Rivista di Massoneria - Revue de Franc-Maçonnerie

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Rivista di Massoneria - Revue de Franc-Maçonnerie
Rivista di Massoneria - Revue de Franc-Maçonnerie - Revista de
Masonerìa - Revista de Maçonaria
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TEMAS PARA O APRENDIZ MACOM
Capítulos 1-10
Ven.Irmão OMAR CARTES
Capítulo 1
Associações de Pedreiros da Antigüidade
Na procura das origens da Maçonaria, os historiadores têm
analisado as associações que existem desde os mais tempos mais
longínquos e encontrado que os pedreiros ou outros ofícios
relacionados com a arte de construir tem-se destacado por serem
eles os que mais tem criado este tipo de associações, em certa forma
similares das conhecidas nos tempos da Idade Média.
Na antiga Caldéia existiriam confrarias de construtores 4.500 anos
ac e têm-se encontrado certos monumentos acádicos em que aparece
um triângulo como símbolo da letra Rou (construir).
No Egito a arquitetura foi ciência sacerdotal, iniciática, hermética,
com segredos que eram mantidos fora do alcance da sociedade
comum.
Na China, existiam livros sagrados que conheciam o simbolismo do
esquadro e do compasso, que eram a insígnia do sábio diretor dos
trabalhos.
Na Grécia encontramos a confraria de Dionísio, que era uma
divindade originaria da Tracia e que construiu templos e palácios
tanto na Grécia como na Síria e na Pérsia. Seus membros eram
homens de ciência que não somente se distinguiam pelo seu saber
como também porque se reconheciam por sinais e toques.
Mantiveram um colégio em Theos, lugar que lhes fora designado
como residência e onde eram iniciados os novos membros.
Reconheciam-se por médio de toques e palavras; estavam divididos
em lojas que eles denominavam colégios; cada colégio era dirigido
por um Mestre secundado por inspetores que eram eleitos pelo
período de um ano; celebravam assembléias e banquetes; os mais
ricos ajudavam aos que se encontravam em má situação ou doentes
e relacionavam a arte de construir com o estudo de mistérios.
Numa Pompilio, segundo rei de Roma (715–672 ac) fundou ou
somente autorizou e consagrou os Collegia de artesãos. O povo foi
dividido em ofícios agrupados em confrarias com culto. Plutarco
menciona 9 collegias; eram mutualidades que as vezes adotavam
caráter religioso recebendo o nome de Sodalitates. Entre os Collegia
Fabrorum (de Faber = pessoa que trabalha um material), nos
colégios funerários e as confrarias religiosas existia ritual iniciático,
cerimônias, eleições, decisões pela maioria de votos, patronos
honorários; estima-se que o mesmo ritual teria sido transmitido
através de 6 séculos, os membros estavam divididos em 3 classes,
compostos unicamente por homens, podiam ser de diferentes países,
adotaram uma fórmula similar ao Grande Arquiteto do Universo para
simbolizar a Deus, tem sido encontrados sarcófagos romanos com
compassos, esquadros, prumos e níveis. Nas escavações realizadas
em 1878, foi encontrado o Collegia de Pompéia (79 dc) que tinha
duas colunas na entrada e esquadros unidos nas paredes. Os
Colllegia acompanharam as legiões romanas em todas as suas
conquistas onde tiveram a oportunidade de difundir sua arte da
construção, podendo ser a semente das fraternidades da Idade
Média, mas não existe nenhum documento ou outro fato concreto que
demonstre esta possibilidade. Os Collegia terminam quando começam
a serem usados como instrumentos políticos sendo abolidos pela Lex
Julia (64 ac), voltam mas César baniu-os; Augusto dissolve-os,
preservando somente os de utilidade pública; Trajano insiste na
proibição mas Aurélio tolera e ajuda-os. Com o fim do Império
Romano desaparecem definitivamente deixando poucas lembranças
em alguns países.
Durante as escavações do antigo porto de Roma foi descoberta
uma inscrição do ano 152 dc com os nomes dos membros da
corporação dos bateleiros de Ostia.
Em 286 dc, São Albano obteve autorização de Carausius,
imperador britânico, que facultava aos maçons para efetuar um
Conselho Geral denominado Assembléia. São Albano participou da
Reunião iniciando a novos irmãos. (Relatado nas Constituições
Góticas de 926)
O rei lombardo Rotaris (governou entre 636-652), confirma por
édito aos Magistri Comacini, privilégios especiais. Os Mestres
Comacinos são considerados o elo perdido da maçonaria, o laço de
união que une os clássicos Collegia com as guildas de pedreiros da
Idade Média, mas não existe nenhuma evidencia documental. A
Ordem foi fundada nas ruínas do Colegio Romano de Arquitetos e, na
queda do Imperio Romano (478), refugiaram-se na ilha fortificada de
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Comacino, no Lago Como. Os Comacinos eram arquitetos livres,
celebravam contratos e não estavam submetidos a tutela nem da
Igreja e nem dos senhores feudais. O nome de Mestres Comacinos
nao derivaria do nome da cidade Como, porque seus habitantes são
chamados Comensis ou Comanus; o nome de comacinos significaria
Companheiro Maçom e também, existe o nome de comanachus
(companheiro monge) sem referencia a cidade de Como.
Na inauguração em 674 dc da Igreja de Wearmouth, nas Ilhas
Britânicas, construída pêlos Comacinos, foi emitido um documento de
apresentação com palavras e frases do edito de 643 do rei lombardo
Rotaris.
Por uma pedra gravada entre 712 e 817 dc, sabe-se que a Guilda
Comacina estava constituída por Mestres e Discípulos, obedeciam um
Grão Mestre ou Gastaldo, chamavam Loja os locais de reunião,
tinham juramentos, toques e palavras de passe, usavam aventais
brancos e luvas, seus emblemas tinham esquadro, compasso, nível,
prumo, arco, nó de Salomão e corda sem fim e reverenciavam os
Quatro Mártires Coroados.
Durante o reinado progressista e cultural de Alfredo O Grande na
Inglaterra (849-899) a corporação maçônica se estabelece sob
normas mais regulares. Divide-se em reuniões parciais denominadas
lojas, dependendo todas de um poder central regulador, hoje
conhecido como Grande Loja, com sede em York, sendo o objetivo
principal a construção de edifícios públicos e catedrais.
Capítulo 2
O Manuscrito de Halliwell
O Manuscrito de Halliwell ou Poema Regius (James Orchard
Halliwell, antiquário inglês que não era maçom, descobriu o
documento na Biblioteca Regia do Museu Britânico e foi publicado no
Freemason Magazine em Junho de 1815) teria sido escrito na
segunda metade do século XIV, conforme opinião de seu descobridor.
A data deve ser entre 1425 a 1427 porque não poderia ter sido
preparado antes da lei de 1427 e nem depois da lei de 1444/1445.
David Casley, especialista na matéria, estima que o escrito é de
1390. O historiador maçônico alemão, irmão Wilhem Begemann
(1843-1913) indica Worcester como o lugar de origem do manuscrito.
O Manuscrito, conservado atualmente no Museu Britânico, foi, em
um tempo, propriedade de Charles Theyer, colecionador do século
XVII, quem o doou para a família real, e em 1757, George II doou-o
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simbolicamente para o povo inglês, ficando na Biblioteca Regia. Sua
importância como documento foi descoberto pelo mencionado J. O.
Halliwell, mais tarde, Halliwell Phillips que presenteou-o a Sociedade
de Antiquários de Londres em 18 de Abril de 1839. O nome de
Manuscrito Régio foi sugerido por Gould para assinalar a investidura
de seus anteriores proprietários e doadores.
Este documento contém 794 versos em inglês antigo; apresenta a
antiga tradição da Corporação, os 15 artigos da lei com 15 pontos de
ampliação, as novas Ordenanças de Geometria e a Lenda dos 4
Santos Coroados. A Maçonaria e conhecida nele como Geometria. O
Poema Régio não faz menção ao Templo de Salomão e nem a Hiram
Abif. Destaca a dois personagens: Euclides, o geometra grego
alexandrino do século III ac e a Noé bíblico. (Note-se a similitude
com a Constituição de Anderson). Relata que o grêmio estabeleceu-se
em York em 926 sob o patrocínio do Príncipe Edwin, irmão, médio
irmão ou sobrinho do rei Atelsthan.
Os Santos Quatro Coroados (Quator Coronati) eram os Santos
Patronos dos arquitetos lombardos e toscanos, depois dos maçons
construtores da Idade Média e mais tarde da maçonaria Operativa de
Alemanha, França e Inglaterra. A historia é de dois grupos de
mártires e existem muitas versões. Conforme a Enciclopédia da
Franc-maçonaria de Lenning (1901) “o primeiro grupo estava
composto de 4 pedreiros de nomes Claudius, Castorius, Simphoranius
e Nicostratus, que eram secretamente cristãos. O Imperador
Diocleciano solicitou para eles em 302 dc, uma estatua do Deus
pagão da saúde Esculápo, ao que eles se negaram pela sua condição
de cristãos, solidarizando com eles um outro pedreiro, que não seria
cristão. (Outra versão indica que este 5o seria um soldado romano de
nome Simplicius). O Imperador condenou aos 5 a morrer dentro de
esquifes de chumbo que foram jogados no rio. Os esquifes com os
corpos foram recuperados por um cristão que os guardou na sua casa
(Difícil de acreditar considerando o peso dos esquifes; somente se
foram resgatados unicamente os corpos).
Onze meses depois, Diocleciano ordenou incenso e sacrifícios à
imagem de Esculápio, mas 4 suboficiais eram cristãos e resistiram a
ordem sendo mortos a chicotadas; seus nomes eram Severus,
Severinus, Carpophorus e Victorinus. Os 4 foram sepultados pêlos
cristãos junto aos primeiros 5 mártires (Novembro 303).
A tradição estabelece o 8 de Novembro como festa de homenagem
aos mártires, mas são lembrados unicamente os 4 pedreiros; não
existe uma boa explicação do termo “coroado” e outra versão fala
que eles aceitaram construir estatuas ao Sol Invicto mas recusaram a
de Esculápio o que faz supor que eles seriam do culto de Mitra e não
cristãos.
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O Manuscrito de Halliwell permite estabelecer a aparição da
Maçonaria Operativa sob o reinado do mencionado rei Athelstan (895940) neto de Alfredo o Grande. Athelstan foi um prudente legislador
que trouxe paz ao país, construiu muitas igrejas e castelos e
acredita-se que ele convocou a reunião, mencionada no Manuscrito,
de maçons para estudar leis, regras e preços.
A Segunda Assembléia Geral da Fraternidade, conhecida pelas
tradições, haveria sido convocada pelo príncipe Edwin na cidade de
York. Nesta Assembléia conhecida como Convento Maçônico de York,
nasceram as Constituições Góticas. Estas Assembléias continuaram
por muito tempo. A antiga Constituição de York ou Constituição Legal
das Lojas maçônicas de Inglaterra, conforme original mantido na
Grande Loja de York, escrita em latim, tem 3 partes, sendo um
preâmbulo em forma de oração, uma sumaria historia da arte de
construir e os Estatutos da Loja com 16 artigos e foi utilizada por
James Anderson na Constituição de 1723. Conforme outros autores, a
data da Assembléia seria 936.
Capítulo 3
As Sociedades na Idade Média
No reinado de Alfredo O Grande (872-900) sábio rei da Inglaterra,
protetor das artes e das ciências, considerado como o fundador da
Universidade de Oxford, a arte de construir progrediu, mas não o
suficiente limitado pela falta de verdadeiros mestres. No reinado de
Athelstan, neto do anterior, chegaram mestres pedreiros vindos da
França e da Alemanha, países que tinham uma arquitetura bem mais
avançada.
No séc X a cidade de Milão tinha tantas corporações de ofícios
como Bruxas e Gantes as que tinham garantias e liberações de
impostos e proteção das autoridades, motivo pelo qual começaram a
ser chamadas de “francmestieres”, ou seja ofícios livres, a diferença
dos outros ofícios independentes que sofriam todo tipo de taxas e
controle.
Grêmios se estabelecem em todos os cantos da Europa: em 1099
temos os tecedores de Maguncia, em 1066 os pescadores de Worm,
em 1128 os sapateiros de Wützbourg, em 1149 os tecedores de
colchas de Colonia, os curtidores de couro de Rouen formam um
grêmio no início do séc XII, na Inglaterra encontramos grêmios em
Oxford, Huntington, Winchester, Londres, Lincoln, etc durante o
reinado de Enrique I (1100-1135).
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No reinado de Eduardo III (1312-1377) diversos ofícios começam
a constituir-se sob a denominação de Livery Companies e a mudar
seu nome de guilda para crafts e Mysteries, mas ficando a
organização e espírito sem mudanças. Craft denomina no inglês uma
habilidade, arte ou destreza do obreiro; mystery indicaria a
preservação dos secretos de seu ofício ou conforme alguns pensam,
estaria relacionado com o caráter de “mestre”; guilda (do inglês
guild), denomina um grêmio, fraternidade ou sociedade organizada
para ajudar no trabalho de uma igreja. Há que veja nestas
corporações a continuidade dos Collegia ou dos Mestres Comacinos
mas nunca tem-se descoberto o denominado como “elo perdido” da
maçonaria que vincule aqueles com as sociedades da Idade Média. Na
formação dos grêmios da Idade Média participaram 4 fatores que
são: a vigilância organizadora exercida pelas autoridades urbanas, a
ação corporativa dos artesãos usando o apoio das autoridades, a
organização tipo militar dos grêmios e a força de uma estreita
fraternidade do ofício.
Após estas lembranças das fraternidades de pedreiros da Idade
Média, não podemos deixar de mencionar uma significativa lâmina
que aparece no Ritual de Aprendiz da Grande Loja Maçônica do
Estado de São Paulo, onde vemos a figura pensativa de um Aprendiz
que desbasta a sua Pedra Bruta junto à menção da Idade Média
seguida de duas datas: 476 a 1453. Os historiadores denominam
Idade Média ao imenso intervalo entre a Antigüidade e o que pode
ser chamado de Tempos Modernos. Entre o mundo antigo e a nova
idade, estender-se-iam os séculos medianos, caracterizados sob uma
nova perspectiva filológica (filologia: ciência que por médio de textos
escritos, estuda a língua, a literatura e todos os fenômenos de cultura
de um povo): a fase intermediaria fora a do latim bárbaro, enquanto
que a restauração da língua clássica, assinalaria a idade nascente.
Esta fase abarca exatamente um milênio. Para marcar o início
deste período intermediário têm sido consideradas muitas datas e, de
todas elas, uma teve especial repercussão: 476, data do fim do
Império do Ocidente quando as sucessivas invasões bárbaras
terminam com o último Imperador romano; entre os anos 307 e 337
o Imperador Constantino o Grande, tinha reunificado o Império mas
fundado uma nova capital em Bizancio (Constantinopla); depois da
sua morte o Império é novamente fragmentado, os chefes militares
governam a seu bel prazer em nome dos Imperadores, que somente
mantém as aparências até a desaparição do que fora o maior
exponente da supremacia ocidental, na época.
Assim como o desaparecimento do Império romano de Ocidente
assinala o início da Idade Média, como uma espécie de revanchismo a
tomada de Constantinopla em 1453 pêlos turcos, marca o fim do
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Império romano de Oriente sendo escolhido como o término deste
período obscurantista denominado pêlos historiadores como Idade
Média.
Mas não tudo é escuro neste período: começam a formar-se as
línguas modernas em substituição ao latim. A Idade Média é uma
fusão de conhecimentos adquiridos na Antigüidade, no Cristianismo e
dos novos povos europeus. Nasce o burgo, antecessor de nossa
cidade moderna. As associações de pedreiros iniciam a construção de
catedrais que hoje são a maravilha de turistas cultos em diversos
países europeus. Podemos dizer que a sociedade humana passa
longos mil anos desbastando sua pedra bruta até atingir um estágio
superior denominado Renacentismo.
Capítulo 4
A Constituição de Anderson
No fim do século XVI e durante a primeira metade de XVII
ganharam formas definitivas ás tendências filosóficas progressistas,
vinculadas intimamente aos progressos das ciências naturais e
opostas à escolástica medieval. Durante esse tempo o centro de
desenvolvimento da indústria e do comércio, da ciência e da cultura
deslocou-se da Itália para a Inglaterra, França e Holanda, e
Inglaterra converte-se em um dos principais centros da ciência e da
filosofia materialista. Ali prolongam-se as melhores tradições dos
materialistas antigos e dos pensadores avançados da época feudal.
Em 1624 começou a guerra civil inglesa que terminou coma
execução de Carlos I e o estabelecimento da ditadura de Oliverio
Cromwell e pouco depois da morte de Cromwell (1658) triunfa
temporalmente a reação feudal e os Stuarts voltaram do exílio para
ocupar o trono inglês. Os grupos políticos apresentavam-se na
Inglaterra com roupas religiosas. O partido realista defendia os
dogmas da Igreja Anglicana, que era uma mistura de catolicismo e
protestantismo; a oposição burguesa estava representava pelo
puritanismo, variante do calvinismo. Logo surgiram no seio do
puritanismo, que se difundiu na Inglaterra nos anos 1560 a 1570,
duas tendências: uma moderada, a presbiteriana, a que pertenciam a
grande burguesia e as classes altas da nova nobreza, e a outra,
radical, dos independentes, apoiada no início pela pequena e média
burguesia.
Francis Bacon (1561-1626) fundador do materialismo inglês dois
tempos modernos, o poeta John Milton (1608-1674) ideólogo dos
republicanos independentes, o materialista Thomas Hobbes (15887
1679) e o sensualista materialista John Locke (1632-1704) criam com
sua sabedoria um novo ambiente intelectual que acaba resultando
propício para o surgimento da Maçonaria especulativa ou moderna,
herdeira da maçonaria operativa, ou de autênticos pedreiros que
durante a Idade Média, foram construídas igrejas, castelos e palácios,
servindo a nobreza, motivo pelo qual é conhecida como “Arte Real”.
Mas, com o advento do Renascimento, as artes alcançam seu apogeu,
e o conhecimento da arte de construir já não precisa ser adquirido no
segredo das Lojas de Pedreiros.
As Lojas começam a enfraquecer, mas recebem o apoio
inesperado de intelectuais que, levados pela influencia das novas
idéias, vem no simbolismo cerimonial das Lojas de Pedreiros
conhecimentos iniciáticos que motivam seu interesse. Estes novos
membros são conhecidos como “maçons aceitos”.
A cronologia maçônica registra que Thomas Bodwell, da Escócia,
foi nomeado Inspetor de uma Loja que já admitia membros que não
fossem pedreiros (Fonte: Les Sociêtes Secretes, de George Allary).
Uma Ata do 8 de Junho de 1641 da Loja Mary’s Chapel (Edinburgo)
indica que Robert Morey, Quartel Mestre Geral do Exército Escocês, o
Coronel Mainwaring e o sábio alquimista inglês Elias Ashmole.
Conforme Allec Mellor, no seu Dicionário da Franco-maçonaria e dos
Franco-maçons, a Ata desta Iniciação, ainda preservada, é o
documento mais antigo mencionando a iniciação de um não operativo
na Inglaterra, mas dá outra data: 20 de Maio de 1641. J. G. Findel,
na sua História da Maçonaria, fala que Elias Ashmole, conforme ele
próprio declara no seu Diário, foi iniciado em 16 de Outubro de 1646,
em uma Loja em Warrington. Os 3 novos irmãos foram reconhecidos
como maçons mas, como não gozavam dos privilégios dos autênticos
pedreiros pois o cargo era somente honorário, foram denominados
como “accepted masons”. A confusão com a data de aceitação de
Elias Ashmole nasceu porque no seu Diário ele declara que, a partir
desta data (Junho 8, 1641), as Confrarias de Maçons Construtores
começam a autorizar o ingresso nelas de pessoas alheias ao oficio de
construtor desde que sejam pessoas distintas e notáveis pela sua
sabedoria e talento, mas ele mesmo, E. Ashmole, não foi iniciado
nesta data.
Independente de uma ou outra data sabe-se que neste século,
membros não pedreiros começam a fazer parte das Lojas maçônicas
na Inglaterra recebendo o nome de maçons aceitos. Mas mesmo
assim, as Lojas maçônicas continuam em decadência.
Em 1717 entre as Lojas que existiam ou vegetavam em Londres,
surgiu á idéia de se unir formando uma Grande Loja, mas somente 4
delas formaram parte deste projeto que haveria de mudar a história
da Maçonaria. Uma delas, que chamaremos de No 1, se reunia no
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restaurante ou taberna de nome “Goose and Giridion” (O Ganso e a
Grelha), na praça da Igreja de St Paul, a No 2, se reunia na taberna
“At the crown ale-house” (A Coroa), perto da Rua Drury, a No 3, se
reunia na taberna “At the Apple-tree Tavern” (A Macieira) em Covent
Garden e a No 4, que se reunia no restaurante “At the Rummer and
the Grapes Tavern” (O Rum e o Cacho de Uvas), na rua do canal de
Westminster.
Resulta curioso que o nome distintivo delas não era um nome
simbólico; elas se auto-designavam pelo nome do restaurante ou
taverna onde se reuniam, já que naquela época não existia o Templo
maçônico.
Os quadros eram reduzidos: a No 1 tinha 22 irmãos, a No 2, 21
irmãos, a No 3, 14 irmãos e a No 4, 71 irmãos, dando um total de
128 irmãos; nas 3 primeiras, não havia nenhuma pessoa pertencente
à nobreza e nem sequer um “esquire” ou “squire” que era o título
mais inferior da nobreza, equivalente a um pajem ou escudeiro e que
hoje é usado para uma pessoa respeitável. A Loja No 4 tinha 10
nobres, 3 filhos de nobres, 4 barões ou cavalheiros, 3 generais, 10
coronéis, 4 oficiais, 24 esquires e tão somente 14 pedreiros.
Estes Irmãos reuniram-se no início de 1717 na taverna A Macieira
e resolveram celebrar uma Assembléia e um banquete na taverna O
Ganso e a Grelha em 24 de Junho do mesmo ano, no dia de São João
Batista, para constituir uma Grande Loja. Eles não falaram nem em
Grande Loja de Londres e menos em Grande Loja de Inglaterra,
unicamente Grande Loja, mas os fatos posteriores fizeram que ela
fosse o nascimento da que hoje é conhecida como Grande Loja Unida
de Inglaterra.
Em 24 de Junho, o Mestre maçom mais antigo ocupou a
presidência e propôs uma lista de candidatos, dentre os quais foi
escolhido pela maioria como Grão Mestre, o cavalheiro Anthony Sayer
(1672-1642), como Primeiro Vigilante o carpinteiro Lamball e como
Segundo Vigilante o capitão Joseph Elliot; a profissão de Anthony
Sayer é desconhecida e ele morreu como Guarda do Templo da sua
Loja.
Tinha nascido a primeira Grande Loja dos tempos modernos e
trazido com ela o início da Maçonaria especulativa ou simbólica, uma
fraternidade que começa a ensinar a fé espiritual usando alegorias e
a ciência moral mediante símbolos escolhidos.
Em 1718 toma posse como Grão Mestre George Payne, esquire da
Loja O Rum e o Cacho de Uva; Payne inicia a recompilação de antigos
escritos e arquivos.
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Em 1719 assume o Grão Mestrado John Theophile Desagulier,
doutor em filosofia e jurisprudência, naturalista de valor reconhecido,
membro da Academia Real de Ciências de Londres e pertencente à
mesma Loja que Payne.
Em 1720 volta George Payne; neste período é descoberta uma
antiga obra, manuscrito de constituição de uma sociedade de maçons
operativos, obra conhecida posteriormente como Manuscrito de
Cooke, nome devido a Matthew Cooke, que foi o primeiro que
divulgou ele de forma impressa, só que em 1861; está escrito em
prosa com 950 linhas, com 19 artigos sobre a história da geometria e
da arquitetura; logo vem os Deveres, uma parte histórica, artigos que
regulamentam o trabalho e sua organização, que haveriam sido
promulgados na época do rei Athelstan (veja o manuscrito Halliwell)
em uma Assembléia Geral; logo tem 9 conselhos de ordem moral e
religioso e 4 regras relativas à vida social dos maçons; o Manuscrito
Cooke foi escrito aproximadamente em 1410 e curiosamente utiliza
pela primeira vez o termo “especulativo” para referir-se ao filho do rei
Athelstan falando que “o filho do rei Asthelstan amava a Geometria,
cuja prática ele aprendeu dos maçons, ciência que acrescentou a sua
especulativa, por que no especulativo ele era um Mestre”.
Temos que lembrar que neste mesmo ano Desagulier, num fato
controvertido, ordenou queimar vários manuscritos maçônicos para
evitar que fossem para mãos profanas. Este excesso de zelo
maçônico fez perder valiosos elementos de pesquisa histórica. Payne
e Desagulier, em seus respectivos períodos atraíram à Ordem
maçônica eminentes personalidades, entre eles o príncipe João Duque
de Montagu, que em 1721 aceitou o cargo de Grão Mestre, no
Stationer’s Hall, Londres, frente a uma representação de 12 Lojas.
Com o Duque de Montagu começa o grande auge da Maçonaria
Moderna. Os jornais informam da suas atividades e homens
ilustrados pedem seu ingresso. Na mesma data de posse do Duque
de Montagu, é aprovado o trabalho de 1720 de George Payne de
recopilação das “Ordenanças Gerais” com 39 artigos.
O rápido crescimento que experimentava a Ordem fez necessário
criar um corpo regulamentar para normalizar o funcionamento
corporativo da Ordem e é assim que, em 25 de setembro de 1721
(outra data seria 29 de setembro ou 29 de outubro), o Duque de
Montagu encomendou ao Reverendo James Anderson que
apresentara um projeto de Constituição compilando as antigas
Constituições Góticas dos grêmios alemães promulgadas em 1459, e
conhecida também como Ordenanças da Associação de Lojas de
Construtores e que agrupava as Grandes Lojas de Estrasburgo,
Viena, Colônia e Berna.
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James Anderson, doutor em filosofia e teologia, nasce em
Aberdeen (Escócia) em 1664 ou 1680. Publica algumas prédicas em
jornais; parece ter sido iniciado em Escócia; não esteve presente na
fundação da Grande Loja em 1717; entre 1723 e 1725 aparece
registrado no quadro da Loja Horne Tavern No 17 de Westminster,
tendo sido Venerável Mestre dela, e em 1725 aparece registrado na
Loja Salomon’s Temple, de Hemmings Row.
O Reverendo Anderson dedicou-se com especial interesse ao seu
trabalho de compilar as leis e em 27 de dezembro de 1721 foi
designada uma comissão de 14 irmãos da qual formava parte o
próprio Anderson, o pastor Desagulier e o antiquário Payne. A obra
foi aprovada numa reunião solene na Assembléia da Grande Loja em
17 de janeiro de 1723, dirigida pelo Grão Mestre Duque Felipe de
Wharton. O Duque de Wharton em 1724, pouco depois de deixar o
cargo, foi acusado de jacobita por conspirar na fação que intentava
restaurar a dinastia dos Stuart na pessoa do filho de Jacobo II, O
Pretendente, que estava exilado na França. O Duque foi degradado
como maçom e expulso da Ordem; viaja para o exterior e em 1728,
com um grupo reduzido de ingleses, funda em Madri a Loja A
Matritense No 50, dos registros da Grande Loja (1717) com carta
Constitutiva assinada pelo Lord Colleraine, como Grão Mestre;
funciona na própria residência do Duque. Abateu colunas em 1767.
Para alguns é conhecida como Loja As 3 Flores de Lys, nome do hotel
francês onde haveria sido fundada; outra versão da como nome
distintivo Les French Armes com sede na rua San Bernardo. O Duque
de Wharton mais tarde converteu-se ao catolicismo, morrendo
transtornado num convento na Espanha.
Em janeiro 17 de 1723, James Anderson é eleito Segundo Grão
Vigilante, sendo o 7o Grão Mestre o Duque de Dalkeit. Logo da
aprovação da Constituição, a obra foi publicada na revista “Postboy” e
autorizada para venda livre em 28 de fevereiro de 1723. Os
impressores da primeira edição foram John Senex e John Hook que
criaram um belo livro ilustrado de 96 páginas. Seu título: “A
Constituição, Historia, Leis, Obrigações, Ordens, Regulamentos, e
Usos da Mui Venerável Fraternidade dos Maçons Livres e Aceitos;
coligidos de seus Arquivos gerais, e de suas fiéis Tradições de muitas
Eras”.
A obra foi dedicada por Desagulier ao ex-Grão Mestre Duque de
Montagu com a seguinte dedicatória: “Por ordem de Sua Graça o
Duque de Wharton, atual Mui Venerável Grão-Mestre dos FrancoMaçons; e, como seu Deputado (equivalente hoje ao cargo de Grão
Mestre Adjunto), dedico humildemente este Livro das Constituições
da nossa antiga fraternidade à vossa Graça, em testemunho do modo
honroso, prudente, e vigilante com que exerceu no Ano anterior o
cargo de nosso Grão-Mestre. “Não preciso dizer à vossa Graça o
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Trabalho que teve o nosso erudito autor para compilar e ordenar este
Livro segundo os velhos Arquivos e com que escrúpulo comparou e
conciliou todas as coisas com que a História e a Cronologia, de modo
a fazer destas NOVAS CONSTITUIÇÕES uma exposição justa e
perfeita da Maçonaria desde o Começo do Mundo até o Mestrado de
vossa Graça, conservando todavia tudo quanto é verdadeiramente
antigo e autêntico nos artigos: Pois cada Irmão ficará satisfeito com o
Trabalho realizado, se souber que ele foi Examinado e Aprovado por
vossa GRAÇA, é que é agora impresso para o uso das Lojas, depois
de ter sido aprovado pela GRANDE LOJA, quando vossa GRAÇA era
GRÃO-MESTRE. Toda a Irmandade lembrará sempre da Honra que
vossa GRAÇA lhe fez, e de vossa solicitude para sua Paz, Harmonia, e
duradoura Amizade”.
(Tradução do original pelo Irmão João Nery Guimaraes, Grande
Oriente do Brasil, edição 1982)
Além da dedicatória de Desagulier, o Livro tinha uma curta história
da maçonaria desde a criação do Mundo, os Antigos Deveres ou Leis
Fundamentais (Old Charges), as 39 Obrigações ou 39 artigos dos
Regulamentos Gerais, a aprovação do Livro, os 6 Artigos da
Constituição propriamente tal e 4 cânticos maçônicos, sendo a
Canção do Mestre, Canção do Vigilante, Canção dos Companheiros e
Canção dos Aprendizes. A Constituição não menciona graus
superiores nem a Lenda de Hiram.
A Constituição de Anderson é a primeira lei escrita da Francmaçonaria Especulativa, traduzida em todas as línguas, estudada e
interpretada pelos mais eminentes pensadores maçônicos e
continuará sempre assim porque ela tem um rico conteúdo e
significado; alguns organismos maçônicos de hoje em dia,
reconhecem, nela um valor tradicional e histórico; outros dão-lhe o
valor jurídico imutável que não pode ser ultrapassado e introduzem
sua transcrição literal na legislação de suas próprias Grandes Lojas. O
Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da
Jurisdição Sul dos USA, considera a Constituição de Anderson como a
base fundamental de seu status jurídico. Hoje em dia, praticamente
todos os maçons espalhados na face da terra de qualquer rito a que
pertençam, referem-se à obra de Anderson como a fonte comum.
Mas mesmo sem duvidar em momento algum da importância da
Constituição de Anderson, maçons conscientes não podemos colocar
uma venda nos olhos e deixar de advertir um exagero evidente que
tem a obra na parte referente a história da Maçonaria desde a criação
do mundo. O irmão Raimundo Rodrigues, da Loja Ponto no Espaço
(GLESP, São Paulo), comenta com muita propriedade e conhecimento
num artigo publicado na Revista O Aprendiz, abril 1999, de São
Vicente, SP, dos exageros de certos historiadores maçônicos que
“teimam em afirmar que a Maçonaria existe há milhares de anos,
12
especialmente aqueles inocentes que acreditam na absurda afirmação
de Anderson de que Adão, nosso primeiro pai, devia ter possuído as
ciências liberais, principalmente a Geometria, escritas no seu coração
e por tanto, a Maçonaria teve seu início no Paraíso terrestre”.
Ignoramos os motivos ou antecedentes que levaram a Anderson a
fazer semelhante afirmação e somente podemos, em descargo,
acreditar que foi por sua formação religiosa.
Mas, por mais clara que possa ser a sua redação, um texto antigo
presta-se facilmente a discussões, especialmente se ele mexe com
problemas religiosos, de tolerância e de consciência humana,
problemas que eram vistos de forma diferente na época em que a
obra foi escrita.
A Inglaterra tinha nessa época uma Igreja estatal (protestante) no
Governo e algumas Igrejas minoritárias (incluindo a católica),
proveniente das últimas guerras religiosas. Persistiam em 1723
numerosas ordenanças que desconheciam os direitos dos cidadãos,
dos dissidentes e não conformistas, tais como a eliminação dos
cargos públicos e cátedras educacionais. O Reverendo Anderson era
um pastor dissidente, daquelas perseguidas minorias confessionais. A
tolerância tem sido sempre uma bandeira de luta das minorias; e a
Constituição de Anderson é uma mensagem de tolerância civil,
religiosa, social, política, e foi aprovada por um grupo de homens
corajosos agrupados na Grande Loja em Londres, numa época de
profunda intolerância dentro da sociedade inglesa.
Evidentemente que a publicação da primeira edição do Livro das
Constituições haveria de criar acirradas polêmicas e elas alcançaram
a todos os segmentos da sociedade e foram tão violentas que o
Revendo Anderson, desapontado, afastou-se das Lojas e, em sua vida
privada junto com suas prédicas publica na Royal Genealogies, alguns
estudos sobre reis de seu conhecimento, resultando uma obra de
escassa significação.
O artigo mais polêmico da Constituição acabou sendo o No I
(Concernente a Deus e a Religião), que estabelece que “Um maçom é
obrigado, por sua Condição, a obedecer à Lei moral; e se compreende
bem a Arte, não será jamais um Ateu estúpido, nem um Libertino
irreligioso”. Na época, um setor entendeu que, junto com ofender o
ateu e ao homem sem religião, a Maçonaria condenava a ambos mas,
na verdade, a condenação não era ao ateu comum e sim ao ateu
obtuso, que tudo nega por sistema, ao homem que por preguiça
espiritual ou por falta de escrúpulos ou de argumentação, rejeita “a
priori” a idéia de um Deus. A este tipo de pessoas ninguém vai querer
ver em uma Loja maçônica, nem sequer o mais decidido partidário da
liberdade de pensamento.
13
Anderson foi novamente chamado em 1735 para preparar uma
Segunda edição de sua obra e ele aproveitou para introduzir uma
importante modificação nesse controvertido artigo. Em 25 de janeiro
de 1738 entregou o produto de seu trabalho incluindo uma lista de
Grandes Mestres desde 1717 até a data. O artigo I ficou como segue:
“O Maçom está comprometido pela sua qualidade mesma, a obedecer
a lei moral, como um verdadeiro noaquita (discípulo de Noé) “.
Em 1813, por motivo da união das duas Grandes Lojas da
Inglaterra, houve uma terceira e definitiva redação deste artigo I,
onde se acabou com a liberdade de crer ou não em Deus, ficando de
uma forma que, de certa forma voltou ao original de 1723: “Um
Maçom está comprometido, por sua qualidade mesma, a obedecer a
lei moral e se entende bem a arte, não será nunca um ateu estúpido
nem um libertino sem religião, sempre que creia no glorioso Arquiteto
do Céu e da Terra e que pratique os deveres sagrados da
moralidade”, acabando com a obrigação de praticar a religião do país
em que o maçom mora, podendo manter a sua crença original.
O irmão Anderson publica em 1739 News from Elysium, antologia
de conversações funerárias e uma genealogia da casa Ivery. Seus
últimos anos foram vividos na pobreza recebendo ajuda financeira de
irmãos. Fala-se que em Londres era uma figura popular, sendo
chamado por todos como Bispo (que não era). Sendo dissidente
obteve da rainha Carolina uma espécie de anistia. Morre em Londres
em 1o de junho de 1739 e da sua morte informou o Daily Post no
seguinte artigo: “Ontem, na tarde, foram sepultados em Bunhill’s
Fields, os restos do Dr. Anderson, sacerdote dissidente. O esquife foi
conduzido por 5 sacerdotes dissidentes e o Rev. Desaguliers. Seguido
por uma dúzia de franc-maçons que agruparam-se em torno da
tomba. Depois que o Dr. Earl pronunciou um discurso sobre a
incerteza da vida humana sem mencionar o defunto, os irmãos
levantaram os braços numa atitude de luto, gemeram e bateram três
vezes, para honrar o defunto sobre seus aventais de pele”.
Como podemos ver, seu funeral foi modesto mas sua contribuição
à Maçonaria universal foi histórica.
Capítulo 5
Os Land-marks
Como acabamos de ver, a Maçonaria Especulativa como
continuação da Maçonaria Operativa, herdou as regras, usos e
costumes que até hoje são reconhecidas e fundamentam a existência
da Instituição. Essas regras têm ficado conhecidas como Antigos Usos
14
e Costumes (do inglês Old Charges), sendo que os Land-marks
formam parte deles. Os Antigos Usos ou Costumem referem-se as
relações do Irmão individualmente com a Loja e com o conjunto de
Irmãos da Loja. Para compreender bem esta relação mencionemos
que os Regulamentos Gerais, de George Payne, tem a ver com a
conduta da Ordem como um todo. Só que os Regulamentos Gerais
podem ser modificados pela Grande Loja mas não os Antigos Usos ou
Costumes já que eles são imutáveis.
A expressão Land-mark pertence ao léxico inglês e significa limite,
lindeiro, marco. Na linguajem maçônica e no sentido figurado é dada
esta denominação aos princípios que são considerados próprios,
essenciais e características da Ordem. Deste modo, e no mesmo
sentido, os Land-marks vêm a constituir uma forma de demarcação
entre o que é característico e autenticamente maçônico e aquilo que
não é. Daí que a idéia do Land-mark está freqüentemente associada
à “regularidade maçônica”.Tudo aquilo que não se conforma a estes
preceitos essenciais e básicos deve-se ter por irregular e portanto,
prescrito do terreno maçônico.
Todas os pesquisadores maçônicos que se têm dedicado a
investigação da história da Ordem concordam em que a primeira vez
que se fala em um documento maçônico dos Land-marks é nos
Regulamentos Gerais de George Payne, reunidos em 1720, aprovados
em 21 de junho de 1721 pela Grande Loja (de 1717) e publicados em
conjunto com a Constituição de Anderson em 1723.
No artigo 39 (e último) dos Regulamentos Gerais lê-se: “Cada
Grande Loja anual tem um inerente poder e a autoridade de
estabelecer novos Regulamentos ou de modificá-los para o real
benefício dessa antiga Fraternidade, observado porém que os velhos
Land-marks sejam cuidadosamente preservados, e que ....etc”
Mais de quais documentos, dos que poderia ter tido à vista G.
Payne, tomou essa palavra Land-mark? Mesmo que não é possível
saber com certeza, com o tempo ela tem-se convertido em uma das
palavras mais importantes do “lore” (saber tradicional) maçônico e
que tem provocado inúmeras polêmicas verbais e escritas.
Esgotadas todas as investigações, para os pesquisadores tem
surgido uma possibilidade: a palavra Land-mark foi tomada por
George Payne da própria Bíblia significando baliza, limite, fronteira,
confim, algo que não pode ser ultrapassado.
No Deuteronômio, cap XIV ver 14, fala: “Não removerás os limites
de teu vizinho de onde foram colocados pêlos teus antepassados na
herdade de tua propriedade, na terra que Yahvé, teu Deus, te deu”.
15
Deuteronômio, cap XXVII, ver 17: “Maldito quem reduzir o limite
de teu vizinho e o povo responderá: Amém”.
Provérbios, cap XXII, ver 28: “Não removas os antigos limites que
colocaram teus pais”.
Provérbios, cap XXIII, ver 10: “Não ultrapasses os antigos limites,
e também não entres na propriedade dos órfãos”.
Maçonicamente considerado, um Land-mark é um acontecimento,
uma característica, que marca um ponto de partida, uma jornada,
uma etapa na História da Maçonaria, indicando até onde se pode
chegar no assunto referido (limite no espaço ideológico) com a idéia
imanente de preservação como causa e efeito do fato mesmo
(conservação no tempo).
E um antigo limite, agrega a significação dada na condição
anterior, a idéia de uma remota antigüidade que a memória humana
não pode precisar.
Por exemplo, se hoje todas as autoridades do mundo maçônico
reunidas em um Congresso mundial e com a total unanimidade
promulgarem uma nova lei, ela não seria um Land-mark porque
somente teria o caráter de universalidade mas não de Antigüidade e
em um processo posterior essa nova lei poderia ser abolida ou
modificada.
Os Land-marks teoricamente limitam e estabelecem uma
demarcação entre a Ordem maçônica e outras associações
particulares, que os maçons denominam profanas; eles devem ser
transmitidos intatos pêlos maçons e seus sucessores, aceitando-os e
não os substituindo ou modificando. Todo Land-mark deve ter o
caráter de verdade, vale dizer, deve ser provado a si mesmo que é
bom e necessário, mas não deve ser imposto como crença
irrespondível.
Baseado no que anteriormente foi escrito poder-se-ia acreditar
que os Land-marks formam um corpo de disposições definidas e
dotadas de força obrigatória para todas as Potências maçônicas do
mundo. Nada mais longe da verdade. E o mais contraditório é que
não existe uma certeza sobre quais ditos princípios tem o caráter ou
podem ser considerados Land-marks.
Falamos que a palavra Land-mark aparece pela primeira vez em
1720; mas somente após um século, os pesquisadores maçônicos
começam a investigar quais princípios ou tradições realmente
poderiam ser considerados Land-marks. E neste sentido as opiniões
são tão discrepantes que o número deles flutua desde 3 Land-marks
16
(Alexander S. Bacon e Chetwode Crawley) até 54 Land-marks (H. G.
Grant e para a Grande Loja de Kentucky).
Dos autores ingleses, um dos primeiros que procurou fazer luz
sobre os Land-marks foi o pastor protestante George Oliver (17821867) que no seu “Historical Land-mark” deu por conhecidos 40
deles. Em 1858, o norte-americano Albert G. Mackey publicou a
“Encyclopedia of the Freemasonry” incluindo nessa obra 25 normas
ou preceitos que apresentavam características para serem
consideradas como legítimos e autênticos Land-marks.
Os 25 Landmarks de Mackey adotados pelas Grandes Lojas
Brasileiras são :
1° - Os processos de reconhecimento são os mais legítimos e
inquestionáveis de todos os landmarks. Não admitem mudanças de
qualquer espécie, pois, sempre que isso se deu, funestas
consequências vieram demonstrar o erro cometido. 2º - A divisão da
Maçonaria Simbólica em três graus é um landmark que, mais do que
nenhum, tem sido preservado de alterações, apesar dos esforços
feitos pelo daninho espírito inovador. Certa falta de uniformidade
sobre o ensinamento final da Ordem, no grau de Mestre, foi motivada
por não ser o terceiro grau considerado como finalidade; daí o Real
Arco e os Altos Graus variarem no modo de conduzirem o neófito à
grande finalidade da Maçonaria Simbólica. Em 1813, a Grande Loja
de Inglaterra reivindicou este antigo landmark, decretando que a
Antiga Instituição Maçõnica consistia nos três primeniros graus de
Aprendiz, Companheiro e Mestre, incluindo o Santo Arco Real. Apesar
de reconhecido pela sua antiguidade, como um verdadeiro landmark,
ele continua a ser violado. 3º - A lenda do terceiro grau é um
landmark importante, cuja integridade tem sido respeitada. Nenhum
rito existe na Maçonaria, em qualquer país ou em qualquer idioma,
em que não seja expostos os elementos essenciais dessa lenda. As
fórmulas escritas podem variar e, na verdade, variam; a lenda,
porém, do construtor do Templo constitui a essência e a identidade
da Maçonaria. Qualquer rito que a excluísse ou a alterasse,
materialmente cessaria, por isso, de ser um rito Maçónico. 4º - O
governo da Fraternidade por um Oficial que preside; denominado
Grão-Mestre, eleito pelo povo maçónico, é o quarto landmark da
Ordem. Muitas pessoas ignorantes supõem que a eleição do GrãoMestre se pratica em virtude de ser estabelecida em lei ou
regulamento da Grande Loja. Nos anais da Instituição encontram-se,
porém, Grão- MEstres muito antes de existirem Grandes Lojas e, se o
actual sistema de governo legislativo por Grandes Lojas fosse abolido,
sempre seria precisa a existência de um Grão-Mestre. 5º - A
prerrogativa do Grão-Mestre presidir a todas as reuniões maçónicas,
feitas onde e quando se fizerem, é o quinto landmark. É em virtude
desta lei, derivada da antiga usança, e não de qualquer decreto
17
especial, que o Grão-Mestre ocupa o trono em todas as sessões de
qual;quer loja subordinada, quando se ache presente. 6º - A
prerrogativa do Grão-Mestre de conceder licença para conferir graus
em tempos anormais, é outro e importantíssimo landmark. Os
estatutos maçónicos exigem um mês, ou mais, para o tempo que
deva transcorrer entre a proposta e a recepção de um candidato. O
Grão-Mestre, porém, tem o direito de pôr de lado ou de dispensar
essa exigência, e permitir a iniciação imediata. 7º - A prerrogativa
que tem o Grão-Mestre de autorização para fundar e manter lojas, é
outro importante landmark. Em virtude dele, pode o Grão-Mestre
conceder a um número suficiente de Mestres Maçons o privilégio de
se reunirem e conferirem graus. As lojas assim constituídas chamamse "Lojas Licenciadas". Criadas pelo Grão-Mestre, só existem
enquanto ele não resolva o contrário, podendo ser dissolvidas por
acto seu. Podem viver um dia, um mês ou sei meses. Qualquer,
porém, que seja o tempo da sua existência devem-no,
exclusivamente, à graça do Grão-Mestre. 8º - A prerrogativa de o
Grão-Mestre criar Maçons por sua deliberação é outro landmark
importante, que carece ser explicado, controvertida como tem sido a
sua existência. O verdadeiro e único modo de exercer essa
prerrogativa é o seguinte: o Grão-Mestre convoca em seu auxílio seis
Mestres Maçons, pelo menos; forma uma loja e, sem nenhuma prova
prévia, confere o grau aos candidatos; findo isso, dissolve a loja e
despede os Irmãos. As lojas convocadas por esse meio são chamadas
"Lojas Ocasionais" ou de "Emergência". 9º - A necessidade de se
congregarem os Maçons em loja é outro landmark. Os landmarks da
Ordem sempre prescreveram que os Maçons deviam congregar-se
com o fim de se entregarem a tarefas operativas, e que a essas
reuniões fosse dado o nome de "loja". Antigamente, eram essas
reuniões extemporâneas, convocadas para assuntos especiais e logo
dissolvidas, separando-se os Irmãos para, de novo, se reunirem em
outros pontos e em outras épocas, conforme as necessidades e as
circunstâncias exigissem. Cartas Constitutivas, Regulamentos
Internos, Lojas e Oficinas permanentes e contribuições anuais são
inovações puramente modernas, de um período relativamente
recente. 10º - O governo da Fraternidade, quando congregado em
Loja, por um Venerável e dois Vigilantes, é também um landmark.
Qualquer reunião de Maçons, congregados sob qualquer direcção,
como, por exemplo, um presidente e dois vice-presidentes, não seria
reconhecida como loja. A presença de um Venerável e dois Vigilantes
é tão essencial que, no dia da congregação, é considerada como uma
Carta Constitutiva. 11º - A necessidade de estar numa loja a coberto,
quando reunida, é um importante landmark que não deve ser
descurado. Origina-se no carácter esotérico da instituição. O cargo de
Guarda do Templo que vela para que o lugar das reuniões esteja
absolutamente vedado à intromissão de profanos, não depende, em
absoluto, de quaisquer leis de Grandes Lojas ou de lojas
subordinadas. E o seu dever, por este landmark, é guardar a porta do
18
Templo, evitando que se ouça o que dentro dele se passa. 12º - O
direito representativo de cada Irmão, nas reuniões gerais da
Fraternidade, é outro landmark. Nas reuniões gerais, outrora
chamadas Assembleias Gerais, todos os Irmãos, mesmo os simples
Aprendizes, tinham o direito de tomar parte. Nas Grandes Lojas só
têm direito de assistência os Veneráveis e os Vigilantes, na qualidade,
porém, de representantes de todos os Irmãos das Lojas.
Antigamente, cada Irmão representava-se por si mesmo. Hoje, são
representados pelos seus Oficiais. Nem por motivo dessa concessão,
feita em 1717, deixa de existir o direito de representação, firmado
por este landmark. 13º - O direito de recurso de cada Maçon das
decisões dos seus Irmãos, em loja, para a Grande Loja ou Assembleia
Geral dos Irmãos, é um landmark essencial para a preservação da
justiça e para prevenir a opressão. 14º - O direito de todo o Maçon de
visitar e tomar assento em qualquer loja é um inquestionável
landmark da Ordem. É o consagrado direito de visitar, que sempre foi
reconhecido como um direito inerente que todo o Irmão exerce,
quando viaja pelo Universo. É a consequência de encarar as lojas
como meras divisões, por conveniência, da Família Maçónica
Universal. 15º - Nenhum visitante, desconhecido aos Irmãos de uma
loja, pode ser admitido à, sem que, antes de tudo, seja examinado,
conforme os antigos costumes. Esse exame só pode ser dispensado
se o Maçon for conhecido de algum Irmão do Quadro, que por ele se
responsabilize. 16º - Nenhuma loja pode intrometer-se em assuntos
que digam respeito a outras, nem conferir graus a Irmãos de outros
quadros. 17º - Todo o Maçon está sujeito às leis e regulamentos, da
Jurisdição Maçónica em que residir, mesmo não sendo membro de
qualquer loja. A não filiação é já em si uma falta maçónica. 18º - Por
este landmark os candidatos à iniciação devem ser isentos de defeitos
ou mutilações, livres de nascimento e maiores. Uma mulher, um
aleijado ou um escravo não podem ingressar na Fraternidade. 19º - A
crença no Grande Arquitecto do Universo é um dos mais importantes
landmarks da Ordem. A negação dessa crença é impedimento
absoluto e insuperável para a iniciação. 20º - Subsidiariamente a
essa crença é exigida a crença em uma vida futura. 21º - é
indispensável a existência, no Altar, de um Livro da Lei, o Livro que,
conforma a crença, se supões conter a Verdade revelada pelo Grande
Arquitecto do Universo. Não cuidado a Maçonaria de intervir nas
peculiaridades de fé religiosa dos seus membros, esses Livros podem
variar de acordo com os credos. Exige, por isso, este landmark, que
um "Livro da Lei" seja parte indispensável dos utensílios da Loja. 22º
- Todos os Maçons são absolutamente iguais dentro da Loja, sem
distinções de prerrogativas profanas, de privilégios, que a sociedade
confere. A Maçonaria a todos nivela nas reuniões maçónicas. 23º Este landmark prescreve a conservação secreta dos conhecimentos
havidos por iniciação, tanto dos métodos de trabalho, como das suas
lendas e tradições que só podem ser comunicadas a outros Irmãos.
24º - A fundação de um ciência especulativa, segundo métodos
19
operativos, o uso simbólico e a explicação dos ditos métodos e dos
termos neles empregados, com propósito de ensinamento moral,
constitui outro landmark. A preservação da lenda do Templo de
Salomão é outro fundamento deste landmark. 25º - O último
landmark é o que afirma a inalterabilidade dos anteriores, nada
podendo ser-lhes acrescido ou retirado, nenhuma modificação
podendo ser-lhes introduzida. Assim como dos nossos antecessores
os recebemos, assim os devemos transmitir aos nossos sucessores.
Surgiram, evidentemente, muitos contraditores entre os quais o
mais importante foi Albert Pike, também norte-americano, formandose entre os dois uma polêmica que acabou sendo uma fonte rica para
o estudo dos Land-marks.
Como exemplo, incluímos aqui três questionamentos feitos por
Pike sobre a lista de Mackey:
2° - A divisão da maçonaria Simbólica em três graus.
Antigamente a Fraternidade Maçônica não tinha graus; eles foram
estabelecidos em 1723 e 40 anos mais tarde ainda havia Lojas sob a
obediência da Grande Loja de Inglaterra que não aceitavam os graus.
3° - A Lenda do terceiro grau.
Não pode ser um Landmark porque ela foi introduzida na
maçonaria pelo ano de 1723.
18o – A exigência da maioridade para ser maçom.
Antigamente não era necessário ser homem maior de idade para
ser iniciado; se descrevia unicamente como um “jovem” sem ter em
conta sua idade.
Pike aceita da lista de Mackey unicamente cinco Land-marks, e
que são: 1) A necessidade dos maçons reunir-se em Lojas; 2) O
governo de cada Loja por um Venerável Mestre e dois Vigilantes; 3) A
crença no Grande Arquiteto do Universo e numa vida futura; 4) A
cobertura dos trabalhos da Loja; e 5) A proibição da divulgação dos
segredos da Maçonaria, ou seja, o sigilo maçônico.
A tendência de considerar os Land-marks como dogmas, similares
as que tem caracterizado as Igrejas, têm sido material propício para
cismas maçônicos durante a história da Ordem. Dogma é a expressão
de um ponto fundamental e indiscutível do cristianismo, ensinado
pela Igreja em nome de Deus; é vedado para os cristãos crer de
20
outro modo. Mesmo que Payne estabeleceu que era vedado mudar os
Land-marks, os maçons tem criado uma série de alternativas ou
interpretações e que em nada tem afetado a doutrina maçônica.
Já falamos que não existe consenso sobre que princípios devem
ser considerados como Land-marks e acrescentamos que em USA 13
Grandes Lojas não tem adotado nenhuma lista de Land-marks (para
estas Potências os Landmarks existem sem necessidade de
desenvolver uma Lista deles), 4 Grandes Lojas consideram os seis
artigos da Constituição de Anderson como Land-marks; outras
Grandes Lojas de USA aceitam formalmente a lista de Mackey ou tem
adotado eles por uso e costume. 14 Grandes Lojas tem criado e
adotado sua própria lista de Land-marks; como exemplo, citamos a
Grande Loja de Massachusetts, que adotou a seguinte lista de Landrmarks: 1) Monoteísmo, sendo o único dogma da Francmaçonaria; 2)
A crença na imortalidade, como a última lição da filosofia maçônica;
3) O Volume da Lei Sagrada, como elemento importante da mobília
de uma Loja; 4) A lenda do terceiro Grau; 5) Discrição; 6) O
simbolismo da arte operativa; e 7) Um maçom deve ser homem,
nascido livre e adulto.
Por sua vez, a Grande Loja Regular de Portugal adota os seguintes
como seus Landmarks :
1. A Maçonaria é uma fraternidade iniciática que tem como
fundamento a fé em Deus, Grande Arquiteto do Universo.
2. A Maçonaria refere-se aos “Antigos deveres” e aos “Landmarks”
da Fraternidade, especialmente quando ao absoluto respeito das
tradições específicas da Ordem, essenciais à regularidade da
Jurisdição.
3. A Maçonaria é uma ordem, à qual não podem pertencer senão
homens livres e de bons costumes, que se comprometem a pôr em
prática um ideal de paz.
4. A Maçonaria visa ainda o aperfeiçoamento moral dos seus
membros, bem como da toda a Humanidade.
5. A Maçonaria impõe a todos os seus membros a prática exata e
escrupulosa dos ritos e do simbolismo, meios de acesso ao
conhecimento pelas vias espirituais e iniciáticas que lhe são próprias.
6. A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das
opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a
discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro
permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa
21
harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos
outros.
7. Os Maçons tomam as suas obrigações sobre um volume da Lei
Sagrada, a fim de dar ao juramento prestado por eles o caráter
solene e sagrado indispensável à sua perenidade.
8. Os Maçons juntam-se, fora do mundo profano, nas Lojas onde
estão expostas as três Grandes Luzes da Ordem: um Volume da Lei
Sagrada, um Esquadro e um Compasso, para aí trabalhar conforme o
rito, com zelo a assiduidade e conforme os princípios e regras
prescritas pela Constituição e os Regulamentos Gerais da Obediência.
9. Os Maçons só devem admitir nas suas Lojas homens maiores de
idade, de ilibada reputação, gente de honra, leais e discretos, dignos
em todos os níveis de serem bons Irmão, e aptos a reconhecer os
limites do domínio do homem e o infinito poder do Eterno.
10. Os Maçons cultivam nas suas Lojas o amor da Pátria, a
submissão às leis e o respeito pelas autoridades constituídas.
Consideram o trabalho como o dever primordial do ser humano e
honram-no sob todas formas.
11. Os maçons contribuem pelo exemplo ativo do seu
comportamento são, viril e digno, para irradiar da Ordem no respeito
do segredo maçônico.
12. Os maçons devem-se, mutuamente, ajuda e proteção
fraternal, mesmo no fim da sua vida. Praticam a arte de conservar
em todas as circunstâncias a calma e o equilíbrio, indispensáveis a
um perfeito controle de sim próprio.
Resumindo, um Landmark apresenta as seguintes características :
· Antigüidade (São tam antigos que a memória humana não
consegue lembrar seu origem)
· Imutabilidade (Eles tem permanecido sem mudanças e não tem
variado através dos tempos)
· Fundamental
Maçonaria)
(Representam
os
princípios
fundadores
da
· Universal (São destinados a todos os maçons, sem exceção)
· Eternidade (Não podem ser suprimidos)
22
Em muitas oportunidades foi e ainda será abordado o tema dos
Land-marks, que no meu conceito é um dos mais interessantes que
existe no estudo da maçonaria e mesmo que não existe consenso
sobre o número ou conteúdo deles, devemos reconhecer que eles
estão dentro da maçonaria e que o estudo e interpretação deles tem
contribuído para o enriquecimento da maçonaria em geral.
Capítulo 6
A Regularidade maçônica
Como já foi visto nos capítulos anteriores a maçonaria moderna
começa em 1717 quando 4 Lojas reuniram-se em Londres e
formaram uma Grande Loja. Em 1723 esta Grande Loja tomou o
seguinte acordo: “O privilégio de reunir-se em qualidade de maçons,
que até agora foi ilimitado, deixa desde hoje de ser extensivo à
Fraternidade em geral e cada Loja que deseje reunir-se deverá ser
autorizada oficialmente para realizar seus trabalhos por um
documento escrito (warrant) do Grão Mestre que, com a aprovação
da Grande Loja, fará saber se pode-se admitir a petição das pessoas
representadas; sem esta autorização nenhuma Loja poderá desde
hoje considerar-se regular e legalmente constituída”.
Antecedente deste acordo é, sem dúvida, o No VIII dos
Regulamentos Gerais compilados por George Payne em 1720 e
aprovados em 1721: “Se algum grupo de irmãos formarem uma Loja
sem a Carta Constitutiva expedida pêlo Grão Mestre, as Lojas
regulares não os ajudarão, nem os considerarão como maçons
regulares, nem aprovarão seus atos nem fatos, mas sim os tratarão
como rebeldes, etc ...”
Aqui nasce o poder regulador das Grandes Lojas que, assim como
tem a faculdade de criar organismos maçônicos tem derivado a sua
vez, regularmente de outros órgãos que tinham a mesma qualidade e
a mesma faculdade. Uma Loja para ser considerada regular, tem que
ter obtido sua carta patente ou carta constitutiva de uma Grande Loja
igualmente regular. Aclaramos que uma Grande Loja é constituída
por 3 ou mais Lojas legalmente organizadas e em goze de seus
direitos e que proclamam seu desejo de estabelecer uma Grande Loja
em um território que está livre (não existe nenhuma outra Potência
nele). Posteriormente as outras Grandes Lojas estudarão o processo
de sua geração e decidiram se ela merece ser admitida no seio da
maçonaria
regular
universal
conforme
suas
normas
de
reconhecimento, que são princípios adotados livremente por elas.
23
Como não poderia ser de outro modo, a base destas normas tem
sido ditadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra e que as atualizou
em 4 de setembro de 1929, ficando como segue:
1. Regularidade de origem. Cada Grande Loja deverá ser
estabelecida legalmente por três ou mais Lojas regularmente
constituídas.
2. A crença no Grande Arquiteto do Universo (fórmula adotada
pela maçonaria para designar a Deus incluindo as diferentes
denominações dadas pelas religiões) e na sua Vontade revelada será
um requisito essencial para a admissão de novos membros.
3. Todos os iniciados prestarão seu juramento sobre ou na
presença completa do Livro da Lei Sagrada aberto pelo qual significase a revelação do alto que liga a consciência do indivíduo particular
que se inicia.
4. Os afiliados da Grande Loja e das Lojas individuais serão
exclusivamente homens. Cada Grande Loja não terá relações
maçônicas de nenhum tipo com Lojas mistas ou com Corpos que
admitem mulheres como membros.
5. A Grande Loja terá jurisdição soberana sobre todas as Lojas de
seu território podendo realizar inspeções periódicas. Será
independente e governada por si mesma com autoridade sobre seus
obreiros que serão dos três graus simbólicos (aprendiz, companheiro
e mestre). Tal autoridade jamais poderá ser dividida com qualquer
outro Corpo ou Potência ou sofrer inspeções e interferências de
qualquer espécie.
6. As três Grandes Luzes da Franc-maçonaria (Livro da Lei
Sagrada, Esquadro e Compasso) estarão sempre expostas quando a
Grande Loja ou suas Lojas subordinadas estejam trabalhando , sendo
a principal delas o Livro da Lei.
7. A discussão de religião ou política dentro da Loja será
estritamente proibida.
8. Os princípios dos Antigos Limites (Old Land-marks), usos e
costumes da Ordem serão estritamente conservados.
O prazo de duração de uma Potência maçônica é indeterminado e
ilimitada a quantidade de Lojas e maçons que a compõem; ela
somente se dissolverá se houver menos de três Lojas sob a sua
Jurisdição. Uma Loja tem um mínimo de sete membros. A G L Mac do
24
Estado de São Paulo, estabelece um mínimo de 10 Lojas para
continuar existindo; com menos de 10 ela será dissolvida.
Antes de continuar vamos tentar definir os termos “Regular” e a
conseqüência imediata dele, que seria o “Reconhecimento”.
“Regular” (deriva do latim regularis e este de regula, que significa
algo que se comporta exatamente conforme a norma) entende-se
como uma entidade maçônica que cumpre as normas que foram
ditadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra. Estas normas, que
foram ditadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra, foram
devidamente analisadas e aceitas porque elas acompanhavam
fielmente o tradicional espírito maçônico. Logo veremos que o
conceito de “regularidade” é subjetivo e passível de várias
interpretações.
“Reconhecimento” é o ato praticado pelos pares de uma entidade
maçônica que, respondendo a uma solicitação da interessada,
garantem que aquela entidade cumpre as normas de Regularidade.
“Reconhecimento” é o estado de um fato conforme visto por uma
entidade particular. É algo mais do que um simples ato diplomático.
Cada Potência maçônica tem sua própria interpretação do conceito
“Regular”; por isso falamos que o fato de uma Potência ser
reconhecida por outra, não obriga as demais a também outorgar seu
reconhecimento. Evidente, sempre serão apresentadas boas razões
de uma ou outra determinação. Exemplos temos nos seguintes casos:
4 Grandes Lojas de EEUU reconhecem a Grande Loja de Mali e 47
não; a Grande Loja de New York e outras 6 reconhecem a Grande
Loja da Polônia e 43 não; 20 Grandes Lojas de EEUU reconhecem a
Grande Loja de Haiti e 30 não; 23 Grandes Lojas de EEUU tinham
reconhecido a Grande Loja da França, retirando seu reconhecimento
posteriormente, mas a Grande Loja de Minnesota reconheceu em
2001 e retirou em 2002 seu reconhecimento; a Grande Loja Unida da
Inglaterra cria e reconhece uma Grande Loja na Itália que as Grandes
Lojas de EEUU estimam que ela é clandestina; etc.
A ação de “Reconhecimento” na Maçonaria mundial começa a ser
praticado em Março de 1878, quando a Grande Loja Unida da
Inglaterra, nomeia uma comissão de 10 membros a fim de considerar
a ação tomada pelo Grande Oriente da França de suprimir da sua
Constituição os parágrafos que afirmam a crença na existência de
Deus (mais detalhes no Capítulo 7), comissão que propõe pela
unanimidade, que não pode reconhecer como verdadeiros (maçons)
irmãos que foram iniciados em Lojas que ignoram esta crença em
Deus. É bom frisar que, a crença em Deus, para a Grande Loja Unida
da Inglaterra, é o primeiro Landmark de toda verdadeira e autêntica
25
Maçonaria. O abandono deste Landmark
fundamental de todo o edifício maçônico.
suprime
a
pedra
A maioria das Grandes Lojas tem ditado normas de
reconhecimento que, em geral, acompanham os princípios da Grande
Loja Unida da Inglaterra. Assim, por exemplo, a 1a Conferência
Interamericana da Franc-maçonaria celebrada em Montevideo em 14
de abril de 1947, aprovou os fundamentos para um Direito Maçônico
Inter-potencial que, na sua maioria, são normas de reconhecimento e
na 2a Conferência celebrada em Cidade do México em Março de
1952, estas conclusões foram ratificadas na sua maioria sofrendo
pequenas modificações que não alteram o espírito das normas
originais inglesas.
Em todas as normas de reconhecimento da Maçonaria universal, é
requisito “sine qua non” a independência do Poder Simbólico e a
exclusiva jurisdição territorial, da Potência que aspira a ser
reconhecida, e que se refere a que deve governar exclusivamente os
três primeiros graus simbólicos, vale dizer, com exclusão e sem tutela
dos Supremos Conselhos que governam os graus IV à XXXIII.
A Maçonaria, para ser praticada, precisa de um Ritual. Nascidos
dos antigos Mistérios, diferentes Ritos tem sido criados e eles
estabeleceram graus superiores ao 3º. Dentro desta diversidade de
Ritos um dos mais praticados pela maioria das Lojas, fora de
Inglaterra, e Rito Escocês Antigo e Aceito, que reconhece até o grau
33, e que desenvolveu uma organização de tipo mundial a partir do
31 de maio de 1801, quando foi fundado o Supremo Conselho do Rito
Escocês Antigo e Aceito na cidade de Charleston, USA. Estes graus
superiores ou Altos Graus formam o que é conhecida como Maçonaria
Filosófica diferenciada da Maçonaria Simbólica.
As Lojas simbólicas jurisdicionadas a uma Grande Loja, no ato da
sua fundação, escolhem o Rito em que irão a trabalhar e que deverá
receber aprovação da Grande Loja. Os graus filosóficos do Rito
Escocês Antigo e Aceito começam no grau de Mestre Secreto que, por
ser concedido depois do 3o grau (não importando o Rito) passou a
ser chamado de 4o grau. A Conferência dos Supremos Conselhos
realizada em 1929 em Paris esclareceu que é lícito aos Supremos
Conselhos buscar candidatos em qualquer jurisdição simbólica sem
distinção de ritualística.
Assim como a regularidade de uma Grande Loja somente pode ser
determinada por suas iguais, do mesmo modo os Supremos
Conselhos somente podem ser reconhecidos por seus congêneres. O
retiro voluntário ou a eliminação de um Irmão da Maçonaria
Simbólica se reflete automaticamente na Maçonaria Filosófica,
perdendo aquele Irmão os graus que tiver acima do 3o. A situação
26
inversa não é aplicável; evidente que se o motivo da eliminação da
Maçonaria Filosófica obedecer a faltas graves de tipo moral, o caso
será julgado pelos Tribunais da Maçonaria Simbólica e o julgamento
indicará a eliminação ou não dos graus simbólicos.
No que diz respeito à jurisdição territorial (ponto 5o das Normas
inglesas), a regularidade significaria não aceitar o estabelecimento no
próprio território de outra Potência Maçônica como também não
invadir um território que já estiver ocupado maçonicamente, mas por
razões de fraternidade e respeitando o direito adquirido, as
Conferências maçônicas sul-americanas, em 1947, aceitaram fazer
uma excepção com as Lojas dependentes de um poder estrangeiro e
que funcionavam antes do estabelecimento da potência maçônica
nacional.
Na prática, a territorialidade tem sido o ponto mais discutido e
difícil de ser aplicado dentro da Maçonaria universal. O conceito
territorial estabelecido no ponto 5 da G indica que não pode
reconhecer-se mais de uma Potência em um mesmo espaço
territorial, mas a realidade tem mostrado uma situação diferente
praticamente em todos os países.
Começando pelo Brasil, a sua história potencial maçônica se inicia
com a fundação do Grande Oriente do Brasil no Rio de Janeiro em 17
de Junho de 1822 e do Supremo Conselho do Grau 33 do Brasil em
1829. Em 1832 o Supremo Conselho do Brasil recebe patente
concedida pelo Supremo Conselho Confederado dos Países Baixos;
ele é independente do Grande Oriente. Em 1833 o Supremo Conselho
divide-se em dois facões, sendo uma fiel ao Visconde de
Jequitinhonha e a outra unida ao Grande Oriente e sob a direção de
José Bonifácio. Este último Conselho, por sua vez, divide-se em dois,
ficando parte sob a presidência de Barreto Pedrosos (que fora logo
sucedido pelo Conde de Lajes) e parte sob Cándido Ladislau Japiassu.
Em 1838 os grupos do Supremo Conselho do Brasil dirigidas por
Japiassu e pelo Conde de Lajes, reúnem-se e aliam-se ao Grande
Oriente; posteriormente houve mais algumas cisões e uniões mas de
pouca duração e de menor importância. Em 1847 cria-se o Grande
Oriente de Caxias que em 1852 une-se ao Grande Oriente. Em 1922,
começa o processo de formação das Grandes Lojas, sendo o
personagem central o Irmão Mario Behring, ficando uma situação de
duas Potências no mesmo território, sem contar que também é criado
o Grande Oriente Paulista, acontecendo situação similar em outros
estados brasileiros, onde convivem fraternalmente, uma Grande Loja,
o Grande Oriente do Brasil e, ocasionalmente, um Grande Oriente
estadual, como terceira Potência, separada do G. A GLESP mantém
relacionamento amistoso tanto com o G como com o Grande Oriente
Paulista, ambas potências com Lojas dentro de território do Estado de
São Paulo.
27
Poderão surgir comentários no sentido que somente no Brasil
acontecem estas coisas mas este tem sido um fato repetido através
da história praticamente em todos os países. Inclusive na Inglaterra,
aconteceu um cisma entre Antigos e Modernos desde 1757 até 1813,
quando os dois grupos se uniram sob o nome de Grande Loja Unida
da Inglaterra.
Nos EEUU, mencionamos a Grande Loja Prince Hall, formada
exclusivamente por pessoas da raça negra e que hoje conta com 45
Potências simbólicas, Corpos Filosóficos e 300.000 membros reunidos
em mais de 4.500 Lojas simbólicas, espalhadas em EEUU, Libéria,
Canadá e Bahamas. Esta Potência foi criada pela negativa das
Grandes Lojas de EEUU de aceitar membros da raça negra; mas hoje
35 Grandes Lojas de EEUU reconhecem a Grande Loja Prince Hall que
mantém Lojas nos mesmos estados das Grandes Lojas norteamericanas. A Maçonaria norte-americana aplica um critério de
igualdade bastante especial; devido ao problema cultural e histórico
(escravidão, Guerra de Secessão, mentalidade dos estados sulistas
diferente dos estados do norte), para eles branco é igual a branco e
negro é igual a negro; mesmo que reconhecida por 35 Grandes Lojas,
cada Potência caminha separadamente mas defendendo exatamente
os mesmos princípios. Vemos na história da Grande Loja de Maçons
em Massachusetts (USA) que em 1970, seu Grão Mestre declarou que
a Grande Loja que ele dirige não faz distinção entre homens pela cor
da sua pele, raça ou crença; esta declaração foi originada pelo fato
da Ordem de Garotas do Arco-Iris tinha eliminado o Capítulo em
Auburn, Massachusetts porque ele tinha aceitado uma garota negra.
Na França, a primeira Potência fundada é a Grande Loja da França,
que nasce entre os anos 1728 e 1729; em 1773, a maior parte das
Lojas da Grande Loja fundam uma nova obediência sob o nome de
Grande Oriente da França. Depois da Revolução as duas Potências
decidem pela união delas, terminando com a Grande Loja, tratado
ratificado em 1799. Em 1894 é re-criada a Grande Loja da França,
mas autores alegam não existir nenhuma relação entre aquela de
1728/29 e esta, e por isso que argumentam que o G é a potência
mais antiga da França. Em 1913 é constituída a Grande Loja Nacional
Independente e Regular para a França e Colônias francesas, sendo
esta sim reconhecida pela Grande Loja Unida da Inglaterra dois
meses após sua fundação; em 1948 ela muda seu nome para Grande
Loja Nacional Francesa. Em Abril de 2001, a Grande Loja de
Minnesota reconhece a Grande Loja da França e 4 Grandes Lojas de
EEU (Michigan, New York, Maine e Kentucky) suspendem as visitas de
seus membros nas Lojas de Minnesota argumentando que a Grande
Loja da França é irregular. Minnesota alega que a G é regular já que
28
exige de seus membros a crença em Deus, mantém nas suas Lojas o
Livro da Lei Sagrada, admite exclusivamente homens, e não mantém
relacionamento com Potências mistas ou femininas. Alertamos que a
G não reconhece o Grande Oriente da França, reconhecidamente
irregular por seu caráter ateu. Mas, posteriormente a Grande Loja de
Minnesota retirou o reconhecimento da Grande Loja da França,
aparentemente porque em 2003, Minnesota hospedaria o Congresso
de Grandes Lojas norte-americanas e as 4 Grandes Lojas que
suspenderam suas visitas, não poderiam participar, prejudicando o
sucesso do evento.
Os fatos acima mencionados são diferentes quando em um mesmo
país existem duas ou mais potências maçônicas conforme a divisão
política do país, mas com territórios perfeitamente definidos. É o caso
de países federativos da América tais como USA, Canadá, México,
Brasil, Venezuela e Colômbia, que era federativo até 1886.
Outra situação diferente e perfeitamente válida é o direito de asilo,
matéria estudada na Conferência de Chefes da Fanc-maçonaria
Simbólica de Sulamérica, Janeiro de 1932, a pedido da Grande Loja
da Paraíba, Brasil, que apresentou a necessidade de conceder asilo ao
Governo maçônico perseguido pelo Governo civil. No 30 de Julho de
1935 a Grande Loja de Hamburgo abateu colunas, para não se
submeter as exigências totalitárias do governo hitlerista e recebeu
asilo maçônico no Chile. A Grande Loja Valle de México, com data 21
de novembro de 1944, concedeu asilo maçônico ao Grande Oriente
Espanhol, perseguido pelo regime franquista.
Como temos apreciado, foi na primeira metade do século 20, que
o Direito internacional maçônico começa a ser aprimorado,
mencionando que ainda falta muito caminho por recorrer. Um
exemplo é o próprio Brasil, que nos primórdios cometeu muitas
situações de irregularidade, justificadas porque ainda não havia um
conhecimento perfeito do mecanismo de funcionamento e das
relações entre os Corpos maçônicos; citamos que numa mesma
eleição era eleito o Grão Mestre do GOB que acumulava o cargo com
o
de
Supremo
Grande
Comendador,
situação
observada
permanentemente pelas potências européias. Coube ao paulista Mário
Behring a correção desta irregularidade, em 1925, iniciando-se o
período de fundação das Grandes Lojas em cada Estado brasileiro,
num processo que até hoje gera ardentes polêmicas a favor e em
contra, mas que teve o mérito de colocar a maçonaria brasileira
numa comunhão permanente com a maçonaria universal. Subsistiu
uma situação que afeta o ponto 5 das normas inglesas já que as
Grandes Lojas compartilhavam o mesmo território com o Grande
Oriente do Brasil; mas, em 15 de Outubro de 1999, em uma decisão
inédita a Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo assina um
Tratado de Amizade e Reconhecimento Mútuo com o Grande Oriente
29
do Brasil (Federação Maçônica Brasileira), iniciando-se um novo
conceito de jurisdição territorial, e que teve o reconhecimento das
Grandes Lojas reunidas na sua 4a Conferência Mundial desenvolvida
na cidade de São Paulo em Novembro de 1999.
Como podemos ver, a Maçonaria ainda tem um longo caminho por
percorrer na estrada da Regularidade e provavelmente será difícil
chegar a um entendimento universal no assunto.
GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
A Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo (doravante
denominada GLESP) é pessoa jurídica de Direito Privado, fundada em
2 de julho de 1927, para reger a maçonaria no Estado de São Paulo,
como Potência Maçônica legal e legítima. Outras Grandes Lojas e
Grandes Orientes existem, no Brasil (inclusive dentro do próprio
Estado de São Paulo) e no exterior, com as quais a GLESP mantém
estreitos laços de fraternal amizade. Até Setembro de 2000 a GLESP
tinha obtido o reconhecimento de 167 Potências Maçônicas do mundo
inteiro
A GLESP abriga 17.000 maçons congregados hoje em dia por mais
de 500 Lojas Simbólicas, repartidas em todo o Estado de São Paulo, e
funciona administrativamente na sua sede, conhecida como o Palácio
Maçônico, na cidade de São Paulo.
A GLESP tem por finalidade precípua a prática e difusão do
simbolismo maçônico e são também suas finalidades a criação,
direção e manutenção de escolas, asilos, creches, orfanatos,
hospitais, centros recreativos, bibliotecas e entidades filantrópicas,
beneficentes e outras.
A través da sua história, a GLESP tem sido conhecida por outras
designações, sendo essas: “Grandes Lojas do Estado de São Paulo”,
“Grandes Lojas Maçônicas do Estado de São Paulo”, “Sereníssima
Grande Loja do Estado de São Paulo”, “Grande Loja Unida de São
Paulo”, “Grande Loja Bandeirantes”, “Grande Loja de São Paulo”,
”Grande Loja Paulista”, “Grande Loja”, “Grande Loja do Estado de
São Paulo” e “Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo”. A sigla
GLESP foi adotada e, ainda que os nomes tem sido mudados, a sigla
continua com plena validade.
A GLESP, como toda Potência maçônica, é soberana na sua
jurisdição, que como repetimos, abrange todo o Estado de São Paulo,
30
e não depende de qualquer outra entidade, autoridade ou corpo
maçônico, dentro ou fora do país. Dentro dos laços de fraternidade
com outras Potências maçônicas, a GLESP pertence à Confederação
da Maçonaria Simbólica Brasileira (CMSB, fundada em São Paulo em
1966), à Confederação da Maçonaria Interamericana (CMI, fundada
em 1947) e a Conferência Mundial de Grandes Lojas, sendo que a 4a
reunião dela foi em 1999 em São Paulo, sediada pela GLESP.
Também a GLESP tem ocupado por duas vezes a Secretaria Executiva
da CMI. Estas Associações de Potências maçônicas tem por único
objetivo, se reunir periodicamente para estreitar laços de verdadeira
fraternidade, discutir assuntos ligados a simbologia e ritualística
maçônica mas, sob hipótese alguma emitem normas que possam
afetar a soberania das Potências membros.
Capítulo 7
Cismas na Maçonaria
Não tem sido “um mar de rosas” o caminhar da Maçonaria
moderna; quando em 1717 quatro Lojas reúnem-se e decidem criar a
Grande Loja e, posteriormente, aprovar os Regulamentos Gerais e a
Constituição de Anderson, existiam outras Lojas tanto em Londres
como no interior de Inglaterra e Escócia que ficaram observando o
desenvolvimento dos fatos até que decidiram reagir porque eles
estimavam que estava sendo alterada a tradição maçônica. Um grupo
destes irmãos que formavam parte da Grande Loja que já era
denominada “de Inglaterra” em 1737 se separam dela e juntam-se
aos restos das Corporações Operativas que trabalhavam sob a
Constituição da Grande Corporação de Obreiros de York, dando forma
ao conhecido como regime Escocês Antigo e aplicam à Grande Loja
de Inglaterra o apelido de “moderno”; eles se consideram os
verdadeiros depositários e continuadores das tradições das
Corporações de Ofício.
Em 1739 os dissidentes sob o nome de Antigos Maçons, recebem o
reconhecimento das Grandes Lojas de Escócia e da Irlanda, e
acrescentam ao seu nome a palavra “Aceito”. O cisma alcança seu
apogeu em 1751, com a questão da crença em Deus obrigação que,
os “modernos” alegam que não foi estabelecida pelos “antigos”. A
Grande Loja de Inglaterra passa a ser conhecida como “dos antigos”
em contraposição a Grande Loja de 1717 que é a “dos modernos”.
Em 1753 os “antigos” constituem a Grande Loja dos Maçons Livres
e Aceitos, consoante com as velhas Constituições ou Grande Loja dos
Antigos Maçons da Inglaterra. Os “antigos” censuravam aos
31
“modernos” haver omitido as orações, descristianizado o Ritual,
ignorado os dias Santos e mudado os Land-marks.
Outro capítulo se acrescenta a esta disputa, quando em 1756
aparecem os primeiros certificados de maçom impressos com a
assinatura do Grande Secretário da Grande Loja (“dos modernos”) e
que os “antigos” censuravam porque eles, conforme as antigas
tradições, obrigavam a seus membros a guardar sigilosamente ou
destruir todo e qualquer documento maçônico.
Passam-se 60 anos até que em 1813 as duas Grandes Lojas vendo
que a sua rivalidade perdera o objetivo doutrinário, reconciliam-se e
se unem. A nova Obediência recebe o nome de Grande Loja Unida
dos Antigos Franc-maçons da Inglaterra, tal como é conhecida até
hoje. O Tratado de Reconciliação é assinado no Palácio de Kensington
aproveitando a circunstância que as duas Grandes Lojas eram
dirigidas por irmãos carnais: o Rei George III, Duque de Kent, Grão
Mestre dos “antigos” e o Duque de Sussex, Grão Mestre dos
“modernos”.
Imediatamente começou a trabalhar a Loja de Reconciliação,
criada para retornar a um sistema puro e aceito por “antigos” e
“modernos”. Os trabalhos desta Loja continuaram até 1816 e não foi
nada de fácil já que recebeu muitas críticas por parte dos “antigos”
mas a posição firme do Grão Mestre, o Duque de Sussex, levou a
Grande Loja Unida com segurança através deste processo de
reconciliação.
Em 1815 a Grande Loja Unida publica sua Constituição. A
obrigatoriedade I, relativa a Deus e a religião, termina com a amplia
tolerância religiosa existente até esse momento. A Grande Loja Unida
decidiu, ao mesmo tempo, trabalhar de acordo com o Rito dos
Antigos, que haviam adquirido o hábito de se intitular Maçons de
York. O Rito de York, praticado não só na Inglaterra mas também na
América do Norte, compõe-se dos 3 graus simbólicos aos que
sobrepõe-se o de Royal Arch, que praticavam os “antigos”.
Outro cisma da maçonaria, acontece em 1877 quando termina o
relacionamento entre a Grande Loja Unida da Inglaterra e o Grande
Oriente da França. Na verdade, todos sabemos que historicamente
França e Inglaterra tem sido eternos rivais que se tem enfrentado nos
campos político, econômico e diplomático na luta pela hegemonia na
Europa. A Maçonaria foi unicamente outro campo em que estes dois
países se enfrentaram.
Em 1876 acontecem significativos debates na Assembléia Geral do
Grande Oriente da França e que iriam a conduzir ao voto de 1877: “A
Francmaçonaria não é deísta, nem atéia, nem sequer positivista.
32
Instituição que afirma e pratica a solidariedade humana, é estranha a
todo dogma e todo credo religioso. Tem por princípio único o respeito
absoluto da liberdade de consciência ... Nenhum homem inteligente e
honesto poderá dizer seriamente que o Grande Oriente da França
quis banir de suas Lojas a crença em Deus e na imortalidade da alma
quando, pêlo contrário, em nome da liberdade absoluta de
consciência, declara solenemente respeitar as convicções, as
doutrinas e as crenças de seus membros”. (Para melhor entender
esta declaração, lembremos que a Constituição de Anderson eliminou
da maçonaria os “ateus estúpidos” expressão que criou uma acirrada
polêmica). Em 1738, Anderson muda o texto para a obrigação do
maçom “de observar a lei moral como um verdadeiro noaquita” . Os
franceses falam que Anderson virou do deísmo para o teísmo, sendo
o deísmo o sistema dos que crêem em Deus mas rejeitam a revelação
e o teísmo a crença na existência de Deus e em sua ação providencial
no Universo.
Em setembro de 1877 o Grande Oriente da França, aceitando
sugestão do irmão Frederico Desmonds, teólogo protestante e futuro
Grão Mestre, suprime a fórmula “À Glória do Grande Arquiteto do
Universo” baseado em que a “maçonaria tem como fundamento a
liberdade de consciência incondicional e a solidariedade humana. Não
rejeita ninguém por motivos de crença”. A Bíblia desapareceu das
Lojas do Grande Oriente. Como conseqüência, foi o rompimento de
relações com a Grande Loja Unida da Inglaterra e com os países
anglo-saxões, passando o Grande Oriente da França a ser
considerado como irregular condição que persiste até hoje.
O historiador maçônico alemão Gabriel Findel defendeu, no mesmo
ano de 1877, a posição do Grande Oriente da França indicando que
fez “somente uma declaração em favor da liberdade de consciências e
que não atinge em absoluto nenhuma fé religiosa” e criticou as
Grandes Lojas que retiraram seu reconhecimento considerando que
foi “um intolerável ato de papismo, e a negação dos verdadeiros
princípios da Ordem”. Só que esta defesa dos franceses não comoveu
em absoluto aos maçons ingleses.
Capítulo 8
Os Ritos
Rito maçônico é definido como o conjunto de regras, símbolos e
usos da instituição, formando um sistema completo das fórmulas e
práticas das cerimônias maçônicas e comunicação dos sinais, toques
e palavras secretas dos graus. E podemos dizer, que cada Rito
constitui um verdadeiro sistema de ensinamento.
33
Como já vimos no Capítulo sobre os Land-marks, a maçonaria não
é dogmática e praticamente cada organização, sem se afastar dos
princípios seculares, tem adotado diferentes sistemas para
desenvolver suas cerimônias e sistemas de ensinamento para seus
membros. Da variedade destes procedimentos tem nascido variados e
numerosos ritos através dos tempos; uns mais do que outros tem
interpretado melhor o simbolismo maçônico e aqueles que não tem
sido tão fieis ou felizes na interpretação maçônica tem desaparecido
e, tão é assim que de uns 70 ou mais ritos criados através dos
tempos, os praticados hoje em dia, não chegam a dez.
O seis mais conhecidos são:
· O Rito Schröder ou alemão, recebe seu nome de seu autor,
Frederico Luis Schröder, Grão Mestre da Grande Loja de Hamburgo
nos anos 1814 e 1816. Este rito foi criado especialmente para
terminar
com
o
caos
ritualístico
existente
em
1800.
Lamentavelmente, pese a sua singela simplicidade e beleza, é muito
pouco praticado hoje em dia.
· Rito de York, ou Emulation, é um rito inglês que era praticado
pêlos maçons “antigos” e hoje é um dos mais praticados no mundo
maçônico se consideramos que se pratica na Inglaterra e USA onde
pertencem mais de 50% dos maçons na Terra. Após a reconciliação
da maçonaria inglesa acontecida em 1813, forma-se em 1823 a
“Emulation Lodge of Improvement for Master Masons” com a
finalidade de manter a pureza do Ritual de York, de maneira que
Emulation significa mais do que uma forma de praticar o Rito, uma
instituição com a finalidade de cuidar do Rito.
· O Rito Francês ou Moderno criado em Paris em 1761, é
considerado um rito espúrio ou irregular pelo fato ter retirado de seus
Templos o Livro da Lei e aboliu a fórmula de invocação à Grande
Arquiteto do Universo e a crença na imortalidade da alma.
· Rito Escocês Antigo e Aceito, que é o mais difundido, se
considerado o número de Grandes Lojas no mundo todo,
especialmente no mundo latino-americano. Criado em Paris, o nome
de escocês deve-se ao fato de ter sido escoceses asilados na França
que contribuíram para sua criação. É inexato que seu criador haveria
sido o Imperador Frederico II. Nos manuais editados no Brasil estão
encabeçados, logo na capa pelas iniciais MM LL AAAA, (Maçons Livres,
Antigos e Aceitos) e que lembra aos maçons que estão livres de
compromissos políticos, religiosos, filosóficos ou de outro tipo que
limitem sua consciência, Antigos lembra os autênticos pedreiros e
Aceitos são aqueles intelectuais que sem ser pedreiros foram aceitos
34
nas Lojas interessados em desvendar os ensinamentos morais dos
símbolos maçônicos.
· Rito Adonhiramita, também desenvolvido na França em 1778,
com base nos escritos do Barão de Tschoudy. Adon (Domisus) usado
pêlos hebreus quando falam de Deus e que agregado a palavra
Hiram, forma-se Adonhiram, conforme explicação dada pelo Ritual
editado pêlo Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita. O Livro
dos Reis, cap IV, ver 6, menciona a Adoniram, filho de Abda, como
encarregado do tributo e tomando conta das levas de trabalhadores
na construção do Templo. Outra versão indica que seria a fusão das
palavras Adonai (Senhor) e Hiram, significando portanto Senhor
Hiram; José Castellani opina que a versão do Livro dos Reis é a mais
correta.
· Rito Brasileiro, pouco conhecido e praticado somente no Brasil
com uma primeira tentativa de implantação em 1878, em
Pernambuco. Depois de muitos anos esquecido, em 1968 revive
dentro do Grande Oriente do Brasil, quando passa a denominar-se
Rito Brasileiro de Maçons Antigos, Livres e Aceitos.
A Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo exige das Lojas
de sua jurisdição trabalhar nos Ritos Escocês Antigo e Aceito, Rito de
Schröder, São João, Emulation (York) compreendendo o Supremo
Grande Capítulo dos Maçons da Ordem do Santo Real Arco de
Jerusalém, e outros que vierem a ser reconhecidos pela sua
Assembléia Deliberativa.
O Grande Oriente do Brasil reconhece os Ritos Escocês Antigo e
Aceito, o Rito Adonhiramita, o Rito Francês ou Moderno, o Rito de
York e o Rito de Schröder.
Uma particularidade de todos os Ritos criados é que eles
desenvolveram graus superiores ao grau de Mestre, conhecidos como
Altos Graus, nascendo assim a denominada Maçonaria Filosófica que
tem suas próprias Potências que, conforme vimos no capítulo sobre
regularidade maçônica, o organismo mãe é o Supremo Conselho do
Rito Escocês Antigo e Aceito, criado em 1801 nos USA.
Os historiadores reconhecem em Michel André Ramsay (16861743) o criador ou impulsor dos Altos Graus quando em Dezembro de
1737, no seu cargo de Grão Orador da Grande Loja da França teve
que preparar um discurso para uma cerimônia de iniciação. Ramsay,
escocês, feito Cavalheiro da Ordem de São Lázaro pelo Regente
Felipe de Orleans, exilado em Paris, lutando para restaurar a dinastia
católica e escocesa dos Stuart na pessoa de Jacobo III, filho de
Jacobo II, atividades que criavam um problema para França
preocupada em manter um bom relacionamento com Inglaterra, para
35
não romper o equilíbrio existente nesses momentos no continente
europeu. Conforme normas provavelmente da policia francesa,
Ramsay submete o discurso à censura prévia do Cardeal Fleury,
Ministro de Louis XV que devolve-o com só uma frase: “Le Roi ne le
veut pas”. O discurso ficou pois oralmente inédito, mas sua versão
escrita não foi possível ocultar e teve múltiplas repercussões sendolhe atribuída ser a primeira semente da criação da Enciclopédia de
Diderot.
Continuando com Ramsay, ao seu discurso lhe é atribuído á
origem do movimento dos Mestres Escoceses que criaram o 4o Grau,
mas revistando cuidadosamente seu discurso não se encontra
nenhuma menção a um grau superior ao 3º Grau. A idéia de uma
República Democrática Universal compatível com o sentimento
patriótico é desejada quando escreve que “O mundo inteiro não é
nada mais do que uma grande República, onde cada nação é uma
família e cada pessoa um filho”. Advogando pela formação de uma
Enciclopédia, Ramsay escreve que “Todos os Grandes Mestres da
Alemanha, Inglaterra, Itália e de outras nações, exortam, tanto aos
sábios como aos artesãos da fraternidade, para que se unam para
facilitar os materiais a fim de formar um Dicionário universal de artes
liberais e de ciências úteis, excetuando unicamente a teologia e a
política.” Evidente que, tal como aconteceu com Anderson, o discurso
de Ramsay atraiu e diria que ainda atrai defensores e detratores,
desde aqueles que dizem que ele não falou absolutamente nenhuma
novidade citando somente lugares comuns que todo o mundo
conhece até aqueles que vem nele um dos fatos mais importantes
junto à Constituição de Anderson.
E bom aclarar que os Ritos se desenvolvem em cada país com
completa independência e separação uns dos outros e são
administrados
e
controlados
pela
Potência
territorial
que
normalmente nomeia um grupo de membros mais esclarecidos nesta
área para evitar deturpações dos mesmos. Mas, com as adaptações
idiomáticas e usos e costumes de cada Potência não tem sido possível
evitar que existam diferenças do mesmo Rito em diferentes
territórios, mas de forma algumas estas diferenças tiram a
simbologia, a beleza, e o significado de cada Rito.
Muitos são os Ritos criados através dos tempos, mas a Maçonaria
tem continuado sem desvios no seu caminhar porque os Ritos tem
mantido a mesma doutrina e as poucas excepções que tem
acontecido no decorrer dos séculos, tem sido eliminados da
Maçonaria denominada regular, fiel aos princípios seculares
estabelecidos pela Grande Loja Unida da Inglaterra, reconhecida
como a Loja mãe da Franc-maçonaria universal.
36
Capítulo 9
O Avental de Aprendiz
Na sua etimologia,
avante que deriva do
espanhol e em árabe
inglês é “apron” e em
avental.
avental está formado por “avante + al”, e
latim “ab + ante” que significa adiante. Em
é “mandil” derivado do latim “mantile”. Em
francês é chamado “tablier” cuja tradução é
Alguns investigadores acreditam ver o origem do avental (não o
avental maçônico, evidente) no Gênesis, cap 3 ver 21 que fala: “E fez
o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles, e os vestiu”.
Ou, em outras palavras, digamos que está aqui o origem do vestido
que não outra coisa é o avental que o vestido do maçom.
Os aventais mais antigos foram encontrados em pinturas de
tombas em Tebas de 3000 ac onde o faraó e os sacerdotes usavam
aventais em forma de triângulo equilátero com inscrições de caráter
mágico-protetoras. Sobreviventes do grupo que abriu a tomba de
Tutankammon relatam que, quando tiradas as vendagens da múmia,
apareceu um avental ricamente adornado.
Os sacerdotes israelitas usavam um abnet ou avental branco e
entre os persas, nos mistérios de Mitra, o candidato era investido
com um cíngulo (cordão com que os ministros sagrados apertam a
alva, veste talar de pano branco, na cintura), uma coroa ou mitra,
uma túnica de púrpura e, finalmente, quando recebia a luz, um
avental branco. Existe uma lenda de origem persa que fala que o
povo na suas lutas contra um tirano de nome Zohac, foi sempre
conduzido à vitória pelo ferreiro Kaweh que usava um avental de pele
e que era erguido como estandarte.
Os essénios revestiam os iniciados com túnicas brancas e na Índia
os candidatos eram vestidos com o sach ou zennar sagrado que
pendia desde o ombro esquerdo até o quadril direito.
As primeiras referências de avental maçônico estão nos
regulamentos de uma Loja operativa de Warwick, Inglaterra, que
ordena que os recém iniciados “vistam à Loja” dando aos seus irmãos
comida, bebida, hospedagem, luvas e aventais.
No retrato de Anthony Sayer, o primeiro Grão Mestre da Grande
Loja fundada em 1717 é visto pela primeira vez um avental de um
maçom aceito; ele é de dimensões grandes como também o são os
que aparecem na portada da primeira edição do Livro das
Constituições, no quadro “Noite” de autoria de Hogarth, nas Antigas
37
Constituições publicada por Cole em 1731 e nas Cerimônias
Religiosas de Picart, publicada em 1735 / 1736. Nessa época os
aventais já eram adornados, como hoje, com bordas de seda branca.
Em 1814, a Grande Loja Unida da Inglaterra, determina que o
avental de aprendiz devia ser de pele de cordeiro, todo branco, sem
adornos, forma retangular de 14 à 16 polegadas de largura e 12 à 14
polegadas de altura. O Rito Escocês Antigo e Aceito, no Convento de
Laussanne de 15 de setembro de 1875, codificou as condecorações
maçônicas e os aventais dos diferentes graus, acompanhando a
determinação anterior da Grande Loja Unida da Inglaterra. A Grande
Loja Maçônica do Estado de São Paulo aceita um tecido que substitua
a pele de cordeiro e as medidas são 35 cms de altura por 40 cms de
largura.
O avental maçônico deveria ser confeccionado exclusivamente com
pele de cordeiro; o carneiro é considerado com emblema de
humildade; representa a ressurreição da luz na Páscoa de
Pentecostes na festa da passagem quando o Sol, no equinoccio da
primavera passa pela constelação do carneiro, derramando sobre a
Terra sua benção de luz e de vida. Devemos eliminar de nós a
prepotência e a vaidade e atuar sempre com a humildade do carneiro
que vá para o sacrifício. Considerando a natureza humana, dir-se-ia
que é a condição mais difícil de ser cumprida.
A cor branca sempre simbolizou, em todos os ritos e mistérios dos
povos desde os mais antigos e sábios, a pureza, sendo usada nos
vestidos dos iniciando e das jerarquias mais elevadas. Para os
maçons, simboliza a pureza da alma.
O avental está constituído de duas figuras geométricas: um
quadrado e um triângulo formado pela abeta levantada. O quadrado
representa a matéria ou plano físico que serve de centro as reações
instintivas que não olham para o aspecto moral e sim para a
conservação da matéria e do corpo que é onde vive e se manifesta o
espírito. Os instintos dominam o mundo dos sentidos e as paixões
determinam nossa conduta. A Maçonaria estima que os Aprendizes
ainda não desenvolveram a razão e a parte espiritual representada
pelo triângulo, ou seja, esse fluído sutil dotado de sensibilidade,
inteligência e essência para atingir um grau superior. É por isso que
no avental o triângulo está localizado acima do quadrado para
lembrar que o plano físico, causa e origem dos erros humanos, deve
ser redimido pelo espírito que é a força superior que conduzirá o
Homem pelo caminho certo da verdade e da aproximação à Deus.
O Aprendiz usa a abeta levantada para se proteger das injurias
causadas pelo cascalho da pedra bruta que ele está desbastando para
serem usadas na construção do Templo. É por isso que o avental é o
38
símbolo também do trabalho e como os maçons comparecem ao
Templo maçônico para trabalhar, eles nunca podem esquecer de usar
o avental sempre que estiver dentro do Templo.
Capítulo 10
A abertura do Livro da Lei
Na abertura dos trabalhos de uma Loja maçônica no grau de
Aprendiz, conforme os Land-marks é aberto o Livro da Lei
correspondente à religião majoritária do país onde está localizada a
Loja. Naquele país que a religião cristã é majoritária, o Livro usado
será a Bíblia. O Oficial encarregado se posta no Altar dos Juramentos,
localizado no centro geométrico da Loja e procede à leitura indicada
pelo Rito no qual a Loja está trabalhando. No caso do Rito Escocês
Antigo e Aceito são lidos os versículos 1, 2 e 3 do Livro dos Salmos, o
capítulo 133, À excelência do Amor Fraternal, Cânticos dos Degraus
de Davi.
Os Salmos são o Livro mais extenso da Bíblia com 150 cânticos de
louvor, sendo 72 atribuídos a Davi, entre eles o 133 (que em algumas
edições da Bíblia aparece como 132 devido a uma diferencia de
numeração existente entre a Bíblia católica e a protestante, porque
os Salmos 9 e 10 e o 114 e 155 são reunidos em um só e os 116 e
147 são divididos em dois)
Cada versículo tem uma interpretação esotérica que justifica desde
o ponto de vista maçônica sua inclusão no momento solene de
Abertura do Livro da Lei. Vejamos um a um, os três versículos.
O versículo No 1 fala assim:
"Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!
Este primeiro versículo é de fácil interpretação já que é um canto a
fraternidade que, quando praticada de coração e não somente
mencionada como simples retórica é a base da harmonia e da
igualdade que deve reinar entre os homens; é a labor inicial do
Primeiro Grau que é o Grau do Aprendiz.
Versículo No 2:
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a
barba de Aarão, e que desce a orla de seus vestidos.
39
Neste versículo, a fraternidade mencionada no versículo anterior, é
comparada com o óleo precioso. A aplicação de azeite, óleo ou
essências gordurosas e perfumadas ao corpo ou à cabeça era
costume antigo muito comum. Nas Escrituras podemos observar o
relato do uso da unção para diversos fins:
· A unção das pessoas com fins medicinais, como expressão de
alegria, como prova de consideração, como cuidado do corpo e da
beleza, para honrar os seres queridos que morriam embalsamando
seus corpos, em sinal de honra a um hóspede ilustre, etc
· A unção de objetos; encontramos várias citações bíblicas de
ocasiões em que objetos foram ungidos para serem usados em
atividades religiosas. Esta unção era observada no sentido que tais
objetos seriam separados para o culto religioso, isto é, seriam de uso
exclusivo do sacerdote.
· A unção de sacerdotes. Conforme a Bíblia, Deus separou a Arão e
seus descendentes para que exercessem o sacerdócio em Israel e
ordenou a Moisés que distribui os vestuários sagrados a Arão e seus
filhos, e os ungisse para que oficiassem o sacerdócio. A unção
tornava o sacerdote santificado para exercer o ministério, como
também todos os objetos que fossem ungidos com o óleo sagrado.
· Os Reis também eram ungidos e essa unção era ministrada pelo
Grão sacerdote, na sua qualidade de representante de Deus na Terra,
e assim o Rei recebia a orientação divina.
Comparar então a fraternidade com o óleo precioso corresponde a
comparar ela com um símbolo com que antigamente era distinguida a
divindade. A fraternidade é tão importante como o óleo com que Arão
foi ungido Grão Sacerdote de Israel.
E quem foi Arão? Sabemos pela História Bíblica que Jehovah
ordenou a Moisés liberar seu povo da prisão no Egito, mas Moisés
alegou sua falta de eloqüência e deus prometeu-lhe inspiração, além
de um porta-voz para ser o intermediário com o povo, colocando
sabedoria em Arão. Arão era filho de Amram e Yokabed, portanto
irmão de Moisés e neto do patriarca Levi; tinha nascido em Egito em
1574 ac. A Arão e seus descendentes é confiado o Templo, devendo
cuidar dele, convocar o povo no serviço religioso e castigar com a
morte aos estranhos que chegarem indevidamente ao Templo. Os
livros bíblicos tem muitas referências de Arão, demonstrando que ele
é o chefe do povo israelita, quer dizer, o mestre dos Eleitos.
Que podemos interpretar de todo isto?
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A cabeça de Arão é o trono de Salomão, onde fica o Venerável
Mestre, as suas barbas são os Oficiais da Loja e as suas vestiduras
são o Quadro de Irmãos. O óleo precisos é a fraternidade que do
Venerável Mestre desce para os demais Oficiais e, deles, para todos
os Irmãos. Jehovah é o Grande Arquiteto do Universo, Moisés
eqüivalente do Grão Mestre e Arão é o Venerável Mestre da Loja
composta pêlos fugitivos. Moisés tem, a tarefa de livrar ao seu povo
da escravidão e conduzir eles na fuga. Simbolicamente interpretamos
escravidão como sinônimo de tirania, ignorância, e o povo inicia a sua
fuga dos vícios, dos erros, dos defeitos profanos, etc. Arão, com a
sabedoria recebida do Grande Arquiteto do Universo, ajuda a Moisés
na sua tarefa e, quando ungido, cuida do Tabernáculo onde os
profanos que se aproximarem, morreram. Não morre o profano na
Câmara de Reflexões antes de ser iniciado?
Versículo No 3:
“Como o orvalho de Hermon, que desce sobre os montes de Sião;
porque ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre”.
Para interpretar o 3o versículo, deveremos fazer uma descrição do
reino de Sião que, naquela época, era uma terra fértil, com muitos
sistemas montanhosos, sendo o maior de todos a Cordilheira de
Hermon, com o monte do mesmo nome com 2.700 mts de altura e
localizado no paralelo ou grau 33, ao Norte da Palestina. Dele nasce o
sistema hidrográfico que alimentar as terras sedentas para
produzirem até 3 colheitas por ano. O Monte Hermon atrai o orvalho
e vai acumulando-o na suas ladeiras para, em forma de manancial de
águas generosas, descerem até os montes menores e as terras que
as aguardam para produzir os frutos abençoados.
E agora podemos dar a interpretação certa a este 3o versículo: o
Monte Hermon é a Maçonaria Universal; sua fraternidade derrama-se
sobre as Grandes Lojas, para os Vales, as Oficinas e todos os Irmãos,
que desfrutarão desta fraternidade como se fosse o mais prezado
fruto.
TEMAS PARA O APRENDIZ MACOM
Capítulos 11-20
Ven.Irmão OMAR CARTES
41
Capítulo 11
O Chapéu do Venerável Mestre
Sempre chamou a atenção dos Aprendizes no Rito Escocês Antigo
e Aceito, o porque o Venerável Mestre usa chapéu nas sessões e
porque em determinados momentos ele tira o chapéu e coloca-o
novamente.
O simbolismo maçônico desde o século XVIII, pede do Venerável
Mestre usar chapéu, como um símbolo de autoridade e que,
aparentemente este uso vem das cortes da época quando o Rei
cobria sua cabeça ficando todos os outros cortesãos inclusive nobres
de alta patente, descobertos.
Mas no ocultismo, encontramos uma explicação que nos convence
mais porque a Maçonaria sempre tem tomado das ciências ocultas ou
de muita sabedoria seus usos e costumes, para preservar tudo o que
de mais elevado o Homem produziu através da história. Os ocultistas
dizem que os pêlos curtos e grossos das sobrancelhas e da barba do
homem, são emissores de energia, enquanto que os pêlos finos e
longos dos cabelos são catadores de energia.
Por este motivo o Venerável Mestre mantendo-se de cabeça
coberta, indica que ele nada mais tem a receber dos demais
membros da Loja, uma vez que chegou ao termo final de sua
iniciação. O chapéu de aba abaixada, lhe confere o poder e a
autoridade que ele está pronto a exercer, perante os irmãos da Loja
que ainda não chegaram aos seus conhecimentos plenos. Mais, em
certos momentos, o venerável Mestre tira o chapéu quando, na
apertura do Livro da Lei que é a verdade revelada de Deus, são lidos
versículos da Bíblia e depois são elevadas preces ao Grande Arquiteto
do Universo; nesse momento a Loja está invocando a presença de
Deus e o Venerável Mestre descobre-se para poder receber também
os influxos divinos. Terminado esse momento, cobre-se novamente.
Capítulo 12
Os 3 pontos
A costume de colocar três pontos após a assinatura de um maçom,
não é tão antiga como poderia pretender-se. Ela aparece pela
primeira vez em 12 de Agosto de 1774 em uma circular do Grande
Oriente da França comunicando um novo valor da anuidade e a
mudança de local. Confirmando o anterior vemos que na Constituição
42
de Anderson, documento básico da Maçonaria chamada Moderna,
publicada em Londres em 1723, não é usada em parte alguma a
escritura tripontuada. Esta forma de escritura, que teria como
objetivo principal ocultar a compreensão de textos do entendimento
de profanos, não tem sido exclusividade dos maçons; na Corte
Pontifícia de Roma existia um tribunal denominado “Tribunal da A
C\u8220" que era escrito justamente com as letras A e C seguidas de
três pontos. Para uns era interpretado como Augusta Consulta, para
outros Auditoris Curea e, inclusive, Auditor Camarae. Esta situação é,
até certo ponto, comum em sistemas religiosos ou filosóficos, em que
um símbolo ou ensinamento é adotado indistintamente por uns ou
por outros. Acontece com a escada de Jacô; a cruz, adotada pela
Igreja Católica alguns séculos depois da morte de Jesus; o Ternário,
comum, praticamente, a todas as religiões, o avental, usado por
todas as importantes religiões e mistérios antigos nas cerimônias de
iniciação, etc.
Se bem é certo que o maçom deve orgulhar-se de usar os três
pontos na sua assinatura, ela não constitui uma obrigatoriedade,
considerando que haverá certos casos em que por razões políticas,
profissionais, familiares, etc, o maçom poderá ter a necessidade de
não manifestar abertamente sua condição de tal. Inclusive, em nosso
Ritual de Aprendiz da GLESP as iniciais não sempre são seguidas dos
três pontos, tal é o caso das iniciais contidas nas páginas 13, 14, 23,
77, 78, 79, etc. edição 1989. Também, a pessoa que usa os três
pontos na sua assinatura não é necessariamente um maçom. Ë como
a pessoa que usa um adesivo maçônico no seu carro; já tivemos um
caso em nossa Loja em que um irmão ao se encontrar com um carro
luzindo um adesivo maçônico ele deu o conhecido toque de três
buzinadas, provocando a ira do suposto condutor maçom que
imaginou estar sendo criticado na sua condução pelo nosso irmão.
O significado simbólico dos três pontos está, evidentemente,
relacionado com o Ternário e como todos nos sabemos, o significado
é variado e abrange todos os símbolos relacionados com o número
três. O primeiro ponto é o origem criador de todo o que existe, o
Uno, a Monada, o Princípio Fundamental, a Unidade, é Deus. Os dois
pontos inferiores são a Dualidade, são gerados pelo primeiro ponto e,
se se juntaram, voltam a ser a Unidade, da qual tiveram nascimento.
O ponto superior corresponde ao Oriente em Loja, que é o mundo
Absoluto da Realidade, é o Delta Sagrado, e os dois pontos inferiores
correspondem ao Ocidente, ou seja o Mundo relativo, o domínio da
Aparência, são as duas colunas, como mais um emblema da
dualidade. Como podemos ver, a interpretação dos três pontos, são
muitas e nelas não poderemos ficar restritos, para não pecar de
dogmáticos.
43
Capítulo 13
A Pedra Bruta
Ao pé da Coluna do Primeiro Vigilante existe uma pedra de forma
irregular com que a simbologia maçônica representa a parte da
personalidade humana na qual ainda estão latentes todos os
sentimentos, tendências ou instintos ancestrais, mais ou menos
atenuados pela educação, caráter e o médio ambiente. Esta pedra em
seu estado bruto, representa o Aprendiz que chega à Ordem com um
desejo, vontade, inquietude permanente de burilar suas asperezas,
transformando seu espírito profano, ignorante, pleno de temores,
vícios, até se converter em um maçom reto, virtuoso, sábio e útil
para a sociedade.
Definir a Pedra bruta é difícil; a expressão pode até ser mal
interpretada por um Aprendiz que sentirá que está sendo chamado de
forma peiorativa pelos seus irmãos maiores. Sócrates, demonstrando
aos seus discípulos o aperfeiçoamento do espírito, usou o simbolismo
da transformação de uma pedra informe em uma perfeitamente
geométrica, deduzindo-se assim que os esforço será maior quanto
mais perfeição pretenda-se alcançar. Jesús falou a um de seus
discípulos: “Tu es Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”
(Mateus, cap XVI, ver 13-19) referindo-se ao desenvolvimento da
parte não material do homem.
O Aprendiz deve ser encorajado a apoiar sua personalidade sobre
uma base equilibrada e que será obtida educando seu caráter com
esforço e constância, vencendo as paixões, submetendo a sua
vontade e tentando despojar-se do invólucro material para dar passo
ao espírito purificado. Para viver melhor em nosso círculo familiar,
profano e maçônico, devemos polir nossa Pedra Bruta. Deste ponto
de vista, a definição da Pedra Bruta torna-se fácil para o Aprendiz.
A seleção de um profano para ingressar numa Loja, é um processo
da mais alta responsabilidade e importância e apresenta uma grande
similitude com a Pedra Bruta, que vem a ser o profano candidato.
Esta escolha é feita pelos Mestres da Loja, e a Pedra Bruta deverá Ter
uma forma próxima a uma esfera; as pedras com formas alongadas
apresentam dificuldades para seu transporte desde o canteiro até o
local da construção; pedras similares a uma esfera podem ser roladas
com facilidade e o desbaste até formar um cubo será mais fácil,
porque não será necessário retirar tanto material. Evidente que o
diâmetro mínimo deve ser aquele que permita lapidar uma pedra
cúbica com as dimensões corretas. Para realização do desbaste da
pedra bruta é necessário ter uma superfície plana e nivelada como
referência. Esta superfície é o conjunto de pedras polidas que são os
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Mestres da Loja. Se a Loja não existir um grupo de Mestres de boa
formação maçônica será um trabalho muito tentar formar um bom
grupo de Aprendizes e o futuro da Loja estará comprometido.
O primeiro desbaste da pedra bruta é o mais importante; se retirar
material em excesso não haverá material para uma pedra de
dimensões corretas; simbolicamente, se na iniciação, a Loja confundir
o cerimonial com um trote acadêmico, a Loja perderá um bom
candidato como maçom. Aquelas Lojas que não respeitam o
candidato e submete-lo a provas absurdas que nada tem a ver com
uma iniciação maçônica, tais como tábua de pregos, encontros no
cemitério a media noite, viagens de ambulância na cidade, ameaças
ou comentários absurdos para ele ouvir quando está com a vista
vendada, deverão sentir-se envergonhadas de formar parte da
Ordem maçônica.
Capítulo 14
Circunvolução em Loja
Circunvolução significa andar em voltas e esta era uma forma de
caminhar em torno do Altar, tanto o sacerdote como os oficiantes em
quase todas as cerimônias ritualísticas da antigüidade. Esta forma de
circular lembrava o curso aparente do Sol e de todos os corpos
celestes em torno da Terra, que poetas e filósofos acreditavam que
produzia um som harmonioso, imperceptível para os ouvidos
humanos e que recebia o nome de música das esferas.
Este caminhar em círculos era sempre do Oriente para o Sul,
seguindo pelo Ocidente e dali para o Norte e, desta forma, sempre o
Altar ficava a direita do sacerdote; a direita sempre foi considerada
benéfica e a esquerda, maléfica. Lembremos que na iniciação, o
Experto sempre deve ficar a esquerda do candidato para nada
interfira entre este e o Altar.
Entre os hindus esta forma ritualística de caminhar era utilizado
em todas as cerimônias religiosas desde o acordar do brâmane que
inicia o dia adorando o Sol com seu rosto voltado para o Oriente, logo
se dirige ao Sul e depois ao Ocidente, exclamando “sigo o curso do
Sol”. Os sacerdotes druidas giravam três vezes em torno do Altar que
estava a sua direita esta viagem sagrada recebia o nome de “Deiseal”
palavra composta e que significa a mão direita e o Sol. Nos romanos
a circunvolução tinha relação íntima com a expiação e a purificação.
Os sacerdotes e o povo grego, sempre davam três voltas em torno do
Altar, cantando hinos sagrados, nas suas cerimônias de sacrifícios.
45
Vemos que todos os povos antigos utilizaram a circunvolução como
homenagem a Deus e à sua obra mais maravilhosa: o Sol.
A Maçonaria tem procurado conservar em seus ritos as mais
elevadas significações antigas e a circunvolução tem sido uma delas.
A Loja maçônica representa o Universo, as três Luzes representam as
três mais importantes posições do Sol no seu percurso diário. Este
seria o significado na sua conceição astronômica antiga (quando se
acreditava que a Terra era plana e que o Sol girava em torno dela) e
daqui deriva o simbolismo intelectual que indica que este é o caminho
que o Homem deve seguir na sua procura permanente da luz, ou
seja, da sabedoria. Hoje os conhecimentos astronômicos são outros
mas o esoterismo da antigüidade tem sido mantido.
E no Oriente do Templo maçônico?. Estando o Altar dos
Juramentos localizado no centro da Loja e, portanto, no Ocidente, a
circulação no Oriente não obedece ao movimento horário do relógio,
cuidando-se unicamente de fazer a saudação ao Delta ao cruzar o
eixo central da Loja.
O movimento de circunvolução não tem tido aceitação em todos os
ritos e, inclusive, em todas as Potências praticantes do mesmo
rito.Mas pelo aqui exposto, ele tem como base antigas tradições
estabelecidas por nosso antepassados milenares e incorporadas no
simbolismo maçônico, merecendo então todo o nosso respeito.
Capítulo 15
O Painel da Loja de Aprendiz
A maçonaria usa como elemento fundamental de seus programas
de Docência maçônica, os símbolos, constituindo eles uma linguajem
própria dentro da Ordem. Desde o momento que o profano é
introduzido na Câmara de reflexões e depois bate a porta do Templo,
desejoso de ver a Luz, a Maçonaria, mantendo a tradição dos antigos
filósofos egípcios, encerra sua filosofia por meio de símbolos, através
dos quais oculta suas verdades ao mundo profano.
O Dicionário define o símbolo como algo usado para
outra coisa, por exemplo, um objeto material que
representar uma idéia abstrata. Por exemplo, a corrente
união, o pavimento de mosaicos brancos e pretos é
igualdade, o esquadro é símbolo de retidão, etc.
representar
serve para
simboliza a
símbolo de
Analisando um símbolo primeiramente de uma forma simples,
temos a descrição do elemento material sob o ponto de vista estético
46
e, logo, as mentes mais esclarecidas interessar-se-ão pelo aspecto
filosófico, o princípio para expressar idéias ou ideais, como verdadeiro
substituto da imagem. Podemos dizer que o símbolo sintetiza um
acúmulo de conhecimentos, resume objetivos que procuram dirigir a
mente humana.
O símbolo não é estático ou dogmático, ele tem uma bagagem de
significados múltiplos, sempre em evolução, sendo que a
interpretação simples ou complexa depende do intelecto de cada
uma; usando como metáfora o computador, uma pessoa com
conhecimentos elementares poderá usar o equipamento para
operações matemáticas básicas e emissão de relatórios simples, mas
para usar todo o potencial do computador em cálculos
transcendentais, o usuário deverá se aprofundar no estudo de cálculo
superior e informática. Eis o símbolo em palavras modernas: um
Banco de Dados acumulado por mentes superiores através de
milênios, a disposição das mentes que saibam como interpretar e
usar estes conhecimentos, para trilhar o caminho exato da verdade.
E é no Painel da Loja de Aprendiz onde nos deparamos com uma
quantidade de símbolos que formam o ensinamento básico do
Aprendiz maçom.
História
Os maçons medievais operativos, reunidos secretamente nos
canteiros de obras, examinavam no final da jornada diária, as plantas
de construção para programar o trabalho para o dia seguinte. Com o
ingresso dos elementos especulativos a partir de 1600 os maçons,
para manter a tradição, começam a marcar no chão a “forma da
Loja”, desenho feito pelo Arquiteto da Loja sendo que, ao final dos
trabalhos, tais marcas eram desfeitas pelo Aprendiz mais novo. A
desenho feito com giz, carvão ou argila, era o projeto de construção
continuando a tradição dos maçons operativos.
O sistema de desenhar e apagar a cada reunião tinha seus
inconvenientes e alguém sugeriu sua substituição por tecidos
pintados. Existem referências que na década de 1730, a Loja Old
King’s No 28 foi presenteada com um tecido representando “as várias
formas das Lojas de Maçons”. A Loja Ressurrectio No 99 da Grande
Loja Maçônica do Estado de São Paulo, trabalhando no Rito de São
João, preserva a tradição do tecido pintado até hoje.
O tecido pintado era, de certa forma, uma peça de arte que
começou a ganhar o respeito dos irmãos, e quando alguém
questionou o fato desta jóia ficar no chão, ela começou a ser
pendurada na parede ou colocada sobre mesas. Vários modelos de
47
Painéis surgiram representando símbolos maçônicos perdendo-se no
esquecimento a origem e finalidade dos painéis primitivos.
Entre os anos 1821 e 1824 o desenhista inglês John Harris, pintor
de miniaturas, iniciado em 1818, desenvolve desenhos de painéis
para os três graus simbólicos e para um grau filosófico. Os Painéis de
Harris ganharam a adesão de várias Lojas pela simbologia neles
representada e paulatinamente começaram a ser mais e mais usados.
As Grandes Lojas em geral nunca autorizaram qualquer desenho
particular de painéis, embora o uso dos Painéis de Harris sem
nenhum pronunciamento em contra, acabou sendo uma oficialização
indireta. O painel em inglês é conhecido como “tracing board” e em
francês como “planche à tracer” sendo significado de ambos, similar.
Algumas literaturas antigas concordam que o Painel seja uma jóia
fixa usada pelo Mestre para desenhar. A Segunda Instrução do
Aprendiz nas GG LL brasileiras menciona como uma das jóias fixas a
Prancheta da Loja que serve para o Mestre desenhar e traçar.
Embora o Ritual não o discrimine assim, parece ser que a Prancheta
da Loja e o Painel do Grau são o mesmo símbolo e, portanto, tem a
mesma origem.
Pavimento Mosaico
O Pavimento Mosaico é constituído de quadrados alternativamente
brancos e pretos tendo em sua volta uma orla dentada ininterrupta
que lembra a unidade que deve existir entre todos os homens. Nas
laterais estão as letras correspondentes aos quatro pontos cardeais
simbolizando a universalidade da Maçonaria.
A expressão certa é Pavimento Mosaico pois sua origem é baseada
na lenda que Moisés teria assentado pequenas pedras multicoloridas
no chão do Tabernáculo hebreu; pavimento de mosaico seria uma
referência a um piso feito com pedras justapostas e nada tem a ver
com simbologia maçônica. O Pavimento Mosaico rigorosamente e
como exige o Ritual maçônico deve cobrir todo o solo do Templo mas,
por razões difíceis de determinar e que poderiam ser de arquitetura,
economia na construção ou desvios da ritualística que, repetidos
acabam convertendo-se em regra, os Templos maçônicos começaram
a usar o Pavimento Mosaico desde a porta de Ocidente até a Grade
de Oriente e posteriormente ficou só um retângulo de comprimento
igual ao dobro da sua largura.
Sendo o Pavimento Mosaico o solo de todo o Templo, o retângulo
que hoje é usado não é um símbolo sagrado podendo-se por tanto
pisar sobre ele quando da circulação dos irmãos dentro do Templo, já
que ele é um elemento constitutivo do piso.
48
O simbolismo do contraste dos quadrados brancos e pretos é
expressão da dualidade da Luz e das Trevas, da igualdade das raças
humanas ou como sugestão da Fraternidade Universal contrária aos
preconceitos religiosos, políticos ou de qualquer outra índole.
O certo é que o Pavimento Mosaico é o caminho de pedras
lavradas em que se firmam os passos daqueles que se livram da lama
(Salmos 40/2 : “Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo;
pós os meus pés sobre uma rocha firme, firmou os meus passos.) O
charco de lodo são os vícios que aviltam o homem, a rocha firme, o
Pavimento Mosaico, está suportado pêlos valores morais que
dignificam o homem de bem.
É pelos ladrilhos do Pavimento Mosaico que se regulam os passos;
por isso no Rito Escocês Antigo e Aceito, devem ser dispostos em
diagonal. Já no Rito Moderno podem configurar um tabuleiro de
xadrez pois neste Rito o Passo regular e o Esquadro acompanham os
lados do quadrilongo.
As quatro borlas que existem nos cantos do Pavimento Mosaico
simbolizam a Temperança, a Fortaleza, a Prudência e a Justiça,
podendo também representar os quatro elementos do mundo antigo:
Terra, Água, Ar e Fogo.
Altar, Livro da Lei, Esquadro e Compasso
No Pavimento Mosaico e na união das diagonais dos extremos do
templo é localizado o Altar dos Juramentos. Ele é de forma triangular,
altura 1.5 cóvados (0.99 m) e é destinado aos juramentos
ritualísticos e outras cerimônias que precisem da invocação do Ser
Supremo.
Sobre o Altar fica o Livro da Lei que, em nosso país é a Bíblia
católica por ser esta a religião predominante. Na abertura dos
trabalhos a Bíblia é aberta no Salmo 133. A presença da Bíblia nos
Altares Maçónicos vem de tempos antigos, difíceis de ser
determinados sendo que já os pedreiros medievais utilizavam a Bíblia
nas suas reuniões. A Primeira Constituição de Anderson de 1723
estabeleceu a obrigatoriedade da crença em um Ser Supremo,
denominado G.: A.: D.: U.: fórmula utilizada para definir o Deus de
todas as religiões. A Constituição de Anderson de 1738 aclarou a
noção exata de Deus, sendo aquele que é admitido pela religião
revelada.
Os Landmarks do Ir.: norteamericano Albert Mackey fortaleceram
a crença em Deus com a presença do Livro da Lei nas reuniões
maçônicas; assim temos o Landmark 19 (A crença no Grande
Arquiteto do Universo) sendo sua negação impedimento absoluto e
49
insuperável para a admissão na Ordem, o Landmark 20 (A crença na
imortalidade da alma e a crença numa vida futura) e o Landmark 21
(A exigência de um Livro da Lei, parte indispensável das alfaias de
uma Loja). Entende-se por Livro da Lei aquel volume que, segundo a
religião do país, contém a verdade revelada do Grande Arquiteto do
Universo. Conforme este último Landmark a Bíblia poderá ser
substituída por outro Livro igualmente sagrado para os Maçons nos
países onde não predomina o catolicismo; por exemplo, os
bramamistas usarão os Vedas, os muçulmanos o Alcorão, e assim por
diante. Diferentes são as denominações dadas ao Livro Sagrado,
resultante da diversidade de Ritos: Livro da Lei, Livro das Sagradas
Escrituras, Livro da Verdadeira Luz, Livro da Sabedoria, Volume da
Lei Sagrada.
Lido o Salmo 133 pelo Past-Master mais novo desde que não
esteja ocupando cargo ou, na sua ausência, pelo Orador, são
dispostos, por ele mesmo, sobre o Livro da Lei aberto na página em
que foi lido o Salmo, o Compasso aberto em 45o com as pontas
voltadas para o Ocidente colocando o Compasso sobre o Esquadro,
escondendo-lhe as pontas significando com isto que a Verdade ainda
não foi revelada ao Aprendiz. O Compasso fica com as pontas
dirigidas para o Ocidente, porque simbolicamente ele foi usado por
Deus, desde o Oriente, na construção do Universo. Em um sentido
geral, o Esquadro é o símbolo da matéria e da Terra, enquanto o
Compasso é do espírito e do Céu; unidos Esquadro e Compasso,
significam também a aliança entre o Céu e a Terra de que nos fala o
Génese. O Esquadro sobre o Compasso lembra que no Aprendiz, a
materialidade anda está por cima da espiritualidade; existe
entretanto uma outra interpretação : as hastes do Compasso pressas
sob o Esquadro representam a mente ainda subjugada pelos
preconceitos e pelas convenções sociais, sem a necessária liberdade
para pesquisar e procurar a Verdade.
A abertura do Compasso indica as possibilidades do conhecimento.
Um ángulo de 45o, quarta parte do círculo total, significa que a
sabedoria deve ser utilizada com comedimento. A abertura de 90o
indica o limite do conhecimento que o Homem não seria capaz de
ultrapassar. frente ao conhecimento da divindade representado pela
abertura total.
A Escada de Jacó
Para ir da Terra ao Céu existe a Escada de Jacó suportada pelo
Livro da Lei. A Escala de Jacó é um símbolo muito espalhado entre as
religiões da antigüidade nas quais, como a Maçonaria, sempre se
considerava formada de sete degraus, sendo sete um número
sagrado.
50
Todos sabemos que Jacó, personagem bíblico, filho de Issac, por
medo de ser assasinado pelo seu irmão primogénito Ezaú, fugiu da
casa paterna para Mesopotamia e no caminho, enquanto dormia, teve
um sonho no qual apareceu uma escada pela qual so-biam e desciam
anjos e ouviu a voz de Deus, que do alto da escada, cedia-lhe para
sempre a terra na qual estava descansando. Jacó tomou a pedra que
servia-lhe de travesseiro e convirtiu-a em altar. Posteriormente Jacó
mudou seu nome para Israel (Heroi de Deus) e seus 12 filhos
formaram as doze tribos que deram início ao povo israelita. A escada
que Jacó viu no seu sonho é o ciclo do nascimento e morte, a lei
universal da evolução. Os anjos somos nos que com nossas virtudes
sobimos na escada, sendo que cada degrau dela representa um valor
moral que quando realmente praticado nos faz sobir para mais perto
de Deus; da mesma forma, nossos defeitos e erros nos fazem descer.
Quantos degraus tem a escada?. O Ritual de Aprendiz fala de
“escada de muitos degraus” e que cada degrau representa uma das
virtudes exigidas ao maçom para caminhar em busca da perfeição
moral. Conforme prancha do Venerável Colégio da Grande Loja
Maçônica do Estado de São Paulo, o número de degraus “nada
significa pois está na dependência da criatividade do artista”. Em um
trabalho publicado anteriormente pela Revista A Verdade indica-se
que “seus degraus são tantos quantos são as virtudes necessárias ao
aperfeiçoamento individual”. O Dr. R. Swinburne Clymer, na sua obra
“Antiga Maçonaria Mística Oriental” opina : “É uma anomalia dar a
escada mística da Maçonaria apenas 3 voltas. Entre tanto, a
Maçonaria nada tem a ver com esta anomalia. O erro começou com
os que gravaram pela primeira vez estes símbolos maçónicos da Fé,
da Esperancá e da Caridade, surgindo a crença que a Escada
Maçónica teria somente esses 3 degraus. A Escada da Maçonaria
sempre teve 7 degraus e que, começando pelo inferior são:
Temperança, Fortaleza, Prudência, Justiça, Fé, Esperança e
Caridade”. Como se ve, o Dr. Swinburne Clymer concorda que cada
degrau representa um valor moral.
Que entendemos por Escada de Valores?. É um conjunto de
qualidades ou virtudes que adornam a um homem de bem e que é
obrigação maçônica praticar para benefício do próximo e da
humanidade. Quantos são estes valores ou virtudes?. Concordemos
que não pode existir uma quantidade limitada deles e que somente
Deus reune dentro de sí a totalidade infinita deles. Por tanto, nossa
argumentação é que a Escada de Jacó tem um número ilimitado de
degraus e que eles representam os Valores ou Virtudes que devemos
praticar para, de degrau em degrau, aproximarmos de Deus.
Os 3 símbolos que aparecem desenhados na Escada de Jacó,
conforme já falado, e que são uma Cruz no início da Escada, uma
Áncora ao centro e uma Mão estendida para uma Taça ou Cálice
51
pouco antes do topo da Escada; repetiremos que eles representam a
Fé, a Esperança e a Caridade, que são os símbolos básicos da filosofia
maçónica.
A Cruz é um símbolo universal pre-cristão, dos mais antigos, e ela
existe sob variadas formas, sendo as mais conhecidas as seguintes:
- Cruz gamada, de braços iguais e as extremidades prolongadas
em ângulo reto como a letra grega gama maiúscula, por isso seu
nome. Esta Cruz tem duas formas: a esvástica, assemelhada a duas
letras Z entrelaçadas, simbolizando o movimento criador na energia
cósmica, girando de Ocidente para o Oriente, e uma variante da
esvástica, de sentido totalmente invertido, assemelhando-se a 4
letras gama reunidas, significando o movimento da energia
destruidora e girando de Oriente para o Ocidente.
- Cruz grega, tambem chamada de Salomão, com os traços iguais
e entrelaça-dos, e simboliza a vida do Espírito Santo.
- Cruz de Malta, cujos braços iguais se alargam em forma de leque
até suas extremidades, simbolizando a irradiação crescente de força.
- Cruz latina, com os 3 braços superiores mais curtos que o quarto
simbolizando a vida do Filho, Segunda pessoa da Trindade; ela
também pode ser formada com 7 quadrados de um cubo desdobrado.
O culto cristão da Cruz como símbolo maior da Fé, começou
somente no século V dc, pois a cruz na qual foi martirizado Jesus era
um instrumento de tortura usado para castigar aos seres mais baixos
da sociedade, tais como delinqüentes, traidores, inimigos do Estado,
escravos, etc. As primeiras representações de Jesus crucificado
começam a aparecer só em 430 dc, aproximadamente.
A Cruz também pode ser formada pelo cruzamento do fio do
prumo com o nível, símbolo do equilíbrio da força com a beleza. Pode
ser também o malhete, o cinzel e a alavanca, justapostos, ou quatro
esquadros unidos e como o esquadro simboliza a matéria pode estar
lembrando os 4 elementos do mundo antigo (água, ar, terra e fogo);
ou os 4 quadrantes do mundo.
Sendo a Âncora um elemento que serve para segurar firmemente
um navio, tem-se transformado em um símbolo de apoio seguro, um
arrimo de confiança e é por isso que a religião transformou a Âncora
em símbolo de Esperança.
E nos últimos degraus da Escada de Jacó, o Painel de Aprendiz
mostra uma Mão e um Cálice como símbolo de Caridade. Existem
outras representações da Escada de Jacó em que o Cálice tem sido
52
substituído por um Coração, representação que não altera o
simbolismo de Caridade. Como a Escada une a Terra onde moram os
homens com o Céu, que é a morada de Deus, praticando a Caridade,
que eqüivale ao Amor Divino, ficaremos mais próximos de Deus.
Acima da Escada de Jacó, o Painel mostra uma fulgurante Estrela
de Sete Pontas que com suas luzes os caminhos a ser seguidos pelo
homem para atingir a sua perfeição. O Livro da Lei nos lembra que a
Estrela de Sete Pontas pode estar relacionada com os sete espíritos
ou Ministros ante o Trono do Senhor (Apoc 1:4), ou os sete poderes
misteriosos adquiridos pelo homem perfeito, o senhor da vida e da
morte (Apoc 1:10), ou os sete Selos (Apoc 5:12) “que diziam em voz
alta: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber a virtude, a
divindade, a sabedoria, a fortaleza, a glória e a benção”).
As três Colunas
Três são as Colunas que sustentam o edifício maçônico e que são
a Sabedoria, a Força e a Beleza. Dentro da ordem arquitetônica grega
elas pertencem a ordem jônica, a ordem dórica e a ordem coríntia,
respectivamente. Cada uma delas lembra um importante personagem
bíblico: a Sabedoria lembra o rei Salomão, que teve a sabedoria de
construir um Templo à glória de Deus; a Força lembra o rei Hiram de
Tiro, amigo do anterior, e que proporcionou dinheiro e mão de obra
para construir o Templo e a Beleza lembra o artífice Hiram Abif, que
com sua habilidade de artista, dirigiu os trabalhos de construção e
produziu pessoalmente as obras que deram uma beleza incomparável
ao Templo.
Em nossa Loja, temos a Sabedoria representada pelo Venerável
Mestre que dirige os obreiros, a Força está representada pelo
Primeiro Vigilante que paga os obreiros que são a força de nossos
trabalhos e a Beleza está representada pelo Segundo Vigilante que
fiscaliza e faz repousar os obreiros.
A disposição das 3 colunas no Painel da Loja de Aprendiz não
obedece a sua localização no interior do Templo. Vemos no primeiro
plano, perto do Ocidente, uma coluna dórica significando a Força, que
simboliza o Primeiro Vigilante, e com um prumo encostado na base,
que é a jóia do Segundo Vigilante e perto dele, uma Pedra Polida.
Mais no fundo e deslocado ao Sul está uma coluna jônica
significando a sabedoria que simboliza o Venerável Mestre, com um
maço apoiado na base e na frente uma Pedra Bruta, onde trabalham
os Aprendizes.
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No fundo, quase no centro do Painel, encontra-se uma coluna
coríntia que corresponde ao Segundo Vigilante mas com um esquadro
na base e que é a jóia do Venerável Mestre.
O desenho das três colunas mostra na parte superior de cada uma
delas restos de uma laje que estava sendo suportada; é como se o
artista, lembrando as ruínas da arquitetura grega de 7 séculos atrás,
se inspirou nelas para dramatizar seu desenho; da mesma forma
podemos estimar que a localização das colunas, acima mencionada,
não guarda relação com a verdadeira posição dentro do Templo e
nem com as jóias e ferramentas simbólicas usadas pelas Luzes e sim
seria mais uma liberdade do artista.
(Veja mais detalhes no capítulo sobre as Três Colunas.)
A Pedra Bruta.
Ao pé da Coluna do Primeiro Vigilante podemos observar uma
pedra de forma irregular com que a simbologia maçônica tem
simbolizado a parte da personalidade humana na qual estão ainda
latentes todos os sentimentos, tendências ou instintos ancestrais,
mais ou menos atenuados pela educação, caráter e o médio. Esta
pedra, em seu estado bruto, representa o estado do Aprendiz que,
chega na Ordem com um desejo, vontade, inquietude permanente de
burilar suas imperfeições, transformando seu espírito profano,
ignorante, pleno de temores, vícios, até se converter em um maçom
reto, virtuoso, sábio e útil para a sociedade.
(Veja mais detalhes no capítulo sobre a Pedra Bruta)
Malho, cinzel, nível e prumo.
Elas são as ferramentas que a Maçonaria entrega ao Aprendiz para
cumprir com o objetivo de desbastar a sua Pedra Bruta e iniciar a
construção de um Templo no seu interior.
O malho e o cinzel são os executores diretos dessa labor;
representando o maço a vontade e o cinzel a inteligência. O afiado
gume do cinzel simboliza o critério, prudência e valor moral do
Aprendiz que temperou sua moral nas práticas maçônicas para
adquirir a dureza e resistência que irá eliminando as imperfeições da
sua personalidade. Mas de nada serve aprender a usar estas
ferramentas se o aprendido não é praticado. Acumular conhecimentos
enciclopédicos para vaidade ou simples distração pessoal?. Ingressar
na Maçonaria para galgar graus, receber diplomas, ostentar vistosos
aventais e colares para causar a admiração de nossos Irmãos
Aprendizes?. O malho e o cinzel, são símbolos de trabalho, suor,
esforço e de humildade, e quando usados não devemos esquecer que
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a prática das virtudes deve ser o fiel reflexo do que sentimos para
que aquele esforço não seja estéril. Unidos, malho e cinzel, vontade e
inteligência, bem dirigidas irão eliminando gradualmente nossas
imperfeições em um trabalho que nunca tem término. Errado está
aquele que achar que já terminou de desbastar sua Pedra Bruta.
Progrediu?. Pode ser que sim, somente que ele ficou na metade do
caminho.
Fazemos um parêntesis para aclarar ao Aprendiz as diferenças
existentes entre ferramentas de nomes similares e que até parecem
sinônimos, más que não são. Malho, maço e malhete. O malho, do
qual já temos falado, é um martelo geralmente de ferro, também
pode ser de madeira, e que serve para golpear em outra ferramenta
(o caso, um cinzel) para modificar o estado, forma ou posição de um
objeto. O maço é um instrumento de madeira rija, com que os
calceteiros batem nas pedras da calçada para as unir e segurar bem e
também identifica um instrumento de madeira usado por escultores,
carpinteiros, etc; não tem nenhuma relação com a maçonaria. O
malhete é um pequeno malho de madeira ou de couro com que se
bate num instrumento para ajuste, sem o danificar; em Maçonaria,
define o pequeno malho usado pelo Venerável Mestre e pêlos
Vigilantes durante os trabalhos; é o símbolo da sua autoridade e
sempre deve ser mantido na mão direita durante toda a reunião
maçônica.
Continuando com o malho e o cinzel, não devemos deixar de notar
que eles nos apresentam um exemplo de trabalho em união, e que
quando bem coordenado e sempre aproveitando as qualidades
diferentes de cada elemento, nos da os resultados desejados, neste
caso, desbastar a Pedra Bruta. E não podemos esquecer que
desbastando a nossa Pedra Bruta, estamos forjando nossa
personalidade maçônica, tarefa longa e dura, que exigirá de nos
muito esforço e perseverança. Não devemos nos desalentar se
pensamos que temos avançado muito pouco ou quase nada; quanto
maior o esforço, maior será o triunfo e mais fortalecido sairá nosso
espírito.
O nível, jóia do Primeiro Vigilante, é uma das ferramentas usadas
pêlos pedreiros mais simples de aparência e de custo material quase
que insignificante, mas é um símbolo que guarda princípios e
ensinamentos fundamentais para a vida e progresso dos povos. A sua
invenção é atribuída a Dédalo, após sua fuga do Labirinto de Creta,
anos 1300 ac, mas outros autores indicam como seu criador a Rhicus,
arquiteto do Labirinto de Samos ou a Teodoro arquiteto do Templo de
Samos.
O nível determina a diferença de altura entre dois pontos o que
será fundamental para se obter a horizontal de um plano. Os
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problemas de nossa sociedade derivam, justamente, da diferença de
nível entre suas classes. O nível é o símbolo da Igualdade e nos
ensina que nos devemos despojar do orgulho baseado numa eventual
e transitória posição superior, seja material ou intelectual, e
considerar a todos os seres humanos numa mesma altura ou nível.
É importante definir de que Igualdade estamos falando. Muitos
proclamam que esta igualdade é de direitos e obrigações mas surge a
pergunta se podemos exigir as mesmas obrigações a aqueles
privados de capacidade intelectual ou física; até que a sociedade
deveria prover a eles de mais direitos que a pessoas normais.
Igualdade intelectual?. Sim, desde que todos os seres humanos
tenham as mesmas oportunidades para desenvolver essa capacidade
intelectual. Igualdade material, sim, desde que ela seja obtida com
esforço e não dada de graça a quem nada fez para merecer.
Resumindo, igualdade em condições tais que todos os seres humanos
possam atingir o mesmo nível.
E agora falemos do prumo. Nas construções realizadas na antiga
Índia, era tradição, antes de colocar uma pedra que o astrólogo
indicasse o ponto do alicerce que se encontrava encima da serpente
que habitava o centro da terra. Depois, o pedreiro lavrava uma
estatua de madeira que era afundada perpendicularmente no chão,
justo no ponto dado pelo astrólogo. Este ato repetia um ato
cosmogônico (relativo a criação ou origem do Universo), já que a
serpente representava para eles o caos, o amorfo no manifestado.
Eliminá-la era equivalente ao ato da criação, com o passo do não
manifestado para o manifestado, do amorfo ao formal (relativo a
forma).
O prumo mais elementar é uma corda com uma pedra atada num
extremo e que suspensa pelo extremo oposto descreve uma
perpendicular que sinaliza o centro da terra. O simbolismo do prumo
tem uma significação dupla, derivadas da sua qualidade de conduzir
sempre até o centro da terra. O Aprendiz deve ir até seu próprio
centro para descobrir sua personalidade, usando a reflexão e a
meditação; deve-se conhecer para corrigir-se e lutar sem descanso
contra os erros e falsos conceitos que pode ter adquirido na sua vida
profana. Projeta a luz da tua consciência até os mais obscuros cantos
da tua alma para descobrir essas falhas que resistem um análise
superficial.
Finalizando, o prumo é o ideal do aperfeiçoamento, é a pauta que
devemos observar para ajustar nossos atos, jamais esquecendo que
ele simboliza a retidão, sendo também emblema da justiça.
O Sol, a Lua e as Pléiades.
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Na parte superior do Painel de Aprendiz vemos o Sol, a Lua e sete
estrelas que são as Plêiades da constelação de Touro; hoje, com os
avanços da Astronomia sabemos que esta Constelação tem milhares
de estrelas, mas nos tempos antigos somente eram visíveis 7 delas.
O Sol é o astro regente do Venerável Mestre porque a luz emitida
por ele simboliza a sabedoria. Desde os tempos mais antigos o Sol
tem cativado a atenção do ser humano, pela sua majestosa trajetória
nos céus, sua morte no fim do dia, vencido pelas trevas, e a sua
ressurreição, vitorioso no seguinte amanhecer. Morte e ressurreição,
a vida nasce da morte, a morte não é o fim.
O Sol nasce no Oriente e a sua luz é tão forte que os fracos olhos
dos Aprendizes recém abertos não conseguiriam suportar, sendo por
isto o motivo que os Aprendizes não podem subir no Oriente e que o
seu lugar dentro do Templo é o Norte onde a luz do Sol é mais fraca
(hemisfério Norte, onde a simbologia maçônica foi criada). Também
explica que no Ritual nos anúncios transmitidos pelo Primeiro
Vigilante ele se refere aos “IIr que decorais a Col.: do Norte” (que
são os IIr AAp) e, em cambio, o S fala “IIr que abrilhantais a Col.: do
Sul” onde ficam os MM e CC, diferenciando IIr que emitem as luzes
dos conhecimentos adquiridos de IIr que, devido a sua idade maç por
enquanto somente decoram um lugar com a sua presença.
Em algumas mitologias antigas o Sol era o filho de Deus e na
Alquimia a Grande Obra ou Obra do Sol, era a transformação de
metais inferiores em ouro, simbolicamente transformar os vícios em
virtudes ou em ouro do espírito.
A Lua, que recebe a luz do Sol e irradia ela para o nosso planeta, é
o astro regente do Primeiro Vigilante. A magia considera a Lua
benéfica nas suas faces ascendentes e maléfica nas descendentes; no
Painel vemos que a Lua está representada na sua fase crescente,
como Lua cheia.
Para os povos antigos o Sol e a Lua eram os olhos, situados em
ambos lados do eixo do mundo, similar a posição em que estão
representados no Oriente trás do trono do Venerável Mestre que está
no eixo da Loja.
As Plêiades são também conhecidas como as sete irmãs e regem
os Mestres Maçons, a plêiade dos homens justos já que esse é o seu
significado no dicionário. A sua localização na abóbada é no centro
deslocado para o lado Norte.
Capítulo 16
57
As Colunas B e J
“21 Depois levantou as colunas no pórtico do templo: e levantando
a coluna direita , chamou o seu nome J ...; e levantando a coluna
esquerda, chamou o seu nome B ... “ (I Livro Reis Cap 7)
Sendo o Templo maçônico, na maioria dos Ritos, construído a
semelhança do Templo de Salomão, tem incluído dentro da sua
decoração as duas colunas de bronze mencionadas na Bíblia, e
conhecidas como colunas B (à esquerda, para quem olha desde a
entrada) e J (à direita).
A palavra coluna origina-se do latim “columnae” que significa
apoio, suporte, sustentação. Conforme o Dicionário, uma coluna é um
pilar que pode sustentar uma abóbada, uma estátua, etc. e está
formada por uma base, um fuste, que é o corpo cilíndrico, e um
capitel, que é a parte superior que serve para apoiar o corpo que a
coluna irá a sustentar. Em arquitetura também podem ser usadas
somente como objeto de decoração, tal o caso do Templo de Lúxor,
cuja construção foi iniciada por Amenhotep III ou Amenófis III
(1417–1379 ac) e terminada por Ramsés II (), de colunas
papiriformes e lotiformes, onde o templo é precedido por fileiras de
obeliscos (símbolos de proteção divina) e segue-se um pátio rodeado
de colunas, com altura de até 20 metros, onde o povo podia entrar;
este pátio era aberto e essas colunas, por tanto, nada sustentavam.
Na entrada de todos os Templos egípcios existiam duas colunas e
nas catedrais góticas construídas pelos autênticos pedreiros elas
estão representadas pelas duas torres do pórtico. Para os antigos o
Mar Mediterrâneo era seu mundo que compreendia unicamente os
países que eram banhados por ele; o Mar era um Templo com sua
entrada no Estreito de Gibraltar que tinha suas duas Colunas
conhecidas como as Colunas de Hércules; eram sustentavam o céu
sendo um símbolo de força.
Muito se têm discutido se as Colunas B e J estariam dentro ou fora
do Templo tentando definir a posição correta delas em um Templo
maçônico; realmente, estando elas no pórtico conforme a Bíblia já
citada, elas são o portal de entrada no Templo; acreditamos que por
problemas arquitetónicos acostuma-se situar elas logo após a porta
de entrada, no Ocidente. Existem Potências que cientes que as
Colunas B e J são o pórtico do Templo, a entrada ritualística dos
Irmãos atrasados é iniciada entre colunas, e não logo de cruzar a
Porta do Templo. Não se pode cruzar por trás das colunas porque isso
significa sair do Templo. Existe o Templo do Grande Oriente Paulista
que ornamentou seu Templo Nobre com dois lindos pares de colunas
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B e J: um par no Átrio e outro no interior do Templo, encostados na
parede ocidental interna.
A Coluna B haveria sido colocada no templo de Salomão para
lembrar os judeus a
coluna de nuvens que escureceu o caminho das tropas do Farão na
fuga de Egito; também esta Coluna representaria a estrela Polar do
Norte, chamada Estrela de Horus, nome que depois muda para Tat ou
Ta-at, que significa Fortaleza, considerado como símbolo da Força;
Deus impus aos judeus a criação de seu reino em fortaleza.
As duas Colunas tinham um diâmetro de 4 varas reais (medida de
comprimento que era usada pelos egípcios equivalente a 0,525 m)
por tanto elas ocupavam a maior parte junto da porta, ficando um
pequeno espaço para entrada simbolizando que a entrada ao Templo
não é fácil.
As Colunas eram ocas e permitiam guardar os instrumentos de
trabalho dos obreiros e era ao pé das Colunas que os obreiros
recebiam seus salários.
As duas Colunas representam os pontos solsticiais conforme
detalhado no Capítulo sobre o Ponto dentro do Círculo.
Capítulo 17
As 3 Colunas
Sustentam a Loja três grandes colunas denominadas SABEDORIA,
FORÇA E BELEZA, representadas pelo Venerável Mestre, e pelos 1o e
2o Vigilantes, respectivamente. A estas colunas foram dadas três
ordens da Arquitetura grega antiga: a Jônica, para representar a
Sabedoria; a Dôrica, simbolizando a Força e a Coríntia simbolizando a
Beleza.
A arquitetura da Grécia antiga é considerada como a mais perfeita
manifestação arquitetônica humana; foi uma arquitetura religiosa e
oficial usada com grande magnificência nos templos e edifícios
públicos, sendo que as casas eram extremamente simples e de baixo
custo. O elemento mais característico da arquitetura grega é a
coluna, que, a partir do séc. VI a. C. deixa de ser construído em
madeira para começar a ser construído em pedra. As colunas eram
compostas de três seções que ficavam simplesmente superpostas,
sem usar material aglutinante. A coluna, por seu desenho, da a
proporção e o estilo do Templo onde ela for usada, conforme se pode
59
ver se analisar a origem e filosofia de vida dos povos gregos que
criaram estas ordens arquitetónicas. As primeiras ordens a serem
criadas pêlos povos gregos foram a ordem jônica e a dórica.
Dórios e jônicos são duas das quatro tribos helênicas, de origem
indo-européia, que invadem a península balcânica a partir do século
XIX a. C. Os dórios chegam no século XI a. C., ocupam a península
do Peloponeso onde fundaram a cidade de Esparta. Esparta convertese em um estado militar, onde todo cidadão homem tinha que
dedicar sua vida ao serviço militar, ficando o trabalho reservado aos
escravos denominados hilotas. Esparta cultua até o extremo a Força
física, virando uma lenda o vigor físico de seus cidadãos. A Força dos
dórios é usada para conquistas importantes ocupando toda a
península do Peloponeso, chegando até Sicília. E, justo, a coluna
dórica, criada antes que as outras duas, tem uma forte impressão de
solidez, mantendo uma simplicidade e sobriedade de sua decoração.
Com os tempos, e com a influência das outras ordens, a coluna dórica
ganha um pouco de estilização, tornando-se mais esbelta. Exemplo
de templos onde foi usada a coluna dórica são o Templo C e o Templo
de Júpiter Olímpico, ambos na Sicília, e o colossal Parthenon,
construído por Péricles.
Os jónios ocupam a Ática, a ilha Eubéia e chegam até a ilha Egeu
na Ásia Menor. É um povo não tão militarizado como os dórios, e no
século VII a. c. aparecem entre os seus habitantes os primeiros
pensadores classificados como Jónios antigos, seguindo os filósofos
jónios posteriores, fechando com eles o período pre-socrático. Só de
lembrar seus nomes, é fácil deduzir que eles são á base de todo o
esplendor da filosofia grega e que deixaram um legado de Sabedoria
para a humanidade, com plena validade até os dias de hoje, 27
séculos depois. São eles Tales de Mileto, Anaximandro, Anaximedes,
Xenófanes,
Pitágoras,
Heráclito,
Parménides,
Anaxágoras,
Empédocles, Leucipo, Demócrito, etc. A ordem jónica atinge sua
maturidade no 450 a. C., e a coluna jónica surge mais sofisticada que
a dórica, ganhando mais leveza. Ainda, sobre a Sabedoria encetada
na coluna jônica, extrai-mos de um trabalho do Irmão Oswaldo
Ortega, que “a coluna jônica tem uma altura de 9 vezes o diâmetro
do fuste com 24 estrias. O nove é o número representativo da
eternidade porque ele na serie de números nove nunca desaparece;
por exemplo, o nove multiplicado por qualquer número ( 9x2=18 e
um mais oito igual a 9, 9x12=108, outra vez 1 mais 0 mais 8 é igual
a nove) sempre será igual a nove. O 24, pelas 12 horas do dia e as
12 horas da noite, mostra os contrários onde nossa vida tem o seu
relativo existir; o quatro simboliza a obra manifestada e, imanente a
ela, a consciência da sua existência ou seja, o micro no macro, o
Homem inserido no Universo”. As principais obras onde foi usada a
coluna jônica são o Templo de Vitória Áptera na entrada da Acrópole
de Atenas, o Templo de Erectéion, o Templo de Diana em Éfeso (uma
60
das sete maravilhas do mundo antigo), o Templo de Apolo em
Didyma e o Templo de Atena em Priene.
Corinto, localizado no golfo do mesmo nome, foi uma cidade e
porto dos mais florescentes na Grécia antiga, rivalizando com Atenas
e com Esparta. A ordem coríntia nasce como uma variante da jônica
mas teve pouco desenvolvimento na Grécia; seu capitel, enriquecido
com volutas e folhas de acanto, transforma-se em um verdadeiro
arranjo florido. É uma coluna esbelta que tem uma altura de 10 vezes
o diâmetro do seu fuste. Mesmo com o pouco aparente interesse dos
gregos ela foi usada em importantes obras tais como o templo de
Epidauro no Olimpo (séc. IV a. C.), o pequeno templo de Lysicrates
em Atenas (335 a. C.) e o templo de Olympieron em Atenas,
terminado durante a dominação romana, já que Roma, quando toma
o controle das principais províncias da Grécia, incluindo o território de
Corinto, aprecia a Beleza da coluna corintia e começa a usá-la nas
suas principais obras arquitetónicas até que o próprio Coliseu de
Roma ostenta no seu pórtico oito colunas coríntias.
Capítulo 18
O Ponto dentro do Círculo
A Franc-maçonaria instrui seus Aprendizes fundamentalmente por
médio de instruções que constam no Manual que eles recebem no
momento da sua iniciação e que são lidas em Loja; após a leitura de
cada uma das instruções é oferecida a palavra aos Irmãos mais
antigos para aclarar os conceitos nela mencionados e finalmente é
solicitado dos Aprendizes escrever um trabalho sobre aquela parte da
Instrução que mais chamou a sua atenção.
Os temas incluídos nas Instruções são variados e de muita
importância para quem está-se iniciando no conhecimento dos
mistérios maçônicos, mas por razões de espaço, eles são ligeiramente
mencionados sem ser desenvolvidos de forma mais completa,
correspondendo aos Aprendizes dar continuidade e profundidade ao
tema para atingir um nível razoável que lhe permita solicitar sua
passagem ao grau superior. O Aprendiz sempre contará com o
trabalho docente do Primeiro Vigilante, apoiado pelo quadro da Loja,
com bibliografia que pode ser encontrada nas livrarias de bom nível,
trabalhos publicados nas diversas revistas maçônicas (No Brasil
temos A Verdade, A Trolha, O Aprendiz, etc). É recomendado ao
Aprendiz que leia e releia cada Instrução, que leituras sucessivas
ajudarão a familiarizar-se com conceitos de natureza abstrata e cujo
conteúdo não sempre aparece cristalino com a primeira leitura.
61
Existem conceitos complexos que precisaria de um livro ou mais de
um, se não para esgotar, ao menos clarificar o assunto.
Um desses temas não de fáçil entendimento para um Aprendiz é a
existência na Loja de um ponto dentro de um círculo, conceito
importante, de um profundo significado e sobre o qual existe pouca
literatura.
No livro “Antiga Maçonaria Mística Oriental” do Dr. R. Swinburne
Clymer, e estou adaptando livremente parágrafos dele que se
referem ao assunto do ponto dentro do círculo. A edição consultada é
da Editora Pensamento, ano 1970, páginas 119 até 127.
Para entrar no assunto, lemos a 2a Instrução que fala: “Em toda
Loja maçônica, Regular, Justa e Perfeita, existe um ponto, dentro de
um círculo, que o verdadeiro Maçom não pode transpor. Este círculo é
limitado, ao Norte ao Sul, por 2 linhas paralelas, uma representando
Moisés e a outra ao Rei Salomão”.
A Loja maçônica é a representação do Universo sendo seu teto o
céu, no qual um grupo de astros, estrelas e constelações, estão
desenhados. Como o Sol nasce no Oriente, ele está desenhado sobre
o trono do Venerável Mestre e a Lua fica no Ocidente perto do trono
do Primeiro Vigilante.
Para ir da Terra ao céu existe a Escada de Jacó suportada pelo
Livro da Lei, que fica sobre o Altar dos Juramentos, no ponto central
da Loja. A Escada de Jacó é um símbolo “muito espalhado entre as
religiões da antigüidade, nas quais, como na Maçonaria, sempre se
considerava formada de sete degraus, porque sete era um número
sagrado”. Todos sabemos que Jacó, personagem bíblico, filho de
Isaac, por medo de ser assassinado pelo seu irmão primogênito Ezaú,
fugiu da casa paterna para Messopotámia e no caminho, enquanto
dormia teve um sonho no qual aparecia uma escada pela qual subiam
e desciam anjos e ouviu a voz de Deus, que estava na parte superior
dela, que lhe cedia para sempre a terra na qual estava descansando.
Jacó tomou a pedra que lhe servia de travesseiro e converteu-a em
altar. Posteriormente Jacó muda seu nome para Israel (Herói de
Deus) e seus 12 filhos formam as 12 tribos, que deram inicio ao povo
de Israel.
A Escada que Jacó viu em seu sonho é o ciclo do nascimento e da
morte, a lei universal da evolução. Os anjos são os seres humanos
que praticando virtudes sobem na escada, pois cada degrau
representa um valor moral, e os defeitos e erros fazem descer a
níveis mais baixos. Deus sempre ocupa, inegável, o topo da Escada.
62
Quantos degraus têm a Escada? O Ritual fala de “escada composta
de muitos degraus” e que “cada degrau representa uma das virtudes
exigidas ao Maçom para caminhar em busca da perfeição moral”.
Conforme um trabalho publicado no Boletim do Venerável Colégio da
GLESP o número de degraus “nada significa, pois está na
dependência da criatividade do desenhista”. Em um trabalho
publicado pela Revista A Verdade “seus degraus são tantos quantas
são as virtudes necessárias ao aperfeiçoamento individual”. O Dr
Swinburne Clymer opina que “é uma anomalia dar a Escada mística
da maçonaria apenas 3 voltas”. Entretanto, a Maçonaria nada tem a
ver com esta anomalia. O erro surgiu da ignorância dos inventores
que gravaram pela primeira vez os símbolos maçônicos para nossos
monitores. A Escada da maçonaria, como as Escadas eqüipolentes
das instituições semelhantes, sempre teve 7 degraus embora, nos
tempos modernos, só se façam alusão aos três principais ou
superiores. Essas voltas, começando pela inferior são: Temperança,
Fortaleza, Prudência, Justiça, Fé, Esperança e Caridade”. O Dr
Swinburne Clymer, como se vê, concorda que cada degrau representa
um valor moral.
Que entendemos por Escada de Valores? É um conjunto de
qualidades ou virtudes que adornam um homem de bem e que é
obrigação maçônica praticar para benefício do próximo e da
humanidade.
Quantos são estes valores ou virtudes? Concordemos que não
pode existir uma quantidade limitada deles e que somente Deus
reúne dentro dele a totalidade infinita deles.
Conforme o anterior definimos então que a Escada de Jacó tem um
número ilimitado de degraus e eles representam os Valores ou
Virtudes que devemos praticar para, de degrau em degrau, nos
aproximar de Deus. Todos os autores coincidem que o último degrau
corresponde à Caridade e, como a Escada une a Terra com o Céu,
que é a morada simbólica de Deus, praticando a caridade, que
eqüivale ao amor divino, estaremos mais perto de Deus. Também a
Maçonaria tem a caridade como o seu mais elevado Valor e cada Loja
tem dentro de sua Oficialidade, um Oficial que com o nome de Mestre
Hospitaleiro, como seu nome muito bem indica, recolhe os óbolos dos
membros da Loja que, cada vez que eles se reúnem doam de forma
totalmente anônima para ser distribuído entre os mais necessitados
do denominado mundo profano. O dinheiro arrecadado fica, em conta
separada, com a responsabilidade do Mestre Hospitaleiro. Acontece
que a Loja recebe diversos tipos de solicitações para ajudas usando
este fundo, mas se esses pedidos não são em benefício de
necessitados do mundo profano, eles devem ser firmemente
rejeitados. Inclusive, ás vezes procurar-se-á ajudar a Irmãos do
quadro em aparentes situações de apuros. Mas, um maçom não pode
63
esquecer que por muito urgente sejam as suas necessidades elas
nada são comparadas com a fome de milhões de pobres que hoje
nada comeram e não sabem se amanha poderão comer alguma coisa.
Um maçom em situação premente deve ser ajudado pelos seus
irmãos mas sem usar o Fundo de Beneficência nestes casos. Fala-se,
romanticamente, que se um maçom estive-se passando necessidades
ele poderá, em vez de depositar, retirar discretamente dinheiro da
denominada Bolsa de Beneficência. Pelas mesmas razões anteriores,
esta situação não existe numa Loja autenticamente maçônica. Outra
crítica a ser feita é com referência as poucas moedinhas depositadas
por irmãos que depois da reunião não fazem questão de gastar
quantias bem superiores no jantar fraterno que segue a reunião.
Nesses casos, o Tronco de Solidariedade passa a ser realmente
simbólico.
Passemos agora as duas linhas paralelas. “O fato de que São João
Batista e São João Evangelista eram essénios eminentes é razão
suficiente para, mais tarde, os maçons” terem homenageados a eles
dedicando-lhes suas Lojas e as Festas Solsticiais.
“As duas linhas paralelas, que nas dissertações modernas são
designadas como representando São João Batista e São João
Evangelista, realmente se referem a períodos particulares do curso
anual do Sol. Em dois pontos desse curso, o Sol encontra-se nos
conhecidos como signos zodiacais de Câncer e Capricórnio, que são
conhecidos como Solstício de Verão e Solstício de Inverno,
respectivamente. Quando o Sol encontra-se nestes pontos, atingiu o
seu limite máximo ao Norte ou ao Sul. Esses pontos, se imaginar o
Círculo sendo analisado, representam o curso anual do Sol, serão
indicados pelos pontos em que as linhas paralelas tocam no Círculo”.
Antigamente um “anel seguro por duas serpentes era o emblema
do mundo protegido pelo poder e a sabedoria do Criador; e essa é a
origem das duas linhas paralelas (em que o tempo mudou as duas
serpentes) que sustentavam o Círculo nas Lojas”.
Temos, pois, duas interpretações para as duas linhas paralelas;
conforme o Ritual de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, uma
delas representa a Moisés e a outra ao Rei Salomão, o Livro Sagrado
e a Justiça. O Dr. Swinburne Clymer acredita que as linhas estão
relacionadas com os Solstícios, reconhecendo que hoje em dia são
entendidas como representações de São João Batista e São João
Evangelista.
Queremos aproveitar esta discussão e a anterior sobre o número
de degraus da Escada de Jaçó, para lembrar aos Aprendizes que os
conceitos emitidos nos Manuais, nos livros, nas intervenções dos
Mestres em Loja, não são, sob hipótese alguma, a palavra final e que
64
ela deva ser decorada e retransmitida na mesma forma como foi
ouvida ou lida. E isto é uma grande diferença da doutrina maçônica
sobre qualquer outra doutrina, tanto de origem política, religiosa ou
filosófica. Cada idéia deve ser ouvida atentamente, comparada com
outras que possam enriquecer o conceito original; um símbolo não
tem um significado limitado, seu alcance é amplo e rico e uma
interpretação não anula necessariamente as anteriores e, muito pelo
contrário, as enriquece.
“O Ponto dentro do Circulo tornou-se um emblema universal para
expressar o Templo de Deus, e se referia ao círculo planetário, no
centro do qual o Sol estava fixo, como o Deus universal e Pai da
natureza, pois o círculo todo do céu era chamado Deus. Julgava-se
que o centro de um Templo era a residência especial de Deus, as
decorações exteriores eram apenas ornamentos. O México, a Grã
Bretanha, a Índia, etc, nos apresentam ruínas de Templos
construídos em forma circular, em cujo centro ainda permanece o
Ponto ou emblema de Deus”.
“Todas as nações reconhecem como objeto de adoração uma
Grande Divindade Suprema, pela qual todo o que existe foi criado.
Outra idéia era que nada do que possui vida poderia ser criado sem a
junção das forças geradoras, ativa e passiva. E como Deus criou toda
vida deve, necessariamente, possuir dentro de si cada um destes
poderes, a daí a adoração de Phallus, tão comum entre as nações
antigas cujo símbolo era o emblema que estamos considerando, e
que se encontra nessa relação por todo a parte, nos monumentos da
antigüidade”.
“O Ponto dentro do Círculo é derivado do Antigo culto do Sol e é,
realmente, de origem fálica. É símbolo do Universo, o Sol sendo
representado pelo Ponto, ao passo que a circunferência é o Universo”.
Os antigos adoravam o falo como símbolo da fecundidade da
natureza. A degradação das costumes dos homens fez que as Festas
Fálicas se transformassem em reuniões licenciosas em que a
religiosidade foi substituída pela luxuria. Hoje ainda existem povos
não tão poluídos pelo ocidentalismo e mantém esse respeito pelo
que, para eles, é a parte mais sagrada de nosso corpo e, assim como
os ocidentais quando juramos colocamos a mão sobre o coração,
numa atitude evidentemente egoísta porque sabemos que desse
órgão pende nossa própria vida que é o mais importante para nos; os
africanos, árabes e povos orientais antigos colocam a mão sobre o
membro viril, como prova da sua sinceridade, porque esse órgão é o
criador de uma nova vida e por tanto é sagrado; essa nova vida é a
de seu próprio filho e, sendo assim, seu gesto, junto com ser uma
demonstração de amor e respeito por Deus é uma prova de amor
filial. Eis uma diferença que poderia ser uma lição para nos, mas
65
nossa vaidade de homens superiores nos impede de ver este tipo de
lições. Um irmão de minha Loja, Guatimozim No 66, viajando nos
anos 1970 por países africanos observou que os homens, com muita
freqüência, paravam no meio da rua para fazer uma cuidadosa
higiene de seu membro viril numa atitude corriqueira, simples, feita
com muito respeito e sem curiosidade maldosa para ninguém.
Na Bíblia, Gênesis cap 24, quando Abrão manda seu servo, o mais
velho da casa, buscar uma mulher para Isaque “põe agora a tua mão
debaixo da minha coxa, para que eu te faça jurar pelo Senhor Deus
dos Céus e Deus da Terra...” e no mesmo Gênesis, cap 47, quando
Jacó ao morrer chamou ao seu filho José para pedi-lhe não ser
enterrado no Egito “disse-lhe: Se agora tenho achado graça em teus
olhos, rogo-te que ponhas a tua mão debaixo da minha coxa, e usa
comigo de beneficência e verdade”.
Nosso mundo desenvolvido (?) de hoje, em que a pornografia
ocupa o primeiro lugar como elemento de marketing, imaginar um
templo religioso com um símbolo fálico no seu centro é algo que não
pode ser aceito pelas interpretações dúbias que surgiriam. “Às idéias
indecentes atribuídas à representação do Phallus foram, embora
pareça um paradoxo, o resultado de uma civilização mais adiantada a
caminho do seu declínio, como temos provas em Roma e Pompéia”.
“Para traçar o círculo completo da geração é necessário dar mais
um passo. Assim encontramos... entre os gregos ... e os indianos ...
símbolos do princípio gerador feminino ... sendo um pedestal ou
receptáculo côncavo e circular, em que o Phallus ou coluna se
apoiava e do centro do qual surgia”.
“...os antigos, acreditando que se podia conceder a idéia dos
poderes procriadores e produtivos da humanidade como existentes no
mesmo indivíduo, fizeram a mais velha de suas Divindades
hermafrodita, empregando a expressão homem-virgem para indicar a
união dos dois sexos na mesma pessoa divina”.
Há poucos anos, o Papa João Paulo II (1912-1978) durante seu
breve reinado de 34 dias, nos meses de Outubro à Novembro de
1978, fez esta mesma declaração e que foi manchete em toda a
imprensa mundial e, logicamente, transtornou à Igreja Católica.
Imaginem o choque que devem ter tido os católicos ao ler nos jornais
que o Papa afirmava que Deus era hermafrodita. O Papa João Paulo II
tinha toda a razão na sua afirmação, no seu sentido mais puro.
Somente que ele não considerou que, dentro do limitado grau de
conhecimento do povo, sua afirmação não iria ser bem interpretada.
Lembremos que Jesus, quando inicia seu evangélio, após sua longa
preparação dos 13 aos 30 anos, quando se torna um iniciado, fala
para o povo que Ele tinha grandes verdades para ensinar-lhes mas
66
eles, o povo, não estavam ainda preparados para entender. Na Bíblia,
no Livro de São Mateus, cap 7, lemos que quando Jesus fala aos seus
discípulos e a multidão no Sermão da Montanha, num momento ele
diz: “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis pérolas aos
porcos, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se as
despedacem”.
O Papa João Paulo II, de grande nível intelectual, chegou a iniciar
uma profunda reforma na Igreja para preocupação dos setores
conservadores, até falecer repentinamente na noite do 28 de
novembro de 1978 durante seu sono, num ataque cardíaco.
“...este hermafroditismo da Divindade Suprema era considerado
como sendo representado pelo Sol, que era a energia geradora
masculina e pela natureza, ou o Universo, que era o princípio prolífico
feminino. E esta união era simbolizada em diferentes formas, mas
principalmente pelo Ponto dentro do Círculo”.
“Chegamos, assim, à verdadeira interpretação do simbolismo
maçônico do Ponto dentro do Círculo. É a mesma coisa, mas sob
forma diferente, que o Venerável Mestre e os Vigilantes da Loja”
sendo eles, símbolo do Sol e do Quadro da Loja, do Universo ou
Mundo”.
Capítulo 19
Os Solstícios
A ascensão diária do Sol pelo horizonte do Oriente e seu descenso
pelo Ocidente não é realizado sempre pelo mesmo lugar. No decurso
do ano o Sol aparece e põe nos horizontes mencionados, mais ao
Norte no Inverno (hemisfério Sul) e mais ao Sul no Verão, produzindo
a sensação do Sol se deslocar no horizonte durante o ano entre duas
posições extremas, mediante um movimento pendular.
Assim, na Primavera o Sol se oculta em um ponto determinado
desde o qual o ocaso avança para o Sul com velocidade retardada até
parar em um ponto meridional máximo. Volta logo para o Norte com
velocidade acelerada e chega a um ponto desde onde continua até
uma segunda parada que se produz no Inverno. Volta outra vez ao
Sul, e assim prossegue ininterruptamente em um movimento
oscilante aparentemente eterno e que mostra aos olhos dos humanos
uma regularidade perfeita.
Vemos então que temos no horizonte dois pontos fixos e opostos,
nos quais o Sol estaciona-se para, aparentemente, mudar de direção
67
e nas épocas que tal fato acontece, é conhecido com o nome de
Solstício, do latim “Sol stat “ ou “Sol sistit” que significa Sol parado
ou Sol detido. Este fato acontece duas vezes no ano : 21 de
Dezembro e 21 de Junho. Durante o 21 de Junho o Sol está
posicionado no Trópico de Câncer (23 graus e 27 minutos, latitude
Norte) no Hemisfério Norte e longe do nosso Hemisfério Sul, e por
isso para os habitantes de nossos países chama-se Solstício de
Inverno. Ao inverso, quando o Sol, no 21 de Dezembro, alcança o
Trópico de Capricórnio (23 graus e 27 minutos, latitude Sul) temos o
Solstício de Verão para nos.
Os Solstícios separam as duas grandes estações do ano, Verão e
Inverno, nas quais o Sol é o principal e decisivo fator. São as épocas
que a natureza oferece as mudanças e contrastes mais notáveis e
significativos. No Verão a Terra fecundada com os raios do Sol, inchase e oferece seus frutos louvados aos homens; as espigas
amadurecem douradas e ondeiam como bandeiras de paz. No
Inverno a Mãe Terra, frente a época do frio, parece sumida no
letargo; enquanto a quietude e as trevas reinam, a Terra no descanso
fecundo, prepara-se para produzir novos frutos para o amanha. Uma
fase de buliçosa vida e outra de morte aparente. Uma é a
continuação da outra. É uma perpétua mudança.
O homem primitivo notou, com certeza, a diferença entre as duas
épocas, uma caracterizada pelo frio e a outra pelo calor, e que no
início serviu-lhe de base para determinar os trabalhos agrícolas, fonte
de seu principal alimento. O homem, animal racional, tentou
compreender o mistério do Sol; era seu amigo, pois durante o dia
com a sua luz facilitava-lhe a caça, protegia-o do frio mas que,
infelizmente, todos os dias era derrotado pelas trevas e morria,
deixando-o totalmente inerme, sem defesa.
O ocaso do Sol causou-lhe receio e, provavelmente, medo. Amou a
luz e temeu as trevas. Adorou o nascimento do Sol e chorou a sua
desaparição. E esse estado espiritual foi-se transmitindo por
gerações. E assim, desde a antigüidade, o Sol foi considerado uma
divindade e, como tal, adorado pelo Homem. Povos históricos tais
como os indianos, os persas, os gregos, os egípcios, os romanos, os
aztecas e os incas, tem-lhe rendido homenagens e tributos. Em
efeito, todos os livros sagrados das primitivas religiões revelavam
que a teologia de todos os povos fundava-se em que os astros,
especialmente o Sol, eram os causadores de todos os bens e
desgraças do Homem, através da sua ação nas forças da natureza.
Fonte de luz e calor, o Sol foi proclamado Rei dos Céus e Soberano
do Mundo. A emocionante regularidade da sua brilhante aparição e de
seu pôr ensina os Homens a verdade da vida, da morte e do
renascimento. Ele é vencido pelo gênio do Mal, representado pelas
68
trevas, mas reaparece de novo como renascido e vencedor. Com esta
morte e ressurreição alegórica, o Homem conhece pela primeira vez,
as vicissitudes da vida e o dogma glorioso, conforme o qual a vida
nasce da morte.
É visível, então, que pela adoração ou culto do Sol, o Homem
chegou na antigüidade à conceição das idéias mais sublimes sobre a
divindade e a existência humana. Desde antigo os povos do
Mediterrâneo imaginaram os Solstícios como aberturas opostas do
céu, por onde o Sol entrava e saia ao terminar seu percurso em cada
círculo tropical. Personificação desta idéia entre os greco-latinos foi a
figura de Jano, representado como divindade bifásica, aludindo
justamente a sua marcha pendular, ora progressiva ora regressiva,
entre ambos trópicos. A idéia alegórica estava, por demais,
implicitamente contida no seu próprio nome, Janus (de janua, que em
latim significa porta). Por isto era chamado também, Janitor ou seja
porteiro e era representado com um punhado de chaves nas mãos,
detalhe que a tradição cristã popular transferiu depois à São Pedro
como guardião das portas do Céu, porém sem nenhuma relação com
os Solstícios. A semelhança das vozes Jano e João, não obstante não
ter parentesco nenhum idiomático, favoreceu a mudança do Jano
pagão pelo João cristão (do hebreu Iohohanam, graça de Deus).
Esta mudança levava consigo o claro propósito de eliminar uma
tradição que chocava com a nova religião, ainda que ela sustentava a
mesma esperança, porem entendida de diferente maneira. Assim
nasce no calendário do cristianismo a figura de São João Batista
presidindo as Festas Solsticiais.
Na obra “Símbolos fundamentais da ciência sagrada” de René
Guénon, no capítulo “As portas solsticiais” é explicado o papel que
desempenhavam os Solstícios nos ritos de iniciação, conforme uma
tradição cuja raiz o autor localiza na literatura sagrada indiana,
especificamente no Bhagavad-Sita, tradição que no Ocidente aparece
assinalada nos alvores de sua própria literatura (Homero, A Odisséia,
canto XIII). Surpreende verificar que as duas tradições, Oriental e
Ocidental, coincidem que o Solstício de Câncer (24 de Junho) é a
porta que cruzam as almas mortais chamada por isso Porta dos
Homens, e o Solstício de Capricórnio (24 de Dezembro) é a porta que
cruzam as almas imortais, chamada a Porta dos Deuses. O anterior
explica porque os egípcios consagravam a Porta ou Solstício de
Câncer, a Anubis e os gregos a Hermes. Sabemos que Anubis e
Hermes eram os encarregados de conduzir as almas ao mundo
extraterreno. Não está demais lembrar que este mesmo papel é
desempenhado nas Lojas Maçônicas pelo Irmão Experto, onde
também, simbolicamente, é suposto que chegam desde o mundo
profano as almas em vias de purificação (Primeiro e Segundo Grau) e
as depuradas (Terceiro Grau).
69
A Maçonaria tem considerado o Sol não como divindade e sim
como síntese magnífica dos princípios fundamentais da Ordem. Assim
sendo, tem condicionado seus Templos à imagem do harmonioso
conjunto que é o Universo, sendo o teto da Loja a representação
gráfica da abóbada celeste com o Sol desenhado no Oriente.
A representação dos Solstícios dentro do Templo está no ponto
dentro do círculo, assunto já tratado em capítulo anterior. O círculo
traçado com o Altar como centro e de diâmetro a distância que
separa as duas colunas B e J, das quais nascem duas linhas paralelas
imaginarias que representam a São João Batista e São João
Evangelista e que serão tangenciais ao círculo em dois pontos, que
correspondem aos Solstícios de Inverno e Verão, ou vice-versa,
conforme o Hemisfério Norte ou Sul; nas linhas paralelas se
encontram os trópicos de Câncer e Capricórnio. Quando o Sol se
encontra nesses pontos atingiu o seu limite máximo ao Norte ou ao
Sul e são os pontos tangenciais com o círculo.
As antigas confrarias de pedreiros tinham a regra, conforme a
prática católica de escolher e reverenciar um Santo como Padroeiro.
À maioria delas escolheram como Padroeiro a São João Batista e
devido a isto, elas se denominaram Confrarias ou Lojas de São João e
seus componentes, Irmãos de São João. Outras, em menor número,
ficaram sob a tutela de São André da Escócia, São Jorge, os Quatro
Santos Coroados e alguns outros abençoados. Este nome de Irmãos
de São João encontra-se em corporações do século X, sendo o mais
antigo até hoje conhecido.
Em 1717, quatro Lojas em Londres, reuniram-se em 24 de Junho,
colocando a pedra fundamental da Maçonaria Simbólica ou Moderna e
proclamando a São João Batista como seu Padroeiro. A razão desta
eleição poderia ter seu fundamento, analisando ou que o Batista e o
Evangelista representam. O Batista, com sua prática de depuração
pela água para preparar a chegada de “Aquele que virá” é o Profeta
das Iniciações, o anunciador de Jesus, o precursor de uma renovação
que significa nova luz nos espíritos. O Evangelista, como o mais
jovem e predileto discípulo de Jesus, é o guardador de suas doutrinas
e de seus ensinamentos e representa a Verdade a Verdade exposta
no Apocalipse, último Livro do Novo Testamento, mal atribuído ao
Evangelista, onde se relaciona a situação do Império Romano face ao
poder do cristianismo, como uma verdade válida para todos os
tempos e para todas as situações em que se chocam os poderes das
trevas com o poder espiritual.
Para os maçons que habitam o Hemisfério Sul, esta
correspondência entre a data de um Solstício e a pessoa de um
padroeiro se nos apresenta de um modo inverso; é assim, como
70
conseqüência deste obrigado “erro” ritualístico, no mês de junho
reúnem-se para celebrar á Festa de São João Batista, que é a
esperança de uma vida melhor e em Dezembro é celebrada a Festa
de São João Evangelista que predica o Evangélio do amor fraternal.
Capítulo 20
Zoroastro
Conforme o Evangélio Persa, por volta do ano 1650 ac, e em
conseqüência da luta eterna entre Ahura Mazda-Ormuzd, o senhor da
Luz, e Azhriman ou Arimã ou Ahriraça, o espírito das trevas, a raça
humana estava mergulhada na aflição. Os homens pediram então a
Gosurvan, a alma do Touro Sagrado, que intercedesse em favor deles
junto ao Trono de Deus. E Deus falou à Gosurvan: “Eu farei surgir
aquele que há de salvar as criaturas da Terra”.
1000 anos se passam, e em 660 ac (outros autores indicam 607
ac) nasce Zoroastro – seu nome persa era Zaratustra – em
Azerbaijan, que naquela época era província da Pérsia. Muitas
informações sobre Zoroastro pertencem ao domínio da lenda, desde
seu nascimento e a sua vida toda.
Ao nascer Zoroastro, os espíritos maus se esforçaram em dar-lhe
morte, mas ele teve a proteção de Deus. Aos sete anos foi entregue
aos cuidados de um homem sábio, que alguns autores pensam que
seria o profeta hebreu Jeremias; este homem o instruiu nas coisas
divinas e dos 15 anos até os 33, ficou praticando a fraternidade e a
caridade.
Zoroastro, já Mestre, percebeu que seu povo necessitava de uma
religião para serem bem preparados para as provas da vida. Concluiu
que os homens estavam lutando com eles mesmos e com duas
forças, as forças do Bem e as forças do Mal. Zoroastro acreditava que
dominando as forças do Bem, o homem estaria certo da sua
felicidade e dali procedeu a deificar o Bem, convertendo-o em Deus
sob o nome de Ahura-Mazda, que significa Deus da Sabedoria, e que
é o criador e guia absoluto do universo. Adotou das antigas costumes
de seu povo, o símbolo do fogo que se converteu no símbolo de
Ahura-Mazda, representando a faísca divina dentro do Homem, a luz
da compreensão que alcançam aqueles que seguem o Bem. As forças
do mal estavam representadas por um ser denominado por Zoroastro
como Ahrimã, equivalente à Satã. À conceição hebraica de Satã,
como Ser das Trevas e do mal, estima-se que foi tomada da religião
de Zoroastro.
71
No zoroastrismo não existe o pecado mortal, mas também não
existe o perdão dos pecados nem o arrependimento; aplica-se o
principio da justiça e não o principio do amor. A alma do morto tem
ser julgada levando em consideração toda a sua vida, premiando as
boas ações e castigando as más.
O Livro sagrado do Zoroastrismo é o Zend-Avesta que parece ter
sido completado no século VI dc. Como o Deus adorado pelos persas,
não deve ter nem templos nem estatuas, os únicos centros de
adoração eram altares nos que ardia o fogo sagrado; mais tarde eles
se converteram em verdadeiras piras rodeadas de pilares e três
degraus.
Como todos os Grandes Iniciados, Zoroastro também foi
perseguido pelo poder dominante, mas teve a felicidade de converter
o Rei Vishaspa, transformando a zoroastrismo na religião do Estado
persa. Aos 77 anos foi morto no Templo em companhia de oito
sacerdotes. Após o reinado de Dario I (521–486) o zoroastrismo
transformou seu caráter, convertendo-se em mazdeísmo, impregnado
de crença populares.
No simbolismo maçônico, o zoroastrismo representa a escola da
virtude. Os princípios do bem e do mal vivem a eterna luta com
alternativas de vitória para um e outro lado. A cerimônia de
purificação pelas chamas é a consagração do Altar, símbolo da
divindade, puro e purificador; a purificação pela água é uma alusão a
Veretraghina, vencedor do demônio, o gênio da vitória.
Ahrimão significa para os maçons o despotismo político e a tirania
religiosa, Ormuzd, pelo contrário, é a chama augusta da liberdade,
inextinguível, embora por vezes bruxuleando. Sraosha personifica a
Justiça maçônica, que pode tardar mas sempre chega.
O Rito Escocês Antigo e Aceito incorpora o Zoroastrismo nas
práticas maçônicas quando manda trabalhar do meio-dia à meianoite, como homenagem a Zoroastro, um dos primeiros instituidores
dos Mistérios, que reunia secretamente seus discípulos, ao meio-dia,
e terminava seus trabalhos à meia-noite, com um âgape fraternal,
costume que os maçons continuam até hoje, praticamente em todos
os Ritos.
Capítulos 21-30
Ven.Irmão OMAR CARTES
72
Capítulo 21
A Corda de 81 nós
A Corda de 81 Nós é um símbolo pouco conhecido que existe no
Templo maçônico, estando localizado na parte superior de suas
paredes, acima das colunas zodiacais. O material da corda, pese a
que é permitido ser esculpida na parede, deve ser confeccionada em
material natural podendo ser fibras de sisal, cânhamo, juta, linho ou
outro similar. A costume de substituir materiais naturais por produtos
artificiais, deveria ser abolida de nossos Templos porque com isso
estamos paulatinamente perdendo o esoterismo que eles transmitem;
como exemplos mencionamos o avental que deveria ser de pele de
cordeiro e que hoje se permite o uso de material plástico, o acendido
das velas com isqueiro e não com fósforos, a substituição das
mesmas velas de cera por lâmpadas elétricas, etc.
Os denominados nós, na verdade são laços chamados “laços de
amor” e que lembram o amor que deve existir entre os irmãos da
Loja. A forma de cada laço tem uma forma que lembra o ato de
geração renovadora já que consiste em um anel (feminino) que é
penetrado pela corda (masculino) mostrando como o amor atua na
continuidade da vida. A disposição do laço será a de um oito deitado
lembrando o infinito.
Os laços devem estar distribuídos em uma perfeita simetria ao
longo da Corda. O primeiro laço ficará sobre o dossel ou o trono do V
M e os outros 80 distribuídos em 40 de cada lado até os extremos da
Corda situados junto a porta de entrada do Templo, no Oc. A Corda
termina em duas borlas que recebem o nome de Justiça ou Equidade
e Prudência ou Moderação. Esta abertura da Corda, em torno da
Porta indica que a Maçonaria sempre estará aberta para receber
novos candidatos que se interessem pelo estudo da Verdade, como
também para todos os conhecimentos e novas idéias que elevem a
espiritualidade do Homem.
O laço que fica sobre o trono do Va Divindade, criador do Universo
e de todo o que existe. Os 40 laços ou nós de cada lado da Corda
lembram os 40 dias que durou o dilúvio (Gênesis, cap 7 vers 4: “Farei
chover sobre a terra 40 dias e 40 noites”), os 40 dias que Moisés
passou no deserto com o Senhor (Êxodo cap 34 vers 28 “E esteve ali
com o Senhor 40 dias e 40 noites”), os 40 dias do jejum de Jesus
(Matheus cap 4 vers 2 “E, tendo jejuado 40 dias e 40 noites, depois
teve fome”) e os 40 dias que Jesus esteve na Terra após a
ressurreição (Atos dos Apóstolos cap 1 vers 3 “Sendo visto pêlos
73
Apóstolos por espaço de 40 dias”), 40 anos os israelitas peregrinaram
pelo deserto até chegar a Canaã, a Terra prometida; a Quaresma
dura 40 dias e antigamente certos doentes mais graves ficavam em
quarentena como se tal fosse o período necessário para purificar o
doente. Em numerologia, 40 é o número da penitência e da
expectativa.
A Verdade está representada pelo número 18; o número 81
também nos está representando a Verdade só que em uma forma
oculta, simbolizando que a Verdade não é fácil descobrir, ela exige
muito estudo e mesmo assim provavelmente nunca a conheceremos.
O número 1 simboliza a Unidade, o Grande Criador Incriado, Deus, o
G e o 8 simboliza o Infinito. Deus e o Infinito, quando nada mais
existe. Um mais Oito somam Nove, o número perfeito, o número
espiritual; 81 é o quadrado de Nove que por sua vez é o quadrado de
Três.
Nosso Irmão Oswaldo Ortega é citado em um trabalho sobre a
Corda de 81 Laços, do Irmão Ivan Barbosa de Oliveira (Grande Loja
de Brasilia), publicado na internet, quando menciona que os 81 laços,
estando na parte superior das paredes portanto perto do céu, tem
ligação com os 81 anjos que visitam periodicamente a Terra; a cada
20 minutos um anjo desce e dá sua mensagem aos Homens; são 72
visitas no dia e que somados aos 9 planetas, que também nos
influenciam, chegamos novamente ao número 81. Conforme nosso
Irmão Ortega estes anjos estão representados nos 81 laços.
Capítulo 22
A Abóbada Celeste
O Templo maçônico é coberto por uma abóbada celeste semeada
de estrelas e nuvens, na qual circulam o Sol, a Lua e inúmeros outros
astros, que se conservam em equilíbrio pela atração de uns sobre os
outros e se o Templo representa o Universo, o pavimento é a Terra e
o teto é o Céu.
Em arquitetura, uma abóbada é uma construção em arco, feitas de
pedras ou tijolos, que são colocados em cunha para se autosustentar, ficando uma estrutura suspensa que resulta em uma
solução acústica e também estética. Esta solução foi muito usada nas
catedrais de estilo gótico.
74
Entre tantas especulações existentes na história da Maçonaria,
atribui-se a Elias Ashmole a criação da abóbada celeste que adorna o
teto dos Templos maçônicos, e que de 5.000 astros conhecidos na
época (1648 dc) haveria escolhido 36 para formar parte dela e que
seriam os regentes de Luzes, Oficiais e graus maçônicos.
Esta é mais uma especulação sem base, das tantas que rodeiam à
Maçonaria e que não resiste o mais simples análise. Elias Ashmole
escreve no seu Diário que foi iniciado em Warrington, condado de
Lancashire junto do Coronel Henry Mainyaring em Outubro de 1646 e
que ficou sem participar de nenhuma reunião maçônica durante 35
anos e por outra parte, lembremos que as reuniões maçônicas nessa
data (século XVII) eram tradicionalmente realizadas em tabernas,
numa condição muito diferente da que poderia oferecer um Templo
como é atualmente.
Dos 36 astros, Marte, por razões até certo ponto lógicas foi
deixado no Átrio já que ele representa a guerra, a violência não
podendo, obviamente, ocupar um lugar dentro do Templo maçônico.
No quadro que figura a continuação estão descritos os 36 corpos
celestes, o cargo ou grau que representam e uma breve descrição
dos motivos pelo qual foram considerados dentro da simbologia
maçônica. Só cabe dizer, que estes corpos foram considerados
conforme o conhecimento astronômico existente 3 séculos atrás. Os
aparelhos daquela época eram precários e somente permitiam ver os
3 maiores dos famosos anéis de Saturno e as Pleiades são uma
nebulosas com infinidade de estrelas, das quais o homem antigo
conheciam só sete. Uma explicação especial merece a Stella
Pitagoris, regente do Segundo Vigilante. Conforme Pitágoras, quando
são discutidas coisas divinas, o que realmente acontece dentro de
uma Loja maçônica, deve existir um facho que ilumine o Templo.
Como o Sol era a luz mais intensa do Universo conhecido foi
reservada para o Venerável Mestre, simbolizando a sabedoria de
Deus vinda desde o Oriente, não sendo conhecido outra estrela que
emitisse tanta luz. Hoje se sabe que existem muitas outras estrelas
mais brilhantes e maiores que o nosso Sol, por exemplo Arcturus,
Antares e Formauhalt. Por isso, foi criada uma estrela virtual que
recebeu o nome de Stella Pitagoris.
ASTROS REGENTES DOS CARGOS E GRAUS
75
CARGO/ GRAU
ASTRO
Ordem
DESCRIÇÃO
Venerável Mestre
Sol
1
Estrela anã amarela, 4,5 bilhões de anos de idade. Está na metade
da sua vida e no final irá se converter numa super-nova; magnitude
absoluta M=4.8 que indica um brilho fraco; temperatura superficial
de 5.700o K; diâmetro = 1.392.00 km; emite luz e calor produto de
reações termonucleares provocadas pela reação do 91.2% de H2 que
se funde para formar He; 4 átomos de H2 são transformados em 01
de He. O Sol é a luz maior do sistema solar e da Loja. Sua luz é
símbolo de Sabedoria.
1o Vigilante
Lua
2
Satélite natural da Terra; reflete a luz do Sol. Diâmetro médio de
3476 km; distância média da Terra 380.000 km Sua volta em torno
da Terra demora 27,322 dias terrestres exatamente o mesmo tempo
de seu giro em torno de si mesma. Por isso sempre vemos a mesma
face desde a Terra. Simboliza a luz que é recebida do VM e que é
retransmitida pelo 1o Vig para as colunas.
2o Vigilante
Stella Pitagoris
3
Estrela virtual de 5 pontas; é o facho de luz que ilumina o Templo
quando se discutem coisas divinas.
Orador
Arcturus
4
Estrela gigante laranja da Constelação de Boótis (Boieiro).
Diâmetro 22 vezes maior que o Sol; está a 36,7 anos-luz da Terra;
Magnitude aparente -0,05 (83 vezes mais luminosa que o Sol); em
latim significa “guarda da Ursa maior” e em grego “guardião de
animais”. O Orador é o Oficial que cuida na Loja do cumprimento
das leis.
76
Secretário
Spica
5
Nome tradicional da estrela Alfa da Virgem. Magnitude visual 1,2
situada a 220 anos-luz da Terra; em latim significa “a espiga”;
romanos e gregos usavam, para escrever, caules ocos de vegetal
conhecidos como “specula”
Tesoureiro
Aldebarã
6
Estrela gigante vermelha da Constelação de Touro. Diâmetro 36
vezes maior que o Sol; Magnitude aparente 0,87; temperatura na
superfície 3000o K; situada a 65,1 anos-luz da Terra; seu nome em
árabe significa “adepto ou secuaz ou seguidor” porque,
aparentemente, segue as Plêiades e as Hades da mesma
Constelação.
Chanceler
Formalhaut
7
Estrela de magnitude visual aparente 1,17 e absoluta +2,0
Luminosidade 13 maior que o Sol; cor branca; situada a 25,1 anosluz da Terra;
muito utilizada pelos navegantes e hoje pelos
cosmonautas; temperatura superficial 9000o K; origina do árabe
“Fam-al-Hout-al-Ganoubi” que significa “boca do peixe do Sul” porque
pertence a Constelação de Peixe Austral
Mestre Cerimônias
Regulus
8
Estrela branco-azulada de 1a magnitude, a mais brilhante da
Constelação de Leão situada a 68 anos-luz da Terra; diâmetro 3.5
vezes maior que o Sol; luminosidade é 130 vezes maior que o Sol;
seu nome foi dado por Copérnico e significa “regente”
Guarda do Templo
Antares
9
Estrela supergigante vermelha, Constelação de Esorpião, diâmetro
300 vezes maior que o Sol; temperatura superficial 3500o K;
situada a 604 anos-luz da Terra; seu nome significa “o rival de
Marte”
Cobridor
Marte
10
77
Marte é um dos 9 planetas mais conhecidos do Sistema Solar
ocupando a 4a órbita em torno do Sol; está situado a 80 milhões de
kms da Terra; tem dois satélites naturais conhecidos; confundido
visualmente com Antares devido a sua semelhança de cor; na
mitologia é o Deus da guerra e por tanto foi colocado fora do Templo.
1o Diácono
Mercúrio
11
É o planeta que orbita mais perto e mais rápido do Sol; sua volta
demora 88 dias; é o menor dos 9 planetas conhecidos, com 4880 km
de diâmetro e seu giro em torno de seu eixo demora 58 dias; na
mitologia é o mensageiro dos Deuses
2o Diácono
Vênus
12
Planeta que fica em 2o lugar mais perto do Sol; sua revolução
demora 243 dias; conhecido como Estrela Dalva, Estrela matutina,
Estrela Vespertina, Estrela do Pastor, etc; confundido como estrela
por causa de seu brilho devido a sua atmosfera; surge sempre perto
da Lua
Past Masters
Júpiter
13
O maior dos planetas conhecidos do Sistema Solar; diâmetro de
143000 km e massa 318 vezes maior que a Terra; sua volta em
torno do Sol demora 11 anos; nome deriva do sânscrito Dyn (Deus)
e Pater (Pai); temperatura na superfície de 130o K; possui 22 (2002)
satélites conhecidos. Na mitologia, reunia em si todos os atributos
divinos
Cadeia de União
Saturno
14
O 2o maior planeta conhecido do Sistema Solar com um diâmetro
médio de 120000 km, situado a 01 bilhão de km do Sol. Sua volta em
torno do Sol demora 30 anos mas sua rotação é muito rápida com
10h e 14min; Rege a Cadeia de União....
Aprend Comp Mestr
... Na época que a Abóbada Celeste foi criada, dos milhares de
anéis que Saturno tem só eram conhecidos 3 anéis de Saturno que
representam Aprendizes, Companheiros e Mestres ...
78
Cargos sefiróticos
...
é 9 satélites naturais (hoje são conhecidos 18) que
representam os 9 cargos sefiróticos : Venerável Mestre, Orador,
Secretário, Tesoureiro, Chanceler, 1o e 2o Vigilantes, Mestre de
Cerimônias e Guarda do Templo
Aprendizes
Orion
15, 16, 17
Constelação equatorial, a mais brilhante no Verão; consta de um
retângulo formado por 4 estrelas e uma linha de 3 estrelas (as 3
Marias), formação associada ao avental do Ap. Na tradição árabe,
Orion era a “ovelha do cinto branco”; as 3 estrelas regem os
Aprendizes.
Companheiros
Hiades
18, 19, 20, 21 e 22
Cúmulo aberto de 140 estrelas aproximadamente, na Constelação
de Touro; antigamente só eram visíveis 3 delas.
Mestres
Plêiades
23, 24, 25, 26, 27, 28 e 29
Aglomerado aberto na Constelação de Touro, com uma quantidade
infinita de estrelas, das quais, na época da criação da Abóbada,
somente 7 eram vistas a olho nu; situado a 350 anos-luz da Terra;
são conhecidas como as “Sete Irmãs”
Mestres Instalados
Ursa Maior
30, 31, 32,33, 34, 35 e 36
Constelação circumpolar norte. Considerada a constelação mais
antiga conhecida do homem. A simbologia maçônica escolheu as 7
estrelas mais significativas; os nomes das 2 maiores, Alkaid e
Benetmash, formam parte da frase árabe “Quaid al banat ad Nash”
que significa “a chefe das filhas do ataúde maior”
NOTAS : O número de ordem é arbitrário e foi usado unicamente
para contar os 36 astros que formam parte da Abóbada Celeste
(incluindo Marte que fica fora do Templo)
79
Past Masters refere-se aos Ex Veneráveis Mestres
Mestres Instalados são todos os Mestres que já foram instalados
como Venerável Mestre, incluindo o atual
Past Masters e Mestres Instalados não são sinônimos
Cargos Sefiróticos refere-se ao Árvore da Vida (da Cabala)
assimilando a localização dos cargos em Loja com As Esferas (ou
sefiras)
FONTES : Boletim do Venerável Colégio - No 87 - Carlos A. Inácio
Alexandre
Revista A Verdade, Julho e Agosto de 1996 - Ronaldo
Ferreira da Silva
Revista A Verdade, Janeiro e Fevereiro de 1999 - Milton
Silva de Castro
Capítulo 23
As Romãs
80
A romã é o fruto da romãzeira, pequena árvore de altura máxima
de 2 metros e de madeira muito dura, mesmo sendo fina. Seus
ramos são harmoniosamente distribuídos numa formando copas
proporcionais, tanto para os lados como para acima. As raízes,
bastante ramificadas, buscam no solo seu alimento, conseguindo
alimentar a planta ainda nas condições mais adversas. Adapta-se até
nas condições climáticas mais adversas. Ninguém sabe com certeza
de onde é sua origem considerando-se uma planta universal.
Seu período de produção é longo; no Brasil começa em dezembro
e pode chegar à março e abril. Uma árvore bem cuidada pode
produzir até 59 kgs de frutos.
Comercialmente, como fruta a romã não é muito procurada mas é
usada na produção de perfumes e por aqueles velhas costumes do
povo (uma semente na carteira garante o dinheiro, onde a planta
cresce existe a prosperidade) sua procura é grande, sem falar que
também encontra usos na medicina popular e na produção de licores
caseiros já seja combinados com frutas, cascas ou folhas. Do
formulário egípcio podem ser citadas as cascas e raízes da romã,
como vermífugas.
A romã é abotoada, com o amadurecimento vai amarelando
ficando umas partes vermelhas e deve ser colhido ainda incompleto
enquanto a maturação, porque maduro atrai os pássaros e pode levar
ataque de antracnose; mas, se você não tiver interesse comercial e
gostar de pássaros e crianças, deixe o fruto amadurecer na árvore.
Partida, a romã revela grande quantidade de sementes todas
iguais, formando fileiras ordenadas, de sabor agridoce devido a
composição cítrica, misturada com um açucarado envolvente. Suas
sementes estão amparadas por uma película que separa as sementes
por grupos, evitando o excesso de pressão sobre as sementes; a sua
vez, cada semente é envolvida por uma substância de agradável
sabor.
Normalmente os alimentos vegetais e até animais tem uma
proporção maior de potássio que de sódio na proporção de 5 : 1.
Uma boa alimentação procura balancear os dois elementos e
justamente a romã possui bons índices de sódio mas também não
exclui o potássio.
Agora, conhecendo
simbologia maçônica.
a
romã,
podemos
relacioná-la
com
a
Dentro de nos, representada por nossos pensamentos e idéias,
corre a seiva que nos dá força moral, ainda que não tenhamos físico
81
ou poder material significativos. A romãzeira nos ensina que devemos
buscar a Deus no alto, mas sem nos esquecer de nosso semelhantes
que estão ao nosso lado e que poderão precisar de sombra e apoio.
Ao mesmo tempo, as raízes da romãzeira que afundam na terra
ensinam que os maçons não podem viver apenas na superfície. Temse que aprofundar nas suas convicções, na sua fé, e ter disposição
para garantir firmeza e segurança aos nossos passos dentro do que
se espera deles.
As sementes da romã são o símbolo da fraternidade maçônica,
como também da solidariedade entre os maçons: todos iguais,
estreitamente unidos, apoiando-se os uns a os outros, agrupados em
Lojas e todas as Lojas contidas no mesmo invólucro que é a Grande
Loja.
Desde seu nascimento de uma flor, que é o Aprendiz, até a
maturação, que é o Mestre, quando já pode alimentar a quem estiver
faminto e sedento de conhecimentos e sabedoria.
Maçons devem, que nem a romã, serem comedidos ao alimentar
ao profano. Nem mais sódio nem mais potássio; nem estímulo
imerecido nem reprimenda desestimuladora.
Capítulo 24
As Ciências Iniciáticas
INTRODUÇÃO
“Uma crença geral coloca a Maçonaria como a guardiã da Tradição
e dos Mistérios Iniciáticos. Gostar-ia-mos de corroborar essa imagem
que o leigo faz de nossa Instituição, mas infelizmente não podemos
por saber estarem nossos membros cada vez mais distantes de suas
origens”. (Rev A Verdade Mar/Abr 97, Ir Malkhut)
Todos os autores maçônicos lembram da importância do estudo,
por parte do maçom, da Tradição e dos conhecimentos iniciáticos
representados pela Astrologia, Alquimia, os Mistérios, Cabala, Tarot,
etc. Nestas páginas tentaremos fazer um apanhado destes temas,
sem pretender esgotar eles e sim, incentivar nossos Irmãos a se
adentrar no assunto.
82
ASTROLOGIA
Os límpidos céus da Mesopotamia convidam os povos da região a
iniciar a observação celeste criando-se assim a mais antiga das
ciências: a astronomia misturada com a astrologia. Sabemos a
indignação que toma conta dos astrônomos modernos esta relação
astronomia / astrologia, mas o conhecimento dos astros começa na
observação das constelações que circulam perante os olhos do
observador nas terras da Mesopotamia.
Esta observação define a movimentação diária dos astros (que
hoje sabemos que é relativa), sempre em uma mesma rota, numa
faixa total de 12 graus (seis graus para cada lado da linha
equatorial), posteriormente modificada para 16 graus, tendo em seu
centro a eclíptica (círculo máximo da esfera celeste, caminho
aparentemente seguido pelo Sol em torno da Terra) e que é o plano
que forma a órbita da Terra ao redor do Sol. Esta faixa pela qual
circulavam aparentemente os astros recebe o nome de Zodíaco. A
palavra Zodíaco vem do grego “zodiacos” e significa círculo de
animais que, por sua vez, provém de “zodion” que significa pequeno
animal.
Hiparco, nascido em Nicea, cidade da atual Turquia, no século II
ac, divide o Zodíaco em 12 casas iguais de 30 graus cada, e deu a
cada uma delas o nome da constelação mais próxima; os nomes das
constelações foram dados pêlos antigos pela forma de cada
constelação que lembrava determinado animal ou outra figura.
Nascem assim os signos do Zodíaco, ou casas do Sol e como o Sol
demorava um mês em recorrer cada casa, cada mês recebeu um
signo. O Zodíaco começa com o signo Aries que na época que ele foi
criado, essa constelação estava no primeiro lugar. Hoje isto já não é
assim, devido ao fenômeno da precessão, que é a ocorrência
antecipada dos equinócios (equinócio = igual noite; a época do ano
que a duração do dia é igual a noite, 24 de março e 24 de setembro)
em cada ano sideral sucessivo devido ao lento movimento retrógrado
dos pontos equinociais ao longo da eclíptica. A precessão demora 72
anos por cada grau e considerando 30º de cada signo temos como
resultado 2.160 anos o tempo que cada “casa” demora em mudar
totalmente de posição. O ponto de interseção do plano do equador
terrestre com o plano da eclíptica gira uma volta completa a cada
25.920 anos, quando a constelação de Aries coincidirá com o signo
Aries. Este período é conhecido como ano sideral e os gregos o
designaram como um Dia de Platão.
A quantidade de pulsações por minuto que tem um Homem normal
é de 72. > Também 25.920 corresponde ao total de respirações de
um ser humano em 24 hrs sendo 18 por minuto
83
25.920 é a vibração cósmica do ser humano coincidente com o
Universo. Lembremos a Hermes Trismegisto: O que está encima é
igual ao que está embaixo. O macrocosmo (Universo) é igual ao
microcosmo (Homem). Uma única estrutura cósmica.
Voltando a precessão equinocial, temos que uma Era dura 2.190
anos. Quando o homem antigo descobriu o círculo zodiacal, estava na
Era de Áries; depois o Sol entra na constelação de Peixes pouco antes
do nascimento de Jesús (lembremos a multiplicação dos peixes e que
os católicos nas catacumbas adotam o peixe como identificação), e
hoje já estamos na Era de Aquário.
O Zodíaco misturou um caráter tanto científico como religioso e
até supersticioso nos povos. Ele foi abraçado por todos os povos da
antigüidade, prolongou-se durante a Idade Média e continua até hoje
em todos os níveis sociais. No seu uso como horóscopo tem superado
todo tipo de críticas científicas tais como (só para mencionar
algumas): pode ter credibilidade o Zodíaco quando hoje se sabe que
as casas não são doze e sim 24? por que dois gêmeos tem diferencias
de caráter e desenvolvimento na vida? por que somente os primeiros
astros conhecidos na antigüidade são usados nos vaticínios e não os
bilhões que hoje se conhecem?, etc.
O teto das Lojas maçônicas representa a abóbada celeste semeada
de estrelas e nuvens, na qual circulam o Sol, a Lua e outros astros ou
constelações em um total de 35, mais um deles, Marte, que está fora
do Templo. Esta abóbada está sustentada por doze colunas
adornadas com os doze tradicionais signos do Zodíaco. É o tempo
indestrutível e eterno onde descansa a Moral e a Sabedoria
maçônicas, lembrando aos irmãos que devemos utilizar sabiamente o
tempo porque quando ele passa já não volta mais. Nosso passo pela
Terra é muito breve. Também o Zodíaco nos convida a estudar
história, geografia, religiões e astronomia, como elementos
importantes de nosso aperfeiçoamento. Lembremos a Maimônides
(filósofo, teólogo e médico judeu, nascido em Córdova (Espanha) em
1138 dc, que é considerado o Platão dos judeus) quando fala no seu
livro Guia para os Perplexos ou Extraviados: “Estude Astronomia e
Física se desejar compreender a relação entre o mundo e o modo
como ele é regido por Deus”. Finalmente, o Zodíaco dentro de nossos
Templos representa uma homenagem à cultura daqueles povos
antigos.
ALQUIMIA
No seu sentido tradicional, a Alquimia era a técnica que pretendia
transformar em ouro os metais inferiores. Sua origem encontra-se
mais provavelmente no antigo Egito e é a partir dali que procuramos
a etimologia da palavra. Egito é conhecido na linguagem copta como
84
terra de Khem ou Khame (terra negra); no grego recebe o nome de
Khemia dado à transmutação do ouro e da prata, por ser uma técnica
de que tratam os velhos escritos dos egípcios. Os árabes
incorporaram a forma alkimiya e a levaram a Europa onde no
português e no espanhol foi transformada em alquimia.
Para o conhecimento de hoje, a Alquimia era um conjunto de
teorias sem lógica, com base filosófica, com muito misticismo
ocultista, quase sempre apoiadas em experimentos e fenômenos
naturais que constituíam a base experimental e com regras rodeadas
de símbolos cabalísticos.
Na cidade de Memphis, no antigo Egito, os sacerdotes dedicavamse a fundição e purificação de ouro. Não existia ainda um
questionamento filosófico ou principio religioso com base na
Alquimia; ele virá do mundo grego. A tradição egípcia considera a
Alquimia invenção do deus Thot (o Hermes dos gregos), sendo
considerada um “arte hermética” dando origem a expressão
“hermeticamente fechado” porque os alquimistas lacravam seus
frascos com o selo de Hermes. Os conhecimentos da Alquimia eram
sagrados e os iniciandos juravam manter segredo deles.
Os primeiros antecedentes gregos datam do ano 100 dc, mas os
alquimistas da antigüidade não são gregos e sim judeus e egípcios.
Na mesma época dos gregos, os chineses procuram com
procedimentos próprios de alquimistas, a obtenção de um elixir da
imortalidade sob o conceito da Pedra Filosofal para curar todas as
doenças. O Islão, nos anos 750 dc, tem um grande desenvolvimento
cultural sob a dinastia dos califas Abasidas de Bagdá e, entre outras
ciências, eles se interessam pela Alquimia e, entre os anos 1100 e
1200 dc, ela é levada para a Europa, junto com a invasão de Espanha
e Portugal.
A Alquimia foi combatida em diferentes épocas, tanto por motivos
políticos como religiosos. Durante a Idade Média, é colocada fora da
lei e penalizada até com a pena de morte, confisco de todos os bens,
etc; mas ela continua se expandindo. Roger Bacon foi perseguido por
suas experiências alquímicas, mas é solicitado secretamente pelo
Papa Clemente IV para que entregue um relatório de suas pesquisas.
Com o desenvolvimento cultural da Europa, perde-se o interesse dos
alquimistas na busca da Pedra Filosofal e do Elixir da Vida e começam
a serem desenvolvidas técnicas mais industriais, dirigidas à obtenção
de perfumes, tintas, etc. Aparece Paracelso (1490-1541) que se
dedica á pesquisa de medicinas para curar doenças da época.
No século 18, Marcelin Berthelot inicia a tradução de manuscritos
antigos de Alquimia, mas sem conhecer devidamente as línguas na
qual eles estavam e com colaboradores que pouco sabiam da
85
natureza das operações neles descritas e o resultado foi aumentar as
reservas com que o mundo moderno analisa até hoje as práticas
alquímicas,
vendo-as
mais
como
superstições
medievais.
Vagarosamente, estudiosos estão dando importância aos trabalhos
dos alquimistas da antigüidade. Gravuras de 4 séculos atrás indicam
que os alquimistas, no fim da Idade Média, tinham desenvolvido
técnicas de muito valor para a época; uma destas gravuras mostra
um lobo cinzento devorando um rei e, ao fundo uma fogueira onde o
lobo é queimado e o rei ressuscitado. Nesta alegoria, o lobo
representa a estibinita, um mineral a base de antimônio e enxofre
(Sb2 S3) que, quando fundido, dissolve “vorazmente” muitos metais,
inclusive o ouro, que estaria representado pelo rei. Quando uma liga
metálica é derretida, a estibinita reage com um dos metais e forma
uma borra que pode ser retirada com uma escuma. O metal básico da
liga é, desse modo, separado do outro. Este é um exemplo de
centenas de procedimentos desenvolvidos pêlos alquimistas para
entendimento só de iniciados, preservando-os de cair em mãos
profanas, especialmente de aventureiros.
Se discute se a Alquimia evolucionou ou não para dar origem à
ciência que hoje é conhecida como química; enquanto existem os que
consideram a Alquimia simplesmente uma magia, químicos modernos
dizem que quando a Alquimia se praticava, o que sempre existiu foi a
química. Outros argumentam que as ciências antigas pêlos seus
métodos, meios, objetivos, princípios, critérios, etc, não apresentam
nenhuma relação com as ciências modernas. Mas, alguns reconhecem
na Alquimia o mérito de ter introduzido a experimentação, que hoje
em dia é um importante elemento da ciência moderna. De todas
maneiras, aceite-se ou não a Alquimia como o berço da Química
moderna, ela merece nosso respeito como mística experimental
voltada para descobrir o mistério dos metais e sua relação com a
alma do universo.
OS MISTÉRIOS
Os sábios antigos explicavam suas idéias por médio de enigmas de
difícil interpretação, na forma de símbolos, parábolas ou frases
escuras, para que elas não fossem a cair nos ouvidos de profanos,
com o risco de ser mal interpretados ou mistificados. Estando a
compreensão destes enigmas, símbolos, jeróglifos ou linguagem
emblemática, em poder somente dos iniciados, eles passaram a ser
conhecidos como Mistérios. A palavra grega mysterion designa certas
cerimônias religiosas secretas, freqüentadas somente por iniciados
que se comprometiam a nunca revelar sua natureza aos profanos.
Este sistema serviu de base para que homens como Confúcio,
Zoroastro, Buda, Jesus e outros Grandes Iniciados conseguissem
transmitir suas doutrinas para serem entendidas gradualmente pêlos
seus discípulos..
86
Prestextatus, cônsul romano de muita cultura (s IV dc) dizia que
“privar os gregos dos Mistérios augustos era tornar para eles a vida
impossível”. Nessa época eram tão importantes os Mistérios que não
participar de nenhum deles motivava desconfiança do valer da
pessoa. Sócrates, no Phaedo de Platão, argumenta que “eram
homens de ingênio os fundadores dos mistérios, que ensinavam sob
enigmas difíceis de compreender, purificavam-se antes de descer a
regiões profundas, com risco de perecer nos abismos, para
finalmente gozar da presença da divindade”. Curiosamente Sócrates
não foi iniciado em nenhum dos mistérios da sua época e pode ser
que isso influiu negativamente no seu julgamento. Como, igualmente,
para pretender ser iniciado, a consciência do candidato tinha que
estar limpa, Nero, o tirano, nunca ousou penetrar nos Templos para
descobrir os Mistérios e Constantino não foi iniciado por causa do
homicídio de seus parentes.
Não conhecemos o origem exato dos Mistérios mas sabemos que
eles são comuns a todas as grandes civilizações do mundo antigo. As
lendas de Osiris e Isis no Egito, de Thammuz e Astarté na Fenícia, de
Mithras e Asis na Pérsia, de Dioniso e Rhea na Samotracia, de Hu e
Caridwem na Grã Bretanha, de Woden e Frea nos povos
escandinavos, etc, são todas lendas similares e que não diferem
muito das muitas lendas que existiram nos povos indígenas
americanos ou tribos da África. Os Mistérios passam a ser portadores
de uma nova esperança; não tudo está perdido e existe uma forma
de salvação das injustiças, da dor e da miséria, se não nesta vida ao
menos na outra porque ela existe; chega-se a ela por médio de uma
morte mística num processo de iniciação após a qual o iniciando
renasce para glória da divindade.
Os Mistérios da Índia parecem ser os mais antigos, fundados 50
séculos ac e se ocupavam principalmente da iniciação de seus
sacerdotes com uma doutrina teogónica, a que estuda as relações
dos deuses entre si e entre eles e os homens, e com estudos de física
aplicada. Sacerdotes do Egito teriam sido iniciados nos Mistérios dos
brahmanes, havendo-os introduzido no seu país 2900 anos ac. Os
Mistérios egípcios tinham como finalidade instruir seus iniciados nos
conhecimentos humanos e na metempsicoses, a teoria que admite a
transmigração da alma de um corpo para outro, chegando um
momento que atingiam todos os ensinamentos e fórmulas religiosas
existentes. Este elevado desenvolvimento dos Mistérios egípcios fez
que eles foram uma importante fonte que passou a outras nações do
mundo antigo a influência de sus ritos sagrados e doutrinas secretas.
Logo se desenvolvem os Mistérios persas, gregos, hebreus, romanos,
etc., sendo os Mistérios mais conhecidos os de Orféu, Baco, Eleusis e
Mithra. A difusão deles foi universal. Este interesse pêlos Mistérios faz
nascer os Mistérios Menores e Maiores para incluir neles a todos os
87
seres sem diferenças. Nos Menores era ensinada a moral e o secreto
consistia em convencer os iniciados que o céu estava povoado por
almas dos homens que se tinham distinguido pelo seu amor a Pátria.
Estes Mistérios Menores eram os primeiros graus para iniciações mais
elevadas onde nos Mistérios Maiores iram-se a examinar as ciências,
os erros da metempsicoses, a natureza e suas obras, procurando
recuperar a pureza primitiva da alma e corrigir suas costumes,
elevando o espírito. Os Mistérios Menores formavam cidadãos
virtuosos e os Maiores sábios e filósofos que iriam a servir de guias
da humanidade. As iniciações eram muitas vezes, mais que
simbólicas, provas duras e prolongadas durante dias, com risco real
de vida. A iniciação mostrava o enigma do nascimento, vida,
ressurreição e morte. No Antigo Testamento, tradução grega, a
expressão mistério se encontra ligado com Jahve e subtraído da
compreensão humana, mas no Novo Testamento muda o conceito e o
mistério assume um sentido de cerimônia ritualística para os fiéis e
de fácil aceitação.
A Maçonaria, no século XVIII, restabeleceu dentro de seus
Templos, a tradição dos ensinamentos esotéricos ministrados nos
Santuários Egípcios, da mesma forma como, os antigos filósofos
egípcios, ministravam seus ensinamentos utilizando símbolos e
alegorias. A cerimônia maçônica, na sua forma simbólica, guarda
muita semelhança com a dos antigos Mistérios. Ela abre as portas a
uma nova vida que é o inicio da compreensão dos Mistérios Maiores e
coloca em evidência que a Doutrina Iniciática, nela manifestada, é a
Doutrina Mãe, fonte inesgotável dos ensinamentos que nos
aproximam de Deus.
NUMEROLOGIA
Entre os símbolos de mais inapreciável valor pela imensa riqueza
do seu conteúdo, estão os números.
Etimologicamente, número deriva do latim numerus, sendo
arithmós a expressão equivalente no grego. Conforme o dicionário,
número expressa a relação existente entre magnitude e unidade;
significa também signo ou conjunto de signos com que é
representado o número aritmético.
Os números estão presentes em todas as atividades do ser
humano e têm regulado o Universo e a Natureza desde seus
primórdios através de seu poder de medir, regular, ordenar,
coordenar, calcular, dirigir, etc
Na Natureza tudo obedece a princípios numerais tais como
disposição das folhas de uma planta, o conjunto de alvéolos de um
favo, a geometria de um cristal, o peso atômico e molecular dos
88
elementos, a gravitação dos corpos celestes, todas as formas da
mecânica e da eletricidade, etc. E na vida social e econômica dos
povos não poderia ser esquecida nem por um segundo a influência
dos números, presentes nos indicadores econômicos que dirigem a
conduta dos diferentes grupos da sociedade, na medição do tempo
desde as frações de segundo até os milênios das eras da história, nas
estatísticas, nas transações comerciais e até nas manifestações
culturais, tais como a poesia e a música, que precisam dos números
para suas produções de harmonia e beleza.
O poder dos números se desenvolve desde as partes de um átomo
até os mais longínquos e desconhecidos corpos celestes,
demonstrando que seu poder infinito, que nossa mente não pode
compreender mas que acredita nele da mesma forma que acredita na
existência de Deus mas que não se tem, evidentemente, condições
de demonstrá-lo.
A origem dos números se perde na noite dos tempos. Quando o
número nasceu e quando ele virá a desaparecer, são incógnitas que o
Homem não consegue responder. Somente sabemos que ele está
junto a nos como um elemento importante, participando desde a
ordenação do Universo até o controle dos menores detalhes de nosso
dia a dia.
Medir e contar foram às primeiras atividades aritméticas do
homem primitivo (25000 até 10000 ac). Fazendo marcas nos caules
das árvores, os primeiros povos conseguiram a medição do tempo e a
contagem do número de animais que possuíam; podemos falar que a
Aritmética nasceu, mas passaram-se muitos séculos para que o
Homem alcançasse um conceito abstrato dos números.
Os mais antigos documentos conhecidos sobre números são umas
peças de barro cozido descobertas no século XIX em Nippur, cidade
da antiga Caldéia, fundada pelos sumérios por volta de 3500 ac.
Nestas peças estão gravadas operações de soma, diminuição,
multiplicação, divisão e até potenciação; também figuram operações
algébricas com equações de 2o grau que requerem um maior domínio
da matemática elementar, mas não podemos supor que os caldeus
tivessem uma conceituação abstrata das matemáticas. É
extraordinário que estas peças contém operações da ordem de
grandeza de 2 x 1015 (2 mil bilhões) sendo que na desenvolvida
Grécia, Arquimedes sentia terror pelos grandes números.
Os caldeus tinham descoberto que o valor do número muda
conforme a sua posição, dando origem assim a unidades, dezenas e
centenas; mas, o curioso é que eles não usaram um sistema decimal
e sim na base de 60, provavelmente devido a sua constante
observação dos astros nos límpidos céus da Mesopotâmia, o que teria
89
permitido a eles descobrirem um ciclo anual de 360 dias, igual a 60
vezes 6.
No Egito também encontramos vestígios de desenvolvimento de
uma ciência matemática; no Papiro de Rhind, devido ao escriba
Ahmos (1650 ac) se apresentam entre variados tipos de problemas,
soluções de equações de 2o grau.
Mas é com o sábio, filósofo e matemático Pitágoras de Samos
(século VI ac) que o simbolismo numeral alcança seu mais alto nível.
Na Escola Pitagôrica o ensinamento fundamental, no grau superior,
era a ciência dos números desde sua expressão mais simples e
exotêrica até seu mais profundo significado passando pelos cálculos,
regras matemáticas, matemáticas abstratas até os símbolos e
imagens filosóficas.
Pitágoras não era, como se poderia presumir, um professor de
matemáticas, e sim o maior filósofo numa era rica em filósofos e que
usava os números e as figuras geométricas como simples
representações simbólicas da construção arquitetônica do Universo,
diferentemente das matemáticas desenvolvidas na Grécia, que eram
do tipo utilitário para facilitar suas atividades comerciais.
Todos os filósofos importantes da Antigüidade acreditavam que os
números têm um poder evidente e que tudo o que acontece no
Universo deve-se a ação admirável dos números.
Pitágoras falava que tudo era constituído pelo número e que ele
distribuía a virtude das coisas. Celso, filósofo do século II dc, famoso
pelas suas críticas às interpretações alegóricas do Antigo Testamento
como veículo de informação histórica, assegurava que o número
persistia sempre e que se encontrava em tudo, na voz, na alma, nas
coisas divinas. No Tratado da Filosofia Oculta de Agrippa, cronista do
Imperador Carlos V, lê-se que os números simples significam as
coisas divinas, os de dezena as celestes, os de centena as terrestres
e as de mil as coisas dos séculos do porvir. Filolau de Crotona, (ou de
Tarento), pitagórico ilustre da 2a geração, fala que tudo que pode ser
conhecido tem um número e que, sem esse número, nada pode ser
conhecido ou compreendido.
Conforme Aristóteles, os pitagóricos foram os primeiros que se
ocuparam a fundo das matemáticas. O conhecimento profundo desta
ciência fez germinar a opinião que os princípios das matemáticas
eram também os princípios do ser. E como os números são, por
natureza, o primeiro no campo matemático e os pitagóricos
acreditavam ver nos números analogias com o que nasce e morre;
eles falavam que os elementos dos números são elementos das
coisas e tudo no mundo é harmonia e número. Mas, investigações
90
posteriores provam que os pitagóricos não diferenciavam a
determinabilidade numérica das coisas e a realidade das mesmas
como número. Para eles as coisas eram números ou estavam feitas
dos mesmos “elementos” que os números.
Existe um axioma da antiga sabedoria que diz “Deus geometriza” e
os antigos acreditavam que a Geometria sempre atrai a alma para a
Verdade. Platão (429-347 ac), ao estabelecer a sua Academia em
Atenas, colocou a seguinte inscrição no frontispício: “Que ninguém
entre aqui se não souber Geometria”. Pitágoras usou o axioma acima,
como fundamento da sua filosofia, considerando que, se a Criação
apresenta-se em perfeitas linhas geométricas, dentro delas deve
ocultar-se o mistério do Cosmos e da própria Vida. Conforme o
anterior, Pitágoras representava os números com pontos ordenados
segundo módulos geométricos; assim, ele tinha números triangulares
com os pontos distribuídos em triângulos (3, 6, 10, etc), quadrados
(4, 9, 16, etc).
Toas as religiões reconhecem como objetivo de adoração uma
Grande Divindade Suprema, criadora de tudo que existe, desde a
origem dos tempos, quando nada existia. Nada dentro de um infinito
vazio. Utilizando as matemáticas transcendentais e substituindo o
Nada pelo Zero, temos que 1 : 0 = infinito ou 1 = infinito vezes 0.
Fixemo-nos nesta última expressão. Se no princípio existiam os
elementos Zero e Infinito e o produto deles é igual a Um (Uno) o Um
existiu simultaneamente ou, em outras palavras, os 3 (Um, Zero e
Infinito) existiram sempre. Pode-se alegar que todo número dividido
por Zero é igual a Infinito, mas nos estamos tentando demonstrar
que o Um é a origem de Todo e é o Todo ao mesmo tempo. Por
exemplo, o 3 está formado por 3 Unos, o 5 de 5 Unos e assim por
diante; outro número não tem essa característica porque o 8, por
exemplo, somente poderá formar múltiplos de 8. Salientando que
tudo está formado por unidades, podemos levar esta teoria à
formação do Universo com o Uno existindo simultaneamente com o
Nada e o Infinito, e como Deus criou Tudo quando Nada existia
dentro de um Infinito, deduzimos que a unidade representa a Deus é
Uno e Uno representa o Grande Arquiteto do Universo. Pitágoras
confirma esta assertiva quando escreve “O sábio para representar à
Deus, escreve a Unidade”. Para os pensadores da Antigüidade o
primeiro número impar é o 3, pois o Uno não é um número porque
está reservado para a Divindade. A unidade como representação de
Deus eleva-se ao nível de origem criador de tudo o que existe e, de
outro lado, considerando os números em geral, eles são criações
sucessivas e infindáveis do Uno.
Para reforçar o acima dito, recorremos à teósofa russa Helena
Petrovna Blavatsky (1831–1891) que escreve: “Os números são uma
91
das chaves das antigas cosmogonias no seu sentido mais amplo,
tanto espiritual como fisicamente, e também da evolução da atual
espécie humana. Todos os sistemas de misticismo religioso estão
baseados nos números. O caráter sagrado dos números começa com
a Grande Causa, a Unidade Universal, o Único, o Símbolo do Universo
infinito e ilimitado”.
Adentrando nos simbolismos dos números, vimos, anteriormente,
que a Unidade deveria ser considerada a fonte criadora de todos os
números, pois sem necessidade de todos os números, por adição ele
reproduz a todos; ele tem um poder de criação, um poder gerador
total. A Unidade não tem partes, é estável, invariável, tudo o contém;
se dividido ou multiplicado por ele, o resultado continua sendo ele e
até suas potências e raízes são ele mesmo; por isso o Uno é
considerado incorruptível, sendo estas duas últimas características
mais duas razões para encontrar nele a representação da Divindade.
Para melhor conhecer o aspecto abstrato da Unidade vamos
pensar que o Homem pode ser definido como se ele fosse formado de
matéria e consciência, mas acontece que a relação entre a matéria
corporal e a consciência não tem sido demonstrado pela experiência
e, por tanto, está no campo da especulação; mas, se o Homem for
considerado como um Todo, com reações físicas, químicas,
fisiológicas e psíquicas, então o Homem é um Todo, no sentido amplo
da palavra, é Uno sempre, até sua morte. De maneira similar, o Sol
não deixa de ser Uno, pese que constantemente envia seus raios de
luz; o quadro de uma Loja é sempre variável enquanto ao número de
membros, mas a Loja continua sendo Uma. Com este simples
exemplos tentamos demonstrar que a Unidade é uma abstração
similar ao nosso centro íntimo conhecido como Ego.
E assim surge um outro elemento relacionado com a Unidade, de
natureza psíquica e abstrata que constitui todos os seres e é
conhecido como Mônada. Este elemento tem ocupado o pensamento
dos grandes filósofos. Pitágoras concebia a “existência de um
princípio absoluto, exterior ao tempo e ao espaço e portanto não
manifestado na natureza e que recebeu o nome de Uno, Primeiro ou
Mônada”. Giordano Bruno (1548–1600) que foi queimado vivo pela
Inquisição, falava que “os indivíduos são Mônadas que em suas
combinações produzem a harmonia universal; a Monas Monadum é
uma substância única da qual os indivíduos são particularizações”.
Para Leibnitz (1646–1716) que fora influenciado por Giordano Bruno,
“o Universo constitui-se de substâncias simples ou Mônadas não
extensas, contendo em si todo o passado e todas as determinações
do futuro, só conhecidas integralmente pela Mônada suprema de
Deus”. Em Numerologia, Mônada passa a ser sinônimo de Unidade.
92
Somando duas unidades ou Mônadas obtemos o número Dois,
Duada ou Binário, que simboliza a capacidade geradora da Mônada. O
Primeiro Livro de Moisés chamado Gênesis, no capítulo I, nos fala que
Deus no primeiro dia fez a separação entre a luz e as trevas, no
segundo fez a separação dos céus e da Terra, e na Terra, fez a
separação das águas e da terra seca. Depois do sétimo dia, no Jardim
do Éden, fez brotar a árvore da ciência do Bem e do mal; com bairro
formou o Homem e, achando que não é bom que o Homem esteja só,
de uma de suas costelas, criou a Mulher.
O Homem ficando confuso neste mundo de céu e Terra, terra e
água, luz e trevas, e desejoso de ter o conhecimento de Deus, comeu
do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, criando o primeiro
binário filosófico. O Homem é lançado fora do Paraíso e começa a sua
busca, tentando regressar à unidade primitiva. Mas a marca que
deixou nele a árvore do bem e do mal não lhe permitirá jamais
retornar ao Éden, ficando assim debatendo-se num mundo de
contrários representado pelo número Dois.
Pitágoras simbolizou este caráter do número Dois, definindo que é
o estado imperfeito a que cai o Homem quando é desprendido da
Unidade ou de Deus. Aqui começa a aparecer o aspecto dual do Dois,
pois igualmente como nos oferece a possibilidade do conhecimento da
ciência do Bem, também podemos cair na fácil tentação da ciência do
Mal, da ignorância e do atraso. Entendemos que o resultado final irá
depender de nosso esforço, de nossa vontade, de nosso amor.
Os romanos distinguiram o perigo do número Dois, chamado por
eles de “bis” que expressa a idéia de 2 vezes ou de 2 alternativas; o
número Dois representava um mal inicio e os números que
começavam com ele eram considerados como funestos. Também
assim foi considerado pela Igreja Católica ao instituir o Dia de
Finados no dia 2 de Novembro, segundo mês do Outono (Hemisfério
Norte) quando a natureza começa a morrer no mês 11 do ano (1 + 1
= 2).
Mas nem tudo é terrível no número Dois. Devido ao seu poder de
contrastes ele nos permite perceber objetivos ou realidades,
diferenciando-as contra seus contrários; num mundo só de luz
seriamos tão cegos com em um mundo dominado pelas trevas.
O Dois também é criador, pois para sair da ignorância precisamos
estudar, quando estamos em dificuldades temos que nos esforçar
para superá-las, para os problemas temos que procurar soluções, a
natureza desenvolve um órgão para superar uma necessidade, uma
peste origina novos descobrimentos médicos, etc. Por isto falamos
que o Dois representa a ciência, pois para produzir o conhecimento
93
precisamos de 2 elementos: um capaz de conhecer e outro que possa
ser conhecido.
Para Mokiti Okada, da Igreja Messiânica, na Lógica Dialética da
Harmonia, os contrários garantem a grande harmonia do Universo
pela tendência natural de encontrar o ponto de equilíbrio ou “caminho
de meio”, de tal forma que possibilitem o movimento evolutivo.
Heráclito já dizia: “A realidade é a harmonia dos contrários que não
cessam de se transformar uns nos outros”. Para Mokiti Okada os
contrários realizam a harmonia do Uno em favor de todos.
Mas, de outro ponto de vista, do mesmo modo que o Uno
representa a harmonia, a ordem e o bom princípio, o Dois oferece a
idéia contrária: representa a divisão, a antítese que sempre nega, o
espírito que recusa deter-se num abrigo a espera da tempestade
passar; é a dúvida sistemática que nada aceita sem fundamentos;
pode ser às vezes oposição impotente, a disputa perpétua. O Dois
representa o opositor impotente, o espírito teimoso mas é justamente
devido a isso que somos obrigados a estudar, a criar, a descobrir
procedimentos sensatos em todas as atividades de nossa vida
familiar e profissional. E se não tivermos a vontade, a capacidade, a
ajuda para alcançar o conhecimento, a nossa fraqueza nos levará à
esterilidade, ao fácil caminho do mal.
O mal às vezes aparece disfarçado por algumas características do
bem, sendo esta outra face perigosa do Dois, que não estabelece um
limite definido que separa os dois campos. Por exemplo, durante o
dia recebemos a luz magnífica do astro Sol, mas no entardecer esta
luz vai sendo vencida pelo avanço das trevas, chegando um momento
que resulta difícil dizer se estamos no dia ou na noite, ficando na
indecisão. Platão (428–348 ac) fala do dualismo filosófico do mundo
das aparências sensíveis e do mundo das idéias; achando assim tão
enraizado o sentimento da dualidade não devemos estranhar a
dificuldade que sempre encontramos para chegar à perfeita
compreensão da unidade fundamental do ser, de tudo quanto existe.
A Unidade acrescentada ao Dois revela o Três, terceiro princípio
que é o Ternário. E o primeiro número que se separa da unidade e
que equilibra as forças opostas; é o número que coloca justiça nos
pares contraditórios.
Do choque entre nossa consciência individual Uno, e o mundo
externo Dois, surge em cada um de nos uma representação que se
traduz na consciência de um Ser Supremo, origem da vida e do
mundo, conhecido como Deus. O Três é o número capaz de dar a
solução ao que o número Dois é afirmação e negação; é o número
que dá a síntese e dá na antítese. Tudo é triplo e único, em tudo
achamos os três elementos; um agente que atua, um paciente que
94
recebe e um efeito produzido; um primeiro termo ativo, um segundo
passivo e um terceiro neutro ou de equilíbrio.
Os povos da Antigüidade
importância. Para Virgílio
consideraram
o
Três
da
maior
(70–19 ac) “omne trinum perfectum” (todo número 3 é perfeito).
Os romanos e os gregos declararam que o número Três é um número
agradável aos Deuses. Xenócrato, da Academia platônica antiga,
representa a Divindade por um triângulo equilátero, primeira e mais
perfeita de todas as figuras geométricas, já que tem 3 lados e 3
ângulos, simbolizando os 3 aspectos do Ser Supremo: a Vontade, a
Sabedoria e a Inteligência. Como sabemos, o signo 3 está formado
por 2 semicírculos que podem formar o círculo completo e que é o
símbolo da Alma, o princípio que reúne em si mesmo, o oculto e o
manifestado.
Em outra analogia, imaginemos duas pessoas discutindo e cada
uma delas mantendo vigorosamente seus pontos de vista,
contradizendo tudo o que o oponente expressar; ambos podem estar
errados e a verdade nunca aparecer senão houver um terceiro
elemento analisador, que não outro que a razão, simbolizado pelo
número Três. O Ternário, princípio da razão, constitui um sistema de
conhecimento e por isto expressamos que o número Três é o aspecto
mais inteligente da Unidade.
O Quatro é a cifra básica do mundo sensual e objetivo. Os
pitagôricos glorificaram o Quatro porque representa o primeiro
quadrado dentro do sistema de representação dos números em base
a pontos, figura denominada tretractys, pela qual juravam.
Os pitagóricos criaram a aritmonancia que era uma espécie de
adivinhação usando os números e nela acreditava-se que o Quatro
estava encerrado na alma do Homem. Conforme outro simbolismo
primitivo o Quatro representava a essência da justiça. Para os
hebreus, era o símbolo do princípio eterno e criador, e expressava a
nome de Deus que em hebreu é escrito com as quatro letras Iod, He,
Vau e He.
A Maçonaria, considerando a importância dos números, tem levado
seus membros ao estudo da gnose numeral desde o primeiro grau,
tentando descobrir e analisar as propriedades intrínsecas dos
números utilizando a razão e aplicando este conhecimento para
resolver o problema da existência das coisas.
O maçom adorna geralmente sua assinatura com 3 pontos,
representando que, conhecendo a Unidade e o Binário, chegou à
compreensão do Ternário. O Ternário é o mais importante alicerce
95
filosófico da Ordem maçônica e nos Templos é o número que mais se
encontra representado através de símbolos, lembrando a cada
momento aos maçons a maneira certa de sentir, pensar e atuar,
tendo como metas a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.
O TAROT
Conta a lenda que os sábios de Egito, frente ao avanço dos
exércitos invasores, quiseram preservar todos os conhecimentos
indicativos que eles eram detentores. E para guardar da forma mais
segura estes conhecimentos para as futuras gerações, decidiram
recorrer ao vício do homem, já que a virtude no ser humano é mais
frágil que um copo de fino cristal. O vício escolhido foi o jogo. Então
todos os conhecimentos iniciáticos foram simbolicamente guardados
nas cartas que, eternamente servindo para fins de jogo, nunca
seriam destruídos, passando de geração em geração e sempre
disponíveis para que os futuros iniciados poderem no futuro decifrar e
utilizar estes conhecimentos.
No século 14 os naipes do Tarot aparecem na Europa, sabendo-se
que os ciganos da Hungria passaram seu conhecimento para os
ciganos da Espanha e, por um tempo acreditou-se que aqueles eram
os inventores do Tarot. Outra versão atribui sua invenção a Raimundo
Lulio, filósofo e alquimista do século 13, mas na verdade, ele só
escreveu um esquema de uma máquina que consistia em círculos
concêntricos com palavras que designavam idéias quando elas
colocadas em certa posição para formulação de uma pergunta, outras
palavras da máquina estariam dando a resposta. Como pode-se ver,
é diferente do Tarot.
Os jogos de Tarot existentes apresentam figuras da época em que
foram criados. Em geral eles estão compostos de 78 cartas,
distribuídas em 3 partes: a primeira são 21 cartas, a segunda só 1
carta sendo o elo entre a primeira e a terceira, e esta última parte
que não passa de ser um naipe comum. A primeira e segunda parte
formam os conhecidos como Arcanos Maiores (Arcano = que encerra
mistério, apocalíptico, cabalístico, enigmático; o que não se pode
desvendar). Estas características do Tarot fizeram dele um elemento
facilmente utilizado nas práticas de adivinhação popular, cumprindo
assim uma das supostas intenções dos sacerdotes egípcios para que
ele sempre estivesse em uso nas mãos da sociedade.
De todos os baralhos de Tarot o mais significativo enquanto a
simbolismo, é o Tarot egípcio que praticamente representa uma
iniciação. Cada carta do Tarot egípcio vai desenvolvendo este
processo que um candidato participa e vai começando a entender o
significado da vida. O Tarot tem também uma estreita ligação com a
96
Cabala e a Alquimia; a Árvore Sefirótica e os 4 elementos da Alquimia
estão presentes nas cartas do Tarot.
A CABALA
O verbo judaico está estruturado na Torah, no Talmud e na
Cabala:
A Tora, que representa a Lei judaica, é a palavra por excelência
inspirada por Deus e está composta pêlos 5 primeiros Livros da
Bíblia, também conhecido como Pentateuco : Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio.
O Talmud complementa a lei escrita e interpreta os mandamentos
à luz da evolução social, política e econômica. Foi escrito entre os
séculos III ac e VI dc. Existem 2 Talmudes: o Talmud de Jerusalém e
o Talmud de Babilônia, sendo este último o mais completo. O Talmud
compreende 2 livros, Mishná e Gemara, e cada um deles trata dos
assuntos seguintes :
Mishná Zeraim (sementes) questões agrícolas
Moed (festas) Sabath, jejum, solenidades
Nashim (mulheres) noivado, casamento, divórcio
Nezikim (prejuízos) jurisprudência civil e penal
Kodashim (coisas santas) sacrifícios, ofertas, abate de animais
Toharoth (purificação) regras de pureza
Gemara Ensinamento tradicional São comentários à Mishná
A Cabala é um sistema de interpretação da Bíblia judaica. As
fontes da literatura e da doutrina cabalística, são as seguintes :
Apocalipse (Bíblia)
História da Gênese (Ma’assé Berechit) (não é livro)
História do Trono (Ma’asse Merkabá) (não é livro)
Livro da Criação (Sepher Yetsira) séc III e IV dc (explica a Árvore
da Vida)
Livro do Esplendor (Sépher há Zóar) s. II dc, Simeon bar Yohai, e
s, XIII Moshe de León
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Sendo a Bíblia um livro hermético, os estudiosos do povo hebreu
se debruçaram no seu texto para ensinar corretamente seu
significado ao povo, tanto para os que moravam em Israel como os
que se encontravam no exílio, mantendo assim os judeus junto a
suas tradições, no estrito cumprimento da Tora, política que deu ao
povo judeu sua fisonomia definitiva, mantida até hoje, sem
diferencias do lugar e das condições em que eles possam-se
encontrar. Por outro lado, os textos da Bíblia estão carregados de
alegorias, literatura imaginativa, descrições diferentes para os
mesmos fatos e, inclusive, ao passar para diferentes línguas foram
usadas palavras que alteraram o relato original. Este sistema
desenvolvido pêlos dirigentes religiosos para manter viva a chama
mística, com a mente fixa em Israel, fiéis a seu Deus e a suas
tradições, recebe o nome de Cabala; a tradução mais aceita para
Cabala é “Tradição”. Os ensinamentos dos cabalistas foram
inicialmente orais, mas aparentemente eles começam bem antes da
Bíblia existir, quando começam ensinando os acontecimentos da
história dos hebreus. Os cabalistas afirmam que sua doutrina emana
de Deus, que a ensinou aos anjos e eles a transmitiram aos
Patriarcas e assim sucessivamente.
Ninguém sabe quando nasce a Cabala. Autores assumem que ela é
anterior ao próprio povo hebreu, o que poderia ser um exagero já
que se for assim, a Cabala antecederia a Moisés em mais de 2500
anos. Através da história a Cabala passa por diversas etapas e vai
assimilando conceitos que levam até uma interpretação própria do
povo hebreu e que serve de base, junto com a Torah e o Talmud, do
Verbo judeu.
A estrutura original da Cabala está em duas histórias: a história da
gênese e a história do trono ou carro. A história da gênese é a
discussão favorita dos primeiros cabalistas já antes da destruição do
2º Templo (de Zorobabel); a história do trono ou do carro é a
primeira manifestação mística da Cabala e data dos séculos I e II dc.
Usa a alegoria do trono puxado por 4 querubins, mencionado pelo
profeta Ezequiel, (ele tem rodas e por isso é conhecido também como
o carro) que percorre os céus e que é interpretado como uma
alegoria da alma em procura de Deus.
Do séc III ao séc VI dc, o estudo da Cabala já é primordial dentro
do pensamento religioso judaico. Surge o primeiro livro conhecido
sobre a Cabala: O Sefer Ietzi-rah (Livro da Criação), autor
desconhecido, onde é explicado a Árvore da Vida com as 10 sephirot
(esferas) e as 22 linhas retas que unem as 10 esferas e que
representam as 32 maravilhosas sendas místicas da Sabedoria, pelas
quais Deus criou o mundo. As 10 esferas representam a série dos 10
primeiros números e as 22 linhas são as 22 letras do alfabeto
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hebraico. Conforme relato atribuído a Abraão, existe o Espirito
tornado Palavra (Verbo) que é a primeira sephira (esfera) e dela
emana a segunda esfera que é o ar e que cria através do sopro divino
as demais esferas que são a 3ª a água, a 4ª o fogo e as seis últimas
os 4 pontos cardeais e os 2 pólos. No Livro da Criação se inicia a
preocupação dos cabalistas com a numerologia e uso das letras na
interpretação de significados ocultos; estas 22 letras e 10 números
podem ser combinados de três maneiras: notarikón (acrósticos de
expressões ocultas), guematria (atribui valores numéricos as letras) e
temurah (permuta palavras por anagramas).
Na Idade Média, o centro cultural do judaísmo se traslada a
Espanha onde surgem as maiores inteligências que o judaísmo já
teve. É com eles que a Cabala alcança um impulso notável. Em 1275
(aproximadamente) aparece o Livro do Esplendor (Sefer ha-zohar)
que parece ser uma compilação de várias obras, sendo algumas delas
apócrifas; mas existe unanimidade hoje em acreditar que a autoria
de muitas obras e a compilação do Zohar corresponde a Moisés ben
Shem Tov, chamado em espanhol, Moisés de León (1250-1305).
No Zohar as 10 sephirot adotam a figura humana, simbolizada por
Adam Kadmon, o demiurgo, o criador da natureza, o homem perfeito,
mensageiro de Deus, Messias, reflexo da alta espiritualidade, corpo
considerado como a marca da alma, o Adão celeste, o Grande Ancião
do Zohar, à semelhança do qual foi criado o Homem.
As sephirot são comparadas no Zohar aos membros do corpo
humano e dispostas em grupos de três. A primeira esfera é o kether
(coroa) situada na cabeça e que é a essência divina espiritual; nela
nascem 2 outras esferas: a chokmah, que é a sabedoria e a binah,
compreensão, inteligência. Da união de ambas ha de nascer um filho,
o daath, que é o conhecimento, a ciência; esta tríade recebe o nome
de chabad, fundamental para elucidar os mistérios do universo. As
duas esferas seguintes são os braços de Deus: guedulah, grandeza,
ou chesed, graça, que está no lado direito, simbolizando o amor, e
geburah, heroísmo, ou din, justiça, que está no lado esquerdo que é
o rigor. Ambas se equilibram num sentimento de justiça e
misericórdia. A sexta esfera no centro é tiphereth, beleza, que ao se
unir as anteriores formam uma nova tríade de harmonia. Uma nova
tríade formar-se-á com as esferas seguintes que são netza,
eternidade, hod, glória, majestade, e iesod, fundamento, base. A 10º
esfera é uma síntese das demais, malkuth, realeza. (Alertamos que
as transcrição das palavras do hebraico antigo difere de uma obra
para outra, por exemplo, Hokhmah, Chochmah, Chokmah ou Hokmá;
que são a mesma palavra; também muitos reclamam que a
pronúncia correta é Cabalah, acentuando na última sílaba, mas no
português nos pronunciamos Cabala da mesma forma que
pronunciamos Londres e não London).
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Resumindo temos: 1) O mundo da inteligência (Kether-coroa,
Chokmah-sabedoria e Binah-inteligencia); 2) O mundo do sentimento
(Chesed-graça ou amor, Din-justiça e Tiphereth-beleza) e 3) O
mundo da natureza (Netza-triunfo, Hod-glória ou majestade e
Iessod-fundamento). A 10ª esfera, Malkhult, encerra o conteúdo das
outras nove para serem ensinadas aos homens.
Também o Zohar classifica as esferas conforme sua localização nas
colunas verticais da direita (masculina ou da misericórdia) e que são
Chokmah, Chesed e Netza, da esquerda (feminina ou da severidade)
Binah, Geburah e Hod e do centro (conciliação ou da suavidade) que
são Kether, Tipheret, Iessod e Malkult.
E que é a Árvore da Vida ao final? É o esquema da Criação (Sefer),
é a representação do Homem desde o infinito que está acima de sua
cabeça, até os seus pés, recebendo cada parte do corpo uma
designação cabalística. As sephirot são os centros de energia
existentes e, unidas, representam os nomes de Deus, a Árvore da
Vida é o criador, e a criatura é a explicação do origem do Universo.
E qual é a relação entre o Zohar e a Cabala? Os místicos judeus
consideram o Zohar como a obra que melhor representa as regras e
preceitos da fé judaica; está formado por histórias, discursos,
meditações e monólogos, com muitos símbolos e alegorias místicas,
tendo assumido uma importância igual a do Antigo Testamento e ao
Talmud e substituiu toda a literatura cabalística anterior. Os místicos
acreditam ver o origem da palavra Zohar no Livro de Daniel, cap 12
vers 3, que fala “Os entendidos (os místicos judaicos), pois,
resplandecerão, como o esplendor do firmamento (Zohar); e os que a
muitos ensinam (os cabalistas) refulgirão como as estrelas sempre e
eternamente”.
Autores procuram ver a Cabala aplicada no Templo maçônico,
atribuindo a Elias Ashmole a localização dos cargos principais de uma
Loja, acompanhando a Árvore da Vida com suas esferas para o V M
(Kether),
Secr
(Hockman),
Or
(Binah),
Chanc(Chesed),
Tes(Geburah), MC(Thipheret), 2º V (Netzah), o Iniciando (Iessod) e
Cob(Malkult). José Castellani na sua obra “A Ciência Maçônica e as
Antigas Civilizações” discorda absolutamente desta pretensão,
concluindo que é uma deturpação da concepção metafísica contida no
Adão Kadmon, para adaptá-la a simbologia maçônica.
Eu entendo que os Irmãos, no seu amor pela maçonaria queiram
ver em toda ciência sagrada as raízes ou a influência da simbologia
maçônica. Na verdade, não é bem assim: A Maçonaria foi criada, em
uma data ainda não determinada, adotando muitos símbolos contidos
nas ciências iniciáticas da antigüidade. Somos parte de um legado
100
deixado pêlos sábios do passado. E assim tem acontecido com todas
as escolas filosóficas e religiões que tem surgido para culto de Deus e
elevação da espiritualidade do homem. Somente como exemplo, a
Escada de Jacó tem sido utilizada pelas mais diversas religiões e
também pela Maçonaria e a própria Cruz, é um símbolo antigo que a
Igreja Católica adota somente 3 séculos após a morte de Jesus.
E porque, nós maçons, devemos estudar a Cabala, o Tarot, a
Astrologia, a Alquimia, os Solstícios, os antigos Mistérios, os filósofos
gregos, Bíblia, etc? Porque lá se encontra o que de melhor produziu o
homem no desbastamento da sua Pedra Bruta. Porque é assim que
estaremos em melhores condições de freqüentar nossa Loja, levando
e trazendo espiritualidade e conhecimentos que melhorem nosso
interior e nos aproximem de Deus e de nossos semelhantes. E,
finalmente, como diz Dion Fortune, “estaremos bebendo da água
mais pura”.
Capítulo 25
O Delta Sagrado
O neófito, quando despojado da venda que cobria seus olhos,
percorre com sua vista os diversos símbolos que estão na sua frente
e, entre outros, se fixa no Delta Sagrado e por alguns segundos
sente-se inerme frente a Divindade que, do alto, faz sentir toda sua
onipresença; é como a nossa consciência que nos acusa pêlos erros
cometidos ou aprova as nossas boas ações. Sente-se inerme tal como
se sentiram os egípcios, gregos e romanos quando se aventuraram
por esses caminhos perigosos nas cerimônias iniciáticas pela qual ele,
5000 anos mais tarde, também acaba de passar. Usar o Delta com o
Olho não é antigo e parece que somente apareceu na Maçonaria no
início do séc XIX.
O nome de Delta acompanha o nome da 4a letra do alfabeto
grego, dada sua similitude gráfica. Em nossas Lojas, ele é um
triângulo equilátero, figura muito conhecida em todas as religiões e
considerada uma figura geométrica perfeita pelo seu equilíbrio,
igualdade e perfeição ou harmonia. Para alguns autores, o triângulo é
o símbolo universal das leis particulares que tem produzido a
substância. Conforme Mackey (maçom e pesquisador norteamericano do s. 18), para os egípcios o triângulo era o símbolo da
natureza universal, a base representando Horus, a perpendicular a
Isis e a hipotenusa o filho Horus, gerado pelo princípio masculino e
feminino. Plutarco e Senócrates, comparavam a Divindade com um
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triângulo equilátero porque Ela é sempre perfeitamente igual em cada
uma da suas manifestações; o triângulo isósceles é o gênio nunca
totalmente perfeito e o triângulo escaleno vem a ser o homem com
todas as suas imperfeições.
O Triângulo pode ter no seu centro o “Y” místico dos Druídas, o
“Iod” sagrado dos hebreus (também pode estar todo o Tetragrama),
“G” simbólico dos saxões ou o Olho aberto que tudo vê e, apesar da
variação de emblemas usados, sempre estará Deus representado, na
sua tríplice manifestação: vida, verbo e luz. O Olho é característico do
Rito Moderno, a letra “Iod” é usada nos Ritos Escoceses, de York,
Adonhiramita e Ritos deístas ou teístas em geral. A diferença dos
outros Ritos, no Rito Moderno o Delta representa a Suprema
Sabedoria. Em nossa Loja existem dois Triângulos: na frente do
dossel do Trono do Venerável Mestre temos um Triângulo com a letra
“Iod” e na parede do Or, sob o dossel, entre o Sol e a Lua, está o
Triângulo com o Olho que tudo vê; “... são os olhos do SENHOR, que
percorrem toda a terra.” (Zacarias, 4-10) ou “... os olhos de Deus
estavam sobre os anciãos dos judeus, “... (Esdras, 5-5). O Olho está
dentro de uma chama raiada que simboliza o princípio criador e
conservador da vida.
Também o catolicismo na sua iconografia, representa Deus
utilizando um triângulo equilátero com um olho aberto no centro,
relacionando assim a perfeição divina (o triângulo equilátero) com a
onipresença (o olho). Sua origem estaria no desenho usado como
reconhecimento dos primeiros cristãos e que era um peixe. Dizem
que Jesus desenhou um peixe no chão o que, posteriormente, seria
usado como símbolo pêlos seguidores da nova religião. As iniciais das
palavras gregas correspondentes à frase “Jesucristo filho de Deus, o
Salvador” formariam ICTES em latim, que significa peixe.
Se desenhar dois círculos que tenham o centro respectivamente
num ponto da circunferência do outro, ficará uma área comum de
forma elíptica que lembra a forma de um peixe ou de uma bexiga; daí
foi dada a esta figura o nome de Vesica Piscis. A figura do rombo de
extremos pontiagudos que se forma dentro da Vesica Piscis também
lembra a figura estilizada de um peixe e em antigos manuscritos e
construções da Idade Média aparece freqüentemente. Cristo é
simbolicamente esta região que une o céu e a terra, o superior e o
inferior, o criador e a criação. Também, dentro desta seção, podem
ser construídos dois triângulos de base comum, símbolos da água e
do fogo, e que em seu conjunto formam o mesmo losango que
formam o esquadro e o compasso no Livro da Lei. As duas
circunferências unidas lembram a forma básica da matéria que da
origem a uma nova vida; é a célula que cria dois centros, parte-se e
da origem a uma nova célula. Outra forma de considerar a Vesica
Piscis é uma representação do reino intermédio que faz parte tanto
102
do princípio imutável, como do mutável, do eterno e do efêmero. A
consciência humana funciona como mediadora, equilibrando os dois
pólos complementares da consciência. Esta forma elíptica é também
a designação simbólica da Era de Peixes, sendo a figura geométrica
dominante neste período de evolução cósmica e humana, e o
principal elemento usado nas catedrais góticas dessa era. A Era de
Peixes se caracterizou por ser a encarnação formal do espírito na
forma, aprofundando assim a materialização do espírito : o mundo se
faz carne.
Eis porque o Olho dentro do Delta Sagrado é o símbolo de Deus.
Capítulo 26
As Velas
A vela é um cilindro de cera, sebo, espermacete ou outra
substância graxa com um pavio no centro acompanhando todo o
comprimento do cilindro para que ele possa acender e dar luz. As
velas são normalmente fabricadas de estearina que é uma substância
química, branca, funde a 64.2 graus centígrados, insolúvel na água e
está composta de ácido esteárico e glicerina. Outras matérias muito
usadas na fabricação de velas são a parafina e a cera de abelhas.
Interessante é notar que, as velas usadas nos tempos antigos para
iluminar os ambientes, após o invento da luz elétrica não caíram em
desuso e sim, seu uso multiplicou-se com fins de culto as almas por
parte dos crentes, homenagem aos santos e para usos ritualísticos
tanto religiosos como em outros cultos, não sendo a Maçonaria uma
exceção a esta regra.
Para entrar no conhecimento místico de uso das velas em
Maçonaria temos que lembrar que o fogo é um dos quatro elementos
do mundo antigo e que ele tem um conceito de purificação total: “...
para que de profano nada lhe reste” conforme lembramos da nossa
cerimônia de Iniciação. Desde épocas remotas a luz tem sido símbolo
de sabedoria e conhecimento, com estreito relacionamento com o Sol
e, como o Sol nasce no Oriente e, coincidentemente, a sabedoria dos
sábios, filósofos e Messias, tem tido seu berço no Oriente, dai a
relação entre luz e sabedoria que vem do Oriente.
A luz simbolizando a Sabedoria e o fogo simbolizando a purificação
dos pecados estão representados na ritualística maçônica, tanto
através do Sol, no fogo purificador já mencionado, no Delta Sagrado
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como nas velas nos altares. Praticamente todos os ritos maçônicos
usam as velas sendo os que mas tem dado importância a elas são o
Rito Adonhiramita e o Rito de York. Mas, em todos os Ritos as velas
estão presentes, no mínimo, iluminando os altares e na cerimônia de
recepção de visitantes ilustres, quando sob o comando do Mestre de
Cerimônias são formadas as comissões de espadas e estrelas (que
são velas acesas).
Considerando que a abelha é um símbolo de laboriosidade e que o
produto de seu trabalho torna a vida do ser humano mais doce, as
antigas Lojas de pedreiros usavam nas suas velas unicamente cera
de abelhas; com o avanço da civilização a produção de material para
velas
foi
mudando
para
outros
produtos
industriais
e
lamentavelmente hoje são poucas as Lojas que se preocupam com o
material das velas havendo, a maioria delas, substituída as velas
autênticas por lâmpadas elétricas com formato simulando uma vela.
A Ritualística não existe por acaso. Cada símbolo tem uma razão de
ser e o conjunto deles cria um campo espiritual propício para nossas
preces ao Grande Arquiteto do Universo. O não uso de velas
confeccionadas com cera de abelhas ou, pior ainda, a substituição de
velas por lâmpadas elétricas vai matando aos poucos a Ritualística
que nossos antepassados criaram séculos atrás e que deveria ser a
nossa obrigação manter e legar a nossos sucessores da forma como
recebemos.
O acendimento de uma vela em Loja deve ser feito com outra
vela,
previamente
acesa,
ou
com
fósforos,
não
sendo
ritualisticamente correto usar isqueiro ou outro elemento moderno
que no passado não existiam. Da mesma forma a vela deverá ser
apagada com um abafador; discute-se se apagar a vela assoprando
nela seria um ato profano considerando-se como a intenção de
desintegrar a luz (José Cássio Simões Vieira, Bol. do GrSão Paulo, 20Abril-1995), recomendando-se usar o abafador mencionado ou os
dedos umedecidos.
Capítulo 27
As Espadas
Sendo a espada uma arma branca ofensiva e defensiva, usada
durante séculos na vida militar, acaba resultando um tanto difícil
explicar sua presença na ritualística maçônica. Mas é justamente esta
arma de luta que simboliza melhor na Maçonaria a luta constante
pelos princípios do Bem e na mão esquerda como elemento que
104
lembra nosso juramento de ir em proteção dos membros da Ordem
em situação de perigo; a importância desta última razão, o iniciando
vê desde o mesmo momento que é despojado da venda; mas,
também, essas mesmas espadas poderão castigar a quem for perjuro
no seu juramento e nesse caso, a espada será tomada com a mão
direita.
A História ensina que o momento mais sagrado e de orgulho para
o recém iniciado cavaleiro na Idade Média é quando ele recebe sua
própria espada e a Ordem de Cavalaria em seus princípios “chamava
os cavaleiros a defender a Pátria e amparar as viúvas e órfãos” como
os mais sublimes deveres do cavaleiro recém ungido. Assim, a
espada é elevada à símbolo moral da consciência do maçom, que
deve vigiar permanentemente seus atos.
Durante a cerimônia da iniciação, o tinir de espadas é ouvido
representando as lutas que acontecem em nosso redor; é o emblema
dos combates que o Homem deve enfrentar permanentemente contra
suas paixões, seus vícios, seus defeitos, suas tendências negativas,
etc, devendo lutar para corrigir seus erros e se afastar dos vícios. E
na parte final, quando o Venerável Mestre da aqueles golpes com a
Espada Flamígera, da mesma forma que o Rei dava aqueles golpes
nas costas do recém armado cavalheiro, o recém iniciado está sendo
ungido Cavaleiro do bem e da Moral, para lutar por Deus, sua família,
sua Pátria e a sociedade. Lembramos que a Espada Flamígera deve
ser tocada unicamente por Mestres Instalados (Mestres maçons que
são ou foram Veneráveis Mestres de Loja) já que a simbologia dela
indica que sendo sua lâmina uma língua de fogo, um irmão que não
passou pelas provas de um Mestre Instalado poderia ser queimado
por ela.
O aço da Espada nos lembra que nosso espírito deve ter a mesma
dureza desse metal.
Capítulo 28
A Maçonaria e a Mulher
No artigo III (segundo parágrafo) da primeira Constituição de
Anderson, lemos: As pessoas admitidas como membros de uma Loja
devem ser Homens de bem e leais, nascidas livres, e de idade
madura e circunspecta, nem escravos, nem Mulheres, nem Homens
sem moralidade ou de conduta escandalosa, mas de boa reputação.
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Já nos Regulamentos compilados por Georges Payne, aprovados
em 1721 e que, historicamente, tem formado um corpo só com a
Constituição de Anderson, aparece no artigo XXXIX á obrigação de
preservar cuidadosamente os velhos Land-Marks. Nos anos seguintes,
os estudiosos da maçonaria debruçam-se para descobrir quais são
estes Land-Marks, e de todas as listas que são emitidas, a Grande
Loja Maçônica de São Paulo adota a de Albert Mackey, que em seu
Land-Mark número 18 estabelece as condições para um candidato ser
aceito na Maçonaria concluindo que uma mulher, um aleijado ou um
escravo não podem ingressar na Fraternidade.
Durante todos os séculos da Maçonaria Operativa, parece não
existir antecedentes de alguma mulher tem pretendido ingressar na
Maçonaria. Lembremos que nossos antecessores eram autênticos
pedreiros e que desenvolviam um esforço físico considerável em uma
época que a função da mulher estava relegada ao lar. Lembremos
que as Lojas de autênticos pedreiros, a partir do século 17, reuniamse em tabernas, locais onde era absolutamente impossível contar
com a presença de uma mulher. Charles Johnson escreve em 1723
que a rainha Isabel de Inglaterra, protetora das artes, ficou inimiga
da Maçonaria porque, pretendendo ingressar nela, recebeu a resposta
que em razão de seu sexo, não lhe seria possível. Fato similar
acontece com a Imperatriz Maria Eugenia de Austria.
Mencionamos algumas insólitas histórias de mulheres que foram
iniciadas em Lojas regulares, sendo estes, casos excepcionais e
curiosos, produtos de um errado entendimento dos usos e costumes
da Ordem, mas que não podem ser considerados como prova de que
no passado a Maçonaria tem aceito mulheres.
Elisabeth Saint Leger, mais conhecida pelo seu nome de casada,
Lady Aldworth, filha do Visconde Doneraile, havendo surpreendido
uma reunião maçônica da Loja 95, de Cork (Irlanda), no castelo
paterno através de uma parede que estava sendo reparada, foi
iniciada para jurar guardar secreto. A esposa do General Xaintrailles
nomeada Capitão de Cavalaria e aide de camp de seu marido e que
participava nas batalhas com muita bravura foi iniciada na Loja Les
Frères Artistes, de Paris (França), pensando-se que era um homem, o
capitão Xaintrailles. O cavaleiro d’Eon, francês, foi iniciado na Loja
376, que trabalhava na França, sob a obediência da Grande Loja de
Inglaterra (dos Modernos). Frente aos rumores cada vez mais fortes
que seria mulher, em 1977 confessou seu verdadeiro sexo recebendo
a ordem judicial de usar roupas femininas, e aparentemente nunca
mais visitou a Loja. Na Hungria, Helene Barkocsy, casada com o
Conde de Hardik, herdou os bens de seu pai, que era maçom,
incluindo uma biblioteca maçônica onde ela adquiriu conhecimentos e
um grande interesse pela Ordem, obtendo sua iniciação na Loja
Egyenlossy do Grande Oriente da Hungria em 1875; mas, quando
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esse Grande Oriente ficou sabendo do ato irregular procedeu
disciplinarmente em contra da citada Loja e a Condesa de Hardik foi
eliminada.
Com o desenvolvimento da Maç, o ingresso nas Lojas de nobres e
intelectuais, as informações que enchem os jornais europeus sobre a
Ordem excita a curiosidade de muitas damas da época, que começam
a questionar os motivos que poderiam existir para elas não poderem
ingressar. Principalmente na França, foram criadas algumas
organizações que tentavam imitar uma loja maçónica. Na
impossibilidade de superar a proibição de mulheres ingressar na
Maçonaria foi utilizado o esquema de criar lojas chamadas de adoção,
dependentes de uma loja regular, na qual poderiam participar
homens e mulheres. Estas lojas andróginas desenvolveram atividades
mais do tipo social e de caridade, seus locais de reunião recebiam o
nome de Bosquecinhos ou Templos do Amor, e as mulheres iniciadas
se chamavam de primas ou amigas. Também existiu, na Alemanha, a
Ordem dos Mopses, um cachorrinho como símbolo da fidelidade,
organização muito popular entre as mulheres. Damas, princesas,
duquesas, condessas, toda a nobreza feminina participavam dela.
Satisfazia a curiosidade das damas com seus rituais pomposos e
destacando que algumas desenvolveram atividades de tipo intelectual
com palestras de escritores, concertos, prêmios para ações de
caridade sobressalentes, etc., mas todas elas eram carentes de
princípios filosóficos. Em 1782 aparece Cagliostro que cria seu Ritual
da maçonaria Egípcia, nitidamente andrógina, com sua mulher como
Grã Sacerdotisa do Rito. Estas lojas de adoção terminaram com a
revolução recuperando sua força com a Imperatriz Josefina mas todas
elas acabaram desaparecendo com o período da Restauração.
Apagado o luxo e esplendor da corte francesa, vem um período de
pouca atividade feminina na para-maçonaria. Até aparecer no século
19, três mulheres extraordinárias, de elevado nível intelectual,
ardentes feministas que, dentro de todas as atividades que elas
desenvolvem também participaram (ou pretenderam participar) na
Maçonaria. Estamos falando de Marie Deraismes (1828-1894), Helena
Petrovna Blavatsky (1831-1891) e Annie Besant (1847-1933). Marie
Deraismes solicita em 1881 seu ingresso na maçonaria francesa. A
Lde Pucq aprova sua solicitação, retira-se da Grande Loja da França e
inicia a Marie Deraismes em 14 de Janeiro de 1882. Mas 5 meses
depois, a Loja se arrepende e volta ao seio da Grande Loja. Marie
Deraismes funda sua própria potência e em 4 de Abril de 1893 nasce
a Grande Loje Symbolique Ecossaise Le Droit Humain. O médico
Georges Martin e sua esposa, amigos de toda a vida de Marie
Deraismes, na morte dela, assumem a direção dos Direitos Humanos.
Por sua parte, na tradicional Inglaterra, é uma discípula de Helena
Blavatsky, Annie Besant que funda em 1902 a Order of the Universal
Co-Masonry in the British Federation. Annie Besant e 6 seguidoras
107
tinham sido iniciadas na Direitos Humanos de Paris. Nascem Direitos
Humanos em USA e em outros países, só que nenhuma delas,
obviamente, é reconhecida como Loja regular. Hoje em dia existe na
Inglaterra a Honorável Fraternidade da Maçonaria Antiga, que
trabalha em um rito conhecido como Emulation e está composta
unicamente por mulheres. No Brasil também existem Lojas femininas
dependentes da Federação Brasileira “O Direito Humano” que se
auto-intitula como Ordem Maçônica Mista Internacional “Le Droit
Humain” e declara ser constituída de Franco-maçons de ambos os
sexos, e que na sua Declaração de Princípios afirma a igualdade
essencial do homem e da mulher, e ao proclamar seu nome Direito
Humano, pretende que eles vivam a Justiça Social. Com sede em
Paris, Le Droit Humain afirma que está presente em 60 países. Seus
rituais declaram ser idênticos aos da Maçonaria Regular mas com
ênfase especial no culto da fertilidade.
Recentemente apareceu um artigo na Internet, publicado por um
maçom de Brasília, Ivan Barbosa. Ele defende a participação da
mulher na Maçonaria e fala que antigamente era uma prática comum
o ingresso delas na Ordem. Culpa a James Anderson, colocando nele
toda a responsabilidade pela exclusão da mulher na Maçonaria e
negando inclusive a condição de maçom de Anderson chega a usar o
epíteto de "falso maçom".
Como já falamos no Capítulo 4, Anderson foi incumbido de colocar
as velhas Constituições Góticas em ordem, aproveitando os
manuscritos existentes e em 25 de Março de 1722, foram lidos a
Constituição de Anderson e o relatório da Comissão Revisora sendo
ambos aprovados com pequenas modificações.
Temos dado todos estes detalhes da geração do documento mais
importante da Maçonaria moderna para destacar que sua geração foi
um processo de quase 3 anos, que envolveu a Ordem toda, não
podendo dizer que foi criação de "um Presbítero seguindo sua própria
inclinação". Ivan Barbosa cita ainda o Ir Miguel André Ramsay
falando que "Muitos de nossos ritos e costumes, quando contrários
aos reformadores (refere-se as 4 Lojas que em 1717 fundam a
GLondres) foram mudados disfarçados ou suprimidos, e desta forma,
muitos Irmãos lhe esqueceram o âmago, restando apenas a parte
externa". Desta frase o sr Barbosa deduz implicitamente que uma das
modificações seria a exclusão da mulher na Maç\parAndré Miguel de
Ramsay, Cavalheiro da Ordem de São Lázaro, investido pelo Regente
Filipe de Orleáns, era um dos principais membros da numerosa
colônia de exilados escoceses residindo em París sendo partidário de
Jacobo III, o Pretendente ao trono de seu pai Jacobo II da dinastia
dos Estuardo. Ramsay foi iniciado na Loja Horn, de Westminster em
17 de Março de 1730. Com motivo de uma cerimônia de Inic na G L
da França, a ser realizada em 21 de Março de 1737, Ramsay na sua
108
qualidade de Or preparou um discurso, mas conforme as ordens
policiais da época enviou previamente uma cópia do discurso ao
cardeal Fleury quem o devolveu com uma nota escrita na primeira
página: Le Roi ne le veut pas. Assim o discurso ficou oralmente
inédito, mas passou para a história pelos conceitos neles emitidos,
inclusive fala-se que haveria inspirado os enciclopedistas dirigidos por
Diderot. Mas tarde, a Inquisição em Roma queimou uma cópia dele
em praça pública, logo após a Bula de Clemente XII "In Eminenti".
Efetivamente na parte final dele, Ramsay emite os conceitos
mencionados por Ivan Barbosa. Só que em parte alguma ele fala que
as mudanças feitas pelos maçons em 1717 eliminaram a mulher da
Maçonaria. As mudanças mencionadas por Ramsay são as mesmas
que foram reclamadas pelos Ilrque se afastaram da G L (de 1717) e
que originou um cisma em 1751 na G L de Inglaterra entre os
"antigos" (anti G L de 1717) e os "modernos" que fundaram a G L de
1717. Em 1753 os "antigos" fundam a G L dos Maçons Livres e
Aceitos consoante com as velhas Constituições. Os "antigos"
censuravam
os
"modernos"
por
haver
omitido
orações,
descristianizado os Rituais, ignorado os Dias Santos, estabelecido a
obrigatoriedade da crença em Deus, e mudado os Landmarks. Favor
preste atenção a este detalhe: se os "antigos" reclamavam
supostamente da eliminação da mulher na Maçonaria por Anderson,
porque eles não acolheram mulheres na sua G L durante os 60 anos
que durou esta Potência? Antigos e modernos se reconciliaram em 27
de Dezembro de 1813 fundando a G L Unida de Inglaterra.
Também no artigo de Ivan Barbosa, menciona o Manuscrito Régio
ou Manuscrito de Halliwell, como suposta prova que a mulher
formaria parte das Lojas de Pedreiros citando os versos 203 e 204
que dizem "Que nenhum Mestre suplante outro, senão que procedam
todos como irmão e irmã", e nos versos 351 e 352 que dizem
"Amavelmente, servindo-nos a todos, como se fossemos irmão e
irmã".
Efetivamente, na página 16 (são um total de 64 páginas) existem
os versos que mencionam "que sejam unidos como irmão e irmã" e
na página 28 fala-se "como se fossem irmão e irmã". Só que, acho
que com a exceção de Brasil, em todos os outros países os maçons se
referem às esposas dos irmãos como "nossas irmãs", não podendo
então deduzir que o termo irmã refere-se a mulher maçom e sim a
esposa de nosso irmão. Eu gostaria de mencionar que na página XII
quando fala de selecionar novos membros para a fraternidade,
menciona que "seria uma grande vergonha tomar um homem
aleijado..., um homem imperfeito .., o grêmio quer um homem forte.
.., um homem aleijado não tem força..., etc." E porque não
recomenda tomar mulheres fortes, etc ?
109
As Lojas Direitos Humanos e outras Lojas mistas ou femininas não
tem conseguido avançar dentro do campo que mais interessa a elas:
a aceitação ou reconhecimento por parte das potências maçônicas
regulares: seu principal centro de apoio, o Grande Oriente da França
manteve relações e Garantes de Amizade durante um tempo com as
Lojas Direitos Humanos, mas posteriormente este reconhecimento foi
interrompido; unicamente aceita a visita na suas Lojas dos membros
homens dos Direitos Humanos e não proíbe a seus próprios membros
a incorporação nas Lojas da co-maçonaria. Por sua parte, a Grande
Loja da França nunca reconheceu as Lojas Direitos Humanos; não
proíbe a seus membros visitar Lojas de Direitos Humanos mas não
aceita em suas Lojas a visita dos membros homens dos Direitos
Humanos. Nenhuma potência maçônica da Associação Maçônica
Internacional reconhece a Direitos Humanos como Obediência regular
com exceção do tratamento dado pelo Grande Oriente da França. O
Grande Comendador (autoridade máxima do grau 33 da maçonaria
filosófica) da Bélgica não considera a Loja Direitos Humanos como um
rito maçônico e, por tanto, ele pode ser visitado por qualquer Irmão,
desde que sem paramentos, da mesma forma como pode visitar
outras instituições não maçônicas como Lyons, Rotary, etc.
Hoje em dia a situação da Maçonaria com respeito da mulher não
tem mudado. E com certeza nunca mudará. Ainda que a Maçonaria
não se pronuncia sobre o assunto (conforme sua atitude tradicional
de não se envolver em polêmicas desgastantes e que a nada
conduzem), os que realmente conhecem a Maçonaria sabem que ela
considera a mulher com o maior respeito dentro da sociedade
humana e tanto é assim que para ela são reservadas homenagens
especiais na cerimônia de iniciação de seu marido; elas também
participam em sociedades para-maçônicas tais como Centros
Femininos, Clube da Acácia, Filhas de Jó, Eastern Star, Ordem do
Arco-iris, etc. nas quais elas desenvolvem seus próprios ideais e
princípios. Esta consideração para a mulher começa já na seleção do
candidato que deseja um lugar entre nos : a esposa do candidato é
entrevistada separadamente e se ela não concordar com o ingresso
de seu marido na Maçonaria o processo do candidato é encerrado
imediatamente.
Resumindo, a Maçonaria é uma instituição essencialmente
masculina; ela não é secreta e sim discreta e exclui a mulher por
razões unicamente tradicionalistas. Se alterar esta proibição, a
Maçonaria morreria e nasceria uma nova instituição que nada terá a
ver com a Constituição de Anderson, com os Regulamentos Gerais e
com os Land-marks.
Capítulo 29
110
A Maçonaria é uma religião ?
A crença em Deus é condição absoluta e insuperável para o
ingresso na Maçonaria e converte-se numa verdade comum a todos
os maçons, que consideram a Deus como o criador do Universo. Em
respeito a todas as religiões a Maçonaria estabeleceu, como fórmula,
denominar a Deus como o Grande Arquiteto do Universo. Mesmo que
acreditar em Deus pressupõe a crença numa vida futura, a Maçonaria
exige subsidiariamente esta crença numa vida futura.
Também a Maçonaria considera indispensável á existência no Altar
de um Livro da Lei, o livro que, conforme a crença, se supõe conter a
verdade revelada por Deus. Conforme o credo da nação onde a Loja
maçônica estiver localizada, este Livro poderá ser a Bíblia, Antigo
Testamento, Torah, Corão, etc.
Estas exigências da Maçonaria tem tanta força que quando em
1877 o Grande Oriente de França eliminou de seus estatutos a
obrigação da crença em Deus, na imortalidade da alma e o uso da
Bíblia no Altar, a Grande Loja Unida da Inglaterra, as Grandes Lojas
dos Estados Unidos e outras potências de outros países romperam
seu relacionamento fraternal com o Grande Oriente da França e ele
não mais foi reconhecido como potência maçônica regular, situação
que, pese a inúmeros esforços de aproximação feitos pelos franceses,
persiste até hoje.
Após este preâmbulo, podemos fazer a pergunta que encabeça
este artigo: É a Maçonaria uma religião? Ela exige a crença em Deus
e na imortalidade da alma, o Livro Sagrado está presente em suas
reuniões, desenvolve um culto e nesse culto, conforme o seu ritual,
são elevadas preces a Deus.
Primeiramente vejamos o que é religião. Conforme o Dicionário
Brasileiro da língua Portuguesa da Enciclopédia Mirador religião é o
serviço ou culto a Deus, ou a uma divindade qualquer, expresso por
médio de ritos, preces e observância do que se considera culto divino.
Se bem é verdade que a Maçonaria exige de seus membros a
crença em Deus, ela não propõe nenhum sistema de fé que seja
próprio da Maçonaria. O fato de desenvolver suas reuniões conforme
um ritual não é condição suficiente para ser rotulada de religião já
que um ritual, em geral, não é privativo de uma religião e sim é um
ordem ou conjunto de quaisquer cerimônias ou pode ser um
cerimonial próprio de qualquer culto; culto é a forma pela qual se
presta homenagem à divindade, mas na linguajem diária nos também
111
podemos render culto a outras símbolos diferentes da divindade, a
Pátria, por exemplo; de todas maneiras, a Maçonaria aclara que esse
culto é a própria Maçonaria. Os rituais maçônicos permitem preces,
mas elas referem-se unicamente ao que vai fazer imediatamente e
não a uma prática religiosa. A própria Igreja Católica reconhece, pela
voz do Pe. Jesus Hortal, S. J., que a Maçonaria não é uma religião,
porque não tem, como finalidade primordial prestar culto a Deus,
sendo este o mais forte argumento que a Maçonaria não é uma
religião. A Maçonaria mesmo que acessível aos homens de todas as
crenças religiosas proíbe, expressamente, toda discussão religiosasectária em seus Templos.
Sendo a Maçonaria uma sociedade de homens livres e de boas
costumes que, com amor a Deus, à Pátria, à família e ao próximo,
com tolerância e sabedoria, com a constante e livre investigação da
Verdade, com a evolução do conhecimento humano pela filosofia,
ciências e artes, sob a tríade da Liberdade, Igualdade e Fraternidade
e dentro dos princípios da Moral, da Razão e da Justiça, o mundo
alcance a felicidade e a paz universal, acaba tendo implicações
religiosas, como também pode ter um sistema político ou uma escola
filosófica e, obviamente, doutrinas políticas e filosofias não são
religiões.
Esperamos ter respondido de forma compreensível a pergunta
acima concluindo que a Maçonaria não é uma religião.
Capítulo 30
A Maçonaria e a Igreja Católica
Na pre-sindicância que é feita com um candidato inclui-se a
afirmação que “alguns setores religiosos condenam à Maçonaria” e se
ele, o candidato, sabe disso. Invariavelmente o sindicante vê-se
confrontado com uma série de perguntas por parte dele e de sua
esposa querendo conhecer os motivos que poderia ter a Igreja para
condenar à Maçonaria e em que forma o maçom poderia ser
prejudicado com esta condenação. Normalmente, os candidatos têm
a idéia que é a Maçonaria que combate a Igreja e não o contrário.
Sobre as razões que a Igreja Católica poderia ter para combater à
Maçonaria, lembramos que no passado a Igreja Católica temia o
desenvolvimento
do
conhecimento,
temerosa
que
espíritos
esclarecidos pudessem questionar seus dogmas. Em 1717 ressurge,
rejuvenescida na sua organização, a Maçonaria, como Maçonaria
112
Moderna ou Simbólica, promovendo dentre de seus membros a busca
da verdade, o conhecimento do Homem e do meio em que ele vive,
para assim alcançar o aperfeiçoamento da humanidade. Exalta a
virtude da tolerância e rejeita todas as afirmações dogmáticas e todo
fanatismo.
E este renascimento da maçonaria na sua conceição moderna
acontece na Inglaterra, berço do cisma provocado por Henrique VIII
que reagiu contra o Vaticano. Os homens que participaram da
Maçonaria eram na sua maioria, protestantes, livre pensadores,
capazes de contestar os dogmas e o poder que a Igreja exercia sobre
o povo. Esta primeira Grande Loja publica em 1723 a Primeira
Constituição do Reverendo James Anderson que “faculta aos maçons
de seguir a crença religiosa que lhe convenha, deixando para cada
um a liberdade de suas convicções próprias desde que sejam homens
probos e honestos, não importa que crença praticarem”.
A reação da Igreja Católica contra esta Declaração de liberdade e
tolerância religiosa demorou 15 anos. Esta demora pode ter sido pela
lentidão das comunicações na época ou porque a Igreja não acreditou
que a Maçonaria iria conquistar Europa e o Novo Mundo. Quando
começam a nascer Lojas maçônicas na Europa e USA as quais a
intelectualidade e a nobreza aderem, a Igreja reagiu lançando no dia
28 de abril de 1738 a primeira Bula contra os francmaçons, pelo Papa
Clemente XII, sendo esta a conhecida como Bula mãe. De nome In
Eminenti Apostolatus Specula, esta Bula acusa os maçons como
suspeitos de heresia em razão do segredo e de seu juramento “pois
se os maçons não fizeram o mal, não teriam esse ódio à luz”. A este
primeiro motivo a Bula fala que “outros motivos justos e razoáveis,
de nos conhecidos” existem só que estes motivos nunca foram
revelados. Historiadores pensam que o objetivo principal da Bula mãe
era de caráter político. As 4 Lojas fundadores em 1717 da Grande
Loja, em Londres, pertenciam a facção política dos Hannover
(protestantes); a causa do catolicismo estava perdida na Inglaterra e
o destronado rei Jacobo II dos Stuart, era recebido com toda a sua
corte em Roma como exilado, sendo seu filho Jacobo III reconhecido
pelo Vaticano como legítimo rei da Inglaterra. Considerando que
quando a Bula foi emitida, Clemente VII estava em adiantado estado
de cegueira, havia perdido a memória e seu estado de senilidade não
lhe permitia abandonar o leito, a Bula foi criação de um poder oculto
que estaria trás da hierarquia da Igreja.
A Bula, que sentenciava não só os maçons à excomunhão, como
também a todos aqueles que promovessem ou defendessem a causa
maçônica, teve nos países católicos diversas reações. Foi
notoriamente aceita na Florença, Veneza, Sardenha, Polônia, Espanha
e Portugal. Nestes dois últimos países grassou a Inquisição e a
História conserva o processo movido contra o maçom João Coustos,
113
entre 1742 e 1744 em Lisboa, torturado e condenado ás galés. Na
Espanha, Felipe V promulgou em 1740 uma ordem contra os maçons,
baseada na Bula, desencadeando uma sangrenta perseguição. Mas,
na Franca a Bula não surtiu qualquer efeito; não tendo sido
registrada pelo Parlamento de Paris nunca foi colocada em execução,
mercê ao adágio “Lex non promulgata non obligat”; o clero francês
insistia em manter suas liberdades. Inclusive, durante todo o século
XVIII os padres freqüentaram as Lojas em grande número. Estas,
aliás, eram profundamente católicas. A primeira edição francesa
(1742) das Obrigações da Confraternidade dos Francmaçons contém
os Estatutos em uso nas Lojas da França e nelas se lê: “Ninguém será
recebido na Ordem se não tiver prometido e jurado inviolável apego à
religião, ao Rei e as costumes”.
Muitas outras Bulas e Encíclicas tem sido emitidas todas similares
em espírito. Aclaramos que uma Bula é um decreto do Papa e
portanto deve ser obedecido pelo povo católico e que uma Encíclica é
uma circular emitida também pelo Papa para esclarecer e orientar os
fieis sobre pontos de fé, doutrina e dogmas da Igreja.
Em 18 de Maio de 1751 o Papa Bento XIV promulga a bula
Providas Romanorum Pontificum, que também enumera 6 razões: 1)
nas sociedades e assembléias secretas estão filiados homens de
todos os credos; daí ser evidente a resultante de um grande perigo
para a pureza da religião católica; 2) a obrigação estrita do segredo
indevassável, pelo qual se oculta tudo que se passa nas assembléias
secretas; 3) o juramento pelo qual se comprometem a guardar
inviolável segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se
numa promessa ou juramento com o fito de furtar-se a prestar
declarações
ao
legítimo
poder;
4)
tais
sociedades
são
reconhecidamente contrárias às sanções civis e canônicas; 5) em
muitos países as ditas sociedades e agremiações foram proscritas e
eliminadas por leis dos príncipes seculares; e 6) tais sociedades a
agremiações são reprovadas por homens prudentes e honestos.
Um dos Papas que mas se destacou na campanha católica contra a
Maçonaria foi Pio IX. Durante seu mandato como Papa (1848–1878)
emitiu 116 documentos pontifícios com ataques e condenações às
sociedades secretas. Curiosamente em 1823 foi iniciado em uma loja
maçônica em Santiago do Chile, Giovanni Maria Mastai Ferreti, futuro
Papa Pio IX, então Secretário do Nuncio Apostólico Muzzi. Poder-se-á
alegar que o intuito dele ingressar na Maçonaria teria sido o de
conhecer mais de perto o inimigo da fé. Em 27 de março de 1874 a
Grande Loja Escocesa de Palermo, Itália, eliminou da Ordem o Papa
Pio IX acusado de perseguir seus irmãos. Além de perseguir à
Maçonaria, Pio IX foi um ardente anti-semita.
114
Estas ações da Igreja tinham uma força terrível, pois a Igreja era
a instituição mais poderosa da sociedade ocidental, sobre a qual
exerceu influência marcante, tendo o Papa se tornadoo dirigente
supremo do mundo ocidental. A Igreja, na época, formulava
princípios relativos ás atividades econômicas, controlava o ensino,
ditava normas relativas a organização familiar, na política cristianiza
a autoridade de Reis e Imperadores mediante a unção e sagração.
Afirmava que o poder leigo governa os corpos e o poder eclesiástico
governa as almas e como ao alma é superior ao corpo, a autoridade
eclesiástica sobrepõe-se a autoridade leiga. Ao Papa, como chefe da
Igreja e representante direto de Deus na Terra, corresponde o
governo supremo da sociedade cristã, à qual pertencem Reis e
Imperadores; além do mais, Reis e Imperadores, como os demais
homens, podem cair em pecado estando sujeitos ao julgamento do
poder eclesiástico. Em uma sociedade assim dirigida, pode-se avaliar
o que representava a pena de excomunhão que colocava o
condenado fora da comunidade e o privava de todos seus direitos.
Também a Igreja tem emitido em contra da maçonaria diversos
decretos que se tem avolumado no Codex Juris Canonico formando o
conjunto de leis que consolidam o direito dentro da Igreja. De todos
eles os mais fortes e conhecidos são os números 2335 e 2336 que
castigam com a excomunhão as seitas maçônicas que maquinam
contra a Igreja ou contra as autoridades cíveis legítimas e promove a
denuncia dos clérigos que participam em Lojas maçônicas.
Unicamente para efeitos documentais reproduzimos a continuação
os decretos principais emitidos em contra de associações de tipo
maçonaria e similares:
684 – Fideles laude digne sunt, si sua dent nomina associationibus
ab Ecclesia erectis vel saltem commen datis; caveant autem ab
associationibus secretis, damnatis, seditiosis, suspectis au quae
studeant sese a legitima Eccesiae vigilantia subducere.
São dignos de loa os fiéis que se inscreverem nas associações
erigidas ou ao menos recomendadas pela Igreja; mas fugirão das
associações secretas, condenadas, sediciosas, suspeitas, ou que
procuram evadir-se da legítima vigilância da Igreja.
693 – Acatholici et damnatas sectae adscripti aut censura notorie
irretiti et in genere publici peccatores valide recipi nequeunt.
Os católicos e os adscritos à seitas condenadas, ou os
notoriamente incursos em censura e, em geral os pecadores públicos,
não podem ser recebidos com validade.
115
1240 - #1 Ecclesiastica sepultura privantur, nisi ante mortem
aliqua dederint poennitentiae signa :
1) Notorii apostatae a christiana fide, aut sectae haereticae vel
schismaticae aut sectae massonicae aliieve eiusdem generis
societatibus notorie addicti;
#1 Estão privados da sepultura eclesiástica, a não ser que antes
da morte houvessem dado algum sinal de arrependimento:
1) Os notórios apóstatas da fé cristã ou os notoriamente filiados a
uma seita herética ou cismática ou à seita maçônica ou outras
sociedades do mesmo tipo.
1339. Ipso iure prohibentur :
# 8) Libri Qui duellum vel siucidium, vel divortium licita statuunt,
Qui de sectis massonicis vel aliise ciusdem generis societatibus
agentes, eas utiles et non perniciosas Ecclesiae et civili societati esse
contendut;
Estão proibidos por este decreto:
# 8) Os
divórcio, e
sociedades
perniciosas,
livros que declaram lícitos o duelo e o suicídio, ou o
os que tratando das seitas maçônicas ou de outras
análogas, pretendem provar que, longe de serem
resultam úteis para a Igreja e a sociedade civil.
2335 – Nomem dantes sectae massonicae aliisve eiusdem generis
associationibus quae contra Ecclesiam vel legitimas potestates
machinantur, contrahunt ipso facto excommunicationem Sedi
Apopstolicae simpliciter reservatam.
Os que dão seu nome à seita maçônica ou outras associações do
mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra as
potestades cíveis legítimas, incorrem imediatamente do ato, em
excomunhão simplesmente reservada à Sede Apostólica.
2336 – # 2 – Insuper clerici et religiosi nomen dantes sectae
massonicae aliisque similibus associationibus denuntiari debent
Sacrae Congregationi S. Officii.
# 2 – Os clérigos e os religiosos que dão seu nome à seita
maçônica ou a outras associações semelhantes, devem também ser
denunciados à Sagrada Congregação do Santo Ofício.
Que devemos entender por “maquinar contra a Igreja”? A resposta
é dada pela própria Igreja que através dos séculos tem acusado à
116
maçonaria de ações que correspondem a este “delito”, detalhando-se
alguns exemplos a continuação:
1751 – Os maçons enganam os fieis com falsa filosofia e vãos
sofismas
1844 – Maçons e cristãos são essencialmente inconciliáveis
- A Maçonaria declara que a razão humana é o meio de alcançar a
verdade
1846 – A Maçonaria diz que qualquer religião é digna
- A Maçonaria nega obediência e revela-se contra os Príncipes
1849 – A Maçonaria propicia a abolição do poder civil da Igreja
1850 – A Maçonaria propicia que a escola pública deve depender
do poder civil
1851 – A Maçonaria diz que a Verdade não é exclusividade da
Igreja Romana
- A Maçonaria diz que reis e príncipes estão isentos da jurisdição
da Igreja
- A Maçonaria diz que a Igreja não tem potestade para usar a
força
- A Maçonaria diz que o Direito Civil prevalece frente as leis da
Igreja
- A Maçonaria diz que o vínculo matrimonial é indissolúvel e
pertence ao Forum civil
1852 – A Maçonaria pede a separação da Igreja e do Estado
1854 – A Maçonaria declara que o poder civil de um país pode
definir os direitos
da Igreja
1855 – A Maçonaria nega à Igreja Católica de ser a única religião
do Estado
1861 – A Maçonaria pede que a Igreja se reconcilie com o
progresso, o liberalismo
117
e a moderna civilização
1862 – A Maçonaria declara que todo homem é livre de abraçar a
religião que a
luz de sua razão lhe indicar
- A Maçonaria declara que o Estado tem direitos ilimitados
1864 – A Maçonaria está a favor da democracia e da instrução
popular
- A Maçonaria ignora a proibição de pertencer à seita maçônica e
declara
que essa proibição está contra a lei e a honestidade
Pese a todos estes ataques da Igreja em contra da Maçonaria, esta
tem
continuado
seu
desenvolvimento
silencioso
abraçando
praticamente todos os países do mundo onde existam regimes
normalmente livres, e a Igreja Católica, tem diminuído sua influência
no mundo ao ponto que hoje representa bem menos do que
antigamente no desenvolvimento das idéias; seus sacerdotes
começaram a se engajar com doutrinas políticas que a Igreja sempre
combateu e o interesse por ingressar nos seminários é cada vez
menor. Os ultra-conservadores que no comando da Igreja criaram a
Inquisição e o Opus Dei, cedem seu lugar para dirigentes humanistas
que tentam dialogar com aqueles que por enquanto são chamados de
“irmãos na separação”.
Em 1928 acontece uma reunião em Aquisgran entre o padre
jesuíta Hermann Grüber e os maçons Lang, Lennhoff e Reichel e
todos concordam na necessidade de suprimir de ambos lados o
argumentos não objetivos, caluniosos e ofensivos.
Durante a 2a Guerra mundial, o Nuncio Roncalli, futuro Papa João
XXIII, trabalhou pela causa aliada junto dos maçons Riandey e
Marsaudon, da Resistência francesa.
No 2o Concílio do Vaticano já houve declarações bem diferentes
das posições intolerantes do passado e, em fevereiro de 1969, Alec
Mellor, advogado católico francês, pede e recebe autorização do
Vaticano, para ser iniciado na Loja L’Espoir No 35 da Grande Loja
Nacional Francesa, o que acontece em 29 de março do mesmo ano.
Após sua iniciação, Allec Mellor recolhe em livros suas impressões
sobre a Maçonaria e que tenta demonstrar que os anátemas da Igreja
em contra da maçonaria tem deixado de ter validade e efetividade.
118
Estes livros de Mellor ganham a adesão de maçons que professam a
fé católica e, paralelo a eles aparecem outros autores dando apoio,
dando a impressão que existe um movimento interno tendente a
provocar uma cisma dividindo a Maçonaria com fé revelada e
Maçonaria baseada na razão e a ciência; para a Igreja a primeira
seria Maçonaria regular e a outra espúria ou irregular. A
Confederação Maçônica Inter-americana reunida na sua VIII
Conferência de São Domingos, março de 1970, alertou sobre erros e
confusões que estes “reformistas” pretenderiam provocar, lembrando
as diferencias e a contradição existente entre a Igreja Católica e a
Maçonaria, sendo o maior obstáculo para estes reformadores o fato
da Maçonaria ser uma instituição para homens não alienados pela
obsessão do sobrenatural.
O Cânone 2335 começa a ser questionado. Respondendo a uma
consulta do cardeal John Joseph Krol, de Novo Iorque, em 18 de julho
de 1974, o Cardeal Prefeito do “Sacra-Congregatio Fidelis” do
Vaticano, responde que o Cânone aplica-se somente aos católicos que
se filiem a associações que conspirem contra a Igreja mas, os
clérigos e religiosos continuam sempre proibidos de pertencer a
qualquer instituição maçônica. Trata-se de um pequeno avanço no
campo da tolerância religiosa.
Em 1968, sempre sobre o Cânone 2335, o Grão Mestre da Grande
Loja Unida da Alemanha, Theodor Vogel, contata o Cardeal de Viena,
Franz Koening, e deste diálogo surge uma Comissão formada por
maçons e autoridades eclesiásticas que tem várias reuniões e que ao
término delas foi divulgada a Declaração de Lichtenau, em 5 de julho
de 1970 que pregava pelo fim da controvérsia, manifestando que as
Bulas referentes à Maçonaria tão somente tem interesse histórico,
sem sentido nos tempos atuais e que a Lei Canônica torna-se
impossível para uma Igreja que ensina a amar seus semelhantes.
Em novembro de 1973 foram iniciadas conversações entre
representantes da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e
da Confederação Maçônica do Brasil para estudar as doutrinas
católica e maçônica. A iniciativa surgiu em 1971 através de Dom José
Ivo Lorscheiter, então Secretário Geral da CNBB. Desde o seu inicio,
a primeira reunião de fato aconteceu em 1993, os encontros anuais
tem sido realizados em Porto Alegre (RS) e as discussões se fazem
em cima de temas sobre os quais existam possíveis “divergências
doutrinarias” entre as duas instituições.
Dois pontos principais tem sido levantados pela Igreja como
posição de reserva em relação à Maçonaria:
119
1. O ritos simbólicos, centrando tudo no ser humano, reconhecem
ainda a “Revelação Cristã”? Ou que espaço deixam à “Revelação
Cristã”, que os católicos reconhecem e aceitam?
2. A procura racional da verdade, a moral autônoma, deixam
espaço para a graça e a salvação em Cristo?
A Maçonaria tem explicado que os Ritos simbólicos não centram
tudo no ser humano como afirmado, uma vez que partem da
premissa de prevalência do espírito sobre a matéria, cuja fonte é o
Grande Arquiteto do Universo (Deus) existindo assim, espaço para o
fortalecimento da fé (de todas as religiões) adotada pelos seus
adeptos, constituindo-se a “Revelação Cristã” uma verdade para os
maçons católicos, que não pode ser questionada pela Maçonaria ou
pelos maçons de outros credos, segundo a doutrina que se extrai
desses ritos.
Enquanto ao segundo ponto, a procura racional da verdade
afirmada nos rituais desses Ritos não tem origem na moral
autônoma. Ao contrário, subordina-se à crença indispensável do
maçom no Grande Arquiteto do Universo, em Deus, no Deus da sua
religião, força espiritual de que tudo deriva. Assim, se para o maçom
católico a Graça da Salvação está em Cristo, tal verdade não
contraria qualquer princípio da maçonaria que impõe a seus adeptos
respeito às religiões, estimulando-os à mais absoluta fidelidade à fé
que abraçam.
Embora não tenha se manifestado a favor ou em contra, o
Vaticano está informado sobre os encontros, que continuam sendo
realizados em Porto Alegre, e manifestou que o assunto é da alçada
das autoridades religiosas brasileiras; a documentação vá sendo
arquivada em uma pasta denominada “Assuntos da Maçonaria”.
Em 1984 aparece um novo Código de Leis Canônicas, a “Sacrae
Disciplinaes Legis”, caindo a quantidade total de artigos de 2412 para
1728. Este novo Código expurga a excomunhão aos maçons mas, a
Sacra-Congretatio Fidelis, através se seu Prefeito Cardeal Ratzinger
aclara que “os fieis que pertencem as associações maçônicas estão
em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da sagrada
comunhão”.
Pode ser que no Brasil é o país onde mais tem acontecido maior
quantidade de encontros de bom relacionamento entre a Igreja e a
Maçonaria, pois são inúmeras as vezes que palestrantes convidados
por Lojas maçônicas no país todo, tem sido prelados da Igreja,
demonstrando que a maçonaria brasileira é essencialmente cristã.
120
Em outros países, Chile por exemplo, o relacionamento não existe
e podemos falar que os maçons chilenos se consideram “livrepensadores”.
Resumindo, a posição oficial da Igreja Católica pouco tem mudado
com respeito à Maçonaria, mas tem crescido, dentro do corpo dela, a
quantidade de membros da Igreja Católica que se relacionam com a
Maçonaria de forma amigável e trabalham junto com ela na solução
dos problemas de suas comunidades.
OUTRAS IGREJAS.
Após análise da história do relacionamento entre a Maçonaria e a
Igreja Católica, chega-se a conclusão que, de todas as Igrejas que
tem dominado o pensamento religioso no mundo, quase a única que
tem desenvolvido uma invariável perseguição em contra da
Maçonaria tem sido a Igreja Católica. As outras Igrejas, incluindo
aquelas em que está dividido o cristianismo, tem mantido um
relacionamento marcado pelo respeito e, até certo ponto, pela
amizade e isto é tão verdadeiro que quando o Papa João XXIII
pretendeu atrair os outros irmãos chamados por ele de “irmãos
separados” descobriu que muitos dos pastores e fieis destas Igrejas
cristãs eram irmãos. Unir a Igreja Católica com essas Igrejas com
maçons dentro delas, contrariava toda uma história de perseguições.
E se através desses pastores “irmãos” a Maçonaria infiltrar-se dentro
da Igreja Católica? Outro dado interessante é que nos países onde a
Maçonaria tem alcançado um maior desenvolvimento, Inglaterra,
Canadá e USA, a Igreja Católica é minoritária, sem influencia sobre o
Estado ou sobre a consciência do povo.
Uma das poucas exceções é a seita dos Santos dos Últimos Dias,
ou os Mórmons, que mantém uma posição anti-maçônica extremada,
proibindo aos seus adeptos de pertencerem à Ordem. Em 1839 os
Mórmons compraram terras em Illinois, USA, recebendo um bom
número de pessoas da religião Mórmon, e entre eles, havia alguns
maçons, que obtiveram em 1851 uma Carta Provisória da Grande
Loja de Illinois para fundarem uma Loja em 15 de outubro de 1842.
Logo depois começa o processo da poligamia dentre deles gerando
uma dura oposição dos maçons; as Lojas maçônicas começam a
proliferar dentro dos Mórmons, mas cometendo uma série de
irregularidades tais como iniciar maçons aos milhares, criando um
atrito com a Grande Loja, que eles não obedeciam. Em 1844
acontece um motim popular no estado de Illinois, onde são
assassinados dois irmãos carnais, ambos maçons, um deles fundador
da primeira Loja de 1842 e o outro que iniciou o processo de
poligamia. Os Mórmons emigram para Utah, fundam Salt Lake City e
logo em seguida renunciam a sua condição de maçons e iniciam uma
campanha intensa contra a Maçonaria.
121
Também grupos protestantes minoritários de USA, especialmente
das denominadas igrejas neo-pentecostais desenvolvem hoje em dia
uma campanha em contra da maçonaria acusando-a de :
· manter duas organizações, uma invisível e outra invisível para
fins de dominação inconfessáveis,
· criação de uma religião mundial dominada pela maçonaria,
· manter ligações com a feitiçaria,
· adorar a Lúcifer como a encarnação da Luz,
· considerar a serpente (Kundalini) como o Salvador do Mundo,
· adoração do ato sexual (provavelmente refere-se ao Ponto
dentro do Círculo)
· ensinar que o homem pode atingir a divindade
· derivar dos Cavalheiros Templários, que eram adoradores de
Satanás, etc
No Islam existe uma reação quase que geral em contra da
Maçonaria. Quando foi emitida a primeira excomunhão dos maçons
pelo Papa Clemente XII, os Ulemas (teologistas islamitas) com o
argumento que “se o Papa declara que os maçons são ateus, algo de
verdade deve existir, e acabaram influenciando o Sultão Mahmud I
para proibir a Maçonaria nos países árabes.
A exceção são Líbano e Marrocos, incluindo-se também as lojas
militares que existem nas bases norte-americanas sediadas nos
países árabes. Em 1973 a Alta Corte de Casablanca determinou que a
Maçonaria é compatível com o Islã. Em Turquia existe uma Grande
Loja reconhecida e consagrada pela Grande Loja da Escócia, como
igualmente no Egito, que por sua vez tem tido períodos regulares e
irregulares a través da sua história.
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