O caminho das artes - Online UNISANTA

Transcrição

O caminho das artes - Online UNISANTA
JORNAL-LABORATÓRIO DO QUARTO ANO DE JORNALISMO DA FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO DA UNISANTA
ANO XVI - N° 127 - OUTUBRO/2011 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - SANTOS (SP)
FOTOS ANA FLORA
O caminho das artes
Santos é o terceiro polo cultural do
País em razão da intensa programação
artística que disponibiliza, durante
todo o ano, a todos os públicos. Conta
com importantes equipamentos
espalhados pela Cidade, como os
teatros Coliseu (alto) e Guarany (à esq.)
e, ainda, o Centro de Cultura Patrícia
Galvão (abaixo), onde se localizam
espaços como o Museu da...
...Imagem e do Som,
Hemeroteca, o Teatro Braz Cubas
e diversas oficinas culturais. Em
Santos, tradição e vanguarda se
juntam ao talento nos campos da
literatura, teatro, cinema, música
e artes visuais, construindo uma
bela trajetória neste caminho
das artes que esta edição do
Primeira Impressão apresenta.
EDITORIAL
Arte viva
Proporcional ao tamanho do
Brasil é a quantidade de manifestações culturais diferentes que se
pode encontrar em cada região
do País. Passando de sul a norte,
cruzamos com costumes diversificados e povos reconhecidos por
suas identidades regionais.
A cultura diz um pouco sobre
cada um, sobre o modo de vida
e as crenças de uma população.
Acreditamos que ela seja tão importante que mereça atenção
sempre especial da mídia constantemente. Por conta disso, as
manifestações artísticas, sejam
elas expressas por meio de telas, músicas, poesias, artesanato,
dança ou interpretação são parte
integrante desta edição do Pri-
meira Impressão.
Para jornalista do Portal R7 e Record News, bons profissionais estão em falta no mercado
Carina Seles
O advento das novas mídias como
a Internet, assim como a última novidade da plataforma, como o Twitter e
o Facebook, fizeram estudiosos pensar
que as mídias clássicas – jornal, rádio
e TV – poderiam acabar. O jornalista
Ricardo Kotscho desmistifica o fato em
uma simples explicação. “As novas mídias, dominadas pela internet, e a velocidade de divulgação dos fatos não
vão acabar com a mídia clássica. O que
pode ajudar para o desaparecimento
da antiga mídia é a falta de conteúdo”, afirmou em palestra aos alunos do
curso de jornalismo da Universidade,
durante a Semana Ceciliana.
Segundo o jornalista que escreve,
atualmente, no portal R7 e Record
News, o que falta para a melhora na
qualidade do jornalismo é o interesse
profissional. “A reportagem jornalística
ainda sobrevive. Com 40 anos de carreira percebi que, nesta profissão, as
maneiras de informar a sociedade sofrem mudanças ao longo dos anos. Isso
só deveria estimular os novos profissionais”, disse. “Às vezes, tenho a impressão
de que já li aquela notícia. Acho que
há falta de criatividade dos profissionais, com a ânsia de mostrar algo que
o concorrente não tem. O profissional
deve se dar conta de quando o assunto
estiver muito batido, deve ser a hora
de ‘mudar o disco’”, completou.
Para ele, os novos desafios são os
mesmos de antigamente, e se resumem
a apurar uma boa informação diversas
vezes e saber como contar de uma maneira que todos entendam. “É o jornalista que faz o veículo de comunicação,
e não o inverso. O impresso tem que se
preocupar, por exemplo, em acrescentar mais detalhes ao invés de apenas
informar, algo que as mídias mais rápidas já fizeram”, afirmou.
O jornalista Ricardo Kotscho já trabalhou como assessor de imprensa em
três das quatro campanhas presidenciais do ex-presidente Lula. Com extensa experiência no campo jornalístico,
ele acredita que não basta ter somente
o domínio da profissão, mas também
conhecimento acumulado. “Atual-
mente, os jornalistas mais velhos estão
ganhando mais, sendo que a tendência
era ganhar menos já que o mercado se
renova. Isso porque falta o mínimo de
conhecimento aos novos profissionais,
algo que os jornalistas mais experientes
carregam”, complementou. “Jornalista
tem que ser movido pelo resultado e
ter a esperança de que seu trabalho
dará bons frutos. Sem trabalhar com
vontade de buscar novas histórias, dificilmente sairão boas notícias”.
Também participaram da 13ª Semana Ceciliana, evento que oferece
anualmente aos alunos do curso de
Artes e Comunicação, a oportunidade de interagir e conhecer mais sobre
o trabalho de importantes profissionais
da área, ao lado de Ricardo Kotscho, o
editor da UOL, Armando Pereira Filho
e o editor de Esportes da Globo.com,
José Gonzalez.
SORAYA SANTOS
Os leitores poderão conhecer
um pouco mais sobre a rica cultura que está abrigada na Baixada Santista, berço de importantes
figuras desse meio. Nas matérias
produzidas pelos alunos do quarto
ano de Jornalismo da UNISANTA,
são expostos pontos importantes
da vida cultural das cidades.
Esperamos que, com as informações aqui publicadas, o leitor
tenha a oportunidade de conhecer melhor o trabalho de quem
mantém a arte viva na região.
“Falta de conteúdo pode acabar
com a mídia clássica”, diz Kotscho
Prata da casa: Duanne Ribeiro
Repórter cultural valoriza
a autopublicação
mor reu, e que a
Kotscho destacou que a reportagem não
s inimigos dela
preguiça e o comodismo são os maiore
DIVULGAÇÃO
eiro
O jornalista Duane de Oliveira Rib
em
C
TC
transformou seu projeto de
realidade, criiando uma revista on line
Arucha Fernandes
A grande concorrência na área de
jornalismo no País pode ser vista pelos
“novos” jornalistas saídos da faculdade
de duas formas. A primeira, com
desânimo, ao tentar ingressar em um
mercado de trabalho tão competitivo.
A outra, como uma oportunidade de
procurar um jeito de se destacar na
multidão. E foi isso que o ex-aluno da
UNISANTA, o jornalista Duanne de
Oliveira Ribeiro fez ao transformar
uma ideia de TCC em uma revista
eletrônica de verdade.
A revista Capitu (www.revistacapitu.
com) surgiu do interesse de Duanne em
cultura e da necessidade de iniciar um
portifólio mais completo para o pósfaculdade. “Acredito que qualquer
jornalista hoje precisa aprender a se
autopublicar. Vale a pena porque você
forma o seu portifólio e ele ajuda a
conseguir um emprego — estamos em
uma área onde uma vaga de trabalho
divulgada na internet recebe uns dois
mil currículos”, diz.
Inicialmente concebida como um
projeto de TCC, a Capitu é uma revista
online de cultura, que traz críticas,
entrevistas e reportagens nos âmbitos
da literatura, música, teatro, cinema,
artes visuais, e outros. A revista rendeu
ainda ao jornalista um prêmio na
categoria revista, do Expocom 2009.
Duanne depois de formado continuou
produzindo conteúdo para revista
e também convidou outras pessoas
para escreverem como colaboradores.
“O site atual foi programado por um
amigo meu e tem uma forma muito
mais elaborada do que o primeiro”,
explica.
Hoje, Duanne, que já trabalhou no
jornal A Tribuna e na Secretaria de
Imprensa de São Vicente, mora em
São Paulo e trabalha no Itaú Cultural,
além de ser colunista do site Digestivo
Cultural. Entre as atividades realizadas
na atualidade também está um curso
de Filosofia na USP.
Quanto aos motivos que fizeram
Duanne optar por esta profissão, o
jornalista afirma que a possibilidade
de causar mudanças por meio da
informação ainda é um grande
incentivo, não só para ele, mas para
a maioria das pessoas que escolhe esse
caminho. “A mudança por ser tanto
no social, com uma reportagem bem
construída que derruba um ministro
corrupto, quanto no individual, com
uma crítica que te faça pensar diferente,
um perfil que te faça entender outro
modo de vida. Acho que esse é o
pensamento de muita gente, mas todo
mundo acaba arrastado pelo dia-adia e deixa isso para lá”, afirma.
Já quanto ao futuro, o jornalista
revela que pretende fazer uma pósgraduação em Comunicação e Gestão
da Cultura na ECA/USP. “A ideia é não
parar de trabalhar com jornalismo,
mas ampliar as atividades. Devo fazer
mestrado e doutorado em Filosofia e
realizar algo em projetos culturais. E
algum dia ainda quero trabalhar na
revista Piauí”, comenta.
Em defesa da reportagem
Manuella Tavares
O jornalista Ricardo Kotscho
proferiu palestra na Universidade
Santa Cecília e criticou a postura
de alguns veículos, estimulando
os jornalistas a serem “menos preguiçosos” e “correr atrás de reportagens e notícias”. Segundo ele, os
profissionais estão acostumados a
ficar na redação e fazer seu trabalho pelo telefone, o que prejudica a
qualidade das informações.
Durante todo o evento, Kotscho
defendeu a reportagem como a principal ferramenta contra a falta de informação. “A internet, o rádio e a TV
informam o que aconteceu, mas cabe
à reportagem contextualizar, mostrar
os porquês”.
De acordo com Kotscho, o jornalista que trabalha com a internet tem mais responsabilidade do
que os que trabalham em veículos
impressos. “Hoje em dia o que se
publica na internet não tem mais
volta. Tem que tomar cuidado
com o que escreve, hoje em dia
falta apuração”.
Outro destaque dado por Kotscho
na conversa é o fato de redações procurarem por pessoas mais velhas, por
elas escreverem mais e terem mais conhecimento acumulado. “Hoje em dia
as redações têm uma mescla de jovens
e mais velhos, mas falta um pouco de
cabelo branco, falta experiência”.
À palestra também estiveram presentes o editor de economia do portal
UOL, Armando Pereira, e José González, do portal Globo Esporte. Eles contaram um pouco do dia a dia deles
nas redações e deram dicas aos futuros
profissionais.
Pereira falou sobre os desafios na
formação do jornalista atualmente.
Segundo ele, o estudante tem de se
preocupar com outras questões, além
das técnicas de texto e reportagem.
“Quanto mais conhecimento acumulado o profissional tiver, melhor. Isso inclui
linguagem de internet, uso de redes
sociais, prática com câmeras digitais”,
comenta.
González também defendeu que
a cultura geral é fator importante no
currículo. “Quanto mais o profissional
souber sobre vários assuntos, melhor.É
importante ter faro para notícia também. Saber apurar”.
Análise do professor
Repórter experiente sempre tem muito o que contar. Por isso, é
fundamental saber selecionar o que há de mais interessante em suas
histórias. Com Ricardo Kotscho, não seria diferente. Mas tanto Carina
Seles como Manuella Tavares souberam recolher o que de melhor disse
o repórter. Como não podia deixar de ser, Kotscho foi ao alvo: conteúdo é fundamental. Mídia que não tiver conteúdo vai perecer. As
alunas-repórteres também acertaram em cheio.
Adelto Gonçalves
EXPEDIENTE - Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação da UNISANTA - Diretor da FaAC:
Prof. Humberto Iafullo Challoub - Coordenador de Jornalismo: Prof. Dr. Robson Bastos – Responsáveis: Prof. Dr. Adelto Gonçalves, Prof. Dr.
Fernando De Maria, Prof. Francisco La Scala Júnior e Prof. Márcio Calafiori. Design gráfico e diagramação: Prof. Fernando Cláudio Peel,
Fotografia: Prof. Luiz Nascimento – Redação, fotos, edição e diagramação:alunos do 4º ano de Jornalismo – Primeira página: Vanessa
Simões – Editora de arte: Joana Ribeiro – Coordenador de Publicidade e Propaganda: Prof. Alex Fernandes - As matérias e artigos contidos
neste jornal são de responsabilidade de seus autores. Não representam, portanto, a opinião da instituição mantedora – UNISANTA
– UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA – Rua Oswaldo Cruz, nº 266, Boqueirão, Santos (SP). Telefone: (13) 3202-7100, Ramal 191 – CEP 11045101 – E-mail: [email protected]
2
Edição e diagramação: Vanessa Simões
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
Santosofereceopçõesculturais
paratodososbolsos
Segundo o secretário de Cultura, Carlos Pinto, a Cidade - que é o terceiro polo cultural do País está preparada para atender a um público de variados gostos e classes sociais
Nathalia Pio
Santos oferece diversos
programas culturais para os
moradores e visitantes, desde
eventos gratuitos até balés
renomados mundialmente.
Algumas de suas promoções
já alcançaram repercussão
mundial, como o Festival
Curta-Santos. Além disso,
seus
dois
tradicionais
teatros – Coliseu e Guarany
– oferecem as melhores
condições tanto para o
público como para os
artistas.
O desfile das escolas de
samba, durante os dias de
Carnaval, continua atraindo
turistas de todas as partes
do Estado e do País e até do
exterior. Em função dessas
e de outras promoções que
ocorrem ao longo do ano,
a Cidade é considerada o
terceiro maior polo cultural
do País, perdendo só para
São Paulo e Rio de Janeiro.
Para traçar um panorama
da cultura, dos investimentos
e da aproximação da
população às artes em Santos,
o Primeira Impressão
conversou com o secretário de
Cultura, Carlos Pinto, em seu
gabinete.
Primeira Impressão —
Como está a agenda cultural
de Santos?
Carlos Pinto — O
primeiro
grande
evento
do ano é o Carnaval. Na
Secretaria de Cultura, o ano
começa em agosto com as
preparações para o Carnaval
do ano seguinte. Logo em
seguida, já temos mostras de
cinema, o Festival Santista
de Teatro (Festa), a Virada
Cultural, o Festival de Cenas
Teatrais (Fescete), o Festival
Curta Santos e a Barca da
Cultura. Além das atividades
que acontecem regularmente
durante o ano todo, como
a Música no Quebra-Mar, o
Baile da Praia e o Cine -Arte
do Posto 4.
PI — As escolas de samba
estão ganhando força nos
SORAYA SANTOS
Prefeitura, as escolas de
Carlos Pinto: graças ao esforço da
rna val
sausa são a principal atração do Ca
últimos seis anos. Em virtude
disso, o Carnaval de rua foi
preterido pela Secretaria?
Carlos Pinto — De
forma alguma. O que
acontece é que até 2005 as
escolas de samba santistas
estavam abandonadas, pois
não havia a preparação
nem a qualidade de hoje. A
Prefeitura foi recuperando
as escolas e, hoje, elas são a
principal atração do nosso
Carnaval. Mas também temos
o Carnabonde, que abre
o Carnaval e atrai grande
público, até pela questão de
reviver o passado.
PI — E os blocos de rua?
Carlos Pinto — Não
existem mais blocos. O que
temos hoje são as bandas de
cada bairro.
PI — Outro evento de
grande repercussão é a Virada
Cultural. Como a Prefeitura
participa da organização?
Carlos Pinto —Estamos
pleiteando maior participação
da Prefeitura na organização do
evento, pois do jeito que está não
funciona. As atrações da última
Virada Cultural foram fracas e
não atraíram o público.
A Cidade é prejudicada,
pois ficamos com o ônus da
coordenação e não podemos
interferir na programação.
PI — Santos sempre
revelou grandes atores e tem
a presença do cinema muito
forte. Como está a produção
da arte no momento?
Carlos Pinto — Produzir
cinema depende muito mais
das empresas do ramo do que
do poder público.
Mas
oferecemos
todo
apoio para gravações na
Cidade. Entretanto, Santos
tem sido muito procurada
para gravação de comerciais
(veja matéria abaixo). Como,
por exemplo, o comercial
da provedora Globo.com
que conta a história de um
porquinho em fuga. Todo ele
foi feito nas ruas e nas praias
da Cidade. Mas o ponto alto é
mesmo o Festival Curta Santos,
que já ultrapassou s fronteiras,
alcançando
repercussão
internacional. Neste ano, um
dos projetos do Curta-Santos
foi levado para a o Festival de
Moçambique.
PI — Entretenimento de
qualidade é sempre muito caro.
O que a Secretaria faz para
aproximar, principalmente, a
população mais carente da
cultura?
Carlos Pinto — A
Prefeitura oferece muitos
eventos culturais gratuitos.
Temos o Festival de Teatro de
Rua, entre outros. Mas, veja
bem, sou contra essa coisa
de oferecer tudo de graça.
Brasileiro tem a tendência
de achar que porque é de
graça é ruim ou tem que ser
do jeito que ele quer. Quando
a
Orquestra
Sinfônica
Municipal se apresenta no
Teatro Coliseu, por exemplo, a
lotação é completa e sempre
há problemas com as pessoas
que deixam para retirar o
ingresso na última hora e
culpam a Prefeitura.
Artista também precisa
sobreviver,
também
paga contas. Por isso, é
complicado oferecer tudo
gratuitamente. De qualquer
modo, sempre temos preços
mais acessíveis. O Balé Russo,
por exemplo, apresenta-se
em São Paulo com ingressos
a R$ 300. Em novembro, o
Balé Russo virá à Santos e
os ingressos custarão R$ 80.
Recebemos caravanas de
todo o País para assistir às
apresentações do Balé.
PI — Como o senhor recebe
as críticas de que há pouco
investimento na cultura?
Carlos
Pinto
–
Sinceramente, ignoro-as. As
três cidades que mais oferecem
eventos culturais no País são
São Paulo, Rio de Janeiro
e Santos. Temos infinitas
opções e sempre algo está
acontecendo. Recuperamos
teatros
importantíssimos
como o Coliseu e o Guarany.
Temos a Hemeroteca, que
é um grande centro de
pesquisa, e os nossos eventos
que envolvem teatro, cinema,
literatura e música.
PI — Se o senhor
fosse
apresentar
Santos
culturalmente a um amigo de
outra cidade ou região, qual
seria o roteiro?
Carlos Pinto – Primeiro,
optaria por levá-lo para
conhecer os teatros Coliseu
e o Guarani, pois são
grandes conquistas. Depois,
apresentaria a Hemeroteca,
que está totalmente ativa e é
fonte para pesquisas nacionais.
Eu o levaria também a um
Baile da Praia e ao CineArte que está todo renovado
sempre oferece programação
de qualidade.
Cenáriodenostalgiaepassadoatraiprodutoras
Carina Seles
Com ruas, casarões e
arquitetura que remetem a
fins do século 19 e início do 20,
o Centro Histórico de Santos
se tornou um dos cenários
preferidos de produtoras
e empresas voltadas ao
entretenimento e gravações
de comerciais, filmes e novelas.
Passear ali proporciona ao
visitante um ar de nostalgia e
passado.
Segundo a jornalista
Cristina Guedes, diretora
da Santos Film Commission
— órgão da Prefeitura que
permite facilitar a produção
de conteúdo audiovisual —,
o Centro Histórico se tornou
atrativo: “Mas a cidade é toda
interessante, pois permite, por
exemplo, que um comercial
onde deva aparecer praia,
história e morro, seja totalmente
gravado aqui, diminuindo
a busca por locações em
diferentes cidades”. A procura
colocou a cidade em maior
destaque, pois 30 segundos
de cada comercial de marcas
de abrangência nacional é
passado no País inteiro pelas
TVs abertas e fechadas.
A Santos Film Commission
completou neste mês de
outubro quatro anos. Segundo
Cristina, sua função é facilitar
no suporte técnico na busca
de locações com produtores
especializados, assim como
agilizar as negociações de
serviços para obter melhores
custos, disponibilizar bancos
de dados com profissionais
de diversos segmentos e
escritório para as equipes
de produção. A empresa
visa fomentar na realização
de obras audiovisuais no
município, como longas e
curtas-metragens,
novelas,
séries,
documentários,
filmes publicitários, sessões
fotográficas, vídeo clipes e
lançamentos de filmes.
Cristina conta que, dentre
as novidades estão a produção
de um filme publicitário da
marca Sadia, um longametragem em andamento
sobre o centenário do Santos
Futebol Clube e outro longa
em fase de pré-produção
sob direção de Tata e Caru
Amaral, que está previsto
para começar a filmar em
dezembro. “Nossa equipe
é pequena, com apenas
cinco funcionários, porém
está agitando o mercado de
audiovisual”, conta. “Há dois
anos, a Santos Film Commission
está entre as cinco melhores do
Brasil”, ressalta.
Segundo ela, o processo
de produção e contrato
funciona, basicamente, com
a procura da produtora.
“Com o projeto, levantamos
algumas opções de locação e
acompanhamos os produtores
em visitas a esses locais.
Após fotografarem o local,
a direção analisa se aprova
ou não. Em caso positivo,
a equipe deixa em nossas
mãos toda a logística que
vão precisar como o contato
com o dono do imóvel, caso
for propriedade particular,
e até interdição do trânsito,
por exemplo”, diz.
Com a participação de
mais de 250 produções na
cidade, entre telenovelas,
filmes, comerciais e sessões
fotográficas,
a
empresa
já trouxe à Cidade uma
movimentação de cerca de
R$ 6 milhões. “A Film funciona
como
uma
engrenagem
importante para alavancar a
nossa economia, pois as equipes
consomem nos hotéis, em
restaurantes, além de aquecer
o mercado cultural, com a
contratação de figuração e
mão de obra como seguranças,
serralheiros,
técnicos
em
iluminação e cenografia”, diz
Cristina Guedes.
Dentre os destaques
estão as gravações da novela
Ciranda de Pedra, do filme
Lula, o filho do Brasil, da
minissérie Um Só Coração,
além de comerciais da
Honda, Nissan, Panasonic,
Riachuelo, Renner, Brahma,
Nike e Olimpikus. “No ar
estão sendo veiculados os
comerciais da Globo.com,
com o porquinho na praia, do
Sedex e da Honda”, finaliza.
Edição e diagramação: Gabriel Martins
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
3
Chorinho no Aquário,
presente para os santistas
Projeto reúne admiradores do estilo e propõe tardes musicais à beira da praia
Manuella Tavares
Uma
iniciativa
da
Prefeitura de Santos, com o
apoio de empresas portuárias,
presenteia
a
população
santista todos os sábados com
um espetáculo musical. O
projeto Chorinho no Aquário
completou em julho quatro
anos de existência, levando o
estilo para quem passa pela
Ponta da Praia.
As apresentações semanais
são realizadas à Praça Luiz La
Scala, aos sábados, a partir das
18 horas. Entre os artistas que já
passaram por lá estão: Demônios
da Garoa, Euclides Marques,
Zezo Ribeiro, entre outros e
também artistas da Cidade.
O presidente do Clube do
Choro de Santos, Marcello
Laranja, explica que não há
uma ligação direta entre o
Clube e a iniciativa, mas sim
apoio ao projeto. “Somos
apenas meros apoiadores da
iniciativa, aliás, com o máximo
prazer. Mas é um evento da
Secretaria de Cultura que
conta com o patrocínio do
Terminal Tecondi-Termares”.
Laranja afirma que o
projeto ajuda na divulgação
do estilo musical, abrindo frente
de trabalho para os músicos
da região. “Além de divulgar
os músicos daqui e também
os de fora também, ajuda a
promover a confraternização
entre as pessoas. É um evento
aberto a todos que gostam de
boa música, sem preconceito
de idade, sexo, cor...”.
O evento tem como objetivo
resgatar o choro, gênero fruto
da mistura de música popular
portuguesa com elementos
da dança de salão europeia e
influências africanas. O estilo
era, inicialmente, apenas
Soraya Santos
uma maneira mais emotiva
e “chorosa” de interpretar
melodias.
Choro para todos
O músico Daniel Simonian,
26 anos, já se apresentou quinze
vezes no projeto Chorinho no
Aquário e conta que o público
é sempre o ponto alto da noite.
“O que mais me entusiasmou
ao tocar lá foi a receptividade
do público.”, diz
“Embora seja chorinho,
muita gente vai apreciar
esse tipo de música que
não é comum nas rádios e
no cotidiano geral atual. Já
que não é tocado nas rádios,
tocamos por lá!”, acrescenta.
Ele começou a ouvir choro
por influência de seu pai, o
também músico José Simonian,
e afirma que começou a gostar
do estilo quando passou a
estudar música de fato. “O
chorinho é um estilo repleto de
elementos musicais estudados
em quase todos os estilos,
desde o clássico ao blues”.
Simonian confessa que
sonha tocar os contrapontos
de sete cordas. “Até hoje
tento tocar esse instrumento,
talvez o fato de conhecer um
grande mestre, o Mauro Alves,
Mauro Sete Cordas, grande
chorão da Baixada, tenha me
direcionado para isso”.
Todas as vezes que o
músico se apresentou no local
foi acompanhando seu pai,
no José Simonian Quarteto,
e ele pretende continuar
a se apresentar. “É sempre
bom tocar lá, depende só da
agenda da Prefeitura”, conta.
A vez das crianças
O Clube do Choro de Santos
completa uma década este
Chorinho no Aquário embala
os fins de tarde aos sábados
ano e são vários os projetos em
desenvolvimento. Um deles é
a Escola de Choro e Cidadania
Luizinho Sete Cordas, que
ensina música às crianças, de
9 a 16 anos, moradoras da
região do Mercado Municipal
de Santos.
Segundo Marcello Laranja,
o desafio da escola é formar
cidadãos e há quatro meses
forma chorões-mirins. Além
disso, quem visita o mercado
tem a oportunidade de
conhecer o trabalho dos
meninos e meninas enquanto
faz compras.
Entre os sucessos tocados pela
criançada, estão “Carinhoso”,
de Pixinguinha, e “As rosas não
falam”, de Cartola. “Muitos
jovens estão se encontrando
- musicalmente falando no Choro, alguns até nunca
ouviram falar, não tinham
conhecimento algum”, diz.
“À medida que foram
estudando e com o incentivo
dos professores identificaramse com a música”, acrescenta.
O Clube do Choro de
Santos é uma Organização
da Sociedade Civil de Interesse
Público (Oscip) reconhecida
pelo Ministério da Justiça,
fundado em 23 de abril de
2002, nas dependências do bar
e lanchonete do Sesc, onde são
promovidos shows, workshops,
palestras, encontros musicais,
cultura em geral.
De acordo com o presidente
do Clube, Marcello Laranja,
existe um estatuto em que são
definidos os cargos que serão
ocupados por conselheiros
e diretores e também a
atividade do clube.
O objetivo do Clube é
preservar e divulgar o choro,
que é o primeiro estilo de
música popular urbana do
Brasil. “Não somos nem estamos
ligados somente ao choro:
abrimos, democraticamente,
espaço para todas as outras
manifestações
musicais
brasileiras”, diz.
Segundo
Laranja,
a
organização
também
é
responsável pela criação do
Dia Estadual do Choro em
homenagem ao compositor
paulista
Aníbal
Augusto
Sardinha, o Garoto. “São
Paulo é o primeiro Estado
da Federação a comemorar
a data. Nosso interlocutor na
Assembléia Legislativa foi o
deputado Paulo Alexandre
Barbosa”, conta.
Personalidades
famosas
do meio já visitaram o Clube.
“Destaco o jornalista Sérgio
Cabral, o designer gráfico,
ex-diretor da Revista Roda
de Choro e atual diretor do
Instituto Jacob do bandolim,
Egeu Laus Simas, os maestros
Gilson Peranzzetta e Zé
Menezes, os bandolinistas
Joel Nascimento, Ronaldo do
Bandolim, Déo Rian e Izaías,
os compositores Elton Medeiros
e Wanderley Monteiro, o
flautista Altamiro Carrilho, o
clarinetista Paulo Moura, os
grupos Choro Rasgado, Fogo
na Roupa, Choro das Três e
Cochichando”, afirma.
Domingo de baile na Fonte do Sapo
Letícia Schumann
Enquanto muitos se
queixam do domingo à
noite, lembrando que logo
vem a segunda-feira, uma
turma muito animada se
reúne na Fonte do Sapo,
no bairro da Aparecida,
em Santos, para dançar ao
som de música ao vivo.
O baile na praia surgiu
em 1999, com o crescimento
de um projeto de dança de
salão que se tornou uma das
opções de lazer da Cidade.
Em 2001, a Fonte do Sapo
passou por uma reforma
para adaptar o piso e
construção do palco móvel
tubular para, então, receber
os moradores e turistas.
De acordo com a Secretaria
de Cultura de Santos, a iniciativa
oferece lazer para todos os que
passam e moram na Cidade,
mas a procura pela terceira
idade é maior que nas outras
faixas etárias.
A aposentada Maria
Honória dos Santos conta
ser uma frequentadora do
baile e sempre está disposta
a dançar. “Eu adoro, é
ótimo ver os amigos, dançar
e lembrar meus tempos de
juventude, nem lembro das
minhas dores no pé e nas
costas”, comenta.
Já a aposentada Maria
Rennó, de 78 anos, frequenta
“
Soraya Santos
Num domingo
decidi ver como
era e adorei. A
partir daí, comecei
a vir todo fim de
semana.
Maria Rennó
Aposentada
Casais animados se unem na
fonte do Sapo para dançar
4
Edição e diagramação: Gabriel Martins
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
”
o baile como terapia. O
marido morreu há 6 anos,
ela entrou em depressão
e uma amiga lhe indicou
o baile. “Passei quatro
anos da minha vida em
luto, minhas amigas que
frenquentam
o
baile
sempre tentavam me levar.
Num domingo, decidi ver
como era e adorei. A partir
daí, comecei a ir todo fim
de semana”.
Maria Rennó também
conta que, frequentando
o local, ela conheceu Célio
José e começou a namorálo, logo em seguida. “O
Célio me chamou a atenção
desde o primeiro dia e
depois de três meses indo
ao baile todo domingo,
comecei
a
namorá-lo.
Estamos morando juntos há
nove meses e continuamos
indo ao baile todo fim de
semana”.
O repertório do baile
é variado, orquestras e
bandas, selecionadas pela
Prefeitura, tocam samba,
rock, MPB, fado, tango e
outros estilos que fazem
a alegria da aposentada
Adélia Elizabeth: “Eu gosto
de ver essa gente bonita
dançando, rever os amigos
e começar a semana com
alto astral”.
Os artistas são escolhidos
pela Prefeitura de Santos.
A partir daí, são encaixados
na agenda. Segundo dados
da Secretaria de Cultura,
o baile atrai cerca de 600
frequentadores a cada fim de
semana. O evento é contínuo
e só não é realizado em caso
de chuva.
Música clássica para todos
A Orquestra Sinfônica Municipal de Santos tem saído do teatro e invadido as ruas,
levando a cultura da música erudita àqueles que não conhecem seu repertório
MARIANA AYUMI
Mariana Ayumi
De um lado para o outro,
para cima e para baixo, o maestro leva a batuta por todos
os ângulos, ao mesmo tempo
em que faz sons estranhos com
a boca, entoando notas musicais. O violino “canta” agudamente, o violoncelo dá o tom
grave e a flauta transversal
proporciona o toque doce da
canção. Um simples movimento em desacordo pode desandar todo o conjunto da obra.
As cortinas do Teatro Coliseu
se abrem e o público é apresentado, enfim, à Orquestra
Sinfônica Municipal de Santos.
Criada em agosto de
1994, a Orquestra teve seu
primeiro concerto somente
em 1995. A iniciativa foi da
Secretaria de Cultura e da
Prefeitura de Santos, criada
a partir de um projeto elaborado pelo maestro Luís Gustavo Petri, que é o regente
titular até então. Composta
por 41 membros fixos, a Orquestra também conta com
Rodrigo Vitta como regente
assistente e é dividida entre
violinos, violas, violoncelos,
contrabaixos, flautas, oboés,
clarinetes, fagotes, trompas,
trompetes e percussão.
O maestro Petri é o dono
das mãos inquietas que guiam
a Orquestra. Nos ensaios do
grupo, às terças e quintas-
Orquestra foi criada em
Composta por 41 membros fixos, a
Concertos Populares
1994 e desde 1998 promove o projeto
feiras, o clima é descontraído,
porém, sem deixar de lado a
busca pela perfeição das notas.
“A Orquestra vem crescendo,
atuando bastante na Cidade e
na Baixada. Sua importância
decorre do nível de excelência
em mostrar a cultura erudita
às pessoas”, ressalta Petri.
Um modo de levar a cultura erudita às outras cidades da
região se dá por meio do projeto Concertos Populares, implantado em 1998. A proposta
é tirar a Orquestra do teatro e
levar a música clássica a espaços alternativos mais frequen-
tados pela comunidade local,
como igrejas e ginásios.
Além dos Concertos Populares, Petri ainda explica
que a Orquestra faz vários
tipos de apresentações. “Fazemos concertos para crianças; concertos para formação
de plateia, que são aqueles
que não conhecem o funcionamento da Orquestra e
que tipo de música tocamos.
A gente procura fazer um
repertório que mostre todo
este leque de opções para as
pessoas”, diz o maestro.
Para fazer parte da Or-
questra, é preciso ter apenas
um requisito: saber tocar. As
audições são regulares e divulgadas no Diário Oficial. Marcelo Jesus do Rozário, de 30
anos, toca flauta transversal e
é componente do grupo desde 2002. “Temos um grande
público e o trabalho é muito
legal, porque desenvolve o
nosso estudo de música, que é
como o de um atleta, todo dia
praticando e treinando, para
chegar bem aqui. A grande
recompensa são os aplausos
do público”, diz o músico.
A Orquestra ainda tem um
membro de grande destaque: a violinista Adelci
Groia Paulino, de 97 anos.
Tocando no grupo desde
sua fundação, ela tem história para contar quando o
assunto é música e mostra
que a idade não é empecilho para absolutamente
nada. “Toco violino desde
os 14 anos, influenciada
por minha mãe. Quando
estou aqui tocando, esqueço tudo lá fora. É melhor do que estar em casa
sozinha, fazendo nada,
não é?”, diz a violinista.
Cadeia Velha abre cursos de capacitação cultural
MAURÍLIO CARVALHO
Maurílio Carvalho
Edificação carregada de
História, cujas paredes transpiram o passado de Santos, a
antiga Casa da Câmara e Cadeia, conhecida como Cadeia
Velha, localiza-se na Praça
dos Andradas, no Centro há,
desde 1994, está instalada a
Oficina Cultural Pagu, que,
entre os meses de novembro e
dezembro, oferece cursos voltados para o aprimoramento
cultural e utilização de ferramentas de marketing no mercado cultural.
No dia 27 de outubro, foi
promovido workshop sobre
Arte e Arquitetura Colonial
do Litoral Paulista, ministrado por Percival Tirapeli, pósdoutorado pela Universidade Nova de Lisboa e professor livre-docente do Instituto
de Artes da Universidade
do Estrado de São Paulo
(Unesp). A oficina foi direcionada para agentes culturais, profissionais de museus,
arquitetos, historiadores, artistas e pessoas com interesse
sobre a História e assuntos
relacionados às construções
do período colonial.
Para um maior conhecimento de estudantes universitários, produtores culturais e artistas sobre as novas
ferramentas de marketing
no campo cultural será realizado, entre os dias 28 de
novembro e 2 de dezembro,
curso que abordará a divulgação, parcerias e design,
entre outros assuntos relacionados à promoção cultural
por meio das mídias digitais
rsos voltados à discussão da culCadeia Velha promove cursos dive
tura regional
e tradicionais. O workshop
será ministrado por Pedro
Sorensen, bacharel em Publicidade, com especialização em Mídias Digitais e Novas Tecnologias pela Escola
de Comunicações e Artes
(ECA) da Universidade de
São Paulo (USP).
Oficina de Arte Pagu
A gestão do espaço está a
cargo do Instituto de Apoio à
Cultura, à Língua e à Literatura. “A organização se encarrega da gestão da oficina,
pois o governo do Estado não
contrata mão de obra para
trabalhar no setor cultural,
deixando a cargo de organizações sociais contratadas
para administrar as instituições culturais do Estado”, disse
Antônio Lisboa Lopes Neto,
responsável técnico por Projetos Culturais na Baixada Santista.
A Oficina Cultural também
cede espaço ao Instituto Cultural, Ambiental e Educacional (CAE), organização nãogovernamental que preza o
desenvolvimento cultural e
preservação ambiental da região por meio de cursos, projetos e oficinas.
Tombamento
A construção foi tombada
pelo Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional
(Sphan) em 1959 e a restauração pelo Conselho de Defesa
do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
(Condephaat) teve seu término em 1981.
Espetáculos de Dança
Além de proporcionar
cursos, a Oficina Cultural
também abriga espaço para
apresentações de dança no
mês de novembro, como o
espetáculo Para um amor de
Vinicius de Moraes, no dia
20 de novembro (domingo), em que o grupo de
Arte Supernova, dirigido
por Ricardo Menezes, usou
versos das músicas do compositor Vinícius de Moraes
para retratar o cotidiano
dos casais apaixonados e
também a apresentação
“Uma dança para Gilberto
Mendes”, do Athos Núcleo
Artístico, no dia 25 de novembro, às 12 horas.
Na representação, a
companhia, vencedora do
Prêmio Plínio Marcos de
2009, utilizará músicas
do compositor santista Gilberto Mendes para criar
movimentos inusitados e
provocar a interação com
o público. A indicação dos
espetáculos é de 14 e 16
anos,
respectivamente,
e os ingressos podem ser
adquiridos com uma hora
de antecedência das apresentações com limite para
40 espectadores.
Para se inscrever nos
cursos ou saber informações sobre espetáculos
de dança, teatro e outras oficinas, é necessário
ir à Oficina Cultural, na
Praça dos Andradas, no
Centro, ou ligar para os
números (13) 3219-2035
ou (13) 3219-1741. O horário de atendimento da
Oficina Cultural Pagu é
de segunda à sexta-feira,
das 13 às 22 horas e, aos
sábados, das 9 às 18 horas.
As oficinas são realizadas
de segunda à sexta-feira,
das 18h45 às 21h45.
Edição e diagramação: Vanessa Simões
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
5
Cada um conta do seu jeito
Escritores santistas transmitem conhecimento e diversão em seus diferentes e curiosos trabalhos
TABATA THUANy
Beatriz Rota-Rossi
Julia Magalhães
Contar histórias é uma
necessidade primária do ser
humano para se entreter e para
entreter os demais por meio
da ficção ou da realidade. Os
narradores despertam emoções
e mexem com o imaginário
popular. Graduada em História,
a artista plástica e professora
nos cursos de Jornalismo, de
Publicidade e Propaganda e de
Artes Plásticas na Universidade
Santa Cecília, Beatriz Rota-Rossi,
aborda temáticas culturais em
seus trabalhos.
Ela é autora dos livros de
contos Varal e Noite de Reis .
Em suas obras, é perceptível a
influência que os municípios de
Santos, Parati e Buenos Aires
exercem sobre a escritora, que
conta como encontra inspiração
para escrever: “Sempre inventei
contos, inclusive quando criança.
Eu me baseio na observação da
vida.
Buenos Aires me marcou na
minha infância e adolescência.
Em Santos, fiquei por vários
anos pintando na Boca do Cais.
A difícil vida dos habitantes do
local foi tema de meus quadros e
de anotações que depois serviram
para os contos que escrevi. Parati
é uma cidade mágica. Tenho
casa lá há mais de 20 anos, e
isso me proporciona uma rica
experiência caiçara”, conta.
Segundo a professora, Varal
reúne contos provenientes da cidade
de Parati. A maior parte deles
fala sobre a vida dos pescadores
e dos caiçaras, e também sobre
fantasmas. Noite de Reis, que acaba
de ser lançado, é um livro de conto
e fala sobre a cidade de Santos.
Beatriz: influência de Santos,
as
Parati e Buenos Aires em suas obr
Beatriz escreveu outros livros, como
Traços e Tramas, em que fala sobre
os movimentos artísticos de Santos
durante o regime militar (1964
- 1985), e o preferido dela: Alex
Vallauri: da gravura ao grafite.
Publicado em 2008, o libro é sobre
a vida e a obra do artista plástico
gravador e grafiteiro que dá título
à obra.
José Roberto Torero
O escritor santista José Roberto
Torero, também é cineasta,
roteirista, jornalista e colunista de
esportes. Atualmente, trabalha
no jornal Folha de S. Paulo e
na publicação eletrônica Carta
Maior.
Para compor seus trabalhos,
ele se inspira em assuntos do
cotidiano e em pesquisas. Fã de
esportes, escreveu sobre o tema
no Jornal da Tarde , onde manteve
uma coluna, e em um blog
próprio, que teve de abandonar
por motivo de compromissos
profissionais.
No total, Torero é autor
de 24 livros, e a sua primeira
publicação, de 1994, Galantes
Memórias e Admiráveis Aventuras
do Virtuoso Conselheiro Gomes , o
Chalaça , foi vencedor do prêmio
Jabuti, em 1995, e do prêmio
Livro do Ano.
JULIA MAGALHãES
Um de seus mais recentes,
Evangelho de Barrabás, escrito em
parceria com o jornalista Marcus
Aurelius Pimenta, ficou entre os
17 finalistas do mesmo prêmio.
Torero fala sobre suas obras: “O
Chalaça é o mais premiado, mas
o mais vendido é Uma história
de futebol. O que recebeu mais
atenção acadêmica foi Terra
Papagalli. Talvez eu tenha mais
carinho pelo caçula, que acabou
de sair: Branca de Neve e as sete
versões. Mas isso só dura até que
saia o próximo”, diz.
O lançamento faz parte da
coleção “Fábrica de Fábulas”,
que
ele
está
escrevendo
novamente com Pimenta, e
reúne livros que dão várias
opções aos antigos contos de
fada. “A ideia é que a criança
perceba que pode mexer nas
histórias”, comenta.
infantil par ticipando
Torer o: agora mergulha no uni verso
da coleção Fábrica de Fábulas
Quanto às parcerias, Torero
diz gostar da experiência:
“Eu fiz o roteiro do longametragem Pequeno Dicionário
Amoroso em dupla. Daí em
diante, fiz vários livros em
dupla. Creio que metade dos
24”, conta.
A jornalista Lídia Maria de
Melo se descobriu escritora ao
compor músicas aos 13 anos de
idade, para um festival da escola.
Desde 1993, é professora assistente
da Univercidade Santa Cecília e
professora assistente de Jornalismo
da Universidade Católica de Santos
(UniSantos). O primeiro livro de
Lídia foi Raul Soares, um navio
tatuado em nós, lançado em 1995.
Em 2004, ela foi contratada
para escrever a biografia Rosinha
Viegas: A Garra de Uma Leoa, sobre
a vida da ex-reitora da Universidade
Metropolitana de Santos (Unimes).
O conto “Bala Perdida”, que retrata a
violência urbana tão presente no dia
a dia de cidadãos e de jornalistas, lhe
valeu o prêmio Vladimir Herzog, na
categoria de Literatura, em 1997. O
conto “Como Um Poeta” foi classificado
no concurso da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e
publicado em 2007 na antologia em
homenagem aos 40 anos de fundação
da Unicamp, no livro Contos Unicamp
6
JULIA MAGALHãES
Lídia Maria de Melo
ano 40. Quanto aos seus outros contos,
Lídia diz que possui diversos ainda
inéditos: “Tenho muitos contos escritos,
mas não gosto de publicar na Internet
antes de sair em livro ou outro veículo
impresso”, diz.
Para a escritora, a obra mais
importante de sua carreira foi Raul
Soares, que retratou a realidade
do País na época da ditadura
militar. O título do livro se refere
ao navio que foi utilizado como
presídio político no Porto de Santos
em 1964. A experiência pessoal e
familiar a ajudou a pesquisar e a
escrever sobre o assunto: “Com esse
livro, cumpri a obrigação de revelar
fatos do cotidiano de minha família,
atingida pela ditadura. A prisão de
meu pai e a cassação de seus direitos
políticos, nenhum livro de história
revela e nenhuma ata de assembléia
do sindicato do qual ele fazia parte
registrou, conta. “Eu visitei meu pai
no navio quando tinha seis anos de
idade. Minha irmã mais velha, Laura,
já falecida, estava com oito anos, e a
Edição e diagramação: Danilo Netto
PRIMEIRA IMPRESSÃO •Outubro de 2011
luindo
Lídia: diversos contos premiados, inc
um prêmio Vladimir Herzog
mais nova, Lúcia, era um bebê de dez
meses. Minha mãe, Mercedes Gomes
de Sá, tinha 26. Meu pai, Iradil Santos
Mello, estava com 34 anos. Ele faleceu
em 1999. A vida de minha família foi
marcada para sempre pela ditadura
militar. E o que aconteceu conosco
ocorreu com inúmeras outras famílias
deste país, como a de seu avô¹, Julia.
E não deve ser diferente do que
acontece em outros países submetidos
a um regime ditatorial. Eu tinha a
obrigação de ajudar a expor esses
fatos para que as novas gerações
possam conhecer melhor a história do
país”, lembra.
Atualmente, Lídia está escrevendo
um romance e pretende ampliar
seu livro Raul Soares, pois encontrou
documentos, fotos, informações e
entrevistas que foram feitas por ela
após a publicação.
¹ Argeu Anacleto da Silva, avô da
aluna Julia Magalhães, também foi
preso político no navio Raul Soares e
conhecia Iradil, o pai de Lídia de Melo.
‘Vira-latas da madrugada’
será relançado
Mais de 30 anos depois, o romance da beira do cais de Santos ganhará segunda edição e trará prefácio censurado
Adelto Gonçalves
SORAYA SANTOS
Adelto: um romance de sons delicados
tristes
e histórias
Pâmela Isis
Publicado em abril de 1981, o
romance Os vira-latas da madrugada,
do escritor e jornalista Adelto Gonçalves,
será relançado em 2012 pela editora
Letra Selvagem. A reedição da obra
sairá com o prefácio original escrito pelo
jornalista Marcos Faerman, segundo
promessa do editor NIcodemos Sena ,
também escritor.
Na noite do lançamento do livro,
em 1981, explodiu uma bomba no
Riocentro nas mãos de um terrorista
de direita, pertencente ao Exército.
Em razão disso, segundo o escritor, a
José Olympio Editora achou por bem
recolher o livro da gráfica para que
fosse eliminado o prefácio de Faerman,
considerado polêmico na época.
No prefácio, Faerman comparava o
autor ao dissidente tcheco Milan Kundera,
dizendo que “Adelto Gonçalves é um
dissidente brasileiro” e que “a sua história
não vai agradar àqueles que venceram
em 1964”. Para Faerman, Os vira-latas
da madrugada “é um romance de sons
delicados e de histórias tristes”. Com
a obra, Gonçalves ganhou o Prêmio
Nacional de Romance José Lins do Rego,
promovido pela própria José Olympio.
Adelto Gonçalves nasceu em Santos,
em 1951. É doutor em Letras na área
de Literatura Portuguesa e mestre
em Língua e Literatura Espanhola e
Hispano-Americana pela Universidade
de São Paulo.
Jornalista desde 1972, trabalhou em
O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo,
Editora Abril e A Tribuna. Foi também
correspondente em Lisboa da revista
Época, em 1999-2000.
Adelto Gonçalves é também autor
dos livros Bocage: o perfil perdido
(Lisboa, Caminho, 2003); Gonzaga, um
poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1999); Barcelona
Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada,
1999; São Paulo, Publisher Brasil,
2002), Fernando Pessoa: a voz de Deus
(Santos, Universidade Santa Cecília,
1997), e Mariela morta (OurinhosSP, Complemento, 1977). É ainda
assessor do Centro Lusófono Camões,
da Universidade Estatal Pedagógica
Hertzen, de São Petersburgo, na Rússia.
Há quatro anos, o jornalista Marcus
Vinicius Batista começou a se dedicar
às crônicas. Os textos começaram a ser
publicados no jornal Boqueirão. “Comecei
a escrever porque o jornalista e professor
Fernando De Maria me ofereceu uma
coluna no jornal. Ele sugeriu também
que eu montasse um blog. A partir daí,
comecei a produzir toda a semana.
Depois, o blog acabou se desenvolvendo
independentemente do jornal”, conta.
Formado há 18 anos pela Universidade
Católica de Santos, Batista atualmente
escreve também crônicas e contos
para o site Jornalirismo: “Escrevo para
o site mensalmente. Faz pouco tempo
participei de um concurso de contos e
estou esperando o resultado”.
Em 2008, Batista ficou em terceiro
lugar no concurso da Academia Santista de
Letras sobre mulheres japonesas. A crônica
com que concorreu contava a história de
duas mulheres, muito amigas e parecidas,
mas uma era nordestina e a outra filha de
japoneses, uma história real.
Marcus Vinicius Batista atua,
principalmente, na internet. Além de
sites e do blog, ele investe desde 2009
nas mídias sociais. Este ano começou a
utilizar o Facebook. “Escrevo o que se
chama de microcontos ou contos para o
Twitter. São histórias que contêm apenas
140 caracteres, são pequenas e fáceis de
ler. Já escrevi mais de cem nesse estilo. A
internet é uma ferramenta muito boa e
as pessoas dão retorno”, ressalta.
Entre crônicas e artigos, o jornalista e
professor já escreveu mais de 400 textos e
agora pensa na possibilidade de juntar tudo
isso em um livro que poderá ser lançado ano
que vem. “Material para o livro eu já tenho,
mas ainda não tive tempo de organizar.
Já conversei com duas editoras e se se der
tudo certo vai ser lançado em 2012. Mas
estou trilhando um caminho bem natural,
comecei com a crônica, fui para o conto e
quem sabe chego ao romance, não tenho
pressa”, diz.
Marcus Vinicius Batista
SORAYA SANTOS
Batista: mais de 400 textos e um livro previsto
Edição e diagramação: Danilo Netto
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
7
Os palcos são as ruas
Grupos santistas resgatam a arte milenar de encenar em locais públicos e interagir com a plateia
DIVULGAÇÃO
Glenda Poletto
Apesar de séculos de tradição, encenar na rua ainda
é uma arte difícil de mostrar e bancar. O teatro de
rua não é novidade. Não há
uma data definida que marque o início do teatro, mas
há registros de apresentações
teatrais no Egito por volta
de 2500 a.C. Essas primeiras
apresentações aconteciam
justamente na rua, só depois
foram criados os espaços físicos para espetáculos.
Muitas pessoas desconhecem o teatro de rua.
Não há uma estimativa de
quantos grupos de teatro
de rua existem no Brasil,
mas eles estão espalhados
por todos os Estados.
Em Santos, existem dois
grupos que se destacam
bastante na Cidade: a Trupe Olho da Rua e o Quarteto Trio Los Dos.
O grupo Trupe Olho da
Rua é formado por seis atores e existe desde 2002. A
ideia inicial dos atores era
fazer um projeto teatral que
fosse estilo de uma viagem
mambembe. Caio Martinez,
um dos integrantes do grupo, conta que tudo surgiu
justamente em uma viagem
que eles fizeram, quando se
aventuravam se apresentando em várias cidades da Baixada Santista.
“Foi uma viagem mágica,
fomos com mochilas nas costas
e sem dinheiro. Apresentávamo-nos na rua e o dinheiro
Situações
inusitadas
O grupo Trupe Olho da Rua existe
que conseguíamos no chapéu
era com o qual nos alimentávamos. Depois de um mês na
estrada, voltamos para Santos
e, após um tempo, começamos a fazer teatro na rua e estamos juntos até hoje”, conta
o ator.
Quem depara com uma
apresentação de rua pode
pensar que tudo é feito de
improviso, pois há uma interação entre os atores e o pú-
desde 2002
blico. Quem assiste pode comer, beber e, além disso, tem
liberdade de escolher a hora
em que quer ir embora. Nada
prende o público, a não ser a
arte. Mas, mesmo com o clima
descontraído, o teatro de rua
exige muito ensaio e preparo
dos atores.
“Na rua temos que buscar
outros recursos. Uma coisa
que é muito clara é a amplificação da voz, nós trabalha-
mos com a própria voz, sem
nenhum auxílio acústico. Isso
exige bastante preparo. Para
chamar a atenção do público, muitas vezes, utilizamos
técnicas circenses e música ao
vivo. Apesar de trabalharmos muito com o improviso,
precisamos estar preparados.
Afinal, nunca sabemos o que
vai acontecer durante o espetáculo”, diz a única atriz
da trupe, Raquel Rollo.
O grupo também passa por situações inusitadas
durante apresentações nas
ruas. Além de crianças que
choram, animais perdidos
e pessoas alcoolizadas, existem também os moradores
de rua que, muitas vezes, se
tornam personagens reais
das apresentações. “Já houve
situações em que moradores de rua participaram do
início ao fim de espetáculos.
Às vezes, algumas crianças
começam a falar no meio
da cena, é preciso improvisar
algo para fazê-la parar”, diz
Sidney Herzog, ator do grupo
Quarteto Trio Los Dos..
Como o grupo trabalha
mais com elementos circenses, na maioria das vezes, os
seus integrantes estão vestidos
de palhaços. Mas, acontece
que, às vezes, deparam com
crianças que têm medo de
palhaços; por isso eles têm que
saber lidar bastante com isso.
“Quando um palhaço que vai
brincar com uma criança muito pequena, aquelas cores da
roupa juntamente com a
maquiagem, a voz estridente
e o jeito dele falar, tudo pode
assustar. Se for uma criança
um pouco maior, ela vai gostar, mas uma pequena pode
chorar. Então, tem que saber
a hora certa de brincar”, afirma Paulo Galindo, também
do grupo Quarteto Trio Los
Dos. (G.P)
Dominar o improviso
Caio Martinez explica que
os atores têm que saber dominar o improviso. Afinal, eles
nunca sabem com o que vão
deparar durante o decorrer do
espetáculo.
“Já aconteceu de um cachorro entrar na cena e a gente
ter que improvisar algo com ele,
ou, então, um bêbado. É preciso saber improvisar e, principalmente, se controlar”, conta.
Os grupos de teatro de rua
passam por alguns desafios
para apresentar sua arte. O
maior deles é manter o grupo financeiramente. Raquel
Rollo comenta sobre algumas
dificuldades enfrentadas pelo
grupo: “Acredito que uma das
nossas maiores dificuldades
seja a falta de estrutura financeira, pois lidamos com uma
8
profissão muito variável nesse
sentido. Uma hora temos condição de fazer um trabalho
financiado, mas outra hora,
não. Aí é preciso buscar outras
formas para a entrada de dinheiro para que o nosso trabalho continue a existir. Sempre
usamos o chapéu como fonte
de renda nos espetáculos, é
pouco, mas sempre ajuda”,
desabafa a atriz.
Segundo Raquel, outro problema enfrentado pelos grupos
que fazem essa arte é a privatização de espaços públicos. “Em
São Paulo, já está acontecendo
isso. O governo está querendo
cobrar uma taxa para que o
grupo possa utilizar determinado espaço da cidade. Claro
que existem as leis municipais
que proíbam a venda de ob-
Edição e diagramação: Gabriel Martins
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
jetos na rua e o fechamento de
ruas para que ninguém transite. Mas isso nós não fazemos, o
que a gente “vende” é alegria.
As pessoas que passam pela
rua decidem se querem ou não
parar para assistir”, diz.
Um grupo mais recente
que também se apresenta
na região é o Quarteto Trio
Los Dos. Criado há um ano,
o grupo é formado por três
atores. Um dos integrantes,
Sidney Herzog, confessa que o
grupo gosta de se apresentar
para um público mais carente:
“Costumamos nos apresentar
em praças, esquinas e ruas que
podem ser fechadas. Temos a
preferência de nos apresentarmos em locais de baixa renda,
para comunidades, guetos.
Essas pessoas são mais caren-
DIVULGAÇÃO
O maior desafio dos grupos de teatro de
financeiramente
tes de arte, têm menos acesso.
Quando chegamos com nosso
espetáculo envolvendo circo,
por exemplo, com acrobacias
rua é se manter
e malabares, muitas pessoas
estão vendo aquilo pela primeira vez. Mas, também gostamos de nos apresentar na
praia onde lidamos com todo
tipo de público”, Herzog.
Paulo Galindo também
faz parte do trio e considera
o teatro convencional mais
competitivo do que o de rua.
Segundo ele, não há competição entre os grupos de teatro
de rua santistas.
“O teatro de palco é muito mais frio, cada um cuida
do seu. O teatro de rua exige
muito mais parceria, ajuda,
companheirismo e colaboração. Ele tem por excelência o
trabalho em grupo continuado, ou seja, as pessoas ficam
juntas, estudando e ensaiando
por um tempo muito grande”,
diz Galindo. (G.P.)
Soraya Santos
Falta de incentivo
distancia o
surgimento de
novos ‘graffiti
‘graffiti
writers’
writers’
Antes confundido com pichação o graffiti writer tem amplicado seu espaço na região
Joana Ribeiro
Em Santos, há artistas
criativos, mas não há incentivo para dar continuidade aos trabalhos. Isso
‘trava’ de certa forma o
surgimento de novos profissionais que enfrentam
dificuldades em dar os primeiros passos na arte, por
causa do alto custo do material e a falta de retorno
financeiro. A análise é do
graffiti writer , Leandro
Shesko.
Segundo ele, os profissionais da Baixada Santista
precisam aproveitar o incentivo do que transborda
no cenário paulistano, que
está em um ritmo extraordinário: “Há muitos artistas
que realizam a atividade,
uns com mais frequência,
outros menos. Mas alguns
levam a arte apenas como
hobby, e todos, sem exceção, trabalham em outras
atividades, como designer
gráfico, ilustrador ou tatuador.”
Shesko, por exemplo,
define-se como artista
multimídia: além do grafite como hobby , atua com
grafite-decoração,
aplicando o recurso em paredes internas; tem o estúdio
de tatuagem Graffiti Illustration Tattoo FineArts e
ministra oficinas pela Academia Brasileira de Arte.
Apesar da falta de incentivo, o graffiti writer diz
que as condições e a qualidade dos trabalhos vêm
melhorando na Baixada
Santista com a chegada
do artista Edgard Pesado,
detentor da marca A Fase!
— Skate e Graffiti, que
passou a ser distribuidor
de uma marca importada
de sprays específicos para
pintura em parede com
uma variedade de tons e
cores que valoriza a criatividade.
A marca A Fase promove encontros de graffiti
writer quase sem nenhum
apoio financeiro ou cultural movimentando mais de
50 artistas da região. O último aconteceu no mês de
julho, no Macuco, e reuniu
artistas de Santos, Praia
gr aQu an do se pe ns a em
so cia çã o
fit e log o ve m a as
di z qu e
co m pi ch aç ão . Sh es ko
am di fe as pe sso as at é te nt
co m pl ire nc ia r, m as é al go
am bi en ca do , po is va ria de
do nív el
te pa ra am bi en te e
cta do re s.
de cu ltu ra do s es pe
si já te m
“O us o do sp ra y em
aç ão as um co nc eit o de pi ch
qu e nã o
so cia do m ui to fo rte ,
cil , ai nd a
va i se pe rd er tã o fá
en te a
m ai s po rq ue di fic ilm
ex ist ir. ”
pi ch aç ão de ixa rá de
di fe re nPo rta nt o, ex pl ica r a
ão du as
ça nã o é tã o fá cil . “S
er se cc ioat ivi da de s qu e se int
do m es na m e fa ze m pa rte
é a ru a.
m o am bi en te , qu e
ex em pl o:
Co stu m o da r es te
e es cre ve
um vâ nd al o ch eg a
de , iss o é
o no m e de le na pa re
co re s e co m
um de se nh o, ch eio de
té tic o, di gn o
co m pr ov ad o se ns o es
, só qu e a pa de um gr an de ar tis ta
o te m au to rire de qu e ele us ou nã
ile ga l, é gr af iza çã o, fo i um a aç ão
es tio na .
te ou pi ch aç ão ?” , qu
r qu e am Sh es ko pr ef er e di ze
m es m o co nbo s fa ze m pa rte do
a im po ssí ve l
te xt o e, às ve ze s, fic
M as sa lie nt a
ta l di fe re nc ia çã o.
é um at o de
qu e a pi ch aç ão nã o
s ac ha m . “O
re vo lta co m o m ui to
pe lo sta tu s ,
qu e ex ist e é a bu sca
la tiv o e qu e
m as é um sta tu s re
ec im en to al nã o lev a a re co nh
ev er o no m e
gu m . O ‘la nc e’ é es cr
ai or de
um a qu an tid ad e m
em
fite
m ai s di fíc il
Shesko: Pichação não é gra
lu ga re s, no s lo ca is de
gu in te
e ap re cia r no di a se
so
es
ac
do
z
el e em ve
tu ra da no ite
pi ch aç ão . M as se
o re su lta do da av en
é
a
nd
ai
o,
se nh
no m e fa z um de
an te rio r.” (JR )
ar ti st a fa z
um
se
u
O
?
ão
pi ch aç
Soraya Santos
16 e 25 an os .
nt os e sã o jov en s en tre
Sa
e
e
sím nt
ce
Vi
o
Sã
er aç ão
ch ad or es pa ssa m se us
g
pi
os
em
,
to
ão
en
im
aç
ec
er
qu
g
es
De
Pa ra nã o ca ir no
pa ssa r a ‘gr ife ’
es m ui to fa m os os ,
“E xis te um la nc e de
or
o.
ad
çã
ch
ra
pi
ge
ve
em
te
o
os
çã
nt
ra
Sa
ge
ch ad or
cre ve nd o po r aí , o pi
, CA VE RA - bo los de
es
cg
po
-2
m
EX
te
AL
um
o,
r
pl
ssa
em
pa
ex
co m o po r
em e m ai s su ad ia nt e. De po is de
tro pi ch ad or m ai s jov
. To do s tin ha m ca ou
e
TO
qu
TA
e
ra
E
pa
OK
le
de
SM
e
p,
6a
o um a
o no m
‘fa m a’ do no m e, co m
re s no es til o de ixa
a
la
e
nt
cu
ia
rti
ad
pa
e
to
lev
ui
a
m
lin
as
ra cte rís tic
jei to a es sa ad re na
qu e se m pr e se
te é um m ov im en to
te , ai nd a há al gu ns
es
e
en
qu
lm
a
ua
br
At
.
lem
ar
ch
ko
pi
es
be m
de
”. Sh
ao ce ná rio pa ul ist an o
m o VI TA IS, m ar ca
do
ra
co
,
pa
m
da
co
ixa
as
Ba
m
,
la
de
pe
at ua nt es
m an té m em at ivi da
. (J. R. )
AG AS , en tre ou PR
,
OS
EG
PR
co m o o pr óp rio gr af ite
S,
sim
OA
as
AT
o,
en
qu
pe
,
tre Pr ai a Gr an de
tro s. A m ai or ia fic a en
Grande, São Vicente, Guarujá e São Paulo.
A arte urbana passou a
invadir as paredes interiores há cerca de dez anos,
ao mesmo tempo em que
foi vencendo o preconceito
e superando qualquer expectativa. “Um novo trabalho abre sempre novas
possibilidades, fiquei muito
satisfeito com o resultado
do trabalho que realizei
no Santos Arquidecor, tanto pela qualidade estética
quanto pela oportunidade
de me conectar ao mercado de arquitetura e design
de Santos, e divulgar a minha arte. Do mesmo modo,
fiquei com o resultado da
série Freehand que tenho
feito pelas paredes da cidade, principalmente nos
encontros da grife”, diz
Shesko.
Quando o assunto é o
cenário do grafite em Santos, ele é categórico em
opinar: “Gosto bastante do
painel feito pelos amigos
Ghori e Hugo na fachada
do restaurante Estrela, na
Ponta da Praia; o painel
que grafitei com amigos na
Avenida Epitácio Pessoa,
próximo ao Canal 5, que
teve bastante repercussão.
Além do painel ao lado da
Rodoviária de Santos que é
antigo, mas foi um projeto
grande e importante, gosto
dele. Fora isso, há bastante coisa perdida por becos
e vielas”, sem esquecer as
raízes da arte urbana.
Sobre o trabalho no
Santos Arquidecor, explica que: “Foi uma criação
abstrata, com formas geométricas que lembram
formatos tridimensionais
e dobras de origami, com
uma cartela de cores pré-
definidas para combinar
com o espaço”.
Mesmo com a inserção
da arte urbana na classe
média alta, Shesko acredita que o futuro do grafite
não tem prazo. “Veio pra
ficar, se inserir, se misturar,
se fundir, se transformar e
se for o caso até se desvincular. As telas não estão
há séculos aí? Então, o que
mudou foi o suporte e o
material utilizado para a
pintura, além do contexto
histórico de onde surgiu.”
Em maio deste ano, a
presidente Dilma Roussef,
sancionou a lei que diferencia pichação e grafite. A lei foi publicada no
Diário Oficial da União no
dia 26. Para determinar a
diferenciação entre duas
formas de expressão, o
grafite foi descriminalizado quando tem o objetivo
de valorizar o patrimônio
público ou privado, sendo
assim, considerado uma
“manifestação artística”.
De acordo com a lei, a
pichação continua sendo
um ato de vandalismo.
A determinação também
proíbe a venda de tinta spray para menores
de 18 anos, e mesmo os
maiores de idade deverão
apresentar documento de
identidade para a compra do produto.
Além de campanhas
de orientação, as latas de
tinta em aerosol devem
conter a inscrição “Pichação é crime (Artigo 65 da
Lei 9.605/98). Proibida a
venda para menores de
18 anos”. Em caso de descumprimento da lei, o infrator poderá ser detido
pelo período de três meses
a um ano.
Edição e diagramação: Joana Ribeiro
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
9
A casa do desenho de humor
Além de homenagear o chargista Accindino Souza Andrade, o Salão Dino é um
espaço que busca talentos e alegria por meio da arte de desenhar
Michael Gil
Desde 2008, Santos aderiu
ao salão de humor. Trata-se
do Salão Dino, criado e idealizado pelos artistas gráficos
Alexandre Barbosa, o Bar, e
Osvaldo da Costa, o DaCosta,
além da designer Márcia Okida, todos professores da Universidade Santa Cecília.
O objetivo do Salão foi bem
definido desde a criação, como
diz Bar: “A meta é divulgar o
trabalho de artistas ligados
ao humor e ao quadrinho no
estado de São Paulo, mais especificamente no Litoral Paulista”. DaCosta completa o
raciocínio do colega: “Sempre
tivemos a intenção de incentivar, descobrir e premiar novos
talentos e valores”.
Entre os fatores que geraram a criação do espaço, estava justamente a falta de
uma casa do humor da cidade. “Em Porto (Portugal), fui
até receber prêmios. Quando
fui à Piracicaba, via que lá tinha um salão. Se esses e outros
lugares tinham um lugar desse
tipo, por que Santos não poderia ter um? Aí, conversamos
e criamos o Salão Dino”, explica DaCosta.
A partir daí, o salão vem
colecionando conquistas. No
entanto, essas “vitórias” não são
bem do salão, mas do humor,
da alegria. “Para nós, que idealizamos o projeto, ter um salão
já é muito especial. Temos desenhos de todos os lugares. Até do
Egito, da Bósnia, do Azerbaijão
e da China”, revela Bar.
Outro ponto alto do espaço
é seu nome. Trata-se de uma
homenagem a Accindino Souza Andrade, ou simplesmente
Dino. O chargista, nascido em
Santos, ficou mundialmente
conhecido por seu trabalho
com humor. Sua carreira durou 55 anos. Tanto Osvaldo Da
Costa quanto Alexandre Barbosa admiram o artista.
“Ele foi referência para a
maioria dos desenhistas de humor da Cidade”, comenta Da
Costa. Já Barbosa vai além ao
falar de Dino. “Tive a honra de
conhecê-lo quando trabalhei
no jornal A Tribuna, de 1988
a 2002. Ele inspirou muito o
meu trabalho com humor”.
Dino continua a influenciar
os adeptos da arte de desenhar, no entanto, agora, por
meio do Salão e também de
suas obras. Isso porque todos
os interessados em publicar
seus desenhos podem recorrer
ao local. Há ainda concursos
desenvolvidos no espaço, tudo
para incentivar nossos artistas.
Para participar do salão é
simples. Segundo Da Costa,
basta o interessado gostar de
desenho de humor e conhecer seus gêneros: caricatura,
charge, cartum e histórias em
quadrinhos. Depois disso, acessando o site do Salão Dino
(cursos.unisanta.br/producaomultimidia/dino),
pode-se
preencher a ficha de inscrição,
enviando os trabalhos para se-
rem analisados. Os melhores
recebem prêmios que giram
em torno de R$ 300,00 a R$
1.000,00. Além da premiação,
os desenhos são publicados, tanto por meio de internet quanto
por exposições.
Apesar do prazer gerado
pelo Salão, ambos os professores lamentam a falta de apoio.
E quanto eles falam sobre esse
apoio, não estão falando do
Poder Público. “O que falta
não é ajuda do governo, mas
da iniciativa privada”, colocou
Barbosa. “Contudo, também
considero a falta de interesse
dos desenhistas um dos motivos desta falta de investimento”, reconheceu. Por isso,
Da Costa salienta: “O desenho
precisa de incentivos”.
Novos conceitos na infografia
Desenho e jornalismo eram
vistos como atividades heterogêneas. Ou se entretia com o
desenho ou se informava com
o jornalismo. Mas com a inserção da infografia no mercado
brasileiro no início da década
de 1990 e a expansão do mundo dos games, este conceito
mudou e surpreende a cada
dia com inovações da integração entre texto e imagem. Estes temas foram discutidos no
último dia da Semana Ceciliana, em 30 de setembro, com a
presença do diretor do Núcleo
de Infografia da Editora Abril,
Luiz Iria.
Ele conta que quando saiu
da revista Super Interessante,
onde trabalhava desde 1994,
passou a ser diretor de infografia em 1998. Começou a
dividir as experiências adquiridas no dia a dia tanto com
a equipe de arte quanto a
equipe de jornalismo. “Eu tive
uma missão, que era disseminar a linguagem da infografia
dentro das revistas da Abril,
pois lá existem revistas com
um potencial maior para usar
a linguagem e outras não.
O jornalista e atual diretor artístico da Escola de Artes
Cênicas Wilson Geraldo, da
Secretaria de Cultura, sediada
no recém-restaurado Teatro
Guarany, Roberto Peres, disse
que a inexistência de mostras
de artes visuais de qualidade
está diretamente relacionada
ao desinteresse do público. “Ele
não busca ver nem adquirir
obras de arte; desse jeito, uma
exposição fica cara tanto para
o artista como para a galeria, além de não ter retorno
financeiro necessário para co-
10
Segundo Peres, a Secretaria de Cultura apóia a arte na
região na medida de suas possibilidades e verbas, mas não
se pode esperar paternalismo
do poder público. “Felizmente,
temos o Sesc, um verdadeiro
Ministério da Cultura que realiza projetos notáveis e o Sesi,
que tem uma programação
teatral, adulta e infantil, agora quanto aos patrocinadores
em virtude dessa desvirtuada
Lei Rouanet, só se interessam
por globais ou comedinhas
rasteiras”, comentou o jornalista. “Quem tiver interesse
em ver exposições e mora na
região, evidentemente, só encontrará em São Paulo, por
ser uma megalópole independente de crises”, conta Peres.
Peres começou no jornalismo em 1967 no jornal Cidade
de Santos onde atuou durante
20 anos. No jornal, ele foi repórter, repórter especial, pauteiro, chefe de redação e editor do caderno de Variedades.
Também trabalhou no jornal
A Tribuna. Roberto Peres colaborou para os jornais paulistanos Última Hora, Folha da
Tarde e Jornal da Tarde.
O diretor artístico contou
que o seu envolvimento com
a arte surgiu antes do jornalismo, período em que fez
cursos de teatro. “Fui aluno
de lendas como Ziembinsky e
Eugênio Kusnet, além de ter
contato com cinema (Cinemateca Brasileira), música (Diogo
Pacheco), afora literatura e
outros”.
O jornalista falou que a sua
paixão pela cultura vem desde os 12 anos. No final da década de 50, ele falsificava documento para ir ao teatro, já
que a classificação etária era
para maiores de 18 anos.
Assim, burlando a idade,
pôde ver a estréia nacional
de A Doce Vida, de Federico
Fellini. Depois disso, continuou
mantendo a necessidade de
saber e não largou a arte.
ão
co conta com a participaç
A criação de um infográfi rter, o editor, o ilustrador, o
pó
de cinco profissionais: o re
a
tografi
designer e o diretor de fo
Quando comecei como diretor
de infografia, trabalhava com
três revistas. Hoje, já levo o recurso para mais de 30 títulos
da editora”.
Iria foi um dos pioneiros a
se interessar pela linguagem
visual quando o recurso começou a ser introduzido na editora por iniciativa do editor Eugênio Bucci. Este visitou jornais
espanhóis e americanos e organizou palestras e workshops
com profissionais espanhóis
Cidade enfrenta
esvaziamento nas
artes visuais
Luiz Felipe Lima
na Abril. Com experiência de
mais de 16 anos na área, ele
diz que a partir do momento que identifica alguém que
gosta de infografia, adora a
linguagem, seja de arte e de
texto, aconselha a pesquisar
na internet sobre o tema. “Ter
contato visual o tempo inteiro
é muito importante para pensar visualmente”.
O diretor do Núcleo de Infografia da Abril contou que
geralmente a criação de um
infográfico conta com a participação de cinco profissionais:
o repórter, que vai a campo
fazer a apuração; o editor de
texto, que edita o trabalho do
repórter; o ilustrador, que vai
criar as imagens; o designer,
que é responsável por aplicar
as legendas no infográfico e o
diretor de infografia.
Premiado por três vezes com
a melhor arte de infografia do
mundo no prêmio Malofiej —
premiação de maior prestígio
na área de infografia, Iria analisa a tendência de crescimento
da linguagem infográfica: “O
próximo passo a ser dado é fazer com que este recurso se torne mais constante dentro das
universidades porque ele pode
virar uma matéria obrigatória,
e a partir disso, formar profissionais tanto na área de designer
como na área de jornalismo,
que eventualmente venham a
trabalhar com essa linguagem
no futuro.”
RODRIGO DANTAS
Joana Ribeiro
brir gastos e patrocínio”, disse
Peres.
O Centro de Cultura Patrícia Galvão, a Prodesan e a Pinacoteca Benedito Calixto são
os únicos espaços que continuam realizando mostras com
periodicidade. Estes órgãos
oficiais selecionam as mostras
entre os pedidos encaminhados.
A Pinacoteca atua com esse
mesmo tipo de seleção e também com convites. A escola de
inglês Centro Cultural Brasil-Estados Unidos (CCBEU) fechou sua galeria de arte, assim
como muitas outras fecharam
Edição e diagramação: Gabriel Martins
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
recentemente, como a Hogar
D’Art, que ficava na Avenida
Epitácio Pessoa, 177.
Hoje não existem galerias
de arte particulares -- uma
exceção é a Espaço D’Arte, na
Rua Machado de Assis, que,
porém, não realiza exposições
contínuas, trabalhando apenas com acervos.
Hoje, a Prodesan recebe a
arte acadêmica enquanto a
Patrícia Galvão, artes moderna e contemporânea. A Pinacoteca, conforme Peres, tanto
exibe obras de arte de qualidade, como outras de valor
discutível.
Pinacoteca abrigará Museu
de Arte Contemporânea
Projeto aguarda aprovação do Ministério da Cultura para ser executado por meio da Lei Rouanet
SORAyA SANTOS
Vivi Ramos
Uma
das
principais
referências
culturais
e
artísticas da Baixada Santista,
a
Pinacoteca
Benedicto
Calixto receberá, em seu
estacionamento, o Museu
de Arte Contemporânea
de
Santos.
O
projeto,
desenvolvido pelo premiado
arquiteto Paulo Mendes da
Rocha, já está pronto e a
maquete pode ser conferida
no acervo da Pinacoteca.
O novo museu contará
com 8.180 m2 de área
construída em um terreno
de 2.800 m2. “No piso
térreo, o projeto prevê um
grande salão de exposições
com 1.135 m2, uma estrutura
com café, bilheteria, loja e
guarda-volumes”, conta o
presidente da Fundação,
Mário Flávio Paes de
Alcântara. “O primeiro
pavimento contará com
escritório, biblioteca e
salas administrativas. No
segundo piso, haverá uma
sala de exposições com
1.200 m2 e no terceiro, mais
um salão de exposições,
um auditório, salas para
reserva técnica e arquivo.
O
estacionamento
vai
ocupar 3 mil m2 no
subsolo”, acrescenta.
De acordo com Alcântara,
no momento, a Fundação está
negociando com construtoras
e aguarda a aprovação do
projeto pelo Ministério da
Cultura, para ser executado
por meio da Lei Rouanet. O
passo seguinte será a captação
de recursos. Ainda não há
prazo para o início das obras.
A Fundação Pinacoteca
Benedicto Calixto foi criada
em 1986, com o objetivo de
levantar e catalogar obras
do pintor Calixto (18531927), criando o Centro de
Documentação.
Trata-se
de uma instituição sem
fins lucrativos, considerada
como importante espaço
lixto foi criada em 1986,
Fundação Pinacoteca Benedicto Ca
obras do pintor Calixto
com o objetivo de levantar e catalogar
para diversas manifestações
culturais e artísticas. No local,
acontecem exposições de nível
internacional, lançamentos de
livros, apresentações musicais,
teatrais e literárias. Além
disso, o espaço oferece cursos
de História da Arte, Dança,
Literatura, Escrita e Pintura.
O acervo da Pinacoteca é
dividido pelas temáticas:
Marinhas; Pinturas Históricas;
Retratos; Sacras e Nus.
Por
meio
de
um
convênio com a Prefeitura
de Santos e a Fundação
para o Desenvolvimento
da Educação (FDE), foi
implantado o projeto Conheça
Calixto. “É uma iniciativa
que visa a receber crianças
e adolescentes das redes
públicas municipal e estadual.
Durante a permanência delas
no museu, conhecem um
pouco da vida e do trabalho
de Benedicto Calixto. Visitam
as exposições que estão em
A
cartaz, participam de oficinas
culturais e atividades lúdicas”,
conta Alcântara.
Entre os dias 3 e 11 de
dezembro, a Pinacoteca
contará com programação
especial em comemoração
aos 25 anos de fundação.
Entre os eventos previstos
estão a inauguração do café
da Pinacoteca, da galeria
de fotos dos ex-presidentes
e da nova iluminação do
casarão e a apresentação
de um coral, camerata, e
quarteto de cordas.
O casarão branco
Casarão Branco – assim
é conhecida pelos santistas a
sede da Fundação Pinacoteca
Benedicto Calixto. Tem estilo
neoclássico, misturado ao
estilo art noveaux. Quando
o casarão foi construído,
em 1900, pelo alemão
Anton Carl Dick, possuía
linhas retas, sem definição
arquitetônica. Em 1910, foi
vendido ao exportador de
café Francisco da Costa
Pires, que morou no local
com a família até 1913. Com
dificuldades financeiras, ele
resolveu vendê-lo, mas o
readquiriu em 1921. Nessa
época, realizou uma grande
reforma interna e externa,
imprimindo
ao
imóvel
as características que se
mantém até hoje. “Por se
tratar de uma edificação em
processo de tombamento,
temos por princípio preservála”, conta o presidente da
Fundação.
Ele destaca os maiores
desafios para manter as
características do patrimônio:
“Dificuldades dizem respeito
a reposições de peças que
se desgastam, a exemplo de
luminárias, fontes, afrescos
e grades, difíceis de serem
encontrados ou refeitos, e que
custam caro”.
Site interativo
Desenvolvido desde 2010,
o site oficial conta com o
personagem “Calixtinho”. O
objetivo é despertar nas crianças
a curiosidade sobre as obras e
vida do pintor. Lá há jogos de
quebra-cabeça e pintura.
A composição do novo
site permite interagir com
o internauta por meio de
troca de mensagens que
vão de sugestões a dúvidas.
São inseridos semanalmente
a programação e outros
conteúdos informativos. Além
disso, o internauta tem acesso
ao histórico da Fundação
e do pintor, informações
sobre as obras do acervo e os
contatos com os responsáveis
pela instituição.
A Pinacoteca fica à Avenida
Bartolomeu de Gusmão, 15,
Boqueirão.
Funciona de terça a
domingo, das 14 às 19h.
Tel. (13) 3288-2260
UNISANTA oferece espaço para exposição
SORAyA SANTOS
Aline Porfírio
Com a correria do dia-a-dia,
nem todos percebem que bem
ao lado das catracas do Bloco
M existe um local especialmente
dedicado a arte na UNISANTA.
É o Espaço Cultural, que
funciona como uma área de
oportunidades para exposições
de estudantes e artistas. O
local recebe trabalhos como
mostras artísticas e fotográficas
e eventos como apresentações
de moda, lançamento de livros,
entre outros.
Existente desde o início
da década de 1980, o Espaço
Cultural já passou por diversos
locais da Universidade, como a
Chancelaria e salas que antes
eram de aulas. Na localização
atual, o espaço encontra-se
há 10 anos e é coordenado
por Lídice Moura, professora
do curso de Artes Visuais. A
galeria recebe atividades
o ano todo, e, segundo
Lídice, essa é a principal
forma de trabalho para os
O
A recebe diversos trabalhos
O Espaço Cultural da UNISANT
s
como mostras artísticas e fotográfica
alunos dos cursos de Artes e
Comunicação. “Antigamente
a maior parte das exposições
vinha de fora. Com o tempo,
conseguimos
que sempre
aconteça uma atividade
exposição dos alunos da casa,
de modo a incentivarmos essa
prática”, explica.
Para ela, a educação
é o principal fator para a
existência da Galeria de
Artes, pois é por meio dela
que os alunos exercitam a
criatividade e recebem o
incentivo para produzir e
expor. “O espaço é amplo,
bem dividido e conta com
suportes especiais para fins
artísticos”, destaca.
Neste ano, a galeria
receberá diversos trabalhos,
como o Expo-Santa, as
apresentações dos Trabalhos
de Conclusão de Curso dos
alunos de Artes Visuais e, pela
primeira vez, será aberto para
exposições dos estudantes do
Colégio Santa Cecília, em
virtude da comemoração
dos 50 anos do complexo
educacional. Para quem
quiser conferir as atividades
e eventos do local, o Espaço
Cultural fica no Bloco M, ao
lado do consistório.
Edição e diagramação: Gabriel Martins
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
11
alhos
Na
lanterna
Cineclube Lanterna Mágica, que se dedica-se à sétima arte há mais de uma década, busca atrair mais espectadores
MARIANA BEDA
Willian Guerra
O Cineclube Lanterna Mágica
ressente-se da presença de mais
público em suas atividades e
promoções.
Coordenado
pelo
jornalista Eduardo Ricci, que há
mais de dez anos fundou esse
espaço de debates e exibições da
sétima arte, o local tem reunido
poucos interessados. Há exibições
que contam somente com um ou
dois espectadores.
Ricci desconhece o real motivo
desse desinteresse. Por se tratar
de cinema, arte de que a maioria
gosta, entende que o espaço
deveria ser mais freqüentado. “O
público que comparece às sessões
é, na maior parte, de fora da
universidade. Os poucos alunos
que comparecem são das áreas de
Artes e Comunicação e também
de Biologia”, revela.
Para ele, o cineclube já esteve
mais inserido na universidade.
“Hoje o aluno está mais focado
nas suas tarefas acadêmicas.
Talvez isso dificulte que eles
venham até nós, mesmo nos
intervalos das aulas como já
aconteceu algumas vezes.”
O coordenador do Lanterna
Mágica acrescenta que a ausência
de público não se dá pela falta de
divulgação. “Enviamos em média
quatro mil e-mails quinzenalmente,
mas o retorno é bem aquém,
infelizmente”.
Cine Mochilão
Apesar dessa dificuldade, Ricci
continua estimulado e criando
atrativos. A mais recente iniciativa é o
Cine Mochilão, criado em julho deste
ano. Mas, esse projeto, que apresenta
filmes sobre pessoas que viajam pelo
mundo, não vem atraindo o público.
A reportagem do Primeira Impressão
esteve no cineclube e constatou que
somente uma espectadora assistia ao
ma são encontrados no local...
Cartazes de filmes e material sobre cine
longa intitulado “Albergue Espanhol”.
A espectadora é a professora
aposentada Odete Henrique,
que freqüenta o local há
aproximadamente cinco anos.
Ela revela que gosta dos filmes
apresentados e que naquele
espaço se sente bem. “O Eduardo
Ricci vê além do que é mostrado
na tela, e por isso eu gosto muito
daqui.”, diz.
Ela cita um filme exibido
recentemente e que a marcou.
“O filme se chama O Piano e
me identifiquei muito com ele.
Inclusive adorei o debate com
o Ricci no final.”, conta. O filme
conta a história de uma mulher
que se muda para à Nova
Zelândia,
recém-colonizada.
Junto com a filha, ela conhece
um homem que futuramente
seria seu marido. Daí em diante
desenvolve-se a trama.
MARIANA BEDA
...que tem sido ocupado, principal por
atividades acadêmicas.
Festival Curta Santos
exibirá longas em 2012
Bruna Garcia
A 10ª edição do Festival
Curta Santos, no ano que vem,
contará com a exibição de longasmetragens. O diretor cultural
Ricardo Vasconcellos anuncia
este novo passo na trajetória do
evento: “Isso para que possamos
atrair os olhos do País para cá e
transformar a iniciativa em algo
fixo e duradouro, com divisas
em vários setores de crescimento
econômico”.
O nome do evento também
mudará. Passa a se chamar 10º
Curta Santos — Festival de Cinema,
com o mesmo formato das edições
anteriores, adicionando-se a
exibição de longas-metragens e o
glamour necessário para recebêlos. Também farão parte da mostra
estreias e novas produções do
universo cinematográfico nacional,
além de oficinas, feiras culturais,
12
exibições acessíveis espalhadas pela
Cidade e muito mais.
O jornalista e documentarista
Thiago Chichorro foi vencedor de
quatro prêmios com o seu grupo na
8ª edição, com o curta. Ele reafirma
a importância de ter o trabalho
valorizado: “É muito bom ver o
reconhecimento de um festival de
peso como o Curta Santos. Torço
pelo crescimento contínuo do
evento, um estímulo para as artes
cinematográficas na região”.
Histórico
O Festival Santista de CurtasMetragens foi idealizado pelo
escritor José Roberto Torero com
a atriz Bete Mendes, junto com os
produtores culturais Toninho Dantas
e Ricardo Vasconcellos, e da diretora
do Festival de Curtas-Metragens
de São Paulo, Zita Carvalhosa. “A
ideia era trazer um pouco do festival
Edição e diagramação: Danilo Netto
PRIMEIRA IMPRESSÃO •Outubro de 2011
paulistano para as salas de Santos”,
diz Vasconcellos. Em 2002, nascia
então uma mostra local de cinema,
com 26 produções locais e a criação
de oito roteiros inéditos. No ano
seguinte, houve um salto para um
evento muito maior e mais ousado.
O número de inscrições pulou de 26
para 428 filmes.
Já passaram pelo festival
atores e personalidades do meio
cinematográfico, como Alexandre
Borges, Rubens Ewald Filho, Carla
Camurati, Beto Brandt, Denise
Fraga, Eva Wilma, José Wilker, Júlia
Lemmertz, entre muitos outros.
No ano passado foi realizada
a primeira edição do festival sem
a presença de seu diretor, Toninho
Dantas, falecido em maio de 2010. Em
sua homenagem, o tema da edição
foi “Só os Loucos Sabem...”, focando a
necessidade do caos no meio artístico.
“Toninho sempre foi conhecido por
suas gafes no evento. Nas festas de
gala de abertura do festival, ele
sempre abria o evento com a frase
“Viva o teatro” (ele foi, por muitos
anos, presidente da Federação de
Teatro de Santos, e se confundia!).
Na sexta edição, ao se referir a
Toninho Campos, proprietário do
Cine Roxy, para subir ao palco, o
chamou de Toninho Dantas, seu
próprio nome! Isso entre muitas
outras gafes que não cabem a
mim dizer”, brinca Vasconcellos.
Na última edição, o Curta Santos
recebeumaisde700trabalhosinscritos,
exibiu 198 filmes gratuitamente
e contou com a exibição de 13
mostras. O público estimado foi
de 90 mil espectadores. O festival
emprega cerca de cem profissionais,
entre pré e pós-produção, e já se
consolidou como um dos principais
eventos cinematográficos do País, e
conquistou outros espaços, firmando
parcerias com festivais da Alemanha,
Japão, entre outros países.
Grandes poetas eternizam
momentos e marcam a história
Os santistas Roldão Mendes Rosa, Narciso de Andrade e Jair dos Santos Freitas
deixaram suas marcas na Cidade com suas obras literárias
Gabriela Pomponet
MARIA NABE DA
Poetas eternizam momentos com seus versos. E se
alguém perguntar o que eles
deixamdemaisvaliosoaresposta, sem dúvida, será seus
versos. Roldão Mendes Rosa,
NarcisodeAndradeeJairdos
Santos Freitas, os três últimos
grandes poetas da cidade de
Santos, marcaram e mudaramavidademuitaspessoas
comseussentimentosepensamentos,consequênciasdaspalavrasescritasemumpapel.
O criador da revista literária Mirante e poeta Valdir
Alvarenga foi amigo dos três
artistas. “Defino-os como figuras raras. Cada qual deixou sua marca na história,
principalmenteporsuasobras
literárias.Sempremechamou
a atenção a profundidade e
densidade dos seus textos,
autenticamente poéticos. Tinhamvariedadedeassuntos.
Faziamumapoesiacristalina,
apurada”,conta.
Alvarenga frequentou a
Faculdade de Letras da UniversidadeCatólicadeSantos,
e pertencia ao grupo de poetas e escritores independentes chamado Picaré. Lia as
críticas literárias de Roldão
MendesRosanojornalATribunaetornou-seseuadmirador. Para conhecê-lo, teve a
cara de pau de assistir a algumasdesuasaulas,clandestinamente, passando-se por
aluno dele. Isso durou alguns
dias, pois confessou sua atitudeaeleeRoldão,sorrindo,
dissequepoderiaassistirsuas
aulas quando quisesse. Amizadefeita.
Conseguiu arrancar uma
entrevista dele para a Mirante, revista que edita há
29 anos. Nos anos oitenta,
Roldão era professor de Comunicação,colocadodelado,
beirando à aposentadoria, e
Alvarenga teve o privilégio
deprocurá-loparatomarum
cafezinhoeconversar.“Eume
sentia todo orgulhoso de podercompartilhardesuaamizade”.
OpoetaNarcisodeAndrade ele só conhecia de nome,
mas sabia que era muito
amigodeRoldãoedesconhecia o fato de que ele procuravanasbancasnobairroda
Pompéiaalgumexemplarda
revista Mirante.“Nãolembro
exatamente como conheci
Narcisopessoalmente,massei
que a partir deste momento
inauguramos aquilo que se
chama amizade. Era impossível conhecer Narciso e não
gostardele.Convivibastante
comele”.
Alvarenga lembra ter se
divertido muito com o senso de humor de Narciso. Ele
era um louco controlado. A
revista Mirante dedicou uma
edição especial ao poeta e
seuspoemasestãosempreem
suaspáginas.Outraamizade
literária da qual teve muito
orgulho.
Jair,opoetadoRotaRota,
livro de poemas, era amigo
de poetas amigos seus como
Alex Sakai e Nilton Thomé.
Via-opassarnasruasdeSantosantesdetersuaamizade.
Semprecomroupasextravagantes, bermudão, às vezes,
colocava um capote negro,
que combinava bem com
seuscabelosnegros.“Polemis-
ta,doido,podemdizermuita
coisa dele, ele dava motivo,
éverdade,masnofundoera
um poeta sensível, sempre
aberto para conversas sobre
literatura, muito culto, enfim
uma figura que faz falta nestacidade”,comentaAlvarenga.
Por incrível que pareça, Alvarenga conheceu Jair
num jogo de futebol realizado na praia do Gonzaga,
entrepoetasejornalistas.Do
jogo participaram os poetas
Alex Sakai, Zelus Machado e
JoséCandido.Osoutroseram
convidados não poetas como
Miguel Santana e Wagner
Parra. Jair começou no ataqueeterminounogol,poisjá
tinhatraçadováriasdosesde
álcool. Um jogo histórico que
motivou Roldão a escrever
no jornal sobre seu espanto
de haver tantos poetas na
cidade. Não era bem assim.
Detalhe: ele deu o resultado
dapartida,4a4.Aamizade
fluiu, conviveu bastante com
ele, indo em sua casa, quando ele morava na Rua Mato
Grosso. E acabaram trabalhando profissionalmente juntos na Secretaria de Cultura,
ondeAlvarengajáatuava.
“Jairmechamouparafazerpartedaequipequecuidaria de projetos literários.
Então, pude desenvolver e
organizar projetos como varaisdepoesia,criaroprojeto
“O Autor e sua Obra”, que
permaneceatéhoje,ciclosde
poesiasfaladas.Semfalarda
revistaArtériadaqualfuium
dos revisores, e pude participarcomideias”,relembra.
Pesquisismo
Segundo Alvarenga, Narciso e Roldão, na década de
40, fizeram parte do pesquisismo, uma espécie de grupo que contava com nomes
como Miroel Silveira, FranciscodeMarchi,CidSilveirae
CassianoNunes,entreoutros,
que era tão contemporâneo
quediscutiaaimportânciado
modernismo,movimentoque
consideravamultrapassado.
“Explicar o estilo de cada
um é complicado, e acredito
que nem conseguiria fazê-lo,
masévisívelqueacidadede
Santos foi inspiração permanente para os dois poetas e
elesescreverampoemassobre
acidade.Amboseramobservadores atentos das situações do dia a dia, que estão
presentes nos textos dos dois
poetas ao lado deimagens
do cais, a maresia, o Oceano
Atlântico logo ali. Enfim, dois
poetas de conteúdo e forma
apurada. Jair, por sua vez,
era um estilo mais livre, sem
pertencer a nenhuma escola.
Um franco atirador, sempre
prontoaexperimentaracriaçãocomaspalavras”.
O poeta lembra-se dos
companheiros com carinho.
Conheceu Narciso e Roldão,
ambosjornalistasde ATribuna. Narciso como cronista e
Roldão como critico literário.
Jairerafuncionáriopúblicoe
teveumcargoimportantena
Secretaria municipal de Cultura, como coordenador de
projetosliterários.
Segundo Alvarenga, na
vida pessoal, Roldão assustava quem não o conhecesse
mais intimamente com seu
modosériodeser;noentanto,
eraumapessoadoce,amável
e muita humana. “Já Narciso era completamente louco,
atrás de sua aparência reservada. Uma criança peralta travestido de adulto. Um
humor grande e uma criatura maravilhosa”, diz. “Jair
era, por sua vez, irrequieto,
polêmico, uma pessoa culta
e divertida, mas que tinha
momentos agressivos, se fosse contrariado, e assustava
quem estivesse perto. Coisa
delibriano.Eramaisumadefesa,mas,nofundo,erauma
pessoasensíveledoce.Adoravaefaziatudopelosamigos”,
recorda.
O jornalista Adelto Gonçalves, doutor em Letras na
áreadeLiteraturaPortuguesa pela Universidade de São
Paulo, teve algumas conversas com Narciso nos anos 80
e 90, no Café Paulista. “Fui
apresentadoaelepeloRoldão
Mendes Rosa, que havia sido
meu professor na Faculdade
eerameucolegaderedação
emATribuna.Maséramosde
geraçõesdiferentes.Oqueele
me dizia coloquei em texto
publicadonaRevistaBrasileira,daAcademiaBrasileirade
Letras, em 2004, e que saiu
como prefácio do livro dele
quefoilançadoem2007,no
mesmo ano de sua morte”,
conta.
Segundoojornalista,apoesiadeleédeexcelentequalidade,estánoníveldosmaiores poetas do mundo. “Está
no nível da poesia do Carlos
DrummonddeAndradeedo
Manuel Bandeira, que tiveramasortedevivernoRiode
Janeironaépocaemqueesta
cidadeeraacapitaldaRepública”, diz. Ele acredita que,
se Narciso tivesse investido
mais na carreira, provavelmente, teria ficado conhecido
nacionalmente. Quem sabe,
seeletivesseeditadoumlivro
quandoeramaismoço,ainda
queasuacusta,talveztivesse ficado mais conhecido na
república literária. E isso de
editaroprópriolivronãoera
demérito nenhum naquela
época”,acrescenta.
Gonçalves lembra que
Lêdo Ivo, que é da geração
deleemembrodaAcademia
Brasileira de Letras, outro
grande poeta, também editoulivroporsuaprópriaconta. “Até porque as editores
sempre torcem o nariz para
publicar livros de poesia. De
qualquer modo, o Narciso
foi reconhecido como grande poeta, pelo menos aqui
emSantos.GraçasàEditora
da UNISANTA que foi responsável pela publicação
doseulivro,PoesiaSempre.
Pelo menos, a poesia dele
está nas bibliotecas e poderáserconsultadapormuitas
gerações”,diz.
Eu, poeta
nada de especial
quando eu passo ninguém
grita ninguém
pede meu autógrafo
não pro voco aglomerações
passo e já sou passado
há quanto tempo não te vejo, poeta,
a recíproca é verdadeira
estamos em junho
difícil nos encontrar mos
eu, poeta, con verso com o sol
ninguém entende
as coisas são simples
areia água distância
ilha – trilha de vida
o poeta não pode se perder
porque não segue caminhos
marginal – solitário – solidário
abraça o infinito e chora
ninguém entende
(Narciso de Andrade)
Tânia Vadiga
Quem te ouvisse falar, Tânia Vadiga,
de uma coisa talvez não se olvidasse
do móvel horizonte de teus lábios
num já amanhecido céu de inverno,
da linha branca e frágil das palavras
desfeitas em gaivotas, nunca vistas
pelo sonho mais sonho concebido
sequer pelo olho mágico dos deuses.
Quem te ouvisse falar não esqueceria
dessa praia de náufragos aberta
aos que te chamam do mais fundo oceano,
dessa terra que o mar deixou deserta
para que houvesse o espaço que exigias
ao vôo rente e branco de teus dias
(Roldão Mendes Rosa)
Cotidianidades
só existe um recomeçar em tudo
e este é sempre pretérito para nós
quando o momento se faz
em si premente agudo.
fica deste recomeço antigo a melancolia
o arrumar a casa todo dia
o refazer diário que o momento
quando em si
conhece e ignora por sabido.
a sensação de um futuro olvido
pontilhado de momentos já vividos
o vago sabor da eletricidade na água da boca
depois
o desalento das tardes não côncavas
o gozo que nunca foi como poderia ter sido
os dias
enfileirados os dias enfileirados
os dias.
e sempre se recomeça aquele recomeço
como quem já nem espana os livros
na manhã em que os queria limpos.
e se recomeça por vê-los perfilados
como os dias
amarelos remendados poeirentos
toda uma coleção de momentos dentro de
momentos
ao infinito
que parece ali e não além.
e se contempla o momento
no instante mesmo
em que ele foge surpreendido.
Cotidianidades
(Jair dos Santos Freitas)
Edição e diagramação: Vanessa Simões
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
13
“É estranha essa Cidade”, diz Mendes
O compositor Gilberto Mendes fala sobre o Festuval Música Nova, que completará 50 anos em 2012, desta vez no interior paulista
ALINE DELLA TORRE
Aline della Torre
Gilberto Mendes é um dos
principais compositores de
música erudita da atualidade
nome é uma referência.
Seus CDs são sucesso
internacional e ele já tocou nos
principais centros de música da
Europa e dos Estados Unidos.
Criador do Festival Música
Nova em 1962, em Santos,
Mendes é cultura viva.
Em entrevista ao Primeira
Impressão, ele conta os rumos
que o festival está seguindo
e crítica a Cidade como um
lugar onde não se faz nada de
verdade.
Primeira Impressão —
O Festival de Música Nova
é o mais antigo do gênero nas
Américas?
Gilberto Mendes — Sim.
existe desde 1962. Em 2012, ele
fará 50 anos.
PI — O Festival começou
em 1962 em Santos, mas antes
teve um com outro nome em
São Paulo?
GM — O Festival Música
Nova começou. Não começou
com este nome, começou
com... Nem me lembro mais,
talvez Semana da Música de
Vanguarda. A gente começou
em São Paulo, porque aqui não
se faz nada de verdade. Então,
eu fazia parte do movimento
de música contemporânea,
música nova, música moderna
de São Paulo. E foram surgindo
compositores nesse grupo, eu,
Rogério Duprat, Willy Corrêa
de Oliveira, Damiano Cozzela,
entre outros, e começamos
a formar um grupo, com
a mesma ideia de tornar
moderna a música erudita
brasileira que estava apagada
em relação às outras.
PI — Então, foi com esse
objetivo de modernizar a
música que o festival foi
criado?
GM — Atualizar a
linguagem da música erudita
brasileira,
atrasada
em
relação aos outros países,
sobretudo a Argentina, que
estava produzindo uma
ótima música. Um deles até
se mudou para a Alemanha
e se tornou um dos maiores
compositores do mundo,
Maurício Kagel. Na Bienal
de São Paulo, em 1961, me
ofereceram para fazer um
concerto com os quatro
importantes compositores que
eram eu, Rogério Duprat...
(pausa para uma tosse,
Gilberto Mendes explica que
tem asma)
PI — Por isso que o senhor
está morando na praia
ainda?
GM — Ah, eu nunca morei
em São Paulo. Se eu tivesse
morado lá eu já teria morrido.
Aquela poluição, aquele ar, o
frio.
PI — E o senhor vai fazer
90 anos, não é?
GM — No ano que vem.
Aguarde um pouco, tão
precipitando muito. Fiz 89
na semana passada (13 de
outubro).
PI — Vocês fizeram um
concerto em São Paulo e
depois trouxeram para cá?
GM — Nós fizemos um
concerto em 1961. Muito bom,
muito importante que foi
na Bienal de São Paulo. Foi
14
no Teatro Cultura Artística
e televisionado ao vivo pela
antiga TV Excelsior. Teve
poesia concreta com cartazes,
um negócio muito chique. E
eu ofereci fazer isso em Santos.
E o cara lá falou para eu
trazer algumas coisas. Aí eu
fiz umas três palestras, umas
audições também de discos de
música eletrônica. Quando eu
falo de música eletrônica é a
verdadeira, não essa de pista
aí.
PI — Qual é a verdadeira
música eletrônica?
GM — Música eletrônica de
pista é música comum, feita
com instrumentos eletrônicos.
A música eletrônica erudita é
outra coisa. Não entra nota, é...
(Gilberto Mendes imita os sons
com a boca...) É com ruídos
sintetizados em aparelho.
Mas essa música eletrônica de
pista pegou e ninguém tira.
Onde é que eu estava? Ah,
então, teve as audições de
discos e se chamou Semana
de Música Contemporânea.
Eu pensei que fosse só aquilo
e iria morrer, não é? Nesse
mesmo ano, eu, Willy Corrêa
de Oliveira, Rogério Duprat,
que depois ficou famoso na
música popular, nós três e
depois mais um outro que caiu
fora, o Damiano Cozzela, nós
quatro éramos os principais
compositores e no meio do
ano (de 1962) fomos para a
Alemanha.
PI — E como foi a volta ao
Brasil?
GM - Quando nós voltamos
trouxemos uma extensão de
um movimento universal que
tinha como centro principal a
Alemanha. E nós trouxemos
a Música Nova para cá com
a tradução de neue musik
do alemão, música nova. Nós
trouxemos esse nome porque
estava no nosso objetivo, o
de renovação da linguagem
com sons eletrônicos concretos.
Então, no ano seguinte,
inspirado no Festival de Música
Nova que tínhamos visto na
Alemanha, preparei o festival
fazendo parte da comissão
de cultura. E lembrando do
festival anterior, eu coloquei
esse como o 2º Festival de
Música Nova.
PI — O senhor disse em
uma matéria para o Estadão.
com, setembro, que o festival
não se realizou esse ano por
absoluto
desinteresse
da
Prefeitura e da Secretaria de
Cultura da Cidade. O que
aconteceu?
GM — Aconteceu também
há cinco anos, pelos mesmos
motivos de agora, puro
descaso. E também por um
descaso daquela época da
Secretaria de Cultura que
tirou a Orquestra Sinfônica
de Santos de nosso festival.
Aí me preveniram de
que era o primeiro passo
para fechar a Orquestra
Sinfônica. Então, em defesa
da Orquestra Sinfônica
de Santos, que era uma
conquista da Cidade, não
teve festival aquele ano.
PI — E no ano passado
teve o festival em Santos e em
São Paulo também?
GM — Isso. Em Santos e em
São Paulo porque o festival é
um movimento de São Paulo
que eu trouxe para cá porque
Edição e diagramação: Gabriel Martins
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
pais centros de música
Gilberto Mendes já tocou nos princi
do mundo.
aqui tivemos condições de
fazer melhor. Em São Paulo,
já acontece muita coisa.
PI — O senhor ficou
chateado por não ter
acontecido o festival este ano?
GM — Não, não fiquei.
Não pensem que eu estou
chateado. Isso foi só um
aspecto da minha vida. Eu
não sou empresário, não sou
produtor, não ganho nada
com isso. Pelo contrário, saiu
muito dinheiro do meu bolso.
Tive que telefonar para o
exterior e isso é caro. Quando
os músicos vêm aqui eu os
levo a restaurantes, não vou
levá-los a uma espelunca. É
muita despesa desse tipo. Eu
não ganho nada com esse
festival, nunca ganhei nada.
Só no primeiríssimo que eu
fiz, quando dei palestra, eu
ganhei uns 300 reais, 500, no
máximo. Mas depois, quando
o festival se definiu melhor,
eu não quis mais. Eu nem ia
participar direito, só ia dar
uma palestra e outra. E eu sou
muito criticado por isso.
PI — Criticado por não
receber dinheiro?
GM — É, porque todos
que fazem recebem. E hoje
existem muitos festivais, só
em Paulínia são três. Há o
festival de música, de cinema
e o de teatro. Só nessa cidade
aqui que não tem nada. O
de teatro ainda é de teatro
amador. Cidades do interior
fazem festivais internacionais
de teatro trazendo grupos
do exterior. Santos, que
teve Cacilda Becker, Plínio
Marcos, não faz um festival
internacional de teatro. É
estranha essa cidade. Ela
abriga vários compositores e,
modéstia à parte, eu vou ter
que me incluir nisso. Eu e o
Almeida Prado estamos entre
os cinco mais importantes
compositores brasileiros do
momento. Com um país
enorme, com tantos estados,
dois são de Santos.
PI — Dá para entender
isso?
GM — É uma coisa
esquisita. Às vezes, penso se
é por conta da proximidade
com São Paulo. Eu não fui
para São Paulo porque sofro
de asma. Eu teria vivido lá
se não tivesse asma. As coisas
todas estão lá, mas o fato de
morar aqui puxei o festival
para cá e floresceu. Mas se
tivesse uma secretaria que
percebesse isso aí, de cultura e
de turismo, tiraria um proveito
enorme. A primeira desculpa
é: no festival vai pouca gente.
Vai pouca gente, mas é muito
famoso. Não entendem que
essa pouca gente que vai é
bem escolhida. São jornalistas,
gente da publicidade, exitem
alguns músicos, mas os bons
mesmos, não só aqueles que
vão pra escutar Chopin e
Beethoven – que são muitos
bons, de fato -, mas o mundo
não parou ali, surgiram outros.
Mas a problemática é essa.
PI — O festival do próximo
ano vai ser em Ribeirão
Preto?
GM — É, surgiu a ideia.
Teve um ex-aluno meu lá da
USP, que é de Ribeirão Preto,
e agora é professor titular,
conseguiu puxar, para não ter
que ficar dando aula em São
Paulo, um departamento de
música da USP em Ribeirão
Preto.
E a USP já têm
departamentos famosos lá, o
de Medicina é ótimo, o de Física
é muito importante. Agora,
estão fazendo esse de música
primoroso. Já tem dois teatros
lá e estão fazendo outro. Então
tem tudo lá. E a USP sempre
foi ligada ao festival porque
40% dos músicos brasileiros que
participam do nosso festival
são da USP, colegas meus, pois
já dei aula lá.
PI— Quantos anos o senhor
deu aula na USP?
GM— 15 anos. Pouco
tempo. É que eu tinha um
emprego público que ganhava
muito bem. Eu trabalhava
na Caixa Econômica Federal.
Se assumisse a USP teria que
largar a Caixa e perderia todos
os meus direitos. Eu teria que
assumir uma carga horária em
São Paulo integral, ou seja,
teria que mudar para lá. Mas
não quis fazer isso, se fizesse
isso já teria morrido. Entrei na
USP quando me aposentei da
Caixa. Aí assumi a USP, mas
com carga horária pequena.
PI — O que vai ter no
Festival de Música Nova de
Ribeirão Preto em 2012?
GM— Vai ser como os
outros. Terá concertos e vamos
ver quem vamos trazer do
exterior e daqui do Brasil. E
a novidade são os cursos, mas
não vai ser como o que tem
em Campos do Jordão, porque
o de lá dura um mês.
PI— É muito tempo?
GM— É, é muito puxado.
Eu sugeri fazer como o da
Alemanha, que são dez dias.
E é uma coisa muito superior,
mais que o de Campos do
Jordão, que é música no geral
e envolve até principiantes.
O nosso vai ter cursos para
quem já é formado, um
aperfeiçoamento. Fazer o
festival em 10, 12 dias já está
muito bom.
PI — Para encerrar, o
que o senhor acha do rumo
que a música brasileira está
tomando?
GM — Quando alguém
pergunta isso é porque já está
pensando em música popular.
PI — Não, não estava
pensando nisso.
GM — Você gosta de
música erudita?
PI
—
Não
tenho
conhecimento para avaliar
isto, mas o som me agrada
sim, bastante.
GM — Isso é uma coisa que
acabou. No meu tempo era
diferente. A música erudita,
a música clássica, tinha outra
dimensão. Hoje em dia, é só
música popular. No passado,
não tinha isso. Se você
perguntar quais são os músicos
brasileiros de hoje fatalmente
vão responder Chico Buarque
e Caetano Veloso.
PI — E para senhor, quais
são então?
GM — Ah, é que a música
popular tomou um porte muito
grande e está substituindo a
erudita. Intelectuais já pensam
que Caetano Veloso e Chico
Buarque são música erudita.
Eu adoro esses compositores
também, mas eles são da
música popular brasileira.
Uma música popular é feita de
duas partes, um A e um B. E é
tocada por qualquer pessoa.
Outra pessoa pra tocar vem e
muda o arranjo. Isso não existe
no erudito. A música erudita
é feita de uma complexidade
enorme. Eu participei de um
prêmio com meu disco de
música experimental e o cara
que ganhou o prêmio foi com
um disco de violino solo de
música romântica.
PI— O júri não gostou do
seu CD?
GM — O júri não gosta.
E o júri o que é? São críticos
musicais de revista. Equivale
a você, que gosta de música,
mas não pode julgar um disco
altamente experimental.
PI — Ainda assim o senhor
vai continuar fazendo a sua
música, não é?
GM— Ah sim. Até porque
o que eu posso esperar mais?
Eu já fui tocar nos lugares mais
famosos do mundo. Já fui para
Nova York, no Carneggie Hall,
no Lincoln Center. Os dois lugares
mais importantes dos Estados
Unidos. Em Viena, no Concert
Hall, na sala mais importante
do Concerto de Viena, toquei
Beba Coca-Cola.
PI — Eu gosto dessa
música.
GM — Conhece essa
música?
PI — Conheço.
GM — Já ouviu?
PI — Ouvi. Eu acho muito
legal. O senhor tirou de um
poema, não?
GM — É um poema do
Décio Pignatari. Um poema
muito bom.
PI — E qual é a
repercussão?
GM — Ela é um sucesso
mundial. E eu não ganho
nada com isso. Um sucesso de
música popular deixa o cara
milionário. Enche estádio.
MIS preserva a história
da cultura brasileira
Fundado em 1996, museu tem mais de 12 mil discos e oito mil filmes disponíveis em seu site,
além de objetos que marcam a trajetória do rádio, da TV e do cinema
Juliana Carrasco
fOtOs juLiana CarrasCO
Com cores psicodélicas que
dão um ar contemporâneo e
multimídia em um cenário de
relíquias curiosas do rádio e
da televisão – assim é o ambiente do Museu da imagem
e do som de santos (Mis), um
dos espaços que compõem
o Centro de Cultura Patrícia
Galvão. um lugar apropriado
para quem deseja viajar no
tempo, aprender ou até mesmo relembrar as boas épocas.
Criado com o intuito de
preservar e arquivar a história
da Cidade, por meio de arquivos e acervos, o Mis foi fundado em 1996, por iniciativa da
secretaria Municipal de Cultura e gerido pela Coordenadoria de Cinemas (Cocine).
segundo o coordenador de
cinemas, nívio Mota, o Museu
passou por mudanças tanto físicas quanto de serviços e
programação, além de guardar acervos. O Mis também
tem como propósito resgatar
e preservar a vida e as pessoas
que fizeram e fazem cultura
na Cidade, como também os
eventos característicos daqui,
como o Curta santos. “Ele é
um festival forte na área de cinema em santos. Pessoas inscrevem filmes do Brasil todo,
mas cerca de 40 dos mil que
são inscritos todo ano participam do festival. todos esses
filmes que não foram selecionados ficam guardados aqui,
como também os eventos culturais da Prefeitura e da secretaria de Cultura”, conta o
coordenador.
Outra mudança que ocorreu ao longo dos anos foi a
divisão de acervos que se fundiram em cinco partes e que
ainda passam por um processo de triagem e catalogação.
Confira:
Audioteca: O interessado
tem a oportunidade de realizar pesquisas ou simplesmente
ouvir o vasto acervo de músicas que contém cerca de 15 mil
títulos que variam entre, rock,
brega, trash, ópera, mpb, erudito e os de compositores e
grupos locais, além de raridades como partidas do santos
futebol Clube em vinil.
Videoteca: na videoteca,
as pessoas podem ter acesso
a um acervo com cerca de 10
mil títulos que variam entre,
documentários, ficção, animação, filmes de artes, institucionais, musicais e óperas.
Documentação: nesta seção fica guardado todo tipo
de suporte em papel que fez
parte da história cultural da
Cidade como fotos, periódicos,
panfletos, cartazes, folheteria,
textos e até mesmo negativos
em vidro, que hoje são consideradas raridades.
Objetos: ficam expostos no
Museu para a curiosidade dos
visitantes objetos como máquinas fotográficas, vídeoscassetes, filmadoras, projetores,
entre outros.
Coleções: nas coleções, encontram-se todo tipo de eventos artísticos, personalidades e
personagens que são encami-
nhados para a divisão de segmentos.
Para ter acesso a esse
acervo, os interessados devem fazer um agendamento. “as pessoas podem ligar
e agendar para ouvir as
músicas do nosso acervo de
LP’s, para ver filmes, e também há a possibilidade de
se filiar ao Museu gratuitamente, fazendo uma carteirinha. Dessa forma, podem
levar os filmes para assistir
em casa, como uma locadora”, explica Mota.
Quando
questionado
quanto às mudanças que
deveriam ser ainda realizadas no Museu, o coordenador explica que, inicialmente, o problema maior tem
sido a reforma do espaço
que estava com goteiras.
“Estamos passando por uma
reforma que não acaba
nunca. Está um inferno isso,
porque temos goteiras aqui,
aliás todos os prédios estão
sendo arrumados. Houve
um patrocínio para isso,
mas a empresa ainda não
concluiu a obra”, diz. “O
que dificulta é que não posso agendar uma programação, não posso fazer nada,
pois a obra pode acontecer
a qualquer momento, além
do desconforto de ter que
desmarcar, que é algo desagradável para o público”,
desabafa o coordenador.
Outro impasse vivido no
Mis, segundo Mota, são os
tombamentos dos acervos,
pois não são feitos manualmente como de costume.
Para tombar uma peça, o
responsável precisa entrar
no servidor da Prefeitura
e registrá-la no banco de
dados customizado para
tal. Depois de preencher
alguns campos exigidos em
um longo processo, o acervo
recebe um número e automaticamente a peça estará disponível no site do Mis
para consulta.
“Pode ser que os meus tataranetos morram e a gente
ainda não tenha terminado o
processo de tombamento das
peças. se você entrar no site
agora vai ver que nele há cerca de 12 mil discos e mais uns
8 mil filmes. Isso não é cerca
de 1 décimo do que tem para
ser tombado. O problema é
que aqui não temos máquinas nem mesmo funcionários
capacitados para realizar esse
processo. seria um trabalho
de formiguinha o dia inteiro”,
explica o coordenador.
O Mis possui uma equipe
de sete funcionários, alguns
estão afastados por motivo de doença e outros são
responsáveis pela parte administrativa, mas são necessários funcionários na parte
técnica para suprir as necessidades do Museu. “É uma
gama de materiais de suporte muito diferentes e eu
preciso ter formação específica. não conseguimos ainda
esses funcionários, pois há
todo um processo contratual
da Prefeitura, por meio de
MIS é um espaço para quem
deseja viajar no tempo
LP’s têm um lugar reservado
para os amantes da boa música
concurso público. Porém, os
concursos são algo um tanto quanto relativos, pois a
pessoa pode apresentar um
currículo da área, mas não
ter experiência e a formatação do concurso permite que
esse funcionário seja contratado, o que nos dificulta”.
O lugar atende ao público do Brasil todo, como
pesquisadores na área de
comunicação, pessoas que,
por ventura estão passeando pelo teatro Municipal e
descobrem o espaço, e o público das escolas. “recebemos as crianças em grupos
fechados, muitas delas me
questionam: -- ‘Nossa, tio,
porque o seu CD é tão grande!’ Boa parte delas não
sabe o que é um LP e vêm
conhecê-lo aqui no Museu”.
O Museu contém várias
programações
específicas
como o Cinema no Mis, que
mensalmente apresenta um
tema, a sessão retrô, que
mostra clássicos dos filmes
mundiais exibidos ainda em
película, o Ópera Mis, com
títulos desse gênero convertidos especialmente para
cinemas e o Música Mis que
é uma mistura de cinema
mudo com projeções multimídias criadas a partir do
universo sonoro realizado
ao vivo. além dessas programações, o Mis também é
responsável pelo projeto Ci-
nema de rua que tem como
prioridade no momento destacar o cinema brasileiro.
seu espaço físico abriga
estúdio de gravação digital
para gravações ao vivo e
trilhas sonoras para espetáculos, que pode ser alugado, um espaço expositivo, o
auditório Chico Botelho que
contém 75 lugares com uma
tela de 200 polegadas, ilha
de escuta, sala de vídeo para
títulos que não podem ser locados e entrada universal.
Centro de Cultura
O Centro de Cultura recebeu o nome de Patrícia
Galvão (1910-1962) no intuito de homenagear a primeira mulher presa no Brasil
por motivos políticos, o que
ocorreu em 1931, depois do
movimento que levou Getúlio Vargas ao poder. Com
pseudônimo de Pagu, Patrícia foi escritora e jornalista com grande destaque no
Movimento Modernista.
inaugurado no dia 10 de
março de 1979, o Centro é a
principal obra de arquitetura de santos. abriga o teatro
Municipal Braz Cubas, o
teatro de arena rosinha
Mastrângelo, o Museu de
imagem e do som e a Casa
da Memória dos transportes, além de galeria de arte,
auditório para projeção de
filmes e espaços para atividades culturais variadas.
neste Centro de Cultura,
ocorrem os principais eventos
em santos como o festival
de Teatro Amador e Bienal
nacional de artes Visuais.
Peça recorda ‘reclames’
a peça reclame – uma História de amor conta a trajetória de Lourdes, rodolfo e janete, que, motivados por
jingles de reclames comerciais das décadas de 30 a 90, resolvem formar um triângulo amoroso.
Os personagens são inseridos em situações do dia a dia,
passando por momentos de alegrias, frustrações, decepções,
entre outros, com uma mistura de fatos históricos que mudaram definitivamente a história do Brasil.
toda a história é cantada em versos como se fossem jingles muito ouvidos antigamente e que marcaram épocas,
deixando a peça animada e despertando recordações.
O público pode interagir e é chamado a desvendar um
segredo familiar que se deixou levar com o passar dos anos
e que somente os protagonistas da peça conhecem.
Edição e diagramação: Vanessa Simões
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011
15
MURILLO CARVALHO
SORAYA SANTOS
ENSAIO
Nesta edição do PI, o leitor tem
a oportunidade de conhecer um
pouco mais sobre a cultura em
Santos, traduzida em imagens.
Pode conhecer a Oficina Cultural
Patricia Galvão, que funciona na
chamada Cadeia Velha, no Centro
da cidade, e oferece diversos cursos;
o tradicional baile dominical da
Fonte do Sapo, ao final de tarde; as
exposições na Pinacoteca Benedito
Calixto; o Museu da Imagem e do
Som, local que abriga parte da
história cultural do município; o
Projeto Chorinho no Aquário aos
sábados, com o melhor da música;
e o Espaço Cultural e Galeria de
Arte da UNISANTA.
SORAYA SANTOS
JULIANA CARRASCO
SORAYA SANTOS
SORAYA SANTOS
16
Edição e diagramação: Vanessa Simões
PRIMEIRA IMPRESSÃO • Outubro de 2011

Documentos relacionados