Fiam-Faam Faculdades Integradas Alcântara Machado
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Fiam-Faam Faculdades Integradas Alcântara Machado
Fiam-Faam Faculdades Integradas Alcântara Machado Comunicação Social Jornalismo Shakespeare Press A notícia em atos Os Clowns de Shakespeare como pontes entre a ficção e a realidade Giulia de Gregório Listo São Paulo 2012 1 Giulia de Gregório Listo SHAKESPEARE PRESS – A NOTÍCIA EM ATOS Monografia apresentada ao curso de graduação da Faculdade Fiam-Faam como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em jornalismo, sob a orientação do Prof. Ms. Marcelo Cardoso São Paulo 2012 2 Giulia de Gregório Listo SHAKESPEARE PRESS – A NOTÍCIA EM ATOS Monografia apresentada ao curso de graduação da Faculdade Fiam-Faam, sob a orientação do Prof. Ms. Marcelo Cardoso. Defendido e aprovado em ____ de____ de_____, pela banca examinadora constituída pelos professores: _______________________________________ Professor (a) Dr. ______________________________________ Professor (a) Dr. ______________________________________ Professor (a) Dr. 3 Listo, Giulia de Gregório Shakespeare Press: a notícia em atos/ Giulia de gregório Listo – 2012 64 p.: il. color. 1. Os clowns de Shakespeare 2. Jornalismo I. Giulia de Gregório Listo II. Shakespeare Press: a notícia em atos 4 ―And by the way, everything in life is writable about if you have the outgoing guts to do it, and the imagination to improvise. The worst enemy to creativity is selfdoubt.‖ Sylvia Plath 5 Agradeço a todos que me ajudaram na realização deste trabalho. À minha família, que teve paciência e me deu suporte; Aos poucos e incríveis amigos que me mantiveram sorrindo nos momentos tortuosos; Ao professor Marcelo Cardoso e à professora Marcia Avanza, pela sabedoria e pela orientação que me permitiu finalizar este projeto; Àqueles que não me deixaram cair, nem desistir, seja segurando minha mão ou me acompanhando lá do céu. Muito obrigada! 6 Resumo Traça uma visão diferenciada sobre as peças do poeta e dramaturgo William Shakespeare, sob um âmbito jornalístico, com o intuíto de questionar e analisar se os fatos ocorridos nas peças, comumente baseadas em acontecimentos reais e cotidianos, poderiam ser considerados uma forma de comunicação noticiosa, através das falas dos Clowns, conhecidos por fazer a ponte entre a ficção e a realidade. Tem por objetivo descobrir uma forma desconhecida e inusitada de comunicação, que se desenvolveu a partir da acessibilidade do teatro e da compreensibilidade da fala em um tempo onde a educação era escassa. A pesquisa se dá através do estudo de duas peças específicas: Como queiras (1599-1600) e Noite de Reis(1601-02); de livros de estudiosos tanto da imprensa quanto de Shakespeare, como James Shapiro, Frank Kermode e Stanley W. Wells; de registros históricos e entrevistas com mestres de ambas as áreas supracitadas. Palavras-chave: Imprensa, Inglaterra, Jornalismo, Shakespeare, Teatro 7 Abstract Draws a different perspective on the works of the poet and playwright William Shakespeare, from a journalistic context, with the goal to question and examine whether the facts in the plays, commonly based on real and everyday events, could be considered a form of news reporting, through the speeches of the Clowns, known for bridging the gap between fiction and reality. Aims to discover an unknown and unusual form of communication, which developed from the accessibility of the theatre and intelligibility of the speech in a time where education was scarce. The research is made through the analysis of two specific plays: As you like it (1599-1600) and Twelfth Night (1601-02); books by Shakespeare and press scholars, as James Shapiro, Frank Kermode and Stanley W. Wells; historical records and interviews with masters of both areas above. Keywords: England, Journalism, Press, Shakespeare, Theatre 8 Sumário 1. Introdução .........................................................................................................10 1.1 Objetivo Geral................................................................................................11 1.2 Objetivo Específico........................................................................................11 1.3 Metodologia...................................................................................................11 1.4 Justificativas...................................................................................................12 1.5 Problema e Hipóteses.....................................................................................13 1.6 Fundamentação Teórica..................................................................................15 2. Imprensa Mundial – Uma breve história............................................................23 2.1 Comunicação em Londres..............................................................................27 3. Monarquia Britânica..........................................................................................29 3.1 Os Tudors.......................................................................................................30 3.2 Elizabeth I e a revolução das Artes................................................................31 4. William Shakespeare – Homem, poeta e dramaturgo........................................34 5. Os Clowns de Shakespeare e as pontes entre realidade e ficção........................40 5.1 Noite de Reis.....................................................................................................41 5.2 Como Gostais....................................................................................................49 6. Conclusão............................................................................................................56 Referências Bibliográficas.......................................................................................58 Índice de imagens....................................................................................................61 Anexos.....................................................................................................................62 9 Introdução Buscar formas de comunicação eficazes sempre foi uma das engrenagens fundamentais da evolução humana. Qualquer que fosse a época, a cultura ou a linguagem, as pessoas sempre procuraram maneiras para expor suas ideias e ideais, suas vontades, suas opiniões e seus desagrados. Tão incessante é esse desejo em dar vazão aos pensamentos e se fazer entender, que mesmo à sombra da proibição e da censura, muitos arriscaram e continuam a arriscar as vidas, inserindo suas palavras nas entrelinhas, esperando que sejam compreendidas. Assim também pode ser considerada a crítica à realidade escondida, por exemplo, nas falas de uma personagem numa peça de William Shakespeare. Até que ponto suas sátiras retratavam a realidade e onde elas se tornavam apenas ficção é o que se busca neste estudo. A necessidade da comunicabilidade e da crítica numa sociedade comandada rigidamente pela monarquia poderia ter encontrado na personificação do palco, a liberdade para suas vozes. Tema: As peças do dramaturgo William Shakespeare (Stratford-upon-Avon; 15641616) comumente tratavam assuntos verídicos e/ou corriqueiros, embora sob diferentes vestimentas, fazendo assim um papel comunicativo, satírico e noticioso para a sociedade inglesa do século XVI. Como as notícias chegavam até as pessoas através dos atos e falas dos bufões, personagens associados à crítica e sátira da realidade, mais do que através dos escassos panfletos e folhetins que começavam a surgir pela Europa. Como o Teatro era um entretenimento barato e de fácil acesso, atraia tanto o povo simples, quanto os intelectuais e nobres, fazendo crer assim que pouquíssimas pessoas, mesmo as mais humildes, deixavam de assistir uma peça. Além de ser uma diversão barata, a comédia e os romances entretiam os mais pobres, que em geral não sabiam ler nem escrever, e as críticas e artimanhas entretiam os nobres. Um aprendiz que não sabia ler poderia ter visto a mesma peça que um membro da corte com educação superior. A diferença era o preço que cada um pagava na entrada. Trataremos de onde vinham as inspirações para as peças, os acontecimentos na Londres e arredores do século XVI, como podem ser vistos nas falas dentro das peças e ainda, 10 traçar um paralelo com as sátiras que temos na atualidade no Brasil, onde casos reais são apresentados da mesma forma que às peças de Shakespeare. Objetivo geral: Fazer um estudo para compreender se as peças divulgavam fatos suficientemente verídicos para a população, agindo como espécie de veículo informativo. Traçar paralelos entre Shakespeare/ formas de imprensa no século XVI/ pesquisa histórica e jornalística. Objetivo específico: Analisar as formas de comunicação, o surgimento da imprensa e como a notícia percorria a Europa; Fazer uma breve análise da Monarquia britânica (Os Tudors r. 1485-1603; Elizabeth I r. 1558-1603; Jaime I r. 1603-1625). Analisar a educação, as crenças, a saúde e o entretenimento (os teatros Globe, o Rose e o Swan; e como a praga e a peste interferiam nos negócios teatrais). Expor a vida de William Shakespeare de forma ampla, como homem de família, de negócios, poeta e dramaturgo. Analisar o papel dos clowns nas peças, sua real relação com a trama e com a realidade. As passagens nos textos que geravam a identificação com pessoas e fatos. Onde Shakespeare conseguia suas informações e como elas chegavam a ele antes de aos cidadãos comuns. Por fim, pretendemos examinar as fontes para as peças propriamente ditas. As histórias por trás das histórias. As personas por trás das personagens que eram representadas nos palcos, as evidências, os registros e documentos. Metodologia: O trabalho irá realizar, além da pesquisa, um trabalho de campo entrevistando especialistas no dramaturgo, em história, literatura e pesquisa jornalística (Fontes: Dr. Erin Sullivan – Professora do Shakespeare Institute (SI); Dr. Michael Dobson – Diretor do SI;) Consultas à acervos e documentos também serão realizadas, intencionando deixar o estudo devidamente embasado para futuras consultas e para que as conclusões sejam satisfatórias. 11 Justificativa: O trabalho propõe estudar de forma diferenciada e original um assunto já bastante conhecido, buscando aspectos ignorados e/ou desconhecidos, se tornando uma ferramenta auxiliar para interessados em aspectos históricos, literários, teatrais e jornalísticos. Propõe analisar um formato até então pouco explorado de crítica noticiosa, podendo ilustrar que a comunicação pode ser realizada através dos mais distintos veículos, e é intrínseca à humanidade. O trabalho deseja mostrar a união da pesquisa jornalística com a pesquisa histórica, a necessidade de um para se possuir o outro. Foi escolhido este campo de estudo por, primeiramente, não ter sido antes analisado com amplitude nem ter sido de forma significativa relacionado aos fundamentos do jornalismo. Em segundo lugar, por ser um assunto diferenciado, buscando trazer inovação e diversificação, ampliando horizontes, para mostrar que o jornalismo pode ir muito além dos meios que conhecemos, se há necessidade para tal. O trabalho inclui em si muitas das ferramentas jornalísticas aprendidas no decorrer do curso, sem as quais seria impossível atingir um resultado satisfatório, seja ele positivo ou negativo. Há, nas seguintes páginas, pesquisas, entrevistas, analises, redação e edição intrínsecas ao curso de comunicação social em jornalismo. Espero que outros alunos e entusiastas possam ver no trabalho uma fonte que faltava, pois realizei diversas buscas e não encontrei análises que relacionassem a verossimilhança das sátiras dos bufões de Shakespeare com os fatos ocorridos na Europa do século XVI, nem em língua portuguesa nem em língua inglesa e espero que o estudo venha suprir essa necessidade. Também espero que não apenas supra as necessidades de quem já busca esse tipo de informação, mas que possa chegar à quem ainda não a possui. Que a conclusão, seja positiva ou negativa, possa atingir profissionais e interessados de diversas áreas, tais como jornalismo, literatura, artes, teatro, história, sociologia, antropologia, dramaturgia entre outros, trazendo um tanto mais de conhecimento, e instigando a curiosidade, a pesquisa, a busca pela informação e pelos fatos. 12 Por fim, o trabalho deseja unir dois assuntos que de início parecem não possuir nada em comum e traçar paralelos, mostrando que na realidade o jornalismo, mesmo que sob outro nome estava presente na Inglaterra do século XVI, assim como as notícias estavam presentes, sob outras vestimentas, nas peças Shakespearianas. Problema: Poderiam os clows & fools de William Shakespeare serem responsáveis pela conexão entre realidade e ficção das peças com os eventos do século XVI, criando uma sátira noticiosa, assim como programas de humor dos dias atuais? Hipóteses: Há, em nosso campo de pesquisa, algumas hipóteses que visam responder o problema anterior. Diversos especialistas defendem a teoria de que os clowns serviam muito mais para conectar a peça com eventos do mundo real, do que para cumprir o papel humorístico que lhes era creditado. Considerando as Tragédias de Shakespeare, vemos que o clown desempenha a função quase fundamental de elemento satírico dentro da própria história, sem ligações exteriores, apenas aliviando cenas de tensão. Por exemplo, os coveiros (gravediggers) que aparecem logo após o suicídio de Ofélia em Hamlet e o bufão que se aproxima de Cleópatra enquanto ela se prepara para sua morte em Antônio e Cleópatra. Em todo caso, quando das Comédias, o clown tende a se destacar por seus comentários distintos, à parte da trama, muitas vezes se direcionando diretamente ao público e sendo possível, em alguns casos, traçar claramente os paralelos entre suas falas e a realidade. Conhecendo o tempo que as notícias levavam para chegar aos cidadãos comuns, é possível crer que tais fatos corressem pela capital em forma de meros boatos e fossem confirmados ao serem representados nos palcos. Shakespeare teria acesso às informações de forma privilegiada em comparação aos outros de classe social similar por seu maior contato com a corte. Estão presentes em 21 das peças.( Ver Anexo I) 13 Isso, é claro, é o grande segredo do bobo bem sucedido – que ele não é bobo de modo algum. 1 (ASIMOV,Isaac. Guide to Shakespeare, Estados Unidos, 2003, p. 10) A presença e/ou a fala de alguns bufões era alterada na presença da corte, quando a peça os era apresentada. Mas não por isso deixam de abordar os problemas recorrentes pelos quais a Inglaterra passava, principalmente no campo de batalha. Sempre quando em guerra, havia extremo desconforto entre a Rainha, seus conselheiros e seus súditos e as peças abordavam isso de forma muito clara, mesmo que com outros nomes. Um exemplo muito claro disso está na peça Henrique IV, que aborda os acontecimentos da Inglaterra de Elizabeth I. Em 1598, a peça foi encenada em Whitehall para a corte, e em seu prólogo de abertura vemos um personagem chamado Rumor: Sobre as minhas línguas cavalgam calúnias constantes As quais eu pronuncio em vários idiomas, Enchendo os ouvidos dos homens com falsos relatos. Eu galo de paz com inimizade disfarçada, Sob o sorriso da segurança, fere o mundo.2 (Henrique IV Part 2 Prólogo ) Dito isso numa situação em que a Inglaterra se encontrava em pé de guerra com a Espanha, no meio de uma disputa de favores e com a meia-irmã da rainha, Mary I, ameaçando uma emboscada. Essas palavras teriam calado fundo em Whitehall naquele dia de final de dezembro, quando rumores de grande importância circulavam pela corte ansiosa. Haveria paz ou guerra contra a Espanha? E o indeciso conde de Essex finalmente concordaria em liderar o exército inglês para reprimir a rebelião irlandesa? (SHAPIRO, James. 1599 – Um ano na vida de Shakespeare, Londres, 2005, p.57) 1 That, of course, is the great secret of the successful fool – that he is no fool at all. 2 Upon my tongues continual slanders ride, The which in every language I pronounce, Stuffing the ears of men with false reports. I speak of peace while covert enmity Under the smile of safety wounds the world. 14 Fundamentação teórica 1. Conecções com a realidade 1.1 A voz através das personagens Shakespeare alterou o panorâma pelo qual as personagens eram vistas, e principalmente, por quem elas falavam. A dramaturgia era feita, até então, exclusivamente com personagens nobres, mesmo que vista por todos. Os interesses tratados não falavam diretamente aos cidadãos comuns, e estes quando representados, eram apenas parte da comédia, sem personalidade, pensamentos ou quaisquer direitos. Na Idade Média, as pesadíssimas moralidades, para ampliar o fôlego do espectador, acabaram por fazer do diabo um personagem cômico, em ocasiões esporádicas, razão por que, na dramaturgia pré-shakespeariana, aparecem algumas peças de pretenções sérias que, considerando que o público gostava de se rir ocasionalmente, incluíam cenas de virtual pastelão, desempenhadas por criados trapalhões, que nada tinham a ver com as intenções mais sérias de seus amos ou da própria obra. Foi William Shakespeare quem alterou esse panorama – e com a criação das cenas de taverna, com Falstaff e seus comparsas, na primeira e na segunda partes de Henrique IV, foi o primeiro autor a mostrar ao mundo que um reino não é expressado exclusivamente por seu governantes e classes dominantes. (HELIODORA, Bárbara. São Paulo, 2007) 15 Figura 1 E por isso sua tão forte identificação com o público, qualquer que fosse sua classe social. Suas personagens empunham falas para ambos os lados e contra ambos os lados, gerando um equilíbrio até então inexistente em outras obras literárias. Os personagens que proferiam os epílogos de Shakespeare tinham a tendência de vacilar entre o mundo ficcional e o real (...) (SHAPIRO, James. 1599 – Um ano na vida de Shakespeare, Londres, 2005, p.57) E abstendo-se das personagens principais que lideravam, ou assim se supunha na maior parte das vezes, toda a história, Shakespeare deu nova vida à uma persona tão conhecida do teatro desde a era medieval, os clowns. Presentes em 21 peças, os clowns/fools tem por característica cumprir o papel humorístico na trama. Aparecendo muitas vezes após uma cena dramática, buscavam aliviar a tensão com suas peripécias. Porém, se comunicavam por vezes diretamente com a platéia, faziam críticas à realidade e geralmente se mostravam personagens incrivelmente sábias dentro das peças. Seguindo uma fala de Touchstone, clown de Como Queiras e uma das personagens mais conhecidas e discutidas de Shakespeare: 16 É uma pena, então, que aos bobos da corte não seja permitido falar de modo sábio aquilo que os sábios fazem de modo bobo. (Como Gostais 1.2.7)3 Havia também as personagens que, talvez mais que quaisquer outras, se identificavam com os espectadores, embora de forma indireta. Aquelas que tinham uma característica de espectadoras, que atuavam mas também observavam, analisava e indagavam para, apenas no final, revelarem o que se passava em suas mentes e através das cortinas. Muito similar ao que faz o público de qualquer peça de teatro em qualquer época, absorvendo seu conteúdo para ligar os pontos ao fim. Teria sido nesse momento, em 1599, que Shakespeare pensou pela primeira vez na possibilidade de escrever sobre um personagem que permaneça durante quase toda a peça nesse estranho estado de suspensão? Não é Brutus esse personagem; na metade da peça, ele executou o ato pavoroso, a morte de seu mentor e amigo – talvez seu pai-, e o que resta da peça traz a tona as consequências fatais de seu ato. Se Shakespeare não percebeu isso naquela oportunidade, com certeza no ano seguinte compreendeu perfeitamente que haviu um personagem, já conhecido no palco elisabetano, cuja vida podia ser narrada como longa fantasmagoria ou sonho monstruoso. Esse personagem, o príncipe da insurreição interior, era Hamlet. (GREENBLATT, Stephen. Londres, 2011, p. 209) E para finalizar haviam as personagens que causam uma identificação cômica sem nenhum desconforto, por não possuírem nome próprio nem personalidades marcantes, mas apenas traços esteriotipados de suas profissões ou outro fator pelo qual eram reconhecidas. Essas personagens, presentes em todas as peças – nem sempre na mesma proporção- serviam para contar histórias, levar informações, servir de exemplos, entre outras coisas. Sobre Dois Cavalheiros de Verona temos: (...) esses pequenos ―personagens‖ usados para comparação parecem ser o método favorito de Shakespeare de criar símiles nesta peça, e para tal objetivo ele usa, entre outros, uma criança, um bebê, uma ama, um médico, um mendigo, um peregrino, um falido, um enfarrapado que reza por outros, um soldado, uma etíope morena, um arauto, um senhor poderoso, bem como prisioneiros, escravos, bastardos e mensageiros. (SPURGEON, Caroline. Cambridge, 2006, p. 250) 3 The more pity that fools may not speak wisely what wise men do foolishly. 17 Através destes curiosos personagens, Shakespeare deu voz às suas ideias e pensamentos, e aos pensamentos de um povo carente da exposição de suas críticas e descontentamentos. 1.2 Uma Inglaterra em turbilhão Este real trono, esta ilha coroada, este solo de altiva majestade, esta sede de Marte, este novo Éden, este meio paraíso, fortaleza que a Natureza para si construiu contra as doenças e os braços invasores; esta raça feliz, mundo pequeno, esta pedra preciosa, colocada num mar de prata que lhe faz as vezes de muro intransponível ou de fosso que lhe defende a casa contra a inveja das terras menos fartas; este solo bendito, este torrão, esta Inglaterra. (Ricardo II 2.1.5)4 Muitos eventos importantes aconteciam pela Europa e pelo mundo à época de Shakespeare. A Grã-Bretanha, sendo uma das maiores, se não a maior potencia intelectual e financeira, era o centro de conflitos, disputas, estratagemas e guerras. Cada pequena coisa que se alterava no país poderia ter as mais diversas consequências para sua população e seus arredores. Sem dúvida alguma, sendo Shakespeare um homem letrado, com situação estável e em busca de novos negócios, estava sempre buscando informações sobre o que se passava na corte. Seu acesso ao palácio era consideravelmente fácil, fazendo parte da principal trupe de teatro que se apresentava na corte, a The King‘s Men, comandada por Richard Burbage. (SHAPIRO, James. São Paulo, 2005) Considerando os acontecimentos marcantes na Inglaterra Elizabethana, que podem e muito provavelmente devem ter afetado algumas das peças, principalmente no que diz à visão das personagens, podemos citar o ano de 1567, com o assassinato de Lord Darnley, marido de Mary Stuart, num crime ainda hoje creditado parcialmente à ela. O 4 This royal throne of kings, this scepter'd isle, This earth of majesty, this seat of Mars, This other Eden, demi-paradise, This fortress built by Nature for herself Against infection and the hand of war, This happy breed of men, this little world, This precious stone set in the silver sea, Which serves it in the office of a wall, Or as a moat defensive to a house, Against the envy of less happier lands; This blessed plot, this earth, this realm, this England. 18 aparecimento público de um caso assim permitiu, por exemplo, que Shakespeare abordasse assuntos similares em algumas de suas peças, como com Goneril em Rei Lear. A partir do segundo Ato, a personagem passa a tramar o assassinato do próprio marido e da irmã. Seu fim é o suicídio. Se casos como estes não fossem de certa forma comuns, Shakespeare enfrentaria diversos problemas com o clero e com a censura, que à epoca, fechava teatros inteiros por uma única objeção. Em 1568, há o aprisionamento de Mary Stuart por Elizabeth I no castelo de Fotheringay. Também se inicia o questionamento do Parlamento quanto ao casamento da rainha Elizabeth e a discussão se arrasta até 1570, quando a Rainha Virgem é excomungada pela igreja católica. No ano seguinte, Sir William Cecil é nomeado Lord Burghley. Cecil foi um estadista, conselheiro-chefe, tesoureiro, secretário de estado e amigo da rainha. Foi o fundador da Dinastia Cecil, que gerou vários políticos, incluindo dois primeiros-ministros. Estudiosos especulam que Apolônio (Hamlet) tenha sido inspirado em William Cecil, e que seu conselho para Laertes teria soado muito parecido com o de Burghley a seu filho, Robert Cecil. A. L. Rowse, escritor e biógrafo de Shakespeare, afirma que a verbosidade da personagem é o que mais lembra Burghley, mas também sua forma caricata deixava poucas dúvidas. Outros membros da família Cecil são indiretamente citados ou utilizados como inspiração nas peças de Shakespeare. Anne Cecil, filha de William Cecil, casou aos 15 anos com Edward de Vere, Earl de Oxford. Em 1576, Anne foi acusada de infidelidade e por alguns anos houve suspeitas de que sua filha mais velha, Elizabeth, não era dele. É suposto que Anne se reconciliou com o marido através do Bed Trick, uma técnica conhecida na literatura tradicional e no folclore como a troca de um dos parceiros durante o ato sexual por outro, se utilizando da escuridão do quarto, para que o outro não saiba. Esse truque ficou muito conhecido durante o renascimento inglês, e Shakespeare se utiliza dele em Bem Está o que Bem Acaba e Medida por Medida. Durante o início de sua carreira, Shakespeare participou de várias companhias teatrais, entre as quais: The Queen's Men, Pembroke's Men and Lord Strange's Men The Queen's Men, Pembroke's Men e Lord Strange's Men. Em 1593, porém, os teatros foram 19 fechados por causa da peste bubônica, e ficaram fechados quase que continuamente de Janeiro de 1593 à Maio de 1594. De Dezembro de 1592 à Dezembro de 1593, John Stow, um historiador e arquivista elizabethano reporta 10,675 mortes de peste, numa cidade de 200,000 habitantes. Nesse período, enquanto muitas companhias decidem viajar com grupos reduzidos para encenar em outras cidades, Shakespeare se dedica, porém não exclusivamente, a poemas narrativos, começando com Vênus e Adonis e depois com O Estupro de Lucrécia, ambos dedicados a Henry Wriothesley, Earl de Southampton e Barão de Titchfield, que tinha 19 anos na época. Muitos estudiosos acreditam ser Southampton o jovem rapaz à quem a primeira parte dos Sonetos, estes que provavelmente teriam sido escritos na mesma época, é dedicada. Existe uma hipótese, muito difundida porém não tão creditada, contada por Sir William D'Avenant, que Southampton teria recompensado Shakespeare por seus trabalhos poéticos com 1,000 libras. [ GRAY, Terry A. A Shakespeare Timeline, 1998] E Shakespeare se estabeleceu de uma vez por todas com a reunião das companhias e a reabertura dos teatros em 1594. Em Dezembro deste ano, encontramos Shakespeare listado pelo Tesoureiro da Câmara da Rainha juntamente com Will Kemp e Richard Burbage, o grande palhaço e ator de tragédias da companhia, recebendo pagamento por duas perfomances em Greenwich. Esses três e outros quatro homens eram os membros de uma nova companhia organizada com o patrocínio de Henry Carey, Lord Hunsdon, Camareiro da Rainha (Queen‘s Chamberlain). Eles ficaram conhecidos como The Lord Chamberlain‘s Men. Se apresentaram publicamente no The Theatre, construido por James Burbage em 1576. Shakespeare se tornou sócio da companhia, disfrutando assim de parte dos lucros e isso lhe proporcionou estabilidade para seus anos mais frutíferos quando, como dramaturgo da companhia, escrevia uma média de duas peças por ano. Se Southampton tivesse mesmo pago mil libras a Shakespeare por seus trabalhos literários, isso explicaria como ele conseguiu se associar à The Lord Chamberlain‘s Men, num investimento que formou a fundação de todo seu sucesso financeiro. 20 1.3 A realidade através dos versos É impossível tentar analisar as peças de Shakespeare sem estudar a linguagem por ele empregada, seus versos, metáforas e suas entrelinhas. A escrita de Shakespeare, seja dramática ou poética, foi extremamente inovadora. Na poesia, seus sonetos foram escritos em pentâmetro iâmbico, uma métrica de cinco pés e dez sílabas, responsável pela harmonia das palavras, e na prosa inventou muitos vocábulos e expressões que usamos hoje em dia, como ―coração de ouro‖, ―o amor é cego‖, ―haja o que houver‖, ―vi dias melhores‖ e tantas outras. Todas essas formas de linguagem tocavam o público de diversas formas. Diz o experiente diretor Richard Eyre que A vida das peças está na linguagem, não paralela a ela, ou debaixo dela. Sentimento e pensamento são liberados no momento da fala. Uma platéia elisabetana reagiria ao pulsar, ao ritmo, às formas, sons e acima de tudo significados, dentro da consistente linha de dez sílabas e cinco acentuações do verso branco. Essa platéia era composta de um público que ouvia. (Utopia and Other Places, 1993, p. 176) A forma com que os versos são construídos e falados passa a sensação necessária para se entender perfeitamente a peça, sem que alguém a encene num palco. Os versos de palavras longas, de falar arrastado, quase cansado, passa a languidez do soldado que retorna do campo de batalha. Também era comum à época, e que hoje nos causa estranhamento e, em certos casos, desconforto, que a personagem, mesmo cansada ou severamente machucada, se disponha ainda a falar em símiles por uma longa cena, como acontece em Henrique VI Parte 3, onde Richard de York, no calor da batalha, se bota a comparar a fuga de suas tropas com navios e carneiros. E acontece, de forma incômoda, em Titus Andronicus, quando Marcus encontra sua sobrinha Lavínia, que foi estuprada e teve as mãos e as línguas cortadas, e se põe a declamar um longo poema sobre a imagem dela, como ela costumava ser e a imagem horrenda que tem diante de si agora, sobre o sangue que ainda jorra de sua boca e como irá contar ao seu pai seu desafortúnio. Para a platéia elizabethana, porém, isso não causava estranheza. Era comum recorrer à longas descrições para detalhar uma cena, e metáforas estavam presentes na maioria das 21 peças de todos os escritores. (KERMODE, Frank. Rio de Janeiro, 2006) Era preciso, para Shakespeare bem como para seus contemporâneos, cuidado e descrição com as palavras. Uma piada mal entendida ou uma crítica mal escondida nas entrelinhas poderia lhes custar a vida, ou na melhor de todas as hipóteses, a carreira. Por mais incentivo que as artes do palco pudessem receber da monarca, era óbvio que se esperava uma relação de respeito mais do que severo. Ainda assim, isso não impedia que Shakespeare se aproveitasse da liberdade que o teatro dava, através de suas personas inventadas, para criticar a predileção da rainha por alguns de seus ―fiéis‖ nobre ou o fato de seus subordinados não a levarem à sério por ser mulher e não possuir um marido, como é o caso da fada rainha Titânia em Sonho de uma Noite de Verão, que a professora Helen Hackett, da University College London acredita ser uma clara retratação de Elizabeth I Uma vez que você começa a pensar sobre isso se torna bem óbvio – você tem Titânia, a Fada Rainha que está apaixonada por um asno. Bem, você não pode pensar na Fada Rainha sem pensar em Elizabeth por causa de Spencer. Titania é feita escrava da luxúria, uma figura cômica, seus poderes são zombados e ela é trazida de volta pela autoridade do marido. Essa é a norma implicita. (HACKETT, Helen. Interview to The Browser, 2010) A linguagem de Shakespeare será de crucial importancia para a analise dos casos neste estudo, pois nada que fosse fundamentado em fatos reais da época poderia ser dito em aberto, ou o autor correria o risco de ganhar inimigos poderosos, ou até mesmo ser preso e/ou decapitado. Mas Shakespeare era mestre em escrever nas entrelinhas. 22 2. Imprensa Mundial: Uma breve história Para falar de imprensa, no sentido puro de forma de comunicação, seria necessário analisar toda a história da humanidade, desde os seus primórdios por entre cavernas com pinturas rupestres, até chegar nos dias de hoje, com a tecnologia sempre crescente, com a internet presente em todos os lugares, disponibilizando ferramentas de tudo, para todos. A comunicação é inerente do ser humano. Precisamos nos comunicar e buscamos sempre novas formas de fazê-lo. Não apenas as palavras, mas os gestos, os tons, a arte em todas as suas formas, são meios efetivos de comunicação. Para iniciar a leitura deste estudo, é preciso se despir dos preconceitos quanto ao que concerne a comunicabilidade. Aceitar que nem sempre uma notícia é repassada da forma tradicional, ou o que conhecemos por tradicional hoje. Na Londres do século XVI, os fatos correm nas bocas, na poesia, nas canções e nas sátiras. Nos séculos XII e XIII, trovadores vindos comumente da França, munidos de instrumentos musicais rústicos, traziam suas odes e histórias de outras cidades para a corte, onde se apresentavam para os nobres. Também entretinham pequenos grupos de pessoas nas tavernas ou em círculos nas ruas, com suas poesias melódicas, de amor cortês, misturando ficção e realidade. Embora a tradição tenha declinado no final do século XIII, não raro nos deparamos com trovas e cançonetas nas peças de Shakespeare, cantadas pelos Clowns, como por exemplo no Ato 2, cena III de Noite de Reis, temos a canção O Mistress Mine, que na atualidade já foi gravada em diversos ritmos por diferentes interpretes. O termo imprensa deriva da prensa móvel, aperfeiçoada por Johannes Gutemberg por volta de 1440, com base nas prensas de rosca. Embora a prensa de tipos móveis pudesse produzir várias páginas (3.600/dia em comparação às 40/dia pela tipografia), seus gastos eram altos e era de difícil transporte. 23 Figura 2 A partir do século XV, os novos acontecimentos políticos, econômicos ou sociais do Ocidente, passaram a ser registrados em papeis que circulavam nas áreas mais habitadas de cada país. Surgem, pois, as primeiras impressões efêmeras da humanidade: as gazetas, com informações úteis sobre a atualidade; os pasquins, folhetos com notícias sobre desgraças alheias e os libelos, folhas de caráter opinativo, de acordo com a WAN- World Association of Newspapers. Da combinação destes três tipos de impressos resultaria, no século XVII, um gênero intitulado jornalismo. A partir do século XVII, começaram a surgir as primeiras publicações periódicas e frequentes em países da Europa como Alemanha, França, Bélgica e Inglaterra. Em Londres, foi publicado o primeiro jornal com título, o Corante, em 1621 Os mais beneficiados pelas prensas eram os livros. Já em 1500, prensas de tipos móveis em toda a Europa Ocidental haviam produzido mais de vinte milhões de volumes. Disse o estadista e filósofo Francis Bacon (1620) que a impressão tipográfica tinha mudado o rosto e estado das coisas em todo o mundo. Antes do feito de Guttenberg os conhecimentos eram registrados em livros escritos à mão e, mais tarde, na xilografia (Etimologia: do grego Xylon = madeira; Graphein = escrever) que consiste na obtenção do livro mediante a gravação em pranchas de madeira. Em ambos processos o trabalho requerido era monumental e os erros eram inevitáveis. Exemplos de livros xilografados: Bíblia Pauperum; esta obra é composta por quarenta quadros que ilustram acontecimentos da vida de Cristo e cenas do antigo Testamento; 24 Ars Moriendi; contém basicamente ilustrações medievais com uma página escrita para cada ilustração, traduzida para A Arte De Morrer. Ars Memorandi; obras do século XV, traduzida para A Arte de Recordar. (LITTON, 1975, p.51) Descoberta pelos chineses por volta do século II A.C., a arte da fabricação do papel se propagou em direção ao ocidente quando um grupo de fabricantes caiu prisioneiro dos árabes e foram obrigados a revelar seus segredos. Em 1.150 a arte chega à Espanha. Na época de Guttenberg já haviam sido criadas fábricas de papel em várias cidades europeias, permitindo assim que ele tivesse à sua disposição um material ideal para impressão, bem menos custoso que o pergaminho utilizado pelos monges copistas. (HEITLINGER, Paulo. São Paulo, 2006) A origem do jornal se deu em solos ingleses, franceses, alemães e, mais tardiamente, em terreno norte-americano. Naturalmente, o crescimento do impresso periódico ocorreu de forma distinta, em cada nação: Inglaterra (1622), Itália (1597), Florença (1636), Roma (1640), Gênova (1642), França (1631). Na América, o primeiro jornal coube às Colônias Britânicas; na América espanhola lidera em antiguidade a “Gaceta de México” (1722); na américa portuguesa o jornalismo só teria inicio em 1808. Em 1594, de acordo com o professor Wally Hastings da Northern State University, surge o primeiro periódico impresso, Mercurius Gallobelgicus, escrito em latim, criado em Cologne, na Alemanha, mas amplamente distribuído, encontrando leitores mesmo na Inglaterra. Contudo, o jornalismo em geral sofria rígidos controles do governo, o qual impunha leis severas para o seu funcionamento. Era a censura que começava a travar o progresso. Surgiu, pois, na Inglaterra, em 1765, a Lei do Selo, que impunha que todo jornal deveria pagar um selo para ter a permissão de circulação, o que por seu turno, fez aumentar o preço do exemplar e diminuir a sua venda. O Congresso da Lei do Selo foi realizado em Nova York em outubro de 1765. Vinte e sete delegados de nove colônias foram os membros do Congresso e foi de sua responsabilidade elaborar um conjunto de petições formais 25 afirmando porque o Parlamento não tinha o direito de taxálos. (WOOD, 2002, p. 29) A imprensa da França viveu sob a autorização prévia, ou seja, todo o conteúdo do jornal era, assim, supervisionado por uma organização corporativa antes de ser publicado. Estados Unidos e Alemanha também padeceram com severos controles do Estado. Tal cenário, no entanto, se transformou após a Revolução Francesa. Pois foi a partir dela que o jornal de todo o mundo pode demonstrar a sua real função social. Os inúmeros fatos advindos com a Revolução propiciaram uma enorme curiosidade por parte das pessoas, o que ocasionou um considerável aumento do público leitor. Outro fator significativo para a evolução do jornalismo foi a industrialização. A crescente mecanização tornou o processo de impressão mais rápido, mais barato e dinâmico. Logo, o público aumentou consideravelmente. O século XIX é um marco divisório para toda a imprensa mundial, pois datam desse período as primeiras grandes inovações do jornal. A Inglaterra, por sua vez, inovou produzindo jornais com uma maior variedade de assuntos; atendendo, assim, a um maior público. O jornal inglês passava a conter espaço para os acontecimentos do dia, notícias sobre esportes, informações de interesse feminino, manchetes na capa e um modelo de página melhor definido. A França pós-industrialização passou a ter jornais de várias tendências, estilos e orientações. No âmbito da política, germinavam jornais de esquerda, de centro e de direita. Mas também faziam-se presentes jornais religiosos e monarquistas. 26 2.1 Comunicação em Londres Apesar da aparente revolução iniciada pelas prensas móveis, elas não eram eficientes na comunicação interpessoal, afinal não era essa sua utilidade. Os livros eram cada vez mais abundantes, fazendo com que uma enorme onda de cultura e curiosidade se levantasse por toda a Europa, e as pessoas ansiavam por uma comunicação eficiente e cada vez mais rápida. No início do século XVI as prensas passam a gerar panfletos que eram usados para propagandas bélicas e anúncios reais. Por seu preço elevado, serviam aos desejos da monarquia e da nobreza, e não era raro ver anúncios de casamentos entre membros da corte, a condecoração de um general benquisto pela Rainha, entre fatos similares. Quando se viam panfletos para novas peças de teatro, ou sobre algum assunto de um cidadão comum, estes eram feitos à mão, e por isso eram poucos e um tanto diferentes entre si (ver anexo II). Mesmo no final do século XVI, os panfletos eram vistos como pequenos, insignificantes, efêmeros, descartáveis, mal impressos e não confiáveis. É preciso ressaltar que grande parte da população não tinha acesso à educação, e por isso não sabia ler, o que tornava os panfletos uma forma de comunicação altamentente ineficaz. Acontecimentos realmente grandes precisavam ser anunciados publicamente, ou não chegariam ao conhecimento da população. Por volta de 1580, houve um divisor de águas para os panfletos. Um momento determinado pela literatura crescente, capacidade financeira no comércio de livros, tensões na igreja Elizabethana, e uma fermentação da língua inglesa, consequência da conseqüência da reforma e da ênfase protestante na escritura vernácular. Muitos fatores conspiraram para moldar o panfleto e criar circunstâncias para seu futuro sucesso. As notícias então levavam semanas e até mesmo meses para chegarem de uma cidade à outra. Uma batalha perdida ou ganha dependia de mensageiros que voltassem para avisar, ou do retorno das tropas. E seguindo a lógica hierárquica, a 27 Monarquia recebia as notícias antes, e assim se seguia ao clero, à nobreza, ao resto da corte, à burguesia e então aos cidadãos comuns e humildes. Era inevitável que as informações se espalhassem mais como boatos do que como fatos confiáveis e as pessoas buscavam formas de falar sobre o que sabiam, e buscar histórias, em geral sobre os arredores e sobre os nobres e monarcas. Quando não em guerra, os poucos registros mostram que a vida era pacata e a busca por falar e criticar quem se conhecia era um divertimento à parte. (RAYMOND, Joad. Cambridge, 2006) 28 3. Monarquia Britânica Tão intrínseca à história da Inglaterra quanto a comunicação está a Família Real Britânica. Sua linhagem remonta aos antigos reis anglos e escoceses do século X. A Inglaterra teve seu processo de centralização política iniciado a partir da Baixa Idade Média, momento em que a Bretanha estava politicamente dividida em quatro reinos distintos. Sob o comando do rei Henrique II, o processo de unificação territorial foi iniciado com relativa eficácia durante o século XII. No governo seguinte, comandado pelo rei Ricardo Coração de Leão, diversas lutas contra os franceses e o envolvimento nas Cruzadas enfraqueceram o papel da autoridade monárquica. A falta de um rei presente e os grandes custos gerados com os gastos em guerras e conflitos motivou a classe nobiliárquica a impor um documento limitando às funções régias. No ano de 1215, o rei João Sem Terra ficou em uma situação delicada quando foi obrigado a assinar a Magna Carta, que impedia o rei de criar novos impostos ou alterar leis sem a aprovação do Grande Conselho, um órgão formado por integrantes da nobreza e do clero. A criação do Grande Conselho foi considerada por muitos historiadores como um elemento que impediu a formação de um governo tipicamente absolutista na Inglaterra. Ao ingressar na Guerra dos Cem Anos, entre os séculos XIV e XV, os exércitos e a autoridade monárquica britânica passaram a ser prestigiadas mediante as sucessivas vitórias obtidas nesse confronto contra os franceses. Além disso, as revoltas camponesas do século XIV também contribuíram com o enfraquecimento das autoridades locais. Com o fim da Guerra dos Cem Anos, a política inglesa ainda sofreu um sério abalo com a disputa entre as famílias York e Lancaster, que se enfrentaram na Guerra das Duas Rosas. No final do conflito, a dinastia Tudor passou a controlar o trono britânico sob a liderança do monarca Henrique VII. A partir de então, a Estado Britânico se fortaleceu de maneira impressionante pautando sua hegemonia, 29 principalmente, no fortalecimento de suas atividades mercantis. Nos governos de Henrique VIII e Elizabeth I o estado nacional britânico alcançou seu auge, afirmando o absolutismo. 3.1 Os Tudors A Casa de Tudor foi uma dinastia de monarcas britânicos que reinou na Inglaterra entre 1485 e 1603. A família Tudor se origina no século XII, com Ednyfed Fychan de Tregarnedd (1179-1246), senescal do Príncipe de Gwynedd, Llewelyn ap Iorwerth. O primogênito de seus 12 filhos, Gorowny, teve um filho, Tudur Hem, conhecido posteriormente como o velho, que viveu de 1245 a 1311. Dele descendem os Tudor. Seu monarca mais famoso, tanto por seu reinado quanto por sua vida pessoal, foi Henrique VIII (coroado a 24 de junho de 1509). Foi-lhe concedido o título de Rei da Irlanda pelo Parlamento Irlandês em 1541, tendo obtido anteriormente o título de Lorde da Irlanda. Foi o segundo monarca da dinastia Tudor, sucedendo a seu pai, Henrique VII, e pretendente ao trono francês. É impossível falar de seus feitos pela Inglaterra sem falar também de sua conturbada vida, que ainda hoje rende livros, séries televisivas e outros produtos. Henrique VIII era casado com Catarina de Aragão, princesa da Espanha, que lhe deu uma filha, Maria I . O casamento ruiu por Catarina não conseguir lhe dar um herdeiro homem e Henrique VIII passou a se envolver com Anne Boleyn, filha de Sir Thomas Boleyn e Lady Elizabeth Howard. Foi educada na França, principalmente como dama de companhia da rainha Cláudia de França. Voltou para a Inglaterra em 1522. Henrique VIII começa a exigir da Igreja Católica a liberdade para se divorciar de Catarina de Aragão e se casar com Anne. O arcebispo de York, Thomas Wolsey foi destituído de seu posto em 1529 por não ter sido bem sucedido em sua tentativa de conseguir o divórcio e anulação do casamento do rei. 30 Quando tornou-se claro que o Papa Clemente VII não aprovaria o divórcio, iniciou-se a ruptura religiosa entre a Inglaterra e a Igreja Católica Romana, resultando na criação da Igreja Anglicana, ou Igreja da Inglaterra. Em 7 de Setembro de 1533, Anne deu à luz uma menina, a futura Isabel I de Inglaterra, que ficaria conhecida em toda história como Elizabeth I. Registros mostram que Henrique era um monarca bondoso e simpático, rodeado de admiradores por toda Inglaterra. Porém ao atingir a meia-idade sua personalidade se alterou de forma significativa, transformando-o num homem embrutecido. Diversos estudos foram e ainda são realizados para descobrir quais problemas poderiam ter afetado sua saúde a ponto de causar tais mudanças em sua maneira de agir. Um deles, conduzido pela bioarqueologista Catarina Whitley da Southern Methodist University, analisa as dificuldades para engravidar de suas mulheres e questiona as chances de o problema vir do rei. Outro estudo, esse feito pelo canal de televisão Discovery Channel, faz uma autópsia e comprova que um acidente, encontrado em registros, deixou o monarca sem oxigenação por vários minutos, o que pode ter alterado tão drasticamente sua personalidade. Após esse acidente, Henrique VIII passou a acusar Anne de bruxaria, adultério, incesto e traição. Acusações fabricadas pelo próprio secretário do Rei, fazendo com que Anne fosse presa na Torre de Londres e no ano seguinte, executada. Henrique VIII teve ainda mais quatro esposas: Jane Seymor, Ana de Cléves, Catarina Howard e Catarina Par. 3.2 Elizabeth I e a revolução das Artes Isabel I, mais conhecida como Elizabeth I, foi Rainha da Inglaterra e da Irlanda desde 1558 até à sua morte. Também ficou conhecida pelos nomes de A Rainha Virgem, Gloriana e Boa Rainha Bess. Seu reinado é conhecido por Período Elizabethano (ou Isabelino) ou ainda Era Dourada. Foi um período de ascensão, marcado pelos primeiros passos na fundação daquilo que seria o Império Britânico, e pela produção artística crescente, principalmente na dramaturgia. 31 No campo da navegação, o capitão Francis Drake foi o primeiro inglês a dar a volta ao mundo, enquanto na área do pensamento Francis Bacon pregou suas ideias políticas e filosóficas. Isabel era uma monarca temperamental e muito decidida. Esta última característica, vista com impaciência por seus conselheiros, frequentemente a manteve longe de desavenças políticas. Assim como seu pai, Henrique VIII, Isabel gostava de escrever, tanto prosa quanto poesia. Foi no reinado de Elizabeth que os teatros foram impulsionados e que a carreira dos dramaturgos como Christopher Marlowe e William Shakespeare recebeu o empurrão que precisava para crescer em Londres. Figura 3 A história do teatro elizabethano começa com os menestréis errantes que iam de um castelo a outro, contando sobre acontecimentos, floreando a realidade com ficção ou mesmo criando suas próprias histórias. Foram, com o tempo e com a sofisticação das cortes, substituídos pelos trovadores, que compunham e entoavam canções, geralmente com a ajuda de um alaúde ou cistre. Estranhos eram tratados com suspeita por causa da Peste bubônica. A reputação dos atores Elizabethanos era de ladrões e vagabundos. Porém logo surgiram regulamentações e licensas concedidas aos nobres para a manutenção de troupes de atores. Assim foram formadas as Trupes de Atuação Elizabethanas. Até então, esses grupos atuavam de tavernas em tavernas, e não havia necessidade de se construir um local fixo de apresentações. Apenas em 1574, o 32 empreiteiro teatral James Burbage (pai do ator Richard Burbage) conseguiu uma permissão para construir o primeiro teatro, The Theatre, em Shoreditch, Londres. A trupe mais famosa era a The Lord Chamberlain‘s Men, que mais tarde, no reinado de James I, viria a ser conhecida como The King‘s men, da qual Shakespeare fez parte a maior parte de sua carreira. Em 1599, Shakespeare constrói o Globe Theatre, em Southwark. De acordo com James Shapiro, o lugar era conhecido pela criminalidade, prostituição e esportes sangrentos, como brigas de animais. Puritanos o chamavam de ―Prostíbulo legalizado‖. A exemplo das satíras, todos na platéia de Noite de Reis à época compreendiam o verdadeiro conselho de Antônio para Sebastian –―melhor alojar-se nos subúrbios do sul, no Elefante‖ -, referência a um bordel convertido em estalagem. Sem dúvida o teatro fervilhava como a maior fonte de diversão, comunicação e entrosamento na Londres do final do século XVI. ―É no teatro‖, observou Thomas Platter, um turista suíço que visitou a Inglaterra, onde assistiu a peças em 1599, ―que os ingleses passam seu tempo livre, aprendendo com a peça sobre o que está acontecendo no estrangeiro‖ (SHAPIRO, James. 1599 – Um ano na vida de Shakespeare, Londres, 2005, p. 11) Toda essa excitação ao redor dos palcos exigia também uma rápida leva de novas peças, de histórias de todos os tipos para entreter o público distinto que ia ao teatro e à corte, quando solicitadas as apresentações. 33 4. William Shakespeare – Homem, poeta e dramaturgo Em abril de 1564, mais precisamente no dia 23, nascia o primeiro filho de John e Mary Shakespeare, em Stratford-upon-Avon, Warwickshire, à aproximadamente 100 milhas de Londres. John, filho de Richard Shakespeare, era um fabricante e comerciante de artigos de couro como bolsas e cintos, e um negociante de produtos agrícolas. Ele era um cidadão de classe média ao nascimento de William, e um homem em ascensão. Serviu no governo de Stratford sucessivamente como membro do Conselho (1557), policial (1558), camareiro (1561), vereador (1565) e high bailiff (1568) - o equivalente a prefeito da cidade. Por volta de 1577, a fortuna de John Shakespeare começou a declinar por razões desconhecidas. Mary, filha de Robert Arden, teve ao todo oito filhos com John Shakespeare, William sendo o terceiro, e o primeiro filho homem. Pouquíssimo se sabe sobre a infancia e a juventude de Shakespeare. A maior parte dos registros se perdeu ou simplesmente não existe. Sabe-se que ele certamente estudou na The King’s New School quando criança, pois era uma escola fundada com o objetivo de educar os filhos de cidadãos proeminentes. O outro registro de William só vai ser visto anos depois, em 28 de novembro de 1582, quando do casamento com Anne Hathaway, filha de Richard Hathaway, de Shottery – um conjunto de casas de fazenda em Stratford. Os anúncios do casamento foram feitos apenas uma vez, e não as costumeiras três que a igreja exigia, pois a noiva estava grávida de três meses e havia pressa em concluir o casamento. Ela era oito anos mais velha que seu novo marido William. Podemos apenas imaginar se Shakespeare falava de si mesmo em Sonho de uma Noite de Verão: 34 Lisandro — Oh Deus! Por tudo quanto tenho lido ou das lendas e histórias escutado, em tempo algum teve um tranqüilo curso o verdadeiro amor. Ou era grande do sangue a diferença... ou mui disparatadas as idades... Hérmia — Oh dor! Unir-se a mocidade às cãs! (2.1)5 A única menção à esposa no testamento de Shakespeare é o famoso legado de sua ―segunda melhor cama‖ (second best bed). Seja saudoso ou levemente ácido, não se sabe. Em 26 de maio de 1583, sua primeira filha, Susanna, é batizada. Dois anos depois nascem os gêmeos Hamnet e Judith. Hamnet morreria com 11 anos, de causas desconhecidas e a dor da perda do filho permearia a essência de algumas obras de Shakespeare, como Hamlet, escrita pouco tempo depois. Os nomes, porém, não possuem relação. Hamnet e Hamlet eram nomes comuns e até mesmo intercambiáveis à época. Hamnet recebeu seu nome em homenagem a Hamnet Sadler, amigo de longa data de Shakespeare, e Hamlet era uma história já conhecida desde idade média em várias formas. Estudiosos acreditam que, durante esses anos, Shakespeare tenha vivido em Stratford na residência da rua Henley, pelo menos até 1585, mas seus hábitos e atividades são desconhecidos e objetos de muita especulação. Não há registro documental das atividades de Shakespeare do nascimento dos gêmeos até a queixa de Robert Greene sobre ele como um "corvo arrivista" em 1592. Esse espaço de tempo é conhecido como ―Os anos perdidos‖. A história mais difundida sobre a saída de Shakespeare de Stratford é a de que ele teve de sair para fugir de uma acusação de caça ilegal de veados nas terras de Sir Tomas Lucy, um sujeito impopular que teve várias baladas satíricas cantadas em 5 LYSANDER: Ay me! for aught that I could ever read, Could ever hear by tale or history, The course of true love never did run smooth; But either it was different in blood— HERMIA: O spite! too old to be engag'd to young. 35 Stratford às suas custas. Diz-se que Shakespeare se vingou de Lucy em As Alegres Comadres de Windsor, onde o retratou como Justice Shallow (um trocadilho com ―Juíz Superficial‖), um latifundiário de classe média que é também juíz de paz, junto com Justice Silence. Existem outras especulações, ainda que sem embasamento, sobre o que mais Shakespeare teria feito durante esses anos. Edmond Malone, o maior estudioso sobre Shakespeare do século XVIII, impressionado com o conhecimento detalhado de Shakespeare sobre a lei especula em seu Poems & Plays de 1790 que, enquanto vivia em Stratford, ele teria trabalhado no escritório de algum advogado da cidade. Já W. J. Thoms, um antiquário do século XIX, encontrou encontrou um William Shakespeare como recruta nos países baixos em 1605, e mais uma vez, impressionado pelo conhecimento dramático das minúcias militares, acreditou ser o próprio bardo. Mais provavelmente, como sugere John Aubrey em Brief Lives, Shakespeare trabalhou como diretor de alguma escola do país em seus primeiros anos. Outras teorias menos críveis contam de Shakespeare segurando cavalos do lado de fora dos teatros em Londres, ou visitando a Itália –por seu conhecimento da cultura e maneirismos italianos-. Mas o cenário mais provável, baseado em Aubrey, é que Shakespeare tenha se ocupado de algum emprego como professor ou diretor de escola, ou escrivão e quando alguma companhia viajante de teatro passou pela cidade (como de fato a The Queen‘s Men passou em 1587), ele tenha mostrado seu trabalho dramático que estava começando, impressionado-os com sua sagacidade e talento, entrando assim para o mundo do teatro. Embora sem evidências, parece um caminho natural, como evidencia Peter Levi em The Life and Times of William Shakespeare. É em 1592 que voltamos a encontrar registros concretos de Shakespeare. Talvez uma das maiores críticas literárias já escritas foi essa, feita por Robert Greene, em seu Groats-worth of Witte: pois há um corvo arrivista, embelezado com nossas penas, que com seu coração de tigre envolto em pele de ator, supõe que ele é capaz de compor um verso branco como o melhor de vocês: e 36 sendo um absoluto Johannes fac totum, é na sua imaginação o único agitador de cenas num país.6 Greene chama chama um determinado dramaturgo de sua época de Shake-scene, ou, literalmente, Abalador de cena, além de dizer que é an upstart crow (corvo arrivista, literalmente) e Johannes fac totum (um "Jack-of-all-trades"), homem capaz de fingir habilidade. Isto sugere que, já em 1592, Shakespeare tinha ficado conhecido o suficiente para atrair a inveja de Greene, era bastante conhecido no cenário teatral e como poeta (bombast out a blanke verse) e sua peça Henrique VI parte 3 tinha se tornado famosa a ponto de ser reconhecida por uma de suas frases (O, tiger's heart wrapped in a woman's hide). Também em 1592 Thomas Nashe, outro dramaturgo e panfletário, fez referência à Talbot, o herói da popular peça Henrique VI parte 1 em seu livro Pierce Pennilesse, his Supplication to the Devil . Podemos ver que, ao final de 1592 Shakespeare tinha se estabelecido muito bem no teatro londrino. A essa altura ele provavelmente já havia escrito A Comédia dos Erros, A Megera Domada, talvez Dois Cavalheiros de Verona, as três partes de Henrique VI, Titus Andronicus e talvez até mesmo Ricardo III. O principal rival de Shakespeare dentre os dramaturgos Elizabethanos era Christopher Marlowe, que à essa mesma época já tinha escrito as duas partes de Tamburlaine, Dr. Fausto e O judeu de Malta. Marlowe foi assassinado em 1593, numa briga de taverna. Shakespeare participou de companhias teatrais durante toda sua carreira, porém é em 1594 que ele se estabelece com a The Lord’s Chamberlain Men, criada depois de um período de hiatus nos teatros, que foram forçadamente fechados devido à peste bubônica de janeiro de 1593 à primavera do ano seguinte. Como dito anteriormente, Shakespeare se tornaria sócio da companhia, conseguindo assim uma base financeira sólida para seus investimentos futuros, até o final de sua vida. Os anos de 1594 a 1599 foram de extrema importancia para Shakespeare. Ele produziu um fluxo constante de peças da mais alta qualidade e invenção verbal, e 6 for there is an upstart Crow, beautified with our feathers, that with his Tygers hart wrapt in a Players hyde, supposes he is as well able to bombast out a blanke verse as the best of you: and beeing an absolute Johannes fac totum, is in his owne conceit the onely Shake-scene in a countrey. 37 continuou sendo o principal ator e admnistrador da Chamberlain’s Men. Consequentemente prosperou e fez investimentos em Stratford. Finalmente, em 1599, tornou-se proprietário de parte do teatro de maior prestígio do público em Londres, o Globe. Com a reabertura dos teatros no verão de 1594 e a confiança de ser um Chamberlain’s Men, Shakespeare começou uma produção sem precedentes de obras. Francis Meres menciona, em seu Palladis Tamia, Wits Treasury, publicado em 1598, doze peças que ele conhecia. Não apenas Shakespeare prosperara durante estes anos mas a Chamberlain’s Men virou a companhia teatral mais famosa da época, se apresentando na corte mais do que qualquer outra. Shakespeare aparece em registros de 1603 e 1616 como ator principal de tragédias e comédias apresentadas à rainha. Figura 4 As apresentações públicas eram realizadas no The Theatre, alugado para James Burbage por um certo Giles Allen, puritano contrário às artes do palco. Quando a concessão expirou, Giles retomou o lugar, planejando ―…converter suas madeiras e vigas para melhor utilização…‖ (SCHOENBAUM, S., William Shakespeare A Documentary Life, Oxford, 1975). Porém uma cláusula no contrato de concessão permitia aos atores desmantelar o The Theatre, o que eles fizeram juntamente com um grupo de trabalhadores durante a noite, e atravessaram as pontes do Tâmisa levando seus pedaços de madeira até a outra margem, onde construiram o The Globe, o teatro mais imponente que Londres já tinha visto (Schoenbaum, p.153). O Globe era possuído por um sindicato formado por Nicholas Brend, o proprietário das terras, Richard and Cuthbert Burbage, filhos de James Burbage, e cinco membros da Chamberlain‘s Men, incluindo Shakespeare. É impossível determinar quanto ele faturava exatamente, considerando que sua parte era de 10% dos lucros totais, mas é possível estipular entre £200 - £250 por ano, que era uma quantia considerável para os padrões Elizabethanos. (H. THORNDIKE, Ashley. 38 Shakespeare's Theater. New York, 1954) Em 1613, o Globe seria destruído num incêndio. Foi reconstruído porém, seguindo todos os detalhes do desenho original e se mantém até hoje. Em agosto de 1596, morre Hamnet, filho de Shakespeare com 11 anos e acredita-se que referências a seu pesar estejam presentes em algumas peças que se seguirão, como nas falar de Rei João, em que ele sofre por seu filho ausente. Em maio de 1597, Shakespeare compra New Place, a segunda maior casa de Stratford, com celeiros, pomares e jardins. Shakespeare era próspero, por seu talento, trabalho e também por pura sorte. Em 1603, Elizabeth I morre e James VI da Escócia se torna James I da Inglaterra, dando início à Era Jacobina. A Chamberlain‘s Men se torna The King‘s Men e passa a receber patrocínio real. Nesses anos que se seguem, vemos Shakespeare se aprofundar em suas peças mais obscuras e intensas, num período de escuridão. Continua vivendo em Stratford, fazendo alguns investimentos aqui e ali. (BENTLEY, Gerald Eades. Shakespeare: A Biographical Handbook. Inglaterra, 1961) Shakespeare faleceu em 23 de abril de 1616 e foi enterrado na Holy Trinity Church em 25 de abril. Sete anos após sua morte, foi publicado o primeiro Fólio, contendo 36 peças, 18 inéditas. Hoje em dia, embora amplamente aceita a história de William Shakespeare de Stratford, existem algumas teorias que afirmam que Shakespeare como conhecemos não poderia ter sido o autor de suas peças, seja pela falta de estudos ou pela falta de influências. As teorias mais conhecidas são a Oxfordiana, que acredita que Edward de Vere, Earl of Oxford, é o verdadeiro autor das peças de Shakespeare [http://www.shakespeareoxford.com/] e a Baconiana, que defende que o bardo é Francis Bacon, como retratado por Sir Edwin Durning-Lawrence no livro Bacon is Shakespeare de 1910. A questão da autoria de Shakespeare é amplamente discutida por muitos estudiosos, e é abordada em diversos livros, como no The Shakespeare Code de Virginia M. Fellows de 2006 e Contested Will: Who Wrote Shakespeare de James Shapiro, 2010. 39 5. Os Clowns de Shakespeare e as pontes entre realidade e ficção Buscamos nesse estudo descobrir se é possível que, mais do que meros elementos cômicos, os clowns das peças de Shakespeare servissem como narradores disfarçados da realidade na Inglaterra do século XVI e XVII. A comédia, mesmo quando numa peça dramática, igualava a todos os espectadores, como exemplifica M. Bakhtin a cultura cômica popular da Idade Média, principalmente a cultura carnavalesca, possuía uma grande diversidade: festas públicas carnavalescas; ritos e cultos cômicos especiais; os bufões e tolos; gigantes, anões e monstros; palhaços de diversos estilos; a literatura paródica etc. O riso carnavalesco abalava as estruturas do regime feudal, abolia as relações hierárquicas, igualava pessoas que provinham de condições sociais distintas. Era contrário a toda perpetuação, a toda idéia de acabamento e perfeição, mostrando a relatividade das verdades e autoridades no poder. Todos são passíveis de riso e ninguém é excluído dele; era a percepção do aspecto jocoso e relativo do mundo. (BAKHTIN, M. 1987, p. 3-4) O Clown um ser ingênuo e ridículo; entretanto, seu descomprometimento e aparente ingenuidade lhe dão o poder de zombar de tudo e de todos impunemente. O princípio desmistificador do riso, presente na cultura medieval renascentista, apareceu no cômico circense, fundamentado, basicamente, na figura do palhaço. Shakespeare se utilizou de clowns em diversas peças, e para este trabalho, analisaremos duas delas, onde se encontram alguns dos mais famosos bufões imaginados pelo bardo: Noite de Reis com Feste e Como queiras com Touchstone. Analisaremos assim se os clowns foram uma forma de comunicação inovadora e válida à época de Shakespeare, transmitindo para o público muito mais do que apenas seu papel cênico, mas críticas sociais atuais, assim como os programas de humor que temos nos dias de hoje. 40 5.1 Noite de Reis A peça (Twelfth Night, no original) se refere à décima-segunda noite depois do Natal; é a noite de 6 de janeiro, Dia de Reis. Na tradição britânica, o Dia de Reis é o feriado que encerra os festejos natalinos, e o costume diz que patrões presenteiam empregados. Divertir-se era a ordem do dia em tempos elizabethanos. A história se dá com um grupo de personagens armando uma cilada para enganar Malvólio, personagem que não sabe se divertir nem aceitar a diversão dos outros. Uma segunda personagem que não está imbuída do espírito do Dia de Reis é Olívia, que guarda luto severo pela morte do irmão, até que conhece Cesário e se apaixona. Cesário, porém, não é ele, e sim ela (Viola disfarçada de homem). Temos então Olívia apaixonando-se por Cesário que, sendo Viola, apaixona-se por Orsino, que por sua vez usava Cesário para declarar seu amor à Olívia, até surgir em cena Sebastian, irmão gêmeo de Viola. Os atos se passam na fictícia Ilíria, na costa do Adriático. Das primeiras ligações que se pode fazer entre a realidade e a ficção em Noite de Reis, é a de que Viola seria a representação da rainha Elizabeth I. Shakespeare precisava agradar a rainha depois que sua peça A Vida e a Morte do Rei Ricardo II , um ataque codificado aos caprichos e favoritismos de Elizabeth, estava sendo encenada nas ruas e casas de Londres. [http://theshakespearecode.wordpress.com/2011/06/15] Elizabeth teria se sentido, de certa forma, honrada por ter uma personagem como Olivia, poderosa e bela, encorporando todos seus bons aspectos. Quando Viola diz a Olivia: Não trago declaração de guerra, tampouco venho prestar homenagem; Tenho em minha mão o ramo de oliveira: minhas palavras são plenas de paz e de conteúdo... 7 (1.5) Seria Shakespeare se endereçando a própria rainha, além de fazer referência ao retrato The Peace Portrait de 1580, em que Elizabeth aparece segurando um ramo de oliveira. 7 I bring no overture of war, no taxation of homage; I hold the olive in my hand: my words are full of peace as matter… 41 Figura 5 O Earl of Essex, até então amante da rainha, provavelmente não fora convidado para a apresentação de Noite de Reis em 6 de janeiro de 1601. Ele tinha voltado de uma campanha na Irlanda, para a qual fora sem a permissão da rainha e adentrou sua câmara de luto sem aviso, antes que ela pudesse colocar sua maquiagem e peruca. Isso era considerado ofensa à época. Os muitos inimigos de Essex na corte, especialmente Sir Walter Raleigh e Sir Robert Cecil, aproveitaram esse fato para fazer a cabeça da rainha contra seu amante. Ela retirou então sua principal fonte de lucros e se recusou a vê-lo novamente. Se Essex corria o risco de ser decapitado, Shakespeare então, com Ricardo II, poderia ser enforcado ou afogado. Mas com Noite de Reis, surgiu a chance de bajulação. Um convidado da rainha, Don Virginio Orsino, Duque de Bracciano, fora honrado com a personagem principal, Orsino, nomeado depois dele. Vinte anos antes, Catarina de Médici sugerira um casamento entre seu filho, Duc d‘Alencon, com Elizabeth I. Jean de Simier foi enviado para pleitear a causa de Alencon e Elizabeth se apaixonou perdidamente por ele. Rumores sobre o relacionamento de ambos corriam pela cidade. Quando Alencon finalmente visitou a rainha, ela lhe deu um anel. 42 Em Noite de Reis, o apaixonado Orsino manda seu pagem ‗Caesario‘ (Viola disfarçada), pleitear seu amor por Olivia, assim como Simier fez com Elizabeth por Alencon. E Olivia dá a ‗Caesario‘ um anel como prova de amor, da mesma forma que a rainha. Mas Elizabeth sabia que os ingleses não tolerariam um rei estrangeiro, muito menos católico. Então como Viola diz na peça Ela jamais declarou seu amor, mas deixou que esse segredo, como larva dentro de uma rosa em botão, se alimentasse de suas rosadas faces. Ela definhou de tristeza e com melancolia de mórbida palidez deixava-se ficar sentada, como estátua de Paciência, sorridente diante da desgraça. (2.4)8 E quando Alencon se foi, em 1582, a rainha expressou sentimentos quase identicos no seguinte poema Eu sofro e não mostro meu descontentamento; Eu amo, porém sou forçada a aparentar ódio; Eu, no entanto, não me atrevo a dizer que senti; Eu pareço resolutamente muda, mas por dentro eu falo incessantemente; Eu sou e não; Eu congelo e ainda assim sou queimada, Desde que de mim mesma, um outro eu me tornei.9 Quando, dois anos depois, Elizabeth descobre que Alencon morreu, ela se veste de preto e pranteia abertamente por três semanas. Todos os anos, ela celebraria o dia de sua morte. 8 Never told her love, But let concealment like a worm i’ th’ bud Feed on her damask cheek; she pin’d in thought, And with a green and yellow melancholy She sat like Patience on a monumnet, Smiling at grief… 9 I grieve and do not show my discontent; I love, and yet am forced to seem to hate; I do, yet dare not say I ever meant; I seem stark mute, but inwardly do prate. I am and not; I freeze and yet am burned, Since from myself, another self I turned. 43 E para finalizar as semelhanças entre Olivia e Elizabeth, a personagem tem que lidar com pressões pois tem de assumir a casa depois da morte do pai e do irmão que lhe eram muito queridos. Assim também é com Elizabeth, que tem de assumir o trono depois da morte do pai e do irmão, os reis Henrique VIII e Eduardo VII, respectivamente. (HOTSON, Leslie. 1954) O clown de Noite de Reis é Feste, e logo no início da peça descobrimos que ele estava ausente da casa de Olivia, que pretende ficar de luto pelo irmão durante sete anos, não vendo assim nenhum propósito em ter um bobo em casa. Além disso, o mordomo de Olivia, Malvolio, odeia Feste e quer se livrar dele. Olivia fica furiosa com Feste quando ele retorna, mas logo cede à sua esperteza. Feste tenta curar a melancolia de sua patroa, persuadindo-a a abandonar o luto. A rainha Elizabeth também tinha um bobo que adorava (e que morreu, como seu amante, Robert Dudley, Earl of Leicester, em 1588), chamado Richard Tarleton. Figura 6 44 Henrique VIII, pai de Elizabeth, também tinha um bobo favorito. Quando, na peça, o criado de Orsino, Curio, descreve Feste como …um bufão por quem o pai de Lady Olivia tinha muito apreço. (2.4)10 Todo o público deve ter pensado no bobo do rei Henrique VIII, Will Sommers. Ele foi o único homem que conseguiu fazer o rei rir quando este sofria de uma úlcera crônica na perna. (HOTSON, Leslie. 1954) Thomas Nashe, escritor e panfletário, havia atuado no papel de Sommers em Summer’s Last Will and Testament, encenada para a rainha em 1592 em Croydon. Stewart Trotter, ator e pesquisador de Shakespeare, autor do site The Shakespeare Code, acredita que Nashe tenha também representado Feste em Noite de Reis naquela apresentação de 1601. Tanto Sommers quanto Feste tinham muitas similaridades. Ambos tinham como principal finalidade fazer o público rir. Porém ambos tinham um lado melancólico, cantando canções sobre tristeza e morte. Sommers canta: Adieu, adeus felicidade da terra O mundo incerto é Queridas são as lascivas alegrias da vida A morte as prova todas meros brinquedos, Nenhum de seus dados pode voar: Estou doente, devo morrer, O Senhor tenha misericórdia de nós…11 E Feste canta, para Orsino: Venha, venha morte E em triste cipreste me deixe deitar. Voe, voe fôlego 10 …a fool that the lady Olivia’s father took much delight in. 11 Adieu, farewell earth’s bliss The world uncertain is Fond are life’s lustful joys Death proves them all but toys, None from his darts can fly: I am sick, I must die, Lord have mercy on us… 45 Sou assassinado por uma bela e cruel criada…12 Feste faz, inclusive, uma referência disfarçada ao bobo de Henrique VIII, jogando com as palavras summer (verão) e Sommers. . Quando, perguntado por Maria, o que ele vai fazer se Olivia o expulsar, ele diz ou indo embora, deixe o verão suportar isso... 13 (1.2) Além disso, há similaridades entre Feste e Nashe, como uso de palavras inventadas e fantásticas. Noite de Reis está cheia dos termos favoritos de Nashe, usados por Feste, como quando ele fala com Sir Andrew Aguecheek ...Pigrogrômito e dos Vapianos passando pelo equador celeste de Quêubos. 14 (2.3) Sir Walter Raleigh foi representado por Malvolio, o mordomo de Olivia, que deseja expulsar Feste da casa. Thomas Nashe utilizou-se de Noite de Reis para encenar sua própria desavença com Raleigh. Também sugerindo que Feste era o espírito do bobo Tarleton, que num famoso incidente relatado por Edmund Bohun, disse apontando para Raleigh Veja o Valete comandando 15 Rainha 12 Come away, come away death, And in sad cypress let me be laid. Fie away, fie away breath, I am slain by a fair cruel maid…. 13 or turning away, let summer bear it out… 14 ...Pigrogromitus, of the Vapians passing the equinoctial of Quebus 15 See the Knave commands the Queen 46 a Knave podendo significar patife, valete ou tratante. E mesmo recebendo um olhar de reprovação da rainha, Tarleton adicionou que Raleigh era ―too much and too intolerable‖. Nashe, atuando como Feste, dizia a mesma coisa para Raleigh sob outra vestimenta. Vários insultos são trocados entre Malvolio e Feste no decorrer da peça, como na cena em que Feste e Sir Toby cantam, zombando de Malvolio que pede para que se retirem da cada de Olivia FESTE - (canta:) É na mentira que o senhor se enterra e jaz. MALVOLIO - Isso é elogio. (2.3)16 Em produções mais recentes de Noite de Reis, Malvolio é representado usando um chapéu alto ornado com uma longa pluma, parte essencial da vestimenta de Sir Walter Raleigh. Figura 7 Shakespeare e Nashe estavam tentando avisar a rainha que, assim como Olivia, ela estava se aproximando de homens que poderiam prejudicá-la. Até mesmo as meias amarelas de Malvolio eram uma representação da dislealdade de Raleigh, já que amarelo era a cor de fundo da bandeira da armada espanhola usada por Filipe II. Diz Feste, na cena V do primeiro ato 16 FESTE : (sings) Sir Toby, there you lie. MALVOLIO: This is much credit to you. 47 Pode deixar ela me enforcar. Aquele que for bem enforcado neste mundo não precisa temer as cores do inimigo E também diz, sobre dissimulação na cena II do último ato, levando a crer que conjectura sobre aqueles que se escondem na corte fingindo favores Bem, me visto com o hábito e dentro dele me disfarço. Muito me agradaria pensar que sou o primeiro a dissimular-se em trajo igual a este. De fato, menos de dois meses depois da primeira apresentação de Noite de Reis, Raleigh viu o Earl of Essex ser decapitado, escondido no arsenal da Torre de Londres. Mas ao fim, Feste estava correto ao afirmar que ‗a roda do tempo traz suas vinganças‘, na última cena do terceiro ato. Sir Walter Raleigh foi decaptado em 29 de outubro de 1618. Figura 8 48 5.2 Como Gostais Como Gostais é considerada uma das comédias maduras de Shakespeare, escrita entre 1599 e o início de 1606. A história começa com Frederico, que usurpa o poder do Duque Senior, seu irmão e cria a filha dele, Rosalinda, junto com sua própria filha Célia. Anos depois, Rosalinda se apaixona por Orlando, filho do melhor amigo do Duque e Frederico a expulsa de casa. Disfarçada de homem, Rosalinda passa a viver em uma floresta onde, tempos depois, encontra Orlando, que estava fugindo de seu irmão Oliver que tentara lhe matar. Como ―homem‖, Rosalinda ensina a Orlando como seduzir uma mulher. Ele a leva de encontro ao Duque e Rosalinda revela quem de fato é. A peça termina com três casamentos. Mesmo sendo considerada uma comédia madura, é um de seus trabalhos mais fantasiosos e com um clima poético e etéreo que dura os três atos. Nenhuma das personagens sofre, e os ―vilões‖ acabam se arrependendo e/ou se convertendo, como por exemplo Oliver, que começa a peça como um Maquiavélico que busca destruir seu irmão Orlando. No Ato 4, tendo sido salvo de uma cobra e de uma leoa por seu irmão, ele se torna uma personagem totalmente transformada. Oliver prontamente se apaixona por Célia, transfere toda sua fortuna para Orlando e decide viver e morrer na floresta como um pastor. Rosalinda, a personagem principal, e Viola de Noite de Reis são constantemente comparadas por serem duas personagens que, por diferentes razões, acabam se disfarçando de homem e gerando confusões por isso. Shakespeare repetiria isso também com Julia em Dois Cavalheiros de Verona. Enquanto Viola se encontra na desconhecida Ilíria depois de um naufrágio, que acredita ter matado seu irmão Sebastian e não consegue provar sua nobreza para Orsino. Assim sendo, se disfarçar de homem parece ser sua única solução. Já Rosalinda começa a peça vivendo com o tio Frederico, que baniu seu pai para a Floresta de Arden. Rosalinda fica no castelo a pedidos da prima, e é repreendida por Frederico quando concede seus favores ao jovem Orlando, que derrotou seu lutador principal. Frederico confronta Rosalinda pouco depois FREDERICO: Senhora, despache-se com pressa e ponha-se de nosso reino. ROSALINDA: Eu, tio? FREDERICO: Você, prima. Dentro desses 10 dias se fores 49 encontrada dentro de 20 milhas de nossa corte, morrerás. (1.3)17 O único lugar que Rosalinda tem para ir então é a mesma floresta para a qual seu pai fora banido, porém para uma mulher desbravar a floresta era uma tarefa perigosa e assustadora. Ela viaja com Célia e o bobo Touchstone, mas mesmo um trio daquela natureza estaria vulnerável e Rosalinda aponta sabiamente os perigos que Célia e ela correm A beleza provoca ladrões mais rápido que ouro (1.3)18 O clown de Como Gostais é Touchstone, um dos mais famosos e brilhantes de todas as obras de Shakespeare. Ele é perspicaz sobre a natureza humana e tem um raciocínio rápido. Ele é mais conhecido por sua incrível habilidade com as palavras, gosta de torcer qualquer argumento sobre qualquer coisa. Ele também tem o hábito de dirigir os seus ouvintes a frustração caso não sejam tão afiados no pensamento como ele. ―Touchstone‖ faz referência à uma pedra usada para identificar metais preciosos testando sua pureza. O metal a ser testado era arranhado na pedra e o pó que ficasse era uma evidência de quão puro ou misturado era o metal, e assim, qual seu valor. Da mesma forma, Touchstone tem a habilidade de revelar a pureza e o valor (ou a falta deles) nos seres humanos, arranhando sua superfície com palavras e mostrando o que existe no interior. E mesmo com todo seu cinismo, Touchstone é uma personagem bastante feliz, que ri de si próprio com a mesma facilidade com que ri dos outros. Sua perspectiva e sagacidade permeiam a peça inteira. Logo na cena II do primeiro ato temos uma das falas mais importantes de Touchstone, que evidenciam como a personagem será provavelmente durante toda a história. Touchstone exibe a estranheza do Duque Frederico, que algumas personagens ainda não perceberam, e depois se lamenta que ‗os bobos não possam dizer de forma sábia o que os sábios dizem de forma tola‘. Touchstone é um exemplo do senso de ironia de Shakespeare sobre as alegrias pastorais, pois ele se mostra descontente com o exílio e a vida no campo. Touchstone zomba da natureza contraditória dos desejos idealmente resolvidos pela vida pastoral, 17 FREDERICK: Mistress, dispatch you with your safest haste, and get you from our court. ROSALIND: Me, uncle? FREDERICK: You, cousin. Within these ten days if thou be'st found so near our public court as twenty miles, Thou diest for it. 18 Beauty provokth thieves sooner than gold 50 que seria estar ao mesmo tempo no campo e na corte, aproveitando as vantagens da posição elevada e do estado sem classes de Arden. Esse tipo de humor fala diretamente à convenção pastoral e mostra como Shakespeare entendia isso claramente e fazia seu melhor uso. Beatrice Otto, uma autoridade em se tratando de bobos da corte, acredita que Shakespeare tenha se inspirado em Robert Armin, ator da The Lord Chamberlain‘s Men, para criar Touchstone. Como Gostais foi escrita no mesmo ano em que Armin se uniu à trupe e nenhuma outra peça de Shakespeare continha um Clown antes dela. Também se acredita que Armin tenha atuado não apenas no papel de Touchstone, mas também no de Feste e no do Bobo de Rei Lear. Já Austin Gray, estudioso dos bufões de Shakespeare, vai mais longe e acredita que Armin não apenas influenciou a criação de Touchstone, mas que Shakespeare permitiu a ele total auto-expressão na peça, o que é crível dada a natureza do Bardo, sensível ao mundo ao seu redor e que poderia ter se utilizado do talento de Armin. Outra pista da influência de Armin é a quantidade de canções tanto em Como Gostais como em Noite de Reis. Armin era conhecido por ter uma bela voz e compor baladas. Gray acredita que os papéis foram escritos para ele e sua única dúvida é se ele escreveu ou não as músicas. Touchstone é menos um bobo da corte do que um comentarista da natureza humana. De fato, ele é o único bobo a abandonar seu amo, Frederico, e fugir para a floresta. Ainda assim, poderia se rebater isso dizendo que ele estava seguindo as ordens de Célia. De muitas formas, parece que Shakespeare estava descobrindo o uso de um Clown numa peça. Logo de início, Touchstone parece uma personagem sem muita importância e um tanto vulgar, que é superado rapidamente para Célia numa troca de sagacidades. Gray, que acredita que Touchstone foi o maior papel de Armin, afirma que a tentativa de esconder sua perspicácia quando na corte de Frederico impediu que o bobo demonstrasse toda sua inteligência. Outra explicação para a ausência da esperteza mordaz de Touchstone no início da peça é que Armin tivesse se unido à companhia depois que Shakespeare começara a escrever. É possível que o começo fosse uma preparação para os bobos mais puramente físicos que Shakespeare tinha em mente antes de conhecer Armin (GRAY, Austin, Estados Unidos, 1927). As reclamações de Touchstone ao chegar em Arden parecem provar sua fraqueza ―fisica‖ ROSALINDA: Oh Jupiter, quão cansados estão meus ânimos. TOUCHSTONE: Eu não me importo com meus ânimos, 51 se minhas pernas não estiverem exaustas. (2.4)19 Esse senso de fraqueza corrobora a possibilidade de que Shakespeare estava experimentando e não tinha ainda aperfeiçoado a personagem do bobo da corte nem a inteligência que caberia a tal. Harold Bloom, professor e crítico literário, chama Touchstone de ―verdadeiramente ranço‖ e acredita que Rosalinda é muito superior a ele no que diz respeito à inteligência e esperteza, e que Touchstone serve apenas para o que sugere seu nome, provar o ―verdadeiro ouro do espírito de Rosalinda‖ (BLOOM, Harold. Nova York, 1998). Porém, teria Shakespeare criado uma personagem apenas para fazer as outras parecerem melhor em comparação? Parece improvável e há várias teorias defendendo a aparente inferioridade de Touchstone. Na realidade, Shakespeare teria criado Touchstone para ser um parodista. Robert Hillis Goldsmith, outro estudioso dos clowns de Shakespeare, acredita que as reclamações e a natureza vulgar de Touchstone sejam um ataque à tradição pastoral. Muitas das personagens fazem referência à beleza do campo, tema comum na Inglaterra Elizabethana. Touchstone destrói esse ideal romântico reclamando de andar na floresta e desejando voltar à corte. As queixas do bobo se transformam em paródia, rindo dos ideais de Arden – comumente comparada ao Éden. A verdadeira habilidade de Touchstone é ver além da ―liga‖ inferior da vida pastoral e encontrar o ―ouro‖ da realidade. E a genialidade de Touchstone vai além. Outro tema sempre presente é o romantismo. Touchstone revela seu desprezo por romance tão logo adentra Arden. Quando ele e Rosalinda encontram o pastor Silvio queixando-se dos tormentos do amor de forma melodramática, Rosalinda responde Ai de mim, pobre pastor, em busca de tua ferida, eu por aventura difícil encontrei a minha própria. (2.4)20 Para o que Touchstone rebate de forma bem menos cordial 19 ROSALIND: O Jupiter, how weary are my spirits! TOUCHSTONE: I care not for my spirits, if my legs were not weary. 20 Alas, poor shepherd, searching of thy wound, I have by hard adventure found mine own 52 Nós que somos os verdadeiros amantes corremos em alcaparras estranhas. Mas como tudo é mortal na natureza, assim é toda a natureza apaixonada mortal na loucura. (2.4)21 A sátira social de Touchstone toca num aspecto mais generalizado do casamento chegando ao final da peça. Shakespeare usa a natureza sarcástica de Touchstone para refletir sobre a sociedade. Aqui, podemos traçar paralelos entre a peça e a comédia crítica como temos hoje em dia. Como Gostais seria, para nós, um programa de quadros humorísticos, ligados por alguma história em comum, com referências pontuais porém não necessariamente importantes para a compreensão do que se é dito. É muito mais baseada na essência humana do que nas ações humanas. Temos por exemplo as seguintes falas de Touchstone, em que ele satiriza um marido traído, relacionando sua traição com chifres Amém. Um homem pode, se tiver um coração temeroso, cambalear nesta tentativa, pois aqui não temos templo, mas madeira, nem assembléia, mas animais cornudos. Mas o que então? Coragem. Como chifres são odiosos, eles são necessários. Diz-se: "Muitos homens não conhecem o fim de seus bens". Certo: muitos homens tem bons chifres e não conhecem o fim deles. (3.3)22 E noutro exemplo, temos Touchstone, falando sobre a vida no campo, quando perguntado por Corin. Touchstone se recusa a dar uma resposta conclusiva. Para ele, a vida no campo apenas é. Verdadeiramente, pastor, em relação a si mesma, é uma boa vida, mas no que diz respeito a ser uma vida de pastor, é nada. No que diz respeito de ser solitária, eu gosto muito, mas no que diz respeito de ser privada, é uma vida muito vil. Agora, a respeito de ser no campo, muito me 21 We that are true lovers run into strange capers. But as all is mortal in nature, so is all nature in love mortal in folly. 22 Amen. A man may, if he were of a fearful heart, stagger in this attempt, for here we have no temple but the wood, no assembly but horn-beasts. But what though? Courage. As horns are odious, they are necessary. It is said, ―Many a man knows no end of his goods.‖ Right: many a man has good horns and knows no end of them. 53 agrada, mas no que diz respeito de não ser na corte, é tediosa. Como se trata de uma vida livre, olhe você, ela se encaixa bem no meu humor, mas como não há mais muito nela, ela vai muito contra o meu estômago. Tens qualquer filosofia em ti, pastor?23 (3.2) Outro aspecto de Touschstone pode ser observado pelo tratamento que ele recebe das outras personagens. Ele é denegrido por Rosalinda e Célia, enquanto é exaltado por Jaques. As piadas e maneiras de Touchstone o fazem ser censurado e repreendido por Célia e Rosalinda frequentemente, mas é parte da função do bobo aquiescer aos seus amos. Goldsmith defende que este comportamente é o dever do bobo: ―Bobos exerciam uma dupla função; entreter seus senhores e senhoras e ao mesmo tempo ministrar seus sensos de auto-importância‖. Assim como Tarleton e Elizabeth I, Touchstone frequentemente vai contra os desejos de sua ama, mas é logo silenciado, especialmente no início da peça. Mas isso não prova que Touchstone é um personagem fraco e sim, prova sua sabedoria em saber quando silenciar. Shakespeare mostra que a liberdade de expressão do bobo da corte não é completa na presença da realeza. Ainda assim, Touchstone tem mais liberdade para falar das tolices dos outros do que qualquer um na peça. Embora não se relacione diretamente a um único acontecimento ou a pessoas específicas – excetuando-se talvez Armin- como as personagens e a história de Noite de Reis, Como Gostais realiza um importante papel de crítica e sátira social, não apenas aos nobres mas a todos os círculos e níveis sociais, tanto da vida na agitada Londres que representa a corte como na vida pastoral, bem como da própria literatura pastoral, que era tradição na Inglaterra desde a idade média. Diferente de Noite de Reis, Como Gostais se relaciona num nível pessoal com seus espectadores, podendo atingir qualquer um que se identifique ou não atingir ninguém se o público se abstiver de aceitar suas críticas. É eficaz justamente por ser altamente subjetiva, embora algumas semelhanças com a realidade possam ser vistas em nuances 23 Truly, shepherd, in respect of itself, it is a good life; but in respect that it is a shepherd’s life, it is naught. In respect that it is solitary, I like it very well; but in respect that it is private, it is a very vile life. Now in respect it is in the fields, it pleaseth me well; but in respect it is not in the court, it is tedious. As it is a spare life, look you, it fits my humor well; but as there is no more plenty in it, it goes much against my stomach. Hast any philosophy in thee, shepherd? 54 discretas. É, mais do que qualquer coisa, uma comédia de costumes, onde acima da poética constante, paira uma atmosfera satírica indelével. 55 6. Conclusão Com base nesse estudo de caso, foi possível perceber que existe uma vasta área de pesquisa que pode ser realizada, sendo um assunto pouco explorado e que carece de análises profundas. As duas peças que serviram de base são de certa forma antagônicas, mas também semelhantes e mesmo complementares, visto que Noite de Reis foi escrita depois de Como Gostais e muito do que Shakespeare aprendera criando Touchstone seria aperfeiçoado em Feste. (GRAY, Austin. Estados Unidos, 1927). A prova de que os clowns de William Shakespeare tem ainda muito para oferecer em questão de estudos acadêmicos fica mais evidente em Noite de Reis, que mostrou muitas ligações com a realidade baseadas em relatos, outros estudos realizados, analise de datas e documentos históricos, tornando praticamente incabível a afirmação de mera coincidência ou inspiração somente. As falas de Feste, bem como a forma que deveria ser encenado nos palcos e na corte, contribuíram em grande parte para a compreensão dos eventos, e suas críticas são fundamentais para a conexão entre personagens, atores, autores e nobres. Mesmo que todas as personagens tenham sua ligação externa, é através da liberdade dos comentários do bobo que podemos fazer essas ligações, é ele quem tem a permissão, mesmo que no palco todos estejam encobertos sob a ficcionalidade, para criticar sem atrair a crítica para si. Samantha Markham, num artigo sobre o papel dos Clowns de Shakespeare diz que os bobos ―são projetados para criar uma maior profundidade de compreensão, lembrando ao público que eles estão assistindo a uma peça e transferindo seu foco do mundo ficcional com a realidade. Desse modo, de acordo com alguns estudiosos, Shakespeare permite que os membros da audiência para relacionar os temas mais inquietantes do jogo para suas próprias vidas.‖ E isso poderia então ser comprovado quando paramos também para analisar Como Gostais que, diferentemente de Noite de Reis, se comunica com o público de uma forma muito mais pessoal, muitos mais íntima, tratando de assuntos de interesse popular. Se fossemos tratar ambas as peças como as formas de noticiabilidade que conhecemos hoje, podemos nos arriscar a dizer que Noite de Reis tratava dos interesses públicos, pois de certa forma retratava os acontecimentos da corte, eventos que à época, os ingleses, fossem camponeses, fossem nobres, precisavam saber. Já Como Gostais abordava os interesses do público, levando aos espectadores o que eles queriam ver, o que os interessava, sem que tivesse real ligação com o mundo externo, tirando uma ou outra possível inspiração, como no caso de Robert Armin e a criação do Clown. Os comentários e ações de Touchstone tinham como finalidade tocar a platéia 56 num sentido mais filosófico e menos factual. Ambas as peças podem ser também equiparadas, em níveis distintos, às formas de comédia que temos hoje em dia. Porém, enquanto Como Gostais se assemelha a um simples quadro ficcional, que poderia seguir a mesma fórmula, mudando apenas os nomes e os cenários, Noite de Reis seria um programa satírico com base jornalística que busca nos eventos atuais a base para as suas ironias e críticas. É possível afirmar, com base nas duas peças analisadas e sabendo-se que, no mínimo os outros Clowns de Shakespeare sempre seguem o caminho da crítica e da sátira, independente de sua relação com o mundo exterior, que consistem sim numa forma de comunicação arcaíca, porém eficaz, que falava diretamente com o público, se fazendo entender, na grande maioria das vezes, em todos os níveis de compreensão. Contudo não se pode afirmar que todos os clowns de Shakespeare sejam críticos factuais disfarçados, pois temos aqui que Touchstone, apesar de uma ou outra referência, não se baseia em fatos para realizar suas piadas ou trocadilhos. Mas há sim, uma comunicabilidade presente nos trabalhos de William Shakespeare, fundamentada em eventos importantes da história da Inglaterra do século XVI e XVI, e meticulosamente planejada através de seus personagens, atos e falas. 57 Bibliografia ASIMOV,Isaac. Guide to Shakespeare, Estados Unidos, 2003 AUBREY, John. Brief Lives, Inglaterra, 1949 BAKHTIN, M. 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A Declaration of the Causes Moving the Queenies Majestie of England (1596), Biblioteca da Universidade de Cambridge, 7. 59. 1. Propaganda Real. Uma versão 63 inglesa de uma declaração oficial publicada em várias línguas. Fonte: http://catdir.loc.gov/catdir/samples/cam033/2002023373.pdf 2. Um panfleto de propaganda de um Elixir, uma prática comum por toda a Europa Ocidental, prometendo curas milagrosas para várias doenças (1673), British Museum. Fonte: http://catdir.loc.gov/catdir/samples/cam033/2002023373.pdf 64 3. Um panfleto do final do século XVI mostrando um exemplo de formação ―Pike and Shot‖, uma tradicional formação de batalha. A letra ―P‖ marcava os piqueiros e a letra ―O‖, os arcabuzes. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Pamphlet.jpg 65