l`o sse rvator e romano - Paróquia Nossa Senhora da Conceição
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y(7HB5G3*QLTKKS( +.!"!{!@!$! Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Cidade do Vaticano Ano XLVII, número 32-33 (2.426) quinta-feira 11-18 de agosto de 2016 Na Porciúncula o Papa indicou o caminho para renovar a Igreja e a sociedade O mundo tem necessidade de perdão Nunca renunciemos a «ser sinais humildes de perdão e instrumentos de misericórdia», porque «demasiadas pessoas vivem fechadas no rancor e conservam ódio, arruinando a própria vida e a dos outros em vez de encontrar a alegria da serenidade e da paz». Repetindo que o mundo de hoje «precisa de perdão», o Papa confiou à intercessão de são Francisco esta invocação durante a visita à Porciúncula em Assis realizada na tarde de 4 de agosto. Na comemoração do oitavo centenário do Perdão de Assis, o Pontífice foi à basílica de Santa Maria dos Anjos ali permanecendo três horas durante as quais, em longa oração silenciosa na Porciúncula, lugar do qual a indulgência invocada por são Francisco ainda hoje continua a «gerar paraíso». Depois de ter proposto uma meditação aos fiéis presentes na basílica, ouviu a confissão de 19 pessoas, saudou os bispos, os superiores-gerais das ordens franciscanas e — evento particularmente significativo à luz de quanto acontece nestes dias — Abdel Qader Mohd, imã de Perúsia. Por fim, Francisco encontrou-se com dez religiosos doentes, com os assistentes, na enfermaria do adjacente convento dos frades menores. Acrescentando como de costume considerações improvisadas ao texto escrito da meditação sobre o trecho evangélico de Mateus (18, 21-35), a conhecida parábola do servo sem piedade, Francisco libertou o campo de equívocos dizendo-se consciente de que «é difícil» perdoar. «Quanto nos custa perdoar os outros! Pensemos um pouco nisto», exortou. De resto a Porciúncula, onde «tudo fala de perdão» — observou o Pontífice — oferece infinitos pontos de reflexão sobre «o grande dom» oferecido pelo Senhor aos homens, ensinando-lhes «a perdoar ou, pelo menos, a ter a vontade de perdoar». A tal propósito Francisco não tem dúvidas: «Não há ninguém entre nós, aqui, que não tenha sido perdoado». Consequentemente «como Deus nos perdoa, assim também devemos perdoar a quem nos faz mal. É a carícia do perdão. O coração perdoa. O coração que perdoa, acaricia». Outro elemento de reflexão contido na parábola e evidenciado pelo Pontífice foi a «paciência de Deus», que se manifesta sobretudo no confessionário. «Somos cheios de defeitos — reconheceu Francisco — e cometemos com frequência os mesmos pecados. No entanto, Deus nunca se cansa de oferecer o seu perdão cada vez que o pedimos». Trata-se de «um perdão pleno, total, com o qual nos oferece a certeza de que, não obstante possamos cometer de novo os mesmos pecados, Ele tem piedade de nós e nunca deixa de nos amar». O seu perdão «não conhece limites; vai além de toda a nossa imaginação e alcança quantos, no íntimo do coração, reconhecem que erraram e agora desejam voltar para Ele». Dado que «oferecer o testemunho da misericórdia é uma tarefa à qual Durante o Angelus a denúncia à falta de vontade de paz «É inaceitável que tantas pessoas inermes — inclusive muitas crianças — paguem o preço do conflito» na Síria. O Papa Francisco escolheu palavras fortes no Angelus de domingo 7 de agosto para voltar a denunciar o drama das populações sírias e «a falta de vontade de paz dos poderosos». Da janela do Palácio pontifício, no final da prece mariana o Papa recordou que do país médio-oriental «continuam a chegar notícias de vítimas civis da guerra, em particular de Alepo». Por isso, quis reiterar a sua proximidade «com a oração e a solidariedade aos irmãos e irmãs sírios», confiando-os «à proteção maternal da Virgem». E fê-lo convidando todos os fiéis presentes na praça de São Pedro a rezar «um pouco em silêncio e depois uma Ave-Maria». PÁGINA 3 Caminho de Igreja D OMENICO SORRENTINO NA PÁGINA 7 Uma mulher com o seu filho em Manbij, perto de Alepo (Afp) PÁGINA 6 O Pontífice apresentou um dicionário Manual para confessores e fiéis Preço do conflito na Síria Aniversário do Perdão de Assis ninguém pode renunciar», Francisco convidou os frades e os bispos presentes «a ir aos confessionários e ficar à disposição do perdão», assim como ele mesmo fez, permanecendo ali cerca de uma hora a confessar. PÁGINA 4 Audiência geral Do coração às mãos A misericórdia «é um caminho que tem início no coração para chegar às mãos», recordou o Papa Francisco na audiência geral de quarta-feira, 10 de agosto, evocando a necessidade de viver o jubileu extraordinário como ocasião para receber o perdão de Deus e para o levar aos outros através das obras de caridade. Ao comentar com os fiéis reunidos na Sala Paulo VI o trecho evangélico que narra a ressurreição do filho da viúva de Naim, o Pontífice evidenciou que o núcleo da descrição de Lucas (7, 11-17) «não é o milagre mas a ternura de Jesus para com a mãe deste jovem». Sim, Ele «sente grande compaixão» por aquela mulher, a ponto de parar o cortejo fúnebre e de «enfrentar a morte», restituindo o jovem à vida. PÁGINA 12 L’OSSERVATORE ROMANO página 2 «A coragem e a força que tendes dentro de vós possam transmitir, através dos jogos olímpicos, um grito de fraternidade e de paz». Foi com estes bons votos que o Papa Francisco se dirigiu ontem, mediante uma carta, aos membros da seleção olímpica de refugiados que participa nas olimpíadas do Rio, inauguradas oficialmente no dia 5 de agosto. O Pontífice comunicou a sua saudação a fim de que «através de vós a humanidade inteira compreenda que a paz é possível, que com a paz tudo se pode ganhar e, ao contrário, com a guerra tudo se pode perder. Desejo que o vosso testemunho faça bem a todos nós. Rezo por vós e, por favor, peço-vos que oreis por mim». E também aos jogos foi dedicado o tweet do dia, no qual o Santo Padre formula bons votos a todos os atletas comprometidos nas várias competições dos jogos: «Sede sempre mensageiros de fraternidade e de genuíno espírito desportivo». Da seleção de refugiados presente no Rio de Janeiro fazem parte dez atletas (seis homens e quatro mulheres), que ontem desfilaram no Maracanã sob uma única bandeira, nomeadamente a das Olimpíadas. No grupo contam-se dois nadadores da Síria, dois judocas da República Democrática do Congo e seis corredores provenientes da Etiópia e do Sudão do Sul. Todos eles fugiram de violências e de perseguições, procurando refúgio noutros países. A jo- quinta-feira 11-18 de agosto de 2016, número 32-33 Bons votos do Pontífice Olimpíadas de todos vem síria de 18 anos Yusra Mardini, refugiada em Lesbos, salvou dezenas de pessoas, impelindo a nado com a irmã uma embarcação até à praia. Estes atletas falam várias línguas, mas representam um único povo de mais de sessenta milhões de pessoas em fuga, que têm em comum a dor e a esperança, além da busca de um futuro melhor. «Não dispõem de uma casa, nem de uma sua seleção, e nem sequer de uma bandeira ou de um hino», disse o presidente do Comité olímpico internacional, Thomas Bach. «Nós ofereceremos a estes atletas uma casa na aldeia olímpica, juntamente com todos os demais participantes do mundo inteiro. E para eles será tocado o hino olímpico, enquanto a bandeira agitada nos estádios para os representar será a das Olimpíadas», acrescentou o presidente do Comité olímpico internacional. A grandiosa festa brasileira foi aberta ontem com a cerimónia de inauguração, um espetáculo ao qual assistiram pelo menos três biliões de pessoas. O estádio do Maracanã, em festa e renovado, estava lotado por 60.000 espetadores que aplaudiram um espetáculo inesquecível. O cineasta brasileiro Fernando Meirelles, um dos três diretores artísticos em ação, quis organizar o show em volta de dois temas-chave: o respeito pelo meio ambiente e a multiculturalidade. E o espetáculo não desiludiu as expetativas, contando com a participação de milhares de artistas — das doze escolas de samba que se apresentaram — e uma homenagem significativa à riquíssima tradição musical brasileira. Além disso, participaram nos trabalhos de preparação do evento mundial mais de cinco mil voluntários e aproximadamente trezentos produtores artísticos. Para iluminar o céu do Rio de Janeiro foram utilizadas não menos do que três toneladas de fogos de artifício. E durante o espetáculo a segurança foi garantida por cerca de oitenta mil agentes das forças policiais e militares, que pouco antes do início da extraordinária manifestação tiveram que intervir para dispersar alguns manifestantes reunidos nos arredores do estádio. Diante de numerosas autoridades e representantes do mundo inteiro, quem inaugurou oficialmente os jogos olímpicos foi Michel Temer, presidente ad interim do Brasil. Iniciativa das religiosas brasileiras por ocasião dos jogos olímpicos do Rio Uma medalha de ouro contra o tráfico Há dois anos, por ocasião da copa do mundo de futebol contribuiu de modo determinante (+ 42 por cento de denúncias) para fazer emergir os casos de exploração sexual de crianças e adolescentes e de situações de tráfico de pessoas. Hoje, enquanto têm início as Olimpíadas e sobre o mais vasto país sul-americano se acendem os holofotes do cenário internacional, a rede brasileira de religiosas contra o tráfico de pessoas «Um grito pela vida» põe novamente em campo a campanha «Jogue a favor da vida». O mesmo slogan de 2014 e a consciência de que ainda desempenha um papel decisivo no contraste a um fenómeno acompanha cada vez mais as grandes manifestações que atraem massas de turistas e visitantes de todas as partes do mundo. De facto, também as olimpíadas brasileiras correm o risco de se transformar em ocasião propícia para a criminalidade, para os traficantes de seres humanos destinados à exploração sexual ou empregatícia. «Se a sociedade e as instituições não estiverem atentas, as situações de degradação como a violência sexual e o trabalho de menores, tenderão a aumentar», adverte a religiosa Eurides Alves de Oliveira, coordenadora de «Um grito pela vida». A campanha apoiada por Talitha Kum, rede internacional dos organismos religiosos contra o tráfico de pessoas, e pela União internacional das L’OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt superioras-gerais, visa informar e responsabilizar os cidadãos, a imprensa e as agências de viagem sobre um fenómeno que pode ser prevenido e contrastado. O objetivo, explicou a religiosa, é fazer de Rio 2016 «um espaço propositivo, que promova a cidadania, o cuidado pela vida e a denúncia do tráfico de pessoas e de todas as formas de exploração e violação dos direitos humanos, dando à população instrumentos a fim de que possa reagir e denunciar qualquer forma de comercialização e banalização da vida». Trata-se, acrescentou, de «tomar posição contra as forças de morte» e de «afirmar o nosso compromisso a favor da vida» em particular de quantos «têm os seus direitos violados e vivem submetidos pelo jugo da escravidão contemporânea: o tráfico de pessoas, definido pelo Papa Francisco “uma chaga no corpo da humanidade”». A campanha antitráfico, realizada por vinte e seis grupos de networks presentes em vinte e dois Estados brasileiros, pede que as pessoas denunciem — foi ativado um telefone gratuito através do qual podem ser apresentadas denúncias inclusive de forma anónima — e que as autoridades sejam mais velozes na atividade de investigação e nos processos aos responsáveis por estes crimes. Uma campanha realizada através dos meios de comunicação e das redes sociais, nas ruas do Rio de Janeiro e de Manaus. Mas também com atividades GIOVANNI MARIA VIAN diretor Giuseppe Fiorentino vice-diretor Cidade do Vaticano [email protected] www.osservatoreromano.va Redação via del Pellegrino, 00120 Cidade do Vaticano telefone +390669899420 fax +390669883675 TIPO GRAFIA VATICANA EDITRICE L’OSSERVATORE ROMANO don Sergio Pellini S.D.B. diretor-geral de tipo educativo sobretudo aos jovens e adolescentes, que são os principais grupos que correm o risco do tráfico. «Contestam-nos — disse a irmã Gabriella Bottani, coordenadora de Talitha Kum — que não deveríamos associar o desporto à exploração e ao tráfico. Sabemos que muitos projetos desportivos até em regiões remotas ajudam a recuperar adolescentes em situações de vulnerabilidade, mas também que grandes eventos trazem consigo riscos: atos de vandalismo ou realidades de aumento da exploração, antes para a realização das infraestruturas e dos serviços necessários e depois para a exploração sexual». Eis a importância de um compromisso que seja capaz de catalisar as energias. «É um trabalho realizado juntamente com diversas Igrejas, não só a Igreja católica: é uma obra ecuménica mas também de colaboração com as organizações governamentais prepostas ao trabalho contra o tráfico». Para o padre Mario Geremia, missionário scalabriniano responsável pelo núcleo da rede antitráfico da vida consagrada no Rio de Janeiro, a campanha é «um gesto profético» porque «com ela se denunciam não só as consequências do tráfico mas as suas causas, um sistema injusto que concentra as riquezas e exclui as pessoas, promove sonhos de consumo» mas «não oferece as condições para os realizar». Assinaturas: Itália - Vaticano: € 58.00; Europa: € 100.00 - U.S. $ 148.00; América Latina, África, Ásia: € 110.00 - U.S. $ 160.00; América do Norte, Oceânia: 162.00 - U.S. $ 240.00. Administração: telefone +390669899480; fax +390669885164; e-mail: [email protected] Serviço fotográfico Para o Brasil: Impressão, Distribuição e Administração: Editora santuário, televendas: 0800160004, fax: 00551231042036, e-mail: [email protected] telefone +390669884797 fax +390669884998 [email protected] Publicidade Il Sole 24 Ore S.p.A, System Comunicazione Pubblicitaria, Via Monte Rosa, 91, 20149 Milano, [email protected] número 32-33, quinta-feira 11-18 de agosto de 2016 L’OSSERVATORE ROMANO página 3 Bernardette Lopez, «Vigiai» No Angelus o Papa convidou a usar os bens para ajudar o próximo Elogio da vigilância É inaceitável que crianças paguem pela guerra na Síria «Hoje Jesus recorda-nos que a expetativa da bem-aventurança eterna não nos dispensa do compromisso de tornar o mundo mais justo e mais habitável», afirmou o Papa Francisco durante o Angelus de domingo 7 de agosto, comentando aos numerosos fiéis e peregrinos presentes na praça de São Pedro a página do Evangelho de Lucas (cf. 12, 32-48), onde «Jesus fala aos seus discípulos sobre a atitude que devem assumir em vista do encontro final com Ele». Eis as expressões do Pontífice. Bom dia, estimados irmãos e irmãs! Na página do Evangelho de hoje (cf. Lc 12, 32-48), Jesus fala aos seus discípulos sobre a atitude que devem assumir em vista do encontro final com Ele, explicando que a expetativa de o Senhor com fé, permanecendo pronto, em atitude de serviço. Ele faz-se presente cada dia, bate à porta do nosso coração. E bem-aventurado será aquele que lhe abrir a porta, porque receberá uma grande recompensa: com efeito, o próprio Senhor será o Servo dos seus servos — é uma bonita recompensa! — e no grandioso banquete do seu Reino Ele mesmo passará a servi-los. Mediante esta parábola, ambientada de noite, Jesus apresenta a vida como uma vigília de espera ativa, um prelúdio ao dia resplandecente da eternidade. Para podermos aceder a ela é preciso que estejamos prontos, acordados e comprometidos no serviço ao próximo, na consoladora perspetiva de que no «além” já não seremos nós que serviremos a Deus, maldades quotidianas brotam da ideia de nos comportarmos como senhores da vida dos outros. Nós temos um único Senhor, que não gosta de ser chamado «patrão», mas sim «Pai». Todos nós somos servos, pecadores e filhos: Ele é o único Pai. Hoje Jesus recorda-nos que a expetativa da bem-aventurança eterna não nos dispensa do compromisso de tornar o mundo mais justo e mais habitável. Aliás, é exatamente esta nossa esperança de possuir o Reino na eternidade que nos impele a agir para melhorar as condições da vida terrena, de maneira especial dos irmãos mais frágeis. A Virgem Maria nos ajude a ser pessoas e comunidades não niveladas no presente ou, pior, nostálgicas do passado, mas orientadas para o futuro de Deus, para o encontro com Ele, nossa vida e nossa esperança. No final da oração mariana dominical, o Sumo Pontífice voltou a falar acerca do drama que continuam a viver as populações civis, vítimas do conflito na Síria, e em seguida saudou os grupos presentes. tal encontro deve impelir a uma vida rica de obras boas. Entre outras coisas, diz: «Vendei o que possuís e dai-o de esmola; fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega e a traça não o destrói» (v. 33). Trata-se de um convite a dar valor à esmola como obra de misericórdia, a não colocar a confiança nos bens efémeros e a utilizar as coisas sem apego nem egoísmo, mas segundo a lógica de Deus, a lógica da atenção ao próximo, a lógica do amor. Nós podemos viver muito apegados ao dinheiro e possuir grandes bens, mas no final não os poderemos levar connosco. Recordai-vos que «o sudário não tem bolsos». O ensinamento de Jesus continua com três breves parábolas sobre o tema da vigilância. Isto é importante: a vigilância, estar atento, ser vigilante na vida. A primeira é a parábola dos servos que de noite aguardam a volta do seu senhor. «Bem-aventurados os servos aos quais o senhor encontrar vigiando, quando vier!» (v. 37): é a bem-aventurança de esperar mas será Ele mesmo que nos acolherá à sua mesa. Pensando bem, isto já acontece hoje, cada vez que encontramos o Senhor na oração, ou então quando servimos os pobres, mas sobretudo na Eucaristia, onde Ele prepara um banquete para nos alimentar com a sua Palavra e com o seu Corpo. A segunda parábola tem como imagem a vinda imprevisível do ladrão. Isto exige a vigilância; com efeito, Jesus exorta: «Estai, pois, preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do Homem» (v. 40). O discípulo é aquele que espera o Senhor e o seu Reino. O Evangelho esclarece esta perspetiva com a terceira parábola: o administrador de uma casa, depois da partida do patrão. No primeiro caso, o administrador cumpre fielmente os seus deveres e recebe a recompensa. No segundo caso, o administrador abusa da sua autoridade e bate nos seus servos; por isso, quando o patrão voltar repentinamente, será punido. Esta cena descreve uma situação frequente inclusive nos dias de hoje: muitas injustiças, violências e Caros irmãos e irmãs! Infelizmente, da Síria continuam a chegar notícias de vítimas civis da guerra, de modo particular em Ale- po. É inaceitável que tantas pessoas inermes — inclusive numerosas crianças — devam pagar o preço do conflito, o preço do fechamento de coração e da falta de vontade de paz dos poderosos. Mediante a oração e a solidariedade estamos próximos dos irmãos e irmãs sírios, enquanto os confiamos à proteção maternal da Virgem Maria. Oremos todos juntos, um pouco em silêncio e depois uma Ave-Maria. Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de vários países! Veem-se diversas bandeiras! Hoje estão presentes vários grupos de adolescentes e de jovens. Saúdo-vos com grande afeto! Em particular, o grupo da pastoral juvenil de Verona; os jovens de Pádua, Sandrigo e Brembilla; e o grupo dos jovens de Fasta, provenientes da Argentina. Mas estes argentinos fazem barulho em toda a parte! Saúdo também os adolescentes de Campogalliano e de San Matteo della Decima, que vieram a Roma para desempenhar um serviço de voluntariado nalguns centros de acolhimento. Enfim, saúdo os fiéis de Sforzatica, na diocese de Bergamo. Desejo feliz domingo a todos. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à próxima! Novo site da ordem equestre do Santo Sepulcro Ao serviço do encontro O cardeal Edwin Frederick O’Brien, grão-mestre da ordem equestre do santo sepulcro de Jerusalém, inaugurou o site da internet do Grão-Magistério (www.oessh.va). Tal site, disponível em cinco línguas — italiano, inglês, francês, espanhol e alemão — foi realizado pelo Serviço de comunicação da ordem, em colaboração com a Secretaria para a comunicação da Santa Sé. Trata-se de um novo instrumento, destinado a alcançar os cerca de 30.000 membros da ordem, cavaleiros e damas, presentes nos cinco continentes, assim como os seus amigos e todos aqueles que amam a Terra Santa. Na página web precedente, em duas línguas, que se encontra dentro do site da Santa Sé, permanecerão disponíveis as informações históricas. O novo site, ao contrário — informa um comunicado — dará mais espaço à informação relativa às atividades da ordem e aos projetos atualmente promovidos na Terra Santa, ao serviço da «cultura do encontro». Em cada versão linguística, alguns vídeos mostrarão a vida das lugar-tenências que são as estruturas periféricas da ordem nas Igrejas locais, da Austrália à Argentina, da Noruega à África do Sul, passando claramente pelos países europeus onde a ordem está radicada há muitos séculos. L’OSSERVATORE ROMANO página 4 quinta-feira 11-18 de agosto de 2016, número 32-33 Francisco apresentou um dicionário teológico e pastoral Prodígios da misericórdia publicação do Dicionário Teológico-Pastoral Peccato — Misericordia — Riconciliazione, sabiamente preparado pela Penitenciaria Apostólica, é um contributo importante para este Jubileu da Misericórdia. Esta obra permite que o leitor realize um itinerário de aprofundamento acerca do caminho do homem, o qual experimenta o conforto da benevolência divina, que o regenera depois da experiência do erro e do arrependimento. A vida do crente, de cada homem, é permeada por uma certeza: o amor de Deus está sempre pronto para ser derramado sobre cada um, inclusive sobre quantos caíram nas vias do pecado, do afastamento deste foco de caridade e da vida da graça. Embora numa condição de debilidade e fragilidade, todas as pessoas são chamadas a realizar o próprio percurso, e não permanecer sozinhas no momento do erro porque podem contar com o perdão e a compreensão de um Pai, que acolhe e cura sempre. A paciência divina derrama-se sobre todos, até sobre quantos cometeram erros graves. Com efeito, o amor de Deus é deveras imenso e até surpreendente dado que espera, prevê e acolhe. Não obstante o pecado, o homem não foi abandonado por Deus, que continua a bater à porta do seu coração. Para explicitar este conceito Jesus oferece a parábola da ovelha tresmalhada (cf. Mt 18, 1214). É muito significativa também a expressão tirada do livro do Apocalipse: «Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me A abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo» (3, 20). O Senhor está sempre à porta do nosso coração para acolher cada movimento de conversão. Mesmo nas trevas do pecado, um mínimo de abertura à graça divina pode revelarse deveras importante para a nossa transformação interior. No Evangelho Jesus mostra-nos os traços da misericórdia divina. Cristo reabilita e doa uma vida nova a quantos se encontram na escuridão das próprias contradições: quem O encontra, faz a experiência de uma renovação profunda e duradoura que começa pela cura do coração. A fidelidade de Deus é imutável, infinita e continua a existir e produzir frutos apesar da infidelidade das criaturas. E é o Espírito Santo que guia o homem neste caminho. A Igreja é portadora da misericórdia de Deus mediante o dom dos sacramentos. Cada um dos seus elementos desempenha a tarefa de apresentar ao mundo a beleza e a profundidade do amor misericordioso do Senhor. No fundo, todo o seu apostolado exprime a chamada a anunciar e a testemunhar aos povos a infinita caridade de Deus, Pai que perdoa e acolhe além de todas as expectativas. A própria família eclesial caracteriza-se pelo «desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva» (Evangelii gaudium, 24). O homem, que se tornou interiormente novo pela benevolência divina, ficou ainda mais forte e determi- nado na capacidade de se doar. Quantos santos «comovidos» e «surpreendidos» pela caridade do Senhor se tornaram protagonistas de um caminho de santificação emocionante e entusiasmante, caracterizado por uma grande capacidade de perdão e compreensão! Este prodígio de amor verifica-se diariamente inclusive hoje. Neste sentido, são significativas a chamada de Levi e Manual para confessores e fiéis Publicamos a apresentação do Papa Francisco ao volume Peccato, Misericórdia, Riconciliazione. Dizionario Teologico-Pastorale editado pela Penitenciaria apostólica (Cidade do Vaticano, Libreria Editrice Vaticana, 2016, 428 páginas). O texto papal é datado de 24 de junho de 2016, solenidade de são João Batista. Redigido por Malio Sodi, Krzysztof Nykiel e Nicola Reali, o dicionário — escreve no prefácio o cardeal Mauro Piacenza, penitenciário-mor — pode «tornar-se um “bom manual” quer para os confessores que pretendem administrar adequadamente o sacramento da reconciliação como fonte da santificação própria e a dos irmãos; quer para os fiéis que desejarem experimentar o perdão de Deus no confessionário e empreender um caminho de conversão sincera e de volta a Deus». quando Jesus se dirige aos publicanos e aos pecadores (cf. Mc 2, 13-17). A vida de Levi, precedentemente imersa no pecado, muda de maneira radical graças à força regeneradora do amor misericordioso transmitido pelo Senhor. A ação arrebatadora do seu olhar e da sua chamada mudam o homem no seu íntimo. Em Braga o encontro dos bispos amigos dos Focolares Comunhão fraterna Depois da participação na Jornada mundial da juventude em Cracóvia, sessenta e sete bispos e cardeais amigos do movimento dos Focolares, provenientes de vinte e sete países de quatro continentes, reuniram-se de 2 a 10 de agosto em Braga (Portugal), no santuário de Nossa Senhora do Sameiro. O encontro, promovido pelo arcebispo dessa Sede, D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, e moderado pelo cardeal arcebispo de Bangkok, D. Francis Xavier Kriengsak Kovithavanij, teve como finalidade aprofundar a comunhão fraterna entre prelados, à luz da espiritualidade da unidade que anima os Focolares. Contributos específicos foram oferecidos por teólogos, políticos e outros representantes dos Focolares que trataram temas como a situação do mundo atual, a reforma da Igreja no seguimento do Papa Francisco, o ecumenismo. Aprofundaram temas cruciais como a re- Todas estas dinâmicas são propostas na presente obra. De facto, as «definições» referidas no volume estabelecem um verdadeiro percurso, que retrata o encontro entre o amor misericordioso de Deus e o desejo de paz interior de cada pessoa. O sacramento da Penitência desempenha um papel fundamental neste «abraço» admirável entre regresso e perdão. Uma atenção particular é reservada ao sacerdócio, o qual é chamado à consciência do seu ser sinal da caridade divina, não só na celebração do rito, mas também através de atitudes de acolhimento, compreensão e diálogo que, sem dúvida, conferem maior riqueza e significado ao evento sacramental. Trata-se de uma verdadeira «imersão» na misericórdia de Deus, que tem a força de transformar e fortalecer o coração: aqui o homem encontra-se a si mesmo e com a máxima confiança no lação Igreja-Estado e o islão radical. «As religiões não se devem substituir à política — observaram — aliás, as comunidades cristãs devem representar a consciência crítica da humanidade». A peregrinação realizada ao santuário de Nossa Senhora de Fátima foi intensa, assim como a missa celebrada na capela das aparições, presidida pelo cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica. Os congressos dos bispos amigos do movimento dos Focolares tiveram início no ano de 1977, por iniciativa de D. Klaus Hemmerle, bispo de Aachen (Alemanha). E desde o princípio eles foram apoiados pela Santa Sé, em ordem a favorecer a colegialidade «efetiva e afetiva» entre os bispos, em espírito de comunhão e fraternidade. Senhor, retoma o caminho com mais vigor e determinação. Este volume é um dom no Ano da Misericórdia; representa um instrumento precioso para os estudiosos e para os fiéis uma oportunidade de conhecer a realidade do amor e do perdão divinos. É um trabalho que se funda no contributo de estudiosos habituados com a pastoral prática, chamados a exprimir uma espécie de comunhão teológica na oferta da própria sabedoria ao serviço dos leitores. Aqui encontramos aspetos bíblicos, dogmáticos, pastorais, jurídicos, litúrgicos, sacramentais, eclesiais e espirituais. Estes aspetos fazem pensar num «alternar-se» harmonioso das várias disciplinas teológicas. Gostaria de frisar que se trata de um Dicionário muito acessível a um amplo número de leitores. Sinto-me feliz por apresentar este texto porque o considero um ulterior e importante componente na realização do Ano da Misericórdia. Gostaria de expressar o meu apreço à Penitenciaria Apostólica pelo compromisso no serviço que, pela sua natureza, realiza no silêncio mais discreto. No entanto, não passam inobservadas as inúmeras iniciativas deste antiquíssimo Dicastério, adequadas para «narrar» ao mundo os prodígios da misericórdia de Deus. número 32-33, quinta-feira 11-18 de agosto de 2016 L’OSSERVATORE ROMANO página 5 Benozzo Gozzoli, «Encontro de são Domingos com são Francisco» (1452) Aos dominicanos o Pontífice pediu que sejam contemplativos da Palavra e do povo O bom pregador O «bom pregador» deve ser um «contemplativo da Palavra» e «do povo», disse o Papa Francisco aos participantes no capítulo geral dos padres dominicanos, recebidos em audiência na manhã de 4 de agosto na sala Clementina. Publicamos o texto do discurso do Pontífice, proferido em espanhol. Estimados irmãos e irmãs! Poderíamos descrever o dia de hoje como o de «um jesuíta entre os frades»: na parte da manhã convosco, e à tarde em Assis, com os franciscanos: no meio dos frades. Dou-vos as boas-vindas e agradeço a saudação que me foi dirigida, em seu nome e em nome de todos os presentes, pelo Padre Bruno Cadoré, Mestre-Geral da Ordem, enquanto chega à sua conclusão o Capítulo geral, que teve lugar em Bolonha, onde quisestes renovar as vossas raízes junto do túmulo do santo Fundador. lares que asseguram o futuro da Ordem, preservando o vigor do carisma fundacional. Deus impeliu são Domingos a fundar uma «Ordem de Pregadores», dado que a pregação representa a missão que Jesus tinha confiado aos apóstolos. É a Palavra de Deus que arde dentro e estimula a partir para anunciar Jesus Cristo a todos os povos (cf. Mt 28, 19-20). O Padre fundador dizia: «Primeiro contemplar, depois ensinar». Evangelizados por Deus, para evangelizar. Sem uma forte união com Ele, a pregação poderá ser totalmente perfeita, muito argumentada e até mesmo admi- ardente, quando a Moisés Deus disse: «Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa!» (Êx 3, 5). O bom pregador está ciente de que se move numa terra santa, porque a Palavra que ele anuncia é santa, e santos são também os seus destinatários. Os fiéis têm necessidade não só de receber a Palavra na sua integridade mas devem experimentar também o testemunho de vida de quantos pregam (cf. Evangelii gaudium, 171). Os santos produziram frutos copiosos porque, mediante a sua vida e a sua missão, falam com a linguagem do coração, que não conhece barreiras e é compreensível a todos. Enfim, o pregador e a testemunha devem sê-lo na caridade. Sem ela, eles serão discutíveis e suspeitos. No início da sua vida são Domingos te- mos pregadores de verdade, daquela verdade anunciada com amor e misericórdia, de que fala santa Catarina de Sena (cf. Livro da Doutrina Divina, 35). No encontro com a carne viva de Cristo somos evangelizados e voltamos a encontrar a paixão de ser pregadores e testemunhas do seu amor; assim, livramo-nos da perigosa tentação, hoje tão atual, do gnosticismo. Caros irmãos e irmãs, com o coração agradecido pelos bens recebidos do Senhor para a vossa Ordem e para a Igreja, encorajo-vos a seguir com alegria o carisma inspirado em são Domingos e que foi vivido com diferentes matizes por tantos santos e santas da família dominicana. O seu exemplo é estímulo para enfrentardes o futuro com esperança, conscientes de que Deus renova sempre tudo... e não tira. Nossa Mãe, a Virgem do Rosário, interceda por vós e vos ampare, a fim de que sejais corajosos pregadores e testemunhas do amor de Deus. Obrigado! Saudação do mestre-geral Este ano tem um significado especial para a vossa família religiosa, porque se completam oito séculos desde que o Papa Honório III aprovou a Ordem dos Pregadores. Por ocasião do Jubileu que celebrais por este motivo, uno-me a vós em ação de graças pelos copiosos dons recebidos ao longo deste tempo. Além disso, desejo manifestar a minha gratidão à Ordem, pela significativa contribuição por ela oferecida à Igreja e pela colaboração com a Sé Apostólica que, com espírito de serviço fiel, manteve desde as origens até hoje. E este oitavo centenário leva-nos a fazer memória de homens e mulheres de fé e de letras, contemplativos e missionários, mártires e apóstolos da caridade, que levaram a todos os lugares a carícia e a ternura de Deus, enriquecendo a Igreja e oferendo novas possibilidades de encarnar o Evangelho através da pregação, do testemunho e da caridade: três pi- rável, mas não tocará o coração, e é o coração que deve mudar. Igualmente imprescindível é o estudo sério e assíduo das matérias teológicas, assim como tudo aquilo que permite aproximar-nos da realidade e prestar ouvidos ao povo de Deus. O pregador é um contemplativo da Palavra e também um contemplativo do povo, que espera ser compreendido (cf. Evangelii gaudium, 154). Transmitir mais eficazmente a Palavra de Deus exige o testemunho: mestres fiéis à verdade e intrépidas testemunhas do Evangelho. A testemunha encarna o ensinamento, tornando-o tangível e atraente, sem deixar ninguém indiferente; une à verdade a alegria do Evangelho, o júbilo de saber que somos amados por Deus, objeto da sua misericórdia infinita (cf. ibid, 142). Aos seus seguidores, são Domingos dizia: «Vamos pregar descalços». Isto recorda-nos a passagem da sarça ve um dilema, que marcou toda a sua existência: «Como posso estudar em peles mortas, enquanto a carne de Cristo sofre?». É o Corpo de Cristo vivo e sofredor, que clama ao pregador e não o deixa em paz. O grito dos pobres e dos excluídos desperta e faz compreender a compaixão que Jesus sentia pelo povo (cf. Mt 15, 32). Olhando ao nosso redor, verificamos que o homem e a mulher de hoje vivem sequiosos de Deus. Eles são a carne viva de Cristo que clama: «Tenho sede» de uma palavra autêntica e libertadora, de um gesto fraterno e de ternura. Este brado interpela-nos e deve constituir a espinha dorsal da missão, dando vida às estruturas e aos programas pastorais. Pensai nisto, quando meditais sobre a necessidade de emendar o organograma da Ordem, para discernir a resposta que se deve dar a este grito de Deus. Quanto mais saciarmos a sede do próximo, tanto mais sere- Diálogo e encontro Rever as estruturas da ordem para conjugar mais eficazmente a vida e a missão; inserir o próprio ministério da pregação numa dinâmica de diálogo, escuta e encontro; intensificar o estudo e a compreensão da cultura e do pensamento, para saber falar ao homem do nosso tempo: eis o tríplice compromisso apresentado ao Papa Francisco pelo mestre-geral dos dominicanos, Bruno Cadoré. Depois de ter recordado a providencial coincidência entre o oitavo centenário da aprovação da ordem dominicana e o ano da misericórdia, o religioso explicou a articolação e as tarefas do capítulo geral, reiterando a vontade de renovar o afã evangelizador para construir «uma Igreja que seja profeta de unidade e de comunhão entre os homens», acima de tudo entre os pobres e os marginalizados. L’OSSERVATORE ROMANO número 32-33, quinta-feira 11-18 de agosto de 2016 página 6/7 Durante a visita à Porciúncula o Sumo Pontífice indicou o caminho da renovação O mundo tem necessidade de perdão Para oferecer misericórdia a quem vive fechado e incuba o ódio «O mundo tem necessidade de perdão», porque demasiadas pessoas continuam a viver «fechadas no rancor» e «incubam ódio», disse o Sumo Pontífice durante a visita que na tarde de 4 de agosto realizou à Porciúncula, na basílica de Santa Maria dos Anjos em Assis, tendo sido recebido à sua chegada pelo bispo de Assis — Nocera Umbra — Gualdo Tadino (Itália), D. Domenico Sorrentino, acompanhado por várias autoridades civis. Faziam parte do séquito papal os arcebispos Becciu, substituto da Secretaria de Estado, Gänswein, prefeito da Casa pontifícia — com o regente da Prefeitura monsenhor Sapienza — e Fisichella, presidente do Pontifício conselho para a promoção da nova evangelização, ao qual foi confiada a organização do jubileu da misericórdia. Estava presente também Greg Burke, que pela primeira vez participou numa visita pontifícia como diretor da sala de Imprensa da Santa Sé. Depois, em Santa Maria dos Anjos deram-lhe as boas-vindas o ministro-geral dos frades menores Michael Anthony Perry, com o provincial Claudio Durighetto, o guardião e o prefeito da basílica, Rosario Gugliotta e Massimo Lelli. Publicamos a meditação proferida pelo Papa Francisco nessa ocasião. Gostaria hoje de começar, queridos irmãos e irmãs, por lembrar as palavras que, segundo uma antiga tradição, São Francisco pronunciou aqui mesmo, perante todo o povo e os bispos: «Quero mandar-vos todos para o paraíso». Que poderia o Pobrezinho de Assis pedir de mais belo do que o dom da salvação, da vida eterna com Deus e da alegria sem fim, que Jesus nos conquistou com a sua morte e ressurreição? Aliás, que é o paraíso senão o mistério de amor que nos liga para sempre a Deus numa contemplação sem fim? Desde sempre a Igreja professa esta fé ao afirmar que acredita na comunhão dos santos. Na vivência da fé, nunca estamos sozinhos; fazem-nos companhia os santos e os beatos — também os nossos entes queridos — que viveram com simplicidade e alegria a fé e a testemunharam na sua vida. Há um vínculo invisível — mas não por isso menos real — que, em virtude do único Batismo recebido, faz de nós «um só corpo» animados por «um só Espírito» (cf. Ef 4, 4). São Francisco, ao pedir ao Papa Honório III o dom da indulgência para quantos viessem à Porciúncula, talvez tivesse em mente estas palavras de Jesus aos seus discípulos: «Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e hei de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também» (Jo 14, 2-3). A via mestra a seguir para alcançar o tal lugar no Paraíso é, sem dúvida, a estrada do perdão. É difícil perdoar… Quanto nos custa perdoar aos outros! Pensemos um pouco nisto. E aqui, na Porciúncula, tudo fala de perdão. Que grande presente nos deu o Senhor, ao ensinar-nos a perdoar — ou, pelo menos, a ter o desejo de perdoar — para tocar quase sensivelmente a misericórdia do Pai! Ouvimos a parábola com que Jesus nos ensina a perdoar (cf. Mt 18, 21-35). Porque deveremos perdoar a uma pessoa que nos fez mal? Porque antes fomos perdoados nós mesmos… e infinitamente mais. Não há ninguém aqui, entre nós, que não tenha sido perdoado. Cada um pense… pensemos em silêncio quantas coisas más fizemos e como o Senhor nos perdoou. É isto mesmo que nos diz a parábola: tal como Deus nos perdoa a nós, assim também devemos perdoar a quem nos faz mal. É a carícia do perdão, o coração que perdoa. O coração que perdoa acaricia. Como estamos longe daquele gesto: «Hás de pagar-me!». O perdão é outra coisa! Precisamente como dizemos na oração que Jesus nos ensinou, o Pai-Nosso: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12). As ofensas são os nossos pecados diante de Deus, e, àqueles que nos ofenderam, também nós devemos perdoar. se cansa de nos oferecer o seu perdão, sempre que lho pedimos. É um perdão completo, total, dando-nos a certeza de que, não obstante possamos voltar a cair nos mesmos pecados, Ele tem piedade de nós e não cessa jamais de nos amar. Como o senhor da parábola, Deus compadece-se, isto é, experimenta um sentimento de piedade combinada com ternura: é uma expressão para indicar a sua misericórdia para connosco. Com efeito, o nosso Pai sempre se compadece, quando estamos arrependidos e manda-nos voltar para casa de coração tranquilo e sereno dizendo que todas as coisas nos foram remidas e nos perdoou tudo. O perdão de Deus não tem limites; ultrapassa toda a nossa imaginação e alcança toda e qualquer pessoa que, no íntimo do coração, reconheça ter errado e queira voltar para Ele. Deus vê o coração que pede para ser perdoado. O problema surge, infelizmente, quando nos encontramos com um irmão que nos fez um pequeno agravo. A reação que ouvimos na parábola é muito expressiva: «Segurando-o, aper- aquilo que nos propõe é o amor do Pai, não a nossa pretensão de justiça. Na verdade, deter-se nesta, não nos faria reconhecer como discípulos de Cristo, que obtiveram misericórdia ao pé da Cruz apenas em virtude do amor do Filho de Deus. Não esqueçamos, pois, as palavras severas com que termina a parábola: «Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração» (v. 35). Queridos irmãos e irmãs, o perdão, de que são Francisco se fez «canal» aqui na Porciúncula, continua ainda a «gerar paraíso» depois de oito séculos. Neste Ano Santo da Misericórdia, torna-se ainda mais evidente como a estrada do perdão pode, verdadeiramente, renovar a Igreja e o mundo. Oferecer o testemunho da misericórdia, no mundo atual, é uma tarefa a que nenhum de nós pode subtrair-se. Repito: oferecer o testemunho da misericórdia, no mundo atual, é uma tarefa a que nenhum de nós pode subtrair-se. O mundo tem necessidade de perdão; demasiadas pessoas vivem fechadas no rancor e incubam ódio, porque incapazes de perdão, arruinando a própria vida e a dos outros, em vez de encontrar a alegria da serenidade e da paz. Peçamos a São Francisco que interceda por nós, para que nunca renunciemos a ser sinais humildes de perdão e instrumentos de misericórdia. Podemos rezar por isto. Cada qual como o sentir. Convido os frades, os bispos a irem para os confessionários — eu também vou — para estar à disposição do perdão. Far-nos-á bem recebê-lo hoje, aqui, todos juntos. Que o Senhor nos dê a graça de dizer aquela palavra que o Pai não nos deixa acabar… aquela que disse o filho pródigo «Pai, pequei contra…» e [o Pai] tapou-lhe a boca, abraçou-o. Nós começamos a falar, e Ele tapar-nos-á a boca e nos revestirá… «Mas, padre, tenho medo de fazer o mesmo amanhã!». E volta… O Pai olha sempre a estrada, olha à espera que volte o filho pródigo. E todos nós o somos. Que o Senhor nos dê esta graça. Na conclusão da visita, antes de se despedir de Assis, o Papa saudou os fiéis reunidos no adro da basílica de Santa Maria dos Anjos, pronunciado estas palavras. Cada um de nós poderia ser aquele servo da parábola que tem uma dívida para pagar, mas tão grande, tão grande que nunca conseguiria satisfazê-la. Também nós, quando nos ajoelhamos aos pés do sacerdote no confessionário, estamos simplesmente a repetir o mesmo gesto daquele servo. Dizemos: «Senhor, tem paciência comigo!». Já alguma vez pensastes na paciência de Deus? Tem tanta paciência. Na realidade, sabemos bem que estamos cheios de defeitos e muitas vezes recaímos nos mesmos pecados. E todavia Deus não tou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: “Paga o que me deves!”» (Mt 18, 28). Nesta cena, temos todo o drama das nossas relações humanas: quando estamos em dívida com os outros, pretendemos misericórdia; mas, quando são os outros em dívida connosco, invocamos justiça. E todos fazemos assim, todos. Esta não é a reação do discípulo de Cristo, nem pode ser este o estilo de vida dos cristãos. Jesus ensinanos a perdoar, e a fazê-lo sem limites: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (v. 22). Em resumo, Muito obrigado pelas vossas boas-vindas, peço ao Senhor que vos abençoe. Agradeço-vos este desejo de proximidade. E também não vos esqueçais: perdoai sempre, sempre! Perdoai de coração e, se for possível, aproximai-vos do outro, mas perdoai. Porque se nós perdoarmos, também o Senhor nos perdoa; e todos nós temos necessidade de perdão... Se alguém aqui não precisa de perdão, levante a mão... Todos nós temos necessidade de perdão. Agora oremos juntos a Nossa Senhora e, em seguida, conceder-vos-ei a Bênção. Ave Maria... [Bênção]. E por favor, rezai por mim! Até à vista! No aniversário do Perdão de Assis concedido pelo Papa sa, no ministério do sucessor de Pedro, apresentando ao Pai os méritos infinitos do Redentor, unidos aos que dele brotam na Virgem Maria e em todos os santos. Deus chama, o homem responde, sem magia nem automatismo. Eis então as condições que a Igreja estabelece: arrependimento, confissão dos pecados, Eucaristia, preces e gestos como a visita à Porciúncula. A condição mais exigente e importante é o compromisso a contrastar qualquer apego ao pecado, mesmo que seja venial. É bom fazer tal experiência na Porciúncula. É bom ouvir nos seus muros o eco da santidade e da fraternidade que gerações de fiéis ouviram, nos passos de Francisco. Na indulgência, a «comunhão dos santos» exprime-se inclusive como programa de vida. A misericórdia faz-se dom mútuo, abarcando até os defuntos, aos quais a indulHonório III em 1216 gência pode ser aplicada em jeito de sufrágio, como ajuda para a sua purificação. Um aspeto que não deve ser decuidado, na imploração da indulgência, é abertura a Deus tão profunda, a ponto a oração segundo as intenções do Sande dispor o nosso coração ao encontro to Padre. É providencial que, neste ano da misericórdia, o Papa Francisco tenha definitivo com Ele. Cada absolvição sacramental estimu- desejado visitar a Porciúncula, peregrila e exige um ulterior crescimento espi- no entre os peregrinos. Recebamo-lo ritual, cuja expressão é a própria «peni- com alegria, rezemos por ele. E, em Assis, como deixar de o sentir amado de tência» que o confessor nos dá. Mas maneira especial, quase duplamente quanta dificuldade e incerteza da nossa «nosso», o primeiro Papa com o nome parte! Como não sentir a necessidade do nosso santo? de uma graça especial, que nos permita Enfim, não podemos esquecer a solirealizar esta cura total do coração? dariedade. Para Francisco, a indulgênEsta é a graça da indulgência! Não cia era também um presente para as se trata de um «desconto» sobre os pessoas mais humildes e carentes. Frannossos deveres: nada disso! É sobretu- cisco pediu ao Papa uma indulgência do uma energia interior com a qual o «sem óbolo». Portanto, à medida dos Espírito Santo dá nova força ao nosso indigentes! Ele fazia-se defensor e procompromisso, livrando-nos dos resíduos tetor dos pobres também com a Pordas culpas já perdoadas. À dificuldade ciúncula. Esta capela, da qual ele tanto gostava, traz inscrito o seu ideal, agora relançado pelo Papa Francisco: «Uma Igreja pobre e para os pobres». Na PorQuando nos arrependemos ciúncula, quem recebe a indulsinceramente, podemos contar gência sente o coração dilatarse. Ela impele-nos a arregaçar sempre com a misericórdia as mangas para construir um Mas o pecado não é somente mundo mais justo, fraterno e hospitaleiro, um mundo de uma culpa a perdoar. É inclusive paz. «Quero mandar-vos todos uma enfermidade da alma para o paraíso!». Mas Francisco só pensava no além? Pelo contrário: a meu ver ele queria compartilhar com todos o pade eliminar tais resíduos, a Igreja refe- raíso que tinha dentro de si. Quando re-se falando de «pena temporal», para estamos na graça de Deus, de certo a distinguir da «pena eterna» — o In- modo já estamos no paraíso. Contudo, ferno! — que o pecador comina a si experimentá-lo plenamente nesta vida mesmo quando, livre e definitivamente, implica uma sintonia com o Espírito à maneira de Satanás, persevera no mal Santo que, quando não se deixa interrejeitando o perdão de Deus. A graça romper pela culpa grave, é pelo menos da indulgência deve ser implorada com transtornada pelas nossas fragilidades. oração humilde e confiante. Considerando o perdão sacramental, a Desde Honório III, que concedeu es- indulgência visa desenvolver esta sintote dom à Porciúncula, até ao Papa nia. Recebê-la na Porciúncula é um Francisco, que a visita para receber pes- pouco como deixar-nos curar num sinsoalmente esta dádiva, resplandece aí o gular «ambulatório», onde Jesus tira o serviço do sucessor de Pedro à unidade nosso «coração de pedra», dando-nos e à santidade da Igreja. Jesus não cessa um «coração de carne»: o seu próprio de cumprir a sua promessa. A indul- Coração! «Paraíso, paraíso», exclamagência é graça pura. No diálogo ecu- ram muitos santos! A indulgência é um ménico devemos manifestar aos irmãos clarão celeste, uma resposta à necessiprotestantes esta nossa convicção. Ne- dade de alegria do nosso coração. nhuma obra nossa a poderia merecer. É Jesus, somente Jesus, conhece este dom gratuito de Deus mediante a Igre- segredo. Neste ano especial, não falteja, corpo e esposa de Cristo que quase mos ao encontro com o júbilo. Por fase concentra, com imploração fervoro- vor, rezai também por mim! Caminho de Igreja A seguir, uma sinopse da carta pastoral escrita pelo bispo de Assis — Nocera Umbra — Gualdo Tadino (Itália) em vista da visita do Papa. D OMENICO SORRENTINO A Providência sempre nos acompanha e muitas vezes surpreende-nos. Quem teria podido prever que, no VIII centenário do perdão de Assis, haveria um Papa chamado Francisco? E como se poderia ter adivinhado que este aniversário seria celebrado no ano da misericórdia? São circunstâncias que causam admiração e fazem intuir um desígnio divino. Ao meu predecessor Teobaldo, em 1310, coube confirmar, contra vozes críticas, a indulgência da Porciúncula que Francisco tinha recebido do Papa Honório III. E eu talvez tenha a incumbência de explicar o seu sentido e atualidade. No paço episcopal vivo entre as ondas da graça geral do Espírito de Deus no jovem Francisco quando, sob o olhar do bispo Guido, se despojou de tudo para se conformar com Cristo. No lugar onde se comemora este acontecimento, admira-se a pintura que o recorda e, do lado oposto, precisamente a Porciúncula, no ato de entrega que os beneditinos fazem a Francisco. E no centro da sala sobressai o Perdão de Assis, com o semblante resplandecente do santo, enquanto implora a indulgência do Redentor por intercessão da Bem-Aventurada Virgem. Tenho a impressão de ver um fio que une as várias cenas. Francisco, que renunciou às riquezas da terra, distribui com generosidade os tesouros celestiais. E enquanto o deus dinheiro deturpou a sua família carnal, uma capela pobre e sem adornos recebe e plasma a sua família espiritual. «Não já pai Pedro de Bernardone, mas Pai nosso que estais no céu»: o caminho de um homem transfigurado vai do despojamento à indulgência. Transfigurado para transfigurar: dando a notícia do «perdão» a 2 de agosto de 1216, Francisco exclamou: «Quero mandar-vos todos para o paraíso!». A Porciúncula tornava-se uma porta do céu, aberta sobretudo aos simples e pobres, casa onde a presença de Deus se sente com uma carícia e as pedras emanam o calor de um ventre maternal. O que sentiu Francisco neste lugar, que ele apreciava mais do que qualquer outro? Podemos supor que aqui ele se abandonava ao diálogo com a Trindade, embalado no colo da Mãe. Nesta igrejinha recebeu a consagração de Clara, sua «plantinha», acolhendo os companheiros que se uniam a ele para formar confrarias em missão no mundo. Portanto, indulgência. Do que se trata? É uma palavra ligada ao perdão: perdão especial, perdão superabundante. Perdão profundo e pleno. O que a indulgência acrescenta a tudo isto? Para o compreender é preciso refletir sobre a situação espiritual em que o pecado nos lança. O pecado deixa «escórias» dolorosas em nós. A teologia fala delas em termos de «pena». Quando nos arrependemos sinceramente, podemos contar sempre com a misericórdia. Mas o pecado não é somente uma culpa a perdoar. É inclusive uma enfermidade da alma. Quem não vê que, mesmo depois de ter recebido o perdão, os pecados deixam em nós inclinações doentias, que nos levam a cometer de novo os mesmos erros? O pecado traz consigo a pena de si mesmo! O sacramento do perdão resolve um aspeto fundamental desta pena: a separação de Deus (para os pecados graves) ou o afastamento dele (para os pecados veniais). Só devemos eliminar os resíduos da enfermidade. Se não os curarmos durante a vida, será necessário fazê-lo depois da morte, no purgatório. Em função desta «cura», na antiga maneira de celebrar o sacramento da reconciliação, que teve várias fases e formas, previam-se gravosos atos de penitência. Com o tempo afirmou-se uma pedagogia diversa, uma espécie de cura «intensiva» da misericórdia que, com base no perdão sacramental recebido com o arrependimento sincero e o propósito de uma nova vida, consiste na imploração eclesial, portanto não só individual, de uma ulterior graça que leve a uma resposta cada vez mais profunda ao amor de Deus. Deste modo nasce a atual praxe da indulgência. Assim concebida, propaga em nós a eficácia do perdão sacramental, favorecendo uma L’OSSERVATORE ROMANO página 8 quinta-feira 11-18 de agosto de 2016, número 32-33 «Christ dans la banlieue», Georges Rouault (1920-1924) As palavras com as quais Jesus dá graças ao Pai por ter revelado a boa notícia aos mais pequeninos e a não aos sábios, no texto grego são introduzidas de maneira estranha e obscura: «Naquele tempo, respondendo, Jesus disse...». Dado que não há interrogação alguma, a nossa tradução eliminou o verbo retorquir, mas interrogamo-nos do mesmo modo a quem e como responde Jesus. Responde aos acontecimentos da vida que interpelam a sua fé, e fá-lo rezando. Assim, a oração torna-se resposta àquela amargura, àquela falência e àquela incompreensão da sua obra — Ele, Filho do homem, é considerado como se fosse um comilão e um beberrão, amigo de publicanos e de pecadores — que são testemunhadas poucos versículos antes, e que acabam com a repreensão contra as cidades que tinham visto os seus milagres e não acreditaram (cf. Mateus 11, 19-24). A posição de Jesus diante do Pai proporciona-lhe a possibilidade de assumir aquilo que aconteceu, por mais amargo e contraditório que seja, e a capacidade de reconhecer aí um caminho de amor e obediência que abate quaisquer recriminações e lamentações. Somente assim Ele pode voltar a descobrir o sinal do agir de Deus e dar-lhe graças. A oração como resposta empenha Jesus numa relação, num relacionamento de obediência, conotando a sua pessoa como mansa e humilde de coração. Não se trata de uma sua caraterística pessoal, mas sobretudo de uma revelação do agir e do ser do próprio Deus. E Jesus, manso e humilde de coração, deseja plasmar do mesmo modo aqueles pequeninos que se aproximam dele de todas as partes para o ouvir. Uma meditação das irmãs de Bose Manso e humilde de coração Jesus transmite com grande força aquilo que lhe foi concedido pelo Pai, a fim de que eles sejam seus discípulos. Antes de tudo, chama-os a uma renúncia à vontade pessoal e a uma disponibilidade a segui-lo, a estar atrás dele no peso e no cansaço da vida: «Vinde a mim, vós que estais cansados...». Depois, convida-os a pôr-se na sua escola: «Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração...». O manso não é assim desde o início: a vida humano-cristã, a existência comunitária no seu mo- vimento de olhar para o outro com consideração, no mistério de uma vocação, geram-nos dia após dia para a mansidão; ela produz paciência, e a paciência uma virtude provada, a perseverança; e a virtude provada, a esperança (cf. Romanos 5, 3-4). Enfim, com palavras de profunda consolação, Jesus pede-nos que vamos ter come Ele com confiança, porque Ele é o mestre que não sobrecarrega ninguém com pesos insuportáveis: «Tomai o meu jugo e encontrareis alívio para as vossas vidas». Onde estão a alegria e o descanso? Onde estão a leveza e a suavidade prometidas? Num escrito de Guilherme de Saint-Thierry, que serve de comentário para este texto, lemos palavras postas nos lábios do Senhor: «Tu gemes e lamentas-te debaixo do meu jugo, cansas sob o meu fardo, mas é o amor que confere ao meu jugo a docilidade, e ao meu fardo a leveza (...). Queres o amor? Pois bem, tu empreendeste o caminho que conduz à vida: se não abandonares esta senda, chegarás à meta almejada. Eu caminho diante de ti, e tu só deves pôs os teus passos nos meus. Eu cansei, resisti: também tu faz o mesmo, é necessário que também tu te canses. Eu suportei muitos sofrimentos: também tu deves padecer algo. O caminho que leva a amor é a obediência. Tem firme este ponto e chegarás. O amor é um tesouro imenso, vale a pena que se pague todo o preço necessário para o adquirir. Sim, Deus é amor: quando tiveres alcançado o amor, então já não te cansarás. (...) Ajudar-te-ei a suportar a tua fadiga, fui Eu quem a suportei até agora e até aqui, sou Eu quem ainda a suportarei» (Dalla meditazione alla preghiera, Edizioni Qiqajon). Na obediência, na paciência que brota da confiança, podemos experimentar o alívio precisamente no âmago do cansaço, que existe e subsiste; podemos chegar a provar as inegáveis leveza e docilidade até quando estamos submetidos a um peso escolhido livremente e por amor, o jugo que o próprio Senhor suportou, e assim podemos saborear a bem-aventurança que Ele prometeu: «Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra». Iniciativa divulgada pelo núncio apostólico no Lesoto Caridade do Papa para as vítimas da estiagem O Papa Francisco doou quatrocentos mil dólares ao governo do Lesoto para que possa enfrentar a emergência da seca que atingiu o país e todo o sul da África provocada por El Niño. Referiu ao jornal online «African Independent» o núncio apostólico Peter Bryan Wells, que recentemente apresentou ao rei Letsie III as cartas credenciais no início da sua missão diplomática. Trata-se de um gesto particularmente significativo — explicou o arcebispo, que é também representante pontifício na África do Sul, Botsuana, Namíbia e Suazilândia — porque é «muito insólito» que o Papa ofereça doações deste tipo diretamente aos governos, pois os procedimentos padrões da Santa Sé em caso de catástrofes preveem ofertas através de agências como Caritas internationalis ou as Conferências episcopais locais. Segundo o núncio neste caso «o Papa aproveitou a oportunidade para demonstrar que sustentamos efetivamente o que dizemos, não oferecemos meros ensinamentos vazios» De resto no Lesoto os efeitos de El Niño provocaram escassez de água, fome, doenças e consequentemente uma crise económica que pôs de joelhos a região meridional da África, a qual é também o epicentro da pandemia do Vih/Sida. Em particular no Lesoto a seca provocada por El Niño deu origem a uma diminuição de 62 por cento na produção agrícola durante a última estação, condenando mais de quinhentas mil pessoas à fome nos dez distritos do país. A ponto que a 22 de dezembro de 2015 o primeiro-ministro Pakalitha Mosisili declarou o estado de emergência. Isto chamou a atenção do Pontífice — explicou o arcebispo de Maseru, D. Gerard Tlali Lerotholi — e a sua resposta foi imediata. O contributo agora deveria ser passado à Conferência episcopal local, de modo que através de projetos especiais a Igreja católica no Lesoto possa ajudar a aliviar os efeitos da seca. «Faremos visitas frequentes a fim de verificar como o governo e a Igreja local utilizam o dinheiro e para entender o que poderia servir de ulterior ajuda», disse D. Wells, que recordou os apelos dirigidos pelo Pontífice a toda a comunidade internacional para uma maior consciência dos danos que foram provocados ao meio ambiente e em particular das suas consequências para os pobres e marginalizados. «O Papa Francisco sente um afeto muito especial pela África, em particular pelos países menores que devem combater contra determinadas dificuldades», comentou o prelado. Por sua vez o soberano do Lesoto expressou gratidão pelo contributo que a Igreja católica ofereceu, sobretudo aos setores da saúde e da educação. Segundo D. Wells, o Papa tem conhecimento da instabilidade política e das polémicas que afligem o país. A tal propósito o núncio expressou a «African Independent» a esperança da Igreja de que através da reconciliação, do diálogo e de resoluções pacíficas estas dificuldades possam ser superadas. Também D. Lerotholi recordou que «a Igreja católica, em colaboração com os membros do Conselho cristão do Lesoto», deu «início a um diálogo para o regresso do exílio do líder da oposição. E também hoje — concluiu — afirmamos que estamos prontos a assistir o país nesta e em todas as outras iniciativas de paz». número 32-33, quinta-feira 11-18 de agosto de 2016 L’OSSERVATORE ROMANO página 9 O Papa Francisco visitou-o no hospital de Cracóvia Falecimento do cardeal Franciszek Macharski O cardeal Franciszek Macharski, arcebispo emérito de Cracóvia, nasceu a 20 de maio de 1927 em Cracóvia. Foi ordenado Sacerdote no dia 2 de abril de 1950. Nomeado arcebispo de Cracóvia a 29 de dezembro de 1978, sucessor direto de Karol Wojtyła, recebeu a Ordenação episcopal a 6 de janeiro de 1979. Foi criado e publicado cardeal no consistório de 30 de junho do mesmo ano, com o título de São João na Porta Latina. No dia 3 de junho de 2005 renunciou ao governo pastoral da arquidiocese. «Nunca passou um dia sem que eu meditasse sobre a Dies irae e a imagem do Cristo pensativo, amado pelo nosso povo, repetindo a mim mesmo: quaerens me sedisti lassus». Esta confidência do cardeal Macharski delineia o seu perfil espiritual e pastoral e o seu espírito de serviço à Igreja e ao povo de Cracóvia. Porque para ele Cracóvia foi deveras o coração de toda a vida e missão de pastor. Com efeito, ali nasceu e estudou. Durante os anos da segunda guerra mundial, sob a ocupação alemã, trabalhou como operário, exatamente como Karol Wojtyła. Logo após a libertação, em 1945, entrou no seminário maior de Cracóvia, matriculando-se na faculdade teológica da universidade jagelónica. Terminando os estudos filosóficos e teológicos, foi ordenado Sacerdote a 2 de abril de 1950, pelo cardeal arcebispo de Cracóvia Adam Sapieha. Por seis anos desempenhou a sua atividade pastoral como vigário na paróquia de Kozy, na região de Bielsko-Biała. Depois, em 1956, estudou na Universidade católica de Friburgo, na Suíça, a fim de completar os cursos teológicos, formando-se em teologia pastoral em 1960. Ao voltar a Cracóvia, recebeu o encargo de padre espiritual no seminário e professor de teologia pastoral na Pontifícia faculdade teológica. Dez anos depois, em 1970, o novo cardeal arcebispo Wojtyła nomeou-o reitor do seminário e, em 1977, cónego do cabido metropolitano da catedral de Wawel. Em novembro de 1971 participou como auditor na segunda assembleia geral ordinária do Sínodo dos bispos dedicada ao tema: «O sacerdócio ministerial e a justiça no mundo». Com o seu arcebispo Macharski sempre manteve uma forte relação de colaboração e amizade, acompanhando-o inclusive nas várias viagens internacionais ao Canadá, Estados Unidos, França, Alemanha e Itália. Precisamente deste estreito vínculo nasceu a decisão de Karol Wojtyła — eleito Papa em 16 de outubro de 1978 com o nome de João Paulo II — de o nomear seu sucessor na cátedra de santo Estanislau, no dia 29 de dezembro de 1978. O Pontífice polaco conferiu-lhe pessoalmente a orde- No trigésimo oitavo aniversário da morte de Paulo VI Trinta e oito anos depois do falecimento do Papa Paulo VI, na manhã de sábado 6 de agosto, D. Marcello Semeraro, bispo de Albano (Itália) e secretário do Conselho de nove cardeais, presidiu à santa missa nas grutas do Vaticano, junto do túmulo do saudoso Pontífice. Concelebraram o arcebispo Francesco Gioia e diversos presbíteros. Entre os presentes, numerosas religiosas, pertencentes de maneira especial à congregação de Maria Menina, e o regente da Prefeitura da Casa Pontifícia, monsenhor Leonardo Sapienza. No final da celebração, reunidos diante do túmulo do Papa Montini, todos entoaram o canto do Magnificat. Nas orações foram recordados também o arcebispo Pasquale Macchi, que tinha exercido a função de secretário de Paulo VI. nação episcopal na basílica vaticana, na presença de muitos peregrinos provenientes de Cracóvia para a ocasião. «Jesus, confio em ti» foi o lema escolhido pelo purpurado, na perspetiva da espiritualidade da divina misericórdia da qual foi apóstola irmã Faustina Kowalska. Conhecido na Polónia e também no estrangeiro como homem de cultura, estudioso e escritor, Macharski dedicou sempre cuidado particular à promoção das vocações sacerdotais e religiosas, assim como à formação teológica e espiritual dos seminaristas. No meio do episcopado polaco, já antes da nomeação a arcebispo de Cracóvia, ofereceu a sua contribuição de pensamento e de experiência participando na atividade de várias comissões. Neste contexto, prestou especial atenção ao laicado: de facto, na assembleia plenária dos bispos polacos, realizada em Varsóvia em fevereiro de 1979, foi-lhe confiada a presidência da comissão do apostolado dos leigos, da qual já tinha sido secretário quando a guiava o cardeal Wojtyła de 1966 a 1978. Sempre foi um ponto de referência para toda a sociedade polaca, capaz de intervenções de perfil elevado com um estilo simples e direto. Manteve um vínculo especial com João Paulo II, recebendo-o oito vezes em visita a Cracóvia entre 1979 e 2002. Participou em diversas assembleias do Sínodo dos bispos, desempenhando em particular um papel-chave como presidente delegado na segunda assembleia especial para a Europa em 1999. Fez parte também do conselho da segunda secção da Secretaria de Estado; da Congregação para os bispos, da Congregação para a evangelização dos povos, da Congregação para o clero, da Congregação para os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica e da Congregação para a educação católica. A 3 de junho de 2005, depois de mais de vinte e seis anos de episcopado, deixou o governo da arquidiocese de Cracóvia a Stanisław Dziwisz, que durante trinta e nove anos fora o secretário particular de Karol Wojtyła. Telegrama de condolências do Pontífice O cardeal polaco Franciszek Macharski, arcebispo emérito de Cracóvia, faleceu no dia 2 de agosto. Tinha 89 anos. Durante a viagem à Polónia, o Papa Francisco visitou-o no hospital universitário no qual estava internado em gravíssimas condições. Ao receber a notícia, o Pontífice enviou ao cardeal Stanisław Dziwisz, arcebispo de Cracóvia, o seguinte telegrama. Com tristeza, recebi a notícia da morte do Cardeal Franciszek Macharski, Arcebispo emérito de Cracóvia. Uno-me a ti, estimado irmão, ao presbitério e aos fiéis da Igreja na Polónia na oração de ação de graças pela vida e o compromisso pastoral deste benemérito ministro do Evangelho. Iesu, in te confido! — Jesus, confio em ti! — este lema episcopal guiou a sua vida e o seu ministério. Hoje, no Ano jubilar da Misericórdia, tornou-se uma invocação eloquente que proclama o cumprimento da obra que o Senhor lhe confiou já no momento do Batismo, introduzindo-o na fila dos selados com o seu Sangue redentor, e em seguida também com o dom do sacerdócio, quando o enviou com a tarefa de santificar o Povo com a palavra e a graça dos sacramentos. Desempenhava esta missão com zelo como pastor, professor, reitor do Seminário, até ao dia em que o Senhor lhe confiou o encargo da herança de santo Estanislau e do seu imediato predecessor Karol Wojtyła, hoje são João Paulo II, na sede episcopal de Cracóvia. Com confiança na Misericórdia divina realizou esta obra como pai para os sacerdotes e os fiéis confiados aos seus cuidados. Guiou a Igreja em Cracóvia no período não fácil das transformações políticas e sociais, com sabedoria e um sábio desapego da realidade, preocupando-se pelo respeito por cada pessoa, pelo bem da comunidade da Igreja e, sobretudo, por conservar viva a fé no coração dos homens. Dou graças à Providência porque pude visitá-lo durante a recente viagem a Cracóvia. Na última etapa da vida foi muito provado pelo sofrimento, que aceitava com serenidade de espírito. Também nesta provação permaneceu testemunha fiel da confiança na bondade e na misericórdia de Deus. Continuará assim na minha memória e na oração. O Senhor o receba na sua glória! A Vossa Excelência, venerado irmão, aos Cardeais e aos Bispos, à família do falecido, a todos os fiéis polacos concedo de coração a minha bênção: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. FRANCISCO L’OSSERVATORE ROMANO página 10 quinta-feira 11-18 de agosto de 2016, número 32-33 Em diálogo com o arcebispo Fisichella Uma especial sexta-feira da misericórdia GIANLUCA BICCINI Qual foi o papel do seu dicastério na organização das jornadas na Polónia? A prece silenciosa em Auschwitz-Birkenau, a visita aos doentes no hospital pediátrico de Cracóvia, a Via-Sacra da jmj com os jovens iraquianos e com quantos vivem particulares situações de dificuldade. Para o arcebispo Rino Fisichella, presidente do Pontifício conselho para a promoção da nova evangelização, existe um único fio condutor que une estes três momentos vividos pelo Papa no dia 29 de julho durante a sua última viagem, a tal ponto que a do Pontífice pode ser considerada «plenamente» a etapa de julho das chamadas «sextas-feiras da misericórdia», como explicou nesta entrevista a L’Osservatore Romano, na qual falou também das catequeses por ele dirigidas aos jovens italianos durante a jmj de Cracóvia. Estamos no ano santo e portanto a jornada mundial da juventude insere-se para todos os efeitos neste momento de graça que o Papa Francisco desejou oferecer a toda a Igreja. A jmj é sempre gerida de maneira eficaz pelo Pontifício Conselho para os leigos. Participamos com uma pequena delegação porque era justo que estivéssemos presentes também nós, como sinal de que o evento jubilar não era vivido somente em Roma, mas — como o Papa desejou — também em todas as dioceses do mundo. De resto, também em Cracóvia o Pontífice atravessou a porta santa. Para o dicastério encarregado da animação pastoral e da organização dos eventos do jubileu, o que representa o dia vivido pelo Papa a 29 de julho? Olhando para o que Francisco fez, sem dúvida podemos definir este dia uma das «sextas-feiras da misericórdia» que ele promove mensalmente ao longo deste ano santo extraordinário. E gostaria de acrescentar que em tal circunstância o Papa a viveu de modo ainda mais significativo. Sim, acho que o silêncio em Auschwitz, a sua oração sem palavras, o seu desejo de passar um pouco de tempo com as crianças doentes e com os jovens iraquianos e necessitados presentes na Via-Sacra, são plenamente obras de misericórdia. Não esqueçamos que rezar pelos defuntos é uma obra de misericórdia espiritual, e visitar os doentes é uma obra de misericórdia corporal. Portanto diria que, não obstante no plano organizacional tivéssemos interrompido durante o verão os encontros jubilares para permitir que o Pontífice descansasse dos numerosos esforços envidados nestes meses, ele voltou a surpreender-nos. Assim, também em julho presidiu em pleno sentido à sua «sexta-feira da misericórdia», e talvez de modo ainda mais admirável. Ao mesmo tempo, considerou-se a jmj de Cracóvia como o jubileu dos jovens. O senhor foi um dos bispos — em Cracóvia estavam presentes 800 — que animaram as tradicionais catequeses para os vários grupos linguísticos. Qual foi a sua experiência a propósito? Animei duas delas: obviamente o tema principal foi a misericórdia porque o lema destas catequeses era: ser bem-aventurado na medida em que se é misericordioso. Vivi uma bonita experiência com dois grandes grupos de jovens de diversas partes da Itália e esforcei-me para os fazer refletir sobre quanto o tema da misericórdia toca diretamente a vida concreta das pessoas e pode mudar a nossa vida, sobretudo a dos jovens. Procurei explicar que ser agente de misericórdia significa acolher a provocação do Papa Francisco: na base estão as obras de misericórdia espiritual e corporal, mas elas são só o ponto de partida que nos impele depois a verificar todas as pobrezas presentes no mundo de hoje, e no mundo juvenil há muitas. Na vigília de sábado no Campus misericordiae de Cracóvia o Pontífice recordou outras, exortando a não se fazer privar da própria liberdade e a ser ativo. Tudo consiste em reconhecer as novas formas de pobreza para poder dar espaço à fantasia criadora da misericórdia e corresponder a elas com obras sempre novas. A próxima jmj será no Panamá em 2019. Como devemos ver esta escolha? Não nos esqueçamos que a África e a América Latina são continentes cheios de jovens. Lá ainda existe uma presença fortíssima de religiosidade popular, portanto desde o nascimento as crianças são iniciadas a viver na fé. Mas também lá há os desafios que estão a chegar e sobre os quais a Igreja deve vigiar sempre, a fim de poder levar os jovens à verdadeira liberdade, como o Papa Francisco disse na vigília da jmj. Além disso devemos considerar que o Panamá é um Estado moderno, que pode transmitir aos outros a capacidade de construir o futuro. Por fim, a sua colocação geográfica favorece as comunicações com as Américas. Mas sobretudo com esta escolha o Papa quis que as novas gerações latino-americanas fossem motivadas por um profundo sentido de pertença à Igreja, artífices e responsáveis do presente e do futuro dos seus países e do continente. Já foram consumidos os recursos anuais da Terra Chegou a hora de escolher entre colapso e estabilidade Cada vez antes: para sermos precisos, cinco dias em relação ao ano passado. De facto, no dia 8 de agosto a humanidade esgotou os recursos que a natureza põe à disposição para o ano inteiro. Trata-se do dia da sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day): tudo o que começou a ser consumido a partir do dia seguinte supera os recursos que o planeta pode regenerar. O Global Footprint Network calcula esta corrida irreprimível, medindo todos os anos o consumo de recursos disponíveis, frisando que a data limite em 2000 coincidia com o fim do mês de setembro. De facto, é a certificação de que emitimos mais dióxido de carbono na atmosfera do que os oceanos e as florestas são capazes de absorver e depredamos as regiões de pesca e as florestas mais rapidamente do que se podem reconstituir. As emissões de dióxido de carbono constituem o componente da sobrecarga ecológica que está a aumentar com mais rapidez: a marca devida ao dióxido de carbono (carbon footprint) gera 60 por cento da demanda de recursos naturais por parte da humanidade (pegada ecológica). A fim de respeitar os objetivos do acordo de Paris adotado por quase 200 países em dezembro de 2015, a pegada das emissões de dióxido de carbono deverá di- minuir praticamente a zero até 2050. O que requer um novo modo de viver, comprometido, mas não irrealizável, segundo Mathis Wackernagel, co-fundador e Ceo de Global Footprint Network. «A boa notícia — observa — é que tudo isto é atuável com as tecnologias disponíveis e é economicamente vantajoso dado que os benefícios totais são superiores aos custos. O único recurso do qual temos mais necessidade é a vontade política». Alguns países enfrentam este desafio. Por exemplo, a Costa Rica gerou 97 por cento da sua eletricidade através de fontes renováveis durante os primeiros três meses de 2016. Portugal, Alemanha e Grã-Bretanha mostraram níveis muito avançados em relação à capacidade de produzir energia renovável. A China delineou um plano para reduzir em 50 por cento o consumo de carne e consequentemente diminuir de um bilião de toneladas as emissões de dióxido de carbono. Contudo é necessário o comprometimento dos indivíduos. Cada um pode fazer algo. A tal propósito, depois do acordo de Paris, foi lançada uma campanha de sensibilização com a finalidade de evidenciar a importância de poder contar com a certeza dos recursos dada por um mundo sustentável. De resto, trata-se de escolher entre colapso e estabilidade. número 32-33, quinta-feira 11-18 de agosto de 2016 Reconhecimento da Onu conferido ao Cimi O Conselho indigenista missionário (Cimi), organismo da Igreja no Brasil que trabalha em defesa das populações indígenas, obteve um «estatuto especial». O prestigioso reconhecimento por parte do Conselho económico e social das Nações Unidas (Esosoc) — explicou D. Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho e presidente do Cimi — «qualifica o trabalho do Conselho indigenista missionário» e intensifica «a atenção internacional sobre a defesa dos projetos de vida das populações indígenas». Na opinião do prelado brasileiro, o Ecosoc é um «organismo estratégico para dar espaço às denúncias e para a construção de uma consciência coletiva que reconheça e promova as comunidades indígenas de todo o mundo». L’OSSERVATORE ROMANO página 11 Por ocasião do dia internacional proclamado pelas Nações unidas Ao congresso eucarístico Justiça negada aos índios Cardeal Hummes enviado papal O Pontífice pede o respeito pelos direitos dos indígenas São mais de 370 milhões e vivem em cerca de setenta países. As populações indígenas com frequência são vítimas de abusos, de direitos negados, de desigualdade social e obrigadas a lutar pela sobrevivência das suas terras ancestrais e do respeito pelas suas tradições. Por ocasião do dia internacional dos povos indígenas, num tweet, o Papa Francisco lançou um apelo: «Peçamos que os povos indígenas, ameaçados na sua identidade e na sua existência, sejam respeitados». Para recordar a importância das populações indígenas e do respeito pelas suas tradições e história, pronunciou-se também a alta representante da União europeia para a política estrangeira e de segurança comum, Federica Mogherini, que declarou: «Unamo-nos aos povos indígenas de todo o mundo para celebrar a riqueza das suas culturas e os seus contributos peculiares para a diversidade cultural mundial». A União «reitera o seu compromisso a promover e tutelar os direitos dos povos indígenas», acrescentou. O dia internacional foi proclamado pela Assembleia geral da Onu em dezembro de 1994, para chamar a atenção sobre as exigências dos povos indígenas mais ameaçados. Hoje, pelo menos em teoria, muitas leis nacionais, políticas e institucionais contêm e respeitam princípios da Declaração da Onu sobre os direitos dos povos indígenas e da Convenção Ilo sobre os povos indígenas e tribais. Apesar dos passos já dados, em muitos países diariamente os direitos humanos dos povos indígenas continuam a ser violados. O último alarme foi lançado pela organização Survival International, segundo a qual o povo dos Kawahivas, na Amazônia brasileira, corre o risco de extinção. É preciso que a terra dos Kawahivas seja demarcada e protegida definitivamente. No dia 12 do passado mês de junho foi publicada em L’O sservatore Romano a notícia da nomeação do cardeal franciscano Cláudio Hummes como enviado especial do Papa Francisco ao décimo sétimo congresso eucarístico nacional do Brasil, que será celebrado na cidade de Belém de 15 a 21 de agosto. O prefeito emérito da Congregação para o clero será acompanhado de uma missão composta por dois eclesiásticos incardinados na arquidiocese de Belém: — padre Vladian Silva Alves, membro do cabido da catedral e reitor do seminário maior de São Pio x; e — padre Ronaldo de Souza Menezes, pároco da paróquia de São Geraldo Magela e diretor do museu local de arte sacra. INFORMAÇÕES Audiências Prelados falecidos O Papa Francisco recebeu em audiências particulares: Adormeceram no Senhor: No dia 4 de agosto No dia 30 de julho Os Senhores Cardeais Stanisław Ryłko, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos; e Peter Kodwo Appiah Turkson, Presidente do Pontifício Conselho «Justiça e Paz»; e D. Guillermo Rodríguez-Melgarejo, Bispo de San Martin (Argentina). D. Vicente Huang Shoucheng, Bispo diocesano de Xiapu (China Continental). do Sacerdote a 29 de julho de 1974. Recebeu a Ordenação episcopal em 3 de maio de 1974. No dia 5 de agosto O venerando Prelado nasceu a 23 de julho de 1923, em Kangcuo (China Continental). Foi ordenado Sacerdote no dia 26 de junho de 1949. Recebeu a Ordenação episcopal em 9 de janeiro de 1985. D. Salvador Quizon Quizon, ex-Auxiliar de Lipa (Filipinas). O ilustre Prelado nasceu em Manila a 6 de dezembro de 1924. Recebeu a Ordenação sacerdotal no dia 12 de março de 1949. Foi ordenado Bispo em 22 de agosto de 1979. No dia 6 de agosto Nomeações O Sumo Pontífice nomeou: A 6 de agosto Núncio Apostólico na Polónia, D. Salvatore Pennacchio, Arcebispo Titular de Montemarano, até à presente data Núncio Apostólico na Índia e no Nepal. Membro Ordinário da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, o Professor Paolo Carozza, Docente de Direito e Ciências Políticas na University of Notre Dame, Indiana (Estados Unidos da América). No dia 2 de agosto D. James Martin Hayes, Arcebispo Emérito de Halifax (Canadá). O venerando Prelado nasceu a 27 de maio de 1924, em Halifax (Canadá). Recebeu a Ordenação sacerdotal no dia 15 de junho de 1947. Foi ordenado Bispo em 20 de abril de 1965. D. Ercole Lupinacci, Bispo Emérito de Lungro dos ítalo-albaneses da Itália continental. O saudoso Prelado nasceu no dia 23 de novembro de 1933 em San Giorgio Albanese (Itália). Foi ordenado Sacerdote a 22 de novembro de 1959. Recebeu a Ordenação episcopal em 6 de agosto de 1981. No dia 8 de agosto No dia 3 de agosto D. Mansueto Bianchi, Bispo Emérito de Pistoia e Assistente eclesiástico geral da Ação católica italiana. O ilustre Prelado nasceu em Santa Maria a Colle (Itália), no dia 4 de novembro de 1949. Foi ordena- D. Edward Kevin Daly, Bispo Emérito de Derry (Irlanda). O saudoso Prelado nasceu em Belleek (Irlanda), no dia 5 de dezembro de 1933. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 16 de março de 1957. Foi ordenado Bispo em 31 de março de 1974. página 12 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 11-18 de agosto de 2016, número 32-33 A misericórdia «é um caminho que vai do coração às mãos», recordou o Papa Francisco na audiência geral de quarta-feira 10 de agosto, comentando com os fiéis na Sala Paulo VI o trecho evangélico de Lucas (7, 11-17) que narra a ressurreição do filho da viúva de Naim. Queridos irmãos e irmãs, bom dia! O trecho do Evangelho de Lucas que acabámos de ouvir (7, 11-17) apresenta-nos um milagre de Jesus deveras grandioso: a ressurreição de um jovem. No entanto, o núcleo desta narração não é o milagre mas a ternura de Jesus para com a mãe deste jovem. Aqui a misericórdia assume o nome de grande compaixão por uma mulher que tinha perdido o marido e que agora leva ao cemitério o seu único filho. Esta grande dor da mãe comove Jesus e provoca o milagre da ressurreição. Ao introduzir este episódio, o Evangelista hesita sobre muitos pormenores. Na porta da cidade de Naim — uma aldeia — encontram-se dois grupos numerosos que provêm de direções opostas e que nada têm em comum. Jesus, seguido pelos discípulos e por uma multidão prepara-se para entrar no povoado, enquanto sai o triste cortejo que acompanha o defunto, com a mãe viúva e muitas pessoas. Junto da porta os dois grupos cruzam-se cada um indo pela própria estrada, mas é então que são Lucas comenta o sentimento de Jesus: «Vendo-a, o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: Não chores! E aproximando-se, tocou no esquife, e os que o levavam pararam» (vv. 13-14). Grande compaixão guia as ações de Jesus: é Ele que para o cortejo ao tocar o esquife e, movido por profunda misericórdia por esta mãe, decide enfrentar a morte, por assim dizer, cara a cara. E enfrentá-la-á definitivamente, face a face, na Cruz. Durante este Jubileu, seria bom que, ao atravessar a Porta Santa, a Porta da Misericórdia, os peregrinos se recordassem deste episódio do Evangelho, ocorrido na porta de Naim. Quando Jesus vê esta mãe em lágrimas, ela entrou no seu coração! Cada um chega à Porta Santa trazendo a própria vida, com as suas alegrias e sofrimentos, os projetos e as falências, as dúvidas e os temores, para a apresentar à misericórdia do Senhor. Estamos certos de que, junto da Porta Santa, o Senhor se faz próximo para encontrar cada um de nós, para trazer e oferecer a sua poderosa palavra consoladora: «Não chores!» (v. 13). Esta é a Porta do encontro entre a dor da humanidade e a compaixão de Deus. Atravessando o limiar realizamos a nossa peregrinação dentro da misericórdia de Deus que, como ao jovem morto, repete a todos: «Ordeno-te, levanta-te!» (v. 14). A cada um de nós diz: «Levanta-te». Deus quer-nos em pé. Criou-nos para estar em pé: por isso, a compaixão de Jesus leva àquele gesto da cura, a sararnos, do qual a palavra-chave é: «Levanta-te! Põete em pé, como Deus te criou!». Em pé. «Mas, padre, caímos tantas vezes» — «Em frente, levanta-te!». Esta é a palavra de Jesus, sempre. Ao atravessar a Porta Santa, procuremos ouvir no nosso coração esta palavra: «Levanta-te!». A palavra poderosa de Jesus pode fazer com que nos levantemos e provocar também em nós a passagem da morte para a vida. A sua palavra faz-nos reviver, doa esperança, encoraja os corações cansados, abre para uma visão de mundo e de vida que vai além do sofrimento e da morte. Na Porta Santa está gravado para cada um o inesgotável tesouro da misericórdia de Deus! Ao ouvir a palavra de Jesus, «sentou-se o que estivera morto e começou a falar, e Jesus entregou-o à sua mãe» (v. 15). Esta frase é muito bonita: indica a ternura de Jesus: «Entregou-o à sua mãe». A mãe reencontra o filho. Recebendo-o das mãos de Jesus ela torna-se mãe pela segunda vez, mas o filho que agora lhe foi restituído não recebeu a vida dela. Mãe e filho recebem assim a respetiva identidade graças à palavra poderosa de Jesus e ao seu gesto amoroso. Deste modo, espe- Na audiência geral o Papa explicou qual é o caminho da misericórdia Do coração às mãos cialmente no Jubileu, a mãe Igreja recebe os seus filhos reconhecendo neles a vida doada pela graça de Deus. É em virtude desta graça, a graça do Batismo, que a Igreja se torna mãe e que cada um de nós se tornar seu filho. Diante do jovem ressuscitado e restituído à mãe, «apoderou-se de todos o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: um grande profeta surgiu entre nós: Deus dirigiu o olhar para o seu povo». Por conseguinte, quanto Jesus fez não é uma ação de salvação destinada à viúva e ao seu filho, nem um gesto de bondade limitado àquela cidadezinha. No socorro misericordioso de Jesus, Deus vai ao encontro do seu povo, n’Ele aparece e continuará a aparecer à humanidade toda a graça de Deus. Celebrando este Jubileu, que desejei que fosse vivido em todas as Igrejas particulares, isto é em todas as Igrejas do mundo, e não só em Roma, é como se toda a Igreja espalhada pelo mundo se unisse no único canto de louvor ao Senhor. Também hoje a Igreja reconhece que recebe a visita de Deus. Por isso, encaminhando-se rumo à Porta da Misericórdia, cada um sabe que se encaminha para a porta do coração misericordioso de Jesus: de facto é Ele a verdadeira Porta que leva à salvação e nos restitui a uma vida nova. A misericórdia, quer em Jesus quer em nós, é um caminho que começa do coração para chegar às mãos. O que isto significa? Jesus olha para ti, cura-te com a sua misericórdia, dizendo-te: «Levanta-te!» e o Visita a Carsoli e Borgo San Pietro Nos passos de são Francisco No dia 9 de agosto, o Papa Francisco visitou, de forma particular, o convento de São Francisco em Carsoli, na província de Áquila, e depois o santuário de Santa Filipa Mareri no Borgo San Pietro, em Petrella Salto, na região de Rieti (Itália). Neste itinerário espiritual nos passos de são Francisco, o Santo Padre foi recebido e acompanhado pelo bispo de Rieti, D. Domenico Pompili. A primeira etapa da sua peregrinação, na parte da manhã, foi o convento de Carsoli, que remonta à época de são Francisco, onde o Papa se encontrou com as irmãs reparadoras da Sagrada Face de Nosso Senhor Jesus Cristo e celebrou a santa missa. Sucessivamente, à tarde, o Pontífice deteve-se em oração no santuário do Borgo San Pietro, onde repousa o corpo de santa Filipa Mareri, fundadora daquele mosteiro, também graças ao encorajamento direto recebido de são Francisco. Ali o Santo Padre encontrou-se com a comunidade de religiosas franciscanas, compartilhando com elas uma reflexão sobre a beleza e a grande importância da missão das mulheres consagradas na Igreja. teu coração renova-se. O que significa realizar um caminho a partir do coração até às mãos? Quer dizer que com o coração novo, sarado por Jesus, posso realizar as obras de misericórdia através das mãos, procurando ajudar, curar muitos necessitados. A misericórdia é um caminho que tem início no coração e chega às mãos, isto é, às obras de misericórdia. Disse que a misericórdia é um caminho que vai do coração às mãos. No coração recebemos a misericórdia de Jesus que nos doa o perdão de tudo, porque Deus perdoa tudo e levanta-nos, dá-nos a vida nova e contagia-nos com a sua compaixão. Do coração perdoado e com a compaixão de Jesus, começa o caminho rumo às mãos, isto é, para as obras de misericórdia. Dizia-me um bispo outro dia que na sua catedral e noutras igrejas fez portas de misericórdia de entrada e de saída. Perguntei o porquê e a resposta foi: «Porque uma porta é para entrar, pedir perdão e obter a misericórdia de Jesus; a outra é a porta da misericórdia em saída, para levar a misericórdia aos outros, com as nossas obras de misericórdia». Como é inteligente este bispo! Também nós façamos o mesmo com o caminho que vai do coração às mãos: entremos na igreja pela porta da misericórdia, a fim de receber o perdão de Jesus, que nos diz «Levanta-te! Vai, vai!»; e com este «vai!» — em pé — saiamos pela porta de saída. É a Igreja em saída: o caminho da misericórdia que vai do coração às mãos. Percorrei este caminho! No final da catequese o Papa saudou os diversos grupos linguísticos presentes, dirigindo aos lusófonos, aos árabes e aos italianos as seguintes expressões. Dirijo uma saudação cordial aos peregrinos de língua portuguesa, em particular aos fiéis de Portugal e do Brasil. Queridos amigos, a experiência da compaixão misericordiosa de Deus nos deve impelir a levar os outros ao encontro com Jesus que espera a cada homem e mulher nas Portas da Misericórdia espalhadas por todas as Igrejas particulares do mundo. Que Deus vos abençoe! Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua árabe, em particular aos que provêm do Médio Oriente! Queridos irmãos e irmãs, a Porta Santa é a Porta do encontro entre a dor da humanidade e a compaixão de Deus; ao atravessar o limiar realizamos a nossa peregrinação dentro da misericórdia de Deus que a todos repete: «Ordeno-te, levanta-te!». O Senhor vos abençoe! Por fim, dirijo uma saudação aos jovens, aos doentes e aos recém-casados. Na segunda-feira passada recordamos a figura de são Domingos de Gusmão, cuja Ordem dos Pregadores celebra o oitavo centenário de fundação. A palavra iluminada deste grande santo vos estimule, queridos jovens, a ouvir e a viver os ensinamentos de Jesus; a sua fortaleza interior vos apoie, estimados doentes, nos momentos de dificuldade; e a sua dedicação apostólica, recorde, caros jovens casais, a importância da educação cristã na vossa família.