59 - Pastoral Fé e Política

Transcrição

59 - Pastoral Fé e Política
Ano II—nº 59
12 a 18 de Outubro de 2013
Uma fé que não gera nos crentes alegria e agradecimento é uma fé doente.
Caríssimos amigos, em suas mãos colocamos com muita
alegria nosso informativo IPDM nº 59. No final de semana no
qual a Igreja nos fala sobre a gratidão, agradecemos da todos
vocês que nos tem ajudado nesta missão. Muito obrigado.
Em nossas reflexões sobre o Evangelho desse Domingo,
trazemos a abordagem de José Antonio Pagola sobre o profundo significado do agradecimento em nossa fé. Diante da
atitude dos leprosos curados por Jesus, Pagola chama nossa
atenção para o fato de que apenas um, o estrangeiro voltou
para agradecer pela graça alcançada.
Ao vê-lo caminhando lentamente apoiado em uma bengala, não da para imaginar que esse padre de 85 anos tenha tanto vigor, coragem e desejo de realizações, como demonstra em suas falas. Leia a entrevista na íntegra na página
4.
Na página 5, você encontrará o artigo/opinião de Frei Betto intitulado “Robin Hood tinha razão”, no qual apresenta
uma leitura sobre o que a humanidade mais anseia: “a partilha
dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano.”
Frei Carlos Mesters e Irmã Mercedes Lopes, falando
sobre o mesmo tema, nos levam a meditar sobre o significado
de se viver com gratidão, como sinal da presença de Deus.
Leia na íntegra as reflexões a partir da página 2.
Papa Francisco, fala-nos sobre a importância de se rezar com coragem, com ousadia e nos pergunta: "Como nós
rezamos? Rezamos assim por hábito, piedosamente, mas
tranquilos, ou nos colocamos diante do Senhor para pedir a
graça, para pedir por aquilo que rezamos?". Leia mais na pagina 3.
Um dos pais da teologia da libertação, que Gustavo Gutiérrez foi recebido pelo Papa Francisco. Em entrevista concedida à revista Jesus, Gutierrez traça um balanço sereno do
passado e delineia os desafios do futuro.
Em seu discurso, pronunciado durante as cerimônias de
abertura da Feira de Livros de Frankfurt, o escritor Luiz Ruffato fez uma leitura profunda e realista da realidade brasileira desde a chegada dos portugueses às terras brasileiras.
Sua palavras foram alvo de críticas por parte de alguns e de
elogios por parte de outros tantos. O título dado ao discurso
feito, por si só, já é provocador “ Nascemos sob a égide do
genocídio”. Lei o discurso na íntegra na página 6.
Nas páginas 6 e 7 você encontrará os eventos promovidos e apoiados pelo IPDM que acontecerão ao longo dos meses de outubro de novembro, além de nossa agenda de reuniões para as quais você está mais que convidado.
Desejamos a todos vocês uma ótima leitura.
Trazemos para vocês diversos endereços eletrônicos ^que disponibilizam milhares de livros, além de documentos importantes para pesquisas, e títulos disponibilizados para baixar gratuitamente.
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Equipe de Produção
Padre José Antonio Pagola
O relato começa narrando a cura de um grupo de dez leprosos nas cercanias de Samaria. Desta vez, no entanto, Lucas nao se detem em sua narrativa nos detalhes da cura, mas na relaçao de um dos leprosos al se ver
curado. O Evangelista descreve cuidadosamente todos os seus passos, pois quer sacudir a fe rotineira de muitos cristaos.
Jesus pediu aos leprosos que se apresentassem aos sacerdotes para obterem a autorizaçao que os permita se
integrarem a sociedade. Mas um deles, de origem samaritana, ao ver que esta curado, em vez de ir aos sacerdotes, volta-se para buscar a Jesus. Sente que para ele começa uma nova vida. De agora em diante, tudo sera diferente: podera viver de maneira mais digna e ditosa. Sabe a quem deve isso. Precisa encontrar-se com Jesus.
Volta “louvando a Deus com grande gritos”. Sab que a força salvadora de Jesus so pode ter
sua origem em Deus. Agora sente algo novo por esse Bom Pai do qual fala Jesus. Nao esquecera jamais. Daqui para frente, vivera dando graças a Deus. O louvara gritando com todas as
suas forças. Todos haverao de saber que se sente amado por Ele.
Ao encontrar Jesus, “se joga a seus pes dando-lhe graças”. Seus companheiros seguiram
seu caminho para encontrarem os sacerdotes. Porem, ele sabe que Jesus e o unico Salvador.
Por isso esta aqui junto a Ele dando-lhe graças. Em Jesus ele encontrou o melhor presente
de Deus.
Ao concluir o relato, Jesus toma a palavra e faz tres perguntas expressando sua surpresa
e tristeza diante do ocorrido. Nao estao dirigidas ao samaritano que tem a seus pes. Recorrem a mensagem que Lucas quer que se escute nas comunidades cristas.
“Nao ficaram limpos os dez?” “Nao foram todos curados?” Porque nao reconhecem o que
receberam de Jesus? “Os outros nove? Onde estao?” Porque nao estao ali? Porque existem
tantos cristaos que vivem sem dar graças a Deus? Por que nao sentem um agradecimento
especial para com Jesus? Nao o conhecem? Nao significa nada de novo para eles?
“Nao houve quem voltasse para dar gloria a Deus a nao ser este estrangeiro? Por que ha
pessoas afastadas da pratica religiosa que sentem verdadeira admiraçao e agradecimento
para com Jesus, enquanto alguns cristaos nao sentem nada especial por Ele? Bento XVI advertia ha alguns anos que um agnostico em busca, pode estar mais perto de Deus que um cristao rotineiro que e apenas tradiçao e herança.
Uma fe que nao gera nos crentes alegria e agradecimento e uma fe doente.
Em: www.eclesalia.wordpress.com/2013/10/09
Frei Carlos Mesters e Ir. Mercedes Lopes
No texto de hoje, aparece outro assunto muito próprio de Lucas: a gratidão. Saber viver em gratidão e louvar a Deus por tudo que dele recebemos. Por isso, Lucas fala tantas vezes que o povo ficava admirado e louvava a Deus pelas coisas que Jesus
realizava (Lc 2,28-38; 5,25-26; 7,16; 13,13; 17,15-18; 18,43; 19,37; etc.). Além disso, no Evangelho de Lucas, há vários cânticos e hinos que expressam esta experiência de gratidão e de reconhecimento (Lc 1,46-55; 1,68-79; 2,29-32).
Comentando
1. Lucas 17,11: Jesus em viagem para Jerusalém
Lucas lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a Galileia. Desde o começo da viagem
(Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou pela Samaria. Isto significa que os importantes ensinamentos dados nestes capítulos (9 a 17) foram todos dados em território que não era judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as comunidades de Lucas, vindas do paganismo.
2. Lucas 17,12-13: O grito dos leprosos
Dez leprosos aproximam-se de Jesus, param ao longe e
gritam: "Jesus, mestre, tem piedade de nós!" O leproso era
uma pessoa excluída. Não podia aproximar-se dos outros (Lv
13,45-46). Qualquer toque num leproso causava impureza e
criava um impedimento para a pessoa poder dirigir-se a
Deus. Através do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode curá-los e devolver-lhes a pureza. Obter a pureza significava sentir-se, novamente, acolhido por Deus, poder dirigirse a Ele para receber a bênção prometida a Abraão.
3. Lucas 17,14: A resposta de Jesus e a cura
Jesus responde: "Vão mostrar-se aos sacerdotes!" Era o
sacerdote que devia verificar a cura e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A resposta de Jesus exige muita fé da
parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote como se já estivessem curados, quando, na realidade, o corpo deles continuava coberto de lepra. Mas eles acreditam na palavra de
Jesus e vão em direção ao sacerdote. E acontece que, enquanto vão caminhando, manifesta-se a cura. Ficam purificados.
4. Lucas 17,15-16: Reação do samaritano
Dos dez, só um volta para louvar a Deus e agradecer a Jesus. E este é um samaritano. Por que os outros não voltam? Por
que só o samaritano? Na opinião dos judeus de Jerusalém, o samaritano não observava a lei como devia. Entre os judeus havia
uma tendência que levava o povo a observar a lei para poder merecer a vida eterna. Pela observância, eles iam acumulando
méritos e créditos diante de Deus. Gratidão e gratuidade não fazem parte do vocabulário de pessoas que vivem assim o seu relacionamento com Deus. Elas acham tão normal receber algum favor, que nem sequer agradecem! O samaritano representa as
pessoas que têm consciência clara de que nós, seres humanos, não temos mérito nem crédito diante de Deus. Tudo é graça, a
começar pelo dom da própria vida! Hoje são os pobres que fazem o papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir esta dimensão da gratuidade da vida.
5. Lucas 17,17-19: Observação de Jesus
Jesus estranha: "Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a
Deus, a não ser este estrangeiro!" Para Jesus, agradecer aos outros pelo benefício recebido é uma maneira de dar a Deus o louvor que lhe é devido. Neste ponto, os samaritanos davam lição nos judeus. Hoje, são as pessoas que não fazem parte da comunidade que dão lição a nós! Tudo que recebemos deve ser visto como um dom de Deus que vem até nós por intermédio do irmão e da irmã.
6. Lucas 17,20-21: O Reino no meio de nós
Lucas acrescenta, aqui, uma discussão entre Jesus e os fariseus sobre a data da vinda do Reino. Os fariseus achavam que o Rei no
só poderia vir quando o povo tivesse chegado à perfeita observância da Lei de Deus. A vinda do Reino seria recompensa de Deus pelo
bom comportamento do povo. Jesus diz o contrário. A chegada do Reino não pode ser observada como se observa a chegada dos reis
da terra. Para Jesus, o Reino de Deus já chegou! Já está no meio de nós, independentemente do nosso esforço ou mérito. Jesus tem
outro modo de ver as coisas. Tem outro olhar para ler a vida. Ele prefere o samaritano
que vive na gratidão aos nove que acham que merecem o bem que recebem de Deus.
Alargando
1. O significado do gesto do samaritano para as comunidades de Lucas.
Nas comunidades de Lucas, a maioria das pessoas tinha vindo do paganismo. Mesmo
depois de haverem acolhido o evangelho e de serem batizadas, suportavam o desprezo
dos cristãos de origem judaica. A mancha de haverem sido pagãos permanecia. Essa
era também a experiência do samaritano. Foi curado da lepra e podia agora participar
da vida da comunidade, mas continuava nele a mancha de ser samaritano, que ninguém poderia tirar. A experiência de ser um eterno excluído aumenta nele a capacidade
de reconhecer o dom do acolhimento dado por Jesus. Por isso, volta para agradecer.
2. A acolhida dada aos samaritanos no Evangelho de Lucas.
Para Lucas, o lugar que Jesus dá aos samaritanos é o mesmo que as comunidades
devem reservar aos pagãos. Jesus apresenta um samaritano como modelo de gratidão
(Lc 17,17-19) e de amor ao próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito chocante, pois
para os judeus samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não podiam ter acesso aos
átrios interiores do Templo de Jerusalém nem participar do culto. Eram considerados
portadores de impureza, impuros desde o berço. Para Lucas, porém, a Boa Nova de Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e grupos considerados indignos de recebêla. A salvação de Deus que chega até nós em Jesus é puro dom. Não depende dos méritos de ninguém.
3. A lepra e a busca da pureza no tempo de Jesus.
Os leprosos eram marginalizados, desprezados e excluídos do direito de conviver com suas famílias. Segundo a lei da pureza, eles
tinham que andar com roupa rasgada e cabelos desgrenhados e ir gritando: "Impuro! Impuro!" (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura significava o mesmo que buscar a pureza para que fossem reintegrados na comunidade e entrar no santuário.
Em: www.cebi.org.br—2013/10/09
Na homilia da manhã de quinta feira, dia 10 em Santa Marta, Papa
Francisco explica que é preciso "coragem para bater à porta, a
coragem de ter confiança para que o Senhor nos ouça”
"Como nós rezamos? Rezemos assim por hábito, piedosamente, mas tranquilos, ou nos colocamos diante do Senhor para pedir a graça, para pedir por aquilo que rezamos?". Perguntou o Papa Francisco, nesta manhã, durante a homilia da missa celebrada em Santa Marta.
A atitude com que rezamos é importante - disse o Bispo de Roma - porque "uma oração que não seja corajosa, não é uma
verdadeira oração". O Papa explicou que quando rezamos precisamos de "coragem de ter confiança de que o Senhor nos escuta, a coragem de bater à porta”. O Senhor diz
porque “quem pede, recebe; quem procura,
encontra; e quem bate, a porta se abre” – afirmou.
“Quando nós rezamos corajosamente – disse o Papa - o Senhor nos concede a graça,
mas também Ele se dá a si mesmo na graça: o
Espírito Santo, ou seja, si mesmo! Jamais o
Senhor concede ou envia uma graça por correio: jamais! Ele a concede! Ele é a graça!
"Nossa oração - acrescentou - se for corajosa,
recebe o que pedimos, mas também o que é
mais importante: o Senhor.”
Como “alguns recebem a graça e vão embora”, como os dez leprosos que são curados por Jesus, mas somente um volta para agradecer-Lhe - para o Papa Francisco é preciso “pedir também aquilo que a oração não ousa esperar: ou seja, o próprio
Deus.”
O Santo Padre concluiu dizendo: “Não façamos a desfeita de receber a graça e não reconhecer Quem a dá: o Senhor. Que o
Senhor nos dê a graça de doar-se a si mesmo, sempre, em toda graça. E que nós o reconheçamos, e que o louvemos como
aqueles doentes curados do Evangelho. Porque naquela graça, encontramos o Senhor”.
Em: www.zenit.org—2013/10/10
Entrevista
O "pai" da Teologia da Libertaçao veio a Italia para participar do 23º Congresso Nacional da Associaçao Teologica Italiana (ATI) e apresentar, com o arcebispo Gerhard Ludwig Muller, prefeito
da Congregaçao para a Doutrina da Fe, no Festival de Literatura de Mantua, o livro escrito a quatro maos intitulado título Dalla parte dei
poveri [Do lado dos pobres].
Justamente esse dialogo com Dom Muller e o encontro posterior, no dia 12 de setembro, com o Papa Francisco em Santa Marta, foram
definidos como eventos "historicos", porque nas decadas passadas, ao inves, o orgao da Curia Romana encarregado de vigiar a ortodoxia
nao tinha mostrado muita compreensao com relaçao aos teologos da libertaçao, emitindo em 1984 e em 1986 duas Instruçoes, em geral
bastante críticas, e censurando de varias formas e medidas alguns autores, como os brasileiros Leonardo Boff e Ivone Gebara, ou o espanhol naturalizado salvadorenho Jon Sobrino.
E a partir do tema da amizade com Dom Muller que começa a longa conversa do padre Gutierrez com a revista Jesus:
"Eu o conheci em 1988", explica ele, "quando o padre Josef Sayer, à época missionário em Lima e, depois, diretor ate o ano passado
da Misereor (a agencia da Conferência Episcopal Alemã que lida com a cooperaçao para o desenvolvimento), convidou um grupo de
professores alemaes para um seminario ao qual me pediu para participar. O professor Müller, que ensinava teologia dogmática
em Munique, no fim do encontro, me disse que a discussão lhe havia lembrado a importância da prática, razão pela qual me
propos vir periodicamente ao Peru para dar uma mao como professor. Durante 15 anos, ele sempre passou de tres a quatro semanas
das suas ferias anuais ensinando no seminario de Cuzco, cujos alunos eram índios com uma escolarização muito baixa, e dedicando os fins de semana ao trabalho pastoral nas areas rurais. Eu nao vi muitos professores europeus passarem as suas ferias assim! Naturalmente, quando ele se tornou bispo, ele so pode voltar ao Peru apenas por períodos mais breves. Ao longo dos anos, a nossa amizade
cresceu. Em suma, eu penso que ele e uma pessoa intelectualmente muito aberta que teve a simplicidade e a coragem de dizer que a
perspectiva libertadora mudou o seu modo de conceber a teologia".
Eis a entrevista.
O senhor acredita que a avaliação positiva de Dom Muller se limite aos seus escritos ou também se estende à Teologia da Libertação como um todo?
Eu nunca lhe perguntei, e, com efeito, quando ele fala da teologia da libertaçao, ele logo me cita. Mas eu posso imaginar, sem me equivocar muito, que a sua avaliaçao nao diga respeito apenas a minha reflexao, porque as posiçoes de nos, teologos da libertaçao, sao essencialmente as mesmas, e eu nunca o ouvi criticar outro autor.
A Teologia da Libertação tentou reler a mensagem evangélica e a reflexão cristã "a partir do pobre". Nas últimas décadas, a
partir do seu tronco, nasceram filões teológicos que tentam fazer o mesmo, mas "a partir da mulher", "a partir do índio", "a
partir do homossexual" etc... O O que o senhor pensa?
Sempre me pareceu importante dispor de uma noçao global, que para mim era a de "insignificante", porque e possível ser insignificante por falta de dinheiro, mas tambem pela cor da pele ou pelo fato de falar mal a língua dominante em um país, como ocorre
no Peru para a metade indígena da populaçao. Quando eu falo dos "pobres", portanto, eu nao me refiro apenas aqueles que tem uma renda baixa, mas tambem "a quem nao conta, nao tem peso social", quem e marginalizado ou esquecido.
Ja no livro Teologia da Libertação, eu falava também de etnias e culturas desprezadas, além, sobretudo a partir de 59 7 9, da mulher, tanto que o documento final da II Conferencia Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada emPuebla, no Mexico, em 1979, retomou
um texto meu que fala dela como "duplamente oprimida, enquanto pobre e enquanto mulher". Eu nao aprofundei muito essa reflexa o,
porque sobretudo as teologas fizeram isso, e nao era necessario repetir o que elas dizem. A teologia feminista deriva da experiencia da
mulher, e isso me parece importante, me interessa muito. Mas nao e uma teologia so para as mulheres, porque ela tem uma dimensao
universal.
O Frei Betto frequentemente enfatiza que, na última década, na América Latina, subiram ao governo líderes ligados idealmente à "opção pelos pobres" e à Teologia da Libertação. Como o senhor avalia essa referência?
Eu desconfio muito dessas identificaçoes. Certamente, o presidente do Equador, Rafael Correa, tem uma educaçao crista, tendo estudado em Louvain com o padre François Houtart, conheceu o nosso mundo e fez referencia a ele. Ao mesmo tempo, e um economista com
as suas ideias. E o chefe de Estado de El Salvador, Mauricio Funes, mencionou muitas vezes Dom Romero, que, alem disso, e um símbolo
para todo o país. Os líderes políticos tem todo o direito de citar essas referencias, porque isso significa que, para eles, sao significativo, e
isso me alegra.
A Igreja – eu falo da Igreja, porque as ideias que se atribuem a Teologia da Libertaçao tambem estao presentes tambem nos documentos do episcopado latino-americano – motivou, embora nao sozinha, o interesse pela política pelos pobres, a justiça, os direitos humanos, e muitas pessoas se identificaram com a teologia da libertaçao, mas ela nao e um clube ou um partido político no qual nos inscrevemos! Por isso, eu nao acho que se possa dizer que um presidente da Republica esteja ligado a ela. Eu nao tenho duvidas – e isso me agrada – que a Igreja latino-americana nos ultimos 40 anos influenciou muito a sociedade.
E, por outro lado, quanta repressao por parte dos governos foi motivada na luta contra a teologia da libertaçao! Portanto, ela esta presente no ambiente político, para melhor ou para pior, mas ha outros fatores que influem. Muitos anos atras, um jornalista
de Barcelona me pediu uma opiniao sobre a revoluçao sandinista que tinha triunfado naNicaragua, definindo-a de "obra de pessoas ligadas a Teologia da Libertaçao". Eu objetei dizendo que eu pensava que havia elementos mais importantes da teologia da libertaçao: se
na Nicaragua houve uma revoluçao, isso se deve, acima de tudo, a violencia e a injustiça da ditadura dos Somoza. Nao devemos perder o
senso de proporçao! ATeologia da Libertaçao certamente motivou muitas pessoas, mas nao se pode atribuir a ela todas as açoes. Eu me
alegro que ela tenha uma influencia: faz-se teologia para mudar este mundo! Mas nao e verdade que a America Latina mudou por seu
merito.
Há algum tempo o senhor está trabalhando sobre a questão do pluralismo religioso. Qual é a sua posição a respeito?
E um tema muito importante, sobre o qual eu estou refletindo ha anos. Eu participei de varios encontros sobre o dialogo interreligioso, mas nunca vi representantes das religioes animistas africanas, tao difundidas naquele continente, ou das indígenas
da Amazonia, mas somente das "grandes religioes mundiais", ou seja, o Isla, o xintoísmo, o hinduísmo, o judaísmo, que tem relativamente poucos adeptos, mas e muito importante etc. Parece-me que isso nao esta certo se queremos construir uma hipotese científica sobre
as religioes que seja convincente. O dialogo inter-religioso e muito interessante, mas para participar dele basta ter respeito pelos outros.
O problema real diz respeito a teologia das religioes, e se trata do estatuto de Cristo como salvador unico e universal. Desagrada-me
dize-lo, mas eu penso que nenhuma teoria ate agora elaborada pela comunidade teologica e satisfatoria, e chama-me a atençao que Paul
Knitter, que eu conheço bem e tem refletido e escrito sobre isso muito mais do que eu, no seu ultimo livro, diz mais ou menos o mesmo,
isto e, que o que produzimos ate agora ainda sao aproximaçoes, e as hipoteses atuais so desfizeram um pouco a nevoa.
Em particular, a tripartiçao "exclusivismo – inclusivismo – pluralismo", que ate foi util em um certo momento, me parece superada,
ate porque as posiçoes existentes entre os teologos nao podem mais ser remetidas a essas tres categorias. E preciso ter a modestia de
admitir que devemos aprofundar ainda o tema no plano teologico, o que, contudo, nao e condiçao previa para o dialogo com as outras
religioes, indispensavel para nos conhecermos. Sobre tudo isso eu tambem falei com o padre Jacques Dupuis, eu vi
sofrer por causa das incompreensoes por parte da Igreja. Dupuis morreu triste, depois de ter sido tratado muito mal...
Maltratado como o senhor...
Sim, eu tambem, em um certo momento. Mas depois aprendi que nao e preciso perder o senso de humor, uma virtude que ajuda a na o
nos sentirmos o centro do mundo ou um exilado perene, a nao nos levarmos muito a serio, e que impede que nos amarguremos. Eu gosto muito de rir e acredito que isso me ajudou nos momentos difíceis. E preciso seguir em frente, sem se sentir indispensavel: ate porque
a reflexao teologica teria continuado mesmo sem mim. No entanto, eu nunca fui objeto de um processo, mas sim de um dialogo, mesmo
que eu tenha tomado conhecimento dele quando ele ja tinha iniciado!
Com que espírito o senhor viveu aqueles momentos em que percebia a desconfiança da hierarquia contra o senhor?
E desagradavel ouvir que voce e definido como "alguem que se infiltrou na Igreja para destruí -la". Que alguem diga que nao esta de
acordo e normal, mas aquela acusaçao era maluca! A controversia, alem disso, tinha uma forte dimensao midiatica no Peru; nela se envolviam bispos e personalidades políticas. Eu dialoguei muito, nao convenci ninguem das minhas posiçoes, mas talvez eles perceberam
que aquilo que acreditavam sobre mim nao era verdade. Em Roma, onde sao mais cultos, eles entenderam mais e me perguntaram sobre o marxismo so na primeira vez. Depois se concentraram em questoes mais propriamente teologicas.
Foi um caso que durou diversos anos, ate que, em 2004, o cardeal Joseph Ratzinger, entao prefeito da Congregaçao para a Doutrina
da Fe, escreveu um breve texto para dizer que o dialogo tinha concluído de modo satisfatorio: nao tinham encontrado nada de erroneo.
Foi um mau momento, nao so para a relaçao com Roma, mas tambem para a situaçao no Peru. Mas eu sou teimoso e constantemente
busquei que me explicassem o merito das críticas, porque isso tambem serve para os outros, em vez de me submeter sem discutir ou
entao romper o dialogo.
A eleição do Papa Francisco e o seu desejo de "uma Igreja pobre para os pobres" levou muitos a falar de "revanche" da Teologia da Libertação. O que o senhor pensa? E quais seriam os desafios diante do novo papa em sua opinião?
O papa ama os pobres porque leu o Evangelho e o compreendeu. Pode ate ser que ele conheça a teologia da libertaçao e, se ela o ajudou a aproveitar essa importante perspectiva crista, melhor! Mas o desafio dos pobres esta ha muito tempo presente no horizonte da
Igreja, senao nao se entenderia o martírio que temos experimentado na America Latina, começando por bispos como Enrique Angelelli,
na Argentina, Oscar Romero, em El Salvador, eJuan Gerardi, na Guatemala. Construir essa "Igreja pobre para os pobres" e uma grande
aposta.
E que consequências ela tem?
Dizer que a pobreza e um grande desafio para a Igreja implica em fazer mudanças. Por exemplo, deve-se afirmar com maior força em
cada país a necessidade de que as necessidades dos pobres sejam a principal preocupaçao política, mesmo que sem propor programas
concretos, porque isso cabe a sociedade civil e política. E o problema da pobreza nao se reduz ao aspecto economico, mas envolve, por
exemplo, a diversidade cultural, como e evidente no Peru, onde a maioria da populaçao tem raízes indígenas. As situaçoes variam de
país para país, e as propostas devem ser muito concretas. Estou convencido de que assumir a perspectiva dos ultimos muda o comportamento dos cristaos. Sempre se fala da America Latina como de um "continente catolico", mas essa imensa pobreza poe duvida que ela
o seja realmente, porque a nossa fe nao se reduz a cumprir algumas obrigaçoes religiosas, que tem pouco sentido se nao sao acompanhadas pela luta pela justiça. Todos os cristaos deveriam compartilhar o compromisso com a dignidade das pessoas, com os direitos
humanos.
Em: www.ihu.unisnos.br-08/10/2013
Entrevista
Frei Betto
"A desigualdade mata”, afirmou o epidemiologista britânico Richard Wilkinson ao constatar que nas regiões
menos igualitárias os índices de mortalidade são mais altos.
Os pesquisadores Frans de Waal e sua colega Sarah Brosnan, ao testar macacos-prego, verificaram que eles
se zangavam ao ver um companheiro receber uma recompensa melhor. Sarah entregava um seixo a um dos
animais e, em seguida, estendia a mão para que o macaco o devolvesse em troca de um pedaço de pepino.
Os dois macacos aceitaram a troca 25 vezes consecutivas.
Sarah passou a entregar a um dos animais um cacho de uvas, um dos alimentos preferidos dos macacos-prego. O outro continuou a receber pepino. O clima azedou. O macaco merecedor de pepino demonstrou nítida aversão à desigualdade. Ao ver seu companheiro receber
uva, ficou agitado e atirou longe seixo e pepino. Um alimento que ele tanto gosta tornou-se repulsivo.
Os macacos não se irritavam quando as uvas eram exibidas a todos eles e pepinos continuavam a ser trocados por seixos. A irritação aparecia quando um deles recebia uvas. A desigualdade era motivo da revolta. (O teste está descrito por de Waal em A era da empatia, SP,
Companhia das Letras, 2010).
Ao tornar público o resultado da pesquisa, Sarah e Frans receberam duras críticas de economistas, filósofos e antropólogos, chocados com
a comparação entre macacos e humanos. Para azar dos críticos, a divulgação da pesquisa coincidiu com a denúncia de que Richard Grasso,
diretor da Bolsa de Valores de Nova York, viu-se forçado a pedir demissão diante dos protestos gerados pelos quase 200 milhões de dólares
que ele recebeu de bônus (New Yorker, 03/10/2003).
Em 2008, a opinião pública dos EUA mostrou-se indignada quando, em plena crise econômica, o governo destinou 700 milhões de dólares
como "socorro” aos executivos que haviam provocado tantas perdas no setor imobiliário. Uvas aos figurões; pepinos à plebe...
No Brasil, a opinião pública também se mostrou
indignada ao saber que senadores utilizavam jatinhos da FAB para eventos particulares, como viagens de familiares ou festas de casamento. As
mordomias, em especial as que são pagas com
dinheiro público, suscitam sempre revolta entre os
eleitores.
Os animais têm muito a nos ensinar. Sarah
Brosnan colocou dois macacos juntos, separados
apenas por uma grade. O primeiro tinha à sua
frente duas latinhas, semelhantes a essas de refrigerante, em cores diferentes. Elas podiam ser trocadas por comida. Se ele entregasse a ela a lata A,
receberia comida suficiente para seu próprio consumo. Se entregasse a lata B, ganharia o bastante
para dividir com o segundo macaco. Os macacosprego testados davam, em geral, preferência à lata
que favorecia a partilha da refeição.
A democracia ocidental continuará a ser uma falácia enquanto não criar condições para que todos tenham acesso aos bens essenciais a
uma vida digna e feliz. Os três ideais da Revolução Francesa –liberdade, igualdade e fraternidade – na verdade têm sido limitados e deturpados.
A liberdade passou a ser entendida como direito de um se sobrepor ao outro, ainda que o outro seja relegado à miséria. A igualdade existe, quando muito, na letra da lei. Ricos e pobres merecem tratamentos diferenciados perante a Justiça, e mesmo os recursos públicos são
destinados, preferencialmente, aos mais abastados, como faz o nosso BNDES.
A fraternidade ainda permanece uma utopia. Supõe que todos se reconheçam como irmãos e irmãs. Basta recorrer ao exemplo familiar
para saber o que isso significa. Em uma família, embora as pessoas sejam diferentes, com talentos e aptidões próprios, todos devem ter os
mesmos direitos e as mesmas oportunidades. Ninguém pode ser excluído da escolaridade ou do uso comum dos bens, como a alimentação
ou equipamentos.
Fraternidade significa inclusão, reconhecimento, e até mesmo abrir mão de um direito para que o outro, mais necessitado, possa se livrar
de uma dificuldade.
Robin Hood tinha razão. O que a humanidade mais anseia é a partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano. Essa a verdadeira comunhão. No entanto, a riqueza e o poder, quase sempre associados, cegam seus detentores, incapazes de se colocar no lugar do outro, daquele que sofre ou padece de exclusão social.
E para que a cegueira não seja acusada de indiferença criminosa e desumana, inventam-se teorias econômicas e ideologias que justifiquem e legitimem a aberração como natural...
Em: www.adital.com.br-11/10/2013
Para Refletir
Discurso do escritor Luiz Ruffato na abertura da feira de livros de Frankfurt
"O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo
selvagem definitivamente nao e uma metafora? Para mim, escrever e compromisso. Nao ha como renunciar
ao fato de habitar os limiares do seculo 21, de escrever em portugues, de viver em um territorio chamado
Brasil. Fala-se em globalizaçao, mas as fronteiras caíram para as mercadorias, nao para o transito das pessoas. Proclamar nossa singularidade e uma forma de resistir a tentativa autoritaria de aplainar as diferenças.
O maior dilema do ser humano em todos os tempos tem sido exatamente esse, o de lidar com a dicotomia eu-outro. Porque, embora a
afirmaçao de nossa subjetividade se verifique atraves do reconhecimento do outro --e a alteridade que nos confere o sentido de existir, o
outro e tambem aquele que pode nos aniquilar... E se a Humanidade se edifica neste movimento pendular entre agregaçao e dispersao, a
historia do Brasil vem sendo alicerçada quase que exclusivamente na negaçao explícita do outro, por meio da violencia e da indiferença.
Nascemos sob a egide do genocídio. Dos quatro milhoes de índios que existiam em 1500, restam hoje cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condiçoes miseraveis em assentamentos de beira de estrada ou ate mesmo em favelas nas grandes cidades. Avoca-se sempre,
como signo da tolerancia nacional, a chamada democracia racial brasileira, mito corrente de que nao teria havido dizimaçao, mas assimilaçao dos autoctones. Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa populaçao e mestiça, devese ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas - ou seja, a assimilaçao se deu atraves do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.
Ate meados do seculo XIX, cinco milhoes de africanos negros foram aprisionados e levados a força para o Brasil. Quando, em 1888, foi
abolida a escravatura, nao houve qualquer esforço no sentido de possibilitar condiçoes dignas aos ex-cativos. Assim, ate hoje, 125 anos
depois, a grande maioria dos afrodescendentes continua confinada a base da piramide social: raramente sao vistos entre medicos, dentistas, advogados, engenheiros, executivos, artistas plasticos, cineastas, jornalistas, escritores.
Invisível, acuada por baixos salarios e destituída das prerrogativas primarias da cidadania --moradia, transporte, lazer, educaçao e
saude de qualidade--, a maior parte dos brasileiros sempre foi peça descartavel na engrenagem que movimenta a economia: 75% de toda a riqueza encontra-se nas maos de 10% da populaçao branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país. Historicamente habituados a termos apenas deveres, nunca direitos, sucumbimos numa estranha sensaçao de nao pertencimento: no Brasil, o que
e de todos nao e de ninguem...
Convivendo com uma terrível sensaçao de impunidade, ja que a cadeia so funciona para quem nao tem dinheiro para pagar bons advogados, a intolerancia emerge. Aquele que, no desamparo de uma vida a margem, nao tem o estatuto de ser humano reconhecido pela
sociedade, reage com relaçao ao outro recusando-lhe tambem esse estatuto. Como nao enxergamos o outro, o outro nao nos ve. E assim
acumulamos nossos odios --o semelhante torna-se o inimigo.
A taxa de homicídios no Brasil chega a 20 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, o que equivale a 37 mil pessoas mortas por
ano, numero tres vezes maior que a media mundial. E quem mais esta exposto a violencia nao sao os ricos que se enclausuram atras dos
muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas eletricas, segurança privada e vigilancia eletronica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, a merce de narcotraficantes e policiais corruptos.
Machistas, ocupamos o vergonhoso setimo lugar entre os países com maior numero de vítimas de violencia domestica, com um saldo,
na ultima decada, de 45 mil mulheres assassinadas. Covardes, em 2012 acumulamos mais de 120 mil denuncias de maus-tratos contra
crianças e adolescentes. E e sabido que, tanto em relaçao as mulheres quanto as crianças e adolescentes, esses numeros sao sempre subestimados.
Hipocritas, os casos de intolerancia em relaçao a orientaçao sexual revelam, exemplarmente, a nossa natureza. O local onde se realiza
a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de tres milhoes de participantes, a Avenida Paulista, em Sao Paulo, e o
mesmo que concentra o maior numero de ataques homofobicos da cidade.
E aqui tocamos num ponto nevralgico: nao e coincidencia que a populaçao carceraria brasileira, cerca de 550 mil pessoas, seja formada primordialmente por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa instruçao.
O sistema de ensino vem sendo ao longo da historia um dos mecanismos mais eficazes de manutençao do abismo entre ricos e pobres.
Ocupamos os ultimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca de 9% da populaçao permanece analfabeta e
20% sao classificados como analfabetos funcionais --ou seja, um em cada tres brasileiros adultos nao tem capacidade de ler e interpretar
os textos mais simples.
A perpetuaçao da ignorancia como instrumento de dominaçao, marca registrada da elite que permaneceu no poder ate muito recentemente, pode ser mensurada. O mercado editorial brasileiro movimenta anualmente em torno de 2,2 bilhoes de dolares, sendo que 35%
deste total representam compras pelo governo federal, destinadas a alimentar bibliotecas publicas e escolares. No entanto, continuamos
lendo pouco, em media menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro ha somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.
Mas, temos avançado.
A maior vitoria da minha geraçao foi o restabelecimento da democracia - sao 28 anos ininterruptos, pouco, e verdade, mas trata-se do
período mais extenso de vigencia do estado de direito em toda a historia do Brasil. Com a estabilidade política e economica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem duvida alguma, a expressiva diminuiçao da
miseria: um numero impressionante de 42 milhoes de pessoas ascenderam socialmente na ultima decada. Inegavel, ainda, a importancia
da implementaçao de mecanismos de transferencia de renda, como as bolsas-família, ou de inclusao, como as cotas raciais para ingresso
nas universidades publicas.
Infelizmente, no entanto, apesar de todos os esforços, e imenso o peso do nosso legado de 500 anos de desmandos. Continuamos a ser
um país onde moradia, educaçao, saude, cultura e lazer nao sao direitos de todos, e sim privilegios de alguns. Em que a faculdade de ir e
vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, nao pode ser exercida, porque faltam condiçoes de segurança publica. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salario mínimo equivalente a cerca de 300 dolares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.
Nos somos um país paradoxal.
Ora o Brasil surge como uma regiao exotica, de praias paradisíacas, florestas edenicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar
execravel, de violencia urbana, exploraçao da prostituiçao infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdem pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo --amplos recursos naturais, agricultura,
pecuaria e industria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produçao e consumo; ora destinado a um eterno papel acessorio, de fornecedor de materia-prima e produtos fabricados com mao de obra barata, por falta de competencia para gerir a propria riqueza.
Agora, somos a setima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos...
Volto, entao, a pergunta inicial: o que significa habitar essa regiao situada na periferia do mundo, escrever em portugues para leitores
quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?
Eu acredito, talvez ate ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operario textil, torneiro-mecanico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de
uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, entao a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao
narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos e estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mutuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro --seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual-- como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa propria condiçao
de existir. Sucumbimos a solidao e ao egoísmo e nos negamos a nos mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modifica-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino ultimo de
todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora."
Em:www.estadao.com.br-11/10/2013
Para Refletir
Dia 02 de Novembro - Sábado das 14h00 às 18h00
Tema do Encontro
Local:
Rua da Padroeira nº 83 - Jardim Nordeste - São Paulo - SP
Maiores informações podem ser obtidas com:
Eduardo: [email protected] - Lucas: [email protected]
Vinicius: [email protected]
Com a Teóloga, Socióloga e Escritora
Tema do encontro:
Dia 23 de Novembro de 2013 - Sábado - 8h30 da Manhã
Santuário Nossa Senhora da Paz
Av. Maria Luiza Americano, 1550—Cidade Líder—São Paulo—SP
Maiores informações podem ser obtidas com:
Eduardo: [email protected] - Lucas: [email protected] - Vinicius: [email protected]
Aulas Palestras programadas para Outubro-2013
Para o 2º Semestre de 2013, o tema a ser estudado será:
“Os Conselhos Populares no controle social das Políticas Públicas”
Dia 11 de Outubro - 19h30
Tema:
Exposição dos projetos relacionados ao lixo,
telecentros, banda larga gratuita e iluminação pública
para a zona leste.
Assessor: Simão
Pedro
Secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo
REUNIÕES
COORDENAÇÃO
Os membros da Coordenação do IPDM realizarão suas reuniões bimestrais sempre nas
3ªs Terças-Feiras dos meses impares. A próxima será realizada no dia
19 de Novembro de 2013
As reuniões são realizadas sempre às 20h00 na Paróquia São Francisco de Assis
da Vila Guilhermina — Praça Porto Ferreira, 48
Próximo ao Metro Guilhermina - Esperança
PADRES - RELIGIOSOS - RELIGIOSAS
AGENTES DE PASTORAL
As reuniões entre os padres, religiosos, religiosas e Agentes de Pastoral serão realizadas sempre
na última Sexta-Feira dos meses pares. As próximas serão realizadas nos dias
25 de Outubro e 29 de Novembro de 2013
As reuniões serão realizadas sempre às 9h30 no CIFA
Paróquia Nossa Senhora do Carmo de Itaquera - Rua Flores do Piauí, 182 - Centro de Itaquera
Os endereços eletrônicos abaixo indicados contêm riquíssimo material para estudos e pesquisas. Por certo,
poderão contribuir muito para o aprendizado de todos nos mais diversos seguimentos.
www.adital.org.br - Esta página oferece artigos/opiniões sobre movimentos sociais, política, igrejas e religiões,
mulheres, direitos humanos dentre outros. O site oferece ainda uma edição diária especial voltada aos jovens.Ao se
cadastrar você passa a receber as duas versões diárias.
www.amaivos.com.br - Um dos maiores portais com temas relacionados à cultura, religião e sociedade da internet
na América Latina, em conteúdos, audiência e serviços on-line.
www.cebi.org.br - Centro de estudos bíblicos, ecumênico voltado para a área de formação abrangendo diversos seguimentos tais como: estudo bíblico, gênero, espiritualidade, cidadania, ecologia, intercâmbio e educação popular.
www.cnbb.org.br - Página oficial da CNBB disponibiliza notícias da Igreja no Brasil, além de documentos da Igreja
e da própria Conferência.
www.ihu.unisinos.br - Mantido pelo Instituto Humanitas Unisinos o site aborda cinco grandes eixos orientadores
de sua reflexão e ação, os quais constituem-se em referenciais inter e retrorrelacionados, capazes de facilitar a elaboração de atividades transdisciplinares: Ética, Trabalho, Sociedade Sustentável, Mulheres: sujeito sociocultural, e
Teologia Pública.
www.jblibanio.com.br - Página oficial do Padre João Batista Libânio com todo material produzido por ele.
www.mundomissao.com.br - Mantida pelo PIME aborda, sobretudo, questões relacionadas às missões em todo o
mundo.
www.religiondigital.com - Site espanhol abordando questões da Igreja em todo o mundo, além de tratar de questões sobre educação, religiosidade e formação humana.
www.cartamaior.com.br - Site com conteúdo amplo sobre arte e cultura, economia, política, internacional, movimentos sociais, educação e direitos humanos dentre outros.
www.nossasaopaulo.org.br - Página oficial da Rede Nossa São Paulo. Aborda questões de grande importância nas
esferas político-administrativas dos municípios com destaque à cidade de São Paulo.
www.pastoralfp.com - Página oficial da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo. Pagina atualíssima,
mantém informações diárias sobre as movimentações políticas-sociais em São Paulo e no Brasil.
www.vidapastoralfp.com - Disponibilizado ao público pela Paulus editora o site da revista Vida Pastoral torna
acessível um vasto acervo de artigos da revista classificados por áreas temáticas. Excelente fonte de pesquisa.
www.paulus.com.br – A Paulus disponibiliza a Bíblia Sagrada edição Pastoral online/pdf.
www.consciencia.net— Acervo Paulo Freire completo disponível neste endereço.
www.news.va/pt - Pronunciamentos do Papa Francisco diretamente do Vaticano.

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