Nº 116 Segundo quadrimestre 2013
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Nº 116 Segundo quadrimestre 2013
ANO XXX Edwin V. Meyer e Juan Carlos López Porcel “Acreditamos no valor da seguradora” Gerente Geral e Gerente de Riscos e Seguros da ArcelorMittal Os riscos da Pessoa Designada em Terra (DPA) Análise de suas funções e responsabilidades CÉSAR GARCÍA Modelo de classificação de riscos estratégicos Um novo desafio da Gerência de Riscos RAFAEL PASCUAL Governo corporativo nas seguradoras latino-americanas Situação atual na região PABLO SOUTO A reconstrução após o terremoto de 27/2 no Chile O papel do setor segurador PÍA MORA E ISABEL BRAIN SEGU NDO QU ADRIM EST RE 2013 116 VE R S ÃO B R AS I LE I R A www.fundacionmapfre.com A BIBLIOTECA FM AO ALCANCE DA SUA MÃO Descubra o aplicativo gratuito para dispositivos móveis: Biblioteca FM. Acesse todos os serviços do Centro de Documentação e as novidades em um só clique. Baixe documentos em sua biblioteca digital integrada e acesse-os posteriormente sem a necessidade de conexão. Instale gratuitamente o aplicativo através da App Store e Google Play ou escaneando os seguintes códigos QR: Para mais informações: www.fundacionmapfre.org/documentacion editorial Impulso para melhorar e inovar Os aniversários são uma oportunidade para fazer um balanço do passado e medir forças perante o futuro. Faz três décadas que a revista Gerência de Riscos e Seguros nasceu. Se nos olharmos no espelho do nosso projeto inicial, podemos sentir-nos orgulhosos do caminho percorrido. No início dos anos oitenta, um grupo de diretores da MAPFRE concordou sobre a conveniência de lançar uma publicação especializada no assunto, na época inovador, de Gerência de Riscos, para divulgar e desenvolver seu conhecimento. Desde o início contamos com o apoio e a fidelidade cruciais de um conjunto de leitores especializados que só tem crescido e que sustenta a história de sucesso desta revista. A eles devemos grande parte do que somos. Depois destes trinta anos, o certo é que, com algumas tristes perspectivas econômicas a curto prazo, o número de artigos e estudos que tratam sobre a crise continua crescendo. Tudo indica que essa enxurrada de notícias desalentadoras parece dispor-nos a ceder à nostalgia e deixar-nos levar pelo fatalismo. É verdade que a crise está se prolongando tanto que começamos a notar certo esgotamento e perda de fé. Já não sabemos mais quando vamos sair desta situação. Mas por que parecemos tão mais profundos quando estamos mais pessimistas? Este prestígio do negativo se deve ao contraste com o pensamento positivo dos tão injuriados «brotos verdes» ou sinais de recuperação. No entanto, a razão mais profunda para não nos rendermos é que, embora as coisas nem sempre saiam como imaginamos, estamos vendo que uma situação política, um fato social, pode ter como efeito um impulso maior para melhorarmos e inovarmos. Nunca podemos deixar de pensar que o melhor está por vir. Nossa modesta contribuição neste número consiste na apresentação de nossa habitual entrevista que traz, de uma só vez, a visão corporativa e a opinião de Edwin V. Meyer, Diretor Geral e responsável mundial por Riscos e Seguros da ArcelorMittal, e de Juan Carlos López Porcel, responsável local pelo Sul da Europa, Norte da África e México da mesma empresa. A ArcelorMittal é a maior companhia siderúrgica mundial, com presença em mais de 60 países, uma produtora global de aço que aposta na inovação e no desenvolvimento e que conseguiu reduzir consideravelmente seu consumo energético e as emissões de dióxido de carbono na atmosfera. O primeiro artigo que abre esta seção descreve a figura da pessoa designada em terra (DPA) como responsável pela supervisão de determinados aspectos operacionais dos navios, sendo o intermediário entre as equipes a bordo e as em terra, e cuja missão é garantir a segurança operacional da embarcação. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 3 editorial No segundo artigo, o autor, docente do Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE, desenvolve um interessante modelo de classificação de riscos estratégicos - os que estão ligados à formulação dos planos estratégicos das organizações -, concluindo que hoje em dia «já não basta gerenciar o ‘o quê’, mas também é necessário gerenciar o ‘como’». O terceiro e último artigo deste número apresenta, a partir da perspectiva de seu autor, o Professor do Departamento de Economia e da Escola de Negócios da Universidade Católica Argentina, uma análise da situação atual da governança corporativa das seguradoras latino-americanas, reunindo as iniciativas existentes e desenhando um panorama da situação atual nessa região através do cálculo de um índice de transparência e difusão. No Observatório de Sinistros são apresentadas as consequências do terrível sismo de 8,8 graus ocorrido no Chile em 27 de fevereiro de 2010, que representou um forte golpe para a economia do país, embora não tenha chegado a deixá-la fora de combate. Deste modo, é possível ver como existe uma forte correlação entre desastres e desenvolvimento. O desenvolvimento tem um papel importante no aumento ou na redução do risco de desastres. Hoje em dia, três anos após o ocorrido, cumpriu-se grande parte da etapa de recuperação da infraestrutura principal e da atividade econômica. O desafio futuro é avançar rumo à reconstrução definitiva das zonas atingidas e renovar a vida cotidiana da população. Com as habituais seções de livros e de notícias sobre a Agers, encerramos este número, que, como de costume, esperamos ser do seu agrado. FUNDACIÓN MAPFRE Instituto de Ciencias del Seguro Paseo de Recoletos, 23. 28004 Madrid (España) Tel.: +34 91 581 12 40. Fax: +34 91 581 84 09 www.gerenciaderiesgosyseguros.com PRESIDENTA: Mercedes Sanz Septién DIRETOR: José Luis Ibáñez Götzens CHEFE DE REDAÇÃO: Ana Sojo Gil COORDENAÇÃO: María Rodrigo López CONSELHO DE REDAÇÃO: Irene Albarrán Lozano, Alfredo Arán Iglesia, Francisco Arenas Ros, Montserrat Guillén Estany, César López López, Jorge Luzzi, Francisco Martínez García, Ignacio Martínez de Baroja y Ruíz de Ojeda, Eduardo Pavelek Zamora, Mª Teresa Piserra de Castro, César Quevedo Seises, Daniel San Millán del Río, Francois Settembrino. DESIGN E REALIZAÇÃO EDITORIAL: Comark XXI. Consultores de Comunicação e Marketing do Século XXI S.L. IMPRIME: CGA Versão Brasileira: FUNDACIÓN MAPFRE - Delegação Brasil DIREÇÃO: Fátima Lima COORDENAÇÃO: Renata Pappalardo e Gabriela Freitas REVISÃO: Maristela Leal Casati PROJETO GRÁFICO E DESIGN ADAPTADO: bmEW Propaganda A revista Gerência de Riscos e Seguros não se responsabiliza pelo conteúdo de nenhum artigo ou trabalho assinado por seus autores, e o fato de publicá-los não implica concordância ou identificação com os trabalhos expostos nesta publicação. É proibida a reprodução total ou parcial dos textos e ilustrações desta revista sem a autorização prévia do editor. 4 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 SEGUNDO QUADRIMESTRE 2013 Obs.: Versão brasileira traduzida, originalmente, da edição espanhola da Revista Gerencia de Riesgos y Seguros, 2º Quadrimestre de 2013. índice 116 6 Atualidades Novidades legislativas. Assembleia Geral da IGREA. Biblioteca FM. XXIII Congressos Internacionais MAPFRE Global Risks. Monetização de danos por acidentes. Vítimas fatais por acidentes na Espanha em 2012 . Mais responsabilidade para as petroleiras. Proposta para o novo Código Mercantil. O FIDAC e as indenizações do «caso Prestige». Rotulagem da indústria alimentícia. Agenda 2013 13 Entrevista 14 Edwin V. Meyer e Juan Carlos López Porcel, Gerente Geral e Gerente de Riscos e Seguros da ArcelorMittal “Acreditamos no valor da seguradora” Estudos Os riscos da Pessoa Designada em Terra (DPA) CÉSAR GARCÍA........................................................................... 26 Modelo de classificação de riscos estratégicos RAFAEL PASCUAL......................................................................... 36 Governança corporativa nas seguradoras latino-americanas PABLO SOUTO............................................................................ 48 Relatório Ranking dos maiores grupos seguradores europeus Não Vida 2012 CENTRO DE ESTUDOS................................................................... 60 Observatório de sinistros A reconstrução após o terremoto de 27/2 no Chile PÍA MORA E ISABEL BRAIN.............................................................. 74 Livros 89 Notícias AGERS 92 Caderno Nacional 96 Fernando Simões, presidente do grupo JSL Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 5 LEGISLAÇÃO Regulamento (UE) nº 462/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de maio de 2013, pelo qual se modifica o Regulamento (CE) nº 1060/2009 sobre as agências de qualificação creditícia. D.O.U.E. núm. L 146/1, de 31 de maio de 2013. Circular 2/2013, de 9 de maio, da Comissão Nacional do Mercado de Valores, sobre o documento com os dados fundamentais para o investidor e o folheto das instituições de investimento coletivo. B.O.E. núm. 124, de 24 de maio de 2013. Real Decreto 270/2013, de 19 de abril, sobre o certificado do seguro ou a garantia financeira da responsabilidade civil no transporte de passageiros por mar em caso de acidente. B.O.E. núm. 111, de 9 de maio de 2013. 6 Resolução de 11 de abril de 2013, do Congresso dos Deputados, pela qual se ordena a publicação do Acordo de convalidação do Real Decreto-lei 6/2013, de 22 de março, de proteção aos titulares de determinados produtos de poupança e investimento e outras medidas de caráter financeiro. B.O.E. núm. 92, de 17 de abril de 2013. Resolução de 21 de janeiro de 2013, da Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensões, pela qual se publicam os valores das indenizações por morte, lesões permanentes e invalidez temporária resultantes da aplicação durante 2013 do sistema para avaliação dos danos e prejuízos causados às pessoas em acidentes de circulação. B.O.E. núm. 26, de 30 de janeiro de 2013. atualidades Novidades Assembleia Geral e eleições do Conselho de Diretores da IGREA No dia 4 de junho foram realizadas em Madri a Assembleia Geral da IGREA e a eleição dos membros do seu Conselho de Diretores. Os ocupantes para os cargos de presidente, vice-presidente e secretário geral da Associação foram eleitos no Conselho de Diretores realizado em 10 de junho, onde se definiram as diretrizes para os três próximos anos. Além disso, a Assembleia Geral aprovou por unanimidade as contas do exercício de 2012 e o orçamento operacional para 2013. Também foi acordado o programa das próximas atividades para os associados no decorrer deste ano de 2013, que se centrará em reuniões periódicas sobre a cobertura de riscos emergentes como Lucros Cessantes Contingentes, assim como a análise da situação atual do mercado no que se refere ao risco político e aos seguros de caução, especialmente o bonding nos Estados Unidos. Além disso, em relação ao desenvolvimento da profissão, serão realizadas Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 outras duas reuniões de caráter mais estratégico, destinadas a analisar a posição do gerente de riscos nas empresas e a potenciação da função nas mesmas. Destaca-se também uma sessão exclusiva para gerentes de riscos no próximo dia 12 de novembro, onde se analisará, do ponto de vista legal, a cláusula de «juro financeiro» nos programas internacionais emitidos na Espanha, bem como a cláusula follow form nos programas colocados com apólice guarda-chuva. Esta sessão contará com a opinião de dois prestigiosos escritórios de advogados especialistas em direito segurador e se encerrará com um debate com os gerentes de riscos presentes no evento. Eleições no Conselho de Diretores da IGREA Em 18 de junho foram eleitos os ocupantes para os cargos executivos no Conselho de Diretores da IGREA para os próximos três anos: • Presidente: Daniel San Millán. Ferrovial • Vice-presidente: Elisa María Rojo. Grupo DIA • Secretário Geral: Vicente Martín. Endesa • Tesoureira: Cristina San Sebastián Iberdrola O congresso de Tendências de Mercado para 2014 será realizado em novembro. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Você já pode acessar grátis o Centro de Documentação do seu celular ou tablet A FUNDACIÓN MAPFRE acaba de lançar a «Biblioteca FM», um aplicativo para dispositivos móveis que permite a todos os interessados acessar de forma gratuita o serviço de informações especializadas em seguros, Gerência de Riscos, segurança e meio ambiente oferecido pelo Centro de Documentação. O novo aplicativo, disponível para tablets e smartphones (IOS e Android), permite aos usuários consultar o catálogo geral de publicações, que conta com mais de 135.000 referências bibliográficas, o catálogo de revistas e a seção de «novidades». A «Biblioteca FM» também permite realizar buscas relacionadas com os temas anteriormente citados, de forma cômoda e rápida, e oferece a possibilidade aos interessados de baixar documentos de acesso livre para posteriormente lê-los em seu dispositivo, sem precisarem se conectar à Internet. É possível baixar o aplicativo através da app Store ou Google Play. XXIII Congressos Internacionais MAPFRE Global Risks O Presidente da MAPFRE, Antonio Huertas, encerrou a 23ª edição dos Congressos Internacionais MAPFRE GLOBAL RISKS, que reuniram, durante dois dias em Sevilha, mais de 500 especialistas em Gerência de Riscos procedentes de 15 países. Durante sua apresentação, Antonio Huertas destacou que o grupo segurador acompanhou as empresas espanholas em seu processo de internacionalização, «apoiando seu sucesso e atendendo a todas as suas necessidades», e ressaltou que a MAPFRE GLOBAL 7 RISKS, além de consolidar as relações com os grandes corretores mundiais, analisará outros países da região onde for iniciar novos negócios. Ele também apresentou publicamente neste fórum o posicionamento estratégico da MAPFRE, que pretende transformar o Grupo na seguradora global de confiança, baseando sua atividade nos valores de solvência, integridade, vocação de serviço e inovação para a liderança, com uma equipe comprometida. «Queremos transmitir confiança em todas as nossas operações no mundo, já que somos um grupo global. Nosso trabalho a serviço de grandes grupos multinacionais e nos setores globais de atividade é uma boa carta de apresentação», garantiu o Presidente da MAPFRE. Alfredo Castelo, Presidente da MAPFRE GLOBAL RISKS, foi o encarregado de inaugurar este fórum, no qual apresentou 8 a evolução da empresa que, desde sua criação em 2009, tem consolidado sua presença na Espanha e na América Latina e quase duplicou seu volume de negócio nesse período. Ele também falou sobre os novos desafios que têm de enfrentar, que incluem aumentar a presença e o volume de negócios na Europa e em outras regiões, como Estados Unidos ou Ásia. O prefeito de Sevilha, Juan Ignacio Zoido, também participou destes congressos, que se tornaram referência para os profissionais da Gerência de Riscos. Durante o evento, debateu-se, entre outros aspectos de interesse, sobre a gestão dos riscos catastróficos, baseando-se nas experiências obtidas após o terremoto de Fukushima e as enchentes na Tailândia. Também foi realizado um módulo de segurança, no qual foram tratados temas como os ciberriscos nas empresas globalizadas. Monetização de danos por acidentes Na avaliação da intensidade dos danos potenciais dos riscos de sinistros, costuma-se enfrentar a dificuldade em atribuir valores econômicos de pessoas e ativos intangíveis afetados. A avaliação de danos de ativos materiais, como terrenos, edifícios, maquinaria, instalações e produtos, é mais simples, pois se baseia nos preços de mercado. Quando se trata de avaliar os montantes econômicos dos danos pessoais, na Espanha dispõe-se de uma ferramenta muito útil: a resolução de 21 de janeiro de 2013, pela qual se publicam os valores das indenizações por morte, lesões permanentes e invalidez temporária por acidentes de trânsito e que é atualizada e promulgada no início de cada ano pela Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensões. Esta tabela é utilizada como base de referência nos acidentes de trânsito pelos juízes e companhias seguradoras na hora de estabelecer as indenizações por danos pessoais, corporais e morais. Ela também é amplamente utilizada nos acidentes de trabalho e, em menor escala, em outros âmbitos em que é possível transferir e adaptar com Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 facilidade os valores da tabela de acidentes de trânsito. Todavia, no bloco dos ativos intangíveis de uma empresa (imagem, marca, reputação, pesquisa, finanças, informações vitais, entre outras e, em geral, o meio ambiente) não se conta com tabelas amplamente reconhecidas nacional ou internacionalmente que permitam atribuir valores aceitos na técnica seguradora. Desde o início do ano e, para efeito da aplicação da Lei 26/7 de Responsabilidade Ambiental, o Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente ativou a página MORA (Monetização do Risco Ambiental), que oferece uma metodologia e preços unitários para a avaliação monetária dos danos ao meio ambiente. A avaliação econômica do risco facilita o estabelecimento da garantia financeira (como, por exemplo, o seguro de Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 responsabilidade civil) que as empresas afetadas têm de determinar. Vítimas fatais em acidentes na Espanha em 2012 Mais uma vez o tráfego viário encabeça a lista de vítimas fatais em acidentes em 2012, que mundialmente estima-se ter atingido 1,24 milhão de óbitos, com uma taxa de mortalidade de 176 por cada milhão de habitantes. As cifras correspondentes à Espanha se situam em 2.060 óbitos e uma taxa de 44, e na União Europeia elas são 30.200 e 60, respectivamente. Merece destaque o fato de que na União Europeia e na Espanha a maior acidentalidade se concentra nas atividades domésticas e de lazer, com uma estimativa de 100.000 e 6.418 falecidos e uma taxa de mortalidade de 199 e 137, respectivamente. No caso da Espanha, essa taxa é dez vezes maior que as de acidentes de trabalho e três vezes maior que as de trânsito, embora se dê atenção apenas à dimensão dos riscos e dos acidentes domésticos e de lazer, ou seja, não são feitas campanhas de prevenção à altura de sua gravidade, como se faz nos âmbitos de trabalho e do trânsito. Tabela 1. Causas de acidentes com vítimas fatais e taxa de mortalidade resultante (número de mortes por milhão de habitantes). Acidente Mundo Espanha União Europeia Tráfego viário 1.240.000 (176) 2060 (44) 30.200 (60) Doméstico e de lazer 900.000 (141) 6.418 (137) 100.000 (199) Homicídios e assassinatos 678.000 (88) 363 (7,6) 4.280 (10) Acidentes de trabalho 321.000 (112) 585 (43) 7.500 (36) Incêndios 75.000 (11) 148 (3) 3.850 (8) Catástrofes naturais 8.950 (1,3) - - 9 Mais responsabilidade para as petroleiras Pouco mais de três anos depois do acidente sofrido pela plataforma Deepwater Horizon da British Petroleum no Golfo do México (vide número 113 da revista Gerência de Riscos e Seguros, Observatório de Sinistros. 2012), a União Europeia aprovou uma nova regulamentação que dificulta a concessão de licenças às plataformas petrolíferas que operam em alto-mar e responsabiliza os operadores de refinarias de petróleo e gás pelos danos ao meio ambiente causados no mar até 370 10 quilômetros da costa, em vez dos 22 quilômetros atuais. Para obter uma licença, antes de iniciar as perfurações, as companhias deverão apresentar planos de emergência que cubram todos os riscos e propor soluções aos órgãos competentes dos Estados membros caso esses danos ocorram. Elas também comunicarão os incidentes graves em que tenham se envolvido. Antes que as perfurações comecem, os órgãos competentes dos Estados membros, que deverão ser independentes e terão competências para multar e paralisar as extrações, devem verificar se os operadores têm capacidade técnica e financeira suficiente para garantir a segurança de suas atividades em alto-mar e a proteção do meio ambiente do lugar perfurado. Proposta para o novo Código Mercantil Quase sete anos depois de ter recebido a encomenda, a Segunda Seção da Comissão Geral de Codificação apresentou um texto completo que moderniza e atualiza o Código de Comércio vigente desde 1885 para favorecer a atividade econômica mediante normas que garantam a unidade de mercado. A proposta dos especialistas para o novo Código Mercantil compila e integra em um único texto toda a legislação mercantil existente e incorpora temas que até agora careciam de regulamentação legal, mas que já são totalmente habituais nas relações mercantis. Colaboraram para esta proposta mais de 60 especialistas no assunto. O trabalho foi dirigido por Alberto Bercovitz, que explica que, entre os mais de 1.900 artigos que integram este novo Código, dividido em sete livros e um título preliminar, foram introduzidos Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 temas que até então estavam fora da regulamentação legal. Assim ocorreu, por exemplo, com os contratos eletrônicos, turísticos, de distribuição ou financeiros mercantis que não estavam respaldados por uma lei. Incorporou-se a regulamentação sobre a transmissão das empresas e as modalidades modernas de contratação, como a realizada em leilão público ou a automática. Resumindo, este texto, cuja proposta será estudada e debatida em diferentes âmbitos pelo ministério até que ele elabore seu próprio projeto, pretende assegurar a unidade de mercado nas relações jurídicas privadas dos empresários e demais operadores econômicos mediante a renovação e a atualização de uma regulamentação que precisava ser adaptada à realidade do século XXI. Prestige, indenizações não aceitas pelo FIDAC O Fundo Internacional de Indenização de Danos devidos à Contaminação por Hidrocarbonetos (FIDAC) não aceitou a inclusão de indenizações por danos morais e ambientais puros ocorridos no naufrágio do Prestige. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 O FIDAC considera que as quantidades reclamadas pelos Estados espanhol e francês ultrapassam o limite máximo fixado para indenizações por este tipo de sinistro no momento em que ele aconteceu. A França pede 67,5 milhões de euros e o FIDAC admite 38,5; a Espanha solicita 970 milhões de euros perante os 300 milhões reconhecidos. Os peritos do FIDAC declararam que conceitos como danos morais e ambientais puros ou a repercussão no turismo não podem ser incluídos como «admissíveis» conforme os critérios do Fundo. O FIDAC também indica que vários municípios franceses não esclareceram por que reivindicam estes gastos tão diferentes das quantias investidas na luta contra a poluição e por haver diferenças com o custo real assumido. Quanto à Junta da Galiza, o diretor do FIDAC declarou que apresentou notas fiscais, mas não deu quase nenhuma explicação e insistiu que as notas apresentadas nunca foram acompanhadas de justificativas, apesar de terem sido exigidas em diversas ocasiões, incorrendo em falta de rigor na hora de determinar a perda. O Fundo já abonou 114 milhões de euros para danos e ainda tem de pagar pouco menos de 40 milhões. No momento do sinistro do Prestige o limite de indenização estava fixado em 115 milhões de euros. 11 Rotulagem na indústria alimentícia Nos anos 90, a equipe de advogados norte-americanos da Don Barrett processou as grandes empresas de tabaco e conseguiu uma indenização de 240 bilhões de dólares por danos e prejuízos causados aos fumantes enfermos com câncer. Agora eles estão se preparando para processar 30 multinacionais da indústria alimentícia. A equipe jurídica, especializada em grandes pleitos coletivos, não quer demonstrar que certos alimentos são prejudiciais à saúde ou que sua propaganda é enganosa; seu objetivo é demonstrar que a informação dada nos rótulos é falsa ou ilegal. Don Barrett relaciona os problemas de sobrepeso e obesidade dos americanos diretamente com a alimentação e fixa em 300 milhões de dólares anuais o custo para a Previdência Social. Não é só a obesidade: o diabetes, o câncer, as patologias coronárias e os acidentes cardiovasculares também estão entre as 10 doenças que mais mortes causam. Para evitar contrair estas doenças, ele propõe que os consumidores recebam informações precisas sobre o que comem, o que fará com que mudem seus hábitos alimentares. Em declaração à BBC, Barrett afirmou: «Temos provas irrefutáveis de que os fabricantes ocultam a verdadeira quantidade de açúcares e gorduras presentes nos seus alimentos. Eles nos enganam sobre os ingredientes supostamente naturais e costumam mentir com relação ao número de calorias que um produto contém. Se o produto é ilegal, então não pode ser vendido. As empresas responsáveis deverão retirar de venda os produtos mal-rotulados e indenizar os consumidores que os compraram». A maioria dos processos é direcionada aos produtos que indicam em seus rótulos que contêm ingredientes «naturais, não transgênicos ou sabores artificiais; que são preparados de forma artesanal e comercializados como alimento saudável». Barrett acrescenta que «continua-se rotulando mal porque os consumidores são mais propensos a comprar um produto que supostamente seja saudável, e os fabricantes poderão aumentar o preço por isso». A realização do julgamento está prevista para o final deste ano. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 agenda AGENDA 2013 CONGRESSOS E CONFERÊNCIAS EVENTO DATAS LOCAL CONVOCANTE Conferência Seguro de Arte 17-18 de outubro Budapeste (Hungria) IFASIC Congresso Risco e Seguro. RISCO 2013 17-18 de outubro Las Palmas dºe Gran Canaria (Espanha) Univ. de Las Palmas de Gran Canaria Congresso ERM 3-5 de novembro San Francisco, CA (EUA) RIMS IX Assembleia CRO 5-7 de novembro Zurique (Suíça) Associação de Genebra Conferência Anual 8-11 de dezembro Baltimore, MD (EUA) SRA Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 13 entrevista A visão da Gerência de Riscos na ArcelorMittal consiste em proteger a continuidade das operações e a conta de resultados, ou melhor, diz Meyer, «buscar um benefício por meio de uma abordagem equilibrada entre redução, retenção e transferência de riscos». Na Espanha, a área trata de minimizar os riscos mediante «a adoção de proteções e políticas de prevenção adequadas», acrescenta López Porcel. Edwin V. Meyer GERENTE GERAL, GERÊNCIA DE RISCOS E SEGUROS , GRUPO ARCELORMITTAL «Acreditamos no valor da seguradora e no estabelecimento de relações de confiança a longo prazo» Texto: ALICIA OLIVAS Fotos: ALBERTO CARRASCO 14 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Juan Carlos López Porcel GERENTE, GERÊNCIA DE RISCOS E SEGUROS, ARCELORMITTAL ESPANHA «O êxito é possível, sempre e quando o risco for mensurável e estiver controlado» Que valor vocês dão à Gerência de Riscos num grupo como a ArcelorMittal, a empresa siderúrgica mais importante globalmente, com presença em mais de 60 países de quatro continentes e 245.000 funcionários em todo o mundo? Em linhas gerais, como é o sistema de gerenciamento de riscos implantado em seu grupo? Edwin V. Meyer (doravante EVM): A ArcelorMittal incorpora há anos a Gerência de Riscos em sua estrutura operacional e na empresa. Criamos um Comitê de Gestão de Riscos com membros de todas as unidades operacionais da empresa sob a presidência de Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 15 estudo Sudhir Maheshwari, membro do nosso Comitê de Direção. O comitê responde diretamente ao subcomitê de Gerência de Riscos do conselho da ArcelorMittal e se reúne regularmente. O responsável pela Gerência de Riscos do nosso grupo é o secretário do Comitê de Gerência de Riscos, encarregado de facilitar, documentar e analisar diversos dados sobre riscos recebidos dos diferentes departamentos corporativos e operacionais da empresa. Esta informação inclui os riscos empresariais detectados no âmbito do plano anual da empresa por áreas especializadas: Saúde e Segurança, Riscos Ambientais, Gerência de Riscos de Ativos, Gestão de Projetos, Tesouraria, Finanças, Jurídico e Seguros. Os relatórios trimestrais de Gerência de Riscos corporativos deixam evidentes os riscos, ordenados por gravidade e probabilidade, isto é, pela possibilidade de que ocorram. Em linhas gerais, em nosso registro de riscos predominam os riscos provenientes de fatores econômicos, financeiros, legais e geopolíticos, similares aos de outras empresas internacionais. Além disso, existem riscos estratégicos e de exploração para a companhia em geral e específicos para cada unidade de negócio. Na área de riscos seguráveis, estudamos aqueles relacionados com nossas responsabilidades, nossos ativos e nosso quadro de funcionários. Como companhia global dedicada à siderurgia e à mineração, contamos com ativos muito volumosos em todo o mundo, o que inclui riscos por interrupções significativas da atividade, pela responsabilidade relacionada com nossas operações, por nossas cotações na bolsa e por nossos pro- 16 “SEMPRE ABORDAMOS A INCORPORAÇÃO DE NOVAS AQUISIÇÕES COMEÇANDO PELA DETECÇÃO DOS RISCOS” (EVM) dutos. Contamos ainda com um quadro de aproximadamente 245.000 funcionários em todo o mundo, o que pode gerar responsabilidades de caráter médico, em caso de acidentes e de pensões. A área de Riscos e Seguros se encarrega de propor a retenção de riscos mais econômica, de transferir riscos e de recomendar as solicitações de autosseguro através de nossa companhia de seguros cativa. Como se realiza o processo de gestão de riscos na Espanha? Juan Carlos López Porcel (doravante JCLP): A Gerência de Riscos na Espanha colabora com o departamento de Riscos e Seguros da empresa, definindo os perfis de riscos, analisando as situações locais para perdas catastróficas e incluindo as interdependências das companhias do grupo. Tratamos de minimizar nossos riscos adotando proteções e políticas de prevenção adequadas, assessorando nossas companhias com as melhores ideias e comentários utilizados em nosso grupo em termos globais, aproveitando a experiência passada e buscando a melhor solução possível. Do mesmo modo, desempenhamos uma função de representação da ArcelorMittal no que diz respeito às relações com as autoridades legisladoras na Espanha (Direção Geral de Seguros) para garantir o respeito da legislação local. Por último, cabe destacar que a cúpula dirigente está plenamente envolvida no dia a dia, sempre recebendo informações, assistindo às reuniões dos comitês de riscos e participando com propostas e decisões, o que proporciona o respaldo adequado à nossa área de trabalho. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 17 entrevista Risco, oportunidade e ameaça O risco está no cerne de toda atividade empresarial. É possível a glória sem risco? EVM: De fato, por um lado consideramos o risco como uma oportunidade e, por outro, como uma ameaça. Por exemplo, todos os nossos grandes investimen- “É IMPRESCINDÍVEL ADOTAR UM PLANEJAMENTO ESTRUTURADO DA GESTÃO DOS RISCOS EMPRESARIAIS” (EVM) tos em novas obras e reformas devem se submeter a um processo exaustivo de avaliação e de análise de detecção de riscos, dos pontos de vista financeiro e de riscos de exploração. É preciso detectar, medir e avaliar os riscos, particularmente com respeito a certos parâmetros de eficiência financeira. A área de seguros participa do processo e recomenda o equilíbrio mais rentável entre retenção e transferência de riscos. Além disso, colaboramos com a seguradora para instaurar medidas adequadas de controle do risco no início do projeto e fazemos o acompanhamento por meio de visitas regulares ao centro. Qual é a perspectiva sobre o risco na Espanha? JCLP: No que diz respeito à Espanha, sentimo-nos confortáveis avaliando possíveis situações de risco e pensando em como evitá-las. Também é uma questão de motivação, embora assumir riscos não signifique buscar emoções extremas, já que temos uma posição consideravelmente preventiva. Usando um exemplo de uma experiência diferente para entender esta questão, temos o recorde obtido recentemente por Felix Baumgartner, com um salto de 36,3 quilômetros da estratosfera em que atingiu uma velocidade de 1.365 quilômetros por hora. Parece um risco extraordinário, mas se os detalhes são conhecidos, até o risco fica incrivelmente minimizado após cinco anos de preparação com os meios técnicos e os equipamentos. Portanto, o êxito é possível, sempre e quando o risco for mensurável e estiver controlado. 18 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2012 Aquisições, avaliação de riscos Desde a sua criação, a ArcelorMittal cresceu rapidamente através de importantes aquisições. Como a Gerência de Riscos mede os riscos de compras ou a entrada em novos países, principalmente em mercados emergentes? EVM: Em termos de capacidade de produção, a ArcelorMittal é a maior companhia siderúrgica e uma das maiores dedicadas à mineração do ferro, bem como uma das principais produtoras de carvão coque no mundo. Realizamos operações industriais em 20 países e estamos presentes em mais de 60. Sempre abordamos a incorporação de novas aquisições começando pela detecção dos riscos e avaliando as ameaças aos ativos e em termos de responsabilidade. Cumprimos estritamente a legislação e as regulamentações do país sobre seguros quando vamos incorporar novas aquisições a nossos programas internacionais. Do ponto de vista legal, quais são os obstáculos que alguns dos países de sua área de atuação (Europa do Sul, México e África do Norte) apresentam? JCLP: Em algumas ocasiões foi interessante descobrir as diferenças que existem entre as legislações de cada país. Devido à sinistralidade histórica, a Argélia conta com uma legislação obrigatória em termos de danos catastróficos nacionais semelhante ao Consórcio de Compensação de Seguros na Espanha, e no México nós temos que obrigatoriamente apoiar-nos em uma seguradora local Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 “BUSCAR O EQUILÍBRIO CORRETO ENTRE O AUTOSSEGURO E A TRANSFERÊNCIA DE RISCOS PARA O MERCADO DE SEGUROS É UMA DE NOSSAS INCUMBÊNCIASCHAVE” (EVM) para acionar nossos programas, motivo pelo qual sempre existe uma possível diferença a ser estudada e considerada antes de tomar qualquer decisão. A Espanha tem algum risco diferente com relação aos demais países onde vocês estão presentes? JCLP: Por sermos uma empresa multinacional, o mapa de riscos é uniforme. Nos países desenvolvidos, os riscos específicos são regulados pela legislação local. Na Espanha temos alguns exemplos reais, como a legislação ambiental, mais ampla que a simples transposição da diretriz europeia. Do mesmo modo, existem conceitos exclusivos do mercado espanhol vinculados à legislação local, como a responsabilidade civil patronal, além de outras estruturas que proporcionam soluções particulares, como a cobertura oferecida pelo Consórcio de Compensação de Seguros. Uma gestão do risco adequada precisa ter um enfoque preventivo claro. Como se consegue envolver toda a organização neste objetivo? EVM: Nossa visão da gestão do risco e da contribuição que a área de Riscos e Seguros tem de dar consiste em última instância em proteger a continuidade das operações e da nossa conta de resultados, ou ainda buscar um benefício usando uma abordagem que equilibre redução, retenção e transferência de riscos. Tanto os departamentos corporativos como todas as unidades operacionais devem detectar todos os riscos empresariais dentro de seu plano de negócio. 19 entrevista JCLP: Além disso, acreditamos que o processo de comunicação é primordial em nossa função, já que é necessário envolver previamente as equipes internas para obter suas opiniões na busca da melhor solução. “POR SERMOS UMA EMPRESA MULTINACIONAL, O MAPA DE RISCOS É Conselho de Diretores da AGERS (Associação Espanhola de Gerência de Riscos e de Seguros), o que nos permite obter um panorama completo das tendências de nosso setor graças à troca de experiências. UNIFORME” (JCLP) Objetivo: a segurança Seu objetivo é ser a empresa mais segura do setor. Em que consiste o programa Journey to Zero? EVM: O primeiro objetivo da ArcelorMittal é manter nossos empregados seguros e ilesos, isto é, a saúde e a segurança são o objetivo número um dos empregados da ArcelorMittal, e este desafio está plenamente integrado e contemplado em nossas avaliações de desempenho individual. O programa de saúde e segurança Journey to Zero atesta a nossa crença de que é possível conseguir um ambiente de trabalho sem acidentes dentro de uma empresa industrial multicultural com operações diversificadas em todo o mundo. Também consideramos que a formação é um aspecto importante em nosso campo, já que exerce uma influência real nos resultados da nossa empresa. Por este motivo, tentamos compartilhar os conhecimentos sobre riscos e seguros internamente em nossa organização, participando de cursos e seminários organizados pela Universidade ArcelorMittal, onde Juan Carlos (na Espanha) e eu mesmo (em Luxemburgo) somos credenciados como docentes. Além disso, colaboramos com associações profissionais do setor. Em termos gerais, faço parte do Conselho de Diretores da FERMA (Federação Europeia de Associações de Gerência de Riscos), enquanto que na Espanha Juan Carlos é membro do 20 Sinistros, redução dos danos E o que vocês fazem na ArcelorMittal quando os mecanismos de prevenção falham e os riscos se materializam em sinistros? EVM: Os sinistros fazem parte da área de Riscos e Seguros e são considerados na hora de guiar nossas atividades de redução a partir das conclusões extraídas e eles influem em nossa estratégia de retenção e transferência de riscos. Acreditamos na retenção de nossa série de sinistros de baixa gravidade e alta frequência e no asseguramento dos de alta gravidade e baixa frequência, bem como em segurar os sinistros graves que possam ser catastróficos. Buscar o equilíbrio entre a retenção direta, o autosseguro através de nossa empresa cativa e a transferência de riscos ao mercado de seguros é uma de nossas principais incumbências. Cremos firmemente no valor da seguradora e no estabelecimento de relações de confiança a longo prazo. A ArcelorMittal é uma companhia bastante jovem, surgida em 2006 após a fusão da Mittal Steel e da Arcelor, cujos programas de seguros não se unificaram até o início de 2007, razão pela qual ela possui um histórico de sinistros de sete anos apenas. Ao longo dos anos temos tido uma série de sinistros de PD/BI (Danos Materiais/ Lucros Cessantes), mas nenhum deles causou disputas insuperáveis com a seguradora. Nossa equipe de seguros tem sido Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2012 muito estável nestes anos, e a MAPFRE GLOBAL RISKS tem sido uma de nossas parceiras mais importantes. Vocês poderiam dar um exemplo recente? EVM: Na recente falha ocorrida em nossa usina transformadora de aço sul-africana de Vanderbijlpark, de novo pudemos demonstrar que um de nossos pontos fortes é mitigar as perdas por lucro cessante. Com o envio de placas de aço do México e do Brasil e o aumento da produção de aço em outras de nossas usinas na África do Sul, pudemos reduzir consideravelmente o impacto econômico do período de inatividade da transformadora. Papel do seguro Vocês poderiam descrever qual é a política da ArcelorMittal de transferência e retenção dos riscos e que papel vocês atribuem à área de Seguro? EVM: A transferência de riscos é o passo seguinte à redução deles mesmos, em um processo que consiste em estabelecer o grau de retenção por unidades de negócio e o nível de autosseguro por meio de nossa estrutura de companhias seguradoras cativas. Acreditamos na contratação de seguros por três motivos: • O seguro como facilitador das operações de negócio. Um exemplo disso são as áreas Marítima e de Mercadorias, de Responsabilidade Logística e de Seguros de Crédito, onde o apoio que a seguradora dá às operações é mais importante que a própria transferência do risco. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 • O seguro como provedor de serviços. Exemplos disso são os Seguros de Automóveis, de Assistência, de linhas financeiras diferentes da responsabilidade da D&O e os seguros relacionados com o quadro de funcionários, onde o atendimento ao cliente é mais importante que a transferência do risco. • O seguro como proteção da conta de resultados da empresa. Exemplos 21 entrevista disso são o nosso seguro de PD/ BI, de responsabilidade civil e produtos, de responsabilidade sobre fretadores, e os seguros para D&O. Aqui, a transferência de riscos e, portanto, a proteção da nossa conta de resultados e do fluxo de caixa adquirem a máxima importância. Para as linhas de seguros mencionadas, estabelecemos o nível de seguro com base em aspectos técnicos no caso de PD/BI e aplicando critérios de referência tanto em Responsabilidade Civil e Produtos como em D&O quando vamos estabelecer os limites das apólices. Também em função de nosso interesse “BUSCAMOS UM EQUILÍBRIO ENTRE CASH OUT (OU PRÊMIO DE SEGUROS PAGO) E CASH EXPOSED EM TERMOS DE FRANQUIA EM APÓLICE E RETENÇÃO AUTOSSEGURADA“ (EVM) em assumir riscos, estabelecemos o nível de franquias nas apólices locais e a retenção autossegurada em nossa companhia cativa. Sempre tentamos encontrar um equilíbrio entre cash out (ou prêmio de seguros pago) e cash exposed em termos de franquia em apólice e retenção autossegurada. Nós nos valemos de cálculos atuariais baseados em nossas estatísticas de sinistros por linha de seguros e em decisões comerciais baseadas nas condições do mercado de seguros. Vocês encontraram dificuldades no mercado segurador? Vocês acham que a utilização de serviços para EDWIN V. MEYER Engenheiro de formação, Meyer começou sua carreira como segurador de riscos industriais em Milwaukee (EUA). Posteriormente trabalhou na Europa, onde chegou a ser diretor do IRI para Europa, Oriente Médio e África. Mais tarde passou a integrar a corretora de seguros Sedgwick em Amsterdã (Países Baixos), onde foi responsável por implementar os serviços de Gestão de Riscos na Europa, e depois foi transferido para Colônia (Alemanha), como diretor geral responsável pelo segmento de clientes da Sedgwick no mundo todo. Sua volta à atividade de seguros se deu com sua nomeação como responsável de Negócios na St Paul International Insurance Company nos Países Baixos, para depois unir-se à corretora de seguros Marsh e tornar-se diretor geral da Marsh Inc., responsável pela Gestão de Riscos de clientes nos Países Baixos. Ao longo de sua carreira, Meyer 22 trabalhou internacionalmente, focado na gestão de riscos e seguros, e para atender as necessidades dos clientes globais. Foi diretor de várias companhias cativas de seguros em diversas regiões e agora também dirige a cativa da ArcelorMittal. Ele também é o presidente do Comitê de Seguros da Wirtschaftsvereinigung Stahl na Alemanha, membro do conselho de diretores do Comitê de Seguros da Associação da Indústria Alemã (BDI) e da Associação Alemã de Gerentes de Risco. Em seu tempo livre, gosta de cozinhar e, com sua esposa Suzanne, de navegar - uma atividade que lhe traz muitos desafios imprevisíveis como acontece na gestão de riscos e seguros. Como diretor geral de Riscos e Seguros da ArcelorMittal S.A. em Luxemburgo, Meyer é o responsável mundial pelo estabelecimento, execução e supervisão da estratégia de riscos Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2012 cativas ou fórmulas alternativas de transferência do risco são vitais em grandes corporações como a ArcelorMittal? EVM: Acredito definitivamente na eficiência do mercado de seguros. Essencialmente deve existir cobertura seguradora, visto que o risco pode ser detectado e pode-se conseguir um acordo se os termos, as condições e o preço forem compatíveis com a exposição. Um dos problemas que pode haver com os novos produtos é que eles estão relacionados com setores amplos. Nós acreditávamos que as catástrofes naturais eram acontecimentos localizados, mas, como demonstraram o incidente seguráveis do grupo. Para desempenhar sua função, ele conta com a ajuda de vários colegas, como Juan Carlos López Porcel, diretor de Riscos e Seguros, que é o responsável direto por instaurar e revisar as políticas locais dos programas internacionais para a Espanha. Além disso, é o encarregado de todas as políticas locais adicionais, especialmente as reguladoras. «Ele também me ajuda na coordenação de nossos produtos internacionais e em nosso programa de Responsabilidade Civil Internacional Global, assim como na coordenação nacional do México, Itália, Argélia, Portugal e Marrocos», diz Meyer. Existem outros colegas com responsabilidades similares em Chicago, para os Estados Unidos e Canadá, em Belo Horizonte (Brasil) para a América Latina, e em Gerência de Riscos e Seguros • “É PRECISO ENVOLVER AS EQUIPES INTERNAS PARA OBTER SUAS OPINIÕES NUM PROCESSO DE BUSCA DA MELHOR SOLUÇÃO“ (JCLP) Vanderbijlpark para a África do Sul. «O resto do mundo é coordenado fora de Luxemburgo. As equipes locais respondem hierarquicamente à cúpula de diretores financeiros e funcionalmente a mim. Há, ainda, um grupo mundial específico de colegas para Riscos e Seguros cuja equipe central se situa em Luxemburgo». Meyer depende hierarquicamente do vice-presidente de Impostos e Seguros, que é membro do Comitê Corporativo de Finanças e Impostos (CCFI) do grupo ArcelorMittal, presidido por seu diretor financeiro, Aditya Mittal. O CCFI é «meu fórum de debate e orientação, bem como a instância encarregada de aprovar os assuntos relacionados com os seguros». A estrutura de Gerência de Riscos dentro do grupo ArcelorMittal conta com várias áreas tanto em escala corporativa como em nível local. nº 116-2013 de ETN no Japão e as enchentes da Tailândia, elas podem afetar a rede de fornecimento em escala mundial. Ainda que pareça que o setor de seguros seja capaz de suportar tempestades catastróficas como a Sandy com solvência, a globalização contínua da rede de fornecimento e dos desencadeantes de sinistros associados poderia levar o setor de seguros ao limite. O outro processo que pode ter um impacto geral é a contínua segmentação feita pelo setor de seguros para diferenciar entre linhas privadas, PMEs e grandes empresas comerciais. Neste último segmento estão sendo diferenciados os setores farmacêutico, químico, petroquímico, mineiro e siderúrgico. Em minha opinião, ainda que talvez tenha sentido do ponto de vista da análise financeira, isso vai contra a ideia original de mutualizar o risco e da lei dos grandes números. Se cada grupo industrial ou cada risco situado na zona catastrófica tivesse de pagar um prêmio sem os efeitos da mutualidade e sem se beneficiar da lei dos grandes números, os seguros acabariam sendo caros demais, ao ponto de ser até mais interessante mutualizar os riscos próprios numa seguradora cativa. O motivo pelo qual este problema ainda não afetou plenamente o comprador de seguros nem a seguradora pode estar relacionado com a expansão para os mercados emergentes. A associação de riscos está aumentando, razão pela qual a mutualização do risco e a lei dos grandes números podem funcionar, ao menos até que aconteça um grande sinistro causado por interdependências de natureza mundial. 23 entrevista JUAN CARLOS LÓPEZ PORCEL Que valor proporcionam as empresas cativas ao mercado espanhol? JCLP: Do ponto de vista da Espanha, quero resaltar o valor proporcionado pelas empresas cativas. Isto é uma circunstância que os nossos clientes internos não apreciam plenamente: os destinatários finais das indenizações. Para mim, esta figura possui diversas funções e permite o acesso a outros mercados assumindo internamente a parte de retenção. Vemos a seguradora cativa como uma companheira de viagem que entende nossos problemas e conhece nossas vantagens, motivo pelo qual sem dúvida constitui um instrumento essencial que participa da solução de conjunto ao melhor custo possível. Aversão ao risco A aversão ao risco dentro das empresas está melhorando? Em que direção a Gerência de Riscos deve se ir para proporcionar o máximo valor a uma companhia? EVM: A Gerência de Riscos deve fazer parte integrante de qualquer empresa que analise os riscos estratégicos, financeiros, operacionais e, o que não é menos importante, da decisão sobre aqueles considerados seguráveis. O risco sempre tem a possibilidade de afetar positiva ou negativamente os resultados desejados. É imprescindível adotar um planejamento estruturado da gestão de riscos empresariais e, com o tempo, ela não se deve ser considerada de maneira diferente da gestão financeira ou de exploração, mas sim fazer parte do processo empresarial em seu conjunto. Como diretores de Riscos e Seguros com um claro interesse pelo financiamento do risco no sentido mais amplo da expressão, 24 Bacharel em Direito, López Porcel começou sua carreira na empresa siderúrgica Ensidesa (Astúrias, Espanha), onde acompanhou um programa de desenvolvimento, trabalhando nas áreas Operacional, Financeira e Comercial até chegar a Riscos e Seguros. Durante seus 25 anos de experiência, participou de vários processos de fusões e aquisições na indústria do aço: Aceralia na Espanha (Ensidesa, Altos Fornos de Vizcaya, Altos Fornos de Sagunto, Aristrain, Marcial Ucín, Laminados Velasco), depois Arcelor na Europa (Aceralia, Usinor, Arbed) e finalmente a atual ArcelorMittal com perspectiva mundial. “VEMOS A SEGURADORA CATIVA COMO UMA COMPANHEIRA DE VIAGEM QUE ENTENDE NOSSOS PROBLEMAS E CONHECE NOSSAS VANTAGENS“ (JCLP) Fez também um MBA Executivo e mestrado em Direito Marítimo. Também é corretor credenciado na Espanha (DGS), especialista em Gerência de Riscos pela MAPFRE, membro do Conselho de Diretores da AGERS (Associação Espanhola de Gerência de Riscos e Seguros) e professor associado da FUNDACIÓN MAPFRE e da Universidade da ArcelorMittal. López Porcel é o responsável local por estabelecer as estratégias de risco assegurável na ArcelorMittal, pelo desenvolvimento de normas e procedimentos para a sua área de atuação (Sul da Europa, contribuímos para detectar os riscos, analisá-los e avaliá-los, intervimos nas atividades de nossas unidades de negócio para reduzi-los e somos os responsáveis diretos pela transferência de riscos, seja para uma seguradora externa ou para a nossa própria seguradora cativa. Temos que considerar o verdadeiro custo total do risco e fazer com que isso seja transparente dentro da organização em favor de todo o processo de gestão de riscos em seu conjunto. Neste contexto, que papel o gerente de riscos deve assumir? EVM: Em minha opinião, o papel do diretor de Riscos e Seguros de uma grande companhia industrial com presença em todo o mundo consiste em encontrar o Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2012 México e Norte da África), de acordo com a filosofia corporativa estabelecida pela ArcelorMittal. Portanto, «nossa obrigação na Espanha é formar parte desta cadeia, seguindo a estratégia e a filosofia de Riscos e Seguros estabelecida pela corporação em Luxemburgo, além das especificações locais para o cumprimento da legislação e o estabelecimento de programas e medidas que permitam às companhias sobreviver em caso de sinistros importantes». «Em nosso país - continua - existe uma equipe regional reduzida, mas totalmente dedicada, que presta serviço às companhias do grupo que gerimos. Além difícil equilíbrio entre redução, retenção e transferência do risco, considerando a diversidade de nossas empresas e do pessoal, e as culturas associadas, bem como a experiência de aprendizagem ao longo da vida que o setor de seguros oferece. O que mais lhes atrai em sua profissão? EVM: Para mim, um dos aspectos mais atrativos de nossa profissão é a interação com as pessoas, o estabelecimento de relações de confiança e nossa contribuição profissional para a continuidade da empresa e a proteção da conta de resultados de nossas companhias. JCLP: Em termos gerais, concordo plenamente com os comentários anteriores. Pessoalmente, posso dizer que me empolgo Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 disso, contamos com o apoio de uma pessoa em cada entidade local que trabalha meio período para a nossa área, o que nos permite dispor de uma estrutura razoável e eficiente para um grupo da nossa dimensão». Em termos de dependência, segundo López Porcel, existem duas situações: «dependemos funcionalmente do diretor geral de Riscos e Seguros de Luxemburgo (Edwin Meyer) e, ao mesmo tempo, respondemos hierarquicamente ao diretor geral na Espanha (José Enrique de la Rubiera)». com a incerteza sobre o que acontecerá a cada dia. Iniciar a jornada com um planejamento prévio que tem de ser modificado por diferentes circunstâncias é algo muito frutífero. Podemos começar gerenciando um sinistro ocorrido na Espanha relativo ao Consórcio de Compensação de Seguros, receber a notificação de um problema em um barco com destino à Argélia, verificar os números de Danos e Lucros Cessantes em nossas instalações no Marrocos, atender aos pedidos da nossa equipe corporativa de Luxemburgo e terminar o dia trabalhando com os nossos colegas do México. A sucessão de acontecimentos faz com que eu me sinta à vontade neste campo devido às diferentes culturas envolvidas e à flexibilidade que é necessária para entender os problemas e propor-lhes soluções efetivas. 25 estudo Os riscos da Pessoa Designad 26 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 da em Terra (DPA) O presente estudo é um entendimento sob a forma de análise das funções e responsabilidades da DPA, ou seja, da pessoa designada em terra como responsável pela supervisão de determinados aspectos operacionais dos navios, bem como do apoio à embarcação em terra e a garantia deste risco. Posteriormente analisaremos qual é o risco que assumem tanto a DPA como a companhia1, para finalmente determinar a importância da transferência do mesmo e sob quais parâmetros. CÉSAR GARCÍA GONZÁLEZ. DOUTOR EM DIREITO DE SEGUROS. ADVOGADO E CONSULTOR. Neste artigo, o termo "companhia" se refere não à seguradora, mas sim ao "proprietário do navio ou qualquer outra organização ou pessoa como, por exemplo, o gestor naval ou o fretador a casco nu, que, ao receber do proprietário a responsabilidade pela exploração do navio, aceitou as obrigações e responsabilidades estipuladas neste Código (regulamento IX/1.2 do Convênio SOLAS 74/78 e art. 1.1.2 do Código IGS). No âmbito jurídico espanhol, utiliza-se a expressão "companhia naval" (vide Art.10 RD Legislativo 2/2011). ILLUSTRATION STOCK 1 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 27 estudo O porquê da DPA Embora seja verdade que o primeiro afundamento de um superpetroleiro foi o do Torney Canyon, no sul da Inglaterra lá pelo ano de 1967, durante os anos 80 e 90 do século passado aconteceram vários acidentes de navio que levaram à perda de um grande número de vidas humanas e danos colaterais de grande importância econômica para as zonas danificadas e de relevância social pelo dano produzido ao ambiente ao redor2. Assim como ocorreu com o movimento antinuclear surgido após o desastre de Three Mile Island e, mais recentemente, após o tsunami do Japão em 2011 e os danos da central nuclear de Fukushima, os acidentes marítimos, em menor medida, criaram uma certa opinião pública contrária a este modo de transportar determinados tipos de mercadoria ou, pelo menos, obrigaram a que fossem tomadas todas as medidas que a tecnologia atual permite adotar. E isso entre outras coisas, porque não em poucas ocasiões o fator humano é o responsável pelo desastre3. Herald of Free Enterprise (afundado em águas da Bélgica em 1987), Exxon Valdez (foi a pique nas costas do Alaska em 1989), Mar Egeu (afundado em frente à costa galega em 1992) e Erika (naufragado ao sudoeste da França em 1999). 2 Embora pareça que este tenha sido o elemento fundamental no caso do Prestige, uma vez que a investigação está sub judice, não podemos afirmá-lo categoricamente; no entanto, é verdade que foi o fator-chave no caso do naufrágio do Herald of Free Enterprise, em 6 de março de 1897, devido em princípio ao fato de que o ferry zarpou com as portas de proa abertas (tanto a interior como a exterior). Por outro lado, apesar da atual crise, o comércio marítimo vem vivendo um aumento mundial constante4. De fato, neste contexto, companhias navais como a norte-americana Maersk e a francesa CMA CGM encomendaram a construção de meganavios como o Marco Polo, com capacidade de carga de 15.500 contêineres de 33 metros cúbicos5. Em caso de sinistro, isso pode envolver dano ambiental e prejuízo econômico, além de vidas humanas, para o que é necessário uma regulamentação internacional muito mais exigente e dinâmica. Mas a margem de melhora não se limita unicamente aos meios não humanos empregados, isto é, ao desenvolvimento da tecnologia, aplicação de novos materiais, conhecimento das correntes e fluxos marítimos, desenvolvimento das telecomunicações, etc.: ele inclui o que se vinha entendendo pela experiência nos naufrágios referidos, que deixaram clara a carência de pessoal designado em terra, bem como a necessidade de melhorar a coordenação entre as equipes no mar e no porto. Esta situação se refletiu na sentença da Court of Formal Investigation de 1990, onde se analisou a catástrofe do ferry britânico Herald of Free Enterprise, ocorrida em 6 de março de 1987 (operado pela companhia Townsend-Thoresen). Esta 3 Wally Mandry et al.; “Review of Maritime Transport 2012”, Relatório da UNCTAD Secretariat, Genebra, 2012. pág.5. 5 A norte-americana Maersk encomendou 20 navios de mais de 18.000 toneladas. Vide Landauro, I.; Os supernavios de carga reduzem a velocidade [Consulta Internet 1º de abril de 2013 http://online.wsj.com/ article/SB1000142412788732393680457823002220842 4336.HTML [Consulta março de 2013]. 4 OS ACIDENTES NO MAR CRIARAM UMA CERTA OPINIÃO PÚBLICA CONTRÁRIA A ESTE MODO DE TRANSPORTAR DETERMINADOS TIPOS DE MERCADORIA OU, PELO MENOS, OBRIGARAM A QUE FOSSEM TOMADAS TODAS AS MEDIDAS QUE A TECNOLOGIA ATUAL PERMITE ADOTAR 28 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 falha judicial foi a bandeirada de largada para incluir na gestão da segurança operacional não só os responsáveis a bordo, mas também no seio da companhia naval, ou seja, em terra A sentença produziu mudanças na regulamentação que inicialmente se restringiu aos ferries de bandeira britânica, até que aconteceu outro desastre marítimo, o naufrágio do Scandinavian Star, que posteriormente levou às diretrizes sobre direção para a operação de salvamento de barcos e para a prevenção de poluição6. Outro fruto disso, mais tarde, foi o Código Internacional de Gestão da Segurança (IGS)7, onde finalmente se reúnem inúmeras normas e requisitos a serem cumpridos para evitar falecimentos de passageiros e danos ao ambiente marinho. Sendo assim, visto que a segurança envolve todos os níveis hierárquicos da companhia, nela ficará incluído o pessoal em terra. Dentro das medidas de segurança a serem adotadas, o Código IGS estabelece a necessidade de identificar uma ou várias pessoas em terra diretamente ligadas à direção, cuja responsabilidade e autoridade lhes permitam supervisionar os aspectos operacionais do navio que afetem a segurança e a prevenção da poluição, bem como garantir que se habilitem recursos suficientes e o devido apoio em terra. Esta pessoa designada é o intermediário entre o pessoal a bordo e a equipe em terra que coordena a comunicação entre as diferentes partes da companhia e emite relatórios a respeito; também é a responsável pela gestão da segurança operacional. Por sistema de segurança operacional deve-se entender a estruturação documental que permita ao pessoal da companhia implantar de forma eficaz sua política de segurança e proteção ambiental, ou seja, o que antes se conhecia como «boa prática marítima», acrescentando a proteção do meio ambiente. Portanto, a Pessoa Designada em Terra (DPA) se configura como uma garantia a mais não só de que serão realizadas as tarefas durante o frete, conforme as normas internacionais e a manutenção da embarcação, como também com os possíveis prejudicados ou vítimas. Não se exige apenas que as companhias navais tenham uma filial ou sua sede na Espanha8 ou em qualquer outro país da União Europeia9: agora elas também devem designar uma pessoa em terra para responder por determinados aspectos. Âmbito Jurídico Ante o mencionado repúdio social a determinado tipo de transporte marítimo e de suas consequências em caso de sinistro, as regulamentações internacionais deste setor buscam o STAP Barcelona, Seção 4ª, n° recurso 589/1989, de 13 de maio. 9 Art.3.1 do Regulamento (CEE) 3577/92, do Conselho, de 7 de dezembro, pelo qual se aplica o princípio de livre prestação de serviços aos transportes marítimos dentro dos Estados membros (cabotagem marítima). 8 Resolução A.680 da 16ª Assembleia da Organização Marítima Internacional. 7 Em inglês, International Safety Management Code (ISM). Aprovado na Resolução A.741 da 18ª Assembleia da Organização Marítima Internacional. 6 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 29 estudo equilíbrio entre o desenvolvimento humano e a sustentabilidade ambiental, com normas que impulsionem o desenvolvimento de técnicas que implementem medidas de eficiência energética10. Também tem-se buscado normas de cumprimento obrigatório em que se define a responsabilidade dos operadores no comércio internacional de transporte marítimo, estabelecendo os princípios pelos quais cada parte deverá responder11 e as quantias pelas quais deverão se responsabilizar12. A regulamentação inicial do DPA está no Código Internacional de Gestão da Segurança (IGS) operacional do navio e da prevenção da poluição, aprovado pela Organização Marítima Internacional (OMI), em 4 de novembro de 1993, como anexo à Resolução A.741 (18), que entrou em vigor em 1° de julho de 1998. No entanto, foram feitos adendos e exceções em sua aplicação, até se chegar ao Regulamento (CE) 336/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de fevereiro de 2006, sobre a aplicação na Comunidade do Código Internacional de Gestão da segurança e pelo qual se derroga o Regulamento (CE) 3051/95 do Conselho.O regulamento é de cumprimento obrigatório dentro do EEE13. 30 10 Mahin Faghfouri e Stochniol, A.; “Review of Maritime Transport 2012”, Relatório da UNCTAD Secretariat, Genebra, 2012. Pág. 96 e ss. 11 Para aprofundar-se sobre a responsabilidade dos armadores, vide: Reynolds, BWB e Tsimplis MN; “Shipowners limitation of liability”, Wolters Kluver, volume II, London, 2012. 12 Referimo-nos, entre outros, à Convention on Limitation of Liability for Maritime Claims (LLMC) de 1996, que é uma emenda da assinada em 1976. Neste sentido, a limitação das quantias aparece claramente nos artigos 6 e 7 da Convenção de 1976, conforme redação do artigo 3 da emenda de 1996. Há um caso semelhante, mas referente ao transporte aéreo de passageiros, no Convênio de Montreal. 13 A existência deste regulamento comunitário não quer dizer que a Resolução A.71 (18) não seja aplicável no resto de países membros da OMI, mas que o instrumento jurídico pelo qual o EEE se articula é por regulamento. O artigo 4 do Código IGS da Parte A do Regulamento define o objetivo e a finalidade da pessoa designada em terra da seguinte forma: «A fim de garantir a segurança operacional do navio e proporcionar o elo entre a companhia e o pessoal a bordo, cada companhia designará, da forma que achar melhor, uma ou várias pessoas em terra diretamente ligadas à direção, cuja responsabilidade e autoridade lhes permitam supervisionar os aspectos operacionais do navio que afetam a segurança e a prevenção da poluição, assim como garantir que se habilitem recursos suficientes e o devido apoio em terra». A nosso ver, a regulamentação desta figura na aplicação do Regulamento deveria ter acarretado uma modificação no Código de Comércio no que diz respeito ao seguro marítimo, especialmente - e no mínimo - no dever de envio dos dados e «domicílio» do capitão do navio14, uma vez que, logicamente, os dados da DPA também deveriam ser enviados15. A figura da DPA fica definida como o intermediário entre as equipes a bordo e as equipes em terra, para assim garantir a segurança operacional da embarcação e se poder coordenar a provisão dos meios necessários e o apoio em terra. Ela também deverá supervisionar todos os aspec14 15 Art. 738.5 CCo. Art. 6.7 Código IGS da Parte A do Regulamento (CE) 336/2006. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 tos operacionais do navio relativos à segurança e à poluição ambiental. Essa pessoa designada deve cumprir alguns requisitos de qualificação, formação e experiência, que se encontram na resolução MSC-MEPC.7/Circular 616. Porém, parte das funções específicas da DPA são a verificação da embarcação para saber se ela está cumprindo as devidas normas em função do tipo de navio, motivo pelo qual, no que se refere particularmente às competências para o desempenho desta tarefa de verificação, a DPA deverá conhecer e demonstrar que conhece: o Código IGS; as normas e regras de navegação obrigatórias; os parâmetros que as companhias devem levar em consideração, segundo as prescrições do Código IGS; 16 Referimo-nos ao “Guidance on the qualifications, training, and experience necessary for undertaking the role of the designated person under the provisions of the International Safety Management (ISM) Code”. as técnicas de avaliação de exames, perguntas, pareceres e relatórios; os aspectos técnicos e operacionais da gestão da segurança; e os conhecimentos básicos do transporte marítimo e das operações a bordo. Paralelamente, a pessoa que tiver sido designada como DPA deverá participar de pelo menos uma auditoria de um sistema de gestão relacionado com o setor marítimo17. Mas esta pessoa designada em terra também terá que verificar se o sistema de gestão de segurança da companhia está em conformidade, e em que grau, com o Código IGS18. Deverá ser a companhia, seja por si mesma ou por meio de seu representante legal em cada porto, que anualmente notificará às autoridades portuárias sobre as DPAs relacionadas com cada navio, indicando a forma de contato com elas19. O Risco DPA Houve certa polêmica sobre se a responsabilidade civil do seguro marítimo é regulada ou não pelas normas espanholas20. A nosso ver, e limitando-nos exclusivamente à DPA, é verdade que, na regulamentação atual do seguro marítimo, o risco da DPA não se encontra expressamente como segurável21, mas parece ine Art. 4.1 do Anexo II Parte B do Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho 336/2006. 18 Art. 4.2 do Anexo II Parte B do Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho 336/2006. 19 Art. 3.3 do Anexo II Parte B do Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho 336/2006. 20 Linaza Lacalle, J.; "La acción directa en el seguro de Protección y Indemnización en torno a la sentencia de la Sala 1ª del Tribunal Supremo de 2 de julio de 2003", Diario La Ley, N° 5.890, Año XXIV, 2003. 21 Art. 743 CCo. 17 A FIGURA DA DPA FICA DEFINIDA COMO O INTERMEDIÁRIO ENTRE AS EQUIPES A BORDO E AS EQUIPES EM TERRA. SUA MISSÃO É GARANTIR A SEGURANÇA OPERACIONAL DA EMBARCAÇÃO E SUPERVISIONAR TODOS OS ASPECTOS OPERACIONAIS DO NAVIO RELATIVOS À SEGURANÇA E À POLUIÇÃO AMBIENTAL Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 31 estudo quívoco que o risco no caso da DPA pode se enquadrar dentro dos seguros contra danos, já que ele consiste em que surja uma dívida patrimonial diante de possíveis vítimas e/ou beneficiários22. Também entendemos que, pela própria natureza do risco e do tomador, ela ficará enquadrada nos grandes riscos23. Visto que será a consumação dos riscos que a DPA assume que leva à obrigação de indenização24, em que casos ela será responsável? O Código IGS delimita as funções desta figura sobre três aspectos principais, a saber: a gestão ambiental; a gestão da manutenção dos navios; e a gestão da segurança. Não será de pouca importância contemplar a possibilidade de que tenha que prestar cauções e garantias. Por isso, entendemos que o risco particular da DPA deve ficar limitado a estes aspectos, seja na esfera da responsabilidade civil, seja na esfera da responsabilidade penal. Temos de comentar que, embora seja verdade que no Reino Unido a DPA pode ter responsabilidades penais25, tanto no Código IGS como no Regulamento comunitário não se detalha a natureza de suas responsabilidades. Martínez Sanz, F., «El contrato de Seguro (II): Los seguros de Danos», no Manual de Direito Mercantil Volume II, Tecnos, Madri, 14ª edição, 2008, Pág. 351. 23 Art. 107.2 LCS. No projeto de modificações da LCS o enquadramento seria o mesmo. 24 STS 700/03, Seção Civil, datado de 14 de julho. Vide STS 872/2003, Civil, datado de 19 de setembro. 25 Regulamentação 8(2) do Statutory Instrument 1998/51. As sanções serão as que se encontram no art. 19, Seção 4ª do Statutory Instrument 1998/1561. Não obstante, temos de entender que nunca estaremos diante de um caso de culpa objetiva e, portanto, falaremos de hipóteses de responsabilidade subjetiva26. Na Espanha, para o caso do capitão do navio, sim, estabelece-se expressamente que ele pode ser responsável penal nos casos em que houver danos à mercadoria por negligência grave27, razão pela qual poderíamos aplicar analogamente este princípio à DPA quando os danos sobrevenham por negligência imputável a ele em suas funções, a saber: na gestão ambiental e da conservação dos navios, além das operações de segurança. A DPA certamente responderá extracontratualmente por negligência e por culpa, ou seja, tanto por tomar decisões com resultados contrários aos esperados como por negligenciar sua tarefa de supervisão e auditoria. Por isso, é importante comprovar as vistorias periódicas, conforme os certificados ad hoc aprovados pelo Regulamento comunitário e pela certificação formativa específica que for exigida. Mas a responsabilidade da DPA será sempre subsidiária, uma vez que a direta será da companhia de navegação e do proprietário do navio, salvo se a DPA tiver funções que ultrapassem o limite definido28, o que é bastante difícil, dado que suas funções são essenciais na vida do navio, visto que ela não deixa de ser a responsável em terra por aquilo que pode ocorrer em alto-mar. 22 Art. 8, Lei 22 de dezembro de 1949, sobre Transporte Marítimo de mercadorias em regime de conhecimento de embarque. 27 Art. 618.1 CCo. 28 Entendemos que o conteúdo dos arts. 586 e ss do CCo seja de aplicação análoga. Com respeito à analogia entre diferentes figuras no comércio marítimo, temos o precedente do agente consignatário como «representante naval» da mercadoria. Cif. González-Lebredo, R.A.; «El agente consignatario de buques»; Diario La Ley, Tomo 2, 1993. Pp 842 e ss. 26 A RESPONSABILIDADE DA DPA SERÁ SEMPRE SUBSIDIÁRIA, UMA VEZ QUE A DIRETA SERÁ DA COMPANHIA NAVAL E DO PROPRIETÁRIO DO NAVIO, SALVO SE A DPA TIVER FUNÇÕES QUE ULTRAPASSEM O LIMITE DEFINIDO 32 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Visto que a função da DPA é de intermediário entre o pessoal a bordo e o pessoal em terra, não é irrelevante que entre suas funções deva estar a de notificar ao segurador quaisquer circunstâncias que, durante a navegação (ou não), possam surgir e envolver alguma responsabilidade29. Embora não esteja claro qual é a base reguladora da RC no transporte marítimo30, a nosso entender poderíamos afirmar que a responsabilidade da companhia naval e do proprietário do navio será sempre subsidiária à do segurador e, portanto, à da DPA. 29 Art. 756 CCo. No entanto, para a mudança da rota, se é para salvar vidas ou bens, o transportador não será responsável por nenhuma perda ou dano que disso resulte (art. 9, Lei 22 de dezembro de 1949, de Transporte marítimo de mercadorias em regime de conhecimento de embarque). 30 STS Sala 1ª, 688/2003, de 3 de julho. E isso porque, no âmbito do seguro de RC, «(…) o segurador se obriga, dentro dos limites estabelecidos na lei e no contrato, a cobrir o risco sob a responsabilidade do segurado do qual advenha a obrigação de indenizar um terceiro pelos danos e prejuízos causados por um fato previsto no contrato por cujas consequências o segurado seja civilmente responsável, conforme a lei»31, independente da atividade do tomador e da natureza de sua atividade. A natureza do risco e a atividade do tomador deverão, sim, ser consideradas para os riscos intrínsecos do comércio marítimo, com exceção das exclusões específicas das regulamentações específicas de seguros32. Sobre a gestão do meio ambiente e o risco que a DPA assume, já apontamos que nos organismos internacionais há uma tendência à conservação do meio ambiente e à eficiência energética em todas as rotas. É por isso que os armadores estão construindo meganavios que, mesmo com capacidade para velocidades maiores, estão navegando a velocidades moderadas, contribuindo, assim, tanto para a sustentabilidade ambiental quanto para a redução dos custos no transporte33, graças ao quanto isso impacta a conta de resultados das companhias de navegação e a competitividade no preço do porte para o cliente. Claro que as companhias navais, para minimizar o custo dos prêmios, poderão implantar sistemas de gestão avalizados por normas internacionais, como a ISO 14.000 ou o Regulamento EMAS da UE, para risco ambiental, bem como as certificações de qualidade (que correspondam à série ISO 9.000). Art. 73 LCS. Vgr. O seguro de proteção jurídica. Art. 2.2 da Diretriz do Conselho 87/344/CEE, de 22 de junho de 1987. Cf. García, C.; Origem, situação atual e futuro do Seguro de Proteção Jurídica. Coleção Cadernos da FUNDACIÓN MAPFRE, Madri, 2012. Pág.8. 33 Landauro, I.; Los superbuques de carga reducen la velocidad [Consulta web 1° de abril de 2013 http:// online.wsj.com/article/SB1000142412788732393680 4578230022208424336.html [Consulta março de 2013] 31 32 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 33 estudo Se, ao invés de cobrir seus riscos em uma seguradora convencional, a DPA optar por cobri-los dentro de um Protection & Indemnity Club's (P&Ic), ela só ficará coberta se a perda patrimonial a cargo do membro do clube estiver dentro das regras do mesmo34. Caso contrário, o resto dos membros é que decidirão, em caráter excepcional, se vão cobri-la ou não35. Mas, em todo caso, poderão ser aplicadas também as regras que as partes assumirem, com base no artigo 107.2 da LCS relativo ao 1.091 CC, razão pela qual nas apólices o conceito e abrangência da RC poderá ser delimitado. Portanto, o Código de Comércio será aplicável unicamente nos riscos intrínsecos à navegação36, a saber: O casco do navio em lastro ou carregado, no porto ou em viagem. O equipamento. A máquina, sendo o navio a vapor. Os apetrechos e objetos que constituem o armamento. Conclusões A regulamentação atual da DPA tem origem no Regulamento (CE) 336/2006, um regulamento que passa a fazer parte do direito nacional sem necessidade de transposição. No entanto, entendemos que se deva reformar não só o Código de Comércio, mas também as regulamentações do transporte marítimo e, mais especificamente, a Lei do Transporte Marítimo de mercadorias em regime de conhecimento de embarque de 1949. Com respeito ao risco, mesmo apesar de, no caso do P&I para o TS, prevaleça a natureza do tomador com relação à natureza do ramo, a nosso ver não deveria ser assim, ao menos na figura que estamos analisando. Pode-se apelar para o princípio de que a lei especial prevalece sobre a lei geral, mas neste caso é difícil determinar qual é a lei geral e qual é a especial. Dito isso, em nossa opinião, como respaldo para que se aplique a LCS, temos a própria definição do seguro de responsabilidade civil já apontada, que é aplicável independente da natureza jurídica do tomador. 36 Art. 743 CCo. Albors, E. e Portales, J.; "La acción directa en el seguro de Protección y Indemnización en torno a la sentencia de la Sala 1ª del Tribunal Supremo de 2 de julio de 2003", Diario La Ley. Nº 5850, Ano XXIV. 2003. 35 García, C.; Origen, situación actual y futuro del Seguro de Protección Jurídica. Coleção Cadernos da FUNDACIÓN MAPFRE, Madri, 2012. Pág. 35. 34 34 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 ESTAMOS DIANTE DE UMA FIGURA COM CERTAS LACUNAS, QUE SURGE PELA NECESSIDADE DERIVADA DAS CATÁSTROFES CAUSADAS POR NAUFRÁGIOS IMPUTÁVEIS AO FATOR HUMANO, COM O OBJETIVO DE REFORÇAR A SEGURANÇA NO TRANSPORTE MARÍTIMO Víveres e combustíveis. As quantidades a granel. O valor dos fretes e o benefício provável. Todos os objetos comerciais sujeitos ao risco de navegação cujo valor possa ser fixado em quantidade determinada. Nos demais riscos, como a RC da DPA, poderíamos muito bem estar conforme a Lei do Contrato de Seguro, salvo atualização do Código de Comércio. Com relação às variáveis a serem consideradas para determinar o prêmio, temos de levar em conta que o fator «quantia segurada» será o mais determinante, isto é, o limite da responsabilidade econômica que quisermos que o segurador assuma pela companhia da DPA. Esta quantia segurada ou a quantia da responsabilidade civil da companhia dependerá principalmente do tipo de mercadorias que estivermos transportando37, assim como do grau de cumprimento da norma de gestão de segurança, inclusive da operacional, tanto em aspectos ambientais quanto de manutenção dos navios38. Estamos, portanto, diante de uma figura com certas lacunas, que surge pela necessidade derivada das catástrofes causada por naufrágios imputáveis ao fator humano, com a ideia de reforçar a segurança no transporte marítimo, um elemento-chave no desenvolvimento do comércio internacional e do nosso modelo produtivo. O tipo de mercadoria transportada determinará o tipo de navio (gaseiro, petroleiro, graneleiro, embarcação para passageiros, embarcação para passageiros de grande velocidade, balsa para cargas roll-on roll-off, cargueiro de grande velocidade, unidade móvel de perfuração em alto-mar). 38 Outros elementos a serem considerados são a frequência de navegação (fretes e expectativa de vida útil da embarcação), bandeira, portos de base, trânsito e destino, formação e experiência da DPA, etc. 37 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 35 estudo Novos desafios da GERÊNCIA DE RISCOS: um modelo de classificação de riscos estratégicos As empresas desenvolvem sua atividade em um ambiente que se transforma muito rápido pela ação das tecnologias da comunicação. A nova situação gera uma diversidade de riscos estratégicos que a empresa tem de enfrentar para sobreviver. Neste estudo desenvolveu-se um modelo ampliado e detalhado de classificação de riscos estratégicos em função de sua origem. RAFAEL PASCUAL CAMINO MAPFRE TECH Introdução ILLUSTRATION STOCK Características do cenário atual 36 Vivemos em um mundo que evolui constantemente, com transformações cada vez mais rápidas e consequências que afetam cada vez mais as unidades econômicas. Qualquer empresa, organização, família ou indivíduo é uma unidade econômica que administra uma corrente de rendas para fazer frente a algumas despesas com as quais pretende alcançar os seus objetivos. Mas aqui começa a mudança do paradigma no qual nos encontramos. Igualmente a outras épocas passadas, as mudanças que estão acontecendo vão desencadear cenários diferentes: novos produtos, novos mercados, novos núcleos de poder. Definitivamente o termo «novo» resume a atual situação. Os pilares sobre os quais se consolidou a etapa iniciada nos anos 80 do século passado mudaram e, 30 anos depois, está ocorrendo outra grande transformação econômica e social. Se tudo está mudando, como devem agir as unidades econômicas? Evoluindo, adaptando-se ao novo Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 ILLUSTRATION STOCK modelo de atuação e às novas variáveis que definem a etapa seguinte. Porém, há um fator que caracteriza esta nova etapa: a tecnologia, que é o multiplicador que está acelerando as transformações. As telecomunicações, a informática, a informação, o conhecimento e as novas combinações destes fatores trazem consigo o surgimento de novos modelos. A Gerência de Riscos O artigo Estándares de Gerencia de Riesgos Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 (ou Padrões de Gerência de Riscos), publicado em 2002 pela AIRMIC, ALARM e pelo IRM, foi um trabalho magnífico cujo objetivo era unificar as definições da Gerência de Riscos. Esta disciplina começou a gerar uma abundância de informações e a despertar o interesse de muitos setores econômicos, e coletou múltiplas definições sobre alguns conceitos elementares, razão pela qual o trabalho foi muito oportuno. Um dos primeiros conceitos foi o de «gestão de riscos como parte essencial da 37 estudo PARA O gestão estratégica de qualquer empresa». Assim, define-se dentro da gestão de riscos ROBERT S. um conjunto de «riscos a que a empresa e suas operações estão sujeitos, que podem KAPLAN, A resultar de fatores tanto internos como exGESTÃO DE ternos à empresa». Recordamos neste ponRISCOS TEM to que o conceito de empresa pode incluir TRÊS entidades públicas e privadas, corporações, CENÁRIOS instituições e qualquer unidade econômica. PRINCIPAIS: Por último, este trabalho define certas RISCOS categorias para se classificar os riscos em EVITÁVEIS, operacionais, financeiros e estratégicos. RISCOS Dentro dos riscos estratégicos são dados ESTRATÉGICOS alguns exemplos como concorrência, muE RISCOS danças nos clientes, mudanças na indústria EXTERNOS e demandas dos clientes. PROFESSOR Novos enfoques da gestão de riscos O professor Robert S. Kaplan explica, no artigo publicado na Harvard Business Review em 2012, que a gestão de riscos tem três cenários principais: Riscos evitáveis, principalmente riscos internos, que podem ser identificados e gerenciados. Riscos estratégicos, que podem ser identificados, mas não podem ser gerenciados. Riscos externos, que não podem ser identificados nem gerenciados por estarem fora do controle da empresa. É evidente que este enfoque coloca na pauta dos diretores a necessidade de incorporar a gestão de riscos ao processo de tomada de decisões estratégicas, classificando os riscos em função de sua capacidade de influência na empresa. Objetivo do estudo O objetivo deste estudo é oferecer um modelo ampliado e detalhado de gestão de riscos estratégicos, com uma classificação em função da origem do risco. 38 Riscos estratégicos O que são os riscos estratégicos? São os riscos que podem impedir a realização dos objetivos estratégicos. Desta simples resposta obtemos um elemento de grande importância: cumprir os objetivos estratégicos. Objetivos estratégicos. São os pontos de referência que guiam a atuação de uma empresa. Estão associados a um longo período de execução, já que as condições em que se atua não permitem uma realização em curto prazo. Observa-se que as empresas comumente estabelecem objetivos com respeito a: Dimensão (faturamento, benefício). Liderança (participação de mercado, posicionamento). Prestígio (reconhecimento, respeito). Na situação econômica em que as economias ocidentais se encontram imersas atualmente, muitas unidades econômicas têm de renunciar a estes objetivos e centrar-se, quase que exclusivamente na própria sobrevivência. Para alcançar os objetivos, a empresa dispõe dos seguintes meios: Materiais (maquinário, edifícios, tecnologia). Financeiros (liquidez, crédito). Humanos (aptidões e capacidades). Mas isso tudo é suficiente? A atuação a longo prazo também precisa de: Ideias (soluções, inovação, adaptação). Identidade (marca, caráter, atitude). Valores (princípios de atuação). Com estes meios, acreditamos que uma empresa está preparada para competir, mas Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 ainda assim existem elementos que não estão sob o seu controle e que podem afetar em maior ou menor grau a obtenção dos objetivos. Tipos de estratégia O termo «estratégia» adquiriu um protagonismo crescente no vocabulário empresarial. Em grego, stratos significa exército e agein é conduzir, dirigir exércitos. Vários vocábulos do mundo militar foram se incorporando à gestão empresarial: estratégia, tática, logística. Como em outros âmbitos humanos, o excessivo uso deste termo fez com que ele perdesse significado em seu principal destino: os objetivos da empresa. Agora, a qualquer assunto acrescenta-se o adjetivo “estratégico” para destacar sua importância e conseguir um resultado no curto prazo. Uma classificação das concepções estratégicas das empresas é a seguinte: Estratégia corporativa. Segundo Robert Grant, consiste na definição do campo de atuação da empresa, corporação ou grupo de empresas, em um ou vários setores de atividade nos quais existem vantagens competitivas que permitam a obtenção de benefícios, perante a incursão em outros setores que tenham menores expectativas de benefícios. Esta estratégia deve permitir que a empresa tome decisões a muito longo prazo, já que os investimentos a realizar, o fornecimento de recursos e a especialização do pessoal não podem ser alterados com facilidade. Os custos de incursão num setor são altos, e a decisão deve ser tomada pela alta direção, pois envolve todas as unidades de negócio ou divisões da companhia ou corporação. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Alguns exemplos de estratégia corporativa são: diversificação de atividades, integração vertical, aquisições e criação de novas empresas, designação de recursos entre as diferentes atividades da empresa e inclusive desinvestimentos quando uma atividade deixa de ser rentável. Estratégia competitiva. Segundo Kotler e Singh, existem quatro formas de atuação competitiva em um mercado: — Estratégia de líder: o líder é aquele que ocupa uma posição dominante no mercado, situação reconhecida pelo resto das empresas. — Estratégia de desafiador: consiste em querer substituir o líder, já que não se domina o mercado. — Estratégia de seguidor: o seguidor é aquele concorrente que tem uma participação de mercado menor que a do líder. Sua estratégia consiste em alinhar suas decisões com relação às do líder. Não ataca, coexiste com ele para dividirem o mercado. OS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS SÃO OS PONTOS DE REFERÊNCIA QUE GUIAM A ATUAÇÃO DE UMA EMPRESA E ESTÃO ASSOCIADOS A UM LONGO PERÍODO DE EXECUÇÃO 39 estudo IDENTIFICAMOS QUE A INSTITUIÇÃO TEM UM ENFOQUE CORPORATIVO E OUTRO COMPETITIVO, QUE DEVEM COEXISTIR — Estratégia de especialista: o especialista é aquele que busca um espaço no mercado no qual possa ter uma posição dominante sem ser atacado pela concorrência. Concentrase em um segmento do mercado, dominando-o e servindo-o com grande especialização e obtendo benefício suficiente. Em função de sua posição atual e dos objetivos propostos para o longo prazo, a estratégia competitiva eleita implicará um enfoque e um conjunto de decisões diferente. Desta forma confirmamos que a instituição tem um enfoque corporativo e um enfoque competitivo. Ambos coexistem, e a identificação e gestão são muito importantes para o futuro da empresa devido aos diferentes cenários de tomada de decisões que devem ser adotados. Classificação dos riscos estratégicos RISCOS DO CONTEXTO GERAL DA EMPRESA O contexto social e político As empresas e instituições fazem parte de um conjunto superior, o contexto com o qual interagem, que tem algumas características e normas de atuação determinadas. Os indivíduos se associam de forma voluntária para criar um coletivo que permita alcançar objetivos superiores. Estes grupos utilizam códigos e regras de atuação que são de cumprimento obrigatório para todos os indivíduos e que dispõem de mecanismos de controle. Estas regras de atuação não são estáticas, mas variam ao longo do tempo. Estas variações podem beneficiar ou prejudicar as empresas. Os riscos relacionados com o ambiente social e político podem ter origem: — no grau de estabilidade social; A dificuldade de realizar uma classificação de elementos consiste em identificar qual é o critério para elaborála. Na doutrina da Gerência de Riscos, aceita-se que os riscos sejam classificados em função da probabilidade de ocorrência e das consequências que terão em uma unidade econômica, introduzindo matrizes onde ambos os fatores se cruzam. Neste estudo, a dificuldade se dá pela heterogeneidade de acontecimentos que podem afetar uma empresa. Embora muitos tenham uma probabilidade baixa de ocorrer, ou seu impacto possa até ser nulo, considera-se oportuno inclui-los para que sejam geridos. 40 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 — no grau de estabilidade política; — no amadurecimento do modelo social; — na frequência e no impacto das mudanças das leis e regulamentações; — na identificação dos componentes da sociedade com o modelo existente. O campo operacional da empresa: regional, nacional, internacional Quanto maior for o campo operacional, mais a empresa será afetada pelos diferentes contextos sociais e políticos nos quais opera. Devem-se analisar todos e cada um dos grupos sociais, suas normas, cultura, modelos, etc., para ver qual é o grau de impacto deles na atuação competitiva. Existem inclusive organismos supranacionais que fornecem normas a seus componentes, um fato a ser levado em consideração. Na Europa, por OS RISCOS DA exemplo, a União Europeia é um cenário DIVERSIFICAÇÃO onde os países aderidos têm a obrigação DO CAMPO de incorporar às suas regulamentações as novas regras acordadas, pois se entende OPERACIONAL que são benéficas para o conjunto dos AUMENTAM indivíduos. QUANDO SE Os riscos da diversificação do âmbito OPERA EM UM operacional aumentam conforme se opera NÚMERO MAIOR em um número maior de grupos sociais. DE GRUPOS A dispersão também permite diversificar o SOCIAIS risco no conjunto de investimentos. Riscos globais Nas últimas décadas, muito se dedicou ao estudo de determinados riscos que podem afetar o conjunto de grupos, independente do lugar onde se encontrem no mundo. O «Relatório sobre riscos globais» do Fórum Econômico Mundial de 2013 analisa dezenas de acontecimentos e seu possível impacto, agrupados em economia, meio ambiente, riscos geopolíticos, sociais e tecnológicos. De todos eles destacamos os que foram identificados por um número maior de Siglas em inglês entrevistados: —Economia. Falha sistêmica importante do sistema financeiro, graves diferenças de renda, desequilíbrios fiscais crônicos, extrema volatilidade dos preços da energia e da agricultura. —Meio ambiente. Falta de adaptação às mudanças climáticas, aumento das emissões de gases de efeito estufa, urbanização mal gerenciada, persistência de climas extremos. —Riscos sociais. Crise de abastecimento de água, crescimento insustentável da população, falta de alimentos, aumento de fanatismo religioso, má gestão do envelhecimento da população. —Riscos geopolíticos. Falha Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 41 estudo AS PREFERÊNCIAS generalizada do funcionamento dos governos, corrupção arraigada DE UMA DÉCADA generalizada, falha da diplomacia na resolução de conflitos, terrorismo. ATRÁS MUDARAM, —Riscos tecnológicos. Falha crítica MOTIVO do sistema, ciber-ataques, falhas não PELO QUAL É consideradas da redução das mudanças NECESSÁRIO climáticas, vulnerabilidade da oferta PERGUNTAR - SE de minerais, desinformação digital SE EXISTEM generalizada. CLIENTES PARA Todos os grupos e indivíduos, seja OS PRODUTOS qual for o país onde se encontrem, estão DO PORTFÓLIO E expostos aos efeitos destes riscos. Não AGIR DE FORMA existe possibilidade de transferi-los, mas CORRESPONDENTE é necessário cuidar de seus impactos e possíveis consequências. DOS CLIENTES RISCOS DO AMBIENTE COMPETITIVO DA EMPRESA A empresa realiza suas atividades em um ou vários mercados. O ambiente competitivo, em função de sua situação geográfica e da forma como a empresa pretende atender as demandas dos consumidores, determina diversos cenários. 42 Clientes, mercados, produtos e serviços Neste ponto é onde a empresa tem a priori uma maior capacidade de atuação. Contudo, algumas das principais transformações que estão acontecendo estão focadas na forma de relacionar-se com o cliente, ou melhor dizendo, na forma como o cliente quer se relacionar com uma empresa. A situação atual de excesso de oferta na maioria dos mercados, unida ao aumento exponencial da informação e ao conhecimento que os clientes têm dos produtos e serviços, faz com que seja o cliente individualmente e também em grupos e associações aquele que passará a liderar a relação com o fornecedor. É necessário realizar um exercício contínuo de pesquisa do mercado para conhecer as principais tendências com respeito às preferências dos consumidores. Neste ponto, as redes sociais criaram um novo paradigma quanto às informações do cliente, onde se expressam em tempo real opiniões, críticas, recomendações e propostas que devem ser levadas em consideração pelas empresas quando conceituarem os produtos e serviços que atenderão estas demandas. A velocidade das mudanças obriga a empresa a realizar um exercício periódico de revisão do seu portfólio de produtos e a decidir se é rentável ou não manter alguns deles, bem como a reduzir os tempos de colocação de novos produtos no mercado. Fica demonstrado, então, que as preferências (baseadas nas próprias circunstâncias econômicas e sociais) dos clientes de uma década atrás mudaram, motivo pelo qual é necessário questionar se existem clientes para os produtos do portfólio e agir de forma correspondente. Por último, o acesso generalizado à Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Internet permite conhecer uma variedade quase ilimitada em todo o mundo. Este fato apresenta ameaças e oportunidades. Os principais riscos que as empresas enfrentam neste ponto são: —Ciclo de vida do produto muito curto, de forma que a empresa deverá adaptar-se à velocidade exigida pelo mercado. —Necessidade de maiores investimentos em pesquisa de mercado; caso contrário, as decisões podem ser errôneas e com consequências não desejadas. —Excessiva exposição aos efeitos das redes sociais e associações de consumidores, tanto de forma negativa, com prejuízos, como de forma positiva, o que poderia gerar um excesso de demanda de nossos produtos que não sejamos capazes de atender. —Mercados globais, com risco de que apareçam concorrentes e a possibilidade de atender novos clientes. Este cenário obriga as empresas a mudarem a estratégia de sua relação com os clientes. Estratégias de distribuição No ponto anterior explicávamos que é o cliente quem escolhe a forma de relacionar-se com a empresa. Por isso, a empresa deve tomar decisões importantes com respeito aos canais de distribuição que vai utilizar para fazer com que seus produtos cheguem até os consumidores. A Internet, a tecnologia em geral e as ferramentas que se põem à disposição estão configurando um novo canal de distribuição, com códigos de mercado próprios, que, embora não estejam sendo adotadas por todos os produtos e serviços, permitem que as informações cheguem primeiro e depois sejam feitas as transações. Em alguns setores, esta distribuição não presencial está adquirindo um forte protagonisGerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 mo em comparação à distribuição presen- A INTERNET E A cial, onde cliente e fornecedor calham de TECNOLOGIA EM GERAL ESTÃO se encontrar fisicamente. Os riscos que podemos identificar nes- CONFIGURANDO te ponto são: UM NOVO —Escolher adequadamente a CANAL DE combinação de canais que permitam DISTRIBUIÇÃO, fazer com que os produtos cheguem COM CÓDIGOS aos clientes. DE MERCADO —Encontrar aliados sólidos entre os PRÓPRIOS distribuidores que acompanhem as ações estratégicas com relação aos clientes. —Equilibrar o valor agregado fornecido pelo canal com o custo que ele vai incorporar aos produtos, de modo que a elevação do preço não cause uma desvantagem competitiva do nosso produto com relação ao da concorrência. O impacto da concorrência na estratégia da empresa A concorrência pode ser definida como «toda empresa que é capaz de atender a um cliente nas mesmas condições que a nossa». Assim sendo, pode vir de qualquer parte: do mesmo setor de atividade, de outro setor que ofereça produtos substitutos do nosso, e pode até mesmo estar em nosso ambiente geográfico ou situar-se em qualquer parte do mundo. É evidente que em um mercado com excesso de demanda não haveria concorrência, porque todos os fornecedores teriam clientes de sobra, mas em um mercado com excesso de oferta o concorrente que não tiver êxito, além de não cumprir seus objetivos, pode se ver obrigado a desaparecer. A concorrência tem os mesmos problemas que a «nossa empresa» e, portanto, planejará quais ações permitirão que ela alcance seus objetivos. Portanto, todas as empresas devem considerar, no seu planejamento estratégico, os impactos das ações 43 estudo O CONHECIMENTO É UM VALOR MUITO IMPORTANTE; É NECESSÁRIO CUIDAR PARA QUE OS EMPREGADOS QUE ABANDONAM A EMPRESA NÃO O de seus concorrentes. Alguns dos riscos que geram a concorrência são: — O impacto de uma inovação, que pode colocar rapidamente um concorrente em uma posição vantajosa. — A maior agressividade nas ações de venda, que permitem conquistar mais clientes. — A melhoria nos processos de gestão de vendas, que tornam suas ações mais eficazes. LEVEM CONSIGO E GERENCIAR A CORRETA TRANSFERÊNCIA ENTRE OS EMPREGADOS E OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO RISCOS INTERNOS DA EMPRESA Nesta seção, encontraremos as situações de risco sobre as quais a empresa tem maior capacidade de ação, tanto para prevenir quanto para agir, caso ocorram. Gestão de recursos e capacidades As empresas e/ou instituições dispõem de um conjunto de meios que lhes permitem realizar as ações de produção e/ ou prestação de serviços que oferecem ao mercado. Sintetizando, são: Recursos financeiros. Fluxos monetários com os quais se adquirem bens e se pagam dívidas. Identificamos dois riscos principais: — Não dispor de liquidez ou crédito suficiente para poder executar as ações previstas para a conquista dos objetivos, como a compra de bens, matérias primas, recursos humanos, etc. — Não gerenciar adequadamente as necessidades de liquidez, de modo que não se quitem as dívidas contraídas pela empresa com os credores e instituições financeiras, o que pode levar a uma situação de insolvência ou falência. Recursos materiais. Edifícios, maquinário, ferramentas, tecnologia em geral. O 44 fato de não dispor dos melhores materiais ou tê-los em quantidades insuficientes implica o seguinte risco: — Não fabricar produtos ou prestar serviços com qualidade suficiente, o que a longo prazo pode-se traduzir em redução do faturamento. Recursos humanos. A capacidade de um recurso é o potencial de desempenho que ele possui. Assim, falando em recursos humanos, o maior ativo de uma empresa ou instituição é a capacidade de seus empregados e colaboradores de dar soluções de forma contínua aos diferentes problemas e necessidades que as atividades precisam para a conquista dos objetivos. É necessário elaborar uma política adequada de gestão dos recursos humanos, além do custo que a empresa tem com pagamentos, em termos do modo como a empresa vai relacionar-se com seus empregados e colaboradores, e o grau de exigência mútua, de modo que o acordo das partes gere um ambiente sólido de atuação. O conhecimento é um valor muito importante, e é necessário cuidar para que os empregados que abandonam a empresa não o levem consigo. Mas também é necessário gerenciar como se realizará a transferência de conhecimento, para que a continuidade fique garantida. Neste ponto podemos identificar os seguintes riscos: — Existência de cenários de relação irregulares ou opacos, que podem gerar o desincentivo e a redução das capacidades. — Perda de talento, com o custo humano e econômico que isso acarreta. — Transferência inadequada do conhecimento, provocando rupturas geracionais e descapitalizando a empresa. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Riscos O quê Como Jurídico • Revisão e adaptação das normas na atuação da empresa • Política de relação com órgãos públicos e legisladores Credores financeiros • Pedido de serviços financeiros • Política de relação com credores financeiros, mercados de capitais, etc. Fornecedores • Formulação dos requerimentos e estabelecimento dos padrões de qualidade • Política de relação com fornecedores Clientes • Estudo da demanda e adaptação dos produtos e serviços • Política de relação com clientes Empregados e colaboradores • Pedido dos serviços e pagamento por eles • Política de relação com empregados e colaboradores A transformação da empresa: gestão da mudança Uma das características das empresas atuais é a necessidade de realizar modificações contínuas para adaptar-se rapidamente às mudanças da demanda. Isto requer transformações nos produtos, nas equipes de trabalho, nas ferramentas tecnológicas. As empresas têm de esforçar-se para organizar adequadamente a mudança, já que, caso contrário, a perda de eficácia, conhecimento e talento pode acarretar, no médio prazo, o próprio desaparecimento da empresa. Os riscos que podemos detectar são: — Efeitos negativos da mudança contínua, nos processos, nas pessoas, na tecnologia. — Não dispor de um plano de gestão de mudança, conhecido por todos os integrantes de uma organização, que permita prepararse para as novas situações. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Conclusões Na introdução, repassamos as características do mundo em que vivemos, com mudanças cada vez mais rápidas e consequências que afetam cada vez mais as unidades econômicas. A tecnologia é o multiplicador que está acelerando as características para os novos cenários. As telecomunicações, a informática, a informação e o conhecimento são os elementos que devem ser levados em consideração dentro do processo evolutivo. Repassamos alguns dos principais riscos que podem causar impacto nos objetivos estratégicos da empresa. A lista não é completa, pois cada empresa ou instituição terá um perfil de risco diferente. Um dos aspectos comuns destes riscos é que não basta somente gerenciar o «o quê»: é preciso também gerenciar o «como». Alguns exemplos podem ser vistos na tabela acima. A EMPRESA TEM QUE ESFORÇAR-SE PARA ORGANIZAR A MUDANÇA; CASO CONTRÁRIO, A PERDA DE EFICÁCIA, CONHECIMENTO E TALENTO PODE ACARRETAR NO MÉDIO PRAZO O SEU PRÓPRIO DESAPARECIMENTO 45 estudo Estes exemplos deixam claro que a diferença competitiva não se encontra no «o quê», visto que todos os concorrentes atuam de forma parecida. A verdadeira diferença está no «como» a empresa quer relacionar-se com o seu ambiente e com os grupos que o compõem. Isto é um autêntico desafio e um risco estratégico. O papel da Gerência de Riscos continua adquirindo, portanto, um protagonismo crescente, uma vez que é cada vez mais necessário que a direção das empresas e instituições gerenciem os riscos. Não transferir, visto que nem sempre é possível. A partir da liderança interna que a Gerência de Riscos deve ter, o conjunto da organização deve ser sensível à existência de riscos e situações que podem levar inclusive ao desaparecimento da instituição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS —AIRMIC, ALARM, IRM (2002). «Estándares de Gerencia de Riscos».Translation copyright Federation of European Risk Management Associations FERMA (2003). —Cuervo García, José Álvaro (1995). «La dirección estratégica de la empresa. Dirección de empresas de los noventa: homenaje al profesor Marcial-Jesús López Moreno». Coord. por José Emilio Navas López, págs. 51-70. —Grant, Robert M. (1995). «Dirección estratégica. Conceptos, técnicas y aplicaciones». Editorial Civitas, Madrid. —Kaplan, Robert S., Mikes, Anette (2012). «Managing risks: a new framework». Harvard Business Review. —Kotler, Phillip, Sing, Ravi. «Marketing warfare in 46 the 1980s» (Journal of Business Strategy,Winter 1981). —Navas López, J.E. e Guerras Martín, L.A (2002), «La dirección estratégica de la empresa». Editorial Civitas. Madri. —Porter, M.E. (1982). «Estrategia competitiva». CECSA, México. —World Economic Forum (2013). «Global Risk 2013, eighth edition». —Revista Gerência de Riscos e Seguros, número 100 (abril de 2008). «Entrevista: Filomeno Mira Candel, Vice-presidente da MAPFRE». —Revista Gerência de Riscos e Seguros, Número 100 (abril de 2008). «Desafios estratégicos no mundo do seguro», Patrick M. Liedtke,The Geneva Association. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Instituto de Ciencias del Seguro t 91 581 20 08 Paseo de Recoletos, 23. Madrid www.fundacionmapfre.com RED CUMES. A REDE SOCIAL PARA PROFISSIONAIS DO SEGURO A RED CUMES se diferencia como um ponto de encontro de todos os profissionais ou futuros profissionais do setor segurador onde se podem estabelecer vínculos de comunicação para debater temas da atualidade, fazer consultas e inclusive deixar voar a imaginação no concurso de pequenas histórias, dando forma, com tudo isso, a uma extensa rede profissional especializada. A RED CUMES é um portal Web onde qualquer usuário pode acessar todos os seus conteúdos e, se quiser, pode participar ativamente por meio de seus blogs, grupos, concursos, bolsa de empregos, etc. Além disso, qualquer usuário pode acessá-lo através das redes sociais Facebook e LinkedIn. Para maiores informações: www.redcumes.com Siga-nos no twitter: @redcumes Gerência de Riscos e Seguros • nº 115-2013 87 estudo Governança corporativa e padrões internacionais: uma análise da situação atual das SEGURADORAS Apesar de avanços importantes, a implantação das boas práticas de governança corporativa nas empresas latino-americanas ainda está longe de ser geral, particularmente no setor segurador. Neste artigo, são apresentadas as iniciativas existentes neste âmbito e se desenha um panorama da situação atual numa escala regional. PABLO SOUTO CENTRO PARA A ESTABILIDADE FINANCEIRA (ARGENTINA) N o fim da década de 90, houve uma combinação de crises financeiras em países emergentes (especialmente asiáticos) e falências de grandes empresas no mundo desenvolvido, que compartilhavam como fator comum em suas causas as debilidades na gestão dos conflitos de interesse dentro das próprias empresas, como respeito de outros interessados ou envolvidos, o que se conhece como governança corporativa (GC). Mesmo sendo antiga (Berle e Means, 1933), foi somente nessa década que a GC passou para o primeiro plano do debate público. 48 na América Latina A presença de esquemas ineficientes para a resolução dos conflitos de interesse entre gerentes, acionistas e credores teve um impacto negativo na rentabilidade empresarial e nas condições de custo, prazo e montante do financiamento, entre outros. Estes efeitos nocivos dentro da empresa se transferem para o contexto macroeconômico por meio de custos maiores de capital, alocação ineficiente de recursos, instabilidade dos mercados financeiros, efeitos riqueza por quebras, etc., ameaçando a estabilidade financeira e o crescimento econômico dos países. Isto motiva a preocupação global sobre deficiências em GC, que dá origem a uma série de novas regulamentações nacionais que tentam promover boas práticas de governança corporativa nas empresas (governança corporativa institucional); além disso, as próprias empresas reconhecem a importância de abordar o problema e começam a incorporar melhores práticas (governança corporativa contratual). Em ambos os casos, muitas das regulamentações e medidas se baseiam em princípios e/ Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 ILLUSTRATION STOCK Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 49 estudo ou padrões internacionais elaborados por diversas instituições multilaterais. Assim, surgem os princípios de governança corporativa preparados pela Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OCDE, 1999), os guias de boa governança corporativa para instituições bancárias elaborados pelo Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (BCBS, 1999), os guias para companhias seguradoras (2005), para empresas estatais (2005) e para fundos de pensão (2002), todos preparados pela OCDE, e os princípios e práticas geralmente aceitos para fundos de riqueza soberana publicados pelo IWG em 2008, entre outros. INDÚSTRIA SEGURADORA E CRISE Devido à natureza das crises mencionadas e aos atores relevantes, o foco de atenção pública e privada se limitou em sua maior parte a instituições bancárias e empresas do setor real da economia. No caso da indústria seguradora, sua evolução neste sentido tinha sido menos dinâmica por ela ter ficado alheia às crises mencionadas e, em muitos casos, obedecia a certo «efeito demonstração» pelos desenvolvimentos em outras áreas que adentravam o setor segurador. Isto muda a partir da crise internacional de 2008, quando um novo elemento se incorporou nesta dinâmica, que foi a presença de instituições seguradoras no centro da crise. Gestão inadequada de riscos, falta de transparência em certas operações e processos, transações com empresas vinculadas dentro de um conglomerado financeiro, diretorias ineficazes ou arbitragem reguladora são alguns dos elementos que a crise de 2008 fez aparecer com toda crueza dentro do setor segurador, como já tinha ocorrido com os outros setores. Diversos autores mostram que os erros nos sistemas de GC foram centrais no desencadeamento e propagação da crise (Becht (2009), Mülbert (2010), OCDE (2009)). Assim, o tema GC toma uma dinâmica própria dentro do setor segurador, merecendo uma análise mais completa de suas particularidades. Mesmo quan50 do parte do envolvimento das empresas seguradoras na crise era a resposta a riscos derivados de atividades fora do núcleo do negócio segurador ou de atividades quase bancárias (Geneva Association (2010)), não se pode negar que as falhas nas estruturas de GC permitiram este tipo de estratégia. No caso particular da indústria seguradora — além dos guias mencionados, que foram elaborados pela OCDE em 2005 e revisados em 2011 — os Insurance Core Principles (ICPs), preparados pela Associação Internacional de Supervisores de Seguros (IAIS), no ano 2000 e depois revisados em 2003 e 2011, vêm incorporar as questões de GC, em particular no ICP 7, mas também nos ICP 5, ICP 6, ICP 8, ICP 19 e ICP 20. Além disso, as novas diretrizes sobre pedidos de capital e administração de risco para empresas seguradoras emitidas pela União Europeia (conhecidas como Solvência II) incluem como elementos fundamentais tópicos que fazem a boa GC. Isto se manifesta tanto no Pilar II, Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 por meio de solicitações qualitativas específicas na estrutura de governança, como no Pilar III, onde se estabelecem práticas de difusão e transparência nas informações a serem oferecidas pelas empresas seguradoras. Todas estas novidades regulatórias fazem da questão da governança corporativa no setor segurador um assunto de alta prioridade dentro das companhias. E não só pelo efeito que estas regulamentações causaram em seu negócio, mas também pela abundante evidência empírica que mostra os efeitos benéficos que a boa governança corporativa tem sobre a rentabilidade das empresas (particularmente em mercados emergentes, Black (2001)), por meio de melhoras no ambiente de controle interno e manipulação de risco e de melhores condições para acesso ao crédito (Claessens e Yurtoglu (2012)). Finalmente, e não por isso menos importante, a estabilidade financeira sistêmica se vê melhorada à medida que as unidades constitutivas se desenvolvem em um ambiente melhor de governança corporativa (Acharya e Volpin (2010)). Portanto, é também do interesse das autoridades propiciarem uma base que promova práticas saudáveis nesta área. Na América Latina houve alguns avanços nesta área, em especial graças a novas regulamentações, mas ainda não existe uma preocupação generalizada dos distintos atores do mercado na região com relação a este assunto, pelo menos não nos níveis que ocorre, por exemplo, no setor bancário. Prova disso é também o reduzido número de publicações sobre este tema na América Latina, tanto oficiais como de instituições empresariais ou acadêmicas. Além do mais, não conseguimos encontrar estudos que abordem empiricamente este problema regionalmente, e por isso este trabalho é inovador. Assim, é necessário conscientizar ainda mais nossa região a este respeito para que haja um melhor preparo à medida que novos padrões ou regulamentações desenvolvidos nos principais mercados forem se introduzindo nos nossos âmbitos normativos. De modo geral, a literatura considera principalmente dois conflitos de interesse na companhia: por um lado, os que surgem no modelo de capital disperso ou atomizado entre a gerência e os acionistas e, por outro, os que surgem no modelo de capital concentrado entre os acionistas majoritários ou controladores versus os minoritários. Em ambos os casos, o conflito se relaciona com a presença de um diferencial de informação entre os agentes que controlam ou dirigem a empresa e aqueles que não participam diretamente das decisões da mesma. A maximização privada de benefícios por parte dos grupos beneficiados pela assimetria informativa pode levar a uma má alocação de recursos em detrimento dos grupos menos informados. No caso particular dos intermediários financeiros, estes apresentam características distintas em relação às empresas não financeiras que requerem uma abordagem diferente em certas questões no que diz respeito à GC (Levine (2003)). Conforme aponta o CEF (2006), as principais diferenças entre ambos os tipos de entidade consistem em: a) Estrutura de financiamento (maior alavancagem, da ordem de 80%-90%); b) Atomização de passivos (depositantes, segurados); c) Complexidade do negócio e assimetrias informativas (dificuldades de avaliação de carteiras, falta de transparência, conglomerados financeiros); d) Envolvimento sistêmico (fatores externos negativos, contágio); e e) Focalização dos conflitos de interesse (maior NA AMÉRICA LATINA HOUVE AVANÇOS EM MATÉRIA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, SOBRETUDO ATRAVÉS DE NOVAS REGULAMENTAÇÕES, MAS AINDA NÃO EXISTE UMA PREOCUPAÇÃO GENERALIZADA DOS ATORES DO MERCADO SOBRE ESTE ASSUNTO NO MESMO NÍVEL QUE NO SETOR BANCÁRIO Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 51 estudo relevância do conflito credor atomizado vs. acionistas). Dentre os intermediários financeiros, há uma diferença importante entre as instituições bancárias e as seguradoras. É a disponibilidade de passivos, já que, no caso das seguradoras, eles dependem da ocorrência de fatores quantificáveis atuarialmente, enquanto que, no caso bancário (mesmo quando sua demanda pode ser estimada pelos depositantes), eles estão sujeitos a eventos inesperados. ESTRUTURA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA Ao abordar a questão da GC na indústria seguradora, a IAIS e a OCDE (2009) enfatizam a importância de se definir e monitorar um sistema que contenha determinados aspectos que levam a boas práticas de GC para facilitar a gestão dos conflitos de interesse mais relevantes. Nessa linha, os elementos mais relevantes são o estabelecimento de diretorias efetivas e bem definidas (com a presença de diretores independentes e comitês relevantes), a transparência e difusão das informações, os controles internos, a gestão de riscos eficiente, a ética e a responsabilidade social empresária e as auditorias independentes. Isso complementado com um sistema que defina os papéis, responsabilidades e prestação de contas num âmbito de equilíbrio de poderes. Uma estrutura correta de GC deveria esclarecer quem tem o poder para agir em nome da companhia e em que instâncias estabelecer os pedidos necessários para documentar decisões e ações, determinando e justificando com fundamentos e relatórios aos acionistas, promovendo ações corretivas em casos de descumprimento ou por presença de falhas nos sistemas de supervisão, controle ou administração. Um aspecto extremamente relevante dentro da estrutura de GC na indústria seguradora é a presença de uma estrutura eficaz de gestão de riscos (Lester, R. e Reichart, O., 2009). Esta deveria conseguir identificar de forma sistemática todos os riscos a que organização está sujeita e desenvolver estratégias para reduzi-los e 52 gerenciá-los de forma permanente. Para alcançar essa solidez, a área de gestão de riscos deve ter: mecanismos de advertência efetivos, membros da diretoria qualificados e independentes, atuários que sejam legalmente responsáveis por suas ações e departamentos de auditoria interna que informem a administração de maneira independente. A agência de supervisão e a agência de auditoria externa (incluindo sua independência e rotação) também são importantes para garantir um nível adequado de governança corporativa. Adicionalmente, e para assegurar monitoração e prestação de contas corretas, as informações financeiras apresentadas pela companhia devem estar em concordância com as normas internacionais. Além deste âmbito conceitual geral para a indústria seguradora, existem diferenças importantes de acordo com o ramo das empresas no que diz respeito a uma estrutura de governança corporativa adequada e eficaz. De forma sintetizada (já que não é o objetivo deste trabalho), podemos mencionar as questões relacionadas com a gestão de riscos entre empresas seguradoras de Vida e/ou previdência, que são diferentes no caso dos Seguros Gerais; o tipo de informação relevante e sua frequência é outro elemento que Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 difere entre categorias; os diferentes horizontes temporais da relação contratual no caso de Vida/ previdência e Gerais também criam assimetrias quanto ao tipo de conflito de interesse relevante em cada caso. Além disso, em muitos países as empresas seguradoras de previdência têm uma relação societária direta com empresas que fornecem serviços de administração de fundos de pensão, o que cria novos conflitos de interesse que não foram abordados no presente trabalho. Este é o caso, por exemplo, dos sistemas de pensão do tipo contribuição definida, dos obrigatórios e dos de administração privada dos fundos acumulados. O CASO LATINO-AMERICANO A América Latina se caracteriza, em geral, por apresentar um subdesenvolvimento relativo do mercado segurador. Enquanto a região representou, no ano de 2011, 8,6% do PIB mundial e possui 8,1% da população global, o setor segurador registrou somente 3% dos prêmios emitidos mundialmente. Embora as causas deste fenômeno sejam variadas (institucionais, macroeconômicas, reguladoras), superá-las é um desafio para estes países, ao mesmo tempo em que mostra um mercado com amplas possibilidades de expansão e crescimento. Nesse sentido, a cisão dos países da região com as economias desenvolvidas é notória na maioria dos indicadores relacionados à intermediação financeira, embora isso se destaque ainda mais no setor segurador. Contudo, ao considerar o grau de desenvolvimento relativo das economias, observamos uma situação menos desfavorável. Por um lado, existe um grupo de países (Brasil, Chile, Colômbia e Venezuela) onde a profundidade do setor segurador é superior ao esperado em função de sua renda per capita, enquanto que em outro grupo (Argentina, México e Peru) ocorre exatamente o contrário. A evolução no tempo deste indicador para uma amostra selecionada de países da região (Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru) se revela desigual, já que, salvo no caso do Peru (e do Chile em menor grau), a razão prêmios brutos emitidos e PIB se manteve relativamente estável na última década. No que se refere à estrutura de propriedade e ao funcionamento das diretorias, na Argentina se observa uma alta preponderância de entidades seguradoras estabelecidas sob a forma de sociedades anônimas; mesmo assim, não é menor o papel que as seguradoras estabelecidas como cooperativas ou mutualistas têm no negócio na Argentina. E, ainda, embora elas representem pouco mais de 10% do mercado, algumas delas se encontram entre as 25 seguradoras mais relevantes da Argentina. Ao mesmo tempo, este A GC NA INDÚSTRIA SEGURADORA DEVE REUNIR ELEMENTOS COMO DIRETORIAS EFETIVAS E BEM DEFINIDAS, TRANSPARÊNCIA E DIFUSÃO DA INFORMAÇÃO, CONTROLES INTERNOS, GESTÃO DE RISCOS EFICIENTE, ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA, E AUDITORIAS INDEPENDENTES Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 53 estudo número está de certa forma subestimado, visto que algumas seguradoras estabelecidas como sociedades anônimas têm como acionista principal uma cooperativa ou mútua. Este tipo de entidade apresenta particularidades muito específicas, o que torna sua estrutura de governança e os conflitos de interesse relevantes, como o IAIS reconhece em seus Princípios Básicos (PBS 7.0.7). A estrutura de propriedade das seguradoras na Argentina se mostra extremamente concentrada. Tomando como referência as 30 empresas mais importantes (excluindo cooperativas ou mútuas) que operam no mercado argentino (que representam aproximadamente 70% da produção total), os níveis de concentração — medidos através do índice de concentração Herfindahl-Hirschmann (HHI) — na estrutura acionista atingem 0,729. Nessa mesma amostra se analisou o tamanho das diretorias. Neste caso, o levantamento produziu uma notória semelhança entre todas as empresas, independente de sua composição acionária. A média é de 5,5 diretores, enquanto que a mediana e a moda se situam em 5. Na forma societária no Chile, as empresas estão majoritariamente constituídas como sociedades anônimas, sem filiais de entidades estrangeiras operando e com uma presença de entidades cooperativas ou mútuas muito limitada (somente três têm esta forma societária). Em termos da estrutura de propriedade das empresas, tomou-se uma amostra com as 10 primeiras empresas em cada ramo (por ativos), que somam 88% do total do mercado, no caso de seguradoras gerais, e 80%, no caso das seguradoras de Vida. Os níveis de concentração acionista se mostram relativamente altos, com uma média do HHI de 0,878. Quanto às diretorias, o tamanho médio indica 6,15 diretores por empresa, enquanto que a mediana e a moda registram valores de 6 e 5, respectivamente. Por último, o Peru mostra um número reduzido de empresas (em comparação com outros países da região) estabelecidas totalmente como sociedades anônimas e, além disso, suas ações estão sob o regime de oferta pública. Ao final da análise, foram utilizadas as informações do total de empresas (14 seguradoras). Os resultados mostram que existe uma maior variabilidade na concentração da propriedade acionista, embora os níveis sejam em média altos: o HHI médio é de 0,705. As diretorias tendem a ser mais numerosas que no resto dos países analisados, registrando um tamanho médio de 7,07, mediana de 6 e moda de 5. USAR UM ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA E DIFUSÃO COMO «PROXY» DA QUALIDADE DE GC SE BASEIA NA IDEIA DE QUE A TRANSPARÊNCIA E A DIFUSÃO DE INFORMAÇÕES É UM DOS COMPONENTES BÁSICOS DA BOA GOVERNANÇA CORPORATIVA 54 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA E DIFUSÃO Como já foi mencionado, a qualidade da GC de qualquer entidade não pode ser observada de forma direta, princípio que se aplica particularmente às entidades financeiras como, por exemplo, as empresas seguradoras. Além do mais, a GC, no caso das empresas seguradoras, inclui diferentes aspectos, um dos quais é a difusão de informações relativas ao mercado em geral e aos segurados em particular. Este aspecto de transparência pode obedecer tanto à difusão de informações por parte das próprias seguradoras como a exigências regulatórias. Dentro deste último conjunto há tantas informações que o órgão regulador as difunde publicamente como informações que não são divulgadas ao mercado. A utilização de um índice de transparência e difusão (ITD) como «proxy» da qualidade de GC se baseia na ideia de que a transparência e difusão de informação é um dos componentes principais da boa governança corporativa, visto que possibilita um melhor controle e acompanhamento da empresa, da gerência e dos acionistas controladores pelos acionistas minoritários, agentes com interesse legítimo e investidores em geral. É assim então que o cálculo sistemático do ITD permite ao público contar com uma ferramenta que registra a evolução das práticas de transparência pelas empresas ao longo do tempo, para identificar, desta forma, os desenvolvimentos ocorridos e as áreas que lhes exigiriam maior trabalho. O ITD desenvolvido e calculado pelo Centro para a Estabilidade Financeira (2005) contém as seguintes características gerais: • Baseia-se no estudo da documentação oficial e disponível ao público das empresas pela Internet; isto inclui os websites das empresas, dos reguladores locais envolvidos (tanto do setor segurador como do mercado de valores), assim como dos reguladores estrangeiros, caso a empresa seja listada em bolsa fora de seu país. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 • É uma medida quantitativa que permite realizar um acompanhamento da evolução de um aspecto que constitui a GC das empresas. • Reflete tanto informações difundidas voluntariamente como as obrigatórias, demonstrando, assim, maior variabilidade entre as empresas. • Não inclui os processos/políticas que contribuem para o desenvolvimento de um esquema eficiente de GC dentro das empresas, mas que estas decidiram não estudar abertamente. De acordo com o anterior, e considerando a estreita relação entre a adesão às boas práticas de GC e a transparência, realizou-se uma análise do nível de transparência e da qualidade das informações difundidas por uma amostra selecionada 55 estudo de empresas seguradoras na América Latina, levando em consideração as melhores práticas no assunto e os padrões internacionais. Para isso foi selecionada uma amostra de quatro países latino-americanos, a saber: Argentina, Chile, Colômbia e Peru. Dentro deste grupo foram selecionadas cinco companhias de seguro mais significativas do mercado de cada país, excluindo as entidades registradas sob a forma de mútua ou cooperativa e buscando um equilíbrio nas companhias presentes, conforme a categoria em que operam em cada país. O estudo consiste na análise de 30 itens correspondentes a três grupos de informações que incluem: a estrutura da diretoria e seus procedimentos (13 indicadores), a difusão das informações (11 indicadores) e as informações vinculadas aos acionistas (seis indicadores). As informações utilizadas para a construção de um primeiro Índice de Transparência e Difusão (ITD) para empresas seguradoras provém dos documentos difundidos no período 2011-2012. O modelo de resposta proposto neste estudo é binário, sendo atribuído o número 1 caso um item dentro do questionário tenha sido estudado e achado dentro das fontes públicas disponíveis no período mencionado. Caso contrário, atribui-se o número 0. Nesta hipótese não são atribuídos ponderadores diferenciais a cada um dos itens no fim do cálculo do resultado final. Assim tem-se uma faixa de pontuação final de 0 a 30 pontos. Os itens analisados são uma tentativa de refletir da melhor maneira possível os elementos que foram identificados nas seções anteriores como os mais relevantes, a fim de tornar transparentes as informações mínimas que permitiriam um melhor funcionamento deste setor do mercado e, portanto, uma gestão mais eficiente dos diversos conflitos de interesse. Identificou-se que o funcionamento de uma diretoria efetiva é crucial para a estabilidade da própria firma e para garantir um gerenciamento de riscos adequado. Neste sentido, a presença de diretores independentes é um elemento que fortalece o funcionamento das diretorias. Por isso, o ITD contém um grupo de informações dedicado especificamente a avaliar aspectos relevantes das diretorias, como sua composição, os comitês criados e seu funcionamento, a presença de diretores independentes, tempo de existência, seus processos de nomeação e um aspecto fundamental: a forma como são remunerados (de forma fixa ou variável), dada a estreita relação existente entre remuneração e disposição de incentivos, e o impacto sobre a exposição das firmas ao risco. Como foi mencionado anteriormente, em países onde a GC institucional se apresenta relativamente mais fraca (economias emergentes) é especialmente relevante que as diretorias das companhias (GC contratual) adotem códigos de GC e/ou ética como mecanismo interno das firmas para um melhor funcionamento das diretorias, e por isso sua presença foi incluída dentro do ITD neste grupo de informações. Os mecanismos de disciplina de mercado se apoiam fortemente na quantidade e qualidade das informações colocadas à disposição dos envolvidos que não fazem parte das firmas e que estão particularmente expostos aos problemas de assimetria de informações (segurados, acionistas minoritários). Por isso foi incluído um capítulo específico para avaliar este aspecto da GC. Mesmo quando as informações relevantes para os diversos envolvidos são diferentes, o que também acontece em função da categoria de segurados a que nos referimos, um conjunto mínimo de informações a serem divulgadas foi avaliado no ITD. Além disso, e, para garantir PARA QUE OS MAIORES NÍVEIS DE TRANSPARÊNCIA E AS MELHORES PRÁTICAS DE GC GEREM MAIOR IMPACTO SOBRE AS EMPRESAS, É ESSENCIAL QUE OS INTERESSADOS ACESSEM NÃO SÓ AS INFORMAÇÕES, MAS TAMBÉM QUE TENHAM ELEMENTOS PARA INTERPRETÁ-LAS CORRETAMENTE 56 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Tabela 1. Resultados do ITD (agregado e por países) Estatístico Total amostra Argentina Chile Colômbia Peru 11,24 4,60 8,80 11,40 20,15 Máximo 21 7 12 18 21 Mínimo 4 4 7 5 19 Médio Tabela 2. Resultados do ITD (% de respostas positivas por grupo de informações: agregado e por países) Grupo de informações Total amostra Argentina Chile Colômbia Peru Estrutura diretoria 37% 8% 32% 40% 69% Difusão informações 36% 22% 24% 35% 63% Acionistas 41% 20% 33% 40% 70% que as informações divulgadas sejam oportunas, relevantes e certeiras, foi incluído no ITD o estudo do parecer de auditor externo, que, de certa forma, cumpre esse propósito. Finalmente, e dada a estreita relação entre a estrutura de propriedade e o custo de capital das firmas, é importante que as empresas garantam uma proteção adequada dos acionistas minoritários. O terceiro grupo de informação do ITD tenta aproximar esta variável pelo estudo de diversos itens sobre esta proteção. Em particular quanto à estrutura de propriedade, à existência de ações com voto múltiplo (prática não recomendada, já que permite violar direitos dos acionistas minoritários) e, finalmente, quanto a diversos aspectos relacionados com as políticas de dividendos. RESULTADOS Os resultados obtidos mostram, em geral, baixos níveis de transparência e difusão. No entanto, a dispersão obtida nos países é muito notória, com as empresas peruanas mostrando claramente o melhor desempenho. Na Tabela 1 são apresentados os dados obtidos do estudo de forma agregada e por país analisado. Além disso, a variabilidade nos resultados é mais alta no caso Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 colombiano, evidenciando um maior papel da difusão voluntária das empresas como elemento diferenciador. Quanto às porcentagens de pontuações positivas dos grupos de informações do ITD, no capítulo Acionistas é onde se registram mormente os melhores desempenhos para todos os países e, portanto, no agregado. A Tabela 2 apresenta esses resultados. Adicionalmente, o grupo Difusão de Informações é o que em geral apresenta valores menores. Seguindo as melhores práticas internacionais na matéria, o nosso estudo observou um nível de desenvolvimento importante em termos de boas práticas de transparência na indústria seguradora no Peru, seguido por Chile e Colômbia, e finalmente Argentina. Estes resultados mostram que, além da ação regulatória, é decisivo que a própria indústria internalize os benefícios derivados da adoção de boas práticas em GC. O Chile foi pioneiro neste sentido, mas em muito revela o avanço registrado no último período de cinco anos tanto na Colômbia quanto no Peru. Para que os maiores níveis de transparência e as melhores práticas de GC gerem maior impacto sobre as empresas, a indústria e a economia, é essencial que os interessados não só possam acessar de forma simples estas informações como também disponham dos elementos bási57 estudo cos para interpretá-las corretamente. Assim, o mecanismo disciplinador de mercado funcionaria de forma mais efetiva. Neste sentido, os programas de educação financeira da indústria e das autoridades são de suma importância. Já existem iniciativas neste sentido nos países estudados. A estrutura acionária das empresas seguradoras na região apresenta características que requerem uma abordagem particular ao tema de GC. Os altos níveis de concentração na propriedade acionária e a importante participação de acionistas estrangeiros trazem oportunidades e desafios. Por um lado, o fato de que as empresas locais sejam controladas por empresas domiciliadas em mercados desenvolvidos facilita a adoção de boas práticas pelo efeito de "repercussão" que ela tem desde as matrizes em países desenvolvidos até suas subsidiárias; por outro, é justamente a concentração que enfraquece os mecanismos de prestação de contas aos envolvidos que não são os acionistas majoritários. É nesse delicado equilíbrio que a indústria e as regulamentações foram se movendo na última década na região; o caso peruano é um exemplo interessante para se analisar detalhadamente. O estudo mostra que a presença de conglomerados financeiros na América Latina é importante, sendo estes tanto de capital local como internacional, e dentro dos quais as empresas seguradoras são um componente a mais. Esta presença impõe desafios importantes tanto para as próprias companhias como para as autoridades reguladoras e de supervisão. No primeiro caso, para garantir a proteção dos interesses dos diversos envolvidos (por exemplo, através de transações com partes relacionadas realizadas em termos de mercado ou arm’s length), uma gestão adequada dos riscos e uma difusão correta de dados relevantes da companhia de forma individual e em grupo. No segundo caso, ain- da que não exista uma estrutura ótima para lidar com estes conflitos desde a regulamentação (seja através da unificação dos organismos ou do estabelecimento de mecanismos efetivos de colaboração e troca de informações entre eles), a assimetria que existe neste sentido chama a atenção nos países estudados. Por um lado, na Colômbia existe uma autoridade reguladora e de supervisão unificada; no Chile o regulador de seguros é também do mercado de valores; no caso da Argentina o regulador é só do setor segurador, e no caso do Peru o regulador tem sob sua responsabilidade — além das seguradoras — os bancos e fundos privados de pensão (além disso, as seguradoras se encontram sob o regime de oferta pública e, portanto, sob regulamentação e supervisão do regulador do mercado de valores). Em estreita relação com o ponto anterior, a globalização dos mercados financeiros e os desafios que a concorrência internacional apresenta aos próprios mercados quanto à sua eficiência e O POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO DO SETOR SEGURADOR NA AMÉRICA LATINA IMPLICARÁ UM MAIOR INSPEÇÃO DA INDÚSTRIA POR PARTE DOS ATORES ENVOLVIDOS, MOTIVO PELO QUAL AS MELHORES PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA SE TORNARÃO UMA NECESSIDADE INEVITÁVEL 58 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS qualidade de serviços prestados tem levado nos últimos anos a um processo de integração regional dos mercados. Estes processos se veem também potenciados pela presença de conglomerados financeiros que operam nos diversos países. Assim sendo, a adoção de padrões internacionais em GC, normas contábeis e de auditoria, regulamentações financeiras, etc. e de códigos de boas práticas com elementos comuns se apresenta como um mecanismo eficiente para facilitar estes processos de convergência e integração nos países de nossa região. Iniciativas regionais neste sentido teriam um impacto positivo em tal processo. Em síntese, observam-se avanços importantes em vários dos países estudados, o que responde a iniciativas da indústria e a ações reguladoras. Deste modo, as potencialidades de desenvolvimento do setor segurador na América Latina (que mostra ainda baixos níveis de penetração) implicarão uma maior inspeção da indústria por parte dos atores envolvidos, motivo pelo qual as melhores práticas de governança corporativa se tornarão uma necessidade inevitável. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 — Acharya,V. e Volpin, P. (2010). «Corporate Governance externalities». Review of Finance,Vol. 14 (1—33). — Becht, M. (2009). «Corporate Governance and the credit crisis». Presentation Paper, Centre for Economic Policy Research. — Berle, A. e Means, G. (1933). «The modern corporation and private property». New York: Macmillan. — Black, B. (2001). «Does Corporate Governance matter? A crude testing using Russian data». University of Pennsylvania Law Review Vol. 149 Number 6 (2131-2150). — CEF (2005). «El Gobierno Corporativo en Argentina». CEF Nota de Política N° 5. — CEF (2006). «El Gobierno Corporativo de los bancos en Argentina». CEF Nota de Política N° 6. — Claessens, S. e Yurtoglu, B. (2012). «Corporate Governance and development: An update». Focus 10, Global Corporate Governance Forum. — Geneva Association (2010). «Systemic risk in insurance: An analysis of insurance and financial stability». Special Report of the Geneva Association Systemic Risk Working Group. — IAIS (2002). «Guidance paper on public disclosure by insurers». — IAIS e OECD (2009). «Issues paper on Corporate Governance». — Lester, R. e Reichart, O. (2009). «Insurance Governance and Risk Management».World Bank Primer Series on Insurance, Issue 11. — Levine, R. (2003). «The Corporate Governance of banks: A concise discussion of concepts and evidence». Discussion Paper No. 3, Global Corporate Governance Forum. — Mülbert, P. (2010). «Corporate Governance of banks after the financial crisis - Theory, evidence, reforms».Working Paper Series in Law 151, European Corporate Governance Institute. — OECD (2009). «Corporate Governance lessons from the financial crisis». — OECD (2011). «Guidelines on insurer governance». 59 relatório RANKING maiores grupos seguradores europeus Não Vida A FUNDACIÓN MAPFRE apresenta a nona edição do “Ranking dos maiores grupos seguradores europeus Não Vida 2012”. A classificação se baseou no volume de prêmios que cada grupo alcançou no ano de 2012 neste segmento de negócio, procedente de todos os países onde atuam. Como fonte de informação, foram utilizados os relatórios anuais publicados pelas próprias companhias. Além disso, o estudo traz informações sobre o índice combinado, comentários sobre os fatos mais destacáveis do exercício e um quadro com o resultado obtido por grupo nos ramos Não Vida. CENTRO DE ESTUDOS FUNDACIÓN MAPFRE 60 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 ILLUSTRATION STOCK Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 61 relatório MAIORES GRUPOS SEGURADORES EUROPEUS NÃO VIDA 2012 Ranking por volume de prêmios brutos N° GRUPOS PAÍS 1 ALLIANZ 2 AXA Prêmios Não Vida 2011 2012 ALEMANHA 44.772 46.889 FRANÇA 30.003 31.359 %∆ Índice combinado1 % RANKING 2011 2012 2011 4,7 97,8 96,3 1 4,5 97,9 97,6 2 3 ZURICH SUÍÇA 24.729 27.559 11,4 98,9 98,4 3 4 GENERALI ITÁLIA 22.765 22.803 0,2 96,5 95,7 4 5 ACHMEA2 HOLANDA 16.219 17.235 6,3 96,1 99,6 5 6 MAPFRE ESPANHA 14.473 15.479 7,0 96,9 95,4 6 7 AVIVA REINO UNIDO 11.195 11.749 4,9 96,8 97,0 8 8 RSA REINO UNIDO 10.485 11.579 10,4 94,9 95,4 10 9 ERGO ALEMANHA 12.402 11.323 -8,7 98,3 97,2 7 10 COVÉA FRANÇA 9.844 10.466 6,3 99,0 99,0 11 Total 5 primeiros 138.488 145.845 5,3 Total 10 primeiros 196.886 206.441 4,9 Fonte: FUNDACIÓN MAPFRE. Elaboração própria com base nas demonstrações financeiras consolidadas (sob os critérios das NIIF). O Índice combinado é apresentado por cada companhia em seu demonstrativo de lucros. Quando o índice de Não Vida e o de Saúde são dados separadamente, usamos o índice de Não Vida. 1 2 Nova denominação do grupo Eureko. Índice combinado segmento Não Vida Holanda. Comentários gerais O ano de 2012 foi marcado pelas tensões oriundas da crise europeia e pelas expectativas de crescente debilidade do ciclo econômico em nível global. Os países com dificuldades econômicas realizaram avanços em seus programas de saneamento do setor financeiro e de reformas estruturais, embora estas políticas tenham acarretado uma queda no crescimento da atividade econômica. Com relação à indústria seguradora europeia, as receitas por prêmio dos seguros Não Vida cresceram em alguns dos mercados mais maduros devido à subida de tarifas nas linhas pessoais e comerciais, o que compensou uma menor inscrição de veículos ou a contratação de menos coberturas. Nos mercados mais afetados por um ambiente econômico desfavorável, os prêmios diminuíram. No que se refere aos sinistros, a indústria seguradora mundial experimentou pelo segundo ano consecutivo numerosas perdas por catástrofes naturais, com um custo aproximado de 71 bilhões de dólares1. Embora os danos tenham sido menores que os de 2011, eles ficaram acima da média dos últimos anos. A América do Norte foi a região mais afetada. A maioria dos danos foi causada pelo furacão Sandy, que atingiu a costa noroeste dos Estados Unidos no mês de outubro, após deixar um rastro de devastação no Caribe. Outros eventos que causaram importantes perdas para o seguro nos Estados Unidos foram a seca de verão que afetou a região agrícola mais produtiva do país e as fortes tempestades ocorridas nos meses de março e abril. 1 Fonte: Sigma n°2/2013. 62 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Na Europa, os danos segurados por catástrofes naturais tiveram um custo aproximado de 5,5 bilhões de dólares, a maioria dos quais foram provocados pelo terremoto que, no mês de maio, sacudiu a região de Emilia Romagna no norte da Itália, causando danos em várias instalações industriais e edifícios históricos. Além disso, o continente se viu afetado de novo por graves fenômenos meteorológicos, como as temperaturas extremamente baixas e intensas nevadas que paralisaram grande parte da Europa no início do ano e as chuvas torrenciais no Reino Unido. Neste ambiente, os dez maiores grupos seguradores europeus do segmento Não Vida aumentaram suas receitas em 4,9%, chegando a 206,441 bilhões de euros, com altas nos volumes de prêmios em euros de todos os grupos, com exceção do alemão Ergo, cujos prêmios caíram 8,7% devido principalmente à venda de uma de suas filiais. Para explicar alguns crescimentos, é preciso considerar o efeito que a taxa de câmbio teve sobre eles. Os maiores aumentos, os da Zurich e RSA, foram influenciados pela valorização do dólar americano e da libra esterlina com relação ao euro (estes grupos publicam seus relatórios nestas moedas). Em dólares e libras, o volume de prêmios Não Vida destes grupos cresceu 3% e 2,9%, respectivamente. Esta mesma circunstância é a que fez com que o grupo Aviva tenha tido uma alta de 4,9% em suas receitas expressas em euros, enquanto que em libras os prêmios registraram um decréscimo de 2,2%. A Allianz aumentou 4,7% suas receitas por prêmios em 2012, graças principalmente à boa evolução de suas filiais da América Latina e da Austrália e ao crescimento do negócio da Allianz Global Corporate & Specialty, e ela continua liderando o ranking com mais de 15 bilhões de euros de diferença do seu seguidor imediato, o grupo Axa. As posições seguintes são ocupadas nesta ordem pela Zurich, Generali, Achmea e MAPFRE. Os seis primeiros grupos não variaram sua posição com respeito ao ranking de 2011. As inglesas Aviva e RSA ocupam o sétimo e oitavo lugares, respectivamente, melhorando sua posição na classificação a custa da alemã Ergo e da francesa Groupama. Este último grupo deixa de estar entre os dez primeiros seguradores europeus do segmento Não Vida e é substituído pelo também francês Covéa, que se posiciona no décimo lugar, com um volume de prêmios de 10,466 bilhões de euros. A INDÚSTRIA SEGURADORA MUNDIAL SOFREU PELO SEGUNDO ANO CONSECUTIVO NUMEROSAS PERDAS POR CATÁSTROFES NATURAIS, COM CUSTOS APROXIMADOS DE 71 BILHÕES DE DÓLARES Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 63 relatório GRUPO % ÍNDICE DE SINISTRALIDADE 2011 2012 RSA 66,3 65,9 % ÍNDICE DE GASTOS 2011 2012 28,6 % ÍNDICE COMBINADO 2011 2012 29,5 94,9 95,4 MAPFRE 69,2 67,4 27,7 28,0 96,9 95,4 GENERALI 69,0 68,2 27,6 27,5 96,5 95,7 ALLIANZ 69,9 68,3 27,9 28,0 97,8 96,3 64,4 64,2 32,4 32,8 96,8 97,0 ERGO AVIVA 62,9 62,2 35,4 35,0 98,3 97,2 AXA 70,9 70,8 27,0 26,8 97,9 97,6 ZURICH 72,0 70,3 26,9 28,1 98,9 98,4 COVÉA n.d. n.d. n.d. n.d. 99,0 99,0 ACHMEA2 69,7 72,9 26,4 26,7 96,1 99,6 1 Fonte: FUNDACIÓN MAPFRE. Elaboração própria a partir dos relatórios anuais. Nota: Ordenado pelo índice combinado 2012, em ordem ascendente. 1 Operações continuadas. Segmento Não Vida Holanda Em termos gerais, o crescimento das receitas se deve tanto ao aumento dos volumes (número de apólices) quanto à elevação de tarifas nos mercados desenvolvidos e ao impulso dos mercados emergentes da Ásia Pacífico e da América Latina. Por outro lado, a diminuição de prêmios se deve a políticas de subscrição mais restritivas, mas também aos baixos níveis de atividade econômica em alguns mercados. O índice combinado melhorou em seis dos dez grupos, sobretudo devido a uma menor taxa de sinistralidade, já que em 2011 a maioria deles se viu especialmente afetada pela ocorrência de grandes eventos catastróficos. Como já foi comentado anteriormente, os maiores sinistros se deveram à tempestade tropical Sandy, aos terremotos da Itália e ao mau clima que afetou o continente europeu. A RSA e a MAPFRE apresentam o melhor índice combinado. Esta melhora do resultado técnico contribuiu para um forte aumento dos resultados do segmento Não Vida antes dos impostos, já que os resultados financeiros foram em geral menores que os do exercício anterior. A soma dos resultados de oito dos dez grupos que fazem parte desta classificação foi de 14,618 bilhões de euros em 2012, que representa uma alta de 15,6% com relação a 2011. Os três primeiros grupos do ranking, Allianz, Axa e Zurich, são também os de maiores resultados, seguidos da MAPFRE e Covéa, o sexto e décimo grupos por volume de prêmios, respectivamente. Destacam-se os crescimentos da Covéa (40,8%), Zurich (30,5%) e Allianz (22,0%). Este excelente comportamento proveio, no caso da Covéa e da Zurich, do resultado dos investimentos, e no caso do grupo alemão se deveu principalmente à melhora do resultado operacional. O CRESCIMENTO DAS RECEITAS DOS GRANDES GRUPOS SEGURADORES EUROPEUS SE DEVE TANTO AO AUMENTO DE VOLUMES QUANTO À ELEVAÇÃO DAS TARIFAS NOS MERCADOS DESENVOLVIDOS E AO IMPULSO DOS MERCADOS EMERGENTES 64 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 RESULTADO NÃO VIDA1 2011/2012 % VAR. GRUPO 2011 2012 2011/10 ALLIANZ 4.017 4.901 22,0 AXA 2.702 3.170 17,3 ZURICH 1.808 2.360 30,5 MAPFRE 1.182 1.247 5,5 COVÉA 583 821 40,8 AVIVA 699 782 11,9 GENERALI 955 747 -21,8 RSA 704 590 -16,1 12.651 14.618 15,6 TOTAL Fonte: FUNDACIÓN MAPFRE. Elaboração própria a partir dos relatórios anuais. 1 Resultado antes dos impostos e dos minoritários. Os grupos Generali e RSA caíram. O decréscimo da Generali se deveu a uma piora do resultado não operacional, devido ao aumento das perdas por deterioração de ativos financeiros. No caso da RSA, houve um ligeiro aumento do índice combinado de 0,5 p.p., consequência do mau clima no Reino Unido e dos terremotos da Itália no mês de maio, e uma diminuição dos resultados financeiros. Os prêmios brutos emitidos do seguro de Saúde cresceram 8,6%, chegando a 13,471 bilhões de euros, devido principalmente à fusão com a De Friesland Zorgverzekeraar (DFZ). Os números anteriores incluem o negócio Internacional, cujos prêmios diminuíram em 2012 como consequência de subscrições mais estritas, pelas contrações dos mercados locais e pelos efeitos negativos da taxa de câmbio. O resultado do segmento Não Vida na Holanda caiu dos 329 milhões de euros no exercício 2011 para 207 milhões de euros. Isto se deveu principalmente a investimentos em TI, a uma maior sinistralidade e a uma menor liberação de provisões em comparação com 2011. Uma provisão adicional de 180 milhões de euros no seguro de Invalidez no longo prazo impactou de forma significativa o resultado, ao que se deve acrescentar os custos relacionados com a venda da Achmea Vitale. O resultado antes dos impostos do seguro de Saúde na Holanda teve queda de 5%, chegando a 286 milhões de euros, incluindo a contribuição da DFZ. O decréscimo se deveu à atribuição excepcional de gastos relacionados com serviços prestados em anos anteriores. COMENTÁRIOS POR GRUPOS Prêmios e resultado em milhões de euros ACHMEA ACHMEA Em 2012, os prêmios brutos emitidos do segmento Não Vida totalizaram 3,764 bilhões de euros, 1,4% menos que no ano anterior. O decréscimo se deveu em grande medida a uma menor receita no seguro de Proteção de Pagamentos, que não foram suficientemente compensados com o crescimento dos ramos de Incêndios e Responsabilidade Civil. PRINCIPAIS INDICADORES 2011 A segmentação dos grupos Ergo e Achmea não permite calcular o resultado dos ramos Não Vida. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 VARIAC. Prêmios 16.219 17.235 Saúde 12.400 13.471 8,6% 3.819 3.764 -1,4% Não Vida Índice combinado1 (%) 6,3% 96,1 99,6 3,5 p.p. Sinistralidade (%) 69,7 72,9 3,2 p.p. Gastos (%) 26,4 26,7 0,3 p.p. 2 94,7 95,1 0,4 p.p. Sinistralidade (%) 85,2 84,6 -0,6 p.p. 9,5 10,5 1,0 p.p. Índice combinado (%) Gastos (%) 2 2012 Nota: p.p. = pontos porcentuais 1 Não Vida Holanda 2 Saúde Holanda 65 relatório O resultado antes de impostos do segmento Internacional, incluindo o seguro de Vida, foi de -83 milhões de euros (2011: -70 milhões de euros), devido principalmente a uma série de medidas excepcionais. ALLIANZ Os prêmios brutos cresceram 4,7%, chegando a 46,889 bilhões de euros graças principalmente à boa evolução de suas filiais da América Latina e da Austrália e ao crescimento do negócio da Allianz Global Corporate & Specialty. A taxa de câmbio teve um efeito positivo em consequência da valorização do dólar americano, do dólar australiano e da libra esterlina com relação ao euro. O resultado técnico melhorou graças à diminuição do índice de sinistralidade, às indenizações menores por catástrofes naturais e por um cenário de preços favorável. As perdas por catástrofes naturais tiveram um impacto importante nas contas de 2011 devido aos terremotos do Japão e da Nova Zelândia e às enchentes da Tailândia. O maior impacto no exercício 2012 foi a tempestade Sandy. No entanto, houve maior sinistralidade no seguro de colheitas nos Estados Unidos devido à seca, e no seguro de Crédito. O índice de gastos aumentou ligeiramente, 0,1 p.p., por efeito das novas aquisições. O resultado financeiro diminuiu devido às baixas taxas de juros e receitas menores por divi- Prêmios e resultado em milhões de euros ALLIANZ 2011 2012 44.772 46.889 PRINCIPAIS INDICADORES Prêmios Índice combinado (%) VARIAC. 4,7% 97,8 96,3 -1,5 p.p. Sinistralidade (%) 69,9 68,3 -1,6 p.p. Gastos (%) 27,9 28,0 0,1 p.p. Resultado Operacional Não operacional Nota: p.p. = pontos porcentuais 66 4.017 4.901 22,0% 4.196 4.719 12,5% -179 182 - dendos. Apesar disso, o resultado antes dos impostos do segmento Property&Casualty aumentou 22%, atingindo 4,901 bilhões de euros. AVIVA As políticas estritas de subscrição e as condições econômicas adversas influenciaram na queda do volume de prêmios no Reino Unido, seu principal mercado, e na Irlanda. No Canadá, os prêmios cresceram devido à melhora dos níveis de retenção de clientes e ao aumento das tarifas tanto nas linhas pessoais quanto nas comerciais. As receitas por prêmios caíram em mercados como França, Itália e Turquia e mostraram importante elevação na Ásia, sobretudo em Singapura e na Indonésia. O resultado operacional das operações continuadas em seguros Gerais e Saúde caiu 4,5%, chegando a 893 milhões de libras. Sem a RAC (companhia de assistência a veículos em rodovia que o grupo vendeu em 2011 para a Carlyle), o resultado operacional teve aumento de 4% deGerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Prêmios e resultado em milhões de euros AVIVA 2011 2012 11.195 11.749 9.750 9.535 PRINCIPAIS INDICADORES Prêmios (€) Prêmios (£) Índice combinado (%) Sinistralidade (%) Gastos (%) VARIAC. 4,9% -2,2% 96,8 97,0 0,2 p.p. 64,4 64,2 -0,2 p.p. 32,4 32,8 0,4 p.p. Resultado (€) 699 782 11,9% Resultado (£) 609 635 4,3% Resultado operacional (€) 1.074 1.100 2,5% Resultado operacional (£) 935 893 -4,5% Nota: p.p. = pontos porcentuais vido ao bom desenvolvimento de seus negócios no Canadá e no Reino Unido, junto com uma melhora na Itália. O índice combinado de seguros Gerais se manteve estável em 97%, com um ligeiro decréscimo do índice de sinistralidade e um pequeno aumento do índice de gastos. Os rendimentos do investimento no longo prazo dos ativos das operações continuadas de seguros Gerais e de Saúde diminuíram em comparação com o exercício anterior. do de corretoras de seguros exclusivo de 10 anos com o HSBC nestes países e na Índia, Indonésia e China. Em novembro de 2012, a AXA anunciou que tinha completado a aquisição dos negócios do HSBC P&C em Hong Kong e Singapura. As receitas brutas do segmento Internacional aumentaram 2,5%, principalmente como resultado da evolução positiva da carteira e pelos aumentos de tarifas, neutralizada parcialmente pela não-renovação de um contrato de grande envergadura de Responsabilidade Civil e pela redução das tarifas em aviação. Os resultados de Property & Casualty cresceram devido a uma melhora do índice de sinistralidade — pelos aumentos de tarifas, menor frequência de sinistros e menor carga por catástrofes naturais — e pela diminuição do índice de gastos. O resultado do investimento caiu principalmente devido às menores receitas dos ativos de renda fixa na França e na Alemanha. Os resultados de Seguros Internacionais diminuíram devido sobretudo aos menores resultados da AXA Liabilities Managers e da AXA Global P&C, e por um menor lucro nas carteiras run-off de P&C. AXA As receitas brutas dos segmentos Property & Casualty aumentaram 4,7%, chegando a 28,499 bilhões de euros, como resultado do aumento de tarifas nos mercados maduros e maiores volumes em mercados de alto crescimento. As linhas pessoais cresceram especialmente na Alemanha, no Reino Unido e Irlanda e no Mediterrâneo e América Latina. As linhas comerciais tiveram aumento principalmente nas regiões do Mediterrâneo e da América Latina, bem como no Reino Unido e Irlanda, França e Ásia. Em março de 2012 a AXA e o HSBC anunciaram que haviam chegado a um acordo pelo qual o grupo francês adquiria os negócios do HSBC P&C em Hong Kong, Singapura e no México. Além disso, a AXA se beneficiaria com um acorGerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Prêmios e resultado em milhões de euros AXA PRINCIPAIS INDICADORES 2011 2012 30.003 31.359 4,5% Property & Casualty 27.212 28.499 4,7% Seguro Internacional 2.791 2.860 Prêmios Índice combinado P&C (%) Sinistralidade Gastos Resultado VARIAC. 2,5% 97,9 97,6 -0,3 p.p. 70,9 70,8 -0,1 p.p. 27,0 26,8 -0,2 p.p. 2.702 3.170 17,3% Property & Casualty 2.288 2.858 24,9% Seguro Internacional 414 312 -24,6% Nota: p.p. = pontos porcentuais 67 relatório Prêmios e resultado em milhões de euros COVÉA Os prêmios Não Vida do grupo Covéa totalizaram 10,466 bilhões de euros em 2012, o que representa uma elevação de 6,3% com relação ao ano anterior, com uma evolução positiva tanto no negócio doméstico quanto no internacional. No negócio internacional, o aumento se deveu sobretudo à consolidação de todo o exercício 2012 da filial britânica, adquirida em 2011. Na França, a Covéa continua crescendo em todos os ramos Não Vida, incluindo Automóveis. O resultado de exploração do segmento Não Vida melhorou de forma significativa graças à recuperação do resultado financeiro. O índice combinado não variou e se manteve em 99%, com uma queda da frequência de sinistros em Automóveis e uma deterioração do índice de sinistralidade no Residência devido ao mau clima no início do ano. ERGO Prêmios PRINCIPAIS INDICADORES Prêmios Índice combinado (%) Resultado Não Vida 2011 2012 9.844 10.466 99,0 583 99,0 821 VARIAC. 6,3% 0,0 p.p. 40,8% Nota: p.p. = pontos porcentuais ERGO Os prêmios dos ramos Não Vida totalizaram 11,323 bilhões de euros em 2012, com uma di- 2012 VARIAC. 12.402 11.323 -8,7% Saúde 5.795 4.932 -17,4% Property & Casualty Alemanha 3.087 3.138 1,6% Internacional 2.428 2.318 -4,5% Seguro de viagem 485 460 -5,2% Seguro venda direta 427 475 11,3% 98,3 97,2 -1,1 p.p. Sinistralidade (%) 62,9 62,2 -0,7 p.p. Gastos (%) 35,4 35,0 -0,4 p.p. Índice combinado P&C (%) Nota: p.p. = pontos porcentuais Prêmios e resultado em milhões de euros COVÉA 2011 PRINCIPAIS INDICADORES minuição de 8,7% resultante da evolução dos diferentes segmentos: O segmento de Saúde registrou uma queda de 17,4% no volume de prêmios, devido ao fato de que no final de 2011 a Ergo vendeu suas participações no negócio internacional de seguro de Saúde para a Munich Health Holding, outra companhia do grupo Munich Re. O negócio na Alemanha registrou uma leve subida de 0,5%. As receitas por prêmios do segmento Property & Casualty na Alemanha aumentaram 1,6%. O principal impulsor do crescimento foi de novo o negócio de riscos Comerciais e Industriais. Por outro lado, Defesa Jurídica e Acidentes mostraram ligeiro decréscimo. O volume de prêmios do seguro de Assistência em Viagem registrou queda de 5,2% pela não-renovação de contratos deficitários. O VOLUME DE PRÊMIOS DOS RAMOS NÃO VIDA DO GRUPO ERGO TOTALIZOU 11,323 BILHÕES DE EUROS EM 2012, UMA QUEDA DE 8,7% RESULTANTE DA EVOLUÇÃO DOS DIFERENTES SEGMENTOS 68 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 O segmento de Venda Direta registrou um crescimento de 11,3%, impulsionado principalmente pelo ramo de Saúde. Os prêmios Não Vida do negócio Internacional diminuíram 4,5% devido à venda de sua filial portuguesa e da companhia sul-coreana Ergo Daum Direct. GENERALI No segmento Não Vida o volume de prêmios mostrou um ligeiro crescimento de 0,2%, sobretudo graças à Alemanha (7%), onde houve uma notável melhora na linha de Acidentes e Saúde após o lançamento de um novo produto. Automóveis também teve um comportamento muito positivo, beneficiado pelo aumento do prêmio médio e da carteira. O comportamento também foi excelente nos países da Europa Central e Oriental (9,8%), especialmente nas diversas linhas de negócio de Autos. A diminuição de receitas na Itália (-2%) foi influenciada pela fraca demanda interna, especialmente no ramo de Automóveis, ao passo que no resto dos ramos Não Vida só houve crescimento nas linhas individuais (2%). A França (0,2%) demonstrou crescimento em todas as linhas de negócio, exceto em Autos. O resultado operacional registrou um aumento de 6,6% como consequência da melhora do resultado técnico e, sobretudo, do índice de sinistralidade, apesar do significativo impacto dos eventos catastróficos. Os resultados dos investimentos caíram em virtude das menores receitas de investimentos Prêmios e resultado em milhões de euros GENERALI 2011 2012 22.765 22.803 PRINCIPAIS INDICADORES Prêmios Índice combinado (%) Sinistralidade (%) Gastos (%) Resultado Operacional Não operacional VARIAC. 0,2% 96,5 95,7 -0,8 p.p. 69,0 68,2 -0,8 p.p. 27,5 -0,1 p.p. 27,6 955 747 -21,8% 1.561 1.664 6,6% -606 -916 - imobiliários em consequência do menor peso destes ativos no segmento Não Vida. O resultado não operacional piorou, chegando a -916 milhões de euros (-606 em 2011) devido ao aumento de perdas por deterioração do valor dos ativos financeiros, principalmente na carteira de renda variável, e à queda dos lucros líquidos realizados. Finalmente, o resultado do exercício 2012 totalizou 747 milhões de euros, o que representa um crescimento de 21,8% com relação ao exercício anterior. MAPFRE As receitas por prêmios do grupo MAPFRE aumentaram em 7%, chegando a 15,479 bilhões de euros, graças ao bom comportamento do negócio exterior, sobretudo no Brasil e nos Estados Unidos. Na Espanha, os prêmios Não Vida ultrapassaram os 4,427 bilhões de euros, 5% menos que no ano anterior, devido à forte queda da demanda interna. Nos países da América Latina houve um forte crescimento de todos os ramos como resultado principalmente da consolidação Nota: p.p. = pontos porcentuais Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 69 relatório Prêmios e resultado em milhões de euros MAPFRE 2011 2012 14.473 15.479 PRINCIPAIS INDICADORES Prêmios Índice combinado (%) VARIAC. 7,0% 96,9 95,4 -1,5 p.p. Sinistralidade (%) 69,2 67,4 -1,8 p.p. Gastos (%) 27,7 28,0 0,3 p.p. Resultado Não Vida 1.182 1.247 5,5% Nota: p.p. = pontos porcentuais dos negócios com o Banco do Brasil. Além disso, houve aumentos em praticamente todos os países da região. Nos demais países onde o grupo mantém operações seguradoras, destacam-se os crescimentos dos Estados Unidos e da Turquia. O índice combinado melhorou 1,5 ponto porcentual e se situou em 95,4%, reflexo da evolução favorável da sinistralidade do resseguro e do negócio internacional, que em 2011 se viram especialmente afetados pelos terremotos e pelo clima adverso. O aumento do índice de gastos reflete o maior peso do negócio internacional, reduzido parcialmente por um efeito positivo, no Brasil, da incorporação de algumas linhas de negócio anteriormente incluídas no Seguro de Vida. Consequentemente, o resultado do negócio Não Vida melhorou 5,5% com relação ao exercício anterior e totalizou 1,247 bilhões de euros. RSA O volume de prêmios brutos da RSA totalizou 9,397 bilhões de libras em 2012, 2,9% a mais que no ano anterior, graças ao forte crescimento das receitas nos mercados emergentes e no Canadá. Neste último país houve um sólido crescimento orgânico nas linhas pessoais e comerciais complementado pela consolidação da L’Union Canadienne, cuja aquisição se completou no mês de outubro. Os prêmios se mantiveram estáveis no Reino Unido e na Europa Ocidental. Na Es- 70 candinávia, os prêmios líquidos diminuíram em virtude da taxa de câmbio. O resultado técnico se manteve estável em 375 milhões de libras, com um índice combinado de 95,4%, o que representa um aumento de 0,5 ponto, em consequência do mau clima no Reino Unido e dos terremotos da Itália no mês de maio. O resultado dos investimentos teve redução de 11%, devido principalmente a menores rendimentos dos títulos da dívida soberana e privada. Por tudo isso, o benefício antes dos impostos foi de 479 milhões de libras (590 milhões de euros), 21,9% inferior ao do exercício anterior (-16,1% em euros). Prêmios e resultado em milhões de euros RSA 2011 2012 10.845 11.579 PRINCIPAIS INDICADORES Prêmios (€) Prêmios (£) 9.131 VARIAC. 10,4% 9.397 2,9% Índice combinado (%) 94,9 95,4 0,5 p.p. Sinistralidade (%) 66,3 65,9 -0,4 p.p. Gastos (%) 28,6 Resultado (€) Resultado (£) 29,5 0,9 p.p. 704 590 -16,1% 613 479 -21,9% Nota: p.p. = pontos porcentuais ZURICH Em 2012, os prêmios brutos de seguros Gerais aumentaram 3%, chegando a 35,61 bilhões de dólares americanos. O aumento dos prêmios foi forte nos mercados internacionais, tanto pelo crescimento orgânico quanto pelas aquisições, assim como na América do Norte. Na Europa, as receitas continuam sendo afetadas pelos níveis mais baixos de atividade econômica, sobretudo em alguns dos maiores mercados, como Reino Unido, Espanha e Itália. O resultado operacional caiu 6,7%, afetado de forma negativa por duas causas: pelo segundo ano consecutivo aconteceram catástrofes naturais e houve perdas acima da média relacionadas Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Prêmios e resultado em milhões de euros Participação do negócio Não Vida ZURICH 2011 PRINCIPAIS INDICADORES Prêmios (€) Prêmios (USD) 2012 VARIAC. 24.729 27.559 11,4% 34.572 35.610 3,0% Figura 1. Participação do negócio Não Vida sobre os prêmios totais 98,9 98,4 -0,5 p.p. RSA Sinistralidade (%) 72,0 70,3 -1,7 p.p. ACHMEA Gastos (%) 26,9 28,1 1,2 p.p. MAPFRE Índice combinado (%) Resultado (€) 1.808 2.360 30,5% Resultado (USD) 2.528 3.049 20,6% Resultado operacional (€) 1.607 1.623 1,0% Resultado operacional (USD) 2.247 2.097 -6,7% COVÉA ZURICH ERGO ALLIANZ Nota: p.p. = pontos porcentuais AVIVA com o clima, incluindo a tempestade Sandy. O Grupo examinou os números do negócio na Alemanha e reforçou as provisões de sinistros correspondentes a certos negócios de longa duração. O melhor resultado dos investimentos não incluídos no resultado operacional do negócio compensou essa queda e gerou um resultado líquido de 3,049 bilhões de dólares, 20,6% superior ao exercício de 2011. AXA GENERALI Figura 2. Participação do negócio Não Vida no exterior ZURICH AXA ALLIANZ MAPFRE GENERALI RSA AVIVA ERGO COVÉA ACHMEA Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 71 relatório Solvência Como complemento aos dados sobre o negócio Não Vida, considerou-se interessante acrescentar informações sobre o nível de solvência. É importante advertir que: A Ergo não publica o índice de solvência do grupo porque, por fazer parte do grupo Munich Re, é ele que tem de apresentar estas informações referentes ao grupo. Por este motivo, mostrou-se o dado de todas as companhias do ranking, exceto da Ergo. As informações se referem ao nível de solvência da totalidade de operações de cada grupo. As informações não são homogêneas, pois a forma específica de determinar o capital regulador depende das normas estabelecidas em cada país. O dado mostrado mede o número de vezes que o grupo cumpre o capital de solvência obrigatório. Em 2012, os grupos seguradores europeus que fazem parte do estudo continuam a estar bem capitalizados. O grupo Covéa apresenta o maior nível de solvência, com um valor de 3,9 vezes o mínimo exigido por lei. Aspectos metodológicos Para a elaboração do ranking, levou-se em conta o volume de prêmios brutos (seguro direto mais resseguro aceito) dos ramos Não Vida. Convém esclarecer que no ranking não constam os prêmios de Saúde atribuídos ao ramo Vida3, mas sim os que estão classificados em Não Vida ou expressamente diferenciados. Devido à aplicação das NIIF 8, alguns grupos variaram os segmentos operacionais sobre os quais apresentam informações em separado, o que causou certa dificuldade para obter parte das informações analisadas em edições anteriores do ranking. Contudo, sempre que possível, manteve-se o critério utilizado nos outros anos. MAIORES GRUPOS SEGURADORES EUROPEUS NÃO VIDA 2012 Nível de solvência 2011 2012 COVÉA 3,27 3,92 MAPFRE 2,87 2,61 AXA 1,88 2,33 ACHMEA 2,04 2,07 ALLIANZ 1,79 1,97 RSA 2,00 1,90 ZURICH 1,83 1,78 AVIVA 1,30 1,72 GENERALI 1,17 1,50 GRUPO 1 Janeiro de 2012 e julho de 2012, respectivamente, conforme o Swiss Solvency Test. 1 De forma global, quando o seguro de Saúde gera provisões matemáticas, o ramo é classificado junto com o de Vida. 3 AS RECEITAS POR PRÊMIOS DO GRUPO MAPFRE AUMENTARAM EM 7%, CHEGANDO A 15,479 BILHÕES DE EUROS, GRAÇAS AO BOM COMPORTAMENTO DO NEGÓCIO EXTERIOR, SOBRETUDO NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS 72 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Não se incluem neste ranking os grupos cuja atividade principal seja o Resseguro. Mantém-se o critério de incluir os prêmios de resseguro aceito nos grupos com filiais resseguradoras, mas sem que esta seja a atividade principal. As informações sobre o nível de solvência se referem à totalidade de operações de cada grupo. O dado representa o número de vezes que o grupo cumpre o capital de solvência obrigatório. Para fins comparativos, foram atualizados os valores de receitas e resultados de 2011 publicados pelos grupos seguradores em seus relatórios anuais de 2012. Os dados de resultados se referem ao segmento Não Vida, antes dos impostos e dos minoritários. No relatório utiliza-se a expressão “resultado operacional” para fazer referência ao resultado proveniente do negócio segurador, incluindo o resultado dos investimentos associados ao negócio. As perdas ou ganhos procedentes de outros investimentos são incluídos no “resultado não operacional”. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 TAXA DE CÂMBIO MÉDIA UTILIZADA1 2010 2011 2012 Libra esterlina (GBP) 1,169 1,148 1,232 Dólar (USD) 0,758 0,715 0,774 MOEDA Cotação direta. 1 73 observatório de sinistros CHILE Antes e depois da catástrofe: ALGUNS DADOS CRUCIAIS PARA ANALISAR OS DESAFIOS DA RECONSTRUÇÃO O terremoto e posterior tsunami ocorridos na zona central e costeira do Chile em 27 de fevereiro de 2010 foi um dos maiores desastres naturais da história, produzindo danos equivalentes a 18% do PIB nacional. Neste artigo, são descritos os efeitos da catástofre no país e a resposta eficaz do setor segurador na reconstrução, especialmente no setor residencial. Características geográficas do Chile PÍA MORA E ISABEL BRAIN CENTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. UNIVERSIDADE CATÓLICA DO CHILE. 74 O Chile se situa a sudoeste da América do Sul, fazendo fronteira ao norte com o Peru e Bolívia, ao leste com a Argentina — separados pela cordilheira dos Andes — e a oeste e sul com o oceano Pacífico. O país tem superfície de 756.096 km² e 4.270 quilômetros de comprimento. Sua largura atinge apenas 180 quilômetros em média. As características geográficas do Chile envolvem um complexo cenário em termos de riscos naturais: o país não só se situa no denominado “cinturão de fogo do Pacífico”, que atravessa a cordilheira dos Andes — uma zona com intensa atividade sísmica Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 e vulcânica — como também possui uma condição eminentemente costeira que, combinada com o anterior, torna este território altamente vulnerável a tsunamis. Alguns destes riscos podem ser antecipados e minimizados através de obras de redução, educação da população, condições especiais de construção ou planejamento adequado que restrinja ou condicione determinados usos, entre outras medidas; outros, no entanto, são muito difíceis de prever. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 O CHILE SE SITUA EM UMA REGIÃO COM Sistema político- administrativo chileno INTENSA ATIVIDADE Em termos políticos, o Chile é uma república presidencialista onde existe divisão de poderes entre o legisSUA PROXIMIDADE À lativo, o judicial e o executivo, sendo COSTA DO PACÍFICO, o presidente da República o chefe de TAMBÉM É ALTAMENTE governo e de Estado. O país se divide administrativaVULNERÁVEL AOS mente em 15 regiões, cada uma delas TSUNAMIS com presença de representantes dos distintos ministérios estabelecidos em SÍSMICA QUE, POR 75 observatório de sinistros nível central. Estes representantes, as Secretarias Regionais Ministeriais (SEREMI), compõem um gabinete regional presidido pelo intendente, que é o representante direto do presidente da República no seu respectivo território. As regiões, por sua vez, subdividem-se em províncias (54 no país todo) a cargo de um governador, as quais são compostas por comunas, contabilizando-se um total de 345 em todo o país. As comunas são administradas pelos municípios, corporações autônomas de direito público, em cuja chefia se encontram um prefeito e um conselho municipal eleitos por voto popular. Como foi amplamente difundido em diferentes estudos sobre o assunto, no Chile existe uma grande diversidade em termos de recursos e capacidades entre os diversos níveis de administração do território — especialmente entre as comunas — o que gera resultados diferentes em termos de cobertura e qualidade dos serviços oferecidos à população, o que consequentemente afeta a qualidade de vida A GRANDE DIVERSIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS E CAPACIDADES ENTRE NÍVEIS DE ADMINISTRAÇÃO DO TERRITÓRIO GERA COBERTURA E QUALIDADE DE SERVIÇOS DESIGUAIS de seus habitantes e o nível de desenvolvimento das regiões. Tradicionalmente, o Chile tem sido um país altamente centralista, tanto em termos territoriais e populacionais quanto na administração dos recursos e na tomada de decisões. Dos aproximadamente 17 milhões de habitantes estimados para 2012 (INE-CEPAL), mais de um terço se concentra na região metropolitana, onde se situa a capital do país, Santiago. Além disso, essa região concentra por si só pouco menos da metade do PIB do país1, além de ostentar o primeiro lugar no país em termos de desenvolvimento humano, emprego e escolaridade, entre outros indicadores de bem-estar (SUBDERE 2001). Economia chilena O Chile vive hoje um cenário econômico positivo, com taxas de crescimento em torno de 5% ao ano e renda per capita acima de 15.000 dólares. Graças ao progresso material e às medidas adotadas pelo Estado para que os benefícios cheguem aos mais desfavorecidos, os níveis de pobreza diminuíram sistematicamente. Dos 45% da população do país que se encontravam em situação de pobreza em 1987, passou-se a 15,1% em 2009, segundo a Pesquisa de Caracterização Socioeconômica (CASEN). Em contrapartida, a classe média cresceu, embora parte importante dela esteja muito vulnerável a cair novamente na pobreza (30%, aproximadamente). Mais especificamente, a RM concentrava 42,5% do PIB nacional em 2006 (Estatísticas do Banco Central do Chile. Participação regional no Produto Interno Bruto Total, 20032006. Disponível em: http://www.bcentral. cl/publicaciones/estadisticas/actividadeconomica-gasto/aeg07.htm) 1 76 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 O ESTADO CHILENO ATUA SOB O Políticas públicas na área ha- PRINCÍPIO DA bitacional e urbana SUBSIDIARIEDADE, Quanto às políticas públicas, nas três últimas décadas o Estado atuou sob o princípio da subsidiariedade, isto é, cobrindo aquelas áreas que os indivíduos não conseguem solucionar por si na atividade econômica livre. Este fundamento, consagrado na Constituição Política de 1980, cristaliza a ação do Estado através da concessão de diversos subsídios ou vouchers sob demanda, focando-se especialmente nos grupos de classe baixa e média-baixa (embora apoiando também, em menor escala, a classe média), sob a hipótese de que a oferta não só garantirá cobertura, mas também qualidade dos bens e serviços oferecidos a estes grupos. Uma das áreas em que este princípio foi amplamente aplicado é a habitacional e urbana, que analisaremos com certa profundidade a seguir, porque é exatamente nela que os efeitos do terremoto foram sentidos com maior força. COBRINDO AS ÁREAS Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 QUE OS INDIVÍDUOS NÃO CONSEGUEM SOLUCIONAR POR SI NA ATIVIDADE ECONÔMICA LIVRE O sistema institucional chileno neste aspecto tem um caráter centralizado. O Ministério de Habitação e Urbanismo (MINVU), criado em 1965, é o encarregado tanto por elaborar as diferentes políticas e programas quanto por definir o orçamento anual para cobrir estas funções2. As Secretarias Ministeriais (SEREMIs) e os Serviços de Habitação e Urbanismo (SERVIUs) são os braços executores do ministério em nível regional, sendo responsabilidade das primeiras o planejamento, avaliação e controle, e dos segundos, a execução. Uma característica diferente do sistema chileno é o fato de que as famílias mais vulneráveis devem contribuir com uma quantia ínfima para a obtenção da sua casa (menos que 5% do valor total). Além disso, deve-se destacar o fato de que, quanto menor a renda familiar, maior é o apoio estatal para a obtenção de uma residência. Em 2011 o orçamento deste ministério atingiu a marca de $1,667.845 trilhão, equivalente a pouco menos de 10% do gasto público social desse ano. 2 77 observatório de sinistros Outro fator chave da política habitacional tem sido a ênfase dada à entrega de moradia em propriedade para os grupos beneficiários, o que contribuiu para contar com uma proporção majoritária de proprietários em nível nacional (70% conforme o Censo de População e Moradia 2002) e para explicar a baixíssima presença de moradias informais (as pessoas que vivem nessa condição representam em torno de 0,7% da população nacional). Um dado útil para entender o peso que o Estado tem no setor imobiliário e na construção é o fornecido pela Fundação Nacional para a Superação da Pobreza, que calculou que, entre 1990 e 2006, oito de cada dez moradias construídas receberam contribuições do Estado. Para o período de 2000-2010, o Ministério de Habitação e Urbanismo (MINVU) declara ter concedido em média um total de 108.597 subsídios para moradia por ano (www.observatoriohabitacional.cl). Dentre as maiores conquistas associadas à política habitacional chilena se destaca a diminuição sistemática do déficit quantitativo de moradia, que a princípio dos anos 90 beirava um milhão de unidades e que hoje representa menos da metade desse número. Como efeito não esperado, geraram-se vastas zonas homogeneamente pobres situadas na periferia das principais cidades (onde a terra é mais barata mas há deficiência de serviços), o que tem gerado problemas para as famílias ali residentes, que vão desde longos trajetos de deslocamento para o trabalho até a presença de fenômenos associados à guetização, tais como gravidez adolescente, inatividade juvenil e delinquência. 78 Em maio de 2013 foi aprovada uma nova Política Nacional de Desenvolvimento Urbano que, apesar de não ser vinculante, espera-se que oriente melhor o desenvolvimento de nossas cidades. Características do desastre O TERREMOTO E O TSUNAMI QUE O SEGUIU AFETARAM 69% DAS COMUNAS DO CHILE, ONDE RESIDEM 75% DA POPULAÇÃO DO PAÍS Em 27 de fevereiro de 2010, justamente no ano em que se comemoravam 200 anos da independência do Chile, o país enfrentou um dos maiores desastres naturais de sua história. Às 3:34 da madrugada, um terremoto de 8,8 graus na escala Richter e um posterior tsunami sacudiram fortemente a zona central do país, especialmente as regiões de Libertador General Bernardo O’Higgins, Maule e Biobío. Em menor grau, ele afetou também as regiões de Valparaíso, Araucanía e Metropolitana de Santiago. No total, foram 239 comunas afetadas pelo terremoto e tsunami, o que abrange 12.800.000 de pessoas. Em outras palavras, o desastre natural, cujo epicentro se situou na Região de Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Biobío, afetou 69% das comunas do Chile, onde residem 75% da população do país. Em termos históricos, este terremoto foi o segundo mais importante da história do Chile desde que se têm registros (o mais relevante foi na cidade de Valdívia em 1960), e um dos cinco maiores registrados em todo o mundo. Uma das consequências mais graves foi a perda de vidas humanas, com 525 pessoas falecidas e 23 desaparecidas, segundo relatórios oficiais de janeiro de 2011. Entretanto, apesar do dramático fato, estima-se que o número de vítimas fatais poderia ter sido muito mais alto — vale lembrar que o terremoto e o tsunami afetaram as zonas mais povoadas do Chile — se o país não houvesse contado com uma legislação que inclui especificações antissísmicas de alto padrão para as construções. Outros fatores que podem ter contribuído para que o número de vítimas não fosse maior são a localização e profundidade do epicentro, a Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 A CATÁSTROFE NATURAL CAUSOU PERDAS CONSIDERÁVEIS PARA O PARQUE RESIDENCIAL CHILENO: NO MÊS DO OCORRIDO FORAM CONTABILIZADAS 370.000 MORADIAS DANIFICADAS OU DESTRUÍDAS “cultura sísmica” existente na população e a forte presença de moradia social formal — que garante moradias com um padrão de segurança adequado para todos os setores da população, incluindo os de menor renda. Adicionalmente, um número importante das casas destruídas corresponde às segundas moradias localizadas nos balneários das regiões afetadas. A emergência vivida teve implicações substanciais para os lares em termos de danos sofridos em seu patrimônio. De acordo com o primeiro cadastro proporcionado pela Agência Nacional de Emergência (ONEMI), em 25 de março de 2010, registravam-se 370.000 moradias danificadas ou destruídas; já em 27 de agosto do mesmo ano, 285.000 famílias tinham se inscrito no cadastro de danificados, das quais depois se determinou que 220.000 eram elegíveis para o subsídio de reconstrução (Iacobelli, 2010). Particularmente dramática foi a situação vivida por aqueles que residiam em zonas patrimoniais e no litoral, que em muitos casos sofreram 79 observatório de sinistros a perda total de suas casas por razões dos materiais utilizados nelas — geralmente construídas com tijolos de barro e em mau estado de conservação —, somado a usos residenciais inadequados ou em zonas de risco. Na área patrimonial, o Conselho de Monumentos Nacionais registrou um total de 260 monumentos históricos imóveis e zonas típicas danificadas em cinco das regiões mais afetadas (Valparaíso, O’Higgins, Maule, Biobío e Metropolitana), com uma estimativa de que o dano teria afetado 30% do patrimônio monumental nacional (www.monumentos.cl). O desastre teve ainda graves consequências econômicas para o país. Sobre um estoque de capital total que somava 278.494 milhões de dólares, houve uma perda de aproximadamente 11%. De acordo com o Plano de Reconstrução, a catástrofe prejudicou praticamente todos os setores da economia. O setor mais afetado em 80 O SISMO DANIFICOU PRATICAMENTE TODOS OS SETORES DA ECONOMIA, COM AS MAIORES PERDAS REGISTRADAS NA INDÚSTRIA, PESCA E TURISMO termos econômicos foi a indústria, seguido pela pesca e o turismo, com perdas equivalentes a 5,34 bilhões de dólares, todas atribuíveis ao setor privado. Seguiram-lhes os setores de habitação e educação, com 3,943 e 3,015 bilhões de dólares, respectivamente. No primeiro caso, a maioria das perdas foi atribuída ao setor público (3,258 bilhões de dólares, equivalente a quase 83% do total), enquanto que em educação os custos tenderam a distribuir-se de forma mais equitativa entre ambos os setores. O Ministério de Obras Públicas constatou que 1.554 quilômetros de estradas, 211 pontes e nove aeroportos sofreram danos (Governo do Chile, 2010). Outros problemas detectados se referiram à suspensão e cortes nos serviços de água e luz elétrica. A ex-presidente Michelle Bachelet, que na época finalizava seu mandato, decretou as cinco regiões mais afetadas como zona de catástrofe para flexibilizar os procedimentos destinados ao Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 seu atendimento. Além disso, foi necessário estabelecer o estado de exceção constitucional de catástrofe por calamidade pública nas regiões de Maule e Biobío, com o intuito de poder controlar adequadamente as desordens e furtos que ali se registraram. Neste cenário de crise o novo governo assumiu o poder, liderado pelo presidente Sebastián Piñera, da coligação que chegava ao poder após 20 anos desde que formou o bloco opositor. Um primeiro desafio consistiu na estimativa preliminar dos efeitos devastadores do terremoto e do tsunami, com vistas a poder traçar as primeiras linhas do plano de reconstrução e analisar com a maior precisão possível os custos associados à assistência aos danificados e ao reparo e reposição dos bens danificados. No seu primeiro discurso presidencial, em 21 de maio do mesmo ano, o presidente informou que o dano bruto total, tanto público como privado, totalizava 30 bilhões de dólares, equivalente a 18% do PIB3. Acrescentou na ocasião que o desafio de levantar o Chile exigiria um investimento público de 8,4 bilhões de dólares. O Plano de Reconstrução incluiu Coincidentemente, a contribuição ao PIB realizado pelas regiões de Maule, Biobío e O’Higgins representa aproximadamente 18% do total (CEPAL 2010). 3 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 EM SEU PRIMEIRO DISCURSO, O NOVO PRESIDENTE DO PAÍS AVALIOU O DANO BRUTO TOTAL, TANTO PÚBLICO QUANTO PRIVADO, EM 30 BILHÕES DE DÓLARES, O EQUIVALENTE A 18% DO PIB diversas fontes de financiamento, sendo as principais: 1) reatribuições e poupança por parte do governo central; 2) modificações legais para aumentar receitas tributárias; 3) aumento da arrecadação tributária por menor evasão, por crescimento econômico e pelo elevado preço do cobre; 4) criação do Fundo Nacional de Reconstrução; 5) Fundo da Lei Reservada do Cobre; e 6) venda de ativos prescindíveis, endividamento interno e externo e uso do Fundo de Estabilização Econômica e Social (FEES). O papel dos seguros na recuperação pós-catástrofe No âmbito privado, parte importante da emergência foi coberta pelo setor segurador. A quantidade desembolsada em sinistros de moradias, empresas privadas e infraestrutura sob concessão, de acordo com dados da indústria seguradora, foi de 6,235 bilhões de dólares, o que o converteu no desastre natural mais caro para as seguradoras entre os ocorridos no mundo durante o ano de 2010 (SIGMA 2011). Os seguros, portanto, desempenharam um papel importante na recuperação de moradias e do setor produtivo. De acordo com os números da Superintendência de Valores e Seguros (SVS), no final de 2011 havia sido paga quase a totalidade dos 222.416 pedidos de indenização por sinistro que as seguradoras tinham recebido — 86% dos quais correspondiam a moradias — cenário que se contrapõe à maior lentidão na reconstrução de moradias liderada pela administração pública. Um ano depois do desastre natural, 99% dos sinistros habitacionais tinham sido liquidados (no final de 2011 também os não habitacionais, comerciais e industriais). A ativação rápida do sistema de 81 observatório de sinistros seguros se deve a vários fatores que favoreceram uma resposta eficiente. O primeiro foi a decisão tomada pelas seguradoras de dar prioridade aos pedidos de indenização de pessoas nativas — correspondentes a cerca de 190.299 — ao invés daqueles feitos pelas empresas e suas instalações que tinham sido severamente danificadas, mesmo que estes fossem 32.117. A isto se soma a exigência da SVS de que todos os sinistros fossem liquidados até agosto de 2010. Outro fator que contribuiu para a rapidez da resposta foi a existência da cláusula, presente na maioria dos contratos de seguros de imóveis, que estabelece que o pedido de indenização por um sinistro deve ser apresentado ao seguro correspondente dentro de uma margem de cinco dias. Isso permitiu à indústria seguradora dimensionar a carga de trabalho, as quantidades a serem desembolsadas e idealizar uma estratégia ad hoc para atender as demandas de seus clientes. Apesar disso, cabe destacar que, no caso dos afetados pelo terremoto e pelo tsunami de 27 de fevereiro, as seguradoras tomaram a decisão de flexibilizar este prazo até dois meses depois de ocorrida a catástrofe (AON Benfield 2011). Vinculado ao ponto anterior, os contratos de seguros também estabelecem que as seguradoras ou liquidadoras de seguros tenham um prazo de três dias úteis a partir do dia do pedido de indenização para contatar a pessoa que o apresentou com o objetivo de acertar os trâmites, coordenar a vistoria e apresentar os antecedentes exigidos, entre outros. Um terceiro elemento favorável à resposta rápida é o fato de que o prazo para que a seguradora pague o montante de indenização é de no máximo 82 A INDÚSTRIA SEGURADORA DESEMBOLSOU 6,235 BILHÕES DE DÓLARES PELOS SINISTROS DE MORADIAS, O QUE TORNOU ESTE DESASTRE NATURAL O MAIS CARO DOS OCORRIDOS NO MUNDO EM 2010 90 dias a partir da data em que foi feito o pedido. Apesar disso, vale mencionar que do total de pedidos de indenização de moradia, uma porcentagem relevante não foi amparada pelas seguradoras, pois o seguro contratado não cobria o dano ou bem porque a perda indenizável era menor que a dedutível. O mesmo ocorreu no segmento empresas. Tudo isso revela um problema importante no nível de informação que os segurados têm com relação aos seguros que contratam e a vigência destes. O modo como os seguros de moradia e comércio funcionam no Chile permite esclarecer bem o não-pagamento de uma porcentagem importante dos danos denunciados. Os seguros contra terremotos oferecem três tipos de serviços: cobertura dos danos estruturais da propriedade; cobertura das perdas que envolvem os danos do bem afetado (sua inabilitação), e cobertura do interior da moradia. A compensação por danos pode ser feita de duas formas. Uma delas é transferir o valor estimado do dano ao danificado para que este contrate ou execute os reparos. A outra consiste em que a empresa de seguros faça os reparos diretamente por meio de empreiteiras. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Ocorre que muitas vezes as pessoas não conhecem detalhadamente as características do seguro que contrataram ou sua validade. Por esta razão, os segurados pedem indenização para tipos de danos que muitas vezes não estão cobertos por sua apólice. Definitivamente, a experiência chilena em matéria de resposta das seguradoras ao desastre natural vivido permite extrair lições importantes. Em primeiro lugar, embora muitas moradias puderam ser reconstruídas ou reparadas graças aos seguros, a maior parte destas correspondia a proprietários que estavam pagando financiamento. Setenta e seis por cento das moradias não tinham seguro contra terremotos ou enchentes, principalmente as moradias que estavam sendo pagas por meio de créditos imobiliários concedidos por banco privado que contavam com este tipo de seguro. No Chile, ao contratar um seguro de crédito imobiliário, existe a obrigação de contar com seguros prestamistas e de incêndio, sendo a cobertura Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 AS SEGURADORAS PRIORIZARAM OS PEDIDOS DE INDENIZAÇÃO DE PESSOAS, NÃO OS DAS EMPRESAS, O QUE AGILIZOU O PAGAMENTO DE INDENIZAÇÕES À POPULAÇÃO AFETADA de sismo ou terremoto — chamada Danos Materiais Causados por Sismo — um adicional. Apesar de não ser obrigatória, cerca de 95% daqueles que têm crédito contam com esta cobertura, o que explica o fato de que, dos 24% do total de moradias que contavam com o seguro contra terremoto e incêndio nas regiões afetadas, quase 90% eram propriedades financiadas e só 10% tinham contratado seguros de maneira independente (Business Chile 2010). São diversos os casos de afetados que ficaram fora do âmbito de aplicação dos seguros, que tiveram ou terão de enfrentar custos importantes na reconstrução de suas moradias (com e sem apoio do Estado). Um deles corresponde aos que tinham acabado de pagar sua casa. Outro grupo sem cobertura são os afetados que viviam em casas muito antigas, construídas geralmente com tijolos de barro — muitas delas com um enorme valor patrimonial — material excluído das coberturas de seguros. Outro segmento da população que não conta com seguros contra terremoto são as famílias mais pobres que moram em uma moradia social, isto é, construída com subsídio estatal. Este tipo de família obtém uma casa que não exige o pagamento de juro e, portanto, não é inserido no sistema de créditos imobiliários concedidos pelo sistema bancário privado que obriga ao pagamento de seguros que os protejam caso ocorram sinistros. Uma segunda lição obtida a partir da ativação do sistema de seguros é que ele permitiu delimitar a carga do setor público na tarefa de reconstrução. O dinheiro desembolsado pelo Estado, assim, voltou-se para a reconstrução de casas para aqueles que não tinham seguros e que não con83 observatório de sinistros tavam com recursos suficientes para recuperar suas condições de vida e da moradia que tinham antes do desastre natural. Do mesmo modo, foram financiados o reparo e a reconstrução da infraestrutura pública afetada, como hospitais e escolas. Em relação ao ponto anterior, o desastre mostrou a diferença que existia em termos de proteção da infraestrutura pública sob concessão em relação àquela que está sob administração direta do Estado. As primeiras, por lei, devem contratar seguros, mas não as segundas. Esta situação ficou evidente na hora de recuperar e reconstruir a infraestrutura danificada pelo terremoto e pelo tsunami. As grandes empresas estavam seguradas, situação que contrasta com a baixa cobertura de seguros das empresas de pequeno e médio porte. É por esta razão que, dentro das 84 A SEGUNDA LIÇÃO COM A ATIVAÇÃO DO SISTEMA DE SEGUROS É QUE ELE PERMITIU DELIMITAR A CARGA DO SETOR PÚBLICO NA TAREFA DA RECONSTRUÇÃO alternativas que a SVS avalia atualmente, figura a de ampliar a cobertura de seguros junto com o planejamento de mecanismos de financiamento público para a recuperação após catástrofes naturais. Uma terceira lição sobre os seguros em condições de catástrofe diz respeito à solidez do mercado de seguros chileno. As seguradoras mostraram capacidade para responder eficientemente, ajustando-se às normas e regulamentos do setor. É sabido que a confiança por parte dos segurados é a chave para o desenvolvimento do mercado de seguros, sendo que a SVS assegura essa confiança. Esta instituição regula o mercado de seguros chileno com a finalidade de garantir seriedade e respaldo aos segurados e de zelar tanto pela competência do mercado quanto pela solvência destas companhias para responder quando Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 os seguros são cobrados. De acordo com a lei que regula as agências de seguro, a SVS tem as atribuições de exigir solvência e também fiscalizar. Entre as exigências, a SVS estabelece que as companhias de seguros devem manter uma margem de solvência que represente um comportamento técnico determinado que é equivalente ao das seguradoras internacionais. Além do mais, a SVS estabelece um limite para o endividamento. As companhias cujo ramo é a concessão de seguros de risco de perda ou deterioração nos bens ou no patrimônio não podem endividar-se mais que cinco vezes o valor do seu patrimônio e a dívida total com terceiros — que não tenham reservas técnicas de seguros — não pode ser superior a uma vez o patrimônio da companhia. Quanto à fiscalização das companhias de seguros, a Superintendência tem autoridade para realizar as seguintes ações sem aviso prévio: solicitar relatórios às seguradoras e resseguradoras; inspecionar escritórios; revisar todo tipo de documentos de propriedade da companhia; solicitar a auditores externos a análise do estado das companhias. Dependendo dos resultados das ações fiscalizadoras, a SVS tem à sua disposição uma série de ferramentas para aplicar sanções em função do nível de gravidade no não-cumprimento das cláusulas especificadas pela lei de seguros. Estas sanções vão desde a aplicação de multas até a revogação da autorização para sua operação. Por último, a relação entre seguradoras e resseguradoras também está regulada. A SVS regula tanto as companhias resseguradoras chilenas como estrangeiras e estabelece normas de Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 O TERREMOTO REFLETIU A SOLIDEZ DO MERCADO DE SEGUROS CHILENO. AS SEGURADORAS MOSTRARAM CAPACIDADE PARA RESPONDER EFICIENTEMENTE, AJUSTANDO-SE ÀS NORMAS E REGULAMENTAÇÕES DO SETOR investimento e reservas técnicas, entre outras, que permitem dar maiores garantias de solvência e seriedade na formação e operação deste tipo de instituições. Existe, portanto, uma base regulatória e fiscalizadora que dá garantias a segurados e seguradoras de que o sistema funciona sobre bases sólidas, transparentes e competitivas, questão que ficou evidente na resposta deste setor após o desastre de 27 de fevereiro de 2010. Finalmente, após dois anos do desastre natural, foi possível observar uma mudança no comportamento da população com relação ao seguro. A contratação de seguros de imóveis aumentou 36% entre 2009 e 2010. Além das lições para o setor dos seguros, também é possível observar inovações produzidas após a catástrofe de 27/2, inovações que contemplam mudanças normativas, um novo sistema de monitoração sísmica e o desenvolvimento de um plano de ação que contenha as principais estratégias para atender a futuras catástrofes. 85 observatório de sinistros O livro Emergência e reconstrução: o antes e o depois do terremoto e tsunami de 27/2 no Chile. Aprendizagens nas áreas habitacional, urbana e de seguros N o final de 2010, o Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE decidiu realizar um estudo sobre a experiência do terremoto do Chile em 27 de fevereiro de 2010. O objetivo era extrair uma série de lições que servissem para estabelecer recomendações práticas frente à ocorrência de futuros terremotos não apenas no Chile, mas também em outros países vulneráveis a este tipo de evento, especialmente na América Latina. Para a realização do estudo, o Instituto solicitou a colaboração da Pontifícia Universidade Católica do Chile, que conta com acadêmicos especialistas em temas de patrimônio, moradia, construção e planejamento, que desenvolveram os temas propostos não apenas através da pesquisa como também com trabalho de campo. No que se refere ao seguro, a partir do trabalho de um especialista na matéria, fez-se uma reflexão acerca do papel desempenhado pelo setor na recuperação da capacidade produtiva e das condições de vida do país. O resultado foi um trabalho multidisciplinar — o livro Emergência e reconstrução — que aborda diferentes aspectos relacionados à ocorrência de catástrofes naturais. Este livro não teria sido possível sem o importante apoio de Maurício Robles, a quem agradecemos de maneira especial por sua colaboração. A seguir resumimos os principais conteúdos dos vários capítulos, convidando à sua leitura, difusão e debate. Institucionalidade. No Chile, a ameaça de desastres é uma constante. No entanto, a institucionalidade pública para enfrentar processos de emergência e reconstrução — Agência Nacional de Emergência, comitês interministeriais extraordinários e equipes 86 especiais dentro do MINVU, entre outras entidades — parece não ser suficiente. O artigo, a cargo do acadêmico Luis Eduardo Bresciani, da Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC), estabelece tanto boas práticas quanto debilidades do processo de reconstrução após o 27/2, extraindo aprendizagens que possam ser úteis para a gestão de futuras emergências e processos de reconstrução. Patrimônio. Muitas das localidades atingidas pelo terremoto foram os chamados "povos de bairro" da zona central do Chile, que apresentavam até então características espaciais e de construção muito particulares, de alto valor histórico e patrimonial (embora nem sempre reconhecido formalmente). Os autores — os acadêmicos Alejandro Crispiani, Francisco Díaz, Francisco Prado e Claudio Vázquez, da UC — expõem alternativas de política e os problemas enfrentados para a reconstrução de um caso específico: o povo de Curepto, na região de Maule, onde uma equipe da UC elaborou um plano piloto para a recuperação de seu eixo histórico. Normas de construção. Os autores deste artigo — os acadêmicos da UC Hernán Santa María e Diego López-García — observaram que a maioria das casas fortemente danificadas ou colapsadas eram de tijolo de barro, um tipo de construção que não está sujeita à aplicação de normas técnicas para seu projeto e construção. Em compensação os edifícios submetidos a exigências de normas de projeto e construção tiveram um comportamento muito mais satisfatório, ainda que, de qualquer forma, estimou-se um Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 dano importante em estruturas de concreto e de alvenaria. Diante desta situação, os autores deixam clara a reação das autoridades através da introdução de uma nova norma de projeto sísmico de edifícios e outra norma de projeto de edifícios de concreto armado, definidas por comitês técnicos fechados e revisadas por comitês ampliados, as quais são de uso oficial atualmente. Desenho urbano e operações de solo. Hoje, no Chile, não existem instrumentos para trabalhar adequadamente o desenho urbano, que é o espaço intermediário entre regulação (planejamento territorial) e projeto (construção de obras singulares), tema essencial em reconstrução. O artigo — a cargo do acadêmico da UC Julio Poblete — começa contextualizando o cenário após o desastre de fevereiro de 2010, para então examinar os instrumentos de desenho disponíveis, identificando suas forças e fraquezas. Neste contexto, expõe-se o valor do desenho urbano (cujo produto específico são os planos mestres) e as operações de solo (como, por exemplo, o reajuste de terras), com vistas a extrair aprendizagens. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Planejamento territorial. A criação e atualização de planos reguladores, mapas de risco e planos mestres foi outro dos desafios enfrentados pelo MINVU e os municípios. O terremoto e posterior tsunami evidenciaram um profundo déficit no âmbito do planejamento urbano, em particular com respeito à consideração das ameaças naturais dos lugares e das condições de vulnerabilidade da população e suas residências na hora de estabelecer as diferentes zonas no território. Sobre este aspecto, os acadêmicos da UC Federico Arenas, Marcelo Lagos e Rodrigo Hidalgo ajudam a compreender a ligação entre esta carência e os efeitos do terremoto, ao mesmo tempo em que esclarecem como resolver estas falhas no futuro. Seguros. Para encerrar este artigo, vale mencionar o papel desempenhado pela indústria seguradora na recuperação do país após a catástrofe de 27/2, um assunto que é analisado pelo renomado advogado Javier Carvallo. Junto com a identificação das conquistas e acertos do caso chileno, faz-se uma referência especial às àreas onde é preciso — e possível — avançar em melhoras, como a redução da distância entre não segurados e segurados e o aumento de informações para estes últimos, entre outros. 87 observatório de sinistros REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS — AON Benfield, 2011. Chile: One year on. Disponível no : http://www.aon.com/attachments/ reinsurance/201102_chile_one_year_on_report.pdf — Business Chile, 2010 (5 de mayo). 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Plan de reconstrucción terremoto y maremoto del 27 de febrero de 2010. Disponível no : http:// www.ministeriodesarrollosocial.gob.cl/pdf/ e60b893eb66a10139bfe68d2c6005636.pdf — Iacobeli, A., 2010. Plan de Reconstrucción y Nueva Política Habitacional. Presentación del Subsecretario de Vivienda. — Instituto Nacional de Estadísticas (INE) y Comisión Económica para América Latina y el 88 Caribe (CEPAL), sin fecha. CHILE: Proyecciones y estimaciones de población. Total país 1950-2050. Serie de la publicación (CEPAL), OI 208. — Ministerio de Obras Públicas (MOP), 2001. La inversión en infraestructura 1990-1999 y su proyección 2000-2009. — Ministerio de Obras Públicas (MOP), 2009. Cuenta pública participativa año 2009. — Ministerio de Vivienda y Urbanismo (MINVU), 2009. Déficit urbano-habitacional. Una mirada integral a la calidad de vida y el hábitat residencial en Chile. Santiago: Alvimpress Impresores Ltda. 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Disponível no: http://www.subdere.gov.cl/sites/ default/files/documentos/articles-83100_archivo_ fuente_0.pdf Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 livros os países de língua espanhola. É possível acessar o documento completo no site: www.fundacionmapfre.org/ cienciasdelseguro. DEFINICIÓN E IMPLANTACIÓN DE APETITO DE RIESGO PRINCIPIOS PARA LA SOSTENIBILIDAD EN SEGUROS UNEP FI O Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE traduziu para o espanhol o documento Princípios para a sustentabilidade em seguros (PSI em inglês). Os Princípios de Sustentabilidade em Seguros, que completaram um ano de criação, foram promovidos pela Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEPFI, United Nations Environment Programme Finance Initiative). O seguro sustentável tem como objetivo reduzir o risco, desenvolver soluções inovadoras, melhorar os resultados comerciais e contribuir para a sustentabilidade ambiental, social e econômica. A tradução conta com a validação da FIDES, já que será a versão de referência para todos Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Madri: Instituto de Auditores Internos da Espanha, 2013 ISBN: 978-84-940290-3-5 Depósito legal M-17989-2013 A Fábrica do Pensamento, iniciativa do Instituto de Auditores Internos (IAI), nasce com o objetivo de gerar conhecimento útil para os conselhos de administração e a alta direção das empresas na tomada de decisões nas áreas de governança e gestão de riscos. Este think tank do IAI elaborará relatórios técnicos que servirão para canalizar o talento dos profissionais espanhóis especialistas nestes assuntos. O primeiro destes relatórios é o guia Definición e implantación de apetito de riesgo, um relatório com o qual se pretende estudar temas relacionados com a boa governança e a gestão de riscos das empresas. O documento expõe conceitos e propostas sobre como implantar o apetite por risco em uma organização. O guia parte da premissa de que toda empresa executa suas operações com o propósito de gerar valor. Mas este objetivo não pode ser alcançado sem 89 INSURERS’ CONTRIBUTIONS TO DISASTER REDUCTION: A SERIES OF CASE STUDIES Editado por Meghan Orie e Walter R. Stahel Genebra: The Geneva Association, 2013 (The Geneva Reports Risk and Insurance Research; nº 7, May 2013) que se assumam certos riscos: dirigir uma empresa implica administrar riscos e, para poder fazê-lo com garantias, as empresas devem definir seu sistema de gestão de riscos. Uma peça relevante deste sistema é a fixação do apetite por risco, definida como a quantidade de risco que a empresa deve assumir na realização dos seus objetivos. A definição deste primeiro passo permite otimizar o binômio risco-rentabilidade e manter os riscos nos níveis desejados. Da elaboração deste relatório participaram onze profissionais especialistas em auditoria interna, em gestão de riscos e em outras áreas, procedentes de diferentes empresas espanholas. O trabalho, patrocinado pela MAPFRE, é o fruto das comissões técnicas formadas no ano de 2012 pelo Instituto de Auditores Internos da Espanha. Para acessar o documento, visite a página www.auditoresinternos.es. 90 seguro pode potencialmente contribuir para a redução do risco de desastres. Destaca-se a prova de que a ausência de seguro teve um efeito negativo nos resultados dos desastres tanto para as pessoas quanto para as empresas. O relatório solicita que os governos trabalhem nas medidas de redução do risco de desastres e aproveitem os conhecimentos disponíveis na indústria do seguro. A frequência e a gravidade das catástrofes naturais (NatCats) aumentou radicalmente desde a virada do século, causando grandes perdas humanas e econômicas. Reduzir as perdas e proteger a população se tornou um dos maiores desafios para a sociedade. A magnitude e abrangência destes eventos exigem a participação e cooperação de diversos atores com o objetivo de fortalecer a capacidade de resistência social. Os impactos das catástrofes de origem humana (falhas técnicas) também aumentaram nos últimos anos, o que produziu um maior número de vítimas e grandes perdas econômicas. Como resultado, as reclamações por responsabilidade contra os agentes econômicos que são considerados culpados têm crescido em número e complexidade. A Associação de Genebra incluiu nesta obra uma série de estudos de casos para ilustrar as diferentes formas como o Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 FUNDACIÓN MAPFRE Instituto de Ciencias del Seguro modalidades dos diferentes contratos, bem como dos aspectos técnicos e econômicos a serem considerados. Este livro também foi publicado em português. EL CONTROL INTERNO Y LA RESPONSABILIDAD PENAL EM LA MEDIACIÓN DE SEGUROS PRIVADOS AN INTRODUCTION TO REINSURANCE FUNDACIÓN MAPFRE, 2013 ISBN: 978-84-9844-372-1 Preço 25€. Caderno 189 E ste livro é a tradução para o inglês do Caderno 157 Una Introducción al Reaseguro, publicado em 2010 pela FUNDACIÓN MAPFRE. O trabalho, de caráter prático, representa uma análise bastante acessível ao mundo do Resseguro para todo tipo de leitor. Possui um caráter eminentemente didático, de modo que vai introduzindonos de forma progressiva nos conceitos técnicos do âmbito do Resseguro, desde os mais básicos até os mais complexos. Estruturada em 12 capítulos, a publicação trata dos reclamantes do Resseguro, das classes e das Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Jaime Gómez-Ferrer Rincón/ Julián Liñán Lafuente FUNDACIÓN MAPFRE, 2013 ISBN: 978-84-9844-414-8 PREÇO: 25€. Caderno 188 A obra analisa as principais áreas de risco dos mediadores e sua responsabilidade tanto com as entidades seguradoras quanto com os consumidores. A publicação é assinada por Jaime Gómez-Ferrer (Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensões) e Alfredo Liñán (CMS Albiñana & Suárez de Lezo). O livro reflete a situação atual dos canais de distribuição de seguros e analisa a responsabilidade que os mediadores e as entidades seguradoras têm em função do uso que fazem dos seus canais de distribuição. Trata-se de um guia útil, necessário e completo para os operadores do setor, especialmente porque, segundo os autores, os mediadores devem conhecer os riscos que enfrentam, bem como os possíveis conflitos de interesse. Os autores também ressaltam que os principais desafios dos mediadores consistem em reter e fidelizar os clientes, bem como desenvolver o negócio através de novas ferramentas de distribuição. De acordo com o estudo, a estes desafios do mercado se une um risco regulatório incipiente diante dos inúmeros projetos legislativos europeus que afetarão a distribuição de seguros e que exigirão maior profissionalização do setor. Também são expostos na publicação os sistemas que o setor segurador implantou em matéria de prevenção da lavagem de dinheiro, bem como o projeto de lei de 5 de fevereiro de 2013, e o próximo regulamento de desenvolvimento da atual Lei 10/2010, de 28 de abril, de prevenção de lavagem de dinheiro e de financiamento do terrorismo. 91 NOTÍCIAS Sucesso do XXIV Congresso da AGERS Mais de 300 gerentes de riscos, diretores de companhias de seguro e corretores de seguros participaram, no último mês de maio, do XXIV Congresso Espanhol de Gerência de Riscos e Seguros. O encontro, com foco nos riscos atuais e emergentes, foi considerado, por seu interesse e atualidade, como um dos mais interessantes dos últimos anos. A Associação Espanhola de Gerência de Riscos e Seguros (AGERS) realizou no dia 30 de maio em Madri seu XXIV Congresso, que analisou os riscos atuais e os riscos emergentes, que representam um grande interesse diante das incertezas geradas pela presença de novas potências globais e novos canais de comunicação e influência social. O Congresso encerrou-se no dia seguinte com o Encontro de Gerentes de Riscos. A inauguração do Congresso ficou a cargo do Presidente da AGERS, Ignácio Martinez Baroja, dos vice-presidentes da associação, Miguel Angel Zarandona e Ubaldo Llorente, e do Secretário Geral, Gonzalo Iturmendi. A palestra de abertura foi dada por Pablo Muelas, Sub-diretor Geral de Seguros e de Política Legislati92 va da Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensão. Em sua apresentação ele reconheceu o atraso regulatório europeu perante a demora da diretriz Solvência II, que em sua opinião “está afetando de maneira negativa a Europa, pela incapacidade de se conseguir os acordos regulatórios nesta área”. Quatro mesas-redondas A primeira das quatro mesas-redondas do Congresso tratou de riscos econômicos, políticos e internacionalização. Os quatro especialistas que participaram concordaram em destacar a oportunidade que os mercados globais têm para afrontar a atual conjuntura econômica mundial, mas advertiram sobre a necessidade de se implementarem programas internacionais adequados em sua avaliação e cobertura de riscos. Neste Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 SEGUNDO OS ESPECIALISTAS, O RISCO CIBERNÉTICO É UM RISCO “REAL E CRESCENTE DO QUAL É PRECISO SE DEFENDER”: UM MILHÃO DE PESSOAS SÃO VÍTIMAS DOS CIBER-ATAQUES QUE OCORREM DIARIAMENTE NO MUNDO sentido, Alfredo Arán (MAPFRE GLOBAL RISKS) pediu às empresas que “façam seguros com companhias com experiência em internacionalização”. Também advertiram os organismos governamentais e transnacionais sobre os buracos legais que existem nos programas de seguros internacionais e na cobertura. O interesse pela segunda mesa-redonda, Riscos cibernéticos, se refletiu nos dados apresentados pelos participantes, que destacaram o número de um milhão de pessoas que são vítimas dos ciber-ataques ocorridos diariamente no mundo, provocados por hackers (30%) ou erros humanos (50%). Os palestrantes concordaram em advertir a pequenas e médias empresas sobre a magnitude que um ataque cibernético pode alcançar. Conforme suas falas, deduz-se que uma arquitetura correta de TI Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 e uma boa gestão destes riscos são essenciais para enfrentar “este risco real e crescente, contra o qual é necessário se proteger”. Na terceira mesa-redonda, o tema foi Riscos reputacionais, considerados como os mais transcendentes e com maior capacidade de impacto na atividade das empresas em uma sociedade globalizada e aberta aos meios de comunicação social e ao ativismo cidadão. Segundo os participantes desta mesa-redonda, as companhias líderes estão criando a figura do Chief Reputational Office para administrar os riscos que podem afetar o financiamento, o valor, a captação de talento e a própria atividade da empresa. Finalmente, na última mesa-redonda, Riscos ao meio ambiente, foram apresentadas as contribuições do Grupo de Trabalho sobre Meio Ambiente da AGERS às modificações da Lei de Responsabilidade Ambiental, cuja aprovação está prevista para o final de 2013. Nos meses de maio e junho, a AGERS ofereceu os seguintes programas de formação: “As renovações das apólices de seguros de compromissos por pensão e seu sistema de tributação para o ano 2013” e “A gestão de riscos tecnológicos”. Membro honorário Em maio, o Conselho de Diretores da AGERS decidiu por unanimidade designar Pedro Tomey como membro honorário da AGERS, em virtude de seus méritos e dos serviços prestados durante os anos que pertenceu ao Conselho como responsável pela Comissão de Atos e de Relações Institucionais da associação. 93 NOTÍCIAS A área de Gerentes de Riscos da AGERS cria um grupo de trabalho de ciberriscos A área de Gerentes de Riscos da AGERS (Spanish Risk Managers Community) criou um grupo de trabalho integrado exclusivamente por gerentes de riscos, destinado a tornar-se um ponto de encontro e de debates relativos ao ciberrisco para este grupo de interesse, e com o objetivo de desenvolver uma rede das empresas da qual resultará um documento de trabalho. Paralelamente, a AGERS pretende colocar na sua página da Internet, à disposição exclusivamente dos associados, uma biblioteca com informações técnicas, legais, regulatórias e de mercado, que será periodicamente atualizada para oferecer o máximo de valor agregado às empresas associadas e especialmente ao conjunto de gerentes de risco na gestão de ciberriscos. Parceria com a ASIS International E sta parceria visa promover o estudo de questões de interesse comum, o fomento de relações e a troca de experiências e conhecimentos entre ambas as associações. Juntas ela promoverão a organização de programas de for94 mação e a elaboração de materiais didáticos centrados na gestão integral de riscos, nos seguros, na segurança integral, na gestão de crises e na resiliência organizacional, áreas que tendem a convergir dentro das empresas e organizações. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Instituto de Ciencias del Seguro Centro de Documentación C/ Bárbara de Braganza, 14, 3ª planta 28004 Madrid – España www.fundacionmapfre.com CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO EM SEGUROS, GERÊNCIA DE RISCOS, SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE • Sistema integral de gestão documental desenvolvido conforme padrões internacionais. • Catálogo web com mais de 115.000 referências bibliográficas e documentos eletrônicos com texto completo. • Múltiplos recursos de informação: bancos de dados externos, imprensa econômica, normas técnicas, etc. Catálogo web na: www.fundacionmapfre.com/documentacion Para mais informações: Tel.: + 34 91 581 23 38 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 95 caderno nacional Entender para atender Esse é o slogan da JSL, um dos maiores grupos empresariais do setor de transporte e logística do Brasil. De acordo com o presidente Fernando Simões, “gerenciar riscos e contar com um bom programa de seguros são alguns dos nossos diferenciais perante clientes e colaboradores”. TEXTO: DENISE BUENO FOTOS: DIVULGAÇÃO 96 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Fernando Simões PRESIDENTE DO GRUPO JSL Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 97 caderno nacional E "O SUCESSO PARA O CRESCIMENTO ESTÁ NA PREOCUPAÇÃO CONSTANTE COM O GERENCIAMENTO DE RISCOS" 98 sse posicionamento tem razão de ser. O transporte é considerado pelos executivos de seguros como um segmento que merece atenção. Mais de 60% das cargas no Brasil são transportadas por rodovias, sendo apenas 14% delas pavimentadas. Além das péssimas condições das estradas, os bons motoristas fugiram do setor em virtude da baixa remuneração dos fretes e do envelhecimento da frota de caminhões, estimada em 19,2 anos. Ou seja, o risco de acidentes é tão elevado quanto o índice de roubo e furtos de mercadorias no país. “Temos muitos gargalos na infraestrutura do Brasil, que nos instigam a investir em gerenciamento de risco para termos uma operação rentável”, diz Fernando Simões. Clientes com essa filosofia acabam se tornando alvo de disputa entre as seguradoras. “Trabalhamos com poucas companhias de seguros, seguindo a máxima do provérbio, diga-me com quem andas e te direi quem és”, brinca o presidente da JSL. A JSL é um conglomerado que atua em diversas atividades como o carregamento e transporte de madeira, limpeza, manuseio, coleta e gerenciamento de resíduos, carregamento de navios, gestão e terceirização de frotas, terceirização de mão de obra, leasing e transporte de veículos, transporte de passageiros, eliminação de resíduos industriais e sanitização, logística de entrada e saída, assim como o transporte de produtos acabados. Ciente de que o gerenciamento de riscos e um bom programa de seguros são fundamentais para garantir segurança ao negócio, a JSL mantém diversas apólices de seguros para proteger o patrimônio do acionista. Em 2013, a empresa investiu mais de R$ 19 milhões em seguro. Todas as apólices são renovadas anualmente. “A JSL conta, atualmente, com 36 apólices de seguro de diversas naturezas: seguro de vida, de cargas, de responsabilidade civil, de responsabilidade pessoal contra terceiros. São mais de 48 mil equipamentos segurados contra terceiros”, informa Simões. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 Essa preocupação com o gerenciamento dos riscos é uma herança do pai, Julio Simões, que faleceu em março de 2012, aos 84 anos, e deixou um grande legado. Vindo de Portugal, o fundador da JSL chegou ao Brasil em 1952 para trabalhar como mecânico em Mogi das Cruzes, cidade do interior de São Paulo. No entanto, sua carreira decolou como caminhoneiro, transportando produtos hortifrutigranjeiros de Mogi para o Rio de Janeiro. A primeira empresa do Grupo foi fundada em 1956: a Transportadora Julio Simões, especializada em cargas pesadas, que se tornou a maior operadora logística do Brasil no modal rodoviário, oferecendo serviços de supply-chain, gerenciamento de frota e terceirização, transporte de passageiros e transporte de carga. Apesar de ter se afastado do comando da companhia 11 anos antes de seu falecimento, o fundador sempre dava conselhos ao filho. “O sucesso para o crescimento está na preocupação constante com o gerenciamento de riscos. E lembrese de que eles são muitos: desde a contratação de um motorista e seu treinamento para respeitar regras e limites, como seu horário de sono, até investir em uma central de atendimento moderna, capaz de ter agilidade suficiente para traçar novas rotas diante de uma manifestação que bloqueia vias públicas e nos permitir entregar o produto do cliente no destino e horário acordados”, relembra Fernando. Atento às oportunidades de negócios em um país que ainda tem muito a fazer para reduzir o seu custo de infraestrutura e alcançar um ritmo de crescimento estável, Simões apostou numa atuação diversificada, capaz de mitigar os riscos e consequências do ciclo de baixa de um determinado setor. Hoje, a JSL atua em 16 setores da economia como papel e celulose, ferro e aço, químico, de alimentos, de produtos de saúde e limpeza, de bens de consumo, açúcar e etanol, entre outros. Também passou a analisar aquisições para ampliar o portfólio de serviços logísticos e garantir o controle da gestão do processo. Os alvos, num mercado extremamente pulverizado, eram empresas que pudessem aumentar a oferta de valor agregado para os clientes bem como garantir o controle da qualidade da cadeia de serviços prestados às mais importantes empresas do Brasil. Resultado: a JSL ampliou em quase 10 vezes o seu tamanho, saltando de uma receita líquida de R$ 181 milhões em 2000 para R$ 1,5 bilhão em 2009. Em 2010, diante dos efeitos da crise financeira mundial desencadeada em setembro de 2008 e com o acelerado crescimento do Brasil entre 2009 e 2011, a JSL foi ao mercado de capitais buscar recursos para financiar seu crescimento e ingressou no Novo Mercado, o mais alto nível de governança corporativa da BM&FBovespa. Capitalizada e com o status de maior operadora logística no modal rodoviário em DIARIAMENTE, TEMOS QUE RESOLVER MUITOS PROBLEMAS. POR ISSO, CONTRATAMOS PARCEIROS QUE REALMENTE SÃO PARCEIROS. NOSSO TEMPO É IMPORTANTE. PRIORIZAMOS O TREINAMENTO DA EQUIPE PARA OTIMIZAR OS PROCESSOS E MITIGAR RISCOS”, COMENTA SIMÕES, RESSALTANDO A FILOSOFIA DO GRUPO. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 99 caderno nacional termos de receita líquida, passou a investir no transporte de passageiros, coleta de lixo, comercialização de automóveis, locação de veículos para frotas, entre outras atividades. Comprou a Rodoviária Schio, a BGN Leasing e, recentemente, adquiriu a empresa de locação de veículos Movida, com 29 lojas e 2,4 mil veículos. Fez a incorporação da Simpar Concessionárias, criou a JSL Aluguel de Caminhões e a holding financeira. Ou seja, um ritmo frenético de crescimento. Hoje, o Grupo possui mais de 22 mil colaboradores espalhados por 170 filiais em 18 estados brasileiros e em quatro países da América Latina para atender mais de 350 clientes ativos. A JSL conta com uma frota de 5,6 mil ativos, entre veículos leves, caminhões, carretas, ônibus, máquinas e equipamentos, com idade média de 2,2 anos, além de uma rede de 32 concessionárias e 16 lojas de seminovos, com 48 pontos de vendas. “Esse avanço nos trouxe vantagens competitivas, como nossa atuação diversificada, resiliência nos negócios, um amplo portfólio de produtos e uma imensa capilaridade de crossselling”, lista Simões. Gerenciar o dia a dia desses diversos negócios torna o tempo um ativo caro. Por isso, nem o presidente do Grupo, nem sua equipe tem paciência com justificativas. “Diariamente, temos que resolver muitos problemas. Por isso, contratamos parceiros que realmente são parceiros. Nosso tempo é importante. Priorizamos o treinamento da equipe para otimizar os processos e mitigar riscos”, comenta Simões, ressaltando a filosofia do Grupo. “A qualidade é definida pelo cliente. Reconhecemos que para estar na linha da frente do mercado, temos que ser extremamente receptivos às necessidades de todos os que escolhem os nossos produtos. Por isso, fazemos análises contínuas que nos permitem ter uma ideia clara sobre as razões que levam os clientes a escolherem os nossos produtos e, em casos excepcionais, porque não o fazem”. Respeito e confiança mútua estão entre as prioridades dos clientes da JSL. Nesse tópico, estabelecer a responsabilidade de cada um na ocorrência de um acidente é algo tratado com clareza e transparência. “Todos fazem de tudo para evitar acidentes. Caso ele ocorra e somos responsáveis, não há justificativas. Indenizamos as perdas causadas e usamos o histórico para aprimorar o gerenciamento de risco. Esse é um dos pontos-chave para contratarmos uma seguradora. Se começar com justificativas para pagar danos causados a terceiros ou nas operações TODOS FAZEM DE TUDO PARA EVITAR ACIDENTES. CASO ELE OCORRA E SOMOS RESPONSÁVEIS, NÃO HÁ JUSTIFICATIVAS. INDENIZAMOS AS PERDAS CAUSADAS E USAMOS O HISTÓRICO PARA APRIMORAR O GERENCIAMENTO DE RISCO. 100 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 de nossos clientes, ela não serve para nós. Somos parceiros, investimos muito em gerenciamento de risco e não pedimos para pagar o que não é justo. Se o prejuízo foi causado por nós, temos de indenizar”, afirma Simões. Ele também não perde tempo fazendo justificativas para os clientes. “Adianta meu funcionário dizer que a carga não chegou porque a rodovia tinha muitos buracos? Não”, diz Simões, explicando que faz parte do investimento do Grupo pavimentar e fazer a manutenção de estradas vicinais utilizadas por sua frota e, assim, reduzir o custo com acidentes e manutenção. “Contratamos apenas o seguro de responsabilidade civil. O casco não compensa”, frisa. O custo médio do seguro para a frota seria de 40%, considerando-se apenas os impostos, custo administrativo da seguradora e corretagem do corretor. “Compensa administrar o risco e tentar reduzir o custo do frete para os clientes”. Segundo Simões, também compensa trabalhar na solução de problemas em parceria. Junto com corretores e seguradoras, a JSL já desenvolveu programas de gerenciamento de riscos que praticamente zeraram a perda de cargas delicadas, como as de vidro, por exemplo. “Tínhamos muitas ocorrências nesse nicho. Trabalhamos muito, mas fomos recompensados. Hoje a ocorrência é zero”, orgulha-se. Para se ter uma noção da atuação do Grupo JSL dentro dos clientes, Simões explica como funciona a prestação de serviços integrados. Em 2012, o maior contrato da empresa foi fechado com a MAN Latin America, controlada pela Volkswagen e que possui mais de um terço do mercado Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 de caminhões no Brasil. O contrato compreende quatro operações integradas: gestão do centro logístico, logística interna da fábrica, operação de SKD (planejamento e gestão de partes semimontadas) e de CKD (planejamento e gestão de autopeças e acessórios). “Somos o único operador logístico em alguns clientes, com a responsabilidade de receber todas as peças que entram na planta, fazer o controle de armazenagem e abastecimento da linha de produção”, destaca Simões. A JSL também é responsável pelo recebimento das peças importadas que chegam à MAN pelos portos e por embalar e despachar as peças para exportação. Outro exemplo é a Wickbold. O grupo alimentício contava com uma frota própria de 150 caminhões para entregar 120 mil unidades de pães e bolos por dia em 408 pontos de vendas no Estado do Rio de Janeiro. Ao assumir a operação, a JSL reestruturou as rotas e aumentou para dois turnos o período de motoristas por caminhão. Com isso, conseguiu reduzir em 10% o custo logístico. “Nossos clientes podem terceirizar todo o processo logístico, da estratégia à operação”, destaca Simões. 101 caderno nacional "SOMOS UMA EMPRESA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS E ESTAREMOS SEMPRE ATENTOS ÀS OPORTUNIDADES" 102 Outra estratégia adotada pela JSL para agregar valor aos clientes, o que necessariamente interessa o mercado segurador, é o compartilhamento da carga. Em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, a Companhia opera um centro logístico onde recebe carretas com as mercadorias de diversos clientes. Lá, as cargas são transferidas para veículos de menor porte, que se encarregarão da distribuição na Região Metropolitana. A ocupação do veículo não é determinada pelo cliente, mas pela rota a ser seguida, podendo levar produtos de diversos fornecedores para abastecer os mercados de uma determinada região. “Uma melhor ocupação reduz custos e alivia o trânsito”, diz Simões. Pela ótica das seguradoras, essa estratégia requer uma subscrição de risco especializada, uma vez que é quase inviável identificar o conteúdo de um armazém caso ocorra um sinistro que leve a perda total. Com tais exemplos, Simões ressalta que o Grupo não vive de justificativas e sim de ações de trabalho. “Quando nos contrata, o cliente faz sua escolha pela tranquilidade. E não faz parte da nossa estratégia partir para a briga judicial para reparar danos causados a uma carga. Nesse caso, o bom senso é primordial”, avalia Simões, que também lista outras vantagens que atraem as seguradoras: “menos de 5% da operação manuseia cargas visadas pelas quadrilhas organizadas e 90% dos nossos embarques são de mercadorias não visadas para roubo”. A JSL também investe pesado em benefícios para se consolidar como um objeto de desejo dos trabalhadores. “Oferecemos um plano de benefícios robusto, com plano de saúde, seguro de vida, dental entre outros itens, além de um plano de carreira no qual um ajudante pode chegar à diretoria. Esse posicionamento nos ajuda a reduzir a rotatividade, aumentar o comprometimento com o trabalho e atrair talentos diante de uma conjuntura de falta de mão de obra especializada”. Nos primeiros nove meses de 2013, foram firmados novos contratos no valor total de aproximadamente R$ 1 bilhão no setor de logística. O Grupo estima encerrar 2013 com receita bruta da prestação de serviços logísticos de R$ 3,6 bilhões, 19% acima do resultado obtido em 2012. Na última década, a JSL cresceu a um ritmo de 25% ao ano. “O mercado de clientes em potencial a ser explorado pela JSL é grande assim como é grande potencial de incrementar o cross-selliing dentro nos atuais clientes”, aposta Simões. Especializado no transporte rodoviário, o executivo não descarta estudar oportunidades em concessões portuárias e ferroviárias. “Faremos o que for rentável e agregar qualidade aos serviços prestados aos nossos clientes. Somos uma empresa de prestação de serviços logísticos e estaremos sempre atentos às oportunidades”. Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 VII PRÊMIO INTENACIONAL DE SEGUROS JULIO CASTELO MATRÁN www.fundacionmapfre.com •Prêmio destinado a reconhecer trabalhos científicos de importância singular que versem sobre matérias relacionadas com Seguro e Gestão do Risco •O prêmio é bienal e a convocação se estende a participantes da Espanha, Portugal e América Latina •Para conceder o prêmio, a FUNDACIÓN MAPFRE nomeia um júri formado por pessoas de prestígio do mundo segurador •O total em prêmios é de 35.000 euros em dinheiro, além de um certificado de sua obtenção •A apresentação dos trabalhos poderá ser feita até o dia 31 de maio de 2014 Para mais informações: www.fundacionmapfre.org Fone: 34 91 602 52 21 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013 103 caderno nacional ATIVIDADES www.fundacionmapfre.com Instituto de Ação Social Contribuímos para a melhora das condições econômicas, sociais e culturais das pessoas e setores menos favorecidos da Sociedade. Instituto de Ciências do Seguro Promovemos a formação e a pesquisa em matérias relacionadas ao Seguro e ao Risco Instituto de Cultura Fomentamos a difusão da Cultura, as Artes e as Letras e a divulgação de conhecimentos com relação à História comum da Espanha, de Portugal e dos países vinculados a eles por laços históricos. Instituto de Prevenção, Saúde e Meio Ambiente Promovemos a melhora da qualidade de vida e do meio ambiente. Instituto de Segurança Viária Promovemos atividades de educação viária através de cursos, estudos de pesquisa, campanhas de divulgação e distribuição de materiais didáticos. 104 Gerência de Riscos e Seguros • nº 116-2013