos (2001, p.3). Com base na teoria da equilibração de Piaget, a completa estrutura dinâmica das competências incorpora a idéia de construtividade do conhecimento na perspectiva de superação do condutivismo. 37 a matriz condutivista, utilizada principalmente nos Estados Unidos, consideram as competências superiores e, por isto, analisam as atividades desenvolvidas pelos experts, com vistas a levar o conjunto de trabalhadores a um estágio equivalente de desempenho. A matriz construtivista, por outro lado, que tem sua origem na França, incorpora a contribuição dos trabalhadores com menor nível de desempenho, buscando construir uma análise integrada e participativa dos processos de trabalho. Essa matriz condutivista, alicerçada na estrutura comportamentalista desenvolvida por Skinner na psicologia e na pedagogia de Bloom, no início da década de 60, nos Estados Unidos, tem em David C. McClelland um dos seus defensores, quando argumentava que os tradicionais exames acadêmicos, baseados em testes tradicionais de conhecimento e inteligência, não garantiam nem o desempenho no trabalho nem o êxito na vida. Foi com a introdução de outras variáveis que o conceito de competência começou a adquirir novos significados, através de métodos de avaliação, permitindo identificar a competência do indivíduo no processo de seleção de pessoas em empresas, dentro do modelo gerencial de desempenho efetivo. Segundo Ramos (2005, p.224), Bloom, por sua vez, declarava em seu artigo Aprendizagem para o Domínio que “90 a 95% dos alunos têm possibilidade de aprender tudo o que lhes for ensinado, desde que se lhes ofereçam condições para isso. Verifica-se, assim, o surgimento do ensino baseado em competência, que concretizou a aprendizagem para o domínio de Bloom, orientada pelos três objetivos comportamentais: pensar, agir e sentir, englobados em três áreas: cognitiva, afetiva e psicomotora.” Conforme essa autora, (1997), as competências são as estruturas ou os esquemas mentais responsáveis pela interação dinâmica entre os saberes prévios dos indivíduos – construídos mediante as experiências – e os saberes formalizados. Nessa perspectiva, a definição de competência apresentada no âmbito da educação profissional pode ser interpretada da seguinte forma: a expressão “a capacidade de” tem um sentido de motivação intencional e consciente, pois o exercício profissional assim o exige, além de ser coerente com o estágio de desenvolvimento do indivíduo: “mobilizar, articular e colocar em ação” são verbos que expressam ações e operações que podem ser consideradas implícitas e, portanto, do pensamento. “Os substantivos que se seguem, quais sejam, valores, conhecimentos e habilidades”, esses, sim, adquirem novas nuanças (2001, p.31). 38 Para Lucília Machado (1998, p.93), a noção de competência é, de fato, forte e deve ser recuperada, mas numa perspectiva que rompa os critérios que a estão orientando na atualidade: “o fatalismo da disputa competitiva”. Do mundo do trabalho vem o “modelo de competências” com todas as contradições que ele suscita, como, também, vem a interpretação de que ser competente representa saber transgredir. As competências constituem, portanto, padrões de articulação do conhecimento a serviço das inteligências, podendo ser associadas desde os esquemas mais simples de ação até às formas mais elaboradas de mobilização do conhecimento. Para a autora (1998, p.28), a visão pragmática e utilitarista de competência traz sérias implicações para os objetivos educacionais, pois pressupõe a implementação da pedagogia da adaptação e do ajustamento à lógica mercantil, que vê o sujeito do trabalho como um simples valor de troca. Qualificar para o trabalho, nestes termos, é reduzir os espíritos à sociabilidade do capital, é reificar os seres humanos, tomá-los como simples instrumentos, com o objetivo supremo de naturalizar e perenizar o sistema social dominante. Nessa linha de pensamento, Deluiz (2001, p.2) assinala que no modelo das competências os conhecimentos e habilidades adquiridas no processo de trabalho, na escola ou na empresa, devem ter “utilidade prática e imediata”–tendo em vista os objetivos e missão da empresa–, e a qualidade da qualificação passa a ser avaliada pelo “produto” final, ou seja, o trabalhador instrumentalizado para atender às necessidades do processo de racionalização do sistema produtivo. O “capital humano” das empresas precisa ser constantemente mobilizado e atualizado para garantir o diferencial ou a “ vantagem competitiva” necessários à desenfreada concorrência na economia internacionalizada. Segundo a autora (1996), os trabalhadores devem lutar pela aquisição de competências que instrumentalizem a sua atuação na sociedade civil, com vistas à expansão das suas potencialidades e sua emancipação individual e coletiva, uma vez que as competências requeridas pelo setor produtivo os colocam apenas como cidadãos produtores de mercadorias. Na concepção de Rios (2001, p.83), a noção de competência está associada às demandas do mercado de trabalho. Para ela, “não é mau, em princípio, levar em conta uma demanda – afinal, é preciso sempre considerar o contexto em que se desenvolvem a formação 39 e a prática profissional. Arriscado é confundir a demanda imediata, mercadológica, com a demanda social, que expressa as necessidades concretas dos membros de uma comunidade”. Para a autora (op. cit.), substituir o conceito de qualificação, como formação para o trabalho, pelo de competência, como atendimento privilegiado ao mercado de trabalho, parece guardar, então, o viés ideológico presente na proposta liberal, que se estende ao espaço da educação, em que passam a se demandar também “competências” na formação dos indivíduos. Nesse sentido, a preparação aligeirada para atender ao mercado de trabalho cada vez mais competitivo se sobrepõe à formação global do trabalhador. Por outro lado, reduzir a noção de competências à demanda do mercado de trabalho é correr o risco de desconsiderar outras demandas que estão postas na sociedade. Não se pode perder de vista que existem, por exemplo, questões ligadas à ética, à moral, à justiça e à solidariedade envolvidas nas transformações. Nessa perspectiva, educar para competências é, então, ajudar o sujeito a adquirir e desenvolver as condições e/ou recursos que deverão ser mobilizados para resolver uma situação complexa, entre as quais, preservar a sua humanidade, ou seja, enfatizar a emancipação humana como dimensão vital. Para Guiomar Namo de Mello (2003, p.1), uma das propositoras das Diretrizes Curriculares Nacionais da reforma, competência é a capacidade de mobilizar conhecimentos, valores e decisões para agir de modo pertinente numa determinada situação. Para constatá-la há que se considerar também os conhecimentos e valores que estão na pessoa e nem sempre podem ser observados. Conforme a autora, a competência só pode ser constituída na prática. Não é só o saber, mas o saber fazer que deve ser considerado. Aprende-se fazendo, numa situação que requeira este fazer determinado. Se quisermos desenvolver competências em nossos alunos, teremos de ir além do ensino para a memorização de conceitos abstratos e fora do contexto. É preciso que eles aprendam para que serve o conhecimento, quando e como aplicá-lo. Isso é competência, para Mello. Berger Filho (1998, p.9), entende por competências “os esquemas mentais, ou seja, as ações e operações mentais de caráter cognitivo, sócio-afetivo ou psicomotor que mobilizadas e associadas a saberes teóricos ou experienciais geram habilidades, ou seja, um saber fazer”. Segundo esse autor, as competências são: 40 modalidades estruturais da inteligência, ou melhor, ações e operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer. Ou ainda, operações mentais estruturadas em rede que mobilizadas permitem a incorporação de novos conhecimentos e sua integração significada a essa rede, possibilitando a reativação de esquemas mentais e saberes em novas situações, de forma sempre diferenciada. Para o autor, competências situam-se no campo cognitivo e são os conhecimentos necessários para a realização de uma atividade. O autor afirma que o referencial de competências deve ser instrumento permanente de trabalho da escola e do professor, sendo entendido como uma linguagem comum e central do processo educativo, e não como uma lista abstrata que precisa estar presente no “plano de curso”. Segundo ele, as competências devem ser o roteiro permanente para se definirem os problemas que serão propostos aos alunos e o parâmetro para a avaliação do processo pedagógico, pelo desempenho do aluno e pela análise do trabalho. Vale destacar que o referido autor, na época da reforma da educação profissional de nível técnico, era secretário da SEMTEC – Secretaria de Educação Média e Tecnológica. No contexto da reforma educacional apresentado pelo Parecer do CNE/CEB nº 16/99, de 05 de outubro de 1999, a noção de competências é tratada como modelo pedagógico no ensino técnico, entendida como “a capacidade de articular, mobilizar e colocar em ação os valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho”, sempre de modo vinculado à autonomia e à flexibilidade do trabalhador frente às mudanças no mundo do trabalho. Esse é também o conceito que adotamos neste trabalho. 2.1 A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS A utilização do termo competências, no plural, é recente, sendo apropriado aos documentos oficiais que regem a educação brasileira. Em Perrenoud (1997, p.44), a alusão à competência se associa a algo que é específico de cada profissional – daí o uso do termo no 41 plural. Nesse sentido, o conceito serve de referência a tudo aquilo que compete a cada pessoa fazer no espaço do seu trabalho. Conforme Araújo (2001, p.30), a competência tem a sua inspiração filosófica assentada no racionalismo, no individualismo e no pragmatismo. Do racionalismo, traz a marca da determinação de “objetivos formativos comprometidos com a eficiência dos sistemas educacionais, para o atendimento das demandas dos setores produtivos”. Do individualismo, o que se ressalta é o deslocamento do ensino centrado sobre os saberes para um ensino no qual o aluno é construtor do conhecimento, significando a individualização na formação e a mudança no papel do professor. Por fim, o pragmatismo pode ser percebido por intermédio do utilitarismo, da procura de produzir aprendizagens aplicáveis e da adaptação do indivíduo ao contexto social. Segundo Ropé e Tanguy (1997), a partir da análise da realidade francesa, desde o fim da década de 70 as preocupações de emprego se encontram localizadas no centro dos sistemas educativos, o que fez com que a escola se aproximasse progressivamente do mundo das empresas por meio de cooperações de todos os tipos e por revisões, na maneira de pensar os conteúdos de ensino, organizar os modos de transmissão dos saberes e avaliá-los. Tal ocorrência pode ser explicada pela preocupação por parte dos sistemas públicos de educação em tentar responder às exigências de novas competências dos trabalhadores apresentadas pelas mudanças recentes na organização do trabalho. Essa preocupação pode ser percebida em âmbito mundial em muitos espaços e instituições que vêm tentando formular políticas nesse sentido. Para as autoras, se entendermos competências como síntese de múltiplas dimensões, cognitivas, afetivas, sociais e psicomotoras, elas são históricas e, portanto, extrapolam o espaço e o tempo escolar, e só se evidenciam em situações concretas das práticas sociais. A sua mensuração nos tempos e espaços escolares exige reduções que certamente esvaziarão o processo de ensino do seu significado. Por outro lado, as autoras apontam conclusões preocupantes e indicam pontos críticos da pedagogia das competências. Dentre eles, destacam-se: • as mudanças do modelo pedagógico inscrevem-se no âmbito do movimento da racionalização e da intelectualização vivenciadas pelas sociedades modernas, enquanto expressão do cálculo econômico, da razão científica e da técnica. Essa racionalização se legitima na ciência e na técnica. 42 • o modelo das competências se fundamenta na prevalência do método, dos instrumentos, da medida, isto é, em uma aparente tecnologia intelectual que, apesar de apresentar formalmente o caráter de ciência, veicula idéias comumente consideradas necessárias e formuladas, de outro modo, pelos produtores do saber. Nesse sentido, sob uma aparente cientificidade e objetividade do processo pedagógico, além da eliminação do debate e da divergência, as finalidades dessa etapa de desenvolvimento capitalista são apresentadas como universais, a determinar as competências desejáveis (do ponto de vista do capital). • a racionalização14 da pedagogia escolar e da educação profissional não se ampliará a ponto de atingir todas as esferas educativas, conformando uma nova racionalidade para o capital. • a individualização dos processos cognitivos é outra característica apontada como crítica pelas autoras, tendo em vista que não há clareza acerca das dimensões sociais presentes no processo de produção do conhecimento, o que torna incompatível, na contemporaneidade, um modelo de aprendizagem centrado no indivíduo. Na área de educação e trabalho, Deluiz (2001) nos mostra que a palavra competência surgiu no contexto da crise do modelo de organização taylorista, fordista, de mundialização da economia, de exacerbação competitiva nos mercados e de demanda de melhoria da qualidade dos produtos e de flexibilização dos processos de produção e de trabalho. Para a autora (2001, p.20), o modelo de competências é adotado para diversos fins, inclusive para atender às necessidades das novas formas de organização do trabalho na busca por flexibilidade, transferibilidade, polivalência e empregabilidade. No atual modelo de produção, a gestão por competências implica dispor de trabalhadores flexíveis para lidar com as mudanças no processo produtivo, para enfrentar imprevistos com disposição para serem transferidos de uma função para outra dentro da empresa. Isso requer, portanto, a polivalência e a constante atualização das competências dos trabalhadores como possibilidade de empregabilidade. Machado (1998, p.28), refletindo sobre a importância da qualificação e certificação do trabalhador, diz que 14 Entendemos por racionalização, em sentido geral, o método que defende o papel central da razão no ordenamento de toda atividade humana. 43 a exigência de certificação das competências, como instrumento formal necessário aos trabalhadores para a negociação individual por aumentos salariais, promoções e mesmo defesa do seu direito ao emprego, representa uma artimanha da empresa na busca do acesso aos saberes tácitos, construídos e utilizados como prerrogativas do trabalho na luta pelos seus interesses é mais um golpe no poder de negociação dos sindicatos. Como o paradigma das competências centra-se no indivíduo, sob o discurso da laboralidade, joga-se sobre o trabalhador a responsabilidade pelo seu emprego ou desemprego, escamoteando a responsabilidade de outros segmentos sociais e a responsabilidade do Estado no desenvolvimento de políticas de emprego, políticas econômicas, investimentos nacionais, sonegação e má aplicação de impostos, transferência de dinheiro para o exterior. A impressão é de que “o mercado é o novo ‘paradigma’”. Segundo Alves (2003, p.06), é o conceito de empregabilidade que irá apresentar a nova tradução da teoria do capital humano sob o capitalismo global – a aquisição de novos saberes e competências, apenas, habilitam o indivíduo para a competição num mercado de trabalho cada vez mais restrito, todavia não lhe garante a integração sistêmica à vida moderna. Assim, a posse de novas qualificações não garante ao indivíduo um emprego no mundo do trabalho. As competências, conforme Sebastião Neto (2005, p.3), por serem definidas muito mais em função de critérios ligados aos “postos de trabalho” do que em termos de conhecimentos, tendem a substituir os processos coletivos de negociações pelo predomínio dos empregadores na definição das normas de competência e a conduzir a uma crescente individualização na apreciação dos assalariados. Nessa direção, Frigotto (2005) afirma que a ciência, a tecnologia, o trabalho e os processos educativos não podem ser subordinados ao capital, mas ao ser humano, pois este se constitui “o centro e a medida de tudo”. Convém destacar que têm sido várias as noções de competências, de acordo com o ponto de vista teórico de cada autor, englobando, ora conceitos amplos, relacionados ao desempenho dos papéis sociais, emancipação individual e coletiva, ora restringindo-se ao desempenho de uma função profissional. Entretanto percebe-se uma tendência na conceituação da competência profissional como a capacidade do indivíduo em resolver determinadas situações do mundo real do trabalho dentro dos padrões de qualidade e 44 eficiência desejados. Nesse sentido, a competência é tida como inseparável da ação que condiciona o uso dos conhecimentos à capacidade de resolução de problemas. No ponto de vista de aplicação pedagógica do conceito, o seu caráter polissêmico e impreciso gera várias interpretações diferenciadas e provoca instabilidade curricular. A falta de clareza para nortear a prática pedagógica dos professores vem provocando confusos comportamentos em sala de aula. Além disso, o conceito configura-se como reducionista ao tecnicismo e ao comportamentalismo, pois a ênfase não é mais no conhecimento, mas na sua utilização pelo sujeito em determinadas situações. Portanto, o conhecimento é atrelado ao seu uso prático, a sua aplicabilidade Essa é a lógica das competências do modelo educacional vigente. Considerando que a educação profissional deve estar a serviço dos trabalhadores, a opção não pode ser mais pela qualificação para um posto de trabalho, mas para a formação de trabalhadores cidadãos. Esta não pode prescindir de permiti-lhe além de compreender o mundo, visualizar a possibilidade de construção de um novo. Segundo Rios (2001), a significação que tem se dado com mais freqüência ao termo competências no espaço da administração empresarial está relacionada com o que se costuma chamar de desenvolvimento de recursos humanos, expressão que tem sido entendida, comumente, como sinônimo de seres humanos, os trabalhadores, os profissionais. Um rápido olhar para o conceito de competência constante no Parecer do CNE/CEB nº 16/99, mostra-nos que este resgata os termos eficiência e eficácia, que aparecem na ordem do Programa Qualidade Total, que emergiu no Japão, na década de 1950, no novo paradigma da administração empresarial. Esse programa se estabeleceu no Brasil, na década de 80, em várias organizações e instituições de ensino, importado do mundo empresarial, cuja ênfase recai na produtividade e competitividade, em detrimento de um ensino de qualidade, como direito subjetivo de todos os cidadãos. No caso da educação, esta preocupação com o trabalho e com a sua realização, primando pela eficiência e eficácia, atende mais ao interesse do capital do que ao dos indivíduos. Segundo o Parecer do CNE/CEB nº 16/99, o caráter flexivo do significado de competência profissional possibilita o atendimento das atuais demandas no campo do trabalho e das relações sociais, abrangendo as habilidades (fazer), os conhecimentos (saber) e os comportamentos (ser) necessários não somente ao desempenho profissional, mas, também, a um apoio constante à atualização e à atuação social. 45 Analisando os documentos iniciais orientadores do MEC, dentre eles o Parecer acima citado, observa-se que a finalidade principal da educação profissional é a laborabilidade15 ou trabalhabilidade. Nesse sentido, o foco central da educação profissional desloca-se dos conteúdos para a construção de competências exigidas para a atividade a ser desenvolvida pelo aluno. Trata-se de uma visão estreita de profissionalização voltada para o exercício de uma determinada função na atividade produtiva. A formação do trabalhador não deve ser apenas regulada por tarefas. Conforme Proposta Pedagógica do Ensino Técnico do CEFET−PB (1999), os níveis de competências para ocupações dadas se constroem na prática social e é uma tarefa conjunta entre empresas, trabalhadores e educadores. A aquisição de competências é um longo processo: não se evidencia no acúmulo de credenciais, e sim na demonstração de uma capacidade do indivíduo no desempenho em situações problemáticas específicas. Nessa perspectiva, pode-se também, segundo a nossa hipótese, deter o conhecimento sobre o como fazer, mas não aplicá-lo por atitudes de resistência face à imposição de normas, sem haver o consenso de aceitação do grupo. Embora, no contexto atual, comece a se desenhar nas instituições públicas e privadas a perspectiva de atitudes e comportamentos dialógicos. As teorias fundamentadas no diálogo e na participação têm sua origem, no nosso país, com Paulo Freire, que reporta a categoria diálogo não somente como método, mas como mecanismo para respeitar o saber do educando. Nesse sentido, defende que os processos pedagógicos devam ser baseados em comportamentos dialógicos, uma vez que o diálogo é uma exigência existencial que possibilita a comunicação e permite ultrapassar o imediato vivido. No contexto do CEFET−PB, a decisão política dos dirigentes na época foi a de cumprir as determinações do MEC, embora se identificassem posições diferentes por parte de profissionais de educação, ou seja, alguns de aceitação e manutenção de posturas já existentes, e outros de resistência. Segundo palavras de um dos representantes do MEC: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Considerando essa perspectiva dos comportamentos dialógicos, as mudanças não acontecem por dispositivos legais. 15 Os termos empregabilidade, trabalhabilidade e laboralidade são sinônimos utilizados nos documentos da reforma da educação profissional como requisito ao trabalhador para manter-se na atividade produtiva. De acordo com esses documentos, adquirir laboralidade nesse mundo é apreender os sinais de reviravolta dos padrões de qualidade e, inclusive, intuir sua direção (Parecer 16/99, p.91). Laborabilidade entendida como componente da dimensão produtiva da vida social e, portanto, da cidadania (RCNET, 2000, p.9). 46 A noção de competência se relaciona à possibilidade de alguém adquirir saberes e conhecimentos para uma nova aprendizagem e transformação. Baseando-se nessa compreensão defendida por Perrenoud (1997), Paulo Freire, no Brasil, desde os anos 60 já se falava em “saber” (o conhecimento) e “saber fazer” (as habilidades), hoje rebatizados como “competências e habilidades”, terminologia largamente empregada nos contextos pedagógicos contemporâneos. Não obstante, termos como problematização, utilizado na pedagogia de Paulo Freire, é retomado por Perrenoud, porém em perspectivas diferentes. Na lógica de Paulo Freire, as situações−problemas, os desafios lançados ao grupo e o espaço de decodificação dessas situações, com a ajuda do coordenador, não têm a pretensão de transformar o processo educacional num processo de domesticação. A educação problematizadora se faz, assim, num esforço permanente através do qual os homens vão percebendo, criticamente, como estão sendo no mundo com que e em que se acham. Conforme Perrenoud (1997), as situações−problemas são situações complexas nas quais os alunos possam mobilizar esquemas para realizar o que se almejam. O autor parte do pressuposto de que o modelo das competências não comporta mais a transmissão de conhecimentos, mas a apresentação de problemas aos alunos. No caso do CEFET−PB, não se sabe se os processos pedagógicos dos cursos técnicos estão sendo trabalhados nessa perspectiva. Outra diferença entre as idéias desses pensadores se refere à transmissão de conhecimentos. Paulo Freire ressalta que a escola não deve apenas transmitir conhecimentos, mas também se preocupar com a formação global dos alunos, numa visão onde o conhecer e o intervir no real se encontrem, trabalhando e reconhecendo as diferenças. Segundo o autor (1996, p.25), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. Perrenoud (1997), por sua vez, prioriza o desenvolvimento de competências, através de situações− −problemas, nas quais o conteúdo é tido como um recurso e, apenas, um dos elementos a serem levados em conta. Reportando a Ramos (2001, p. 221), “parte-se das situações concretas, recorrendo-se às disciplinas na medida das necessidades requeridas por essas situações”. Para Ropé (2002), os conhecimentos passam a ser definidos em termos da identificação com a ação que deve ser realizada pelo aluno. Alguns críticos de Perrenoud afirmam que, no ensino baseado nas competências, não há lugar para os saberes. 47 O saber− −mobilizar que está na raiz de toda competência não é uma representação, ou seja, um conhecimento estrito, e sim uma aquisição de informações, conhecimentos, habilidades e aptidões incorporadas no indivíduo. Porém, enquanto Piaget chama de esquema: uma totalidade constituída, que sustenta uma ação ou operação única, a competência orquestra um conjunto de esquemas. Segundo Ramos (2005, p.118), não se pode perder de vista que o homem não é somente um ser cognitivo (capaz de desenvolver os esquemas mentais), mas também epistêmico cuja natureza compreende a capacidade e a necessidade de conhecer. Desta forma, os saberes continuam sendo os conteúdos da prática pedagógica a serem ensinados/aprendidos através de um processo que, necessariamente, implica a mobilização de capacidades cognitivas, mas não se restringe a elas, uma vez que essa mobilização depende dos saberes. Embora a aquisição de uma competência pressuponha a existência de recursos mobilizáveis, nenhum desses é exclusivo de uma competência, à medida que pode ser mobilizado por outras competências em outros contextos. Nesse sentido, um indivíduo ostenta várias competências, umas sobressaindo a outras. No caso do CEFET− −PB, durante o processo de construção e implementação do modelo pedagógico das competências, dentre os elementos que provocaram instabilidade, destacaram-se a falta de clareza do conceito das competências e, sobretudo, a idéia de que as disciplinas deveriam ser suprimidas do currículo. No currículo por competências, há uma subordinação por parte dos conteúdos à competência a ser desenvolvida, passando a idéia de oposição entre estes. Em síntese, se o fato de desenvolver competências não se opõe a ensinar conteúdo, da mesma forma transmitir conhecimentos pressupõe também um outro modo de o aluno desenvolver atividades. Enfim, um processo não elimina, necessariamente, o outro. Em relação ao CEFET− −PB, antes de se adotar o modelo das competências no sistema educacional brasileiro, quando se discutia reformular a organização curricular, uma das primeiras questões era: quais os conteúdos a serem trabalhados? Atualmente, a ênfase passou a ser a construção de competências a serem desenvolvidas pelo aluno. Na verdade, criou-se um mito em torno da competência como ponto de partida. É preciso desmistificar, pois ela deve ser concebida como ponto de chegada, isto é, horizontes que vislumbramos onde queremos chegar. 48 De acordo com Ramos (op. cit., p.118), há uma exigência de se aceitar que o desenvolvimento de competências é uma conseqüência e não o conteúdo em si desse processo, e que os efeitos pretendidos com a prática pedagógica podem se constituir no máximo como horizontes, cujos limites se alargam permanentemente na proporção das próprias aprendizagens. O ensino baseado nas competências pressupõe a transferência de recursos entre professores e alunos, no sentido de desafiar o sujeito a mobilizar recursos para tomar decisões e resolver situações− −problemas. Uma das críticas ao ensino “tradicional, conteudista” é que os educandos acumulam saberes, são aprovados em exames, mas não conseguem mobilizar os conhecimentos que aprenderam na escola em situações reais, seja no trabalho, seja na família ou no contexto em que vivem. Outro aspecto criticado no modelo de ensino centrado na transferência e memorização de conhecimentos é que os alunos, após cinco anos, não lembram mais o que estudaram no currículo, em função de os alunos não saberem para que estão estudando determinados conteúdos. Será que realmente o problema está na transmissão dos conteúdos ou na forma como são repassados, isto é, sem que o aluno saiba o seu real significado? Sob a ótica das competências, as instituições de ensino devem organizar os seus currículos, incluir novos conteúdos, novas formas de organização do trabalho, incorporação dos conhecimentos tácitos que são adquiridos na prática, metodologias que propiciem o desenvolvimento de capacidades como resolver problemas novos, comunicar idéias, tomar decisões, ter iniciativa, ser criativo e ter autonomia intelectual. Analisando essas críticas feitas à pedagogia “tradicional”, não se pode perder de vista que a competência não é um princípio, a escola pode trabalhar com competências, porém na perspectiva de que devemos formar nossos alunos como pessoas competentes para compreender o conhecimento produzido até então, mobilizar, do ponto de vista cognitivo e intelectual, para que os alunos se apropriem desses conhecimentos e se tornem pessoas capazes de utilizar esses conteúdos. No próximo capítulo, iremos expor sobre como ocorreu a reforma da educação profissional no Brasil, focando as mudanças ocorridas no CEFET− −PB, sobretudo nos procedimentos pedagógicos dos cursos técnicos, além de apresentar as tendências atuais do ensino no CEFET− −PB. 49 3 A REFORMA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL A década de 1990 caracterizou-se como um período de mudanças processadas no sistema educacional brasileiro, particularmente na educação profissional de nível técnico, objeto específico deste estudo. Até a década de 1990, as escolas técnicas e CEFETs, dada a sua organização, formavam um subsistema do ensino técnico de segundo grau com a função de formar técnicos de nível médio. Quando foi promulgada a Nova LDB nº 9.394/96, houve a desvinculação da educação profissional do ensino regular, tornando-a complementar à educação básica. A reforma educacional brasileira foi instaurada durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, através da Lei nº 9.394/96 − LDB. A partir desse período, o sistema educacional brasileiro passou a refletir uma política de governo que objetivava não apenas o gerenciamento e a redução dos custos com educação, e como estratégia particular do denominado ajuste estrutural, e configurando em um elenco de projetos pontuais. Esses projetos vivenciados nos sistemas de ensino foram traduzidos num conjunto de documentos legais, entre os quais a Lei de Reforma da Educação Profissional. O MEC, valendo-se da justificativa de alto custo e do reduzido atendimento às ETFs e CEFETs, formulou a reforma da educação profissional a partir de documentos produzidos por especialistas como Cláudio Moura Castro e João Batista Araújo e Oliveira. Por outro lado, o reconhecimento da qualidade do ensino ali processado fazia com que a cada ano aumentasse a demanda de alunos em busca de uma melhor qualificação, por isso sendo vista como trampolim para seus alunos alcançarem o ensino superior, prejudicando a sua função primária de formar técnicos de nível médio. Esses argumentos serviram de justificativa para a realização das mudanças na educação profissional de nível técnico na década de 1990, desencadeando movimento de protestos e atitudes de resistência por parte dos seus alunos. Por outro lado, na discussão sobre a reforma da educação profissional, sabe-se que muitas das orientações normativas que organizam o atual sistema educacional brasileiro partiram do princípio de que a educação profissional deve se ajustar à nova realidade econômica internacional para promover a competitividade do país, em função da abertura da economia européia para fora do continente e da eliminação de barreiras entre países. Segundo 50 Kuenzer (2003), a pedagogia das competências constitui-se numa adequada resposta no que se refere às novas demandas de disciplinamento dos trabalhadores para comportamentos flexíveis, de forma a adaptarem-se com rapidez e eficiências a situações novas, bem como criarem respostas para situações imprevistas. Conforme Frigotto (1997), quando as Escolas Técnicas Federais − ETFs e os Centros Federais de Educação Tecnológica − CEFETs avançavam significativamente no processo interno de democratização, de gestão e da estruturação dos projetos político-pedagógicos buscando a perspectiva de uma educação unitária, surge o projeto do MEC no sentido contrário, ou seja, no sentido de modulação fragmentária, do dualismo e, sobretudo, de um anacrônico reducionismo da formação técnica. Segundo o autor, principalmente no Brasil, a escola não pode perder de vista sua atribuição de apresentar-se para todos os cidadãos com qualidade, com capacidade de trabalhar o conhecimento técnico devidamente interligado com as questões de caráter político, social e cultural. Nessa direção, Ferretti (1994) afirma que, diferentemente das afirmações contidas nos documentos normatizadores, a reforma reproduziu a dualidade histórica do ensino brasileiro entre educação geral para as classes privilegiadas e educação profissional direcionada aos alunos que têm baixa escolaridade e a inserção social desfavorável, além de tê-la como paliativo ao desemprego gerado pelas mesmas circunstâncias históricas e modelo produtivo. Realizado um levantamento acerca da origem dos alunos do CEFET− −PB16, os dados apontam que, apesar de os cursos técnicos seqüenciais terem permitido o acesso de alunos provenientes de escolas públicas, aumentou o índice de evasão nestes cursos. Não se detectam quais os fatores responsáveis por essa evasão. Sabe-se que, na década de 1990, quando o ministro Paulo Renato assumiu o Ministério da Educação, existia, por parte do Banco Interamericano de Desenvolvimento − BID, a intenção de conceder um empréstimo para fomentar o ensino técnico. Como o BID estava 16 55,37% dos alunos do ensino médio são oriundos de escolas públicas, e 44,63% de escolas particulares. Com relação ao ensino técnico, 65,79% dos alunos são provenientes de escolas públicas, e 34,21% de escolas particulares. No ensino superior, 41,61% dos alunos são procedentes de escolas públicas, enquanto 58,39% de escolas particulares. Ainda em relação ao ensino técnico, alvo da minha pesquisa, 64,04% dos alunos não trabalham, enquanto 35,96% já se encontram no mercado de trabalho. A clientela do ensino técnico, em termos de faixa etária, é a seguinte: 42,98% − de 18 a 19 anos; e 39,04% − de 20 a 24 anos. (Relatório da Gerência do Ensino Técnico − 2005). 51 relutante, surgiu a idéia de dividir os segmentos acadêmico e técnico, além da garantia de contenção das matrículas no segmento acadêmico das Escolas Técnicas e CEFETs. Ninguém discorda que as novas propostas do ensino técnico colocavam na mira os interesses da produção e do mercado que tem o Banco Interamericano de Desenvolvimento − BID, principal financiador da reforma da educação profissional no Brasil, ao difundir a importância de as atividades de capacitação profissional estarem voltadas para as reais demandas do mercado. Partia-se do pressuposto de que as escolas técnicas não estavam cumprindo, com eficiência, sua função formativa, uma vez que a maioria de seus egressos direcionaram-se para a continuidade de seus estudos no ensino superior. Através de dispositivos legais, reforça-se a dualidade estrutural, ou seja, para as classes privilegiadas, o ensino universitário voltado para o exercício do pensamento, enquanto para o trabalhador, cursos profissionalizantes para aprendizagem do fazer. Essas mudanças significaram a fragmentação do ensino técnico, tendo em vista toda essa ênfase no saber fazer, para atender a interesses pontuais do mercado. A nova proposta de currículo baseada em competências pressupõe alterações na forma do trabalho docente, a partir de situações− −problema, da pedagogia de projetos e aplicação inventiva dos conhecimentos articulados com outros conhecimentos. Todavia a resistência dos professores em adaptar-se a esse modelo não deve ser encarada como recusa ou simples negação ao que está sendo imposto, mas, sobretudo, como possibilidade de reelaboração do que está sendo determinado, no sentido de uma adaptação a nossa realidade. Os professores, por sua vez, são detentores de uma cultura ou formação didático-pedagógica baseada em disciplinas, não em competências. Com efeito, para responder a esses questionamentos faz-se necessário considerar os novos pressupostos didático− −pedagógicos, políticos e epistemológicos do trabalho pedagógico. Daí, exige-se que a escola esclareça e rediscuta as novas funções sociais, com a sua respectiva proposta educativa, redefinindo o perfil do profissional que deseja preparar, bem como a forma como será realizada essa proposta. A reforma do ensino técnico teve início em 1996, com a promulgação da LDB nº 9.394/96, que deu suporte às reformas desencadeadas nas várias modalidades de ensino. No mesmo ano, foi apresentado o Projeto de Lei − PL nº 1.603/96, que tratava da reforma da educação profissional de nível técnico. De acordo com a exposição de motivos do MEC, o 52 que levou adiante essas reformas foi a necessidade de qualificar melhor as pessoas para atenderem a um mundo globalizado, mais competitivo, mais afinado com o mercado, a partir de análises realizadas por organismos internacionais como BID, UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura). Vale destacar que o PL nº 1.603/96, que teve como relator o deputado federal Severiano Alves (PDT), recebeu em torno de 400 emendas durante a sua permanência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Em face da polêmica em torno do projeto, este foi deslocado para a Comissão de Trabalho e Serviço Público da Câmara, antes mesmo de ser colocado em votação. Com a promulgação da LDB nº 9.394/96, o então ministro da Educação Paulo Renato encaminhou uma exposição de motivos requerendo ao então presidente da República Fernando Henrique Cardoso a retirada do PL nº 1.603/96, para que fossem feitas as adequações necessárias ao conteúdo da Nova LDB. Naquela oportunidade, teve início um movimento nacional das Instituições Federais de Educação Tecnológica que se mostrava contrário a essa intenção do Ministério da Educação. A rede federal de ensino, através dos órgãos representativos, deflagrou um movimento contra o PL nº 1.603/96. Esse período caracterizou-se pela resistência e mobilização dos educadores, através de audiências públicas, seminários, encontros e simpósios que culminaram com a decisão do então relator em apresentar um projeto que se diferenciava do apresentado pelo governo. O governo, entretanto, desconsiderou o projeto do relator e, de forma arbitrária, implementou a reforma, por intermédio do Decreto Lei nº 2.208/97 e da Portaria 646/97, preservando o ideário ideológico do PL 1.603/96, causando assim um impacto muito grande na rede federal. A reforma veio acompanhada da determinação de que a partir de 1997 não seria permitida mais a oferta dos cursos técnicos integrados regulares. Nesse contexto de incertezas e indefinições, os professores da formação geral do CEFET− −PB, além de resistirem à mudança pela adoção de um novo modelo pedagógico, ficaram apreensivos também em relação ao seu próprio trabalho, em função de o propósito do MEC naquele momento ser a progressiva extinção do ensino médio. Com razão, suas inquietações se traduziam no que eles fariam após a consolidação desse modelo que trouxe de volta o tecnicismo. No caso do CEFET−PB, com a decisão política do então dirigente em cumprir as orientações da reforma da educação profissional de nível técnico, em 1996/1997, foram 53 organizadas ações como a constituição de Comissões com representantes dos diversos segmentos para elaboração coletiva de uma Proposta Pedagógica para o Ensino Técnico a ser implementada no período de transição, em consonância com a legislação vigente. O CEFET−PB, assim como outras instituições de ensino, buscando reestabelecer a integração, utilizou a estratégia de incluir na parte diversificada disciplinas instrumentais à profissionalização e disciplinas introdutórias à determinada habilitação. Como ainda não se tinham em mãos as Diretrizes Curriculares e Referenciais Curriculares, cada instituição teve que elaborar sua proposta de ensino técnico (pós-médio) sem muita orientação do MEC. O MEC, por sua vez, através de ofício determinou que nenhuma instituição tentasse continuar oferecendo proposta pedagógica nos moldes da formação integrada (formação geral e profissional). As Propostas deveriam contemplar uma base científica, tecnológica e instrumental. As disciplinas de caráter científico deveriam ser oferecidas mediante a sua aplicabilidade à área profissional correspondente. O Sindicato dos Trabalhadores Federais da Educação Básica e Profissional da Paraíba − SINTEF não quis participar da comissão, uma vez que este fazia parte, através do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Federais da Educação Básica e Profissional − SINASEFE, de um movimento nacional que lutava pela revogação do Decreto nº 2.208/97 e da elaboração de uma nova proposta para o ensino técnico, o que só veio acontecer no ano de 2004, no Governo Luís Inácio Lula da Silva. Num ato político de resistência dos educadores da formação geral, os dirigentes conseguiram a inclusão do ensino médio na estrutura educacional do CEFET− −PB, embora a proposta do BID fosse ampliar a oferta do ensino técnico e, a cada ano, diminuir a oferta do ensino médio, tendo em vista ser da competência do Estado. Nesse sentido, em 1998 foi elaborada uma Proposta Pedagógica para esta modalidade de ensino, considerando a mesma sistemática adotada pelo ensino técnico, ou seja, constituição de comissões com representantes da comunidade. Para a elaboração da Proposta do Ensino Técnico − 1997/2000, foram definidas pela comissão central do ensino técnico algumas orientações, dentre elas: as habilitações técnicas de nível técnico definidas por área profissional; a carga horária mínima para cada habilitação de 1.200h; o regime da escola semestral e matrícula por disciplina; as habilitações estruturadas sob a forma de módulos; cada habilitação corresponde a um módulo básico da área profissional mais disciplinas eletivas das Especializações Técnicas, mais uma carga 54 horária de disciplinas optativas; cada módulo equivalendo a um conjunto de disciplinas prérequisitos e/ou básicas (obrigatórias), mais um conjunto específico de disciplinas técnicas, mais uma disciplina optativa; a parte diversificada do ensino médio correspondendo a 540 h do currículo das áreas profissionais e habilitações técnicas. Sabe-se que, até o ano 2000, os cursos técnicos tinham como eixo integrador do currículo as disciplinas, no qual o ensino e a avaliação se desenvolviam, tendo como foco a transmissão de conteúdos. A partir de 2001, o modelo pedagógico das disciplinas deu lugar ao modelo das competências. Nessa nova concepção de ensino, o currículo passou a ser organizado em módulos, com possibilidades de certificações profissionais intermediárias. Nesse sentido, diferentes módulos permitem a formação de conjuntos de habilidades e competências que objetivam transcender a uma qualificação profissional. Por exemplo, os cursos técnicos são constituídos de três módulos, nos quais o primeiro é básico, portanto não certifica. A partir do segundo módulo, o aluno pode requerer o certificado de qualificação profissional. Ao concluir os três módulos, recebe o diploma de técnico. Os módulos são concebidos como unidades pedagógicas autônomas e completas entre si, constituídos de conteúdos estabelecidos de acordo com o perfil profissional e capazes de qualificarem pessoas para ocupações definidas, oferecendo uma habilitação plena de técnico de nível médio. Considerando que o modelo das competências pressupõe modificações na ação educativa, o que implica rupturas, avanços e recuos nos processos internos das instituições, decidimos desenvolver esta pesquisa. No ano de 2000, instalou-se um novo processo de discussão para que fossem elaborados os projetos dos cursos técnicos seqüenciais implementados em 2001. A Diretoria de Ensino estabeleceu algumas diretrizes para a elaboração desses projetos, tendo por base textos preliminares do MEC, as Diretrizes Curriculares e os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico. As coordenações dos cursos técnicos, juntamente com os professores, elaboraram os projetos dos cursos técnicos, adotando o modelo pedagógico das competências e atendendo aos itens exigidos pelo MEC nos planos de curso: justificativa e objetivos do curso; requisitos de acesso; perfil profissional de conclusão (competências da área profissional e da habilitação); organização curricular (módulos, competências); critérios de aproveitamento de conhecimentos e experiências anteriores (procedimentos e instrumentos; instrumentos utilizados); critérios de avaliação; infra− −estrutura disponível; pessoal docente e técnico e certificados e diplomas. 55 No contexto atual, através das suas diferentes modalidades de ensino ofertadas, o CEFET− −PB vem atuando na formação de profissionais, no sentido de atender às demandas do cidadão, do mercado de trabalho e da sociedade. Sem pretender fazer uma retrospectiva histórica, antes de adentrar nas mudanças processadas no CEFET− −PB, faremos um resgate da origem das ETFs e dos CEFETs até chegar no contexto atual. 3.1 DA ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES AO CEFET-PB A origem das ETFs e dos CEFETs remonta à primeira década do século XX, com a criação de 19 escolas de artes e ofícios nas diferentes unidades da Federação, entre elas a da Paraíba, através do Decreto nº 7.566/09, de 23 de setembro de 1909, do então presidente Nilo Peçanha. Essas escolas, criadas em um período em que as demandas para atender ao desenvolvimento industrial que estava em fase de implantação, tinham como objetivo a formação de mestres e contramestres para atender às demandas profissionais da época, através do ensino prático e conhecimentos técnicos necessários aos menores e “desvalidos da sorte” que pretendessem aprender um ofício. O Decreto nº 9.070, de 25 de outubro de 1911, oficializou a denominação de “mestres” como uma forma de incentivar os aprendizes que concluíssem curso após quatro anos de estudos e facilitar a sua entrada no mundo de trabalho. A Escola da Paraíba, que oferecia os cursos de Alfaiataria, Marcenaria, Serralheria, Encadernação e Sapataria, inicialmente funcionou no Quartel do Batalhão da Polícia Militar do Estado. Emergia, assim, o ensino técnico, intimamente vinculado ao preparo para o exercício de uma profissão, bem como a contenção dos problemas sociais, agravados com o aumento da população nos centros urbanos. A formação profissional aparece como política pública pela primeira vez na perspectiva de educar através do trabalho. Para Freitag, a criação das ETFs para “as classes menos favorecidas” ocorreu como forma de responder às transformações que vinham ocorrendo na infra-estrutura econômica, com a diversificação da produção, exigindo uma mão-de-obra qualificada para atender ao desenvolvimento da industrialização do país. 56 De acordo com Lima (1995), em 1937 as Escolas Técnicas Federais foram denominadas Liceus Industriais, ministrando os cursos de Serralheria, Artes de Couro (ou Sapataria), Tipografia e Encadernação, Alfaiataria e Marcenaria. Na década de 40, foi editada a Lei Orgânica do Ensino Industrial, estabelecendo dois ciclos para o ensino industrial. O primeiro ciclo englobaria 04 ordens de ensino: Industrial Básico, Maestria, Artesanal e Aprendizagem. O segundo ciclo, duas vertentes, uma técnica e outra pedagógica. Em conseqüência da evolução industrial do país e da preocupação do governo com a qualificação de mão-de-obra, foram criadas as bases para a organização de um sistema de ensino profissionalizante. Nesse contexto, surgiram o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI – e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC. Em 1942, os Liceus Industriais foram transformados em Escolas Industriais, desenvolvendo inicialmente o curso Industrial Básico, nas especialidades já oferecidas. A escola industrial funcionava no edifício construído na avenida João da Mata, onde permaneceu até a década de 1960. No ano de 1961, foram criados os primeiros cursos em nível de 2º grau: o Técnico em Construção de Máquinas e Motores (denominado atualmente de Mecânica) e o de Tecnólogo de Pontes e Estradas. Em agosto de 1965, por meio de ato ministerial, a Instituição passou a denominar-se de Escola Industrial Federal da Paraíba, sendo finalmente instalada no atual prédio localizado na avenida Primeiro de Maio, bairro de Jaguaribe, em João Pessoa. No ano de 1966, foi criado o curso Técnico em Eletrotécnica. Em 1967, em razão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4.024/61, essas instituições foram transformadas em Escolas Técnicas Federais, passando a ministrar cursos técnicos industriais de nível médio, num período de acelerado desenvolvimento industrial. Em 1971, foi criado o curso Técnico em Edificações; em 1972, o de Técnico em Saneamento, hoje denominado de Recursos Naturais; em 1975, deu-se a criação do Pró-Técnico (curso preparatório para ingressar nos Cursos Técnicos), e em 1981, a implantação do curso Técnico em Eletrônica. Com a promulgação da Lei da Educação Nacional nº 4.024/61, é reconhecida pela primeira vez pela legislação educacional a articulação do ensino profissional ao sistema regular de ensino, determinando a equivalência entre os cursos profissionalizantes e os propedêuticos para fins de prosseguimento de estudos, representando um avanço em termos de dualidade estrutural. No ano de 1995, ainda como Escola Técnica Federal da Paraíba, teve ampliada a sua capacidade de atendimento, através da instalação da Unidade de Ensino Descentralizada de 57 Cajazeiras – UNED. No ano de 1999, foi transformada em Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba. Atualmente, a sua equivalência com as Instituições de Ensino Superior – IFEs, através do Decreto – Lei nº 5.225/04, de 1º de outubro de 2004, determinou que os CEFETs que ainda não possuíssem o Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI deveriam apresentá-lo ao MEC no prazo de cento e vinte dias. Tal fato demonstra a sua consolidação como instituição federal de educação profissional e tecnológica, cuja missão é “formar profissionais competentes, polivalentes e capacitados para o exercício pleno da cidadania, em sintonia com o mundo do trabalho, atuando como um Centro de Referência em ensino, pesquisa e extensão na área tecnológica” (PDI, 2005, p. 13). Apesar da sua transformação em CEFET−PB, a impressão que se tem é que esta ainda não foi consolidada em termos concretos, uma vez que permanecemos com um quadro de professores de 1º e 2º graus, missão, posturas e procedimentos de Escola Técnica. Quanto aos componentes de sua função social, estão o desenvolvimento pleno de seus alunos, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, dentro do contexto da educação profissional e tecnológica, ofertada com qualidade, preparando-os para serem agentes transformadores da realidade, objetivando a gradativa eliminação das desigualdades sociais dentro de um contexto de desenvolvimento sustentável (Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI, 2005, p. 13). 3.2 AS MUDANÇAS NO CEFET−PB Até a década de 1990, o Ensino Técnico Regular era organizado por disciplinas, cuja grade curricular era constituída de disciplinas da formação geral e disciplinas da formação profissional que visavam atender às demandas do cidadão, da sociedade e do mercado de trabalho. A duração era de 04 (quatro) anos. Ao término da 3ª série, o aluno que optasse pelo prosseguimento dos estudos tinha direito ao certificado de Auxiliar Técnico no curso escolhido. Para a conclusão do Ensino Técnico, ele deveria cursar a 4ª série e fazer o estágio supervisionado. 58 Em 1997, a partir da Portaria do MEC nº 646/97, de 14 de maio de 1997, que regulamenta a implantação do disposto nos Arts. 39 a 42 da LDB e do Decreto nº 2.208/97, os currículos dos cursos técnicos foram reestruturados no formato de pós-médio, modelo considerado transitório, mantendo-se a ação educativa do ensino regular, todavia o requisito para o ingresso foi condicionado à conclusão do ensino médio. Esse modelo permaneceu até o ano 2000. Por conseguinte, com a publicação da Portaria nº 30/2000, os cursos técnicos deveriam ser organizados na forma seqüencial, definidos a partir das áreas profissionais, baseados em competências e currículos estruturados em módulos. Assim, a partir do ano 2001, as IFETs tiveram que implantar esses cursos dentro dessas novas exigências. A organização dos cursos técnicos seqüenciais implicava em alterações na ação educativa, embora sem uma capacitação prévia dos profissionais envolvidos e sem o consentimento destes. Para ter-se uma idéia dessas mudanças, Souza (2002, p.51) apresenta os pressupostos da formação por competências: Paradigma em superação Paradigma em implantação Aula expositiva Problematização Foco no ensino Foco na aprendizagem Professor especialista Professor facilitador Disciplina isolada Interdisciplinaridade Teoria versus prática Contextualização Sala de aula Ambiente de formação Conteúdo Competência Aprender Aprender a aprender Avaliação Acompanhamento Na visão de Perrenoud (2001), a diferença que estabelece esta proposição curricular é que o centro do currículo e da prática pedagógica não será a transmissão dos saberes pura e simples, mas o processo de construção, apropriação e mobilização destes saberes. Nessa perspectiva, o risco é deixar de lado a transmissão dos conhecimentos e a oportunidade de construção de novos saberes. Da mesma forma, é preciso ter a clareza de que, apesar de a 59 pedagogia das competências apresentar alguns conceitos como “novos” para fazer a crítica ao modelo “tradicional” de ensino, na verdade trata-se de uma reatualização de conceitos. Diante da complexidade na implementação desse modelo no ensino técnico e médio, a escolha pela avaliação do modelo das competências no ensino técnico ocorreu em função de estar mais aplicada a essa proposta. Além disso, esse processo ainda não se consolidou no ensino médio, apesar da sua proposta ter sido aprovada pelo MEC e de a organização do seu currículo ter por base as competências. Segundo a legislação, Lei nº 9.394/96, Decreto nº 2.208/97, Parecer nº 16/99, Resolução nº 04/99, Portaria nº 30/00 e Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico, as escolas deveriam elaborar seus planos de cursos para o cadastro nacional de cursos. Nessa perspectiva, o currículo encontra-se organizado em competências e habilidades, apresentando estrutura modular com possibilidades de certificações profissionais intermediárias. Os módulos são definidos com terminalidade, em que os alunos são preparados para exercer uma atividade profissional. Ou sem terminalidade, nos quais os alunos desenvolvem competências de caráter geral, visando à preparação para o ingresso em módulos subseqüentes. Esses módulos iniciais geralmente são obrigatórios e englobam competências específicas da habilitação profissional. Dentre as vinte e uma áreas profissionais definidas pelo MEC, os cursos técnicos foram elaborados nas áreas de Indústria, Informática, Construção Civil e Meio Ambiente, cuja capacidade instalada correspondia a essas demandas. Os Projetos dos Cursos Técnicos seguem um roteiro de plano de curso estabelecido pelo MEC. Com relação às práticas pedagógicas especificadas nesses planos, encontram-se projetos disciplinares, projetos integradores, metodologia do ensino e avaliação por competência. A partir da década de 1990, essa instituição passou a oferecer o Ensino Médio, o Ensino Técnico e o Ensino Tecnológico de Nível Superior. Em 2004, passou, também, a oferecer um curso de Licenciatura na área de Química. Além desses cursos regulares, o CEFET− −PB, através da Fundação de Educação Tecnológica – FUNETEC, um órgão do CEFET− −PB, oferece cursos técnicos especiais como Higiene e Segurança no Trabalho, Turismo, e cursos de qualificação de nível básico como inglês instrumental. Esses cursos, realizados na FUNETEC, são pagos. Em 2005, o CEFET− −PB, por intermédio da FUNETEC, 60 passou a oferecer o curso de pós-graduação lato sensu: Especialização em Educação Profissional. Atualmente, o CEFET− −PB conta no seu quadro de profissionais com 274 (duzentos e setenta e quatro) docentes em exercício efetivo. De acordo com dados da Diretoria de Ensino, no semestre 2005.1, o número total de alunos regularmente matriculados na Sede era de 4.053 (quatro mil e cinqüenta e três), sendo 508 (quinhentos e oito) no ensino médio e 1.897 (mil oitocentos e noventa e sete) no ensino superior. 3.3 O ENSINO NO CEFET−PB: TENDÊNCIAS ATUAIS O CEFET−PB constitui autarquia federal, vinculada ao Ministério da Educação, sendo detentor de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. É Instituição especializada na oferta de educação tecnológica, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, com atuação prioritária na área tecnológica. Vale destacar que o PDI foi elaborado por uma comissão com representantes dos segmentos da instituição, sem que houvesse uma discussão em torno desse projeto, para que a comunidade pudesse opinar sobre o futuro da instituição nos próximos quatro anos. Com relação às áreas de atuação acadêmica, o CEFET− −PB abrange desde o ensino médio até a pós-graduação stricto sensu. Através de convênio com a Prefeitura Municipal de João Pessoa, atende à clientela de Educação de Jovens e Adultos – EJA das escolas públicas, provenientes das classes menos favorecidas, dando-lhes a oportunidade de concluir o ensino médio e depois ingressar na educação profissional de nível técnico na forma subseqüente. No que se refere aos Cursos Superiores de Tecnologia, integram as diferentes formas de educação ao trabalho, à ciência e à tecnologia e visam “garantir aos cidadãos o direito à aquisição de competências profissionais que os tornem aptos para a inserção em setores profissionais nos quais haja utilização de tecnologia”, de acordo com suas diretrizes curriculares. Os cursos superiores de graduação são: Redes de Computadores, Redes de Acesso em Telecomunicações, Gerência de Obras de Edificações, Design de Interiores, Geoprocessamento e Desenvolvimento de Softwares para Internet, Automação Industrial e 61 Comércio Imobiliário, além da Licenciatura em Química. Com a consolidação dos cursos superiores, o CEFET− −PB passou a oferecer cursos de especialização nas áreas de Gestão de Segurança da Informação e de Educação Profissional. Atualmente o CEFET− −PB, enquanto Instituição de Ensino Superior – IFES, atua no sentido da elaboração de um programa de pós-graduação em nível de mestrado, na área tecnológica, para 2006. Conforme o PDI, nessa direção discute-se no âmbito do CEFET− −PB a sua transformação em Universidade Tecnológica, para cumprir a sua missão e a sua finalidade com maior agilidade, além de promover a ampliação do seu grau de autonomia e reconhecimento por parte da sociedade. Por outro lado, trabalha-se na sistematização de cursos técnicos na forma de integrado, possibilidade apresentada pelo Decreto nº 5.154/04. Outra perspectiva se refere à implementação do Programa de Educação de Jovens e Adultos- PROEJA, através da promulgação do Decreto nº 5.478/05, de 24 de junho de 2005, que determina que o CEFET− −PB, a partir de 2006, deve reservar 10% de suas vagas do ensino técnico e ensino tecnológico aos cursos técnicos integrados, na modalidade de educação de jovens e adultos − EJA. Apesar de o governo Luís Inácio da Silva, em 23 de julho de 2004, por meio do Decreto nº 5.154/04, ter revogado o Decreto nº 2.208/97, percebe-se que, em termos da política, não houve mudanças, uma vez que todo o conteúdo ideológico e pedagógico das Diretrizes não foi modificado. Na verdade, esse novo dispositivo flexibiliza a possibilidade de articulação entre a formação acadêmica e a formação profissional, por meio da formação integrada, mantendo, porém, a formação subseqüente e a formação concomitante. Apesar da formação integrada não ser uma indução obrigatória, e ter as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Técnico como referência para a organização dos projetos pedagógicos, mantém como um sistema à parte a disjunção, por meio dos cursos seqüenciais que desvinculam a formação acadêmica e a formação profissional. Não se pode perder de vista no entanto, que o ensino integrado é uma possibilidade real de formar profissionais na sua totalidade para compreender o processo produtivo a partir dos fundamentos da técnica, da sociedade, da cultura e da política. Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) entendem que a luta de concepção e de condições materiais objetivas é para afirmar o ensino médio integrado na direção da escola unitária e 62 politécnica17. Segundo eles, a possibilidade de integrar formação geral e formação técnica é uma condição necessária para se fazer a travessia para uma nova realidade social. De acordo com Ramos (op. cit.), o currículo integrado é aquele que tem como base a compreensão do real como totalidade histórica e dialética, no qual o conhecimento básico−tecnológico−técnico é entendido como unidade, tendo cada um deles uma especificidade em termos epistemológicos. Nessa mesma direção, Ciavatta (2005, p.85) ressalta que a idéia de formação integrada sugere superar o ser humano dividido historicamente pela divisão social do trabalho entre a ação de execução e a ação de pensar, dirigir ou planejar. Como formação humana, o que se busca é garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação completa para a leitura do mundo e para a atuação como cidadão pertencente a um país, integrado dignamente à sua sociedade política. Formação que, neste sentido, supõe a compreensão das relações sociais subjacentes a todos os fenômenos. Para tanto, foram realizados alguns colóquios, com a participação da comunidade, visando discutir os limites e possibilidades da oferta do ensino técnico na forma integrada em 2006, cuja concepção é uma proposta de ensino que integrará a formação geral básica e profissional, especificamente, uma habilitação de nível técnico, promovendo e ampliando a dinamicidade e o desenvolvimento do educando nas diversas dimensões da prática social. As premissas básicas para a formatação do ensino integrado são: cumprimento simultâneo das finalidades da educação profissional e do ensino médio; atendimento das cargas horárias mínimas estabelecidas para ambas; conciliação das demandas com a vocação da instituição; unidade na organização curricular e operacional e ingresso vinculado à opção de profissionalização. Nesse sentido, foram constituídos grupos de trabalho para a elaboração de projetos dos cursos de Eletrotécnica, Manutenção de Equipamentos Mecânicos e Edificações, a partir das seguintes diretrizes básicas: integração efetiva entre docentes da formação geral e da formação profissional; currículo integrado sem saídas intermediárias; duração de 04 (quatro) anos, com turno único; currículo estruturado por disciplina e a inserção de disciplinas específicas da habilitação profissional a partir da 1ª série. 17 Politecnia − domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o trabalho moderno (SAVIANI, 2003, p.140). 63 Apesar da transformação da Escola Técnica Federal da Paraíba em Centro Federal de Educação Tecnológica e do desejo de transformar-se em Universidade Tecnológica, o CEFET− −PB precisa rever a sua missão de ETF. Neste sentido, é necessário definir qual é a sua identidade. Qual a sua capacidade de oferta, considerando os seus recursos humanos e a sua capacidade instalada, isto é, possibilidades e limites, o que passa necessariamente por um planejamento sistemático. Afinal, é preciso ter-se clareza de para onde vamos! O PDI apresenta pistas que precisam ser amplamente discutidas, visto que existem restrições da comunidade, considerando-se a sistemática do seu processo de construção. Para melhor compreender o processo de reconfiguração curricular vivenciado pelo CEFET− −PB na construção dos projetos dos cursos técnicos baseados no modelo pedagógico das competências, no capítulo seguinte apresentaremos como ele está posto na perspectiva do MEC. 64 4 O MODELO DAS COMPETÊNCIAS NA PERSPECTIVA DO MEC Tendo em vista que, nos capítulos anteriores, já se discutiu sobre o arcabouço legal que promoveu uma profunda reforma na educação profissional brasileira, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996, o Decreto nº 2.208/97, 17 de abril de 1997, a Portaria do MEC nº 646/97, de 14 de maio de 1997, o Parecer CNE/CEB nº 16/99, de 05 de outubro de 1999, e a Resolução CNE/CEB nº 04/99, de 05 de outubro de 1999, lançamos um olhar sobre os Planos de Ação do MEC, da Instituição e dos Projetos dos Cursos Técnicos que tiveram o Programa de Expansão da Educação Profissional – PROEP, como principal agente de implantação, através de ações a serem desenvolvidas juntamente com diversos segmentos da sociedade. O PROEP foi resultante do convênio entre o MEC e o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, cujas ações estavam voltadas para o atendimento das seguintes metas: capacitação de pessoal docente e técnico; reequipamento e implantação de novos laboratórios; informatização dos processos de ensino e administrativo; implementação de novas metodologias de ensino; ampliação do espaço de leitura e acervo bibliográfico; criação de novos cursos e cefetização das instituições federais. Os recursos do PROEP são provenientes do MEC (25%), do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, do Ministério do Trabalho (25%) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID (50%). As principais aspirações do PROEP eram a democratização da oferta da educação vinculada ao setor produtivo e a formação de parcerias para implementar, de forma efetiva, a reforma da Educação Profissional – EP. Considerando que as reformas passam, necessariamente, pela adoção de estratégias, fomento e ações que garantam a sua implementação, o Ministério da Educação – MEC, através da então Secretaria de Educação Média e Tecnológica – SEMTEC, elaborou o Plano Nacional de Implementação da Reforma da Educação Profissional, em 1998. Nesse sentido, o objetivo do Plano em referência era desenvolver ações que viabilizassem a efetiva implementação da reforma da educação profissional no país, no quadriênio 1999–2002. Dentre as atividades especificadas, no âmbito federal, destacam-se: a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Técnico, juntamente com as 65 matrizes curriculares de referência, por área profissional; a realização de 04 painéis, nos anos de 1999, 2000, 2001, 2002, com os dirigentes de educação profissional da rede federal, estadual, do sistema “S”18 (SESC, SENAC, SENAI, SENAR, SENAT, SESI E SEBRAE ) e segmento comunitário para avaliação do estágio de implementação da reforma; a promoção de palestras e debates sobre temas relevantes que subsidiassem os avanços necessários; a publicação de temas que fundamentassem a melhoria da concepção e prática da educação profissional. Finalmente, a divulgação dos produtos resultantes de estudos e pesquisas desenvolvidos pelo PROEP e pelas Gerências Temáticas da SEMTEC (mercado de trabalho, cenários e tendências; novos modelos de gestão; certificação de competências; sistema de informação na educação profissional; senso e desenvolvimento de competências da EP; formação continuada e inicial de profissionais da Educação Profissional - EP; inovações no desenvolvimento curricular da EP; metodologias de ensino inovadoras em EP e equipamentos e novos materiais para a melhoria da EP). Na oportunidade, como a reforma fora inspirada no modelo implementado no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, uma das críticas lançadas contra o MEC direcionava-se à senaização das ETFs e CEFETs. Relativamente à certificação de competências, apesar de na Resolução CEB/CNE nº 04/99, Art. 16, “o MEC, conjuntamente com os demais órgãos federais das áreas pertinentes, ouvido o CNE, organizará um sistema nacional de certificação profissional baseado nas competências, constituído por representantes dos trabalhadores, dos empregadores e da comunidade escolar. Todavia, houve muita discussão, mas em termos práticos não se avançou. No caso do CEFET–PB, essa certificação se apresenta como um problema, tendo em vista as indefinições por parte do MEC sobre essa questão. Em maio/junho de 2000, foi distribuída pelo MEC uma proposta metodológica para planejamento e desenvolvimento do currículo por competência, intitulada Metodologia para Planejamento de Currículos por Competências, em que são apresentadas orientações às instituições federais para a elaboração de currículos. Nesse sentido, foram formuladas perguntas que contribuem com a obtenção de respostas para as decisões de planejamento curricular de Curso Técnico. Sendo impossível listar todas as perguntas, destacaremos as principais. 18 Formado por organizações criadas pelo setor produtivo para qualificar e promover o bem-estar de seus trabalhadores. 66 Dentre os itens elencados, encontram-se: a) Legislação atualizada: educacional e profissional (o que determina a LDB nº 9.394/96 e o Decreto nº 2.208/97 sobre a educação profissional?); b) projeto pedagógico (qual é o projeto pedagógico desta escola?); c) Referenciais Curriculares Nacionais da Área Profissional do Curso (Em que área está situado o curso em foco?); d) resultados de estudos de demandas (as consultas e pesquisas junto ao mundo produtivo indicam necessidades e formação de técnicos na área desse curso? para atuar, sobretudo, em quais atividades?); estudos da realidade sócio-econômica da região (qual é o perfil sócio-econômico da região a que serve esta escola?); f) perfil profissional de conclusão do técnico (quando as empresas recrutam o profissional técnico que queremos formar, nessa área, qual é o perfil profissional19 que exigem?). No item II, referente à Construção da Matriz Referencial de Resultados, foram especificados: identificação e estudo do processo produtivo em foco: funções20 e subfunções21 (qual (is) a(s) área(s) profissionais na(s) qual(is) se insere a habilitação em planejamento?); identificação das competências requeridas para a atuação no processo produtivo estudado (por função e subfunção). Apesar da realização de alguns encontros e oficinas pelo MEC, além de não abranger todos os profissionais de educação, eles davam prioridade aos gestores. Concordamos que estes devam participar, entretanto a capacitação deve abranger os profissionais de ensino, principalmente os pedagogos, que, juntamente com os professores, são responsáveis pela condução e construção dos projetos e propostas pedagógicas. Aliás, essa tem sido uma prática das políticas de capacitação do MEC, seja para o nível técnico, seja para a Educação de Jovens e Adultos. Concordamos que os gestores devem participar ativamente desse processo, porém eles ocupam cargos que são passageiros. Além da falta de capacitação, outro fato complicador no processo de construção dos projetos dos cursos técnicos era elaborar projetos de cursos sem ter em mãos a legislação específica, que só foi disponibilizada após a construção destes. Em síntese, havia uma cobrança muito significativa por parte do MEC, embora não fosse dada uma contrapartida em termos de disponibilizar as condições necessárias ao desenvolvimento dos trabalhos. 19 Perfil profissional – refere-se ao conjunto das competências profissionais gerais do técnico de uma determinada área e das competências específicas de uma habilitação profissional. 20 Funções – grandes atribuições, etapas significativas que compõem, integram ou caracterizam seu(s) respectivo(s) processo(s) produtivo(s). 21 Subfunções – atividades mais específicas, geradoras de produtos ou resultados parciais definidos dentro desses processos produtivos. 67 Para ter-se uma idéia, a reforma teve início em 1997, e a maioria dos recursos prometidos só chegaram muito tempo depois. Outro entrave foi à exigência de processo licitatório que inviabilizou a contratação dos serviços de instituições públicas, sendo os recursos destinados à capacitação remanejados para outras metas. Assim, a capacitação feita pela instituição para a implementação da reforma da educação profissional de nível técnico foi realizada com recursos próprios já previstos no orçamento. Por conseguinte, até o ano de 1997, o CEFET–PB formava técnicos de nível médio com equivalência ao 2º grau. O currículo desses profissionais era formado por um conjunto de disciplinas da formação geral e um conjunto de disciplinas da formação profissional. Dessa maneira, trabalhava-se a formação integral do educando. Os cursos tinham a duração de 04 anos, sendo que o aluno só recebia o diploma de técnico após a conclusão do estágio supervisionado. Caso o aluno quisesse deixar a escola ao término da 3ª série, sairia com o diploma de auxiliar técnico na habilitação cursada. O currículo era elaborado pelo MEC, que estabelecia os conteúdos mínimos das habilitações profissionais. Os currículos eram estruturados por cursos, esboçadas em grades curriculares que traziam um elenco de disciplinas com cargas horárias e ementas. Os planos de curso eram feitos por disciplina, neles constando: ementa, objetivos, conteúdo programático, metodologia, avaliação e bibliografia. Quanto à metodologia, tinha por base as disciplinas, no qual as disciplinas científicas fundamentavam as disciplinas da formação técnica que possibilitava ao técnico uma visão ampla. A partir da obrigatoriedade do currículo baseado nas competências, o foco passou a ser o desempenho profissional, muito distante do que vinha se fazendo há vários anos. Nesse sentido, foram feitos recortes no currículo focado, limitando, assim, conhecimentos científicos e tecnológicos, resultando numa formação estreita, aligeirada, que não possibilita ao trabalhador compreender as relações sociais da humanização. Segundo Ramos (2003), um currículo baseado em competência parte da análise do processo de trabalho, da qual se constrói uma matriz referencial a ser transportada pedagogicamente para uma organização modular, adotando-se uma abordagem metodológica baseada em projetos ou resolução de problemas. Daí a necessidade de clareza nos enfoques pedagógicos e metodológicos, adotados pela escola, que garantam a atuação do aluno como agente ativo do processo de aprendizagem – que age, pensa, faz pesquisa resolve, aprende – e sejam coerentes com a formação por competências (projetos, solução de problemas, etc.). 68 Para Nóvoa (2001), o equilíbrio entre inovação e tradição é difícil. A mudança na maneira de ensinar tem de ser feita com consistência e baseada em práticas de várias gerações. Segundo ele, existe uma certa incapacidade para colocar em prática concepções e modelos inovadores. Nesse sentido, as instituições ficam fechadas em si mesmas, ora por academicismo excessivo, ora por empirismo tradicional. Em última análise, seria muito ingenuidade falar que, no ensino técnico não se tinha problemas, principalmente com relação ao distanciamento entre os professores da formação geral e professores da formação profissional. Apesar de existir um currículo único, a impressão era de que se tratava de duas formações distintas. Todavia a justificativa que serviu para implementar as pretensas mudanças foi a de que se investia muito no aluno, enquanto ele acabava ingressando na universidade, não sendo esta a função da educação profissional. Com a promulgação da LDB e do Decreto nº 2.208/97, o CEFET–PB, durante o período 1997–1998, enquanto aguardava as regulamentações da reforma (Diretrizes e Referenciais Curriculares), mobilizou a comunidade escolar para a construção de uma Proposta Pedagógica Transitória para o Ensino Técnico (Pós-Médio), o qual só foi implementada definitivamente em 1998. No caso específico do CEFET–PB, conforme as Diretrizes e Plano de Metas para 2000, na área de ensino a instituição deverá ter como rumo, em suas ações, diretrizes extraídas do seu Plano Estratégico, considerando a etapa de curto prazo (1996–2000). Dentre elas, implementar o novo modelo do ensino técnico, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais, tendo por base as habilidades e competências; promover a prática da interdisciplinaridade; criar e implantar uma nova sistemática de avaliação que permita aos alunos a prática da auto-avaliação e implementar o desenvolvimento da educação continuada, promovendo a organização dos currículos por competência e modularização. Em conseqüência, a implementação da reforma na sua totalidade pressupõe investimentos por parte do governo, para o desenvolvimento do plano de (re)qualificação docente e para a expansão de laboratórios e equipamentos. Embora uma das diretrizes do Plano de Metas da instituição fosse no sentido de capacitar pelo menos 200 docentes e técnicos nas novas metodologias de ensino preconizadas pela LDB e pela Reforma da Educação Profissional, acreditamos que essa meta não foi atingida. Apesar de alguns cursos e oficinas terem sido realizados, persistiu uma lacuna em termos de oferta de cursos de capacitação para o corpo docente, na perspectiva das competências, ministrados por profissionais que tenham experiência consolidada nesse modelo. 69 É preciso ter clareza de que em qualquer processo de reforma, as condições concretas da instituição devem ser alteradas. Nesse sentido, além de se estabelecerem diretrizes e metas, faz-se necessário definir um conjunto de ações a serem desenvolvidas, para que saiam do papel e tornem-se reais. Nesses processos de reforma, verifica-se que, na maioria das vezes, há um distanciamento muito grande entre as políticas e as condições de operacionalização. De acordo com as Orientações para a Formulação e Apresentação dos Planos de Cursos Técnicos (2001), com base na Resolução CNE/CEB 04/99, estes foram padronizados como uma forma de viabilizar sua divulgação no Cadastro Nacional de Cursos de Educação Profissional de Nível Técnico, além de facilitar o processo de análise e aprovação pelos órgãos competentes dos sistemas de ensino. O que não deixa de ser uma forma de controle por parte do MEC. Acrescente-se a esse fato que as Diretrizes Curriculares para a educação profissional de nível técnico definiram a área de indústria como uma das áreas profissionais com carga horária mínima de 1.200h. Os cursos da coordenação de Eletrônica fazem parte dessa área. Inicialmente em 2001, o primeiro curso técnico organizado no formato das competências exigido pelo MEC foi o de Instalação e Manutenção de Sistemas Eletrônicos, constituído de quatro módulos. Como o curso se tornou muito generalista, o mesmo foi desmembrado em dois cursos: Instalação e Manutenção de Equipamentos de Informática e Redes e Instalação e Manutenção de Equipamentos Médico-Hospitalares. A seguir, apresentaremos a organização curricular do curso de Instalação e Manutenção de Equipamentos de Informática e Redes22, como exemplo de curso técnico de nível médio que segue o formato das competências exigida pelo Ministério da Educação. 22 Como os cursos técnicos de Eletrônica apresentam a mesma estrutura, utilizamos como exemplo a organização curricular do curso de Instalação e Manutenção de Equipamentos de Informática e Redes. 70 Organização Curricular Curso Técnico em Instalação e Manutenção de Equipamentos de Informática e Redes Plano de Curso: Habilitação: Técnico em Inst. e Manut. de Equip. de Informática e Redes Carga Horária: 1.200 horas Estágio - Horas: 120 horas Qualificação 1: Carga Horária: Qualificação 2: Carga Horária: Auxiliar Técnico em Manut. de Computadores e Periféricos 400 horas Auxiliar Técnico em Inst. e Manut. de Redes de Computadores 400 horas 71 Das Qualificações Profissionais Módulo I: Técnicas Básicas em Eletrônica Vale destacar que o objetivo deste módulo é levar o aluno a conhecer as diversas tecnologias na área de eletrônica, capacitando-o para o trabalho em manutenção eletrônica de uma forma geral. O módulo também conscientiza o aluno sobre a importância do conhecimento de outras áreas, como meio ambiente, saúde e segurança no trabalho. Nesse sentido, o aluno aprenderá noções básicas de eletricidade, de eletrônica, de eletrônica digital, de análise de circuitos que funcionam com corrente alternada e com corrente contínua. Além de aprender a utilizar aplicativos para confecção de placas de circuito impresso e para simulação de circuitos eletrônicos. Competências Específicas: COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS COMPONENTE CURRICULAR Interpretar a legislação e Higiene e Segurança do normas técnicas referentes à Trabalho saúde, segurança no trabalho e meio ambiente BASES TECNOLÓGICAS23 Acidentes no trabalho, PPRA, EPI, EPC, CIPA, Segurança em eletricidade Conhecer e avaliar os métodos de utilização dos instrumentos de medições elétricas e interpretação de suas leituras Eletroeletrônica Interpretar diagramas e esquemas elétricos Fundamentos de Eletricidade Circuitos elétricos, Simbologia Conhecer e avaliar as propriedades e aplicações de ferramentas e instrumentos Eletroeletrônica Conhecer e avaliar os Fundamentos de Eletricidade métodos de análise de circuitos de corrente contínua e alternada 23 Instrumentos de medição, Escala, precisão Ferramentas Resistores, capacitores, indutores, circuitos R, RC, RL, RLC, AC e DC, métodos para análise de circuitos Bases Tecnológicas – métodos, técnicas, termos, normas e padrões específicos do processo de produção no qual estão envolvidas. Os conteúdos são denominados bases tecnológicas, agregando conceitos, princípios e processos. 72 Montar, analisar e testar Eletroeletrônica circuitos eletrônicos com componentes passivos e com semicondutores Compreender as relações entre trabalho e meio ambiente Meio Ambiente Desenhar lay-out de placas de circuito impresso utilizando CAD Desenho e Montagem Montar e testar placas de Desenho e Montagem circuito impresso, a partir do seu lay-out Medição de tensão e corrente, circuitos com componentes passivos, transformadores, diodos e transistores CAD para Eletrônica, componentes eletrônicos Confecção de placas de circuito impresso, soldagem Módulo II: Instalação e Manutenção de Computadores e Periféricos O objetivo deste módulo é levar o aluno a conhecer as diversas tecnologias na área de informática, capacitando-o para o trabalho em instalação e manutenção de computadores e periféricos. O módulo conscientiza o aluno sobre a importância do conhecimento das tecnologias mais atuais, não deixando de lado as mais antigas, que muitas vezes ainda são muito utilizadas. O auxiliar de instalação e manutenção em computadores e periféricos aprenderá noções básicas do funcionamento do computador, bem como adquirirá o conhecimento de suas estruturas internas. Aprenderá a reconhecer e identificar placas, memórias, processadores, gabinetes, chips e periféricos. Saberá montar e configurar um equipamento, bem como identificar o problema quando algo estiver incorreto e corrigi-lo. Aprenderá a instalar sistemas operacionais e programas específicos e aprenderá os princípios do empreendedorismo. Competências Específicas: COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS Identificar os componentes de um computador e suas relações funcionais e especificar configurações de sistemas de informática COMPONENTE CURRICULAR BASES TECNOLÓGICAS Montagem e Manutenção Microcomputadores e Microprocessadores, placamãe, memória, processadores, chipset, fonte, periféricos 73 Instalar e gerenciar sistemas operacionais, avaliando a necessidade do usuário S.O. Win2k Atualizar e instalar drivers de periféricos Periféricos S.O. Linux Sistemas operacionais (administração, servidores), Linux, Windows 2000, instalação de S.O. e aplicativos Monitores, placas de som, impressoras, periféricos especiais Utilizar programas de Montagem e Manutenção Softwares de diagnóstico ferramentas de manutenção e de diagnóstico em computadores; Instalar periféricos Realizar manutenção corretiva, preventiva e preditiva em computadores e periféricos Montagem e Manutenção Técnicas de manutenção, gerência da manutenção Conhecer os princípios do empreendedorismo Empreendedorismo Perfil empreendedor, características do empreendedor, plano de negócios Comunicar-se tecnicamente em Língua Portuguesa Português Instrumental Texto técnico, texto oficial, memorandum, carta comercial, requerimento, curriculum Ler textos técnicos em Língua Inglesa Inglês Instrumental Leitura de textos, estratégias de leitura Módulo III: Instalação e Manutenção de Redes de Computadores Com base no conteúdo apresentado nos primeiros módulos, o aluno pode iniciar estudos sobre instalação, configuração e programação utilizando computadores interligados entre si, fisicamente com placas, conectores e cabos de rede. Aprenderá a configurar e administrar redes de computadores no nível de instalação inicial. Aprenderá a realizar manutenção em monitores e impressoras, a realizar cabeamento de redes e a fazer páginas na Rede Mundial de Computadores. 74 Competências Específicas COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS COMPONENTE CURRICULAR BASES TECNOLÓGICAS Compreender e descrever as arquiteturas de redes e seus componentes Redes locais, topologia Instalação e Configuração de redes, Ethernet, de Redes Linux Conhecer serviços e funções de servidores de redes e desenvolver os serviços de administração do sistema operacional de rede e protocolos de comunicação Administração de Redes Instalar e configurar protocolos e programas de redes de computadores Instalação e Configuração de Redes Conhecer procedimentos preventivos em suporte de redes e operar os serviços de redes de computadores Administração de Redes Compreender o funcionamento de monitores de vídeo e fazer manutenção nos mesmos Monitores de Vídeo Diagrama de blocos, reconhecimento de defeitos, técnicas de manutenção Compreender o funcionamento de impressoras e fazer manutenção nas mesmas Impressoras Conector DB-25, diagrama de blocos, motores de passo, sensores, formação de cores Realizar manutenção de computadores nos seus diversos componentes Configuração de Computadores Técnicas de manutenção, fontes chaveadas, diagnóstico, SMD, BIOS, SETUP Conhecer os cabos e conectores de rede, técnicas de instalação e medição, os principais componentes de uma rede e as normas e padrões técnicos Cabeamento Estruturado Cabeamento e conectividade, fibras e cabos óticos, placa, repetidor, hub, switch, roteador, bridge, tipos de cabeamento Utilizar os recursos da Rede Mundial Internet HTML, e-mail, www, de Computadores e fazer páginas em hospedagem, frames e html utilizando recursos avançados recursos avançados 75 Apesar de termos apresentado apenas a organização curricular, que é um dos itens exigidos no Formulário dos Planos de Cursos, constam ainda: O item 01 – se refere à Justificativa e Objetivos do Curso, nos quais devem ser apresentadas as razões que levaram a instituição a oferecer o curso, além de especificar a demanda de técnicos necessários para atender às necessidades atuais. Os objetivos, por sua vez, devem expressar aquilo que a instituição se propõe alcançar, por intermédio do curso. O item 02 traz os Requisitos de Acesso, em que se devem relacionar os pré-requisitos exigidos pela instituição de ensino aos candidatos ao curso, enquanto o item 03 trata do Perfil Profissional de Conclusão, que deverá expressar o que se espera que os alunos alcancem ao final do curso. Como o perfil é definidor da identidade do curso, é necessário que este seja identificado com precisão. Por sua vez, o item seguinte 04 trata da Organização Curricular, que deverá conter todas as informações do curso, como: módulos; competências e habilidades; as bases científicas, instrumentais e tecnológicas; projetos, seminários, oficinas ou outros meios de organização da aprendizagem; os itinerários alternativos possíveis de serem percorridos pelos alunos e as terminalidades correspondentes; a carga horária de cada módulo e as estratégias pedagógicas que serão adotadas no desenvolvimento do processo de constituição das competências. A organização do currículo de curso técnico voltado para o desenvolvimento de competências deve traduzir a dinâmica desse processo, indicando o Desenho Curricular com seus módulos. O item 05 trata dos Critérios de Aproveitamentos de Conhecimentos e Experiências Anteriores, no qual deverão ser explicitados os critérios a serem usados pela instituição de ensino, a forma ou o mecanismo que adotará para proceder ao aproveitamento. O item 06, Critérios de Avaliação da Aprendizagem, deverá contemplar os critérios que a Instituição utilizará para verificar em que medida o aluno está construindo as competências exigidas para o desempenho profissional que se espera que ele alcance. Especificará também o processo e os instrumentos de avaliação a serem oferecidos pela escola, para a superação das possíveis dificuldades de aprendizagem dos alunos, durante o processo de formação. No item 07, Instalações e Equipamentos deverão constar os recursos que a instituição oferece aos professores e alunos para o alcance dos objetivos propostos, especificando os equipamentos e materiais e detalhando o acervo bibliográfico. No item 08, deverão ser contempladas as informações como escolaridade, experiência profissional do corpo docente e do pessoal técnico administrativo. Finalmente, o item 09, que trata dos Certificados e Diplomas, deverá conter as informações referentes aos documentos de conclusão de curso 76 expedidos pelo estabelecimento de ensino e aos seus alunos, identificando os títulos ocupacionais em que estão certificado (qualificação profissional) e habilitado (habilitação técnica). Com relação às práticas pedagógicas, nesses cursos avaliados, não está especificado que práticas serão utilizadas no desenvolvimento do currículo por competência. Os professores se baseiam nas competências descritas nos planos de cursos, delimitando em cada disciplina os conhecimentos a serem trabalhados. Nesse sentido, fica muito difícil fazer um acompanhamento do que está sendo feito em sala de aula, quando não se tem em mãos o seu plano de ensino. A referência tem sido, portanto, as falas de professores e alunos. Quanto aos planos de ensino, somente a partir do final de 2005 é que os professores começaram a elaborá-los. Dentre os componentes, sobressaem objetivos; ementa; conteúdos programáticos; métodos e técnicas de aprendizagem; recursos didáticos; técnicas de avaliação da aprendizagem; época das avaliações e bibliografia. No CEFET–PB, percebe-se uma resistência dos professores em tratar das questões pedagógicas, avaliar sua prática pedagógica, discutir sobre planejamento, avaliação, planos de ensino. Com referência às Normas de Organização Didáticas para os cursos técnicos subseqüentes, no ano de 2000 foi criada uma comissão, constituída por professores e equipe pedagógica, para elaborar essas normas, a partir de uma proposta esboçada pela Coordenação Técnico–Pedagógica. Após uma série de reuniões, foi retirada uma proposta, que foi revisada em 2005, mais especificamente no Capítulo IX – Da Avaliação. Aliás, a avaliação foi um dos pontos mais polêmicos da discussão, chegando-se à decisão de se trabalhar não mais com notas, mas com os conceitos Suficiente (igual ou superior a 7.0) e Insuficiente (inferior a 7.0) durante o cumprimento dos módulos. No momento final da certificação destes, transformaram-se esses conceitos em Desenvolveu a competência – D (para alunos com conceito suficiente) e Não desenvolveu a competência – ND (para alunos com conceito insuficiente). No entanto, apesar de terem-se adotado conceitos na avaliação, através das Normas do Ensino Técnico, os professores continuaram utilizando notas, que seriam posteriormente transformadas formalmente em conceitos. Conforme depoimento dos alunos “as provas continuam sendo corrigidas por notas, depois transforma em conceito”. Considerando-se esse fato e as reclamações dos professores, decidiu-se revisar as normas e retomar a nota. É preciso ter clareza de que o problema não é a nota ou o conceito em si, mas que se deve encarar esta como uma conseqüência da aprendizagem, que é o mais determinante. 77 De acordo com o capítulo II, Art. 3º das normas, os currículos dos cursos técnicos estão definidos por competências e habilidades, apresentando estrutura modular, com oportunidades de certificações intermediárias. Para o Capítulo IX – Da avaliação, Art. 25, a avaliação do desenvolvimento de competências será processual, de forma contínua e cumulativa, prevalecendo os aspectos qualitativos sobre os quantitativos. O Art. 26 preceitua que a avaliação da aprendizagem ocorrerá por meio de instrumentos próprios, buscando detectar o grau de progresso do(a) discente no processo de aquisição de competências. Será expresso em notas numa escala de zero a dez, considerando os seguintes indicadores de desempenho: I – saber (conhecimento teórico); II – saber fazer (conhecimento prático, iniciativa, criatividade, organização) e III – saber ser (relacionamento interpessoal e pontualidade). Já o Art. 28 diz que a competência será considerada desenvolvida quando a avaliação constatar pelo menos 70% de aprendizagem ou desempenho. Um aspecto inovador da reforma da educação profissional de nível técnico, consubstanciada nas Normas Didáticas se refere ao aproveitamento de conhecimentos e experiências adquiridos no trabalho. No seu Art. 16 está especificado que, para conhecimentos adquiridos através de meio informal ou de cursos de nível básico, será realizada uma avaliação, considerando o perfil profissional de conclusão. A avaliação será realizada por uma comissão formada por docentes dos cursos e módulos. A avaliação dos conhecimentos adquiridos por meio informal ou em cursos de nível básico poderá ser feita através de atividades práticas; projetos e atividades propostas pelos docentes. A grande ruptura, em termos de mudança estabelecida no projeto do curso, se refere à estruturação do curso não mais em disciplinas, mas a partir das competências que o aluno deverá desenvolver. Nesse sentido, estabelece-se o perfil de saída dos alunos, e a partir deste, colocam-se todas as competências e verifica que base tecnológica tem que ser utilizada para o desenvolvimento dessas competências. Portanto, de acordo com os documentos oficiais do MEC o modelo pedagógico das competências está restrito ao saber fazer, retomando assim o tecnicismo da década de 70, o que nos leva a considerar a possibilidade de a formação seguir a lógica do mercado, contribuindo assim com o projeto de sociedade baseado nessa lógica. No capítulo seguinte destacaremos as competências na percepção de seus atores, ou seja, docentes, discentes dos cursos técnicos de eletrônica e representante da equipe pedagógica do CEFET-PB. 78 5 AS COMPETÊNCIAS NA VOZ DE SEUS ATORES 5.1 REPRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES DOS CURSOS TÉCNICOS DE ELETRÔNICA DO CEFET-PB A ruptura ainda não ocorreu; a instituição não muda, se as pessoas não mudarem (professor do curso de Eletrônica). Como previsto, o enfoque avaliativo do modelo das competências dessa pesquisa tomou como referência a opinião e a prática dos professores dos cursos técnicos da área de Eletrônica do CEFET–PB. Convém lembrar que o curso de Eletrônica foi criado na década de 1980 e, ao longo da sua história, vem atuando na formação de técnicos de nível médio. Com a reforma da educação profissional na década de 1990 e a reorganização dos cursos em áreas profissionais, Eletrônica passou a fazer parte da área da indústria, juntamente com os cursos de Eletrotécnica e Mecânica. Atualmente, a coordenação desse curso oferece os cursos de Instalação e Manutenção de Equipamentos de Redes e Informática e de Instalação e Manutenção de Equipamentos Médicos–Hospitalares. Esta pesquisa abrange uma amostra de doze dos dezoito envolvidos com o curso de Eletrônica. Todos pertencem ao sexo masculino e tem idade acima de quarenta anos. Atualmente no CEFET-PB, de um total de 266 professores, 191 são homens e 75 mulheres. Nos cursos técnicos, a diferença é significativa, pois 120 são homens e apenas 29 são mulheres. No que se refere ao tempo de serviço no CEFET–PB, mais da metade dos professores têm acima de 10 anos de serviços prestados à instituição. A grande maioria não possui formação pedagógica. Essa realidade se repete com maior parte dos docentes da área técnica, que concentra os formados em áreas da engenharia, demonstrando uma organização curricular constituída de disciplinas de caráter técnico. 79 No que se refere ao conhecimento dos professores sobre as orientações normativas da educação profissional de nível técnico elaboradas pelo Ministério da Educação, oito dos entrevistados afirmaram conhecer tais orientações, enquanto quatro responderam não ter conhecimento da legislação em pauta. A titulação desses professores é elevada. Mais da metade possui pós-graduação, um deles com doutorado. Os demais possuem cursos de especialização, um na área de educação. No Brasil há um grande número de docentes graduados nas diversas áreas de engenharia que lecionam disciplinas técnicas, mas não possuem uma formação pedagógica ou uma licenciatura, apesar do seu conhecimento empírico. Por outro lado, percebe-se que esses profissionais só vêm a desenvolver o magistério quando se inserem no sistema educacional e já não dispõem de tempo para permanecer por muito tempo nos espaços escolares. No CEFET–PB, assim como nas demais instituições federais de educação tecnológica, alguns professores que não tinham licença para lecionar cursaram o Esquema I e Esquema II24, cursos de capacitação docente. Na verdade, essas medidas consideradas emergenciais reforçaram a visão fragmentada no exercício da docência. Convém lembrar que a única alternativa de formação foi descartada em 1997. Do ponto de vista pedagógico, uma das grandes dificuldades no desenvolvimento do trabalho da equipe pedagógica no CEFET–PB é justamente o fato de a maioria dos professores das áreas profissionais serem oriundos dos ramos da engenharia e não dispor de licenciatura e nem curso de formação pedagógica. Talvez seja esse o motivo de haver uma resistência por parte dessas pessoas em refletir sobre a sua prática e dialogar com a pedagogia. É possível que haja uma dificuldade de compreender a linguagem pedagógica, mas eles não podem perder de vista de que são educadores. Para Gauthier (op. cit. p.24), a prática pedagógica é fonte geradora de saberes experienciais que ocupam um lugar importante no ensino, assim como em qualquer outra prática profissional. O saber experiencial não pode representar a totalidade do saber docente, ou seja, este deve possuir também um corpus de conhecimentos, construídos, reelaborados desde o início da sua formação, que o ajudarão a “ler” a realidade e a enfrentá-la. A partir da década de 1990, a educação profissional de nível técnico passa por um processo de substituição de um modelo pedagógico por outro, sem uma avaliação do que 24 Esquema I – curso destinado aos professores da rede federal de ensino que não tinham graduação. Esquema II – curso destinado aos professores com graduação, mas sem licença para lecionar (apesar da prevalência de algumas disciplinas da formação pedagógica, o currículo era composto de disciplinas técnicas). 80 estava dando certo. Essa descontinuidade das políticas educacionais, além de gerar insegurança para o corpo docente, ocasionou prejuízos para a organização curricular, sobretudo para o corpo discente. Os professores exercitavam sua ação educativa apoiada na experiência adquirida ao longo dos anos, na qual os saberes eram os conteúdos da sua prática pedagógica. Diante de uma mudança brusca, o professor teve que se adequar a uma prática pedagógica cujo foco deslocou-se da transmissão de conhecimentos de caráter geral e profissional para o desenvolvimento de competências demandadas pelo mercado de trabalho. Os currículos antes estruturados a partir dos conhecimentos a serem ensinados, atualmente devem partir das competências. As escolas, por sua vez, precisam trabalhar na perspectiva dessa pedagogia, criando situações de aprendizagens baseadas em projetos e análise de contextos. Reportando a Ramos (2005), os saberes continuam sendo os conteúdos da prática pedagógica a serem ensinados/aprendidos através de um processo que, necessariamente, implica a mobilização de capacidades cognitivas, mas não se restringe a elas, uma vez que essa mobilização depende dos saberes. Segundo a autora, não se pode perder de vista que o homem não é somente um ser cognitivo (capaz de desenvolver os esquemas mentais), mas também epistêmico, cuja natureza compreende a capacidade e a necessidade de conhecer. 5.1.1 O conceito de competências dos professores No caso da compreensão sobre o significado do termo competências, cerca da metade dos professores conceituaram competências como sendo “a capacidade de executar determinada tarefa com sabedoria”. Outros três afirmaram que competências são “conhecimentos e atribuições profissionais adquiridas, pelo aluno, ao longo do curso”. Enquanto os demais afirmaram ser “uma metodologia utilizada para avaliar determinados níveis de aprendizado”, ou “a capacidade de realizar atividades profissionais alinhando conhecimentos e habilidades físicas e/ou capacidade de entender, de realizar o que se propõe a fazer, saber usar as habilidades de forma consistente”. 81 Como se pode observar na maioria das respostas, a concepção de competências dos professores está vinculada ao desempenho, ao saber fazer, à habilidade, que é o produto que pode ser visualizado e utilizado no processo de certificação das competências. Essa visão foi reforçada pelo depoimento do professor X: o conceito de competência fica muito claro, isto é, a sua relação direta com o que vai fazer. A gente está no mundo do trabalho que tem um determinado perfil. As pessoas que vão executar aquela função vão se capacitar, pois elas precisam saber fazer aquilo. Fazendo uma análise entre os conceitos de competências dos professores e as visões dos autores apresentadas no capítulo II, percebe-se uma aproximação com as idéias de Tereza Penna Firme e Guiomar Namo de Mello, esta, uma das propositoras de documentos justificativos da reforma da educação profissional como as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Nível Técnico. Conforme Namo de Mello (2003), a competência só pode ser constituída na prática. Não é só o saber, mas “o saber fazer” que deve ser considerado. Aprende-se fazendo, numa situação que requeira esse fazer determinado. Se quisermos desenvolver competências em nossos alunos, teremos de ir além do ensino direcionado para a memorização de conceitos abstratos e fora do contexto. É preciso que eles aprendam para que serve o conhecimento, quando e como aplicá-lo. Isso é competência. Para Pena Firme (2000), as competências são essencialmente as evidências do que o indivíduo é capaz de fazer com aquilo que sabe. As diferentes definições de competências apresentadas pelos professores vêm reforçar a confusão conceitual, dificultando o estabelecimento e a implementação dos processos pedagógicos no ambiente escolar, seguindo uma vertente catalisadora capaz de propiciar senão uma orientação única, pelo menos semelhante. De todo modo, percebe-se que a noção de competência formulada por estes contém um elemento da concepção orientadora nos documentos oficiais, que é o saber fazer, denominado de habilidade. Segundo o professor X, o conceito de competência não está muito assimilado ainda, mas eu o acho interessante e tão claro: a gente está no mundo do trabalho que tem um determinado perfil, as pessoas que vão executar aquela função vão se capacitar para saber fazer aquilo. Assim, o conceito fica muito claro, relação direta competência e o que vai fazer naquela função. 82 É importante fazer também essa análise entre os conceitos de competências dos professores e do Parecer do CNE/CEB nº 16/99, uma vez que foi este que norteou a elaboração dos currículos dos cursos técnicos de Eletrônica. O referido parecer conceitua competências como “a capacidade de articular, mobilizar e colocar em ação os valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho” (1999, p.96). Os professores a definem, no entanto, como o “saber fazer”, que é a habilidade decorrente da competência. Para Ramos (2005), as habilidades são o resultado das aprendizagens consolidadas na forma de habitus, ou os saberfazer, também mobilizados na construção das competências profissionais. Nessa perspectiva, o trabalho educacional desloca-se do ensinar para o aprender, do que vai ser ensinado para o que é preciso aprender no mundo contemporâneo. A preparação para o trabalho constitui a natureza primordial do curso, reforçando o ideário da pedagogia das competências, que atribui um “valor de uso” ao conhecimento, enfatizando a dimensão instrumental em detrimento da dimensão social. Uma das críticas feitas por alguns autores da academia ao modelo das competências vigente, dentre eles Ramos (2001), diz respeito aos recortes que são feitos, delimitando a competência para um fazer específico dentro de uma profissão, numa atividade focada. Alguns depoimentos dos professores entrevistados reforçam essa idéia: “A educação profissional deve formar para o processo produtivo”. Para o Prof. Y, a reforma da educação profissional é muito interessante, uma vez que construindo o currículo por competências com o perfil de formação afinado com as necessidades do mercado de trabalho, garante maior empregabilidade. Da mesma forma, o Prof. X destaca que os cursos modulares são feitos para atender uma demanda específica. Se a gente não quer evoluir para que o mercado influencie nas decisões, quem vai fazer a escola? Nesse sentido, notam-se alguns aspectos contraditórios nessas opiniões que precisam ser discutidos. Primeiro, no que se refere à empregabilidade, pois essa qualificação profissional não garante emprego, uma vez que conseguir ou permanecer no trabalho não depende exclusivamente do indivíduo. Além disso, não há uma linearidade entre cursos técnicos e o emprego em postos de trabalho na área, uma vez que existe um número expressivo de profissionais que, mesmo diplomados, têm que enfrentar uma maratona de filas em busca de um trabalho. Embora, na lógica das competências, o indivíduo acabe sentindo-se 83 culpado pelo seu desemprego, em função de não ter desenvolvido bem as competências necessárias para garantir uma ocupação profissional. Para Chauí (2001), é preciso ver algumas conseqüências perversas produzidas pela ideologia das competências. Se ser competente é vencer uma disputa e galgar a hierarquia de uma Organização, como se sente o desempregado? A ideologia da competência lhe ensina no cotidiano, na organização escolar, na organização empresarial, que só a competência no trabalho assegura felicidade e realização. Para a autora, ocorre, porém, que a atual forma de capitalismo (sobretudo por causa da tecnologia e do lugar ocupado pelo capital financeiro, isto é, papéis e dinheiro dos bancos e das bolsas de valores) não exige muitas pessoas trabalhando na produção, e por isso gera o desemprego. No entanto o desempregado, ignorando o que se passa e orientando-se pelo que foi incutido pela ideologia, sente-se culpado pelo desemprego, humilhado e num beco sem saída. Um outro aspecto diz respeito a valorizar a individualização do ser humano, para que este se torne competitivo e atenda às demandas do mercado de trabalho. Como resultado, temse a individualização na busca do trabalho e, sobretudo, a extinção de instrumentos de força de luta dos trabalhadores, como por exemplo, os sindicatos. Ramos (op. cit) nos auxilia a compreender essa questão. Para ela, a noção de competência no mundo do trabalho confere uma conotação individual e tende a despolitizar as relações sociais. Assim, a dimensão social passa a ser tratada com caráter individual e técnico, desconfigurando o tratamento coletivo (condições de trabalho, salário, negociações e acordos coletivos, capacitações). Por outro lado, considerar o mercado nas construções curriculares de cursos técnicos é uma coisa; no entanto, deixar que este determine o que a escola deva fazer é reforçar o ideário neoliberal, sob a égide da suposta “eficiência” do mercado como instância maior que distribui benefícios à humanidade. A educação não pode se constituir num mecanismo de adaptação do indivíduo às exigências econômicas, ou seja, não se podem perder de vista outros conhecimentos necessários ao profissional enquanto um ser social. Rios (2001), quando aborda esse tema no debate sobre a noção de competências, assinala que o risco é não reconhecer outras demandas que estão postas na sociedade, ou seja, é confundir a demanda imediata, mercadológica, com a demanda social, que expressa as necessidades concretas dos membros de uma comunidade. 84 A autora (op.cit.), chama a atenção para o fato de que substituir a noção de qualificação pela de competência como atendimento privilegiado ao mercado de trabalho parece guardar o viés ideológico, presente na proposta liberal, que se estende ao espaço da educação, em que passam a se demandar também “competências” na formação dos indivíduos. Sob essa ótica, há uma valorização por parte do capital das qualidades pessoais, visando à preparação aligeirada, para atender ao mercado de trabalho cada vez mais competitivo, sobrepondo-se à formação global do trabalhador, através de uma sólida educação geral. No contexto dos cursos técnicos do CEFET–PB, conforme conversas com alunos que fizeram parte da pesquisa, percebe-se uma apreensão e desejo por parte destes no sentido de cursarem mais um módulo do curso para aprofundar algumas questões. Conforme esses depoimentos: “o tempo é pouco para o conteúdo que é grande”; “o aligeiramento do curso provoca correria e defasagem de conteúdos”; “o tempo foi crucial”. Analisando esses depoimentos, percebe-se que, em função da carga horária e da quantidade de informações das disciplinas, os alunos estão concluindo os cursos técnicos de Eletrônica, porém não se sentem preparados, “competentes” para o exercício profissional. Não obstante, esses alunos dos cursos técnicos entrevistados afirmam existirem empresas que preferem o técnico no modelo integrado ao ensino médio que tinha a duração de quatro anos. Na verdade, o mercado de trabalho, assim como a sociedade em geral, não entendeu a mudança ocorrida no ensino técnico, a partir da LDB nº 9394/96. Aliás, em termos de oferta de estágio aos alunos do CEFET–PB, de acordo com dados do Relatório da Coordenação de Integração Escola Empresa – CIEE, no ano de 2005, o curso de Instalação e Manutenção de Informática e Redes contava com doze alunos estagiando, enquanto vinte e oito estavam sem estágio. O curso de Manutenção de Equipamentos Médico-Hospitalares contava com treze alunos estagiários e dez sem estágio. De acordo com o CIEE, como não existe uma política de articulação entre o CEFET–PB e as empresas para captação de estágios, a oferta torna-se pouco expressiva. Entretanto, somos da opinião de que a escola não pode perder de vista o papel de favorecer o desenvolvimento de outras capacidades do alunado, e não só uma função específica. Essas capacidades desenvolvidas são condição indispensável para a participação na vida social e produtiva. Nesse sentido, as construções curriculares produzidas e implementadas na sala de aula devem estar fundamentadas nos objetivos da formação – que sujeito se deseja formar. A partir da resposta, são definidos os conhecimentos necessários a 85 essa formação e o desenho da estrutura curricular necessária para a formação desse profissional. No caso de se desejar formar um sujeito competente, esta deve se basear na competência como um ponto de chegada, constituindo-se como um horizonte e não como uma prescrição de comportamentos desejados. 5.1.2 Os procedimentos metodológicos utilizados pelos professores Em relação às metodologias adotadas, cinco dos professores que participaram da pesquisa disseram utilizar as aulas práticas em laboratório; três, aulas expositivas em quadro negro, tv, power-point etc; dois usam listas e seminários, enquanto dois empregam metodologia própria, embora esta não tenha sido especificada. Finalmente, os dois últimos disseram utilizar simulações de situações reais, embora não tenham especificado essas situações. Um professor complementou que “em função da fragmentação do curso em disciplina, utiliza a metodologia tradicional aliada a projetos, mas em geral apenas no âmbito da disciplina, fazendo com que o aluno integre mais os conhecimentos da disciplina através de projetos.” Esse mesmo professor falou da resistência de alguns professores na implementação das competências, comentando existirem pessoas que são por natureza resistentes e que davam aula no formato anterior de disciplinas não vão querer sair dele, já estavam preparados há muitos anos. Ou seja, alguns profissionais que estão na escola não aceitam os cursos modulares porque se sentem invadidos naquele espaçinho que eles criaram lá na antigüidade, aquele papel amarelado (planos) e se recusam a aceitar que o perfil do profissional mudou em função da tecnologia. É preciso salientar que, nesse processo de mudança, percebe-se que as pessoas assumem diferentes posturas, isto é, algumas de resistência, outras de adequação e reprodução do “novo” paradigma em implementação das competências. De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico (2000), os currículos não são mais centrados em conteúdos, nem necessariamente traduzidos em grades curriculares. A 86 ênfase transfere-se para as competências a serem construídas pelos sujeitos. Sob essa ótica, em virtude do processo de mobilização de conhecimentos que se dá através da construção e do desenvolvimento de competências, esse processo deve acontecer junto, sem a necessidade de uma assimilação prévia dos conhecimentos para o seu uso posterior. Os mesmos devem ser produzidos a partir da problematização de uma determinada situação, devendo, assim, serem construídos num determinado contexto, de maneira interdisciplinar. Segundo Ramos (2005), a lógica multidisciplinar sobre a qual, historicamente, se baseou o currículo escolar foi condenada como uma lógica de fragmentação do saber. Nessa perspectiva, a renovação metodológica teve por base as competências a serem desenvolvidas pelos alunos. Nesse novo modelo, as disciplinas deveriam ser eliminadas do currículo, para dar lugar à aprendizagem por projetos, por problemas etc. O trabalho com projetos representa uma estratégia que possibilita a construção coletiva do conhecimento, além da análise de contextos vinculados à realidade do educando. Todavia não se pode condicionar o trabalho com projetos à ruptura com os modelos educacionais tradicionais, eliminando-se as disciplinas na estrutura curricular. Dessa forma anula-se a especificidade das ciências, comprometendo a aquisição de conhecimentos como um todo. Na verdade, em nome da reforma educacional, houve uma retomada de idéias e conceitos que há muito já deviam estar superados como a taxonomia dos objetivos, o tecnicismo e o condutivismo, sob a égide do modelo das competências no qual a formação tem um caráter eminentemente prático e utilitarista. Nesse contexto, o ensino técnico está voltado para o saber fazer. Transposto para o modelo de formação de professores, a ênfase é no “fazer” da prática pedagógica que vai se consubstanciando na vivência de problemas do cotidiano e nas situações de ensino. Para Ramos (2005, p.113), o que a pedagogia das competências não considera, entretanto, é que os problemas a que se propõe resolver não são exclusivamente pedagógicos. Antes têm um fundo epistemológico, que se não for compreendido, desencadeia inúmeras inovações sem nunca promover a compreensão do problema na sua essência e na sua superação. Considerando que a metodologia das competências deve estar centrada na ação do sujeito que aprende problemas e projetos propostos pelo professor que orienta e assessora. O que pressupõe uma mudança da relação dos professores com os conhecimentos, de sua forma 87 de dar aula, não se percebe no conjunto das práticas pedagógicas dos professores nos cursos técnicos de eletrônica indicadores dessa modificação. Ou seja, há um predomínio das práticas de laboratórios e aulas expositivas. Embora alguns citem o desenvolvimento de projetos dentro da disciplina, estes não têm um caráter integrador. Reforçando a ênfase da competência na dimensão operacional do saber fazer, para o professor Y, o curso modular é um curso técnico, prático, algumas pessoas não querem saber dos cursos modulares baseados em competências porque eles têm outro caráter, exigindo uma atenção estritamente técnica e prática, portanto não é preparar o aluno para ser cidadão em quatro ou cinco anos, mas é partir do princípio que o cidadão já está mais ou menos formado. A escola é técnica, então tudo que girar aqui tem que ser em torno da tecnologia. Entretanto, não é possível separar a teoria da prática, se precisamos formar um profissional cidadão. Apesar do seu caráter “prático”, esta é fundamentada numa teoria, mesmo que seja o pragmatismo. Para tornar isso possível, precisamos ultrapassar a visão reducionista da preparação para o trabalho sob a égide do capital, na qual há um destaque ao vínculo da formação à produção, como uma forma de impulsionar a inserção de jovens e adultos no mercado de trabalho. O trabalho deve ser concebido numa perspectiva emancipatória e de mudança social a partir de um projeto construído coletivamente, cujo foco é a pessoa humana. É preciso ter clareza sobre qual o projeto de nação e educativo a que vamos continuar respondendo. Outra metodologia citada pelos professores foi a aula expositiva. Na verdade, a metodologia é um caminho a ser percorrido pelo professor para o alcance dos objetivos de ensino. A aula expositiva é uma técnica que pode ser utilizada no processo de transmissão de conhecimentos. Na perspectiva das competências, ela pode ter um espaço, porém deve estar inserida na resolução de um problema concreto e antecedida de uma tarefa em que haja o envolvimento de todos os alunos. Assim, a aula expositiva já não tem mais a centralidade que possuía no currículo organizado por disciplinas, uma vez que, no currículo por competências, o eixo não é mais o ensino, mas a construção de competências pelo sujeito. Na nossa opinião, independentemente das experiências pedagógicas ou situações didáticas utilizadas sob a égide do capital, não se pode perder de vista que a centralidade da ação educativa deve ser a construção dos conhecimentos. 88 Conforme Ramos (2002), na pedagogia das competências a metodologia utilizada pelo professor adquire centralidade no processo ensino–aprendizagem, tendo em vista que esta deve identificar-se com as ações ou com o processo de trabalho do sujeito que aprende. Será que existe mesmo uma oposição entre transmissão de conteúdos e competências? De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico (2000, p.10), “a competência caracteriza-se pela condição de alocar os saberes cognitivos, psicomotores e socioafetivos como recursos ou insumos, por meio de esquemas mentais adaptados e flexíveis, em ações próprias de um contexto profissional específico, gerando desempenhos eficientes e eficazes”. Segundo o professor X, não se pode dizer que ocorreram mudanças nas práticas pedagógicas dos cursos técnicos de Eletrônica, pois a ruptura, a mudança ainda não ocorreu, ela está em processo e vai levar ainda algum tempo para acontecer. É difícil fazer essa ruptura, porque não existe uma abertura para que os professores interajam. Na minha opinião, não houve mudança significativa em termos de metodologia e avaliação, principalmente a avaliação que deveria ser mais consistente. Ela ainda está muito presa ao modelo antigo, as pessoas têm números na cabeça. (...) as mudanças não são generalizadas e ocorrem de forma lenta e pontuais, todavia estas não determinaram uma alteração no processo de avaliação, além de não serem perceptíveis para os alunos. Portanto, se os professores protagonistas desse processo não perceberam a ocorrência de mudanças nas práticas pedagógicas, é porque, apesar de essas estarem estabelecidas formalmente nos projetos dos cursos e nas normas didáticas, não foram implementadas na ação educativa. No caso do CEFET–PB, assim como outras instituições de ensino, tem enfrentado dificuldades muito grandes em colocar em prática os projetos e propostas pedagógicas. Daí que a participação do professor no processo de construção desses projetos não deve se constituir numa mera formalidade, visto que é este profissional quem concretiza o currículo no espaço contraditório da sala de aula. Recorrendo a Ramos (op. cit.), observamos que nenhuma reforma se implanta tal como foi concebida, ainda que se desenvolva sob a hegemonia de um ideário ético, político e pedagógico. Segundo a autora, isso se deve a um movimento dinâmico e contraditório que ocorre na relação entre Estado e sociedade civil; estruturas burocráticas e estruturas pedagógicas; dirigentes institucionais e comunidade escolar. 89 5.1.3 Os procedimentos avaliativos utilizados pelos professores Cerca da metade dos professores afirmaram não ter percebido a ocorrência de mudanças, quando indagados se as percebiam no processo avaliativo dos cursos técnicos do CEFET–PB, a partir da implantação do modelo por competências em 2001, enquanto os demais responderam afirmativamente. As mudanças na avaliação citadas pelos professores, algumas positivas outras negativas, foram as seguintes: • Deu-se a discussão do próprio processo avaliativo por parte dos vários professores de uma mesma turma; • Alguns critérios que não estavam sendo levados em conta passaram a ser observados, como a assiduidade, por exemplo; • As ações ficaram mais isoladas e soltas, por não haver acompanhamento pedagógico; • Houve uma queda na qualidade do técnico formado; • Aconteceu um aumento da avaliação de atividades de desempenho e de projetos, antes mais centrados em provas escritas; • A avaliação ficou mais qualitativa e menos quantitativa. Com isso, hoje talvez se olhe mais superficialmente o aprendizado do aluno. De acordo com a opinião da maioria dos professores entrevistados, trabalhar com conceito em vez de nota altera a avaliação, pois avaliar o desempenho dos alunos através de conceitos difere da metodologia tradicional. No entanto os três docentes restantes responderem que trabalhar com o uso conceito não altera a avaliação. As justificativas apresentadas foram as seguintes: • Dificuldade de diferenciar alunos muito bons, bons e fracos, tornando a avaliação superficial e não estimulando a competição entre eles; • A avaliação é mais democrática e mais específica, além de a nota ser mais criteriosa; • As avaliações são direcionadas para testar a competência em desenvolver tarefas, e não para comparar as possíveis realizações; 90 • Aumento da responsabilidade das partes envolvidas, ou seja, pensamos mais no todo no momento da avaliação; • Os conceitos deveriam expressar mais o aprendizado do aluno, e não apenas a aprovação ou a não–aprovação. Segundo Mediano (1977) a avaliação por competências tem se apresentado como um novo campo, desde a década de 70, nos Estados Unidos, através de um movimento denominado “Ensino Baseado em Competência”. Este movimento está identificado como uma estratégia de ensino individualizado, utilizando diversas técnicas de ensino. Como ponto de partida são estabelecidas quais as competências que os educandos precisam adquirir para, numa etapa seguinte, planejar a forma de como trabalhar, visando ao desenvolvimento destas. Como avaliar competências no contexto escolar? Qual a melhor forma de saber se houve ou não o aprendizado? Sob essa ótica, a avaliação deve ser concebida enquanto processo, incluindo uma perspectiva de conjunto. Os professores são avaliadores e avaliados, trabalhando integradamente, não havendo, portanto, espaço para discriminações, manipulações, competições, rotulações. A observação contínua, nesse caso, não deverá ter apenas a função de coletar dados. A sua intenção primeira é informativa, considerando que a observação pretende ajudar o aluno a aprender tudo o que é pertinente para compreender as dificuldades escolares e a intervenção em tudo o que é eficaz. Ela deverá ocorrer no tempo real em que se desenvolvem as competências e a aprendizagem, enquanto o educador atenta para o que cada educando está realizando, suas reações aos estímulos e o que atrai seu interesse. Nesse sentido, as competências devem ser avaliadas partindo de problemas complexos e tarefas contextualizadas, dentro de uma série de condições. Nessa contextualização, ensinase aos alunos o que eles devem aprender para que saibam analisar, decidir, expor suas idéias e ouvir as dos outros. Sob essa perspectiva, a avaliação deixa de ser um evento para ser processo, em que o medo é substituído pela coragem, o boletim de notas pelas anotações, a imposição pela negociação, com o suporte de instrumentos de acompanhamento e avaliação, caderno de práticas, fichas de acompanhamento e relatórios. Apesar de os processos de avaliação escolar terem sofrido modificações quanto aos métodos e processos de ensino, relevando a filosofia educacional de um sistema de ensino, o caminho percorrido pela avaliação da aprendizagem escolar, na sociedade moderna e na 91 prática educativa brasileira, parece não ter muito contribuído para a importante função de mecanismo a serviço da construção do saber. Assim, falar de avaliação educacional é sempre uma tarefa difícil, dada a sua complexidade e a sua associação à nota, prova, punição, atividade final ou, ainda, como instrumento de controle comportamental e cognitivo do educando. Reduzir a função da avaliação de controle tem causado sérios danos ao processo pedagógico e não tem conseguido cumprir com a sua função educativa. Por conseguinte, a avaliação deve ser realizada no processo, sem se dissociar do trabalho pedagógico, no sentido de criar condições para que o educando construa os seus conhecimentos. Na teorização de Perrenoud (1986), a avaliação deve ajudar o aluno a aprender e o mestre a ensinar, devendo ser realizada num clima de confiança no qual os educandos exponham, sem medo, suas dúvidas e problemas, e o docente evite o fracasso escolar. A avaliação só será formativa se esboçar e colocar em prática um plano de ação. De acordo com as Normas de Organização Didática do Ensino Técnico Modular, a avaliação da aprendizagem do aluno com foco nas competências pressupõe um acompanhamento mais individual e sistemático do aluno, através de fichas de observações, adoção de situações de aprendizagem problematizadoras. Conforme depoimentos de professores e alunos, a única modificação no processo avaliativo é que o professor está transformando notas em conceitos, pois, se não se sai bem na prova, é porque ele não desenvolveu a competência. Aliás, a nota continua sendo o referencial para o professor e para o aluno na verificação da aprendizagem do conhecimento. Para Luckesi (2002), a avaliação teria a função de auxiliar na construção da aprendizagem satisfatória; e, estando centralizada em provas e exames, secundariza o significado do ensino e da aprendizagem. A nota, somente, não expressa nada; ou seja, ela classifica, mas não possui significado. Para ele, enquanto é avaliado, o educando expõe sua capacidade de raciocinar e criar histórias, seu modo de entender e de viver. Ante esse quadro, a questão principal é saber que a nota ou o conceito são conseqüência da aprendizagem do aluno. A avaliação não pode ser encarada como um momento pontual, mas um processo contínuo no qual a nota e/ou conceito são resultantes da aprendizagem. No caso do currículo por competências, a avaliação é constituída de dois momentos, ou seja, a avaliação que ocorre durante o módulo e a certificação que acontece no término de cada módulo. 92 Para o autor, no processo educativo, há uma diferença entre a verificação e a avaliação do rendimento do aluno. Ou seja, enquanto a dinâmica da verificação encerra-se com a obtenção dos dados ou das informações que se buscam, a avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a configuração do objeto, exigindo uma tomada de decisão. Enquanto a verificação “congela” o objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação. Na prática, isso significa que o processo de avaliação implica organizar um diagnóstico, em que se identificam os avanços e as dificuldades do educando e se redimensiona a ação educativa. Com o objetivo de verificar o entendimento dos professores sobre a avaliação baseada nas competências, foi perguntado aos professores o que se avalia tendo por base as competências. Cinco dos professores entrevistados responderam que, nesse novo modelo, se “avalia a capacidade do aluno em executar determinada atividade”, sem especificar que tipo de atividade. Outros três afirmaram que “se avalia o conhecimento absorvido pelo aluno”. Houve quem também dissesse que se “avalia conhecimentos e a capacidade de associá-los a habilidades físicas no desempenho de tarefas”. E um último respondeu que se “avalia se o aluno desenvolveu as habilidades para desempenhar o que a disciplina está propondo”. Para o professor X, a avaliação, pelo menos na minha disciplina, por ser eminente prática o aluno tem que demonstrar o saber fazer, portanto, há ênfase no desempenho prático ao longo do curso. O problema é que os alunos no processo de avaliação sempre querem ser avaliados por notas, os aspectos subjetivos ainda não estão muito assimilados nem para os professores nem para os alunos. A avaliação também passa pela relação professor/aluno, entretanto percebe-se que os professores não questionam sua avaliação, nem têm a prática de se auto–avaliar. Na lógica das competências, a avaliação escolar não pode assumir a forma de testes, uma vez que requer formas que sejam um convite ao raciocínio e à mobilização de saberes no contexto de situações–problemas. Sob essa ótica, a avaliação tem um papel primordial, qual seja: ser útil na informação que oferece, no sentido de garantir a qualidade do trabalho pedagógico e fundamentar a certificação de competências. Conforme os dispositivos legais vigentes, os currículos da educação profissional de nível técnico devem estar organizados com base nas competências. A avaliação deve pautarse nas competências construídas pelo aluno. Portanto, ela não pode se restringir à verificação apenas dos conhecimentos dos alunos, uma vez que o conceito de competência profissional 93 utilizado na Resolução CNE/CEB nº 04/99 (Art. 6º) implica a verificação da capacidade do educando em mobilizar e articular recursos subjetivos, bem como atributos constituídos ao longo do processo ensino–aprendizagem, através de situações de aprendizagem instigadoras. Isso significa que a avaliação do aluno deve ser feita no momento real em que estas ocorrem. Avaliação por competências? Ou competências em avaliação? O tema é polêmico e exige considerações. O que se percebe é que se entende por competências profissionais apenas as atividades ligadas ao perfil profissional. Essa interpretação, no entanto, dificulta a configuração das competências e capacidades numa dimensão educacional. Daí, o tema da construção da competência em educação vir sofrendo um amplo questionamento por parte dos educadores. Convém destacar que a avaliação por competência estará sempre vinculada a algum tipo de padrão ou norma, os quais podem ser rígidos e, portanto, fortemente direcionados a comportamentos e desempenhos técnicos e comportamentos prescritos. Podem ainda ser criativos, gerando espaço para observação e registro de atitudes frente a situações inusitadas. Aliás, é verdade que as pessoas desenvolvem competências ao longo da sua vida, uma vez que ela é inerente ao ser humano. O problema é que, na lógica das competências, essa característica está sendo utilizada como uma forma de responsabilizar o indivíduo, quando este não consegue ingressar no mercado de trabalho por não ter desenvolvido adequadamente as competências necessárias. Conforme Penna Firme (2000, p.18), os avanços da avaliação, enquanto área de conhecimento e de desenvolvimento profissional, mostram sua substancial mudança no paradigma de formação que passa da transmissão de conhecimentos para a construção de competências, a partir de metodologias centradas na ação do sujeito que aprende, através de problemas e projetos propostos, orientados e assessorados pelo professor. Nessa perspectiva, a avaliação deixa de ser um evento para ser processo, troca o medo pela coragem, o boletim de notas pelas anotações, a imposição pela negociação, com o suporte de instrumentos de acompanhamento e avaliação, caderno de práticas, fichas de acompanhamento e relatórios. No caso do CEFET–PB, assim como nas demais instituições de ensino, a avaliação da aprendizagem constitui-se numa atividade complexa da prática pedagógica, principalmente por ser vista como uma coisa à parte do processo educativo. Na verdade, a avaliação é intrínseca à ação educativa, na qual o professor e os alunos têm oportunidade de avaliar os 94 seus avanços e as limitações; à sistemática de avaliação, em que professor e aluno se auto– avaliam. Os instrumentos de avaliação são diversificados, podendo estar inclusa aí a prova, como uma das possibilidades. Mediante as dificuldades dos alunos, são tomadas decisões no sentido de retomar, retrabalhar os conhecimentos não–adquiridos. Esse é o modelo de avaliação em que acreditamos e defendemos. Nessa perspectiva, a avaliação no processo de ensino e aprendizagem deve ser um instrumento de identificação do desenvolvimento do educando, fornecendo elementos para correções necessárias durante o processo. O parâmetro para a avaliação será, naturalmente, aquilo que se pretendeu alcançar. É preciso ter clareza que a avaliação nessa perspectiva já vem sendo discutida e materializada em ambientes escolares, portanto não é mérito das competências. A questão é como avaliar competências, visto que estão implícitas no sujeito. Para Kátia Smole (2000), a observação é a melhor forma de saber se houve ou não o aprendizado. Segundo ela, a avaliação precisa ser realizada a todo momento, com a mesma atenção ao que cada aluno está fazendo, como reage aos estímulos, o que atrai seu interesse. Sob essa ótica, nessa avaliação observacional, faz-se necessária a utilização de instrumentos no quais deverão ser registrados os dados referentes ao desempenho diário dos educandos nas atividades propostas. Em síntese, apesar de os processos de avaliação escolar terem sofrido modificações quanto aos métodos e processos de ensino, relevando a filosofia educacional de um sistema de ensino, o caminho percorrido pela avaliação da aprendizagem escolar, na sociedade moderna e na prática educativa brasileira, parece não ter contribuído suficientemente à importante função de mecanismo a serviço da construção do saber. Na descrição dos instrumentos de avaliação utilizados pelos professores entrevistados, os exercícios práticos são citados nove vezes, provas teóricas quatro vezes, lista de exercícios quatro vezes, seminários duas vezes, assiduidade duas vezes, e citada uma vez a realização de projetos, apresentações, avaliações teóricas, avaliações práticas e continuadas em laboratórios e relatórios. Percebemos que, apesar da diversificação em torno dos instrumentos de avaliação, em termos de sistemática da avaliação da aprendizagem nos cursos técnicos de Eletrônica não houve mudança significativa. A prova continua, ainda, sendo vista pelos professores como o instrumento confiável para saber se o aluno adquiriu o conhecimento e/ou desenvolveu a competência. 95 No processo de formação por competências, as notas tradicionais fazem pouco sentido. Uma das principais técnicas de avaliação é a da observação da resolução de problemas relacionados ao trabalho em situações simuladas ou reais, possibilitando a verificação de indicadores das competências. Aliás, essa técnica em nenhum momento foi citada pelos professores. Alusivamente à distribuição dos mecanismos de controle acadêmico utilizado por parte da coordenação e pelos professores, encontram-se os mais citados: lista de freqüência, avaliação, registros de aula, históricos escolares. Vale destacar que, com a implementação do modelo das competências, esse controle passou a ser feito pelas coordenações dos cursos, porém sem as condições necessárias. Aliás, essas reformas, além dos aspectos relacionados anteriormente como a capacitação dos profissionais de ensino, não vêm acompanhadas de investimentos que permitam a sua implementação. Conforme o professor Z, “o controle acadêmico é muito ruim, a descentralização no controle ocorreu sem as condições necessárias para tal fim”. Para ter-se uma idéia, o software agora é que está sendo implementado. Segundo os professores entrevistados, as dificuldades enfrentadas com a implementação do modelo das competências foram as seguintes: • Falta de entendimento do conceito de competências, de avaliação em conjunto e principalmente de interação entre os professores e as disciplinas; • A não existência de um padrão sólido para ser seguido pelos professores nos planos das disciplinas e acompanhamento pedagógico sistemático; • Falta de controle acadêmico por parte do CEFET–PB e de instalação e manutenção de laboratórios; • Resistência dos professores às mudanças e principalmente falta de avaliação do curso. No que tange à aquisição de vantagens, os professores admitem haver interação entre professores e alunos, além da discussão entre os professores sobre as disciplinas; avaliação dos alunos, realizada sob diversas condições e não só sobre notas, e um maior estímulo do aluno na realização de atividades práticas. Cabe ressaltar que dois dos professores entrevistados preferiram não citar tais dificuldades, nem as facilidades, enquanto três professores citaram apenas dificuldades. Destes, um afirmou não haver facilidades com a implantação do modelo. 96 Finalmente solicitados sobre as sugestões para o aprimoramento do modelo de competências, os professores ressaltaram que deveria haver: • Cobrança mais rigorosa para com as coordenações dos cursos, mais colaboração por parte dos docentes e a promoção de eventos para atualização dos professores; • Reuniões periódicas para acompanhamento e avaliação e estabelecimento de uma norma geral de avaliação para todos os cursos técnicos; • Programação que implemente e se faça entender o objetivo do processo de ensino por competências; • Mudança de mentalidade por parte dos docentes e discentes. 5.2 REPRESENTAÇÃO DOS ALUNOS DOS CURSOS TÉCNICOS DE ELETRÔNICA DO CEFET-PB Profissional minimamente preparado para exercer uma função mínima. (opinião do aluno sobre o curso de Instalação e Manutenção de Sistemas Eletrônicos). Após ouvir o corpo docente dos cursos técnicos de Eletrônica, partiu-se para ouvir os alunos, considerando serem os que mais diretamente são beneficiados ou não com as reformas do ensino e, nesse caso, com o modelo das competências. Na perspectiva de verificar os possíveis efeitos do modelo curricular implantado, foram ouvidos 40 alunos dos 95 matriculados nos períodos 2001.1, 2004.1 e 2004.2 e que estavam cursando o último módulo dos cursos técnicos de Instalação e Manutenção de Sistemas Eletrônicos – IMSE (extinto), Instalação e Manutenção de Equipamentos Médico–Hospitalares–IMEMH e Instalação e Manutenção de Equipamentos de Informática e Redes – IMEIR. Conforme avaliação feita pelos alunos do curso de Instalação e Manutenção de Sistemas Eletrônicos, durante uma reunião realizada no segundo semestre de 2005, apesar do curso ser de Eletrônica, ficou mais direcionado à Informática. Destacaram ainda a falta de 97 envolvimento dos docentes com o projeto do curso e de articulação e planejamento, visíveis pelo desencontro de informações entre os professores, na sistemática de trabalho adotada por cada um deles. De acordo com as opiniões dos alunos do curso de IMSE, o sistema modular é péssimo, tendo em vista o aligeiramento do curso que provoca correria e defasagem de conteúdos, pouca prática e disciplinas básicas retiradas do currículo, neste sentido o tempo foi crucial. Outro problema foi que não dá para estagiar numa empresa com os conhecimentos adquiridos na sala de aula, além do fato do mercado de trabalho preferir alunos provenientes do SENAI. Em referência à avaliação do curso de IMEIR, assim se pronunciou o aluno A, durante entrevista: a idéia do curso sair da área de eletrônica e fazer focado em função das novas tecnologias foi boa. O problema é que como o curso oferece duas especializações aos alunos – Manutenção e Redes – não tem como saírem com a visão das duas, ou seja, em função do tempo há sempre uma deficiência, principalmente que é mais complexa. No módulo inicial é dada a parte de eletrônica. No segundo módulo o curso é distribuído entre as duas vertentes e o terceiro dá continuidade ao segundo com um maior aprofundamento na parte de manutenção que é mais simples. Segundo esse aluno, “a gente escuta os professores falando que antes o curso era melhor, pois o aluno fazendo o técnico juntamente com o médio, aproveitavam o que viam na sala de aula para aplicar. Além disso, com a carga horária pequena não dá para ver todo o conteúdo necessário”. Para o referido aluno, deveria ser acrescentado mais um módulo no curso para que o aluno se sinta mais preparado, mais qualificado. A gente conversando sobre o curso vê uma quantidade de alunos que se dizem com deficiência e que não concorda com o formato do curso modular. Quando indagados se tinham conhecimento do projeto do seu curso (IMEMH – 2004.2), seis de um total de sete alunos responderam que sim, e apenas um respondeu negativamente. Com relação aos alunos do curso de Manutenção de Informática e Redes, de um total de nove alunos, seis afirmaram conhecer o projeto de seu curso, e três responderam 98 negativamente. Percebe-se que apesar de a maioria dos alunos dizer que conhecem o projeto do curso, quando se tenta aprofundar questões relativas a este, percebe-se que esse conhecimento é superficial. Vale destacar a importância de os alunos conhecerem o projeto do curso, mas principalmente os professores, sobretudo aqueles que não participaram da sua elaboração, visto que este, por enquanto, é o documento orientador dos cursos técnicos. 5.2.1 O conceito de competências dos alunos Sobre o conceito de competências, disse um dos alunos entrevistados ser de difícil compreensão, uma vez que “nunca ninguém explicou claramente pra gente o seu significado” (aluno A, do curso de IMEIR). Apesar desse suposto desconhecimento, a grande maioria dos alunos respondeu que competências “são habilidades adquiridas no decorrer do curso”. Um dos alunos, entretanto, definiu competências como “um método de avaliação que não trabalha com notas, e sim com conceitos para verificação de aprendizagem”. Esses alunos ainda consideraram que competências são: cadeiras desenvolvidas ou não do curso, norma que avalia o conhecimento em uma área específica, as habilidades adquiridas durante o curso efetivas para o mercado de trabalho, o desempenho do aluno em aplicar os conhecimentos adquiridos, a capacidade que o aluno tem de solucionar ou executar uma atividade, a função na qual você é capaz de realizar e objetivos que você cria para cumpri-los o que eu preciso aprender. Analisando as respostas dadas pelos alunos sobre o seu entendimento a respeito das competências, observa-se que se aproximam das definições dadas pelos professores: “a capacidade de realizar uma tarefa, restringindo-a ao saber fazer, a habilidade, o desempenho”. Algumas destas respostas, porém, se distanciam do significado das competências, se se considerar o conceito apresentado na Resolução do CNE/CEB nº 04/99, Art. 6º: “a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho”. 99 Ramos cita Malglaive (2005), assinalando que o fato de o desempenho observado ser um indicador mais ou menos confiável de uma competência supostamente mais estável, que é medido indiretamente – acepção desenvolvida pela lingüística –, não põe fim à necessidade de conceituar esses termos com maior precisão. Para o autor citado (1995), a utilização pelas competências da locução ser capaz de é puramente descritiva, visto que esta designa uma atividade, e não uma capacidade ou competência, permanecendo em aberto, pois não se sabe o que os estudantes devem ter adquirido para serem capazes de fazer o que se pretende que eles façam. Como podemos observar, um dos alunos denominou as competências de objetivos. Aliás, em função da proximidade existente entre estes, há quem reforce essa afirmação, nomeando as competências de objetivos gerais e as habilidades de objetivos específicos e que apenas houve o acréscimo da locução ser capaz de. A esse propósito, Perrenoud (1999) assinala que, às vezes, fala-se em competências apenas para insistir na necessidade de expressar os objetivos de ensino em termos de condutas e práticas observáveis. Para o autor, falar a respeito de competência pode não acrescentar muita coisa à idéia de objetivos, pois é possível ensinar e avaliar por objetivos, sem se preocupar com a transferência dos conhecimentos e, menos ainda, com a sua mobilização diante de situações complexas. Apesar de as respostas dos alunos conterem elementos da competência profissional, como o desempenho que é uma evidência mais ou menos confiável da competência, ficou evidente que a maioria dos alunos entrevistados não sabem o real significado das competências nem a amplitude desse conceito. Por outro lado, um aspecto preocupante foi o caráter minimalista atribuído pelos alunos a sua formação no modelo das competências. Segundo o aluno Z, “com a reforma curricular, os professores não podem dar todo o conteúdo porque a carga horária é muito pequena”. Outro aluno afirmou que o curso forma “profissionais minimamente preparado para exercer uma função mínima”, reforçando assim a característica de cursos modularizados e aligeirados. Prosseguindo as entrevistas, quando foi perguntado a esses alunos se as competências desenvolvidas no curso correspondiam ao perfil de conclusão definido nos projetos dos cursos técnicos de Eletrônica, no qual estão estabelecidas as competências gerais e competências da habilitação profissional, oito dos entrevistados confirmaram haver essa correspondência. 100 5.2.2 Os procedimentos metodológicos na visão dos alunos Dando-se prosseguimento às entrevistas, perguntou-se aos alunos sobre a metodologia utilizada pelos professores na sala de aula. Eles responderam que os professores utilizam “conversas na sala de aula, aulas teóricas, visitas técnicas, aula expositiva e projetos”. Três dos alunos do curso de IMEIR não especificaram; um respondeu “projetos”; e outro aluno afirmou que “a metodologia depende do professor”. A maioria dos alunos do curso de IMEMH respondeu que as estratégias metodológicas utilizadas pelos professores foram: “trabalhos, projetos, pesquisas e provas”. Outros alunos fizeram algumas observações: “a prática favoreceu o entendimento da disciplina”, “a metodologia aplicada é insuficiente por conta da falta material de apoio”, “as aulas práticas fazem com que aprendamos o que vemos na teoria”, “as aulas práticas e teóricas caminhando juntas favorecem esse desenvolvimento”, “algumas disciplinas são dadas utilizando metodologias ultrapassadas”. Fazendo uma análise entre as falas dos alunos e dos professores, verifica-se uma certa incoerência, pois cinco professores, quando indagados sobre a metodologia utilizada na sala de aula, responderam; “práticas em laboratórios”; ao passo que, nas respostas dos alunos, houve uma ênfase muito grande no sentido da necessidade de mais práticas nos cursos. Para se ter uma idéia, dentre as sugestões apresentadas pelos alunos, a que mais se repetiu foi “trabalhar com mais práticas no curso”. Apesar de a prova ter sido especificada como metodologia, esta é ainda um dos instrumentos mais utilizados no processo avaliativo. Convém ressaltar que, em relação às demais estratégias de ensino citadas pelos alunos, as respostas destes se aproximaram das dos professores. Os alunos reclamaram de alguns professores que trabalham com projetos nos computadores, mas deixam muito nas mãos dos alunos. O professor não pode perder de vista que o aluno, embora sujeito do seu processo de aprendizagem, precisa da intervenção do professor, no sentido de mediar o processo de construção do conhecimento. A idéia inicial dos cursos técnicos do CEFET–PB era trabalhar em cada módulo do curso um projeto integrador, para favorecer a articulação entre os professores e facilitar o processo de avaliação e certificação das competências adquiridas. Nesse sentido, as bases tecnológicas deveriam estar direcionadas para que, ao final de cada módulo, o aluno tivesse construído o projeto a partir de situações reais enfrentados por profissionais da área ou 101 empresas. Todavia vale destacar que essa idéia do projeto integrador ocorreu apenas numa disciplina do primeiro módulo (Período 2001.1), sem o envolvimento dos demais professores do mesmo módulo. Nesse formato, o projeto não pode ser considerado como integrador. Os alunos do curso de IMEIR, quando questionados se as metodologias utilizadas pelos professores em sala de aula e em laboratório favoreceram o desenvolvimento de competências, dividiram-se nas suas opiniões: dois responderam afirmativamente, e dois negativamente. Para a maioria dos alunos do curso de IMEMH, as competências desenvolvidas no curso corresponderam ao perfil de conclusão, enquanto três responderam negativamente. Na verdade, essas competências descritas no perfil profissional não podem se constituir em rotas, mas enquanto horizontes onde se quer chegar, visto que a competência é subjacente ao sujeito, e não pode se restringir a comportamentos que lhe são prescritos. 5.2.3 Os procedimentos avaliativos na visão dos alunos Na opinião da grande maioria dos alunos entrevistados, trabalhar com conceito em vez de nota não altera a avaliação, enquanto os demais afirmam positivamente. Dentre as justificativas apresentadas por aqueles que concordam em haver alteração, destacam-se: “os professores nos avaliam cotidianamente”, “nem sempre a nota é a realidade do conhecimento”, “o que vai constatar o trabalho não é a nota e sim que o você aprendeu, mostra que somos capazes de exercer as competências”, pois “o mercado de trabalho não admite erros e fica em aberto sua nota e geralmente todos se igualam de forma duvidosa”. Segundo os alunos, o que prevalece é se o aluno tem ou não competência, o método de conceito é menos preciso, porque são as notas que dizem onde erramos, pois o conhecimento é avaliado a todo momento, é outra forma de avaliação, o professor não deve apegar-se à nota e sim à capacidade e ao interesse do aluno, porque é importante saber se o aluno sabe ou não desenvolver as atividades se está apto ou não, as provas continuam sendo corrigidas por notas depois são convertidas em conceitos. 102 Analisando as respostas dos alunos e confrontando-as com as dos professores, percebe-se uma diferença: enquanto a maioria dos professores afirma que trabalhar com conceitos em vez de notas altera a avaliação, os alunos afirmam que não altera. Essas questões refletem as diferentes concepções de avaliação. Não existe nenhuma prática pedagógica e/ou avaliativa neutra, ela tem sempre uma intencionalidade e reflete a nossa visão de mundo, de educação e de ser humano. A nota é uma questão cultural bastante arraigada nas instituições de ensino. Na opinião dos alunos de IMEMH, a avaliação da aprendizagem possibilita a verificação do desenvolvimento de competências, pois, enquanto quatro responderam afirmativamente, apenas um respondeu negativamente. Os alunos que responderam de forma afirmativa apresentaram as seguintes justificativas: pode se verificar o aprendizado e a capacidade do aluno, porque o professor fica por dentro do conhecimento que o aluno adquiriu, pela avaliação é que se mede o tanto que foi aproveitado na sala de aula, porque a avaliação não deveria ser somente teórica, mas dando mais ênfase a parte prática, o desenvolvimento é adquirido no decorrer no curso e não em uma única prova. Quanto aos instrumentos de avaliação que vêm sendo utilizados pelos professores dos seus cursos, a prova foi o instrumento que mais se repetiu, enquanto os outros citados foram: projetos, trabalhos, práticas em laboratórios, assiduidade, participação, responsabilidade, senso crítico, conhecimento e freqüência. Sendo assim, apesar dos professores utilizarem outros instrumentos de avaliação, existe uma opinião unânime sobre a prova como o melhor instrumento para avaliar a aquisição de conhecimentos. De acordo com os alunos, os procedimentos avaliativos utilizados pelos professores são instrumentos de caráter quantitativo e qualitativo, sendo que alguns dos indicadores da avaliação citados estão estabelecidos nas Normas Didáticas do Ensino Técnico do CEFET– PB. Apesar da freqüência ter sido citada como um instrumento de avaliação, ela não pode ser utilizada, uma vez que na LDB está desvinculada do processo avaliativo. O que pode ser feito é o professor considerar a assiduidade como um dos aspectos da avaliação qualitativa. Além do domínio do conhecimento, existem aspectos relacionados a atitudes e à postura do educando que precisam ser observados e considerados no processo de avaliação. Na opinião da maioria dos alunos, a avaliação da aprendizagem possibilita a verificação do desenvolvimento de competências. Dentre as justificativas, destacam-se: 103 “mede o grau de competência e é uma forma de avaliar a eficiência das habilidades quando aplicadas corretamente”, porque “avaliando a aprendizagem torna-se ativo o crescimento nas competências”, porque “a avaliação é o resultado do que o aluno aprendeu na aula e em função de você adquirir mais conhecimento tornando-se cada vez mais competente”. Os que responderam negativamente justificaram que existem alunos que desenvolvem as competências, mas não sabem nada. Isso ocorre em virtude de fatores como nervosismo, manifestos durante a prova ou “fila”, influírem o resultado da avaliação. Em relação aos mecanismos de controle acadêmico utilizados pelos professores e pela coordenação de Eletrônica, a maioria dos alunos respondeu: fichas de avaliação e fichas de freqüência. Os demais citaram certificado de qualificação profissional, histórico escolar e diploma. Para os alunos entrevistados, as dificuldades no desenvolvimento do currículo foram as seguintes: • Falta de mais campo de trabalho e vontade dos professores em repassar os conhecimentos e planejar as aulas, além da desorganização da coordenação de Eletrônica; • Laboratórios superlotados nas aulas, falta de laboratórios mais equipados para as aulas práticas e de manutenção de equipamentos; • Falta de campo para estágio durante o período do curso e de visitas nos locais de acordo com o curso, conciliando conhecimento teórico com a prática; • Disparidade entre o tempo e o conteúdo, falta de material, de apoio ao ensino e de organização das disciplinas. No que se refere às facilidades, os alunos apontaram: • Domínio do conhecimento teórico, coordenador de curso de IMEMH atuante e com disponibilidade para ouvir os alunos e articular campos de estágio; • Acesso a fontes de pesquisa como internet e biblioteca, bom nível de aprendizado e professores qualificados; • Nenhuma; 104 • O fato de o curso ser voltado para a área de trabalho, através de conhecimentos específicos e de aulas práticas direcionadas ao conhecimento teórico; • Apoio de alguns professores e material extra-classe disponibilizado. 5.3 REPRESENTAÇÃO DA EQUIPE PEDAGÓGICA DO CEFET-PB Para completar o ciclo de avaliação do modelo das competências realizado a partir das práticas pedagógicas dos cursos técnicos de Eletrônica, foi feita uma entrevista com a Técnica em Assuntos Educacionais, mas que atua como pedagoga na Equipe Pedagógica do CEFET– PB. Além de acompanhar todo esse processo de mudança, ela foi responsável por conduzir a elaboração dos Projetos Pedagógicos dos Cursos Técnicos. A pedagoga entrevistada tem conhecimento das leis aplicadas à educação profissional, tendo em vista que a equipe pedagógica, na construção desses projetos, tem um papel fundamental, principalmente de discutir junto aos professores os princípios e fundamentos das políticas educacionais. Quando indagada sobre a reforma da educação profissional, a mesma respondeu que a reforma era necessária, contudo a reforma que conduziu o currículo por competências foi equivocada, ou seja, não houve um planejamento por parte do governo, nem a qualificação das instituições. Assim, a crítica que eu faço é em relação à forma imediatista como ela chegou, sem a preparação adequada. Vale destacar que esse aspecto da reforma destacado pela pedagoga já foi bastante discutido durante todo o desenvolvimento deste trabalho; porém acreditamos que a mudança desejada não estava direcionada na perspectiva das competências. Vale destacar que o papel da pedagogia no CEFET-PB é de assessoramento às Gerências Educacionais, na elaboração dos currículos, interpretação da legislação educacional e, principalmente no acompanhamento do processo educativo nas diversas modalidades de ensino. 105 5.3.1 O conceito de competências da equipe pedagógica Para a pedagoga, competências é entendido como “a capacidade de articulação de saberes e habilidades na realização de uma atividade profissional/acadêmica e/ou na resolução de problemas”. Segundo informou, a visão de competência assimilada no contexto atual foi sendo construída até chegar a competência profissional direcionada para numa atividade foco numa determinada profissão. Nesse sentido, engloba toda a capacidade cognitiva e habilidades técnicas para um fazer. É interessante que o seu conceito de competências caminha nessa direção. Para ela, antes as competências eram concebidas numa perspectiva mais ampla, pois envolviam o profissional que tinha conhecimentos sócio-político, culturais e filosóficos, capacidades múltiplas e competências. Atualmente, o conceito está mais delimitado por um fazer específico no exercício profissional dentro de uma atividade produtiva. Na verdade, nos documentos oficiais referidos inicialmente, as competências foram definidas como “esquemas mentais”. Depois, esse conceito foi ficando mais sofisticado até chegar ao que está posto na Resolução do CNE/CEB nº 04/99, citada anteriormente neste trabalho. Conforme a pedagoga entrevistada, “os recortes que são feitos no currículo por competência nos leva a pensar que estamos deixando de lado toda uma dimensão crítica do currículo”. Não se pode perder de vista o risco no momento da estruturação dos currículos, pois, como o currículo está organizado baseado nas competências, com uma carga horária mínima, podemos estar negando ao educando conhecimentos que possibilitem ampliar a sua visão, bem como oferecer as condições necessárias para compreendê-lo dentro de um contexto maior. 106 5.3.2 Os procedimentos metodológicos na visão da equipe pedagógica Na opinião da pedagoga, as metodologias utilizadas pelos professores de Eletrônica favorecem o desenvolvimento de competências, porém não especificou quais são essas metodologias. Sua resposta baseia-se nos depoimentos colhidos em eventos pedagógicos que revelam a identificação e aplicação da metodologia das competências por um número significativo de professores. Considerando os resultados dessa pesquisa, percebe-se nos depoimentos dos próprios professores o reconhecimento de que não houve mudança nas práticas pedagógicas, embora exista um hiato na diferença entre o ideário e o concreto e a existência de novas práticas que assinalam a mudança. De acordo com a pedagoga: a gente mudou, saiu de um modelo de ensino estruturado por disciplinas, conteúdos e programas para um novo modelo pedagógico na essência, inclusive filosófica. Se antes a gente trabalhava com uma visão integral de um currículo, passamos a trabalhar para um foco, metodologia específica para atender o desenvolvimento de competências. Na sua opinião, as competências desenvolvidas no curso de Eletrônica correspondem ao perfil de conclusão do curso, tendo em vista a aceitação desses alunos pelas empresas no estágio. Entretanto, na entrevista, quando fala das mudanças, ela destaca que “o mercado começa a dar respostas que o aluno não está bem preparado”. Percebe-se aí uma certa incoerência, pois não se sabe se essa resposta está sendo dada pelas empresas que absorvem o técnico no estágio nem por que o mercado prefere alunos formados no modelo anterior dos cursos técnicos integrados. Na verdade falta uma política de acompanhamento sistemático dos alunos egressos dos cursos técnicos para uma avaliação e retroalimentação de currículo. 107 5.3.3 Os procedimentos avaliativos na visão da equipe pedagógica Em relação às mudanças ocorridas no processo avaliativo nos cursos técnicos de Eletrônica a partir de 2001, uma entrevistada respondeu que possivelmente não tenha havido mudanças substanciais. A esse propósito, assinala: as mudanças não foram significativas, pois saímos de um modelo que estava limitado a uma necessidade de atualização (técnico integrado) para um modelo que tinha uma proposição de colocar o jovem mais rápido no mercado de trabalho, com qualificações específicas, bem determinadas. Para a pedagoga, trabalhar com conceitos em vez de notas altera a avaliação, porque abre espaço para inclusão dos aspectos qualitativos da avaliação. A equipe pedagógica já vinha discutindo a avaliação qualitativa e a utilização de conceitos com professores do ensino médio. Com a reforma, essa discussão foi ampliada para o ensino técnico. Apesar dos pequenos avanços, a avaliação da aprendizagem no CEFET–PB continua sendo uma temática que precisa ser discutida e redimensionada. Quando questionada se a avaliação da aprendizagem possibilita a verificação do desenvolvimento de competências, ela respondeu que não, porque a avaliação está no limite da aquisição de conhecimentos. Com relação aos instrumentos de avaliação que estão sendo utilizados nas disciplinas dos cursos técnicos de Eletrônica, citou projetos, práticas, provas e trabalhos. Sobre a resistência dos profissionais de educação do CEFET–PB, a mesma opinou “que houve muita resistência de professores e da pedagogia, muito embora se argumentasse de que as instituições tinham que ser provocadas para reformularem seus currículos”. Para ela, o que faz as pessoas serem resistentes ao processo de mudanças, no caso específico da reforma, foi o desconhecimento de uma metodologia “nova” e o deslocamento da concepção docente de uma formação geral para uma formação técnica. Na opinião da entrevistada, a resistência da pedagogia foi à maneira como foi feita a reforma e principalmente a discrepância existente entre as duas concepções de formação integrada e formação desvinculada do ensino médio. Por outro lado, não se pode perder de 108 vista toda a luta e discussão travadas desde a década de 80 em busca de um projeto de LDB que apontava para uma formação integrada, na qual o educando tivesse oportunidade de desenvolver todas as suas potencialidades. Na década de 90, na contramão surge uma reforma da educação profissional de nível técnico, respaldada pela LDB, na qual o principal eixo foi a separação do ensino médio da educação profissional, num país onde a educação básica ainda não está consolidada. Na realidade, não era o modelo das competências que a pedagogia desejava, entretanto não soubemos aproveitar a oportunidade do movimento da discussão para construir outras alternativas na adversidade da reforma. Não se pode perder de vista um projeto de educação que atende à maioria da população, aos interesses dos trabalhadores que devem ser vistos como sujeitos construtores de uma sociedade melhor. Quanto aos mecanismos de controle acadêmico que estão sendo utilizados pelos professores e pela coordenação do curso de Eletrônica, a representante respondeu que, sem um sistema informatizado, é difícil abarcar certificação de competências. Existe uma reclamação, principalmente dos alunos, relativamente ao acompanhamento do seu desempenho. A escola adquiriu o programa, mas ainda não está funcionando satisfatoriamente. Vale destacar que, antes da reforma, todos os dados eram sistematizados pela coordenação de controle acadêmico. Com a mudança, esse controle passou para as coordenações de cursos. E uma das maiores dificuldades foi executar todo esse trabalho sem um software. Do ponto de vista pedagógico, o acompanhamento dos cursos de Eletrônica está sendo realizado através de Comissões de Acompanhamento dos Cursos Técnicos, apesar de a coordenação do curso mencionado não ter aderido a essa proposta. Com relação ao acompanhamento da equipe pedagógica, este ocorre por intermédio de reuniões especificas. Fazendo parte da equipe pedagógica, reconhecemos que o acompanhamento realizado junto aos cursos técnicos não tem sido feito de forma sistemática, porém o número de profissionais da equipe – seis – tem sido um dos entraves, considerando a demanda das várias modalidades de ensino ofertadas pelo CEFET–PB. Além do não–entendimento dos professores acerca do papel relevante da pedagogia na instituição. Quanto às dificuldades enfrentadas no processo de implementação do modelo das competências, segundo a pedagoga foi a sistematização dos conhecimentos em correspondência às competências, sobretudo a avaliação conceitual na dimensão das competências. Com relação às facilidades, não foram especificadas. 109 Antes de concluirmos o trabalho, no entanto, é interessante retomar algumas opiniões dos entrevistados sobre as mudanças. Segundo os professores, a mudança, a ruptura, ainda não ocorreu; pois a instituição não muda, se as pessoas não mudarem. Para os alunos, não houve mudanças na avaliação das competências, uma vez que as provas continuam sendo corrigidas por notas, vindo depois a serem convertidas em conceitos. A pedagoga acredita, porém, que aconteceram mudanças metodológicas, mas que, em termos de resultados, a reforma não foi significativa. Leve-se em consideração que os conhecimentos eram estanques e os alunos não tinham base nem tempo suficiente para absorvê-los. Também merece ressaltar-se a falta de preparo do corpo docente para trabalhar com a metodologia das competências. Em síntese, de fato, o currículo foi determinado, mas a formação não demonstrou se o aluno está apto para aquelas competências e habilidades propostas no currículo. Apesar disso, não se pode restringir o resultado não significativo da reforma à falta de preparo dos professores, uma vez que o problema maior foi a inadequação da proposta. 110 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS As reformas educacionais, em especial as mudanças curriculares ocorridas na educação profissional de nível técnico na educação brasileira, sob a égide da LDB nº 9.394/96 e por intermédio de dispositivos legais subseqüentes, como o Parecer do CNE/CEB nº 16/99 e a Resolução do CNE/CEB nº 04/99 que emergem como forma de regulamentar a referida lei e instituir a pedagogia das competências como eixo norteador dos currículos e das práticas pedagógicas do ensino técnico. Apresentada como conceito “novo”, e não como reatualização, a lógica estabelecida pelos documentos oficiais era fazer a ruptura com o ensino “tradicional” e implementar o modelo pedagógico, cujo foco desloca-se do ensino para o desenvolvimento de competências. Nesse sentido, as práticas pedagógicas dos professores devem pautar-se na organização de situações didáticas que privilegiem os projetos e as situações–problemas que levem o aluno à mobilização de conhecimentos. O modelo das competências na educação brasileira teve como maior referência Philippe Perrenoud, em cujas obras, embora em sua análise tenha partido da realidade européia, faz a crítica à escola e ao tipo de ensino “tradicional”, “conteudista”, questionando se o papel da escola deve limitar-se à transmissão de conhecimentos ou funcionar como espaço para trabalhar as competências. Realizado o trabalho de pesquisa na busca de compreender esse fenômeno, acreditamos que conseguimos responder ao nosso problema de pesquisa, ou seja, entender como se dá a relação entre o modelo pedagógico das competências proposto para o ensino técnico pelas normativas legais e as práticas pedagógicas em adoção nos cursos técnicos de Eletrônica do CEFET–PB, a partir de 2001. Em síntese, saber como o currículo baseado nas competências está se realizando na dinâmica escolar desses cursos. Podemos constatar que essa relação ocorre formalmente, isto é, em termos de organização curricular, os projetos dos cursos técnicos de Eletrônica atendem às exigências do modelo das competências. Porém, em termos de materialização do currículo na sala de aula, não há uma correspondência entre o currículo estabelecido e as práticas pedagógicas adotadas pelos professores. O que vem confirmar a hipótese levantada no início deste trabalho. Além disso, conseguimos o alcance dos objetivos propostos, visto que foi possível, a partir da implementação do modelo das competências verificar as concepções de 111 competências da pedagogia, professores e alunos dos cursos técnicos de Eletrônica, e sua aplicação nesses cursos, fazendo o confronto entre a legislação da educação profissional e as ações desenvolvidas nos currículos; conhecer as práticas pedagógicas dos cursos técnicos de eletrônica do CEFET–PB, através da caracterização dos procedimentos metodológicos e avaliativos utilizados pelos professores e, finalmente, identificar as dificuldades e facilidades enfrentadas pelos professores, alunos e pedagogia na implementação do modelo das competências. Quando destacamos que a organização curricular atende às exigências do modelo das competências, isto se deve ao fato de o currículo formal estar organizado com perfil profissional englobando competências gerais e da habilitação profissional, currículos formatados em módulos que correspondem a uma ocupação numa determinada área profissional, oferta de saídas intermediárias com qualificações profissionais. Considerando que o currículo é um mecanismo de materialização do projeto educativo do país, caminhando para a conclusão dessas reflexões, afirmamos que, apesar de os currículos dos cursos técnicos de Eletrônica estarem organizados baseados nas competências, não foram observadas mudanças nas práticas pedagógicas desses cursos tendo por referência os procedimentos metodológicos e avaliativos dos professores, que são responsáveis em transformar em realidade os dispositivos legais e o ideário presente nos projetos curriculares. Ou seja, na verdade, os saberes continuam sendo os conteúdos das práticas pedagógicas, porém a impressão é que, em função da duração dos cursos, estes têm sido ofertados de forma superficial, gerando nos alunos insegurança quanto a sua formação. Dentre os fatores que concorreram para que as mudanças preconizadas não fossem implementadas, destacam-se: a fragilidade das políticas públicas para a educação profissional, realizadas de forma impositiva para atender a interesses internacionais; a falta de clareza e de entendimento do significado das competências; a ausência de subsídios teórico– metodológicos para os professores; a não–participação dos profissionais de ensino na discussão e na formulação das políticas educacionais, atuando como mero executores; a pressa dos gestores das instituições de educação profissional no cumprimento imediato às determinações do MEC; a falta da promoção de ações por parte da instituição que favoreçam a sua operacionalização; a falta de condições necessárias de laboratórios e equipamentos; a resistência dos professores à extinção do ensino técnico integrado e à implementação do paradigma das competências; a dificuldade dos professores em mudar seus procedimentos 112 metodológicos e avaliativos e, sobretudo, a falta de uma política de capacitação e atualização profissional dos profissionais da educação. Em síntese, pela falta de condições concretas, surgiram estruturas curriculares flexíveis, na maioria das vezes artificial, na abordagem dos conteúdos. Esses cursos modularizados representaram a fragmentação do currículo e um retrocesso em aspectos que a pedagogia das competências pode levar como o tecnicismo e o condutivismo, que já deviam ter sido superados. Enquanto Skinner conferiu importância ao contingente de esforços, Bloom atribuiu essa relevância aos métodos e meios. E é essa perspectiva que vem sendo retomada nos documentos oficiais, nos quais a metodologia no modelo das competências é colocada como uma questão essencial. Em relação à resistência dos profissionais de educação, acreditamos que vai sempre existir, porém ela tende a diminuir quando os agentes e sujeitos participam das discussões e das tomadas de decisão acerca das mudanças que se desejam implementar com novas culturas escolares. Para se ter uma idéia, na década de 90, já se almejavam mudanças na educação profissional, e o contexto era de discussão em torno da elaboração dos Projetos Político– Pedagógicos de Instituições de Educação Profissional e Tecnológica. Todavia as mudanças desejadas não caminhavam no sentido das competências. Nesse sentido, a pedagogia das competências foi mais um entrave do que uma oportunidade para os profissionais de educação aproveitarem o movimento da discussão das competências para construir outras alternativas. Não se pode perder de vista que essa resistência representada através dos sindicatos que promoveram vários fóruns de discussão, mobilização, foi decisiva para que o Decreto nº 2.208/97 fosse revogado em 2004 pelo presidente Luis Inácio da Silva, através da promulgação do Decreto nº 5.154/04, de 23 de julho de 2004, que regulamenta o parágrafo 2º do Art. 36 e os Arts. 39 a 41 da Lei 9.394/96 – LDB, apesar de ter havido muita pressão contrária. Por outro lado, apesar da revogação do Decreto nº 2.208/97, permaneceu o ensino técnico desvinculado da educação básica e todo o conteúdo ideológico e pedagógico da reforma representado pelas Diretrizes e Referenciais Curriculares Nacionais para o Ensino Técnico. O Decreto nº 5.154/04 trouxe a perspectiva, para o ensino técnico, de uma nova referência – a da integração. Enfim, não podemos deixar de destacar as possibilidades que os limites trazidos pela pedagogia das competências e as “não–mudanças” puderam gerar para a implementação do ensino integrado. Ou seja, apesar do processo de desconstrução que a pedagogia das competências gerou nas instituições, retoma-se a articulação entre a formação 113 geral e a formação profissional neste novo momento do currículo integrado sob os princípios da politecnia, da formação omnilateral dos trabalhadores e da construção da contrahegemonia aos preceitos de adaptação dos trabalhadores, difundidos pelo capitalismo na fase atual de “acumulação flexível” que apela à subjetividade do trabalhador. Portanto, o desafio que se apresenta para os profissionais de ensino é de que forma elaborar uma proposta curricular que dê conta disso. Daí a necessidade de uma organização formal que explicite os processos pedagógicos que vão promover a integração, para que esta não fique apenas em nível de ideário nos projetos, mas principalmente torne-se realidade nos processos educativos. Convém ressaltar a dificuldade de nos afastar do fenômeno investigado durante esse processo de busca de respostas ao nosso objeto de estudo, principalmente de apontar as contradições que permeiam a ação educativa da instituição na qual trabalhamos, primando pela qualidade do ensino. Contudo, essas reflexões, mais do que mostrar essas fragilidades identificadas na pesquisa, objetivam um olhar atento aos limites e às condições dessa abordagem pedagógica. Daí o reforço na necessidade de se avaliarem os processos pedagógicos do ensino técnico do CEFET–PB e de se reafirmar a perspectiva da integração curricular dos ensinos médio e técnico. Dessa forma, esperamos ultrapassar essa visão reducionista e utilitarista da formação que, na visão de Gauthier (1998), leva para segundo plano o conhecimento teórico necessário e imprescindível para uma leitura mais ampla da realidade social. Portanto, é preciso ter clareza de que a nossa ação pedagógica reflete a nossa visão de mundo, de educação e de profissional que queremos formar. Não podemos perder de vista que o papel da educação profissional não é somente formar profissionais para atender apenas às demandas do mercado, mas, sobretudo, formar cidadãos com capacidade técnica, imbuídos de valores éticos, a fim de que possam atuar no seu contexto social cujo compromisso seja a construção de uma sociedade mais humana. Relativamente ao assunto, apresentamos sugestões que poderão ser consideradas na avaliação dos processos pedagógicos dos cursos técnicos: • que os projetos elaborados e assumidos pela instituição não sejam atropelados pela falta de continuidade das políticas educacionais; 114 • que os professores tenham o domínio de um saber pedagógico que conduza à reflexão da sua prática docente, debruçando-se sobre ela para identificar os acertos e corrigir as distorções; • que os alunos sejam vistos como agentes e co-responsáveis nas ações de aprendizagem; • que o planejamento e a avaliação sistemática dos processos educativos façam parte da atividade docente; • que sejam criados espaços para discussão, socialização de experiências, articulação e integração entre os professores e as disciplinas; • que os professores, juntamente com a equipe pedagógica, busque alternativas de ultrapassar os paradigmas conservadores para além da pedagogias das competências; • que se caminhe na perspectiva de uma pedagogia voltada para a formação humana, com a finalidade de compreender a realidade além da sua aparência; • que o trabalho seja visto como princípio educativo concebido enquanto relação do homem/natureza para a produção da sua existência; • que os profissionais de educação, principalmente os técnicos educacionais, sejam reconhecidos nas suas atribuições enquanto co-produtores das construções possíveis; • que sejam formados grupos de estudos de temáticas relacionadas aos processos pedagógicos; • que o trabalho de assessoramento pedagógico seja avaliado e redimensionado no sentido de estratégias que garantam uma intervenção mais direta na atividade educativa. 115 REFERÊNCIAS ALEXIM, João Carlos & EVANGELHO LOPES, Carmem Lúcia. 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Como você, professor dos cursos técnicos do CEFET-PB, está trabalhando o ensino baseado nas competências estabelecido nas Diretrizes e no projeto do seu curso? 4. Que metodologias você está utilizando em sala de aula e/ou laboratório? 5. Na sua opinião houve mudança no processo avaliativo dos cursos técnicos do CEFET-PB, a partir de 2001? ( ) Sim Quais? ( ) Não 6. Trabalhar com conceito ao invés de nota altera a avaliação? ( )Sim Por quê? ( ) Não Por quê? 7. Quando se avalia tendo por base as competências, o que está se avaliando? 8. Que instrumentos de avaliação estão sendo utilizados no seu componente curricular? 9. Que mecanismos de controle acadêmico (fichas, registros, históricos, avaliação, freqüência) estão sendo utilizados por parte da Coordenação do seu curso? 10. Na implementação do modelo das competências de acordo com as Diretrizes Curriculares e o Projeto do seu curso, indique: a) Dificuldades b) Facilidades 11. Você tem alguma sugestão relacionada à temática que possa aprimorar esse instrumento? UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Questionário – alunos Objetivo: Este instrumento de pesquisa é parte do estudo que está sendo realizado para avaliar as mudanças implementadas nas práticas pedagógicas dos cursos técnicos do CEFETPB institucionalizada nos currículos, a partir de 2001. 1. Você tem conhecimento do Projeto do seu curso? ( ) Sim ( ) Não 2. O que você entende por competências? 3. As metodologias utilizadas pelos professores em sala de aula e/ou laboratório favoreceram o desenvolvimento de competências? ( ) Sim ( ) Não Especifique: 4. As competências desenvolvidas no curso correspondem ao perfil de conclusão do curso? 5. Na sua opinião trabalhar com conceito ao invés de nota altera a avaliação? ( )Sim Por quê? ( ) Não Por quê? 6. A avaliação da aprendizagem possibilita a verificação do desenvolvimento de competências? Por quê? 7. Que instrumentos de avaliação estão sendo utilizados nas disciplinas dos cursos de eletrônica? 8. Que mecanismos de controle acadêmico estão sendo utilizados pelos professores e pela Coordenação de eletrônica? ( ) fichas de avaliação ( ) fichas de freqüência ( ) histórico escolar ( ) certificado de qualificação profissional ( ) diplomas ( ) outros. Especifique: 9. Cite as dificuldades e facilidades vivenciadas no desenvolvimento dos currículo do seu curso. a) Dificuldades b) Facilidades UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Questionário – Equipe Pedagógica Objetivo: Este instrumento de pesquisa é parte do estudo que está sendo realizado para avaliar as mudanças implementadas nas práticas pedagógicas dos cursos técnicos do CEFETPB institucionalizada nos currículos, a partir de 2001. 1. Você tem conhecimento da legislação da educação profissional de nível técnico e dos Projetos dos Cursos Técnicos da coordenação de eletrônica? ( ) Sim ( ) Não 2. O que você entende por competências? 3. Na sua opinião as metodologias utilizadas pelos professores de eletrônica em sala de aula e/ou laboratório favoreceram o desenvolvimento de competências? ( ) Sim ( ) Não Especifique: 4. Na sua opinião, as competências desenvolvidas nos cursos de eletrônica correspondem ao perfil de conclusão do curso? 5. Na sua opinião houve mudança no processo avaliativo dos cursos técnicos de eletrônica, a partir de 2001? ( ) Sim Quais? ( ) Não 6. Trabalhar com conceito ao invés de nota altera a avaliação? ( )Sim Por quê? ( ) Não Por quê? 7. Na sua opinião, a avaliação da aprendizagem possibilita a verificação do desenvolvimento de competências? Por quê? 8. Que instrumentos de avaliação estão sendo utilizados nas disciplinas dos cursos de eletrônica? 9. Que mecanismos de controle acadêmico estão sendo utilizados pelos professores e pela Coordenação de eletrônica? 10. Como está sendo realizado o acompanhamento pedagógico dos cursos técnicos de eletrônica? 11. Na sua opinião quais as dificuldades e facilidades vivenciadas no desenvolvimento dos currículos baseados nas competências? a) Dificuldades b) Facilidades UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Objetivo: Este instrumento de pesquisa é parte do estudo que está sendo realizado para avaliar as mudanças implementadas nas práticas pedagógicas dos cursos técnicos do CEFETPB institucionalizada nos currículos, a partir de 2001. ROTEIRO DE ENTREVISTA 1. O que você acha da reforma da educação profissional que estabeleceu o currículo por competência? 2. O que significa para você competências? 3. Como essa reforma se refletiu na sua prática pedagógica? 4. Mudou alguma coisa na sua forma de ensinar e de avaliar? O que mudou? Exemplificar. 5. O que faz a pessoa ser resistente e como poderiam ser operacionalizadas essas mudanças? Em síntese, o que deveria ser feito para propiciá-las?