a escassez de professores habilitados em física na
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a escassez de professores habilitados em física na
A ESCASSEZ DE PROFESSORES HABILITADOS EM FÍSICA NA REGIÃO DA AMAVI Janice POCKSZEVNICKI; Otávio BOCHECO Estudante de Graduação em Licenciatura em Física, IFC, bolsista do PIBID; Mestre em Ensino de Física,UFSC, professor orientador do IFC câmpus Rio do Sul. INTRODUÇÃO A carência de professores licenciados para atuar em algumas áreas disciplinares do ensino médio vem sendo objeto de discussão, tanto em artigos acadêmicos como na mídia. Aproximadamente, 55% dos professores atuantes em sala de aula não possuem formação específica na disciplina que lecionam. Em números, esse percentual chega próximo a 280 mil professores, em todo o Brasil. Em relação a disciplina de física, além da falta de professores formados nas salas de aula, constata-se uma baixa procura por cursos de licenciatura. Pinto (2014) revela que apesar de haver escolas sem professores no Brasil, o número de licenciados formados entre 1990 a 2010 seria suficiente para atender a atual demanda por docentes em nosso país. No entanto, o desinteresse desses profissionais em seguir a carreira dentro das salas de aula cria tal demanda. De acordo com o autor, uma das atratividades da carreira docente seria o salário dos docentes, um dos piores do mundo, segundo pesquisa realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECDE, 2014). Esta pesquisa mostra que o salário dos professores brasileiros é extremamente baixo quando comparado a países desenvolvidos. Segundo a pesquisa, um professor em início de carreira que leciona em instituições públicas para o ensino fundamental e médio, no Brasil, recebe em média, 10.375 dólares por ano. Somente melhores salários, talvez, não resolva o interesse pela profissão. De acordo com Basso (2012, p.1) “[...] educadores atribuem o desinteresse aos baixos salários dos professores, ao estresse da profissão e à dificuldade intelectual de alguns cursos de graduação”. Portanto, um plano de carreira atrativo envolveria salários decentes e condições de trabalho compatíveis com a difícil tarefa de ensinar e complementar a educação dos jovens brasileiros. Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, criado em 2008 pelo governo federal, visa atender as crescentes demandas por formação profissional, difundindo conhecimentos científicos e tecnológicos com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional. Quanto aos objetivos destas instituições cabe destacar a oferta de cursos superiores de licenciaturas, bem como programas especiais de formação pedagógica, com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática. Atualmente, o Instituto Federal Catarinense (IFC) – Campus Rio do Sul oferta o curso de licenciatura em Física, implantando desde 2011. São disponibilizadas 40 vagas anuais, via o Sistema de Seleção Unificada (SISU). O curso funciona em regime semestral, com aulas ocorrendo no período noturno, conta com uma excelente estrutura física de salas de aula, laboratórios didáticos e um corpo docente formado por mestres e doutores. Uma das principais missões do curso é suprir a demanda local por professores de física, promovendo uma formação docente sólida em conhecimentos de física com domínio no âmbito conceitual, histórico, epistemológico, filosófico, didático e metodologias de ensinoaprendizagem. A região do Alto Vale do Itajaí, onde está localizada a cidade de Rio do Sul, é formada por 28 municípios, cuja representatividade efetua-se pela Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (AMAVI). Somados, a população destes 28 municípios atinge, aproximadamente, 285 mil habitantes. Em termos educacionais, a Secretaria Estadual de Educação é dividida, administrativamente, em 4 Gerências Regionais de Educação (GERED), além das Secretarias Municipais de cada município. Diante do cenário descrito acima, falta de professores de física e a missão do IFC-Rio do Sul em suprir esta demanda local, realizou-se uma pesquisa para mapear a situação quanto a demanda por professores de Física na região da AMAVI. Tal estudo foi executado dentro de uma das ações do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e servirá de referência para a interpretação do cenário quanto as políticas públicas de contratação de professores de física na região da AMAVI. Também, será útil quanto as ações do curso de Física, ofertado no IFC-Rio do Sul. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Os dados foram coletados via contato direto com as escolas, através de email, telefone e visita in loco. Por meio da página da Secretaria de Estado da Educação, obteve-se o endereço eletrônico e telefone de cada instituição. Primeiramente, enviou-se uma mensagem, via correio eletrônico, solicitando o número de aulas de física na escola, o número de professores habilitados em física dentro e fora da sala de aula e o número de professores nãohabilitados em física em sala de aula. Não havendo retorno no caso de algumas escolas, realizou-se uma segunda tentativa, via telefone, onde os resultados foram imediatos. Mesmo assim, houve casos em que o telefonema não foi atendido ou o responsável pelas informações não estava apto para o atendimento. Desta forma, realizou-se uma terceira tentativa através de uma visita in loco para a coleta dos dados. Foram consultadas 49 escolas que ofertam ensino médio, separadas administrativamente, por quatro Gerências de Educação (GERED) inseridas nos 28 municípios pertencentes a AMAVI. RESULTADOS E DISCUSSÂO No total, foram identificadas 790 aulas referentes à área de física no ensino médio. A distribuição destas aulas, número de professores habilitados e não habilitados, bem como o número de professores habilitados em sala de aula, por GERED, são apresentados nas tabelas, abaixo. M M1 EEB EEB1 EEB2 M2 EEB3 M3 EEB4 M4 EEB5 EEB6 M5 EEB7 EEB8 M6 EEB9 EEB10 M7 EEB11 M8 EEB12 TOTAL M M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7 EEB EEB1 EEB2 EEB3 EEB4 EEB5 EEB6 EEB7 EEB8 EEB9 EEB10 EEB11 EEB12 EEB13 EEB14 EEB15 EEB16 TOTAL GERED IBIRAMA NaF PhSA PnhSA 10 0 1 14 1 0 26 1 0 17 0 1 28 1 1 6 0 1 22 1 0 15 0 1 6 0 1 6 0 1 10 0 1 10 0 1 170 4 9 GERED RIO do SUL NaF PhSA PnhSA 20 1 0 10 0 1 12 1 0 12 0 1 14 1 1 16 1 0 4 0 1 10 0 1 10 1 0 16 1 0 14 1 0 45 2 0 36 1 1 8 1 0 24 2 0 18 1 0 269 14 GERED ITUPORANGA 6 PhFSA 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 2 PhFSA 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 1 0 0 1 4 M M1 M2 M3 M4 EEB EEB1 EEB2 EEB3 EEB4 EEB5 M5 EEB6 EEB7 EEB8 EEB9 M6 EEB10 M7 EEB11 TOTAL M M1 EEB EEB1 EEB2 M2 EEB3 EEB4 M3 EEB5 M4 EEB6 EEB7 M5 EEB8 EEB9 M6 EEB10 TOTAL NaF 8 20 16 16 12 38 10 10 24 18 20 192 PhSA 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2 GERED TAIÓ NaF PhSA 15 1 12 0 24 0 3 0 16 1 20 1 8 0 16 0 21 1 24 2 159 6 PnhSA 1 0 1 1 1 1 1 1 1 1 0 9 PhFSA 0 0 0 0 0 1 1 0 1 1 0 4 PnhSA 1 1 1 1 0 0 1 1 1 0 7 PhFSA 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 2 Legenda M = Município EEB = Escola de Educação Básica NaF = Nº de aulas de Física PhSA = Profº habilitado em Física em Sala de Aula PnhSA = Profº não-habilitado em Física em Sala de Aula PhFSA = Profº habilitado em Física fora da Sala de Aula Fica visível através das tabelas que a maioria dos professores que leciona as aulas de Física não são habilitados na área. Observa-se um total de 31 professores não habilitados perante 26 professores habilitados, em sala de aula. As tabelas denunciam que, em muitos casos, como por exemplo na GERED de Rio do Sul, na EEB5, existem aulas de Física disponíveis no momento, porém verifica-se que as mesmas estão sendo ministradas por 2 professores, um habilitado e outro não habilitado. Caso semelhante ocorre na GERED de Ibirama, onde na EEB5, as 28 aulas disponíveis são lecionadas por dois professores, sendo um habilitado e outro não habilitado, também. Poderíamos citar outros casos visíveis nas tabelas, inclusive situações em que todas as aulas, disponíveis na escola, são ministradas por um professor não habilitado porque a instituição não conta com professor licenciado em Física. Não há dúvida que isto pode comprometer a qualidade do ensino de Física, almejado nos tempos atuais. É muito provável que um professor não habilitado opte por um ensino focado em aplicações de fórmulas e/ou definições matemáticas. Longe de um ensino de Física conceitual e contextualizado, que leve o estudante a enxergar esta ciência nos fenômenos presentes no seu entorno sócio-cultural. Outro caso diagnosticado foi na GERED de Ituporanga, na EEB6, onde as 38 aulas de Física disponíveis são ministradas por um professor não habilitado, enquanto que o professor habilitado ocupa um cargo fora da sala de aula. Apesar de delicada, faz parte do magistério este tipo de situação. O funcionamento de uma escola depende da gestão e esta proporciona cargos e funções exercidos por docentes, que, naturalmente, se afastam das salas de aula para colaborar em outros setores. O ideal seria que esta reposição se efetuasse mediante a contratação de professores habilitados, no entanto, a escassez de profissionais licenciados em Física na região da AMAVI1 não permite tal façanha. De acordo com as aulas de Física disponíveis até então, constatou-se que apenas a GERED de Rio do Sul dispõe de um bom número de professores habilitados atuando em sala de aula, cerca de 70% dos professores, seguido da GERED de Taió, com aproximadamente 46,15%. Os professores habilitados da GERED de Ibirama atingem cerca de 30,8% e na GERED de Ituporanga verificou-se que apenas 18,2% dos professores que atuam em sala de aula possuem formação específica na área de Física. 1 Assim como em outras regiões do país. Além disso, sabe-se que um professor habilitado só pode se efetivar em apenas uma escola, com contrato de 10, 20, 30 ou 40 horas. Portanto, se 49 escolas proporcionam aulas de Física na região da AMAVI, seria necessário, no mínimo, 49 professores habilitados em Física para compor o quadro de professores das quatro GERED’s supracitadas. Ao colocarmos na conta a recomposição deste quadro, por conta de licenças ou afastamento das salas de aula por conta da gestão, a demanda seria ainda maior. Estes dados reforçam e ampliam a importância e justificativa em se manter a oferta e o investimento na formação de professores de Física no IFC – Campus Rio do Sul. CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabendo que o IFC tem a missão de suprir as necessidades regionais e mediante aos resultados obtidos com a pesquisa sobre as aulas de Física nos municípios associados na AMAVI, conclui-se que a instituição citada é de fundamental importância para toda a região, pois é evidente a carência de professores licenciados em Física e deste modo, torna-se preocupante a forma que os alunos do Ensino Médio estão aprendendo Física. É provável que muitos acabam perdendo o interesse pela disciplina por não terem aprendido realmente a Física e, assim, não a identificarem presente em seu cotidiano, acabam por acreditar que a Física é só mais uma disciplina de cálculos e aplicação de fórmulas. REFERÊNCIAS BASSO, M. Professores de áreas como Física e Matemática estão em extinção. 16/09/2012. Disponível em <http://osoldiario.clicrbs.com.br/sc/noticia/2012/09/professoresde-areas-como-fisica-e-matematica-estao-em-extincao-3887424.html>. Acesso em 09/03/2015. OCDE. (2014). Education at a Glance 2014 – Home. France: OECD. Disponível em: http://www.oecd.org/edu/Education-at-a-Glance-2014.pdf. Acesso em 07 de julho de 2015. PINTO, J. M. R. O que explica a falta de professores nas escolas brasileiras? Jornal de Políticas Educacionais. N° 15 | Janeiro-Junho de 2014 | PP. 03–12. Agradecimentos ao apoio do Programa PIBID