O CAMINHO MAÇÔNICO DE COMPOSTELA1 De Aprendiz a

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O CAMINHO MAÇÔNICO DE COMPOSTELA1 De Aprendiz a
O CAMINHO MAÇÔNICO DE COMPOSTELA1
De Aprendiz a Mestre Maçom
O caminho de Compostela, na Espanha, ficou famoso como sinônimo de
caminho de peregrinação. Dessa tradição, podemos tirar algumas lições.
"As pessoas acordam às 5 da manhã para começar a caminhar. Se você não
acordar, o hospitaleiro lhe acorda às 6, haha. Não é à toa que a caminhada começa
cedo: o verão espanhol tem um sol assassino, principalmente nas regiões de Castilla
y Leon, Aragon e Catalonia.
Cada dia percorrido é encarado como uma etapa
cumprida. O Caminho Francês, por exemplo, tem
31 etapas com uma média diária de caminhada que
varia entre 25 e 30 quilômetros. Resumindo: você
acorda cedo pra caralho, caminha 25km num sol
ferrado, chega na próxima cidade por volta das 13
ou 14 horas, se hospeda no albergue, cuida das
bolhas e dores no corpo e descansa para o
próximo dia".
Só extraímos valor daquilo que nos custa algo. A idéia não é de sacrifício,
mas de experienciar aquilo que se faz. Ir a Compostela de avião ou num carro de
luxo, nos mostra o resultado final, o ponto de chegada, mas não nos leva a
incorporar – e incorporar significa tornar parte de nosso corpo – cada passo,
cada gota de suor, cada esquina do caminho, cada árvore florida, cada córrego
fresco, cada canto de pássaro, cada entardecer ou cada amanhecer. Chegamos a
Compostela, mas ela não fará parte de nós.
Se o caminho é tão importante quanto o ponto de chegada – às vezes é mais,
o tempo deixa de ser importante. Quando temos pressa de chegar, o caminho passa
a não ter importância. O tempo, sim. Os veículos, também. Os fins se harmonizam
com os meios.
Quando o experienciar é que é importante, os meios passam a ter valor em si
mesmos. O tempo passa a ser secundário, pois cada passo é uma experiência.
Cada pequena experiência se soma à grande experiência que é o caminhar.
"Uma opinião quase geral é a de que é mais legal – ou preciso – começar o
caminho sozinho ou, no máximo, em um par (com um amigo, namorado(a), parente).
Por quê? Bom, por que é o SEU caminho!
1
Um velho texto meu que enriqueci com trechos do excelente artigo de JORGE MALUF, O
Nascer e Morrer no Caminho de Santiago, no blog Papo de Homem. As citações estão entre
aspas: http://www.papodehomem.com.br/o-nascer-e-morrer-no-caminho-de santiago?utm_source=
A
feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3 +PapodehomemLifestyleMagazine+
%28Papo+de+Homem++É+tempo+de+homens+poss%C3%ADveis.+Puxe+uma+cadeira%2C
+a+casa+é+sua.%29 que li no dia 02/10/2015 às 04:34 PM.
Chegar a Compostela é um pretexto, um objetivo que esconde algo bem
maior que acontece dentro de cada viajante. Você aprende a se conhecer e a dar
valor a coisas que nunca importariam na vida real. Você tem o seu tempo, o seu
passo, o seu ritmo. É difícil, dói pra c…. e vai acontecer uma sofridinha básica. Mas
ao mesmo tempo a caminhada é tão gratificante e preenche tanto que só é possível
de ser compartilhada por inteiro com a própria alma – mais ninguém".
Chegar lá não é fundamental. Se vamos a Compostela por avião, as esquinas
do caminho, as árvores floridas, os córregos frescos, o canto dos pássaros, o
entardecer e o amanhecer continuarão lá. Mas não farão parte de nós. Não farão
parte de nossa bagagem. Quando, ao entardecer dos anos, nos sentarmos à frente
da lareira, examinando em silêncio a bagagem de nossa vida, essas coisas não
estarão lá. Estaremos, incontestavelmente, mais pobres.
"Dizem que no caminho de Santiago a gente começa sozinho, mas
nunca termina só. Apenas em Burgos, no meu primeiro dia antes de caminhar,
conheci muita gente. Muita gente mesmo! Comecei o trajeto sozinho, passei por três
grupos diferentes e acabei o caminho com uma amiga espanhola que conheci em
um desses grupos – embora ela também tenha começado sozinha.
Como compartilham do mesmo interesse – chegar a Santiago, os grupos
se reúnem naturalmente. Isso significa que caminhamos juntos, dormimos no
mesmo albergue, vamos jantar juntos, beber juntos, cuidar dos problemas
psicológicos, estourar bolhas dos pés um dos outros"2.
Há alguns anos, eu e os IIr∴Mestres aqui presentes éramos Aprendizes.
Curiosos e apressados como todos os Aprendizes. Após um tempo, começamos a
achar que não havia nada no grau de Aprendiz que correspondesse àquela
expectativa que tínhamos quando fomos iniciados. Púnhamos, então, nossas
esperanças no grau de Companheiro. Quando fôssemos elevados, os segredos nos
seriam revelados e o que tínhamos vindo buscar nos seria entregue. Após algum
tempo, novamente a rotina se instala e passamos a desejar sermos Mestres. Aí, sim,
a Maçonaria seria desvendada e encontraríamos o pote de ouro no fim do arco-íris.
Creio que essa pressa, tão típica do espírito moderno, é normal. Afinal,
vivemos uma época onde o importante é chegar. Muitas vezes até de forma escusa,
arrancando de forma ilegítima as "palavras de passe", os "sinais", os "toques" e as
"palavras" de cada posição social. Como os maus companheiros o fizeram.
"A primeira semana é a pior. Depois disso o corpo se acostuma com a rotina e
não existem mais reclamações. O Caminho de Santiago é uma meditação ativa.
Cada dia se aprende algo novo sobre si mesmo. Caminhar em silêncio, caminhar
conversando... tanto faz. O importante é caminhar".
E ao caminhar ir buscando aprender sobre si mesmo.
Mas que valor, então, teve o nosso caminhar? Eu e os MM∴aqui presentes,
meus IIr∴, estivemos lá. Estivemos presentes em cada passo, vertemos cada gota
de suor, paramos em cada esquina do caminho, admiramos cada árvore florida,
2
Negrito meu. Pucci.
bebemos em cada córrego fresco, ouvimos cada canto de pássaro, admiramos cada
entardecer e cada amanhecer. Estivemos presentes a cada sessão. Ouvimos cada
palavra, as boas e as más, as inspiradas e as chatas.
Hoje, o caminho faz parte de cada um de nós. Cada experiência está em
nossa bagagem. Somos mais ricos. E descobrimos que o grande segredo da
Maçonaria não está no onde se chega, mas no caminhar juntos, com-partilhando
nossa humanidade no que ela tem de melhor e de pior.
"Quando você inicia a jornada recebe a credencial do peregrino, que é o
documento que prova a partir de onde você começou a caminhar. A cada albergue
em que você fica, a credencial também é carimbada. Na verdade, quase todos os
lugares em que você passa durante o caminho podem carimbá-lo, se você quiser
(inclusive bares, igrejas, restaurantes). É um item bem legal, pois se torna um
histórico das suas passagens".
Dizem os místicos que "quando o discípulo está pronto o Mestre aparece".
Para que isso aconteça, é necessário que o discípulo esteja pronto, quer dizer,
esteja ali e esteja atento. Não façamos, meus IIr∴, como as dez virgens da
parábola evangélica, que, quando o noivo chegou, estavam dormindo e não tinha
mais azeite em suas lâmpadas.
“Ah, e como faço pra não me perder?”. Relaxe. O Caminho inteiro é
demarcado por flechas amarelas, e basta segui-las com atenção. Até por que, se
você pegar um caminho errado e andar 5km no sentido oposto, você vai ficar com
MUITA MUITA raiva (aconteceu comigo)".
Mas sempre pode recomeçar, pois
importante é o caminho e não o tempo.
o
É estando presentes que veremos
que o verdadeiro tesouro da Maçonaria nos
é dado, sim, mas não na chegada. A cada
sessão nos é dada uma moeda. Jogamo-la
na bolsa sem muita consideração. Um dia,
meus IIr∴ - e isso tantos Irmãos mais
vividos nos têm testemunhado -, acordamos
e descobrimos, entre espantados e
extasiados, que temos um tesouro acumulado.
Nesse dia, cada vez que declamarmos: "Ó, quão bom e quão suave é
viverem os Homens em união. É como o perfume que desce sobre a cabeça e sobre
a barba de Aarão", as palavras nos farão sentido e nossas almas exultarão.
Hoje eu rogo ao G∴A∴D∴U∴ que os Irmãos que estão sendo elevados
tenham guardado e continuem guardando cada uma das medalhas cunhadas que
aqui receberem.
Ah! Que saudades.
Ir∴Francisco C. L. Pucci