1 Volume 18 - Numero 2 maio/agosto 2015
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1 Volume 18 - Numero 2 maio/agosto 2015
Volume 18 - Numero 2 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 maio/agosto 2015 1 Ciência Veterinária nos Trópicos v. 18 nº 2 maio-agosto/2015 CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DE PERNAMBUCO CRMV-PE DIRETORIA EXECUTIVA Med. Vet. Erivânia Camelo de Almeida Presidente Med. Vet. Geraldo Vieira de Andrade Filho Vice-presidente Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual Secretária-geral Med. Vet. Maria Luiza de Melo Coelho Tesoureiro CONSELHEIROS TITULARES Med. Vet. João Alves do Nascimento Júnior Zootec. Valderedes Martins da Silva Med. Vet. Paulo Ricardo Magnata da Fonte Med. Vet. Jadson Queiros Alves Junior Med. Vet. Mariana Gomes Ferreira M. de Siqueira Med. Vet. Maria Claudia Ribeiro Agra CONSELHEIROS SUPLENTES Med. Vet. João Ferreira Caldas Med. Vet. Elton Figueiroa Medeiros de Souza Med. Vet. Marcos André Fernandes Med. Vet. Francisco Hermano Q. Cavalcante Med. Vet. Maria José de Sena SEDE DO CRMV/PE CONSELHO EDITORIAL EDITOR Hélio Cordeiro Manso Filho EDITORES ASSOCIADOS Márcia de Figueiredo Pereira Késia Alcântara Queiroz Pontual Andre Mariano Batista José Wilton Pinheiro Junior Gustavo Férrer Carneiro JORNALISTA RESPONSÁVEL Eldemberga Grangeiro dos Anjos Reg. Prof. 3686 DRT-PE REVISÃO TÉCNICA Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual EDTORAÇÃO GRÁFICA Jônathas Souza Mameluco Design PERIODICIDADE Quadrimestral SITE Edções da Revista Ciência Veterinária nos Trópicos estão disponíveis no site www.rcvt.org.br Rua Conselheiro Theodoro, 460,Zumbi, Recife, PE, CEP 50711-030 Fone: 081-3797.2517 | Fax: 081-3797.2506 www.crmvpe.org.br Reconhecida como veículo de divulgação técnicocientífica pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Resolução nº652, de 18 de novembro de 1998. INDEXAÇÃO Revista Ciência Veterinária nos Trópicos esté indexada na base de dados da Cabi Abstracts, Agris e Agrobase. 2 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Sumário Table of Contents Informações Gerais...............................................................................................................................................06 Editorial.................................................................................................................................................................07 MANEJO DE POPULAÇÕES DE CÃES E GATOS COMO ESTRATÉGIA SANITÁRIA CONTRA ZOONOSES URBANAS......................................................................................................................................08 Adriana Maria Lopes VIEIRA IMPORTÂNCIA DA CAPRINOCULTURA LEITEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO DO CARIRI PARAIBANO.........................................................................................................................................12 Aldomário RODRIGUES1, Lucindo José QUINTANS2 BEM-ESTAR E CONTROLE DE QUALIDADE NO ABATE DE AVES.......................................................20 Amélia Maria de Queiroz Aguiar da Silva BARRETO ANALGESIA EM ANIMAIS SILVESTRES......................................................................................................23 Dr. Carlos Roberto TEIXEIRA SELEÇÃO DE REPRODUTORES E MATRIZES COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORIA DO DESEMPENHO PRODUTIVO DA CAPRINO-OVINOCULTURA..............................................................25 Diogo Ribeiro CÂMARA1 , Sildivane Valcacia SILVA2, Maria Madalena Pessoa GUERRA3 AGALAXIA CONTAGIOSA. UM “NOVO” PROBLEMA PARA CAPRINOS E OVINOS DO BRASIL CONTAGIOUS AGALACTIA. A “NEW” PROBLEM TO GOATS AND SHEEP OF THE BRAZIL.......................................................................................................................................................31 Diogo Ribeiro CÂMARA1 , Sildivane Valcacia SILVA2, Maria Madalena Pessoa GUERRA3 AVANÇOS NA NUTRIÇÃO DE AMINOÁCIDOS PARA FRANGOS DE CORTE E POEDEIRAS.........36 Fernando Guilherme Perazzo COSTA1,4, Matheus Ramalho de LIMA2,4, Sarah Gomes PINHEIRO3,4 BIOTECNOLOGIAS DE SELEÇÃO, CONSERVAÇÃO E MULTIPLICAÇÃO DE RECURSOS GENÉTICOS DE OVINOS SANTA INÊS.........................................................................................................43 Hymerson Costa AZEVEDO1; Samuel Rezende PAIVA2; Concepta Margaret McMANUS3; Evandro Neves MUNIZ1; Amaury Apolonio de OLIVEIRA1; Tania Valeska Medeiros DANTAS1; Luis Fernando Batista PINTO4; Rebeca Santos da SILVA5 IMPACTO AMBIENTAL DAS EXPLORAÇÕES AGROPECUÁRIAS: LEGISLAÇÃO E INSERÇÃO PROFISSIONAL...................................................................................................................................................49 Israel José da SILVA1; Luciano Rodrigues dos SANTOS2 MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO E ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DA ANEMIA INFECCIOSA EQUINA................................................................................................................................................................55 Jenner Karlisson Pimenta dos REIS1 QUALIDADE E SEGURANÇA DO LEITE E DERIVADOS..........................................................................56 José Renaldi Feitosa BRITO1, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e BRITO2 TECNOLOGIA DE SÊMEN E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM CAPRINOS E OVINOS...................62 Marciane da Silva MAIA1 BASES PARA O MELHORAMENTO GENÉTICO PARTICIPATIVO DE CAPRINOS EM SISTEMAS DE CRIAÇÃO DE BAIXO INSUMO.......................................................................................................69 Maria Norma RIBEIRO1 , Janaina Kelli Gomes ARANDAS2 DOR EM ANIMAIS DE COMPANHIA.............................................................................................................78 Nilza Dutra ALVES1 SEGURANÇA ALIMENTAR NA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE.........................................................82 Paulo GUIMARÃES 1 MANIPULAÇÃO HORMONAL E FATORES QUE INFLUENCIAM NA EFICIÊNCIA REPRODUTIVA DE VACAS LEITEIRAS......................................................................................................................84 Pedro Leopoldo Jerônimo MONTEIRO JR1, Alexandre Barbieri PRATA1, Camila SPIES1, Louise Helen OLIVEIRA1, Jéssica Nora DRUM1, Roberto SARTORI1 DOR EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO...............................................................................................................91 Rafael Resende FALEIROS1 , Luciana RASERA2, Andrea da Costa AITA3 , Hidelbrando VIEIRA FILHO3 MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO E ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DO MORMO NO BRASIL.........95 Roberto Soares CASTRO1 CERTIFICAÇÃO DE BEA NAS CADEIAS PRODUTIVAS.........................................................................101 Rosangela POLETTO1 TOXOPLASMOSE E NEOSPOROSE EM CAPRINOS E OVINOS...........................................................106 Wagnner José Nascimento PORTO1; Müller Ribeiro ANDRADE2; Rinaldo Aparecido MOTA2 ANÁLISE DA VISÃO DA POPULAÇÃO QUANTO AOS ATOS DE MAUS-TRATOS PRATICADOS Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 3 CONTRA ANIMAIS...........................................................................................................................................110 Wagnner José Nascimento PORTO1; Müller Ribeiro ANDRADE2; Rinaldo Aparecido MOTA2 GUARDA RESPONSÁVEL DE ANIMAIS: VISÃO DA POPULAÇÃO......................................................114 Wagnner José Nascimento PORTO1; Müller Ribeiro ANDRADE2; Rinaldo Aparecido MOTA2 INDIGESTÃO VAGAL EM MINI-BOVINOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO....................................118 Huber RIZZO1; Lucas Leandro da Silva SOARES1; Carla Cristina Moura de OLIVEIRA1; Jefferson Ayrton Leite de Oliveira CRUZ1; Mayumi Santos Botelho ONO1; Pollyanna Cordeiro SOUTO2. ABANDONO DE GATOS VERSUS ADOÇÃO...............................................................................................122 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Domingos ANDRADE NETO³, Jhéssica Luara Alves de LIMA4; Ana Márcia Bezerra RODRIGUES5; Felipe Belizario SILVA6 ESCOLA DE CAPATAZES: CAPACITAÇÃO DA MÃO DE OBRA RURAL COM PRECEITOS DE BEM-ESTAR ANIMAL PARA MELHORIA NA PRODUTIVIDADE BOVINA.......................................126 Wilmar Sachetin MARÇAL1; Alexandre Lobo BLANCO2; Juliane MOREIRA3 RURALIDADE: PROGRAMA PEDAGÓGICO PARA INCREMENTO DE CASOS CLÍNICOS EM RUMINANTES NO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA....................................................................129 Wilmar Sachetin MARÇALl EFEITO DOS MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO DE FORRAGEM SOBRE A CONCENTRAÇÃO DE ÁCIDO CIANÍDRICO NA MANIÇOBA..................................................................................................132 Tomás Guilherme Pereira da SILVA1; Cíntia Rafaela de Lima COSTA2; Adriana GUIM3; Lucíola Vilarim FERRAZ4; Janiele Tiburtino de LIRA5; Karen Santos Félix ABREU6 ADOÇÃO DE GATOS VERSUS COR DO PELO..........................................................................................136 Wilmar Sachetin MARÇAL1; Alexandre Lobo BLANCO2; Juliane MOREIRA3 CONHECIMENTO SOBRE AS PENALIDADES APLICADAS AS PESSOAS QUE MALTRATAM ANIMAIS............................................................................................................................................................140 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Francisco da Chagas Silva MELO6 PERCEPÇÃO DE TUTORES DE CÃES E GATOS SOBRE HELMINTOSE ZOONÓTICA E AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS PREVENTIVAS ADOTADAS..............................................................................144 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE GEO-HELMINTÍASES HUMANAS EM COMUNIDADES DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE – PE – RESULTADOS PRELIMINARES...........................148 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 AVALIAÇÃO PARASITÁRIA EM ALFACE (Lactuca sativa) PROVENIENTES DO CEASA E DE SALADAS SERVIDAS EM SELF SERVICE LOCALIZADOS EM BAIRROS DO RECIFE......................151 Maria de Fátima Melo da SILVA1; Nathália Thaís Barbosa de OLIVEIRA2; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO3, Leucio Camara ALVES4; Edenilze Teles ROMEIRO5 QUALIDADE INTERNA DE OVOS COMERCIALIZADOS EM ESTABELECIMENTOS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE/PE.................................................................................................154 Nathalia Cavalcanti dos SANTOS1; Edenilze Teles ROMERO2 COMPONENTES NÃO CONSTITUINTES DA CARCAÇA DE CABRITOS DE ORIGEM LEITEIRA ALIMENTADOS COM BORRA DE MANIPUEIRA EM SUBSTITUIÇÃO AO MILHO........................157 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 ERITROGRAMA E TEMPO DE SANGRAMENTO EM CABRITOS LEITEIROS ALIMENTADOS COM BORRA DE MANIPUEIRA EM SUBSTITUIÇÃO AO MILHO.......................................................163 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 AVALIAÇÃO IN VITRO DO EFEITO LARVICIDA DO EXTRATO AQUOSO DAS FOLHAS DE PITANGUEIRA (Eugenia uniflora L.) CONTRA NEMATÓIDES GASTRINSTESTINAIS DE CAPRI-NO.......................................................................................................................................................................168 Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Giselle Ramos da SILVA2; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma Gondii EM CAPRINOS E OVINOS ABATIDOS 4 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 EM MATADOURO PÚBLICO DA CIDADE DE PATOS-PB.......................................................................172 José Eduardo Marques da SILVA1; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO2; Edenilze Teles ROMEIRO3; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO4; Márcia Almeida de MELO5 COMPARAÇÃO ENTRE TESTES SOROLOGICOS PARA DETECÇÃO DE ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma Gondii EM CAPRINOS E OVINOS ABATIDOS EM MATADOURO PÚBLICO DA CIDADE DE PATOS-PB.............................................................................................................................175 José Eduardo Marques da SILVA1; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO2; Edenilze Teles ROMEIRO3; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO4; Márcia Almeida de MELO5 AVALIAÇÃO SANITÁRIA E DE BEM ESTAR ANIMAL DE BOVINOS ABATIDOS NO MATADOURO DE LIMOEIRO DO NORTE, CEARÁ............................................................................................178 Andresa Pereira da SILVA1, Géssica Soares CAVALCANTE2, Carlos Antônio Sombra JUNIOR3, Claudiana Costa de LIMA4, Katiane Queiroz da SILVA5, Charles Ielpo MOURÃO6 SOCIALIZAÇÃO DOS GATOS COM OUTRAS ESPÉCIES.......................................................................182 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA3; Felipe Belizário da SILVA 4; Kayana Cunha MARQUES5; Thayane Cristina Carneiro SILVA5 AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS MORADORES DA COMUNIDADE DO FIO NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN SOBRE A TOXOPLASMOSE.......................................................................186 Raphael Magno Silva SOARES1; Nilza Dutra ALVES2; Kayana Cunha MARQUES³; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA4; Diego Trindade Pegado MENDES3; Marcelo Cavalcante FARIAS4 MEIOS DISPERSÃO DE Nosema ceranae EM Apis mellifera AFRICANIZADA NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN...................................................................................................................................................190 Telma de Sousa LIMA¹, Manuela Costa de MENEZES², Parmênedes Dias de BRITO³, Franklin Amado de SOUZA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5, Dejair MESSAGE6 ESTUDO DE Leptospira sp. EM ÉGUAS DE VAQUEJADA NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN.......194 Telma de Sousa LIMA¹; Manuela Costa de MENEZES²; Ismael Lira BORGES³; Jael Soares BATISTA4 ESTUDO DA MORFOLOGIA DA SUPERFÍCIE ENCEFÁLICA DE TATU-PEBA (Euphractus sexcinctus LINAEUS, 1758)...........................................................................................................................................198 Manuela Costa de MENEZES¹; Parmênedes Dias de BRITO²; Telma de Sousa LIMA³; Jamille Maia de MAGALHÃES4; José Fernando Gomes de ALBUQUERQUE5; Carlos Iberê Alves FREITAS6 AVALIAÇÃO COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS DE OBTENÇÃO DA MEDIDA DE ÁREA DE OLHO DE LOMBO EM OVINOS (Ovis aries L.)..........................................................................................202 Manuela Costa de MENEZES¹; Parmênedes Dias de BRITO²; Telma de Sousa LIMA³; Jamille Maia de MAGALHÃES4; José Fernando Gomes de ALBUQUERQUE5; Carlos Iberê Alves FREITAS6 Ocorrência de infecção por Cryptosporidium spp. em caprinos da região Metropolitana de Recife e Zona da Mata de Pernambuco........................................................................................................................206 Ana Carolina Messias de SOUZA1; Giselle Ramos da SILVA2; Silvia Rafaelli MARQUES3; João Carlos Gomes BORGES4; Leucio Câmara ALVES5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 AÇÃO ANTI-HELMÍNTICA IN VITRO DO EXTRATO ETANÓLICO DA CASCA DO CAULE DE Abarema cochliacarpos (BARBATIMÃO) SOBRE LARVAS DE NEMATOIDES GASTRINTESTINAIS DE CAPRINOS E OVINOS................................................................................................................210 Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Rodolfo Luiz Godoy do AMARAL2; Marcia Silva do NASCIMENTO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 EFEITO DA VITRIFICAÇÃO DE EMBRIÕES PIV SOBRE A TAXA DE PRENHEZ DE GIR (Bos indicus) EM CONDIÇÕES DE CAMPO..........................................................................................................214 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Maiana Silva CHAVES4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 VITRIFICAÇÃO DE EMBRIÕES PRODUZIDOS IN VITRO DE NELORE (Bos indicus) EM CONDIÇÕES DE CAMPO.........................................................................................................................................218 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Pábola Santos NASCIMENTO4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 QUANTIFICAÇÃO DE COLIFORMES TOTAIS E TERMOTOLERANTES EM AMOSTRAS DE LEITE CAPRINO E ÁGUA UTILIZADA NA ORDENHA EM PROPRIEDADES DE ASSENTAMENTOS RURAIS NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN....................................................................................221 Thainá Anunciação Ferreira MATEUS ¹, Fernando da Costa FERNANDES ², João Maurício Ferreira AGUIAR³, Thalles D’avila Pires Dutra DANTAS4, Caio Sérgio SANTOS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 5 CARACTERIZAÇÃO DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NA PREVENÇÃO DE INFECÇÕES UMBILICAIS DE PEQUENOS RUMINANTES EM COMUNIDADES RURAIS EM MOSSORÓ-RN.......225 Khaled Salim Dantas Aby FARAJ¹, Thamis Thiago RIBEIRO², Caio Sergio SANTOS³, Thalles D’avilla Pires Dutra DANTAS4, Thainá Anunciação Ferreira MATEUS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 HISTOGRAMA DE CINZA DA DEGENERAÇÃO TESTICULAR ISQUÊMICA INDUZIDA EXPERIMENTALMENTE EM CARNEIRO................................................................................................................228 Humberto Fernandes VELOSO NETO1; Maiana Silva CHAVES1; Pábola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Furtado CANTANHÊDE1; José Carlos FERREIRA-SILVA2; Marcelo Tigre MOURA3 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE MITOCRONDIAL DE ESPERMATOZOIDES DE CARNEIROS TRATADOS COM MELATONINA ANTES DA CRIOPRESERVAÇÃO1...........................................................236 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE ACROSSOMAL DE ESPERMATOZOIDES DE CARNEIROS TRATADOS COM MELATONINA ANTES DA CRIOPRESERVAÇÃO1...........................................................241 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 EFEITO MACHO E DURAÇÃO DA ESTAÇÃO DE MONTA EM OVELHAS PLURÍPARAS CÍCLICAS DA RAÇA MORADA NOVA....................................................................................................................245 Maiana Silva CHAVES 1, Fernando TENÓRIO FILHO1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Pábola Santos NASCIMENTO1 , Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2 OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Leptospira spp. EM CAPRINOS DO ESTADO DE SERGIPE, BRASIL...............................................................................................................................................................248 Huber RIZZO1; Tatiane Rodrigues DA SILVA2, Taile Katiele Souza DE JESUS1, Felipe Apolônio MARINHO2, Mario Augusto Reyes ALEMÁN3, Vanessa CASTRO4 EFEITO MACHO: ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL E EFICIENTE PARA INDUZIR E SINCRONIZAR O ESTRO DE OVELHAS SANTA INÊS...............................................................................................253 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 EFEITO MACHO: ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL E EFICIENTE PARA INDUZIR E SINCRONIZAR O ESTRO DE CABRAS NÚLIPARAS DA RAÇA ANGLO-NUBIANA EM DIFERENTES PERÍODOS CLIMÁTICOS...........................................................................................................................................257 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 DIÂMETRO FOLICULAR EM DIFERENTES PROTOCOLOS HORMONAIS EM VACAS GIROLANDO................................................................................................................................................................261 Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 EFEITOS DA SEXAGEM SOB AS CARACTERÍSTICAS ESPERMATICAS DE TOUROS 5/8 GIROLANDO................................................................................................................................................................265 Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 USO DE FLUOROCROMOS PARA AVALIAÇÃO DO SEMÊN SEXADO DE BOVINOS GIROLANDO ..............................................................................................................................................................................269 Rita de Kássia Oliveira de ANDRADE1, Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES1, Marcelo Tigre MOURA1, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 CONHECIMENTO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E PROFESSORES DE ESCOLAS PÚBLICAS DE IGARASSU – PE SOBRE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA...................................273 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E PROFESSORES DE ESCOLAS PÚBLICAS DE IGARASSU – PE SOBRE A LEISHMANIOSE VISCERAL.........................................................................277 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 PESQUISA DE SALMONELLA SPP. EM AVES SILVESTRES NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL..............................................................................................................281 6 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Luana Thamires Rapôso da SILVA1; Vitor Pereira Matos ROLIM2; José Sérgio de Alcântara e SILVA3; Grasiene de Meneses SILVA4; Rinaldo Aparecido MOTA5; Andréa Alice Fonseca OLIVEIRA6 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO LEITE DE CABRA IN NATURA PRODUZIDO NO ESTADO DE SERGIPE.............................................................................................................................................................284 Grasiene de Meneses SILVA1; Maria Júlia NARDELLI2; Amanda Chagas da SILVA3; Maxsuel dos Santos SOUZA4; Emanuela Polimeni de MESQUITA5, Maria das Graças Xavier de CARVALHO6 INDUÇÃO DE URINA ÁCIDA ATRAVÉS DO USO CONTÍNUO DE ÁCIDO ASCÓRBICO EM UM DÁLMATA E SUAS CONSEQUÊNCIAS........................................................................................................288 Leimah ALBUQUERQUE1; Evilda de LIMA2; Luiz CONSONI3. EFEITOS DE DIFERENTES DOSES DE OLANZAPINA SOBRE AS GLÂNDULAS SALIVARES SUBMANDIBULARES DE RATOS WISTAR PÚBERES.............................................................................291 Effects of different doses of Olanzapine the gland salivary submandimulares rats pubescent wistar ESTUDO ANATÔMICO DO ESTÔMAGO DA Bradypus variegatus - Shinz, 1825 (Mammalia, Xenarthra).....................................................................................................................................................................295 Emanuela Polimeni de MESQUITA¹; Felipe Coral dos SANTOS³; Geraldo Jorge Barbosa de MOURA6; Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO4; Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM5; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE². AVALIAÇÃO DO PERFIL HIDROLÍTICO IN VITRO DA FITASE PRODUZIDA POR Aspergillus niger var. phoenicis EM RAÇÕES COMERCIAIS DE AVES................................................................... ..299 Ana Lúcia Figueiredo PORTO6; Diogo Diógenes Medeiros DINIZ3; Fabiana América Silva Dantas de SOUZA2; José Antônio de Couto TEIXEIRA5 ; Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO1; Richelle da Silva BRAZ4. EFEITO DA ADIÇÃO DOS ANTIOXIDANTES TROLOX C E ÁCIDO ASCÓRBICO SOBRE A INTEGRIDADE DA MEMBRANA PLASMÁTICA DE ESPERMATOZOIDES DE OVINOS1........................302 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 EFEITO DA ADIÇÃO DOS ANTIOXIDANTES TROLOX C E ÁCIDO ASCÓRBICO NO SEMEN FRESCO DE CARNEIROS SOBRE A INTEGRIDADE ACROSSOMAL DOS ESPERMATOZOIDES1. ... ..............................................................................................................................................................................306 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 EFEITO DE DIFERENTES METODOS DE INCUBAÇÃO SOBRE A MOTILIDADE ESPERMÁ TICA PELO TESTE DE TERMORRESISTÊNCIA DO SÊMEN DESCONGELADO DE OVINOS......311 Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1, Wildelfrancys Lima de SOUZA1, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES2, Vitória Gomes COELHO3; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 USO DA COLORAÇÃO EOSINA-NIGROSINA NA AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DA MEMBRANA PLASMÁTICA DE ESPERMATOZOIDES DE CARNEIROS SUPLEMENTADOS COM MELATONINA1.................................................................................................................................................315 Wildelfrancys Lima de SOUZA2*, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 PERFIL DE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA IN VITRO DE STAPHYLOCOCCUS COAGULASE-NEGATIVA ISOLADOS DE MASTITE CAPRINA...........................................................................319 Thatyane Carla de LIMA1; Cintia Emanuelle Ribeiro FERREIRA1; Anidene Christina Alves de MORAES2; Luciana Florêncio VILAÇA2; Ângela Maria Vieira BATISTA2; Elizabete Rodrigues da SILVA1 AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DE ÉGUAS EM LACTAÇÃO MANTIDAS A PASTO.......................323 Monica Miranda HUNKA1; Elizabeth Regina Rodrigues da SILVA2; Simone Gutman VAZ³; Lucia Maia Cavalcanti FERREIRA4; Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO5; Hélio Cordeiro MANSO FILHO6 EFEITO DO FARELO DE SOJA NA REDUÇÃO DA ÁGUA NA MANGA TOMMY UTILIZANDO DOIS MÉTODOS DE DESIDRATAÇÃO DURANTE 24 HORAS...............................................................326 Marion Venâncio Gomes dos SANTOS1*; Anderson Miranda de SOUZA2; Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Gabiane dos Reis ANTUNES3; Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3; José Fernando Bibiano MELO4 USO DE DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE MELATONINA SOBRE A MOTILIDADE ESPERMATICA PROGRESSIVA DE OVINOS DURANTE AS 48 HORAS DE RESFRIAMENTO1.................330 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA5, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO4, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Marion Venâncio Gomes dos SANTOS4 EFEITO DA ADIÇÃO DOS ANTIOXIDANTES TROLOX C E ÁCIDO ASCÓRBICO NO SÊMEN FRESCO DE CARNEIROS SOBRE A ATIVIDADE MITOCONDRIAL DE ESPERMATOZOIDES Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 7 DESCONGELADOS1.........................................................................................................................................333 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Dailli Ingrid de Brito LIMA5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3; Vitória Gomes COELHO5 EFEITO DA DIMETILFORMAMIDA ASSOCIADA OU NÃO AO GLICEROL SOBRE A LONGEVIDADE ESPERMÁTICA DE CAPRINOS APÓS O RESFRIAMENTO E DESCONGELAMENTO.......337 Wildelfrancys Lima de SOUZA1, 2° Jonathan Maia da Silva COSTA4, 3° Elenice Andrade MORAES2, 4° Vitória Gomes COELHO3, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 ABAMECTINA NO TRATAMENTO DE HABRONEMOSE CUTÂNEA EM EQUINO: RELATO DE CASO...................................................................................................................................................................341 Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 RABDOMIÓLISE CAUSADA POR ESFORÇO, HIPÓXIA E POLITRAUMATISMO EM EQUINO: RELATO DE CASO...........................................................................................................................................344 Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 MORTALIDADE EMBRIONÁRIA E FETAL EM CABRAS DA RAÇA ANGLO-NUBIANA SUBMETIDAS AO EFEITO MACHO CRIADAS NO SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO DURANTE O PERÍODO SECO.........................................................................................................................................................347 Edivaldo Rosas dos SANTOS JUNIOR1; Osório Leite de Souza Bezerra NUNES2; Edilma Ramos COELHO3; Gustavo Ferraz Nogueira Pinheiro de BARROS4; Paula Barbosa TORRES5 COMPORTAMENTO SEXUAL DE REPRODUTORES OVINOS DA RAÇA DORPER SUBMETIDOS À ESTAÇÃO DE MONTA ......................................................................................................................349 Edivaldo Rosas dos SANTOS JUNIOR1; Tiago Gonçalvez Pereira ARAÚJO2; Paula Barbosa TORRES3; Osório Leite de Souza Bezerra NUNES4; Edilma Ramos COELHO5; Gustavo Ferraz Nogueira Pinheiro de BARROS6 Aborto caprino causado por Neospora caninum no Nordeste do Brasil........................................................352 Annelise Castanha Barreto Tenório NUNES1; Pomy de Cássia Peixoto KIM2; Renata Pimentel Bandeira MELO2; Müller RIBEIRO-ANDRADE2; Wagnner José Nascimento PORTO1; Rinaldo Aparecido MOTA2. FREQUÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-NEOSPORA CANINUM EM CABRAS DA MICRORREGIÃO DE ARAPIRACA, ALAGOAS...............................................................................................................355 Müller RIBEIRO-ANDRADE1; Walter Franklin Bernardino LEÃO FILHO2; Leonardo Alves da SILVA3; Renata Pimentel Bandeira MELO1; Wagnner José Nascimento PORTO2; Rinaldo Aparecido MOTA1. INVESTIGAÇÃO EM FOCOS DE ANEMIA INFECIOSA EQUINA PELO SERVIÇO VETERINÁRIO OFICIAL NO MUNICÍPIO DE CANHOTINHO, ESTADO DE PERNAMBUCO, NO BIÊNIO 2012-2013.............................................................................................................................................................358 Joab Félix Carvalho de MOURA1; Paula Regina Barros de LIMA2;; Fabrício dos Santos SILVA5; Francisco David Nascimento SOUSA2;Erivânia Camelo de ALMEIDA3 ;José Wilton PINHEIRO JÚNIOR4 COMPORTAMENTO REPRODUTIVO DE FÊMEAS CAPRINAS ANGLO-NUBIANAS NULÍPARAS SUBMETIDAS AO EFEITO MACHO SOB DIFERENTES CONDIÇÕES CLIMÁTICAS..........363 Marcelo Tigre MOURA1; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos Ferreira SILVA3; Ludymila Furtado CANTANHÊDE4; Raffaela Maria Dias Rodrigues AMORIM5; Luis Rennan OLIVEIRA6 DETECÇÃO DE GENES RELACIONADOS A PLURIPOTÊNCIA EM CÉLULAS SOMÁTICAS, OVÓCITOS E EMBRIÕES CAPRINOS POR PCR EM TEMPO REAL..................................................367 Marcelo Tigre MOURA1; Ludymila Furtado CANTANHÊDE; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos FerreiraSILVA; Pamela Ramos DEUS; Roberta Lane de Oliveira SILVA EFEITO MACHO SOBRE A EFICIÊNCIA REPRODUTIVA DE OVELHAS NULÍPARAS DA RAÇA SANTA INÊS CRIADAS NO SEMIÁRIDO E NA ZONA DA MATA DE PERNAMBUCO......................371 Priscila Germany Corrêa da SILVA1; Marcelo Tigre MOURA2; José Carlos Ferreira SILVA3; Pamela Ramos DEUS4; Ludymila Furtado CANTANHÊDE5; Fernando Tenório FILHO6 Efeito macho associado à duração da estação de monta sobre o desempenho reprodutivo de ovelhas Santa Inês pluríparas cíclicas.............................................................................................................................374 Priscila Germany Corrêa da SILVA1; Marcelo Tigre MOURA; José Carlos Ferreira SILVA; Raffaela Maria Dias Rodrigues AMORIM; Maico Henrique Barbosa dos SANTOS; Luis Rennan OLIVEIRA 8 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Informações Gerais A revista Ciência Veterinária nos Trópicos é editada quadrimestralmente pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV-PE), e destina-se a divulgação de trabalhos técnico-científicos (trabalhos originais de interesse na área de ciência veterinária e zootecnia, ainda não publicados, nem encaminhados a outras revistas para o mesmo fim) e de notícias de cunho profissional, ligadas a área de ciência veterinária em meio digital. Reconhecida como veículo de divulgação técnico-científica pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (Resolução no 652, de 18 de novembro de 1998). ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV-PE) Rua Conselheiro Theodoro, 460 - Zumbi, CEP 50711-030, Recife-PE, Brasil. Telefone: (081) 3797.2506 e fax: (081) 3797.2514 Informações a respeito do Regulamento Editorial e Normas de Estilo poderão ser obtidas atraves do site: http://www.rcvt.org.br e do e-mail [email protected] Os artigos publicados nesta Revista são indexados nas bases de dados: CABI ABSTRACTS, AGRIS E AGROBASE Ciência Veterinária nos Trópicos, v.19 n.1 (jan-abr 2015) - Recife: CRMV - PE, 2015 Quadrimestral ISSN 1415-6326 1. Veterinário - Ciência - Periódico I. Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco, Recife, PE CDD 636.08905 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 9 Editorial O ressurgimento após longos anos do VI Congresso Pernambucano de Medicina Veterinária e do VII Seminário Nordestino de Caprino-Ovinocultura, foi recebido com grande expectativa e entusiasmo por parte da comunidade acadêmica e científica da Medicina Veterinária e de outros segmentos ligados ao agronegócio no Nordeste. Adotando como tema central “Saúde Animal e Produção Sustentável no Nordeste: Desafios e Inovações Tecnológicas”, este importante fórum regional buscou inovar sua programação científica, que esteve distribuída em conferências, mini-simpósios e apresentação de trabalhos científicos relacionados a temas contemporâneos, tais como bem-estar animal, bioética, biotecnologia e sustentabilidade, com a destacada colaboração de especialistas de renomadas instituições de ensino e pesquisa brasileiras. Deve ser registrado que o inestimável apoio financeiro de instituições oficiais, como UFRPE, CAPES, FACEPE e ADAGRO-PE, bem como de várias empresas ligadas à Medicina Veterinária e a agropecuária nordestina foi decisivo para que os promotores dos eventos pudessem facilitar uma rica troca de experiências entre professores, pesquisadores, técnicos e estudantes. O exaustivo trabalho empreendido pelo CRMV-PE, Sociedade Pernambucana de Medicina Veterinária, Academia Pernambucana de Medicina Veterinária e de todos aqueles que participaram da organização do fórum foi de vital importância no sentido de ampliar o debate em torno da aplicação de novas tecnologias e do fortalecimento da produção animal sustentável no Nordeste. Os resultados então alcançados se materializam na publicação dos trabalhos científicos nesta nova edição da RCVT. 10 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Adriana Maria Lopes VIEIRA MANEJO DE POPULAÇÕES DE CÃES E GATOS COMO ESTRATÉGIA SANITÁRIA CONTRA ZOONOSES URBANAS Adriana Maria Lopes VIEIRA RESUMO Instituto Pasteur de São Paulo e Departamento de Vigilância em Saúde de Guarulhos email: [email protected]. br e adrianavieira1002@ gmail.com 1 O manejo das populações de animais e o controle de zoonoses devem ser contemplados em programas ou políticas públicas em âmbito municipal. A implantação de um programa de manejo animal, além da alocação de recursos financeiros, técnicos e humanos, exige planejamento que englobe diagnóstico, ações preventivas, controle, monitoramento, avaliação e dedicação permanente. PA L AV R A S - C H AV E Cães, gatos, manejo populacional, zoonoses, vigilância, prevenção e controle. Dogs and cats management population as health strategy against urban zoonoses ABSTRACT The animal population management and the zoonoses control should be included in programs or public policies at the municipal level. The implementation of an animal management program, besides the allocation of financial, technical and human resources, requires planning encompassing diagnosis, preventive actions, control, monitoring, evaluation and permanent dedication. KEYWORDS O antropocentrismo ainda está muito presente na sociedade atual em decorrência de resíduos culturais que remontam o século IV, quando o homem era tido como ser excelso e as ações eram voltadas apenas para seu bem-estar, também no século XVII, a concepção do Universo e dos seres vivos como máquinas, contribuiu com a visão reducionista de que os animais não têm inteligência, que agem apenas por instinto, entre outras. Há que se buscar o equilíbrio entre a saúde humana, animal e equilíbrio do meio ambiente, portanto, abandonar o antropocentrismo em busca de paradigmas biocêntricos ou ecocêntricos. Nesse sentido, os Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Dogs, cats, population management, zoonoses, surveillance, prevention and control. animais devem deixar de ser tratados como objetos (VIEIRA, 2008). A Organização Mundial da Saúde afirma que atividades isoladas de recolhimento e eliminação de cães e gatos não são efetivas para o controle da população. Deve-se atuar na causa do problema: a procriação animal sem controle e a falta de responsabilidade do ser humano quanto à sua posse, propriedade ou guarda (WHO, 1990). Até mesmo no controle da raiva, os pesquisadores afirmam que, enquanto a vacinação em massa de cães tem, repetidamente, se mostrado eficaz para controle da raiva canina, não há nenhuma evidência de que a 11 Adriana Maria Lopes VIEIRA remoção destes tenha um impacto significativo sobre a densidade dessa população e a propagação da raiva. Asseveram que a eliminação em massa de cães não deve ser um elemento de uma estratégia de controle da raiva por ser ineficaz, podendo até mesmo, ser contraproducente para os programas de vacinação. Referem ainda que nos últimos anos, programas de controle e eliminação da raiva por meio de vacinação em massa de cães resultaram em reduções significativas ou eliminação de casos de raiva humana. Em alguns casos, a vacinação contra raiva, juntamente com a esterilização dos cães resultou em eliminação local dos casos ou previsão de levar à eliminação da raiva humana (WHO, 2013). Além dessas questões, a discussão ética no manejo das populações de cães e gatos não pode ser apartada da saúde pública veterinária, devendo-se levar em conta que esses animais não apenas potenciais transmissores de zoonoses, sendo considerados, em muitas situações, como integrantes das famílias e comunidades, com valor intrínseco agregado. Os cães e gatos são agentes que interferem na promoção da saúde, positiva ou negativamente, dependendo da guarda responsável e das políticas públicas implantadas, quer seja para a estabilização dessas populações e prevenção das zoonoses e demais agravos que possam produzir ao individuo e coletividade, ou para o bem-estar dos próprios animais (GARCIA, 2006). Indispensável ainda considerar que, segundo a “Declaração de Cambridge sobre a consciência animal”, “a ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que os animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de consciência juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos” (COSTA, 2013). Desta forma, o manejo das populações de animais e o controle de zoonoses devem ser con12 templados em programas ou políticas públicas em âmbito municipal. A implantação de um programa de manejo animal, além da alocação de recursos financeiros, técnicos e humanos, exige planejamento que englobe diagnóstico, ações preventivas, controle, monitoramento, avaliação e dedicação permanente. É de extrema importância que se conheça a dinâmica populacional da área em que se pretende interferir, com a realização de censos ou estimativas populacionais. Outra estratégia importante para subsidiar o planejamento das políticas de saúde pública é a implantação de um programa de registro e identificação de animais que formam um sistema de informação com dados que relacionam os proprietários aos seus animais. O registro e a identificação são instrumentos de responsabilização do proprietário, fomentam a cultura de propriedade, posse ou guarda responsável e possibilitam conhecer e dimensionar as populações de cães e gatos. É recomendável que se associe um método de identificação visual (coleira e plaqueta) a um permanente (microchip ou tatuagem). As cadelas e gatas são animais pluríparos de gestação curta, com grande potencial de produção de proles numerosas que podem atingir a maturidade sexual a partir de 6 meses de idade. Esses fatores associados à falta de responsabilidade dos guardiões de animais contribuem para o crescimento populacional de cães e gatos, sem controle. Ações efetivas de controle da reprodução devem ser implantadas associadas aos outros pilares do programa de manejo de populações, sendo recomendável o emprego de esterilização cirúrgica de machos e fêmeas, com técnicas minimamente invasivas, preferencialmente a partir de 8 semanas de idade. As cirurgias devem ser acessíveis geográfica e economicamente aos proprietários de animais. Os interessados em conviver com cães e gatos assumem o compromisso ético de desenvolver e manter hábitos e posturas de promoção e preservação da saúde e do bem-estar animal e preservação do meio ambiente. Este compromisso pode parecer simples, se consideradas as questões de alimentação, controle de mobilidade e estabelecimento de comandos básicos para garantir o cumprimento das regras sociais de convivência em grupos comunitários. Entretanto, a manutenção consistente de uma postura que abranja a responsabilidade jurídica e cuidados com abrigos, sustento, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Adriana Maria Lopes VIEIRA controle da reprodução, prevenção de doenças e de agravos diversos requer uma cultura, cujas bases precisam ser estabelecidas com a participação de equipes multidisciplinares de educadores, profissionais de diferentes órgãos do poder público, representantes de segmentos sociais e, sobretudo, dos próprios interessados nesta convivência (SÃO PAULO, 2009) A oferta de abrigos e alimentos também merece especial atenção, as condições existentes no meio ambiente predispõem a migração de animais de áreas com condições menos favoráveis à sua sobrevivência. O manejo ambiental, sempre associado a programas educativos permanentes, deve fazer parte de foros de discussão em que a comunidade participe desde o diagnóstico, estabelecimento de prioridades, planejamento e execução das ações, até da avaliação e monitoramento dos resultados. A população frequentemente não aprova o recolhimento de animais e as instalações públicas para alojamento e, uma vez que o incentivo à propriedade, posse ou guarda responsável é de fundamental importância para o sucesso do controle de populações de cães e gatos, os órgãos públicos devem ser exemplos de manejo etológico e preservação do bem-estar dos animais, mesmo daqueles que precisam ser submetidos à eutanásia (SÃO PAULO, 2009). Os órgãos públicos também devem desenvolver ações com vistas ao controle do comércio de animais, associados aos programas educativos, de forma a coibir a aquisição de animais por impulso. Pesquisas apontam que, uma grande contribuição para populações de animais sem controle, são as crias indesejadas abandonadas (GARCIA, 2012). Com vistas ao controle do comércio de cães e gatos, o município de São Paulo, por meio da Lei municipal nº 14.483, de 16 de julho de 2007, que dispõe sobre a criação e a venda no varejo de cães e gatos por estabelecimentos comerciais no Município de São Paulo, bem como as doações em eventos de adoção desses animais, é um importante instrumento legal que pode contribuir com as ações de manejo populacional desses animais no município (VIEIRA, 2008). O abandono de cães afeta de forma negativa a saúde, tanto animal como humana, então há que se implantar políticas públicas para prevenir Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 cada um dos fatores desencadeantes desse agravo. A vigilância epidemiológica do abandono de cães e gatos é imprescindível, de forma a auxiliar na compreensão dos fatores que influenciam a sua distribuição, avaliar a magnitude e monitorar as tendências, identificar os grupos de risco e o processo de disseminação, indicar as medidas a serem adotadas para a sua prevenção, avaliar o impacto e adequação dessas medidas de intervenção. A vigilância ao abandono deve fazer parte do programa de manejo populacional canino, auxiliando na definição das estratégias necessárias, segundo as características do território, e na retroalimentação para adequação ou implementação das estratégias (GARCIA, 2012). Além do controle de zoonoses, considerando as ações de saúde coletiva, vários trabalhos demonstram uma conexão existente entre os maus tratos ou crueldade com animais e a violência contra seres humanos, inclusive violência doméstica, portanto a investigação de maus tratos de animais pode prevenir abusos (HSUS, 2011) então, pode ser uma das estratégias do manejo populacional de cães e gatos. É de fundamental importância que, o manejo populacional de cães e gatos seja implantado como programa e que sejam considerados os aspectos políticos, sanitários, etológicos, ecológicos e humanitários, e que as estratégias sejam socialmente aceitas e ambientalmente sustentáveis de forma a promover a participação social e integrar o controle das zoonoses, ou seja, estratégias em consonância com o conceito de “saúde única” (GARCIA, 2012). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: GARCIA, R. C. M. Controle populacional de cães e gatos e a Promoção da Saúde. VIII Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal. Comunicação oral. Araçatuba/SP, 2006. Garcia RCM, Calderón N, Ferreira F. Consolidação de diretrizes internacionais de manejo de populações caninas em áreas urbanas e proposta de indicadores para seu gerenciamento. Rev Panam Salud Publica. 2012;32(2):140–4. 13 Adriana Maria Lopes VIEIRA SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Programa de Controle de Populações de Cães e Gatos do Estado de São Paulo. São Paulo, Boletim Epidemiológico Paulista, suplemento 7, 2009. 163p. VIEIRA, A.M.L. Controle Populacional de Cães e Gatos - Aspectos técnicos e operacionais. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.11, suplemento 1, p.102105, abril 2008. WHO. WSPA. World Health Organization; World COSTA, A. N.; MOLENTO, C.F.M.; PINTO, L. Society for the Protection of Animals. Guidelines F.B.; TEIXEIRA, M. W.; PALHA, M. D. C.; PAI- for dog population management. Geneva, 1990. XÃO, R. L. Revista do Conselho Federal de Me- 116p. dicina Veterinária, Ano XIX , no 59 , 2013, pg 9. WHO Expert Consultation on Rabies: second reHSUS. The Humane Society of the United States. port. WHO Technical Report Series No. 982, Animal Cruelty and Human Violence, 2011. 2013.139p. <http://www.humanesociety.org/issues/abuse_neglect/qa/cruelty_violence_connection_faq.html> Acesso em 02 de setembro de 2015 14 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Aldomário RODRIGUES1 , Lucindo José QUINTANS 2 IMPORTÂNCIA DA CAPRINOCULTURA LEITEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO DO CARIRI PARAIBANO Aldomário RODRIGUES1, Lucindo José QUINTANS2 RESUMO 1 Médico Veterinário, Mestre Produção animal, EMEPA. Email: [email protected] 2 Economista, Ms em Engenharia de Produção. A caprinocultura é considerada uma atividade capaz de gerar emprego e renda na agricultura familiar, embora ao longo dos tempos a mesma tenha sido voltada para o autoconsumo e comercialização do excedente. Tornar essa atividade um negócio eficiente e rentável tem sido o desafio do governo do Estado da Paraíba. Com a implementação do Pacto Novo Cariri a cadeia produtiva da caprinocultura leiteira organizou-se e teve um grande desenvolvimento, saindo do estágio de subsistência e protagonizando uma mudança radical na sócio-economia local. No entanto, os desafios para tornar essa atividade um agronegócio continuam e serão discutidos ao longo do artigo. PA L AV R A S - C H AV E AGRONEGÓCIO, CADEIA PRODUTIVA, PRODUÇÃO DE LEITE, SEMIÁRIDO ABSTRACT : The goat production is considered an activity capable of generating employment and income in family farming; although over time the same has been focused for consumption and sale of surpluses. Make this activity an efficient and profitable business has been the government’s challenge of the State of Paraíba. With the implementation of the Pact New Cariri the production chain of dairy goat was organized and had a great development, leaving the subsistence stage and starring a radical change in the local socio-economy. However, the challenges to make this activity one agribusiness continue and will be discussed throughout the article KEYWORDS AGRIBUSINESS, MILK PRODUCTION, PRODUCTION CHAIN, SEMIARID 1. CONTEXTUALIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔ- cantil. Isto representava um sério obstáculo ao deMICA E AMBIENTAL DA REGIÃO senvolvimento da região. Permitindo, por falta de emprego e renda, o extrativismo e a degradação do O Cariri paraibano no final dos anos 90 era meio ambiente, materializando inflexões naturais uma das regiões mais pobre do Brasil, tornando-se críticas na região, contribuindo para a desorganizao maior problema sócio-econômico do país, que se ção da sociedade e da economia e ampliando o proagravava nos períodos de longas estiagens, em de- cesso migratório da população. Estas deteriorações corrência da precária organização produtiva mer- das condições humanas e do ambiente apontavam Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 15 Aldomário RODRIGUES1 , Lucindo José QUINTANS 2 fatalmente para a desertificação e esterilidade do meio ambiente. Tradicionalmente, a organização do Cariri esteve ligada à exploração gado-algodão. Atualmente, em decorrência do forte recuo sofrido pelo algodão, observa-se o fortalecimento da pecuária e da policultura alimentar tradicional. As características do quadro natural (baixos índices pluviométricos e pobreza dos solos) têm repercutido negativamente no adensamento populacional, como também tem sido motivo, por si só, suficiente para vocacionar à região na exploração da caprinovinocultura, onde se encontrava, já naquela época, a melhor área de mercado do país pela sua localização geográfica, pela maior densidade de caprinos e ovinos do continente (Tabela 1) e, principalmente por possuir o melhor material genético tanto para leite como para carne, além de um rico acervo tecnológico gerado ao longo das últimas duas décadas na Fazenda Experimental de Pendência, pertencente a EMEPA. No período 1970/80 o crescimento populacional apresentou uma taxa de 1,10% ao ano. Nas últimas décadas analisadas (1970 a 2000), a região apresentava uma taxa de crescimento de apenas 0,12% a.a., indicando um forte fluxo emigratório (Tabela 2). Supõe-se que a distribuição espacial da população, depende da distribuição espacial das “oportunidades de vida”, isto é, emprego, renda, educação, saúde, acesso a chances de melhores condições de vida, etc. Em geral, quanto melhores as condições de vida em uma determinada área, maior é a “polarização populacional” (através de migrantes) e menor a taxa esperada de crescimento vegetativo. Inversamente, nos locais onde há menores oportunidades maiores serão a expulsão da população e a taxa de crescimento vegetativo. A região perdia uma parte significante das pessoas em Idade Economicamente Ativa. Principalmente jovens que saíam (e ainda saem) para estudar nos centros dinâmicos e não voltavam aos locais de origem, devido à falta de “oportunidades de vida” na região. Ao mesmo tempo, a população urbana apresentava no período, uma taxa de crescimento de 1,72% a.a criando uma demanda por serviços públicos nas cidades. Inversamente ao que ocorreu nas áreas urbanas, houve um esvaziamento da área rural de -1,22% ao ano (Tabela 2). 16 Para o ano de 1991 o emprego permanente total dos Cariris Paraibanos foi de 46,4 mil empregos, dos quais 51,9% gerados no setor primário e 48,1% em atividades não agrícolas. No ano de 1996 a taxa de emprego decaiu –0,20% a.a., esboçando que a região encontrava-se estagnada. Não obstante o crescimento da população urbana, o emprego não agrícola no período 19911996 decaiu a uma taxa de (-2,10) a.a. O número de pessoas ocupadas sem instrução situava-se em 51,50%, o que pode ser interpretado, como uma expressão do baixo nível de renda local (IBGE 1991-2000). Os ocupados na faixa etária de 10 a 17 anos atingiu 14,8% dos ocupados municipais, sabendo-se que esta mão de obra concentrava-se essencialmente nas unidades da pequena produção familiar rural. Constatou-se que mesmo estimativas otimistas para o mercado de trabalho regional mostravam um hiato entre a oferta e a demanda de empregos devido a falta de oportunidades na economia regional. Como conseqüências disto poderiam ocorrer taxas crescentes de emigração e/ou um decréscimo do grau de ocupação se não fosse articulado um planejamento integrado e que seja bem sucedido, visando um desenvolvimento econômico e social mais equilibrado através de esforços concentrados nos setores econômicos, e de prover as necessidades de infraestruturais. Embora os indicadores econômicos do Estado da Paraíba, em período mais recente, evidenciassem desempenho acima dos padrões nacionais e regionais, os aumentos da riqueza e da renda gerados não foram capazes, sob a ótica social, de produzir transformações significativas no perfil geral do subdesenvolvimento das Microrregiões Cariri Ocidental e Orientais Paraibanos. As análises dos principais indicadores sociais mostravam que as condições gerais de vida da Área-Programa permaneciam insatisfatórias se comparadas com padrões vigentes nas regiões mais desenvolvidas do País. No caso da educação, o índice de analfabetismo situava-se em 37,4% entre a população de 10 anos e mais. Apesar da taxa de escolarização da população de 7 a 14 anos ter chegado 85,8% em 1996, devido aos volumosos investimentos feitos para o atendimento da alfabetização e do ensino fundamental. Entretanto ve- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Aldomário RODRIGUES1 , Lucindo José QUINTANS 2 rificou-se que a evasão e a repetência mantêm-se, respectivamente, nos elevados níveis de 13,5% e 15,5%. Quanto à mortalidade infantil apresentava uma taxa de 32 por mil nascidos vivos em 1996. A questão se agravava pelo fato de que parcela significativa dos óbitos constatados continuava a ocorrer por causas evitáveis e em decorrência da falta de assistência pré-natal de maior cobertura e melhor qualidade. Concorriam fortemente para a manutenção do perfil epidemiológico nas Áreas-Programa as condições ainda desfavoráveis de saneamento básico. Além da assimétrica distribuição de renda prevalecente na área, contribuíam para a perpetuação da pobreza os baixos níveis de qualificação de mão-de-obra e a própria incapacidade relativa de geração de empregos por parte do setor privado em decorrência da limitada base econômica de mercado. Diante do exposto pode-se afirmar que as condições gerais de bem estar da população da Área-Programa se encontravam em níveis insatisfatórios, aquém dos padrões nacionais, igualando-se à situação vigente nos países mais pobres do mundo. No que se refere à ação dos governos municipais na área social, apesar dos avanços observados na década de 90, as políticas públicas dos municípios integrantes do Cariri ainda apresentavam caráter marcadamente assistencialista, orientando-se preferencialmente para segurar de forma residual, condições mínimas de subsistência aos contingentes da população identificada em situação de pobreza extrema, através de apoios e subsídios pontuais às necessidades específicas. Quanto à dimensão econômica, nas Microrregiões, Cariri Ocidental e Cariri Oriental paraibano, a evolução da economia local tem se caracterizado por forte decréscimo relativo das atividades agropecuárias em relação aos demais setores, como reflexo da desarticulação da economia rural devido ao colapso do algodão, que formava a base da exploração agrícola e mantinha a lavoura de subsistência e a pecuária extensiva. Some-se a isso a intercorrência de diversos anos de estiagens e de irregularidades climáticas aumentando a vulnerabilidade do setor. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 A participação declinante do PIB local no período 1970-1996 no PIB paraibano indica claramente a estagnação das atividades produtivas locais (Tabela 3). Em 1970 essa participação era de 4,0%, decaindo para 3,0 em 1996. Some-se a esse declínio o atraso tecnológico e as precárias relações sociais de produção prevalecente na área. No que se refere à dimensão ambiental, o principal problema da Área-Programa é o processo de desertificação que vem ocorrendo pela ação antrópica aliado aos impactos das variações climáticas. O uso indevido do fogo e o superpastejo da pecuária extensiva, devastação da vegetação natural da caatinga arbustiva-arbórea produtora de lenha e madeira em atendimento à demanda de energéticos vegetais, induzindo a redução da biodiversidade pela quase extinção de muitas espécies animais e vegetais nativas. Segundo os Anais da 3º Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas de Combate a Desertificação e Seca, as Microrregiões Cariri Ocidental e Cariri Oriental encontram-se em estágio muito grave de desertificação. Todos esses fatores, associados aos impactos negativos das variações climáticas ocorridas nas últimas décadas, conduzem ao esgotamento dos lençóis freáticos e a conseqüente sublimação das secas. A degradação do meio ambiente se manifestou também na deterioração dos recursos hídricos, pelos constantes despejos de dejetos humanos diretamente nos cursos d’água. Devido, principalmente, à falta de esgotamento sanitário, essa prática tem contribuído para o elevado índice de doenças endêmicas e proliferação de vetores nocivos à saúde. Apesar de haver coleta de lixo urbano em todas as cidades da Área-Programa, não existe uma destinação adequada dos resíduos sólidos, que são depositados em lixões a céu aberto, contribuindo para degradação ambiental da área. Significa dizer que as ações dos governos locais têm se comportado pela ótica uma verdadeira indigência ambiental. 2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA PROGRAMA A característica básica das Microrregiões Cariri Ocidental e Cariri Oriental é uma economia 17 Aldomário RODRIGUES1 , Lucindo José QUINTANS 2 sem setores derivados. Seu padrão de crescimento tende a ser vegetativo, ou seja, de reprodução por impulso próprio, sem transformações qualitativas. Tem um caráter predominantemente de alto-consumo, não conseguindo superar os baixíssimos níveis de produtividade de trabalho. É uma economia sujeita a fortes oscilações derivadas das periódicas ocorrências de secas cuja lógica de longo prazo, teve no passado um comportamento dependente de seus setores autônomos, compreendidos pelo trinômio: pecuária, algodão e alimentos, e que hoje, está representada pela renda dos aposentados e dos funcionários públicos. Subjacente, dispõe ainda de outra característica: seu principal componente não é um setor produtivo, mas a apropriação de renda produzida nos setores dinâmicos da economia nacional e transferida para a região através de políticas compensatórias dos governos federal e estadual. Com estas peculiaridades de economia sem produção, a demanda por Informação e Conhecimento é extremamente baixa. Segundo Gomes (2001, p. 264) não deixa de ser sintomático que após ¼ de século de implementação de políticas – voltadas para o pequeno produtor do Semi-Árido – e de esforços não desprezíveis para desenvolver tecnologias baratas de “convivência com a seca”, os resultados de tudo isso tenham sido praticamente nulos. A inovação tecnológica mais difundida na região se deu no setor da pecuária tradicional e extensiva, através da introdução de novas variedades de gramíneas resistentes a estiagem, da palma (Cactácea que pode ser enriquecida proteicamente através de processo biológico) e as barragens subterrâneas como tecnologias assimiladas pelo homem do campo, entretanto, em escala nada significativa, podendo se constatar ainda um grau relativamente baixo de tecnificação. Na área-Programa, esforços governamentais voltaram-se para a implantação de um banco genético de caprinos e ovinos introduzindo melhorias qualitativas no rebanho, bem como, agregação de valor à produção local, seja através da implantação de mini-usinas de pasteurização de leite, seja proporcionando acessibilidade aos mercados através das compras governamentais compartilhadas entre governos estadual e municipal. 18 Simultaneamente, através do PRONAF formatou-se um Consórcio de Municípios para implantação de um abatedouro microrregional apto a absorver a produção local de caprinos e ovinos. Estas medidas têm proporcionado um círculo virtuoso na pequena produção familiar, criando a sinergia necessária à melhora qualitativa do agronegócio da caprinovinocultura. 3. PACTO NOVO CARIRI No inicio dos anos 2000, com este cenário, tornou-se patente à necessidade de uma intervenção capaz de promover profundas transformações no ambiente sócio-econômico, ambiental, produtivo e, principalmente na alta estima do caririzeiro de modo que o fizesse enxergar as diversas oportunidades oferecidas pela região e de alicerçar o seu desenvolvimento. Desta forma foi proposto o “Pacto Novo Cariri” que nada mais é do que uma rede de gestão compartilhada que procura conectar todas as forças sociais, políticas, culturais e produtiva da região resultando em uma grande articulação entre as diversas instâncias e programas de desenvolvimento, relacionando o local, o nacional e o global em um processo de integração capaz de superar os obstáculos. Configurando desta forma, um novo espaço de relações entre os agentes cooperantes, sociedade, governo, instituições públicas ou não, etc. Neste espaço, não impera a disputa, atuações isoladas nem a busca de interesses individuais. Não pertence a nenhuma das esferas que integra (sociedade civil e/ou mercado e/ou Estado) mas, representando o encontro dessas vertentes, uma atuação sinérgica que possibilita um novo jeito de perceber e intervir no sistema que é objeto de cooperação, assim é o “Pacto Novo Cariri”. Estabelecido o Pacto, os atores que o compõem, foram em busca da identificação e priorização das principais oportunidades de negócio da região, fixando-se em 07, a Caprinovinocultura que foi apontada pelos 31 municípios que compõem os cariris oriental e Ocidental, Turismo, Artesanato, Culturas Alternativas, Educação Empreendedora, Gestão Pública e Meio Ambiente. Com a priorização das ações, partiu-se então para a implantação do programa da Caprino- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Aldomário RODRIGUES1 , Lucindo José QUINTANS 2 cultura leiteira em cinco municípios: Zabelê, São Sebastião do Umbuzeiro, Monteiro, Cabaceiras e Prata, servindo estes municípios como laboratório. A seleção dos referidos municípios se deve a adesão do poder público municipal a idéia original que se fundamenta na ação tripartite: produtor, Poder Público Municipal e Governo do Estado, cada um com obrigações distintas e convergentes onde o produtor teria como responsabilidade a produção da matéria prima (leite), suficiente para abastecer o programa e gerenciar o negócio a nível municipal; o Poder Público Municipal, adquirir parte da produção para uso em seus programas sociais, saúde e educação além de apoiar financeiramente o programa no que tange a assistência técnica, combustível etc, no âmbito de seu município; ao Poder Público Estadual adquirir equipamentos de laticínio para o processamento do leite e parte da produção através dos seus órgãos de amparo social. Estabelecidas estas responsabilidades entre os parceiros, o programa ainda sentia a necessidade de que algumas posturas e diretrizes fossem definidas e igualmente pactuadas, tais como: 3.1. Postura • Os produtores, não filiados a associações ou cooperativas, seriam incentivados a se filiarem para que fossem beneficiados pelo Programa; • Os municípios onde existisse mais de uma associação e/ou cooperativa de produtores de Caprinovino, os Presidentes e filiados seriam influenciados para que as mesmas fossem unificadas como forma de fortalecê-las; • Conhecer e interagir permanentemente com todos os Prefeitos e Secretários envolvidos nas ações deste Plano na microrregião; • Ser proativo na liderança da rede de parceiros do Pacto Novo Cariri que estão participando do projeto, para que contribuam efetivamente com os compromissos assumidos. As interlocuções no âmbito municipal ficarão delegadas ao Responsável local. As interlocuções com parceiros nos âmbitos Estaduais e Federal serão de responsabilidade do Coordenador de Caprinovinocultura, a quem deve ser solicitado o apoio quando necessário. • Os ADR (Agentes de Desenvolvimento Rural) devem atuar como instrutor facilitador, evi- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 tando que os produtores criem dependência da sua presença para solucionar problemas existentes. 3.2. Diretrizes • Só serão atendidos por este plano, os produtores filiados a associações ou cooperativas; • O comprometimento das Prefeituras Municipais será condição indispensável para que o Programa atue no município; • Os produtores rurais que não atenderem às recomendações técnicas e de manejo sanitário serão excluídos do programa; • O plano de caprinovinocultura será tratado dentro do conceito de cadeia produtiva, contemplando o primeiro, segundo e terceiros setor (produção, beneficiamento e comercialização) com o objetivo de excluir os atravessadores; • Incentivar novos produtores que desejam participar do Programa a se filiarem a associações já existentes no município. Em caso de impossibilidade de filiação por motivo geográfico ou político, será apoiada a criação de uma nova associação, como última hipótese; • Descentralizar o atendimento da assistência técnica por intermédio do ADR que atenderá a 20 produtores de leite ou 40 produtores de carne, por agente, e; • Incentivar a participação de adolescentes talentosos com espírito protagonista para que participem do processo. 3.3. Principais dificuldades As principais dificuldades foram encontradas na mudança de cultura com quebra de paradigmas, substituição da passividade pela pró-atividade, da recuperação da autoestima e do rompimento com o individualismo, reconhecendo o poder de construção através da cooperação. Somam-se a essas dificuldades, a cultura do paternalismo, do imediatismo e ainda de que tudo acontece por pura vontade divina. Este panorama está mudando a partir do Pacto Novo Cariri. Os produtores foram mobilizados, sensibilizados e agrupados em associações, o que não é fácil, representando uma das maiores dificuldades a ser removida, isto porque, os nossos 19 Aldomário RODRIGUES1 , Lucindo José QUINTANS 2 criadores não têm o espírito associativo, quando se unem é apenas pela barganha, pela busca do recebimento de benefícios públicos nunca pelo interesse coletivo e pela construção de algum negócio. Fazê-los compreender a importância da cooperação, é fazer as associações ganharem dinamicidade desenvolvendo uma programação de caráter empresarial, buscando promover mudanças de ordem quantitativa e qualitativa que levam a novos arranjos na cadeia produtiva capaz de tornar o Cariri paraibano gerador de uma oferta de produção crescente com qualidade e competitiva. 3.4. Assistência técnica A informação representa o principal insumo na busca da transformação proposta, a cultura secularmente enraizada neste arcaico processo de condução dos sistemas de produção, tende a resistir ao novo e a modernização do processo produtivo, desta forma, a assistência técnica permanente e eficientemente estruturada é condição indispensável para se alcançar os objetivos. Entretanto, o que se observa na região é uma extensão rural desarticulada cuja ação é puramente reativa e cada extensionista responsável por assistir de 1.500 a 2.000 produtores rurais, incapazes, portanto, de promover as transformações esperadas pelo programa, obrigando seus gestores a buscar um sistema paralelo de acompanhamento, com a formação de uma rede técnica local. Os técnicos são recrutados entre jovens dos próprios municípios, privilegiando-se aqueles que tenham formação agrícola, técnico agrícola ou equivalente e remunerados pelo próprio sistema nos moldes do ADR, Agente de Desenvolvimento Rural, experiência que tem mostrado bons resultados e tem se expandido em alguns municípios do Cariri. Essas redes locais estão conectadas e assistidas por um grupo regional e multi-institucional de consultores, de maior nível técnico (zootecnistas, veterinários, agrônomos, etc.) especializados em pastagens, alimentação, melhoramento genético, reprodução, sanidade e economia. Este modelo, apesar de simples, tem sido bastante eficiente a ponto do SEBRAE Nacional adotá-lo em todo Nordeste enviando especialistas dos nove Estados nordestinos para serem treinados 20 na Paraíba e multiplicarem a experiência em seus respectivos Estados, além de patrocinar a cartilha do ADR através do Projeto APRISCO. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A caprinocultura leiteira sempre se apresentou como uma atividade promissora para o Cariri, mas, deste ponto até ser transformada em um negócio eficiente e rentável, encontrava-se um grande vazio, que no entendimento de muitos, aconteceria fatalmente no futuro, o difícil, era construir esse futuro no presente. Essa tarefa e as obrigações couberam ao “Pacto Novo Cariri” que, de forma eficiente e inteligente, iniciou o processo a partir do ano 2000, quando mobilizou a sociedade civil, o governo e instituições no sentido de buscar soluções às suas necessidades no tocante a geração de riquezas. Esse grande agente transformador foi capaz de romper as barreiras da inércia produtiva e construiu um negócio promissor que tem oferecido à região um volume de recursos novos injetados como também oferecido um grande número de ocupações nas unidades de produção. A organização dos produtores em associações municipais tem permitido a organização da produção de forma eficiente e com ganhos qualitativos jamais alcançados na história da atividade além, de permitir um abastecimento constante quando antes a sazonalidade era fator de risco. A instalação das mini usinas de pasteurização no ano 2001, significou para o programa a porta de entrada para a construção de um negócio que, somente no ano de 2006 injetou R$ 3,6 milhão de reais na região, atingindo R$ 6,5 milhões em 2010 apenas com a compra governamental do leite caprino para os programas sociais do governo do Estado. Por outro lado, permitiu ainda, a instalação de laticínios especializados na produção de queijos finos, iogurte, licor e outras bebidas lácteas. Atualmente, acena-se com a possibilidade de ampliação significativa do mercado livre que deverá aumentar a produção que hoje chega a 18 mil/litro/dia. Desta forma o Cariri paraibano se transformou no maior produtor de leite de cabra do país e protagonista de uma mudança radical na sócio-economia local. Soma-se a isso, o apelo econômico e social Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Aldomário RODRIGUES1 , Lucindo José QUINTANS 2 do programa, já que 66% dos fornecedores são caprinocultores de base familiar que produzem menos de 20 litros/leite/dia. O programa possibilitou a elevação da renda dessas famílias assegurando melhores condições para a reprodução e a acumulação dos seus meios de produção, além de gerar ocupações produtivas de caráter permanente, e simultaneamente, transferência de tecnologias, capacitação de recursos humanos e fortalecimento do associativismo proporcionando uma concentração horizontal e vertical dos atores envolvidos no processo. Apesar dos ganhos obtidos, algumas dificuldades têm surgido para consolidar a caprinocultura leiteira como agronegócio, entre elas a dependência do mercado institucional. Inicialmente, esse mercado foi importante para a estruturação e desenvolvimento da atividade, porém no momento está sendo motivo de sua desestruturação. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário, 2006. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda. Acessado em: 28 de Junho 2015. IDEME – Anuário Estatístico da Paraíba, v.1. João Pessoa: IDEME, 1999. IPEA – Produto Interno Bruto Municipal – 1970, 1996. Brasília/DF, 2001. IPEA – Fundação João Pinheiro – PNUD. Desenvolvimento Humano e Condições de Vida: Indicadores dos municípios brasileiros: IPEA – FJP – PNUD – IBGE – 2003 QUINTANS, L.J. PROMESO Cristalino, Projeto Base Zero. João Pessoa: UFPB/Scientec, v.1 e 2, 356 p. SEBRAE/PB. Programa de Desenvolvimento Regional Integrado e Sustentável do Cariri Paraibano. João Pessoa: SEBRAE, 2001, 132 p. FIBGE – Censos Demográficos 1970, 1980, 1991, SUDENE. Boletim Conjuntural Nordeste do Brasil 1996 e 2000 – IBGE, Rio de Janeiro/RJ. nº 6. Recife: Sudene, 1999, 346 p. GOMES, G.M. Velhas Secas em Novos Sertões: Continuidade e Mudanças na Economia do Semi-Árido e Cerrado Nordestino. Brasília: IPEA, 2001, 326 p. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 21 Aldomário RODRIGUES1 , Lucindo José QUINTANS 2 TABELA 1: Efetivos Caprino e Ovino e Densidade Demográfica, nos Cariris Ocidental e Oriental Efetivo (cab) Densidade (cab/km2) Área Geográfica (km2) Caprinos Ovinos Caprinos Ovinos Cariri Ocidental 7.075,1 149.134 111.713 21.07 15.79 Cariri Oriental 4.159,9 72.063 57.368 17.32 13.79 Total 11.235,0 221.197 169.081 19.69 14.79 Cariri Ocidental 7.075,1 152.725 110.518 21,59 15,62 Cariri Oriental 4.159,9 88.160 58.732 21,19 14,12 Total 11.235,0 240.885 169.250 Fonte: Anuário Estatístico da Paraíba 1999, IBGE, 2006 21,44 15,06 Região 1999 2006 TABELA 2: População Residente nas microrregiões Cariri Ocidental e Cariri Oriental População Residente Total Urbana Rural Taxa de Urbanização 1970 1980 151.642 169.317 35.455 54.389 116.187 114.928 23,38 32,12 1991 169.019 75.228 93.791 44,51 1996 169.486 82.954 86.532 48,94 89.604 83.719 51,70 Ano 2000 173.323 Fonte: IBGE – Censos Demográficos TABELA 3: Produto Interno Bruto da Paraíba e Área-Programa (em milhões US$ de 1998) Região Anos 1970 1975 1980 1985 Paraíba (1) 2.039,5 3.522,5 3.812,2 5.626,8 Área-Programa (2) 70,0 114,9 114,3 150,6 Fonte: (1) Sudene: Contas Regionais; (2) Dados Básicos: IBGE e IPEA 22 1990 1996 6.560,8 95,3 7.696,8 179,8 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Amélia Maria de Queiroz Aguiar da Silva BARRETO BEM-ESTAR E CONTROLE DE QUALIDADE NO ABATE DE AVES Amélia Maria de Queiroz Aguiar da Silva BARRETO RESUMO 1 Norato Alimentos Ltda Nas duas últimas décadas, um tema que vem sendo bastante difundido nas agroindústrias, é o Bem-estar animal, principalmente por ter influência direta sobre a qualidade da carne, bem como o destaque e atenção aos profissionais mais diretamente envolvidos, desde o manejo das aves até a chegada dos animais no abatedouro. Um dos fatores indispensáveis para o êxito da implantação do programa de bem-estar e obtenção de uma carne de boa qualidade consiste na capacitação da equipe através de treinamentos técnicos, assim como, o entendimento do comportamento animal. Nesse contexto, conclui-se que é de extrema urgência divulgar incisivamente normas e técnicas de manejo adequadas aos sistemas de criação das aves, a fim de evitar maus tratos desnecessários, respeitando ao máximo as 5 liberdades. Além disso, através da educação continuada, é possível minimizar perdas econômicas decorrentes de lesões corporais, ocorridas principalmente nas etapas pré-abate. PA L AV R A S - C H AV E carne, liberdade, pré-abate. ABSTRACT In the last two decades, a topic that has been widespread in agricultural industries is the Animal Welfare, mainly to have direct influence on the quality of meat as well as the prominence and attention to the professionals directly involved, since the handling of the birds until the arrival of the animals at the slaughterhouse. One of the essential factors for the successful implementation of welfare program and obtaining a good quality meat is the training of staff through technical training, as well as the understanding of animal behavior. In this context, it is concluded that it is of utmost urgency disclose pointedly standards and management techniques suitable for breeding birds systems in order to avoid unnecessary ill -treatment, respecting the most of the five freedoms. In addition, through continuing education, you can minimize economic losses due to injury, especially occurred in the pre-slaughter steps. KEYWORDS meat, freedom, pre-slaughter. INTRODUÇÃO a preceitos religiosos que estejam relacionados ao consumo de carne de aves em qualquer parte do De acordo com SIMONS (2005), a carne de fran- mundo, ao contrário do que ocorre com a carne sugo é a única que, no decorrer da história, tem am- ína e bovina. O crescimento na produção de carne pla aceitação. Não existem restrições culturais ou de aves é acompanhado por uma maior diversificaCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 23 Amélia Maria de Queiroz Aguiar da Silva BARRETO ção de produtos, praticidade e valor agregado, em detrimento da comercialização de carcaças inteiras e/ou cortes. Essa tendência dá-se em razão da mudança de hábitos da população, pois a qualidade nutritiva, segurança dos alimentos e preços acessíveis, são condições básicas para negócios na área da alimentação (OLIVO, 2005). Pandorfi (2005), afirma que as pessoas desejam comer carne com “qualidade ética”, isto é, carne oriunda de animais que foram criados, tratados e abatidos em sistemas que promovam o seu bem-estar, e que sejam sustentáveis e ambientalmente corretos. Esta tendência é observada em países desenvolvidos, onde os consumidores apresentam preocupação e entendimento sobre qualidade e segurança dos alimentos e exigem, inclusive, que nos rótulos contenham selos que especifiquem se os animais não foram submetidos a maus tratos. No entanto, é constatado que em países de pouco desenvolvimento econômico, as prioridades dos consumidores ainda estão voltadas para saciar suas necessidades básicas, de modo que aspectos mais subjetivos como a preocupação com o meio ambiente e com os animais, por exemplo, acabam tendo pouca expressão (MOLENTO, 2005). Por outro lado, os atributos de qualidade dos produtos agropecuários não estão restritos apenas aos programas de autocontrole implantados na indústria, pois cada vez mais se voltam para os conceitos das boas práticas de produção e suas relações principalmente com o bem-estar animal, as quais propõem que as aves sejam criadas e processadas em condições adequadas de conforto, sem serem submetidas a condições de estresse desnecessário, visando conciliar tanto o princípio ético quanto o econômico. Baseado nisso, é preciso compreender e respeitar as 5 liberdades, definidas pela FAWC (Farm Animal Welfare Council, 1992) e que devem ser atendidas: liberdade psicológica (de não sentir medo, ansiedade ou estresse), liberdade comportamental (de expressar seu comportamento natural), liberdade fisiológica (de não sentir fome ou sede), liberdade sanitária (de não estar exposto a doenças, injúrias ou dor) e liberdade ambiental (de viver em ambientes adequados, com conforto). Assim, o estudo priorizou os conceitos básicos das boas práticas de produção, manejo pré-abate e suas relações com o bem-estar animal, dando ênfase nas 24 normas e técnicas de manejo adequadas aos sistemas de criação das aves, visando sempre evitar maus tratos desnecessários e reforçar a importância quanto ao respeito das 5 liberdades. Desenvolvimento: Neste artigo foi adotada a definição de Broom (1991), a qual é utilizada com bastante freqüência, descrevendo o bem-estar como a habilidade do animal de interagir e viver bem em seu ambiente. Ao contrário do que se pensava há alguns anos, o Bem-estar pode e deve, sempre que possível, ser avaliado cientificamente, e os resultados obtidos serem divulgados de forma clara e objetiva. Por exemplo, um dos índices que podem ser analisados no processo produtivo é o percentual de aves com fraturas (Figura 1) ou contusões (Figura 2), assim como, a presença de calosidades nas patas. Estes três itens auxiliam na interpretação se houve ou não sucesso nas práticas de Bem-estar aplicadas através de um manejo e/ou transporte adequados dos animais até a indústria. Manejar e transportar os animais de forma adequada pode reduzir o estresse e evitar contusões e o sofrimento desnecessário, até porque são nessas etapas que ocorrem o maior índice de contusões e fraturas. Existem ainda outros protocolos para avaliação do bem-estar animal, com aplicações especificas como, por exemplo, durante o transporte ou o atordoamento de animais (Grandin, 2010). Figura 1. Fratura exposta Figura 2. Lesão corporal (contusão) Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Amélia Maria de Queiroz Aguiar da Silva BARRETO CONSIDERAÇÕES FINAIS MOLENTO, C. F. M. Bem-estar e produção animal: aspectos econômicos - Revisão. Archives of Embora os animais de produção façam parte da Veterinary Science, v. 10, n. 1, p. 1-11, 2005. nossa cadeia alimentar, deve-se levar em consideração que enquanto estiverem vivos, precisam OLIVO, R.. O mundo das carnes: ciência, tecnoloser bem tratados. Até porque, quando consumimos gia & mercado. Livro, p. 214, Criciúma, 2005. animais bem criados e que não foram submetidos ao sofrimento, obtemos um produto de melhor PANDORFI, H. Comportamento bioclimático Qualidade. Além disso, estudos demonstram que de matrizes suínas em gestação e o uso de sisteum terço das lesões de carcaças são provenientes mas inteligentes na caracterização do ambiente da etapa de apanha e transporte, por isso, essas ati- produtivo: suinocultura de precisão. Piracicaba, vidades precisam ser muito bem assistidas, a fim de 2005. Dissertação (Doutorado em Agronomia). assegurar a integridade física das aves, bem como Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, garantir o rendimento final desejado da carcaça, Universidade São Paulo. Disponível em: http:// mantendo desta forma a competitividade da em- www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11131/tdepresa no mercado. 09092005-145206/. Acesso em: 10 fev. 2007. SIMONS, P. C. M.. Produção comercial e consumo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: de ovos e de carne de aves no mundo. In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOABNT. NBR 6.028: resumos. Rio de Janeiro, 1990. GIA AVÍCOLAS, 2005, Santos. Anais..., CampiBROOM, D.M. Indicators of poor welfare. British nas: Facta, 2005, p. 72-73. Veterinary Journal, v. 142, p. 524 - 526, 1986. FRANCISCO, D. C. et al. Caracterização do consumidor de carne de frango da cidade de Porto Alegre. Ciência Rural, v. 37, n. 1, p. 253-258, 2007. GRANDIN, T. Recommended animal handling guidelines & audit guide: A Systematic Approach to Animal Welfare. Washington: AMI Foundation, 109 p. 2010. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 25 Professor Dr. Carlos Roberto Teixeira ANALGESIA EM ANIMAIS SILVESTRES Professor Dr. Carlos Roberto Teixeira 1 UNESP - Jaboticabal O reconhecimento da dor e seu alívio, em animais silvestres ainda é um grande desafio. Ao longo da evolução, esses animais adquiriram habilidades para não demonstrarem percepção frente a um estímulo nocivo como a dor. As aves possuem os estímulos nociceptivos dor em aves é semelhante aos de pequenos mamíferos silvestres em alguns estudos, tais como, estimulação elétrica, térmica e pressão, pinçamento, porém esta espécie apresenta alguns estímulos específicos como remoção das penas, amputação do bico e pinçamento da crista, já os repteis por possuírem o seu córtex límbico e neocortex bem definido, portanto essas particularidades anatômicas, não permitem clareza sobre a resposta a dor nestes animais. Diferentes receptores podem funcionar como moduladores da transmissão nociceptiva, inibindo a liberação de neurotransmissores. Como os receptores de adenosina, receptores adrenérgicos, ácido y-aminobutírico (GABA) e os receptores de opioides ( Kappa, Mu e Delta), sendo encontrados no corno dorsal da medula espinhal nas regiões pré e pós sináptica nos neurônios de segunda ordem, estes estão presente nos mamíferos, nas aves pouco se sabe sobre este sistema porém já foi identificado em seu SNC a avaliação da dor em animais é realizada pela observação dos comportamentos, portanto devemos levar em consideração: o gênero do animal, espécie, idade, o habitat, se o animal veio de vida livre ou não, patologia pré-existente e ao estresse. Para uma boa avaliação são necessárias pessoas que estejam familiarizadas com o comportamento do animal avaliado. Em aves já foi descrito como mudança de temperamento frente a um estimulo nocivo, alteração na postura, posicionamento no poleiro inapropriado, diminuição do apetite, alteração na interação social e aumento da frequência respiratória e cardíaca. Já nos répteis, os quelônios podem demonstrar dor esticando o pescoço (para frente e para trás) e fechando os olhos, os lagartos com mudanças posturais, elevação da cabeça e fechamento dos olhos também, já as cobras ficam mais agitadas, evitando enrolar o seu corpo no locar da dor. Para realizar um adequado tratamento a dor para essas espécies é necessário considerar: espécie, gênero, idade, particularidades anatômicas e diferenciar dor aguda de dor crônica. Após o reconhecimento da dor, a analgesia é promovida através de fármacos, opióides e AINES. Devemos levar em consideração o metabolismo desses animais e seu estado geral sendo que a ave possui um metabolismo mais rápido e os répteis mais lentos, quando desidratados ou desnutridos alteram absorção do fármaco, nesses casos ter cautela na escolha do medicamento (hepatotóxico ou nefrotóxico). 26 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Professor Dr. Carlos Roberto Teixeira Doses e a farmacocinética desses fármacos ainda são muito discutidas nessas espécies, sendo necessários mais estudos sobre. Estudos comprovam que o uso de butorfanol para aves é o mais indicado, sendo indicado em dores agudas, severas e trauma, é um fármaco seguro sem efeitos adversos, porém sua desvantagem é a aplicação frequente, pois é um fármaco de curta duração. Para répteis é mais indicado o uso de opioides agonistas puros (morfina, fentalina, metadona e meperidina) quando este usado junto com pré-anestésico melhora o plano e a recuperação do animal. Nos pequenos mamíferos silvestres o opioide mais indicado é a buprenorfina. O Cloridrato de tramadol apesar de muito usado em todas essas espécies a sua eficácia ainda não é comprovada, sendo que o uso prolongado em aves causa sedação. A terapia multimodal é a mais indicada tanto para répteis, pequenos mamíferos e aves, esta associa o uso de opioides que limitam a entrada da informação nociceptiva no SNC e AINES que atuam perifericamente diminuindo a inflamação e a informação nociceptiva, resultando em uma terapia com maior eficácia e baixa toxidade. Necessário ressaltar a necessidade da realização de mais estudos com o objetivo de avaliar a farmacocinética dos principais medicamentos que promovam analgesia empregada em medicina veterinária para as diversas espécies de animais selvagens. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 27 Diogo Ribeiro CÂMARA1 , Sildivane Valcacia SILVA2 , Maria Madalena Pessoa GUERRA3 SELEÇÃO DE REPRODUTORES E MATRIZES COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORIA DO DESEMPENHO PRODUTIVO DA CAPRINO-OVINOCULTURA Diogo Ribeiro CÂMARA1 , Sildivane Valcacia SILVA2, Maria Madalena Pessoa GUERRA3 RESUMO Curso de Medicina Veterinária – Universidade Federal de Alagoas. E-mail: [email protected] 2 Departamento de Biotecnologia – Universidade Federal da Paraíba, Campus I 3 Departamento de Medicina Veterinária – Universidade Federal Rural de Pernambuco 1 A profissionalização dos sistemas produtivos para pequenos ruminantes envolve diversas etapas, como a adequada seleção de reprodutores e matrizes. Considerando o grande impacto da reprodução sobre a rentabilidade da criação, técnicos e criadores devem ser capazes de identificar nos animais características fenotípicas, adaptativas e de sanidade adequadas para o tipo de criação. Objetiva-se com esse trabalho descrever sucintamente alguns aspectos a serem considerados na seleção de animais para reprodução, bem como as causas mais comuns de perdas reprodutivas em pequenos ruminantes, principalmente na região Nordeste do Brasil. PA L AV R A S - C H AV E fertilidade, pequenos ruminantes, reprodução. ABSTRACT Small ruminant productive systems professionalization is related to many steps, such as the correct sire and dam’s selection. Considering the large impact of reproduction on profitability, technicians and farmers must be able to identify animals with desirable phenotypic, adaptive, and sanity characteristics suitable to the production system. The objective of this study is briefly describe some aspects to be considered during reproductive animal selection, as well as the common causes of reproductive losses in small ruminants, primarily in the Northeast of Brazil. KEYWORDS INTRODUÇÃO Os pequenos ruminantes estão largamente disseminados nas regiões tropicais, sendo importantes para a economia, subsistência e estilo de vida de grande parte da população (KOSGEY, 2004). No Brasil, foi lançada uma agenda estratégica em nível nacional na caprino-ovinocultura (MAPA, 2011), abrangendo desde o estabeleci28 fertility, small ruminants, reproduction. mento de abordagens mais modernas e confiáveis para o levantamento de dados até a formação de mão de obra qualificada no setor. A viabilização das propostas catalisaria o surgimento de uma cadeia produtiva com maior profissionalização e impacto econômico, uma vez que o rebanho nacional apresenta cerca de 8,78 e 17,29 milhões de cabeças de caprinos e ovinos, respectivamente (IBGE, 2013). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Diogo Ribeiro CÂMARA1 , Sildivane Valcacia SILVA2 , Maria Madalena Pessoa GUERRA3 A adoção de melhorias no sistema produtivo de pequenos ruminantes influenciaria diretamente a agricultura familiar, a citar-se como exemplo que a mesma era responsável pela produção de aproximadamente 67% do leite de cabra no Brasil, enquanto ocupava apenas 24% da área produtiva (IBGE, 2006). Em uma analogia com a bovinocultura, onde a eficiência reprodutiva é um dos principais elementos envolvidos na viabilidade econômica (MARTINS et al., 2013), a seleção do caprinos e ovinos para a reprodução representa um ponto crítico. Dessa forma, este trabalho visa comentar suscintamente alguns aspectos relacionados a seleção dos animais para obtenção de maior eficiência reprodutiva. SELEÇÃO DE REPRODUTORES Inicialmente vista como uma cultura de subsistência, a caprino-ovinocultura servia para fornecer suporte proteico as populações locais. Para aumentar a produtividade, técnicas de manejo sanitário e reprodutivo foram incrementadas nesta criação. Biotécnicas como a inseminação artificial começaram a ser utilizadas para disseminar a genética de animais superiores, visando ao acabamento de carcaça e alta conversão alimentar. Entretanto, para que estes animais sejam utilizados como disseminadores de potencial genético, a seleção de reprodutores torna-se uma ferramenta necessária para que características desejáveis sejam mantidas e as indesejáveis descartadas. Os pequenos ruminantes entram na puberdade por volta dos seis meses de idade, sendo os caprinos mais precoces que os ovinos (HAFEZ e HAFEZ, 2004). A puberdade inicia-se quando do debridamento peniano e início da liberação de células espermáticas viáveis no ejaculado. Para fins de criação, a puberdade zootécnica é a mais comumente utilizada, relacionada ao peso que o animal precisa atingir para ser considerado púbere. Em decorrência das condições edafoclimáticas da região Nordeste, há limitação no fornecimento de pastagens de qualidade, o que confere atraso ao desenvolvimento dos pequenos ruminantes e consequente retardo no aparecimento da puberdade (BEZERRA et al., 2009), comprometendo os ínCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 dices reprodutivos do rebanho. Uma vez em idade púbere, os animais podem ser selecionados como reprodutores seguindo diferentes critérios. Na caprino-ovinocultura de animais de elite, a seleção genealógica consiste em diferenciar animais pelo registro dos seus ascendentes. Estes dados são fornecidos pelo Serviço de Registro Genealógico e constam no Registro dos Animais Puro de Origem. A seleção pela conformação é baseada no julgamento do fenótipo animal, com o objetivo de encontrar indivíduos com qualidades desejáveis para a formação do plantel. As características mais aplicadas a esta seleção são: padrões raciais, cascos sadios e bons aprumos, ausência de tetas supranumerárias (MACHADO et al., 2002), aparelho genital, harmonia das formas e capacidade corporal. Esta última pode ser relacionada ao desempenho individual. Características como tórax largo e profundo, caracterizado pelo bom arqueamento de costelas podem indicar boa capacidade respiratória e circulatória, assim como maior capacidade digestória. Na avaliação do aparelho genital, estes devem apresentar-se bem desenvolvidos, sadios e ausentes de defeitos. Alguns defeitos desclassificatórios aos reprodutores são utilizados na seleção dos pequenos ruminantes, como: albinismo; cegueira parcial ou total; retrognatismo ou prognatismo; lordose, escoliose e cifose acentuadas; ossatura débil e/ou maus aprumos; monorquidismo/criptorquidismo; atrofia testicular; hipoplasia testicular uni ou bilateral; politetia; intersexo; feminilidade; defeitos que impeçam a reprodução, como agenesia do corpo do epidídimo e ductos deferentes. Animais portadores de tais alterações devem ser descartados da reprodução uma vez que estes defeitos são hereditários (MARCOLONGO-PEREIRA et al., 2010). Outro tipo de seleção é a avaliação da progênie, que julga o reprodutor pelo desempenho de seus descendentes. Os produtos de reprodutores que apresentaram os melhores resultados nas características de interesse, como acabamento de carcaça, volume testicular, qualidade de pernil e características masculinas são selecionados. A escolha de animais pelo desempenho e pela progênie é, sem dúvida, as que permitem maior confiabili29 Diogo Ribeiro CÂMARA1 , Sildivane Valcacia SILVA2 , Maria Madalena Pessoa GUERRA3 dade, todavia apresenta como fator limitante a resposta tardia, uma vez que os animais precisam entrar na puberdade, efetuar a monta, gestar, esperar o crescimento dos filhotes e aguardar a expressão das características sexuais secundárias. Ainda, para que o teste de progênie reflita a condição genética, o número de crias deve ser em quantidade relativamente significativa, ou seja, expressiva (CARNEIRO et al., 2001). Entretanto, segundo Lôbo (2009), a seleção de reprodutores baseada na “genética” ainda acontece de forma equivocada no Brasil, caracterizada apenas pela observação da expressão fenótipica. Este autor ainda destaca o mercado dos leilões, nos quais ovinos e caprinos seriam comercializados em condições surreais, superestimando estes animais e dificultando o acesso a estes “animais selecionados”. Para a escolha de reprodutores, independentemente dos critérios de seleção anteriormente descritos, é necessária a realização de exame andrológico e avaliação da libido. O exame andrológico possibilita avaliar o potencial fertilizante de machos, como também pode evidenciar os defeitos de caráter reprodutivo descritos anteriormente. SELEÇÃO DE MATRIZES Na região Nordeste, perdas reprodutivas decorrentes de abortos são relatadas em 50 a 70% das propriedades (PINHEIRO JÚNIOR et al., 2010b; SANTOS et al., 2011). Em relação as alterações hereditárias ou congênitas, as mais comuns são a intersexualidade e más formações, que culminam no nascimento de crias com diferentes graus de deformidade. As adquiridas podem ser agrupadas como de origem nutricional, por ingestão de plantas tóxicas, ou infecciosas. Vale ressaltar que as perdas embrionárias ou fetais podem ocorrer secundariamente a afecções de outros sistemas orgânicos e que fêmeas primíparas e idosas são as mais susceptíveis ao aborto, redução nas taxas de acasalamento e de nascimento de crias (SILVA e ARAÚJO, 2000; MORAES, 2001). Além disso, alguns sistemas de criação tem adotado biotécnicas reprodutivas visando maximizar o potencial de fêmeas de alto mérito genético 30 associado a produtividade (CARNEIRO, 2008) ou mesmo a substituição de fêmeas de raças nativas por outras oriundas de regiões de climas temperados. Esta prática resultar em uma incompatibilidade dos genótipos introduzidos com o sistema de criação adotado (KOSGEY, 2004). Souza (2013) demonstrou redução significativa no percentual de estro, fertilidade e partos múltiplos em cabras Saanen quando comparadas a cabras ½ Saanen × ½ Anglo-Nubiana criadas em clima tropical na época seca. Silva e Araújo (2000) também demonstraram melhores taxas de acasalamento, fertilidade e desmame em ovelhas Crioulas quando comparadas a mestiças Crioulas × Santa Inês. Assim, o primeiro critério a ser considerado quando da seleção de matrizes para reprodução deve ser a capacidade de adaptação das mesmas as condições a que serão submetidas, uma vez que o estresse reduz os índices de reprodutivos (DOBSON et al., 2012). Em relação ao exame físico, deve-se enfatizar a condição corporal (CC), diretamente relacionada a fertilidade (RIBEIRO et al., 2003). Igualmente, caraterísticas como feminilidade, presença de chifres (cabras) e o exame do trato reprodutor são parâmetros importantes e muitas vezes negligenciados. O ideal é que a análise da CC seja efetuada cerca de cinco semanas antes do início da estação reprodutiva, de forma a permitir a suplementação das fêmeas que se encontrem com CC inferior ao recomendado, que é entre 2,5 e 4,0 (SIMPLÍCIO e AZEVEDO, 2014), além de reduzir o risco de distocias futuras (ASSIS, 2011). No exame do trato reprodutor deve-se estar atento a presença de secreção vaginal, já que a cervicite geralmente está associada a endometrite, causa mais comum de infertilidade (MORAES, 2001). Conformação da vulva, avaliação da glândula mamária, distância anogenital e conformação clitoriana também devem ser observadas (MOBINI et al., 2005). No caso de fêmeas com histórico de gestações/partos anteriores, ressalta-se a avaliação da glândula mamária, de forma a evitar o acasalamento de fêmeas que no futuro podem não ser capazes de garantir a sobrevivência das crias (SIMPLÍCIO et al., 2007). O diagnóstico precoce da gestação é uma Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Diogo Ribeiro CÂMARA1 , Sildivane Valcacia SILVA2 , Maria Madalena Pessoa GUERRA3 ferramenta que favorece a identificação de fêmeas com potencial problema reprodutivo (SIMPLÍCIO et al., 2007) e quando detectada gestação positiva, é um bom indicativo do correto funcionamento do trato reprodutor. Além disso, atualmente é possível a quantificação fetal para a adoção de estratégias nutricionais específicas de forma a reduzir a perda fetal, aumentar o índice de sobrevivência das crias e reduzir o intervalo parto-primeiro estro da matriz (MARTIN et al., 2004). Diversas doenças infecciosas podem causar perdas reprodutivas. Dentre as principais já diagnosticadas no Nordeste podem ser citadas a toxoplasmose (Toxoplasma gondii; BEZERRA et al., 2014), aborto enzoótico ovino (Chlamydophila abortus; PINHEIRO JUNIOR et al., 2010a), neosporose (Neospora caninum; FARIA et al., 2010) e micoplasmose (Mycoplasma agalactiae; ALVES et al., 2013). Os proprietários devem ser instruídos que o diagnóstico etiológico do aborto depende do envio do feto, fragmentos da placenta e amostra de soro sanguíneo materno para laboratório especializado o mais brevemente possível, evitando-se a autólise geralmente observada em fetos abortados utilizados para diagnóstico (PEREIRA et al., 2013). A partir dos resultados obtidos é possível a adoção de estratégias de controle e profilaxia que minimizem as perdas reprodutivas (PINHEIRO JÚNIOR et al., 2009). Uma moderna ferramenta é a identificação de fêmeas portadoras de genes relacionados a prolificidade, que quando aliada a melhorias de manejo pode até duplicar o número de cordeiros desmamados (HOLANDA et al., 2006; SOUZA et al., 2009). As pesquisas também têm avançado na busca de marcadores moleculares relacionados a produtividade dos rebanhos (ROCHA et al., 2008). Todavia, apesar da atual disponibilidade de testes de DNA rápidos e eficazes, o uso dessa ferramenta em rebanhos comerciais não está disseminado. dutivos, apresentam baixo custo de implantação e grande capacidade de aumento de produtividade. Vale ressaltar que esse deve ser um processo constante e cuidadoso, principalmente durante a seleção dos animais que ingressarão na estação de monta. Medidas simples como as citadas ao longo do texto e a adoção de quarentena e manejo nutricional adequado devem ser realizadas com mais comprometimento pelos criadores. 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CEP 49100-000 CRMV-SE 0854, E-mail: edisio@ pq.cnpq.brfone: 55-79-21056992 1 RESUMO O artigo apresenta uma revisão das características clínico-epidemiológicas e medidas de controle da agalaxia contagiosa. A doença se caracteriza por mastite seguida de agalaxia, poliartrite e ceratoconjuntivite e tem sido diagnosticada em rebanhos dos estados do Nordeste e Sudeste brasileiro. O uso de medicamento homeopático apresenta bons resultados clínicos, embora não resolvam totalmente as lesões articulares. A prevenção da enfermidade pode ser obtida pela indução do parto, seguida de separação imediata das crias com formação de novo plantel, vacinação dos animais jovens e controle de entrada de animais no plantel. PA L AV R A S - C H AV E Epidemiologia, Diagnóstico, Mastite, Poliartrite, Vacina. ABSTRACT The article presents a review of the main clinical and epidemiological characteristics and contagious agalactia control measures. The disease is characterized by agalactia, mastitis, polyarthritis and keratoconjunctivitis and has been diagnosed in small ruminants from States of Northeast and Southeast of the Brazil. The use of homeopathic medicine presents good clinical results although not fully resolve joint damage. Prevention of the disease can be achieved by induction of birth, followed by immediate separation of kids to new group formation, vaccination of young animals and animal input control in the herd. KEYWORDS INTRODUÇÃO As micoplasmoses foram incialmente descritas no final do séc. XVIII em bovinos com quadro clínico respiratório, denominado Pleuropneumonia Contagiosa dos Bovinos (PPCB). Desde então, quadro respiratório semelhante com isola34 Epidemiology, Diagnostic, Mastitis, Polyarthritis, Vaccine. mento de microrganismos com as mesmas características culturais aos da PPCB tem sido diagnosticado, o que fez com que fossem genericamente denominados de “Pleuropneumoniae - Like Organisms” (PPLO). No Brasil, diagnóstico de micoplasmoses em pequenos ruminantes não era realizado rotineiCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Edisio Oliveira de AZEVEDO1 ramente, até final da década de 1990. A partir de 2001, casos clínicos de Agalaxia Contagiosa (AC) com isolamento de Mycoplasma agalactiae foram descritos na Paraiba. A doença adquiriu caráter endêmico no Nordeste e já há registros de animais positivos em Estados da Região Sudeste. Este trabalho tem como objetivo apresentar as principais características epidemiológicas e atualizar as informações sobre o comportamento da AC no Brasil, contribuindo para um melhor entendimento da enfermidade. DESCRIÇÃO Agalaxia Contagiosa é uma doença infectocontagiosa de ovinos e caprinos caracterizada pela súbita redução na produção de leite com inflamação da glândula mamária, seguida de agalaxia, artrite ou poliartrite e ceratoconjuntivite, causada por um ou mais dos seguintes agentes: Mycoplasma agalactiae, M. capricolum subsp. capricolum , M. mycoides subsp. capri e M. putrefaciens. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS No Brasil, o primeiro relato clínico de uma doença semelhante a AC em caprinos foi registrado no Estado de São Paulo, em 1942 (PENHA & D’APICE, 1942). Na ocasião foi isolado um microrganismos semelhante ao Mycoplasma, mas a espécie não foi identificada. Passados 60 anos, M. agalactiae foi isolado e identificado como o agente causador da AC em caprinos leiteiros nos Estados da Paraíba (NASCIMENTO et al., 2002) e posteriormente em rebanhos de Pernambuco e Rio Grande do Norte (AZEVEDO et al., 2006). A infecção se dá por via oral, respiratória ou mamária. Após um período de bacteremia, há disseminação para globo ocular, glândula mamária, articulações, tendões, útero e linfonodos. Nascimento de crias inviáveis e abortos são observados. A infecção transplacentária foi descrita em três cabritos que nasceram com poliartrite e dos quais foi isolado M. agalactiae do líquido articular. As matrizes apresentavam sinais clínicos e estavam infectadas com M. agalactiae (AZEVEDO et al., 2012). A ordenha realizada sem higienização facilita a transmissão através das mãos dos ordenhadoCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 res. Excreções e secreções contêm microrganismos que infectam rapidamente todo o rebanho, principalmente através do colostro e leite (REAL et al., 1994). Rebanhos livres desenvolvem sinais clássicos graves, tornando-se cronicamente infectados ou assintomáticos por longos períodos. O impacto econômico é resultado da queda na produção de leite, podendo atingir 100% do rebanho. As taxas de morbi-mortalidade pode atingir 90% em animais jovens e de 5% a 90% em adultos (AZEVEDO et al., 2002; GIL et al., 2003). Outro impacto econômico importante é o elevado custo para controle da doença e a perda de credibilidade do rebanho. Estudos indicam que a AC está se disseminando no Brasil, provavelmente em função da comercialização de pequenos ruminantes entre criadores. Santos et al. (2015) relatam a presença de anticorpos em caprinos e ovinos do estado de Sergipe. Soros de 27,27% (15/55) caprinos do Estado de São Paulo apresentaram sorologia positiva no ELISA e destes, 40% (6/15) apresentavam elevados valores de densidade óptica, sugerindo infecção ativa (AZEVEDO et al., 2014). Trabalho realizado em um rebanho caprino leiteiro do Estado do Rio de Janeiro, detectou M. agalactiae no leite em 10% (2/20) dos animais e anticorpos em 85% (17/20) dos animais testados (SANTOS et al., 2014). DIAGNÓSTICO O diagnóstico clínico pode ser estabelecido quando mastite, agalaxia, poliartrite e ceratoconjuntivite estão presentes no rebanho. Quando não, é preciso identificar o agente através do cultivo bacteriano ou por técnicas moleculares. Secreções e excreções são utilizadas como material biológico e deve ser enviado ao laboratório o mais breve possível. Inibição de crescimento, imunoperoxidase, ELISA, imunofluorescência, imunodifusão, soro-aglutinação são técnicas eficientes para identificação de Mycoplasma spp, Campos et al., (2009) desenvolveram um ELISA com 95% de especificidade e 77-89% de sensibilidade para identificação de caprinos infectados com M. agalactiae, podendo ser um método a ser utilizado em programas de controle da AC, a exemplo do que ocorre na Europa (POUMARAT et 35 Edisio Oliveira de AZEVEDO1 al., 2012). A Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) e o sequenciamento têm sido utilizadas em situações em que há pouca quantidade do material a ser analisado, oferecendo uma ótima alternativa diagnóstica pela rapidez, segurança, especificidade e sensibilidade. TRATAMENTO E CONTROLE Mycoplasma apresenta boa sensibilidade à maioria dos antibióticos, mas a cura bacteriológica requer tratamento prolongado. Ainda assim, é possível a recuperação do agente em animais após o tratamento (AZEVEDO et al., 2006). Tetraciclinas, macrolídeos, florfenicol, tiamulin e fluoroquinolonas são as drogas de escolha. Resultados clínicos foram obtidos com tilosina (20 mg/Kg de PV) durante cinco dias em caprinos, porém alguns animais apresentaram recidivas (AZEVEDO et al., 2002). Associação de tilosina + tetraciclina ou lincomicina + espectinomicina melhoram os resultados (LORIA et al., 2002). A sensibilidade de M. agalactiae in vitro demonstraram que estreptomicina, florfenicol e gentamicina não apresentaram efeito inibitório satisfatório (MAMEDE, 2013). Um medicamento homeopático demonstrou resultados animadores em caprinos naturalmente infectados. A recuperação clínica ocorreu entre 7 e 49 dias de tratamento, enquanto os animais tratados com tilosina + oxitetracilcina apresentaram redução dos sinais clínicos, mas tiveram recidivas (SILVA et al., 2013). Trabalho semelhante foi desenvolvido em um rebanho caprino leiteiro do Rio Grande do Norte, constituído por aproximadamente 250 animais. Dependendo da imediata adoção da medicação, a recuperação clínica ocorreu entre 10 dias e seis meses de tratamento. Animais cronicamente sintomáticos apresentaram recuperação tardia da produção de leite (cerca de 30 dias), inclusive alguns animais permaneciam com aumento de volume articular, mas sem dor ou claudicação, seis meses após o início do tratamento (informação pessoal). Em regiões endêmicas, deve-se fazer um planejamento para o saneamento e controle, tendo como principal meta a redução das perdas econômicas, evitando o descarte precoce e morte de animais e a constituição de rebanhos livres da infecção. Para 36 tanto, a indução do parto aos 145 dias de gestação com separação das crias e administração de colostro e leite pasteurizado livres do patógeno são medidas indicadas (ALCÂNTARA et al., 2003). Programa de vacinação, empregando vacinas vivas atenuadas ou inativadas produzidas a partir de amostras de M. agalactiae e M. mycoides subsp mycoides LC têm sido produzidas na Europa, onde a doença é endêmico (BUONAVOGLIA et al., 1998; DE LA FE et al., 2007). No Brasil, ainda não há vacinas disponíveis. No entanto, os primeiros estudos atestam a eficiência de vacinas inativadas. Alcântara et al. (2013) testaram duas vacinas européias e obtiveram resposta imunológica satisfatória em caprinos. Já Campos et al., (2013) produziram vacinas inativadas a partir de amostra de M. agalactiae isolado no Brasil e confirmaram a eficiência da vacinação em caprinos e ovinos, sendo que a persistência da imunidade foi relativamente limitada, necessitando de revacinações. CONSIDERAÇÕES FINAIS A AC é uma ameaça real à saúde dos pequenos ruminantes, causando perdas significativas aos criadores, em particular aos agricultores familiares, que não dispõem de assistência técnica e mecanismos para adotar medidas preventivas e de controle. A pesquisa científica tem contribuído na busca de soluções para o problema desde seu surgimento em 2001, particularmente ao identificar M. agalactiae, o principal agente causador (2002 a 2006), padronizar um ELISA (2006 a 2008), desenvolver um tratamento homeopático (2004 a 2008) e uma vacina (2009 a 2012). Os próximos passos devem estar articulados entre as Instituições de pesquisa, produtores, a iniciativa privada e os órgãos oficiais de defesa sanitária animal para regulamentação das medidas a serem adotadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCÂNTARA, M.D.B.; AZEVEDO, E.O.; FARIAS, A.A.; TABOSA, I.M.; ARAÚJO, M.D.; SANTOS, F.A.; NASCIMENTO, E.R.; CASTRO, R.S. Indução de parto e separação das crias para controle da agalaxia contagiosa em caprinos. In: Cong. Latinamer. Buiatria, XI, Salvador, p. 71, 2003. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Edisio Oliveira de AZEVEDO1 E.R.; CASTRO, R.S. Efficiency of inactive vaccines against contagious agalactia in Brazil. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.65, n.5, p.1394-1402, 2013. CAMPOS, A.C.; GREGORY, L.; RIZZO, H.; AZEVEDO, E.O. Antibodies anti-M . agalactiae in goats in the São Paulo, Brazil. Intern. Cong. Intern. Organiz. Mycoplasmol. (IOM). XX, Blumenau, AZEVEDO, E.O.; ALCÂNTARA, M.D.B.; TA- 2014. 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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Fernando Guilherme Perazzo COSTA 1,4, Matheus Ramalho de LIMA 2,4, Sarah Gomes PINHEIRO 3,4 AVANÇOS NA NUTRIÇÃO DE AMINOÁCIDOS PARA FRANGOS DE CORTE E POEDEIRAS Fernando Guilherme Perazzo COSTA1,4, Matheus Ramalho de LIMA2,4, Sarah Gomes PINHEIRO3,4 RESUMO Professor do curso de Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba, Areia-PB – [email protected] 2 Professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, Teixeira de Freitas-BA – mrlmatheus@ gmail.com 3 Pós-doutoranda da Universidade Federal da Paraíba, Areia-PB – sarahgpinheiro@ hotmail.com 4 Grupo de Estudos em Tecnologias Avícolas, GETA 1 O estudo da nutrição proteica nas aves associado ao bem estar, sanidade e principalmente a genética alavancou os parâmetros produtivos das aves, garantindo não só melhor desempenho, como maior eficiência de produção e absorção de nutrientes. Com um alto padrão genético que veio sendo alcançado nos últimos anos pode-se fazer uso de estratégicas nutricionais que garantiam que o animal produzisse carne e ovos de qualidade em um menor espaço de tempo. Como a genética vem se atualizando de maneira vertiginosa, a nutrição desses animais deve acompanhar de forma que eles busquem respostas biológicas cada vez mais relevantes e garantam a máxima produção. PA L AV R A S - C H AV E aves, eficiência, genética, metabolismo, produção, proteína. ABSTRACT The study of protein nutrition in poultry associated with well-being, sanity and especially genetic leveraged the performance of the birds, ensuring not only better performance, such as increased production efficiency and absorption of nutrients. With a high genetic pattern that came being achieved in recent years we can make use of nutritional strategies that ensured that the animals produce meat and egg quality in a shorter period of time. How genetics has been upgrading from vertiginous way, the nutrition of these animals must follow so that they seek biological responses increasingly relevant and ensure maximum production. KEYWORDS INTRODUÇÃO As aves possuem requerimentos nutricionais específicos para cada fase da vida, seja ela pré-inicial, inicial, crescimento, terminação, em caso de frangos de corte e inicial, crescimento, pré-postura e postura, no caso de poedeiras. Vale salientar que as aves no início da fase de produção, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 birds, efficiency, genetics, metabolism, production, protein. requerem mais nutrientes, especialmente porque, estão em crescimento, elevando as demandas nutricionais dessas aves para maior desenvolvimento e consequente melhor desempenho. Assim, a determinação dos níveis nutricionais a cada fase de criação das aves é de suma importância para o melhor desenvolvimento da atividade. Os avanços na genética possibilitaram ga39 Fernando Guilherme Perazzo COSTA 1,4, Matheus Ramalho de LIMA 2,4, Sarah Gomes PINHEIRO 3,4 nhos importantes na produção de aves e, esses ganhos devem ser acompanhados não apenas por esse segmento, mas é essencial que a nutrição torne possível os ganhos genéticos, assim, os requerimentos nutricionais, devem sempre serem atualizados para que as aves possam expressar todo seu potencial genético. Frangos de corte, Tabelas Brasileiras de Exigências Nutricionais de Suínos e Aves Ao logo dos anos, se percebe uma mudança no que concerne aos requerimentos, tal qual apresentado na Tabela 1, apenas dados de Rostagno et al. (2005 e 2011), onde percebe-se um aumento médio no desempenho das aves, ficando mais pesadas em cada fase, ganhando mais peso e consumindo mais ração, o que elevou, uma maior exigência e consumo de lisina. Por outro lado, a energia metabolizável não foi alterada, enquanto que a proteína praticamente ficou igual, semelhante aos aminoácidos lisina (Lis), Met+Cis (M+C) e treonina (Tre), com alterações variáveis da Tre, enquanto que, o inverso ocorreu com o triptofano (Trp), valina (Val), isoleucina (isso) e arginina (Arg), que tiveram elevações nos requerimentos nutricionais. Assim, percebe-se que os trabalhos publicados ao longo desses anos, as aves se tornaram mais eficientes, mas exigiram mais aminoácidos, especialmente Trp, Val, Iso e Arg, o que mostra a importância dos estudos constantes nesse campo a cada linhagem nova no mercado. Galinhas poedeiras leves, Tabelas Brasileiras de Exigências Nutricionais de Suínos e Aves Fazendo o mesmo comparativo nas recomendações das galinhas poedeiras leves, usando dados de Rostagno et al. (2005 e 2011), percebe-se que a energia metabolizável e a proteína bruta se mantiveram iguais na fase de crescimento. Na fase de postura a proteína se manteve, enquanto que a energia metabolizável continua sendo determinada, com base em equações que se consideram o peso e ganho de peso da ave, a massa de ovo produzida e a temperatura (Tabela 2). Estritamente, na fase de postura, os aminoácidos Lis, Met+Cis, Trp, Arg e Val tiveram níveis nutricionais maiores em publicações mais recentes. Esse aumento se deve especialmente à maior capacidade da poedeira em produzir, tendo nesse 40 espaço de tempo um ganho de 1,0g em massa de ovo/dia e 0,3g de peso a menos que antes, o que mostra maior eficiência e maior requerimento nutricional. Embora não se apresente variação nos requerimentos com as aves de postura, especialmente na fase de crescimento, não indica falta de crescimento genético e de potencial de produção, haja vista que o que se verifica é que com os mesmos níveis nutricionais nessas fases, as aves continuaram com desempenho elevado e até aumentaram a capacidade de produção de massa de ovos, e para isso, foi mais exigência em aminoácidos amplamente relacionados com essa variável. TRABALHOS DE PESQUISA As pesquisas vêm crescendo e há um volume constante de informações relacionadas aos requerimentos nutricionais de aminoácidos para frangos de corte e poedeiras, atualizando exigências com base no avanço já comentado da genética e atualizando tecnologias de formulação de rações, de instalações, entre outras, de modo a ter dados em que é possível estimar, com base em modelagem matemática, os níveis nutricionais dessas aves em aminoácidos (Sakomura et al. 2015) e além disso, calcular a ingestão do aminoácido e o seu padrão de resposta em avaliação e estima-lo com base no custo local de cada granja (Silva et al. 2015) . PUBLICAÇÕES FRANGOS DE CORTE Taverneri et al. (2014), avaliando a relação de metionina + cistina: lisina digestível para frangos de corte Cobb 500 machos e fêmeas, nas fases de 11 a 21 e de 22 a 35 dias de idade, com rações atendendo as exigências recomendadas pelo manual da linhagem Cobb Guía de Manejo de Pollo de engorde (Cobb, 2005), exceto em Met+Cis e com o uso de 97% do nível de lisina, afim de evitar o excesso desse aminoácido, concluíram que, para máximo desempenho de frangos de corte, machos e fêmeas, respectivamente, são de 75,53 e 78,23%, na fase de 11 a 21 dias, e 78,83 e 79,82%, na fase de 22 a 35 dias. Domingues (2015) avaliando níveis de lisina e de metionina+cistina digestíveis sobre o desempenho, rendimento de carcaça e suas partes, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Fernando Guilherme Perazzo COSTA 1,4, Matheus Ramalho de LIMA 2,4, Sarah Gomes PINHEIRO 3,4 biometria do filé de peito, morfometria das fibras musculares e qualidade do músculo Pectoralis major de frangos de corte de 1 a 21 dias de idade Cobb 500, usando 2 níveis de lisina digestível (1,253 e 1,378%) x 5 níveis de metionina+cistina digestíveis (0,812; 0,857; 0,902; 0,947; 0,992%), de modo que, após a avaliação, concluiu que, a utilização de níveis de lisina e metionina+cistina digestíveis na dieta influenciaram a qualidade da carne e a morfometria de fibras musculares do músculo Pectoralis major, de modo que para os parâmetros de desempenho e rendimento de carcaça, os menores níveis de lisina (1,253%) e metionina+cistina (0,812%) digestíveis atenderam as exigências das aves de 1 a 21 dias de idade. Na fase de 22 a 42 dias de idade dos frangos de corte, sendo os tratamentos com 2 níveis de lisina digestível (1,100 e 1,210%) x 5 níveis de metionina+cistina digestíveis (0,724; 0,764; 0,804; 0,844; 0,884%), concluiu a autora, informando que os diferentes níveis de lisina e metionina+cistina influenciam os parâmetros de morfometria das fibras do músculo Pectoralis major. Três estudos conduzidos por Faridi et al. (2015), avaliando os efeitos de aminoácidos sulfurosos totais (TSAA) sobre o desempenho nas fases de 1 a 14, 15 a 28 e de 29 a 42 dias de idade de frangos de corte, com as rações obtidas pela técnica da diluição, em incrementos de 2,5 a 9,04 g/kg, 2,26 a 8,14 g/kg e 2,08 e 7,5 g/kg, respectivamente nas fases citadas, os autores concluíram que os valores ótimos para melhor conversão alimentar dos frangos nas fases avaliados foi, 283, 585 e 1150 mg/ ave/dia, respectivamente. Em estudo realizado na UFPB pelo Grupo de Estudos em Tecnologias Avícolas, Perazzo Costa et al. (IPSF 2015) avaliaram a suplementação da L-Thr, a variação na relação Thr:Lys e o uso da L-Val em rações para frangos de corte machos de 1 a 42 dias de idade. Na fase total, os frangos que não tinham na ração a L-Thr apresentaram piores resultados de desempenho. Considerando a variação na relação Thr:Lys de 65 para 70 percebeu-se que ocorreu uma melhoria significativa no consumo, e quando se utilizou a L-Val na ração com Thr:Lys de 70 proporcionou uma melhora significativa no ganho de peso (3277,39b vs 3315,43a), muito embora, na conversão alimentar essa melhora tenha sido apenas numérica (1,65ab vs 1,63b). Os autores concluíram que as rações atuais para frangos Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 de corte não podem ser formuladas sem o uso de L-Thr, e que a relação Thr:Lys em 70 gera melhores resultados que a relação em 65, com isso, verifica-se que o uso de L-Val eleva o ganho de desempenho de frangos alimentados com ração com L-Thr com uma relação Thr:Lys em 70%. Souza (2015) em sua Tese de Doutorado no CCA/UFPB avaliou a redução da proteína bruta com ou sem suplementação, além do quarto limitante e a adição de óleo de soja nas dietas de frangos de corte de 01 a 46 dias de idade. Os resultados do estudo mostraram que a proteína bruta não é fator preponderante na formulação de rações para atendimento de aminoácidos, especialmente após o segundo limitante e com mais evidência, acima do terceiro e com efeitos amplamente observados em desempenho, acima do quarto limitante. Ademais, a suplementação de L-Val possibilitou melhores resultados aos frangos de corte, garantindo ao produtor a possibilidade de fornecimento de rações com perfil em aminoácidos de melhor qualidade e ainda, com possibilidade de redução dos níveis desses aminoácidos, mas mantendo a relação aminoácidos: lisina em relação ao recomendado por Rostagno et al. (2011), como pode ser observado no tratamento com tais características. Duarte et al. (2015) em um estudo com frangos de corte Cobb 500, de 22 a 42 dias idade, avaliando a exigência de isoleucina digestível aplicando modelos de regressão quadrática, exponencial e Linear Response Plateu, usando 6 níveis de isoleucina digestível (0,6118; 0,6655; 0,7192; 0,7729; 0,8265 e 0,8802%), considerando dados de desempenho e características de carcaça. Os autores concluiram que, para ótimo desempenho nessa fase, as aves necessitam de um nível de 0,7729% de isoleucina digestível, correspondendo a uma relação Ile:Lys em 72. Nikoofard et al. (2015) avaliaram a interação de níveis de aminoácidos (100, 110 e 120% das recomendações do NRC (1994)) com o balanço eletrolítico (150, 250 e 300 mEq/kg), em um esquema fatorial em 3 x 3 em frangos de corte Cobb 308. Os autores concluíram que o uso 150 mEq/kg reduz a ralação heterófilos:linfócitos, no entanto eleva a relação albumina:globulina, indicando bons índices de saúde intestinal, de modo que o recomendado para tais aves, de acordo com os autores, é um balanço eletrolítico de 150 mEq/ 41 Fernando Guilherme Perazzo COSTA 1,4, Matheus Ramalho de LIMA 2,4, Sarah Gomes PINHEIRO 3,4 kg de ração independente do nível de aminoácidos dissertação, concluiu que o nível que atende da avaliados no estudo. melhor forma tais aves nessa idade é 0,495% de treonina digestível e relação tre:lis de 76,5 para PUBLICAÇÕES POEDEIRAS um consumo de 562mg/ave/dia, enquanto que para triptofano o melhor nível foi 0,153% e uma relação Vários trabalhos com aminoácidos foram trp:lis de 24 e consumo de 171 mg/ave/dia. realizados pelo Grupo de Estudos em Tecnologias Avícolas(GETA/UFPB) e mostram uma ampla va- CONSIDERAÇÕES FINAIS riação nas recomendações nutricionais. Em outro estudo do GETA, na fase de 13 a 18 semanas, San- O avanço genético nos coloca em uma sitana (2014) recomendou um nível ótimo de 0,730% tuação em que os níveis nutricionais já são, conde Met+Cis na fase de 13 a 18 e de 0,475% desse comitantemente, fora de uso totalmente eficiente aminoácido para aves leves e na fase de postura. na genética atual, em virtude do rápido processo A lisina digestível, aminoácido base no conceito de de seleção e melhoramento genético. Aliado a isso, proteína ideal, avaliando em associação com a ar- para que se tenha uma idéia, alguns trabalhos foginina digestível, Carvalho et al. (2015) recomen- ram desenvolvidos e os dados confirmam que as daram um nível de 700 mg/ave/dia de lisina e o aves estão mais exigentes a cada dia que se passa, mesmo valor para a arginina digestível, o que cor- de modo que as formulações precisam ser sempre responde a uma relação Arg:Lys de 100. Enquanto atualizadas. isso, Silva et al (2015) recomendam, 699, 658 e Atualmente, a quantidade de ferramentas 657 mg/ave/dia para poedeiras com 37 a 40 sema- disponíveis aos pesquisadores possibilitam melhonas, 41 a 44 e de 45 a 48 semanas, respectivamente. rias nas formulações, tornando-as mais eficientes e Cardoso et al. (2014a) avaliaram cinco níveis de com perfis de aminoácidos mais equilibrados. treonina digestível para poderias leves com 60 a 76 Nesse sentido, os aminoácidos são nutriensemanas de idade. O nível foi lisina digestível das tes de suma importância na nutrição de aves de cordietas foi mantido constante em todos os tratamen- te e postura. Contudo, os níveis e a relação entre tos (Lys= 0,759%), enquanto que a Thr variou de eles deve ser obedecida para cada especificidade de 0,523% a 0,615%, gerando as relações Thr /Lys de produção. 69 a 81%. Efeito quadrático foi observado na produção de ovos (0,574%), massa de ovos (0,569%), REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS conversão alimentar por dúzia (0,556%) e massa de ovos (0,570%). Os autores concluíram que o CARVALHO, F.B.; STRINGHINI, J.H.; MATOS, nível de 0,570% de treonina digestível atende o M.S. et al. Egg quality of hens fed different digesmelhor desempenho dessas aves, equivalente a um tible lysine and arginine levels. Revista Brasileira consumo diário de 622 mg/ave. Ciência Avícola [online], v.17, n.1, p. 63-68. http:// Cardoso et al. (2014b), avaliando relações dx.doi.org/10.1590/1516-635x170163-68. 2015. Trp dig/Lis dig (22 a 26%) em dietas de poedeiras leves com 60 a 76 semanas de idade, verificaram COSTA, F.G.P.; PESSOA, G.; NOGUEIRA, E. efeito quadrático sobre os parâmetros produção de T.; ISHIKAWA, E.; RAMALHO LIMA, M. Use ovos (25,44%), massa de ovos (25,36%), conver- of L-Thr and L-Val in diet for male broilers. In: são por dúzia de ovos (25,08%) e conversão por International Poultry Scientific Forum, 2015, massa de ovos (25,07%). Os autores concluíram Atlanta, Georgia, USA. Abstract Book. Atlanta, que uma dieta com 0,192% de triptofano digestível Georgia, USA: Southern Poultry Science Society, é o ideal para o ótimo desempenho das aves, o que CD-ROM. 2015. corresponde a uma relação Trp:Lys de 25,33% ou um consumo diário de 212 mg/ave. DUARTE, K.F.; JUNQUEIRA, O.M.; FILARDI, Santos (2014) (GETA, dados não publi- R.S. et al. Digestible isoleucine requirements for cados), trabalhando com poedeiras semipesadas 22 and 42 day old broilers. Acta Scientiarum. Anide 79 a 95 semanas de idade, em um trabalho de mal Sciences. Maringá- PR, v. 37, n. 1, p. 23-28, 42 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Fernando Guilherme Perazzo COSTA 1,4, Matheus Ramalho de LIMA 2,4, Sarah Gomes PINHEIRO 3,4 Jan.-Mar., 2015. na para galinhas poedeiras leves nas fases de recria e postura. 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Comparativo entre as recomendações nutricionais de 2005 e 2011 das Tabelas Brasileiras de Exigências Nutricionais para Aves e Suínos, páginas 90 e 119, respectivamente Item Peso Médio, kg Ganho, g/dia Consumo, g/dia Exig. Lys, g/dia EM, kcal/kg PB, % Lys, % M+Cys, % Trp, % Thr, % Arg, % Val, % Ile, % 44 1a7 0,124 0,104 19,6 21,1 23 24,8 0,306 0,325 2950 2950 22,04 22,2 1,33 1,31 0,944 0,944 0,213 0,223 0,865 0,852 1,397 1,415 0,998 1,009 0,865 0,878 8 a 21 0,463 0,503 45,8 53,9 65,8 75,7 0,754 0,889 3000 3000 20,79 20,8 1,146 1,174 0,814 0,846 0,183 0,2 0,745 0,763 1,203 1,268 0,86 0,904 0,745 0,787 22 a 33 1,33 1,43 77,6 89,3 134,5 153,6 1,443 1,656 3100 3100 19,41 19,5 1,073 1,078 0,773 0,787 0,182 0,194 0,697 0,701 1,127 1,164 0,826 0,841 0,719 0,733 34 a 42 2,198 2,431 87 99,7 178,4 201,3 1,814 2,03 3150 3150 18,03 18 1,017 1,01 0,732 0,737 0,173 0,182 0,661 0,656 1,068 1,091 0,783 0,788 0,681 0,687 43 a 46 2,675 3,069 85,7 91,4 196,1 209,6 1,902 1,961 3200 3200 17,24 17,3 0,97 0,936 0,698 0,683 0,165 0,168 0,631 0,608 1,019 1,011 0,747 0,73 0,65 0,636 Ano 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Fernando Guilherme Perazzo COSTA 1,4, Matheus Ramalho de LIMA 2,4, Sarah Gomes PINHEIRO 3,4 Tabela 2. Comparativo entre as recomendações nutricionais de 2005 e 2011 das Tabelas Brasileiras de Exigências Nutricionais para Aves e Suínos, páginas 107 e 135, respectivamente Item EM, kcal/kg PB, % Lys, % M+Cys, % Trp, % Thr, % Arg, % Val, % Ile, % Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 1a6 2900 2900 18 18 0,876 0,876 0,64 0,64 0,158 0,158 0,587 0,587 0,937 0,937 0,666 0,666 0,604 0,604 7 a 12 2900 2900 16 16 0,621 0,621 0,497 0,497 0,124 0,124 0,422 0,422 0,671 0,671 0,497 0,497 0,466 0,466 13 a 18 2900 2900 14 14 0,483 0,483 0,396 0,396 0,106 0,106 0,333 0,333 0,531 0,531 0,396 0,396 0,372 0,372 Postura Equação Equação 16,5 16,5 0,727 0,736 0,662 0,67 0,167 0,169 0,48 0,559 0,727 0,736 0,654 0,699 0,603 0,559 Ano 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 2005 2011 45 Hymerson Costa AZEVEDO1; Samuel Rezende PAIVA2 ; Concepta Margaret McMANUS3; Evandro Neves MUNIZ1; Amaury Apolonio de OLIVEIRA1; Tania Valeska Medeiros DANTAS1; Luis Fernando Batista PINTO4; Rebeca Santos da SILVA5 BIOTECNOLOGIAS DE SELEÇÃO, CONSERVAÇÃO E MULTIPLICAÇÃO DE RECURSOS GENÉTICOS DE OVINOS SANTA INÊS Hymerson Costa AZEVEDO1; Samuel Rezende PAIVA2; Concepta Margaret McMANUS3; Evandro Neves MUNIZ1; Amaury Apolonio de OLIVEIRA1; Tania Valeska Medeiros DANTAS1; Luis Fernando Batista PINTO4; Rebeca Santos da SILVA5 RESUMO Embrapa Tabuleiros Costeiros - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Aracaju/SE 2 Embrapa Sede – Secretaria de Relações Internacionais, Brasília - DF 3 Professora Titular de Universidade de Brasília, DF 4 Professor Adjunto IV da Universidade Federal da Bahia 1 A preservação da biodiversidade genética dos animais é fundamental para a segurança alimentar. O ovino Santa Inês (SI) é um importante patrimônio genético autóctone brasileiro que deve ser conservado através do uso de biotecnologias para seleção, conservação e multiplicação. As biotecnologias moleculares identificam genes de interesse que têm impacto sobre o desempenho reprodutivo, produtivo e sanitário, agregando valores a estes animais, enquanto que, as biotecnologias da reprodução, em especial a criopreservação do sêmen e inseminação artificial, são utilizadas para a multiplicação, conservação e disseminação deste germoplasma. As atividades relacionadas à conservação e agregação de valores ao ovino SI devem continuar sendo estimuladas sob pena de uma irrecuperável perda da sua originalidade e diversidade genética. PA L AV R A S - C H AV E inseminação artificial, marcadores genéticos, ovinos deslanados, sêmen congelado. ABSTRACT The preservation of animal genetic biodiversity is fundamental to food security. Santa Ines (SI) is an important native Brazilian hair sheep breed that should be preserved by biotechnologies of selection, conservation and multiplication. The molecular biotechnology identify genes of interest that have an impact on the reproductive, productive and health performance, adding value to these animals, while reproduction biotechnologies, especially semen cryopreservation and artificial insemination, are used for multiplication, conservation and dissemination of this germplasm. Activities related to the conservation and adding value to SI should continue to be stimulated otherwise an irretrievable loss of its originality and genetic diversity can happen. KEYWORDS 46 artificial insemination, molecular markers, hair sheep, frozen semen. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Hymerson Costa AZEVEDO1; Samuel Rezende PAIVA2 ; Concepta Margaret McMANUS3; Evandro Neves MUNIZ1; Amaury Apolonio de OLIVEIRA1; Tania Valeska Medeiros DANTAS1; Luis Fernando Batista PINTO4; Rebeca Santos da SILVA5 INTRODUÇÃO A causa da preservação da biodiversidade da fauna é bem conhecida, mas poucos a associam aos animais chamados de criação representados pelas espécies domesticadas de produção. A manutenção da diversidade genética dos animais de produção é fundamental para a segurança alimentar das populações humanas e, especialmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, que concentram as maiores coleções biológicas do mundo, é de suma importância que sejam adotadas ações concretas de conservação destes recursos a fim de diminuir a dependência de material genético exótico. O Brasil é dependente de germoplasma de animais domésticos de outras regiões, uma vez que, a grande maioria destas espécies não existia na fauna brasileira e tem origem em outros países (LOPES e MELO, 2004) trazidas por colonizadores logo após o descobrimento. Esses animais foram naturalmente ou artificialmente selecionadas, fazendo com que hoje, apresentem características adaptadas a condições ambientais específicas, sendo conhecidas como crioulas, locais ou naturalizadas (MARIANTE e EGITO, 2002). Os ovinos estavam entre as espécies trazidas para o Brasil pelos colonizadores e, assim como acontece em todos os continentes, eles são encontrados naturalmente ou são criados em diferentes coordenadas geográficas tendo se adaptado a inúmeros tipos de clima, vegetação, relevo, cultura, sistema de manejo e demandas de mercado. Essa presença difusa levou a uma variabilidade genética da espécie representada pelos seus diversos tipos raciais que, por sua vez, permitem a escolha do genótipo mais adequado a cada região e situação. MANEJO DE CONSERVAÇÃO DE RECURSOS GENÉTICOS Existem duas formas básicas de manejo para preservação de recursos genéticos animais, a conservação in situ com a manutenção de indivíduos vivos em rebanhos ou coleções biológicas e, a conservação ex situ com a manutenção de células haploides e diploides cripopreservadas. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 A preservação de populações de animais vivos tem um elevado valor estético e cultural além de ser muito importante para estudos de caracterização e agregação de valores aos recursos genéticos, porém, além de problemas como a deriva genética provocada pelo tamanho reduzido dos rebanhos e riscos de epidemias, catástrofes e interesses políticos e econômicos, tem elevado custo de manutenção. Uma alternativa mais segura de preservação dos recursos genéticos animais, que diminui a influência de fatores externos e que é menos onerosa é a conservação ex situ que utiliza como importante ferramenta as biotecnologias para formação de verdadeiros bancos de genes previamente selecionados. BIOTECNOLOGIAS APLICADAS À SELEÇÃO E MANEJO DE RECURSOS GENÉTICOS DE OVINOS A caracterização genética associada à fenotipagem de animais nativos conservados tem subsidiado o desenvolvimento da biotecnologia por meio da disponibilização de genes e suas variáveis e de informações dos seus mecanismos de ação e funções. Esse significativo avanço permite, por exemplo, a inserção de genes de raças nativas naquelas exóticas, modificando para melhor o seu desempenho em ambientes hostis (MARIANTE e EGITO, 2002) ou o inverso, introduzindo características genéticas mais produtivas de animais especializados em raças autóctones. Além disso, indivíduos portadores de genes e seus polimorfismos de interesse também podem ser identificados e segregados dentro de uma própria raça. Nos dias de hoje, esse intercâmbio de genes e características têm sido uma das principais ferramentas para o melhoramento clássico e para a engenharia genética. Com a possibilidade de emprego de técnicas de genética molecular e a identificação de genes cuja função biológica está associada a características de interesse econômico na pecuária, a seleção de indivíduos melhorados para acasalamento e multiplicação tem repercutido nos índices de produtividade e produção. Um exemplo disso são os polimorfismos de genes relacionados ao desempenho reprodutivo como aqueles que afetam a 47 Hymerson Costa AZEVEDO1; Samuel Rezende PAIVA2 ; Concepta Margaret McMANUS3; Evandro Neves MUNIZ1; Amaury Apolonio de OLIVEIRA1; Tania Valeska Medeiros DANTAS1; Luis Fernando Batista PINTO4; Rebeca Santos da SILVA5 taxa de ovulação e consequentemente a prolificidade, como é o caso do alelo FecGE do gene GDF9 identificado primeiramente em ovinos Santa Inês e que, quando segregado, pode aumentar em 58% a produção de crias podendo ter um grande impacto na produção de carne (SILVA et al., 2011; AZEVEDO et al., 2014). Alguns outros trabalhos em andamento têm focado genes relacionados a outros aspectos da reprodução como a ciclicidade e a puberdade e precocidade sexual de ovinos Santa Inês. Um exemplo é o gene KISS1 que codifica a kisspeptina, um neuropeptídio crucial na regulação da secreção hipotalâmica do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). Ovelhas em anestro têm baixos níveis de kisspeptina que pode ser administrada com objetivo de se reestabelecer a ciclicidade destas fêmeas (CLARKE et al., 2009). Outras iniciativas têm focado na identificação de marcadores moleculares para resistência a determinadas doenças como trabalhos já realizados com a Scrapie (IANELLA et al., 2009) e outros ainda em curso com a mastite em ovinos Santa Inês. A mastite é uma das maiores causas de descarte de ovelhas Santa Inês, haja vista que a raça é bastante vulnerável à doença por possuir boa aptidão leiteira provavelmente herdada da raça Bergamácia que participou da sua formação (PAIVA et al., 2005). Para se tornarem mais atraentes que as raças exóticas que foram melhoradas geneticamente visando atender às demandas de mercado, além das suas características naturais de adaptabilidade e rusticidade, animais da raça Santa Inês, necessitam ser submetidos a rigoroso processo de seleção a fim de atingirem maiores taxas de crescimento e carcaças de melhor qualidade e maior rendimento, características difíceis de melhorar utilizando métodos clássicos de seleção. Genes que têm relação com o desenvolvimento ponderal têm sido investigados em ovinos Santa Inês a exemplo daquele do fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF1) (GALVÃO et al., 2015) e do hormônio do crescimento (GH) (JESUS et al., 2015) que atuam principalmente no desenvolvimento esquelético e muscular dos animais, agindo também na regulação do tecido adiposo (HAJIHOSSEINLO e NEGAHDARY, 2013). Além disso, genes candidatos relacionados às características de carcaça como aqueles perten48 centes à família MyOD (MyoD1, MyF5, MyF6), que atuam nos processos metabólicos de crescimento ou desenvolvimento do tecido muscular ou miogênese (WEINTRAUB, 1993), da µ-Calpaína (CAPN1), que está envolvido na proteólise do tecido muscular e consequentemente relacionado à maciez da carne (KOOHMARAIE, 1996) e, da Leptina, relacionado ao metabolismo do tecido adiposo, regulando o consumo de ração, a composição e peso corporal (CAUVERI et al., 2014; BOUCHER et al., 2014) e determinando a espessura de gordura de cobertura e de marmoreio na carcaça, têm sido alvo de estudos de associações em ovinos Santa Inês (ARAÚJO et al., 2015; PINHEIRO et al., 2015; SANTOS et al., 2015; SOUZA et al., 2015a e b). Depois dos animais serem selecionados de acordo com sua diversidade e aptidões genéticas de interesse, seu germoplasma precisa ser conservado. Dentre as biotecnologias mais utilizadas no manejo de recursos genéticos animais em todo o mundo para sua multiplicação, conservação e disseminação, destacam-se aquelas relacionadas à reprodução. Existem várias biotecnologias disponíveis e com grande potencial de uso para a conservação das espécies como, a produção de folículos pré-antrais, a colheita e criopreservação de ovócitos, a produção in vivo e in vitro de embriões e a clonagem que, têm ajudado desde multiplicar até resgatar animais que já estavam extintos (FOLCHA et al, 2009). Entretanto, as tecnologias relacionadas ao sêmen, representadas principalmente pela congelação e inseminação artificial, têm sido as mais utilizadas em ovinos Santa Inês. A criopreservação do sêmen é a principal técnica de eleição para conservação ex situ de germoplasma e a inseminação artificial a mais usada para o resgate e multiplicação de espécies ameaçadas. A criopreservação é de baixo custo e permite a transferência de recursos genéticos em diferentes momentos e para diversos locais de forma segura. Recentemente têm se popularizado o uso de sistemas automatizados de congelação de sêmen por trazerem grandes vantagens quanto à facilidade, objetividade, portabilidade e a uniformidade dos processamentos de criopreservação. Apesar disso, os procedimentos tradicionais de congelação de sêmen que utilizam refrigeradores, o vapor ou o Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Hymerson Costa AZEVEDO1; Samuel Rezende PAIVA2 ; Concepta Margaret McMANUS3; Evandro Neves MUNIZ1; Amaury Apolonio de OLIVEIRA1; Tania Valeska Medeiros DANTAS1; Luis Fernando Batista PINTO4; Rebeca Santos da SILVA5 próprio nitrogênio líquido em criotanques ou caixas de poliestireno expandido, desde que se preocupem em controlar melhor as curvas de queda de temperatura, são ainda a opção mais utilizada, viável e que apresenta resultados tão satisfatórios quanto os métodos mais tecnificados (RODELLO, 2006). Inúmeros protocolos são utilizados para criopreservação do sêmen ovino em várias partes do mundo e geram uma gama de diferentes resultados cuja fonte de variação vai desde aquelas de natureza natural até aquelas de ordem técnica. É imprescindível considerar-se alguns fatores naturais como é o caso da influência individual, do ejaculado, da época do ano, da idade e do estado nutricional do animal. Não existe uma fórmula única para a criopreservação do sêmen, o que se têm são conceitos gerais que devem ser considerados cabendo a cada um escolher aquele método ou material que melhor se adeque a sua realidade. Independentemente do protocolo utilizado, quando o sêmen é submetido ao processo de congelação, observa-se uma redução da qualidade espermática. A congelação causa danos estruturais e perdas funcionais aos espermatozoides de ovinos (VALCÁRCEL et al., 1997; HE et al., 2001) que limitam sua habilidade em atravessar as pregas e barreiras do sistema genital ou de aderir ao epitélio do útero, tornando-os mais vulneráveis à expulsão através da drenagem (HAWK, 1983) e, encurtam seu tempo de sobrevivência (SALAMON e MAXWELL, 2000). Assim, são poucos espermatozoides viáveis ou sem danos que chegam ao sítio de fertilização o que faz reduzir a fertilidade (EVANS e MAXWELL, 1990). Este fato é mais preocupante quando os espermatozoides são depositados distantes do sítio de fertilização (MAXWELL e JOHNSON, 1999). O sêmen congelado apresenta menor fertilidade quando depositado na cérvix ao invés do útero (TAQUEDA et al., 2011). Por essa razão recomenda-se a laparoscopia como método de escolha para o sêmen congelado de carneiro visto que viabiliza sua deposição diretamente no útero, propiciando melhores índices de prenhez. Entretanto a IA por laparoscopia exige equipamentos e pessoal especializado restringindo o seu uso a plantéis especializados com elevado valor agregado. Desta maneira, a todo o momento novos métodos e materiais Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 são testados a fim de viabilizar a via cervical para a deposição do sêmen de ovinos. No entanto, a cérvix da ovelha é de difícil transposição sendo pouco viável como opção de via para se alcançar o útero em muitas raças como a Santa Inês. A tração cervical, o uso de aplicadores especiais e de dilatadores cervicais têm sido utilizados para aumentar o sucesso na transposição da cérvix da ovelha, mas com resultados muito variáveis que dependem de fatores como, raça, idade, ordem de parto, habilidade do inseminador, tipo de sêmen dentre outros (TAQUEDA et al., 2011) além de serem métodos questionáveis pelos traumas que provoca, e demandarem maior capacitação em comparação, por exemplo, à inseminação cervical. CONSIDERAÇÕES FINAIS As instituições brasileiras têm se mobilizado para preservar a diversidade biológica e conservar seus recursos genéticos animais e muitas pesquisas estão sendo conduzidas para caracterizar geneticamente e fenotipicamente os ovinos Santa Inês. Apesar disso a falta de recursos, de incentivo e conscientização ainda é grande. O ovino Santa Inês, apesar das iniciativas promissoras tomadas até o momento, ainda carece de mais ações de caracterização, agregação de valores e de melhoramento, especialmente utilizando-se as ferramentas moleculares e reprodutivas para sua aceleração. Devemos continuar desenvolvendo atividades relacionadas à conservação deste patrimônio nacional sob pena de uma irrecuperável perda da sua originalidade e diversidade genética com consequentes prejuízos tecnológicos, econômicos, sociais e culturais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, M.G.O.; MACHADO, A. L.; MEIRA, A.N. et al. Polimorfismos no gene da calpaína (CAPN1) em ovinos Santa Inês. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 25, Fortaleza, 2015, Anais... Fortaleza: ABZ, 2015. p. 1-3. AZEVEDO, H.C.; MUNIZ, E.N.; PAIVA, S. R. et al. Prolificidade de ovelhas Santa Inês do genótipo FecGE. 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Validação de sistema automatiza50 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Hymerson Costa AZEVEDO1; Samuel Rezende PAIVA2 ; Concepta Margaret McMANUS3; Evandro Neves MUNIZ1; Amaury Apolonio de OLIVEIRA1; Tania Valeska Medeiros DANTAS1; Luis Fernando Batista PINTO4; Rebeca Santos da SILVA5 do de refrigeração e congelação de sêmen ovino. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Medicina Veterinária, 2006. 70p. SOUZA, T.C.; MELO-FILHO, G.M.; SOUZA, T.C. et al. Polimorfismos no gene MyoD1 em ovinos Santa Inês. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 25, Fortaleza, 2015, Anais... Fortaleza: ABZ, 2015. p. 1-3. SALAMON, S.; MAXWELL, W.M.C. Storage of ram semen. Animal Reproduction Science, v.62, TAQUEDA, G.S.; AZEVEDO, H. C.; SANTOS, p.77-111, 2000. E. M. et al. 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O texto traz uma súmula da legislação ambiental, na preservação e utilização do recurso hídrico. Torna-se necessário uma abordagem do saneamento ambiental nos cursos de veterinária e zootecnia visando mitigar efeitos do sistema de produção no meio ambiente com conteúdos voltados para o que demanda a legislação sobre águas residuárias, resíduos sólidos e licenciamento de atividades. Outros profissionais atuam sem um envolvimento no saber da ciência de produção e industrialização de produtos de origem animal. Ressalta-se que o uso da PH implantada na planilha de custo de produção para obtenção de vantagens competitivas no mercado mundial de produtos e serviços da cadeia animal pode ser uma ferramenta valiosa. ABSTRACT This paper aims to describe to veterinarians and zootechnists the importance of knowledge of environmental legislation (EL) regarding the animal sciences and water crisis. The EL indicates the farming industry and animal production as potential pollutant and of high environmental impact. Initiatives are required to minimize the impact of an activity which consumes 70% of fresh water of the planet. The manuscript compiles the environmental legislation regarding the use and preservation of water resources. The environmental sanitation regarding animal production and its legislation are discussed with perspective of veterinary and zootechnists activity for mitigating the impacts of sewage water, solid residues and licensing. In spite of this, other professionals might be overlooking such issue. The water usage, cleaning and adequate disposal of residues should be included in the cost sheet. 52 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Israel José da SILVA1; Luciano Rodrigues dos SANTOS2 INTRODUÇÃO A produção de animais no decorrer da evolução humana teve aspectos interessantes e paradoxais. A demanda por proteína animal e as grandes concentrações urbanas nos tornaram reféns de se produzir mais em menor tempo, com melhor qualidade, menor espaço e rentabilidade. Estas inovações resultaram em sérias complicações na produção de resíduos e contaminação ambiental. A ciência da produção animal sempre focou a qualidade de produção, mas o resíduo nunca foi o objeto de maiores atenções. Hoje, as mudanças climáticas e a escassez hídrica colocam em cheque a questão dos resíduos de produção animal, o que força a área técnica a trabalhar e inovar na questão do lançamento indevido de efluentes, que a agropecuária produz em grande quantidade. Os livros de Thomas Friedman (2005) “O Mundo é Plano” e “O Ócio Criativo”, de Domenico de Massi (2000), fazem abordagens na direção dos desafios de sistemas de produção e relatam que um novo olhar deve ser inserido nas diversas formas de se produzir com quebra de paradigmas. Como exemplos esses autores falam das inovações relativas à forma de voar da hélice para a propulsão à jato; a medição do tempo da ampulheta ao relógio de quartzo; os sistemas de alocação de estoques que evoluiu da distribuição para o almoxarifado ao sistema Just in Time. A utilização racional da água como ferramenta de produção, a atenção à legislação, os padrões de lançamento, o reúso e finalmente, a PH, são formas mais abrangentes de se mensurar o consumo de água na produção da agropecuária e agroindústria. QUALIDADE EM PRODUÇÃO Dentre as várias formas de se agregar valor ao produto, temos a sua constituição, origem e certificação. Outras estratégias seriam hora trabalhada por unidade de produto, matéria prima, produção sustentável e PH. A economia ou racionalização do uso da água podem ser gerenciadas em cada processo, resultando em redução da PH sem prejuízo Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 da qualidade. A raspagem dos dejetos e compostagem e sistema de cama sobreposta são formas de redução do consumo de águas na produção de alguns animais além de favorecer o processo de incorporação do material carbonáceo nos dejetos, promovendo bem estar ao animal com baixo custo de implantação e não geração de efluentes. A captação de água pode ser feita com estruturas e dispositivos com a finalidade de racionalizar seu uso, como o uso da água de chuva; galeria filtrante; poço escavado e tubular profundo e por tomada direta em rios, lagos e açudes. O uso de bebedouros tipo chupeta em granjas de suínos pode economizar até 25% do consumo diário de água das matrizes e o reuso de água em sistemas confinados usados após o “flushing” e lavagens de instalações, também seriam medidas favoráveis à racionalização do uso da água. Quando analisamos o esgoto urbano, o padrão de carga orgânica é pouco variável, sendo este usado como referência para o tratamento de efluentes de atividades agropecuárias, guardadas as devidas proporções de cargas. Entretanto, em sistemas de produção animal há uma grande amplitude na vazão e geração de efluentes devido às variações da qualidade da mão de obra, layout das instalações e tipo de ração em cada sistema e/ou fase de criação. Logo, como não existe um padrão de consumo de água na higienização das instalações de animais, o dimensionamento do sistema de tratamento deverá ter a participação de profissionais da área, como o médico veterinário e zootecnista, de forma a dimensionar as unidades de tratamento sem o comprometimento da qualidade de produção. AÇÕES PARA O USO RACIONAL DA ÁGUA As ações para o uso racional da água podem ser feitas com uso de hidrômetros, medidores de vazão (Calha Parshall), bebedouros mais eficientes e água pressurizada. Pouco se fala na quantidade de água consumida por setor de produção, sendo rara a mensuração deste consumo. Em projetos agropecuários, raramente são instalados medidores de vazão, importantes no dimensionamento dos 53 Israel José da SILVA1; Luciano Rodrigues dos SANTOS2 sistemas biológicos de tratamento. A redução da quantidade de água por unidade de produto acabado influencia de forma direta o custo de produção. Atualmente o custo do m3 de água pode variar de R$1,70 até R$3,40 em Belo Horizonte, MG. O tratamento de efluentes consiste em evitar a sobrecarga de matéria orgânica em rios e córregos com consequente redução do risco de transmissão de doenças, agregando valor à produção animal, melhorando a condição do solo e reduzindo gases do efeito estufa. Assim, torna-se necessário conhecer o perfil dos efluentes, para que possamos usá-lo de forma mais racional e produtiva. A formação técnica atual nas áreas de medicina veterinária e zootecnia dão pouca ênfase à questão ambiental, deixando estes cursos órfãos, delegando competências a áreas que não “conversam” limitando as possíveis inovações para solucionar o problema. Poucos dados na literatura são referentes à composição e tratamento de dejetos em escala real, o que torna empírico as ações para reduzir os efeitos da poluição, distanciando estes profissionais das estratégias de mitigação previstas pela legislação. Logo, a capacitação é de fundamental importância para avançarmos nesta ciência. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL No Brasil as leis ambientais instituídas para disciplinar o uso dos recursos naturais (água, solo, ar, florestas), constam na Constituição Federal, no Código Florestal Brasileiro, na Lei de Crimes Ambientais, na Política Nacional do Meio Ambiente, na Política Nacional dos Recursos Hídricos, além das resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA/1974). Para o empreendedor atender às regulamentações requeridas pelo poder público, referente ao Licenciamento ambiental, Autorização Ambiental de Funcionamento, Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos, Cadastro de Uso Insignificante, Supressão de Vegetação Nativa e Intervenção em Área de Preservação Permanente, deverão proceder a regularização ambiental. A REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL (R.A) é o ato pelo qual o empreendedor atende às 54 precauções requeridas pelo poder público referente ao Licenciamento ambiental, Autorização Ambiental de Funcionamento, Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos, Cadastro de Uso Insignificante, Supressão de Vegetação Nativa e Intervenção em Área de Preservação Permanente. Em Minas Gerais, a R.A é expedida e supervisionada pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), por meio das Câmaras Especializadas, Unidades Regionais Colegiadas, Superintendências Regionais de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Fundação Estadual do Meio Ambiente, Instituto Mineiro de Gestão das Águas e do Instituto Estadual de Florestas, (Art. 1° do Decreto Estadual n° 44.844/08-SEMAD, 2008). Entende-se por RESERVA LEGAL (RL) a área localizada na propriedade ou posse rural, excetuada a área de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas. Segundo o Código Florestal, a RL de propriedades no Bioma Cerrado deverá ocupar, no mínimo, 20% de sua área. Nas propriedades rurais situadas em áreas de Cerrado da Amazônia Legal, a RL deve ser no mínimo, 35% da área da propriedade, podendo 20%, no mínimo, estar situada dentro da propriedade e 15% na forma de compensação em outra área, localizada na mesma micro bacia. Em propriedades rurais situadas na Amazônia Legal, a RL deve ser de 80% da área dessas propriedades. Caso essa propriedade seja situada em área de floresta e de Cerrado de forma simultânea, o percentual de RL será definido considerando cada situação separadamente. Respeitadas as peculiaridades locais e o uso econômico da propriedade, a RL será demarcada em continuidade a outras áreas protegidas, evitando-se a fragmentação dos remanescentes da vegetação nativa e mantendo-se os corredores necessários ao abrigo e ao deslocamento da fauna silvestre. A RL em condomínios devem ser, preferencialmente, na micro bacia hidrográfica em que se localiza a propriedade. A localização da RL deve ser aprovada pelo órgão ambiental estadual competente, devendo ser registrada e averbada em cartório. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Israel José da SILVA1; Luciano Rodrigues dos SANTOS2 Após registro, o produtor deverá providenciar o to. preenchimento do Ato Declaratório Ambiental, no As unidades de conservação de proteção IBAMA. integral são compostas pelas seguintes categorias: Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação EcoAs ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PER- lógica, Reserva Ecológica e Reserva Privada do MANENTE (APP) são áreas protegidas, cobertas Patrimônio Natural –(nos Estados de MG, MT, PR ou não por vegetação nativa, com a função de pre- E BA). As unidades de uso sustentável são comservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabili- postas pelas seguintes categorias: Reserva Extradade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de tivista, Área de Proteção Ambiental, Floresta Nafauna e flora, a proteção do solo e equilíbrio eco- cional e Área de Relevante Interesse Ecológico. lógico às áreas de cultivo assegurando o bem estar das populações humanas e animais. Consideram-se O LICENCIAMENTO AMBIENTAL APPs, as florestas e demais formas de vegetações (LA) é conceituado pela Resolução CONAMA naturais situadas ao longo dos rios ou de qualquer 237/97, como sendo o procedimento administraticurso d’água desde o seu nível mais alto em faixa vo pelo qual o órgão ambiental competente licencia marginal com largura mínima estabelecida de 30 a localização, instalação, ampliação e a operação a 500 metros de preservação para rios de 10 a 600 de atividades utilizadoras de recursos ambientais, metros de largura respectivamente. consideradas potencialmente poluidoras ou que possam causar degradação ambiental. Também são classificadas como APPs, áreas ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios O LA é composto pelas licenças: Prévia d’água naturais ou artificiais, nascentes, ainda que (LP), de Instalação (LI) e de Operação (LO). Cada intermitentes e os chamados “olhos d’água”, qual- uma refere-se a uma fase distinta do empreendiquer que seja a sua situação topográfica, num raio mento e segue uma sequência lógica. mínimo de 50 m (cinquenta metros) de largura. Topo de morros, montes, montanhas e serras; en- • LP: Concedida na fase preliminar do planejacostas ou partes destas, com declividade superior mento da atividade aprovando a localização, cona 45º, equivalente a 100% na linha de maior de- cepção, viabilidade ambiental e estabelecendo os clive; restingas, como fixadoras de dunas ou esta- requisitos e condicionantes a serem atendidos nas bilizadoras de mangues; bordas dos tabuleiros ou próximas fases de implementação; chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, • LI: Autoriza a instalação do empreendimento de em faixa nunca inferior a cem metros em projeções acordo com as especificações constantes dos plahorizontais e em altitude superior a 1.800 m (mil e nos, programas e projetos aprovados, incluindo as oitocentos metros). Para regularizar as APPs, deve medidas de controle ambiental e condicionantes, ser elaborado um laudo técnico por profissional da qual constituem motivo determinante; qualificado em georreferenciamento, plotando-se • LO: Autoriza a operação da atividade, após a veas APPs em mapa. rificação do cumprimento das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicioAs UNIDADES DE CONSERVAÇÃO nantes determinados para a operação. foram instituídas pela lei n° 9.985, de 18/07/2000, sendo consideradas como espaços territoriais e Na fase de planejamento, diz-se que está seus recursos ambientais, incluindo as águas juris- ocorrendo licenciamento preventivo. Caso esteja dicionais, com características naturais relevantes, em momento de instalação ou operação, considelegalmente instituídos pelo Poder Público, com ob- ra-se que o licenciamento como corretivo, podenjetivos de conservação e limites definidos. As Uni- do ter a licença de instalação corretiva (LIC) ou a dades de conservação são classificadas em Unida- licença de operação corretiva (LOC). des de conservação de proteção integral ou de uso indireto dos seus recursos naturais e Unidades de O procedimento de LA deve obedecer ao conservação de manejo sustentável, ou de uso dire- órgão ambiental integrante do SISNAMA, com os Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 55 Israel José da SILVA1; Luciano Rodrigues dos SANTOS2 documentos, projetos e estudos, necessários ao início do processo de licenciamento correspondente. Neste procedimento deverá constar, a declaração de conformidade da Prefeitura Municipal conforme a legislação aplicável. A LA não exime o empreendedor da obtenção de outras autorizações ambientais como a de recursos hídricos, que também necessitarão da outorga, conforme Lei 9.433/97, da Política Nacional de Recursos Hídricos. A DELIBERAÇÃO NORMATIVA (DN) COPAM n° 74/ 2004 é a norma legal que regulamenta o licenciamento ambiental em Minas Gerais estabelecendo critérios para a classificação dos empreendimentos com porte e potencial poluidor. De acordo com a DN 74/04 os empreendimentos são classificados em seis classes, que iniciam na classe Um de pequeno porte e pequeno potencial poluidor à classe Seis de grande porte e grande potencial poluidor. BOVINOCULTURA CLASSE/ LICENÇA DE LEITE PORTE DE 200 A 1000 CA1 (AAF)* BEÇAS DE 1000 A 2000 CA3 (RCA e BEÇAS PCA) MAIS DE 2000 CA5 (RCA e BEÇAS PCA) *necessário RT e compromisso do produtor Fonte: DN COPAM nº 130/2009 O licenciamento dos recursos hídricos está regulamentado na Constituição Federal (Lei nº 9.433, de 08/01/1997, que institui a Política de Recursos Hídricos) e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil. Para o licenciamento e uso das águas devem ser respeitados os critérios de uso da água, superficial ou subterrânea, definidas para cada bacia ou sub-bacia devendo ter um prazo definido e podendo ser suspensa em situações diversas de grave degradação ambiental, situações de calamidade e condições climáticas adversas. São passíveis de outorga do uso da água todas as aplicações que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um curso de água, excetuando-se os usos considerados insignificantes que são passíveis de cadastramento junto à autoridade outorgante. Os empreendimentos enquadrados nas classes Um e Dois são de impacto ambiental não significativo e dispensados do licenciamento ambiental. Entretanto, devem requerer a Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF), que é um processo rápido e simples para a regularização ambiental. Nas demais classes exigem-se as licenças prévia, de instalação e de operação. As atividades nas quais é obrigatória a regularização ambiental são classificadas como Atividades Minerárias, Industriais (Metalurgia, Química e Alimentícia), de Os Recursos hídricos que independem Infraestrutura; Serviços, Comércio Atacadista e de outorga em Minas Gerais (DN CERH-MG nº Atividades Agrossilvipastoris. 09/2004) são as captações e derivações de águas superficiais de 0,5 a 1 litro/segundo. Acumula Segundo a DN COPAM nº 130/2009, na ções de águas superficiais de 3000 até 5.000 m³ e Lista - G de Atividade Agrosilvipastoril (G-02-07- as captações subterrâneas, como poços manuais, 0), enquadram-se a bovinocultura de leite, bubali- surgências e cisternas, com volume menor ou igual nocultura de leite e caprinocultura de leite. Essas a 10 m3/dia. E as captações de águas subterrânesão classificadas quanto ao potencial poluidor/ de- as em poços tubulares, em área rural, menores ou gradador pequeno no ar, pequeno na água e mé- iguais a 14.000 litros/dia, por propriedade (DN no dio no solo, sendo consideradas como atividades 34/2010). de médio potencial poluidor. Quanto ao tamanho a classificação respeita o quadro abaixo: A Pegada Hídrica (PH) é um termo quantitativo que indica a apropriação dos recursos naturais pelo homem ou o estresse ambiental causado por ele. Esse conceito integra aqueles que foram desenvolvidos pelas ciências ambientais na última década como Pegada Ecológica e de Carbono. A 56 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Israel José da SILVA1; Luciano Rodrigues dos SANTOS2 pegada ecológica mede o uso do espaço bioprodutivo (em hectares). A pegada de carbono mede a quantidade de gás do efeito estufa (GEE) que é produzida em unidades de carbono equivalente (em toneladas) e a PH mede o uso da água (m³/ano). Os três indicadores são complementares e mensuram referenciais distintos. No caso da PH é importante especificar o espaço e o tempo, porque a disponibilidade de água varia muito, como por exemplo, em função da época do ano. Logo sua apropriação deve ser considerada no contexto local. processos produtivos, resultará em produtos mais competitivos em um cenário futuro de escassez hídrica. O uso da água nas cadeias produtivas ganhou interesse após o conceito de ‘PH’ introduzida por Hoekstra, em 2002 (Hoekstra,2003). É um indicador que considera não apenas o uso direto por um consumidor ou produtor, mas, seu uso indireto, podendo ser considerado um referencial abrangente da apropriação do recurso hídrico. Os componentes de uma PH total são especificados geográfica e temporalmente, sendo calculados da seguinte forma: 3. DN COPAM nº 130, 14/01/09. D.E. Minas Gerais 16/01/09. http://sisemanet.meioambiente.mg. gov.br/mbpo/recursos/DeliberaNormativa74.pdf BIBLIOGRAFIA 1.www.meioambiente.mg.gov.br Secretaria de Estado de Meio-Ambiente 2.http://waterfootprint.org/media/downloads/ManualDeAvaliacaoDaPegadaHidrica.pdf 4.SABMiller,2009.http://d2ouvy59p0dg6k.cloudfront.net/downloads/sab0425_waterfootprinting_ text_artwork.pdf PH = PH + PH + PH total azul verde cinza Onde: - PH total: soma das pegadas azul, verde e cinza e os vários passos relevantes do processo de sua elaboração. - PH azul: consumo de água azul (superficial e subterrânea) ao longo de sua cadeia produtiva. - PH verde: consumo de água verde para o desenvolvimento das culturas (considera-se que nem toda água verde é absorvida, havendo evaporação de água do solo. Além disso, nem todas as áreas e períodos do ano são adequados para as culturas). - PH cinza: definida como o volume de água doce necessário para assimilar ou diluir a carga de poluentes, de forma que eles se tornem inócuos. A ideia da PH é bem demonstrada na fabricação de uma garrafa de cerveja na África do Sul que é de 155L comparada com a da Tchecoslováquia que é de 45L por unidade (SABMiller, 2009). Logo, as variáveis como formação profissional, conhecimento da legislação e adequação da PH aos Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 57 Jenner Karlisson Pimenta dos REIS1 MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO E ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DA ANEMIA INFECCIOSA EQUINA Jenner Karlisson Pimenta dos Reis1 Laboratório de Retroviroses da Escola de Veterinária da UFMG 1 58 A anemia infecciosa eqüina (AIE) representa um grande problema mundial e afeta, exclusivamente os equídeos, sendo endêmica em certas regiões, particularmente aquelas onde existem grandes populações de insetos vetores. Embora a prevalência média da AIE no Brasil seja de aproximadamente 3%, em certas regiões como o Pantanal Matogrossense e Amazônia, estes índices podem alcançar taxas superiores a 24%. O controle da AIE tem sido feito predominantemente pela identificação de animais positivos pela sorologia tendo como principal teste a imunodifusão em gel de ágar (IDGA). Testes de ELISA (Enzyme linked immunosorbent assay) têm sido desenvolvidos e disponibilizados comercialmente e também podem contribuir para a identificação de animais soropositivos devido a alta sensibilidade. Porém existem situações em que há discordância entre o IDGA e o ELISA, neste caso testes mais sensíveis como o imunoblot e os testes moleculares poderiam esclarecer o verdadeiro status de infecção dos animais com resultados discordantes. Além da identificação de animais infectados com conseqüente eutanásia ou segregação dos positivos, o controle efetivo da AIE deve ser baseado em medidas de educação sanitária para minimizar a disseminação do vírus mediada pelo homem que constitui um eficiente vetor de transmissão. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 José Renaldi Feitosa BRITO1, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e BRITO2 QUALIDADE E SEGURANÇA DO LEITE E DERIVADOS Quality and safety of milk and dairy products José Renaldi Feitosa BRITO1, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e BRITO2 RESUMO Veterinário, PhD. Membro do NUVLAC (Núcleo de Valorização de Lácteos), UFJF, Juiz de Fora, MG; britorenaldi@gmail. com 2 Farmacêutica-Bioquímica, PhD. Pesquisadora, Embrapa Gado de Leite, Rua Eugênio do Nascimento, 610, 36038-330 - Juiz de Fora, MG; [email protected] 1 A qualidade do leite é definida com base na sua composição e higiene. A contagem de células somáticas (CCS) é o principal indicador de qualidade e o limite usado no mercado internacional é de 400.000 células por mililitro de leite. A CCS indica a situação de mastite nos rebanhos. O controle dessa doença é um dos maiores desafios para os produtores de leite. Alta CCS e alta contagem de bactérias no leite cru interferem com o rendimento de queijos e a qualidade, a vida de prateleira e as características sensoriais do leite e seus derivados. Patógenos alimentares podem contaminar o leite cru e até o leite industrializado, como consequência da contaminação durante e após o processamento. A presença de resíduos de substâncias químics, notadamente os antimicrobianos, pode afetar a manufatura de produtos fermentados e a saúde dos consumidores. Isso torna imperativo o uso prudente dessas drogas pelos produtores de leite. É importante, portanto, a adoção de programas de boas práticas, tanto na produção primária quanto na indústria. Os consumidores estão atentos para todos esses aspectos. Ignorar esses fatos pode colocar em risco a sobrevivência do setor. PA L AV R A S - C H AV E contagem de células somáticas, contaminantes, economia, mastite, resíduos de antibióticos, resíduos de antibióticos. ABSTRACT Milk quality is defined on the basis of its composition and hygiene. The somatic cell count (SCC) is the main indicator of milk quality and the limit of 400,000 cells per milliliter of milk is adopted in the international market. The SCC indicates the mastitis situation in herds, making control of this disease a major challenge for producers. High somatic cell and bacteria counts in raw milk adversely affect cheese yield and the quality, shelf life and sensory characteristics of processed milk and dairy products. Food pathogens can be found in raw milk, and in processed milk and dairy products as a result of post-processing contamination. The presence of chemical residues, notably antibiotics, may affect the manufacture of fermented products and the health of consumers. Prudent use of these drugs is an issue for dairy farmers. It is recommended, therefore, the adoption of good dairy practice programs, both in primary production and in processing plants. Consumers are aware of all these aspects. Ignoring these facts could jeopardize the sector’s survival. KEYWORDS Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 antibiotics residues, contaminants, economics, mastitis, microorganisms, somatic cell counts. 59 José Renaldi Feitosa BRITO1, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e BRITO2 INTRODUÇÃO A qualidade do leite cru engloba critérios relacionados à composição (gordura, proteína, lactose, sólidos totais) e higiene [contagem total de bactérias, contagem de células somáticas (CCS)], ausência de patógenos, ausência de resíduos de drogas veterinárias (NOUSIAINEN et al., 2007; MORE, 2009). As legislações nacionais e internacionais tratam do atendimento de parâmetros definidos para esses critérios. A CCS é o padrão internacional de qualidade do leite, com limite de 400.000 células/ml, sendo adotado na Europa e alguns países como Argentina, Austrália e Nova Zelândia (MORE, 2009). A falta de qualidade e de segurança do leite e derivados tem implicações econômicas danosas para toda a cadeia do leite (HOGEVEEN et al., 2011). nhado pelos agentes da assistência técnica e da extensão rural (HOGEVEEN et al., 2011). Existe um acervo de tecnologias e informações, para orientar os produtores a cumprir as normas e se manter na atividade. Sem essa orientação, dificilmente os produtores alcançarão os parâmetros exigidos. REQUISITOS DE QUALIDADE 2.1 Demandas para o produtor de leite Os parâmetros de qualidade a serem alcançados pelos produtores são relativos à composição e higiene e incluem o aumento do conteúdo de sólidos, especialmente proteína e gordura, baixas contagens de bactérias e de células somáticas, ausência de fraudes, especialmente água adicionada, e ausência de resíduos químicos, especialmente antibióticos. O item mais relevante do ponto de vista econômico é a produção de leite com baixa CCS (RENEAU e PACKARD, 1991). O leite com alta CCS contribui para reduzir a qualidade, o rendimento industrial ou a vida de prateleira de praticamente todos os derivados lácteos (ROGERS e MITCHELL, 1994; AULDIST et al., 1996; COONEY et al., 2000; SANTOS et al., 2003; MAZAL et al., 2007). Outros fatores que prejudicam a qualidade e a segurança do leite e derivados quase sempre são associados à produção primária. Os programas para melhorar e manter a qualidade e a segurança desses produtos são dirigidos aos produtores, por uma razão: depois que o leite é secretado, não se pode melhorar sua qualidade, e muito pode acontecer para que ocorra o contrário (HAYES e BOOR, 2001). Entretanto, produtores de leite respondem de maneira positiva quando recebem bonificações 2.2 A mastite e a CCS pela alta qualidade do leite produzido (NIGHTINGALE et al., 2008). Mastite é a inflamação da glândula mamária em resposta a uma infecção, geralmente causa As normas aplicadas para garantir a quali- da por bactérias. Traumas mecânicos e térmicos e dade e a segurança do leite e derivados têm como injúrias químicas predispõem a glândula mamária a objetivos atender a satisfação e a saúde do con- infecções. Quando um quarto mamário é infectado, sumidor (RENEAU e PACKARD, 1991; MORE, a bactéria e os tecidos mamários produzem subs2009). Novas exigências são esperadas, caso o tâncias quimiotáticas, que atraem especialmente os Brasil se torne exportador de leite e derivados. neutrófilos polimorfonucleares do sangue (COOEssas novas exigências incluem a adoção de boas NEY et al., 2000; ZHAO e LACASSE, 2008). Espráticas de produção, o que significa maior aten- tes leucócitos invadem o tecido mamário e atingem ção ao meio ambiente, em especial com as fontes o leite na luz dos alvéolos. O grau de inflamação é e uso da água, adoção de práticas que favoreçam o proporcional ao número de leucócitos que são enconforto e bem-estar animal, respeito às leis traba- contrados na glândula mamária, mas essa resposta lhistas e de proteção da criança e do adolescente, está também associada ao tipo de bactéria envolestabelecimento de programas de saúde e nutrição vida. A bactéria Streptococcus agalactiae sozinha adequada dos animais, e gestão da propriedade ou associada a Staphylococcus aureus geralmente (OIE ANIMAL PRODUCTION FOOD SAFETY é responsável por altas CCS (LOPES JR. et al., WORKING GROUP, 2006). 2012). Papel importante nesse aspecto é desempe- De acordo com vários autores (ex. RE60 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 José Renaldi Feitosa BRITO1, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e BRITO2 NEAU e PACKARD, 1991; MIDDLETON et al., 2014) os custos da mastite são geralmente devidos a: (a) Redução da produção de leite, que responde por aproximadamente 70% do custo total da mastite; (b) Descarte de leite de animais tratados com antibióticos; (c) Custos veterinários; (d) Custos com aumento da mão de obra; (e) Custos com descarte ou morte de animais; (f) Penalidades ou redução de bônus pagos pela indústria. O descarte do leite e a redução da produção respondem por mais ou menos 85% do custo da mastite clínica. O cálculo desses custos é difícil de obter, e não há total concordância de método entre os autores (HOGEVEEN et al., 2011), mas todos reconhecem que a mastite é a doença que maiores prejuízos causa aos produtores de leite. Somente nos Estados Unidos as perdas são superiores a dois bilhões de dólares por ano. do prescrito em que o leite do animal tratado não deve ser misturado ao leite de animais não tratados (HURLEY, 2015). O descumprimento dessa ação pode resultar em sérios prejuízos para a indústria, especialmente no caso dos produtos fermentados, e coloca em risco a saúde do consumidor (BRITO, 2000). A presença de resíduos de antibióticos em alimentos é motivo de preocupação mundial (KENNY, 2013). No Brasil vários levantamentos indicam a presença desses resíduos no leite, como relatado por Bando et al. (2009). Estes autores encontraram alta prevalência (41,3%) de resíduos em leite pasteurizado no Estado do Paraná. Além de antimicrobianos permitidos, mas para os quais não deve ter sido observado o tempo de retirada do leite para consumo, houve relato de presença de resíduos de cloranfenicol, medicamento proibido no Brasil para animais de produção. Esses dados in2.3 Alterações na composição do leite, em decor- dicam a necessidade de maior conscientização dos rência da mastite, e seus efeitos sobre a qualidade produtores e de vigilância efetiva pela indústria e A mastite causa alterações na composição do lei- órgãos oficiais. te (COONEY et al., 2000; ZHAO e LACASSE, 2008; HURLEY, 2015), que afetam adversamente 2.5 Altas contagens de bactérias no leite do rebaa qualidade e podem reduzir o valor do leite pago nho (leite do tanque) e consequências para a sua ao produtor. Algumas dessas alterações são: (a) re- industrialização dução da síntese da lactose; (b) proteólise da case- Nos países onde os programas de qualidade do leite ína, devido à presença de plasmina e enzimas pro- estão consolidados, considera-se adequada a conteolíticas de leucócitos e de bactérias, resultando tagem total de bactérias de até 10.000 por mililitro em redução do coágulo, redução do rendimento do no leite do rebanho. Altas contagens de bactérias queijo, alterações da textura de produtos fermen- no leite do tanque pode significar que o leite está tados, produção de peptídeos, aroma desagradável sendo contaminado após a ordenha, e/ou que há e sabor amargo; (c) alterações da gordura do leite, grande proporção de vacas infectadas, que contripela ação da lipase nas membranas dos glóbulos buem com grande número de bactérias. Isso é parde gordura, que resulta na quebra de triglicerídeos, ticularmente verdadeiro para vacas infectadas com oxidação de ácidos graxos e presença de sabores “patógenos contagiosos” da mastite. Quando há estranhos; (d) alterações do potencial elétrico ao grande número de S. aureus no leite do tanque, isso longo da membrana apical (Na+, Cl-, K+) (com- provavelmente indica a presença de alta proporção pletar); (e) aumento da CCS; (f) aumento das pro- de vacas cronicamente infectadas. A presença de teínas do soro (albumina, imunoglobulinas) e do qualquer número de S. agalactiae indica que esse pH (bicarbonato). organismo é a causa de problemas de mastite. S. agalactiae somente sobrevive no úbere e conside2.4 Resíduos de antibióticos no leite ra-se que a sua presença no leite provém de úberes O amplo emprego de antibióticos em rebanhos infectados (KEEFE, 2012). com problemas de mastite é um dos principais res- As consequências da baixa qualidade miponsáveis pela presença de resíduos dessas drogas crobiológica do leite cru são conhecidas e causam no leite (RUEGG e TABONE, 2000). Os antibió- prejuízos ao produtor e à cadeia do leite como um ticos persistem nos tecidos por períodos variáveis todo. Quando o leite não é refrigerado, há o risapós o tratamento. Cada antibiótico tem um perío- co de multiplicação de microrganismos mesófilos, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 61 José Renaldi Feitosa BRITO1, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e BRITO2 capazes de acidificar o leite, tornando-o impróprio para a industrialização (HAYES e BOOR, 2001) e com perda total para o produtor. Com o advento da refrigeração do leite desde a fazenda, o risco é o crescimento de bactérias psicrotróficas, que produzem lipases e proteases (PINTO et al., 2013). Essas enzimas são termoestáveis e causam problemas como alterações de sabor e aroma, instabilidade térmica do leite, redução do rendimento na produção de queijos, coagulação do leite durante a pasteurização, gelificação do leite UHT etc. e são responsáveis pela rejeição desses produtos pelos consumidores. ficados como perigos biológicos, a contaminação do leite e derivados com químicos, especialmente antibióticos (classificados como perigos químicos) deve ser considerada (ver item 2.4 - Resíduos de antibióticos no leite). O PAPEL DO CONSUMIDOR Historicamente, a vigilância sanitária aplicada ao leite e derivados foi estabelecida para salvaguardar a saúde da população. Brucelose, tuberculose e outras doenças, cujos agentes eram encontrados no leite cru, eram amplamente disseminadas e constituíam importante risco à saúde SEGURANÇA DO LEITE E DERIVADOS pública. Desde a universalização do processo de pasteurização, após as primeiras décadas do século As doenças transmitidas por alimentos passado, essas doenças deixaram de ser uma preo(DTA) são um problema crescente de saúde públi- cupação relacionada ao consumo do leite e derivaca tanto em países desenvolvidos quanto em países dos nos países desenvolvidos. em desenvolvimento (WHO 2010). Essas doenças são geralmente de natureza infecciosa ou tóxica, Por muitos anos, o leite, nos países desene causadas por agentes ou toxinas que são ingeri- volvidos ganhou a reputação de ser o “alimento mais dos com o alimento. As bactérias Salmonella spp., perfeito da natureza” (RENEAU e PACKARD, Campylobacter spp., Escherichia coli, S. aureus e 1991). A indústria de lácteos precisa manter essa Listeria monocytogenes são citados entre os agen- reputação, porque a disputa pelo mercado de alites mais envolvidos ou que maiores danos causam mentos é cada vez mais acirrada. Atualmente, a à saúde do consumidor (KENNY, 2013). Esses preocupação dos consumidores volta-se cada vez agentes são encontrados mais frequentemente em mais para a garantia da saúde e bem-estar animal, alimentos crus, incluindo o leite não pasteurizado o uso prudente de medicamentos veterinários e a e seus derivados. Os queijos Minas Frescal e de resistência a antimicrobianos (MIDDLETON et Coalho estão entre os mais consumidos no Brasil al., 2014). Essas demandas apresentam potencial e tem sido demonstrado que podem ser contami- impacto sobre a maneira como se tratará e prevenados com patógenos, que incluem L. monocyto- nirá a mastite no futuro. Por outro lado, a pressão genes, Salmonella spp. e S. aureus (DESTRO et do comércio internacional pela rastreabilidade dos al., 1991; SILVA et al., 1998; CARMO et al., 2002; alimentos, tem resultado em mais demandas para BRANCO et al., 2003; BRITO et al., 2008). a produção de leite e derivados (NOUSIAINEN et al., 2007; KENNY, 2013). Alimentos industrializados que foram contaminados durante ou após a pasteurização e o pro- CONSIDERAÇÕES FINAIS cessamento inadequados são também responsabilizados como veiculadores de patógenos alimentares A qualidade e a segurança do leite têm (TOMPKIN 2002; BRITO et al., 2008). O risco impacto direto sobre a rentabilidade da produção para os consumidores é maior quando o crescimen- primária, o processamento industrial e a saúde dos to de microrganismos ocorre em alimentos proces- consumidores. Os consumidores se tornam cada sados, prontos para consumo (TOMPKIN 2002), vez mais exigentes com relação aos métodos de que é o caso de muitos tipos de queijos e outros produção e especialmente com os cuidados disderivados lácteos. pensados aos animais, e poderão influenciar, de maneira positiva ou negativa, o sucesso da cadeia Além dos patógenos alimentares, classi- de lácteos. O mercado internacional de lácteos tem 62 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 José Renaldi Feitosa BRITO1, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e BRITO2 tendência a crescer e poucos países têm condições de ampliar significativamente sua produção e se tornar exportadores. Uma das mais importantes barreiras para os países exportadores é o atendimento às exigências de ordem higiênico-sanitárias, com destaque para a CCS. A redução da CCS para atendimento das exigências atuais é uma tarefa que exige muito mais do que tem sido costumeiro no Brasil, tanto pelos órgãos oficiais quanto pela indústria. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS p.9-14, 2002. COONEY, S.; TIERNAN, D.; JOYCE, P. et al. Effect of somatic cell count and polymorphonuclear leucocyte content of milk on composition and proteolysis during ripening of Swiss-type cheese. Journal of Dairy Research, Cambridge, v.67, p.301-307, 2000. DESTRO, M. T.; SERRANO, A. M.; KABUKI, D. Y. Isolation of Listeria species from some Brazilian meat and dairy products. Food Control, Oxford, v. 2, p.110-112, 1991. HAYES, M. C.; BOOR, K. Raw milk and fluid AULDIST, M.J.; COATS, S.; SUTHERLAND, milk products. In: MARTH, E.E.; STEELE, J.L. B.J. et al. Effect of somatic cell count and stage Applied Dairy Microbiology. 2.ed. New York: of lactation on the quality and storage life of ul- Marcel Dekker, 2001. p. 59-76. tra temperature milk. 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Associada à preservação dos espermatozoides, a inseminação artificial, oferece muitas vantagens aos criadores, uma vez que possibilita acelerar o melhoramento genético do rebanho, controlar as doenças sexualmente transmitidas, bem como, preservar o material genético de raças ameaçadas de extinção. No entanto, nos pequenos ruminantes a técnica é pouco difundida comparada com outras espécies. Isso se deve em parte aos resultados de fertilidade irregulares e geralmente, baixos obtidos com o uso de sêmen congelado. O artigo aborda de maneira sucinta as principais tecnicas utilizadas atualmente no processamento do sêmen e na IA em pequenos ruminantes e suas taxas de sucesso. PA L AV R A S - C H AV E ANTIOXIDANTES, CRIOPRESERVAÇÃO, FERTILIDADE, REFRIGERAÇÃO, PEQUENO RUMINANTE. ABSTRACT Artificial insemination (AI) is the oldest and most widely used assisted reproductive technique applied in livestock production. Associated with preservation of sperm, artificial insemination, offers many advantages to farmers, since it allows accelerating the genetic improvement of the herd, control sexually transmitted diseases, as well as preserve of the genetic material of endangered breeds. However, in small ruminants this technique is little used compared to other species. This is due to, in part, to the fertility results irregular and generally low obtained with the use of frozen semen. This paper discusses briefly the main technology currently used in the semen processing and AI in small ruminants and their success rates. KEYWORDS Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 antibiotics residues, contaminants, economics, mastitis, microorganisms, somatic cell counts. 65 Marciane da Silva MAIA1 INTRODUÇÃO PRESERVAÇÃO DO SÊMEN As biotécnicas relacionadas à inseminação artificial evoluíram ao longo dos anos. No início, o sêmen era utilizado in natura e apenas fracionado e depositado no fundo da vagina da fêmea, obtendo-se taxas de fertilidade razoável. Surgiu então a necessidade de se aumentar a capacidade fecundante dos reprodutores e de conservar o sêmen por um maior período de tempo. Dando inicio a uma nova fase - a da utilização de diluentes e da criopreservação do sêmen. O grande avanço na criopreservação do espermatozoide de mamíferos ocorreu com a descoberta do efeito crioprotetor do glicerol nos anos de 1940. A partir daí, o espermatozoide de várias espécies tem sido criopreservado com sucesso. Entretanto, o sucesso da criopreservação de sêmen é apenas parcial, uma vez que cerca da metade dos espermatozoides são destruídos ou danificados pela congelação e descongelação. O processo sofre influência de diversos fatores, entre eles a composição do diluidor, a taxa de diluição e a curva de congelação/descongelação e no caso do caprino ainda existem as limitações inerentes à espécie. Apesar das dificuldades relativas ao processamento, a disponibilização de sêmen refrigerado ou congelado de boa qualidade, para uso na inseminação artificial, é um desafio aos pesquisadores da área, uma vez que a IA proporciona muitas vantagens aos criadores, em relação à monta natural. O principal problema para a difusão/adoção da técnica nos pequenos ruminante é a fertilidade obtida após a IA com sêmen congelado, que ainda é aquém da obtida na monta natural. Soma-se a isso a dificuldade de realização da inseminação cervical nas ovelhas. Em ambas as espécies, os avanços nesta tecnologia têm-se concentrado principalmente na preservação da viabilidade/ capacidade fertilizante dos espermatozóides, melhorando a composição dos diluidores e alterando protocolos de refrigeração e congelação e nas técnicas de avaliação da qualidade espermática, com o objetivo de prever a fertilidade do sêmen. Ao longo do artigo discutiremos as tecnologias atualmente utilizadas no processamento do sêmen e seus efeitos sobre a qualidade espermática, bem como as técnicas de IA aplicadas em caprinos e ovinos e suas taxas de sucesso. Três formas de utilização do sêmen caprino e ovino são adotadas mundialmente: fresco, refrigerado e congelado. O sêmen fresco é preferido, quando o macho está presente no rebanho, e se tem um grande número de fêmeas em estro, natural ou sincronizado, inviabilizando a monta natural. A utilização de sêmen refrigerado é ideal quando o material genético de um macho é compartilhado por um grupo de criadores localizados em uma área relativamente pequena. Em tais casos, o sêmen é armazenado a 15° ou 5°C e utilizado entre 8 e 12 horas após o processamento. No entanto, existem relatos de resultados satisfatórios de fertilidade após IA com sêmen refrigerado por até 24 horas. Por fim, o sêmen é congelado para a preservação em longo prazo, permitindo que ele seja distribuído por uma área mais ampla e usado por tempo indeterminado. O processamento do sêmen caprino para preservação em baixas temperaturas requer a lavagem, uma vez que enzimas presentes no plasma seminal interagem com a gema de ovo ou o leite presentes no diluidor (ROY, 1957; NUNES et al., 1982) gerando substancias que inibem a motilidade espermática e induzem a reação acrossomal (NUNES e SALGUEIRO, 2011; PURDY, 2006; CSEH et al., 2012). Alguns estudos mostram que a remoção do plasma seminal é benéfica para a motilidade e integridade das membranas do espermatozoide caprino refrigerado ou criopreservado (SALVADOR et al., 2006; RITAR e SALAMON, 1982). Enquanto outros mostram que a lavagem do sêmen não afeta a viabilidade espermática (PETERSON et al., 2007; VIANA et al., 2006). Na preservação pelo método da refrigeração os espermatozoides são armazenados a temperaturas baixas o suficiente para deprimir o seu metabolismo (15 ou 5 º C) prolongando assim a sua vida fértil. No entanto, o processo de refrigeração pode afetar a viabilidade celular devido ao efeito prejudicial do choque térmico pelo frio que ocorre entre 30°C e 0o C. A mudança rápida de temperatura, nessa faixa, induz alterações na membrana plasmática e acrossomal, repercutindo na motilidade espermática e na capacidade fecundante do espermatozoide. Este efeito pode ser parcialmente superado pelo resfriamento gradual do sêmen da 66 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Marciane da Silva MAIA1 temperatura ambiente à temperatura de armazenamento e pela suplementação do diluente com gema de ovo (ANEL et al., 2006; SALAMON e MAXWELL 2000; WATSON, 2000). Segundo Salamon e Maxwell (2000) no sêmen resfriado, os espermatozoides deterioram, com o aumento do tempo de armazenamento independente do diluente, taxa de diluição ou da temperatura. No sêmen caprino, a motilidade espermática declina lentamente nas primeiras 24 horas de refrigeração e a partir daí sofre um declínio rápido (NUNES e SALGUEIRO, 2011; PETERSON et al., 2007; SALVADOR et al, 2006; VIANA et al., 2006). No entanto, nesses estudos a fertilidade após IA cervical variou de 41 a 73%. Embora a fertilidade possa ser mantida durante a refrigeração por várias horas, o armazenamento prolongado reduz a fertilidade dos espermatozoides. No sêmen ovino, a fertilidade após inseminação cervical com sêmen armazenado a 5°C, por 24, 48 e 72 horas foi 45-50%, 25-30% e 15-20%, respectivamente, enquanto a taxa de parição com sêmen fresco foi 65-75% (ANEL et al., 2006). As razões fisiológicas para a deterioração do espermatozoide são o estresse oxidativo extracelular, os efeitos do plasma seminal e produção de radicais livres endógenos (ANEL et al., 2006). Assim, a adição de antioxidantes ao meio de conservação pode ser uma alternativa para melhorar a longevidade do sêmen refrigerado. No sêmen ovino mantido a 5°C por nove dias em meio contendo ou não o antioxidante Resveratrol e sua combinação com vitamina E e Aromex, Sarlós et al. (2002) observaram um declínio na qualidade do sêmen, com o tempo de incubação, independente do tratamento. No entanto, a adição dos antioxidantes prolongou o período de conservação do sêmen, melhorou a motilidade espermática e reduziu o grau de danos celulares. Nas amostras com antioxidante a qualidade do sêmen só deteriorou significativamente a partir do sexto dia de incubação. Maxwell & Stojanov (1996) também observaram efeito benéfico dos antioxidantes catalase, superóxido dismutase (SOD), citocromo c e glutationa peroxidase na manutenção da motilidade e integridade acrossomal do espermatozóide ovino refrigerado. Nesse estudo, a adição de catalase (800 U/ml) e SOD (200 U/ml) ao diluidor Tris-glicose-gema possibilitou a manutenção da viabilidade espermática por 14 dias, resultando em Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 33% de fertilidade pós IA por laparoscopia. A criopreservação possibilita o armazenamento do sêmen por tempo indeterminado, porém, também compromete a fertilidade do espermatozoide. Para reduzir o efeito da crioinjúria é importante usar um diluente, crioprotetor e curvas de congelação/descongeção adequados. Um bom diluente deve suprir as células com uma fonte de energia, proteger contra os danos relacionados à temperatura e manter um ambiente adequado à sobrevivência do espermatozoide (SALAMON e MAXWELL, 2000; PURDY, 2006). Geralmente, os meios de criopreservação de sêmen caprino e ovino incluem um crioprotetor não penetrante (leite ou gema de ovo), um crioprotetor penetrante (glicerol, etilenoglicol ou dimetil sulfóxido), um tampão (Tris ou Test) um ou mais açucares (glicose, frutose, lactose, rafinose, sacarose ou trealose), um sal (citrato de sódio, ácido cítrico) e antibióticos (penicilina, estreptomicina, gentamicina, etc.). Os diluentes á base de Tris e leite em pó desnatado são os mais comumente usados para a preservação do sêmen de ambas as espécies (SALAMON e MAXWELL, 2000; PURDY, 2006). Comparando o efeito desses dois diluidores na criopreservação do sêmen caprino Dorado et al. (2007) concluíram que ambos podem ser utilizados, pois mantiveram a viabilidade e capacidade fertilizante do espermatozoide. Já Peterson et al. (2007) relataram que o diluidor a base de TRIS proporcionou maior percentual de espermatozoide vivo com acrossoma intacto após a descongelação que o leite glicosado. Dentre os crioprotetores, o mais usado é o glicerol, embora o mesmo possa afetar a sobrevivência da célula. Sua adição pode ser feita em uma ou duas etapas, a 32 °C ou 5 °C e em uma concentração final variando de 1-10%. Para o sêmen ovino a adição do glicerol em uma etapa a 30°C é um método amplamente utilizado (SALAMON e MAXWELL, 2000) sem causar prejuízos à qualidade do sêmen. Em nossos estudos com sêmen caprino criopreservado, realizamos a adição do glicerol em uma etapa à temperatura ambiente, com bons resultados. Após a adição do glicerol, independente do método, é necessário que o sêmen permaneça sob refrigeração (2 a 5°C) por um período de tempo que varia de 1 a 3 horas para que ocorra a estabilização. 67 Marciane da Silva MAIA1 A adição de antioxidantes ao meio de congelação também tem sido avaliada. No sêmen caprino criopreservado em diluente a base de Tris-Gema de ovo, Maia et al. (2012) avaliaram o efeito de doses crescentes de Resveratrol (0, 4, 6 e 8,0 µg/ml) sobre as características espermáticas pós descongelação e observaram que o antioxidante conferiu maior proteção ao espermatozoide contra a crioinjúria, resultando em efeito benéfico na preservação da motilidade em relação ao controle. Sinha et al. (1996) também observaram um efeito benéfico da glutationa sobre a motilidade, integridade acrossomal e fertilidade do sêmen congelado, em relação ao controle. No sêmen ovino criopreservado em diluidor Tris-gema aditivado de Catalase, Trolox C e sua combinação Maia et al. (2009) observaram que a adição dos antioxidantes aumentou o percentual de espermatozoides com membrana plasmática integra mas não teve efeito sobre a motilidade espermática em relação ao controle. Porém, em situação de estresse oxidativo (MAIA et al., 2010) induzido pela adição de ferro (lipoperoxidação) ou peróxido de hidrogênio (H2O2) ao meio de incubação, estes mesmos antioxidantes foram eficazes em remover o excesso de ROS (metabólitos reativos do oxigênio- H2O2, O2- e OH-) e manter o equilíbrio do sistema. Podemos presumir que o efeito dos antioxidantes é mais evidenciado quando o sêmen está passando por uma situação de estresse oxidativo (excesso de ROS). Ao avaliarmos o efeito da adição de catalase em amostras de sêmen caprino com alto (≥ 30%) e baixo percentual (≤ 15%) de patologias espermáticas (MAIA et al., 2011) observamos um efeito benéfico do antioxidante sobre a motilidade espermática pós-descongelação, nas amostras com alto percentual de espermatozoides anormais. Possivelmente estes ejaculados continham excesso de ROS, entre eles o H2O2, e nesse caso a Catalase protegeu as células contra a perda de motilidade. Maia et al. (2014) observaram que o H2O2 induz a perda da motilidade do espermatozoide ovino e que a adição de Catalase (2 U/mL) mesmo em baixa concentração é suficiente para neutralizar o seu efeito. cervical) e intrauterina (laparoscopia). A inseminação vaginal é uma técnica de fácil execução, onde o sêmen é depositado no fundo da vagina, podendo resultar em taxas de prenhez de acima de 50%. É mais eficaz quando se utiliza sêmen fresco, do que com sêmen refrigerado ou congelado. O volume de sêmen e o número de espermatozoides progressivamente móveis recomendado para o uso são 0,2 mL e 400 × 106 espermatozoides (mínimo), respectivamente (CSEH et al., 2012). Utilizando sêmen fresco diluído, com 200 x 106 spz/dose, Paulenz et al. (2005) observaram que a taxa de prenhez em cabras, após IA vaginal foi de 74,3% e não diferiu daquela obtida na IA com deposição cervical (78%). Nas cabras, geralmente utiliza-se a inseminação cervical. Por esta técnica, a deposição intrauterina do sêmen pode ser conseguida em 50-60% das fêmeas, uma vez que a cérvice caprina é relativamente fácil de atravessar. Embora na IA Cervical o sêmen possa ser depositado no corpo do útero, a deposição cervical cranial produz resultados satisfatórios. Em inseminação cervical, com estro sincronizado, utilizando sêmen diluído em água de coco e mantido a 37 °C, Maia e Santos (2010) obtiveram uma taxa de prenhez de 62,9% quando a deposição foi cervical profunda e 42,4% na deposição intrauterina. Sugerindo que a manipulação excessiva na tentativa de ultrapassar a cérvice pode reduzir a fertilidade. Em cabras nulíparas Houdeau et al. (2008) observaram que quanto mais rápido a IA foi realizada maior foi a taxa de prenhez. Na deposição intracervical rápida (20 segundos) a taxa de prenhez foi 61,0% enquanto que quando a IA foi mais demorada (60 segundos) a taxa de prenhez foi 50,7%. Segundo os autores, a deposição rápida do sêmen limita o reflexo que ativa as contrações uterinas, provocado pela inserção do espéculo e movimentos do aplicador e com isso melhora a fertilidade. Batista et al. (2011) compararam a taxa de prenhez de cabras inseminadas pela via cervical com sêmen fresco e congelado e observaram que aos 35 dias a taxa de prenhez foi significativamente maior (73,3%) utilizando sêmen fresco que com sêmen criopreservado (46,7%). INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL Nas ovelhas a transposição dos anéis cervicais é dificultada devido à complexidade da cérEm ambas as espécies podem ser utilizadas três vice, cujos anéis são dispostos em diferentes platécnicas de inseminação: vaginal, cervical (trans- nos e posições, obliterando o lúmen da vagina ao 68 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Marciane da Silva MAIA1 útero (HALBERT et al., 1990; ANEL et al., 2006). Portanto, nessa espécie as técnicas mais utilizadas são a inseminação intrauterina por laparoscopia ou a vaginal/ cervical, onde o sêmen é depositado no óstio cervical. Quando o sêmen é depositado na entrada da cérvice, a taxa de concepção varia de 30 a 40% dependendo do tipo de sêmen utilizado. Para superar essa limitação e possibilitar a realização da inseminação transcervical (IATC), algumas alternativas têm sido testadas, como: uso de ocitocina para promover o relaxamento da cérvice e o tracionamento da cérvice até a abertura da vulva. A IATC com tracionamento cervical foi desenvolvida no Canadá e denominada Sistema Guelph de IA transcervical (HALBERT et al., 1990). No estudo de Halbert et al. (1990) a transposição cervical completa foi obtida em 54% das ovelhas, resultando em 82% de parição. Posteriormente, Buckrell et al. (1994) validaram a técnica inseminando 2060 ovelhas obtendo 88% de transposição cervical e 33% de parição. O otimismo em relação à IATC deve-se ao sucesso obtido na transposição cervical pelo método Guelph e ao conhecimento de que a deposição intrauterina do sêmen aumentaria o número de espermatozoides no oviduto aumentando as chances de fecundação (ROBINSON et al., 2011). No entanto, diversos estudos realizados pelo método de IATC não conseguiram obter o mesmo nível de sucesso. Segundo Robinson et al. (2011) o sucesso na transposição cervical e na fertilidade pós IATC pode ser afetado por diversos fatores entre eles: a experiência do operador, raça e idade da fêmea (efeito sobre a morfologia da cérvice); época do ano (quando ocorre estacionalidade reprodutiva); intervalo pós parto; muco cervical (quantidade e composição) e atividade da cérvice (contrações musculares). Em ovelhas Santa Inês inseminadas pela técnica de IATC com sêmen fresco, Silva et al. (2005) obtiveram uma taxa de prenhez de 59,25% sendo que 46,9% das inseminações foram intrauterinas. Já Isobe et al. (2006) utilizando a mesma técnica e sêmen congelado obtiveram taxa de parição de 8,4% com 58,3% de inseminações intrauterinas, demonstrando a baixa eficiência da técnica usando sêmen congelado. Analisando os resultados de diferentes estudos concordamos com Traldi (2006) ao afirmar que a técnica da tração cervical não melhora os índices de fertilidade do sêmen fresco ou congelado, mesmo quando deCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 positado intra-uterinamente. Para Robinson et al. (2011) a técnica transcervical per se parece reduzir a taxa de fertilização. A IATC também é realizada em cabras com um alto índice de transposição cervical e melhores resultados de fertilidade do que nas ovelhas. Utilizando essa técnica Siqueira (2006) obteve de 98,2% de transposição cervical e Nogueira et al. (2011) em cabras leiteiras obtiveram 100% de transposição cervical e uma taxa de prenhez de 82,2% na inseminação com sêmen fresco diluído. Fonseca et al. (2011) utilizando a Técnica Embrapa de IATC, na qual a fêmea é mantida em estação quadrupedal, com pinçamento, mas sem tração cervical, relatam 100% de transposição total da cérvice, nas fêmeas plurípara e 68,75% nas nulípras, com uma taxa de gestação de 62,5%. A inseminação intrauterina laparoscópica foi desenvolvida para superar muitas das dificuldades da inseminação intravaginal ou cervical, sendo a técnica preferencialmente recomendada para as ovelhas. O número de espermatozoides necessários para cada inseminação é mais baixo e o volume inseminante é proporcionalmente maior, permitindo taxas de diluição mais adequadas e, por conseguinte, uma melhor preservação / proteção dos espermatozoides durante a criopreservação. Como consequência, a inseminação intrauterina laparoscópica melhora as taxas de prenhez obtidas com sêmen congelado. As taxas de concepção com sêmen congelado variam de 60-80% e são mais elevadas do que na inseminação intracervical e semelhantes as da monta natural após sincronização do estro. Em ambas as espécies, o número mínimo de espermatozoides no por dose inseminante é de 20 × 106 e recomenda-se inseminar metade da dose total de sêmen na região central de cada trompa uterina sem levar em conta o local de ovulação (CSEH et al., 2012). O momento ideal da inseminação, na cabra é entre 43 e 46 h após a retirada dos implantes de progesterona (Cseh et al., 2012). Na ovelha a IA laparoscópica com sêmen congelado pode ser feita ±55h após a retirada do pessário nas fêmeas adultas e entre 34 a 68h nas borregas (TRALDI, 2006). As desvantagens incluem a exigência de equipamento laparoscópico sofisticado, realização de cirurgia invasiva e necessidade de maior conhecimento técnico para realizar o procedimento. 69 Marciane da Silva MAIA1 CONSIDERAÇÕES FINAIS A inseminação artificial pode dar uma grande contribuição ao desenvolvimento da caprino-ovinocultura brasileira uma vez que propicia a disseminação de genética de alto valor favorecendo o melhoramento genético rápido. Os principais beneficiados seriam os pequenos produtores, que não têm acesso a animais geneticamente superiores devido ao alto custo de aquisição dos mesmos. No entanto, o sucesso da técnica depende, entre outros fatores, da qualidade do sêmen e da técnica de inseminação utilizada. Embora o conhecimento sobre a fisiologia espermática e os métodos de conservação do sêmen a baixas temperaturas tenham tido um grande avanço, reduzindo os efeitos danosos do processamento sobre a viabilidade e fertilidade do espermatozoide, a inseminação cervical em ovelhas ainda exige esforço. Tornar a cérvice uma rota para a inseminação intrauterina na ovelha é o grande desafio para os pesquisadores da área. REFERÊNCIAS ANEL, L.; ALVAREZ, M.; MARTINEZ-PASTOR, F. et al. Improvement Strategies in Ovine Artificial Insemination. Reproduction in Domestic Animals, v. 41 (Suppl. 2), p. 30–42, 2006. BATISTA, M.; NIÑO, T.; SANTANA, M. et al. Influence of the Preservation Temperature (37, 20, 4, -196 °C) and the Mixing of Semen over Sperm Quality of Majorera Bucks. Reproduction in Domestic Animals, v. 46, p. 281–288, 2011. BUCKRELL BC.; BUSCHBECK C.; GARTLEY CJ., et al. Further development of a transcervical technique for artificial insemination in sheep using previously frozen semen. 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Em 1970 o PMG expandiu-se para a África do Sul, Grã-Bretanha e outros países. Em 1980 devido à possibilidade de uso da metodologia BLUP o MGP, evoluiu para esquemas de reprodutores referência. Em 1990 o conceito de MGP foi reformulado e passou a ser chamado “Melhoramento Genético Participativo- “MGP” (Tibbo, 2008), utilizado até então. O presente trabalho tem como objetivos apresentar as bases para o melhoramento genético participativo, notadamente para sistemas de produção de pequena e média escala. RAÇAS LOCAIS E SUA IMPORTÂNCIA A diversidade biológica pode ser definida como a variedade e a variabilidade existente entre os organismos vivos e as complexidades ecológicas nas quais eles ocorrem. Ela pode ser entendida como uma associação de vários componentes hierárquicos: ecossistemas, comunidades, espécies, populações e genes em uma área definida (CDB, 1992). Em produção animal a raça é o elemento básico no qual os estudos são focados e, a variabilidade genética intra-racial é representada pela gama de raças existentes, ferramenta básica de trabalho dos conservacionistas e melhoristas. As raças locais em geral têm grande importância econômica, notadamente nos trópicos onde se encontram mais de 50% dos animais domésticos. Nessas regiões, com climas mais quentes que as regiões temperadas, as plantas locais tem crescimento rápido e os solos apresentam características físicas que dificultam o desenvolvimento da agricultura de escala. Essa realidade é comum na maioria dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, com sérios problemas de miséria e fome, como é o caso do Brasil. As raças locais geralmente atendem diversas necessidades dos seus criadores e são muito mais fáceis de manejar. Além disso, exigem baixo investimento e são menos susceptíveis à doenças, restrição alimentar e estresse pelo calor. Conse- 72 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Maria Norma RIBEIRO1 , Janaina Kelli Gomes ARANDAS 2 quentemente, oferece menos riscos econômicos que as raças exóticas. Apesar da sua grande importância, essas raças estão sob constantes ameaças e esta situação, se agrava dia a dia devido a questões sociais e ecológicas nas quais estão inseridos. Diante desse cenário, há necessidade de adotar medidas para conter esse processo. Segundo Ribeiro et al., (2010) a primeira medida consiste em promover estudos que contribuam para definir a situação de risco ou grau de ameaça das raças locais; a segunda consiste em definir ações prioritárias (conservação, preservação, melhoramento ou combinações destas ações) com base no grau de risco de cada raça. A FAO (1998) recomenda que uma raça só deve ser alvo de programas de melhoramento se estiver completamente fora de risco. Em qualquer outra situação, o correto é definir estratégias de conservação e/ou preservação antes de qualquer ação de melhoramento, sob pena de agravar ainda mais a situação com perdas irreparáveis da diversidade genética intrarracial. Muitas das áreas consideradas inadequadas para a agricultura, como regiões desértica, semiáridas, montanhosas e pedregosas, podem ser bastante úteis para a pecuária, sendo utilizada para criação de raças locais que estão bem adaptadas a condições extremas de ambiente. Nestas condições, o uso de raça localmente adaptadas representa uma alternativa que pode ser sustentável. Devem ser, portanto, o elemento chave de desenvolvimento da pecuária em áreas pobres, fonte de alimento e gerador de renda para as famílias nessas regiões. SITUAÇÃO DOS RECURSOS GENÉTICOS DE ANIMAIS DOMÉSTICOS Apesar da grande importância, a maioria das raças locais nos países em desenvolvimento encontra-se ameaçadas de extinção segundo os relatórios da FAO (2007), tanto pela utilização inadequada da diversidade genética como também pela negligência total das raças locais, taxadas erroneamente como improdutivas. Além disso, existe uma relação complexa entre diversos elos da cadeia produtiva, para além do ambiente e das raças existentes. Essa situação exige a definição de estratégias de conservação a curto, médio e largo prazo. Para garantirmos a sobrevivência das raças locais e dos agroecossistemas em que estão inseridos, a produção animal deve ser feita praticada sob a ótica da sustentabilidade, o qual deve permear todas as áreas da produção animal (nutrição, melhoramento, reprodução, etc.). Assim sendo, a conservação de raças locais não deve ser dissociada dos programas de melhoramento adequando-os a cada realidade e, tendo como base o uso e manutenção da diversidade genética e cultural, como já discutido anteriormente. Por terem sido por muitos anos ignorados, diversos programas de conservação e melhoramento de raças em locais não tiveram sucesso. Alguns aspectos foram mais decisivos para os insucessos: Cruzamentos com raças exóticas: Programas de melhoramento elaborados e conduzidos por governos ou por organizações não governamentais tem dado preferência às raças exóticas para uso em cruzamentos, melhoramento de raças ou substituição total de raças locais pelas exóticas. Porém, muitos programas falharam em alcançar seus objetivos e contribuíram para a diluição das raças locais, devido principalmente ao uso de acasalamentos indiscriminados que não consideram as condições ambientais locais e desconhecem o potencial produtivo e adaptativo das raças locais. Intensificação da agricultura: Mudanças no tipo de produção vegetal é o Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 73 Maria Norma RIBEIRO1 , Janaina Kelli Gomes ARANDAS 2 principal fator que leva a perda de raças locais, uma vez que, uma dada região que produzia diversos produtos de origem vegetal e seus resíduos eram utilizados na alimentação de pequenas criações, os homens deixam de cultivar a terra com diversas espécies vegetais para produzir uma única espécie vegetal (variedade industrial) em grande escala, como ocorre com a produção de soja, trigo e milho, pois com a irrigação, certos grãos podem produzir 2 ou 3 vezes no ano, eliminando a possibilidade de pastejo no restolho após a coleta dos grãos. Nesse ponto, deve-se destacar também a necessidade de equipamentos mecânicos para atender a modernização intensificada da agricultura, que conduz a substituição de touros, asnos e cavalos que outrora eram utilizados para o trabalho com a terra, por tratores. Áreas protegidas: A demarcação de territórios como santuários de vida selvagem, parques nacionais e outros tipos de áreas protegidas podem acarretar na perca de áreas utilizadas para pecuária e que muitos oportunistas persuadem os criadores a utilizarem raças especializadas, alegando serem mais produtivas e necessitarem de menor área por conseguirem produzir confinadas, contribuem para uma elevada pressão para o desuso de raças locais. Falta de demanda no mercado: Muitos produtos de origem animal por não possuírem uma padronização de cortes, higienização adequada e/ou valorização do modo tradicional no qual os animais são criados, ou desconhecimento de potenciais características organolépticas de carnes e leite de raças locais, e até mesmo por falta da adoção de tecnologias simples no manejo com os animais, tornam-se não competitivos com produtos oriundos de criações intensivas que por produzirem em escala maior conseguem poder de negociação maior no mercado. Falta apoio principalmente de programas governamentais que apóiem e facilitem a venda dos produtos de origem animal que são produzidos pelas comunidades que mantém raças locais. Conflitos políticos e territoriais: Esses tipos de conflito contribuem significativamente para o desaparecimento de raças locais, pois ou deixam de ser criadas porque a região está em conflito e qualquer local é perigo eminente contra a vida dos cidadãos ou novas fronteiras territoriais impossibilitam aos povos nômades a mover-se de uma localidade a outra pastorando seus animais. Desaparecimento dos aspectos culturais e dos conhecimentos tradicionais: A vida nos centros urbanos parece ser mais atrativa que a das zonas rurais, principalmente pela pouca valorização que ainda é dada a tudo que for rural em virtude dos baixos investimentos empregados pelos governos para melhorar as condições sanitárias e de educação, então muitos jovens tem abandonado suas moradias e suas tradições em busca de melhores condições de vida em centros urbanos, consequentemente muitos dos conhecimentos tradicionais e habilidades em manejar e selecionar animais vem se perdendo. Bem como, quando instituições tradicionais se quebram por falta de diálogo e entendimento das partes interessadas, uma vez o conhecimento e a tradição de ritos desaparecem, praticamente torna-se impossível ressurgirem. Negligência aos aspectos culturais, socioeconômicos e os conhecimentos tradicionais: Muitos dos programas que visam melhorar as condições de vida de uma comunidade pastoral, através da criação de animais, ignoram totalmente os interesses pessoais dos criadores, não buscam conhecer as tradições locais que pode explicar muito das escolhas dos criadores em utilizar certas raças em detrimento de outras, como eles realizam a seleção dos animais para reprodução 74 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Maria Norma RIBEIRO1 , Janaina Kelli Gomes ARANDAS 2 e quais características eles escolhem que estão intimamente relacionadas com a adaptação desses animais as condições adversas. Os desejos e motivações da comunidade, suas ambições econômicas, suas características sociais e culturais são relevantes para determinar os alicerces e objetivos de qualquer programa de conservação e melhoramento das raças, pois quem deverá conduzí-los, na realidade, é a própria comunidade, devendo estas serem sujeitos da ação, participando ativamente nas decisões. BASES PARA O MELHORAMENTO GENÉTICO PARTICIPATIVO (MGP) O objeto imediato da conservação é a biodiversidade. Assim, a conservação deve ter como objetivo principal a manutenção da diversidade biológica e da diversidade cultural, tendo como base as relações entre o homem, o animal e o meio. Diversidade cultural é a diversidade das culturas humanas, sendo que a cultura é o sistema de símbolos compartilhados, comportamentos, crenças, valores, normas, artefatos e instituições que um membro de uma sociedade usa para lidar com seu mundo e com o outro, e que são transmitidos de geração em geração através da aprendizagem (Brey, 2007). Atualmente, há um crescente reconhecimento de que a diversidade da vida inclui tanto as formas de vida (diversidade biológica) como as crenças humanas, valores, visões de mundo e cosmologia (cultura) (Posey, 1999). Diferentes culturas interagem com a natureza de diferentes formas e constroem relações diferentes com seus ambientes locais (Berkes, 2008). Deve-se conhecer e apoiar essas culturas, pois o seu desaparecimento implica no desaparecimento do conhecimento sobre a diversidade biológica a elas associada, visto que são elementos intrinsecamente ligados. Posey (1982) demonstrou que os índios Caiapó reconheciam mais de 50 categorias locais de abelhas, as quais correspondiam a 66 espécies cientificamente reconhecidas, sendo que 11 destas ainda não eram, até aquele momento, conhecidas pela comunidade científica. O desaparecimento dessa cultura implica no aumento do risco de desaparecimento da diversidade de espécies que eles conhecem antes de terem sido inventariados. O componente humano do trinômio homem-animal-meio se revela através dos diferentes níveis da organização social. Por isso, ações para a conservação dos RGAn, idealmente, devem envolver os criadores em todas as etapas dos programas, bem como representantes locais (associações de criadores, cooperativas, etc), nacionais (Universidades, Empresas de Pesquisa) e internacionais (e.g. FAO) na conservação e melhoramento dos RGAn. É Fundamental a participação ativa dos criadores nas iniciativas de melhoramento das raças locais, enfatizando o poder que as comunidades locais possuem em gerenciá-las (Steglish & Peters, 2003). Neste sentido, o conhecimento zootécnico local, patrimônio acumulado ao longo de muitas gerações e, muitas vezes transmitido apenas por comunicação oral, pode contribuir como fonte importante de subsídios para a formulação de estratégias socialmente apropriadas para o manejo e conservação dos recursos genéticos animais (Alves et al., 2010). Associado a esse conhecimento, as metodologias com enfoque participativo são importantes ferramentas quando se pretende definir estratégias de conservação e melhoramento adequadas à realidade dos sistemas de produção locais. Assim sendo, a primeira medida para o manejo sustentável de raças loCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 75 Maria Norma RIBEIRO1 , Janaina Kelli Gomes ARANDAS 2 cais é considerar as demandas, preferências e necessidades das comunidades que as detém. A comunidade é quem gerencia, administra, decide e maneja os recursos genéticos locais e, é nesse processo que muito da diversidade genética dos animais é estabelecida. O manejo dos RGAn baseado nos conhecimentos da comunidade local contribui para a valorização e fortalecimento da comunidade, o que representa ferramenta importante para o desenvolvimento rural sustentável. Esse conhecimento é representado pelo “corpo do conhecimento adquirido por uma comunidade em uma dada área que está relacionada com a agricultura, pecuária, preparação de alimentos, educação, forma de gerenciar as instituições existentes na comunidade, maneira como administram os recursos naturais, saúde e outros assuntos intrínsecos a ela. O conhecimento local não é estático, se desenvolve e modifica-se ao longo do tempo, pois a comunidade aprende continuamente, adaptando-se as mudanças ao longo dos tempos. CONHECIMENTO LOCAL E MANEJO DOS RECURSOS GENÉTICOS LOCAIS Também denominada de Etnozootecnia (Perezgrovas, 2001), o conhecimento local relacionado à criação de animais consiste de diversos componentes. O manejo de raças baseado no conhecimento local tem sido utilizado desde os primórdios da civilização. Baseiam-se nos conhecimentos construídos através de experiências adquiridas sobre os atributos genéticos dos rebanhos, que possibilitam o uso de práticas que contribuem para uso sustentável das raças locais. Isso porque, as escolhas dos criadores são pautadas em estratégias conscientes que determinam a estrutura genética das raças locais. Os elementos que compõem o conhecimento local não são uniformes entre comunidades. Cada uma desenvolve esses elementos conforme o seu contexto ambiental e cultural, sendo que sociedades que criam animais em coletividade ou em sistemas pastoris, geralmente, possuem conhecimento mais amplo do que criadores que desenvolvem suas atividades isoladamente. Também, indivíduos mais senis detêm rico conhecimento e experiência comparativamente aos jovens. Com isso se percebe que o conhecimento e experiências são diferentes, mesmo entre indivíduos da mesma comunidade. O enfoque etnozootécnico, que tem como princípio a participação dos criadores nas decisões de manejo e uso dos recursos genéticos locais, tem sido alvo de muitos estudos, os quais têm indicado que a abordagem participativa é determinante para minimizar fracassos na implementação e manutenção dos programas de melhoramento genético. Nesses estudos, ressalta-se a importância do envolvimento dos criadores, considerando que eles selecionam seus animais com base em critérios locais e nos seus objetivos de criação (Getachew et al., 2010). Isto contribui para o conhecimento das potencialidades produtivas, reprodutivas e de adaptação, possibilitando inclusive a identificação de nichos de mercado e agregação de valor aos produtos derivados desses recursos (Chacón et al., 2008). No MGP deve-se lançar mão de métodos e técnicas do melhoramento clássico porém, adaptando-os para atender às demandas locais. Isto é, devem ter a participação ativa e direta dos criadores em todas as etapas. Assim, o MGP apresenta como ingrediente fundamental, a inclusão sistemática dos conheci76 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Maria Norma RIBEIRO1 , Janaina Kelli Gomes ARANDAS 2 mentos, habilidades, experiências, práticas e preferências dos criadores (Machado et al., 2002). Essa modalidade de melhoramento baseia-se nos conhecimentos da genética convencional, fisiologia e economia, combinado-os com os da antropologia e sociologia (Eyzaguirre & Iwanaga, 1996; Soleri & Smith, 2002), preconizando assim uma participação efetiva dos criadores e dos pesquisadores em todas as etapas (diagnóstico, planejamento, implantação, avaliação e retro informação) visando integrar os critérios de seleção dos atores envolvidos, facilitando o processo de uso das informações no programa de melhoramento genético. De modo geral o melhoramento participativo deve tem como objetivos: descrever o sistema de produção; definir os objetivos de melhoramento; definir os critérios locais que definem a escolha de animais de reprodução; avaliar as instituições ligadas ao setor; Desenvolver e implementar estratégias de manejo genético de rebanhos pela comunidade; avaliar conjuntamente as diretrizes e resultados alcançados em cada etapa; avaliar o impacto das ações em cada fase e, analisar as possibilidades de acesso ao mercado. Deve ter como meta principal a conservação da variabilidade ou diversidade genética local. Além disso, deve selecionar e avaliar características de interesse para a comunidade; melhorar os rendimentos das raças respeitando as condições ambientais; manter ou melhorar a qualidade dos produtos derivados dessas raças; divulgar os resultados oriundos dos programas de melhoramento e, fortalecer a capacidade de organização de produtores e outras instituições envolvidas (Tibbo, 2008). A compreensão do sistema de produção em que se pretende realizar a seleção e o envolvimento dos criadores na definição dos critérios e objetivos de seleção são elementos essenciais para o delineamento de estratégias sustentáveis de criação. SITUAÇÃO DOS PROGRAMAS DE MELHORAMENTO DE RAÇAS LOCAIS NO MUNDO O relatório sobre a Situação dos Recursos Genéticos Animais para a Alimentação e a Agricultura da FAO (2007) indica que a grande maioria dos países em desenvolvimento não tem sido bem sucedida na manutenção de programas de melhoramento genético em suas populações de animais, notadamente aqueles baseados em raças locais. No entanto, dentre as raças consideradas em uso, 77% estão localizadas nos países em desenvolvimento. Nesses países, os criadores têm objetivos de criação e exploram o conhecimento local e tecnologias para atingí-los. No entanto, 94% das raças existentes nesses países não estão sujeitas a programas estruturados de melhoramento genético. Ao contrário, 77% das raças com programas estruturados de melhoramento genético estão localizados em países desenvolvidos. Ações de melhoramento genético sustentável que atendam às necessidades nacionais sem comprometer as prioridades das comunidades locais podem trazer uma contribuição vital para a segurança alimentar e o desenvolvimento rural. Consideramos aqui a sustentabilidade em suas dimensões ecológica, econômica e cultural. Um grande desafio é como delinear programas de melhoramento de raças locais com esse enfoque em regiões de ambientes inóspitos, onde os recursos são limitados e a disponibilidade de alimentos varia muito. Programas de melhoramento para essas condições exigem muito mais do que simples aplicação de teorias sofisticadas de melhoramento Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 77 Maria Norma RIBEIRO1 , Janaina Kelli Gomes ARANDAS 2 animal e aumento da produtividade. Os fatores mais limitantes nessas condições são a disponibilidade de recursos e infraestrutura. O grande problema dos países em desenvolvimento na manutenção de programas de melhoramento é que, durante várias décadas, foi amplamente preconizado que o caminho para esses países seria o uso de raças altamente selecionadas, introduzidas dos países desenvolvidos para serem utilizadas como raças puras ou cruzadas em substituição às raças locais (FAO, 2010). Essas estratégias só são eficazes nos países ou regiões capazes de oferecer condições de manejo similares às previstas nos países de origem de onde vieram as raças, o que não acontece na maioria das vezes, nos países em desenvolvimento. Caso contrário, as raças introduzidas e seus cruzamentos são frequentemente expostos a condições de estresse intenso às quais não estão bem adaptados (por exemplo, escassez periódica de água e alimento, doenças, condições climáticas extremas). A introdução, cruzamento e difusão de recursos genéticos exóticos nos países em desenvolvimento têm sido feitos muitas vezes sem avaliação dos possíveis impactos, gerando grandes prejuízos sobre os recursos genéticos locais. Cada país deve concentrar seus esforços no desenvolvimento de recursos genéticos já bem adaptados aos sistemas de produção locais e aos objetivos dos criadores. A experiência de programas avançados de melhoramento genético, particularmente nos países desenvolvidos, tem mostrado que estratégias de longo prazo, envolvendo os setores público e privado, podem ser bem sucedidas. Diante desse cenário, é exigida uma postura diferente do profissional que lida com esses recursos. Os sistemas intensivos de produção não devem ser a única solução, principalmente para os produtores de baixa renda, uma vez que a maior parte da produção de alimentos no Brasil vem dos sistemas de produção familiar. Estima-se, que de forma direta e indireta, os animais domésticos suprem cerca de 30% dos requerimentos humanos para a alimentação e agricultura (Mujica, 2006). Isto aumenta a nossa responsabilidade e exige que o profissional das Ciências Agrárias tenha uma visão global e integrada da produção animal (homem-animal-ambiente) e, a partir daí, remodelar a tão conhecida equação P = G + E. Há necessidade de redefinição dos elementos dessa equação notadamente o último (E), que é bastante complexo. Além dos elementos da natureza, deve-se considerar a influência e importância do ambiente cultural onde esses recursos se encontram, isto é, o saber local (métodos e técnicas ancestrais e atuais adotadas pelos criadores), pois eles têm sido decisivos no sucesso ou fracasso de programas de melhoramento de raças locais. Estudos têm demonstrado que os programas de melhoramento que adotam esses elementos têm tido maior chance de sucesso, e que resultados mais duradouros são atingidos quando se conseguem parcerias e apoio da comunidade local (Cullen Júnior, 2003). Países que iniciaram programas sustentáveis de melhoramento genético nos últimos cinquenta anos são exemplos do uso eficaz da diversidade genética animal, e muito podemos aprender com essas experiências. Visando munir os profissionais da área com elementos responsáveis pela definição de estratégias de ação para melhoramento sustentável das raças locais, a FAO (2010) editou o guia “Breeding Strategies for Sustainable Management of Animal Genetic Resources”, no qual apresenta um conjunto de recomendações úteis, principalmente para os chamados Stakeholders, com destaque para os tomadores de decisões. A leitura desse manual é indispensável para todos os envolvidos com manejo e uso de raças locais para compreensão das prioridades 78 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Maria Norma RIBEIRO1 , Janaina Kelli Gomes ARANDAS 2 para o desenvolvimento local sustentável. CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebe-se que é urgente a necessidade de desenvolver planos de melhoramento baseados nas raças locais para os países em desenvolvimento. Programas de melhoramento das raças locais devem priorizar a manutenção da diversidade genética intrarracial e das culturas a ela associada. Os países em desenvolvimento, assim como o Brasil, possuem grande diversidade de raças adaptadas a cada realidade que podem e devem ser usadas para isso. Estes programas também devem se beneficiar das teorias avançadas do melhoramento, a exemplo dos modelos mistos, para desenvolver índices que combinem características de produção e adaptabilidade. Também não se deve descartar a possibilidade de uso das raças locais em programas de cruzamentos com raças exóticas, aproveitando as vantagens de cada uma delas, mas com o cuidado de manter a variabilidade genética original através da conservação in situ e/ou ex situ. Além disso, os objetivos dos referidos cruzamentos devem ser bastante claros (para que?), bem como o público alvo a ser beneficiado (para quem?) com os produtos derivados destas ações (produtos de alta qualidade, reprodutores melhorados, etc). Deve-se considerar sempre que cada sistema de produção demanda ações e estratégias distintas. Isto contribuirá para melhor aproveitamento das vantagens dos métodos e das raças envolvidas, sem colocar em risco a manutenção do valioso patrimônio genético e cultural associado. Com essa visão será mais fácil conciliar conservação e melhoramento de raças locais com uso adequado e rentável para o criador. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, A. G. C.; PIRES, D. A. F.; RIBEIRO, M. N. 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Devemos considerar que como profissionais Médicos Veterinários, somos promotores da ética, do bem-estar, somos responsáveis pelo alivio do sofrimento dos animais e de seus guardiões, desta forma o reconhecimento da dor e de suas diversas formas de tratamento é um dever moral, pois assim como os homens, sentem medo, solidão, monotonia e dor, os animais também sentem e muitas vezes, apresentam dificuldade de expressar essas sensações. Palavras chaves: Dor, sofrimento, comportamento, cães, gatos. PA L AV R A S - C H AV E Dor, sofrimento, comportamento, cães, gatos. ABSTRACT Pet animals has been considered as family members and as such the feelings developed by these animals are intensely perceived by their guardians, who have just bringing familiar discomfort conditions. The disease developed in these animals, mostly present as a symptom pain that needs to be identified and treated. However this requires that professionals have knowledge about the behavior of the species as well as on the therapeutic protocols according the type of pain. We must consider that as professional veterinarios, we are ethicists, welfare, are responsible for the relief of animal suffering and their guardians, so the recognition of pain and its various forms of treatment is a moral duty, as well as men, they feel fear, loneliness, monotony and pain the animals feel well and often have difficulty expressing those feelings. KEYWORDS Os animais de companhia tem sido considerado como membros das famílias (LUCAS, 2009) e como tal os sentimentos desenvolvidos por esses animais são intensamente percebidos pelos seus guardiões, que acabam trazendo condições de desconforto familiar. As doenças desenvolvidas nestes animais, em sua maioria, apresentam como sintoma a dor, que segundo a International Association for the study of Pain (IASP) é definida Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Pain, suffering, behavior, dogs, cats. como “Uma experiência sensorial de aversão causada por uma lesão tecidual real ou potencial que provoca reações motoras e vegetativas de proteção, ocasionando uma aprendizagem de um comportamento de esquiva, podendo modificar o comportamento especifico da espécie, incluindo o comportamento social”. Essa é uma síndrome que induz a várias alterações fisiológicas podendo levar a morte. Observa-se que tem ocorrido um aumento no 81 Nilza Dutra ALVES1 número de estudos sobre o reconhecimento, alívio e prevenção da dor em animais. No entanto, o seu reconhecimento é muito subjetivo, considerando que são necessário muitos estudos etológicos sobre esse assunto, já que o reconhecimento da dor passa por uma analise comportamental. O controle álgico é fundamental para a recuperação dos animais enfermos e consequente manutenção do bem-estar. Importante salientar que bem-estar significa condição de satisfação das necessidades, conscientes ou inconscientes, naturais ou psicossociais, implica na satisfação das necessidades biológicas (bem estar físico), das necessidades psicológicos (bem estar mental), das necessidades sociais (bem estar social), e não apenas satisfeitas todas essas necessidades, mas perfeitamente atendidas, como cita a Organização Mundial da Saúde. Neste contexto dor e o bem estar animal, estão intrinsecamente ligados, pois não existe bem estar animal onde existe dor. Aliviar a dor e o sofrimento dos animais parece ainda, diante de algumas pessoas, futilidade, considerando que há ainda no mundo milhões de pessoas que sofrem, tem doenças incuráveis, passam fome, convivem com as guerras. As teorias de Garry Francione sobre a abolição da exploração animal, sugere que o massacre dos animais é também um ato do ser humano contra si próprio. Nós o praticamos porque estamos mergulhados em relações sociais que nos cegam. Enxergar nas outras espécies como seres que sentem e sofrem é um enorme passo para nos livrarmos das brutalidades que cometemos entre nós mesmos. Na maior parte do século XX, os médicos veterinários foram mal preparados, em termos de educação e ideologia, para tratar da dor animal, da mesma forma que o controle da dor não foi historicamente uma propriedade para os clínicos humanos. Na realidade a teoria e a pratica moral relativa aos animais foi ignorada durante grande parte da história da humanidade, sendo a crueldade imposta, e a dor e o sofrimento deliberado. Porém, a imposição da sociedade e o comprimento de leis de proteção dos animais têm feito com que sejam adotadas medidas de controle da dor e reduzido o sofrimento dos animais. No inicio do século XXI, acumulou-se um grande conjunto de conhecimentos básicos e de critérios neuroanatômicos e neurofisiológicos do 82 homem e dos animais, assim como a compreensão da fisiologia da dor. Dessa forma, a dor não controlada não é apenas, moralmente problemática, mas ela é biologicamente prejudicial. Afeta numerosos aspectos da saúde física, portanto prejudica a saúde e o bem estar dos animais e pode até mesmo, se for grave o suficiente, provocar a morte. Na verdade pouco se sabe sobre dor e sofrimento dos animais, portanto muitas vezes a dor não é identificada e por sua vez não é tratada. Verifica-se que nos últimos anos têm aumentado o número de estudos sobre o reconhecimento, alívio e prevenção da dor nos animais (HELLEBREKERS, 2002). A dor é uma experiência individual, e o quanto dessa experiência se traduz em um comportamento observável e mensurável depende de vários fatores. O consenso entre os pesquisadores que usam métodos para aferir a dor é que a observação comportamental é uma ferramenta útil para distinguir entre a ausência de dor e dor moderada ou grave. Sabe-se que as estruturas anatômicas e os mecanismos neurofisiológicos na percepção da dor são semelhantes no homem e nos animais, sendo razoável admitir que um estímulo que é doloroso para uma pessoa poderá induzir respostas comportamentais semelhantes nos animais (THURMON, 1999). Tem-se que os proprietários dos animais de companhia estão preocupados com a dor e o bem-estar de seus animais, já que em muitas vezes referem sobre a possibilidade da dor, no entanto muito tem-se que trabalhar esse assunto no meio médico veterinário. Borges et al., 2013, em um estudo sobre o ensino da dor e do bem-estar nas universidades brasileiras verificou que quando foi colocado a palavra-chave “dor” 83% das ocorrências estavam relacionadas a aspectos fisiológicos, farmacológicos, patológicos e anestésicos da dor. Outro dado relevante neste estudo, é que, entre as 22 ementas analisadas, 10 (45%) não mencionam o termo “dor”. Desta forma, percebe-se que o ensino da dor ainda é limitado e que, na maioria das vezes, restringe-se aos aspectos fisiológicos, patológicos, farmacológicos e anestésicos. Os resultados sugerem uma possibilidade de aprimoramento quanto à formação dos médicos veterinários em relação à relevância da dor para o bem-estar animal, de maneira a promover reflexão e busca de melhorias pelos futuros profissionais. O ensino específico de Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Nilza Dutra ALVES1 dor utiliza, em média, somente 15,2% da carga horária total das disciplinas que estão relacionadas à dor animal. Main (2010) afirmou que os currículos do curso de medicina veterinária encontram-se atualmente sob pressão contínua, de políticos, das expectativas dos estudantes e das exigências comerciais, para a inclusão de questões de bem-estar animal. Entre os assuntos a serem incluídos, a preocupação com o ensino da dor animal desponta como muito relevante. A tendência provável, dessa forma, é que essa porcentagem aumente no decorrer dos anos também no Brasil. O diagnóstico de dor deverá ser baseado no exame físico e na avaliação do comportamento animal. Além disso, algumas analises laboratórios contribuem para analise da dor. A detecção da dor nos animais pode ser muito difícil, principalmente se o profissional não tiver um apurado conhecimento sobre o comportamento da espécie. Assim sendo, pode-se estabelecer sinais de dor por meio da observação de alterações de comportamento, nível de atividade, qualidade do sono, expressão facial, preocupação com a área traumatizada, vocalização, postura, parâmetros cardiorrespiratórios e ingestão de alimentos e água (HELLYER, 1999). A dor ainda é tratada de forma inadequada em todo o mundo, tanto na medicina (DAUDT et al., 1998) como na medicina veterinária, porém é necessário que a dor seja identificada e tratada. Para tanto, faz-se necessário que os profissionais da saúde tenham conhecimentos básicos sobre a fisiologia da dor e a farmacologia dos analgésicos, além da capacitação para reconhecimento do quadro álgico (BASSANEZI; OLIVEIRA FILHO, 2006). O tratamento inadequado da dor, principalmente no período pós-operatório, poderá promover o desencadeamento de dor crônica (BREIVIK; STUBHAUG, 2008). A dor induz à mudança de comportamento, incluindo comportamento social, que pode ser específico a cada animal ou espécie. O paradigma moderno da dor sustenta que ela é uma experiência multidimensional. É importante considerar que embora o limiar da percepção da dor pareça ser constante interespécies, a real tolerância de um estímulo doloroso pode variar amplamente dentro de uma mesma espécie, podendo alguns animais tolerar um nível mais elevado de dor que os outros. Devido à sua natureza subjetiva, é difícil quantificar a dor. Além disso, em comparação com os seres Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 humanos, a avaliação da dor em animais é mais complexa e subjetiva, devido à incapacidade dos animais comunicarem verbalmente sua dor. A dor pode ser descrita de acordo com o local de origem em dor somática originada na pele, músculos, ossos e outros tecidos; dor visceral que origina-se nos órgãos internos, como trato gastrintestinal, trato respiratório, dentre outros e dor neuropática originada no sistema nervoso, manifestando-se como uma desordem de processamento da atividade neuronal. Ainda de acordo com sua intensidade e duração podem ser divididas em dor aguda e crônica. A dor aguda é útil e cumpre uma função de preservação, pode causar sofrimento e gerar grande limitação funcional. Esta associada aos sinais físicos do sistema nervoso autônomo, como taquicardia, hipertensão, ansiedade, sudorese, agitação psicomotora, dilatação da pupila e palidez, tem a função de alerta, vem em seguida a uma lesão tecidual, é rápida, permite ao indivíduo evitar lesões graves e apresenta uma terapêutica eficiente. A dor crônica gera acentuado estresse, é inútil e incapacitante, não apresenta tratamento eficiente, causa sofrimento e gera limitação funcional, especialmente de longa duração e com componente central dominante. Na maioria das vezes a dor crônica está associada com alterações graves das vias de condução fisiológica normal que originam a hiperalgesia e alodinia, ou espasmos espontâneos. Leva os pacientes a mudanças emocionais e vegetativas. Os sinais são mudanças no comportamento e disposição funcional, depressão, perda da libido, perda de peso, interferência no sono. Do ponto de vista orgânico a dor crônica pode envolver estruturas somáticas (dor nociceptiva) ou sistema nervoso periférico e central ou ambos, dor neuropática. A dor neuropática tem sintomas diversos e etiologias variadas incluindo câncer, artrite, doenças vasculares, entre outros. É circundada por variadas síndromes, no entanto, tem em comum a presença de hiperalgesia e/ou alodinia, dor espontânea e paraestesia. Os pacientes com esse tipo de dor parecem não responder aos opióides. Tratar a dor é um dever moral e ético, essa traz graves efeitos negativos nos sistemas cardiopulmonar, gastrointestinal, neuroendócrino e imunológico; além disso, os proprietários adquirem mais segurança e confiança. O tratamento da dor proporciona 83 Nilza Dutra ALVES1 qualidade de vida para o animal e o proprietário, além de prevenir alterações comportamentais importantes. Atualmente existem vários protocolos terapêuticos que objetivam propiciar o alívio da dor e restaurar as funções órgão afetado. São utilizadas modalidades terapêuticas desde a clínica à cirúrgica. Os medicamentos analgésicos utilizados são os analgésicos narcóticos, antagonistas narcóticos, anestésicos locais, anticonvulsivantes, antidepressivos triciclicos e medicamentos antiinflamatórios não-esteróides e esteroidais. A administração de medicações analgésicas baseia-se numa “escada analgésica”. O primeiro a usado um analgésico não opióide e um antiinflamatório não-hormonal. Depois um opióide fraco é somado e em seguida um opióide forte. A acupuntura é uma modalidade terapêutica que pode ter aplicação na dor. Porém, a terapêutica das dores neuropáticas é um desafio e para essas tem sido utilizada terapia múltipla. Os principais instrumentos terapêuticos são constituídos de cirurgia descompressiva, anticonvulsivantes (carbamazepina, ácido valpróico, fenitoína, a vigabatrina, gabapentina e lamotrigina,), bloqueio simpático, antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, imipramina ou notriptilina) e fenotiazínicos. É provável que o conceito de “analgesia multimodal balanceada” proporcione o alívio mais abrangente. A analgesia profilática é um importante aspecto a se considerar nas cirurgias eletivas. Essa minimiza o desenvolvimento de hipersensibilidade periférica e do Sistema Nervoso Central em resposta à dor e previne a hiperalgesia e a alodinia. Podemos concluir que como profissionais Médicos Veterinários, somos promotores da ética, do bem-estar, somos responsáveis pelo alivio do sofrimento dos animais e de seus guardiões, desta forma o reconhecimento da dor e de suas diversas formas de tratamento é um dever moral, pois assim como os homens, sentem medo, solidão, monotonia e dor, os animais também sentem e muitas vezes, apresentam dificuldade de expressar essas sensações. Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, Departamento de Ciências Animais para obtenção do título de Médico Veterinário. 2009 . 52 P BASSANEZI, B. S. B.; OLIVEIRA FILHO, A. G. Analgesia Pós-Operatória. Revista do Colégio Brasileiro de Cirúrgia. 33(2):116-22, 2006. BORGES, T.D.; SANS, E.C.O.; BRAGA, J.S.; MACHADO, M.F.; MOLENTO, C.F.M. Ensino de bem-estar e dor animal em cursos de medicina veterinária no Brasil. Arquivos Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. vol. 65, nº1, Belo Horizonte, 2013. BREIVIK, H.; STUBHAUG, A. 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Monografia apresentada a Universidade 84 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Paulo GUIMARÃES1 SEGURANÇA ALIMENTAR NA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE Paulo Guimarães 1 PROGEAL. guimaraespr@ ig.com.br 1 A partir da década de 80, as Indústrias de Alimentos vêm redirecionando seus sistemas de gestão da qualidade para torná-los cada vez mais preventivos e menos corretivos. Esta tendência tem se fortalecido tanto pela constatação de que os sistemas tradicionais de Inspeção e Controle de Qualidade não têm sido capazes de garantir a inocuidade dos alimentos, bem como pela necessidade cada vez maior de racionalizar recursos e otimizar processos. Além disso, a crescente globalização dos mercados tem exigido das empresas a adoção de sistemas de controle reconhecidos internacionalmente. Diante deste quadro, o Programa Alimento Seguro (PAS), associado às Boas Práticas de Fabricação (BPF), tem-se revelado como ferramenta básica do sistema moderno de gestão da qualidade nas indústrias de alimentos, sendo compatível com sistemas da série ISO 22.000 e Qualidade Total. Trata-se de um programa preventivo, que busca garantir a inocuidade do alimento e inclui aspectos que vão desde a produção no campo até o consumidor final, passando pela industrialização e distribuição. Assim, o Sistema APPCC vem sendo adotado em todo o mundo, não só por garantir a segurança dos produtos alimentícios, mas também por reduzir os custos e aumentar a lucratividade, já que minimiza as perdas e o retrabalho, por otimizar o processo, tornando desnecessária uma boa parte das análises laboratoriais realizadas no sistema de controle tradicional, e por tornar o processo de controle transparente e confiável. No Brasil, a partir de 1991, o governo federal juntamente com a iniciativa privada vem desenvolvendo ações para implantação, em caráter experimental, do Sistema APPCC. Este programa foi regulamentado pela Portaria nº 23, de 12 de fevereiro de 1993, da Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária (MAARA) e pelas Portarias nº 11, de 18 de fevereiro de 1993 e nº 13, de 03 de março de 1993, da Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA) e está sendo implantada pelo Serviço de Inspeção de Pescado e Derivados (SEPES), do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Em 26 de novembro de 1993, o Ministério da Saúde (MS) lançou a Portaria nº 1428, que fornece as diretrizes para o estabelecimento de Boas Práticas de Produção e Prestação de Serviços e do Sistema APPCC na área de alimentos, bem como relaciona os conhecimentos básicos necessários aos responsáveis técnicos. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Recentemente, o Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAA) 85 Paulo GUIMARÃES1 lançou a Portaria nº 46, de 10 de fevereiro de 1998, devido à necessidade de atender aos compromissos internacionais assumidos no âmbito da Organização Mundial de Comércio e consequente disposição do Codex Alimentarius. Nesta portaria, instituiu- se o Sistema APPCC para os produtos de origem animal, assim como diretrizes para elaboração do Manual Genérico de Procedimentos, para elaboração do plano de APPCC. Entretanto, apesar de todas as ações tomadas, é ainda uma realidade no Brasil a falta de uma massa crítica de técnicos capazes de assessorar a implantação do Sistema APPCC na indústria. Também é marcante, até agora, a falta de conhecimento do Sistema pelos empresários e pelos técnicos da grande maioria de empresas de médio porte e pela quase totalidade das empresas de pequeno porte. Vale aqui dizer que os princípios do Sistema APPCC são aplicáveis a todos os segmentos da cadeia alimentar, desde a produção primária até o consumidor final. O Sistema pode ser implantado em qualquer tipo de indústria de alimentos, inclusive nas microempresas. Dessa forma, a implantação e implementação de sistemas de qualidade desde o setor primário (Boas Práticas Agropecuária – BPA), passando pela indústria através das Boas Práticas de Fabricação – BPF, bem como no serviço de alimentação (Boas Práticas na Manipulação dos Alimentos – BP) e a implantação do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC em toda a cadeia produtiva. 86 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Pedro Leopoldo Jerônimo MONTEIRO JR1, Alexandre Barbieri PRATA1, Camila SPIES1, Louise Helen OLIVEIRA1, Jéssica Nora DRUM1, Roberto SARTORI1 MANIPULAÇÃO HORMONAL E FATORES QUE INFLUENCIAM NA EFICIÊNCIA REPRODUTIVA DE VACAS LEITEIRAS Pedro Leopoldo Jerônimo MONTEIRO JR1, Alexandre Barbieri PRATA1, Camila SPIES1, Louise Helen OLIVEIRA1, Jéssica Nora DRUM1, Roberto SARTORI1 RESUMO Departmento de Zootecnia, Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, 13418-900, Brasil. *pedromonteirojr@hotmail. com 1 Em rebanhos leiteiros, desde a década de 70, tem se observado que o aumento gradativo da produção de leite vem acompanhado do aumento do número de serviços por concepção. Essa queda da fertilidade está associada a diversos fatores como maior velocidade da metabolização de hormônios esteroides e, consequentemente, concentrações hormonais inadequadas para promover um ambiente endócrino ideal para o crescimento folicular e uterino para o desenvolvimento do concepto. Além disso, o aumento de produção de leite está associado a maiores incidências de doenças e condição anovulatória, bem como à maior susceptibilidade das vacas ao estresse calórico. Com isso, tratamentos hormonais podem ser utilizados visando aumentar a fertilidade de rebanhos leiteiros. Desta forma, o presente artigo discorre sobre aspectos envolvendo à fisiologia reprodutiva e dos fatores que afetam a eficiência reprodutiva de vacas leiteiras. PA L AV R A S - C H AV E Estradiol, IATF, Progesterona, Rebanhos Leiteiros. ABSTRACT In dairy herds, since the 70s, it has been observed that with the increase in milk production has also been associated with increased number of services per conception. This decreased fertility of dairy cows is associated with several factors such as the greater metabolism of steroid hormones, consequently inadequate circulating hormones to promote optimal endocrine environment for follicle growth and conceptus development. Furthermore, the increase in milk production is associated with an increased incidence of diseases related to dairy herds, increased susceptibility to heat stress and higher incidence of anovulation. Accordingly, hormone treatments may be used in order to increase the fertility of dairy herds. Thus, this article discusses particular aspects of the reproductive physiology of dairy cows, as well as factors affecting the reproductive efficiency of dairy herds. KEYWORDS Estradiol, FTAI, Progesterone, Dairy Herds. INTRODUÇÃO nas últimas décadas, embora se tenha verificado aumentos consideráveis na média de produção de A eficiência reprodutiva está positivamen- leite, observou-se um declínio na fertilidade dos te relacionada com a média de produção de leite rebanhos leiteiros (LUCY, 2001, WASHBURN et do rebanho (RIBEIRO et al., 2012). Entretanto, al., 2002). Este fato torna-se evidente quando noCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 87 Pedro Leopoldo Jerônimo MONTEIRO JR1, Alexandre Barbieri PRATA1, Camila SPIES1, Louise Helen OLIVEIRA1, Jéssica Nora DRUM1, Roberto SARTORI1 ta-se que, a prenhez por inseminação artificial (P/ IA) que estava acima de 50% nos anos 70, ficou em torno de 40% nos anos 90 e no início do século já estava abaixo de 40% (WASHBURN et al., 2002). Em resposta à diminuição da eficiência reprodutiva, diversos grupos de pesquisa tem concentrado esforços para elucidar as causas e desenvolver estratégias de manejo que auxiliem a contornar estes problemas (CHEBEL et al., 2004, WILTBANK et al., 2006, RIBEIRO et al., 2013). Dentre as principais causas relacionadas ao declínio da fertilidade estão: a rápida metabolização dos hormônios esteroides, progesterona (P4) e estradiol (E2; WILTBANK et al., 2006), à maior susceptibilidade ao estresse térmico (CHEBEL et al., 2004) e o aumento da incidência de doenças relacionadas à rebanhos leiteiros (RIBEIRO et al., 2013). Essa associação de fatores resulta em menor duração e intensidade de estro (LOPEZ et al., 2004), aumento da incidência de condições anovulatórias (BARTLETT et al., 1986) e comprometimento da qualidade ovocitária (WILTBANK et al., 2006). Visando solucionar parte desses problemas, em 1995, foi desenvolvido pelo grupo do Professor Milo Wiltbank, na Universidade de Wisconsin, nos EUA, o primeiro protocolo de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) (PURSLEY et al., 1995). Buscando melhores resultados de fertilidade, ao longo dos anos, algumas modificações do protocolo inicial foram realizadas e até mesmo outros protocolos foram criados. Essa revisão discorre sobre particularidades da fisiologia reprodutiva de vacas leiteiras, assim como mudanças pontuais do protocolo de IATF mais utilizado no Brasil, visando aumento de fertilidade. Além disso, são abordados também diferentes aspectos que estão relacionados ao comprometimento da fertilidade em rebanhos leiteiros. PARTICULARIDADES FISIOLÓGICA DA VACA LEITEIRA Existe alta correlação positiva entre a ingestão de matéria seca e a produção de leite (HARRISON et al., 1990) e isso não só provoca alterações na fisiologia ovariana, como também nas concentrações de hormônios esteroides (SANGSRITAVONG et al., 2002). Vacas leiteiras de alta produção possuem folículos ovulatórios de maior 88 tamanho durante a lactação, entretanto, a concentração sanguínea de E2 é mais baixa do que em vacas não lactantes ou novilhas (SARTORI et al., 2002a). Apesar das vacas lactantes apresentarem CL de maior tamanho, as concentrações circulantes de P4 são menores quando comparadas a novilhas e vacas não lactantes (SARTORI et al., 2002a). Baixa concentração circulante de P4, está associada à maior incidência de codominância e dupla ovulação em vacas leiteiras, mas não em novilhas (WILTBANK et al., 2006). Vacas lactantes, devido à alta ingestão de matéria seca, possuem aproximadamente, duas vezes mais fluxo sanguíneo hepático do que vacas não lactantes e, consequentemente, catabolizam mais E2 e P4 (SANGSRITAVONG et al., 2002). Sendo assim, em vacas lactantes, para que a concentração sanguínea de E2 seja suficiente para induzir o comportamento de cio e pico pré-ovulatório de GnRH/ LH, os folículos ovulatórios devem ser maiores do que em vacas não lactantes e novilhas (SARTORI et al., 2004). Entretanto, a concentração sanguínea de E2 tem correlação positiva com a expressão e intensidade de estro (LOPEZ et al., 2004). Por esta razão, vacas de maior produção de leite (46,8 kg/d) tem menor (P < 0,01) duração de cio do que as de menor (32,3 kg/d) produção (7,0 vs. 11,9 h, respectivamente; LOPEZ et al., 2004), o que pode comprometer as estratégias de manejo reprodutivo em fazendas leiteiras. Quando se compara a qualidade embrionária de vacas holandesas de alta produção a de novilhas púberes ou vacas não lactantes, nota-se menor viabilidade embrionária nas vacas lactantes (SARTORI et al., 2002b). Isso foi mostrado, por meio da colheita de embriões de ovulação única onde, nas vacas lactantes, apenas 47% dos embriões foram considerados viáveis, enquanto que em vacas não lactantes e novilhas em torno de 72% eram viáveis. Ainda, no verão, a taxa de fecundação de vacas lactantes foi comprometida quando comparada a novilhas (55% vs 100%). Em grande parte das vacas, quanto maior a produção de leite mais intenso é o balanço energético negativo (BEN). Além disso, nesses animais observa-se aumento na incidência de condição anovulatória (BARTLETT et al., 1986). O atraso na primeira ovulação é geralmente atribuído ao período de BEN durante o início da lactação e reduCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Pedro Leopoldo Jerônimo MONTEIRO JR1, Alexandre Barbieri PRATA1, Camila SPIES1, Louise Helen OLIVEIRA1, Jéssica Nora DRUM1, Roberto SARTORI1 ção dos pulsos de LH necessários para estimular os Neste mesmo estudo, a fertilidade foi maior estágios finais do crescimento folicular e produção para o grupo com maior dose (500 µg = 40,9% vs de E2 (BEAM e BUTLER, 1997). 750 µg = 45,4%; P = 0,05). Em protocolos à base de E2/P4, os resultados de fertilidade parecem ser MANIPULAÇÃO HORMONAL PARA INSE- similares, já que vacas com concentrações de P4 MINAÇÃO ARTIFICIAL acima de 0,1 ng/mL no momento da IATF, tiveram menor taxa de ovulação (MONTEIRO JR et al., Visando minimizar os problemas relacio- 2015a) e P/IA (PEREIRA et al., 2013, MONTEInados à baixa eficiência reprodutiva de rebanhos RO JR et al., 2015a). leiteiros, foram desenvolvidos vários protocolos Outra tentativa visando melhorar a ferhormonais com o intuito de sincronizar a emergên- tilidade em rebanhos leiteiros tem sido o uso da cia de uma nova onda de crescimento folicular e gonadotrofina coriônica equina (eCG), porém, os a ovulação, permitindo-se a realização da IA sem resultados ainda são controversos. Estudos utiliobservação de estro. Os protocolos de IATF são ba- zando vacas leiteiras de alta produção verificaram seados nos tratamentos hormonais à base de GnRH aumento no volume do CL e na concentração de e PGF2α (PURSLEY et al., 1995) ou na associação P4 no diestro subseqüente à IATF nos animais que de E2/P4 (SOUZA et al., 2009). receberam eCG (400 UI). Porém, no grupo de aniEm condições nacionais, mesmo com a utilização mais que receberam eCG ,somente os animais com de protocolos de IATF, a P/IA dificilmente ultrapas- baixo escore de condição corporal (ECC) apresensa 35%. No protocolo à base de E2/P4, sabe-se que taram incremento na P/IA (SOUZA et al., 2009). vacas efetivamente sincronizadas apresentam P/IA Devido ao crescimento do rebanho de vacas mestisatisfatória (≈60%). No entanto, apenas 60% des- ças produtoras de leite, principalmente da raça Gises animais atendem às premissas da sincroniza- rolando, Prata et al. (2015) realizaram um recente ção, que é emergir uma nova onda de crescimento estudo com 679 vacas para avaliar o efeito da eCG folicular e ovular ao final do protocolo (MONTEI- (400 UI) no dia 7 do protocolo na fertilidade de vaRO JR et al., 2015a). Deste modo, vários estudos cas mestiças lactantes. De acordo com os autores, foram realizados com o intuito de melhorar a sin- vacas tratadas com eCG e inseminadas até 70 dias cronização da emergência folicular, a luteólise e o em leite (DEL) apresentaram maior P/IA (32,8% crescimento final do folículo dominante. Resulta- vs. 21,3%; P = 0,05), efeito este não observado dos de alguns destes estudos serão demonstrados e em vacas com mais de 70 dias em leite (31,1% vs. discutidos a seguir. 29,9%; P = 0,70). O uso de eCG no D7 do protoco Para aumentar a proporção de vacas sin- lo aumentou a fertilidade, devido a melhora da P/ cronizadas foram realizados experimentos pré-sin- IA das vacas inseminadas até 70 DEL. cronizando as vacas para se iniciar o protocolo de O fato é que quando se utilizam protocoIATF , aumentando a dose benzoato de estradiol los de IATF intensivamente em rebanhos leiteiros (BE; MONTEIRO JR et al., 2015a), ou substituin- é observada diminuição (P < 0,01) dos intervalos do o BE por GnRH (MELO et al., 2014) no início entre o parto e 1ª IA, e entre o parto e concepção do protocolo. No entanto, nenhum desses estudos (MONTEIRO JR et al., 2015b). Todavia, outros faobteve sucesso no aumento de proporção de vacas tores como, estado nutricional e metabólico, tamsincronizadas ou da P/IA. bém interferem na fertilidade de rebanhos leiteiros. A maioria dos protocolos de IATF utilizados atualmente tem indicado apenas uma aplicação FATORES QUE AFETAM A FERTILIDADE de PGF2α um dia antes da retirada do dispositivo FATORES NUTRICIONAIS E DESORDENS de P4 ou junto ao mesmo. No entanto, um estudo METABÓLICAS recente constatou que o aumento da dose de Cloprostenol proporcionou maior regressão total do O período de BEN está associado a menores CL em vacas multíparas (500 µg = 79,2% vs 750 concentrações circulantes de insulina, hormônio µg = 87,7%), no entanto, este efeito não foi obser- do crescimento (GH) e glucagon quando comparavado em primíparas (GIORDANO et al., 2013). do a outras fase de produção (KOZLOSKI, 2011). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 89 Pedro Leopoldo Jerônimo MONTEIRO JR1, Alexandre Barbieri PRATA1, Camila SPIES1, Louise Helen OLIVEIRA1, Jéssica Nora DRUM1, Roberto SARTORI1 A insulina estimula a expressão de receptores de GH no fígado e, consequentemente, a produção de IGF-1. Como a concentração de insulina circulante está baixa no pós-parto inicial, a secreção de IGF-1 é comprometida, o que caracteriza um desacoplamento do eixo somatotrópico (LUCY, 2008). Os efeitos desse desacoplamento são negativos para a reprodução, já que a insulina, bem como o IGF-I, atuam em sinergia com as gonadotrofinas no ovário. Gong et al. (2002) observaram que o fornecimento de dieta insulinogênica até 50 DEL antecipou a primeira ovulação. No entanto, existem evidências de que a manutenção de vacas em uma dieta hiperinsulinêmica pode ter efeitos deletérios sobre as taxas de sobrevivência embrionária (FOULADI-NASHTA et al., 2005). Garnsworthy et al. (2009) sugeriram então um manejo nutricional estratégico: o fornecimento de dieta insulinogência durante o período de espera voluntário para melhorar o desenvolvimento folicular e retomada da ciclicidade e outra dieta não-insulinogênica, a partir desse período, baseando-se no fato de que isto favoreceria o desenvolvimento e competência oocitária e melhoraria o “status da P4”. O BEN provoca perda de peso e de ECC, e aumento nas concentrações séricas de ácidos graxos não esterificados (AGNE) e β-hidroxibutirato (GRUMMER et al., 2004). Vacas com baixo ECC ao parto ou com excesso de perda de ECC no pós-parto precoce apresentaram menor P/IA e maior intervalo parto-concepção quando comparadas às que mantiveram ou ganharam ECC (CARVALHO et al., 2014). Isso pode, em parte, ser causado pela captação de AGNE pelo ovócito, ocasionando prejuízos ao desenvolvimento embrionário (LEROY et al., 2005) ou ainda, por desordens no ambiente uterino, já que o BEN severo pode aumentar a expressão de mediadores da inflamação (WATHES et al., 2007). A imunossupressão (BURTON et al., 2001) e aumento do estresse oxidativo que ocorre após o parto (SORDILLO e AITKEN, 2009) é o que torna o animal susceptível a desenvolver doenças e desordens metabólicas como: hipocalcemia, retenção de placenta, metrite, endometrite, cetose, mastite e deslocamento de abomaso. Além disso, independentemente da doença ser clínica ou subclínica, as vacas doentes apresentam maior incidência de condição anovulatória (16,5 vs. 4,4%) e 90 menor P/IA (50,0 vs. 73,5%) quando comparadas às vacas sadias (RIBEIRO et al., 2013). Um estudo recente realizado no Brasil (PONTES et al., 2015) mostrou que vacas com baixa concentração sanguínea de Vitamina E possuem três vezes mais chances de desenvolverem retenção de placenta, tem maior incidência de natimortos, apresentam concentração de AGNE mais elevada na primeira semana pós-parto, além de menor P/IA e maior perda de prenhez comparado a vacas com níveis normais de vitamina E. ESTRESSE TÉRMICO O estresse térmico é o principal fator que contribui para a diminuição da fertilidade de vacas de leite inseminadas no verão (AL-KATANANI et al., 1999), sendo os efeitos negativos carreados para o início do outono (WOLFENSON et al., 1997). Chebel et al. (2004) mostraram que um evento de estresse térmico ocorrendo entre 20 e 50 dias antes da IA é o suficiente para diminuir a P/IA em vacas leiteiras lactantes. A explicação para isso parece estar no fato de o estresse térmico prejudica a fecundação e a qualidade do embrião, como mostra o estudo de Sartori et al. (2002b) no qual vacas lactantes, no verão, tiveram menor taxa de fecundação (55 vs. 100%), menos embriões viáveis (33,3 vs. 71,9%) e maior temperatura retal (39,3±0,03 vs. 38,7±0,01) comparadas às novilhas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora não se tenha obtido aumento na P/ IA do rebanho leiteiro norte-americano de 1998 a 2008, foi observada diminuição gradativa do intervalo entre o parto e concepção no mesmo período. Essa recuperação da eficiência reprodutiva foi impulsionada principalmente pela adoção massiva de protocolo de IATF, pois em 1998 em apenas 9% dos rebanhos esta técnica era utilizada, enquanto que em 2008, já eram 58% (WILTBANK e PURSLEY, 2014). Sendo assim, a IATF é uma ferramenta que deve ser sistematicamente utilizada em rebanhos leiteiros, porém não deve ser vista como a única solução para problemas de manejo reprodutivo. Conforme foi visto no presente artigo, a eficiência reprodutiva de rebanhos leiteiros depende de Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Pedro Leopoldo Jerônimo MONTEIRO JR1, Alexandre Barbieri PRATA1, Camila SPIES1, Louise Helen OLIVEIRA1, Jéssica Nora DRUM1, Roberto SARTORI1 diversos outros fatores, ressaltando-se então, a importância de se integrar boas práticas sanitárias e nutricionais associadas a estratégias de manejo reprodutivo adequadas para se obter uma boa fertilidade. AGRADECIMENTOS Ao CNPq, CAPES e FAPESP por fomentar alguns estudos referenciados neste artigo e às fazendas parceiras que contribuíram para a condução dos estudos. REFERÊNCIAS AL-KATANANI, Y. M.; WEBB, D. W.; HANSEN, P. J. Factors affecting seasonal variation in 90-day nonreturn rate to first service in lactating Holstein cows in a hot climate. Journal of Dairy Science, v.82, n. 12, p.2611-2616, 1999. BARTLETT, P. C.; NGATEGIZE, P. K.; KANEENE, J. B.; KIRK, J. H.; ANDERSON, S. 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Bioquímica dos ruminanCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 91 Pedro Leopoldo Jerônimo MONTEIRO JR1, Alexandre Barbieri PRATA1, Camila SPIES1, Louise Helen OLIVEIRA1, Jéssica Nora DRUM1, Roberto SARTORI1 tes. 3a ed., Santa Maria. LEROY, J.; OPSOMER, G.; DE VLIEGHER, S.; VANHOLDER, T.; GOOSSENS, L.; GELDHOF, A.; BOLS, P. E. J.; DE KRUIF, A.; VAN SOOM, A. Comparison of embryo quality in high-yielding dairy cows, in dairy heifers and in beef cows. Theriogenology, v.64, n.9, p.2022-2036, 2005. LOPEZ, H.; SATTER, L. D.; WILTBANK, M. C. Relationship between level of milk production and estrous behavior of lactating dairy cows. Animal Reproduction Science, v.81, p.3-4, p.209-223, 2004. VERAS, M. B.; BORGES, P. T.; WILTBANK, M. C.; VASCONCELOS, J. L. M. Timing of prostaglandin F-2 alpha treatment in an estrogen-based protocol for timed artificial insemination or timed embryo transfer in lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v.96, n.5, p.2837-2846, 2013. 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E-mail: faleirosufmg@ gmail.com 2 Instituto Brasileiro de Veterinária. 3 Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP. 1 A capacidade de reconhecer, classificar e controlar a dor é qualidade imprescindível ao Médico Veterinário que trabalha com animais de produção. A dor, quando não devidamente controlada, pode trazer malefícios diretos ao organismo, que agravam o quadro clínico primário, retardando ou mesmo impedindo o restabelecimento da homeostase. Cada situação clínica deve considerada especificamente e o tratamento direcionado de acordo com a intensidade da dor e com órgão afetado pela enfermidade primária. PA L AV R A S - C H AV E analgesia, analgésicos, nocicepção ABSTRACT The ability to recognize, classify and control pain is an essential quality to the veterinarian who works with farm animals. Pain, when not properly controlled, can bring direct harm to the body that aggravate the primary clinical and delay or even prevent restoration of homeostasis. Each clinical situation should be specifically evaluated and treated according to pain severity of pain and the type of organ affected by the primary disease. KEYWORDS INTRODUÇÃO analgesia, analgesic, nociception O recente desenvolvimento de pesquisas no campo da dor revela, progressivamente, a importância de suas manifestações clínicas. A dor deixa de ser apenas um sintoma e adquire aspecto de síndrome, sendo seu reconhecimento e controle precoces, de grande relevância para a recuperação dos animais acometidos. Desenvolvimento e consequente acúmulo de secreções pulmonares. Essas alterações promovem diminuição na capacidade respiratória e possível hipoxemia, que podem evoluir para atelectasia e pneumonia. O espasmo muscular, devido a presença de dor aguda, também é importante em traumas ortopédicos, pois a limitação de movimentos pode provocar transtornos no metabolismo muscular, ocasionado atrofia e aumento significativo no retorno à função muscular normal. A presença de dor aguda, devido a trauma ou cirurgia, resulta direta ou indiretamente, em várias respostas fisiológicas e psicológicas. Quando originada na região do tórax ou abdome, a dor severa provoca reflexo espinhal involuntário, resultando em espasmo muscular tanto na região da lesão, como nos grupos musculares caudais e craniais. Outra complicação é a inibição da tosse Outra alteração de grande importância no processo da dor é a ativação reflexa das vias simpáticas que promove aumentos na frequência cardíaca e resistência periférica. Apesar dessas respostas serem positivas na manutenção do débito cardíaco e da pressão arterial, a atividade simpática prolongada pode provocar vários efeitos deletérios como: alteração na perfusão regional, prejuízo para o fun- 94 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Rafael Resende FALEIROS1 , Luciana RASERA2, Andrea da Costa AITA3 , Hidelbrando VIEIRA FILHO3 cionamento dos órgãos vitais, ativação do sistema angiotensina-renina, aumento na ativação plaquetária e hiperatividade reflexa eferente. Outros efeitos importantes são verificados sobre o trato gastrointestinal, podendo ocorrer estase gástrica e íleo paralítico. sequentemente a nocicepção. Em situações onde os animais serão submetidos a cirurgia, a aplicação de AINEs e anestésicos locais antes do procedimento pode prevenir a ocorrência das alterações neuroplásticas na medula. Os anestésicos locais dessa forma, mesmo em situações de anestesia geral, podem ser aplicados de forma tópica, perineural ou Os mecanismos nociceptivos, após extensa mesmo por via epidural ou intratecal. lesão tissular, estão envolvidos com uma série de alterações neuroendócrinas denominadas resposta A via intratecal e, principalmente, a via epiglobal ao estresse. A resposta global ao estresse se dural têm sido muito utilizadas na atualidade não só caracteriza por aumento nos hormônios catabólicos para os anestésicos locais, mas também para várias (cortisol, glucagon, hormônio do crescimento, ca- substâncias, para as quais tem sido identificados retecolaminas) e inibição de mediadores anabólicos, ceptores na medula. As principais são os opioides em particular testosterona e insulina. Verifica-se e os α2-agonistas, que agem nas vias descendentes assim, aumento na mobilização de substrato, hiper- da dor ou mesmo em receptores inibitórios nas siglicemia e equilíbrio negativo de nitrogênio, que napses de neurônios aferentes e de segunda ordem. podem ter um efeito benéfico inicial por melhorar A grande vantagem dessa via nesses casos é que a produção e disponibilidade de energia corporal. se consegue analgesia efetiva com doses diminutas Entretanto, à medida que essa situação se prolonga e com menor ocorrência dos efeitos indesejáveis seus efeitos se tornam deletérios, principalmente sistêmicos. Outros fármacos têm sido pesquisados na convalescência. A perda excessiva de proteína por essa via. Entre eles, um do que tem mostrado pode promover esgotamento muscular, fadiga e resultados interessantes é a cetamina, que tem ação convalescência prolongada, além de imunodepres- bloqueadora sobre os receptores NMDA, que estão são, decorrente da diminuição da produção de imu- envolvidos nos processos de hiperalgesia secundánoglobulinas e da função fagocitária, favorecendo ria e alodinia. o aparecimento de infecções. Interessante ressaltar que, mesmo em ani No controle da dor, o primeiro aspecto a ser mais que serão submetidos a cirurgia sob anestesia considerado é o psicológico. Pesquisas têm revela- geral, é sempre necessária a inclusão de fármacos do que existe uma estreita interação entre as vias analgésicos prévios. Isso se explica devido a maionociceptivas e os centros supraespinhais responsá- ria dos anestésicos gerais utilizados na atualidade veis pela emoção. Relação essa que tem revelado, não possuir efeitos antálgicos diretos e, o que é mais por meio de relatos de humanos e modelos experi- importante, não impedir a condução dos estímulos mentais em cobaias, que sentimentos como ansie- nociceptivos. Tradicionalmente, os fármacos mais dade e medo são fatores que tendem a maximizar a utilizados nessa situação são os α2-agonistas e os percepção da dor e que conduzem o paciente a um opioides, que comprovadamente possuem ação estado de sofrimento e estresse. Assim o abrigo, a analgésica central. A indicação deve ser feita com manipulação e o tratamento adequados do paciente base na espécie, na enfermidade, no estado do pasão fundamentais. Em animais mais susceptíveis ciente e no tipo de anestesia a ser realizada. Essas ao estresse, como os equinos, substâncias neuro- variáveis devem ser analisadas, dentro dos conceilépticas e ansiolíticas podem ser utilizadas, para tos modernos de anestesia balanceada, de forma a auxiliar nos efeitos dos analgésicos. se obter analgesia pré, intra e pós operatória pelo anestesista. Em relação aos analgésicos, os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) diminuem a sen- Existem várias situações no manejo da dor, sibilização dos nociceptores, reduzindo assim a que devem ser abordadas de forma individualizada. hiperalgesia primária. Já os anestésicos locais são As enfermidades gastrointestinais dolorosas são eficientes para impedir a condução nervosa e con- muito comuns em animais de produção. Nessas siCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 95 Rafael Resende FALEIROS1 , Luciana RASERA2, Andrea da Costa AITA3 , Hidelbrando VIEIRA FILHO3 tuações é fundamental estabelecer-se um diagnóstico e, nesses casos, a dor é um parâmetro muito importante a ser avaliado, devendo-se fazer considerações quanto à sua natureza, localização e intensidade. Até que se tenha um diagnóstico, apenas analgésicos de curta ação devem ser administrados permitindo a realização de um exame completo ou pequenos procedimentos que os animais, devido à dor severa, impedem sua manipulação. Dentre esses analgésicos de curta ação estão dipirona associada ou não à ioscina, xilazina e, em casos mais intensos, butorfanol e meperidina. Lembrando que opioides devem sempre ser usados com parcimônia e sempre em associação com fenotiazínicos e α2-agonistas, para evitar excitação. tésicas locais para proporcionar o alívio da dor no período pós-operatório imediato. Estas técnicas, se possível, deverão ser aplicadas antes do estímulo cirúrgico ocorrer, desta forma bloqueia-se as vias neuronais do sítio cirúrgico. Após este estabelecimento do diagnóstico ou da decisão cirúrgica nas infecções gastrointestinais, os AINEs podem ser administrados para promover analgesia. Além do mais AINEs são benéficos pois inibem a cicloxigenase, cujos produtos mediam muitos dos efeitos da endotoxemia. O flunixim meglumine é bastante efetivo neste aspecto. Nas afecções ortopédicas, sabe-se que os AINEs são bastante efetivos para o controle da dor associada com isquemia muscular em animais com miopatia. AINEs também são amplamente utilizados no controle de dor oriunda de ligamentos, tendões, ossos e articulações. A fenilbutazona tem sido amplamente empregada para este propósito na espécie equina e pode melhorar o conforto por meio da redução do processo inflamatório e na produção de prostaglandinas. Os corticosteroides também são efetivos, principalmente quando aplicados de forma local nas afecções articulares. Aplicações sistêmicas têm sido usadas durante as primeiras 48 horas nos casos de trauma do sistema musculoesquelético. As afecções oculares e auditivas também merecerem atenção especial quanto ao controle da dor. Nas afecções oculares a terapia médica normalmente soluciona o problema primário, mas a dor associada pode produzir auto traumatismo. Assim anestésicos locais tópicos previnem injúrias secundárias por auto traumatismos, podendo-se associá-los a AINEs ou opioides, dependendo da severidade da dor. Como medida adicional o olho deve ser protegido com bandagens. Durante o parto, a presença de alguma dor é inevitável não sendo desejável administração de analgésicos na rotina, com exceção de casos de distocia com dor severa, principalmente quando a decisão é de realizar cirurgia. Nesses casos, o uso de anestésicos locais por via epidural é uma opção interessante. Os α2-agonistas devem ser evitados nessas situações, principalmente em bovinos, por interferir nas contrações uterinas. Nas otites, relativamente comuns em bovinos da raça Gir, os animais podem apresentar dor severa que pode persistir por vários dias, prejudicando a evolução do quadro. Assim preparações tópicas com anestésicos locais associados com AINEs sistêmicos parecem ser bem eficientes. CONSIDERAÇÕES FINAIS O reconhecimento e tratamento precoce são fatores fundamentais para prevenir alterações psicológicas, neuropatológicas, endócrinas e metabólicas produzidas pela dor. Cada situação deve ser avaliada considerando-se características específicas do animal (como espécie, sexo, idade, estado nutricional, afecções prévias e concomitantes) e também o tecido/órgão acometido e a intensidade da dor. Uma ênfase maior tem sido dada ao uso de opioides por via sistêmica, epidural e até intra-articular. O relaxamento muscular é benéfico na redução de alguns tipos de fraturas, um bloqueio epidural com um anestésico local ou um opioide, pode proporcionar este relaxamento. Mais além, existem REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS relatos de que os opioides endógenos se interagem com receptores intra-articulares. Juntamente com ALVES, G.E.S., FALEIROS, R.R., MARQUES o uso dos opioides tem se realizado técnicas anes- Jr, A.P. Abdome agudo eqüino: controle da dor. 96 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Rafael Resende FALEIROS1 , Luciana RASERA2, Andrea da Costa AITA3 , Hidelbrando VIEIRA FILHO3 Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da HALL, L.W. Postoperative pain control in hospiUFMG, n.21, p.15-23, 1997. talized and outpatient animals. In: SHORT, C.E., VAN POZNAK, A. (ed) Animal Pain. New York: DOBROMYLSKYJ, P, FLECKNELL, P.A., LAS- Churchill Livingstone, 1992. p. 353-357. CELLES, B.D. et al. Management of postoperative and other acute pain. 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Após sua reemergência no Brasil a doença tem sido notificada em praticamente todo território nacional. A estratégia de controle instituída pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e abastecimento (MAPA) envolve o teste para controle de trânsito e de eventos de aglomeração de equídeos, bem como interdição e saneamento dos focos detectados. Essas medidas são baseadas nos resultados de testes sorológicos realizados por laboratórios privados credenciados pelo MAPA ou por laboratórios oficiais do MAPA. A fixação do complemento (FC) é o teste prescrito como triagem e o western blotting (WB) como prova confirmatória. Os principais gargalos para o diagnóstico do mormo no Brasil são a dependência tecnológica, a qualidade de certos antígenos, bem como as limitações do teste de triagem (FC), com baixa sensibilidade (Se) e especificidade (Sp), além da subjetividade do WB. Como alternativa, desenvolvemos um ELISA indireto (ELISAi) empregando antígeno de amostras de B. mallei isoladas no Brasil (Kit diagnóstico Mormo ELISAi; MAPA Licença no: 10.080/2015). O teste apresentou Se e Sp de 98,76% e 99,65%, respectivamente. O Kit será submetido à validação internacional (OIE-Tender ref. AD/ SR/2015/1885). A próxima etapa para concluir a validação no Brasil é a realização de provas de reprodutibilidade. Espera-se que, cumprida essa etapa, o ELISAi seja incluído no Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos como teste oficial para diagnóstico sorológico do mormo. PA L AV R A S - C H AV E ELISA, Fixação do complemento, western blotting, MAPA, OIE. ABSTRACT Glanders is a zoonotic disease caused by Burkholderia mallei that affects equidae. After its re-emergence in Brazil the disease has been reported in almost all country. The control strategy established by the Ministry of Agriculture, Livestock and Supply (MAPA) involves statutory testing for equidae trafic control, movement restrictions and culling of positive animals from the detected outbreaks. These measures are based on the results of serological tests performed by private laboratories accredited by MAPA or by official MAPA laboratories. The complement fixation (CF) test is prescribed as screening and western blotting (WB) as a confirmatory test. The major problems for the diagnosis of glanders in Brazil are technological dependence, the quality of certain antigens, as well as the limitations of the screening test (CF), with low sensitivity (Se) and specificity (Sp), and the subjectivity of the WB. Alternatively, we have de98 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Roberto Soares CASTRO1 veloped an indirect ELISA (ELISAi) employing antigens of B. mallei isolated in Brazil (Diagnostic kit – Glanders iELISA; MAPA License n: 10.080/2015). The ELISAi showed Se and Sp of 98.76% and 99.65%, respectively. The Kit will be submitted to international validation (OIE-Tender ref. AD/SR/2015/1885). The next step to complete the validation in Brazil is the conduction of reproductibility assay. Then it is expected that the ELISAi will be included in the Equidae National Health Program as official test for serological diagnosis of glanders. KEYWORDS O Mormo é uma zoonose causada pela bactéria Burkholderia mallei que afeta principalmente equídeos causando hipertermia, sinais respiratórios e lesões cutâneas. A doença geralmente é de evolução aguda em asininos e muares, porém crônica em equinos, com evolução em poucos dias a anos. O mormo é conhecido há vários séculos e foi considerada extinta do Brasil em 1968. Em 2000 o Prof. Rinaldo Aparecido Mota da UFRPE e sua equipe relataram a reemergência da doença ao isolarem B. mallei e descreverem os aspectos epidemiológicos, sorológicos e clínico-patológicos do mormo em focos nos Estados de Pernambuco e Alagoas (MOTA et al, 2000). A classificação das amostras de B. mallei isoladas no Brasil foi confirmada em um amplo estudo com marcadores genéticos, envolvendo 44 cepas de B. mallei e 32 de B. pseudomallei isoladas em mais de 20 países (SCHMOOCK et al., 2009). Atualmente o mormo está distribuído em praticamente todo território nacional. As fontes mais comuns de infecção por B. mallei são alimentos ou água contaminados por exsudatos eliminados do trato respiratório ou de lesões cutâneas ulceradas de animais infectados. A transmissão da bactéria entre os animais ocorre por contato direto ou indireto, principalmente pela ingestão de água e alimentos contaminados e inalação de partículas em suspensão. A transmissão é facilitada pela alta densidade populacional, inadequadas condições de higiene e estresse dos animais. O fluxo de portadores assintomáticos para comercialização, reprodução e práticas esportivas é a mais importante forma de disseminação da doença entre as criações (KHAN et al., 2013). A prevenção e o controle do Mormo dependem de programas sanitários específicos, com detecção precoce dos animais infectados, eliminaCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 ELISA, complemente fixation, western blotting, MAPA, OIE. ção humanitária dos positivos, rigoroso controle de trânsito animal, isolamento e higienização das instalações e utensílios da criação afetada. No Brasil as ações de vigilância e defesa sanitária dos equídeos são coordenadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio do Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos – PNSE, instituído pela INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 17, DE 8 DE MAIO DE 2008 (MAPA, 2008). O PNSE visa ao fortalecimento do complexo agropecuário dos equídeos, por meio de ações de vigilância e defesa sanitária animal, através das seguintes atividades: I - educação sanitária; II - estudos epidemiológicos; III - controle do trânsito; IV - cadastramento, fiscalização e certificação sanitária; e V - intervenção imediata quando da suspeita ou ocorrência de doença de notificação obrigatória. As ações previstas no PNSE em cada unidade da federação são de responsabilidade das respectivas Secretarias de Agricultura ou agências de defesa agropecuária. Como a principal forma de propagação do mormo entre as criações é o fluxo de animais infectados, o controle de trânsito dos equídeos é fundamental para sua prevenção. De acordo com a INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 24, DE 5 DE ABRIL DE 2004 (MAPA, 2004), que estabelece as normas para controle e erradicação do Mormo no Brasil, as principais medidas são o controle de trânsito e de eventos de aglomeração de equídeos, bem como o saneamento dos focos detectados. Todas as medidas são baseadas nos resultados de testes sorológicos realizados por laboratórios privados credenciados pelo MAPA ou por laboratórios oficiais do MAPA. O período de incubação do Mormo varia de alguns dias a vários meses, dependendo da via 99 Roberto Soares CASTRO1 de infecção, intensidade da exposição e fatores intrínsecos do hospedeiro. Por isso, o diagnóstico laboratorial é essencial para dar apoio às medidas preventivas e de controle da doença. Os testes sorológicos são os mais práticos para diagnóstico em larga escala. O teste sorológico para diagnóstico do Mormo preconizado para trânsito internacional de equídeos é a Fixação do Complemento (FC), porém os ensaios imunoenzimáticos (Western Blotting-WB e ELISA), também são considerados adequados para dar suporte às medidas de controle e para a realização de inquéritos epidemiológicos (OIE, 2013). A prova sorológica de FC, realizada em laboratório oficial ou credenciado pelo MAPA, conforme a referida Instrução Normativa, é o teste prescrito para o diagnóstico do mormo no Brasil. Mais recentemente o WB passou a ser adotada como prova confirmatória. O WB empregado foi desenvolvido na Alemanha (ELSCHNER et al., 2011). Apesar de ser a FC o teste recomendado pela OIE (2013), sua sensibilidade (Se) e especificidade (Sp) têm sido questionadas, mesmo nos países que conseguiram erradicar a doença. Resultados de trabalhos recentes demonstram que há variação no desempenho da FC para diagnóstico do mormo, dependendo do antígeno utilizado, da situação epidemiológica da população onde as amostras são colhidas para o teste (endêmica x livre) e o laboratório onde os testes são realizados. Para adequada avaliação de um teste de diagnóstico, com base na Se e na Sp, é fundamental a existência de critérios seguros de classificação dos indivíduos que compõem a amostra em verdadeiro-positivos e verdadeiro-negativos. No caso da avaliação de testes sorológicos para diagnóstico do mormo, a definição de verdadeiro-negativo mais frequentemente empregada, e bastante consistente, é animais originários de área livre da doença. Por outro lado, em todos estudos, há grande dificuldade de adotar um critério de classificação de verdadeiro-positivo que se aproxime da situação real, observada em condições naturais da infecção. No geral os critérios levam em consideração a presença de sinais clínicos e/ou sorologia positiva e/ou isolamento bacteriano. Isto resulta em um importante viés de seleção dos casos positivos com consequente superestimativa do cálculo da Se. Só para ilustrar, é bem sabido que, particu100 larmente na infecção de equinos, predominam os casos crônicos assintomáticos, que deve ser a mais frequente em uma área endêmica. Infecção crônica pode resultar em baixos títulos de anticorpos, sobretudo em animais com bom equilíbrio orgânico e eficiente imunidade celular. Por ser de difícil caracterização/detecção com os recursos atuais de diagnóstico, esse tipo de animal não tem sido incluído nos trabalhos publicados de avaliação dos testes para diagnóstico do mormo, resultando em importante viés de seleção de amostras. Uma alternativa para compensar essa dificuldade é avaliar o teste considerando, adicionalmente, os resultados de testes seriados em rebanhos endêmicos. Embora a prova de FC seja bastante antiga para diagnóstico do mormo, só recentemente foram feitos estudos comparando o desempenho do teste realizado com diferentes antígenos comercialmente disponíveis e em diferentes situações epidemiológicas. Testes de FC empregando antígenos CIDC (Holanda), c.c.pro (Alemanha) e USDA (USA) apresentaram, respectivamente, Se de 100%, 99,39% e 62,19%, e Sp de 97,5%, 96,5% e 100% (KHAN et al., 2011). Em outro estudo, empregando o WB como teste de referência, os testes de FC com antígenos c.c.pro e CIDC apresentaram 100% de Se; as Sp foram de 77,45% (antígeno CIDC) e 75,71% (antígeno c.c.pro) para os testes com soro de uma área endêmica, e 93,75% (CIDC) e 94,79% (c.c.pro) para os soros da área livre (KHAN et al., 2012). No Brasil, Silva (2014) comparou o desempenho da FC empregando os antígenos c.c.pro e USDA frente ao WB. Foram testadas no Lanagro-PE 456 amostras séricas de animais de propriedades dos Estados de Pernambuco, Ceará, Distrito Federal, São Paulo, Espírito Santo e Paraná com histórico de mormo e/ou submetidas à vigilância através da abertura de foco pelas Secretarias de Defesa Animal (SDA). A Se da FC utilizando o antígeno USDA foi de 14,5%, enquanto que utilizando o antígeno c.c.pro foi de 28,3%, em relação ao WB. A Sp da FC com o antígeno c.c.pro foi de 93,1% e a do antígeno USDA foi de 94,1%. Como é bem conhecido, resultados falso-negativos no teste podem levar à introdução do agente infeccioso em áreas ou rebanhos livres; resultados falso-positivos podem levar ao sacrifício de animais sadios e a restrições desnecessárias ao comércio e trânsito de animais, com perdas financeiras para os Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Roberto Soares CASTRO1 criadores. Com base na análise do desempenho dos testes sorológicos não é difícil inferir que o uso de um teste de baixa Se como a FC realizada no Brasil, não pode contribuir consistentemente para o controle do mormo. Ao contrário disso, pode até facilitar a propagação da doença, pois causa nos criadores a falsa ideia de que estão lidando com animais verdadeiro-negativos para a doença, levando-os a relaxar com as medidas de biossegurança, como a quarentena de animais recém-adquiridos, ou a ter maior permissividade do contato entre animais durante eventos com aglomeração de equídeos. Além disso, apenas parte dos animais verdadeiro-positivos são eliminados durante o saneamento dos focos do mormo. Os falso-negativos permanecem no rebanho mantendo o agente endêmico e transmitindo-o para os animais sadios. A principal consequência do protocolo usado para definição de caso (positivos na FC e confirmados no WB) é a grande dificuldade de sanear um rebanho afetado pelo mormo. Infelizmente, esta é a realidade de muitos rebanhos brasileiros que estão interditados há meses ou anos, sem sucesso no processo de saneamento. Alternativamente à FC outros testes mais sensíveis e específicos seriam altamente desejáveis para o diagnóstico do mormo. Atualmente três ELISAs indiretos (ELISAi) estão em fases variadas de validação. A seguir estão descritos, resumidamente, os ELISAs que farão parte de um projeto de validação internacional para diagnóstico sorológico do mormo, aprovado pela OIE (OIE - INTERNATIONAL CALL FOR TENDER - Tender ref.: AD/SR/2015/1885) sob a coordenação do Laboratório de Referência da OIE para o mormo (Reference Laboratory for Glanders – Friedrich Loeffler Institute, Germany): 1) ELISAi desenvolvido a partir de uma fração antigênica de B. mallei (LAROUCAU et al., 2014). Os resultados preliminares mostram uma boa Sp e Se do teste. A Sp, calculada com 485 soros de áreas livres de mormo, foi de 98,8%. Uma ligeira adaptação do ponto de corte pode melhorar a Sp para 99,6%. Não foi feita avaliação da Sp analítica. 2) ELISAi usando proteínas recombinantes de B. mallei expressas em Escherichia coli (SINGHA et al, 2014). Para avaliação do teste foram empregadas amosCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 tras positivas (n=40), negativas (n=30) e de campo (n=1.811). O teste apresentou Se de 100% e Sp de 99,7% em comparação com a FC. A Sp analítica foi avaliada com base no teste de soros de humanos afetados por melioidose (n=6) e de 14 soros de equinos infectados por Streptococcus equi subspecies equi (n=5), Streptococcus equi subespecie zooepidemicus (n=5) e Pseudomonas aeruginosa (n=5). Todos soros reagiram negativamente no ELISAi. 3) ELISAi para diagnóstico do mormo empregando antígeno semi-purificado de amostras de B. mallei isoladas no Brasil (Kit diagnóstico Mormo ELISAi; MAPA Licença no: 10.080/2015). Para avaliação do ELISAi foram empregadas amostras positivas (n=162), negativas (n=1.115), de animais de trânsito (n=3.096), de um inquérito soro-epidemiológico (n=4.499) e de dois rebanhos endêmicos monitorados por mais de um ano (n=394). O teste apresentou Se e Sp de 98,76% e 99,65%, respectivamente. A Sp analítica foi avaliada por meio do teste de 32 equinos vacinados contra Encefalomielite Equina Leste e Oeste, Influenza Equina (3 cepas), Herpesvírus equino tipos 1 e 4, tétano e 13 serovares de Leptospira interrogans. Todos apresentaram resultado negativo. O Kit diagnóstico Mormo ELISAi apresenta as seguintes características: plataforma tecnológica internacionalmente aceita – ELISA; possibilidade de automação parcial ou total (robotização); disponibilidade de insumos nacionais; uso de cepas de B. mallei de origem brasileira; e teste das principais espécies susceptíveis. Desde a descrição da reemergência do mormo no Brasil (MOTA et al., 2000), a doença vem sendo notificada de forma progressiva nas diversas unidades federativas. Atualmente afeta quase todo território nacional. Como a estratégia adotada pelo MAPA prevê apenas a vigilância passiva, com teste de animais de trânsito interestadual ou participantes de aglomeração, a detecção de focos fica condicionada a esse grupo de animais, resultando em subestimativa da real situação epidemiológica do mormo no país. Assim, a dimensão do problema parece ser muito maior do que os dados oficiais indicam. Seja qual for a estratégia adotada em um programa sanitário para controle do mormo, um ponto crucial para o sucesso é o diagnóstico labo101 Roberto Soares CASTRO1 ratorial, inclusive para realizar inquéritos sorológicos para conhecer a real prevalência da doença no território nacional. Atualmente o país conta com uma rede para diagnóstico do mormo, formada por laboratórios privados credenciados pelo MAPA e oficiais. Os principais gargalos para o diagnóstico do mormo no Brasil são a dependência tecnológica, a qualidade de certos insumos, bem como as limitações do teste de triagem (FC), com baixa sensibilidade e especificidade, além da subjetividade do WB, de difícil repetibilidade e reprodutibilidade. Outro ponto importante que pode afetar o desempenho dos testes sorológicos é a similaridade, ou não, das cepas usadas na produção dos antígenos com as cepas circulantes na população. As cepas usadas para produção dos antígenos empregados na FC e WB no Brasil são as seguintes: 1) Antígeno FC USDA, Estados Unidos – B. mallei (cepa chinesa, isolada na II Guerra mundial). 2) Antígeno FC cc-pro GmbH, Alemanha – B. mallei (cepas Borgor – Indonésia, Mukteswar – India, e Zagreb - Iugoslávia). 3) Antígeno WB cc-pro GmbH, Alemanha – B. mallei (mesmas cepas FC). Será que essas cepas são homólogas às que circulam no Brasil? Considerando que a composição antigênica dos insumos para diagnóstico sorológico é determinante para a especificidade e a sensibilidade dos testes, cabe uma questão: porque o MAPA tem prescrito testes com esses antígenos? Adicionalmente, outra questão relevante: porque só recentemente foi desenvolvido um produto nacional ELISAi? Há de se considerar que o MAPA nos diversos momentos de decisão para enfrentamento do problema da reemergência do mormo não tinha alternativas a não ser dispor dos meios diagnósticos disponíveis em outros países, como USA e Alemanha, que, mesmo livres da doença mantiveram suas pesquisas e desenvolveram os insumos acima descritos. Por outro lado, a falta de demandas claras de pesquisa em cooperação entre o MAPA, universidades, institutos de pesquisa e empresas resultaram no desenvolvimento de pesquisas que não foram convertidas em solução objetiva do problema central – falta de um produto nacional para diagnóstico do mormo. Assim, permanecemos todos esses 102 anos dependentes dos países produtores dos insumos, característica típica dos países de economia periférica. A base para o desenvolvimento do Kit diagnóstico Mormo ELISAi foi o projeto “Desenvolvimento de kits de diagnóstico do Mormo: Teste imuno-alérgico (PPD-Maleína) e sorológico rápido” (Proc APS-0065-5.05/08/CHAMADA PÚBLICA FACEPE Nº 04/2008), do Programa de Apoio a Pesquisa em Empresas (PAPPE) financiado pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A empresa proponente foi a Indústria e Comércio de Produtos Biotecnológicos LTDA (Biovetech). A execução foi feita em colaboração com o Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE, laboratório de Bacterioses animais, coordenado pelo Prof. Rinaldo Aparecido Mota. Apesar do projeto ser concluído em 2010, os resultados só foram publicados em 2012. O ELISAi mostrou praticamente 100% de concordância com a FC (Teles et al., 2012). O desenvolvimento do produto foi suspenso pela empresa, pois na época a OIE não preconizava o ELISA como teste para diagnóstico do mormo, o que só foi feito na edição de 2013 do “Terrestrial Manual” (OIE, 2013). A retomada do desenvolvimento do produto ocorreu por uma demanda feita pelo Dr Jorge Caetano Junior, da CGAL/MAPA, durante o Simpósio Nacional de Integração em Ciência, Tecnologia e Gestão Pública (30 anos do Lanagro-MG), em 12 de agosto de 2013, organizado pelo INCT Pecuária (CNPq) e Lanagro-MG (MAPA), coordenado pelo Prof. Rômulo Cerqueira Leite, da UFMG. Como já estava implantado o WB no Lanagro-PE foi feito um estudo comparando o ELISAi (Teles et al., 2012) com o WB, que mostrou desempenho ligeiramente superior à FC realizada com antígeno cc-pro GmbH, com Se de 35,5% e Sp de 97,6%, porém muito inferior ao WB (SILVA, 2014). Diante desses resultados a empresa revisou o processo de produção dos antígenos e elaborou novas formulações antigênicas que resultaram na obtenção de um ELISAi altamente sensível (98,76%) e específico (99,65%), licenciado pelo MAPA como “Kit diagnóstico Mormo ELISAi” (MAPA Licença no: 10.080/2015). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Roberto Soares CASTRO1 O Kit diagnóstico Mormo ELISAi será submetido à validação internacional (OIE - INTERNATIONAL CALL FOR TENDER - Tender ref.: AD/SR/2015/1885). A próxima etapa para finalização da validação no Brasil é a realização de provas de reprodutibilidade entre laboratórios credenciados pelo MAPA e laboratórios oficiais. Espera-se que, cumprida essa etapa, o ELISAi seja incluído no PNSE como teste oficial para diagnóstico sorológico do mormo. Argentina 2014, Poster. MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 24, DE 5 DE ABRIL DE 2004. Aprova as normas para controle e erradicação do Mormo. MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 17, DE 8 DE MAIO DE 2008. 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Programa Certified Humane) possibilitam que produtos de origem animal sejam comercializados com selos que asseguram alto padrão de BEA do nascimento ao abate. Os programas avaliam padrões de BEA nas propriedades e frigoríficos referentes ao cuidado fornecido aos animais quanto à nutrição, ambiente, sanidade, gerenciamento e qualidade do manejo, condições do transporte, manejo pré-abate e abate. Os programas de certificação, além de auditar a produção (“inputs)”, também avaliam a rastreabilidade entre a produção, processamento (os “output”) e comercialização (produção vs. venda). Desta forma, a certificação tem o papel de transferir a credibilidade ao consumidor de que as condições de BEA estão sendo atendidas e, que os produtos adquiridos na prateleira do supermercado provêm de animais criados de forma socialmente responsável, ética e humanitária. P A L A V R A S - C H A V E abate, auditoria, BEA, consumidor, ética, produção. ABSTRACT Consumer concerns with practices used to raising and rearing animals have intensified within the last decade. Production systems and current practices such as cage housing, invasive procedures without pain control that are adopted in the modern intensive confinement system are questioned due to challenging the physiological and behavioral nature of animals, prejudicing their well-being state. Third party animal welfare certification programs (e.g. Certified Humane Program) allow that products of animal origin are sold with labels which ensure high-welfare methods from birth to slaughter. The programs assess animal welfare standards in the farms and plants that refer to the care provided to animals regarding nutrition, environment, health, management and quality of handling, transport, pre-slaughter and slaughter conditions. The certification programs, in addition to audit production inputs, also assess traceability of production, processing (outputs) and selling (produced vs. sold). The certification has the role of transferring credibility to consumers that animal welfare conditions are met and, that products sold at supermarkets´ shelves are from animals reared in a humane, ethical and socially responsible manner. KEYWORDS 104 animal welfare, audit, consumer, ethics, production, slaughter. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Rosangela POLETTO 1 A atenção e preocupação do público consumidor com as práticas de produção adotadas para criar e alojar os animais tem gradualmente aumentado na ultima década (Poletto e Hötzel, 2012). Vários sistemas de produção e, as respectivas práticas usadas na criação intensiva confinada moderna, desafiam os animais com condições adversas às suas naturezas fisiológicas e comportamentais, que por vez se apresentam como estressores psicológicos e físicos (Duncan, 1981). Práticas questionadas e criticadas no âmbito científico, ético e social, principalmente em países industrializados, incluem os alojamentos para suínos e galinhas poedeiras (ex. em grupo versus gaiolas), procedimentos cirúrgicos em animais jovens (ex. castração, corte de dente e cauda sem o uso de anestesia local, realizados de forma desnecessária), e condições de transporte e métodos de insensibilização para o abate animal (Rayment et al., 2010). Essas práticas são controversas e inaceitáveis por parte do público consumidor por comprometer em diferentes graus, a capacidade dos animais em superar o estresse decorrente, prejudicando consequentemente o seu estado de bem-estar (BEA). Os programas de avaliação e certificação de BEA por terceira parte auditam ambos, as propriedades e as plantas de abate e processamento. Além de levarem em consideração os “inputs” da produção como, por exemplo, os animais propriamente ditos, itens relacionados ao manejo, a saúde, a nutrição, o comportamento, e o estado produtivo, que serão discutidos adiante, os programas também incorporam parâmetros ou indicadores de bem-estar baseados na qualidade final do produto animal, ou seja, a carne, o ovo ou o leite – os “outputs”. Por exemplo, a avaliação de lesões na carcaça tem sido usada como uma ferramenta objetiva a prática para estimar a condição de bem-estar dos animais antecedente ao abate (Welfare Quality®, União Europeia). Durante um processo de auditoria, estar de acordo com as normas é importante principalmente para aqueles parâmetros que estão associados a resultados específicos e diretos da condição de criação. Alguns exemplos destes parâmetros incluem a condição corporal dos animais, alterações físicas e métodos de identificação, e presença de animais doentes ou com ferimentos óbvios, resultantes de mau manejo ou instalações/meios de transporte poCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 bres em manutenção. Nos Estados Unidos, grande parte da agroindústria tem desenvolvido e adotado recomendações com embasamento científico para a criação animal em resposta às preocupações dos consumidores, que demandam que os animais usados para a produção de alimento de consumo humano sejam tratados humanitariamente (USDA, 2014). Em muitos casos, as garantias de que os animais são criados e tratados conforme essas recomendações são providas através de programas de auditorias por terceira parte ou por programas da iniciativa privada, como por exemplo, o programa PQA Plus™ (Pork Quality Assurance), criado pelo Conselho Nacional de Suinocultores dos EUA, ao invés de legislações. Dentre as certificadoras internacionais de BEA, tem se destacado no Brasil desde 2008, o Programa Humane Farm Animal Care, de origem americana e que concede o selo Certified Humane® impresso nos rótulos de produtos certificados comercializados. Os participantes do programa são inspecionados anualmente por auditores independentes, ou seja, que possuem conhecimento técnico de BEA sobre a espécie e, que não têm vínculo com a certificadora ou com a parte sendo auditada. Padrões de criação, que incorporam pesquisa científica, recomendações profissionais, e experiências práticas dos produtores, determinam o manejo e os sistemas de criação por espécie animal a serem auditados. Os padrões do programa estão divididos cinco grandes áreas de forma a atender aquém das cinco liberdades (FAWC, 1993) e garantir o bem-estar dos animais. Cada área está subdividida em vários padrões enumerados, o que permite a identificação de quais estão conformes ou não conformes no ato da auditoria. As grandes áreas são: 1) Nutrição: os animais devem ter acesso à água fresca e a uma dieta formulada para manter a saúde plena e promover um estado positivo de bem-estar; ambos devem estar distribuídos para minimizar competição. O uso de melhoradores de desempenho e promotores de crescimento é proibido; 2) Ambiente: este deve ser considerado de acordo com as necessidades da espécie e deve ser projetado para proteger os animais de desconforto físico e térmico, medo e diestresse, e deve permitir que eles realizem os seus comportamentos naturais; 3) Gerenciamento: um manejo altamente cuidadoso e responsável é vital para assegurar bom estado de bem-estar dos 105 Rosangela POLETTO 1 animais, e para isso, os gerentes e funcionários devem ser treinados, habilidosos e competentes no manejo, e devem ter bom conhecimento funcional do sistema e da espécie sob os seus cuidados; 4) Saúde: uma vez que o ambiente no qual os animais são alojados deve contribuir para uma boa saúde, todos os produtores devem ter um planejamento sanitário que esteja de acordo com boas práticas de criação. Registros de tratamento veterinário, mortalidade e suas causas devem ser mantidos; 5) Transporte: os sistemas de transporte devem ser planejados e manejados ao mínimo absoluto para assegurar que os animais não sejam submetidos a diestresse ou desconforto desnecessários, e os tratadores envolvidos devem ser cuidadosamente treinados e competentes para executar as tarefas que deles são exigidas; e, 6) Abate: todos os abatedouros/frigoríficos devem atender as especificações do Guia do American Meat Institute – AMI (Grandin, 2013), que é descrito em mais detalhe a seguir no texto. Os programas de certificação, além de auditar a produção (“inputs)”, também avaliam a rastreabilidade entre a produção, processamento (os “output”) e comercialização (produção vs. venda) como forma de assegurar que produtos finais comercializados com o selo sejam de fato oriundos de animais/propriedades certificadas para bem-estar. Os animais, independentemente da espécie, fazem o uso de varias estratégias de adaptação concomitantemente para superar ou lidar com experiências positivas e negativas e, com as condições adversas encontradas durante seu ciclo de vida. Desta maneira, a utilização simultânea de uma variedade de indicadores é a estratégia mais efetiva ao avaliar-se o bem- estar animal (SVC, 1997). Duncan e Fraser (1997) definem que “a avaliação da qualidade de vida de um animal não pode ser inteiramente objetiva, pois ela engloba o conhecimento cientifico da espécie, e os julgamentos de valores e princípios do avaliador”. No entanto, métodos mais objetivos (e não subjetivos) podem ser exclusivamente usados para se avaliar o BEA. Isso pode ser alcançado por meio da adoção de técnicas e metodologias de avaliação que podem ser modificadas de acordo com as variáveis, como indicadores fisiológicos, comportamentais, índices de produção, ou fatores específicos como o tipo de alojamento e qualidade do manejo. Espaço físico 106 ou área por animal, a condição da cama quando for o caso, e a qualidade do ar (ex. níveis de amônia e poeira) são pontos críticos de ambiência verificados durante as auditorias. As celas de gestação para matrizes suínas e gaiolas como forma de alojamento para galinhas poedeiras, ou qualquer forma de confinamento restritivo que compromete as cinco liberdades (FAWC, 1993), são proibidas por programas de certificação de BEA. Além disso, indicadores indiretos que sinalizam a condição de manutenção dos alojamentos e o manejo dos mesmos incluem, por exemplo, a recorrência de lesões físicas (ferimentos), incidência de doenças, e sinais clínicos de dor (fuga ao ser manejado, anorexia, tentativa de se esconder, relutância para se mover, depressão e apatia). Alterações fisiológicas e comportamentais, como variação no nível de atividade física, também podem ser utilizados como medidas de bem-estar em resposta ao ambiente no qual os animais estão expostos. Animais são mais suscetíveis a uma condição de estresse quando mantidos num ambiente que induz medo e que é imprevisível, como por exemplo, fornecimento de alimento em horários irregulares, funcionários adentrarem nas instalações falando em voz alta. Alterações dos mecanismos neurofisiológicos (que envolvem a função do sistema nervoso) são indicadores limitados quanto a sua aplicabilidade para a avaliação direta de bem-estar no dia a dia de um sistema de produção; mas, eles podem auxiliar no entendimento dos mecanismos que levam ao desencadeamento do comportamento, como por exemplo, agressão em suínos. Regiões específicas do cérebro são responsáveis por funções motoras e estão intrinsecamente relacionadas com o controle de comportamentos de motivação como comer ou atividade sexual, e emocional. O uso deste método, algumas vezes referenciando como neuroetologia, tem se tornado mais popular nas ultimas décadas principalmente entre a comunidade cientifica. Indicadores de produção são também relevantes e práticos na avaliação de bem-estar nas granjas, e devem ser agregados a observações comportamentais do rebanho. Esses incluem a taxa de crescimento dos animais (desmame até o abate), sucesso reprodutivo das fêmeas (número de coberturas por cio, taxa de postura), expectativa de vida, principalmente no que se refere a descarte de fêmeas e suas respectivas motivações, e até mesmo, medidas de Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Rosangela POLETTO 1 produção coletadas no abate como a qualidade da carcaça. A avaliação de alterações comportamentais tem sido considerada um dos métodos mais rápidos e práticos para avaliar o bem-estar. Variações nos padrões comportamentais podem ocorrer em resposta, por exemplo, a mudanças no ambiente (social: formação da estrutura de hierarquia em grupos recém-misturados; física: mudança de fêmeas alojadas em grupo para gaiolas individuais), estado de higidez (saudável para doente), ou nutricional (desmame e alteração abrupta de dieta). O surgimento de comportamentos anormais indica que o animal tem dificuldades para adaptar-se ao meio e que seu bem-estar está reduzido (Duncan, 1981). Em algumas instâncias, esses comportamentos anormais são chamados estereotipias, ou seja, ações repetitivas que são invariáveis em forma e sem uma função fisiológica óbvia, que são comumente obervadas em animais severamente frustrados e geralmente expostos a estresses crônicos (SVC, 1997). A alta frequência de comportamentos estereotipados é tida por muitos como indicador de um estado de estresse crônico, como é o caso das matrizes suínas gestantes nas celas (ex. mascado em falso, mordedura de barras). Para otimizar o uso do comportamento como uma ferramenta para avaliar o bem-estar, é essencial o monitoramento diário dos animais. Por tanto, na auditoria, é verificada a frequência diária em que os animais são inspecionados pelos tratadores (que também é crítico para o monitoramento da saúde dos animais), e se estes têm conhecimento (treinamento) amplo sobre a espécie sob os seus cuidados. Isso, para que eles possam identificar o que se é esperado e considerado um comportamento normal nos diferentes estágios de produção e, tomar ações corretivas imediatas e efetivas frente aos comportamentos anormais. Durante as auditorias de bem-estar, os parâmetros de desempenho, que devem ser coletados durante o ciclo produtivo do rebanho, também são verificados. Para isso, é essencial que a granja ou fazenda tenha um sistema de registros em funcionamento, mesmo que seja simplificado. Registros devem conter informações sobre perfil sanitário do rebanho, como o calendário de vacinação e vermifugação, tratamento veterinário com causas de segregação se for o caso, e obrigatoriamente a taxa de mortalidade. Monitoramento pelos tratadores da condição Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 corporal dos animais conforme o estágio de produção é visível durante as verificações nas propriedades. Dados produtivos de desempenho, como o acompanhamento rotineiro da taxa de postura e ganho de peso dos animais, também são informações relevantes exigidas durante a verificação. A taxa e eficiência de ganho de peso de animais de crescimento e os registros de prevalência de doenças estão entre os métodos mais diretos e práticos aplicados na propriedade para avaliar o bem-estar. A incidência de lesões e atrofia de perna e laminite, principalmente nas vacas mantidas em free-stall e nas porcas mantidas em gaiolas, pode ser agregada a medidas de produção (ex. longevidade). Ferimentos ou lesões, especialmente quando recorrentes (um indicativo de manutenção inadequada do alojamento), ou uma condição de enfermidade com duração de médio ou longo prazo, também comprometem o bem-estar por estarem associados com dor, desconforto e estresse. Os programas de bem-estar também variam na rigorosidade das exigências de idade e procedimento aplicado para realizar alterações físicas nos animais, quanto permitidas. A exemplo do programa Certified Humane, práticas como o amochamento e a descorna, a castração, corte de tetas supranumerárias, e descola são permitidas sob condições específicas quanto a idade do animal e o uso de analgesia e anti-inflamatórios. Já a debicagem de aves é proibida, permitindo apenas o aparo da ponta do bico por cauterização que deve ser realizado até os 10 dias de vida. Da mesma forma, os dentes de leitões não devem ser cortados, mas lixados. Para maiores informações sobre especificidades dos procedimentos e alterações físicas, ver os padrões por espécie do Programa Certified Humane que estão disponíveis em português no site da Ecocert Brasil. Para fechar o ciclo de produção e ter um produto final com o selo de certificação de BEA, é imprescindível a auditoria também nos processadores. Em relação aos procedimentos de avaliação e certificação de BEA do manejo pré-abate e abate, vários programas seguem os critérios estabelecidos no “Recommended Animal Handling Guidelines and Audit Guide”, elaborado por Temple Grandin, em colaboração com o American Meat Institute (Grandin, 2013). As auditorias das plantas frigoríficas pelos programas de terceira parte, ou até mes107 Rosangela POLETTO 1 mo por comitês de avaliação que representam redes de restaurantes (ex. o McDonald´s, Burger King), têm sido muito efetivas quanto à adoção das normas de bem-estar no manejo pré-abate e abate. As auditorias no pré-abate e abate são razoavelmente simplificadas por terem como base classificações numéricas dos pontos críticos de controle. Isso quando se compara às verificações nas diferentes etapas da criação animal onde, conforme descrito acima, requer a compilação e avaliação de diversos itens que variam amplamente em importância. Não conformidades indicadas por percentuais inaceitáveis levam a falha na auditoria, mas também, observações e indícios de qualquer um dos atos de abuso contra os animais como, arrastar animais conscientes, tocar áreas sensíveis do animal com o bastão elétrico, empurrar animais uns sobre os outros, bater os portões contra os animais, e bater nos animais ou torcer o rabo, resultam em falha automática na auditoria da planta frigorífica. Concluindo, o processo de avaliação ou verificação do estado de bem-estar de um animal ou do grupo, o qual pode variar de reduzido/baixo para muito bom, é um procedimento complexo e requer senso crítico e conhecimento técnico de profissionais capacitados na área. Um apanhado completo da condição geral dos animais, do manejo e das instalações pode ser alcançado utilizando a combinação de critérios de avaliação que incluem o estado clínico de saúde do animal, observação de indicadores de comportamento e homeostase fisiológica, verificação de parâmetros de produção e das práticas de manejo. O gerenciamento e manejo da criação são essenciais para a garantia do BEA do nascimento ao abate. Desta forma, a certificação tem o papel de transferir a credibilidade ao consumidor de que condições de BEA estão sendo atendidas e, que os produtos adquiridos na prateleira do supermercado provêm de animais criados de forma socialmente responsável, ética e humanitária. mal welfare: a scientist’s assessment. Poult. Sci. 60:489-499. DUNCAN, I. J .H., FRASER, D. 1997. Understanding animal welfare. In: Animal Welfare. Appleby, M. C. and Hughes, B. O. Eds. CAB International, Wallingford, UK, pp. 19-31. FAWC, Farm Animal Welfare Council. 1993. 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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SVC, Scientific Veterinary Committee. 1997. The welfare of intensively kept pigs. Report of the Scientific Veterinary Committee, EU, Brussels, 190 p. DUNCAN, I. J. H. 1981. Animal rights – ani108 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wagnner José Nascimento PORTO1; Müller Ribeiro ANDRADE2; Rinaldo Aparecido MOTA2 TOXOPLASMOSE E NEOSPOROSE EM CAPRINOS E OVINOS Wagnner José Nascimento Porto1; Müller Ribeiro Andrade2; Rinaldo Aparecido Mota2 RESUMO Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiaraca, Pólo Vicosa – Viçosa, Alagoas 2 Universidade Federa Rural de Pernambuco – Recife, Permanbuco 1 A toxoplasmose e a neosporose são doenças que causam prejuízos econômicos aos criadores de caprinos e ovinos, comprometendo os índices produtivos. Toxoplasma gondii é um dos principais agentes atuantes em abortos de pequenos ruminantes, além de sua importância na Saúde Pública. Já, Neospora caninum merece maior atenção no diagnóstico de falhas reprodutivas em ovelhas e cabras. O objetivo desta apresentação é sintetizar aspectos relevantes da infecção de T. gondii e N. caninum para caprinos e ovinos. PA L AV R A S - C H AV E Coccídeos; Aborto; Pequenos ruminantes ABSTRACT The toxoplasmosis and neosporosis are diseases that cause economic losses to caprine-ovineculture, affecting the productive indexes. Toxoplasma gondii is one of major active agents in small ruminant abortions, as well as its importance in Public Health. Already, Neospora caninum deserves greater attention in the diagnosis of reproductive failure in sheep and goats. This presentation aims to describe the impact of T. gondii and N. caninum infection for sheep and goats. KEYWORDS INTRODUÇÃO Coccidia; Abortion; Small ruminant falhas reprodutivas em pequenos ruminantes (MOELLER, 2001; MASALA et al, 2007), e dentre diferentes patógenos, destacam-se os protozoários Toxoplasma gondii e Neospora caninum. O primeiro é reconhecido como uma das maiores causas de aborto em ovinos (BUXTON et al., 2007) e em caprinos (MOELLER, 2001; MORENO et al., 2012). Enquanto que N. caninum, apesar de ter sido identificado como indutor de perdas fetais nessas espécies (DUBEY e SCHARES, 2011), merece melhor elucidação de sua importância clínica e econômica. Esta apresentação objetiva sintetizar aspectos relevantes da infecção de T. gondii e N. caninum para caprinos e ovinos. As criações de caprinos e ovinos no Brasil compreendem atividades com capacidade de expansão, principalmente na região Nordeste, visto a boa capacidade adaptativa dessas espécies. Todavia, o pouco desenvolvimento tecnológico e consequentemente os baixos índices de produtividade são importantes barreiras a serem vencidas (CSCO, 2006). A eficácia reprodutiva é dos fatores que implicam nessa produtividade, isso inclui a habilidade de ovulação, manutenção da gestação até o feto a termo com idade e peso corporal ótimo (FTHENAKIS et al., 2014). Desta maneira, a ocorrência de repetição de cio, aborto e/ou mortalidade neonatal constituem causas de perdas econômicas significativas às cadeias produtivas (CSCO, 2006). TOXOPLASMOSE EM PEQUENOS RUMIA ação de agentes infecciosos é principal causa de NANTES Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 109 Wagnner José Nascimento PORTO1; Müller Ribeiro ANDRADE2; Rinaldo Aparecido MOTA2 A toxoplasmose é uma doença zoonótica com ampla distribuição geográfica que acomete animais de sangue quente, sendo causada pelo coccídeo intracelular obrigatório, T. gondii. (DUBEY, 2009a). Esse protozoário possui um ciclo de vida heteroxeno, onde a fase sexuada ocorre somente no ambiente enteroepitelial de felídeos (hospedeiros definitivos), que resulta na formação de oocistos não esporulados eliminados nas fezes destes animais. Em condições ótimas de temperatura, umidade e oxigenação os oocistos tornam-se infectantes e contaminam pastagens e aguadas. Ao serem ingeridos por caprinos e ovinos (transmissão horizontal), os oocistos esporulados alcançam o epitélio intestinal desses animais, excistam-se e liberam esporozoítos que passam para o estágio de taquizoítos. Nessa fase evolutiva, o parasito multiplica-se de forma rápida e assexuada, seguindo com a invasão e infecção de variados tecidos. Dependendo da condição imunológica dos hospedeiros intermediários, os taquizoítos podem provocar a doença aguda ou alterar seu metabolismo transformando-se em bradizoítos (replicação lenta), formando cistos nos tecidos e assumindo a forma de latência (HILL et al, 2005; DUBEY, 2009b). Se cabras e ovelhas sofrem infecção durante gestação cursando consequentemente com infecção do feto, denominamos transmissão transplacentária exógena. Enquanto que se essa infecção deriva da ativação de formas císticas do parasito devido a mudança na condição imunológica da fêmea prenhe, consideramos transmissão transplacentária endógena. A via transplacentária é considerada a forma mais eficaz de manutenção do parasito em rebanhos (DUBEY, 2009a). As manifestações clínicas da toxoplasmose em pequenos ruminantes dependerá da fase gestacional que a infecção ocorre no feto. Se no terço inicial, poderá ocorrer morte embrionária com reabsorção ou expulsão do embrião, dificilmente serão identificados sinais clínicos e a ovelha ou a cabra repetirá o cio. Em terço médio de gestação, o feto pode ser abortado ou reabsorvido e em terço final além do abortamento, o feto pode nascer com sequelas da infecção (fraqueza, alteração neurológica, etc.) ou sadio e congenitamente infectado (WEISSMANN, 2003). Estimativas de perdas por toxoplasmose 110 em sistemas produtivos tem dificuldade de serem estipuladas uma vez que a doença é normalmente esporádica e o diagnóstico é negligenciado ou realizado de forma inadequada na maioria dos casos (DUBEY, 2009c). A prevalência de anticorpos anti-T. gondii em ovinos e caprinos tem sido descritos em diferentes países com frequências bastante variáveis, dependentes dos testes utilizados, região estudada e fatores de riscos presentes (DUBEY, 2009a; 2009c). São exemplos de alguns fatores de risco para a infecção pelo protozoário: presença do hospedeiro definitivo nas propriedades e seu acesso a fontes de águas e alimento e a falta de coleta dos envoltórios fetais (VESCO et al., 2007; PINHEIRO et al., 2009; ANDERLINI et al., 2011) NEOSPOROSE EM PEQUENOS RUMINANTES N. caninum é próximo filogeneticamente de T. gondii (DUBEY et al, 2002, apresentando maior importância na indução de abortamentos em bovinos (DUBEY; LINDSAY, 1996; DUBEY, 2003; REICHEL et al., 2013). No ciclo de vida de N. caninum também há a participação de hospedeiros intermediários que albergaram formas latentes do parasito e de hospedeiros definitivos, onde ocorre a reprodução sexuada do parasito. São conhecidos quatro hospedeiros definitivos: os cães (McALLISTER et al., 1998); o coiote (Canis latrans) (GONDIM et al., 2004); o dingo australiano (Canis lupus dingo) (KING et al., 2010) e o lobo cinza (Canis lupus) (DUBEY et al., 2011), e uma gama de hospedeiros intermediários, a exemplo dos bovídeos, equídeos, e pequenos ruminantes (DUBEY, 2003). A transmissão de N. caninum entre seus hospedeiros ocorrer similarmente as formas descritas para T. gondii: via horizontal e pela via vertical (DUBEY et al., 2006; DIJKSTRA et al., 2001; DUBEY, 1999) Apesar de N. caninum não ser considerado atualmente um dos principais problemas para a reprodução ovina e caprina, como para os bovinos (REICHEL et al., 2013), estudos sorológicos e moleculares têm demonstrado frequências da infecção por este coccídeo semelhantes ou superiores àquelas determinadas por T. gondii em pequenos ruminantes (BUXTON, 1998; MORENO et al., 2012). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wagnner José Nascimento PORTO1; Müller Ribeiro ANDRADE2; Rinaldo Aparecido MOTA2 Diferentes trabalhos de infecção experimental reforçam a teoria da suscetibilidade de ovinos e caprinos para N. caninum. A inoculação de taquizoítos do parasito em ovelhas gestantes pode resultar em aborto, natimorto ou nascimento de cordeiros clinicamente afetados, ou o nascimento de cordeiros saudáveis de acordo com a dose de inoculada e o tempo gestacional da infecção (McALLISTER et al., 1996; BUXTON et al., 1998) Estudos de frequência da exposição de pequenos ruminante a N. caninum tem demostrado que o parasito é cosmopolita, com variação acentuada de infecção de acordo geografia, presença de hospedeiros definitivos e manejo (DUBEY et al, 1996; 2007; DUBEY, 2003). DIAGNÓSTICO O diagnóstico etiológico da toxoplasmose ou da neosporose baseado na avaliação clínica não é simples, uma vez que os sinais apresentados por cabras e ovelhas são inespecíficos. Desta forma, a confirmação deve ser obtida por exames laboratoriais (DUBEY; LINDSAY, 1996; PACKHAM et al., 2002). A utilização de técnicas de diagnóstico indiretas (sorológicas, como Teste de Microaglutinação – MAT, Reação de Imunofluorescência Indireta – RIFI, Ensaio Enzimático de Imunoadsorção – ELISA e Western blot) ou direto (identificação do parasito por histopatologia, imunoistoquímica – IHQ, isolamento in vitro e in vivo e PCR) são necessárias para auxiliar na confirmação da suspeita clínica (BUXTON, 1998; PEREIRA-BUENO et al., 2004; DUBEY et al., 2006; DUBEY e SCHARES, 2006; MORENO et al, 2012). SAÚDE PÚBLICA Por toxoplasmose se tratar de uma zoonose, é importante evitar o consumo de carne crua ou mal cozida de ovinos e caprinos que constitui uma importante fonte de infecção para humanos (JONES; DUBEY, 2012), em adicional, o parasito tem sido identificado em leite de cabras naturalmente infectadas, de forma que o consumo in natura de leite de cabra apresenta um risco potencial a Saúde Pública (BEZERRA et al., 2015). Anticorpos anti-N. caninum já foram identificados em humanos, mas não há descrições da Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 ocorrência da doença (TRANAS et al, 1999). CONTROLE E PREVENÇÃO As vias de controle tanto da toxoplasmose quanto da neosporose nas criações de pequenos ruminantes baseia-se na adoção de medidas higiênico-sanitárias: controle do acesso dos hospedeiros definitivos a áreas de criações, armazenamento adequado de concentrado, silo e das fontes de água, coleta de membranas fetais para evitar infecção de outros animais, controle sorológico dos rebanhos e utilização de receptoras negativas, na realização de transferência de embrião (BUXTON, 1998; 2007; DUBEY, 2003; 2007). Não é indicado o tratamento individualizado de animais com a utilização de drogas antiprotozoáricas, pois são economicamente inviáveis e não cessam as infecções crônicas (INNES et al, 2002) A utilização da imunização como prevenção da toxoplasmose ovina é empregada em países como Austrália, Nova Zelândia e Inglaterra através da vacina baseada em taquizoítos da cepa acistogênica S48 de T. gondii (BUXTON et al, 1993). Ela fornece imunidade, capaz de evitar a transmissão congênita e consequentemente, quadros de abortamento (BUXTON; INNES, 1995). Apesar de existir vacinas comerciais disponível contra a neosporose bovina, faltam estudos que comprovem a real eficácia e segurança do imunógeno para conferir ótima proteção e evitar falhas reprodutivas tanto em bovinos, quanto em outras espécies animais (INNES et al, 2002; SCHETTERS et al 2004). Todavia diversos grupos de pesquisas desenvolvem trabalhos na busca de uma alternativa imunológica e comercial viável. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora a literatura já destaque a importância de T. gondii para os pequenos ruminantes, há a necessidade de considerar a neosporose em investigações de distúrbios da reprodução. Por conseguinte, os médicos veterinários devem estar atentos a epidemiologia da doença, formas de diagnóstico, bem como, para as medidas profiláticas necessárias no controle e eliminação dos agentes nos rebanhos ovinos e caprinos. 111 Wagnner José Nascimento PORTO1; Müller Ribeiro ANDRADE2; Rinaldo Aparecido MOTA2 REFERÊNCIAS BUXTON, D.D.; THOMSON, K.M.; MALEY, S.; WRIGHT, S.; BOS, H.J. Experimental challenger of sheep 18 monthos afther vaccination with a live (S48) Toxoplasma gondii vaccine. Veterinary Record, v. 25, p. 310-312, 1993. ANDERLINI, G.A.; MOTA, R.A.; FARIA, E.B.; CAVALCANTI, E.F.T.S.F.; VALENCA, R.M.B.; PINHEIRO JUNIOR, J.W.; DE ALBUQUERQUE, P.P.F.; DE SOUZA NETO, O.L. Occurrence and risk factors associated with infection by Toxoplasma gondii in goats in the State of Alagoas, Bra- BUXTON, D. Protozoan infections (Toxoplasma zil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina gondii, Neospora caninum and Sarcocystis spp.) in Tropical, v. 44, n. 2, p. 157–62, 2011. sheep and goats: recent advances. Veterinary Research, v. 29, n. 3-4, p. 289-310, 1998. BARR, B.C.; ANDERSON, M.L.; WOODS, L.W;, DUBEY, J.P.; CONRAD, P.A. Neosporalike proto- BUXTON, D.; INNES, E.A. A commercial vaczoal infections associated with abortion in goats. cine for ovine toxoplasmosis. Parasitology, v. 110 Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v. Suppl:S11-16, 1995. 4, p. 365–367, 1992. BEZERRA, M.J.; KIM, P.C.; MORAES, É.P.; SÁ, S.G.; ALBUQUERQUE, P.P.; SILVA, J.G.; ALVES, B.H.; MOTA, R.A. Detection of Toxoplasma gondii in the milk of naturally infected goats in the Northeast of Brazil. Transboundary and Emerging Diseases, v. 62, n. 4, p. 421–424, 2015. 112 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5 ANÁLISE DA VISÃO DA POPULAÇÃO QUANTO AOS ATOS DE MAUS-TRATOS PRATICADOS CONTRA ANIMAIS Analysis of the population of vision as to abuse of acts against animals Wagnner José Nascimento Porto1; Müller Ribeiro Andrade2; Rinaldo Aparecido Mota2 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Mestranda em Ambiente, Tecnologia e Sociedade. jhessica.luara@ ufersa.edu.br 2 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Professora Orientadora do Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade. [email protected] 3 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Professor do Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade. marlon@ ufersa.edu.br 4 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Assistente Social. [email protected]. br 5 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Estagiária. [email protected] 1 PA L AV R A S - C H AV E Práticas, Abandonar, Sacrificar. KEYWORDS Practices, Abandon, Sacrifice. INTRODUÇÃO A Lei dos Crimes Ambientais é competente para dispor que aquele que praticar ato de maus-tratos com animais comete crime contra o meio ambiente e será punido com pena de detenção, de três meses a um ano, e multa. Assim, entende-se que o homem tem a obrigação legal de respeitar os direitos dos animais. Todavia, o respeito à legislação depende do prévio conhecimento dela e/ ou da moral intrínseca em cada ser humano, decorrente da bioética. Há décadas as legislações que protegem e tutelam os animais existem e não são efetivamente cumpridas. A dor e o sofrimento de per si, são ruins e devem ser evitados, desviados ou mitigados, não importa qual seja a raça, o gênero ou a espécie do ser que sofre (SINGER, 2004). Semelhantemente a bioética, a ciência do bem-estar animal é considerada uma ferramenta que permite avaliar a qualidade de vida dos animais e o impacto de homem sobre eles (SOUZA, 2008). É necessário e urge que a sociedade seja consciente e perceba o seu papel preponderante de garantidor do bem-estar animal, pois seus direitos efetivamente são tutelados pelos seres humanos, favorecendo assim todas as condições necessárias para que os animais tenham seus direitos respeitados. Não cuidar do bem-estar dos animais pode ser caracterizado como crime de maus-tratos (BRASIL, 1998). O mesmo é praticado pelo ser humano em relação aos animais não-humanos, sendo sempre motivado por uma ordem de aspecto cultural, social e psicológica. Os animais, tutela do Estado, precisam ser vistos como seres vivos, estando estes sujeitos a diversas formas de maus-tratos, como traumas, atropelamentos, fome, sede, prisões, expostos a condições ambientais desfavoráveis, doenças diversas, abandonados quando adoecem ou quando já não têm mais utilidade, entre outras situações humilhantes. Dessa forma, ser guardião de um animal exige um mínimo ético. Assim, o trabalho procura analisar a visão da população quanto aos atos de maus-tratos praticados contra os animais. MATERIAL E MÉTODOS O método utilizado para o desenvolvimento do trabalho foi uma pesquisa de campo, que envolveu 1.000 (mil) participantes, maiores de dezoito anos, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 113 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5 residentes em Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte. O trabalho utilizou-se de questionário estruturado com perguntas fechadas acerca dos maus-tratos realizados com animais. Esse trabalho foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, com parecer nº 40506515.4.0000.5294, de 13 de abril de 2015. RESULTADOS E DISCUSSÃO Questionados sobre se sabiam o que constitui maus-tratos aos animais, 85% dos pesquisados responderam positivamente. Importante essa constatação, pois os maus-tratos de animais são práticas muito comuns desde os primórdios da humanidade e perduram até os dias atuais (ESTRELLA, 2014), devendo ser difundido o conhecimento sobre maus-tratos, evitando assim que animais pereçam por esse motivo. Não raro nos depararmos com situações evidentes de maus-tratos contra animais (ESTRELLA, 2014), mesmo com um percentual elevado de pessoas que conhecem o que seria maus-tratos e, consequentemente, deveriam ter a consciência de não praticá-lo. Dessa forma, o percentual de 15% que não sabe o que é maus-tratos, precisa conhecer essa situação, mas, mais do que conhecer, precisa pôr em prática atos de bem-estar animal. Às pessoas que responderam saber o que constitui maus-tratos, questionou-se sobre as práticas de maus-tratos com animais. Quanto ao ato de abandonar um animal, 79% das pessoas pesquisadas concordaram que este seria um tipo de maus-tratos aos animais. De fato, o abandono é um dos tipos de maus-tratos para com os animais (PEA, 2015). Quanto a deixar o animal sem alimento, 77% das pessoas afirmaram ser uma prática de maus-tratos. Não dar água e comida diariamente, constitui exemplo de maus-tratos (PEA, 2015). Sobre não levar ao médico veterinário, 54% das pessoas entendem que é ato de maus-tratos, enquanto que 46% não reconhecem a importância de se consultar os animais. O Médico Veterinário estuda, se especializa por anos e é o profissional capaz de identificar alterações na saúde do animal (TEIXEIRA, 2015), razão pela qual é importante a consulta frequente. Sacrificar o animal quando existe tratamento é um ato cruel. Mesmo o animal estando doente, o sacrifício destes no Centro de Controle de Zoonose não pode ser feito de modo cruel (CONSULTOR JURÍDICO, 2009). Todavia, apenas 63% dos pesquisados possuem o entendimento de que o animal deve ser cuidado, evitando assim o seu sacrifício. Sobre não vacinar os animais, 57% dos pesquisados compreendem ser este um ato de maus-tratos. O ato de vacinar garante o bem-estar dos animais (FLORES, 2015), porém poucos possuem essa compreensão. Aos animais são concedidos direitos os quais devem ser respeitados por toda a sociedade, não podendo serem maltratados. CONCLUSÃO A população pesquisada sabe o que constitui maus-tratos aos animais, todavia, possui pouco conhecimento sobre os atos de maus-tratos praticados com animais, visto que atos como abandonar, não alimentar, não levar ao Médico Veterinário, sacrificar quando existe tratamento e não vacinar, são vistos com pouca importância pela sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 114 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.Brasília: Senado Federal, 1998. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 fev. 1998. CONSULTO JURÍDICO. Município deve usar método que iniba a dor. Revista Consultor Jurídico, São Paulo, 10 de setembro de 2009. Disponível em: <http:// www.conjur.com.br/2009-set-10/centro-zoonose-nao-sacrificar-animais-modo-cruel>. Acesso em: 02 jun. 2015. PEA. Como denunciar. Pea, São Paulo, 2015. Disponível em: <http://www.pea. org.br/denunciar.htm>. Acesso em: 02 jun. 2015. ESTRELLA, S. Como funcionam os maus-tratos de animais. Disponível em: < http://ambiente.hsw.uol.com.br/maus-tratos-animais.htm>. Acesso em: 02 jun. 2015. FLORES, C. C. A irregularidade da vacinação de pequenos animais no Brasil - Parte II. Disponível em: < http://www.portaleducacao.com.br/veterinaria/artigos/59259/a-irregularidade-da-vacinacao-de-pequenos-animais-no-brasil-parte-ii>. Acesso em: 02 jun. 2015. SINGER, P. Ética Prática. 4. ed. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2004. SOUZA, M. F. de A. e. Bioética e Bem-Estar Animal: novos paradigmas para a Medicina Veterinária. Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária, v. 14, n. 43, 2008. TEIXEIRA, L. S. 3 motivos para levar o Pet ao Veterinário. Disponível em: <http://lupusalimentos.com.br/lupus_mundopet/3-motivos-para-levar-o-pet-ao-veterinario/>. Acesso em: 02 jun. 2015. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 115 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5 Figura 1 - Conhecimento da população de Mossoró/RN quanto aos maus-tratos com animais. Figura 2 – Conhecimento da população de Mossoró/RN quanto aos atos de maus-tratos praticados contra animais. 116 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Caio Sérgio SANTOS6. GUARDA RESPONSÁVEL DE ANIMAIS: VISÃO DA POPULAÇÃO Guard of animals in charge: population of vision Wagnner José Nascimento Porto1; Müller Ribeiro Andrade2; Rinaldo Aparecido Mota2 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Mestranda em Ambiente, Tecnologia e Sociedade. jhessica.luara@ ufersa.edu.br 2 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Professora Orientadora do Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade. [email protected] 3 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Professor do Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade. marlon@ ufersa.edu.br 4 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Assistente Social. [email protected]. br 5 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Estagiária. [email protected] 6 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Médico Veterinário. [email protected]. br 1 PA L AV R A S - C H AV E Bem-estar, Saúde, Meio Ambiente. KEYWORDS Welfare , Health, Environment. INTRODUÇÃO A guarda responsável de animais é uma questão importante a ser discutida. O ser humano possui alguma relação com os animais, sejam os que estão sob sua guarda, os do vizinho, os de rua, enfim, fazem parte do meio ambiente. Entretanto, é preciso que a sociedade seja consciente de seu papel de bem cuidar dos animais, pois possuir uma guarda responsável é ser ciente de seu papel de guardião, alimentando, banhando, medicando, dando todas as condições necessárias para que o animal possua sua dignidade respeitada. Como diz a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, todos os animais têm o mesmo direito à vida, ao respeito e à proteção do homem, não deve ser maltratado, têm o direito de viver livres no seu habitat, nunca deve ser abandonado, não deve ser usado em experiências que lhe causem dor e todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida. O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais. Essas considerações remetem ao que seria uma guarda responsável. A ausência do Poder Público que diz respeito à tutela dos animais é quase que total. Dias (2011) esclarece que o fato dos direitos dos animais serem tutelados por pessoas humanas não os torna objeto material do direito, pois seriam os animais os verdadeiros titulares dos direitos a serem protegidos, ou seja, a eles são concedidos direitos os quais devem ser respeitados por toda a sociedade, especialmente pelo Poder Público e autoridades que devem zelar e cobrar daquela o respeito para com os animais. Os animais, tutela do Estado, precisam ser vistos como seres vivos. A falta de conhecimento sobre os cuidados com os animais os torna susceptíveis a diversas doenças, entre essas, as zoonoses, pondo em risco sua própria vida e a dos humanos. O destino dos animais é um sério problema, haja vista o elevado número de animais abandonados e errantes, conforme informações da Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal (ARCA BRASIL, 2010). Segundo Stewart (1999), a interação do homem com os animais promove efeitos benéficos para o ser humano, seja a nível emocional, social e psicológico. Sendo assim, em retribuição a todos esses benefícios, os seres humanos devem propiciar aos animais condições dignas de existência. Essa retribuição, além de ser um direito dos animais, é dever do homem, posto que aos animais, a legis- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 117 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Caio Sérgio SANTOS6. lação tem conferido direitos, necessitando de ser colocadas em práticas. Assim, a guarda responsável é um importante instrumento para a proteção dos direitos dos animais. Desta forma o trabalho tem como objetivo analisar o conhecimento sobre guarda responsável da população de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte. MATERIAL E MÉTODOS O método utilizado para o desenvolvimento do trabalho foi uma pesquisa de campo, que envolveu 1.000 (mil) participantes, maiores de dezoito anos, residentes no Município de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, amostra realizada com base em fórmula estatística de Andrade e Ogliare (2007). O trabalho utilizou-se de questionário estruturado com perguntas fechadas acerca da guarda responsável. Esse trabalho foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, com parecer nº 40506515.4.0000.5294, de 13 de abril de 2015. RESULTADOS E DISCUSSÃO Sobre o instituto da guarda responsável, apenas 24% pessoas afirmaram conhecer o que seria, enquanto que 76% afirmaram desconhecer o que seria esse instituto (Figura 1). Esse é um dado preocupante, pois a desconhecimento pode contribuir para que a população não tenha atitudes adequadas para com os animais, os abandonando e deixando livres nas ruas, favorecendo desta forma os acidentes, transmissão de doenças, mordeduras, entre outros. Importante discutir essa informação junto à comunidade acadêmica, poderes executivo, legislativo e judiciário, e sociedade civil, pois só assim é possível desenvolver novas estratégias, a fim de proporcionar qualidade de vida aos animais e conscientização à população, sobretudo no que diz respeito ao tema guarda responsável (GIONGO FILHO, 2013). Vale ressaltar que a guarda responsável se opõe a noção de maus-tratos (SANTANA e OLIVEIRA, 2010). Das pessoas que afirmaram saber o que seria o instituto da guarda responsável, instigadas a citar algo que constitui exemplo de guarda responsável, várias foram as respostas, tais como, manter os animais abrigados do sol e da chuva (16%), fornecer ração adequada ao peso e à idade do animal (14%), manter água limpa e fresca sempre à disposição (15%), dar banhos periódicos (12%), ao sair de casa com o animal, utilizar sempre coleira e guia (12%), recolher as fezes de seu animal das ruas (11%), vacinar e vermifugar o animal dentro dos prazos estabelecidos pelo médico veterinário (14%) (Figura 2). Esses atos, citados pelos pesquisados, estão de acordo com Capez (2007), o qual estabelece que uma guarda responsável requer cuidados com a vida, alimentação e saúde dos animais. Dessa forma, percebe-se que a população desconhece o que seria guarda responsável e dos que conhecem, poucos praticam atos condizentes. Percebeu-se, durante a pesquisa, que os animais de alguns desses participantes, no momento do questionamento, o qual era realizado na própria residência destes, estavam em más condições de higiene e saúde, demonstrando a falta de zelo pelo animal, e distorcendo a afirmação concedida a essa pesquisa. Portanto, discute-se se realmente as pessoas no Município de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte sabem o que é guarda responsável de animais e se colocam esses conhecimentos em prática. 118 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Caio Sérgio SANTOS6. CONCLUSÃO A população de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte não sabe o que é guarda responsável. Embora os que afirmaram saber o que seria, saibam citar exemplos de guarda responsável, suas práticas, muitas vezes, não correspondem a esse conhecimento. Referências Bibliográficas ANDRADE, D. F.; OGLIARI, P. J. Estatísticas para as Ciências Agrárias e Biológicas com Noções de Experimentação. Florianópolis: UFSC, 2007. ARCA BRASIL. Notícias da Arca. Oficial: Cresce o número de animais abandonados. 2010. Disponível em: <http://www.arcabrasil.org.br/blog/2010/04/ oficial-cresce-o-numero-de-animais-abandonados/>. Acesso em: 02 jun. 2015. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 5 outubro 1988. ed. Senado, 2011. CAPEZ, F. Curso de Direito Penal. Legislação Penal Especial. vol. 4. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 400. DIAS, E. C. A tutela jurídica dos animais. Belo Horizonte: Mandamentos, 2000. p. 155. GIONGO FILHO, N. R. II Seminário de Proteção e Defesa Animal. São Paulo: São Paulo, 2013. SANTANA, L. R., OLIVEIRA. T. P. Guarda Responsável e Dignidade dos Animais. Disponível em: http://www.abolicionismoanimal.org.br/artigos/guardaresponsveledignidadedosanimais.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2015. STEWART, M. F. Companion animal death: a practical and comprehensive guide for veterinary practice. United Kingdom: Elsevier Health Sciences, 1999. p. 188. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 119 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Caio Sérgio SANTOS6. Figura 1 – Conhecimento da população de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, quanto à guarda responsável de animais. Figura 2 – Atos que a população de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte considera como sendo guarda responsável. Legenda: 1 - Manter os animais abrigados do sol e da chuva 2 - Fornecer ração adequada ao peso e à idade do animal 3 - Manter água limpa e fresca sempre à disposição 4- Dar banhos periódicos 5 - Ao sair de casa com o animal, utilizar sempre coleira e guia 6 - Recolher as fezes de seu animal das ruas 7 - Vacinar e vermifugar o animal dentro dos prazos estabelecidos pelo médico veterinário 120 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Huber RIZZO1; Lucas Leandro da Silva SOARES1; Carla Cristina Moura de OLIVEIRA1; Jefferson Ayrton Leite de Oliveira CRUZ1; Mayumi Santos Botelho ONO1; Pollyanna Cordeiro SOUTO2. INDIGESTÃO VAGAL EM MINI-BOVINOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO Vagal indigestion in mini cattle in the state of Pernambuco Huber RIZZO1; Lucas Leandro da Silva SOARES1; Carla Cristina Moura de OLIVEIRA1; Jefferson Ayrton Leite de Oliveira CRUZ1; Mayumi Santos Botelho ONO1; Pollyanna Cordeiro SOUTO2. Universidade Federal Rural de Pernambuco. DMV. hubervet@ gmail.com, lucasleandrovet@ gmail.com, carla_moura18@ hotmail.com, jefersonairton@ hotmail.com, mayumi_sbo@ hotmail.com, 2 Universidade Federal de Viçosa, DMV. pollyannasouto@ hotmail.com PA L AV R A S - C H AV E bovinos, nervo vago, Síndrome de Hoflund, sistema digestório, timpanismo KEYWORDS bulls, vagus nerve, Hoflund Syndrome, digestive system, tympanism 1 INTRODUÇÃO A Síndrome de Hoflund ou indigestão vagal é um distúrbio digestivo, relacionado ao comprometimento do nervo vago, seja por lesão total, parcial, compressão ou inflamação, uma vez que o mesmo é responsável pela motricidade dos pré-estômagos devido sua inervação, do ramo direito, em retículo, omaso e abomaso, e esquerdo no rúmen (DIRKSEN et al., 1993). Dentre as possibilidades de desenvolvimento da indigestão vagal estão quadros de reticuloperitonite traumática (RPT) (AQUINO NETO et al., 2010), aderências abdominais (ROMÃO et al., 2012; SIMÕES et al., 2014), linfossarcoma (FERNANDES et al., 2008), aspectos nutricionais (BORGES et al., 2007; CAMÂRA et al., 2009; COSTA et al., 2013) gestação avançada (CAMARA et al. 2009) e genéticos e/ou anatômicos, a bovinos miniaturas (FIDELIS JUNIOR et al., 2011; AMORIM et al., 2011). MATERIAL E MÉTODOS Relata-se a ocorrência de indigestão vagal em dois bovinos miniaturas machos, atendidos no Ambulatório de Grandes Animais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (AGA/UFRPE) nos anos de 2013 e 2014. Os proprietários foram submetidos a anamnese, para esclarecimento da evolução dos casos, e os animais, examinados clinicamente segundo Dirksen et al., (1993). Foram coletadas amostras de fluido ruminal, via sonda orogástrica, e sangue, mediante punção da veia jugular, sendo esses encaminhados ao Laboratório de Patologia Clínica de Grandes Animais da UFRPE, onde realizou-se a análise de fluido ruminal e o eritrograma e leucograma. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os bovinos miniaturas foram atendidos no mês de setembro de 2013 (B1) e 2014 (B2) e eram oriundos de propriedades localizadas nos municípios de Vitória de Santo Antão, a qual já havia ocorrido um quadro de timpanismo recidivante em outro touro miniatura, e Bezerros no estado de Pernambuco respectivamente. Eram criados no sistema semi-intensivo com livre acesso a Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 121 Huber RIZZO1; Lucas Leandro da Silva SOARES1; Carla Cristina Moura de OLIVEIRA1; Jefferson Ayrton Leite de Oliveira CRUZ1; Mayumi Santos Botelho ONO1; Pollyanna Cordeiro SOUTO2. alimentos volumosos no pasto como capim Pangola (Digitaria decumbens) e capim Elefante (Pennisetum purpureum). Em nenhum dos casos havia histórico de mudança brusca ou introdução de alimentos ricos em carboidratos, leguminosas e/ou de baixa digestibilidade que poderiam levar ao quaro de timpanismo (CHENG et al., 1998; CÂMARA et al., 2009; COSTA et al. 2013). O paciente B1, de 10 meses de idade e 115Kg (Figura 1), apresentava timpanismo recidivante há 10 dias, antes do atendimento no AGA/UFRPE. Na propriedade, o bovino foi submetido a tratamento, com medicamento oral a base de silicone a 30% suspenso em metilcelulose (Ruminol®), além de rumenocentese, com utilização de trocater e agulha calibre 40x12mm. Ao exame físico, realizado no momento do atendimento no AGA/UFRPE, constatou-se frequência cardíaca de 44bpm, respiratória de 16mpm, ruminal de 5mov./5 min., temperatura retal de 37,4°C e escore corporal de 1. O paciente B2 (Figura 2), de um ano de idade e 120Kg, há 30 dias vinha apresentando timpanismo recidivante. Ao exame físico obteve-se frequência cardíaca de 48 bpm, respiratória de 20mpm, ruminal de 5mov./5min., 38,4ºC de temperatura retal, mucosa congestas e escore corporal de 3. Em ambos os casos, observou-se aumento de volume na fossa paralombar esquerda e na região ventral da fossa paralombar direita, timpania grave e estratificações do conteúdo ruminal mal definidas. Os animais foram sondados, para alívio e eliminação de gazes, com progressão sem resistência da sonda orogástrica ou sinais obstrutivos no esôfago. O aspecto de “pera e maça” dos flancos direito e esquerdo, assemelham-se ao relatado em oito casos de indigestão vagal em bovinos miniaturas no estado de São Paulo (AMORIN et al., 2011; FIDELIS JÚNIOR et al., 2011). Nenhum dos bovinos foram responsivos a provas semiológicas de pesquisa de dor abdominal, descartando assim a possibilidade da RPT (AQUINO NETO et al., 2010), corroborando com os achados dos exames complementares, do bovino B2, onde não foram observados alterações no exame hematológico, (8,42x106/µL hemácias, 9,9g/dL hemoglobina, 38% de volume globular, 35,62fL VGM, 33% CHGM), principalmente em relação ao leucograma (leucócitos totais de 9800/µL sendo 21% de neutrófilos segmentados, 73% de linfócitos, 4% de monócitos e 2% de eosinófilos) (KANEKO et al., 2008), pois o aumento desses índices, remeteria a um processo infecioso ativo como observado, na RPT e em casos de aderências abdominais (ROMÃO et al., 2012). Fidelis Júnior et al., (2011) relataram leucocitose, associado a peritonite devido ruminocenteses em bovino miniatura com timpanismo recidivante, causando enfisema na região do flanco, alteração essa, que não observada no bovino B1. No entanto, não foi realizado o leucograma do mesmo, que devido a ruminocentese, poderia estar elevado. O líquido ruminal encontrava-se com pH e características normais. Para confirmação, do quadro de indigestão vagal, foi realizada a prova de atropina, tendo resultado positivo em ambos os animais, caracterizando a bradicardia vagal (DIRKSEN et al., 1993). Foram propostas duas condutas terapêuticas. A conservativa através da passagem de sonda orogástrica, a cada dilatação abdominal, afim da remoção do gás e a cirúrgica através da implantação permanente de fistula ruminal (MUZZI et al., 2009), sendo ambas paliativas, de serventia apenas para a administração do quadro de timpanismo. Os proprietários optaram pela conduta terapêutica con122 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Huber RIZZO1; Lucas Leandro da Silva SOARES1; Carla Cristina Moura de OLIVEIRA1; Jefferson Ayrton Leite de Oliveira CRUZ1; Mayumi Santos Botelho ONO1; Pollyanna Cordeiro SOUTO2. servativa, e com isso os animais receberam alta. Foi-lhes recomendado atenção quanto ao manejo alimentar, priorizando o fornecimento de volumoso de qualidade, em pequenas porções divididas durante o dia, e redução do fornecimento de alimento concentrado. CONCLUSÃO Devido a conformação condrodistrófica de bovinos miniaturas, supõe-se que ocorra predisposição genética para o desenvolvimento da indigesto vagal, devido a compressão do nervo vago em uma cavidade abdominal pequena em relação a expansão dos compartimentos gástricos durante a vida do animal. Pesquisas mais amplas devem ser realizados com o intuito de confirmar esta teoria. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO NETO, H. 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Figura 1 – Bovino miniatura (B1) em decúbito latero-esternal, apresentando dilatação da região do flanco esquerdo devido quadro de timpanismo. Figura 2 – Plano dorsal de bovino miniatura (B2) com quadro de timpanismo recorrente apresentando abdomen com aspecto “pêra-maça”. 124 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Domingos ANDRADE NETO³;Jhéssica Luara Alves de LIMA4; Ana Márcia Bezerra RODRIGUES5; Felipe Belizario SILVA6 ABANDONO DE GATOS VERSUS ADOÇÃO Cats abandonment versus adoption Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Domingos ANDRADE NETO³, Jhéssica Luara Alves de LIMA4; Ana Márcia Bezerra RODRIGUES5; Felipe Belizario SILVA6 Médica Veterinária autônoma Docente da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, [email protected] ³ Discente da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, [email protected] 4Discente do Mestrado em Ambiente Tecnologia e Sociedade - Veterinário Universidade Federal Rural do Semi-Árido, [email protected] 5 Médica Veterinária Autônoma 6 Ecólogo Autônomo 1 2 PA L AV R A S - C H AV E Desprezo, bem estar animal, personalidade. KEYWORDS Disesteem, animal welfare, personality. INTRODUÇÃO Estima-se que os gatos foram os primeiros animais adotados como pets pelos egípcios, há cerca de 3600 anos, sendo todos os felinos domésticos atuais descendentes de Felis silvestris (LINSEELE et al., 2007). Nas últimas décadas os gatos vêm adquirindo maior espaço dentre os pets e se tornaram os animais mais populares do mundo (DRISCOLL et al., 2009). Proprietários relataram considerar características fenotípicas externas, como tamanho do pelo, cor do pelo, e tamanho do animal, no momento da adoção de felinos em abrigos (GOURKOW, 2001). Todavia, o posterior comportamento destes animais consiste em um motivo de abandono (VUCINIC et al., 2009). Da mesma forma que a personalidade é considerada no momento da adoção a execução de comportamentos desagradáveis ou incompatíveis com a personalidade do dono pode resultar em abandono. O abandono de animais, principalmente domésticos, infelizmente é comum em locais públicos. Fruto da má informação por parte da população que acredita que os bichinhos podem viver por conta própria. É um problema com soluções vagas. Ao passo que precisa ser tratado, existem vácuos legais que dificultam sua abordagem. Se existem cães e gatos nas ruas são porque eles têm donos que não os mantêm dentro dos limites das suas residências ou porque eles tiveram donos e foram abandonados. Aqueles que nascem nas ruas raramente conseguem sobreviver por muito tempo se não forem adotados (FARIA et al., 2013). Faria (2014), relatou que 71,95% dos pesquisados já verificaram abandono de algum animal. Resultados semelhantes encontrados por Faria et al (2013), onde foram abordados 245 moradores de um bairro da cidade de Fortaleza, e o abandono de animais foi percebido por 78% dos participantes. De acordo com o relatado por Bortoloti e D’Agostino (2007), os animais presentes nas ruas são provenientes de abandono. O que faz desses animais potenciais agressores, transmissores de doenças, contaminando diretamente o ambiente e/ou o homem, como relatado por Rey (2001). Quanto ao bem estar dos gatos de rua, esta é uma questão muito importante, pois apesar de estes serem animais sem dono, eles necessitam de interação com seres humanos e muitos voluntários se envolvem emocionalmente, proporcionando alimentação e abrigo, cuidados médicos veterinários, participando da captura para a realização da castração e posterior soltura no seu ambiente ou auxílio na adoção (CENTONZE e LEVY, 2002). Mas a adoção, apesar de um gesto nobre, é necessário conscientizar a população Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 125 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Domingos ANDRADE NETO³, Jhéssica Luara Alves de LIMA4; Ana Márcia Bezerra RODRIGUES5; Felipe Belizario SILVA6 de que não se trata de distribuição aleatória de animais, mas de um programa legalmente estabelecido que prevê posturas que os proprietários devem assumir para que os animais não sejam submetidos a sofrimentos, nem descartados por atitudes impensadas. A adoção deve ser um exercício de posse responsável e precisa ser supervisionada por órgãos públicos, associados a profissionais de clínicas particulares, organizações não-governamentais, entre outros (LAGES, 2009). Desta forma o presente trabalho objetivou analisar o abandono de gatos e a adoção no Rio Grande do Norte. MATERIAL E MÉTODOS Desenvolvida de forma randômica, a pesquisa foi realizada mediante a aplicação de 200 questionários de maneira que os pré-requisitos para participar da pesquisa eram ter tutoria de pelo menos um gato e possuir mais que 18 anos. As informações foram coletadas através de questionário estruturado realizado com os tutores dos animais. Ao final a análise estatística foi realizada com o programa R (2013) utilizando-se o teste exato de Fisher, com nível de significância de 5% (p<0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 200 questionários aplicados os proprietários relataram que desse total de animais 115 (57,5%) foram encontrados nas ruas, vítimas de abandono, corroborando com Clark (1975) que se torna um trabalho atual, onde afirmou naquela época que a maior parte de animais eram adotados das ruas. Os outros animais foram obtidos de presente, comprados ou adotados de outros proprietários. Observou-se que os machos representavam a maior parcela de animais abandonados adotados, 61 (53,05%) enquanto as fêmeas representavam 54 (46,95%) (Figura 1). Os índices de animais que não foram vitimas de abandono se aproximam ao de Baranyiová et al. (2006), que obteve 48,6%. Foi observado ainda que as chances de adoção dos gatos reduzem à medida que crescem, pois as pessoas tendem a adotar os gatos até os seis meses de vida (Figura 2). Esses dados corroboram com Baranyiová et al (2006), onde afirmaram que a maioria dos felinos são adotados até os dez meses de vida e com Kendall e Ley (2006), que citaram que 65% dos gatos foram adotados até os dois meses de idade. Isso se torna um fato preocupante, pois quanto maior a idade do animal abandonado menor as chances do mesmo encontrar um novo lar. O abandono é uma falha gritante da responsabilidade do ser humano e representa comportamento anti-social e imoral. Em muitos casos é também ilegal, ou deve ser visto por esse ângulo, mas a aplicação da repressão é difícil e raro, pois é difícil para provar na maioria dos casos. Se estiver escrito na legislação, leis contra o abandono devem ser cuidadosamente redigidas bem estabelecidas sem brechas para que fujam da punição (ROBERTSON, 2008). Portanto, medidas são necessárias a serem tomadas pelo poder público para reduzir o abandono de gatos, tais como o controle reprodutivo e conscientização da população sobre a guarda responsável. CONCLUSÃO Foi possível concluir que a maioria dos gatos dos tutores que se subme126 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Domingos ANDRADE NETO³;Jhéssica Luara Alves de LIMA4; Ana Márcia Bezerra RODRIGUES5; Felipe Belizario SILVA6 teram ao questionário foram vitimas de abandono. Os gatos domésticos são mais comumente adotados até o segundo mês de vida e os machos são mais abandonados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARANYIOVÁ, E.; HOLUB, A.; TYRLÍK, M.; VOLFOVÁ, M. Cats in Czech Rural and Urban Households. Acta Veterinaria Brno, v. 75, n. 3, p. 411–417, 2006. BORTOLOTI, R.; D’AGOSTINO, R. G. Ações pelo controle reprodutivo e posse responsável de animais domésticos interpretadas à luz do conceito de metacontingência. brazilian journal of behavior analysis, v.3, n.1, p.17-28, 2007. Disponível em: www.rebac.unb.br/vol3_1/rebac_bortoloti_etal_2007.pdf. Acessado em 10 de junho de 2012. CENTONZE, L.A.; LEVY, J.K. Characteristics of free-roaming cats and their caretakers. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 220, p. 1627-1633, 2002. CLARK, J M. The effects of selection and human preference on coat colour gene frequences in urban cats. Heredity, v. 35, n. 2, p. 195–210, 1975. DRISCOLL, C. A.; CLUTTON-BROCK, J.; KITCHENER, A. C.; BRIEN, S. J. O. The Taming of the Cat. Scientific American, n. June, p. 68–75, 2009. FARIA, J. A.; ALVES, N. D.; FILHO, E. F. 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[email protected] 2 Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Curitiba - Paraná. alobo.blanco@gmail. com 3 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Garça, São Paulo. julianemoreira_@ hotmail.com 1 FARM FOREMEN SCHOOL: TRAINING OF RURAL LABOUR WITH PERCEPTS OF ANIMAL WELFARE TO IMPROVE CATTLE PRODUCTION Wilmar Sachetin MARÇAL1; Alexandre Lobo BLANCO2; Juliane MOREIRA3 PA L AV R A S - C H AV E : bem-estar, educação, capacitação, bovinos, produtividade. KEYWORDS welfare, education, training, cattle, productivity. INTRODUÇÃO Na pecuária bovina, ainda é premissa qualificar a mão de obra rural, para minimizar perdas de modo geral. Os melhores resultados científicos e tecnológicos serão sempre mais facilmente adquiridos, se todos os atores da bovinocultura estiverem envolvidos, treinados e em perfeita sinergia. Nesta ótica, surgiu em 2010 na Universidade Estadual de Londrina o projeto de extensão ESCOLA DE CAPATAZES, com cursos práticos e de orientação individualizada. Os ensinamentos, tanto para os encarregados da lida do gado, quanto para os alunos dos vários Colégios Agrícolas brasileiros, são relacionados ao eco-comportamento bovino, respeitando-se a fisiologia do animal, com ensinamentos de manejo racional, abordagem semiológica e, principalmente, sem competitividade entre “peões”. MATERIAL E MÉTODOS Os cursos são gratuitos e ocorrem na sede da Escola, situada na Fazenda Cachoeira 2C, em Sertanópolis, no Paraná, mas também de modo itinerante em localidades rurais que possuam condições para os treinamentos práticos. O número máximo por turma é dez participantes. Há ensaios de primeiros socorros em bovinos, com ênfase em terapêutica por vias alternativas, bem como ações práticas e reais de manejo racional em troncos e bretes, com orientação de vacinação, medicação, embarque e desembarque sem estresse e sem contusões nas carcaças. O modelo “porteira aberta” é proibido nas diretrizes pedagógicas da Escola. Os participantes recebem esclarecimentos sobre campo de visão dos bovinos, zona de fuga, audição e reações a estímulos. Também se orienta sobre os produtos básicos de uma “farmacinha-veterinária”, treinamento para melhor manejo terapêutico com produtos controlados, como carrapaticidas e similares. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 129 Wilmar Sachetin MARÇAL1; Alexandre Lobo BLANCO2; Juliane MOREIRA3 O projeto ainda enfatiza os aspectos higiênico-sanitário dos participantes na prevenção de sua própria saúde em todas as atividades manuais. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados de quatro anos demonstraram escala progressiva de participantes, com aprimoramento profissional, promovendo, ainda, as correções de vícios e crendices, algumas comuns no meio pecuário. A dinâmica dos trabalhos práticos permitiu marketing natural entre os participantes, com estímulo a inclusão de novos interessados, fato também observado entre os jovens das escolas agrícolas. Nos ensaios há motivação para se entender aspectos diretamente relacionados ao bem-estar animal, com preceitos explicados de modo técnico, mas passíveis de entendimento pelo público alvo, às vezes sem muita instrução de alfabetização. Ainda nas aulas práticas, os participantes aprendem a padronizar a “farmacinha veterinária”, recebendo ensinamentos preventivos e orientações de prescrições terapêuticas possíveis de serem realizadas, enquanto o veterinário não chega à fazenda. As ações realizadas pela ESCOLA DE CAPATAZES, 4278 pessoas através de 25 palestras e dois workshops em Sindicatos Rurais, Colégios Agrícolas, Universidades e fazendas interessadas. Já foram realizados 21 cursos para capatazes e 22 para alunos de Colégios Agrícolas, compreendendo 18 municípios no estado do Paraná; 06 no estado de São Paulo; um em Mato Grosso e um no estado de Santa Catarina. Produziram-se também alguns trabalhos científicos para disseminação educativa e de iniciação científica aos graduandos, permitindo a concessão de bolsas de estudos aos acadêmicos. Sob a ótica pedagógica, os alunos-estagiários participantes, adquiriram a oportunidade de presenciar e vivenciar aspectos antigos de condutas práticas baseadas no empirismo, podendo então, conhecer, respeitar e corrigir aqueles tópicos que a ciência já demonstrou conhecimento pleno, absorvido por eles na Universidade. Esta constatação permitiu melhorar o relacionamento entre o futuro profissional e capataz, nascendo naturalmente o respeito pela permuta de conhecimentos. Aspecto de notória observação é a motivação herdada pelos capatazes que, com alguns ensinamentos repassados, sentem-se mais valorizados na rotina e no cotidiano da lida com os bovinos. O sinergismo vivenciado pelos docentes, alunos-estagiários e participantes reforça, ainda mais, a necessidade de se produzir com qualidade e sustentabilidade, pois o bem-estar animal reflete positivamente nos aspectos econômicos, sociais, ambientais e éticos, permitindo uma pecuária bovina forte e muito competitiva. CONCLUSÕES Os ensinamentos práticos permitiram melhoria nas ações dos participantes, agregando tópicos de bem-estar animal e melhoria na produção dos animais, de modo individual e coletivo; Os alunos-estagiários praticaram a relação empirismo versus ciência animal, dirimindo dúvidas e conhecendo algumas realidades loco-regionais; A Escola de Capatazes, em três anos de existência, prestou informação e formação para mais de 4000 pessoas em diferentes localidades brasileiras, levando o conhecimento da Universidade, de modo gratuito para os que necessitam aprimorar-se profissionalmente na pecuária bovina; O conhecimento, como forma transformadora, melhorou o rendimento dos serviços e a 130 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wilmar Sachetin MARÇAL1; Alexandre Lobo BLANCO2; Juliane MOREIRA3 lida diária dos serviços na fazenda, com motivação pela educação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROOM, D. M.; FRASIER, A. F. Comportamento e bem-estar de animais domésticos. 4.ed. 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[email protected] RURALITY: EDUCATIONAL PROGRAM FOR CLINICAL CASE INCREASE IN RUMINANTS IN VETERINARY MEDICINE COURSE 1 Wilmar Sachetin Marçal PA L AV R A S - C H AV E bovinos, diagnóstico, enfermidades, profilaxia, tratamento KEYWORDS cattle, diagnosis, diseases, prophylaxis, treatment INTRODUÇÃO Ao se analisar as diretrizes curriculares das escolas de Medicina Veterinária no Brasil, estabelecidas pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC, percebe-se que a mesma estabelece, na formação profissionalizante, que as disciplinas devem conferir aos acadêmicos, conhecimentos para desenvolverem habilidades específicas na execução das especialidades que a Medicina Veterinária contempla. Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), o programa de formação complementar na Graduação prevê a realização de ações de natureza acadêmica, social ou cultural que proporcionem aos alunos estudos e práticas curriculares complementares. Entretanto, na graduação básica, tornou-se imperiosa a necessidade de mais exercícios práticos, sobretudo nas disciplinas da área de Semiologia e Clínica Médica de Ruminantes. Tal razão é pelo fato de que, desde a última década, constatou-se que os atendimentos veterinários hospitalares de bovinos, ovinos e caprinos, que sempre subsidiaram pedagogicamente o curso, diminuíram significativamente. Isto levou a ausência de animais enfermos para que os estudantes pudessem vivenciar a ementa no eixo prático. Por isso, procedeu-se a efetivação do Projeto Ruralidade, dentro das próprias aulas-práticas das disciplinas, realizadas a campo, proporcionando aos alunos regulares o contato direto com a realidade loco-regional, onde, de forma extramuros, havia significativo número de ruminantes naturalmente enfermos para atuação clínica. MATERIAL E MÉTODOS Com metodologia simples, planejamento com parcerias e atendimento gratuito subsidiado, aumentou-se a dinâmica dos atendimentos externos, permitindo aos alunos exercícios práticos e atuação com animais de produção. Além 132 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wilmar Sachetin MARÇAl das propriedades rurais que já eram cadastradas, foi possível ampliar o número de localidades com a colaboração dos escritórios locais da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastacimento, Emater e Sindicato Rural Patronal. Com visitas in loco divulgou-se os objetivos do projeto junto aos novos produtores, configurando, assim, mais colaboradores para as aulas-práticas planejadas. A UEL disponibilizou micro-ônibus suficiente para transportar dois professores e 15 alunos em cada deslocamento realizado nas estradas rurais. Os atendimentos foram no período da manhã as quartas, quintas e sextas-feiras. Através de parcerias com laboratórios fabricantes de produtos e medicamentos veterinários, recebemos uma quantidade extraordinária de amostras-grátis, que ficaram à disposição das aulas, sensibilizando os doadores pelo efeito prescritor futuro, pois permitiu aos alunos conhecerem as boas marcas do mercado veterinário, a serem indicadas. Quanto aos procedimentos e consultas houve isenção de cobrança por parte da UEL pelo interesse público e didático. Para as atividades os alunos se preveniram com treinamento de aspectos higiênico-sanitários, bem como foram imunizados com vacinação contra doenças zoonóticas, realizadas gratuitamente pelo serviço especializado do Hospital de Clínicas da UEL. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o período desse exercício didático foram atendidos 682 bovinos, de 25 propriedades rurais diferentes, localizadas num raio de até 60 km da UEL. Nesta espécie, os 378 alunos participantes, com supervisão docente direta, observaram e atuaram em casos de papilomatose, retenção de secundinas, mastite, indigestões de diferentes etiologias, retículopericardite traumática, pododermatites, enfermidades metabólicas, traumas, entre outros. Atividades não emergenciais também serviram de aprendizado aos alunos, como mochações, desverminação, vacinação, diagnóstico de gestação, curativos, colheita de material biológico para exames laboratoriais, entre outras. Nos ovinos (n = 49) e caprinos (n = 38), os alunos vivenciaram problemas de casco, verminose, mastite, ceratoconjuntivite infecciosa, deficiência mineral e nutricional, além de conhecerem instalações rurais e técnicas de manejo diferenciadas para as duas espécies. Em outro viés, os resultados dos últimos cinco anos demonstraram uma pequena retomada no interesse do corpo discente em atuar nas localidades rurais próximas a UEL, onde puderam praticar Semiologia e Clínica Médica de Bovinos, com melhor preparo e segurança, reaquecendo a motivação para atuar com animais de produção. CONCLUSÕES Pelos resultados observados, houve ganho acadêmico através das seguintes situações reais: mais oportunidades de vivências práticas dentro da própria grade curricular que complementem a carga horária obrigatória oferecida pelo curso de Medicina Veterinária da UEL; maior elo entre a aquisição dos conhecimentos teóricos adquiridos no transcorrer do curso com a prática profissional na área de Clínica Médica de Ruminantes; fornecimento aos discentes de observação de condutas profissionais, permitindo adquirirem mais segurança na futura atividade profissional, com diagnóstico, prognóstico e tratamento efetivos e corretos; enfim maior integração para trabalhos em equipe, com tutoria, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 133 Wilmar Sachetin MARÇAl sinergismo e compartilhamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBRIGHT, J. L.; ARAVE, C. W. The behaviour of cattle. New York: Cab Internacional (ed.). Wallingford: 1997. 305 p. CONSTABLE, P. D. 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[email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. aguim@ dz.ufrpe.br 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. janiele_l@ hotmail.com 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. karen. [email protected] 1 Tomás Guilherme Pereira da SILVA1; Cíntia Rafaela de Lima COSTA2; Adriana GUIM3; Lucíola Vilarim FERRAZ4; Janiele Tiburtino de LIRA5; Karen Santos Félix ABREU6 PA L AV R A S - C H AV E caatinga, cianeto, forrageira nativa, plantas cianogênicas, ruminantes KEYWORDS caatinga, cyanide, cyanogenic plants, native forage, ruminants INTRODUÇÃO Segundo Araújo e Cavalcanti (2002), das diversas plantas nativas da caatinga, a maniçoba (Manihot sp), pertencente à família Euphorbiaceae, tem sido bastante estudada por sua aceitabilidade, além de demonstrar teor médio de proteína bruta de 16%, quando conservada na forma de silagem ou feno, além de digestibilidade in vitro acima de 60%. Apesar de seus atributos, a maniçoba, assim como as demais plantas do gênero Manihot, apresenta quantidades variáveis de glicosídeos cianogênicos em sua composição (linamarina e lotaustralina, localizadas nos vacúolos) que, ao se hidrolisarem e mediante a ação da enzima linamarase (presente na parede celular), dão origem ao ácido cianídrico (HCN). Este ácido, dependendo da quantidade ingerida por um animal, pode causar intoxicação (SOUZA et al., 2006). O ácido cianídrico, entretanto, se volatiliza facilmente quando a planta é triturada mecanicamente e submetida à desidratação natural pela ação dos raios solares e do vento, assim como há redução considerável na concentração de HCN em função do processo fermentativo da ensilagem. Diante do exposto, objetivou-se quantificar o HCN residual em silagens e fenos de maniçoba (Manihot sp.) cultivada. MATERIAL E MÉTODOS As maniçobas utilizadas para análise in natura e confecção do feno e da silagem foram provenientes da Fazenda Balanço, situada no município de Serra Branca, cariri da Paraíba. As plantas foram implantadas em abril de 2006, com espaçamento de 1,5m x 1,5m e densidade de 4444 plantas ha-1. As coletas foram realizadas durante o período de abril a junho de 2014, sendo selecionadas, aleatoriamente, 20 de um total de 80 plantas cultivadas. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 135 Tomás Guilherme Pereira da SILVA1; Cíntia Rafaela de Lima COSTA2; Adriana GUIM3; Lucíola Vilarim FERRAZ4; Janiele Tiburtino de LIRA5; Karen Santos Félix ABREU6 A maniçoba foi submetida ao corte de uniformização a uma altura de 1 metro do solo e após 70 dias, quando as plantas se encontravam no início do período de frutificação, foi realizada a amostragem das plantas para determinação do teor de HCN, bem como se procedeu ao corte das plantas, sendo a quantidade total de massa de forragem dividida em duas porções, de modo que uma foi imediatamente ensilada e o restante do material foi exposto ao sol para confecção do feno. A silagem foi confeccionada picando as plantas em partículas de aproximadamente 3 cm em máquina forrageira e armazenada em tambores plásticos com volume de 200 litros, atingindo-se densidade de 515 kg/m3 e o feno acondicionado em sacos de polietileno. Após 90 dias, os silos foram abertos para coleta de amostras de silagem, bem como foram colhidas amostras do feno para quantificação do HCN residual. As amostras coletadas foram acondicionadas em caixa de isopor contendo gelo e conduzidas ao Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia (DZ) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), localizado no Recife, onde foram congeladas a -20ºC para posteriores análises do HCN. O teor de ácido cianídrico presente nas amostras da maniçoba in natura e conservada foi determinado segundo metodologia de Ades Totah e Hernandez Luis (1986) adaptada por Silva (2015). Os dados foram submetidos à análise estatística descritiva, com determinação da média e do erro-padrão, utilizando-se o programa Microsoft Office Excel® Versão 2011. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados comprovam a eficiência dos métodos de conservação de forragem na redução da concentração do ácido cianídrico da maniçoba cultivada in natura (Figura 1). O processo de ensilagem promoveu a diminuição de 56,99% da concentração de HCN em relação à planta in natura, mantendo o teor desse composto secundário próximo aos 162 mg/kg de MS citado por Matos et al (2005). O processo de fermentação anaeróbia que ocorre durante o processo de ensilagem pode evitar a intoxicação dos animais através da transformação dos princípios tóxicos em gases inofensivos. Segundo Araújo (2001), a degradação da linamarina ocorre em meio aquoso e a enzima ß-glicosidase é inativada pelo calor, mas a linamarina é estável ao aquecimento e, neste caso, pode ser convertida em seus subprodutos (glicose, HCN e acetona) pela ação enzimática produzida pela flora intestinal do animal. Sendo assim, no caso da silagem, deve ter ocorrido a fermentação deste glicosídio pelas bactérias anaeróbicas presentes no silo, o que contribuiu para redução da concentração do HCN. Em relação à fenação, observou-se que este processo reduziu o teor de HCN em 88,14% comparado à planta in natura, semelhante à variação encontrada por França et al (2010). Desta forma, esse resultado ratifica as considerações de Soares (1995), quando menciona que o material desidratado está praticamente isento ou com possibilidade bastante reduzida de formação de ácido cianídrico, tendo em vista que a exposição das plantas aos raios solares e ao vento favorecem a volatilização do HCN. CONCLUSÃO 136 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Tomás Guilherme Pereira da SILVA1; Cíntia Rafaela de Lima COSTA2; Adriana GUIM3; Lucíola Vilarim FERRAZ4; Janiele Tiburtino de LIRA5; Karen Santos Félix ABREU6 Os métodos de conservação de forragem reduzem a concentração de ácido cianídrico na maniçoba, sendo a fenação a técnica aparentemente mais eficiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADES TOTAH, J.J.; HERNÁNDEZ LUIS, F. Presencia de acido cianhidrico en forrajes cultivados en Mexico. Agricultura Tecnica en Mexico, México, v.12, n.1, p.77-90, 1986. ARAÚJO, G.G.L.; CAVALCANTI, J. Potencial de utilização de maniçoba. In: SIMPÓSIO PARAIBANO DE FORRAGEIRAS NATIVAS, 2002, Areia. Anais... Areia: UFPB, 2002. ARAÚJO, J.M.A. Química de alimentos: teoria e prática. 2. ed. Viçosa: UFV, 2001, 475p. FRANÇA, A.A.; GUIM, A.; BATISTA, A.M.V.; et al. Anatomia e cinética de degradação do feno de Manihot glaziovii. Acta Scientiarum. Animal Sciences, Maringá, v.32, n.2, p.131-138, 2010. MATOS, D.S.; GUIM, A.; BATISTA, A.M.V.; et al. Composição química e valor nutritivo da silagem de maniçoba (Manihot epruinosa). Archivos de Zootecnia, v.54, n.208, p.619-629, 2005. SILVA, T.G.P. Concentração de ácido cianídrico na maniçoba in natura e conservada. Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, Monografia (Bacharelado em Zootecnia), 2015, 38p. SOARES, J.G.G. Cultivo da maniçoba para produção de forragem no semiárido brasileiro. Petrolina, PE: EMBRAPA-CPATSA, 1995, 4p. (EMBRAPA/CPATSA. Comunicado Técnico, 59). SOUZA, E.J.O.; GUIM, A.; BATISTA, A.M.V.; et al. Qualidade de silagens de maniçoba (Manihot epruinosa) emurchecida. Archivos de Zootecnia, v.55, n.212, p.351-360, 2006. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 137 Tomás Guilherme Pereira da SILVA1; Cíntia Rafaela de Lima COSTA2; Adriana GUIM3; Lucíola Vilarim FERRAZ4; Janiele Tiburtino de LIRA5; Karen Santos Félix ABREU6 Figura 1. Valores médios e erros-padrão da concentração de ácido cianídrico (HCN) na maniçoba (Manihot sp) in natura, aos 70 dias de crescimento, e nas formas de silagem e de feno. 138 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2, Francisco das Chagas Silva de MELO3; Felipe Belizário SILVA4; Thayane Cristina Carneiro SILVA³; Raphael Magno Silva SOARES4. ADOÇÃO DE GATOS VERSUS COR DO PELO Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2, Francisco das Chagas Silva de MELO3; Felipe Belizário SILVA4; Thayane Cristina Carneiro SILVA³; Raphael Magno Silva SOARES4. Wilmar Sachetin MARÇAL1; Alexandre Lobo BLANCO2; Juliane MOREIRA3 Médica Veterinária Autônoma. Docente da Universidade Federal de Rural do Semi-Árido. [email protected] 3 Discente da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. [email protected] 4 Ecologo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. 1 2 PA L AV R A S - C H AV E Pelagem, Comportamento, companhia. KEYWORDS hair, behaviour, company. INTRODUÇÃO Os gatos domésticos tiveram uma domesticação diferente dos demais animais domesticados pelo homem, pois o mesmo não apresentava requisitos úteis para a sua domesticação como a produção de leite, carne, lã ou tração como outros animais de produção (DRISCOLL et al., 2009), e até mesmo características mais complexas analisadas em outras espécies, como comportamento de caça em cães e produção de leite em outros animais (KURUSHIMA et al., 2012). Devido seu comportamento solitário e hábito alimentar estritamente carnívoro, os felinos selvagens eram candidatos improváveis à domesticação. Contudo a aglomeração humana trazia para o gato um habitat favorável ao seu desenvolvimento (DRISCOLL et al., 2009). Neste cenário, as pessoas passaram a tolerar os gatos (DRISCOLL et al., 2009) e a se relacionar com eles apenas por sua capacidade de caçar e matar roedores (OVERALL, 1997; GRIFFIN e HUME, 2006). A domesticação se deu, então, em torno das atividades agrícolas humanas, que concentrava recursos alimentares suficientes para comportar diversos felinos (CROWELL-DAVIS et al., 2004) e presas como ratos (Mus musculus domesticus), que por sua vez atraíam os gatos selvagens. A seleção artificial no gato doméstico, quando realizada, focou em qualidades estéticas, como cor dos pelos e tipos de pele. Nos últimos anos os gatos vêm se destacando pela crescente aceitação dentre os pets e se tornaram os animais mais populares do mundo (DRISCOLL et al., 2009). A companhia de gatos é o fator principal para sua adoção, mas proprietários relataram outros fatores decisivos onde consideram características fenotípicas externas, como tamanho do pelo, cor do pelo e tamanho do animal, no momento da adoção de felinos em abrigos (GOURKOW, 2001). Considerada uma característica importante no momento da adoção, a cor do pelo é um fator que pode influenciar o temperamento individual e personalidade do gato doméstico (DELGADO et al., 2012). Proprietários relatam perceber a semelhança de temperamento entre animais de mesma pelagem, e alguns autores também citam estas características. Em uma pesquisa realizada por Delgado et al., (2012), gatos brancos foram caracterizados como menos ativos do que gatos de outras cores, e gatos amarelos foram considerados mais treináveis do que gatos de outras cores. Sendo assim o presente trabalho Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 139 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2, Francisco das Chagas Silva de MELO3; Felipe Belizário SILVA4; Thayane Cristina Carneiro SILVA³; Raphael Magno Silva SOARES4. objetivou avaliar a influência da pelagem na adoção de felinos. METODOLOGIA A pesquisa foi desenvolvida de maneira randômica. Foram realizados 200 questionários, de forma que os pré-requisitos para participar da pesquisa eram ter tutoria de pelo menos um gato e possuir mais que 18 anos. As informações foram coletadas através de questionário estruturado realizado com os tutores dos animais. As colorações obtidas foram separadas em dez categorias: preto, tigrado, cinza, amarelo, bege, branco, preto com branco, tigrado bicolor, bege com branco e tricolor. Ao final a análise estatística foi realizada com o programa R (2013) utilizando-se o teste exato de Fisher, com nível de significância de 5% (p<0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizados 200 questionários com proprietários de animais. Destes, 23 (11,5%) possuíam a cor preta; 30 (15%) possuíam a cor tigrada; 13 (6,5%) possuíam a cor cinza; 17 (8,5%) possuíam a cor amarela; 13 (6,5%) possuíam a cor bege; 19 (9,5%) possuíam a cor branca; 33 (16,5%) possuíam a cor preta com branca; 23 (11,5%) possuíam a cor tigrada bicolor; 11 (5,5%) possuíam a cor bege com branca; e 18 (9%) possuíam a cor tricolor (Figura 1). Dos animais participantes da pesquisa pode-se observar que o maior número de animais adotados são os pretos com branco, esse mesmo dado foi encontrado por Clark (1975), em quatro áreas em Glasgow, na Escócia, onde demostrou que crianças tinham preferência por gatos dessa pelagem, e desta forma havia a interferia significativamente na adoção destes animais. Todavia, a influência humana na seleção natural não ocorre de forma significativa, atuando pouco nas variações de cor de pelo dos gatos, não afetando a frequência dos genes que determinam a cor do pelo (TODD, 1977). Tal preferência pela cor preto com branco pode está relacionado por serem animais que não gostam de caçar, tornando assim um animal mais quieto, sendo ainda dentre eles um animal relativamente obediente e dócil por permitir afago dos seus proprietários. Os gatos de pelagem bege com branco, foram os menos adotados, esse dado pode estar relacionado com o fato desses animais terem hábitos de arranhadura em locais inadequados e seu temperamento agressivo com outros gatos mais que os gatos cinza e os gatos bege. Já os gatos pretos, teve uma boa média de adoção e isso pode estar relacionado com sua boa capacidade de farejar animais novos e a caça diária. Mesmo sendo os menos obedientes e considerados menos dócil, já que executam menos o comportamento de subir no colo para ser afagado, podendo esse comportamento ser atribuído ao fato de serem animais mais tímidos que os amarelos (DELGADO et al., 2012). Os gatos amarelos segundo Delgado et al., (2012) podem ser considerados como animais muito amigáveis e pouco tímidos, mas é um animal pouco adotado, onde essas características podem estar relacionadas com a baixa preferencia dos proprietários em adotar animais de pelagem amarela. Tricolores foram definidos com muito indiferentes e pouco amigáveis e tolerantes por Delgado et al., (2012). Em nossa interpretação, contudo, se mostraram animais interativos com pessoas, animais e objetos, contudo mesmo tendo comportamentos diferentes do amarelo foram animais com baixa adoção. 140 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2, Francisco das Chagas Silva de MELO3; Felipe Belizário SILVA4; Thayane Cristina Carneiro SILVA³; Raphael Magno Silva SOARES4. CONCLUSÃO Após analise dos dados podemos aferir as seguintes conclusões: Os fenótipos da pelagem podem influenciar a adoção desses animais, onde os gatos de pelagem branca com preta demonstraram uma maior predileção para serem adotados, enquanto que os de pelagem bege com branco apresentaram o menor índice de adoção em relação as demais colorações. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CLARK, J M. The effects of selection and human preference on coat colour gene frequences in urban cats. Heredity, v. 35, n. 2, p. 195–210, 1975. CROWELL-DAVIS, S. L.; CURTIS, T. M.; KNOWLES, R. J. Social organization in the cat: a modern understanding. Journal of feline medicine and surgery, v. 6, n. 1, p. 19–28, 2004. DELGADO, M. M.; MUNERA, J. D.; REEVY, G. M. Human Perceptions of Coat Color as an Indicator of Domestic Cat Personality. Anthrozoos, v. 25, n. 4, p. 427–440, 2012 DRISCOLL, C. A.; CLUTTON-BROCK, J.; KITCHENER, A. C.; BRIEN, S. J. O. The Taming of the Cat. Scientific American, n. June, p. 68–75, 2009. DRISCOLL, C. A.; MACDONALD, D. W.; O’BRIEN, S. J. From wild animals to domestic pets, an evolutionary view of domestication. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 106 Suppl , p. 9971–8, 2009. GOURKOW, N. Factors affecting the welfare and adoption rate of cats in animal shelter. University of British Columbia, 2001. GRIFFIN, B.; HUME, K. R. Recognition and management of stress in housed cats. In: August J (ed). Consultations in feline internal medicine. 5th. Ed. St Louis: Saunders Elsevier, 2006. p. 717-733. KURUSHIMA, J. D.; LIPINSKI, M. J.; GANDOLFI, B.; FROENICKE, L.; GRAHN, J. C.; GRAHN, L. A.; LYONS, L. A. Variation of cats under domestication: genetic assignment of domestic cats to breeds and worldwide random-bred populations. Animal genetics, v. 44, p. 311–324, 2012. OVERALL, K. L. Normal Feline Behavior: clinical behavioral medicine for small animals. St. Louis: Mosby,1997 :45. TODD, N. B. Cats and Commerce. Scientific American, v. 237, n. 5, p. 100–107, 1977. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 141 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2, Francisco das Chagas Silva de MELO3; Felipe Belizário SILVA4; Thayane Cristina Carneiro SILVA³; Raphael Magno Silva SOARES4. Figura 1: Distribuição das colorações de pelagem, em percentual, dos animais participantes. Figura 1: Distribuição das colorações de pelagem, em percentual, dos animais participantes. Figura 1: Distribuição das colorações de pelagem, em percentual, dos animais participantes. Fonte: PINHEIRO, 2014 Figura 2: Comportamento em percentual dos gatos, com diferentes fenotípicos. Fonte: ANDRADE NETO, 2014 142 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Francisco da Chagas Silva MELO6 CONHECIMENTO SOBRE AS PENALIDADES APLICADAS AS PESSOAS QUE MALTRATAM ANIMAIS Knowledge about the penalties imposed people who mistreat animals Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Francisco da Chagas Silva MELO6 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Mestranda em Ambiente, Tecnologia e Sociedade. jhessica.luara@ ufersa.edu.br 2 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Professora Orientadora do Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade. [email protected] 3 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Professor do Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade. marlon@ ufersa.edu.br 4 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Assistente Social. [email protected]. br 5 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Estagiária. [email protected] 6 Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA, Discente de Medicina Veterinária. [email protected] 1 PA L AV R A S - C H AV E Constituição Federal, Proteção, Meio Ambiente. KEYWORDS Federal Constitution, Protection, Environment. INTRODUÇÃO A Constituição Federal, em seu artigo 225, §1º, inciso VII, reconhece que os animais são dotados de sensibilidade, impondo a sociedade e ao Estado o dever de respeitar a vida, a liberdade corporal e a integridade física destes, além de proibir expressamente as práticas que coloquem em risco sua vida (BRASIL, 1988). A norma constitucional brasileira atribui direitos aos animais, como por exemplo, o direito de não serem submetidos a tratamentos cruéis ou práticas que os coloquem em risco, comando este assimilado pela Lei crimes ambientais (BRASIL, 1998), que dispõe sobre as sanções derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Essa lei traz no artigo 32 que praticar ato de maus-tratos aos animais, tem como pena a detenção, de três meses a um ano, e multa. Todo animal tem direito a atenção, a cuidados e a proteção do homem. Assim, entende-se que o respeito pelos animais por parte do homem está ligado ao respeito dos homens entre si. Desta forma, a educação deve ensinar desde a mais tenra idade que o ser humano tem por obrigação legal e moral, observar, compreender e respeitar os direitos dos animais. O Direito dos animais não é uma novidade para o legislador brasileiro. Há décadas as legislações que protegem e tutelam os animais existem e não são efetivamente cumpridas. Os animais sempre existiram e fizeram parte do ambiente natural. Por isso, é que se deve perceber a influência dos animais na vida em sociedade e na preservação e conservação do meio ambiente. Assim, o ordenamento jurídico pátrio necessita despir-se do caráter antropocêntrico e tornar-se prático para reconhecer a inclusão dos animais não-humanos como sujeitos de direitos. Além da falta de conhecimento sobre os direitos dos animais por parte da sociedade, existe outra problemática, a presença de enfermidades transmitidas naturalmente dos animais ao homem, conhecidas como doenças zoonóticas, as quais podem se transformar em ameaças, se não cuidadas (ANDRADE, et al., 2000). Portanto, o presente estudo trará contribuição para a população, academia, e órgãos públicos responsáveis pela proteção dos animais, na medida em que objetiva analisar o conhecimento da população de Mossoró, Estado do Rio Grande do Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 143 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Francisco da Chagas Silva MELO6 Norte acerca das penalidades para aqueles que maltratam animais. Material e Métodos O método utilizado para o desenvolvimento do trabalho foi uma pesquisa de campo, que envolveu 1.000 (mil) participantes, maiores de dezoito anos, residentes no Estado do Rio Grande do Norte. Os participantes de maneira aleatória, os quais foram selecionados proporcionalmente ao total de 67.234 domicílios (IBGE, 2010) distribuídos nos 27 bairros existentes no Município de Mossoró/RN. O cálculo amostral levou em consideração um poder do teste (1 – β) de 80%, um nível de significância (α) e um erro da estimativa (δ) de 5% e a proporção (π11) de 50% dos pesquisados com uma resposta afirmativa sobre o conhecimento das legislações de proteção aos animais, segundo Andrade e Ogliari (2007): n = (zα/2 + zβ)²[π11(1 – π11) + (π11 -δ)(1 – π11 + δ)] δ2 Para a análise dos resultados na forma de tabelas de contingência foram utilizados o teste exato de Fisher e o teste de Qui Quadrado com a respectiva análise dos resíduos com nível de 5% de significância. Esse trabalho foi aprovado pelo comité de ética em pesquisa da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, com parecer nº 40506515.4.0000.5294, de 13 de abril de 2015. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os animais são protegidos por lei. No Brasil, a Constituição Federal é a base de proteção aos direitos dos animais (BRASIL, 1988), além da Lei dos Crimes Ambientais (BRASIL, 1998) e outras leis estaduais e municipais. Todavia, nem todas as pessoas estão cientes dessa proteção legal. No Município de Mossoró/RN, das pessoas pesquisadas, 60% afirmaram conhecer que os animais tem proteção legislativa, enquanto que 40% desconhecem essa proteção (Figura 1). O conhecimento sobre as leis e penalidades nela contidas, é assunto tratado por Capez (2007), deputado que atua na elaboração destas em favor dos animais. Conhecer a proteção legal aos animais tem como conseqüência conhecer a penalidade aplicada àqueles que maltratam animais e, ao menos em tese, deveria refletir em atos de bem-estar em vez de atos de maus-tratos. A autoridade policial é obrigada a proceder a investigação de fatos que configuram crime ambiental (UOL BICHOS, 2014). Quanto ao conhecimento das leis, 18% afirmaram conhecer alguma lei de proteção aos animais, enquanto que 82% não souberam citar nenhuma lei protetiva. Sobre a penalidade aplicada aos que cometem maus-tratos com animais, apenas 11% dos pesquisados acertaram ser esta de 03 meses a 01 ano e multa, conforme a Lei dos Crimes Ambientais, enquanto que 89% não souberam responder (Figura 2). Poucos pesquisados conhecem a existência de leis protetivas aos animais. Do mesmo modo, a maior parte não soube responder qual a pena aplicada aos que maltratam animais. Isso só demonstra a necessidade de implantação de políticas públicas de conscientização à população. Os resultados são preocupantes, inclusive, essa ausência de conhecimento demonstrada pela população, reflete a ausência de conhecimento dos próprios parlamentares e profissionais que lidam com o Direito Ambiental. Existe, inclusive, projeto de lei para demonstrar a ausência de conhecimento 144 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Francisco da Chagas Silva MELO6 dos parlamentares acerca de suas próprias leis (GLOBO RURAL, 2011), o que é uma questão que merece o devido debate para a melhoria da legislação e da proteção por esta conferida. CONCLUSÃO Desta forma pode-se concluir que a população pesquisada possui um conhecimento baixo acerca das penalidades para aqueles que maltratam animais. Assim, é preciso intervenção do Estado para a implementação da educação ambiental e de medidas de conscientização popular, protegendo, consequentemente, os animais e a saúde pública. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, A.; PINTO, S. C.; OLIVEIRA, R. S. Animais de Laboratório:criação e experimentação.Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 388. p. 2002. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 5 outubro 1988. ed. Senado,1988. ______. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ LEIS/L9605.htm>. Acesso em: 02 jun. 2015. CAPEZ, F. Curso de Direito Penal. Legislação Penal Especial. vol. 4. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 400. GLOBO RURAL. Projeto afirma que deputados não conhecem leis de biossegurança. Globo Rural, São Paulo, 2011. Disponível em: http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,EMI266781-18272,00-PROJETO+AFIRMA+QUE+DEPUTADOS+NAO+CONHECEM+LEIS+DE+BIOSSEGURANCA.html>.Acesso em: 02 jun. 2015. UOL BICHOS.Conheça a legislação e as instituições que cuidam da regulamentação e proteção dos animais. Uol, São Paulo, 2014. Disponível em: <http://bichos.uol.com.br/leiseprotecao/denuncias.jhtm>.Acesso em: 02 jun. 2015. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 145 Jhéssica Luara Alves de LIMA1; Nilza Dutra ALVES2; Sthenia Santos Albano AMORA3; Carmem Tassiany Alves de LIMA4; Lanila Francisca TORRES5; Francisco da Chagas Silva MELO6 Figura 1 – Conhecimento da população de Mossoró/RN quanto a existência de proteção legal aos animais. Figura 2 – Conhecimento da população de Mossoró/RN acerca das penalidades para quem maltrata animal. 146 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 PERCEPÇÃO DE TUTORES DE CÃES E GATOS SOBRE HELMINTOSE ZOONÓTICA E AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS PREVENTIVAS ADOTADAS Perception of guardians of dogs and cats on zoonotic helminthosis and evaluation of preventive measures taken Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 1 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 PA L AV R A S - C H AV E Cães, conhecimento, helmintos, posse responsável. KEYWORDS Knowledge, helminths, dogs, responsible pet ownership. INTRODUÇÃO A elevada ocorrência de contaminação ambiental causada pela eliminação de fezes de animais vem sendo meio de investigação por instituições que gerenciam a saúde, devido ao potencial de infecções zoonóticas parasitárias ocorridas nas últimas décadas (SANTOS et al., 2007). O contato com animais infectados gera problemas de saúde pública principalmente em crianças susceptíveis a essas infecções por viverem em comunidades carentes e contato direto com fezes de cães e gatos em locais públicos além da transmissão por ingestão de água e alimentos contaminados (KATAGIRI e OLIVEIRA-SEQUEIRA, 2007). Os estudos sobre parasitismo em animais de estimação vêm despertando crescente interesse frente à associação restrita e íntima entre o homem e os animais e sua consequência em saúde pública (VASCONCELLOS et al., 2006). Considerando que muitas parasitoses que afetam o homem são transmitidas por animais, de modo direto ou indireto, o conhecimento sobre zoonoses parasitárias torna-se essencial sob o ponto de vista de saúde pública (TOMÉ et al., 2005). Objetivou-se avaliar a percepção sobre helmintose zoonótica de cães e gatos e analisar as medidas preventivas adotadas pelos tutores. Material e Métodos Definiu-se amostragem não probabilística, na dependência da aceitação de tutores de cães e gatos radicados na Região Metropolitana do Recife em colaborar com a pesquisa, confirmando por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para a coleta dos dados, formulou-se um questionário com informações gerais e questões sobre o conhecimento de helmintoses gastrintestinais caninas e felinas de potencial zoonótico. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 147 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 RESULTADOS E DISCUSSÃO O estudo envolveu 80 tutores, 77,5% de caninos e 22,5% de felinos, com idade entre 18 e 72 anos, predominando a faixa etária de 40 a 59 anos (42,5%), sexo feminino (83,8%) e com ensino superior (38,8%). Estes resultados são semelhantes aos de Lima et al. (2010) e Langoni et al (2011) em que um número mais expressivo dos entrevistados (66,7%) possuía cães. O grau de instrução corrobora com Langoni et al. (2011) e a predileção por parte das mulheres coaduna com Molento et al. (2007) e Langoni et al. (2011). Sobre helmintoses gastrintestinais com potencial zoonótico, um percentual mais elevado de tutores de cães que de gatos informou ter ouvido falar e saber o que é, referindo-se aos termos zoonoses e larva migrans visceral, verificando-se o contrário em relação à verminose e bicho geográfico (Tabela 1). Das práticas de manejo do ambiente onde vivem os animais, o recolhimento das fezes era executado por 80,6% dos tutores de cães e 66,7% de gatos, concordando com Sánchez-Ortiz e Leite (2011), com percentual mais elevado de tutores que praticavam a remoção das fezes. O uso de anti-helmínticos foi citado por 80,6% dos tutores de cães e por apenas 44,4% de gatos. A realização de exames coproparasitológicos demonstrou não ser uma prática comum entre tutores de cães (38,7%) e gatos (33,3%) prevalecendo a periodicidade anual. Em relação à assistência veterinária, verificou-se que a maioria dos tutores de cães (54,8%) o fazia, e no caso dos felinos, um percentual menor (44,4%) respondeu que sim. Esta situação diverge da observada por Domingues et al (2015) em que 36% dos cães e gatos receberam atendimento veterinário. Pereira et al (2012), em Manaus-AM, demonstraram que 73,5% dos cães recebiam assistência veterinária e 100% dos gatos. Conclusão Apesar de certo entendimento sobre o que é zoonose, tutores de cães e gatos na área estudada precisam ser informados sobre as helmintoses gastrintestinais destes animais potencialmente transmissíveis ao homem, assim como sobre medidas preventivas voltadas aos cuidados com os animais, com adequada orientação médico-veterinária, principalmente aos tutores de gatos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DOMINGUES, L. R.; CESAR, J. A.; FASSA, A. G. et al. Guarda responsável de animais de estimação na área urbana do município de Pelotas, RS, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v.20, n.1, p.185-192, 2015. KATAGIRI, S.; OLIVEIRA-SEQUEIRA, T. C. G. Zoonoses causadas por parasitas intestinais de cães e o problema do diagnóstico. Arquivos do Instituto Biológico, v.74, n.2, p.175-184, 2007. LANGONI, H.; TRONCARELLI, M. Z.; RODRIGUES, E. C. et al. Conhecimento da População de Botucatu-SP sobre Guarda Responsável de Cães e Gatos. Veterinária e Zootecnia, v. 18, n. 2, p. 297–305, 2011. 148 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 LIMA, A. M. A; ALVES, L. C.; FAUSTINO, M. A. G. et al. Percepção sobre o conhecimento e profilaxia das zoonoses e posse responsável em pais de alunos do pré-escolar de escolas situadas na comunidade localizada no bairro de Dois Irmãos na cidade do Recife (PE). Ciência & Saúde Coletiva, v. 15, p.1457-1464, 2010. MOLENTO, C. F. M.; LAGO, E.; BOND, G. B. Controle populacional de cães e gatos em dez Vilas Rurais do Paraná: resultados em médio prazo. Archives of Veterinary Science, v 12, n.3. P.43-50, 2007. PEREIRA, N. V.; SOUZA, F. S; PIRANDA, E. M. et al. Enteroparasitos encontrados em cães e gatos atendidos em duas clínicas veterinárias na cidade de Manaus-AM. Amazon Science, v. 1, n.1, p.8-17, 2012. SÁNCHEZ-ORTIZ, I. A.; LEITE, M. A. Fatores de risco da transmissão de zoonoses por costumes da população de Ilha Solteira, Brasil. Revista de Salud Pública, v.13, n. 3, P. 504-5013, 2011. SANTOS, F. A. G.; YAMAMURA, M. H.; VIDOTTO, O. et al. Ocorrência de parasitos gastrintestinais em cães (Canis familiaris) com diarreia aguda oriundos da região metropolitana de Londrina, Estado do Paraná, Brasil. Semina: Ciências Agrárias, v.28, n.2, p.257-268, 2007. TOME, R. O.; SERRANO, A. C. M.; NUNES, C. M. et al. Inquérito epidemiológico sobre conceitos de zoonoses parasitárias para professores de escolas municipais do ensino infantil de Araçatuba-SP. Revista Ciência em Extensão, v.2, n.1, p.46, 2005. VASCONCELLOS, M. C.; BARROS, J. S. L.; OLIVEIRA, C. S. Parasitas gastroin¬testinais em cães institucionalizados no Rio de Janeiro, RJ. Revista Saúde Pública, v. 40, n. 2, p. 321-323, 2006. Comitê de Ética em Pesquisa com Animais – UFRPE aprovado sob licença nº 006/2013. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 149 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 Tabela 1. Frequência absoluta (n) e relativa (%) de tutores de caninos e felinos segundo o conhecimento sobre helmintoses gastrintestinais de pequenos animais com potencial zoonótico. Tutores Gatos Cães %(2) 22,5 TOTAL n % 80 100,0 38,9 8,7 45 56,2 61,1 13,8 35 43,8 38,9 8,8 40 50,0 61,1 13,8 40 50,0 100,0 22,5 79 98,7 - - 0 0 1,3 18 100,0 22.5 79 98,7 - - 0 0 1,3 Total Já ouviu falar sobre zoonose? Sim Variável n 62 % (1) 100, 00 %(2) 77,5 n 18 %(1) 100,0 38 61,3 47,5 7 Não 24 38,7 30,0 11 Sabe o que são zoonoses? Sim 33 53,2 Não 46,8 41,2 5 36,2 7 29 11 Já ouviu falar sobre verminose? Sim 61 98,4 Não 1,6 76,2 51,3 18 1 Sabe o que é verminose? Sim 61 98,4 Não 1 1,6 76,2 5 1,3 Já ouviu falar sobre bicho geográfico? Sim 5 26 41,9 32,5 7 38,9 8,7 33 41,2 Não 36 58,1 45,0 11 61,1 13,8 47 58,8 Já ouviu falar sobre larva migrans visceral? Sim 23 37,1 28,8 5 27,8 6,2 28 35,0 39 62,9 48,8 13 72,2 16,2 52 65,0 Não (1) Valores percentuais baseados no número total de tutores da respectiva espécie animal. (2) Valores percentuais baseados no número total de tutores. 150 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE GEO-HELMINTÍASES HUMANAS EM COMUNIDADES DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE – PE – RESULTADOS PRELIMINARES Analysis of the occurrence of human geohelmintiasis in communities of the Metropolitan Region of Recife – PE - Preliminary Results Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DTR. ede.roma@ gmail.com 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] Apoio pelo Decit/SCTIE/MS, por intermédio do CNPq, FACEPE e SES/PE. 1 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 PA L AV R A S - C H AV E Controle, parasitismo, helmintos. KEYWORDS Control, parasitism, helminths. INTRODUÇÃO Os helmintos tem distribuição mundial, particularmente nas regiões tropicais e subtropicais (MORENIKEJI et al., 2009), podendo parasitar indivíduos de forma silenciosa por longos anos, sendo considerados um dos indicadores adequados para avaliar as condições socioeconômicas de uma população (ORLANDI et al., 2001). Apesar dos distintos mecanismos de transmissão das helmintíases, há sempre a necessidade de condições ambientais propícias para o desenvolvimento de seus estágios evolutivos, como também a contaminação do ambiente por material fecal (BRASIL, 2013). A falta de políticas de educação sanitária e do meio ambiente, no País, contribui para que as taxas de prevalência de parasitismo continuem elevadas, principalmente nas periferias dos grandes centros (GONÇALVES et al., 2003). Objetivou-se nesta pesquisa analisar a ocorrência de geo-helmintoses em residentes de comunidades da Região Metropolitana de Recife – PE. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi após a obtenção da anuência das Secretárias de Saúde dos municípios. Foram trabalhadas duas comunidades: uma em três Ladeiras, no município de Igarassu (n=53) e outra em Barro Vermelho em Goiana – PE (n=41). Os indivíduos foram selecionados por amostragem não probabilistica (REIS, 2003), na dependência da aceitação em participar da pesquisa, e confirmando sua participação mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), As amostras fecais recolhidas nas residências foram submetidas a exames coproparasitológicos por meio das técnicas de flutuação simples (WILLIS, 1921), sedimentação espontânea (HOFFMANN, 1987), centrifugo-flutuação Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 151 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 (FAUST et al., 1939), Kato-katz e sistema de Coprotest (De SOUZA et al., 2005), sendo três repetições de cada solução fecal, confeccionando-se três lâminas de cada uma das repetições para cada tipo de exame. RESULTADOS E DISCUSSÃO À análise dos resultados, na comunidade de Três Ladeiras observou-se 5,66% (3/53) positividade, sendo 1,89% (1/53) positivo para ovo de Taenia spp. e 3,77% (2/53) com Ascaris lumbricoides. Na comunidade de Barro Vermelho detectou-se 9,75% (4/41) de positivos, identificando-se 2,44% (1/41) para ovo de Trichuris trichiura e 7,31 (3/41) para A. lumbricoides. Apenas um ovo de cada helminto foi encontrado em cada amostra. As técnicas que revelaram positividade foram Kato-Katz e Coproplus. Apesar do número reduzido de amostras examinadas, convém ressaltar a presença de infecção por Taenia spp., atentando para a necessidade de exame mais específico para determinação da espécie (T. solium ou T. saginata) e avaliação clínica do paciente. Os dados diferem de Iasbik et al (2010) que, em amostras fecais de 266 humanos residentes em 176 propriedades da zona rural de Viçosa – MG, obtiveram todos os resultados negativos. Em relação aos demais helmintos, os resultados diferem dos relatados por Fonseca et al (2010), em dez municípios do Norte-Nordeste brasileiro, revelando proporção de geo-helmintos de 36,5%, sendo os helmintos mais prevalentes A. lumbricoides (25,1%) e Ancilostomídeos (12,2%). CONCLUSÃO A presença de humanos positivos para geo-helmintos de elevada importância clínica e de importância zoonótica na amostra estudada denota a necessidade de incrementar medidas para diagnóstico e controle na área estudada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL: SECRETATIA ESTADUAL DE SAÚDE. PROJETO SANAR. http:// portal.saude.pe.gov.br/programas-eacoes/controle-de-doencas/projeto-sanar-doencas-negligenciadas/. 06 setembro 2013. FAUST, E.C. et al. Comparative efficiency of various technique for the diagnoses of protozoa and helminthes in feces. Journal of Parasitology, v. 25: n. 2, p. 241-262, FONSECA, E. O. L. et al. Prevalência e fatores associados às geo-helmintíases em crianças residentes em municípios com baixo IDH no Norte e Nordeste brasileiro. Caderno de Saúde Pública, v.26, n.1, p.143-152, 2010. GONÇALVES, M.L.C.; ARAÚJO, A.; FERREIRA, L.F. Human intestinal parasites in the past: new findings and a review. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 98, n.3, p. 103-118, 2003. 152 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Ivanise Maria de SANTANA1, Giselle Ramos da SILVA2, Silvia Rafaelli MARQUES3, Ana Carolina Messias de Souza Ferreira da COSTA4, Leucio Câmara ALVES5, Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 HOFFMANN, R.P. Diagnóstico de parasitismo veterinário. Porto Alegre; Sulina, 156 p. 1987. IASBIK, A.F. et al. Prevalência do complexo teníase-cisticercose na zona rural do município de Viçosa, Minas Gerais. Ciência Rural, v.40, n.7, p.1664-1667, 2010. MORENIKEJI, O.; AZUBIKE, N ; IGE, A. Prevalence of intestinal and vector-borne urinary parasites in communities in south-west Nigeria. Journal Vector Borne Dis, v. 46; p.164–167, 2009. ORLANDI, P.P. et al. Enteropathogens Associated with Diarrheal Disease in Infants of Poor Urban Areas of Porto Velho, Rondônia: a Preliminary Study. Memorial Instituto Oswaldo Cruz.v. 96: p.621-625, 2001. REIS, J. C. Estatística aplicada à pesquisa em ciência veterinária. Copyright, Recife, Brasil, p. 651, 2003 WILLIS, H. H. A simple levitation method for the detection of hookworm ova. Medical Journal of Australia, v. 8, p. 375-376, 1921. Comitê de Ética em pesquisa da Universidade de Pernambuco - Parecer 705.678. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 153 Maria de Fátima Melo da SILVA1; Nathália Thaís Barbosa de OLIVEIRA2; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO3, Leucio Camara ALVES4; Edenilze Teles ROMEIRO5 AVALIAÇÃO PARASITÁRIA EM ALFACE (Lactuca sativa) PROVENIENTES DO CEASA E DE SALADAS SERVIDAS EM SELF SERVICE LOCALIZADOS EM BAIRROS DO RECIFE Parasitic assessment in lettuce (Lactuca sativa) from CEASA and salads served in Self Service located in districts of Recife Gastrônoma Autônoma. [email protected] 2 Gastrônoma Autônoma. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. ede.roma@ gmail.com 1 Maria de Fátima Melo da SILVA1; Nathália Thaís Barbosa de OLIVEIRA2; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO3, Leucio Camara ALVES4; Edenilze Teles ROMEIRO5 PA L AV R A S - C H AV E Hortaliças, Helmintos, Protozoários. KEYWORDS Vegetables, Helminths, Protozoa. INTRODUÇÃO Dentre as hortaliças folhosas, a alface (Lactuca sativa) possui destaque pela expressiva importância econômica, sendo a mais produzida, comercializada e consumida no Brasil, por ser um componente básico nas saladas, além de recomendada como um item alimentar de baixo teor calórico e fonte de fibras (REYNALDO, 2011). Embora recomendado, os alimentos crus prontos para consumo merecem atenção redobrada no tocante à higienização, uma vez que podem servir de veículo para possíveis Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs). O Ministério da Saúde atribui à qualidade dos alimentos uma condição essencial para a promoção e manutenção da saúde e indica que esta deve ser assegurada pelo controle eficiente da manipulação em todas as etapas da cadeia alimentar. Assim, teve-se como objetivo, avaliar a presença de ovos, larvas e oocistos de parasitas em folhas de alface (Lactuca sativa) oriundas do Centro de Abastecimento de Alimentos – CEASA, Recife - PE, e de Self-Service localizados em bairros do centro do Recife, já prontas para o consumo. MATERIAL E MÉTODOS Foram coletadas 43 amostras de alfaces (Lactuca sativa), 23 do CEASA e 20 de restaurantes Self-Service de bairros do centro do Recife, de agosto de 2011 a junho de 2012. Todas as amostras foram analisadas em Laboratório de Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos do Departamento de Medicina Veterinária - DMV, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Para as análises foi utilizada a técnica de sedimentação espontânea de Hoffman, adaptado para avaliação parasitológica em alimentos, em função de sua eficiência na detecção de um maior número de formas parasitárias pesadas, como ovos e larvas de helmintos; e a técnica de flutuação, mais eficiente para a identifica154 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Maria de Fátima Melo da SILVA1; Nathália Thaís Barbosa de OLIVEIRA2; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO3, Leucio Camara ALVES4; Edenilze Teles ROMEIRO5 ção de estruturas leves. Assemelhando-se com o método de Hoffman que é uma técnica consagrada na parasitologia clínica. RESULTADOS E DISCUSSÃO A analise das 23 amostras de alfaces (Lactuca sativa) oriundas do CEASA, demonstrou pela técnica de sedimentação que 13,04% (3/23) das amostras de alface estavam livres de estruturas parasitárias e 86% apresentaram pelo menos um tipo de contaminante, encontrando-se em 26,08% (6/23) das amostras, larvas de nematóides, que poderiam ser de Strongyloide stercorales, mas devido a morfologia imatura das mesmas, não permitiu a confirmação. Partelli e Gonçalves (2005), também encontraram em sua pesquisa, larvas de nematóides, que devido serem também imaturas, não possibilitou a identificação. Das amostras, 47,82% (11/23) apresentam ácaros, 43,47% (10/23) fragmentos microscópicos, 13,04% (3/23) insetos e 4,3% (1/23) das amostras ovos de ácaros. Estes dados concordam com os de Guimarães et al (2003) que detectaram presença de todas as estruturas supracitadas, sendo ácaros e larvas de nematóides os parasitas de maior incidência. Para a técnica de flutuação, os resultados indicaram os ácaros como estrutura parasitária de maior incidência, sendo observados em 60,86% (14/23) das amostras, além de ovos de ácaros, insetos, larvas não infectantes e ovo tipo Strongyloidea em 4,34% (1/23) das amostras. Confirmando as considerações de Quadros et al (2008) que encontraram os mesmos resultados, reforçando a má qualidade higiênica sanitária das alfaces disponíveis para consumo em mercados e feiras livres em Lages/SC. Das 20 amostras provenientes dos restaurante Self-Service, foi observado na sedimentação, que 45% (09/20) das amostras apresentaram ácaro, asas e restos de insetos, sementes e grão de pólen, fibra vegetal e sujidades. Na flutuação 35% (7/20) das amostras apresentaram ácaro, larva de nematóide, fibra vegetal e sujidades. Concordando com Lima e Oliveira (2009) para achados de nematóide, em amostras de alfaces provenientes de restaurantes self-service em Jacareí-SP. Quanto a presença de outros contaminantes, corrobora com os achados de Montanher et al (2007), que encontraram em alfaces comercializadas em Self-Service na cidade de Curitiba-PR, a presença de grãos de terra insetos vivos, partículas de areia e pólen. Tanto para à técnica de sedimentação e flutuação, todas as 43 amostras forma negativas para a presença de oocistos de protozoários. CONCLUSÃO As alfaces (Lactuca sativa) comercializados no CEASA – Recife – PE e em Self-Service, indicaram um baixo nível de ovos e parasitos intestinais, e um índice relevante de sujidades e elementos microscópicos, estando fora do padrão de consumo conforme previsto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 155 Maria de Fátima Melo da SILVA1; Nathália Thaís Barbosa de OLIVEIRA2; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO3, Leucio Camara ALVES4; Edenilze Teles ROMEIRO5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GUIMARÃES, A.M. et al. Parasitas intestinais em hortaliças comercializadas em Lavras, Minas Gerais. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36 n. 5. p. 621-623, set./out., 2003. LIMA, C.P.; DE OLIVEIRA, M.A. Enteroparasitoses em hortaliças consumidas em restaurantes “Self-service” no município de Jacareí-SP. In: XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba, 2009. MONTANHER, C.C. et al. Avaliação parasitológica em alfaces (Lactuca sativa) comercializadas em restaurantes Self-Service por quilo, da cidade de Curitiba, Paraná, Brasil. Estudo Biológico,v. 29, n. 66, p. 63-71, 2007. PARTELLI, D. P.; GONÇALVES, S. A. Pesquisa de parasitas intestinais em folhas de Alfaces (Lactuca sativa l.) Comercializadas no Município de Vitória-ES. Vitória-ES 2005. Disponível em: <http://deomarbittencourt.com.br>. Acessado em: 27 fev. 2012. QUADROS, R.M. et al. Parasitos em alfaces (Lactuca sativa) de mercados e feiras livres de Lages - Santa Catarina. Revista Ciência e Saúde, Porto Alegre, v. 1, n. 2, p. 78-84, jul./dez., 2008. REYNALDO, R. 2011. Alfaces consumidas no Recife apresentam variação no teor de nitrato. Disponível em: <http://ufpe.br>. Acessado em: 27 fev. 2015. 156 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Nathalia Cavalcanti dos SANTOS1; Edenilze Teles ROMEIRO2 QUALIDADE INTERNA DE OVOS COMERCIALIZADOS EM ESTABELECIMENTOS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE/PE Internal quality of eggs from establishments of the Metropolitan Region of Recife, Pernambuco, Brazil Nathalia Cavalcanti dos SANTOS1; Edenilze Teles ROMERO2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, CD. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DTR. ede.roma@ gamil.com 1 PA L AV R A S - C H AV E Alimento, Supermercados, Mercado público. KEYWORDS Food, Supermarkets, Public Market. INTRODUÇÃO No Brasil, por não ser obrigatória a refrigeração dos ovos comerciais, cerca de 90% dos ovos são comercializados in natura, e todo processo, desde a postura até a distribuição final, ocorre em temperatura ambiente, sendo, algumas vezes, refrigerados apenas nas casas dos consumidores (LEANDRO et al., 2005; XAVIER et al., 2008). Entretanto, a temperatura e o tempo de armazenamento são fatores essenciais para a conservação e manutenção das características organolépticas e nutricionais do ovo, influenciando diretamente a sua qualidade (ALLEONI e ANTUNES, 2001; LOPES et al., 2012). O Brasil tem como uma das medidas para estabelecer a qualidade de ovos frescos por meio de cálculo, a unidade Haugh (UH) e o Índice da gema (IG) (GANECO et al., 2012; LOPES et al., 2012). Tais métodos são utilizados também para indicar a duração e condições de armazenamento do ovo (XAVIER et al., 2008, LOPES et al., 2012). Desta forma, objetivou-se avaliar a qualidade interna de ovos comercializados em diferentes estabelecimentos da Região Metropolitana do Recife. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Laboratório de Alimentos do Departamento de Tecnologia Rural (DTR) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Foram utilizadas 26 bandejas contendo uma dúzia de ovos cada, totalizando 312 ovos brancos dos Tipos extra, grande e médio, Classe A e Grupo 1; coletados por meio de amostragem probabilística casual em mercados públicos, mercados populares e supermercados da Região Metropolitana de Recife/ PE, no período de setembro de 2012 a janeiro de 2013. As variáveis coletadas para análise foram: peso do ovo (P), altura do albúmen (AALB), altura da gema (AG) e diâmetro da gema (DG); e temperatura e umidade do local de exposição e venda dos ovos. A qualidade interna dos ovos foi avaliada por meio do cálculo da Unidade Haugh, cuja fórmula é Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 157 Nathalia Cavalcanti dos SANTOS1; Edenilze Teles ROMEIRO2 UH = 100log [AALB – 1.7 P 0,37 + 7.57]; e Índice da Gema, cuja fórmula é IG = AG/DG. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios dos resultados obtidos nas análises de qualidade interna dos ovos nos diferentes estabelecimentos de coleta encontram-se na Tabela 1. De acordo com os valores estabelecidos para a Unidade Haugh, apenas os ovos tipo grande coletados nos mercados populares poderiam ser classificados com qualidade alta, pois apresentaram valores entre 72 e 60; enquanto os demais ovos, foram classificados com qualidade inferior. A queda dos valores de UH, pode ser relacionada com a diminuição do albúmen possivelmente pelas perdas de água e dióxido de carbono, levando a gradual liquefação do albúmen e acentuando a diminuição do mesmo (LOPES et al., 2012). O limite padrão para resultados do IG estabelecidos para ovos frescos vai de 0,30 a 0,50 (GANECO et al., 2012). Desta forma, os ovos tipo extra dos mercados públicos e supermercados não estavam dentro do limite exigido para o índice, estando, portanto, com qualidade inferior aos demais. O aumento do período de estocagem em dias prejudica a qualidade dos ovos de poedeiras, independente do sistema de conservação (GANECO et al., 2012); entretanto, observa-se, que, dentre as variáveis estudadas, a temperatura (°C) foi a variável que mais teve influencia sobre a qualidade interna dos ovos, uma vez que ovos com maior tempo de armazenamento sob temperatura mais baixa obtiveram valores de UH e IG superiores aos ovos com menor tempo de armazenamento sob temperatura de armazenamento mais elevada, como pode ser observado na Tabela 1. Vale ressaltar que a legislação recomenda que ovos frescos estejam armazenados entre 8°C e 15°C e com umidade relativa do ar entre 70%-90% (BRASIL, 1990). No entanto, nenhum dos estabelecimentos de coleta mantinham os ovos sob refrigeração, o que pode ter influenciado na baixa qualidade interna dos mesmos, uma vez que a falta de uma cadeia de frio durante os períodos de transporte e armazenamento, provocam o consequente comprometimento da qualidade do produto final. Vale ressaltar, que as medidas de UH e IG têm pouca relação com parâmetros da qualidade nutricional dos ovos. CONCLUSÃO Considerando os valores de UH e IG aqui apresentados, os ovos comercializados em mercados populares apresentaram melhor qualidade interna, quando comparada aos outros estabelecimentos. E que a temperatura foi um dos fatores que mais contribuiu para isso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEONI, A.C.C.; ANTUNES, A.J. Unidade Haugh como medida da qualidade de ovos de galinha armazenados sob refrigeração. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 58, n. 4, p. 681–685, 2001. 158 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Nathalia Cavalcanti dos SANTOS1; Edenilze Teles ROMEIRO2 BRASIL. Portaria nº 1, de 21 de fevereiro de 1990. Normas gerais de inspeção de ovos e derivados. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 06 mar. 1990, Seção 1, n. 44, p 4321. GANECO, A.G. et al. Estudo comparativo das características qualitativas de ovos armazenados em refrigeradores domésticos. Revista ARS Veterinária, Jaboticabal, v.28, n.2, 100-104. 2012. LEANDRO, N.S.M. et al. Aspectos de qualidade interna e externa de ovos comercializados em diferentes estabelecimentos na região de Goiânia. Revista Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 6, n. 2, p. 71-78, 2005. LOPES, L.L A. et al. Influência do tempo e das condições de armazenamento na qualidade de ovos comerciais. Revista eletrônica de Medicina Veterinária, São Paulo. n. 18, 2012. XAVIER, I.M.C. et al. Qualidade de ovos de consumo submetidos a diferentes condições de armazenamento. Arquivo Brasileiro de Veterinária e Zootecnia, Minas Gerais, v. 60, n. 4, p.953-959, 2008. Tabela 1. Médias da Temperatura, Umidade, Tempo de armazenamento, Unidade Haugh e do Índice da Gema por tipo de ovos coletados nos estabelecimentos Local de coleta dos ovos Mercados públicos T(°C) 28,8 U(%) 62,1 TA(dias) 5 M 44 UH G 39 E 28 M 0,30 IG G 0,31 E 0,22 Mercados populares 25,7 56,1 6 57 62 - 0,33 0,33 - Supermercados 25,7 57,9 12 56 57 47 0,30 0,32 0,27 Temperatura (T), Umidade (U), Tempo de armazenamento (TA), Unidade Haugh (UH), Índice da gema (IG), Tipo médio (M), Tipo grande (G) e Tipo extra (E). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 159 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 COMPONENTES NÃO CONSTITUINTES DA CARCAÇA DE CABRITOS DE ORIGEM LEITEIRA ALIMENTADOS COM BORRA DE MANIPUEIRA EM SUBSTITUIÇÃO AO MILHO Non-carcass components of kids dairy goats fed with draff wastewater of cassava in replacement the corn Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. aguim@ dz.ufrpe.br 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. rmlv2002@ yahoo.com.br 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. ffr.carvalho@ dz.ufrpe.br 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. tomas-g@ hotmail.com 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. [email protected] 1 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 PA L AV R A S - C H AV E mandioca, órgãos, vísceras KEYWORDS cassava, organs, viscera INTRODUÇÃO Os componentes não-carcaça são definidos como os constituintes do peso de corpo vazio, com exceção da carcaça, ou seja, o conjunto de órgãos, vísceras e outros subprodutos obtidos após o abate dos animais (OSÓRIO, 1992). Segundo Alves et al (2003), a comercialização do animal como um todo deve levar em consideração não somente o peso vivo, mas a proporção de seus componentes, ou seja, carcaça e não-carcaça e a valorização destes. Individualmente, os órgãos e as vísceras não representam um bom valor comercial, porém, se usados como matéria prima na elaboração de pratos típicos, ou mesmo em embutidos, podem agregar valor para a unidade de produção ou de abate, podendo alcançar valores equivalentes ao da carne (SANTOS et al., 2005). Na região Nordeste, é comum o uso desses componentes na culinária, sendo utilizados principalmente para o preparo de pratos como a “buchada” e a “panelada” (COSTA et al., 2010; MEDEIROS et al., 2008), comumente consumidos nessa região. Assim, objetivou-se avaliar o peso e o rendimento dos constituintes não-carcaça, da buchada e panelada de caprinos de origem leiteira alimentados com borra de manipueira em substituição ao milho. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Setor de Caprinos e Ovinos pertencente ao Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Para tanto foram utilizados 36 cabritos de origem leiteira, desmamados, com idade entre 3 e 4 meses e peso inicial de 17,61 kg ± 1,98. Os tratamentos experimentais foram constituídos por diferentes níveis de substituição do milho pela borra de manipueira conforme Tabela 1. 160 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 Após identificação e tratamento contra ecto e endoparasitas, os animais foram alojados em baias individuais com dimensões de 1,0 m x 1,20m, providas de comedouro e bebedouro e passaram por um período de adaptação de 40 dias. Destes 40 dias, 7 foram de adaptação as dietas experimentais. As amostras dos alimentos foram processadas e submetidas as análises bromatólogicas no laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia (DZ) da UFRPE, segundo metodologia descrita por Detmann et al. (2012). Ao se completar os 60 dias de coleta de dados e amostras, os animais foram submetidos a jejum de sólidos por 16 horas. Decorrido este tempo, foram pesados para obtenção do peso corporal ao abate (PCA). As operações de abate foram realizadas de acordo com as normas vigentes do RIISPOA (BRASIL, 2000). O TGI foi pesado cheio e, em seguida, esvaziado, lavado e novamente pesado, para determinação do PCVZ, obtido pela diferença entre o PCA e o conteúdo do trato gastrintestinal (CTGI). Os órgãos, as vísceras e os subprodutos foram pesados para mensuração dos componentes não constituintes da carcaça, sendo as vísceras esvaziadas, lavadas e novamente pesadas, para determinação dos rendimentos de buchada e panelada (SILVA SOBRINHO e GONZAGA NETO, 2001). Como constituintes da buchada foram considerados: sangue, fígado, rins, pulmões, baço, língua, coração, omento, rúmen, retículo, omaso e intestino delgado (MEDEIROS et al., 2008). Para panelada foram considerados os constituintes da buchada acrescidos da cabeça e das patas (CLEMENTINO et al., 2007). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, sendo os blocos formados de acordo com o peso inicial dos animais. Os dados foram tabulados e posteriormente submetidos à análise de variância e regressão com auxílio do pacote estatístico SAS (2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve efeito linear decrescente sobre os consumos de extrato etéreo (CEE) e de fibra em detergente neutro corrigido para cinzas e proteína (CFDNcp), reflexo das dietas experimentais (Tabela 1), no entanto a substituição não resultou em efeito sobre o CMS (Tabela 2). O resultado obtido com CMS foi refletido sobre o peso corporal ao abate (PCA) e o peso do corpo vazio (PCVZ) e demais componentes. Não foi verificado efeito dos níveis de substituição sobre o peso total dos órgãos (PTO) e nem de seus rendimentos em relação ao PCA e PCVZ. De acordo com Silva Sobrinho e Osório (2008), animais com PCA semelhantes apresentam peso análogos para órgãos, vísceras e subprodutos. O peso e rendimentos das vísceras (PTV; PTV:PCA; PTV:PCVZ), também não sofreram influência dos níveis de substituição. Neste trabalho, à medida em que se aumentava o nível de substituição do milho pela borra, diminuiu-se o teor de fibra em detergente neutro da dieta e o CFDNcp, com base nisto, era esperado redução do peso das vísceras, que não foi observado talvez em resposta ao PCA e idade dos animais. O mesmo comportamento foi observado para o peso dos subprodutos (Peso subp) e rendimento das gorduras (GT:PCA; GT:PCVZ), que não foram influenciados pelos níveis de substituição. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 161 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 Madruga, (2003) cita 8,0% de rendimento de gordura como característica das espécies caprinas, que acumulam mais tecido adiposo nos órgãos. Valor superior ao encontrado nesse estudo que ficou com media de 3,78 e 4,36% para o PCA e PCVZ respectivamente. Os resultados dos pesos e rendimentos de buchadas e paneladas refletiram os resultados obtidos com peso das vísceras, órgãos e subprodutos. Costa et al (2003) citaram que os rendimentos de buchada, encontrados na literatura, variam de 17,74 a 20,13% do peso do animal ao abate. Os resultados encontrados no presente trabalho estão próximos dos 14,2% a 14,8 encontrados por Amorim et al. (2008), em caprinos mestiços Anglo-Nubianos. Já para o rendimento da panelada, Costa et al (2003) obtiveram 27,7% a 29,1% para animais Saanen e Lisboa et al., (2010), 27,5% e 28,1% para animais Canindé e Moxotó, valores superiores aos aqui obtidos com média de 24,48%. CONCLUSÃO Com base nos componentes não constituintes da carcaça, a borra de manipueira pode substituir o milho em até 100% na dieta para cabritos de origem leiteira, pois não influencia o peso total dos órgãos, víceras, nem os rendimentos da buchada e panelada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, K. S. CARVALHO; F. F. R.; FERREIRA, M. A. Níveis de energia em dietas para ovinos Santa Inês: Características de carcaça e constituintes não carcaça. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 32, n. 6, Supl. 2, p. 1927-1936, 2003. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (MAPA). Secretaria da Defesa Agropecuária (SDA). Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Divisão de Normas Técnicas. Instrução Normativa n. 3, de 17 de janeiro de 2000. Aprova o Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização para o Abate Humanitário de Animais de Açougue. Lex: Diário Oficial da União de 24 de janeiro de 2000, Seção 1, pág. 14-16. Brasília, 2000. CLEMENTINO, R.H.; SOUZA, W.H.; MEDEIROS, A.N. et al. Influência dos níveis de concentrado sobre os cortes comerciais, os constituintes não carcaça e os componentes da perna de cordeiros confinados. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.3, p.681-688, 2007. COSTA, R. G.; ARAÚJO FILHO, J. T.; SOUSA, W. H.; GONZAGA NETO, S.; MADRUGA, M. S.; FRAGA, A. B.; Effect of diet and genotype on carcass characteristics of feedlot hair sheep. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, n.12, p.2763-2768, 2010. COSTA, R.G.; MEDEIROS, A.N. de; MADRUGA, M.S.; CRUZ, S.E.S.B.S.; MELO, L.S. de. Rendimento de vísceras para “buchada” em caprinos Saanen alimentados com diferentes níveis de volumoso e concentrado. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CAPRINOS E OVINOS DE CORTE, 2.; SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE AGRONEGÓCIO DA CAPRINOCULTU162 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 RA LEITEIRA, 1., 2003, João Pessoa. Anais... João Pessoa: Emepa-PB, 2003. p.663-666. DETMANN, E.; SOUZA, M. A. DE; VALADARES FILHO, S. DE C. Métodos para análise de alimentos – INCT-Ciência Animal. Visconde do Rio Branco, MG: Suprema Gráfica Ltda. 2012. 149p. LISBOA, A.C.C.; FURTADO, D.A.; MEDEIROS, A.N. et. al. Quantitative characteristics of the carcasses of Moxotó and Canindé goats fed diets with two different energy levels. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, n.7, p.1565-1570, 2010. MADRUGA, M.S. Fatores que afetam a qualidade da carne caprina e ovina. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE CAPRINOS E OVINOS DE CORTE, 2. 2003. 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Ingredientes (g/Kg MS) Substituição do milho por borra de manipueira 0 33 66 100 Milho 330,0 220,0 110,0 0,00 Borra 0,00 109,0 218,0 327,0 Farelo de soja 167,0 167,0 167,0 167,0 Feno 245,0 245,0 245,0 245,0 Palma 240,0 240,0 240,0 240,0 Ureia 4,00 5,00 6,00 7,0 Sal comum 5,00 5,00 5,00 5,00 Sal mineral 9,00 9,00 9,00 9,00 MS (g/kg MN) 320,07 313,14 306,50 300,13 MO (g/kg MS) 905,62 899,26 892,90 886,53 PB (g/kg MS) 152,07 154,26 156,45 158,64 EE (g/kg MS) 25,28 21,46 17,64 13,82 FDNcp (g/kg MS) 312,25 301,65 291,05 280,46 FDA (g/kg MS) 160,78 158,62 156,46 154,31 Composição química MS = Matéria seca; MO= Matéria orgânica; PB = Proteína bruta; EE = Extrato etéreo; FDNcp= Fibra em detergente neutro corrigida para cinzas e proteína; FDA = Fibra em detergente ácido. 164 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 Tabela 2. Consumo e componentes não constituintes da carcaça de cabritos de origem leiteira alimentados com borra de manipueira em substituição ao milho Itens CMS (kg/dia) CEE (kg/dia) CFDNcp (kd/dia) PCA (kg) PCVZ (kg) PTO PTO:PCA (%) PTO:PCVZ (%) PTV (kg) PTV:PCA (%) PTV:PCVZ (%) Peso subp (kg) GT:PCA (%) GT:PCVZ (%) Buchada (kg) Panelada (kg) RB:PCA(%) RP:PCA(%) Níveis de substituição (%) 0 33 66 100 0,968 0,026 0,263 26,85 23,23 1,58 5,94 6,87 1,68 6,28 7,27 5,66 3,41 3,94 3,82 6,47 14,28 24,20 0,877 0,018 0,219 26,59 23,12 1,64 6,19 7,12 1,60 6,02 6,93 5,43 4,17 4,29 3,87 6,51 14,54 24,53 0,887 0,013 0,208 27,95 24,25 1,70 6,11 7,04 1,83 6,54 7,54 5,80 3,73 4,80 4,16 6,86 14,88 24,57 0,978 0,011 0,207 26,73 23,28 1,62 6,06 6,96 1,73 6,48 7,45 5,61 3,83 4,42 3,92 6,57 14,67 24,63 CV L Q Equações regressão 18,87 21,14 21,44 12,52 12,93 10,99 6,04 6,42 14,33 8,17 8,41 11,88 28,38 28,80 14,82 11,74 8,57 4,95 ns <0,0001 0,01 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns Ŷ = 0,927 1 2 Ŷ = 27,03 Ŷ = 23,47 Ŷ = 1,38 Ŷ = 6,07 Ŷ = 7,00 Ŷ = 1,71 Ŷ = 6,33 Ŷ = 7,30 Ŷ = 5,62 Ŷ = 3,78 Ŷ = 4,36 Ŷ =3,94 Ŷ = 6,60 Ŷ = 14,59 Ŷ = 24,48 CMS = consumo de material seca; CEE= consumo de estrato etéreo; CFDNcp = consumo de fibra em detergente neutro corrigido para cinzas e proteína; PCA = peso corporal ao abate; PCVZ = peso do corpo vazio; PTO = peso total dos órgãos; PTV= peso total da vísceras; peso subp = peso dos subprodutos; GT = gordura total; RB = rendimento de buchada; RP = rendimento de panelada; CV= coeficiente de variação; L= efeito linear; Q = efeito quadrático; 1y = 0,024 -0,000017NB; 2y = 0,250 -0,00053NB. Comissão de Ética (CEUA): Processo número 23082.005529/2014 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 165 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 ERITROGRAMA E TEMPO DE SANGRAMENTO EM CABRITOS LEITEIROS ALIMENTADOS COM BORRA DE MANIPUEIRA EM SUBSTITUIÇÃO AO MILHO Erythrogram and bleending time in kids of dairy goats fed with draff wastewater of cassava in replacement the corn Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. aguim@ dz.ufrpe.br 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. rmlv2002@ yahoo.com.br 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. ffr.carvalho@ dz.ufrpe.br 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. tomas-g@ hotmail.com 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. [email protected] 1 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 PA L AV R A S - C H AV E ácido cianídrico, hemograma, plantas cianogênicas KEYWORDS blood cell count, cyanide, cyanogenic plants INTRODUÇÃO Por ser resultante de uma planta cianogênica, a manipueira apresenta altas concentrações de ácido cianídrico (HCN), líquido incolor, muito volátil, considerado como uma das substâncias mais tóxicas que se tem conhecimento (TOKARNIA et al., 2000). Ainda de acordo com Tokarnia et al (2000), as intoxicações só ocorrem quando doses tóxicas de 2 a 4 mg de HCN por kg/PV são ingeridas em período curto. Por outro lado, há vários trabalhos na literatura, relatando que a exposição prolongada ao cianeto, em baixas concentrações, pode ocasionar quadros de toxicidade crônica (MANZANO et al., 2006). Adicionalmente, trabalhos relatam a dificuldade de coagulação sanguínea (TOKARNIA et al., 2000). Diante do exposto, objetivou-se avaliar o eritrograma e o tempo de sangramento de cabritos de origem leiteira alimentados com borra de manipueira em substituição ao milho. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Setor de Caprinos e Ovinos pertencente ao Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Para tanto foram utilizados 36 cabritos de origem leiteira, desmamados, com idade entre 3 e 4 meses e peso inicial de 17,61 kg ± 1,98. Os tratamentos experimentais foram constituídos por diferentes níveis de substituição do milho pela borra de manipueira conforme Tabela 1. Após identificação e tratamento contra ecto e endoparasitas, os animais foram alojados em baias individuais com dimensões de 1,0m x 1,20m, providas de comedouro e bebedouro e passaram por um período de adaptação de 40 dias. Destes 40 dias, 7 foram de adaptação as dietas experimentais. As amostras dos alimentos foram processadas e submetidas às análises 166 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 bromatólogicas no laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia (DZ) da UFRPE, segundo metodologia descrita por Detmann et al (2012). A determinação do teor de ácido cianídrico (HCN) foi realizada de acordo com Ades Totah e Hernandez Luis (1986) e adaptada por Silva (2015). Amostras de sangue foram coletadas no 1º dia do período de adaptação as dietas e no 58º dia do período experimental, totalizando 65 dias de exposição ao HCN. As amostras foram analisadas no Laboratório de Biologia Molecular Aplicada a Produção Animal (BIOPA) do DZ da UFRPE. O sangue foi coletado nos animais em jejum de 12 horas. Para análise do hemograma, o sangue foi acondicionado em tubos siliconizados vacutainer® de cinco milímetros contendo solução aquosa a 10% de sal dissódico de etilenodiaminotetracetato (EDTA), que foram resfriadas e condicionadas sob refrigeração e enviadas ao laboratório para realização das análises com a ajuda de analisador hematológico automatizado (pocH-100iV Diff, Sysmex®). No momento da coleta, foi ainda determinado o tempo de sangramento através de uma pequena incisão de aproximadamente 1 cm no lóbulo da orelha. A cada 30 segundos era absorvida a gota de sangue com o auxílio de um papel filtro sem esfregar a incisão. O cronômetro foi parado quando o papel de filtro não absorvia mais nenhuma gotícula de sangue. Os dados foram analisados como um delineamento experimental em blocos casualizados e submetidos à análise de variância e de regressão utilizando o programa computacional SAS 9.0 (2000), adotando-se 0,05 como nível crítico para o erro tipo I. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi observado um aumento discreto nos eritrócitos (Erit) e hematócritos (Ht) (Tabela 2). Como é sabido, a hipóxia tecidual estimula a síntese de eritropoietina pelos rins, o que resulta em uma resposta medular à hipóxia. Percebe-se ainda redução discreta nos valores de hemoglobina (Hb), hemoglobina corpuscular média (HCM) e concentração média de hemoglobina corpuscular (CHCM), que pode também ser resultado de uma resposta medular à hipóxia, no contexto de uma possível carência de ferro ou de vitaminas essenciais à eritropoiese. Outro mecanismo possível para a redução da hemoglobina e para o aumento discreto do volume corpuscular médio (VCM) pode ser devido ao efeito intrínseco do cianeto sobre a cianocobalamina. Dessa forma, é possível que a exposição ao HCN tenha provocado redução dos níveis plasmáticos da vitamina B12, o que a médio e longo prazo resultaria em uma anemia megaloblástica. Os níveis de plaquetas (Plt) em todos os grupos sofreram queda, apesar de permanecerem dentro dos valores da normalidade. Tal evento pode ser explicado igualmente pela possível deficiência da vit B12 induzida pelo cianeto. Essa redução encontrada nos níveis de plaquetas não corroboram a hipótese de que o estímulo à eritropoiese é induzido por uma possível hipóxia tecidual. Assim, torna-se mais provável a hipótese de uma agressão direta do cianeto à medula óssea ou de uma deficiência de micronutrientes necessários à produção da série vermelha e plaquetas, como é o caso da cianocobalamina. Houve aumento do tempo de sangramento (TS) após 65 dias de exposição ao HCN. Essa elevação parece ter se correlacionado com o nível de borra na Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 167 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 dieta e, consequentemente, com o HCN. Como foi estipulado, a ausência total de sangramento visível no animal, pode-se ter incluído neste tempo a hemostasia secundária. Desta maneira, não podemos afirmar que o aumento no tempo de sangramento se deva única e exclusivamente ao número e qualidade funcional das plaquetas. Na verdade, o esperado é que a hemostasia secundária esteja mais implicada no alargamento do tempo de sangramento já que na literatura é descrito que o cianeto inibi o dióxido de carbono (CO2) no sistema glutamato carboxylase vitamina K dependente (DOWD e WOOK HAM, 1991). CONCLUSÃO A partir dos dados de eritrograma e tempo de sangramento a borra de manipueira pode substituir o milho em até 100% na dieta de cabritos de origem leiteira por um período de até 65 dias. Uma vez que as alterações durante esse período de ingestão não foram significativas ao ponto de prejudicarem o bem estar dos animais. No entanto, vale ressaltar que o tempo e o nível de exposição podem não ter sido significativos para resultar em alterações marcantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADES TOTAH, J.J.; HERNÁNDEZ LUIS, F. Presencia de acido cianhidrico en forrajes cultivados en Mexico. Agricultura Tecnica en Mexico, v.12, n.1, p.7790, 1986. DETMANN, E.; SOUZA, M. A. DE; VALADARES FILHO, S. DE C. Métodos para análise de alimentos – INCT-Ciência Animal. Visconde do Rio Branco, MG: Suprema Gráfica Ltda. 2012. 149p. DOWD, P.; HAM, S.W. Mechanism of cyanide inhibition of the blood-clotting, vitamin K-dependent carboxylase. 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Philadelphia: Sauders, 2004. 351p. 168 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 SILVA, T.G.P. Concentração de ácido cianídrico na maniçoba in natura e conservada. Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, Monografia (Bacharelado em Zootecnia), 2015, 38p. STATISTICAL ANALYSES SYSTEM - SAS. User´s guide. Cary: 2000. (CD-ROM). TOKARNIA, C. H.; DOBEREINER, J.; PEIXOTO, P. V. Plantas tóxicas do Brasil. Ed. Helianthus, Rio de Janeiro. p. 215-221. 2000. Tabela 1. Composição percentual e composição química dos ingredientes nas dietas experimentais. Ingredientes (g/Kg MS) Substituição do milho por borra de manipueira 0 33 66 100 Milho 330,0 220,0 110,0 0,00 Borra 0,00 109,0 218,0 327,0 Farelo de soja 167,0 167,0 167,0 167,0 Feno 245,0 245,0 245,0 245,0 Palma 240,0 240,0 240,0 240,0 Ureia 4,00 5,00 6,00 7,0 Sal comum 5,00 5,00 5,00 5,00 Sal mineral 9,00 9,00 9,00 9,00 MS (g/kg MN) 320,07 313,14 306,50 300,13 MO (g/kg MS) 905,62 899,26 892,90 886,53 PB (g/kg MS) 152,07 154,26 156,45 158,64 EE (g/kg MS) 25,28 21,46 17,64 13,82 FDNcp (g/kg MS) 312,25 301,65 291,05 280,46 FDA (g/kg MS) 160,78 158,62 156,46 154,31 HCN (mg/kg MS) 20,52 25,33 30,14 34,95 Composição química MS = Matéria seca; MO= Matéria orgânica; PB = Proteína bruta; EE = Extrato etéreo; FDNcp= Fibra em detergente neutro corrigida para cinzas e proteína; FDA = Fibra em detergente ácido; HCN = ácido cianídrico. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 169 Luciola Vilarim FERRAZ1; Adriana GUIM2; Robson Magno Liberal VÉRAS3; Francisco Fernando Ramos de CARVALHO4; Tomás Guilherme Pereira da SILVA5; Ana Luiza Bezerra de Melo NICOLOFF6 Tabela 2. Eritograma e tempo de sangramento de cabritos de origem leiteira alimentados com borra de manipueira em substituição ao milho. Parâmetros 0 Tratamentos 33 66 Valores de referência* CV L Q ER 100 Erit A Erit B 13,26 13,87 13,95 13,80 13,97 14,34 13,95 14,25 8,0 – 18,0 (x106 μL) 9,56 6,08 ns ns ns ns - Hb A Hb B 8,51 7,82 8,66 7,82 8,37 7,95 8,46 8,17 8,0 -14,0 g/dL 10,66 7,50 ns ns ns ns - Ht A Ht B 27,29 29,98 27,76 29,75 28,92 31,97 27,91 31,41 19,0 – 38% 30,30 8,46 ns ns ns ns - VCM A VCM B 20,30 21,61 20,71 21,53 20,84 23,23 20,74 22,02 15,0 – 30,0 fL 4,30 7,21 ns ns ns ns - HCM A HCM B 6,21 5,69 6,18 5,66 5,98 5,65 5,91 5,77 5,2 – 8,0 5,95 3,81 ns ns ns ns - CHCMA CHCMB 29,24 26,28 27,78 26,55 28,38 25,94 28,84 26,65 35,0 - 42,0 4,74 4,44 ns ns ns ns - RDW A RDW B 32,27 30,04 31,53 30,46 30,56 30,64 30,81 29,94 31,2 – 42,7% 3,58 3,36 0,003 ns ns ns 1 - Plt A Plt B 725,32 480,50 745,07 512,00 682,26 390,90 716,50 423,50 200 – 900 milhares/mm 24,73 46,12 ns ns ns ns - TS A TS B 2,65 3,10 3,25 6,48 2,89 13,18 3,04 11,82 2 – 5 minutos 30,15 74,88 ns 0,003 ns ns 2 A= baseline; B= Coleta final (65 dias de exposição ao HCN); CV = coeficiente de variação; ER = equações de regressão; Erit = Eritrócitos; Hb = hemoblobina; Ht = hematócrito; VCM = volume corpuscular médio; HCM = hemoglobina corpuscular média; CHCM = concentração média de hemoglobina corpuscular; RDW = índice de anisocitose; Plt = plaquetas; TS = tempo de sangramento; ER = equações de regressão; 1Ŷ = 32,09 – 0,016X; 3Ŷ =2,84+0,002X; * Jain, 2003; Meyer, D.J.; Harvey, J.W., 2004; Klages, 2006. Comissão de Ética (CEUA): Processo número 23082.005529/2014 170 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Giselle Ramos da SILVA2; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 AVALIAÇÃO IN VITRO DO EFEITO LARVICIDA DO EXTRATO AQUOSO DAS FOLHAS DE PITANGUEIRA (Eugenia uniflora L.) CONTRA NEMATÓIDES GASTRINSTESTINAIS DE CAPRINOS In vitro evaluation of the larvicide aqueous extract effect of the sheets surinam cherry (Eugenia uniflora L.) against caprine gastroinstestinal nematodes Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 1 Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Giselle Ramos da SILVA2; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 PA L AV R A S - C H AV E Endoparasitos, fitoterapia, pequenos ruminantes, Capra hircus KEYWORDS Endoparasites, phytotherapy, small ruminants, Capra hircus INTRODUÇÃO Dentre as endoparasitoses gastrintestinais de caprinos, destacam-se os nematoides pelo impacto na produtividade dos rebanhos e difícil controle (VIEIRA, 2008). O uso de produtos de origem vegetal no controle de parasitos tem como vantagem promover um desenvolvimento mais lento da resistência, além de não causar danos ao meio ambiente (CHAGAS, 2004). As folhas da Pitangueira (Eugenia uniflora L.) são utilizadas na medicina popular em infusões e decoctos (AURICCHIO, 2007). A atividade da antimicrobiana já tem sido registrada, além de sua utilização para tratar problemas intestinais (CONSOLINI e SARUBBIO, 2002). Santos (2011) e Cossolosso (2013) evidenciaram potencial atividade tripanocida e leishmanicida, respectivamente, utilizando óleos essenciais. A atividade anti-helmíntica, apesar de já especulada, tem sido pouco analisada. Objetivou-se verificar o efeito larvicida do extrato aquoso das folhas da Pitangueira em nematoides gastrintestinais de caprinos. MATERIAL E MÉTODOS As folhas foram coletadas no município de Jaboatão dos Guararapes-PE e processadas no Laboratório de Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos) - Departamento de Medicina Veterinária - Universidade Federal Rural de Pernambuco. Foram triturados 500g de folhas secas obtendo-se 150g do material em pó, homogeneizando-se 20g em 100 ml de água destilada tendo-se concentração de 0,2g/ml. Amostras fecais de 50 caprinos coletadas diretamente da ampola retal foram analisadas determinação do número de ovos por grama de fezes (OPG) Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 171 Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Giselle Ramos da SILVA2; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 (GORDON e WHITLOCK, 1939), interpretando-se o grau de infecção (UENO e GONÇALVES, 1998). Selecionaram-se amostras fecais, formando-se um homogeneizado para a realização da coprocultura (ROBERTS e O’SULLIVAN, 1950). Quatro grupos foram formados. O controle negativo recebeu água destilada, outros três grupos receberam respectivamente o extrato aquoso das folhas da Pitangueira 20%, Albendazole 5% e Ivermectina 1%. As larvas coletadas após o período de cultivo foram identificadas segundo Ueno e Gonçalves (1998). A atividade do extrato aquoso foi determinada pelo cálculo dos percentuais de redução de larvas por grama de fezes (LPG), utilizando-se a fórmula R = 100 (1 – T/C) (VIZARD e WALLACE, 1987) e interpretada segundo a classificação proposta pela Associação Mundial para Avanço da Parasitologia Veterinária (POWERS, 1981). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os cultivos revelaram larvas infectantes do gênero Haemonchus, Trichostrongylus e Oesophagostomum, com predominância para o gênero Haemonchus. O extrato aquoso de E. uniflora não apresentou efeito sobre os ovos dos nematoides gastrintestinais supracitados na concentração utilizada (Tabela 1), diferindo de Hassum et al. (2013) que obtiveram, de fezes ovinas, redução significativa do número de larvas H. contortus e Trichostrongylus sp. e de Furtado (2006) que registrou taxa de inibição superior a 80% da eclodibilidade dos ovos de trichostrongilideos. Os autores citados, porém, utilizaram extratos alcoólicos, enquanto que no presente estudo foi utilizado o extrato aquoso, o que pode explicar a diferença dos resultados. CONCLUSÃO O extrato aquoso das folhas da Pitangueira (E. uniflora L.) não apresenta eficácia ovilarvicida contra nematoides gastrintestinais de caprinos, nas condições em que o presente estudo foi realizado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AURICCHIO, M. T.; ADRIANA, B.; SILVIA B. M. B. et al. Atividades antimicrobiana e antioxidante e toxicidade de Eugenia uniflora. Latin American Journal of Pharmacy, n.26, v.1, p.76-81, 2007. CHAGAS, A. C. S. Controle de parasitas utilizando extratos vegetais. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, n.1, supl., p.156-60, 2004. CONSOLINI, A. E.; SARUBBIO, M. G. Pharmacological effects of Eugenia uniflora (Myrtaceae) aqueous crude extract on rat’ heart. Journal of Ethnopharmacology. v. 81, p. 57-63, 2002. COSSOLOSSO, D. S. Atividades leishmanicida e antioxidante dos óleos essenciais de plantas encontradas no nordeste brasileiro. [Dissertação]. Fortaleza: Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará; 2013. 172 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Giselle Ramos da SILVA2; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 FURTADO, K. S. lternativas fitoterápicas para o controle da verminose ovina no estado do Paraná: testes in vitro e in vivo. [Tese Doutorado]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 2006. GORDON, H. McL.; WHITLOCK, H.V. A new technique for counting nematoda eggs in sheep faeces. Journal Commonwealth Science and Industry Organization, v.12, n.1, p. 50-2, 1939. HASSUM, I. C., VENTURI, C. R., GOSMANN, G. et al. Ação dos extratos de quatro plantas sobre larvas infectantes de nematódeos gastrintestinais de ovinos. 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L.; WALLACE, R. J. A simplified egg count reduction test. Australian Veterinary Journal, v.64, n.4, p. 109-11, 1987. A metodologia foi aplicada após aprovação na Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA-UFRPE) sob a licença nº 024/2013. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 173 Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Giselle Ramos da SILVA2; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 Tabela 1- PERCENTUAL DE REDUÇÃO DE LARVAS DOS GÊNEROS Haemonchus, Trichostrongylus E Oesophagostomum, POR GRUPOS DE TRATAMENTO. Haemonchus (%) E. A. de E. uniflora 0 L. Água Destilada 0 Trichostrongylus (%) 14,87 0 Oesophagostomum (%) 0 0 Albendazole 5% 97,42 100 100 Ivermectina 1% 100 100 100 E.A = Extrato aquoso 174 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 José Eduardo Marques da SILVA1; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO2; Edenilze Teles ROMEIRO3; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO4; Márcia Almeida de MELO5 OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma Gondii EM CAPRINOS E OVINOS ABATIDOS EM MATADOURO PÚBLICO DA CIDADE DE PATOS-PB Occurrence of anti-Toxoplasma Gondii antibodies in both goats and sheep slaughtered in the public slaughterhouse from Patos City, Paraiba, Brazil Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sertão Pernambucano, campus Zona Rural de Petrolina. 2 Universidade Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Rural de Pernambuco, DMT. ede.roma@ gmail.com 4 Universidade Rural de Pernambuco, DMV. magfaustino@ hotmail.com 5 Universidade Federal de Campina Grande. marmelo@cstr. ufcg.edu.br 1 José Eduardo Marques da SILVA1; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO2; Edenilze Teles ROMEIRO3; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO4; Márcia Almeida de MELO5 PA L AV R A S - C H AV E Toxoplasmose, Sorologia, Hemaglutinação Indireta, Imunofluorescência Indireta. KEYWORDS Toxoplasmosis, Serology, Indirect Hemagglutination, Indirect Immunofluorescence . INTRODUÇÃO Em virtude da importância da toxoplasmose em saúde pública, conhecimentos sobre a sua frequência nos caprinos e ovinos destinados ao consumo humano poderão contribuir para o estabelecimento de medidas de controle da doença, uma vez que esses animais, mesmo aparentemente sadios, podem constituir via de eliminação para o homem e outros animais, principalmente carnívoros (TENTER et al., 2000). Esse trabalho teve como finalidade verificar a ocorrência de anticorpos anti-T. gondii em caprinos e ovinos abatidos no Matadouro Público da cidade de Patos – PB. MATERIAL E MÉTODOS Amostras de sangue de 100 ovinos e 97 caprinos, sem raça definida, abatidos no Matadouro Público Municipal da cidade de Patos-PB, entre setembro e dezembro de 2011, foram submetidas à Hemaglutinação Indireta (HI) através de kit comercial e à Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) (CAMARGO et al., 1986), com ponto de corte de 64 para detecção de anticorpos IgG anti-T. Gondii, no Laboratório de Biologia Molecular do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, campus Patos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para HI, obteve-se positividade de 4% e 4,12% respectivamente para ovinos e caprinos. Resultados semelhantes para caprinos, pela técnica HI foram registrados por Perret e Escopelli (2008) em Santa Catarina (4%). Os dados diferem dos obtidos por Rossi et al. (2006) em Uberlândia-MG (67,85%) para ovinos; por Silva e Rue (2006) com ovinos, em Rosário do Sul-RS (19,5%) e Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 175 José Eduardo Marques da SILVA1; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO2; Edenilze Teles ROMEIRO3; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO4; Márcia Almeida de MELO5 por Filho et al. (2010) no Pará (44,29%). À RIFI foram positivos 25% dos ovinos e 27,8% dos caprinos. Em caprinos abatidos no Matadouro Público de Patos–PB, registrou-se prevalência de (24,5%) concordante à do presente estudo (FARIA et al., 2007). Em inquéritos sorológicos para caprinos, resultados inferiores foram registrados por Lima et al. (2008), em Mossoró-RN (17,1%); Batista et al (2012), em Monteiro-PB (18,1%). Para ovinos, Moraes et al. (2011) registraram no Maranhão 18,75% para ovinos. Frequências superiores foram encontradas por Garcia et al. (2012), em Curitiba-PR (35,96%) em caprinos; Lopes et al. (2010), 52,05% em ovinos em Jaboticabal -SP. A divergência de frequências entre os estudos pode ser devida a fatores tais como, diferentes pontos de corte (MODOLO et al., 2008), a categoria zootécnica coletada, equipamentos e reagentes (UENO, 2005). CONCLUSÃO Toxoplasma gondii circula nas propriedades de criação caprina e ovina que abastecem os Matadouros Públicos da cidade de Patos-PB. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, C.S.A. et al. Risk factors associated with Toxoplasma gondii seroprevalence in the state of Paraíba, Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.21, n.4, 2012. CAMARGO, M. E. et al. Um teste prático para a sorologia da toxoplasmose: o teste de hemaglutinação. Estudo comparativo com os testes de imunofluorescência e imunoenzimático de captura de IgM. Revista Brasileira de Patologia Clínica, v.22, n.6, p.196-201, 1986. FARIA, E.B. et al. 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Dissertação (Mestrado em Epidemiologia Experimental e Aplicada às Zoonoses), Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, 2005. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 177 José Eduardo Marques da SILVA1; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO2; Edenilze Teles ROMEIRO3; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO4; Márcia Almeida de MELO5 COMPARAÇÃO ENTRE TESTES SOROLOGICOS PARA DETECÇÃO DE ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma Gondii EM CAPRINOS E OVINOS ABATIDOS EM MATADOURO PÚBLICO DA CIDADE DE PATOS-PB Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sertão Pernambucano, campus Zona Rural de Petrolina. 2 Universidade Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Rural de Pernambuco, DMT. ede.roma@ gmail.com 4 Universidade Rural de Pernambuco, DMV. magfaustino@ hotmail.com 5 Universidade Federal de Campina Grande. marmelo@cstr. ufcg.edu.br 6 TOXO-HAI® , Analisa, Campinas, SP. 1 Comparison of serological tests for detection of anti-Toxoplasma Gondii antibodies in both goats and sheep slaughtered in the public slaughterhouse from Patos City, Paraiba, Brazil José Eduardo Marques da SILVA1; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO2; Edenilze Teles ROMEIRO3; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO4; Márcia Almeida de MELO5 PA L AV R A S - C H AV E KEYWORDS Toxoplasmose, Sorologia, Hemaglutinação Indireta, Imunofluorescência Indireta. Toxoplasmosis, Serology, Indirect Hemagglutination, Indirect Immunofluorescence . INTRODUÇÃO Com o intuito de aumentar a aplicabilidade das reações no diagnóstico da infecção toxoplásmica, em 1957, Jacobs e Lunde preconizaram a reação de Hemaglutinação Indireta (HI). A técnica demonstra boa eficiência com baixo custo, tem sido utilizada, tanto no diagnóstico quanto na triagem, e em estudos soroepidemiológicos (CAMARGO et al., 1986). Goldman, em 1957, efetuou o primeiro relato da aplicação da Imunofluorescência Indireta (RIFI) para a detecção do T. gondii. É um dos melhores métodos de diagnóstico para a toxoplasmose, sendo sensível e seguro (KAWAZOE, 2000). Objetivou-se comparar os testes sorológicos de HI e RIFI, para diagnóstico da toxoplasmose em caprinos e ovinos. MATERIAL E MÉTODOS Foram analisadas 100 amostras de soro ovino e 97 de soro caprino, oriundos do Matadouro Público Municipal da cidade de Patos-PB utilizando-se para detecção de anticorpos anti-T. gondii, a da Imunofluorescência Indireta (CAMARGO et al., 1986) e a Hemaglutinação Indireta com kit comercial6. Para medir o grau de concordância real entre os resultados dos dois testes sorológicos foi utilizado o índice Kappa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Obteve-se positividade de 4,12% e 4% para HI e de 25% e 27,8% respectivamente para ovinos e caprinos. Dois foram positivos nas duas técnicas, e entre os ovinos três. O índice Kappa demonstrou valores de 0,1481 e 0,0616 para ovinos e 178 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 José Eduardo Marques da SILVA1; Glenda Lídice de Oliveira Cortez MARINHO2; Edenilze Teles ROMEIRO3; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO4; Márcia Almeida de MELO5 caprinos, respectivamente, revelando fraca concordância entre os testes sorológicos utilizados no atual estudo. Essa discordância entre a HI e RIFI pode estar ligada a vários fatores inerentes a essas técnicas. Segundo Blood e Radostits (1992), a HI não é muito específica, pois tem reações cruzadas com outros parasitos, e para Larsson et al. (1980), sua principal limitação é que só detecta anticorpos anti-Toxoplasma gondii em fases mais tardias da evolução da infecção. A RIFI, segundo D’angelino e Ishizuka (1986), detecta ao redor do oitavo ou décimo dia após a infecção. Embora a HI tenha menos sensibilidade que a RIFI , nos períodos mais tardios da infecção, os níveis de anticorpos específicos tendem a se elevar, aumentado a sensibilidade da HI (JACOBS et al., 1960). No entanto, a especificidade é reduzida, sendo, desta forma, a RIFI o método mais adequado para ser utilizado no diagnóstico precoce (NOGUEIRA et al., 1996). Muitos autores relatam a importância da RIFI como teste sorológico para a pesquisa de anticorpos anti-T. gondii. Serra-Freire et al. (1994), descrevem a RIFI como uma reação sensível, especifica e reprodutível afastando a possível ocorrência de reações falso-positivas. Os resultados obtidos corroboram com os de Langoni et al. (1999), pesquisando soros de ovinos no estado de São Paulo pela técnica de RIFI e HI, revelando 55,1% de positividade na RIFI, e na HI 30,4%; Maciel (2004) com 30% na RIFI e 19% na HI em caprinos. Ortega et al. (2005), com ovinos, revelou diferença significativa entre RIFI e HI, não sendo, segundo esse autor, indicada a substituição de uma técnica pela outra. CONCLUSÃO Nas condições em que se realizou este estudo a RIFI apresenta-se mais adequada que a HI para a detecção de anticorpos anti-Toxoplasma Gondii. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLOOD, D.C.; O.M. RADOSTITS. Medicina Veterinaria. 6. ed. España: Interamericana, 1992. 1306p. CAMARGO, M.E. et al. Um teste prático para a sorologia da toxoplasmose: o teste de hemaglutinação. Estudo comparativo com os testes de imunofluorescência e imunoenzimático de captura de IgM. Revista Brasileira de Patologia Clínica, v.22, n.6, p.196-201, 1986. D´ANGELINO, J.L.; ISHIZUKA, M.M. Toxoplasmose suína. Inoculação experimental com taquizoítos de Toxoplasma gondii por via intraperitoneal. Evolução de anticorpos revelados pela prova de imunofluorescência indireta e hemaglutinação. 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Parasitologia al Día, v.18, p.77-81, 1994. 180 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Andresa Pereira da SILVA1, Géssica Soares CAVALCANTE2, Carlos Antônio Sombra JUNIOR3, Claudiana Costa de LIMA4, Katiane Queiroz da SILVA5, Charles Ielpo MOURÃO6 AVALIAÇÃO SANITÁRIA E DE BEM ESTAR ANIMAL DE BOVINOS ABATIDOS NO MATADOURO DE LIMOEIRO DO NORTE, CEARÁ Health evaluation and well-being slaughtered cattle animal in Limoeiro do Norte slaughter, Ceará Universidade Estadual do Ceará, GCB. andresa_pereira08@ hotmail.com 2 Universidade Estadual do Ceará, MCV. gessicascavalcante@ gmail.com 3 Universidade Estadual do Ceará, GCB. carlossombra92@ gmail.com 4 Universidade Estadual do Ceará, GCB. claudianacl@yahoo. com.br 5 Universidade Estadual do Ceará, DBiotec. katiane1002@ yahoo.com.br 6 Universidade Estadual do Ceará, MCM. charles.ielpo@uece. br 1 Andresa Pereira da SILVA1, Géssica Soares CAVALCANTE2, Carlos Antônio Sombra JUNIOR3, Claudiana Costa de LIMA4, Katiane Queiroz da SILVA5, Charles Ielpo MOURÃO6 PA L AV R A S - C H AV E Bem estar animal. Estresse animal. Qualidade da carne. KEYWORDS animal welfare. Animal stress. Meat quality. INTRODUÇÃO Para garantir o bem estar, a criação animal precisa aprimorar as técnicas de manejo pré e pós abate, atendendo assim, o desejo da população em consumir carne de animais abatidos dentro dos padrões éticos sugeridos (Souza, 2011). O aprimoramento dessas técnicas ajuda a reduzir o estresse dos animais durante a sua rotina, pois as diversas etapas de pré-abate como, por exemplo, o embarque dos animais na fazenda e transporte até o frigorífico podem contribuir para o estresse animal (Pessoa, 2007). De acordo com Luchiari Filho (2000), a diminuição na qualidade no que diz respeito à maciez, por exemplo, pode ocasionar carnes mais duras se comparadas àqueles que não sofreram estresse, sendo este tipo de problema diretamente relacionado ao manejo dispensado no período anterior ao abate. O conhecimento das fontes de estresse animal durante o manejo pré e pós abate, torna-se fundamental para o aprimoramento dessas técnicas, resultando em um abate que assegure o bem estar animal. Neste contexto, a pesquisa objetiva avaliar as condições de pré-abate em um abatedouro em um Munícipio Cearense. MATERIAL E MÉTODOS A presente pesquisa foi conduzida no abatedouro municipal de Limoeiro do Norte-CE, em agosto de 2014. Realizaram-se cinco visitas no abatedouro, nas quais pôde-se acompanhar a rotina normal de trabalho do estabelecimento e observar o comportamento dos funcionários e a reação dos animais, apenas bovinos, durante os procedimentos de manejo pré-abate. Aplicou-se, também, um questionário estruturado composto por 49 perguntas. A partir dessas atividades, avaliaram-se também 23 bovinos em um período de 24 h seu comportamento perante as etapas de abate e os indicadores de estresse e bem-estar animal. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 181 Andresa Pereira da SILVA1, Géssica Soares CAVALCANTE2, Carlos Antônio Sombra JUNIOR3, Claudiana Costa de LIMA4, Katiane Queiroz da SILVA5, Charles Ielpo MOURÃO6 RESULTADOS E DISCUSSÃO O abatedouro apresenta vias de acesso adequado, iluminação suficiente, ventilação adequada, além de currais de chegada de matança e de observação, boxe de atordoamento, lavatórios de mão, piso e revestimento da parede, todos adequados. De acordo com Costa et al. (2012), as instalações agropecuárias devem ser adequadas de modo a não causar danos ao animal (couro e carcaça) e garantir o bem-estar e a segurança do pessoal responsável pelo manejo dos animais. Entretanto, a estrutura dos currais não apresenta declividade, nem escoamento de resíduos ou chuveiros de aspersão. O piso dos bovinos é de paralelepípedo. Além disso, não existe controle rotineiro de pragas e nem acondicionamento adequado do lixo no abatedouro. Às vezes há a presença de animais domésticos, e a higiene geral do ambiente é inadequada. As más condições higiênicas do local podem ocasionar a proliferações de doenças em animais como também nos trabalhadores. Em relação ao pré-abate, há a recepção, identificação e repouso, abegoaria limpa e seca que evita conspurcação dos animais. Não há demora desnecessária na descarga de animais, visto que a densidade é superior 550kg/g, não ocorre lavagem de animais sujos antes do abate. O tempo médio de descanso do pré-abate são oito horas (Figura 1). Os animais são sujeitos a exame ante-mortem, no qual verifica os certificados de vacinação e sanidade dos animais. O abatedouro analisado não realiza exame post-mortem consiste no exame sensorial e macroscópico em que se observa a cor, o odor, o aspeto e a consistência de todas as partes do animal abatido, com o objetivo de assegurar que carne imprópria para consumo não seja colocada no mercado. As características do abate são evidenciadas na Tabela 1. O transporte e o manejo pré-abate estão associados a uma série de eventos estressantes aos animais e que podem comprometer tanto o bem-estar dos animais quanto a qualidade da carne (Ljungberg et al., 2007), causando sofrimento aos animais e prejuízos econômicos para produtores e frigoríficos. O manejo pré-abate influência significativamente a qualidade da carne e do couro e no aproveitamento da carcaça. Além das perdas decorrentes de contusões e hematomas, o estresse vivenciado por esses animais durante o manejo, na propriedade ou em abatedouros mal planejados, diminui sua qualidade e vida útil (COSTA et al., 2012). Observou-se no pré-abate que os bovinos frequentemente urinam, apresentaram respiração forçada e movimentos da cauda. Esses comportamentos podem indicar sinais de estresse durante o processo. O termo estresse é uma expressão, referente a ajustes fisiológicos, tais como alterações no ritmo cardíaco e respiratório, temperatura corporal e pressão sanguínea, que ocorrem durante a exposição do animal a condições adversas (Batista et al., 1999). O abate de bovinos é feito por meio de pistola bala cativa, porém quando esta não funciona, o abate ocorre de forma inadequada, através do uso da marreta. A utilização de marreta como método de abate promove grave lesão do tecido ósseo com afundamento da região atingida. O tempo de sangria (figura 1) dos animais no referido abatedouro, é de três minutos após insensibilização, ultrapassando os limites da Instrução Normativa n° 3/MAPA 2000, a qual indica a realização de sangria, no máximo, um minuto após a insensibilização. 182 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Andresa Pereira da SILVA1, Géssica Soares CAVALCANTE2, Carlos Antônio Sombra JUNIOR3, Claudiana Costa de LIMA4, Katiane Queiroz da SILVA5, Charles Ielpo MOURÃO6 CONCLUSÃO O abatedouro analisado, apesar da reforma, a qual tem promovido melhoria da estrutura física e das condições higiênicas sanitárias, ainda não segue todos os protocolos determinados pela legislação vigente. Os bovinos analisados apresentaram comportamentos indicadores de estresse no pré-abate, influenciando diretamente na qualidade da carcaça para expedição. Esse estresse pode estar associado ao transporte dos animais, como também ao uso da marreta, método este proibido por lei, que causa dor e sofrimento ao animal, fugindo totalmente da regra de proteção e bem-estar animal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, D. J. C.; SILVA, W. P.; SOARES, G. J. D. Efeito da distância de transporte de bovinos no metabolismo post-mortem. Revista Brasileira de Agrociência, 1999, vol. 5 nº 2, p. 152-156. BRASIL. Instrução Normativa nº 3, de 17 de janeiro de 2000. Estabelece Regulamento técnico de métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 de janeiro de 2000, Seção 1, p. 14-16. COSTA, M. J. R. P. et al. Strategies to promote farm animal welfare in Latin America and their effects on carcass and meat quality traits. Meat Science, Vol. 92, Issue 3, pp. 221-226, 2012. LJUNGBERG, D, GEBRESENBET, G, ARADOM, S. 2007. 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Características de Abate Tempo de descanso Tipo de Abate Raças de Bovinos Número de animais abatidos Tempo de sangria Fisiologia do Animal Local do abate Descarga de animais Exames Fonte: própria autor Observado no matadouro Oito horas Pistola bala cativa/marreta Girolando, Nelore, Holandês e SRD 23 por hora/ 215 por mês três minutos Urinam frequentemente, apresentam repiração forçada e movimentos de cauda Abegoaria limpa e seca Não há demora Ante-mortem Figura 2. Curral para descanso pré-abate e boxe de sangria de bovinos no matadouro municipal de Limoeiro no Norte, CE. 184 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA3; Felipe Belizário da SILVA 4; Kayana Cunha MARQUES5; Thayane Cristina Carneiro SILVA5 SOCIALIZAÇÃO DOS GATOS COM OUTRAS ESPÉCIES Socialization of cats and other species Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA3; Felipe Belizário da SILVA 4; Kayana Cunha MARQUES5; Thayane Cristina Carneiro SILVA5 Medica veterinária autônoma. Docente da Universidade Federal Rural Semi-Árido, [email protected] 3 Médica veterinária discente de mestrado da Universidade Federal Rural Semi-Árido. 4 Ecólogo 5 Discente da Universidade Federal Rural do Semi- Árido PA L AV R A S - C H AV E felinos, sociabilidade, espécies. KEYWORDS cats, sociability, species 1 2 INTRODUÇÃO A domesticação dos felinos é tida como uma atividade bem recente quando comparada a de outros animais (HU et al., 2014), mesmo existindo provas de relações de mutualismo entre homens e gatos desde 5300 anos atrás (KURUSHIMA et al., 2012). Estima-se que foram os gatos os primeiros animais de estimação adotados pelos egípcios (LINSEELE et al., 2007). Os gatos se tornaram os animais mais populares do mundo nas ultimas décadas, adquirindo maior espaço entre os pets (DRISCOLL et al., 2009). Pois conseguiram facilmente adaptar seu estilo de vida a ambientes fechados (JONGMAN, 2007), foram retirados de seu habitat natural e passaram a conviver em proximidade com o homem. Neste contexto, adquiriram papeis variados na sociedade, como, no desenvolvimento cognitivo em crianças, manutenção da saúde mental da sociedade e facilitador das relações humanas (BEAVER, 2005). Nos EUA, o número de gatos domésticos superou o de cães em 2012 (Pet Food Institute http:// petfoodinstitute.org), bem como na Europa (The European Pet Food Industry http://fediaf.org) no mesmo ano. Alguns tutores relatam perceber semelhança de temperamento em alguns animais de mesma cor de pelagem, e existem autores que ainda citam essas características. Animais pertencentes a uma mesma colônia apresentam comportamentos de cuidado e carinho, como lamber uns aos outros, tocarem os focinhos, brincar e dormir juntos (ELLIS et al., 2013; PACHEL, 2014), esfregar cabeça ou corpo em outro gato e dividir recursos como comida e água (PACHEL, 2014). Em contrapartida, por reconhecerem os membros da colônia, a maioria dos animais se torna agressivo quando em contato com gatos não familiares (ELLIS et al., 2013). Com os humanos, interagem também de forma carinhosa, ronronando, esfregando a face em partes do corpo humano, subindo no colo para ser afagado, permanecendo em proximidade física, inclinando o corpo para a mão de uma pessoa que não está interagindo com eles e rolando de um lado para o outro, mostrando a barriga (ELLIS et al., 2013), dentre outros. Portanto a interação entre os gatos a as outras espécies pode ocorrer, porém observa-se que os gatos apresentam comportamentos pouco interativos. Desta forma esse trabalho objetivou analisar a sociabilização dos gatos com outras espécies. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 185 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA3; Felipe Belizário da SILVA 4; Kayana Cunha MARQUES5; Thayane Cristina Carneiro SILVA5 MATERIAL E MÉTODOS Para atingir os objetivos fora realizado a aplicação de 200 questionários com os tutores dos animais. Os pré-requisitos para participar da pesquisa eram ter tutoria de pelo menos um gato e possuir mais que 18 anos. As informações foram coletadas através de questionário estruturado realizado com os tutores dos animais. Ao final a análise estatística foi realizada com o programa R (2013) utilizando-se o teste exato de Fisher, com nível de significância de 5% (p<0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos dados obtidos com os questionários pode-se observar que 23 gatos (11,5%) não conviviam com outros animais enquanto que 177 gatos (88,5%) conviviam com outros animais. Do total que convivia com outros animais, 35,5% conviviam apenas com animais da mesma espécie; 6,5% conviviam apenas com cães e 46,5% conviviam com cães e gatos concomitantemente (Figura 1). Em um estudo realizado por Ramos (2009), 75% dos animais moravam com pelo menos outro gato e uma pequena maioria (56%) tinha contato com animais de outras espécies. Em nosso estudo, o índice de animais que moravam com pelo menos outro gato foi maior (82%) e o índice de animais que tinham contato com animais de outras espécies foi discretamente menor (53%), diferindo também de Kendall e Ley (2006), em que 50% das casas tinham mais de um gato e 30% possuíam outros animais. A maior parcela dos proprietários entrevistados não possuía crianças em casa (159 = 79,5%), índice inferior ao obtido por Kendall e Ley (2006), onde 54% dos entrevistados possuíam crianças em casa. Quando analisamos os comportamentos dos gatos em relação aos cães verificamos que quanto ao comportamento de brincar observou-se que a maior parte dos animais não brinca junto (57,55%) nem se alimentam próximo um do outro (57,55%). Todavia, nos casos em que o gato foi adquirido primeiro que o cão foi mais favorável que se alimentassem próximos (p= 0,04818). Considerando o hábito de se alimentar próximo um do outro como indicativo de amizade, já que exige confiança, corroboramos com Terkel e Feuerstein (2008), onde quando o gato foi adotado primeiro, houve mais casos de animais amigos do que quando o cão foi adotado primeiro. Apenas 35,85% dos gatos dormem próximo aos cães, enquanto que 64,15% não dormem próximo destes animais. Quanto ao comportamento do gato lamber o cão ou vice-versa, 65,1% dos animais não o fazem, enquanto que 34,9% dos gatos lambem o cão ou vice-versa (Figura 2). De acordo com Terkel e Feuerstein (2008), cães machos e fêmeas exibiram comportamentos semelhantes em relação aos gatos. CONCLUSÃO Podemos concluir que, de um modo geral, os gatos evitam o contato com as outras espécies, demonstrando uma baixa capacidade de socialização com animais de outras espécies; no entanto, pode-se verificar que quando a adoção do gato é feita primeiro que a adoção do cão esses laços de confiança aumentam, consequentemente a socialização dos felinos domésticos aumenta. 186 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Adriane Gonçalves PINHEIRO1; Nilza Dutra ALVES2; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA3; Felipe Belizário da SILVA 4; Kayana Cunha MARQUES5; Thayane Cristina Carneiro SILVA5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEAVER, B. V. Comportamento Felino: um guia para veterinários. 2ª ed. São Paulo: Roca, 2005. DELGADO, M. M.; MUNERA, J. D.; REEVY, G. M. Human Perceptions of Coat Color as an Indicator of Domestic Cat Personality. Anthrozoos, v. 25, n. 4, p. 427–440, 2012. DRISCOLL, C. A.; CLUTTON-BROCK, J.; KITCHENER, A. C.; BRIEN, S. J. O. The Taming of the Cat. 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FONTE: PINHEIRO, 2014 188 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Raphael Magno Silva SOARES1; Nilza Dutra ALVES2; Kayana Cunha MARQUES³; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA4; Diego Trindade Pegado MENDES3; Marcelo Cavalcante FARIAS4 AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS MORADORES DA COMUNIDADE DO FIO NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN SOBRE A TOXOPLASMOSE Knowledge evaluation of citizens in community of Fio in Mossoró/ RN about Toxoplasmosis Pós graduando em Ambiente, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Semi-árido. magno_medvet@ hotmail.com 2 Docente da Universidade Federal Rural do Semi-árido. [email protected]. 3 Discente de graduação da Universidade Federal Rural do Semi-árido. kayanamarques@ hotmail.com 1 Raphael Magno Silva SOARES1; Nilza Dutra ALVES2; Kayana Cunha MARQUES³; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA4; Diego Trindade Pegado MENDES3; Marcelo Cavalcante FARIAS4 PA L AV R A S - C H AV E Toxoplasma gondii, Cães, Gatos, Zoonose. KEYWORDS Toxoplasma gondii, Dogs, Cats, Zoonosis. INTRODUÇÃO É perceptível que nos últimos anos houve um aumento na aquisição de animais de companhia, principalmente de cães e gatos na área urbana. Esse fato pode ser explicado pelos benefícios que tal convívio proporciona aos serem humanos. No entanto, a criação inadequada, o desconhecimento dos fundamentos sobre a guarda responsável, associados ao baixo grau de instrução e a escassez de legislação, altera os padrões de crescimento populacional de cães e gatos, o que afeta diretamente o bem estar de todos os envolvidos e possibilita o aumento nas taxas de transmissão de doenças (LIMA e LUNA, 2012), com destaque para as zoonoses. Dentre elas a toxoplasmose que é causada por um parasita que infecta naturalmente o homem, os animais selvagens e domésticos, e os pássaros. Essa doença tem importância em saúde pública, principalmente, pelas alterações que causam nos fetos humanos, e de importância em produção animal pelas perdas por aborto (FIALHO et al., 2009). É importante salientar ainda, que os maiores índices de infecção para toxoplasmose foram encontrados no nordeste do país, incidência acima de 75% da população (BAHIA-OLIVEIRA et al., 2003). Desta foram considerando-se a necessidade de pesquisas sobre a toxoplasmose, o estudo visou obter informações a respeito do conhecimento da população da comunidade do Fio de Mossoró/RN acerca da toxoplasmose, sua forma e modo de transmissão, buscando promover a orientação adequada e conscientização da população, a respeito da doença. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado no período de dezembro de 2014 a janeiro de 2015. O local para o desenvolvimento da pesquisa foi a comunidade do Fio próximo ao bairro de Santa Delmira, em Mossoró-RN, a qual apresenta uma população carente e sérios problemas de infraestrutura básica. Constou da apliCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 189 Raphael Magno Silva SOARES1; Nilza Dutra ALVES2; Kayana Cunha MARQUES³; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA4; Diego Trindade Pegado MENDES3; Marcelo Cavalcante FARIAS4 cação de 207 questionários composto por questões fechadas e abertas, contendo em algumas delas espaço para o registro da opinião do participante da pesquisa. Estaria apto a participar da pesquisa pessoas que residissem na Comunidade do Fio, com idade mínima de 18 anos, de ambos o sexo, independente do grau de escolaridade. Os questionados assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) confirmando sua participação voluntária na pesquisa. O questionário enfatizou a respeito do conhecimento da população da comunidade sobre a toxoplasmose, modo e forma de transmissão da doença. Os dados obtidos foram analisados com auxílio do Microsoft Office Excel® (Versão 2007, Redmond, WA), e analisados de modo descritivo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente, indagamos aos questionados se os mesmos já tinham conhecimento a respeito da toxoplasmose e observou-se que 88% (182) afirmaram não ter ouvido falar na doença e 12% (25) afirmaram já ter ouvido falar. Esse fato gera preocupação considerável tanto para a saúde médica, como médica veterinária. Pois, não conhecer sobre o tema, implica na qualidade de vida e consequentemente na saúde da população como um todo. Quando questionado aos moradores da comunidade do Fio a respeito da participação dos animais de companhia (cães e gatos) na transmissão da toxoplasmose para os seres humanos, 93,5% (196) não sabiam e 5% (8) afirmaram conhecer a participação do gato para a transmissão da doença, e 1,5% (3) afirmam que ambos (cães e gatos) participam do ciclo de transmissão da doença (Figura 1). Hill e Dubey (2002) relataram que apenas 1% da população de gatos libera em algum momento da vida os oocistos. Portanto, as formas de transmissão precisam ser esclarecidas para a população desta comunidade, pois a transmissão em humanos geralmente ocorre através da ingestão de água ou alimentos contaminados com oocistos excretados por fezes de gatos infectados, pela ingestão de carne crua, mal cozida contendo oocistos, ou por transmissão congênita através da placenta infectada (LOPEZ et al., 2000; WONG e REMINGTON et al., 1994). Assim, observa-se que a ocorrência da toxoplasmose está intrinsecamente ligada com o meio ambiente, tendo em vista que os oocistos além de infectar demais fatores, estes são altamente resistentes a condições ambientais, favorecendo assim, o contágio ao ser humano (MONTAÑO et al., 2010). No que diz respeito ao modo de transmissão, 97% (201) dos moradores da comunidade do Fio não sabiam como era transmitida a toxoplasmose, 2% (4) afirmaram que podia ser transmitida através do contato pelas fezes do gato e 1% (2) através de mordedura e arranhadura (Figura 2). Assim, o que pode ser observado com esses dados é a existência de precariedade da população no que diz respeito ao conhecimento sobre tal doença e o seu modo de transmissão, o que acaba tornando-os estes sujeitos susceptíveis ao risco de contrair e expor a doença. Portanto, o conhecimento sobre o que é toxoplasmose, suas formas de transmissão e medidas preventivas, proporciona diminuir a contaminação e manifestação da infecção, e consequentemente minimiza sua ocorrência e danos a saúde da população. Milano e Oscherov (2002) citaram que o conhecimento sobre toxoplasmose mostra-se importante para não se adquirir a infecção, todavia, esse conhecimento referente à infecção nem sempre, ou dificilmente alcança toda a população que é exposta ao risco constante de contração como é o caso da comunidade pesquisada. 190 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Raphael Magno Silva SOARES1; Nilza Dutra ALVES2; Kayana Cunha MARQUES³; Vanessa Kaliane Nunes da COSTA4; Diego Trindade Pegado MENDES3; Marcelo Cavalcante FARIAS4 CONCLUSÃO De acordo com os dados obtidos nessa pesquisa é possível concluir que: a população da comunidade do Fio mostrou carência de informação a cerca da forma e modo de transmissão da toxoplasmose. Desta forma é necessário a interferência dos órgãos publicas para orientação da comunidade sobre essa doença. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAHIA-OLIVEIRA, L. M. G.; JONES, J. L.; AZEVEDO-SILVA, J.; Alves, C. C., ORÉFICE, F.; ADDISS, D. G.. Highly endemic, waterborne toxoplasmosis in north Rio de Janeiro state, Brazil. Emerging infectious diseases, 9 (1), (2003). FIALHO, C. G.; TEIXEIRA, M. C.; ARAÚJO, F. A. P. Toxoplasmose animal no Brasil. Acta Scientiae Veterinariae. v. 37, n. 1, p. 21-23, 2009. LOPEZ A,; DIETZ V.J.; WILSON M,; Preventing Congenital Toxoplasmosis. Morb Mort Week Report 49: 57-71, 2000. LIMA A. F. M.; LUNA S. P. L. Algumas causas e consequências da superpopulação canina e felina: acaso ou descaso?. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP / Journal of Continuing Education in Animal Science of CRMV-SP, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 32–38, 2012. MILANO, L. S.; OSCHEROV, E. B. 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Figura 2: Modo de transmissão da toxoplasmose segundo os questionados. Fonte: SOARES, 2015. 192 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Telma de Sousa LIMA¹, Manuela Costa de MENEZES², Parmênedes Dias de BRITO³, Franklin Amado de SOUZA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5, Dejair MESSAGE6 MEIOS DISPERSÃO DE Nosema ceranae EM Apis mellifera AFRICANIZADA NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN Means dispersion of Nosema ceranae in Apis mellifera in the city of Mossoró -RN ¹Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] ²Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] ³Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA parmenedesdbrito@hotmail. com 4 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] 5 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] 6 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] Telma de Sousa LIMA¹, Manuela Costa de MENEZES², Parmênedes Dias de BRITO³, Franklin Amado de SOUZA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5, Dejair MESSAGE6 PA L AV R A S - C H AV E diagnóstico, afecções, abelhas, Nordeste KEYWORDS diagnosis, diseases, bees, Northeast INTRODUÇÃO As abelhas constituem um importante componente da natureza principalmente por garantirem a polinização de inúmeras espécies vegetais e, se bem manejadas, possibilitam grandes lucros aos produtores. Das enfermidades apícolas, a nosemose figura como uma doença fúngica que ganhou grande importância na apicultura brasileira por ter reaparecido com uma agente de potencial virulência denominado Nosema ceranae. Este parasita intracelular obrigatório age infectando desde insetos até mamíferos vertebrados e, em abelhas Apis, infecta essencialmente células do sistema digestivo. Dada a importância econômica e sanitária que a nosemose pode adquirir, faz- se necessário a identificação das áreas afetadas e qual a espécie de Nosema spp envolvida nos Estados brasileiros, na tentativa de traçar um perfil epidemiológico eficaz da doença, e considerar estratégias que limitem seus efeitos na colônia. Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi verificar a presença de Nosema spp em cidades do Estado do Rio Grande do Norte, identificando a espécie envolvida, observando sua prevalência nos enxames recém-capturados e o percentual no pólen corbicular. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi realizado em duas etapas, sendo a primeira delas em 3 propriedades na Região Assu-Mossoró: Serra do Mel (SMe); Alto do Rodrigues (ARo); e na cidade de Upanema (UPa), e a segunda etapa, no Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura-CETAPIS, Município de Mossoró, Rio Grande do Norte – Brasil. Foram instaladas caixas iscas nas propriedades visitadas para subsequente avaliação dos enxames que viessem a povoar as colmeias. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 193 Telma de Sousa LIMA¹, Manuela Costa de MENEZES², Parmênedes Dias de BRITO³, Franklin Amado de SOUZA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5, Dejair MESSAGE6 As abelhas campeiras eram coletadas através de aparelho sugador portátil, precedido de obstrução do alvado com esponja. Os indivíduos coletados foram armazenados em álcool 70% até processamento. Já a coleta de pólen foi realizada no CETAPIS, sob acoplamento de coletores de pólen ao fundo da colmeia. Para realização dessa etapa foram instaladas 14 colmeias (Langstroth) negativas (por meio de microscopia óptica) para nosemose, sendo 7 delas sorteadas para manter os coletores fixos. Após coleta, o pólen foi armazenado em sacos plástico, sendo separados por cor, para posterior pesquisa de Nosema sp. A contagem dos esporos/mm³ foi realizada e extraída sua média, sendo o resultado obtido expresso conforme fórmula: Ῡ x 25x 104, onde Ῡ é igual à média dos 5 campos analisados na câmara de Neubauer (CANTWELL, 1970; CORNEJO & ROSSI, 1974). Amostras de pólen corbicular e abelhas campeiras foram encaminhadas ao Laboratório de Sanidade Apícola- LASA/SP, para diagnóstico molecular (PCR). RESULTADOS E DISCUSSÃO Mediante análise molecular, foi constatado que os esporos encontrados na Região Assu-Mossoró e CETAPIS correspondem a Nosema ceranae. Essa é a primeira vez que esse patógeno é detectado e confirmado, por técnicas moleculares, no Estado do Rio Grande do Norte. Anteriormente foi detectado no município de Ceará Mirim mas não havia sido confirmada a espécie (MESSAGE, com. pessoal). No Brasil esse patógeno foi detectado pela primeira vez no estado de São Paulo em 2006 (KLEIN et al. 2007). A alta prevalência da N. ceranae no Brasil e no mundo pode estar relacionada com suas características reprodutivas, sendo possível sua proliferação dentro de uma maior amplitude térmica, além de uma maior resistência às intempéries ambientais conferida pela fase de esporos no meio ambiente. Estas particularidades fazem da Nosema ceranae um agente com uma capacidade de propagação muito maior que a Nosema apis (PAXTON et al., 2007). Nosema ceranae não apresenta sazonalidade e pode-se detectar seus esporos em amostras em qualquer época do ano (MARTÍN HERNÁNDEZ et al. 2007). No presente estudo, não foi observada prevalência maior que 60% de esporos nos enxames recém-capturados de Apis mellifera africanizada, durante o período de abril a junho de 2014. Foram obtidos, em ordem decrescente: 60% (Upanema- Upa); 48% (Serra do Mel- Sme) e 32% (Alto do Rodrigues- ARo). A diferente prevalência de Nosema ceranae nas cidades visitadas pode ser reflexo do trajeto dos enxames, sua procedência ou mesmo a causa originária da enxameação. Winston (1981) afirma que fatores como pólen contaminado, doenças e falta de alimento, dentre outros, contribuem para o processo enxameatório. Isso pode refletir a qualidade do enxame que está deixando determinada região e povoando outra. Após análises, verificou-se que o percentual de esporos no pólen corbicular retido em coletores polínicos variou entre 14, 28% (nas primeiras semanas) e 42,85% (na última semana). E, quando se compara com o percentual de abelhas infectadas nesse mesmo período, verifica-se, na tabela 01, que o percentual de infecção aumentou de acordo com o percentual de esporos no pólen. A presença de esporos no pólen permite afirmar que o pólen 194 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Telma de Sousa LIMA¹, Manuela Costa de MENEZES², Parmênedes Dias de BRITO³, Franklin Amado de SOUZA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5, Dejair MESSAGE6 fornecido ou coletado em floradas contaminadas contribui efetivamente para a contração do patógeno. Nunes e Pereira (2015) afirmam que apenas a N. apis elimina seus esporos por via fecal e que no caso da N. ceranae, a contaminação do material apícola com esporos explicaria uma das formas de contágio. Do mesmo modo, as abelhas infectadas podem contaminar o material quando são esmagadas durante o manejo (MALONE et al., 2001). As implicações da nosemose sugerem impactos negativos em diversas partes do mundo, (NUNES, 2015), sendo que um manejo adequado com fornecimento de alimentação em épocas de pouca florada, água limpa e ambiente propício, conferem medidas profiláticas indispensáveis ao desenvolvimento de um apiário livre de doenças. CONCLUSÕES A Nosema ceranae está presente tanto nos enxames capturados quanto no pólen corbicular analisados nesse estudo, não ultrapassando, respectivamente, 60% e 43%, sugerindo que tais meios contribuem efetivamente na dispersão dos esporos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA CANTWELL G.E. Standard methods for counting nosema spores. American Bee Journal. 110: p.222- 223, 1970. CORNEJO, L. G. ROSSI, C. O. Enfermedades de las abejas, su profi laxis y prevención. Ediciones Hemisferio Sur. Buenos Aires, Argentina. p. 238, 1974. KLEIN, A.M., VAISSIERE, J.H., CANE, J.H., STEFFAN-DEWENTER, I., CUNNINGHAM, S.A., KREMEN, C., and TSCHARNTKE, T. 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DisCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 195 Telma de Sousa LIMA¹, Manuela Costa de MENEZES², Parmênedes Dias de BRITO³, Franklin Amado de SOUZA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5, Dejair MESSAGE6 ponível em: <http://www.hifarmax.com/fckeditor_files/f ile/nosemaceranae. pdf>. Acesso em: 19 fev. 2015. PAXTON, R. J.; KLEE, J.; KORPELA, S.; FRIES, I. Nosema ceranae has infected Apis mellifera in Europe since at least 1998 and may be more virulent than Nosema apis. Apidologie, v. 38, n. 6, p. 558-565, 2007. WINSTON M. L.; DROPKIN, J. A. & TAYLOR O.R.. Demography and life history characteristics of two honey bee races (Apis mellifera). Oecologia. 48: p. 407-413, 1981. Tabela 01. Prevalência de Nosema ceranae no extrato de abelhas campeiras provenientes de enxames recém-capturados na Região Assu-Mossoró/RN, Brasil, de abril a junho de 2014. Cidade Sigla Nº quadro* Total Positivas Prevalência % Upanema Upa 4,71 25 15 60 Serra do Mel SMe 4,97 25 12 48 Alto do rodrigues ARo 5,10 25 8 32 *Média de quadros preenchidos por enxame capturado (colmeia Langstroth, 10 quadros) 196 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Telma de Sousa LIMA¹; Manuela Costa de MENEZES²; Ismael Lira BORGES³; Jael Soares BATISTA4 ESTUDO DE Leptospira sp. EM ÉGUAS DE VAQUEJADA NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN Study of Leptospira sp. in mares of vaquejada in city of Mossoró-RN Telma de Sousa LIMA¹; Manuela Costa de MENEZES²; Ismael Lira BORGES³; Jael Soares BATISTA4 ¹Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn. [email protected] ²Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn [email protected] ³Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn [email protected] 4 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn [email protected] PA L AV R A S - C H AV E equinos, aborto, leptospirose, semi-árido KEYWORDS horses, abortion, leptospirosis, Semiarid INTRODUÇÃO A leptospirose é uma zoonose infecciosa com prevalência mundial provocada por bactérias do gênero Leptospira e que, segundo Godoy et al. (2009), caracteriza-se por febre, icterícia, hemorragia pulmonar, manifestações nervosas centrais, uveíte ou cegueira e, principalmente, por gerar transtornos reprodutivos, como abortos e mumificação fetal, podendo levar inclusive a óbito. Em equinos, abortos e mortalidade perinatal são responsáveis por grandes perdas econômicas para seus criadores, sendo a frequência de abortos nesta espécie variável entre 8%-19% (LAUGIER et al., 2011). Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi relatar a presença de Leptospiras sp. em éguas de vaquejada numa propriedade do Município de Mossoró-RN. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi conduzido num haras em Mossoró-RN, de onde foram registrados 5 casos de aborto em éguas da raça Quarto de Milha. Nesses animais (N 01, N 02, N 03, N 04 e N 05), realizou-se exame clínico (observando estado nutricional, temperatura retal, frequência cardíaca, respiratória e coloração de mucosas) e sorológico, para pesquisa de aglutininas anti-Leptospira frente a 22 diferentes sorovares, segundo a prova de soroaglutinação microscópica (SAM). Foram coletados 20 mL de sangue, mediante antissepsia adequada, para sequente obtenção do soro. Apenas um animal foi submetido ao exame necroscópico, realizado antes da pesquisa por Leptospira sp., sendo avaliado a placenta e o feto do mesmo, procedendo-se coleta e fixação dos fragmentos em solução formalina a 10% (placenta e órgãos das cavidades torácica, abdominal e do sistema nervoso central do feto) para subsequente exame histopatológico. O soro foi enviado ao Laboratório de Bacterioses da Universidade Federal da Bahia. Foram considerados positivos os títulos maiores ou iguais a 1:100. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 197 Telma de Sousa LIMA¹; Manuela Costa de MENEZES²; Ismael Lira BORGES³; Jael Soares BATISTA4 RESULTADOS E DISCUSSÃO O nascimento de um potro de alta linhagem genética representa parte considerável do investimento em criação de cavalos de vaquejada. Dessa forma, abortos e mortalidade neonatal constituem causa de grandes prejuízos econômicos na criação de equinos destinados a competições. Considerando-se os parâmetros clínicos analisados, os animais avaliados no presente estudo não apresentaram alterações evidentes, entrando em conformidade com Lilenbaum (1996), que afirma não existir, obrigatoriamente, uma relação entre títulos sorológicos e infecção propriamente dita, embora tradicionalmente considera-se que animais com títulos sorológicos acima de 1:200 apresentam evidências de infecção recente. O fato dos animais em estudo não terem manifestado sinais clínicos característicos pode estar associado ao estado nutricional e condicionamento físico requeridos pela categoria e mantidos nos animais observados em estudo. Conforme a tabela 01, percebe-se que, dos 5 animais avaliados, 4 (80%) deles foram reagentes para presença de aglutininas anti-leptospiras, sendo égua N 01: sorovar Pomona; égua N 02 sorovar Hardjo; égua N 03 para o sorovar Icterohaemorragiae e N04 para Copenhageni. Os sorovares observados na presente pesquisa correspondem aos encontrados, em maior frequência, nos Estados do Paraná (MARINHO et al. 2010), Bahia (SIQUEIRA, 2012) e Minas Gerais (MOREIRA et al. 2008). O animal que abortara cinco dias antes da sorologia (N 02), apresentou o maior título (1:400), fato que permite sugerir contato recente do animal com a Leptospira sp. O aborto é relatado frequentemente por tratadores e veterinários de equinos de vaquejada, sendo a leptospirose muito associada a esses eventos nos últimos anos. Vale salientar que a infecção materna pode afetar o crescimento e a maturidade dos fetos, predispondo ao abortamento, prematuridade ou mortalidade perinatal (PESCADOR et al. 2004). No exame anatomopatológico da placenta observou-se: cotilédones edemaciados, de coloração vermelho escura, com áreas focais enegrecidas, friáveis e necróticas. No exame necroscópico do feto observou-se icterícia, presença de líquido serossanguinolento na cavidade abdominal, torácica e saco pericárdico, áreas multifocais de hemorragia no fígado, coração e pulmão, rins com consistência amolecida e áreas multifocais branco amarelada. Histologicamente, observou-se necrose e inflamação do epitélio placentário coriônico; necrose difusa de hepatócitos e hepatite mononuclear; acentuada hemorragia no interstício do córtex renal, degeneração hidrópica e necrose do das células do epitélio tubular e presença de cilindros hemáticos intratubular, além de nefrite intersticial mononuclear e pneumonia intersticial mononuclear difusa acentuada. Os achados anatomopatológicos macroscópicos e histológicos observados no presente estudo assemelham-se às descritas por Marcolongo-Pereira et 198 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Telma de Sousa LIMA¹; Manuela Costa de MENEZES²; Ismael Lira BORGES³; Jael Soares BATISTA4 al. (2012) que caracterizam morfologicamente a leptospirose como uma doença que se manifesta por icterícia, hemorragia e lesões microscópicas de natureza degenerativa, necrótica e inflamatória. Os referidos autores recomendam que, nos critérios histopatológicos para o diagnóstico da leptospirose devem incluir além do descrito acima, a presença de nefrite tubulointersticial aguda ou subaguda, hepatite reativa não-específica e lesão alveolar difusa. CONCLUSÃO De acordo com os dados anatomopatológicos e sorológicos, pode-se relacionar os abortos observados no presente estudo com a Leptospira sp. refletindo sua importância no contexto sanitário e epidemiológico potiguar e denotando maiores cuidados durante as competições e circuitos intermunicipais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GODOI, R.C.S.; LUCHEIS, S.B; FILADELPHO, A.L. Influência das Leptospiras nas infecções dos equinos- revisão de literatura. Revista científica eletrônica de medicina veterinária. 7: 12, 2009. 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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 199 Telma de Sousa LIMA¹; Manuela Costa de MENEZES²; Ismael Lira BORGES³; Jael Soares BATISTA4 Tabela 01 – Sorovares de Leptospira sp e títulos em soros de éguas com histórico de aborto avaliados por 2012. meio da técnica soroaglutinação microscópica (SAM), Rio Grande do Norte, 2012. 200 Identificação Equino 1 Equino 2 Equino 3 Sorovares Hardjo Pomona Icterohaemorrhagie Título 1/200 1/400 1/200 Equino 4 Copenhageni 1/100 Equino 5 Não reagente ----- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Manuela Costa de MENEZES¹; Parmênedes Dias de BRITO²; Telma de Sousa LIMA³; Jamille Maia de MAGALHÃES4; José Fernando Gomes de ALBUQUERQUE5; Carlos Iberê Alves FREITAS6 ESTUDO DA MORFOLOGIA DA SUPERFÍCIE ENCEFÁLICA DE TATU-PEBA (Euphractus sexcinctus LINAEUS, 1758) Morphology of brain surface of six-banded armadillo (Euphractus sexcinctus Linaeus, 1758) ¹Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] ²Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA parmenedesdbrito@hotmail. com ³Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] 4 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] 5 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] 6 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] Manuela Costa de MENEZES¹; Parmênedes Dias de BRITO²; Telma de Sousa LIMA³; Jamille Maia de MAGALHÃES4; José Fernando Gomes de ALBUQUERQUE5; Carlos Iberê Alves FREITAS6 PA L AV R A S - C H AV E sistema nervoso, aspectos anatômicos, animais silvestres KEYWORDS nervous system, anatomical aspects, wild animals INTRODUÇÃO Os tatus-peba constituem um importante componente faunístico da Caatinga brasileira, sendo considerados um recurso trófico essencial à cadeia alimentar. Entretanto, a despeito de sua importância e da necessidade de se destacar em programas de conservação, tais animais são ainda pouco estudados (BARBOZA, 2009). O estudo da morfologia, em particular a neuroanatomia, dos animais selvagens é carente de informações básicas, especialmente quando se trata de espécies que apresentam algum potencial de exploração intensiva (MENEZES, et al. 2001). Tais estudos fornecem subsídios para resolução de problemas do ponto de vista clínico e cirúrgico, contribuindo indiretamente à preservação da espécie e manutenção do ecossistema. Essa carência de informações está mais acentuada quando se trata do tatu-peba (E. sexcinctus). Diante da falta de conhecimento sobre anatomia do encéfalo e das importantes correlações que podem ser obtidas acerca de seus estudos, torna-se imprescindível a compreensão da organização anatômica do sistema nervoso do tatu-peba. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi descrever a anatomia da superfície encefálica e estruturas do plano sagital mediano do tatu-peba (Euphractus sexcinctus). MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Anatomia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró-RN, Brasil. Foram utilizados nove encéfalos de tatu-peba (Euphractus sexcinctus), cinco machos e quatro fêmeas, adultos, oriundos de apreensões realizadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis do Rio Grande do Norte (IBAMA/RN), enviados pós-óbito natural. Inicialmente foi realizada incisão na cavidade torácica dos espécimes para canulação dos ventrículos direito e esquerdo e sequente perfusão com so- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 201 Manuela Costa de MENEZES¹; Parmênedes Dias de BRITO²; Telma de Sousa LIMA³; Jamille Maia de MAGALHÃES4; José Fernando Gomes de ALBUQUERQUE5; Carlos Iberê Alves FREITAS6 lução formalina a 20%. A preparação das peças anatômicas ocorreu mediante retirada do encéfalo da cavidade craniana, mantendo-se as meninges e a origem aparente dos nervos cranianos. Os cérebros foram pesados e então calculado o QE- Quociente de Encefalização: [(peso do encéfalo)/(peso corporal)] *100. As observações macroscópicas da superfície encefálica eram registradas e comparadas à nomenclatura universal do International Committee on Veterinary Gross Anatomical Nomenclature (2005), enquanto os dados referentes a peso, volume e mensurações (espessura, altura e comprimento) foram trabalhados mediante análise descritiva (medidas de tendência central e respectivos devios-padrão da média). RESULTADOS E DISCUSSÃO Macroscopicamente pode-se observar órgãos com extremidade rostral apresentando relativo adelgaçamento e lobos parietal e temporal, ambos desenvolvidos, conferindo um aspecto triangular ao órgão, além da presença de sulcos telencefálicos marcantes e um cerebelo proporcionalmente grande. Com relação ao peso médio do encéfalo, o QE e a distância encéfalo-escudo cefálico foram, respectivamente, 14,03±3,5g, 0,51% e 5,6mm (tabela 1). Já ao corte sagital mediano, pode-se verificar que o bulbo olfatório, em proporção, é bem desenvolvido, assim como o cerebelo que, nesse corte, apresenta uma “árvore cerebelar” bastante característica. Além disso, foi verificado que a relação percentual do cerebelo-encéfalo é 20,85, cerca de 2,3 vezes maior que a do cão (8,86). O desenvolvimento relativo observado nos lobos parietal e temporal pode estar relacionado a desempenhos eficazes de atividades motoras e interpretativas de linguagem, além de refletir hábeis propriedades auditivas e de proprioceptivas, manifestadas ora na comunicação com os indivíduos da mesma espécie ou de outras, ora na interação com o meio ambiente. Da mesma forma, a dependência do olfato para diversas atividades desses animais, tais como localização da toca, orientação no ambiente, busca por alimentação ou por parceiros sexuais, pode explicar o tamanho exacerbado do bulbo olfatório. Ou seja, uma maior capacidade de interpretação olfatória, auditiva, de memória, tato, propriocepção e orientação espacial, conferem um arranjo morfofuncional capaz de explicar a capacidade dos tatus de localizarem, refazerem seus trajetos ou de se locomoverem rapidamente mesmo durante a noite, em detrimento de uma visão deficiente. Para Schmidek e Cantos (2008) o quociente de encefalização possibilita avaliar o tamanho do cérebro de animais em relação a espécies de mesmo porte. Quando menor que 1(QE<1), significa que a espécie tem um cérebro menor que a média das espécies com o mesmo tamanho corporal. Nesse raciocínio, a proporção relativamente baixa, de 0,51%, Entretanto, independente de viverem sob baixa complexidade, o baixo quociente cerebral não implica em inferioridade mental do indivíduo, uma vez que observam-se comportamentos relativamente complexos quando se trata de E. sexcinctus. Quando se analisa, por exemplo, a proporção cerebelo- encéfalo do tatu peba, observa-se uma relação expressivamente alta (~20,86%), superando inclusive a dos caninos, demonstrando a importância do cerebelo para os tatus, o que pode ser expresso nas habilidades de coordenação básica dos movimentos onde coordena os aspectos de força, velocidade, harmonia e ritmo, contribuindo ainda para manutenção do 202 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Manuela Costa de MENEZES¹; Parmênedes Dias de BRITO²; Telma de Sousa LIMA³; Jamille Maia de MAGALHÃES4; José Fernando Gomes de ALBUQUERQUE5; Carlos Iberê Alves FREITAS6 equilíbrio e da postura (VILELA JÚNIOR, 2014). CONCLUSÃO De acordo com o presente estudo, a conformação cerebral (triangular) do tatu- peba deve-se aos lobos parietal e temporal, mais desenvolvidos que a porção rostral. Os espécimes apresentaram peso médio de encéfalo e quociente de encefalização de, respectivamente, 14 gramas e 0,51%. Ao corte sagital, tanto o bulbo olfatório quanto o cerebelo e sua árvore cerebelar (arbor vitae) apresentaram-se proporcionalmente bem desenvolvidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOZA, R.R.D. 2009. A etnoecologia dos tatus-peba (Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) e tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) na perspectiva dos povos do semiárido paraibano. Dissertação (Mestrado), Curso de Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, MS. 177p. MENEZES, D.A.; CARVALHO, M.F.; CAVALCANTE FILHO, M.F. & SOUZA, W.M. Configuração do sistema venoso portal na cutia (Dasyprocta agutia, Rodentia). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. 6:263-266. 2001. SCHMIDEK, W.R. & Cantos G.A. 2008. Evolução do sistema nervoso, especialização hemisférica e plasticidade cerebral: um caminho ainda a ser percorrido. Revista Pensamento Biocêntrico. Pelotas, 10:181-204. VILELA JÚNIOR & BARROS, G. 2014. Aspectos filogenéticos e ontogenéticos do movimento humano (Slides). Disponível em <http://www.cpaqv.org/ filonto/aspectos_fil o_onto_mh.pdf> Acesso em 9 dez. 2014. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 203 Manuela Costa de MENEZES¹; Parmênedes Dias de BRITO²; Telma de Sousa LIMA³; Jamille Maia de MAGALHÃES4; José Fernando Gomes de ALBUQUERQUE5; Carlos Iberê Alves FREITAS6 Tabela 1. Valores médios para peso do encéfalo, volume, relação encéfalo-peso corpóreo, distância encéfalo-escudo cefálico e superfície ao corte sagital mediano de encéfalo de tatu peba (E. sexcinctus) Critério de avaliação Peso do encéfalo Volume do encéfalo Relação encéfalo-peso corporal Distância encéfalo-escudo cefálico Relação percentual tálamo-encéfalo¹ Relação percentual cerebelo-encéfalo¹ 204 N 9 9 9 8 8 8 Unidade* g mL % mm % % Valores 14,04 ± 3,5 16,75 ± 5,0 0,50 − 0,52 5,6 ± 0,6 2,39 – 2,42 20,85 – 20,88 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Manuela Costa de MENEZES¹, Parmênedes Dias de BRITO2, Matheus Wagner Paulino de SOUSA3, Telma de Sousa LIMA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5 AVALIAÇÃO COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS DE OBTENÇÃO DA MEDIDA DE ÁREA DE OLHO DE LOMBO EM OVINOS (Ovis aries L.) Comparative evaluation of methods for obtaining the measure of loin-eye area in sheep (Ovis aries L.) ¹ Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] ² Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA parmenedesdbrito@hotmail. com ³ Faculdade Terra Nordeste, FATENE, Laboratório de Anatomia [email protected] 4 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] 5 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCA [email protected] Manuela Costa de MENEZES¹; Parmênedes Dias de BRITO²; Telma de Sousa LIMA³; Jamille Maia de MAGALHÃES4; José Fernando Gomes de ALBUQUERQUE5; Carlos Iberê Alves FREITAS6 PA L AV R A S - C H AV E tipificação de carcaças, ovinos, técnicas de mensuração KEYWORDS classification of carcasses, sheep, measuring techniques INTRODUÇÃO A área de olho de lombo (AOL) é uma técnica prática e eficaz na obtenção de medidas indicadoras da composição e musculosidade da carcaça, sendo amplamente aceita e utilizada principalmente pela correlação positiva entre a AOL e a porção comestível da carcaça. Ela é calculada através mensuração do espaço situado entre 12ª e 13ª vértebra torácica e, pela relevância da precisão dessa medida, torna-se necessário encontrar uma técnica ideal para sua medição, evitando a ocorrência de prejuízos na comercialização e erros na estimação de confiabilidade para a classificação das carcaças. Segundo Luchiari Filho (2000), quando há aumento na área de olho de lombo, aumenta também a porção comestível da carcaça, e vice-versa. Várias medidas realizadas na carcaça ou na superfície de cortes cárneos têm sido estudadas com o objetivo de se identificar quais podem servir como índices confiáveis de classificação (SILVA et al, 2003) uma vez que o mercado brasileiro exige a produção de animais que tenham boa qualidade de carcaça, com bons cortes comercializáveis e boa cobertura de gordura. Portanto, a avaliação da qualidade de carcaças, seja por pesquisadores ou pela indústria da carne, utilizando-se de medidas fidedignas, é de fundamental importância pois pode trazer, inclusive, diferenciais na remuneração dos criadores (GUINODI,2000). Desta forma, o presente trabalho objetivou comparar os métodos mais utilizados para obtenção da área de olho de lombo (AOL) em relação à precisão, custo, exequibilidade e quanto à rapidez na tipificação de carcaça de ovinos. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Anatomia Veterinária da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), localizado no município de Mossoró-RN, e no Laboratório de Anatomia Animal da Faculdade Terra Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 205 Manuela Costa de MENEZES¹, Parmênedes Dias de BRITO2, Matheus Wagner Paulino de SOUSA3, Telma de Sousa LIMA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5 Nordeste (FATENE), localizado no município de Caucaia-CE. Para execução dos testes, procedeu-se a secção entre a 12ª e 13ª costelas de carcaças ovinas obtidas de mercado local (Caucaia-CE) depois, utilizando-se papel vegetal e plástico transparente, foi realizado o desenho da AOL contornando o perímetro muscular do longuissimus dorsi, nas secções feitas nas carcaças, para posterior aplicação das técnicas de medição da AOL. Para as comparações de tais técnicas, utilizou-se as mensurações obtidas no AutoCad® como controle. Foram comparadas seguintes técnicas: AutoCAD (OLIVEIRA et al., 2010); Grade (COSTA et al., 2012); Grade-Unesp (YÁÑEZ et al., 2006); Método Geométrico (YÁÑEZ et al., 2006; COSTA et al., 2012); Gabarito (COSTA et al., 2012; TEIXEIRA et al., 2011; YÁÑEZ et al., 2006) e método do Planímetro (TEIXEIRA et al., 2011). Os testes foram realizados por profissionais e estudante de medicina veterinária e por profissionais com nível médio-técnico. Os dados foram submetidos à análise de variância, teste F, ao nível de significância de 5%, as médias foram comparadas pelo teste “t” de Student a 5% de probabilidade. O delineamento utilizado foi inteiramente casualizados (DIC). O recurso computacional utilizado foi o pacote estatístico SAS (1999). RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se que os testes para obtenção das áreas de olho de lombo (AOL) pelo método Planímetro e Gabarito apresentaram os piores resultados (P<0,05) quanto à precisão. Em relação ao método do planímetro verificou-se que as medidas obtidas foram estatisticamente diferentes do método padrão (AutoCAD), além disso, as medidas encontraram-se com incremento de área que, provavelmente, decorre da dificuldade de circunscrever uma figura irregular muito pequena, favorecendo medidas imprecisas e, consequentemente, gerando medidas superestimadas. Tal fato corrobora com Teixeira et al (2012), que apontam elevada preocupação no momento de calibrar e até em manuseá-lo, possibilitando maiores erros no cálculo. Esse método deve ser desencorajado em análises tanto no campo prático da zootecnia, como em pesquisas, não apenas pela demora, pois figuras pequenas e irregulares dificultam as medições, mas principalmente pela imprecisão detectada no presente estudo. Quanto ao método do gabarito, a imprecisão decorre do método permitir desprezo de área relevante, haja vista que para assinalar um quadrado do gabarito é preciso que a linha toque o ponto central do quadrado e perdendo, consequentemente, área. É preciso destacar que essas medidas ficaram abaixo das obtidas no AutoCAD, por consequência, usar esse método subestima a medida de área de olho de lombo. Ainda em relação à precisão, os demais métodos (Geométrico, Grade e Grade-UNESP) apresentaram estatisticamente similares ao método controle (AutoCAD®). Contudo o método da Grade-UNESP foi mais preciso que o método da grade devido os quadrados na contagem de pontos serem menores, permitindo desse modo, um melhor aproveitamento da área. Essa superioridade da Grade UNESP em relação ao método da Grade também foi verificada por Costa et al (2012). Quanto ao tempo de execução o método Geométrico, Gabarito, Grade, 206 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Manuela Costa de MENEZES¹, Parmênedes Dias de BRITO2, Matheus Wagner Paulino de SOUSA3, Telma de Sousa LIMA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5 e Grade-UNESP sobressaíram. Ainda que o AutoCAD® apresente elevada precisão por se tratar de recurso digital, esse método exige um bom computador, com operador treinado na ferramenta CAD e digitalização da imagem, demora que se justifica na pesquisa, mas pouco prático no cotidiano. Já em relação aos custos, os métodos mais econômicos (e também precisos) foram os métodos: Geométrico; Grade; e Grade-UNESP. CONCLUSÕES A utilização do método Planímetro de mesa deve ser desencorajada, pois apresentaram baixa precisão (P<0,05), desperdício de tempo e difícil manuseio do equipamento. O método Gabarito, em pesquisa, deve ser evitado, pois apresentaram baixa precisão (P<0,05), ainda que seja um método rápido. Os métodos mais econômicos, rápidos que mantiveram uma precisão satisfatória foram os métodos: Geométrico; Grade; e Grade-UNESP. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, et al. Utilização de diferentes metodologias para determinação da área de olho de lombo em ovinos. Archivos de zootecnia, vol. 61, núm. 236, p. 615618, 2012. GUIDONI, A. L. 2000. Melhoria de processos para a tipificação e valorização de carcaças suínas no Brasil. 2000. URL: www.cnpsa.embrapa.br/down.php?tipo=pu-blicacoes &cod_publicacao=290. Acesso em 27 jun.2009. LUCHIARI FILHO, A. Pecuária da carne bovina. 1. ed. São Paulo: Luchiari Filho, 2000. 134p. PERES, Louise Manha, et al. 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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 207 Manuela Costa de MENEZES¹, Parmênedes Dias de BRITO2, Matheus Wagner Paulino de SOUSA3, Telma de Sousa LIMA4, Carlos Iberê Alves FREITAS5 Tabela 1 – Relação mão de obra, custo dos equipamentos, tempo aproximado de processamento e custo mínimo da análise de cada Técnica de obtenção de AOL (Área de Olho de Lombo) em Mossoró-RN, Brasil. Técnicas Exigências Custo mínimo da Mão-de-obra Custo dos Tempo aprox. de especializada a equipamentos b processamento* AutoCad® ++ ++ 15 minutos 50,00 Gabarito - - 6 minutos 15,00 Planímetro + + 22 minutos 60,00 Peso do papel c + ++ 14 minutos 25,00 Grade - - 6 minutos 15,00 Grade-UNESP; - - 6 minutos 15,00 Geométrico - - 7 minutos 15,00 análise (R$)** (++) alta exigência (profissional/técnico) (+) Razoável exigência (profissional), (-) Baixa exigência. b (++) Alto custo (2 - 8 mil reais), (+) Custo considerável (1 - 2 mil reais), (-) Baixo custo (< 50 reais). c Método executado usando balança analítica, alta precisão, realizado em laboratório. * Tempo para o preparo de material, equipamento até a obtenção da medida, incluindo até refazer o teste. ** Custo mínimo para apenas uma análise, envolvendo custos mão-de-obra em Mossoró-RN, 2014. a 208 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Ana Carolina Messias de SOUZA1; Giselle Ramos da SILVA2; Silvia Rafaelli MARQUES3; João Carlos Gomes BORGES4; Leucio Câmara ALVES5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 Ocorrência de infecção por Cryptosporidium spp. em caprinos da região Metropolitana de Recife e Zona da Mata de Pernambuco Occurrence of Cryptosporidium spp. in goats from the Metropolitan Region of Recife and Forest Zone of Pernambuco State, Brazil Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. joão@mamiferos aquáticos.org.br 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 1 Ana Carolina Messias de SOUZA1; Giselle Ramos da SILVA2; Silvia Rafaelli MARQUES3; João Carlos Gomes BORGES4; Leucio Câmara ALVES5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 PA L AV R A S - C H AV E Infecção, manejo e oocistos KEYWORDS Infection, management and INTRODUÇÃO Cryptosporidium spp. causa enterites graves associadas com diarréia e morte, podendo gerar perda de peso e baixa produtividade (GOMA et al., 2007), sendo um dos principais patógenos entéricos em cabras (DELAFOSSE et al., 2006). A prevalência mundial varia de 7% a 77% nos caprinos (SANTÍN et al., 2007; GEURDEN et al., 2008), os quais podem eliminar oocistos, possibilitando a infecção de pessoas e animais, caracterizando um problema de saúde pública (FIUZA et al., 2011). Objetivou-se, nesta pesquisa, avaliar a frequência de infecção por Cryptosporidium spp. em caprinos de propriedades da região Metropolitana de Recife (RMR) e Zona da Mata (ZM) de Pernambuco Material e Métodos Selecionaram-se 63 caprinos de ambos os sexos, raças e idades variadas, de quatro propriedades rurais da RMR e ZM de Pernambuco. Fichas com dados sobre o manejo sanitário e zootécnico foram preenchidas e amostras fecais foram processadas no Laboratório de Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos – Departamento de Medicina Veterinária Veterinária - UFRPE pela técnica de concentração de oocistos em formol-éter e coradas pela técnica de Kinyon, realizando-se três repetições de esfregaço de fezes por amostra. Os dados foram analisados estatisticamente pelo software SPSS na versão 17 adotando-se o nível de significância de 5,0 %. RESULTADOS E DISCUSSÃO Obteve-se positividade de 6,3% (4/63) para Cryptosporidium spp., variando de 0,0 % a 75,0%, sem diferença significativa entre as taxas de infecção das propriedades (Tabela 1). Frequências maiores foram registradas na França (DELA- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 209 Ana Carolina Messias de SOUZA1; Giselle Ramos da SILVA2; Silvia Rafaelli MARQUES3; João Carlos Gomes BORGES4; Leucio Câmara ALVES5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 FOSSE et al., 2009), 16,2%, e na Bélgica com 9,5% (GEURDEN et al., 2008). Taxa menor foi obtida em estudo no Rio de janeiro, sendo de 4,8% (BOMFIM et al., 2005). Análise estatística inferencial não foi realizada para as variáveis a seguir devido ao reduzido número de animais positivos. Diarréia foi observada em 6,3% dos animais, e em apenas 25,0% (1/4) dos caprinos positivos, diferindo de Nazemalhosseini-Mojarad et al ( 2011) na Espanha, em que de 40% dos cabritos com diarréia eram positivos e de Servin et al (2005) na Turquia, 100% dos caprinos com diarréia e positivos. No Município de Caéte – MG, 63,63% dos caprinos apresentavam diarréia e infecção por Cryptosporidium spp. (VIEIRA et al, 1997). A amostra predominantemente de animais adultos, com todos os animais positivos incluídos nesta faixa, pode ter influenciado na diferença com resultados já publicados em que prevalece infecção em animais jovens (DE WAELE et al., 2010). Nas criações de caprinos em que havia animais positivos, constatou-se má higienização, frequência de limpeza irregular, dejetos depositados a céu aberto e equipamentos não desinfectados, o que contribui para a disseminação de oocistos no ambiente (GRACZYK et al., 2007; MARTINS et al., 2009). Os animais positivos eram criados em regime extensivo, o que pode explicar a baixa prevalência (TEMBUE et al., 2006; SANTÍN et al., 2007). CONCLUSÃO Este achado constitui-se no primeiro registro de infecção por Cryptosporidium spp. em caprinos em Pernambuco. A avaliação de um número maior de rebanhos é necessária para se inferir sobre a associação com fatores do manejo higiênico-sanitário instituídos nas propriedades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOMFIM, T. C. B.; HUBER, F.; GOMES, R. S.; ALVES, L.L. Natural infection by Giardia sp. and Cryptosporidium sp. in dairy goats, associated with possible risk factors of the studied properties. Veterinary. Parasitoly, v. 134, n.1-2, p. 913, 2005. DELAFOSSE, A.; CASTRO-HERMIDA, J. A.; BAUDRY, C., et al. Herd-level risk factors for Cryptosporidium infection in dairy-goat kids in western France. Preventive Veterinary Medicine, v. 77, n. 43, p. 109–121, .2009. DE WAELE V.; SPEYBROECK, N.; BERKVENS, D., et al. 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Frequência absoluta (n) e relativa (%) de caprinos submetidos à pesquisa de oocistos de Cryptosporidium spp. por propriedade estudada. Procedência Total Aldeia Aliança Dois irmãos Jaboatão dos Guararapes n 4 1 3 Positivo Resultado % 100,0 25,0 - n 59 10 6 24 75,0 19 Negativo % 100,0 16,9 10,2 40,7 n 63 10 7 24 32,2 22 Total % 100,0 15,9 11,1 38,1 Valor de p p (1) = 0,140 34,9 (1): Teste Exato de Fisher. 212 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Rodolfo Luiz Godoy do AMARAL2; Marcia Silva do NASCIMENTO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 AÇÃO ANTI-HELMÍNTICA IN VITRO DO EXTRATO ETANÓLICO DA CASCA DO CAULE DE Abarema cochliacarpos (BARBATIMÃO) SOBRE LARVAS DE NEMATOIDES GASTRINTESTINAIS DE CAPRINOS E OVINOS Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal de Pernambuco, DA. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 5 Universidade Federa Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 1 “In vitro” anthelmintic activity of the ethanol extract from the bark of stem Abarema cochliacarpos on larvae of gastrointestinal nematodes of sheep and goats. Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Rodolfo Luiz Godoy do AMARAL2; Marcia Silva do NASCIMENTO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 PA L AV R A S - C H AV E Babatenom, Fitoterapia, Haemonchus, Ruminantes KEYWORDS Babatenom, Ruminants Phytotherapy, Haemonchus, INTRODUÇÃO A utilização indevida dos compostos químicos anti-helmínticos na caprinovinocultura tem conduzido à resistência anti-helmíntica dos nematóides gastrintestinais (FALBO et al., 2008; PENELUC et al., 2009). A fitoterapia é uma alternativa que poderá reduzir o uso de anti-helmínticos (ANDRADE et al., 2014). Abarema cochliacarpos é planta nativa do Brasil, da família Leguminosae-Mimosoidae, popularmente conhecida como barbatimão, empregada no tratamento de diversas enfermidades humanas e animais (SANTOS et al., 2007; COELHO et al., 2010). Objetivou-se avaliar a ação anti-helmíntica in vitro do extrato etanólico da casca do caule de Abarema cochliacarpos em nematóides gastrintestinais das espécies caprina e ovina. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética no Uso de Animais UFRPE sob a licença nº 024/2013. Amostras fecais de caprinos da Região Metropolitana do Recife e ovinos do Município de Bonito – PE foram coletadas de animais naturalmente infectados por helmintos e processadas para contagem de ovos por grama de fezes (OPG) (GORDON e WHITLOCK, 1939). De cada espécie animal formou-se um homogeneizado de amostras fecais, distribuindo 3 gramas em cada cultivo, para a realização de coprocultura quantitativa e identificação de larvas (ROBERT e O’SULLIVAN, 1950; UENO e GONÇALVES, 1998). Cada cultivo foi submetido a tratamento em concentrações de 10% (T1), 25% (T2) e 50% (T3) do extrato etanólico da casca do caule de Abarema cochliacarpos. Os extratos foram preparados no Laboratório de Química de ProCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 213 Rodrigo Ferreira Lima TENÓRIO1; Rodolfo Luiz Godoy do AMARAL2; Marcia Silva do NASCIMENTO3; Leucio Câmara ALVES4; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO5 dutos Naturais da Universidade Federal de Pernambuco, utilizando 2 litros de etanol e 500 gramas da casca do caule por três dias com troca de solvente a cada 24h. Formou-se um grupo controle negativo com água destilada (CN), e dois controles positivos, Ivermectina 1% (CP1) e Albendazole 5% (CP2), todos com duas repetições. A atividade do extrato foi determina conforme Vizard e Wallace (1987): R = 100 . (1 – T/C) R = Redução calculada na LPG T = Média geométrica das LPGs dos cultivos tratados C = Média geométrica das LPGs dos cultivos não tratados A eficácia in vitro do extrato foi classificada em altamente efetiva (> 90%), moderadamente efetiva (80% a 90%), pouco efetiva (60% a 70%) e não efetiva (< 60%) (POWERS et al., 1982). RESULTADO E DISCUSSÃO Identificaram-se larvas infectantes com predominância do gênero Haemonchus, seguido Trichostrongylus e Oesophagostomum, concordando com Farias et al. (2010) em estudos realizados no estado de Pernambuco. Em caprinos, observou-se redução altamente efetiva do número de larvas de todos os gêneros identificados para os tratamentos T2, T3, CP1 e CP2. O tratamento T1 mostrou-se altamente efetivo apenas para o gênero Oesophagostomum (Tabela 1). Nos ovinos, os tratamentos T1, T2, T3, CP1 e CP2 foram altamente efetivos contra os gêneros Trichostrongylus e Oesophagostomum e, para Haemonchus apenas os tratamentos T3, CP1 e CP2 (Tabela 2). As bases químicas ivermectina 1% e albendazole 5% mostraram-se altamente efetivas frente aos gêneros Haemonchus, Trichostrongylus e Oesophagostomum, (Tabelas 1 e 2), diferindo de outros estudos que indicaram resistência anti-helmíntica, principalmente do gênero Haemonchus (COSTA et al., 2011; ROCCO et al., 2012). CONCLUSÃO O extrato etanólico de Abarema cochliacarpos apresenta atividade biológica contra nematoides gastrintestinais de pequenos ruminantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, F.D.; RIBEIRO, A.R.C.; MEDEIROS, M.C. et al. Ação anti-helmíntica do extrato hidroalcóolico da raiz da Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf. No controle de Haemonchus contortus em ovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 34, n. 10, p. 942-946, 2014. COELHO, J. M.; ANTONIOLLI, A. B.; SILVA, D. N. et al. 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Percentual de redução de larvas de nematoides gastrintestinais em amostras fecais da espécie caprina. Haemonchus Trichostrongylus Oesophagostomum T1 44,20% 56,85% 100% T2 96,95% 91,70% 100% T3 98,79% 100% 100% CP1 100% 100% 100% CP2 96,65% 100% 100% T1: Extrato a 10%; T2: Extrato a 25%; T3: Extrato a 50%; CP1: Ivermectina 1%; CP2: Albendazole 5%. Tabela 2. Percentual de redução de larvas de nematoides gastrintestinais em amostras fecais da espécie ovina. Haemonchus Trichostrongylus Oesophagostomum T1 0% 100% 100% T2 38,17% 100% 100% T3 100% 100% 100% CP1 100% 100% 100% CP2 100% 100% 100% T1: Extrato a 10%; T2: Extrato a 25%; T3: Extrato a 50%; CP1: Ivermectina 1%; CP2: Albendazole 5%. 216 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Maiana Silva CHAVES4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 EFEITO DA VITRIFICAÇÃO DE EMBRIÕES PIV SOBRE A TAXA DE PRENHEZ DE GIR (Bos indicus) EM CONDIÇÕES DE CAMPO Effect of vitrification under field conditions on pregnancy rate of Gyr (Bos indicus) PIV embryos Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. carlos. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. maiana-@ hotmail.com 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. maicohenriquebarbosasantos@gmail. com 1 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Maiana Silva CHAVES4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 PA L AV R A S - C H AV E criobiologia, criotolerância, Zebu. KEYWORDS cryobiology, crytolerance, Zebu INTRODUÇÃO Em bovinos, embriões produzidos in vitro (PIV) são mais sensíveis à criopreservação quando comparados a embriões produzidos in vivo devido à alta concentração de lipídios. A espécie Bos indicus apresenta menor tolerância à criopreservação quando comparado com embriões Bos taurus PIV (VISINTIN et al., 2002). Dessa forma, objetivou-se avaliar a viabilidade de embriões PIV de Gir (Bos indicus) transferidos à receptoras após a vitrificação em condições de campo. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizada a produção in vitro de embriões Bos indicus, a vitrificação, desvitrificação e transferência direta para avaliação da taxa de prenhez e perda embrionária. Produção in vitro de embriões Recuperação dos ovócitos A punção dos folículos (OPU) de diâmetro maior que 2 mm foi realizada de acordo com Zhao et al (2009). O meio utilizado foi TCM-199 (Gibco Life Technologies, Grand Island , NY , EUA) suplementado. Maturação in vitro (MIV) Os ovócitos foram selecionados segundo Morató et al (2008). Foram então lavados em TCM-199 HEPES (Gibco Life Technologies) suplementado. Para a MIV foi utilizado o TCM-199 com SFB (Gibco Life), FSH (Folltropin, Bioniche Animais Saúde, Belleville, ON, Canada), hCG (Profasi, Serono, São Paulo, SP, Brasil), estradiol (estradiol-17b), piruvato de sódio e amicacina (Instituto Bioquimico, Rio de Janeiro, Brasil). Os ovócitos foram incubados sob óleo mineral a 39oC em atmosfera úmida de 5% CO2 durante 22 a 26 horas. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 217 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Maiana Silva CHAVES4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 Fecundação In Vitro (FIV) O sêmen utilizado pertenceu a reprodutores com fertilidade comprovada no processo de FIV com concentração final de 1x105 espermatozoides/gota segundo Viana et al (2010). Os espermatozoides e os ovócitos foram lavados em TALP-FIV. Os gametas foram acondicionados sob mesma atmosfera mencionada anteiormente. Cultivo in vitro de embriões (CIV) Os presumíveis zigotos foram desnudados e transferidos para SOFaa com BSA e SFB sob óleo mineral a 39oC em atmosfera úmida de 5% CO2, 5% O2 e 90% de N2 durante todo o período do CIV. No 3o (D3) e 5o dia (D5) de cultivo foi feito feeding. Vitrificação de embriões Os Blastocistos (n=138) foram vitrificados por “Cryotop”, colocados em 10% de etilenoglicol (WakoPure Chemical Industries Co., Osaka, Japão) e 10% de DMSO (WakoPure Chemical Industries Co.) em meio TCM-HEPES com SFB. Em seguida, os embriões foram transferidos para solução de vitrificação contendo 20% de etilenoglicol, 20% de DMSO e sacarose. Para então serem imersos em nitrogênio líquido. Como controle, foram selecionados embriões frescos (n=140) avaliados no dia 7 (D7). Desvitrificação de embriões Os blastocistos foram aquecidos pela imersão da tira no meio base (TCM-HEPES + sacarose) a 35°C por 1 minuto. Em seguida foram colocados em meio conforme Morató et al (2008). Os embriões foram transferidos em tempo fixo para receptoras sincronizadas após o aquecimento. Protocolo de transferência de embrião e diagnóstico de prenhez Somente as receptoras com corpo lúteo (CL) receberam um embrião no dia 17 de protocolo. O diagnóstico precoce de prenhez foi realizado por ultrassonografia transretal (DP 2200 VET, 5 MHz transdutor linear, Mindray, China) no 35o dia, contando a partir da data da FIV. O diagnóstico confirmatório e a perda embrionária no 60o dia, junto com a sexagem. Análise estatística Para análise da taxa de prenhez e perda embrionária foi realizado o teste do Qui-quadrado com nível de significância de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliação da viabilidade de embriões PIV vitrificados foi feita após a transferência direta em vacas sincronizadas. A taxa de prenhez de embriões vitrificados foram semelhantes às de embriões transferidos a fresco, tanto em 35 quanto em 60 dias após a fertilização in vitro. A fase do desenvolvimento embrionário também não influenciou as taxas de prenhez e a incidência de morte embrionária (Tabela 1). Resultados semelhantes da influência das fases de desenvolvimento sobre as taxas de prenhez foram descritos com embriões PIV vitrificados e transferidos por Scanavez et al. (2013) em condições de campo. A 218 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Maiana Silva CHAVES4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 baixa criotolerância de embriões PIV vem sendo um fator limitante para utilização de embriões vitrificados (MUCCI et al., 2006) deste forma estes resultados são relevantes para criopreservação de embriões PIV de Bos indicus em condições de campo. CONCLUSÃO A vitrificação a campo é um método eficiente e pode ser implementada para minimizar o descarte de embriões excedentes sem prejuízo à taxa de prenhez. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MORATÓ, R.; IZQUIERDO, D.; PARAMIO, M.T. et al. 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Prenhez (35 dias) Prenhez (60 dias) n (%) n (%) Bi 18/39 (46,15) 17/39 (43,58) Bl 23/49 (46,93) 23/49 (46,93) Bx 26/52 (50,00) 26/52 (50,00) Total 67/140 (47,85) 66/140 (47,14) Bi 14/40 (35,00) 13/40 (32,50) Bl 22/52 (42,30) 20/52 (38,46) Bx 20/46 (43,47) 20/46 (43,47) Total 56/138 (40,57) 53/138 (38,40) Estágio de desenvolvimento Embrião Fresco (controle): Embriões vitrificados: PIV: produção in vitro; Bi: Blastocisto inicial; Bl: Blastocisto; Bx: Blastocisto expandido. 35 e 60 dias após a fertilização in vitro. 220 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Pábola Santos NASCIMENTO4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 VITRIFICAÇÃO DE EMBRIÕES PRODUZIDOS IN VITRO DE NELORE (Bos indicus) EM CONDIÇÕES DE CAMPO Vitrification of Nellore (Bos indicus) in vitro produced embryos under field conditions Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. carlos. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. pabolasn@ hotmail.com 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. maicohenriquebarbosasantos@gmail. com 1 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Pábola Santos NASCIMENTO4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 PA L AV R A S - C H AV E gado, criobiologia, embriões excedentes KEYWORDS cattle, cryobiology, surplus embryos INTRODUÇÃO Embriões submetidos à criopreservação sofrem danos morfológicos e funcionais, resultando em baixas taxas de sobrevivência. A viabilidade embrionária após criopreservação depende da origem do embrião (in vivo ou in vitro), da qualidade e do estado de desenvolvimento (LEIBO et al., 1996). No entanto, embriões produzidos in vitro possuem menor tolerância à criopreservação. Deste modo, objetivou-se avaliar a viabilidade de embriões PIV de Nelore (Bos indicus) transferidos a receptoras após vitrificação em condições de campo. MATERIAL E MÉTODOS Produção in vitro de embriões Recuperação dos ovócitos A punção dos folículos (OPU) de diâmetro maior que 2 mm foi realizada de acordo com Zhao et al (2009). O meio utilizado foi TCM-199 (Gibco Life Technologies, Grand Island , NY , EUA) suplementado. Maturação in vitro (MIV) Os ovócitos foram selecionados segundo Morató et al (2008). Foram então lavados em TCM-199 HEPES (Gibco Life Technologies) suplementado. Para a MIV foi utilizado o TCM-199 com SFB (Gibco Life), FSH (Folltropin, Bioniche Animais Saúde, Belleville, ON, Canada), hCG (Profasi, Serono, São Paulo, SP, Brasil), estradiol (estradiol-17b), piruvato de sódio e amicacina (Instituto Bioquimico, Rio de Janeiro, Brasil). Os ovócitos foram incubados sob óleo mineral a 39oC em atmosfera úmida de 5% CO2 durante 22 a 26 horas. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Fecundação In Vitro (FIV) O sêmen utilizado pertenceu a reprodutores com fertilidade comprovada 221 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Pábola Santos NASCIMENTO4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 no processo de FIV com concentração final de 1x105 espermatozoides/gota segundo Viana, et al (2010). Os espermatozoides e os ovócitos foram lavados em TALP-FIV. Os gametas foram acondicionados sob mesma atmosfera mencionada anteiormente. Cultivo in vitro de embriões (CIV) Os presumíveis zigotos foram desnudados e transferidos para SOFaa com BSA e SFB sob óleo mineral a 39oC em atmosfera úmida de 5% CO2, 5% O2 e 90% de N2 durante todo o período do CIV. No 3o (D3) e 5o dia (D5) de cultivo foi feito feeding. Vitrificação Os Blastocistos (n=127) foram vitrificados por “Cryotop”. Blastocistos grau I foram colocados em 10% de etilenoglicol (WakoPure Chemical Industries Co., Osaka, Japão) e 10% de DMSO (WakoPure Chemical Industries Co.) em meio TCM-HEPES com SFB. Em seguida, os embriões foram transferidos para solução de vitrificação contendo 20% de etilenoglicol, 20% de DMSO e sacarose. Para então serem imersos em nitrogênio líquido. Como controle, foram selecionados embriões frescos (n=137) avaliados no dia 7 (D7). Desvitrificação de embriões Os blastocistos foram aquecidos pela imersão da tira no meio base (TCM-HEPES + sacarose) a 35°C por 1 minuto. Em seguida foram colocados em meio conforme Morató, et al (2008). Os embriões foram transferidos em tempo fixo para receptoras sincronizadas após o aquecimento. Protocolo de transferência de embrião Somente as receptoras com corpo lúteo (CL) receberam um embrião no dia 17 de protocolo. O diagnóstico precoce de prenhez foi realizado por ultrasonografia transretal (DP 2200 VET, 5 MHz trasndutor linear, Mindray, China) no 35o dia, contando a partir da data da FIV e o diagnóstico confirmatório no 60o dia, junto com a sexagem. Análise estatística Foi realizado o Qui-quadrado e Exato de Fisher com nível de significância de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a vitrificação, a taxa de congelação, a viscosidade e o volume do meio de vitrificação, nos quais os embriões são suspensos, são importantes pontos a serem considerados (YAVIN et al., 2007). As taxas de prenhez em 35 dias para embriões frescos foram 75,0% de blastocisto inicial (Bi), 38,6% de blastocisto (Bl), e 60,9% blastocisto expandido (Bx), sendo Bl significativamente menor. Depois da vitrificação não foi observada diferença em 30,9% de Bi, 42,8% de Bl e 47,6% Bx. Em 60 dias, a taxa de prenhez para embriões frescos foi 37,5% de Bi, 38,6% de Bl e 56,0% Bx, não havendo diferença entre os estágios. Do mesmo modo, após vitrificação, foi observado 30,9% de Bi, 39,6% 222 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Ludymila Furtado CANTANHÊDE1, Lucas Carvalho PEREIRA2, José Carlos FERREIRA-SILVA3, Pábola Santos NASCIMENTO4, Marcelo Tigre MOURA5, Maico Henrique Barbosa do SANTOS6 de Bl e 42,8% de Bx. Scanavez et al (2013) também não observaram efeito do estágio iniciais e mais avançados de blastocistos produzidos in vitro. A taxa de prenhez foi semelhante entre os grupos de embriões Bl e Bx, mas Bi fresco obteve maior taxa de prenhez em D35 e D60. Possivelmente os embriões neste estágio de desenvolvimento apresentam melhor atividade metabólica e proliferação celular, resultando em maiores taxas de prenhez. CONCLUSÃO Foi observada taxas de prenhez satisfatórias de embriões após vitrificação, independentemente da fase de desenvolvimento no estágio de blastocisto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LEIBO, S.P.; MARTINO, A.; KOBAYASHI, S.; et al. Stage dependent sensitivity of oocytes and embryos to low temperatures. Animal Reproduction Science, Amsterdam, v.42, p.43-53, 1996. MORATÓ, R.; IZQUIERDO, D.; PARAMIO, M.T.; et al. Embryo development and structural analysis of in vitro matured bovine oocytes vitrified in flexipet denuding pipettes. Theriogenology, Stoneham, v.70, n.9, p.1536-1543, 2008. SCANAVEZ, A. L.; CAMPOS, C. C.; SANTOS, R. M. Taxa de prenhez e de perda de gestação em receptoras de embriões bovinos produzidos in vitro. Arq Bras Med Vet Zootec, Belo Horizonte, v.65, p.722-728, 2013. VIANA, J.H.M.; SIQUEIRA, L.G.B.; PALHÃO, M.P.; et al. Use of in vitro fertilization technique in the last decade and its effect on Brazilian embryo industry and animal production. Acta Scientiae Veterinariae, Porto Alegre, v. 38 , p.661–674, 2010. YAVIN, S.; ARAV, A. Measurement of essential physical properties of vitrification solutions. Theriogenology, Stoneham, v.67, p.81-89, 2007. ZHAO, X.M.; FU X.W.; HOU Y.P.; et al. Effect of vitrification on mitochondrial distribution and membrane potential in mouse two pronuclear (2-PN) embryos. Molecular Reproduction and Development, New York, v.76, n.11, p.1056-1063, 2009. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 223 Thainá Anunciação Ferreira MATEUS ¹, Fernando da Costa FERNANDES ², João Maurício Ferreira AGUIAR³, Thalles D’avila Pires Dutra DANTAS4, Caio Sérgio SANTOS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 ¹ Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn [email protected] ² Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn fernandofernands@hotmail. com ³ Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn [email protected] 4 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn [email protected] 5 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn [email protected] 6 Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, DCAn [email protected] QUANTIFICAÇÃO DE COLIFORMES TOTAIS E TERMOTOLERANTES EM AMOSTRAS DE LEITE CAPRINO E ÁGUA UTILIZADA NA ORDENHA EM PROPRIEDADES DE ASSENTAMENTOS RURAIS NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/ RN Quantification of total and thermotolerant coliforms in samples from goat milk and from water utilized in the milking process inside properties of Rural Settlements in the City of Mossoró/RN Thainá Anunciação Ferreira MATEUS ¹, Fernando da Costa FERNANDES ², João Maurício Ferreira AGUIAR³, Thalles D’avila Pires Dutra DANTAS4, Caio Sérgio SANTOS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 PA L AV R A S - C H AV E caprinocultura, produção familiar, condições higiênico-sanitárias, qualidade microbiológica. KEYWORDS goat, family production, hygienic-sanitary conditions, microbiologic quality. INTRODUÇÃO No nordeste, a caprinocultura tem bastante destaque. No caso do Rio Grande do Norte, o estado detêm 2.287 mil litros (10,74%) da produção nacional de leite de caprino e 16% da produção do Nordeste (IBGE, 2012). As bactérias indicadoras de contaminação fecal normalmente são os coliformes, os quais têm sido utilizados como parâmetros de avaliação de qualidade microbiológica do leite e da água utilizada na ordenha de cabras de aptidão leiteira. Ao realizar análises microbiológicas no leite obtém-se um reflexo do estado de saúde do rebanho e das circunstâncias sanitárias nas quais a ordenha foi conduzida. Adicionalmente, além da possibilidade de causar enfermidades nos animais produtores, as bactérias contaminantes tendem a comprometer a qualidade química e nutricional do leite pela degradação de seus componentes (carboidratos, proteínas e gorduras) (MENDES et al, 2009). Tendo em vista os dados apresentados acima, é de suma importância o monitoramento microbiológico dos animais e da água das propriedades com produção ativa de leite de caprino. O presente trabalho leva justamente em conta essa importância, com o objetivo de verificar a qualidade microbiológica da água e do leite para prover alternativas de melhorias sanitárias no manejo dos animais. MATERIAIS E MÉTODOS Foram realizadas visitas a 7 produtores de leite caprino em 7 assentamentos na zona rural de Mossoró, Rio Grande do Norte. As amostras de leite, 224 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Thainá Anunciação Ferreira MATEUS ¹, Fernando da Costa FERNANDES ², João Maurício Ferreira AGUIAR³, Thalles D’avila Pires Dutra DANTAS4, Caio Sérgio SANTOS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 provenientes da produção diária total, e água, utilizada na ordenha, foram coletadas “in loco” imediatamente após a ordenha, entre 6h e 7h da manhã, durante os meses de março e junho de 2015, com intervalos de 15 dias. O leite coletado era destinado pelos produtores a uma usina de beneficiamento da região e a água era aquela utilizada no processo de limpeza dos utensílios e higienização dos tetos dos animais durante a ordenha. Ambas foram acondicionadas em frascos estéreis contendo 100 mL das amostras e armazenadas em caixas isotérmicas com gelo reciclável, sendo posteriormente encaminhadas ao Laboratório de Microbiologia Veterinária da UFERSA para processamento. Foi utilizada a técnica do número mais provável (NMP) ou tubos múltiplos (BUZANELLO et al., 2008). Inicialmente foi realizado o teste presuntivo utilizando-se de tubos de Caldo Lauril Sulfato de Sódio (LST) incubados de 35 a 37ºC por 24 a 48 horas. Na primeira etapa, as amostras de leite e água foram processadas assepticamente e foram preparadas três diluições sucessivas (10 mL; 1,0 mL; 0,1 mL) e para cada diluição foram utilizadas três repetições para o leite e cinco repetições para as de água. Os tubos com caldo LST positivos foram semeadas em Caldo Verde Brilhante Bile a 2% (VB) contendo tubos de Durham incubados 35 a 37ºC por 24 a 48 horas, e posteriormente para tubos contendo caldo Escherichia coli (E.C.), para coliformes termotolerantes e deixados em banho-maria de 44,5 a 45ºC durante 24 a 48 horas. RESULTADOS E DISCUSSÃO No presente trabalho foi observado que 85,71% das amostras de água coletadas possuíam coliformes totais e termotolerantes. Todos os valores encontram-se na Tabela 1. As bactérias encontradas variaram de 1,7 x10 a 2,3 x 10³, para os coliformes totais, e 9,5 10 -2,3 x 10³ para os coliformes termotolerantes. Resultados semelhante aos dados de Santos (2014) que realizou um estudo em propriedades com matrizes produtoras de leite de cabra localizadas na zona rural do município de Mossoró, Rio Grande do Norte, onde em noventa por cento de amostras de água obtidas nas propriedades foram detectados coliformes totais e termotolerantes, com amplitude de 1,1 x 10¹ NMP/100mL a 2,3 x 10³ NMP/100mL para os coliformes totais e 1,4 x 10¹ NMP/100mL 1,6x10³NMP/100mL para as bactérias termotolerantes. De acordo com a Normativa nº 62 (DÜRR, 2012), das amostras de leite coletadas, todas apresentaram resultados positivos na determinação para coliformes totais e termotolerantes. Na propriedade B foram verificados valores acima do permitido pela legislação (11 NMP/ mL para coliformes totais e tolerantes). Nas propriedades C, D, e E também foram verificados valores acima do permitido para coliformes termotolerantes (4,6 NMP/mL, 11 NMP/mL e 11 NMP/mL). Araújo (2008) realizou um estudo no Cariri e médio sertão paraibano com amostras de leite in natura nas quais foram encontradas, respectivamente, uma média de 1,9 x 106 NMP/100 mL e 4,4 x 106 NMP/100 mL para coliformes totais. Em contrapartida, os resultados encontrados no atual trabalho foram significativamente menores, o que pode refletir a maior adesão por parte dos caprinocultores às boas práticas de ordenha e manejo animal, fruto de diversos trabalhos de extensão promovidos pelas universidades da região que enfocam essas temáticas. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 225 Thainá Anunciação Ferreira MATEUS ¹, Fernando da Costa FERNANDES ², João Maurício Ferreira AGUIAR³, Thalles D’avila Pires Dutra DANTAS4, Caio Sérgio SANTOS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 CONCLUSÃO De acordo com o presente estudo, tanto a água destinada a ordenha quanto o leite coletado apresentaram-se impróprios segundo as análises microbiológicas realizadas. A caprinocultura leiteira em projetos de assentamentos rurais carece de maior atenção e assessoria técnica, para que assim o produto final seja conduzido ao consumidor com a qualidade devida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, V. J. A. Qualidade do leite de cabra in natura processado em mini-usinas do médio Sertão e Cariri paraibano - Estudo Comparativo. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Universidade Federal de Campina Grande. 2008. 62p. BUZANELLO, E. B.; MARTINHAGO, M. W.; ALMEIDA, M. M. et al. Determinação de Coliformes Totais e Termotolerantes na Água do Lago Municipal de Cascavel, Paraná. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 6, sup. 1, p. 59-60, 2008. DÜRR, J. W. Como produzir leite de qualidade. 4. ed. Brasília: SENAR, 2012. 44p. (Coleção SENAR, ISSN 1676-367x, 113). IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Produção da Pecuária Municipal 2012. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. Disponível em: <http://www. sidra.ibge.gov.br/bda/pecua/ default.asp?t=2&z=t&o=24&u1=1&u3=1& u4=1&u5=1&u6=1&u7 =1&u2=20> Acesso em: 01 Jul de 2015. MENDES, C. G.; SILVA, J. B. A.; ABRANTES, M. R. Caracterização organoléptica, físico-química, e microbiológica do leite de cabra: uma revisão. Acta Veterinaria Brasilica, Mossoró, v.3, n.1, p.5-12, 2009. OLIVEIRA, M.A.; FÁVARO, R. M. D.; OKADA, M. M. et al. Qualidade físico-química e microbiológica do leite de cabra pasteurizado e Ultra Alta Temperatura, comercializado na região de Ribeirão Preto-SP. Rev. Inst. Adolfo Lutz, São Paulo, v.64, n.1, p. 104-109, 2005. SANTOS, C. S. Diagnóstico da produção familiar de leite caprino em Mossoró-RN: aspectos sociais, econômicos, ambientais e higiênico-sanitários. Dissertação (Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade) – Universidade Federal Rural do Semi-Árido. 2014.129p 226 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Thainá Anunciação Ferreira MATEUS ¹, Fernando da Costa FERNANDES ², João Maurício Ferreira AGUIAR³, Thalles D’avila Pires Dutra DANTAS4, Caio Sérgio SANTOS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 Tabela 1: Resultados obtidos baseados na metodologia do nmp – tubos múltiplos. Propriedades Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Água Amostras CTO (NMP/100mL) CTE (NMP/100mL) Leite CTO CTE (NMP/100mL) (NMP/100mL) A 2,3 x 10³ 2,3 x 10 4,3 x 10¹ 4,3 x 10¹ B 3,5 x 10² 3,5 x 10² < 1,1 x 10³ > 1,1 x 10³ C 9,2 x 10² 2,3 x 10³ 2,4 x 10² 4,6 x 10² D 3,5 x 10² 5,4 x 10² 3,6 x 10¹ < 1,1 x 10³ E 3,2 x 10¹ 9,5 x 10¹ 2,9 x 10² > 1,1 x 10³ F 0 0 7,4 2,1 x 10¹ G 1,7 x 10¹ 2,1 x 10² < 3,0 < 3,0 227 Khaled Salim Dantas Aby FARAJ¹, Thamis Thiago RIBEIRO², Caio Sergio SANTOS³, Thalles D’avilla Pires Dutra DANTAS4, Thainá Anunciação Ferreira MATEUS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 CARACTERIZAÇÃO DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NA PREVENÇÃO DE INFECÇÕES UMBILICAIS DE PEQUENOS RUMINANTES EM COMUNIDADES RURAIS EM MOSSORÓ-RN Characterization of medicinal plants in the prevention of umbilical infection of small ruminants in rural community from mossoró-rn ¹ Universidade Federal Rural do Semi-Árido – [email protected] ² Universidade Federal Rural do Semi-Árido – thamisthiago@ bol.com.br ³ Universidade Federal Rural do Semi-Árido – caio.srg@ gmail.com 4 Universidade Federal Rural do Semi-Árido – thalles.adv@ hotmail.com 5 Universidade Federal Rural do Semi-Árido – thaina_95@ live.com 6 Universidade Federal Rural do Semi-Árido – [email protected] Khaled Salim Dantas Aby FARAJ¹, Thamis Thiago RIBEIRO², Caio Sergio SANTOS³, Thalles D’avilla Pires Dutra DANTAS4, Thainá Anunciação Ferreira MATEUS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 PA L AV R A S - C H AV E produção familiar, caprinocultura, ovinocultura, fitoterapia, onfaloflebite. INTRODUÇÃO A diversidade de plantas medicinais conhecida na Caatinga é elevada e sua obtenção na própria comunidade sugere uma forte correlação entre uso e conhecimento tradicional dessas plantas. O resgate de tais informações assume um papel indispensável, impedindo a sua perda com o passar dos anos, além de contribuir para a ciência contemporânea ( LEITÃO et al., 2009). Os empregos de produtos medicinais de origem natural começam a ganhar cada vez mais espaço no tratamento veterinário e vem surgindo como alternativa que se deve principalmente à grande tendência da busca por remédios fitoterápicos, vinculadas a fatores socioeconômicos, pois os custos são menores, de manutenção das tradições culturais e a busca de um medicamento com menor efeito colateral ( SARANDY, 2007). Scardelato et al., (2013) citou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o valor dos trabalhos etnobotânicos, além de estimular as comunidades a identificar suas próprias tradições em relação às terapias, e explorar práticas seguras e eficazes para posterior utilização em cuidados primários de saúde. Uma série de doenças oportunistas pode se desenvolver nas primeiras semanas de vida após o parto em animais. Nas infecções de umbigo, em virtude da maior fragilidade dos recém nascidos em relação aos animais adultos, observa-se expressivo prejuízo econômico relacionado às infecções umbilicais, que resultam na queda do ganho de peso e até mesmo a morte dos animais acometidos (RIET-CORREA, 2007). Desta forma, o presente estudo buscou investigar o conhecimento dos criadores de caprinos e ovinos quanto ao uso e técnicas de utilização de plantas medicinais na “cura” do umbigo de pequenos ruminantes. MATERIAL E MÉTODOS Foram aplicados 100 questionários a criadores de caprinos e ovinos em comunidades rurais. Foram inclusos na pesquisa as pessoas que foram convidadas e aceitaram responder o questionário, com idade igual ou superior a 18 anos 228 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Khaled Salim Dantas Aby FARAJ¹, Thamis Thiago RIBEIRO², Caio Sergio SANTOS³, Thalles D’avilla Pires Dutra DANTAS4, Thainá Anunciação Ferreira MATEUS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 e que estiveram dispostas a participar. O termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) foi submetido no momento do recrutamento do entrevistado e só participavam desta pesquisa mediante a assinatura do termo. Para os entrevistados que não sabiam assinar seu nome ou estavam incapacitados foi destinado um local para a impressão datiloscópica. O questionário continha questões sobre o perfil social dos criadores, sua fonte de renda e grau de escolaridade. A segunda parte do questionário se referia ao perfil de sua criação, o tamanho e o tipo de rebanho. A terceira e última parte abordava o conhecimento do produtor sobre as plantas medicinais, seu uso, técnicas de preparo, tipo de plantas utilizadas, onde obtiveram o conhecimento e a importância da conservação das plantas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a tabulação dos dados foi observado quanto ao perfil dos produtores que a maioria apresenta mais de 40 anos (84%) e desenvolvem apenas a pecuária como fonte de renda (63%). Grande parte não chegou a completar o ensino fundamental (43%) ou é analfabeto (32%). A maioria tem preferência por ovinos (70%) alegando a baixa incidência de fugas; já a criação de pequenos ruminantes (67%) predomina devido ao baixo custo e 49% criam bovinos. Observou-se que poucos produtores conhecem o termo onfalopatia (37%). Os produtores divergiam em relação ao tipo de tratamento feito utilizando fitoterápicos, as enfermidades mais tratadas são: ferimentos (37%), retenção de placenta (21%), miíase (14%), parasitoses (8%), fraturas (6%) e inflamações (5%). Para a prevenção da infecção no umbigo a planta mais utilizada foi a ameixa do mato (15%) seguida do cajueiro (9%), embora outras plantas foram citadas, como aroeira (8%), jurema e jucá (5%). 37% utilizavam as plantas na forma de chá, 25% como infusão e 19% trituravam e utilizavam o pó. Segundo Arnous (2005), chá é a forma mais utilizada na preparação de remédios oriundos de plantas. Ao utilizar a planta, a entrecasca era a parte mais utilizada (48%), seguida da folha (28%), semente (18%), raiz (10%) e caule e folha (6%). Segundo Paes et al. (2006) os taninos presentes na planta têm grande capacidade antimicrobiana, sendo encontrado na entrecasca do 19,83% de teor de taninos condensados (TTC). 91% dos produtores tratam seu próprio animal quando ocorre a descrita doença e apenas 1% utiliza fitoterápicos para o tratamento. 80% obtiveram o conhecimento das plantas medicinais a partir de familiares e 67% acreditam que a eficácia da planta independe de como é processada. CONCLUSÃO Com o que foi exposto, concluímos que a fitoterapia é amplamente utilizada por produtores rurais de caprinos e ovinos do semiárido em diversas situações. O conhecimento destes sobre diferentes tipos de plantas da região é bastante amplo e sua utilização é observada em diversas patologias sendo o uso em ferimentos a principal destas. O uso da entrecasca das plantas e a técnica da decocção (chá) é a mais utilizada. O conhecimento sobre as plantas, indicações e as técnicas utilizadas pelos produtores continua sendo passado para as gerações descendentes. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 229 Khaled Salim Dantas Aby FARAJ¹, Thamis Thiago RIBEIRO², Caio Sergio SANTOS³, Thalles D’avilla Pires Dutra DANTAS4, Thainá Anunciação Ferreira MATEUS5, Francisco Marlon Carneiro FEIJÓ6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNOUS, A.H.; SANTOS, A.S.; BEINNER, R.P.C. Plantas medicinais de uso caseiro – conhecimento popular e interesse por cultivo comunitário. Revista Espaço para a Saúde, Londrina 2005; 6:1-6. LEITÃO, F.; FONSECA-KRUEL, V. S. da; SILVA, I. M.; REINERT, F. Urban ethnobotany in Petrópolis and Nova Friburgo (Rio de Janeiro, Brazil). Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v. 19, n. 1B, p. 333-342, 2009. PAES, J. B.; MARINHO, I. V.; LIMA, R. A.; LIMA, C. R.; AZEVEDO, T. K. B. Viabilidade técnica dos taninos de quatro espécies florestais de ocorrência no semi-árido brasileiro no curtimento de peles. Ciência Florestal, v. 16, n. 4, p. 453-462, 2006. SARANDY, M. M. 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Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v.34, n.2, p.161-168, 2013. 230 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Humberto Fernandes VELOSO NETO1; Maiana Silva CHAVES1; Pábola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Furtado CANTANHÊDE1; José Carlos FERREIRA-SILVA2; Marcelo Tigre MOURA3 HISTOGRAMA DE CINZA DA DEGENERAÇÃO TESTICULAR ISQUÊMICA INDUZIDA EXPERIMENTALMENTE EM CARNEIRO Gray histogram of degeneration testicular ischemic experimentally induced in ram Doutorando, Universidade Federal Rural de Pernambuco, PPGCV. humbertofvn@hotmail. com 2 Mestrando, Universidade Federal Rural de Pernambuco, PPGCV. 3 Pós-doutorado, Universidade Federal Rural de Pernambuco, PPGCV. 1 Humberto Fernandes VELOSO NETO1; Maiana Silva CHAVES1; Pábola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Furtado CANTANHÊDE1; José Carlos FERREIRA-SILVA2; Marcelo Tigre MOURA3 PA L AV R A S - C H AV E Ultrassonografia, isquemia, testículo, ovinos. KEYWORDS ultrasound, ischemia, testicles, ram. INTRODUÇÃO Na andrologia, a ultrassonografia modo-B em tempo real é umas das principais ferramentas para avaliação testicular em ovinos sadios (ANDRADE et al., 2012; JUCÁ et al., 2009). O histograma de escala-cinza (HEC) tem sido utilizado para a avaliação da ecogenicidade e da ecotextura de diversos órgãos de diferentes espécies, (SANTOS FILHO et al., 2009; SANTOS et al., 2009; VESCOVI et al., 2009; GABOR et al., 1998; GIFFIN et al., 2009; BONELLI et al., 2011) para avaliação microestrutural e funcional de orgãos aumentado o conhecimento na dinâmicada histofisiologia (EVANS et al., 1996). Haja vista, a importância da análise da escala de cinza para aumentar a sensibilidades das observações, o escopo deste estudo é acompanhar através de tal ferramenta, a progressão da degeneração isquêmica testicular experimentalmente induzida em carneiros, com intuito de apurar as análises de padrões de ecotextura e ecogenecidade da lesão degenerativa que até então são descritas de uma forma subjetiva. MATERIAL E MÉTODOS Utilizaram-se 6 ovinos machos, sem raça definada, púberes, entre 11 e 18 meses de idade clinicamante sadios. Aferições das medidas testiculares (perímetro escrotal, comprimeto escrotal e largura escrotal) foram verificadas com auxílio de paquímetro e fita métrica para determinação do volume testicular segundo Bayley et al (1998). A indução na falha da irrigação sanguínea testicular, foi realizada burdizzo próprio para pequenos ruminantes. Os animais foram tranquilizados com acepramazina IV (Acepram® a 1%, Univet, São Paulo) e bloqueio local com lidocaína a 2% (Lidovet®, Bravet, São Paulo) subcutânea, na região a ser trabalhada. Avaliação ultrassonográfica com aparelho da marca Mindray®, modelo DP Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 231 Humberto Fernandes VELOSO NETO1; Maiana Silva CHAVES1; Pábola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Furtado CANTANHÊDE1; José Carlos FERREIRA-SILVA2; Marcelo Tigre MOURA3 2200 transdutor linear multifrequencial com frequencia de 10MHz, e ganho total de imagem de 80. Foram feitas imagens em corte longitudinal, com aferição da escala pixel em seis pontos, e quatro pontos em um corte transversal, em cada testículo com área de diâmetro de aproximadamente de 0,5 cm cada ponto. As imagens foram armazenadas em dispositivo de memória removível, para posterior análise computacional quantitativa da ecotextura e ecogenicidade realizada através do histograma de cinza utilizando o software GIMP® 2.8. Avaliações foram relizadas nos dia 0 1, 4, 8, 16, 24, 35 e 50 dias. A análise estatística utilizou teste de normalidade de distribuição dos dados, pelo método Kolmogorov e Smirnov e em seguida análise de variância (ANOVA) com α = 5% e post hoc de Tukey, utilizando o software GraphPad InStat® 5.0. RESULTADOS E DISCUSSÃO A ecogenicidade é a luminosidade média de cada região selecionada da imagem, onde médias baixas significam imagens mais escuras e médias altas significam imagens mais claras, em padrão do histograma de cinza onde varia de 0 (preto absoluto) a 255(branco absoluto) (SANTOS et al., 2009; GIFFIN et al., 2009). Neste trabalho foram padronizados em valores numéricos pixel de ecogenicidade e foi encontrado o valor médio de 105±8,23 para ecogenicidade, com os limites inferior e superior de 91,88 e 116,17 respectivamente, onde tais valores são referentes, aos valores de ecogenicidade média testicular de carneiros púberes com idade variando de 11 a 18 meses, deslanados, sem raça definida. GIFFIN et al (2009) encontraram valores comprendidos entre 100 e 120, não sendo preciso quanto aos valores exatos de média e desvio padrão, encontradas na raça Rideu Arcott, com idade dos carneiros entre 20 -22 semanas. A ecogenicidade média de cada testículo no decorrer do experimento, diminuiu quando comparada ao D0 (padrão de ecogenicidade normal). A diminuição da ecogenicidade do parêquima testicular foi significativa para todos os períodos observados quando comparado ao controle e ao D1. A partir do D4 a redução da ecogenicidade se estabilizou (Tabela 1). A falha na vascularização testicular observada través da ecogenicidade do parêquima, caracterizou uma lesão progressiva entre D1 e D35, obervada pela diminuição progressiva de perimetro e volume escrotal. Entretanto a partir de D4 esta diminuição foi menos acentuada. A hipoecogenicidade evidente no D1 sugere um edema intersticial, decorrente da interrupção da drenagem venosa e da irrigação arterial, (AHMAD et al., 1999), tal isquemia leva a um processo de necrose de coagulação no parênquima, causando atrofia do orgão com degeneração dos túbulos seminíferos (FERREIRA et al. 2000). Em D4 (11,01±1,6), houve aumento significativo da homogeneidade da ecotextura do parênquima em relação a D0. Este achado pode advir do fato que histologicamente, há no processo de isquemia uma necrose dos túbulos seminíferos que progride para uma autólise total melhor notada histologicamente entre o terceiro e quinto dia pós-lesão (EILTS et al., 1989). Durante o processo de substituição do parênquima testicular por tecido fibroso, a ecotextura avaliada mostrou que em relação a D1 houve um aumento estatisticamente significativo da homogeneidade, permanecendo assim até o D35, sendo observada uma alteração da ecotextura com aspecto heterogêneo no D50 (Tabela 1). 232 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Humberto Fernandes VELOSO NETO1; Maiana Silva CHAVES1; Pábola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Furtado CANTANHÊDE1; José Carlos FERREIRA-SILVA2; Marcelo Tigre MOURA3 Logo, os valores de ecotextura obtidos perante uma lesão aguda, não dá respaldo a uma avaliação diagnóstica porque a variação venha ser expressão a partir do D4 sendo necessário correlacionar à alteração nos valores de ecogenicidade, que se apresentará bastante diminuída. Macroscopicamente, a degeneração testicular se caracterizou pela redução do volume testicular e do perímetro escrotal (Figura 2), e que se observa correlação forte positiva, a medida que o volume testicular diminui ocorre redução do perímetro testicular. CONCLUSÃO A determinação dos valores de ecogenicidade e ecotextura em testículos com isquemia induzida, traz respaldos para avaliações do parêquima testicular de uma forma mais precisa dessas lesões testiculares. Pórem é necessário uma associação entre ecogenicidade e ecotextura para um determinação mais objetiva do estado da degeneração. Comitê de ética: Aprovado pelo Comite de ética da Faculdade Pio Décimo no processo 008/12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHMAD, N.; AMAD, H.A.; REHMAN, N.U. et al. An ultrasonographic and histopathological study of the testis and epididymis following experimentally induced unilateral ischemia in male goats and rams. Pakistan Veterinary Journal,v, Faisalabad, 19, p. 204-209, 1999. 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Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença estatisticamente significativa. Valores significativos para p < 0,05. FIGURA 2: Correlação da atrofia do volume testicular com a diminuição do perímetro escrotal em carneiros deslanados SRD submetidos a isquemia. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 235 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE MITOCONDRIAL DE ESPERMATOZOIDES DE CARNEIRO TRATADOS COM MELATONINA ANTES DA CRIOPRESERVAÇÃO1 EVALUATION THE MITOCHONDRIAL ACTIVITY OF RAM SPERMATOZOA TREATED WITH MELATONIN BEFORE CRYOPRESERVATION1 Parte de dissertação do primeiro autor. 2 Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE, *email: wilde@zootecnista. com.br 3 Professora do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 4 Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (FAVET), Universidade Estadual do Ceará 5 Discente do Curso de Medicina Veterinária, Univasf, Petrolina-PE, 6 Bioestatístico Embrapa Semiárido – CPATSA, Petrolina-PE-Brasil. 1 Wildelfrancys Lima de Souza2, Jonathan Maia da Silva Costa4, Elenice Andrade Moraes3, Vitória Gomes Coelho5, Laiane Moreira Vianna Magalhães2; Raimundo Parente Oliveira6 PA L AV R A S - C H AV E antioxidante. espécies reativos ao oxigênio. mitocôndria. KEYWORDS antioxidant. reactive oxygen species.mitochondria. INTRODUÇÃO A baixa taxa de fertilidade de espermatozoides ovinos criopreservados se deve às alterações ultra estruturais, bioquímicas e funcionais ocorridas numa boa parte da população de espermatozoides, que resulta em insuficiente motilidade e perda de viabilidade dos mesmos no aparelho reprodutivo da fêmea (SALAMON e MAXWELL, 2000). As mitocôndrias são estruturas subcelulares dos espermatozoides mais sensíveis à criorepservação (PEÑA et al., 2009). Diante disso, Hrudka (1987) desenvolveu um ensaio citoquímico para demonstração qualitativa e quantitativa da atividade da enzima Citocromo C-Oxidase (CCO), enzima da cadeia respiratória responsável pela produção de energia do espermatozoide, através da 3,3’-diaminobenzidina (DAB). A enzima CCO tem fundamental papel no processo de respiração celular e metabolismo energético das células, além de ser pré-requisito para manutenção das funções osmótica e sintética, motilidade e integridade da estrutura celular. Todavia, os níveis excessivos de espécies reativas ao oxigênio podem afetar adversamente a motilidade espermática via alterações nas funções mitocondriais, e muitos estudos têm mostrado que a melatonina pode proteger espermatozoides contra o estresse oxidativo e melhorar a atividade mitocondrial de espermatozoides (DU 2009; JANG et al. 2010). Deste modo, é de particular interesse o estudo do possível papel da melatonina como agente bioenergético que pode manter e melhorar a função mitocondrial (KORKMAZ et al., 2009). Portanto, objetivou-se avaliar o efeito da adição de melatonina sobre a função mitocondrial de espermatozoides descongelados de carneiro. MATERIAL E MÉTODOS Todos os cuidados com os animais e os procedimentos utilizados para coletar 236 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 o sêmen foram aprovados pelo Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas da Universidade Federal do Vale do São Francisco. O experimento foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Suínos, Espécies Nativas e Silvestre (CPSENS), localizado no Campus de Ciências Agrárias da Univasf, Petrolina, Pernambuco (09°23’55” de latitude S e 40°30´03” de longitude O). Foram utilizados três carneiros, com idade entre 2 a 4 anos. Os animais foram mantidos em baias individuais, com dieta a base de volumoso e concentrado, com fornecimento de água ad libitum. As colheitas foram realizadas duas a três vezes por semana para cada animal com intervalos de 48 horas, totalizando 30 coletas, 10 para cada animal. Foi utilizada nas colheitas vagina artificial para ovinos (Minitub®, Berlim, Alemanha) com água a 50°C acoplada a tubos de centrífuga de 50 ml, utilizando como manequim uma fêmea ovina. Após a coleta o sêmen foi transportado imediatamente para o CPSENS e colocado em banho-maria a 32°C. Cada ejaculado foi avaliado quanto aos parâmetros seminais (volume, aspecto, concentração e a motilidade espermática). Os ejaculados foram distribuídos em cinco tubos de ensaio de 15 ml e diluídos em Tris-gema de ovo, conforme Souza et al., (2015), para concentração final de 200x106 espermatozoides/ml, determinado através da análise no fotômetro SDM6 (Minitub®, Berlim, Alemanha), e mantidos em banho maria a 32°C. O diluidor foi previamente preparado com as quatro concentrações diferentes de melatonina, de acordo com os tratamentos: Controle; 1 mM; 100 μM; 100 nM; 100 pM de melatonina. Após a diluição as amostras nos tubos de ensaio foram colocadas em um becker com água a 32°C e acondicionadas sobre rack em câmara fria a 5°C por duas horas. Após esse período, as amostras de cada tratamento foram envasadas em palhetas de 0,5 ml, lacradas com seladora UltraSeal (Minitub®, Berlim, Alemanha) e acondicionadas sob vapores do nitrogênio liquido a 8 cm da lâmina líquida por 15 minutos. Decorrido este tempo as palhetas foram imersas no nitrogênio líquido e descongeladas a 37°C durante 30 segundos. A avaliação da atividade mitocondrial foi determinada conforme Hrudka (1987), onde 25 μL de cada amostra foram incubadas com 25 μL de DAB (1mg/ mL de PBS), a 37ºC, por uma hora, na ausência de luz. Foram contados 200 espermatozoides por lâmina em microscópio óptico DM 750 (Leica Microsystems, Heerbrugg, Suiça) em aumento de 100x, obedecendo à escala de quatro classes propostas por Hrudka (1987), onde: Classe I: células espermáticas com peça intermediária totalmente corada, alta atividade mitocondrial (DAB I); Classe II: células espermáticas com segmentos corados (ativos) e não-corados (inativos), havendo predominância dos ativos (DAB II); Classe III: células espermáticas com segmentos corados (ativos) e não-corados (inativos), havendo predominância dos inativos (DAB III); Classe IV: células espermáticas com peça intermediária totalmente descorada, sem atividade mitocondrial (DAB IV). As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, utilizando-se o programa SAS 9.2 2002-2008 by SAS Institute Inc. (Cary, NC, USA). RESULTADOS E DISCUSSÃO Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Quanto à atividade mitocondrial (DAB), a suplementação de 100 pM 237 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 de melatonina exerceu um maior efeito protetor sobre o percentual de células classe I (Tabela 1; P<0,05), proporcionando um número elevado de espermatozoides com alta atividade mitocondrial após o descongelamento, quando comparado aos demais níveis de suplementação de melatonina. Pode-se observar um efeito dose-dependente da suplementação de melatonina sobre a alta atividade mitocondrial (DAB I; Tabela 1), isto é, quanto menor o nível de suplementação de melatonina utilizada, maior foi à resistência das mitocôndrias ao dano oxidativo. No entanto, o percentual de células sem atividade mitocondrial (DAB IV) foi in-fluenciado pelos diferentes níveis de suplementação de melatonina apresentando maior porcentagem de células sem atividade mitocondrial quando comparado ao grupo sem suplementação de melatonina (Tabela 1; P<0,05). Da mesma forma, as amostras do grupo sem suplementação foram mais susceptíveis as classes II e III quando comparadas com aos grupos suplementados com melatonina. Demonstrando que o emprego de melatonina influenciou positivamente a atividade mitocondrial dos espermatozoides de carneiros após a criopreservação. Esses resultados sugerem que devido à facilidade da melatonina de alcançar compartimentos intracelulares como a mitocôndria, bem como, apresentar propriedade redutora (JOU et al., 2007), a melatonina pode melhorar e manter a função mitocondrial. Resultados semelhantes foram encontrados por Costa et al. (2015) com sêmen ovino tratados com a associação melatonina+Trolox+ácido ascórbico. Todavia, Perez et al. (2012) avaliando o efeito da adição de glutationa reduzida (GSH) relataram que o GSH confere proteção a atividade mitocondrial de espermatozoides de ovinos. No entanto, Maia et al. (2009) estudando a adição de catalase e Trolox na criopreservação do sêmen ovino, observaram que a atividade mitocondrial após o descongelamento manteve-se equivalente em todos os grupos avaliados. CONCLUSÃO A melatonina mantém a função mitocondrial dos espermatozoides durante o processo de criopreservação, tendo a concentração de 100 pM de melatonina apresentado alta atividade das mitocôndrias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, J. M. S.; SOUZA, W. L.; MORAES, E. A.; GRAHAM, J. K. Antioxidants improve membrane integrity and acrosome and sperm mitochondrial activity in ram sperm after cryopreservation. In: ADSA - ASAS, JOINT ANNUAL MEETING-JAM, 2015, Orlando-FL. J. Anim. Sci. Vol. 93, Suppl. s3/J. Dairy Sci. Vol. 98, Suppl. 2. Orlando-FL, 2015. p. 114-115. DU, LY. 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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 239 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 Tabela 1. Percentuais de atividade mitocondrial (DAB I, II, III, IV) de espermatozoides de carneiros criopreservados após adição de diferentes níveis de suplementação de melatonina (NSM) no sêmen fresco. NSM Controle 1 mM 100 µM 100 nM 100 pM DAB I % 59,60±8,04B 60,66±8,17B 62,50±7,56B 64,46±5,88B 69,28±8,9A DAB II % 22,05±9,17A 21,36±8,16AB 20,83±7,63AB 19,65±6,58AB 16,96±8,84B DAB III % 10,36±9,49A 8,86±8,64AB 8,46±7,69AB 7,78±9,48AB 7,41±8,90AB DAB IV % 9,48±8,67A 7,60±8,84AB 8,20±7,24AB 8,10±7,62AB 6,33±8,21B Médias com letras maiúsculas diferentes sobrescritas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). A,B 240 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE ACROSSOMAL DE ESPERMATOZOIDES DE CARNEIROS TRATADOS COM MELATONINA ANTES DA CRIOPRESERVAÇÃO1 EVALUATION THE INTEGRITY ACROSOMAL OF RAM SPERMATOZOA TREATED WITH MELATONIN BEFORE CRYOPRESERVATION1 Parte de dissertação do primeiro autor. 2 Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE, *email: wilde@zootecnista. com.br 3 Professora do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 4 Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (FAVET), Universidade Estadual do Ceará 5 Discente do Curso de Medicina Veterinária, Univasf, Petrolina-PE, 6 Bioestatístico Embrapa Semiárido – CPATSA, Petrolina-PE-Brasil. 1 Wildelfrancys Lima de Souza2, Jonathan Maia da Silva Costa4, Elenice Andrade Moraes3, Vitória Gomes Coelho5, Laiane Moreira Vianna Magalhães2; Raimundo Parente Oliveira6 PA L AV R A S - C H AV E antioxidante. congelamento. espécies reativas ao oxigênio. ovino. KEYWORDS antioxidant. freezing. reactive oxygen species. sheep. INTRODUÇÃO O acrossoma é um dos principais componentes da célula espermática, pois é o responsável pela fusão do espermatozoide com o oócito (BELFORD, 1983). No entanto, a avaliação da integridade da membrana acrossomal pode ser feita observando suas alterações morfológicas, por microscopia eletrônica ou através de testes funcionais, lançando-se mão do uso de corantes ou de sondas fluorescentes (POPE, ZHANG e DRESSER, 1991). Diante disso, Pope, Zhang e Dresser (1991) desenvolveram um método simples e rápido para a coloração desta organela, comprovando sua eficácia para a avaliação da integridade acrossomal do espermatozoide. As membranas de algumas organelas, assim como as do acrossoma, são especialmente sensíveis aos danos causados pelo resfriamento (WATSON, 1995). Desta maneira, é muito importante avaliar a integridade dessas membranas ao se estudar novas metodologias de congelamento do sêmen (BAILEY, BILODEAU e CORMIER, 2000). Com isso, a suplementação com antioxidantes aumenta a tolerância espermática após descongelamento em diferentes espécies (CÂMARA et al., 2011) e a melatonina tem como função, nos organismos mais primitivos, a proteção contra o estresse oxidativo (TAN et al., 2007). Objetivou-se avaliar efeito da adição de melatonina sobre a integridade acrossomal de espermatozoides descongelados de carneiros. MATERIAL E MÉTODOS Todos os cuidados com os animais e os procedimentos utilizados para coletar o sêmen foram aprovados pelo Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas da Universidade Federal do Vale do São Francisco. O experimento foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Suínos, Espécies Nativas Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 241 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 e Silvestre (CPSENS), localizado no Campus de Ciências Agrárias da Univasf, Petrolina, Pernambuco (09°23’55” de latitude S e 40°30´03” de longitude O). Foram utilizados três carneiros, com idade entre 2 a 4 anos. Os animais foram mantidos em baias individuais, com dieta a base de volumoso e concentrado, com fornecimento de água ad libitum. As colheitas foram realizadas duas vezes por semana para cada animal com intervalos de 48 horas. Foi utilizado nas colheitas vagina artificial para ovinos (Minitub®, Berlim, Alemanha) com água a 50°C acoplada a tubos de centrífuga de 50 ml, utilizando como manequim uma fêmea ovina. Após a coleta, o sêmen foi transportado imediatamente para o CPSENS e colocado em banho-maria a 32°C. Cada ejaculado foi avaliado quanto aos parâmetros seminais: (volume, aspecto, concentração e a motilidade espermática). Os ejaculados foram distribuídos em cinco tubos de ensaio de 15 ml e diluídos em Tris-gema de ovo, conforme Souza et al., (2015), para concentração final de 200x106 espermatozoides/ml, determinado através da análise no fotômetro SDM6 (Minitub®, Berlim, Alemanha) e mantidos em banho maria a 32°C. O diluidor foi previamente preparado com as quatro concentrações diferentes de melatonina, de acordo com os tratamentos: Controle; 1 mM; 100 μM; 100 nM; 100 pM de melatonina. Após a diluição, as amostras nos tubos de ensaio foram colocadas em becker com água a 32°C e acondicionadas sobre rack em câmara fria a 5°C por duas horas. Após esse período, as amostras de cada tratamento foram envasadas em palhetas de 0,5 ml e lacradas com seladora UltraSeal (Minitub®, Berlim, Alemanha) e acondicionadas sob vapores do nitrogênio liquido, por 15 minutos, a 8 cm da lâmina líquida. Decorrido este tempo, as palhetas foram imersas no nitrogênio líquido e descongeladas a 37°C durante 30 segundos. O corante simples de Pope (POPE; ZHANG; DRESSER, 1991) foi utilizado para verificar a integridade do acrossoma. Onde, alíquotas de 10 μl de cada amostra foram diluídas com 90 μl de solução diidrato citrato de sódio a 2,9% em microtubo tipo eppendorf de 1,5 ml. Em seguida foi adicionado ao tubo 10 μl de corante simples de Pope, homogeneizado, e incubado a temperatura ambiente por 70 segundos. Após incubação, 10 μl de cada amostra foi colocado em lâmina e feito esfregaço. As laminas com os esfregaços foram cobertas com lamínula, sob imersão em óleo. Foram contados 200 espermatozoides por lâmina em microscópio óptico DM 750 (Leica Microsystems, Heerbrugg, Suiça) em aumento de 100x. Estes foram classificados em: a) acrossoma íntegro (AI): região acrossomal de coloração lilás, levemente mais escura na região pós-acrossomal; b) acrossoma não íntegro (AA): região acrossomal de coloração rosa, levemente mais clara na região pós-acrossomal. As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade utilizando-se o programa SAS 9.2 2002-2008 by SAS Institute Inc. (Cary, NC, USA). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na avaliação da integridade acrossomal, o emprego da suplementação de 100 pM de melatonina proporcionou o maior percentual de acrossoma íntegro em relação aos demais níveis de suplementação após a criopreservação do sêmen de carneiro (Tabela 1; P<0,05). 242 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 Estes resultados comprovam nossa hipótese de que a suplementação com melatonina ao meio diluidor aumentaria a eficiência na conservação da integridade estrutural da membrana acrossomal. Demonstrando a eficácia da melatonina como antioxidante devido sua capacidade quelante das espécies reativas de oxigênio (ERO; REITER et al., 2007) relacionadas aos danos causados no processo de criopreservação a membrana acrossomal. Nossos resultados corroboram com os de Costa et al. (2015) que estudaram a associação de Trolox C, melatonina e ácido ascórbico ao diluente de sêmen de ovinos e relataram maior proteção contra os danos no acrossoma durante o processo de criopreservação comparado ao controle. No entanto, Peixoto et al. (2008) observaram que a adição de antioxidantes (ácido ascórbico e Trolox C) no sêmen ovino não preservou a integridade da membrana acrossomal após a criopreservação. CONCLUSÃO A suplementação de 100 pM de melatonina promoveu nos espermatozoides de carneiro maior proteção contra os danos no acrossoma durante o processo de criopreservação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAILEY, J.L.; BILODEAU, J.F.; CORMIER, N. Semen Cryopreservation in Domestic Animals: A Damaging and Capacitating Phenomenon. Journal of Andrology, v.21, p.1-7, 2000. BELFORD, J. M. Significance of the need for sperm capacitation before fertilization in eutherian animals. Biology of Reproduction, v. 28, p. 108-120, 1983. CÂMARA, D.R.; SILVA, S.V.; ALMEIDA, F.C.; NUNES, J.F.; GUERRA, M.M.Effects of antioxidants and duration of pre-freezing equilibration on frozen-thawed ram semen. Theriogenology, 76, p. 342–350, 2011. COSTA, J.M. S.; SOUZA, W. L.; MORAES, E. A.; GRAHAM, J. K. Antioxidants improve membrane integrity and acrosome and sperm mitochondrial activity in ram sperm after cryopreservation. In: ADSA - ASAS, JOINT ANNUAL MEETING-JAM, 2015, Orlando-FL. J. Anim. Sci. Vol. 93, Suppl. s3/J. Dairy Sci. Vol. 98, Suppl. 2. Orlando-FL, 2015. p. 114-115. PEIXOTO, A. L. V. A.; MONTEIRO JR, P. L. J.; CAMARA, D. R.; VALENCA, M. M.; SILVA, K. M. G.; GUERRA, M. M. P. Efeito do tempo de incubação pós-descongelação sobre a viabilidade de espermatozóides ovinos criopreservados com tris-gema suplementado com vitamina c e trolox. Ciência Veterinária nos Trópicos, v. 11, p. 16-24, 2008. POPE, C. E.; ZHANG, Y. Z.; DRESSER, B. L. A simple staining method for evaluating acrosomal status of cat spermatozoa. Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v. 22, n. 1, p. 87-95, 1991. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 243 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 REITER, R. J., TAN, D. X., TERRON, M. P.Melatonin and its metabolites: new findings regarding their production and their radical scavenging actions. Acta Biochim Pol, 54(1), 1-9, 2007. SAS System for Windows (Statistical Analysis System), versão 9.2. Cary, USA: SAS Institute Inc; 2002-2008. SOUZA, W. L.; LIMA, D. I. B.; MORAES, E. A.; COSTA, J. M. S.; TORRES, L. R. C.; COELHO, V. G.; MAGALHAES, L. M. V. Adição de diferentes concentrações de crioprotetores e gema de ovo sobre a motilidade espermática progressiva de ovinos após a criopreservação. In: XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia-ZOOTEC, 2015, Fortaleza-CE. Anais do XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia. 2015. v. 25. TAN, D.-X.; MANCHESTER, L. C.; TERRON, M. P.; FLORES, L. J.; REITER, R. J. One molecule, many derivatives: a never-ending interaction of melatonin with reactive oxygen and nitrogen species? Journal of Pineal Research, v. 42, n. 1, p. 28-42, 2007. WATSON, P.F. Recent developments and concepts in the cryopreservation of spermatozoa and the assessment of their post-thawing function. Reprodution, Fertilility and Development, v. 7, p. 871-891, 1995. Tabela 1. Percentuais de integridade da membrana acrossomal (iAC) de espermatozoides de carneiros criopreservados após adição de diferentes níveis de suplementação de melatonina (NSM) no sêmen fresco. NSM Controle 1 mM 100 µM 100 nM 100 pM iAC % 90,21B 90,56B 90,41B 94,43B 96,51A Médias com letras maiúsculas diferentes sobrescritas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). A,B 244 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Maiana Silva CHAVES 1, Fernando TENÓRIO FILHO1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Pábola Santos NASCIMENTO1 , Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2 EFEITO MACHO E DURAÇÃO DA ESTAÇÃO DE MONTA EM OVELHAS PLURÍPARAS CÍCLICAS DA RAÇA MORADA NOVA Male effect and duration of the breeding season in cycling pluriparous sheep of Morada Nova breed Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Faculdade Dr. Francisco Maeda, DMV. [email protected] 1 Maiana Silva CHAVES 1, Fernando TENÓRIO FILHO1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Pábola Santos NASCIMENTO1 , Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2 PA L AV R A S - C H AV E bioestimulação, prenhez, prolificidade KEYWORDS biostimulation, pregnancy, prolificacy INTRODUÇÃO O ovinocultura no estado de Pernambuco vem utilizando biotécnicas reprodutiva que aceleram tanto o melhoramento genético quanto aumentam o desempenho reprodutivo dos rebanhos (MAZZONI GONZALEZ e OLIVEIRA, 1991). Como uma alternativa de manejo reprodutivo simples e de baixo custo, o efeito macho apresenta eficiência na indução e sincronização do estro similar a métodos farmacológicos. Essa bioestimulação quando associada à duração da estação de monta está relacionada a incremento no desempenho reprodutivo de fêmeas pluríparas cíclicas (CALDAS et al., 2015). Diante desse contexto, objetivou-se avaliar a influência do efeito macho associado à duração da estação de monta sobre a indução e a sincronização do estro, prenhez e prolificidade de ovelhas pluríparas cíclicas Morada Nova criadas nas Regiões do Semiárido e da Zona da Mata do Estado de Pernambuco. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no município de Sertânia-PE, Sertão, latitude 08°04’25’’ S, longitude 37°15’52’’ O, altitude de 558 m, temperatura média anual de 22,8 °C, pluviosidade média anual de 566 mm3, durante os meses de julho e setembro, e no município de Escada-PE, região da Zona da Mata Sul, latitude 08°21’33’’ S, longitude 35°13’25’’ O, altitude de 109 m, temperatura média anual de 24,4 °C e pluviosidade média anual de 1763 mm3, nos meses de setembro a novembro. A alimentação consistiu de vegetação nativa, pastagens cultivadas e suplementação com forragem no período da tarde. O sal mineral e a água foram oferecidos ad libitum. Todos os animais foram vermifugados de forma sistemática e vacinados contra raiva e clostridioses. As fêmeas, com idade 36 a 48 meses (n = 180), após o desmame das suas Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 245 Maiana Silva CHAVES 1, Fernando TENÓRIO FILHO1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Pábola Santos NASCIMENTO1 , Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2 respectivas crias, foram pré-selecionadas de acordo com a ciclicidade, mínimo de dois ciclos estrais consecutivos, e submetidas a nenhum tipo de contato de machos por 60 dias. Posteriormente, as fêmeas que apresentaram o escore entre 3 e 4 (CALDAS et al., 2015) foram selecionadas, identificadas e de forma aleatória e equitativa foram distribuídas nas estações de monta com duração de 25 dias, 35 dias ou 45 dias. Os reprodutores da raça Morada Nova (n = 6) foram pré-selecionados de acordo com o histórico de fertilidade e após seleção, com base na avaliação da capacidade reprodutiva através de exame andrológico sugerido pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (2013), forma introduzidos no rebanho de ovelhas. Para identificação e quantificação do estro durante a estação, os mesmos foram untados na região do esterno com cores diferentes a cada dez dias da estação de monta. O estro foi considerado como sincronizado quando ocorreu até o quinto dia da referida estação e o diagnóstico de gestação foi efetuado através da ultrassonografia no 60º dia após a última cobertura observada. A estatística foi feita através de análises de variânica, teste t-Student para dados contínuos e qui-quadrado para dados binomiais. Os dados foram analisados através do SAS, na versão 8 e o nível de significância foi de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO A porcentagem de estros induzidos foi igual entre as regiões e entre as durações da estação de monta (P>0,05), sendo os mesmo distribuídos nos primeiros 40 dias da estação (P<0,05) e com maior incidência de apenas um estro por fêmea. A sincronização do estro ocorreu em mais de 60% (Tabela1). Esses dados corroboram Gelez e Fabre-Nyz (2004) os quais afirmam que a experiência sexual das fêmeas pluríparas contribui para a alta proceptividade a corte do macho aumentando a intensidade do estro e acelerando seu aparecimento numa estação de monta. Para que o efeito macho tenha uma influência positiva sobre a taxa de prenhez, é necessário que a fêmea tenha um pico de LH seguido por um corpo lúteo funcional. Estes aspectos fisiológicos foram observados nas fêmeas desse trabalho e em maior frequência no primeiro estro (Tabela 1). Estudos reiteram que o primeiro estro decorrente do efeito macho ser anovulatório ou, se ocorrer ovulação, o corpo lúteo formado regride rapidamente (CHEMINEAU et al., 2006). A prevalência de partos simples na região Semiárida e na Zona da Mata foi maior em relação aos duplos (P<0,05). Uma vez que a distribuição pluviométrica relaciona-se com a nutrição e esta, com a qualidade dos oócitos e com a taxa de ovulação (VALASI et al., 2012) era previsto uma maior quantidade de cabritos nascidos por fêmeas na Zona da Mata, no entanto, a prolificidade encontrada não diferiu entre as regiões (Tabela1). CONCLUSÃO A estação de monta de 35 dias associada ao efeito macho é eficiente para induzir e sincronizar o estro de fêmeas pluríparas cíclicas da raça Morada Nova, 246 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Maiana Silva CHAVES 1, Fernando TENÓRIO FILHO1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Pábola Santos NASCIMENTO1 , Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2 sem comprometer a prenhez e a prolificidade. Comite de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo nº 08/12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALDAS, E. L.C; FERREIRA-SILVA, J. C; FREITAS NETO, L.M. et al. Male effect associated with suckling interruption on the reproductive performance of Santa Inês ewes. Boletim de Indústria Animal, Nova Odessa, v. 72, n.2, p.117123, 2015. CHEMINEAU, P.; PELLICER-RUBIO, M.T.; LASSOUED, N. et al. Male-induced short oestrous and ovarian cycles and sheep and goats: a working hypothesis. 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Tabela 1- Desempenho reprodutivo de ovelhas pluríparas da raça Morada Nova submetidas ao efeito macho em regiões do Semiárido e Zona da Monta no Estado de Pernambuco. Semiárido Estros (%) Prenhez (%) Prolificidade ( ) Zona da Mata EM25 EM35 EM 45 EM25 EM35 EM45 90a (27/30) 92a (23/27) 1,30a 93a (28/30) 86a (24/28) 1,29a 93a 28/30 93a (26/28) 1,35a 97a (29/30) 93a (27/29) 1,41a 100a (30/30) 90a (27/30) 1,41a 93a (28/30) 93a (26/28) 1,42a Letras diferentes na mesma linha representam diferença significante (P<0,05). EM25: estação de monta de 25 dias; EM35: estação de monta de 35 dias; EM45: estação de monta com 45 dias. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 247 Huber RIZZO1; Tatiane Rodrigues DA SILVA2, Taile Katiele Souza DE JESUS1, Felipe Apolônio MARINHO2, Mario Augusto Reyes ALEMÁN3, Vanessa CASTRO4 OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Leptospira spp. EM CAPRINOS DO ESTADO DE SERGIPE, BRASIL Occurrence of anti-Leptospira spp antibodies in goats of state of Sergipe, Brazil Universidade Federal Rural de Pernambuco. DMV. hubervet@ gmail.com, tailekatiele14@ yahoo.com.br 2 Faculdade de Medicina Veterinária Pio Décimo de Aracaju, PIO X. tatianerodrigues.vet@ gmail.com, felipemarinhovet@ hotmail.com 3 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, VCM. [email protected] 4 Insitituto Biológico de São Paulo, Centro de P&D de Sanidade Animal. castro@biologico. sp.gov.br 1 Huber RIZZO1; Tatiane Rodrigues DA SILVA2, Taile Katiele Souza DE JESUS1, Felipe Apolônio MARINHO2, Mario Augusto Reyes ALEMÁN3, Vanessa CASTRO4 PA L AV R A S - C H AV E caprinocultura, icterohaemorrhagiae, leptospirose, soroaglutinação microscópica, sorovar KEYWORDS goats, icterohaemorrhagiae, leptospirosis, microscopic agglutination test, serovar INTRODUÇÃO A infecção de caprinos por leptospiras pode manifestar-se nas formas aguda, crônica ou inaparente, sendo essa última a mais frequente e muito importante do ponto de vista epidemiológico, uma vez que a introdução de animais com esse tipo de infecção pode garantir a persistência do agente no rebanho. Estudos de ocorrência nacional, nos estados de Rio Grande do Norte (ARAÚJO NETO et al., 2010), Paraíba (HIGINO et al., 2012), Minas Gerais (DOS SANTOS et al., 2012), Rio de Janeiro (LILENBAUM et al., 2007; LILENBAUM et al., 2008), Espirito Santo (CORTIZO et al., 2015) e Santa Catarina (TOPAZIO et al., 2015), Rio Grande do Sul (SCHIMIDT, AROSI e DOS SANTOS, 2002), demonstram que a ocorrência de caprinos com anticorpos anti-Leptospira varia de 3,6% a 35,5%. Os principais sorovares identificados foram o Autumnalis, Australis, Hardjo, Shermani, Wolffi, Pyrogenes, Castellonis e Patoc (HIGINO e AZEVEDO, 2014). Taxas maiores (30% e 71,6%) foram observado em soros caprinos, suspeitos de leptospiroses, encaminhados ao Laboratório de Leptospirose da Escola de Medicina Veterinária da UFBA (VIEGAS, VIEGAS e CALDAS, 1980; CALDAS et al., 1996). Objetiva-se o estudo da ocorrência de leptospiras em caprinos criados no Estado de Sergipe. MATERIAL E MÉTODOS Foram coletas 675 amostras de sangue de caprinos de 41 propriedades localizadas no Estado de Sergipe entre os anos de 2013 e 2014, sendo selecionados de sete a 20 animais por rebanho aleatoriamente. As propriedades localizavam-se em 15 municípios Sergipanos pertencentes as três mesorregiões do Estado que são: Leste, Agreste e Sertão com 178, 233 e 264 amostras coletadas respectivamente. 248 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Huber RIZZO1; Tatiane Rodrigues DA SILVA2, Taile Katiele Souza DE JESUS1, Felipe Apolônio MARINHO2, Mario Augusto Reyes ALEMÁN3, Vanessa CASTRO4 Os soros foram obtidos por centrifugação a 1.600 g por 10 minutos no Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário Dr. Vicente Borelli da Faculdade Pio Décimo, Aracaju-SE, acondicionados em tubos tipo eppendorf e congelados a -20ºC até a análise. A pesquisa de anticorpos anti-leptospiras foi executada no Laboratório de Doenças Bacterianas da Reprodução do Instituto Biológico de São Paulo pela reação de soroaglutinação microscópica utilizando coleção constituída por 26 estirpes de leptospiras dos sorovares: australis, autumnalis, bataviae, bratislava, butembo, canicola, castellonis, copenhageni, cynopteri, grippotyphosa, hardjo, hebdomadis, icterohaemorrhagiae, javanica, panama, pomona, pyrogenes, sentot, shermani, tarassovi, whitcombi e wolffi. As leptospiras foram cultivadas no meio de EMJH modificado (FAINE, 1982; ALVES et al., 1996) A pesquisa foi desenvolvida na Faculdade de Medicina Veterinária Pio Décimo de Aracaju e no Instituto Biológico de São Paulo e aprovada pela Comissão de Bioética da Faculdade Pio Décimo, protocolo Nº 06/2014. RESULTADOS E DISCUSSÃO A ocorrência de caprinos sororeagentes a leptospiras nos 41 rebanhos Sergipanos foi de 29% (196/675) com 90,2% (37/41) de focos. Índices de ocorrência maiores foram observados somente em estudos realizados no município de Uberlândia (DOS SANTOS et al., 2012) e no Estado de Santa Catarina (TOPAZIO et al., 2015) e Bahia (VIEGAS, VIEGAS e CALDAS, 1980; CALDAS et al., 1996). O alto índice de focos, assemelha-se a estudos realizados em rebanhos Cariocas e Catarinenses com 100% e 90% de focos respectivamente (LILENBAUM et al., 2007; TOPAZIO et al., 2015). Na Paraíba obteve-se 43% de focos (HIGINO et al., 2012). Em ovinos criados em Sergipe, também foi observado alto índice de animais sororeativos e focos (37,6% e 98,3%) demonstrando sua grande disseminação dos rebanhos de pequenos ruminantes do Estado (RIZZO et al., 2013) Em relação as três regiões a ocorrência de animais positivos e de focos nas propriedades foram respectivamente de 28,9% (53/178) e 100% (10/10) na Leste, 26,6% (62/233) e 81,3% (13/16) no Agreste e 39,9% (79/264) e 93,3% (14/15) no Sertão, não sendo observado diferença entre a ocorrência nas regiões, mesmo a Leste apresentando índices pluviométricos e de umidade maior que as outras, fator esse que propicia a persistência do agente no meio (HIGINO E AZEVEDO, 2014) Dentre os positivos 9,3% eram machos e 90,3% fêmeas, onde analisando a ocorrência dentro de cada sexo foi obtido 16,5% (18/109) dentre os machos e 31,2% (177/567) dentre as fêmeas. Foram registradas 244 reações de soroaglutinização com oito sorovares distintos. A ocorrência dos sorovares observados em ordem decrescente foram de 74,2% icterohaemorrhagiae (n=181), 9,4% bratislava (n=23), 5,3% pomona (n=13), 4,1% pyrogenes (n=10), 2% australis, assim como wolffi (n=5), 1,6% canicola (n=4) e 1,2% hardjo (n=3). Das pesquisas nacionais em caprinos, o sorovar icterohaemorrhagiae foi um dos mais presentes na Bahia e na Paraíba em soros de animais suspeitos de leptospirose (VIEGAS, VIEGAS e CALDAS, 1980; LANGONI et al., 2002). Foi isolado no Bra¬sil tendo como principal hospedeiro de manutenção, os roedores Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 249 Huber RIZZO1; Tatiane Rodrigues DA SILVA2, Taile Katiele Souza DE JESUS1, Felipe Apolônio MARINHO2, Mario Augusto Reyes ALEMÁN3, Vanessa CASTRO4 sinantrópicos, sendo eles a provável fonte de infecção nos re¬banhos acometidos (CORREIA et al., 2004). Os títulos obtidos variaram de 100 a 1.600, e o mais frequente foi o valor de 100 em 148 (60,7%) animais. Em seguida foram observados os valores 200, 400, 800 e 1600 registrados, respectivamente em 67 (27,5%), 21 (8,6%), 6 (2,5%) e 2 (0,8%) caprinos. As baixas titulações, que podem indicar uma infecção crônica, justificam-se uma vez que os animais do estudo se apresentavam aparentemente saudáveis. Os títulos elevados associam-se a uma infecção recente e/ou ativa (FAINE, 1982). CONCLUSÃO Os rebanhos Sergipanos apresentaram alto índice de focos de animais sororeagentes a leptospiras, sendo esses indivíduos portadores cônicos, responsáveis pela manutenção da infecção nos rebanhos assim como a presença de roedores sinantrópicos, principal portador do sorovar icterohaemorrhagiae o mais ocorrente no estudo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, C.J.; VASCONCELOS, S.A.; CAMARGO, C.R.A. et al. Influência de fatores ambientais sobre a proporção de caprinos soro-reatores para a leptospirose em cinco centros de criação do Estado da Paraíba, Brasil. 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Ocorrência de caprinos sororeagentes a leptospiras pelo teste soroaglutinação microscópica em relação ao município e mesorregião do estado de Sergipe, Brasil. Município Aracaju Estância Itaporanga d’ajuda Nossa Senhora do Socorro Salgado São Cristóvão Neópolis Total Região Leste Itabaiana Lagarto Macambira Poço Verde Total Região Agreste Canindé de São Francisco Nossa Senhora da Glória Pedra Mole Pinhão Total Região Sertão Total Focos/Propriedades 3/3 (100%) 1/1 (100%) 1/1 (100%) 1/1 (100%) 2/2 (100%) 1/1 (100%) 1/1 (100%) 9/9 (100%) 1/1 (100%) 1/1 (100%) 2/3 (66,7%) 9/11 (81,1%) 14/17 (82,3%) 6/6 (100%) 5/6 (83,3%) 1/1 (100%) 2/2 (100%) 14/15 (93,3%) 37/41 (90,2%) Sororeativos/Total 11/52 (21,5%) 11/20 (55%) 4/20 (20%) 8/18 (44,4%) 9/28 (32,1%) 9/20 (45%) 1/20 (5%) 53/178 (29,8%) 12/20 (60%) 7/20 (35%) 6/42 (14,3%) 37/151 (24,5%) 62/233 (26,6%) 46/120 (38,3%) 21/92 (22,8%) 1/13 (7,7%) 11/39 (28,2%) 79/264 (29,9%) 194/675 (29%) Tabela 2 .Distribuição das 244 reações de soroaglutinização em soro de caprinos, criados no Estado de Sergipe, sororeagente a leptospiras pelo teste soroaglutinação microscópica. Sorovar Australis Brastislava Canicola Icterihaemorrhagiae Pomona Pyrogenes Serjoe Hardjo Serjoe Wojffi Total 252 100 2 (0,8%) 15 (6,1%) 4 (1,6%) 116 (47,5%) 4 (1,6%) 3 (1,2%) 2 (0,8%) 2 (0,8%) 148 (60,7%) 200 2 (0,8%) 6 (2,5%) 50 (20,5%) 4 (1,6%) 3 (1,2%) 1 (0,4%) 1 (0,4%) 67 (27,4%) Titulação 400 1 (0,4%) 2 (0,8%) 14 (5,7%) 2 (0,8%) 2 (0,8%) 21 (8,6%) 800 1 (0,4%) 2 (0,8%) 2 (0,8%) 1 (0,4%) 6 (2,5%) 1600 1 (0,4%) 1 (0,4%) 2 (0,8%) Total 5 (2,1%) 23 (9,4%) 4 (1,6%) 181 (74,2%) 13 (5,3%) 10 (4,1%) 3 (1,2%) 5 (2,1%) 244 (100%) Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 EFEITO MACHO: ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL E EFICIENTE PARA INDUZIR E SINCRONIZAR O ESTRO DE OVELHAS SANTA INÊS Male effect: alternative sustainable and efficient to induce and synchronize estrous in Santa Inês ewes Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. carlos. [email protected] 2 Faculdade Dr. Francisco Maeda, DMV, [email protected] 1 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 PA L AV R A S - C H AV E bioestimulação, prenhez, prolificidade KEYWORDS bioestimulation, pregnancy, prolificacy INTRODUÇÃO O efeito macho é definido como um estímulo social (RAMÍREZ e QUINTERO, 2001) capaz de estimular o retorno da ciclicidade de fêmeas em anestro pós-parto ou estacional. O efeito macho é uma biotécnica de fácil implantação, de baixo custo e de eficiência comprovada em ovinos (CALDAS et al., 2015). Além disso é um método que atende as novas exigências do mercado consumidor (MARTIN e KADOKAWA, 2006) por dispensar o uso de substancias hormonais sem comprometer o bem estar animal. Devido à necessidade de separar o reprodutor do rebanho das ovelhas a uma distância mínima de 1000 m (PEARCE e OLDHAM, 1988), esse método torna-se impraticável de ser adotado em pequenas propriedades. Diante do exposto, objetivou-se avaliar a possibilidade de reduzir a distância de separação macho/fêmea sem comprometer a eficiência do efeito macho em induzir o retorno da ciclicidade de ovelhas no anestro pós-parto e sincronizar o estro sem interferir na prenhez e na prolificidade. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram conduzidos no Município de Escada, Região da Zona da Mata do Estado de Pernambuco. Fêmeas, com idade de 2 a 4 anos e que haviam parido entre 15 e 30 dias, foram selecionadas conforme o escore de condição corporal, bem como por ultrassonografia do trato reprodutivo para avaliação da condição de aciclia. Posteriormente, foram afastadas dos reprodutores por 30 dias para evitar o contato físico, visual, olfativo e auditivo nos dois primeiros tratamentos experimentais (T1 e T2), respectivamente, por 1000 m e 300 m e no terceiro (T3) foram afastadas dos reprodutores por 3 m, evitando-se apenas o contato físico. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 253 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 Os reprodutores da raça Santa Inês (n = 3) foram selecionados de acordo com o histórico de fertilidade e através de exame andrológico, conforme sugerido pelo CBRA (2013). O estro foi observado duas vezes ao dia (6:00 e 16:00 horas) durante a estação de monta de 45 dias, sendo considerado como estro sincronizado, aquele que ocorreu até o quinto dia da referida estação. O diagnóstico de gestação foi efetuado por ultrassonografia no 35o e 60o dia da cobertura. A análise estatística foi realizada através do teste de qui-quadrado, considerando-se como significativo valores < 0,05. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Figura 1 estão contidos os dados relativos à dispersão de estros que ocorreu até o 33o dia da estação de monta com 45 dias de duração. Ainda é possível visualizar que a sincronização dos estros, nos primeiros cinco dias da estação de monta, somente ocorreu em aproximadamente 26% no T1, 20% no T2 e de 23% no T3, não havendo diferença (P > 0,05) entre os tratamentos. Na Tabela 1 constam os dados relativos à prenhez no primeiro e segundo serviços, prenhez total, bem como aqueles concernentes a prolificidade não sendo registrada diferença (P > 0,05) entre os tratamentos. Diante dos dados obtidos é possível sugerir uma redução da estação de monta para 35 dias. Essa redução diminuiria os custos de produção, especialmente com mão de obra especializada, assim como concentraria os partos em épocas favoráveis, uniformizaria os lotes e planejaria a produção de acordo com as exigências de mercado, conforme descrito por Fonseca et al. (2007). Apesar de não existir dados disponíveis sobre índices reprodutivos de ovelhas da Raça Santa Inês para a região da Zona da Mata do estado de Pernambuco, os resultados aqui obtidos de prenhez total e prolificidade encontram-se em conformidade com o que é recomendado pela EMBRAPA (1989) para a Região do Semiárido nordestino. A prenhez no primeiro serviço foi maior do que a do segundo, independente do tratamento experimental, achado que desmistifica a observação que o primeiro estro decorrente do efeito macho pode ser anovulatório ou, se ocorrer ovulação, o corpo lúteo formado é débil, regride rapidamente e determina o aparecimento de estros decorrentes de ciclo curto (CHEMINEAU et al., 2006). CONCLUSÃO Os resultados permitem concluir que evitando apenas o contato físico é possível utilizar o efeito macho com ovelhas acíclicas durante o pós-parto sem comprometer a prenhez e a prolificidade, além de permitir a sugestão de reduzir essa estação para 35 dias. Comitê de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo nº 08/12. 254 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS CALDAS, E.L.C; FREITAS NETO, L.M.; ALMEIDA-IRMAO, J.M.; SILVA, J.C.F.; SILVA, P.G.C.; VELOSO NETO, H.; NEVES, J.P.; MOURA, M.T.; LIMA, P.F.; OLIVEIRA, M.A.L. The influence of separation distance during the preconditioning period of the male effect approach on reproductive performance in sheep. Veterinary Science Development, (Artigo Impresso) 2015. CBRA - COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL. Manual para exame e avaliação de sêmen animal. 3. ed. Belo Horizonte. 2013, 50p. CHEMINEAU, P.; PELLICER-RUBIO, M.T.; LASSOUED, N.; KHALDI, G. E MONNIAUX, D. Male-induced short oestrous and ovarian cycles and sheep and goats: a working hypothesis. Reproduction Nutrition Development, v.46, p.417-429, 2006. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Recomendações tecnológicas para a produção de caprinos e ovinos no Estado do Ceará. Sobral, CE: EMBRAPA-CNPC, 1989, 58p. FONSECA, J.F.; SOUZA, J.M.G.; BRUSCHI, J.H. Sincronização de estro e superovulação em ovinos e caprinos. Embrapa Caprinos e Ovinos-Nota técnica, 2007. MARTIN, G.B.; KADOKAWA, H. “Clean, Green and Ethical” Animal Production. Case Study: Reproductive Efficiency in Small Ruminants. Journal of Reproduction and Development, v.52, n.1, 2006. PEARCE,D.T.; OLDHAM, C.M. Importance of non-olfatory ram stimuli in mediating ram-induced ovulation in the ewe. 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Tratamento T1 T2 T3 Primeiro n/n (%) 18/27 (66,6)a 19/26 (73,0)a 18/27 (66,6)a Prenhez por Serviço Segundo Total n/n (%) n/n (%) 9/27 (33,4)b 27/30 (90,0) 7/26 (27,0)b 26/30 (86,6) b 9/27 (33,4) 27/30 (90,0) Prolificidade ( ± s) 1,30±0,4 1,38±0,5 1,33±0,5 Letras minúsculas diferentes na mesma linha significa diferença (P < 0,05) 256 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 EFEITO MACHO: ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL E EFICIENTE PARA INDUZIR E SINCRONIZAR O ESTRO DE CABRAS NÚLIPARAS DA RAÇA ANGLO-NUBIANA EM DIFERENTES PERÍODOS CLIMÁTICOS Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. carlos. [email protected] 2 Faculdade Dr. Francisco Maeda, DMV, [email protected] 1 Male effect: sustainable and efficient alternative to induce and synchronize estrous in nulliparous Anglo-Nubian goats under different climatic periods José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 PA L AV R A S - C H AV E caprino jovem, manejo reprodutivo, bioestimulação KEYWORDS young goat, reproductive management, biostimulation. INTRODUÇÃO O avanço tecnológico da caprinocultura nas últimas décadas estimulou a importação de sêmen, embriões e animais com qualidade genética superior para acelerar o melhoramento genético. Mesmo assim, ainda existe carência de programas efetivos que orientem os produtores adotarem práticas adequadas de manejo visando aumentar o desempenho reprodutivo dos rebanhos nos períodos de seca e chuva (SILVA e ARAÚJO, 2000), especialmente no semiárido nordestino (BANDEIRA et al. 2004). Adequar uma estação de monta para cabras nulíparas no semiárido utilizando o efeito macho é importante por permitir controlar e estimular a atividade reprodutiva de forma natural (HORTA e GONÇALVES, 2006; LIMA et al., 2000). Este procedimento assegura o nascimento de crias em intervalos menores, reduz o tempo dispensado com a supervisão na época de parição e racionaliza as demais atividades de manejo (VALLE et al., 2000). Além disso, contribui para selecionar as fêmeas mais prolíficas e as que desmamam as crias mais pesadas (SILVA e ARAÚJO, 2000). O efeito macho é um método natural de indução e sincronização do estro e é definido como um estímulo social capaz de estimular o retorno da ciclicidade de fêmeas em anestro pós-parto ou estacional (RAMÍREZ e QUINTERO, 2001). Contudo, fêmeas núliparas respondem com menor intensidade ao estímulo provocado pelo macho (GELEZ et al., 2003). Diante do exposto, objetivou-se avaliar o desempenho reprodutivo dessas fêmeas submetidas ao efeito macho nas estações de monta de 25, 35 e 45 dias de duração. MATERIAL E MÉTODOS Os Experimentos foram conduzidos no Município de Sertânia-PE. FoCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 257 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 ram utilizados 243 animais, sendo três reprodutores, com idade de 24 a 48 meses e 240 fêmeas nulíparas da raça Anglo-Nubiana, com idade entre 8 e 12 meses. As fêmeas, criadas em regime semiextensivo, eram soltas pela manhã na pastagem de vegetação da caatinga e retornavam ao aprisco no período da tarde. A condição reprodutiva das fêmeas foi avaliada através da ultrassonografia, conforme Santos et al. (2004) e exame vaginoscópico adaptado daquele preconizado por Grunert et al. (2005) para bovinos. Os reprodutores, com capacidade fecundante anteriormente comprovada, permaneceram 300 m afastados das fêmeas sem contato visual, olfativo e auditivo durante 60 dias em baias individuais com a alimentação sendo à base de capim elefante, além de 200 g de ração concentrada específica para caprinos. No dia anterior ao início do experimento, os reprodutores foram submetidos ao exame andrológico recomendado pelo CBRA (2013) para confirmação da condição reprodutiva. Ao ser introduzido no rebanho foi untado com uma mistura de graxa e tinta xadrez (4:1) na região do esterno para identificar as fêmeas acasaladas, sendo substituída a cada 10 dias para facilitar a identificação das fêmeas que retornavam ao estro. As coberturas foram diariamente observadas às 6:00 e 16:00 horas por pessoal habilitado, efetuando-se as anotações em fichas individuais. O diagnóstico de gestação foi efetuado através da ultrassonografia no 60o dia após a última cobertura, conforme técnica sugerida por Santos et al. (2004). Os resultados foram analisados através do teste de Tukey para comparação das médias e teste de Qui-Quadrado para a comparação entre as proporções. O nível de significância foi de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Imediatamente após a introdução dos machos nos rebanho, um elevado número de fêmeas evidenciou estro, independentemente da duração da estação de monta. Segundo Lima et al. (2000), a introdução repentina do macho após um isolamento prévio de 3 a 4 semanas sem contato visual, olfativo e auditivo, provoca um pico pré-ovulatório de LH que estimula o desenvolvimento folicular e induz a ovulação (CHEMINEAU, 1987). Os dados contidos na Tabela 1 não evidenciam influência (P > 0,05) da duração da estação de monta sobre a porcentagem de animais em estro e sobre a taxa de penhez, sendo interessante ressaltar que durante a estação de monta de 25 dias, algumas fêmeas foram cobertas em duas oportunidades. Esse achado respalda a utilização da Estação de Monta com a referida duração, otimizando a produção de caprinos no sertão pernambucano. Na Tabela 2 é possível observar que um significativo número de fêmeas evidenciou prenhez, não sendo registrada diferença (P > 0,05) entre a duração da estação de monta. Por outro lado, houve diferença (P < 0,05) entre os períodos climáticos, fato já esperado e que pode estar associado ao maior aporte nutricional durante o período chuvoso. CONCLUSÃO Os resultados permitem concluir que o efeito macho é um método natural efi258 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 ciente que contribui para reduzir a estação de monta para 25 dias sem comprometer os parâmetros reprodutivos avaliados. Comitê de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo nº 08/12. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS BANDEIRA, D.A.; SANTOS, M.H.B.; NETO, J.C.; NUNES, J.F. Aspectos da caprino-ovinocultura no Brasil e seus reflexos produtivo e reprodutivo. In: SANTOS, M.H.B.; OLIVEIRA, M.A.L.; LIMA, P.F. Diagnóstico de gestação na cabra e na ovelha. São Paulo: Varela, 2004. 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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 259 José Carlos FERREIRA-SILVA1, Maiana Silva CHAVES1, Pabola Santos NASCIMENTO1, Ludymila Cantanhêde FURTADO1, Marcelo Tigre MOURA1, Maico Henrique Barbosa SANTOS2 VALLE, E. R., ANDREOTTI, R., THIAGO, L.R.L. Técnicas de manejo reprodutivo em bovinos de corte. In: Documentos/Embrapa Gado de Corte. Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, 2000. 61 p. Tabela 1 - Porcentagem de estro de cabras nulíparas da raça Anglo-Nubiana submetidas ao efeito macho nas Estações de Monta de 25, 35 e 45 dias nos Períodos Seco e Chuvoso. Estação de Monta 25 dias 35 dias 45 dias Ocorrência de Estros Período Seco No de % de Fêmeas Estro 40 70,00 40 85,00 40 85,00 Período Chuvoso N de % de Fêmeas Estro 40 85,00 40 95,00 40 95,00 o Tabela 2 - Porcentagem de prenhez de cabras nulíparas da raça Anglo-Nubiana submetidas ao efeito macho nas Estações de Monta de 25, 35 e 45 dias nos Períodos Seco e Chuvoso. Estação de Monta 25 dias 35 dias 45 dias Prenhez Período Seco No de % de Fêmeas Prenhez 40 55,00a 40 70,00a 40 70,00a Período Chuvoso No de % de Fêmeas Prenhez 40 80,00b 40 90,00b 40 90,00b Letras minúsculas diferentes na mesma linha significa diferença (P < 0,05). 260 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 DIÂMETRO FOLICULAR EM DIFERENTES PROTOCOLOS HORMONAIS EM VACAS GIROLANDO Follicular diameter under different hormone protocols in Girolando cows Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. pabolasn@ hotmail.com 2 Instituto agronômico de Pernambuco, Recife- PE, Brasil. 1 PA L AV R A S - C H AV E estro, IATF, progesterona. KEYWORDS estrous, FTAI, progesterone. INTRODUÇÃO A raça, período pós-parto, média de lactação e escore de condição corporal são fatores que estão relacionados com o sucesso dos protocolos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Uma das possibilidades de falha na concepção nos programas de IATF é o crescimento reduzido do folículo pré-ovulatório, que determina a falha na ovulação e o desenvolvimento de um corpo lúteo pequeno que produz pouca progesterona. No Entanto este o hormônio responsável por induzir alterações no ambiente uterino propiciando a receptividade e melhor desenvolvimento do concepto, caso esteja em boas concentrações, e consequentemente, maiores possibilidades de obter prenhez (LONERGAN, 2011). O hormônio folículo-estimulante (FSH) é uma gonadotrofina hipofisária, administrada em protocolos de estimulação ovariana. Pela obtenção de resultados semelhantes àqueles após tratamentos com FSH, a Gonadotrofina Coriônica equina (eCG) têm sido utilizada em substituição ao FSH (BALDASSARRE et al., 2003). Com o intuito de promover maior crescimento e maturação do folículo ovulatório foi testada a administração de gonadotrofina coriônica equina (eCG) ou hormônio folículo estimulante (FSH) no dia da retirada do implante a base de progesterona. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado entre os meses de Setembro à Novembro, na Estação Experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), localizada no Município de Arcoverde, no sertão de Pernambucano. Foram utilizadas 40 vacas da raça 5/8 Girolando, não gestantes, com intervalo entre partos variando entre 81 e 543 dias, idade entre 48-180 meses, escore de condição corporal 2,5-4,5, e média de lactação entre 4,53-19,4, mantidas em regime de pastejo, em capim pangolão (Digitaria pentzii), com suplementação mineral e água a vontade. Os animais após avaliação clínico-ginecológica foram identificados por um número de ordem além dos já existentes no controle Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 261 Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 da fazenda através de brincos numerados, sendo estas a base de identificação do animal no decorrer do experimento. Os animais foram divididos em 2 grupos experimentais de acordo com o protocolo hormonal (Tratamento 1- T1 - FSH; Tratamento 2- T2 - eCG) e 2 subgrupos dentro de cada grupo, de acordo com a observação de estro: Tratamento1A - com observação de estro e 1B - sem observação de estro; Tratamento 2A - com observação de estro e 2B - sem observação de estro. As vacas do T1 receberam no D0 um implante subcutâneo auricular de silicone contendo 3mg de norgestomet (Crestar®) e 2mg de benzoato de estradiol (Estrogin®), D8 retirada do implante, 100 UI de FSH i.m (Pluset®) e 500μg de cloprostenol sódico i.m. (Ciosin®), D9 0,5 mg de cipionato de estradiol (ECP®, Pfizer Saúde Animal, São Paulo, Brasil). Os animais do T2 receberam no D0 um implante subcutâneo auricular de silicone contendo 3mg de norgestomet (Crestar®) e 2mg de benzoato de estradiol (Estrogin®), D8 foi retirado o implante, aplicado 500UI de eCG i.m (Gonadotrofina Coriônica Eqüina, Novormon®, Schering-Plough Saúde Animal, São Paulo, Brasil) e 500μg de cloprostenol sódico i.m. (Ciosin®), D9 0,5 mg de cipionato de estradiol (ECP®, Pfizer Saúde Animal, São Paulo, Brasil) (somente o subgrupo sem a observação de estro), Os subgrupos T1B e T2B, no D10, aproximadamente 56h da retirada do implante, foram IATFs. Os subgrupos T1A e T2A que tiveram o estro observado, só foram inseminados quando da exibição do estro. Essas vacas foram avaliadas após a retirada do implante de 12 em 12 horas até a inseminação ou, caso não demonstrasse estro, no máximo, até 72 horas da retirada do implante. Todos os animais pertencentes a todos os tratamentos tiveram a dinâmica folicular acompanhada com ultrassom nos D0, D4, D8, D10. Os dados foram analisados no programa estatístico SPSS 16.0 empregando-se a análise de variância (ANOVA). O teste t-Student foi usado para detectar diferenças entre os grupos. Para todas as análises, os valores foram considerados significativos (P< 0,05). Foram realizados estudos comparativos entre os tratamentos e seus subgrupos (FSH CIO-1A; FSH IATF-1B; eCG CIO-2A; eCG IATF-2B) nas variáveis: Dias pós parto (DPP), Idade em meses (I), Escore de condição corporal (ECC), Média de lactação (ML), Diâmetro do maior folículo na retirada do implante (DFRI), Diâmetro do folículo pré ovulatório na IA (DFIA). RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve diferença (P< 0,05) para a variável DFRI entre os tratamentos T1A ≠ T2A (0,8±0,0; 0,8±0,1, respectivamente) e T2A ≠ T2B (0,8±0,1; 0,9±0,0, respectivamente). Nas variáveis DPP, I, ECC, ML, não foram observadas diferenças (P> 0,05) provavelmente devido a uniformidade dos grupos (tabela 1). No presente estudo o diâmetro do folículo pré-ovulatório foi maior no protocolo que utilizou o eCG IATF demonstrando satisfatória indução do pico de LH e ovulação. Estudos comprovam que o folículo pré-ovulatório de maior tamanho encontrado com a utilização do eCG propiciou um corpo lúteo de melhor qualidade devido a maior perfusão sanguínea, no entanto sem relação direta com a taxa de prenhes (WECKER et al., 2012; SANTOS, 2013). Levando em conta que naqueles protocolos que tiveram estro observado, houve maior tempo para que os folículos presentes crescessem e ainda assim 262 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 não houve diferença daqueles presentes em vacas inseminadas em tempo fixo no dia da inseminação demonstrado pela variável DFIA. CONCLUSÃO O uso do eCG na IATF resultou em um folículo de maior diâmetro no dia da retirada do implante. Comite de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo nº 05/11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALDASSARRE, H.; WANG, B.; KAFIDI, N. et al. Production of transgenic goatsby pronuclear microinjection of in vitro produced zygotes derived from oocytes recovered by laparoscopy. Theriogenology, Stoneham, v. 59, n. 3-4, p. 831–839, 2003. LONERGAN, P. Influence of progesterone on oocyte quality and embryo development in cows. Theriogenology, Stoneham, v. 76, n. 9, p. 1594-1601, 2011. SANTOS, E. S. Efeito das características morfológicas e da dinâmica vascular do folículo e do corpo lúteo sobre a fertilidade de vacas de corte submetidas à protocolo de sincronização do estro e ovulação. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Anatomia doa Animais Domésticos e Silvestres, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, 2013. 46p. WECKER, F.; THEDY, D.X.; GONSIOROSKI, A.V. et al. Effect of administration of eCG or hCG 7 days after FTAI on the development of ovarian structures and pregnancy rates in Beff Cows. Acta Scientiae Veterinariae, Porto Alegre, v. 40, n. 4, p. 1072-1080, 2012. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 263 Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 Tabela 1: Médias e erros-padrão de variáveis reprodutivas em vacas 5/8 Girolando submetidas a protocolos de sincronização e indução do estro utilizando FSH ou eCG na retirada do implante contendo progesterona. DPP I ECC ML DFRI DFIA T1A-FHS CIO 257,6±45,6a 97,2±15,2a 3,2±0,2a 8,1±1,0a 0,8±0,0a 1,2±0,0a T2A- eCG CIO 264,1±45,6a 87,6±12,1a 3,2±0,1a 8,8±0,6a 0,8±0,1c 1,5±0,0a T1B-FSH IATF 263,5±50,0a 92,4±12,7a 3,4±0,2a 10,7±1,1a 0,6±0,0ac 1,3±0,0a T2B-eCG IATF 333,6±53,8a 87,6±12,9a 3,2±0,18a 9,0±1,0a 0,9±0,0ab 1,2±0,0a DP (dias pós-parto); I (idade em messes); ECC (escore de condição corporal); ML (média de lactação); DFRI (diâmetro do maior folículo na retirada do implante); DFIA (diâmetro do folículo pré-ovulatório no momento da inseminação artificial). Médias (±SEM) com letras sobrescritas diferentes (a,b,c) na mesma linha são significativamente diferentes (P<0,05). 264 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 EFEITOS DA SEXAGEM SOB AS CARACTERÍSTICAS ESPERMATICAS DE TOUROS 5/8 GIROLANDO Effects of sexing under sperm bulls features 5/8 Girolando Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. pabolasn@ hotmail.com 2 Instituto agronômico de Pernambuco, Recife- PE, Brasil. 1 INTRODUÇÃO Avanços no processo de sexagem espermática (SHARPE; EVANS, 2008) e mudanças nos protocolos de produção in vitro de embriões (PIVE) puderam permitir a proximidade entre as taxas de produção embrionária alcançadas com sêmen sexado daquelas alcançadas com sêmen convencional (BLONDIN et al., 2009). A utilização de análises computadorizadas como a exemplo o “Computer-Assisted Semen Analysis” (CASA) (RUPERT et al., 2004), e sondas fluorescentes por meio de microscopia de epifluorescência ou citometria de fluxo são métodos que vem sendo amplamente utilizados em algumas espécies (SILVA et al., 2012). O grande desafio seria apontar dentre os animais férteis, aqueles que suportariam os danos causados pela técnica de sexagem mantendo sua capacidade fecundante (SEIDEL JR, 2003). E das diversas variáveis obtidas pelo CASA aquelas que teriam uma maior influencia sobre o potencial de fertilidade (ARRUDA et al., 2010). O objetivo deste trabalho foi comparar as análises obtidas pelo CASA realizadas com sêmen sexado e convencional de três touros da raça 5/8 Girolando, e observar a influencia da sexagem sob as características espermáticas, identificando possíveis alterações, lesões e danos provocados pela técnica. MATERIAL E MÉTODOS O estudo oi realizado no Laboratório de Andrologia do Departamento de Medicina Veterinária – ANDROLAB, da Universidade Federal Rural de Pernambuco em Recife. Foram feitas três repetições de cada procedimento para o sêmen convencional e três para o sêmen sexado de cada touro, todas submetidas às mesmas condições. Foram utilizadas palhetas criopreservadas contendo sêmen convencional (três doses) e sêmen sexado (três doses), provenientes de três touros da raça pura sintética 5/8 Girolando (T1, T2 e T3), de mesma partida para cada tipo de sêmen/ touro. Para a cinética, o método utilizado foi o mesmo descrito por Nascimento (2014). Para a cinética, 5 µL de cada amostra foi colocada em uma lâmina previamente aquecida (37◦ C), e uma lâminula depositada por cima da gota. A lâmina foi colocada sob o microscópio de contraste de fase (Eclipse 50i; Nikon, Tóquio, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 265 Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 Japão) e as imagens foram captadas com uma câmera digital Basler A312FC (Basler Vision Technologies, Ahrensburg, Alemanha). As imagens foram capturadas e analisadas utilizando o software SCA ™ v 5.1 (Microptics, SL, Barcelona, Espanha). Pelo menos cinco campos microscópicos, não consecutivos selecionados aleatoriamente por amostra foram digitalizados, registrando pelo menos 2.000 espermatozoides móveis. As definições de parâmetros padrão foram: motilidade progressiva (MP)), velocidade (VEL), linearidade (LIN), retilinearidade (STR), expressos em valores porcentuais (%); velocidade curvilínea (VCL), velocidade linear progressiva (VSL) e velocidade média da trajetória (VAP) expressas em micrometros por segundo (µm/s); amplitude de deslocamento lateral da cabeça (ALH) expresso em micrometros (µm); e frequência de batimento flagelar (BCF), expresso em hertz (Hz). Os dados foram analisados pelo programa estatístico SPSS 16.0 empregando-se a análise de variância (ANOVA). Para todas as análises, os valores foram considerados significativos (P< 0,05). Antes dessas análises, dados percentuais para linearidade e retilinearidade foram transformados em arcoseno. Todos os resultados foram expressos em média ± erro padrão. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resultado das análises estatísticas mostraram diferenças (P< 0,05) nas análises do CASA entre os tipos de sêmen (sexado e convencional) dos touros em diversas variáveis principalmente as que se referem ao padrão de movimento dos espermatozoides VCL, VSL, VAP, BCF, ALH e STR (tabela 1). Alguns autores relataram que o sêmen sexado necessita de menos tempo para a capacitação devido ao processo de separação por citometria de fluxo (BLONDIN et al., 2009). Os espermatozoides sexados apresentaram padrão de cinética espermática superior ao sêmen convencional como reportado por GALLEGO (2010) fator que favorece o processo de fertilização quando da utilização desse tipo de sêmen na FIV. Estudos associaram alta motilidade com a habilidade de espermatozoides fertilizarem corroborando AITKEN et al., 2012 que afirmaram que aqueles espermatozoides com diminuição da motilidade além de estarem comprometidos quanto a possibilidade fecundante tem menor habilidade para sofrerem capacitação, apresentam maior produção de radicais livres e dificuldades de realizar processos considerados chaves na fertilização do oócito. GERHARDT et al., (2012) obtiveram taxas de 53,85% e 17,86% com sêmen convencional e sexado respectivamente utilizando o sêmen do mesmo touro na IA. Observando os resultados do presente trabalho, e fazendo comparações entre as amostras convencionais e sexadas de sêmen do mesmo touro podemos afirmar que independente do touro utilizado as variáveis obtidas pelo CASA sofreram alterações que influenciam no padrão de movimento espermático para o sêmen sexado. CONCLUSÃO O processo de sexagem afeta a cinética espermática de touros 5/8 Girolando, induzindo a um aumento nos parâmetros de velocidade. 266 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES 1, Antônio Santana do SANTOS FILHO2, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Marcelo Tigre MOURA1, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 Comite de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo nº 05/11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AITKEN, R.J., GIBB, Z., MITCHELL, L. A., et al. Sperm motility is lost in vitro as a consequence of mitochondrial free radical production and the generation of electrophilic aldehydes but can be significantly rescued by the presence of nucleophilic thiols, Biology of Reproduction, New York, v. 87, n. 5, p. 1-11, 2012. ARRUDA, R.L.; ORROS, I.R.; PASSOS, T.S.; et al. Técnicas para avaliação laboratorial da integridade estrutural e funcional do sêmen congelado de touros, Rev. Bras. Reprod. 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VCL VSL VAP LIN STR ALH BCF 3 3 3 3 3 3 3 66,5±0,8a 36,9±0,3a 46,4±0,5a 55,4±1,0a 79,4±1,5a 2,7±0,0a 10,1±0,2a A Touro 2 Sexado 117,7±1,6 60,0±0,3A 73,6±0,4A 55,7±0,7a 81,6±0a 3,2±0,2a 14,5±0,3A Touro 3 Convenc. Sexado Convenc. Sexado 46,2±2,5b 27,6±2,3b 33,8±2,4b 59,6±2,4b 81,4±1,0b 2,0±0,0b 9,3±0,4b 80,2±2,3B 47,0±2,0B 57,7±0,9B 58,7±2,4b 81,4±2,2b 2,4±0,1B 10,5±0,3b 64,6±5,1c 35,3±0,6c 44,2±1,0c 55,1±3,1c 79,7±0,3c 2,6±0,4c 9,9±0,2c 86,4±5,7C 46,2±2,7C 53,8±2,8C 53,6±2,6c 85,7±0,5C 3,2±0,3c 13,0±0,4C VCL (Velocidade curvilínea, µm/s); VSL (Velocidade linear, µm/s); VAP (Velocidade de trajeto, µm/s); LIN (Linearidade,%); STR (Retilineariade, %); ALH (Deslocamento lateral da cabeça, µm); BCF (Frequência de batimento de cauda, Hz). a, A Na mesma linha, médias com letras sobescrito diferentes (P<0,05).c,C Na mesma linha, médias com letras sobescrito diferentes (P<0,05). b,B Na mesma linha, médias com letras sobescrito diferentes (P<0,05). 268 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 USO DE FLUOROCROMOS PARA AVALIAÇÃO DO SEMÊN SEXADO DE BOVINOS GIROLANDO Use of fluorochromes for the assessment of sexed semen of Girolando cattle Rita de Kássia Oliveira de ANDRADE1, Pábola Santos NASCIMENTO1, Maiana Silva CHAVES1, Marcelo Tigre MOURA1, Sebastião Inocêncio GUIDO2, Cláudio Coutinho BARTOLOMEU1 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. pabolasn@ hotmail.com 2 Instituto Agronômico de Pernambuco, Recife-PE, Brasil. 1 INTRODUÇÃO Desde a década de 40 cientistas reconhecem a necessidade de obter informações precisas acerca da porcentagem de espermatozóides móveis (de um ejaculado/de uma palheta). Pois essas informações sobre o movimento espermático poderiam ser utilizadas para prever o potencial de fertilidade de um macho ou selecionar o ‘’melhor’’ procedimento para a preparação do sêmen (RUPERT & DAVID, 2004). Têm-se realizado estudos com o intuito de identificar o que seria esse potencial fecundante, muitos resultados evidenciam divergências entre os tipos de sêmen (convencional/sexado), raça, reprodutores utilizados, palhetas e partidas de um mesmo animal (MARQUES et al., 1995; BLONDIN et al., 2009). A integridade da membrana plasmática dos espermatozoides é geralmente sinônimia de espermatozoide viável (GRAHAM & MOCÉ, 2005), em virtude do seu papel biológico, qualquer mudança na função mitocondrial pode ser refletida na alteração da motilidade (THOMAS et al., 1998), do mesmo modo, um acrossoma intacto até o momento em que o espermatozoide se liga à zona pelúcida do oócito e sofre a reação acrossômica, liberando enzimas que permitem a fusão com a membrana do oócito (HAFEZ & HAFEZ, 2004) é de fundamental importância. As preparações que empregam a combinação de sondas fluorescentes ou fluorocromos, avaliadas por microscopia de epifluorescência ou citometria de fluxo, conferem especificidades na diferenciação entre células funcionais e afuncionais, e destacam-se como as mais utilizadas na determinação da integridade estrutural dos espermatozóides (GRAHAM & MOCÉ, 2005; ARRUDA et al., 2007). Uma vez que o sexo do produto é um fator determinante para o desempenho produtivo e econômico de uma atividade (SÁ FILHO et al., 2010), percebendo a lacuna de estudos feitos na raça a respeito dos danos da sexagem e diante do importante papel da raça Girolando na pecuária nacional (SILVA et al., 2012), objetivou-se comparar as análises realizadas com sêmen sexado e convencional de três touros da raça 5/8 Girolando utilizando sondas fluorescentes, e observar a influencia da sexagem sob a estrutura espermática, afim de identificar possíveis alterações provocadas pela técnica. MATERIAL E MÉTODOS O estudo oi realizado no Laboratório de Andrologia do Departamento de Medi- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 269 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 cina Veterinária – ANDROLAB, da Universidade Federal Rural de Pernambuco em Recife. Foram feitas três repetições de cada procedimento para o sêmen convencional e três para o sêmen sexado de cada touro, todas submetidas às mesmas condições. Foram utilizadas palhetas criopreservadas contendo sêmen convencional (três doses) e sêmen sexado (três doses), provenientes de três touros da raça pura sintética 5/8 Girolando (T1, T2 e T3), de mesma partida para cada tipo de sêmen/ touro. Para a determinação da integridade do acrossoma, os espermatozoides foram corados com isotiocianato de fluoresceína conjugado a Peanut agglutinin (FITC-PNA), segundo Silva et al., (2012). Avaliação da integridade da membrana do plasma foi determinada usando uma combinação de diacetato de carboxifluoresceína (CFDA) e iodeto de propídio (PI), tal como descrito por Silva et al., 2011. Para determinação do potencial da membrana mitocondrial, um método adaptado de Guthrie HD & Welch GR, (2006) foi utilizado. As análises foram avaliadas por microscopia de epifluorescência (Carl Zeiss, Göttingen, Alemanha). Os dados foram analisados pelo programa estatístico SPSS 16.0 empregando-se a análise de variância (ANOVA). Para todas as análises, os valores foram considerados significativos (P< 0,05). Antes dessas análises, dados percentuais para acrossoma íntegro, integridade da membrana plasmática, e alto potencial da membrana mitocondrial foram transformados em arcoseno. Todos os resultados foram expressos em média ± erro padrão. RESULTADOS E DISCUSSÃO As análises feitas a partir da utilização de fluorocromos comparando as amostras convencionais com as amostras sexadas do mesmo animal foi significativa para o T3 ao que se refere à membrana plasmática e acrossoma (tabela 1). A base molecular do processo de capacitação espermática é a remoção de colesterol e mudanças na distribuição dos fosfolipídeos de membrana que levam à abertura dos canais de Ca++. Alterações semelhantes podem acontecer gerando uma capacitação espermática prematura. Este processo não é desejável, pois diminui a longevidade espermática (FREITAS-DELL’AQUA et al., 2011). Graham & Mocé, (2005) observaram que a integridade estrutural da membrana plasmática dos espermatozoides é geralmente sinonímia de viabilidade espermática espermatozoide, no presente experimento foram vistas diferenças quanto as avaliações de membrana plasmática e acrossomal para o touro 3. Thomas et al., (1998) constataram que qualquer mudança na função mitocondrial pode ser refletida na alteração da motilidade. No presente estudo nenhuma diferença foi obtida a partir da avaliação do potencial de membrana mitocondrial para quaisquer dos touros estudados. CONCLUSÃO O processo de sexagem pode ter afetado as características estruturais da célula espermática de touros 5/8 Girolando. 270 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 Comite de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo nº 05/11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, R. P.; ANDRADE, A. F. C.; PERES, K. R., et al. Biotécnicas aplicadas à avaliação do potencial de fertilidade do sêmen equino. Revista Brasileira Reprodução Animal, Belo Horizonte, v.31, n.1, p.8-16, 2007. BLONDIN, P.; BEAULIEU, M.; FOURNIER, V.; et al. Analysis of bovine sexed sperm for IVF from sorting to the embryo. Theriogenology, Stoneham, v.71, n. 1, p.30-38, 2009. GRAHAM, J.K.; MOCÉ, E.. Fertility evaluation of frozen/thawed semen. Theriogenology, Stoneham, v.64, n. 3, p.492-504, 2005. GUTHRIE, H.D. & WELCH, G. R. Determination of intracellular reactive oxygen species and high mitochondrial membrane potential in Percoll-treated viable boar sperm using fluorescence-activated flow cytometry, Journal Animal Science, Champaign, v. 84, n. 8, p. 2089-2100, 2006. HAFEZ, E. S. E. & HAFEZ B. Transporte e sobrevivência de gametas. In: HAFEZ, E.S.E. & HAFEZ, B., Reprodução Animal, 7ª Ed., Barueri-SP: Manole, 2004, p. 146-166. MARQUES, C.C.; BAPTISTA, M.C.; PEREIRA, R.M.; et al.. Influência do sémen de diferentes touros sobre as taxas de fertilização in vitro e desenvolvimento de embriões em co-cultura. Revista Portuguesa de Zootecnia, Lisboa, n. 2, p. 103-110, 1995. RUPERT P. AMANN & DAVID F. KATZ. Reflections on CASA After 25 Years. Journal of Andrology, Philadelphia, v.25, n. 3, p. 317-325, 2004. SÁ FILHO,M.F.; SOUZA A.H.; MARTINS C.M.; et al.. Avanços nos Protocolos Reprodutivos em Fêmeas Bovinas Utilizando Sêmen Sexado. São Paulo, Brasil. 2010. Disponível em: < http://www.abspecplan.com.br/upload/library/ Avancos-Sexado_Baruselli.pdf> Acesso em 01 mai. 2015. SILVA, E.C.B.; CAJUEIRO, J.F.P.; SILVA, S.V. et al. Effect of antioxidants resveratrol and quercetin on in vitro evaluation of frozen ram sperm, Theriogenology, Stoneham, v.77, n. 8, p. 1722- 1726, 2012. SILVA, S.V., SOARES, A.T., BATISTA, A.M., et al. In vitro and in vivo evaluation of ram sperm frozen in Tris egg-yolk and supplemented with superoxide dismutase and reduced glutathione, Reproduction in Domestic Animals, Berlin, v.46, n.5, p. 874-81, 2011. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 271 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 SILVA, MARCOS VINICIUS G. BARBOSA DA (Ed.). Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando – Sumário de Touros – Resultado do Teste de Progênie - Julho/2012 /. Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, 2012. THOMAS, C.A.; GARNER, D. L.; DEJARNETTE, J. M. et al. Effect of cryopreservation in bovine sperm organelle function and viability as determined by flow cytometer. Biology of Reproduction, New York, v.58, n. 3, p. 786-793, 1998. Tabela 1: Médias e erros-padrão da integridade da célula espermática do sêmen convencional X sexado de três touros 5/8 Girolando. Touro 1 Membrana citoplasmática Potencial de memb. mitocondrial Membrana acrossomal Touro 2 Touro 3 Convec. Sexado Convenc. Sexado Convenc. Sexado 47,5±11,8a 38,0±2,7a 40,1±7,3b 44,1±4,4b 66,5±2,7c 53,8±1,8C 66±19,0a 79,6±4,8a 73,6±3,6b 81,0±3,2b 82,6±7,9c 71,8±4,0a 56,0±12,8a 74,2±3,0b 55,8±10,5b 85,5±2,7c 76,6±0,4c 69,3±1,1C Na mesma linha, médias com letras sobescritas diferentes (P<0,05). b,B Na mesma linha, médias com letras sobescritas diferentes (P<0,05). c, C Na mesma linha, médias com letras sobescritas diferentes(P<0,05). a, A 272 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 CONHECIMENTO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E PROFESSORES DE ESCOLAS PÚBLICAS DE IGARASSU – PE SOBRE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA knowledge of health professionals and public school teachers of Igarassu – Pernambuco State - Brazil on leishmaniasis Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. verinha_ [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 1 Silvia Rafaelli Marques1; Ana Carolina Messias de Souza2; Jussara Valença de Alencar Ramos3; Ivanise Maria de Santana4; Verônica Maria Silva da Costa5; Maria Aparecida da Gloria Faustino6 PA L AV R A S - C H AV E Leishmania spp, conhecimento, educação em saúde. KEYWORDS Leishmania spp, knowledge, health education. INTRODUÇÃO A educação em saúde é indicada dentre as medidas de controle da leishmaniose tegumentar americana (LTA) que devem estar integradas para que possam ser efetivas, principalmente em áreas de risco (BRASIL, 2007). Muitos profissionais de saúde levam a educação em saúde ao campo, sendo essencial sua participação nas experiências de educação popular como medida para controle das doenças (VASCONCELOS, 1998). De igual modo, professores bem informados tornam-se importantes multiplicadores de saberes, atuando de forma relevante no controle de endemias (UCHOA et al., 2004). Neste estudo objetivou-se avaliar a percepção dos profissionais de saúde da Secretaria de Saúde de Igarassu - PE e professores das escolas públicas sobre a LTA. MATERIAL E MÉTODOS No distrito de Três Ladeiras - município de Igarassu - PE, a Secretaria de Saúde vem atuando, após a ocorrência de casos humanos de LTA, notificados a partir de 2008 (RAMOS et al., 2010; BRITO et al., 2012). Utilizou-se amostragem não probabilística dos participantes cuja anuência foi confirmada através da assinatura do “Termo de consentimento livre e esclarecido” (TCLE), incluindo 90 profissionais de saúde e 65 professores de cinco escolas públicas. Foram aplicados questionários com questões fechadas sobre LTA, aferindo-se pontuações proporcionais ao número de acertos, correspondendo 100% de acertos à pontuação 10,00 (Dez), estabelecendo-se uma escala para os níveis de conhecimento (Tabela 1), seguindo-se a realização de atividades de educação em saúde, sendo reaplicado o questionário após a ação. A análise estatística inferencial foi aplicada de acordo com a compa- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 273 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 ração efetuada (Tabelas 1 e 2) por meio do “software” SPSS em versão para microcomputador ao nível de significância de 5,0%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os 90 profissionais de saúde responderam o questionário LTA, e 41,7% (31/65) dos professores. Nas questões de resposta única, 68,9% dos profissionais de saúde e 80,6% dos professores erraram a pergunta “o que é LTA?”. Para as demais questões, predominaram os acertos para os profissionais de saúde e a maioria dos professores ainda apresentaram erros relativos ao modo de transmissão e nome do agente transmissor, constatando-se, assim, um desempenho significativamente melhor dos profissionais de saúde. Porém, considerando-se que estes lidam com a área específica do assunto, os percentuais de erro podem ser considerados elevados, concordando com Santos et al. (2000), na Bahia, citando que a prevenção da LTA no extradomicílio torna-se difícil devido à insuficiência de conhecimentos sobre as reais condições de transmissão. Em questões de multi-resposta sobre prevenção, tratamento indicado, hábitos e características do vetor, papel dos animais na cadeia de transmissão e sinais clínicos no cão, o percentual de acertos dos profissionais de saúde foi significativamente maior que o dos professores em todos os quesitos. As notas obtidas variaram de 3,07 a 8,89, com média de 6,70 para os profissionais de saúde e, de 2,69 a 9,23 com média de 4,45 para os professores, com diferença significativa, em nível regular e insuficiente respectivamente. A média geral foi 6,12. Observando-se as notas individuais, 17,8% dos profissionais de saúde obtiveram nível bom e, para os professores, 0,03% classificados em bom e 0,03% com classificação excelente. Observou-se associação significativa entre o nível de escolaridade e os níveis de conhecimento atingidos (Tabela 1). De 41 profissionais de saúde reavaliados, verificou-se aumento significativo da média e dos níveis de conhecimento (Tabela 2), confirmando a eficácia da educação em saúde e da aplicação de questionários em duas etapas como instrumento de avaliação da metodologia, como já verificado em diferentes categorias sociais e utilizando-se diferentes recursos pedagógicos (UCHOA et al., 2004; SANTOS et al., 2000; MAGALHÃES et al., 2009; GENARI et al., 2012). CONCLUSÃO O nível de conhecimento de profissionais de saúde e professores de escolas públicas de Igarassu – PE sobre a LTA precisa ser incrementado, principalmente com informações mais específicas sobre aspectos clínicos e epidemiológicos da doença nos animais, apresentando-se as ações de educação em saúde como eficazes ferramentas para este fim. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Centro Nacional de Epidemiologia. Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana. Brasília, 2007. 179 p. 274 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 BRITO, M.E.F. et al. Cutaneous leishmaniasis in northeastern Brazil: a critical appraisal of studies conducted in State of Pernambuco. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 45, n.4, p. 425-429, 2012. GENARI, I.C.C et al. Atividades de educação em saúde sobre leishmaniose visceral para escolares. Veterinária e Zootecnia, v.19, n.1, p.99-107, 2012. MAGALHÃES, D.F. et al. Dissemination of information on visceral leishmaniasis from schoolchildren to their families: a sustainable model for controlling the disease. Cadernos de Saúde Pública, v.25, p.1642-1646, 2009. RAMOS, J.V.A. et al. Avaliação clínica-epidemiológica e terapêutica dos casos de leishmaniose tegumentar ocorridos no distrito de Três Ladeiras - Igarassu - PE. In: Anais - Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão – JEPEX, X. 2010. Recife. Recife: UFRPE. 2010. Disponível em: http://www.sigeventos.com.br/ jepex/inscricao/resumos/0001/R1961-2.PDF/. SANTOS, J. B. et al. Fatores. socioeconômicos e atitudes em relação à prevenção domiciliar da leishmaniose tegumentar americana, em uma área endêmica do sul da Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v.16, v.3, p. 701-708. 2000. UCHOA, C.M.A. et al. Educação em saúde: ensinando sobre a leishmaniose tegumentar americana. Caderno de Saúde Pública, v.20, n.4; p.935-941, 2004. VASCONCELOS, E. M. Educação popular como instrumento de reorientação das estratégias de controle das doenças infecciosas e parasitárias. Caderno de saúde pública, v. 31, p.56-74. 1998. Os procedimentos metodológicos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (CEP-FIOCRUZ / PE, 09/2011). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 275 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 Tabela 1. Avaliação do nível de conhecimento sobre a LTA segundo a escolaridade no grupo dos profissionais de saúde e de professores. Escolaridade Nível de conhecimento Fundamental Médio Superior Grupo Total LTA n % n % n % n % TOTAL 15 100,0 57 100,0 49 100,0 121 100,0 Nulo - - 1 1,7 16 32,7 17 14,0 Insuficiente 6 40,0 16 28,1 9 18,4 31 25,6 Regular 7 46,7 35 61,4 13 26,5 55 45,5 Bom 2 13,3 5 8,8 10 20,4 17 14,1 Excelente - - - - 1 2,0 1 0,8 Valor de p p(1) < 0,001* (*): Diferença significativa ao nível de 5,0%. (1): Teste Exato de Fisher Nulo → 0,00 – 3,99; Insuficiente → 4,00 – 5,99; Regular → 6,00 – 7,49; Bom → 7,5 – 8,99; Excelente → 9,00 – 10,00. Tabela 2 . Avaliação do nível de conhecimento dos profissionais de saúde do município de Igarassu – PE sobre a LTA antes e após a atividade de educativa. LTA - Profissionais de saúde Notas categorizadas TOTAL Insuficiente Regular Bom + Excelente n 41 14 24 3 Avaliação 1 % n 100,0 34,1 58,5 7,3 41 2 16 23 Avaliação 2 % 100,0 4,9 39,0 56,1 Valor de p p(1) < 0,001* (*): Diferença significativa ao nível de 5,0%. (1): Teste McNemmar. 276 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E PROFESSORES DE ESCOLAS PÚBLICAS DE IGARASSU – PE SOBRE A LEISHMANIOSE VISCERAL Perception of health professionals and teachers from public school of Igarassu – Pernambuco State - Brazil on visceral leishmaniasis Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. verinha_ [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 1 Silvia Rafaelli Marques1; Ana Carolina Messias de Souza2; Jussara Valença de Alencar Ramos3; Ivanise Maria de Santana4; Verônica Maria Silva da Costa5; Maria Aparecida da Gloria Faustino6 PA L AV R A S - C H AV E Leishmania infantum, conhecimento, educação em saúde. KEYWORDS Leishmania infantum, knowledge, health education. INTRODUÇÃO A importância das leishmanioses em termos médicos e veterinários é cada vez mais significativa principalmente pelo caráter zoonótico, distribuição cosmopolita e impacto na saúde pública (DANTAS-TORRES, 2006). A educação em saúde visa expandir o entendimento sobre saúde, auxiliando no desenvolvimento da comunidade, podendo ser desenvolvida em vários tipos de espaços (SHEIHAM e MOYSÉS, 2000). Portanto, as ações educativas são relevantes para o estabelecimento de campanhas de controle devido ao fato da mobilização em ações sanitárias (DIVE, 2009). Assim, as atividades educativas são indicadas, juntamente com o diagnóstico precoce e o tratamento dos casos humanos, dentre as medidas a serem adotadas para o controle, as quais devem sempre estar integradas para que possam ser efetivas (BRASIL, 2006; WERNECK et al., 2007; DIVE, 2009) Neste estudo objetivou-se avaliar a percepção dos profissionais de saúde da Secretaria de Saúde de Igarassu - PE e professores das escolas públicas sobre a Leishmaniose visceral (LV). MATERIAL E MÉTODOS Utilizou-se amostragem não probabilística dos participantes cuja anuência foi confirmada através da assinatura do “Termo de consentimento livre e esclarecido” (TCLE), sendo 64 profissionais de saúde e 65 professores de cinco escolas públicas. O projeto desenvolveu-se com prévia autorização das Secretarias de Saúde e da Educação do município e dos Gestores escolares. Questionários estruturados foram aplicados, contendo informações gerais e questões específicas sobre LV, de resposta única (o que é a doença, agente causador, transmissão, fatores de risco e sintomas no homem) e com quatro opções de resposta em verdadeiro ou falso (controle, tratamento, características Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 277 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 do vetor, papel dos animais e sinais clínicos no cão). Pontuações proporcionais ao número total de acertos, correspondendo 100% de acertos à pontuação 10,00 foram aferidas para análise do conhecimento individual, estipulando-se uma escala para os níveis de conhecimento (Tabela 1). Os dados foram analisados por técnicas de estatística inferencial (Tabelas 1), efetuando-se os cálculos estatísticos por meio do “software” SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) em versão para microcomputador ao nível de significância de 5,0%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas perguntas com única resposta obteve-se diferença significativa entre os dois grupos, com taxa de acertos maior para os profissionais de saúde em todos os quesitos, exceto para os sinais clínicos da LV. Nas questões de quatro opções, foram relativamente baixos os percentuais para quatro acertos nas assertivas apresentadas, percebendo-se que os conhecimentos não são profundos, quando se envolvem os aspectos mais complexos. Os dados obtidos diferem dos reportados por Luz et al. (2005) em Belo horizonte que constataram, média 90,0% de acertos entre profissionais de saúde e 64,0% de acertos para professores em questões sobre LV. As notas variaram de 1,03 a 9,65 para os profissionais de saúde e de 0,79 a 9,23 para os professores. As médias para profissionais de saúde (6,69) e professores (5,13) diferiram significativamente entre si, mantendo-se em nível de conhecimento regular e insuficiente respectivamente, com média geral de 5,9. Além do grau de instrução dos participantes, outro fator que pode ter contribuído para os diferentes níveis de conhecimento pode ser o tempo de trabalho dos profissionais de saúde na área de saúde, além da experiência prévia com a doença na atividade profissional. Em relação à associação entre os níveis de escolaridade e de conhecimento para o total de entrevistados (Tabela 1), nota-se percentual maior de conhecimento insuficiente para participantes com escolaridade de nível fundamental. O segundo percentual mais elevado foi de nível bom para profissionais de nível médio. Apesar da ampla variação nos percentuais, constatou-se associação significativa entre os parâmetros. Concordando com Lima et al (2007), o resultado do presente estudo evidencia que os profissionais podem não estar atentos às recomendações do Manual de Vigilância da Leishmaniose Visceral (BRASIL, 2006). Sugere-se, portanto, a intensificação das ações educação em saúde sobre esta doença para que as medidas de controle possam ser efetivamente adotadas. CONCLUSÃO Na área estudada o reduzido nível de conhecimento sobre a doença demonstra a necessidade de fomentar a ação das equipes de educação em saúde e professores no que diz respeito à leishmaniose visceral em seus aspectos de transmissão e prevenção. 278 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral. Brasília, 2006. 120 p. DANTAS-TORRES F. Leishmune vaccine: the newest tool for prevention and control of canine visceral leishmaniosis and its potential as a transmission blocking vaccine. Veterinary Parasitology, v.141. p.1-8, 2006. DIVE - Diretoria de Vigilância Epidemiológica. Gerencia de Vigilância De Zoonoses e Entomologia - Guia de Orientação da Leishmaniose Tegumentar Americana. Vigilância de Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA). Guia de orientação. 3.ed. 2009. LIMA, M.V.N. et al. Atendimento de pacientes com leishmaniose tegumentar americana: avaliação nos serviços de saúde de municípios do noroeste do estado do Paraná, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v.23, n.12, p.2938-2948, 2007. LUZ, Z.M.P.; SCHALL, V.; RABELLO, A. Evaluation of a pamphlet on visceral leishmaniasis as a tool for providing disease information to healthcare professionals and laypersons. Cadernos de Saúde Pública, v. 21, p.608-21, 2005 SHEIHAM, A.; MOYSÉS, S.J. O papel dos profissionais de saúde bucal na promoção de saúde. In YP Buisch. Promoção de saúde bucal na clínica odontológica. Artes Médicas, p. 23-37, 2000. WERNECK, G.L. et al. Multilevel modeling of the incidence of visceral leishmaniasis in Teresina, Brazil. Epidemiology and Infection, v.135, p. 195-201, 2007. Os procedimentos metodológicos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (CEP-FIOCRUZ / PE, 09/2011). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 279 Silvia Rafaelli MARQUES1; Ana Carolina Messias de SOUZA2; Jussara Valença de Alencar RAMOS3; Ivanise Maria de SANTANA4; Verônica Maria Silva da COSTA5; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO6 Tabela 1. Avaliação do nível de conhecimento sobre leishmaniose visceral segundo a escolaridade no grupo dos profissionais de saúde e de professores. Nível de conhecimento Escolaridade Fundamental Médio Superior Grupo Total n % n % n % n % 14 100,0 40 100,0 75 100,0 129 100,0 - - 2 5,0 21 28,0 23 17,8 Insuficiente 10 71,4 6 15,0 25 33,3 41 31,8 Regular 4 28,6 13 32,5 15 20,0 32 24,8 Bom - - 19 47,5 5 6,7 24 18,6 Excelente - - - - 9 12,0 9 7,0 TOTAL Nulo Valor de p p(1) < 0,001* (*): Diferença significativa ao nível de 5,0%. (1): Teste Exato de Fisher Nulo → 0,00 – 3,99; Insuficiente → 4,00 – 5,99; Regular → 6,00 – 7,49; Bom → 7,5 – 8,99; Excelente → 9,00 – 10,00. 280 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Luana Thamires Rapôso da SILVA1; Vitor Pereira Matos ROLIM2; José Sérgio de Alcântara e SILVA3; Grasiene de Meneses SILVA4; Rinaldo Aparecido MOTA5; Andréa Alice Fonseca OLIVEIRA6 PESQUISA DE SALMONELLA SPP. EM AVES SILVESTRES NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL. Salmonella spp. research in wild birds from Metropolitan Region of Recife, Pernambuco, Brazil. Universidade Federal Rural de Pernambuco, luana.raposo. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, vitorpr_1@ hotmail.com 3 Médico Veterinário autônomo, [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, rinaldo.mota@ hotmail.com 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, andreaafo@ hotmail.com 1 Luana Thamires Rapôso da SILVA1; Vitor Pereira Matos ROLIM2; José Sérgio de Alcântara e SILVA3; Grasiene de Meneses SILVA4; Rinaldo Aparecido MOTA5; Andréa Alice Fonseca OLIVEIRA6 PA L AV R A S - C H AV E Carcará, Saúde Pública, Salmonelose. KEYWORDS Carcará, Public Health, Salmonelosis. INTRODUÇÃO Bactérias do gênero Salmonella são consideradas as maiores causadoras de enterites no mundo geralmente através de produtos de origem animal, comumente envolvidas em casos de gastrenterites e outros tipos de infecções (SILVA et al., 2010). São micro-organismos gram-negativos, flagelados, anaeróbios facultativos, não formadores de esporos, que produzem gás sulfídrico (H2S) e possuem duas espécies reconhecidas: Salmonella bongori e Salmonella enterica, seis subespécies e cerca de 2500 sorotipos.(MARIETTO-GONÇALVES et al., 2010, SILVA et al., 2010). Salmonella Pullorum e Gallinarum são consideradas específicas pra aves, que determinam a Pulorose e o Tifo aviário respectivamente, além da Febre Paratifóide causada por outros sorovares que são originados da combinação de antígenos de superfície bacteriana (MARIETTO-GONÇALVES et al., 2010, SILVA et al., 2010). As bactérias do gênero podem colonizar o trato digestório de répteis, aves e mamíferos, incluindo o homem (SILVA et al., 2010). O diagnóstico da Salmonelose é baseado no exame clínico através dos sinais, podendo ser realizado o isolamento do agente, exames sorológicos técnicas de biologia molecular, como PCR, sendo os materiais biológicos de escolha fezes ou sangue em casos de infecções sistêmicas (SILVA et al., 2010). Objetivou-se pesquisar a presença de Salmonella spp. através de isolamento bacteriano, em aves silvestres capturadas no Aeroporto Internacional do Recife/ Guararapes Gilberto Freyre, Pernambuco. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida inicialmente no Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes Gilberto Freyre, juntamente com a equipe do Projeto Fauna nos Aeroportos Brasileiros, onde foram coletadas amostras das aves capturadas pela equipe. Para a captura utilizou-se armadilhas do tipo Tomahawk, dispostas no sítio aeroportuário, com iscas vivas para atrair as aves. Após a captura, as Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 281 Luana Thamires Rapôso da SILVA1; Vitor Pereira Matos ROLIM2; José Sérgio de Alcântara e SILVA3; Grasiene de Meneses SILVA4; Rinaldo Aparecido MOTA5; Andréa Alice Fonseca OLIVEIRA6 aves foram encaminhadas ao Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT), situado no aeroporto para a coleta das amostras biológicas e exame físico. As aves foram contidas fisicamente de forma adequada e submetidos à esfoliação com uso de suabes esterilizados na cloaca. Os suabes foram acondicionados em tubos estéreis e encaminhados para o Laboratório de Doenças Infecto-contagiosas – Departamento de Medicina Veterinária/ UFRPE para pesquisa de seja em vida livre ou em cativeiro (MARIETTO-GONÇALVES et al., 2010)e atualmente já é reconhecido no mundo o potencial risco a saúde pública da Salmonelose oriunda de infecção em aves silvestres (HORTON et al., 2013). Segundo Horton e colaboradores (2013), em seus estudos em aves silvestres e animais domésticos, identificaram espécies idênticas de Salmonella nesses animais, o que pode indicar direta, ou indiretamente a associação na cadeia de transmissão em relação à saúde pública (HORTON et al., 2013). Essas aves podem carrear o agente ou serem infectadas, podendo assim interferir tanto na sua saúde, quanto a de animais domésticos e humanos (PENNYCOTT et al., 2006). Estudos sugerem que a Salmonelose é mais comum em aves que tem o hábito de forragear, como alguns passeriformes (HORTON et al., 2013), o que pode explicar a baixa frequência de aves positivas no estudo, uma vez que somente a espécie Vanellus chilensis costuma buscar seu alimento no solo. A ave que apresentou a amostra positiva pode ter se infectado através do contato com águas poluídas por fezes ou esgotos sem tratamento (SILVA et al., 2010), uma vez que o local da captura das aves situa-se em área urbana, com muitas residências informais, associado ao fato que a espécie Caracara plancus é comum nesses ambientes e não possui hábito de forragear, alimentando-se de roedores, aves pequenas e répteis (LUIGI, 2006). CONCLUSÃO A detecção de Salmonella spp. em aves de hábito antrópico demonstra um risco à saúde pública, devido a manutenção do agente e contaminação do ambiente. Mais estudos são necessários para avaliar o impacto da presença dessas aves e possíveis medidas de controle. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Métodos analíticos oficiais para análises microbiológicas para controle de produtos de origem animal e água. Portaria número 62 de 26 de agosto de 2003, Ministério da Agricultura do Abastecimento e da Reforma Agrária, Brasília, 2003. HORTON, R.A.;SPEED, KIDD,S.; DAVIES, R., COLDHAM, N.G.; DUFF, J.P. Wild birds carry similar Salmonella enterica serovar Typhimurium strains to those found in domestic animals and livestock. Research in Veterinary Science v. 95, p. 45-48, 2013. LUIGI, Giovannini . Aves como fator de risco para a Aviação nas proximidades de Aeroportos no Brasil: Desenvolvimento de uma metodologia para avaliação e busca de soluções. Manual de Controle do Perigo Aviário para Aeroportos da Rede Infraero. Centro de Pesquisa em Avifauna de Aeroportos –CPAA, 2006. 282 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Luana Thamires Rapôso da SILVA1; Vitor Pereira Matos ROLIM2; José Sérgio de Alcântara e SILVA3; Grasiene de Meneses SILVA4; Rinaldo Aparecido MOTA5; Andréa Alice Fonseca OLIVEIRA6 MARIETTO-GONÇALVES, G. A.; ALMEIDA, S.M.; LIMA, E. T.; OKAMOTO, A.S.; PINCZOWSKI, P.; FILHO, R.L.A. Isolation of Salmonella enterica Serovar Enteritidis in Blue-Fronted Amazon Parrot (Amazona aestiva). Avian Diseases, v.54 p.151-155. 2010. PENNYCOTT, T.W.; PARK, A.; MATHER, H.A. Isolation of different serovars of Salmonella enterica from wild birds in Great Britain between 1995 and 2003. Veterinary Record v.158, p 817-820, 2006. SILVA, M.A.; MARVULO, M.F.V.; MOTA, R.A.; SILVA, J.C.R. A importância da ordem Ciconiformes na cadeia epidemiológica de Salmonella spp. para a saúde pública e a conservação da diversidade biológica. Pesquisa Veterinária Brasileira v. 30 (7) p. 573-580, 201 Comissão de Ética: CEUA/UFRPE nº: 065/2014. SISBIO nº: 43771-1 22/04/2014. Agradecimentos: À Equipe do projeto Fauna nos Aeroportos Brasileiros, ao Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT-UnB) e à INFRAERO. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 283 Grasiene de Meneses SILVA 1; Maria Júlia NARDELLI 2; Amanda Chagas da SILVA 3; Maxsuel dos Santos SOUZA 4; Emanuela Polimeni de MESQUITA 5, Maria das Graças Xavier de CARVALHO 6 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO LEITE DE CABRA IN NATURA PRODUZIDO NO ESTADO DE SERGIPE Goat in milk quality assessment produced in natura sergipe state Grasiene de Meneses SILVA 1; Maria Júlia Nardelli 2; Amanda Chagas da Silva 3; Maxsuel dos Santos Souza 4; Emanuela Polimeni de Mesquita 5, Maria das Graças Xavier de Carvalho 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, [email protected] 2 Universidade Tiradentes, [email protected] 3 Universidade Federal de Campina Grande, amanda.chs@ gmail.com 4 Universidade Federal de Sergipe, [email protected]. br 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, [email protected] 6 Universidade Federal de campina Grande, [email protected] 1 PA L AV R A S - C H AV E caprinos, saúde pública, segurança alimentar KEYWORDS goats, public health, food safety INTRODUÇÃO O leite de cabra é um alimento nutritivo e saudável, com elevados teores de vitamina A, cálcio, fósforo, potássio, magnésio e proteínas de alto valor biológico, sendo indicado a consumidores variados como crianças, adultos, idosos e pessoas com restrições alimentares (LAGUNA, 2004). A maior digestibilidade do leite de cabra e o interesse por alimentos mais saudáveis vem estimulando a utilização deste como alimento funcional (OLLALA et al., 2009). Segundo Chapaval e Magalhães (2009), os consumidores estão assumindo uma posição cada vez mais exigente no que diz respeito à garantia de segurança alimentar, sustentabilidade dos processos de produção e qualidade, além das exigências por parte das indústrias beneficiadoras, que sabem da importância de uma matéria prima de boa qualidade para a obtenção de seus derivados. A qualidade do leite de cabra é definida por seus parâmetros físico-químicos e microbiológicos, garantida pela Instrução Normativa n° 37 de 31 de Outubro de 2000 (BRASIL, 2000) estabelecendo requisitos mínimos de qualidade do leite de cabra destinado ao consumo humano. Para melhorar a produção e incentivar o consumo no estado de Sergipe é necessário o conhecimento da qualidade do leite produzido. Esse trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade do leite de cabra in natura proveniente das principais regiões produtoras no estado de Sergipe. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi realizado em 27 propriedades do estado de Sergipe, distribuídas em 12 municípios, nas três mesorregiões do estado em Janeiro de 2012. O deslocamento para as propriedades foi feito com o apoio do SEBRAE-SE. Nas propriedades os animais foram ordenhados pelos produtores, e as amostras coletadas diretamente do latão contendo o leite de todas as cabras em lactação. Das 27 propriedades, 19 (70,38%), tinha rebanho formado por animais 284 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Grasiene de Meneses SILVA 1; Maria Júlia NARDELLI 2; Amanda Chagas da SILVA 3; Maxsuel dos Santos SOUZA 4; Emanuela Polimeni de MESQUITA 5, Maria das Graças Xavier de CARVALHO 6 da raça Saanen e, 8 (29,62%), apresentavam animais da raça Saanen e mestiças. As amostras coletadas foram submetidas às analises de Densidade, Acidez, conforme Brasil (1981), Composição e Contagem Bacteriana Total (CBT). Os testes de acidez e densidade foram realizados imediatamente após a ordenha. Para os testes de composição e CBT as amostras foram coletadas em frascos contendo Azidiol, refrigeradas e encaminhadas para o laboratório do Programa de Gerenciamento de Rebanhos Leiteiros do Nordeste (PROGENE) situado na Universidade Federal Rural de Pernambuco para análise. Os municípios contemplados, os números de produtores e de amostras estão demonstrados na tabela 1. O experimento foi realizado com a aprovação do Comitê de ética no uso animai (CEUA-UNIT) da Universidade Tiradentes, processo nº 040811/2011. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na determinação da acidez e da densidade foi constatado que 100% das amostras se enquadravam aos padrões estabelecidos 13-18°D e 1,028 – 1,034, respectivamente, devido mensuração da acidez logo após o término da ordenha, não havendo desdobramento da lactose em ácido lático pelos micro-organismos. Os valores dentro dos padrões para a densidade podem ser explicados por características raciais, pois segundo Medeiros (1994) animais da raça Saanen apresentam a tendência a produzir leite com menores teores de sólidos totais e, portanto, menor densidade. Para a acidez a média geral dos produtores foi de 15,5ºD e da densidade foi 1,030, esses resultados foram próximos aos encontrados por Brandão et al. (2012) de 16,24°D e 1,031 respectivamente, estudando o leite caprino in natura produzido no semi-árido de Sergipe. E,m seu estudo, Pereira et al. (2005) encontraram valores que variaram de 1027,6 a 1033,4 g/cm³. Quanto à composição, o teor de gordura estava dentro dos padrões em 93% das amostras, os 7% que apresentaram resultados insatisfatórios tinham origem em propriedades cujos produtores não ofereciam volumoso de boa qualidade, fator que interfere negativamente no teor de gordura. Outro fator importante é o período de lactação, porém nesse estudo esse fator não pode ser avaliado, pois as amostras foram coletadas do latão, onde havia leite de animais em diferentes estágios de lactação. Em relação a proteínas, 100% das amostras e 85% das amostras para Extrato seco desengordurado (ESD) estavam em conformidade com Brasil (2000), valor abaixo do encontrado por Pereira et al (2005) que foi de 90,2% estavam conforme a legislação. Para o Extrato seco total (EST) 88,88% apresentavam-se em conformidade com a legislação, contra 11,11% que estavam fora do padrão para esse requisito. Para a CBT, importante indicador da sanidade do rebanho e higiene na ordenha, 52% apresentaram valores acima do limite e, 48% estavam no limite. O número elevado de amostras fora dos padrões pode ser explicado pela falta de manejo adequado na ordenha. Avaliação semelhante foi feita por Mororó (2011) que em seu estudo em Monteiro-PB, encontrou 75% das propriedades com valores acima do limite. Das propriedades estudadas, 96,3% não possuíam plataforma de ordenha, realizando o procedimento em local inadequado, 37% Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 285 Grasiene de Meneses SILVA 1; Maria Júlia NARDELLI 2; Amanda Chagas da SILVA 3; Maxsuel dos Santos SOUZA 4; Emanuela Polimeni de MESQUITA 5, Maria das Graças Xavier de CARVALHO 6 dos ordenhadores não lavam as mãos antes da ordenha e nem lavam e secam as tetas das fêmeas, 59,3% não desprezam os primeiros jatos de leite e 81,5% não realizam procedimentos considerados como princípios básicos de higiene. CONCLUSÃO Esse estudo demonstra que a maioria dos produtores pesquisados dispõe de um produto dentro dos padrões físico-químicos estabelecidos pela Instrução normativa nº 37, mas possuem análises de contagem bacteriana total insatisfatórias, resultados que podem ser revertidos com a adoção de manejo durante a ordenha, diminuindo a incidência de mastites e a contaminação do leite. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LAGUNA, L. E. O Leite de cabra como alimento funcional. EMBRAPA, 2004. Disponível em:<http://www.capritec.com.br/artigos_embrapa030609a.htm>. Acesso em: Julho de 2015. BRANDÃO, E.C.S.; FIGUEIREDO, A.V.D.; BOMFIM, F.S.; BOARI, C.A.; SILVA, G.F. Perfil físico-químico do leite caprino em natureza produzido no semi-árido de Sergipe. Rev. Hig. Alimentar, v.26. 2012. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa n° 37 de 31 de outubro de 2000. Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do Leite de Cabra. 2000. Disponível em: <http://www.engetecno.com.br/legislacao/leite_rtfiq_leite_cabra.htm>. Acesso em: julho de 2015. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretária Nacional de Defesa agropecuária. Laboratório Nacional de Referência Animal. Métodos Analíticos Oficiais para Controle de produtos de Origem Animal e seus Ingredientes. II Métodos Físicos e Químicos. Cap. 14: Leite Fluido. Brasília, DF., 1981. CHAPAVAL, L.; MAGALHÃES, D. C. T. Qualidade do leite de cabra: uma questão de bom gosto. Capril virtual. Disponível em: http://www.caprilvirtual. com.br/Artigos/CNPC_Qualidade_Leite.pdf, acesso em: julho de 2015. MEDEIROS, L.P. Caprinos: Princípios básicos para a sua exploração. Brasília: EMBRAPA-SP. 1994, 177p. MORORÓ, A. M.; CHAPAVAL ,L.; AGALHÃES, D.C.T. et al.Qualidade do Leite Caprino Antes da Aplicação de Boas Práticas Agropecuárias: Estudo de Casos, XXI Congresso Brasileiro de Zootecnia. Alagoas, Maceió-Al, 2011. OLLALA, M.; RUIZ-LOPES, M. D.; NAVARRO-ALARCON, M. et al. Nitrogen fractions of Andalusian goat milk compared to similar types of commercial milk. Food Chemistry, London, v. 113, n. 3, p. 835-838, 2009. 286 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Grasiene de Meneses SILVA 1; Maria Júlia NARDELLI 2; Amanda Chagas da SILVA 3; Maxsuel dos Santos SOUZA 4; Emanuela Polimeni de MESQUITA 5, Maria das Graças Xavier de CARVALHO 6 PEREIRA, R. A. G ; QUEIROGA, R. C. R. E; VIANNA. R. P. T. et al. Qualidade química e física do leite de cabra distribuído no Programa Social “Pacto Novo Cariri” no Estado da Paraíba. Rev Inst Adolfo Lutz, v.64, n.2, p.205-211, 2005. Agradecimetos: Ao Serviço Brasileiro de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-SE) e a Federação das Associações de Criadores de Caprinos e Ovinos de Sergipe (Faccos). Tabela 1 Relação dos municípios, número de produtores beneficiados e número de amostras coletadas no estado de Sergipe. MUNICIPIOS Nº DE PRODUTORES Nº DE AMOSTRAS Aracaju 4 4 Canindé de São Francisco 1 1 Capela 1 1 Itabaiana 1 1 Lagarto 2 2 Macambira 2 2 Malhador 1 1 Nossa Senhora da Glória 5 5 Pinhão 1 1 Poço Verde 6 6 São Cristóvão 1 1 Simão Dias 2 2 27 27 Total Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 287 Leimah ALBUQUERQUE1; Evilda de LIMA2; Luiz CONSONI3 INDUÇÃO DE URINA ÁCIDA ATRAVÉS DO USO CONTÍNUO DE ÁCIDO ASCÓRBICO EM UM DÁLMATA E SUAS CONSEQUÊNCIAS Acid urine induction through continued use of ascorbic acid in a Dalmatian and its consequences. Leimah ALBUQUERQUE1; Evilda de LIMA2; Luiz CONSONI3. Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. hamiela@ gmail.com 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. evilda17@ hotmail.com 3 Universidade Federal de Pernambuco, DBR. consoni@ufpe. br 1 PA L AV R A S - C H AV E Cristais na urina, dálmata, urina ácida, vitamina C. KEYWORDS Acidic urine, C vitamin, dalmatian dog, crystals in the urine. INTRODUÇÃO Ao longo dos anos os seres humanos foram fazendo cruzamentos de cães de forma a apurar certas raças o que além melhorar certas características consideradas ideais, por vezes também leva ao aumento da incidência de doenças genéticas. No caso da raça Dálmata uma das doenças genéticas mais comuns é a urolitíase congénita cujo gene se pensa estar associado ao da pelagem branca com manchas pretas características. A urolitíase é devida a uma grande acumulação de ácido úrico, um componente resultante da destruição das purinas existentes no DNA de todas as células que é pouco solúvel em água e por isso se torna difícil de eliminar do organismo (ÁLVAREZ et al., 2003). No caso dos dálmatas, há uma deficiência na uricase que faz com que o ácido úrico não seja transformado e se acumule e o ácido úrico em excesso vai-se depositar na forma de urato nos rins ou bexiga formando cálculos que podem impedir o fluxo normal da urina. O controle do pH urinário é uma medida eficaz e deve ser menor do que 7 para prevenir cálculos de estruvita, e maior do que 7 para cálculos de oxalato de cálcio, urato e cistina (ÁLVAREZ et al., 2003). Diante dessas informações o presente trabalho teve como objetivo avaliar o pH urinário, antes e após a administração de doses de vitamina C diariamente em um cão. MATERIAL E MÉTODO O animal estudado tem 13 anos de idade, é da raça dálmata e alimenta-se uma vez ao dia. Sua dieta é à base de proteína e carboidrato (arroz, fubá, carne e legumes), e o mesmo ingere pouca água durante o dia. O animal é castrado e já foi submetido a quatro cistotomias para retirada de cálculos na vesícula urinária. A primeira cirurgia foi realizada em 2007, a segunda, terceira e quarta cirurgias foram realizadas respectivamente nos anos de 2010, 2012 e 2013. Porém, em 2013 o animal submeteu-se a uma nova cirurgia devido à formação de aglo288 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Leimah ALBUQUERQUE1; Evilda de LIMA2; Luiz CONSONI3 merado de cálculos em volta do fio de sutura (Naylon) usado para a síntese da parede da vesícula urinária. A pesquisa analisou o valor do pH urinário com o auxílio de fitas medidoras de pH, diariamente, sempre no período da manhã, tendo como método de coleta a micção espontânea. O volume a ser coletado variava de 11 à 12ml de urina. Essa análise foi realizada antes de se administrar dois comprimidos de 500mg de vitamina C (Cewin 500mg) ao dia e após o uso desta. No decorrer total de quatro meses, sendo dois meses consecutivos sem o uso da vitamina C e nos dois meses subjacentes com o uso da referida vitamina. Durante o período em que não se administrou a vitamina C observou-se que os valores na medição do pH variavam muito de 6.0 até 7.0. Porém, após administrar 1g de vitamina C à noite, foi observado pH urinário igual a 6,0 permanecendo este valor durante o tratamento com a vitamina C. No entanto, após dois meses contínuos de uso da vitamina C, o animal apresentou disúria e estrangúria. Pode-se observar também que em algumas coletas havia a presença de cristais sedimentados no fundo do tubo de ensaio. RESULTADOS E DISCUSSÕES Conforme Álvarez et al. (2003) qualquer que seja a natureza dos elementos dos cálculos envolvidos na sua formação, deve-se considerar quatro fatores: supersaturação de minerais presentes na urina, o pH urinário que diminui a solubilidade dos minerais, existência de promotores da cristalização e ausência de inibidores da cristalização. No entanto, González e Silva (2008) os rins são uns dos componentes responsáveis pela manutenção do pH sanguíneo seja pela excreção ou manutenção de ácidos ou bases do organismo e que para manter o pH sanguíneo constante, haverá alterações do pH urinário. Contudo, não deve ser utilizado unicamente para estabelecer alterações do pH sanguíneo. Essas alterações correspondem a condições alimentares, ou seja, o pH normal da urina irá depender da dieta. Os valores normais para cães variam de 5,5 à 7,0. As alterações no pH indicam mais uma condição sistêmica do que uma alteração localizada no sistema urinário. O pH urinário observado após o uso contínuo e frequente da vitamina C resultaram em uma urina ácida, porém torna-la ácida não alterou a insolubilidade dos minerais e nem tão pouco promovei o surgimento de inibidores de cristais ou mesmo inibiu os promotores de cristalização. CONCLUSÃO A indução na formação de uma urina ácida através de doses diárias de vitamina C se mostrou-se eficiente no cão dálmata. Contudo, a tentativa de se evitar a formação de cristais ao diminuir o pH urinário, tendo como fator principal a solubilidade dos minerais existentes nesta, não demonstrou sucesso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS TILLEY, P.L.; SMITH, F.W.K.Jr. Consulta Veterinária em 5 Minutos: Espécie Canina e Felina. 5 ed. Tradução de Fabiana Buassaly Leistner. Barueri, SP: Manole, 2015. P. 285-286. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 289 Leimah ALBUQUERQUE1; Evilda de LIMA2; Luiz CONSONI3 ÁLVAREZ, L; LÓPEZ, J; FERNÁNDEZ, R; ANTÓN, J. “Médica Veterinaria: libro de texto para la docência de la Asignatura”. Universidade de Leon, Santiago de Compostela, p. 550-552, 2003. GONZÁLEZ, F. SILVA, S. Patologia Clínica Veterinária: Texto de Apoio ao Curso de Especialização em Análises Clínicas Veterinárias. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, p.112-120, 2008. Figura 1 – Coleta da urina antes e após a utilização da vitamina. Figura 2 – Fitas de pH. Após uso da vitamina C o pH da urina manteve-se entre 6-7. 290 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM1; Richelle da Silva BRAZ2; Júlio Cézar dos Santos Nascimento3; Valdemiro Amaro da SILVA JUNIOR4; Emanuela Polimeni de MESQUITA5; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE6 EFEITOS DE DIFERENTES DOSES DE OLANZAPINA SOBRE AS GLÂNDULAS SALIVARES SUBMANDIBULARES DE RATOS WISTAR PÚBERES Salmonella spp. research in wild birds from Metropolitan Region of Recife, Pernambuco, Brazil. Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMFA [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV juliocezar@ veterinario.med.br 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV vajunior@ dmv.ufrpe.br 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV polemini. [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV [email protected] 1 Effects of different doses of Olanzapine the gland salivary submandimulares rats pubescent wistar PA L AV R A S - C H AV E Carcará, Saúde Pública, Salmonelose. KEYWORDS Carcará, Public Health, Salmonelosis. INTRODUÇÃO A olanzapina, é um antipsicótico atípico indicado para o tratamento agudo e de manutenção da esquizofrenia e outras psicoses onde os sintomas positivos e/ou sintomas negativos são proeminentes. Os efeitos adversos mais comuns em curto prazo incluem ganho de peso, sonolência, acatisia, edema vascular periférico, aumento do apetite, disfunção erétil e boca seca (FROTA, 2001). Xerostomia é a manifestação clínica da disfunção das glândulas salivares caracterizada pela hipossalivação (PIRES, 2009). As drogas são as causas mais comuns da redução salivar. Existem diferentes mecanismos que são responsáveis por essa redução relacionadas às drogas, mas a ação anticolinérgica é a que domina a maioria deles. Existem muitos tipos de receptores para substâncias nas glândulas salivares, sugerindo que essas glândulas podem conter sistemas alvos para muitas drogas (SCULLY, 2003). Um antipsicótico atípico pode afetar diretamente a fisiologia das glândulas salivares devido à sua afinidade com os receptores muscarínicos e adrenérgico α1, localizados nessas glândulas. Esse trabalho teve como objetivo verificar os efeitos da olanzapina sobre as glândulas salivares, devido à sua atividade xerostômica, através das alterações histomorfológicas das glândulas. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 20 ratos wistar púberes (Rattus norvegicus, var. albinus) pertencentes a um projeto preexistente. Após a eutanásia, foram separadas as cabeças dos animais que posteriormente foram utilizadas as partes de interesse da presente pesquisa, onde as glândulas submandibulares foram removidas. Os ratos foram escolhidos por amostragem não probabilística e submetidos aos diversos tratamentos, de acordo com o grupo experimental: controle (n=5), 2,5mg/kg (n=5), 5mg/kg (n=5) e 10mg/kg (n=5) de olanzapina. Para estudo, as glândulas submandibulares foram removidas e pesadas Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 291 Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM1; Richelle da Silva BRAZ2; Júlio Cézar dos Santos Nascimento3; Valdemiro Amaro da SILVA JUNIOR4; Emanuela Polimeni de MESQUITA5; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE6 em balança de precisão e feita mensuração com paquímetro manual. O volume de cada amostra foi obtido usando a fórmula dada por Fautino (2003), VP = m.Sf / d, onde: Vp = volume processado em mm3; m = massa fresca da glândula em mg; Sf = fator de retração médio (Sf=0,47); d = densidade média da glândula (d=1,072 mg/mm3). Também mensurados largura e comprimento utilizando-se paquímetro manual. Para análise histomorfometrica um fragmento de cada glândula, foi submetido processamento rotineiro para inclusão em resina plástica à base de glicol metacrilato (LEICA) e analisados os cortes em microscopio de luz. Para estimativa da densidade volumétrica de cada estrutura glandular foram selecionados 5 campos histológicos por animal por amostragem sistemática em objetiva 40X. Foi utilizada uma grade exibindo 441 pontos sobre os campos histológicos e anotado a quantidade de pontos sobre cada estrutura glandular. A densidade de volume estimada foi então calculada pela seguinte relação: VE= PE/PG, onde VE= volume estimado de cada estrutura em (%), PE= quantidade de pontos sobre a estrutura e PG= quantidade de pontos sobre a glândula (441). Para se determinar volume absoluto em mm3 (VA) de cada componente glandular, foi feita a seguinte relação: VA=VE.VP, onde VP é o volume processado da glândula. Foram realizadas as análises de variância entre os grupos (ANOVA) e o teste de Tukey, com nível de significância de p<0.05. Este experimento foi avaliado e aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da UFRPE, sob o licença número 053/2014. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em análise macroscópica não foram observadas alterações de coloração, topografia da glândula e textura entre os grupos estudados. Os resultados morfométricos obtidos pela análise estão expressos na tabela 1. Não houve diferença estatistica sigificativa entre os grupos de acordo com os parâmetros avaliados. Os resultados da análise quantitativa dos constituintes teciduais da glândula submandibular estão apresentados na Tabela 2. De acordo com os dados obtidos por essas análises, não foi constatada variação na proporção das estruturas glandulares nos grupos tratados em comparação com o grupo controle, bem como também não foram constatas variações no valor de volume absoluto. Os achados histológicos, esterológicos e estatística aplicada, demonstram que a olanzapina não causa alterações morfológicas e estruturais nas glândulas salivares submandibulares que justifique o efeito xerostômico descrito na literatura, contudo não se pode eliminar a possibilidade desse efeito ser causado por outra interação fisiológica envolvendo as glândulas e o antipsicótico. Diversos autores constataram que drogas podem atuar alterando a qualidade e a quantidade do fluxo salivar. Entretanto, outros fatores também podem ser considerados, pois outros neuromediadores, proteínas e aminoácidos são capazes de resultar em alteração da atividade sobre as glândulas salivares (SCULLY, 2003). Dentre os efeitos colaterais da olanzapina está a boca seca, que pode ser causado pela inibição da secreção salivar. Esta pode ser determinada pela capacidade desta droga atuar sobre a fisiologia das glândulas salivares devido à sua afinidade com os receptores muscarínicos, adrenérgico e colinérgicos o que pode acarretar em hipossalivação (SCULLY, 2003). Desta forma levanta-se a hipótese de que o efeito xerostômico causado 292 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM1; Richelle da Silva BRAZ2; Júlio Cézar dos Santos Nascimento3; Valdemiro Amaro da SILVA JUNIOR4; Emanuela Polimeni de MESQUITA5; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE6 pela olanzapina seja devido a sua interação com receptores, levando a hipossalivação, contudo é necessário um estudo fisiológico com animais vivos, onde se determina o volume salivar produzido por cada animal durante o tratamento, bem como a composição salivar. CONCLUSÃO De acordo com os diferentes tratamentos empregados e com os parâmetros avaliados nesse estudo, a olanzapina não causa alterações histomorfométricas nas glândulas salivares. O efeito xerostômico causado pelo uso da olanzapina não ocorre devido a alterações degenerativas nas glândulas salivares, contudo não se pode eliminar a possibilidade desse efeito ser causado por outra interação fisiológica envolvendo as glândulas e o antipsicóticos. Sugere-se que seu efeito seja devido a interação com receptores provocando a hipossalivação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FROTA, LEOPOLDO H. Cinqüenta anos de medicamentos antipsicóticos em psiquiatria. J. Bras. Psiquiat. v.50, p.298-317, 2001. PIRES, Fábio Ramôa et al. Reações medicamentosas na cavidade oral: aspectos relevantes na Estomatologia. Rev. bras. odontol., v. 66, n. 1, p.41-53, 2009. SCULLY, C. Drug effects on salivary glands: dry mouth. Oral diseases, v.10, p.165-176, 2003. www.ZYPREXA.com (Acesso em 19 de junho de 2015 ás 18 horas) Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 293 Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM1; Richelle da Silva BRAZ2; Júlio Cézar dos Santos Nascimento3; Valdemiro Amaro da SILVA JUNIOR4; Emanuela Polimeni de MESQUITA5; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE6 Tabela 1. Média e desvio padrão dos resultados morfométricos da glândula submandibular. Comprimento (cm) Largura (cm) Massa (mg) Volume (mm³) Controle 0,90 ± 0,24 0,46 ± 0,05 401,2 ± 82,5 175,89 ± 36,2 2,5mg/kg 0,82 ± 0,30 0,50 ± 0,00 382,6 ± 89,7 167,60 ± 39,5 5,0mg/kg 0,88 ± 0,31 0,52 ± 0,10 357,2 ± 78,8 156,66 ± 34,5 10mg/kg 0,88 ± 0,23 0,50 ± 0,09 330,6 ± 60,7 144,94 ± 26,6 0,971 0,251 0,532 0,534 P Tabela 2. Densidade de volume absoluto das estruturas glandulares nos grupos (mm3) Estrutura Controle 2,5 mg 5,0 mg 10,0 mg P Ácino 102,3 ± 22,8 94,7 ± 25,6 93,8 ± 22,3 89,0 ± 24,4 0,848 Ducto G 28,0 ± 12,5 29,1 ± 4,8 21,8 ± 2,5 19,1 ± 4,1 0,141 Ducto E 16,0 ± 5,6 17,9 ± 7,7 15,2 ± 2,9 14,5 ± 6,6 0,822 TC 23,5 ± 6,1 21,9 ± 5,1 21,6 ± 9,3 18,5 ± 3,5 0,663 Vasos 4,4 ± 1,1 3,3 ± 1,3 3,6 ± 1,0 3,4 ± 1,0 0,464 * Ducto G: ducto granuloso; Ducto E: ducto estriado, excretor e intercalares; TC: tecido conjuntivo. Figura 1 – Fotomicrografias das glândulas submandibulares dos grupos controle (A); 2,5mg (B); 5,0mg (C) e 10,0mg (D). Notar integridade de ácinos e ductos. Hematoxilina-floxina. 40x. 294 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Emanuela Polimeni de MESQUITA¹; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE²; Felipe Coral dos SANTOS³; Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO4; Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM5; Geraldo Jorge Barbosa de MOURA6. ESTUDO ANATÔMICO DO ESTÔMAGO DA Bradypus variegatus - Shinz, 1825 (Mammalia, Xenarthra) An anatomical study of the stomach in Bradypus variegatus – Shinz, 1825 (Mammalia, Xenarthra) Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMFA polemini. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMFA [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV juliocezar@ veterinario.med.br 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV [email protected] 1 ¹ Universidade Federal Rural de Pernambuco. DMFA. E-mail: [email protected] ² Universidade Federal Rural de Pernambuco. DMFA. E-mail: [email protected] ³ Universidade Federal Rural de Pernambuco. DMFA. E-mail: felipecoral_l2009@hotmail. com 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco. DMFA. E-mail: [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco. DMV. E-mail: [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco. DMFA. E-mail: [email protected] 7 Universidade Federal Rural de Pernambuco. DB. E-mail: [email protected] Emanuela Polimeni de MESQUITA¹; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE²; Felipe Coral dos SANTOS³; Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO4; Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM5; Geraldo Jorge Barbosa de MOURA6. PA L AV R A S - C H AV E Câmaras gástricas, morfologia, sistema digestório, bicho-preguiça, Bradypus variegatus. KEYWORDS Gastric cameras, morphology, digestive system, sloth, Bradypus variegatus. INTRODUÇÃO Com o avanço das fronteiras agrícolas, o meio ambiente vem sendo fortemente alterado proporcionando mudanças à fauna e a flora. Com base nessas condições torna-se de fundamental importância conhecer os aspectos anatômicos do estômago das espécies prioritariamente arborícolas e herbívoras, a exemplo de Bradypus variegatus, bicho-preguiça que ocorre em regiões neotropicais (BIANCHI et al., 2012). O Brasil é detentor de quase todas as espécies do gênero Bradypus, exceto a B. pygmaeus. (MEDRI et al., 2011). Assim, por ocupar essa posição ímpar, o país constitui a maior reserva natural de Bradipodídeos, o que permite que esses animais sejam vistos como modelos biológicos para as pesquisas de caráter multidisciplinar (AMORIM et al., 2003). Este trabalho teve por objetivo descrever anatomicamente o estômago de B. variegatus, no que se refere a sua sintopia, morfologia interna, topografia e vascularização. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados cinco espécimes de B. variegatus, sendo duas fêmeas prenhes e um macho adulto e, uma fêmea e um macho jovens, os quais se encontram tombados no acervo da área de Anatomia, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Os animais encontravam-se congelados para posterior fixação em formol a 10%. O trabalho foi autorizado pela licença nº136/2014, concedida pelo comitê de ética no uso dos animais da UFRPE. Foram realizadas as localizações nos planos anatômicos e a mensuração através de ultrassonografia da distância entre estes e as bordas do estômago, além de fotografias, permitindo localização mais precisa das estruturas em sintopia com o órgão. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 295 Emanuela Polimeni de MESQUITA¹; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE²; Felipe Coral dos SANTOS³; Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO4; Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM5; Geraldo Jorge Barbosa de MOURA6. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se macroscopicamente que nos animais dissecados o estômago possuía subdivisões, denominadas câmaras gástricas: Câmara cárdica ou 1; Fundo estomacal ou câmara 2; Divertículo ou câmara 3; corpo do estômago ou câmara 4; Pré-piloro I ou Câmara 5 e Câmara 6 ou Pré-piloro II, além do esfíncter pilórico, que faz sintopia com o pré-piloro II, duodeno e pâncreas (Figura 1A). O estômago ocupa a porção cranial da cavidade, juntamente com o fígado que está localizado no espaço mediano da cavidade e, se estende até o antímero direito. Além disso, esses dois órgãos fazem sintopia com o diafragma, que pode ser considerado o limite cranial da cavidade abdominal. Os limites laterais são compostos pelas costelas e variou da 7ª a 15ª, bem como, a musculatura abdominal. Os limites dorsais são a musculatura do dorso, juntamente com as vértebras torácicas (6ª a 14ª vértebras) e as cinco vértebras lombares. Já os limites ventrais são compostos pela musculatura ventral do abdome. Os limites caudais são os ossos ilíacos, da pelve. A disposição e topografia do estômago variaram em função da faixa etária, distensão deste órgão e prenhez. Quanto à sintopia do estômago com outros órgãos, encontra-se as seguintes características morfológicas: a câmara cárdica (1), faz sintopia com o fundo estomacal (2) e com o corpo do estômago (4). O divertículo gástrico (3), possui sintopia com as câmaras cárdica, corpo e fundo estomacal e se encontra sobre os pré-piloros I e II, esfíncter pilórico e duodeno. Os pré-piloros I e II, tem sintopia com o divertículo gástrico, esfíncter pilórico, duodeno e baço (Figura1B). As câmaras cárdica e corpo do estômago fazem sintopia com o diafragma; já as câmaras cárdica e fundo estomacal possuem relação com a bordo medial do fígado. O divertículo se encontra repousando sobre os pré-piloros, esfíncter pilórico e duodeno. O fundo estomacal além de ser encontrado no antímero esquerdo, e possuir sintopia com a câmara cárdica, ainda possui relação com a parede torácica, ao nível das 8ª a 15ª costelas; já os pré-piloros e piloro, com baço, pâncreas e duodeno; o fundo estomacal possui relação com o duodeno. No que se refere aos hábitos alimentares e comportamento o bicho-preguiça B. variegatus, é extremamente restrito (BRITTON, 1941) e a possível utilização deste como modelo biológico para estudos ecoanatomofisiológicos é reconhecido pela comunidade acadêmica (AMORIM et al., 2003). Alimenta-se quase que exclusivamente de folhas (BARRETO, 2009), seu estômago tem maiores proporções se comparado a outras espécies de animais. Estudos realizados em outras espécies como a Murmecophaga tridactyla, pertencentes à mesma ordem e, cujo formato do estômago se assemelha a letra J (MENEZES, 2013), o estômago de Bradypus variegatus, apresenta três divisões dando origem a seis subdivisões. Estas características encontradas no presente estudo foram semelhantes às descritas por REZENDE et al (2011) em B. torquatus. A fixação do estômago ocorre através de ligamentos peritoniais: o ligamento hepato-duodenal, gastroesplênico e hepato-gástrico, conforme descrito por REZENDE et al. (2011). A divisão e organização das câmaras gástricas descritas neste trabalho corroboraram com estudos realizados por REZENDE et al (2011), em B. torquatus. 296 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Emanuela Polimeni de MESQUITA¹; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE²; Felipe Coral dos SANTOS³; Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO4; Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM5; Geraldo Jorge Barbosa de MOURA6. CONCLUSÃO O estudo topográfico do estômago de B. variegatus, permitiu ampliar o conhecimento sobre o padrão de disposição anatômica, topográfica das espécies de preguiça do gênero Bradypus. Visto que, o alcance desses objetivos fornecem subsídios para intervenções cirúrgicas e formulação de planos mais eficientes à conservação in situ e ex situ dessas espécies e dos ecossistemas onde habitam. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MEDRI, I.M. et al. Ordem Pilosa. In: REIS, N.E. et al. Mamíferos do Brasil. Londrina: Edição do autor, 2011. Cap.4, p. 92-94. BIANCHI, P.K.F.C. et al. Morfologia renal do Bradypus torquatus. Biotemas, v.25, p.201-205, 2012. AMORIM, M.J. A. A. L.; MIGLINO, M.A.; AMORIM JÚNIOR, A.A.; SANTOS, T.C. Aspectos morfológicos da placenta da preguiça, Bradypus variegatus - Shinz, 1825. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.40, p.217-226, 2003. BRITTON, S.W. Form and function in the sloth. The Quarterly Review of Biology. v.16, p.190-207, 1941. BARRETO, R.M.F. Uso do habitat pela preguiça de coleira (Bradypus torquatus), no sul da Bahia, Brasil. Dissertação (Mestrado em Zoologia) – Curso de Pós-graduação em Zoologia, Universidade de São Paulo, 2009. 100p. REZENDE, L.C. et al. Morphology and Vascularization of the Gastric Compartments in Three-Toed Sloth (Bradypus torquatus Illiger, 1811). International Journal of Morphology, v.29, p.1282-1290, 2011. MENEZES, L.T. Morfologia do tubo digestório do Tamanduá bandeira Myrmecophaga tridactyla (Pilosa: Myrmecophagidae). Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (Saúde Animal), Universidade de Uberlândia, 2013. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 297 Emanuela Polimeni de MESQUITA¹; Priscilla Virgínio de ALBUQUERQUE²; Felipe Coral dos SANTOS³; Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO4; Marleyne José Afonso Accioly Lins AMORIM5; Geraldo Jorge Barbosa de MOURA6. Figura 1 - Apresentação das câmaras estomacais e vascularização gástrica em Bradypus variegatus . A- Câmara cárdica (1), Fundo do estômago (2), Divertículo gástrico (3) e Câmara cárdica médial (4); B- Região pré-pilórica e pilórica, com visualização de pré-piloro I (5`), pré-piloro II (5), piloro (6), duodeno (7) e pâncreas (8); C- Ligamento mesogástrico (9), fígado (10), câmaras 1, 2 e 4; D- Baço (11), situado dorsalmente aos pré-piloros I e II, no antímero esquerdo; E- A. tronco celíaco (12) com ramificação das A. gástrica direita (a), A. esplênica (b) e pré-pilórica (c). 298 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO1; Fabiana América Silva Dantas de SOUZA2; Diogo Diógenes Medeiros DINIZ3; Richelle da Silva BRAZ4; José Antônio de Couto TEIXEIRA5; Ana Lúcia Figueiredo PORTO6. AVALIAÇÃO DO PERFIL HIDROLÍTICO IN VITRO DA FITASE PRODUZIDA POR Aspergillus niger var. phoenicis EM RAÇÕES COMERCIAIS DE AVES In vitro Hydrolytic profile of phytase produced from Aspergillus niger var. phoenicis on commercial poultry feed Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMFA fabiana. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV [email protected] 5 Universidade do Minho, DEB, Escola de Engenharia, Braga Portugal [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DFMA [email protected] 1 Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO1; Fabiana América Silva Dantas de SOUZA2; Diogo Diógenes Medeiros DINIZ3; Richelle da Silva BRAZ4; José Antônio de Couto TEIXEIRA5; Ana Lúcia Figueiredo PORTO6. PA L AV R A S - C H AV E Nutrição de aves, aditivos enzimáticos, digestibilidade, fator anti-nutricional, fitato KEYWORDS Poultry nutrition, enzymatic feed, digestibility, phytate, antinutritional factor. INTRODUÇÃO Ácido fítico é a maior forma de armazenamento de fósforo em sementes de plantas e está presente como grande parte do fósforo orgânico encontrado no solo. Contudo, o fitato não pode ser diretamente usado por vegetais e alguns animais, tais como suínos, aves e peixes (Fan et al., 2013). Fitases formam uma classe de enzimas fosfatases que possui atividade de hidrolizar o fitato e liberar os íons ortofosfatos ligados à estrurtura do ácido fítico (Fan et al., 2013). Além diso, fitase tem sido utilizada como suplemento alimentar de aves com o objetivo de melhorar a qualidade nutricional dos alimentos ricos em fitato e eventualmente redução da poluição ambiental (Jorquera et al., 2011). Estudos têm sido conduzidos a cerca da utilização de enzimas exógenas na alimentação de aves, com o intuito de melhorar a digestibilidade. Há um destaque para o uso de fitases de origem microbiana, pois vem sendo utilizada como suplemento alimentar de aves para melhorar a qualidade nutricional dos alimentos ricos em fitato e eventualmente redução da poluição ambiental (Jorquera et al., 2011). O objetivo deste trabalho foi analisar o perfil hidrolítico in vitro da enzima fitase em rações comerciais de aves. MATERIAL E MÉTODOS O fungo utilizado para a produção da fitase foi o Aspergillus niger var. phoenicis URM 4924, o qual foi obtido da coleção de culturas URM do Departamento de Micologia (Universidade Federal de Pernambuco). A produção da fitase realizada em erlenmayers (250 mL) contendo meio de cultura com a seguinte composição: farelo de arroz 1.0% (m/v), como fonte de carbono, milho- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 299 Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO1; Fabiana América Silva Dantas de SOUZA2; Diogo Diógenes Medeiros DINIZ3; Richelle da Silva BRAZ4; José Antônio de Couto TEIXEIRA5; Ana Lúcia Figueiredo PORTO6. cina 3.0% (v/v) como fonte de nitrogênio, 0.5 g/L KCl, 1,5 g/L MgSO4.7H2O, 2,0 g/L CaCl2.2H2O, 1,5 g/L Fe2SO4.7H2O. Os frascos foram incubados em agitador orbital a 30°C, 100 rpm por 96 horas de cultivo. A atividade fitásica foi determinada pela utilização do método de Heinonen e Lathi (1981). Após pesar 1,0 grama de amostra da ração comercial, as mesmas foram autoclavadas e posteriormente foram diluídas em 5,0 mL de tampão glicina-HCl 0,1 M (pH 2,5) em frascos shot de 50 mL e adicionada a extratos da enzima (5 U/mL). Alíquotas foram retiradas até 8h de incubação, e posteriormente centrifugadas (5000 x g, 15 minutos, a 4°C), onde coletou-se o sobrenadante para realizar a análise quantitativa de fósforo inorgânico. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 representa o perfil hidrolítico da fitase produzida por A. niger var. phoenicis e sua utilização em ração comercial de aves. A enzima fitase produzida por A. niger var. phoenicis apresentou-se eficaz na liberação do fósforo fítico presente em rações de aves comerciais. Através da Figura 1 nota-se que a hidrólise catalizada pela fitase foi mais efetiva aos 6 minutos de hidrólise, onde a enzima liberou aproximadamente 3 µmoles de PO4-2, tornando-se inibida em concentrações de fósforo de 6 µmoles de PO4-2 (após minutos de reação). Monteiro (2011) estudou a produção e caracterização parcial de uma fitase produzida por A. niger. Este autor concluiu que a enzima fitase estudada liberou 5,14 µmoles de PO4-2 após 5 minutos de reação em ração comercial de aves. Estes resultados são compatíveis com os encontrados neste trabalho, onde obtive-se a liberação de aproximadamente 6 µmoles de PO4-2 por 8 minutos de reação. De acordo com Vats et al (2009) que estudaram sobre a utilização de fitase produzida por A. niger na hidrólise do fitato em rações comerciais, conseguindo uma liberação de 48 nm de PO4-2 a 55°C. Estes dados são diferentes aos obtidos neste presente trabalho. Entretanto, os resultados encontrados nesta pesquisa mostram o potencial hidrolítico da fitase em estudo. CONCLUSÃO O tratamento enzimático das rações comerciais de aves utilizando a fitase de A. niger var. phoenicis foi bastante promissor, pois se mostrou-se eficiente na hidrólise do fitato, característica bioquímica essencial para uma enzima com potencial aplicação industrial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FAN, C.M.; WANG, Y.H.; ZHENG, C.Y.; YONG, F.F. Fingerprint motifs of phytases. African Journal of Biotechnology, v.12, n.10, p.1138-1147, 2013. JORQUERA, M.A.; CROWLEY, D.E.; MARSCHNER, P.; GREINER, R; FERNANDEZ, M.T.; ROMERO, D.; MENEZES-BLACKBURN, D.; DE LA LUZ, M.M. Identification of β-propeller phytase-encoding genes in culturable Paenibacillus and Bacillus spp. from the rhizosphere of pasture plants on volcanic soils. Microbiol. Ecol. v.75, p.163-172, 2011. 300 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Júlio Cézar dos Santos NASCIMENTO1; Fabiana América Silva Dantas de SOUZA2; Diogo Diógenes Medeiros DINIZ3; Richelle da Silva BRAZ4; José Antônio de Couto TEIXEIRA5; Ana Lúcia Figueiredo PORTO6. HEINONEN, J.K.; LAHTI, R.J. A new and convenient colorimetric determination of inorganic orthophosphate and its applications to the assay of inorganic pyrophosphate. Anal. Biochem., v.113, p.313-317, 1981. MONTEIRO, P.S. Produção e caracterização bioquímica de fitases de Rhizopus stolonifer e Aspergillus niger UFV-1 e suas aplicações em ração animal. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Viçosa, 2011. p.79. VATS, P.; BANERJEE, U.C. Production studies and catalytic properties of phytases (myo-inositolhexakisphosphate phosphohydrolases): an overview. Enzyme and Microbial Technology, v.35, p.3-14, 2004. Figura 1 – Perfil hidrólitico da fitase produzida por A. niger var. phoenicis em ração comercial de aves Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 301 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 EFEITO DA ADIÇÃO DOS ANTIOXIDANTES TROLOX C E ÁCIDO ASCÓRBICO SOBRE A INTEGRIDADE DA MEMBRANA PLASMÁTICA DE ESPERMATOZOIDES DE OVINOS1 Parte de dissertação do primeiro autor. 2 Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (FAVET), Universidade Estadual do Ceará. *email: [email protected]. br 3 Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE. 4 Professora do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 5 Discente do Curso de Medicina Veterinária, Univasf, Petrolina-PE. 1 Effect of addition of antioxidants trolox c and ascorbic acid about the integrity of plasma membrane of sheep spermatozoa1 1° Jonathan Maia da Silva Costa2*, 2° Wildelfrancys Lima de Souza3, 3° Elenice Andrade Moraes4, 4° Vitória Gomes Coelho5, 5° Laiane Moreira Vianna Magalhães3, 6° Dailli Ingrid de Brito Lima5 PA L AV R A S - C H AV E carneiro. criopreservação. fluorescência. KEYWORDS ram, cryopreservation. fluorescence. INTRODUÇÃO A criopreservação de sêmen dos animais domésticos contribuiu para a expansão das biotécnicas da reprodução, como a inseminação artificial (IA) e a fertilização in vitro, o que a torna uma importante técnica reprodutiva, tendo em vista que promove a conservação do germoplasma masculino por tempo indeterminado (SILVA, 2013). Entretanto, a célula espermática é sensível a variações externas decorrentes do processo de congelação-descongelação, que implicam em danos a motilidade espermática e a integridade das membranas (SALAMON e MAXWELL, 1995), produzindo uma subpopulação com menor tempo de vida in vivo, o que reduz efetivamente a eficiência da população como um todo. Visando reduzir os efeitos deletérios ocasionados pela criopreservação, antioxidantes não enzimáticos como o Trolox C e ácido ascórbico, tem sido adicionados ao meio diluidor, os quais tem demostrado efeitos benéficos na manutenção da viabilidade espermática pós-descongelamento (MAIA et al., 2009; CASTILHO et al., 2009), sendo está uma importante avaliação, uma vez que, os parâmetros da cinética espermática têm sido correlacionados com provas de capacidade fecundante do espermatozoide (ISACHENKO et al., 2004). Assim, objetivou-se avaliar o efeito da adição dos antioxidantes Trolox C e ácido ascórbico sobre a integridade da membrana plasmática de espermatozoides descongelados de carneiros. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas CEDEP/UNIVASF, registrado com o protocolo de número 0005/140813. O experimento foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Suínos, Espécies Nativas e Silvestre (CPSENS), localizado no Campus de Ci- 302 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 ências Agrárias da Univasf, Petrolina, Pernambuco (09°23’55” de latitude S e 40°30´03” de longitude O). Foram utilizados três carneiros, com idade entre 2 a 4 anos. Os animais foram mantidos em baias individuais, com dieta a base de volumoso e concentrado, com fornecimento de água ad libitum. As coletas foram realizadas duas a três vezes por semana para cada animal com intervalos de 48 horas. Foi utilizada nas coletas vagina artificial para ovinos (Minitub®; Berlim, Alemanha) com água a 50°C acoplada a tubos de centrífuga de 50 ml, utilizando como manequim uma fêmea ovina. Após a coleta o sêmen foi transportado imediatamente para o CPSENS e colocado em banho-maria a 32°C. Cada ejaculado foi avaliado quanto aos parâmetros seminais (volume, aspecto, concentração e a motilidade espermática). Os ejaculados foram distribuídos em cinco tubos de ensaio de 15 ml e diluídos em Tris-gema de ovo, conforme Souza et al., (2015), para concentração final de 200x106 espermatozoides/ml, determinado através da análise no fotômetro SDM6 (Minitub®; Berlim, Alemanha), e mantidos em banho maria a 32°C. A avaliação da integridade da membrana plasmática foi realizada através da associação das sondas iodeto de propídeo (PI) e Hoechst 3342 (H342). Para isto foi utilizada metodologia descrita por Azevedo (2006), com algumas modificações. Uma alíquota de 5 µL de sêmen (2x106 espermatozoides) foi diluída em 120 µL de meio Tris ao qual foram adicionadas as soluções de trabalho das sondas nas seguintes proporções: 2μL de IP e 2μL H342. A mistura foi homogeneizada, mantida protegida da luz e incubada a 37ºC por 8 minutos, em seguida uma alíquota dessa mistura de 10μL foi colocada entre lâmina e lamínula e 200 espermatozoides foram avaliados em microscópio de fluorescência, usando filtro 02 (excitação 365nm e Emissão 420nm). Os espermatozoides corados foram visualizados e classificados: A ausência de fluorescência azul (H342) e consequentemente a presença de fluorescência vermelha (PI) na cabeça do espermatozoide, indicava lesão na membrana plasmática, já a ocorrência inversa indicava que a membrana plasmática encontrava-se integra. As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade utilizando-se o programa estatístico SAEG. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os percentuais de membrana plasmática dos espermatozoides podem ser observados na Tabela 1, onde os grupos tratados com 200µL de Trolox C (23,67%); 0,05 % (27,17) e 0,25% (37,0%) de ácido ascórbico apresentaram maiores (P<0,05) taxas de integridade de membrana, pós-descongelamento. A suplementação do diluidor com 0,25% de ácido ascórbico proporcionou efeito benéfico na integridade de membrana plasmática avaliada pela associação das sondas PI e H (342), em relação aos demais grupos, dados que corrobora com os achados de Salamon e Maxwell (1995), os quais demonstraram que embora os espermatozoides apresentem motilidade de 60% pós-descongelamento, somente cerca de 20 a 30% permaneceram biologicamente intactos. Aisen et al. (2002), por sua vez, ao utilizarem um diluidor tris isotônico, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 303 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 com menos gema de ovo 10% x 20% e sem antioxidante, observaram que os danos causados à membrana plasmática durante a criopreservação, foram elevados (P<0,05) nos espermatozoides congelados. Resultados semelhantes ao deste estudo foram obtidos por Moraes et al. (2015) ao avaliarem a associação dos antioxidantes trolox, ácido ascórbico e melatonina. Maia et al. (2009) e Silva et al. (2011), ambos em sêmen de carneiros, com as sondas fluorescentes supracitadas, observaram cerca de 30% de espermatozoides com membrana plasmática íntegra. Desta forma, podemos presumir que o uso de 0,25% de ácido ascórbico elevou a capacidade de produção dos antioxidantes enzimáticos GSH, CSH-Px e catalase, reduzindo o potencial de lipoperoxidação lipídica, durante o processo de congelamento e descongelamento (HU, et al., 2011). Conclusão A adição de 0,25% de ácido ascórbico no sêmen fresco de carneiros melhorou a integridade da membrana plasmática de espermatozoides de ovinos após descongelamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AISEN, E.G.; MEDINA, V.H.; VENTURINO, A. Cryopreservation and postthawed fertility of ram semen frozen in different trehalose concentration. Theriogenology, Philadelphia-PA, v.57, p.1801-1808, 2002. AZEVEDO, H.C. Integridade e funcionalidade dos espermatozóides ovinos submetidos à criopreservação após a incorporação de colesterol, desmosterol, ácido oléico-linoleico e a-lactoalbumina. Botucatu, 2006. 218p. 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Criopreservação de sêmen ovino com diferentes concentrações espermáticas associado ou não com ácido ascórbico. Viçosa, 2013. 52p. Tese (Doutorado em zootecnia). Universidade Federal de Viçosa. SILVA, S.V.; SOARES, A.T.; BATISTA, A.M. et al. In Vitro and In Vivo Evaluation of Ram Sperm Frozen in Tris Egg-yolk and Supplemented with Superoxide Dismutase and Reduced Glutathione. Reproduction in Domestic Animals, Berlin, v. 46, p. 874-981, 2011. SOUZA, W. L.; LIMA, D. I. B.; MORAES, E. A. et al. Adição de diferentes concentrações de crioprotetores e gema de ovo sobre a motilidade espermática progressiva de ovinos após a criopreservação. In: XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia-ZOOTEC, 2015, Fortaleza-CE. Anais do XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia. 2015. v. 25. Tabela 1. Percentual de integridade da membrana plasmática (iMP) de espermatozoides de carneiros criopreservados acrescidos ou não de diferentes antioxidantes Parâmetros Grupos experimentais espermáticos Controle TRO 100µL iMP 22,04±6,9 18,80±6,9 bc c TRO 200µL AA 0,05% AA 0,25% 23,67±6,9 27,17±6,9 37,0±6,9a bc b TRO= Trolox C; AA= Ácido ascórbico. Médias com letras diferentes sobrescritas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas CEDEP/UNIVASF, registrado com o protocolo de número 0005/140813. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 305 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 EFEITO DA ADIÇÃO DOS ANTIOXIDANTES TROLOX C E ÁCIDO ASCÓRBICO NO SEMEN FRESCO DE CARNEIROS SOBRE A INTEGRIDADE ACROSSOMAL DOS ESPERMATOZOIDES1 Parte de dissertação do primeiro autor. 2 Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (FAVET), Universidade Estadual do Ceará. *email: [email protected]. br 3 Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE. 4 Professora do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 5 Discente do Curso de Medicina Veterinária, Univasf, Petrolina-PE. 1 Effect of addition of antioxidants trolox c and ascorbic acid in the fresh semen of ram on integrity acrosomal of sperm 1° Jonathan Maia da Silva Costa2*, 2° Wildelfrancys Lima de Souza3, 3° Elenice Andrade Moraes4, 4° Vitória Gomes Coelho5, 5° Laiane Moreira Vianna Magalhães3, 6° Dailli Ingrid de Brito Lima5 PA L AV R A S - C H AV E criopreservação. FITC-PNA. sêmen. sonda fluorescente KEYWORDS cryopreservation. FITC-PNA. semen. fluorescent probe INTRODUÇÃO Dentre as biotecnologias reprodutivas aplicáveis ao gameta masculino, a criopreservação de espermatozoides causa injúrias celular e molecular, as quais resultam em queda na fertilidade em comparação com o uso de sêmen fresco (Bernardini et al., 2011). O espermatozoide possui uma concentração alta de fosfolipídios e, portanto sensível à peroxidação lipídica e devido à relação reduzida entre citoplasma e núcleo, sua reserva antioxidante é baixa, não sendo suficiente para resistir ao estresse oxidativo gerado durante o processo de criopreservação (Bucak et al., 2007). Visando reduzir os efeitos deletérios ocasionados pela criopreservação, o uso de antioxidantes como o Trolox C e ácido ascórbico, tem demostrado efeitos benéficos na manutenção da viabilidade espermática pós descongelamento (MAIA et al., 2009; CASTILHO et al., 2009) Portanto, objetivou-se avaliar se a adição de Trolox C e ácido ascórbico preservam a integridade acrossomal de espermatozoides de ovinos durante a criopreservação. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas CEDEP/UNIVASF, registrado com o protocolo de número 0005/140813. O experimento foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Suínos, Espécies Nativas e Silvestre (CPSENS), localizado no Campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Petrolina, Pernambuco. Foram utilizados três carneiros, com idade entre 2 a 4 anos. Os animais 306 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 foram mantidos em baias individuais, com dieta a base de volumoso e concentrado, com fornecimento de água ad libitum. As colheitas foram realizadas duas a três vezes por semana para cada animal com intervalos de 48 horas. Foi utilizada nas colheitas vagina artificial para ovinos (Minitub®; Berlim, Alemanha) com água a 50°C acoplada a tubos de centrífuga de 50 ml, utilizando como manequim uma fêmea ovina. Após a coleta o sêmen foi transportado imediatamente para o CPSENS e colocado em banho-maria a 32°C. Cada ejaculado foi avaliado quanto aos parâmetros seminais (volume, aspecto, concentração e a motilidade espermática). Os ejaculados foram distribuídos em cinco tubos de ensaio de 15 ml e diluídos em Tris-gema de ovo, conforme Souza et al., (2015), para concentração final de 200x106 espermatozoides/ml, determinado através da análise no fotômetro SDM6 (Minitub®; Berlim, Alemanha), e mantidos em banho maria a 32°C. Em seguida o diluidor foi previamente adicionados ou não com os antioxidantes, considerando os seguintes tratamentos: Grupo 1 (Controle - sem antioxidante); Grupo 2 (adição de 200µM de Trolox C Ácido Ascórbico); Grupo 3 (300µM de Trolox C); Grupo 4 (0,05% de Ácido Ascórbico); Grupo 5 (0,25% de Ácido Ascórbico). Em seguida os tubos de ensaio contendo os tratamentos foram inseridos em becker com 100mL de água a 32°C, e acondicionados sobre rack em câmera fria a 5°C durante 2 horas. Após esse período, as amostras de cada tratamento foram envasadas em palhetas de 0,5 mL e lacradas com seladora UltraSeal (Minitub®; Berlim, Alemanha). As palhetas foram colocadas em rampa de congelação e sobre vapor de nitrogênio líquido (N2) (8 cm da lâmina líquida) durante 15 minutos, quando foram imersas em nitrogênio líquido e armazenadas em botijão criogênico até análise. As amostras foram descongeladas a 37°C, durante 30s utilizando o descongelador automático de palheta (IMV®; São Paulo, Brasil). A integridade do acrossoma foi avaliada pela técnica de coloração de Fluorescein isothiocyonate-conjugated aglutin (FITC-PNA), para isto foram preparados esfregaços com alíquotas de sêmen (10µL), os quais foram secos em temperatura ambiente e armazenados a 4ºC protegidos da luz. Após o intervalo de duas semanas, os esfregaços foram corados com 30 µL de FITC-PNA (concentração de 100 µg/mL), incubados por 20 minutos em câmera úmida a 4ºC, em seguida eram lavados em PBS e secos na ausência da luz. Antes de cada avaliação, 5 µL de meio de montagem (4,5 mL de glicerol, 0,5 mL de PBS e 5 mg de p-phenylenediamine) foi colocado sobre a lâmina coberta de lamínula (ROTH et al.1998). Um total de 200 células espermáticas foram avaliadas em microscópio de fluorescência, usando filtro 02 (excitação 365nm e emissão 420nm). Os espermatozoides foram classificados como detentores de acrossomos íntegros, quando apresentavam a região acrossomal corada com sonda fluorescente brilhante. Por outro lado, quando apresentavam uma faixa verde fluorescente na região equatorial da cabeça espermática ou não apresentavam fluorescência verde em toda a região da cabeça eram considerados como reagido e/ou lesionado. As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade utilizando-se o programa estatístico SAEG. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 307 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os percentuais de espermatozoides com acrossoma intactos após o descongelamento variou de 78,06 a 92,19%, havendo influência positiva das amostras acrescidas com as diferentes concentrações de antioxidantes quando comparado ao tratamento não aditivado dos mesmos (Tabela 1; P<0,05). Os valores percentuais de integridade da membrana acrossomal deste estudo foram superiores aos observados por Arruda et al. (2007), Maia et al. (2009), Azevedo (2006) e Bittencourt et al. (2014), 47,5%, 59,9%, 51,5% e 67,0%, respectivamente, ao avaliarem a membrana acrossomal de espermatozoides de carneiros, através da associação da sonda fluorescente FITCH-PSA. Embora no presente trabalho não tenha sido avaliado os níveis de geração de ERO, quando comparamos os percentuais de integridade da acrossomal deste experimento, com os trabalhos supracitados, podemos presumir que a utilização 100 ou 200 µL de trolox e 0,05% ou 0,25% de ácido ascórbico foi eficiente para proporcionar equilíbrio na produção das espécies reativas de oxigênio durante o processo de criopreservação, onde de maneira eficiente, reduziu os danos iniciais relacionados à criocapacitação (BAILEY et al., 2000) que são suficientes para proporcionar a chamada reação acrossômica precoce. Tais resultados são fundamentais, uma vez que, a integridade de membrana acrossomal é um dos parâmetros que possui maior correlação com a taxa de fecundação in vitro do que com a motilidade e morfologia, fato esse também observado por Januskauskas et al. (2001) quando observaram a ocorrência de correlação positiva entre os espermatozoides com membrana intacta e sua fertilidade in vitro. CONCLUSÃO A adição de 0,25% de ácido ascórbico no sêmen fresco de carneiros promoveu maior integridade da membrana acrossomal dos espermatozoides após descongelamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, R. P. ANDRADE, A. F. C.; PERES, K. R.; RAPHAEL, C. F.; NASCIMENTO, J.; CELEGHINI, E. E. C. Biotécnicas aplicadas à avaliação do potencial de fertilidade do sêmen equino. Revista Brasileira de Reprodução Animal. V. 31, n. 1, p. 8-16, 2007. AZEVEDO, H.C. Integridade e funcionalidade dos espermatozóides ovinos submetidos à criopreservação após a incorporação de colesterol, desmosterol, ácido oléico-linoleico e a-lactoalbumina. Botucatu, 2006. 218p. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária), Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Botucatu. BAILEY, J.L.; BILODEAU, J.F.; CORMIER, N. Semen cryopreservation in domestic animals: a damaging and capacitating phenomenon. Journal of Andrology, v. 21, p. 1-7, 2000. 308 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 BERNARDINI, A.; HOZBOR,F.; SANCHEZ, E.; FORNÉS, M.W. ; ALBERIO, R.H.; CESARI, A. Conserved ram seminal plasma proteins bind to the sperm membrane and repair cryopreservation damage. Theriogenology, 76,p. 436–447, 2011. BITTENCOURT, R. F.; OBA, E.; RIBEIRO FIHO, A. L.; CHALHOUB, M.; VASCONCELHOS, M. F.; BISCARDE, C. A.; BICUDO, S. D. Trehalose and calcium chelator for ram semen cryopreservation. Archives of Veterinary Science, v. 19, p. 69-77, 2014. BUCAK, M.; ATEŞŞAHIN A.; VARIŞLI, O.; YÜCE, A.; TEKIN, N.; AKÇAY, A. The influence of trehalose, taurine, cysteamine and hyaluronan on ram semen: Microscopic and oxidative stress parameters after freeze–thawing process. Theriogenology, v.67, n.5, p.1060-1067, 2007. CASTILHO, F. E.; GUIMARÃES, D. J.; MARTINS, F. L.; PINHO, O. R.; GUIMARANHÃES, F. E. S.; ESPESCHIT, B. J. C. Uso de própolis e ácido ascórbico na criopreservação do sêmen caprino. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.12, p.2335-2345, 2009. JANUSKAUSKAS, A.; JOHANNISSON, A.; RODRIGUEZ-MARTINEZ, H. Assessment of soerm chromatin structure assay in relation to field fertility of frozen-thaewd semen from Swedish Al bulls. Theriogenology, v. 55, p. 947-961, 2001. MAIA, M. S.; BICUDO, S. D. Radicais livres, antioxidantes e função espermática em mamíferos: uma revisão. Revista Brasileira de Reprodução Animal. v.33, n.4, p.183-193,2009. ROTH, T.L.; WEISS, R.B.; BUFF, L.M. et al. Heterologous in vitro fertilisation and sperm capacitation in an endangered African antelope, the Scimiltar-Horned Oryx (Oryx dammah). Biology of Reproduction., v. 58, p. 475-482, 1998. SAEG Sistema para análises estatísticas, versão 9.1: Fundação Arthur Bernardes – UFV – Viçosa, 2007. SOUZA, W. L.; LIMA, D. I. B.; MORAES, E. A.; COSTA, J. M. S.; TORRES, L. R. C.; COELHO, V. G.; MAGALHAES, L. M. V. Adição de diferentes concentrações de crioprotetores e gema de ovo sobre a motilidade espermática progressiva de ovinos após a criopreservação. In: XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia-ZOOTEC, 2015, Fortaleza-CE. Anais do XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia. 2015. v. 25. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 309 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3, Dailli Ingrid de Brito LIMA5 Tabela 1. Percentual de integridade do acrossoma (iAC) de espermatozoides de carneiros criopreservados acrescidos ou não de diferentes antioxidantes Parâmetros Grupos experimentais espermáticos Controle TRO 100µL TRO 200µL AA 0,05% AA 0,25% iAC 78,06±5,3c 84,46±5,3b 86,48±5,3ab 89,0±5,3ab 92,19±5,3a TRO = Trolox C; AA= Ácido ascórbico. Médias com letras diferentes sobrescritas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). 310 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1, Wildelfrancys Lima de SOUZA1, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES2, Vitória Gomes COELHO3; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 EFEITO DE DIFERENTES METODOS DE INCUBAÇÃO SOBRE A MOTILIDADE ESPERMÁTICA PELO TESTE DE TERMORRESISTÊNCIA DO SÊMEN DESCONGELADO DE OVINOS Effect of different incubation methods on sperm motility by thermo resistance test in post-thawed sheep semen Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE, *email: laianevianna@yahoo. com.br 2 Professora do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 3 Discente do Curso de Medicina Veterinária, Univasf, Petrolina-PE, 4 Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (FAVET), Universidade Estadual do Ceará 1 1° Laiane Moreira Vianna Magalhães1, 2° Wildelfrancys Lima de Souza1, 3° Jonathan Maia da Silva Costa4, 4° Elenice Andrade Moraes2, 5° Vitória Gomes Coelho3; 6° Dailli Ingrid de Brito Lima3 PA L AV R A S - C H AV E criopreservação, banho-maria, espermatozoide, longevidade espermática, placa aquecedora. KEYWORDS cryopreservation, bath, sperm, sperm longevity, hot plate. INTRODUÇÃO Os critérios para avaliação de sêmen ovino no Brasil são estabelecidos pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA,1998), dentre eles tem-se que uma amostra descongelada é considerada dentro do padrão quando apresentar motilidade progressiva ≥ a 30% e vigor ≥ 3 no descongelamento (HENRY e NEVES, 1998). Dentre os testes utilizados para a avaliação de sêmen animal tem-se o Teste de termorresistência (TTR), que visa avaliar o potencial de fertilidade ou longevidade dos espermatozoides em partidas de sêmen criopreservado (CHEMINEAU e COGNIÉ, 1991). Para avaliação do sêmen durante o TTR no Sistema computacional de Análise espermática (CASA), o sêmen é mantido em banho-maria, que pode ser um problema devido ao fato deste apresentar riscos com relação à entrada de água na amostra de forma incidental. Considerando o exposto acima, a utilização da placa aquecedora seria uma forma mais pratica de manutenção da temperatura da amostra seminal durante o TTR, sem riscos de perda da amostra para manter a temperatura desejada. Objetivou-se testar a utilização da placa aquecedora em substituição ao banho-maria para incubar amostras submetendo-as ao teste de termorresistência (TTR). MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi realizado após a aprovação sob o protocolo nº0002/110414, estando de acordo com os princípios éticos de experimentação animal do Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas da UniversiCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 311 Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1, Wildelfrancys Lima de SOUZA1, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES2, Vitória Gomes COELHO3; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 dade Federal do Vale do São Francisco. O experimento foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Suínos, Espécies Nativas e Silvestre (CPSENS), localizado no Campus de Ciências Agrárias da Univasf, Petrolina, Pernambuco (09°23’55” de latitude S e 40°30´03” de longitude O). Foram utilizados três carneiros, com idade entre 2 a 4 anos. Os animais foram mantidos em baias individuais, com dieta a base de volumoso e concentrado, com fornecimento de água ad libitum. As colheitas foram realizadas duas a três vezes por semana para cada animal com intervalos de 48 horas. Foi utilizada nas colheitas vagina artificial para ovinos (Minitub®) com água a 50°C acoplada a tubos de centrífuga de 50 ml, utilizando como manequim uma fêmea ovina. Após a coleta o sêmen foi transportado imediatamente para o CPSENS e colocado em banho-maria a 32°C. Cada ejaculado foi avaliado quanto aos parâmetros seminais (volume, aspecto, concentração e a motilidade espermática). Os ejaculados foram distribuídos em tubos de ensaio de 15 ml e diluídos em Tris-gema de ovo, conforme Souza et al., (2015), para concentração final de 200x106 espermatozoides/ml, determinado através da análise no fotômetro SDM6 (Minitub®), e mantidos em banho maria a 32°C. Após a diluição as amostras nos tubos de ensaio foram colocadas em um becker com água a 32°C e acondicionadas sobre rack em câmara fria a 5°C por duas horas. Após esse período, as amostras de cada tratamento foram envasadas em palhetas de 0,5 ml e lacradas com seladora UltraSeal (Minitub®) e acondicionadas sob vapores do nitrogênio liquido, por 15 minutos, a 8 cm da lâmina líquida. Decorrido este tempo as palhetas foram imersas no nitrogênio líquido e descongeladas a 37°C durante 30 segundos. Após o descongelamento, as amostras foram subdividas em dois tubos para serem submetidas ao TTR, sendo uma incubada em banho-maria e a outra em chapa aquecedora, ambas a 37°C, onde as amostras foram avaliadas a cada 30 minutos por um período de 90 minutos (0, 30, 60 e 90), utilizando o sistema computadorizado (CASA). Alíquota de 8 μl de cada amostra foram analisadas individualmente sobre lâmina e lamínula pré-aquecidas, a 37ºC. As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, utilizando-se o programa estatístico SAEG. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve efeito da incubação do sêmen de ovinos descongelado quando incubados em banho-maria em relação à placa aquecedora durante o período de avaliação do TTR (Tabela 1; P>0,05). Não observamos diferença na motilidade total entre os tempos de 0 e 30 minutos. Entretanto houve a redução após o tempo de 60 minutos (Tabela 1; P>0,05). Com relação à motilidade progressiva constatou-se que o tempo de 60 minutos não teve alteração da motilidade quando comparado aos tempos de 0 e 30 minutos, ocorrendo ainda a redução aos 90 minutos. Os resultados obtidos com a placa aquecedora corroboram com Siqueira et al. (2007); que ao avaliar a relação da taxa de gestação com sêmen bovino congelado e testes de avaliação espermática in vitro, observou que após o tempo 312 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1, Wildelfrancys Lima de SOUZA1, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES2, Vitória Gomes COELHO3; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 de 120 min durante o teste de termorresistência a motilidade manteve-se em torno de 35,88%, sendo a correlação observada para o TTR e a gestação positiva. Segundo o CBRA (1998) a motilidade espermática após o TTR para o sêmen ovino deve ser de 30% podendo a motilidade encontrada ser considerada viável após 90 minutos de TTR. Isso demonstra que a placa aquecedora pode ser utilizada como meio de manutenção do sêmen durante o teste de termorresistência. Contudo, os resultados demonstrados nesse trabalho revelaram o sêmen com valores superiores a 30%, que seria o valor mínimo exigido pelo CBRA (1998) inferindo assim a sua capacidade fecundante. Não observamos diferença entre o banho-maria e a placa aquecedora, aliado a isso, tem-se o fato de a motilidade seminal das amostras em que foi utilizada a placa aquecedora estarem dentro dos padrões estabelecidos pelo CBRA, demonstrando que o meio de manutenção utilizado não interferiu no poder fecundante dos espermatozoides. Considerando o fato de que a placa aquecedora traz uma menor chance da ocorrência de riscos incidentais e, pode ser levada mais facilmente à campo para manutenção do sêmen descongelado durante a inseminação artificial, esta apresentaria uma maior praticidade ao manipulador de sêmen durante a inseminação artificial. CONCLUSÃO A placa aquecedora pode ser utilizada como meio de incubação de amostras durante o teste de termorresistência em substituição ao banho-maria. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHEMINEAU, P.; COGNIÉ, Y. Training manual on artificial insemination in sheep and goats. FAO Animal Production and Health Papr 83, Roma, 1991. COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL – CBRA. Manual para exame e avaliação de sêmen animal. 2 ed. Belo Horizonte: 1998, 49p. HENRY, M.; NEVES, J.P. Manual para exame andrológico e avaliação de sêmen animal. Colégio Brasileiro de Reprodução Animal. 2. ed. Belo Horizonte, 1998, 49p. SIQUEIRA, J.B.; GUIMARAES, J.D.; COSTA, E.P.; HENRY, M.; TORRES, C.A.A.; SILVA, M.V.G.B.; SILVEIRA, T.S. Relação da taxa de gestação com sêmen bovino congelado e testes de avaliação espermática in vitro. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n. 2, p. 387-395, 2007. SOUZA, W. L.; LIMA, D. I. B.; MORAES, E. A.; COSTA, J. M. S.; TORRES, L. R. C.; COELHO, V. G.; MAGALHAES, L. M. V. Adição de diferentes concentrações de crioprotetores e gema de ovo sobre a motilidade espermática progressiva de ovinos após a criopreservação. In: XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia-ZOOTEC, 2015, Fortaleza-CE. Anais do XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia. 2015. v. 25. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 313 Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1, Wildelfrancys Lima de SOUZA1, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES2, Vitória Gomes COELHO3; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 Tabela 1. Motilidade espermática total (MT) e progressiva (MP) do sêmen ovino após o Teste de Termorresistência (TTR) submetido a diferentes métodos de incubação (MI) MT MP MI 0min 30min 60min 90min 0min 30min 60min 90min PA 63,79 61,65 56,68 48,92 43,69 44,46 38,61 AB 31,19B BM 61,53A 62,89A 51,17B 46,81B 43,43A 44,22A 34,84AB 30,92B Média 62,66 62,27 53,92 47,87 43,56 44,34 36,72 31,05 A A B B A A PA: placa aquecedora; BM: banho maria. Médias com letras maiúsculas diferentes sobrescritas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey (P>0,05). 314 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wildelfrancys Lima de SOUZA2*, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 USO DA COLORAÇÃO EOSINA-NIGROSINA NA AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DA MEMBRANA PLASMÁTICA DE ESPERMATOZOIDES DE CARNEIROS SUPLEMENTADOS COM MELATONINA1 Use of eosin-nigrosine staining in assessing plasma membrane integrity of ram spermatozoa supplemented with melatonin1 Parte de dissertação do primeiro autor. 2 Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE, *email: wilde@zootecnista. com.br 3 Professora do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 4 Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (FAVET), Universidade Estadual do Ceará 5 Discente do Curso de Medicina Veterinária, Univasf, Petrolina-PE, 6 Bioestatístico Embrapa Semiárido – CPATSA, Petrolina-PE-Brasil. 1 1° Wildelfrancys Lima de Souza2*, 2° Jonathan Maia da Silva Costa4, 3° Elenice Andrade Moraes3, 4° Vitória Gomes Coelho5, 5° Laiane Moreira Vianna Magalhães2; 6° Raimundo Parente Oliveira6 PA L AV R A S - C H AV E antioxidante. criopreservação. ovino. KEYWORDS antioxidant. cryopreservation. Sheep. INTRODUÇÃO Um aspecto fundamental no processo de avaliação seminal, que é em grande parte negligenciado pelos métodos descritivos, é a determinação da integridade estrutural e funcional das membranas lipoprotéicas dos espermatozoides (WATSON, 1995). A membrana espermática tem um importante papel nos processos de capacitação e fertilização do oócito e sua constituição bioquímica é um dos principais pontos de interesse do estudo da fisiologia e patologia espermática (LENZI et al., 1996). Ela é basicamente composta por ácidos graxos e proteínas (FLESH; GADELLA, 2000). Teorias sobre a fusão de membranas (oócito/espermatozoide) sugerem que a fluidez da membrana é pré-requisito para a função normal da célula, e que, a fluidez e a flexibilidade das membranas celulares são dependentes da sua composição lipídica (LENZI et al., 2002). Existem vários testes que podem ser empregados para a determinação da integridade da membrana plasmática, como as colorações supravitais, incluindo Tripan-Blue-Giensa, testes hiposmóticos e, mais recentemente, o uso das sondas fluorescentes que atuam através de reações com enzimas citoplasmáticas ou de ligação com o DNA espermático (ARRUDA et al., 2005), mas é uma técnica pouco aplicável a campo pois há necessidade de equipamentos de custo muito alto como um microscópio de epifluorescência ou um citômetro de fluxo. Enquanto o teste de eosina-nigrosina (HANCOCK, 1951), é um teste muito prático e de baixo custo, podendo ser rotineiramente utilizado à campo para avaliar a integridade da membrana espermática (KUMI-DIAKA; BADTRAM, 1994). Portanto, objetivou-se avaliar o efeito da suplementação de melatonina na integridade da membrana plasmática dos espermatozoides de carneiros após a criopreservação. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 315 Wildelfrancys Lima de SOUZA2*, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Suínos, Espécies Nativas e Silvestre (CPSENS), localizado no Campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Petrolina, Pernambuco. Foram utilizados três carneiros, com idade entre 2 a 4 anos. Os animais foram mantidos em baias individuais, com dieta a base de volumoso e concentrado, com fornecimento de água ad libitum. As colheitas foram realizadas duas a três vezes por semana para cada animal com intervalos de 48 horas. Foi utilizada nas colheitas vagina artificial para ovinos (Minitub®) com água a 50°C acoplada a tubos de centrífuga de 50 ml, utilizando como manequim uma fêmea ovina. Após a coleta o sêmen foi transportado imediatamente para o CPSENS e colocado em banho-maria a 32°C. Cada ejaculado foi avaliado quanto aos parâmetros seminais (volume, aspecto, concentração e a motilidade espermática). Os ejaculados foram distribuídos em cinco tubos de ensaio de 15 ml e diluídos em Tris-gema de ovo, conforme Souza et al., (2015), para concentração final de 200x106 espermatozoides/ml, determinado através da análise no fotômetro SDM6 (Minitub®), e mantidos em banho maria a 32°C. O diluidor foi previamente preparado com as quatro concentrações diferentes de melatonina, de acordo com os tratamentos: Controle; 1 mM; 100 μM; 100 nM; 100 pM de melatonina. Após a diluição as amostras nos tubos de ensaio foram colocadas em um becker com água a 32°C e acondicionadas sobre rack em câmara fria a 5°C por duas horas. Após esse período, as amostras de cada tratamento foram envasadas em palhetas de 0,5 ml e lacradas com seladora UltraSeal (Minitub®) e acondicionadas sob vapores do nitrogênio liquido, por 15 minutos, a 8 cm da lâmina líquida. Decorrido este tempo as palhetas foram imersas no nitrogênio líquido e descongeladas a 37°C durante 30 segundos. A integridade da membrana plasmática foi determinada utilizando a coloração de Eosina-Nigrosina (E/N) segundo Barth e Oko (1989). Onde as amostras nas palhetas foram descongeladas como descrito acima e o conteúdo esvaziado em tubo de eppendorf de 1 ml. Foi transferido para um segundo tubo 10 μL de cada amostra e adicionados 10 μL do corante. 8 μL de cada amostra foi adicionada entre lâmina e lamínula pré-aquecidas, e um mínimo de 200 espermatozoides por amostra foram contados em microscópio óptico DM 750 (Leica Microsystems, Heerbrugg, Suiça) em aumento de 100x. Onde as células com membrana plasmática lesada apresentavam o núcleo corado em rosa da eosina, e aquelas com a membrana plasmática intacta, núcleo corado em escuro da nigrosina. As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, utilizando-se o programa SAS 9.2 2002-2008 by SAS Institute Inc. (Cary, NC, USA). Resultados e Discussão Pode-se observar que as amostras suplementadas com 100 µM, 100 nM e 100 pM de melatonina apresentaram maior percentual de cé¬lulas com membranas plasmática íntegras quando comparadas com as amostras sem suplementação e aquelas suplementadas com 100 mM de melatonina (Tabela 1; P<0,05). Entretanto, Perez et al., (2012) e Moraes et al., (2015) encontraram valores per316 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wildelfrancys Lima de SOUZA2*, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Raimundo Parente OLIVEIRA6 centuais inferiores de membrana plasmática integra 18,31 e 29,1 respectivamente. Demonstrando que a capacidade da melatonina de neutralizar as ERO foi favorecida à medida que o nível de suplementação foi reduzindo, promovendo uma maior resistência e preservação da integrada da membrana plasmática aos danos oxidativos. CONCLUSÃO A melatonina manteve a integridade da membrana plasmática dos espermatozoides avaliados com Eosina-Nigrosina após o processo de criopreservação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, R. P.; CELEGHINI, E. C. C.; SOUZA, L. W. O. et al. Importância da qualidade do sêmen em programas de IATF e TETF. 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Percentuais de integridade da membrana plasmática (iMP), de espermatozoides de carneiros criopreservados após adição de diferentes níveis de suplementação de melatonina (NSM) no sêmen fresco. NSM SA 1 mM 100 µM 100 nM 100 pM iMP % 40,05B 44,65B 55,50A 59,06A 61,03A SA= sem antioxidante (controle). A,B Médias com letras maiúsculas diferentes sobrescritas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). 318 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Thatyane Carla de LIMA1; Cintia Emanuelle Ribeiro FERREIRA1; Anidene Christina Alves de MORAES2; Luciana Florêncio VILAÇA2; Ângela Maria Vieira BATISTA2; Elizabete Rodrigues da SILVA1 PERFIL DE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA IN VITRO DE STAPHYLOCOCCUS COAGULASE-NEGATIVA ISOLADOS DE MASTITE CAPRINA In vitro antimicrobial resistance of coagulase-negative Staphylococcus isolated from goat mastitis Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns. beteers@ hotmail.com 2 Universidade Federal de Rural de Pernambuco, Departamento de Zootecnia. 1 Thatyane Carla de Lima1; Cintia Emanuelle Ribeiro Ferreira1; Anidene Christina Alves de Moraes2; Luciana Florêncio Vilaça2; Ângela Maria Vieira Batista2; Elizabete Rodrigues da Silva1 PA L AV R A S - C H AV E resistência antibiótica, beta-lactâmicos, penicilina. KEYWORDS antibiotic resistance, beta-lactam antibiotics, penicillin. INTRODUÇÃO Na espécie caprina, os Staphylococci coagulase-negativa (SCN) são os micro-organismos mais frequentemente isolados do leite de animais com mastite subclínica, com prevalência de até 60% dos animais de um rebanho leiteiro (SILVA et al., 2004). Considerados, tradicionalmente, como patógenos secundários da glândula mamária, SCN podem causar grave e extensa destruição do tecido secretório mamário, aumento de células somáticas, redução da produção e comprometimento da qualidade do leite e derivados (TAPONEN e PYORALA, 2009). O uso indiscriminado e incorreto de antimicrobianos para o tratamento da mastite estafilocócica é um dos mais importantes fatores que contribui para a seleção e disseminação de cepas de Staphylococcus spp. resistentes (GARINO JUNIOR et. al, 2011), afetando a saúde e produção animal, bem como a saúde humana (VIRDIS et al., 2010). Dessa forma, este trabalho teve por objetivo avaliar o perfil de resistência antimicrobiana de SCN isolados do leite de cabras com mastite. MATERIAL E MÉTODOS Utilizaram-se 69 amostras de SCN isoladas do leite de 59 cabras pertencentes a um rebanho localizado no município de Sertânea, PE. Para a colheita do leite e lactocultura foram seguidas as recomendações do NMC (2004). Após o período de incubação, colônias bacterianas caracterizadas como cocos Gram-positivos e catalase positiva foram submetidas ao teste da coagulase em tubo e agrupadas, de acordo com o resultado, em Staphylococcus coagulase positiva e Staphylococcus cogulase negativa. A susceptibilidade antimicrobiana foi determinada pelo método de difusão em placa, seguindo a metodologia recomendada pelo CLSI (2008), utilizando-se discos impregnados com as seguintes drogas: ampicilina (10μg), penicilina G (10 U.I), oxacilina (1μg), cefalotina (30μg), teCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 319 Thatyane Carla de LIMA1; Cintia Emanuelle Ribeiro FERREIRA1; Anidene Christina Alves de MORAES2; Luciana Florêncio VILAÇA2; Ângela Maria Vieira BATISTA2; Elizabete Rodrigues da SILVA1 traciclina (30μg), gentamicina (10μg), clindamicina (2μg) e enrofloxacina (5μg). A leitura e a interpretação dos limites das zonas de inibição foram realizadas de acordo com os critérios estabelecidos pelo CLSI (2008). Estabeleceram-se as frequências absoluta e relativa para cada droga testada. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 demonstra os resultados do teste de sensibilidade antimicrobiana in vitro das 69 amostras de SCN avaliadas neste estudo. Observou-se que, das oito drogas testadas, as maiores taxas de resistência foram demonstradas frente aos beta-lactâmicos, particularmente penicilina G e ampicilina, com 47,8 (33/69) e 40,6% (28/69) das amostras de SCN resistentes a essas drogas, respectivamente. A resistência simultânea a esses antimicrobianos também foi o fenótipo mais frequentemente observado, com 21,7% (15/69) das amostras resistentes a ambas e sensíveis às demais drogas estudadas. Outros autores também relataram a resistência à penicilina G+ampicilina como o fenótipo mais frequentemente demonstrado por amostras de Staphylococcus spp isoladas em rebanhos caprinos no estado da Paraíba (GARINO JUNIOR et al., 2011). Resistência às penicilinas é o fenótipo que mais preocupa cientistas em todo o mundo, visto que representam as drogas de primeira escolha para o tratamento das mastites estafilocócicas e por indicar uma baixa probabilidade de cura microbiológica das mastites por Staphylococci portando tal fenótipo (BARKEMA et al., 2006). Neste estudo, foi observado que 23% (16/69) das amostras, foram resistentes à oxacilina, droga recomendada para pesquisar resistência às penicilinas resistentes à penicilinases, inclusive à meticilina (CLSI, 2008). Esse resultado, analisado conjuntamente com as taxas de resistência frente à penicilina G e ampicilina, sugere que, nos rebanhos amostrados, SCN tem o potencial de apresentar mecanismos de resistência ao beta-lactâmicos que incluem a produção de beta-lactamases e alteração da molécula alvo codificada pelo gene mecA. Resultados de trabalhos conduzidos por diversos investigadores demonstraram que o gene mecA está amplamente distribuído em espécies do grupo SCN (VON EIFF et al., 2000; FONTES et al., 2013). Além disso, há fortes evidências que suportam a suspeita de que cepas de SCN carreadoras do gene mecA, funcionem como reservatório desses genes para Staphylococcus aureus o que, na prática, significa um sério risco à saúde pública, devido ao potencial patogênico desse agente bacteriano (FLUIT et al., 2013). Com relação aos não beta-lactâmicos testados neste trabalho, destaca-se a taxa de resistência frente à tetraciclina, com 29% (20/69) das amostras com tal fenótipo indicando que, nos rebanhos estudados, o uso desse grupo de antimicrobiano deve ser frequente. Vale ressaltar que as tetraciclinas são amplamente utilizadas no ambiente de fazenda para o tratamento das mais diversas patologias, o que favorece a seleção de cepas resistentes a essa droga (SILVA et al., 2012). A taxa de multirresistência (resistência a três ou mais classes de drogas simultaneamente) observada nesta investigação foi de 2,8%, bem abaixo daquelas observadas por Della Libera et al. (2010) e Bhargava e Zang (2012), os quais observaram taxas de 20,7 e 54%, respectivamente, para isolados de SCN. O resultado do presente trabalho pode ser devido aos tipos raciais dos animais amostrados que, em sua maioria, pertenciam a raças nativas, sendo mais resistentes a infecções bacterianas, não sendo tão corriqueira a administração de antimicrobianos. 320 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Thatyane Carla de LIMA1; Cintia Emanuelle Ribeiro FERREIRA1; Anidene Christina Alves de MORAES2; Luciana Florêncio VILAÇA2; Ângela Maria Vieira BATISTA2; Elizabete Rodrigues da SILVA1 CONCLUSÃO Os resultados deste trabalho demonstraram que SCN resistente aos beta-lactâmicos está presente em rebanhos caprinos, sugerindo pressão seletiva exercida pelo uso indiscriminado desses antimicrobianos. Os resultados também apontam para a importância clínica da realização de testes in vitro para avaliar a susceptibilidade de amostras bacterianas causadoras de mastite, sendo uma valiosa ferramenta epidemiológica, por monitorar o surgimento e disseminação de bactérias multirresistentes a partir do ambiente de fazenda. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARKEMA, H.W.; SCHUKKEN,Y.H.; ZADOKS, R.N. The role of cow, pathogen, and treatment regimen in the therapeutic success of bovine Staphylococcus aureus mastitis. Journal of Dairy Science, Champaign, v.89, n.6, p.1877-1895, 2006. BHARGAVA, K.; ZHANG, Y. Multidrug-resistant coagulase-negative Staphylococci in food animals. Journal of Applied Microbiology, Oxford, v.113, pp. 1027-1036, 2012. CLSI. CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE. Performance Standards for Antimicrobial Susceptibility Testing; Fifteenth Informational Supplement. Pennsylvania: CLSI, 2008. 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Perfil de susceptibilidade antimicrobiana in vitro de amostras de Staphylococcus coagulase- negativa isoladas do leite de cabras com mastite clínica e subclínica Antimicrobiano Ampicilina Cefalotina Clindamicina Enrofloxacina Gentamicina Oxacilina Penicilina Tetraciclina 322 n 41 65 62 60 63 53 36 45 Sensível % 59,4 94,2 89,9 87 91,3 76,8 52,2 65,2 PERFIL Intermediário n % 3 4,3 7 10,1 2 2,9 4 5,8 Resistente n % 28 40,6 4 5,8 4 5,8 2 2,9 4 5,8 16 23,2 33 47,8 20 29 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Monica Miranda HUNKA1; Elizabeth Regina Rodrigues da SILVA2; Simone Gutman VAZ³; Lucia Maia Cavalcanti FERREIRA4; Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO5; Hélio Cordeiro MANSO FILHO6 AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DE ÉGUAS EM LACTAÇÃO MANTIDAS A PASTO Haematological assessment in lactating mares kept on pasture Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. mmhunka@ hotmail.com 2 Universidade Federal de Pernambuco, DMV. bethrrs@ yahoo.com.br 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ. lucia.maia@ dz.ufrpe.br 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ.hmanso@ gmail.com 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DZ.hmanso@ dz.ufrpe.br Monica Miranda HUNKA1; Elizabeth Regina Rodrigues da SILVA2; Simone Gutman VAZ³; Lucia Maia Cavalcanti FERREIRA4; Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO5; Hélio Cordeiro MANSO FILHO6 1 PA L AV R A S - C H AV E hemograma, equinos, lactantes KEYWORDS hemograma, horses, lactating INTRODUÇÃO Considerando que o rebanho equino no Brasil está estimado em 5.496.817 cabeças, sendo 1.375.419 na região nordeste (BRASIL, 2009), pouco ainda foi publicado em relação a hematologia equina baseando-se em contadores hematológicos, apesar de alguns artigos terem sido publicados avaliando as células sanguíneas em outras espécies e até em outras raças de equinos (ELLAH et al., 2011). O hemograma é um exame muito utilizado na clínica médica equina, sendo um indicador de alterações que podem não ser percebidas ao exame clínico, além de servir como procedimento para avaliar a saúde animal e auxiliar na obtenção de um diagnóstico. A avaliação dos elementos celulares do sangue, quantitativamente e qualitativamente, fornece informações indispensáveis ao controle evolutivo das doenças (FAILACE, 2006). Neste sentido é recomendada a obtenção de novos parâmetros de referência na medida em que alterações ocorram na fase analítica do processamento da amostra (ASVCP, 2011). Em se tratando de equinos, deve considerar a aptidão física desses animais e além disso, a fase de vida em que se encontram (LORDING, 2008). Desta forma, objetivou-se caracterizar o eritrograma de 19 éguas da Raça Quarto de Milha em fase de lactação. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas 19 éguas da raça Quarto de Milha, com peso médio de 437±30 Kg, com idade entre 5 e 18 anos, todas hígidas e em lactação. Mantidas em uma única fazenda em Lagoa do Carro-PE. Permaneceram em pastagens de Capim Massai (Panicum maximum cv. Massai) e Capim Tifton (Cynodon dactylon cv. Tifton68), com acesso à sal mineralizado comercial e água à vontade, não receberam nenhum tipo de suplementação com grãos ou concentrados durante o período de lactação. Participaram do controle de ecto e endoparasitas, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 323 Monica Miranda HUNKA1; Elizabeth Regina Rodrigues da SILVA2; Simone Gutman VAZ³; Lucia Maia Cavalcanti FERREIRA4; Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO5; Hélio Cordeiro MANSO FILHO6 assim como do programa de vacinação da fazenda. Foi realizada uma coleta de sangue, através de punção da veia jugular utilizando-se tubos para coleta à vácuo contendo anticoagulante EDTA (ácido etileno diamino tetra acético). Os hemogramas foram realizados em analisador hematológico automático veterinário (Modelo: poCH-100iV Diff, Fabricante: Roche Diagnóstica do Brasil). Os resultados estão expressos em médias ± desvio padrão médio. Resultados e Discussão O período de lactação representa um desafio para esta categoria animal, pois, a quantidade de nutrientes disponibilizados no leite deve suprir as necessidades nutricionais dos potros. O hemograma de éguas em final de gestação e éguas durante as primeiras semanas de lactação demonstra valores de hematócrito, hemoglobina e hemácias ligeiramente inferiores aos valores referenciados na literatura, como ocorreu neste estudo. Este fenômeno está explicado pelo aumento do volume plasmático (JAIN, 1986). Em razão destas alterações, um bom plano nutricional para estas fêmeas deve ser instituído, visando à manutenção de sua saúde e consequentemente, dos potros por elas amamentados. Estas alterações podem também estar relacionadas as maiores exigências de ferro na alimentação destes animais nesta fase. Do início da lactação até o quarto mês, essa exigência apresenta-se elevada, para poder equilibrar sua redução. Para uma égua de 450 a 500 Kg, a recomendação de ingesta diária é de 1060 mg/dia do primeiro ao quarto mês (MARTIN-ROSSET, 2015). O VCM e CHCM apresentaram-se semelhantes aos padrões de normalidade. Estes índices sofrem pouca variação nesta espécie, uma vez que equinos só liberam na circulação hemácias maduras. Em relação ao RDW, também foi observada discreta redução em relação aos parâmetros de normalidade. A determinação do RDW pode ser importante na caracterização do tipo de anemia nos animais (LIRA, 2010). CONCLUSÃO O período de lactação induz a desafios fisiológicos que interferem nos parâmetros hematológicos das éguas, porém avaliou-se as alterações como não patológicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASVCP Quality Assurance and Laboratory Standards Committee (QALS). Guidelines for the Determination of Reference Intervals in Veterinary Species and other related topics: SCOPE NOV 2011. Disponível em: http://www.asvcp.org/ pubs/qas/index.cfm. Acesso em 27/11/2012. BRASIL. IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal, 2009. Disponível em: <http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.a spx?vcodigo=PPM01>. Acesso em: 02 ago. 2015. 324 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Monica Miranda HUNKA1; Elizabeth Regina Rodrigues da SILVA2; Simone Gutman VAZ³; Lucia Maia Cavalcanti FERREIRA4; Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO5; Hélio Cordeiro MANSO FILHO6 ELLAH, M.R.A. et al. Effect os storage time and temperature on erythrocythes, platelets, and leucocytes pictures on cattle and equine blood. Journal of Animal and Veterinary Advance. v.10, n.21, p.2768-2771, 2011. FAILACE, R. Hemograma. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 298p. JAIN, N. C. 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Hemácias (x106/µL) Hemoglobina (g/dL) Hematócrito (%) VCM (fL) CHCM (g/dL) RDW-‐CV (%) Média 6,25 10,17 30,21 48,96 33,69 17,98 Desvio padrão 1,03 1,28 4,03 3,69 0,73 0,84 Referência* 8,17 a 9,77 12,17 a 14,61 34,48 a 41,0 40,08 a 44,24 34,51 a 36,45 17,23 a 23,29 *valores de referência para éguas sadias, independente da idade. Fonte: Holanda et al., 2013. *Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética para Uso de Animais em pesquisa através do processo número: 23082.017404. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 325 Marion Venâncio Gomes dos SANTOS1*; Anderson Miranda de SOUZA2; Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Gabiane dos Reis ANTUNES3; Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3; José Fernando Bibiano MELO4 EFEITO DO FARELO DE SOJA NA REDUÇÃO DA ÁGUA NA MANGA TOMMY UTILIZANDO DOIS MÉTODOS DE DESIDRATAÇÃO DURANTE 24 HORAS Effect of soybean meal in reducing water in mango tommy using two dehydration methods during 24 hours Discente do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE. *email: ma.vgomes@hotmail. com 2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – Universidade Federal da Bahia, (UFBA), Salvador-BA, Brasil. 3 Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Univasf, Petrolina-PE. 4 Professor do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 1 1° Marion Venâncio Gomes dos Santos1*; 2° Anderson Miranda de Souza2; 3° Wildelfrancys Lima de Souza3, 4° Gabiane dos Reis Antunes3; 5° Laiane Moreira Vianna Magalhães3; 6° José Fernando Bibiano Melo4 PA L AV R A S - C H AV E farinha de fruta. mangifera indica. secagem. subproduto. KEYWORDS fruit flour. Mangifera indica. drying. subproduct. INTRODUÇÃO A prática da utilização de subprodutos na alimentação animal tem sido realizada há décadas com o objetivo de aumentar a qualidade do produto final e/ ou reduzir os custos da produção (OKAI e ABOAGYE, 1990). Todavia, na região do semiárido, uma das fontes de carboidratos disponíveis é a manga Tommy (Mangifera indica L.), a qual poderá substituir o farelo de milho (MELO et al., 2012). Com isso, a utilização da farinha de manga em ração de peixes é uma alternativa para tentar aumentar os níveis de carboidratos na ração. No entanto, o aumento da porcentagem de carboidratos na ração de peixes, utilizando a frutose, representa uma maneira eficiente de redução de custos, poupando a utilização de proteína como fonte de energia. Entretanto, a desidratação de frutas é uma das técnicas mais antigas de preservação de alimentos utilizadas pelo homem. O processo é simples e consiste na eliminação de água de um produto por evaporação, com transferência de calor e massa (BRANDÃO et al., 2003). Existem diversos métodos para secagem de alimentos. O método de escolha depende do tipo de alimento a ser secado, do nível de qualidade que se deseja obter e de um custo que possa ser justificado (BRANDÃO et al., 2003). Diante deste contexto, objetivou-se avaliar o efeito da adição do farelo de soja na desidratação da manga Tommy no período de 24 horas, por meio de dois métodos de desidratação. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Laboratório de Aquicultura, no Campus Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Univasf, Petrolina-PE. 326 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Marion Venâncio Gomes dos SANTOS1*; Anderson Miranda de SOUZA2; Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Gabiane dos Reis ANTUNES3; Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3; José Fernando Bibiano MELO4 Os frutos, da variedade Tommy Atkins, foram coletados do solo, na área de cultivo experimental existente no Campus. Após a coleta, os frutos foram encaminhados para o Laboratório de Aquicultura onde foram devidamente lavados e cortados. Ao final dessa etapa, os frutos foram colocados em um moedor, para redução do tamanho e facilitar a secagem. Após a moagem, a massa resultante foi então distribuída em bandejas plásticas, sendo 3,33 kg de manga moída para cada bandeja. Após a distribuição nas bandejas, o farelo de soja foi adicionado para forma os seguintes tratamentos: controle (sem adição de farelo de soja), 2%, 4%, 8% e 16% de adição de farelo de soja. Com 3 repetições para cada tratamento, onde foram submetidos a dois métodos de secagem: -Secagem A: os tratamentos em cada bandeja foram inicialmente submetidos a uma pré-secagem ao sol por 8 horas, em um local coberto, com temperatura de 29°C e umidade de 58%. Onde foram realizadas quatro pesagens, no inicio da pré-secagem, 4 horas após, 8 horas após e para realizar a ultima pesagem as amostras foram mantidas em estufa a 55°C, por 16 horas. Após o fim das 16 horas de secagem em estufa, foi realizada uma ultima pesagem das bandejas. -Secagem B: consistiu em não utilizar a pré-secagem ao sol, onde as amostras foram levadas imediatamente à estufa com temperatura de 55°C, por 24 horas. Foram realizadas três pesagens das amostras, uma inicial ao entrar na estufa, a segunda com 8 horas e ao final das 24 horas de secagem. As analises estatísticas foram realizadas utilizando o programa estatístico R-Br. Todos os dados foram testados a normalidade e homogeneidade, em seguida submetidos ao teste de Tukey com nível de significância de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores percentuais da desidratação das amostras com os diferentes métodos de secagem no período de 24 horas estão descritos nas Tabelas 1 e 2. Observa-se que o tratamento controle apresentou a maior perda percentual de água no período de 24 horas em comparação aos demais tratamentos no método utilizando uma pré-secagem (Tabela 1; P<0,05). Sugerindo que, as diferentes porcentagens de farelo de soja adicionadas não favoreceram na desidratação da manga com a pré-secagem no período de 24 horas, tornando até mais lento o processo de desidratação. Alguns fatores podem ter influenciado nos resultados, como as condições climáticas no momento da secagem, ou a quantidade de horas na qual as amostras foram expostas, o processamento da manga no moedor, ou a própria adição da proteína pode ter influenciado nessa pequena perda de água das amostras. Houve efeito da adição do farelo de soja quando adicionado a manga para a secagem em estufa por 24 horas (Tabela 2; P<0,05). Observa-se que a adição de 2% de farelo de soja, proporcionou uma maior redução percentual no volume de água no periodo de 24 horas a 55°C, quando comparado aos demais tratamentos (Tabela 2; P<0,05). Esses resultados demonstram que além de favorecer a redução da porcentagem de água durante o processo de desidratação da manga, a inclusão do farelo de soja resulta ainda no aumento percentual da proteína desse fruto, o que favorece para o desenvolvimento de uma farinha de manga com bons índices Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 327 Marion Venâncio Gomes dos SANTOS1*; Anderson Miranda de SOUZA2; Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Gabiane dos Reis ANTUNES3; Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3; José Fernando Bibiano MELO4 bromatológicos. No entanto, para se obter uma desidratação adequada, em condições de desenvolver uma farinha para utilizar na ração animal, as amostras teriam que ser submetidas há um maior número de horas de secagem, tanto na pré-secagem como na secagem em estufa. Em estudo realizado por Souza et al. (2013) avaliando diferentes concentrações de farinha de manga in natura sem cascas em substituição ao milho na ração para piau, verificaram que os animais alimentados com a ração contendo 100% de manga in natura com cascas obtiveram menor ganho de peso. No entanto, Melo et al. (2012) ao trabalhar com farinha de manga sem cascas, em substituição ao milho na alimentação de alevinos de tilápias observaram maior ganho de peso nos animais alimentados com a ração contendo apenas fruta como fonte de carboidrato. CONCLUSÃO Em conclusão, a adição do farelo de soja favorece a redução de água no processo de desidratação da manga em estufa por 24 horas. No entanto, mais estudos são necessários. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDÃO, M. C. C.; MAIA, G.A.; LIMA, D. P.; PARENTE, E. J. S.; CAMPELLO, C. C.; NASSU, R. T.; FEITOSA, T.; SOUSA, P. H. M.; Análise físico-química, microbiológica e sensorial de frutos de manga submetidos à desidratação osmóticasolar. 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Percentual dos diferentes níveis de farelo de soja (NFS) na desidratação da manga Tommy em gramas submetida a uma pré-secagem NFS 0h 4h 8h 16h Controle 4.281,50a 4.142,90a 4.055,70a 2.835,30a 2% 4.337,60a 4.231,10a 4.147,40a 3.226,20b 4% 4.406,20a 4.288,60a 4.204,10a 3.236,70b 8% 5.418,30a 5.309,00a 5.216,70a 4.074,00b 16% 5.593,10a 5.472,30a 5.383,50a 4.124,00b *Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa (P<0,05). Tabela 2. Percentual dos diferentes níveis de farelo de soja (NFS) na desidratação da manga Tommy em gramas submetida à secagem em estufa por um período de 24 horas NFS 0h 8h 24h Controle 4.284,00a 3.511,75a 2.845,00b 2% 4.350,10a 3.372,00a 2.471,70a 4% 4.424,10a 3.618,63a 2.673,50ab 8% 5.446,50a 4.251,12a 3.465,97b 16% 5.598,70a 4.325,00a 3.675,10b *Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa (P<0,05). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 329 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA5, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO4, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Marion Venâncio Gomes dos SANTOS4 USO DE DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE MELATONINA SOBRE A MOTILIDADE ESPERMATICA PROGRESSIVA DE OVINOS DURANTE AS 48 HORAS DE RESFRIAMENTO1 Use of the different melatonin concentrations on the progressive motility of ram spermatozoa during 48 hours of cooling1 Parte de dissertação do primeiro autor. 2 Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE, *email: wilde@zootecnista. com.br 3 Professora do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 4 Discente do Curso de Medicina Veterinária, Univasf, Petrolina-PE, 5 Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (FAVET), Universidade Estadual do Ceará 1 1° Wildelfrancys Lima de Souza2, 2° Jonathan Maia da Silva Costa5, 3° Elenice Andrade Moraes3, 4° Vitória Gomes Coelho4, 5° Laiane Moreira Vianna Magalhães2; 6° Marion Venâncio Gomes dos Santos4 PA L AV R A S - C H AV E antioxidante. CASA. sêmen KEYWORDS antioxidante, CASA, semen INTRODUÇÃO A inseminação artificial cervical em ovinos com o uso do sêmen congelado ainda apresenta baixa taxa de concepção pela diminuição da viabilidade espermática no processo de congelamento. Uma alternativa é o uso do sêmen resfriado, sendo prático e vantajoso economicamente, podendo ser utilizado na IA cervical (YÁNIZ, 2005). A temperatura de manutenção do sêmen resfriado varia de 4º a 5ºC. Ele pode ser armazenado por um período de quatro a nove dias, o que permite um pouco mais de flexibilidade de uso quando comparado ao sêmen fresco. O tempo em que o sêmen deverá ser utilizado depende da qualidade espermática inicial, da temperatura de conservação e do diluente empregado. Esse procedimento reduz o crescimento microbiano, mantendo a viabilidade do sêmen diluído por mais tempo (Severo, 2009). A melatonina como os seus metabolitos têm a capacidade de destoxificação de radicais livres (REITER et al., 2007), em concentrações fisiológicas e farmacológicas. A eficácia da melatonina como antioxidante está relacionada com a sua capacidade quelante de radicais livres, o estímulo exercido tanto sobre enzimas antioxidantes como sobre a glutationa, a eficácia na redução da fuga de elétrons de cadeia de transporte mitocondrial e ainda a sua ação sinérgica com outros antioxidantes (REITER et al., 2007). Portanto, objetivou-se avaliar o efeito da adição de diferentes concentrações de melatonina sobre a motilidade progressiva dos espermatozoides de ovinos durante 48 horas de resfriamento. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi realizado após a aprovação sob o protocolo nº0002/110414, estando de acordo com os princípios éticos de experimentação animal do Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas da Universidade Federal do 330 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA5, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO4, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Marion Venâncio Gomes dos SANTOS4 Vale do São Francisco. O experimento foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Suínos, Espécies Nativas e Silvestre (CPSENS), localizado no Campus de Ciências Agrárias da Univasf, Petrolina, Pernambuco (09°23’55” de latitude S e 40°30´03” de longitude O). Foram utilizados três carneiros, com idade entre 2 a 4 anos. Os animais foram mantidos em baias individuais, com dieta a base de volumoso e concentrado, com fornecimento de água ad libitum. As coletas foram realizadas duas a três vezes por semana para cada animal com intervalos de 48 horas. Foi utilizada nas coletas vagina artificial para ovinos (Minitub) com água a 50°C acoplada a tubos de centrífuga de 50 ml, utilizando como manequim uma fêmea ovina. Após a coleta o sêmen foi transportado imediatamente para o CPSENS e colocado em banho-maria a 32°C. Cada ejaculado foi avaliado quanto aos parâmetros seminais (volume, aspecto, concentração e a motilidade espermática). Os ejaculados foram distribuídos em cinco tubos de ensaio de 15 ml e diluídos em Tris-gema de ovo conforme Souza et al., (2015), para concentração final de 200 x 106 espermatozoides/ml, determinado através da análise no fotômetro SDM6 (Minitub®), e mantidos em banho maria a 32°C. O diluidor foi previamente preparado com as quatro concentrações diferentes de melatonina, de acordo com os tratamentos: Controle; 1 mM; 100 μM; 100 nM; 100 pM de melatonina. Após a diluição as amostras nos tubos de ensaio foram colocadas em um becker com água a 32°C e acondicionadas sobre rack em câmara fria a 5°C. A motilidade espermática progressiva foi determinada utilizando o sistema de análise computadorizado (CASA). Alíquota de 8 μL de cada amostra por tratamento foram analisadas individualmente sob lâmina e lamínula pré-aquecidas, a 37ºC. As amostras foram analisadas em 2, 24 e 48h após o processo de refrigeração. As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o programa estatístico SAEG. RESULTADOS E DISCUSSÃO A motilidade espermática progressiva não diferiu entre as diferentes concentrações de melatonina durante os períodos de resfriamento observado as 2, 24 e 48 horas (Tabela 1; P>0,05). Isso demonstra que o aumento do período de resfriamento no qual os espermatozoides foram submetidos não afetou a motilidade progressiva, logo, nas praticas de inseminação artificial para ovinos, o uso dos diferentes tempos de resfriamento pode ser utilizado. P. Perumal et al., (2013) avaliando o efeito da melatonina no resfriamento do sêmen de Mithun nos tempos de 0, 6, 12, 24 e 30 horas, constatou efeitos protetores da suplementação de melatonina, corroborando com os achados desse estudo. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 331 Wildelfrancys Lima de SOUZA2, Jonathan Maia da Silva COSTA5, Elenice Andrade MORAES3, Vitória Gomes COELHO4, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES2; Marion Venâncio Gomes dos SANTOS4 CONCLUSÃO O sêmen ovino tratado com melatonina não alterou a motilidade progressiva durante o período de resfriamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS P. PERUMAL; KEZHAVITUO VUPRU; K. KHATE. 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Anais do XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia. 2015. v. 25. YÁNIZ, J.; MARTÍ, J.I.; SILVESTRE, M.A.; FOLCH, J.; SANTOLARIA, P.; ALABART, J.L.; LÓPEZ GATIUS, F. Effects of solid storage os sheep spermatozoa at 15ºC on their survival and penetrating capacity. Theriogenology. v. 64, 1844 -1851, 2005. Tabela 1. Motilidade espermática progressiva (%) do sêmen de ovinos diluídos com diferentes concentrações de melatonina após resfriamento a 2, 24 e 48 horas Concentrações de Melatonina 332 Resfriamento 5°C 0h 2h 24h 48h Controle 72,83±9,59 62,24±13,09 61,00±9,43 59,36±11,51 1 mM 75,11±8,89 57,66±13,38 57,05±9,87 53,11±7,82 100 µM 77,41±7,08 58,60±11,80 62,64±7,65 55,27±7,44 100 nM 77,36±10,67 63,51±12,82 58,36±9,71 54,75±10,91 100 pM 78,26±4,96 61,44±10,92 58,35±7,80 60,00±11,67 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Dailli Ingrid de Brito LIMA5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3; Vitória Gomes COELHO5 EFEITO DA ADIÇÃO DOS ANTIOXIDANTES TROLOX C E ÁCIDO ASCÓRBICO NO SÊMEN FRESCO DE CARNEIROS SOBRE A ATIVIDADE MITOCONDRIAL DE ESPERMATOZOIDES DESCONGELADOS1 Parte de dissertação do primeiro autor. 2 Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (FAVET), Universidade Estadual do Ceará. *email: [email protected]. br 3 Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE. 4 Professora do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 5 Discente do Curso de Medicina Veterinária, Univasf, Petrolina-PE. 1 Effect of antioxidants Trolox c and ascorbic acid adition in the ram’s fresh semen on the mitochondrial activity of thawed spermatozoa 1° Jonathan Maia da Silva Costa2*, 2° Wildelfrancys Lima de Souza3, 3° Elenice Andrade Moraes4, 4° Dailli Ingrid de Brito Lima5, 5° Laiane Moreira Vianna Magalhães3; 6° Vitória Gomes Coelho5 PA L AV R A S - C H AV E criopreservação. mitocôndria. sêmen. sonda fluorescente. KEYWORDS cryopreservation. mitochondria. semen. fluorescent probe. INTRODUÇÃO Mitocôndrias são as estruturas subcelulares dos espermatozoides mais sensíveis à refrigeração e congelação (PEÑA et al., 2009). De acordo com essa evidência, parece lógico que se foque o interesse em antioxidantes com capacidade de facilmente alcançar a mitocôndria, como a melatonina (SILVA et al., 2011). Os níveis excessivos de espécies reativas ao oxigênio também podem afetar adversamente a motilidade espermática via alterações nas funções mitocondriais (Du 2009), e muitos estudos têm demostrado efeitos benéficos na manutenção da viabilidade espermática pós-descongelamento ao utilizar o Trolox C e ácido ascórbico adicionado ao meio diluidor (MAIA et al., 2009; CASTILHO et al., 2009). Portanto, objetivou-se avaliar se a adição de diferentes antioxidantes e concentrações no sêmen fresco de carneiro melhora a atividade mitocondrial de espermatozoides após a criopreservação. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas CEDEP/UNIVASF, registrado com o protocolo de número 0005/140813. O experimento foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Suínos, Espécies Nativas e Silvestre (CPSENS), localizado no Campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Petrolina, Pernambuco. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 333 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Dailli Ingrid de Brito LIMA5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3; Vitória Gomes COELHO5 Foram utilizados três carneiros, com idade entre 2 a 4 anos. Os animais foram mantidos em baias individuais, com dieta a base de volumoso e concentrado, com fornecimento de água ad libitum. As colheitas foram realizadas duas a três vezes por semana para cada animal com intervalos de 48 horas. Foi utilizada nas colheitas vagina artificial para ovinos (Minitub®; Berlim, Alemanha) com água a 50°C acoplada a tubos de centrífuga de 50 ml, utilizando como manequim uma fêmea ovina. Após a coleta o sêmen foi transportado imediatamente para o CPSENS e colocado em banho-maria a 32°C. Cada ejaculado foi avaliado quanto aos parâmetros seminais (volume, aspecto, concentração e a motilidade espermática). Os ejaculados foram distribuídos em cinco tubos de ensaio de 15 ml e diluídos em Tris-gema de ovo, conforme Souza et al. (2015), para concentração final de 200x106 espermatozoides/ml, determinado através da análise no fotômetro SDM6 (Minitub®; Berlim, Alemanha), e mantidos em banho maria a 32°C. Em seguida o diluidor foi previamente adicionados ou não com os antioxidantes, considerando os seguintes tratamentos: Grupo 1 (Controle - sem antioxidante); Grupo 2 (adição de 100µM de Trolox C Ácido Ascórbico); Grupo 3 (200µM de Trolox C); Grupo 4 (0,05% de Ácido Ascórbico); Grupo 5 (0,25% de Ácido Ascórbico). Em seguida os tubos de ensaio contendo os tratamentos foram inseridos em becker com 100mL de água a 32°C, e acondicionados sobre rack em câmera fria a 5°C durante 2 horas. Após esse período, as amostras de cada tratamento foram envasadas em palhetas de 0,5 mL e lacradas com seladora UltraSeal (Minitub®; Berlim, Alemanha). As palhetas foram colocadas em rampa de congelação e sobre vapor de nitrogênio líquido (N2) (8 cm da lâmina líquida) durante 15 minutos, quando foram imersas em nitrogênio líquido e armazenadas em botijão criogênico até análise. As amostras foram descongeladas a 37°C, durante 30s utilizando o descongelador automático de palheta (IMV®; São Paulo, Brasil). A avaliação da atividade mitocondrial, foi realizada através da associação das sondas Rodamina 123 (R123) e iodeto de propídeo (PI), conforme descrita por Celeghini (2005), com algumas modificações. Uma alíquota de 5 µL de sêmen (2 X 106 espermatozoides) foi diluída em 120 µL de meio Tris ao qual foram adicionadas as soluções de trabalho das sondas fluorescentes nas seguintes proporções: 2μL de R123 e 2μL PI. Após homogeneização da amostra, está foi mantida ao abrigo de luz e incubada por 20 minutos a 37ºC, em seguida uma alíquota de 10μL dessa mistura foi colocada entre lâmina e lamínula e 200 espermatozoides foram avaliados em microscópio de fluorescência, usando filtro 03 (excitação 400 a 570nm e Emissão 460 a 610nm). Os espermatozoides corados foram visualizados e classificados da seguinte forma: A ausência de fluorescência verde (R123) na cauda do espermatozoide, indicava a ausência de atividade mitocondrial, consequentemente a presença de fluorescência verde na cauda do espermatozoide, indicava presença de atividade mitocondrial. A utilização do PI nesta avaliação era necessariamente para identificar os espermatozoides com ausência de atividade mitocondrial, uma vez que, estes não apresentavam cor, desta forma o PI atuou como marcador da cabeça do espermatozoide. As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram 334 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Dailli Ingrid de Brito LIMA5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3; Vitória Gomes COELHO5 comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade utilizando-se o programa estatístico SAEG. RESULTADOS E DISCUSSÃO A adição de diferentes concentrações de Trolox C e ácido ascórbico manteve o potencial de atividade mitocondrial acima dos 90%, quando o controle obteve percentual inferior a 90% (Tabela 1; P<0,05). No entanto, observa-se que os espermatozoides tratados com a adição de 0,25% de ácido ascórbico apresentou maior percentual de atividade mitocondrial após a criopreservação quando comparado aos demais grupos (Tabela 1; P<0,05) Windsor e White (1995), utilizando a sonda R123 em amostras adicionadas ao antioxidante BHT, demonstraram que o processo de congelamento e descongelamento provoca severos danos à membrana mitocondrial do espermatozoide ovino. No entanto, dados foram semelhantes aos obtidos por Moraes et al. (2015) ao avaliarem o potencial de atividade mitocondrial pela sonda R123, em sêmen de ovino adicionado da interação de melatonina, ácido ascórbico e Trolox C, os quais observaram atividade mitocondrial de 96,43%. Já, Beconi et al. (1993), ao adicionarem vitamina C (5mM) e vitamina E (1 mg/ml) ao sêmen bovino, observando uma redução dos efeitos nocivos das espécies reativas de oxigênio. Sendo assim, o bom rendimento da atividade mitocondrial observado neste estudo, ao utilizar as diferentes concentrações de Trolox C e ácido ascórbico, vêm a constatar que a utilização de antioxidantes no meio diluidor é fundamental na proteção de alguns compartimentos celulares, uma vez que, as mitocôndrias são responsáveis pela energia que gera motilidade a célula espermática, demostrando uma forte correlação entre os espermatozoides que possuam alto potencial de membrana mitocondrial, com aqueles que possuem capacidade de fecundação. CONCLUSÃO As diferentes concentrações de Trolox C e ácido ascórbico mantém a atividade mitocondrial e neutraliza o dano oxidativo nas mitocôndrias espermáticas durante o processo de criopreservação. Sendo recomendado a adição de 0,25% de ácido ascórbico, devido ao alto valor percentual obtido. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECONI, M.T.; FRANCIA, C.R.; MOR, N.G.; AFFRANCCHINO, M.A. Effect of natural antioxidants on frozen bovine semen preservation. Theriogenology, v. 40, p. 841-851, 1993. CASTILHO, F. E.; GUIMARÃES, D. J.; MARTINS, F. L.; PINHO, O. R.; GUIMARANHÃES, F. E. S.; ESPESCHIT, B. J. C. Uso de própolis e ácido ascórbico na criopreservação do sêmen caprino. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.12, p.2335-2345, 2009. CELEGHINI, E.C.C. Efeitos da criopresrvação do sêmen bovino sobre a membrana plasmática, acrossomal e mitocondrial e estrutura da cromatina dos esperCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 335 Jonathan Maia da Silva COSTA2*, Wildelfrancys Lima de SOUZA3, Elenice Andrade MORAES4, Dailli Ingrid de Brito LIMA5, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES3; Vitória Gomes COELHO5 matozóides utilizando sondas fluorescentes. 2005. 186p. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo – USP,Pirasununga. DU, LY. Antioxidation of melatonin on boar semen preservation. Jiangsu, Journal of Agricultural Science, 25, 315–319. 2009. MAIA, M. S.; BICUDO, S. D. Radicais livres, antioxidantes e função espermática em mamíferos: uma revisão. Revista Brasileira de Reprodução Animal. v.33, n.4, p.183-193,2009. MORAES, E. A.; SOUZA, W. L.; COSTA, J. M. S.; GRAHAM, J. K. Antioxidants improve membrane integrity and acrosome and sperm mitochondrial activity in ram sperm after cryopreservation. In: ADSA - ASAS, JOINT ANNUAL MEETING-JAM, 2015, Orlando-FL. J. Anim. Sci. Vol. 93, Suppl. s3/J. Dairy Sci. Vol. 98, Suppl. 2. Orlando-FL, 2015. p. 427-428. PEÑA, F. J.; RODRÍGUEZ-MARTÍNEZ, H.; TAPIA, J. A.; ORTEGA-FERRUSOLA, C.; GONZÁLEZ-FERNÁNDEZ, L.; MACÍAS-GARCÍA, B. Mitochondria in mammalian sperm physiology and pathology: a review. 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Mitochondrial injury to ram sperm during procedures associated with artificial insemination or frozen storage. Animal Reproduction Science, v.40, p.43-58, 1995. Tabela 1. Percentual de atividade mitocondrial (AM) de espermatozoides de carneiros criopreservados acrescidos ou não de diferentes antioxidantes Parâmetros Grupos experimentais espermáticos Controle TRO 100µL TRO 200µL AA 0,05% AA 0,25% AM 87,54±3,5d 91,85±3,5c 93,46±3,5bc 94,64±3,5ab 97,04±3,5a TRO= Trolox C; AA= Ácido ascórbico. Médias com letras diferentes sobrescritas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). 336 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wildelfrancys Lima de SOUZA1, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES2, Vitória Gomes COELHO3, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 EFEITO DA DIMETILFORMAMIDA ASSOCIADA OU NÃO AO GLICEROL SOBRE A LONGEVIDADE ESPERMÁTICA DE CAPRINOS APÓS O RESFRIAMENTO E DESCONGELAMENTO Effect of dimethylformamide associated or not to glycerol on longevity sperm of goats after cooling and thawing Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal (CPGCA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Petrolina-PE, *email: wilde@zootecnista. com.br 2 Professora do Colegiado de Zootecnia e CPGCA, Univasf, Petrolina-PE. 3 Discente do Curso de Medicina Veterinária, Univasf, Petrolina-PE, 4 Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (FAVET), Universidade Estadual do Ceará 1 1° Wildelfrancys Lima de Souza1, 2° Jonathan Maia da Silva Costa4, 3° Elenice Andrade Moraes2, 4° Vitória Gomes Coelho3, 5° Laiane Moreira Vianna Magalhães1; 6° Dailli Ingrid de Brito Lima3 PA L AV R A S - C H AV E crioprotetor. criopreservação. sêmen. teste de termoresistência KEYWORDS cryoprotectant. cryopreservation. semen. test resistance thermometer INTRODUÇÃO Com o intuito de reduzir os danos causados às células durante o processo de criopreservação, diversas substâncias foram estudadas e mostraram-se bons crioprotetores. Dentre os crioprotetores alcoólicos utilizados para a preservação espermática, destaca-se, especialmente, o glicerol; entre as amidas, a dimetilformamida (FICKEL et al., 2007). As amidas também têm sido testadas como crioprotetor alternativo e, em decorrência de muitas destas apresentarem um menor peso molecular do que o glicerol supõe-se que possam induzir menos danos osmóticos (MELO et al., 2007). Portanto, objetivou-se avaliar os efeitos de diferentes concentrações de dimetilformamida e sua associação ao glicerol, sobre a sobrevivência dos espermatozoides de caprinos após o resfriamento e descongelamento. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi realizado após a aprovação de acordo com os Princípios Éticos de Experimentação Animal adotados pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Univasf, sob o número 0005/161012. O experimento foi desenvolvido no Centro de Pesquisa em Suínos, Espécies Nativas e Silvestre (CPSENS), localizado no Campus de Ciências Agrárias da Univasf, Petrolina, Pernambuco (09°23’55” de latitude S e 40°30´03” de longitude O). Foram utilizados quatro reprodutores caprinos adultos, sem raça definida, com idades entre 2 e 3 anos. As coletas foram realizadas por meio de vagina artificial, tendo como manequim uma fêmea em estro. Após a coleta o sêmen foi transportado imediatamente para o CPSENS e mantido em banho-maria a 37°C. Os ejaculados foram avaliados quanto aos parâmetros seminais (volume, Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 337 Wildelfrancys Lima de SOUZA1, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES2, Vitória Gomes COELHO3, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 aspecto, concentração e a motilidade espermática). Posteriormente, o sêmen foi subdividido em seis tubos plásticos (5 ml) aonde foram adicionados os seguintes tratamentos- Controle: diluente a base de Tris-gema (TG) + 2% de glicerol; DMF2: TG + 2% de dimetilformamida (DMF); DMF3: TG + 3% DMF; DMF4: TG + 4% DMF; DMF5: TG + 5% DMF; e DFM22: TG + 2% de glicerol + 2% DMF. Em seguida, as amostras de cada tratamento foram envasadas em palhetas de 0,5 ml e acondicionadas em recipientes plásticos, mantidas horizontalmente a 5ºC por 2 horas, quando foi avaliada a motilidade progressiva espermática utilizando o sistema computadorizado (CASA). Em seguida as palhetas foram dispostas horizontalmente sobre vapores de nitrogênio liquido, por 7 minutos, a 5 cm da lâmina líquida. Ao termino, as palhetas foram submersas no nitrogênio e quando da avaliação foram descongeladas a 37°C durante 30 segundos e submetidas à análise do teste de termoresistência (TTR). Para a realização do TTR, as amostras descongeladas foram colocadas em tubos de ensaio e incubadas em banho-maria a 37°C por um período de 2 horas, sendo avaliada a motilidade progressiva a cada 30 minutos nesse período pelo CASA. As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, utilizando-se o programa estatístico SISVAR 5.1. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os parâmetros espermáticos encontrados no sêmen caprino diluído e resfriado são apresentados na (Tabela 1). Houve redução da motilidade progressiva dos espermatozoides tratados com DMF5 quando comparado o sêmen diluído ao resfriado (P<0,05). Os tratamentos DMF3 e DMF22 diferiram do DMF5 quando comparada a motilidade progressiva espermática após resfriamento (P<0,05), não sendo observada diferença entre os demais tratamentos para o sêmen diluído e resfriado (P>0,05). Não foi observado efeito da dimetilformamida e de sua associação com o glicerol sobre a motilidade progressiva espermática após o teste de termoresistência (Tabela 2; P>0,05). Entretanto, pode-se constatar uma redução (P>0,05) da motilidade progressiva espermática ao longo de 120 minutos de duração do teste para os tratamentos. Avaliando os resultados da tabela 2, observa-se que a motilidade progressiva dos espermatozoides submetidos aos tratamentos DMF2 (19,2%), DMF3 (20,2%), DMF4 (17,7%) e DMF22 (19,4%) possibilitaram um período de resistência térmica de 90 minutos após o descongelamento. No entanto, o tratamento DMF5 conseguiu manter a motilidade progressiva (18,5%) por um período de apenas 60 minutos (P<0,05). Resultado semelhante foi observado por Silva et al., (2006), ao avaliar a dimetilformamida e associação dela com o glicerol, verificando que a motilidade espermática progressiva do sêmen caprino não foi afetada pelos diferentes crioprotetores. Esses resultados demonstraram a necessidade de novas pesquisas com diferentes concentrações de dimetilformamida na criopreservação espermática de caprinos. 338 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Wildelfrancys Lima de SOUZA1, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES2, Vitória Gomes COELHO3, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 CONCLUSÃO A dimetilformamida usada na concentração de ate 4% mantém a longevidade dos espermatozoides de caprinos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FICKEL, J.; WAGENER, A.; LUDWIG, A. Semen cryopreservation and the conservation of endangered species. European journal of wildlife research, v.53, p.81-89, 2007. MELO, C.M.; ZAHN, F.S.; MARTIN, I.; ORLAND, C.; DELL’AQUA, Jr. JÁ.; ALVARENGA, M.A.; PAPA, F.O. Influence of semen storage and cryoprotectant an post-thaw viability and fertility of stallion spermatozoa. Journal of equine veterinary science, v.27, p.171-175, 2007. SILVA, A.F., COSTA, E.P.; OLIVEIRA, F.A. Uso da dimetilformamida associada ou não ao glicerol na criopreservação de sêmen caprino. Revista brasileira de zootecnia. 35:452-456, 2006. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 339 Wildelfrancys Lima de SOUZA1, Jonathan Maia da Silva COSTA4, Elenice Andrade MORAES2, Vitória Gomes COELHO3, Laiane Moreira Vianna MAGALHÃES1; Dailli Ingrid de Brito LIMA3 Tabela 1. Motilidade espermática progressiva (%) de espermatozoides de caprinos submetidos a diferentes concentrações de dimetilformamida associada ou não ao glicerol após a diluição e resfriamento a 5°C Tratamentos Controle DMF2 DMF3 DMF4 DMF5 DMF22 Motilidade progressiva (%) Diluído Resfriado 89,0±1,77Aa 87,1±2,21Aab 89,4±1,65Aa 87,7±1,07Aab Aa 90,1±1,83 89,4±0,64Aa Aa 90,0±1,47 88,0±1,52Aab Aa 89,5±1,52 85,7±1,16Bb Aa 90,6±0,79 89,4±1,02Aa Médias com letras maiúsculas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). a,b Médias com letras minúsculas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). DMF: dimetilformamida. A,B Tabela 2. Motilidade progressiva de sêmen caprino descongelado, durante o teste de termoresistência lento, submetido a diferentes concentrações do crioprotetor Tratamentos Controle DMF2 DMF3 DMF4 DMF5 DMF22 0 21,5±2,08Aa 27,0±3,21Aa 27,2±7,25Aa 24,2±9,40Aa 24,3±3,67Aa 24,5±2,72Aab Tempo de incubação (minutos) 30 60 90 18,8±2,57Aa 15,4±2,96Aa 16,4±2,61Aa 24,3±4,27Aab 21,0±2,30Aab 19,2±1,17Aab Aab Aab 24,4±3,02 17,9±0,07 20,2±2,01Aabc Aab Aab 23,1±5,43 20,8±7,67 17,7±4,19Aab 21,5±3,21Aab 18,5±2,96Aabc 14,6±3,73Abc 25,7±4,36Aa 20,7±4,14Aab 19,4±2,50Aab 120 15,5±2,46Aa 17,1±2,00Ab 14,8±1,42Ac 15,4±4,12Ab 11,8±3,04Ac 16,5±3,96Ab Médias com letras maiúsculas diferentes sobrescritas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). a,b c Médias com letras minúsculas diferentes sobrescritas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). DMF: dimetilformamida. A,B 340 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 ABAMECTINA NO TRATAMENTO DE HABRONEMOSE CUTÂNEA EM EQUINO: RELATO DE CASO Abamectin in treatment of cutâneous abronemosis in equine: case report Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. jorge. [email protected] 2 Faculdade Dr. Francisco Maeda, DMV, [email protected] 1 PA L AV R A S - C H AV E cavalo, ferida de verão, terapia. KEYWORDS horse, summer wound, therapy. INTRODUÇÃO A cicatrização de feridas nos equídeos envolve a interação de diversos componentes celulares e bioquímicos, sendo objeto constante de investigação. Trata-se de um processo complexo, classicamente dividido em um estágio inflamatório/degradativo precoce, com pico nas primeiras horas após a injúria, seguido pela fase proliferativa, onde ocorrem a neo-angiogênese, granulação e epitelização, seguidas pela fase de maturação, quando se dá a contração e remodelação da ferida. A terapêutica empregada deve ser individualizada e levar em conta a etiopatogenia e características do ferimento (TAZIMA et al, 2008; MÖRSCHBÄCHER et al, 2012). A habronemose cutânea, também conhecida como “ferida de verão”, é comum em equinos. É uma enfermidade causada pela deposição de larvas dos nematóides Habronema spp. e Drashia megastoma e transmitida pelas Musca doméstica e Stomoxys calcitrans (FORTES, 2004; SILVA, et al, 2012), que invadem os tecidos previamente lesionados, provocando grave dermatite ulcerativa. Essa lesão é caracterizada por excesso de tecido de granulação irregular, presença de exudato sero-sanguinolento, ulceração e prurido, podendo atingir grandes diâmetros (MERCK, 1988; RADOSTITIS, 2000; THOMASSIAN, 2005). O tratamento preconizado inclui a administração de combinações tópicas de antibióticos, antiinflamatórios e larvicidas (FREITAS, 2011; SILVA, 2012). Entretanto, os tratamentos utilizados são de custos elevados. Diante do exposto, objetivou-se descrever um tratamento de fácil execução e baixo custo, através do uso da abamectina. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Regimento de Polícia Montada da Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte - RPMONT/PMRN. Uma égua, da raça árabe com aproximadamente 18 anos de idade, foi atendida apresentando ferimentos contaminados bilaterais no canto medial de ambos os olhos. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 341 Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 Estas lesões apresentavam dermatite exsudativa de aspecto circular, tecido de granulação exuberante com superfície ulcerada, considerável comprometimento tecidual, intenso prurido e secreção sero-sanguinolenta. Esse quadro clinico que quando associado a excesso de umidade e falta de higiene ambiental adequada, fornecem as condições ideais ao surgimento da habronemose cutânea. Realizou-se excisão cirúrgica de um pequeno fragmento do granuloma, que enviado para exame histopatológico apresentou grande quantidade de eosinófilos e presença de necrose, contribuindo com a suspeita clínica de habronemose cutânea. A égua foi submetida a procedimento de limpeza mecânica dos ferimentos, com utilização de soro fisiológico e gaze para remoção das crostas, detritos, corpos estranhos e tecidos desvitalizados. Posteriormente foi submetida ao tratamento sistêmico com Abamectina (0,250g) associado a Praziquantel (1,500g) e Vitamina E (0,600g), na dose de 200 μg de Abamectina, 2,5 mg de Praziquantel e 1 mg de vitamina E por kg de peso corporal, via oral. O mesmo gel foi topicamente aplicado associado a pomada comercial a base de penicilina G benzatina (1.250ui), Penicilina G Procaína (1.250 ui), Diidroestreptomicina (1,25g) e Uréia (50g) na proporção de 50% de cada produto, sendo aplicados duas vezes ao dia durante 30 dias, após prévia higienização da ferida. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerou-se as condições ambientais adversas como sendo o principal responsável pelos repetidos casos clínicos de habronemose cutânea no RPMONT, favorecendo tanto a perpetuação do parasita nos animais quanto a proliferação de moscas (vetores). Portanto, reiterando a recomendação de Thomassian (2005) que orienta higiene ambiental rigorosa e controle parasitário periódico. A terapia sistêmica adotada a base de Abamectina teve o objetivo de evitar uma possível resistência parasitária à Ivermectina, já utilizada nesta unidade militar há décadas, corroborando com o resultado de Freitas et al. (2011) que utilizaram outra lactona macrocíclica – Moxidectin, obtendo também sucesso na terapia. De acordo Tazima et al. (2008), o sucesso do tratamento pode estar relacionado com o controle dos fatores que dificultam cicatrização, observações que corroboram os dados aqui obtidos. CONCLUSÃO A adição da abamectina ao tratamento convencional é eficiente, além de apresentar baixo custo e facilidade de aplicação, fatores de fundamental importância na rotina de instituições militares. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS FORTES, E. Parasitologia veterinária. 4. ed. São Paulo: Ícone, 2004. P. 342–348. FRASER, C. M. Manual Merck de veterinária. 3.ed. Madrid: Guada, 1918p. 1988. 342 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 FREITAS, F.C; MORAES, A.T.B; VALENTE, P.P; AGOSTINHO, J.M.A; MAGALHÃES, G.M. Habronemose nasal em uma égua. Nucleus animalium. v.3, n.1, p.7-16, 2011. MÖRSCHBÄCHER, P.D; GARCEZ, T.N.A; CONTESINI, E.A. Adjuvantes para cicatrização cutânea. Veterinária em Foco. v.9, n.2, p. 173-183, 2012. RADOSTITS, O. M., et al. Clínica Veterinária. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 1118-1119. SILVA, M.C.P., AGUIAR, B.F., JABOUR, F.F., TEIXEIRA, L.G., CARVALHO,K.S. Habronemose cutânea em equino – Relato de caso, Simpósio Alagoano de Medicina Equina, V.I, P 125, 2012. TAZIMA, M.F.G.S, VICENTE, Y.A.M.V.A, MORIYA T. Wound biology and healing. Medicina, v.41, n.3, p.259-64, 2008. THOMASSIAN, A. Parasitos do estômago e intestinos. In: Enfermidades dos Cavalos. 2. ed. São Paulo: Varela, 2005. p.176. Figura 1. Lesão localizada no canto medial do olho esquerdo, com presença de exuberante tecido de granulação e secreção sero-sanguinolenta. Figura 2. Tratamento com creme de Abamectina gel associado a pomada cicatrizante (A) e Cicatrização completa após 20 dias de tratamento (B). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 343 Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 RABDOMIÓLISE CAUSADA POR ESFORÇO, HIPÓXIA E POLITRAUMATISMO EM EQUINO: RELATO DE CASO Rhabdomyolysis caused by stress, hypoxia and polytrauma in equine: case report Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. jorge. [email protected] 2 Faculdade Dr. Francisco Maeda, DMV, [email protected] 1 PA L AV R A S - C H AV E cavalo, mioglobinúria paralítica, terapia. KEYWORDS horse, paralytic myoglobinuria, therapy. INTRODUÇÃO A rabdomiólise, também conhecida como mioglobinúria paralítica, é uma patologia que acomete animais de qualquer raça, idade, sexo e não possui caráter sazonal. Pode ser desencadeada por sobrecarga de carboidratos, hipóxia tecidual, deficiência de vitamina E e Selênio, desbalanceamento eletrolítico e baixo condicionamento físico, normalmente após algum episódio de excesso de exercício físico. Consiste basicamente de um processo degenerativo muscular por excesso de ácido láctico na musculatura, associado a altos níveis de estresse. Os episódios podem variar desde casos subclínicos a severos, com necrose muscular e falência renal por mioglobinúria. Os animais acometidos, normalmente relutam em movimentar-se ou permanecem em decúbito, demonstrando exaustão, sempre acompanhados de intensa dor muscular. Nos casos mais severos pode ocorrer quadro de mioglobinúria, com a urina apresentando coloração vermelha ou achocolatada (STASHAK, 1994; KNOTTENBELT e PASCOE, 1998; RADOSTITS, 2002; THOMASSIAN, 2005; RIVIERO, 2007). MATERIAL E MÉTODOS Foi atendido, à campo, um equino macho, inteiro da raça Paint-Horse com 12 anos de idade, o qual era portador de hemiplegia laringeana, sendo utilizado apenas para reprodução. O histórico relata uma briga entre o paciente e outro garanhão do Haras, dentro de uma baia de 16m2, desenrolada por tempo desconhecido, porém, interrompida 10 minutos antes do atendimento. Ao exame clínico, o animal se apresentou-se em posição quadrupedal e sob intensa sudorese. Constatou-se elevado grau de desidratação, inúmeras lesões distribuídas por todo o corpo, sobretudo, face, pescoço, peitoral e garupa. Além disso evidenciou frequência cardíaca de 90 batimentos por minuto, frequência respiratória de 25 movimentos por minuto, tempo de preenchimento capilar de 4 segundos, mucosa oral seca e levemente cianótica, sem febre e sem sinais de desconforto abdominal, intensas dores musculares facilmente perceptíveis à palpação, tremores musculares e grande relutância em movimentar-se. O animal apresentava ainda duas lacerações cutâneas, sendo uma na re344 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 gião peitoral e outra no antebraço do membro anterior esquerdo. O animal foi cateterizado em ambas as veias jugulares para realização de hidratação rápida e posteriormente foram realizadas as suturas necessárias sob analgesia com aplicação de 1,5ml de Cloridrato de Detomidina (Dormium V) e anestesia local utilizando Cloridrato de Lidocaína a 2% (Anestésico local Pearson). Após aplicação de 15 litros de soro fisiológico, o animal realizou a primeira micção, apresentando mioglobinúria clássica, com presença de urina de coloração castanha. O tratamento realizado, com duração de dez dias, teve o objetivo de restabelecer o equilíbrio hidro-eletrolítico, neutralizar o dano muscular e renal, e controlar a dor e o desconforto. Foram ministrados 30 litros de soro fisiológico por via endovenosa em ritmo de aplicação decrescente. Quando se restabeleceu da desidratação foi aplicado Bromidrato de Escopolamina associado a Dipirona Sódica (Buscofin Composto, 20 ml). Instituiu-se dieta com ausência completa de carboidratos, repouso, massagens e duchas na musculatura. RESULTADOS E DISCUSSÃO No segundo dia de tratamento apesar da intensa dor muscular, o animal já apresentava urina com coloração normal e parâmetros cárdio-respiratórios dentro do limiar de normalidade, sendo prescrito tratamento com fenilbutazona (4,4 mg/kg/dia/EV) durante cinco dias consecutivos. No quinto dia de tratamento já se locomovia normalmente e após nove dias do ocorrido teve normalizada a alimentação e já não apresentava dores à palpação muscular. O histórico de hemiplegia laringeana e consequente falta de condicionamento físico, associado a uma condição extrema de luta levou este animal a apresentar, concomitantemente, diversos fatores desencadeantes de rabdomiólise, como hipóxia, excesso de esforço físico e politraumatismos musculares, o que contribuiu com o rápido diagnóstico e intervenção terapêutica. A fluidoterapia empregada conseguiu reverter rapidamente o desequilíbrio hidroeletrolítico e o sedativo utilizado para realização das suturas auxiliou na aplicação dos demais fármacos, deixando o animal tranquilo durante todo o procedimento. Além disso, a detomidina promoveu ainda relaxamento muscular e analgesia, conforme previamente relatado por Muir e Hubbell (1991). O Bromidrato de Escopolamina associado a Dipirona, devido a sua ação parassimpatolítica, reduziu os espasmos musculares. Adimite-se que a rapidez no atendimento e o tratamento impediram o agravamento do quadro clínico com surgimento de patologias muito comuns nesses casos, como insuficiência renal, cólica e laminite. CONCLUSÃO Os casos de rabdomiólise por esforço são frequentemente encontrados na medicina esportiva equina, sobretudo por sobrecarga de esforço em provas. Porém, não era de se esperar que ocorresse com um animal exclusivo para reprodução devido a limitações respiratórias. O tempo decorrido entre o estabelecimento do quadro e o início do tratamento é fundamental para a evolução e desfecho final do caso, ficando evidente que quanto mais rápida e precisa a intervenção médica, melhor será a recuperação do animal. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 345 Jorge Motta da ROCHA1, José Carlos FERREIRA-SILVA1, Leopoldo Mayer FREITAS NETO1, Heder Nunes FERREIRA1, Maico Henrique Barbosa dos SANTOS2, Marcos Antonio Lemos de OLIVEIRA1 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS KNOTTEMBELT, D.C; PASCOE, R.R. Afecções e distúrbios do cavalo. 1.ed. São Paulo: Manole, 432p. 1998. MELO, U.P.; FANTINI, C.F.P.; BORGES, K.D.A. Icterícia de íris após rabdomiólise por esforço em um equino. Revista Ciência Rural. V.39,n.7,p.2213-2217. 2009. MUIR, W.W., HUBBELL, J.A.E. Equine Anesthesia. St Louis: Mosby-Year Book, Standing chemical restraint in horses: tranquilizers, sedatives, and analgesics, p.247-280, 1991. RADOSTITS, O.M; GAY, C.C; BLOOD, D.C; HINCHCLIFF, K.W. Clínica Veterinária. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002. 1770p. SILVA, T.V; CAMPOS, S.B.S; BRAZIL, D.S. Injúria muscular aguda em cavalo atleta: relato de caso. In: CONBRAVET 35º. Anais... Gramado-RS. 2008. STASHAK, T. Claudicação em eqüinos segundo Adams. 4 ed. São Paulo: Roca, 1994. THOMASSIAN, A. Enfermidades dos cavalos. 2.ed. São Paulo: Varela, 2005. 385p. Figura 1. Animal apresentando lesões por todo o corpo. Figura 2. Apresentação do animal após o tratamento. 346 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Edivaldo Rosas dos SANTOS JUNIOR1; Osório Leite de Souza Bezerra NUNES2; Edilma Ramos COELHO3; Gustavo Ferraz Nogueira Pinheiro de BARROS4; Paula Barbosa TORRES5 MORTALIDADE EMBRIONÁRIA E FETAL EM CABRAS DA RAÇA ANGLO-NUBIANA SUBMETIDAS AO EFEITO MACHO CRIADAS NO SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO DURANTE O PERÍODO SECO Universidade Federal de Sergipe / Campus do Sertão. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco / UAST. osório. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco / UAST. edilma10. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco / UAST. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco / UAST. [email protected] 1 Embryonic and fetal mortality in goats breed Anglo-Nubian submitted to male effect during the dry season in Semiarid of Pernambuco Edivaldo Rosas dos SANTOS JUNIOR1; Osório Leite de Souza Bezerra NUNES2; Edilma Ramos COELHO3; Gustavo Ferraz Nogueira Pinheiro de BARROS4; Paula Barbosa TORRES5 PA L AV R A S - C H AV E apoptose, biotécnicas, estresses térmico, prenhez KEYWORDS apoptosis, biotech, thermal stress, pregnancy. INTRODUÇÃO A criação de caprinos da raça Anglo-Nubiana, pelo biótipo, potencial produtivo e reprodutivo, alta adaptabilidade e rusticidade, destaca-se como uma alternativa viável para a produção de leite, carne e pele. No entanto, na região Nordeste, a maioria dos rebanhos caprinos, por serem explorados basicamente em sistemas de produção tradicional, apresenta baixa produtividade (SANTOS JUNIOR et al., 2013). O controle dos eventos reprodutivos através de medidas simples e de baixo custo, como o efeito macho, é justificado pelo fato da sociedade está cada vez mais exigente com a qualidade dos alimentos de origem animal. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada nos meses de novembro e dezembro de 2013, no Município de Serra Talhada-PE, localizado no Sertão do Pajeú, com latitude de -7,98 e longitude de -38,30; 9.097.129KmN e 586.198KmE, altitude de 435m, clima Semiárido, com vegetação predominante de Caatinga. O sistema de criação da propriedade é o semi-intensivo, com os animais soltos pela manhã e retornando ao aprisco no final da tarde. A alimentação consistiu de vegetação da Caatinga, além de sal mineral e água ad libitum. No experimento, foram utilizadas 30 fêmeas pluríparas da raça Anglo-Nubiana com idade variando entre 18 e 72 meses e um reprodutor da mesma raça com idade próxima aos 48 meses. Antes do inicio da estação de monta, o macho foi submetido a exame andrológico e mantido fora do contato visual, olfativo e auditivo das fêmeas por 15 dias para estimular o efeito macho. As fêmeas foram submetidas ao exame ginecológico com auxílio de aparelho ultrassom para avaliar as condições fisiológicas e identificar por meio de colar com numeração as matrizes vazias que participaram da pesquisa. O reprodutor foi marcado com mistura de tinta xadrez e graxa na proporção de 4:2 todos os dias na região do esterno, para identificação das fêCiênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 347 Edivaldo Rosas dos SANTOS JUNIOR1; Osório Leite de Souza Bezerra NUNES2; Edilma Ramos COELHO3; Gustavo Ferraz Nogueira Pinheiro de BARROS4; Paula Barbosa TORRES5 meas cobertas, sendo a cor da tinta modificada após 20 dias para indicar aquelas que repetirem estro durante a estação de monta de 25 dias. Os lotes foram observados às 6:00 e às 16:00 horas, por pessoal habilitado para identificação das matrizes cobertas. Os exames ultrassonográficos para diagnostico de prenhez e monitoramento das perdas de concepto foram realizados nos dias 25, 45 e 65 dias após a data da última cobertura. RESULTADOS E DISCUSSÃO No experimento, foram considerados os meses de novembro e dezembro de 2013 como sendo o período seco, apresentando temperatura média do ar de 27,8°C e precipitação pluviométrica acumulada de 22mm. A ocorrência de estro foi de 76,66%, com o pico entre o 11º e 15º dia após a introdução do reprodutor, demonstrando um comportamento diferente do que foi citado por Alvarez et al (2007) em que o contato com o macho induziu em poucos minutos um aumento na frequência de pulsos do hormônio luteinizante, resultando num pico pré-ovulatório e em ovulação dentro de três a cinco dias. A taxa de prenhez obtida no diagnóstico ultrassonográfico aos 25 dias após a cobertura foi de 26,66%. Nos exames realizados a partir de 45 dias não foi observada mais nenhuma prenhez. Esses dados demonstram elevado nível de perdas embrionárias se comparado aos índices de cobertura. Durante o período seco, as altas temperaturas promovem uma situação de estresse térmico por calor, e dependendo do tempo de exposição ao estresse térmico pode ser comprometida a viabilidade e competência dos oócitos e desenvolvimento dos embriões (SANTOS JUNIOR et al., 2013). A baixa condição corporal das fêmeas, imposta pela má qualidade e disponibilidade de forragens, resulta em desequilíbrio hormonal e consequentemente corpos lúteos hipofuncionais, contribuindo para a elevada mortalidade embrionária e fetal pois, segundo Robinson et al (2006), o desempenho reprodutivo sofre efeitos nutricionais indiretos sobre as concentrações hormonais e de metabólitos circulantes. CONCLUSÃO Os resultados demontram que durante períodos de estiagem o embrião está muito susceptível, sofrendo com os efeitos deletérios das altas temperaturas, bem como da baixa condição corporal das fêmeas desta raça, necessitando assim de cuidados de manejo especiais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVAREZ L.; ZARCO, L.; GALINDO, F.; et al. Social rank and response to the “male effect” in the Australian Cashmere goat. Animal Reproduction Science, Amsterdam, v.102, n.3-4, p. 258-266, 2007. ROBINSON, J.J.; ASHWORTH, C.J.; ROOKE, J.A. et al. Nutrition and fertility in ruminant livestock. Animal Feed Science and Technology, Amsterdam, v. 126, p. 259-276, 2006. SANTOS JUNIOR, E.R.; SILVA, J.C.F.; MOURA, M.T. et al. Avaliação de embriões ovinos provenientes de oócitos submetidos a estresse calórico durante a maturação in vitro. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v.14, n.3, p.360-365, 2013. 348 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Edivaldo Rosas dos SANTOS JUNIOR1; Tiago Gonçalvez Pereira ARAÚJO2; Paula Barbosa TORRES3; Osório Leite de Souza Bezerra NUNES4; Edilma Ramos COELHO5; Gustavo Ferraz Nogueira Pinheiro de BARROS6 COMPORTAMENTO SEXUAL DE REPRODUTORES OVINOS DA RAÇA DORPER SUBMETIDOS À ESTAÇÃO DE MONTA Sexual behavior breeding Dorper sheep under the calving season Universidade Federal de Sergipe / Campus do Sertão. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco / UAST. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco / UAST. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco / UAST. osó[email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco / UAST. edilma10. [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco / UAST. [email protected] 1 Edivaldo Rosas dos SANTOS JUNIOR1; Tiago Gonçalvez Pereira ARAÚJO2; Paula Barbosa TORRES3; Osório Leite de Souza Bezerra NUNES4; Edilma Ramos COELHO5; Gustavo Ferraz Nogueira Pinheiro de BARROS6 PA L AV R A S - C H AV E biotécnicas, estro, reprodução KEYWORDS biotech, estrus, reproduction INTRODUÇÃO Nordeste, a maioria dos rebanhos ovinos, por serem explorados basicamente em sistemas de produção tradicional, apresenta baixa produtividade (SANTOS JUNIOR et al., 2013). Para que haja uma maior produtividade do setor, a adoção de técnicas que melhorem as condições de criação do rebanho é de fundamental importância. As biotécnicas da reprodução quando devidamente usadas, são fortes aliadas e respondem por significativas melhorias na produtividade e rentabilidade dos rebanhos (SIMPLÍCIO et al., 2007). Quando se usam essas técnicas, a avaliação do comportamento reprodutivo permite a identificação de carneiros mais aptos à realização de monta natural a campo, sendo este o objetivo deste trabalho. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada no município de Serra Talhada-PE, localizado no Sertão do Pajeú, clima Semiárido, com vegetação predominante de Caatinga, temperatura média anual de 25,20 ºC e precipitação pluviométrica média de 642,10 mm. O sistema de criação da propriedade é o semi-intensivo. O manejo sanitário consistiu em limpeza das instalações semanalmente, vacinação contra clostridiose e vermifugação seguindo os critérios do método Famacha. A base alimentar dos animais foi à base de vegetação de Caatinga, além de sal mineral e água ad libitum. Foram observados 10 machos da raça Dorper com idades variando de 38 a 42 meses expostos às fêmeas no estro em piquetes separados. Todos os dados comportamentais foram registrados em planilhas seguindo um etograma de trabalho especifico para avaliação do comportamento sexual. Para determinação dos diferentes padrões comportamentais e respectivas frequências, os dados foram submetidos à análise de variância, considerando uma distribuição binomial negativa. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 349 Edivaldo Rosas dos SANTOS JUNIOR1; Tiago Gonçalvez Pereira ARAÚJO2; Paula Barbosa TORRES3; Osório Leite de Souza Bezerra NUNES4; Edilma Ramos COELHO5; Gustavo Ferraz Nogueira Pinheiro de BARROS6 RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao entrar em contato com as fêmeas, os machos apresentaram os comportamentos de vocalização, cortejo com patas e exposição do pênis. Ao realizar a cobertura, foram mais expressados os parâmetros de cheirar região urogenital, exposição de língua e reflexo de Flehmen (Tabela 1). Segundo Pacheco et al (2008), o comportamento sexual de ovinos Santa Inês apresenta vocalização excessiva como uma atitude relacionada a ansiedade gerada pela separação dos companheiros pertencentes ao seu grupo de convívio o que pode justificar os dados encontrados neste estudo. Em condições de temperatura elevada os carneiros expressaram níveis adequados de libido para o sucesso reprodutivo de um grande número de fêmeas. O tempo de reação do reprodutor foi em média 9,5 segundos Esse tempo pode ter sido em conseqüência do fato que as fêmeas já tiveram seu estro identificado pelo uso de rufião. Stellflug e Lewis (2007) relataram que a frequência e duração de cada comportamento dependem de cada reprodutor e da sua experiência sexual prévia, podendo servir como critério de avaliação, classificação e seleção de bons reprodutores. CONCLUSÃO Foi possível concluir que o comportamento sexual dos machos da raça Dorper criados em condição de Semiárido está de acordo com os parâmetros fisiológicos para a espécie, não sofendo assim grande influência dos fatores ambientais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PACHECO, A.; QUIRINO, C.R.; OLIVEIRA, A.F.M. Avaliação do comportamento sexual de ovinos jovens da raça Santa Inês, com e sem experiência prévia com fêmeas. Archivos Latinoamericanos de Produccioón Animal, Mayaguez, v.17, n.1, p.22-30, 2008. SANTOS JUNIOR, E.R.; SILVA, J.C.F.; MOURA, M.T. et al. Avaliação de embriões ovinos provenientes de oócitos submetidos a estresse calórico durante a maturação in vitro. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v.14, n.3, p.360-365, 2013. SIMPLÍCIO, A. A; FREITAS, J.V.F.; FONSECA, J.F. Biotécnicas da reprodução como técnicas de manejo reprodutivo em ovinos. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v.31, p.234-246, 2007. STELLFLUG, J.N.; LEWIS, G.S. Effect of early and late exposure to estrual ewes on ram sexual performance classifications. Animal Reproduction Science, Amsterdam, v.97, p.295-302, 2007. 350 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Edivaldo Rosas dos SANTOS JUNIOR1; Tiago Gonçalvez Pereira ARAÚJO2; Paula Barbosa TORRES3; Osório Leite de Souza Bezerra NUNES4; Edilma Ramos COELHO5; Gustavo Ferraz Nogueira Pinheiro de BARROS6 Tabela 1. Valores médios das variáveis comportamentais de reprodutor ovino da raça Dorper, CRUF (Cheirar região urogenital da femea); COP (Cortejo com a pata); VOC (vocalização); EXL (Exposição de língua); EXP (Exposição do pênis); RF (Reflexo de flehmen) e NST (número de saltos por tentativas) Parâmetros Número de vezes DP CV VOC 19,50 + 12,02 61,64 COP 21,00 + 16,97 80,81 CRUF 6,50 + 9,19 141,4 EXL 9,50 + 6,36 66,98 EXP 21,0 + 19,79 94,28 RF 3,00 + 1,41 47,14 NST 9,50 + 4,95 52,10 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 351 Annelise Castanha Barreto Tenório NUNES1; Pomy de Cássia Peixoto KIM2; Renata Pimentel Bandeira MELO2; Müller RIBEIRO-ANDRADE2; Wagnner José Nascimento PORTO1; Rinaldo Aparecido MOTA2 Aborto caprino causado por Neospora caninum no Nordeste do Brasil Abortion in goat caused by Neospora caninum in northeastern Brazil Annelise Castanha Barreto Tenório NUNES1; Pomy de Cássia Peixoto KIM2; Renata Pimentel Bandeira MELO2; Müller RIBEIRO-ANDRADE2; Wagnner José Nascimento PORTO1; Rinaldo Aparecido MOTA2 PA L AV R A S - C H AV E Unidade Educacional Viçosa, Campus Arapiraca, UFAL 2 Laboratório de Doenças Infecto-contagiosas dos Animais Domésticos, DMV, UFRPE; [email protected] 1 KEYWORDS Neosporose; transmissão transplacentária; Caprino. Neosporosis, transplacental transmission; Goat. INTRODUÇÃO Toxoplasma gondii é responsável por perdas econômicas significativas na cadeia produtiva da caprinovinocultura, enquanto que Neospora caninum, coccídeo filogeneticamente relacionado, destaca-se como indutor de falhas reprodutivas em bovinos em muitos países (BUXTON et al., 2007; DUBEY; SCHARES, 2011). Apesar da repercussão da infecção natural de N. caninum em cabras não está totalmente esclarecida, há descrições da sua ação como responsável por perdas reprodutivas em diferentes países (DUBEY et al., 1992; MORENO et al., 2012). No Brasil, quadros de infecção congênita natural por N. caninum em caprinos já foram descritos na região Sul e Sudeste (CORBELLINI et al., 2001; VARASCHIN et al., 2012), não havendo descrições de neosporose em caprinos em outras regiões do país. O objetivo deste estudo foi determinar a participação de T. gondii e N. caninum na ocorrência de aborto caprinos enviados ao diagnóstico, provenientes de propriedades da região Nordeste do Brasil. MATERIAL E MÉTODOS Foram necropsiados seis fetos caprinos, sendo coletado 26 amostras de diferentes tecidos (cérebro, fígado, pulmão, rim e coração). Esses fetos eram originários de propriedades rurais do Estado de Pernambuco que possuíam histórico de aborto e foram encaminhados ao Laboratório de Doenças Infecto-contagiosas dos Animais Domésticos da UFRPE, durante o ano de 2013. As amostras foram analisadas por Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), Histopatologia (HP) e Imunoistoquímica (IHQ) com a finalidade de associar o abortamento a T. gondii e/ou N. caninum. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nenhuma amostra de tecido foi positiva na PCR e IHQ para T. gondii. Para N. caninum, 19,3% (5/26) das amostras de tecidos analisadas foram positivas para alguma das técnicas (Tabela 1). 352 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Annelise Castanha Barreto Tenório NUNES1; Pomy de Cássia Peixoto KIM2; Renata Pimentel Bandeira MELO2; Müller RIBEIRO-ANDRADE2; Wagnner José Nascimento PORTO1; Rinaldo Aparecido MOTA2 Não foram observadas lesões macroscópicas significativas nos fetos necropsiados. As lesões histológicas observadas no cérebro e fígado do feto Caprino 6 (leve infiltrado mononuclear no fígado e necrose com calcificação no SNC) demonstram que as alterações teciduais são semelhantes àquelas relatadas na literatura para neosporose ou toxoplasmose (MORENO et al., 2012), sendo indispensável a confirmação por técnica mais específica. A amostra de cérebro deste animal teve imunomarcação positiva na IHQ e PCR positiva para N. caninum. Para os autores, essa investigação compreende a primeira descrição de aborto caprinos associados a N. caninum no Nordeste brasileiro, mostrando a importância da inclusão deste protozoário em investigações de falhas reprodutivas em rebanhos caprinos no Nordeste brasileiro. CONCLUSÃO Os resultados confirmam a transmissão vertical de N. caninum em caprinos naturalmente infectados na região nordeste do Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUXTON, D.; MALEY, S.W.; WRIGHT, S.E.; RODGER, S.; BARTLEY, P.; INNES, E. A. Toxoplasma gondii and ovine toxoplasmosis: New aspects of an old story. Vet. Parasitol., v. 149, p. 25–28, 2007. CORBELLINI, L.G.; COLODEL, E.M.; DRIEMEIER, D. Granulomatous encephalitis in a neurologically impaired goat kid associated with degeneration of Neospora caninum tissue cysts. J Vet Diagn Invest, v. 13, p. 416–419, 2001. DUBEY, J.P.; ACLAND, H.M.; HAMIR, A.N. Neospora caninum (Apicomplexa) in a stillborn goat. J Parasitol, v. 78, p. 532–534, 1992. DUBEY, J.P.; SCHARES, G. Neosporosis in animals--the last five years. Vet Parasitol, v. 180, p. 90–108, 2011. MORENO, B.; COLLANTES-FERNÁNDEZ, E.; VILLA, A.; NAVARRO, A.; REGIDOR-CERRILLO, J.; ORTEGA-MORA, L.M. Occurrence of Neospora caninum and Toxoplasma gondii infections in ovine and caprine abortions. Vet Parasitol, v.187, p. 312–318, 2012. VARASCHIN, M.S.; HIRSCH, C.; WOUTERS, F.; NAKAGAKI, K.Y.; GUIMARÃES, A.M.; SANTOS, D.S.; BEZERRA, P.S.; COSTA, R.C.; PECONICK, A.P.; LANGOHR, I.M. Congenital neosporosis in goats from the State of Minas Gerais, Brazil. Korean J Parasitol, v. 50, p. 63–67, 2012. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 353 Annelise Castanha Barreto Tenório NUNES1; Pomy de Cássia Peixoto KIM2; Renata Pimentel Bandeira MELO2; Müller RIBEIRO-ANDRADE2; Wagnner José Nascimento PORTO1; Rinaldo Aparecido MOTA2 Tabela 1. Resultados da histopatologia e da PCR para N. caninum em amostras de fetos caprinos do nordeste do Brasil. Animais Caprino 1 Caprino 2 Caprino 3 Caprino 4 Caprino 5 Caprino 6 Fi + b’ HPa Ce Pu Co Ri - ND - ND ND +b’’ ND - PCR Fi Ce Pu Co Ri - ND + + - ND ND + + ND - Fi: Fígado; Ce: Cérebro; Pu: Pulmão; Co: Coração; Ri: Rim; ND: Sem dados. a Lesões consistentes com infecção por T. gondii ou N. caninum b’ IHC Negativo; b’’ IHC Positivo 354 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Müller RIBEIRO-ANDRADE1; Walter Franklin Bernardino LEÃO FILHO2; Leonardo Alves da SILVA3; Renata Pimentel Bandeira MELO1; Wagnner José Nascimento PORTO2; Rinaldo Aparecido MOTA1 FREQUÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-NEOSPORA CANINUM EM CABRAS DA MICRORREGIÃO DE ARAPIRACA, ALAGOAS Frequency of antibodies anti-Neospora caninum in goats from microregion of Arapiraca, Alagoas Unidade Educacional Viçosa, Campus Arapiraca, UFAL 2 Laboratório de Doenças Infecto-contagiosas dos Animais Domésticos, DMV, UFRPE; [email protected] 1 Müller RIBEIRO-ANDRADE1; Walter Franklin Bernardino LEÃO FILHO2; Leonardo Alves da SILVA3; Renata Pimentel Bandeira MELO1; Wagnner José Nascimento PORTO2; Rinaldo Aparecido MOTA1 PA L AV R A S - C H AV E Neosporose; RIFI; Pequeno ruminante. KEYWORDS Neosporosis, IFAT; Small ruminant. INTRODUÇÃO A Neosporose, causada pelo coccídeo Neospora caninum, tem emergido como uma patologia significativa na ocorrência de abortos e perdas neonatais na criação de caprinos (BARR et al., 1992). Estudos sorológicos e moleculares têm demonstrado frequências da infecção por N. caninum semelhantes ou superiores àquelas determinadas por Toxoplasma gondii em pequenos ruminantes (BUXTON, 1998; MORENO et al., 2012), sendo este último reconhecido como um dos maiores causadores de perdas reprodutivas em ovinos (BUXTON et al., 2007) e em caprinos (MOELLER, 2001). Trabalhos que demostrem a frequência de exposição desses animais a N. caninum na microrregião de Arapiraca-AL são escassos, contudo, informações da real dimensão da infecção são relevantes, constituindo-se o principal objetivo desse estudo. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado um estudo transversal, sendo amostradas 235 cabras em idade reprodutiva, totalizando 10 propriedades da microrregião de Arapiraca-AL. O regime de criação predominante era o semi-intensivo. Para a pesquisa de anticorpos anti-Neospora caninum, executou-se a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI), utilizando o soro dos animais. Foram considerados positivos (ponto-de-corte) os soros que apresentaram títulos ≥1:50 e com fluorescência periférica total dos taquizoítos (cepa Nc-Spain) fixados em lâmina. As amostras positivas foram tituladas em diluição seriada na base dois e o título foi definido na maior diluição em que houve reação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Das 235 amostras de soro caprino, 5,95% (14) foram positivas para N. 355 Müller RIBEIRO-ANDRADE1; Walter Franklin Bernardino LEÃO FILHO2; Leonardo Alves da SILVA3; Renata Pimentel Bandeira MELO1; Wagnner José Nascimento PORTO2; Rinaldo Aparecido MOTA1 caninum (Tabela 1). Durante a anamnese das propriedades, 100% dos proprietários relataram a ocorrência de algum problema reprodutivo (repetição de cio, aborto, natimorto), entretanto não foi feita investigação da etiologia em nenhuma delas. Além disso, todas propriedades possuíam cães, que é reconhecido fator de risco associado a neosporose (DUBEY et al., 2007). Estudos de frequência sorológica de caprinos expostos a N. caninum no país tem demostrado ampla variação de frequência, de 1% (4/381), no Rio Grande do Norte (LIMA et al., 2008) até 26,6% (85/319) em Pernambuco (TEMBUE et al., 2011). Os achados desse trabalho corroboram com frequências encontradas na Paraíba, que apresenta condições climáticas semelhantes ao Estado de Alagoas, onde verificou-se positividade de 3,3% dos animais (10/306) (FARIAS et al., 2007). Porém a comparação entre os estudos existentes deve ser cautelosa devido a variações nos testes sorológicos utilizados, dos pontos-de-corte adotados, diferenças na determinação amostral ou no delineamento experimental, em adicional, as condições climáticas podem afetar a viabilidade de oocisto do parasito no ambiente, similar ao que ocorre a oocistos de T. gondii (DUBEY, 2004; DUBEY et al., 2007). CONCLUSÃO A infecção por N. caninum está presente em criações de caprinos na microrregião de Arapiraca-AL. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARR, B. C.; ANDERSON, M. L.; WOODS, L. W.; DUBEY, J. P.; CONRAD, P. A. Neospora-like protozoal infections associated with abortion in goats. J Vet Diagn Invest, v. 4, n. 3, p. 365-367, 1992. BUXTON, D.; MALEY, S.W.; WRIGHT, S. E.; RODGER, S.; BARTLEY, P.; INNES, E. A. Toxoplasma gondii and ovine toxoplasmosis: new aspects of an old story. Vet Parasitol, v. 149, n. 1-2, p. 25-28, 2007. BUXTON, D. Protozoan infections (Toxoplasma gondii, Neospora caninum and Sarcocystis spp.) in sheep and goats: recent advances. Vet Res, v. 29, n. 3-4, p. 289-310, 1998. DUBEY, J. P. Toxoplasmosis – a waterborne zoonosis. Vet Parasitol, v. 126, p, 57–72, 2004. DUBEY, J. P.; SCHARES, G.; ORTEGA-MORA, L. M. Epidemiology and Control of Neosporosis and Neospora caninum. Clinical Micro Rev, v. 20, p. 323-367, 2007. MORENO, B.; COLLANTES-FERNÁNDEZ, E.; VILLA, A.; NAVARRO, A.; REGIDOR-CERRILLO, J.; ORTEGA-MORA, L.M. Occurrence of Neospora caninum and Toxoplasma gondii infections in ovine and caprine abortions. Vet Parasitol, v.187, p. 312–318, 2012. 356 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Müller RIBEIRO-ANDRADE1; Walter Franklin Bernardino LEÃO FILHO2; Leonardo Alves da SILVA3; Renata Pimentel Bandeira MELO1; Wagnner José Nascimento PORTO2; Rinaldo Aparecido MOTA1 FARIA, E. B.; GENNARI, S. M.; PENA, H. F.; ATHAYDE, A. C.; SILVA, M. L,; AZEVEDO, S. S. Prevalence of anti-Toxoplasma gondii and anti-Neospora caninum antibodies in goats slaughtered in the public slaughterhouse of Patos city, Paraíba State, Northeast region of Brazil. Vet Parasitol, v. 149, p. 126-129, 2007. LIMA, J. T. R. et al. Prevalência de anticorpos anti-Toxoplasma gondii e anti-Neospora caninum em rebanhoscaprinos do município de Mossoró, Rio Grande do Norte. Brazilian J Vet Res Anim Sci, v. 45, n. 2, p. 81-86, 2008. MOELLER, R.B. Causes of caprine abortion: diagnostic assessment of 211 cases (1991–1998). J Vet Diagn Invest, v. 13, p. 265–270, 2001. TEMBUE, A. A. S. M. et al. Serological survey of Neospora caninum in small ruminants from Pernambuco State, Brazil. Rev Bra Parasitol Vet, v. 20, n. 3, p. 246-248, 2011. Tabela 1 - Distribuição dos títulos das amostras de soros de caprinos positivas na Reação de Imunofluorescência Indireta para Neospora caninum. (≥1:50). Espécie Caprino Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 1:50 Título 1:100 1:200 9 2 3 Total 14 357 Joab Félix Carvalho de MOURA1; Paula Regina Barros de LIMA2;; Fabrício dos Santos SILVA5; Francisco David Nascimento SOUSA2;Erivânia Camelo de ALMEIDA3 ;José Wilton PINHEIRO JÚNIOR4 INVESTIGAÇÃO EM FOCOS DE ANEMIA INFECIOSA EQUINA PELO SERVIÇO VETERINÁRIO OFICIAL NO MUNICÍPIO DE CANHOTINHO, ESTADO DE PERNAMBUCO, NO BIÊNIO 2012-2013 Research focuses of equine infectious anemia by official veterinary service in Canhotinho municipality, state of Pernambuco, Biennium 2012-2013 Médico Veterinário autônomo. Fiscais Estaduais Agropecuários, ADAGRO. Doutorandos do Programa de Pós-graduação em Ciência Veterinária da UFRPE. Email para correspondência: franciscodavid@adagro. pe.gov.br 3 Fiscal Estadual Agropecuária, Doutora em Ciência veterinária, Gerente Geral da ADAGRO. 4 Professor adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE. 5 Fiscal Estadual Agropecuário, Mestre em Ciência Animal nos Trópicos, UFRPE. 1 2 Joab Félix Carvalho de MOURA1; Paula Regina Barros de LIMA2;; Fabrício dos Santos SILVA5; Francisco David Nascimento SOUSA2;Erivânia Camelo de ALMEIDA3 ;José Wilton PINHEIRO JÚNIOR4 PA L AV R A S - C H AV E KEYWORDS agreste meridional, doença infecciosa, equino. southern agreste, infectious disease,equine. INTRODUÇÃO De acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), a Anemia Infecciosa Equina está enquadrada como doença de notificação obrigatória imediata ao serviço veterinário oficial, que no Brasil é composto pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pelos órgãos estaduais de Defesa Sanitária Animal. Visando o fortalecimento do complexo agropecuário destas espécies, foi instituído pelo MAPA o Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos, e por meio da Instrução Normativa n° 45, de 15 de junho de 2004, aprovou normas para a prevenção e o controle da AIE em território brasileiro. Para atender condições epidemiológicas peculiares ao estado de Pernambuco, as ações são determinadas pela CECAIE-PE. Diante da importância dessa enfermidade na equideocultura nacional, objetivou-se com este trabalho relatar os casos de AIE ocorridos no período de janeiro de 2012 a dezembro de 2013 no município de Canhotinho/PE e descrever as respectivas ações implementadas pelo serviço veterinário oficial para que possam servir de subsídios numa avaliação posterior quanto à eficácia das medidas adotadas para o controle e o combate da doença no estado de Pernambuco. MATERIAL E MÉTODOS Natureza e número das notificações de casos suspeitos ou confirmados de AIE Foram utilizados dados oriundos de testes de diagnósticos realizados em laboratórios credenciados requisitados por veterinários da iniciativa privada; resultados laboratoriais decorrentes da vigilância epidemiológica em propriedades vínculo e resultados de testes cuja motivação inicial foi a suspeita clínica. 358 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Joab Félix Carvalho de MOURA1; Paula Regina Barros de LIMA2;; Fabrício dos Santos SILVA5; Francisco David Nascimento SOUSA2;Erivânia Camelo de ALMEIDA3 ;José Wilton PINHEIRO JÚNIOR4 Ações de controle executadas pelo Serviço Veterinário Oficial Foram descritas detalhadamente as atividades executadas pelo serviço veterinário oficial diante das notificações de casos suspeitos ou confirmados de AIE, incluindo procedimentos e formulários utilizados. RESULTADOS E DISCUSSÃO No período de execução deste trabalho (biênio 2012/2013) foram registrados 19 focos de AIE em uma população de 592 equídeos, entre os quais 75 (setenta e cinco) reagiram positivamente à prova sorológica de Imunodifusão em Gel de Ágar (IDGA), implicando numa prevalência média de 12,67%. Dos estabelecimentos rurais estudados 35,8% resultaram em foco para AIE e a prevalência média anual entre os animais foi de 6,37%. A distribuição espacial das propriedades envolvidas no estudo está evidenciada na figura 1. Os resultados são superiores aos identificados na Paraíba (2,86%), Rio Grande do Norte (1,29%) e Ceará (3,10%) por SILVA et al. (2010). Todavia, ALMEIDA et al. (2006), encontraram resultados similares no estado de Minas Gerais ao determinarem uma prevalência de 5,29% em animais de rebanho e 3,1% em animais de serviço. O número significativo de propriedades atendidas devido ao vínculo epidemiológico e os atendimentos por suspeita clínica refletem o trabalho bem conduzido pelo serviço veterinário oficial do estado de Pernambuco, ao realizar além da eliminação dos animais positivos, a vigilância em propriedades vizinhas aos focos, e também pela sensibilização dos produtores a partir das orientações técnicas prestadas. Com relação às atividades de Defesa Sanitária Animal frente a uma no tificação de AIE, foram descritas as seguintes ações: 1) Levantamento de informações sobre a propriedade no banco de dados-SIAPEC (dados cadastrais de produtores, propriedades, coordenadas geográficas, vias de acesso, trânsito de animais e vacinações); 2) Lavratura dos termos oficiais –Interdição e proibição do trânsito de equídeos; 3) Identificação do animal soropositivo através da resenha contida no laudo laboratorial e isolamento para posterior sacrifício. 4) O FORM IN (Formulário de Investigação de Doenças - Inicial) é preenchido para registrar o primeiro atendimento do médico veterinário oficial no caso de suspeitas ou focos de doenças animais de notificação obrigatória, cujas informações seguem um fluxo documental na ADAGRO e servem de fonte para gerenciamento pelo MAPA. 5) Ainda na primeira visita do SVO na propriedade foco, faz-se um levantamento de todos os equídeos existentes para que sejam submetidos a coletas de sangue para realização de teste de diagnóstico por IDGA, assim como os animais de propriedades vizinhas ou que tiveram algum outro tipo de vínculo epidemiológico com o foco. 6) Após a eutanásia do animal positivo é lavrado um termo de sacrifício assinado pelo veterinário executor e testemunhas, não cabendo indenização ao proprietário do animal. Dos 75 equídeos positivos para AIE, 74 foram sacrificados pelo SVO e 1 animal morreu devido a progressão da doença antes mesmo da confirmação laboratorial. 7) A partir do segundo atendimento à propriedade foco, é preenchido o FORM Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 359 Joab Félix Carvalho de MOURA1; Paula Regina Barros de LIMA2;; Fabrício dos Santos SILVA5; Francisco David Nascimento SOUSA2;Erivânia Camelo de ALMEIDA3 ;José Wilton PINHEIRO JÚNIOR4 COM (Formulário de Investigação de Doenças – Complementar) com o objetivo de elencar informações complementares, e quando da colheita de sangue, é utilizado também o FORM LAB (Formulário de Colheita de Amostras) para acompanhar os soros a serem testados pelo laboratório oficial. 8) Em posse de dois exames negativos consecutivos em intervalos de 30 a 60 dias, a propriedade é desinterditada. Caso detecte-se resultado positivo nesse intervalo reinicia-se todo o processo. Paralelamente às ações de saneamento foram realizadas palestras e orientações técnicas sobre a AIE abordando as principais medidas de controle da enfermidade. Uma vez que as condições edafoclimáticas do município de Canhotinho são propícias ao desenvolvimento dos vetores mecânicos da AIE e associado ao grande efetivo de equídeos nestas áreas e a não adoção de práticas de controle da doença por parte dos proprietários podem ter favorecido a disseminação da enfermidade dentre esses animais, condições que corroboram com ISSEL et al. (1990) ao afirmarem que o risco de transmissão aumenta, também, com a prevalência da doença na propriedade, a diversidade e abundância dos vetores e a distância entre os animais. Segundo CORRÊA & CORRÊA (1992) a morbidade da AIE varia de acordo com as condições ecológicas, população de insetos hematófagos e densidade demográfica de equídeos.Embora diversos autores (FOIL, 1983; CUENCA et al., 2011) salientem que não haja predileção por espécie, idade ou raça, no presente estudo, os machos foram mais prevalentes, em número absoluto, que as fêmeas. E entre os resultados por espécies, os muares apresentaram prevalência maior do que os equinos, 26 e 11% respectivamente (Tabela 1). CONCLUSÃO As ações de defesa sanitária animal executadas pela UVL de Canhotinho estão em conformidade com as diretrizes do PNSE e em perfeito atendimento a IN N° 45, de 15 de junho de 2004 quando da detecção de focos, e da Resolução da CECAIE para peculiaridades inerentes ao combate e profilaxia da AIE no estado de Pernambuco. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, V.M.A.; GONÇALVES, V.S.P.; MARTINS, M.F., HADDAD, J.P.A.; DIAS, R.A.; LEITE, R.C.; REIS, J.K.P. Anemia infecciosa: prevalência em equídeos de serviço em Minas Gerais. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 58: 141-148, 2006. CORRÊA, W.M.; CORRÊA, C.N.M. Enfermidades infecciosas dos mamíferos domésticos. 2. 304 Ed. Rio de Janeiro: MEDSI, Cap.76, p.695-698, 1992. 305p. CUENCA, J.C.; PRADO, E.S. Prevalencia de anemia infecciosa equine em el municipio de Santa Clara, Cuba. REDVET. Revista Eletrónica de Veterinaria, v. 12, n.1, 2011. Disponível em: <http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/ n010111/011105.pdf> Acesso em: 16 de janeiro de 2014. de 2014. FOIL, L. A mark-recapture method for measuring effects of spatial separation of 360 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Joab Félix Carvalho de MOURA1; Paula Regina Barros de LIMA2;; Fabrício dos Santos SILVA5; Francisco David Nascimento SOUSA2;Erivânia Camelo de ALMEIDA3 ;José Wilton PINHEIRO JÚNIOR4 horses on tabanid (Diptera) movement between hosts. Journal of Medical Entomology, Lanhan, v.20, n.3, 319 p.301-305, 1983. ISSEL, C.J.; McMANUS, J.M.; HAGIUS, S.D.; FOIL, L.D.; ADAMS, W.V. JR; MONTE LARO, 330 R.C. Equine infectious anemia: prospects for control. Dev. Biol. Stand. 72: 49-57, 1990. SILVA, C.F.; PEQUENO, N.F.; CLEMENTINO, I.J.; AZEVEDO, S.S.; SILVA, A. Frequência de anemia infecciosa equina em equinos nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará durante o ano de 2010. Braz.J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 50, n. 1, p. 12-17, 2013. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 361 Joab Félix Carvalho de MOURA1; Paula Regina Barros de LIMA2;; Fabrício dos Santos SILVA5; Francisco David Nascimento SOUSA2;Erivânia Camelo de ALMEIDA3 ;José Wilton PINHEIRO JÚNIOR4 Figura 1 Distribuição das propriedades focos identificadas no município de Canhotinho/PE, 2012-2013. Tabela 1. Resultado laboratorial para pesquisa de AIE, por sexo para as espécies equina, muar e asinina; no município de Canhotinho, PE, registrados no Serviço Veterinário Oficial no período de 2012 a 2013 Equídeos Equinos Muares Asininos TOTA L 1 362 Sexo Nº animais Machos Resultado Laboratorial Negativos % Positivos % 286 247 86,36 39 13,64 Fêmeas Subtotal 239 525 220 467 92,05 88,95 19 58 7,95 11,05 Machos 30 20 66,67 10 33,33 Fêmeas Subtotal 33 63 26 46 78,79 73,02 7 17 21,21 26,98 Machos 2 2 100 0 0 Fêmeas Subtotal 2 4 2 4 100 100 0 0 0 0 Machos 318 269 84,59 49 15,41 Fêmeas 274 248 90,51 26 9,49 Total 592 517 87,33 75 12,67 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Marcelo Tigre MOURA1; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos Ferreira-SILVA3; Ludymila Furtado CANTANHÊDE4; Raffaela Maria Dias Rodrigues AMORIM5; Luis Rennan OLIVEIRA6 COMPORTAMENTO REPRODUTIVO DE FÊMEAS CAPRINAS ANGLO-NUBIANAS NULÍPARAS SUBMETIDAS AO EFEITO MACHO SOB DIFERENTES CONDIÇÕES CLIMÁTICAS Reproductive behavior of nulliparous Anglo-Nubian goats submitted to male effect under contrasting weather conditions Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. carlos. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. rennanlr@ yahoo.com.br 1 Marcelo Tigre Moura1; Priscila Germany Corrêa da Silva2; José Carlos Ferreira-Silva3; Ludymila Furtado Cantanhêde4; Raffaela Maria Dias Rodrigues Amorim5; Luis Rennan Oliveira6 PA L AV R A S - C H AV E Bioestimulação, Caprinos, Ciclo Estral, Fertilidade. KEYWORDS Bioestimulation, Caprine, Estrous Cycle, Fertility. INTRODUÇÃO A Região nordeste detém mais de 90% da população de caprinos do Brasil. Apesar da da sua importância socioeconômica, a caprinocultura permanece com baixa adoção de práticas adequadas de manejo visando aumentar o desempenho reprodutivo dos rebanhos nos períodos de seca e chuva. O efeito macho, representa um alternativa de manejo reprodutivo para concentrar as coberturas e consequentemente os nascimentos nos períodos mais favoráveis do ano. Objetivou-se avaliar parâmetros do comportamento reprodutivo de cabras nulíparas da raça Anglo-Nubiana submetidas ao efeito macho nos períodos de seca (Estação Seca - ES) e chuva (Estação Chuvosa - EC) do semi-árido do estado de Pernambuco. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram realizados em Sertânia, Pernambuco. Dois machos com idade entre 24 e 48 meses e 80 fêmeas Anglo-Nubianas nulíparas com 9 a 12 meses de idade foram utilizadas no experimento. Os animais foram mantidos em pastagens nativas, pastagens cultivadas de capim buffel (Cenchrus ciliaris, L.), suplementados com silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum.), água e sal mineral ad libitum. As fêmeas foram separadas aleatoriamente em dois grupos de 40 animais. A condição de ciclicidade foi avaliada pela concentração sérica de progesterona (P4). Amostras de sangue foram coletadas pela punção da veia jugular em tubos com anticoagulante e estocadas a -20 ˚C. A concentração de P4 foi determinada pela técnica de quimioluminescência. As fêmeas com concentração de P4 igual ou superior 1 ηg mL-1 foram consideradas cíclicas, conforme descrito anteriormente (MORALES et al., 2003). Os machos foram mantidos a uma distância de 300 metros das fêmeas por 60 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 363 Marcelo Tigre MOURA1; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos Ferreira-SILVA3; Ludymila Furtado CANTANHÊDE4; Raffaela Maria Dias Rodrigues AMORIM5; Luis Rennan OLIVEIRA6 dias. No dia anterior ao início da estação de monta, os machos foram submetido ao exame andrológico (CBRA, 1998). Quando introduzidos no lote de fêmeas, os machos foram untados na região do esterno com uma mistura de graxa e tinta xadrez (4:1) para identificação das fêmeas em estro. A cor da tinta foi trocada a cada 10 dias para facilitar a identificação das fêmeas que retornaram ao estro. A detecção visual dos estros foi feita duas vezes ao dia (6:00 e 16:00 horas) por períodos de uma hora durante toda a estação de monta. O diagnóstico de prenhez foi realizado por ultrassonografia 60 dias após a última detecção de estro conforme descrito anteriormente (SANTOS et al., 2004). Os dados foram analisados pela ANOVA e pelo teste de Tukey para comparações entre médias e pelo teste do qui-quadrado para dados binomiais. Diferenças com probabilidades de p < 0,05 foram consideradas significativas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a ES, 85,0% das fêmeas exibiram estro contra 95,0% durante a EC (Figura 1), fato que sugere que o período do ano não afeta a ciclicidade das fêmeas Anglo-Nubianas. A maior parte dos estros foram detectados entre os dias 11 e 15 de ambas estações de monta. No entanto, o efeito macho não foi eficiente para sincronizar o estro nos primeiros cinco dias da estação de monta, conforme descrito para fêmeas pluríparas (CHEMINEAU, 2006, ALMEIDA-IRMÃO et al., 2014), possivelmente devido a falta de experiência sexual das fêmeas nulíparas. Durante a ES, os valores médios para o primeiro estro variou entre fêmeas cíclicas e em anestro (15,00±0,00 e 12,62±2,31 dias), respectivamente. Durante a EC, o valor médio para o primeiro estro de fêmeas cíclicas e em anestro foram, respectivamente, 11,88±2,57 dias e 11,20±2,39 dias. O intervalo entre estros na EC foi menor devido a maior incidência de estros de ciclo curto. As hipóteses a respeito do estro de ciclo curto são muito controversas. Para Jainudeen et al. (2004), pode ser devido à regressão prematura do corpo lúteo e para Chemineau et al. (2006) ser consequência da formação de corpo lúteo oriundo de folículos de baixa qualidade, com pequeno número de grandes células luteais e insuficiente secreção de P4. Por outro lado, Lassoued et al. (1997) destacaram a falta de P4 como sendo a responsável pelo aparecimento de estro de ciclo curto. No entanto, a comparação das fêmeas cíclicas durante os dois períodos não diferiu (15,00±0,00 vs 11,88±2,57 dias). Além disso, a mesma comparação feita apenas entre as fêmeas em anestro também foi semelhante (12,62±2,31 vs 11,20±2,39 dias). O intervalo entre estros durante a ES foi 10,66±6,35 dias e durante a EC foi 21,00±1,40 dias. A concentração de P4 foi menor durante a ES 0,54±0,53 ηg mL-1 que a EC 1,12±1,00 ηg mL-1. Os menores valores de P4 no pré-acasalamento foram registrados no período da seca, provavelmente em decorrência dos teores da provitamina A que se encontram baixos nas forrageiras disponibilizadas aos animais, em contraste com a elevada demanda de vitamina A durante esta estação pelos animais (RAKES et al., 1985). Esse fato pode ser responsável por um déficit vitamínico nos animais, podendo então, ter refletido diretamente sobre a função ovariana, onde o β-Caroteno esta associado a maiores concentrações de P4 no corpo lúteo (RAKES et al., 1985). Apesar do efeito do clima quente sobre o desempenho reprodutivo em 364 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Marcelo Tigre MOURA1; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos Ferreira-SILVA3; Ludymila Furtado CANTANHÊDE4; Raffaela Maria Dias Rodrigues AMORIM5; Luis Rennan OLIVEIRA6 virtude de falhas na fecundação ou às perdas embrionárias (JAINUDEEN et al., 2004), a taxa prenhez nas fêmeas foi semelhante entre a ES (65,0%) e a EC (85.0%). CONCLUSÃO O efeito macho concentrou os acasalamentos no início da estação de monta de fêmeas nulíparas Anglo-Nubianas, embora a taxa de prenhez tenham sido melhores na estação chuvosa. Comitê de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo nº 08/12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA-IRMÃO, J.M.; FREITAS NETO, L.M.; MOURA, M.T. et al. Duration of the breeding season on the reproductive performance of Anglo-Nubian goats during dry and rainy periods. Veterinary Science Development, Pavia, v.4, p.43-45, 2014. CHEMINEAU, P.; PELLICER-RUBIO, M.T.; LASSOUED, N. et al. Reproduc-tion, Nutrition and Development, Paris, v.46, n.4, p.417-429, 2006. COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL – CBRA, 1998. Manual para exame e avaliação de sêmen animal. 2ª ed. Belo Horizonte: CBRA. 49p. JAINUDEEN, M.R.; HAFEZ, E.S.E. Ovinos e caprinos. In: HAFEZ, E.S.E.; HAFEZ, B. Reprodução Animal. 7ed. Barueri, SP: Manole, 2004, P.173-218. LASSOUED, N.; KHALDI, G.; CHEMI-NEAU, P. et al. Role of the uterus in ear-ly regression of corpora lutea induced by the ram effect in seasonally anoestrous Barbarine ewes. Reproduction, Nutri-tion and Development, Paris, v.37, n.5, p.559-571, 1997. MORALES, J.U.; VÁQUEZ, H.G.G.; ANDRADE, B.M.R. Influencia del pastoreo restringido en el efecto macho em cabras em baja condición corporal durante la estación de anestro. Tecnica Pecuaria en México, Yucatán, v.41, p.251260, 2003. RAKES, A.H.; OWENS, M.P.; BRITT, J.H. et al. Effects of adding β-carotene to rations of lactanting cows consuming different forages. Journal of Dairy Sci-ence, Champaign, v.68, n.7, p.1732-1737, 1985. SANTOS, M.H.B.; OLIVEIRA, M.A.L.; MORAES, E.P.B.X. et al. 2004. Diagnóstico de gestação por ultra-sonografia de tempo real. In: SANTOS, M.H.B., OLIVEIRA, M.A.L., LIMA, P.F. Diagnóstico de gestação na cabra e na ovelha. São Paulo, SP: Varela, p.97-116. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 365 Marcelo Tigre MOURA1; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos Ferreira-SILVA3; Ludymila Furtado CANTANHÊDE4; Raffaela Maria Dias Rodrigues AMORIM5; Luis Rennan OLIVEIRA6 Figura 1 – Distribuição dos estros de cabras nulíparas submetidas ao efeito macho durante as estações de monta de 45 dias nos períodos de seca e chuva. 366 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Marcelo Tigre MOURA1; Ludymila Furtado CANTANHÊDE; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos Ferreira-SILVA; Pamela Ramos-DEUS; Roberta Lane de Oliveira SILVA DETECÇÃO DE GENES RELACIONADOS A PLURIPOTÊNCIA EM CÉLULAS SOMÁTICAS, OVÓCITOS E EMBRIÕES CAPRINOS POR PCR EM TEMPO REAL Detection of pluripotency genes in caprine somatic cells, oocytes and embryos by real time PCR Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. carlos. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 6 Universidade Federal de Pernambuco, DG. lane.roberta@ gmail.com 1 Marcelo Tigre Moura1; Ludymila Furtado Cantanhêde; Priscila Germany Corrêa da Silva2; José Carlos Ferreira-Silva; Pamela Ramos-Deus; Roberta Lane de Oliveira Silva PA L AV R A S - C H AV E Capra hircus, totipotência, embriogênese. KEYWORDS Capra hircus, Totipotency, embryogene-sis. INTRODUÇÃO O desenvolvimento embrionário é um processo controlado por diversos fatores intrínsecos, dentre eles, diversos fatores de transcrição, classificados como genes relacionados a pluripotência (GRP). Estes genes contribuem para a viabilidade e capacidade de diferenciação de embriões e células-tronco embrionárias (MOURA, 2012). Além disso, a expressão exógena de GRPs converte células somáticas em células embrionárias (TAKAHASHI e YAMANAKA, 2006). Apesar da importância dos GRPs no controle do desenvolvimento embrionário e reprogramação celular em humanos e camundongos, poucos relatos investigaram a atividade de GRP em ruminantes. Objetivou-se avaliar a expressão dos genes OCT4, NAC1, DAX1, ZFP281 e RONIN em células somáticas, ovócitos e embriões caprinos. MATERIAL E MÉTODOS Os ovários foram obtidos em matadouro de Bonito, Pernambuco. Os ovócitos foram aspirados de folículos de 2-6 mm em meio TCM-199 com sais de Hank’s suplementado com 10% de Soro Fetal Bovino (SFB) e antibióticos. Os ovócitos com citoplasma de granulação homogênea e mais de uma camada de células do cumulus foram selecionados, conforme descrito anteriormente (CHIAMENTI et al., 2010). O meio Maturação in vitro foi composto por TCM-199 com sais de Earle’s suplementado com 5,0 μg mL-1 FSH/LH (Pluset®, Hertape Calier), 10% de SFB e antibióticos. Posteriormente, os ovócitos foram incubados a 38,5º C em atmosfera úmida contendo 5% de CO2 durante 24-26 horas. A fecundação in vitro (FIV) foi conforme descrito por CHIAMENTI et al. (2010). A seleção dos espermatozo-ides foi por “swim-up”. Meio mDM com Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 367 Marcelo Tigre MOURA1; Ludymila Furtado CANTANHÊDE; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos Ferreira-SILVA; Pamela Ramos-DEUS; Roberta Lane de Oliveira SILVA 10 μg mL-1 de heparina foi acrescentado ao pellet de espermatozoides. Os ovócitos foram transferidos para mDM com uma suspensão de 2,0 X 106 espermatozóides mL-1, sob condições atmosféricas idênticas aquelas da MIV por 18-20 horas. Os zigotos foram transferidos para meio SOF (In vitro Brasil) sobre células do cumulus. O embriões foram avaliados no 3o, 7o e 8o dia de cultivo. Pools de 30-60 ovócitos, 15 embriões clivados ou 2 blastocistos e células do cumulus (>1 x 106) foram preservadas em RNAlater® (Ambion) a -20 °C. A extração de RNA foi realizada com o kit ReliaprepTM (Promega), conforme as recomendações do fabricante. O RNA foi quantificado com o espectofotômetro Nanovue plus® (GE Healthcare). O RNA das células do cumulus foi avaliado por eletroforese em gel de agarose a 1%, com corrida a 80V, 120 A por 40 minutos. A reação de transcriptase reversa (RT) foi realizado com o QuantiTect® (Qiagen). Possíveis resíduos de DNA genômico foram removidos pela reação Genomic DNA elimination reaction a 42° C por dois minutos. Adicionou-se a reação anterior a reação de RT a 42° C por 15-20 minutos. Em seguida, as amostras foram incubadas a 95 °C por três minutos e conservadas a -20° C. As reações de PCR em Tempo Real (RT-qPCR) foram realizadas no equipamento LineGene 9660 (Bioer®), com detecção SYBR Green. A reação foi composta por 1µL de cDNA, 5µL de HotStart-IT SYBR MasterMix (USB®), 0,05µL ROX®, 3,35 µL H2O e 0,3 µL de cada primer (0,15 µM), em volume final de 10µL. O cDNA para células do cumulus foi diluído (10X), enquanto que para ovócitos e blastocistos foram uti-lizadas amostras concentradas. As reações seguiram as seguintes condições: desnaturação inicial de 95 ºC por 2 min, seguida por 40 ciclos de 95 ºC por 15 s, 58 ºC por 30 “, e 72º C por 30 s. As curvas de melting foram analisadas em 65 – 95º C por 20 min após 40 ciclos. Os níveis de expressão dos genes candidatos foram avaliados com base no número de ciclos necessários para atingir um limiar fixo (Ciclo limiar - Ct) na fase exponencial da RT-qPCR. RESULTADOS E DISCUSSÃO NAC1 foi o único gene avaliado que não amplificou a partir do cDNA de células do cumulus. No que diz respeito ao nível de expressão dos GRPs candidatos (ZFP281, OCT4, NAC1, RONIN, DAX1) nas células do cumulus, os valores de Ct variaram de 28,86 (RONIN) a 34,46 (DAX1). Levando em consideração que a quantidade de células utilizada para preparação do cDNA foi superior nesse tipo celular em relação aos ovócitos e embriões, este resultado sugere que os GRPs não são detectados ou expressos em níveis mais baixos nesse tecido (Figura 1). Em ovócitos, os Cts variaram de 26,08 (ZFP281) a 31,12 (DAX1) para os genes candidatos, e de 22,51 (ß-ACTINA) a 23,74 (RPL19) para os genes de referência (Figura 2). Esse mesmo padrão de expressão foi observado nos blastocistos, onde ZFP281 (Ct de 26,95) foi o gene mais expresso e DAX1 (Ct de 32,43) o mais tardio a se expressar. Os genes de referência apresentaram-se estáveis nos diferentes tipos celulares testados, exceto para GAPDH e RPL19 nas células do cumulus. No entanto, ß-ACTINA apresentou grande estabilidade em todos os tipos celulares 368 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Marcelo Tigre MOURA1; Ludymila Furtado CANTANHÊDE; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos Ferreira-SILVA; Pamela Ramos-DEUS; Roberta Lane de Oliveira SILVA avaliados, apresentando Cts de 21,67 no cumulus, 22,51 em ovócitos e 21,85 nos blastocistos. No entanto, uma avaliação sistemática precisa ser realizada em embriões caprinos, para determinar se os genes referência utilizados aqui são estáveis para RT-qPCR. A análise da curva de melting permitiu confirmar que os primers amplificam apenas um único produto, evidenciado pela presença de único um pico no gráfi-co (Figura 2). Este resultado sugere que não há evidências de contaminação das amostras com DNA genômico, o que também foi confirmado pela presença de apenas um amplicon para cada pri-mer/gene nos géis de agarose. Por exemplo, o resultado obtido para OCT4 (Tm de 76,5) em células do cumulus sugere que a amplificação obtida refere-se provavelmente a dímeros de primers. As avaliações descritas aqui com-provaram de forma inédita que diversos GRP são expressos em células embrio-nárias e somáticas caprinas, sugerindo que os GRPs possam ter funções sem-elhantes em caprinos as evidências em camundongos. Este conhecimento poderá contribuir para aperfeiçoar a clonagem de caprinos e a produção de transgênicos. CONCLUSÃO Os resultados mostraram a dinâmica da expressão de ZFP281, OCT4, NAC1, RONIN, e DAX1 em células caprinas e sugerem estes achados possam contribuir para elucidação de outros processos celulares na espécie. Comitê de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo nº 08/12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHIAMENTI, A.; AGUIAR FILHO, C.R.; FREITAS NETO, L.M.; et al. Effects of retinoids on the in vitro development of Capra hircus embryos to blastocysts in two different culture systems. Reproduction in Domestic Animals, Londres, v.45, n.5, p.e68-72, 2010. MOURA, M.T. Pluripotency and cellular reprogramming. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, recife, v.8, p.138-168, 2012. TAKAHASHI, K.; YAMANAKA, S. Induction of pluripotent stem cells from mouse embryonic and adult fibroblast cultures by defined factors. Cell, Cambridge, v.126, n.4, p.663-676, 2006. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 369 Marcelo Tigre MOURA1; Ludymila Furtado CANTANHÊDE; Priscila Germany Corrêa da SILVA2; José Carlos Ferreira-SILVA; Pamela Ramos-DEUS; Roberta Lane de Oliveira SILVA Figura 1 – Valores de Ct para os genes ZFP281, OCT4, NAC1, RONIN, DAX1, GAPDH, RPL19, ß-ACTINA em células do cumulus de caprinos. Figura 2 – Valores de melting para os genes OCT4, RONIN, em células do cumulus e ovócitos de caprinos. 370 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Priscila Germany Corrêa da SILVA1; Marcelo Tigre MOURA2; José Carlos Ferreira-SILVA3; Pamela Ramos-DEUS4; Ludymila Furtado CANTANHÊDE5; Fernando Tenório FILHO6 EFEITO MACHO SOBRE A EFICIÊNCIA REPRODUTIVA DE OVELHAS NULÍPARAS DA RAÇA SANTA INÊS CRIADAS NO SEMIÁRIDO E NA ZONA DA MATA DE PERNAMBUCO Male effect on reproductive efficiency of nulliparous Santa Inês ewes raised in Semiarid and Zona da Mata regions in Pernambuco Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. carlos. [email protected] 4 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 5 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 6 Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] 1 Priscila Germany Corrêa da Silva1; Marcelo Tigre Moura2; José Carlos Ferreira-Silva3; Pamela Ramos-Deus4; Ludymila Furtado Cantanhêde5; Fernando Tenório Filho6 PA L AV R A S - C H AV E Bioestimulação, Ovis aries, Ciclo Estral, gestação. KEYWORDS Bioestimulation, Ovis aries, Estrous Cy-cle, pregnancy. INTRODUÇÃO A ovinocultura representa uma importante fonte de proteína animal, encontrando-se difundida em vários continentes, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. O controle dos eventos reprodutivos contribui para maximizar a eficiência reprodutiva do rebanho e consequentemente a rentabilidade da ovinocultura. Por isso, a indução e sincronização do estro, permite concentrar os nascimentos nos períodos mais propícios do ano e a formação de lotes mais homogêneos de animais (BANDEIRA et al., 2004). O efeito macho apresenta resultados similares aos obtidos com os métodos farmacológicos (CALDAS et al., 2015), tanto na antecipação da puberdade e da estação reprodutiva, quanto na indução e sincronização do estro. No entanto, a maior parte das investigações sobre o efeito macho utilizaram raças ovinas lanadas e em locais condições edafoclimáticas distintas das encontradas no nordeste brasileiro. Avaliou-se a influência do efeito macho sobre a indução e a sincronização do estro, bem como sobre a prenhez e a prolificidade de ovelhas nulíparas das raças Santa Inês (n = 80) criadas nas Regiões do Semiárido e da Zona da Mata do Estado de Pernambuco. Material e Métodos Os experimentos foram realizados nos municípios de Sertânia e Escada, Pernambuco. Dois carneiros com idade entre 24 e 48 meses e 80 fêmeas nulíparas Santa Inês com 11 a 12 meses de idade foram utilizadas no experimento. Os animais no semiárido foram mantidos em pastagens nativas, pastagens cultivadas de capins buffel (Cenchrus ciliaris, L.) e pangola (Digitaria decumbes), além da suplementação com silagem de sorgo (Sorghum bicolor, Moench.) e palma forrageira (Napolea cochenillifera, Salm-Dick). Os animais na Zona da mata fo- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 371 Priscila Germany Corrêa da SILVA1; Marcelo Tigre MOURA2; José Carlos Ferreira-SILVA3; Pamela Ramos-DEUS4; Ludymila Furtado CANTANHÊDE5; Fernando Tenório FILHO6 ram mantidos em pastagens de braquiária (Brachiaria humidicola) e nativa com gengibre (Paspalum maritimum), capim de raiz (Chloris orthonton), grama de burro (Cynodon dactylon) e braquiária do brejo (Brachiaria tunnergrass), além da suplementação com capim elefante (Pennisetum purpureum) no período da tarde. Todos os animais tiveram acesso a água e sal mineral ad libitum. As fêmeas foram separadas aleatoriamente em dois grupos de 40 animais. Os machos foram mantidos a distância das fêmeas por 30 dias, sem qualquer contato com as fêmeas. No dia anterior ao início da estação de monta, os machos foram submetido ao exame andrológico (CBRA, 1998). Quando introduzidos no lote de fêmeas, os machos foram untados na região do esterno com uma mistura de graxa e tinta xadrez (4:1) para identificação das fêmeas em estro. A cor da tinta foi trocada a cada 10 dias para facilitar a identificação das fêmeas que retornaram ao estro. A detecção visual dos estros foi feita duas vezes ao dia (6:00 e 16:00 horas) por períodos de uma hora durante toda a estação de monta. O diagnóstico de prenhez foi realizado por ultrassonografia 60 dias após a última detecção de estro conforme descrito anteriormente (SANTOS et al., 2004). Os dados foram analisados pela ANOVA e pelo teste de Tukey para comparações entre médias e pelo teste do qui-quadrado para dados binomiais. Diferenças com probabilidades de p < 0,05 foram consideradas significativas. RESULTADOS E DISCUSSÃO No Semiárido, os estros ocorreram até 48o dia da estação de monta. Na Zona da Mata, as fêmeas Santa Inês apresentaram estro até o 56o dia. Tanto na Região do Semiárido quanto na Zona da Mata, a maior concentração de estros ocorreu entre o 11o e o 15o dia da estação de monta. No Semiárido, a sincronização dos estros, ou seja, estros detectados nos cinco primeiros dias da estação, ocorreu apenas em 10% das fêmeas. Na Zona da Mata, somente 10% das fêmeas tiveram os estros sincronizados (P > 0,05). Além disso, houve uma maior incidência de ciclo estrais curtos no semiárido (Tabela 1), embora a incidência de estros normais tenha sido semelhante. No Semiárido, a prenhez total no primeiro serviço foi de 52,97% e no segundo de 50,00%, já o total de partos foi 88,46% de simples e 11,81% de duplo, com prolificidade de 1.11±0,34. Na Zona da Mata a prenhez total foi de 44,44% no primeiro, 60,00% no segundo serviço e o total de partos foi de 85,71% de simples, 14,29% de duplo e com prolificidade de 1.14±0,38. Todas os resultados foram semelhantes nas duas condições (semiárido e Zona da Mata), demonstrando que quando os animais recebem boa oferta de alimento e manejo, principalmente no semiárido, o efeito macho apresenta resultados sem-elhantes independente da região. CONCLUSÃO Os resultados permitem concluir que o efeito macho não sincronizou o estro de ovelhas nulíparas, mas concentrou as cobrições nos primeiros 15 dias de uma estação de monta, sem prejuízo da eficiência reprodutiva. 372 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Priscila Germany Corrêa da SILVA1; Marcelo Tigre MOURA2; José Carlos Ferreira-SILVA3; Pamela Ramos-DEUS4; Ludymila Furtado CANTANHÊDE5; Fernando Tenório FILHO6 Comitê de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo nº 08/12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANDEIRA, D.A.; SANTOS, M.H.B.; CORREIA NETO, J. et al. Aspectos gerais da caprino-ovinocultura no Brasil e seus reflexos produtivo e reprodutivo. In: SANTOS, M.H.B.; OLIVEIRA, M.A.L.; LIMA, P.F. Diagnóstico de gestação na cabra e na ovelha. Editora Varela, São Paulo, p.1-8, 2004. CALDAS, E.L.C; FREITAS NETO, L.M.; ALMEIDA-IRMAO, J.M.; et al. The in-fluence of separation distance during the preconditioning period of the male effect approach on reproductive performance in sheep. Veterinary Science Develop-ment, 2015 (No prelo). COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL – CBRA, 1998. Manual para exame e avaliação de sêmen animal. 2ª ed. Belo Horizonte: CBRA. 49p. SANTOS, M.H.B.; OLIVEIRA, M.A.L.; MORAES, E.P.B.X. et al. 2004. Diagnóstico de gestação por ultra-sonografia de tempo real. In: SANTOS, M.H.B., OLIVEIRA, M.A.L., LIMA, P.F. Diagnóstico de gestação na cabra e na ovelha. São Paulo, SP: Varela, p.97-116. Tabela 1 – Avaliação da duração do ciclo estral em fêmeas Santa Inês durante a estação de monta de 60 dias nas Regiões do Semiárido e da Zona da Mata do Estado de Pernambuco. Semiárida Zona da Mata Tipo de Ciclo Estral n/n (%) n/n (%) Curto (<17 dias) 10/40 (25,00)A 14/40 (35,00)B Normal (17 a 23 dias) 24/40 (60,00) 22/40 (55,00) Total 34/40 (85,00) 36/40 (90,00) Letras sobrescritas maiúsculas diferentes (A, B) na mesma linha indicam diferença estatística (P>0,05). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 373 Priscila Germany Corrêa da SILVA1; Marcelo Tigre MOURA; José Carlos Ferreira-SILVA; Raffaela Maria Dias Rodrigues AMORIM; Maico Henrique Barbosa dos SANTOS; Luis Rennan OLIVEIRA Efeito macho associado à duração da estação de monta sobre o desempenho reprodutivo de ovelhas Santa Inês pluríparas cíclicas Male effect associated with breeding season duration on reproductive performance of cycling pluriparous Santa Inês ewes Priscila Germany Corrêa da Silva1; Marcelo Tigre Moura; José Carlos Ferreira-Silva; Raffaela Maria Dias Rodrigues Amorim; Maico Henrique Barbosa dos Santos; Luis Rennan Oliveira Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. carlos. [email protected] Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. [email protected] Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. maicohenriquesantosbarbosa@gmail. com Universidade Federal Rural de Pernambuco, DMV. rennanlr@ hotmail.com 1 PA L AV R A S - C H AV E KEYWORDS Bioestimulação, Fertilidade, Gestação, Ovino deslanado. Bioestimulation, Fertility, Gertation, Hair sheep. INTRODUÇÃO O Brasil possui um crescente rebanho ovino, e dentro do nordeste, Pernambuco detém o quarto maior efetivo de ovinos (IBGE, 2011). Apesar da importância socioeconômica da ovinocultura, a atividade permanece com limitada adoção de práticas adequadas de manejo, e consequentemente, com baixa rentabilidade (NUNES et al., 1997). O uso do efeito macho representa um alternativa de manejo reprodutivo de baixo custo para todos os produtores. O efeito macho permite concentrar as coberturas e o posterior nascimentos dos borregos nos períodos desejados. Objetivou-se avaliar parâmetros do comportamento reprodutivo de ovelhas da raça Santa Inês submetidas ao efeito macho com estações de monta de 25, 35 e 45 dias nas regiões semiárida e Zona da Mata de Pernambuco. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram realizados nos municípios de Sertânia (semiárido) e Escada (Zona da Mata), estado de Pernambuco. Seis machos com fertilidade comprovada e 180 fêmeas Santa Inês entre 36 e 48 meses foram utilizadas no experimento (três machos e 90 fêmeas em cada município). Após a seleção, as fêmeas foram identificadas, pesadas e de forma aleatória e equitativa foram distribuídas nas estações de monta com duração de 25 dias (EM-25d), 35 dias (EM-35d) e 45 dias (EM-45d) em cada município. Os animais foram mantidos em pastagens nativas, pastagens cultivadas de capim buffel (Cenchrus ciliaris, L.), suplementados com silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum.), água e sal mineral ad libitum. Os machos foram mantidos a uma distância de 300 metros das fêmeas por 60 dias. No dia anterior ao início da estação de monta, os machos foram submetido ao exame andrológico (CBRA, 1998). Quando introduzidos no lote de fêmeas, os machos foram untados na região do esterno com uma mistura de graxa e tinta xadrez (4:1) para identificação das fêmeas em estro. A cor da tinta foi trocada a cada 10 dias para facilitar a identificação das fêmeas que retornaram ao estro. A detecção visual dos estros foi feita duas vezes ao dia (6:00 e 374 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 Priscila Germany Corrêa da SILVA1; Marcelo Tigre MOURA; José Carlos Ferreira-SILVA; Raffaela Maria Dias Rodrigues AMORIM; Maico Henrique Barbosa dos SANTOS; Luis Rennan OLIVEIRA 16:00 horas) por períodos de uma hora durante toda a estação de monta. O diagnóstico de prenhez foi realizado por ultrassonografia 60 dias após a última detecção de estro conforme descrito anteriormente (SANTOS et al., 2004). Os dados foram analisados pela ANOVA e pelo teste de Tukey para comparações entre médias e pelo teste do qui-quadrado para dados binomiais. Diferenças com probabilidades de p < 0,05 foram consideradas significativas. RESULTADOS E DISCUSSÃO No Semiárido, as porcentagens de estro das fêmeas Santa Inês variaram de 90,0% a 96,6%, não se observando dife-rença (P > 0,05). Na Zona da Mata, as porcentagens de estro das fêmeas Santa Inês foram de 100%, não se observando diferença (P > 0,05). As comparações efetuadas entre as regiões não evidenciaram diferença (P > 0,05). No Semiárido, 167/180 (92,7%) das fêmeas evidenciaram estro em até 40 dias da estação de monta e a sincronização dos estros ocorreu em 55,0% das fêmeas Santa Inês. Na Zona da Mata, 177/180 (98,3%) das fêmeas apresentaram estro no período de 40 dias e a sincronização dos estros ocorreu em 60,0% das fêmeas da raça Santa Inês. No Semiárido, a prenhez das fêmeas Santa Inês variou de 85,2% a 96,3%, não se evidenciando diferença (P > 0,05). Na Zona da Mata, os percentuais variaram de 86,6% a 90,0% com as fêmeas da raça Santa Inês, não havendo diferença (P > 0,05) entre esses valores. No Semiárido, a prolificidade variou de 1,29 ± 0,45 a 1,35 ± 0,47 e na Zona da Mata de 1,35± 0,47 a 1,42 ± 0,49, não diferindo entre as regiões. CONCLUSÃO Os resultados permitem concluir que o efeito macho associado à redução da estação de monta é eficiente para induzir e sincronizar o estro de fêmeas pluríparas cíclicas sem comprometer a prenhez e a prolificidade. Comitê de Ética O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade Pio Décimo. Processo no 08/12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL – CBRA, 1998. Manual para exame e avaliação de sêmen animal. 2ª ed. Belo Horizonte: CBRA. 49p. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Produção da Pecuária Municipal. Rio de Janeiro, v.37, p.1-55,2011. Disponível em: <http://www.ibge.gov. br/home/estatistica/economia/ppm/2011/ppm2011. pdf>. Acesso em: 13 Janeiro de 2015. NUNES, J.F.; CIRÍACO, A.L.T.; SUAS-SUNA, U. Produção e reprodução de caprinos e ovinos. 2. ed. Ceará: LCR, 1997. 160 p. SANTOS, M.H.B.; OLIVEIRA, M.A.L.; MORAES, E.P.B.X. et al. 2004. Diagnóstico de gestação por ultra-sonografia de tempo real. In: SANTOS, M.H.B., OLIVEIRA, M.A.L., LIMA, P.F. Diagnóstico de gestação na cabra e na ovelha. São Paulo, SP: Varela, p.97-116. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.18 n 2 - maio/agosto 2015 375