Por uma nova revolucao iraniana

Transcrição

Por uma nova revolucao iraniana
Dossiê
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Por uma nova revolucao
´
iraniana
José Welmowicki
Editor de Marxismo Vivo
Tito Niegra
Partido Socialista dos Trabalhadores (PSTU) - Brasil
2009: Manifestações contra a fraude eleitoral
Em 12 de junho passado ocorreram as eleições para a presidência do Irã.
Mal havia se encerrado a votação, foram divulgados os resultados oficiais,
dando a vitória ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, que buscava a reeleição,
por 62,3% contra 33,7% de seu principal adversário, Mir-Hossein Mousavi.
Imediatamente após a divulgação iniciou-se uma gigantesca onda de
mobilizações populares denunciando a fraude. Estima-se em mais de três
milhões os manifestantes que ocuparam as ruas de Teerã e de outras importantes cidades por vários dias, desafiando a forte repressão do Estado e dos
grupos paramilitares leais ao regime. Esta, que foi a maior revolta popular
após a revolução de 1979, retrocedeu em um primeiro momento, após a
violenta repressão que assassinou ao menos 17 ativistas e prendeu centenas,
mas logo depois, em 18 de setembro, as massas deram provas de que não
estavam derrotadas, e aproveitando-se dos atos convocados oficialmente
no Dia de Jerusalém, ação anual pró-Palestina e contra Israel, participaram
das manifestações, mas com suas próprias bandeiras e slogans contra o
regime, desafiando os organizadores, todos vinculadas à hierarquia. Ainda
em setembro assistimos a novas manifestações, desta vez contra as prisões
políticas e as severas penas que a ditadura quer impor aos que foram detidos
nos atos anteriores. No momento em que escrevemos este texto, a imprensa
internacional noticia que as forças de segurança cumpriram suas ameaças e
reprimiram manifestantes convocados pela oposição, que iriam participar
da comemoração, neste 4 de novembro, do 30º aniversário da ocupação da
Embaixada americana em Teerã.
A burguesia internacional, por meio de seus agentes, os governos, a
grande mídia, a União Européia, coerente com seus objetivos geopolíticos e
econômicos (que de fato são tão somente econômicos), explora ao máximo
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essas mobilizações, denuncia a fraude e a repressão e exige a “democratização”; interessa-lhe o enfraquecimento do regime para que possa negociar em
condições mais vantajosas, acelerar a abertura econômica, as privatizações, e
aumentar sua influência na região.
E quanto à esquerda? Apoiamos Ahmadinejad e seu discurso antissionista
e anti-imperialista? Ou talvez Mousavi com suas promessas de democratização
e reforma política? Apoiamos e nos solidarizamos com a mobilização popular
que vem sendo violentamente reprimida? Ou essa onda de protestos é coisa
das classes médias abastadas, pró-imperialistas e manipuladas pela CIA?
Queremos discutir qual o caráter de classe do regime iraniano, e a partir
daí nos posicionarmos frente à realidade atual. É de fundamental importância
para os trabalhadores iranianos e de toda a região que não se cometa os erros
de 30 anos atrás, que levaram à derrota da revolução e à implantação de uma
ditadura teocrática. É possível e necessário que se construa uma saída de
classe para a crise atual.
O regime dos aiatolás
Estes recentes protestos populares no Irã são o ápice de um processo que
vem sendo fermentado há anos, e para sermos mais exatos, são parte de uma
luta que vem sendo travada desde 1979, há 30 anos, portanto, pelos protagonistas de uma das mais impressionantes revoluções do século 20, a classe
trabalhadora iraniana, que na origem dirigia-se contra monarquia repressiva
corrupta do Xá, e hoje se dirige contra a burguesia encabeçada por um clero
islâmico reacionário, que assumiu o poder após a derrubada do Xá, e se impôs
principalmente às custas de uma violenta repressão contra os opositores.
Uma das questões que ajuda a criar confusão sobre o caráter do regime
iraniano é sua origem na revolução de 79. Assumindo o poder à frente desta
tremenda revolução e obrigado a utilizar um discurso anti-imperialista pela
dimensão da luta e pelos ataques impiedosos que o imperialismo deflagrou
desde o início, o clero xiita utilizou expressões típicas da esquerda e das
correntes de libertação nacional e nacionalizou a indústria petrolífera e o
comércio exterior. Mas, desde o início, a política deste setor que assumiu o
poder depois da queda do Xá era reconstruir o poder burguês, estabilizar o
capitalismo para terminar com a situação revolucionária e colocar os trabalhadores como seu apêndice, reprimindo-os, caso necessário.
O regime teocrático criou, desde o início, dois fortes instrumentos repressores, diretamente vinculados ao Líder Supremo. O primeiro é a Guarda
Revolucionária Islâmica (Pasdaran), com a função de preservar a segurança
nacional e defender a revolução, atuando na defesa contra ataques externos,
e na repressão à oposição interna, seja dos trabalhadores, da juventude,
ou das minorias étnicas. O segundo instrumento de repressão são grupos
paramilitares não-regulares, conhecidos como milícias Basij, formados
principalmente por jovens recrutados na zona rural e entre o lumpesinato.
Constitui-se de um efetivo de 90 mil na ativa e dois milhões de reservistas.
São uma “força de intervenção popular rápida” e têm como função “combater
os inimigos internos da Revolução e fazer respeitar os códigos islâmicos”.
São conhecidos pela violência e crueldade na repressão às manifestações de
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protesto internas, sendo os responsáveis pelos assassinatos nas manifestações
após as eleições deste ano. Tanto os membros da Guarda Revolucionária
quanto os das milícias Basij vêm sendo mantidos sob rígido controle por
meio de benefícios financeiros e favores, sendo que atualmente as Guardas
Revolucionárias expandiram sua atuação também para áreas de indústria e
comércio de armamentos, telecomunicações, etc., por meio de fundações,
como será visto a seguir.
Apesar da violenta repressão por parte do Estado, a classe trabalhadora
iraniana não parou de lutar, até porque os ataques às suas condições de vida
e aos seus direitos nunca permitiram que as experiências da revolução de
1979 fossem esquecidas.
A luta dos trabalhadores e oprimidos
Apesar da repressão permanente, o movimento operário iraniano é dos
mais fortes e combativos da região. Como descrito em artigo nesta mesma
revista1, os Comitês Operários (Shoras) foram a base fundamental da revolução de 79, sendo por isso atacados e reprimidos duramente pela hierarquia
xiita. Logo nos primeiros anos no poder, os aiatolás impuseram um modelo
repressivo de sindicato, pelo qual os trabalhadores são pretensamente representados pelas Casas de Trabalho, entidades totalmente controladas pelo
regime. No entanto, desde o final dos anos 90, apesar da repressão, os operários vêm retomando suas lutas e construindo instrumentos independentes
de organização.
Desde 2003, os trabalhadores vêm participando dos atos de 1° de maio,
procurando dar aos mesmos um caráter de manifestações não oficiais, de
reivindicações e de protestos. Mesmo com o regime reprimindo com prisões
e demissões, a cada ano mais e mais setores aderem a estas manifestações de
protesto, levantando as bandeiras por melhores condições de vida, por liberdade e contra o regime. Na cidade de Tabriz, segunda maior concentração
industrial do Irã, o sindicato oficial decidiu que a manifestação do 1º de maio
de 2006 seria a favor do programa nuclear iraniano. Os manifestantes (cem
mil pessoas, segundo algumas fontes) passaram dos lemas oficiais, a gritar
palavras de ordem com suas reivindicações trabalhistas.
Alguns setores construíram seus sindicatos ou comitês de empresa independentes: um exemplo são os condutores de ônibus de Teerã. Este vem
sendo um sindicato independente muito ativo, que organizou várias greves e
lutas vitoriosas contra a prefeitura e o regime. Seu dirigente, Mansur Osanloo,
está há vários anos na prisão.
A comissão da fábrica de automóveis Khodro é outra vanguarda da
reorganização. Há anos eles lutam e resistem às pressões do regime. Recentemente, em maio último, estes trabalhadores obtiveram uma importante
vitória quando entraram em greve pelo recebimento de salários atrasados,
conseguindo também que os operários temporários fossem efetivados.
Aliás, chama a atenção o fato de cada vez mais trabalhadores sairem à luta
para, simplesmente, receber os seus salários. Os efeitos da crise econômica
mundial, que a burguesia tenta jogar nas costas dos trabalhadores, fez com
que ocorressem cada vez mais lutas, nas mais diversas categorias: a mídia
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1 Ver Irã,1979: uma
revolução interrompida
nesta edição.
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internacional noticia que 1700 operários da Wagon Pars Company, grande
empresa construtora de vagões ferroviários e recentemente privatizada, localizada em Arak, um dos principais centros industriais do Irã, entraram em
greve de fome por não receberem seus salários há mais de 75 dias (a empresa
admite atraso de dois meses), e por estes atrasos serem constantes. A greve
de fome teve início depois que a empresa demitiu parte dos grevistas. Os
operários da Wagon Pars receberam a solidariedade dos trabalhadores da Iran
Khodro, cujos operários têm longa tradição de luta. Dentre estas várias greves
ocorridas em 2009 contra o atraso dos salários, podemos ainda citar a dos
trabalhadores da fábrica de pneus Alborz, com salários atrasados há 5 meses,
e a dos trabalhadores de várias fábricas têxteis. Por fim, queremos citar a luta
dos professores, dos quais 80% são mulheres, com salários extremamente
baixos, que vêm construindo manifestações massivas por melhorias salariais,
e são um dos setores de ponta na luta contra o regime.
Os trabalhadores e a juventude vêm encontrando interessantes formas
de burlar a repressão: participam de manifestações organizadas oficialmente
e a partir de um determinado momento começam a gritar as suas próprias
palavras de ordem antiregime. Isso ocorreu, além do 1º de Maio, no Dia
de Jerusalém e, agora, na comemoração do 30º aniversário da ocupação da
embaixada americana em Teerã.
Juntamente com as lutas dos trabalhadores, há as lutas por liberdades
democráticas dos estudantes e das mulheres, como as que ocorreram em
1999 e foram fortemente reprimidas sob o governo de Khatami. Por fim, as
minorias étnicas lutam por seus direitos (e em alguns casos por seus territórios), como os curdos e azeris na região norte e os baluches no sul do Irã.
A estrutura econômica do Irã
O Irã possui uma população de aproximadamente 67 milhões de habitantes bastante jovem, com uma idade média de 27 anos, sendo 68%
concentrada nas cidades. Sua força de trabalho é estimada em 25 milhões de
trabalhadores, distribuídos nos setores da agricultura (25%), indústria (31%)
e serviços (45%). A taxa de desemprego oficial é de 12,5%, mas estimativas
não-oficiais dão números superiores a 20%. A taxa oficial de inflação - certamente subestimada - foi de 25,6% em 2008, uma das mais altas do mundo,
e 25% da população vive abaixo do nível de pobreza, segundo o Ministro do
Bem Estar Social.
A economia iraniana é capitalista, ainda que sua forma de gestão possa
confundir um observador desavisado, pois é composta por um emaranhado
de empresas estatais, diversas fundações islâmicas (as chamadas Boniads) e
empresas privadas. Esta estrutura expressa a forte relação de dependência e
interesses mútuos entre a burguesia (a tradicional e a composta pelos altos
escalões do Estado) e o clero islâmico, que parasita o Estado, acumulando
fortunas incalculáveis. O exemplo das Boniads é bastante ilustrativo: foram
criadas no governo do Aiatolá Khomeini, com o objetivo de “redistribuir
a riqueza” confiscada do regime do Xá, por meio da construção de casas
populares, clínicas de saúde, etc. Atualmente são em torno de 100 grandes
fundações (Fundação dos desamparados, Fundação dos mártires, Fundação
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dos oprimidos e inválidos de guerra, etc.), que atuam em praticamente todos
os ramos da economia iraniana, e movimentam uma fração impressionante do
PIB, entre 30 % e 50%. Estas fundações são consideradas entidades privadas,
e eram até há pouco tempo isentas de impostos, de taxas de importação,
além de gozarem de enormes benefícios e privilégios, de forma que acabam
por monopolizar os setores da economia em que atuam. Além disso, o tráfico de influência e a corrupção não permitem que grandes negócios sejam
realizados sem a participação ou intermediação de uma fundação. Não há
controle algum sobre seus negócios e sua contabilidade, pois só devem prestar
contas ao Líder Supremo, que indica e afasta os dirigentes. Por trás destas
fundações encontraremos as lideranças religiosas (os mulás e aiatolás), os
máximos dirigentes do Estado, os comandantes da Guarda Nacional, e uma
rede de aliados, ou seja, a nova burguesia que se formou e se consolidou com
o regime islâmico, cujos negócios e acúmulo de riqueza dependem de suas
relações com o aparato do Estado.
Tomemos como exemplo a Mostazafan & Jambazan Foundation (Fundação para os Oprimidos e Inválidos da Guerra), o segundo maior empreendimento comercial do país, perdendo apenas para a gigante estatal National
Iranian Oil Co. Ela emprega mais de 400 mil trabalhadores, possuindo
ativos superiores a US$ 10 bilhões, em setores tão díspares como a antiga
rede de hotéis Hilton, a companhia de refrigerantes Zam-Zam, sucessora da
Pepsi, uma companhia de transportes marítimos, petroquímicas, indústrias
de cimento, propriedades rurais e imóveis urbanos. Criada originalmente
como uma fundação de assistência social, capitalizada com elevadas somas
expropriadas das riquezas do Xá, em 1996 começou a requerer fundos governamentais para cobrir os gastos assistenciais, ao passo que começava a abandonar suas funções para se dedicar exclusivamente às atividades comerciais.
Esta fundação esteve até há pouco tempo nas mãos de Mohsen Rafiqdoost,
Ministro da Guarda Revolucionária nos tempos de Khomeini e transferido
para a Fundação em 1989, quando o aiatolá Ali Akbar Hashemi Rafsanjani
assumiu a presidência do país.
Atualmente, Rafiqdoost, filho de modestos comerciantes de frutas e
verduras à época da revolução, é um dos homens mais ricos e poderosos do
regime, e está à frente de outra Fundação, a Noor Foundation, que constrói
blocos de apartamentos e atua na importação de produtos farmacêuticos,
açúcar, materiais de construção, etc.
O poder no Estado Iraniano
Os protestos que levaram multidões às ruas, contra os resultados eleitorais
no Irã, e que ainda continuam, expõem as profundas divisões na sociedade
daquele país. A mídia internacional procura caracterizar as eleições como
uma disputa entre o Bem (Mir-Hossein Mousavi) e o Mal (Mahmoud Ahmadinejad), sendo que o primeiro representaria a democracia, a liberdade,
e a modernidade enquanto o segundo seria a continuidade de uma ditadura,
de um país ligado ao terrorismo internacional. Alguns setores da esquerda
entendem de outra forma: Mousavi seria um agente a serviço do imperialismo,
um entreguista neoliberal, enquanto Ahmadinejad seria a garantia de um país
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independente, antissionista e que manteria acesa a chama anti-imperialista.
Afinal, quem e o que representam e defendem estes personagens?
O clero xiita foi a direção política de um setor burguês que se insurgiu
contra a espoliação exacerbada realizada pelo imperialismo por meio de seu
agente, o Xá. Para isso, o clero se apoiou no protesto das massas. Mas assim
que se sentiu fortalecida o suficiente, tratou, conforme seus interesses de
classe, de reconstruir o Estado burguês e submeter os trabalhadores. Hoje,
o clero segue sendo expressão de setores burgueses que lutam por um espaço
próprio no mercado, frente à ofensiva recolonizadora e às limitações impostas
pela crise econômica mundial.
O Estado iraniano é burguês e tem um regime bonapartista. De tal forma
que as disputas eleitorais se dão por dentro das instituições e são um jogo de cartas marcadas. As eleições no Irã são totalmente controladas pelo poder central
(o Líder Supremo e o Conselho de Guardiões) que não permite candidaturas
independentes, de mulheres, e muito menos de opositores de esquerda. Não
há liberdade de organização política. Com isso, as disputas eleitorais vêm se
resumindo a embates entre representantes das frações burguesas que dão
sustentação ao regime. Antes de analisarmos estas disputas entre os setores
da burguesia iraniana, vejamos um pouco da biografia de seus representantes:
• Aiatolá Ali Khamenei: teve importante papel na implantação da República islâmica, sendo um colaborador bastante próximo de Khomeini.
Foi presidente do Irã de 1981 a 1989, ano em que foi eleito Líder Supremo
pelo Conselho de Especialistas, em substituição à Khomeini que falecera.
É, portanto, o centro do poder hoje, mas é criticado por vários setores do
regime que já começam a discutir sua sucessão
• Aiatolá Ali Akbar Hashemi Rafsanjani: presidiu o parlamento iraniano entre 1980 e 1989, sendo posteriormente eleito Presidente do Irã de 1989
a 1997, sucedendo Ali Khamenei. É acusado por vários setores de corrupto
e de utilizar seu poder para beneficiar os negócios familiares. Em 2003 foi
citado pela revista Forbes como um dos homens mais ricos do Irã. Voltou
à cena em 2005 quando disputou a presidência com Ahmadinejad, que o
derrotou no segundo turno. Rafsanjani ocupa a presidência do Conselho de
Especialistas desde 2007.
• Mohammad Khatami: antes de ser eleito presidente, Khatami foi
membro do Parlamento (de 80 a 82), Ministro da Cultura e ocupou vários
cargos no governo. Exerceu o cargo de presidente por dois mandatos, de
1997 a 2005. Sua primeira eleição, em 1997 foi um marco no processo político iraniano, pois 80% do eleitorado compareceu às urnas (o voto não
é obrigatório no Irã) e destes, 70% votaram em Khatami, atraídos pelas
propostas que o identificavam como um político reformista. No plano econômico, Khatami deu continuidade ao projeto neoliberal de seu antecessor,
Rafsanjani, financiando o setor privado, abrindo a economia e acelerando as
privatizações.
• Mir-Hossein Mousavi: foi primeiro-ministro do Irã de 1981 a 1989,
o período da guerra Irã-Iraque. Teve importante papel nos acordos secretos
com os EUA, conhecido como o escândalo Irã-Contras. Após a morte de
Khomeini, que lhe dava sustentação política, seu grupo ficou enfraquecido
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e ele se afastou da vida pública, retornando nas últimas eleições como o
candidato a presidência do setor reformista, derrotado por Ahmadinejad.
• Mahmoud Ahmadinejad: após a revolução, fez parte da Agência para
a Consolidação da Unidade (OSU), entidade estudantil criada para combater os grupos de esquerda que tradicionalmente atuavam nas universidades.
Durante a investida contra as universidades, chamada por Khomeini de Revolução Cultural Islâmica, os militantes da OSU promoveram o expurgo
de um grande número de professores e estudantes dissidentes, muitos dos
quais foram presos e executados. Ocupou cargos de governador em pequenas províncias, até que em 2003 assumiu a prefeitura da cidade de Teerã. Em
2005 foi eleito presidente com um discurso populista, dizendo-se defensor
dos pobres.
Como se pode constatar são todos políticos com origem no clero ou em
organizações ligadas à hierarquia e que fizeram suas carreiras por dentro do
regime, ocupando importantes cargos na estrutura de poder iraniano nos
últimos 30 anos. Nenhum destes personagens representa um rompimento
com o regime teocrático, continuam fiéis à República Islâmica, colocam-se
como seus defensores e disputam posições aceitando suas regras.
Na essência, Ahmadinejad e Mousavi representam dois grandes blocos
da burguesia que disputam eleitoralmente o controle do aparato estatal para
melhor se beneficiarem economicamente. Nesse ponto há muita semelhança
com as disputas interburguesas tão comuns na maioria dos países e que se
expressam em distintos partidos. Esta disputa tornou-se mais acirrada nas
últimas eleições, como consequência da crise econômica e da queda do preço
do petróleo, o que significa uma diminuição do tamanho do “bolo” e menos
oportunidades de negócio. Reflexo disso foi Ahmadinejad acusar publicamente a Rafsanjani de corrupto, enquanto este defendeu o fim da figura do
Líder Supremo, que deveria ser substituído por um Conselho de Aiatolás.
Há outra componente, relacionada ao tratamento dado aos movimentos
sociais (lutas sindicais, juventude, mulheres, minorias étnicas e religiosas),
sobre qual é a melhor tática para não fugirem do controle, e assim não questionem ou enfraqueçam o regime islâmico, mas que também deem sustentação eleitoral a uma ou outra ala. Este é um tema extremamente importante
e muito atual, já que o governo vem procurando jogar as consequências da
atual crise econômica nas costas dos trabalhadores, aumentando os conflitos e tensões sociais. A ala de Ahmadinejad e de Ali Khamenei investe na
repressão, no aparato policial e nas milícias fascistas; atacam as lutas sindicais e por liberdades políticas, prendem seus dirigentes; não reconhecem
os direitos das mulheres e das minorias étnicas. E trata de compensar essa
posição opressiva com populismo, prometendo mais comida aos pobres, e
políticas assistencialistas e compensatórias, embalados por um forte discurso
anti-imperialista, utilizado para justificar, tanto as “dificuldades econômicas”
quanto a repressão aos “agentes desestabilizadores infiltrados”. O discurso
anti-imperialista tem ainda a função de elevar, interna e externamente, o
regime iraniano como liderança regional, que se coloca contra os interesses
americanos na região, fortalecendo-se e aumentando sua importância nas
negociações internacionais.
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A ala reformista, representada por Mousavi, defende um regime com
algumas aberturas, com maiores liberdades e, que alivie ou desvie as tensões
sociais, evitando que fuja do controle, pois teme uma explosão social que
possa derrubar os alicerces do regime, como já ocorreu em situações semelhantes. Apresenta-se como liberal, tanto política como economicamente. A
campanha de Mousavi baseou-se em promessas vagas como a justiça social,
a igualdade, a liberdade de expressão, o combate à corrupção, etc. Com isso,
recuperou a simpatia dos movimentos sociais, particularmente da juventude
e de setores da classe média, que haviam se decepcionado com o governo
de seu aliado Khatami, que há dez anos uniu-se a Khamenei na repressão
violenta às manifestações estudantis por liberdades democráticas, liberdades
que iam além dos limites aceitáveis para o regime. Esta é uma ala da burguesia
iraniana com maiores ligações com o imperialismo europeu, com o qual tem
fortes vínculos comerciais em várias áreas, e por isso defende maior abertura
econômica e a aceleração das privatizações.
Já vimos que estas alas da burguesia iraniana movem-se em defesa de seus
interesses na apropriação das riquezas do Estado, mas se unem quando veem
qualquer ameaça ao regime teocrático, numa clara indicação de quão limitada
é a “democratização” defendida pela ala de Mousavi. E quanto à gestão da
economia? Ainda que haja diferenças nos ritmos que cada um quer impor, não
há uma disputa entre os defensores da privatização e os que defendem uma
economia estatizada. Ou entre aqueles que querem mais relações comerciais
com o imperialismo, e aqueles que as rejeitam. Qualquer análise das medidas
tomadas por Ahmadinejad mostram que foi em seu governo, considerado
estatizante e anti-imperialista por parte da esquerda, que ocorreu o maior
número de privatizações, e quando as relações comerciais com o imperialismo,
inclusive o americano, mais se intensificaram.
Na página oficial da Organização Iraniana de Privatização é apresentada,
como oportunidade de investimento para o mercado internacional, a lista das
empresas a serem privatizadas em 2009, por meio da venda de suas ações ou
pelo recebimento de ofertas2. A lista envolve petroquímicas, siderúrgicas,
companhias de gás, de refino de petróleo, companhias aéreas, bancos, a Companhia Iraniana de Telecomunicações. Somado a isso, tem-se o anúncio do
atual Ministro do Comercio do Irã, Masoud Mir-Kazemi, de que o Irã atraiu,
em 2008, 300% mais investimentos externos que nos dois anos anteriores;
ou ainda o anúncio do Ministério de Assuntos Econômicos e Finanças, de
que na gestão Ahmadinejad as privatizações já haviam superado em mais de
três vezes as ocorridas nos quinze anos anteriores.
Por fim, dados oficiais revelam que, apesar dos choques e da hostilidade
no discurso, os governos Bush e Ahmadinejad foram extremamente pragmáticos em termos de parceria comercial: as transações comerciais entre EUA
e Irã aumentaram cerca de 600% nos quatro anos do primeiro mandato do
presidente iraniano.
Como vimos, estas duas alas do regime iraniano são semelhantes, e o que
levou o acirramento das disputas entre as mesmas atingir um nível inédito
nestas eleições é a crise econômica, que como dissemos, reduz as “oportunidades”. Para se manterem, estas alas têm que, necessariamente, uma tomar
2 www.guardian.com.
u k / wo r l d / 2 0 0 9 /
oct/12/us-irantrade-mahmoudahmadinejad #historybyline, acessada
em 26/10/09
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o espaço da outra, e isso enfraquece o regime, provoca fissuras. O problema
para eles é que a crise tem outras consequências: ao procurar transferir a conta
para os trabalhadores, leva-os a reagirem, a se defenderem, a lutarem... e é
isso o que explica o aumento das greves no último período. As massas, ao
entrarem em cena na luta por seus interesses, intervêm no processo eleitoral,
e acirram ainda mais as contradições do regime bonapartista, levando a uma
crise nas alturas.
É muito difícil, dado o grau de crise e enfraquecimento do regime, que
mesmo com a violenta repressão seja possível voltar ao status anterior, como
almeja Ahamadinejad, ou apenas com pequenas aberturas como querem Mousavi e Rafsanajani. A experiência da revolução de 79 poderia servir de lição
aos ditadores de hoje, e talvez seja a origem dos fantasmas de suas noites mal
dormidas. Esta revolução certamente continua nas mentes e corações dos trabalhadores, que foram novamente despertados para a ação política de massas.
Os acordos do Irã com o imperialismo para a estabilização da região
Não se pode entender a posição dos imperialismos na crise que vem se
arrastando desde junho, sem analisarmos o papel que ultimamente o Irã vem
cumprindo na situação regional: se por um lado o imperialismo tenta, desde
a revolução de 79, liquidar definitivamente qualquer traço de independência
do regime (e isso explica, por exemplo, a pressão que vem fazendo contra
o programa nuclear), por outro reconhece a importância do Irã na solução
dos vários problemas regionais causados pela desastrosa política da “guerra
contra o terror” de Bush, que reduziu significativamente a força de pressão
militar dos EUA, apesar das centenas de milhares de soldados enviados ao
Iraque e Afeganistão sem conseguir estabilizar a situação. Some-se a isso a
derrota de Israel no Líbano em 2006, além de outro componente explosivo,
que foi a abertura da “caixa de pandora” das lutas inter-étnicas na região.
Hoje os americanos já não podem contar com aliados de peso na região: já
não contam mais com ex-aliados, como Sadam Hussein em 1980, antes de
ser descartado, nem com a influência que o Egito já teve, hoje governado
por Mubarak cada vez mais desmoralizado perante as massas, pelo seu giro
à direita; Israel é odiado e saiu enfraquecido do Líbano, e não se pode contar
com a monarquia corrupta da Arábia Saudita. O Irã tornou-se o único país
com peso suficiente sobre as direções e sobre as massas para desempenhar
um papel significativo na estabilização da região. Sua influência sobre o
Hezbollah, e nos últimos tempos sobre o Hamas, o fortalece como um fator
real de poder na área. Mesmo a Síria, até hoje governada pelo Baas, tem se
colocado em uma parceria com os iranianos para subsistir frente à pressão
de Israel e dos EUA.
O imperialismo viu-se então obrigado a negociar e contar com algum
tipo de relação com o mesmo regime acusado de “fora-da-lei”, “terrorista”,
etc. E estas negociações começaram ainda durante o governo de Bush, para
garantir minimamente a estabilidade no Iraque, com o governo títere de Jaafari e depois de Al Maliki, dirigentes da burguesia xiita iraquiana que eram
e são até hoje homens de confiança do Irã. Como explicar que os governos
de Jaafari e agora de Al Maliki, totalmente vinculados politicamente ao Irã,
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sejam o braço da ocupação se não por uma aliança prática entre Irã e EUA
na sustentação desse “governo”?
As negociações entre EUA e Irã desenvolveram-se ainda mais com a
mudança da realidade após a derrota da política de guerra contra o terror de
G. W. Bush. Apesar dos conflitos com os EUA, estes não impediram que a
direção da república islâmica negociasse e colaborasse ativamente com a dominação imperialista na região, sempre que isso permitisse tirar algum proveito,
conseguir ao menos uma pequena parte dos despojos da rapina imperialista.
Além do exemplo já citado dos acordos para a sustentação dos governos
títeres no Iraque, é um fato já documentado que o Irã vem colaborando
com os EUA em sua ocupação do Afeganistão. Como os talibãs não estão
sob sua esfera de influência, e sob o argumento de que o Talibã pode vir a se
tornar um problema para a estabilização da região, o Irã permite que armas
americanas atravessem seu território para abastecer as tropas que ocupam o
Afeganistão. Além disso, o Irã tem pressionado política e financeiramente
o Hezbollah para que se incorpore ao governo burguês do Líbano. Assim, o
Irã contribuiu para uma relativa estabilização regional, por acalmar uma das
principais organizações que enfrentam militarmente Israel, permitindo um
respiro ao Estado sionista.
O governo Obama, diante da crítica situação deixada por Bush no Oriente
Médio, definiu-se por intensificar as negociações com as forças da região,
buscando uma saída honrosa para a retirada de seus soldados, ao mesmo
tempo em que tenta uma relativa estabilização da região. Para isso, dispõe-se
a uma maior interação com o Irã, o que explica em parte a mudança no tom
das negociações. Os EUA mostram-se dispostos a reavaliar uma colaboração
com os aiatolás, desde que o regime aceite alguns limites, como o abandono
do projeto de enriquecimento de urânio e suas pretensões de produzir armas
nucleares. Não por acaso, Obama fez questão de dizer que abriria o diálogo
com o regime do Irã em sua campanha eleitoral, apesar de suas diatribes contra
Israel. E estimulou abertamente Lula a receber Ahmadinejad em dezembro
no Brasil, para convencê-lo a ser mais flexível.
O Programa Nuclear Iraniano: mais uma capitulação ao imperialismo
Apesar de todas “propostas de diálogo” feitas ao Irã, o imperialismo é
muito claro nas negociações referentes ao acordo nuclear: não aceitará que o
Irã se dote de uma tecnologia que lhe permita desenvolver armas nucleares,
pois isso provocaria muito mais instabilidade da região, particularmente com
Israel. No entanto não conseguem demonstrar que o Irã esteja infringindo
alguma das regras das convenções internacionais, mesmo considerando-se
o Tratado de Não Proliferação vigente, que serve aos interesses das grandes
potências.
Apesar disso os EUA exigem o fim do programa nuclear iraniano, sob o
argumento de que o país não necessita de usinas nucleares para a produção
de eletricidade. Esquecem-se que anos antes usaram argumento inverso para
poder vender reatores ao Irã, quando esse era dirigido pelo governo fantoche
dos americanos. Os EUA têm uma política seletiva para a questão nuclear:
apoiou e colaborou com o programa nuclear de Israel e do Paquistão, sem
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que estes países, juntamente com a Índia (outra aliada), assinassem o Tratado
de Não Proliferação.
Nestes anos todos, o Irã tem denunciado publicamente a discriminação
pela qual vem passando, e afirmado que não abrirá mão de seu direito de enriquecer urânio. Defendemos o direito do Irã à posse e desenvolvimento da
tecnologia nuclear, inclusive a de produzir armas nucleares para defender-se
do imperialismo e de Israel. No entanto, a tendência do regime nesse campo
também tem sido a de capitular, mantendo o discurso anti-imperialista para seu
público interno, e buscando conseguir melhores condições nas negociações
conduzidas pela AIEA e pelo Conselho de Segurança da ONU.
O Irã vem cedendo cada vez mais sua autonomia, chegando ao ponto de
aceitar, mesmo com idas e vindas, abrir mão de seu programa de enriquecimento, e enviar seu urânio estocado (enriquecido a 3,5%) para ser enriquecido na Rússia e França ao nível de 18,5%, retornando já como elementos
combustíveis montados em reator nuclear para a produção de radio-fármacos
utilizados no diagnóstico e tratamento de câncer. Assim, o Irã não teria
urânio em quantidade suficiente para promover o enriquecimento nos níveis
necessários para a construção de armas nucleares.
Qual a saída para o Irã sob a ótica da classe trabalhadora?
A única saída viável para o Irã é uma revolução que derrube o Estado
vigente e aponte a tomada do poder pela classe operária aliada aos camponeses e setores populares. Os diversos processos de luta que vêm ocorrendo
ultimamente se enfrentam diretamente com o inimigo verdadeiro: a ditadura
teocrática, que reprime os trabalhadores, a juventude, as mulheres, as minorias
étnicas e religiosas, e todos os opositores de um modo geral.
Como dissemos no início deste texto, as manifestações de junho foram as
maiores desde 79, e fez com que todos se recordassem daquele processo. Mas
muitos detratores do movimento dizem que eram apenas manifestações da
“classe média” urbana, manipuladas pelo imperialismo. Qualquer análise séria
mostra que nas manifestações de junho havia uma participação do movimento
operário organizado, seja através de presença física de trabalhadores ou de
manifestos como o da Iran Khodro e dos condutores de Teerã. Por isso, houve
fortes manifestações não somente em Teerã, mas também em cidades industriais como Isfahan, ou Tabriz (na região azerbaijã). Por outro lado, houve
uma participação importante dos professores, das mulheres, do movimento
estudantil e de intelectuais. Isso se deu porque a classe operária e os setores
populares estão fartos de serem reprimidos e sofrerem as consequências da
exploração capitalista, avalizada pela hierarquia xiita. Ou seja, foi de fato um
levante operário e popular contra um regime burguês repressivo, apesar de
sua direção ser capitalizada por uma ala da burguesia. Em um enfrentamento
entre as massas e esse regime, não pode haver nenhuma dúvida quanto ao lado
que nos posicionamos: do lado das massas que exigem seus direitos democráticos, ao mesmo tempo em que denunciamos a direção política burguesa
e pró-imperialista, representada por Mousavi.
Não se pode permitir que os mesmos erros de 79 se repitam, e que a
burguesia, (seja a governante, ou as frações opositoras), tome a direção deste
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processo de lutas; isso novamente levaria as massas a um beco sem saída. É
preciso que a classe operária iraniana avance em suas instâncias e métodos
de organização, postule-se como direção dos demais setores oprimidos, e
construa uma saída classista para o Irã, oposta ao regime dos aiatolás, e contra a oposição burguesa e o imperialismo; uma saída que aponte para uma
sociedade socialista.
A defesa das liberdades democráticas não pode ficar nas mãos do
imperialismo
O governo Ahmadinejad continua a perseguição aos opositores após as
manifestações de junho, sob o pretexto de que são organizados pelo imperialismo. Infelizmente, uma parte significativa da esquerda, particularmente
a ligada aos partidos stalinistas e aos chavistas, alinha-se a esta posição e
defende o governo de Ahmadinejad, classificando os protestos como uma
“conspiração da CIA”. Dessa forma, acabam defendendo a sangrenta repressão
do governo iraniano sobre as massas, alegando que é justificável a repressão
ao povo para defender-se do imperialismo. Essa postura, na prática, é uma
valiosa contribuição ao imperialismo, pois deixa em suas mãos sujas de sangue
a bandeira da defesa das liberdades democráticas e da denúncia da repressão.
Estas bandeiras devem estar nas mãos das organizações dos trabalhadoresàs quais é destinado o papel de capitanear o processo de luta dos oprimidos,
chamando a mais ampla unidade de ação em defesa dos direitos democráticos. Por liberdade de expressão e de imprensa, eleições livres, liberdade de
organização política, por uma Assembleia Constituinte e laica, pelo direito
a organizar sindicatos livres, pelos direitos de organização e expressão das
minorias, e pelo fim de todas as instituições bonapartistas típicas do regime
teocrático. E devem, neste processo, colocar suas bandeiras de classe contra
a exploração capitalista e por seu direito à organização independente.
Esse é o caminho para desmascarar Mousavi e sua ala, que têm como
limite a defesa do regime. É preciso combatê-la por dentro do processo
de mobilização para que não canalizem as legítimas aspirações das massas
iranianas para o beco sem saída da reforma do regime e da abertura cada vez
maior ao imperialismo.
Repetimos que, se os trabalhadores e a esquerda mundial não assumirem
a bandeira das liberdades democráticas no Irã, estas serão arrebatadas por
setores da burguesia e do imperialismo, que acabarão ganhando o respaldo
das massas. Defender a repressão às manifestações em nome de uma suposta
natureza anti-imperialista de Ahmadinejad e do regime é repetir a traição do
Tudeh iraniano e da esquerda anti-Khomeini após 79, o que permitiu o fortalecimento do regime, e a repressão ao desenvolvimento de uma alternativa
independente de classe no Irã.
A esquerda revolucionária deve impulsionar a luta contra a ditadura dos
aiatolás, e ao mesmo tempo denunciar qualquer ilusão na oposição burguesa
e no imperialismo. A tomada do poder pela classe trabalhadora é o único
caminho para expulsar de vez o imperialismo e acabar com a exploração
capitalista no Irã.
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