Loxosceles intermedia - Teses e Dissertações
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Loxosceles intermedia - Teses e Dissertações
Universidade Federal de Ouro Preto Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas ANÁLISE BIOINFORMÁTICA GLÂNDULA DE DA VENENO DA ARANHA – MARROM DE Loxosceles intermedia CONSTRUÇÃO E BACULOVÍRUS RECOMBINANTES DE TRANSCRITOS COMO DE VETORES TOXINAS INSETICIDAS CIBELE SOARES DE CASTRO ORIENTADORES: IESO DE MIRANDA CASTRO EVANGUEDES KALAPOTHAKIS TESE APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DO NÚCLEO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO COMO PARTE INTEGRANTE DOS REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR EM CIÊNCIAS. CONCENTRAÇÃO: BIOLOGIA MOLECULAR. OURO PRETO DEZEMBRO 2005 ÁREA DE C367a Castro, Cibele Soares de. Análise bioinformática de transcritos da glândula de veneno da aranha marrom Loxosceles intermedia e construção de baculovírus recombinantes como vetores de toxinas inseticidas [manuscrito] / Cibele Soares de Castro. – 2005. xxi, 182f.: il., color; graf., tabs. Orientador: Prof. Dr. Ieso de Miranda Castro. Co-orientador: Prof. Dr. Evanguedes Kalapothakis. Área de concentração: Biologia Molecular. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas. 1. Biologia molecular - Teses. 2. Baculovirus anticarsia - Teses. 3. Aranha – Teses. 4. Aracnídeo venenoso - Teses. 5. Inseticidas - Teses. 6. Toxinas – Teses. I.Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas. II. Título. CDU: 577.2 Catalogação: [email protected] iii AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Ieso de Miranda Castro, pela oportunidade de trabalho, investimento e todo auxílio prestado. Ao meu co-orientador e chefinho do coração, Evanguedes Kalapothakis, com quem trabalho desde o 5º período da graduação, há mais de cinco anos, e com quem aprendi tudo o que sei praticamente de trabalho de bancada, cotações, preparação de artigos científicos, projetos, cursos e - principalmente - como me comportar profissionalmente perante jornalistas e fotógrafos do EM! Muito obrigada por tudo, chefe! Ao pessoal do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Microorganismos da UFOP, Ana Maria, André, Liz, Luciano, Michele, Totola e Zézé, por toda a ajuda, ânimo, bom humor e hospitalidade. Ao pessoal do Laboratório de Biotecnologia e Marcadores Moleculares do ICB-UFMG: - Alessandra, Ana Carolina Campi, Fabíola, Ju, Marluce e Valéria, pelo companheirismo, pelas brincadeiras, pelas dicas e quebra-galhos. - Às minhas amigonas, Carolina Campolina, Flávia, Simone e Thaís, por tantos anos de boa convivência, por tudo o que passamos juntas, por serem do jeito que são e terem me ensinado, cada uma de sua maneira, coisas tão especiais. Vão ficar saudades, meninas! - Ao Lorde do nosso laboratório: Gabriel. Sempre prestativo, gentil e com questionamentos muito inteligentes... O único companheiro da ala masculina do nosso chefe por um bom tempo. - E também à nova geração do lab, Ana Luíza, Arthur, Flavinha, Kika e, em especial, ao Higgor, que têm me ajudado muito nesta etapa final da tese. Boa sorte para vocês! Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UFOP e, em especial, aos Professores Rogélio Lopes Brandão e Elio Hideo Babá. Ao Professor Carlos Chavéz-Olórtegui e todos os seus alunos. Ao CNPq pelo apoio financeiro. E por fim, aos casais: Natasha e Cláudio e Cláudia e Rodrigo, que sempre me receberam com os braços abertos em suas casas em Porto Alegre, me emprestaram o computador umas mil vezes para eu escrever e imprimir a tese e que, sem dúvida, farão às vezes da minha “família” nesta minha nova cidade. Muito obrigada! iv "Só sei que nada sei". SÓCRATES v RESUMO Neste trabalho, objetivando a caracterização molecular de transcritos da glândula de veneno da aranha-marrom Loxosceles intermedia para a ampliação do banco de dados de toxinas, 268 seqüências foram agrupadas em 136 singlets e 33 consensos. Estas seqüências foram submetidas à anotação gênica para que fossem identificadas por meio de buscas de similaridade contra diferentes bancos de dados. Em seguida, foram classificadas em categorias funcionais, analisadas quanto a sua função biológica e, quando possível, modeladas por homologia para que verificássemos sua provável estrutura tridimensional. Além disso, a fim de produzir bioinseticidas de alta eficiência e especificidade, trabalhamos com toxinas de atividade letal para insetos de importância agrícola. Recentemente, a partir da purificação do veneno bruto de L. intermedia e da construção de uma biblioteca de cDNA das glândulas de veneno desta aranha, nosso grupo caracterizou toxinas com forte ação inseticida em larvas de Spodoptera frugiperda, a lagarta-do-cartucho do milho. Devido às dificuldades para se obter do veneno bruto as toxinas identificadas por biologia molecular, o uso de sistemas de expressão heterólogos torna-se necessário tanto para o estudo dos genes isolados dessas toxinas quanto para a sua obtenção em grandes quantidades. Um dos sistemas heterólogos de controle a pragas mais estudados em nível nacional e internacional é aquele que utiliza baculovírus no combate a diversas pragas agrícolas. O sistema baculovírus supera em vários aspectos os sistemas tradicionais de inseticidas químicos, sendo considerado por diversos autores como seguro ao meio ambiente e ao homem e, também, apresentando potencialmente um custo final por hectare menor do que o dos inseticidas químicos. Assim, realizamos - através da subclonagem em vetores de transferência do sistema de expressão baculovírus - a inserção dos genes das toxinas inseticidas LiTx1, LiTx2 e LiD1 (previamente identificadas a partir da glândula de veneno de L. intermedia) ao genoma do baculovírus AcMNPV. O sucesso da construção dos vírus recombinantes foi verificado após infecção de células de inseto e também por PCR. A expressão das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiD1 foi verificada por RT-PCR, SDS-PAGE e Western Blotting. Bioensaios com os vírus recombinantes LiTx1 e LiTx2 em larvas de S. frugiperda demonstraram sua eficácia inseticida, com diminuição do tempo de vida desta lagarta, quando comparada aos vírus selvagens. Acreditamos que os baculovírus recombinantes aqui gerados poderão permitir a expressão em larga escala das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiD1 de L. intermedia. Isso possibilitará a realização de estudos de caracterização dessas toxinas inseticidas quanto aos seus mecanismos de ação e permitirá também sua utilização como ferramentas na pesquisa básica para estudos de canais iônicos e outros processos fisiológicos. vi ABSTRACT In order to get an overview of all Loxosceles intermedia venom gland transcripts, we performed a clustering analysis of 268 cDNA sequences available in our laboratory. The 136 singlets and 33 consensus sequences generated after alignment, allowed the identification by database searches of several distinct genes/proteins in the gland. We analyzed these sequences, classified them in functional categories (biological function) and, whenever possible, predicted their 3D structure by homology. Moreover, aiming the production of highly efficient bioinsecticides, our group has worked with insecticidal toxins. Recently, we located and characterized, by chromatography of L. intermedia crude venom and screening of its venom gland cDNA library, lethal toxins to Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae): a plague which attacks the Brazilian corn culture since harvesting to storage. Due to practical limitations to get from the crude venom a high rate of previously identified neurotoxins, the use of expression systems to study heterologous genes becomes necessary. Baculovirus is one of the most studied heterologous systems used worldwide as a resource for combating pests. They are powerful, versatile and provide advantages concerning finance, ecology and human health. In this manner, we subcloned genes of the insecticidal toxins LiTx1, LiTx2 and LiD1 (previously identified from L. intermedia venom gland) in baculovirus expression vectors. The construction’s success of the recombinant virus was verified after insects cells infection and also by PCR. The expression of LiTx1, LiTx2 and LiD1 toxins was verified by RT-PCR, SDSPAGE and Western Blotting. Bioassays with the recombinant virus LiTx1 and LiTx2 in S. frugiperda larvae showed their insecticidal efficacy, with life-time reduction of this plague when compared to the wild virus. We believe recombinant baculovirus herein generated will allow a large scale expression of L. intermedia toxins LiTx1, LiTx2 and LiD1. This will conduce to characterization studies of the action mechanisms of these toxins and also will permit their use as tools to basic researches in ionic channels and physiologic processes. vii SUMÁRIO PÁGINA 1. INTRODUÇÃO 1 1.1 Análises bioinformáticas 1 1.2 Inseticidas químicos x Bioinseticidas 3 1.3 As aranhas 7 1.3.1 Comentários gerais 7 1.3.2 Composição geral do veneno 8 1.3.3 Toxinas inseticidas 10 1.4 Aranhas do gênero Loxosceles 12 1.4.1 Comentários gerais 12 1.4.2 Composição geral do veneno 16 1.4.3 Toxinas inseticidas 19 1.5 Os baculovírus 20 1.6 Expressão de toxinas em sistema baculovírus 23 2. OBJETIVOS 26 2.1. Geral 26 2.2. Específicos 26 3. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA 28 4. MATERIAIS 29 4.1. Equipamentos 29 4.2. Programas 30 4.3. Reagentes 30 4.3.1 Antibióticos 30 4.3.2 Meios de cultura 31 4.3.3 Soluções 32 4.3.4 Tampões 34 4.3.5 Outros 35 viii PÁGINA 4.4. Linhagens celulares 36 4.5. Genótipo das linhagens bacterianas hospedeiras 36 5. MÉTODOS 37 5.1 Análises bioinformáticas de transcritos da glândula de veneno de 38 Loxosceles intermedia 5.1.1 Obtenção das seqüências 38 5.1.2 Tratamento das seqüências 39 5.1.3 Agrupamento das seqüências 39 5.1.4 Anotação dos uniques 40 5.1.5 Classificação manual dos uniques em categorias funcionais 42 5.1.6 Análises biológicas dos uniques classificados em categorias 44 funcionais 5.1.7 Modelagem molecular dos uniques 44 5.2 Veneno bruto de L. intermedia 44 5.3 Atividade inseticida do veneno bruto de L. intermedia 45 5.4 Análise de similaridade das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 de L. 45 intermedia 5.5 Subclonagem do DNA das toxinas LiTx1 e LiTx2 de L. intermedia no 46 + vetor de transferência pSynXIV VI X3 do sistema de expressão baculovírus 5.5.1 PCR para amplificação do DNA da região madura de LiTx1 e 46 LiTx2 5.5.2 Purificação do produto de PCR 50 5.5.3 Clonagem do produto de PCR de LiTx1 e LiTx2 no vetor de 51 clonagem pCR®2.1-TOPO® 5.5.4 Transformação de bactérias por eletroporação 53 5.5.5 PCR de colônias 54 5.5.6 Extração em baixa escala de plasmídeos (mini-prep) 55 5.5.7 Digestão do vetor pCR®2.1-TOPO® contendo a região madura de 56 LiTx1 ou LiTx2 com EcoR I 5.5.8 Seqüenciamento automático capilar 56 ix PÁGINA 5.5.9 Purificação dos fragmentos da região madura de LiTx1 e LiTx2 57 obtidos pela digestão do vetor pCR 2.1-TOPO com EcoR I 5.5.10 Digestão do vetor pSynXIV VI+ X3 do sistema de expressão 57 baculovírus com EcoR I 5.5.11 Ligação do fragmento da região madura de LiTx1 ou LiTx2 no 59 vetor pSynXIV VI+ X3 5.5.12 Precipitação do produto de ligação 60 5.5.13 Transformação de bactérias por eletroporação 60 5.5.14 PCR de colônias 60 5.5.15 Extração em baixa escala de plasmídeos (mini-prep) 61 5.5.16 Seqüenciamento automático capilar 62 5.6 Produção de vírus recombinantes LiTx1 e LiTx2 em sistema 63 baculovírus 5.6.1 Co-transfecção 63 5.6.2 Verificação por PCR da presença dos vírus recombinantes 64 vSynLiTx1 e vSynLiTx2 em culturas celulares 5.6.3 Verificação por RT-PCR da presença de RNAs mensageiros dos 67 vírus recombinantes vSynLiTx1 e vSynLiTx2 em culturas celulares 5.6.4 Análise da expressão das partículas virais recombinantes por 69 SDS-PAGE 5.6.5 Análise da expressão das partículas virais recombinantes por 70 Western Blotting 5.7 Bioensaio com os vírus recombinantes vSynLiTx1 e vSynLiTx2 71 5.8 Identificação de novas toxinas inseticidas do veneno de L. intermedia 71 5.8.1 Ensaio hemolítico 72 5.8.2 SDS-PAGE 72 5.8.3 Western Blotting 73 5.8.4 Seqüenciamento de proteínas 73 5.9 Subclonagem do DNA da toxina LiD1 de L. intermedia no vetor de 73 TM transferência pFastBac 1 do sistema de expressão baculovírus Bacto-Bac 5.9.1 Atividade tóxica do veneno bruto de L. intermedia em linhagens celulares de inseto 73 x PÁGINA 5.9.2 PCR para amplificação do DNA da região madura de LiD1 74 5.9.3 Purificação do produto de PCR 76 5.9.4 Clonagem do produto de PCR de LiD1 no vetor de clonagem 76 pGEM®-T Easy 5.9.5 Precipitação do produto de ligação 78 5.9.6 Transformação química de bactérias 78 5.9.7 Extração em baixa escala de plasmídeos (mini-prep) 78 5.9.8 Digestão do vetor pGEM®-T Easy contendo a região madura de 79 LiD1 com BamH I 5.9.9 Purificação do fragmento da região madura de LiD1 obtido pela 79 digestão do vetor pGEM-T Easy com BamH I 5.9.10 Digestão do vetor pFastBacTM 1 do sistema de expressão 79 Baculovírus Bac-to-Bac com BamH I 5.9.11 Ligação do fragmento da região madura de LiD1 no vetor 81 pFastBacTM 1 5.9.12 Precipitação do produto de ligação 81 5.9.13 Transformação química de bactérias 81 5.9.14 Extração em baixa escala de plasmídeos (mini-prep) 82 5.9.15 Digestão do vetor pFastBacTM 1 contendo a região madura de 82 LiD1 com BamH I 5.9.16 PCR para confirmação da correta orientação do inserto LiD1 no 82 vetor pFastBacTM 1 5.9.17 Seqüenciamento automático capilar 83 5.10 Produção de vírus recombinantes LiD1 em sistema baculovírus 84 5.10.1 Transposição 84 5.10.2 Isolamento do DNA do bacmídeo recombinante 85 5.10.3 Análise do DNA bacmídeo 86 5.10.4 Transfecção de células Sf9 com o DNA bacmídeo recombinante 88 5.10.5 Amplificação do estoque viral 88 5.10.6 Extração de DNA de vírus secretados e não secretados 89 5.10.7 Verificação por PCR da presença dos vírus recombinantes LiD1 89 no sistema baculovírus 5.10.8 Infecção de recombinantes células de inseto com partículas virais 89 xi PÁGINA 5.10.9 Análise da expressão das partículas virais recombinantes por 90 SDS-PAGE e Western Blotting 6. RESULTADOS 6.1 Análises bioinformáticas de transcritos da glândula de veneno de 91 91 Loxosceles intermedia 6.1.1 Obtenção das seqüências 91 6.1.2 Tratamento das seqüências 91 6.1.3 Agrupamento das seqüências 91 6.1.4 Anotação dos uniques 91 6.1.5 Classificação dos uniques 93 6.1.6 Análises biológicas dos uniques classificados em categorias 95 funcionais 6.1.7 Modelagem molecular dos uniques 101 6.2 Atividade inseticida do veneno bruto de L. intermedia 104 6.3 Análise de similaridade das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 de L. 104 intermedia 6.4 Subclonagem do DNA das toxinas LiTx1 e LiTx2 de L. intermedia no 105 vetor de transferência pSynXIV VI+ X3 do sistema de expressão baculovírus 6.5 Produção de vírus recombinantes LiTx1 e LiTx2 em sistema 111 baculovírus 6.6 Bioensaio com os vírus recombinantes vSynLiTx1 e vSynLiTx2 116 6.7 Identificação de novas toxinas inseticidas do veneno de L. intermedia 117 6.8 Subclonagem do DNA da toxina LiD1 de L. intermedia no vetor de 121 transferência pFastBacTM1 do sistema de expressão baculovírus Bacto-Bac 6.9 Produção de vírus recombinantes LiD1 em sistema baculovírus 7. DISCUSSÃO 7.1Análises bioinformáticas de transcritos da glândula de veneno de Loxosceles intermedia 126 131 131 xii PÁGINA 7.2 Atividade inseticida do veneno bruto de L. intermedia 136 7.3 Análise de similaridade das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 de L. 137 intermedia 7.4 Subclonagem do DNA das toxinas LiTx1 e LiTx2 de L. intermedia no 138 + vetor de transferência pSynXIV VI X3 do sistema de expressão baculovírus 7.5 Produção de vírus recombinantes LiTx1 e LiTx2 em sistema 139 baculovírus 7.6 Bioensaio com os vírus recombinantes vSynLiTx1 e vSynLiTx2 141 7.7 Identificação de novas toxinas inseticidas do veneno de L. intermedia 142 7.8 Subclonagem do DNA da toxina LiD1 de L. intermedia no vetor de 145 TM transferência pFastBac 1 do sistema de expressão baculovírus Bacto-Bac 7.9 Produção de vírus recombinantes LiD1 em sistema baculovírus 146 7.10 Considerações finais 148 8. CONCLUSÕES 151 9. PERSPECTIVAS 153 10. ANEXOS 154 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 157 xiii LISTA DE FIGURAS FIGURA PÁGINA 1 Crescimento da população humana mundial. 3 2 Larvas de Spodoptera frugiperda em diferentes estágios de 4 desenvolvimento. 3 Danos causados pela lagarta-do-cartucho do milho – S. frugiperda. 4 4 Acidentes loxoscélicos no estado do Paraná no período de 1987 a 13 2000. 5 Aranha Loxosceles intermedia. 14 6 Acidentes loxoscélicos segundo a circunstância da mordida no 14 estado do Paraná no período de 1993 a 2000. 7 Evolução de uma lesão dermonecrótica causada por mordida de 15 aranha Loxosceles. 8 Alinhamento da seqüência de aminoácidos de LiTx1, LiTx2 e LiTx3 20 do veneno da aranha L. intermedia. 9 Ciclo de vida dos nucleopoliedrovírus. 22 10 Sistema de expressão baculovírus. 24 11 Seqüência do oligonucleotídeo iniciador BK reverso da região do 39 MCS do vetor pBK-CMV. 12 Mapa circular e MCS do vetor fagemídeo pBK-CMV. 47 13 Seqüência de nucleotídeos e de aminoácidos da toxina LiTx1. 48 14 Seqüência de nucleotídeos e de aminoácidos da toxina LiTx2. 49 15 Seqüência dos oligonucleotídeos iniciadores sintetizados a partir da 49 seqüência de nucleotídeos da região madura da toxina LiTx1 de L. intermedia. 16 Seqüência dos oligonucleotídeos iniciadores sintetizados a partir da 50 seqüência de nucleotídeos da região madura da toxina LiTx2 de L. intermedia. 17 Mapa circular e MCS do vetor pCR2.1-TOPO. 52 18 Clonagem TA com auxílio da enzima topoisomerase I. 53 19 Seqüência de nucleotídeos do iniciador M13-reverso. 56 + 20 Mapa circular do vetor pSynXIV VI . 58 21 MCS e regiões adjacentes do vetor pSynXIV VI+ X3. 59 xiv PÁGINA FIGURA 22 Seqüência do oligonucleotídeo iniciador sintetizado a partir da 60 seqüência de nucleotídeos 541 a 559 do vetor pSynXIV VI+ X3. 23 Esquema da PCR esperada para os plasmídeos pSynXIV VI+ X3 61 que contenham a região madura de LiTx1 na orientação correta. 24 Técnicas para subclonagem de DNA em plasmídeo. 62 25 Seqüência de nucleotídeos e de aminoácidos da toxina LiD1. 75 26 Seqüência dos oligonucleotídeos iniciadores sintetizados a partir da 76 seqüência de nucleotídeos da região madura da toxina LiD1 de L. intermedia. 27 Mapa circular do vetor pGEM-T Easy. 28 Promotor e sítio múltiplo de clonagem do vetor pGEM-T Easy. 77 TM 77 29 Mapa circular do vetor de expressão pFastBac 1. 80 30 Promotor, região de ligação do iniciador e sítio múltiplo de 80 clonagem do vetor pFastBacTM 1. 31 Seqüência do oligonucleotídeo iniciador sintetizado a partir da seqüência de nucleotídeos do vetor pFastBac 32 TM 82 1. Esquema da PCR esperada para os plasmídeos pFastBacTM 1 que 83 contenham a região madura de LiD1 na orientação correta. 33 Geração de baculovírus recombinantes e expressão gênica com o 85 sistema de expressão Bac-to-Bac . 34 Seqüência dos oligonucleotídeos iniciadores pUC/M13. 87 35 Região de transposição. 87 36 Análise da anotação dos uniques da glândula de veneno de L. 92 intermedia. 37 Divisão dos 34 uniques classificados nas principais categorias dos 93 COGs. 38 Divisão dos 51 uniques classificados em categorias funcionais para 94 toxinas. 39 Modelos tridimensionais dos uniques identificados como similares a 102 esfingomielinases. 40 Modelos tridimensionais dos uniques identificados como similares a 103 proteases. 41 Estruturas cristalográficas obtidas por difração de raios-X. 103 xv PÁGINA FIGURA 42 Árvore de similaridade UPGMA com as toxinas LiTx1, LiTx2, LiTx3 104 e outras toxinas inseticidas de aranhas com mecanismos de ação conhecidos. 43 Gel de agarose 1% contendo os produtos das PCRs para 106 amplificação dos DNAs codificantes para as regiões maduras de LiTx1 e LiTx2, seus controles negativos e também os produtos das purificações dos fragmentos amplificados, pelo método guanidinaHCl/sílica. 44 Gel de agarose 1% contendo os produtos das PCRs de colônias 106 realizadas com os iniciadores direto e reverso de LiTx1. 45 Gel de agarose 1% contendo os produtos das PCRs de colônias 107 realizadas com os iniciadores direto e reverso de LiTx2. 46 Gel de agarose 0,8% contendo os produtos das digestões dos 108 plasmídeos pCR 2.1-TOPO /LiTx1 e pCR 2.1-TOPO /LiTx2 com a enzima de restrição EcoR I. 47 Gel de agarose 0,8% contendo os produtos da purificação dos 109 fragmentos que codificam as regiões maduras de LiTx1 e de LiTx2 obtidos pela digestão do vetor pCR2.1-TOPO com EcoR I. 48 Gel de agarose 0,8% contendo os produtos da digestão do vetor 109 + pSynXIV VI X3 com a enzima de restrição EcoR I. 49 Géis de agarose 1% contendo os produtos das PCRs de colônias 111 realizadas com o iniciador pAcGF2 do vetor pSynXIV VI+ X3 e o iniciador direto da região madura de LiTx1(gel A) ou de LiTx2 (gel B). 50 Visualização por microscopia ótica (200x) de células de inseto da 112 linhagem Tn5B infectadas com baculovírus recombinante. 51 Gel de agarose 1% contendo os produtos das PCRs realizadas com 113 os DNAs extraídos do precipitado (Prec) e do sobrenadante (Sobr) das culturas celulares Tn5B infectadas ou não com os vírus recombinantes vSynLiTx1 (gel A) ou vSynLiTx2 (gel B). 52 Gel de agarose 1% contendo os produtos das RT-PCRs realizadas com os RNAs extraídos das culturas celulares Sf9 infectadas ou não com os vírus recombinantes vSynLiTx1 (gel A) ou vSynLiTx2 (gel B). 114 xvi PÁGINA FIGURA 53 Gel SDS-PAGE 15% corado pelo Coomasie Brilliant Blue contendo 115 o precipitado das culturas celulares Tn5B infectadas ou não com os vírus recombinantes vSynLiTx1 ou vSynLiTx2. 54 Western Blotting realizado com anticorpo anti-toxinas inseticidas em 116 amostras do precipitado (Prec) de culturas celulares Tn5B infectadas ou não com os vírus recombinantes vSynLiTx1 ou vSynLiTx2. 55 Bioensaio com os vírus recombinantes vSynLiTx1 e vSynLiTx2 em 117 larvas de S. frugiperda. 56 Ensaio de atividade hemolítica das frações 34 a 41 obtidas por 118 fracionamento em cromatografia de fase reversa em sistema HPLC do veneno bruto de L. intermedia. 57 Eletroforese em gel de poliacrilamida-SDS (SDS), Western blotting 120 (W) das frações 35 a 37 coletadas por fracionamento em sistema HPLC do veneno bruto de L. intermedia e seqüência parcial de aminoácidos, obtida por Seqüenciamento de Edman, de seus principais peptídeos. 58 Gel de agarose 1% contendo o produto da PCR para amplificação 121 do DNA da região madura de LiD1 e seu controle negativo. 59 Gel de agarose 1% contendo o produto da purificação do fragmento 122 amplificado por PCR da região madura de LiD1 pelo método guanidina-HCl/sílica. 60 Gel de agarose 0,8% contendo os produtos da digestão dos 123 plasmídeos pGEM-T Easy/LiD1 com a enzima de restrição BamH I. 61 Gel de agarose 0,8% contendo o produto da purificação do 123 fragmento correspondente à seqüência codificante para a região madura de LiD1 obtido pela digestão do vetor pGEM-T Easy com BamH I. 62 Gel de agarose 0,8% contendo o produto da digestão do vetor pFastBac 63 TM 124 1 com a enzima de restrição BamH I. Gel de agarose 0,8% contendo os produtos das digestões dos plasmídeos pFastBacTM 1/LiD1 com a enzima de restrição BamH I. 125 xvii PÁGINA FIGURA 64 Gel de agarose 1% contendo os produtos das PCRs realizadas com TM o iniciador pFastBacpol do vetor pFastBac 125 1 e o iniciador reverso da região madura de LiD1. 65 Gel de agarose 0,5% contendo DNA bacmídeo isolado. 126 66 Géis de agarose 1% contendo os produtos das PCRs realizadas 127 com os iniciadores direto e reverso de LiD1 em DNAs bacmídeos isolados. 67 Géis de agarose 1% contendo os produtos das PCRs realizadas 128 com os iniciadores pUC/M13 em DNAs bacmídeos isolados. 68 Gel de agarose 1% contendo os produtos das PCRs realizadas com 129 os DNAs extraídos do sobrenadante (Sobr) e do precipitado (Prec) das culturas celulares Sf9 infectadas com vírus recombinantes LiD1. 69 Western Blotting realizado com anticorpo anti-toxina dermonecrótica em amostras do sobrenadante (Sobr) e do precipitado (Prec) de culturas celulares Tn5B infectadas ou não com os vírus recombinantes LiD1. 130 xviii LISTA DE TABELAS TABELA PÁGINA 1 Toxinas inseticidas de aranhas. 11 2 Distribuição dos acidentes por aranhas, registrados no período 12 de 1990 a 1993, segundo o gênero envolvido e a região do Brasil. 3 Categorias funcionais dos COGs. 43 4 Categorias funcionais para toxinas. 43 5 Componentes, concentrações e volumes utilizados na PCR para 50 amplificação do DNA da região madura de LiTx1 e LiTx2. 6 Número e porcentagem de genes classificados em cada subcategoria funcional dos COGs. 95 xix ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS TERMOS TÉCNICOS AcMNPV Autographa californica Multiple Nucleopolyhedrovirus ADP Adenosina difosfato AgMNPV Anticarsia gemmatalis Multiple Nucleopolyhedrovirus AgorTx Agelena orientalis toxin ATP Adenosina trifosfato BLAST Basic Local Alignment Search Tool BSA Soro Albumina Bovino BV Budded Virus CMV Citomegalovírus COGs Clusters of Ortologous Groups CsTx Cupiennius salei toxin Da Dalton DAB 3,3´- diaminobenzidina DEPC Dietil pirocarbonato DTX Toxina de Diguetia carnities EDTA Ácido Etileno Diaminotetracético EF Fator de alongamento EGFP Enhanced Green Fluorescent Protein ELISA Enzyme Linked Immunosorbent Assay EMBL European Molecular Biology Laboratory ESTs Expressed Sequence Tags ET Etanol, Tris-HCl ExPASy Expert Protein Analysis System Proteomics Server GOA Gene Ontology Annotation GV Granulovirus HPLC High Performance Liquid Chromatography HTML HyperText Markup Language HTTP HyperText Transfer Protocol HwTx Huwetoxina IPTG Isopropiltio-β-D-galactose JSTX Joro Spider Toxin xx kb Kilobase kDa Kilodalton KEGG Encyclopedia of Genes and Genomes lacZ Gene que codifica a β-galactosidase LB Luria Bertani Li Loxosceles intermedia LiD Toxina Dermonecrótica de Loxosceles intermedia LiTx Toxina de Loxosceles intermedia MCS Sítio Múltiplo de Clonagem M-MuLV Moloney Murine Leukemia Virus MNPV Multiple Nucleopolyhedrovirus mRNA RNA mensageiro NCBI National Center for Biotechnology (Desenvolve sistemas de informação para biologia molecular) NE New England NIH National Institute of Health NMDA N-methyl-D-aspartate NPV Nucleopolyhedrovirus NR Banco de dados não redundante de proteínas NSTX Nephila Spider Toxin NT Banco de dados não redundante de nucleotídeos occ+ Oclusão positiva no fenótipo do vírus occ- Oclusão negativa no fenótipo do vírus OV Occluded Virus PAGE Polyacrylamide gel electrophoresis pb Pares de base PBS Phosphate Buffered Saline PBST Phosphate Buffered Saline Tween PCR Reação em cadeia da polimerase PDB Protein Data Bank pfu Unidade formadora de placa PkTx Phoneutria keyserlingi toxin PM Peso molecular PMSF Phenilmetilsulfonil fluoride PrTx Phoneutria reidyi toxin PSA Persulfato de amônia xxi PTC Programmable Thermal Controller pUC Plasmid University of California PVDF Polyvinylidenedifluoride RT Reverse transcriptase SDS Sódio Dudecil Sulfato SfMNPV Spodoptera frugiperda Multiple Nucleopolyhedrovirus SMAse Esfingomielinase SMS The Sequence Manipulation Suíte SP Swiss-Prot TAE Tris, Ácido acético, EDTA Taq Thermus aquaticus TBS Tris Buffered Saline TBS gel Tris Buffered Saline gelatin TEMED Tetrametiletilenodiamino TrEMBL Translated EMBL Tris [2-amino-2-(hidroximetil) propano-1,3-diol, (tris)] Tris-HCl TRIS ajustado para pH adequado com HCl TSR Template Supression Reagent UPGMA Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean VM Vírus modificado VS Vírus selvagem x-gal 5-bromo-4-cloro-3-indolil-β-D-galactose 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 ANÁLISES BIOINFORMÁTICAS Nos últimos anos, termos referentes a ferramentas computacionais para a análise de dados de biologia molecular, tais como bancos de dados e bioinformática, são cada vez mais difundidos no meio científico. A grande variedade de seqüências que vem sendo gerada está diretamente relacionada ao progresso da técnica de seqüenciamento e o estudo de todo este conjunto de dados já produz e ainda produzirá muitas informações úteis ao conhecimento genômico (AUBOURG E ROUZÉ, 2001). Nunca antes na história, a descoberta de proteínas e seus genes correspondentes em um contexto biológico funcional havia sido gerada sem experimentos tradicionais de caracterização de proteínas nativas. Há pouco tempo, no entanto, projetos de caracterização molecular baseados em seqüências encontradas em bancos de dados são cada vez mais apresentados aos centros de pesquisa. Embora a classificação de proteínas codificadas por seqüências genômicas seja essencial para tornar estas seqüências úteis para estudos funcionais (TATUSOV E COLS., 2001), vale ressaltar que tal caracterização, mesmo com todo o potencial bioinformático, está longe de ser uma tarefa simples. O número de erros potenciais presentes na predição de funções específicas é maior do que o usualmente concebido (DEVOS E VALENCIA, 2001). Os diversos bancos de dados existentes (criados para disponibilizar, de modo rápido e fácil, dados de biologia molecular gerados em todo o mundo) vêm crescendo exponencialmente ano a ano (WHELLER E COLS., 2002). Aqueles que contém dados experimentais depositados sem grandes verificações de procedência, ou seja, sem a análise de compatibilidade com dados publicados anteriormente são chamados de bancos de dados primários. Dentre os quais, podemos citar o GenBank (BENSON E COLS., 2002) e o Protein Data Bank (PDB). Já aqueles que contém dados depositados após uma verificação cuidadosa e interpretativa dos mesmos são conhecidos como bancos curados, como é o caso do SWISS-PROT (ROUZÉ E COLS, 1999; APWEILER, R., 2001; BAXEVANIS E OUELLETTE, 2001). O processo de alinhamento, ou seja, a comparação de duas seqüências de nucleotídeos ou de aminoácidos para a verificação do grau de identidade entre elas, permite a determinação de similaridade entre essas seqüências. O BLAST (Basic Local Alignment Search Tool) é o principal programa utilizado para o alinhamento local de seqüências em biologia molecular. Este programa possibilita a exploração de toda a informação contida em 2 bases de dados de DNA e proteínas, possibilitando também, a identificação de relações entre seqüências que apresentam apenas regiões isoladas de similaridade (ROUZÉ E COLS., 1999). Os resultados do BLAST são apresentados com dois valores, o valor do escore (score bits) e o valor E (e-value). O valor do escore depende do tamanho da seqüência alinhada, do número de similaridades/diferenças/falhas, e da matriz de comparação da seqüência utilizada, e é normalizado através de variáveis estatísticas. O valor E representa o número de alinhamentos com escores iguais ou melhores do que seria de se esperar que ocorressem ao acaso em uma base de dados (SANTOS, 2002; WHEELER E COLS., 2002). A partir do alinhamento, pode-se transferir informação funcional de proteínas já caracterizadas experimentalmente para seus homólogos pouco estudados, caso a similaridade encontrada seja considerada relevante. Essa hipótese formulada, entretanto, serve apenas como um direcionamento para posteriores pesquisas funcionais (testes experimentais de confirmação) e não como uma verdade absoluta. Esse processo de classificar, através de análises computacionais, as seqüências genômicas de acordo com suas relações de homologia, fazendo a ligação da seqüência à biologia do organismo, é chamado de anotação gênica (STEIN, 2001). A anotação gênica pode ser dividida em três categorias. A primeira categoria é a anotação de nucleotídeos que é realizada quando informações sobre o genoma de algum organismo estão disponíveis. Nesta categoria, procura-se o posicionamento cromossômico de cada parte da seqüência de busca, de forma a localizar fisicamente genes, RNAs ou elementos repetitivos. A segunda categoria é anotação de proteínas, que é realizada quando existem informações sobre os genes de algum organismo (obtidos por seqüenciamento genômico ou de cDNA). Nela, procura-se montar um catálogo das proteínas e genes presentes nos organismos, nomeá-los e associá-los a possíveis funções através de buscas por homologia. Já a terceira e última categoria é a anotação de processos biológicos, que procura identificar vias e processos nos quais diferentes produtos gênicos interagem (interações e relações de genes e proteínas) (STEIN, 2001). Neste trabalho, estudamos o transcriptoma da glândula de veneno da aranha marrom Loxosceles intermedia. Como será comentado adiante, os acidentes causados no Brasil por aranhas deste gênero são um problema médico considerável. Assim, estudos de caracterização molecular do veneno desta aranha podem gerar informações úteis quanto aos seus componentes (possível atividade bioquímica e/ou função celular, estrutura, significado funcional, origem evolutiva). Além disso, considerando-se o amplo espectro de possibilidades de uso desses componentes, principalmente das toxinas, esperamos 3 identificar genes que possam ser utilizados em estudos biológicos e que apresentem potencial biotecnológico, em especial, para o desenvolvimento de bioinseticidas. 1.2 INSETICIDAS QUÍMICOS X BIOINSETICIDAS Estima-se que, todos os anos, 40% da produção agrícola mundial seja perdida, do plantio ao armazenamento, por ataque de insetos ou fungos. Atualmente, o emprego de pesticidas para o combate às pragas consome, somente no Brasil, cerca de US$ 2,5 bilhões, o que significa grande aporte financeiro destinado à área (PERES, 2001). Embora eficazes, de fácil acesso aos produtores e responsáveis por uma produtividade agrícola compatível com o intenso crescimento da população humana nas últimas décadas (FIG.1 - CLARK, 1997), os pesticidas químicos apresentam uma série de inconvenientes. Quando utilizados incorretamente podem favorecer o desenvolvimento de populações de pragas resistentes, como vem acontecendo com a lagarta-do-cartucho do milho - Spodoptera frugiperda (FIG.2 - CRUZ, 1995), inseto que chegou a causar até 34% de redução na produção dessa cultura no Brasil (FIG.3 - CRUZ E COLS., 1997). Esse fenômeno de resistência, muitas vezes, exige um número maior de aplicações e o aumento nas concentrações dos pesticidas, tornando os agricultores cada vez mais dependentes de novos insumos químicos desenvolvidos por indústrias especializadas que tiram proveito do ciclo vicioso de alto custo econômico que se instala (COUTINHO, 1996). Além disso, em geral, os agrotóxicos são pouco específicos, podendo eliminar animais benéficos às plantações como, por exemplo, insetos polinizadores e inimigos naturais de populaçõespeste. FIGURA 1. Crescimento da população humana mundial. Os dados observados no gráfico, a partir do ano de 1999, referem-se a projeções estatísticas. FONTE - Modificado de BBC ONLINE NETWORK, UK, Setembro de 1999. 4 FIGURA 2. Larvas de Spodoptera frugiperda em diferentes estágios de desenvolvimento. FONTE - CRUZ, 1995. A) B) FIGURA 3. Danos causados pela lagarta-do-cartucho do milho – S. frugiperda. Em A, visualizamos danos foliares causados pela lagarta S. frugiperda à lavoura do milho e, em B, danos à espiga e ao cartucho do milho, propriamente dito. FONTE - CRUZ E COLS., 1997. 5 O uso dos pesticidas também pode causar danos ao meio ambiente e ao próprio homem. A degradação e desertificação dos solos, a contaminação e a salinização das águas, a redução da biodiversidade e os desequilíbrios ecológicos nos agrossistemas são algumas das conseqüências ambientais observadas por Coutinho (1996). Problemas que envolvem a saúde humana, como o risco de desenvolver câncer pela exposição aos inseticidas (MCDUFFIE E COLS., 2001), a síndrome tóxica gerada por envenenamento com agrotóxicos organofosforados (RUSSELL E OVERSTREET, 1987; SINGH E SHARMA, 2000; RAY E RICHARDS, 2001) e a presença de resíduos nos alimentos tratados com insumos químicos (CABRAS E CONTE, 2001) são igualmente importantes, podendo afetar a comercialização dos produtos agrícolas no Brasil e no exterior (BERTOLINI E CORREA, 1994). Deste modo, levando-se em conta a insustentabilidade de tais sistemas de produção agrícola (COUTINHO, 1996), os biopesticidas mostram-se uma alternativa interessante para a redução de perdas na agricultura, tanto em relação à diminuição dos custos de produção quanto à conservação da natureza e da saúde humana (PERES, 2001). O termo biopesticidas refere-se a organismos usados como agentes para o controle biológico de pragas (CORY, 2000). Sua utilização oferece inúmeras vantagens em relação ao uso de agrotóxicos, pois além de serem específicos, os agentes de biocontrole são capazes de se multiplicar a partir de indivíduos da população, atuando no meio ambiente por um longo período (ALVES, 1998). Dentre os biopesticidas, os bioinseticidas são agentes usados para o combate a insetos-praga, podendo ser representados por diversos microrganismos causadores de doenças em insetos, em especial: fungos, bactérias e vírus (CORY, 2000). As doenças mais freqüentemente encontradas em populações de insetos são causadas por fungos. A espécie Metarhizium anisopliae, por exemplo, destaca-se como agente para a contenção de cigarrinhas da cana-de-açúcar no nordeste brasileiro, enquanto a espécie, Colletotrichum gloeosporioides, atua na redução da infestação de pomares da região de Limeira-SP pela praga Orthezia praelonga (CESNIK E COLS., 1996). Vários outros exemplos de fungos são usados em programas de biocontrole no País, sendo as espécies dos gêneros Metarhizium, Beauveria e Nomuraea as mais bem sucedidas (AZEVEDO, 1998). Entre as bactérias, aquelas pertencentes ao gênero Bacillus são reconhecidamente importantes no controle de coleópteros, lepdópteros, culicídeos e simulídeos-praga. No Brasil, tratamentos de sucesso têm sido obtidos com a pulverização de produtos à base de Bacillus thuringiensis numa área de aproximadamente 150.000 hectares (HABIB E ANDRADE, 1998). 6 Em relação aos vírus, sobressai-se o grupo dos baculovírus que, encontrados em mais de 500 espécies de insetos (MARTIGNONI E IWAI, 1986), possuem espectro relativamente estreito de hospedeiros e são considerados seguros ao ambiente e ao homem (HOOVER E COLS., 1996; FUXA, 2004). Tentativas para o controle de populações de insetos praga com estes vírus são feitas, no mínimo, desde 1890 (HUBER, 1986). Somente em nosso País, mais de um milhão e meio de hectares de soja (10% das plantações) são tratados com o baculovírus Anticarsia gemmatalis multiple nucleopolyhedrovirus (AgMNPV), para o controle da lagarta da soja. Esse programa vem gerando uma redução de, aproximadamente, 1.500.000 litros de inseticidas químicos, o que reflete na economia de cerca de 10 milhões de dólares por ano e também em benefícios ambientais (MOSCARDI E DE SOUZA, 2002). Outros dois projetos dignos de citação referem-se ao uso do baculovírus S. frugiperda Multiple Nucleopolyhedrovirus (SfMNPV) para o combate à lagarta-do-cartucho do milho, que na forma de pó-molhável, tem como perspectiva o tratamento anual de 20000 hectares de milho (CRUZ, 2000) e ao uso do baculovírus Erinnyis ello granulovirus para o controle do mandarová-da-mandioca (SCHMITT, 1985). Além dos organismos biopesticidas, muitos compostos encontrados em plantas e animais possuem atividade contra pragas. Entretanto, o estudo e utilização dessas substâncias para o controle de organismos patogênicos de plantações encontram-se ainda nos seus primeiros passos. Entre os trabalhos realizados com compostos vegetais podemos citar Jennings e cols. (2001), que descrevem um potente efeito inibitório de peptídeos extraídos da planta africana Oldenlandia affinis sobre o crescimento e desenvolvimento de larvas da espécie Lepdoptera Helicoverpa punctigera; e Cespedes e cols. (2001), que testam substâncias obtidas da planta Maytenus spp., família Celastraceae, no controle da lagarta S. frugiperda. Já em relação aos compostos com potencial inseticida extraídos de animais, destacam-se as neurotoxinas isoladas, purificadas e caracterizadas a partir do veneno de aranhas e escorpiões (SKINNER E COLS., 1992; GORDON E COLS., 1996; PENAFORTE E COLS., 2000; WUDAYAGIRI E COLS., 2001). No item a seguir, discutiremos mais detalhadamente as aranhas. Esses organismos, como se sabe, possuem veneno altamente especializado na tarefa de imobilizar e/ou matar suas presas que, na maioria das vezes, são insetos (BRISTOWE, 1958; BREENE E COLS., 1988; MITTER E COLS., 1988). Desse modo, são considerados fontes de excelência para a pesquisa de novas substâncias de controle a insetos-praga. 7 1.3 AS ARANHAS 1.3.1 COMENTÁRIOS GERAIS As aranhas são predadores generalistas e terrestres, pertencentes ao filo dos artrópodes. Este filo se divide em três subfilos, Trilobita, Mandibulata e Chelicerata, sendo este último dividido em várias classes, dentre as quais destacam-se a dos aracnídeos e a dos insetos. A classe dos aracnídeos (Arachnida) possui duas ordens de interesse biotecnológico: a das aranhas e a dos escorpiões (BONALDO, 1997). A ordem das aranhas (Araneae) é a sétima em diversidade global de espécies descritas, perdendo apenas para as cinco maiores ordens de insetos (Coleoptera, Hymenoptera, Lepdoptera, Diptera e Hemiptera) e para a ordem Acari entre os aracnídeos (PARKER, 1982). Até 1991, mais de 40.000 espécies de aranhas haviam sido descritas (PLATNICK, 1993). Contudo, uma estimativa da diversidade total de espécies desses aracnídeos é bastante difícil, visto que a fauna de áreas como a América Latina, África e região do Pacífico são pouco conhecidas e que uma mesma espécie pode receber diferentes nomes em diferentes países (CODDINGTON E LEVI, 1991). As aranhas, em geral, vivem em buracos, sob madeiras, pedras, restos de construção, em troncos de árvores, depósitos e casas, têm o corpo dividido em cefalotórax e abdômen, possuem quatro pares de patas, são cobertas por um exoesqueleto de quitina e apresentam duas glândulas de veneno localizadas no cefalotórax. Essas glândulas comunicam-se com o exterior através de dois ductos que levam ao aparelho inoculador de peçonha, também denominado quelíceras. Apesar de muitas aranhas produzirem substâncias tóxicas, a grande maioria não causa danos ao homem, pois apresentam aparelho bucal muito delicado e/ou veneno ativo somente contra insetos (ANDRADE FILHO, 1997). No Brasil, a maior incidência de acidentes provocados por aranhas ocorre entre os meses de outubro a abril, período de clima mais quente e chuvoso, em que as vítimas estão mais expostas e as aranhas podem ser desalojadas por inundações. Provavelmente, o número real de acidentes com aranhas é bem maior do que o relatado, visto que muitas vítimas não chegam a procurar atendimento médico e poucas são as estatísticas disponíveis a esse respeito. Entre os casos notificados, a maioria envolve indivíduos com mais de 18 anos e ocorre durante o dia, sendo os pés e as mãos os locais mais afetados (LUCAS, 1988). Entre os anos de 1993 e 2000, no Serviço de Toxicologia do Hospital João XXIII de Belo Horizonte, foram atendidos 972 casos de araneísmo, não tendo nenhum deles resultado em óbito. 8 As aranhas do continente Americano mais importantes do ponto de vista médico são responsáveis por muitos casos de envenenamento severo e algumas mortes (ESCOUBAS E COLS., 2000). Todas pertencem à subordem Araneomorphae, que se caracteriza por apresentar ferrões inoculadores de veneno em posição horizontal e é representada pelos gêneros Phoneutria, Loxosceles, Latrodectus e Lycosa (SOERENSEN, 1996). No sudeste do Brasil, os acidentes com as aranhas popularmente conhecidas como “armadeiras” (Phoneutria sp.), “aranhas de jardim” ou “tarântulas” (Lycosa sp.) são freqüentes, enquanto os acidentes com as “caranguejeiras” (Mygalomorphae sp.), a “viúvanegra” (Latrodectus sp.) e a “aranha marrom” (Loxosceles sp.) são mais raros (LUCAS, 1992). A profilaxia dos acidentes por aracnídeos consiste em manter jardins, quintais e terrenos baldios próximos às residências limpos, sem acúmulo de folhagem e entulhos; vedar as soleiras das portas e janelas e observar cuidadosamente roupas e sapatos antes de usá-los. O tratamento correto para esses acidentes depende do diagnóstico rápido e preciso do aracnídeo envolvido e a adoção de medidas terapêuticas adequadas, entre as quais, destaca-se a administração de soro heterólogo específico, principalmente nos acidentes latrodéctico e loxoscélico (RODRIGUES E COLS., 1986). 1.3.2 COMPOSIÇÃO GERAL DO VENENO Os venenos das aranhas são misturas complexas de peptídeos neurotóxicos, proteínas e moléculas orgânicas de baixo peso molecular, que auxiliam esses organismos na captura e digestão de suas presas e/ou na defesa contra seus predadores. Embora se saiba da eficiência e da ação extremamente sensível e seletiva desses venenos sobre receptores e canais celulares, muito ainda há para se descobrir sobre as interações e funções de seus componentes químicos (ESCOUBAS E COLS., 2000). O veneno das aranhas contém íons e sais, ácidos nucléicos, glicose, aminoácidos livres, aminas biogênicas e neurotransmissores como o glutamato, o aspartato, a dopamina e a serotonina (WELSH E BATTY, 1963). No entanto, a função dessas substâncias na constituição desse importante material biológico permanece desconhecida. Supõe-se que, talvez, possam estar relacionados com a facilitação da ação de neurotoxinas ou que possam ser produtos de degradação de outros constituintes do veneno (ESCOUBAS E COLS., 2000). Um outro grupo importante de componentes químicos encontrados no veneno de aranhas é o das acilpoliaminas ou poliaminas amidadas. As acilpoliaminas apresentam uma 9 estrutura química constituída de uma cadeia de poliamina e um grupo final acil aromático. Esses componentes são compostos orgânicos neurotóxicos que atuam como antagonistas de diferentes subtipos de receptores ionotrópicos de glutamato (PARKS E COLS., 1991), bloqueando o poro dos canais iônicos associados a eles (DONEVAN E ROGAWSKI, 1996). As acilpoliaminas também agem em canais de cálcio (McCORMICK E COLS., 1993) e, além disso, parecem possuir uma forte atividade inseticida, sendo responsáveis pela rápida paralisia de insetos observada durante a predação. Este fenômeno é mediado por um bloqueio rápido e reversível das junções neuromusculares dos insetos, onde o glutamato é o principal neurotransmissor (OSBORNE, 1996). Em algumas espécies, as acilpoliaminas são o principal componente do veneno. Somando-se aos antagonistas dos receptores de glutamato, uma outra classe de toxinas que afetam a transmissão glutamatérgica foi descrita por Mafra e cols. (1999): a família PhTx4. Essa família, isolada do veneno da aranha armadeira Phoneutria nigriventer, mostrou inibir de maneira dose-dependente a captação de glutamato em sinaptossomas de ratos. Posteriormente, a toxina inseticida Tx4(5-5) da mesma família foi descrita como um inibidor reversível de correntes geradas pela ação de receptores de glutamato do tipo Nmethyl-D-aspartate (NMDA) em neurônios de ratos (FIGUEIREDO E COLS., 2001). Assim como as toxinas da família PhTx4, a grande maioria das toxinas identificadas até o momento é composta por polipeptídeos de peso molecular entre 3 e 8 kDa. Juntamente com as poliaminas, esses peptídeos parecem ser bastante importantes no arsenal tóxico das aranhas, podendo ser específicos para vertebrados ou insetos. Seus alvos principais são os vários canais iônicos presentes nas membranas celulares. Algumas dessas toxinas, como a Tx3-3 e a Tx3-4 da aranha P. nigriventer (GUATIMOSIM E COLS., 1997; MIRANDA E COLS., 1998), podem bloquear a liberação de neurotransmissores, afetando a exocitose de vesículas pré-sinápticas e induzindo modificações anormais na transmissão sináptica, o que gera um quadro de paralisia flácida na vítima (JACKSON E PARKS, 1989; JUNIOR E COLS., 1991; GOMEZ E COLS., 1995; PRADO E COLS., 1996). Já outras toxinas ativam canais de sódio em membranas de fibras nervosas e musculares (FONTANA E VITAL BRAZIL, 1985), provocando despolarização excessiva e, conseqüentemente, levando à paralisia excitatória. Um exemplo recentemente obtido dessa última ação seria a toxina Tx2-6, mais um componente da peçonha da aranha P. nigriventer, que - através de caracterização eletrofisiológica - demonstrou retardar a rápida inativação de canais de sódio de fibras musculares de rã (MATAVEL E COLS., 2002). As proteínas dos venenos de aranhas incluem também toxinas de alto peso molecular. As latrotoxinas encontradas na peçonha da viúva negra - gênero Latrodectus apresentam massa molecular de até 110 kDa (GRISHIN, 1998) e atuam seletivamente na maioria das terminações nervosas de vertebrados e invertebrados, promovendo liberação de 10 neurotransmissores, depleção de vesículas sinápticas e inexcitabilidade da membrana (GORIO E MAURO, 1979; TZENG E SIEKEVITZ, 1979; MALLART E HAIMAN, 1985), o que leva a uma rápida paralisia da vítima. Enzimas, dentre as quais podemos citar: proteases, hialuronidases, esfingomielinases, fosfolipases e isomerases (SCHANBACHER E COLS., 1973), também estão presentes. As esfingomielinases propiciam ação hemolítica que pode causar anemia, insuficiência renal aguda, entre outras conseqüências. As hialuronidases, encontradas nas Loxosceles, podem facilitar a ação de outros componentes do veneno, permitindo a penetração nos tecidos e compartimentos celulares. No entanto, a função das demais enzimas permanece pouco elucidada. A grande diversidade de toxinas presentes nos venenos de aranhas resulta numa grande diversidade farmacológica que permite ligações precisas e seletivas a múltiplos receptores celulares (RASH E HODGSON, 2002). Em se tratando de predadores, toda essa farmacopéia representa enorme vantagem adaptativa, que proporciona a captura de diversas presas. Para nós, pesquisadores, os venenos das aranhas são uma fonte incrivelmente rica e diversa de novas ferramentas moleculares para a exploração da fisiologia, farmacologia e estrutura de canais iônicos e células excitáveis, levando a um melhor entendimento de interações ligante-receptor e ao desenvolvimento de novas estratégias nas áreas da saúde e da agricultura (GOMEZ E COLS., 2002). 1.3.3 TOXINAS INSETICIDAS A seletividade de diversas toxinas de aranha a insetos abre caminho para o desenvolvimento potencial e promissor de diferentes estratégias de combate a pragas agrícolas, em especial, através da utilização de bioinseticidas geneticamente modificados. Durante as últimas décadas, grande número de peptídeos inseticidas de aranhas tem sido identificado, purificado, caracterizado e clonado por diversos autores (CORZO E COLS., 2000; PENAFORTE E COLS., 2000; FIGUEIREDO E COLS., 2001; CORZO E COLS., 2002). As curtatoxinas I, II e III de Hololena curta (LEUNG E COLS., 1989; STAPLETON E COLS., 1990; QUISTAD E COLS., 1991), as µ-agatoxinas I e IV de Agelenopsis aperta (SKINNER E COLS., 1989), as toxinas DTX9.2, 10 e 11 de Diguetia carnities (KRAPCHO E COLS., 1995; BLOOMQUIST E COLS., 1996) e a toxina Tx4(6-1) de P. nigriventer (FIGUEIREDO E COLS., 1995) atuam especificamente em canais de sódio de insetos (DE LIMA E COLS., 2002). As plectoxinas V e XI de Plectreurys tristis (QUISTAD E SKINNER, 1994; LEISY E COLS., 1996), as ω-atracotoxinas de Hadronyche spp. 11 (FLETCHER E COLS., 1997; WANG E COLS., 1999) e as ω-agatoxinas IA, IIA e IIIA de Agelenopsis aperta (ADAMS E COLS., 1990; VENEMA E COLS., 1992) bloqueiam especificamente canais de cálcio de insetos (MORI E COLS., 1996). Já a toxina JSTX de Nephila clavata (KAWAI E COLS., 1982), a NSTX de Nephila maculata (ARAMAKI E COLS., 1986) e várias argitoxinas de diversas aranhas do gênero Argiope (USHERWOOD E COLS., 1984; GRISHIN E COLS., 1986) bloqueiam receptores de glutamato em insetos. No entanto, diversas outras toxinas inseticidas já relatadas ainda não tiveram seus sítios de ação determinados, dentre as quais podemos citar: as apototoxinas I a IX de Aptostichus schlingeri (SKINNER E COLS., 1992) e as toxinas de Segestria sp. (LIPKIN E COLS., 2002) (TAB.1). TABELA 1. Toxinas inseticidas de aranhas. TOXINA ARANHA ATIVIDADE REFERÊNCIA Apototoxina I a IX Aptostichus schlingeri Indeterminada SKINNER E COLS., 1992 Argitoxinas Gênero Argiope Bloqueia receptores de glutamato µ-agatoxina I e IV Agelenopsis aperta Ativa canais de Na+ ω-agatoxina IA, IIA e IIIA Agelenopsis aperta Bloqueia canais de Ca2+ ω-atracotoxinas Hadronyche spp. Bloqueia canais de Ca2+ Curtatoxina I, II e III Hololena curta Ativa canais de Na+ USHERWOOD E COLS., 1984 GRISHIN E COLS., 1986 SKINNER E COLS., 1989 ADAMS E COLS., 1990 VENEMA E COLS., 1992 FLETCHER E COLS., 1997 WANG E COLS., 1999 LEUNG E COLS., 1989 STAPLETON E COLS., 1990 QUISTAD E COLS., 1991 KRAPCHO E COLS., 1995 DTX9.2, 10 e 11 Diguetia carnities Ativa canais de Na+ JSTX Nephila clavata Bloqueia receptores de glutamato KAWAI E COLS., 1982 NSTX Nephila maculata Bloqueia receptores de glutamato ARAMAKI E COLS., 1986 Plectoxina V e XI Plectreurys tristis Bloqueia canais de Ca2+ Toxinas de Segestria Segestria sp. Indeterminada LIPKIN E COLS., 2002 Tx4(6-1) Phoneutria nigriventer Atua em canais de Na+ DE LIMA E COLS., 2002 BLOOMQUIST E COLS., 1996 QUISTAD E SKINNER, 1994 LEISY E COLS., 1996 A relação entre a estrutura primária dessas toxinas e sua especificidade a insetos ainda não foi descoberta. A massa molecular descrita para as diversas toxinas inseticidas já estudadas varia de 3300 a 27000 Da e as determinantes moleculares de sua especificidade também continuam desconhecidas. 12 1.4 ARANHAS DO GÊNERO LOXOSCELES 1.4.1 COMENTÁRIOS GERAIS O gênero Loxosceles (HEINECKEN E LOWE, 1835) - mundialmente distribuído - foi primeiramente reconhecido como causador de acidentes de importância médica no Brasil por Rosenfeld e cols. (1957) e é representado, no País, por várias espécies, presentes da Amazônia ao Rio Grande do Sul: L. adelaida, L. amazônica, L. anomala, L. gaucho, L. hirsuta, L. intermedia, L. laeta e L. similis (MELLO-LEITÃO, 1917, GERTSCH, 1967, GERTSCH E ENNICK, 1983). Esses aracnídeos apresentam de 8 a 15 mm de corpo, suas patas medem de 8 a 30 mm e vivem de 3 a 7 anos, podendo sobreviver dias e, até mesmo, meses sem comida e água (FUTRELL, 1992). Entre as aranhas brasileiras, as pertencentes a esse gênero possuem o veneno mais tóxico ao homem (SEZERINO E COLS., 1998), sendo responsáveis por, aproximadamente, 36,6% dos acidentes com aracnídeos registrados pelo Ministério da Saúde no período de 1990 a 1993. Na região Sul do País o número de acidentes envolvendo aranhas Loxosceles é bem maior que nas demais regiões (TAB.2). Somente no estado do Paraná, por exemplo, mais de 2000 casos de acidentes loxoscélicos foram relatados desde o ano de 1993 até 2000 (FIG.4). Em 2003, este número saltou para 3.637 e em 2004, dados da Coordenação de Vigilância Epidemiológica do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal dae Saúde de Curitiba apontam para cerca de 3.741 casos somente nesta cidade. Este rápido crescimento na incidência dos acidentes loxoscélicos deve-se, em parte, ao fato das aranhas deste gênero terem adquirido hábitos domiciliares, uma vez que seu habitat de origem vem sendo continuamente desmatado. TABELA 2. Distribuição dos acidentes por aranhas, registrados no período de 1990 a 1993, segundo o gênero envolvido e a região do Brasil. As regiões do país aparecem em siglas: N - Norte, NE - Nordeste, SE - Sudeste, S - Sul e CO - Centro-Oeste. FONTE: Modificado de MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, 2001. ARANHA (GÊNERO) PHONEUTRIA LOXOSCELES LATRODECTUS OUTRO NÃO INFORMADO TOTAL (N° / %) N NE 1 1 0 15 35 52 / 0,3 6 15 58 88 400 567 / 3,2 REGIÃO DO PAÍS SE 2885 267 0 277 2561 5990 / 33,7 S CO TOTAL (N° / %) 1912 6224 13 645 2205 10999 / 61,8 5 5 0 44 123 177 / 1 4809 / 27 6512 / 36,6 71 / 0,4 1069 / 6 5324 / 30 17785 / 100 13 FIGURA 4. Acidentes loxoscélicos no estado do Paraná no período de 1987 a 2000. FONTE: Modificado de SESA/CENTRO DE SAÚDE AMBIENTAL, 2003. A Loxosceles intermedia (FIG.5), assim como as demais aranhas de seu gênero, é popularmente conhecida como aranha marrom e pertence à ordem Araneae, subordem Araneomorphae, grupo Labdognatha e à família Sicariidae (CAMPOLINA E COLS., 2001). É de pequeno porte, com 1 a 3 cm de corpo e patas finas e compridas. Apresenta coloração que varia do marrom claro ao escuro e seis olhos dispostos em três pares. Faz teias irregulares que lembram chumaços de algodão e tem hábitos sedentários e noturnos. Não é agressiva ao homem e morde apenas quando comprimida contra o corpo - na maioria dos casos - quando a vítima está dormindo (FIG.6). Seu habitat natural são as frestas e cascas soltas de árvores, folhas secas e cavidades do solo e de pedras, tendo adaptado-se, no entanto, aos domicílios, onde abrigam-se em sapatos, roupas ou atrás de móveis (BÜCHERL, 1969). 14 FIGURA 5. Aranha Loxosceles intermedia. FONTE: http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&lr=&ie=ISO-8859-1&q=Loxosceles FIGURA 6. Acidentes loxoscélicos segundo a circunstância da mordida no estado do Paraná no período de 1993 a 2000. n = 3009. FONTE: Modificado de SESA/CENTRO DE SAÚDE AMBIENTAL/DV ZOONOSES E INTOXICAÇÕES, 2003. A histologia e citologia ultraestrutural das glândulas de veneno da aranha marrom foi descrita por Dos Santos e cols. (2001). Usando diferentes técnicas de microscopia, esses autores observaram que as glândulas de veneno de L. intermedia, seguindo a arquitetura geral das glândulas de veneno das aranhas, apresentam duas camadas de fibras musculares estriadas, uma externa e outra interna, em contato com uma matriz extracelular constituída por uma membrana basal e uma matriz fibrilar de colágeno que separa a região muscular da região epitelial das glândulas. As células musculares desse importante órgão mostraram ser multinucleadas, conter núcleo localizado perifericamente e possuir em seu citoplasma, entre outras estruturas, retículo sarcoplasmático bem desenvolvido. Já as 15 células epiteliais mostraram conter citosol extremamente rico em retículo endoplasmático rugoso, mitocôndrias, complexo de Golgi, membranas interdigitantes e vesículas secretórias que acumulam o veneno de ação proteolítica, hemolítica e coagulante desta aranha (LUCAS, 1988). Com relação aos acidentes humanos, a vítima apresenta-se assintomática nas primeiras oito a doze horas após a mordida da aranha. Depois desse período, começa a se queixar de dor e queimação de caráter progressivo. Em seguida, instala-se halo eritematoso em volta do ponto de inoculação que já apresenta certo grau de isquemia. Essa área isquêmica aumenta, formando o que se denomina “placa marmórea”. Associado a esse quadro, denominado cutâneo-puro ou dermonecrótico, após 36 a 48 horas, surgem bolhas e equimoses que podem evoluir para necrose (FIG.7). Infecções bacterianas secundárias são complicações freqüentes nos casos graves (CARDOSO E COLS., 1988; MONTEIRO E COLS., 2002). A ausência de lesão após dois a três dias desde a mordida, usualmente indica que a necrose não irá ocorrer (SAMS E COLS., 2001) FIGURA 7. Evolução de uma lesão dermonecrótica causada por mordida de aranha Loxosceles. Local da mordida e evidenciação da lesão necrótica (RIBEIRO E COLS., 1993). Existe também, embora pouco freqüente (3 - 16% dos casos), a forma cutâneovisceral ou sistêmica, onde uma hemólise intensa causa anemia e icterícia. Esse quadro pode ser acompanhado de febre, mal-estar e coagulação intravascular disseminada. A insuficiência renal por deposição de cilindros de hemoglobina resultantes de hemólise é um grave fator complicador, sendo a principal causa de óbitos, principalmente em crianças, idosos e indivíduos debilitados (CARDOSO, 1992). O tratamento indicado nos acidentes com Loxosceles é bastante controverso, podendo incluir terapias não específicas, como a administração de corticoesteróides tópicos, anti-histamínicos, antibióticos e analgésicos (MONTEIRO E COLS., 2002). Em casos mais graves, outros procedimentos, como a excisão cirúrgica da lesão necrótica, transfusão de sangue e hemodiálise podem ser usados (RIBEIRO E COLS., 1993). A importância da administração de soroterapia específica também tem sido confirmada por vários pesquisadores (BARBARO E COLS., 1996b; BRAZ E COLS., 1999, GUILHERME E COLS., 16 2001). Estudos mostram que a imunoterapia para o tratamento do loxoscelismo é eficaz na neutralização da ação do veneno até 36 horas após o incidente. Desse modo, a utilização do soro antiveneno pode diminuir os danos causados pelo envenenamento por Loxosceles (diminuição do tamanho da lesão necrótica e limitação dos efeitos sistêmicos) mesmo que muitas vítimas não procurem atendimento médico rapidamente devido ao fato de subestimarem o acidente, dada à ausência de dor local no momento da mordida e ao aspecto frágil da aranha (Boletim Ecológico de Curitiba, 1996). Vale destacar também que o uso da soroterapia é indicado principalmente para lesões cutâneas e necrose extensas ou nos quadros sistêmicos, uma vez que sua administração envolve o risco de reações alérgicas (HORGAN E COLS., 2004). Existem quatro antivenenos comerciais contra Loxosceles (HORGAN E COLS., 2004): 1) o antiveneno aracnídeo do Instituto Butantan (São Paulo, Brasil) específico para uma mistura de venenos que incluem as aranhas L. gaucho e Phoneutria nigriventer e os escorpiões Tityus serrulatus e T. bahiensis; 2) o antiveneno monovalente L. intermediaespecífico e o polivalente L. intermedia, L. laeta e L. gaucho do Centro de Produção e Pesquisa em Imunobiológicos (Paraná, Brasil); 3) o antiveneno dos Institutos Nacionais de Saúde (Lima, Peru) e 4) o antiveneno contra as aranhas Loxosceles e Latrodectus do Instituto Bioclon (México). No Brasil, a taxa de utilização de antivenenos para mordidas de Loxosceles varia de 11,9% (Paraná) a 70% (São Paulo) (BARBARO & CARDOSO, 2003). Com o objetivo de prover um meio racional para medir a eficácia da soroterapia específica e estabelecer uma melhor relação entre a severidade dos sintomas clínicos e a quantidade de veneno circulante no soro de pacientes envenenados, Chávez-Olórtegui e cols. (1998) desenvolveram um Enzyme Linked Immunosorbent Assay (ELISA) tipo sanduíche, para detectar antígenos do veneno da aranha L. intermedia. Esse método, após padronização, poderá ser de grande valia no diagnóstico de envenenamentos por essa aranha, sendo uma ferramenta promissora para o uso clínico e epidemiológico. Até o momento não há nenhum teste diagnóstico de custo e tempo aceitáveis para confirmar os casos de envenenamento (HORGAN E COLS, 2004). 1.4.2 COMPOSIÇÃO GERAL DO VENENO O veneno da Loxosceles é um líquido claro, viscoso e consistente, produzido por glândulas apócrinas. Caracterizações bioquímicas e funcionais de seus componentes ativos têm sido realizadas, a fim de auxiliar o desenvolvimento de tratamentos mais efetivos contra os muitos casos de envenenamento relatados. 17 Em 1995, Tambourgi e cols. isolaram do veneno de L. intermedia uma fração chamada F35, cuja principal proteína apresentava massa molecular de 32 kDa. Essa proteína demonstrou incorporar-se à superfície celular de eritrócitos humanos levando à hemólise dos mesmos. Essa descoberta explica a hemólise observada in vivo nos casos de envenenamento por Loxosceles. Em 2000, o mesmo grupo de pesquisadores acrescentou que, na verdade, a hemólise dos eritrócitos seria conseqüência da atividade esfingomielinase das toxinas do veneno de L. intermedia. Essas toxinas induziriam a ativação de uma metaloproteinase endógena, levando à clivagem de glicoforinas: fatores importantes na proteção de eritrócitos contra a ação do complemento. Além disso, essas mesmas toxinas também estariam envolvidas na desestruturação da membrana plasmática dos eritrócitos, levando à exposição de fosfatidilserinas: lipídeos normalmente expressos na membrana interna dessas células e capazes de ativar o sistema complemento quando expostos (TAMBOURGI E COLS., 2002). Somando-se a isso, a F35 mostrou-se ainda capaz de induzir a lesão dermonecrótica característica dos acidentes por Loxosceles, reproduzindo as ações locais e sistêmicas do veneno total (TAMBOURGI E COLS., 1998a). Em 1998, Feitosa e cols. relataram a descoberta de duas outras proteínas no veneno de L. intermedia. Ambas foram caracterizadas como metaloproteinases e apresentaram ação proteolítica sobre moléculas da matriz extracelular. Uma delas demonstrou ser uma enzima gelatinolítica de 32-35 kDa, cuja atividade parece estar envolvida com a ação dermonecrótica do veneno. Já a outra, com peso molecular de 20-28 kDa, demonstrou degradar fibronectina e fibrinogênio, estando provavelmente relacionada aos problemas de coagulação intravascular e de agregação de plaquetas característicos do loxoscelismo. Essas duas proteínas foram também posteriormente identificadas por Silveira e cols. (2002) e, segundo Veiga e cols. (1999), são N-glicosiladas, sendo a atividade dermonecrótica da enzima gelatinolítica dependente dessa glicosilação. Vale destacar que essa enzima gelatinolítica de 32-35 kDa foi também detectada na peçonha da aranha L. laeta (SILVEIRA E COLS., 2002). Também em 1998, a fração F35 foi separada em três picos chamados P1, P2 e P3 (TAMBOURGI E COLS. b). Os picos P1 e P2 mostraram ser proteínas puras com ação hidrolítica sobre esfingomielina - uma classe de esfingolipídeos presentes na membrana plasmática de células animais - e capazes de induzir, mesmo que isoladamente, todos os efeitos observados in vivo com o veneno total de Loxosceles, inclusive hemólise dependente de complemento. Já o pico P3 mostrou ser formado por duas proteínas altamente homólogas, porém, completamente inativas para os ensaios realizados. Embora os mecanismos que levem à lesão dermonecrótica ainda não sejam claramente conhecidos, os autores do trabalho sugerem que a ceramida, gerada in vivo pela hidrólise da esfingomielina e conhecida como um mediador de apoptose, esteja envolvida na indução dessa lesão. Em 18 2002, Van den Berg e cols. demonstraram que a toxina P1, assim como o veneno bruto de L. intermedia, pode induzir a liberação de moléculas transmembrana, como o complexo principal de histocompatibilidade I (MHC I), de células nucleadas através da ativação de uma metaloproteinase, tornando-as, ao contrário do esperado, mais resistentes à lise mediada por complemento. Veiga e cols., em 2000, identificaram duas serina-proteases com atividade gelatinolítica e de alto peso molecular (85 e 95 kDa) no veneno de L. intermedia. Essas duas proteínas, assim como as outras citadas, também parecem estar envolvidas nos danos causados pelo veneno. É importante notar que os efeitos produzidos pelo veneno de L. intermedia, ou pela F35, podem variar quanto a sua severidade e que dependem de vários fatores, como a susceptibilidade individual (TAMBOURGI E COLS., 1998a), local da mordida, quantidade injetada na vítima (SEZERINO E COLS., 1998) e as diferentes composições intraespecíficas do veneno. Gonçalves de Andrade e cols. (1999), por exemplo, mostram que a toxina F35 aparece em sua forma completamente ativa somente no veneno de aranhas já no terceiro estágio de desenvolvimento e que daí em diante sua atividade aumenta até que o aracnídeo torne-se adulto. Outros estudos mostram que as fêmeas de L. intermedia produzem uma maior quantidade de veneno do que os machos e que, além disso, apresentam atividade dermonecrótica e hemolítica mais potentes, o que pode ser explicado pela maior presença de F35 em seus venenos (OLIVEIRA E COLS., 1999, 2005). Há três anos, Kalapothakis e cols. (2002) descreveram a identificação, caracterização molecular e expressão de uma nova proteína (LiD1) de aproximadamente 31 kDa pertencente à família das toxinas dermonecróticas de L. intermedia. Essa proteína foi fortemente reconhecida por anticorpos anti-dermonecróticos e foi também capaz de gerar anticorpos reativos contra proteínas dermonecróticas nativas. De modo similar, a clonagem molecular e expressão funcional de outro fator dermonecrótico, desta vez - da aranha L. laeta - foi realizada por Pedrosa e cols. (2002). O uso da toxina recombinante, gerada no trabalho de Kalapothakis e cols. (2002), como imunógeno para o desenvolvimento de antivenenos de uso clínico ou como uma vacina para proteção contra o veneno de L. intermedia é discutido por Araújo e cols. (2003). Recentemente, uma caracterização molecular preliminar da peçonha da aranha L. intermedia foi realizada pela Dra. Fernanda Laborne Valle Salles, pertencente ao nosso grupo de pesquisa. Através da geração de 127 Etiquetas de Seqüências Expressas (ESTs) a partir de clones da biblioteca de cDNA da glândula de veneno dessa aranha, cerca de 86 clones foram identificados como codificadores de proteínas similares a proteínas depositadas no GenBank, destacando-se, entre eles, 14 clones similares a toxinas e proteínas de venenos (SALLES, 2002). 19 Finalmente, Murakami e cols. (2005) relataram a primeira estrutura cristalográfica de uma toxina da família das esfingomielinases D das aranhas Loxosceles. Esta toxina enovela-se como um (α/β)8 barril - também denominado TIM barril - e apresenta sítio catalítico conservado, ao qual o substrato se liga e é estabilizado por um íon Mg2+. Através de dicroísmo circular e de análise de seqüências de diversas esfingomielinases de Loxosceles, De Andrade e cols. (2005) e Binford e cols. (2005), respectivamente, também indicaram que estas proteínas enovelam-se em uma estrutura TIM barril; sendo que os últimos autores acrescentaram ainda, que, as mesmas seriam derivadas da família das proteínas glicerofosforil diester fosfodiesterases (GDPD). 1.4.3 TOXINAS INSETICIDAS Devido ao seu forte apelo na área médica, o veneno da aranha Loxosceles vem sendo, de certa forma, negligenciado quanto ao seu efeito em insetos. Existem pouquíssimos estudos a este respeito descritos na literatura, sendo a maioria antiga (décadas de 60 e 70) e referentes ao veneno de L. reclusa. Em 1968, Norment e Smith demonstraram que o veneno dessa aranha apresenta atividade hemolítica contra hemócitos do grilo Acheta domesticus, causando também necrose e morte nesse inseto. No ano seguinte, Norment e Vinson relataram a ação lítica e patológica do veneno ou de produtos do veneno sobre o tecido adiposo e muscular da larva do tabaco Heliothis virescens, fornecendo, além disso, evidências de sua ação proteolítica na hemolinfa. Após um grande período sem publicações sobre o assunto, Eskafi e Norment (1976) retomaram o assunto através do estudo das mudanças morfológicas de células e tecidos de larvas de Musca domestica e Heliothis virescens mordidas por L. reclusa. Essas mudanças morfológicas incluíram, entre outras, a lise de células epiteliais do intestino, membrana peritrófica, células musculares, epiderme e de proteínas de células adiposas. A atividade de proteases, lipases, esterases e da enzima fosfatase alcalina também foram avaliadas, mostrando-se bastante fortes nas larvas envenenadas. Ainda nesse trabalho, amostras de hemolinfa coletadas dos insetos testados apresentaram lise, coagulação e alteração da morfologia dos hemócitos. Em 1980, Foil e cols. estabeleceram, por meio de injeções em espécimes adultos de Musca domestica, a toxicidade de diferentes frações obtidas por filtração em gel do veneno de L. reclusa. Como havia sido previamente reportado por Foil e cols. (1979), o resultado desse método de cromatografia para o veneno de L. reclusa é a obtenção de três picos principais, sendo os picos 1 e 2 letais para moscas domésticas. O pico 1, que contém componentes de maior peso molecular, apresentou ação inseticida mais lenta que o pico 2, que contém os componentes de baixo peso molecular. 20 Vale destacar que este pico já havia sido caracterizado, por técnicas de eletrofisiologia em nervos de barata, como neuroativo em insetos no trabalho de 1979. Desde então, com exceção de nosso recente trabalho (CASTRO, 2003), que identificou três toxinas com ação inseticida em larvas de S. frugiperda (LiTx1, LiTx2 e LiTx3 – FIG.8) a partir de testes biológicos com picos protéicos obtidos pelo fracionamento do veneno de L. intermedia, nenhuma outra informação relevante foi acrescentada formalmente ao conhecimento de toxinas inseticidas de aranhas do gênero Loxosceles. Essas toxinas apresentam massa molecular de aproximadamente 7 kDa e pertencem a um grande grupo de componentes dos venenos de Loxosceles que, de acordo com Barbaro e cols. (1996a) e também Binford e cols., (2003), encontram-se abaixo de < 8 kDa. ERROR: undefined OFFENDING COMMAND: d STACK: [-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -null- -null-null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null-null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null-null- -null- -null- -null- ] /Subrs -dictionary/Private -dictionary-dictionaryfalse -filestream-markfalse (./n022004l.pfb) /NimbusMonL-Bold /Courier-Bold -mark/Courier-Bold 1455770 /Courier-Bold /Font /Courier-Bold 26 2. OBJETIVOS 2.1 GERAL Parte 1 Ampliar o banco de dados de toxinas através de análises bioinformáticas de transcritos da glândula de veneno da aranha-marrom Loxosceles intermedia. Parte 2 Construir baculovírus recombinantes, através da inserção de toxinas inseticidas do veneno de L. intermedia no DNA viral desses organismos. 2.2 ESPECÍFICOS Parte 1 1) Seqüenciar cerca de 800 clones selecionados por varredura da biblioteca de cDNA da aranha L. intermedia (CASTRO, 2003). 2) Tratar as seqüências obtidas para torná-las livres de regiões contaminantes como vetores, sítios de restrição e sítios de poli A 3’. 3) Realizar o agrupamento qualitativo das seqüências tratadas. 4) Realizar a anotação gênica das seqüências agrupadas, ou seja, identificá-las de acordo com suas relações de homologia através de análise computacionais. 5) Classificar as seqüências agrupadas em categorias funcionais, analisá-las quanto a sua função biológica e, quando possível, modelá-las para a verificação de suas prováveis estruturas tridimensionais. 27 Parte 2 1) Caracterizar o veneno bruto da aranha L. intermedia quanto a sua atividade inseticida (Dose Letal 50 - DL 50) em larvas de interesse agrícola. 2) Determinar possíveis funções específicas para as toxinas inseticidas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 previamente identificadas por nosso grupo. 3) Caracterizar o grupo das frações 35 a 40 previamente obtidas por nosso grupo através de um único passo de fracionamento em coluna de fase reversa em sistema HPLC do veneno bruto da aranha marrom L. intermedia. 4) Identificar toxinas presentes no grupo das frações 35 a 40 previamente obtidas por nosso grupo. 5) Subclonar a região madura das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiD1 de L. intermedia em vetores de transferência do sistema de expressão baculovírus. 6) Produzir vírus recombinantes carreadores das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiD1 de L. intermedia em sistema baculovírus. 7) Expressar as toxinas LiTx1, LiTx2 e LiD1 de L. intermedia em células de insetos, usando para isso DNAs virais do sistema baculovírus derivados do vírus AcMNPV. 8) Realizar - com os baculovírus recombinantes LiTx1 e LiTx2 - testes de toxicidade em larvas do inseto praga: lagarta-do-cartucho do milho Spodoptera frugiperda (Lepdoptera: Noctuidae), para a avaliação da patogenicidade desses vírus geneticamente modificados. 28 3. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA Parte 1 A facilidade de isolamento de mRNAs de organismos eucariotos e sua transcrição reversa de mRNA para cDNA tornam possível a análise qualitativa e quantitativa, em larga escala, dos diferentes genes transcritos em uma espécie ou tecido. A combinação de técnicas de biologia molecular e de ferramentas bioinformáticas permitem, portanto, a avaliação da expressão gênica de qualquer amostra biológica de interesse. Neste trabalho, análises bioinformáticas dos transcritos da glândula de veneno da aranha-marrom Loxosceles intermedia permitirão a caracterização dos principais componentes expressos neste órgão, ampliará o nosso conhecimento sobre o potencial biotecnológico dos componentes do veneno e fornecerá novas informações sobre a composição do veneno desta aranha. Parte 2 Neste início de século, o futuro do sistema de produção agrícola é uma das importantes questões a serem discutidas pela humanidade. O crescimento em ritmo acelerado da população mundial, as grandes perdas agrícolas por ataque de pragas e o aumento das áreas inadequadas para cultivo são apenas alguns dos desafios para a produção de alimentos nas próximas décadas. Desse modo, a descoberta e o desenvolvimento contínuo de novas tecnologias que auxiliem no aumento da produtividade agrícola, sem trazer danos ao meio ambiente, são necessários e relevantes para toda a sociedade. O trabalho aqui realizado é uma etapa importante para o uso de toxinas recombinantes do veneno de L. intermedia como bioinseticidas úteis no controle de diferentes pragas. 37 5. MÉTODOS Inicialmente, é importante salientar que o trabalho descrito nesta tese segue a mesma linha de pesquisa da dissertação: “Fracionamento e caracterização do veneno bruto da aranha marrom Loxosceles intermedia: identificação de novas toxinas inseticidas” (CASTRO, 2003). Resumidamente, durante o mestrado, três novas toxinas inseticidas, denominadas LiTx1, LiTx2 e LiTx3, foram identificadas a partir do veneno bruto da aranha marrom L. intermedia através de cromatografia de fase reversa em sistema HPLC e espectrometria de massa. Todas as frações obtidas pelo fracionamento do veneno foram investigadas quanto à presença de antígenos de toxinas dermonecróticas, sua capacidade de produzir lesões em coelhos após injeção intradérmica e quanto a sua toxicidade a insetos. As frações que continham as toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 não apresentaram qualquer evidência de possuir atividade dermonecrótica e foram letais para larvas de Spodoptera frugiperda em um período de, no máximo, 48 horas após a injeção das frações. Clones das três toxinas em questão foram então isolados por varredura da biblioteca de cDNA das glândulas de veneno da aranha L. intermédia através de uma PCR de colônias com iniciadores que flanqueiam as extremidades do sítio múltiplo de clonagem do vetor pBK-CMV. A análise das seqüências de nucleotídeos desses clones revelou que todas as toxinas possuem peptídeo sinal hidrofóbico, propeptídeo rico em resíduos de glutamato, peptídeo maduro e provável peptídeo C-terminal. O alinhamento das seqüências de aminoácidos preditas dessas toxinas com aquelas de outras toxinas inseticidas de aranhas indicou que suas estruturas espaciais seguem o padrão geral de enovelamento das proteínas dos venenos de artrópodes. Um outro dado importante revelado foi a similaridade da toxina LiTx1 com as curtatoxinas II e III e a µ-agatoxina III, toxinas inseticidas conhecidas por causar paralisia irreversível em insetos lepdópteros pela liberação maciça de neurotransmissores (mediada por receptores de glutamato) das vesículas pré-sinápticas nas junções neuromusculares. Diante dos resultados obtidos na dissertação (acima citados) buscou-se primeiramente nesta tese, a caracterização molecular de todos os clones selecionados durante a varredura da biblioteca de cDNA das glândulas de veneno de L. intermedia. Em seguida, visando avançar no desenvolvimento de novas estratégias de combate a pragas agrícolas, partiu-se para a clonagem e a expressão no sistema de expressão baculovirus de duas das toxinas identificadas anteriormente (LiTx1 e LiTx2). Além disso, ao longo do processo de pesquisa, decidiu-se buscar toxinas com maior potencial inseticida que as toxinas LiTx1, LiTx2 (como será melhor compreendido no item 5.8). Desta maneira, a identificação, clonagem e expressão de uma nova toxina inseticida do veneno de L. intermedia (LiD1) foi também realizada. 38 Parte 1 5.1 ANÁLISES BIOINFORMÁTICAS DE TRANSCRITOS DA GLÂNDULA DE VENENO DE Loxosceles intermedia Os procedimentos aqui realizados foram baseados na Monografia de Bacharelado de Santos (2002). 5.1.1 OBTENÇÃO DAS SEQÜÊNCIAS Foram seqüenciados 800 clones do vetor fagemídeo pBK-CMV selecionados pela varredura da biblioteca de cDNA da aranha L. intermedia (contendo fragmentos clonados de DNA - CASTRO, 2003). A reação de seqüenciamento ocorreu pela adição, em poços de placas de PCR, de: DNA molde (plasmídeos pBK-CMV contendo fragmentos clonados de 200 ng DNA) Iniciador BK reverso (FIG.11) Pré-mix de seqüenciamento do kit DYEnamic 5 pmol TM ET dye terminator 4 µl MegaBACETM (Amersham Biosciences). Água deionizada estéril q.s.p. 10 µl Os ciclos de desnaturação, anelamento e extensão da reação de seqüenciamento foram realizados no termociclador PTC-100 (MJ Research). O programa utilizado está descrito a seguir: 1 - 95°C por 20 segundos 2 - 55°C por 15 segundos 3 - 60°C por 1 minuto e 20 segundos 4 - A partir do passo 1, o ciclo foi repetido 29 vezes Após a reação de seqüenciamento, as amostras foram precipitadas pela adição de 1 µl de acetato de amônio e 30 µl de etanol 96% ao conteúdo dos poços das placas de PCR. A placa foi deixada à temperatura ambiente por 20 min, período após o qual, foi centrifugada por 45 min a 4000 r.p.m. O sobrenadante foi descartado e a placa batida levemente em 39 papel absorvente. 100 µl de etanol 70% foram, então, acrescentados lentamente pela parede de cada poço, sendo a placa centrifugada por 10 min a 4000 r.p.m. Novamente, o sobrenadante foi descartado e a placa batida levemente em papel absorvente. Em seguida, a placa foi coberta por papel alumínio e deixada à temperatura ambiente por 10 min. O precipitado resultante foi ressuspendido em 10 µl de tampão de amostra para injeção no MegaBACETM (loading solution), estando pronto para seqüenciamento no aparelho MegaBaceTM 1 1000 (Amersham Biosciences). ERROR: undefined OFFENDING COMMAND: d STACK: [-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -null- -null-null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null-null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null-null- -null- -null- -null- ] /Subrs -dictionary/Private -dictionary-dictionaryfalse -filestream-markfalse (./n022004l.pfb) /NimbusMonL-Bold /Courier-Bold -mark/Courier-Bold 766828 /Courier-Bold /Font /Courier-Bold 131 7. DISCUSSÃO Parte 1 7.1 A NÁLISES BIOINFORMÁTICAS DE TRANSCRITOS DA GLÂNDULA DE VENENO DE Loxosceles intermedia A caracterização molecular de proteínas de glândulas de veneno é utilizada em muitos trabalhos com o propósito de facilitar as etapas de identificação, caracterização e purificação necessárias ao estudo e utilização dos componentes aí presentes. Desta forma, clones de cDNA codificando várias proteínas e, em especial, toxinas, têm sido selecionados e avaliados, possibilitando a obtenção de informações significativas sobre suas estruturas e funções. Podemos citar, por exemplo, o estudo de transcriptomas das glândulas de veneno de aracnídeos, como da aranha Lasiodora sp (SILVESTRE, 2005), da aranha armadeira Phoneutria nigriventer (KALAPOTHAKIS E COLS., 1998a, b; PENAFORTE E COLS., 2000) e da viúva negra Latrodectus mactans, da qual foi isolado o cDNA da alfa-latroinsectotoxina (alfa-LIT), uma neurotoxina pré-sináptica específica para insetos (KIYATKIN E COLS., 1993). A estratégia utilizada em todos estes trabalhos e - inclusive nesta tese - envolve a seleção aleatória de clones de cDNA e o seqüenciamento automatizado, de uma ou ambas as extremidades de seus insertos. As seqüências geradas por este procedimento são denominadas ESTs (Expressed Sequence Tags) e são caracterizadas por serem curtas (aproximadamente 400 a 600 bases) e relativamente imprecisas (cerca de 2% de margem de erro) (ADAMS E COLS., 1991). Vale ressaltar, no entanto, que, embora um pouco imprecisas, estas seqüências constituem um valioso recurso para a descoberta de novos genes pois, como ficou demonstrado, são derivadas de uma metodologia eficaz e de baixo custo. Em 1992 uma base de dados denominada dbEST (agrupada na divisão EST do GenBank) foi criada para servir como um banco de dados para ESTs (BOGUSKI E COLS., 1993). Esta divisão domina os acessos ao GenBank, respondendo por aproximadamente dois terços de todas as submissões. Inúmeros projetos em grande escala têm sido realizados para diversos organismos de interesse biotecnológico, sendo responsáveis por cerca de 80.000 submissões de seqüências de insertos de cDNA até agosto de 2002 (BENSON E COLS., 2002). 132 Neste trabalho, dos 800 clones de cDNA da glândula de veneno da aranha Loxosceles intermedia seqüenciados, somente 457 (~57%) apresentaram seqüências de boa qualidade, ou seja, maiores do que 150 nucleotídeos e com menos de 4% de ambigüidade (N ou X). Uma hipótese para explicar esse baixo rendimento refere-se a problemas de armazenamento dos clones analisados, o que inclui congelamentos e descongelamentos sucessivos por desligamento do freezer -80ºC, o que diminui significativamente a viabilidade das bactérias armazenadas e implica também em uma baixa qualidade do DNA nelas contido e, conseqüentemente, das seqüências geradas. Vale dizer ainda que destes 457 clones de boa qualidade, 189 (~41%) tratavam-se do vetor pBK-CMV sem inserto, os quais foram descartados de nosso estudo. Infelizmente, esse resultado nos mostra que a eficiência na seleção dos clones que continham inserto de cDNA (através da varredura da biblioteca da glândula de veneno de L. intermedia por PCR de colônias com iniciadores que flanqueiam as extremidades do sítio múltiplo de clonagem do vetor pBKCMV) foi baixa. Isso pode ter ocorrido devido às condições poucos estringentes da reação de PCR mencionada, o que teria acarretado no aparecimento de bandas inespecíficas de amplificação e, conseqüentemente, na falsa seleção dos clones. De qualquer maneira, a partir dos 268 clones restantes para nosso estudo, todos os resultados já apresentados nesta tese foram obtidos e agora iremos discuti-los. Os referidos 268 clones de boa qualidade e contendo insertos de cDNA foram alinhados através dos programas MULTALIN e BLAST TWO SEQUENCES. Dentre eles, cerca de 50%, quando comparados entre si, não apresentaram seqüências idênticas ou similares o suficiente para que fossem reunidos em um só, sendo chamados de singlets. Já os outros 50% dos clones foram reunidos em 33 diferentes agrupamentos ou consensos. De acordo com Liang e cols. (2000), o número de singlets fornece-nos uma estimativa do número de transcritos raros representados nos dados estudados. Para evitar super-estimativas, Liang recomenda que o trabalho de agrupamento seja, de certo modo, tolerante com erros de seqüenciamento a fim de não produzir um número excessivo de singlets. Em nosso trabalho, entretanto, optamos por utilizar parâmetros pouco tolerantes com discrepâncias nas seqüências, o que acarretou no resultado acima citado (cerca de 50% de singlets). Toda a seqüência resultante do agrupamento, seja consenso ou singlet, foi chamada de unique, sendo o processo de anotação dos mesmos realizado prioritariamente a nível de proteínas. Como verificamos na FIG.36, dos 169 uniques analisados, 83, ou seja, 49,1% não apresentaram similaridade significativa com nenhum gene ou proteína depositados nos bancos de dados utilizados. Este resultado é inferior ao apresentado por Silvestre (2005) que, em análise de 1947 uniques de uma biblioteca de cDNA da glândula de veneno da aranha Lasiodora sp., verificou que cerca de 70% dos mesmos não apresentaram 133 similaridade com proteínas ou genes de bancos de dados. Em outro trabalho (SANTOS E COLS., 1999), onde analisou-se transcritos de bibliotecas de cercária de Schistosoma mansoni, não se encontrou similaridade para 57, 6% das seqüências estudadas. Como constatamos a partir dos dados citados no parágrafo acima, esses valores de não similaridade, descritos na literatura, são bastante variáveis e comparações entre eles devem levar em conta os valores de corte utilizados no BLAST. Este fato torna as comparações um processo difícil e, mesmo observando essa variável (valor de corte), a comparação mantém-se arriscada, pois o número de seqüências depositadas nos bancos de dados aumenta a cada dia, o que influencia diretamente os valores de corte. Deste modo, uma análise BLAST realizada hoje com o valor de corte para e-value de 0.001 pode ser bastante diferente da mesma análise a ser realizada daqui a alguns meses ou anos. É importante verificar também que existem poucos organismos evolutivamente próximos à L. intermedia que apresentam grande número de seqüências disponíveis nos bancos de dados; o que pode justificar, parcialmente, a alta porcentagem de seqüências sem similaridade. Em agosto deste ano, por exemplo, em busca no sistema de acesso à seqüências de DNA e proteínas Entrez (The Life Science Search Engine - http://www.ncbi.nlm.nih.gov/gquery/gquery.fcgi), somente 23 seqüências de nucleotídeos e 41 seqüências de aminoácidos haviam sido depositadas no GenBank, SwissProt, PIR, PRF, PDB, entre outros, para a família Sicariidae, à qual as aranhas Loxosceles pertencem. Acreditamos que a inclusão de novas seqüências de L. intermedia nos bancos de dados, a partir deste trabalho e de outros, possa permitir uma melhor identificação dos transcritos sem similaridade significativa nas futuras buscas por homologia de organismos relacionados. Retornando ao processo de anotação (FIG.36), verificamos que dentre os uniques que apresentaram similaridade com genes ou proteínas depositados em bancos de dados, 16% destacam-se como sendo da própria L. intermedia (esfingomielinase P1, P2, LiD1 e toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3). Esse fato, bastante previsível, supera em mais de 50% o segundo destaque, que se refere aos uniques similares a genes ou proteínas de outros organismos quaisquer (7,7%). Ainda com relação aos uniques similares à seqüências depositadas em bancos de dados, 40% foram classificados nas principais categorias funcionais celulares dos COGs (FIG.37). Esse dado é significativamente inferior à média de 60 a 80% relatada por Tatusov e cols. (2001) para proteínas anotadas de novos genomas. No entanto, como a glândula de veneno de L. intermedia é um órgão bastante especializado e responsável, primeiramente, pela produção de componentes tóxicos para o ataque e a defesa dessa aranha, a menor porcentagem observada não nos surpreende, sendo até mesmo esperada. Como sabemos, muitas funções biológicas não são compartilhadas pelos organismos. De acordo com 134 Aubourg e Rouzé (2001), por exemplo, mais de 60% dos genes anotados do vegetal Arabidopsis são planta-específicos, não podendo ser agrupados com genes de organismos animais. Neste ponto também, vale alertar que neste trabalho a classificação dos uniques obtidos nas principais categorias dos COGs refere-se apenas à questão de homologia isofuncional. Nenhum estudo de biologia evolutiva foi realizado a fim de determinar se estes produtos gênicos eram ortólogos ou parálogos: termos que se referem à divergência de seqüências associada, respectivamente, à especiação ou à duplicação gênica, e que não têm implicações funcionais implícitas ou explícitas (JENSEN, 2001). Mesmo que este trabalho tivesse sido realizado, sabemos que a questão da ortologia (compartilhar ancestral comum) é pertinente somente para um número limitado de genes (AUBOURG E ROUZÉ, 2001). Quanto à distribuição dos uniques nas principais categorias dos COGs, nossos resultados (FIG.37) estão de acordo com aqueles apresentados por Silvestre (2005) em sua tese. Essa autora, recentemente nos mostrou que transcritos da glândula de veneno de Lasiodora sp. classificados em categorias funcionais dos COGs apresentaram, como em nosso trabalho, uma maior proporção de seqüências na categoria de processos celulares, um número intermediário na categoria de processamento e armazenamento de informações e uma menor proporção na categoria de metabolismo. Adicionalmente, para que tivéssemos uma visão geral do transcriptoma da glândula de veneno da aranha marrom L. intermedia, os 40% dos uniques classificados nas principais categorias dos COGs foram ainda detalhadamente subdivididos e contabilizados na TABELA 6. No que se refere aos resultados aí apresentados, gostaríamos de destacar a grande porcentagem de uniques similares a genes ou proteínas das subcategorias “Tradução, estrutura ribossomal e biogênese” (26,5%) e “Mobilidade celular e secreção “ (11,8%). Na subcategoria “Tradução, estrutura ribossomal e biogênese”, fora um unique similar a um fator de alongamento da tradução, todos os oito demais uniques identificados foram similares a proteínas ribossomais. De acordo com Nelson e Cox (2000), estima-se que organismos eucarióticos possuem, aproximadamente, oitenta diferentes proteínas ribossomais, o que sugere que neste trabalho identificamos apenas 10% das proteínas ribossomais de L. intermedia. No entanto, considerando-se que somente um órgão, ou seja, a glândula de veneno deste organismo, foi estudado, podemos dizer que o resultado obtido está dentro do esperado. Já na subcategoria “Mobilidade celular e secreção”, três uniques foram identificados como similares a troponinas e um à tropomiosina, proteínas indispensáveis ao processo de contração muscular. Vale então lembrar que, como observado por Dos Santos e cols. (2001), a glândula de veneno de L. intermedia é rica em fibras musculares, responsáveis 135 pela contração desse importante órgão e, conseqüentemente, pela expulsão do veneno acumulado em suas vesículas secretórias, o que justifica plenamente a identificação desses clones em nosso estudo. Além da classificação de 40% dos uniques nas principais categorias dos COGs, 60% foram classificados em categorias funcionais exclusivas para toxinas (FIG.38). Dentre eles, 22% destacam-se como uniques similares a toxinas hemolíticas e dermonecróticas (esfingomielinase de L. boneti, de L. laeta, P1 e P2 de L. intermedia, LiD1 e proteína dermonecrótica de L. similis). Novamente, como mencionado na INTRODUÇÃO desta tese, ressaltamos que a ação tóxica do veneno desta aranha está justamente relacionada à estas atividades, o que torna este resultado bastante esperado. Outro dado interessante observado nas FIGS. 37 E 38, refere-se ao fato de que grande parte dos uniques anotados (cerca de 47,5%) não têm sua função bem caracterizada. Nesta questão verificamos a grande utilidade da genômica funcional e das metodologias tradicionais para a caracterização funcional dos genes em seus processos biológicos. De acordo com Stein (2001), dos 1.709 genes de H. influenzae, 5.600 de levedura, 13.000 de mosca, 19.000 de verme, 24.000 de grãos de mostarda e 30.000 de humano, apenas uma pequena fração corresponde a proteínas conhecidas e bem caracterizadas. Somando-se a isto, de acordo como o mesmo autor, mais da metade das proteínas preditas em eucariotos pertence a novas famílias protéicas, o que destaca o quanto ainda temos a aprender e a realizar na pesquisa básica. Finalmente, no que se refere à modelagem molecular dos uniques, o mesmo espaço desconhecido aparece: de todos os clones analisados, somente vinte tiveram seus modelos sugeridos por homologia. A elucidação experimental da estrutura tridimensional de proteínas é um processo lento e tecnicamente desafiador (SCHWEDE E COLS., 2000). Assim, poucas são as proteínas cujas estruturas foram elucidadas. Isto é exemplificado pelo fato de que enquanto o banco de dados SWISS-PROT / TrEML possuí mais de 230.000 seqüências, o PDB possui menos de 10.000 cadeias protéicas de diferentes seqüências. Á medida que este número for aumentado, a estrutura espacial das proteínas será cada vez mais utilizada na anotação funcional. Na verdade, as comparações convencionais de seqüências são limitantes para a identificação de proteínas homólogas e o estudo de estruturas 3D permite o aumento da sensibilidade, uma vez que a estrutura protéica é muito mais conservada que a seqüência primária (BRENNER, 1998). Além disso, de acordo com Schwede e cols. (2000), menos de 5% dos modelos gerados pelo SWISS-MODEL são inapropriados devido a erros introduzidos por algoritmos de alinhamento de seqüências. Deste modo, acreditamos que os modelos obtidos para os uniques similares a esfingomielinases (FIG.39) e a proteases (FIG.40) são bastante acurados. Suas partes mais confiáveis são aquelas 136 compartilhadas com seus moldes de modelamento [as estruturas cristalográficas obtidas por difração de raios-X das moléculas: esfingomielinase I de L. laeta (cadeia A) (MURAKAMI E COLS., 2005) e zinco endoprotease da bactéria Streptomyces caespitosus (cadeia A) (KURISU E COLS., 2000) (FIG.41)] e os loops não conservados são as principais fontes de imperfeições do modelo. Através da simples comparação visual podemos perceber também a grande semelhança entre os uniques modelados e as estruturas cristalográficas usadas como referência. A fim de que os mecanismos de ação das proteínas aqui identificadas sejam analisados, experimentos com proteínas recombinantes e/ou nativas isoladas do veneno total de L. intermedia devem ser posteriormente realizados. A análise sistemática das seqüências de nucleotídeos e de aminoácidos das toxinas da glândula de veneno desta aranha também será extremamente importante, pois as informações geradas serão dados fundamentais para a elucidação dos mecanismos moleculares evolutivos responsáveis pela grande diversidade de toxinas presentes não só em L. intermedia, mas também em outras aranhas e artrópodes. Frente a tudo isso, é muito importante destacar que toda esta parte do trabalho não poderia ser sido realizada sem os recursos proporcionados pela bioinformática. Esperamos, desta forma, ter contribuído para o aumento do conhecimento científico sobre a biologia da glândula de veneno da aranha-marrom L. intermedia. Parte 2 7.2 ATIVIDADE INSETICIDA DO VENENO BRUTO DE L. intermedia Diversos organismos vivos e, em especial, várias espécimes de artrópodes como escorpiões e aranhas desenvolveram, ao longo do processo evolutivo, toxinas cujos alvos fazem parte de vias metabólicas importantes ou essenciais de seus predadores e/ou presas. Essas toxinas são inseticidas naturais presentes nos venenos desses animais e muitas delas têm sido purificadas e caracterizadas química e funcionalmente (CORZO E COLS., 2002; QUISTAD E COLS., 1991; FIGUEIREDO E COLS., 1995, 2001). Neste trabalho, nós investigamos a letalidade do veneno bruto de Loxosceles intermedia para insetos-praga altamente destrutivos que atacam raízes, caules e folhas de um amplo espectro de plantações de vegetais, frutas e cereais: as larvas Agrotis ipsilon (milho, tabaco, tomate, etc), Anticarsia gemmatalis (soja), Diatraea saccharalis (cana-deaçúcar), Spodoptera cosmioides (soja, maçã, feijão, etc) e S. frugiperda (milho). A dose letal 50 (DL50) encontrada para essas larvas foi de 1.80 ± 0.30, 0.15 ± 0.035, 1.39 ± 0.34, 1.92 ± 0.71 e 0.90 ± 0.11 µg.g-1, respectivamente. Esses valores aproximam-se dos parâmetros de 137 toxicidade previamente descritos para os venenos de Paracoelotes luctuosos, Agelenopsis aperta e Hololena curta (0.44 - 1.26 µg.g-1, em larvas do tabaco S. litura - CORZO E COLS., 2000), algumas das aranhas cuja atividade inseticida de seus venenos vêm sendo bastante estudada nos últimos tempos. Embora diferenças quanto às espécies de insetos e às metodologias utilizadas tornem as comparações difíceis, sugerimos que o veneno de L. intermedia possui toxicidade similar ao dos venenos citados e que, entre as larvas usadas, as lagartas A. gemmatalis e S. cosmioides são - consecutivamente - as mais sensíveis e as mais resistentes ao veneno testado. 7.3 ANÁLISE DE SIMILARIDADE DAS TOXINAS LITX1, LITX2 E LITX3 DE L. intermedia Com relação à busca de peptídeos inseticidas, recentemente nosso grupo isolou três toxinas do veneno de L. intermedia com ação letal para larvas de S. frugiperda. As seqüências de aminoácidos e de nucleotídeos dessas toxinas foram obtidas e analisadas, sendo as mesmas denominadas: LiTx1, LiTx2 e LiTx3 (CASTRO, 2003). Para determinar as possíveis funções específicas dessas toxinas, nós consideramos a similaridade entre suas seqüências e a de outras toxinas inseticidas de aranhas como um indicador de supostos meios de ação para os peptídeos descritos. Na árvore de similaridade construída, a toxina LiTx3 agrupou-se com os grupos mais internos formados por toxinas reconhecidamente ou aparentemente ativas em canais de Na+ (CORZO E COLS., 2000; GRISHIN, 1999; ADAMS E COLS., 1989). Essa toxina foi também intimamente relacionada à δ-paluIT3: uma toxina inseto-específica isolada do veneno da aranha P. luctuosos (CORZO E COLS., 2000). Por sua vez, as toxinas LiTx1 e LiTx2 ficaram em uma posição intermediária entre o grupo das toxinas que atuam em canais de Na+ e todas as ω toxinas, as quais atuam em canais de Ca2+ (WANG E COLS., 1999; ADAMS E COLS., 1990). Uma fraca indicação de proximidade entre as toxinas LiTx1, LiTx2 e as toxinas ativas em canais de Na+ foi observada. No entanto, o suporte estatístico não foi suficientemente significativo para maiores conclusões (valores de bootstrap inferiores a 50%). Para ilustrar a ação de toxinas em canais de sódio - possível mecanismo de ação das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 - podemos citar a toxina AaIT do escorpião Androctonus australis Hector, a Aga-IV da aranha A. aperta e a AsII da anêmona Anemonia sulcata. Todas elas atuam em canais neuronais e causam efeitos excitatórios pré-sinápticos. A toxina AaIT, após injeção em larvas de inseto, induz uma fase transitória curta de contração seguida por uma paralisia flácida prolongada. Este mecanismo de ação envolve a despolarização da membrana axonal e mudanças na amplitude e cinética da corrente de 138 sódio, o que gera o encurvamento dorsal da larva, o aumento de sua irritabilidade e a redução de seu hábito alimentar (BONNING E HAMMOCK, 1996; GERSHBURG E COLS., 1998; ZLOTKIN E COLS., 2000). Acreditamos que a expressão das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 em sistema baculovírus possibilitará, em um futuro próximo, a realização de trabalhos que apontem ações semelhantes às acima relatadas. 7.4 SUBCLONAGEM intermedia DO DNA DAS TOXINAS LITX1 E LITX2 NO VETOR DE TRANSFERÊNCIA PSYNXIV DE VI+ X3 L. DO SISTEMA DE EXPRESSÃO BACULOVÍRUS Um dos problemas associados à exploração da diversidade bioquímica dos venenos de artrópodes é a disponibilidade limitada desse importante material biológico. Sua obtenção em quantidade suficiente para a realização de ensaios biológicos é um processo bastante difícil. Normalmente, para o gênero Loxosceles, necessita-se de um grande número de espécimes, pois o volume total de veneno por aranha é mínimo: cerca de 4 µl, contendo de 30 a 100 µg de proteínas (SAMS E COLS., 2001). Além disso, a purificação dos componentes destes venenos é uma técnica muitas vezes demorada e de baixo rendimento. No presente trabalho, por exemplo, a pequena quantidade das proteínas purificadas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 não nos permitiu a realização de ensaios eletrofisiológicos para a sua melhor caracterização funcional. Com os avanços da ciência, técnicas como a do DNA recombinante possibilitaram a clonagem dos genes responsáveis pela produção destas toxinas e, a partir daí, sua expressão em outros organismos. Desta forma, uma vez sugeridos os possíveis alvos de ação das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3, partimos para a produção recombinante dessas toxinas através da subclonagem de seus DNAs no vetor de transferência pSynXIV VI+ X3 do sistema de expressão baculovírus. Este trabalho de clonagem e expressão - vale destacar foi dividido com a então estudante de mestrado Flávia Galindo Silvestre, ficando a mesma responsável pela continuidade da pesquisa com a toxina LiTx3. Em nossa metodologia, a passagem inicial das toxinas LiTx1 e LiTx2 pelo vetor pCR2.1-TOPO foi realizada simplesmente como um meio de aumentar a eficiência da digestão pela enzima EcoR I dos sítios de restrição inseridos nas extremidades destas toxinas através da técnica de PCR. Já a escolha do vetor pSynXIV VI+ X3 derivado do baculovírus Autographa californica multiple nucleopolyhedrovirus (AcMNPV) deveu-se ao fato desses baculovírus possuírem seu genoma completamente seqüenciado (AYRES E COLS., 1994), apresentarem um espectro de hospedeiros um pouco menos restrito do que 139 os demais baculovírus (sendo capazes de infectar mais de vinte e cinco espécies de insetos – ADAMS E McCLINTOCK, 1991), apresentarem uma grande variedade de vírus parentais disponíveis para uso e - principalmente - serem facilmente propagados em linhagens celulares prolíficas como as derivadas das larvas S. frugiperda, Trichoplusia ni, Mamestra brassicae e Estigmene acrea (WICKHAM E COLS., 1995). O baixo número de clones recombinantes selecionados após a PCR de colônias realizada com um iniciador da toxina (LiTx1 ou LiTx2) e outro do vetor (pSynXIV VI+ X3) - 1 clone pSynXIV VI+ X3/LiTx1 e 2 clones pSynXIV VI+ X3/LiTx2 - pode ter como causa uma série de fatores, dentre os quais podemos citar: 1) a não desfosforilação do vetor pSynXIV VI+ X3 após sua linearização, o que pode ter permitido a sua recircularização e, conseqüentemente, evitado a ligação dos insertos das toxinas LiTx1 e LiTx2; 2) a utilização de somente um sítio de restrição para a clonagem, o que possibilita a inserção invertida dos insertos das toxinas LiTx1 e LiTx2 no vetor pSynXIV VI+ X3 e 3) a viabilidade das bactérias eletrocompetentes utilizadas. Apesar do pequeno rendimento observado, todos os clones seqüenciados mostraram seqüências de nucleotídeos corretas e códons de iniciação e de terminação na posição desejada, o que demonstra que a subclonagem do DNA da região madura de LiTx1 e LiTx2 no vetor pSynXIV VI+ X3 foi realizada com sucesso. 7.5 PRODUÇÃO DE VÍRUS RECOMBINANTES LITX1 E LITX2 EM SISTEMA BACULOVÍRUS O sistema de expressão escolhido foi o sistema eucarioto baculovírus: um sistema capaz de realizar modificações pós-traducionais e que, aumenta consideravelmente as chances de produção de proteínas recombinantes fiéis às proteínas nativas, inclusive quanto à sua conformação, e, portanto, provavelmente ativas. A expressão de toxinas de artrópodes biologicamente ativas neste sistema já foi realizada por diversos autores (HERRMANN E COLS., 1995; ZLOTKIN E COLS., 2000; BURDEN E COLS., 2000; ELAZAR E COLS., 2001). Volynski e cols. (1999), para exemplificar, expressaram a α-latrotoxina do veneno da viúva negra em sistema baculovírus, sendo a proteína recombinante idêntica à nativa quanto à massa molecular, ligação a receptores, registros eletrofisiológicos e toxicidade em camundongos. Neste trabalho, as linhagens celulares de insetos utilizadas para a expressão ou propagação dos vírus recombinantes vSynLiTx1 e vSynLiTx2 foram, predominantemente, as Sf9 de S. frugiperda e as Tn5B de T. ni. As células Sf9 são as mais utilizadas nos estudos realizados com o sistema baculovírus (cerca de 95%) e são também facilmente manipuladas 140 em laboratório. Já as células Tn5B apresentam capacidade de expressão muitas vezes maior do que células Sf9 (WICKHAM E COLS., 1992, 1993, 1995; SILVESTRE, 2003). Além dessas características, ambas são linhagens recomendadas para a propagação de baculovírus do tipo AcMNPV e dobram de população, em média, a cada 21 horas. Essas células são também bastante versáteis, adaptando-se a vários parâmetros de crescimento celular e apresentando níveis de expressão superiores ao de outras linhagens utilizadas para baculovírus diversos (WICKHAM E COLS., 1995). Várias propriedades das linhagens celulares influenciam a produção de proteínas recombinantes: sua adaptabilidade ao meio de cultura e suplementos utilizados, seu tempo de proliferação, sua susceptibilidade à infecção e também sua capacidade de suportar a manipulação laboratorial (WICKHAM E COLS., 1995). Frente a estas informações, podemos dizer que o sucesso obtido na expressão das proteínas recombinantes LiTx1 e LiTx2 no sistema baculovírus está diretamente relacionado à escolha das linhagens celulares Sf9 e Tn5B para a realização dos procedimentos citados. A verificação da presença dos vírus e das toxinas recombinantes LiTx1 e LiTx2 nas culturas celulares foi comprovada pela visualização de corpos poliédricos nas células infectadas com os baculovírus geneticamente modificados e também pelos resultados observados nas técnicas de PCR, RT-PCR, SDS-PAGE e Western Blotting. A observação das bandas de expressão das toxinas recombinantes LiTx1 e LiTx2 (7,4 e 7,9 kDa, respectivamente) deu-se em 72 hs após a infecção, o que está de acordo com a cinética de expressão tardia característica do promotor híbrido forte PsynXIV. Como já relatado, é neste período que as proteínas responsáveis pela oclusão das partículas virais são geradas (BLISSARD E ROHRMANN, 1990). Vale esclarecer também, que o uso exclusivo do precipitado celular das culturas infectadas com os vírus recombinantes vSynLiTx1 ou vSynLiTx2 para análise da expressão das toxinas LiTx1 e LiTx2, através do gel SDS-PAGE 15% e da técnica de Western Blotting, deve-se ao fato de nossas construções terem sido realizadas sem a inserção do peptídeo sinal secretor das toxinas ou do baculovírus, o que impede que as mesmas sejam enviadas para o meio de manutenção das culturas celulares. A escolha de construções sem peptídeo sinal ocorreu para que vislumbrássemos o nível de expressão dessas toxinas dentro das células, uma vez que trabalhos anteriores realizados em nosso laboratório e que utilizaram construções distintas e que continham o peptídeo sinal de toxinas de aranhas ou o peptídeo sinal da proteína gp67A do baculovírus AcMNPV mostraram um baixo nível de proteínas detectáveis nos precipitados e também nos sobrenadantes celulares das culturas infectadas com os vírus recombinantes (CARDOSO, 2002). Resultados semelhantes foram verificados em estudos realizados por Eshaghi e cols. (2004), onde o uso do peptídeo sinal ou seqüência líder reduziu o nível de expressão da proteína recombinante de interesse. 141 O reconhecimento das toxinas recombinantes LiTx1 e LiTx2 pelos anticorpos antitoxinas inseticidas, na técnica de Western Blotting, deixou claro também a capacidade dessas células de inseto expressarem e processarem as referidas toxinas. 7.6 BIOENSAIO COM OS VÍRUS RECOMBINANTES VSYNLITX1 E VSYNLITX2 Com relação ao bioensaio realizado com os vírus recombinantes vSynLiTx1 e vSynLiTx2, observamos que o vírus vSynLiTx1 apresentou uma ação letal baixa às larvas quando administrado via subcuticular e ação nula quando administrado via dieta alimentar. Neste último caso, assim como o meio de manutenção TC100 e o vírus selvagem AcMNPV utilizados como controles - o vírus vSynLiTx1 não causou a morte de nenhuma das larvas testadas durante o tempo observado. Já o vírus vSynLiTx2 foi letal a todas as dez larvas testadas quando administrado via injeção subcuticular e apresentou ação letal mediana quando administrado via dieta alimentar. Desta forma, neste trabalho nós podemos identificar o vírus vSynLiTx2 e a via de administração do tipo injeção subcuticular como sendo mais eficazes em promover ação letal às larvas de S. frugiperda. No entanto, vale destacar que a ação letal deste vírus, mesmo sendo administrado via injeção subcuticular, apresentou-se num tempo demasiadamente longo, matando as larvas num tempo mínimo de 4 dias e máximo de 6 dias. O que, de qualquer maneira, ainda supera a ação letal do vírus selvagem AcMNPV, que - nestas mesmas condições - só foi capaz de matar 3 larvas no 7° dia após a injeção. Estes resultados são semelhantes aos obtidos por Silvestre (2003) para o vírus recombinante vSynLiTx3 e indicam uma maior eficiência inseticida dos baculovírus recombinantes quando comparados ao vírus selvagem. Resultados similares também foram apresentados por Szolajska e cols. (2004) que observaram uma redução no tempo médio de sobrevida de larvas S. frugiperda infectadas por baculovírus recombinantes (que produziam uma neurotoxina de formiga) em 25 horas quando comparado com vírus não modificados. De acordo com os mesmos autores, este ganho de tempo é considerável se lembrarmos que o período de alimentação das larvas S. frugiperda estende-se por mais de 10 dias; o que - na infecção com o baculovírus selvagem - é diminuído para 7 dias e com o baculovírus recombinante, para 5 a 6 dias. Ao nosso ver, no entanto, a eficácia inseticida relativamente baixa aqui encontrada para os vírus recombinantes vSynLiTx1 e vSynLiTx2 pode ser explicada por uma série de fatores. Primeiro, pelo fato de que lagartas do gênero Spodoptera, embora susceptíveis ao baculovírus AcMNPV, sejam 1000 vezes mais resistentes à esta infecção quando comparadas à lagartas da espécie T.ni, por exemplo. De acordo com Clem E Clarke (2002), lagartas Spodoptera após cinco dias de infecção com o vírus AcMNPV - período médio de 142 morte por infecção com baculovírus selvagens - apresentam somente 50% de hemócitos infectados, o que corrobora a menor susceptibilidade deste gênero à infecção por vírus do tipo AcMNPV. Prikhod´ko e cols. (1998), de forma semelhante, também mostraram que a eficiência inseticida dos baculovírus é hospedeiro-dependente. Em seu trabalho, lagartas S. frugiperda foram mais susceptíveis a um dos baculovírus recombinante por eles construídos (contendo a toxina inseticida µ-Aga-IV da aranha Agelenopsis aperta) do que lagartas T. ni. Segundo, pelo fato de que, como acontece com muitos patógenos de insetos, muitos hospedeiros dos baculovírus desenvolvem a chamada imunidade de maturação aos MNPVs, o que significa que a concentração letal média de NPVs por S. frugiperda aumenta de acordo com a idade da larvas. Enquanto para larvas do 1° instar essa concentração é de 1 a 16 corpos de oclusão, para larvas do 4° instar é de 20000 (FUXA, 2004). Uma vez que as larvas utilizadas em nossos bioensaios pertenciam ao 3° e 4° instar, este fenômeno também deve ser considerado. E finalmente, por existirem ainda, relatos de que muitas vezes os vírus deixam gradativamente de ser infectivos ao seu hospedeiro após passagens consecutivas por culturas celulares (CORY & BISHOP, 1995). Este, teoricamente, não seria o caso dos vírus vSynLiTx1 e vSynLiTx2, uma vez que foram pouco manipulados. No entanto, é importante estar atento a esta questão ao se iniciar um programa de amplificação destes vírus in vivo, e de injeção direta em larvas. Devido a dificuldades diversas com relação à obtenção de diferentes espécies de larvas em diferentes estágios de maturidade, disponibilidade de espaço físico e adequação de condições ambientais controladas, a realização de novos bioensaios não foi possível. Desta maneira, experimentos futuros que utilizem espécies de lagartas e estágios de desenvolvimento mais susceptíveis poderão gerar resultados mais informativos sobre a eficácia inseticida dos vírus recombinantes aqui produzidos. 7.7 IDENTIFICAÇÃO DE NOVAS TOXINAS INSETICIDAS DO VENENO DE L. intermedia Como comentado nos itens 5.8 e 6.7 desta tese, perante os resultados acima discutidos para os vírus recombinantes vSynLiTx1 e vSynLiTx2, a caracterização e identificação de novas toxinas inseticidas no veneno de L. intermedia foi realizada dentro do grupo das frações 35 a 40 previamente obtidas por nosso grupo e caracterizadas como possuidoras de atividade dermonecrótica e também de ação inseticida (CASTRO, 2003). Inicialmente, a fim de verificar se o grupo das frações 35 a 40 de L. intermedia poderia induzir hemólise complemento-dependente, cada uma delas foi incubada com eritrócitos humanos (VIDE ITEM 5.8.1). A atividade hemolítica das frações 35 a 38 foi 143 evidente e seu forte efeito nos eritrócitos utilizados é compatível com aquele encontrado para proteínas de ação dermonecrótica pertencentes ao veneno de L. intermedia (TAMBOURGI E COLS., 1995; 1998b; 2000). Este resultado reforça a caracterização destas frações como frações dermonecróticas e sugere que mais de um componente do veneno esteja envolvido aos danos causados aos eritrócitos, como também observado por Cunha e cols. (2003) e Guilherme e cols. (2001). Outro procedimento realizado a fim de melhor caracterizarmos as frações 35 a 40 obtidas por fracionamento do veneno de L. intermedia foi a eletroforese. Esse ensaio tem por objetivo determinar o peso molecular aparente das proteínas contidas em uma mistura e/ou o grau de pureza das frações. Em todas as frações testadas, verificamos bandas de, aproximadamente, 31 a 35 kDa na eletroforese em gel de poliacrilamida SDS. Esse valor corresponde ao peso esperado para toxinas da família dermonecrótica das aranhas do gênero Loxosceles (BARBARO E COLS., 1992, 1994, 1996a e b; FEITOSA E COLS., 1998; TAMBOURGI E COLS., 1998a e b; GUILHERME E COLS., 2001; KALAPOTHAKIS E COLS., 2002), o que sustenta o resultado acima apresentado. Vale destacar ainda que os componentes dermonecróticos dos venenos de diferentes aranhas Loxosceles são distintos, embora homólogos, o que caracteriza as chamadas isoformas (CUNHA E COLS., 2003). De acordo com Machado e cols. (2005) cerca de onze possíveis isoformas de loxnecroginas (proteínas dermonecróticas da aranha L. gaucho) de, aproximadamente, 30-32 kDa foram detectadas por espectrometria de massa. Tal número de isoformas para uma única atividade tóxica pode ser devido a uma adaptação evolutiva para que as aranhas obtenham o máximo sucesso tanto em matar suas presas quanto em defender-se de predadores (MACHADO E COLS., 2005). Em nosso trabalho, outras bandas, de peso molecular aparente entre 10 e 50 kDa, foram também observadas no gel de poliacrilamida, o que indica que nenhuma das frações 35 a 40 estava pura. No método de Western Blotting, novamente bandas de, aproximadamente, 31 a 35 kDa foram fortemente detectadas por reatividade com anticorpos anti-toxina-dermonecrótica conjugados à peroxidase (F I G .57), o que sugere - mais uma vez - a presença de diferentes proteínas dermonecróticas nestas frações. Outras bandas, desta vez, de peso molecular aparente entre 7.6 e 132 kDa também foram observadas nas mesmas frações devido à reações cruzadas. De acordo com Barbaro e cols. (1994, 2005), as toxinas de 32-35 kDa são os componentes mais imunogênicos dos venenos das aranhas Loxosceles e, conseqüentemente, os que apresentam maior reatividade cruzada, o que justifica o fato relatado. As frações 39 e 40, que não apresentaram atividade hemolítica significativa, foram também reconhecidas no Western. Uma possibilidade a ser sugerida é a de que estas 144 frações contenham isoformas inativas de esfingomielinases. Ramos-Cerrilo e cols. (2004), por exemplo, mostraram que de três isoformas de L. boneti, duas apresentaram atividade esfingomielinásica e dermonecrótica e outra, apesar de bastante similar às demais, não apresentou qualquer atividade. Pretel e cols. (2005) e Tambourgi e cols, 1998b também identificaram esfingomielinases inativas para as aranhas L. adelaida e L. intermedia, respectivamente. Desta maneira, esses estudos validam nossa hipótese de isoformas inativas. Com relação ao seqüenciamento de proteínas realizado para alguns dos peptídeos das frações 35, 36 e 37, como esperado, identificamos toxinas dermonecróticas já descritas na literatura: a proteína dermonecrótica LiD1 (KALAPOTHAKIS E COLS., 2002) e a esfingomielinase SMAse P2 (TAMBOURGI E COLS., 1998b), ambas da aranha L. intermedia. Corroborando esta descoberta, anteriormente havíamos sugerido que a atividade inseticida do grupo das frações 35 a 40 não era decorrente da ação de proteínas neurotóxicas, mas sim da ação de proteínas relacionadas ao efeito dermonecrótico do veneno, uma vez que a morte rápida das larvas de S. frugiperda injetadas com essas frações caracterizava-se pela decomposição quase imediata das mesmas (CASTRO, 2003). Como as aranhas são organismos predadores quase que exclusivamente de insetos (aproximadamente 37000 espécies descritas até o ano de 2000), não é de se estranhar que os venenos de aranhas possuam enzimas relacionadas à atividade inseticida. Eskafi E Norment (1976), entre outros estudos (NORMENT E SMITH, 1968; NORMENT E VINSON, 1969), mostraram que mudanças morfológicas como a lise de células epiteliais do intestino, da membrana peritrófica, de células musculares, da epiderme e de proteínas de células adiposas eram evidentes em larvas de Musca domestica e Heliothis virescens mordidas por Loxosceles reclusa e que enzimas como proteases, lipases e esterases eram bastante ativas nestas larvas. Considerando-se então que as proteínas identificadas (LiD1 e SMAse P2) são provenientes das frações que anteriormente demonstraram possuir ação inseticida cerca de 80 vezes mais eficiente que a das frações do grupo das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 (CASTRO, 2003) e que a proteína LiD1, além disso, foi identificada e caracterizada por nosso grupo, decidiu-se pela produção recombinante desta última através do sistema de expressão baculovírus. A utilização de enzimas e não somente de toxinas neurotóxicas como ferramentas no combate a pragas vem sendo, há algum tempo, também descrita. Hammock e cols. (1990), por exemplo, inseriram o gene da esterase do hormônio juvenil no genoma do baculovírus Autographa californica Multiple Nucleopolyhedrovirus (AcMNPV), a fim de que as larvas infectadas por esses vírus tivessem sua capacidade alimentar diminuída. Desse modo, a 145 utilização da proteína LiD1 na construção de bioinseticidas geneticamente modificados pode ser bastante promissora. 7.8 SUBCLONAGEM DO DNA DA TOXINA LID1 DE L. intermedia NO VETOR DE TRANSFERÊNCIA TM PFASTBAC 1 DO SISTEMA DE EXPRESSÃO BACULOVÍRUS BAC-TO-BAC A proteína dermonecrótica 1 de L. intermedia - a LiD1 - é expressa na glândula de veneno desta aranha e pertence à família das proteínas dermonecróticas, cujos membros são encontrados em várias aranhas do gênero Loxosceles. Esta proteína foi caracterizada por seqüenciamento de DNA (KALAPOTHAKIS E COLS., 2002) a partir de uma biblioteca de cDNA da glândula de veneno de L. intermedia. A seqüência de aminoácidos deduzida a partir do clone então obtido revelou uma proteína madura de aproximadamente 31 kDa e com um pI de 7.37. O seqüenciamento completo do cDNA também revelou a existência de uma região codificadora para um peptídeo sinal, um pró-peptídeo e também uma região 3’ não traduzida de 218 nucleotídeos. A proteína LiD1, além disso, foi expressa em fusão com a proteína beta-galactosidase em sistema bacteriano, o que resultou na proteína recombinante recLiD1. Esta proteína recombinante apresentou propriedades imunológicas importantes, sendo fortemente reconhecida por anticorpos anti-toxinas dermonecróticas e sendo também capaz de gerar anticorpos reativos contra proteínas dermonecróticas nativas isoladas do veneno de L. intermedia. Como a principal ação do veneno das aranhas Loxosceles é a formação de uma lesão dermonecrótica em suas vítimas (BARBARO, 1996a) e como grande parte dos seus componentes são justamente as esfingomielinases com atividade dermonecrótica (BARBARO E COLS., 2005; ARAÚJO E COLS., 2003; FEITOSA E COLS., 1998; KALAPOTHAKIS E COLS., 2002; PEDROSA E COLS., 2002; SILVEIRA E COLS., 2002; TAMBOURGI E COLS., 1995, 1998a e b, 2000, 2002; VEIGA E COLS., 1999, 2000), julgamos que para a expressão da proteína dermonecrótica LiD1 em células de inseto, tais culturas deveriam mostrar-se - primeiramente - resistentes ao veneno bruto de L. intermedia. Nos ensaios realizados com este veneno nas linhagens celulares Tn5B e Sf9 nenhuma modificação significativa na morfologia e crescimento dessas células foi observada. Domingos e cols. (2003), de maneira semelhante, observaram que o veneno de L. gaucho, apesar de induzir modificações morfológicas significativas em macrófagos de ratos em cultura, não alterou a proliferação ou taxa metabólica das células Tn5B e Sf9. Somando-se a este relato, Veiga e cols. (2001) também apresentaram resultados similares utilizando, no entanto, veneno de L. intermedia em células endoteliais de coelho. 146 Verificada a resistência das células Tn5B e Sf9 ao veneno de L. intermedia, partiu-se então para a subclonagem da proteína LiD1 no vetor de transferência pFastBacTM 1. Novamente em nossa metodologia (do mesmo modo como realizado para as toxinas LiTx1 e LiTx2), a passagem inicial da toxina LiD1 pelo vetor pGEM -T Easy teve como único objetivo o aumento da eficiência da digestão pela enzima BamH I dos sítios de restrição inseridos nas extremidades desta toxina através da técnica de PCR. Já a troca do vetor pSynXIV VI+ X3 pelo vetor pFastBacTM 1, do sistema de expressão Bac-to-Bac, deveu-se ao fato desse novo sistema possuir algumas vantagens em relação ao sistema utilizado para as toxinas LiTx1 e LiTx2, o que será discutido no próximo item desta tese. Neste ponto, é importante destacar que o vetor pFastBacTM 1 também é derivado do baculovírus AcMNPV, o que faz com que este apresente as mesmas vantagens já citadas para o vetor pSynXIV VI+ X3 (VIDE ITEM 7.4). O baixo número de clones recombinantes selecionados após a PCR realizada com um iniciador da toxina (LiD1) e outro do vetor (pFastBacpol) - somente 2 clones - pode ter como causa os mesmos fatores discutidos para os clones obtidos na subclonagem das toxinas LiTx1 e LiTx2 no vetor pSynXIV VI+ X3 (VIDE ITEM 7.4). Mais uma vez, no entanto, apesar do pequeno rendimento observado, os clones seqüenciados mostraram seqüências de nucleotídeos corretas e códons de iniciação e de terminação na posição desejada, o que demonstra que a subclonagem do DNA da região madura de LiD1 no vetor pFastBacTM 1 foi realizada com sucesso. 7.9 PRODUÇÃO DE VÍRUS RECOMBINANTES LID1 EM SISTEMA BACULOVÍRUS O sistema Bac-to-Bac utiliza transposição sítio específica em bactérias E. coli (VIDE ITEM 5.9.10) e permite, assim, a rápida geração de baculovírus recombinantes. Com este sistema é possível isolar os DNAs bacmídeos recombinantes de colônias selecionadas DH10BacTM do DNA viral não-recombinante parental (como o DNA vSynVI- gal), o que elimina a necessidade de múltiplas rodadas de purificação pela técnica de diluição seriada dos clones recombinantes. Além disso, este sistema produz altos títulos virais já na transfecção inicial e as células transfectadas podem ser rapidamente analisadas quanto à expressão da proteína recombinante. Estas propriedades reduzem o tempo de identificação e de purificação dos vírus recombinantes de 4 a 6 semanas (período médio da metodologia convencional) para 7 a 10 dias (ANDERSON E COLS., 1995). Em nosso laboratório, adicionalmente, a expressão da toxina Tx3-6 da aranha Phoneutria nigriventer, ativa em canais de cálcio, foi realizada com sucesso no mesmo sistema (CARDOSO, 2002). Desta forma, todos estes aspectos motivaram nossa opção pela utilização do sistema Bac-to-Bac para expressão da proteína LiD1 no presente trabalho. 147 Novamente, as linhagens celulares de inseto utilizadas para a análise do vírus recombinante foram as Sf9 e as Tn5B (VIDE ITEM 7.5). Aqui, vale ressaltar a importância da manutenção das condições ótimas de temperatura, pH e osmolaridade dessas culturas celulares. De acordo com De Andrade e cols. (2005), por exemplo - que realizaram um estudo com o objetivo de analisar a relação estrutura-função das esfingomielinases - as estruturas secundárias destas proteínas são afetadas pela acidificação ou alcalinização do meio de cultivo, não preservando sua estrutura em pH altamente ácido ou alcalino. Essas mudanças conformacionais são irreversíveis. Os mesmos autores, além disso, mostraram que altas temperaturas também promovem o desenovelamento dessas proteínas (80°C), o que - conseqüentemente - altera sua atividade tanto dermonecrótica quanto hemolítica. A verificação da presença dos vírus e da toxina recombinante LiD1 nas culturas celulares foi comprovada pelos resultados observados nas técnicas de PCR, SDS-PAGE e Western Blotting. A observação da banda de expressão da toxina recombinante LiD1, de aproximadamente 31 kDa, deu-se após 72 hs de infecção das culturas celulares, o que está de acordo com a cinética de expressão tardia de proteínas que se encontram sob o controle do promotor da poliedrina do vírus AcMNPV presente no vetor pFastBacTM 1 (O’REILLY E COLS., 1992). Mais uma vez, verificou-se a presença da banda de expressão exclusivamente no precipitado celular da cultura infectada com o vírus recombinante. Isto, devido ao fato de que nossa construção não foi realizada com nenhum peptídeo sinal secretor. Os motivos para a ausência deste peptídeo sinal em nossas construções já foram discutidos. No entanto, um outro problema relacionado à utilização de peptídeos sinais secretores - ainda não comentado - refere-se à questão das proteases inerentes ao sistema de expressão baculovírus (IKONOMOU E COLS., 2003). Essas proteases podem ser produzidas pelas células de inseto após a infecção por baculovírus - como uma resposta ao estresse sofrido, podem ser geradas a partir do próprio DNA viral durante o ciclo de infecção ou podem também ser liberadas após lise celular. No caso da produção de proteínas não secretadas, como foi feito para as toxinas LiTx1, LiTx2 e LiD1, estaríamos protegendo-as parcialmente desta questão. O problema da proteólise pode ser exacerbado em meios de manutenção livres de soro, como o Sf900II utilizado para a linhagem Sf9. De acordo com Ikonomou e cols. (2002), proteases são continuamente secretadas para estes meios de manutenção durante o crescimento das células de inseto. Estratégias para contornar este problema incluem uma grande preocupação com as condições de manutenção e armazenamento das culturas celulares: nível de oxigênio dissolvido (CRUZ E COLS., 1999), pH (IKONOMOU E COLS., 2002; GOTOH E COLS., 2001a), etc. Outra prática, comumente realizada, é a adição de inibidores de protease (EDTA, PMSF, etc) nos sobrenadantes das culturas celulares infectadas com baculovírus (GOTOH E COLS., 2001a; 148 2001b; GROSCH E HASILIK, 1998). Uma vez superado o problema da proteólise, não devemos eliminar a perspectiva de realizarmos construções que utilizem o peptídeo sinal. Como sabemos, muitas SMases selvagens são expressas como zimogênios, ou seja, como proteínas inativas que precisam ter seus peptídeos sinais clivados para se tornarem ativas. Isto pode ser um mecanismo de controle temporal e circunstancial para a ativação de atividades potencialmente tecido-destrutivas (BINFORD E COLS., 2005). O entendimento da função do peptídeo sinal na qualidade da proteína expressa é fundamental para sua futura produção em larga-escala. Com relação à análise da expressão de LiD1 pela técnica de Western Blotting, acrescentamos ainda que, apesar das reações cruzadas observadas, o reconhecimento pelos anticorpos anti-toxina dermonecrótica da banda diferencial de 31 kDa correspondente à toxina LiD1 - foi claramente percebido no precipitado celular da cultura infectada com o vírus recombinante. Fato que deixa claro a capacidade das células Tn5B expressarem e processarem a referida toxina. Finalmente, bioensaios com o baculovírus recombinante LiD1 deverão ser realizados em larvas de S. frugiperda e em lagartas da soja, Anticarsia gemmatalis através de trabalho em colaboração com o doutor em entomologia Flávio Moscardi do Laboratório de Patologia de Insetos da Embrapa - Centro Nacional de Pesquisa de Soja, Londrina, Paraná. A cultura da soja, como sabemos, tem grande importância econômica no Brasil. Nosso país é, atualmente, o segundo maior produtor mundial, perdendo somente para os Estados Unidos (Dados da produção mundial 2004 - FAO/FAOSTAT), o que faz com que pesquisas nesta área sejam de grande interesse. 7.10 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa continuada na busca e identificação de toxinas com atividade letal para insetos-praga e também no melhoramento do sistema de expressão baculovírus justificamse pelo seu grande potencial. Nas últimas décadas, vários pesquisadores têm demonstrado a potenciação da ação natural destes vírus através da inserção de toxinas exógenas em seu genoma (HUGHES E COLS., 1997; GRISHIN E COLS., 1999; BURDEN E COLS., 2000; ZLOTKIN E COLS., 2000). Diversos pedidos internacionais de patentes existem nesta área. Para exemplificar: a patente PI9305782-2 descreve uma família de peptídeos inseticidas da aranha Tegenaria agrestis (JOHNSON E COLS., 1998) expressa em baculovírus; a patente CA2005658 refere-se a uma toxina inseticida do escorpião Leiurus quinquestriat us hebraeus (EITAN E COLS., 1990), também funcionalmente expressa em sistema baculovírus; já a patente US4879236 expedida em 1989 para Smith e Summers descreve a 149 geração de um vetor de expressão do sistema baculovírus e a metodologia de produção de toxinas inseticidas recombinantes para o combate de pragas de importância agrícola. No presente trabalho, três novos baculovírus recombinantes foram gerados: os baculovírus vSynLiTx1, vSynLiTx2 e Bac-to-BacLiD1. Os baculovírus, como já comentado, possuem uma gama de hospedeiros bastante restrita e a habilidade de penetrar nos tecidos internos dos insetos-alvo através da alimentação (HOOVER E COLS., 1996), sendo, portanto, considerados os vetores ideais para a administração de toxinas inseticidas em pragas agrícolas (GERSHBURG E COLS., 1998). Acreditamos que o uso criterioso dos baculovírus geneticamente modificados apresentar-se-á, em seu devido tempo, como uma ferramenta de valioso auxílio para o controle de insetos-praga, possibilitando vantagens semelhantes aos dos inseticidas químicos, mas sem - no entanto - causar danos ao meio ambiente e aos seres humanos. É claro que para sua aplicação comercial no campo como um produto bioinseticida diversas questões de biosegurança devem ser primeiramente avaliadas (RIBEIRO E COLS., 1998). Existiriam efeitos desses vírus em espécies não-alvo? Qual a possibilidade de que ocorram eventos de recombinação genética envolvendo o gene heterólogo inserido, uma vez que este é um importante mecanismo para aumentar a diversidade genotípica de populações virais e que pode acontecer entre genótipos de baculovírus que infectam uma mesma larva? (DE SOUZA E COLS., 2002) Qual a persistência desses vírus no meio ambiente? Há transmissão vertical ou transmissão horizontal dos vírus? Muitas destas perguntas estão sendo submetidas à pesquisa por vários grupos da Europa, Estados Unidos e também, Brasil. Estudos com diversos baculovírus (CpGv, LdMNPV, AcMNPV) geneticamente modificados propostos como uma alternativa biológica para o controle de insetos-praga, como a lagarta Cydia pomonella (que ataca principalmente maçã, pêra, marmelo e noz européia) e as lagartas Lymantria dispar e A. gemmatalis (que atacam a soja), estão sendo testados (MILLER, 1995; HOOVER E COLS., 1996). Heinz e cols. (1995), por exemplo, mostraram que nenhum efeito adverso foi detectado em dois predadores generalistas da larva Heliothis virescens - inseto-alvo do baculovírus recombinante AcMNPV que expressava a neurotoxina inseticida AaIT do escorpião A. australis Hector - após os mesmos terem alimentado-se da larva lepdóptera previamente infectada. O mesmo aconteceu com a abelha Apis mellifera quando injetada com baculovírus AcMNPV recombinantes ou não. O comportamento, fecundidade e desenvolvimento de colônias de vespas Polistes metricus alimentadas com baculovírus recombinantes também não foram influenciados (McNITT E COLS., 1995). Ainda quanto à possibilidade de efeitos em espécies não-alvo, de modo geral, é bem estabelecido que os baculovírus não são infectivos para vertebrados ou plantas e - mesmo entre os insetos - seu espectro de hospedeiros é limitado à ordem de onde foi isolado. Desta 150 maneira, as únicas espécies em risco quanto à liberação dos baculovírus recombinantes seriam outros lepidópteros não-alvo (CORY, 2000). Os AcMNPV, especificamente, podem infectar mais de 13 subfamílias. No entanto, apenas uma pequena porção de espécies pertencentes a estas subfamílias são altamente susceptíveis ao AcMNPV (BISHOP E COLS., 1995). Além disso, o espectro de hospedeiros avaliados em condições de laboratório é comumente muito mais amplo do que o aparente espectro ecológico encontrado em campo e, também, outros fatores como o comportamento desses hospedeiros e a presença de outros patógenos competitivos, reduzem a probabilidade de infecção de espécies não-alvo (CORY, 2000). Com relação à questão da transmissão vertical, Fuxa e cols. (2002) testaram diferentes baculovírus - recombinantes ou não - em larvas de T. ni. As larvas infectadas por estes vírus e que sobreviveram foram mantidas até a idade adulta e, então, acasaladas, sendo a segunda geração de insetos investigada quanto à presença de infecção viral. Verificou-se que os baculovírus não recombinantes foram transmitidos à prole das larvas numa taxa ≤ 15.4%. Já os baculovírus recombinantes, que expressavam a toxina acima referida - AaIT, foram transmitidos para somente 1 dos 7258 insetos da nova geração. Deste modo, a transmissão vertical dos vírus recombinantes é bastante improvável de ser mantida em organismos não infectados diretamente. Outra característica dos baculovírus recombinantes que os tornam bons bioinseticidas é que estes vírus, ao contrário dos vírus selvagens (FUXA, 2004), não são persistentes no ecossistema. O aumento na velocidade do tempo de morte, causado pelas proteínas heterólogas expressas nos baculovírus modificados, limita sua tendência de reciclagem no ambiente. Isso ocorre porque menos poliedros são produzidos quando comparado à produção do vírus selvagem, ou seja, há uma menor progênie viral em larvas infectadas com os vírus recombinantes do que em larvas infectadas com os vírus selvagens. Portanto, tanto a produtividade quanto a transmissão são bastante reduzidas nos baculovírus que expressam toxinas inseto-específicas (CORY, 2000; INCEOGLU E COLS., 2001). Mesmo assim, para melhorar ainda mais a questão de segurança, as tecnologias baseadas em baculovírus podem ainda contar com a deleção de fatores de infectividade, o que bloqueia a transmissão destes vírus na natureza (GUTIERREZ E COLS., 2005). Por fim, acreditamos que os baculovírus recombinantes aqui gerados permitirão a expressão em larga escala das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiD1 de L. intermedia. Isso possibilitará a realização de estudos de caracterização dessas toxinas inseticidas quanto aos seus mecanismos de ação, permitirá a análise do significado funcional das diferentes composições de aminoácidos observadas e também a sua utilização como ferramentas na pesquisa básica para estudos de canais iônicos e outros processos fisiológicos. 91 6. RESULTADOS Parte 1 6.1 ANÁLISES BIOINFORMÁTICAS DE TRANSCRITOS DA GLÂNDULA DE VENENO DE Loxosceles 6.1.1 intermedia OBTENÇÃO DAS SEQÜÊNCIAS Dos 800 clones seqüenciados, somente 457 apresentaram seqüências de boa qualidade, ou seja, maiores do que 150 nucleotídeos e com menos de 4% de ambigüidade (N ou X), as quais foram utilizadas em nosso estudo. 6.1.2 TRATAMENTO DAS SEQÜÊNCIAS Dos 457 clones de boa qualidade, 189 tratavam-se do vetor pBK-CMV sem inserto, os quais foram descartados de nosso estudo. 6.1.3 AGRUPAMENTO DAS SEQÜÊNCIAS Dos 268 clones restantes para nosso estudo, 136 (50,75%) não continham seqüências que, quando comparadas entre si, fossem idênticas ou apresentassem regiões similares o suficiente para que fossem reunidas em uma só, sendo chamadas de singlets. Já os outros 132 (49,25%) clones foram reunidos em 33 diferentes agrupamentos ou consensos. 6.1.4 ANOTAÇÃO DOS UNIQUES Dos 169 uniques analisados, 83 (49,1%) não apresentaram similaridade significativa com nenhum gene ou proteína depositados nos bancos de dados utilizados. Dos 86 uniques que apresentaram similaridade, 11 (6,5%) apresentaram similaridade com proteínas de diversos organismos, 27 (16%) apresentaram similaridade com genes/proteínas de L. intermedia, 5 (3%) apresentaram similaridade com genes/proteínas de aranhas do gênero 92 Loxosceles, 1 (0,6%) apresentou similaridade com genes/proteínas de aranhas do grupo Haplogynae, 11 (6,5%) apresentaram similaridade com genes/proteínas de aranhas da subordem Araneomorphae, 7 (4,1%) apresentaram similaridade com genes/proteínas de aracnídeos da ordem Araneae, 2 (1,2%) apresentaram similaridade com genes/proteínas de artrópodes da classe Arachnida, 6 (3,6%) apresentaram similaridade com genes/proteínas de organismos do filo Arthropoda, 2 (1,2%) apresentaram similaridade com genes/ proteínas de organismos venenosos, não pertencentes ao filo Arthropoda, 13 (7,7%) apresentaram similaridade com genes/proteínas de outros organismos quaisquer e 1 (0,6%) apresentou similaridade com o DNA do bacteriófago lambda, o que representa uma contaminação. Estes resultados podem ser visualizados na FIGURA 36. FIGURA 36. Resultado obtido na análise da anotação dos uniques da glândula de veneno de L. intermedia. 93 6.1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS UNIQUES Dos 85 uniques anotados no item acima (o unique que representava uma contaminação com o DNA do bacteriófago lambda não foi incluído), 34 (40%) foram classificados nas principais categorias dos COGs e 51 (60%) em categorias funcionais para toxinas. Para verificarmos a divisão dos uniques em cada uma das categorias dos COGs e das toxinas, gráficos distintos contendo o resultado destas classificações seguem abaixo (FIGS.37 E 38): FIGURA 37. Divisão dos 34 uniques classificados nas principais categorias dos COGs. As principais categorias dos COGs são: processamento e armazenamento de informações, metabolismo, processos celulares e genes pobremente caracterizados. 94 FIGURA 38. Divisão dos 51 uniques classificados em categorias funcionais para toxinas. As categorias funcionais para toxinas são: antagonistas de canais de cálcio, bloqueadoras de canais de sódio, desintegrinas, toxinas hemolíticas e dermonecróticas, inibidoras de canais de potássio, inibidoras de canais de sódio de insetos, predição geral de função e função desconhecida. A divisão detalhada dos 34 uniques da glândula de veneno de L. intermedia classificados nas categorias funcionais dos COGs pode ser visualizada na TABELA a seguir: 95 TABELA 6. Número e porcentagem de genes classificados em cada sub-categoria funcional dos COGs. N° GENES % GENES Tradução, estrutura ribossomal e biogênese Transcrição SUB-CATEGORIA FUNCIONAL DOS COGS 9 - 26,5 - Replicação, recombinação e reparo do DNA 1 2,9 Divisão celular e particionamento cromossômico Modificação pós-traducional, turnover de proteínas e chaperones Biogênese do envelope celular, membrana externa Mobilidade celular e secreção Metabolismo e transporte de íons inorgânicos Mecanismos de transdução de sinais 3 4 1 1 8,8 11,8 2,9 2,9 Produção e conservação de energia Metabolismo e transporte de carboidratos Metabolismo e transporte de aminoácidos Metabolismo e transporte de nucleotídeos Metabolismo de coenzimas Metabolismo de lipídeos Biossíntese, catabolismo e transporte de metabólitos secundários 2 1* 1* - 5,9 2,9* 2,9* - Somente predição de função geral Função desconhecida 7 3 20,6 8,8 Vale destacar que, devido à artificialidade dos grupos de classificação, o unique similar à enzima enolase foi incluído em mais de uma categoria funcional (*), participando das vias de metabolismo e transporte de carboidratos e também de aminoácidos. Além disso, dois outros uniques (5,9%) similares ao fator de coagulação XII não foram incluídos em nenhuma categoria funcional celular, pois pertenceriam à categoria de cascatas de coagulação e complemento do sistema imune, não representada no COGs. 6.1.6 ANÁLISES BIOLÓGICAS DOS UNIQUES CLASSIFICADOS EM CATEGORIAS FUNCIONAIS SUB-CATEGORIAS FUNCIONAIS DOS COGS J - Tradução, estrutura ribossomal e biogênese. Oito uniques similares a proteínas ribossomais foram identificados, cinco representando componentes da subunidade menor do ribossomo e três da subunidade maior. Também nesta sub-categoria, um unique similar a um fator eucariótico de alongamento da tradução foi identificado, o EF-2. Este fator pertence à família de enzimas envolvidas na síntese eucariótica de proteínas. Na fase de alongamento, ele atua na 96 hidrólise de GTP e, além disso, catalisa a translocação de moléculas de peptidil-tRNA do sítio-A para o sítio-P do ribossomo. L - Replicação, recombinação e reparo do DNA. Nesta categoria, um unique similar às proteínas histonas 2A e1B foi identificado. Estas proteínas, como se sabe, pertencem a uma família de proteínas carregadas positivamente e que se ligam fortemente ao DNA, empacotando-o e organizando-o em unidades estruturais denominadas nucleossomos. O - Modificação pós-traducional, turnover de proteínas e chaperones. Um unique similar a uma chaperonina foi identificado. Ele representa a subunidade theta ou proteína 1 do complexo T eucariótico, cuja função de chaperone molecular consiste em auxiliar o enovelamento de proteínas através da hidrólise de ATP. Esta mesma proteína também desempenha um conhecido papel, in vitro, no enovelamento de actina e tubulina: proteínas relacionadas ao citoesqueleto celular. Dois outros uniques foram identificados como similares à enzima miosinase I. Aqui, tivemos a necessidade de incluir estes uniques - de forma adaptada - à classe de turnover de proteínas, uma vez que a miosinase I participa da degradação da proteína muscular miosina e novamente devido à artificialidade dos grupos de classificação. N - Mobilidade celular e secreção. Três uniques foram identificados como similar a troponinas. Cada um deles representando uma das três subunidades de um complexo para regular a contração muscular induzida por cálcio: a subunidade ligante de cálcio (TnC), a inibitória (TnI) e a de ligação a tropomiosina (TnT). Um unique foi identificado como similar a tropomiosina. Esta proteína pertence à família de proteínas presentes em células musculares e que participa de interações entre o complexo troponina-actina, para regular o processo de contração muscular. P - Metabolismo e transporte de íons inorgânicos. Um unique foi identificado como similar à proteína transferrina, cuja função é a ligação e o transporte de ferro, participando de seu metabolismo. 97 T - Mecanismos de transdução de sinais. Um unique foi identificado como similar ao precursor da enzima serino protease nude I da mosca da fruta Drosophila melanogaster. Esta proteína é um componente da via de sinalização extracelular que estabiliza a via dorso-ventral do embrião. Ela, juntamente com as proteínas pipe e windbeute l, ativam a cascata de proteases dentro do compartimento extra-embrionário, o que induz a polaridade dorso-ventral do embrião de Drosophila (HONG & HASHIMOTO, 1995). C - Produção e conservação de energia. Nesta sub-categoria, um unique foi identificado como similar a proteína ADP/ATP translocase 1. Esta enzima é uma proteína integral da membrana mitocondrial, cuja função é catalisar a troca de ADP e ATP através da membrana interna desta organela. Outro unique foi identificado como similar à subunidade III do citocromo C oxidase. Os carreadores de elétrons da cadeia respiratória são organizados em complexos embebidos na membrana interna mitocondrial. O complexo IV, também conhecido como citocromo C oxidase, é um desses complexos, sendo responsável pelo transporte de elétrons do citocromo c para o oxigênio molecular. Sabe-se que a subunidade III deste complexo é essencial para seu funcionamento, embora os mecanismos aí envolvidos ainda não sejam bem compreendidos. G e E - Metabolismo e transporte de carboidratos e de aminácidos. Um unique foi identificado como similar a proteína enolase. Essa enzima participa tanto da glicólise quanto da gliconeogênese, vias de metabolismo de carboidratos. Além disso, também participa da via de biossíntese de fenilalanina, tirosina e triptofano no metabolismo de aminoácidos. R - Somente predição de função geral Foram incluídos nesta sub-categoria, todos os uniques que não puderam ser incluídos nas demais sub-categorias funcionais dos COGs. É importante notar que, embora neste sistema de classificação eles tenham sido incluídos na classe “Pobremente caracterizados”, muitos possuem função bioquímica e molecular plenamente caracterizada. Deste modo, seis uniques foram identificados como similares a proteases, proteinases ou peptidases. Essas proteínas pertencem ao mesmo grupo de enzimas e 98 catalisam a hidrólise de ligações peptídicas covalentes. No caso das serino proteases este mecanismo é baseado no ataque nucleofílico da ligação peptídica alvo por uma serina. Já as metaloproteinases ou metaloendopeptidases são proteínas que contém um metal específico (zinco, por exemplo) permanente associado a suas cadeias de aminoácidos e só assim exercem sua função biológica. Um outro unique foi identificado como similar a uma suposta proteína salivar do ácaro Ixodes scapularis. S - Função desconhecida Por motivos óbvios, a análise biológica dos três uniques classificados nesta subcategoria não foi realizada. CATEGORIAS FUNCIONAIS PARA TOXINAS 1 - Antagonistas de canais de cálcio. Um unique foi identificado como similar ao precursor da conotoxina 10 do molusco Conus capitaneus. Essa toxina pertence à família das omega-conotoxinas que atuam em membranas pré-sinápticas, ligando-se a canais de cálcio sensíveis à voltagem e, desta maneira, bloqueando-os (KAUFERSTEIN E COLS., 2005). Um unique foi identificado como similar a neurotoxina PrTx18C2 da aranha brasileira Phoneutria reidyi. Essa toxina pertence à família das omega-agatoxinas: antagonista de canais de cálcio sensíveis à voltagem. A PrTx18C2 também causa rápida paralisia flácida seguida de morte em, aproximadamente, 10 a 30 min, quando injetada em camundongos (5µg/animal) (RICHARDSON E COLS., 2004). Outro unique foi identificado como similar ao precursor da neurotoxina Tx3-1 da aranha brasileira P. nigriventer. Essa toxina foi caracterizada como antagonista de canais de cálcio do tipo L e também causa paralisia nos membros posteriores e diminuição gradual do movimento e da agressividade de camundongos (5µg/animal) (CORDEIRO E COLS., 1993). E mais um unique foi identificado como similar ao precursor da omega-agatoxina 4B da aranha Agelenopsis aperta, uma toxina antagonista de canais de cálcio tipo P sensíveis à voltagem que paralisa sua presa através do bloqueio pré-sináptico da transmissão neuromuscular em insetos (ADAMS E COLS., 1993). 99 2 - Bloqueadoras de canais de sódio. Um unique foi identificado como similar ao precursor da neurotoxina Tx2-6 da aranha brasileira P. nigriventer. Essa toxina bloqueia canais de sódio, causa coceira, lacrimação, hipersalivação, suor e agitação em camundongos. Tudo isso, seguido de paralisia de seus membros tanto anteriores quanto posteriores e morte a uma dose de 0,79 mg/animal. É também letal a larvas e adultos de mosca doméstica (CORDEIRO E COLS., 1992). 3 - Desintegrinas. Um unique foi identificado como similar a uma desintegrina da serpente Sistrurus miliarius barbouri, também conhecida como inibidor da ativação da agregação plaquetária. Essa proteína inibe a interação do fibrinogênio com receptores plaquetários expressos no complexo glicoprotéico IIb-IIIa, pois se liga a eles pela superfície das plaquetas e, assim, impede a agregação plaquetária induzida por ADP, trombina, fator de ativação plaquetária e colágeno (SCARBOROUGH E COLS., 1991). 4 - Hemolíticas e dermonecróticas. Onze uniques foram identificados como similares a esfingomielinases (SMAses) ou proteínas dermonecróticas de aranhas do gênero Loxosceles, o que inclui: dois uniques para a proteína 3 e um para a proteína 1, ambas similares a SMAses de L. boneti (RAMOSCERRILLO E COLS., 2004), um unique para a SMAse I de L. laeta (PEDROSA E COLS., 2002), dois uniques para a SMAse P1 e um para a SMAse P2 de L. intermedia (TAMBOURGI E COLS., 1998b), três uniques para a proteína dermonecrótica 1 (LiD1) da mesma aranha (KALAPOTHAKIS E COLS., 2002) e um unique para a proteína dermonecrótica de L. similis (SILVESTRE E COLS., 2005). Estas proteínas apresentam atividade fosfodiesterase D sobre esfingomielina, hidrolisando estas moléculas em ceramida fosfato e colina. Além disso, as SMAses, em geral, também induzem hemólise complemento dependente e causam dermonecrose. 5 - Inibidoras de canais de potássio. Um unique foi identificado como similar a heteroscodratoxina 1 (HmTx1) da tarântula Heteroscodra maculata. Essa toxina inibe canais de potássio (Kv2.1, Kv2.2, Kv4.1, Kv4.2 e Kv4.3) e, além disso, induz convulsões, espasmos, tremores e morte em camundongos injetados intracérebroventricularmente (ICV) (ESCOUBAS E COLS., 2002). 100 6 - Inibidoras de canais de sódio em insetos. Um unique foi identificado como similar a toxina ACTx-Hi:OB4219 da aranha migalomorfa Hadronyche infensa. Essa toxina pertence à família das mu-agatoxinas, inibe canais de sódio de insetos (por similaridade) e apresenta duas formas devido à isomerização cis-trans no resíduo Pro-30 (ROSENGREN E COLS., 2002). Dois uniques foram identificados como similares a neurotoxina Magi 3 da aranha migalomorfa Macrothele gigas. Essa toxina contém cinco ligações dissulfeto, inibe canais de sódio de insetos, causa paralisia temporária em larvas de lepdópteros quando injetados com 10,3 nmol/g e não é tóxica a camundongos quando injetada intracranialmente a 20 pmol/g (CORZO E COLS., 2003). 7 - Somente predição de função geral. Foram incluídos nesta categoria, todos os uniques que não puderam ser incluídos nas demais categorias funcionais para toxinas. Todas possuem ação conhecida, no entanto, os mecanismos responsáveis por estas atividades permanecem desconhecidos. Desta maneira, um unique foi identificado como similar ao alergeno 5 do veneno da vespa Vespula squamosa, um antígeno que causa reação alérgica em humanos (HOFFMAN, 1993). Dois uniques foram identificados como similares ao precursor da huwenlectina I da aranha migalomorfa Ornithoctonus huwena. Essa proteína pertence à família da huwentoxina I. Além disso, é capaz de aglutinar eritrócitos humanos e de camundongos e apresenta toxicidade bastante baixa para mamíferos e insetos (LIANG E PAN, 1995). Outro, como similar ao precursor da huwentoxina III (HwTx-III) também da aranha O. huwena. Esta toxina não aglutina eritrócitos, paralisa de modo reversível baratas e pode aumentar a contração muscular produzida pela estimulação de seus nervos. Sua dose tóxica para gafanhotos é de 192,95 ± 120,84 mg/kg (HUANG E COLS., 2003). Um unique foi identificado como similar à LiTx1, dois à LiTx2 e dezoito à LiTx3, todas toxinas inseticidas da aranha marrom L. intermedia, altamente letais para a lagarta-docartucho do milho S. frugiperda (CASTRO, 2003). Um unique foi identificado como similar à neurotoxina PkTx1A da aranha P. keyserlingi. Esta é uma neurotoxina letal que causa paralisia e morte em camundongos dentro de 4 a 6 min após injeção intracerebroventricular em doses de 1,5 ug por camundongo (RICHARDSON E COLS., 2004). Um unique foi identificado como similar a plectoxina VI da aranha Plectreurys tristis. Esta proteína é caracterizada como uma potente toxina que paralisa e/ou mata presas como 101 a larva lepdóptera H. virescens, a larva da beterraba S. exigua e a larva do tabaco M. sexta (QUISTAD E SKINNER, 1994). Um unique foi identificado como similar à toxina CsTx 9 da aranha Cupiennius salei. Esta toxina causa paralisia em drosófilas e apresenta LD50 de 3,12 pmol/mg neste inseto (SCHALLE E COLS., 2001). 8 - Função desconhecida. Os uniques identificados como similares à proteína LIM 1 de Apis mellifera e à estrutura semelhante a toxina AgorTx-B7b da aranha Agelena orientalis (KOZLOV E COLS., 2004) não apresentam função descrita. 6.1.7 MODELAGEM MOLECULAR DOS UNIQUES Vinte uniques puderam ser modelados através de homologia. Os arquivos PDB projetados pelo programa SWISS-MODEL foram visualizados através do programa Deep View / Swiss-Pdb Viewer (http://www.expasy.org/spdbv/). Este programa nos permitiu apresentar os modelos tridimensionais dos uniques em questão em estruturas sólidas de fita e bastão, com suas α-hélices coloridas em vermelho, folhas-β em azul e outras estruturas em amarelo. Manuais e tutoriais podem ser encontrados na página de download do programa (http://www.expasy.org/spdbv/). Embora alguns uniques tenham apresentado similaridade < 0,001 com seqüências do banco de dados PDB, seus modelos tridimensionais não foram gerados pelo servidor. Este fato ocorreu devido ao não preenchimento dos seguintes critérios: 1) valor P de busca do BLAST: < 0,00001, 2) nível global de identidade de seqüência: > 25%, 3) comprimento mínimo do modelo projetado: 25 aa. Deve-se ressaltar ainda que, como nossa área de concentração refere-se à biologia molecular de toxinas de aranhas, apresentaremos aqui somente os modelos obtidos para os uniques similares a esfingomielinases (proteína 3 de L. boneti, SMAse I de L. laeta, proteína dermonecrótica de L. similis e LiD1, SMAse P1 e SMAse P2 de L. intermedia - FIG.39) e a proteases (blástula protease 10 do ouriço-do-mar Paracentrotus lividus - LEPAGE E COLS., 1992 - e um representante das zinco metaloproteinases: astacina 37 - SUZUKI E COLS., 2004 - FIG.40), proteínas que como já vimos (item 1.4.2) são importantes componentes do veneno das aranhas Loxosceles. Os modelos dos demais uniques (similares a ADP/ATP translocase 1, alergeno 5 do veneno da vespa Vespula squamosa, chaperonina, citocromo, enolase, fator de coagulação, proteína LIM 1, miosinase, proteínas ribossomais L18 e L37 e zinco metaloproteases astacina 6 e 39) estão disponíveis caso solicitado. 102 (A) (B) (C) (D) (E) (F) FIGURA 39. Modelos tridimensionais dos uniques identificados como similares a esfingomielinases: (A) - Proteína 3 de L. boneti, (B) - SMAse I de L. laeta, (C) - proteína dermonecrótica de L. similis, (D) - LiD1, (E) - SMAse P1 e (F) - SMAse P2, as três últimas de L. intermedia. Os modelos estão apresentados em estruturas sólidas de fita e bastão com suas α-hélices coloridas em vermelho, folhas-β em azul e outras estruturas em amarelo. 103 (A) (B) FIGURA 40. Modelos tridimensionais dos uniques identificados como similares a proteases: (A) - Blástula protease 10 do ouriço-do-mar Paracentrotus lividus e (B) zinco metaloproteinase astacina 37. Os modelos estão apresentados em estruturas sólidas de fita e bastão com suas α-hélices coloridas em vermelho, folhas-β em azul e outras estruturas em amarelo. A título de comparação, são apresentadas a seguir (FIG.41), as estruturas cristalográficas obtidas por difração de raios-X das moléculas: esfingomielinase I de L. laeta (cadeia A) (MURAKAMI E COLS., 2005) e zinco endoprotease da bactéria Streptomyces caespitosus (cadeia A) (KURISU E COLS., 2000). (A) (B) FIGURA 41. Estruturas cristalográficas obtidas por difração de raios-X: (A) Esfingomielinase I de L. laeta (cadeia A) (MURAKAMI E COLS., 2005) e (B) - zinco endoprotease da bactéria S. caespitosus (cadeia A) (KURISU E COLS., 2000). Os modelos estão apresentados em estruturas sólidas de fita e bastão com suas α-hélices coloridas em vermelho, folhas-β em azul e outras estruturas em amarelo. 104 Parte 2 6.2 ATIVIDADE INSETICIDA DO VENENO BRUTO DE L. intermedia A DL50 observada para as larvas de Agrotis ipsilon, Anticarsia gemmatalis, Diatraea saccharalis, Spodoptera cosmioides e S. frugiperda foi de 1.80 ± 0.30 µg.g-1, 0.15 ± 0.035 µg.g-1, 1.39 ± 0.34 µg.g-1, 1.92 ± 0.71 µg.g-1 e 0.90 ± 0.11 µg.g-1, respectivamente. 6.3 ANÁLISE DE SIMILARIDADE DAS TOXINAS LITX1, LITX2 E LITX3 DE L. intermedia FIG. 42. Árvore de similaridade UPGMA com as toxinas LiTx1, LiTx2, LiTx3 e outras toxinas inseticidas de aranhas com mecanismos de ação conhecidos. Os números colocados nos nódulos da árvore representam valores de bootstrap. µ-agatoxinas (SKINNER E COLS., 1989), ω-agatoxina (ADAMS E COLS., 1990), ω-atracotoxinas (WANG E COLS., 1999), curtatoxinas (STAPLETON E COLS., 1990), δ-palutoxinas IT (CORZO E COLS., 2000). 105 A árvore de similaridade obtida neste item (FIG.42) apresentou bom suporte estatístico: bootstrap >50% em geral, o que significa que das várias combinações possíveis para o agrupamento das seqüências analisadas, a combinação observada em cada nódulo da árvore apresentada foi obtida em mais de 50% das 500 réplicas aleatórias realizadas pelo software MEGA 2.1. Para maiores detalhes sobre a interpretação da árvore obtida vide DISCUSSÃO (item 7.3). 6.4 SUBCLONAGEM intermedia DO DNA DAS TOXINAS LITX1 E LITX2 NO VETOR DE TRANSFERÊNCIA PSYNXIV L. DE VI+ X3 DO SISTEMA DE EXPRESSÃO BACULOVÍRUS A amplificação do DNA da região madura de LiTx1 e de LiTx2 foi realizada com sucesso como pode ser verificado pela presença de bandas de aproximadamente 216 e 225 pb, no gel de agarose 1%, correspondentes aos produtos resultantes das PCRs que utilizaram os iniciadores de LiTx1 (FIG.15) e LiTx2 (FIG.16), respectivamente. Os controles negativos, conforme a expectativa, não apresentaram tais bandas de amplificação (FIG.43). As purificações a partir do gel de agarose dos DNAs amplificados de LiTx1 e LiTx2 também foram realizadas com sucesso, fato comprovado pela observação das mesmas bandas, anteriormente citadas, em gel de agarose 1% no qual foram aplicados os produtos de purificação obtidos pelo método da guanidina-HCl/sílica descrito no item 5.5.2 (FIG.43). Após a clonagem do produto de PCR de LiTx1 no vetor de clonagem pCR2.1TOPO, bactérias E. coli TOP10F’ transformadas por eletroporação de acordo com o item 5.5.4 receberam o vetor pCR2.1-TOPO contendo o gene de resistência a canamicina, o que permitiu que formassem colônias no meio seletivo LB-ágar/canamicina. Entre 40 colônias testadas, várias continham o inserto da região madura de LiTx1, como verificado pela presença de fragmentos amplificados de aproximadamente 216 pb - idênticos ao fragmento amplificado a partir do controle positivo - no gel de agarose corrido após a PCR de colônias com os iniciadores dessa toxina. O controle negativo não apresentou um produto de amplificação (FIG.44). 106 ERROR: undefined OFFENDING COMMAND: d STACK: [-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -string- -string-string- -string- -string- -string- -string- -string- -null- -null-null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null-null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null- -null-null- -null- -null- -null- ] /Subrs -dictionary/Private -dictionary-dictionaryfalse -filestream-markfalse (./n022004l.pfb) /NimbusMonL-Bold /Courier-Bold -mark/Courier-Bold 1313830 /Courier-Bold /Font /Courier-Bold 151 8. CONCLUSÕES Os resultados obtidos neste trabalho permitem as seguintes conclusões: Parte 1 1) A análise bioinformática de transcritos da glândula de veneno de L. intermedia identificou 169 uniques (136 singlets e 33 consensos). 2) A anotação e classificação dos uniques identificados permitiram uma análise parcial do transcriptoma da glândula de veneno da aranha L. intermedia. Verificou-se que grande parte das seqüências ainda é desconhecida ou pobremente caracterizada e que vários genes, participantes de vias bioquímicas eucarióticas e similares a toxinas (cujas atividades são bastante promissoras do ponto de vista biotecnológico), estão presentes neste importante órgão. Parte 2 3) O veneno bruto da aranha L. intermedia apresenta atividade inseticida (DL 50) similar à das aranhas Paracoelotes luctuosos, Agelenopsis aperta e Hololena curta quando testado nas larvas de interesse agrícola Agrotis ipsilon, Anticarsia gemmatalis, Diatraea saccharalis, Spodoptera cosmioides e Spodoptera frugiperda. 4) As toxinas inseticidas LiTx1, LiTx2 e LiTx3 previamente identificadas por nosso grupo sugerem possível função específica em canais de Na+, função esta, identificada por análise em árvore de similaridade. 5) Através dos ensaios realizados (ensaio hemolítico, SDS-PAGE e Western Blotting), nós confirmamos que as frações 35 a 40 de L. intermedia são constituídas sobretudo de proteínas dermonecróticas. 6) Duas toxinas já descritas na literatura, as toxinas LiD1 e SMAse P2, foram identificadas no grupo das frações 35 a 40 de L. intermedia; frações que apresentaram, em ensaios anteriores, ação inseticida 80 vezes mais eficiente do que a das frações do grupo das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiTx3. 152 7) As seqüências codificantes para as toxinas maduras LiTx1, LiTx2 e LiD1 foram subclonadas com sucesso em vetores de transferência do sistema de expressão baculovírus, como verificado por seqüenciamento automático. 8) A produção dos vírus recombinantes das toxinas LiTx1, LiTx2 e LiD1 também foi realizada com sucesso em sistema baculovírus, como comprovado pela observação das células infectadas (hipertrofia celular, aumento dos vacúolos, baixa proliferação celular e formação de corpos poliédricos quando for o caso) e pela técnica de PCR. 9) As expressões das toxinas maduras de LiTx1, LiTx2 e LiD1 em células de inseto, através de DNAs virais do sistema baculovírus derivados do vírus AcMNPV foram realizadas com sucesso. Estas expressões foram verificadas através das técnicas de RT-PCR (somente para LiTx1 e LiTx2), SDS-PAGE e Western Blotting. 10) No bioensaio realizado com larvas da lagarta-do-cartucho do milho S. frugiperda (Lepdoptera: Noctuidae), os vírus recombinantes LiTx1 e LiTx2 apresentaram uma maior toxicidade inseticida quando comparados ao vírus selvagem, mostrando assim serem mais patogênicos que os vírus selvagens. 153 9. PERSPECTIVAS Parte 1 Com relação à análise bioinformática de transcritos da glândula de veneno de L. intermedia pretendemos, em breve, publicar os dados aqui obtidos. Muitas das seqüências estudadas também deverão ser depositadas em bancos de dados, de modo a se tornarem disponíveis à comunidade científica. A identificação de seqüências similares a toxinas inseticidas de diversas aranhas e com variados mecanismos de ação gera, sem sombra de dúvidas, novos alvos para o desenvolvimento de baculovírus recombinantes - objetivo principal deste trabalho. Parte 2 A perspectiva mais imediata desta parte do trabalho é a realização de bioensaios com os vírus recombinantes vSynLiTx1, vSynLiTx2 e Bac-to-BacLiD1 em larvas de diferentes insetos-praga para a avaliação da patogenicidade desses vírus geneticamente modificados (diminuição do tempo de vida e/ou da capacidade alimentar da lagarta). Esta etapa do projeto será realizada, como já comentado, em colaboração com o Dr. Flávio Moscardi da Embrapa de Londrina (PR) e utilizará a - já preliminarmente avaliada - lagartado-cartucho do milho Spodoptera frugiperda, a lagarta da soja Anticarsia gemmatalis, entre outras. Outra perspectiva refere-se à expressão em grande escala dessas toxinas recombinantes da aranha Loxosceles intermedia no sistema baculovírus. A obtenção das toxinas através da expressão em culturas de células de inseto possibilitará a utilização de tais toxinas inseticidas como ferramentas farmacológicas para estudos básicos sobre seus mecanismos de ação através de estudos eletrofisiológicos, o que ajudará a melhor definir o significado funcional de cada uma delas. Estudos sobre a estrutura destas toxinas recombinantes também poderão ser realizados, o que será um passo importante para a melhor caracterização dessas novas toxinas inseticidas de possível aplicação na agricultura. 154 10. ANEXOS ANEXO A. Código de abreviatura dos vinte aminoácidos das proteínas. ABREVIATURA DE TRÊS ABREVIATURA DE UMA LETRAS LETRA Ácido aspártico Asp D Àcido glutâmico Glu E Alanina Ala A Arginina Arg R Asparagina Asn N Cisteína Cis C Fenilalanina Fen F Glicina Gli G Glutamina Gln Q Histidina His H Isoleucina Ile I Leucina Leu L Lisina Lis K Metionina Met M Prolina Pro P Serina Ser S Tirosina Tir Y Treonina Tre T Triptofano Trp W Valina Val V AMINOÁCIDO 155 ANEXO B. O código genético. 1ª POSIÇÃO EXTREMIDADE 5’ U C A G 2ª POSIÇÃO 3ª POSIÇÃO U C A G EXTREMIDADE 3’ Fen Ser Tir Cis U Fen Ser Tir Cis C Leu Ser Parada Parada A Leu Ser Parada Trp G Leu Pro His Arg U Leu Pro His Arg C Leu Pro Gln Arg A Leu Pro Gln Arg G Ile Tre Asn Ser U Ile Tre Asn Ser C Ile Tre Lis Arg A Met Tre Lis Arg G Val Ala Asp Gli U Val Ala Asp Gli C Val Ala Glu Gli A Val Ala Glu Gli G 156 ANEXO C CROMATOGRAMA Seqüência de nucleotídeos da região madura da toxina AM3651 LiTx1 clonada no vetor pCR 2.1-TOPO . A região do vetor pCR2.1-TOPO está em amarelo, a região madura da toxina LiTx1 em verde. O sítio de restrição EcoR I está sublinhado em azul. Circulado em vermelho, destaca-se o códon de iniciação ATG e em verde o códon de terminação TGA. D Seqüência de nucleotídeos da região madura da toxina AM3640 LiTx2 clonada no vetor pCR 2.1-TOPO . A região do vetor pCR2.1-TOPO está em amarelo, a região madura da toxina LiTx2 em verde. O sítio de restrição EcoR I está sublinhado em azul. Circulado em vermelho, destaca-se o códon de iniciação ATG e em verde o códon de terminação TGA. E Seqüência de nucleotídeos da região madura da toxina AM4295 LiTx1 subclonada no vetor pSynXIV VI+ X3. A região do vetor pSynXIV VI+ X3 está em amarelo, a região madura da toxina LiTx1 em verde. O sítio de restrição EcoR I está sublinhado em azul. Circulado em vermelho, destaca-se o códon de iniciação ATG e em verde o códon de terminação TGA. Vale destacar que a seqüência aparece no cromatograma de maneira complementar e reversa. F Seqüência de nucleotídeos da região madura da toxina AM5154 LiTx2 subclonada no vetor pSynXIV VI+ X3. A região do vetor pSynXIV VI+ X3 está em amarelo, a região madura da toxina LiTx2 em verde. O sítio de restrição EcoR I está sublinhado em azul. Circulado em vermelho, destaca-se o códon de iniciação ATG e em verde o códon de terminação TGA. Vale destacar que a seqüência aparece no cromatograma de maneira complementar e reversa. G Seqüência de nucleotídeos da região madura da toxina TM LiD1 subclonada no vetor pFastBac 1. A região do vetor TM pFastBac 1 está em amarelo, a região madura da toxina LiD1 em verde. O sítio de restrição BamH I está sublinhado em azul. Circulado em vermelho, destaca-se o códon de iniciação ATG. A03 Placa 15 031104