Contaminação microbiana de telefones celulares da

Transcrição

Contaminação microbiana de telefones celulares da
DOI Nº 10.5935/2447-8539.20160005
Artigo Científico
Revista Master, v.1. n. 1. Jan. /Jun. 2016
Araguari – MG
Ciências Biológicas e da Saúde
Contaminação microbiana de telefones celulares da comunidade
acadêmica de instituição de ensino superior de Araguari (MG).
Microbial contamination of mobile phones in an academic community of a higher
education institution in Araguari (MG).
Analysis of bakery sanitation hygiene equipment in Araguari-MG
Aline Baldo1, Ana Flávia Maximiano Freitas1, Renata Cristina Cezário Santos2, Herbert Cristian de Souza2
Resumo
Os aparelhos celulares constituem ferramentas indispensáveis nos dias atuais. Entretanto, a combinação de manuseamento
constante e o calor gerado pelos telefones criam um ambiente favorável para o crescimento de diferentes tipos de
microrganismos que são normalmente encontrados na pele humana. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar o
índice de contaminação microbiológica de aparelhos celulares da comunidade acadêmica da Faculdade Presidente Antônio
Carlos, Araguari, MG, e identificar os principais microrganismos presentes na superfície destes aparelhos. Após a coleta, com
auxílio de um swab, as amostras foram submetidas a testes microbiológicos tradicionais para identificação de fungos,
leveduras e bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Os resultados mostraram que os fungos foram os microrganismos de
maior prevalência em toda comunidade acadêmica, destacando-se o gênero Cladosporium spp., que apresentou maior
número nos cursos de Educação Física e Direito. Em relação às bactérias Gram positivas, observou-se uma maior ocorrência
de Staphylococcus spp. nos celulares de alunos dos cursos de Farmácia e Direito, enquanto que a pesquisa de bactérias Gram
negativas revelou uma maior predominância nos cursos de Direito, Pedagogia, Educação Física e no grupo dos Professores.
De acordo com os resultados obtidos, concluiu-se que a maioria dos indivíduos avaliados não realizam sanitização correta de
seus aparelhos celulares, aumentando o risco de contaminação microbiológica e desenvolvimento de infecção. Este estudo
pode contribuir para a conscientização, por parte não só dada comunidade acadêmica, sobre a importância da limpeza e
cuidado com seus telefones celulares.
Palavras-chave: telefones celulares, sanitização, fungos, bactérias.
Abstract
Nowadays, mobile phones are essential tools. However, the combination of constant handling and heat generated by the
phone creates a favorable environment for the growth of different types of microorganisms that are normally found in
human skin. Thus, the aim of this study was to evaluate the microbiological contamination of cell phones on the Academic
Community of the Faculdade Presidente Antônio Carlos, Araguari, MG, and identify the main microorganisms present on the
surface of the cell phones. After data collection with swab, the samples were submitted to traditional microbiological tests
for identification of fungi, yeasts and Gram-positive and Gram-negative bacteria. The results showed that fungi were the
most prevalent microorganisms found in the academic community cell phones. The fungi belonging to the genus
Cladosporium spp., showed the highest occurrence on Physical Education and Law programs. Concerning the Gram-positive
bacteria, there was a higher occurrence of Staphylococcus spp. on cell phones of students of Pharmacy and Law. The Gramnegative bacteria were predominant on cell phones of programs of Law, Education, Physical Education and among the
Professors. According to the results, it was concluded that most of the studied individuals did not perform proper sanitization
of their mobile devices, increasing their risk of microbiological contamination and infection development. This study may
contribute to the awareness on the academic community about the importance of cleanliness and care of their mobile
phones.
Keywords: Cell phones. Sanitization. Fungi. Bacteria.
1 – Graduandas em Farmácia. Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos – Araguari.
2 – Docentes. Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos – Araguari. E-mail [email protected]
Revista Master, v.1. n. 1. Jan. /Jun. 2016
Araguari – MG
Introdução
A comunicação é de extrema importância
sendo uma ferramenta de integração, instrução e
troca mútua de desenvolvimento. Desde a
invenção dos telefones e de outras ferramentas
digitais, o processo de comunicar rompeu todas as
barreiras de distância (ARAUJO et al. 2013).
O telefone móvel, ou celular, foi lançado em
1973, em Nova Iorque, EUA. Na época, o
aparelho era gigantesco tanto que o primeiro a
ser viável comercialmente pesava em torno de
795 gramas e foi lançado uma década após sua
criação (CAMPANHOLLI et al., 2012). Desde então,
várias modificações e incrementações foram
realizadas nesses aparelhos, abrangendo a
redução do peso e do tamanho até a adição de
aplicativos super modernos. A atribuição básica
do celular é ser um telefone portátil que faça
ligações e envie mensagens via Short Message
Service (SMS), embora alguns modelos sejam
capazes de acessar a internet por meio do
Wireless Application Protocol (WAP) e se
conectem por Bluetooth (DANTAS, 2013). Existem
também os aparelhos mais evoluídos, os
chamados smartphones. Estes trazem tecnologias
que vão muito além de ligações e mensagens de
texto. Geralmente são maiores em tamanho, com
telas sensíveis ao toque e possuem um sistema
operacional complexo, como o Android, iOS ou
Windows Phone. Em outras palavras, são
telefones com a complexidade tecnológica de
computadores (DANTAS, 2013).
Os telefones móveis são
acessórios
indispensáveis, tanto profissionalmente como
socialmente, e sua utilização é bastante
disseminada, tendo, a maioria da população, pelo
menos um aparelho para utilização. (AKINYEMI et
al., 2009). Em qualquer lugar é comum deparar-se
com pessoas usando o telefone celular, seja para
conversar com alguém, acessar redes sociais,
enviar mensagens de texto ou até mesmo se
distrair com jogos e músicas.
Essa frequência exagerada no uso de aparelhos
pode ocasionar, aos usuários, uma série de
problemas, desde os relacionados à concentração,
sobretudo nas atividades desenvolvidas em sala
de aula, empresas, etc, até o isolamento do
indivíduo que “se esquece do mundo” à sua volta
quando está conectado à rede por meio do
aparelho celular.
Além das questões de ordem interpessoal, os
usuários de aparelhos celulares estão suscetíveis,
também, a uma série de contaminações
microbiológicas. Isso acontece devido ao fato dos
telefones celulares serem objetos pequenos,
portáteis, facilmente carregáveis em bolsas ou
bolsos, serem frequentemente emprestados a
outras pessoas, caírem no chão e serem levados
ao banheiro, por exemplo; além disso, muitas
pessoas fazem o uso de telefones celulares
durante as refeições, o que aumenta o risco
contaminações microbiológicas, uma vez que têm
um contato direto com o rosto e com o aparelho
auditivo (REIS, et al., 2008 apud ARAUJO et al.,
2013).
A transferência de microrganismos para o
aparelho acontece no momento do uso por
indivíduos
infectados
ou
portadores
assintomáticos,
que
podem
carregar
microrganismos, por meio do contato direto com
partes do corpo, como boca, orelha e pele, ou por
contato indireto com aerossóis, gotículas de saliva
e partículas infecciosas (SMITH et al., 2009 apud
NETO et al., 2012).
O corpo humano abriga vários tipos de
bactérias e fungos, que estabelecem residência
permanente, mas não geram doenças em seus
hospedeiros e são chamados de microbiota
indígena ou microbiota normal. Entretanto,
existem também microrganismos da microbiota
transitória, estes podem estar presentes por
vários dias, semanas ou mesmo meses e depois
desaparecem
(STAINKI,
2012).
Indivíduos
saudáveis e imunocompetentes apresentam alta
resistência inata à infecção fúngica, apesar de
Aline Baldo, Ana Flávia Maximiano Freitas, Renata Cristina Cezário Santos, Herbert Cristian de Souza
58
Revista Master, v.1. n. 1. Jan. /Jun. 2016
Araguari – MG
serem constantemente expostos às formas
infecciosas de diversos fungos (CARVALHO, 2012).
A microbiota cutânea se distribui por toda a
extensão da pele e há predominância de bactérias
do gênero Staphylococcus spp, Corynebacterium
spp e Propionibacterium spp. Devido à constante
exposição e contato com o meio exterior, a pele
mostra-se particularmente propensa a abrigar
microrganismos
transitórios,
representados
principalmente pelas bactérias Gram negativas
que são facilmente removidas pela cuidadosa
higienização das mãos com bons detergentes
(JAWETZ et al., 2000 apud ALVES et al., 2007).
Sabe-se que a contaminação microbiana em
aparelhos celulares é mais frequente em
aparelhos com falta ou com pouca sanitização. A
melhor maneira de reduzir as contaminações
bacterianas nos aparelhos celulares é fazer uso
frequente de soluções germicidas, como por
exemplo o álcool 70% (DANTAS; 2012).
Por causa dos grandes afazeres do dia a dia
muitas pessoas não higienizam corretamente seus
celulares, por isso, o propósito deste estudo é
determinar se existe contaminação microbiológica
nos aparelhos celulares, identificar os principais
microrganismos presentes em sua superfície, e
relacionar os microrganismos encontrados,
sobretudo os que podem causar infecções. Com o
desenvolvimento deste trabalho, espera-se alertar
a população sobre a necessidade e a importância
da sanitização do aparelho celular.
Revisão da Literatura
Ao longo das duas últimas décadas, tendo
início primeiramente nos Estados Unidos e no
Japão, o mundo globalizado assistiu ao
surgimento de um fenômeno social e cultural que
atravessa a cultura contemporânea de forma
inapelável: a disseminação do uso dos telefones
celulares, que passaram a constituir parte
importante do cotidiano de um número crescente
de indivíduos, em todas as partes do planeta. No
contexto da sociedade de consumo globalizada, o
telefone celular consolida-se como um dos
artefatos símbolo da contemporaneidade (SILVA,
2007).
Microbiologistas dizem que a combinação de
manuseamento constante e o calor gerado pelos
telefones criam um primordial terreno para todos
os tipos de microrganismos que são normalmente
encontrados em nossa pele. O tecido cutâneo está
constantemente em contato com o meio
ambiente e com microrganismos tornando-se
rapidamente colonizados por certas espécies
microbianas (PRESCOTT; L. M., HARLEY J. P. e
KLEIN D. A.; 2005 apud EKRAKENE, T.; IGELEKE, C.
L.; 2007).
A longevidade do homem tem se mostrado
cada vez mais intensa, constatando-se uma
significativa tendência à valorização da saúde e do
bem-estar. No entanto, paradoxalmente a essa
realidade, revela-se em determinados ambientes
o descuido com fatores como a higiene e a
conscientização sobre práticas educativas para o
bem-estar
coletivo,
principalmente
em
instituições que têm por missão zelar por estes
conceitos (ALVES et al, 2010).
Sendo os microrganismos de distribuição
ubíqua na natureza e muitas vezes uma mistura
destes advindos de indivíduos infectados, eles
podem ser transmitidos para o ambiente e a
objetos do cotidiano. O compartilhamento de
objetos e materiais tais como cama e telefone
podem facilitar a transmissão interpessoal destes
microrganismos (SMITH et al, 2009 apud NETO et
al, 2012).
De acordo com Jawetz e colaboradores (2005),
as bactérias (e outros microrganismos) adaptamse ao ambiente, sobretudo em hospedeiros, como
os animais e o próprio homem, onde
normalmente residem e subsistem. Assim, sendo
dotadas dessa capacidade, as bactérias asseguram
sua sobrevida e aumentam a possibilidade de
transmissão. Ao produzir infecção assintomática
ou doença leve, em vez de levar à morte do
hospedeiro, os microrganismos que normalmente
Aline Baldo, Ana Flávia Maximiano Freitas, Renata Cristina Cezário Santos, Herbert Cristian de Souza
59
Revista Master, v.1. n. 1. Jan. /Jun. 2016
Araguari – MG
residem em indivíduos aumentam a possibilidade
de transmissão de uma pessoa para outra.
Com relação à microbiota da mucosa oral, a
umidade abundante, calor e presença constante
de alimentos tornam a boca um ambiente ideal,
que sustenta populações microbianas muito
grandes e diversas na língua, nas bochechas, nos
dentes e na gengiva (TRABULSI et al., 2004 apud
ALVES et al, 2007).
Diante disso, os telefones celulares são,
atualmente, objetos de estudos microbiológicos, e
os gêneros de microrganismos mais encontrados
são Staphylococcus sp, Enterococcus sp,
Escherichia sp, Klebsiella sp, Bacillus sp
(AKIENYEMI et al., 2009; SEPEHRI et al., 2009 apud
NETO et al, 2012) Acinetobacter sp, Neisseria sp
(CHAWLA et al., 2009 apud NETO et al., 2012),
Micrococcus sp, Enterobacter sp, Weeksella sp,
Brevindomonas sp (GUNASEKARA et al., 2009
apud NETO et al., 2012), entre as bactérias; e
entre os fungos a Candida sp e o Aspergillus sp
(CHAWLA et al., 2009; GOLDBALTT et al., 2007
apud NETO et al., 2012).
Quase todos os indivíduos sofrem algum tipo
de infecção causada por Staphylococcus spp
durante a vida, cuja gravidade varia desde uma
intoxicação alimentar ou infecção cutânea de
pouca importância até infecções graves e
potencialmente fatais (JAWETZ et al, 2005).
Metodologia
Foi realizado um estudo pontual exploratório
envolvendo a área externa dos celulares de
diferentes indivíduos na Faculdade Presidente
Antônio Carlos de Araguari (FUPAC) no período de
agosto a outubro de 2014.
Foi realizada a coleta aleatória de 100 celulares
pertencentes a indivíduos de diferentes setores
da faculdade, incluindo alunos, professores e
funcionários. Como critério de inclusão foi
utilizado somente aparelhos de indivíduos que
aceitaram participar e responder o check list. O
fato de não participar da comunidade acadêmica
foi usado como critério de exclusão. A amostra foi
coletada com auxílio de swab umedecido em BHI
por meio de fricção na parte frontal dos aparelhos
celulares, simultaneamente um check list foi
preenchido pelo responsável, interrogativas com
alternativas, sendo elas: Qual tipo (modelo) de
aparelho celular você possui? Você leva o
aparelho celular para todos os lugares? Você
realiza a higienização do aparelho celular? Com
qual frequência você realiza a sanitização do
aparelho celular?
Posteriormente os swabs foram transportados
para o Laboratório de Microbiologia da FUPAC
onde foram submetidos ao cultivo.
As amostras coletadas foram cultivadas pela
técnica de semeadura em placas de Petri
contendo ágar Manitol salgado, Macconkey e
Batata onde os dois primeiros permaneceram na
estufa durante 48 horas a uma temperatura de
37° C e o último a temperatura ambiente durante
uma semana (KONEMAN et al., 2001).
As colônias crescentes nos meios foram
submetidas a testes microbiológicos tradicionais
para identificação do grupo e posteriormente
específica para bactérias Gram-positivas e Gramnegativas (MARTINEZ, 2006).
Em relação às bactérias Gram-positivas, foi
realizado teste para determinação do gênero
Staphylococcus spp. e outras espécies, as colônias
foram submetidas aos seguintes testes: prova de
catalase e coagulase (SOUZA et al., 2006). Como
controle foram utilizadas S. aureus ATCC 25923
como amostras positivas.
Para as colônias crescidas em ágar Macconkey
presuntivamente identificadas como bactérias
Gram-negativas foram expostas aos tubos de
carboidratos que compõem a série bioquímica.
Essas bactérias foram identificadas através do
teste de TSI (Triple Sugar Iron), SIM (sulfito, indol
e motilidade), ornitina, lisina descarboxilase,
Citrato de Simmons, Fenilalanina e Vermelho de
metila. As cepas E. coli ATCC 25922 e
Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853 foram
Aline Baldo, Ana Flávia Maximiano Freitas, Renata Cristina Cezário Santos, Herbert Cristian de Souza
60
Revista Master, v.1. n. 1. Jan. /Jun. 2016
Araguari – MG
utilizadas como controle positivo e negativo,
respectivamente (KONEMAN et al., 2001).
A análise fúngica foi realizada pela distinção
morfológica da colônia leveduriforme e
filamentosos; seguido de técnica tintorial como
coloração de Gram e azul de Lactofenol,
respectivamente.
Resultados e Discussão
No presente estudo 100 indivíduos da
comunidade acadêmica da Faculdade Presidente
Antônio Carlos de Araguari (FUPAC) aceitaram
participar da pesquisa. Neste universo foram
incluídos somente a coleta aleatória de 10
aparelhos para cada discente presente nos
seguintes cursos Farmácia, Nutrição, Direito,
Pedagogia, Sistemas da Informação, Educação
Física e Ciências Contábeis. Adicionalmente,
funcionários, professores e discentes do curso de
medicina com uma coleta 12, 11 e 7 amostras
respectivamente.
Das 100 amostras analisadas, os fungos foram
os microrganismos mais evidentes em toda
comunidade acadêmica (Figura 1). Segundo Reis e
colaboradores (2008), os dados encontrados
coincidem com a realidade, uma vez que todas as
amostras
apresentaram
um
crescimento
significativo de microrganismos.
Figura 1– Relação dos microrganismos encontrados nos diferentes grupos da comunidade acadêmica.
O resultado da contagem dos microrganismos
presentes nas amostras mostrou que, das classes
das bactérias, as Gram positivas foram
predominantes, totalizando 18% (18/100). Em
relação às amostras provenientes dos telefones
celulares dos professores, o percentual de
bactérias foi semelhante, cerca de 17% (3/11).
Surpreendentemente, o número de bactérias foi
menor nos aparelhos celulares dos alunos do
curso de Medicina.
Em relação aos fungos filamentosos, estes
foram identificados em 11% (10/92) das amostras
dos grupos de Farmácia, Nutrição, Funcionários,
Professores, Direito, Pedagogia, Sistemas da
Informação, Ciências Contábeis e no grupo de
Medicina foram encontrados em menor
proporção, atingindo cerca de 3% (3/92). Já os
fungos leveduriformes foram predominantes no
grupo dos professores, seguido do grupo da
Farmácia.
Aline Baldo, Ana Flávia Maximiano Freitas, Renata Cristina Cezário Santos, Herbert Cristian de Souza
61
Revista Master, v.1. n. 1. Jan. /Jun. 2016
Araguari – MG
Os resultados obtidos no presente estudo
(tabela 1) estão em concordância com os achados
de Neto e seus colaboradores (2012), que
avaliando o índice de microrganismos em
aparelhos telefônicos públicos constataram o
crescimento de inúmeras espécies de fungos.
Tabela 1 – Frequência de microrganismos encontrados contaminados nos celulares de acordo com o curso.
Amostras
N
Farmácia
10
Nutrição
10
Funcionários
12
Professores
11
Direito
10
Pedagogia
10
Sistemas da Informação
10
Medicina
7
Educação Física
10
Ciências Contábeis
10
Total
100
* Bactérias Gram Positivas, ** Bactérias Gram Negativas.
Grupos
BGP*
N(%)
3 (16,6%)
0 (0%)
3 (16,6%)
3 (16,6%)
2 (11,1%)
3 (16,6%)
0 (0%)
2 (11,1%)
0 (0%)
2 (11,1%)
18 (100%)
A representação do número de amostras
contaminadas por bactérias Gram positivas dos
gêneros Staphylococcus e Streptococcus com
predomínio da espécie de Staphylococcus
coagulase negativo está mostrada na Figura 2. Os
resultados mostraram uma elevada ocorrência de
Staphylococcus spp., que provavelmente está
relacionada a resistência destas bactérias a
desidratação que favorece a sua adesão e
BGN**
N(%)
0 (0%)
0 (0%)
0 (0%)
1 (25%)
1 (25%)
1 (25%)
0 (0%)
0 (0%)
1 (25%)
0 (0%)
4 (100%)
Fungos
Filamentosos/Leveduras
10 (10,8%)
8 (16%)
10 (10,8%)
6 (12%)
10 (10,8%)
7 (14%)
10 (10,8%)
9 (18%)
10 (10,8%)
6 (12%)
10 (10,8%)
6 (12%)
10 (10,8%)
4 (8%)
3 (3,2%)
2 (4%)
9 (9,7%)
1 (2%)
10 (10,8%)
1 (2%)
92 (100%)
50(100%)
sobrevivência, além da sua presença como parte
da microbiota do nariz, boca e pele do ser
humano (SMITH et al., 2009 apud NETO et al.
2012). Visto que essa bactéria é significativamente
capaz de resistir à dessecação e ao frio, podendo
permanecer viável por longos períodos (SANTOS
et al., 2007).
Figura 2 – Relação dos cursos frente à frequência das bactérias Gram Positivas identificadas na superfície dos celulares.
Aline Baldo, Ana Flávia Maximiano Freitas, Renata Cristina Cezário Santos, Herbert Cristian de Souza
62
Revista Master, v.1. n. 1. Jan. /Jun. 2016
Araguari – MG
O número de bactérias Gram negativas
encontradas foi pequeno mais de grande
importância, pois, trata-se de espécies da família
Enterobacteriaceae que faz parte do trato
gastrointestinal. Observou-se uma predominância
dessas bactérias nos cursos de Direito (1/10),
Pedagogia (1/10) e Educação Física (1/10) e no
grupo dos professores (1/11). Particularmente, a
maior preocupação dentre as espécies
pertencente a esta família são Salmonella spp.,
Eschericia coli e Shigella spp, por serem patógenos
diretamente
associados
a
infecções
gastrointestinais e sistêmicas. A ocorrência dessas
bactérias é preocupante, pois reflete sua
potencialidade como veículo desses patógenos, e
também a pouca ou nenhuma importância
atribuída à limpeza desses aparelhos, pois a
presença de bactérias membro de coliformes
indica contaminação fecal (EKRAKENE, 2009 apud
NETO, 2012).
Com relação aos fungos (Figura 3), os
filamentosos foram os mais expressivos,
destacando o gênero Cladosporium spp. (15/100),
nos cursos de Educação Física e Direito. Sabe-se
que esta espécie está associada a uma infecção
caracterizada por nódulos rugosos que se
espalham lentamente ao longo da linfa
desenvolvendo abscessos crostosos.
Figura 3 – Relação da quantidade de fungos filamentosos e leveduras presentes em celulares de diversos grupos.
O fungo pertencente ao gênero Aspergillus spp,
no qual é raramente patogênico para o
hospedeiro imunocompetente, pode favorecer
doença em indivíduos imunossuprimidos,
resultando em infecções agudas no pulmão,
podendo ser disseminada para o cérebro, o trato
gastrointestinal e outros órgãos (HARVEY et al,
2008). Este fungo foi mais evidente nos cursos de
Farmácia e Nutrição.
Já o fungo da espécie Trichoderma foi
encontrado em 12% das amostras coletadas, com
número expressivo no grupo de Funcionários e no
curso de Nutrição. Este fungo pode causar
problemas
respiratórios,
como
angústia
respiratória ou hemorragias (TRABULSI et al.,
2004).
O
fungo
Phaeoannelomyces
werneckii
responsável pela tinea nigra, uma micose que se
apresenta por meio de manchas escuras, marrons
ou negras nas palmas das mãos ou nas plantas dos
pés (KONEMAN, 2001) foi identificado em 20
amostras coletadas, com destaque nos curso de
Pedagogia e Sistemas da Informação.
Aline Baldo, Ana Flávia Maximiano Freitas, Renata Cristina Cezário Santos, Herbert Cristian de Souza
63
Revista Master, v.1. n. 1. Jan. /Jun. 2016
Araguari – MG
A última espécie identificada Blastomyces
dermatitidis foi encontrado em 10% das amostras,
no grupo dos Professores e no curso de Pedagogia
caracterizando uma ausência de limpeza e
exposição a diversos lugares. Esse fungo produz
microconídios, mais frequentemente no solo, que
são vinculados pelo ar e entram no pulmão,
causando infecções pulmonares (HARVEY et al.,
2008).
Quanto às leveduras, estas foram identificadas
ao nível de gênero, caracterizando a Candida,
predominantemente no grupo dos Professores.
Algumas leveduras são saprófitas no homem, por
exemplo a Candida, e podem ser caracterizadas
como patogênicas frente à atividade Imunológica
do hospedeiro resultando em miosite (úlcera da
boca e garganta), onicomicose e infecções
sistêmicas (NETO et al., 2012 apud SMITH et al.,
2009).
Diante dos microrganismos encontrados foi
possível confirmar frente ao check list que 90%
(90/100) dos participantes levam o celular para
todos
os
lugares,
podendo
contribuir
significativamente para a contaminação desses
aparelhos celulares e o principal lugar levado é
para o banheiro. Os participantes que mencionam
realizar higienização 31% (31/100) envolvem
predominantemente os cursos da área da saúde
Farmácia e Medicina.
Um estudo envolvendo a prevenção de
infecções hospitalares relatou a prevalência de
infecções causadas por Staphylococcus aureus,
Escherichia coli, Enterococcus e outros
Staphylococcus coagulase negativa, que podem
ser transmitidos por objetos inanimados e
também concluíram que a contaminação pode ser
originária de hábitos higiênicos e que é necessária
uma boa higienização das mãos após a
manipulação de dinheiro, assim como após a
manipulação de outros objetos (MANGRAM et al.,
1997 apud REIS et al., 2008). Desta forma, a
correta limpeza de aparelhos celulares pode evitar
ou minimizar o risco de infecção causado por tais
microrganismos.
Conclusão
Os fungos foram os microrganismos de maior
prevalência em toda comunidade acadêmica
avaliada, destacando-se o gênero Cladosporium
spp., nos cursos de Educação Física e Direito. Em
relação às bactérias Gram positivas, tem-se
Staphylococcus
coagulase negativa nos
aparelhos celulares de alunos dos cursos de
Farmácia e Direito; com relação aos Gram
negativos este possui destaque pois foi
encontrado na maioria dos cursos e no grupo
Professores. De acordo com a pesquisa a maioria
dos entrevistados não realiza correta limpeza de
seus aparelhos celulares, confirmando assim a
necessidade da higienização correta dos aparelhos
celulares para evitar os riscos de infecção por
diferentes microrganismos.
Como forma de alertar a comunidade, este
trabalho será divulgado, em especial aos
participantes da pesquisa, orientando-os sobre
como sanitizar o seu aparelho celular, evitando o
acúmulo de bactérias e fungos como os
encontrados nas análises.
Referências
AKINYEMI, K.O. et al. The potential role of mobile
phones in the spread of bacterial infections. Journal of
Infection Dev.Ctries, Italy, v. 3, n° 3, p. 628-632, 2009.
ALVES, V. F. C. et al. Condições Higiênico-Sanitárias de
Telefones Públicos no Município de Santos. NewsLab,
São Paulo, edição 82; 2007.
ALVES, A. P. et al. Análise asséptica em ambientes de
uso comum no Campus da Universidade Castelo
Branco, Realengo. Revista Eletrônica Novo Enfoque, v.
11, n. 11, p. 21-26, 2010. [online].
ARAUJO, J. et al. Contaminação Microbiana de
Aparelhos Celulares de Alunos do IFMA- Campus Zé
Doca-MA. Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Maranhão, 2013.
BRITES, D. A. Microrganismos: Introdução aos
organismos microscópicos. Disponível em: <
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/micro
Aline Baldo, Ana Flávia Maximiano Freitas, Renata Cristina Cezário Santos, Herbert Cristian de Souza
64
Revista Master, v.1. n. 1. Jan. /Jun. 2016
Araguari – MG
organismos-introducao-aos-organismosmicroscopicos.htm.> Acesso em: 07 abr. 2014.
CAMPANHOLLI, F. et al. Aplicabilidade e Importância
do Celular para Uso Pessoal e Profissional em uma
Cidade do Interior de Minas Gerais. In: VII Simpósio de
Excelência em Gestão e Tecnologia. Lavras, 2012.
CARVALHO, D. L. Preparo de Materiais em
microbiologia, Meios de cultura usados no
laboratório, técnicas de semeadura e Colorações,
2012. [slides de aula]. Universidade Federal de Juiz de
Fora.
Disponível
em
http://www.ufjf.br/microbiologia/files/2012/11/Meios
-de-cultura-usados-no-laborat%C3%B3rio-ecolora%C3%A7%C3%B5es.pdf:. Acesso em: 28 out.
2014.
DANTAS, R. Você sabia que celular sujo pode ser
prejudicial à saúde? Confira. Disponível em: <
http://www.conceicaopbonline.com/2012/12/celularsujo-pode-ser-prejudicial-saude.html. > Acesso em: 07
abr. 2014.
______. Qual é a diferença entre smartphone e
celular? Entenda. Tech tudo, 2013. Disponível em: <
http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2013/03
/qual-e-diferenca-entre-smartphone-e-celularentenda.html.> Acesso em: 06 abr. 2014.
EKRAKENE, T.; IGELEKE, C. L. Micro- organisms
Associated with Public Mobile Phones along Beninsapele Express Way, Benin City, E do State of Nigeria. J.
Appl. Sci. Res., 3(12): 2009-2012, 2007.
HARVEY, Richard A; CHAMPE, Pamela C; FISHER, Bruce
D. Microbiologia ilustrada.
Tradução Augusto
Schrank, Marilene Henning Vainstein. 2. Ed. Porto
Alegre: Artmed. 2008.
JAWETZ, E. et al. Microbiologia médica. 21 ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
______. Microbiologia médica. 22 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2005.
KONEMAN, E. et al. Diagnóstico microbiológico. 5 ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. cap. 11,
parte 1.
LOPES, M. Doenças Fungicas. Disponível em:
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAepSIAL/doen
cas-fungicas . Acesso em: 06 Abr. 2014.
MANGRAM, A. J. et al. Centers for disease control and
prevention hospital infection control practices advisory
committee, Guideline for prevention of surgical site
infection. American Journal of infection. Am. J. Infect.
Control, Elsevier, 1997; 27: 97-134.
MARTINEZ, M. Coloração de Gram. Disponível em:
http://www.infoescola.com/bioquimica/coloracao-degram/2006 >. Acesso em: 27 jun. 2014.
NETO; C. A. et al. Flora Microbiana de Telefones
Públicos Localizados no Campus de Uma Universidade
em Cuiabá, MT. Revista Eletrônica de Biologia, São
Paulo, v. 5, p.56-72, 2012.
PRESCOTT, L.M.; HARLEY, J. P.; KLEIN, D. A.
Microbiology. 6 ed. Tim McGraw-Hill co. New Delhi,
2005. pp: 675.
REIS, G. M. et al. Contaminação Microbiana de
Telefones Celulares de Acadêmicos de uma
Universidade do Sul do Brasil. In: Anais do Seminário
Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extensão da
Unicruz. XIII Mostra de Iniciação Científica. VII Mostra
de Extensão. Cruz Alta, 2008.
SANTOS, A. L. et al. Staphylococcus aureus: visitando
uma cepa de importância hospitalar. Jornal Brasileiro
de Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro,
v. 43, n. 6, p.413-423, dez. 2007.
SMITH, S.I. et al. Antibiotic susceptibility pattern of
Staphylococcus species isolated from telephone
receivers. Singapore Med. J., Singapore, v.2, n° 50, p.
208-211, 2009.
SOUZA, A.C. et al. Microrganismos Encontrados em
Dinheiro Brasileiro Coletado em Feira Livre, Gurupi,
TO. In: XV Congresso Brasileiro de Biomedicina, 2006.
STAINKI, R. D. Microbiota ou Flora Normal. Disponível
em:
<
http://coral.ufsm.br/microgeral/Conteudo%20teorico/
Microbiota%20normal.pdf. > Acesso em 06 abr. 2014.
SILVA, S. R.; “Eu não vivo sem celular”: Sociabilidade,
Consumo, Corporalidade e Novas Práticas nas Culturas
Urbanas. Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 17, p. 117, julho/dezembro 2007.
TRABULSI, L. R; ALTERTHUM, F. Microbiologia. 4 ed.
São Paulo: Atheneu, 2004.
Aline Baldo, Ana Flávia Maximiano Freitas, Renata Cristina Cezário Santos, Herbert Cristian de Souza
65