Copacabana Filmes, Fogo Azul, Petrobrás, Eletrobrás

Transcrição

Copacabana Filmes, Fogo Azul, Petrobrás, Eletrobrás
Copacabana Filmes, Fogo Azul Filmes, Petrobras, Eletrobras, BNDES,
Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, RioFilme, MGM Latin
America, Globo Filmes e Telecine ap r es e nt am
Um filme de João Jardim
Produzido por Carla Camurati
www.getuliofilme.com.br
Com
Tony Ramos
Getúlio Vargas
Drica Moraes
Alzira Vargas
Alexandre Borges
Carlos Lacerda
Adriano Garib
General Zenóbio da Costa
Marcelo Medici
Lutero Vargas
Alexandre Nero
Coronel Scaffa
Jackson Antunes
Vice-presidente Café Filho
Leonardo Medeiros
General Caiado
Michel Bercovitch
Tancredo Neves
Fernando Eiras
José Soares Maciel Filho
Daniel Dantas
Afonso Arinos
Clarice Abujamra
Darcy Vargas
Thiago Justino
Gregório Fortunato
Fernando Luis
Benjamin Vargas
José Raposo
Brigadeiro Nero Moura
“E aos que pensam que me derrotaram, respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me
liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu
sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Saio da vida
para entrar na História.”
Getúlio Vargas
“Só um homem é responsável por este crime. É o protetor dos ladrões, cuja impunidade lhe dá audácia
para atos como o da noite de ontem. Este homem tem nome e endereço certo: é Getúlio Vargas e está
sentado na cadeira da presidência da república deste país!”
Carlos Lacerda
APRESENTAÇÃO
Dezenove dias que marcaram para sempre a História do Brasil. O thriller político Getúlio concentra-se
nos momentos finais da crise que levou ao suicídio de Getúlio Vargas, um tempo de instabilidade entre
dois tiros: o primeiro disparo, o atentado contra Carlos Lacerda na Rua Tonelero, na madrugada de 5
de agosto; e o segundo, o tiro no peito que matou o presidente na manhã do dia 24 do mesmo mês.
Com produção e distribuição da Copacabana Filmes, em coprodução com Globo Filmes e Telecine,
Getúlio estreia no dia 1º de maio.
Este é o segundo longa-metragem de ficção de João Jardim, diretor de Lixo Extraordinário, indicado
ao Oscar de Melhor Documentário em 2010, e dos premiados Janela da Alma (2002) e Pro Dia
Nascer Feliz (2006). “O filme transforma uma história real em um emocionante thriller. Quisemos
encontrar a essência de Getúlio, o que está por trás do personagem histórico. É muito interessante
pegar uma grande figura e focar num momento crucial da sua trajetória. Esses 19 dias têm elementos
fortíssimos e uma carga emocional muito grande. São os momentos finais de um homem que viveu o
poder de forma intensa”, descreve Jardim.
Tony Ramos vive Getúlio Vargas no filme, que estreia quando se completam 60 anos da morte do
presidente. “A trama não só recupera parte da História para uma plateia jovem que estudou a época
apenas nos livros, como também mostra meandros da política e os bastidores do poder”, diz Tony, que
em 2014 comemora 50 anos de carreira. “Não queria apenas imitar Getúlio. Não queria e não
consegui. O que fiz foi mostrar os questionamentos, a raiva, os sentimentos que chegaram a esse
homem nesses dias de crise”, define o ator.
O jornalista Carlos Lacerda é vivido por Alexandre Borges, que pesquisou biografias sobre o
personagem. “Lacerda é controverso, mas foi também desbravador. Nos momentos em que teve o
poder, soube fazer composições”, analisa o ator. A atriz Drica Moraes interpreta Alzira Vargas. Filha e
assessora de Getúlio, Alzira acompanha de perto a tragédia que está por vir. “Ela se transforma em
parceira política de Getúlio, sem abandonar o posto de filha zelosa. Era uma mulher atenta, muito
ligada ao pai. Fortíssima em suas opiniões e, por ser próxima do poder, bem diferente do padrão
feminino da época”, comenta Drica. É na relação entre pai e filha que se veem os dilemas de Getúlio,
acossado por denúncias de corrupção e pela descoberta de que o atentado contra Lacerda foi
planejado dentro da sede do Governo.
A trama envolve personagens históricos como Tancredo Neves (vivido por Michel Bercovitch); o vicepresidente Café Filho (Jackson Antunes); o filho do presidente, Lutero Vargas (Marcelo Medici); e
Gregório Fortunato (Thiago Justino), homem de confiança de Getúlio que vem a ser acusado como
mandante do atentado.
Para o roteirista George Moura (de “Linha de Passe”), o filme mostra Getúlio sem a máscara do
discurso oficial. “O que se vê é um homem amado e odiado, com a mesma intensidade. Um Presidente
da República que faz uma escolha assombrosa: decide sair da vida para entrar para a História, num
gesto extremo”, descreve Moura, que procurou traduzir a urgência do momento histórico num roteiro
com ritmo ágil e contemporâneo. Já a fotografia de Walter Carvalho tem luz e câmera em tensão
crescente: à medida que o cerco se fecha, com as exigências de renúncia vindas de todas as partes, o
filme se aproxima ainda mais do presidente e de seus dilemas ao se descobrir traído e imerso em um
mar de lama.
Com orçamento de R$ 7 milhões, Getúlio tem detalhada reconstituição de época. A cena do suicídio
foi filmada na mesma cama e com a mesma arma com que Getúlio se matou, no Palácio do Catete – os salões do Museu da República são a principal locação do filme. O atentado que feriu Carlos Lacerda
e matou o major Rubens Vaz, na Rua Tonelero, em Copacabana, também foi minuciosamente
reconstituído no mesmo local onde ocorreu, em 1954.
“É importante que essa história seja mostrada onde ela, de fato, aconteceu”, diz a produtora Carla
Camurati, também presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro. “Minha experiência
em trabalhar com bens tombados, no Municipal, foi útil para ocuparmos da melhor forma o espaço do
Palácio do Catete. Ficamos mais de 20 dias ali, cercados por uma equipe de mais de 10 museólogos,
que se revezavam, com todos os cuidados para a preservação do museu. Foi um grande aprendizado
para toda a equipe”, conta a produtora. Getúlio foi produzido por Carla com sua Copacabana Filmes,
que atua há 18 anos na distribuição e produção de filmes brasileiros. Seu maior sucesso, Carlota
Joaquina, também tem temática histórica e conquistou um público de 1,5 milhão de espectadores.
SINOPSE CURTA
O thriller político revela a intimidade do poder nos últimos 19 dias de vida do presidente Getúlio Vargas:
desde o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, principal inimigo político do governo, passando
pela investigação policial e as conspirações para tirar Getúlio da presidência, até o suicídio no Palácio
do Catete.
SINOPSE
Agosto de 1954. O jornalista de oposição e dono de jornal Carlos Lacerda (Alexandre Borges), sofre
um atentado a bala na porta da sua casa em Copacabana. O pistoleiro erra o tiro e mata o Major da
Aeronáutica Rubens Vaz, que fazia a segurança de Lacerda. O presidente da República, Getúlio
Vargas (Tony Ramos), é acusado de mandar matar o maior inimigo político do seu governo. Getúlio
passa a ser pressionado por lideranças militares e pela oposição para renunciar ao mandato. As
investigações mostram que a ordem para o atentado saiu de dentro do Palácio do Catete. O tenente
Gregório Fortunato (Thiago Justino), chefe da guarda pessoal do presidente e seu homem de
confiança há anos, é acusado. Ao lado da filha, Alzira Vargas (Drica Moraes), seu braço direito na
presidência, e colaboradores fiéis como Tancredo Neves (Michel Bercovitch) e o general Zenóbio da
Costa (Adriano Garib), Getúlio tenta se manter no poder e provar sua inocência. Diante das ameaças
que pedem a deposição imediata do presidente, o presidente comete um ato extremo.
ENTREVISTA / TONY RAMOS
“Procurei o silêncio desse homem cheio de contradições, quando ele se sentia traído”
Como foi a composição de Getúlio?
O convite para fazer o filme vem de uns alguns anos. Nesse meio tempo fui chamado para a novela
Guerra dos Sexos e pensei que deveria abrir mão do personagem, mas fui surpreendido pela
generosidade do João Jardim, que adiou as filmagens e me manteve no papel. Durante esses meses,
ele me mandou muito material, vídeos, imagens. Por minha conta, vinha lendo sobre Getúlio, textos
dele e biografias de outras pessoas, com opiniões a favor ou contra suas ideias.
Nessas leituras, percebi que Getúlio era um homem de costurar relações e alianças ao pé do ouvido. E
disso não há gravação, não há registro. Não há também os momentos de intimidade. O que temos dele
são os discursos.
Decidi então procurar o silêncio desse homem cheio de contradições, no momento em que ele se
sentia traído. O roteiro fala de um homem indignado e acuado. A reunião do ministério no Palácio do
Catete é uma cena emblemática desta situação.
Não queria apenas imitar Getúlio. Não queria e não consegui. O que fiz foi mostrar os
questionamentos, a raiva, os sentimentos que chegaram a esse homem nesses 19 dias de crise e que
culminaram no suicídio marcante para a História do país.
Foi um dos personagens mais fortes que você já fez...
Entre os personagens históricos, sem dúvida é o mais emblemático. Queria muito fazer o Getúlio, mas
não apenas por fazê-lo. Gosto de me sentir estimulado. Desde a minissérie Grande Sertão, Veredas
(1985), venho fazendo projetos de forma muito consciente. E o filme não só resgata parte da História
para uma plateia jovem que estudou esse período apenas nos livros, mas mostra meandros da política,
os bastidores do poder. É uma oportunidade de nos estendermos na história política do Brasil.
Como foi sua parceria com o diretor João Jardim?
Fiquei muito feliz com João. Ele é uma pessoa doce, um diretor de atores atento ao que interessa, sem
preocupação com firulas. Foi muito bom nosso trabalho juntos. E a Carla é uma produtora que
acompanha tudo de perto. Senti nesse projeto, que é praticamente do porte de um boeing, a firmeza
dela, a certeza no trabalho.
Como foi a construção da relação com a Drica Moraes, que interpreta Alzira, um personagem
tão próximo de Getúlio?
Os diários escritos por dona Alzira Vargas nos ajudaram muito nesse trabalho. Mas a relação começa
no bastidor. Tenho muito humor, assim como a Drica, e não me levo a sério. Atores que ficam no
pedestal não vão a lugar algum. Já trabalhamos juntos na televisão. Ela já passou por tantas
dificuldades e, no entanto, está aí. É muito inteligente. Temos uma relação de carinho, tivemos ensaios
ótimos.
Como foi a experiência de filmar no próprio Palácio do Catete, usando os objetos e a própria
arma de Getúlio?
Foi absolutamente fundamental para todos nós. Uma coisa é recriar um cenário, outra é estar no local
exato onde toda a ação aconteceu. Tive uma forte emoção ao filmar na cama onde Getúlio se matou.
No fim da cena, fiquei ali ainda uns minutinhos depois de ouvir as pessoas aplaudindo. Ao ouvir o João
dizer „corta‟, percebi que havíamos chegado a um bom porto.
Um dos mais importantes atores do Brasil, Tony Ramos tem sucessos no teatro e no cinema, mas
conquistou enorme popularidade principalmente com seu trabalho na televisão. No cinema, foi
premiado em Gramado por sua atuação em „Bufo & Spallanzani‟ (2001). Em 2006, protagonizou „Se eu
fosse você‟, de Daniel Filho, sucesso com 3,6 milhões de espectadores. Em 2009 estreou „Se eu fosse
você 2‟, que reuniu mais de 6 milhões de espectadores. Pela atuação no filme, foi escolhido melhor
ator no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2010. Também sob direção de Daniel Filho, fez
„Tempos de Paz‟ (2009), adaptação da peça „Novas Diretrizes em Tempos de Paz‟.
ELENCO PRINCIPAL
Drica Moraes (Alzira Vargas)
“São arquétipos muito fortes: o pai, o tempo, as escolhas, dar cabo de si mesmo, o fim”
“Para a preparação do personagem, havia uma boa pesquisa organizada pela direção, reunindo fotos,
recortes de jornais e livros desse período do Brasil, que foi compartilhada comigo. Em especial a
biografia da própria Alzira, chamada „Meu pai‟, me inspirou bastante. Ali aparece uma cumplicidade
entre pai e filha, inesperadamente gaiata. Achei curiosa a forma como ela, ao longo dos anos, foi se
transformando em parceira política de Getúlio, sem abandonar o posto de filha zelosa. Alzira era uma
mulher atenta, muito ligada ao pai. Fortíssima em suas opiniões e, por ser uma mulher ligada ao poder,
bem diferente do padrão feminino da época.
Quando você interpreta alguém real, há o pressuposto de que ela teria sido de uma determinada
forma. Sempre vai ter alguém dizendo que era mais assim ou mais assado... Há, neste caso, parentes
vivos envolvidos, a própria filha. Isso, claro, gera bastante expectativa. Mas, por outro lado, prefiro
pensar que fizemos os “nossos personagens”, a “minha Alzira” e o “Getulio do Tony”. Gosto de libertar
meu senso de ordem e acreditar que o filme é que inspirou a história. Que veio antes de tudo. Lógico
que isso não deixa de ser piada, mas me dei liberdades.
Tony é um grande parceiro e um ator extraordinário! Tudo o que ele representa hoje é puro
merecimento e fruto de muito trabalho. A entrega dele foi total! Passar 10, 12 horas dentro de uma
roupa de espuma, com prótese nos dentes, gravatas, barulheira em volta e tudo o mais e manter o foco
no trabalho sem perder a elegância e o bom humor. Tony é Getúlio por algumas horas de filme!
O palácio deu todo um clima de mistério para as filmagens. Meu desafio pessoal era não solenizar o
processo criativo em função da ideia de que tudo se deu ali, naquele “castelo”, cercado por aquela
arquitetura austera. O quarto, em especial, era muito tocante. Encontramos uma mancha de sangue no
colchão! A cena mais emocionante durante as filmagens foi, sem dúvida, o tiro no peito. Achei que meu
coração fosse sair pela boca. Que tinha acontecido comigo. E estava acontecendo... São arquétipos
muito fortes: o pai, o tempo, as escolhas, dar cabo de si mesmo, o fim...
Foi curioso também ter contato com o que corria em paralelo àqueles acontecimentos, no prosaico da
vida da época. Como, por exemplo, minha avó me dizendo que foi uma pena quando mataram o
Rubinho, rapazola de 20 e poucos anos, recém-casado, que frequentava a praia ali em Copacabana, e
estava fazendo um “bico” para o Lacerda quando este sofreu o atentado da Tonelero. Era o Major
Rubens Vaz.”
Drica Moraes tem carreira consolidada no teatro, na TV e no cinema. Desde 1990, atuou em mais de
dez filmes, entre eles „As Meninas‟, adaptação do romance de Lygia Fagundes Telles; „Mandarim‟,
filme de Júlio Bressane; e „Traição‟, de José Henrique Fonseca, Arthur Fontes e Cláudio Torres. Fez
ainda „Os Normais 2‟ e „O Bem Amado‟, em 2009. Em 2010, atuou no filme „Bruna Surfistinha – O Doce
Veneno do Escorpião‟, de Marcus Baldini.
Alexandre Borges (Carlos Lacerda)
“Lacerda é controverso, mas desbravador. Ele foi do céu ao inferno naqueles 19 dias”
“Desde que comecei a fazer cinema, passei a olhar personagens e pensar que papel poderia vir a
fazer. É curioso porque, muito antes do convite para o filme, vi a foto do Carlos Lacerda e percebi
traços físicos da minha família. Poderia ser um tio meu.
Mas não foi só isso que me levou ao personagem. Gosto muito de ler biografias e histórias sobre
grandes figuras brasileiras. Lacerda é controverso, mas também desbravador. Nos momentos em que
teve o poder, fez composições. Com o atentado da Tonelero, virou herói. E foi do céu ao inferno
naqueles 19 dias. Depois do suicídio, Lacerda precisou sair do país, porque a reação foi muito forte. O
povo, que antes estava dividido, entrou em comoção com a morte do Getúlio. No filme, não queria
fazer um vilão. Minha preocupação foi trazer uma razão para toda aquela indignação.
Filmar o atentado da Rua Tonelero foi emocionante demais. Ficamos exatamente onde houve o tiro.
Ainda há moradores da época, que vieram falar com a equipe, contaram lembranças. Antes mesmo de
morar no Rio, passava por ali e pensava em tudo o que havia acontecido naquele endereço.”
Ator de cinema, teatro e TV. O paulista Alexandre Borges estreou no cinema em „Mil e uma‟ (1995), de
Suzana Moraes. Logo em seguida, atuou no premiado „Terra estrangeira‟ (1995), de Walter Salles e
Daniela Thomas. Ao lado da mulher, a atriz Júlia Lemmertz, fez „Um copo de cólera‟, de Aluízio
Abranches, e „Até que a vida nos separe‟, de José Zaragoza, ambos de 1999. Participou de „Bossa
Nova‟ (1999), de Bruno Barreto; „Nelson Gonçalves‟ (2001), de Elizeu Ewald; e „O invasor‟ (2002), de
Beto Brant.
ENTREVISTA/ JOÃO JARDIM
“O suicídio do Getúlio foi uma estratégia. Foi um ato político e premeditado”
Como decidiu dar esse recorte histórico ao filme?
Escolhi os 19 últimos dias da vida do Getúlio por ser um momento único na história do Brasil, em
emoção e conteúdo. São dias velozes e com acontecimentos que se reproduzem até hoje na realidade
do país, o que torna o filme contemporâneo. Além disso, depois de fazer Pro Dia Nascer Feliz, em que
falei sobre educação, eu queria falar sobre política. É a política que muda a vida das pessoas. Quando
li Quem Matou Vargas, do Carlos Heitor Cony, me apaixonei pela história e comecei a pesquisar em
vários outros livros sobre o tema para tentar entender como seria possível criar um roteiro original a
respeito daqueles últimos 19 dias da vida de Getúlio, no poder. À medida que eu lia, gostava cada vez
mais, percebendo o quanto aqueles dias eram vibrantes e com uma intensa carga emocional.
Como se deu a pesquisa histórica e a transformação em um roteiro?
A pesquisa para criação do roteiro partiu da leitura de diversos livros, artigos de jornal, revistas e
entrevistas com pessoas que participaram daqueles eventos de agosto de 54. Foi um período longo,
mais de dois anos. Com certeza a leitura mais relevante foram os dois Diários escritos por Getúlio
entre 1930 e 1942. Ali Getúlio revela sua alma, sua forma de pensar. Depois de muita pesquisa, a
corroteirista Teresa Frota fez uma decupagem jornalística de todos os acontecimentos relevantes
daqueles 19 dias. Assim nasceu o primeiro tratamento do roteiro. A partir dele, George Moura se juntou
ao projeto, leu os mesmos livros e entrevistas, apontou novos caminhos dramáticos para uma história
que pretendia funcionar principalmente como dramaturgia cinematográfica. Foram cinco anos de
trabalho, lapidando e transformando uma emocionante história real em um afiado roteiro, em termos de
diálogo e intenção.
De que maneira a atmosfera do Palácio do Catete influenciou nas filmagens?
Foi muito importante ter filmado ali, exatamente onde as coisas aconteceram. Trouxe emoção. Usamos
a mesma arma com a qual ele se matou. A reprodução da cena da morte é fidedigna. Getúlio sentou
ali, naquele quarto, o colchão ainda é o mesmo. Estar ali foi importante para toda a equipe,
principalmente os atores. O local impregnou por ter sido o lugar real onde aconteceu a história que
estávamos contando, as pessoas que estávamos querendo retratar subiram por aquelas escadas e
andaram por aqueles corredores.
Como encontrou o ritmo do filme?
Sempre imaginei fazer um thriller dramático com uma linguagem que incorporasse o documentário. O
que eu mais procurei foi que as pessoas acreditassem que aquela história aconteceu realmente. Usei a
linguagem documental sempre que as cenas permitiam. Busquei dar credibilidade àquilo que está
sendo mostrado. É um filme impregnado de realidade. Além disso, procurei sempre aproximar a
câmera e o espectador dos personagens.
Por que você decidiu usar imagens reais no fim do filme?
Tínhamos que fazer as pessoas entenderem que o suicídio foi uma estratégia, um ato calculado. Se
saísse do Palácio como um corrupto, cúmplice de um assassinato, Getúlio seria linchado. O suicídio
era a saída para continuar vivendo politicamente. Com as imagens de arquivo fica mais fácil de
entender esta ideia. Você vê que ele mudou o jogo. Inverteu. O fim dá a ideia de que foi um ato político
e premeditado. Mesmo que inspirado em fatos reais, um filme é sempre uma leitura, uma interpretação
sobre esses fatos. É a nossa opinião sobre um momento histórico; é uma versão.
Como chegaram ao Tony Ramos para o papel de Getúlio?
Ele é um grande ator e tem o carisma necessário para interpretar Getúlio. E também a similaridade
física. O Tony tem o jeito contido do Getúlio e ao mesmo tempo é amável, carismático. Exatamente
como o personagem.
Como se deu a escolha do elenco como um todo?
Buscamos a mistura entre a semelhança física com o personagem retratado e talento de cada ator.
Além disso, era importante que fossem atores com a “energia”, que a função dramática do personagem
dentro da trama exigia, que pudessem interpretar com facilidade aquelas pessoas que um dia
passaram ali pelo Palácio do Catete, sede do governo, fazendo esta ou aquela ação que marcaram
nossa história. Foram realizados diferentes testes de elenco e muita pesquisa, tudo comandado pela
produtora de elenco Ciça Castello e pela assistente de direção Gigi Soares.
João Jardim foi indicado ao Oscar de melhor documentário pela codireção do filme „Lixo
Extraordinário‟, sobre a obra do artista brasileiro Vik Muniz junto aos catadores de lixo de Jardim
Gramacho. O longa-metragem, uma coprodução Brasil-Inglaterra, ganhou mais de 30 prêmios, entre
eles o de Melhor Documentário, em votação do público, nos festivais de Sundance e Berlim, ambos em
2010.
Em 2002, „Janela da Alma‟, o primeiro longa-metragem de João Jardim, surpreendeu ao levar para a
tela uma temática pouco convencional. Com depoimentos do escritor José Saramago, do cineasta Wim
Wenders e do músico Hermeto Pascoal, o filme fazia uma reflexão poética sobre as diferentes formas
de olhar. Assistido por 150 mil espectadores, “Janela da Alma” tornou-se a oitava bilheteria do ano
entre os filmes nacionais, permanecendo em cartaz por 48 semanas – um recorde no segmento de
documentários. O diretor recebeu oito prêmios, entre eles os de Melhor Documentário da Academia
Brasileira de Cinema, da Mostra Internacional de São Paulo e dos festivais internacionais Message to
Men (Rússia) e Ecocinema (Grécia).
Quatro anos mais tarde, João Jardim repetia o sucesso de público e crítica com „Pro Dia Nascer Feliz‟,
agraciado com dez prêmios – incluindo três de Melhor Documentário na Mostra de São Paulo (júri
oficial, popular e da juventude) e três entre os mais importantes do Festival de Gramado: dois de
Melhor Filme (crítica e júri popular) e o Prêmio Especial do Júri. O filme foi assistido por mais de 50 mil
espectadores nos cinemas.
Na televisão, entre 2006 e 2009, João Jardim assinou a direção de quatro programas da série „Por
Toda a Minha Vida‟, da TV Globo, sobre a vida de Nara Leão, Elis Regina, Raul Seixas e Dolores
Duran. Os programas sobre Elis Regina e Nara Leão foram indicados ao Prêmio Emmy Internacional
de Melhor Programa de Arte, em 2007 e 2008 respectivamente.
Em 2010 dirigiu os atores Lilia Cabral, Ângelo Antônio, Mariana Lima, Julia Lemmertz e Eduardo
Moscovis no longa-metragem „Amor?‟, sobre relações amorosas que envolvem violência. O filme,
sucesso de crítica, estreou no Festival de Brasília, onde ganhou o Prêmio de Melhor Filme - Júri
Popular.
ROTEIRO/ George Moura
“O filme fala do que é capaz o ser humano em situações-limite”
O roteiro do filme foi um trabalho muito minucioso. Primeiro por ser um personagem real e muito
controverso, segundo porque há dezenas de livros que falam dele e dos seus governos e terceiro pelo
recorte escolhido para o longa-metragem. Tratamos dos últimos 19 dias da vida de um homem que
teve uma trajetória rica e longeva, morrendo aos 72 anos.
Como contar a história de um homem, tratando apenas de 19 dias de sua vida? A tarefa foi árdua,
fascinante e precisou de anos de escrita e reescrita para chegarmos ao tom que desejávamos.
Escolhemos mostrar a intimidade do poder, ou seja, Getúlio ao lado da sua filha, Alzira, seu braço
direito naqueles dias que, embora não tivesse nenhum cargo oficial no governo, muitas vezes atuou de
forma mais intensa do que alguns ministros.
Getúlio não é um filme histórico no sentido estrito, é um filme sobre as mazelas do poder que estão
presentes até hoje no Brasil e no mundo. É um thriller político. Nossa intenção não foi condenar ou
absolver Getúlio por seus atos, mas sim apresentá-los sem a máscara do discurso oficial. O que se vê
no longa-metragem é um homem amado e odiado, com a mesma intensidade, que faz uma escolha
assombrosa: decide sair da vida para entrar para a história, num gesto extremo.
Admiro o diretor João Jardim, por seus filmes, e ainda mais quando começamos a trabalhar juntos na
TV, realizando docudramas para a série da TV Globo, Por Toda Minha Vida, seis vezes indicada ao
Emmy Internacional. Nesses docudramas tratamos de biografias, quase sempre, com um recorte
panorâmico, do nascimento à morte. Aqui, em Getúlio, fizemos outra escolha. Concentramos numa
fatia do tempo para realizar uma narrativa mais vertical. Quando João Jardim me convidou para fazer o
roteiro, ele já tinha feito essa escolha. Aceitei com entusiasmo a ideia. O resto foram anos de trabalho
e dezenas de tratamento para fazer um filme que conte um pouco da história do Brasil, mas que,
sobretudo, fale do que é capaz o ser humano em situações-limite.
Roteirista, formado em Jornalismo pela PUC-Campinas e com mestrado em artes cênicas pela
ECA/USP, George Moura roteirizou seu primeiro longa-metragem em 2002, o documentário „Moro no
Brasil‟, de Mika Kaurismäki. Em 2008, trabalhou ao lado de Daniela Thomas no roteiro de „Linha de
passe‟, dirigido em conjunto por Daniela e Walter Salles, indicado à Palma de Ouro no Festival de
Cannes. Tem longa experiência na televisão, onde trabalhou inicialmente como editor de texto e
depois como roteirista de séries como „Carga pesada‟ e „Cidade dos homens‟, ambas exibidas na Rede
Globo. Entre 2007 e 2011, roteirizou também a série Por toda a minha vida, exibida na Globo, pela qual
recebeu seis indicações consecutivas ao Emmy International Awards. Autor das minisséries „O Canto
da Sereia, 2013,‟ e „Amores Roubados‟, 2014, da Rede Globo.
FOTOGRAFIA/ Walter Carvalho
“Eram dias de tensão. Quem estava dentro do Palácio não via quem estava fora”
“A fotografia de Getúlio é antes de tudo um sentimento de afetividade com o cinema. Sou parceiro
antigo do João Jardim. Primeiro, ele convidou para o filme meu filho, Lula, que não pôde fazer. Então,
ele me chamou. Foi um gesto de confiança, o que representa um grande desafio. Tive que honrar uma
parceria entre nós, dessa vez apenas como fotógrafo.
A base da visualidade acontece na maior parte dentro do Palácio do Catete. Eu já conhecia o lugar,
porque já havia filmado antes. Mas voltei lá com o olhar de quem recuperaria uma memória da recente
política brasileira. Como reconstruir essa época? De cara, pensei: não seria um filme de época, mas
sobre uma época. Não haveria uma história inventada.
No segundo momento, me concentrei no espaço dramático da história, no qual se passaram 19 dias.
Eram dias de tensão. Quem estava lá dentro não via quem estava fora. As janelas estão fechadas e as
luzes acesas. A construção da imagem, seu viés narrativo, nasceu daí. O filme adquiriu uma atmosfera
soturna pela falta da luz do dia e, sobretudo, pelo quadro, pela câmera instável, inquieta e insegura como estava o poder naquele momento. Isso também foi levado para os outros ambientes e tudo o
que acontece também foi submetido a essa mesma tensão da luz e da câmera na mão. Não me
preocupei com a fotogenia, e sim com o fio narrativo. Se, ao final, a beleza estiver presente, melhor
ainda.”
Walter Carvalho já recebeu mais de 40 prêmios e trabalhou com cineastas como Glauber Rocha
(„Jorge Amado no cinema‟) e Nelson Pereira dos Santos („Cinema de lágrimas‟). Foi diretor de
fotografia de vários filmes de Walter Salles, como „Terra Estrangeira‟, „Central do Brasil‟ e „Abril
Despedaçado‟. Começou trabalhando em filmes de seu irmão, o documentarista Vladimir Carvalho, e
como assistente dos diretores de fotografia José Medeiros, Dib Lutfi e Fernando Duarte. Walter assina
a direção de fotografia ainda de títulos como „Lavoura arcaica‟, de Luiz Fernando Carvalho, Carandiru,
de Hector Babenco, e O Céu de Suely, de Karim Aïnouz, entre outros. Como diretor, fez „Raul – O
início, o fim e o meio‟ (2012), „Budapeste‟ (2009), „Moacir arte bruta‟ (2005) e „Lunário perpétuo‟ (2003),
além de ter codirigido „Cazuza – O tempo não para‟ (2004), com Sandra Werneck. Com João Jardim,
co-dirigiu „Janela da Alma‟ (2002).
A PRODUTORA
Carla Camurati montou a Copacabana Filmes, trabalhando como produtora, diretora, roteirista e
distribuidora, em 1995, no longa-metragem Carlota Joaquina – Princesa do Brasil, um marco da
cinematografia brasileira que atingiu mais de 1,5 milhão de pessoas. Em seguida produziu o primeiro e
único filme-ópera do Brasil, La serva padrona, que recebeu diferentes prêmios e conseguiu um
público de 80 mil espectadores. Em 2001 realizou Copacabana, com Marco Nanini no papel principal,
filme que também alcançou sucesso de público e crítica. Produziu o longa-metragem São Francisco,
um rio de estórias, de Marcus Vinícius, e distribuiu, entre outros títulos, Janela da Alma e Pro Dia
Nascer Feliz; A Pessoa é para o que nasce, de Roberto Berliner; e Feminices, de Domingos
Oliveira. A quinta produção da empresa, Irma Vap - O retorno, inspirado na peça O mistério de Irma
Vap, levou 250 mil pessoas aos cinemas.
Em 2003 criou, em parceria com Carla Esmeralda, o Festival Internacional de Cinema Infantil, iniciativa
que percorre dez cidades do Brasil com títulos infanto-juvenis de diversas nacionalidades, que
normalmente não chegariam ao circuito brasileiro. Entre as realizações do evento está o projeto “A tela
na sala de aula”, que leva filmes exibidos no Festival para escolas públicas e particulares, promovendo
a democratização do acesso à sétima arte e fomentando a criação de novas plateias para o
audiovisual.
Em paralelo às ações da Copacabana Filmes, desde 2007 Carla Camurati é presidente da Fundação
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sendo sua gestão responsável pelas obras de restauração do
centenário, realizadas pelo governo Sérgio Cabral.
GLOBO FILMES
Desde 1998, a Globo Filmes já participou de mais de 140 filmes, levando ao público o que há de
melhor no cinema brasileiro. Com a missão de contribuir para o fortalecimento da indústria audiovisual
nacional, a filmografia contempla vários gêneros, como comédias, infantis, romances, dramas e
aventuras, apostando em obras que valorizam a cultura brasileira. A Globo Filmes participou de alguns
dos maiores sucessos de público e de crítica como Tropa de Elite 2, Se Eu Fosse Você 2, O
Palhaço, 2 Filhos de Francisco, Xingu, Carandiru, Nosso Lar e Cidade de Deus – com quatro
indicações ao Oscar. Suas atividades se baseiam em uma associação de excelência com produtores
independentes e distribuidores nacionais e internacionais.
RIOFILME
A RioFilme é uma empresa pública de investimento em audiovisual, vinculada à Prefeitura do Rio de
Janeiro. Fundada em 1992 para apoiar a produção e distribuição de cinema na cidade, foi revitalizada
em 2009 com a missão de promover o desenvolvimento da indústria audiovisual carioca, levando em
conta seus impactos econômicos e sociais.
Em 20 anos de atuação, foi fundamental para a revitalização do cinema brasileiro a partir dos anos 90,
investindo no desenvolvimento, na produção e no lançamento de longas, na produção de curtas e na
realização de eventos. Com a revitalização, deixou de ser apenas distribuidora e tornou-se uma
investidora em produção, distribuição, exibição, infraestrutura, difusão e capacitação, atuando também
em parceria com a iniciativa privada.
Desde então, a Prefeitura investiu, por meio da RioFilme, cerca de R$150 milhões em 350 projetos de
filmes, eventos, ampliação do acesso e capacitação. A empresa também elevou sua receita, de cerca
de R$1,5 milhão em 2008, para cerca de R$24 milhões em 2012, dinheiro que está sendo totalmente
reinvestido no setor de audiovisual carioca através de novos programas de financiamento em Cinema e
TV, Capacitação de profissionais do setor, implantação de novas salas do Cine Carioca, do Programa
Cinema na Escola e do Programa de Investimentos Não Reembolsáveis, que em 2013 contemplou 70
projetos em seis linhas de investimento: Desenvolvimento de Projetos de Longa-metragem,
Desenvolvimento de Projetos de Série de TV, Produção de Curta-metragem, Produção e Finalização
de Longa-metragem, Produção de Mostras e Eventos e Produção de Documentário para TV por
Assinatura, em parceria com o Canal Brasil.
A empresa tem diversificado os investimentos e ampliado o seu alcance, multiplicou o número de
projetos apoiados e de empresas beneficiadas, assim como o público impactado. A capacidade de
investimento foi elevada e os resultados tornaram-se mais significativos, beneficiando a indústria
audiovisual carioca e a população da cidade.
FICHA TÉCNICA
Direção João Jardim
Produção Executiva Carla Camurati
Roteiro: George Moura
Corroteirista Teresa Frota
Argumento João Jardim
Direção de Fotografia Walter Carvalho ABC
Assistente de Direção Gigi Soares
Direção de Arte Tiago Marques
Figurino: Marcelo Pies e Valéria Stefani
Maquiagem MartÍn Macias Trujillo
Produtores Associados Carlos Diegues e CiaRio
Direção de produção: Fernanda Neves
Assistente de Direção: Gigi Soares
Montagem: Joana Ventura EDT e Pedro Bronz EDT
Trilha Original: Federico Jusid
Sound Design Alessandro Laroca
Mixagem Branko Neskov C.A.S
Som Direto Pedro Melo
Supervisor de Finalização Marcelo Pedrazzi
Produtor Portugal Pedro Borges
Produção Copacabana Filmes e Fogo Azul Filmes
Co-produção: Midas Filmes
100 minutos

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