Redes de acesso banda larga satélite-terrestre

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Redes de acesso banda larga satélite-terrestre
Redes de acesso banda larga satélite-terrestre
Onésimo Ferreira, João Paulo C. L. Miranda*
Este artigo apresenta os resultados das simulações de uma rede de acesso banda larga satéliteterrestre. Será apresentada uma avaliação da tecnologia de multiplexação por divisão de frequências
ortogonais como uma interface rádio por satélite. O objetivo da utilização dessa interface rádio nos
sistemas satelitais é obter maior margem de enlace e maior eficiência espectral. Na análise feita, foram
considerados os seguintes cenários: canal com ruído gaussiano branco aditivo, canal não linear, impacto
do backoff (recuo da saturação) e erro de frequência da portadora.
Palavras-chave: LTE 450 MHz. OFDM. Satélite geoestacionário. Enlace de descida. Desempenho.
Abstract
This article presents the results of a land satellite broadband access network simulation. An evaluation of
orthogonal frequency division multiplexing technology as a radio interface by satellite will be presented.
The purpose of using this radio interface in satellite systems is to obtain a larger connection margin and
greater spectrum efficiency. The analysis considers the following scenarios: channel with additive white
Gaussian noise, non-linear channel, back-off impact (drop in saturation) and carrier frequency error.
Key words: LTE 450 MHz. OFDM. Geostationary satellite. Downlink. Performance.
*
Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected].
1
Introdução
Este artigo apresenta um estudo de viabilidade
que avalia o uso de uma interface rádio por
satélite
que,
por
sua
vez,
emprega
multiplexação por divisão de frequências
ortogonais (Orthogonal Frequency Division
Multiplexing – OFDM) num enlace de descida
(downlink), com resultados das simulações
realizadas na camada física. A adoção da
interface rádio OFDM resulta em uma maior
margem de enlace em condições de
propagação fundamentais, como é o caso de
propagação sem linha de visada (No Line Of
Sight – NLOS), e quando é considerado
componente
complementar
terrestre
(Complementary Ground Component – CGC).
O artigo de Cioni e autores (2006) considera a
aplicação de técnicas OFDM na camada física
de um sistema satélite dedicado à prestação de
serviços de radiodifusão multimídia digital
(Digital Multimedia Broadcasting – DMB), que
são o foco de extensos esforços de pesquisa e
desenvolvimento. Em particular, o trabalho
demonstra que a alta eficiência espectral do
OFDM pode ser mantida mesmo em canais de
propagação desfavoráveis, afetados pelas
distorções linear e não linear, introduzidas,
respectivamente,
pela
propagação
em
multipercursos e pelo amplificador de alta
potência. Esse desempenho é alcançado
através do projeto e da aplicação de técnicas de
pré-distorção e de codificação, conforme
descrito no artigo. Com base nos resultados
apresentados, o documento analisa também a
comparação das técnicas OFDM e High Speed
Downlink Packet Access (HSDPA). O HSDPA é
a interface de rádio padronizada para redes
móveis terrestres 3G.
Vários
sistemas
DMB
estão
sendo
desenvolvidos em todo o mundo. O projeto
integrado Maestro (CHUBERRE et al., 2004) se
concentrou em uma arquitetura baseada em um
sistema de transmissão via satélite para
interagir com sistemas 3G e 4G e proporcionar
serviços de transmissão multimídia digital via
satélite (S-DMB) para terminais portáteis e
palmtop. A arquitetura híbrida resultante
permitiu obter a máxima eficiência tecnológica
para o sistema terrestre e para o sistema de
transmissão via satélite. A fim de melhorar a
cobertura oferecida pelo sistema satélite em
ambientes urbanos e suburbanos, Cione e
autores (2006) recomendam a utilização de
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repetidores terrestres, também conhecidos
como repetidores de módulo intermediário
(Intermediate Module Repeaters – IMR).
Trata-se de repetidores transparentes, simples e
de baixo custo, situados sobre os telhados ou
colocalizados em estações-base, que cobrem
áreas construídas de forma muito eficaz, em
detrimento da introdução de um maior
espalhamento de retardo.
Embora a aplicação inicial do conceito Maestro
S-DMB tenha se baseado na utilização do
padrão W-CDMA (Wideband Code Division
Multiple Access) (HOLMA & TOSKALA, 2004),
os autores do presente trabalho, bem como
Cioni e colaboradores (2006), trabalharam na
análise de uma interface aérea altamente
eficiente, que adota a tecnologia OFDM.
Notavelmente, OFDM tem sido o foco de
interesse também no 3GPP (3GPP, 2004). O
OFDM é conhecido por ter maior eficiência
espectral em comparação ao WCDMA; no
entanto, o OFDM é também caracterizado por
uma relação de potência pico-média (PAPR)
bastante elevada, que o torna particularmente
sensível à distorção não linear introduzida pelo
amplificador de alta potência (HPA).
Existe, portanto, uma necessidade de provar
que OFDM é uma solução adequada para a
interface aérea de um sistema satelital.
Neste artigo, são empregadas as seguintes
definições:
 downlink: enlace rádio unidirecional para
a transmissão de sinais de um satélite
para um equipamento do usuário ou
terminal (User Equipment – UE).
 uplink: enlace rádio unidirecional para a
transmissão de sinais a partir de um UE
para um satélite.
 forward link – download – outbound:
enlace rádio unidirecional para a
transmissão de sinais a partir de um
GateWay (GW) para um UE via satélite.
 return link – upload – inbound (enlace de
retorno): enlace rádio unidirecional para a
transmissão de sinais de um UE para um
gateway através de um satélite.
 repetidor: dispositivo, e.g. CGC, que
recebe, amplifica e transmite a portadora
de radiofrequência (Radio Frequency –
RF) irradiada ou conduzida tanto na
direção downlink (do satélite para a área
do terminal) como na direção uplink (do
terminal para o satélite).
 célula: área geográfica dentro da
cobertura do CGC.
 spot: área geográfica que está dentro da
cobertura do feixe satelital.
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 rice factor: a relação de potência entre o
componente de linha de visada (Line Of
Sight – LOS) e o componente de difusão.
A
Seção
2
apresenta
as
principais
características da tecnologia OFDM. Na
Seção 3, são discutidos a aplicação do OFDM
em sistemas satelitais e os efeitos da não
linearidade dos amplificadores. Já na Seção 4,
são mostradas as técnicas existentes de
compensação das distorções não lineares. Na
Seção 5, é feito um detalhamento das técnicas
de pré-distorção digital. Na Seção 6, são
descritos os cenários de referência para a
análise da interface rádio OFDM em sistemas
digitais via satélite. Para finalizar, na Seção 7,
são apresentados os resultados das simulações
realizadas, considerando-se canal com ruído
gaussiano branco aditivo, canal não linear,
impacto do backoff (recuo da saturação) e erro
de frequência da portadora, seguidos das
conclusões gerais.
2
Tecnologia OFDM para cenário satélite e
terrestre
A tecnologia OFDM tem características
intrínsecas que são, geralmente, reconhecidas
como bem adequadas para o ambiente de rádio
móvel terrestre. No caso do sistema de
transmissão
digital
via
satélite,
essas
características são úteis para o canal CGC. Em
particular, as seguintes características são
dignas de nota (HARA & PRASAD, 2003):
 tempo de dispersão: a utilização de várias
subportadoras paralelas no OFDM
permite que a duração do símbolo seja
maior, o que faz com que o sinal seja
inerentemente robusto à dispersão no
tempo, ou seja, ao desvanecimento
seletivo na frequência. Além disso, um
período de guarda pode ser adicionado
para combater melhor a interferência
intersimbólica (Inter Symbol Interference
– ISI).
 eficiência espectral: a tecnologia OFDM
faz uso de portadoras ortogonais entre si,
permitindo a separação estreita entre as
frequências
e,
consequentemente,
possibilitando alta eficiência espectral.
 recepção: mesmo em cenários de
dispersão no tempo relativamente grande,
a recepção de um sinal OFDM requer
apenas a implementação de uma
transformada rápida de Fourier (Fast
Fourier Transform – FFT) no UE. Não é
necessário um esquema intracelular de
cancelamento de interferência. Além
disso, por causa da inserção de prefixo
cíclico,
a
tecnologia
OFDM
é
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relativamente insensível aos erros de
aquisição de temporização. Por outro
lado, o OFDM requer correção dos
deslocamentos de frequência.
Na Seção 3, são discutidos a aplicação do
OFDM em sistemas satelitais e os efeitos da
não linearidade dos amplificadores.
3
OFDM e o ambiente satélite: efeitos da
não linearidade
Ao projetar sistemas de comunicação sem fio e,
em particular, enlaces satélite, existem algumas
deficiências ou dificuldades ligadas à presença
do canal rádio, que pode ser seletivo na
frequência ou no tempo, causando forte
distorção linear. Outra fonte de degradação
severa é introduzida pelos amplificadores de
alta potência (High Power Amplifiers – HPA),
que podem causar distorção não linear no sinal
transmitido, degradando o desempenho geral do
sistema. Isso ocorre quando o HPA é operado
próximo da saturação, de forma a explorar toda
a potência de saída disponível e aumentar a
eficiência de potência. Isso é particularmente
verdadeiro para a interface rádio OFDM, que é
caracterizada por uma relação potência picomédia (Peak-to-Average Power Ratio – PAPR)
bastante elevada (SESIA, TOUFIK & BAKER,
2009). Além desses fatores, o custo do aparato
é outra questão fundamental: para explorar
adequadamente o caro equipamento, é
necessário conduzi-lo até o limite. Esse é,
certamente, o caso do satélite com HPA
acoplado, mas também se aplica aos terminais
terrestres concebidos para o mercado de
massa, em que a redução de pequenos custos
por dispositivo pode garantir grandes lucros
totais. Os modelos de amplificadores de
potência comumente utilizados nos satélites são
Travelling Wave Tube Amplifier (TWTA) e o
TWTA linearizado (linearized TWTA – LTWTA).
Uma consequência desses fatos é que,
normalmente, o impacto da distorção não linear
sobre o sinal transmitido é muito forte, pois atua
diretamente sobre o fluxo de pulsos limitados
em banda. A degradação inclui distorção na
amplitude e na fase, descritas como
características AM/AM e características AM/PM,
e geração de frequências intermodulares dentro
e fora da banda. Esse fenômeno leva a um
aumento da interferência de canal adjacente
(Adjacent Channel Interference – ACI),
decorrente de um alargamento do espectro do
sinal transmitido. Em particular, no receptor,
cada ponto da constelação do sinal é distorcido,
de modo que é gerada a ISI. Esses efeitos
podem ser mais ou menos graves para o
sistema dependendo das características do
HPA considerado e da distância da saturação.
As técnicas capazes de neutralizar a distorção
não linear são numerosas e incluem o uso de
forte codificação de canal, de técnicas de
equalização no receptor e de técnicas de prédistorção no transmissor. Todas essas
abordagens tentam mitigar a perda da relação
sinal-ruído (Signal-to-Noise Ratio – SNR) para
uma dada taxa de erro de bit (Bit Error Rate –
BER) e permitem aumentar a potência de saída
do amplificador. Outra solução é, obviamente, o
recuo (backoff) de saturação, mas na maioria
dos casos não é desejável, pois envolve
restrições rigorosas de potência.
O projeto de um compensador da não
linearidade (Non Linear – NL) deve considerar
uma variedade de fatores, tais como: modelos
de modulação e codificação, subsistema
estimador de canal, requisitos de serviço do
sistema, restrições eficientes na conversão
corrente direta – radiofrequência (Direct
Current-Radio
Frequency
–
DC-RF),
complexidade e custo do sistema, potência de
saída e especificações de interferência de
canais adjacentes.
Na Seção 4, são mostradas as técnicas
existentes de compensação das distorções não
lineares.
4
Técnicas de compensação
Na literatura científica são propostas várias
técnicas, como meios de mitigar a distorção não
linear (CHANG & POWERS, 2002):
 A possibilidade mais simples é o recuo
(backoff) da saturação, conduzindo o
HPA para uma região mais linear, à custa
de uma diminuição da potência de saída
de RF disponível, dificultando o
dimensionamento de enlace (link budget)
e reduzindo a eficiência da conversão
DC-RF. Claramente, essa solução não
deve ser aplicada para amplificadores onboard, em virtude do rigor necessário na
eficiência
e
dos
requisitos
no
dimensionamento de enlace. Por outro
lado, para os amplificadores do gateway
terrestre, esta é uma maneira fácil de
evitar os efeitos não lineares indesejados.
 Outra solução envolve técnicas de
mitigação no lado do receptor. Isso pode
ser eficientemente alcançado através da
utilização de equalizadores, que tentam
compensar a ISI e a distorção do ponto
da constelação. Elas representam uma
boa opção quando há complexidades
pontuais e restrições de custo no
transmissor
e,
ainda,
quando
a
complexidade pode ser concentrada no
receptor. A principal desvantagem é que
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o sinal é processado após a distorção não
linear, o que impede a possibilidade de
eliminar a interferência de canal
adjacente indesejável (BENEDETTO &
BIGLIERI, 1983).
 A fim de evitar a geração de interferência
de canal adjacente, a compensação pode
ser introduzida antes do HPA, de modo
que sua saída seja uma versão do sinal
original amplificada linearmente. Essa
abordagem é comumente referenciada
como pré-distorção, uma vez que
consiste no processamento do sinal a ser
transmitido por meio de uma função não
linear, para compensar a distorção
introduzida pelo HPA (CAVERS, 1990).
Na Seção 5, é feito um detalhamento das
técnicas de pré-distorção digital.
5
Técnicas de pré-distorção digital
Técnicas de pré-distorção propostas na
literatura podem ser divididas em duas classes
principais:
pré-distorsores
digitais
e
pré-distorsores analógicos. Essencialmente, o
pré-distorsor (analógico) de forma de onda
compensa a não linearidade sem memória do
HPA e é colocado após o filtro formatador de
pulso em banda RF (ou possivelmente em
Frequência Intermediária – IF); o pré-distorsor
digital é necessário para compensar a não
linearidade com memória gerada pela cascata
do filtro linear formatador de pulso, que introduz
a memória e o HPA, e pode ser concebido como
uma não linearidade sem memória colocada
logo após o filtro formatador de pulso na bandabase. O pré-distorsor digital apresenta uma
maior flexibilidade na determinação dos seus
coeficientes, quando comparado com o
analógico, uma vez que o algoritmo de
aprendizagem no pré-distorsor digital é
programável. Isso sugere que o pré-distorsor
digital pode ser mais dinamicamente adaptativo
quando as características do sistema mudam,
como uma consequência de uma variação das
características do sinal (isto é, a função
densidade de probabilidade ou Probability
Density Function – PDF) ou das características
do amplificador de potência (por exemplo, como
uma função da temperatura ou em decorrência
de flutuações da polarização).
Técnicas de pré-distorção digital podem ser
subdivididas em duas categorias, denominadas
pré-distorção de constelação de dados e
pré-distorção fracional, de acordo com a
localização do compensador. Os pré-distorsores
de constelação de dados são colocados no
sistema de banda-base antes do filtro
transmissor formatador de pulsos, enquanto os
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pré-distorsores fracionais estão localizados
depois do filtro transmissor formatador de
pulsos. Cada uma dessas técnicas de
pré-distorção pode ser implementada de modo a
realizar uma compensação estática dos efeitos
da não linearidade do HPA ou para realizar uma
compensação adaptativa.
Na Seção 6, são descritos os cenários de
referência para a análise da interface rádio
OFDM em sistemas digitais via satélite.
6
Cenários de avaliação da tecnologia
Esta seção descreve os cenários de referência
para a análise da interface rádio OFDM no
contexto de serviços de dados de alta
velocidade para sistemas digitais via satélite.
Uma configuração do sistema de referência será
proposta para avaliar um downlink OFDM
(downlink do LTE). Na configuração proposta,
um pacote de serviços de dados de alta
velocidade é fornecido através da utilização de
uma portadora separada, downlink de 5 MHz,
suportando a transmissão OFDM do canal físico
compartilhado para transporte de dados do
enlace de descida (Physical Downlink Shared
Channel – PDSCH).
Para os testes em questão, foram considerados
os seguintes parâmetros de configuração de
referência:
 número
de
blocos
de
recursos
disponibilizados para download: 25;
 largura de banda no download: 5 MHz;
 modulação no download: 16QAM e
QPSK;
 frequência central no download do CGC:
464.5 MHz – LTE 450 MHz;
 frequência downlink do satélite: 12 GHz –
Banda ku;
 frequência uplink do satélite: 14 GHz –
Banda ku;
 potência máxima da enodeB: +30 dBm;
 duração do subquadro (subframe): 1 ms =
2 slots = 2 x 0.5 ms;
 duração do quadro (frame): 10 ms = 10
subquadros;
 1 slot: 7 símbolos OFDM – prefixo cíclico
normal;
 1 bloco de recurso: 12 subportadoras x 7
símbolos;
 FFT size (points): 512;
 espaçamento entre as subportadoras: 15
kHz.
A principal diferença em relação à contraparte
terrestre deste estudo consiste na introdução do
segmento espacial, incluindo fontes de distorção
linear e não linear. Isso pode ter um impacto
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muito significativo no desempenho, a menos
que sejam adotadas técnicas de modulação
inteligente, pré-distorção e equalização.
Na Seção 7, são apresentados os resultados
das simulações realizadas, considerando-se
canal com ruído gaussiano branco aditivo, canal
não linear, impacto do backoff (recuo da
saturação) e erro de frequência da portadora.
7
7.1
Resultados de simulação
Canal com ruído gaussiano branco
aditivo (Additive White Gaussian Noise
– AWGN)
Primeiramente, a interface OFDM é considerada
no canal AWGN. Os resultados das simulações
são apresentados nas Figuras 1 e 2,
adotando-se os modelos de modulação QPSK e
16QAM.
Independentemente do formato da modulação,
o modelo OFDM apresentará uma ligeira
degradação da BER no que diz respeito ao caso
da portadora única. Essa degradação é
perfeitamente previsível tendo em conta o fato
de que o prefixo cíclico é descartado no lado do
receptor. Em outras palavras, do ponto de vista
do receptor, o prefixo cíclico representa apenas
uma perda de energia e é quantificável como se
segue (1):
SNRperda = (N + Np) / N
IBO = 2 dB, a BER é fixada em 0,06. IBO = 20
ou 15 dB corresponde a HPA trabalhando na
região linear, enquanto IBO = 2 dB significa
muito perto da região de saturação.
A técnica de pré-distorção fracionária também é
avaliada nas Figuras 1 e 2. Para ambas as
modulações e IBO = 15 dB, pode-se notar que o
pré-distorsor
desenvolvido
compensa
completamente os efeitos não lineares do HPA.
Na medida em que o modelo de modulação
QPSK é considerado, um desempenho
melhorado é notado para IBO = 2 dB, pois a
BER não tende mais para 10-3, atingindo
menores taxas de erro. Por outro lado, o ganho
de desempenho do 16QAM com pré-distorsor
fracionário é menos apreciável do que no
regime QPSK. No entanto, observando o
intervalo de Eb/N0 no qual um sistema de
codificação trabalha (de 4 dB a 6 dB), a mesma
BER (ou seja 10-1) é obtida com uma melhoria
de 2 dB a 3 dB.
(1)
em que N é o número de pontos – bins ou
subportadoras – de IFFT/FFT, e Np é o número
de amostras do prefixo cíclico.
7.2
Figura 1 Desempenho do OFDM para vários
valores de IBO sem e com técnicas de prédistorção e em canal AWGN para a modulação
QPSK
Canal não linear
A introdução do satélite com sua não
linearidade causada pelo HPA com TWT
(TWTA) é considerada no canal não linear. As
Figuras 1 e 2 reportam o desempenho
caracterizado em termos da BER para vários
valores de recuo de entrada (Input Backoff –
IBO)
sem
técnicas
de
pré-distorção,
considerando os modelos de modulação QPSK
e 16QAM. Para um IBO = 20 dB, em que a não
linearidade do HPA é insignificante, ambos os
formatos de modulação confirmariam a
degradação da BER discutida no item anterior.
Em relação ao modelo de modulação QPSK,
para IBO = 15 dB, a perda de desempenho da
BER = 10-4 é da ordem de 0,5 dB, ao passo que
para IBO = 2 dB, é notável que a BER tenda
para 10-3. Por outro lado, o formato de
modulação 16QAM é mais sensível aos efeitos
da não linearidade. Em particular, para IBO =
15 dB, a perda de desempenho na BER = 10-4
já está na ordem de 2 dB, ao passo que para
Figura 2 Desempenho OFDM para vários valores
de IBO sem e com pré-distorção fracionária e em
canal AWGN para a modulação 16QAM
7.3
Impacto do backoff
O impacto do IBO sobre o desempenho do
OFDM é mostrado na Figura 3 para um canal
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Redes de acesso banda larga satélite-terrestre
com múltiplos percursos de um sistema de
transmissão digital via satélite. Como esperado,
diminuindo-se o ponto de trabalho, ou seja,
aplicando-se o recuo da saturação, através do
aumento do backoff (IBO), o desempenho da
taxa de erro de pacote (Packet Error Rate –
PER) no OFDM melhora. Além disso, é
introduzido o modelo LTWTA. Nesse caso, o
desempenho entre TWTA IBO = 2 dB e LTWTA
IBO = 2 dB é comparável.
Figura 3 Impacto do IBO sobre o desempenho do
OFDM
Finalmente, o erro de frequência de portadora é
considerado na Figura 4. Pode-se notar que a
perda de degradação é quase insignificante
para os erros de frequência residual
normalizada até 0,1/N (em que N é o número de
pontos de IFFT/FFT). Quando um erro igual a
0,2/N é simulado, a perda de desempenho do
OFDM é da ordem de 1,5 dB com PER = 10-2.
neste artigo, podem ser extraídas as conclusões
e indicações apresentadas a seguir.
Não obstante a alta PAPR, é possível transmitir,
eficientemente, sinais OFDM através de enlaces
satelitais não lineares com valores muito
pequenos de IBO.
Esse resultado é fruto da combinação do
cuidadoso projeto de pré-distorção e do
aplicativo de codificação de correção de erro
(forward error correction coding application).
Em condições de canal com múltiplos percursos
(enlaces satélite e CGC), o OFDM mostra a sua
robustez e, para os perfis de canais de sistemas
de transmissão digital via satélite considerados
e com estimação ideal de canal, o OFDM
apresenta excelentes resultados.
Estudos mostram que a recepção adequada do
serviço pode ser alcançada em satélite com
condições LOS. Em satélites com condições de
propagação NLOS, um serviço de recepção
adequado não poderia ser alcançado com essa
interface de rádio quando se considera um
terminal portátil em decorrência de uma margem
de enlace negativa. No entanto, o uso de CGCs
pode ser uma solução viável para restaurar a
recepção adequada do serviço em áreas nas
quais a recepção por satélite é crítica.
Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio dado a este
trabalho, desenvolvido no âmbito do Projeto
RASFA – Redes de Acesso Sem Fio
Avançadas, que conta com recursos do Fundo
para o Desenvolvimento Tecnológico das
Telecomunicações (FUNTTEL), do Ministério
das Comunicações, através do convênio no
01.09.0631.00 com a Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP).
Referências
3GPP TR 25.892 Feasibility Study for OFDM for
UTRAN enhancement (Release 6), jun. 2004.
BENEDETTO, S.; BIGLIERI, E. Nonlinear
equalization of digital satellite channels, IEEE
Journal
on
Selected
Areas
in
Communications, v. 1, p. 57-62, jan. 1983.
Figura 4 Impacto do erro de frequência da
portadora no desempenho do OFDM
A próxima seção apresenta as conclusões
finais.
8
CAVERS, J. K. Amplifier Linearization using a
digital predistorter with fast adaptation and low
memory requirements, IEEE Transactions On
Vehicular Technology, v. 39, p. 31-40, nov.
1990.
CHANG, S.; POWERS, E. J. Compensation of
nonlinear distortion in RF power amplifiers. In:
PROAKIS, J. J. (Ed.). Wiley Encyclopedia of
Conclusão
A partir do conjunto de resultados discutido
70
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 10, n. 1, p. 65-72, jan./jun. 2014
Redes de acesso banda larga satélite-terrestre
Telecommunications. New Jersey: John Wiley
& Sons, Inc., 2002.
CHUBERRE, N. et al. Satellite Digital
Multimedia Broadcasting for 3G and beyond 3G
systems, IST Mobile Summit 2004, Lyon
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CIONI, S. et al. On the Use of OFDM Radio
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Wiley InterScience, vol. 24, n. 2, p. 153-167,
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HARA,
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Sons Ltd., 2009.
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 10, n. 1, p. 65-72, jan./jun. 2014
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