O emprego dos meios blindados da Cavalaria no
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O emprego dos meios blindados da Cavalaria no
Maj Cav ARTHUR MÁRCIO RIGOTTI O emprego dos meios blindados da Cavalaria no combate urbano Rio de Janeiro 2007 Maj Cav ARTHUR MÁRCIO RIGOTTI O EMPREGO DOS MEIOS BLINDADOS DA CAVALARIA NO COMBATE URBANO Dissertação apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito para a obtenção do título de mestre em Ciências Militares. Orientador: Maj Inf Luis Cláudio de Mattos Basto Rio de Janeiro 2007 R 565 Rigotti, Arthur Márcio. Emprego dos meios blindados da cavalaria no combate urbano. /Arthur Márcio Rigotti. – 2007. 151f. ; il. : 30 cm. Dissertação (Mestrado) – Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2007. . Bibliografia: f. 148-151. 1 . Emprego. 2. Blindados. 3.Combate Urbano. I. Título. CDD 357.5 2 Maj Cav ARTHUR MÁRCIO RIGOTTI O EMPREGO DOS MEIOS BLINDADOS DA CAVALARIA NO COMBATE URBANO Dissertação apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito para a obtenção do título de mestre em Ciências Militares. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA __________________________________________________________ Luis Cláudio de Mattos Basto - Maj Inf - Dr. Presidente Escola de Comando e Estado Maior do Exército __________________________________________________________ Adalberto de Oliveira Franco – Ten Cel Cav – Mestre Membro Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais __________________________________________________________ Ubirajara Brandt Rodrigues - Maj Cav – Mestre Membro Escola de Comando e Estado Maior do Exército 3 À minha esposa e filhos dedico especial homenagem compreensão na trabalho monográfico. pelo apoio execução e deste 4 AGRADECIMENTOS Ao Major Luis Cláudio de Mattos Basto meus sinceros agradecimentos pela orientação clara e objetiva na realização deste trabalho. Aos amigos Tenente Coronel Adalberto de Oliveira Franco e Major Ubirajara Brandt Rodrigues pelo incentivo e participação na banca examinadora. Aos amigos Major Paulo Roberto Rodrigues Pimentel e Major Rogério Cetrim de Siqueira, pelo apoio na tradução de artigos e manuais e na transmissão de conhecimentos imprescindíveis à execução desta dissertação. Aos oficiais integrantes do Centro de Instrução de Blindados e do Centro de Instrução de Operações de Paz, pelo apoio prestado na elaboração deste trabalho. Aos Comandantes de Organizações Militares e aos oficiais de Cavalaria do Curso de Comando e Estado Maior e do Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército pela colaboração no preenchimento do questionário da pesquisa de campo. Aos meus familiares, minha gratidão pelo incentivo e dedicação. 5 “Nós não podemos nos dar ao luxo de esperar por mais amanhãs antes de desenvolvermos uma doutrina de Operações Militares em Áreas Urbanas” (Michel J. Dormeyer, Mestre da Escola de Comando e Estado Maior do Exército dos EUA - 2001). 6 RESUMO O presente trabalho tem como tema o emprego dos meios blindados brasileiros no combate urbano. Seu objetivo é verificar se esses elementos possuem condições de operar naquele ambiente, em virtude do material em uso e em sintonia com a doutrina vigente. O estudo desenvolveu-se fundamentado em uma pesquisa bibliográfica, documental e de opinião. A coleta do material foi realizada por meio de consultas à biblioteca da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), ao Centro de Instrução de Blindados (CIBld), ao Centro de Instrução de Operações de Paz (CIOPAZ), aos noticiários de jornais e de revistas nacionais e estrangeiras; de dados e relatórios do Exército Brasileiro e de exércitos de outras nações; de questionários; de formulários e por meio de acesso à rede mundial de computadores (Internet). São apresentados comentários sobre o cenário mundial da atualidade, caracterizando a crescente evolução do emprego de blindados nos combates em ambientes urbanizados a partir da última década do século passado, além de alguns confrontos ocorridos na história, particularmente a partir da Segunda Guerra Mundial. São abordados aspectos doutrinários referentes às atividades bélicas desenvolvidas por forças nacionais e estrangeiras, que de alguma forma pudessem contribuir para a elucidação do problema apresentado, bem como as lições aprendidas por estas forças. São apresentadas, também, as possibilidades e as limitações de forças blindadas no combate em área edificada, analisando-se a viabilidade de seu emprego. Na conclusão, as idéias levantadas ao longo do trabalho são ratificadas, enfatizando-se a necessidade da modernização dos meios blindados e o melhor adestramento das suas guarnições, visando a possibilidade de emprego no combate em localidade. Palavras-chave: Emprego. Blindados. Combate urbano. 7 RESUMEN El presente trabajo tiene como tema el empleo de los medios acorazados brasileños en el combate urbano. Su objetivo es verificar si esos elementos poseen condiciones de operar en aquel ambiente, en virtud del material en uso y en sintonía con la doctrina vigente. El estudio se desarrolló basado en una investigación bibliográfica, documental y de opinión. La recolección del material fue realizada por medio de consultas a la biblioteca de la Escuela de Comando y Estado-Mayor del Ejército (ECEME), al Centro de Instrucción de Acorazados (CIBld), al Centro de Instrucción de las Operaciones de Paz (CIOPAZ), a noticias de periódicos y de revistas nacionales y extranjeras; de datos y de informes del Ejército Brasileño y de ejércitos de otras naciones; de pesquisas; de formularios y con el acceso a la red mundial de ordenadores (Internet). Son presentados comentarios sobre el escenario mundial de la actualidad, caracterizando la creciente evolución del empleo de los acorazados en los combates en ambientes urbanizados a partir de la última década del siglo pasado, además de algunas peleas ocurridas en la historia, particularmente a partir de la Segunda Guerra Mundial . Tratase de los aspectos doctrinarios respecto a las actividades guerreras desarrolladas por fuerzas nacionales y extranjeras, que de cierta manera podrían contribuir para aclaración del problema presentado, bien como las enseñanzas recogidas por estas fuerzas. También se presentan las posibilidades y las limitaciones de fuerzas acorazadas en el combate en área construida, analizando la viabilidad de su empleo. En la conclusión, las ideas levantadas a lo largo del trabajo se ratifican, haciendo énfasis en la necesidad de modernizacion de los medios acorazados y el mejor adestramiento de sus equipos, en vista de la posibilidad de empleo en el combate en área construida. Palabras-llave: Empleo. Acorazados. Combate Urbano. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Tropas blindadas americanas em Bagdá 2004 --------------------- 20 Figura 02 - Panzerkampfwagen III ou Panzer III --------------------------------- 27 Figura 03 - Panzer IV -------------------------------------------------------------------- 29 Figura 04 - Batalha de Stalingrado --------------------------------------------------- 30 Figura 05 - Tropas alemãs em posições defensivas em Stalingrado -------- 33 Figura 06 - Camaradas em festa: ainda queimando, Stalingrado volta a ver pavilhão soviético tremular ---------------------------------------------- 34 Figura 07 - Afrika Korps ----------------------------------------------------------------- 35 Figura 08 - VBI X-3 A1 Achzarit (Cruel) israelense ------------------------------ 38 Figura 09 - Observadores canadenses da UNEF na fronteira entre Israel e Egito. -------------------------------------------------------------------------- 38 Figura 10 - Patrulha americana em ponto forte ----------------------------------- 39 Figura 11 - Somália, 1993. -------------------------------------------------------------- 41 Figura 12 - M998 High Mobility Multipurpose Wheeled Vehicle (blindado leve "Humvee") ------------------------------------------------------------- 43 Figura 13 - HUMVEE atingido por RPG --------------------------------------------- 44 Figura 14 - Carros blindados russos destruídos nas ruas de Grosny ------- 45 Figura 15 - Carro de combate russo ------------------------------------------------- 46 Figura 16 - Grupo progredindo sob a proteção blindada do M1 Abrams --- 51 Figura 17 - M1A1 Abrams -------------------------------------------------------------- 52 Figura 18 - M2 Bradley no Iraque ---------------------------------------------------- 53 Figura 19 - M2A3 Bradley --------------------------------------------------------------- 53 Figura 20 - Um Stryker do exército dos EUA durante o desembarque dos soldados ---------------------------------------------------------------------- 54 Figura 21 - Um Stryker em patrulha no Iraque ------------------------------------- 55 Figura 22 - Stryker destruído por RPG em Mosul 28.03.04 -------------------- 55 Figura 23 - Versão TUSK do CC M-1 A2 Abrams --------------------------------- 57 Figura 24 - Componente de visão termal -------------------------------------------- 57 Figura 25 - Blindado adaptado com lâmina para remoção de obstáculos -- 59 Figura 26 - X-3A1 Achzarit (Cruel) ---------------------------------------------------- 60 Figura 27 - Nagmachon israelense usado no combate urbano --------------- 60 9 Figura 28 - Achzarit atuando no interior de uma cidade israelense ----------- 62 Figura 29 - Merkava Mk 1 --------------------------------------------------------------- 63 Figura 30 - Merkava Mk 2 --------------------------------------------------------------- 64 Figura 31 - Merkava Mk 3 --------------------------------------------------------------- 64 Figura 32 - Merkava Mk4 ---------------------------------------------------------------- 65 Figura 33 - Kit para combate urbano instalado no Merkava Namera -------- 66 Figura 34 - VBTP Striker protegida com gaiolas ---------------------------------- 67 Figura 35 - Sistema de proteção ativa Trophy israelense instalado no Merkava ---------------------------------------------------------------------- 67 68 Figura 36 - Viatura blindada leve Stryker com sistema de proteção ativo -- Figura 37 - Visão do interior do Merkava adaptado para evacuação de feridos ------------------------------------------------------------------------ 68 Figura 38 - Partes externas do M60 A3 TTS -------------------------------------- 70 Figura 39 - M60 A3 TTS ---------------------------------------------------------------- 71 Figura 40 - Munição de energia cinética (“flecha”) ------------------------------ 72 Figura 41 - Leopard 1A1 --------------------------------------------------------------- 74 Figura 42 - EE-9 Cascavel ------------------------------------------------------------- 77 Figura 43 - EE11 Urutu patrulhando ruas de Porto Príncipe ------------------ 80 Figura 44 - Blindados americanos em formação de “caixa” no combate Figura 45 - urbano ------------------------------------------------------------------------ 91 Progressão de CC / Fuz no interior de uma localidade ---------- 100 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Opinião dos oficiais sobre a execução de exercícios empregando blindados no combate urbano. ------------------------------------------------ 125 Gráfico 02 - Opinião dos oficiais sobre a adequabilidade dos meios blindados no combate urbano. -------------------------------------------------------------- 126 Gráfico 03 - Limitações dos blindados no combate urbano (resultado final). ------ 127 Gráfico 04 - Meios blindados desempenham papel decisivo na conquista de localidades (assertiva). ---------------------------------------------------------- 128 Gráfico 05 - Doutrina de combate urbano está adequada ao combate moderno-- 129 Gráfico 06 - Importância da experimentação doutrinária do emprego de blindados. --------------------------------------------------------------------------- 130 Gráfico 07 - Realização de trabalhos relativos ao emprego de blindados no combate urbano. ------------------------------------------------------------------ 131 Gráfico 08 - Realização de exercícios de adestramento de combate urbano. ---- 132 Gráfico 09 - Formas de adestramento da tropa. ------------------------------------------ 133 Gráfico 10 - Adequação dos blindados (por tipo de emprego). ------------------------ 134 Gráfico 11 - Grau de importância da pesquisa. ------------------------------------------- 135 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AAC Arma Anticarro AAu Arma Automática Atq Ataque Aux At Auxiliar do Atirador Bld Blindado CAAdEx Centro de Avaliação de Adestramento do Exército Can Canhão Cav Cavalaria CC Carro de Combate Cia Companhia CIBld Centro de Instrução de Blindados Cmdo Comando Cmt Comandante COTER Comando de Operações Terrestres EB Exército Brasileiro EME Estado-Maior do Exército EsAO Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais Esqd Esquadrão Exe T Exercício no Terreno FT Força-Tarefa Fuz Fuzileiro GC Grupo de Combate GLO Garantia da Lei e da Ordem Gp Grupo 12 Inf Infantaria Ini Inimigo Mot Motorista Mrt Morteiro Mtr Metralhadora Mun Munição OM Organização Militar Pç Ap Peça de Apoio Pç Mrt Peça de Morteiro Pel Fuz Bld Pelotão de Fuzileiros Blindados PP Programa Padrão PPA Programa Padrão de Adestramento PPA/CAV-1 Programa Padrão de Instrução de Adestramento Básico das Unidades de Cavalaria QBN Química, Biológica e Nuclear QCP Quadro de Cargos Previstos QDM Quadro de Dotação de Material RCB Regimento de Cavalaria Blindado Rec Reconhecimento TTP Técnicas, Táticas e Procedimentos Seç Seção VBC Viatura Blindada de Combate VBR Viatura Blindada de Reconhecimento VBTP Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Vtr Viatura 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------- 16 1.1 JUSTIFICATIVA ----------------------------------------------------------------- 17 1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA ---------------------------------------------------- 20 1.3 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA --------------------------- 20 1.4 HIPÓTESES ---------------------------------------------------------------------- 21 1.5 SUBQUESTÃO DE PESQUISA --------------------------------------------- 22 1.6 REFERENCIAL TEÓRICO --------------------------------------------------- 22 1.7 OBJETIVO DO ESTUDO ------------------------------------------------------ 23 1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ---------------------------------------------- 23 2 EMPREGO DE BLINDADOS NOS COMBATES URBANOS NA HISTÓRIA ------------------------------------------------------------------------25 2.1 CAMPANHAS DA SEGUNDA GRANDE GUERRA -------------------- 26 2.1.1 A conquista da Polônia ------------------------------------------------------ 26 2.1.2 A campanha da França ------------------------------------------------------ 27 2.1.3 Derrota alemã em Stalingrado --------------------------------------------- 29 2.1.4 A campanha do Mediterrâneo --------------------------------------------- 34 2.2 COMBATE URBANO APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL --- 36 2.2.1 Conflitos no Oriente Médio ------------------------------------------------- 37 2.2.2 Tropas da ONU na Somália ------------------------------------------------- 40 2.2.3 O desastre de Grozni --------------------------------------------------------- 44 2.3 CONCLUSÃO PARCIAL ------------------------------------------------------ 47 3 MEIOS BLINDADOS E O COMBATE URBANO ----------------------- 50 3.1 BLINDADOS UTILIZADOS PELO EXÉRCITO AMERICANO ------- 50 3.1.1 Características das viaturas blindadas --------------------------------- 50 14 3.1.2 Principais adaptações para o combate urbano ---------------------- 56 3.2 MEIOS BLINDADOS DO EXÉRCITO ISRAELENSE ----------------- 59 3.2.1 Características das viaturas blindadas --------------------------------- 60 3.2.2 Adaptações para o combate urbano ------------------------------------ 64 3.3 BLINDADOS EM USO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO ------------- 68 3.3.1 Blindados sobre lagartas --------------------------------------------------- 69 3.3.2 Blindados sobre rodas ------------------------------------------------------- 76 3.4 CONCLUSÃO PARCIAL ------------------------------------------------------- 80 4 DOUTRINA DE EMPREGO DOS BLINDADOS NO COMBATE URBANO -------------------------------------------------------------------------84 4.1 A DOUTRINA NORTE-AMERICANA --------------------------------------- 84 4.1.1 Formação e manobra dos blindados no combate urbano ------- 88 4.1.2 Principais ensinamentos ---------------------------------------------------- 92 4.2 LIÇÕES APRENDIDAS POR OUTROS PAÍSES ----------------------- 94 4.3 A DOUTRINA BRASILEIRA -------------------------------------------------- 96 4.3.1 Emprego de blindados nas operações urbanas --------------------- 97 4.4 SIMULAÇÃO DE COMBATE URBANO ----------------------------------- 102 4.5 CONCLUSÃO PARCIAL ------------------------------------------------------- 104 5 ADEQUABILIDADE DOS MEIOS BLINDADOS DA CAVALARIA PARA O COMBATE URBANO ---------------------------------------------108 5.1 POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES ----------------------------------------- 108 5.2 VISUALIZAÇÃO DOS BLINDADOS NO COMBATE URBANO ----- 113 5.3 POSSÍVEIS RUMOS PARA A MODERNIZAÇÃO --------------------- 118 5.4 CONCLUSÃO PARCIAL ------------------------------------------------------- 120 6 METODOLOGIA E RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO -- 122 6.1 PARTICIPANTES --------------------------------------------------------------- 123 6.2 MATERIAL ------------------------------------------------------------------------ 124 15 6.3 PROCEDIMENTOS ------------------------------------------------------------- 124 6.4 RESULTADOS ------------------------------------------------------------------- 125 6.4.1 Questão Nº 01 ------------------------------------------------------------------- 125 6.4.2 Questão Nº 02 ------------------------------------------------------------------- 126 6.4.3 Questão Nº 03 ------------------------------------------------------------------- 127 6.4.4 Questão Nº 04 ------------------------------------------------------------------- 128 6.4.5 Questão Nº 05 ------------------------------------------------------------------- 129 6.4.6 Questão Nº 06 ------------------------------------------------------------------- 130 6.4.7 Questão Nº 07 ------------------------------------------------------------------- 131 6.4.8 Questão Nº 08 ------------------------------------------------------------------- 132 6.4.9 Questão Nº 09 ------------------------------------------------------------------- 133 6.4.10 Questão Nº 10 ------------------------------------------------------------------- 134 6.4.11 Questão Nº 11 ------------------------------------------------------------------- 135 6.5 RELATÓRIO DA PESQUISA ------------------------------------------------- 136 7 CONCLUSÃO ------------------------------------------------------------------- 138 REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------ 148 16 1. INTRODUÇÃO A guerra moderna e o desenvolvimento tecnológico, em armas e equipamentos, sugerem um aperfeiçoamento necessário à doutrina e material aplicados no combate em ambiente urbano. Desta forma, deve-se ressaltar a importância da pesquisa, observação e análise das operações nestes ambientes e a conquista das localidades, como fator decisivo para as ações ofensivas. As experiências vividas por outros exércitos devem servir de alerta para que se dê a devida atenção aos meios e técnicas utilizadas no investimento em centros urbanos. É importante que se aprenda com os erros e acertos daqueles que passaram por tal experiência, levantando-se as dificuldades e as limitações impostas ao se defrontar e ter que combater no interior de vilas, bairros ou cidades. Assim, de acordo com as experiências práticas vividas, nos ataques norteamericanos em Bagdá, na 2ª Guerra do Golfo, observou-se que, apenas a moderna tecnologia e poderosos armamentos não são suficientes para uma vitória definitiva em um combate urbano. No caso referenciado, os rebeldes remanescentes permaneceram em condições de conduzir uma guerra irregular, utilizando-se de meios terroristas, conforme análise de especialistas, que resumiram em artigo: “Segundo estudos recentes, é crescente a tendência de uma elevada migração das massas populacionais em direção aos grandes centros urbanos, e isso leva a crer que por volta de 2025, cerca de 85% da população mundial residirá em cidades; isto é preocupante pois o combate urbano é o tipo de ofensiva militar mais difícil que existe, porque as tropas defensivas contam com vantagens capazes de neutralizar a força e a tecnologia” (Tropas de Elite, 2006). O assunto em pauta, por ser atual e dinâmico, avulta de importância para a Força Terrestre e abre tema para discussão e reflexão, tendo em vista a deficiência de maiores estudos do assunto nas escolas militares, seja de formação ou aperfeiçoamento, além das restritas fontes de consulta e manuais que tratam especificamente do emprego de meios blindados no combate urbano, suas técnicas e equipamentos peculiares. 17 O trabalho foi elaborado por meio de uma série de etapas, após a formulação do problema, buscando-se soluções, através de pesquisas, processamento e interpretação de dados existentes e inerentes à questão formulada. Neste contexto, esta seção foi subdividida com a finalidade de facilitar a compreensão do conteúdo pesquisado e situar os leitores, preparando-os para as seções subseqüentes. Assim, a primeira subseção apresentará a importância do estudo realizado e a justificativa para o trabalho. A segunda subseção delimitará o tema, focando o problema. A terceira descreverá a situação problema. A quarta discorrerá sobre as hipóteses levantadas. A quinta subseção indicará a subquestão de pesquisa. A sexta apresentará o referencial teórico utilizado na pesquisa. A sétima subseção explicitará o objetivo e as contribuições do presente estudo. Por fim, na última subseção, o leitor tomará conhecimento das partes constitutivas deste estudo e sua organização textual, para melhor compreensão e preparação para as demais seções. 1.1 JUSTIFICATIVA A dinâmica do combate moderno, que vem sendo observada em conflitos atuais, tem demonstrado a real importância da conquista de localidades e do combate em ambiente urbano no curso das ações ofensivas, nas operações de garantia da lei e da ordem (GLO) ou forças de paz, empreendidas em determinado Teatro de Operações (TO). O Exército Brasileiro não vivenciou na atualidade uma situação real em que se visse obrigado a conquistar locais povoados ou combater em ambientes urbanos, estando a doutrina e o material muito defasados da atual realidade de exércitos em constante emprego, muito embora as Forças de Paz, de que o Brasil tem participado ou liderado, deram uma noção das dificuldades deste tipo de ação, como no caso recente das tropas no Haiti, servindo de base para experimentação, formulação de doutrina e adequação do emprego de materiais. No intuito de se alcançar os objetivos propostos, faz-se necessário consultar os manuais em uso no Exército, particularmente os de Cavalaria, além das Organizações Militares da arma, que podem emitir opiniões valiosas e experiências referentes ao assunto. A questão do emprego de meios blindados no interior de localidades, por ser polêmica, tem sido tema de discussões em todos os níveis e 18 pode-se observar certa deficiência doutrinária quanto às operações em ambientes urbanos, ainda prevalecendo a idéia pregada nos antigos manuais, onde o combate em localidades restringe-se ao cerco e isolamento de áreas habitadas, desviando-as preferencialmente, não estabelecendo regras de engajamento ou formas de manobra no interior das mesmas, deixando um perigoso hiato no investimento à localidade, principalmente na viabilidade do uso de viaturas blindadas para este fim. Segundo um relatório emitido pelo CAADEx, após a execução do I Simpósio de Combate em Área Edificada, as forças blindadas têm papel fundamental na conquista de localidades, pois suas características de potência de fogo, mobilidade e proteção blindada podem conduzir as tropas mais eficazmente para a vitória. Além disso, recentes prospecções para a guerra do futuro, segundo Hahn II (2001)1, demonstram que a maioria dos conflitos desenvolver-se-á em áreas urbanizadas ou edificadas, já que a tendência atual aponta para um crescimento destas áreas em todo o mundo. Neste mesmo artigo, cita como exemplo os recentes conflitos ocorridos no Oriente Médio e nos Balcãs, além das guerras civis em pequenos países onde a Organização das Nações Unidas (ONU) mantém tropas de estabilização e manutenção da paz. Apesar da crescente importância do ambiente urbano na guerra moderna, segundo ECEME (2005), tem-se observado que muitos exércitos regulares não parecem fazer um esforço eficaz para um treinamento específico, ficando a doutrina submetida às experiências vividas por outros exércitos, os quais tiveram que se preparar adequadamente, após o trauma do envolvimento urbano, como por exemplo, os norte-americanos, russos, ingleses e israelenses. Ainda segundo Hahn II, o temor pelo uso de meios potentes de destruição, como blindados e canhões, no interior das cidades é explicado, em parte, pela influência cada vez maior da opinião pública mundial e da tecnologia da informação no campo de batalha. Estes instrumentos limitam a liberdade de ação para que se utilizem aqueles meios por determinado país, sob risco de ser acusado de genocídio ou de destruição de patrimônios da humanidade, podendo vencer o conflito armado e ser derrotado no campo diplomático. Por outro lado, de acordo com os mais preparados exércitos da atualidade e segundo Brasil (1997), um conflito deve ser __________ 1 HAHN II, Robert F. Tenente-Coronel (TC) do Exército dos EUA (2001) em O Combate Urbano e o Combatente Urbano de 2025, disponível na homepage Tropas de Elite. 19 resolvido no mais curto prazo possível, a fim de se preservar ao máximo as vidas humanas, com ações que primem pela utilização da massa e de operações ofensivas decisivas onde o inimigo se apresente com maior deficiência. Surge, portanto, um questionamento: como empregar da melhor forma meios blindados no interior de localidades, sem causar muitos danos à população e às edificações, porém com a necessidade de rapidez e decisão no momento do combate? Além desse quesito deve-se lembrar que, ainda segundo análise de Hahn II (2001) e Jezior2, o inimigo estará defendendo em melhores condições no interior de uma área edificada, podendo estabelecer linhas de defesa anticarro que podem engajar os blindados com grande eficiência a distâncias regulares e, mesmo estando em desvantagem numérica ou de tecnologia, poderá prolongar o combate conduzindo uma guerra irregular. Outro problema que as tropas atacantes devem resolver diz respeito à identificação do inimigo, que muitas vezes estão descaracterizados e permeados na população civil. Apesar de todas as dificuldades citadas anteriormente, seria lícito supor que é inevitável, no contexto atual, a ocorrência deste tipo de confronto e de forma muito intensa, como vem ocorrendo atualmente no Iraque. Assim, esse trabalho se justifica pela necessidade de se procurar soluções para o pleno aproveitamento dos meios blindados do Exército Brasileiro, consoante com os fundamentos doutrinários do combate urbano, dos manuais em uso nos corpos de tropa e nas escolas de formação e aperfeiçoamento, aproveitando experiências de forças internacionais em constante emprego, como os exércitos dos Estados Unidos da América, Rússia, Inglaterra, Alemanha, Israel e outros, que, no transcurso da história, empregaram meios blindados diversos na conquista de localidades. Da mesma forma, a presente pesquisa procurará expor as circunstâncias atuais que englobam a utilização de meios blindados no interior de cidades e as possíveis formas de atuação, suas técnicas, táticas e procedimentos, enfatizando a necessidade destes elementos no combate moderno. __________ 2 JEZIOR, Bonnie. Designada para a Escola de Guerra do Exército dos EUA no período 1996-98 e participou de estudos sobre o Exército do Futuro, primeiramente como aluna e depois como membro docente. 20 Figura 01 - Tropas blindadas americanas em Bagdá, no Iraque, em 2004 Fonte: TROPAS DE ELITE (2006). 1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA Esse trabalho tem como finalidade precípua chegar à conclusão sobre a adequabilidade dos meios blindados em uso pelo Exército Brasileiro, particularmente pela arma de Cavalaria, em um quadro de guerra urbana. Neste sentido, serão considerados todos os meios blindados das diversas naturezas de tropa de Cavalaria, de transporte de pessoal, reconhecimento ou de combate, os quais, depois de analisados, serão classificados em apropriados ou não apropriados para o combate urbano. Para atingir-se este propósito algumas hipóteses serão levantadas, seguindo-se os fundamentos doutrinários das operações urbanas, identificando as possibilidades e limitações dos meios blindados neste tipo de operação e de que forma outros exércitos em constante emprego trabalham, atualmente, para solucionar este problema. A fim de retificar ou ratificar as hipóteses aventadas, o trabalho dará ênfase aos meios blindados em uso atualmente pela Cavalaria do Exército Brasileiro, sem a pretensão de esgotar o assunto, mas dando uma visão atual a esta temática tão importante e polêmica nos dias atuais. 1.3 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA “Meus soldados ficam dentro de veículos, são treinados para lutar de dentro deles e suas armas são especialmente adequadas para o combate a um inimigo móvel em território aberto. Não disponho de recursos humanos nem de treinamento ou de equipamento adequados à luta urbana”. (Texto Complementar Combate em Localidade ECEME, 2005 ) O problema assinalado no presente trabalho relaciona os meios blindados em uso pelas unidades de Cavalaria do Exército Brasileiro e a adequabilidade para o 21 emprego nas operações em ambiente urbano, particularmente no investimento a uma localidade, tendo como foco a utilização desses meios orgânicos atuais e a viabilidade ou não do seu emprego neste tipo de operação. A falta de experiências reais nestas ações, por parte do Exército Brasileiro, as atuações de outros exércitos no mundo, além da limitada doutrina para este tipo de operação, previstos nos manuais em uso, leva ao seguinte questionamento: os meios blindados atuais do Exército Brasileiro, de transporte de pessoal, reconhecimento ou de combate são apropriados para a utilização no interior de uma localidade, com aproveitamento de todas as suas principais características, como a mobilidade e a ação de choque, visando o investimento em uma área urbanizada? 1.4 HIPÓTESES A fim de embasar o levantamento e a formulação das hipóteses desta pesquisa algumas variáveis devem ser consideradas: os meios blindados atualmente em uso pelas tropas de Cavalaria são apropriados para o investimento em uma localidade, em operações de guerra e não-guerra no ambiente urbano? Para se confirmar esta variável, outras variáveis independentes foram levantadas, com as seguintes proposições: 1) os meios blindados em uso pela Cavalaria possuem versatilidade e tecnologia suficientes para serem utilizados no ambiente urbano? 2) as guarnições dos blindados possuem instrução suficiente para atuarem no combate urbano atual? 3) as técnicas, táticas e procedimentos para o emprego de blindados em ambiente urbano estão apropriadas e devidamente treinadas, consoante com a evolução do combate? Hipóteses levantadas: 1) Os meios blindados da Cavalaria brasileira seriam adequados para o investimento contra uma localidade em um quadro de guerra urbana, seja convencional, em operações de garantia da lei e da ordem (GLO) ou compondo forças de paz, caso preenchessem os requisitos de todas as variáveis independentes. 2) Os meios blindados da Cavalaria brasileira seriam considerados parcialmente adequados para o investimento contra uma localidade em um quadro de guerra urbana, seja convencional, em operações de garantia da lei e da ordem 22 (GLO) ou compondo forças de paz, se preenchessem parcialmente os requisitos de adequabilidade das variáveis citadas, sem ser considerado inadequado em nenhuma delas. 3) Os meios blindados da Cavalaria brasileira são inadequados para o investimento contra uma localidade em um quadro de guerra urbana, seja convencional, em operações de garantia da lei e da ordem (GLO) ou compondo forças de paz, caso fossem considerados inadequados em pelo menos uma das variáveis independentes levantadas. 1.5 SUBQUESTÃO DE PESQUISA A pesquisa foi realizada levando-se em consideração uma subquestão, além da principal questão formulada, qual seja: - Os blindados devem constituir-se na principal força de investimento contra uma localidade para reduzir o tempo de combate e resolver rapidamente o problema? 1.6 REFERENCIAL TEÓRICO A pesquisa ora proposta foi baseada em manuais utilizados pelo Exército Brasileiro, manuais do exército norte-americano, monografias existentes sobre o assunto documentos e livros, nacionais e estrangeiros, além de sites da rede mundial de computadores, que tratam do referido tema, com o intuito de se verificar a validade dos mesmos para a realidade de nossas forças. Para a melhor interpretação dos fatores pendentes em nossa doutrina de emprego de meios blindados em combate urbano, far-se-á uma pesquisa alicerçada em forças armadas com comprovada experiência prática neste tipo de ação, como é o caso dos exércitos norte-americano, israelense e russo, além de outros registrados na história de lutas urbanas e em documentação elaborada pelo Centro de Avaliação de Adestramento do Exército (CAAdEx) e pelo Centro de Instrução de Blindados (CIBld), como subsídios que agregarão valor ao presente trabalho monográfico. As consultas a publicações, nacionais e estrangeiras, assim como artigos de especialistas do mundo inteiro, através de edições impressas ou em mídia, avalizarão os conteúdos explicitados ao longo do trabalho, tornando a pesquisa científica mais rica em dados. 23 Durante os estudos, procurar-se-á explorar ao máximo os ensinamentos colhidos e as lições aprendidas pelas tropas que tiveram participação em combates urbanos recentes e de que forma os meios blindados foram utilizados por estas forças, analisando os resultados obtidos. No decorrer da pesquisa, militares especialistas na área de blindados serão consultados, assim como pesquisadores civis de assuntos de defesa, visando convergir para uma conclusão que possa sustentar a tese e assessorar o escalão decisório quanto aos rumos a serem tomados, de forma mais próxima da realidade vivida pela Força Terrestre atualmente. Por ser um assunto de pouca divulgação, a base de pesquisa será a internet, citando, quando possível, a fonte donde foram tirados os argumentos ou conclusões, acerca do emprego de blindados e do combate urbano. 1.7 OBJETIVO DO ESTUDO Esta pesquisa tem como objetivo geral verificar a adequabilidade dos meios blindados da Cavalaria nas operações de combate urbano, seja em um quadro de guerra convencional, em ações para garantia da lei e da ordem (GLO) ou como força participante de missões de imposição da paz. Além disso, esse trabalho poderá proporcionar uma nova visão do emprego de viaturas blindadas no interior de localidades e a sua adequação no cumprimento de missões ofensivas. Outra contribuição será a de analisar a aplicabilidade das doutrinas utilizadas e experimentadas por tropas em situação real de combate, por exemplo a Guerra contra o Iraque, além de experiências vividas por tropas em missões de paz e atuando em guerras civis, tendo que combater em áreas edificadas e urbanizadas. 1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO Para que os objetivos propostos por este trabalho sejam atingidos na sua plenitude, será seguido o roteiro abaixo descrito: A segunda seção tratará de alguns conflitos urbanos relatados na história, ressaltando a utilização de blindados nestas operações e os resultados alcançados por aquelas forças, concluindo sobre a influência para o combate urbano moderno e com o intuito de chamar a atenção do leitor para a importância destes meios quando utilizados em área edificada e urbanizada. 24 Na seqüência, a terceira seção fará uma síntese das principais características e inovações dos meios blindados utilizados por Estados Unidos e Israel e daqueles em uso atualmente pela Cavalaria do Exército Brasileiro, concluindo sobre a adequabilidade destes meios ao combate urbano e os projetos em curso para modernização, focando a realidade atual de combate não linear, assimétrico e executado preferencialmente em ambiente urbanizado, visando solucionar as proposições impostas por esta pesquisa. A quarta seção terá como assunto a doutrina de emprego dos meios blindados no combate urbano, tomando-se como referencial as novas técnicas empregadas pelo exército americano na última guerra do Golfo e aquelas que foram e estão sendo experimentadas na tentativa de debelar os conflitos no Afeganistão e no próprio Iraque. Além da doutrina americana verificar-se-á a doutrina em uso por Israel e por forças internacionais de paz, quanto ao emprego de blindados no interior de grandes cidades e sua adequabilidade, além de doutrinas de emprego utilizadas em outros conflitos e guerras civis. A visualização do emprego e adequabilidade dos meios blindados da Cavalaria do EB no combate urbano e possíveis rumos para a modernização, alicerçadas em experiências colhidas em outros exércitos, será o assunto da quinta seção. Na penúltima seção serão analisados os dados colhidos com a pesquisa de campo executada junto aos usuários e especialistas em meios blindados, nas OM operacionais e de ensino do Exército Brasileiro. Ao final, a sétima seção fará a conclusão do presente trabalho, respondendo às principais proposições e hipóteses levantadas no decorrer da pesquisa, apresentando uma visão para o futuro do emprego dos meios blindados no combate urbano. 25 2. EMPREGO DE BLINDADOS NOS COMBATES URBANOS NA HISTÓRIA Ao longo dos anos, principalmente na última década do século passado, as manchetes dos principais jornais do mundo apresentaram notícias de guerras e de operações de manutenção da paz em cidades espalhadas pelo mundo, enquanto os meios de comunicações exibiam cenas de combate brutal ao vivo nestes locais. Alguns exemplos foram observados em Cidade do Panamá, Kuwait, Mogadíscio, Porto Príncipe, Bósnia, Sarajevo, Kinshasa, Bagdá, dentre outros que, por sua importância e ensinamentos, ficaram gravadas nas mentes daqueles que tomaram parte nos conflitos. Os ferozes embates travados nas ruas de Mogadíscio, em outubro de 1993, retratam o que se imagina de um combate urbano atual, com uso de escudos humanos e guerra psicológica, divulgando imagens de soldados mortos sendo arrastados pelas ruas, em rituais de selvageria que buscavam inibir a vontade de lutar das tropas invasoras. Da mesma forma, soldados russos sendo decapitados na Chechênia e apresentados ao mundo, representam a realidade a que são submetidas tropas atuando em um ambiente urbano hostil. A divulgação das possibilidades dos novos engenhos bélicos de precisão, capazes de atingir carros de combate espalhados em pleno deserto ou penetrar as janelas dos edifícios inimigos, fica ofuscada por cenas impactantes usadas por tropas rebeldes. A utilização da população civil como elemento dissuasório para confundir os soldados e levantar informações valiosas sobre posições e locais de concentração de tropas, aumentam a dificuldade daquele tipo de combate. Quando finalizada a intervenção na Somália muitos chegaram a afirmar que a única solução seria evitar a qualquer preço o investimento em uma localidade, já que parecia praticamente impossível conduzir o estilo de guerra pregado pelos norte-americanos no interior de áreas urbanizadas. Em estudos realizados por Hahn II (2001), pelo Exército dos EUA e por Jezior, muitas das operações militares, nas próximas duas décadas, serão conduzidas no interior ou nos arredores de áreas urbanas. Portanto, o combatente urbano e os equipamentos e viaturas por eles utilizados, deverão ser adaptados a esta nova realidade até 2025, fazendo-se uma perspectiva para o futuro das operações urbanas, que deverão ter muitas faces. 26 Haverá batalhas semelhantes às tradicionais operações de manutenção da paz, outras serão tais como as operações de imposição da paz e ainda algumas como o épico combate urbano ocorrido em Stalingrado. De maneira genérica o cenário dos conflitos urbanos foi descrito por Krulak (1997)3 como "uma guerra travada no perímetro de três quadras", onde, em um mesmo espaço urbano, estariam ocorrendo assistência humanitária em uma parte da cidade, conduzindo operações de manutenção da paz em outra e travando uma batalha estimada como de média intensidade, porém com alto grau de letalidade, em uma terceira. Na presente seção, serão apresentados os principais conflitos realizados em ambiente urbano, onde houve emprego de tropas blindadas, da Segunda Guerra Mundial até os mais atuais, enfocando os ensinamentos deles colhidos, principalmente quanto ao uso dos meios blindados, que servirão para embasar o estudo ora desenvolvido. 2.1 CAMPANHAS DA SEGUNDA GRANDE GUERRA O mais recente conflito de proporções mundiais durou de 1939 a 1945 e trouxe a todos os exércitos do planeta vários ensinamentos, particularmente no tocante ao investimento em localidades e à utilização de blindados no combate urbano, seja nos aspectos táticos e doutrinários ou em termos de equipamentos e materiais a serem utilizados neste tipo de operação militar. Nesse contexto, serão analisadas a seguir, algumas campanhas em áreas urbanas, ocorridas no período supracitado e que serviram para a formação de doutrina para muitos países, muitas delas vigentes até os dias atuais. 2.1.1 A conquista da Polônia A invasão da Polônia por tropas nazistas de Hitler foi, talvez, a primeira em que se utilizou o investimento contra uma localidade habitada, aplicando a tática da guerra relâmpago, atacando em todas as direções e empreendendo fulminantes bombardeios contra a cidade. As dificuldades foram enormes, apesar do sucesso da invasão, já que o intento de se tomar Varsóvia foi conseguido a muito custo pelos invasores. A grande ___________ 3 KRULAK, Charles C. "The Three Block' War: Fighting In Urban Areas," apresentado no National Press Club, Washington, D.C., 10 de outubro de 1997, Vital Speeches of the Day, 15 de dezembro de 1997, p. 139. 27 quantidade de tropas empregadas na operação e as perdas ocasionadas pelos combates no interior da localidade, caracterizaram os principais óbices encontrados pelos alemães, ao se investir contra aquela área urbana. Há que se ressaltar, de acordo com Mcksey4, que nesta operação os blindados demonstraram ter menos efetividade para uma ação rápida do que a esperada e grande fragilidade às investidas inimigas, principalmente pela falta de proteção dos fuzileiros desembarcados. O veículo chamado Panzer III, utilizado pelas forças alemãs no início da Segunda Guerra Mundial, era um bom carro blindado, mas não surpreendentemente bom em termos de blindagem, armamento e mobilidade, contudo influenciou os futuros carros de combate, pois possuía três homens na tripulação do veículo (artilheiro, carregador e comandante), deixando assim o comandante livre para concentrar-se em comandar o veículo. A intenção de utilizar o Panzer III como o principal carro de combate alemão foi largada, devido ao canhão de 50 mm não conseguir penetrar a blindagem do carro soviético T-34 e foi assim substituído pelo Panzer IV, que conseguia carregar um canhão de 75 mm. Figura 02 - “Panzerkampfwagen III (PzKpfw III), geralmente referido como Panzer III, foi um carro desenvolvido nos anos 30 pela Alemanha Nazista e usado intensivamente na Segunda Guerra Mundial. Foi planejado para combater outros veículos de combate, servindo como um suporte para a infantaria. Em breve seria substituído pelos Panzer's IV, embora alguns ainda continuassem a ser utilizados para suporte”. Fonte: Wikipedia 2.1.2 A campanha da França No dia 15 de fevereiro de 1940, aos 48 anos, o general alemão Erwin Rommel assumiu o comando da 7ª Divisão Panzer, que se encontrava no vale do rio Reno, por ordem de Hitler, pois gozava de grande prestígio com o Führer, após ter participado com grande bravura na Primeira Guerra Mundial. ___________ 4 MCKSEY, Kenneth J. Pesquisa em texto da enciclopédia livre no site http/pt.wikipedia.org/wiki/Panzer, retirado de Divisões Panzer – os punhos de aço – coleção História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial 28 A “Blitzkrieg”5 empreendida na campanha da Polônia impressionou Rommel, que passou a conduzir suas operações sempre observando a questão da mobilidade e ação de choque. Desta forma, Rommel lançou suas unidades em ataques devastadores, infiltrando-se na retaguarda inimiga, causando espanto, confusão e paralisia dos inimigos, confirmando o sucesso daquela forma de combater, com divisões blindadas no investimento contra as cidades inimigas, o que lhe valeu o apelido de "Cavaleiro do Apocalipse". A caminho da França, Rommel e sua divisão Panzer avançaram sobre Luxemburgo, quase sem encontrar resistência e adentrou no território belga, varrendo a ligeira oposição. Transpondo o rio Ourthre, dispersou a resistência francesa e começou a penetrar fundo em território francês. Ocupando cidade após cidade, avançou vários quilômetros e chegou à costa entre Fécamp e Saint-Valéryen-Caux, encurralando aí tropas britânicas e francesas, conseguindo a rendição de 20.000 soldados. As características de mobilidade e ação de choque são exploradas ao máximo pelo Gen Rommel, surgindo grandes vantagens em se conquistar as cidades inimigas no decorrer das operações ofensivas, apesar das novas e grandes dificuldades que começam a aparecer, tais como emprego da população na defesa das cidades e construção de abrigos no seu interior. Mesmo assim, com o ímpeto da divisão blindada no vale do rio Sena, após atravessar várias cidades, conseguiu se aproximar da costa em La Haye du Puits, rodando a uma velocidade de 30 a 45 km por hora para cobrir mais de 320 km em dois dias. A grande mobilidade, ainda não vista até aquela época, permitiu um avanço de 240 km em um único dia, sendo o mais longo já executado numa guerra até aquele momento, trazendo grande vantagem à tropa atacante. Quando retornou com sua divisão até Bourdeux para a ocupação, em uma campanha de seis semanas de duração, Rommel capturou o espantoso total de quase 100.000 prisioneiros e mais de 450 tanques6. Perdeu 682 soldados mortos em ação, 1.646 feridos, 296 desaparecidos e 42 tanques. Ninguém conduzira a _______________ 5 “Blitzkrieg” ou guerra relâmpago foi o nome dado às ações rápidas e devastadoras empreendidas pelos alemães na Segunda Grande Guerra, atropelando o inimigo com mobilidade e potência de fogo (definição própria). 6 Os termos Tanque e Carro de Combate serão utilizados no decorrer do trabalho e possuem o mesmo significado. 29 “Blitzkrieg” com tal segurança, equilíbrio e rapidez, levando Hitler e os nazistas a adotar como doutrina esta forma de atuação, apesar do grande dispêndio em vidas humanas e material, comparados com os padrões atuais. A divisão já usava a nova geração de carros de combate alemão Panzer IV, que ainda possuía algumas vulnerabilidades. Figura 03 - Panzer IV Fonte: Wikipedia 2.1.3 Derrota alemã em Stalingrado Conforme Terra (2002), a batalha de Stalingrado foi travada entre 19 de agosto de 1942 e 2 de fevereiro de 1943 pelos exércitos alemães que invadiram a URSS em 1941 e as forças soviéticas, constituindo-se num dos maiores e mais violento conflito no interior de uma localidade já visto em todos os tempos. O número de soldados, blindados e aviões perdidos e de munições e alimentos consumidos foi gigantesco, sendo estimado em mais de dois milhões de pessoas participantes da refrega. A meta de Adolf Hitler, além de provocar um profundo abalo no moral dos comunistas, conquistando-lhes a cidade que levava o nome do seu líder, era impedir que os imensos recursos de alimentos e do óleo de Grozny e de Baku, subindo o rio Volga, chegassem à parte industrializada e mais densamente habitada da Rússia. Desta forma, esperava-se que os russos, sem provimentos, capitulariam rapidamente após uma investida esmagadora das tropas nazistas em Stalingrado. Porém, no decorrer dos embates, os alemães sentiam que, ao adentrar naquele vasto e estranho território, a resistência dos soldados soviéticos era cada vez maior e os russos, mesmo cercados pelas pinças formadas pelos carros de combate alemães, relutavam em render-se. Gritando “Za Stalina!” (Por Stalin), vendiam caro o mínimo avanço do inimigo no interior da localidade. A surpreendente reação russa provavelmente não estava nos planos nazistas, nem tampouco a condução de um combate no interior de uma cidade de aproximados 300.000 habitantes. Os comandantes alemães, entretanto, não 30 imaginavam o que o destino lhes reservava naquela cidade batizada com o nome de Stalin. As primeiras levas de regimentos da “Wehrmacht”7 já estavam nas margens do Volga, o grande rio da Rússia, mas o contínuo desgaste das forças alemãs determinou que fossem utilizadas, no front de Stalingrado, uma quantidade crescente de forças militares de outros membros do Eixo (italianos e romenos), de fraco valor militar e pouco confiáveis. Além dos audaciosos planos imperialistas de Hitler, o fato da cidade ter o nome do inimigo de Hitler, Josef Stalin, fez a captura da cidade ser também motivo de propaganda. Tal acabou por fazer com que Stalin, que durante muito tempo persistiu em acreditar na ofensiva alemã em direção a Moscou, acabasse por pensar do mesmo modo. Entrementes, o exército alemão chegou a tomar, em feroz combate casa a casa, o equivalente a nove décimos de Stalingrado; mas este combate de rua o desgastava, impunha baixas cada vez maiores de homens e equipamentos produzidas por franco-atiradores e armas anti-tanques, impedia que o seu comando e acima de tudo Hitler, conseguisse pensar em outra coisa senão tentar, com persistência insana, em finalmente tomar Stalingrado. Os combates já deixaram de ser simplesmente pela posse da cidade, mas naquele outono de 1942 ocorreram os principais acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, no decurso dos quais eram desbaratadas as forças seletas da Wermacht, colocando em dúvida a eficiência da ”Blitzkrieg” com os meios blindados, no investimento em uma localidade. Figura 04 - Batalha de Stalingrado mudou os rumos da II Guerra Mundial Fonte: Military Review (2º Sem 2001). Os defensores da cidade imobilizaram ali grandes forças do inimigo e das amplitudes operativas das estepes a guerra foi encurralada na zona industrial de __________ 7 “Wehrmacht” era como se chamavam as forças armadas da Alemanha nazista na época da Segunda Guerra Mundial, compreendendo Marinha, Exército e Aeronáutica. Fonte wikipedia. 31 Stalingrado, situada em região com depressões, esburacada e acidentada,com edificações de cimento armado e de tijolos. O quilômetro, como medida de extensão nessa guerra, foi substituído pelo metro, o mapa da batalha cedeu lugar ao plano da cidade. De acordo com a emissora “The Voice of Rússia” (2002)8, antes do envio para Stalingrado, a maior parte dos soldados soviéticos passou por cursos de pelo menos três dias de tática de condução de combates de rua. Ensinaram-lhes a luta corpo a corpo, a arte de manejar a baioneta, punhal, pá, a apanhar uma granada em pleno vôo, para devolvê-la imediatamente à trincheira do inimigo. Diretamente na linha de Frente, o comando soviético organizou escolas de franco-atiradores. Posteriormente, utilizando a “caça” em grupos, várias dezenas de franco-atiradores soviéticos podiam até mesmo deter uma ofensiva alemã. O sentido da nova tática consistia em privar do comando, já antes do início da ofensiva, as companhias e batalhões alemães. O cálculo era simples: via de regra, antes da ofensiva os oficiais alemães saíam para a observação das posições, onde eram alvo da caça dos franco-atiradores soviéticos. Durante a ofensiva eram liquidados em primeiro lugar os oficiais e depois os soldados das posições avançadas Acostumado com a série de vitórias táticas, até então conseguidas, Hitler, fiel aos seus projetos megalômanos, subestimou o adversário e em nenhum momento pensou em reduzir a velocidade da ofensiva em direção ao Cáucaso, contando que o flanco esquerdo de toda a operação, situado precisamente em Stalingrado, pudesse estar garantido. Desta feita, sua manobra no território soviético, possuía cunho estratégico e baseava-se em correr contra o tempo e uma maior lentidão do ritmo de operações apenas daria tempo aos aliados de organizarem o abastecimento das tropas soviéticas por via da fronteira iraniana, retirando o petróleo do Cáucaso para sempre do acesso alemão. O anseio dos hitleristas de tomar Stalingrado custe o que custar e transferir a Frente para a margem Leste do Rio Volga, representava para os russos um perigo mortal. Nos dias seguintes foram travados cruentos combates com enorme supremacia de forças do inimigo, principalmente na direção dos seus principais golpes. E, apesar disso, todos os seus ataques eram rechaçados pelos soldados __________ 8 Texto comemorativo aos 60 anos da Batalha de Stalingrado. 32 soviéticos, que combatiam heroicamente, ombro a ombro com os destacamentos operários das empresas e os habitantes da cidade. O Marechal russo Tchuikóv (1966)9, relatou o seguinte: “[...] ombro a ombro com os soldados e oficiais, nas trincheiras combateram heroicamente também os operários das empresas de Stalingrado e os habitantes civís. Eles foram simultaneamente combatentes, guias e reconhecedores nesta batalha. Inclino a minha cabeça diante da audácia dos Volgarinos - marujos, marinheiros civís fluviais. A sua façanha é imortal. Eles nos traziam tudo : reforços, munições, produtos, e tudo sob fogo cerrado, fazendo a travessia do Volga para Stalingrado. Do Sul, em direção à Stalingrado avançavam tanques e tropas mecanizadas dos invasores nazifascistas. Esta avalanche blindada só podia ser detida por tanques, sendo que em grande número. Mas, sentia-se a sua falta catastrófica, tal como, aliás, também outros armamentos. Além disso, apenas terminava a complementação e formação de potentes exércitos soviéticos[...]” (TCHUIKÓV, 1966). Mesmo assim, conforme Wikipedia (2007), a situação na zona de Stalingrado e na própria cidade, onde ardiam os combates, tornava-se mais crítica a cada momento. A cidade foi alvo de incessantes bombardeios, muitas edificações foram destruídas, foram colossais as vítimas entre a população civil. No decorrer da guerra, combates sangrentos foram travados no centro da cidade, ficando, assim, algumas das unidades russas isoladas das forças da Frente de Stalingrado, tanto no Norte, como no Sul. Os embates ocorriam a cada prédio, alguns deles passavam de uma parte para outra 3 a 4 vezes ao dia, caracterizando esta nova modalidade de guerra, tão temida pelos melhores estrategistas. Para romper o setor da frente de 4 quilômetros, o inimigo havia lançado naquela ofensiva centenas de tanques e aviões, além de 70 mil soldados de infantaria. Mas, os defensores da fortaleza no Volga travavam combates de vida ou morte e suas fileiras foram engrossadas por 75 mil civis, fato que dificultava ainda mais as ações no interior da cidade. Segundo Terra (2007), depois de cruentos combates os exércitos blindados alemães conseguiram tomar grande parte dos distritos de Stalingrado. Porém os russos obedeciam fielmente à diretiva de Stalin (Ordem nº 227) exigindo que nenhum passo atrás fosse dado por um soldado russo. Os combatentes lutaram com granadas, a tiros e à faca, com o que estivesse à mão, de rua em rua, de casa em casa, nas ruínas, nos esgotos, nos entulhos, nada era dado de graça. __________ 9 TCHUIKÓV, Vassili I. Citação da obra “A Batalha de Stalingrado” (RJ. Editora Civilização Brasileira, 1966). 33 Figura 05 - Tropas alemãs ocupam posições defensivas nos arredores de Stalingrado Fonte: Wikipedia. O escritor soviético Simonov (1979)10 deixou o seguinte relato sobre o cenário de Stalingrado: “[...] todas as casas da cidade queimavam e durante a noite a fumaça delas se espalhava no horizonte. Dia e noite a terra era sacudida por milhares de bombas e pela barragem da artilharia. Os destroços provocados pela explosão das bombas espalhavam-se pelas ruas e o ar achava-se tomado pelo silvo dos projéteis, mas em nenhum momento o bombardeio parava. Os que a cercavam tentavam transformar Stalingrado num inferno na terra. Mas era impossível ficar-se inativo – era preciso lutar, defender a cidade apesar do fogo, da fumaça e do sangue. Esta era a única maneira que se poderia ficar vivo, era a única maneira que se tinha de viver[...]” (SIMONOV, 1979). O exército soviético empregou a tática de "terra arrasada", tudo foi retirado por trem e levado para as regiões orientais do país: fábricas, máquinas agrícolas, gado e também a população. O que não pode ser levado foi destruído. Assumindo a defesa da cidade, obedecendo ao marechal Yeremenko, o general Tchuikóv, então comandante do 62º exército soviético, ordenou aos seus soldados: “Todo homem precisa tornar-se uma das pedras da cidade”. A batalha de Stalingrado tornar-se-ia tudo o que a infantaria alemã e seus comandantes menos desejavam, ou seja, uma guerra travada corpo-a-corpo dentro de uma enorme cidade em ruínas. A Revista Veja (1943), noticiou o fato com a seguinte manchete: “O início do fim? Soviéticos impõem em Stalingrado primeiro e inconteste revés à “Wehrmacht”-Pertinácia de Hitler sela a derrota alemã - Stalin prevê novos êxitos nas batalhas contra os nazistas - EUA e Grã-Bretanha também comemoram”. No corpo do texto da notícia a derrota alemã foi explicitada da seguinte forma: _______________ 10 SIMONOV, Konstantin (1915-1979). Citado por N.T.Morozova e N.D. Monakhova em The Battle for Stalingrad, Moscou, 1979 34 “Ruidosas metralhas e morteiros solapam a fachada da Univermag, loja de departamentos transformada em quartel-general das forças de ocupação alemãs em Stalingrado. Após um cerco de semanas, as falanges soviéticas acabam de chegar à Praça Vermelha. Um prisioneiro tedesco informa que o marechal-de-campo Friedrich Paulus, comandante do Sexto Exército, está no magazine, localizado no coração da cidade velha. Os russos já se preparam para a invasão do local quando avistam uma bandeira branca sendo desfraldada”. (VEJA,1943). Era a rendição incondicional dos alemães que sentiram o gosto do fracasso e da derrota naquele conflito, embora contasse com superioridade em blindados e soldados. As novas técnicas de defesa no interior de localidades, utilizando obstáculos e a população civil, provaram ser eficaz contra um poderoso exército que utilizava a guerra relâmpago e grandes bombardeios para conquistar as cidades. A utilização massiva de blindados sofreu naquela ocasião seu primeiro revés mais significativo, tendo em vista o emprego inédito nos espaços reduzidos da cidade de Stalingrado. Figura 06 - Camaradas em festa: ainda queimando, Stalingrado volta a ver pavilhão soviético tremular. Fonte: Revista VEJA, 1943. 2.1.4 A campanha do Mediterrâneo A guerra no Norte da África era essencialmente uma campanha dos italianos, que quase foram derrotados pelos britânicos na Abissínia (Etiópia). Os italianos eram uma fonte constante de aborrecimento a Hitler, com seus ataques à Grécia e na África, ambos terminados em derrota. Os alemães tiveram várias vezes que enviar reforços para sustentar o exército relativamente fraco da Itália. Hitler concordou em enviar uma força expedicionária para o Norte da África em 1941, sob as ordens de Rommel, um líder capaz e competente, que durante a campanha francesa conduziu a 7ª Divisão de Panzers (A Divisão Fantasma). A força enviada para a África, conhecida como a "Deutsche Afrika Korps", segundo 35 Tropas de Elite (2006), era composta de várias divisões de batalha que incluíam as 15ª e a 21ª Divisões de Panzer como também a 334ª Divisão de Infantaria e as 5ª e 90ª Divisões Leves. Os primeiros elementos chegaram à Tripoli, na Líbia, no dia 14 de fevereiro e continuariam chegando durante as demais semanas deste mês. Nesta campanha merece destaque os combates urbanos desenvolvidos em Tobruk, cidade africana que ficou isolada por terra durante quase toda a campanha do Mediterrâneo. O sistema defensivo empregado na cidade, durante o avanço das tropas de Rommel, constava de uma eficiente linha de barreiras nos arredores da cidade, com constante e bem organizada rede de abastecimento e suprimento, através de meios navais e que davam suporte à resistência das tropas de elite chamadas de “ratos do deserto”. A investida das tropas nazistas rumo ao Egito perdeu impulsão em face dos combates travados em Tobruk, apesar dos valorosos meios blindados das divisões Panzer, que não se mostravam tão hábeis e móveis em um ambiente urbanizado e fortemente defendido. Figura 07 - Para atuar no deserto os veículos foram repintados nas cores de camuflagem tropical que era principalmente amarelo escuro e o símbolo do Afrika Korps, a árvore de palma e a suástica, colocado como sinônimo da campanha Norte africana. Fonte: Tropas de Elite (2006). A campanha da frente ocidental teve nos campos da Itália importantes combates em localidades, como em Monte Cassino e Montese, esta última com a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Na cidade de Monte Cassino localizava-se o principal ponto da defesa alemã na frente italiana, na chamada Linha Gustav, desenvolvida ao longo dos Apeninos, aproveitando suas elevações para evitar o acesso aliado para o norte. No alto de Cassino os alemães tinham dominância sobre toda a área e a localidade era considerada a região capital de defesa nazista, sendo, portanto, alvo 36 de constantes ataques, de início rechaçados pelos defensores daquele local, bem organizados e protegidos por obstáculos artificiais, conjugados com as elevações e a cidade. Após seguidos fracassos os aliados resolveram empregar a força aérea para intervir, lançando várias toneladas de bombas sobre Cassino, causando enormes avarias na cidade, transformando-a num amontoado de ruínas que, de certa forma, auxiliaram os defensores na construção de pontos fortes de defesa e casamatas, nos entulhos que se espalharam por toda a área. Atrás dos escombros escondiamse ninhos de metralhadoras, postos de vigilância e franco-atiradores que resistiam às tentativas de investimento por tropas terrestres aliadas. Os próprios escombros tornaram-se um poderoso inimigo para as tropas atacantes, já que as dificuldades de locomoção no interior do perímetro urbano retardavam os deslocamentos e por vezes obrigavam os fuzileiros a separarem-se dos blindados, tornando ambos vulneráveis aos ataques alemães. Nos pontos fortes as armas anticarros atingiam facilmente os veículos que perdiam muito da sua mobilidade, em vista do acúmulo de escombros gerados pelos ataques aéreos e pela falta de proteção dos fuzileiros, obrigados a desembarcar e a procurar proteção dos fogos diretos das metralhadoras inimigas. Em abril de 1945, os pracinhas brasileiros da FEB tiveram uma experiência em Montese das dificuldades para conquistar uma localidade, principalmente, naquele caso, em que a cidade estava localizada em um ponto elevado que dominava toda a região, numa defesa bem estruturada e organizada pelos alemães. Durante a conquista da Itália registraram-se as maiores baixas, em termos estatísticos, das forças aliadas em todo o conflito mundial e onde mais tempo foi gasto até a rendição das tropas do eixo, tendo em vista a eficiência das defesas postadas em localidades, associadas ao terreno favorável aos defensores. 2.2 COMBATE URBANO APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL As experiências trazidas dos combates urbanos desencadeados na Segunda Grande Guerra originaram nova preocupação com este tipo de enfrentamento, no período da Guerra Fria, quando ocorreu a bipolarização mundial, separando o mundo em dois blocos, o do oriente com liderança soviética e o do ocidente dominado pelos Estados Unidos. 37 Esse período do pós-guerra foi marcado por inúmeras guerras civis, muitas vezes financiadas por americanos e soviéticos, com a finalidade de conquistar mais países para suas esferas de influência, tornando-se marcantes alguns conflitos em ambientes urbanos, os quais serão apresentados a seguir. 2.2.1 Conflitos no Oriente Médio Após os horrores da Segunda Grande Guerra, a região do Oriente Médio foi a mais castigada por conflitos causados por variados motivos, seja de ordem étnica, religiosa ou política e que tornaram a região um verdadeiro barril de pólvora prestes a explodir. Neste contexto, alguns conflitos foram desenvolvidos em ambientes estritamente urbanos, onde se observou o uso indiscriminado da população civil como escudo humano e muitas vezes sendo utilizada como soldado regular, guerrilheiro ou terrorista, ficando famosos os homens-bomba. A cidade de Jerusalém, por exemplo, vem sendo palco de combates sangrentos onde carros de combate são utilizados contra guerrilheiros e populares revoltados, atuando de forma dissuasória e afetando particularmente o moral do adversário. A Força de Defesa de Israel foi o primeiro Exército a usar uma viatura blindada de Infantaria, pois seu carro de combate (CC) Merkava era capaz de levar um grupo de soldados de infantaria na parte traseira. A idéia israelense foi criar blindados de infantaria mais blindados que os CC, pois a infantaria objetiva conquistar terreno, enquanto os carros precisam apenas engajar alvos e dominá-los pelo fogo à longa distância. Os israelenses estavam insatisfeitos com o desempenho da Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) M-113 no Líbano e em 1982 iniciaram estudos que resultaram no Achzarit. Este carro foi baseado em um chassi modificado de tanques T-54/T-55 russos capturados em ações anteriores. A pretensão israelense era a fabricação de uma viatura blindada de infantaria, com proteção necessária para acompanhar o Merkava. 38 Figura 08 - VBI X-3 A1 Achzarit (Cruel) israelense Fonte: Tropas de Elite (2006) Na mesma região durante a invasão do Líbano nos anos 80 pelos israelenses, observou-se a relutância em partir para o confronto nas ruas de Beirute, já que se sabia que os desgastes em pessoal e material seriam enormes e pouco compensadores para o que se propunha Israel. Desta forma os israelenses apelaram para os organismos internacionais que realizaram a ocupação da cidade, através das Forças de Paz da ONU. Analisando-se apenas o aspecto tático do emprego de blindados no ambiente urbano, verifica-se que os israelenses, que possuem um exército regular e organizado, utilizam este meio em larga escala, obtendo vantagens decisivas sobre os árabes. Nos confrontos ocorridos no Oriente Médio, os meios blindados foram largamente utilizados, aplicando e testando uma doutrina que está sendo consolidada, pelos anos de experiências reais de combate. Faz-se necessário ressaltar que, com uma planejada ação de contrapropaganda por parte dos árabes, utilizando-se a mídia internacional, a liberdade de ação dos israelenses fica comprometida, tendo em vista parecer uma guerra desigual, onde carros de combate enfrentam civis desarmados. As tropas de imposição da paz da ONU, em operações na região do Golfo Pérsico, também se utilizaram deste meio, como forma de patrulhar ruas e avenidas, com certa proteção contra os ataques terroristas. Observadores da ONU em patrulha motorizada Figura 09 - Observadores canadenses da UNEF (United Nations Emergency Force) entre Israel e Egito, Fonte: Arquivo pessoal. 39 A mais marcante característica dos combates transcorridos após a Segunda Grande Guerra na citada região, foi a diminuição do número de vítimas e de destruição de edificações das cidades, já havendo uma maior preocupação com as repercussões dos atos cometidos contra civis e contra o patrimônio histórico e cultural dos povos. Assim, na 2ª Guerra do Golfo e na investida contra o Afeganistão, os Estados Unidos, com enorme vantagem humana e tecnológica e empregando armas de última geração e alto poder destrutivo, deram preferência para a escolha de alvos pré-definidos, que eram destruídos com precisão cirúrgica, reduzindo ao máximo as mortes entre civis. Os blindados americanos, naquela ocasião, foram utilizados para conquistar pontos estratégicos nas cercanias das cidades e para realizar patrulhas de incursão em pontos fortes da resistência inimiga ou simplesmente para demonstração de força. A estratégia de enfraquecer o poder político e militar de Saddam Hussein, através de ataques pontuais contra instalações chaves dos iraquianos, dispensou uma investida massiva contra cidades como Bagdá, apenas adentrando neste ambiente para realizar a limpeza dos focos de resistência, muito embora, na atual guerra que vem se desenvolvendo, nota-se a real dificuldade em se eliminar um inimigo invisível, dentro de uma localidade das proporções de Bagdá. Os norte-americanos utilizam seus blindados de transporte de pessoal para patrulhas em áreas dominadas pelos insurgentes, mas não se observam ataques de carros de combate contra instalações, devido ao risco de atingir civis inocentes, apontando para uma doutrina diferente da utilizada até a Segunda Guerra Mundial, onde os bombardeios indiscriminados levavam o terror e a destruição às cidades. Figura 10 - Patrulha americana em ponto forte utilizando-se os CC M1 Abrams e Bld leve Humvee Fonte: TROPAS DE ELITE (2006). 40 2.2.2 Tropas da ONU na Somália De acordo com Military Review (2004), em novembro de 1991, após divergências que remontam à época da fragmentação colonial da África, eclode uma luta intensa entre a facção que apoiava o Presidente Interino da Somália, Ali Mahdi Mohamed e a facção que apoiava o General Mohamed Farah Aidee, presidente do Congresso Unido Somali (CUS), dando início a uma guerra civil que levaria a nação ao caos político e social, com um resultado imediato de 300.000 mortos, 2.000.000 de refugiados e quase metade da população em condições deploráveis de sobrevivência. A vitória do CUS dividiu o país em duas facções irreconciliáveis: de um lado a Aliança de Salvação Somali (SSA), dirigida por Ali Mahdi Mohamed, Presidente Interino desde 1991 e de outro o Congresso Unido Somali (US/ANS) dirigido pelo General Mohamed Farah. O conflito promove um total desgoverno no país e as instituições são fragilizadas e desacreditadas, originando uma catástrofe humanitária que motiva a intervenção da comunidade internacional, prestando ajuda através de agências da ONU. A primeira força a ser deslocada para a região foi denominada Operação Nações Unidas na Somália (ONUSOM I), em 24 de abril de 1992 e constava de observadores militares com a finalidade de monitorar a linha de cessar fogo entre ambas as facções e a melhorar as condições para conversações, visando uma solução política para a crise instalada. Não tardou e a ONU concluiu que seria necessário o uso de força militar para institucionalizar e impor a paz à região e em 3 de dezembro de 1992 surge então a Força-Tarefa Unificada (UNITAF), composta por unidades militares de 24 países, sob o comando dos EUA, que chegaram a Mogadíscio para a Operação Restore Hope, onde se observaria o emprego de forças de paz em ambiente urbano, com novos componentes e necessidades. Em 26 de março de 1993 é realizada a transição da UNITAF para a ONUSOM II e no dia 5 de junho de 1993, um ataque contra as forças da ONU em Mogadíscio causou a morte de 25 soldados paquistaneses, com 10 desaparecidos e 54 feridos. As milícias de Farah foram consideradas responsáveis. Houve também outros ataques, em julho e agosto, com minas com controle remoto contra soldados americanos desdobrados para a proteção de comboios. 41 Por esta razão, em agosto de 1993, os Estados Unidos desdobraram uma FT Conjunta, com meios do Comando Conjunto do Forte Bragg, sob o controle direto do Comando de Operações Especiais e sob o comando do General William Garrison, formada por 130 comandos da Força Delta, uma Companhia de Rangers, 16 helicópteros e outros meios leves de transporte terrestre, cuja missão era seqüestrar o General Aideed e seus principais assessores. Nos dias 3 e 4 de outubro de 1993, no centro de Mogadíscio, essas novas forças especiais dos EUA, recentemente desdobradas, foram emboscadas quando tentavam executar a operação de seqüestro dos principais assessores do General, sendo dois helicópteros abatidos e onde morreram 18 soldados ficando 75 feridos. Figura 11 - Somália, 1993. Fonte: Military Review (2004) As imagens dos corpos desses soldados sendo arrastados pelas ruas de Mogadíscio foram mostradas nas cadeias de televisão, causando um grande impacto. Os Estados Unidos reforçaram temporariamente sua presença com forças aéreas, marítimas e terrestres, mas, posteriormente, com a repercussão política destas ações e seu efeito na população americana, anunciaram sua intenção de retirarem-se da Somália, o mais tardar em 31 de março de 1994, o que também foi anunciado pela Bélgica, França e Suécia. Depois dos embates o saldo de vítimas foi em torno de 1000 pessoas entre mortos e feridos (combatentes e civis), o que demonstrou ser um bom método para países do Terceiro Mundo utilizarem contra grandes potências. Levam a força de mais alto nível para um ambiente urbano complexo, onde a superioridade e a alta tecnologia têm seus efeitos reduzidos e onde são impostas restrições no emprego da força para evitar danos colaterais na população civil com permanente acompanhamento da imprensa internacional, diminuindo a liberdade de ação. Mesmo com o reduzido número de perdas aos EUA, devido à evidente superioridade e excelente equipamento da sua infantaria, o fato foi considerado uma 42 derrota política pelo Congresso americano. Powell (1994)11, na época, descreveu sucintamente a reação política com esta declaração: "[...] Os americanos ficaram horrorizados ao ver um de seus soldados, morto e esquartejado, sendo arrastado pelas ruas de Mogadíscio. Fomos atraídos a esse lugar pelas imagens da televisão, e agora elas nos provocam uma indignação moral [...]” (POWELL, 1994). O fato demonstrou a sensibilidade da população e dirigentes norteamericanos ao lidar com baixas nos seus efetivos. A estratégia elaborada por Mohammed Farrah Aideed de provocar tantas baixas, difundidas pela mídia, que forçasse a retirada dos norte-americanos, aparentemente havia dado certo, já que, em julho de 1994, o Secretário Geral da ONU recomendou reduzir as forças para 15.000 homens, alegando ainda não terem sido cumpridos os compromissos contraídos em Addis Abeba e Nairobi. Mesmo assim, ensejou prorrogar o mandato da ONUSOM II até 31 de março de 1995, para que a reconciliação fosse estabelecida e a assistência das Nações Unidas à Somália continuasse só nas esferas política e humanitária, com o desdobramento de um Gabinete Político da ONU para Somália (UNPOS). Quanto às lições aprendidas, no que diz respeito ao combate urbano, para os Estados Unidos, Pilowsky12 (2004), chegou à seguinte conclusão: “[...] do combate em Mogadiscio o principal ensinamento colhido foi a necessidade de implementação pelo exército americano de numerosos projetos de melhoramento de Operações Militares em Terrenos Urbanos (MOUT). Como por exemplo, o projeto "Metropolis", orientado para a busca de novas táticas de combate em localidade, viaturas leves com maior poder de fogo e proteção, já que os blindados leves Humvee apresentaram fragilidade quanto à blindagem, construção de cidades e localidades nos centros de combate e treinamento, desenvolvimento de combate com maior valor tecnológico e, fundamentalmente, gerar uma situação de adestramento, entendendo-se que é a atividade mais transcendente para abrir o caminho para o êxito no combate em terrenos urbanos [...]” (PILOWSKY, 2004). No emprego de forças especiais no combate urbano, sob um ambiente operacional conhecido como de operações de não guerra, é necessário o desenvolvimento de importantes estudos sobre o comportamento da sua avançada tecnologia, tais como: novos meios para a obtenção de informação para reprodução __________ 11 POWELL, Collin. Secretário de Estado americano em 1994. 12 PILOWSKY, Carl Marowsky. Coronel Diretor do Centro Conjunto para Operações de Paz do Chile (CECOPAC). Possui dois mestrados, em Ciências Navais e Marítimas e em Ciências Militares. Foi professor e chefe do curso no International Institute of Humanitarian Law de San Remo, Itália, como especialista em Direito Internacional Humanitário de 2001 a 2003. 43 de imagens estáticas ou dinâmicas, análise e percepções da realidade sobre o adversário, o comando e controle e comunicações das forças especiais, a proteção da força e o emprego de meios de combate, armas versáteis com grande aumento de letalidade. Figura 12 - M998 High Mobility Multipurpose Wheeled Vehicle (blindado leve "Humvee"), utilizado pelas forças especiais americanas em Mogadíscio. Fonte: Defense Update (2006). Quanto ao aspecto comando e controle, o filme Falcão Negro em Perigo (2001), apresenta uma noção do que será a guerra do futuro, onde todos os acontecimentos são acompanhados pelo comando das operações no tempo e no espaço real através de imagens fornecidas por helicópteros de observação e por aviões espião como o Orion, permitindo o estudo de situação e as decisões oportunas. Ainda na análise de Pilowski (2004), para este tipo de confronto são necessárias armas adequadas para controle de multidões, operações psicológicas e seu verdadeiro efeito na população, proteção da força com viaturas de transporte blindados, capacidade de detecção de fogo indireto sobre as tropas, atitude e capacidade de trespassar barricadas e multidões. É fundamental a proteção balística com coletes e capacetes adequados para áreas de temperatura alta, uso de bombas fumígenas em combate urbano para dificultar a visão, medidas antiaéreas em caso de vulnerabilidade diante do uso de lança foguetes portáteis (RPG)13. O uso de robótica e de viaturas não tripuladas, aumento e emprego de meios de visão térmica e visão noturna, detecção de franco-atiradores diurnos e noturnos, obtenção de equipamentos compactos para prover energia e a prevenção sanitária em áreas complexas são outras medidas importantes a serem adotadas nas operações urbanas. __________ 13 Rocket Propelled Grenade (RPG), lançador portátil de foguetes com alto poder de destruição e usado extensivamente contra blindados e comboios motorizados (definição do autor). 44 Figura 13 - HUMVEE atingido por RPG – necessidade de reforçar a blindagem Fonte: Defense Update (2006). 2.2.3 O desastre de Grozny Conforme análise de Thomas (1995)14, no final de 1994 a administração de Boris Yeltsin na Rússia, enfrentou resistências ocasionadas pela dissolução do império soviético, quando forças militares desejavam a restauração da autoridade da Federação Russa em toda a região do Cáucaso. Durante o enfrentamento, os russos pensaram que a operação seria uma simples demonstração de força na importante cidade de Grozny, capital da Chechênia e que rapidamente culminaria com o colapso do governo rebelde. Porém, a operação evoluiu rapidamente para uma campanha militar que, como se observou, terminaria em um fracasso total das forças regulares russas. Os comandantes russos poderiam ter evitado esta falha, caso compreendessem e tivessem analisado corretamente o local onde se desenvolveria a batalha, dentro de seu teatro de operações. No entanto, acreditaram em suposições errôneas geradas no nível estratégico que conduziram subseqüentemente a uma compreensão equivocada do ambiente da batalha, em toda sua complexidade, negligência esta da inteligência que afetou adversamente todos os demais sistemas operacionais. Por outro lado, os rebeldes chechenos fizeram uso extensivo da sua familiaridade com a região e dos conhecimentos que possuíam de antemão das possibilidades e deficiências do exército russo, tirando enorme vantagem dessa situação. Segundo Grau (1995)15, do “Fort Leavenworth”, em seu trabalho sobre a __________ 14 THOMAS, Timothy L. "The Russian Armed Forces Confront Chechnya: The Battle for Grozny, p. 1-26 janeiro de1995 (parte 1)," Low Intensity Conflict & Law Enforcement, (Winter 1996), p. 411. 15 GRAU, Lester W. Artigo publicado no INSS Strategic Forum, Nr 38 em julho de 1995 45 Guerra da Chechênia, o exército russo não tinha dinheiro e possuía pouca sustentação, fato que fez com que nenhuma tropa nível brigada ou divisão fizesse qualquer exercício em campanha de treinamento nos dois anos que antecederam a primeira batalha e a maioria dos batalhões com muita sorte tinham realizado um exercício no ano. Os batalhões foram equipados com 55% de sua capacidade operativa ou menos e aproximadamente 85% da juventude russa eram isentas ou adiavam o serviço militar, forçando o exército a aceitar recrutas com registros criminais, problemas de saúde ou incapacidade mental. Além disso, o exército tinha dificuldades na parte logística, inclusive para pagar e alimentar adequadamente os seus soldados. Antes da invasão por parte da Rússia, as forças rebeldes da Chechênia, hostis ao governo, foram treinadas, abastecidas e suportadas pelos russos. A força possuía cerca de 5.000 homens (sendo 85 soldados russos) e 170 tanques também russos, a qual tentou derrubar o governo checheno, porém falharam na sua tentativa e foram perdidos 67 tanques na luta na cidade de Grozny. Figura 14 - Carros blindados russos destruídos nas ruas de Grosny Fonte: Tropas de Elite (2006) A reação russa foi imediata e, ao invés de reagrupar as forças e preparar um ataque utilizando-se da surpresa, o exército russo foi requisitado, mesmo não tendo nenhuma divisão inteiramente pronta no exército, ocasionando uma série de insucessos nas investidas contra a localidade. As unidades foram montadas especialmente para aquela operação e foram levadas à luta sem qualquer treinamento prévio. As viaturas blindadas de transporte de pessoal da infantaria foram deslocadas, em várias situações, com poucos ou nenhum soldado à bordo e em alguns casos, os oficiais não possuíam soldados em suas guarnições. 46 Ainda, conforme analisou Grau (1995), a inteligência apresentou falhas em Grozny desde o princípio, como já foi citado, até na distribuição de mapas e cartas topográficas em escala apropriada aos comandantes táticos. A cidade não foi cercada adequadamente e o governo checheno pôde reforçar suas forças rebeldes durante toda a batalha. Na primeira tentativa dos russos tomarem Grozny na noite de ano novo em 1994, tentaram fazê-lo com tanques de transporte de pessoal e bastante infantaria apoiando. No entanto, a infantaria que estava disponível foi formada naquele momento para tal missão e muitos não sabiam sequer o nome dos companheiros de grupo ou pelotão. Foram avisados que fariam parte de uma ação policial e alguns não tinham armas. Muitos estavam dormindo nos carros enquanto as colunas investiam sobre Grozny e muitas guarnições não possuíam munição para as metralhadoras. Com a incipiente preparação russa, talvez motivada pela declaração do exMinistro de Defesa russo, Pavel Grachev ao afirmar que poderia derrubar o regime de Dudayev em algumas horas com apenas um regimento de pára-quedistas, somada à habilidosa resistência oferecida pelas Forças chechenas em Grozny, o resultado foi a retirada das forças russas do centro da cidade, se reagrupando posteriormente. Disparando de todos os lados e de todos os andares dos edifícios, de quadra em quadra na cidade, as unidades anticarros chechenas sistematicamente destruíram um grande número de CC russos com lançadores portáteis de foguetes (RPG-7). A tática preferida dos chechenos consistia em emboscar uma coluna de blindados, destruindo o primeiro e o último veículo da coluna, o que impedia a fuga dos demais. Devido a um erro de projeto, os canhões dos tanques russos não tinham ângulo para atirar contra os andares superiores de um edifício a curta distância e assim os chechenos atiravam a partir do segundo ou terceiro andares dos prédios. Figura 15 - Carro de combate russo – dificuldade de elevação do tubo (canhão) para atingir andares altos. Fonte: Tropas de Elite (2006) 47 Depois disso, as colunas de blindados russas passaram a incluir uma arma antiaérea. A técnica russa de conquistar o centro da cidade e a sede do governo, surpreendendo o inimigo, não dando tempo para este organizar suas defesas, não funcionou adequadamente naquela situação. A atuação russa na Chechênia demonstrou que, os tanques e os blindados de transporte de pessoal no combate urbano, devem ser precedidos de fuzileiros a pé, a fim de não se tornarem alvos fáceis às armas anticarro que atiram dos flancos ou de cima dos prédios. As colunas blindadas russas foram detidas nas ruas estreitas de Grosny e destruídas pelo fogo checheno conforme relatou Thomas (1995) em relatório sobre a batalha de Grosny: "[...] Em apenas uma coluna, 102 das 120 viaturas blindadas de transporte de pessoal e 20 dos 26 carros de combate foram destruídos por fogo anti-carro checheno [...]" (THOMAS, 1995). 2.3 CONCLUSÃO PARCIAL Os combates urbanos estão aumentando, gradativamente, na mesma proporção em que se vê o crescimento das áreas e das populações urbanas, conforme se constatou ao longo da história dos confrontos nestes ambientes. Na mesma intensidade, a maneira de se conduzir a guerra, seus equipamentos e tecnologia sofreram modificações ao longo do tempo, podendo-se dividir a história dos confrontos no interior de cidades e localidades em dois grandes momentos, quais sejam, durante a Segunda Guerra Mundial, mais recente confronto de proporções globais, e após o término da Grande Guerra até os conflitos mais atuais. Analisando-se os embates ocorridos no primeiro período e onde foram utilizados meios blindados, observa-se que o enfoque era na conquista da cidade ou localidade onde o inimigo estivesse postado, não medindo esforços, nem munição, para augurar esse intento. A preocupação com o número de vítimas, civis e militares, era relegada a um segundo plano, assim como a preservação das obras de arte e patrimônio dos povos. As investidas contra as cidades, normalmente, eram precedidas de um grande bombardeio, impondo grandes baixas aos oponentes e preparando o local para a ocupação definitiva e a limpeza dos remanescentes inimigos. A tática foi usada durante bom tempo pelos alemães, que adotaram a “Blitzkrieg” como 48 doutrina, tendo bons resultados nas campanhas da Polônia, da França e mesmo em determinado momento pelo “Afrika Korps”. Esta forma de combater em localidades perdurou até serem desenvolvidos métodos, como os que foram bem utilizados pela Rússia contra a Alemanha de Hitler, nos confrontos em Stalingrado, quando a cidade foi evacuada completamente e as divisões Panzer nazistas foram emboscadas nos próprios escombros que produziram durante feroz bombardeio e seus comandantes de carros viraram alvos de franco-atiradores russos. Assim sendo, do primeiro período dos conflitos analisados, conclui-se parcialmente que, a guerra urbana tinha como principal característica o fato de resultar em grandes prejuízos em vidas humanas e materiais, após bombardeios devastadores e emprego massivo de blindados. Estes últimos desempenhavam função primordial nos ataques às cidades e não possuíam uma conformação própria para o combate urbano, utilizando técnicas para ambiente aberto, passando por cima do que viesse pela frente, como por exemplo, na “Blitzkrieg” alemã. No decorrer dos confrontos desenvolveram-se novas formas de defesa, utilizando-se os obstáculos naturais oferecidos pelas construções, mormente aos carros de combate e aos fuzileiros desembarcados. A Batalha de Stalingrado pode ser considerada um marco na história da guerra blindada e que obrigou os estrategistas da época a repensarem a maneira de conduzir os conflitos em ambiente urbano. Após a Segunda Grande Guerra, os conflitos foram regionalizados e a bipolarização originada, onde Estados Unidos e União Soviética disputavam a hegemonia mundial, fez surgir a Guerra Fria e a conseqüente corrida armamentista das grandes potências. Ambos os países adotaram como regra o financiamento de lutas pela independência em todos os continentes, buscando atrair mais países para suas esferas de influência. Surge, então, outro conceito para o combate urbano, onde a liberdade de ação para utilizarem-se meios potentes de guerra, como os blindados, sofre restrições, fruto do desenvolvimento dos meios de comunicação que acompanham o desenrolar da batalha e influência da opinião pública mundial nos resultados devastadores dos conflitos. A tecnologia passou a ser empregada nos armamentos e equipamentos utilizados, sendo os ataques realizados com precisão cirúrgica, atingindo apenas os 49 alvos selecionados como militares, conforme se observou na Segunda Guerra do Golfo. Os novos conceitos na tecnologia da informação também passaram a contribuir para a guerra urbana moderna, tendo grande divulgação durante as ações de tropas especiais americanas em Mogadíscio. Os embates tornaram-se não lineares e assimétricos, originando um inimigo invisível que utiliza métodos terroristas e inocentes como escudos humanos, aumentando as dificuldades, que se tornaram evidentes e, pelas experiências vividas por americanos, russos e israelenses, houve necessidade das técnicas serem adaptadas e experimentadas para este novo ambiente operacional. Os blindados também tiveram adaptações para a nova realidade, fruto das lições aprendidas nos conflitos urbanos, sendo o leiaute dos veículos, o tipo de munição e o calibre das armas principais aperfeiçoadas para surtir o efeito necessário, evitando-se perdas desnecessárias e risco de fratricídio. Além disso, outras medidas foram implementadas, como a efetiva preparação das guarnições e trabalho de inteligência, com o intuito de se evitar uma ação desastrada como do exército russo em Grosny. A blindagem passou a receber maior atenção, em vista dos ataques com armas anticarros com enorme potencial, além de artefatos com grande poder explosivo, oferecendo grande risco à tripulação dos carros e enorme prejuízo material com a destruição de blindados de última geração. Desta forma, verificando-se os conflitos após a Segunda Guerra Mundial, conclui-se parcialmente que, para a utilização de blindados na guerra moderna, desenvolvida preferencialmente em ambiente urbanizado, há necessidade de se utilizar as lições aprendidas nos conflitos mais recentes. Houve investimento em tecnologia para desenvolver veículos apropriados ao combate em áreas fechadas, instrução específica e adaptações para esta nova realidade de confronto, tanto na doutrina como no material que vem sendo utilizado. Além disso, o sistema operacional inteligência deve receber maior atenção para evitarem-se ataques mal sucedidos, genocídio e fratricídio, tendo-se grande preocupação com a opinião pública mundial e noticiário na mídia internacional. 50 3. MEIOS BLINDADOS E O COMBATE URBANO Atualmente, segundo Global Security (2006), nos combates urbanos que se desenvolvem pelo mundo, observa-se que a utilização de meios blindados tem diminuído na mesma proporção em que crescem as coberturas jornalísticas dos confrontos, onde a mídia internacional acompanha os acontecimentos, muitas vezes com transmissões ao vivo, comprometendo a liberdade de ação para os exércitos modernos utilizarem-se deste meio, possuidor de elevado poder destruidor e dissuasório. Faz-se necessário, porém, analisar os principais meios blindados utilizados por exércitos em constante experimentação e realizar um estudo comparativo com os meios utilizados pelo Exército Brasileiro, a fim de subsidiar as respostas às proposições e variáveis da presente pesquisa. Desta forma, serão estudados neste capítulo os principais meios blindados em uso atual pelos Estados Unidos e por Israel, países com experiências constantes em combates urbanos e os blindados do Exército Brasileiro utilizados pela Cavalaria, apresentando suas principais possibilidades e limitações para utilização em áreas urbanizadas. 3.1 BLINDADOS UTILIZADOS PELO EXÉRCITO AMERICANO Os Estados Unidos da América (EUA) possuem o que há de mais moderno em termos de blindados, dotados de tecnologia de ponta e com enormes vantagens em relação às demais potências mundiais, em função das recentes experimentações realizadas na Guerra do Golfo II. O necessário desenvolvimento deu-se em função dos novos desafios e lições aprendidas nos confrontos urbanos recentes, por parte de outros exércitos e do próprio exército norte-americano, nos combates no Iraque e Afeganistão. Nesse contexto, serão estudados a seguir os principais veículos blindados, seja carro de combate ou transporte de pessoal, em uso ou sendo desenvolvido pelo exército dos EUA para o combate urbano. 3.1.1 Características das Viaturas Blindadas A experiência norte-americana nos conflitos recentes demonstrou que, apesar dos problemas encontrados, a combinação de blindados com fuzileiros a pé 51 representa a melhor solução para as peculiaridades observadas nos confrontos em ambiente urbano. A assertiva pode ser comprovada analisando-se os resultados dos investimentos em localidades e áreas urbanizadas, realizadas pelo combinado blindado-fuzileiro, onde grupos rebeldes estão instalados e utilizam as construções para sua proteção. Figura 16 - Grupo progredindo sob a proteção blindada do M1 Abrams Fonte: Tropas de Elite (2006) De acordo com Tropas de Elite (2006), as operações urbanas normalmente exigem o uso de Carros de Combate (CC) pesados e leves, além de transportes blindados de tropas. Muitos tanques sofrem em operações urbanas, pois têm ângulo de elevação limitado, já que foram projetados para lutarem contra outros tanques, normalmente em terrenos planos e desertos, e não para engajar alvos localizados no alto de prédios, do segundo andar para cima ou em ângulos bem baixos, como nos porões das casas. Esses grandes blindados também sofrem com a pouca visibilidade periférica, necessitando de grande apoio do homem a pé. Assim, os CC ficam vulneráveis a ataques de armas antitanques vindos das sacadas dos prédios ou lajes das construções. Sua defesa vem da infantaria de apoio e de suas metralhadoras, tendo melhor emprego em avenidas largas ou cruzamentos para ampliarem seus campos de tiro. Caso sejam colocados à retaguarda da tropa,estarão disparando por vezes sobre seus soldados, aumentando o risco de fratricídio. Tendo em vista o uso restrito da artilharia em ambientes urbanos, os CC constituem o maior apoio de fogo disponível para os fuzileiros no investimento contra posições fortificadas. 52 As viaturas blindadas, com algumas adaptações podem, inclusive, abrir passagens através das edificações. A presença de tropas de infantaria junto aos CC inibe a ação do inimigo no que diz respeito ao uso de armas anticarro e minas. Atualmente, como se observa no Iraque, o exército norte-americano tem utilizado como principal carro de combate o Abrams, basicamente os das séries M1A1 e M1A2, com algumas inovações e modificações que serão verificadas no decorrer desta seção. Figura 17 - M1A1 Abrams Fonte: Defense Update (2006) O Abrams, utilizado nos últimos confrontos pelos norte-americanos, não possuía boa proteção contra algumas das ameaças comuns do combate urbano e suas guarnições somente estavam seguras caso permanecessem dentro de seus veículos, pois a metralhadora coaxial apresentava a mesma limitação de elevação e depressão que o canhão M256 de 120 mm, sendo necessária a exposição do atirador na torreta externa para fazer a visada nos alvos situados nas partes elevadas ou muito baixas, a fim de proporcionar a autodefesa do veículo. Conseqüentemente, a presença de elementos fora da proteção blindada, oferecia oportunidade de engajamento que poderia ser explorada por “snipers”, sendo necessária a utilização de técnicas de apoio mútuo e cobertura por parte das guarnições, fazendo com que perdessem a capacidade operativa máxima. Obviamente, o emprego de sistemas de armas controlados melhorou em muito a expectativa da eficácia e da sobrevivência do carro e de suas guarnições. Os tanques são projetados para a batalha linear no terreno aberto, onde suas características de mobilidade, potência de fogo e proteção blindada encontram as condições ideais para a exploração máxima de suas capacidades combativas e de emprego das armas. Os campos de batalha urbanos reduzem o valor destes atributos e seu mau uso nestes ambientes pode transformar-se em uma armadilha 53 de aço para sua guarnição e uma preocupação a mais para as forças que fazem uso destes meios. Algumas das limitações inerentes aos carros de combate estão sendo superadas por modificações relativamente simples que podem melhorar o poder de combate e a aplicação eficaz de táticas urbanas. Outro veículo blindado largamente utilizado pelos norte-americanos é o Bradley das séries M-2 A2 e M-2 A3, que tem se constituído em uma excelente opção para o transporte de tropas e apoio às operações da infantaria. Esses blindados possuem um ângulo mais elevado e devem ser mantidos sempre próximos a tropas a pé, evitando ruas estreitas e becos sem saída. Figura 18 - M2 Bradley no Iraque Fonte: Military Review (2006) Segundo Dos Santos (2007), de significante importância é a VBCI Bradley M2/3A3 de última geração, dotada de blindagem adicional para suportar impactos de RPG, além de um sistema mais moderno de aquisição de alvos, que propicia ao comandante da viatura um visor independente do atirador do canhão M242 de 25 mm. Figura 19 - M2A3 Bradley Fonte: Rocha Júnior (2005) É um veículo de transporte de infantaria e tem sido largamente utilizado nos confrontos urbanos em que o exército norte-americano tem tomado parte, recebendo 54 modificações de acordo com as necessidades específicas e com base nas experiências passadas e lições aprendidas. Os norte-americanos estão testando na recente guerra do Iraque o emprego de veículos blindados sobre rodas Stryker 8x8, num total aproximado de 309 unidades. Conforme análise de Bastos (2007), estes veículos são extremamente ágeis e se deslocam com muito mais facilidades que os veículos de lagartas Bradley e estão se transformando na espinha dorsal do Exército dos Estados Unidos para suas intervenções futuras e no seu conceito de “Mediun Brigade”, pelo fato de serem leves e aerotransportados. O Stryker é um veículo blindado sobre rodas, de configuração 8x8, utilizada para transporte de tropas de infantaria, possuindo blindagem para munições de até 12,45mm, embora possua outras versões que ainda se encontram em desenvolvimento, uma delas prevendo uma torre para canhão de 105 mm. Figura 20 - Um Stryker do exército dos EUA durante o desembarque dos soldados Fonte: Bastos (2007c). No Iraque estes veículos foram dotados de uma blindagem extra, conhecida como “gaiola” (Stryke CAGE), que envolve todo o veículo a uma distância de 45 cm de seu corpo principal. A idéia lembra em muito a usada pelos tanques alemães na segunda guerra mundial com saias laterais em chapas de aço ou aramados que impediam a explosão de munições de carga oca sobre sua blindagem. Este conceito vinha dando resultado nos quatro primeiros meses em que os veículos Stryke estavam em operação naquele conflito, tanto que, até aquele momento, somente dois destes veículos haviam sofrido danos, um que bateu em uma bomba próxima a estrada onde trafegava, ferindo um soldado e outro que 55 capotou ao passar sobre um dique que desmoronou, matando três tripulantes. Incidentes comuns neste perigoso tipo de operações. Figura 21 - Um Stryker em patrulha no Iraque. Fonte: Bastos (2007c). Mas, no dia 28 de março de 2004, um destes veículos que estava patrulhando áreas da cidade de Mosul, em uma estrada, foi atacado e destruído por dois tiros de RPG-7, sendo que um perfurou a blindagem “gaiola” e outro penetrou em sua blindagem incendiando o veículo. Não houve vítimas, pois o compartimento de tropas estava vazio, visto que os soldados haviam desembarcado momentos antes para um patrulha a pé, estando no veículo apenas o motorista que conseguiu sair ileso. Foi o primeiro Stryker destruído em combate no Iraque e o que impressionou foi o fato de um grupo armado apenas com RPG causou danos graves a uma unidade equipada com um veículo ultramoderno e que custa algo em torno de dois milhões de dólares cada. Figura 22 - Stryker destruído por RPG em Mosul 28.03.04 Fonte: Bastos (2007c). Vários outros Stryker foram atacados com RPG, alguns disparados do interior de veículos em movimento, através de janelas e teto solares, evadindo-se o mais rapidamente possível, impedindo desta maneira o pedido de reforços aos 56 helicópteros. Esta forma de atuação deve servir de alerta para o emprego de veículos blindados sobre rodas em zonas urbanas, cenário típico dos conflitos deste novo século. 3.1.2 Principais adaptações para o combate urbano Em decorrência dos conflitos recentes e experiências colhidas com o exército russo e israelense, os norte-americanos passaram a desenvolver sistemas de proteção para seu principal carro de combate, o M-1 Abrams, após a perda de diversos blindados em operações urbanas particularmente no Iraque. Após pesquisas realizadas foi desenvolvido um kit para a instalação no mencionado veículo, permitindo que o mesmo tivesse melhores condições para a atuação no combate em área edificada. Assim, conforme consta no USA (2006), surgiu a versão TUSK (Tank Urban Survival Kit), que pode ser colocado e retirado em qualquer CC M-1 Abrams, dependendo do ambiente em que se desenvolverá a operação. Para aumentar a capacidade de defesa de um tanque, basicamente deve-se buscar melhorar a sua blindagem, já que, normalmente, a maior proteção do carro encontra-se na parte frontal, num ângulo de aproximadamente 60 graus. Nesta área os impactos seriam mais prováveis em situações normais, mas, no combate urbano, as ameaças podem vir de todos os sentidos, ficando especialmente vulnerável o alto, a parte traseira, os flancos e o fundo do carro de combate, que se apresenta muito fino se comparado com o restante do veículo e que provou ser muito vulnerável às cargas explosivas muito grandes, ajustadas para serem detonadas sob o tanque, embora tenham sido projetados para suportar a explosão de uma mina anticarro normal. Conforme descrito no Defense Update (2006), após a destruição de tanques Merkava Mk3 por minas na faixa de Gaza e o ataque a um tanque M1A2 Abrams perto de Balad no Iraque, além do incidente posterior em Bagdad, no Natal de 2005, quando um M1A1 Abrams do 64º Batalhão Blindado foi destruído por uma mina, o alto comando do exército norte-americano decidiu pensar em uma forma de reforçar a blindagem e a proteção dos carros de combate. Para tanto, aumentou seu poder de durar na ação, frente a estas novas ameaças e desenvolveu o jogo urbano que modifica o tanque M1A2, visando maior sobrevivência no combate em áreas edificadas. 57 Arma Remotamente Operada do Interior CC Protetor do Carregador Visão Térmica Telefone do Infante Óculos de proteção e visão térmica Componentes de visão térmica Protetor do compartimento traseiro Blindagem Reativa Figura 23 - Versão TUSK do CC M-1 A2 Abrams Fonte: Arquivo pessoal. Os componentes do “kit” permitiram aumentar significativamente a proteção das áreas mais vulneráveis do CC, como o compartimento do motor (blindagem tipo “gaiola”), bem como adicionar nas saias laterais do carro uma blindagem adicional contra armas de munição de carga oca (RPG), uma torreta automática com metralhadora 7,62 mm ou .50, cujo acionamento pode ser realizado de dentro da viatura, cobrindo 360º e podendo, ainda, serem adicionadas chapas ao redor da escotilha do atirador, permitindo que a escotilha possa se abrir. A fim de possibilitar que a tropa que se desloca a pé fale com a tripulação do carro, o kit permite também que a viatura tenha um telefone na sua parte traseira. Equipamentos de visão térmica no interior do veículo permitem que a sua guarnição tenha uma melhor visão do ambiente externo. Figura 24 - Componente de visão termal Fonte: Defense Update As modificações incrementadas nos blindados americanos os deixaram equipados com blocos maiores de visão, melhorando as potencialidades da observação que são restringidas pelos blocos de visão mais velhos. De acordo com 58 a análise do Defense Industry Daily (2007), ainda mais úteis são os visores independentes térmicos para os comandantes do veículo incluído no pacote do sistema M-1A2 (SEP)16 e o visor independente para o comandante do M-2 Bradley. Estes visores adicionais permitem ao comandante e ao atirador cobrir simultaneamente setores diferentes, mantendo a observação em toda a área externa ao blindado e a potência de fogo, permitindo também o engajamento de alvos em pontos elevados. As câmeras de vídeo permitem observar “pontos cegos” em torno do tanque, especialmente nos flancos e na parte traseira. Quando o CC está manobrando, para se evitar danos ao veículo e nos seus arredores, o balizamento é absolutamente essencial, mas expõe também os guias ao risco do fogo hostil. O controle através de rádio com um guia a pé foi tentado como uma alternativa, mas provou ser bem menos eficaz. Outro benefício do novo sistema de vídeo é que permite ao motorista inverter e girar sem orientação externa, já que a câmera panorâmica multidirecional de 360 graus testada com sucesso, possui a potencialidade de detecção automática de movimento para advertir a tripulação de ameaças que se aproximam e de elementos hostis que podem escalar os veículos quando estacionados. Os sistemas de gerência da batalha (BMS) experimentados nos EUA e adotados por blindados ingleses, franceses e israelenses, melhoraram radicalmente a orientação do comandante do tanque, especialmente quando fechada a parte superior, visando a proteção máxima da tripulação. O sistema permitiu a realização do tiro com a arma principal do carro, com margens de segurança maiores, simplificando o estabelecimento de setores de tiro compartimentados, reduzindo-se o fogo cruzado e o risco de fratricídio. Dentre as melhorias nos blindados americanos para o combate urbano pode-se citar, também, a adaptação de lâminas aos carros blindados a fim de permitir o deslocamento por entre ruínas e obstáculos lançados pelos opositores. Este aperfeiçoamento foi incrementado fruto de experiências em que blindados ficaram detidos nos próprios escombros de edifícios bombardeados, não podendo _________ 16 Systems Enhancement Package (SEP) – pacote de inovações para o sistema M1A2 Abrams que será implantado nos veículos até o ano de 2009, pela empresa americana General Dynamics Land Systems, juntamente com os “kits” para o combate urbano (TUSK). 59 prosseguir e tornando-se alvos estáticos e facilmente engajados pelas armas anticarro e mísseis inimigos. Além de lâminas, já foram idealizados outros implementos, comuns aos blindados da engenharia de combate, com apropriada blindagem e mobilidade para acompanhar as ações no interior de localidades e cidades, sem comprometer a capacidade operativa dos carros. Figura 25 - Blindado adaptado com lâmina para remoção de obstáculos Fonte: Rocha Júnior (2005) 3.2 MEIOS BLINDADOS DO EXÉRCITO ISRAELENSE As Forças de Defesa de Israel (FDI), a exemplo dos norte-americanos sentiram a necessidade de modernizar seus meios blindados, adaptando-os para a realidade dos confrontos urbanos que participam e que se tornaram constantes nos últimos anos. O apoio e financiamento americano, em equipamentos de última geração e moderna tecnologia, além do permanente emprego e adestramento das forças blindadas, principalmente nas ruas de Jerusalém e na faixa de Gaza, tornaram o exército israelense um dos mais aptos do mundo na condução de operações em ambiente urbano. Desta forma, os ensinamentos colhidos quanto ao emprego de meios blindados, assim como os aperfeiçoamentos nos veículos, devem ser estudados e das lições aprendidas pode-se tirar enorme proveito para a realidade do emprego de forças blindadas em cidades e localidades. Na seqüência, serão apresentados os principais carros de combate e de transporte de pessoal em uso atual pelas forças israelenses, a fim de subsidiar o estudo comparativo do presente trabalho. 60 3.2.1 Características das viaturas blindadas De acordo com Tropas de Elite (2006), as Forças de Defesa Israelenses foram as primeiras a usar uma viatura blindada de infantaria (VBI), já que seu carro de combate era capaz de levar um grupo de fuzileiros no seu interior. Durante os episódios na península do Sinai, os israelenses capturaram centenas de tanques T-54 e T-55 russos que operavam para os árabes e aproveitando-se o chassi do veículo e implementando modificações, transformaram em eficaz veículo de transporte de pessoal, com força e blindagem suficiente para acompanhar os CC nos embates. A idéia rendeu bons frutos e assim surgiu o Achzarit, baseado naquelas transformações realizadas e que tem largo emprego nas ações em ambientes urbanizados. O veículo foi concebido com a idéia de se criar um blindado de infantaria mais reforçado que os CC, tendo em vista a necessidade inconteste dos fuzileiros avançarem sobre os objetivos para conquistá-los, enquanto os carros precisavam apenas dominá-los pelo fogo à longa distância. Figura 26 - X-3A1 Achzarit (Cruel) Fonte: Tropas de Elite (2006). Os israelenses estavam insatisfeitos com o desempenho do M-113 no Líbano e em 1982 iniciaram estudos que resultaram no Achzarit, como proposta para ter um transporte de tropas bem protegido que pudesse acompanhar os carros de combate. Na ocasião da substituição o Achzarit foi comparado com o Nagmachon, outra viatura de transporte de pessoal israelense, mas venceu a concorrência. Figura 27 - Nagmachon israelense usado no combate urbano Fonte: Israel (2006) 61 A empresa Nimda17 foi responsável pela reconstrução e adaptação dos T-54 e T-55 para a nova função. O veículo manteve as esteiras e as grandes rodas do original russo, mas a suspensão foi modificada. No Achzarit Mk1 o motor russo foi trocado pelo motor diesel de dois tempos, oito cilindros, refrigerado a água e com 650 HP, além da nova transmissão hidropneumática acoplada, que o tornou mais fácil de dirigir. Embora o motor fique na traseira, seu formato compacto permite espaço suficiente para deixar uma passagem entre o compartimento da tripulação e a traseira do blindado, sem modificar o chassi. Nesta passagem foi colocada uma porta do tipo casca de ostra operada hidraulicamente, sendo que a parte baixa é uma rampa de entrada e saída e a parte superior é levantada para aumentar a altura da saída. O motor traseiro também ajudou a compensar a blindagem adicional na parte dianteira, cujas características são preservadas, porém, o peso extra do carro demonstra um grande reforço no casco (enquanto o T-54 e o T-55 pesavam 36 toneladas, ou de 27 a 30 t sem a torre, o Achzarit pesa 44 t). O comprimento também aumentou de 3,27 m para 3,64 m. A proteção é alta e a silhueta é de apenas 2 m até o topo do chassi. A blindagem é concentrada ao redor do compartimento da tripulação, que foi projetado para levar sete soldados mais o motorista à esquerda, o chefe de viatura à sua direita e mais para a direita, o atirador. Os sete soldados ficam em dois bancos de três lugares nas laterais e outro individual no centro e à retaguarda. A parte superior do compartimento é aberta, sobrando bastante espaço para o material individual e da guarnição. Cada assento tem uma mangueira usada para um sistema individual de proteção contra agentes químicos, bacteriológicos e nucleares (QBN), que libera ar puro para as máscaras da tripulação. Em cada lado do compartimento há mais duas escotilhas adicionais para a tripulação e o motorista tem quatro periscópios. Para a guarnição, o carro apresenta dois periscópios à esquerda e quatro à direita, que permitem aos tripulantes uma visão periférica com as escotilhas fechadas. O atirador usa uma torre com uma __________ 17 NIMDA CORPORATION LTDA. Empresa privada Israelense com 100 empregados e que realiza projetos de modernização, integração e refabricação de veículos militares de diversas procedências. 62 metralhadora de 7,62 mm, que pode ser disparada de dentro do veículo sem expor o tripulante ou diretamente com o atirador sentado na escotilha. O periscópio da torre permite um campo de visão de 25º com zoom de oito vezes, além de óculos de visão noturna de 2ª geração com campo de visão de 22º e com zoom de até sete vezes. Outras três metralhadoras (Mtr) podem ser instaladas em pedestal simples na escotilha do comandante e em duas escotilhas dos tripulantes traseiros. O veículo não está equipado com armas mais poderosas tendo em vista sua função precípua de transporte de fuzileiros e de proteger seus tripulantes no deslocamento até os objetivos, carregando para isto cerca de quatro mil tiros de metralhadoras em seu interior. A proteção é melhorada com seis lançadores de fumígenos para defesa própria, sendo também possível gerar cortina de fumaça lançando diesel no escapamento do motor do lado esquerdo. O blindado tem sistema de detecção de fogo e supressão e também existe uma versão de Posto de Comando (PC) sem metralhadoras e com mais rádios. O Achzarit está em serviço na brigada de infantaria Golani e em outras duas brigadas de infantaria de reserva, em condições de serem mobilizadas em caso de necessidade, servindo como exemplo de veículo de infantaria blindada, com eficaz sistema de proteção aos fuzileiros. A empresa Nimda está desenvolvendo uma versão melhorada do X3A1 Achzarit chamado Achzarit Mk2. Ele terá blindagem melhorada, suspensão de longo curso usada nos carros de combate, para maior mobilidade em terreno acidentado no lugar das barras de torção do T-55 e um motor mais potente do que o usado originalmente. Figura 28 - Achzarit atuando no interior de uma cidade israelense Fonte: Israel (2006) 63 O armamento será melhorado com o uso de uma torre que opera remotamente um canhão de 25 mm, podendo possuir lançadores de mísseis adicionados à torre. Além das viaturas de transporte de tropa, os israelenses utilizam os carros de combate em larga escala. Assim, podem-se observar algumas das principais características do seu principal blindado: o Merkava. Este blindado possui uma boa proteção para seus ocupantes, materializada por uma blindagem reforçada e que oferece uma segurança considerável, caracterizando a maior ênfase dada a este aspecto na sua concepção. O motor foi colocado na parte frontal, para aumentar a proteção à tripulação, deixando a mobilidade em segundo plano, já que o veículo ficou mais pesado. Com o motor colocado na parte dianteira, o espaço na traseira foi destinado para o transporte de munição extra ou para o transporte de fuzileiros (até 10 infantes), sendo o único CC até o momento com tal capacidade. Esta opção ainda é pouco utilizada, pois acarreta uma redução de 45 tiros de canhão na sua dotação normal, além dos soldados ficarem totalmente isolados, pois para eles não há dispositivos que permitam a visão para fora do veículo. O primeiro protótipo foi completado em 1974, sendo interessante o fato de que os Estados Unidos contribuíram com US$100 milhões para custear o desenvolvimento e parte da produção do veículo. Os primeiros Merkava, da série Mk 1, eram dotados de canhão de 105 mm e motor de 900 HP e foram produzidos pela IMI (Israel Military Industries), sendo entregues ao exército de Israel em 1979 e empregados em combate três anos depois, no Líbano. Figura 29 - Merkava Mk 1 Fonte: Tropas de Elite (2006). Em 1984 foi fabricada a segunda geração do Merkava, que possuía ainda o canhão de 105 mm e o mesmo motor do anterior, porém melhor protegido e equipado com novo telêmetro laser, além de outras inovações menores que lhe foram incrementadas. 64 Figura 30 - Merkava Mk 2 Fonte: Tropas de Elite (2006). Em 1990 apareceu o Merkava 3, já com canhão de 120 mm de alma lisa, um motor mais potente de 1.200 HP, controles elétricos para a torre, dentre outras melhorias. Israel possui cerca de 1.280 desses carros, com a enorme vantagem de contar com tecnologia e suprimento próprios para sua produção, exceção feita ao motor, de origem americana. Figura 31 - Merkava Mk 3 Fonte: Tropas de Elite (2006). 3.2.2 Adaptações para o combate urbano Conforme consta no Defense Update (2006), em conseqüência das experiências recentes com combate urbano, as Forças de Defesa Israelenses desenvolveram um “kit” de proteção para o Merkava Mk3, com especificações para a guerra urbana, incluindo reforço na blindagem inferior, metralhadora .50 que pode ser operada remotamente do interior do veículo evitando a exposição do atirador, reforço de aço para o sistema ótico em todas as aberturas do carro e instalação de uma seteira para “sniper” na porta traseira, visando a proteção daquela parte vulnerável do veículo. Além disso, os israelenses passaram a desenvolver a nova versão do Merkava, a série Mk4, com várias inovações, a qual já foi produzida seguindo a evolução natural dos blindados e o aperfeiçoamento tecnológico que o combate moderno requer. Este carro de combate possui um motor diesel mais potente (1.500 HP) controlado por um computador conectado ao painel do motorista e uma 65 moderna transmissão automática. O motor e a transmissão formam o chamado "powerpack", que é considerado o mais avançado do mundo. A grande potência do motor, em conjunto com uma suspensão baseada na do Mk-3, propicia ao veículo alta mobilidade e manobrabilidade. A instalação do novo "powerpack" no Merkava propiciou um redesenho do casco, permitindo o aumento da proteção frontal e a melhoria do campo de visão do motorista. Para movimentações a ré, uma câmera foi desenvolvida para permitir ao motorista observar a traseira do veículo não necessitando da ajuda do comandante ou de apoio de fora do carro para as manobras para trás. O Merkava 4 é equipado com um canhão de 120 mm, alma lisa, que é uma versão avançada do modelo desenvolvido para o Merkava Mk-3. O novo canhão pode disparar munições de alta energia com maior capacidade de penetração. A munição pronta para disparo é armazenada em um compartimento protegido e o sistema permite ao municiador selecionar semi-automaticamente o tipo de munição desejado. O modelo Mk4 também tem um novo sistema de tiro com componentes dotados de alta capacidade em identificar alvos à distância. O sistema de visão noturna está baseado no mais avançado em tecnologia térmica, com seguimento automático de alvos aperfeiçoado. O sistema permite a implementação de uma doutrina para seleção de alvos, engajamento e destruição pelo comandante e atirador, independentemente, sendo o sistema de tiro controlado por “displays” e sistemas avançados ajudando o comandante com uma efetiva comunicação e gerenciamento da batalha. Figura 32 - Merkava Mk4 Fonte: Defense Update (2006). 66 Um “kit” diferente para o combate urbano foi desenvolvido para o Merkava Mk 4, versão Namera (tigre), que, dentre outros aperfeiçoamentos, recebeu uma metralhadora na torreta externa que pode ser operada por tele controle pelo atirador de dentro do veículo. A fim de se opor às ameaças urbanas típicas, melhoramentos modulares foram implementados e estão disponíveis para os tanques, constando de um reforço adicional cerâmico nos pontos mais vulneráveis do veículo, tendo a vantagem de não descaracterizar o desenho exterior do blindado, evitando a colocação de sacos de areia, blocos de concreto e de gaiolas para melhorar a proteção, como visto no passado. Além disso, ainda segundo o Defense Update (2006), foram incorporadas aos novos modelos umas saias mais baixas nos flancos para proteger a suspensão e a instalação de gaiolas para proteger as áreas vulneráveis na parte traseira, além de proteção blindada para os optrônicos do motorista e da guarnição, inclusive na seteira da porta traseira para o “sniper”. Figura 33 - Kit para combate urbano instalado no Merkava Namera Fonte : Defense Update (2006). As chamadas gaiolas já demonstraram sua eficácia em confrontos recentes no Iraque, na proteção de ataques de coquetéis Molotov e outros meios contra as guarnições dos carros e são usadas de forma extensiva pelos EUA, pelos ingleses e por forças australianas. O mesmo conceito é usado também pelo exército de Israel operando na faixa de Gaza, para a proteção de viaturas blindadas de infantaria, de escavadoras blindadas e de viaturas blindadas de transporte de pessoal. O blindado leve Striker, que é uma viatura de transporte de tropa concebida especialmente para o combate urbano, já experimentou a proteção das gaiolas em 67 testes e em missões no Iraque e na faixa de Gaza, demonstrando eficácia contra os ataques rebeldes e contra armas improvisadas, como coquetéis Molotov. Figura 34 - VBTP Striker protegida com gaiolas Fonte: Defense Update (2006) Outros melhoramentos na proteção ainda estão sendo projetados segundo o Centro de Pesquisa Automotriz, do Desenvolvimento e da Engenharia dos Tanques do Exército dos EUA (ARDEC) e um deles é considerado imperativo para todos os blindados do futuro, pelos técnicos daquela entidade, o chamado sistema de proteção ativo (APS), que se espera ser implantado dentro dos próximos anos. Os russos abriram caminho nesta tecnologia com o desenvolvimento do sistema “Drozd” de proteção, mas as tecnologias ocidentais parecem ainda mais promissoras, sendo o sistema mais desenvolvido no momento o “Trophy” israelense e o “FCLAS” americano, que neutralizam a ação de mísseis e foguetes, em pleno vôo, evitando o choque contra os veículos. Estes sistemas foram testados e mostraram-se apropriados para a guerra urbana, porque podem ser empregadas com segurança perto das tropas e da população civil, sendo que já foi implementado no Merkava e no novo veículo blindado leve Stryker. Figura 35 - Sistema de proteção ativa Trophy israelense instalado no Merkava Fonte: Israel (2006). 68 Figura 36 - Viatura blindada leve Stryker com sistema de proteção ativo Fonte: : Israel (2006). Outra novidade apresentada para o Merkava é a transformação em veículo blindado para evacuação de feridos, nas versões Mk3, e que será amplamente utilizado nos combates urbanos em que Israel estiver participando, oferecendo equipamentos para emergências e podendo atender e evacuar até dois combatentes feridos. Figura 37 - Visão do interior do Merkava adaptado para evacuação de feridos Fonte: : Israel (2006). 3.3 BLINDADOS EM USO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO O Exército Brasileiro (EB) há alguns anos vem procurando um novo rumo para a modernização de suas viaturas blindadas, seja nas linhas sobre rodas (SR) ou sobre lagartas (SL). Dentro desta perspectiva e de acordo com as restrições orçamentárias, o Brasil adquiriu nos anos 90 do século passado, alguns blindados dos Estados Unidos e da Bélgica, visando o necessário aprimoramento destes meios, já que a indústria nacional ficou estagnada após a falência da empresa 69 Engenheiros Sociedade Anônima (ENGESA), que era a fabricante dos principais blindados nacionais. Os blindados adquiridos não resolveram totalmente o problema, agravado com a quebra de algumas peças não existentes no mercado ou que não eram mais fabricadas, aumentando a dependência externa para a manutenção desses veículos. Apesar do Brasil já ter fabricado viaturas blindadas, de concepção atual e com moderna tecnologia, ocorre hoje uma aparente defasagem em relação a outros exércitos. A fase é de procura de um rumo para melhor aproveitar os blindados atualmente em uso, principalmente pela arma de Cavalaria, tentando adaptar-se para a nova realidade do combate não linear e assimétrico, desenvolvido em ambiente urbano. Desta forma, serão apresentados a seguir os principais blindados brasileiros, focando naqueles que fazem ou farão parte das unidades de Cavalaria18, a fim de estabelecer-se um paralelo com os meios utilizados pelos exércitos americano e israelense, que são os mais experientes em operações em terrenos urbanizados. 3.3.1 Blindados sobre lagartas De acordo com Bastos (2007), os principais meios sobre lagartas em uso atualmente pelo EB são os adquiridos dos norte-americanos e belgas há mais de dez anos, quando já eram considerados obsoletos em seus exércitos, principalmente a Viatura Blindada de Combate (VBC) M60 A3 TTS norte-americana, sendo, no entanto, considerado o melhor blindado em uso na América Latina, principalmente por serem dotados de visão termal. Conforme Brasil (2002c), observa-se que este veículo foi recebido com a falta de alguns itens e componentes mecânicos, que fazem com que os carros variem de modelo entre si, diferenciando alguns detalhes externos, não comprometendo, entretanto, o seu desempenho e operacionalidade. A versão adquirida pelo Brasil possui componentes como o sistema de observação e pontaria termal que, aliados à capacidade de destruição do principal armamento, concedem a este blindado grande letalidade e durabilidade nos modernos teatros de operações. ____________ 18 O CC M41C não será apresentado por estar sendo substituído por blindados mais modernos. 70 O veículo pode ser dividido em duas grandes partes, que são a torre com seu armamento e o chassi com o motor e os trens de rolamentos. No seu interior o carro é dividido em 03 (três) compartimentos: compartimento de combate, no interior da torre, compartimento do motorista e compartimento do motor. A tripulação do CC é constituída pelo comandante da viatura, atirador, motorista e pelo auxiliar do atirador, perfazendo 4 (quatro) militares. O armamento principal é o canhão 105 mm, possuindo como armamento secundário 2 (duas) metralhadoras, uma coaxial (7,62 mm) e outra do comandante do carro (.50), além de 2 (dois) lançadores de fumígenos. Figura 38 - Partes externas do M60 A3 TTS Fonte: IP 17-84. Possui condições de realizar o tiro com a viatura em movimento, sendo dotado de sistema de estabilização do canhão, porém com o inconveniente de não ter este mesmo sistema para os periscópios, dificultando o acerto no primeiro tiro. A possibilidade de executar tiro em movimento confere ao M60 grande versatilidade em qualquer tipo de ambiente operacional, inclusive o urbano, já que a velocidade ideal para engajamento de alvos varia entre 16 e 34 Km/h, podendo fazer fogo contra alvos ponto ou área durante os deslocamentos. O peso do veículo, de aproximadamente 51,5 Ton, pode dificultar sua atuação no interior de áreas urbanizadas, diminuindo a mobilidade e manobrabilidade nestes ambientes. O seu sistema de comunicações permite a comunicação interna entre os membros da guarnição e externa até um alcance aproximado de 32 km por rádio, carecendo de um contato aproximado com os fuzileiros que se deslocam protegidos pela viatura. 71 É dotada de um motor cuja potência é de 750 HP, com transmissão de 2 (duas) velocidades à frente e 1 (uma) à ré e com um sistema elétrico alimentado por uma corrente de 24V, utilizando seis baterias de 12V com capacidade de 100 A/h. O combustível é o óleo diesel, tendo os seus reservatórios a capacidade total de cerca de 1.450 litros, conferindo ao veículo um desempenho que lhe permite alcançar as velocidades de 16 Km/h (baixa), 48 Km/h (alta) e 11 Km/h (ré), com uma autonomia aproximada de 450 Km. Possui a capacidade de vencer rampas de cerca de 60% (30,5º) e uma inclinação lateral máxima de 30% (16,5º). Sobe degraus de no máximo 91 cm, bem como possui condições de ultrapassar, sem preparação, vaus de 1,20 m e, com preparação, de até 2,40 m. Possui ainda a capacidade de passar sobre fossos de até 2,6 metros. Estas características não são totalmente aproveitáveis no combate no interior de localidades. A VBC possui ainda como principais dimensões: altura de 3,28 m; largura de 3,62 m; comprimento de 8,25 m (com tubo ancorado) e de 9,40 m (com tubo à frente); e distância do solo de 0,45 m, necessitando de ruas largas ou avenidas para sua maior dirigibilidade em ambiente urbanizado. Figura 39 - M60 A3 TTS Fonte: Arquivo pessoal Segundo conclusão de Rocha Júnior (2005), no que diz respeito à munição disponível para emprego nas operações com blindados, a VBC possui a capacidade de conduzir em seu interior 63 granadas de 105 mm de todos os tipos, 6.000 cartuchos de calibre 7,62 mm, 900 cartuchos de Mtr.50 e 24 granadas fumígenas. 72 A munição do tipo “flecha” anticarro (APDS-T, APFSDS-T e TPDS-T) não é recomendada para uso sobre tropa amiga desabrigada, tendo em vista o risco dos componentes descartáveis da granada, que se desprendem após a saída do projetil, atingir os militares ao seu redor. A área que deve ser protegida estende-se por 1000 m à frente do canhão do CC e 70m para os lados da trajetória do tiro, sendo desaconselhável seu uso no combate urbano, pois os fuzileiros utilizam a viatura para sua proteção e normalmente permanecem próximos aos blindados, aumentando o risco de fratricídio. Figura 40 - Munição de energia cinética (“flecha”). Fonte: Rocha Júnior (2005). A munição de energia química (HEAT-T) é usada principalmente contra fortificações, pessoal e viaturas levemente blindadas. Contém uma carga de altoexplosivo, que penetra a blindagem e causa a destruição no interior do alvo pelas lascas e estilhaços da parede interior, pelo impacto direto e pela onda de choque que provoca. Da mesma forma, esta munição não deve ser disparada sobre tropas amigas desabrigadas, já que fragmentos da granada podem atingi-las. A área de perigo se assemelha à descrita anteriormente, porém, é mais recomendável sua utilização no interior de localidades por ser bastante apropriada para eliminar pequenos grupos homiziados em edificações. A munição do tipo alto-explosiva plástica (HEP-T) é uma munição antimaterial usada, prioritariamente, contra áreas e pontos a grandes distâncias (acima de 2000 m). Ao se chocar contra uma superfície dura, o lado oposto quebrará em pequenos estilhaços, causando danos pessoais e materiais nas guarnições dos blindados, provocando avarias significativas nos instrumentos de tiro e outros componentes menores. O mesmo efeito é obtido contra superfícies de concreto, podendo destruir estruturas reforçadas com espessura de 1,8 a 2,4 m. Portanto, além da munição de 73 energia química, a munição supracitada é ainda mais apropriada para o emprego no combate urbano. A munição antipessoal (APERS-T) é uma munição usada, prioritariamente, contra tropas em campo aberto. O interior da granada é composto por inúmeros subprojetis (flechetes), que, após a detonação, se dispersam sobre a área do alvo. O tiro com essa munição também não pode ser realizado sobre tropa amiga desabrigada. Assim, esse tipo de munição pode ser usado com restrições para atingir grupos entrincheirados em escombros ou nas coberturas de edifícios. Outro veículo blindado sobre lagartas, adquirido pelo EB, dentro da política de modernização, foi o CC LEOPARD 1 A1, comprados da Bélgica e que são orgânicos dos Regimentos de Carros de Combate (RCC), sendo utilizados por estas Unidades há cerca de 10 anos. Conforme Brasil (2000), a VBC - CC LEOPARD 1 A1 é um carro de combate originário da antiga Alemanha Ocidental, tendo as suas primeiras unidades construídas pela Krauss-Mafei de Munique, em setembro de 1965, e sua produção continuada até 1979. No total, foram fabricados 2.437 carros de combate para o Exército Alemão, em quatro modelos básicos: o Leopard 1 A1, que com blindagem adicional recebeu o nome de Leopard 1A1A1; o Leopard 1A2; o Leopard 1A3 (com nova torre) e o Leopard 1A4 (com nova torre e novo sistema de controle de tiro). Muitos países como: Austrália, Canadá, Itália e Bélgica, adotaram a VBC - CC Leopard 1 A1 como CC principal e ao longo dos anos vêm modernizando suas VBC, de forma que, atualmente, o Leopard 1A5 é a última versão. Assim, observa-se que o Leopard 1 A1, pode ser considerado obsoleto para os mais modernos exércitos, tendo em vista a evolução para versões mais modernas, embora, para a realidade sul-americana, continue sendo considerado um bom carro. O CC Leopard 1 A1 é constituído de 2 (duas) grandes partes, que são a torre com armamento e a carroceria com o motor e os trens de rolamento. A exemplo do M60, sua guarnição é composta por 4 (quatro) homens: o comandante da VBC, o atirador, o motorista e o auxiliar do atirador. Como armamento principal possui também 1 (um) canhão 105 mm, além de 2 (duas) metralhadoras 7,62 mm, uma coaxial e outra antiaérea e 8 (oito) lançadores de fumígenos de 76 mm, como armamentos secundários. Possui condições de realizar o tiro com a viatura em movimento, devido a sofisticado sistema de 74 estabilização, que permite a realização de tiros com elevada precisão e a observação do campo de batalha mesmo com a VBC em movimento. Esse sistema permite que a viatura possa se deslocar em qualquer terreno com o armamento principal sofrendo um mínimo de variações na sua elevação e direção, o que possibilita uma rápida reação em detrimento de proteção do carro. A demora para o engajamento de um alvo é muito menor, pois a transferência de objetivo pode ser feita em movimento e, em caso de urgência, permite realizar o tiro em movimento com precisão de até 1.500 m. O seu peso é de aproximadamente 40 Ton, quando totalmente carregado e pronto para sair para o cumprimento das missões, utilizando-se de um motor cuja potência é de 830 HP, com transmissão de 4 velocidades com acionamento hidráulico das embreagens. Figura 41 - Leopard 1A1 Fonte: Arquivo pessoal O sistema elétrico do carro é alimentado por uma corrente de 24V / 400A, utilizando dois grupos de 4 (quatro) baterias de 12V. O óleo diesel é utilizado como combustível, possuindo reservatórios com capacidade total de 985 litros, para um consumo médio em estrada de cerca de 610 m/litro e de 330 m/litro através campo, o que lhe confere uma autonomia aproximada de 450 Km. A velocidade máxima pode alcançar 62 km/h à frente e 24 km/h à ré, possuindo capacidade de vencer rampas de cerca de 60% e uma inclinação lateral máxima de 30%. Sobe degraus de no máximo 1,15 m e possui condições de ultrapassar, sem preparação, vaus de 1,20 m e, com preparação, de até 2,25 m. Possui ainda a capacidade de passar sobre fossos de até 3 (três) metros. Algumas 75 dessas capacidades não são totalmente vantajosas ao combate urbano, porém demonstram a grande versatilidade do Leopard. O seu sistema de comunicações permite a comunicação entre os membros da guarnição e externa até aproximadamente 25 km por rádio, também carecendo de uma melhor comunicação com os elementos externos próximos ao veículo, fundamental em operações urbanas. No tocante à munição, de acordo com Rocha Júnior (2005), o veículo possui capacidade de conduzir em seu interior 60 granadas de 105 mm (incluídas as munições anticarro, antipessoal e do tipo especial), 4.600 cartuchos de calibre 7,62 mm e 24 granadas fumígenas de 76 mm. A munição anticarro e antipessoal do armamento principal possui as mesmas características citadas na VBC M60 e deve ser utilizada com precauções, visando evitar o fratricídio ou baixas na população civil não combatente. Há, ainda, um tipo especial de munição (WP-T), que tem como principal característica uma elevada capacidade incendiária e de produção de fumaça, sendo mais apropriada para emprego contra alvos localizados no interior de instalações fixas, como casas e edifícios, ou mesmo para impedir a observação inimiga sobre as formações que progridem no interior da localidade, Além dos carros de combate, o Regimento de Cavalaria Blindado (RCB) utiliza também a Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) M113B, de origem norte-americana, a qual foi desenvolvida para atender à necessidade do exército dos Estados Unidos de possuir uma viatura leve e versátil para o transporte de infantaria. Possui como principais características, segundo o Centro de Instrução de Blindados (CIBld)19, a guarnição composta por dois homens, o motorista e o atirador do armamento principal que é uma metralhadora .50 anti-aérea, colocada em uma torreta arredondada, podendo transportar um grupo de combate (GC) de 10 homens. O M113 possui motor original à gasolina, que foi substituído por um a diesel nas versões mais modernas, com uma autonomia de cerca de 540 Km na estrada e de 321 Km através campo, adquirindo características que lhe conferiram maior __________ 19 Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires (CIBld), localizado em Santa Maria no Rio Grande do Sul, é uma das mais recentes organizações militares do Exército Brasileiro, criado em 1996 com o objetivo de servir de base para o aperfeiçoamento profissional do Núcleo de Blindados do exército. 76 potência. O peso do blindado equipado para o combate é de 10,6 Ton, podendo alcançar a velocidade de 63 Km/h à frente, 9,5 Km/h à retaguarda e por suas características anfíbias chega a 5,6 Km/h na água. A VBTP possui uma blindagem de duralumínio, com resistência satisfatória contra estilhaços e projetis não perfurantes de armamento leve. No caso das ameaças urbanas atuais e seu arsenal anticarro, o veículo possui algumas vulnerabilidades na sua proteção e sobrevivência. Tal assertiva pode ser comprovada pelo fato dos mais experientes exércitos já o terem substituído por blindados mais resistentes e com moderna tecnologia, conforme visto nas seções anteriores. As características apresentadas referem-se ao M113 A3, que é a versão mais recente da VBTP no EB, possuindo, ainda, novo sistema de transmissão, lançadores de fumígenos, sistemas de purificação de ar contra ataques químicos, bacteriológicos e nucleares (QBN), oferecendo melhores condições para enfrentar o combate urbano. 3.3.2 Blindados sobre rodas Os regimentos mecanizados da Cavalaria do EB utilizam blindados sobre rodas para o cumprimento de suas missões, com tecnologia e materiais nacionais e que eram fabricados pela extinta ENGESA. Dentre os veículos em uso atualmente, a Viatura Blindada de Reconhecimento (VBR) EE9 Cascavel, confere às pequenas frações boa potência de fogo e proteção blindada para o cumprimento de missões básicas. Possui como características principais, de acordo com o CIBld, uma guarnição composta por 03 homens, que são o motorista, o comandante do carro e o atirador do armamento principal que é um canhão de 90 mm, possuindo como armamentos secundários duas metralhadoras 7,62 mm, uma coaxial e outra antiaérea. Possui espaço para transportar 44 munições de canhão e 2200 tiros de 7,62 mm. O peso do veículo equipado e pronto para o cumprimento das missões chega a 13 toneladas, relativamente mais versátil para o combate urbano, se comparado aos blindados sobre lagartas. O veículo atinge no máximo a velocidade de 110 Km/h à frente e 60 Km/h à retaguarda, com uma autonomia de 700 Km e utilizando óleo diesel como combustível. 77 A blindagem é de aço, não tendo recebido qualquer reforço extra, o que pode tornar-se uma vulnerabilidade, em face às ameaças atuais do combate urbano, além de não possuir um sistema de defesa contra ataques QBN, nem equipamentos de visão térmica ou visão noturna, essenciais à sobrevivência do carro na guerra moderna. Figura 42 – EE-9 Cascavel Fonte: Bastos (2006) Conforme analisou Bastos (2006), o Cascavel teria que passar por um processo de revitalização e modernização para ter o mínimo de condições de utilização no campo de batalha onde atualmente se desenvolvem os combates. Este processo foi iniciado no final do século passado, mesmo após o fechamento definitivo da ENGESA, em 1993, que seria a responsável natural pela remontagem dos veículos, empregando tecnologia moderna. A idéia para a recuperação em larga escala destas viaturas remonta a 1998, culminando os estudos em 2000 e iniciando-se em 2001. Foi então montada uma linha de recuperação, que tinha a conclusão dos trabalhos prevista para 2005, realizando em alguns veículos quase uma refabricação. O processo iniciado tornouse mais complexo que uma linha normal de fabricação, já que foi necessário desmontar cada um dos veículos, item por item, modificando peças para sanar até mesmo os defeitos originais do veículo. A repotencialização visa permitir uma sobrevida destas viaturas até o ano de 2011, quando, segundo o planejamento apresentado e conclusão de Bastos (2006) haverá a necessidade de uma nova família de blindados sobre rodas para o Exército Brasileiro, com veículos mais modernos e preparados para o combate urbano. Até o momento não foi encerrado o processo de revitalização dos EE9 Cascavel e não há previsão de conclusão dos trabalhos. 78 De qualquer forma, apesar dos parcos recursos destinados a este fim, o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), vem trabalhando na repotencialização de alguns destes veículos. O chamado Projeto Fênix que visava modernizar a família de blindados sobre rodas, tinha previsão para o Cascavel de algumas inovações que, sem dúvida, melhoraria bastante a sobrevivência deste blindado. Dentre outras novidades, destacavam-se a capacidade de realizar tiro em movimento, o fato de possuir giro elétrico na torre, de localizar e engajar alvos sob condições restritas de visibilidade,de incorporar dispositivos de visão noturna (luz residual) e de telemetria, de incorporar equipamentos integrantes do Sistema de Comando e Controle de Unidade e de permitir que a tripulação possa operar utilizando vestimentas adequadas para o combate em ambiente QBN, o que tornaria esta VBR melhor preparada para o combate urbano. Ainda a respeito do Cascavel é interessante destacar que empresas estrangeiras como a israelense Nimda Corporation Ltd adquiriram algumas destas viaturas, versão MK II do exército do Chile para realizar modificações e inovações, semelhantes às propostas pelo Projeto Fênix brasileiro. Além disso, a Colômbia tem empregado o EE-9 Cascavel em combates reais na sua luta contra as FARC e vem conseguindo alguns bons resultados, o que mostra que o veículo, mesmo sendo um produto dos anos 80 ainda se mantém totalmente operacional, sendo que 46 veículos foram modernizados por uma empresa local, com o apoio de algumas empresas brasileiras20. Uma empresa belga lançou no mercado em 2002 um kit para modernização de veículos militares sobre rodas e lagartas, incluindo-se os blindados EE-9 Cascavel, onde se prevê a mudança do canhão para um versão mais nova, a Mk-3, com novo freio de boca, possibilitando-o disparar munição tipo Flecha e incorporando os itens constantes da relação mencionada para a nova modernização oferecendo, ainda, uma nova torre em alumínio, maior que as atuais em uso, com um novo canhão de 90mm, o Mk-8, com poder de fogo equivalente a um canhão de 105mm do tipo que é empregado nos Carros de Combate Leopard 1 A1 e M-60 A3 TTS, apresentados anteriormente. Quanto à viatura EE 11 Urutu, da mesma forma __________ 20 Empresas como a COLUMBUS COMERCIAL IMPORTADORA E EXPORTADORA LTDA, de São Paulo e UNIVERSAL IMPORTAÇÃO, EXPORTAÇÃO E COMÉRCIO LTDA, do Rio de Janeiro participaram da 1ª Fase no AGSP e ainda estão oferecendo seus serviços a diversos clientes no exterior, principalmente para veículos blindados EE-9 e EE-11. 79 que o EE 9 Cascavel, a fabricação é nacional da ENGESA e algumas características básicas são apresentadas pelo CIBld, como a constituição da guarnição de 5 homens, sendo o comandante do carro, o motorista, o atirador da Mtr .50, o atirador do morteiro e o municiador, pois esta última versão do Urutu da série MK IV, que o EB possui apenas 06 exemplares, foi concebido na versão porta-morteiros de 120mm raiados. Outras características deste veículo, que o torna bastante apto para as operações urbanas, são o seu peso pronto para o combate, em torno de 22 Ton e a velocidade que pode atingir 56 Km/h, com uma autonomia de 350 Km. A viatura tem carência de um sistema contra ataques QBN e de optrônicos para o comandante do carro e guarnição, possuindo apenas um equipamento de visão noturna opcional para o motorista. Apesar das deficiências, o EE-11 da nova versão, repotencializado pelo Arsenal de Guerra de São Paulo, chamado Urutu II vem sendo utilizado com êxito pelas tropas brasileiras no Haiti e segundo Bastos (2007), empresas estrangeiras, como a Nimda israelense, já demonstraram interesse em patentear uma nova versão do Urutu com várias melhorias e inovações, particularmente quanto à sobrevivência do veículo no combate atual. Dentre as principais modificações destaca-se a capacidade de enquadrar e engajar alvos sob condições restritas de visibilidade, incorporar dispositivos de visão noturna (luz residual) e de telemetria, incorporar equipamentos integrantes do Sistema de Comando e Controle de Unidade, permitir que a tripulação possa operar utilizando vestimentas adequadas para o combate em ambiente QBN e portar uma torreta compatível com metralhadora .50, 7,62mm ou lançador automático de granadas de 40mm. As experiências práticas das patrulhas brasileiras com os carros utilizados no Haiti, em processo de testes e improvisações, visam colher ensinamentos para fazer face às novas ameaças surgidas no ambiente urbano e aos armamentos utilizados por rebeldes e traficantes haitianos. Certamente o arsenal utilizado por bandos armados nos bairros pobres de Porto Príncipe, não podem ser comparados aos utilizados por iraquianos ou palestinos no Oriente Médio, mas de igual forma as armas utilizadas podem trazer danos aos veículos e suas guarnições, principalmente quando disparadas contra as partes mais vulneráveis dos carros. 80 Figura 43 - EE11 Urutu patrulhando ruas de Porto Príncipe Fonte: COTER Assim, a torre do Urutu recebeu uma proteção blindada, fabricada no próprio Haiti pela empresa La Perfection Machine Shop, que oferece, ainda conforme análise de Bastos (2007), uma maior proteção para o atirador. A torreta automática israelense RCWS 30 (Remote Controlled Weapon Station), que foi testada por um breve período nas viaturas Urutu, fruto de uma parceria entre as empresas Indústria de Material Bélico (IMBEL) e a Rafael israelense, poderia equipar melhor os veículos sobre rodas do Brasil, porém o projeto não foi levado adiante. De qualquer forma, o Urutu vem sendo utilizado em larga escala em operações urbanas, com inovações como os redutores planetários nas rodas e a torreta com proteção blindada do compartimento do motorista, que já foi testada e demonstrou sua eficácia. Esta torreta está sendo desenvolvida no AGSP pela empresa de blindagens Centigon Ltda e é semelhante à aplicada nos blindados sulafricanos Ratel, operados pelos jordanianos no Haiti. Além disso, dentre os veículos que receberam a torreta blindada para o motorista, dois possuem uma lâmina tipo “buldozer” para remoção de obstáculos, um na versão ambulância e outro na de transporte de tropas. Estudos apontam, também, para a adaptação de um desses modelos para a versão Posto de Comando, podendo ser utilizado, inclusive, em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). 3.4 CONCLUSÃO PARCIAL O combate urbano moderno, como se observa principalmente no Iraque e o desenvolvido na Faixa de Gaza, possui características próprias e que obrigaram Estados Unidos e Israel a buscarem um constante desenvolvimento dos seus meios e de sua tecnologia, a fim de reduzir o tempo de conflito e as perdas humanas e materiais. 81 Ao analisarem-se os meios blindados mais utilizados por estes países nos citados conflitos, verifica-se que a cada embate, novas lições são aprendidas e as falhas geram inovações e melhorias que garantem a sobrevivência daqueles meios no combate. O emprego de blindados para dissuadir, proteger os fuzileiros a pé e até resolver rapidamente as questões, parece ser a forma decidida por estes exércitos com larga experiência nestes tipos de confrontos, não se admitindo qualquer patrulhamento ou ataque a resistências sem a utilização desses meios, conforme se verificou nesta seção. O exército norte-americano, após perder ou danificar seriamente alguns dos seus principais blindados como o M1A2 Abrams e o novo Stryker, percebeu a necessidade de se realizar algumas adaptações nestes blindados para o combate urbano, surgindo a versão TUSK (Tank Urban Survival Kit), com inovações que possibilitam maior sobrevivência do carro em ambientes urbanizados. Além das melhorias desenvolvidas para as linhas de blindados existentes, os americanos não abriram mão de desenvolver novos carros, como o blindado leve 8x8, sobre rodas, Stryker, que possui características próprias para a guerra urbana. De forma semelhante aos norte-americanos e colhendo as lições de atuações anteriores e de outros exércitos, os israelenses também rumaram na direção do desenvolvimento de meios blindados voltados para o combate em área urbana, já que a maioria dos conflitos em que vem tomando parte se desenvolve neste ambiente. Assim, as Forças de Defesa de Israel são consideradas a tropa mais preparada para atuar no combate urbano. Os constantes empregos somados ao eficiente treinamento e investimento no setor de defesa, tornaram Israel uma potência militar respeitada no mundo. Após anos intensos de emprego em situações reais, seu veículo principal da série Merkava versão Namera é considerado um dos melhores para o combate urbano e a viatura de transporte de infantaria Achzarit é uma das mais confiáveis e seguras. Durante muito tempo Israel foi financiado na parte militar pelos Estados Unidos e isso fez com que muita tecnologia, até os dias atuais, são compartilhadas pelas duas nações, inclusive utilizando os mesmos veículos como é o caso dos recentes Stryker. Observa-se nos veículos norte-americanos e israelenses semelhanças que apontam para uma tendência das novas linhas de blindados com características 82 para atuar no inevitável ambiente urbano da guerra do futuro. Muitas inovações como o sistema de proteção ativo, contra mísseis e foguetes, já é considerado item obrigatório nos carros em estudo ou em fabricação. Ao analisar os meios blindados utilizados no Brasil, percebe-se que os investimentos realizados deixaram de contemplar as inovações para o combate urbano, exceção feita ao Urutu que, por estar sendo utilizado nas missões de estabilização no Haiti, teve que receber alguma modificação, ainda que pequena, para atuar no interior de cidades. Os veículos sobre lagartas não possuem qualquer proteção extra, principalmente nas partes que se apresentam mais vulneráveis aos atiradores de escol e armas anticarro, que são a torre e as partes de cima e de baixo dos blindados. Além disso, os carros adquiridos há aproximadamente dez anos, já estão sendo fabricados, pelos países de origem, em versões mais modernas e mais versáteis do que as que o EB possui, tornando-os quase que obsoletos aos olhos do combate moderno. A linha sobre rodas, após a falência da ENGESA, não teve desenvolvimento satisfatório e, hoje, muitos blindados Cascavel e Urutu, com a vida útil praticamente esgotada, estão sendo repotencializados no Arsenal de Guerra de São Paulo, porém com poucas inovações no que se refere ao combate urbano. Conforme conclusões de alguns pesquisadores, como o professor Expedito Bastos, o Brasil carece de uma nova família de blindados sobre rodas, com concepção mais moderna e já preparados para sobreviver às ameaças urbanas. Isto posto, conclui-se parcialmente que, os blindados em uso atualmente pela Cavalaria do EB carecem de aperfeiçoamentos com especificações para o combate urbano e alternativas paliativas reduzem o problema, porém estão longe de ser a solução ideal. Os projetos de modernização devem ter como base a real tendência das guerras desenvolverem-se em teatros de operações que englobam grandes cidades ou suas periferias e, portanto, os veículos blindados empregados devem possuir armamentos, munições e tecnologia que permitam a sobrevivência destes em ambientes fechados. A repotencialização e até mesmo a refabricação das antigas viaturas, poderiam seguir o exemplo de implementação de “kits” para combate urbano a serem colocados nos carros e que estão sendo desenvolvidos com sucesso em todo 83 o mundo, particularmente nos países que mais têm participado, atualmente, destes tipos de confrontos. 84 4. DOUTRINA DE EMPREGO DOS BLINDADOS NO COMBATE URBANO Após serem analisados os conflitos históricos e os principais blindados utilizados por países em constante emprego como EUA e Israel, pode-se verificar que as modernas tecnologias e a preocupação maior dada ao elemento não combatente, transformaram o combate moderno e trouxeram novas preocupações aos comandantes e estrategistas. O desenvolvimento dos combates em ambientes urbanizados torna muito difícil a identificação do inimigo, muitas vezes permeados na população civil. Além disso, a mídia internacional realizando ampla cobertura, com transmissões ao vivo do que está ocorrendo, faz com que a liberdade de ação para se utilizar meios de guerra mais potentes diminua consideravelmente. Segundo Harmeyer (1998)21, o emprego de meios blindados neste tipo de operação é imprescindível, apesar das grandes dificuldades encontradas, não se admitindo atualmente um combate urbano sem a utilização de carros de combate, empregados como meio dissuasório e capaz de resolver com maior rapidez os problemas apresentados no interior de cidades, além de exercer influências psicológicas no inimigo. Assim, torna-se necessário desenvolver e treinar doutrinas e regras de engajamentos específicas para o combate urbano e que serão analisadas nesta seção, focando nas doutrinas utilizadas por EUA e outros países com experiências neste tipo de confronto, fazendo um paralelo com a atual doutrina brasileira no que diz respeito a combate em áreas fechadas, concluindo sobre a adequabilidade doutrinária no que se refere ao emprego de blindados nestes ambientes operacionais. 4.1 A DOUTRINA NORTE-AMERICANA A preocupação com a guerra urbana aumentou significativamente após alguns fracassos relatados na história recente dos EUA, além das previsões para o aumento dos conflitos urbanos, anteriormente relatados, fato que levou o exército norte-americano a criar um projeto para o combatente urbano do século XXI, __________ 21 HARMEYER, George H. Major General Comandante do Centro de Blindados do Exército dos EUA em 1998. 85 desenvolvendo equipamentos e técnicas que estão servindo de base para a formação de uma doutrina específica para estas novas ameaças. Conforme analisou Hahn II (2001) e Jezior, para obter sucesso nas investidas urbanas é imprescindível alcançar velocidade, ou seja, alto ritmo operacional, o que foi sempre difícil devido aos desafios de comando e controle e aos problemas associados com as manobras dentro do cenário urbano. Embora em certas ocasiões os combatentes urbanos necessitem desembarcar em função de imposições táticas, o combate urbano, com mais freqüência, irá requerer movimentos rápidos em torno, dentro e através de densas áreas urbanas. Isso será possível por meio da sincronização de avançados sistemas de informação, robótica e de uma viatura blindada específica para o combate urbano, algumas já desenvolvidas pelos americanos como o M1A2 Abrams versão TUSK e o Stryker, apresentados na seção anterior e que estão sendo testadas na atual guerra no Iraque, apresentando bons resultados iniciais. Como ficou demonstrado pelo desastre russo na Chechênia, o atual risco dos blindados em área urbana é muito grande. Entretanto, forças de assalto urbano com conhecimento preciso da localização das concentrações inimigas, provavelmente poderão evitá-las e realizar, ao mesmo tempo, emboscadas para manter a liberdade de movimento por toda a cidade. Mobilidade tática de extrema velocidade permitirá às forças de combate urbano isolar as concentrações inimigas e destruí-las, quer se encontrem escondidas, em movimento para reforçar ou retraindo para posições alternativas. Essas forças também devem ser capazes de infiltrarem diretamente na área urbana ou de serem extraídas da área empregando aeronaves de asas rotativas de última geração, aptas para transportar tanto pessoal como suas viaturas blindadas de combate urbano. Na abordagem de Peters (1999)22, os russos utilizaram com incompetência seus poderosos carros de combate em Grosny, fato este que não deve tornar o emprego de blindados em área urbana algo impossível ou mesmo fora de cogitação. Ao contrário, os blindados com o devido suporte dos fuzileiros a pé serão as bases dos futuros combates em áreas urbanizadas. __________ 22 PETERS, Ralph. "The Future of Armored Warfare" – original publicado na revista Parameters, (Outono 1997), p. 50-59. 86 Embora haja contradições quanto às melhores formas de se atuar em cidades e localidades, segundo USA (2003a)23, o binômio infantaria-carro de combate torna-se imprescindível para o sucesso das missões, já que o carro oferece a devida proteção blindada e apoio de fogo para que o elemento a pé execute o combate casa a casa, edifício por edifício, em todos os redutos inimigos, seja em áreas sobre a superfície ou subterrânea. Portanto, a organização por tarefa de armas combinadas, citada no referido manual, parece ser a melhor saída para estes combates, já que os blindados protegem os soldados do tiro de armas leves e destroem ou suprimem posições inimigas pelo fogo direto, medida que oferece segurança mútua, pois o elemento a pé faz a proteção dos carros contra ataques em áreas vulneráveis da viatura e pontos cegos. Ainda de acordo com Peters (1999), apesar dos avanços da proteção, os grupos a pé continuam sendo o elo mais vulnerável no sistema da guerra blindada. A proliferação das armas de destruição em massa confirma esta assertiva e, num futuro próximo, com o advento da robótica, provavelmente existirão tanques operados remotamente por grupos que permanecerão longe das áreas de risco. Segundo Tucker (1998) e Grau (1997)24, o consenso atual é que áreas urbanas tendem a anular as vantagens tecnológicas de uma força, forçando-a, conseqüentemente, a adotar métodos não conhecidos ou meios de reduzida tecnologia para travar a guerra. Inimigos operando em áreas urbanas podem utilizar uma grande variedade de métodos assimétricos para reduzir o ritmo das operações militares, criar um grande número de baixas e, através de uma variedade de meios bárbaros, tentar quebrar a vontade do atacante e de seu povo para continuar a luta. Ao invés de procurar chegar à vitória, o inimigo precisa apenas evitar a derrota. No ponto de vista de Hanh II (2001), sabe-se que as áreas urbanas favorecem uma "força não modernizada" dando maior vantagem ao defensor do que ao atacante. As forças norte-americanas são, com freqüência, descritas como despreparadas (em equipamento, doutrina, adestramento e psicologicamente) para _______________ 23 Field Manual – FM 3-06 – Urban Operations. Traduzido pelo Maj Cav Qema Paulo Roberto Rodrigues Pimentel, da seção de doutrina da ECEME. 24 TUCKER, David "Fighting Barbarians," Parameters, (Verão 1998), p. 69-79. Ver também Lester W. Grau, "Bashing the Laser Range Finder With a Rock," Military Review, edição em inglês, (Mai-Jun 1997), p. 42-48. 87 o tipo de luta que ocorrerá, caso o inimigo decida combater em área urbana. Essa visão implica, sem dúvida, em uma evidência das dificuldades que os EUA e outras forças militares têm encontrado quando conduzindo operações militares em terreno urbano, durante os últimos anos. Nos documentos e relatórios posteriores à Segunda Guerra do Golfo, verificaram-se problemas como os desafios de comunicação, a vulnerabilidade de aeronaves de asa rotativa e blindados frente às armas individuais e a falta de mobilidade tática, geralmente disponível para a infantaria desembarcada. Em geral, a doutrina norte-americana preconiza, de acordo com Hanh II (2001), que se deve dominar e conquistar pontos decisivos buscando atingir o centro de gravidade25 dentro das localidades e, para isto, apenas duas alternativas lógicas são admitidas. A primeira opção, a qual alguns oficiais do comando têm demonstrado certa predileção nos recentes jogos de guerra realizados pelos norteamericanos, é evitar travar combate nas cidades. Pensando desta forma, as forças dos EUA deveriam procurar engajar o inimigo em terreno descoberto onde a sua superioridade tecnológica proporcionaria uma vantagem esmagadora. Infelizmente, essa opção inibe a habilidade das forças estadunidenses de conduzir a campanha militar para uma rápida conclusão, permitindo ao inimigo o exato tipo de refúgio que ele procurava quando decidiu entrar na cidade. O inimigo tem controle da cidade e está a salvo dos ataques das forças norte-americanas, fato que vem ocorrendo no Iraque. Uma opção alternativa descrita como uma "abordagem indireta" foi proposta por Scales Jr (1998)26. Esta abordagem requer o estabelecimento de uma linha de cerco ao redor da cidade ocupada pelo inimigo. Embora raramente, ou talvez nunca, entrem na cidade, as forças ofensivas empregariam armas de precisão para atacar alvos selecionados, lideranças-chave e armas de destruição em massa, dentro do perímetro sitiado da cidade. Eventualmente, a cidade desmoronaria sobre o inimigo causando, por conseguinte, a sua derrota. No que diz respeito ao emprego de forças blindadas, no investimento contra uma cidade, conforme analisou Hanh II (2001) e Bonnie Jezior, o mais importante __________ 25 Chama-se centro de gravidade o ponto no organismo do Estado adversário que, caso seja conquistado ou o inimigo dele perca o efetivo controle, toda sua estrutura de poder desmoronará. Manual de Estratégia C 124-1 pag 3-7. 26 SCALES JR, Robert H, "The Indirect Approach: How US Military Forces Can Avoid the Pitfalls of Future Urban Warfare," Armed Forces Journal International, (outubro de 1998), pp. 71-72. 88 importante é a preparação do combatente que vai operar os meios de alta tecnologia, além do necessário adestramento quanto às técnicas, táticas e procedimentos a serem empregados no combate, sobressaindo o valor moral e profissional dos recursos humanos e dos chefes militares que conduzem as operações em que cada edificação, rua ou ponto estratégico deve ser tomado. A força inimiga não abandonará o prédio que domina só porque os invasores controlam a rua à sua frente. Por isso pequenas unidades de infantaria com o apoio de blindados (e se possível aeronaves), é que efetivamente farão o trabalho de conquista. Isso faz com que o sistema operacional comando e controle ganhe importância, pois haverá uma descentralização do comando, exigindo que as pequenas unidades de combate (Grupos de Combate, Companhias, Pelotões e Esquadras), sejam dotadas de bons meios de comunicação, considerável poder de fogo e que seus comandantes tenham um elevado grau de iniciativa. 4.1.1 Formações e manobra dos blindados no combate urbano Conforme se verificou nas seções anteriores e de acordo com a doutrina americana descrita em USA (2003b), os blindados são imprescindíveis no investimento em cidades e devem seguir uma metodologia e regras de engajamento próprias. A primeira grande norma é o uso de pequenas frações ou grupos do binômio formado por fuzileiros a pé e carros blindados, que atuam isoladamente com missões específicas e que devem ser cumpridas de forma rápida e eficaz. No caso das pequenas frações blindadas, o exército dos EUA adotou o pelotão a quatro carros de combate, rejeitando a solução de três carros, a fim de manter as duas seções com dois cada. A experiência do combate na luta urbana demonstrou claramente as vantagens do pelotão com quatro veículos, já que nas ruas mais estreitas operando com duas seções, dando suporte para a infantaria, um pelotão com três tanques seria, além de inadequado também antieconômico, pois o único veículo restante na maioria dos casos seria deixado atrás ou não seria usado eficazmente pelo comandante da infantaria, tornando-o altamente vulnerável às armas anticarro inimigas. A alternativa seria usar juntos os três veículos do pelotão, fornecendo maior poder de fogo, porém acarretaria mais problemas de comando e controle para o 89 comandante da infantaria, o qual possui treinamento específico para a função de conduzir suas próprias tropas e não carros de combate que lhe sejam atribuídos temporariamente para o cumprimento de determinada missão. De um ponto de vista puramente econômico, segundo Defense Update (2006), o pelotão a quatro carros, perfazendo 13 veículos blindados por companhia, eliminando o segundo tanque da seção de comando e deixando um único carro para o comandante da companhia, foi a composição ideal encontrada pelos norte-americanos. O exército dos EUA considera, ainda, cenários básicos para organizar as pequenas frações em forças-tarefas combinadas para o combate urbano, que são: (1) O pelotão de carros como um elemento de manobra. Neste cenário, o comandante do pelotão é responsável pela coordenação da manobra de seus carros. Usando esta organização, as missões prováveis para os tanques seriam fornecer a sustentação ou a base de fogos para o movimento de unidades de infantaria. Este é o mais difícil dos métodos, por causa da grande coordenação que necessita, já que requer o controle dos movimentos de dois tipos de unidades. O comandante do pelotão de carros pode escolher manobrar seu pelotão por seções tendo uma flexibilidade maior para apoiar a infantaria durante o combate, exigindo em contrapartida grande experiência dos comandantes de carro e suas guarnições, que atuarão praticamente independentes e com grande responsabilidade. (2) Seções de carros sob o controle do pelotão de infantaria Neste cenário, os pelotões de carros são desdobrados em duas seções, sendo cada seção colocada sob o controle operacional de um comandante de pelotão de infantaria. Para esta técnica ser eficaz é necessário o controle da progressão para os tanques e a infantaria, necessitando treinamento anterior para os comandantes de pelotão de infantaria, a fim de evitar o isolamento dos carros no interior da localidade, deixando-os vulneráveis às armas anticarro do inimigo. (3) Esquadras de infantaria sob o controle do pelotão de carros Neste caso, o comandante de uma fração de infantaria coloca uma ou mais esquadras sob o controle operacional de um Cmt de pelotão de carros. Esta técnica é muito eficaz em terreno urbano relativamente aberto, onde um pelotão de carros pode operar como um todo, protegido pelos fuzileiros a pé. Esta é a opção preferida do comandante do carro, já que lhe permite operar sob circunstâncias ideais no combate urbano, requerendo, entretanto, dos comandantes mais novos das 90 unidades de carros treinamento anterior na cooperação CC-fuzileiro nos níveis seção-esquadra. O comandante do pelotão coordena o poder de fogo da unidade usando vários métodos, o melhor deles é através do telefone externo dos blindados, que permite a coordenação da infantaria com os carros de combate. Ainda segundo USA (2003b), para a maior eficiência destas tropas no combate urbano, devem ser seguidas as seguintes regras básicas: (1) os pelotões de carros devem ser usados, preferencialmente, por seções, podendo operar na sustentação da infantaria. Caso seja usado para proteger pequenas frações no assalto a determinado ponto edificado, como parte do esquema de manobra, o comandante avançado deve controlar os carros de combate. (2) se o comandante da companhia de fuzileiros estiver controlando os CC, necessita deslocar-se para frente, numa posição onde possa manobrar eficazmente os blindados na sustentação da infantaria. (3) a composição da força que irá operar deve ser organizada e controlada. Se o comandante da companhia for manobrar os carros, não há nenhuma razão para organizar os Pel CC por seções sob controle operacional dos pelotões de infantaria. (4) há necessidade da infantaria proteger os blindados quando os dois elementos estiverem trabalhando juntos. Não é recomendável deixar os tanques sozinhos, já que não estão preparados para a autodefesa durante a operação. Os CC são extremamente vulneráveis a ataques desembarcados nas operações em terreno urbano. Os carros são os elementos que mais necessitam segurança quando a infantaria está no processo de assaltar edifícios, devendo permanecer relativamente estacionários por períodos prolongados, até que as equipes manobrem para uma posição favorável. Uma das formações mais comuns dos blindados utilizados pelos Estados Unidos no combate urbano é a tipo caixa ou o diamante, onde diversos veículos blindados são agrupados em escalão com apoio mútuo, sendo posicionados nos quatro pontos da formação para operar de forma coordenada, aguardando o momento exato de fazer a varredura das áreas dominadas pelas forças inimigas. Esta tática dificulta a eficiência do fogo inimigo e sua capacidade de engajar alvos, que são detectados após realizarem o tiro. Quando parado, os veículos procuram as 91 posições que tenham dominância sobre a área para facilitar a observação e a cobertura. Figura 44 - Blindados americanos em formação de “caixa” no combate urbano Fonte: Tropas de Elite (2006) A dispersão das forças é mantida empregando diversas formações tipo caixa que se movem paralelamente através dos blocos ou das ruas, coordenando seu avanço e atirando com setores de tiro pré-estabelecidos, a fim de reduzir a possibilidade de fratricídio. A dispersão lateral das forças canaliza o movimento em linhas bem definidas, destacando a segurança lateral para as forças que avançam. Os elementos mais protegidos (tanques ou escavadoras blindadas) são posicionados na vanguarda, para engajar alvos no setor da frente e alvos baixos nos flancos. Os veículos blindados de combate da infantaria (VBCI) cobrem os flancos e a parte traseira. Os fogos das metralhadoras e do canhão automático, que possuem ângulos mais elevados podem ser usados para engajar ameaças em locais onde o armamento principal do veículo não consegue bater. As formações combinadas dos tanques e VBCI têm maior maneabilidade e cobertura mútua, em parte por causa das potencialidades adicionais do veículo Bradley, por ser menor e mais manobrável. Os veículos pesados que conduzem a formação permitem à caixa absorver o fogo inimigo e localizar suas posições, podendo engajá-las com potência de fogo eficaz e precisa. Se um dos veículos ficar inoperante, os demais se fecham em torno dele, estabelecendo uma parede de aço que permite a evacuação das vítimas, a recuperação ou o reparo do material. Cuidado deve ser tomado para assegurar-se de que os veículos não se fechem até um ponto que se tornem um alvo lucrativo para as armas anticarro inimigas. 92 4.1.2 Principais ensinamentos Atualmente os EUA estão entre as nações mais preocupadas com a possibilidade de lutar em um ambiente urbano. Exército, Fuzileiros Navais, Marinha e Força Aérea estudam diligentemente como obter sucesso em uma guerra urbana de forma rápida, sem muitas baixas (civis e militares) e danos materiais. Os americanos têm uma larga experiência em combates urbanos desde a Segunda Guerra Mundial, passando por Seul, Hue, Beirute, Cidade do Panamá, Mogadíscio e Bagdá. Para terem sucesso em operações em áreas urbanas as forças norteamericanas investem pesadamente em estudos teóricos, exercícios militares, treinamento e desenvolvimento de novas armas e tecnologias. A palavra chave é integração de sistemas, armas e forças terrestres, aéreas e navais. Entre os estudos americanos está o “Urban Warrior”, desenvolvido pelas Forças Armadas dos EUA, que tem por objetivo concentrar esforços no aperfeiçoamento da tática, das técnicas e dos meios visando a reformular e a desenvolver a capacidade das forças americanas no combate no interior das cidades. Segundo Tato (2006)27, os norte-americanos possuem regras de engajamento que, se postas em prática, restringem ao máximo a eficácia imediata de suas forças e asseguram uma efetividade global na campanha. Sem dúvida, os EUA têm adotado a tática de ataques com precisão semicirúrgica dos israelenses e o poderio concentrado dos russos. Com tecnologia de mísseis teleguiados e com bombas de alto poder, conseguirão concentrar grandes efeitos com os fogos indiretos, mas com precisão cirúrgica. Isto significa atacar e destruir por "linhas interiores de fogo", os centros nevrálgicos do inimigo, através de sistemas de armas combinadas de nível subunidade. Mesmo assim, o exército dos EUA tem desenvolvido meios de desobstrução de obstáculos, de demolição, de apoio de fogo de mísseis e de comunicações via satélite, que excedem qualquer sistema de armas combinadas. Desse fato tira-se o seguinte ensinamento: os norte-americanos estão transformando suas organizações em sistemas multiarmas que possuem capacidade e autonomia para solucionar problemas imediatos no campo de combate. __________ 27 TATO, Mariano Sebastián. Artigo publicado na revista TECNOLOGIA MILITAR nº 2, Ano 28, abril - junho 2006, editada na Alemanha, em espanhol/português, pelo GRUPO EDITORIAL MONCH, em Bonn. 93 Ou seja, se valem de um elemento, sem necessidade de combiná-lo com outro, para cumprir distintas funções no combate. Por exemplo: elementos básicos de nível subunidade, com suficiência para executar pequenas desobstruções, com proteção antiaérea, condução de fogo de artilharia e enlaces de comunicações via satélite, a nível estratégico. Esta autonomia surge em função da versatilidade das plataformas de armas que aceitam distintas configurações, segundo as necessidades (Humvees, Bradleys, etc). Na abordagem de Harmeyer (1998), as operações no Panamá, Somália e nos Bálcãs demonstraram que, mais do que uma necessidade, o uso de blindados nestes confrontos forneceu uma potencialidade que oprimiu toda a força do inimigo. A presença dos Bradley e Abrams fez inimigos potenciais pensarem duas vezes sobre suas ações. Com os exemplos históricos, o centro de blindados dos EUA está examinando o atual papel dos carros de combate e de transporte de pessoal nas operações no terreno urbano. Faz-se necessário aplicar os benefícios de tecnologias modernas a um estudo desta história e na coordenação com a escola de infantaria, para atualizar e adaptar a força do blindado às operações urbanas. Em se tratando das áreas fechadas e urbanizadas, as regras de engajamento e o movimento físico de unidades blindadas fizeram com que especialistas destas unidades parassem para pensar a forma de atuação em missões de estabilidade, por exemplo, além de questionar o benefício que sua presença traria e como se conduziria o treinamento para tais operações. A presença dos carros de combate e dos veículos blindados de infantaria é um impedimento físico e psicológico a qualquer inimigo, provando o valor do Abrams e do Bradley em operações de elevada intensidade. O impacto psicológico de veículos blindados suprime toda a ameaça, não importando que potencialidades eles podem ter. Entretanto há alguns inconvenientes. O peso, os pontos cegos e o tamanho total dos carros, por exemplo, requerem um planejamento detalhado, por parte dos comandantes de forças blindadas, neste tipo de operação. Estes últimos devem medir onde e como atravessar uma área edificada, considerando a capacidade de reação e meios do inimigo, além da maneabilidade dos veículos em áreas construídas e o raio de giro das torres. 94 Assim, verifica-se que o emprego das forças blindadas não é uma ação isolada, mas ocorre em combinação com soldados desembarcados para cobrir pontos cegos e para fornecer proteção contra ameaças externas. 4.2 LIÇÕES APRENDIDAS POR OUTROS PAÍSES Além dos EUA, destacam-se no combate urbano atual, pela enorme experiência adquirida ao longo dos anos, outros exércitos como de Israel, Rússia e Grã-Bretanha, os quais colheram, nos últimos conflitos que participaram, lições importantes, desenvolvendo táticas que merecem destaque. De acordo, ainda, com Tato (2006), os russos, entre os anos de 1994 e 1996, na primeira guerra da Chechênia, sofreram inúmeras baixas devido à falta de proteção dos veículos, à imprecisão na limpeza de edifícios, à pouca integração entre os diferentes sistemas de armas e à deficiente logística, sobretudo no que se refere ao remuniciamento e evacuação de feridos. Já na segunda guerra, mais precisamente em Grozny, os russos empregaram fogo de artilharia de forma indiscriminada, inclusive com munição que se fragmentava em 30 submunições incendiárias, possuindo alto poder destrutivo e causando muitas baixas e danos às edificações. Esta tática, empregada na Chechênia, foi a que resultou no êxito ao final da batalha, porém, demonstrou ser um fracasso quanto à integração de sistemas de armas combinadas e aos direitos dos não combatentes. Da atuação neste conflito, os russos colheram os seguintes ensinamentos, passando a atendê-los: deve empregar-se o apoio de fogo como pilar da manobra urbana, buscar atingir efeitos precisos antes que devastadores e empregar ao máximo a iluminação e obscurecimento no campo de batalha. Além disso, das táticas, técnicas e procedimentos utilizados, foram assimilados vários conhecimentos quanto à doutrina de emprego de blindados e, segundo Grau (1997), a metodologia tática dos russos especificou que os carros de combate seriam utilizados no assalto dentro das cidades, seguidos por veículos blindados de infantaria e pelos fuzileiros desembarcados. As colunas de blindados moveram-se, primeiramente, em formação de espinha de peixe ao longo das ruas da cidade, o que provou ser totalmente impróprio para a luta em Grozny, já que a grande concentração de armas anticarro constituía ameaça aos veículos blindados, quando a posição e as características do 95 armamento dos carros russos não permitissem engajar alvos situados nos porões ou nos andares superiores dos edifícios. As metralhadoras antiaéreas eram eficazes contra estes alvos e as armas dos helicópteros foram usadas também contra os atiradores de escol e armas nos pisos superiores, voando protegidos por edifícios evitando engajamento pelo inimigo e cerrando sobre estes alvos. Em Grozny, os CC e as VBTP formaram os grupos blindados usados fora das áreas capturadas, como uma força de contra-ataque, para fornecer segurança para instalações da área de retaguarda e para dar proteção à infantaria, avançando fora da área de engajamento das armas anticarro inimigas. Os russos adotaram medidas de precauções especiais para proteger seus carros de combate e transporte de pessoal. Além de mantê-los atrás da infantaria, equiparam alguns com uma gaiola de proteção, instalada a aproximadamente 30 centímetros da blindagem do veículo. Estas gaiolas podem diminuir o efeito da granada RPG-7, além de outros armamentos como o conhecido coquetel “Molotov” ou uma série de outra granadas anticarro. Quanto aos israelenses, que no período entre 1982 e 2003 estiveram envolvidos em vários episódios de conflitos urbanos, estes melhoraram seus procedimentos neste tipo de operação. No Líbano e na Palestina constituíram equipes de armas combinadas, onde os blindados prestavam o apoio de fogo pesado e direto às equipes a pé que limpavam os edifícios. A tática era cercar previamente a localidade, subdividi-la, limpar um setor, enquanto, paralelamente, se realizava fogo direto de helicópteros em outros setores, coordenados com fogos indiretos de artilharia. O efeito sobre o objetivo era grande, mas os danos colaterais não eram de grande magnitude, se comparados com o poder de fogo empregado. Portanto, os israelenses souberam combinar armas, adaptá-las e até mesmo personalizá-las para cada tipo de missão. Por exemplo, o emprego dos tanques Merkava, que não possuem apenas o canhão e as metralhadoras como armas principais, mas também um morteiro de 60 mm. Os soldados israelenses atestam que seu principal meio móvel de apoio é o “Bulldozer”, máquina blindada, com a qual se protegem, assaltam edifícios precários e rompem barricadas. Disso, como resultante, depreendem-se os seguintes ensinamentos: empregar os sistemas de armas combinadas, utilizar a combinação e modificação permanente entre as plataformas de armas e executar o cerco e a 96 subdivisão detalhada para limpeza de áreas habitadas, com fogo de artilharia coordenado e semicirúrgico. Quanto às operações do exército inglês, Tato (2006) observou que foram caracterizadas por um alto grau de precisão nos procedimentos, basicamente no nível seção. A experiência adquirida nos combates em Belfast, para limpar edifícios e enfrentar táticas terroristas, resultou nos fatores determinantes do êxito obtido na cidade de Basra, no Iraque, em 2003. Os carros de combate integraram as forças blindadas como apoio de fogo aproximado. Como principais ensinamentos, quanto ao uso de meios blindados, pode-se destacar os que se seguem: os britânicos somente comprometeram suas forças blindadas quando não existia possibilidade de risco de franco-atiradores ou armas anticarros. Executaram fogo preciso a partir das máximas distâncias de intervenção, maximizando a ação psicológica que os blindados produzem. O emprego dos blindados deve ser absolutamente ofensivo e devem ser utilizados buscando letalidade e efeitos que permitam a aproximação das tropas a pé. 4.3 DOUTRINA BRASILEIRA No que diz respeito à doutrina de emprego de blindados no combate urbano, constante nos manuais em uso pelo EB, observou-se, em uma primeira análise, conforme Brasil (2002 a)28, que a natureza do ambiente reduz a velocidade com a qual unidades blindadas, normalmente, conduzem suas operações. Para o ataque e a conquista de uma localidade, segundo conclusão de Hudson (2005), a Força-Tarefa (FT)29 valor subunidade (Companhia ou Esquadrão), constitui a fração que pode ser empregada com maior perspectiva de acertos nestas operações, pois conta com a potência de fogo, ação de choque do blindado, além da mobilidade e proteção indispensável dos fuzileiros a pé. __________ 28 Manual de Campanha C 17-20 – Forças-Tarefas Blindadas – 3ª edição 2002, capítulo 9, página 9-6. 29 Chama-se Força Tarefa (FT) um grupamento temporário de forças, de valor unidade ou subunidade, sob um comando único, integrado por peças de manobra de natureza e/ou tipo diferentes, formado com o propósito de executar uma operação ou missão específica, que exija a utilização de uma forma peculiar de combate. Pode enquadrar também elementos de apoio ao combate e de apoio logístico. Em qualquer caso, é organizado em torno de um núcleo de tropas de infantaria e cavalaria, acrescido dos apoios necessários. 97 Segundo os manuais de campanha em uso no EB, a ação pode ser dividida em três fases, a saber: isolamento, que consiste em isolar a localidade e apoiar pelo fogo a progressão para o interior desta; a conquista de uma área de apoio na periferia da localidade, que visa a eliminar a observação e fogos inimigos sobre as vias de acesso que conduzem ao interior da localidade; e a progressão no interior da localidade (ou investimento), que consiste na limpeza e conquista da localidade propriamente dita. 4.3.1 Emprego de blindados nas operações urbanas “A FT Blindada pode participar de um ataque a uma localidade seja como força de isolamento, seja como força de investimento” (C 17-20, 2002, p. 9-6). De acordo com Brasil (2002 a), as principais características e táticas empregadas por tropas blindadas na conquista de uma localidade, definem a matriz doutrinária para estas operações nas áreas urbanizadas. Desta forma, conforme doutrina em vigor as ações serão divididas em três fases, a saber: 1ª fase - O Isolamento Dentre os aspectos doutrinários, que corroboram para o êxito na fase de isolamento de uma área edificada podem ser citados o sigilo, a correta tomada de um dispositivo, a escolha de uma tropa com natureza apropriada para este fim e preferencialmente possuir maioria de meios. Nesta fase deve-se buscar a conquista de acidentes capitais que dominem as vias de acesso que conduzem ao interior da área edificada e que bloqueiem a maior possibilidade de reforço do inimigo de fora para o interior da localidade, tendo os meios blindados boas condições de executar esta tarefa. Será empregado intensamente o apoio de fogo proporcionado pelo armamento orgânico das viaturas, bem como o lançamento de fumígenos, na produção de cortinas de fumaça, para cegar postos de observação inimigos ou encobrir movimentos de suas forças. Para a conquista ou a ocupação dos objetivos de isolamento ou de cerco, o ideal é que cada via de acesso que conduza à localidade seja bloqueada por um pelotão dotado de CC ou VBR. O armamento principal dos blindados e os morteiros prestam o apoio por meio de seus fogos na conquista dos objetivos que permitem isolar a localidade, podendo executar fogos sobre posições inimigas situadas na orla da localidade e 98 que estejam executando alguma ação hostil sobre as tropas que se encontram isolando a mesma. “Nas FT Bld, as FT Esqd / Cia Fuz Bld serão empregadas, em princípio, como força de investimento. As FT Esqd CC, normalmente, integrarão a base de fogos”. (C 17-20, 2002, p. 9-6). 2ª fase - Conquista de uma área de apoio na orla da localidade Nesta fase do combate em área edificada ocorrerá a eliminação ou redução da observação terrestre e dos tiros diretos do defensor sobre as vias de acesso que chegam à localidade. Nessa etapa os meios de apoio de fogo e a reserva são cerrados à frente, ocupando uma área de aproximadamente um quarteirão, para preparar-se para o investimento, devendo, dessa região, ser possível a progressão para o interior da localidade. Assim sendo, as forças blindadas procurarão conquistar objetivos em áreas pouco construídas e que, preferencialmente, tenham dominância em relação aos prováveis locais de concentração inimiga, ficando os CC batendo pelo fogo os prédios ou posições na orla anterior da localidade e os fuzileiros, em princípio, realizando o ataque desembarcado. 3ª fase - O Investimento Esta fase norteia, basicamente, o estudo em questão e consiste numa progressão sistemática dos meios disponíveis no interior da área edificada, devendo evitar-se que permaneçam focos à retaguarda, cabendo à reserva uma limpeza mais detalhada, seguindo na esteira do ataque principal. A possibilidade de utilização de apenas um eixo através da localidade pelo escalão superior deve ser levada em conta, principalmente se as ruas e vielas forem estreitas, podendo causar a redução da velocidade, facilitando as emboscadas do inimigo. No interior da localidade três tipos de objetivos são marcados: os de segurança, que são aqueles que oferecem dominância sobre as vias de acesso ou incidência sobre o flanco destas; os de coordenação, que possibilitam a sincronização das peças de manobra da unidade que executa a operação, podendo ser substituídos por linhas de controle; e os de limpeza, que são instalações cuja manutenção seja importante para o sucesso da operação. 99 O emprego da massa no ataque principal, durante o investimento, sugere o emprego de carros de combate, já que deve ser conquistada a região que melhor caracterize a limpeza da localidade, onde estejam os quarteirões mais avançados, exista uma maior densidade de construções e também as construções mais dominantes. Além disso, seja a região que possibilite as melhores condições de prosseguimento para as operações, dominância das vias de acesso e proximidade dos objetivos com as novas vias de acesso. Durante o investimento devem ser usadas linhas de controle com a finalidade de assegurar ao máximo o controle das operações por parte do escalão superior, além de proporcionar o conhecimento exato de como está disposto o seu poder de combate. Esse procedimento evita a marcação exagerada de objetivos intermediários, exclusivamente usados para a coordenação. Nos combates urbanos mais recentes os exércitos se ressentiram de uma melhor coordenação e controle dos seus meios, sendo este fato causador de alguns insucessos. As tropas informam ao escalão superior quando atingem as linhas de controle e só prosseguem mediante ordem. Esse procedimento evita que haja um desalinhamento entre as tropas de primeiro escalão, que poderia comprometer o apoio de fogo e também causar uma perda de controle do escalão superior, favorecendo a ocorrência do fratricídio. As linhas de controle são fixadas até o escalão SU e são materializadas no terreno por eixos nítidos transversais à direção de movimento. É conveniente que o traçado destas linhas não passe por regiões abertas. Apesar de não existir uma obrigatoriedade acerca do número e distância entre as linhas de controle, alguns aspectos devem ser levados em conta para a marcação das mesmas. A profundidade da zona de ação pode comprometer as comunicações e a diferença de densidade entre as zonas de ação vizinhas pode influenciar diretamente na velocidade de progressão e no desalinhamento dos objetivos iniciais da orla anterior. Estes aspectos têm influência marcante na coordenação e controle. A delimitação das frentes a serem atribuídas é um fator importante na hora do planejamento da distribuição dos meios e do poder de combate. Para tal, deve-se levar em consideração o valor do inimigo, as dimensões das edificações, a densidade da zona de ação e a resistência esperada. Normalmente, as frentes atribuídas são as seguintes: 03 ou 04 quarteirões por unidade; 02 quarteirões por 100 subunidade e 01 quarteirão por pelotão. Essas frentes são aplicáveis às localidades fortemente defendidas, em planejamentos baseados em cartas e plantas ou quando se dispõe de poucas informações sobre a localidade e o dispositivo inimigo. Os limites entre as peças de manobra devem ser marcados até o escalão pelotão, podendo passar por um dos lados das ruas longitudinais ou por dentro de quarteirões e quintais. Ambos os lados da rua devem permanecer na zona de ação de uma mesma peça de manobra. Na progressão no interior da área edificada os fuzileiros devem avançar protegidos pelas VBTP e VBC, procurando tomar de assalto às posições inimigas e realizar a limpeza das construções existentes. Ao mesmo tempo devem procurar localizar alvos para as armas dos CC e neutralizar as armas anticarro do inimigo. Os carros de combate devem atirar no segundo andar de casas e prédios, abrindo passagem para os fuzileiros que, subindo nas viaturas blindadas, podem acessar as edificações pelo segundo pavimento e realizar a limpeza das resistências inimigas. Da mesma forma, os CC devem ainda procurar neutralizar pontos fortes do inimigo e destruir barricadas encontradas nas ruas, a fim de facilitar a progressão dos fuzileiros a pé. Figura 45 - Progressão de CC / Fuz no interior de uma localidade (figura ilustrativa). Fonte: Tato (2006) As comunicações são fortemente influenciadas pelo ambiente operacional onde as grandes construções passam a restringir o uso do equipamento rádio. Cresce, portanto, a importância do uso de outros meios de comunicação, tais como o mensageiro, que passa a ser mais utilizado, sinais visuais e acústicos, também muito utilizado, devido à praticidade que apresenta e o meio fio. Uma FT forte em CC pode ser empregada como reserva, para basicamente repelir contra-ataques e realizar a limpeza das resistências desbordadas. Além disso, a reserva pode receber a missão de substituir uma das peças do escalão de 101 ataque ou atuar no flanco contra uma resistência inimiga que detenha uma das peças do escalão de ataque, beneficiando-se da progressão da peça vizinha. A localização desta reserva deve ficar de um a três quarteirões do escalão de ataque no nível brigada, de um a dois quarteirões no nível unidade e no mesmo quarteirão dos pelotões que realizam a limpeza no nível subunidade. A doutrina prescrita nos regulamentos militares brasileiros, por terem sido baseados nos manuais norte-americanos, apresenta técnicas, táticas e procedimentos muito semelhantes aos aplicados naqueles exércitos, servindo de base doutrinária para os confrontos em áreas urbanizadas, devendo considerar, entretanto, a diferença dos meios tecnológicos empregados e a atualização por que passou a doutrina do exército dos EUA, ainda não acompanhada pelo EB. A composição das pequenas frações combinadas é a mesma utilizada pelo exército norte-americano, sendo desnecessário citá-las novamente, porém fundamental se torna o intenso treinamento para que cada Cmt de Pel saiba da sua missão e de seus comandados, com regras de engajamento bem definidas e procedimentos pré-estabelecidos, evitando-se perdas humanas e materiais e em última análise o fracasso na missão. Importante, também, verificar o porte das principais cidades, atualmente, sendo necessário aplicar poder de combate suficiente para o cumprimento das missões, que devem ser dadas por tarefas específicas nos pontos de maior interesse estratégico para o governo atacante. A coordenação e o controle devem aumentar na medida em que aumentam as tropas envolvidas, visando evitar ataques frustrados e, principalmente, o fratricídio, tão comum neste tipo de operação, segundo as experiências de países que participaram de conflitos urbanos recentemente. A doutrina brasileira carece de experimentação, já que não foi aplicada em missões reais de combate convencional, mas pelas experiências atuais vividas no Haiti, em operações de estabilização, sob o comando dos oficiais brasileiros e utilizando alguns meios blindados do EB, observa-se que tanto as regras de engajamento como o material a ser empregado necessita de adaptações para se enfrentar um inimigo que pode estar em qualquer lugar e utilizando-se de toda sorte de armamentos, improvisados ou não, mas com potencial para causarem baixas nas forças operantes. 102 A participação nas operações de paz está servindo, inequivocamente, para as tropas brasileiras se adestrarem em combate urbano e na utilização que parece indispensável dos blindados como fator dissuasório e de proteção das patrulhas a pé em áreas de refúgio de rebeldes e tropas irregulares. Como já foi estudado na seção anterior, as VBTP Urutu, com algumas inovações, têm cumprido bem as missões que lhes são atribuídas e devem servir de base para estudos, para que estas viaturas sobre-rodas possam receber um reforço tecnológico que permita maior sobrevivência no ambiente urbano, a exemplo do que vem fazendo a maioria dos exércitos mais modernos. Desta forma, o treinamento específico das guarnições teria que ser intensificado para que o elemento humano, ainda indispensável no campo de batalha, pudesse explorar ao máximo as potencialidades oferecidas pelos equipamentos, para sua maior segurança e melhor desempenho. Conforme foi comprovado em experiências de outros exércitos, à medida que se eleva o padrão tecnológico deve-se aumentar o grau de instrução e adestramento das guarnições que operam tais equipamentos, evitando falhas nos momentos decisivos. Portanto, pode-se inferir que, para a melhor aplicação da doutrina de emprego dos blindados em ambiente urbano, deve-se incrementar o treinamento específico das regras de engajamento, técnicas, táticas e procedimentos neste tipo de operação em todos os níveis de comando. 4.4 SIMULAÇÃO DE COMBATE URBANO A simulação de combate em localidade pode ser considerada uma moderna e econômica forma de se experimentar novas táticas, técnicas e procedimentos nestas operações. Os exércitos mais modernos e treinados estão se utilizando deste artifício para melhor adestrar suas forças, imitando ao máximo possível as dificuldades que uma tropa enfrentaria no interior de cidades, vilas ou bairros povoados e onde se encontrem resistências inimigas. Desta forma, segundo Harmeyer (1998), pode-se citar como exemplo o Forte Knox onde foi montado um centro de treinamento de combate urbano (MUCTS), que fornecerá os meios para se praticar técnicas e procedimentos de emprego de blindados em áreas edificadas. O referido centro de treinamento foi construído especificamente para suportar o peso e as características de manobrabilidade de veículos blindados, para 103 que as guarnições se adestrem e pratiquem o combate urbano, superando as dificuldades que serão enfrentadas numa situação real de confronto. Pelo projeto final do MUCTS, o centro terá 21 edifícios com uma rede de estradas diversificada para suportar uma força de manobra, servido por ligações de fibra ótica e outras fontes digitais necessárias, para permitir revisões e análises pósação interagindo o real com o virtual. Ainda segundo Harmeyer (1998) o centro foi construído com alguns dos melhores efeitos especiais disponíveis ao exército hoje, englobando edifícios em chamas, pontes destruídas e diversas pirotecnias para fazer o combatente realmente sentir a presença do combate urbano. O ambiente multidimensional está representado por edifícios com alturas suficientes e construções subterrâneas, para imitar a força inimiga agindo em todos os sentidos. O treinamento das organizações será planejado de forma que sejam incluídos uma Força Oponente (FOROP) e o controlador/observador (OC), visando adestrar e avaliar a tropa, tendo uma coordenação prévia, antes da chegada da unidade, para assegurar-se de que a força chegue pronta para treinar as missões típicas que uma unidade pode executar. Em fases seguintes, as unidades que treinam no MUCTS, passarão ao treinamento de pequenas frações, como o grupo e a esquadra, avaliando seus comandantes no desempenho das suas funções, além de participarem de cursos de ação. Após o término dos cursos e do treinamento específico dos pequenos grupos, a unidade irá executar exercícios no nível pelotão, seguido por exercícios de Postos de Comando (PC) e de simulação de combate. Por fim, quando os bancos de dados estiverem completos, as unidades poderão trabalhar com estágios de aplicação em todos os níveis, em um modelo virtual do MUCTS. O sistema de treinamento incrementado tem por objetivo fazer com que a unidade conduza operações urbanas em um ambiente virtual, construtivo e vivo simultaneamente. Aperfeiçoando o planejamento, as unidades podem praticar diversos tipos diferentes de operações e executar missões específicas no ambiente vivo no MUCTS. A simulação de combate vem ganhando espaço e está sendo bem aceita por vários exércitos, inclusive o EB, que vem desenvolvendo programas que capacitam e adestram os vários níveis de comando. O programa de adestramento desenvolvido no Forte Knox em muito se assemelha ao C2 em Combate, experimentado em algumas organizações militares brasileiras, idealizado e desenvolvido por militares 104 da Força e que cumpre bem a finalidade de transformar o que ocorre nas operações em campanha em informações digitais transmitidas “on-line” aos comandantes nos vários escalões. Segundo o Maj Cav Villar, em resposta à pesquisa de campo deste trabalho, outro passo importante a ser ressaltado foi a iniciativa da Academia Militar das Agulhas Negras de construir uma pista de combate em localidade, onde os cadetes podem praticar e adestrar-se no comando de pequenas frações em área urbana. Da mesma forma que em outros lugares, a pista procura imitar as dificuldades que seriam enfrentadas em um combate urbano, ainda carecendo de maiores investimentos e aperfeiçoamentos, que certamente virão, tendo em vista a importância em se trabalhar as tropas nestes ambientes. 4.5 CONCLUSÃO PARCIAL A doutrina de emprego dos blindados em ambientes urbanizados está sendo desenvolvida a cada dia, a cada novo confronto e depende muito das experiências vividas por exércitos em constantes empregos neste tipo de operação. O desastre russo em Grosny deixou a impressão de que o uso de blindados no interior de cidades era um absurdo. Este fato foi desmistificado e, hoje, observase a real necessidade dos carros de combate naquelas operações. A assertiva pode ser comprovada nas análises de especialistas e no desenvolvimento de novos meios blindados com maior probabilidade de sobrevivência no ambiente urbano. Nota-se, atualmente, uma maior preocupação, principalmente dos norte-americanos, em desenvolver e adestrar suas tropas em técnicas, táticas e procedimentos peculiares, visando os inevitáveis confrontos em áreas edificadas. Desta forma, pode-se considerar que, o exército norte-americano está procurando consolidar uma doutrina pré-existente, mas que necessita ajuste e emprego prático, tendo em vista alguns insucessos recentes e experiências de outros exércitos pelo mundo. A composição de pequenas frações combinadas e as modernas formações de combate, oferecendo maior segurança e mobilidade às tropas no interior das cidades, estão sendo implantadas e exaustivamente treinadas com o intuito de se evitar falhas nos momentos críticos do combate. Pode-se perceber a importância dada pelos americanos a este tipo de operação, já que há alguns anos foi concebido um manual (FM 3-06), tratando 105 especificamente sobre combate urbano e que traz considerações acerca da doutrina de emprego do combinado CC-Fuz no isolamento e investimento em localidades. Do estudo deste manual e das conclusões dos especialistas, verifica-se que os blindados são imprescindíveis nos tipos de operações urbanas que o exército americano tem tomado parte, estando normalmente e de preferência, acompanhados pelos fuzileiros a pé, para que haja segurança mútua. As regras de engajamento, apesar de parecerem bastante restritivas, permitem a utilização efetiva de blindados em todas as fases das operações urbanas, levando em conta as melhorias tecnológicas executadas nos seus principais veículos e os armamentos e munições a serem utilizadas. Portanto, observou-se que, apesar de algumas limitações, os norteamericanos estão adestrando suas tropas para emprego de meios blindados no combate urbano ao tempo em que desenvolvem e adaptam sua doutrina, através do estabelecimento de novas técnicas, táticas e procedimentos para estas operações. As regras de engajamento estão sendo discutidas e intensamente treinadas, procurando consolidar a atuação das pequenas frações combinadas cumprindo missões pré-determinadas e pontuais, visando conquistar objetivos específicos, reduzindo a probabilidade de ocorrência de fratricídio, perdas em combate e danos colaterais à população não combatente. Quanto às experiências vividas por outros exércitos, destaca-se os aspectos doutrinários desenvolvidos após os combates dos russos em Grosny, donde se retirou várias lições aprendidas e que serviram de base para planejamentos de outros conflitos, principalmente no que diz respeito ao uso de blindados em áreas edificadas. Observou-se neste conflito que o uso indiscriminado de bombardeios com toda sorte de munições e calibres pode resolver o problema militar, porém, perde no campo diplomático e dos direitos humanos, muito em voga atualmente e que pode determinar o futuro da guerra e de seus participantes, retirando a liberdade de ação dos planejadores. Desta forma, o emprego de um sistema de armas combinado e adequado ao cumprimento de missões específicas parece ser a melhor forma de se investir em uma cidade sem causar efeitos colaterais desnecessários nas instalações e na população que não se constitui em alvo potencial. 106 Além dos russos os israelenses também têm contribuído para a formação de uma doutrina consolidada para a atuação no combate urbano, já que estão em permanente estado de litígio, em ambientes totalmente urbanizados. O emprego efetivo de blindados e fuzileiros prova, mais uma vez, que este combinado não deve ser dispensado quando se planejar tais operações, procurando adaptar a composição e o valor à missão recebida. Finalmente, os ingleses também demonstraram a efetividade do emprego de blindados, como fator psicológico e de apoio de fogo nas investidas em Basra, no Iraque, contribuindo sobremaneira para o sucesso das missões. A atuação serviu de ensinamento, principalmente quanto ao emprego em locais protegidos das armas anticarro inimigas e dos “sniper”, que poderiam atingir elementos das guarnições dos blindados quando expostos nas torres ou fora das viaturas. Fazendo-se um paralelo com a doutrina vigente no EB, nota-se que as técnicas, táticas e procedimentos são semelhantes na sua concepção às prescritas para outros exércitos, basicamente o americano, já que os manuais em uso são baseados nos dos EUA. Pode-se inferir que, a base doutrinária é a mesma, porém deve-se adaptá-la à atual realidade, onde cidades podem ter milhares e até milhões de habitantes e o inimigo apresenta-se de forma não linear, dificultando sua identificação e marcação de objetivos. As três fases de um ataque em determinada cidade permanecem as mesmas, porém o planejamento, principalmente para a terceira fase (investimento) deve ser muito mais minucioso do que era quando se tratava de pequenas localidades ou vilarejos. A falta de atuação em missões reais é um fator que limita a consolidação de uma doutrina brasileira para combate urbano, sendo necessário tomar como base as experiências de outros exércitos. As missões de paz em andamento no Haiti estão servindo como primeiro passo para a experimentação de técnicas, táticas e procedimentos neste tipo de combate, muito embora o equipamento e armamento das forças oponentes sejam bem inferior ao que se encontraria em uma situação de guerra contra uma força regular. O emprego das VBTP Urutu, com algumas modificações, ressalta a importância de se ter proteção blindada para os elementos a pé que fazem o vasculhamento e patrulhamento em áreas com atuação de rebeldes. 107 A composição das forças para o combate urbano deve estar baseado em forças-tarefa de valor subunidade, que segundo estudos realizados são as mais aptas a cumprirem estas missões. A essencial combinação CC-Fuz deverá estar presente em qualquer operação onde se espere maior probabilidade de êxito, fundamento explicitado no manual C 17-20. O desafio agora será treinar e adestrar guarnições de carros e fuzileiros, nas principais técnicas de maneabilidade e tiro no interior de cidades, para que todos conheçam e massifiquem as regras de engajamento que deverão ser estabelecidas previamente, evitando erros e vacilações ante uma situação inesperada. O caminho mais econômico e eficaz para se adestrar tropas em ambientes urbanos parece ser através de simulações de áreas urbanizadas, como a existente no Forte Knox, empregando-se, além da tropa no terreno, a tecnologia da informação para se corrigir falhas e apresentar soluções, através de sistema informatizado de transmissão de dados, semelhante ao C2 em Combate, que é um sistema desenvolvido por militares brasileiros e que em breve estará servindo de subsídio para o adestramento das OM, Grandes Unidades e Grandes Comandos do EB. Portanto, ao analisar as inovações doutrinárias, fruto de experiências recentes em combate urbano, principalmente por americanos, russos, israelenses e ingleses, nota-se que a direção estipulada nos manuais brasileiros, principalmente no tocante ao uso de forças blindadas, converge para um ponto comum. A diferença está nos aperfeiçoamentos e meios à disposição para realizar adequada experimentação, ressaltando o inevitável hiato em função da falta de experiência em combates reais. Assim, conclui-se parcialmente que, a atualização da doutrina passa necessariamente por uma renovação ou modernização dos blindados. A fundamentação doutrinária pode ser adaptada e melhorada, bastando estimular o treinamento e adestrar as tropas nas técnicas, táticas e procedimentos. Este fato desenvolveria uma mentalidade de atuação combinada e que poderia gerar uma doutrina genuinamente brasileira para operações em ambientes urbanizados. 108 5. ADEQUABILIDADE DOS MEIOS BLINDADOS DA CAVALARIA DO EB NO COMBATE URBANO As experiências vividas por vários países no decorrer da história provaram que, apesar da grande dificuldade de emprego e dos riscos necessários, os meios blindados continuam sendo fundamentais nas operações desencadeadas em ambiente urbano, conforme citações das seções anteriores, por exemplo de Harmeyer (1998), que foi comandante do centro de blindados norte-americano. Os meios blindados da Cavalaria do EB, com raras exceções, ainda não foram colocados à prova nos combates em áreas urbanas, porém pelas características, possibilidades e limitações, tanto do material como das suas guarnições, podem-se visualizar os possíveis empregos e as medidas passíveis de adoção para a modernização do material e adequação doutrinária, alicerçadas em experiências colhidas em outros exércitos. Desta maneira, nesta seção, procurar-se-á analisar as possibilidades e limitações dos meios blindados da Cavalaria, apresentando uma visão de emprego e concluindo sobre as medidas a serem adotadas para um melhor desempenho destes meios no combate urbano. 5.1 POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES De acordo com Global Security (2006), a finalidade primordial do carro de combate é conduzir o principal armamento, o canhão, tendo a blindagem como finalidade assegurar que sua guarnição esteja protegida dos ataques provenientes do alto dos prédios, de lançamentos de aparatos explosivos ou incendiários e do fogo das armas portáteis. A guarnição tem por finalidade operar o armamento e executar a proteção aproximada do veículo. O motorista leva o veículo para a posição de tiro que melhor possa engajar os alvos sem ser exposto aos fogos inimigos; o comandante do carro seleciona alvos; o auxiliar do atirador assegura que a arma seja carregada com a munição correta para o alvo selecionado e o atirador certifica-se de que os impactos estão sendo eficazes na área mais vulnerável do inimigo. A combinação dos carros de combate com os fuzileiros a pé, constituídos em pequenas frações, comprovadamente formam o binômio ideal para as ações de investimento em localidades e conquista de objetivos específicos e imprescindíveis 109 para a definição do combate, de forma rápida e eficiente, conforme se viu nos capítulos anteriores. Conforme conclusão de Eickhoff (2006)30 do CIBld em artigo publicado na revista Ação de Choque, daquele Centro, a primeira lição aprendida das recentes operações em área urbana é o valor da total integração de armas combinadas. É inegável o valor da infantaria durante este combate, entretanto nunca deverá ser empregada isoladamente. O poder de armas combinadas produz um melhor resultado. Unidades de infantaria empregadas sozinhas deparam-se com problemas críticos que podem ser compensados com a organização de forças tarefas com tropas mecanizadas ou blindadas, devendo estas, serem apoiadas pelo fogo, pelo ar, em comunicações e em logística. Desta forma, ao observar-se os meios blindados disponíveis para o uso no EB, pode-se levantar algumas características que, ainda segundo Eickhoff (2006), lhes conferem possibilidades importantes para o desenrolar das operações e que serão a seguir citadas: 1) O sistema de visão termal (M 60 e Leopard 1 A5) e infra vermelho (Leopard 1 A1) podem detectar atividade inimiga através da fumaça e escuridão, condições que limitam os melhores equipamentos da infantaria; 2) são totalmente protegidos contra minas anti-pessoais, fragmentos e pequenas armas, tendo excelente mobilidade ao longo de vias não bloqueadas; 3) projetam uma presença psicológica capaz de dissuadir o inimigo, pela imponência e sensação de invulnerabilidade. Tropas embarcadas podem patrulhar grandes áreas das cidades, tornando sua presença conhecida e ampliando sua permanência local; 4) podem deslocar os fuzileiros embarcados nas viaturas rapidamente para pontos de dominância para isolar determinada área, utilizando suas armas de longo alcance e liberando a infantaria para isolar o terreno mais próximo; 5) podem realizar a segurança de comboios de suprimento e retirar elementos feridos do campo de batalha, sendo que alguns veículos blindados (o M60, por exemplo) podem usar os geradores de fumaça para cegar a observação Ini; __________ 30 EICKHOFF, Márcio Gondim - FORÇAS BLINDADAS EM ÁREAS EDIFICADAS – OPERAÇÕES URBANAS – Revista Ação de Choque do CIBld. Disponível com o autor. 110 6) os carros de combate podem executar fogos em alvos múltiplos de forma simultânea, empregando além do armamento principal, a metralhadora coaxial (7.62mm) e a anti-aérea (7.62mm no Leopard e Cascavel e .50 no M60), podendo ainda, no caso da VBC Leopard, ser instalada outra metralhadora na escotilha do auxiliar do atirador; 7) potência de fogo protegida: o veículo blindado é um sistema de armas integrado capaz de derrotar a maioria de alvos no campo de batalha. O armamento principal do carro, que é o canhão ou a metralhadora, possui uma velocidade de tiro elevada, fogo direto usado primeiramente de encontro aos blindados inimigos e outros alvos compensadores. A quantidade de munição carregada a bordo do veículo e os tipos disponíveis podem desencadear fogos para engajar uma grande variedade de alvos, por períodos sustentados do combate. Sua proteção blindada permite, também, que o carro mesmo engajado com o inimigo possa manobrar, quando sob fogo intenso ou apoiando tropas amigas, com um grau de sobrevivência que outros sistemas de armas não possuam; 8) mobilidade: as unidades blindadas são capazes de conduzir o combate sobre uma ampla área de operações, podendo permanecer separadas, reunindo-se rapidamente para o emprego em um local decisivo. Os veículos sobre lagartas possuem um grau elevado de mobilidade através campo e os sobre rodas maior versatilidade no interior de cidades. Além disso, os sistemas de posicionamento por satélite (GPS) permitem que os veículos de hoje movam-se, para qualquer posição designada, com velocidade e exatidão maiores do que em outros tempos. Os blindados podem rapidamente reunir os efeitos de seus sistemas de arma quando dispersado fisicamente, para fazer face ao inimigo com eficácia e precisão. Quando utilizada corretamente, a mobilidade do carro permite que seja empregada a potência de fogo contra diversas posições inimigas dentro de um período de tempo curto; 9) ação de choque: o efeito de choque no inimigo que as unidades blindadas podem criar é físico e psicológico. Este efeito de choque é aumentado em proporção ao número de veículos empregados (massa). A ação de choque em um assalto, se corretamente executado, tem um efeito devastador no moral inimigo e um efeito favorável no moral amigo. Para explorar ao máximo o efeito de choque, deve-se considerar o emprego agressivo de todas as potencialidades do blindado combinadas com a necessária proteção do fuzileiro; e 111 10) comunicações amplas e flexíveis: o rádio é o meio de comunicações preliminar para unidades blindadas. Cada veículo é capaz de transmitir e receber em uma freqüência e simultaneamente receber em outra freqüência. O uso dos sinais visuais e do sistema de telefone externo veicular facilita a transmissão rápida e segura das ordens e das instruções. Com igual precisão, os comandantes devem analisar as limitações das viaturas blindadas em operações em ambiente urbano para que, através de uma compreensão plena das suas fragilidades, seja possível explorar inteiramente as potencialidades de unidades blindadas. Desta forma, segundo Eickhoff (2006), podese considerar como limitações: 1) a guarnição dentro da viatura tem pouca visão externa aproximada através dos blocos de visão (escotilha fechada), podendo ser cegados por fumígenos ou poeira. Os carros de combate não podem elevar ou abaixar seus canhões o suficiente para engajar alvos muito próximos ou em locais mais altos; 2) isolados ou sem apoio da infantaria, são vulneráveis às armas anticarro. Devido à abundância de cobertas e abrigos no interior de localidades, os atiradores da guarnição têm uma redução na sua capacidade de identificar alvos facilmente, ao menos que o comandante se exponha ao fogo, abrindo a escotilha, ou o fuzileiro desembarcado direcione o atirador para o alvo, usando o telefone do infante (Leopard 1 A1 e A5) ou contato rádio; 3) os carros são barulhentos e, desta forma, existe pouca chance de chegarem a uma área sem serem detectados. Barricadas improvisadas, ruas estreitas e vielas ou grande quantidade de escombros podem bloqueá-las; 4) devido ao comprimento do canhão, a torre não irá girar se algum objeto estiver próximo, como paredes e postes. O tiro do canhão pode causar danos indesejáveis nas construções ou desestabilizar estruturas; 5) o canhão do M 60 e Leopard podem, respectivamente, elevar +20 graus e abaixar -10/-9 graus. Conforme experimentação do CIBld, as distâncias mínimas de edifícios, onde a munição HE/HEP pode ser usada, são: - andar térreo – 2,5 metros do alvo; - 3º andar – 23 metros do alvo; - 18º andar – 132 metros do alvo; 6) o tamanho de um CC ou VBR torna difícil a camuflagem em áreas urbanas, sendo esta limitação superada posicionando os carros nas áreas que 112 minimizam sua exposição à observação inimiga, até que estejam prontos para serem empregados; 7) o peso dos blindados, em geral, impede o uso de pontes de baixas capacidades, requerendo equipamento especial e técnicas de apoio à mobilidade, fornecidas pela Engenharia, para os deslocamentos, devendo haver planejamento adequado das rotas e áreas de operação; 8) o consumo de um blindado é elevado na comparação aos demais veículos, necessitando acurado planejamento e um esforço coordenado da logística, a fim de assegurar que as exigências de combustível dos veículos blindados sejam cumpridas; 9) os CC são complexos e requerem tempo dedicado à manutenção, tanto a preventiva executada pela própria guarnição durante as paradas ou períodos de descanso, como a reparação e recuperação feita por equipes especializadas. A não observância deste aspecto pode levar ao fracasso das missões das unidades blindadas; 10) de todos os fatores limitadores que inibem operações de veículos blindados, nenhum tem um efeito mais decisivo do que o terreno, principalmente em áreas edificadas e de difícil locomoção. O terreno pode ditar o número de veículos a serem empregados, além de inviabilizar determinadas rotas ou direções, requerendo estudo detalhado dos obstáculos interpostos; 11) as minas anticarros são os maiores inimigos dos blindados, podendo temporariamente diminuir a impulsão dos tanques. Outros obstáculos encontrados com freqüência e que tendem a restringir o movimento são os fossos anticarros e os escombros originados dos ataques às edificações, sendo normalmente impedimentos provisórios, que podem ser superados pelo emprego apropriado de armas, equipamentos e de pessoal orgânicos; e 12) o uso freqüente e basicamente calcado nas comunicações via rádio, para o comando, o controle e a coordenação de unidades blindadas, faz com que estas se tornem vulneráveis à guerra eletrônica inimiga, assim como aos órgãos de inteligência. Faz-se necessário rigoroso cuidado na exploração e segurança dos meios de transmissão para superar esta limitação. Pode-se observar que muitas das limitações apresentadas são minimizadas com a presença dos fuzileiros, bem como as limitações destes (pouco poder de fogo, pouca proteção e mobilidade) serão compensadas pelo veículo blindado. Apenas 113 juntos, CC e Fuz poderão cumprir a missão com um mínimo de baixas. Outro aspecto relevante diz respeito às VBR, que apresentam basicamente as mesmas possibilidades e limitações das VBC, com a ressalva de ter maior mobilidade dentro de áreas construídas e maior versatilidade para manobrar em ambientes fechados, podendo ser considerada mais apta a atuar no combate urbano. 5.2 VISUALIZAÇÃO DO EMPREGO NO COMBATE URBANO Conforme analisou Eickhoff (2006), o emprego efetivo das viaturas blindadas valoriza o princípio da massa. As Unidades blindadas operam compondo forçastarefas, combinando mobilidade, proteção blindada e potência de fogo para tirar a iniciativa do inimigo, tendo que se tomar cuidado com a saturação do local pelo número de veículos, que pode ocorrer no combate urbano. As vias de acesso tendem a se tornar mais estreitas, canalizando o movimento e facilitando as emboscadas com a paralização dos veículos, conforme se observou em Grosny. De igual forma, as VBR são empregadas nas áreas edificadas com a devida proteção dos fuzileiros, explorando ao máximo suas principais características. No combate em área urbana as posições são preparadas em casas e edifícios, protegidas por obstáculos, minas e armadilhas. Assim, pontes, locais de passagem e construções devem ser inspecionados antes de serem utilizados. Deve fazer parte do reconhecimento e do estudo de situação a determinação das classes das ruas, rodovias e principalmente pontes. As viaturas blindadas em conjunto com os fuzileiros podem ser empregados efetivamente, durante operações urbanas, das seguintes formas: - provendo ação de choque e poder de fogo; - isolando objetivos para evitar o retraimento do inimigo, reforço ou contra ataque; - neutralizando posições inimigas com fumígenos, granadas HE/HEP 105mm ou 90mm e armas automáticas, enquanto a infantaria aproxima-se e destrói o inimigo; - apoiando a infantaria em entradas secundárias, quando a principal estiver bloqueada por obstáculos ou fogo inimigo; - ultrapassando barricadas ou reduzindo-as pelo fogo; 114 - obscurecendo a observação inimiga usando os lançadores de granadas fumígenas ou produzindo fumaça (M60); - batendo pelo fogo as vias de acesso; - atacando pelo fogo um alvo designado pela infantaria; - estabelecendo postos de vigilância e bloqueio; - eliminando posições identificadas de “sniper”. De acordo com a doutrina de emprego de pequenas frações blindadas, pode-se visualizar para o Pel CC ou Pel provisório de VBR, no combate urbano, compondo Força Tarefa com os fuzileiros, as seguintes formas de atuação: - Pel CC ou de VBR como elemento de manobra – o Cmt Pel é responsável pela manobra do Pel, de acordo com a intenção do Cmt SU. Com esta organização, suas missões são de apoiar pelo fogo ou cobrir o movimento da infantaria. É a organização mais difícil para manobrar com a infantaria. Entretanto, o Cmt Pel pode escolher manobrar o Pel por seção, provendo maior flexibilidade no apoio à infantaria; - seção CC ou VBR sob controle do Pel Fuz – o Pel é dividido e cada seção passará ao comando do comandante do pelotão de infantaria. É mais eficiente para se manter uma progressão entre os carros e a tropa a pé. Entretanto, o Cmt Pel Fuz tem uma responsabilidade adicional de manobrar a seção. A falta de experiência do Cmt Pel Fuz com CC pode comprometer a segurança dos carros. Esta formação é mais adequada quando o contato com inimigo é esperado e o apoio contínuo é necessário para o movimento ou limpeza dos prédios; - seção CC ou VBR sob controle do Pel Fuz e Cmt SU - o Pel é dividido e uma seção será passada ao comandante do pelotão de infantaria e a outra é mantida com o Cmt SU. Com esta formação o Cmt SU tem uma seção para ser empregada em um momento e lugar crítico, de sua escolha. As desvantagens são que o Cmt Pel Fuz terá que manobrar os carros e o Cmt SU terá o Pel CC reduzido à metade. Requer planejamento detalhado, coordenação e ensaio entre o Pel Inf e Sec CC ou VBR; - grupos de combate sob controle do Pel CC ou de VBR – o Pel recebe um ou mais grupos de combate. O Cmt SU pode manter todos os carros com o Cmt Pel CC/VBR ou passar uma seção para um Pel Fuz. Com esta formação, o Cmt SU tem um quarto elemento de manobra e envolve o Cmt Pel CC/VBR no combate. Pode ser empregada quando a reserva móvel necessite de proteção da infantaria. Requer 115 planejamento detalhado, coordenação e ensaio entre os grupos de combate e Pel/Sec CC ou VBR. Não há, dentre as composições citadas, uma considerada melhor ou pior, há sim a mais adequada à situação que se apresenta e à missão recebida, devendo-se seguir as orientações de quem coordena as ações e os princípios básicos de emprego dos blindados e das pequenas frações combinadas, citadas na seção anterior. A interoperabilidade dos carros de combate e fuzileiros a pé tem por finalidade obter o maior poder de combate para destruir o inimigo. Os infantes são os olhos e ouvidos, pois localizam e identificam alvos para os CC engajarem. Deslocam-se cobertos e abrigados para assaltarem posições de elementos inimigos que estão sob fogos dos CC, além de protegerem os carros contra o ataque da infantaria inimiga, enquanto as VBC ou VBR fornecem contínuo e pesado apoio de fogo contra pontos fortes do inimigo. A infantaria normalmente lidera o movimento, enquanto os CC provêem apoio cerrado. Se a infantaria descobre uma posição inimiga ou encontra resistência, os carros imediatamente respondem com apoio de fogo para destruir ou inquietar o inimigo na posição, permitindo à tropa a pé esclarecer a situação. A coordenação entre os Cmt CC/VBR e Cmt GC deve ser contínua. O Cmt de carro deve desembarcar por vezes e acompanhar o Cmt GC para uma posição onde possa visualizar melhor a ação a ser executada. Sinais convencionados para iniciar ou direcionar fogos, entre outros, devem ser entendidos por todos, substituindo comandos verbais. Uma das maiores dificuldades de coordenação, comando e controle é o intenso barulho provocado pelos meios blindados, mesmo sem contato com o inimigo. Quanto às comunicações, o Cmt Pel mantém contato com o Cmt SU. As VBC/VBR e os fuzileiros comunicam-se usando gestos convencionados, meio fio (telefone do infante existente na VBC Leopard), o equipamento rádio das VBC/VBR ou outros meios distribuídos. O rádio permite à infantaria proteger a guarnição dos blindados de uma exposição desnecessária ao fogo inimigo. Os lançadores de granadas fumígenas são usados para proteger os CC dos fogos do inimigo e para prover cobertura para a infantaria quando esta se desloca por uma área aberta ou evacua um ferido. Os sistemas de visão dos carros (Leopard 1 A5 e M60) podem ver através da fumaça, porém a infantaria tem uma grande 116 perda na sua capacidade de observação quando envolvida por uma cortina de fumaça. Os fumígenos formam uma rápida e densa cortina de fumaça no local, mas as granadas produzem fragmentos incandescentes que podem oferecer risco para o fuzileiro próximo ao carro ou causar incêndios. O pesado apoio de fogo direto das viaturas blindadas, aliado a sua precisão, são ferramentas valiosas para as forças de assalto quando do isolamento de determinado objetivo. Enquanto a infantaria desloca-se para limpar a posição, as VBC/VBR são deixadas em posições iniciais de apoio de fogo, devendo quando possível, deslocar-se para posições subseqüentes, onde possa evitar um reforço inimigo ou engajar forças que estejam retraindo do objetivo. Devem-se levar em consideração, ainda, outros fatores na utilização dos meios blindados no interior de cidades, por exemplo: 1) Durante o planejamento, atenção especial aos aspectos do terreno da área de operações e apoio dos carros em um movimento através campo; 2) quanto menor a velocidade, maior a segurança; 3) contar sempre com a participação do Cmt Pel CC/VBR e Cmt CC/VBR nos planejamentos do Cmt SU. A experiência dos componentes das guarnições ajudará no entendimento dos pontos mais importantes a serem ressaltados para a operação; 4) as VBC/VBR podem transportar munição, água e outros suprimentos; 5) as VBC/VBR são capazes de evacuar outro veículo danificado; 6) o SCmt SU deve coordenar com o S4 o aporte logístico para a operação; 7) realizar treinamentos e ensaios, reproduzindo as condições da missão, como por exemplo, visibilidade reduzida, conduta com civis, regras de engajamento, medidas de controle de fogos, comunicações, plano de fogo direto, abertura de brechas, procedimento para transporte da infantaria sobre os CC e técnicas para uso dos CC como escudo; 8) uso de medidas de coordenação e controle simples e claras, como linhas de controle para dividir por fases a manobra, sistema de números e letras para identificar ruas e construções, que podem servir de prováveis posições de apoio pelo fogo e áreas de fogo proibido; 9) na preparação das viaturas para o combate deve-se carregar munição extra para as metralhadoras e retirar líquidos inflamáveis do exterior da torre e cofres; . 117 Outro aspecto importante ressaltado por Eickhoff (2006) são as posições de combate selecionadas e ocupadas pelas VBC, para obter cobertura, abrigo, observação e campos de tiro, enquanto não realiza seu deslocamento. As posições normalmente ocupadas são a desenfiada, quando os campos de tiro são restritos às ruas ou a de espera, que é uma posição coberta e abrigada até o momento que a viatura desloca-se para uma posição de tiro. A posição de espera pode, ainda, estar dentro de uma área construída, devendo a engenharia avaliar a resistência do piso e prepará-lo, se for o caso. Apesar de não ser recomendado, em certas circunstâncias os carros de combate ou viaturas blindadas de reconhecimento podem transportar os fuzileiros, normalmente quando não é esperado o contato com o inimigo, sendo posicionados nas laterais e retaguarda da torre. Deve ser executado quando se necessita de um deslocamento mais rápido e deve ser realizado somente quando necessário, por razões óbvias de segurança e pela limitação que impõe ao veículo. Outros dados do emprego das armas e das munições orgânicas do carro de combate, complementam os estudos do terceiro capítulo deste trabalho, dentre os quais devem ser levados em consideração a utilização prioritária de munição HE e HEP do canhão, para casamatas e construções e munição HEAT para construções mais reforçadas. Além disso, convém ressaltar que o canhão tem limitação em elevação e depressão, dificultando o engajamento de alvos, que não poderão ser batidos por ele e pela Mtr coaxial. A metralhadora anti-aérea .50 (M60) pode desencadear um grande volume de fogo e sua munição pode penetrar em construções, edifícios e barricadas, não sendo necessário ao Cmt CC abrir a escotilha e se expor. Já a metralhadora anti-aérea 7.62mm (Leopard e Cascavel) pode desencadear um grande volume de fogo sobre tropas a pé e posições inimigas fracamente protegidas, entretanto obriga o Cmt CC e o auxiliar do atirador (Aux At) a abrir a escotilha e se expor. Outro fator importante é que, com as escotilhas fechadas, a guarnição tem uma visibilidade limitada para as laterais e retaguarda da VBC e não tem visão para cima ou para o nível subterrâneo. No caso das frações de Fuz Bld, o emprego é realizado de forma similar, com as VBTP M113 ou Urutu, provendo um relativo apoio de fogo direto aos fuzileiros que operam em área urbana. A metralhadora .50, a relativa proteção 118 blindada da viatura e o GC embarcado com seu armamento (FAL, FAP e AT 4), fornecem ao Cmt SU um aumento de poder de combate. O Pel Fuz Bld deve prover a própria segurança para as VBTP e apoiar pelo fogo a infantaria a pé, engajando alvos designados pelos fuzileiros. Quando em movimento deve se posicionar em suas laterais, permitindo cobrir o lado oposto da rua, permanecendo alerta aos sinais da tropa a pé. Será empregado após a limpeza da área construída ou em terreno dominante onde possa apoiar pelo fogo, podendo receber a missão de realizar um assalto a uma posição para limpeza de construções, mantendo uma segurança local nas VBTP. Algumas tarefas que podem ser executadas pelo Pel Fuz Bld são: - neutralizar posições inimigas utilizando Mtr .50 e AT 4; - derrubar paredes para acessar áreas construídas; - prover ressuprimento de munições e explosivos aos elementos de assalto; - prover uma reserva móvel ao Cmt SU; - evacuar mortos, feridos e prisioneiros. Algumas limitações são também observadas, entre elas a pouca proteção blindada, o ruído intenso dos veículos e a pouca precisão obtida com a Mtr .50. 5.3 POSSÍVEIS RUMOS PARA A MODERNIZAÇÃO Ao analisar-se a utilização dos veículos blindados em ambiente urbano se observam algumas deficiências originadas pelo material em estado de obsolescência e em uso pelas OM de Cavalaria. Vislumbra-se, portanto, algumas modificações necessárias para que as Unidades blindadas tenham um desempenho compatível no campo de batalha atual, com conformação multidimensional e onde o inimigo atua de forma não linear, dificultando a maioria das ações. Baseado em experiências de outros exércitos e cônscio das restrições orçamentárias em que o EB se vê envolvido, os investimentos em uma nova família de blindados devem ser direcionados para a atual realidade e para os desafios urbanos que já começam a se apresentar, por exemplo, nas missões de estabilização do Haiti. O atual clima de instabilidade da segurança pública no país é outro fator a ser considerado para que os gastos com blindados sejam feitos preparando as unidades blindadas ou mecanizadas para possíveis operações de garantia da lei e da ordem, onde os veículos são imprescindíveis tanto para a 119 proteção dos grupos de combate como para a dissuasão, pelo efeito psicológico que causam. De uma forma geral os blindados nacionais, particularmente os sobre rodas, já não possuem mais condições de sobrevivência no campo de batalha e necessitam passar por um processo de modernização e revitalização para que possam cumprir os padrões mínimos de desempenho. Os blindados sobre lagartas não possuem versatilidade suficiente para atuar em áreas urbanizadas, em vista do seu tamanho e peso, além da falta de tecnologia para ter maior durabilidade e resistência. As experiências de norte-americanos e israelenses comprovaram que os blindados devem ser adaptados para o combate urbano, através de “kits” que são colocados e retirados dependendo da missão. A inclusão destas inovações nos blindados atualmente em uso e recentemente adquiridos, como o Leopard 1 A5, parece ser a solução mais imediata e econômica para se ter um carro mais moderno e dotado de meios de sobrevivência para o ambiente urbano. A decisão de se continuar o processo de repotencialização dos blindados sobre rodas, ao invés de se pensar em uma nova família destes veículos, tomada pelo Ministério da Defesa, conforme apresentou o representante da 4ª Subchefia do Estado Maior do Exército, em palestra ministrada recentemente para o 2º ano do Curso de Comando e Estado Maior da ECEME31, reforça a idéia de se investir em pacotes para o combate urbano, já visando, inclusive, as missões de força de paz em execução e vindouras. A solução paliativa adotada, possivelmente por razões orçamentárias, não descarta a necessidade de se investir na indústria bélica nacional, particularmente no que se refere à pesquisa e desenvolvimento de projetos, com a finalidade de se produzir uma família de blindados sobre rodas com tecnologia, peças e manutenção nacionais, diminuindo ou mesmo eliminando a dependência externa de área tão sensível, fato este observado por Bastos (2007 a). Os blindados sobre rodas possuem maior versatilidade para emprego no interior de cidades, conforme abordagem de Oliveira (2003)32 em sua monografia. Faz-se necessário, portanto, otimizar sua utilização, observando-se as lições __________ 31 Palestra da 4ª Subchefia do EME, ministrada em 09/05/2007, durante o ciclo de Logística e Mobilização. 32 OLIVEIRA, Maurício Soares. O Esquadrão de Cavalaria Mecanizado no combate em área edificada. 2003. Dissertação (Mestrado em Operações Militares) – Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, 2003. 120 aprendidas com outros exércitos e investindo em inovações e melhorias para aumentar a sobrevivência deste meio no combate urbano. 5.4 CONCLUSÃO PARCIAL Os países envolvidos em conflitos atuais têm desenvolvido novos equipamentos e novas doutrinas para se adequarem a esse novo e difícil ambiente de combate, a área urbana. Desta forma, deve-se atentar e acompanhar a evolução da guerra moderna para que se possa atualizar a doutrina de emprego de blindados, de acordo com a realidade e equipamentos existentes e assim manter as pequenas frações (Pel e SU), sempre prontas para o combate. Nas seções anteriores, pôde-se observar que as pequenas frações combinadas são as mais adequadas para combater em ambientes urbanos fechados e onde o inimigo se apresenta de forma não linear. Observou-se, também, que não se pode prescindir do uso das viaturas blindadas para a proteção dos fuzileiros, apoio de fogo e dissuasão psicológica do inimigo. Dos aspectos analisados, pode-se tirar vários ensinamentos, particularmente quanto às possibilidades e limitações dos veículos blindados e das pequenas frações do combinado CC/Fuz, observando-se que é necessário explorar ao máximo as virtudes destes meios nobres e superar os óbices com tecnologia e inovações, a fim de tirar o máximo proveito destes sistemas no atual campo de batalha. Observa-se, portanto, que as técnicas, táticas e procedimentos das guarnições blindadas estão sendo difundidas por especialistas do CIBld e o adestramento em operações urbanas, principalmente da FT SU Bld, deve receber maior atenção visando padronizar atitudes e evitar ações imprecisas quando no combate real. O material em uso pelo EB, no que se refere aos meios blindados, apesar dos esforços para modernização, como a recente compra dos Leopard 1 A5. Esta que é uma versão mais moderna deste carro trouxe um novo alento para a Cavalaria. Porém, ainda há necessidade do EB repensar a família sobre rodas, já que se encontra com a vida útil vencida e com tecnologia obsoleta para o atual emprego em ambientes urbanizados. A repotencialização executada pelo Arsenal de Guerra de São Paulo será quase uma refabricação, no caso de alguns veículos, sendo importante se pensar 121 em incluir inovações para o combate urbano, particularmente no Urutu, que tem sido largamente utilizado pelas forças de estabilização no Haiti. A atual crise dos órgãos de segurança pública é outro aspecto que deve ser levado em consideração para a modernização dos meios blindados, particularmente os sobre rodas, que possuem melhor emprego nas operações de garantia da lei e da ordem e necessitam de inovações e tecnologia específicas para o combate em área urbanizada. Desta forma, pode-se concluir parcialmente nesta seção, que os meios blindados atualmente em uso no EB, comprovadamente são necessários às operações urbanas, porém carecem de aprimoramentos e investimentos a fim de terem seu uso dinamizado nestes ambientes e poderem cumprir com eficiência as missões que lhes são atribuídas. Além disso, pouco ou nenhum adestramento da FT SU Bld vem sendo executado em áreas urbanas ou mesmo das frações mistas de VBR e Fuz embarcados em Urutu, como alternativa de emprego para ações mais rápidas e que necessitem maior versatilidade. 122 6. METODOLOGIA E RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO Foi realizada uma pesquisa quantitativa que teve a finalidade de verificar a percepção da oficialidade superior de cavalaria do Exército Brasileiro, possuidores do Curso de Altos Estudos Militares ou alunos da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, nos seguintes assuntos de interesse para este trabalho: - execução de exercícios empregando blindados no combate urbano; - possibilidades e limitações dos blindados no combate urbano; - doutrina de emprego dos blindados em ambiente urbano; - necessidade de experimentação doutrinária; e - formas de adestramento das guarnições blindadas. Dentre as hipóteses a verificar, foram escolhidas as seguintes, no escopo da pesquisa: I – Os meios blindados atualmente em uso pela cavalaria são inadequados ao combate urbano, necessitando, portanto, de melhorias tecnológicas. Procurou-se demonstrar a hipótese por meio da pesquisa, verificando a percepção dos consultados. A obtenção de dados fidedignos que provassem, ou não, esta hipótese, foi uma preocupação constante, pois as respostas colhidas se baseiam em opiniões pessoais. Para validar a pesquisa, o universo foi limitado a oficiais do QEMA e alunos da ECEME, todos de cavalaria e com experiência de aproximadamente vinte anos de serviço. II – O adestramento das guarnições blindadas para as operações urbanas deve ser melhor desenvolvido e treinado, sendo fator essencial para o cumprimento das missões recebidas. Buscou-se avaliar a percepção da eficiência do adestramento das unidades de Cavalaria, no tocante a operações urbanas, além de verificar o cumprimento do OA constante do PPA/CAV, verificando as principais deficiências na visão dos integrantes do universo pesquisado. A pesquisa permite, ainda, verificar a compreensão da necessidade de experimentação doutrinária para a utilização de blindados no interior de localidades, tendo em vista a falta de experiências práticas do EB neste tipo de operação. 123 6.1 PARTICIPANTES A pesquisa foi direcionada à totalidade dos oficiais alunos de cavalaria da ECEME, englobando o Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército (CPEAEx), os 1º e 2º anos do Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM), comandantes de OM de cavalaria das mais diversas naturezas, onde se utilizam blindados, ao CIBld e ao CIOPAZ. A preferência pela aplicação de um questionário a todos os alunos de cavalaria da ECEME, evitando o caminho alternativo mais simples de utilizar uma amostragem, visou a ampliar o universo pesquisado e, conseqüentemente, a confiabilidade e a precisão dos resultados. Isso se tornou possível porque as perguntas foram definidas procurando facilitar a tabulação dos resultados, sendo utilizadas apenas perguntas diretas. Todos os oficiais pesquisados têm reconhecido êxito profissional, pleno conhecimento do emprego tático da arma e possuem boas noções dos meios blindados da cavalaria existentes na Força Terrestre, além da vivência prática em várias organizações militares espalhadas pelo território nacional. Foram computadas as respostas de trinta e seis oficiais de cavalaria da ECEME dos setenta e um existentes, portanto, mais da metade dos oficiais responderam aos quesitos selecionados. Os comandantes de OM são oficiais nomeados pelo Comandante do Exército, portanto, tornando o universo confiável e os resultados com precisão adequada, já que onze unidades participaram da pesquisa das vinte e duas que possuem blindados no seu Quadro de Distribuição de Material (QDM), além do CIBld e do CIOPAZ. Esse universo, por abranger exclusivamente oficiais superiores do QEMA do Exército, oriundos de organizações militares de diferentes naturezas e de diversos Estados da Federação, apresenta elevado grau de regularidade quanto à capacidade de avaliação da realidade do Exército e da Cavalaria. Dos quarenta e nove questionários aplicados e devolvidos, todos foram considerados válidos por terem sido respondidos de forma suficiente e com fundamentação. Apenas um deixou de responder à 11ª questão, sendo aproveitadas as respostas aos demais itens. Para a média foi computada essa omissão. 124 6.2 MATERIAL Foram elaboradas questões para compreender o conceito de adequabilidade dos meios blindados da cavalaria no combate urbano. Buscou-se, ainda, avaliar percepções quanto: - a necessidade de realizar experimentação doutrinária. - a instrução específica para o emprego de blindados no interior de localidades. - formas de adestramento para as guarnições blindadas. Foram utilizados quatro modelos de questionários, encaminhados através de ofício ou pessoalmente ao pesquisado. Todos os questionários tiveram proposições semelhantes, constando de 11 quesitos de múltipla escolha e um quesito aberto para outras contribuições e opiniões acerca do assunto. Os questionários dirigidos ao CIBld e ao CIOPAZ tinham questões específicas às características das OM. 6.3 PROCEDIMENTOS Os passos deste trabalho foram: - realização de pesquisas quantitativas, por intermédio de questionários direcionados a oficiais superiores do QEMA ou alunos da ECEME da arma de cavalaria; -consolidação das informações; e -análise crítica e conclusões. Inicialmente, foram definidos a finalidade e o tipo das perguntas que comporiam o questionário, tendo por objetivo contribuir para a verificação das hipóteses formuladas e buscar informações que pudessem conduzir à interpretação conclusiva sobre o tema. Preferiu-se a opção de perguntas simples e respostas diretas, sem ambientações longas e cansativas, considerando-se o nível de experiência e conhecimento do universo consultado, deixando-se aberta a possibilidade de apresentação de justificativas e comentários. A identificação dos consultados nos questionários era opcional. Preparado o questionário e definido o universo, o material foi enviado através de ofício para as OM externas ou entregues diretamente aos militares da ECEME. Os questionários foram respondidos e, alguns dias após, recebidos, alguns via internet, para análise. 125 6.4 RESULTADOS A seguir são apresentadas as questões com os respectivos resultados obtidos, que são discutidos, analisados e interpretados, buscando-se oferecer respostas às hipóteses e cumprir os outros interesses apontados (coleta de indicadores e percepções). 6.4.1 QUESTÃO Nº 01 Esta questão tinha o objetivo de verificar se as OM de Cavalaria, nas quais os oficiais haviam servido, realizavam, durante o ano de instrução, exercícios empregando blindados no interior de localidades, em um quadro de combate urbano. Para esta questão havia as seguintes opções: sim, não e não especificamente. Deste questionamento foram colhidos os seguintes dados: 47 50 45 43 40 Porcentagem 35 30 25 20 15 10 10 5 0 sim não não especificamente Gráfico 1 – Execução de exercícios empregando blindados no combate urbano. Fonte: O autor. Da análise dos resultados, pode se afirmar que as OM nas quais 47% dos oficiais serviram não realizaram exercícios empregando blindados no combate urbano, enquanto 43% realizaram algum exercício deste tipo e 10% afirmaram que os blindados foram utilizados, mas não em um exercício específico de combate urbano. Constata-se, portanto, que não são todas as OM de Cavalaria que estão adestradas no emprego de blindados neste tipo de operação. Observa-se, ainda, segundo relatos na pesquisa, que alguns oficiais não possuem nenhuma experiência de emprego de blindados em ambiente urbanizado. 6.4.2 QUESTÃO Nº 02 126 A segunda questão tinha o objetivo de verificar a opinião do oficial sobre a adequabilidade dos blindados (VBC, VBR e VBTP) para o combate em área edificada. Para esta questão havia as seguintes opções, indistintamente para todos os blindados: sim, não e em parte. Deste questionamento foram colhidos os seguintes dados: 60 52 Porcentagem 50 46 40 30 20 10 2 0 sim não em parte Gráfico 2 – Opinião sobre a adequabilidade dos meios blindados no combate urbano. Fonte: O autor. Da análise dos resultados, pode se afirmar que os oficiais consideram que os meios blindados em uso pela Cavalaria são adequados para o combate urbano (52%), tendo uma boa parte considerado parcialmente adequados (46%) e a minoria considera inadequados (2%). Observou-se nas respostas pouca convicção quanto ao conhecimento do atual emprego dos blindados no combate em área urbanizada, já que muitos demonstraram desconhecer a doutrina, principalmente para o investimento em localidades. Com referência ao Urutu, o Maj Cav Angonese, atualmente cursando o 1º ano da ECEME e o Cap Cav Cordeiro Pacheco do CIOPAZ, relataram suas experiências no Haiti, onde utilizaram este meio blindado nas operações desenvolvidas naquele país e puderam constatar que o Urutu é parcialmente adequado ao combate em áreas urbanizadas e deve sofrer adaptações para este fim. Há necessidade de proteção aos militares que conduzem a viatura e aos que utilizam as torres para atirar, o sistema de rodagem é muito vulnerável aos obstáculos e devem possuir uma lâmina para remoção de entulhos e escombros que 127 dificultam a locomoção do veículo. O sistema de blindagem não pôde ser testado tendo em vista o baixo calibre das armas utilizadas pelos rebeldes. 6.4.3 QUESTÃO Nº 03 Esta questão pretendia verificar quais as maiores limitações dos blindados, atuando em ambiente urbanizado. Para esta questão havia as seguintes opções: mobilidade, armamento, blindagem, camuflagem e outros que deveriam ser citados. Deste questionamento foram colhidos os seguintes dados: 57,1% 60% 50% 40% 26,5% 30% 20,4% 20,4% 20% 14,3% 10% 0% Mobilidade Armamento Blindagem Camuflagem Outros Gráfico 3 – Limitações dos blindados no combate urbano (resultado final). Fonte: O autor. A análise dos resultados indica que a maioria dos oficiais citou a mobilidade dos blindados no interior de áreas urbanas como a maior limitação (57,1%), principalmente devido ao tamanho e peso dos blindados sobre lagartas e às deficiências de dirigibilidade das Vtr sobre rodas. O armamento dos blindados foi o segundo mais votado (26,5%), basicamente devido ao calibre inadequado dos canhões ou imprecisão das metralhadoras. A blindagem foi citada como a maior limitação por 20,4% dos militares e a camuflagem por 14,3%, denotando uma menor importância nestes aspectos, segundo os participantes. Outros aspectos bastante interessantes foram citados, além dos especificados, dentre os quais se destaca a pouca proteção contra armas anticarro, o reduzido campo de observação da área externa sem comprometer a segurança do Cmt do carro, a falta de equipamentos de visão noturna, a ausência de aparates de remoção de obstáculos tipo lâmina nos blindados e o deficiente adestramento das guarnições para o combate urbano. 128 Convém levar em consideração que os oficiais poderiam citar mais de um item nesta proposição, observando-se no resultado final, que grande parte vislumbra mais de uma vulnerabilidade nos meios blindados. 6.4.4 QUESTÃO Nº 04 A quarta questão tinha a finalidade de verificar se o oficial concordava com a assertiva de que os meios blindados desempenham papel decisivo na conquista de localidades, empregados tanto no isolamento como no investimento. Para esta questão havia as seguintes opções: sim, não e em parte. Desta questão foram colhidos os seguintes dados: 90 83 80 P orcentagem 70 60 50 40 30 20 15 10 2 0 sim não em parte Gráfico 4 – Meios blindados desempenham papel decisivo na conquista de localidades (assertiva). Fonte: O autor. Em decorrência dos resultados apresentados no gráfico 4, verificou-se que a maioria dos oficiais (83%) concordam que os blindados são decisivos para o isolamento e para o investimento em cidades, sendo que o fato de haver necessidade do emprego conjunto com o fuzileiro a pé deve ser considerado. Concordaram em parte com a assertiva 15% dos participantes, relatando que o melhor emprego para os blindados seria no isolamento das localidades, sendo o investimento realizado apenas por tropas a pé. Dos elementos pesquisados apenas 2% acredita que o blindado não desempenha papel decisivo na conquista de localidades e baseia-se em casos históricos para justificar sua opinião. 129 6.4.5 QUESTÃO Nº 05 A quinta questão procurou levantar a opinião do oficial a respeito da doutrina voltada para o combate em ambiente urbano, se estava adequada aos moldes da guerra moderna. Para esta questão havia as seguintes opções: sim, não e em parte. Desta questão foram colhidos os seguintes dados: 50 44 45 40 Porcentagem 35 29 30 25 20 20 15 10 7 5 0 sim não em parte desconhecem Gráfico 5 – Doutrina de combate urbano está adequada ao combate moderno. Fonte: O autor. A análise do gráfico confirma que a doutrina é apenas em parte adequada para o combate urbano para a maior parte dos militares questionados (44%), tendo como justificativas a falta de experiências práticas e de atualização para os conflitos modernos, além de não fazer referência às missões com características especiais como a de estabilidade e apoio das forças de paz. Dos pesquisados, 29% afirmaram ser inadequada a doutrina vigente, por estar ultrapassada e muito genérica, particularmente quanto aos carros de combate, sendo praticamente cópia dos manuais norte-americanos. Verificou-se que 20% dos participantes da pesquisa consideram a doutrina vigente adequada, necessitando apenas de aperfeiçoamentos para a nova realidade do combate urbano. Observouse, ainda, que 7% dos oficiais pesquisados desconhecem qualquer doutrina relacionada ao combate urbano, indicando a falta de experimentação e divulgação dos resultados para que se consolide uma doutrina de emprego adaptada às nossas realidades. Outra conclusão relevante indica a necessidade de que sejam revistos os objetivos de adestramento para esse tipo de operação nas OM de Cavalaria, em 130 virtude da falta de subsídios para grande parte dos pesquisados, para emitir opinião acerca da doutrina de emprego dos blindados no combate urbano. 6.4.6 QUESTÃO Nº 06 Esta questão pretendia averiguar a opinião do oficial acerca do quesito é importante a realização de experimentação doutrinária do emprego de blindados no combate urbano. Desta questão foram colhidos os seguintes dados: 120 Porcentagem 100 98 80 60 40 20 2 0 não em parte 0 sim Gráfico 6 – Importância da experimentação doutrinária do emprego de blindados. Fonte: O autor. O resultado deste questionamento confirma o que foi concluído até o presente momento, de que a doutrina apenas será consolidada se passar por experimentação, sendo positiva a opinião da maioria absoluta dos oficiais participantes da referida pesquisa (98%). Desta forma fica ressaltada a necessidade de se realizar experimentação doutrinária sobre a utilização de meios blindados no interior de áreas urbanizadas, visando atualizar e colocar à prova as mais recentes técnicas, táticas e procedimentos relativos ao combate urbano, de acordo com a realidade do EB, baseando-se nas recentes experiências de outros exércitos. A minoria dos participantes (2%) julga desnecessária a execução de experimentação doutrinária, tendo em vista as dificuldades em se encontrar locais apropriados para tal fim, sendo suficiente a aplicação prática da doutrina por outros exércitos. 131 6.4.7 QUESTÃO Nº 07 A sétima questão tinha o objetivo de verificar se na organização militar em que serviu o oficial foi realizado algum trabalho com o tema voltado para o emprego de blindados no combate em área edificada. Desta questão foram colhidos os seguintes dados: 80 71 70 Porcentagem 60 50 40 30 20 17 12 10 0 sim não não sei informar Gráfico 7 – Realização de trabalhos relativos ao emprego de blindados no combate urbano. Fonte: O autor. O resultado desta questão ratifica a análise feita nos itens anteriores, de que, embora tenha crescido de importância nos últimos anos, o combate em área edificada ainda não tem sido priorizado no adestramento na maior parte das OM de Cavalaria. Este fato foi observado, já que 71% do universo desconheciam qualquer trabalho, acerca do assunto em pauta, realizado pelas OM em que haviam servido. As respostas salientam que, para o adestramento da tropa no combate em localidade, há necessidade de um local próprio para treinamento, o que poucas OM possuem, principalmente para uso de blindados, fato que não impede que sejam realizados simpósios, palestras e instruções de quadros sobre o assunto. Observou-se que, mesmo com as dificuldades já citadas, alguns oficiais (12%) afirmaram que as OM em que tinham servido realizaram exercícios e instruções sobre o assunto, como por exemplo, o exercício de emprego de Esqd C Mec em reconhecimento de localidade, em 2006 e 2007, e o emprego de FT SU Bld em combate em localidade, em 2007, realizados pelo CIBld. Outras OM estão desenvolvendo seminários e programas de atualização de doutrina para GLO ou operações de forças de paz, por exemplo, o 13º RCMec e o 20º RCB. Os 17% 132 restantes não souberam informar se a OM já havia realizado algum trabalho a respeito do assunto. 6.4.8 QUESTÃO Nº 08 Esta questão procurou verificar se no período de adestramento da OM em que serviu o oficial foram realizados exercícios em que se utilizaram blindados no interior de localidades. Para esta questão havia as seguintes opções: sim, não e apenas GLO. Desta questão foram colhidos os seguintes dados: 50 46 45 40 Porcentagem 35 33 30 25 19 20 15 10 5 0 sim não apenas GLO Gráfico 8 – Realização de exercícios de adestramento de combate urbano Fonte: O autor. O resultado desta questão demonstra que as OM em geral não trabalham com objetivos de adestramento específicos de combate urbano, já que 46% dos participantes afirmaram não ter realizado exercícios de adestramento de combate urbano em OM que haviam servido. Ainda, observou-se que, outros 19% executaram em suas OM apenas exercícios de GLO, empregando blindados em áreas urbanas, principalmente para cartório móvel ou nos postos de bloqueio e controle de estradas (PBCE). Por fim, 33% dos oficiais afirmaram ter realizado, em OM em que haviam servido, exercícios de adestramento utilizando blindados no interior de localidades, limitados pela falta de áreas de instrução específicas para tal fim e pela pouca clareza dos objetivos de adestramento para estas operações. 133 6.4.9 QUESTÃO Nº 09 A nona questão procurou colher a opinião dos oficiais a respeito de qual seria a melhor forma de se adestrar uma OM para atuar no combate urbano, utilizando-se dos meios blindados para a fase do investimento, sendo apresentadas a estes as seguintes opções: exercício no terreno, exercício na carta, simulação de combate e outros que deveriam ser citados. Desta questão foram colhidos os seguintes dados: 80 70 69 Porcentagem 60 50 37 40 30 20 15 15 manobras na carta outras 10 0 exercício no terreno simulação de combate Gráfico 9 – Formas de adestramento da tropa. Fonte: O autor. Da análise dos resultados, pode-se afirmar que os oficiais consideram o exercício no terreno a melhor forma de adestrar a tropa para o combate urbano, sendo esta modalidade citada por 69% dos pesquisados, combinada ou não com outras formas de adestramento. Na apreciação final verificou-se, também, que 37% do universo optou por exercícios de simulação de combate tipo jogo de guerra, sendo conveniente ressaltar que segundo o responsável pela carteira no Comando de Operações Terrestres (COTER), durante palestra ministrada aos alunos da ECEME em 2006, ainda não há um “software” desenvolvido para este tipo de operação, fato que deve ser objeto de estudo por aquele órgão. O adestramento através de manobras na carta foi indicado por 15% dos militares, sendo observado que esta modalidade, normalmente, precede às demais e deve servir de subsídio prévio de visualização das operações para, em um segundo momento, ratificar ou retificar os planejamentos executados. Observou-se, ainda, que a mesma proporção anterior dos participantes citou outras formas de adestrar as tropas. Como exemplo cita-se a combinação dos demais processos, iniciando com um planejamento na carta, passando pela simulação e culminando com a prática no 134 terreno, os exercícios de estudo de caso em caixão de areia, manobras em localidades simuladas e simulação assistida, ou seja, combinando o real com o virtual para corrigir as possíveis falhas de entendimento e atuação. 6.4.10 QUESTÃO Nº 10 A décima questão tinha como meta verificar, na opinião do oficial, para que tipo de emprego seria mais importante se adequar os meios blindados em uso nas OM de Cavalaria, justificando. Para a proposição foram apresentadas as seguintes opções: guerra convencional, GLO, missões de paz ou todos. Desta questão foram colhidos os seguintes dados: 60 50 Porcentagem 50 40 39 30 20 12 10 6 0 guerra convencional GLO missões de paz todos Gráfico 10 – Adequação dos blindados (por tipo de emprego). Fonte: O autor. Nesta proposição verificou-se, pelo resultado geral, que a maior parte dos oficiais consultados (50%), acredita que os blindados devam sofrer adequação para todas as formas de emprego, justificando, principalmente, pelo fato de que os meios blindados devem atender a todas as necessidades do combate moderno, além de possuírem flexibilidade de adaptação e utilização. A justificativa de alguns foi a de que, considerando um ambiente urbano, as características dos veículos não diferem muito e de uma forma geral os blindados devem ser adaptados para todos os tipos de atuação. Uma boa quantidade dos participantes (39%) julgou ser para o combate convencional a prioridade de adequação dos blindados, tendo em vista ser a missão precípua das forças blindadas do EB, podendo sofrer adaptações para os demais tipos de emprego. No que diz respeito às missões das forças de paz, 12% dos 135 oficiais consideraram mais importante a adequação dos meios blindados para este tipo de emprego, tendo em vista a atual tendência do Brasil em apoiar a ONU nestas operações, a exemplo do que ocorre atualmente no Haiti. Ainda 6% dos militares acreditam ser para as missões de GLO a maior atenção a ser dispensada, no que diz respeito à adequação dos blindados, basicamente por causa da atual crise na segurança pública, observada nos últimos anos nas grandes cidades. 6.4.11 QUESTÃO Nº 11 Por fim, a última questão buscou verificar qual o grau de importância dada ao assunto em pauta. As opções apresentadas foram importante, relevante e irrelevante. Desta questão foram colhidos os seguintes dados: 90 80 77 P o rcen tag em 70 60 50 40 30 23 20 10 0 0 importante relevante irrelevante Gráfico 11 – Grau de importância da pesquisa. Fonte: O autor. Com a finalidade de se levantar o grau de interesse que esta pesquisa monográfica desperta nos oficiais de Cavalaria, foi observado que a maioria dos participantes deste questionário (77%) acham o assunto em pauta importante, pois a tendência atual é de que os combates se desenvolvam em ambientes urbanizados e a pouca experiência das tropas brasileiras nestas operações, principalmente utilizando blindados, justifica tal resultado. De igual forma os outros 23% consideram o assunto relevante, por não termos uma doutrina firmada e poucos trabalhos terem sido feitos nesse sentido, para que se discuta o adestramento das tropas visando os conflitos urbanos. A ausência de respostas julgando o assunto irrelevante demonstra que existe interesse dos militares questionados em desenvolver o assunto, a fim de 136 chegar a uma doutrina de emprego exeqüível e condizente com a realidade do EB e com a tendência mundial. 6.5 RELATÓRIO DA PESQUISA Para a validação dos resultados obtidos, em relação à primeira variável levantada como objeto da pesquisa de campo, que buscou verificar se os meios blindados são adequados ao combate urbano, chegou-se às seguintes conclusões: Pela primeira questão, 47% dos pesquisados não executaram exercícios com blindados no ambiente urbano. Considerando uma amostra de 49 militares pode-se afirmar que o fenômeno observado apresentará uma margem de erro de 7,13% para mais ou para menos e significa que o número de militares que não executaram os exercícios citados varia entre 39,87% e 54,13%. Na análise da segunda questão observou-se que 52% dos oficiais pesquisados consideram adequados os blindados da cavalaria para o combate urbano. Da mesma forma, para uma amostra de 49 oficiais admite-se um desvio na percentagem de 7,14% e o fenômeno será verdadeiro entre 44,86% e 59,14% da amostra. Na sétima questão verificou-se que 71% dos participantes não conheciam qualquer trabalho executado nas OM, em que tinham servido ou estavam comandando, acerca do emprego de blindados nas operações urbanas. Em uma amostra de 49 pesquisados admite-se um erro-padrão de 6,48% para mais ou para menos, ou seja, o número de militares que não observaram os referidos trabalhos nas suas OM varia entre 64,52% e 77,48%. Desta forma, conclui-se que, apesar da maioria considerar os blindados adequados para o combate urbano, os resultados provam um desconhecimento do atual emprego, além de uma falta de prática na execução de exercícios com meios blindados em ambientes urbanizados, levando a crer que existem dúvidas de como empregar os referidos meios naquelas operações e pouca convicção quanto à adequabilidade daqueles meios. Na análise, visando a segunda variável desta pesquisa de campo, que diz respeito ao adestramento das guarnições para o combate urbano, observou-se que, de acordo com a oitava questão formulada, 46% dos pesquisados não realizaram exercícios de adestramento de combate urbano utilizando blindados. Calculando-se a margem de erro (7,12%) da amostra apresentada, verificou-se que a percentagem 137 de participantes onde ocorre o fenômeno varia entre 38,88% e 53,12%, número que demonstra a falta de melhor adestramento nas unidades de cavalaria, no assunto em pauta. Quanto aos exercícios e trabalhos executados, os resultados foram analisados para a primeira hipótese e provaram uma deficiência nas OM de cavalaria na instrução e adestramento das tropas para o emprego de blindados no combate urbano. Assim, conclui-se que, o adestramento das guarnições blindadas para as operações urbanas deve ser mais bem desenvolvido e treinado, buscando-se avaliar o OA constante do PPA/CAV e verificando as principais deficiências apresentadas. Foi possível, ainda, pelas respostas apresentadas nas demais questões, verificar a compreensão da necessidade de experimentação doutrinária para a utilização de blindados no interior de localidades, tendo em vista a falta de experiências práticas do EB neste tipo de operação. Desta forma, observa-se que, a opinião apresentada no questionário da pesquisa de campo, de especialistas em diversas áreas, foi convergente na maioria dos quesitos, levando a crer que muitas das conclusões a que se chegou serão de grande valia para o trabalho de pesquisa e que deve ser objeto de reflexão para os profissionais e pensadores da guerra moderna. 138 7. CONCLUSÃO Esse trabalho monográfico objetivou apresentar uma fundamentação científica, através de pesquisas histórica, doutrinária, de material, documental e de campo, que permitisse verificar a adequabilidade dos meios blindados empregados pela arma de Cavalaria do Exército Brasileiro nas operações em ambiente urbano. A necessidade de pesquisar tal assunto foi decorrente do fato, citado e comprovado por especialistas e pesquisadores, de que a crescente urbanização dos países e a dificuldade do combate em áreas edificadas, eliminando vantagens tecnológicas e nivelando as forças envolvidas, fazem com que seja muito grande a probabilidade da maioria dos conflitos futuros serem travados neste tipo de ambiente operacional. Outra afirmação feita, diz que as forças blindadas devem exercer um papel fundamental em um ataque em área edificada, sendo suas características básicas de potência de fogo, mobilidade e proteção blindada, fatores que conduzirão as tropas mais eficazmente à vitória. A base teórica que fundamentou o presente estudo foi, na maioria, retirada de documentos elaborados pelos exércitos do Brasil, dos Estados Unidos da América, Israel e da Rússia, aproveitando-se, particularmente, as inovações surgidas nas últimas experiências de combate dos exércitos dos países supracitados. No intuito de se alcançar o objetivo proposto, procurou-se analisar as experiências históricas de alguns exércitos que empregaram blindados no interior de localidades, além da doutrina e materiais em uso atual nas tropas mais adestradas nestas operações. Após o estudo das condicionantes envolvidas e mediante a adoção do método de análise comparativa e raciocínio indutivo, chegou-se à confirmação de uma das hipóteses previstas na primeira seção deste trabalho. Para melhor análise das hipóteses levantadas, a pesquisa foi dividida de forma que todas as circunstâncias que envolvem a utilização de forças blindadas em um ambiente operacional urbano fossem consideradas. Assim, na segunda seção, tratou-se de alguns conflitos urbanos relatados na história, ressaltando a utilização de blindados nestas operações e os resultados alcançados por aquelas forças, concluindo sobre a influência para o combate urbano 139 moderno e com o intuito de chamar a atenção do leitor para a importância destes meios quando utilizados em área edificada e urbanizada. Nesta seção foram abordados conflitos da história recente, basicamente durante a Segunda Guerra Mundial, até os mais recentes como na Somália, em Grosny ou no Iraque. A análise destes conflitos serviu para retirar das lições aprendidas o máximo de ensinamentos, que devem ser aplicados quando do emprego de blindados em áreas urbanizadas. A finalidade principal da seção foi a de mostrar a evolução necessária das técnicas, táticas e procedimentos no tocante ao uso de forças blindadas no interior de cidades, evitando-se repetir erros do passado. Além disso, concluiu-se desta seção, que o sistema operacional inteligência deve funcionar convenientemente, a fim de se evitar ataques mal sucedidos, genocídio e fratricídio, sendo grande a preocupação com a opinião pública mundial e com os noticiários da mídia internacional, afetando decisivamente a liberdade de ação dos chefes militares. Os meios blindados foram abordados como assunto da terceira seção deste trabalho, quando então foram apresentados os principais veículos utilizados atualmente em conflitos urbanos, especialmente por exércitos com experiências recentes, como EUA e Israel. Foram estudados também os principais veículos blindados de combate, de reconhecimento e de transporte de pessoal, sobre lagartas e sobre rodas, atualmente em uso no Exército Brasileiro, a fim de estabelecer-se um paralelo destes com os primeiros. Verificou-se que os novos desafios do combate urbano moderno, observado nos conflitos mais recentes e nas suas lições aprendidas, obrigaram alguns países como Estados Unidos e Israel a buscarem um constante desenvolvimento dos seus meios e de sua tecnologia, a fim de reduzir o tempo de conflito e as perdas humanas e materiais. Desta forma, norte-americanos e israelenses rumaram na direção do desenvolvimento de meios blindados voltados para o combate em área urbana. A grande experiência destes exércitos, somada ao eficiente treinamento e investimento no setor de defesa, tornaram EUA e Israel as potências militares mais preparadas do mundo para operações em áreas fechadas. O emprego de blindados para dissuadir, proteger os fuzileiros a pé ou resolver mais rapidamente as questões, parece ser a forma decidida por estes 140 exércitos com larga experiência nestes tipos de confrontos, não se admitindo qualquer patrulhamento ou ataque a resistências sem a utilização desses meios, conforme se verificou no decorrer da seção. Observou-se, nos blindados americanos e israelenses, semelhanças que apontam para uma tendência das novas linhas de blindados com características para atuar no inevitável ambiente urbano da guerra do futuro. Muitas inovações como o sistema de proteção ativo, contra mísseis e foguetes, já é considerado item obrigatório nos carros em estudo ou sendo fabricados pelo mundo. Ao estudar os veículos blindados utilizados no Brasil, percebeu-se que os investimentos realizados deixaram de contemplar as inovações para o combate urbano, exceção feita ao Urutu que, por estar sendo utilizado nas missões de estabilização no Haiti, recebeu alguma modificação, ainda que pequena, para atuar no interior de cidades. Os veículos sobre lagartas não possuem qualquer proteção extra, principalmente nas partes que se apresentam mais vulneráveis aos atiradores de escol e armas anticarro, que são a torre e as partes de cima e de baixo dos blindados. Além disso, alguns carros adquiridos há mais de dez anos, já estão sendo fabricados, pelos países de origem, em versões mais modernas e mais versáteis (problema que está sendo contornado com a aquisição dos Leopard 1 A5), tornandoos quase que obsoletos aos olhos do combate moderno. A linha sobre rodas, após a falência da ENGESA, não teve desenvolvimento satisfatório e, hoje, muitos blindados Cascavel e Urutu, com a vida útil esgotada, estão sendo repotencializados no Arsenal de Guerra de São Paulo, porém com poucas inovações no que se refere ao combate urbano. Conforme conclusões de alguns pesquisadores, como o professor Expedito Bastos, o Brasil carece de uma nova família de blindados sobre rodas, com concepção mais moderna e já preparados para sobreviver às ameaças urbanas. Desta forma, pôde-se concluir que, os meios blindados em uso atualmente pela Cavalaria do EB carecem de aperfeiçoamentos com especificações para o combate urbano, sendo que, alternativas paliativas reduzem o problema, porém estão longe de ser a solução ideal. Os projetos de modernização devem ter como base a real tendência de as guerras desenvolverem-se em teatros de guerra que englobam grandes cidades ou 141 suas periferias e que, portanto, devem possuir armamentos, munições e tecnologia que permitam a sobrevivência dos carros nestes ambientes. A quarta seção teve como assunto a doutrina de emprego dos meios blindados no combate urbano, tomando-se como referencial as novas técnicas empregadas pelo exército norte-americano na última guerra do Golfo e aquelas que foram e estão sendo experimentadas na tentativa de debelar os conflitos no Afeganistão e no próprio Iraque. Além da doutrina dos EUA, verificou-se a doutrina em uso por Israel e por forças internacionais de paz, quanto ao emprego de blindados no interior de grandes cidades e sua adequabilidade, além de doutrinas de emprego utilizadas em outros conflitos e guerras civis. Observou-se que, os países envolvidos nos conflitos atuais estão desenvolvendo novos equipamentos e novas técnicas para se adequarem ao inevitável e difícil combate em ambiente urbano. Desta forma, se faz necessário acompanhar a evolução da guerra moderna para que se possa atualizar a doutrina de emprego de blindados e, principalmente, o adestramento das suas frações. Notou-se, também, grande preocupação por parte dos norte-americanos no desenvolvimento e adestramento de suas tropas em técnicas, táticas e procedimentos, procurando consolidar uma doutrina pré-existente, adestrando as pequenas frações combinadas e as guarnições nas novas formações de combate de tropas blindadas, utilizando manual específico para operações urbanas (FM 3-06). Ainda quanto às experiências vividas por outros exércitos, destacou-se os aspectos doutrinários desenvolvidos após os combates dos russos em Grosny, particularmente quanto ao uso indiscriminado de bombardeios nesta cidade, fato que o combate moderno condena, por ferir os direitos humanos, pelos efeitos colaterais causados nas instalações e na população não combatente e pela repercussão na opinião pública internacional. Além dos russos os israelenses também têm contribuído para a formação de uma doutrina para a atuação no combate urbano, já que estão em permanente estado de litígio, em ambientes totalmente urbanizados. O emprego efetivo do combinado blindados e fuzileiros comprova, mais uma vez, que este não deve ser dispensado quando se planejar tais operações, procurando adaptar a composição e o valor à missão recebida. 142 Ainda como contribuição, os ingleses também demonstraram a efetividade do emprego de blindados, como fator psicológico e de apoio de fogo nas investidas em Basra, no Iraque, favorecendo sobremaneira o sucesso das missões, principalmente no que diz respeito à proteção contra armas anticarro e contra a atuação dos “sniper”. No que diz respeito à doutrina vigente no EB, notou-se que as técnicas, táticas e procedimentos são semelhantes, na sua concepção, às desenvolvidas em outros exércitos, basicamente seguindo o prescrito nos manuais norte-americanos. As fases do cerco a uma cidade não sofreram modificações, porém o planejamento para emprego de blindados, principalmente para a terceira fase (investimento), deve ser muito mais minucioso para a atual realidade dos grandes centros urbanos. A falta de atuação em missões reais é um fator que limita a consolidação de uma doutrina brasileira de emprego de meios blindados no combate urbano, sendo necessário tomar como base as experiências de outros exércitos. As missões de paz em andamento no Haiti estão servindo como primeiro passo para experimentação de técnicas, táticas e procedimentos genuínos neste tipo de combate, embora a improvisação e a intuição ainda sejam nítidas na maioria das ações. O emprego das VBTP Urutu, com algumas modificações, nos patrulhamentos e reconhecimentos, ressalta a importância de se ter proteção blindada para os elementos a pé, nas áreas com atuação de rebeldes, sendo necessário ampliar as inovações e dotar estes veículos de moderna tecnologia, capaz de melhorar a capacidade de sobrevivência em ambientes urbanizados. A necessária composição de força-tarefa de valor subunidade, que se concluiu ser a mais apta para atuar no combate urbano, é um fator que se deve levar em consideração, ao se planejar uma operação. A combinação CC-Fuz é essencial para que se tenha maior probabilidade de êxito nestas ações, fundamento este explicitado no manual C 17-20. Portanto, faz-se imperativo treinar e adestrar guarnições de carros e fuzileiros, nas principais técnicas de maneabilidade e tiro no interior de cidades, para que todos conheçam e massifiquem as regras de engajamento que deverão ser estabelecidas previamente, evitando erros e vacilações ante uma situação inesperada e, para isso, a simulação de combate é um caminho bastante econômico. 143 Assim, ao analisar as inovações doutrinárias experimentadas por norteamericanos, russos, israelenses e ingleses, verificou-se que os manuais brasileiros e as teorias desenvolvidas por especialistas em blindados estão na direção correta, bastando melhores condições de treinamento, equipamentos mais modernos e uma reformulação nos objetivos de adestramento, focando a atuação dos blindados em áreas fechadas. Na quinta seção, foram abordadas as características, possibilidades e limitações dos meios blindados do EB, tanto do material como das guarnições. Foram vislumbrados os possíveis empregos e as medidas passíveis de adoção para a modernização do material e adequação doutrinária, alicerçadas em experiências colhidas em outros exércitos, para verificar a adequabilidade dos blindados da Cavalaria. Procurou-se concluir sobre as soluções possíveis para melhorar o desempenho e a sobrevivência destes meios no combate urbano. Dos aspectos analisados verificou-se uma gama considerável de possibilidades dos meios blindados atuando em operações urbanas, tais como mobilidade, proteção blindada e dissuasão psicológica, as quais, quando bem empregadas, conduzem a resultados positivos. Os ensinamentos colhidos por outros exércitos são de fundamental importância para a utilização segura e eficiente destes meios no combate moderno. O conhecimento das principais limitações dos veículos blindados, atuando no interior de localidades, torna-se ponto passivo para seu melhor emprego e para a segurança daqueles que fazem parte das suas guarnições. Verificou-se que as técnicas, táticas e procedimentos das guarnições blindadas estão sendo difundidas por especialistas do CIBld e o adestramento em operações urbanas está recebendo maior atenção, visando padronizar atitudes e melhorar o adestramento, não caracterizando o aspecto mais deficitário das tropas blindadas. Observou-se, também, que é necessário explorar ao máximo as virtudes destes meios nobres e superar os óbices com tecnologia e inovações, a fim de tirar o máximo proveito destes sistemas no atual campo de batalha. Desta forma, concluiu-se que, os meios blindados atualmente em uso no EB, comprovadamente necessários às operações urbanas, possuem várias possibilidades, porém, são inadequados às necessidades impostas pelo combate moderno, carecendo de aprimoramentos e investimentos a fim de terem seu uso 144 dinamizado nestes ambientes e poderem cumprir com eficiência as missões que lhes são atribuídas. Na sexta seção do presente trabalho foram analisados os dados colhidos com a pesquisa de campo executada junto aos usuários e especialistas em meios blindados, na ECEME, nas OM operacionais e de ensino do Exército Brasileiro. Os resultados obtidos contribuíram sobremaneira para a confirmação da hipótese levantada como verdadeira, já que se tratou de opinião avalizada de especialistas e militares com larga experiência na utilização de blindados, ao longo de suas carreiras. Constatou-se, após a análise das variáveis independentes levantadas nesta pesquisa monográfica que, no tocante à versatilidade e tecnologia, os meios blindados atualmente em uso pela Cavalaria do EB carecem de inovações tecnológicas para emprego no combate urbano e não possuem a suficiente versatilidade para este fim. Apesar de ter-se observado, na apreciação da pesquisa de campo, que a maioria dos participantes considerou os blindados adequados para o combate urbano, os estudos realizados provaram exatamente o contrário. Os esforços de modernização, que vêm sendo feitos até o momento, não vislumbraram uma possível utilização dos meios blindados no combate urbano, embora esta seja a tendência dos mais modernos e treinados exércitos do mundo. As melhorias de tecnologia, apresentadas em “kits” e implementadas nos carros de combate ou nos veículos de infantaria, a exemplo da versão TUSK do M1A2 Abrams norte-americano ou do Merkava Namera israelense seria uma solução mais barata para melhorar a sobrevivência dos Leopard, M-60 e M-113 ou até mesmo dos Cascavel e Urutu, nas operações urbanas. A substituição por uma nova família de blindados sobre rodas é necessária, porém há indicações de que, pelo menos por enquanto, o orçamento destinado à modernização não prevê nem a compra nem a fabricação destes blindados. A recente aquisição dos CC Leopard 1 A5, apesar de melhorar bastante as unidades blindadas de Cavalaria, não acrescentará muito em termos de combate em área urbanizada, já que estes veículos são destinados ao combate convencional em ambiente aberto e carecem de sistemas de proteção adequados e de versatilidade para o combate no interior de cidades. O armamento principal, por exemplo, um canhão 105 mm, não possui o calibre mais apropriado para estas missões. 145 Da segunda variável independente, quanto à instrução das guarnições blindadas, após executado um estudo comparativo, observou-se que os exércitos mais experientes treinam incansavelmente as técnicas, táticas e procedimentos necessários à atuação nas missões de combate urbano. Considerando que muitos já participaram de ações reais e que dispõem de material de alta tecnologia e locais apropriados para treinamento, é notório o hiato criado, se comparadas com as tropas blindadas do EB. A instrução de guarnições blindadas brasileiras limita-se às unidades especializadas ou centros de instrução e o combate urbano encontra-se em estágios iniciais de estudos e implantação. As principais técnicas e táticas ainda não foram difundidas no âmbito das OM, até por se tratar de uma nova concepção de combate, concluindo-se que a instrução ainda é deficitária e parcialmente adequada, para que as guarnições dos CC possam atuar em um quadro de guerra em ambiente urbanizado. Apesar de ser previsto nos programas-padrão para o adestramento básico nas unidades de Cavalaria (PPA/CAV), o objetivo de adestramento (OA) – Atacar em uma área edificada – este não vem sendo cumprido regularmente nas OM de Cavalaria, fato observado na pesquisa de campo realizada, já que poucos militares, nas OM em que serviram, tiveram a oportunidade de trabalhar neste objetivo. Mesmo assim, as que realizaram o adestramento tiveram várias limitações de material e falta de áreas adequadas para tal fim. Uma parcela considerável dos oficiais (46%) não trabalhou este OA em suas OM, fato que denota um adestramento deficiente no que diz respeito ao combate urbano. Além disso, observou-se que o próprio PPA/CAV, limita o adestramento ao ataque em localidade, nos moldes executados há muitos anos, quando as cidades eram representadas por pequenos casarios ou vilarejos, não aprofundando nestes objetivos a atual realidade das operações em ambientes fechados, nem o emprego de blindados. Verificou-se, nas pesquisas realizadas, que uma eficaz e econômica solução para o adestramento das frações blindadas é a simulação de combate nos moldes do executado no Forte Knox. Para tanto, é necessário aperfeiçoar o sistema C2 em Combate, como forma de gerenciar o campo de batalha, conjugando com uma área urbana reduzida, preparada para comportar os carros de combate. 146 Por fim, a pesquisa procurou verificar, na terceira variável independente, se a doutrina de emprego de blindados em ambiente urbano está apropriada para as novas técnicas impostas pela evolução do combate, de onde se tirou as seguintes conclusões: - ao compararem-se os fundamentos doutrinários aplicados e prescritos nos manuais em uso ou publicações de especialistas em blindados no Brasil com as atuais doutrinas de outros exércitos, observou-se que o emprego das frações blindadas, baseada na doutrina norte-americana, deve sofrer alguns aperfeiçoamentos para se adequar à realidade do EB, porém não é o principal óbice ao adestramento em ambiente urbano. - no estudo das possibilidades das pequenas frações blindadas formando Forças-Tarefa (FT), verificou-se que a doutrina desenvolvida está no caminho certo e é apropriada para o combate moderno, inclusive por ter sido testada pelo próprio exército norte-americano em operações urbanas recentes ou validada por experimentações realizadas pelo CAAdEx e pelo CIBld. - deve-se, entretanto, ressaltar que a doutrina carece de maior padronização e difusão, particularmente no tocante às técnicas, táticas e procedimentos a serem adotados, visando à sua uniformização e a ampliar o alcance destes conhecimentos no âmbito de toda a Força Terrestre, particularmente em nossas escolas de formação e aperfeiçoamento e nas Unidades (U) e Grandes Unidades (GU) blindadas ou mecanizadas. Apesar da deficiência dos meios materiais, pôde-se averiguar que a doutrina de emprego caminha na direção correta, sendo considerada parcialmente adequada pela maioria dos participantes da pesquisa de campo realizada, necessitando apenas de adaptações. O trabalho teve, ainda, uma subquestão de pesquisa onde se buscou responder se os blindados devem constituir-se na principal força de investimento contra uma localidade para reduzir o tempo de combate e resolver rapidamente o problema. Conforme foi observado, os blindados são imprescindíveis nas ações de conquista de uma cidade, podendo ser utilizados em qualquer das fases, apoiando pelo fogo as ações ou investindo juntamente com os fuzileiros, dando-lhes proteção blindada, formando o binômio CC/Fuz. 147 Afirmar que apenas os blindados constituiriam a principal força de investimento numa localidade seria uma impropriedade, pois, se verificou, pelas lições aprendidas de outros países e pelos estudos realizados, que o elemento a pé deve estar presente, visando à complementaridade das ações. As pequenas frações blindadas são as mais aptas a cumprirem missões em áreas urbanizadas, formando forças-tarefa que possuem a grande vantagem de mesclar as principais características das tropas, possibilitando que aquele novo elemento criado as incorpore de tal forma que passe a ter condições de realizar as suas missões de maneira ainda mais eficaz. Desta forma, o elemento de infantaria, que reconhecidamente é a tropa mais apta a realizar o combate em área edificada, com o acréscimo do elemento blindado, passa a ter a sua capacidade de atuação, nesse tipo de ambiente operacional, significativamente aumentada. É importante ressaltar também que estas forças podem ser empregadas em qualquer uma das fases do cerco a uma localidade, devendo-se naturalmente levar em conta os fatores da decisão. Assim, pôde-se concluir finalmente que, contrariamente à opinião dos participantes da pesquisa de campo, os blindados em uso atualmente pelo EB não são adequados ao combate urbano e necessitam ser reavaliados tendo em vista as atuais ameaças e prováveis empregos nestas operações. Os investimentos a serem realizados devem visar o aperfeiçoamento dos blindados para a atuação no combate urbano, seja na aquisição ou fabricação de componentes ou “kits” para sobrevivência dos veículos no interior de cidades, ou na compra de novos carros, a fim de torná-los aptos e adequados a este tipo de operação. Portanto, seria lícito inferir que, é arriscado, no momento, o emprego de meios blindados brasileiros no combate urbano, seja convencional, compondo forças de paz ou em missões de garantia da lei e da ordem, particularmente no caso de investimento em uma localidade ou no confronto direto com forças oponentes de considerável valor militar. Visualiza-se como uma exceção o emprego das VBTP Urutu, em missões de reconhecimento e patrulhamento, já que alguns destes veículos sofreram modificações para atuar em ambientes fechados. ____________________________________________ ARTHUR MARCIO RIGOTTI – Maj Cav 148 REFERÊNCIAS BASTOS, Expedito Carlos Stephani. 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