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girista.com Ano I - Ed. 4 - Abril/2013 A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Wagney Azevedo Leão girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê É uma revista temática em busca de um resgate histórico de uma raça que ao descer em terras brasileiras, oriunda da Índia, se sentiu em casa. Exalando magia e mistério transformou em girista todo aquele que com ela poetou. É um projeto desafiador pela sua veiculação digital. Mas foi essa a maneira encontrada para deixar registrada a história e ações dos que a preserva. É um resgate daqueles que foram além da simples criação, transformando-a em estado de espírito. O editor Expediente Jornalista Responsável Luiz Humberto Carrião MTb GO 01438 JP Editor Luiz Humberto Carrião [email protected] girista.com 3 4 - Abril/201 Ano I - Ed. e o girista lê que o mundo vê A revista do Gir Wagney Azevedo Leão Revisora Carmem Marize Lima Diagramador Thales Moraes [email protected] Goiânia – Goiás 2 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Editorial Aqui estamos para levar até você, internauta, mais uma edição da revista Girista.com. Uma revista que nasceu com um projeto despretensioso quando o assunto é ibope, mas que vem fazendo jus à frase que ilustra o seu título: a revista que o mundo vê e que o girista lê. O mundo vê porque se encontra a disposição de livre acesso na internet. O girista lê porque o relatório da empresa que hospeda o site www.girista.com identificou mais de 400 acessos de aparelhos diferentes à 3ª edição. Número considerável sobre uma revista temática, digital, num país com 1000 criadores registrando na ABCZ. Uma revista elaborada através de colaboradores não remunerados; sem o inescrupuloso “jabá”, isto é, a cobrança para a divulgação de pessoas através da matéria de capa ou entrevista. Existe em função do ideal de seus articulistas e editor. Nesta edição, uma entrevista esclarecedora para os associados da GirGoiás e dos proprietários de touros no Teste de Progênie do PNMGir com o presidente da entidade, Luiz Alberto de Paula e Souza. A coluna Retratos no Gir, uma homenagem ao doutor Ataíde Xavier, que durante um período esteve como interventor na ASSOGIR por força de uma ação judicial, e que, com respeito à entidade, a seus associados, à determinação judicial, conduziu de maneira firme e respeitosa a volta da associação aos seus associados, inclusive, com a convocação, eleição e posse de uma diretoria em observância às Leis. A revista assim o faz como forma de um resgate ao gesto comum dos comuns, que retirou da galeria dos presidentes o quadro-retrato do doutor Ataíde. Apresenta um reforço em seu time de articulistas, Glayk Humberto, de escrita fácil, textos leves, assuntos cotidianos dos currais de gir por esse Brasil afora. A cada texto de Gayk uma prestação de serviço àqueles que criam ou trabalham nos currais brasileiros de Gir. Mais uma edição com o compromisso com a História da raça Gir e não com a história dos “homens” do Gir. Boa leitura! O editor girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 3 Nesta edição 05 08 12 17 19 20 Entrevista Luiz Alberto de Paula e Souza, presidente da Associação Goiana dos Criadores de Gir – Girgoiás Matéria de capa Wagney Azevedo Leão Hélio Ronaldo Lemos – de A a Z I de Iansã da Santa Fé Matéria O ovo de Colombo e a integração lavoura/pecuária Artigo Glayk Humberto Criação de novilhas Gir para produção leiteira Artigo Paty Sibin A baixa qualidade dos serviços prestados pelas empresas de telefonia móvel e transmissão de dados na área rural. 22 24 26 28 29 35 4 Artigo Pedro Wilson Abismos: natureza brasileira no século XXI Confissões sexagenárias Luiz Humberto Carrião Aberta temporada de caça a adjetivação terminada em “eiro” Livro Uberaba e o Fetiche do Zebu Histórias de Tiãozinho Cunha Por essa ninguém esperava Simplesmente Francisco O papa do fim do mundo Retratos no Gir Homenagem ao doutor Ataíde Xavier que como interventor na ASSOGIR soube conduzir com lisura e isenção o processo de eleição naquele momento tão difícil passado pela entidade. Entrevista Luiz Alberto de Paula e Souza Girista.com – O senhor interrompeu, em 2011, uma continuidade de poder na Associação Goiana dos Criadores de Gir (GirGoiás) desde a sua fundação em 1968. Duas perguntas: Como se deu isto? O senhor tem consciência de seu papel histórico na entidade? LAPS – Tenho consciência do papel histórico de qualquer cidadão que rompe um poder de mando de tantos anos como o que ocorreu na GirGoiás. Normalmente no continuísmo sempre se entende estar fazendo o melhor; que outras pessoas são incapazes de ao menos dar continuidade ao “status quo”, quanto mais avançar no processo. Não avaliam os prejuízos, o atraso que impõem as estruturas. Não é tarefa fácil romper com a mentalidade por ele sedimentada. Mas é preciso ousar. Assim que percebi a imposição por parte da liderança-mor de então ao indicar qual seria o próximo presidente dentro das cartas marcadas e o sucessor deste por antecipação, discordei e coloquei meu nome à disposição e vencemos o pleito. A maneira como ocorreu o processo mostrou muito claramente as vertentes do establishment: o comportamento sempre avesso a eleições recuando da disputa justificada através de nota nas redes sociais, onde se vangloriavam em fazê-lo em nome de uma unidade. Na verdade não haviam conseguido número suficiente para a composição da chapa. Aliás, um despropósito, mais de 30 nomes, o que de certa forma, dificulta a formação de uma chapa de oposição. O desejo de mudança nos associados que não suportavam mais aquele mando de compadrio; o marasmo administrativo nas mãos de funcionários, numa sala suja e sem condições de trabalho, de onde nunca saiu um comunicado sequer em folha xerocada, um boleto com o valor da anuidade, um telefonema de um dos diretores a um associado em convite para uma reunião ou assembleia. Rompi as barreiras que muitos achavam intransponíveis, agora compete aos associados avançar ou retroceder, democracia é isso. Girista.com - O senhor foi, desde o início de sua gestão, duramente criticado pelo presidente que o antecedeu, porém, sempre esteve longe das discussões e críticas levadas a efeito nas redes sociais. O senhor já fez uma análise do porque dessas críticas tão ácidas? LAPS – Sim! E a resposta foi dada por ele mesmo na reunião ocorrida na sede da SGPA com a presença do coordenador do teste de progênie pela Embrapa, o pesquisador Rui da Silva Verneque, associados, criadores e proprietários de touros no teste. Fez sua “mea culpa” e, inclusive, se disponibilizou a rodar o país explicando os erros ocorridos em sua gestão, notadamente em relação ao teste de progênie. E vou mais adiante. A responsabilidade pelas dificuldades girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 5 que passa a entidade atualmente não é de todo depositada no ex-presidente, tenho que ser justo, na verdade, ela vem de longe num processo viciado no compadresco. Conservou-se desde a sua fundação um processo amador, como, aliás, foi assumido pelo ex-presidente e pela sua liderança maior quando da assembleia de prestação de contas. Um teatro dantesco eivado de mentiras e tentativas de arrumações. Esse tipo de atuação política e de gestão ficou na república velha e nos países fieis ao sonho comunista. O mundo mudou e não se aperceberam disso. Girista.com – Algures alguém afirmou nada ser mais solitário do que presidir uma associação de classe ou promotora da raça como é o seu caso. Concorda com essa afirmação? Explique. LAPS – Não vejo como uma questão de concordar ou discordar. Uma entidade como a GirGoiás estatutáriamente os diretores não são remunerados. Esse é o primeiro ponto a se levar em consideração. Depois, todos os associados que abnegadamente dispõem-se a colaborar tem seus afazeres, e muitos, moram inclusive fora da cidade sede da instituição, no caso específico, até em outros estados da federação. Essa solidão administrativa acaba sendo compreensível e natural. Quando um associado coloca o seu nome à disposição tem que trazer a visão de que a diretoria trabalha e representa os associados. Da mesma forma o presidente a diretoria. Infelizmente é assim. Todavia, sem uma visão centralizadora administrativamente falando, ou mesmo autoritária. Agora, as críticas existem e sempre existirão. Há que se ter sabedoria para lidar com elas. Por essa consciência e respaldado pela experiência como presidente ou membro de diretoria de outras entidades não entro em discussões cujo objeto e o desgaste pura e simplesmente de quem exerce o poder. Quantas vezes a razão determinou o silêncio diante de mentiras plantadas nas redes sociais para não prejudicar a entidade ou mesmo pessoas de bem que nela estiveram? Às vezes contra a vontade de muitos, mas a voz da razão sempre falou mais alto. Girista.com – O senhor primeiramente sofreu críticas por ter se alinhado a pessoas formadoras de opinião na raça Gir que não são unanimidade no meio, cito como exemplo, a dona Leda Góes e o professor Carrião. Depois, pelo resultado do Teste de Progênie da primeira bateria de touros que não saiu dentro da previsão pré-estabelecida. O que o senhor tem a dizer aos que lhe criticaram e criticam? LAPS – Vou iniciar a resposta com outra pergunta. Por que dona Leda e Carrião não são unanimidades? Porque assumiram posições e defenderam essas posições. Mostraram a que vieram. Ser politizado e com posições firmes nesse país não é fácil. Apesar de todas as criticas, da não unanimidade, são pessoas de uma respeitabilidade no Brasil inteiro como lide- 6 ranças classistas e criadores de Gir. Inquestionável suas experiências. O Carrião foi o primeiro de Goiás a compor a mesa diretora da ABCZ; foi autor na mesa diretiva da ABCZ do projeto que acresceu a palavra pecuária na nomenclatura do Ministério da Agricultura, e, consequentemente, por efeito cascata a todas as entidades afins; diretor e presidente da ASSOGIR. Isso incomoda! Dona Leda discordou do continuísmo na ABCZ, montou uma chapa e partiu para a disputa. Só não ganhou porque foi prejudicada pelo arcaico sistema de compadrio onde a chapa precisa de mais de 100 nomes com exigências que dificultam o seu registro. Isso vindo de uma mulher incomoda! Goiás é o estado que mais registra na ABCZ onde o presidente é eleito com menos de 1000 votos. Onde está a coragem de nossas lideranças em montar uma chapa e concorrer à presidência daquela entidade? Por isso é que os defendo. Aliás, faço justiça pelo que fizeram pelo Zebu no Brasil. Faço a leitura de ser um privilégio tê-los como amigos. Quanto ao resultado do teste de progênie não ter sido publicado no prazo pré-estabelecido não foi responsabilidade dessa diretoria, ou minha como querem imputar. Foi na nossa administração que os primeiros dados da primeira e segunda bateria foram encaminhados à Embrapa. O Rui Verquene esclareceu isso através de documentos e presencialmente na última reunião sobre o teste. Mas essa verdade não interessa a muitos. Muitos que na verdade lesaram aqueles que acreditaram no teste e na administração da entidade à época. Criticam porque são adeptos de que a melhor defesa é o ataque. Mas isso a história acaba por esclarecer, mais dias menos dias. Girista.com – Num determinado instante de sua administração houve uma debandada por parte de seus diretores, que leitura o senhor faz disto? LAPS – Quem foram os diretores que debandaram? Qual sua folha de serviço prestada à entidade ou à raça? Que significação existe para a raça em nível de Goiás e de Brasil esses diretores? Por princípio nunca me dispus a trazer a público o porquê de suas debandadas, mas, aqueles próximos da associação sabem bem o motivo. E de cada um deles. Um presidente responsável não pode e não deve ceder a pressões de interesses pessoais ou mesmo escusos de quem quer que seja ainda mais sendo diretor. Agora, os detratores de plantão não perderam a chance e falaram o que bem entenderam. Replicá -los seria dar a eles o palco que procuravam. E eu não me submeti ou me submeterei a isso. Girista.com – O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Gir (ASSOGIR), senhor José Sab Neto, afirmou que, acabado o Teste de Progênie do PNMGir acabada a GirGoiás e viceversa. Tem razão ou não? LAPS – Não concordo com o presidente da ASSOGIR. Aliás, penso o contrário, tanto a GirGoiás fun- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê cionaria melhor sem o teste, como este, funcionaria melhor sem a aquela. O teste de progênie deveria ser administrado pelos proprietários de touros. Erros crassos foram cometidos, aliás, como disse anteriormente, admitiram amadorismo em suas administrações publicamente. Jogaram uma verba federal considerável no teste e acharam que ela o sustentaria “ad eterno”. Amadorismo! Depois, não cotizaram as despesas mensais entre os proprietários de touros. Simplesmente cobraram uma taxa de 8 mil reais para a inscrição que muitos não pagaram. Quanto custa para testar um touro na ABCGIL? Não sei. Mas será que gira em torno de 10 mil reais como na GirGoiás? Tenho certeza que não. Já na administração anterior ao ex-presidente o teste teve problemas com coleta de dados de campo por falta de dinheiro que provocaram dificuldades técnicas que se estenderam a administração de meu antecessor e estourou em minha gestão. Isso foi publicamente provado, mas os descontentes fecham os olhos, tampam os ouvidos, mas não calam suas bocas. Estou disposto se assim o desejar o presidente da ASSOGIR em fazer uma assembleia e propor a transferência do teste de progênie com toda sua estrutura para a ASSOGIR. Não sou daqueles que deseja o pior como melhor. Se na entidade nacional da raça ele tiver sucesso, parabéns! Aliás, lá deveria ser o seu lugar. A ASSOGIR representa a chamada linha alternativa da raça. É uma instituição de nível nacional. Está dentro de Uberaba, considerada a capital do Zebu, o que lhe dá uma visibilidade extraordinária. Seria um contraponto com a ABCGIL e seu teste. O laboratório construído pela ASSOGIR na Embrapa de Goiás possui o ISO 14000 designado a salas de cirurgias de medula nos principais hospitais do país. Esse laboratório é da ASSOGIR! Quem articulou sua saída de lá e por quê? Isso ninguém fala. O silêncio é total. Girista.com – Quais as expectativas que o senhor tem em relação ao PMNGir, que não se restringe somente ao Teste de Progênie? LAPS – Quanto ao teste de progênie nenhuma. Falam na criação de um Conselho Gestor para administrar o teste como se a simples nomeação de pessoas fosse o suficiente. Não é. Necessário se faz buscar acertos de dados de campo da primeira, segunda e terceira bateria, e isso custa dinheiro. O mesmo no que diz respeito às baterias em andamento. Alegam que o dinheiro existe. Onde? De Leilões com uma inadimplência exorbitante? De animais doados e leiloados e não entregues? Dividas com instituições federais que impedem a busca de recursos para tal? Parcerias maculadas com instituições privadas que levaram a entidade ao descrédito? Através de anuidades? O próprio teste hoje não possui unanimidade em sua credibilidade, consultem os proprietários de touros. Atualmente existem problemas técnicos que dependem da “boa vontade da Embrapa” e de dinheiro. Será que a Embrapa irá ter essa “boa vontade”? E o mais importante, quem irá arcar com os girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê custos? Os donos de touros que já pagaram pelo serviço? Todavia, a GirGoiás acabou de realizar uma prova de produção de leite em novilhas gir com sucesso. Elaborada e levada a efeito em nossa administração. Girista.com – O senhor é candidato nas próximas eleições na entidade? Por quê? LAPS – Tenho um compromisso com aqueles que me apoiaram. E não são poucos. O que se tem visto nas redes sociais são reclamações de viúvas que choram sobre o defundo como se isso o ressuscitasse. Dei minha parcela ao enfrentar o continuísmo e derrotá-lo. Não me apego a cargos. Sou contra o continuísmo. Mas também não fujo da raia. Como foi respondido na primeira pergunta, tenho consciência de minha responsabilidade histórica na instituição. Se escolhido como cabeça de chapa, vou para as eleições, mas preferiria a renovação. Mas se recair sobre meus ombros, será um momento interessante para desnudarmos a entidade. Da vez anterior, não tinha acesso aos absurdos nela cometidos, agora os tenho. Se recair sobre minha pessoa já antecipo, vou acabar com o instituto da reeleição e essa chapa com mais de 30 membros cujo intuito é dificultar a organização da oposição. Isso é inaceitável nos dias atuais. Tenho comigo de que a atual diretoria deve apresentar uma chapa e disputar as eleições, inclusive já fui cobrado nisso. Sobre quem irá capitaneá-la isso pouco importa desde que seja uma pessoa de bem, enérgica e com disponibilidade para a associação. Propiciarei eleições limpas. Democráticas. Quem irá decidir sobre os destinos da entidade são os seus associados. E tenho a certeza que eles saberão o que é melhor para a GirGoiás. Girista.com - Mágoas? LAPS – Não. Era oposição e transformei-me em situação. Tinha consciência das críticas. Isso se traduz de maneira cultural no país. Sempre estive acima desse palanque stalinista ou do proselitismo coronelista do século passado. Sabia da falta de respeito com que meia dúzia de pessoas insistiria em criticar-me. São sempre as mesmas e o meio girista sabe bem o motivo. Sempre procurei estar acima disso. Mágoa é uma palavra que não pode fazer parte do vocabulário de uma liderança, por mais simples que ela seja. Girista.com – Algum assunto que o senhor gostaria que tivesse sido abordado nesta entrevista e não foi? Fique a vontade. LAPS – A revista Girista.com como sempre com respeito e elegância explora muito bem seus entrevistados, por isso, sua credibilidade a nível mundial. Como presidente de uma entidade ligada à raça Gir gostaria de agradecer em meu nome e de minha diretoria aqueles que possibilitam sua veiculação digital. Um projeto ousado, de muita qualidade, responsabilidade, coragem, e acima de tudo, resgatando a história dessa raça apaixonante. 7 Wagney Azevedo Leão com o editor Luiz Humberto Carrião Wagney Azevedo Leão À Girista.com muito obrigado pela deferência a minha pessoa. Vou relatar sucintamente as histórias mais preciosas de nossas vidas. Sou filho de um dos mais fanáticos pecuaristas de Rio Verde, Garibaldi da Silveira Leão, casado com Maria de Lourdes Azevedo Leão. Como todo menino nascido no sudoeste goiano que os pais tinham condições de estudá-lo, fui matriculado numa das mais conceituadas instituições de ensino do Triângulo Mineiro, Colégio Regina Pacis, dirigido por padres holandeses na cidade mineira de Araguari, de 1946 a 1952, em regime de internato. Em 1950 meu pai comprou em Uberaba 110 novilhas Gir do criador Dr. José Humberto dando início a sua seleção. Mais tarde comprou um touro de nome “Baião”, em Uberlândia. Foi o primeiro Campeão de Rio Verde. Meu avô João Salviano era comerciante em Rio Verde. Minha mãe estudou em Franca. O comércio com São Paulo era mais fluente por lá onde ele conheceu muitos criadores de Gir. Franca estava em grande 8 evidência. Meu pai conheceu criadores como Tenente Continentino, Jacinto Onório, Levi Fraga, família Lemos entre outros. Em Araguari, João de Souza, Calimério de Ávila, Geraldo Debs, Dr. Belizario e Walter A. Melo. Em Uberlândia, José Zacarias Junqueira, Família Freitas, Godofredo Machado, Dimas Machado entre outros. Meu pai acabava de chegar de uma exposição em Franca e inspirado no que havia visto por lá teve a ideia de começarmos a fundar uma associação de pecuaristas em Rio Verde. Reunimos na loja de meu avô, com vários criadores que iniciavam sua seleção. Acertamos a data e fomos para a fazenda. Neste intervalo a loja maçônica sem a nossa presença criou e formou uma chapa com pessoas desligadas da pecuária. Assim que souberam que já havíamos dado os primeiros passos nessa direção recuaram, não deram seguimento a fundação da tão sonhada Associação. Isto consta nos anais da entidade. Foi quando eu próprio propus a reestruturação da Associação em 25 de Julho de 1958. girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Capa Wagney Azevedo Leão (Galeria dos presidentes do Sindicato Rural de Rio Verde/Goiás) Eu já tinha algumas ideias. Foi quando meu pai disse “assuma que vamos ajudá-lo”. Eu muito tímido, mas com aqueles princípios de uma educação muito rígida, parti para a luta. Reuni meus companheiros: Edmundo Rodrigues, João Orlando, Aluísio de Almeida, Dr. Saulo Garcia, iniciamos a construção dos primeiros pavilhões. Viajava diuturnamente convidando criadores de vários estados. Fomos muito felizes na primeira exposição. Iniciamos o julgamento com três juízes, técnicos do Ministério da Agricultura. Vai aqui uma frase de meu pai: “quem não planta e não cria, não tem alegria” e “quem não aventura não cresce”. Nós estudávamos e nas férias tínhamos que aprender as lidas agropecuárias. Com 16 anos meu pai deu-me uma lição ao entregarme 30 touros, um peão e duas mulas dizendo: “eu quero ver você daqui há 30 dias, com touro ou sem touro”. Assim parti para a luta. Com 24 dias estava na fazenda sem nenhum touro, e aí, ganhei por completo a sua confiança. A história aqui é comprida, e nos meus apontamentos que pretendo publicá-los em forma de livro irei contá-la. Fui presidente da Associação Rural por três mandatos. No Sindicato Rural de Rio Verde, por dois mandatos, o que me orgulho muito. Quem conhece nosso parque sabe do nosso girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê trabalho, uma semente que foi bem plantada e germinou com vigor. Quanto à seleção começada por meu pai e seguida por mim tivemos muitas conquistas, sempre procurando adquirir animais com raça e estrutura frigorífica, e valorizando o leite. Nos tempos passados tirávamos leite e desnatava. Uma das mais difíceis atividades, pois não tínhamos transportes, esses cremes ficavam até 15 dias na fazenda. O que me envaidece muito é que fui um presidente social, nunca cobramos ingresso da população. Fui convidado pelos partidos UDN e PSD para disputar eleição em Rio Verde. Como meu pai havia me pedido para não me meter em política, recusei os convites de meus amigos, e assim realizei um sonho de meu pai. Interessante que ele era compadre dos chefes das duas agremiações. O sonho que ele não pôde ver concluído, mas ficou seu nome gravado no parque de Exposição de Rio Verde. Fui presidente da UDR (União Democrática Ruralista) regional do Sudoeste. Havia em nosso estado, e principalmente no Sudoeste, o famigerado clube dos 11, uma facção comunista. Mapearam o município do Sudoeste e começaram a invadir as fazendas. Foram anos de incertezas, o Exército Brasileiro chegou a montar um Batalhão em Rio Verde. Com muita luta conseguimos desestabilizar essas iniciativas esquerdistas. primeiro botijão de sêmen em Rio Verde 9 Na pecuária destacamos a parceria com o Dr. Aluízio de Almeida, mais tarde com o pecuarista Hélio Ronaldo Lemos. Fomos os primeiros a coletar sêmen bovino em Rio Verde. Quando levamos para lá o botijão de sêmen, as pessoas não acreditavam. O promotor Dr. Sebastião foi o primeiro a duvidar, foi preciso levar o botijão a um laboratório para certificar a veracidade que os espermas estavam vivos. Vamos falar agora de algumas de nossas conquistas nas exposições. Baião foi o primeiro Campeão em Rio Verde, em 1954, ano seguinte sagrou-se Campeão na Exposição Nacional de Goiânia. De lá para cá conquistamos vários prêmios, Feitiço Reservado Grande Campeão em Goiânia em uma Exposição muito concorrida. Após a Exposição de Goiânia o levamos para a Central de coleta de sêmen do Dr. Bezerra. Fizeram uma coleta e mandei-o de volta para Rio Verde. Na mesma semana em que chegou, caiu um raio no transformador matando o Feitiço e sete vacas de cabeceira. Em seguida, fiz uma parceria com Hélio Lemos, com o touro Krishna II que ajudei a adquirir. Krishna II junto com sete vacas oriundas de Barretos ganhou a medalha de ouro de melhor conjunto da raça. Wagney e o governador de Goiás Otávio Lage 10 Com a morte do Feitiço fiquei de braço quebrado, encontrei com o amigo Eleodante Cardoso que me ofereceu um touro de origem R de nome Reflexo, quando o vi, achei-o muito magro, mas muito bonito. Comprei o touro e levei-o para Rio Verde para tratá-lo. No ano seguinte ele participou da Exposição Nacional em Goiânia, onde conquistou o prêmio de Grande Campeão Nacional de 1978. Poucos meses depois fui convidado pela ABCZ para levá-lo a uma amostra Internacional em Uberaba para mostrar o gado Zebu brasileiro para os africanos e indianos. Mesmo com a diversidade da vida não tinha hora para dormir, foi quando fui acometido de uma infecção, paralisei-me por total, fiquei um ano na cadeira de rodas. Já recuperado, continuei minha jornada em benefício da pecuária e para não dizer do Gir, paixão que herdei do meu pai. Fui muito criticado por familiares, acredito até que falhei em algum momento pela vontade de acertar na seleção que tomei como religião. Com amigos e criadores de Gir foram quantas noites que varamos discutindo animais que o próprio Carrião é uma testemunha viva destes feitos. Adquiri um filho do Labhagauri do criador Jace Jacinto, que deixou ótimas filhas leiteiras. Continuei a epopeia sempre comprando bezerros de origem conhecida. Adquiri um filho do Neru Importado com a vaca Acácia, premiada em Barretos ao criador Jace Jacinto. Também adquiri algumas filhas do Marduk e Roopano sendo também ótimas de raça e leite. Mais tarde adquiri várias filhas do touro Demêncio do criador Sixto Campos Jarussi, estas enxertadas do touro Gori II do criador Turquim(irmãos Murades). Mais tarde tentando comprar um animal de origem R com muito leite, visitamos várias fazendas em companhia do Dr.Roberto Azevedo, Dr.Guido Mohn e Hélio Lemos fomos à fazenda dos irmãos Collete e adquirimos um bezerro filho de uma vaca muito boa de leite, filho do touro Jangadeiro. Fomos muito criticados pelos criadores, principalmente pelo José Zacharias. “como vocês quatro vão a São Paulo comprar uma bosta desta?”. Eu não comprei um touro de pista, comprei um reprodutor, aguarde a produção e veremos. Infelizmente ele não pôde ver a produção do Bolero. Este deixou animais grandes, bonitos e leiteiros. Fui discípulo dos mais renomados Zootecnistas do Brasil: Dr. Barrison Vilares e Dr. Ubaldo Oléa, entre outros. Na Água Branca, parque de exposições da cidade de São Paulo tive a felicidade de salvar um veterinário que estava co- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Wagney com Douçura da Mata letando sêmen de um touro holandês. Para mim foi um milagre, pois era um sábado e estávamos em 3 coletando. O touro ao invés de montar no manequim debruçou-se sobre o veterinário mugindo muito, eu não sabia o que fazer. O que encontrei foi um cano de duas polegadas e consegui dar um pancada na nuca do bruto, este caiu esperneando em cima do veterinário e nós não sabíamos como tirá-lo dali debaixo, com muita dificuldade desvencilhamos do mesmo. Perguntei ao colega se ele sabia dirigir, disse que não, peguei o citroen do Dr. João e levei-o ao hospital mais próximo do parque. Assim ganhei a amizade e a confiança dos técnicos da Água Branca, isso foi no ano de 1957, ano em que fiz o curso girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê de inseminação artificial que ainda era resfriado. Ainda utilizamos vários reprodutores: Jalam Camila, Brinco, Babado ZS, Cassudi ENA e Autêntico da Mata, este vendido ao companheiro Paulo Ferola. Quanto ao Jalam foi uma das maiores revelações de nosso plantel, que depois foi vendido ao amigo Alberto Motta que o passou ao Professor Edmardo, mais tarde vendido ao José Manoel, e foi parar no plantel do Zé Carlos Lobo, deixando uma prole extraordinária. Na Fazenda da Mata revelou-se de modo extraordinário, deixando excelentes animais, entre eles a filha Douçura II que ultimamente se revelou como matriz modelo. Segundo os criadores Paulo Ferola e Ricardo Simões: uma das vacas mais perfeitas do Brasil. Douçura II é mãe do Bastão da Mata (Autêntico da Mata), Espanto AMJ do Professor Carrião, Bastão 1364 de Antônio Cândido da Silva, e possui outras dezenas de filhos (as) que ainda vão se revelar. Fizemos uma parceria com Idelton Mesquita, Antônio Motta Jr, Alberto Motta, Dr. Silvio Araújo, Dr.Marcelo (Uniube), José Rabelo e Dr. Pedro Cláudio Rabelo e por último com o grande amigo e criador Joel Machado Diniz. Não querendo alongar-me muito, deixo aqui minha mensagem aos criadores de Gir: sozinhos não realizamos nada. Agradeço ao editor da revista Girista.com, professor Luiz Humberto Carrião, a gentileza de relatar um pouco de minha contribuição pela raça que tanto ajudou a desenvolver o Zebu no Brasil. 11 História Hélio Ronaldo Lemos de A a Z I de Iansã da Santa Fé Por Hélio Ronaldo Lemos Um dia um amigo que me auxiliava nas pistas de julgamento, chegou e disse que na escola que estudava havia um professor de História apaixonado pela raça Gir. Falou que o mesmo havia adquirido um touro gir marca SJ, Fazenda São João, de propriedade do doutor Ene Sab, do Walmir de Faria, da cidade de Tanabí, interior de São Paulo próximo a São José do Rio Preto, e que havia reservado junto no escritório da Pecplan, em Goiânia, alguns embriões da Paquera dos Poções, matriz de destaque da Fazenda Poções, no município de Jequitibá, Minas Gerais, de criador Arthur Souto Maior Filizzola. Mas quem é esse cara? Perguntei. Professor Carrião é o nome dele. Tem uma pequena propriedade muito arrumadinha no município de Bela Vista de Goiás. Depois vim saber que a Paquera dos Poções não produziu embriões para atender ao mercado, e que, o professor Carrião havia numa negociação com a Pecplan, onde esse amigo trabalhava, transferindo a quantia que já havia pagado nas parcelas dos embriões, por um botijão de sêmen e algumas doses do touro C.A Everest. Também soube que havia feito um negócio com o João de Faria Filho, da cidade de Rio Preto, adquirindo algumas vacas do 12 Bigatão oriundas de matrizes da Favela, de Aderbal Góes. Também vieram nessa leva alguns animais da marca Cal, além de alguns animais da variedade mocha. Amigo do Walmir de Faria, compadre do doutor Ene, Carrião foi levado por este a Fazenda São João, onde adquiriu quatro fêmeas: Rivera, Samara, Safira e Sabá, além de dois bezerros, Sarandi e Saturno. Todos com a marca ENE na cara. Logo o professor Carrião estreitou uma amizade com Jairo de Andrade. Com todo respeito digo que era a tampa e o balaio quando o assunto era pista de julgamento. Brigões e temperamentais. Mas há que se fazer justiça ao Carrião. Também conservou uma amizade muito próxima ao doutor Ene e ao doutor Aderbal Góes. Com o primeiro o assunto era literatura. Ficavam até altas horas falando de poesias, poetas, escritores e clássicos do romance mundial, com o segundo, o foco era história, notadamente sobre a Segunda Guerra Mundial e o Brasil contemporâneo. Isto não quer dizer que não falavam de gir. Falavam, mas só que dentro de uma temática histórica. Num leilão do Jairo em Goiânia, chamado Arca de Noé, onde se leiloava tudo, até galo cantor, o Jairo disse ao Carrião que iria a pedido colocar uma novi- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê lha que ele havia comprado em Uberaba na Expozebu. Asseverou ao Carrião que não seria um animal barato, mas que o comprasse, pois com certeza, seria o animal que iria projetá-lo no “mundo do Gir”. Antes do leilão a novilha foi colocada na entrada do recinto. Uma obra de arte. O Carrião era muito ligado aos jovens criadores de nelore. A quase maioria deles havia sido seus alunos. Quando o animal entrou no remate, em menos de 30 segundos estava em 5 mil reais. Naquela época o câmbio do real estava parelho com o dólar americano. Na mesa todos diziam para ele dar lance no animal. Relutava dizendo tratar-se de um animal muito caro. Foi então que um amigo e ex-aluno, Marco Aurélio de Oliveira Fernandes deu lance no animal na “bacia das almas”. Experiente, levantou e solicitou a planilha de compra junto à “pisteira” solicitando ao Carrião que a assinasse. Parece que Marco Aurélio estava adivinhando. Logo umas mesas de criadores paulista reivindicaram a compra do animal. Marco Aurélio endureceu dizendo que o lance final era do professor mostrando o contrato de compra. Iansã da Santa Fé pertencia a partir de então ao criatório LHC. Lembrome que foi uma festa no recinto levada a efeito pelos seus ex-alunos neloristas. No dia seguinte, pela manhã o Zé Henrique, meu auxiliar de pista e um dos responsáveis pela compra do animal, juntamente com o professor cha- Iansã da Santa Fé em idade jovem maram-me para ver e analisar o animal. Realmente, um animal de ponta. De pedigree consistente, embora seus pais, Oitibó JZ e Melissa JZ, vendidos pelo espólio José Zacarias ao Adauto César de Castro, secretário da ASSOGIR na gestão do Marco Antonio Pinsetta, não fossem animais de destaque, mas com Krishna LHC em vaca Saturno girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 13 Oyá LHC (Panã JZ x Iansã da Santa Fé) uma ancestralidade fantástica. Iansã era inquestionável. Naquele dia disse ao Carrião que eu tinha um touro que entrava na Iansã como uma luva, o Krishna II. Um final de semana, acompanhado pelo Zé Henrique fui conhecer a Chácara do Carrião. Uma surpresa. Muito bem organizadinha. Casa sede, casa de funcionário, várias cocheiras e vários piquetes, todos eles com cochos para tratar e mineralizar, bebedouros independentes, galpão para armazenar ração, palha de arroz, sal mineral, bezerreiro, tronco, etc.. Eis que um momento de preocupação surge. A dois meses do prazo estipulado pela ABCZ para que estivesse com prenhes positivada e comunicada a ABCZ, Iansã nada de cio. Lembro-me que Carrião ligou para o doutor Casa Grande, na Sembra, em Barretos, solicitando orientação. E a orientação veio no sentido de colocá-la no pior pasto da chácara e esperar. Como? Dizia Carrião. Isso é um pecado. Casa Grande disse para ele passar as ordens para o peão e somente ir lá depois que a mesma houvesse sido coberta ou inseminada. Num domingo à tarde, encontrávamos num leilão de nelore na SGPA, debaixo de uma chuva torrencial um telefonema para providenciar a inseminação da Iansã ao entardecer. Carrião e uma fila de neloristas dirigiram-se para a Chácara Mato Grande. E lá, pelas mãos do Zé Henrique, Iansã foi inseminada com o touro Panã JZ. O Carrião sempre gostou muito do gado JZ. No ano seguinte estava Iansã com um bezerro extraordinário ao pé, Centenário LHC. Recebeu esse nome em homenagem a 100 anos de um evento histórico. Esse animal foi vendido pelo preço pago à mãe e foi para a cidade de Bambuí, Minas Gerais. Antes mesmo de desmamar a primeira cria já estava com outra Panã JZ no ventre, Oyá LHC. Sempre mantendo o refinamento do rebanho JZ. Depois, na terceira cria foi inseminada com o Krishna II, produzindo o Khrisna LHC, com uma produção extraordinária leiteira no plantel LHC. A quarta cria, também com Krishna II, uma fêmea chamada krishna Metha LHC. Com Durango Sat da Favela, Iansã produziu um animal também extraordinário de leite e tipo. Inúmeros filhos, filhas e netos, dos quais Dhãrmika LHC (Krishna LHC x Gioconda LHC) ainda Khrisna LHC 14 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Dhãrmika LHC (Krishna LHC x Giogonda LHC) vai dar o que falar. Tive a oportunidade de julgar Iansã da Santa Fé, pela primeira vez, na cidade de Santa Helena de Goiás, na inauguração do Parque de Exposições construído pelo doutor Alcides Rodrigues Filho, à época prefeito municipal e que depois foi eleito vice-governador e governador de Goiás. Dei reservado a ela. A Grande-campeã foi uma vaca do Wagney Leão chamada Beldade da Mata. Embora tenha feito o Grande-campeão com o Saturno da SJ, e vários cam- Iorubá LHC (Durango Sat da Favela x Iansã da Santa Fé girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê peonatos com outros animais, Carrião não aceitou o resultado. Saiu no dia seguinte como uma raio para a cidade de Itatinga-SP, numa visita ao doutor Ene Sab. Com certeza comemorar o Grande-campeonato do Saturno da SJ. O pior disso, é que um jornal da cidade estampa a foto da Iansã na primeira página com a legenda da Beldade da Mata como a Grandecampeã da feira. Numa exposição em Goiânia, o jurado da AGCZ – Associação Goiana dos Criadores de Zebu – Zacarias da Cunha, teve coragem de dizer ao Carrião o que precisava ser dito. Que pista de julgamento é momento. Que embora tivesse uma estrutura extraordinária na Mato Grande, e não fizesse economia com trato, os animais sempre estavam a desejar. Assim foi em Rio Verde, Buriti Alegre, Inhumas e outras cidades. Foi então que contratou o melhor tratador do país, Zé Botinha. Fechou vinte fêmeas, o Saturno da SJ e o Centenário LHC e veio para a pista de Goiânia. À época, uma pista pesada. Os criadores que participavam da Expozebu vinham quase todos para Goiânia. Zacarias havia sido escolhido para julgar o Gir e Zé Henrique a auxiliá-lo. A performance dos animais não deixava dúvidas. Seria a vez da Iansã e de outras fêmeas extraordinárias como Realeza do BIG, Rivera da São João, Uraúna da 15 Iansã da Santa Fé em idade adulta São João, esta irmã própria do Saturno da SJ (Jaipur da SJ x Lili da SJ). Bibi da SJ, mãe de Lili da SJ havia sido Grande campeã em Uberaba em 1983, Safira da SJ, Alegria do BIG, Açucena do BIG, Artista do BIG, Petit Fleur LHC, enfim, eram 20 fêmeas e dois machos na pista. Todos preparados para o julgamento quando da bomba! Haviam mudado na noite anterior o jurado. Não era mais o Zacarias a julgar o Gir, e sim, Marcelo Toledo, técnico da ABCZ do Distrito Federal. Para acabar com a conversa, o Zé Henrique chega à beira do alambrado e diz ao Carrião que seu gado não havia sido mensurado para o julgamento. O caldeirão ferveu. Carrião parecia uma onça acuada. E naquele momento, contava com apoio dos destacados criadores de nelore de Goiás. Feita a mensuração o gado foi para a pista. Carrião levantou todos os campeonatos de fêmeas, Centenário LHC campeão bezerro e Saturno da SJ Reservado campeão de um touro do Fábio André chamado Patamar EVA. Mas isso não é tudo. Na hora de decidir o Grande campeonato, a indecisão do jurado entre uma vaca vermelha Realeza do BIG e Iansã da Santa Fé. Expectativa dentro de um silêncio profundo tomava conta da plateia. Quando o juiz mandou puxar Iansã como a Grande-Campeã, Zé Botinha jogou o chapéu para o céu, ajoelhou, fez o sinal da cruz e chorou copiosamente. Na plateia os amigos jogavam Carrião para cima como acontece com os treinadores de futebol campeões. Atualmente toda a base de recomeço do plantel LHC assenta-se sobre dois animais: Saturno da SJ e Iansã da Santa Fé. Este um dos animais mais perfeitos que se produziu na raça Gir. Comparada às mais 16 belas matrizes do Brasil. Além de beleza, porte, Iansã da Santa Fé alinhou-se a consistência de pedigree, e ainda um controle leiteiro oficial pela ABCZ, no ano de 1993, de 1.607,4 quilos de leite, aferido quando de sua segunda parição, Oyá do Mato Grande. Nunca conheceu numa pista uma premiação que não fosse de Grande Campeã ou Reservada Campeã. Noutro dia, numa dessas nossas conversas sobre Gir, aliás, que se encontra cada vez mais distantes pela ausência de companheiros que nos deixaram, que ao enumerá-los causa-nos preocupação, Carrião dizia-me de um tristeza que carrega em relação à Iansã. Disse que quando foi Grande campeã pela primeira vez pelas mãos do Zé Botinha, deveria ter passado a ele aquele troféu. Ninguém mais do que ele merecia aquele troféu. Por não ser muito ligado a essas coisas, acabou desaparecendo em uma propriedade sua próxima a cidade de Goiânia. Mas, de resto só lhe trouxe alegrias. Morreu depois de todas as tentativas de recuperação depois de uma viagem cuja debilidade não poderia ter feito. Mas como ele mesmo diz, tem coisas na vida que a gente não tem como fugir. Iansã da Santa Fé se foi, isto é verdade. Mas também outra verdade, é que, jamais girista algum que viveu esse período em Goiás, quiçá, no Brasil poderá dissociar a imagem desse animal extraordinário ao professor Luiz Humberto Carrião. Hélio Ronaldo Lemos, jurado das raças zebuínas, criador de Gir e Nelore, Com a colaboração de Luiz Humberto Carrião, jornalista e editor da Girista.com girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Matéria O ovo de Colombo e a integração lavoura/pecuária Interessante o que vem ocorrendo no sudoeste goiano com relação à produção leiteira. Ao contrário do que se poderia imaginar imaginar o rebanho de pequeno, médio e grande porte ordenhado não tem o seu sangue fixado em 5/8, que propicia o reconhecimento como raça pura sintética. Fica em torno do ½ sangue e ¾. Normalmente, o produtor que tem uma produção considerável, anualmente está substituindo parte de seu plantel por animais de maior produtividade, por declínio em lactação, eficiência reprodutiva, por perda de teto, problemas de casco, morte, etc. Essa substituição ocorre dentro da manutenção do ½ sangue ou ¾ através de compra. Existe quase que uma unanimidade na afirmação de que produzir a própria matriz mestiça não compensa financeiramente, se levado girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê em consideração o custo da matriz Gir, o sêmen ou touro holandês ou Jersey (este muito usado na região), o espaço ocupado na propriedade e a questão tempo. A matriz produtora de leite é vista como uma máquina beneficiadora de braqueárias, silagem de milho ou sorgo, concentrado, sal mineral e água em leite. A diferença entre o que é descartado para a compra de reposição vale a pena, afirmam os produtores. Existe praticamente uma linha de corte de 20 litros/dia em duas ordenhas nos currais de mestiças que entregam seu leite para o laticínio. Nas fêmeas, um comércio acentuado de animais descartes, de reposição, novilhas e bezerras acima de 2/4 de grau de sangue. Agora vamos ao macho, sua excelência o gabiru. Atualmente o valor desse animal na 17 desmama é de 400 a 450 reais/cabeça. Por que isso? Simples. Devido a sua desvalorização de antanho, os produtores de leite resolveram recriar, engordar e abater esse animal. Todo curral leiteiro possui uma renda anual ou mensal através de uma escala de abate que é contabilizada na atividade leiteira. Um aspecto muito importante para se analisar. O fator carne agregado à atividade principal, o leite. Existem criadores com uma escala de abate mensal de 10 gabirus proporcionando uma receita em torno de 15 mil reais. Como diz um deles, “o difícil foi segurar até a venda da primeira escala”. Claro! A partir de então o ciclo passa a se estabelecer normalmente. Saiu 10 para o abate no topo da pirâmide, entrou 10 de desmama na sua base. Isso é o que se pode dar o nome de pecuária de duplo propósito. O que é diferente de pecuária de dupla aptidão. O gabiru fica desarranjado até aos 16, quando muito 18 meses de idade. Depois “vira um tiro” na linguagem da região. Com isso, plantéis que utilizavam o touro Jersey em cima da mestiça gir x holandês desprezaram a raça britânica voltando à holandesa. Outro detalhe importantíssimo a se observar, é que, em termos de topografia, o que é mecanizável vai se transformando em áreas de arrendamento para a produção de grãos, soja 18 na safra de verão e milho ou sorgo na safrinha. Restou à atividade pecuária as terras acidentadas, ou então, aquelas de fazendas maiores que dividiu entre o arrendamento ou plantio de grãos e a pecuária. Concernente ao arrendamento, na safrinha (milho ou sorgo) a cada 15 alqueires o arrendatário deixa para o proprietário da terra um alqueire. Uns usam para produção de silagem, outros para o grão, utilizando-o na mistura de seu próprio concentrado, e, aqueles com áreas de arrendamento maiores os dois. Essa remuneração até bem pouco tempo não existia. Noutro dia um produtor argumentava que isso nada significava, pois estava comprando o milho dele mesmo. Correto! Mas a que preço? Essa compra do milho ou sorgo dele mesmo passou a ser efetivada depois que Colombo colocou o ovo em pé. Com isso, ganha-se com a safra de verão, na proporcionalidade de 50: 1 (cinquenta sacos de soja por alqueire); ganho na safrinha através do 1: 15 (um alqueire plantado de milho ou sorgo para cada quinze alqueires de arrendo) e, finalmente, a “palhada” de julho a outubro durante o período crítico da seca. Observem que o foco já saiu de uma pecuária de duplo propósito para uma atividade empresarial rural integrada: lavoura/pecuária. girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Artigo Criação de novilhas Gir para produção leiteira Por Glayk Humberto Vilela Barbosa O processo produtivo na bovinocultura leiteira é composto por várias classes de animais, sendo todas interdependentes de tal forma que o fracasso em uma delas acarreta prejuízos significantes na produção leiteira de uma propriedade. Dentre a classe animal muito esquecida pelo produtor, e que determina o futuro potencial de produção em uma propriedade encontram -se as novilhas, que necessitam de um correto manejo nutricional e profilático para manter o tamanho do rebanho em lactação. As novilhas têm o que há de melhor em genética na propriedade e portanto, a disponibilidade de novilhas excedentes para expansão do rebanho e a venda está ligada ao sucesso de criação. As novilhas representam cerca de 15 a 20% dos custos de produção da atividade leiteira, é necessário acompanhar criteriosamente o desenvolvimento destes animais do desmame até a primeira inseminação, atentando principalmente para o ganho de peso médio diário durante a fase de crescimento dos animais que está intimamente relacionado com o manejo nutricional adotado na propriedade. As novilhas devem ser agrupadas de acordo com sua idade e seu crescimento. Quanto mais novas, maiores são os cuidados sanitários, além disso, cada grupo tem exigências nutricionais específicas. Mas isso depende das condições existentes em cada propriedade, instalações, da disponibilidade de piquetes para o manejo dos animais. Havendo condições, as novilhas devem ser distribuídas em: bezerras até o desmame, novilhas de transição, novilhas pré-púbere, novilhas em reprodução, novilhas prenhes e novilhas no pré-parto. O controle do crescimento faz-se com pesagens mensais através da utilização de balanças e fitas métricas, indicando o correto desenvolvimento das novilhas. Em grandes rebanhos, este controle faz-se por amostragem ao acaso de algumas novilhas. Como o peso vivo por si só não é a melhor medida isolada para se determinar o status nutricional dos animais, deve-se fazer a avaliação de escore de condição corporal, pois auxilia a caracterizar o desenvolvimento das novilhas. Para tanto, em grandes rebanhos, basta fazer uma amostragem de ordem de 10 a 20% dos animais de cada categoria e proceder a avaliação da condição corporal. Um dos pontos, mas importantes na criação das novilhas como mostrado é monitorar corretamente a taxa de crescimento dos animais, evitando o atraso na maturidade sexual e o primeiro parto, determinando se as novilhas estão sub ou super alimentadas e conseguindo desta forma um peso ideal no momento do parto. Na análise de índices zootécnicos da raça Gir, a idade ao primeiro parto está em torno de 40 meses, apesar de mais tardia que as raças européias ficam evidente que neste item existe um reflexo direto no manejo após desmame e também da endogamia na girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê raça Gir que afeta principalmente à reprodução. Em algumas propriedades com alimentação melhorada este índice cai para 31 meses. Além disso, não é demais lembrar que a vida útil de uma vaca Gir é significativamente superior à de vacas européias, sendo comuns animais com 10 crias em atividade produtiva. De acordo com Verneque et al. (2008), a idade média ao primeiro parto é outra característica que apresentou redução ao longo do tempo. A tendência de redução na idade ao primeiro parto nos últimos 32 anos foi de aproximadamente, 4 dias por ano. No valor genético da mesma característica, a redução foi de 1,5 dia por ano. Houve uma redução na idade média ao primeiro parto de 37 dias por ano nos últimos anos e de 8,6 dias por ano no valor genético desta característica. O intervalo de partos e idade ao primeiro parto é variável de grande relevância para qualquer sistema de produção. Enfim longo intervalo de parto e alta idade ao primeiro parto implica em baixa eficiência reprodutiva do rebanho e redução na lucratividade dos sistemas de produção. Verifica-se, assim, que produção e reprodução podem ser trabalhadas ao mesmo tempo, visando aumentar a lucratividade dos sistemas de produção de leite em especial à da raça Gir. A atividade leiteira é uma forma de exploração pecuária complexa, que deve ser administrada com profissionalismo e entre tantas variáveis, a criação de novilhas é fator essencial para o equilíbrio da atividade, bem como dentro de cada rebanho pelo fato destas novilhas servirem futuramente na reposição das vacas adultas. Sendo assim, os fatores mencionados neste artigo devem ser observados com critério para que o criador diminua os custos de produção na criação de novilhas no seu rebanho. Referência OLIVEIRA, A.A.de;AZEVEDO,H.C;MELO,C.B.de. Criação de bezerras em sistemas de produção de leite. Aracaju: EMBRAPA-CPATC, 2005.8P.(EMBRAPACPATC. Circular Técnica, 1). SANTOS, G.T.dos;CAVALIERI,F.L.B;MASSUDA, E.M. Alguns aspectos econômicos e de manejo na criação de novilhas leiteiras. Balde Branco, São Paulo, p.56-60, mai/2001. VERNEQUE, R.da S.et al. Melhoramento genético do Gir Leiteiro no Brasil. Informe Agropecuário, Belo Horizonte,v.29,n.243,p.34-p.44,2008. Glayk Humberto Vilela Barbosa Zootecnista, B.Sc.Graduado pela FAZU (Faculdades Associadas de Uberaba). 19 A baixa qualidade dos serviços prestados pelas empresas de telefonia móvel e transmissão de dados na área rural Por Patricia Sibin O Dicionário Prático Ilustrado, raridade que data a edição de 1955 , anotou, conjuntamente, ao significado de TELEFONE a ideia de que “O princípio da telegrafia sem fio já foi aplicado com excelente êxito ao telefone e tudo induz a crer que, num futuro próximo, a telefonia sem fio entrará no domínio da prática”. A ideia sobre internet nem se cogitava, mas estudiosos daquela época afirmavam que o progresso tecnológico da telefonia sem fio, estava prestes à acontecer. Não estavam errados nas suas previsões, contudo, passados 58 anos desta perspectiva, o avanço apresenta lento e problemático. Na área rural revelamos um progresso tecnológico capacitado e especializado pela utilização de vários instrumentos de trabalho, tais como, computadores de mão e programas de computadores específicos das atividades agropecuárias, o que permitiu um crescimento gigantesco para o agronegócio brasileiro. Ocorre que, ao vincularem a evolução dessas novas ferramentas e técnicas de trabalho rural com o progresso da telefonia sem fio e do serviço de transmissão de dados, sendo aquele dependente exclusivamente deste, o agronegócio vem sofrendo prejuízos por conta da má qualidade dos serviços prestados pelas empresas concessionárias tanto de telefonia fixa, como móvel e de dados. De forma quase idêntica a problemática gerada no fornecimento de energia elétrica, tema de nosso artigo publicado na 2ª edição, a telefonia e a internet rural estão causando vastos prejuízos aos agropecuaristas e a todos os profissionais dependentes desses serviços na área rural. A nosso ver, a razão dessa baixa qualidade dos serviços, resume-se na carência de planejamento governamental e privado, tema já desenvolvido por nós em edição anterior. Do que adianta a evolução tecnológica sem planejamento para estruturar todo esse avanço? No Brasil, por conta da Copa de 2014, as mais novas e altas tecnologias de telefonia e internet estão sendo implantadas nas cidades sede, preocupam-se com as aparências, com os interesses de poucos, se sobrepondo ao setor que mais contribui para a economia brasileira, o agronegócio. O contrassenso é gritante entre os investimentos para a Copa de 2014 e os investimentos na te20 lefonia móvel rural. Especialistas dão conta de que 2013 poderá ser o ano do apagão na telefonia móvel, pasmem os leitores. Em julho do ano passado o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, em entrevista a Revista Dinheiro Rural , afirmou que: “Temos uma dívida antiga com a população rural brasileira, que não tem acesso a serviços de telefonia e internet de qualidade” ... “O governo está empenhado em acabar com o isolamento de algumas regiões agrícolas, mostrando amigavelmente às operadoras o potencial do segmento.” Ora, os agropecuaristas já demonstraram o verdadeiro e grande potencial do agronegócio brasileiro, tanto que é a célula mater para a economia do Brasil, mas o Poder Executivo discursa muito e pouco realiza em investimentos na área rural, fato este demonstrado pela má qualidade dos serviços realizados pelas empresas responsáveis no fornecimento dos serviços de telefonia e internet. A interligação dos Ministérios brasileiros já seria um caminho capaz de atingir propósitos específicos como o avanço na tecnologia desses serviços, contudo e diante da proximidade da Copa de 2014, estão mais preocupados em mostrar um Brasil de falsa ilusão ótica. De toda sorte, acomodar com a situação não é, definitivamente, o ponto forte dos agropecuaristas, razão pela qual, resolvemos discorrer sobre o tema esclarecendo alguns pontos relevantes para a responsabilização das empresas de telefonia, na tentativa de amenizar os prejuízos. Sabemos que o lucro faz parte do processo econômico-financeiro de qualquer empresa, mas quando este ganho está intimamente ligado a baixa qualidade na prestação do serviço, causando prejuízo a outrem, o Direito incide para fazer cessar o desequilíbrio negocial. Hoje em dia, as empresas de telefonia móvel e pacote de transmissão de dados são os alvos mais acionados perante o Poder Judiciário, devido as constantes interrupções e falhas na continuidade dos serviços prestados. Na sua grande maioria, as ações judiciais são julgadas totalmente procedentes, as empresas geralmente são condenadas a pagar quantia em dinheiro como indenização pelos prejuízos materiais e morais, mas ainda assim, permanecem girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê nas reiteradas condutas, num total desrespeito aos seus clientes. Diante desse fato imaginamos que o lucro dessas empresas demonstra absurdamente maior que as condenações judiciais, pois estas não estão sendo capazes de desestimular a prática do ilícito empresarial. A fim de exemplificar, o agropecuarista que tiver o sinal e o serviço interrompido na sua propriedade em razão, por exemplo, de má-instalação de infraestrutura de sistema de telefonia ou transmissão de dados, quer sejam fixos ou móveis, pode ingressar com ação judicial comprovando, para tanto, o dano e a relação da causa deste com a conduta da empresa. Além disso, caberá ao Julgador, a mensuração da quantia indenizável a título dos danos: materiais e morais, levando em conta o tempo da interrupção do serviço, as circunstâncias do ocorrido, a reincidência nas condutas e os prejuízos comprovados através de provas escritas e orais conforme o caso apresentado. Também a título de exemplo, em caso recente, o Juiz da 3ª Vara Cível da Comarca de São João da Boa Vista, Estado de São Paulo, com muita propriedade na análise do caso , condenou a operadora “TIM CELULAR SA” pela falta de regularização na contratação de plano ofertado. A empresa “Leite e Corte Agropecuária e representações Ltda- EPP” requereu a portabilidade do número de telefone para a TIM, mas esta dentre outras condutas, deixou de entregar o chip para a finalização da operação de portabilidade, sendo condenada pelas irregularidades contratuais e os prejuízos advindos dessa girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê conduta no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) a título de indenização. No destaque, vale ressaltar alguns trechos da referida sentença que traduz a realidade brasileira: (...) “Nesta linha, o Ministério da Justiça divulga em seu site (www.mj.gov.br/dpdc), as empresas que no Brasil, mais desrespeitam o consumidor e, como não podia deixar de ser, os primeiros lugares são ocupados pelas empresas de telefonia” (...) “Currial, que no momento de assediar o consumidor, a requerida apresenta-lhe produtos e serviços da mais alta tecnologia e, no momento de executá-los furta-se sua obrigação alegando incapacidade técnica e outras desculpas relativas ao sistema, mas que na verdade simplesmente revela a ineficácia do serviço oferecido”. (...) “Em síntese, o consumidor cumpre sua parte no contrato, mas a requerida, desrespeitando-o, suspende serviços de telefonia, reclama multas e outras obrigações indevidas, frustrando a expectativa do consumidor, além de consumir suas forças físicas e psicológicas no purgatório que é o seu serviço de 0800.” Finalmente, acreditamos que os agropecuaristas e todos os profissionais que necessitam e dependem de tecnologia da telefonia e de transmissão de dados nas áreas rurais, exijam seus direitos, para que assim, a trajetória de sucesso do agronegócio não caia no vácuo governamental. 21 Abismos Rio Araguaia/Goiás Natureza brasileira no século XXI Por Pedro Wilson Guimarães Muita gente fala de abismo fiscal quando as contas financeiras não são compatíveis, entrosadas, sustentáveis. É quase senso geral quando um município/cidade, um estado e mesmo a união não fecham as contas. A gente mesmo tem época que deve mais do que pode pagar, mas um dia paga com arrochos, cortes, economias. São atos, coisas que a sociedade capitalista arruma. Desarruma. Arruma, normalmente com desarranjos, perdas maiores e mais contínuas, para os mais pobres. É somente ler as histórias da quebra e queima do café, moratória zebuína, queda da bolsa de N. Iorque. Crise de Wall Street dos USA. Quebra dos países europeus, Japão et caverna. E tem gente tupiniquim que joga culpa nos governos emergentes e mesmo nas novas classes médias sociais que insistem em comer mais morar, estudar e pasmem viajar. E consumir mais e melhor porque mesmo em crise, tem salários. E a políticas sociais que fazem milhões de famílias classes médias e pobres terem alimentos. 22 Terem um lugar com sol, chuva, cerveja, tvs, sofás, casas e até carros? E vão e entopem os supermercados, as rodoviárias e mesmo os aeroportos. Estas classes emergentes não tem jeito mesmo. Ah! Sabíamos todos que assim este povão de Deus vai atrapalhar as copas e as olimpíadas e paraolimpíadas? Este pessoal emergente vai até para os estados unidos americanos dos nortes, terras santas, europas. E agora estão liberando passaportes/vistos porque precisam de nossos dinheiros salariais, plenos empregos que os caolhos dos partidos midiáticos golpistas insistem em falar do abismo dos USA? Pode? Pode sim, pois temos uma democracia com liberdade de expressão que muitas vezes é convenientemente confundida como propriedade de imprensa. E de rádio, tv que, aliás, é concessão pública, mas que é tratada com capitania privada, hereditária mais dura, selvagem que o latifúndio feudal capitalista. Não se lembram de que sempre apoiaram as ditaduras civis e militares aqui e alhures? Alguém pode falar, mas isto é passado, prá frente Brasil. Não girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê enfrentando além dos abismos fiscais aqui e acolá? Insistimos em buscar a história, a memória, a verdade para termos justiça. E paz social, para índios, quilombolas, ribeirinhos, brancos, migrantes, desde os pequenos aos grandes negócios que fazem produções e consumos responsáveis, orgânicos, saudáveis, sustentáveis. Vamos ajudar os USA com nossas viagens, nossas exportações para alimentar com segurança, quantidade, qualidade nosso povo e o mundo. Nós podemos? E somente avançarmos com produções rurais e urbanas que fazem crescer o Brasil com inclusão social e proteção ambiental neste século XXI. Vamos ouvir as críticas de nossos adversários antagônicos, fortes e firmes nas defesas do estado mínimo, consenso de Washington, subordinação exterior, doação de rádios, tvs para reeleição. Vamos pagar pelos nossos erros, falhas na justiça. Vamos também continuar ganhando eleições, alianças, refazendo e fazendo o Brasil crescer, incluir e proteger nosso povo e nossa natureza. Vamos mostrar e demonstrar nossas virtudes e defeitos e corrigí-los. Vamos mostrar nossas virtudes e de nossos aliados partidários e dos movimentos sociais, ambientais, culturais por um novo Brasil. E América latina desenvolvida com juros mais baixos, com impostos mais baixos, mais empregos, concursos públicos, mais copas, olimpíadas. E o povão de Deus sempre trabalhando, fazendo. E fazendo a sua parte. E o Brasil melhorando as condições de vida e trabalho, moradia, saneamento, educação, lazer, cultura. O povão também gosta de música, cinema, teatro, shows, futebol. E dos rios araguaias, vermelhas, almas, serras das mesas e águas quentes, mares, praias, folias, sambas, tangos, rock, hip-hop, poesia, mel e leite. E de viajar de avião, porque, não? Deus fez o mundo para todos os homens e mulheres do planeta azul ou não? Quem viver verá e viverá. Vamos disputar ganhar e até perder eleições e copas, mas sempre vamos torcer pelo Brasil ganhar, crescer, incluir e proteger seus biomas. E suas cidades num desenvolvimento econômico e social que deixe o Brasil não cair num abismo ecológico. Desenvolvimento com santa aliança com a mãe natureza, sempre com seu povo. O mundo tem abismo fiscal, mas, tem amplas possibilidades de termos abismos ecológicas. Abismos ambientais que vem da natureza e principalmente que vem por obra e ação humana das economias centrais dos capitalismos selvagens e rurais com as fraudes continuadas nas bolsas. E nas bancas, ações, hipotecas falseadas, derivativas e paraísos fiscais. E com as manipulações de libores, falsos contratos, falsos empréstimos, sonegações, lavagens de dinheiros provenientes dos jogos, narcotráficos e corrupções escondidas. E de manipulações das contabilidades desde bancos cruzeiros do sul, bvas, bens, brothers lemmans, maddoffs, muldoffes? De onde vieram e para onde foram? O mundo vive a espreita de uma nova crise capitalis- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê ta. Será a última? Não. O que agora temos a dizer, fazer é que não vamos pagar sozinhos pelas crises dos falsos capitalistas daqui e de alhures. Podem mais os novos representantes dos antigos ipes/ ibads agora nos institutos milênios, seculares, de todas as conexões? E que gostam de falar mal dos niemeyers, lulas, dilmas, hollandes, chaves, evos, cristinas, bersanis? Porque não gostam? Gostam eles são destes líderes das direitas escondidas e envergonhadas de escrever balelas nas grandes mídias através de constancios, reinados, vilasvelhas, senis, magnosos, ferreiras, jabores? E de outros menores e copiadores regionais que ficam mandando e-mails para postas restantes de jornais próprios? Ou abertos para inviabilizar lideranças políticas que querem mudar o mundo para uma política mais humana e mais geral para todo ocidente a oriente? O abismo ecológico está vindo ai? E com as mudanças climáticas, desgelos, degradações de terras e águas, monoculturas, guerras, bombas, terrorismos de estado e de grupos, êxodos, desertificações, desmatamentos e queimadas, controles de sementes, insumos, lixos, agrotóxicos, aglomerados urbanos, metropolitanos? Tudo isto sem políticas sustentáveis, saudáveis, podemos. Nós podemos criar um, dois, três mil abismos ecológicos destruindo biomas, nascentes, covais, florestas, rios, mares, parques, reservas, ecoturismos, agroecologias, faunas, ares, bons ares, buenos aires. É preciso combater abismos fiscais. E os abismos ecológicos por que há muito tempo alguém disse que o que acontecer com as terras/águas acontecerá com a humanidade. Lembremos que a natureza não será nunca infinita, se não tivermos desenvolvimento econômico e social sustentável, saudável, solidário para e por todos os homens e mulheres de Deus. Pedro Wilson Guimarães. Secretário da Prefeitura Municipal de Goiânia/AMMA – Agencia Municipal do Meio Ambiente. Prefeito e Vereador de Goiânia. Deputado Federal de 1993-2011 PT/GO. Professor da UFG e da PUC-GOIÁS Militante dos Movimentos de Direitos Humanos, Fé e Política, Educação, Cerrados e Participação Social. E-mail: [email protected] 23 Confissões Sexagenárias Aberta temporada de caça a adjetivação terminada em “eiro” Por Luiz Humberto Carrião O sufixo “eiro” derivado do latim “arius” formador de adjetivos indicando ofício, origem e outras situações compõe a palavra VERDADEIRO = (verdade + eiro), classificada gramaticalmente como adjetivo do gênero masculino significando, segundo o dicionário Michaelis 1. O que é conforme a verdade; em que há verdade; que se harmoniza perfeitamente com a natureza das coisas. 2. Genuíno. 3. Que existe realmente; que não é fictício; real. 4. Que é tal como deve ser; autêntico. 5. Não simulado; sincero. 6. Que é realmente o que parece; que não tem mistura; puro. 7. Com que se pode contar; certo, seguro, fiel. 8. Que fala verdade. 9. Exato. Verídico. A palavra “padrão”, classificada gramaticalmente como substantivo e de gênero masculino, significa segundo o dicionário Novo Aurélio, 1919 – 1989, [Do latim “patronu, ‘protetor’”.] S. m. 3. P. ext. Qualquer objeto que serve de moldura à feitura de outro. Padrão foi uma palavra utilizada no Brasil com a finalidade de diferenciação entre o animal importado e seus descendentes (com chifres) registrados no Herd Book Zebuíno, e, posteriormente, pelo Serviço de Registro Genealógico (SRG) da variedade mocha (com ausência de chifres) criada no Brasil a partir do chamado mocho nacional. “Leiteiro” = leite + eiro é palavra classificada gramaticalmente como adjetivo de gênero masculino qualificando o animal Gir. Se utilizada a palavra “Leiteira”, isto é, “Gir Leiteira” qualifica-se a raça, uma vez que o adjetivo acompanha em gênero o substantivo. Até então a expressão “Gir Leiteiro” qualifica o animal, aquele indivíduo e não a raça. Para Berbault, em Dur la nomeclarture dês plantes cultivées, enquanto a hereditariedade não for verificada e experimentalmente comprovada, há simplesmente “forma” que pode ser definida “como sendo um conjunto de indivíduos recém originários de um cruzamento ou de uma aclimatação, cuja herança é ainda uma incógnita”. Para Octávio Domingues, sub-raça ou variedade é uma subdivisão da raça, ou seja, “é um conjunto de animais que variam sem saírem dentro da raça, mas com caracteres que as distingue da massa da população étnica primitiva”. Exemplo disso, a variedade mocha na raça Gir com a ausência de chifres em relação à popula24 ção étnica primitiva. O mesmo Domingues assevera que só podemos falar seguramente em raça “quando os reprodutores para multiplicação dela foram tirados da própria população étnica em seleção; quando nenhum reprodutor de outra raça for convidado a intervir com seu sangue no melhoramento que se deseja; quando sua descendência oferecer um grau de uniformidade visível, patente, por duas gerações seguidas, no mínimo”. Que significado pode-se dar à expressão usada por Domingues “grau de uniformidade visível”? Um cruzamento absorvente induzido na busca de um gene de outra raça para determinar sobre características quaisquer, o produto desse cruzamento, não pode ser classificado como raça. “Raça é um conceito para categorizar diferentes populações de uma mesma espécie biológica desde suas caracterizações físicas”, royalties a Reigy Braz, no Facebook, grupo Turma do Gir, 02.04.2013. Reigy fala em conceito, termo de origem no latim “conceptus” do verbo “concipere”, que significa coisa concebida ou formada na mente. Fala também de “características físicas”. Por mais extensa que seja a lista de conceitos aplicados à raça Gir, ela sempre era Gir. Tão somente Gir. Conceitos e qualificações fazem parte de uma crença: nem melhor, nem pior. “Crenças são produto do cérebro: modelos internos que criamos para explicar acontecimentos sistemáticos, não importam se baseados em evidências ou não, dentro dos quais nossos valores e experiências de vida se encaixam...”, royalties a Suzana Herculano-Houzel. Assim que o criador e selecionador de gir goiano Bráulio Afonso de Morais usou do adjetivo “verdadeiro” para qualificar um animal gir na rede, o reboliço foi total. Os girleiteristas reagiram de chofre. Não houve uma interpretação de que estava qualificando o sujeito, e sim, colocando como falso o “Gir leiteiro”. A leitura coletiva de que em meios às incertezas pelas quais passava a raça e com o avanço da nelore sobre os pastos de brachiaria e o mestiço nos currais brasileiros, ao dar a ela uma funcionalidade exclusiva, o leite, acabou criando uma marca poderosa: Gir Leiteiro, muito bem administrada por criadores, consumidores, investidores e pesquisadores renomados. Não se pode negar o sucesso do marketing empreendido. Até então, o que era tido como um girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Saturno da São João (Jaipur da SJ x Lili da SJ) formador do rebanho gir LHC problema do IBAMA passou a dominar as pistas, os leilões, vendas de sêmen, embriões, quantidade de argolas na principal feira zebuína brasileira, a EXPOZEBU. Algo até então inimaginável. Não tem como não reconhecer a competência comercial advinda da marca Gir Leiteiro. Outra leitura é de que a funcionalidade exclusiva dada à raça, o leite, se por um lado criou uma marca poderosíssima, por outro levou a uma única real finalidade de seleção: a comercialização de genética. Todo cidadão que adquiriu 10 vacas e algumas doses de sêmen de touros provados no teste de progênie do Gir leiteiro anunciou-se como selecionador, produtor de genética. O mesmo aconteceu com muitos criadores que redirecionaram seu trabalho no Gir. No momento em que o mercado dá sinais de exaustão, o mestiço avança numa progres- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê são geométrica sobre os currais brasileiros de um lado, e a soja e cana sobre as pastagens do outro, GIR VERDADEIRO tornou-se consciente ou inconscientemente, uma ameaça. E não é por um acaso ou desejo divino. Altas lactações desacreditadas, artificialismos condenados, avaliações zootécnicas contestadas, propostas de aferição em Concursos Leiteiros sobre a produção de sólidos, animais qualificados como “padrão” muito próximo das lactações “leiteiras”, ½ sangue gir padrão x holandês desmitificando discursos acabados, investimentos analisados, prejuízos contabilizados, etc.. Às vezes é esquecido que o mercado não é contra nem a favor, ele existe. Luiz Humberto Carrião Jornalista Profissional e editor da Girista.com 25 Leitura Uberaba e o fetiche do Zebu Elza Hermínia Por Luiz Humberto Carrião O livro é fruto de uma dissertação apresentada ao Mestrado em Ciências e Valores Humanos da Universidade de Uberaba. Uberaba e o fetiche do Zebu - Uma paisagem da História de Uberaba e da influência do Zebu em sua formação econômica, social e política – foi escrito por uma odontóloga e professora universitária uberabense que se identifica como “um marinheiro de primeira viagem que parte em busca de um horizonte maior para redescobrir a vida que, ignorada, palpitava há muito à sua volta. Uma odontóloga decidida a desviar-se o funil imposto pela profissão para alçar o livre voo da transdisciplinaridade”. “A ‘roça’ não foi para mim uma paisagem apenas familiar, vivi a roça”. Assim a autora justifica conhecer bem o tema abordado como ela mesma diz: “conhecer a história da minha gente, achar o fio da meada que fez o gado Zebu influenciar toda a sociedade e determinar um processo de fetichização que transcendeu fronteiras e se disseminou por esse mundo afora”. Na introdução romanceada e cheia de detalhes descreve as delícias rurais de sua infância e adolescência que não apagaram de sua memória quando se urbanizou para o complemento educacional rumo a uma graduação. “Mas há um tempo em que os sonhos da juventude nos afastam da ingenuidade da infância e nos levam a conhecer o gosto de outras lágrimas tão diferentes daquelas vertidas na barra do vestido da mãe quando um simples beijo nas faces molhadas curava qualquer dor. Depois vem a maturidade e nos recoloca frente às recordações. Novas lágrimas nascem quentes e cientes de que nada volta. Daí o querer ressuscitar a vida na restauração das recordações como compensação de algo perdido. Uma busca de voltar às raízes para não deixar morrer o que de mais puro se tem por dentro e que os acontecimentos vão aniquilando, quase a matar. Assim nasceu esta tese, da saudade de viver de fato e de direito, do desejo de falar de coisas que eu trazia no sangue, vividas, experimentadas muito longe dos bancos da universidade.” A autora justifica a escolha do tema na busca de compreender como o Zebu, de origem indiana, determinou e ainda determina na terra “que acolheu seus passos até a maturidade”. Após historiografar a origem da cidade de Uberaba, em várias vertentes: a política, social e econômica antes e depois do Zebu, conclui: “o status só existe se houver o seu reconhecimento pelo grupo, ou seja, ele só existe em relações”. Exemplifica: “Deve-se avaliar que o grupo estudantil praticamente aderiu à moda country, independente de pertencer 26 ou não a famílias ligadas à atividade pecuária, mas em Uberaba, esse movimento se potencializa devido à força do símbolo Zebu na cidade, e quando eles se identificam com o estilo cowboy se apropriam de uma arrogância, que é mais encontrada naqueles que não são descendentes de pecuaristas do que nos próprios filhos dos pecuaristas. Pode-se dizer que aí se percebe o processo de fetichização do ícone”. Uberaba e o fetiche do Zebu - é uma obra que se diferencia pelo seu propósito, riqueza de pesquisa e acima de tudo coragem. Desnuda todo um status passado de geração a geração iniciada com a compra de um touro identificado como Lontra, “um puro zebu indiano, presente de um marajá ao imperador D. Pedro II. Esse boi teria sido doado a um médico, cujo nome batizou o boi, que o teria vendido ao Coronel Antônio Borges Araújo. Já nesse período iniciava-se a valorização fetichista do zebu. Comprado por grande quantia em dinheiro, quando vendido para outro fazendeiro teve como comemoração da negociação uma grande festa ocorrida nos salões da Prefeitura Municipal de Uberaba”. Hoje, os megaleilões durante a Expozebu cumprem esse papel negociando por milhões 50% de um animal zebuíno. Com a utilização da televisão o evento passou a ter uma verdadeira produção televisiva transmitida para o Brasil e o mundo. Mas isso, não impediu a presença de zebuzeiros de todo o Brasil e exterior nesses eventos, conforme informação do superintendente da Infraero, Reginaldo Rodrigues, “que em dias normais o tráfego de aeronaves é bem reduzido, limitando-se a 02 aeronaves com voo diário de passageiros, 01 aeronave de instrução e 03 taxis aéreos, e que este número aumenta consideravelmente no período da Exposição, quando os grandes pecuaristas do Brasil e do Mundo para Uberaba se deslocam. Segundo Superintendente Rodrigues, no dia do leilão da Chácara Mata Velha foi preciso dispensar trinta e duas aeronaves para outros aeroportos da região devido ao mau tempo. No gráfico de pousos dos dias 1º a 05 de Maio o aeroporto usou toda sua capacidade de atendimento de pouso de aeronaves particulares, militares e taxis aéreos, além dos voos de carreira”. Na abordagem política a autora reporta a Gilberto Velho, que em Individualismo e Cultura, aborda a questão da dimensão do poder e da dominação na construção de uma hierarquia. Segundo Velho, cada categoria social tem o seu lugar no mapa da hierarquia organizada quando estereotipa seus personagens. A autora para ilustrar a força política que muitas vezes essas famílias exercem sobre a sociedade girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê cita-se uma das pioneiras na introdução do Zebu em Uberaba. Os membros desta família, cujo nome mantém em sigilo, aparecem no quadro político uberabense desde sua formação partidária, ocupam as páginas sociais com absoluta frequência, ainda mantém seu poder político e ocupa sempre lugar de destaque nos eventos da cidade. Em um período de vinte anos viu-se um deles ocupar o cargo de prefeito duas vezes. Sua força política elegeu outro ligado à família, que elegeu outro que, embora não sendo administra a cidade à sua sombra. Ainda que muito deles já não tenham mais nenhuma ligação com o Zebu, o fetiche permanece, pois a história não se apaga. Por isso talvez Uberaba não perca essa característica conservadora e tradicional, impedindo -a muitas vezes a caminhos mais ousados. O “novo” vem surgindo ainda que a passos trôpegos. A altiva classe ruralista que ainda se mantém no vértice da pirâmide social, vive ainda de uma lembrança, sobrevive de uma nobreza virtual, provavelmente porque o Zebu seja ainda a “cara” de Uberaba. A sociedade uberabense era patriarcal, rural, conservadora e fechada. No rural predominou num primeiro instante a pecuária, que na visão da professora Eliane Mendonça “produziu uma nobreza local que atingiu o auge da aristocratização na era do Zebu”. Mas, o fetiche destas raças mantém vivo ainda hoje aquele glamour, mesmo com a força econômica advinda pelo seu polo universitário, das usinas de cana de açúcar, no município e nas cidades vizinhas, do seu polo industrial e mesmo com a plantação de grãos, onde é detentora de 10% da soja produzida pelo estado de Minas Gerais com quase correspondência no milho, produzido na chamada safrinha. Uma frase traduz bem tudo isso: O Zebu é a promoção do homem, dita algures. Desconsiderar que a festa do Zebu na cidade de Uberaba é a maior do mundo é faltar com a verdade. Só que, atualmente é patrocinada por criadores de outras partes do Brasil. Até bem pouco tempo, questão de 10 anos atrás, era a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, ABCZ, a maior empregadora da cidade e com os melhores salários da região. Mas isto sustentado pelo registro genealógico das raças zebuínas a ela delegada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento de forma cartorial. Mas, no entender desse “escrevinhador” não se pode depositar na pecuária zebuína, no fetiche do Zebu, no estanque político ainda presente em forma de “coronelismo” sua paralisação como querem alguns no tempo e espaço. Há que se reconhecer o progresso alcançado pelas duas cidades pontas: de um lado Ribeirão Preto, no estado de São Paulo e de outro a vizinha cidade de Uberlândia. Como disse certa feita Manoel Dantas Villar, ilustre pecuarista nordestino, Uberaba foi acometido pela síndrome do eixo, para ela o mundo só existe no perímetro do Rio Grande ao Rio Tejuco. Quiçá, pelo fetiche do Zebu pedra angular da tese defendida pela autora. girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Outro aspecto interessante é destacado em relação à sociedade Uberabense refere-se a um baile tradicional de antanho nominado Baile do Presidente. Nele a alta sociedade recepcionava o presidente em visita para a inauguração da exposição. Ali, Juscelino Kubitschek de Oliveira valsou por várias vezes, como governador de Minas e posteriormente como presidente da república. Hoje é conhecido como baile do cowboy, ainda no espaço do Jockey Clube. Mas o que dizer desse momento mágico de outrora: “Anteriormente era um evento que primava pelo requinte e havia uma seleção social onde apenas um grupo social participava: o dos grandes criadores de Zebu e outros de mesmo nível socioeconômico. Hoje, a festa popularizou-se e as portas do mesmo clube são abertas também a não sócios através de venda de ingressos a preços mais acessíveis a um grupo social que antes jamais teria acesso. Porém nota a professora da Universidade de Uberaba, Tânia Meirelles, que dentro do clube é evidente a distinção que se faz entre um grupo social e outro, visto que o grupo de elite ainda ligado a antigos padrões de seleção como poder econômico, social e outros, ocupa um camarote bem acima e o outro grupo social, da população que nunca antes pode frequentar o clube, fica restrita a um espaço mínimo, cercado “como gado”, praticamente sem condições confortáveis para desfrutar o Baile”. Uberaba e o fetiche do Zebu – uma obra necessária àqueles que desejam entender a relação entre a cidade mineira e o Zebu. Luiz Humberto Carrião Jornalista Profissional e editor da Girista.com 27 Histórias e estórias de Tiãozinho Cunha Por essa ninguém esperava Por Luiz Humberto Carrião Isso aconteceu lá pras bandas da freguesia Cachorro Deitado. Freguesia é a designação dada em Portugal a menores divisões administrativas ao que por aqui são chamados de distrito, isto é, pequenos núcleos urbanos que pela legislação ainda não obteve o número populacional para sua emancipação e por isso, é administrada pelo município ao qual está vinculado. Dizem que o local era parada obrigatória aos pescadores que saiam da cidade a pé, a cavalo, de carroças, bicicletas e lambretas em busca do Bom Jardim, o rio mais piscoso da região. No início se resumia numa Venda. Um pequeno estabelecimento comercial feito de palanques de madeira roliça forquilhada nas pontas para o encaixe das vigas, sustentando caibros e ripas, também roliças, de madeira pindaíba tiradas na lua nova. A cobertura era de folha de buriti numa amarração muito bem feita. As paredes de pau a pique, revestidas de uma massa obtida a partir de terra de formigueiro com estrume de bovinos, fixadas sobre longos pedaços de bambu, também amarrados com cipó. Uma única porta de madeira maciça em três tábuas, onde o proprietário, “seo” Joaquim benzia contra cobreiro, queimadura de taturana, picada de insetos, cobras venenosas, e por aí vai. Uma janela na parte da frente ao lado da porta e duas nas laterais. Todas também com três folhas de madeira maciça, igualmente ao modelo da porta trancada por tramelas. Ao fundo, uma contiguidade dessa construção que lhe servia de residência ligada através de um vão de porta, destacado por uma cortina feita de uma fita plástica que se usava para cobrir as manoplas do guidão de bicicletas. Um velho balcão de madeira com vitrines de vidro, duas mesas, sendo uma em cada canto do cômodo acompanhada de três cadeiras cada, e, finalmente uma prateleira com bebidas de dose e outra com sabonete, pasta dental, sabão de barra, fumo picado, querosene, comprimidos analgésicos, palha de aço, etc. O nome surgiu pelo local servir de descanso para os pescadores e os cães que os acompanhavam. Uma casa aqui, outra acolá, de repente um vilarejo. Ali, uma criança assim que começou a falar, só se expressava aos gritos e através de uma única palavra: _ Truuuuuuucô!!! Preocupados, os pais resolveram levá-lo ao “seo” Joaquim para uma benzição e nada. Resolveram procurar o físico da cidade próxima em seu boticário. Olhando o garoto, após o grito retrucou: _seiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiis!!!. O menino assustado olhava para o físico, para a mãe, para o pai e gritava truuuuuuucô!!! O farmacêutico manipulador com um jogo de cartas de baralho nas mãos solicitou aos pais que se retirassem. Do compartimento ao lado só escutavam o grito do filho: _Truuuuuucô!!! Truuuuuucô!!! Truuuuuucô!!! Depois de um tempo o pai abriu a cortina e deparou com o filho gritando e o físico cabisbaixo. _O que foi doutor? Descobriu o que é que esse menino tem? _Sei não pai, mas pelo jeito ele tem um zape. Luiz Humberto Carrião Jornalista profissional e editor da revista Girista.com Tiãozinho Cunha é um personagem ficto, qualquer semelhança é mera coincidência. 28 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Mário Jorge Bergóglio ou simplesmente Francisco Um papa do fim do mundo Por Luiz Humberto Carrião Religião, segundo o portal comunitário Wikiquote – coletânea de citações livres – é um termo que nasceu com a língua latina podendo ter três interpretações diferentes: “re–legio” = “re–ler”, um significado atribuído por Cícero para descrever a repetição de escrituras; “re–ligio” = “re–ligar”, o que poderia significar a tentativa humana de “religarse” às suas origens, criadores, ao seu passado; e, “re–ligio” = “re–atar”, no sentido de “prender”, não de “conectar”, significando uma restrição de possibilidades. A religião começou quando o primeiro patife conheceu o primeiro tolo. Voltaire. Será? Teria tido o patife voltaireano a consciência de Deus ser apenas um equívoco humano e dele se apropriar para explorar a tolice de sua espécie? As religiões são todas iguais – fundadas sobre fábulas e mitologias. Thomas Jefferson. Se verdadeiro, como desconstruir esse edifício de ilusões? A religião é o suspiro da criatura aflita, o estado de ânimo de um mundo sem coração, porque é o espírito da situação sem espírito. A religião é o ópio do povo. Karl Marx, em Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. Em assim sendo, onde está a justiça divina? Como? O ser humano é apenas um equívoco de Deus? Ou Deus apenas um equívoco do ser humano? Friedrich Nietzsche. Eis a questão? O homem dentro dos reinos então conhecidos, mineral, vegetal e animal é a singularidade. Ao menos até aonde se conhece. Seria ele girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê um equívoco do Princípio Inteligente, Deus? Ou Este criado pelo homem diante de fenômenos inexplicáveis à razão humana? Será que a ciência alcançará o dia em que poderá afirmar com propriedade que “esse mundo” prometido de outros mundos aos que sofrem não passa de ilusão? De instrumento de dominação, de exploração? A Igreja Católica Apostólica Romana assume historicamente sua origem na morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo, filho de Deus concebido por Maria, a virgem. Estabelecida e construída pelos Apóstolos perseguidos pelos imperadores romanos até a conversão do imperador Constantino, em 313 d.C., que, através do Édito de Milão oficializou o cristianismo num mundo de credo e práticas pagãs. Constantino imaginou o cristianismo como uma religião que pudesse manter a unidade do império em vias de fragmentação. Porém, nem todos aceitaram abandonar suas crenças pagãs e abraçar o cristianismo como profissão de fé. Isso acabou por promover uma “cristianização” em crenças pagãs e vice-versa. Um sincretismo como o que ocorreu no Brasil entre o catolicismo e as religiões afros. César havia cingido ao Imperador Romano o poder temporal e poder espiritual. Imperador Romano e Deus, simultaneamente. O aparecimento de Jesus de Nazaré, mais tarde, o Cristo, foi de fundamental importância para a separação desses poderes. O poder espiritual trazido por Jesus Cristo referenciava-se a um reino que não era desse mun29 do. E o que restava aos miseráveis comuns do império como esperança senão esse reino? A ação do Imperador Romano Constantino de oficializar o cristianismo no império, legalizou de um lado, o poder temporal nas mãos de imperadores e sua estrutura burocrática de estado, e de outro, o poder espiritual, cujo reino não era desse mundo, mas que, em Roma, abrigava toda a representação administrativa e política desse reino, sob o comando do Papa. Diante das invasões bárbaras o Império Romano ajoelha-se aos pés da Igreja que aos poucos passa a influenciar decisivamente no poder temporal não só romano, mas europeu. Na Idade Medieval, o teocentrismo (Theo=deus). A igreja além de representante de Deus na Terra detinha com exclusividade o conhecimento, e com isso, o poder em todos os segmentos da sociedade. Transformou-se num verdadeiro César. E por interesses óbvios retalhou o que sobrou do Cristo e colocou num balcão de negócios a varejo. A cultura clássica por ela preservada nos seus mosteiros era interpretada de acordo com sua conveniência até que o Renascimento surge como um “novo” Cristo colocando as coisas nos seus lugares. Com ele o antropocentrismo (Antropus = homem). Um de seus legados foi a Reforma Religiosa. Uma nova visão sobre a interpretação da bíblia e da religião. Visão esta que também trouxe suas implicações sobre a sociedade como um todo. Do espiritual ao temporal. Posições Lutero no que se chamou de Livre Exame e as de Calvino sobre o lucro é uma visão clara disso. Lutero e Calvino se apresentaram como contraponto à visão teológica católica. Ao se fundamentar em Jesus Cristo, teve o cristianismo que se ligar ao judaísmo que anunciava deste há muito um messias. E com isso, para dar ao messias, em cumprimento às profecias do Velho Testamento, a linhagem da Casa de David, José, o carpinteiro é tomado como pai de Jesus. Por longos séculos a Igreja Romana reinou soberana, notadamente nos países pobres como os da América Latina, África e Ásia. A representatividade na Terra do Reino do outro mundo acabou se perdendo pelos seus dogmas caducados na modernização do mundo. A burocracia levada a efeito pela Cúria Romana se perdeu em meio à corrupção e desvio de conduta de parte do Clero. Apesar de apresentar-se como uma inovação o Concilio Vaticano II mostrou-se tímido diante de interesses 30 maiores. As vozes de Medelin e Puebla não foram ouvidas em Roma. A Teologia da Libertação tentando reproduzir essas vozes foi condenada e seus teóricos silenciados. Era nítida a orientação religiosa em predominância nos países ricos, e o presente em países pobres. Naqueles, as igrejas reformistas. Nestes, o catolicismo estagnado no tempo com seus sacramentos e dogmas caminhando na contramão da história e batendo de frente com avanços da ciência. Surgem os neopentecostalistas e avançam numa progressão geométrica abaixo da Linha do Equador. São também conhecidos por “Carismáticos”, termo este, no Brasil, reservado para um movimento centro da Igreja Católica, a “Renovação Carismática”. Mas, esse segmento ramificou no pentecostal clássico como a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça (dissidência da IURD), Igreja Mundial do Reino de Deus (também dissidência da IURD), dentre outras. Augustus Nicodemus Lopes, em temporamores.blogspot.com, 2012, assevera: A teologia da prosperidade, à semelhança da teologia da libertação e do movimento batalha espiritual, identifica um ponto biblicamente correto, abstrai-o do contexto maior das escrituras e o utiliza como lente para reler toda a revelação, excluindo todas aquelas passagens que não se encaixam. Ao final, o que temos é uma religião tão diferente do Cristianismo bíblico que dificilmente poderia ser considerada como tal. Outro ponto presente a esses movimentos é a doutrina da prosperidade. Esta defende que a benção financeira é o desejo de Deus para os Cristãos. E que a fé, os discursos positivos e as doações para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a riqueza material do fiel. Wikipédia, 2012. 28 de setembro de 1978. Um dia de significação importantíssima e correlata com a renúncia do Papa Bento XVI. Neste dia, era anunciada a morte de Albino Luciani, Papa João Paulo I. Uma das mais bem coroadas conspirações da Igreja Católica. De nacionalidade italiana, Luciani, foi portador de uma carreira despercebida como clérigo. Apesar de Cardeal na Catedral de São Marcos, em Veneza, jamais entrou nas bolsas de vaticanistas durante o Conclave que o elegeu. Se por um lado deixou o “mundo católico” surpreso com sua eleição, por outro, encantou o mundo secular com seu sorriso e simplicidade. Mas teve um reinado de apenas 33 dias. Foi girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê assassinado! David Yallop, escritor inglês, por solicitação de pessoas residentes na cidade do Vaticano “inconformadas com o silêncio que pesava sobre as verdadeiras circunstâncias a respeito da descoberta do corpo do Papa”, investigou a morte de João Paulo I durante três anos ininterruptos chegando à conclusão de que seu destino fora selado por contrariar os desígnios para os quais fora eleito. Diga-se de passagem, no Conclave mais concorrido e rápido que se tem noticia na História. Tinha sido eleito pelos conservadores para cumprir ordens e nunca determiná -las. Yallop ao publicar o resultado de suas investigações, no livro Em nome de Deus (pt.scribd.com/doc/ 48572529/Em-nome-de-Deus-David-Yallop) che- um informal e ilegal ramo da Maçonaria P2, que se estendendo muito além dos limites da Itália, havia certamente penetrado no Vaticano, envolvendo padres, bispos e até mesmo Cardeais”. A versão de que clérigos ligados ou próximos da Cúria Romana estariam envolvidos na conspiração, também foi defendido por Jean-Jaques Thierry, Roger Peyrefitte, John Corwel, dentre outros. 10 de fevereiro de 2012. Naquela sexta-feira o jornal italiano Il Fatto Quotidiano circulava com a seguinte manchete: Complô contra o Papa – vai morrer em 12 meses. Imediatamente o porta-voz do Vaticano, o jesuíta Federico Lombardi, incumbiu-se de desmentir a noticia afirmando que a reportagem era “fora da realidade e tão pouco séria que não gou a conclusão em suas perícias que “Albino Luciani havia descoberto durante seu pontificado a existência de uma cadeia de corrupção, ligando figuras de proa nos círculos financeiros, políticos, clericais e do crime numa conspiração de âmbito mundial”. [...] “O novo Papa havia iniciado uma revolução. Havia ordenado uma investigação no Banco do Vaticano, e especialmente nos métodos empregados pelo seu presidente, o Bispo Paul Marcinkus. Ele estava a ponto de efetuar uma radical mudança de postos no staff do Vaticano e havia discutido uma lista de remoções com o seu Secretário de Estado, o Cardeal Jean Villot (cujo nome constava na lista), na última noite de sua vida. Essa lista tinha relação direta com outra em poder do Papa – uma lista de clérigos dentro do Vaticano que pertenciam à Maçonaria – fato que por si só justificava imediata excomunhão da Igreja Católica Romana. Luciani sabia também de podia ser levada em consideração. Parece incrível e nem quero comentar”. A matéria referenciava sobre um documento secreto entregue ao Papa Bento XVI pelo Cardeal Colombiano Dario Castrillon Hoyos denunciando um complô para assassiná-lo dentro de 12 meses. O documento, escrito em alemão, retratava conversas do Cardeal de Palermo, Paolo Romeo, na China, em novembro do ano anterior. 11 de fevereiro de 2013. Uma segunda-feira de carnaval. O Brasil e o mundo surpreendem-se com Bento XVI: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que esse ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas, também e igualmente, sofrendo girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 31 e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor, quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo em mim de tal modo que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade desse ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de bispo de Roma, sucessor de São Pedro”. Renúncia esta, efetivada no dia 28 de fevereiro de 2013, exatos 12 meses após a publicação levada a efeito pelo jornal Il Fatto Quoditiano. Muito se tem especulado sobre a renúncia do Papa, porém, não se diferencia muito sobre o episódio João Paulo I: a questão do celibato,corrupção, disputa de poder e agora mais agravado pela questão envolvendo orientação sexual de padres, bispos, cardeais desaguando nos escândalos de pedofilia. Num texto publicado no facebook afirmei que nunca consegui enxergar em Joseph Alois Ratzinger, o papa Bento XVI, um halo divino. Sua renún- 32 cia não me surpreendeu. Ratzinger, um homem comum. Mas todos nós homens somos comuns, mortais, “pecadores”, teria ele que ser diferente? Enquanto homem não, mas enquanto cristão sim! O papa é a referencia maior para uma parcela significativa da humanidade, 1,2 bilhão de pessoas. O semblante doce de Ratzinger traduz artificialidade. Falta-lhe o aspecto de santo. Não uma santificação antropomórfica, teológica determinada pelo cargo, mas uma santificação cristã de essência divina. Desejava que o Conclave (assembleia e o lugar de reunião dos cardeais da Igreja Católica para a eleição do próximo papa) tivesse a responsabilidade bastante para a escolha daquele que irá pelos próximos anos liderar religiosamente parte da humanidade. Ao que parece teve, apesar de ainda ser muito cedo para avaliações. Dizia neste texto, que a fumaça branca ao sair da chaminé da Capela Sistina acompanhada pela expressão “habemus papam” anunciasse um líder capaz de traduzir a capacidade de autorrealização hominal, bem como, com coragem para rever posições dentro da Igreja Católica. Asseverava que mes- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê mo se tudo isso contextualizasse no psicológico, a humanidade prescinde desse alimento. A cada dia, esse alimento, tem sido colocado de maneira promíscua em cada esquina, no rádio e na imprensa escrita e televisiva. A humanidade necessita de um caminho, um referencial, uma luz. Mesmo porque, terminava afirmando que o “reino dos céus” não é um lugar físico, e sim, um estado de espírito e Deus não é uma figura antropomórfica. Longe disso! 13 de março de 2013. Já se fazia noite. O frio acompanhava uma chuva torrencial sobre o Estado do Vaticano. O mundo se voltava para a chaminé da Capela Sistina na expectativa sobre a cor da fumaça a ser expelida. Fiéis, religiosos e jornalistas de todas as nacionalidades. Por volta das 19 horas a chuva estanca. Aos olhares atentos na Praça de São Pedro e nos milhares de televisores, computadores, tablets pelo mundo, o esperado, a fumaça branca aos poucos vai esmaecendo pelos ares. Palmas, choro, silêncio, oração. O Cardeal protodiácono e decano (o mais velho entre os cardiais da ordem dos diáconos) da sacada anuncia a multidão: “Annuntio vobis gaudium magnum; habemus papam: Eminentissimum AC Reverendissimum Dominum, Dominum Georgium Marium Sanctae Ecclesiae Cardinalem Bergoglio qui sibi nomem impossuit Franciscum.” Ao tempo em que os argentinos presentes na praça foram ao delírio, uma considerável parcela era tomada pela perplexidade. Quem era o Cardeal Bergoglio? De onde veio? Por que o nome papal de Francisco? Qual a sua Ordem Religiosa? Que perfil teria o novo Papa? Qual a sua fisionomia? De repente surge um homem simples e a multidão vai à loucura. Parte do mundo chora de emoção. Uma fisionomia que lembra João XXIII e um sorriso reportando a João Paulo I. Aqueles que acompanhavam girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê pela televisão logo tiveram mais notícias. Tratava-se de um argentino, filho de pais italianos, da Ordem Jesuíta, que abdicou do palacete paroquial na cidade de Buenos Aires, na Argentina, para residir em um minúsculo apartamento onde prepara suas próprias refeições e deslocando-se em suas visitas a pé ou de transporte público, ônibus e metrô. Ainda jovem teve que extrair um dos pulmões. Suas primeiras palavras: Irmãos e irmãs, boa noite! Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que meus irmãos Cardeais tenham ido buscá-lo quase no fim do mundo... Eis me aqui! Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes de tudo, quero fazer uma oração pelo nosso Bispo Emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele, para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o guarde. [Recitação da oração Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai]. E continuou: E agora iniciamos esse caminho, Bispo e povo... Este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside todas as igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja grande fraternidade. Espero que este caminho da Igreja, que hoje começamos e no qual me ajudará o meu Cardeal vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização desta cidade tão bela! E agora quero dar a benção, mas antes... Antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que abençoes a mim; é a oração do povo, pedindo a Benção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim [...] Agora, dar-vos-ei a Benção, a vós e a todo mundo, a todos os homens e mulheres de boa vontade. [...] Irmãos e irmãs, tenho de vos deixar. Obrigado pelo 33 acolhimento! Rezai por mim e até breve! Ver-nos-emos em breve: amanhã quero ir rezar nos pés de Nossa Senhora, para que guarde Roma inteira. Boa noite e bom descanso. O primeiro Papa escolhido fora da Europa. O primeiro Latino Americano. O primeiro da Ordem dos Jesuítas. O primeiro a se chamar Francisco. Qual o significado desse nome? Francisco é sinônimo de amor, humildade, caridade, fraternidade e simplicidade. Francisco de Assis! Aquele que se posicionou como mediador do amor entre Cristo e os homens, tal qual o Cristo se posicionou como mediador entre a Divindade e Jesus. Jesus realizou-se plenamente como Cristo para que pudéssemos ansiar por nossa autorrealização. Francisco de Assis fez prevalecer às palavras de Jesus: Vós sois deuses, podeis fazer o que faço e muito mais! Podeis fazer o quê? Disseminar o amor, a humildade, a caridade, a fraternidade e a simplicidade. Encontrar o “reino de Deus dentro de nós”. Temos ouvido muito, recentemente, a voz ouvida por Francisco chamando sua atenção para o estado de ruína de sua igreja, instando-o à sua reconstrução. Ao que se sabe, iniciou sua nova vida como pedreiro e assim reconstruindo várias igrejas nos arredores de Assis. Atualmente o mundo é outro. A escrita, o rádio, a televisão, a internet conecta esse mundo por inteiro. O estado de ruína pode ser entendido pelo distanciamento da Igreja com seus fiéis, e, ao instar a sua reconstrução, chama-a para o que João XXIII batizou de aggiornamento - sua adaptação ao mundo moderno, porém, sem esquecer os valores éticos e morais. Há que se identificar a diferença entre Cristo e Cristianismo. Gandhi afirmou certa feita: aceito o Cristo e seu Evangelho, não o vosso cristianismo. Outra figura extraordinária, Albert Schweitzer, teólogo, filósofo, médico e um dos maiores intérpretes de Bach de todos os tempos, assim manifestou: a teologia cristã (cristianismo) é um soro que nos imuniza do Cristo. Somando as posições: Aceito o Cristo e o seu Evangelho, o cristianismo, esse soro teológico que nos imuniza do Cristo, não! Jesus nunca criou uma religião, bem como o Apóstolo Pedro nunca foi Bispo de Roma. “A esse respeito, muito esclarecedor o artigo do professor 34 de História, Vivaldo Jorge de Araujo, no Caderno Opinião Pública do Diário da Manhã, Goiânia, 21.março.2013, p.6: Jesus não criou religiões, mas uma doutrina de libertação de consciência, cuja pureza original assenta-se nas raízes universalistas de Platão e jamais no organizacionalismo limitador de Aristóteles, que predomina no pensamento teológico. Curioso observar que parece não existir na história da Igreja de Roma um Papa denominado Pedro II, já que nunca houve o Pedro I”, ou simplesmente Pedro. Outra leitura que me chamou na atenção na internet. Eu acredito! “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu filho Unigênito, o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu de uma virgem, desceu ao mundo dos mortos, ressuscitou no terceiro dia, subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. Creio também que Paul MacCartney morreu em 1966, que a Aids foi criada em laboratório, que a viagem à Lua foi uma farsa e que o Dalai Lama é a 14ª reencarnação de Buda. Creio que Alá é Deus e Maomé o seu profeta. Creio na reencarnação, no poder dos astros, nos florais de Bach e no feng shui, nas cirurgias espirituais. Creio na infalibilidade de João Paulo II e que João Paulo I foi morto pela própria Igreja. Amém! Janer Cristaldo, escritor, tradutor e jornalista, só não acredita em papai Noel. Apesar de ter a cara dele”. Muitos são os que como Janer, não acreditam. Mesmo assim, não pode ignorar a crença de grande parte da humanidade em um Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. Que também crê em Jesus Cristo, como filho unigênito de Deus, concebido pelo Espírito Santo e nascido de uma virgem, descendo ao mundo dos mortos e ressuscitando ao terceiro dia subindo aos céus, onde se encontra sentado à direita de Deus Pai, de onde virá julgar os vivos e os mortos, mesmo diante de argumentações como as de Sebastian Faure, em “12 provas da inexistência de Deus”; Bertrand Russel, em “Porque não sou cristão”, e mesmo com as argumentações em vários livros, artigos e conferências do contemporâneo biólogo, o ateu Richard Dawkins. Luiz Humberto Carrião é jornalista e editor da Girista.com girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Retratos no GIR girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 35 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê A revista digital do gir
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