Stents Farmacológicos: Novos Fármacos
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Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(2): 96-101. Abizaid A, et al. Stents Farmacológicos: Novos Fármacos. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(2): 96-101. Artigo de Revisão Stents Farmacológicos: Novos Fármacos Alexandre Abizaid1, Felipe Bortot César1, Eduardo Missel Silva1, Fausto Feres1, Luis Alberto P. Mattos1, Rodolfo Staico1, Luiz Fernando Tanajura1, Áurea Chaves1, Marinella Centemero1, Andrea Abizaid1, Ana Cristina Seixas1, Amanda G.M.R. Sousa1, J. Eduardo M.R. Sousa1 RESUMO SUMMARY Os stents farmacológicos são o maior avanço tecnológico já produzido na área da cardiologia intervencionista com a finalidade de tratar a doença arterial coronária. Eles vieram coroar anos de pesquisas que aprimoraram o instrumental terapêutico endovascular iniciado com o balão desenvolvido por Andreas Grüntzig, cuja indicação era bastante restrita e suas complicações nada desprezíveis, até o desenvolvimento destas próteses de extrema navegabilidade, muito baixo perfil e capazes de carrear consigo substâncias bioativas. Este desenvolvimento propiciou um aumento muito expressivo na indicação da técnica com índices de complicações extremamente baixos. Neste artigo, fizemos uma revisão sistemática do tema, abordando as características inerentes a este dispositivo: Stent – Polímero – Fármaco. Revisamos os principais fármacos já testados, com resultados positivos ou não, e apontamos a direção para onde esta tecnologia está se encaminhando, já que, apesar dos resultados excelentes já demonstrados, ainda existe um potencial de desenvolvimento muito grande, com o objetivo de ampliar ainda mais sua utilização. Drug Eluting Stents: New Drugs Drug eluting stents (DES) are the state-of-the-art in interventional cardiology technology for the management of coronary artery disease (CAD). Drug eluting stents came as the deserved triumph after extensive research to improve the endovascular therapeutic tools that started with the balloon developed by Andreas Grüntzig. The balloon faced quite restrictive indication, and presented complications ranked as far from insignificant until the development of these protheses that allow extreme navigability, and exhibit very low profile while also carrying bioactive substances. Such development has contributed for expressively wider indication of a technique with extremely low complication level. This manuscript brings a systematic review on the topic, and covers the features that are inherent to the device: Stent – Polymer – Drug. Major drugs already tested are reviewed – whether with positive results or not. Future trend pathways being taken by this specific technology are also discussed, since despite the excellent results already demonstrated there is still potential for very extensive development aiming at making its use even wider-reaching. DESCRITORES: Contenedores. Coronariopatia. Angioplastia Transluminal Percutânea Coronária. Contenedores. DESCRIPTORS: Stents. Coronary disease. Angioplasty, Transluminal, Percutaneous Coronary. Stents. O de crítica ao método, ocorrendo em cerca de 7 a 37% dos casos tratados com stents5. desenvolvimento dos stents coronários foi, indiscutivelmente, o maior passo para a difusão e ampliação do uso das técnicas de abordagem endovascular da doença arterial coronária (DAC)1-4. Estes dispositivos permitiram não só a ampliação do emprego da angioplastia transluminal coronária (ATC), já que resolviam alguns problemas relacionados à ATC com balão (lesões de alta complexidade; estenoses residuais > 30%; oclusão aguda), como também eliminavam dois aspectos importantes da reestenose angiográfica (retração elástica e remodelamento negativo do vaso). Porém, o terceiro componente da reestenose, a proliferação neointimal, continuava a ser um importante motivo 1 Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP. Correspondência: Alexandre Abizaid. Rua Dom Paulo Pedrosa, 673 Apto. 72B - São Paulo - SP - CEP 05687-001 • e-mail: [email protected] Recebido em: 18/01/2005 • Aceito em: 01/02/2005 Várias propostas, incluindo métodos convencionais (cateter balão), técnicas ateroablativas, stent intra-stent6 e braquiterapia intracoronária7,8 (com radiações gama e beta), para o tratamento da reestenose intra-stent (RIS) foram estudadas, mas nenhuma se mostrou satisfatória. A braquiterapia é a única a reduzir consistentemente os índices de ocorrência da reestenose e da revascularização do vaso alvo (RVA), porém está relacionada a importantes complicações tardias: reestenose dos bordos, oclusão trombótica e perda luminal tardias6,9. Com o fracasso das técnicas de tratamento, as pesquisas foram direcionadas para a prevenção da RIS. Neste contexto, iniciou-se a busca de medicamentos que pudessem prevenir a hiperplasia neointimal, inibindo o processo inflamatório-citotáxico-proliferativo, que 96 Abizaid.p65 96 14/9/2005, 14:03 Abizaid A, et al. Stents Farmacológicos: Novos Fármacos. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(2): 96-101. resulta na deposição de células musculares lisas (CML) e de matriz entre o stent e o endotélio, obstruindo o lúmen do vaso. Foram e estão sendo testadas experimentalmente várias medicações de diferentes ações (Tabela 1), sendo que, devido às altas concentrações necessárias para inibir esse processo, a administração sistêmica não seria possível sem um considerável índice de reações adversas. A administração local da medicação, usando o próprio stent como plataforma e um controle de liberação temporal da medicação através de um polímero, foi a solução mais promissora. A seguir, abordaremos os vários fármacos que foram ou estão sendo estudados. FÁRMACOS COMERCIALMENTE DISPONÍVEIS Rapamicina ou Sirolimus A aplicação em humanos teve início em dezembro de 1999, pelo Dr. José Eduardo Sousa e colaboradores no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC) e, desde então, vem comprovando seus excelentes resultados em estudos clínicos randomizados, assim como na prática clínica. O Stent Cypher® (BxVelocity® revestido com sirolimus da Cordis Johnson & Johnson) mostrou significativa redução dos índices de reestenose (8,9% X 36,3%) e de eventos cardíacos maiores (7,1% X 15%), quando comparado ao stent convencional no estudo SIRIUS10. Estes resultados foram replicados em vários estudos, incluindo aqueles com lesões e pacientes mais complexos (Tabela 2). Paclitaxel Sua aplicação em humanos teve início em janeiro de 1999, porém, no seu primeiro modelo de aplicação (o stent QuaDS-QP2), não houve sucesso e, só após o desenvolvimento de nova plataforma stent+polímero, seu benefício pôde ser demonstrado claramente. O stent Taxus® (Express 2® revestido com paclitaxel da Boston Scientific) mostrou uma redução dos índices de reestenose (7,9% X 26,6%) e de eventos cardíacos maiores (8,5% X 19%), quando comparado ao stent convencional no estudo TAXUS IV, que randomizou 1300 pacientes11 (Tabela 3). Também com o paclitaxel, o stent Infinium® (stent Millennium® recoberto com paclitaxel da Kailash, India) foi testado no registro SIMPLE 1 em 282 pacientes, evidenciando no acompanhamento clínico e angio- TABELA 1 Fármacos com propriedades potencialmente anti-reestenóticas convenientes à associação com stents revestidos Antiproliferativos Paclitaxel Actinomicina Metotrexate Angiopeptina Mitomicina BCP-378 Vincristina ABT-578 Antitrombínicos Imunossupressores Antimigratórios Pró-endotelial Hirundina Iloprost Heparina Abciximab Sirolimus Tacrolimus Everolimus Biolimus Dexametazona Ciclosporina Metil-prednisolona Interferon-gama Leflunomide Ac. Micofenólico Batmastat Inibidor de Proteína C Inibidor da propil-hidrixilase Estrógeno VEGF BCP-671 Inibidores das HMG-CoA redutase TABELA 2 Estudos com sirolimus Estudo FIM RAVEL ISR SIRIUS E-SIRIUS C-SIRIUS SIRIUS Bifurcação SVELTE Tipo de Lesão Nº dos tratados com DES Reestenose Binária% Perda Tardia mm “de novo” “de novo” RIS “de novo” “de novo” “de novo” Bifurcação Vasos pequenos 45 120 41 545 175 50 86 101 0 0 0 3,2 5,8 2,3 19 3,2 -0,09 0,01 0,33 0,16 0,20 0,97 0,17 0,22 97 Abizaid.p65 97 14/9/2005, 14:03 Abizaid A, et al. Stents Farmacológicos: Novos Fármacos. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(2): 96-101. TABELA 3 Estudos com paclitaxel Estudo ELUTES TAXUS I TAXUS II TAXUS III TAXUS IV TAXUS VI Tipo de Lesão Nº dos tratados com DES “de novo” “de novo” “de novo” RIS “de novo” Lesões Complexas 150 31 266 30 662 219 gráfico, aos seis meses, uma taxa de eventos cardíacos maiores (ECM) de 5%, com uma perda tardia de 0,2 mm ± 0,66 mm e uma reestenose binária de 5,9%. Este stent já está disponível comercialmente e o estudo SIMPLE 2 está sendo realizado mundialmente. Dexametasona Potente esteróide com ação antiinflamatória e imunomoduladora, capaz de inibir a neoformação intimal através da vasocortina e da lipocortina, que são proteínas intracelulares capazes de inibir a liberação de substâncias vasoativas e quimiotáticas, pela estabilização dos lisossomos e diminuição das enzimas lipolítica e proteolíticas. O estudo STRIDE12 (Study of Anti-Restenosis BiodivYsio Dexamethasone Eluting Stent), realizado na Europa com 71 pacientes em 2001, com acompanhamento angiográfico aos seis meses demonstrou a segurança deste dispositivo, já que não houve ECM, registrando-se uma taxa de 3,3% de revascularização da lesão alvo (RLA). A perda tardia foi de 0,45 mm, traduzida em um índice de perda de 0,32 e uma taxa de reestenose de 13,3%. Um achado interessante deste estudo foi que o efeito anti-reestenose foi mais pronunciado nos pacientes que apresentavam angina instável. Outros estudos em andamento com este medicamento são o Registro mundial SAFE, com 1000 pacientes, o estudo EMPEROR, com 420 pacientes e o estudo DESCEND, com 160 pacientes com síndrome coronariana aguda (SCA). Encontra-se disponível no mercado o stent Dexamet® (stent BiodivYsio® revestido com Dexametasona da Abbott Vasculares), cuja principal aplicação recomendada é nas SCA. FÁRMACOS EM VIA DE COMPROVAÇÃO Estrógeno Estudos experimentais indicam que o estrógeno atua diretamente nas células musculares lisas (CML) e endoteliais, através da reparação da integridade das células endoteliais que aumentam a disponibilidade de óxido nítrico e, conseqüentemente, atenuam a resposta à lesão causada pelo balão e diminuem a proliferação de CML. O estudo EASTER13 (Estrogen And STent to Eliminate Restenosis), realizado no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, utilizou o stent BiodivYsio® Reestenose Binária% 3 11 4,6 - 6,2 14,3 7,9 12,4 98 0,10 0,36 0,30 0,54 0,61 0,39 com polímero de fosforilcolina (PC), embebido em 17-β estradiol momentos antes do implante do stent. Trinta pacientes com lesões “de novo” foram tratados não observando-se eventos cardíacos durante sua hospitalização. Seu acompanhamento clínico, angiográfico e por ultra-som intracoronário (USIC), aos seis meses, evidenciou um total de duas (6,6%) RIS e apenas um (3,3%) caso de RLA. A análise volumétrica mostrou 32,2 ± 16,4 mm³ de tecido neointimal, com uma porcentagem de obstrução de 23,5% ± 12,5%. Estes resultados demonstraram que o uso de stent revestido com 17-β estradiol é seguro e viável, mostrando baixos índices de reestenose e de revascularização. Um estudo, utilizando uma nova plataforma com um polímero que permitirá liberação mais lenta, está programado para iniciar em 2005. ABT-578 Medicamento antiproliferativo, análogo do sirolimus, que atua na inibição da fase G1 do ciclo celular. O estudo PREFER14 foi o primeiro estudo piloto que avaliou em humanos a segurança e eficácia do stent BiodivYsio® revestido com ABT-578, utilizando a PC como polímero, no tratamento de lesões “de novo” e reestenóticas (11 casos) - aos 30 e 90 dias de acompanhamento clínico só houve um caso de infarto agudo do miocárdio. No reestudo com 90 dias a perda luminal tardia intra-stent foi de 0,2 mm com uma taxa de reestenose de 0%. Pela análise por USIC, a porcentagem de obstrução volumétrica foi de 2,6%. Outro estudo realizado foi o ENDEAVOR15 com 100 pacientes tratados com o stent Driver® (Medtronic Corporation) recoberto com ABT-578. A perda luminal tardia dentro do stent aos 4 e 12 meses foi de 0,33 mm e 0,58 mm, respectivamente, associando-se a uma incidência de 2% de ECM e de 3,3% de RIS, aos 12 meses de seguimento tardio. Foi iniciado recentemente pela Abbott o projeto ZoMaxx, envolvendo 2 grandes estudos randomizados. O ZoMaxx 1, na Europa e o ZoMaxx 2, nos EUA, realizarão a comparação entre o stent Taxus® e o stent ZoMaxx® (stent Trimaxx® revestido com ABT578 em PC da Abbott), com 200 pacientes em cada grupo e com acompanhamento angiográfico de 9 meses e clínico de 5 anos. Este projeto definirá em breve o futuro da aplicação deste stent. 98 Abizaid.p65 Perda Tardia mm 14/9/2005, 14:03 Abizaid A, et al. Stents Farmacológicos: Novos Fármacos. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(2): 96-101. Biolimus A9 É o mais recente análogo do sirolimus com propriedades antiproliferativas similares. O Estudo STEALTH16 [First In-Man Experience of the Biolimus A9 DrugEluting Stent (BioMatrix®-Stent) in Treatment of De Novo Coronary Lesions] randomizou 120 pacientes em dois grupos, 40 com os stents S® e 80 com os stents revestidos com Biolimus (BioMatrix®), com acompanhamento clínico, angiográfico e por USIC realizado até os seis meses. Seus resultados mostraram ECM em 5% dos casos, uma redução da perda tardia de 0,74 mm para 0,26 mm (redução de 65%; p<0,001), uma redução na porcentagem de hiperplasia (89%) de 23,5% para 2,6% (p<0,001) nos grupos controle e com biolimus, respectivamente, e uma incidência de reestenose binária de 3,9%. Com estes resultados preliminares, observamos uma eficácia semelhante ao Cypher®. Everolimus É um análogo do sirolimus que atua na fase G1 do ciclo celular e que em estudos experimentais demonstrou uma redução de 45% na proliferação neointimal17. Os estudos pioneiros no uso desta nova droga foram o FUTURE I17 e o FUTURE II18, que utilizaram um stent recoberto com everolimus com um polímero bioabsorvível para o tratamento de lesões “de novo”. No Estudo FUTURE I17, foram incluídos 42 pacientes, sendo 27 com everolimus e 15 para stent convencional. No seguimento clínico e angiográfico, aos seis meses, houve 7,7% de ECM para ambos os grupos, taxa de reestenose de 0% para o everolimus e de 9% para o stent convencional, associado a uma perda tardia de 0,11 mm versus 0,85 mm, respectivamente (p<0,0001). Do mesmo modo, no estudo FUTURE II18, 64 pacientes (21 com stents com everolimus e 43 com stent convencional) foram randomizados e, aos seis meses de acompanhamento clínico e angiográfico, houve uma incidência de ECM de 4,8% versus 17,5% (p=ns) e uma taxa de RLA de 4,8% versus 15% (p=ns), respectivamente para everolimus e stent convencional. A perda luminal tardia, no grupo com everolimus, foi de 0,12 mm versus 0,85 mm para o grupo de stent convencional (p<0,0001), com índices de reestenose de 0% versus 19,4%, respectivamente. A porcentagem de obstrução volumétrica também foi significativamente menor seis meses após o implante (1,1% X 22,6%; p<0,0001). Ainda aguardamos estudos maiores e a comercialização deste stent. Angiopeptina É um octapeptídeo, análogo da somatostatina, que inibe a produção de diversos fatores de crescimento responsáveis pela proliferação das CML. Kwok et al.19 reportaram a primeira experiência em humanos (SWAN Trial), na qual 13 pacientes receberam stent revestido com 22µg de angiopeptina guiado por USIC no tratamento de lesões coronárias. Não houve eventos cardíacos maiores aos 30 dias e aguarda-se seguimento angiográfico e com USIC aos seis meses. FARMÁCOS QUE NÃO DEMONSTRARAM EFICÁCIA Batmastat Impede a migração de CML através da inibição de metaloproteinases de matriz. O estudo BRILLIANT I20 (Batimastat Anti-Restenosis Trial UtiLizing the BiodivisYio LocAl Drug Delivery PC-steNT ) foi desenhado para analisar a segurança e a eficácia dos stents revestidos com Batmastat, porém, aos seis meses de seguimento, houve uma elevada incidência de RVA nos pacientes tratados com stent com batmastat, levando ao abandono desta linha de pesquisa. Actinomicina D Atua evitando que a RNA polimerase se acople ao DNA celular, impedindo, assim, a transcrição do código genético e a replicação celular, bloqueando todas as fases do ciclo celular. O estudo ACTION21 randomizou 360 pacientes em 3 grupos (Multi-Link Tetra-D® sem revestimento; com revestimento de 2,5 µg/cm² e com revestimento de 10 µg/cm²) e foi terminado precocemente devido a um excesso de ECM nos pacientes tratados com Actinomicina D (10,2% X 18,3% X 28,1%), mostrando um efeito adverso deste fármaco. Tacrolimus É um antibiótico do grupo dos macrolídeos, com propriedades imunossupressoras e antiinflamatórias, capaz de inibir a proliferação dos linfócitos T e a ativação dos linfócitos B. Em comparação com o sirolimus, tem a mesma potência imunossupressora, inibindo a fase G1 do ciclo celular, mas é cerca de 50 vezes menos potente em inibir CML. O estudo EVIDENT22 avaliou o implante de stents revestidos com tacrolimus (325 µg) em 16 pacientes portadores de lesão única em ponte de safena. A RVA aos seis meses foi de 43,7% acompanhada de 50% de ECM. Outro estudo, o PRESENT I23, foi um registro de 24 pacientes tratados com stents com revestimento cerâmico (Jostent Flex®) com 60 µg de tacrolimus em lesões coronárias “de novo”. Este estudo foi terminado precocemente após três RLA, uma taxa de obstrução neointimal de 26,2% e uma taxa de reestenose angiográfica de 19%. O estudo PRESENT II, usando uma dose de 230 µg de tacrolimus, também apresentou uma taxa de ECM superior a 30% e uma RLA de 4%. “Antisense” É um oligodesoxinucleotídeo capaz de inibir o protooncogen c-myc, relacionado com a proliferação celular, bloqueando assim, o ciclo celular na fase G1. O único estudo realizado até o momento foi com administração direta de 10 mg de “antisense” intracoronário pós-implante de stent. Este estudo foi realizado por Kipshidze et al24 em 77 pacientes e não houve nenhuma diferença entre os grupos. 99 Abizaid.p65 99 14/9/2005, 14:03 Abizaid A, et al. Stents Farmacológicos: Novos Fármacos. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(2): 96-101. Ácido Micofenólico (MPA) É um inibidor potente e reversível da inosina monofosfato deshidrogenase e da guanosina deshidrogenase, enzimas essenciais para a síntese de purinas. Com isso, suprime a proliferação linfocitária e a formação de anticorpos pelas células B e T. O estudo realizado foi o IMPACT25, que incluiu 150 pacientes em 3 braços: stent Duraflex® sem MPA, com MPA 3,3 µg/mm² de liberação moderada, e com MPA 3,3 µg/mm² de liberacão lenta. Nos objetivos de perda luminal tardia, RIS e ECM não houve nenhuma diferença entre os grupos estudados. Carbeto de Silício Amorfo É um material que recobrindo as hastes dos stents, poderia reduzir a transferência de elétrons entre o metal e os componentes do sangue, diminuindo, assim, o seu efeito trombogênico. O primeiro registro do uso de stents recobertos com carbeto de silício utilizou o stent Tenax® (Biotronic) em 206 pacientes e mostrou uma taxa de trombose de 0,5% e ECM de 12%. Os estudos TENISS e TRUST compararam de forma randomizada os stents Tenax® com stents convencionais e mostraram uma incidência de RIS de 20% e 25%, respectivamente, sem diferença estatística quando comparados ao controle. FÁRMACOS PROMISSORES Outros medicamentos promissores para a aplicação nos stents são: Óxido nítrico (ON): seu uso se fundamenta na inibição de radicais livres liberados pela lesão endotelial causada pelo implante do stent. Costantini et al.26 reportaram a primeira experiência com os stents Blue Medica® (revestidos com ON e polímero poli-ester-amida) em 45 pacientes. Aos 4 meses, houve 3 casos de RLA, 9,5% de RIS e 0,69 ± 0,52 mm de perda luminal tardia. Carvedilol: exerce redução sobre a migração de miofibroblastos na parede da artéria e estudos em animais mostraram uma redução do crescimento neointimal27. CD-34: anticorpo capaz de promover o enlace de células progenitoras e o stent, ativando o processo de reendotelização. O R-stent® está sendo testado em humanos e aguardamos seus resultados. CONSIDERAÇÕES FINAIS É óbvia a importância dos medicamentos analisados acima no desenvolvimento desta tecnologia, mas não podemos deixar de lembrar que esses dependem de uma plataforma de liberação eficaz, que é composta pelo binômio stent/polímero. O stent ideal para a tecnologia de stents farmacológicos é aquele que apresenta as seguintes propriedades: 1) geometria ótima e con- tato circunferencial com a parede do vaso, permitindo homogeneidade na difusão do fármaco; 2) radiopacidade para otimizar o implante do stent; 3) sistema avançado de alta flexibilidade e baixo perfil para a abordagem de lesões complexas. Da mesma maneira, o polímero ideal para esta aplicação deve ter uma excelente hemobiocompatibilidade, eliminando os efeitos pró-inflamatórios e trombóticos; não deve interferir sobre a ação dos fármacos ou do próprio stent; deve apresentar uma farmacocinética previsível quanto à liberação do fármaco; e garantir sua integridade após a expansão do stent. O ácido poli-L-latico e a fosforilcolina têm se demonstrado com grande eficiência em preencher estes requisitos. Atualmente, é alvo de investigação o desenvolvimento de stents e polímeros que permitam a associação de fármacos, bem como a liberação escalonada e uni ou bidirecional destes, podendo assim atuar em vários pontos da cascata de fenômenos biológicos, que levam a reestenose intra-stent, em momentos distintos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Serruys PW, Strauss BH, Beatt KJ, Bertrand ME, Puel J, Rickards AF et al. Angiographic follow-up after placement of a self-expanding coronary-artery stent. N Engl J Med 1991;324:13-7. 2. Serruys PW, De Jaegere P, Kiemeneij F, Macaya C, Rutsch W, Heyndrickx G et al. A comparison of balloon-expandablestent-implantation with balloon angioplasty in patients with coronary artery disease. N Engl J Med 1994;331:489-95. 3. Colombo A, Hall P, Nakamura S, Almagor Y, Maiello L, Martini G et al. 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