Doentes de Amor - Valorizando a Diversidade

Transcrição

Doentes de Amor - Valorizando a Diversidade
Doentes de Amor
Aos 17 anos descobri que estava com um raio de câncer no pulmão, no
começo tentaram esconder isso de mim e pra falar a verdade, eu agradeço por
eles terem feito isso, acho que foram os 17 anos mais bem vividos da minha
historia, foram anos que eu vivi como uma pessoa normal, (como uma pessoa
alegre, cheia de amigos).
O tempo foi passando e a cada dia fui me tornando uma pessoa mais
deprimida, me afastei dos meus amigos, não me permitia conhecer outras
pessoas me fechei literalmente de tudo e de todos. Eu era uma “Bomba”, uma
“Bomba Relógio”, e a cada segundo que se passava estava mais perto de
explosão, eu sei que eu não poderia controlar o meu fim e ele estava
chegando, acho que pelo menos tentar minimizar as vitimas era minha
obrigação.
Aos 19 anos foi obrigado a ir em uma festa de uma prima minha, enquanto
quase todos estavam no salão de dança se divertindo, eu estava quieta
sentada em um banco perto da piscina, eu pensei que estava sozinha mas
acho que me enganei, vivi alguns passos se aproximando e uma voz de
homem:
– Oi - um garoto lindo com um sorriso maravilhoso.
– Oi - respondi abaixada a cabeça pra me olhar no reflexo da água.
– Porque será que deixaram uma pessoa tão linda assim do lado de fora?
– Bem... eu não sou “tão linda”, mas é que eu não curto ficar em lugares cheios
de gente.
– Porque?
– Nada de tão interessante, só por loucura minha mesmo.
– Hum... mais vindo de você tudo e interessante...
Por poucas horas o silêncio tomou conta daquela noite linda de lua
cheia; logo ele resolveu quebrar o silêncio perguntando sobre minha vida, e
eu? Bem... eu respondi né? E eu também perguntei sobre a dele, que pelo
contrario, acho que ele não contou tudo. Olhos verdes, ok, cabelos negros, ok,
quase 1,80 de altura, ok, 20 anos, ok, começando a cursa a faculdade de
direito, mora na mesma cidade que eu, leva uma vida normal como qualquer
outra pessoa a não ser eu.
A festa acabou, o tempo passou, a gente manteve contato, e depois de
uns meses eu resolvi me afastar, não era justo fale-lo sofrer quando eu fosse
embora, foram varias mensagens sem respostas, ligações não atendidas, foi
assim por um tempo, foi exatamente assim ate o dia que ele apareceu lá em
casa.
– Boa tarde... – disse ele com o mesmo sorriso lindo de quando nos
conhecemos.
– Boa tarde! – digo meia surpresa com aquela visita inesperada.
– Pensou que iria conseguir se livrar de mim pelo resto da vida?
– Não, mais confesso que pensei que você desistiria logo...
– Lembra aquele dia na festa da sua prima?
– Sim, o que tem aquele dia?
– Foi a partir daquele dia que eu prometi que não iria deixar você sumir da
minha vida.
– Lembra o que eu te disse aquele dia?
– Que você é uma “Bomba Relógio”?
– Sim...
– Se você for uma “Bomba Relógio” eu quero ser explodir ao teu lado...
Poxa, eu fiquei sem reação, sempre me cobrava não me apegar a
ninguém, e muito menos deixar alguém se apegar a mim, mais nesse intervalo
ele chegou e acabou mudando meus conceitos.
– Por favor me dá uma chance pra te provar que eu te amo.
– É... eu ... eu não sei!
– Por favor...
– Acho que sim. – de tanto me negar vários amores eu acabei não resistido a
esse... resolvi deixar a minha vida seguir sem muita intervenção da minha
parte.
Anos se passaram e lembra o raio de câncer que tinha? Se
transformou em algo maior, antes eu tinha um pulmão completo, hoje eu tenho
“nenhum”, carrego comigo pulmões de araque, e com isso ganhei um ilindro de
oxigênio, (não só um cilindro), lembra aquele garoto? Ele se tornou meu noivo,
e quando estávamos prestes a marcar o casamento ele foi internado na UTI.
Realmente ele não tinha me contado tudo aquele dia, após 15 dias
internado ele morreu, ele tinha câncer, quando nos conhecemos ele tinha
acabado o tratamento, após 6 anos o câncer voltou, e voltou mais forte ainda,
em uma noite de lua cheia ele foi embora, e a “Bomba Relógio” explodiu
dentro de mim e foi como eu disse:
– Se você for uma “Bomba Relógio” eu quero explodir ao teu lado.
E assim foi ele explodiu ao meu lado, mais a vitima dessa historia foi
eu.