Versão PDF - Portal Cana Online

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Versão PDF - Portal Cana Online
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Novembro · 2015
C Á E N TRE N ÓS
Uuufaaa!!!
P
ara o setor sucroenergético, até que
enfim surge a luz no fim do túnel.
Esta foi a impressão que tivemos dos
participantes do 8º Congresso Nacional
da Bioenergia Udop/Stab, realizado em
11 e 12 de novembro em Araçatuba, SP. O
mesmo sentimento pôde ser encontrado
nos participantes de vários outros eventos
do setor.
A explicação se deve aos bons preços
do etanol no mercado interno e do açúcar no mercado externo. Este último incrementado pela valorização do dólar e pela
informação de déficit no estoque mundial.
A valorização dos produtos está incentivando muitas usinas a estenderem a
moagem, reduzindo a quantidade de cana-bis, mesmo que tenham de brigar com
as chuvas que têm atrapalhado a colheita.
O Grupo Santa Terezinha, no Paraná, com
10 unidades, está entre os que vão estender a colheita, ou melhor, não deve parar,
emendando as safras.
Muitos dizem que as expectativas
para o Brasil em 2016 são ainda de muitos problemas, mas que para a agroindústria canavieira o cenário é de recuperação.
Que assim seja!
Luciana Paiva
[email protected]
Clivonei Roberto
[email protected]
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ÍN D I C E
Capa
DNA Canavieiro
Holofote
Nordeste
-Qual é o futuro
do etanol hidratado?
-Cana volta a
incrementar a
geração de emprego
em Pernambuco
Tendências
-Gerindo custos na crise
Insectshow
-Para controlar a
Ferrugem Alaranjada,
não precisa
erradicar o canavial
Tecnologia Agrícola
Pesquisa &
Desenvolvimento
-Cuidando da soqueira
-Ridesa completa
25 anos e domina
os canaviais
Tecnologia
Industrial
-Mais impurezas e
menos açúcar, este
é o cenário do setor
Sustentabilidade
-Lançado relatório sobre
o Projeto RenovAção
Economia
-Benefícios da rotação de cultura
da cana com leguminosas
Editores:
Luciana Paiva
[email protected]
Clivonei Roberto
[email protected]
Redação:
Adair Sobczack
Jornalista
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Leonardo Ruiz
Jornalista
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Marketing
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Editor gráfico
Thiago Gallo
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H O LOFOTE
Ficou como
patinho feio
O
etanol hidratado permanece ou acaba? É uma polêmica que se mantém
nas rodas de conversas. Na minha leitura,
râmetro da equação, veja o que vai acontecer com o resto. Não é solução simples.
Parte da solução cabe a nós, que é resolver o mecanismo de precificação do hidratado e do anidro.
Celso Torquato Junqueira Franco,
quem estabelece hoje o preço do etanol,
diretor presidente da UDOP (União
dos produtos da cadeia, via de regra, é o
dos Produtores de Bioenergia)
etanol hidratado, porque, de certa forma,
e diretor da Usina Pioneiros
está atrelado ao preço da gasolina. Para o
anidro, nós convencionamos o preço em
relação ao hidratado. Quanto ao açúcar, a
partir do momento que a commodity remunera mais que o etanol, aumenta o mix
para açúcar. Quando inverte, aumenta o
mix para etanol. O biocombustível acaba
também gerando um parâmetro de precificação de açúcar no mercado internacio-
Para de falar que
hidratado não
tem espaço
E
stamos passando por uma
transição que ainda está
longe de acabar e
nal. Assim, o etanol hidratado ficou como
não temos chances
o patinho feio. Mas pensando num mo-
de dizer que álcool
delo sem o etanol hidratado, como re-
hidratado não é um
solvemos o problema da sazonalidade de
produto importante.
produção? Hoje, quando tem excesso de
Inclusive de regula-
cana, o excesso de produção migra para
ção de mercado. Vejo
o hidratado. Isso porque o açúcar tem de-
que num futuro próximo, talvez, isso pos-
manda estabelecida no mercado interna-
sa mudar quando todos os mecanismos
cional para cada ano. Se forçar a barra cai
de uso de combustível limpo em vários
muito o preço, piorando a rentabilidade.
países do mundo estiverem definidos, de-
No caso do anidro, é o volume de venda
terminando o uso do etanol como aditivo.
de gasolina que determina sua demanda;
E isso poderá levar a um grande aumento
no máximo é possível interferir é na va-
da exportação. Mas hoje vejo o etanol hi-
riação da mistura.
dratado como produto de vital importân-
Onde é que de-
cia, no só em termos competitivos como
sova o excesso
de criação de novos empregos, novas in-
de produção de
dústrias, e pelo grande potencial que tem.
cana? No hidra-
No curto e médio prazo, não tem chance
tado. Tira esse pa-
de continuarmos falando que o hidrata-
7
H O LOFOTE
do não tem mais espaço. Temos inclusive
muito mais amplo do que simplesmente
que ponderar nessa discussão. Podem até
deixar de produzir um produto, mas isso
imaginar que estamos pensando em redu-
exigiria um processo de vários anos. De
zir a produção brasileira de etanol.
qualquer forma, não conheço nada que
Ismael Perina, engenheiro
agrônomo e presidente da Câmara
seja melhor para o Brasil do que esse programa como um todo e seus derivados.
Setorial de Açúcar e Etanol
Maurílio Biagi Filho,
presidente do Grupo Maubisa
Por um combustível
de melhor qualidade
A
questão não é acabar com o álcool carburante, mas deixar de fabri-
car um combustível meio ‘fajuto’, que tem
água. Se água fosse boa para o motor à
Mecanismo de
regulação
O
hidratado é a esponja que regula o
sistema e serve como mecanismo
de regulação desta in-
combustão, estava tudo resolvido. O álco-
dústria. E é um mo-
ol carburante continuaria do mesmo jeito,
delo que deveria ser
mas de melhor qualidade, sem água. E falo
cogitado em outros
em criar um programa de marcas e mer-
países.
Plínio Nastari,
chandising sobre o assunto, mas para isso
precisa de muito dinheiro. O setor nunca
presidente
se preocupou em fazer reserva para esse
da Datagro
tipo de coisa. Seria fazer uma grande mu-
Consultoria
dança mercadológica, quase como lançar
um novo produto, buscando junto ao governo novas condições, nova regulamentação, inserção na matriz energética brasileira. Concomitante a isso,
uma grande mudança da indústria automobilística a fim de acabar com essa tapeação de
8
Acaba com
o setor
D
os nossos 600 milhões de tone-
ladas de cana que
ter motor a gasoli-
moemos no Cen-
na adaptado para ál-
tro-Sul, 200 mi-
cool, com um rendi-
lhões
mento muito menor.
neladas
Essa discussão é algo
transformadas
de
tosão
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em hidratado. Se não tivermos hidratado,
acho que é um assunto a ser bem discuti-
é muita cana para ‘chuparmos’. Não tem
do, mas hoje temos problemas maiores. A
mercado de açúcar para colocar mais 15
grande questão é a nossa vontade de en-
milhões de toneladas. E não tem anidro
frentar estes grandes desafios.
para crescer nessa velocidade. Se acabar
André Rocha, presidente do Fórum
Nacional Sucroenergético e do Sifaeg
com hidratado, acaba com o setor.
Luis Roberto Pogetti,
(Sindicato da Indústria de Fabricação
presidente do Conselho de
de Açúcar e Etanol de Goiás)
Administração da Copersucar
O hidratado vai ficar
Temos problemas
maiores
P
O
Brasil construiu nesses últimos 40
anos o maior programa de combus-
elo que entendi da
tível renovável do mundo. Agora o país
proposta, não é aca-
deverá ratificar seus compromissos com
bar com o hidratado,
relação à energia renovável na COP-21, a
mas que o E100 seja fei-
partir de 30 de novembro, em Paris. Por
to com o anidro. Um
isso, falar em terminar com o álcool hidra-
etanol sem água,
tado significa maior consumo de combus-
e que continu-
tível fóssil. E para o Brasil, no momento
asse a mistura
econômico difícil que enfrenta, o hidra-
dos 27% à ga-
tado é vital para a balança comercial, até
solina. Mas par-
porque o país não tem projeto para novas
ticularmente me
refinarias. Seja por pressão externa, para
preocupo
mui-
que cumpramos os acor-
to com isso, porque
dos firmados na COP-21,
teríamos um pro-
ou por pressão de caixa,
duto só. E neste caso minha preocupação
o etanol hidratado vai fi-
está com o governo, que afeta o nosso dia
car e vai continuar inse-
a dia. Vide o que aconteceu nesse ano. Co-
rido de maneira cada vez
meçamos o ano subindo a mistura de 25%
mais importante na nossa
para 27% e os contratos de anidro baixa-
matriz energética.
ram bastante. Ganhamos demanda, mas
Jacyr Costa
perdemos preço, a princípio. Além disso,
Filho, diretor da
acho difícil, ao tirar a água, ganharmos al-
Divisão Brasil do
guma coisa de eficiência energética. Mas
Grupo Tereos
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TE N D ÊN CIAS
Uma das saídas é baseada na aceleração de resultados. O
foco nesse momento é obter um retorno financeiro rápido
Gerindo custos na crise
AS EMPRESAS CONSIDERADAS REFERÊNCIA EM GESTÃO
PODEM GERAR RESULTADOS CERCA DE 50% MELHORES
QUE A MÉDIA DO SETOR EM QUE ATUAM
Ana Malvestio1 e Luis Seixas2
T
odos sabem que a economia brasi-
rado pela agência de classificação de risco
leira está passando por momentos
Standard & Poor’s.
difíceis. Segundo o Banco Central,
A situação se agrava ainda mais dian-
o país terá uma recessão em 2015, com re-
te de uma crise política. O desacordo en-
dução do Produto Interno Bruto (PIB) de
tre Planalto, Senado e Câmara se intensi-
2,85%, aliado a uma elevação da inflação
fica diariamente e dificulta aprovações de
que deve finalizar o ano a 9,53%. A moeda
políticas econômicas, fazendo com que
brasileira sofre desvalorizações a cada dia
o país vivencie um momento de elevada
e o preço do dólar já gira em torno de R$
instabilidade.
4,00, com picos de alta dependendo dos
É claro que muitas questões não es-
movimentos do mercado. Por conta disso,
tão ao nosso alcance e dependem unica-
o país não deve conseguir cumprir a meta
mente do direcionamento do governo, mas
de superávit primário e já mencionou um
apenas esperar por condições melhores de
orçamento deficitário para 2016. A conse-
mercado é o mesmo que aceitar todos os
quência deste cenário econômico resultou
impactos negativos trazidos pela crise do
na perda do selo de “bom pagador”, reti-
país. É importante olhar para o ambiente
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interno e encontrar soluções para superar
ração de resultados. O foco nesse momen-
os desafios do atual momento, com a rea-
to é obter um retorno financeiro rápido,
lização de ajustes para melhorar os resul-
que pode ser atingido, por exemplo, por
tados. Mesmo na crise, isso é, sim, possível!
meio da eficiência tributária. Identificação de créditos não apropriados e de car-
Mesmo na crise é possível
melhorar resultados
gas tributárias que podem ser reduzidas
As empresas consideradas referência
pacto imediato nos resultados financeiros
em gestão podem gerar resultados cer-
e, nessa primeira fase, o retorno financeiro
ca de 50% melhores que a média do setor
que a empresa obtém gera o financiamen-
em que atuam. Gestão é um tema muito
to para pagar a segunda fase.
geram benefícios de curto prazo com im-
amplo que pode envolver múltiplas ações
A segunda fase é focada na mudança
voltadas para diversos objetivos. Porém,
da cultura da empresa, visando uma redu-
quando se trata de um momento de cri-
ção de gastos sustentáveis. Portanto, exige
se, se torna mais necessário olhar para os
estruturação da gestão orçamentária, me-
custos. O baixo faturamento, proveniente
lhorias de controles e envolvimento e ca-
das condições adversas do mercado, pode
pacitação de diversos gestores da empresa.
ter impacto menos significativo nos lucros
Os resultados não são imediatistas, como
se os custos forem bem geridos.
na primeira fase, mas as ações implementa-
Na PwC Brasil, o modelo de gestão
das representam um divisor de águas para
de custos é divido em duas fases interliga-
a empresa quando se trata do tema cus-
das. A primeira delas é baseada na acele-
tos. O foco será sempre no binômio custo
Tem coisa que não dá para ficar esperando pelo fim da crise política
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TE N D ÊN CIAS
É preciso promover
redução de gastos
sustentáveis
= preço x consumo. Para a alavanca “pre-
os custos e construir um orçamento enxu-
ço”, a firma conta com as melhores práti-
to. O maior impacto está associado à per-
cas do mercado em compras estratégicas,
cepção desses gestores sobre a previsão
que podem auxiliar nas formas de negocia-
de gastos, e a tendência é que todos pas-
ção com fornecedores, revisão de contra-
sem a construir um orçamento mais “fol-
tos, técnicas de parametrização, etc. Na ala-
gado” para amenizar os impactos de uma
vanca “consumo”, a PwC Brasil estabelece
possível crise e novo um corte linear.
comparações entre áreas similares ou utili-
Neste contexto, a gestão de custos é,
zando benchmark para identificar quais as
com certeza, um dos melhores caminhos
áreas que estão consumindo mais uma de-
para enfrentar o momento delicado que
terminada natureza do gasto e quais as que
atravessa o Brasil. Reagir diante dos desa-
estão consumindo menos. A partir dessa
fios e acelerar mudanças internas são os
diferença, são estabelecidas as lacunas e
primeiros passos para se sobressair diante
planos de ação estruturados.
desse cenário.
É importante tomar cuidado com cortes lineares, pois essa ação pode trazer impactos significativos para as organizações.
Por exemplo, uma empresa, forçada pelas condições econômicas desfavoráveis,
pode decidir impor um corte linear de 12%
em todos os custos. O resultado será negativo, pois gestores que têm um orçamento
inchado serão menos prejudicados do que
aqueles que realmente buscam gerenciar
12
Sócia da PwC
Brasil e líder de
Agribusiness para o
Brasil e Américas
1
Sócio da PwC Brasil,
especialista em gestão
de custos e melhoria na
eficiência operacional
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N O R D ESTE
Cana volta a incrementar a geração
de emprego em Pernambuco
REATIVAÇÃO DE TRÊS USINAS GERA 12 MIL EMPREGOS EM PLENA CRISE E É
RESPONSÁVEL POR PERNAMBUCO LIDERAR A GERAÇÃO DE EMPREGOS NO PAÍS
Em Pernambuco ainda predomina o corte manual da cana;
a alta incidência de topografia acidentada contribui para isso
Luciana Paiva
D
urante o governo do presiden-
estradas ou na construção de fábricas que
te Lula, Pernambuco era um can-
se instalavam no estado.
teiro de obras, faltava trabalhador
Mas o “milagre econômico Lulista”
e sobrava vagas de emprego. Trabalhar
chegou ao fim. O corte dos investimen-
nas usinas de cana passou a ser uma op-
tos e a paralisação das obras empurra-
ção descartada, o negócio era ser operá-
ram Pernambuco a liderar as estatísticas
rio nas obras do Porto de Suape, na refi-
de campeão nacional do desemprego. Po-
naria Abreu e Lima, na pavimentação das
rém, neste ano, mais precisamente no mês
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de setembro, o ranking do Cadastro Ge-
de a 2.061 vagas. A agropecuária acumulou
ral de Empregados e Desempregados (Ca-
5.818 postos de trabalho, sendo 4.112 do
ged) apontou Pernambuco como o maior
cultivo da cana e 1.214 do cultivo da uva.
gerador de vagas do Brasil.
A reativação das usinas Pumaty, em
Em Pernambuco, foram admitidos
Joaquim Nabuco, Cruangi, em Timbaúba,
em setembro 52.583 pessoas e desliga-
e Pedrosa, em Cortes, incrementou ain-
das 37.335, com um saldo de 15.248 va-
da mais a geração de empregos promo-
gas criadas no período, o que represen-
vida pelo setor sucroenergético pernam-
ta 1,16% mais vagas em comparação com
bucano. As usinas “renascidas” já geraram
agosto. Em todo o país, foram fechadas
12 mil empregos diretos e indiretos. “Es-
95.602 vagas.
tamos quebrando paradigmas, porque di-
A expansão do número de vagas com
zem que usina que fecha não abre mais e
carteira assinada no estado se dá devido a
80 unidades industriais fecharam no Brasil
um componente sazonal, que são as ativi-
nos últimos cinco anos”, diz Alexandre An-
dades ligadas ao setor da cana-de-açúcar.
drade Lima, presidente da Associação dos
A indústria de transformação foi responsá-
Fornecedores de Cana de Pernambuco
vel pela criação de 10.824 postos, enquan-
(AFCP) e da Cooperativa do Agronegócio
to a fabricação do açúcar bruto correspon-
dos Fornecedores de Cana de Pernambu-
Na época do milagre econômico Lulista sobravam obras em Pernambuco
15
N O R D ESTE
co (Coaf), gestora da Cruangi. Já a Pumaty foi reaberta pela Cooperativa Agrocan.
Neste cenário de gasolina cara, dólar barato e menor estoque mundial de
açúcar, os nordestinos analisam que este
momento é vantajoso porque as usinas podem exportar mais açúcar e também podem produzir etanol, que está
“Enquanto outros estados fecham
usinas, nós abrimos. E abrimos na hora
certa”, diz Gerson Carneiro Leão
“Menino Monstro” derruba
previsão de safra no Nordeste
M
aior
em
temperaturas altas na superfície dos ma-
1997/1998, esta é a análise so-
res no Pacífico, e ocorre entre a costa oes-
bre o “El Niño” 2015, tanto que
te da América Latina e o Sudeste Asiático,
foi batizado de “Menino Monstro. Este fe-
mas seus efeitos podem ser sentidos em
nômeno climático é caracterizado pelas
todo o mundo – atingindo Japão e a re-
16
que
o
ocorrido
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mais competitivo em relação à gasolina,
tando até para a Europa”, diz feliz Gerson
com isso, maior demanda. “Enquanto ou-
Carneiro Leão, sócio da usina Pedrosa. Mas
tros estados fecham usinas, nós abrimos.
não é só ele que comemora, mas também
E abrimos na hora certa. Havia um milhão
as comunidades em que as usinas estão
de toneladas de cana sobrando na região
inseridas, pois a expectativa é que, ao fi-
e o preço do açúcar reagiu, porque a sa-
nal do ano, cada unidade fature pelo me-
fra da Índia quebrou. Agora, estamos mo-
nos R$ 30 milhões. Nesta safra, 18 unida-
endo fila atrás de fila e já estamos expor-
des estão em atividades em Pernambuco.
gião norte do Pacífico. Várias vezes, ele le-
tido. A mudança da temperatura na su-
vou a desastres naturais.
perfície do mar interage com a atmosfera
A grosso modo, trata-se de um ciclo
sobre o Oceano Pacífico e, em uma tem-
anual que, em alguns anos, é pouco sen-
porada extrema, verifica-se o que os cien-
Além das perdas na safra atual, as soqueiras precisam da chuva para garantir a próxima safra
17
N O R D ESTE
tistas chamam de “evento”. De três a sete
anos, acontece um pico: quando quantidade suficiente de água quente – em um
“El Niño” – se concentra no leste do Pacífico, próximo a costa do Peru. Como um
evento climático, pode-se perceber que os
picos começam no final de dezembro.
Mas o “Menino Monstro” já provoca
estragos no Brasil, com muita chuva na região Sul e seca no Nordeste, onde a canade-açúcar foi seriamente afetada. O que
levou consultorias a reavaliarem para baixo suas análises de produção. No fim de
outubro, a Datagro, maior consultoria do
mundo em cana, açúcar e etanol, reduziu
“Lamentável, justamente em um momento
que os produtos estão valorizados, teremos
menos matéria-prima”, diz Alexandre
sua projeção para a safra Nordeste para 52
milhões de toneladas, ante os 59,2 milhões
de Pernambuco (AFCP), diz que a quebra
de toneladas projetadas anteriormente.
nos canaviais na zona da mata norte (a
Agora em novembro, a consultoria
mais seca do estado), chega a ser de 50%
FCStone reduziu em 6 milhões de tone-
e dá como exemplo a usina Cruangi, rea-
ladas para 53,5 milhões a estimativa para
berta nesta safra após três anos sem moer,
a moagem de cana-de-açúcar na região
“a expectativa era colher 500 mil tonela-
Nordeste nesta safra 2015/16. Nos nú-
das, mas se confirmar o cenário de seca,
meros da FCStone, a previsão agora é de
não deve chegar a 350 mil”. A Cruangi é
uma produção de açúcar no Nordeste de
gerida pela Cooperativa do Agronegócio
3,08 milhões de toneladas, uma queda de
dos Fornecedores de Cana de Pernambu-
13,6% em relação ao estimado em agosto
co (Coaf), da qual Alexandre preside. Ainda
pela consultoria. Para a fabricação de eta-
segundo ele, a média de quebra na safra
nol, a nova estimativa da FCStone é de um
pernambucana deve ser de 25%, a mes-
volume de 1,99 bilhão de litros, queda de
ma média da região Nordeste. “Lamentá-
11,5% frente ao projetado em agosto.
vel, justamente em um momento que os
Alexandre Andrade Lima, presidente
da Associação dos Fornecedores de Cana
18
produtos estão valorizados, teremos menos matéria-prima.”
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IN S E C TSHOW
CTC
Ferrugem alaranjada causou danos
ao setor, pois ataca, principalmente,
a variedade SP 81-3250, que, em
2009, era uma das mais cultivadas
Para controlar a Ferrugem Alaranjada,
não precisa erradicar o canavial
CONTROLE QUÍMICO PODE SER BASTANTE EFICAZ NO
CONTROLE DA FERRUGEM ALARANJADA DA CANA
Leonardo Ruiz
E
m 2009, os técnicos agrícolas da Usi-
rugem marrom (Puccinia melanocephala)
na Cerradão, localizada no municí-
que estaria surgindo. Porém, aos poucos,
pio mineiro de Frutal, começaram a
essas manchas foram evoluindo e passa-
perceber que alguns canaviais da unida-
ram a ganhar outro tom: mais alaranjado.
de apresentavam pequenas pontuações
Esses sintomas se alastraram pelos
amareladas em suas folhas. Naquele mo-
canaviais da Empresa e também por várias
mento, não foi dada tanta importância a
outras unidades agroindustriais no Centro-
esses sintomas, já que eles poderiam sig-
Sul. A Ferrugem alaranjada (Puccinia kueh-
nificar apenas um segundo tipo de Fer-
nii), como ficou conhecida, chegava ao Bra-
20
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sil por meio de correntes de ar, pegando
mente o canavial, eles optaram em usar
o setor de surpresa, pois ela ataca, princi-
outra medida de manejo, uma que impe-
palmente, a variedade SP 81-3250, que, na-
disse os altos níveis de dano econômico
quela época, era uma das mais cultivadas.
decorrentes da doença e que ainda per-
A doença chegou a causar redução na pro-
mitisse que as variedades atacadas con-
dução agrícola na ordem de 30% a 50% em
tinuassem sendo utilizadas. Os resulta-
TCH (toneladas de cana por hectare) e de
dos foram excepcionais, pois o controle
15% a 20% no teor de sacarose dos colmos.
da doença devolveu produtividade às va-
Com esses números, muitos produtores
riedades. A forma de manejo escolhida foi
entraram em pânico, a ponto de erradicar
o uso do fungicida, e o produto escolhi-
seus canaviais com a SP 81-3250, eliminan-
do, o Opera®, da BASF. Hoje, cerca de 28%
do-a do plantel varietal.
do canavial da Cerradão ainda é composto
Na Cerradão, o cenário não era dife-
pela 81-3250, número que seria bem me-
rente, já que a SP 81-3250 também era o
nor caso o modelo de combate adotado
carro-chefe da empresa. Porém, o gerente
tivesse sido outro.
de produção agrícola da unidade, Michel
Provando a eficiência
foi outro. Em vez de erradicar completa-
Embora os primeiros sinais de FerruARQUIVO CANAONLINE
Fernandes, conta que o caminho tomado
Michel Fernandes conta que, em vez de erradicar completamente
o canavial, a Usina Cerradão optou pelo uso do fungicida
21
IN S E C TSHOW
ARQUIVO CANAONLINE
A doença chegou
a causar redução
na produção
agrícola na
ordem de 30%
a 50% em TCH
gem alaranjada na Usina Cerradão tenham aparecido em 2009,
o pico da doença começou em
2011. Naquele ano, Michel Fernandes teve que provar para a diretoria a
da é de extrema importância, pois errar o
necessidade de entrar com controle quí-
timing de aplicação resultará em estouro
mico pesado nos canaviais afetados. Para
da doença e perca de produtividade”, afir-
isso, decidiu separar duas áreas com Fer-
ma Fernandes.
rugem e tratar apenas uma delas. O resultratado, tivemos perdas de 20% a 30% em
Controle preventivo
na Usina Estiva
TCH e redução de 5 a 6 Kg de Açúcares
A Ferrugem alaranjada se desenvol-
Totais Recuperáveis (ATR). Já nos locais
ve no final do ciclo da cultura, favoreci-
em que o Opera® foi aplicado, consegui-
da por verões úmidos com temperaturas
mos recuperar a produtividade.” Segundo
amenas (21°) após um período de molha-
ele, esses dados provaram não só os mo-
mento foliar acima de 12 horas. As regiões
tivos de entrar com controle químico no
central e leste do Estado de São Paulo são
combate a Ferrugem alaranjada, mas tam-
as mais favoráveis para o desenvolvimen-
bém a alta eficiência e custo-benefício do
to da doença, seguidas da região do Oeste
Opera®.
Paulista, que apresenta condições climáti-
tado foi impressionante. “No canavial não
Atualmente, a empresa utiliza algu-
cas menos adequadas.
mas estações meteorológicas próprias
E esse, aliás, foi um dos motivos que
para prever o surgimento da doença. Esse
fizeram com que a Usina São José da Esti-
sistema analisa as condições mais favo-
va, de Novo Horizonte, SP, não tivesse re-
ráveis à eclosão da Ferrugem alaranjada,
gistrado, até o ano passado, grandes casos
cruzando informações de variedade e cli-
de Ferrugem alaranjada. O gerente agríco-
ma, por exemplo. “Essa tecnologia aju-
la da Unidade, Júlio Vieira de Araújo, conta
da a dar mais suporte sobre o momento
que em 2013 alguns canaviais da empresa
ideal de aplicação do fungicida. Essa aju-
foram mais comprometidos com a doen-
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IN S E C TSHOW
ça, porém, devido ao bom uso de fungici-
O gerente explica que, para esse
das, as produtividades não foram severa-
monitoramento, a Usina conta com uma
mente impactadas.
equipe técnica bem treinada que faz avaliação das áreas com potencial risco de
que tiveram maiores problemas com a do-
surgimento da Ferrugem a cada 15 dias,
ença. A SP 81-3250, que corresponde a 3%
com especial atenção durante os meses
da área, e a CTC 15, encontrada em 15% dos
de novembro a fevereiro. “Caso sejam en-
canaviais. “Não temos a intenção de elimi-
contrados vestígios da doença, procura-
nar a CTC 15 de nosso plantel, pois é ela é
mos, imediatamente, entrar com a apli-
um material rústico e muito produtivo. Por
cação de fungicidas para não perder o
isso, temos trabalhado fortemente no con-
timing. Após esse processo, é realizada,
trole preventivo, para não deixar a doença
ainda, uma vistoria nessas áreas, para ve-
entrar. Até o momento, os resultados têm
rificar a necessidade de uma segunda
sido muito animadores”, afirma Araújo.
aplicação”, finaliza.
ARQUIVO CANAONLINE
Foram duas as variedades da Empresa
“Na São José da Estiva uma das variedades atacadas foi a CTC 15,
encontrada em 15% dos canaviais. Porém, não temos intenção de eliminá-la
de nosso plantel varietal”, diz o gerente agrícola, Júlio de Araújo
24
Novembro · 2015
C A PA
Arthur: sangue
de agricultor e
paixão pelo trator
DNA Canavieiro
ESTÁ NO SANGUE DO PRODUTOR SABER CUIDAR DA CANA,
MAS PARA SE MANTER NA ATIVIDADE É PRECISO SE REINVENTAR
E DOMINAR O NOVO CENÁRIO SUCROENERGÉTICO
Luciana Paiva e Clivonei Roberto
“S
e pudesse, o Arthur ficaria o
dutores que colhem até 10 mil toneladas
dia todo encarapitado no tra-
de cana.
tor. É a paixão dele”, conta o
Com apenas três anos, o pequeno
avô José Garcez, um dos 70 mil produto-
Arthur é o retrato de um jovem agricul-
res de cana do Brasil. Mais precisamente,
tor, calçado com botina e boné na cabeça.
José faz parte dos 90% dos pequenos pro-
Com olhar compenetrado, percorre com
25
C A PA
Família Garcez:
Suzan, Paulo, Arthur,
José e Matheus
o avô a propriedade de 14 hectares no município de Motuca,
SP. Acompanha a vacinação das
vaquinhas, confere se a plantação está a salvo das saúvas e,
ao lado de seu irmão Matheus,
houve atento seu pai, Paulo, e
seu avô, José, explicarem como
se deve cuidar da lavoura.
Matheus tem 15 anos e seu sonho
é ser engenheiro agrônomo. Tem todo
conhecimento acadêmico e novas oportunidades de mercado.
o apoio de sua mãe Suzan, que observa
que é fundamental aumentar a renda do
Não basta mais ter só
no DNA a excelência
da produção canavieira
agricultor para que se mantenha no cam-
Para Luiz Carlos Corrêa Carvalho,
po. Para isso, é preciso ter maior produti-
também conhecido como Caio, presidente
vidade, mas sem conhecimento e tecnolo-
da ABAG (Associação Brasileira do Agro-
gia não é possível.
negócio), o fornecedor de cana é o elo
ser preciso ter ensino para poder produzir
mais e melhor. O avô concorda e salienta
Os Garcez valorizam o velho trator
mais fraco da cadeia e é quem sofre mais
de propriedade da família. “Ele ajuda mui-
com a crise. Para Caio, de fato os produ-
to.” Mas já pensou como seria se tivessem
tores têm no DNA a excelência da produ-
um trator de última geração, com compu-
ção canavieira. Ele lembra que os resul-
tador de bordo e tecnologia de precisão?
tados dos fornecedores de cana sempre
Ahhh, isso é luxo demais!
foram melhores do que os da usina. “Pelo
Não é não. Hoje, para se manter na
capricho, pelo dia a dia, pela dimensão da
atividade é preciso unir tradição de ser
operação que realizam. Normalmente têm
agricultor, conhecimento sobre o campo,
resultado médio melhor que das usinas.”
prática do dia a dia, tecnologias de ponta,
Mas, na opinião dele, até mesmo fornece-
26
Novembro · 2015
27
C A PA
“O canavial mudou, o produtor
precisa aprender como lidar com esse
novo canavial”, diz Maria Christina
dores de cana tradicionais, que estão há
décadas no setor, tiveram dificuldade de
manter um padrão de excelência na produção de cana por conta da crise.
Além da crise do setor, outro fator
passamos a conviver com pragas como o
que tem pesado no desempenho do pro-
Sphenophorus. Para controlar isso tudo,
dutor, segundo Maria Christina Pacheco,
aumentou o custo de produção.”
presidente da Associação dos Fornecedo-
mudou e o produtor precisa se requalifi-
Orplana muda a forma
de gestão para atender
a nova realidade do setor
car para poder produzir melhor e se man-
Fundada em 1976, a Organização dos
ter no negócio. “A mecanização impõe
Plantadores de Cana da Região Centro-Sul
um novo jeito de cuidar da lavoura, des-
do Brasil (Orplana) reúne 33 Associações e
de a adubação até o espaçamento das li-
16 mil produtores, que representam apro-
nhas de cana. E o produtor, por mais que
ximadamente 23% da cana produzida na
tenha a cultura canavieira no DNA, precisa
região – das 571 milhões de toneladas co-
aprender a dominar esta nova realidade”,
lhidas na safra 2014/15, 129 milhões de
diz Maria Christina.
toneladas vieram dos fornecedores. De
res de Cana de Capivari, SP, é que com o
fim da queima e a mecanização, o canavial
Em relação ao fim da queima, Maria
acordo com Manoel Ortolan, presiden-
Christina salienta não ser a favor da quei-
te da Orplana, 90% desses produtores são
ma da palha da cana, mas observa que o
considerados pequenos, produzem até 10
fogo reduzia a incidência de plantas da-
mil toneladas de cana e respondem por
ninhas e pragas. “Com a cana crua, pre-
35% do total da cana de fornecedor.
cisamos utilizar mais defensivos químicos
Ortolan ressalta que o setor passou
para controlar daninhas que não eram co-
por mudanças muito significativas nos
muns nos canaviais, como a corda-de-vio-
últimos anos, uma delas é a entrada de
la, que se enrola nos pirulitos da colhedo-
grandes grupos e multinacionais, o que
ra e travam a máquina. Aumentou muito
provocou alterações na forma de nego-
a presença da broca, o que nos leva a re-
ciação entre industriais e produtores de
alizar mais liberação de cotésia. Também
cana. O cenário também exige que o pro-
28
Novembro · 2015
vindicações dos associados ficaram muito diversas.
Este cenário, declara Ortolan, mostrou a necessidade urgente de promover
uma transformação na gestão da Orplana para fazer frente à nova realidade. “Precisamos ser mais ágeis, estar mais próximos para assegurar aos seus associados
a oportunidade de continuarem no jogo.
Para isso, contratamos a Markestrat, tendo o professor Marcos Fava Neves à frente
“Este novo cenário mostrou a necessidade
urgente de promover uma transformação
na gestão da Orplana”, declara Ortolan
desta consultoria. Eles realizaram um estudo para estruturação da Orplana. Através
do programa Caminhos da Cana, criado
dutor mecanize o canavial e adote inova-
pelo professor, visitamos 22 associações
ções tecnológicas. No quesito representa-
de produtores de cana, ouvimos produ-
ção de classe também houve mudanças.
tores, técnicos, dirigentes. E quando isso
Com a expansão da cana nas novas fron-
foi tudo tabulado, definimos seis diretrizes
teiras, foram criadas associações que se
para a Orplana e delas 19 projetos para
mesclaram com as já existentes, algumas
implementação”, conta.
com mais de 70 anos. Com isso, as rein-
As novas diretrizes da Orplana são:
29
C A PA
Reestruturação do Consecana
Além de reaprender a cuidar do canavial, no momento, os produtores dividem a atenção no debate que estão tendo com os industriais para a atualização
do sistema Consecana (Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool), uma associação formada por representantes das indústrias de açúcar e álcool
e dos plantadores de cana-de-açúcar, que
têm como principal responsabilidade zelar pelo relacionamento entre ambas as
partes.
Para isso, o conselho criou um sistema de pagamento da cana-de-açúcar pelo
teor de sacarose, com critérios técnicos
para avaliar a qualidade da cana-de-açú-
O projeto Caminhos
da Cana serviu como base
para a formulação das
novas diretrizes da Orplana
car entregue pelos plantadores às indústrias e para determinar o preço a ser pago
da usina é a do produtor. Compensa para
ao produtor rural. O sistema tem adoção
as usinas comprarem a cana de terceiros,
voluntária.
quem produz a cana é que arca com todos
Pelo sistema, o valor da cana-de
os ônus. Alguns parâmetros do Conseca-
-açúcar se baseia no chamado Açúcar To-
na precisam ser avaliados, o sistema tam-
tal Recuperável (ATR), que corresponde à
bém precisa ser atualizado com a nova re-
quantidade de açúcar disponível na ma-
alidade do setor, como o uso da biomassa.
téria-prima subtraída das perdas no pro-
O Consecana não é mais justo, precisa se
cesso industrial, e nos preços do açúcar e
adequar”, afirma a dirigente.
etanol vendidos pelas usinas nos mercados interno e externo.
Manoel Ortolan salienta que o Consecana é um sistema muito importante,
Maria Christina diz que está no esta-
mas que precisa voltar a acompanhar as
tuto do Consecana que o sistema deveria
mudanças. “No início tínhamos o açúcar
ser reavaliado a cada cinco anos e isso não
branco e o álcool hidratado, depois vie-
tem acontecido. Resultado: está defasado
ram o açúcar VHP e o álcool anidro e en-
e o produtor, sendo prejudicado. “Hoje a
tendemos que seja a hora de agregar a co-
cana mais barata que entra na moenda
geração ao Consecana.”
30
Novembro · 2015
As lições vindas do Médio Tietê
PARCEIRIZAÇÃO, PRODUTOR TECNIFICADO E VENDA
DE PALHA SÃO DIFERENCIAIS IMPLEMENTADOS
PELA ZILOR E SEUS PARCEIROS AGRÍCOLAS
Cenário com fardos de palha de cana não é novidade na região
Luciana Paiva e Leonardo Ruiz
N
a maior parte das unidades
em 1999, em que o grupo sede suas
sucroenergéticas, dos 100%
terras para o parceiro produzir a cana.
da cana moída, 60% é própria
A produção de cada parceiro varia de
e 40% de fornecedor. Mas não é isso
80 mil toneladas a 800 mil toneladas.
que acontece nas unidades do Grupo
Luiz Carlos Dalben, diretor da
Zilor de Lençóis Paulista e Macatuba,
Agrícola Rio Claro e presidente da As-
onde, desde 2004, 100% da cana mo-
sociação dos Plantadores de Cana do
ída são de parceiros agrícolas. O siste-
Médio Tietê (Ascana), desde 2002 é um
ma chamado parceirização começou
dos parceiros do Grupo Zilor. A Rio Cla-
31
C A PA
ro cultiva 8.600 hectares e tem uma pro-
indústria, então a relação é diferente.”
dução de 620 mil toneladas. Para ele,
Dalben compara o sistema de
esse sistema da Zilor é uma tomada in-
parceirização com o sistema conven-
teligente, porque a cana da usina sem-
cional. “A nossa cana tem qualida-
pre é mais cara do que a do fornecedor,
de melhor do que a da usina. A Usina
por questão de estrutura, já que a usina
que trabalhamos tem, por exemplo, 15
tem uma estrutura maior. Além disso, o
frentes de trabalho. Se fosse uma usi-
produtor é dono do próprio negócio, o
na convencional seriam cinco frentes.
que incentiva a ter maior envolvimen-
Então você consegue trabalhar de for-
Dalben:
parceirização e
venda de palha
para a usina
to, do que o funcionário da usina. “O
ma melhor e mais pontual em questão
produtor de cana sente mais necessi-
de ATR, por exemplo. Nosso ATR está
dade de desenvolver tecnologia, de re-
135, que é a média acumulada até ano
alizar um trabalho bem-feito, porque
passado. O TCH é 94. Isso levando em
ele vive exclusivamente da cana. A usi-
consideração que temos 86% de am-
na vive do açúcar, do etanol, da ener-
bientes D e E, que são os mais fracos.
gia e de outros produtos. O produtor
Na verdade, estamos surpresos com
não, por isso tem que ter lucro na cana.
essa produtividade, mas o ano agríco-
A usina tem prejuízo na cana e lucro na
la foi muito bom. Parte disso é decor-
32
Novembro · 2015
rente do ano agrícola e a maior parte
de matéria orgânica, meiose, crotala-
é das tecnologias que usamos, como
ria, temos todo um sistema de prepa-
espaçamento, preparo de solo, cuida-
ro, realizamos um preparo profundo a
dos com colheita mecanizada, aplica-
65 cm de profundidade. Trabalhamos
ção de adubos e defensivos agrícolas
com esse sistema há oito anos e esta-
no momento certo. Tudo isso tem in-
mos aperfeiçoando”, explica Dalben.
fluência, fazendo com que ganhemos
produtividade.”
Segundo ele, a mecanização não
tem a perfeição do corte manual, mas
A Rio Claro trabalha com espaça-
o custo final por tonelada da máqui-
mento de 50 x 1,40. “Estamos no quar-
na é menor. “Mesmo com mais perdas
to para o quinto ano com esse espaça-
do que no corte manual, o corte me-
mento e estamos tendo bom resultado.
cânico é mais lucrativo. Nosso sistema
Mas vamos ver realmente quando fe-
todo é mecanizado, desde o preparo
char o primeiro ciclo, porém, dificil-
de solo até a colheita. Tem usinas que
mente vamos alterar o espaçamento a
têm esmero e outras não, e a produti-
não ser que apareça algo muito signifi-
vidade está relacionada à operaciona-
cativo. Trabalhamos com canteirização,
lização do sistema. Se não tiver bom
faixa intercalar no preparo, colocação
preparo ou bom plantio não terá boa
Os produtores de cana
do Médio Tietê são
altamente tecnificados
33
C A PA
A Zilor realizou adaptações em suas unidades
industriais para o recebimento e utilização direta
nas caldeiras da palha triturada no campo
colheita. O que também é essencial
Outro exemplo que vem de Len-
é a capacitação de toda a equipe de
çóis é o pagamento pela palha da cana.
trabalho.”
Desde 2004, a agrícola Rio Claro ven-
Dalben salienta que os parcei-
de palha para a Zilor. O sistema foi sen-
ros são muito valorizados pela Zilor. E
do aperfeiçoado e está dando tão cer-
que já há usinas tentando implemen-
to, que nesta safra a empresa ampliou
tar um sistema parecido com o deles, o
a parceria para outros oito produtores
de parceirizar a área agrícola e, assim,
de cana.
reduzir um pouco a estrutura da usina
A Zilor realizou adaptações em
como um todo. “Eu acho que é um ca-
suas unidades industriais para o recebi-
minho certo, mas é preciso ter parcei-
mento e utilização direta nas caldeiras
ro correto e usina correta. Tem que ter
da palha triturada no campo; com isso,
honestidade e confiança no negócio”,
aumentou de 85 mil (2014/2015) para
alerta.
200 mil toneladas (safra 2015/2016) o
34
Novembro · 2015
recebimento da biomassa, fornecida
da energia gerada a partir da biomas-
por nove produtores. Além de aumen-
sa como limpa e renovável, gerada no
tar a sua disponibilidade de palha para
período de menor vazão dos reserva-
a geração de energia elétrica limpa e
tórios das hidrelétricas. Atualmente a
renovável, a empresa garante ao for-
Zilor gera mais de 1.000.000 MWh/ano
necedor receita extra, compartilhando
e comercializa 600.000 MWh/ano, em
com a cadeia o valor agregado que a
Contratos de Longo Prazo com vendas
energia traz para o negócio.
realizadas nos leilões de 2006 e tam-
A empresa afirma que há a pos-
bém no mercado spot.
sibilidade de contribuir para a ma-
Essa experiência na comercializa-
triz energética durante o ano todo,
ção da palha entre os produtores e a
não apenas no período da safra, des-
Zilor está servindo de base para a ne-
de que o governo apresente um mode-
gociação da agregação da cogeração
lo com reconhecimento do diferencial
no sistema Consecana.
35
C A PA
Programa Cultivar une Raízen
e seus parceiros agrícolas
CULTIVAR VISA CONTRIBUIR PARA A REDUÇÃO DE CUSTOS,
ESPECIALIZAÇÃO EM BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS E OTIMIZAÇÃO
DA PRODUTIVIDADE E DA QUALIDADE DA LAVOURA
Lavoura com qualidade:
um dos objetivos do
programa Cultivar
Luciana Paiva
D
as 72 milhões de toneladas de
Uma dessas ações é o Programa Cul-
cana moídas pela Raízen por sa-
tivar, lançado no ano-safra 2013/14, como
fra, 50% vem de seus 3500 parcei-
versão piloto e que visa contribuir para a
ros agrícolas. “O produtor de cana é fun-
redução de custos, especialização em boas
damental para nosso negócio, por isso
práticas agrícolas e otimização da produ-
desenvolvemos ações para estreitar o rela-
tividade e da qualidade da lavoura. O Cul-
cionamento e melhorar o desenvolvimen-
tivar é estruturado a partir de cinco pilares
to da atividade”, salienta Carlos Martins
– Contribuição de compras, Desenvolvi-
diretor de fornecedores de cana e parce-
mento de fornecedores, Reconhecimento
rias agrícolas da Raízen.
de desempenho, Linhas de Crédito e Ser-
36
Novembro · 2015
viços - a iniciativa proporcionou aos 150
de qualificação) disponibilizadas pelo Pro-
fornecedores envolvidos diversos bene-
grama para o aperfeiçoamento e cresci-
fícios, entre eles a redução de custos na
mento dos produtores.
aquisição de insumos para o campo, 256h
de treinamentos teóricos e práticos, cam-
Para o desenvolvimento do Programa, foram criadas ferramentas como:
panhas de incentivo para aumento de pro-
Sala Cultivar – voltada exclusiva-
dutividade e qualidade, e a construção de
mente aos produtores de cana-de-açúcar
estrutura exclusiva para atendimentos nas
e parceiros da empresa, tem como obje-
unidades da companhia.
tivo auxiliar o atendimento da equipe de
O Cultivar já foi ampliado e envol-
campo da região, além de proporcionar
ve 286 produtores, que representam 74%
um espaço para negociações e discussões
da produção de cana-de-açúcar compra-
de assuntos inerentes ao negócio.
Central Agrícola – canal de aten-
ria Christina Pacheco, que vê com mui-
dimento por telefone para todos os seus
to bons olhos essa parceria com a Raízen.
parceiros das regiões de Piracicaba, Jaú,
“Um dos pontos altos é que ao realizar-
Araçatuba, Andradina, Araraquara e Jataí.
mos compras de forma unificada por meio
A iniciativa tem como objetivo facilitar o
da Raízen, temos volume e com isso po-
dia a dia do fornecedor esclarecendo dú-
der de negociação, o que resulta em me-
vidas sobre as operações, pagamentos, e
lhores preços”, diz Christina, que ressalta
outros assuntos relacionados. Há previsão
também as ferramentas (como os cursos
de expansão deste serviço para Assis no
DIVULGAÇÃO RAÍZEN
da pela companhia. Entre eles está Ma-
Inauguração da sala Cultivar, em Valparaíso, SP
37
C A PA
O maior volume de compra de insumos agrícolas reduz o preço: benefício ao parceiro do Cultivar
próximo mês de novembro.
News “Cultivo da Informação” –
Portal dos Fornecedores de Cana
informativo bimestral encaminhado a to-
– página na internet que permite o aces-
dos os fornecedores, com notícias e infor-
so personalizado a todas as informações
mações interessantes, com o objetivo de
referentes à relação destes parceiros com
facilitar o dia a dia do fornecedor de cana,
a companhia. O usuário cadastrado pode
por meio de dicas para utilização do por-
acessar a página com seu CPF, do compu-
tal do fornecedor, notícias sobre o merca-
tador ou celular, e utilizar todas as ferra-
do, e também ações da Raízen com intui-
mentas disponíveis, como consulta ao ex-
to de beneficiá-los.
trato financeiro, relatórios de entrega de
cana, entre outras.
Informações no celular – empre-
Incentivo e crédito
fazem parte do Cultivar
sa disponibiliza dados sobre o desempe-
Para incentivar a maior produtivida-
nho e qualidade da colheita através tor-
de e qualidade da matéria-prima, o Cul-
pedos de celular (SMS). Periodicamente,
tivar também empreende campanhas de
os fornecedores recebem em seu celular
incentivo, com premiação para as melho-
cadastrado, informações sobre o nível de
res performances no último ano. Para ava-
impurezas minerais da cana, toneladas en-
liar seus 286 parceiros agrícolas envolvi-
tregues e ainda, dados consolidados que
dos no Cultivar, a companhia se baseia
contemplam desde qualidade e quanti-
nos indicadores de qualidade, produtivi-
dade, até os valores brutos, descontos e o
dade, eficiência operacional e comprome-
valor liquido a ser creditado na conta do
timento com o programa. “Temos satisfa-
parceiro.
ção em ver o Programa Cultivar completar
38
Novembro · 2015
dois anos. Neste período, percebemos
com juros de 8,75% ao ano, sujeito às re-
um grande interesse de nossos parcei-
gras vigentes do Programa de Crédito Ru-
ros agrícolas em aumentar a qualidade e
ral estabelecido pelo Banco Central do
a eficiência das operações. Nosso objeti-
Brasil e sujeito à análise de crédito. “Nos-
vo é torná-los mais competitivos e premi-
so objetivo com essa parceria é disponibi-
á-los para aderirem às melhores práticas
lizar uma opção de crédito a custos baixos
de mercado. Isso posiciona nosso progra-
e prazos viáveis para o produtor”, diz Car-
ma como pioneiro e referência em relacio-
los Martins.
namento com fornecedores no País”, explica Martins.
De acordo com a Raízen, o financiamento pode ser usado nos tratos culturais,
Ao fim da iniciativa, os seis fornece-
com financiamento de até R$ 1,2 milhão e
dores que alcançaram os melhores índices
prazo de pagamento de 18 meses, e tam-
de produtividade (TCH) em cada polo e os
bém na linha de investimento em plantio,
seis com os melhores índices de qualida-
que oferece ao fornecedor R$ 1 milhão e
de da colheita (ATR) – também por polo –
pode ser quitado em até cinco anos, com
foram premiados pela sua atuação. Além
carência de um ano.
DIVULGAÇÃO RAÍZEN
disso, a campanha premiou os cinco melhores fornecedores de cana-de-açúcar da
Raízen, que obtiveram resultados excepcionais em indicadores relativos ao negócio (produtividade, qualidade, percentual
colheita mecanizada, adesão ao planejamento de colheita e entrega de cana na
esteira.
Mas, para cuidar bem do canavial é
preciso ter recursos financeiros, assim, recentemente, a Raízen anunciou um convênio de R$ 150 milhões com o Itaú BBA
para uso exclusivo dos fornecedores de
cana-de-açúcar participantes do Programa Cultivar.
O convênio pode ofertar um crédito de até R$ 2,2 milhões por CPF ou CNPJ,
“Nosso objetivo com essa parceria é
disponibilizar uma opção de crédito
a custos baixos e prazos viáveis para
o produtor”, diz Carlos Martins
39
C A PA
+cana abre ao produtor
acesso ao sistema MPB
COPLANA, SOCICANA E IAC IMPLEMENTAM PROGRAMA DE DIFUSÃO
TECNOLÓGICA PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE E PARA QUE
RICARDO CARVALHO
MELHORES RESULTADOS CHEGUEM ÀS MÃOS DO PRODUTOR
P
ossibilitar aos produtores o
cada hectare, ele transportará somen-
acesso às inovações tecnoló-
te 2 toneladas de mudas pré-brotadas
gicas é um dos pontos básicos
para a mesma área. As outras 16 ou 18
para que permaneçam na atividade.
toneladas serão revertidas em produ-
Uma das inovações que têm feito a di-
to na usina.
ferença no setor é a Muda Pré-Brota-
A Socicana - Associação dos For-
da (MPB), que oferece sanidade, maior
necedores de Cana de Guariba, a Co-
produtividade e lucratividade -
em
plana - Cooperativa Agroindustrial, e
vez de transportar para o campo e
o IAC - Instituo Agronômico, se uni-
plantar 18 a 20 toneladas de cana para
ram para garantir, ao produtor, a ado-
40
Novembro · 2015
ção do sistema de MPB. A tecnolo-
o agricultor adotar as novas varieda-
gia desenvolvida pelo IAC pode ser
des, o que demoraria anos no siste-
implantada até mesmo em peque-
ma convencional. Com as MPBs, ele
nas propriedades, e o agricultor terá
recebe material genético de varieda-
autonomia para produzir sua própria
des adaptadas à região, de acordo
muda de cana com qualidade e sani-
com o seu ambiente de produção. Já
dade, atividade da qual abriu mão há
no plantio convencional, ele fica res-
algumas décadas.
trito às variedades disponíveis na usi-
A partir das MPBs, os viveiros pri-
na, com mudas, inclusive, que apre-
mários ou matrizeiros, que são mudas
sentam idade de corte avançada.
livres de pragas e doenças, são esta-
Atualmente, com a produtivida-
belecidos na propriedade do agricul-
de do canavial em torno de 70 tonela-
tor e dão origem a mudas sadias. Em
das por hectare (média de acordo com
termos de logística (transporte das
a safra e região), a receita não cobre
mudas até o campo) e aproveitamen-
custos. Desta forma, muitos produto-
to do material produzido, a diferença
res se viram obrigados a sair da ati-
é significativa.
vidade e outros continuam perdendo patrimônio. A partir do sistema de
tecnologia é a redução do tempo para
MPBs, a estimativa é chegar à “cana de
RICARDO CARVALHO
Outra grande contribuição da
3 dígitos”, acima de 100 toneladas por
hectare, em cinco cortes.
A Secretaria da Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo disponibilizará uma linha de crédito
para financiar a implantação destes viveiros, para que esta implantação possa ser acelerada e chegue mais rapidamente ao produtor, que será atendido
pela linha de crédito de até R$ 200
mil, do Fundo de Expansão do Agro-
“Se não forem feitos investimentos
em tecnologia, gestão e melhoria da
administração, provavelmente estes
produtores vão sair do negócio”, diz
Bruno Rangel Geraldo Martins
negócio Paulista (Feap), com prazo de
pagamento de até seis anos, com carência de até dois anos. A taxa de juros
41
RICARDO CARVALHO
C A PA
José Antonio de Rossato Junior acredita na instalação de
canaviais com alto padrão de sanidade e produtividade
é de 3% ao ano e há o bônus de adim-
resultados cheguem às mãos do pro-
plência de 2,25%. Os beneficiários po-
dutor. Se não forem feitos investimen-
dem financiar todos os itens necessá-
tos em tecnologia, gestão e melho-
rios para estrutura, assim como para
ria da administração, provavelmente
aquisição das mudas e sementes, des-
estes produtores vão sair do negó-
de que sejam parte do mesmo projeto.
cio. Para continuarmos na cana, precisamos desta revolução tecnológica
Revolução na gestão
dos produtores
e administrativa em nossas propriedades”, enfatiza.
Para Bruno Rangel Geraldo Mar-
O presidente da Coplana, José
tins, presidente da Socicana, a mudan-
Antonio de Rossato Junior, fala do pa-
ça de paradigma precisa acontecer
pel das entidades. “Por meio da ca-
de imediato, como única forma para
pacitação dos recursos humanos e
a manutenção das lavouras canaviei-
fomento à produção de mudas de
ras. “Este é um programa de difusão
qualidade, incluindo critérios para a
tecnológica e que pretende fazer com
escolha da variedade e o sistema MPB,
que maior produtividade e melhores
acreditamos na instalação de cana-
42
Novembro · 2015
viais com alto padrão de sanidade e
conheceram cada um dos passos da
produtividade. Esta iniciativa conjunta
cadeia de produção das MPBs. Em es-
entre Coplana, Socicana e IAC cumpre
tações de demonstração prática, os
a missão mútua de auxiliar o cresci-
grupos tiveram acesso a informações
mento sustentável e promover o apri-
sobre irrigação, adubação, colheita e
moramento tecnológico do produtor.”
plantio da inovação desenvolvida pelo
IAC. O encontro reuniu cerca de 400
1º Dia de campo +cana
participantes.
Renata Morelli, gerente do Depar-
realizou na Fazenda Santa Maria, no
tamento de Tecnologia e Inovação da
município de Luiz Antônio o 1º Dia
Coplana, comemora os resultados ini-
de Campo +cana, que reuniu técni-
ciais. “O Dia de Campo é parte da ini-
cos, estudantes, produtores e repre-
ciativa +cana, lançada em março des-
sentantes de empresas parceiras para
te ano, como uma resposta ao produtor
EWERTON ALVES
Em 12 de novembro, a Coplana
1º Dia de Campo +cana foi um sucesso
43
RICARDO CARVALHO
C A PA
Apresentação de plantio de MPB no Dia de Campo
que queria uma solução para a lavoura
vam presentes os oito produtores po-
canavieira. É surpreendente o resulta-
los, ou seja, aqueles que aceitaram o
do obtido em apenas oito meses. Isso é
desafio do pioneirismo. Eles deram
fruto do comprometimento de muitos
início à adoção da tecnologia este
profissionais da Coplana, Socicana, IAC
ano, como um grande campo de es-
e do produtor, que aceitou o desafio
tudos. Em agosto, adquiriram os kits
de contribuir para a geração deste co-
de validação de MPB com um protóti-
nhecimento. Acredito que nós estamos
po da câmara de brotação, uma mesa
construindo uma nova realidade para a
para corte do mini rebolo, um supor-
cultura, com benefícios para todos os
te para tratamento químico e lotes de
elos da cadeia produtiva”, conclui.
MPBs com variedades de cana lançadas
No Dia de Campo também esta-
44
recentemente.
Novembro · 2015
45
C A PA
No Nordeste, produtor
faz renascer usinas
POR MEIO DO COOPERATIVISMO, PRODUTORES
ASSESSORIA AFCP
DE CANA REATIVAM TRÊS USINAS
Trabalhadores da Cruangi no dia da reativação
Luciana Paiva
N
a região Nordeste, o produtor
res de Cana de Pernambuco (AFCP) e da
de cana está revolucionando a
Cooperativa do Agronegócio dos Forne-
agroindústria canavieira. Em Per-
cedores de Cana de Pernambuco (Coaf),
nambuco e Alagoas, eles resolveram fazer
conta que a mobilização surgiu quando os
renascer usinas. Alexandre Andrade Lima,
canavieiros ficaram sem ter para onde le-
presidente da Associação dos Fornecedo-
var a cana colhida na Zona da Mata por
46
Novembro · 2015
causa da desativação de diversas usinas
a três safras parada e está sob a adminis-
brasileiras. “Eles estavam impossibilitados
tração da Coaf.
de continuar no trabalho. Muitos já esta-
“A reabertura passou a ser salvação
vam até desistindo da atividade”, explica
dos nossos produtores de cana. Eles le-
Alexandre de Andrade Lima.
vam e recebem pela cana nas suas coope-
O renascimento das usinas está sen-
rativas. No final do ano, ainda vão receber
do possível em decorrência do cooperati-
parte dos lucros das usinas”, conta Alexan-
vismo, destaca Alexandre. A primeira uni-
dre, que lembra que, apesar de o Nordes-
dade a voltar a moer, em 2014, após uma
te representar apenas 9% da produção de
safra parada, foi a Pumaty, localizada em
cana do Brasil, conta com 25 mil produto-
Joaquim Nabuco, Zona da Mata-sul per-
res de cana, sendo que 92% são conside-
nambucana, que está sendo gerida pela
rados pequenos produtores, pertencentes
cooperativa Agrocan. Já nesta safra, foi re-
a agricultura familiar.
Além da Pumaty e Cruangi, outra usi-
da Mata-Norte pernambucana, que estava
na que voltou a moer nesta safra é a PeASSESSORIA AFCP
aberta a usina Cruangi, de Timbaúba, Zona
Alexandre (de verde), e à sua esquerda Paulo Câmara, o
Governador de Pernambuco, na reinauguração de Cruangi
47
Usina Pumaty, a primeira a ser reativada, está sob gestão da Cooperativa Agrocan
drosa, no município perde em Cortês, mas
A Uruba estava desativada havia três
esta não é administrada por cooperativa.
anos e, desde 2014, quando foi fundada,
Nesta safra, 18 usinas estão e atividade
a Coopervale buscava na Justiça o arren-
em Pernambuco e Alexandre diz que não
damento da usina. De acordo com o pre-
ver mais possibilidade de, no estado, ou-
sidente da Coopervale, Túlio Acioly Tenó-
tras unidades voltarem a moer, pelo me-
rio, inicialmente cerca de 1.500 postos de
nos sob a gestão das cooperativas. “Nosso
trabalho diretos serão reabertos. “Quando
objetivo era reativar uma unidade na Zona
estiver a todo vapor, a Uruba vai empregar
da Mata Sul e outra na Zona da Mata Nor-
aproximadamente três mil pessoas no cam-
te, já conseguimos isso.”
po e na indústria. Isso vai mudar a econo-
Se em Pernambuco o milagre do re-
mia nos municípios do entorno da usina.”
nascimento da usina já deve ter cessado,
em Alagoas, observa Alexandre, ainda há
espaço. No final de outubro iniciou a moagem a usina Coopervale-Uruba, em Atalaia, uma das três unidades do Grupo João
Lyra, em Alagoas. A usina voltou à ativida-
Veja vídeo com
a largada da
safra 2015/16 da
Coopervale-Uruba
de nesta safra, graças ao empenho da Cooperativa dos Produtores Rurais do Vale
de Satuba (Coopervales).
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Novembro · 2015
49
ARQUIVO CANAONLINE
TE C NOLOGIA AGRÍCOL A
Crise no setor diminuiu o número de
reformas, que atinge, atualmente, 14%
Cuidando da soqueira
DEVIDO À CRISE DO SETOR, MUITAS VEZES, A DECISÃO É ADIAR A
RENOVAÇÃO DO CANAVIAL. PORÉM, É PRECISO TOMAR CERTOS CUIDADOS
COM A CANA-SOCA PARA QUE ELA PRODUZA BEM E POR MAIS TEMPO
Leonardo Ruiz
O
s canaviais estão ficando mais
o fluxo de caixa das empresas.
velhos. O índice de reforma, que
Porém, esses dados não precisam ser
já chegou a atingir 20% em anos
necessariamente ruins. Afinal, se uma so-
anteriores, está na faixa de 14%, atualmen-
queira está respondendo bem, é até pre-
te. Tem usina reformando normalmente e
ferível esperar mais um ou dois ciclos para
tem usina fazendo nada. Isso ocorre devi-
renovar essa área. Entretanto, para que a
do à crise instaurada no setor, que abalou
cana-soca atinja um nível satisfatório de
50
Novembro · 2015
produtividade ao longo dos cortes, além
tura anual de grãos que tem o ciclo de um
de alta longevidade, o produtor deve cui-
ano. A cana tem ciclo longo. Dessa forma,
dar corretamente dela, fazendo um mane-
vários fatores interagem entre si.
jo adequado, que começa antes mesmo
da implantação do canavial.
Primeiramente, segundo o pesquisador, deve-se conhecer o ambiente onde a
Caso essa “receita de bolo” seja fei-
cultura será instalada, para, após isso, de-
ta corretamente, os ganhos em termos de
cidir qual variedade será alocada naque-
longevidade serão maiores do que aque-
la região. Em ambientes mais restritivos,
les que o produtor teria caso optasse por
por exemplo, é necessária uma variedade
renovar o canavial. Pesquisadores afirmam
mais rústica, já em ambientes melhores,
que algumas usinas que têm feito esse
uma variedade mais exigente irá respon-
tipo de manejo estão, inclusive, conse-
der mais, aumentando assim sua produ-
guindo sobreviver à atual crise.
tividade. “Um dos fatores que devem ser
levados em conta é o tipo de solo, pois
Implantação do canavial
dependendo dele, há mais ou menos com-
Como afirmado, os cuidados com as
pactação, o que interfere muito na ques-
soqueiras de cana-de-açúcar não podem
tão de desenvolvimento do sistema radiARQUIVO CANAONLINE
ser pensados apenas no momento em que
a cana atinge esse estágio. Para o pesquisador científico da Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, André Cesar
Vitti, as unidades que cuidaram corretamente da implantação do seu canavial estão, atualmente, com produtividades consideráveis e, às vezes, investindo menos
do que aquelas que estão entrando agora
nesse contexto de manejo mais adequado
do seu canavial.
Vitti explica que, para se ganhar em
termos de produtividade, é importante ver
a cana como um todo, relacionando os fatores de produtividade que estão envolvidos. A cana-de-açúcar difere de uma cul-
Vitti: “Primeiramente, deve-se conhecer
o ambiente onde a cultura será
instalada, para decidir qual variedade
será alocada naquela região”
51
ARQUIVO CANAONLINE
TE C NOLOGIA AGRÍCOL A
O ideal é não pensar na economia de insumos na hora de implantar o canavial,
já que é vital a preparação de uma base de sustentação para a cultura
cular e na rebrota da cana.”
produção. Vitti aponta que, se a cana-de
O clima e o déficit hídrico de um solo
-açúcar for plantada em janeiro em um la-
também são fatores decisivos na hora do
tosolo de textura arenosa, por exemplo,
plantio, já que quanto mais seco o clima,
ela vai se desenvolver demais, produzin-
maior tem que ser a preocupação com a
do muito fitomassa, o que fará com que
capacidade que um solo tem de armaze-
ela sofra um stress hídrico, estando sujei-
nar água. “Podemos citar como exemplo
ta a perda de produtividade. “Já nos solos
o plantio em um nitosolo que possui uma
que possuem melhores condições de ar-
capacidade de água disponível de 120 a
mazenamento e disponibilidade de água,
160 litros por m³ de solo. Nele podem-se
a margem em termos de tempo de plantio
alocar variedades mais tardias. Já em lato-
é maior”, completa.
solos com textura mediana, onde a quan-
Após escolhida a variedade, Vitti afir-
tidade de água disponível gira em torno
ma que o ideal é não pensar na economia
de 40 litros por m³ de solo, é importante
de insumos, já que é vital a preparação de
utilizar variedades mais precoces ou me-
uma base de sustentação para a cultura.
dianas, no sentido de antecipar a safra.”
“Isso ocorre porque, às vezes, a aplicação
A época de plantio é outra impor-
de um corretivo na soqueira não é tão efi-
tante característica em um ambiente de
caz quanto o feito na época do preparo do
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Novembro · 2015
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DIVULGAÇÃO BAYER CROPSCIENCE
solo. Por isso, é importante fazer um bom
planejamento para tentar buscar a eficiência do uso desses corretivos.” Segundo ele, a utilização desses corretivos na
hora do preparo do solo promoverá uma
melhor eficiência dos fertilizantes futuramente. “Eu não posso, por exemplo, aplicar uma fonte fosfatada num solo que não
foi corrigido.”
Domando a máquina
Após todo esse investimento na implantação do canavial, é hora de cuidar
para que as soqueiras durem e produzam
por muitos ciclos. Para o diretor agríco-
Augusto de Camargo Monteiro: “Uma das
principais causas de perda de produtividade e
de longevidade da cultura está no aumento do
percentual de falhas no stand dos canaviais”
la do Grupo Clealco, Cássio Paggiaro, um
dos aspectos mais importantes é relacio-
é realizada na área. Por isso, não tenho dú-
nado à colheita, que deve ser feita da ma-
vida que, para se ter áreas de cana-soca
neira mais adequada possível, para preve-
com bom desempenho por vários ciclos, o
nir o arranquio ou pisoteio da soqueira. “O
produtor tem que domar a máquina.”
futuro do canavial está diretamente ligado
Após a colheita, Paggiaro afirma que
à qualidade da operação mecanizada que
é preciso iniciar um trato cultural adequa-
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Novembro · 2015
DIVULGAÇÃO USINAS ITAMARATI
O futuro do canavial está diretamente ligado à
qualidade da operação mecanizada que é realizada
na área, já que uma colheita mal feita pode
significar arranquio ou pisoteio da soqueira
ARQUIVO CANAONLINE
do, sendo que, para isso, é preciso definir
o que aquela área precisa. “Primeiro, tem
que se perguntar se estamos em uma região onde é necessário fazer aleiramento
para melhorar a brotação.”
O diretor agrícola lembra, também,
que é importante realizar uma fertilização adequada, além da correção do pH
da área. “Às vezes esquecemos que cálcio e magnésio não são apenas corretores de pH, mas também fornecem macronutrientes para a nutrição da planta”, frisa
Paggiaro.
Redutores de produtividade
O Agrônomo de Desenvolvimento de Mercado da Bayer CropScience, Au-
Para Cássio Paggiaro, é importante
realizar uma fertilização adequada,
além da correção do pH da área
gusto de Camargo Monteiro, lembra, também, que uma das principais causas de
nos fatores promotores de produtividade,
perda de produtividade e de longevidade
como correção do solo com a calagem e
da cultura está no aumento do percentual
a gessagem e uma nutrição adequada vi-
de falhas no stand dos canaviais, seja ela
sando maximizar a expressão do potencial
causada pela presença de pragas ou por
produtivo da cultura. Porém, com o cana-
doenças. Dessa forma, uma vez que o pro-
vial já implantado, o produtor não pode
dutor consiga manter seu stand uniforme,
esquecer-se dos fatores redutores de pro-
conseguirá manter seu canavial produtivo
dutividade, que podem “roubar” todo
por vários e vários anos.
o investimento realizado anteriormen-
Para isso, Augusto recomenda o uso
te. “Essa interferência pode proporcionar,
de produtos como o regulador vegetal
dependendo da intensidade, margens de
Ethrel® para favorecer a brotação e o per-
contribuição negativas para os produto-
filhamento da cultura, e o fungicida Nati-
res de cana. Nesse sentido, se faz impres-
vo® para a proteção da cultura nessa fase
cindível o controle dos fatores redutores
tão importante.
de produtividade, que são representados
Na implantação do canavial, o produtor realizou uma série de investimentos
pela interferência de doenças, plantas daninhas ou pragas”, explica Augusto.
55
TE C NOLOGIA AGRÍCOL A
Uma das pragas desse cenário é a Ci-
proporcionado, que pode chegar facil-
garrinha-das Raízes (Mahanarva fimbrio-
mente a mais de 45% de redução de pro-
lata), que vem crescendo no setor princi-
dutividade da cultura. Entre outros preju-
palmente nesse momento de entrada da
ízos causados pela Cigarrinha-das-raízes,
primavera e com as primeiras chuvas acu-
está à redução do teor de açúcar nos col-
mulando volumes generosos nas mais di-
mos, aumento do teor de fibras e dos col-
versas regiões produtoras do Centro-Sul
mos mortos, o que diminui a capacidade
do país. Essa praga vem ganhando cada
de moagem, além da extração de grande
vez mais importância dentro do cená-
quantidade de água e nutrientes das raí-
rio sucroenergético tanto pela sua ampla
zes pelas ninfas.
“Foi pensando na sustentabilidade
ARQUIVO CANAONLINE
distribuição, quanto pelo nível de perdas
Aplicação de defensivos agrícolas é importante para o controle de
doenças, pragas e plantas daninhas que podem dizimar a produtividade
do canavial e, consequentemente, levar a reformas precoces
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ARQUIVO CANAONLINE
TE C NOLOGIA AGRÍCOL A
Cigarrinha-das-Raízes é um dos fatores redutores de produtividade, que
podem “roubar” todo o investimento realizado na implantação do canavial
do negócio dos produtores de cana, sejam
diferentes variedades de cana cultivadas
fornecedores ou agroindustriais, que a
frente à presença da praga; e a correlação
Bayer estudou e criou uma estratégia ino-
com o estágio de desenvolvimento da cul-
vadora para o controle da Cigarrinhas-das
tura no momento do início da infestação.
-Raízes, que permite, além de tudo, que
“O inseticida Curbix®, da Bayer, é o único
os nossos clientes tenham o entendimen-
que se encaixa perfeitamente nessa nova
to com profundidade de qual seu nível de
abordagem de controle da praga, pois
exposição às perdas provocadas pela pra-
apresenta rápida ação e elevada eficiên-
ga”, diz.
cia de controle. O principal objetivo dessa
Essa estratégia, salienta Augusto,
estratégia é assegurar a proteção das so-
passa pelo entendimento de alguns pon-
queiras e proporcionar maiores margens
tos-chave, como: o profundo conheci-
para nossos clientes, reduzindo o custo de
mento da praga e suas implicações para
investimento para cada tonelada de cana
a cultura da cana; o comportamento das
produzida.”
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Novembro · 2015
DIVULGAÇÃO SABARALCOOL
TE C NOLOGIA IN D U STRIAL
Tendência de
aumento dos
preços do açúcar
em real em 2016
deve tornar a
próxima safra
mais açucareira
Mais impurezas e menos açúcar,
este é o cenário do setor
INTENSIFICAÇÃO DA COLHEITA MECANIZADA DE CANA CRUA FAZ
COM QUE A INDÚSTRIA SINTA NA PELE AS DIFICULDADES PARA
FABRICAR AÇÚCAR COM A MESMA QUALIDADE DE ANTES
59
TE C NOLOGIA IN D U STRIAL
Leonardo Ruiz
A
pós alguns anos consecutivos de
duto do que o registrado em 2015, caso o
baixa nos preços, o açúcar deve
governo não eleve mais o preço da gaso-
se recuperar ao longo do próxi-
lina e torne as vendas de etanol mais inte-
mo ano, devido à combinação entre os fu-
ressantes. No ciclo atual, as usinas que se
turos da commodity em dólar na bolsa de
encontram em dificuldades financeiras fa-
Nova York e a cotação da moeda america-
voreceram a produção do biocombustível
na frente ao real. Caso esse cenário se con-
devido à maior liquidez e à melhoria da
solide, é provável que esta seja a primei-
remuneração do produto.
ARQUIVO CANAONLINE
Márcia Mutton:
“Em algumas
usinas, eu olho a
mesa de recepção
e não vejo cana,
apenas palha”
ra temporada (se referindo à safra mundial
O aumento da demanda por açúcar
de açúcar que vai de outubro de 2015 a
e, consequentemente, dos preços, pode-
setembro de 2016), em muitos anos, em
rá ser de grande ajuda para o setor sucro-
que o consumo irá superar a produção.
energético, que vem enfrentando uma das
Essa tendência de aumento dos pre-
piores crises de sua história. Porém, esse
ços do açúcar em real em 2016 deve esti-
fato chega num momento em que o seg-
mular as usinas brasileiras a produzir, na
mento ainda tenta contornar um grave
próxima safra, um volume maior do pro-
problema enfrentado na fabricação des-
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Novembro · 2015
FERDINANDO RAMOS
Colheita mecanizada leva para a indústria, além dos colmos, impurezas
mineiras e vegetais, o que acaba aumentando o teor de certos compostos
inorgânicos, como potássio, cálcio, silício, ferro e cobre
se produto: a expressiva quantidade de
Impurezas e seus impactos
impurezas mineiras e vegetais que chega
Devido à assinatura do Protocolo
junto com a matéria-prima vinda do cam-
AgroAmbiental em 2007, as usinas sucro-
po e que afeta, grandemente, a qualidade
energéticas do Estado de São Paulo ado-
do produto final.
taram a mecanização de forma acelerada.
Segundo a professora adjunta do De-
Em 2008/09, a mecanização da colheita da
partamento de Tecnologia (FCAV) da Unesp
cana no Estado de São Paulo era de 37,5%.
de Jaboticabal, Márcia Mutton, o nível de im-
Atualmente, estima-se que 90% das áre-
purezas vegetais na indústria saiu de 4,6%
as do Estado já estejam sendo colhidas
em 2008/09 para 8,8% na safra 2013/14. “Es-
mecanicamente.
ses números são as médias de algumas uni-
Porém, essa “correria” se deu sem
dades, porém, tem usina em que esse nível
que o setor estivesse preparado para ela,
chega a 17%. Nesses locais, eu olho a mesa
já que os plantios foram feitos visando
de recepção e não vejo cana, apenas palha.”
corte manual. Dessa forma, por falta de ni-
61
TE C NOLOGIA IN D U STRIAL
velamento dos terrenos, a máquina acaba
especificações do mercado, que exige pol,
colhendo, junto da cana, grandes quan-
cor e pureza, e penaliza falta de padrão”,
tidades de terra. Isso sem falar da palha,
afirma Márcia.
pontas e folhas verdes, que antes eram
desse ocorrer. O resultado final é uma ma-
Queda no
rendimento industrial
téria-prima de péssima qualidade e, con-
Segundo o gerente industrial das
sequentemente, problemas no processo
unidades Santa Cândida e Paraíso, do Gru-
de fabricação do açúcar.
po Tonon, Antônio Carlos Viesser, as indús-
queimadas para que o corte manual pu-
trias têm sofrido bastante com o avanço
blemas ocorrem porque a matéria-prima
da mecanização, principalmente no quesi-
vinda do campo apresenta certos com-
to qualidade da matéria-prima. “Os índices
postos inorgânicos, como potássio, cál-
de impurezas minerais e vegetais aumen-
cio, silício, ferro e cobre. Com o sistema
taram muito, o que interferiu na qualidade
de colheita mecanizada, são levadas para
do produto final. Hoje, a maioria das usi-
a indústria, além dos colmos, as chamadas
nas possui um rendimento industrial me-
impurezas mineiras e vegetais, o que acaba aumentando, significativamente, o teor
desses elementos. A presença de sódio,
potássio, cálcio e magnésio, por exemplo,
que não foram previamente separados na
clarificação da calda, compromete a cristalização da sacarose, o que reduz a quan-
DIVULGAÇÃO TONON BIOENERGIA
Márcia Mutton explica que esses pro-
tidade de açúcar produzido e aumenta a
quantidade de melaço residual.
Além disso, há comprometimento na
incrustação dos evaporadores e elevação
do teor de cinzas no cristal, o que afeta
a filtrabilidade do caldo. Já o ferro pode
causar o amarelecimento do cristal de açúcar, por meio da reação com o oxigênio do
ar e compostos fenólicos presentes. “Esses compostos devem ser retirados do caldo para que a produção atinja bons níveis
de qualidade, atendendo, dessa forma, as
62
Para Antonio Carlos Viesser, a
impureza mineral é a que mais tem
atrapalhado os trabalhos da Tonon, já
que ela é “arrastada” junto da vegetal
Novembro · 2015
DIVULGAÇÃO TONON BIOENERGIA
No Grupo Tonon, o índice de impurezas vegetais é alto para que a palha possa ser separada
da cana pelo sistema de limpeza a seco e utilizada visando melhorar o índice de cogeração
nor em função disso. O balizador - sacos
tantos empecilhos, as usinas até conse-
por tonelada - tem caído bastante.”
guem tirar o açúcar com qualidade. Po-
Para Viesser, a impureza mineral é a
rém, o custo operacional aumenta devido
que mais tem atrapalhado os trabalhos do
à maior utilização de produtos químicos.
Grupo, já que ela é “arrastada” com a ve-
“Quando se tem matéria-prima de boa
getal. “Se tivéssemos apenas canas eretas,
qualidade, algumas oscilações no proces-
seria tranquilo, porém as canas tendem a
so nem são perceptíveis, mas quando ela
deitar devido ao ano de plantio, chuvas
piora, é preciso ficar atento na operação,
e vento. Dessa forma, por ter ficado dei-
pois qualquer oscilação pode representar
tada, a cana enrola no chão e começa a
grandes perdas na produção do dia. Gas-
criar brotos e a enraizar, fazendo com que,
ta-se mais para fazer igual ou até menos.”
na hora da colheita, a máquina colha essa
terra junto, o que contribui negativamente
A solução deve vir do campo
para a indústria.”
Uma das soluções para esse proble-
Ele afirma, ainda, que o momento de
ma é o tratamento do caldo, que pode ser
dificuldade vivido pelo setor canavieiro tam-
realizado por caleagem simples, sulfode-
bém impactou na qualidade da matéria-pri-
fecação, carbonatação e ozonização. Nes-
ma. “A maioria deixou de dar comida para a
se processo, as impurezas são removidas
cana. Dessa forma, o rendimento agrícola e
por meio da precipitação resultante da re-
a qualidade caem e isso reflete na indústria.”
ação entre fosfatos presentes no caldo e
Viesser conta que, mesmo diante de
insumos adicionados.
63
ARQUIVO CANAONLINE
TE C NOLOGIA IN D U STRIAL
Porém, essa solução pode não ser a
clamar mais forte é que a agrícola irá en-
mais viável, já que os gastos com insumos
tender que precisa trazer uma matéria-pri-
aumentariam significativamente os custos
ma com mais qualidade.”
operacionais. Dessa forma, grande par-
Segundo ele, muito desses proble-
te dessa melhoria deve ser realizada na
mas podem ser resolvidos por meio da re-
área agrícola, já que muitos afirmam que
gulagem das máquinas de colheita. “Como
o açúcar é feito no campo, sendo que para
não pode faltar cana na indústria, a colhei-
a indústria cabe a recuperação.
ta é acelerada, o que prejudica a limpe-
Esse, aliás, é o pensamento do con-
za da cana, pois o vento não é suficiente
sultor e diretor do Grupo IDEA, Dib Nunes
para limpar grandes quantidades de ma-
Jr.. Ele afirma que, atualmente, não exis-
téria-prima.” Nunes afirma, também, que
tem usinas que entregam matéria-prima
é necessário que as usinas tenham mais
de boa qualidade. “Passamos por um mo-
máquinas à disposição. “Porém, se man-
mento de transição, da colheita manual
dam comprar mais colhedoras, falam que
para a mecanizada, sendo que a afetada
não terá custo-benefício. Mas, o que mui-
foi a indústria, que passou a aceitar uma
tos não entendem, é que o custo-benefí-
matéria-prima horrorosa.” Para ele, a área
cio se encontra na indústria.”
industrial não pode mais aceitar essa cana-de-açúcar que vem do campo. “O Bra-
Limpeza a seco
sil tem 600 milhões de toneladas de cana,
O sistema de limpeza a seco é outra
porém, 12% disso não é cana. Apenas
tecnologia que tem contribuído para a me-
quando a indústria parar de aceitar e re-
lhoria desse problema, já sendo uma das
principais saídas das usinas
para superar esses desafios,
pois, além de retirar as impurezas minerais da matéria
-prima, é possível aproveitar as vegetais no processo
Para Dib Nunes Jr.,
a área industrial
não pode mais
aceitar essa
“matéria-prima
horrorosa” que
vem do campo
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DIVULGAÇÃO ZANINI
Sistema de limpeza a seco
separa as impurezas vegetais
e minerais da cana colhida
mecanicamente nas usinas
de cogeração de energia. O conceito pode
ração de eletricidade da unidade, localiza-
ser aplicado tanto para o processamen-
da no município paulista de Brotas, é de
to da cana inteira (mesas alimentadoras)
70MW.
como de cana picada (descarga direta). O
Porém, Viesser relata que a eficiên-
processo, que veio para substituir efetiva-
cia do sistema de limpeza a seco na reti-
mente a lavagem da cana, possui eficiên-
rada das impurezas minerais é prejudica-
cia de remoção de impurezas entre 40% e
da nos períodos úmidos, não chegando a
70%.
50%. “Até mesmo à noite, devido à umiNa Unidade Paraíso, do Grupo Tonon,
dade em função do orvalho, o índice de
o índice de impureza vegetal é de 14%.
impurezas minerais aumenta. Já com chu-
Viesser explica que isso ocorre proposital-
va, é desastre total.” Para ele, o setor ainda
mente, para que a palha possa ser separada
esta aprendendo a trabalhar. “Acredito que
da cana pelo sistema de limpeza a seco e
vamos nos adaptar e melhorar as opera-
utilizada visando melhorar o índice de co-
ções diárias, tendo, futuramente, resulta-
geração. Atualmente, a capacidade de ge-
dos mais satisfatórios.”
65
E CON OMIA
A região de Ribeirão Preto
é a maior produtora de
amendoim do Brasil e 85%
das áreas com amendoim são
de renovação de canaviais
Benefícios da rotação de cultura
da cana com leguminosas
APESAR DE TODOS OS BENEFÍCIOS, A PRÁTICA DE ROTAÇÃO
DE CULTURAS DEVE SER BEM PLANEJADA PARA NÃO OCORRER
ATRASOS NA IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA DE CANA
A
cana-de-açúcar é uma cultura de
de algumas pragas e doenças e a produ-
ciclo longo, normalmente de 5 a
tividade acaba sendo afetada.
6 anos. A reposição nutricional
Para reduzir esses problemas, a ro-
convencional nem sempre atende suas
tação de cultura entre cana-de-açúcar e
necessidades, já que essa lavoura deman-
uma leguminosa é uma alternativa indi-
da uma grande quantidade de nutrientes.
cada. Ela traz inúmeros benefícios para
Além dessa dificuldade, a área de culti-
o solo, além de proporcionar uma renda
vo sofre tráfego intenso de máquinas e
extra para o produtor.
equipamentos, causando compactação
Uma das vantagens desse sistema
do solo. É importante lembrar que em al-
de manejo é a otimização do uso da ter-
guns casos não é possível quebrar o ciclo
ra com a produção de alimento em um
66
Novembro · 2015
período em que ela ficaria em repouso,
didade, e a descompactação do solo devi-
aguardando a melhor época para o plan-
do ao sistema radicular das leguminosas.
tio da cana. Esse sistema também pro-
“A rotação de culturas também é funda-
porciona a cobertura do solo no período
mental para quebrar o ciclo de pragas e
chuvoso (primavera/ verão), protegendo
doenças de cada cultura”, afirma Miriam.
e evitando a erosão da área.
Há benefícios ainda em relação aos
A engenheira agrônoma Miriam Car-
custos, uma vez que a rotação de cultu-
la de Paula, da MBF Agribusiness, expli-
ras permite diminuição dos custos das
ca que a rotação de culturas promove o
operações de preparo dos solos (insumos
controle de plantas daninhas, o melhora-
para correção e adubação). “As legumino-
mento das propriedades físicas, químicas
sas promovem a fixação biológica de ni-
e biológicas do solo, inclusive em profun-
trogênio e a incorporação de matéria or-
Colheita de soja no sistema de meiosi com cana
67
E CON OMIA
O milho também figura na dobradinha com a cana, gerando renda ao produtor
gânica, o que resulta na redução do uso
a possibilidade de aumento da produti-
de nitrogênio fertilizante em cana-plan-
vidade dos canaviais gera perspectivas
ta e contribui para o sistema radicular da
de aumento de receita para as usinas de
cana, dispensando o preparo intensivo do
açúcar e álcool, cooperativas de produto-
solo”, acrescenta de Paula.
res, revendas e agricultores familiares.
Além disso, vários equipamentos
“Apesar de todos os benefícios cita-
utilizados no cultivo da cana-de-açúcar
dos, a prática de rotação de culturas deve
podem ser utilizados para o cultivo das
ser bem planejada para não ocorrer atra-
leguminosas e a mão de obra também
sos na implantação da lavoura de cana”
pode ser aproveitada na entressafra da
destaca de Paula. Neste caso, a utilização
cana.
de variedades precoces de leguminosas é
A engenheira agrônoma ressalta que
68
muito importante.
Novembro · 2015
P E S Q U ISA & D E SE N VOLV IMENTO
Ridesa completa 25 anos
e domina os canaviais
EM 1991, AS VARIEDADES RB OCUPAVAM 9% DA ÁREA
CULTIVADA COM CANA NO PAÍS; HOJE ESTÃO EM 68%
As variedades RB são as mais plantadas no Brasil
A
Ridesa
(Rede
Interuniversitária
da produção de cana, açúcar e etanol no
para o Desenvolvimento do Setor
território nacional. Premissa que redun-
Sucroenergético) foi criada em
dou na criação, em 1971, do Planalsucar
1991. Sua trajetória começou quando uma
(Plano Nacional de Melhoramento da Ca-
canetada do então presidente Fernando
na-de-açúcar) – órgão ligado ao IAA vol-
Collor de Melo extinguiu, em 1990, o Ins-
tado ao desenvolvimento de novas varie-
tituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Autar-
dades e que tinha o objetivo de contribuir
quia criada em 1933 pelo presidente Ge-
com o aumento da produtividade da ativi-
túlio Vargas, a instituição tinha o objetivo
dade canavieira no país.
de orientar, fomentar e realizar o controle
A extinção do IAA detonou mudan-
69
P E S Q U ISA & D E SE N VOLV IMENTO
ças profundas no setor sucroenergético,
obrigando-o a buscar alternativas para caminhar por conta própria.
Proálcool, instituído em 1975.
Mas tudo o que havia sido construído a partir do Planalsucar não poderia se
O fim do Instituto também provocou
acabar. Com apoio de parte significativa
o término dos trabalhos do Planalsucar,
do setor sucroenergético, foi articulada a
que já tinha uma história de quase vinte
criação da Ridesa composta inicialmente
anos de contribuição ao setor. Sob a sigla
por uma rede firmada por convênio entre
RB, o órgão já havia liberado 19 varieda-
sete universidades federais (UFPR, UFS-
des e muitas outras pesquisas estavam em
Car, UFV, UFRRJ, UFS, UFAL e UFRPE). Estas
curso em 1990. No entanto, a interrupção
instituições eram localizadas nas áreas de
do Planalsucar deixava órfão um projeto
atuação do extinto Planalsucar, do qual foi
de melhoramento de cana-de-açúcar que
absorvido todo corpo técnico e infraestru-
foi fundamental para a consolidação do
tura das sedes das coordenadorias e es-
Estação de cruzamento de cana Serra do Ouro, em Alagoas, onde nascem as variedades RB
70
Novembro · 2015
Na estação de Carpina, onde é desenvolvido o Programa de Melhoramento Genético da
Cana-de-Açúcar da Universidade Federal de Pernambuco, o auditório recebeu o nome de Planalsucar
tações experimentais do antigo órgão do
IAA.
Em 1991, as variedades RB ocupavam 9% da área cultivada com cana no
país; hoje estão em 68%. Depois que a Ri-
A trilha de liderança da Ridesa
desa foi constituída, houve o lançamen-
Hoje, a Rede utiliza para o desenvol-
to de 59 variedades. Hoje já são 78 mate-
vimento de seus estudos um total de 80
riais de cana distinguidos com a sigla RB,
estações experimentais, localizadas nos
que tem alto nível de adoção nos estados
estados onde a cultura da cana-de-açú-
canavieiros do país. As quatro variedades
car apresenta maior expressão. Nestes 25
mais plantadas são originárias de unida-
anos de atuação, as universidades fede-
des da Rede: RB867515, lançada pela Uni-
rais deram maior ênfase à manutenção e
versidade Federal de Viçosa (UFV), MG;
continuidade da pesquisa relacionada ao
RB966928, lançada pela Universidade Fe-
Programa de Melhoramento Genético da
deral do Paraná (UFPR); RB92579, lança-
Cana-de-açúcar (PMGCA), que continuou
da pela Universidade Federal de Alagoas
a utilizar a sigla RB para identificar seus
(UFAL); e a RB965902, lançada pela Univer-
cultivares.
sidade Federal de São Carlos (UFSCar), SP.
71
P E S Q U ISA & D E SE N VOLV IMENTO
“Os pesquisadores dos programas de melhoramento que
fazem parte da Ridesa buscam variedades que contribuem
para o setor em momentos de dificuldades”, diz Daros
“Ao analisarmos nossa história de 25
anos de pesquisa, com trabalhos que iniciaram em 1991, a nossa participação era
inferior a 9% da área cultivada no Brasil”,
diz Edelclaiton Daros, coordenador nacional da Rede.
Segundo Daros, os pesquisadores
dos programas de melhoramento que fazem parte da Ridesa passaram a buscar
de desafios como foi a chegada da colhei-
variedades que contribuíssem para o setor
ta e do plantio mecanizados.”
em momentos de dificuldades, “com liberações de variedades rústicas, com libera-
Difusão de conhecimento
ção de variedades hiperprecoces para am-
O desenvolvimento de variedades de
pliar o período de safra, com liberação de
cana que possibilitam maior competitivi-
variedades tolerantes a novas doenças e
dade ao setor é o foco principal da Ridesa,
com boas produtividades, mesmo diante
mas difundir conhecimento também está
na pauta da Rede. Um dos trabalhos nesse sentido são os encontros técnicos promovidos pelo Programa de Melhoramento
Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA) da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), integrante da Ridesa, realizados em
diferentes regiões de São Paulo e no Mato
Grosso do Sul e que abordam variados temas, como controle do carvão e da ferrugem alaranjada
De acordo com Hermann Hoffmann,
coordenador do PMGCA da UFSCar. “As
reuniões permitiram uma aproximação
“As reuniões facilitam o compartilhamento
de tecnologias”, diz Hermann
72
ainda maior entre o programa e usinas e
fornecedores de cana, facilitando o com-
Novembro · 2015
A Ridesa mantém parcerias com o setor. Uma dessas parcerias é com a Usina Caeté,
em Alagoas, onde a PMGCA UFAL conta com 50 hectares para o experimento de clones
partilhamento de tecnologias, a troca de
Controle de doenças
experiências e a disseminação de infor-
“As reuniões foram muito proveito-
mações”, diz Hermann. Ao todo, 90 usi-
sas. Discutimos o manejo de variedades
nas e 12 associações conveniadas à Ride-
RB, apresentamos o censo varietal e veri-
sa UFSCar participaram das dez reuniões,
ficamos a intenção de variedades a serem
que tiveram a participação de mais de 400
plantadas no próximo ciclo de plantio”, diz
profissionais.
Hermann.
Os encontros foram realizados entre
Nos encontros também foram discu-
os meses de agosto e outubro deste ano.
tidas ações para controle do carvão e da
Cada reunião foi regional, reunindo pro-
ferrugem alaranjada por conta da ameaça
fissionais de usinas ou de associações de
que estas doenças representam à produti-
produtores próximas, o que facilitou um
vidade do canavial.
maior contato entre os pesquisadores do
“Defendemos que o produtor deve
programa de pesquisa e os produtores de
priorizar a troca das variedades de áreas
cana e técnicos das empresas.
infestadas por estas doenças tão logo seja
73
P E S Q U ISA & D E SE N VOLV IMENTO
possível, mas sempre utilizando materiais
de ideias e de conteúdos muito grande”,
resistentes. Para controle do carvão, tam-
pontua Hermann.
bém é essencial o plantio de mudas sa-
nas em situações emergenciais”, relata Ro-
25 anos da Ridesa,
45 anos das variedades RB
e lançamento de variedades
berto Chapola, pesquisador do PMGCA da
No próximo dia 25 de novembro, 16
dias. No caso das ferrugens, acreditamos
que fungicidas devam ser aplicados ape-
UFSCar.
novas variedades RB serão lançadas du-
Esta série de reuniões promovidas
rante o Encontro Nacional da Ridesa. Sete
pela Ridesa UFSCar com profissionais de
universidades que compõem a Rede libe-
usinas e produtores de cana foi muito efi-
rarão novos materiais na ocasião: UFAL,
ciente para divulgar informações e com-
UFRPE, UFG, UFPR, UFSCar, UFRRJ e UFV.
partilhar conhecimento por conta do for-
Os nomes e as características das 16
mato dos encontros. “Conseguimos formar
novas variedades ainda são guardados a
grupos menores, o que permite uma troca
sete chaves pelos programas de pesqui-
Prédio do PMGCA e do Laboratório de Biotecnologia de Plantas da
UFSCar – Ridesa, em Araras, SP, também é fruto da parceria com o setor
74
Novembro · 2015
A RB867515 é a variedade mais plantada no Brasil
sa. O que divulgam é que são variedades
principais doenças”, relata Daros.
que foram escolhidas estrategicamen-
No Encontro Nacional será divulga-
te entre as universidades e se comple-
da a Revista de Liberação Nacional de Va-
tam ao longo da safra, nos mais diferen-
riedades RB de Cana-de-Açúcar, com a
tes ambientes.
descrição completa e recomendação de
“Como são variedades para os mais
manejo para as 16 novas variedades RB.
diferentes ambientes de produção, os no-
Também será lançado o Livro comemora-
vos materiais se destacam em aspectos
tivo “45 anos de Variedades RB de Cana-
como precocidade, produtividade, apti-
de-Açúcar – 25 anos de RIDESA”. Todas as
dão a ambientes restritivos, boa colheita-
informações originais de liberação das 94
bilidade e adequação ao plantio mecani-
variedades RB serão descritas e apresenta-
zado, além de boa sanidade em relação às
das nesta edição.
ENCONTRO NACIONAL DA RIDESA
Local: Hotel JP, em Ribeirão Preto – Via Anhanguera, Km 306,5
Horário: das 8h às 13h
Não perca a cobertura em tem real no https://www.facebook.com/canaonline.com.br
e depois a matéria especial na edição de dezembro da CanaOnline.
75
SU S T E NTABILIDAD E
Lançado relatório sobre
o Projeto RenovAção
PUBLICAÇÃO LEVANTA NÚMEROS, RESGATA HISTÓRIAS E
REGISTRA COMO A QUALIFICAÇÃO PODE TRANSFORMAR VIDAS
“F
iz minha inscrição nesse curso,
mas pensei que não me chamariam. Escolhi fazer solda,
só que todo mundo pensa que é função
mais de homem. Mesmo assim me chamaram para fazer o curso. E não é tão difícil. Estou fazendo o melhor, quero conseguir um trabalho na usina ou onde
aparecer. Depois quero continuar estudando. Estou pronta, mas não para ser
apenas uma soldadora. Serei uma boa
soldadora”, diz Giani da Silva Conceição, 24 anos, de Dumont, SP, uma das
alunas de um dos cursos oferecidos
pelo Projeto RenovAção, na modalidade Comunidade.
Transformar vidas por meio da
qualificação é o principal objetivo do RenovAção. Maria Luiza Barbosa, consultora de Responsabilidade Social da Unica, explica que
o RenovAção é um projeto que
foi criado primeiro pela cadeia produtiva,
A partir daí houve
reunindo as associadas da Unica e a Fe-
um convite às empresas privadas
deração dos Empregados Rurais Assala-
e instituições interessadas no desenvolvi-
riados do Estado de São Paulo (Feraesp).
mento do projeto. As parcerias foram fei-
76
Novembro · 2015
Giani durante o curso e com
os filhos na formatura
tas com: o Banco Interamericano de De-
ordenaram o treinamento teórico e práti-
senvolvimento, a Fundação Solidaridad, a
co dos cursos.
Iveco, a Case IH, a FMC e a Syngenta. A
Um dos grandes méritos da inicia-
John Deere também apoiou o projeto du-
tiva foi o envolvimento dos parceiros do
rante os seus primeiros anos. E também
RenovAção na formatação e na condução
contou com o suporte de técnicos do Ser-
do programa. As empresas e instituições
viço Nacional de Aprendizagem Industrial
envolvidas formaram um comitê para que
(SENAI) e do Centro Paula Souza, que co-
todos pudessem contribuir com a imple-
Durante lançamento do relatório do Projeto RenovAção: Iza Barbosa,
Fátima Cardoso, Elizabeth Farina, presidente da Unica, e Edgardo Legar,
responsável pela área de treinamento de operadores na CaseIH
77
SU S T E NTABILIDAD E
O relatório de balanço do Projeto RenovAão é em português e inglês
mentação do RenovAção. Diversas reuni-
não conseguem recontratar todos os tra-
ões foram realizadas. Todas as decisões do
balhadores que foram dispensados pela
Projeto foram debatidas e analisadas por
mecanização, o Programa criou um se-
esse comitê, que não só colaborou finan-
gundo módulo de capacitação voltado a
ceiramente, mas ajudou a pensar e melho-
qualificar trabalhadores para outros seto-
rar o Programa.
res da economia. É o chamado RenovAção
Lançado em 2009, o RenovAção pre-
Comunidade.
via o treinamento especializado de trabatoras de cana-de-açúcar do Estado de São
Lançamento do Relatório
do Projeto RenovAção
Paulo: as macrorregiões de Ribeirão Preto,
Em 29 de outubro, na capital paulis-
Piracicaba, Bauru, Araçatuba, São José do
ta, a Unica e a Fundação Solidaridad lan-
Rio Preto e Presidente Prudente. O gran-
çaram o Relatório Final do Projeto Reno-
de diferencial do programa, foi que o co-
vAção. O balanço mostra que, no período
laborador pôde se dedicar integralmente
de 2010 a 2015, o RenovAção profissiona-
ao curso, não precisando trabalhar no pe-
lizou 6.650 pessoas ligadas direta ou indi-
ríodo, mas sem deixar de receber o salário
retamente ao setor sucroenergético pau-
mensal. Em 2010 ocorreu a formatura das
lista, especialmente trabalhadores que
primeiras turmas de capacitação.
atuavam no plantio e colheita manuais em
lhadores nas seis principais regiões produ-
Como as unidades sucroenergéticas
78
seis das maiores zonas de cultivo cana-
Novembro · 2015
vieiro impactadas pelo rápido avanço da
dos pelas usinas paulistas.
mecanização no campo. Considerado um
Este conjunto de ações permitiu a
dos maiores programas mundiais de re-
absorção de um contingente expressivo
qualificação na cadeia produtiva da cana,
de profissionais cujas atividades vêm sen-
o RenovAção serviu de referência para a
do progressivamente abolidas na última
formação de outros 20 mil novos profis-
década, em grande parte por conta do fim
sionais em programas semelhantes toca-
da queima da palha da cana. A tendência
RENOVAÇÃO EM NÚMEROS
79
SU S T E NTABILIDAD E
ganhou mais força a partir de 2007, quan-
tura do Estado de São Paulo (IEA) apon-
do governo e representantes do setor as-
tam que na atual safra a mecanização
sinaram o Protocolo Agroambiental, acor-
da colheita já atingiu 90% dos canaviais
do que na época envolveu 170 usinas e 29
paulistas.
associações de fornecedores canavieiro. O
fim do uso do fogo controlado, que facili-
O RenovAção pode ser
replicado em outros países
tava o corte manual da planta.
O presidente da Federação dos Em-
pacto antecipou os prazos legais para o
Mais de 1,2 milhão de empregos di-
pregados Rurais Assalariados do Estado de
retos são gerados pelo setor sucroenergé-
São Paulo (Feraesp), Élio Neves, cuja enti-
tico no Brasil. Cerca de 500 mil estão em
dade coordenou o RenovAção em parceria
atividades manuais vinculadas exclusiva-
com a Unica, ressalta o aspecto inclusivo
mente à colheita da cana-de-açúcar. O Es-
do Projeto, em contraponto ao desem-
tado de São Paulo, sozinho, abriga 20%
prego gerado pelo avanço da tecnológi-
dessa mão-de-obra, ou cerca de 110 mil
co no setor. “A mecanização gera ganhos
trabalhadores. Dados do Instituto de Eco-
ambientais e de produtividade, mas tam-
nomia Agrícola, da Secretaria de Agricul-
bém faz com que trabalhadores percam
Técnicos do Senai treinando os novos operadores de colhedora de cana
80
Novembro · 2015
Formandos no Grupo Zilor
seus empregos. Com o RenovAção, o se-
mic Practices in Modern Bioenergy Pro-
tor dá uma mostra clara da maturidade e
duction” (Boas Práticas Socioeconômi-
compreensão de que a educação constitui
cas na Produção de Bioenergia Moderna,
a base para a conquista da inclusão social.
em português), foi formulado a partir de
Milhares de homens e mulheres trocaram
critérios desenvolvido pela FAO no intui-
a desesperança por sonhos renovados”,
to de estabelecer indicadores e critérios
observa.
para produção de bioenergia e seguran-
O diretor executivo da Unica, Edu-
ça alimentar.
ardo Leão de Sousa, informa que duran-
A coordenadora de projetos no Bra-
te todo o seu período de execução (2010 a
sil da Fundação Solidariedad – outra insti-
2015) o RenovAção foi seguidamente pre-
tuição parceira do RenovAção e uma das
miado e reconhecido inclusive no âmbi-
mais importantes organizações interna-
to internacional. “O sucesso do programa
cionais de apoio ao desenvolvimento de
teve a chancela da Organização das Na-
cadeias de produção sustentável -, Fáti-
ções Unidas para a Agricultura e Alimen-
ma Cristina Cardoso, acredita que o mo-
tação (FAO), que o considerou como um
delo do Projeto brasileiro pode ser repli-
‘exemplo’ entre iniciativas que combinam
cado por outras nações. “A mecanização
produção de energia renovável com inclu-
da cana-de-açúcar está acontecendo tam-
são social no Brasil, na África e na Ásia”,
bém ao redor do mundo. Acredito que
destaca. O relatório “Good Socio-Econo-
esta experiência possa servir de base para
81
SU S T E NTABILIDAD E
iniciativas semelhantes em outros países”,
melhor. Entrei na Usina da Pedra para cor-
comenta.
tar cana e há cinco anos fui indicado para
Para o líder em Energia Sustentável
participar do Projeto RenovAção. Cur-
do Banco Interamericano de Desenvolvi-
sei o Senai e hoje sou mecânico hidráuli-
mento (BID), Arnaldo Vieira de Carvalho,
co, tenho uma profissão. O salário melho-
“os resultados do RenovAção superaram
rou, assim como a autoestima. Passei a ter
em muito as expectativas originais tanto
mais contato com as pessoas, casei e es-
em termos ambientais como sociais, pos-
tou construindo a minha casa.”
sibilitando aumento real na renda das fa-
Mais de 78% dos participantes dos
“Sou mecânico hidráulico, tenho uma profissão”, salienta Deison
mílias dos trabalhadores que participaram
30 cursos oferecidos pela iniciativa – com
da iniciativa”.
carga individual de até 300 horas –, treinados para funções como Operador de
Melhoria de vida
Colheitadeira, Motorista Canavieiro, Sol-
O RenovAção ajudou a melhor a his-
dador, Eletricista e Mecânico, já se recolo-
tória de muita gente, como Deison da Sil-
caram no mercado de trabalho, obtendo
va Soares, que mora em Serrana, SP, ex-
um aumento médio na renda de até 75%.
cortador de cana. “Há sete anos, vim do
Durante o período de treinamento, os alu-
Piauí para São Paulo, para tentar uma vida
nos dedicaram-se exclusivamente às aulas,
82
Novembro · 2015
“O RenovAção me estimulou a estudar, estou terminando o Ensino Médio”, observa Genildo
mas continuavam recebendo seus salários.
novAção tem contribuído muito para o
Além do pagamento aos funcionários, as
desenvolvimento do Programa Nacio-
usinas participantes do programa também
nal de Acesso ao Ensino Técnico e Em-
foram responsáveis pelo transporte e ali-
prego (Pronatec)). Rafael de Sá Marques,
mentação, o que resultou em uma redução
diretor de tecnologias inovadoras da Se-
na taxa de desistência dos participantes.
cretaria de Inovação do Ministério de De-
Inscrito no RenovAção em 2010, o
senvolvimento, Indústria e Comércio Exte-
ex-cortador de cana, Genildo do Nas-
rior (MDIC), explica que o Pronatec é um
cimento Flores, 28 anos, afirma que não
programa amplo, que passou a reunir em
hesitou em aceitar participar do Projeto.
2011 políticas de capacitação e de inclu-
“Aceitei na hora. Hoje sou eletricista 1, cui-
são social que já existiam dentro do go-
do dos caminhões, tratores e ônibus. Tudo
verno federal. O Pronatec tem os recur-
mudou para melhor na minha vida, não só
sos geridos pelo Ministério da Educação
o salário. O RenovAção me estimulou a es-
(MEC), mas é executado por 14 ministérios
tudar, estou terminando o Ensino Médio”,
diferentes. As duas pastas que mais dispo-
observa.
nibilizam cursos do Pronatec são o Ministério do Desenvolvimento Social e o MDIC,
RenovAção serviu de
base para o Pronatec
sendo que a este último cabe a oferta de
A experiência adquirida com o Re-
el, há convergência grande entre o Projeto
cursos para o setor produtivo. Para Rafa-
83
SU S T E NTABILIDAD E
Na usina Furlan, em Santa Barbará d’Oeste, SP, em 2013, 27 mulheres foram requalificadas
como operadoras de colhedora de cana e outras 10 como operadoras de trator transbordo
RenovAção e o Pronatec. “Não diria que o
cionamos seis atividades econômicas. E a
Pronatec substitui o RenovAção, mas am-
Unica, pelo setor sucroenergético, fez par-
bos têm complementaridade importante.”
te daquele projeto pioneiro, ocupando a
Andrei Rodrigues, coordenador do
maioria das 30 mil vagas disponibilizadas.”
Pronatec, salienta que a agroindústria ca-
Andrei observa que o setor sucroenergé-
navieira foi muito importante para a vali-
tico teve mais facilidade de se adequar à
dação deste programa dentro do Minis-
proposta do Pronatec do que outros seg-
tério de Desenvolvimento. “Em setembro
mentos. Um dos motivos era que, em São
de 2013, tivemos um projeto modelo para
Paulo, a Unica já utilizava o serviço de es-
testar e aperfeiçoar o funcionamento dos
colas técnicas, como o Senai, para oferecer
cursos dentro do Ministério. Por isso, sele-
capacitação dentro do Projeto RenovAção.”
BAIXE GRÁTIS
O relatório de resultados do RenovAção foi produzido pelos jornalistas Luciana Paiva e
Clivonei Roberto, os editores da revista CanaOnline, e está disponível no link a seguir:
http://unica.com.br/download.php?idSecao=17&id=22129468
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