Amanda Lustig - Mangás: Do Medieval ao

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Amanda Lustig - Mangás: Do Medieval ao
COLÉGIO OFÉLIA FONSECA
MANGÁ:
DO MEDIEVAL AO CONTEMPORÂNEO
Amanda Lustig
São Paulo
2012
Amanda Lustig
MANGÁ:
DO MEDIEVAL AO CONTEMPORÂNEO
Trabalho realizado e apresentado sob a orientação do Professor André Renato,
da disciplina de Técnicas de Redação.
-Agradecimentos-
Apesar de todo o trabalho e problemas que foram aparecendo no decorrer deste trabalho, este
me serviu para adquirir mais conhecimento sobre uma arte que me agrada e está muito
presente em minha vida nos últimos anos, e que de uma forma ou de outra me ajudou a ser
quem sou hoje.
Para concluir esse trabalho, precisei de toda a ajuda de meus amigos principalmente, que me
ouviram e ajudaram quando necessário. Muitos acompanharam o desenvolvimento do
trabalho, criticando e opinando sempre que possível o que foi essencial para o resultado final.
Agradecimentos especiais aos meus pais que ouviram minhas reclamações sobre os prazos do
trabalho, aos meus revisores voluntários que me ajudaram muito: Victor e Gabriel, sem eles
muitos erros seriam encontrados no trabalho, e também agradeço ao meu orientador, André
Renato, que sempre se mostrou disposto a me ajudar.
-SUMÁRIOResumo ................................................................................................................ 5
1. Introdução (Capítulo 1) ................................................................................. 6
1.1 – Contexto Histórico ................................................................................... 7
1.2 – A Indústria Atualmente ............................................................................ 9
1.3 – O Mangá e a Sociedade ............................................................................ 9
1.4 – O Mangá e seus Gêneros ........................................................................ 11
2. Desenvolvimento (Capítulo 2) ..................................................................... 15
2.1 – A Sociedade se importa mais com quantidade do que com qualidade ... 15
2.2 – O Potencial de uma história pode ser influenciado no meio percurso.... 16
2.3 – Ocidentalização do Oriente .................................................................... 17
2.4 – O público pede, a indústria faz................................................................ 18
2.5 – A imposição dos ideais capitalista-americanos no país .......................... 18
2.6 – Mangás X HQ – Características e sucesso .............................................. 19
2.7 – A sociedade muda, o que ela produz também......................................... 20
2.8 – Uma sociedade visual.............................................................................. 21
2.9 – Contextualizando e analisando algumas obras ....................................... 21
3. Conclusão ....................................................................................................... 28
4. Anexo: Outros gêneros ................................................................................. 30
5. Referências Bibliográficas ............................................................................ 32
- RESUMO -
O mangá, também conhecido como ‘quadrinhos japoneses’, está cada vez mais
presente mundo afora e no dia a dia de pessoas de todas as idades. Esse trabalho tem como
objetivo mostrar de onde essa arte veio e como surgiu, assim como as mudanças que foram
ocorrendo com o passar dos séculos e o motivo destas.
Muitas pessoas já ouviram falar, mas nunca procuraram saber do que realmente se
tratam essas histórias trabalhadas nos mangás, e esse trabalho procura mostrar um pouco
sobre as histórias em geral e fazer a análise de algumas obras, dando assim uma visão geral
para o leitor do que ele pode encontrar nas páginas desses quadrinhos.
No decorrer do trabalho, também serão mostrados diversos fatores que contribuíram
para as mudanças físicas e temáticas do mangá, de seu surgimento ao seu estado atual, que
não são poucos se partirmos do princípio de que até as artes mais conhecidas foram se
alterando com o passar do tempo em função da sociedade e suas necessidades.
- SUMMARY -
Manga, also known as “Japanese comics”, is each day more and more present around the
world in everyday's people from all ages. This school work aims to show where this art came
from, how it emerged and the changes that have been happening through the centuries.
Many people have already heard about it but didn’t looked for knowing what are the stories
about, and this school work seeks to show a bit of the stories in general and also shows some
reviews, giving to the reader an overview of what he/she can find in a manga’s pages.
During this essay, it’ll be shown many reasons that contributed for the thematic and physical
changes since its appearance. There are a lot of reasons if we start from the idea that until the
most renowned arts were being changed in the course of time in order to please the society
and its needs.
- CAPITULO 1 -
1 – Introdução.
Quadrinhos japoneses, também conhecidos como ‘Mangá’, datam de uma história
milenar, tendo sua primeira aparição em pergaminhos do Japão medieval, e desde então vêm
progredindo até se tornarem o grande mercado que hoje movimenta bilhões de dólares por
ano. Em 2010, por exemplo, apenas a venda de quadrinhos rendeu cerca de 5 bilhões de
dólares, mas se formos pensar no mercado do mangá em geral, incluído produtos relacionados
como filmes e animações baseadas nas histórias, temos o número de 37.5 bilhões. Os lucros
estão hoje em uma fase de decadência, se comparado com anos anteriores, principalmente
pelo fato da tecnologia estar progredindo e as pessoas lerem por uma via digital, mas essa
perda não é muito significativa por enquanto. Mesmo assim, essa arte vem se espalhando
mundialmente e se tornando cada vez mais popular.
A palavra mangá é definida pelo dicionário japonês Kojien por “Simples, humorístico
e exagerado desenho. Caricatura ou sátira social. Série de imagens contando uma história;
‘quadrinhos’” (tradução livre).
Pode-se separar essa arte em duas fases: a “antiga” e a “moderna”, que correspondem
a antes e depois da II Guerra Mundial, respectivamente. Antes da guerra, os apreciadores
eram em sua maioria de uma classe social mais elevada, mas após, o mangá se tornou uma
arte para todos, e assim é até os dias de hoje. Quando, antes da guerra, houve o surgimento
dos primeiros quadrinhos como suplementos de jornais que foram criados e popularizados por
Kitazawa Rakuten1, eles eram geralmente usados para divertir adultos, pois continham temas
satíricos sobre a época, mas depois da aparição de duas histórias infantis nos periódicos, como
Sho-chan no boken e Manga Taro. As tirinhas voltadas para o público infantil foram se
tornando mais comuns e adquiriram uma grande fatia do mercado. Porém, durante a guerra,
houve certa pressão por parte do governo para usar os personagens criados para incentivar a
defesa do país e também como meios de propaganda nacionalista.
1
Considerado por muitos historiadores o criador do mangá moderno, em sua época trouxe novos métodos de
desenho, inspirando assim novos artistas. Também foi o primeiro a utilizar o termo “mangá” para denominar as
histórias que conhecemos por esse nome hoje.
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Com o passar do tempo, o estilo do mangá foi sendo aprimorado, mas os temas
apresentados nas histórias se mantiveram, assim como uma tradição; afinal, as tradições
japonesas costumam ser milenares, como as “fábulas” que são contadas para as crianças que,
assim como as nossas, contêm uma moral, sendo essa outra característica das histórias que
compõem o mangá: na maioria das vezes, as histórias nos trazem uma lição ou, pelo menos,
traziam no período pré e durante a II Guerra Mundial, quando as histórias em sua maioria
continham uma crítica política e social que, após a guerra, tentava servir como apoio aos
cidadãos devastados.
Nos dias de hoje, está cada vez mais difícil achar uma história que contenha algum
ensinamento e, quando há, em sua maioria são ideias clichês que já foram vistas em outras
obras, embora elas sirvam para entreter muitos cidadãos que passam por pressões diárias
vindas da escola ou do trabalho, e como os nipônicos tendem a ser pessoas mais caladas e que
guardam para si seus sentimentos e frustrações, o mangá serve como um meio de “válvula de
escape” que os fazem esquecer por um momento essa pressão, pois, muitas vezes os leitores
vivem as histórias como se fossem as personagens, devido a uma característica do mangá que
aproxima a história da realidade da sociedade japonesa tornando mais fácil se ter um apego a
determinados tipos de personagens. Quando e por que será que essa arte chegou ao ponto
onde apenas o que faz sucesso é reproduzido incansavelmente, sem haver uma preocupação
com as ideias que ela vai transmitir a seus leitores, ideias que, originalmente eram um dos
seus pontos principais?
1.1 – Contexto Histórico.
Dizem que o mangá surgiu no Japão medieval, durante a Era Kamakura2, mas esse
seria o mangá em sua fase “antiga”, que não tem a “cara” do mangá que conhecemos hoje. Os
desenhos eram feitos em pergaminhos para a diversão de uma elite, além de ter um traço e um
foco diferente, esses foram nomeados Ê-makimono. Tinham como temas geralmente
2
A história do Japão foi dividida em “eras”, cada uma marcada por algum acontecimento, totalizando-se 14
eras: Era Jomon (10.000 AC~300 AC), Era Yayoi (300 AC~300 DC), Era Kofun (300~645), Era Asuka (645~710),
Era Nara (710~794), Era Heian (794~1185), Era Kamakura (1185~1333), Era Muromachi (1333~1568), Era
Azuchi Momoyama (1568~1600), Era Edo (1600~1868), Era Meiji (1868~1912), Era Taisho (1912~1926), Era
Showa (1926~1989) e a atual Era Heisei.
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retratações de eventos religiosos e cenas da literatura local que eram mostrados com uma
combinação de desenhos e escritas numa sequência.
O começo do mangá moderno e para as massas se deu
aproximadamente no final do século XVIII, com o desenvolvimento e
crescimento de um país onde cada vez mais surgiam consumidores,
devido principalmente à revolução industrial ocorrida na Inglaterra, que
foi se espalhando pelo mundo e trouxe facilidades industriais de produção
em larga escala. Para fabricar essas obras (agora em forma de livros),
1.1 Kibyôshi
utilizava-se a xilogravura, e foi dado o nome Kibyôshi (“Capas
amarelas”). Fizeram sucesso até meados do século XIX, quando foram vítimas da censura
imposta pelo governo, pois se utilizavam de sátiras governamentais, e também pelo avanço de
novas tecnologias. Assim, deixaram de ser produzidos.
Seguindo o Kibyôshi, no século XX começou a ser
produzido o Akahon (“Livro Vermelho”), criado pelo famoso
Osamu Tezuka, considerado por todos como o “Deus do
Mangá”, pois foi ele quem reinventou o antigo mangá e o
transformou no sucesso que é hoje. Tezuka escrevia
quadrinhos para jornais durante a II Guerra Mundial e,
quando se tornou um sucesso, inventou o Akahon, que era
1.2 Akahon produzido por Osamu
Tezuka
destinado às crianças que precisavam de um meio barato para se entreterem durante a
reconstrução de seu país no pós-guerra. Depois do sucesso de Tezuka, editores começaram a
procurar mais pessoas como ele para criarem cada vez mais histórias. Assim, obtiveram
sucesso, e logo o mangá começou a se desenvolver como uma nova indústria.
No decorrer dos anos foram surgindo mais escritores e a concorrência cresceu. No
início, a maioria dos autores eram homens e escreviam um determinado tipo de história que,
com o tempo e com a entrada das mulheres nesse mercado, foi se diversificando e ganhando
cada vez mais leitores.
A primeira mulher a ter reconhecimento na área foi Hasegawa Machiko, com a
história “Sazae san” em 1946, e até hoje sua história continua a ser produzida, mas em
animê3, não em mangá.
3
O “desenho animado” japonês, geralmente inspirado em histórias dos mangás.
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1.2 – A Indústria Atualmente.
Após a II Guerra Mundial, o mangá começou a se popularizar e ser comercializado
globalmente cada vez mais, dando mais popularidade ao Japão no exterior.
Mas, assim como muitas coisas do nosso cotidiano, o mangá também teve seus altos e
baixos. Nos dias de hoje, pode-se dizer que ele não está nos melhores anos, e podemos
explicar esse fato pela globalização. O mangá está sendo “globalizado”, dando fácil acesso às
pessoas, mas não da maneira esperada pelos vendedores, e sim de uma maneira virtual. A
partir do momento em que um exemplar de algum mangá é colocado na internet, qualquer um
pode ter acesso de forma gratuita. Dessa maneira, as pessoas podem traduzir os mangás para
sua língua nativa e espalhá-lo para mais pessoas que não precisarão comprar o exemplar, o
que prejudica principalmente as empresas e distribuidoras, além de prejudicar também os
autores que dependem da venda de suas obras para sobreviverem. Mesmo assim, há um lado
positivo, porque com mais fãs pelo mundo, os produtos inspirados nas histórias ganham um
mercado mais amplo, e são eles que têm maior “expressividade” econômica, afinal, pode-se
encontrar quase qualquer produto relacionado às histórias mais conhecidas, desde bonecos a
roupas de cama. Mas vale ressaltar que, mesmo com essa “pirataria”, muitos títulos não tão
famosos, alguns mais underground, não conseguem chegar a terras ocidentais.
Este caso pode ser considerado pirataria, mas, por enquanto, não há uma maneira de
controlar, pois existem grupos organizados que fazem o trabalho de traduzir e distribuir as
histórias virtualmente e nenhuma medida foi tomada para impedi-los.
1.3 – O Mangá e a Sociedade.
O mangá hoje tem milhares de fãs pelo mundo, e a cada dia ganha mais leitores. Os
japoneses têm o que podemos chamar de uma cultura tradicional, com costumes e
pensamentos milenares. Na sociedade japonesa, a população masculina sempre dominou e,
assim, podemos dizer que é uma sociedade um tanto machista, mas, assim como em outros
países, isso está mudando com a entrada da mulher no mercado de trabalho. Muitos não
concordam com essa introdução feminina no mercado por acreditarem que elas devem cuidar
dos filhos e da casa, embora a mulher tenha mais voz numa família no quesito organização.
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Por exemplo: é ela quem controla as finanças; quanto cada um pode gastar e o que será
comprado.
Em 2005, foi realizado um estudo pela ‘Allen & Ingulsrud’, que mostra “quem são” os
leitores de mangá no Japão: 40% dos entrevistados leem mangá na pré-escola, 27% da 1ª à 3ª
série, 32% da 4ª à 9ª e 39% no ensino médio4.
Os leitores não aprendem a ler mangás na escola e também não são influenciados
pelos professores por não ser considerado uma alternativa educativa de estudo, embora o
mangá não seja algo tão “inútil” como muitos pensam; afinal, assim como com qualquer livro,
aprimoram-se a leitura, o conhecimento e a escrita.
Mundo afora, os mangás são bem vistos por uns e mal vistos por outros. Uns acham
que são histórias interessantes e divertidas; outros associam as ilustrações a algo estranho e
que pode trazer prejuízo aos leitores. Nesse pensamento, entram questões tanto morais quanto
religiosas, pois muitas histórias podem conter assuntos que envolvem sexualidade ou com os
quais as igrejas não concordam, como alquimia e exorcismo.
Não querendo entrar no mérito de analisar casos específicos de
desgosto pela indústria dos mangás, podemos citar como exemplo o atual
governador Shintaro Ishihara, que é totalmente contra essa produção. O
governador divulgou muitas falas polêmicas sobre o assunto, dizendo
que os fãs – chamados de Otakus – têm o “DNA corrompido” e que são
“anormais”, acusando os mangás que apresentam sexo explicito – hentais
1.3 Shintaro Ishihara,
governador de Tóquio.
Visa censurar alguns
mangás de teor
apelativo.
– de “causarem danos sem ter algum benefício”, além de chamar os fãs e
as pessoas que não concordam com a sua opinião de “pervertidos”,
embora esse mesmo governador tenha escrito uma série de livros que
tinham como tema o estupro e que são vendidos nas livrarias sem
restrições. Houve incidentes de estupro no Japão que, após análises, se assemelhavam aos
ocorridos dos livros de Ishihara. Mas esse assunto não convém ser aprofundado neste
trabalho.
4
O sistema de ensino japonês difere um pouco do brasileiro. Ambos têm o ensino fundamental e o ensino
médio, divididos em 11 anos: Primário – pré até 5ª série no Brasil, no Japão vai até a 6ª série; Ginásio – 6ª a 8ª
série no Brasil, 7ª à 9ª série no Japão; Colegial – 3 anos cada, nesse quesito são similares.
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1.4 – O Mangá e seus Gêneros.
Assim como livros e filmes, os mangás também possuem diversos gêneros, talvez até
mais específicos do que os que conhecemos em outros meios, e muitas vezes os gêneros se
interligam nas histórias, pois dependem uns dos outros. Como se pode perceber a partir dos
gêneros citados, muitos têm um conteúdo mais adulto que faz sucesso entre os japoneses.
Porém, mesmo com a separação desses gêneros, uma obra pode se encaixar em mais de uma
classificação como, por exemplo, alguma história que seja de aventura, mas ao mesmo tempo
de fantasia e comédia.
Aventura – Geralmente tem um personagem principal que parte em uma jornada para um
lugar distante e descobre novos lugares e pessoas no caminho. Esse gênero tornou-se mais
popular durante a ‘Depressão Mundial’, onde havia uma grande massa de desempregados
desmotivados e que não tinham muito lazer, e as histórias de aventura foram desenvolvidas
para entretê-los com personagens cômicos e histórias empolgantes.
- ‘Digimon’ – Típica história de uma longa jornada. Escrita por Akiyoshi Hongo em parceria
com Hiroshi Izawa, conta em sua primeira fase a história de Taichi e seus amigos, que, em um
acampamento de verão, recebem ‘digivices’ e assim são levados para o digimundo (Mundo
Digital), onde encontram digimons (monstros digitais) que, com sua ajuda, tentam voltar para
casa ao mesmo tempo em que auxiliam seus companheiros que estão em perigo no digimundo
por conta de criaturas más que ameaçam a paz do lugar.
Comédia – Histórias que têm sempre humor, diversão, sátiras, e onde
os conflitos são resolvidos com um final feliz. Mais famosas entre o
publico infantil, embora também apareça em histórias para outras
idades.
- ‘Crayon Shin chan’ – Famoso mundo afora, o personagem Shin-chan,
criado por Yoshito Usui, é carismático, engraçado e não tem pudor
nenhum. Com apenas cinco anos, ele aterroriza sua família, vizinhos e
colegas de escola com suas brincadeiras de criança com um pouco de
conteúdo adulto e, dessa forma, cativa os leitores da série.
1.4 Primeiro volume da
série Crayon Shin Chan,
com o protagonista Shin
na capa.
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Drama – Assim como em filmes, tem um teor mais emocional e traz temas ligados à
tristeza, depressão, conflitos, doenças.
- ‘Ichi Rittoru no Namida’ (Um litro de lágrimas) – História baseada em fatos reais, escrita
por Kita em um volume único. Conta a história de Aya Kito, uma garota que vivia uma vida
comum, mas que em sua adolescência descobre ter uma doença incurável, a degeneração
espinocerebelar. O mangá nos mostra a vida da personagem, desde a descoberta da doença ao
seu fim, ilustrando cada prova que Aya enfrentou. Antes de se tornar um mangá, foi lançado
um livro com o diário que ela escrevia todos os dias até seu fim. Também foi gravada uma
“novela” (Dorama) sobre os mesmos fatos.
Ecchi – É um meio termo entre os gêneros romance e hentai, onde o autor procura dar um
“gostinho” do que certo tipo de fã gosta, mostrando cenas de quase nudez de meninas e
meninos. É voltado para um publico masculino, embora existam muitas leitoras também.
- ‘Highschool of the Dead’ – Mangá criado por Daisuke Sato e Shouji Sato, que conta a
história de um grupo de estudantes que enfrentam um apocalipse zumbi. Em princípio, é uma
história mais sobrenatural que não se encaixaria no gênero Ecchi; porém, ao longo da história,
as meninas recebem mais atenção do que os zumbis, os quais, em teoria, seriam o “foco
principal” da história. Por isso, as personagens são mais atraentes na visão do público
masculino, por possuírem o estereótipo da mulher desejada; são altas, magras e possuem um
detalhe que é muito destacado nas cenas: seios particularmente grandes e, além disso, muitas
vezes parecem ser “dependentes” dos homens da história, dando certo ar de fragilidade, mas
não durante toda a história, pois muitas vezes os papéis se invertem. Personagens como uma
criança e um “gordinho” são deixados em segundo plano.
Fantasia – Envolve temas relacionados à magia, criaturas mitológicas e mundos paralelos.
- ‘Fairy Tail’ – De Hiro Mashima, Fairy Tail tem como protagonistas Natsu e Lucy,
inicialmente dois estranhos com diferentes objetivos. Natsu está em busca de Dragneel, o
dragão que o criou e que um dia desapareceu misteriosamente; Lucy é uma maga estelar que
está em busca das 12 chaves do zodíaco para ter seus poderes completos. Ambos se juntam a
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uma guilda5 chamada Fairy Tail e conhecem novas pessoas com outras metas, trabalhando
para ajudar os outros e ganhar dinheiro, enquanto procuram o que precisam.
Hentai – O foco desse tipo de história é o sexo explicito entre um homem e uma mulher.
Não há uma história mais profunda. O enredo é algo superficial colocado apenas para
encaixarem o que “realmente importa”.
- Ane to Otouto to (irmã e irmão) – No começo, pode parecer uma
história comum, mas, assim como qualquer hentai, o foco não é
exatamente a história. Nesse caso, temos também o tema do incesto,
que nos mangás atuais é muitas vezes mostrado, independentemente
de seu gênero. A história é sobre Anna Kazushima e seu irmão Aoto.
Anna se divorcia e, após a recuperação, traz o irmão para morar com
ela, mas depois de alguns dias ela começa a “abusar” do irmão, que
acha a situação um tanto estranha e vai para a casa de um amigo.
1.5 Capa do Mangá de Ane
to otouto to. Na capa, a
personagem Anna.
Com saudades e preocupado com a irmã, eles voltam a morar juntos,
pois Aoto descobre que ela é seu amor verdadeiro.
Mecha – Tem como foco principal a utilização de robôs e máquinas gigantes. Embora
pareça com o gênero ‘Sci-fi’ que conhecemos, não é a mesma coisa, pois esse é um gênero a
parte.
- ‘Code Geass’ – Robôs gigantes muitas vezes aparecem em histórias, como no caso de Code
Geass. A história se passa no Japão do ano de 2010, onde o país é invadido por ‘Knightmares’
(robôs) vindos de Britannia. Após a derrota na guerra, o Japão é tomado e Lelouch, um jovem
estudante que fugia de policiais, acaba conhecendo uma “bruxa”, que lhe dá o poder de
comandar as pessoas e com esse poder ele tenta fazer uma revolução e reaver o antigo Japão.
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Local onde diversos personagens se reúnem para aprender novas habilidades e procurar trabalhos, uma
espécie de “agência de empregos”.
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Vida escolar – Conta a história de algum aluno comum dentro de uma
escola.
- ‘K-ON!’ – Uma série em que não se pode prever o que vai acontecer no
próximo capítulo, pois é tudo muito casual. A história gira em torno do
clube de música de uma escola formado por cinco meninas, que sempre
procuram mais membros para manter o clube no ano seguinte e que
adoram tomar chá e comer bolos, mais do que tocar os instrumentos. As
musicas do clube têm temas “fofos” e românticos, típicos de meninas. A
1.6 Capa do mangá KON! Com a protagonista,
Yui.
franquia tem milhares de fãs pelo mundo.
Shoujo – Histórias voltadas ao púbico feminino, com um enredo de romance idealizado
como em um conto de fadas, onde os personagens, ao final da história, vivem felizes para
sempre.
- ‘Kaichou wa Maid-Sama!”(A chefe é uma Maid!) – Escrita por Hiro Fujiwara. ‘MaidSama!” é a história de Misaki, uma bolsista em uma escola que inicialmente era apenas para
meninos e, como chefe do conselho estudantil, tenta proteger as poucas meninas que lá
estudam. Além disso, ela tem um emprego num Maid Café6 para ajudar a família, e não quer
que ninguém descubra, para não perder a imagem que amedronta os meninos da escola, até
que um dia um de seus colegas descobre seu segredo e se apaixona por Misaki.
Shounen – Voltado para o público masculino, tem muita ação e luta, assim como no gênero
“ação”.
- ‘Bleach’ – Criado por Tite Kubo, Bleach é uma história voltada para meninos, que envolve
lutas e magia. A história gira em torno de Kurosaki Ichigo, um estudante que, após uma noite
estranha, ganha poderes de Kuchiki Rukia, uma Shinigami (Deusa da Morte), para salvar a
irmã do perigo. Com os poderes adquiridos ele passa a fazer o trabalho de Rukia, exorcizando
Hollows (Espécie de demônio) e mandando-os para o céu, se foram bons; ou para o inferno,
se foram maus. Rukia é condenada à morte pela ‘Soul Society’ (Sociedade dos espíritos. Céu)
por transferir seus poderes a um humano e é obrigada a retornar ao céu. A história prossegue
com Ichigo e seus amigos indo à ‘Soul Society’ impedirem que Rukia seja executada.
6
São cafés onde o diferencial é o atendimento. As garçonetes se vestem de Maids, espécie de “empregadas
francesas” e tratam os clientes por ‘mestres’ e ‘mestras’.
14
- CAPÍTULO 2 -
Tendências vêm e vão, empresas aprimoram seus produtos para melhor atender seus
consumidores e garantirem seu lucro, e com isso tradições se perdem. É isso que pode ter
acontecido com os famosos quadrinhos japoneses.
2.1 – A sociedade se importa mais com quantidade do que com qualidade.
Não é de hoje que muitos produtos perderam certa qualidade com o advento da
produção em massa. Mercadorias Made in China, por exemplo, são consumidas diariamente e
não têm a mesma qualidade do mesmo produto produzido por uma empresa de “marca”, mas
por serem mais baratas, são mais procuradas.
A qualidade, muitas vezes, deixa de ser prioridade na vida do consumidor, tornando o
valor do produto o fator mais importante. Tomamos como exemplo os móveis: antigamente
eram feitos de modo artesanal, com uma madeira boa, e poderiam ser usados por muitos anos,
o que não ocorre com os móveis que se encontram no mercado hoje em dia, que, por serem
feitos de um material mais barato e menos resistente, são muitas vezes trocados poucos anos
após a compra.
Os mangás também sofreram essa mudança, mas não estruturalmente, e sim em seu
conteúdo. O fato é que, quando a arte foi sendo criada e desenvolvida, tudo era novidade e
sempre havia uma história diferente da outra para se contar, tornando-as inusitadas. Nos dias
de hoje, não é sempre que encontramos essa surpresa, pois a raiz das histórias já foi
trabalhada anteriormente e o que já fez sucesso foi sendo cada vez mais reproduzido, pois os
escritores tinham a certeza de que venderiam. Um exemplo é a febre dos ‘zumbis’, que estão
sendo usados como tema de histórias em diferentes mídias, como filmes – [REC]³ Genesis
(2012) –, séries – The Walking Dead (2010) –, e também em mangás, como na série
‘Highschool of the Dead’, de Daisuke e Shouji Sato (vide tópico 1.4 página 10), que começou
a ser publicada em 2006 em quadrinhos e, em 2010, ganhou sua versão em animação para a
TV. Vale ressaltar que uma das razões para o mangá não ter mais a mesma qualidade de antes
se deve ao fato de o lucro geralmente estar em primeiro plano na produção.
15
Mas, apesar das mudanças ocorridas, ainda aparecem novidades em algumas obras, só que
diferem do que se tinha antigamente, pois o foco não é mais o mesmo.
2.2 – O potencial de uma história pode ser influenciado no meio do percurso
Cada mangaká7 que tem seus trabalhos publicados tem para si um editor que cuida de
tudo, desde o almoço do autor até a entrega dos desenhos para a editora. O problema é que,
como foi dito anteriormente, hoje as pessoas visam apenas o lucro e os editores são em parte
responsáveis pela qualidade de uma obra, pois eles opinam no enredo, cenários, personagens,
mas acima de tudo, estabelecem prazos de entrega, o que pressiona os autores, e o resultado
final às vezes não sai como o esperado, afinal, os seres humanos não são máquinas que podem
trabalhar 24 horas por dia.
Muitos mangakás, na época de um lançamento,
mal saem de casa, comem ou dormem, por causa do
curto período de tempo que têm para a entrega. Mas
isso também depende de quanto em quanto tempo o
mangá é publicado, pois podem ser capítulos semanais,
quinzenais ou mensais. E assim, volta-se à época prérevolução industrial, onde todos os trabalhos eram
1.7 O mangaká Makoto Raiku (Criador de Zatch
Bell) em seu ambiente de trabalho.
exercidos manual e incansavelmente, em jornadas de
trabalho estafantes.
Mas o mangá está cada vez mais junto à tecnologia durante sua produção, por meio de
uso de computadores e tablets para desenhar, embora alguns artistas ainda prefiram o velho
papel e nanquim.
Essa carreira pode ser mais difícil do que os leitores pensam, pois envolve muito mais
do que apenas desenhar e criar uma história qualquer. O autor Naoki Urasawa (Monster, 20th
7
Autor de mangás.
16
Century Boys) diz: “Essa profissão é tão difícil que eu nunca recomendaria para alguém”
(livre tradução)8.
Os autores afirmam que se deve ter um bom relacionamento com seu editor, caso
contrário, o trabalho pode não ser tão prazeroso e isso também pode afetar o produto final
mais ainda.
2.3 – Ocidentalização do Oriente.
Com a globalização, os países começaram a ter mais contato entre si, tornando a troca
de informações e produtos mais rápida e eficaz, e com ela surgiu a “ocidentalização do
oriente”, em que o diversificado ocidente entra em contato com o reservado oriente.
O Japão, por estar localizado no oriente, fez parte desse processo. Antes disso, houve
uma época em que ele se abriu comercialmente para parte da China e Coreia,
aproximadamente de 206 até 700 D.C. Na era Edo (1600-1868), o Japão foi novamente
isolado dos outros países pelo Xogunato Tokugawa9 (1603-1868), mas em 1854 foi assinada a
Convenção de Kanagawa²10, proposta por Matthew Perry, e devido à pressão internacional, os
Xoguns a assinaram, e assim os portos japoneses foram abertos para os Estados Unidos e
depois para países como França, Alemanha e Rússia.
A entrada dos Estados Unidos no Japão afetou de diversas maneiras o país, pois os
norte-americanos introduziram sua cultura, e os japoneses, de certa forma, tiveram que aceitála, alterando a sua própria. Alguns pontos que sofreram grande influência, tanto americana
quanto dos outros países, foram a educação, religião, organização militar, e até a constituição
da sociedade como um todo.
8
Extraído da matéria “Naoki Urasawa talks about relationship between mangaka and editors” do site:
comipress.com
9
Também conhecido como “Bakufu de Edo”, foi uma ditadura militar instituída pelo clã Tokugawa que
assumiu o controle do Japão, pelo ganho da batalha de Sekigahara, após a morte do imperador antecedente.
10
Tratado que forçava o Japão a abrir seus portos para os Estados Unidos.
17
Essa influência na educação pôde ser vista inclusive nas artes encontradas no séc.
XIX, que tinham algumas características ocidentais, e nessa época o “mangá moderno” estava
tomando forma para se tornar o que é hoje. Também foi com essa chegada do ocidente que foi
introduzida a moeda no Japão em 1871, conhecida como Yen (¥)11, pois antigamente havia
trocas com arroz.
2.4 – O público pede, a indústria faz.
Assim como foi dito anteriormente, o que faz sucesso vende, e o que não faz é deixado
em segundo plano pelos vendedores do produto. No “universo” dos mangás, se um tema
específico, como personagens tsunderes12, por exemplo, faz sucesso, mais histórias com
temas assim tendem a aparecer, tanto novas quanto antigas que foram “encontradas” e
receberam a devida atenção.
Algumas vezes, um tema pode não agradar o público, ou agradar apenas uma parcela
dos leitores, e o objetivo do capitalismo é agradar a todos para assim maximizar seu lucro,
possivelmente afetando a vida dos escritores que às vezes seguem a demanda e não fazem o
projeto inicial, porém muitas vezes eles têm uma ideia original que envolve um tema ou outro
qualquer e com sorte, lançam até uma nova “moda” no mercado.
2.5 – A imposição dos ideais capitalista-americanos no país.
Pode soar como um argumento anti-americano, mas não se pode negar que os Estados
Unidos deixam sua marca por onde passam, seja culturalmente ou monetariamente. No Japão
não foi diferente. O Japão deixou de ser um país regido por tradições milenares, e sim pelos
ideais capitalistas vindos da América que, de certa forma, induziram o povo nipônico a ser
como eles; isto pode ser justificado pelo fato do país ser detentor da terceira maior economia
11
12
Cotação 25/10/2012: US$1,00 = R$2,027 = ¥79,973
Termo utilizado para caracterizar personagens que são ao mesmo tempo extremamente frias e extremamente
amáveis, variando as características dependendo da situação.
18
mundial e por fazerem parte do G2013. E como na “terra do sol nascente” a vida também gira
em torno do dinheiro, vale dizer novamente que a imposição dessa cultura financeira
influencia a tudo e a todos no cotidiano.
2.6 – Mangás X HQ – Características e sucesso.
As Histórias em quadrinhos americanas, também conhecidas como ‘HQ’ ou ‘Comics’,
antecederam o mangá atual e possivelmente foram uma “fonte de inspiração” para esse estilo
em sua fase mais moderna. Ambos têm diferentes características, e embora sigam a linha de
“história sequencial”, são elas que definem a intenção de cada estilo.
Na época do “mangá antigo”, mais ou menos nos anos 70/
80, o modo de se contar as histórias se diferenciava muito do estilo
das HQ’s americanas e isso atraiu curiosos e futuros fãs. Existem
muitos fatores que separam um estilo do outro como, por exemplo,
os citados pelo quadrinista Scott Mccloud (Zot! Destroy!!):
“Variedade de design de personagens, forte sensação de estar no
lugar, presença de painéis sem fala que mostram uma transição de
acontecimentos, linhas de movimento subjetivo, maturidade dos
gêneros, detalhes mundanos, abuso da expressividade e personagens
icônicos.”
1.8 Capa do HQ Zot!
De Scott Mccloud
Alguns desses aspectos, com o tempo, foram adotados pelas HQ’s e deixados de lado
pelo mangá. As artes estão sempre se modificando.
Se fosse perguntado a alguém qual a característica que primeiro lhe chama atenção na
história de um mangá, muito provavelmente os “olhos grandes e brilhantes” seriam citados.
Essa característica foi criada por Osamu Tezuka e passou a ser usada a partir dos anos 50.
Esses olhos trazem diferentes ideias para um leitor, eles podem trazer conforto ou reprovação
por serem bem expressivos, mas tudo depende de um contexto. No ocidente, esse estilo não é
muito usual, o que causa certo estranhamento aos leitores; enquanto que, no Japão, isso é
visto como normal e muito bem vindo, afinal, numa sociedade de olhares frios em cada
esquina, um olhar mais “carinhoso” não vem a ser recusado.
13
Grupo das 20 economias mais desenvolvidas do mundo junto da União Europeia representados por grandes
bancos e ministros. Quando reunidos tratam das finanças internacionais e seus problemas.
19
Os personagens, em geral, são um tanto estereotipados, variando de gênero para
gênero. Em histórias para meninas (Shoujo), por exemplo, os homens são altos, magros e com
o rosto um pouco “afeminado”, muitas vezes parecendo ser ainda mais ocidentais devido aos
olhos grandes que geralmente possuem, o que também ajuda na hora de agradar as fãs.
Sobre as características gerais de uma história, vale a pena lembrar que nem todas as
histórias têm um final feliz, como nos contos de fada.
2.7 – A sociedade muda, o que ela produz também.
A sociedade está em constante mudança. Mudam-se ideais, estilos, modos de vida e,
consequentemente, o que é produzido. Na época pós-guerra, a população precisava de
incentivo para seguir em frente, hoje isso já não é necessário. Mesmo com os recentes e
catastróficos acontecimentos, o Japão se tornou uma nação que sabe como lidar com situações
envolvendo desastres naturais, embora não possa evitá-los. Mas deixando os ocorridos de
lado, os japoneses não precisam de incentivo e voltam-se para a ideia de entretenimento da
arte, como havia antes da guerra. Crianças, jovens e até adultos leem mangás diariamente por
todo o país, e cada um tem seu estilo preferido e cabe às indústrias entreterem o público. Com
a mudança de valores que também ocorre no Japão, muitas histórias têm temas que
antigamente não eram abordados, seja por desconhecimento, seja pela censura imposta pelo
governo.
A sexualidade, por exemplo, desde as primeiras ilustrações medievais, foi um tema
recorrente, mas com a modernização do país, tornou-se uma espécie de tabu e não podia ser
publicada a torto e a direito. Esse tema era considerado comum devido ao seu uso em ritos
religiosos, mas com a abertura dos portos e as influência da igreja católica no país, eles foram
“ensinados” que esse tema era algo que deveria ser escondido dos outros, influência que
grande parte da população segue até hoje, embora isso esteja aos poucos mudando, e a prova
são mais mangás com temas eróticos sendo publicados.
Mas mesmo com essa nova “tendência”, nem tudo nesse gênero pode ser mostrado,
pois há uma lei que proíbe a aparição de pelos em regiões íntimas nas ilustrações. Os
japoneses muitas vezes têm vergonha de assumir que leem esse tipo de história e uma prova
disso é o comércio de algumas obras em máquinas na rua, como aquelas de doces e
refrigerantes, dessa forma o leitor não corre risco de alguém, no caso um vendedor, saber de
20
seu gosto que muitos desaprovam, afinal, os japoneses sempre tentam ser os melhores,
embora não tentem “pular” sobre os outros, havendo assim certa igualdade em determinada
classe.
2.8 – Uma sociedade visual.
O Japão é um país onde muitas das situações
cotidianas envolvem o uso de imagens. No Brasil, por
exemplo, temos ilustrações simples nos ônibus e metrôs
indicando assentos preferenciais, e o que não fazer em uma
escada rolante. Já em terras orientais, essas ilustrações têm
mais
diversidade
e
também
são
mais
“trabalhadas”
artisticamente, contendo muitas vezes detalhes que não são
vistos por aqui. O Japão sofre constante influência das
imagens e talvez os mangás possam ter um pouco a ver com
isso, influenciando ou sendo influenciados pelo país.
1.9 Placa localizada em um metro no
Japão, com uma das maneiras de como
não se portar no trem.
2.9 – Contextualizando e analisando algumas obras.
Astro Boy (Tetsuwan Atom)
Sinopse – Foi escrito por Osamu Tezuka e publicado pela editora Kodansha em 1963.
Com o sucesso, foi sendo traduzido para outras línguas, entre elas em inglês, onde obteve
grande destaque. Conta a história do robô “Astro”, criado por um cientista que queria
substituir seu falecido filho, e por isso criou um robô semelhante a seu filho, tratando-o como
tal.
Análise – O drama de Astro Boy trabalha com diversas “side stories”, ou seja, várias
pequenas histórias dentro da principal, que geralmente envolvem temas diversos, mais
profundos e trabalhados. No primeiro capitulo, por exemplo, temos um personagem que tem
problemas para superar seus medos, o robô-golfinho Gunon que foi criado para fazer buscas
no fundo do mar, mas tem medo do escuro e de monstros, porém, ao longo da história vai
recebendo incentivos de seus amigos e para salvá-los em um momento de perigo, supera seus
medos.
21
O interessante nessa história é que foi escrita no período pós-guerra, onde os japoneses
se reconstruíam e precisavam de incentivo, e, de uma forma ou de outra, precisavam de forças
para conseguir prosseguir. Na história, pode-se comparar o povo japonês a Gunon e seus
amigos aos fatores que ajudaram os japoneses a não desistirem, dentre eles a ajuda mútua
entre a população, relacionando, assim, a história ao contexto sócio-cultural da época.
Também ao longo dos capítulos, percebemos outros temas importantes que vão sendo
trabalhados, como por exemplo, a perda de um filho, a visão negativa do ser humano e a
pressão imposta aos filhos pelos pais.
O personagem principal, Astro, representa o herói de que a sociedade precisava.
Apesar de ser um robô, ele tem um bom coração e é amigo dos seres humanos, além de
sempre ajudá-los quando necessário. Ele foi criado pelo professor Tenma para substituir seu
filho, Toby, que morreu em um acidente. Possuía as mesmas características físicas, porém, em
um primeiro momento não conseguiu ser um substituto como o pai queria e acabou sendo
desmontado e depois encontrado pelo Professor Ochanomizu, que o reconstruiu e melhorou.
O professor Tenma, pai e criador de Astro, transforma Daichi em um robô que se dá o
nome de Atlas e este vive para tentar destruir os seres humanos por serem criaturas tão más
que maltratam e menosprezam uns aos outros.
Daichi era filho de um empresário muito rico e iria herdar a empresa do pai, por isso,
muitas cobranças caíam sobre ele que procurava uma “válvula de escape”, correndo de moto e
se envolvendo em brigas. Enquanto as cobranças vindas do pai surgiam, sua mãe se
encontrava doente e ele sentia falta da família unida. E além de tudo, não se sentia
inteiramente amado pelo pai, achando que ele apenas queria se aproveitar do garoto para
continuar a empresa.
Observando melhor esse personagem, pode-se encontrar certa semelhança com a
sociedade japonesa, que sempre foi tradicionalmente rígida sobre a educação dos jovens,
procurando sempre dar a melhor condição para terem uma vida estável e, principalmente, sem
atrapalhar o próximo, ato que Atlas fazia para tentar se esquecer dos problemas.
Outro tema citado anteriormente é a visão negativa que alguns robôs têm do ser
humano, afinal, é de senso comum que é uma raça que muitas vezes é egoísta e despreza
quem lhes ajuda e que joga fora o que não lhes têm utilidade sem pensar duas vezes, por
exemplo, quando abandonam um cachorro como se ele também não possuísse sentimentos.
22
É exatamente assim que alguns robôs se sentem quando são abandonados e
desmontados por seus donos e, como alguns possuem coração e sentimentos, acabam ficando
ressentidos e às vezes desenvolvendo ódio e querendo vingança, o que aconteceu no caso de
Atlas, mas que ocorreu de forma paradoxal em Astro. E esse é um dos motivos pelos quais
Atlas quer destruir Astro, pois ele, mesmo sendo abandonado, continuou sendo amigo dos
humanos e não possui tal sentimento de ódio. Astro acredita que os robôs foram construídos
para ajudar os seres humanos quando problemas são apresentados, e que ajudá-los pode
trazer-lhes felicidade. Outro motivo é o ódio de Atlas que pensa que, destruindo a cidade, irá
se livrar da dor e do peso que carrega pela morte de sua mãe e pela indiferença de seu pai, e
que em uma de suas tentativas, fez tal estrago que colocou a vida de muitos em risco e fez
com que os humanos se virassem contra os robôs. Essa situação acabou gerando certo caos na
cidade, pois os humanos queriam destruir todos os robôs e voltar a “dominar” seu território,
mas Astro não desistiu e provou que nem todos os robôs são maus, e quem o ajudou foi um
amigo humano que estudava na mesma escola.
Com a iminente destruição de uma parte da empresa de seu pai na lua, vinda de grupos
anti-robôs, Astro e Atlas se juntam para destruir a bomba encontrada no local, pois Atlas
recupera as memórias de Daichi. Mas antes disso, Daichi reencontra seu pai, que lhe pede
perdão pelo que aconteceu, afinal, pensava que ele estava morto. Sendo assim, Atlas se torna
um robô melhor e, junto de Astro, destrói uma bomba, mas para isso, primeiramente teria que
se sacrificar levando a bomba para ser destruída no espaço, o que surpreendeu e chocou a
todos, mas com a força de vontade e com o incentivo de seus amigos, Atlas consegue
sobreviver. Essa iniciativa de fazer o bem e deixar de ser um personagem “mau” poderia
servir para, de alguma maneira, provar aos japoneses que todos têm um lado bom e ruim, mas
que o bem sempre prevalece e que às vezes temos que nos sacrificar para um bem maior.
Como na maioria das vezes os leitores de Astro boy eram crianças, essas ideias podem
influenciá-las a serem indivíduos melhores.
Outro fator que pode ser facilmente notado tanto pelo tema quanto pelos personagens,
é a influência da tecnologia, dado o fato de que a história foi criada numa época pós II
Revolução Industrial, onde são apresentadas técnicas de produção em massa, novas máquinas
e tecnologias, inclusive como mão de obra. Em Astro boy, os robôs representam esses
avanços, ou pelo menos os sonhos dos japoneses de que tais invenções fossem realmente de
verdade. Alguns detalhes também podem ser comparados, como no caso da mão de obra que,
no período pós-Revolução, é representada por mais máquinas e menos trabalhadores, o que
23
não era muito comum antigamente, e, na história, os robôs trabalham nas fábricas e indústrias,
fazendo o trabalho de ambos, dispensando boa parte da ajuda humana.
– A construção de imagens
Nessa obra de Tezuka, já são perceptíveis as mudanças ocorridas na construção e
montagem das imagens que compõem a obra. A ideia da ação corrente, inspirada no cinema e
desenvolvida por Tezuka, por exemplo, pode ser vista na imagem abaixo, extraída da 3ª e 4ª
páginas do segundo volume da obra. Na cena em questão, Astro tenta impedir Atlas de
destruir a cidade e acaba havendo um conflito. Ao observar as imagens, tem-se uma sensação
de que a cena está se passando na frente do leitor, pois vemos quadro pós-quadro de uma
maneira que traz a ideia do movimento, tanto pela sobreposição quanto pela sequência.
Também é apresentada a tão famosa característica dos grandes e expressivos olhos dos
personagens. No primeiro quadro superior (da direita pra a esquerda), o olhar de Astro
consegue remeter certo ar de tristeza, enquanto no último quadro inferior da mesma página
(da direita para a esquerda), o olhar já é uma mistura de surpreso e assustado, mas mantendo o
tamanho dos olhos.
24
 Kimi ni Todoke (Que chegue a você)
Sinopse – Kimi ni Todoke é um mangá shoujo (geralmente para meninas) que conta o
“romance” entre Sawako Kuronuma e Shouta Kazehaya. O mangá ainda não chegou ao seu
fim, mas até o momento, percebem-se uma série de mal entendidos, que mudam o rumo da
história.
Análise – A personagem principal, Sawako, no início da história, é isolada de sua
turma na escola por ter uma aparência que assusta as pessoas, pois, por ser muito branca e ter
cabelos longos e pretos, lembra a personagem do filme “O Chamado”, no Brasil conhecida
como ‘Samara’ e no Japão como ‘Sadako’, semelhante ao nome da personagem, e é por esse
nome que ela é conhecida por todos. Só essa condição da personagem já faz com que muitas
meninas se identifiquem com ela, pois a “exclusão social” em sala de aula é comum no Japão
e em muitos outros países, ainda mais nos dias de hoje. Afinal, vivemos em um mundo de
aparências, onde a primeira impressão é o que se leva em conta para manter contato com
outro indivíduo. E, além disso, os sentimentos da personagem são adotados pelas leitoras,
pois, muitas vezes, Sawako se mostra insegura quanto a seus sentimentos e ao mesmo tempo
encontra forças para superar as dificuldades quando necessário, mas com apoio moral indireto
de Kazehaya.
Kazehaya é da sala de Sawako. Eles se conheceram no primeiro dia de aula quando ela
deu uma informação para ele. O personagem é alegre, popular e amigo de todos, e no início é
o único que ao menos cumprimenta Sawako e conversa um pouco com ela, incentivando-a a
tentar esclarecer os maus entendidos com seus colegas de sala, os quais acreditam que ela vê
espíritos e traz azar a todos que a olham nos olhos por mais de 3 segundos. É assim que ela
consegue suas duas primeiras amigas: Chizuru Yoshida e Ayane Yano, quando, ao ouvir uma
conversa, resolve dizer que não pode ver espíritos nem trazer má sorte, e aos poucos vão se
tornando mais e mais próximas, o que alegra Sawako, que, em toda sua vida escolar, nunca
tivera amigos.
No decorrer dos capítulos, tanto Sawako quando Kazehaya vão descobrindo que
gostam um do outro mais do que como amigos, mas não sabem bem o que fazer. Para
dificultar ainda mais, aparecem personagens que atrapalham a relação, como por exemplo,
Kurumi, uma amiga de infância de Kazehaya que também o ama, e tenta fazer de tudo para se
aproximar do garoto, inclusive espalhar boatos sobre as amigas de Sawako, dizendo que foi
ela quem falou as mentiras, porém, no final, Kurumi é desmascarada.
25
Em situações como essa apresentada, as leitoras podem se apegar muito à personagem,
pois se sentem no lugar dela, muitas vezes tomando suas dores e sofrimentos. Essa
característica é apresentada em muitas histórias do estilo Shoujo. Cada personagem tem uma
personalidade que de alguma forma cativa o leitor a ponto de fazê-lo colocar-se em seu lugar
e ter os mesmos sentimentos do mesmo.
A história de ‘Kimi ni Todoke’ não é o tipo de história onde são utilizados “atrativos”
físicos das personagens para entreter os leitores, e sim, uma história mais envolvente, embora
com muitas características que são vistas em muitas obras do gênero, como por exemplo, um
“futuro-casal” que enfrenta dificuldades para demonstrar seus sentimentos; personagens
secundários que os ajudam ou atrapalham; e um personagem enigmático que vai sendo
trabalhado ao longo da história e que não se sabe ao certo o que quer.
Até agora, esse foi o 5º mangá mais vendido no primeiro semestre de 2012, perdendo
apenas para obras de grande circulação, popularidade e número de edições, como ‘One Piece’,
‘Naruto’ e ‘Hunter x Hunter’, todas mais voltadas para o público masculino, mas ficando
ainda na frente da nova febre: ‘Fairy Tail’, também voltada ao público masculino, porém com
adeptas femininas, assim como em toda obra.
26
– A construção de imagens
Já com as características do mangá moderno, na página em questão (Volume 2, página
43) são perceptíveis características na construção da página, onde os quadrinhos não são todos
simetricamente iguais, e em uma mesma página, são apresentadas falas primárias, falas ao
fundo e pensamentos do personagem. Também se percebe que são duas cenas que acontecem
simultaneamente, trazendo uma ideia “cinematográfica” de ação contínua e paralela. O
personagem em destaque na cena, Kazehaya, mostra três diferentes expressões durante essa
ação: vergonha, tristeza e uma “reconscientização” que são facilmente percebidas durante a
leitura, tanto pelo desenho quanto pelo contexto.
27
-CONCLUSÃO-
No decorrer deste trabalho, foram apresentados diversos fatores que fizeram com que
o mangá se tornasse o que é hoje, dentre eles temos, por exemplo, influências de países do
exterior e clichês que agradam os leitores. Mas também existem outros fatores que
influenciaram a arte, assim como influenciam muitas outras.
Apesar de certa ênfase ter sido dada sobre a questão dos
apelos comerciais e seus adjacentes, observando as maiores vendas e
tiragens de histórias, as mais vendidas nos últimos anos não têm
necessariamente uma temática mais “comercial”. Analisando
brevemente as obras mais vendidas, independentemente do titulo,
elas são geralmente dos gêneros Shoujo e Shounen, os primeiros
gêneros constituídos na criação do mangá atual.
Independentemente da época, o mangá sempre procurou
1.10 One Piece. Obra estilo
shounen, a mais vendida no
Japão nos últimos anos com
180 milhões de cópias
vendidas.
atender a demanda da sociedade em determinado contexto, seja como
forma de entretenimento ou ajuda emocional; para cada situação uma
história diferente. Pode-se dizer que esse é o diferencial do mangá
entre os outros métodos de se contar histórias; ele faz com que o
leitor se identifique e que de alguma forma seja ajudado pela história, assim como as lições de
moral das fábulas que conhecemos. Mesmo pertencendo a um mesmo estilo, as histórias
geralmente possuem detalhes que as diferenciam entre si, o que faz com que sejam únicas,
principalmente na questão do traço das histórias que varia de autor para autor fazendo deste
sua respectiva “marca”. Os personagens do famoso estúdio CLAMP (Tsubasa Reservoir
Chronicles, X-1999), por exemplo, são facilmente reconhecidos pelos leitores devido ao estilo
com que são produzidos.
Obras de diferentes épocas, como foi visto anteriormente, também têm suas diferenças
e semelhanças, principalmente devido ao contexto histórico do momento, logo, não se pode
comparar essas obras usando o conteúdo como base, pois ele muda de acordo com a época em
que foi escrito, além de também variar da visão de mundo e ponto de vista de cada autor,
tornando a análise subjetiva.
28
Um rumo completamente diferente foi sendo tomado com o passar do tempo, o que
para os mais conservadores não é bem visto, mas nada pode-se fazer, afinal, mudanças fazem
parte de todo processo e deve-se seguir o novo e recordar o que passou, porém, nunca se
esquecendo de como tudo começou. Um dos fatores que causou essa mudança foi o processo
de ocidentalização do oriente, em que muitos dos valores foram sendo alterados e os
conservadores procuram preservar suas tradições, que, em parte, caracterizam a “Terra do Sol
nascente” e passam a imagem do Japão de um povo disciplinado e trabalhador.
Um lado interessante que foi sendo apresentado no trabalho foi justamente essa
mudança, seja ela boa ou ruim, pois foi visto que uma arte criada em uma época medieval
conseguiu sobreviver mesmo com adversidades tornando-se o que é hoje, mesmo que de uma
forma completamente nova, tanto na estética quanto no conteúdo. O Japão, como já foi dito, é
um país que segue uma cultura milenar e, seguindo esse princípio, outras expressões artísticas
ainda são mantidas, mas estas não tiveram a mesma influência externa que afetou o mangá e
se preservaram como uma cultura tradicional de determinada arte, como por exemplo, a
escrita deles, que pode ser, em partes, considerada uma arte, pois é por vezes fundamentada
em desenhos.
Quando o assunto é a concorrência, foi mostrado que as HQ’s americanas competem
com os mangás japoneses, mas nada impede que o leitor simpatize por ambos os estilos,
embora muitas vezes opte por um em especial, por ter achado mais características que lhe
agradem. Mas o termo “concorrência” não é levado ao pé da letra, pois são diferentes
mercados. Embora o público-alvo muitas vezes seja o mesmo, as indústrias não competem
diretamente, já que há espaço suficiente para as duas.
Seja como for, essa arte vem ganhando cada vez mais fãs e simpatizantes pelo mundo
afora, o que comprova que veio pra ficar, e que não é de todo mal como alguns pensam, pois,
como foi apresentado, existem muitas pessoas, em geral adultos, que não acreditam que os
mangás podem servir tanto como forma de entretenimento quanto como método de
aprendizado, principalmente ao público mais jovem e em fase de alfabetização, já que a
língua japonesa é relativamente complexa, mesmo para os adultos. Além disso, ler,
independente da língua, é uma maneira divertida de aprender.
29
- ANEXO: OUTROS GÊNEROS -
Gekiga – Mangá voltado para pessoas amadurecidas. Foi criado com a intenção de se
diferenciar dos mangás que conhecemos, pois, para os autores de Gekiga, esse não é tão sério
e a proposta seria influenciada se carregasse esse termo já que trabalha mais com temas reais
do que fictícios. Como surgiu no contexto pós II Guerra Mundial, onde os mangás infantis
faziam mais sucesso, esse foi outro motivo por ter sido dado outro nome.
Shoujo-ai – Também conhecido como ‘Yuri’ trabalha com relacionamentos entre meninas,
porém com tramas mais leves, sem cenas fortes para os leitores. O termo Shoujo-ai vem de
Shoujo (menina) e Ai (amor).
Orange – Assim como o ‘Shoujo-ai’, mostra relacionamentos entre meninas, porém com
maior teor sexual, contendo cenas explícitas dessa relação. Ambos os gêneros tem geralmente
como leitores o público masculino por uma questão de talvez afinidade; também existem
leitoras.
Shounen-ai – Assim como o ‘Shoujo-ai’, trata de histórias
homossexuais, mas com meninos no lugar de meninas. Também
conta a história de maneira mais leve e romântica. Também é
conhecido como Yaoi.
Lemon – Retrata uma história de amor entre homens, porém mais
focada no teor sexual, mostrando cenas explicitas do que geralmente
se espera que ocorra nesse gênero. Muitas vezes, em ambos os tipos
de história, o público é geralmente feminino também por questões de
afinidade.
Harém – Como o próprio nome diz, são histórias que geralmente
envolvem um personagem (masculino ou feminino) rodeado de três
ou mais personagens do sexo oposto em, muitas vezes, uma comédia
romântica; embora não haja bem uma atração romântica entre os
personagens.
1.11 Junjou Romantica.
Exemplo de mangá do
gênero “Yaoi”.
Lolicon – É um gênero um tanto complexo por seus diversos significados, pois, para os
brasileiros é apenas um termo utilizado para se referir a histórias que mostram meninas
menores de idade em situações constrangedoras como, por exemplo, as de nudez; no Japão
esse termo é também utilizado para se referir a pedófilos.
Shotacon – É em termos a mesma base do Lolicon, porém como uma inversão de papéis e, no
lugar de meninas menores de idade, se encontram meninos. Geralmente mulheres mais velhas,
tanto dentro quanto fora da história se sentem atraídas por esses personagens. Vale lembrar
que fãs de Lolicon e Shotacon não podem ser considerados pedófilos, pois se sentem atraídos
por personagens em 2D e não necessariamente 3D, reais.
Bara – Também voltada ao tema homossexual com homens. Ao contrário do Shounen-ai, as
histórias não são escritas por mulheres, mas sim por homossexuais para homossexuais. Os
personagens são mais reais quanto à estética pois apresentam, por exemplo, pelos no corpo e
fisionomia semelhante.
30
Mahou Shoujo – Esse gênero conta a história de meninas
(geralmente a personagem principal) que possuem poderes
sobrenaturais e mágicos; lutam contra o mal para salvar o mundo. Os
poderes das personagens geralmente se concentram em algum objeto
mágico que elas carregam consigo e o usa quando necessário. Com o
passar do tempo as protagonistas vão aprimorando seus poderes e
ficando mais fortes. Nessas obras, também aparecem muitas vezes
meninos que as ajudam com seus poderes e que, às vezes, se
apaixonam por elas.
Terror – Assim como os filmes que conhecemos, mostram histórias
assustadoras com temas sobrenaturais, como fantasmas e espíritos.
Muitas vezes se passa em escolas ou cemitérios. Em algumas
obras, há presença de sangue, esquartejamentos e mutilações.
1.12 Mahou Shoujo Madoka
Magica. Exemplo de mangá
do gênero “Mahou Shoujo”.
Artes Marciais – Os japoneses são conhecidos por praticarem artes marciais, e esse tema não
poderia ser deixado de fora dos mangás, pois também servem como um incentivo ao esporte.
Mangás desse gênero geralmente contam a história de um personagem que vai progredindo e
aprimorando suas técnicas ao longo da história. Lutas como jiu-jitsu, judô, e karate são muitas
vezes trabalhadas.
Esportes – Esses mangás também servem como incentivo a prática de esportes e tem como
personagem principal alguém que vai progredindo em determinado esporte ao longo da
história. São muitas vezes apresentados esportes como basquete, futebol e basebol.
31
- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -
-Livros
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LUYTEN, Sonia Bibe. Mangá: O poder dos quadrinhos japoneses. 3ª edição. São Paulo:
Hedra, 2011
PACHECO, Eloyr (Org.). Almanaque Shoujo Mangá: O poder da sedução feminina. São
Paulo: Editora Escala, 2009.
-Sites
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and Japanese Animation. Disponível em:
http://dspace.uta.edu/bitstream/handle/10106/15/umi-uta1724.pdf;jsessionid=879488E22ECF073CB6E9FAF6E6F926B1?sequence=1. Acesso em: 24
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BAKER, Mike Maikeru. Cultural Diffusion and Its Effects on Japan. Disponível em:
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FURNISS, Maureen. Dreamland Japan: Manga’s Paradise. Disponível em:
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2012
AOKI, Deb. Early Origins of Japanese Comics. Disponível em:
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HAYS, Jeffrey. Manga: Its History, Popularity, Readers, Publishers, Artists, Amateur Manga,
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http://factsanddetails.com/japan.php?itemid=739&catid=20&subcatid=135. Acesso em: 24
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THORN, Matt. A History of Manga. Disponível em: http://www.matt-thorn.com. Acesso em:
24 out.2012
SASAKI, Umiko. Western Influences on Meiji, Japan. Disponível em:
http://www.ehow.com/list_6162415_western-influences-meiji_-japan.html. Acesso em: 24
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32
O Tratado de Kanagawa (The treaty of kanagawa). Disponível em:
http://www.archives.gov/exhibits/featured_documents/treaty_of_kanagawa/. Acesso em: 23
out. 2012
MCCLOUD, Scott. Disponível em: http://scottmccloud.com. Acesso em: 23 out. 2012.
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HOLMBERG, Ryan. Manga 3.11: The Tsunami, the Japanese Publishing Industry, Suzuki
Miso’s Reportage, and the One Piece Lifeboat. Disponível em: http://www.tcj.com/manga-311-the-tsunami-the-japanese-publishing-industry-suzuki-miso%E2%80%99s-reportage-andthe-one-piece-lifeboat/. Acesso em: 23 out. 2012
MATSUI, Takeshi. The Difusion of Foreign Cultural Products: The Case Analysis of
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-Imagens
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