Bancada evangélica federal - Service central d`authentification
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Os evangélicos na Câmara dos Deputados: um olhar sobre os projetos de Lei da bancada evangélica da 53º legislatura Luiz PRISCO Mémoire de 4e année Séminaire : Amérique Latine Sous la direction de : Jimena Obrégon 2009 - 2010 Agradecimentos Agradeço à minha m,ãe, meu pai, familiares e amigos pelo expresso apoio dado à execução deste trabalho. Possivelmente, sem eles nada disso seria possível. Agradeço à professora Jimena Obregon pela dedicação durante o processo de orientação, principalmente, na confiança no trabalho e pelas sugestões sempre precisas. Agradeço também aos meus colegas de seminário pelas sugestões e críticas durantes as fases de elaboração dessa monografia. Agradeço aos outros professores que influenciaram e muito ensinaram durante minha vida. Entre eles: Lara Amorim, Magda Lúcio, Sérgio Euclides, Severino Francisco e Renato Ferraz. Agradeço também ao serviço de Relações Internacionais do IEP de Rennes pelo apoio dado aos estudantes estrangeiros que embarcaram nessa prazerosa aventura. Luiz PRISCO Sommaire Lista de tabelas.......................................................................................................................5 Introdução...............................................................................................................................6 A.Contextualização............................................................................................................6 B.Problema e hipóteses......................................................................................................8 C.Objetivos........................................................................................................................9 D.Metodologia.................................................................................................................10 E.Plano da monografia....................................................................................................12 I. Evangélicos na política brasileira: a trajetória entre a Igreja e o Congresso Nacional.....15 A. Um grupo socio-político em formação: os evangélicos na sociedade brasileira........15 B. Congresso Nacional como a porta de entrada para a política.....................................24 C. “Bancada evangélica federal”: um novo ator político no Congresso Nacional..........32 II. A bancada na vida política: composição e ação política dos protestantes no Congresso Nacional................................................................................................................................42 A. Uma bancada plural? Um perfil socioeconomico, político e religioso da bancada evangélica federal............................................................................................................42 B. Projetos de Lei como intrumento de ação política: uma análise das proposições dos membros da bancada evangélica federal ........................................................................62 C. Quem é quem dentro da bancada? Um olhar sobre a ação individual dos políticos que compõem a bancada evangélica federal. ........................................................................70 III. A “Política protenstante real”: interpretações e considerações sobre os projetos de Lei apresentados pela bancada evangélica federal no Congresso Nacional entre 2007 e 2009. 77 A. Trabalho e Direito do Consumidor: elementos chaves na ação política deste grupo. 77 B. Direitos sociais, cultura e educação: um caminho progressista dentro da bancada?. .82 C. Uma ação política para as Igrejas: entre as Homenagens e as Questões Religiosas...86 Conclusão.............................................................................................................................91 Bibliografia...........................................................................................................................99 2010 4/101 Luiz PRISCO Lista de tabelas Tabela 01. Quadro religioso da América Latina, 18 Tabela 02. Evolução religiosa no Brasil, em porcentagem, 21 Tabela 03. Divisão religiosa por unidades da federação, 22 Tabela 04. Parlamentares evangélicos entre a 50º legislatura e a 53º legislatura, 28 Tabela 05 – Perfil socioeconômico da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura, 44 Tabela 06 - Representatividade de cada estado da região sudeste na bancada evangélica federal da 53º legislatura, 49 Tabela 07 – Perfil político ideológico da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura, 52 Tabela 08 – Perfil religioso da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura, 58 Tabela 09 – Principais igrejas da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura, 60 Tabela 10 – Divisão temática dos projetos de Leis apresentados pela bancada evangélica federal durante a 53º legislatura, 66 Tabela 11 – Número de proposições apresentadas por cada deputado da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura, 72 2010 5/101 Luiz PRISCO Introdução A. Contextualização O Brasil, assim como a maioria dos países da América Latina, nasceu católico, ou seja, os descobridores portuguêses que desembarcaram em terras brasileiras no dia 22 de abril de 1500 trataram de imediatamente realizar uma missa, com direito a todas as simbologias católicas. Ao longo desses 510 anos de história, este grupo religioso sempre ocupou um lugar de destaque na vida política, cultural e social do país. Entre os diversos exemplos, podemos citar o apoio ao golpe militar de 1964 – representado pela "Marcha da Familia com Deus, pela Liberdade" que apoiava o regime instalado. No entanto, nos últimos anos uma nova corrente religiosa tem ocupado de pouco em pouco uma posição de destaque na sociedade do maior país da América Latina. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica (IBGE) em 2000, os evangélicos1 representam aproximadamente 15% da população do Brasil, consagrando-se dessa maneira como a segunda corrente religiosa mais popular do país (ORO, 2007). Esses dados somente reforçam o sentimento de que os protestantes ganham cada vez mais importância no Brasil. Esse crescimento no seio da sociedade gerou um aumento da participação deste grupo no interior da vida política. Entre os vários exemplos existentes podemos escolher o papel desse grupo nas eleições de 2002 e também a Bancada Evangélica Federal. Nas eleições de 2002, o ex-metálurgico e líder sindicalista, Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), chegou à presidência da República. A eleição de um político com este perfil mostra que naquele momento o país passava por uma reconfiguração das estruturas de poder. Lula – como é conhecido – era candidato a presidente em uma chapa que unia diversos partidos, das mais variadas 1 Neste trabalho, quando falamos de evangélicos, nos referimos sempre aos pentecostais e neopentecostais. Essa opção se deve à projeção desse grupo que representa praticamente a totalidade dos protestantes brasileiro. Esse tema será abordado de maneira mais completa no primeiro capítulo desta monografia. 2010 6/101 Luiz PRISCO matizes ideológicas e culturais. Nesse contexto, um ponto se torna interessante para o trabalho que iremos realizar, o candidato à vice-Presidência na chapa era o exsenador mineiro José Alencar – um empresário do setor têxtil identificado com os evangélicos. No mesmo pleito, o então governador do estado do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, lançou-se candidato à presidência da Républica. Este político sempre teve forte ligação com os evangélicos, ele mesmo é um frequentador dos cultos protestantes. Sendo inclusive identificado como representante religioso de uma corrente evangélica brasileira. Apesar dos candidatos ao poder executivo, em todos os níveis (regional e nacional) terem tido uma participação de considerável relevância durante as eleições de 2002, podemos falar que é, entretanto, no Congresso Nacional onde os evangélicos conquistaram e agora ocupam um lugar de destaque na política nacional (MACHADO, 2006). Essa atuação é concretizada por uma organização dentro do poder legislativo chamado bancada evangélica federal – um grupo de deputados e senadores no Parlamento ligados diretamente às igrejas de orientação protestante. São esses os políticos responsáveis pela atividade política institucional mais importante dessa corrente religiosa. Segundo os dados apresentados pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), estamos falando de um dos grupos de pressão parlamentar mais relevantes e influentes no interior das instituições democráticas brasileiras (FOLHA ONLINE, 2006). Essa discussão prévia até aqui desenvolvida aponta para o fato de que a Bancada Evangélica Federal configura um ator político de relevância dentro da organização política brasileira. Dessa forma, o estudo e a compreensão do perfil, da ação política e, até mesmo, da influência desse grupo se transforma em um interessante objeto de estudo no campo das Ciências Sociais. De acordo com a socióloga carioca Maria das Dores Campos Machado (2006: p.27), é a partir do início dos anos 1990 que o tema da politização dos evangélicos entrou na pauta dos cientistas sociais brasileiros. A pesquisadora ainda ressalta que, desde os primórdios, o tema predominante nas pesquisas sobre este assunto foi majoritariamente a atuação desse grupo no interior do poder legislativo nacional. 2010 7/101 Luiz PRISCO Também argumentamos que, entre outras razões, um dos pontos que justificam a realização de uma monografia sobre este assunto é compreender a dinâmica e as ações de um grupo político com clara ligação com movimentos religiosos – como é a bancada evangélica federal. Ainda mais, quando o Estado em questão é o brasileiro, que, segundo a Constituição Federal de 1988, é um Estado laico, ou seja, não define uma religião como oficial, ou mesmo merecedora de privilégios. Além disso, a laicidade significa também que a lei permite a pluralidade religiosa e como prêve a Carta Magna garante a liberdade de culto e de crença em todo o território brasileiro. Assim, é por esta razão que escolhemos a Bancada Evangélica Federal como objeto de estudo para este trabalho. O sociólogo é conhecido como o historiador do presente, pois faz análises de fatos sem grande distanciamento histórico. Desta forma, escolhemos trabalhar com a bancada pertencente à atual 53º legislatura, que começou em 01/01/2007 e vai até o fim de 31/12/2010. Buscaremos, portanto, entender a atuação política do grupo e compreender suas consequências para o sistema político e consequentemente para a democracia brasileira. B. Problema e hipóteses Para realizar uma pesquisa científica, torna-se imperativo problematizar alguma coisa. Na sociologia, tenta-se buscar os problemas que se apresentam na sociedade, em todos suas esferas: seja na política, na economia, na cultura etc. Segundo o especialista em metodologia Fred Kerlinger (1980: p.36), “um problema de pesquisa, em primeiro lugar, é uma questão, uma sentença de forma interrogativa. Segundo, uma questão que geralmente pergunta alguma coisa a respeito das relações entre fenômenos e variáveis”. Dessa forma, este trabalho se dedica a entender como se desenvolve a ação 2010 8/101 Luiz PRISCO política do grupo conhecido como Bancada Evangélica Federal. Como mostramos anteriormente é esta organização política que concentra a ação institutional dos penteconstais brasileiros. Assim, apresentamos a seguir a questão que servirá de norte para a execução desta monografia: De qual maneira se desenvolve a ação política da bancada evangélica federal da Câmara dos Deputados do Brasil durante a 53º legislatura? A partir dessa questão de pesquisa, este trabalho apresenta três hipóteses desenvoldidas à maneira de reposta: • O perfil da Bancada Evangélica Federal influencia sua ação política. • Apesar de uma composição variada é possível encontrar uma linha comun de ação política. • A ação política da Bancada Evangélica Federal reflete os principais sujeitos de interesses das Igrejas Evangélicas. C. Objetivos A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a ação política do grupo conhecido como Bancada Evangélica Federal no Congresso Nacional durante o período que vai de 01/01/2007 a 31/01/2009 – referente à atual legislatura. Assim, este objetivo geral leva a outros cinco objetivos específicos que serão descritos a 2010 9/101 Luiz PRISCO seguir: 1. Traçar os perfis social, econômico e político da Bancada Evangélica Federal. 2. Entender como se desenvolve o funcionamento das bancadas no interior do Congresso Nacional. 3. A partir da revisão de uma bibliografia específica, indentificar a história e a presença atual dos evangélicos na vida política brasileira. 4. Tabular e categorizar os projetos de lei apresentados pelos integrantes da Bancada Evangélica Federal, durante o período selecionado. 5. Desenvolver um arranjo metodológico para responder a problemática deste trabalho D. Metodologia Para a realização da presente pesquisa, escolhemos a utilização de uma metodologia quantitativa. Esta opção baseia-se em duas razões: 1) dado o pouco tempo – aproximadamente 7 meses – para a execução deste trabalho, acreditamos que a opção quantitativa se mostra mais adequada aos objetivos já propostos. 2) Outro fator importante que justifica a escolha é a grande quantidade de material empírico a ser trabalhado – precisamente 358 projetos de Lei –, elemento esse que somado à falta de tempo para a realização desta monografia torna imperativa, em nosso entendimento, a utilização de uma metodologia quantitativa. No entanto, reconhecemos que este tipo de abordagem, aplicado de maneira isolada, apresenta e diversos limites ao pesquisador. Assim, utilizaremos um arranjo metodológico de caráter quantitativo para 2010 10/101 Luiz PRISCO analisar as proposições de leis entre 01/01/2007 e 31/12/2009. A escolha do período também merece uma explicação mais detalhada. A princípio a idéia da pesquisa era trabalhar somente com um ano da atual legislatura (precisamente tinhamos escolhido 2008), porém após os primeiros contatos com as fontes vimos que essa escolha resultaria em um corpus demasiadamente reduzido, que aparentemente não teria representatividade para abordar o tema. Desta maneira, decidimos expandir o período de análise e, assim, antigir toda a 53º legislatura. No entanto, um outro problema apareceu. O atual ano legislativo termina oficialmente em 31 dezembro de 2010, elemento esse que impede a pesquisa de abordar todo o período. Assim, a solução encontrada foi parar no ano de 2009, pois, assim, conseguimos um corpus representativo e que abarca praticamente todo o intervalo de tempo com o qual nos propomos a trabalhar – cabe mencionar também que a exclusão do ano de 2010 não acarretará em graves prejuízos porque se trata de um ano eleitoral, no qual o Congresso Nacional diminui bruscamente sua atividade. Afinal, diversos deputados pedem licença para se dedicarem as campanhas eleitorais em seus estados. O objeto de estudo desse trabalho é, então, a Bancada Evangélica Federal e, para compreender o funcionamento deste grupo no interior do Parlamento brasileiro, analisaremos os projetos de leis apresentados no período já acima referido. No entanto, temos em conta que a apresentação de projetos de lei não é a única forma de ação política no poder legislativo. Dessa forma, são as proposições de leis que compõe o corpus de pesquisa. Outro importante detalhe a ser esclarescido é que, como veremos adiante, a referida bancada é composta também por 4 senadores, porém somente dois exerciam o cargo durante o intervalo de tempo escolhido. Portanto, decidimos trabalhar somente com as proposições de Leis oriundas da Câmara dos Deputados – pois é nesta Casa que a ação política ocorre de maneira mais efetiva, sobretudo naquilo que tange às propostas de lei (RODRIGUES, 2006: p. 78). Para atingir os resultados desejados, este trabalho se propõe a seguir um percurso metodológico composto por quatro etapas, sendo elas: 1) a tabulação e a 2010 11/101 Luiz PRISCO contabilização dos projetos de lei propostos pelos integrantes da Bancada Evangélica Federal durante o período entre 0101/2007 a 31/12/2009; 2) categorizar os referidos projetos de acordo com uma divisão temática, em categorias previamente definidas 2; 3) em seguida realizaremos um cruzamento entre os perfis dos autores dos projetos e o conteúdos dos mesmos; 4) por fim, tentaremos explicitar as razões dos resultados encontrados com um cruzamento com os elementos teóricos apresentados. Por meio deste recurso metodológico, acreditamos ser possível extrair conclusões e respostas sobre a ação política da Bancada Evangélica Federal no Congresso Nacional durante a 53º legislatura. E, assim, responder aos objetivos deste trabalho de investigação científica. E. Plano da monografia Este trabalho segue um roteiro de capítulos que visa contribuir para responder a questão colocada como problemática. Dessa maneira, escolhemos um plano de escrita que se desenvolve em três partes: uma primeira parte mais teórica, em seguida uma parte mais descritiva e uma terceira que pretende apresentar um panorâma mais analítico sobre a ação política da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura. Ao fim será apresentada uma conclusão, na qual, de acordo com os elementos apresentados nos capítulos que compõem este trabalho, tentaremos apontar um argumento que responda as questões colocadas nesta introdução. Assim, a primeira parte deste trabalho – intitulada Evangélicos na política brasileira: a trajetória entre a Igreja e o Congresso Nacional – abarca uma revisão bibliográfica sobre os trabalhos desenvolvidos no campo das Ciências Sociais sobre as ligações envolvendo os evangélicos e a política brasileira. O objetivo é mostrar 2 Apresentaremos de maneira mais detalhadas as categorias referidas na segunda parte deste trabalho. Lá também explicaremos o processo de escolha das mesma. Em seguida mostraremos uma tabela mais geral com todas as temáticas escolhidas. 2010 12/101 Luiz PRISCO um panorâma das idéias que circulam na acadêmia nacional sobre a polítização dos pentecostais e neopentecostais. Dessa forma, mostraremos o espaço ocupado por este grupo na sociedade brasileira, a forma como esse grupo religioso passou a fazer parte da vida política do Brasil – sobretudo no Congresso Nacional –, a organização e o funcionamento das bancadas e, também, uma explicação e um histórico sobre a bancada evangélica federal. A segunda parte deste trabalho desenvolve um quandro mais descritivo, pois apresenta os dados que ajudam a desenhar o perfil da bancada evangélica federal e os resultados da análise quantitativa desenvolvida em torno dos projetos de Lei propostos por este grupo durante a 53º legislatura. Desta forma, esta parte que é intitulada A bancada na vida política: composição e ação política dos protestantes no Congresso Nacional tem por objetivo principal identificar os principais elementos que podem coloborar à resposta da problemática de pesquisa apresentada anteriormente. Assim, começaremos por apresentar um perfil político, religioso e socioeconômico da bancada evangélica federal da Câmara dos Deputado durante a 53º legislatura, a partir dos dados disponíveis nos orgãos públicos brasileiros. Esta parte do trabalho também apresentará dados resultantes da análise quantitativa dos 358 projetos de Lei – propostos pelos integrantes da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura – e, também, uma explicação mais detalhada sobre as categorias desenvolvidas para esta monografia. Os elementos mostrados nesse capítulo são essenciais para a compreensão da ação política dos deputados evangélicos. Além disso, vamos desenvolver um capítulo para analisar a ação individual dos políticos que compõem a bancada evangélica federal, para tentarmos buscar os elementos que montam o comportamento político deste grupo parlamentar. Na terceira e última parte desta monografia – intitulada A “Política protenstante real”: interpretações e considerações sobre os projetos de Lei apresentados pela bancada evangélica federal no Congresso Nacional entre 2007 e 2009 –, pretendemos realizar um trabalho mais analítico. Dessa forma, vamos desenvolver uma discussão sobre os elementos mostrados nas partes anteriores deste 2010 13/101 Luiz PRISCO trabalho, ou seja, um estudo mais aprofundado sobre os dados oriundos da análise quantitativa sobre os projetos de Lei associados às informações dos perfis socioeconomico, político e religios da banacada envangélica federal da 53º legislatura. Por fim, apresentaremos uma conclusão que visa agrupar todos os elementos discutidos ao longo do desenvolvimento desta monografia. Dessa forma, acreditamos que teremos elementos suficientes para responder à problemática apresentada nesta introdução. Em outras palavras, significa dizer que será nessa parte que apresentaremos a maneira como se desenvolve a ação política da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura. 2010 14/101 Luiz PRISCO I. Evangélicos na política brasileira: a trajetória entre a Igreja e o Congresso Nacional A. Um grupo socio-político em formação: os evangélicos na sociedade brasileira Antes de começarmos nossa discussão sobre a presença dos protestantes na sociedade e na política brasileira é necessário precisar sobre quem exatamente estamos falando neste trabalho. Desde a reforma protestante do século XVI, o mundo ocidental passou a conhencer diversas correntes opostas ao catoliscismo, destacamos o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo. Essas orientações religiosas começaram a se espalhar pelo mundo – junto do movimento histórico conhecido como Grandes Navegações – e foram se transformando ao longo do tempo. É dentro desse processo de alteração que surge a doutrina religiosa conhecida como Evangelismo: grupo esse fortemente marcado pela presença das doutrinas religiosas pentecostais3 e neopentecostais4. O pesquisador francês Ariel Colonomos (1995: p. 209) define que o Evangelismo é um termo amplo utilizado para identificar uma nova forma de protestantismo que se desenvolveu principalmente nos Estados Unidos e na América Latina5, por meio da corrente conhecida como pentecostalismo. O autor ainda coloca 3 A base desse movimento é a leitura literal do livro bíblico Atos dos Apóstolos e envolve elementos característicos do Batismo de fogo – fenômeno ocorrido com os apóstolos no dia de Pentecostes –, como a cura, a profecia e a libertação (MACHADO, 2006: p. 09). 4 Essa classificação é utilizada para definir uma corrente surgida em meados dos anos 1960 e que tem como característica principal articular a crença no Espírito Santo com a Teologia da Prosperidade (MACHADO, 2006: p. 09). 5 A América Latina é composta de 20 países, a saber: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, 2010 15/101 Luiz PRISCO que é importante distinguir essa nova corrente religiosa do protenstatimo histórico e liberal. Essa dinamica religiosa designada pelo termo evangelismo trata-se em primeiro lugar de um petencostalismo e suas derivações, porém ela não integra outras correntes saidas da matriz protestante original – como os Adventistas do Sétimo Dia, os Mormons ou as Testemunhas de Jeová (COLONOMOS, 1995: p. 209 – 210)6. A aventura dos protestantes na América Latina começa em meados do século XIX, por meio das ondas missionárias e também causada pelas migrações oriundas da europa não-católica (COLONOMOS, 1995, p. 211). No Brasil, a entrada dos protestantes começa no mesmo período, motivada pela Constituição Federal de 1824, proclamada logo após a independência para marcar o Primeiro Império, que reconhece a pluralidade regiligiosa – mesmo que a referida carta magna tenha mantido o catolicismo como religião oficial do Estado. A corrente evangélica do protestantismo chegou em terras brasileiras no início do século XX, vinda sobretudo dos Estados Unidos. Podemos colocar que o momento que marca de maneira precisa a chegada desse grupo no Brasil são as implantações em 1910 da Congregação Cristã do Brasil e em 1911 da Assembléia de Deus. Essas igrejas são marcadas sobretudo pela doutrina conhecida como pentecostalismo e representam a primeira onda de evangelização do país (MACHADO, 2006; SILVA, 2009). Tanto no contexto político como no culturalreligioso, as congregações Assembléia de Deus et Igreja Batista são uma referência para os seguidores da doutrina pentecostal. A pesquisadora Maria Auxiliadora da Silva (2009, p. 96), da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, aponta que a partir dos anos 1970 até os dia atuais, estariamos assistino a uma onda de neopentecostalismo no Brasil. É Rica, Cuba, Haiti, Honduras, Guatemala, El Salvador, Equador, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. 6 Tradução livre a partir do original: Cette dynamique religieuse désignée par le terme évangélisme concerne en tout premier lieu le pentecôtisme et ses marges en amont et en aval, mais n'intègre pas d'autres courants issus de la matrice protestante originelle comme les Adventistes du septième jour, les Mormons ou les Témoins de Jéhovah. 2010 16/101 Luiz PRISCO justamente neste périodo que congregações como a Igreja Universal do Reino de Deus7 (IURD), precisamente em 1977, e a Comunidade Evangélica Sarah Nossa Terra (1976) e a Igreja Apostólica Renascer em Cristo (1986)8. A IURD é hoje sem dúvidas a Igreja Evangélica mais conhecida no Brasil e já possui templos em mais de 170 países, em todos os 5 continentes. Na França é possível ir a um templo seja em Paris, seja em Lyon. Desta maneira, argumentamos que no imaginário social brasileiro a imagem dos neopentescostais é marcada pelos ritos e costumes dos pastores e fiéis da IURD. Grande parte da popularidade da IURD no Brasil está ligada a dois fatores: a figura do Bispo Edir Macedo e a Rede Record de rádio e televisão. O primeiro fator é importante pois o referido líder religioso, que atualmente tem 65 anos e possui doutorado em Teologia, é uma espécie de representante universal dos evangélicos. Uma das provas desse reconhecimento é que sua biografia figurou na lista dos livros mais vendidos do país por muito tempo. Em seguida podemos falar da Rede Record que foi comprada pela IURD em 1989 – precisamente pelo líder Edir Macedo – e desde então veicula na hora do almoço e também durante as madrugadas programas de conteúdo envagélico. Essas emissões telivisivas aumentaram muito a popularidade dos neopentecostais no terrirório brasileiro, já que o referido canal é o segundo mais visto em terras tupiniquins. Depois de apresentar um sintético apanhado sobre a chegada e a consolidação dos evangélicos no Brasil, julgamos interessante mostrar a dimensão desse grupo religioso na sociedade brasileira. Inicialmente, discutiremos a situação desta corrente religiosa na América Latina e em seguida abordaremps de forma mais profunda a realidade brasileira. É importante que a região de colonização ibérica sempre foi dominada por uma forte tradição católica, iniciada com o descobrimento. Os antropólogos Ari Pedro Oro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Marcela Ureta, da Universidade de Paris III, argumentam que: 7 A partir de agora, trataremos a Igreja Universal do Reino de Deus pela sigla IURD, pela qual esta congregação é conhecida no Brasil – sobretudo nos meios de comunicação. 8 O grupo Renascer ficou conhecido no país nos últimos anos por duas razões. A primeira é que a principal estrela da seleção brasileira de futebol, Kaka, é um dos seguidores da Igreja. O segundo motivo é que os líderes dessa agremiação, Estevam e Sônia Hernandes, foram presos nos Estados Unidos tentado sair do país portando 56 mil dólares não declarados. 2010 17/101 Luiz PRISCO A América Latina, como se sabe, “nasceu” católica. Isto é, os primeiros viajantes e exploradores espanhóis e portugueses aqui chegaram com o intuito não somente de conquistar economicamente terras e riquezas naturais, mas, também, de ver concretizado o sonho milenarista e salvacionista cristão, acalentado pelo imaginário europeu, de encontrar o paraíso terrestre, noção baseada no Gênesis e recheada pelo imaginário edênico ao longo dos séculos. Portanto, a expansão ibérica significou também a expansão do catolicismo na América Latina (ORO; URETA: 2007, p. 281). A tabela a seguir é composta com os dados mais recentes concernantes ao tamanho das crenças nos países latino-americanos: Tabela 01. Quadro religioso da América Latina País Católicos Evangélicos (%) (%) Outros (%) Nãoreligiosos (%) Argentina 92 2 6 - Bolívia 95 5 - - Brasil 73,6 15,4 3,6 7,4 Chile 89 11 - - Colômbia 81,7 15 1,4 1,9 Costa Rica 76,3 15,7 4,8 3,2 Cuba 40 3 7 50 El 83 17 - - 94 3 3 - Salvador Equador 2010 18/101 Luiz PRISCO Guatemala 60 39 1 - Haiti 80 16 3 1 Honduras 60,3 28,7 11 - México 88 7 5 - Nicarágua 72,9 16,7 1,9 8,5 Panamá 85 15 - - Paraguai 90 10 - - Peru 88 8 1 - República 95 - 5 - Uruguai 52 16 19 13 Venezuela 96 2 2 - Dominicana Fonte: ORO; URETA, 2007: p. 285. A tabela apresentada mostra a predominância da Igreja Católica na América Latina, o catolicismo é a crença majoritária em todos os países latinos. Podemos notar que na Argentina, Bolívia, Equador, República Dominicana e Venezuela mais de 90% da população é católica. É interessante notar que exceto a República Dominicana todos esses países se localizam geograficamente na América do Sul. No entanto, é importante frisar que o evangélismo está presente como a segunda maior corrente religiosa do continente latino-americano. A frente mesmo das dominações religiosas indíginas ou africanas oriundas da colonização e do período escravocata. 2010 19/101 Luiz PRISCO Geograficacamente, o evangélismo apresenta uma composição diferente que aquela do católicismo. De acordo com o números de fiéis, os principais países evangélicos são a Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica e Brasil. É interessante notar que essa corrente religiosa se faz mais popular entre as nações – com exceção do Brasil – da América Central. Esse dado pode estar ligado à proximidade com os Estados Unidos, onde a religião protestante evangélica teve início. De toda maneira é interessante notar que essa crença esta sistematicamente presente no hall de religiões do continente. Sobre isso, Oro e Ureta (2007: p.287) argumentam que é possível observar um duplo fenômeno religioso, no qual decaí o número de católicos e aumenta a quantidade de indivíduos que se declaram evangélicos. Esta situação, continuam os autores, possibilita questionar se estaríamos presenciando uma “pentecostalização da América Latina”. Toda essa discussão se torna interessante quando pensamos que as origens e o desenvolvimento do protestantismo e do evangélismo está nos países anglos-saxões (sobretudo Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos) e que atualmente esta corrente religoso começa a ocupar aos poucos um lugar de destaque nas sociedades dos países latino-americanos. O caso brasileiro é um objeto de análise interessante, pois trata-se de um dos maiores países católicos do mundo com aproximadamente 146 milhões de seguidores. No entanto, os evangélicos tem crescido nos últimos anos e começam a ocupar uma posição de destaque social, econômica e política no país. Desta maneira, torna-se interessante olhar com atenção para o quadro comparativo do tamanho – sempre contabilizado pelo número de seguidores – das religiões no Brasil. A tabela a seguir mostra a evolução das duas principais correntes religiosas brasileira a partir de 1940 até os dados do último censo religioso do IBGE realizado em 2000: 2010 20/101 Luiz PRISCO Tabela 02. Evolução religiosa no Brasil, em porcentagem Religião 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 Católicos 95,2 93,7 93,1 91,1 89,2 83,3 73,8 Evangélicos 2,6 3,4 4 5,8 6,6 9 15,4 Outras 1,9 2,4 2,4 2,3 2,5 2,9 3,5 0,2 0,5 0,5 0,8 1,6 4,8 7,3 100 100 100 100 100 100 100 religiões Sem religião Total: Fonte: PIERUCCI, 2004: p. 20. O quadro apresentado mostra que em 60 anos, ou seja na segunda metade do século XX, os evangélicos não pararam de crescer como corrente religiosa. Estatísticamente, podemos notar que esse grupo apresenta uma tendência de crescimento, representando atualmente mais de 30 milhões de fiéis por todo o país. Em direção oposta é possível enxergar uma tendência de baixa na religião católica, que no mesmo período perdeu aproximadamente 22% de seus seguidores. É importante remarcar que os dados estatísticos apresentados apenas indicam o aumento e a queda da popularidade de cada corrente religiosa. Porém, eles são insuficientes para que se afirme a existência de uma relação causal – que indicaria que os evangélicos estariam “roubando” fiés dos católicos. Os dados apresentados tem levado alguns estudiosos a adjetivar esse fenômeno. Entre os sociólogos da religião brasileiros, alguns estudiosos apontam para um crescimento “vigoroso” do protestantismo no Brasil nos últimos anos (PIERUCCI, 2004; SILVA, 2009). Esses especialistas acreditam que o dinamismo dos ramos pentecostais e neopentecostais está ligado a grande presença dessa correntes nos meios de comunicação e também nas camadas mais pobres da 2010 21/101 Luiz PRISCO sociedade brasileira. Por exemplo, a música gospel é um dos estilos musicais mais comercializados no país – sobretudo o rap que versa sobre as passagens bíblicas ou, como na linguagem de seus compositores, sobre a “palavra de Deus”. Essa participação na cultura de massa proporciona uma forte penetração dessa corrente religiosa no Brasil (SILVA, 2009). A seguir mostraremos uma tabela com a divisão estadual da presença dos evangélicos, construída com base no censo do IBGE de 2000. Esses dados serão importantes futuramente para se compreender o porquê do destaque político de alguns estados brasileiros no tocante a produção de políticos evangélicos. Tabela 03. Divisão religiosa por unidades da federação Unidade da Católicos Envangélicos Sem Religião (%) (%) (%) Federação Piauí 91,3 5,7 2,3 Ceará 84,8 9,1 4,2 Paraíba 84,2 9,3 5,2 Maranhão 83 10,2 5,9 Alagoas 81,9 8,6 8,1 Sergipe 81,7 7,4 8,7 Rio 81,6 9,6 7,4 80,2 15,4 2,2 78,8 14,2 4,1 Grande do Norte Santa Catarina Minas Gerais 2010 22/101 Luiz PRISCO Rio Grande 76,7 13 4,4 Tocantins 76 16 6 Pará 75,5 15,6 6,1 Bahia 75,4 11,6 10,2 Amapá 75 18,7 4,1 Paraná 74,5 17,8 4,7 Pernambuco 73,8 13 10,9 Mato Grosso 72,9 16,1 8 São Paulo 70,8 17,2 6,8 Amazonas 70,7 19,2 6,55 Acre 70,1 20,4 7,8 57,2 21 15,5 do Sul Rio de Janeiro Fonte: PIERRUCI, 2004: p. 22. Como a tabela mostra, o Rio de Janeiro é o estado menos católico da federação e também o mais evangélico. Este fator é importante porque esta unidade da federação já elegeu dois governadores, Anthony Garotinho e Rosinha Matheus, ligados às igrejas neopentecostais e também uma importante liderança política o senador Marcelo Crivella (PL). Na verdade, uma consideravel parte dos políticos evangélicos são oriundos do Rio de Janeiro ou da região sudeste do Brasil, na qual o 2010 23/101 Luiz PRISCO estado se localiza. Desta forma, pode-se dizer que o Rio de Janeiro é hoje o principal reduto evangélico do país. Essa é uma visão mais qualitativa, pois a análise quantitativa baseada nos dados do IBGE mostra que as regiões Norte com 19,8% e o Centro-Oeste com 18,9% são as regiões mais evangélicas do país. O Sudeste aparece logo em seguida com 17,5%, seguido pelo Sul com 15,3% e o Nordeste que possui 10,3% de pessoas que se declaram evangélicas (ANTONIAZZI, 2003). Estes dados apresentados mostram que essa corrente religiosa se consolidou no Brasil – de maneira mais sólida em algumas regiões – e que apresenta uma tendência de crescimento. Dessa forma, era esperado que este grupo social à medida que se tornasse mais forte se transformasse também em um ator político. Um grupo político, é bem verdade, que já nasce forte, pois conta com uma militância formada por aproximadamente 30 milhões de fiéis. Assim, não surpreende o fato que os evangélicos em um percurso realitivamente curto tenha se tornado politicamente relevantes em terras tupiniquins. Esse fenômeno, que ainda está em curso no país, sera o tema abordado do próximo capítulo desta parte. B. Congresso Nacional como a porta de entrada para a política Políticos ligados à Igrejas Evangélicas, em sua maioria na qualidade de fiéis, estão presentes na vida política brasileira desde a ditadura militar, tendo iniciado em meados dos anos 1970 (MACHADO, 2006). No entanto, durante este período da história brasileira, não é possível achar lideranças marcantes ou mesmo um evento chave que possa mostrar a relevância deste grupo político. Em resumo, podemos falar que se tratava de um homens públicos ligados a diversas correntes ideológicas e que tinham como traço comum a mesma prática religiosa. 2010 24/101 Luiz PRISCO Sobre o assunto, julgamos conviniente trabalhar com as argumentações do cientista social Leonildo Silveira Campos, da Universidade Metodista de São Paulo. A idéia é que antes da redemocratização do Brasil não se pode falar de um grupo de políticos evangélicos no Brasil, pois não se desenvolvia entre esse atores sociais uma atividade político-partidária racionalizada. Sobre isso, o referido autor argumenta que: É necessário também registrar que, até a metade dos anos 80, quando se fechou o ciclo militar no Brasil, os “evangélicos”, nome genérico atribuido aos cristãos não católicos, se cadidatavam e eram eleitos com votos evangélicos, mas sem a participação oficial e direta de suas respectivas igrejas e denominações religiosas (CAMPOS, 2005: p. 160)9. Como vimos no capítulo anterior, é neste período histórico que os evangélicos, falamos precisamente da transição dos anos 1980 para os anos 1990, começam a aumentar seu tamanho e a ganhar força como movimento religioso na sociedade brasileira. Essa transformação no quadro sócio-religioso do Brasil, gera conseqüências importantes para os evangélicos. O grupo tenta criar diversas entidades que poderiam agregar todas as correntes e igrejas dentre de apenas uma organização, aproximadamente como a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – entidade que representa os interesses dos católicos. Nesse contexto, foi criada a Associação Evangélica Brasileira (AEVB) que teria como missão defender e coordenar as posições públicas dos pentecostais e neopentecostais do país. Todavia, essa organização não logrou algutinar as diversas ideológias em torno de uma causa comum e, desta forma, abriu espaço para que fossem elaboradas outras associações que padecem dos mesmo problema. Essa ausência de uma entidade centralizadora, aos moldes da CNBB, abriu espaço então para que cada agremiação evangélica desenvolvesse um molde de participação no espaço público. Assim, diversas igrejas optaram por construir candidatos que os representassem nas instituições democraticas do Brasil. É dessa forma, então, que os pentecostais e neopentecostais começam a entrar na vida 9 Tradução livre do autor: Es necessário también registrar que, hasta la mitad de los años 80, cuando se cerró el ciclo militar em Brasil, “los evangélicos”, nombre genérico atribuido a los cristianos no católicos, se candidateaban y eran elegidos com votos evangélicos, pero sin participación oficial y directa de sus respectivas iglesias y denominaciones religiosas. 2010 25/101 Luiz PRISCO pública brasileira de forma diferente a constatada anteriormente. Em outras palavras, podemos dizer que as alterações no campo religioso nacional motivaram os membros dessa corrente religiosa a buscar formas de expressão no espaço público, sobretudo na esfera institucional da democracia, por meio da participação política, dada a ausência de uma organização central capaz de defender seus interesses e ideologias. O cientista social, especializado em estudos da Religião, Leonildo Campos (2005: p. 161) desenvolve uma abordagem coerente sobre o tópico da entrada dos evangélicos na vida pública. Segundo o autor, é no contexto das transformações do campo religioso brasileiro e das alterações na esfera política (fim da ditadura militar, reconquista de liberdades individuais, anistia etc) que ganha corpo a idéia de uma nova forma de agente político evangélico, pautado sobretudo por defender os objetivos de sua própria denominação religiosa dentro do poder legislativo. Em 1985, por meio de uma eleição indireta, o mineiro Tancredo Neves, à época filiado ao MDB, foi eleito presidente do Brasil, porém morreu antes de ser empossado no cargo. Após um acordo político10, o vice-presidente José Sarney assumiu a presidência da República tornando-se, assim, o primeiro presidente civil depois de 25 anos de ditadura militar. Ao assumir o posto político mais alto da nação, Sarney tinha se comprometido a convocar uma Assembléia Constituinte para a elaboração de uma nova Constituição após os “anos de chumbo”. Não é objetivo deste trabalho discutir os meios e arranjos políticos forjados durante esse processo, o resgate histórico foi feito somente para contextualizar o período que é importante para os evangélicos e sua relação com as instituições democráticas da nação. É nas eleições para a Assembléia Constituinte em 1986 que podemos começar a falar de um grupo de políticos evangélicos trabalhando juntos politicamente. É neste momento histórico, de uma simbologia evidente para o Brasil, que os homens públicos pentecostais e neopentecostais começam a ganhar evidência no território nacional. Argumentamos que durante as discussões e votações para a elaboração da 10 Falamos em acordo político porque assim como Tancredo Neves , o à época vice-presidente José Sarney também não havia tomado posse. Esse quadro gerava um problema jurídico no país pois a lei vigente nesse momento não tratava de maneira clara este assunto. Um acordo foi costurado para garanitr a posse de Sarney, pois as lideranças políticas temiam um reavivamento dos militares, dada a dificuldade em se empossar um presidente civil (JAGUARIBE, 1986). 2010 26/101 Luiz PRISCO nova Constituição os evangélicos se aglutinaram em torno dos temas de interesse das igrejas, atuando como um organização parlamentar religiosa. Estudiosos do tema indicam que a atuação deste grupo durante a Assembléia Constituinte é marcada inserção dos valores eclesiais, tais como um intenso fisiologismo - ação política na qual os acordos são tramados de acordo com a prática conhecida como “troca de favores” -, um conservadorismo em relação às novas propostas de Lei e um notório corporativismo entre os evangélicos, sobretudo nos aspectos concernantes às novas legislações religiosas (FRESTON, 1994; MACHADO, 2006). Outro evento da história política recente do Brasil importante para a comunidade política evangélica é a eleição em 1989 de Fernando Collor de Melo para a presidência da República. Primeiro presidente eleito pelo voto direto após a ditadura militar, foi também o primeiro mandatário nacional a sofrer um processo de impetcheman que o obrigou a renunciar ao cargo em outubro de 1992. Nesse momento os neopentecostais e pentecostais ganham notoriedade nacional porque declararam aberta e publicamente o apoio a candidatura Collor, contra o candidato mais à esquerda Luiz Inácio Lula da Silva. Collor de Melo apresentava-se como o homen capaz de acabar com as mazelas que aterrorizavam o país, tais como a corrupção, estagnação economica e, principalmente, a inflação. Este político construi uma base política extremanente heterongênia (por exemplo, contava com o apoio de partidos minúsculos á direita e à esquerda e também de boa parte da mídia), que abarcava os evangélicos – liderados pela IURD. Baseados nesses elementos, acreditamos que a entrada dos evangélicos no cenário político nacional aprece marcado sempre pela presença de um conservadorismo, seja na atuação dentro das instituições ou no contexto da militância política. No entanto, é consenso entre os estudiosos da política evangélica que o principal tronco de ação destes agentes políticos é o Congresso Nacional, em outras parlavras, o poder Legislativo (FRESTON, 1994; MACHADO, 2009; ORO 2001). Segundo dados disponibilizados na página da internet do Departamento de Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), é possível ver que a presença de 2010 27/101 Luiz PRISCO parlamentares evangélicos vai aos poucos se tornando uma constante no Parlamento Brasileiro. A tabela a seguir mostra a presença destes políticos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, a partir das eleições federais de 1994 àquelas de 2006. Tabela 04. Parlamentares evangélicos entre a 50º legislatura e a 53º legislatura Legislatura Parlamentares Evangélicos Número absoluto Proporcionalmente 50º (1995 - 1999) 24 4,04% 51º (1999 - 2003) 44 7,40% 52º (2003 - 2007) 51 8,58% 53º (2007 - 2011) 36 6,06% Fontes: Tabela composta pelo autor e completada com dados do DIAP, Site da Câmara dos Deputados 11 Ao olharmos a tabela apresentada acima é possível perceber que este grupo político tem mantido uma margem de participação na vida legislativa brasileira constante. A tendência de alta indicada entre a 51º e 52º legislaturas parece ter sido intenrropida na eleição seguinte. Tal fenômeno pode estar ligado parcialmente ao chamado “escandâlo do mensalão”: um esquema de pagamento de propinas a diversos parlamentares brasileiros que obteve grande repercussão na mídia. Também foram encontrados políticos evangélicos entre os participantes do “sanguessugas” deputados e senadores acusados de desviarem recursos públicos destinados à compra de ambulâncias e equipamentos para hemofílicos. Entre os deputados, acusados, 11 A estes dados foram somados as informações constantes no livro Política e Religião: a participação dos evangélicos nas eleições de Maria das Dores Campos Machados (2006). Nele, a autora apresenta dados estatísticos sobre os evangélicos eleitos para o legislativo federal que são complementares àqueles disponibilizados pelo DIAP. 2010 28/101 Luiz PRISCO cassados12 e que renunciaram ao mandato, estavam presentes membros do grupo dos evangélicos, como por exemplo a principal liderança do grupo na Câmara dos Deputados, o ex-deputado Carlos Rodrigues, ou o ex-coordenador do grupo, Adelor Vieira. Apesar dessa retração que, como argumentamos anteriormente, pode ter sido circunstâncial, é possível afirmar que este grupo tem mantido uma presença importante no poder legislativo brasileiro. Um dos motivos para a predileção pelo Congresso Nacional pode ser explicada pela própria organização do sistema eleitoral brasileiro. As eleições para congressistas federais são baseadas no modelo de proporcionalidade que – grosso modo – significa que pare ser eleito o político necessita de um número mínimo de votos e todos que ultrapasserem esse limite estarão eleitos13. Dessa maneira, o voto fica mais disperso, pois não é necessário que 51% (leia-se, a maioria) dos eleitores vote em um mesmo candidato, como ocorre nos sistema majoritário. Ao estudar a participação política dos evangélicos, Ari Pedro Oro (2003) e Maria Machado (2006) apontam que existe uma política de influência nas agremiações religiosas. Isto é, os líderes dessas organizações, geralmente materializados na figura do pastor, indicam em quem os fiéis devem votar e, assim, conseguem angarriar votos decisivos nas campanhas políticas. De acordo com os dados mostrados no capítulo anterior, os evangélicos são relativamente numerosos na sociedade brasileira e, portanto, ao utilizar-se da tática descrita acima – conhecida também pelo slogan “irmão vota em irmão” –, pentecostais e neopentecostais conseguem o número de votos necessário para elegerem seus representantes no Congresso Nacional. Leonildo Campos (2005) define esse estrategema como uma ação racional, intencional e planificada para se chegar ao poder político. Neste contexto, acreditamos ser conviniente argumentar que não é objetivo deste trabalho julgar moralmente a utilização da tática “irmão vota em irmão”. Porém, pelo lado político, podemos remarcar sua eficiência – dada a presença 12 Este termo é utilizado para indicar algum político que tenha tido o mandato eleitoral revogado após o devido processo administrativo. 13 Para mais detalhes sobre o sistema político brasileiro, ver AVELAR; CINTRA, 2007. 2010 29/101 Luiz PRISCO evangélica no Parlamento Brasileiro – e, também, defendemos que não se trata de uma estratégia eleitoral éticamente condenável. Afinal, desconhece-se a existência de mecanismos de coerção e punição para os fiéis que não escolherem os cadidato indicados. Ao contrário do que acontecia em outras práticas, como o voto de cabresto. O próprio sistema eleitoral brasileiro garante este ponto, pois é assegurado pela legislação eleitoral que o voto seja secreto e inviolável.Trata-se, então, de uma espécie de publicidade política para buscar – e não garantir por meio de um sistema punitivo – mais votos. É sabido que atualmente a mídia ocupa um espaço de centralidade nas sociedades contemporâneas e os evangélicos, aproveitando-se deste ponto, achara, um outro caminho de acesso à vida política, marcado pela utilização dos meios de comunicação de massa. Dessa forma, os candidatos já são indivíduos conhecidos em suas respectivas comunidades, o que diminui consideravelmente alguns custos de campanha. Esse ponto fica claro quando descobrimos que entre os pentecostais e neopentecostais que exercem ou exerceram profissões ligadas à comunicação, tais como radialista, ou apresentador de TV (RODRIGUES, 2006: p. 68). É claro que este grupo é beneficiado pelo fato de que a IURD é a detentora de uma rede de rádio e TV14. No tocante à organização partidária, os evangélicos estão espalhados pelas mais variadas agramiações políticas. Porém, alguns partidos são marcados por abrigarem homens públicos ligados a essa corrente religiosa. Em primeiro lugar, podemos falar do Partido Liberal (PL), no qual importantes lideranças estão filiadas como o senador Marcelo Crivella e o eputado Lincon Portela. Depois é possível destacar o Partido Progressista (PP) e o Partido Republicano Brasileiro (PRB) que abriga entre outros o atual vice-presidente da República, José Alencar – uma das mais importantes lideranças políticas evangélica do país. É importante lembrar que nenhum dos partidos mencionados se declaram evangélicos – no entanto, é possível encontrar afinidades políticas entre os partidos e seus membros evangélicos. 14 É importante lembrar que o Brasil possui regras específicas para a propaganda eleitoral em cadeias de rádio e TV, pois se tratam de concessões públicas que devem respeitar as regras estabelecidas na legislação eleitoral. 2010 30/101 Luiz PRISCO É importante notar que os parlamentares evangélicos também encontram abrigo nas legendas mais tradicionais do país, tais como o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Democratas (DEM) – ex-Partido da Frente Liberal (PFL). Dois fatores explicativos para este fenômeno são: 1) esses partidos garantem uma projeção nacional maior e oferecem todos os benefícios de uma grande agremiação política (estrutura, dinheiro, projeção, reconhecimento etc); 2) Alguns parlamentares evangélicos podem estar ligados à movimentos políticosideológicos que não são necessáriamente aqueles das igrejas ao qual são vinculados na qualidade de fiéis – caso da Senadora Marina Silva15, que sempre militou por questões agrárias e ambientais. No entanto, esses partidos estão sempre visando voos mais altos, principalmente em direção ao mais alto cargo do executivo federal e essa questão política obriga seus membros a seguirem uma linha política mais ortodoxa que algumas vezes pode ir contra os interesses das igrejas. Como vimos as lideranças e os políticos evangélicos estão espalhados por diversos partidos brasileiros. No entanto, essa pluralidade partidária reúne-se em torno de um grupo maior, apartidário, que se instalou no Congresso Nacional e que assume a função, no campo político, de centralizar as ações dos pentecostais e neopentecostais. Trata-se, portanto, do grupo conhecido como “bancada evangélica federal” - agremiação que réune parlamentares dessa denominação religiosa. 15 À época da eleição, a senadora Marina Silva era filiada ao Partido dos Tabalhadores (PT), porém atualmente ela esta filiada ao Partido Verde (PV). 2010 31/101 Luiz PRISCO C. “Bancada evangélica federal”: um novo ator político no Congresso Nacional Antes de entrarmos na discussão sobre a própria “bancada evangélica federal”, julgamos importante esclarecer alguns conceitos chaves para a compreensão deste sujeito. O que é exatamente uma bancada16? Uma das resposta seria dizer que trata-se do nome informal utilizado para designar grupos de congressistas unidos em torno de uma causa. A denominação formal utilizada para designar esses políticos é a seguinte: Frente Parlamentar. No campo das Ciências Políticas e Sociais, alguns autores trabalham sobre esses grupos e buscam respostas conceituais para esclarecer o que vem a ser uma bancada e ou frente parlamentar. Um exemplo é o pesquisador Luiz Alberto Santos que defendeu uma tese de doutourado na Universidade de Brasília (UnB) sobre as questões relativas a legalização das atividades de lobby. Trata-se de um estudo comparativo sobre os marcos regulatórios dos Estados Unidos e do Brasil concernante à atuação dos grupos de pressão no interior do poder legislativo. Nesse trabalho, o pesquisador proprõe uma definição científica para um desses grupos de pressão que seriam as frentes parlamentares: Conceitualmente, uma frente parlamentar pode ser definida como um grupo de membros dos poderes legislativos federal, estaduais e municipais que têm sua atuação unificada em função de interesses comuns, independentemente do partido político a que pertençam. A essência de sua natureza é atuar como uma forma de complementação ao sistema partidário e de veiculação de interesses que buscam, a partir de coalizões apoiadas por integrantes do Poder Legislativo, assegurar a proeminância e saliência dos temas de usa preferência na agenda legislativa e manter laços mais estraitos com parlamentares, independentes de seus partidos. (Santos, 2008: p. 332). Dessa forma, argumentamos que as bancadas são uma forma de organização 16 Segundo o dicionário online Michaelis, uma bancada pode ser definida como: 1) conjunto de bancos dispostos em certa ordem; 2) banco comprido; 3) conjunto de deputados ou senadores de um Estado ou partido político. 2010 32/101 Luiz PRISCO política nascida no interior do Congresso Nacional para agregar demandas específicas que não encontram abrigo nos interesses dos partidos. Afinal, estes últimos possuem interesses e objetivos mais gerais. Em outras palavras, pode-se afirmar que os partidos estariam voltados para macroquestões políticas – aquelas que envolvem toda a sociedade –, enquanto as frentes parlamentares estariam focadas em microquestões da vida políticas – aquelas voltadas aos interesses de apenas um grupo/setor de toda a sociedade. Assim, fica evidente a noção de complementariedade entre essas dois organismos representativos no interior do Parlamento. No entanto, algumas linhas de pensamento entendem que a existência das frentes parlamentares representa uma deformidade do sistema partidário, pois este útimo não daria conta das demandas sociais existentes. Eldécio Vigna, do Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (INESC), realizou um estudo sobre a frente parlamentar ruralisa que é atualmente a maior e mais influente do Congresso Nacional. O referido autor utiza o exemplo da bancada ruralista para argumentar a noção de complementariedade. Para elucidar este ponto, recorre-se a longa citação do trabalho: Alguns cientistas políticos avaliam que a bancada ruralista e outros grupos de interesse representam uma anomalia do sistema político. Entedemos que, no Brasil, o sistema partidário não agrega interesses. Os partidos, apesar dos seus programas, não definem políticas públicas associadas. Assim, interesses que poderiam ser conjugados eclodem em proposições individuais como propostas estanques. Os partidos políticos, em geral, cumprem uma função bem definida que é a disputa político-eleitoral e a gestão do Estado ou do poder. A bancada ruralista conseguiu ocupar certos nichos do aparelho do Estado, onde exerce o seu poder de mando. O poder, nestes casos, é exercido de forma qualitativamente diferente de um partido político. A ascensão do grupo não visa à oucapação estratégica política do governo, mas principalmente obter mais recursos orçamentários para os setores agrícolas. Este aparelhamento setorial do Estado só ocorre pela fusão da representatividade do partido político e da especificidade setorial da bancada ruralista. E não por sua representatividade própria como força política interna do Congresso Nacional, o que regimentalmente não poderia haver (VIGNA apud SANTOS, 2008: 342). Baseados na discussão anteriormente apresentada, argumentamos que o surgimentos das bancadas representa uma forma de complementar o sistema partidário aplicado ao funcionamento do Congresso Nacional. Esse processo se 2010 33/101 Luiz PRISCO desenvolveu de uma forma que os partidos políticos continuaram com sua zona de atuação bem definida dentro da esfera política institucional, agindo sobretudo nas questões ligadas às eleições e ao geranciamento do aparelho administrativo. Por sua vez, as frentes parlamentares, como aqui defendemos, aparecem como um dos instrumentos de canalização de demandas específicas surgidas em determinados setores da sociedade brasileira. É interessante ressaltar que além dos ruralistas e dos evangélicos, podemos observar outros grupos como exemplos de bancadas ou frentes parlamentares. Para ilustrar, podemos mostrar exemplos como os da bancada ambientalista, da bancada da saúde e também da bancada da bola17 grupos esses que como o próprio nome indica estão ligados à necessidades de representação específicas da sociedade. Na Câmara dos Deputados, existe uma norma legal que regulamenta a criação das frentes parlamentares: trata-se do Ato da Mesa nº. 69, de 10 de novembro de 2005. É por meio deste documento que a Mesa Diretora18 da referida Casa estabelesce as prerrogativas e as regras que disciplinam a existência desses organismos de ação legislativa. É importante mencionar que no Senado Federal não existe uma normatização específica para o tema19. O Ato da Mesa considera uma frente parlamentar a associação suprapartidária de pelo menos un terço de membros do Poder Legislativo destinada a discutir e aprimorar a legislação federal sobre determinado setor da sociedade. O documento garante às frentes parlamentares registradas o direito de utilizar o espaço físico da Câmara para a realização de reuniões, porém essa autorização não pode resultar em despesas para a Casa – como a contratação de pessoal e o fornecimento de passagens aéreas –, e ainda é vedade a interferência no andamento dos trabalhos da Câmara dos Deputados (SANTOS, 17 O grupo é assim conhecido por defender os interesses da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – sobretudo nos episódios da CPI da Nike em 2001. Atualmente, o grupo atende pelo nome oficial de Frente Parlamentar de Apóio ao Esporte. 18 A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados é responsável pela direção dos trabalhos legislativos e dos serviços administrativos da Casa. Compõe-se de uma Presidência - Presidente e dois Vice-Presidentes - e de uma Secretaria, composta por quatro Secretários e quatro Suplentes. Atualmente, o presidente é o deputado Michel Temer (PÇDB/SP), seguido pelo 1º vice-presidente, Marco Maia (PT/RS), e pelo 2º vice-presidente, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM/BA). 19 A inexistência de normatização no Senado Federal reforça a opção deste trabalho de não trabalhar com os senadores evangélicos, já que esses não fariam parte de nenhuma bancada. No entanto, até a execução deste trabalho tramitava na Casa proposições com o intuito de regular esses organismos legislativos. 2010 34/101 Luiz PRISCO 2008: p. 337). Segundo as informações apresentadas, para que se possa registrar uma frente parlamentar é necessário no mínimo 195 congressistas. Como mostramos anteriormente, a bancada evangélica federal nunca obteve este número de parlamentares. Portanto, ela é uma bancada informal, que não conta com os benefícios já citados. Essa especificidade não é uma exclusividade entre os evangélicos, na verdade, como explica Luiz Alberto Santos (2008: p. 338), algumas frentes tradicionais não lograram receber o registro no momento de elaboração do Ato da Mesa, continuando assim na informalidade. Do ponto de vista da ação política, o registro não altera muita coisa porque ele representa somente uma formalidade que garante acesso a salas de reuniões e a monitoração das atividades pelos meios de comunicação da Câmara dos Deputados. Para quem desconhece, estamos falando de uma estrutura que contém uma televisão – que é exibida em sinal aberto e gratuito pelo país –, uma rádio (transmitida em FM e pela internet) e uma site na internet que é também composto por uma agência de notícias. Dessa maneira, as frentes parlementares que logram o registro formal possuem a vantagem de divulgar mais facilmente suas ações, por meio da mídia institucional. Argumentamos que, do ponto de vista da bancada evangélica, a perda de espaço na mídia institucional não se põe como um problema marcante, pois, conforme dissemos anteriormente, este grupo conta com um aparato midiático bem estruturado – cadeias de rádio, TV, jornais impressos e internet – pelo Brasil. No que tange à penetrabilidade, por exemplo, a TV Record possui uma audiência fixa maior que a TV Câmara. Então, os evangélicos mantêm assegurada a divulgação de seus atos. A bancada evangélica federal reúne, então, os deputados ligados às igrejas pentecostais e neopentecostais que atuam na Câmara dos Deputados. Esse grupo, como mostramos anteriormente, tem se consolidado no cenário político nacional. O cientista político Lêoncio Martins Rodrigues (2006: p. 86), da Universidade de São Paulo (USP), argumenta que esse fenômeno está ligado à alteração no plano socioreligioso do Brasil, pois assistimos a uma retração do catolicismo e à uma expansão 2010 35/101 Luiz PRISCO dos pentescostais e neopentecostais. O autor continua argumentando que também é necessário entender que o aumento e a consolidação da bancada evangélica no Congresso Nacional encontra também uma explicação no sistema político-eleitoral brasileiro. Segundo o especialista, é a conjunção entre a “eleitores fiéis”, amplo financiamento, utilização dos meios de comunicação e táticas de mobilização eficazes que garante o sucesso desse grupo na vida institucional brasileira. Não é objetivo deste trabalho entender as razões que proporcionaram a este grupo chegar ao Parlamento. No entanto, acreditamos que essas informações são importantes para que se compreenda a ação política da bancada evangélica – que é sim o foco das investigações aqui realizadas. Portanto, intependentemente dos meios utilizados para se consolidarem como um grupo político, a frente parlamentar evangélica está presente na vida institucional brasileiral. Assim, acreditamps que uma outra informação importante é a compreensão das idéias difundidas pelos deputados penteconstais e neopentescostais, Afinal, uma vez inseridos neste contexto institucional, os representantes dessa organização defendem valores e ideais que se propagam, por exemplo, na Câmara dos Deputados e interferem em votações e elaborações de leis que, em último grau, refletirão em toda a sociedade brasileira. A questão que se impõe, então, é saber quais são em linhas gerais esses valores que servem de norte para a atuação da bancada evangélica na referida Casa. Alguns cientistas sociais buscaram identificar essas caracteristicas principais do pensamento da bancada evangélica federal. Os trabalhos foram executados em épocas diferentes, mas, mesmo assim, mostram resultados razoavelmentes parecidos sobre o tema. Em linhas gerais, podemos falar que os valores defendidos pelas Igrejas são reproduzidos pelos parlamentares que ascendem ao Parlamento, mas também os autores vão falar sobre questões como um conservadorismo social e a presença de uma linha de atuação influenciada pela noção de assistência social – elemento que na cultura brasileiro sempre esteve ligado à atuação das igrejas (católica, espírita, evangélica etc), sem distinção de corrente religiosa. O sociologo da religião Leonildo Campos (2005: p.162) conta que janeiro de 2001 a agremiação religioda Assembléia de Deus criou uma Comissão Política para 2010 36/101 Luiz PRISCO a elaboração de um plano político. Tal documento ficou pronto em 2005 e trazia as diretrizes básicas que as igrejas ligadas a essa corrente deviam seguir ao enveredarem pelo caminho polítco-eleitoral. As orientações, conforme informa o autor, eram as mais váriadas, por exemplo, o projeto estipulava que o candidato eleito deveria contribuir com o referido conselho doando 5% de seu salário. No entanto, o ponto que nos interessa é aquele que mostra os compromissos políticos a serem assumidos pelos candidatos da Assembléia de Deus: posicionar-se intransigentemente contra a prática do aborto; a legalização de unição conjugal entre pessoas do mesmo sexo; corrupção de qualquer natureza, não patriotismo que contraria os legitimos interesses de nossa Pátria (…) defender a Igreja e os evangélicos, prioriatariamente, tendo em mente a discriminação com que sempre foram tratados pelos governantes (…) lutar pela moralização do país, posicionando-se contras os agentes que deterioram os costumes (…) Lutar contra a corrupção na administração pública e em todos os setores. Integrar o bloco evangélico se possível, sem perder de vista a autenticidade de que deve se revestir. Combater a injusta concentração de renda (…) a prática do aborto e da pena de morte (…) tudo que favoreça o homossexualismo (…) apresentar um informativo sobre suas atividades parlamentares e políticas20 (CAMPOS, 2005: p. 163). Os compromissos que os candidatos da Assembléia de Deus devem assumir no momento de validar a candidatura apontam para pontos interessantes. O mais evidente, em nosso entendimento, é a presença das noções de conservadorismo e moralismo. Questões ligadas aos setores mais progressistas da sociedade, tais como o a legalização do aborto e união civil entre pessoas do mesmo sexo são refutados oficialmente por essa agremiação religiosa. Este ponto é também trabalhado por outros autores que se dedicam a estudar a presença dos evangélicos na política. No entanto, antes de desenvolvermos um pouco mais esse conservadorismo presente na bancada evangélica, gostaríamos de trabalhar um outro ponto presente na citação: “Integrar o bloco evangélico se possível, sem perder de vista a autenticidade de que 20 Tradução livre a partir do original: posiciornase intrasigentemente contra la práctica del aborto; la legalización de la unión dicha conyugal de personas del mismo sexo; corrupción de cualquier naturaleza; impatriotismo que contraría los legítimos intereses de nuestra Pátria (…) defender la Iglesia y los evangélicos, prioritariamente, teniendo em mente la discriminación com que siempre fueron tratados por los gobernantes (…) luchar por la moralización del país, posicionándose contra los agentes del deterioro de las costumbres (…) Luchar contra la corrupción em la administración pública em todos los sectores. Integrar el bloque evangélico si es possible, sin perder de vista la autenticidad de la que debe revestirse. Combatir la injusta concentración de rentas (…) la práctica del aborto y de la pena de muerte (…) todo lo que favorezca el homosexualismo (…) presentar informe de sus actividades parlamentares y políticas (…). 2010 37/101 Luiz PRISCO deve se revestir”. O ponto destacado no parágrafo anterior mostra que existe a mentalidade entre as diferentes correntes religiosas que compõem a bancada evangélica federal de que é preciso se unir em torno desta unidade centralizadora. Em outras palavras, argumentamos que a frente paralementar evangélica obteve o sucesso atual, entre outras razões, porque é capaz de aglutinar os interesses políticos das váriadas agremiações evangélicas que chegam à vida pública. Dessa forma, as próprias igrejas pentecostais e neopentecostais orientam seus candidatos – conforme mostra o documento citado anteriormente – a integrarem esse grupo legislativo, pois, assim, eles podem manter a força desse grupo dentro do Congresso Nacional. Após essa pequena digressão, voltamos à questão do moralismo. De acordo com o documento o combate a corrupção é um dos elementos mais importantes na atuação de um político evangélico. Tal fato é contraditório com os recentes escandâlos de corrupção no Brasil. Por exemplo, no começo de 2010 toda a adminstração do governo do Distrito Federal (região administrativa de Brasília) caiu por conta de crimes contra a administração pública. Diversas imagens veiculadas pelos meios de comunicação mostraram homens públicos portando dinheiro e negociando propinas. Um evento que ficou marcado foi uma oração coordenada por políticos evangélicos para agradecer o sucesso da operação de recolhimento de dinheiro público fruto da corrupção. O episódio ficou conhecido como “Oração da Propina”. Sobre o conservadorismo desse grupo, Leòncio Martins Rodrigues (2006: p. 84) diz que a presença dos evangélicos na vida política brasileira tem sido avaliada como um reforço das posições conservadoras, sobretudo em áreas da vida social, como o direito ao aborto, a liberdade sexual, o direito dos gays, feminismo, clonagem, uso de células-tronco e outros experimentos genéticos. O autor mostra também que essas questões levaram alguns especialitas a defender a existência de um movimento conhecido como a “a nova direita cristã”. O sociologoFlávio Pierruci (apud RODRIGUES. 2006: p. 84) afirma que “essa direita religiosa, bíblicofundamentalista e moralista, tem a vantagem de fazer contatos mais imediatos, mais 2010 38/101 Luiz PRISCO profundos e mais persuasivos com as massas inseguras e assustadas do que outras linhas de direita mais secularizadas”. Em trabalho realizado como deputados evangélicos do Rio de Janeiro, Maria das Dores Campos Machado (2006) traz à tona um outro elemento sobre os valores da bancada evangélica: a assistência social. Ou seja, o caráter de ajudar os mais pobres e necessitados. Julgamos importante mencionar que esta questão também se encontra retratada no documento da Assembléia de Deus. A autora realizou entrevistas com parlamentares evangélicos e diversos entre eles atribui à assistência social um lugar de destaque. Por exemplo o vereador fluminense Aloísio Freitas (apud MACHADO, 2006: p. 43) afirma que: “não tenha dúvida: o que garantiu minha reeleição foi o trabalho assistencial. Se tivesse ficado discutindo em plenário, certamente não teria o número de votos que tive”. A partir da leitura desses depoimentos, podemos dizer que o assistencialismo é um elemento chave para a compreensão dos valores políticos evangélicos no Brasil. Na verdade, é preciso falar que o assistencialismo é uma prática enraizada na vida política brasileira. De fato, é possível perceber este tipo de ação na vida política brasileira há muito tempo, praticamente desde o nascimento do sistema republicano (em 1889) em terras tupiniquins. Os exemplos são variados, um dos mais conhecidos é a prática do pão e leite que trata de oferecer alimentos para obter votos em eleições, essas ações, de modo geral ligadas às correntes mais conservadoras da política nacional, abrigam-se sobre o manto de “políticas sociais”. Nos estudos sobre a bancada evangélica federal também encontramos um outro compontente de análise. Trata-se da interpretação desta organização legislatica como uma grupo de pressão, ou seja, um aglutinador de parlamentares que juntos exerciriam pressão sobre o sistema político, sempre em nome dos valores e ideais defendidos – e apresentados anteriormente – pelas igrejas de orientação pentecostal e neopentecostal. Um dos defensores dessa concepção é Leonildo Campos (2005: p. 174) que argumenta ao defenfer estes interesses “religiosos”, os parlamentares evangélicos posicionam-se como um “grupo parlamentar de pressão”. Em seguida, Campos (2005: p. 181) defende que: “uma análise mais profunda do discurso 2010 39/101 Luiz PRISCO políticos das instituições religiosas (...) nos mostra que estamos diante de uma retórica capaz de provocar o surgimento de um processo de idealização do político em serviço de lobbies das igrejas”21. No entanto, argumentamos que não é possível sintetizar a atuação da bancada evangélica federal somente como um grupo de pressão parlamentar, pois entendemos que essa seria uma visão reducionista. É verdade que em algumas situações, os parlamentares evangélicos podem se comportar dessa maneira, sobretudo nas negociações com o governo federal sobre temas de revisão dos direitos e obrigações das entidades religiosas (MARIANO, 2006). Porém, acreditamos que atua de outra maneira, propondo projetos de lei de temática variada que, em alguma medida, refletem os valores das igrejas evangélicas. E, como já se sabe, é o objetivo deste trabalho entender este preocesso que se passa no poder legislativo brasileiro. Outro elemento que reforça a crítica à redução da bancada evangélica federal a um grupo de pressão é que nem sempre o grupo atua de maneira homogênea. Ari Pedro Oro (2003: p.55) ao estudar a organização política da IURD mostra que q frente parlamentar evangélica não constitui um grupo coeso, na verdade, segundo o autor, são raros os momentos (votações e pronunciamentos) em que se pode perceber uma unidade no pensamento dos políticos pentecostais e neopentecostais. Essa integração apareceria somente em assuntos como o aborto e o casamento gay. Essa pluralidade estaria, talvez, associada à própria pluralidade de composição deste grupo – tema que sera objeto de análise na segunda parte desta monografia. Assim, entendemos que a bancada evangélica é um organismo parlamentar complexo, que não poderia ser reduzido a posição de um grupo de pressão religiosa – mesmo que reconheçamos que esses políticos desempenham esse papel algumas vezes. Antes de terminar este capítulo, julgamos interessante falar sobre a questão da laicidade do estado e da existência de uma bancada religiosa dentro do poder legislativo. O Estado brasileiro é laico, ou seja, não oferece privilégios, da mesma forma que não promove empecilhos, à nenhuma prática religiosa. No entanto, 21 Tradução livre do original: Un análises más profundo del discurso político de las instituiciones religiosas (…) nos muestra que estamos delante de une retórica capaz de provocar el surgimento de un proceso de idealización de lo político al servicio de lobbies de las iglesias. 2010 40/101 Luiz PRISCO existem estudos que manifestam preocupações contra a presença de correntes clara e oficialmente ligadas a igrejas participarem da vida pública. Sobre este ponto, entendemos que a existência da frente parlamentar evangélica representa somente o pluralismo religioso da sociedade brasileira. Explicamo-nos, se um grupo começa a se destacar na sociedade é normal que chegue ao poder político. Tal fenômeno representa uma pluralização de idéias dentro do Congresso Nacional, pois este espaço deve representar a sociedade como um todo. Sobre o tema, consideramos válido recorrer a longa citação da cientista social Maria das Dores Campos Machados: O caminho para a comprrensão do estatuto da religião no mundo moderno seria abandonar o viés ideológico que caracteriza como ilegítima toda e qualquer atuação pública das religiões e verificar as diferentes possibilidades de articulação dos grupos confessionais com a sociedade política. Num primeiro cenário, poder-se-ia pensar a entrada das religiões na esfera pública para proteger não só sua própria liberdade religiosa, mas todas as liberdades e direitos modernos e o próprio direito de existência de uma sociedade civil e democrática. E nesse caso a religião estaria ajudando a constituir e/ou manter a ordem social e política liberal (MACHADO, 2006: p. 19). Assim, entedemos que a existência desses grupos no parlamento não ameaça a laicidade do Estado, mas, de outra maneira, funcionam como um sistema representativo. Garantindo, então, que todos os setores da sociedade sejam representados no Congresso Nacional. Da mesma maneira que evangélicos servem de freio para o católicos, esses últimos freiam os ateus consequentemente, atingindo uma espécie de equilíbrio nas ações políticas. 2010 41/101 Luiz PRISCO II. A bancada na vida política: composição e ação política dos protestantes no Congresso Nacional A. Uma bancada plural? Um perfil socioeconomico, político e religioso da bancada evangélica federal Para montar o perfil da bancada evangélica federal, decidimos trabalhar em três grandes partes: socioeconomico, político e religioso. Os dados utilizados para montar este panôrama foram coletados juntos aos sites da Câmara dos Deputados – que disponibiliza um resuno biográfico de cada parlamentar – e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que possui um banco de dados com os registros de todas as candidaturas homologadas das eleições federais de 2006. Quando falamos de um perfil socioeconomico, a idéia é trabalhar com elementos que mostrem um pouco de que quadro social e economico vem esses deputados. Trabalhamos com as seguintes váriaves: região, estado, idade, gênero, profissão e nível de escolaridade. Acreditamos que desta forma podemos encontrar informações relevantes para a compreensão da ação política desta bancada e, também, traçar um quadro descritivo deste grupo, já que essas informações, apesar de disponíveis na internet, não se encontram agrupadas e tratadas na bibliografia da Ciência Política. O perfil político consiste em uma categorização dos partidos aos quais estes congressistas estão filiados. Para desta maneira, tentarmos descobrir qual é a ideologia política dominante na bancada evangélica federal. Este ponto nos 2010 42/101 Luiz PRISCO possibilitará indicar se a ação política deste grupo parlamentar está ligada a ideologia dominante deste grupo. Dada a diversidade partidaria existente no Brasil atualmente – segundo o TSE são 27 as agreçiações políticas devidamente registradas no país –, utilisamos a distinção de esquerda, centro e direita proposta pelo ciêntista político Leôncio Martins Rodrigues (2006: p. 30), no livro Mudanças na classe política brasileira – no qual ele discute as alterações socioeconomicas dos deputados federais. Desta maneira, a definição ideológica dos partidos segue o modelo proposto, pois acreditamos que este representa de maneira adequada as atuais tendências político-ideológicas da cida política brasileira. Como o objeto deste trabalho é um grupo político religioso, decidimos integrar neste quadro descritivo um perfil religioso. Ou seja, informamos a qual igreja os parlamentares são ligados e também qual é a agremiação religiosa de maior presença na bancada evangélica federal. Esses dados, além de fornecerem informações importantes do ponto de vista descritivo, podem ajudar a descobrir quais são os principais elementos religiosos a influenciar a atuação desta frente parlamentar. A tabela abaixo mostra os dados coletados sobre o perfil socioeconômico dos parlamentares integrantes da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura. Essas informações serão discutidas com maior profundidade nos parágrafos seguintes deste trabalho. 2010 43/101 Luiz PRISCO Tabela 05 – Perfil socioeconômico da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura Deputa Estado Zito Arolde de Oliveira Antônio Bulhões Bispo Rodovalho Carlos Wilson Iris Rio de Adilson Profissão Sudeste 35 Feminino Advogada Janeiro Rio de Escolaridade São Sudeste 72 Masculino Engenheiro Federal Minas Sudeste 41 Masculino Bispo Centro - 54 Masculino Bispo Oeste Sudeste Superior Completo 53 Masculino Advogado Superior Completo Centro - 66 Feminino Empresária Oeste Rio de Médio Completo Gerais Goiás Superior Completo Paulo Distrito Superior Completo Janeiro Rezende Dr. Gênero de dos Andréia Ida Região Sudeste Médio Completo 59 Masculino Vereador Janeiro Superior Completo Soares Dr. Antônio Mato Grosso Centro - 60 Masculino Médico Oeste Superior Completo Cruz Dr. Nechar 2010 São Paulo Sudeste 58 Masculino Médico Superior Completo 44/101 Luiz PRISCO Edinho Montemor São 53 Masculino Deputado Paulo Eduardo Cunha Sudeste Completo Rio de Sudeste 51 Masculino Economista Janeiro Filipe Rio Sudeste 26 Masculino Empresário Janeiro Nordest 48 Masculino Bispo e George Hilton Minas Machado Minas Sudeste 38 Masculino Deputado Acre Sudeste 48 Masculino Deputado Superior Completo Norte 45 Masculino Deputado e Afonso Superior Completo João Goiás Campos Centro - 47 Masculino Delegado Oeste Júlio Redecker Médio Completo Gerais Henriqu Superior Completo Gerais Gilmar Superior Completo Ceára Bezerra Superior Completo Rio de Flávio Superior Rio 22 Sul Superior Completo 51 Masculino Advogado Grande do Superior Completo Sul Jurandyr Loureiro Léo Vivas Espírit Sudeste 69 Masculino Empresário o Santo Rio de Fundamental Incompleto Sudeste 52 Masculino Janeiro Bispo Médio Completo 22 O parlementar faleceu em 2007, em um acidente aéreo. 2010 45/101 Luiz PRISCO Leonard o Quintão Minas Sudeste Superior 64 Masculino Bispo Fundamental Incompleto Rondô Norte 42 Masculino nia Funcionário Público Espírit Sudeste 43 Masculino Deputado o Santo Onyx Lorenzoni Empresário Gerais Neucim ar Fraga Masculino Completo Minas Natan Donadon 57 Gerais Mário de Oliveira Sudeste Médio Completo Médio Completo Rio Sul 55 Masculino Veterinário Grande do Superior Completo Sul Pastor Lincon Minas Sudeste 56 Masculino Deputado Gerais Superior Completo Portela Pastor Manoel Rio de Sudeste 77 Masculino Advogado Janeiro Superior Completo Ferreira Paulo Roberto Rio Sul 48 Masculino Professor Grande do Superior Completo Sul Silas Câmara Takaya Amazô Norte 47 Masculino Deputado nas Superior Completo Paraná Sul 61 Masculino Deputado ma Médio Completo Walter Pinheiro 2010 Bahia Nordest e 50 Masculino Deputado Superior Completo 46/101 Luiz PRISCO Zequinh Pará Norte 50 Masculino Bancário a Marinho Superior Completo Fonte: Câmara dos Deputados e Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Este panorâma mais geral do perfil socioeconomico da bancada evangélica federal nos permite de analisar algumas questões em separado. Por exemplo, a questão da localização geográfica desse grupo. O primeiro apontamento é que todas as cincos regiões brasilerias (Norte, Sul, Cento-Oeste, Sudeste e Nordeste) estão representadas dentro deste grupo parlamentar. No entanto, é evidente a maior presença de congressistas oriundos da região sudeste. O gráfico seguinte mostra a distribuição proporcional de parlamentares evengélicos entre as regiões brasileiras. Gráfico I - Distribuição proporcional de parlamentares evengélicos entre as regiões brasileiras 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Sul Norte Nordeste Sudeste Centro – Oeste Fonte: Câmara dos Deputados e Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 2010 47/101 Luiz PRISCO Como mostra o gráfico, a região sudeste é disparada aquela que possui o maior número de parlamentares evangélicos. Este dado não chega a ser surpreendente, pois como mostramos anteriormente os estados que compõem essa região do país possuem um elevado número de seguidores dessa corrente religiosa. A predominância da região sudeste também está ligada ao fato de que os dois maiores colégios eleitorais brasileiros, São Paulo e Minas Gerais, pertecem a esta parte do Brasil e, assim, são mais cadeiras disponíveis na Câmara dos Deputados. A sociolóloga da Universidade de Brasília (UnB) Débora Messenberg (2007) realizou um estudo sobre a elite parlamentar brasileira de 1989 a 2004. A autora também descobre que entre este grupo – aqueles que ocupam cargos de liderança, presidência etc – a região sudeste também é dominante. Dessa forma, a pesquisadora argumenta que um dos fatores explicativos é que se trata da regição mais rica do país, na qual saem diversos atores políticos relevantes. Assim, acreditamos que os dados da bancada evangélica apenas representam em um grupo menor uma situação geral do Congresso Nacional. Dentro da região sudeste, o estado com maior representação na bancada evangélica é o Rio de Janeiro com 7 parlamentares, seguido de Minas Gerais que conta com 6 representantes. O resultado apenas confirma o que os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou: que o Rio de Janeiro é a unidade da federação com a maior população evangélica. A tabela abaixo traz a representatividade de cada estado da região sudeste na bancada evangélica federal da 53º legislatura: 2010 48/101 Luiz PRISCO Tabela 06 - Representatividade de cada estado da região sudeste na bancada evangélica federal da 53º legislatura Estado Número Absoluto Número proporcional Rio de Janeiro 7 21,87% Minas Gerais 6 18,75% São Paulo 3 9,37% Espírito Santo 2 6,25% Fonte: Câmara dos Deputados e Tribunal Superior Eleitoral A pesquisadora Maria das Dores Machado apreseta uma interessante explicação para a predominância do estado do Rio de Janeiro na bancada evangélica federal. Segundo a autora, é a combinação de uma suposta decadência dos atores políticos tradicionais com o constate crescimento da doutrina evangélica na região qie proporciona esse cenário. Para tornar este ponto mais claro, recorremos a citação da idéia que está no texto original: (…) o sucesso dos novos sujeitos políticos resulta, por um lado, da crise da credibilidade da elite e das instituições políticas e, por outro, da inserção eclisial desses sujeitos e do apoio das instâncias eclesiásticas, particularmente da IURD. A maioria dos evangélicos eleitos pertence ao corpo sacerdotal dessa Igreja, exercia seu primeiro mandato e tinha consciência de que a campanha no âmbito dos templos foi fundamental para o sucesso nas urnas (MACHADO, 2006: p. 45). Assim, fica claro que a predominância da corrente evangélica no Rio de Janeiro exerce uma influência na composição da bancada evangélica federal. Influência essa que é representada diretamente pela “dominação carioca”, por um lado, e pela posição de maioria da região sudeste, de outro. No entanto, não podemos desconciderar a grande presença de deputados oriundos de Minas Gerais – assim, 2010 49/101 Luiz PRISCO podemos lembrar que o atual vice-presidente da República brasileira é o mineiro José Alencar, antigo senador que sempre esteve ligado aos evangélicos e aos empresários. Entre os dados sociais, chama atenção a idade média dos parlamentares integrantes da bancada evangélica federal. Trata-se de 52 anos de idade, uma média razoávelmente elevada quando falamos da Câmara dos Deputados. O congressista mais jovem deste grupo é Filipe Rio que tem 26 anos, no entanto o mais velho é o deputado carioca Pastor Manoel Ferreira que até o final da realização desta pesquisa tinha 77 anos de idade. É preciso marcar que somente Filipe Rio tem menos de 30 anos, o que mostra que não se trata de uma bancada jovem. Outro dado que chama atenção é o resultado concernante à variável de pesquisa gênero. Em número absolutos, encontramos somente duas deputadas mulheres (precisamente a deputada Iris Rezende e Andreia Zito), enquanto os homens chegam a marca de 30, em um universo total de 32. Em números proporcionais, o dado é também impressionante: significa dizer que as mulheres representam 6,25%, enquanto os homens representam uma maioria esmagadora de 93,75%. Uma das explicações encontradas para essq distorção é que a grande parte das lideranças evangélicas brasileiras são do sexo masculino (MACHADO, 2006). O campo escolaridade mostra que a maioria dos parlamentares que compõem a bancada evangélica federal possui completo o nível superior de educação. De acordo com o parâmetro brasileiro, isso significa que eles cursaram e terminaram a universidade. Os dados apontam que 71,87% dos deputados concluiram o ensino universitário, enquanto 21,87% terminaram os estudos no ensino médio23. No entanto, 6,25% desses políticos – o que em números absolutos significa dizer dois em um universo de 32 – não concluíram nem mesmo a educação básica, conhecida no Brasil pelo nome de Ensino Fundamental (aproximadamente nove anos de estudo, nos quais está compreendida a alfabetização), como o capixaba Jurandyr Loureiro e do mineiro Mário de Oliveira. 23 Para exemplificar e colocar em equivalência com o sistema francês, podemos dizer que o ensino médio é o equivalente ao Lycée. Pois é o nível de escolaridade a ser comprovado que permite ao estudante prestar o concurso para ingressar em uma universidade. 2010 50/101 Luiz PRISCO Quando se trata do panorâma profissional, o quadro mostrado é bem variado. Com o objetivo de tornar mais claro esse perfil, reagrupamos as profissiões indicadas pelos candidatos em categorias-chaves. São elas: profissões de origem religiosa – bispos, ministros de igrejas etc –, origem política – tais como deputados, vereadores etc –, profissões liberais – médicos, advogados etc – e por fim uma categoria chamada outros, a qual abarca os cargos que não se encaixam nas categorias já citadas, por exemplo a gunção de funcionário público. O gráfico a seguir mostra a divisão entre essas categorias dos resultados da variável profissão: Gráfico II - Origem profissional dos parlamentares da bancada evangélica federal 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Religiosa Política Liberal Outros Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Como mostra o gráfico, os profissionais liberais compõem a maioria da bancada evangélica com 40,62%, seguidos pelos políticos – aqueles que declararam ao TSE que a última ocupação foi um cargo eletivo – com 31,25%. Já os religiosos representam 15,62%. Os dados aqui apresentados são baseados nas declarações de campanha dos políticos apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que pode gerar algumas distorções como o fato do deputado que se intitula Pastor 2010 51/101 Luiz PRISCO Adilson Cruz declarar “vereador” como profissão e não pastor ou bispo evangélico. A razoável presença de deputados que se declararam um cargo público como ocupação remete a discussão proposta por Max Weber (2000), no ensaio Ciência e Política: duas vocações, sobre os políticos profissionais. Ou seja, os agentes sociais que assumem a política como uma profissão, como a ocupação que garante o “ganha pão” todo mês. Diferentemente, daqueles que a praticam por vocação ou somente como um complemento a uma outra atividade. No caso da bancada evangélica são 10 deputado, proporcionalmente 31,25%, que podem ser qualificados como políticos profissionais – passando por cargos como deputados e vereadores. O perfil político da bancada evangélica federal é condicionado por três varíaveis: os partidos políticos, consequentemente a ideologia política e o grau do mandato. A segunda variável é condicionada à primeira. Como já explicitamos, utilizaremos a classificação ideológica definida por Leôncio Martins Rodrigues (2006), pois, entre outras razões, essa categorização abarca as alterações partidárias que aconteceram no país – sendo uma das mais importantes a transformação do Partido da Frente Liberal em Democratas. Uma outra opção metodólogica escolhida para essa pesquisa é a categorização a partir dos partidos ao qual os políticos pertenciam no momento das eleições de 2006. Dessa forma, identificaremos o principal partido político dentro da bancada evangélica federal, assim como a principal linha ideológica deste grupo parlamentar. A tabela abaixo mostra a distribuição dos deputados entre os partidos políticos e a categorização de acordo com a linha política. Tabela 07 – Perfil político ideológico da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura 2010 Deputados Partido Ideologia Andréia Zito PSDB Centro Grau do Mandato Novo 52/101 Luiz PRISCO Arolde de DEM Direita Reeleito PMDB Centro Novo DEM Direita Novo Carlos Wilson PTC Direita Reeleito Iris Rezende PMDB Centro Novo Dr. Adilson PL Direita Novo Antônio PP Direita Reeleito Dr. Nechar PV Esquerda Novo Edinho PSB Esquerda Reeleito PMDB Centro Reeleito Filipe Rio PSC Direita Novo Flávio PMDB Centro Novo George Hilton PP Direita Novo Gilmar PT Esquerda Reeleito Oliveira Antônio Bulhões Bispo Rodovalho Soares Dr. Cruz Montemor Eduardo Cunha Bezerra Machado 2010 53/101 Luiz PRISCO Henrique PT Esquerda Reeleito João Campos PSDB Centro Reeleito Júlio PSDB Centro Reeleito PSC Direita Novo Léo Vivas PRB Direita Novo Leonardo PMDB Centro Novo PSC Direita Novo PMDB Centro Reeleito PL Direita Reeleito DEM Direita Reeleito PL Direita Reeleito PTB Direita Novo PTB Direita Novo Afonso Redecker Jurandyr Loureiro Quintão Mário de Oliveira Natan Donadon Neucimar Fraga Onyx Lorenzoni Pastor Lincon Portela Pastor Manoel Ferreira Paulo Roberto 2010 54/101 Luiz PRISCO Silas Câmara PTB Direita Reeleito Takayama PMDB Centro Reeleito Walter PT Esquerda Reeleito PSC Direita Reeleito Pinheiro Zequinha Marinho Fonte: Câmara dos Deputados e Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O principal partido da bancada evangélica é o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), com sete cadeiras. O resultado não é surpreendente, já que é esta agremiação política que domina também o cenário político parlamentar representando a maior bancada nas duas casas: Câmara dos Deputados e Senado Federal. O segundo partido mais importante da bancada evangélica é uma agremiação política religiosa chamada Partido Social Cristão (PSC) – com quatro deputados. No site do partido é possível encontrar a seguinte definição: “o Partido Social Cristão, embalado pelos ventos suaves e harmônicos da Doutrina Social Cristã, ou seja, inspirado nos valores e propósitos do Cristianismo, em busca de uma sociedade justa, solidária e fraterna24”. Outros partidos importantes do cenário político nacional também encontram representação na bancada evangélica federal. Como por exemplo, o Partido dos Trabalhadores (PT) – que é o partido do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva –, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) – agrameiação do expresidente da República Fernando Henrique Cardoso e atualmente o principal partido de oposição brasileiro –, e o Democratas (antido PFL) que é um dos partidos mais tradicionais do país. Julgamos importante citar também algumas agremiações que são reconhecidas por abrigar evangélicos, sobretudo no nível regional, como o Partido Republicano Brasileiro (PRB), o Partido Liberal (PL) e o Partido Progressista (PP). No total, são 12 partidos políticos dentro de uma mesma bancada. Isso parece indicar 24 http://www.psc.org.br/partido Acessado 04 maio 2010. 2010 55/101 Luiz PRISCO que, mesmo que possamos encontrar algumas linhas comuns, trata-se de um grupo político plural. A pluralidade partidária pode também indicar uma complexificidade política por parte da bancada evangélica federal. O antropólogo Ari Pedro Oro (2003: p. 54) desenvolve este raciocínio, segundo o autor, o fato de um grupo contar com diversos partidos políticos revela um modo sofisticado de fazer política, pois, dessa maneira, se os grupos políticos possuem indivíduos distribuídos em diferentes agremiações partidárias, torna-se mais fácil conseguir alianças e poder de troca em barganhas políticas dentro do Congresso Nacional. No quadro ideólogico, a bancada evangélica é dominada pela direta, prova disso é que 53,12% dos partidos representam esta corrente ideológica. Isso quer dizer que temos uma maioria absoluta à direita dentro deste grupo parlamentar. O centro ocupa 31,25% das cadeiras da bancada, uma posição de destaque também. No entanto, a esquerda representa apenas 15,62% das posições ideológicas do grupo. Em núneros absolutos, podemos falar que a representatividade da direita também chama a atenção: trata-se de 17 cadeiras sobre um total de 32. O centro tem a seguinte representativadade 10 sobre 32, enquanto a esquerda possui cinco sobre 32. Destas cinco cadeiras, três são do PT – isso pode ser explicado pelo fato de que é hoje este o partido que ocupa a presidência e representa um dos mais importantes grupos políticos de esquerda no Brasil. Completam a esquerda evangélica, o Partido Socialista Brasileria e o Partido Verde – que mesmo identificado com a esquerda, ocupa atualmente um papel de oposição ao governo Lula. No contexto da direita, o destaque fica para o PSC que é o principal partido da direita evangélica. O gráfico abaixo mostra a faixa ocupada por cada uma dessas correntes ideológicas: 2010 56/101 Luiz PRISCO Gráfico III - Divisão ideológica da bancada evangélica federal Direita Centro Esquerda Fonte: Câmara dos Deputados e Rodrigues (2006: p.30). Como o gráfico acima mostra, podemos afirmar que a bancada evangélica federal é uma bancada de direita, também marcada por uma razoável influência do centro. No entanto, por motivos de contextualização, consideramos importante mencionar que diversos dos partidos identificados com a direita, tais como o PP, PSC, PTB e PRB, fazem parte da base aliada do governo Lula. Mas, mesmo assim, exercem um influência ideológica de direita dentro da bancada evangélica. Esse caráter mais á direita dos políticos evangélicos pode encontrar representação na ação política desse grupo; Sobre o que concerne ao grau do mandato, é possível perceber um alto indíce de renovação na bancada – 46,87% são deputados que estão no primeiro mandato. Em números absolutos, estamos falando de 15 políticos sobre 32. Mesmo que não represente a maioria, é um dado que chama atenção. Esse fenômeno pode ser explicado pela forte presença de deputados em escandâlos de corrupção acontecidos durante a 52º legislatura, de tal maneira que alguns deputados evangélicos ficaram em uma situação embarassosa perante ao eleitorado brasileiro. Outro fator 2010 57/101 Luiz PRISCO explicativo importante é que existe, como mostra Rodrigues (2006), um processo de transformação natural nas bancadas, um processo normal dentro das democracias de renovação dos grupos parlamentares. Dessa forma, temos como um percentual de continuidade de 53,12%, inclusive com parlamentares que partem para o terceiro mandato consecutivo. Em números aboslutos, estamos falando de 17 políticos sobre um total de 32. Para apresentar o perfil relegiosos dos deputados da bancada evangélica federal, vamos trabalhar com as Igrejas a que cada político está vinculado. Dessa forma, podemos descobrir qual é a principal agremiação religiosa neste grupo parlamentar. A tabela abaixo mostra qual é o grupo religioso de cada deputado da bancada evangélica federal. Tabela 08 – Perfil religioso da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura 2010 Deputados Igreja Andréia Zito Maranata Arolde de Oliveira Batista Antônio Bulhões IURD Bispo Rodovalho Sara Nossa Terra Carlos Wilson Maranata Iris Rezende Renascendo em Cristo Dr. Adilson Soares Batista Dr. Antônio Cruz Assembléia de Deus Dr. Nechar Assembléia de Deus 58/101 Luiz PRISCO 2010 Edinho Montemor Batista Eduardo Cunha Sara Nossa Terra Filipe Rio Assembléia de Deus Flávio Bezerra IURD George Hilton IURD Gilmar Machado Batista Henrique Afonso Presbiteriano João Campos Assembléia de Deus Júlio Redecker Luterana Jurandyr Loureiro Assembléia de Deus Léo Vivas IURD Leonardo Quintão Presbiteriano Mário de Oliveira Evangelho Quandrangular Natan Donadon Batista Neucimar Fraga Batista Onyx Lorenzoni Luterano Pastor Lincon Portela Batista Pastor Manoel Ferreira Assembléia de Deus Paulo Roberto IURD 59/101 Luiz PRISCO Silas Câmara Assembléia de Deus Takayama Assembléia de Deus Walter Pinheiro Batista Zequinha Marinho Assembléia de Deus Fonte: Departamente Intersindical de Assessoria Parlamentar Três agremiações religiosas ocupam lugar de destaque na bancada evangélica, são elas a Assembléia de Deus, a Igreja Batista e a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). As três juntas são responsáveil por 68,75% das cadeiras deste grupo parlamentar, em números absolutos estamos falando de 22 deputados sobre um total de 32. Para que fique mais claro a predominância dessas igrejas, podemos mostrar a divisão específica entre essas agremiações religiosas. A tabela abaixo mostra os dados de cada uma dessas igrejas. Tabela 09 – Principais igrejas da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura Igrejas Número de Deputados Número 2010 Número Absoluto Proporcional Assembléia de Deus 9 28,12% Batista 8 25,00% IURD 5 15,62% 60/101 Luiz PRISCO Outras 10 31,25% Total 32 100,00% Fonte: Departamente Intersindical de Assessoria Parlamentar Como podemos ver a Assembléia de Deus ocupa uma posição dominante dentro da bancada evangélica, seguida de perto pela Igreja Batista e pela IURD. É interessante notar que todas essas agremiações pertencem as correntes pentecostais e neopentecostais, que são atualmente as correntes majoritárias dentro do espectro protestante brasileiro. Porém, também podemos encontrar correntes do protestantismo tradicional na bancada evangélica tradicional, notadamente, os presbiterianos e luteranos. No entanto, estes gruipos religiosos ocupam uma posição minoritária no parlamento, assim como na sociedade brasileira (PIERUCCI, 2004). O gráfico abaixo mostra a diferença entre os protestantes tradicionais e os pentecostais e neopentecostais dentro da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura. É interessante notar que os últimos possuem de fato uma maioria significativa em relação aos primeiros. Gráfico IV - Correntes protestantes na bancada evangélica federal 100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Pentecostais e neopentecostais Protestantes tradicionais Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar 2010 61/101 Luiz PRISCO Como podemos ver pelo gráfico, é uma diferença significatica entre os dois grupos. Precisamente, pentecostais e neopentecostais representam 87,5% - em números absolutos isso quer dizer 28 sobre 32 – enquanto os prostestantes tradicionais represental 12,5% - ou seja, 4 sobre 32. Esses dados permitem afirmar que a bancada evangélica federal é predominantemente pentecostal e neopentecostal, pois cabe a essas correntes religiosas a posição majoritária no seio deste grupo político. Em resumo, podemos dizer que trata-se de um grupo plural socialmente e políticamente, mas mantém um linha comum bastate expressa no que tange aos contornos religiosos. Socialmente, diriamos que é uma bancada de média idade, dominada por profissionais liberais, com ensino superior completo oriundos da região sudeste do Brasil. Politicamente, encontramos um contorno ideológico de direita, mas com presença de elementos do centro e da esquerda, com uma composição partidária composta de mais de 12 partidos – com destaque para o PMDB e o religioso PSC. De tal maneira, que apesar de algumas linhas gerais, apresenta uma pluralidade em sua composição. Essa discussão será útil para a compreensão do próximo capítulo deste trabalho, pois vamos mostrar um panoramâma estatístico dos projetos de Lei apresentados por este grupo, de acordo com uma divisão temática pré-estabelecida. Desta maneira, acreditamos que será possível observar se essa composição plural exerce alguma influência na ação política da bancada evangélica federal da 53º legislatura. B. Projetos de Lei como intrumento de ação política: uma análise das proposições dos membros da bancada evangélica federal 2010 62/101 Luiz PRISCO Neste capítulo vamos mostrar os projetos de Lei apresentados pelos integrantes da Bancada Evangélica Federal durante o período entre 01/01/2007 e 12/12/2009. Porém, antes de apresentar os resultados obtidos, acreditamos que é importante fazer uma explicação metodólogia, para que o leitor seja capaz de compreender o processo de escolha e definição das categorias utilisadas nesta análise. Inicialmente é preciso explicar que as categorias foram definidas pelo pesquisador por meio de dois processos complementares. 1) Uma análise de trabalhos acadêmicos e de pesquisa legislativa que se dedicaram a estudar proposições de projetos de Lei; e 2) uma préleitura dos projetos de Lei apresentados pelos deputados da bancada evangélica federal durante o período já citado. Assim, chegamos às seguintes 11 categorias utilizadas para agrupar os projetos de Lei propostos pela bancada evangélica federal: 1. Administração Pública 2. Cultura/Esporte e Educação 3. Direito do Consumidor 4. Direitos Sociais 5. Estímulo à caridade e combate à pobreza 6. Homenagens 7. Questões Religiosas 8. Questões Rurais/Ambientais 9. Saúde 10. Segurança 2010 63/101 Luiz PRISCO 11. Trabalho Cada projeto de Lei só podera, por fins estatísticos e de acordo com a metodologia que utilizamos, pertencer a somente uma categoria. Sendo assim, é necessário precisar quais serão os projetos de Lei categorizados em cada categoria. Portanto, em seguida, vamos desenvolver uma explicação geral sobre cada uma das categoria desenvolvidas para este trabalho. A primeira categoria Administração Pública abarca todos os projetos de Lei que fazem referência a manutenção e administração dos poderes públicos, no caso do objeto de estudo deste trabalho, falamos específicamente do poder legislativo. São as proposições para melhorar e acelerar o trâmite legislativo, ou mesmo para disciplinar alguns direitos e deveres dos deputados. Cultura/Esporte e Educação abrange todos os projetos de Lei referentes a essas temáticas. São projetos que visam promover ações culturais, esportivas e educacionais que afetem toda a sociedade brasileira. Nesse ponto, tomamos cuidados para não misturar com projetos que trariam benefícios somente à comunidade evangélica, como por exemplo shows de música gospel, ou patrocínio a um evento esportivo exclusivo dos evangélicos. A categoria Direito do Consumidor foi adicionada porque este é um temas recorrente dentro dos projetos de Lei propostos pelos evangélicos – a discussão sobre as possíveis razões desse fenômeno serão efetuadas mais para frente. Ela abarca as proposições que visam garantir proteções, direitos e deveveres aos consumidores que se sentirem ofendidos no ato de compra. Direitos Sociais trata exatamente das proposições que visam garantir o respeito as normas legais já existentes – ou mesmo criar novos textos legais – no que tange ao direito à grupos sociais que são, digamos, mais frágeis dentro da sociedade – por razões que transpassam os objetivos deste trabalho. Precisamente, estamos falando de idosos, crianças, mulheres e negros. Um exemplo é a proposta de projeto de Lei 1057 de 2007 que dispõe sobre o combate a práticas tradicionais nocivas e à 2010 64/101 Luiz PRISCO proteção dos direitos fundamentais de crianças indígenas, bem como pertencentes a outras sociedades ditas não tradicionais. A categoria Estímulo à caridade e combate à pobreza abrange as proposições de projetos de Lei que tratam de criar benefícios à aqueles que visam praticar algum ato de caridade ou de diminuição da pobreza, por exemplo o ganho de benefícios fiscais àqueles que doarem à centros de caridade. Nessa categoria, também tomamos cuidado em eliminar proposições que estimulassem, à guisa de exemplo, doações às instituições religiosas. O campo Homenagens abarca projetos de Lei que são dedicados a prestar homenagens, seja a homens públicos ou a personalidades do campo religioso. A maioria dessas proposições trata da alteração do nome de ruas e praças espalhadas pelo Brasil afora. A categoria Questões Religiosas trata exatamente de todos os projetos de Lei propostos pela bancada evangélica federal que tenham como objetivo beneficiar as entidades religiosas. Estamos falando de uma variada quantidade de proposições que oscilam entre o abono fiscal para os templos e mecanismos que garantam o funcionamento das agremiações evangélicas. Questões Rurais/Ambientais abarca os projetos de Lei propostos pela bancada evangélica federal que tratam sobre o mundo agrícola e ruralista – ligado às questões do campesinas brasileiras. Também trata de proposições de caráter ambientalista – ou seja aquelas que se encaixam na pauta dos projetos que visam a preservação dos recursos naturais do país. A categoria Saúde trata das proposições de projeto de Lei concernantes às questões de saúde pública do Brasil. Questões como a expansão do Sistema Único de Saúde (SUS), ou garantias, direitos e deveres das pessoas que necessitam e utilizam esse serviço. Uma outra categoria é Segurança que abarca todos os projetos de Lei propostos pela bancada evangélica federal que tratem sobre os problemas de segurança pública do país. Enfim, a última categoria é Trabalho que abarca justamente todos os projetos 2010 65/101 Luiz PRISCO de Lei que tratam das questões ligadas ao mundo do trabalho. São proposições que disciplinam diversas temáticas, como a legalização de profissões ou até mesmo uma legislação sobre os direitos dos trabalhadores. Como o projeto de Lei 4464 de 2008 que altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), para permitir que o empregado deixe de comparecer ao trabalho no dia de seu aniversário sem prejuízo do salário. A partir deste quadro metodológico é que foi desenvolvido o trabalho e assim chegamos aos resultados que serão apresentado a seguir. No total, durante 01/01/2007 a 12/12/2009 os integrantes da bancada evangélica federal apresentaral 358 projetos de Lei. Essas proposições foram categorizadas e reagrupadas de acordo com as categorias acima explicadas. A tabela abaixo traz os resultados dos 358 projetos de Lei tabulados e em seguida categorizados. Esses dados coletados e tratados durante os meses de março e abril de 2010. Tabela 10 – Divisão temática dos projetos de Leis apresentados pela bancada evangélica federal durante a 53º legislatura Temática Número de Proposições Número 2010 Número Absoluto Proporcional Administração Pública 16 4,50% Cultura/Esporte e Educação 29 8,10% Direito do Consumidor 70 19,55% Direitos Sociais 34 9,50% 66/101 Luiz PRISCO 8 2,20% Homenagens 13 3,60% Questões Religiosas 20 5,60% Questões Rurais/Ambientais 23 6,40% Saúde 23 6,40% Segurança 44 12,30% Trabalho 78 21,80% Total 358 100,00% Estímulo à caridade e combate à pobreza Como mostra a tabela acima, a categoria Trabalho foi o alvo do maior número de proposioções de projetos de Lei da bancada evangélica federal, com 21,80% (ou 78 sobre 358 em números absolutos). Logo em seguida o destaque fica para a categoria Direitos do Consumidor que representa 19,55% (70 sobre 358 em número absolutos) de todos os projetos de Lei apresentados pelos deputados evangélicos durante o período entre 01/01/2007 e 12/12/2009. É interessante notar que essa duas categorias juntas representam mais de 40% do total de projetos apresentados. Dessa forma, dada a quantidadade de variáveis, elas representam estatísticamente a maioria dos projetos de Lei deste grupo parlamentar. O gráfico abaixo ajuda a mostrar de maneira mais clara a predominância destas duas temáticas entre os projetos de Lei propostos pela bancada evangélica federal da 53º legislatura: 2010 67/101 Luiz PRISCO Gráfico V - Divisão temática dos projeto de Lei Administração Pública Questões Religiosas Cultura/Esporte e Educação Questões Rurais/Ambientais Direito do Consumidor Saúde Direitos Sociais Segurança Estímulo à caridade e combate à pobreza Trabalho Homenagens O gráfico acima mostra de maneira mais clara a supremacia das categorias Trabalho e Direitos do Consumidor no total de projetos de Lei apresentados pela bancada evangélica federal. Apenas uma outra categoria consegue passar o percentual de 10%, trata-se do campo Segurança que antige a marca de 12,3% - ou, em números absolutos, 44 projetos de Lei sobre um total de 358 –, essa categoria ocupa também um lugar de destaque dentro do contexto e da ação política dos deputados evangélicos da 53º legislatura. Na faixa que vai de 8% a 9,9%, duas temáticas conseguem aparecer. São elas as categorias: Direitos Sociais e Cultura/Esporte e Educação. A primeira obteve a marca de 9,5% dos projetos de Lei apresentados pela bancada evangélica federal durante o período selecionado – em números absolutos, isso quer dizer 34 proposições sobre um total de 358. Já a segunda representa 8,2% dos projetos de Lei apresentado pelos deputados evangélicos – em números absolutos isso quer dizer 29 sobre um total de 358. 2010 68/101 Luiz PRISCO Na faixa que vai de 3% a 7,9%, quatro temáticas conseguem aparecer. São elas as categorias: Saúde, Questões Rurais/Ambientais, Questões Religiosas, Administração Pública e Homenagens. A primeria e a segunda categorias citadas anteriormente chegaram a mesma marca de 6,4% - o que em números absolutos quer dizer que esses dois campos atingiram a marca de 23 proposições de projetos de Lei sobre um número total de 358. Questões Religiosas representa 5,6% dos projetos de Lei propostos pela bancada evangélica federal durante a 53º legistalura – em números absolutos estamos falando de 20 sobre um total de 358. A categoria Administração Pública representa 4,5% dos projetos de Lei apresentados pela bancada evangélica federal – em números absolutos estamos falando de 16 proposições sobre um total de 358. Em seguida, encontramos a temática Homenagens com a marca de 3,6%, o que em números absolutos representa 13 projetos de Lei sobre um número total de 358. Somente uma categoria se encontra na faixa que vai de 0,1% a 2,9%. Trata-se da temática Estímulo à caridade e combate à pobreza que representa apenas 2,2% dos projetos de Lei apresentados pela bancada evangélica federal durante a 53º legislatura. Em números absolutos, estamos falando de oito proposições de projetos de Lei sobre um total de 358. Estatísticamente, é certamente a categoria que ocupa um espaço de menor expressão dentro do espectro de proposições desse grupo parlamentar durante o período analisado. De acordo com nossa proposição, utilizamos os projetos de Lei como ferramenta para analisar a ação política da bancada evangélica federal. Porém, antes de prosseguirmos, acreditamos ser necessário ratificar um ponto: os documentos aqui analisados são, na verdade, proposições por parte dos deputados – como diz o nome “Projetos de Lei” - o que não significam que esses textos viraram leis. Em resumo, o processo legislativo no Brasil pode ser explicado da seguinte forma: o projeto é apresentado em uma comissão da Câmara dos Deputados, onde passará por uma primeira votação, depois vai para a Comissão de Constituição e Justiça e, se aprovado, é encaminhado ao plenário da Casa. Em seguida, é enviado para o Senado Federal, onde faz um percursso similar e, após esse trajeto, é levado ao veto 2010 69/101 Luiz PRISCO presidencial. Assim, as proposições podem levar vários anos até que consigam chegar ao status de lei/texto legal, por exemplos algumas propostas aprovadas são oriundas de legislaturas anteriores. Um outro aspecto limitante é que os Projetos de Lei aqui analisados são instrumentos políticos oriundos do poder legislativo. Dessa forma, escapam da análise algumas lesgilações oriundas do poder executivo, por exemplo, o Plano Nacional de Direitos Humanos. No que tange ao plano encaminhado por diversos Ministérios – entre eles o da Justiça e da Igualdade Racial – temas como a legalização do aborto e a união civil de homosexuais foram duramente condenados pela bancada evangélica e permanecem até hoje estagnados no Congresso. Essa é uma das razões para a ausência de categorias que abordam temas polêmicos, pois eles não estão presentes nas proposições dos evangélicos. Afinal, é impossível propor uma lei que condene o aborto porque a prática já é ilegal no Brasil. Sendo assim, e tendo em conta os resultados estatísticos aqui apresentados, podemos colocar que a ação política da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura é também cercada de uma pluralidade – pois temos 11 categorias que são representadas estatísticamente. No entanto, em linha geral, somos capazes de afirmar que Trabalho e Direito do Consumidor são os pontos mais importantes dessa ação política, ocupando um lugar de destaque na análise. Na terceira parte deste trabalho, vamos entrar mais a fundo nesta discussão. C. Quem é quem dentro da bancada? Um olhar sobre a ação individual dos políticos que compõem a bancada evangélica federal. Neste capítulo vamos apresentar os dados coletados que mostram um pouco a 2010 70/101 Luiz PRISCO ação individual dos parlamanteres da bancada evangélica federal – em outras palavras vamos mostrar um panorâma da quantidade de projetos de Lei que cada deputado integrante deste grupo parlamentar apresentam durante o período selecionado para esta pesquisa. Esses dados são interessantes pois podem mostar informações importantes para o entendimento do funcionamento e também na ação política desta organização dentro do Congresso Nacional. Em seguida, vamos apresentar uma discussão sobre os dados coletados junto ao site da Câmara dos Deputados. A tabela abaixo traz o número de proposições apresentadas por cada deputado da bancada evangélica durante a 53º legislatura: Tabela 11 – Número de proposições apresentadas por cada deputado da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura Deputado Ideologia Número de proposições Número Absoluto Proporcional Andreia Zito Centro 22 6,15% Carlos Direita 4 1,12% Direita 1 0,28% Dr. Nechar Esquerda 18 5,03% Eduardo Centro 16 4,47% Centro 31 8,66% Wilson Adilson Soares Cunha Flávio Bezerra 2010 71/101 Luiz PRISCO Direita 3 0,84% Esquerda 18 5,03% Esquerda 17 4,75% Centro 14 3,91% Centro 5 1,40% Direita 11 3,07% Léo Vivas Direita 10 2,79% Júlio Centro 2 0,56% Direita 19 5,31% Direita 23 6,42% Direita 15 4,20% Direita 17 4,75% Esquerda 2 0,56% George Hilton Gilmar Machado Henrique Afonso João Campos Mário de Oliveira Leonardo Quintão 25 Redecker Onyx Lorenzoni Neuzimar Fraga Silas Câmara Paulo Roberto Pereira Walter 25 O deputatado faleceu em 2007 em um acidente aéreo. 2010 72/101 Luiz PRISCO Pinheiro Takayama Centro 9 2,51% Zequinha Direita 11 3,07% Direita 0 0,00% Centro 25 6,98% Direita 40 11,17% Iris Rezende Centro 0 0,00% Antônio Direita 0 0,00% Esquerda 0 0,00% Direita 0 0,00% Direita 25 6,98% Centro 0 0,00% Direita 0 0,00% Direita 0 0,00% Marinho Arolde de Oliveira Antônio Bulhões Bispo Rodovalho Cruz Edinho Montemor Filipe de Almeida Pereira Jurandy Loureiro Natan Donadon Lincoln Portela Manoel 2010 73/101 Luiz PRISCO Ferreira Total - 358 100,00% Fonte: Câmara dos Deputados Conforme mostra a tabela acima, existe um perfil variado no número de proposições de projetos de Lei entre os deputados integrantes da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura. Ao mesmo tempo que podemos encontrar homens políticos que apresentaram em quase três anos (01/01/2007 a 12/12/2009) 40 proposições, podemos, da mesma forma, deparar com parlamentares que não apresentaram uma só proposta. Dessa maneira, prentendemos desenvolver essa discussão em duas frentes: uma mais geral e uma mais específica. Na análise mais geral, vamos mostrar os dados mais globais concernantes a apresentação de projetos de Lei. De modo geral, podemos falar que temos uma média aproximada de 119 proposições por ano da 53º legislatura. Assim, estatísticamente falando, durante todo o período de análise cada deputado teria apresentado em média aproximada 11 projetos de Lei. Esse dado é importante, pois ele serve como base para saber a quantidade de deputados que estão acima, abaixo ou dentro da média, no que tange à apresentação de projetos de Lei. Tomando a média geral, podemos começar a análise mais específica. Assim, é possível notar que 43,75% dos deputados da bancada evangélica federal tiveram uma ação política acima da média – em números absolutos isso quer dizer que foram 14 políticos sobre um total de 32. É um número razoavelmente expressivo que indica uma participação efetiva de praticamente metade dos parlamentares. O destaque entre esses deputados é do brasiliense Bispo Rodovalho que durante o período selecionado pela pesquisa apresentou 40 projetos de Lei, que representa 11,17% do total. Seguido pelo paulista Dr. Nechar que apresentou 31 projetos de Lei, quantidade que representa 5,03% do total. Apenas 6,25% dos deputados ficaram na média, ou seja, apresentaram 2010 74/101 Luiz PRISCO somente 11 projetos de Lei. Em número absolutos, esse dado representa apenas 2 políticos sobre um total de 32. Específicamente, estamos falando dos deputados Leonardo Quintão e Zequinha Marinho. Assim, no total, 50% da bancada evangélica federal teve uma ação política na média ou acima dela durante a 53º legislatura. Tal dado, é interessante, pois, de um lado, mostra um bom índice de participação, mas, por outro ângulo de análise, demonstra também que a outra metade deste grupo parlamentar não desenvolveu uma atividade parlamentar neste nível. Prova disso, é que os outros 50% dos deputados da bancada evangélica federal tiveram um desempenho abaixo da média. Em números absolutos, estamos falando de 16 deputados sobre um total de 32. O dado não configura uma maioria absoluta, mas é expressivo, se pensarmos que a metade de um grupo parlamentar teve não obteve um desempenho satisfatório. Podemos indicar algumas possibilidades de explicação para este fenômeno. Um primeiro dado que chama a atenção é a quantidade de deputados que não apresentaram qualquer projeto durante o perído análisado por esta pesquisa. Estamos falando de 25% dos deputados da bancada evangélica federal que apresentaram zero projetos de Lei. Em números absolutos, isso significa oito deputados sobre um total de 32. Também chama a atenção que esse dado indica que a metade dos parlamentares que tiveram um desempenho abaixo da média, estão na faixa daqueles que nada apresentaram durante o período análisado. Podemos dizer que esses deputados, sem desempenho algum – pois nada fizeram, no que tange aos projetos de Lei –, puxaram pra cima o número de parlamentares abaixo da média. De toda forma, é preciso esclarecer que o fato de não ter apresentado projetos de Lei não significa, necessáriamente, que o deputado nada fez durante o périodo de análise. Os projetos de Lei são apenas uma das formas do trabalho legislativo, entre as outras podemos falar dos trabalhos de relatoria, posições de liderança em bancadas, negociações políticas etc. No entanto, este trabalho escolheu os projetos de Lei como forma de analisar a ação política. Apesar deste ponto que trabalhamos anteriormente, continua chamando 2010 75/101 Luiz PRISCO atenção o fato de que 25% dos deputado da bancada evangélica federal da 53º legislatura não apresentaram qualquer projeto de Lei em um período de três anos. Esse fato parece remarcar mais uma vez a pluralidade dentro deste grupo parlamentar, pois ao mesmo tempo em que encontramos parlamentares que apresentaram 40 projetos de Lei, econtramos políticos que não apresentaram uma única proposta de Lei durante o período escolhido por este traballho. Nesta parte do trabalho mostramos como o perfil (socioeconomico, político e religioso) e a ação política coletiva e individual da bancada evangélica federal – apesar de apresentar linhas gerais comuns – é marcada por um caráter de pluralismo, com ações variadas. Por exemplo, o fato de onze temáticas encontrarem espaço nos projetos de Lei apresentados por este grupo, ou mesmo o fato da oscilação entre o número de proposições políticas de cada membro da bancada evangélica federal. Assim, na terceira parte tentaremos explicar o um pouco os principais elementos encontrados nessa análise dos projetos de Lei apresentados. 2010 76/101 Luiz PRISCO III. A “Política protenstante real”: interpretações e considerações sobre os projetos de Lei apresentados pela bancada evangélica federal no Congresso Nacional entre 2007 e 2009 A. Trabalho e Direito do Consumidor: elementos chaves na ação política deste grupo Esta parte do trabalho apresenta uma expressão entre aspas no título. Assim, escolhemos porque o termo “política protestante real” não é nossa, e sim desenvolvida pelo cientista político brasileiro – especialista em estudos sobre os protestantes no Brasil – Paul Freston. O autor desenvolve essa perspectiva no artigo Protestantismo e Democracia no Brasil. Precisamente, Freston defende que é necessário precisar os conceitos quando se fala da vida política deste grupo religioso. Ele diz que: Devemos evitar, também, a tendência de falar somente do potencial de longo prazo do protestantismo, deixando de analisar (ou mesmo ignorando a existência) da política protestante que de fato predomina desde 1985. A discussão das potencialidades, baseada em comparações macrohistóricas com protestantismos mais antigos, precisa ser equilibrada com uma análise do que se poderia chamar (numa analogia com o « socialismo real ») a « política protestante real » (FRESTON, 1999: p. 329) . 2010 77/101 Luiz PRISCO Dessa forma, nós entendemos que falar da “política protenstante real” é, então, explicar a ação política contemporânea deste grupo religioso, principalmente, dos evangélicos que ocupam um mandato parlamentar no Congresso Nacional durante o périodo selecionado para esta pesquisa. Assim, se vamos explicar a ação política da bancada evangélica federal estamos, de certo modo, desenvolvendo também uma análise da política real dessa corrente religiosa. Portanto, vamos basear nosso argumento na análise dos resultados apresentado pela análise estatística quantitativa apresentada na parte anterior deste trabalho. É dessa forma que pretendemos descobrir as principais tendências da “política protestante real” executada durante o périodo selecionado para esta pesquisa. Para compreender, então, o panôrama da ação política dos protestantes, é preciso comprender dois elementos chaves para este grupo. Trata-se dos projetos de Lei sobre os seguintes temas: Trabalho e Direitos do Consumidor. Estas duas categorias, foram as mais importantes registradas na análise quantitativa do capítulo anterior. Trabalho representa 21,80% dos projetos de Lei apresentados pela bancada evangélica federal – em números absolutos são 78 proposições sobre um total de 358. Por sua vez, o campo Direitos do Consumidor representa 19,55% dos projetos apresentado pelo políticos evangélicos no périodo selecionado. Em números absolutos estamos falando de 70 proposições de Lei sobre um total de 358. As duas categorias, então, ocupam um espaço de centralidade dentro da ação política da bancada evangélica federal. Em outras palavras, podemos dizer que esses dois elementos fornecem um resumo sobre a atividade política dos parlamentares evangélicos da 53º legislatura. Dessa forma, podemos afirmar que Trabalho e Direito do Consumidor são importantes elementos explicativos para se tentar descobrir o funcionamento e o comportamento da organização parlamentar que é objeto de estudo deste trabalho. A categoria Trabalho chama atenção por dois motivos principais. Primeiramente porque ela representa o assunto mais “popular” dentro da bancada 2010 78/101 Luiz PRISCO evangélica federal da 53º legislatura. Quase a todos os deputados que propuseram projetos de Lei, tem pelo menos uma das propostas ligadas à este tema. Outro dado que é interessante para a análise é que esses projetos tratam na maioria das vezes de temas como a criação/legalização/normatização de profissões e extensão de direitos aos trabalhadores ligados às classes mais pobres. Um exemplo é um projeto de Lei 4464 de 2008 que permite aos trabalhadores faltarem no dia do aniversário sem prejuízo no salário. O texto do referido projeto de Lei afirma que: Altera a Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, para permitir que o empregado deixe de comparecer ao trabalho no dia de seu aniversário sem prejuízo do salário. O projeto de Lei foi arquivado, isso quer dizer dentro do sistema de processo legislativo brasileiro que a proposição não foi aprovada – seja no plenário do Congresso Nacional ou nas comissões parlamentares. O interessante é que essas proposições giram em torno do benefício dos trabalhadores que compões as classes mais pobres do Brasil. Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, atualmente essa fatia social é representada pelas classes C e D. Um outro exemplo dessa sitiação é o projeto de Lei número 3203 de 2008 que legisla sobre direitos de trabalhadores ligados à pesca. O documento diz que “estende ao catador de marisco e à marisqueira o recebimento do seguro-desemprego, concedido ao pescador profissional artesanal”. Esta proposição atualmente esta pronta para ser votada na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados. Podemos encontrar alguns elementos explicativos para essa predominância de proposições trabalhistas ligadas às classes mais pobres no perfil dos eleitores dos evangélicos. É evidente que os dados que aparecem nas outras pesquisas são estimativas, fruto do trabalho de outros pesquisadores, pois o voto no Brasil é secreto e inviolável. De toda forma, este ponto é importante porque como lembra a pesquisadora 2010 79/101 Luiz PRISCO Maria das Dores Campos Machado (2006: p. 29), “grande parcela do eleitorado pentecostal pertence aos segmentos mais carentes da população brasileira e apresenta baixo nível de instrução”. Assim, como informa o trabalho da sociologa carioca, a base eleitoral da bancada evangélica federal é justamente o eleitorado mais pobre do Brasil, ou seja, justamente aqueles que são beneficiados pelos projetos de lei apresentados no que tange ao mundo do trabalho. É dessa maneira que gostariamos de argumentar que o grande número de projetos de Lei apresentados pelos deputados da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura parece ser uma estratégia eleitora. Ou seja, uma maneira de responder aos eleitores deste grupo político, é uma forma que esses homens políticos encontraram para beneficiar sua base eleitoral. Do ponto de vista político, tal comportamento é normal, já que no sistema representativo o congressista tem a missão de representar um determinado grupo social. Assim, a escolha dos deputados de bancada evangélica de legislar, ao menos no que tange às proposições categorizadas na temática Trabalho, para o grupo que representa uma parcela expressiva de sua base eleitoral é, de certa forma, coerente. Em outras palavras, se o foco desses homens políticos são os mais pobres, suas promessas de campanha girarão em torno das temáticas trabalhistas apresentadas sob a forma de projeto de Lei. No entanto, é necessário falar que existe um caráter populista nessa proposições, como fica claro no exemplo dado sobre a falta no dia do aniversário. Fato, este, que pode ser explicado, entre outras razões, pelo perfil político deste grupo que, como mostram os dados anteriormente apresentados, localiza-se à direita do espectro político brasileiro atual. Essa ideologia representa 53,12% dos parlamentares evangélicos – em números absolutos, isso representa 17 sobre um total de 32. No que tange à categoria Direitos do Consumidor a análise não é muito diferente. Antes de desenvolver este raciocínio, vamos mostrar dois exemplos de projetos de Lei apresentados pelos deputados da bancada evangélica federal da 53º legislatura sobre a a temática. Um dos exemplos é a proposição número 5995 de 2009 que trata sobre a alteração da lei 8078 – mais conhecida como Código de 2010 80/101 Luiz PRISCO Defesa do Consumidor. O texto legal diz que: Altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, Código de Defesa do Consumidor, para estender o direito de arrependimento ao consumidor que adquire produtos ou serviços, ou contrata o fornecimento deles, dentro do estabelecimento comercial. Este projeto de Lei esta pronto para ser votado na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados. Outra proposição que pode ser apresentada como exemplo dentro desta categoria é o projeto de Lei número 4365 de 2008 – de autoria do deputado Bispo Rodovalho (DEM-DF). Ele trata sobre a obrigatoriedade de agentes de saúde utilizarem meios eletronicos ou mecânicos na feitura das prescrições médicas. Diz o texto: Dispõe sobre a obrigatoriedade das prescrições assinadas por médicos, odontólogos e veterinários, serem digitadas ou apresentadas por meio de processos mecânicos de carimbos ou eletrônicos em garantia do princípio da transparência e do direito do consumidor de medicamentos à informação. Como vemos nos dois exemplos citados, os projetos de Lei sobre Direitos dos Consumidores não têm uma ligação direta com as classes mais baixas. No entanto, essa afirmação é em parte falsa. Primeiro, porque nas sociedades capitalistas todos consomem e dessa forma esses direitos estão ligados a todas às classes. Também temos que levar em conta as importantes transformações sociais que estão ocorrendo no Brasil desde 2002 – ano de posse do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo federal desenvolveu nos últimos anos políticas públicas de incentivo ao consumo como forma de alavancar a economia e desenvolver o mercado interno (geração de empregos, por exemplo). É verdade que essas ações tiveram como principal foco, justamente, as classes C e D. Um exemplo, é a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os produtos mais desejados por essas classes: como geladeiras, fogões e outros eletrodomésticos. Dessa forma, houve uma expansão do mercado consumidor apoiada no crescimento das duas classes citadas anteriormente – assim, esse grupo nos último anos se transformou em um dos maiores consumireds de todo o país. Segundo os dados apresentados na imprensa 2010 81/101 Luiz PRISCO brasileira26, a classe C representou em 2009 49% do mercado consumidor nacional. A partir desses dados socioeconômicos apresentados, argumentamos que os direitos do consumidor passaram a ser também uma preocupação para a parcela mais expressiva dos eleitores da bancada evangélica federal. Dessa forma, a preponderância dessa categoria, assim como o campo Trabalho, faz parte de uma ação política coerente deste grupo político. Ou seja, uma ação ligada as bases eleitorais dos deputados evangélicos. Podemos enxergar também uma espécie de assistêncialismo social, não se trata daquele claro, baseado, por exemplo, na doação de comida ou mesmo de dinheiro para a população. No entanto, é uma forma de ajudar a uma classe que não estava tão habituada a dinâmica consumista. E, como mostra Maria das Dores Campos Machado (2006: p. 43), essa característica tem um peso eleitoral decisivo para os políticos evangélicos. Dessa forma, podemos concluir que esses dois elementos extremamente importantes – e também preponderantes – para explicar a ação política da bancada evangélica federal estão ligados a uma estratégia eleitoral que, ao mesmo tempo, demonstra uma coerência dos políticos evangélicos com suas bases eleitorais. Defendemos, então, que essa coerência é um dos elementos explicativos do comportamento políticos dos políticos evangélicos da 53º legislatura. Coerência esta definida pela predominância dos projetos sobre Trabalho e Direitos do Consumidor e a ligação com o perfil da base eleitoral deste grupo. B. Direitos sociais, cultura e educação: um caminho progressista dentro da bancada? Como vimos no capítulo anterior, dentro do contexto da ação política da bancada evangélica federal da 53º legislatura existe uma predominância de proposições de Lei 26 Diário Popular. Aumento no Consumo. http://www.diariopopular.com.br/site/content/noticias/detalhe.php? id=8¬icia=16512 Acessado em 04/05/2010. 2010 82/101 Luiz PRISCO que tratam das temáticas ligadas ao direitos dos consumidores e, também, ao mundo do trabalho. No entanto, a análise quantitativa que realizamos mostram outrossim outros elementos que chamam atenção e parecem se posicionarem de maneira importantate para a compreensão do comportamento deste grupo político dentro da Câmara dos Deputados. A bancada evangélica federal apresenta em seu perfil político, socioeconomico e religioso uma composição relativamente variada, até mesmo plural – mesmo que seja possível identificar algumas linhas comuns que abrangem todo o grupo. Essa pluralidade afeta, de alguma maneira, a ação política, sobretudo quando falamos sobre os projetos de Lei propostos pelo deputados evangélicos durante a 53º legislatura. Nesse contexto, chama atenção um viés mais “progressivo” dentro das temáticas propostas por esses parlamentares no Congresso Nacional. Neste capítulo, vamos trabalhar exatamente este ponto do comportamento político da bancada evangélica da 53º legislatura. É possível falar de um lado mais progressista dentro deste grupo político parlamentar? Para responder esta pergunta, é preciso olhar com mais atenção para os resultados mostrados na análise quantitativa, em especial, as categorias Direitos Sociais, Cultura/Esporte e Educação e Questões Rurais/Ambientais, pois são sujeitos sempre associados aos setores progressistas e de esquerda do universo político nacional. Acreditamos que esses campos podem mostrar os elementos necessários para sabermos 1) se existe um viés progressista e 2) as razões de sua existências dentro de um grupo de ideologia política predominantemente à direita do espectro político brasileiro. A categoria Diretos Sociais agrupou todas os projetos de Lei que visavam garantir os direitos de grupos sociais que são, digamos, mais frágeis dentro da sociedade brasileira, como os idosos, as crianças, as mulheres e os negros. Esta campo obteve uma representação de 9,50% de todas as proposições apresentadas pelos deputados evangélicos durante a 53º legislatura – em números absolutos isso quer dizer 34 propostas sobre um total de 358. Cultura/Esporte e Educação representa 8,10% dos projetos de Lei 2010 83/101 Luiz PRISCO apresentados pelos deputados evangélicos durante a 53º legislatura – em números absolutos estamos falando de 29 propostas sobre um total de 358. A categoria Questões Rurais/Ambientais, por sua vez, representa 6,40% das proposições de Lei apresentadas pela bancada evangélica federal no período selecionada para esta pesquisa – em número absolutos isso quer dizer 23 sobre 358. No total, podemos dizer que as propostas de caráter progressistas obtiveram um total de 86 projetos de Lei apresentados, proporcionalmente significa dizer que essa facção representa 24,02% da ação política desse grupo parlamentar no Congresso Nacional. Os projetos de Lei apresentam idéias que enfatizam esse caráter progresissta, por exemplo, a proposição 2173 de 2007 que trata sobre questões culturais e educacionais. O texto legal diz que “dispõe sobre a exibição obrigatória de filmes de curta duração em todos as salas de cinemas do País, que versam sobre as conseqüências do aquecimento global e a importância da defesa do meio ambiente”. É interessante notar que o projeto propõe um adendo cultural ligado às questões ambientalistas, o que caracteriza um viés progressista a este texto legal. Como mostramos com os exemplos anteriormente citados, é possível falar de um viés progressista dentro da bancada evangélica federal da 53º legislatura. Obviamente, ele não representa a maioria da ação política deste grupo parlamentar. No entanto, argumentamos que essa constatação, de alguma maneira, ressalta o pluralismo que perpassa as ações políticas desse grupo parlamentar, pois podemos ver propostas mais à direita – por vezes de caráter populista – e também porposições ligadas tradicionalmente aos grupos de esquerda da política nacional. Esse caráter “esquerdista” dos evangélicos não pode ser apontado com uma novidade dentro dos estudos religiosos. Até mesmo dentro dos católicos é possível se lembrar do movimento conhecido como Teologia da Libertação, que durante a ditadura militar brasileira lutou associado aos grandes movimentos de esquesda do continente latino-americano (LOWY, 1999). No Brasil, é interessante que grqndes intelectuais da esquerda contemporânea são oriundos desse movimento, trata-se de Frei Betto e de Leonardo Boff. 2010 84/101 Luiz PRISCO Paul Freston (1994) identificou que os movimentos evangélicos de esquerda alteram o perfil político desse grupo, mesmo que eles ainda não representem uma maioria ideológica. O autor mostra que é possível encontrar políticos “esquerdistas” dentro mesmo da bancada evangélica desde o começo da década de 1990. Precisamente, o cientista político diz que: No Brasil, a esquerda evangélica vem alterando o perfil político das igrejas. O Movimento Evangélico Progressista (MEP) começou em 1990 como resposta à chamada "bancada evangélica" na Constituinte, de forma fisiológica e conservadora, e à eleição de Collor, na qual provavelmente o voto evangélico foi decisivo. Percebendo que a influência política evangélica aumentava, e entendendo que deveria ser diferente, vários evangélicos organizaram a corrente minoritária. O MEP já promoveu dois Fóruns Nacionais de Discussão e Entendimento entre Evangélicos e Partidos Progressistas (Campinas, agosto de 1991 e agosto de 1993), com participação de líderes e de partidos (PT, PPS, PSB, PDT) (FRESTON, 1994). Como podemos ver, a tradição de esquerda dentro da política evangélica esta presente desde o princípio deste grupo. Na atual bancada evangélica da Câmara dos Deputados, os parlamentares identificados com grupos progressistas representam 15,62% do espectro ideológico – em número absolutos estamos falando de cinco deputados sobre um total de 32. Neste campo, são três os partidos representados: o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Verde (PV). O destaque é para o PT que possui três das cinco cadeiras da bancada evangélica federal, representando assim a principal corrente ideológica da esquerda evangélica no Congresso Nacional. Dessa forma, argumentamos que o perfil político da bancada evangélica federal da 53º legislatura é um indício da existência de um viés progressista. A presença, mesmo que minoritária, de políticos ligados a partidos de esquerda torna possível a proposição de projetos de Lei como os que foram mostrados anteriormente. Além disso, como mostramos, existe uma tradição de esquerda dentro dos movimentos políticos evangélicos. É evidente que no que tange à atual bancada evangélica federal, a presença desses cinco homens políticos de esquerda exerce influência em uma ação política 2010 85/101 Luiz PRISCO mais progressista. Assim, este viés de ação política estaria vinculado ao próprio perfil plural desse grupo político, que, apesar de uma predominância de deputados de direita, abriga também políticos de centro e esquerda. Podemos argumentar a existência desse viéis progressista dentro da bancada evangélica federal, mas é preciso ressaltar que ele ocupa um espaço minoritário na ação política deste grupo parlamentar. Por fim, é importante salientar que se trata de um progressismo limitado, já que ele não ocupa um espaço dominante dentro deste grupo político. C. Uma ação política para as Igrejas: entre as Homenagens e as Questões Religiosas A ação política de caráter eminentemente religioso é o tema que vamos tratar neste capítulo. Como o objeto de estudos desse trabalho é um grupo parlamentar religioso, é esperado encontrar uma ação política ligada aos interesses das Igrejas. Dessa forma, é interessante discutir os resultados da análise quantitativa, específicamente as categorias Homenagens e Questões Religiosas. Acreditamos que essas duas categorias mostrarão como é o comportamento da bancada evangélica federal, quando as igrejas evangélicas são o sujeito em questão. A categoria Questões Religiosas trata exatamente dos affaires ligados às igrejas evangélicas, principalmente a concessão de benefícios econômicos para essas agremiações religiosas. Os principais pontos são a garantia de deduções fiscais e uma equiparação com os direitos já adquiridos por outras correntes, sobretudo a igreja católica – que no Brasil, como já discutimos anteriormente, possui uma grande força política e social. Dessa forma, podemos dizer que esse campo abarca exatamente todos os projetos de Lei propostos pela bancada evangélica federal durante a 53º legislatura que tenham como sujeito principal a concessão de benefícios às entidades religiosas evangélicas. De fatom é possível encontrar uma variada quantidade de proposições que oscilam entre o abono fiscal para os templos e mecanismos que garantam o funcionamento das agremiações evangélicas. 2010 86/101 Luiz PRISCO Os resultados da análise quantitativa mostram que a categoria Questões Religiosas representa 5,60% da totalidade de projetos de Lei propostos pela bancada evangélica federal durante a 53º legislatura. Em número absolutos, isso representa 20 proposições sobre um total de 358. Dessa forma, podemos ver que esse sujeito não ocupa um espaço de centralidade na ação política do grupo de deputados evangélicos durante o périodo selecionado para essa pesquisa. Na verdade, o tema está mesmo abaixo de outros, mesmo aqueles que não fazem parte da ação evangélica tradicional, tais como Segurança e Saúde. A outra categoria que compõem esse panorâma das ações políticas religiosas da bancada evangélica federal é Homenagens. Aparentemente, o assunto não traz uma ligação evidente com o estudo de proposições de caráter religioso, no entanto, uma análise mais cuidadosa revela o contrário. A categoria, em linhas gerais, abarca os projetos de Lei dedicados a homenagear personalidades – oriundas do campo político ou do campo religioso. É verdade que a grande maioria das proposições trata da alteração do nome de ruas e praças espalhadas do país. A importância desse tema para esse capítulo é, justamente, o fato de que as homenagens são quase sempre centradas em personalidades do mundo evangélico, ou, ao menos, àqueles que ocupam um espaço de importância para este grupo político religioso. Os resultados da análise quantitativa mostram que a categoria Homenagens representa 3,60% da totalidade de projetos de Lei propostos pela bancada evangélica federal durante a 53º legislatura. Dessa forma, podemos dizer que em números absolutos, estamos falando de 13 proposições sobre um total de 358. Mais uma vez, podemos argumentar que a categoria não ocupa um espaço de centralidade na ação política dos deputados evangélicos durante o périodo selecionado para esta pesquisa. No total, podemos dizer que dentro do conjunto maior da ação política da bancada evangélica federal da 53º legislatura, a ação religiosa representa 9,22% dos projetos de Lei apresentados. Em número absolutos, significa dizer que são 33 proposições de Lei sobre um total de 358. É interessante notar que mesmo com a junção das duas categorias, o comportamento político efetivamente religioso – ou seja, aquele ligado diretamente as questões das igrejas evangélicas – continua atrás 2010 87/101 Luiz PRISCO de outras temáticas como trabalho (21,80%), direito do consumidor (19,55%), segurança (12,30) e direitos sociais (9,50%). No entanto, é preciso dizer também que mesmo que o tema religioso não ocupe um espaço de centralidade na ação política, ele se encontra, de toda maneira, está à frente de outros, tais como Questões rurais (6,40%) e Saúde (6,40%). Assim, torna-se importante discutir um pouco mais esses resultados. No entanto, antes de começar a discussão, julgamos importante mostrar alguns projetos de Lei que versam sobre a temática tratada neste capítulo. Um exemplo interessante é a proposição número 2563 de 2007, de autoria do deputado Jurandyr Loureiro (PSC-ES), que trata sobre a obrigatoriedade de assistência religiosa para trabalhadores de plataformas de petróleo. A ementa do documento apresenta a idéia principal do texto legal, ela diz: “Institui e normatiza o atendimento religioso nas plataformas de petróleo 'Off-Shore'”. Trata-se das plataformas de petróleo que se localizam no meio dos oceanos, especializadas na prospecção de petróleo em grandes profundezas. Os trabalhadores que lá estão, ficam isolados por longo períodos e, portanto, o projeto visa garantir atendimento religioso a esses operários. A análise dos resultados quantitativos da pesquisa podem mostrar dois caminhos para justificar a não centralidade dos temas religiosos na ação política da bancada evangélica federal na Câmara dos Deputados durante a 53º legislatura. Uma palavra-chave para entender esse processo é dispersão. Julgamos importante falar em dispersão porque dessa forma é possível compreender um pouco melhor os resultados estatísticos apresentados anterioremente. O outro elemento para o entendimento deste processo é entender as novas lutas dos movimentos políticos pentecostais e neopentecostais brasileiros. Ao falarmos de dispersão, argumentamos que os principios religiosos estariam dispersos, ou seja, espalhados em todas as proposições de Lei apresentadas pela bancada evangélida federal. Isso quer dizer que mesmo em outras áreas, tais como saúde e segurança, é possível encontrar elementos da doutrina evangélica que influenciariam a confecção do projeto de Lei. É verdade, no entanto, que para 2010 88/101 Luiz PRISCO identificar precisamente essa influência seria necessária uma análise de caráter mais qualitativa de nosso corpus de pesquisa. Porém, é possível utilizar esse ponto como um elemento explicativo para o número não muito elevado de proposições de caráter religioso. Apenas como exemplo, nós podemos citar um projeto de lei do deputado Bispo Rodovalho (DEM-DF) apresentado em março de 2010 – ou seja, que não faz parte do corpus de pesquisa. A proposição 7023 trata específicamente sobre um sujeito extremamente delicado para os evangélicos que é o aborto. O texto legal diz: “Inclui dispositivo na Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002 - Código Civil, dispondo sobre o registro público da gravidez“. A explicação para o projeto é o combate a prática ilegal do aborto. Esse projeto seria enquadrado na categoria Saúde, no entanto, ele traz nele um dos pilares básicos da ação política evangélica, que é se posicionar sempre contra a prática e a legalização do aborto no Brasil. É assim que argumentamos a existência dessa dispersão dos valores evangélicos dentro da ação política – ou seja, nos projetos de Lei apresentados no período selecionado – da bancada evangélica federal na Câmara dos Deputados. O outro ponto dessa argumentação são os novos campos de luta do movimento político evangélico. Se, no começo dos anos 1980, a principal ambição dessa corrente religiosa era se consolidar como tal na sociedade braisleira, hoje os objetivos mudaram. Atualmente, na verdade, soa anacrònico e, até mesmo, ultrapassado a palavra consolidação para as igrejas pentecostais e neopentecostais. Os evangélicos, como mostramos anteriormente neste trabalho, já possuem seu espaço consolidado, que, de toda maneira, não para de crescer, no Brasil. Dessa forma, gostaríamos de argumentar que contemporaneamente existe um novo campo de atuação política, que difere daquele de 20 anos atrás. É difícil precisar qual seria o novo campo de luta política dos evangélicos, no entanto, é possível notar que este grupo religioso tem como um dos elementos de sua prática política a difusão dos valores e princípios das doutrinas pentecostais e neopentecostais na sociedade brasileira. Nessa prática é interessante notar que esse grupo sustenta, até mesmo, algumas posições ligadas aos setores mais conservadores, 2010 89/101 Luiz PRISCO sobretudo em temas como a legalização das drogas – principalmente a maconha – e do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Como vimos nos capítulos anteriores, há também um movimento de consolidação de um eleitorado – sobretudo entre os membros das classes mais desprivilegiadas economicamente no Brasil (MACHADO, 2006). Este movimento, aparentemente, mostra uma tentativa de consolidação política, da busca de um mote, de uma bandeira política que possa sustentar a bancada evangélica federal. Dessa forma, argumentamos que essa alteração do campo de atuação política dos evangélicos proporciona um novo cenário no qual os propostas estritamente religiosas acabam perdendo espaço, como mostramos em nossa análise quantitativa. Por fim, podemos colocar que essas alterações no campo de atuação política somada à disperção de valores evangélicos em projetos de Lei de outras áreas configuram elementos explicativos para o desempenho não muito expressivo, ou em outras palavras, de não centralidade deste tema na ação política da bancada evangélica federal da 53º legislatura. 2010 90/101 Luiz PRISCO Conclusão A idéia que motivou esta monografia e, consequentemente, todo o processo de pesquisa consistia em estudar, com um maior grau de profundidade, a participação e a ação políticas dos políticos evangélicos no Congresso Nacional – especificamente na Câmara dos Deputados – durante a 53º legislatura. A partir dos anos 1990, o tema da politização dos pentecostais e neopentecostais ganhou de pouco em pouco espaço no campo das Ciências Sociais do Brasil, em especial por conta da particação de políticos ligados a essa corrente religiosa na Assembléia Constituinte e na eleição de Fernando Collor de Melo. Assim, realizamos um estudo de caráter quantitativo sobre os projetos de Lei apresentados pelos deputados evangélicos durante o périodo selecionado para este trabalho. Para concretizar essa proposta de trabalho, utilizamos como fontes de pesquisa o matérial disponível nos sites dos principais orgãos democráticos brasileiros. Estamos falando, por exemplo, dos projetos de Lei propostos pelos deputados que estão disponíveis na íntegra no site da Câmara dos Deputados. Trabalhamos também com os dados biográficos dos parlamentares disponíveis no mesmo site. Outro importante mecanismo de coleta de informações – sobretudo para a composição do perfil dos integrantes da bancada evangélica federal – foram os dados disponibilizados online pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as eleições federais de 2006. Tratam-se de elementos interessantes – declarados pelos próprios candidatos -, como filiação partidária, nível de escolaridade e patrimônio total. Outro elemento importante na realização deste trabalho foi a revisão bibliográfica sobre os trabalhos anteriormente realizados sobre a bancada evangélica federal ou mesmo sobre a politização dos evangélicos. Também tentamos utilizar alguns trabalhos franceses sobre o protestantismo na América Latina para tentarmos encontrar uma visão “estrangeira” sobre o tema, pois, de toda a maneira, trata-se de uma pesquisa realizada dentro de uma instituição de ensino francesa. Uma boa parte dos artigos em português que utilizamos foram encontrados na base de dados do 2010 91/101 Luiz PRISCO Scielo e no mecanismo de busca conhecido como Google acadêmico. Destaca-se também as obras dos cientistas sociais Leôncio Martins Rodrigues, Mudanças na classe política brasileira, e Maria das Dores Campos Machado, Política e religião: participação dos evangélicos nas eleições. Baseado, então, nos dados coletados junto aos sites da Câmara dos Deputados e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), constriumos as três partes que compõem esta monografia, uma de caráter mais teórico, mais descritivo e mais analítico, respectivamente. É, assim, a partir desses elementos apresentados ao longo deste trabalho que se chega a esta conclusão que visa apresentar uma resposta para a problemática de pesquisa e mostrar os principais argumentos construidos ao longo de todo o processo de produção. No entanto, antes de apresentá-los, julgamos interessante uma breve recapitulação das idéias apresentadas em cada parte. Na primeira parte, denominada Evangélicos na política brasileira: a trajetória entre a Igreja e o Congresso Nacional, vimos que atualmente os evangélicos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são a segunda corrente religiosa mais popular do Brasil, apresentando uma tendência de crescimento nos últimos 60 anos, em movimento contrário ao catolicismo. Assim, também mostramos que a representação política desse grupo se faz, de maneira mais evidente, no Congresso Nacional, ou seja, no poder Legislativo. Um exemplo é a consolidação desse grupo religioso como um agente político, pois nas últimas quatro legislaturas o número de deputados evangélicos manteve-se estável. Por fim, demonstramos que a bancada evangélica federal – assim como outras frentes parlamentares – funciona como um organismo especializado em exercer pressão para defender os interesses políticos dos evangélicos, garantido uma pluralidade – no que tange ao campo religioso – no parlamento. Intitulada A bancada na vida política: composição e ação política dos protestantes no Congresso Nacional, a segunda parte deste trabalho traz um quadro descritivo no qual mostramos o perfil da bancada evangélica federal e os resultados da análise quantitativa dos projetos de Lei apresentados pelos deputados pentecostais e neopentecostais durante a 53º legislatura. Assim, demonstramos que se trata de um 2010 92/101 Luiz PRISCO grupo parlamentar plural socio e politicamente – composto por mais de 12 partidos políticos, com destaque para o PSC e PMDB. Ideologicamente, podemos ver uma maioria à direita, precisamente 53,12%. Do ponto de vista da ação política, ou seja a proposição de Leis, percebemos também uma pluralidade, porém, existe um espaço de centralidade para os projetos de Lei sobre duas temáticas: trabalho e direitos do consumidor. Um outro dado interessante que mostramos nesta parte é que 25% dos congressistas evangélicos não apresentaram nenhum projeto de Lei durante a 53º legislatura. A terceira parte deste trabalho, intitulada A “Política protenstante real”: interpretações e considerações sobre os projetos de Lei apresentados pela bancada evangélica federal no Congresso Nacional entre 2007 e 2009, é marcada pour um caráter mais analítico, pois aprofundamos mais a discussão sobre os resultados apresentados na análise quantitativa. A idéia consistiu em uma junção dos dados estatísticos com os elementos teóricos e do perfil da bancada evangélica federal da 53º legislura. Dessa forma, vimos que o lugar de destaque das proposições sobre trabalho e direitos do consumidor estão ligados ao novo perfil dos eleitores evangélicos e também um caráter populista em algumas dessa propostas. Trabalhamos também com a noção de coerência dentro da ação política desse grupo. Em seguida, discutimos a presença de elementos progressistas – ligados à esquerda – dentro da bancada evangélica federal, proporcionada, entre outras razões apresentadas anteriormente, pela presença de políticos de esquerda. Por último, vimos que as propostas eminentemente religiosas perderam espaço, graças à renovação dos idéais políticos dos evangélicos brasileiros contemporâneos. Esse caminho anteriormente apresentado foi desenvolvido para buscar subsídios necessários ao desenvolvimento desta pesquisa. Assim, como mostramos na Introdução, este trabalho partiu de três hipóteses. São elas: • 2010 O perfil da Bancada Evangélica Federal influencia sua ação política. 93/101 Luiz PRISCO • Apesar de uma composição variada é possível encontrar uma linha comum de ação política. • A ação política da Bancada Evangélica Federal reflete os principais sujeitos de interesses das Igrejas Evangélicas. Assim, podemos argumentar que a primeira hipótese foi confirmada, pois mostramos que, em primeiro lugar, o perfil (político, economico, social e religioso) variado da bancada evangélica federal gera também um grau de pluralismo na ação política desse grupo, pois como vimos foram 1 temáticas resultantes da análise quantitativa dos projetos de Lei propostos durante a 53º legislatura. Depois, também vimos que em casos mais específicos o perfil político exerce influência, pois a presença de políticos ligados a partidos que estão à esquerda do espectro político brasileiro fez com que encontrassemos dentro desse grupo parlamentar uma ação, no entanto não majoritária, de caráter progressista. Outro ponto que vimos é a ligação com o eleitorado principal dos evangélicos, os fiéis das igrejas que ocupam majoritariamente uma classe social a qual são voltados a maior parte das proposições dos deputados pentecostais e neopentecostais. Argumentamos, então, que a ligação deste último fato com o perfil dos evangélicos aparece no fato de que uma grande parte das profissões presentes entre os deputados da bancada evangélica federal são de caráter religioso ou políticos profissionais. Dessa forma, colocamos que esses últimos representam os líderes políticos já constituídos do grupo religioso que estamos estudando. Assim, de acordo com a discussão que apresentamos anteriormente, concluímos que é possível falar de uma ligação entre os perfis socioeconômico, político e religioso da bancada evangélica federal com a sua atuação dentro do Congresso Nacional. A segunda hipótese desenvolvida para responder a problemática deste trabalho também foi confirmada. Afinal, de acordo com os elementos mostrados nas partes anteriores dessa monografia, vimos, inicialmente, que a bancada evangélica federal possui uma composição variada – política e socioeconomicamente – com presença de partidos políticos diversos, um exemplo curioso é que podemos 2010 94/101 Luiz PRISCO encontrar dentro do grupo os partidos que rivalizam o poder no Brasil atualmente, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Em seguida, podemos argumentar que apesar dessa pluralidade, existe uma linha comum dentro da ação política dos deputados evangélicos. Esse fato é comprovado pela predominância da ideologia de direita e pela presença majoritaria das temáticas Trabalho e Direitos do consumidor, que dão o mote do comportamento político dos parlamentares ligados a essa corrente religiosa durante a 53º legislatura. Essa hipótese, de certa forma, esta ligada à anterior, pois essa linha comum de ação política é baseada no elementos predominnantes dos perfis da bancada evangélica federal. E, julgamos válido apontar, é essa linha comum um dos elementos mais importantes para construir a resposta à problemática dessa pesquisa, pois é assim que poderemos resumir a ação política deste grupo parlamentar. Essa discussão será apresentada mais adiante nesta conclusão. No entanto, a terceira hipótese apresentada por este trabalho não pode ser confirmada integralmente. Podemos dizer que no máximo apresentamos alguns indícios que apontariam nesta direção, mas faltam elementos mais concretos para afirmamos que a ação política da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura reflete os principais sujeitos de interesses das Igrejas Evangélicas. Como mostramos no terceiro capítulo da última parte, os valores religiosos – que representariam os interesses das igrejas evangélicas – parecem estar dissolvidos entre todos os 358 projetos de Lei apresentados, sendo uma que apenas uma pequena parte representaria os objetivos diretos dessa corrente religiosa. No entanto, mesmo considerando que existam projetos com esse caráter, aqueles categorizados como Homenagens ou Questões Religiosas, não é possível identificar precisamente nos outros projetos a influência religiosa. Argumentamos que essa deficiência é, em alguma parte, resultado da opção metodológica por nós utilizada. Acreditamos que para confirmar integralmente essa hipótese, seria necessário uma análise mais qualitativa dos projetos de Lei utilizados como corpus de pesquisa, pois, dessa forma, entederíamos o conteúdo desses documentos e, consequentemente, poderíamos perceber a influência dos princípios 2010 95/101 Luiz PRISCO evangélicos em sua composição. Outro elemento que consideramos importante quanto a este problema é a realização de entrevistas com esses congressistas para buscar respostas sobre o peso da religião na realização da atividade parlamentar. Portanto, argumentamos que se trata de uma hipótese não completamente confirmada porque mesmo com a prresença de alguns projetos claramente identificados com os valores evangélicos, não podemos extender essa conclusão a totalidade do corpus de pesquisa por nós analisado. É interessante notar que todos os objetivos propostos por este trabalharam foram por nós alcançados. Isso significa dizer que ao longo desse processo de pesquisa foi possível desenvolver elementos importantes e, praticamente, essenciais para antigir o resultado desejado. Dessa forma, podemos dizer que conseguimos traçar os perfis social, econômico e político da bancada evangélica federal, apresentar um panorâma do funcionamento das bancadas no Congresso Nacional, tabular e categorizar os projetos de Lei apresentados pelos deputados evangélicos durante a 53º legislatura e, por fim, desenvolver um arranjo metodológico capaz de oferecer elementos necessários para o desenvolvimento de respostas para a problemática que funciona como norte dessa pesquisa. Dessa forma, podemos responder à pergunta que norteou este estudo. Conforme apresentamos na introdução, ela questionava os seguinte ponto: De qual maneira se desenvolve a ação política da bancada evangélica federal da Câmara dos Deputados do Brasil durante a 53º legislatura? Como resposta, colocamos que a ação política da bancada evangélica federal durante a 53º legislatura é centrada em dois temas: Trabalho e Direitos do Consumidor. Conforme argumentamos, esse resultado mostra uma ação política coerente, pois responde às necessidades dos eleitores que compõem a base eleitoral dos evangélicos. Nesse ponto, essa ação política se assemelha à categorização porposta por Sandro Amadeu Cerveira (2009) que fala de uma “inserção estratégicocorporativa”. Por fim, aparece uma articulação discursiva; a Inserção estratégico-corporativa que sustenta que a 2010 96/101 Luiz PRISCO atuação de um político evangélico deve ter como objetivo prioritário a defesa e a construção das condições político-jurídicas de sobrevivência e reprodução do grupo (igreja ou denominação) que lhe dá sustentação eleitoral, dos demais evangélicos e eventualmente do próprio campo religioso (CERVEIRA, 2009: 2-3). Ou seja, é uma ferramenta utilizada pelos integrantes da bancada evangélica federal da 53º legislatura para garantir sua sustentação eleitoral, exercendo uma ação política que benefecia diretamente a maior parte de sua base eleitoral. Dessa forma, argumentar que se trata de uma ação coerente e também de uma estratégia políticoeleitoral que, de acordo com os dados apresentados anteriormente, tem se mostrado eficaz para este grupo. Também podemos falar de um caráter predominante de direita, baseados, então, nos dados apresentados no perfil político. Afinal, mais de 50% da bancada evangélica federal está ligada a partidos políticos que ocupam este espaço ideológico. Também vimos que os projetos de Lei predominantes apresentam, por vezes, um caráter mais populista, característicos dessa corrente ideológica. No entanto, precisamos ressaltar que se trata de um grupo plural, no qual encontramos, conforme discutido ao longo do segundo capítulo da terceira parte, elementos progressistas, ligados à ideologia de esquerda, dentro da ação política da bancada evangélica federal da 53º legislatura. Porém, argumentamos que a linha comum de ação desse grupo é centrada na questão da coerência com as necessidades mais eminentes da base eleitoral da bancada evangélica federal, centrada, em sua maioria, em projetos de Lei ligados às temáticas do trabalho e do direito do consumidor. De toda forma é importante ressaltar que os resultados aqui apresentados que fomentam essa discussão funcionam apenas para a análise da bancada evangélica federal da 53º legislatura, nosso objeto de estudo. Não é possível fazer generalizações e, assim, não podemos afirmar que esse comportamente sempre esteve presente em todas as bancadas evangélicas federais que já exitiram no Congresso Nacional ao longo da história política brasileira. 2010 97/101 Luiz PRISCO Como agenda futura, este trabalho aponta para novos objetivos. Inicialmente, entendemos que é necessário completar os dados aqui apresentados por meio de uma análise de caráter mais qualitativo, que possibilitará uma compreensão mais adequada e mais precisa da ação política dos deputados evangélicos. Em pesquisas futuras, acreditamos também ser interessante trabalhar de maneira comparativa com os outros países da América Latina, nos quais os evangélicos ocupam um lugar de destaque na vida política. Por fim, sugerimos também uma pesquisa que possa trabalhar diretamente com os políticos envolvidos nesse processo, por meio de entrevistas ou mesmo da observação das rotinas desses homens público. Dessa forma, acreditamos que podemos encontrar elementos imporantes para a compreensão da ação política dos deputados envangélicos no Congresso Nacional. Esses elementos, que faltam a esse trabalho por conta das condições de realização, podem aparecer em projetos futuros, pois não é nossa pretensão encerrar este ciclo de pesquisas somente com esta única monografia. O cruzamento entre evangélicos e a política brasileira oferece, ainda, inúmeros problemas de pesquisa para as Ciências Sociais. 2010 98/101 Luiz PRISCO Bibliografia Obras impressas AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio (2007). Sistema Politico Brasileiro: Uma Introduçao. UNESP, 496p. BAUDOUIN, Jean (1998). Introduction à la sociologie politique. Paris: Éditions du Seuil, 325p. CAMPENHOUDT, Luc Van; QUIVY, Raymond (1995). Manuel de recherche en sciences sociales. Paris: Dunod, 288p. DAHL, Robert (1998). On Democracy. Londres: Yale University Press, 218 p. DUVERGER, Maurice (1976). Les partis politiques. Paris: Armand Colin, 566p. ÉTIENNE, Jean et al (2009). Dictionnaire de sociologie. Paris: Hatier, 448p. FRESTON, Paul (1997). Protestantismo e democracia no Brasil. 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