Edição 56 - Superpedido Tecmedd
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Edição 56 - Superpedido Tecmedd
VERSOS LIVRES Em entrevista exclusiva, Fernanda Young fala sobre seu retorno à poesia, gênero que ajudou a definir sua vida e sua carreira Editorial Editorial Editorial pág. 2 Fazer acontecer Cartas A esta altura dos acontecimentos políticos, econômicos, sociais e culturais no Brasil, falar em instabilidade ou crise é chover no molhado. E, bem sabemos, não há solução imediata à vista – os cenários de retomada debatidos por especialistas na televisão, nos jornais, no rádio ou na internet parecem peça de ficção, de tão distantes que parecem da realidade. Parabenizo a revista Superpedido por relembrar a memória de Ayrton Senna em sua matéria de capa (edição 55). Mesmo duas décadas depois de sua morte, o exemplo que ele deixou ainda é uma inspiração viva para todos os brasileiros. Carla de Almeida Petrucci São Paulo-SP Pior do que tudo isso, porém, é fechar os olhos para os problemas. Desistir não pode ser uma opção para quem acredita em sua própria força. Por isso, nesta edição preparamos um cardápio dos mais realistas: textos e artigos especialmente selecionados para levar o leitorlivreiro a uma reflexão acerca de seus próximos passos, neste momento de tantas incertezas. Os textos de Reinaldo Polito tem me surpreendido pelo ecletismo. Descobri que ele é um mestre não apenas na parte de oratória, que é sua especialidade, mas também na arte de contar histórias. Espero pelos próximos! Ricardo Silva Amaro São Paulo-SP É impossível ignorar que a situação é delicada – como nos mostram os dados do Painel das Vendas de Livros no Brasil (página 32). Mas é possível, e necessário, saber que há armas para encarar esse desafio. No setor de boas notícias do mercado, que tal a chegada de dois novos livros do universo Harry Potter (página 4)? Ou que a adaptação de A garota no trem chegará às telas no segundo semestre. É importante não wdescuidar também das (boas) atitudes, e por isso abrimos espaço para dois lançamentos – O viés otimista (página 26) e O lado difícil das situações difíceis (página 36) – e suas pertinentes colocações. Agora? É com vocês. Com todos nós. Celso de Campos Jr. Editor Ligue para a SuperPedido São Paulo 11 3505-9788 pág. 3 Zoom Zoom Zoom Em filme Um dos grandes sucessos editoriais de 2015, o arrepiante A garota no trem continua sua boa marcha das livrarias em 2016 – e a tendência é que o vagão acelere ainda mais no segundo semestre. Afinal, a obra, lançada no Brasil pela Record, ganhará as telas do cinema, na aguardada adaptação estrelada por Emily Blunt e dirigida por Tate Taylor (de Histórias Cruzadas). O lançamento do primeiro trailer deixou os fãs da história em polvorosa, trazendo cenas enigmáticas ao som de uma versão lenta da canção Heartless, de Kayne West. O filme estreia no Brasil em novembro. A equipe da revista quer ouvi-lo, leitor-livreiro! Sugestões, críticas e idéias podem ser enviadas ao e-mail [email protected], ou remetidas para o endereço da redação. Mãos à obra! Índice 2 3 4 6 8 10 16 18 22 24 26 28 32 33 34 36 38 39 Editorial e Cartas Zoom Mercado Humor Literatura Capa Crônicas Saúde Em alto e bom tom Ficções Livrescas Comportamento Papo de Escritor Varejo Quadrinhos Internacional Negócios Top 100 Top 20 Revista Superpedido Edição de Mai./Jun. de 2016 Ano XII - Nº56 Essa revista é uma publicação da Superpedido Comercial S/A Av. Doutor Antonio João Abdalla, 260 Bloco 400 - Área D - Sala H Empresarial Colina - Cajamar/SP cep. 07750-020 tel. 11-3505-9771 site. www.superpedido.com.br e-mail. [email protected] Distribuição gratuita. Venda proibida. É proibida a cópia e a reprodução total sem prévia autorização. Não nos responsabilizamos pelo preço de capa dos livros desta revista. São sugeridos pela editora e podem ser alterados sem prévio aviso. Superpedido Comercial S/A. Todos os direitos reservados. Edição Celso de Campos Jr. Produção e projeto gráfico Nathália Furlan e Gabriela Silva Nesta edição colaboraram Custódio, Guilherme Petreca, Reinaldo Polito, Simon Key e Tiago P. Zanetic Foto da capa Paulo Ferreira Ilustrações Estúdio Canarinho Em livro Por outro lado, um dos grandes sucessos do cinema em 2016, Spotlight: Segredos Revelados chega agora também às livrarias de todo o Brasil. A editora Vestígio lança o livro com todo o relato da investigação da equipe de jornalismo do Boston Globe sobre os abusos sexuais realizados por pa- dres católicos em crianças nos Estados Unidos. A chocante série de reportagens venceu o prêmio Pulitzer e inspirou a película dirigida por Thomas McCarthy e estrelada por Michael Keaton, Rachel McAdams e Mark Ruffalo, que venceu a estatueta de Melhor Filme no Oscar deste ano. Mercado Mercado Mercado pág. 4 pág. 5 mundial em Londres, no dia 30 de julho. Não se trata da continuação da série, portanto, já que esta acabou no sétimo livro; mas a peça está sendo anunciada como a oitava história de Harry, baseada em um original inédito escrito por J. K. Rowling, John Tiffany e Jack Thorne, este o diretor do espetáculo. A descrição oficial da história é cruel com os fãs, uma vez que deve causar ininterruptos episódios de ansiedade. “Sempre foi difícil ser Harry Potter e não é mais fácil agora que ele é um sobrecarregado funcionário do Ministério da Magia, marido e pai de três crianças em idade escolar. Enquanto Harry lida com um passado que se recusa a ficar para trás, seu filho mais novo, Alvo, deve lutar com o peso de um legado de família que ele nunca quis. À medida que passado e presente se fundem de forma ameaçadora, ambos, pai e filho, aprendem uma incômoda verdade: às vezes as trevas vêm de lugares inesperados.” e foi recebido entusiasticamente não apenas pelos exigentes fãs da série, mas também pela crítica. De fato, o trabalho de Kay é de uma riqueza de detalhes quase sobrenatural, inclusive quando comparado ao trabalho visual realizado nos filmes – basta ver as amostras que ilustram esta reportagem. A volta da magia Em outubro, a agitação promete ser ainda maior, quando as livrarias do país receberão uma história inédita do bruxinho. Harry Potter and the Cursed Child parts I and II será, na verdade, a edição especial de ensaio do roteiro da peça que terá sua pré-estreia Livrarias brasileiras receberão nos próximos meses dois dos mais aguardados lançamentos do universo de Harry Potter Os próximos meses prometem muitas emoções aos fãs de Harry Potter e também aos livreiros brasileiros – não que estes não façam parte da primeira categoria, evidentemente, por motivos óbvios. Dois dos mais esperados lançamentos derivados da criação de J.K. Rowling chegam ao mercado brasileiro, ambos pela Rocco, e prometem fazer a velha magia voltar às caixas registradoras. Em junho, a editora lança a edição em português da versão ilustrada de Harry Potter e a Pedra Filosofal, com desenhos do premiado Jim Kay. O livro saiu no ano passado no Reino Unido e nos Estados Unidos “Tantos anos após a publicação de Harry Potter e as Relíquias da Morte, último livro da série que transformou o mercado editorial mundial e a vida de tantos leitores, é com grande alegria que trazemos para o Brasil a 8ª história de Harry Potter”, afirma o editor Paulo Rocco. Agora é só esperar. Só? Será que existe algum feitiço para fazer o tempo andar mais rápido? pág. 7 Humor Humor Humor algum tempo debatendo a ideia antes de publicá-la. Acho que o cuidado e o carinho que temos com cada matéria que vai ao ar é responsável por boa parte do sucesso que conquistamos. Qual foi a reação mais bizarra que alguma celebridade teve em relação a alguma notícia postada por vocês? Martha: A reação definitivamente mais bizarra foi a do deputado Marco Feliciano, que nos processou. Marcelo: Tivemos algumas citações extrajudiciais sobre as quais não podemos falar. Mas os personagens – e, pasmem, veículos de comunicação – que tentam nos calar são exatamente aqueles que vocês podem imaginar. Nelito: O processo, para mim, é o mais bizarro. Felizmente isso só aconteceu duas vezes nos sete anos de site. Leo: O processo movido pelo deputado/pastor Marco Feliciano foi um dos momentos mais bizarros. O parlamentar pediu danos morais na Justiça por se sentir “altamente prejudicado, abalado moralmente e torturado conscientemente” por causa de uma piada que fizemos. Mas vê-lo perder nas duas instâncias foi também um dos momentos mais legais da história do site. As bem-humoradas pérolas quase noticiosas do portal Sensacionalista chegam às livrarias, com o lançamento do livro... Sensacionalista, da editora Belas-Letras. Na entrevista a seguir, os quatro responsáveis pela página – Nelito Fernandes, Marcelo Zorzanelli, Leonardo Lanna e Martha Mendonça – revelam os bastidores da criação e do funcionamento do site, que alcançou respeitabilíssima marca de 2,5 milhões de fãs. Não se surpreendam se as versões dessa história forem conflitantes; afinal, como eles mostram todos os dias na internet, a verdade é relativa. Martha: Sim, discutimos cada uma das manchetes todos os dias. Quem tem a ideia manda para o nosso grupo do WhatsApp – onde, além de nós quatro, estão incluídos mais dois colaboradores – e ali aprovamos, aperfeiçoamos ou deixamos a ideia de lado. Algumas são rapidamente aprovadas. Outras são lapidadas por bastante tempo. Mas nosso limite de discussão é o timing do acontecimento. Como a ironia é interpretada pelo público? Marcelo: Acho que o maior segredo da nossa receita é o respeito. Nunca alguém saiu contrariado de uma discussão no nosso grupo. Quando surgiu a ideia de criar o Sensacionalista? Nelito: Em 2009 eu fui demitido do programa no qual trabalhava na TV e me vi desempregado no humor. Resolvi, então, voltar à internet, onde já tinha feito um blog de sucesso no passado, o Eu Hein. Como era fã do The Onion, resolvi fazer uma “versão brasileira”. Já neste ano, os outros entraram. Nelito: Temos um sistema de votação das matérias e nada vai ao ar sem que pelo menos dois de nós gostemos. Não existe hierarquia forte porque num ambiente criativo isso é ruim. Temos um bordão também que é o “você acredita”, ao qual podemos recorrer sempre que alguém acredita muito na piada que não está fazendo muito sucesso entre os demais. Tem dado certo assim. Acho que acertamos mais do que erramos. Leo: A ironia requer alguma inteligência para ser interpretada, e quando o público entende uma ironia ele se sente cúmplice da piada e geralmente isso se traduz em likes, compartilhamentos, hahahas e kkkk’s. A equipe do Sensacionalista é composta por quatro cabeças. Vocês discutem antes de postar uma manchete até que todos concordem, ou nem sempre existe um consenso? Leo: Geralmente já estamos tão sintonizados que a discussão não se faz necessária. Mas quando o assunto é um pouco mais polêmico ou delicado gastamos Marcelo: Quando temos sorte, com gargalhadas. Nelito: Se não for com risos é porque falhamos. Não adianta brigar com o público, achar que as pessoas não entendem. Quem tem a obrigação de se fazer entender somos nós. Vocês esperavam que a ação #RIPSensacionalista – que anunciou o suposto fim do site – daria tão certo quando atingiram 1 milhão de seguidores no Facebook? Martha: Tínhamos esperança de que fizesse bastante barulho, mas foi além do que imaginávamos. Muita gente acreditou e isso serviu para que ficássemos ainda mais conhecidos. Nelito: Deu tão certo, mas tão certo, que alguns anunciantes pararam de nos procurar achando que o site tinha acabado. O mais difícil foi passar um dia sem postar nada, porque o Sensa vicia. “ Meu sonho sempre foi ter a internet inteira impressa, para o caso de um dia o wi-fi cair de vez. Acho que esse livro é um bom começo Leonardo Lanna ” Leo: Quando reunimos um grupo de leitores famosos para gravar o vídeo da campanha, a ideia era pegar emprestado um pouco da credibilidade deles para que a nossa brincadeira fosse levada a sério. Aconteceu que foi levada a sério até demais a ponto de termos sido procurados pela imprensa e por alguns anunciantes para esclarecer o fim do Sensacionalista. O livro é algo eterno. De certo modo, o Sensacionalista está deixando a sua marca em modo impresso também. Como vocês encaram essa plataforma? Martha: É interessante, sim, para nós, que somos um produto de internet, ter algo impresso. Mas como fui jornalista de veículo impresso por vinte anos, sou suspeita. Marcelo: Diga isso para a Biblioteca de Alexandria. Nelito: É bom poder fazer um calço de mesa para o leitor. Vocês realmente derrubaram árvores para isso? Leo: Meu sonho sempre foi ter a internet inteira impressa, para o caso de um dia o wi-fi cair de vez. Acho que esse livro é um bom começo. Os mais sábios dizem que, se alguém mentir muito, ninguém vai acreditar quando esse alguém falar a verdade. Qual seria o recado para quem ainda não acredita que o livro realmente existe? Martha: A maioria está acreditando, mas estamos quase fazendo algum tipo de promessa para aqueles que ainda duvidam. Nelito: Esse pessoal é engraçado. Acredita em político mas não acredita na gente. Leo: O livro existe, sim. E alguns exemplares vêm com uma nota de 100 reais enfiada dentro do livro. Vale tentar a sorte. Literatura Literatura Literatura pág. 8 maduro de um estreante no mercado editorial, cujos questionamentos vão além dos dilemas tradicionais encontrados no gênero. Confira a seguir um bate-papo com o autor. Como você resumiria a história da trilogia Onze Reis? Podemos classificá-la em algum gênero? A trilogia Onze Reis pode ser classificada como fantasia. No entanto, eu diria que os elementos fantásticos estão apenas no segundo/terceiro planos. A ideia central é mostrar uma guerra se aproximando, e eventualmente tomando todo um continente, e as consequências que isso causa no povo. Outra ideia que permeia a saga é o questionamento das crenças. Vale a pena depositar suas esperanças em uma entidade superior? Vale a pena abdicar da individualidade e decisão que existe dentro de você, para dar esse poder a um anjo ou a um deus? Em Principia, como em outras sagas do gênero, você criou não apenas uma história, mas um mundo próprio, com novos povos, nomes, mapas, que devem preceder a própria ação do romance. Pode nos contar um pouco da dinâmica de um processo criativo como esse? Por onde você começa? NOVO MUNDO Um bate-papo com o escritor Tiago P. Zanetic, autor da trilogia Onze Reis e revelação da literatura fantástica nacional Dentro de uma excelente safra de autores nacionais dedicados à literatura fantástica, um nome promete alcançar destaque no radar dos fãs do gênero. Autor de Onze Reis, que chega ao mercado pela Callis, Tiago P. Zanetic entrega um trabalho de fôlego – um livro O problema para começar a criação de um mundo é saber onde e quando parar. É muito tentador trazer todas suas influências, ideias e as colocar ali. Então o importante é criar um universo coeso, com suas regras, e as respeitar até o fim. É muito fácil se perder nessa parte do processo, pois são tantos elementos a se trabalhar: o clima e o relevo de cada região, os costumes de cada povo, as crenças, etnias, etc. Por isso a pesquisa deve ser gigantesca, para que cada elemento não te atrapalhe no caminho, ou até mesmo não te contradiga. A história foi pensada completa, como trilogia, mas você não escreveu a segunda e a terceira partes antes que o primeiro volume fosse finalmente lançado. Em que pé está o trabalho agora? A trama como você havia imaginado está sendo seguida ou os rumos da história podem mudar enquanto você escreve? Assim que acabei o primeiro volume, eu só tirei alguns dias para descansar e já pulei para o segundo. Não importando que ainda não tivesse uma editora, eu não podia me afastar tanto de Relltestra! Estou bem avançado na escrita de Para Bellum, (o segundo volume), e, dessa vez, não tirarei nem um dia de folga até terminar o terceiro e último volume! Quanto a segunda pergun- pág. 9 ta, sim, estou seguindo a trama como a pensei originalmente, mas muitos elementos mudam ao longo do trabalho de escrita. Parece algo meio místico, ou bobo, de se dizer, mas os acontecimentos e personagens te guiam pela história, então cabe a você se deixar levar. Esse é, sem dúvida, o maior prazer de um escritor. Quais são seus mestres no gênero da fantasia? E na literatura? Quais as principais influências que ajudaram a conceber e executar Principia? Posso dizer que J.R.R. Tolkien influencia a todos que se aventuram no campo da fantasia, mesmo que indiretamente, o que é o meu caso. Também tenho influência de R.A. Salvatore e Bernard Cornwell (bem, esse não é tão fantasioso assim…). Mas minhas influências são as mais diversas, desde Arthur C. Clarke, que escreve ficção científica, até Chuck Palahniuk, que bem, é um caso à parte... No caso de Principia, minhas influências foram bem peculiares, em se tratando de seu gênero: Vitor Hugo, com seu Os Miseráveis e O Livro dos Cinco Anéis de Miyamoto Musashi, ambas pelo incrível desenvolvimento de personagens. E como em minha obra trabalho com mais de um ponto de vista, Um Longa Queda de Nick Hornby foi um livro importante, ao me mostrar de forma simples como cada núcleo pode soar diferente do outro. Pode nos contar um pouco a história de outra saga – a de escrever e publicar seu livro no Brasil? A trilogia sai pela Callis, editora muito respeitada pela seleção de conteúdo. Como foi chegar até ela, e quais as batalhas que você venceu no caminho? “ Parece algo meio místico, ou bobo, de se dizer, mas os acontecimentos e personagens te guiam pela história, então cabe a você se deixar levar ” O gosto pela leitura eu descobri muito cedo, aos seis anos, por incentivo de minha mãe, e foi uma paixão arrebatadora. Quanto mais eu lia, mais eu desenvolvia o sonho de contar minhas histórias, mas nunca me achei capaz. O que é bastante comum em pretensos escritores. Mas eu sempre digo: basta começar a pesquisar, escrever e se aperfeiçoar. Diria eu que essa é a parte fácil, a mais difícil é conseguir ser publicado… Eu demorei dois anos para escrever Principia, e, desde os primeiros capítulos, comecei uma pesquisa extensa sobre o mercado literário brasileiro, editoras, autores de destaque, etc. Me aprofundei bastante no tema, o que me facilitou muito na hora em que tive, finalmente, o manuscrito em minhas mãos. Imprimi três cópias de meu livro, enviei para três editoras, sendo que recebi resposta de duas em menos de um mês. O que foi sensacional! Mas sei que fui um caso quase isolado, pois a demora na avaliação de manuscritos pode demorar até alguns anos. O que não é demérito algum, é claro. Eu só tive a sorte dos “planetas se alinharem” para mim. “ Vejo que, principalmente, o público mais jovem tem um gosto muito grande pela leitura. E eles não se assustam com o tamanho dos livros ” O primeiro volume de Onze Reis tem quase 500 páginas; no total, a trilogia deverá ultrapassar a casa das milhares. Para você, o que isso diz a respeito da crença que a leitura anda em baixa entre os jovens brasileiros? Concorda com essa ideia? Muita gente diz que o brasileiro não lê, o que é até certo ponto correto. Mas vejo que, principalmente, o público mais jovem tem um gosto muito grande pela leitura. E eles não se assustam com o tamanho dos livros, só querem consumir boas histórias, inclusive tendo bastante gosto por sagas com diversos volumes. Tenho recebido muitos e-mails e mensagens justamente de leitores na faixa dos 12 e 13 anos, o que me surpreendeu bastante! Não podia estar mais feliz com isso, pois me fez perceber que fiz algo que conversa com todas as idades. Creio que, pelo menos, a vontade de ler existe em quase todas as pessoas, mas acho que muitas vezes falta o incentivo certo, ou até mesmo acesso aos livros, o que é uma questão complicada e delicada. pág. 11 Capa Capa Capa Capa Capa Capa Um exercício de libertação A mão esquerda de Vênus, novo livro de Fernanda Young, reúne poesias que desnudam, assustam e libertam a alma da escritora Sou um órgão Transplantado. Era para ser a costela fêmea, mas virei Um totem, um crânio de princesa mumificado. À luz da lua, eu fosforeço em seu peito. Foto: Marcus Steinmeyer As palavras são a matéria-prima do trabalho de Fernanda Young, como bem sabe o público que as lê em nas narrativas de seus livros ou as ouve na fala dos atores e atrizes que interpretam seus textos na televisão, no teatro ou no cinema. Poucos imaginam, porém, que a poesia foi a pedra fundamental em na carreira de Fernanda Young – ou, mais precisamente, em sua vida, já que o gênero a ajudou a superar sua antiga sua dificuldade de ler e compreender a escrita. “A língua portuguesa nunca me deixou desistir. Sou uma romancista que escreve roteiros, que atua caso precise contar uma história, mas que começou escrevendo poemas, na verdade, devido à dislexia.” Não estranhem, portanto, a relação tão visceral com seu mais recente lançamento, A mão esquerda de Vênus, com a qual a escritora marca sua estreia na GloboLivros. A intimidade de Fernanda está não apenas seus versos, mas também em seus desenhos, anotações, fotografias e bordados, material pessoal aproveitado no livro pelo designer Daniel Trench, responsável pelo projeto gráfico da obra. “Poesia é mesmo uma estrutura cruel, visto que, se não conseguimos ler corretamente um poema, ele não fará sentido algum. Há versos que, sozinhos, contam pági- Quiçá sou eu, sim, eu. Eu mesma. Sofisticada e Demencial. Essa que fala Demais e diz que te ama, Que não quer ir, e não quer Ficar aqui. Esse aqui que vaga e Ressente. nas e páginas de uma história; outros encerram, na medida cirúrgica, exatamente o que querem dizer. É como se um romance coubesse ali”, afirma a autora, que reúne no livro poemas criados nos últimos dez anos – Fernanda tem 11 obras publicadas em duas décadas, mas só havia publicado um livro de poemas, Dores do amor romântico, em 2005. Curiosamente, A mão esquerda de Vênus nasceu de um “encontro”. Há alguns anos, a escritora e sua irmã Renata Young descobriram, em uma caixa cheia de livros de sua amiga Monica Figueiredo, um maço de cartas amarrado em uma fita de cetim. Eram cartas de amor instigantes e misteriosas de Laurinha, mãe de Monica. Devidamente autorizada pela filha da protagonista a seguir com a leitura, Young acredita que a identificação com a autora daquelas cartas, tardiamente descobertas, foi o elemento desencadeante do livro. Revelada nas cartas e diários escritos por Laurinha desde a adolescência até antes de sua morte, aos 69 anos, a história de amor vivida pela amiga provocou em Young uma profusão de sentimentos e sensações que a artista eterniza em sua arte poética. Na entrevista a seguir, Fernanda fala um pouco mais deste lançamento, de sua carreira e de como a poesia a desnuda. pág. 13 Capa Capa Capa Você já afirmou que, desde pequena, se considerava uma escritora – e é assim que, ainda hoje, você se define em primeiro lugar. O que significa escrever para você? Que sentidos as palavras libertam? Sou escritora. Depois disso, posso me afirmar mãe. No mais, não sou mais nada. Sou livre! A literatura me salvou, ainda me salva, sou devotada, apaixonada, jamais me sentirei à altura dessa língua perfeita, por isso irei sempre escrever e testar os limites. As palavras me excitam. Já se vão vinte anos desde o lançamento de sua primeira obra, Vergonha dos pés. O que mudou na Fernanda escritora de lá para cá – se é que algo mudou, evidentemente? Muita coisa mudou, mas ainda reconheço aquela que escreveu Vergonha dos pés; sou ainda a mesma na teimosia, nos temas obsessivos – amor, tempo e morte –, mas acredito estar mais corajosa, e com certeza menos ingênua. “ A literatura me salvou, ainda me salva, sou devotada, apaixonada, jamais me sentirei à altura dessa língua perfeita, por isso irei sempre escrever e testar os limites. ” Você tem uma carreira extremamente agitada, mas sempre encontra espaço para os livros. Como eles se encaixam nesse quebra-cabeça multimídia que é sua vida profissional? E como eles a completam? Tento não ficar mais de três anos sem lançar um livro, o que significa que estou sempre escrevendo. O que me frustra um pouco. No início da minha carreira, cheguei a publicar três livros em dois anos. Eu vivia para a literatura. Mas a literatura não me permite pagar as minhas contas, e com tantos filhos, as contas são altas. Mas vivo de contar histórias, por isso insisto em dizer que sou Mais de uma década depois, um novo livro de poesia. Voltar ao gênero foi uma necessidade ou uma oportunidade? E o que a poesia revela que a prosa não consegue transmitir? Poesia desnuda. Como acho a liberdade um exercício necessário e constante, eu me entrego a essa nudez. Posso ficar muito tempo sem escrever poesia. Como posso escrever vinte poemas em poucos meses, como aconteceu em A mão esquerda de Vênus. Eu disse que não iria mais publicar poesia. Agora, diante desse novo livro, me sinto assustada, e tenho vontade de proferir essa mentira mais uma vez. Como que para me proteger, ou me desculpar. Você prepara também um novo romance, O piano está aberto, que deve ser lançado ainda este ano. O que pode adiantar dessa obra para os leitores? É sobre uma história de amor proibida, antiga, triste em sua covardia. Sobre a depressão. Sobre como a depressão pode se transformar em arte. A personagem toca lindamente piano quando está em crise. E torna-se um círculo vicioso. É sobre vícios. Sobre segredos familiares. Sobre amor. “ Eu disse que não iria mais publicar poesia. Agora, diante desse novo livro, me sinto assustada, e tenho vontade de proferir essa mentira mais uma vez. ” A literatura pop hoje se tornou um dos pilares do mercado editorial, com excelentes vendagens – mas nem sempre foi assim. No Brasil, seu trabalho foi um dos pioneiros nesse segmento, e você declarou que chegou a sofrer com um certo preconceito, ou ao menos má vontade, da parte de escritores da literatura mais tradicional... Como lidou com essa situação? E como vê o retumbante sucesso de público de autores contemporâneos, com temática jovem, desinibida, atrevida? Eu achei que ao envelhecer a implicância diminuiria, mas desconfio que ainda existe um segmento da cultura que não aguenta a iconoclastia do meu trabalho. E isso até me alegra. Espero que eu possa inspirar sonhadores, autores que não vieram de um meio intelectual e que conseguem, com destemor, trilhar uma linguagem. Acho que fiz isso, e tomara que sempre seja essa que causa ruído. Não me constranjo da minha história, e acredito que todas as histórias valem livros. No ano 2000, você lançou um romance chamado As pessoas dos livros. Para você, quem são as pessoas dos livros? E qual a importância delas para o mundo de hoje? E para o mundo dos nossos filhos? Somos nós, você que está me entrevistando, você que está lendo a entrevista, que deseja ler meu livro, ou outro livro, que sabe que a elegância de quem lê é incomparável e que todos merecemos esse prazer. É quem publica, edita, revisa, faz a capa, divulga. Eu ainda acredito que no Brasil há leitores! E que há leitores para livros de poesia! Nas duas páginas a seguir, reproduzimos duas páginas de A mão esquerda de Vênus, com o material original de Fernanda Young aproveitado pelo designer Daniel Trench. Fotos: Paulo Ferreira apenas escritora. Uso vários formatos, mas estou sempre em função do verbo, da língua portuguesa. Sinto-me grata por ser uma autora de vários formatos, e tenho certeza de que tenho muitos leitores. Sou afortunada. Estou sempre exausta, mas sou uma artista brasileira que pode afirmar estar satisfeita. Capa Capa Capa pág. 15 pág. 16 Crônica Crônica Crônica pág. 17 duras que lhe deixaram marcas na mão direita. Já quase nada tinha da jovialidade de antes, embora continuasse perturbadora em sua natural dramaticidade. Depois de ouvir dela algumas palavras carinhosas, decidi revelar-lhe como me fascinara em nosso primeiro encontro. – Você era linda, tão linda que saí dali apaixonado. – Quer dizer que eu “era” linda? – E ainda é – apressei-me em afirmar... Terminada a entrevista, despedimo-nos carinhosamente, mas no dia seguinte ela ligou de novo. Queria encontrar-me para conversar. Fui até sua casa, no Leme, e de lá fomos caminhando até a Fiorentina, que ficava perto. Lembro-me de que Glauber Rocha, vendo-nos ali, veio sentar-se à nossa mesa e começou a elogiar o governo militar. Clarice me olhava com espanto, sem entender. Ele, depois daquele discurso fora de propósito, mudou de mesa. “ Nos dias que se seguiram, não conseguia esquecer seus olhos oblíquos, seu rosto de loba com pômulos salientes Presença de Clarice Por FERREIRA GULLAR Meu primeiro encontro com Clarice Lispector foi numa tarde de domingo na casa da escultora Zélia Salgado, em Ipanema, creio que em 1956. Eu havia lido, quando ainda vivia em São Luís, o seu romance O lustre, que me deixara impressionado pela atmosfera estranha e envolvente, mas a impressão que me causou sua figura de mulher foi outra: achei-a linda e perturbadora. Nos dias que se seguiram, não conseguia esquecer seus olhos oblíquos, seu rosto de loba com pômulos salientes. Voltei a encontrá-la, pouco tempo depois, no Jornal do Brasil, durante uma visita que fez à redação do “Suplemento Dominical”. Conversamos e rimos, mas não voltamos a nos ver num espaço de uns dez anos. De fato, só voltei a encontrá-la logo após voltar do exílio, em 1977. Ela ligou para minha casa: queria entrevistar-me para a revista Fatos & Fotos, para a qual colaborava naquela época. Clarice já era então uma mulher de quase sessenta anos, marcada por acidente que resultara em sérias queima- ” – Ele veio provocar você – disse Clarice. – Com que intenção falou essas coisas? queria que você a visse no estado em que estava”. Pode ser, mas, de qualquer forma, até hoje lamento não ter podido vê-la uma última vez. Dois ou três dias depois do recado, ela morria. Ao sair do banho, pela manhã, alguém me informou: “Clarice Lispector morreu”. De viagem marcada para São Paulo, entrei num táxi que me levou pela lagoa Rodrigo de Freitas. Não poderia ir a seu sepultamento. O táxi corria dentro de uma manhã luminosa, enquanto a brisa balançava alegremente os ramos das árvores. Clarice morrera e a natureza o ignorava. No avião, escrevi um poema falando nisso. Que mais poderia fazer? Alguns meses atrás, quando aceitei fazer a curadoria da exposição sobre ela, no Museu da Língua Portuguesa, todas essas lembranças me acudiram. Ia ser bom voltar a pensar nela, reler seus livros, pois é neles e só neles que é possível reencontrá-la agora e nunca naquele saárico túmulo do Cemitério Israelita do Caju, aonde certo dia, sob sol escaldante, fui, com Cláudia Ahimsa, visitá-la. Não havia Clarice nenhuma sob aquela laje de pedra, sem flores. E não havia porque, de fato, o que Clarice efetivamente foi, o que fazia dela uma pessoa única e exasperada, era sua patética entrega ao insondável da existência – e a necessidade de escrever, de tentar incansavelmente dizer o indizível, mas certa de que, ao torná-lo dizível, o dissiparia. Não obstante, isso era tudo o que valia a pena fazer na vida, conforme afirmou: “Quando não escrevo, estou morta”. Em compensação, quando a lemos, ressuscita. – Glauber agora cismou de defender os milicos. É piração. Depois dessa noite, voltei a vê-la num encontro que ela promoveu em sua casa com alguns amigos, entre os quais Fauzi Arap, José Rubem... Foi a última vez que a vi. A roda-viva daqueles tempos me arrastou para longe dela, em meio a problemas de toda ordem, crises na família, filhos drogados, clínicas psiquiátricas. De repente, soube que ela havia sido internada num hospital em estado grave. Localizei o hospital, telefonei para o seu quarto e acertei com a pessoa que me atendeu ir visitá-la no dia seguinte. Mas, ao chegar à redação do jornal, antes de sair para a visita, a telefonista me passou um recado: “Clarice pede ao senhor que não vá vê-la no hospital. Deixe para visitá-la quando ela voltar para casa”. E se ela não voltasse mais para casa? Dobrei o papel com o recado e guardei-o no bolso, desapontado. Àquela noite, quando contei o ocorrido a minha mulher, ela explicou: “Clarice, vaidosa como era, não Esta crônica faz parte do livro A alquimia na quitanda – Artes, bichos e barulhos nas melhores crônicas do poeta, lançamento da Três Estrelas que reúne uma seleção de textos publicados por Ferreira Gullar na Folha de S.Paulo. Os textos formam um mosaico de importantes rememorações biográficas, narradas com paixão e humor: a infância no Maranhão, a descoberta da poesia, a revolução do movimento neoconcreto, a criação de suas principais obras, o engajamento comunista e o exílio durante a ditadura militar. Saúde Saúde pág. 18 Saúde pág. 19 SARDINHA A sardinha é um peixe pequeno e gorduroso e está entre os melhores peixes para a saúde, inclusive no campo do sobrepeso, pois sua carne tem um grande poder de saciedade. Características nutricionais gerais. Com a bênção de Dukan Novo livro do aclamado guru das dietas detalha propriedades de 100 alimentos permitidos em seu famoso método Chega às livrarias de todo o Brasil uma nova obra de Pierre Dukan, o aclamado médico francês que emagrece pessoas e engorda caixas registradoras: Os 100 alimentos permitidos, lançamento da editora Best Seller. São 66 proteínas puras (carnes, peixes, frutos do mar, proteínas vegetais e laticínios 0% gordura) e 34 legumes e verduras adicionais que podem ser usados durante as fases do chamado Método Dukan. Cada um dos alimentos é esmiuçado em suas propriedades e funções benéficas; saudáveis e nutritivos, esses ingredientes podem ser consumidos à vontade e caem bem em diversas ocasiões, como mostram as receitas originais propostas no livro – confira nesta matéria um exemplo de alimento incluído na obra. Além de enriquecer o cardápio dos adeptos de sua metodologia de emagrecimento, o francês ainda induz o leitor a uma reeducação alimentar duradoura que não apenas reduz os indicadores da balança, mas também aumenta a satisfação e o bem-estar, tanto à mesa quanto fora dela. Um prato cheio para o número cada vez maior de pessoas que busca uma vida com mais saúde e equilíbrio. No plano nutricional, a gordura da sardinha tem uma qualidade excepcional (poli-insaturada) e é muito rica em ômega 3. O teor de gordura da sardinha varia entre 3% e 17% de acordo com a estação, mas, na maioria das vezes, fica em 9%, o que é pouco comparado ao teor de gorduras da carne bovina, 12%. A sardinha é um bom fornecedor de cálcio, especialmente em conserva, e, assim, é muito útil para as mulheres em menopausa e sobrepeso. Papel na dieta Dukan Na minha dieta, considero a sardinha como um dos melhores alimentos, graças ao seu poder de saciedade e ao fato de possuir gorduras de qualidade excepcional. Além disso, por conta de seu preço baixo e suas diversas apresentações em conserva (com tomate, limão, ao molho escabeche, com azeite, mas também a não muito conhecida sardinha em conserva sem molho). Modos de preparo na dieta Dukan A sardinha pode ser preparada de inúmeras formas e o preparo em conserva pode ser bastante refinado, caso seja bem escolhido. Também pode ser preparada grelhada, se possível, em uma churrasqueira, ou ainda na frigideira, sem qualquer necessidade de se adicionar gordura. Para quem não consegue suportar o cheiro da sardinha, o cozimento pode ser feito embrulhando-a em papel-alumínio, com limão siciliano e coentro. A sardinha crua também é muito boa quando marinada: uma camada de peixe sobre uma camada de alho, salsa e limão siciliano. Sardinhas à calabresa Tempo de preparo: 10 min Tempo de cozimento: 12 min Para duas pessoas Ingredientes - 12 sardinhas frescas - 200g de molho de tomate - 3 dentes de alho amassados - Suco de 1 limão siciliano - 8 tomates-cereja - 8 ovos de codorna cozidos - Páprica - Sal, pimenta-do-reino Preparo Em uma panela, despeje o molho de tomate, o suco de limão siciliano e o alho amassado. Cozinhe em fogo alto durante 5 minutos. Em uma frigideira, doure as sardinhas – previamente temperadas com sal, pimenta do reino e páprica – por 2 minutos. Vire o peixe na metade do tempo de cozimento. Despeje o molho de tomate sobre as sardinhas. Adicione os ovos e os tomates cortados pela metade. Esquente por cerca de dois minutos. pág. 23 Alto tom Altoeebom bom tom Alto e bom tom o diabo foge da cruz, para não passarem vergonha. História, geografia, turismo, Kama Sutra, da mais remota antiguidade à mais presente contemporaneidade só dava ele. Tio Virgílio ficava na dele. Só observando. Experiente, sabia que o garoto era diferenciado, mas que suas conquistas verbais já estavam subindo à cabeça. Precisava de um corretivo. Urgente. Para o bem dele. Preparou um esquema. Consultou com paciência a enciclopédia, quando ninguém estava por perto. Estudou meticulosamente um assunto que sempre o fascinara – psicologia. Não havia cursado faculdade nessa área, mas seu interesse pelo assunto era tamanho que se especializara. Estava pronto para dar a lição ao sobrinho. Durante o jantar, como quem não queria nada, começou a levar a conversa para o campo das novas descobertas sobre a mente. Danilo não percebeu a artimanha porque sabia que o tio era chegado no assunto. O que Virgílio não tinha conhecimento era que o sobrinho passara a se interessar por psicologia por sua causa. E sozinho também se aprofundara no tema. Conversa vai, conversa vem, Freud pra cá, Jung pra lá, e pimba. Virgílio assume uma posição radical sobre sincronicidade. Era contra. Não concordava com as teorias Junguianas. Para ele era tudo coincidência. Como estava bem embasado, matou a pau. Danilo esperneou, passou por todos os defensores da polêmica teoria, mas qual o que, Virgilio estava soberano. Ganhou. Desculpe, foi engano Por REINALDO POLITO Danilo era um menino precoce, cheio de certezas. Com doze anos já havia acumulado um punhado bem contado de vitórias dialéticas que o empurrava naturalmente à soberba. Era só alguém, fosse de que idade fosse, ousar enfrentá-lo numa discussão que uma de suas sobrancelhas se erguia em espécie de vírgula, demonstrando que estava pronto e feliz pela oportunidade de digladiar. Moleque esperto, antenado, com chip tecnológico de nascença, promovendo dia a dia upgrade no cérebro. O cara era imbatível. Os “normais” fugiam dele, como Pela primeira vez Danilo havia sofrido uma derrota. Andava cabisbaixo, deprê. Não comia, não dormia direito, não queria mais saber da namorada. Se continuasse assim talvez até mudasse para um namorado. Virgílio ficou preocupado. O remédio fora mais pesado que a doença. Precisava remediar. Como? O moleque era esperto, desconfiaria de um plano alternativo. De novo num jantar a conversa voltou à tona. Danilo encolhido, na dele. Não estava para prosa. Virgílio insistia. Nada. Todo mundo se olhava de rabo de olho. Nunca jantaram com ambiente tão pesado, faltava a alegria prepotente de Danilo. Ele dava vida àquelas conversas. Virgílio não resistiu: – Danilo, pesquisei melhor sobre a sincronicidade. Preciso confessar, você tinha razão, a teoria tem respaldo. Eu estava errado, me enganei, desculpe. Virgílio disse essas palavras e olhou um tempão para o próprio prato. Era duro admitir a derrota, sem se sentir derrotado. “ Virgílio ficou preocupado. O remédio fora mais pesado que a doença. Precisava remediar. Como? O moleque era esperto, desconfiaria de um plano alternativo. ” Ao levantar a cabeça, gelou. A vírgula na sobrancelha de Danilo estava de volta. O tio era tarimbado demais e percebeu tudo na hora. Só para vencer aquela batalha Danilo havia fingido estar triste com a derrota. Mais uma vez o filho da puta do moleque se saíra vencedor. Planejou todo aquele teatro para ouvir na frente de toda a família que ele tinha razão. Virgílio apertou o joelho de raiva e prometeu a si mesmo que um dia encontraria uma forma de derrotar aquele fedelho. Agora era questão de honra. Danilo sorria, feliz, sabia que o tio voltaria à carga, mas estava convicto de que o final seria sempre o mesmo. Se vencesse, tudo seria como a vida havia planejado. Se perdesse, tudo seria como ele iria planejar, para jamais conhecer a derrota. Reinaldo Polito é mestre em ciências da comunicação, palestrante e professor de expressão verbal. Seu mais recente lançamento é “29 minutos para falar bem em público e conversar com desenvoltura” (Sextante), escrito em parceria com Rachel Polito. pág. 25 Ficções Livrescas Ficções Livrescas Ficções Livrescas com fileiras e mais fileiras de títulos! Não só isso, eu sinto o sangue gelar em minhas veias, só de pensar em como as livrarias são praticamente infinitas! Sintoma 3 - Tempo Digamos que nada do que foi dito até aqui me assustasse. Eu seria uma pessoa feliz, não é mesmo? Sintoma 1 – Apeirofobia O universo é infinito, todos sabemos, (talvez não os criacionistas, mas esse é assunto para outro dia...), e também é, de conhecimento de todos, que o cosmo está em constante expansão. Ledo engano, acredite. A realidade não poderia ser mais diferente! A razão? O universo pode ser infinito, mas o meu tempo não! Dito isso, imagine um universo: vasto, impressionante e repleto de segredos de tirar o fôlego. E nele, estão contidos milhares e milhares de microcosmos. Agora imagine que, quase que diariamente, esse universo (livraria) recebe mais e mais microcosmos (livros). Um universo em constante expansão! E qual o limite dessa expansão? Não há limites, pois a criatividade humana é infinita! Pois é! Então, talvez, o medo que tenho das livrarias venha de minha apeirofobia, ou seja, do medo do infinito. O que nos leva ao segundo ponto... Uma livraria me faz lembrar o quanto meu tempo nesse plano de existência é finito, e em quão pouco tempo disponho para ler o máximo de livros que puder. E mesmo assim nunca lerei nem metade dos que existem e/ ou virão a existir (lembra do sintoma 1?). “ Basta um virar de páginas para que um amor acabe, basta um leve movimento de dedos para nos sermos transportados para a sangrenta Batalha das Termópilas Sintoma 2 - Medo do desconhecido A sensação é arrasadora! Fobia de livraria Por TIAGO P. ZANETIC Percorrer um labirinto repleto de perigos não me parece algo muito atraente. Virar uma esquina e dar de cara com um dragão, com seu hálito quente, cheirando a enxofre e chamas a transbordar pelos cantos de sua boca. Ou que tal fazer uma curva à esquerda e ser atacado por um serial killer? Talvez um ser saído das profundezas dos pesadelos de uma criança? Quem sabe uma amazona montada em um alazão, com seu arco em postos, corda retesada e a ponta de sua flecha apontada para sua testa? ” E talvez essa seja a pior de todas, pois eu quero sim visitar esses universos, eu quero explorar o inexplorado, quero lutar ao lado de gigantes, ser uma pirata chinesa a desbravar os sete mares, ser um astronauta, um leão na savana africana, e, quem sabe, um deus! Eu quero ver a ascensão e queda de um povo, quero presenciar o nascimento do primeiro amor de dois jovens, ou o fim da vida de um idoso sorridente. Eu quero desbravar cada canto do infinito! Tenho uma confissão a fazer. Preparado? Não é um prospecto muito animador, não é mesmo? Eu quero ler! Não, eu não só quero, eu preciso! Algo que só de pensar em exteriorizar me causa arrepios. No entanto, esse relato deve ser feito, eu preciso tirar esse peso do meu peito! Não digam que não avisei! Mas antes, querido leitor, você precisa me prometer que não irá rir de mim. Promete? Sim! E é com esse tipo de coisa que nos deparamos em uma livraria. Basta um virar de páginas para que um amor acabe, basta um leve movimento de dedos para nos sermos transportados para a sangrenta Batalha das Termópilas. Mas acalme-se, interlocutor, eu tenho minhas razões. Livrarias me apavoram! Com suas estantes gigantescas, E essa incerteza do que se vai encontrar é assustadora, você tem que admitir. Tudo bem, vamos lá! Eu morro de medo de livrarias! E é justamente essa “fobia de livraria” que me faz sentir vivo, afinal, não importa a apeirofobia, nem o medo do desconhecido, muito menos o tempo escasso! Quantas vidas eu posso viver em uma só? É melhor enfrentar meus pavores e descobrir logo! pág. 27 Comportamento Comportamento Comportamento Os Lakers tiveram um bom desempenho durante a temporada, e, um ano após a promessa de Riley, estavam novamente nas finais da NBA. Dessa vez jogariam contra os bad boys do Detroit Pistons, ávidos para conquistar seu primeiro título. A batalha foi acirrada. O Detroit Pistons saiu na frente e venceu o primeiro jogo. Embora os Lakers tenham vencido os dois jogos seguintes, os Pistos ganharam os jogos quatro e cinco; assim, no jogo seis, o escore estava em 3 a 2 para o Detroit Pistons. A 52 segundos do fim do jogo seis, os Pistons estavam na frente, com 102 a 101. Os Lakers intensificaram a pressão e forçaram o astro dos Pistons, Isiah Thomas, a fazer um arremesso desesperado; depois Kareem Abdul-Jabbar conseguiu recuperar a bola. Enquanto Abdul-Jabbar arremessava, Bill Laimbeer, dos Pistons, foi punido por uma falta controvertida. Abdul-Jabbar conseguiu fazer dois lances livres, vencer o jogo e empatar a série, com três vitórias para os Pistons e três para os Lakers. O otimismo como profecia Um trecho de O viés otimista, da psicóloga e neurocientista Tali Sharot, que mostra a importância de se enxergar o mundo pelo lado positivo Junho de 1987. Do vestiário do Los Angeles Lakers ouvia-se o estouro das garrafas de champagne. Eram os Lakers que acabavam de ganhar o campeonato da NBA, depois de derrotar o Boston Celtics por 4 a 2. Os Celtics só voltariam a participar de uma final da NBA em 2008. Os Lakers teriam outras vitórias pela frente. O Los Angeles Lakers de 1987 foi um dos melhores times de basquete de todos os tempos. Incluía jogadores famosos, como Magic Johnson, James Worthy e Kareem Abdul-Jabbar. Naquela noite, porém, quem estava prestes a fazer história era Pat Riley, o técnico do time. Em meio à comemoração, Riley foi abordado por um repórter que queria saber se, na opinião dele, os Lakers poderiam ser o primeiro time em quase vinte anos a se sagrar bicampeão. O Boston Celtics tinha sido o último time a se sagrar bicampeão, em 1969, mas, de lá para cá, nenhum outro time havia conseguido repetir o feito. Será que os Lakers conseguiriam chegar lá e vencer novamente o campeonato dali a um ano? “Vocês vão conseguir repetir o feito?”, perguntou o repórter a Riley. Sem pestanejar, Riley respondeu: “Garanto que sim”. O repórter ficou estupefato. Será que ouvira direito? “Garante?”, perguntou de novo. “Isso mesmo”, respondeu Riley. Com aquelas três palavras, “garanto que sim”, Riley prometeu aos jornalistas, aos jogadores e a milhões de torcedores um segundo campeonato. A garantia de Riley não foi uma promessa motivada pelo champanhe no vestiário. Durante o desfile da vitória da equipe no centro de Los Angeles, imediatamente depois de fazer sua promessa inicial, Riley mais uma vez garantiu às multidões que seu time conquistaria o próximo campeonato, e continuou em várias ocasiões ao longo do verão e da temporada de 1987-1988 prometendo que repetiria o feito. “De todas as coisas psicológicas que Pat inventou, essa provavelmente foi a melhor”, declarou Magic Johnson em uma entrevista em 1987. O sétimo jogo seria decisivo para o cumprimento ou não da garantia de Riley. Na metade da partida, os Pistons estavam na frente, mas os Lakers viraram o jogo e saíram na frente da segunda metade. A seis segundos do fim, estavam na frente por uma margem mínima, de 106 a 105. Durante esses seis segundos, conseguiram marcar mais um ponto, venceram o último jogo por 108 a 105 e cumpriram a promessa de Pat Riley. Segundos depois de cumprir a promessa, Riley estava novamente diante das câmeras. Os torcedores vibravam. “E agora, os Lakers vão conseguir mais uma vitória, a terceira consecutiva?”, perguntavam os repórteres. Riley abriu a boca para responder à pergunta, mas, antes que ele emitisse qualquer som, Abdul-Jabbar, com seus mais de cem quilos, deu um de seus famosos saltos. Dessa vez, porém, o alvo não era a cesta de basquete, era a boca de Riley, que conseguiu cobrir com suas mãos enormes a tempo de impedir que o técnico fizesse outras promessas. Mais tarde, Abdul-Jabbar explicou que a pressão para cumprir a promessa de Riley por mais um título seria demais para ele. Riley jamais garantiu uma terceira vitória consecutiva. A final da temporada seguinte foi uma repetição do campeonato do ano anterior entre os Los Angeles Lakers e o Detroit Pistons. Dessa vez, porém, os Pistons venceram todos os quatro primeiros jogos da série e ganharam o campeonato; depois da derrota dos Lakers, Kareem Abdul-Jabbar, na época com 42 anos, anunciou sua aposentadoria. Será que os Lakers teriam vencido um terceiro campeonato consecutivo se Riley o tivesse prometido? Nunca saberemos. Profecia ou causa? – Muitos fatores levaram à vitória dos Lakers na final contra os Pistons em 1988 e à derrota no ano seguinte. Entretanto, é tentador especular que a promessa feita por Riley durante a temporada de 1987-1988 e sua ausência durante a temporada de 1988-1989 tiveram uma função fundamental no desfecho dos eventos. A garantia da segunda vitória consecutiva feita por Riley constitui um exemplo clássico de uma profecia autorrealizável – um prognóstico que, ao se tornar crença, provoca a própria concretização. Não há dúvidas de que Pat Riley tinha um bom motivo para acreditar que sua equipe ganharia o campeonato no ano seguinte quando o repórter lhe fez a famosa pergunta após a final de 1987. Seu time tinha acabado de vencer a final do campeonato, havia sido consagrado o melhor, e, portanto, era um forte candidato a repetir o deito no próximo ano. No entanto, sua declaração, que transmitiu inabalável otimismo, detonou um processo que aumentou enormemente a probabilidade de a garantia se tornar realidade. “Garantir um campeonato foi a melhor coisa que Pat fez. Preparou o palco na nossa cabeça. Esforçar-se mais, ser melhor. Só assim poderíamos repetir a vitória. Treinamos o tempo todo com a ideia de que iríamos vencer de novo e é exatamente essa ideia que temos agora”, disse Byron Scott, dos Lakers, em 1988. Acreditar que uma meta não apenas pode ser concretizada, como também é muito provável, leva as pessoas a agir vigorosamente para alcançar o resultado desejado. No caso de Riley, ele fez mais do que prever a repetição da vitória; garantiu-a. Ao prometer um segundo campeonato, pressionou ainda mais a si e a seus jogadores. Os Lakers não podiam decepcionar os torcedores, que esperavam a vitória; tinham de provar que o treinador estava certo. Assim, Magic, Kareem e outros jogadores do time tiveram de treinar mais do que nunca e ser melhores do que nunca para fazer com que a previsão de Pat Riley se tornasse realidade. A ideia por trás da profecia autorrealizável é que não se trata da previsão de um evento, mas sim uma causa. pág. 29 Papo Escritor Papode de Escritor Papo de Escritor Internacional de Quadrinhos) e eu queria participar, ter algo pra mostrar, trocar, discutir. Dessa forma nasceu minha primeira HQ: Galho Seco (independente, 12 páginas, 2013), na qual experimentei quadrinizar minhas referências de música e animação. Ye é um grande passo como artista e autor, mas considero Galho Seco tão importante quanto, pois foi um divisor de águas. Apesar de curtíssima, fez com que eu perdesse o medo de investir na produção de quadrinhos. Percebi que, para mim, produzir quadrinhos além de uma forma de expressão é uma forma de experimentar a liberdade. Fazer quadrinhos é como estar no controle de um sonho. Posso explorar desde uma situação extremamente corriqueira, biográfica, a uma sensação totalmente abstrata, fantástica, que é o que fiz em Galho Seco: um transporte do real ao sensorial. O nascimento de uma HQ plásticas. Durante um período produzi pinturas em tela, desenhos, instalações. Participei de exposições, mas senti que não conseguia expressar o que queria, acredito que a minha produção no período era bastante engessada. Ye nasceu da necessidade de explorar em uma narrativa minhas referências, vivências, experiências. Queria colocar no papel o que absorvi de literatura, quadrinhos, música, animação, cinema, circo, teatro. Experiências reais, sensoriais, espirituais. Não acho que o problema seja com a forma de expressão em si, mas como cada artista encontra uma forma ideal para se expressar. Também já me arrisquei na animação, música, livro ilustrado, fotografia. Fazer histórias em quadrinhos sempre foi um desejo. Minhas primeiras leituras foram os quadrinhos, é uma mídia que, como muitos, acompanho desde criança. Sempre foi uma fonte de inspiração, entretenimento, reflexão. Desde a adolescência estudo formas de narrativa nos quadrinhos, mas evitava me arriscar, sempre levei muito a sério. Não queria fazer quadrinhos até ter algo (que ao menos para mim fosse) importante dizer. A ideia que resultou na HQ vem se formulando há anos, é muito anterior a eu me envolver – como autor – com os quadrinhos. A princípio acreditava que a melhor maneira para eu me expressar seria nas artes Em 2013 estava frustrado com minha produção artística, e cada vez mais me interessava pelas possibilidades de exploração artística e narrativa que os quadrinhos dão. No mesmo ano aconteceria o FIQ (Festival Quadrinista Guilherme Petreca fala sobre o processo que gerou o álbum Ye, recémlançado pela Veneta Com a mesma linha de pensamento produzi Carnaval de Meus Demônios (Balão Editorial, 64 páginas, 2015) um trabalho que surge do meu fascínio em entender como encaramos e lidamos como nosso destino, nosso amadurecimento, nossos medos. Foi uma oportunidade de explorar elementos que me fascinam: máscaras, demônios, monstros, medos inconscientes e a forma como os personificamos. Como podemos nos tornar o que tememos, como muitas vezes tentamos fugir do que somos. Ye é também um divisor de águas, águas mais profundas. É uma narrativa longa (176 páginas), publicada por uma grande editora (Veneta), vendido em grandes livrarias. É uma responsabilidade maior. Também exigiu mais pesquisa. Embora não seja a ideia da HQ explorar a fundo cada elemento que aborda, minha pesquisa foi intensa. Para me preparar para o roteiro li muito sobre Tarô, sobre piratas, sobre como é um navio, como era a vida em um navio, a organização, as hierarquias, as batalhas. Embora não se passe em lugar e época específicos, gostaria que a vila onde o Ye mora fosse um lugar semelhante a vilarejos sul-americanos. Estudei sobre a vida nos Andes, a alimentação, a agricultura, a temperatura, rituais incas. Mesmo que eu não me proponha a ser fiel, acho importantíssimo estudar a fundo as referências, do estudo surgem novas inspirações, evita uma abordagem rasa. A produção de Ye só foi possível graças ao edital do Proac, que me permitiu ficar alguns meses sem um trabalho formal, período em que imergi totalmente no universo que estava criando. Em relação à arte, o personagem foi aparecendo em meus cadernos de desenhos, nos esboços que fazia para as pinturas. Era um personagem que se repetia, que eu gostava de desenhar. O quadrinho surge da vontade de colocar em uma narrativa os elementos que eu explorava nos meus cadernos de desenho e não iam para as telas. A ideia inicial era de ter a trama mais simples possível, para conseguir juntar em uma ordem lógica e que fizesse sentido estarem em uma trama elementos tão dispersos. É interessante para mim perceber como o personagem que nasceu como um instrumento para exploração de universo ganhou profundidade e aplicabilidade. A princípio, explorar o universo seria mais importante do que explorar o personagem. Assim surgiu a trama do quadrinho: Ye, um garoto mudo, recebe uma chaga vinda dos céus, é então obrigado a abandonar a vida bucólica e tranquila que levava para se aventurar em uma jornada atrás de sua cura. Enfrenta piratas, mercenários e monstros. Conhece um sanfoneiro aposentado, um palhaço bêbado e uma bruxa misteriosa. Viaja pela terra, pela água, pelo ar. Hoje percebo como o personagem reflete a fase da vida enquanto escrevia. Além da maturidade artística, considero que a produção da HQ proporcionou uma maturidade pessoal e espiritual. pág. 30 pág. 31 Quadrinhos Quadrinhos Varejo Varejo Quadrinhos Varejo RATO DE SEBO Momento de atenção Números do Painel das Vendas de Livros no Brasil comprovam tendência de queda e anunciam ao mercado que é hora de reagir A Nielsen e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) divulgaram em abril o resultado do segundo Painel das Vendas de Livros no Brasil de 2016, com os dados referentes a fevereiro e março. E, comprovando as dificuldades vividas pela maioria dos profissionais do mercado editorial, os números apontam quedas no volume e – em menor escala, devido ao aumento dos preços – no faturamento. Nestas duas páginas, trazemos algumas das conclusões do levantamento, considerado um sinal de alerta para Ismael Borges, gestor da Bookscan, ferramenta da Nielsen que monitora a venda de livros. “Se fatores envolvendo ajuste de preço de títulos e datas móveis geraram concentração de vendas de didáticos e CTPs, trazendo um início de ano com números vistosos, esse mesmo vigor não permaneceu nos dois períodos seguintes. O primeiro semestre anuncia ao mercado que é hora de reagir em nome de não assumir a tendência de queda”, afirmou o executivo ao Publishnews. Na avaliação de Marcos da Veiga Pereira, presidente do SNEL, o mercado sofreu também com os fatores externos. “Sabemos que 2016 será um ano difícil para todos. Imagino que as incertezas políticas tiveram influência na queda de vendas de março e espero que este cenário se reverta.” Não há outra solução além de seguir trabalhando; mãos à obra, todos. pág. 33 Por CUSTÓDIO pág. 34 Internacional Literatura Literatura pág. 35 ao som de uma banda de trombetas e muitas bexigas. Desde então, nosso objetivo é ser mais do que simplesmente um lugar onde se compra livros: organizamos caminhadas, shows de comédia stand-up, músca ao vivo, canções e histórias para crianças e muito mais – sem contar os lançamentos e sessões de autógrafos com autores. Também trabalhamos lado a lado com muitas das escolas locais, promovendo a leitura como uma atividade de diversão. Porque a leitura é uma diversão. Não tem sido fácil, e na verdade é uma dura luta financeira, mas amamos o que construímos aqui e não podemos imaginar um mundo sem isso. Então, no começo de abril, quando Tim estava ocupado atendendo alguns clientes, um ladrão oportunista surrupiou 600 libras do caixa. Para um pequeno negócio como o nosso, 600 libras são MUITO dinheiro. Foi um golpe duro descobrir que isso havia acontecido. Um ladrão... e centenas de heróis O incrível caso do assalto que mostrou a força dos laços entre uma pequena livraria e seus leitores – clientes ou não Por SIMON KEY Oito anos atrás, eu e Tim West abrimos a livraria Big Green em Wood Green, na zona norte de Londres. Até 2007, havíamos trabalhado em uma unidade de uma grande cadeia de livrarias. Então, um dia, o gerente da área chegou de surpresa para avisar que a loja seria fechada em nove dias. Enquanto boa parte dos outros funcionários foram realocados para outras unidades, Tim e eu decidimos que Wood Green ainda realmente precisava de uma livraria. O bairro tem uma comunidade incrível e nós adorávamos o lugar. Então decidimos abrir uma por nossa conta. Começamos um blog chamado “Open a Bookshop, What Could Possibly Go Wrong?” (“Abrir uma livraria, o que pode dar errado?”) e relatamos esse ambicioso plano. Levou seis meses, um empréstimo de 60 mil libras do banco e um exército de sensacionais voluntários que, tendo seguido nossas peripécias online, se aproximaram para oferecer seu apoio da forma que fosse possível. Em março de 2008, finalmente, a livraria abriu com Ao término de todas as formalidades policiais, mencionei o incidente no Twitter. O jornalista Sam Jordison, da seção de livros do jornal The Guardian, leu a mensagem e me contatou dizendo que queria nos ajudar. (Ele é bacana assim.) Ele perguntou se eu me importaria se ele abrisse uma campanha de crowdfunding para tentar recuperar parte do dinheiro que foi roubado. Eu disse que ficaria agradecido, e ele então o fez. E então algo fantástico aconteceu. Pessoas começaram a doar dinheiro, e então mais pessoas, e parecia que não parava. A meta de 600 libras foi batida em menos de duas horas; em seguida, um doador anônimo colaborou com 500 libras e a seguinte mensagem: “Com amor por uma livraria independente”. Todas as doações vieram com mensagens de apoio – de clientes regulares, agentes literários e até pessoas que antes moravam por perto e sentiam falta de nossa loja. Ao final do primeiro dia, quando escrevo estas linhas, o total está em 2.400 libras – quatro vezes a meta inicial. E não apenas isso: tivemos mais gente comprando nossos livros online, deixando doações na loja, e até ganhamos três pacotes de biscoitos. Passei a maior parte das últimas 24 horas em prantos, absolutamente arrebatado pela generosidade das pessoas. Seja qual for o total final arrecadado, fará um mundo de diferenças para nosso negócio. Quero agradecer a todos que contribuíram para isso (exceto o ladrão). As mídias sociais podem ser algo incrível quando funcionam, não? Alguns dias depois, quando o total arrecadado já ultrapassava as 5 mil libras, Simon escreveu no blog da livraria (woodgreenbookshop.blogspot.com) os destinos que a dupla daria ao dinheiro extra arrecadado. De volta a ele: - Há pouco tempo, criamos algo chamado “Esquema de recompensa para a escola”. Essencialmente, a cada livro que você compra conosco, 10% do valor é destinado para a escola ou creche de sua escolha gastar em livros em nossa loja. Então, doaremos 10% da quantia arrecadada e dividiremos em 5 instituições que acreditamos que farão bom uso desse dinheiro. - O dinheiro também nos ajudará a pagar algumas contas bem altas. - Também estivemos pesquisando opções de financiamento para a Big Green Education, nossa companhia sem fins lucrativos, que promove o amor pela leitura em escolas. Ganhamos então um empurrão para trabalhar mais detalhadamente com as escolas locais. - Algumas das estantes da loja estão ficando um pouco desgastadas, então esperamos substituí-las por outras novinhas. - Estamos também encomendando uma estátua do Sam Jordison para colocar na vitrine da loja.* Podemos fazer tantas coisas... Esse dinheiro extra nos permitirá um respiro, algo que muitos pequenos negócios como o nosso raramente conseguem. Vocês nos proporcionaram isso. Significa tudo. Iremos, claro, dar uma grande festa de agradecimento, para qual todos estão convidados. * Isto não é verdade. Desculpe, Sam. pág. 37 Negócios Negócios Negócios 2. Pessoas que foram demitidas. 3. Pessoas que se demitiram, sem problemas para a empresa, pois ela já não as queria. Para responder a essa pergunta, relembro uma conversa que tive muitos anos atrás com o incomparável Andy Grove. O interessante é que, quando as coisas começam a dar errado na empresa, a terceira categoria sempre tende a crescer mais do que a primeira. Além disso, a súbita onda de avaliações negativas de desempenho em geral acontece em empresas que se gabam de contratar só gente extremamente talentosa e qualificada. Como esses superfuncionários deixam de ser excelentes e passam a ser um lixo de uma hora para a outra? Como é possível que, quando você perde de repente um dos seus melhores funcionários, o diretor responsável apresse-se em explicar que o desempenho dele já não era lá essas coisas? No final da Grande Bolha da Internet, em 2001, quando todas as gigantes de tecnologia passaram de repente a ficar muito longe de suas projeções de ganhos trimestrais, questionei-me como era possível que ninguém tivesse previsto que isso ia acontecer. Seria de esperar que, depois da quebra das pontocom, em abril de 2000, empresas como a Cisco, a Siebel e a HP percebessem que também para elas se seguiria um período de dificuldades, pois muitos de seus clientes tinham falido. No entanto, mesmo diante do maior e mais barulhento sistema de alerta preventivo de todos os tempos, todos os diretores executivos continuaram tocando suas máquinas a todo vapor até o triste momento em que elas chegaram ao fim dos trilhos. “Teríamos ganhado a concorrência, mas a concorrência deu o produto de presente.” “Do ponto de vista técnico, o cliente nos escolheu e acha que somos melhores, mas a concorrência entregou o produto de bandeja. Jamais o venderíamos tão barato, pois isso arranharia a nossa reputação.” Quem já coordenou uma equipe de vendas ouviu essa mentira pelo menos uma vez. Entramos na briga por uma conta, brigamos e apanhamos. O representante de vendas, pouco disposto a assumir uma culpa, joga-a no “vendedor de carros usados” da empresa concorrente. O diretor executivo, que de maneira alguma quer ouvir a notícia de que seu produto está perdendo competitividade, acredita em seu representante. Se você ouvir algo assim, converse com o cliente. Aposto que ele vai negar essa versão da história. As mentiras que os perdedores contam Em O lado difícil das situações difíceis, Ben Horowitz oferece aos empreendedores dicas e ensinamentos que as faculdades não tratam. Confira a seguir um trecho do livro, lançado pela WMF Quando uma empresa começa a perder grandes batalhas, a primeira baixa em geral é a verdade. Os diretores e funcionários trabalham incansavelmente para elaborar narrativas criativas que os ajudem a não ter de lidar com os fatos mais óbvios. Apesar disso, muitas empresas acabam oferecendo as mesmas explicações falsas. “Não é porque não cumprimos a tempo alguns objetivos que não vamos respeitar o cronograma para a entrega do produto.” Nas reuniões da equipe de engenharia, em que a pressão dos prazos é grande – o prazo de entrega do produto a um cliente, a necessidade de garantir uma margem de lucro trimestral, uma exigência imposta pela concorrência –, todos querem ouvir boas notícias. Quando os fatos não correspondem às boas notícias esperadas, o gerente esperto inventa uma explicação que faça todos se sentirem melhor, até a próxima reunião. Algumas mentiras mais conhecidas: “Ela se demitiu, mas nós já tínhamos resolvido demiti-la ou fazer um relatório crítico de seu desempenho.” Nas empresas de alta tecnologia, os conflitos com funcionários tendem a ser enquadrados em três categorias: “Nosso índice de abandono é muito alto, mas, assim que passarmos a fazer marketing por e-mail com nossa base de clientes, as pessoas voltarão a usar nossos serviços.” Claro! Os clientes abandonam nosso serviço e não voltam a utilizá-lo porque não estamos enviando spam em quantidade suficiente. Não acredito nisso. E você? 1. Pessoas que se demitiram. Como surgem as mentiras? Perguntei a Andy por que esses diretores executivos mentiram a respeito do destino iminente que os aguardava. Ele me disse que eles não estavam mentindo aos investidores, mas a si próprios. Andy me explicou que os seres humanos, em particular os criadores, só dão importância a indicadores de boas notícias. Se um diretor executivo fica sabendo que seu portfólio de clientes cresceu 25% a mais do que a expectativa para o mês, ele corre para contratar mais engenheiros a fim de atender ao iminente tsunami de demanda. Se, por outro lado, as novas contratações diminuem em 25%, com a mesma paixão e intensidade ele vai procurar uma explicação satisfatória: “O site estava lento naquele mês, tivemos quatro feriados e fizemos uma mudança de interface do usuário que causou todos os problemas. Caramba, não vamos entrar em pânico!” Pode ser que ambos os indicadores estivessem errados ou certos, mas isso não importa. O que interessa é que nosso hipotético diretor executivo – como quase todos os diretores executivos – só agiu diante do indicador positivo; diante do negativo, ele procurou explicações plausíveis. Se você perguntar a si mesmo por que seus honestos funcionários estão mentindo a você, a resposta é: não estão mentindo a você, mas a eles mesmos. E, se você acreditar neles, estará mentindo a si mesmo. TOP 100 EDITORAS DISTRIBUÍDAS pág. 38 Nesta página, listamos, por ordem alfabética, as 100 editoras que registraram, nos meses de março e abril de 2016, o maior volume de vendas e negócios com a SuperPedido. Agradecemos a parceria de todos. 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Para não perder oportunidades, mantenha o estoque de sua livraria sempre abastecido com estas obras. 1 2 COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ ISBN: 9788580573299 R$ 34,90 6 3 O PEQUENO PRÍNCIPE ISBN: 9788578552589 R$ 19,90 7 SEGREDOS DA BEL PARA MENINAS ISBN: 9788567028835 R$ 29,90 11 8 12 DEIXADOS PARA TRÁS VOL. 1 ISBN: 8524300469 R$ 29,90 ANSIEDADE ISBN: 9788502218482 R$ 14,90 7 DIAS COM VOCÊ ISBN: 9788568056202 R$ 35,90 15 COMO DIZER TUDO EM INGLÊS ISBN: 8535206868 R$ 80,00 19 DIÁRIO DE UM BANANA VOL. 10 ISBN: 9788576839422 R$ 36,90 AUTHENTICGAMES ISBN: 9788582463130 R$ 24,90 10 14 18 DIÁRIO DE UM BANANA VOL. 1 ISBN: 9788576831303 R$ 36,90 DEPOIS DE VOCÊ ISBN: 9788580578645 R$ 39,90 TODO SEU ISBN: 9788584390175 R$ 34,90 A SEREIA ISBN: 9788565765930 R$ 29,90 5 9 13 17 MENTES MILIONÁRIAS ISBN: 9788579304002 R$ 34,90 4 OS DOIS LADOS DA GUERRA CIVIL ISBN: 9788582580639 R$ 34,90 RUAH ISBN: 9788525061805 R$ 19,90 DOIS MUNDOS, UM HERÓI ISBN: 9788581053127 R$ 24,90 16 Para conhecer a lista completa de editoras distribuídas, ligue para a central de vendas ou acesse o portal. pág. 39 FLASH GORDON ISBN: 9788555460111 R$ 89,90 20 PHILIA ISBN: 9788525060044 R$ 19,90 O PODER DO HÁBITO ISBN: 9788539004119 R$ 49,90
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