Favilla Gentil

Transcrição

Favilla Gentil
Memorial Poético
DE ALENQUER
Apresentação, pesquisa e notas por LUIZ ISMAELINO VALENTE
(IV)
favilla gentil
Nasceu em Belém, em 28 de outubro de 1898, Favilla
Gentil, o quarto dos cinco filhos de Joaquim Caetano
Viana Gentil e Emília Benvinda Pereira Gentil. Como
Alcides Gentil, seu irmão mais velho, Favilla também
revelou especial talento para a poesia, mas o seu forte
mesmo foi a música popular. Sem seguir, nos estudos e
na vida profissional, a rica trajetória de Alcides (que
ultrapassou o cenário da cultura local para projetar-se
no Rio de Janeiro e até internacionalmente), Favilla
passou quase toda a sua vida em Alenquer, onde seu
pai, além de coletor de rendas do Estado, foi comerciante e exportador de castanha, balata e outros gêneros
agrícolas produzidos em Alenquer naquela época.
Favilla militou ativamente na política partidária local,
filiado ao Partido Social Democrático (PSD), liderado
pelo general Magalhães Barata, que o nomeou para o
cargo de coletor de rendas (mesmo cargo anteriormente
exercido por seu pai) e o convidou várias vezes para ser
o candidato pessedista a prefeito, convites, todavia, sempre recusados.
Em Alenquer, Favilla tornou-se figura deveras legendária – como poeta, compositor, cantor, boêmio e, principalmente, personagem indefectível de memoráveis
serestas, que animava com a sua poderosa voz de barítono e os belos acordes do seu violão.
Favilla casou-se, em primeiras núpcias, com Maria
Augusta Nogueira Gentil, a Mariá, com a qual teve o
filho Pelaio Zênio (nome dado em homenagem a Pelaio,
outro irmão de Favilla). O primogênito do poeta nasceu
em 4 de julho de 1933, no sítio que a família mantinha
na praia da Saudade, às margens do lago Curumu.
Mariá faleceu no ano seguinte, ao dar à luz o segundo
filho do casal, que receberia o nome de Roberto, e que
também não sobreviveu ao nascimento.
No enterro de Mariá, Favilla Gentil levou os parentes e
amigos às lágrimas, ao cantar, à beira do túmulo,
acompanhado por ele próprio ao violão, a comovente
valsa Suprema Angústia, em que diz que as suas duas
vidas eram “agora uma só vida” e que a amada, “embora a julguem morta, não morreu.”
Quatro anos após a morte de Mariá, Favilla ainda mantinha muito viva a sua lembrança, a julgar pela foto do
estúdio Fidanza, de Belém, na qual o poeta escreveu
carinhosa dedicatória, datada de 18 de agosto de 1938,
“à presada comadre Liúca e distintas amiguinhas Mariquinha e Janoca, com a minha eterna gratidão e a imorredoura recordação da comadre Mariá.”
Favilla e sua primeira esposa Maria Augusta , a Mariá
(Foto Fidanza - cedida por Pelaio Zênio Gentil).
Observa-se, nessa dedicatória, escrita com uma caligrafia caprichada, que Favilla escreve o seu nome com dois
“eles”, atestando, assim, a sua correta grafia, bem como
a sua ascendência espanhola (por parte de mãe).
Anos depois da morte de Mariá, Favilla Gentil contraiu
segundas núpcias com Zara de Jesus Valente Gentil (tia
do autor destas notas), com quem teve nove filhos:
Roberto (em homenagem ao segundo filho, natimorto,
de Favilla com Mariá), Maria Augusta (também tratada
por Mariá, em homenagem à primeira esposa do poeta),
Hildete, Rivaldo, Helena, Danilo Itabaracy, Samaritana,
Heleno de Moema e Antônio Heleninho (Lilito).
Deixando o cargo de coletor de rendas em Alenquer,
Favilla mudou-se com a família, no final da década de
1950, para Macapá, onde foi muito ligado aos sobrinhos
Janary Gentil Nunes e Coaracy Gentil Monteiro Nunes,
filhos de sua irmã Laurieta e de Ascendino Monteiro
Nunes. Janary e Coaracy foram figuras de proa na
Administração Pública e na política partidária do estado vizinho, desde a criação do Território Federal do
Amapá. Em Macapá, Favilla trabalhou na ICOMI, a
empresa de Augusto Trajano Antunes, que explorava o
manganês na Serra do Navio.
Favilla Gentil morreu no Rio de Janeiro em 31 de janeiro de 1967, aos 68 anos de idade.
Em seus poemas, quase todos transformados em composições musicais, Favilla Gentil canta os reveses, as
desditas e as muitas desventuras pelas quais passou na
Memorial Poético
Favilla Gentil
Luiz Ismaelino Valente
da família Rente, que funcionava também como pensão,
na rua da Frente, onde os fiscais, que igualmente eram
poetas, estavam hospedados. Resultado: Cumaru e
Lima deixaram de lado os objetivos da viagem e voltaram a Belém encantados com o talento poético de Favilla, a ponto de publicarem, dias depois, em A Folha do
Norte, de Paulo Maranhão, o soneto que evoca a canção
Lágrima e em que definem Favilla como “o boêmio da
cidade” e “a alma sofredora de Alenquer”:
FAVILLA GENTIL,
O POETA DE LÁGRIMA
“Esse Favilla que verseja e canta
Lindas estrofes que comovem a gente,
Decerto tem um coração que sente
E que em Lágrima mágoas aquebranta.
Deu-lhe Deus esse fraco por presente,
Dotando-o de uma esplêndida garganta,
Eis a razão porque Favilla canta
Lindas estrofes que comovem a gente.
Na primeira década do século XX: Ascendino Monteiro Nunes e
sua mulher Laurieta Gentil Nunes, com os irmãos dela: Favilla
(em pé), Pelaio e Dinair. Além dos trajes de época, chamam a
atenção os dois belos exemplares caninos aos pés da família
(Foto cedida por Alcides Gentil Sobrinho, filho de Pelaio Gentil).
Nas noites de luar, nas serenatas,
Modula rimas e sonatas
Lembrando com ternura uma mulher.
vida. Sua extrema sensibilidade, só presente na alma
dos genuínos poetas, fez Favilla reconhecer, porém, que
os seus reveses eram infinitamente pequenos, se comparados à imensurável desdita do filho primogênito
(Pelaio Zênio), pois o viúvo outra esposa e outros filhos
poderá encontrar, mas o órfão, “que perdeu da mãe o
amor sublime / jamais o mesmo amor encontrará.”
Pelaio Zênio, o filho mais velho de Favilla, casou-se
com Iolanda Magalhães Gentil, de tradicional família de
Castanhal-PA, foi goleiro do Botafogo do Rio de Janeiro
em 1950, integrou a equipe campeã do Clube do Remo
de Belém em 1952 (apesar de torcer para o Paysandu),
defendeu em Alenquer o arco do Aningal Atlético Clube em 1953 e aposentou-se como funcionário do Banco
da Amazônia S/A.
Em depoimento prestado ao autor destas notas, em 21
de abril de 2007, na aprazível casa de sua filha Ellen, no
Condomínio Green Garden, em Ananindeua, Pelaio
Zênio, então com 74 anos de idade, contou que, na
década de 1940, Euclides Cumaru e Angeolino Lima,
fiscais da Fazenda Estadual, foram mandados a Alenquer para apurar denúncias feitas pelos adversários
políticos contra Favilla. O coletor, que deveria ser fiscalizado, logo promoveu uma animada seresta no casarão
E Favilla, o boêmio da cidade,
Revela, exprimindo uma saudade,
Ser a alma sofredora de Alenquer.”
No mesmo depoimento, Pelaio Zênio suscitou dúvidas
quanto à letra da canção A Casa da Piedade, cantada por
sua sobrinha Zara Gentil (neta de Favilla) e incluída no
CD Viva Alenquer (2002), com apresentação do escritor
Benedicto Monteiro, só com trabalhos de compositores
alenquerenses. Para Pelaio, a Casa da Piedade, mencionada na composição, seria, na verdade, a composição A
Praia da Saudade, evocação da casa de Favilla situada no
aprazível sítio de sua propriedade na praia da Saudade,
no lago Curumu, onde Pelaio veio ao mundo em 1933.
A dúvida suscitada por Pelaio pode ser procedente. Em
Alenquer, a única referência a uma “casa da Piedade” é
o chamado “cemitério velho”, o mais antigo campo
santo, situado no centro da cidade, que tem o nome de
Cemitério de Nossa Senhora da Piedade (em alusão aos
fundadores da cidade, oriundos da Província de Nossa
Senhora da Piedade, em Portugal), aliás retratada, num
belo óleo sobre tela, pelo pintor alenquerense José Luiz
Corrêa (quadro que hoje enriquece o acervo artístico do
MCA – Museu da Cidade de Alenquer).
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Memorial Poético
Favilla Gentil
É improvável que Favilla tenha realmente pretendido
evocar, na sua música maravilhosa, o “cemitério
velho”. Ao contrário, toda a letra dessa linda canção
nos remete impreterivelmente para o ambiente bucólico
da praia da Saudade, no lago Curumu, cuja paisagem
paradisíaca já fora imortalizada pelo poeta português
Francisco Gomes de Amorim (1827-1891), em sua peça
teatral O Cedro Vermelho (encenada no Teatro Dona
Maria II, em Lisboa, em 8 de maio de 1856, e publicado
em formato de livro em 1874).
O mais provável é que a tradição oral, como sói acontecer, tenha corrompido a letra da música de Favilla, que,
assim, chegou aos nossos dias com mais de uma versão.
Tanto é que, além da letra cantada por Zara Gentil no
CD antes referido, há uma versão, adiante transcrita,
coletada por João Raimundo dos Santos, ex-professor
do Grupo Escolar Fulgêncio Simões e natural do Curumu, que, salomonicamente, juntou a “casa da Piedade”
com a “praia da Saudade”. Se non è vero è bene trovato.
Outra polêmica que Pelaio Zênio levantou no mesmo
depoimento concedido ao autor destas notas, diz respeito à composição Ximanga Encantada, letra e música
de Favilla Gentil, que, no CD Viva Alenquer, ouve-se na
voz de Eliana Leite. Segundo Pelaio, tal composição
chegou a ser declarada hino oficial da cidade, por lei
municipal, na década de 1950, depois de vencer, em
disputa apertada, num concurso público, a composição
de Benedicto Monteiro (“Alenquer, Alenquer / Terra que
ninguém conhece...”), que, no mesmo CD, traz o título de
Hino de Alenquer, muito bem cantado por Eliana e Lídia
Leite e Marcílio Barile.
O descaso de alguns gestores
para com os arquivos da
municipalidade,
que,
em
várias ocasiões, sucumbiram
até mesmo a incêndios criminosos, não permitiram ao
autor destas notas, com toda a
isenção possível a um improvisado memorialista, passar a
limpo esse fato, pois, lamentavelmente, viraram cinzas toneladas de documentos oficiais
da Administração do município, inclusive os antigos livros
de registro de leis e decretos
Pelaio Zênio Gentil
municipais.
(Foto LIV, 2007).
Sabe-se, entretanto, que, nas
últimas décadas do século XX, após enquete realizada
por uma rádio de Alenquer, a composição de Benedicto
Monteiro foi oficializada pela Câmara de Vereadores,
passando a ser entoada como o hino oficial nos eventos
da cidade (muito embora quase sempre seguida da
composição de Favilla).
Luiz Ismaelino Valente
Zara de Jesus, com sua filha Helena, na praia da Saudade, às
margens do lago Curumu (Foto cedida por Helena Gentil).
Na modesta opinião do autor destas notas, tanto
Ximanga Encantada, de Favilla Gentil, como a composição de Benedicto Monteiro, pela beleza e singeleza das
letras e pela deliciosa simplicidade de suas linhas
melódicas, são emblemáticas de tudo o que de grandioso a pequenina Alenquer representa para o povo chimango. Ambas, portanto, merecem ser eternamente
lembradas e cultuadas pelos alenquerenses e amigos de
Alenquer, razão pela qual são transcritas, nos verbetes
dos respectivos autores, neste Memorial Poético, que,
muito embora de uma forma bastante rudimentar, tem
a alta pretensão de resgatar, para a posteridade, o canto
telúrico da Princesa do Surubiú.
Abaixo transcrevem-se as composições conhecidas de
Favilla Gentil, com a ressalva de que, tendo as mesmas
chegado aos nossos dias exclusivamente por tradição
oral, alguma(s) dela(s) pode(m) não corresponder fidedignamente à letra original do poeta e compositor:
XIMANGA ENCANTADA
“No Brasil existe
Uma linda cidade
Um ninho de amor
E de felicidade,
Terra de ximango
Abençoada por Jesus
Relíquia do Surubiú.
Ximanga encantada
Tu és a Princesa
Da graça e da beleza
De olhar feiticeiro,
És a pérola rara
Do brilhante colar
Dos mais lindos astros
Do Céu brasileiro.”
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Memorial Poético
Favilla Gentil
A CASA DA PIEDADE
Luiz Ismaelino Valente
Gota d’água de cristal, purificando a dor
Na vida emocional do nosso grande Amor!”
(na versão do CD Viva Alenquer)
“A Casa da Piedade tem
Uma porta e uma janela,
Um viveiro com canário tem
Um papagaio e um sabiá,
Um aquário com peixinhos de água doce
E uma cascata que faz chuá...
SUPREMA ANGÚSTIA
“Mariá, de ti nunca me esquecerei
Porque o amor, querida,
Imenso e eterno que entre nós nasceu
De nossa vida – já uma só vida –,
Que embora a julguem morta,
Não morreu.
Na Casa da Piedade
Pode quem quiser morar,
Um contrato permanente
A condição a combinar...
Vinte minutos, não é longe da cidade
Quem quer morar na Casa da Piedade?”
A suprema angústia
Que me deixaste, morta adorada,
Enquanto tua alma se evolava para o Céu,
Eu guardo no sacrário
Da minha alma torturada,
Porque o coração
Que tu levaste foi o meu...
A CASA DA PIEDADE
(na versão colhida pelo Prof. João Raimundo)
Para o teu filho
A orfandade é triste e torturante
E para mim esta saudade
É amarga e iniciante...
O nosso amor perpetuamente ressuscitará
Porque hás de viver em minhas preces
E o teu nome nos meus versos viverá.”
“Tem lindos arvoredos, tem
Lá na Praia da Saudade.
Uma casa com varanda, tem
Um papagaio e um sabiá.
Quando é noite a branca lua vem brilhar
E o violão do seu Favilla a soluçar.
Na casa da Piedade tem
Uma porta e uma janela,
Um viveiro com canário tem
Um papagaio e um sabiá,
Um aquário com peixinhos de água doce
Em uma cascata que faz chuá...
O MAIS INFELIZ
“No aniversário do meu adorado Zênio, o culto sagrado que
me merece a Santa da minha regeneração, sua idolatrada e
pranteada mamãezinha”:
Na Praia da Saudade
Pode quem quiser morar,
Um contrato permanente
A condição a combinar.
Vinte minutos, não é longe da cidade,
Quem quer morar na Casa da Piedade?
Vinte minutos, não é longe da cidade,
Quem quer morar lá na Praia da Saudade?”
“Perdi meu filho!” – exclama desolado
Um triste pai. “E a esposa encantadora
A morte me roubou.” – desesperado,
Um viúvo se lamenta e a dor deplora.
“E eu mãe não tenho mais!” – abandonado,
Brada o filho, e soluça, geme e chora...
E assim os dois, sentados lado a lado,
Sofrem da dor a angústia esmagadora.
LÁGRIMA
“Lágrima é a pérola desfeita
Rolando pelo rosto de uma alma insatisfeita.
Lágrima ardente – gota d’água,
Dolorosa expressão de minha grande mágoa.
Mas nenhum como o órfão se maldiz,
Nenhum a dor com tanta angústia exprime...
É que outro filho o pai fará feliz,
É que outra esposa o viúvo alegrará,
E o que perdeu da mãe o amor sublime
Jamais o mesmo amor encontrará!...”
Lágrima, essência da amargura,
Tragada muitas vezes no cálice da ternura.
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Memorial Poético
Favilla Gentil
LONGE DE TI
Luiz Ismaelino Valente
Chorando
Tu disseste “serei tua”
E na tua boca
Um beijo eu dei à luz da lua.
“Longe de ti, sem os teus carinhos,
Sem teus beijos de amor, feitos de ternura,
Sinto a cruciante saudade que minha alma invade
Retalhando meu ser nesta tortura.
Chorando
Ela me deu seu coração
Cabocla bonita,
Linda flor do meu sertão!”
Longe de ti, longe de meus filhinhos,
Que não me podem, coitadinhos, consolar,
Sinto uma ânsia incontida de chorar
Imerso na tristeza da luz crepuscular.
VENDO A LAGOA
Quando eu voltar não sei quando ao nosso lar
Iremos juntinhos, então, recordar,
Todos os transes desta cruel separação.
“Tu não estás vendo a lagoa
Naquela baixa acolá?
Olha, chega na ribeira,
Espia, que tu verás
A cara da tua cara
Lá no fundo a te espiar.
Aquilo que fez contigo
Faz com outro que vier,
Após olhar esta lagoa,
O coração da mulher...”
E sob a emoção da alma ferida e amargurada,
Revivendo a dor atroz desta jornada,
Quero ter a minha alma acalentada
Pelas carícias de teus beijos, minha amada!”
CARINHO
“Jamais esquecerei teu carinho, amor.
Jamais olvidarei tua lágrima de dor.
PARA NUNCA MAIS
OUVIR MEU CORAÇÃO CHORAR
Somente quem sabe amar
É capaz de compreender
Que uma lágrima a rolar,
Do teu meigo e lindo olhar,
Simboliza, minha querida,
A razão de ser da minha vida.
“Quero molhar com meus beijos
Teus lábios que me atraem.
Com tua carícia em flor,
Minha vida elevar...
Quero com a luz dos teus olhos
Meu samba cantar ao luar,
Para nunca mais ouvir meu coração chorar.
Não sabes quanto custa um coração sofrer.
Não sabes e nem queres compreender.
Escuta o que tenho a te dizer, meu amor,
Só teu coração pode entender.”
Seremos bem felizes
No nosso sofrimento
Confio no teu amor
Amparo do meu tormento;
Teremos para a dor
No sangrar da alma ferida
O nosso sublime amor
A razão de ser da nossa vida.”
SE QUISER ME DAR
“Se quiser me dar, me dê,
Se não quiser me dar, me diga.
Prometer pra não fazer
É conversa muito antiga.
O beijo que você prometeu
Mas que nunca você me deu
Quero que me dê agora
Minha alma é que te implora
A ânsia que devora
Um beijo prolongado
Ardente e apaixonado.”
NA CAPOEIRA
“Na capoeira,
Ao luar, te vi chorando,
Cabocla bonita...
Desde então fiquei te amando.
Na capoeira,
Ao luar, te vi chorando,
Quando me disseste adeus
Cabocla dos sonhos meus...
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Memorial Poético
Favilla Gentil
Luiz Ismaelino Valente
MEU SÃO JOÃO
O destino assim o quer.
“Meu São João este ano me atenda,
Dou-lhe um pano de renda
Para por no seu altar.
Por piedade, elimine essa tortura,
Suavize esta amargura
Pelo amor desta mulher!...”
Faz três anos
que no adro da capela
Eu acendo uma vela para o iluminar
PÁTRIA
“Pátria és tu, meu lar querido,
Templo do amor, armado na floresta,
És a razão da minha vida,
Vitória-régia de uma natureza em festa.
E a seus pés permaneço de joelhos
Tendo os meus olhos vermelhos
Tendo a dor no coração...
E eu lhe rogo, pela quarta vez imploro,
Seque as lágrimas que choro,
Tenha pena São João!
Pátria és tu, meu lar querido,
Onde eu vivi com os meus pais,
Pátria é também um amor perdido
Que não se encontra nunca mais.
O tempo passa mas a mágoa não me deixa
Eis aí a minha queixa
Ouça bem meu São João.
Brasil, és a pátria da saudade
Edificada sobre pedras preciosas.
És o sacrário da felicidade
Feito de risos e de rosas.
E eu lhe peço pela mulher que me adora,
Pela mulher que por mim chora,
E por quem tenho paixão.
És a Terra da Santa Cruz
Erguida no teu belo céu de anil,
Feita de glória e de luz
Pátria és tu, oh! meu Brasil!”
As nossas almas que vivem abraçadas
Porém vivem separadas
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