3031 1 ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL A evolução dos métodos e
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ISSN: 1981 - 3031 ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL A evolução dos métodos e abordagens Edlene Lira da Silva1 [email protected] Floriza de Abreu Feitosa2 [email protected] Maria Inez Matoso Silveira3 [email protected] RESUMO Este artigo apresenta uma breve história da alfabetização no Brasil, considerando o período que vai do final do século XIX, passando pelo século XX, até os dias atuais. Tem como objetivo discutir os métodos e abordagens referentes à alfabetização no Brasil, sua história e repercussões na educação ao longo de décadas até a atualidade, discutindo suas diferenças e subdivisões. Para isso, fez-se necessário o estudo bibliográfico de autores como Mortatti (2000; 2006), Capovilla (2005; 2010), Ferreiro (1981), Schelbauer (1998), Visvanathan (2010), Dehaenne (2012), Soares (1998) e ScliarCabral (2009) para a compreensão do processo histórico no qual a alfabetização se desenvolveu ao longo das décadas. As autoras não pretenderam avaliar a eficácia ou não desses métodos de alfabetização, mas, sobretudo, fazer uma busca dessas abordagens e métodos no sentido de compreender a evolução da alfabetização no nosso país e subsidiar a discussão sobre o atual estado em que se encontra o ensino dessa habilidade nas nossas escolas e as alternativas que se vislumbram para enfrentar o chamado analfabetismo escolar, que propicia o insucesso do aluno no processo de escolarização. PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização. História da alfabetização. Métodos e abordagens de ensino da leitura. 1 INTRODUÇÃO O baixo nível de compreensão leitora dos estudantes brasileiros e, principalmente, os preocupantes índices de deficiência nessa habilidade denunciados pelos exames oficiais entre alunos das escolas públicas em Alagoas demandam da universidade pesquisas que tentem, de alguma forma, entender e traçar alternativas que visem minimizar esse problema. 1 Graduanda do Curso de Pedagogia da UFAL, bolsista do Projeto OBEDUC–CAPES/INEP “O Ensino da Leitura e da Escrita em Escolas Públicas Alagoanas” – CEDU-UFAL. 2 Graduanda do Curso de Pedagogia da UFAL, bolsista do Projeto OBEDUC–CAPES/INEP “O Ensino da Leitura e da Escrita em Escolas Públicas Alagoanas” – CEDU-UFAL. 3 Professora Doutora do Centro de Educação da UFAL. Coordenadora do Projeto OBEDUC–CAPES/INEP “O Ensino da Leitura e da Escrita em Escolas Públicas Alagoanas” – CEDU-UFAL. 1 ISSN: 1981 - 3031 Nessa perspectiva, partindo da necessidade de estudos referentes à alfabetização no nosso meio acadêmico, onde tem se verificado a falta de discussão em torno dessa fase da escolarização que ocorre nos anos iniciais da escola básica, este artigo pretende iniciar essa discussão apresentando um breve percurso histórico da alfabetização no nosso país, obviamente com reflexos no ensino elementar no nosso Estado de Alagoas, apontando os métodos e abordagens presentes em cada momento histórico e suas repercussões no campo da leitura e da escrita. Assim, propomos discutir esses métodos e abordagens da alfabetização como forma de esclarecer algumas dúvidas em torno dessa temática, tais como: quantos e quais são os principais métodos de alfabetização? Quais são as semelhanças e as diferenças entre eles? Que método é mais utilizado hoje no Brasil? Convém frisar, primeiramente, que não pretendemos avaliar esses métodos quanto à sua eficácia ou não, mas nos valermos dos referenciais teóricos abordados para que possamos entender e responder as referidas questões. Sendo assim, inicialmente retomaremos um pouco dessa história e, em seguida, apresentaremos possíveis respostas para os questionamentos feitos anteriormente. Além disso, abordaremos algumas alternativas que aparecem na atualidade como forma de enfrentar o baixo desempenho de muitos alunos, especialmente os de escolas públicas, no domínio da habilidade da lectoescritura. 2 UM BREVE RECORTE HISTÓRICO EM TORNO DA ALFABETIZAÇÃO Podemos dizer, de forma um tanto resumida, que as questões em torno da alfabetização começaram a ser estudadas com mais profundidade a partir do momento em que a educação passou a ser considerada como um direito de todo cidadão/ã; quando nasce no Brasil a escola obrigatória. Esse acontecimento ocorreu com a Proclamação da República em 1889, e trouxe para o Brasil a necessidade de instruir a população para o mercado de trabalho que se tornava emergente desde os anos finais do século XIX. Como afirma Schelbauer (1998, p. 64, grifo da autora), essa necessidade de disseminar o aprendizado da leitura se deu quando a escola “passa a ser vista como a instituição responsável pela formação do sentimento de 2 ISSN: 1981 - 3031 cidadania necessário para colocar o país rumo ao progresso e à consolidação da democracia, nos moldes dos países civilizados”. Nessa perspectiva, para “civilizar” a população e, também, para que as pessoas pudessem votar, era necessário que a escola as instruísse, principalmente no que se refere a ler, escrever e contar, já que, na época, o Brasil possuía não menos que 70% de analfabetos. Segundo Mortatti (2006, p.2-3): No âmbito desses ideais republicanos, saber ler e escrever se tornou instrumento privilegiado de aquisição de saber/esclarecimento e imperativo da modernização e desenvolvimento social. A leitura e a escrita — que até então eram práticas culturais cuja aprendizagem se encontrava restrita a poucos e ocorria por meio de transmissão assistemática de seus rudimentos no âmbito privado do lar, ou de maneira menos informal, mas ainda precária, nas poucas “escolas” do Império (“aulas régias”) — tornaram-se fundamentos da escola obrigatória, leiga e gratuita e objeto de ensino e aprendizagem escolarizados. Caracterizando-se como tecnicamente ensináveis, as práticas de leitura e escrita passaram, assim, a ser submetidas a ensino organizado, sistemático e intencional, demandando, para isso, a preparação de profissionais especializados. Todavia, essa preocupação em torno do ensino da leitura e da escrita não fez com que esse ensino fosse de fato consolidado, pelo menos de maneira tão eficaz quanto se pretendia, sendo marcado por fracassos que se estendem, em certa medida, até a atualidade. Por um longo período da história da educação no Brasil, as discussões em torno da alfabetização foram pautadas nas questões dos métodos e abordagens de ensino (MORTATTI, 2006). E ainda hoje, podemos dizer que estudar a evolução histórica da alfabetização é estudar a história da evolução dos seus métodos e abordagens. Sendo assim, partindo do estudo feito por essa pesquisadora, apresentaremos de forma rápida os métodos e as abordagens em torno do ensino da leitura e da escrita na escola brasileira. A autora apresenta quatro momentos referentes à história da alfabetização. São eles: 1º) a metodização do ensino da leitura; 2º) a institucionalização do método analítico; 3º) a alfabetização sob medida; e, por fim, o 4º) alfabetização: construtivismo e desmetodização. No primeiro momento, referente à segunda metade do século XIX, o ensino da leitura e da escrita parte do chamado método sintético. Desse modo, para o ensino da leitura, “utilizavam-se, nessa época, métodos de marcha sintética (da 3 ISSN: 1981 - 3031 "parte" para o "todo"): da soletração (alfabético), partindo do nome das letras; fônico (partindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação (emissão de sons, partindo das sílabas” (MORTATTI, 2006, p. 5). Dessa forma, conforme a autora, nesse primeiro momento, para o ensinoaprendizagem da leitura era necessário que as crianças conhecessem primeiramente as unidades menores da língua (as letras, representando fonemas) para depois poderem aprender as unidades maiores (palavras, sentenças curtas e pequenos textos). Já a prática da escrita era restrita à ortografia e à caligrafia, ambas ensinadas através de exercícios em forma de cópias e ditados (MORTATTI, 2006). É também nesse momento, ainda segundo a autora, que surgem as famosas cartilhas. As primeiras cartilhas brasileiras, produzidas no final do século XIX sobretudo por professores fluminenses e paulistas a partir de sua experiência didática, baseavam-se nos métodos de marcha sintética (de soletração, fônico e de silabação) e circularam em várias províncias/estados do país e por muitas décadas (MORTATI:2006, p.5). Uma das mais famosas cartilhas, criada em 1876 pelo português João de Deus, foi a “Cartilha Maternal ou Arte da Leitura”. A partir dessa cartilha, surge um método diferente, denominado “método João de Deus”. Nesse método, o ensino da leitura começava pelo estudo da palavra e, só depois, se estudava seu valor fonético a partir das letras. Contudo, como afirma Mortatti (2006, p. 5, grifo da autora), nesse primeiro momento da história da alfabetização no nosso país, que “se estende até o início da década de 1890, tem início uma disputa entre os defensores do "método João de Deus", de orientação analítica, e aqueles que defendiam os métodos sintéticos”. Com isso, reforça-se a ideia de que a problemática da alfabetização é vista como uma questão de métodos. No que se refere ao segundo momento, ocorre a institucionalização do método analítico que, segundo a autora, vai se disseminar no Brasil, por influência de São Paulo, onde foi primeiramente adotado. O método analítico, sob forte influência da pedagogia norte-americana, baseava-se em princípios didáticos derivados de uma nova concepção — 4 ISSN: 1981 - 3031 de caráter biopsicofisiológico — da criança, cuja forma de apreensão do mundo era entendida como sincrética. A despeito das disputas sobre as diferentes formas de processuação do método analítico, o ponto em comum entre seus defensores consistia na necessidade de se adaptar o ensino da leitura a essa nova concepção de criança (MORTATTI, 2006, p.7). Diferentemente do método sintético, o método analítico parte do ensino das unidades maiores (o “todo”) para as unidades menores (as letras). A partir de então, iniciam-se os embates entre os defensores do antigo método, o sintético, e os defensores do novo método, o analítico. Ainda nesse segundo momento, que vai até, aproximadamente, meados dos anos de 1920, a “ênfase da discussão sobre métodos continuou incidindo no ensino inicial da leitura”. Além disso, já no fim da década de 1910, o termo “‘alfabetização’ começa a ser utilizado para se referir ao ensino inicial da leitura e da escrita” (MORTATTI, 2006, p.8, grifo da autora). Contudo, o processo da alfabetização começa a sair das “questões dos métodos”, da didática, e passa a se preocupar com “as questões de ordem psicológica das crianças” (idem, p.8). No que diz respeito ao terceiro momento, a alfabetização sob medida, a leitura e a escrita continuaram a ser ensinadas a partir do método analítico. Entretanto, a partir de meados 1920, esse método começou a ser questionado por professores/as que passaram a utilizar tanto o método sintético (de “baixo para cima”), como também o analítico (de “cima para baixo”), criando o chamado “método misto”, também conhecido como método eclético. Mas, segundo Capovilla (2005, p.56): Tradicionalmente, os métodos costumavam ser classificados em analíticos e sintéticos. Essa distinção se apoiava na ênfase e na direção dada ao ensino. Os métodos sintéticos seguiam da parte para o todo [...]. Os métodos analíticos seguiam do todo para as partes. Os embates em torno desses dois métodos continuaram, apesar de que, em ambos os casos, “a própria terminologia enfatiza a centralidade da decodificação em qualquer processo da alfabetização” (CAPOVILLA, 2005, p.56). Todavia, embora houvesse o uso frequente desse “método misto”, o método sintético continuava a ser o mais utilizado entre os/as professores/as. Segundo Mortatti (2006, p.9): 5 ISSN: 1981 - 3031 Vai-se, assim, constituindo um ecletismo processual e conceitual em alfabetização, de acordo com o qual a alfabetização (aprendizado da leitura e escrita) envolve obrigatoriamente uma questão de “medida”, e o método de ensino se subordina ao nível de maturidade das crianças em classes homogêneas. Desta forma, nesse terceiro momento (que se estende até o final da década de 1970), o foco da didática, do “como ensinar”, passa a dar lugar à “maturidade da criança a quem se ensina” (MORTATTI, 2006). Por fim, temos o quarto momento (alfabetização: construtivismo e desmetodização), no qual, como o próprio nome já diz, apresenta uma abordagem totalmente diferente das demais citadas anteriormente pelo fato de não se utilizar de método para se alfabetizar, propondo, a partir de 1980, uma desmetodização do ensino, sendo fundada principalmente a partir de estudos realizados por Emilia Ferreiro (1981). Devido aos altos índices de analfabetismo no Brasil, segundo Mortatti (2006, p.10), Como correlato teórico-metodológico da busca de soluções para esse problema, introduziu-se no Brasil o pensamento construtivista sobre alfabetização, resultante das pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita desenvolvidas pela pesquisadora argentina Emilia Ferreiro e colaboradores. Deslocando o eixo das discussões dos métodos de ensino para o processo de aprendizagem da criança (sujeito cognoscente), o construtivismo se apresenta, não como um método novo, mas como uma “revolução conceitual”, demandando, dentre outros aspectos, abandonaremse as teorias e práticas tradicionais, desmetodizar-se o processo de alfabetização e se questionar a necessidade das cartilhas. Desta forma, diferentemente dos métodos considerados “tradicionais”, que se baseavam no quadro de referência do behaviorismo em meados da década de 1960 (CAPOVILLA, 2005), a abordagem construtivista questiona tanto esses métodos, como também a utilização da cartilha. Essa abordagem construtivista acredita, por exemplo, que a criança pode se apropriar da leitura e da escrita de maneira “natural”, isto é, sem o ensino sistemático por parte dos/as professores. Segundo Ferreiro (1981, p.21-22), “do ponto de vista construtivo, a escrita infantil segue uma linha de evolução surpreendentemente regular, através de diversos meios culturais, de diversas situações educativas e de diversas línguas”. Além disso, essa abordagem vê a escrita como “sistema de notações e representações” e não como um código. Assim, o ensino da decodificação é descartado. 6 ISSN: 1981 - 3031 Este quarto momento tem início por volta de 1980, estando ainda em curso atualmente. Há uma grande crítica às tradicionais cartilhas utilizadas anteriormente para se alfabetizar. Os materiais de ensino passam a ser textos autênticos utilizados nas práticas sociais. Além disso, como afirma Mortatti (2006, p.11), Nesse 4º momento [...] funda-se uma outra nova tradição: a desmetodização da alfabetização, decorrente da ênfase em quem aprende e o como aprende a língua escrita (lecto-escritura), tendo-se gerado, no nível de muitas das apropriações, um certo silenciamento a respeito das questões de ordem didática e, no limite, tendo-se criado um certo ilusório consenso de que a aprendizagem independe do ensino. A partir de então, os antigos métodos considerados “tradicionais” dão lugar a essa nova abordagem – a construtivista – a partir dos estudos realizados por Ferreiro (1981) sobre a psicogênese da língua escrita4. Também nesse período surgiu o “pensamento interacionista em alfabetização”, que após alguns embates com o construtivismo, acabou sendo conciliado com o mesmo (MORTATTI, 2006). É importante ressaltar, ainda, que é também nesse quarto período que surge a questão do letramento, considerado por alguns autores como inerente à alfabetização e, por outros, como algo à parte, voltada às práticas e aos usos sociais da língua. Essa discussão tem sido trabalhada, principalmente, por Magda Soares, que levantou uma importante discussão acerca do argumento de que “não basta que o indivíduo seja alfabetizado; ele precisa ser letrado para poder exercer plenamente a cidadania” (SOARES, 1998). Além disso, há atualmente estudos da neurociência acerca do processamento da leitura que “[...] nos ajudam a entender as dificuldades iniciais com as quais as crianças se defrontam quando buscam aprender os traços das letras [...]” (SCLIARCABRAL, 2009, p.113). Contudo, a partir desses quatro momentos apresentados por Mortatti (2006), podemos perceber que na história da alfabetização no Brasil, as discussões sobre essa temática se pautavam quase sempre em embates provenientes de cada período dessa história, entre métodos considerados “tradicionais”, onde o foco do 4 O livro Psicogênese da língua escrita de Emília Ferreiro & Ana Teberosky (Ed. Artes Médicas, 1985) relata e comenta uma pesquisa feita pelas autoras inspirada na teoria piagetiana, e um dos seus pressupostos básicos é o de que a criança constrói o domínio da língua escrita por meio da sua imersão na cultura letrada e sua interação com os usos da escrita; e isso se dá antes mesmo de criança entrar na escola. 7 ISSN: 1981 - 3031 processo de ensino está na didática, e entre os novos métodos (analíticos e “mistos”) e abordagens, como o construtivismo. 2.1 SISTEMATIZANDO OS MÉTODOS E ABORDAGENS DA ALFABETIZAÇÃO Depois de apresentar um pouco da história dos métodos e abordagens da alfabetização, partiremos agora para a tentativa de responder aos questionamentos feitos anteriormente: quais são os métodos de alfabetização? Quais são as semelhanças e as diferenças entre eles? Qual método mais utilizado hoje no Brasil? Como vimos, no Brasil os métodos de alfabetização mais usados foram: o método sintético, o método analítico e a abordagem construtivista. Entretanto, em cada um desses métodos existem diferentes metodologias de aplicação. Por exemplo, o método sintético pode ser dividido em três tipos: o alfabético, no qual o/a aluno/a aprende inicialmente as letras, depois as sílabas, palavras, frases e textos; o fônico, onde a leitura é ensinada partindo do som das letras, juntando o som da vogal e da consoante para formar a sílaba; e o silábico, em que o/a aluno/a aprende primeiro a formar sílabas para depois formar as palavras. No caso do ensino pelo método analítico, este também pode ser dividido em três tipos: o da palavração, isto é, parte-se da palavra, existindo primeiro “[...] o contato com os vocábulos em uma sequência que engloba todos os sons da língua e, depois da aquisição de um certo número de palavras, inicia-se a formação das frases” (VISVANATHAN, 2010, p.2); o da sentenciação que, como o nome já diz, parte primeiramente do ensino da frase, sendo dividida depois em palavras, e, posteriormente, nas sílabas; e o ensino global, “[...] composto por várias unidades de leitura que têm começo, meio, e fim, sendo ligadas por frases com sentido para formar um enredo de interesse da criança” (Idem, p.2). Efetivamente, no ensino global, o aprendiz é exposto primeiramente aos textos, mesmo que ele ainda saiba decodificar. No que diz respeito à alfabetização construtivista, como não se utiliza de método, esta abordagem acredita que a criança é capaz de aprender a ler e escrever de forma “natural”, como já foi dito. Bastando, assim, que o aluno esteja imerso num ambiente letrado e que possibilite sua interação com textos e imagens. 8 ISSN: 1981 - 3031 Desta forma, aprenderá a ler e escrever sozinho, sem o ensino sistemático do/a professor/a, que passa a ser apenas um/a mediador. No Brasil, o método “tradicional” ainda se encontra em uso por alguns/mas professores/as. Todavia, o construtivismo se constitui como a abordagem oficializada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), devendo ser trabalhada nas escolas públicas. O recente Pacto Nacional de Educação na Idade Certa (PNAIC), apesar de abordar a importância de se trabalhar, através de jogos, a dinâmica da base alfabética e o desenvolvimento da consciência fonológica, ainda prevalece nele os postulados da abordagem construtivista como norteadora da sua proposta de alfabetização e letramento. No intuito de explicitar melhor as nomenclaturas, as característica e as diferenças entre os métodos de alfabetização, elaboramos o esquema (ou mapa conceitual) abaixo que pode esclarecer, mesmo de forma sucinta, as diferenças e semelhanças entre esses métodos. Figura 1- Métodos de alfabetização. Fonte: as autoras. 9 ISSN: 1981 - 3031 Mesmo considerando a sistematização dos métodos de alfabetização como necessária àqueles que desejam iniciar seus estudos no complexo tema da alfabetização, o fato é que a questão da alfabetização vai além dos métodos, pois a aquisição da leitura e da escrita envolve aspectos cognitivos, afetivos, socioeconômicos, culturais e políticos, além das questões relacionadas à formação dos profissionais do ensino que devem cuidar dessa importante fase da escolarização – os/as professores/as alfabetizadores. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do breve percurso histórico em torno da alfabetização e do estudo dos métodos e abordagens, pudemos concluir que estes estiveram inseridos em diferentes períodos históricos e vinculados às necessidades sociais de cada época. Além disso, pudemos também entender as diferenças e semelhanças que cercam os métodos, além de suas subdivisões e formas de sistematização. A alfabetização, em seu percurso histórico, atravessou diferentes momentos e, por muito tempo, esteve situada em questões e tensões em torno do método de alfabetização mais “eficaz” para sanar as dificuldades dos/as professores/as em ensinar o aprendizado da leitura e da escrita. Partimos, deste modo, do recorte histórico, para analisarmos as mudanças (de difícil assimilação pela maioria dos professores, reconheça-se) que os/as alfabetizadores/as mais antigos/as têm enfrentado, principalmente com o processo de desmetodização ocorrido a partir dos meados dos anos de 1980, com o surgimento da abordagem construtivista, pautada nos estudos realizados por Emilia Ferreiro (1981). Como afirma Mortatti (2006, p.12) “para viabilizar essa mudança, tornou-se, portanto, necessário, em cada um dos quatro momentos cruciais, produzir uma versão do passado e desqualificá-la, como se se tratasse de uma herança incômoda, que impõe resistências à fundação do novo.” De fato, desde os anos 90 do século passado, vive-se no Brasil e na nossa região, uma adesão irrestrita e um certo “encantamento” em torno do construtivismo, criando-se, assim, um pensamento único, em que outras alternativas não são buscadas e os aspectos 10 ISSN: 1981 - 3031 históricos do ensino dessa importante habilidade – a alfabetização – simplesmente foram esquecidos e praticamente desapareceram das agendas de pesquisa científica sobre a educação escolarizada, principalmente no nosso meio acadêmico. Contudo, sabemos que os problemas da alfabetização não serão resolvidos ou amenizados apenas com esses embates, mas sim através de estudos que busquem analisar a maneira como aprendemos e como devemos ensinar a ler e a escrever, bem como a partir de avaliações sistemáticas sobre os atuais métodos e abordagens ainda em uso, para um melhor conhecimento em torno daquilo que pode ser considerado apropriado para esse processo tão importante da escolarização que é a alfabetização. Antes de concluir, consideramos de boa valia a menção de algumas alternativas e propostas metodológicas, como, por exemplo, o método fônico 5, que defende o ensino explícito da base alfabética no início da alfabetização, respaldado nos avanços de ciências atualmente envolvidas com estudos da leitura e seu processamento mental, tais como, a psicologia cognitiva, a neurociência e a neuropsicolinguística (SCLIAR-CABRAL, 2009, p.113). Tais estudos defendem que o processamento cerebral da leitura se inicia pela decodificação, ou seja, pelo reconhecimento rápido das letras e palavras, e que essa habilidade de decodificar deve ser explicitamente ensinada e posteriormente automatizada pelo leitor (DEHAENNE, 2012), a fim de livrar o córtex cerebral para realizar as tarefas mais nobres como a compreensão textual e a apreciação crítica na leitura. Esses achados têm levado os estudiosos a reconsiderar algumas habilidades metalinguísticas (principalmente as consciências fonológica e silábica) que os chamados métodos tradicionais já preconizavam, porém as exercitavam de forma pouco amigável para os aprendizes. Por isso, consideramos o estudo sobre os métodos de alfabetização de grande importância para entender e ressignificar as práticas de ensino dessa habilidade. A busca dessas ressignificações foi também um dos motivos pelos quais idealizamos elaborar este artigo, na esperança de que possa, de alguma forma, estimular o debate efetivo sobre as alternativas que precisamos vislumbrar para 5 CAPOVILLA, Fernando; SEABRA, Alessandra G. Alfabetização: Método Fônico. 5. ed. São Paulo: Memmon, 2010. Esta obra compreende o livro do professor com a fundamentação e orientação, e a cartilha do aluno. 11 ISSN: 1981 - 3031 enfrentar a preocupante situação em que se encontra o ensino da alfabetização nas nossas escolas. Por fim, vale dizer que, na realidade, a motivação desse estudo partiu primeiramente do nosso envolvimento no Projeto intitulado O ensino da leitura e da escrita em escolas públicas alagoanas: recursos, estratégias e práticas inovadoras para a redução do analfabetismo escolar, do Programa Observatório da Educação, edital CAPES/INEP 049/2012, Proposta nº 22456. Este projeto está sendo desenvolvido no Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Alfabetização (NEPEAL), do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas. REFERÊNCIAS CAPOVILLA, F. (Org.). Os novos caminhos da alfabetização infantil. 2 ed. São Paulo: Memnon, 2005, p.1-174. CAPOVILLA, Fernando; SEABRA, Alessandra G. Alfabetização: Método Fônico. 5. ed. São Paulo: Memmon, 2010. DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura. Tradução de Leonor Scliar Cabral. Porto Alegre: Editora Penso, 2012. FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. 26 ed. São Paulo: Cortez, 2011. MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os sentidos da alfabetização: São Paulo/18761994. São Paulo: Editora UNESP, 2000. MORTATTI, Maria do Rosário Longo. História dos métodos de alfabetização no Brasil. Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação.Brasília, 2006. Disponível em:<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf> Acesso em: 01 set, 2014. SCHELBAUER, Analete Regina. Ideias que não se realizam: o debate sobre a educação do povo no Brasil de 1870 a 1914. Maringá: EDUEM, 1998. SCLIAR-CABRAL, Leonor. Aprendizagem neuronal na alfabetização para as práticas sociais da leitura e escrita. Revista Intercâmbio, volume XX: 113-124, 2009. São Paulo: LAEL/PUC-SP. ISSN 1806-275x. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003. VISVANATHAN, Christianne. Métodos de alfabetização: quais são e como funcionam?. Disponível em:< http://www.mundinhodacrianca.net/2009/10/metodosde-alfabetizacao-quais-sao-e.html> Acesso em: 01 set, 2014. 12
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