Universidade Federal do Pará - pibic

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Universidade Federal do Pará - pibic
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DIRETORIA DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq,
CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período: OUTUBRO/2014 a AGOSTO/2015
( ) PARCIAL
(X) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa: Blooms de organismos nocivos no litoral paraense: padrões,
previsibilidade e sustentabilidade.
Nome do Orientador: José Eduardo Martinelli Filho
Titulação do Orientador: Doutor
Faculdade: Faculdade de Oceanografia
Instituto/Núcleo: Instituto de Geociências
Laboratório: Laboratório de Oceanografia Biológica
Título do Plano de Trabalho: Variabilidade temporal de organismos zooplanctônicos na costa
adjacente ao município de Salinópolis – PA.
Nome do Bolsista: Arnaldo Fabrício dos Santos Queiroz.
Tipo de Bolsa:
(X) PIBIC/UFPA (P.E. Interdisciplinar, edital n° 09/2014 PROPESP/FADESP)
1
INTRODUÇÃO
A região nordeste do estado do Pará, tem registrado encalhes de enormes quantidades
da alga parda Sargassum sp. assim como grande número de águas-vivas e caravelas. Os
processos costeiros que atuam na formação desses blooms (florações, traduzido para o
português) de algas e de organismos planctônicos ainda são muito pouco estudados no Brasil,
sendo os principais polos de pesquisas nacionais, localizados nas regiões sul e sudeste.
Embora a maioria das espécies de Sargassum seja bentônica, espécies como S. natans
(Linnaeus) Gaillon e S. fluitans (Boergesen) Boergesen são capazes de manter continuamente
populações no sistema pelágico, através de reprodução vegetativa e formar extensas manchas
na superfície. (BRASIL et al., 2015). Esses fenômenos são naturais e comuns às mais diversas
regiões do planeta. Os blooms apresentam aumento de sua extensão e persistência, podendo
estar relacionados ao impacto da ação antropogênica responsável pela eutrofização das águas
costeiras, transporte de organismos pela água de lastro, crescimento da maricultura e
mudanças climáticas associadas ao crescimento da atividade industrial nos últimos dois
séculos (SMETACEK & ZINGONE, 2013).
Tais fatores proporcionaram diversos distúrbios e problemas ao meio ambiente marinho
como a quebra de barreiras ecológicas, criando condições para espécies oportunistas se
desenvolverem. Como consequências, ocorre aumento de espécies com alta capacidade de
invasão que se adaptam as novas condições do ambiente devido as suas características,
biológicas e ecológicas, que ampliam sua tolerância em relação a maioria dos fatores
ambientais, gerando os chamados blooms. (MASÓ & GARCÉS, 2006).
Para Tundisi, (1997), o estudo sobre a diversidade e composição do zooplâncton pode
indicar a deterioração do ecossistema por alterações diretamente relacionadas com fatores de
estresse como altas concentrações de substâncias nocivas, acidez ou basicidade. Pois devido
os organismos fito- e zooplanctônicos responderem rapidamente às variações físicas e
químicas, são ótimos indicadores de alterações ambientais nas massas de água,
principalmente relacionadas à concentração de determinados elementos (MONGER et al.,
1997; SANTIAGO, 2011).
Sendo assim, o monitoramento de comunidades planctônicas é a chave para entender
os processos adaptativos que geram os blooms, tornando-se possível descrever os padrões de
sua distribuição e abundância em função dos processos hidrológicos e da distribuição de
nutrientes (HALLEGRAEFF, 2010). O presente trabalho teve como objetivo o monitoramento da
comunidade zooplanctônica da região costeira do município de Salinópolis, no nordeste
paranese, e detectar possíveis modificações na estrutura da comunidade durante eventos
blooms e de seus efeitos na comunidade marinha.
JUSTIFICATIVA
O fenômeno blooms inclui tanto espécies produtoras de toxinas, que podem contaminar
consumidores de topo através da bioacumulação, quanto os grandes produtores de biomassa,
que podem levar à depleção de oxigênio dissolvido na coluna de água e, consequentemente,
aumentar as taxas de mortalidade no ambiente marinho. Em regiões costeiras e oceânicas,
nitrogênio e fósforo estão raramente em concentrações altas o suficiente para sustentar o
desenvolvimento rápido e simultâneo de uma grande variedade de espécies. Dessa forma, a
habilidade de competir por nutrientes limitantes é crucial para a proliferação preferencial de
determinadas espécies (CASTRO & MOSER, 2012).
Em maio de 2014, o município de Salinópolis, localizado na região nordeste do estado
do Pará, ganhou destaque nos veículos de comunicação devido ao encalhe de toneladas da
alga parda Sargassum sp. em diversos pontos do município, tendo a praia do Atalaia como o
2
ponto mais divulgado. Os eventos ocorreram entre os dias 3 e 4 e entre 24 e 25 de maio de
2014, onde foram estimadas respectivamente 174 e 232 toneladas de Sargassum sp.
encalhadas na praia e uma média de 1,3 kg.m-² de peso úmido de algas na região
mesolitorânea (MARTINELLI FILHO, 2015).
A eutrofização induzida por atividades antrópicas, como o descarte industrial e esgoto
doméstico lançados nas regiões costeiras, podem desencadear blooms algais, devido ao
aumento de disponibilidade de nutrientes. (MOSER et al, 2011). Como consequência desses
blooms, há um aumento significativo nas taxas de respiração e decomposição levando à maior
depleção do oxigênio e promovendo condições anóxicas até mesmo próximo à superfície,
assim como mudanças, na turbidez, cor e odor da coluna de água provocando alterações na
estrutura da teia trófica e problemas econômicos diversos, tais quais as proibições de
atividades pesqueiras e recreativas (HALLEGRAEFF et al., 1995; SANTIAGO, 2011).
Outros táxons formadores de blooms em águas costeiras são os cnidários medusóides.
Esses animais gelatinosos também apresentam tendências de crescimento populacional e
maior frequência de encalhe, sendo que tais fenômenos foram relacionados à eutrofização e a
sobrepesca de peixes pelágicos (RIISGÅRD et al. 2012). Dessa forma, a importância do
monitoramento de comunidades fito- e zooplanctônicas, por constituírem a alimentação básica
da maioria dos predadores aquáticos, principalmente em sua fase larval, para o
desenvolvimento de modelos conceituais em ecologia trófica é imperativo (MOSER et al, 2011;
SANTIAGO, 2011).
Para Santiago (2011), o conhecimento da comunidade planctônica é de grande
relevância e de destaque prioritário por evidenciar a dinâmica estuarina, pois constitui o
primeiro elo da teia trófica, além de serem excelentes indicadores de qualidade ambiental por
resposta a perturbações em pequenas escalas temporais. O monitoramento da comunidade
zooplanctônica permite estimar a densidade de diferentes espécies potencialmente causadoras
de blooms. A estratégia utilizada, permiti coletar indivíduos de tamanhos e estágios
diferenciados do ciclo de vida.
O fenômeno deve ser tratado com atenção, pois a região é um importante pólo turístico
e pesqueiro do estado do Pará. Embora as algas não causem impacto a saúde humana, elas
podem afetar significativamente a pesca, obstruindo as redes e dificultando a navegação de
embarcações pesqueiras além de o impacto no turismo, pois ocorre a evasão dos turistas
devido a alterações estéticas da praia e ao odor gerado pela decomposição das algas (Brasil et
al., 2015). Os resultados a serem obtidos pelo projeto poderão subsidiar modelos de
previsibilidade do fenômeno, transformando assim os prejuízos em sustentabilidade, através de
ações de gerenciamento costeiro.
OBJETIVOS
Monitorar, em escala trimestral, a comunidade zooplanctônica e a ocorrência de
estágios pelágicos da alga Sargassum sp., em um transecto estuarino-costeiro, localizado na
plataforma continental interna em frente ao município de Salinópolis de novembro de 2014 a
agosto de 2016.
3
OBJETIVOS ESPECÍFICOS



Durante a realização dos transectos na plataforma interna, estimar a presença, área e
biomassa de eventuais manchas de Sargassum sp. que ocorram na superfície.
Analisar o zooplâncton coletado ao longo das estações de coleta no transecto, para
obtenção de variáveis biológicas como os índices ecológicos descritores da comunidade.
Determinar a variabilidade espacial e temporal da comunidade zooplanctônica, através
da coleta de amostras ao longo de um transecto perpendicular à costa, no município de
Salinópolis.
MATERIAIS E MÉTODOS
Amostragens trimestrais na plataforma continental adjacente à Salinópolis foram
realizadas em três saídas de campo, durante os dias 28/11/2014, 12/02/2015 e 25/06/2015.
Durante as saídas foram feitos transectos com média de aproximadamente 25 km de extensão
em direção à plataforma continental interna amazônica (0º 35’ 57” S 047º 20’ 20” W à 0º 19’ 04”
S 047º 20’ 10” W). As coletas foram realizadas em estações demarcadas em 4 pontos
equidistantes ao longo das seções percorridas. As estações 1, 2, 3 e 4 estão respectivamente
a aproximadamente 8, 13, 18 e 23 km da costa do município de Salinopólis-Pa.
Devido a problemas como carência de embarcações com estrutura adequada para as
coletas, nos dias 28/11/2014 e 25/06/2015 em apenas 3 estações houve a possibilidade de
amostragem. Durante as expedições, foram coletadas amostras de água para caracterização
físico-química, do fito- e zooplâncton, além da caracterização hidrográfica e hidrodinâmica
através de um CTD (current, temperature and depth profiler).
As coletas de plâncton foram realizadas através de arrastos horizontas em
subsuperfície, com redes de 200µm equipadas com fluxômetro (General Oceanics) e poitas. A
duração dos arrastos foi padronizada em 3 min. para evitar a colmatação das redes. As redes
foram arrastadas lentamente e o zooplâncton transferido imediatamente para recipientes e
preservados em solução de formaldeído neutralizado com tetraborato de sódio diluído em água
do mar em concentração final equivalente a 4%.
Os organismos zooplanctônicos foram contados e identificados em alíquotas das
amostras totais que variaram entre 1 e 100%. A obtenção das alíquotas foi realizada utilizando
um quarteador do tipo Motoda (OMORI & IKEDA, 1984). Foram contadas frações de amostras
de diversos tamanhos, tentando totalizar no mínimo 300 animais (FRONTIER, 1981). Para as
espécies raras ou esporádicas, uma fração maior de amostra foi analisada quando necessário.
No entanto na amostra referente a estação 1 da campanha de novembro de 2014, a pesar da
amostra ter sido analisada por completo, foram identificados apenas 265 táxons.
A partir dos dados analisados foram calculados os Índices ecológicos descritores da
comunidade planctônica como, densidade, dominância e abundância. A abundância e
dominância foram estimadas pela identificação e contagem das espécies encontradas nas
amostras, e a densidade (organismos por m³), foi calculada com base nos dados de volume
filtrado e a abundância total coletados em cada estação. O cálculo dos volumes filtrados (𝑉) em
cada estação foram descritos pela fórmula; 𝑉 = 𝑎 × 𝑟 × 𝑓; que demonstra a relação entre; a
área correspondente a abertura da rede em m² (𝑎); o número de rotações realizadas pelo
fluxômetro durante os arrastos (𝑟); e o fator de calibração do mesmo, em rotações por metro
(𝑓). Os dados referentes ao calculo da densidade de organismos por m³ para a campanha do
dia 25/06/2015 não tiveram como constar no presente relatório, devido a indisponibilidade de
tempo hábil para sua correta execução.
Os índices de Shannon, de Simpson e a equitatividade foram inseridos como medidores
de diversidade. Segundo Magurran (1998), esses índices tendem a enfatizar o componente de
4
riqueza de espécies de diversidade. Onde o grupo de indivíduos é ponderado pela
abundâncias das espécies mais comuns e geralmente é referido como medidas, dominância ou
regularidade.
O índice de diversidade especifica de Shannon (H) se baseia no somatório negativo da
multiplicação entre a abundância relativa (Abrel) da espécie e seu logaritmo na base 2, como
demonstrado na fórmula a seguir.
𝑛º 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐𝑖𝑒𝑠
𝐻= −
∑
𝐴𝑏𝑟𝑒𝑙 . 𝑙𝑜𝑔2 𝐴𝑏𝑟𝑒𝑙
𝑖=1
Como uma medida de heterogeneidade, o índice de Shannon leva em conta o grau de
uniformidade na abundância de espécies, variando de 0 a 5. (MAGURRAN, 2013).
O índice se Simpson (D) foi calculado por 1 menos o somatório das abundâncias
relativas ao quadrado (MAGURRAN, 1988)..
𝑛º 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐𝑖𝑒𝑠
𝐷 = 1−
∑
𝐴𝑏𝑟𝑒𝑙 ²
𝑖=1
A Equitatividade (J) proposta por Pielou (1997) foi relacionada ao índice Shannon, e foi
calculada pela razão do valor de Shannon e o Logaritmo natural do total das espécies
encontrada (S).
𝐽 = 𝐻⁄𝑙𝑜𝑔 𝑆
RESULTADOS
Na campanha do dia 28/11/2014, não houve a possibilidade de coleta em todas as
estações, sendo coletada em apenas 3 delas (estações B1, B2 e B3). Na analise da campanha
foram identificados em média aproximadamente 2.775 indivíduos, distribuídos em de 30 táxons.
Na estação B1 a densidade zooplanctônica foi estimada em aproximadamente 1.012 org.m-3,
para estação B2 a estimativa de densidade foi de aproximadamente 4.144 org.m-3 e na estação
B3 a densidade foi estimada em aproximadamente 4.450 org.m-3. A tabela a seguir demonstra
a diversidade de espécies identificadas e suas respectivas densidade por m³ e suas
densidades relativas a abundância total.
Na campanha do dia 25/06/2015, não houve a possibilidade de coletar para estação B4
devido as condições climáticas locais desfavoráveis, tendo a coleta sido efetuada apenas nas
estações B1, B2 e B3. Nessa campanha foram identificados em média 4.013 indivíduos por
estação, distribuídos em um total de 21 táxons. Na amostra referente a estação B1 foram
estimados aproximadamente 6.990 indivíduos distribuídos em 15 táxons, na amostra da
estação B2 foram estimados 2.820 distribuídos em 13 táxons e na amostra referente a estação
B3 foram estimados 2.230 de indivíduos distribuídos em 14 táxons. Na tabela 3, estão
disponíveis os táxons identificados assim como suas respectivas densidades relativas,
referentes a campanha realizada em junho de 2015.
5
Tabela 1 – Táxons identificados com suas densidades e densidades relativas, obtidos nas estações
B1, B2 e B3, coletadas no dia 28/11/14.
Estação B1
Estação B2
Estação B3
Taxóns
D
D.R.
D
D.R.
D
D.R.
-3
-3
-3
(Org.m )
(%)
(Org.m )
(%)
(Org.m )
(%)
A. (Acanthacartia) tonsa
112
2,52
Aglaura sp.
23
2,26
34
0,99
285
6,4
Calanopia americana
52
1,16
Centropages velificatus
145
14,34
309
8,91
207
4,65
Ceritharia sp.
34
0,99
17
0,39
Clytia sp.
23
0,66
Náuplios N.I.
46
1,32
224
5,04
D. amazonicus
111
10,94
103
2,97
26
0,58
Eucheilota duodecimalis
34
0,99
Euterpina acutifrons
355
10,23
630
14,15
Flaccisagitta enflata
34
3,4
286
8,25
319
7,17
Hidrozoa N.I.
26
0,58
Larva de Decapoda
187
18,49
218
6,27
354
7,95
Larva de peixe
80
2,31
Larvas pluteus de
103
2,97
543
12,21
Echinoidea
Macrosetella gracilis
26
0,58
Microsetella rosea
23
0,66
Nannocalanus minor
99
9,81
149
4,29
216
4,84
Oikopleura dioica
11
1,13
206
5,94
164
3,68
Oithona plumifera
46
1,32
O. giesbrechti
31
3,02
46
1,32
129
2,91
Ostracoda N.I.
8
0,75
Paracalanus aculeatus
8
0,75
69
1,98
95
2,13
Parvocalanus crassirostris
137
13,58
263
7,59
336
7,56
Poliqueta (Plancônica)
17
0,39
N.I.
Subeucalanus pileatus
424
12,21
336
7,56
Subeucalanus crassus
378
10,89
241
5,43
Temora turbinata
218
21,51
218
6,27
95
2,13
Tetracanna octonema
23
0,66
Total
1012
100,00
3469
100,00
4450
100,00
Como resultado da dominância de espécies da coleta realizada na campanha referente
a novembro de 2014, obtive-se a espécie Euterpina acutifrons como dominante em relação aos
demais táxons identificados. Segundo Björnberg (1963), a Euterpina acutifrons habita desde
regiões costeiras a o interior estuarino, tendo ampla distribuição geográfica e geralmente com
elevada abundância. Na campanha de novembro, foram estimados aproximadamente 1.040
indivíduos referentes a E. acutifrons, o que representou 13% do total identificado, como
demonstra o gráfico a seguir.
6
NOVEMBRO DE 2014
Larva de C. velificatus
7%
Decapoda
7%
N. minor
5%
Aglaura sp.
4%
T. turbinata
4%
Náuplios N.I.
4%
S.
crassus
7%
Outros
5%
F.enflata
8%
P. aculeatus
2%
E. acutifrons
13%
P.
crassirostr
is
8%
D. amazonicus
2%
A. (Acanthacartia)
tonsa
2%
O. giesbrechti
2%
Oikopleura
dioica
3%
S. pileatus
9%
Larvas pluteus de
Echinoidea
9%
Figura 1 – Dominância de táxons em relação a abundância total das amostras coletadas no dia 28/11/15.
Na campanha do dia 12/02/2015, houve a coleta de amostras nas 4 estações (B1, B2,
B3 e B4), onde foram identificados em média 104.152 indivíduos para cada estação,
distribuídos em total de 22 táxons. Na amostra obtida na estação B1 a densidade foi estimada
em aproximadamente 46.342 org.m-3, para estação B2 a estimada para a densidade da
amostra coletada foi de aproximadamente 25.276 org.m-3, na amostra da estação B3 a
densidade estimada foi de aproximadamente 21.568 org.m-3 e na estação B4 a amostra obtiva
teve como estimativa para a densidade aproximadamente 27.044 org.m-3. A tabela 2 demonstra
os táxons identificados durante a campanha, assim como suas respectivas diversidades por m³
relativas a abundância total.
Durante a campanha de fevereiro de 2015, a espécie Acartia (Acanthacartia) tonsa se
apresentou com absoluta dominância em relação aos demais táxons identificados. Segundo
Ramos (2007), essa espécie é encontrada em águas costeiras e estuarinas por todo o mundo,
tendo preferência por águas quentes e temperadas, das regiões tropicais e subtropicais, sendo
amplamente distribuída em Baías e áreas costeiras na costa do Pacífico e no Atlântico ao
entorno da América do Norte e América do Sul. Na campanha do mês de fevereiro foram
estimados 224.600 indivíduos referentes a espécies Acartia (Acanthacartia) tonsa, que
reprentaram 94% do total identificado. No gráfico a seguir é ilustrado a dominância dos táxons
identificados durante a campanha, sendo classificados como, outros, os táxons com menos de
1% de densidade relativa.
7
Tabela 2 – Táxons identificados com suas densidades e densidades relativas, obtidos nas estações B1, B2,
B3 e B4 coletadas no dia 12/02/14.
Estação B1
Estação B2
Estação B3
Estação B4
Taxóns
D
D.R.
D
D.R.
D
D.R.
D
D.R.
-3
-3
-3
-3
(Org.m )
(%)
(Org.m )
(%)
(Org.m )
(%)
(Org.m )
(%)
A. (Acanthacartia)
42516
91,74
96166
95,13
80477
93,29
101834
94,14
tonsa
A.(Odontacartia)
251
0,54
1690
1,67
1558
1,81
1490
1,38
lilljeborgi
Aglaura sp.
193
0,42
497
0,46
C. velificatus
193
0,42
Chaetognatha N.I.
334
0,39
Clytia sp.
282
0,28
497
0,46
D. amazonicus
387
0,83
E.acutifrons
557
0,65
994
0,92
F. enflata
1353
2,92
422
0,42
668
0,77
621
0,57
hidrozoa N.I.
334
0,39
248
0,23
Larva de
193
0,42
334
0,39
248
0,23
Decapoda
Larva de peixe
223
0,26
124
0,11
Poliqueta N.I.
193
0,42
N. minor
387
0,83
Noctiluca sp.
845
0,84
779
0,90
373
0,34
Oithona nana
563
0,56
223
0,26
497
0,46
Ostracoda N.I.
193
0,42
124
0,11
P.aculeatus
97
0,21
141
0,14
P.crassirostris
282
0,28
223
0,26
S.pileatus
422
0,42
445
0,52
S.crassus
282
0,28
111
0,13
621
0,57
Temora turbinata
387
0,83
Total
46342
100,00
101094
100,00
86265
100,00
108167
100,00
8
FEVEREIRO DE 2015
A. (Odontacartia)
lilljeborgi
1%
Acartia
(Acanthacartia)
tonsa
94%
F. enflata
1%
Noctiluca sp.
1%
Outros
3%
Figura 2 – Dominância de táxons em relação a abundância total das amostras coletadas no dia 12/02/15.
Tabela 3 – Táxons identificados, e suas abundancias relativas, obtidas nas estações B1,
B2 e B3, coletados no dia 25/06/15.
Estação B1 Estação B2 Estação B3
TÁXON
DR (%)
DR (%)
DR (%)
Acartia (Acanthacartia) tonsa
2,88
9,57
4,55
Acartia (Odontacartia) lilljeborgi
0,69
Calanopia americana
0,41
1,06
Centropages velificatus
3,29
10,91
Clytia sp.
1,65
Náuplios N.I
10,29
5,32
6,36
Ditrichocorycaeus amazonicus
0,41
0,35
3,18
Euterpina acutifrons
2,19
4,26
5,45
Flaccisagitta enflata
0,55
1,42
1,36
Larva de Decapoda
3,16
5,32
10,45
Larva de Peixe
0,41
Poliqueta (Plancônica) N.I.
0,27
2,48
Larvas pluteus de Echinoidea
1,42
1,82
Noctiluca sp.
0,27
Obelia sp.
0,91
Oithona nana
0,27
Onychocorycaeus giesbrechti
2,74
12,77
43,64
Ostracoda N.I.
4,61
0,91
Paracalanus aculeatus
0,69
1,42
5,45
Parvocalanus crassirostris
69,55
50
Temora turbinata
0,27
5
9
Como resultado da dominância para as coletas feitas durante a campanha de junho de
2015, a espécie Parvocalanus crassirostris se apresentou dominante em relação às demais
táxons identificados. Para Matsumura-Tundisi (1972), a espécie Parvocalanus crassirostris
possui alta tolerância à salinidade e temperatura e se encontra em diversas partes do mundo.
No entanto é limitada pelas áreas costeiras das regiões tropicais e subtropicais, sendo uma das
espécies da classe Copepoda mais citado em pesquisas de ambiente costeiros e estuarinos do
Brasil, Na campanha foram estimados 6.480 indivíduos, referentes a espécies P. crassirostris,
o que representa 54% do total identificado nas amostras do mês de junho de 2015. Como
demonstra o gráfico a seguir.
JUNHO DE 2015
Larva de Decapoda
5%
O. giesbrechti
13%
Náuplios
N.I
9%
A. (Acanthacartia)
tonsa
5%
E. acutifrons
3%
C. velificatus
2%
P. aculeatus
2%
P. crassirostris
54%
Poliqueta
(Plancônica) N.I.
1%
Larvas pluteus de
Echinoidea
1%
F.
enflata
1%
D. amazonicus
1%
Clytia sp.
1%
Outros
2%
Ostracoda
N.I.
T.
1%
turbinat
a
1%
Figura 3 – Dominância de táxons em relação a abundância total das amostras coletadas no dia 25/06/15.
Os índices de diversidade de Shannon, Simpson e a equitatividade foram calculadas a
partir dos indivíduos identificados utilizando os valores de densidade de organismos da classe
Copepoda, pois os mesmos foram identificados em nível de espécies, nas três campanhas de
coleta realizadas. Para Magurran (1998) aplicação de índices de diversidade como os de
Shannon, Simpson e a equitatividade, oferecem vantagem que permite interpretar mudanças
na comunidade estudada. Assim, pode-se atribuir uma diminuição na diversidade de uma
comunidade na sequência de um incidente a uma perda de poluição da riqueza, da
regularidade ou uma combinação destes. Na análise o índice apresentou uma variação de 0,25
(considerado baixo) a 3,4 (considerado alto) bits. Org. entre os meses de novembro de 2014,
fevereiro e junho de 2015.
10
Shannon
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
B1
B2
nov/14
B3
fev/15
B4
jun/15
.
Figura 4 – Variação do Indície de shannon em relação as amostras coletadas nas
campanhas de novembro de 2014 e fevereiro e junho de 2015
O índice de Simpson é uma das mais significativas medidas para a diversidade
disponíveis. Em essência, ele captura a variância da distribuição de abundância de espécies. A
medida varia de 0 a 1 e não é sensível a riqueza de espécies. (Magurran, 1998). Nas
campanhas realizadas esse índice apresentou uma variação entre 0,06 e 0,9. Como demonstra
o Gráfico 5.
Simpson
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
B1
B2
nov/14
B3
fev/15
B4
jun/15
Figura 5 – Variação do Indície de Simpson em relação as amostras coletadas nas
campanhas de novembro de 2014 e fevereiro e junho de 2015.
A equitatividade foi calculada com base nos índices de Shannon, e apresentou variação
entre 0,1 e 0,9. Segundo Martinelli-Filho (2007) para Equitatividade, os valores abaixo de 0,5
são considerados baixos, o que refletem em uma maior dominância de espécimes. Sendo a
equitatividade na campanha de fevereiro abaixo das demais, devido à presença Acartia
(Acanthacartia) tonsa que se comportou como dominante absoluto em relação aos demais
táxoms, como demonstra a figura 6.
11
Equitatividade
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
B1
B2
nov/14
B3
fev/15
B4
jun/15
Gráfico 6 – Variação dos valores de Equitabilidade em relação as amostras
coletadas nas campanhas de novembro de 2014 e fevereiro e junho de 2015.
12
PUBLICAÇÕES:
BRASIL, L. D., QUEIROS, A. F., MORAIS, L. M., SZÉCHY, M T. & MARTINELLI-FILHO,
J. E.
Estimativa da biomassa de Sargassum (Phaeophyceae: Fucales) durante
arribações massivas na costa amazônica. XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA DE PESCA. São Luiz- MA, 2015. (submetido).
ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NOS PRÓXIMOS MESES:




As coletas da fauna zooplanctônica devem continuar em intervalos trimestrais,
como o proposto no projeto.
O acompanhamento dos blooms algais, assim como sua estimativa de biomassa
e coleta amostral para seu sequenciamento genético e possível identificação da
espécie do género Sargassum.
Estimar a área e biomassa de eventuais manchas de Sargassum sp. que ocorram
na região.
Busca por mais fatores que expliquem ou relacionem o fenômenos dos Bloom
que vem correndo desde 2013 e escala quantidades cada vez maiores.
CONCLUSÃO:





Ocorreu um predomínio de organismos da classe Copepoda durante todo o período de
execução da pesquisa, tendo como espécies mais espressivas, Acartia (Acanthacartia)
tonsa, Parvocalanus crassirostris e Euterpina acutifrons.
Observou-se uma quantidade considerável de larvas de peixes, Decápodas e
Crustáceos, além de poliquetas e ouriços. O que caracteriza a região estuarina
estudada, como uma potencial área de Berçário.
A densidade média de 49.162 org.m -3 demonstra uma elevada quantidade de
organismos planctônicos presente na região, se comparado com outros trabalhos, de
regiões estuarinas referentes ao estado do Pará.
Na campanha de fevereiro, houve uma maior dominância de espécies que as demais
campanhas (como ilustra no gráfico 2), onde os indivíduos da espécie Acartia
(Acanthacartia) tonsa, representam aproximadamente 94% da abundância total
estimada para as estações. Relação que é demonstrada pelos índices de equitatividade
referente a campanha do mês de fevereiro.
Com o projeto ainda em execução, mais analises devem ser realizadas, para um maior
embasamento teórico na busca de possíveis relações de padronização.
13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL, L. D. et al. Estimativa da biomassa de sargassum (phaeophyceae: fucales)
durante arribações massivas na costa amazônica. XIX): CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA DE PESCA. São Luiz- MA, 2015.
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apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, 1972.
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Portuária do Recife (Pernambuco-Brasil). Tese (Doutorado em oceanografia) - Programa de
pós graduação em oceanografia. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2010.
14
TUNDISI, T. M. Estudo de diversidade de espécies de zooplâncton lacustre do
Estado de São Paulo. São Carlos: UFSCar, 1997.
DIFICULDADES 1. A falta de embarcações apropriadas para a coleta foi o fator mais problemático durante a
execução desse projeto. Tendo cada saída ter sido executada com uma embarcação
diferente.
2. A campanha de coleta do mês de junho ocorreu com atraso, pois não houve a liberação
do orçamento para o projeto em tempo hábil para a execução do cronograma proposto.
3. Na campanha de novembro de 2014, a coleta ocorreu em apenas 3 estações, devido a
precariedade da embarcação.
4. Na campanha de junho de 2015, novamente apenas houve a possibilidade de coleta em
3 estações, devido as condições climáticas oferecerem risco para os pesquisadores do
projeto.
15
PARECER DO ORIENTADOR: Manifestação do orientador sobre o desenvolvimento das
atividades do aluno e justificativa do pedido de renovação, se for o caso.
O aluno é bolsista do edital Progamas Especiais Interdisciplinares (edital n°09 de 2014,
PROESP/FADESP. O plano de iniciação científica teve inicío somente em Novembro de 2014,
portanto o aluno ainda não cumpriu um ano de bolsa. O projeto “Blooms de organismos nocivos
no litoral paraense: padrões, previsibilidade e sustentabilidade” será desenvolvido até Outubro
de 2016, sendo que mais da metade das saídas de campo ainda não foram realizadas.
Devido à essas características peculiares do edital e da longa pesquisa de campo
(coletas trimestrais), é necessário dar continuidade ao projeto de iniciação científica do aluno.
As próximas etapas trarão um volume maior de dados, além de resultados e discussão mais
elaborados.
DATA: ______/_________/________
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Dr. José Eduardo Martinelli Filho
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Arnaldo Fabrício dos Santos Queiroz
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