Revista Educação Agrícola Superior
Transcrição
Revista Educação Agrícola Superior
Educação Agrícola Superior Volume 21 - Número 2 - Nov. - 2007 ISSN - 0101-756 - X A B E A S Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 ABEAS Diretoria Triênio 2005-2007 Presidente José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy - [email protected] / [email protected] 1º Vice-Presidente Ricardo Antônio de Arruda Veiga - [email protected] / [email protected] 2º Vice-Presidente Eugenio Nilmar dos Santos - [email protected] 1º Secretário Geraldo Antônio de Andrade Araújo - [email protected] 2° Secretário Moacir Cerqueira da Silva - [email protected] 1º Tesoureiro Pedro Roberto de Azambuja Madruga - [email protected] 2º Tesoureiro Raimundo Pinheiro Neto - [email protected] Secretaria Executiva Ronaldo Pereira de Sousa - [email protected] CONSELHO EDITORIAL Ana Maria Dantas Soares - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRJ - Presidenta Antônio Carlos Albério - Ex- presidente da Associação Brasileira Educação Agrícola Superior, ABEAS / Universidade Federal Rural do Amazonas, UFRA - Vice-Presidente Ana Maria de Souza Braga - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ, Moacir Cerqueira Silva - Universidade Federal Rural do Amazonas - UFRA, José Guilherme da Mota - Associação Brasileira Educação Agrícola Superior - ABEAS, Pedro Roberto de Azambuja Madruga - Universidade Federal de Santa Maria UFSM, Venice Grings - Universidade Federal de Santa Maria UFSM. Pareceristas convidados para este número José M.H. Conduru, Universidade Federal Rural do Amazonas- UFRA, Demerval Araújo Furtado, Universidade Federal de Campina Grande - UFCG / PB Coordenação editorial Thelma Rosane Pereira de Souza, Universidade de Brasília - UnB - Brasília - DF Secretaria de apoio Tayane Pereira de Oliveira e Hérico Bragança Projeto Gráfico, Capa e Diagramação Luiz Felipe de Almeida Lucena Desenhista Industrial Ficha Catalográfica Revista Educação Agrícola Superior / Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior – v. 21. n. 2 (nov..2007) - . Brasília: ABEAS, 2007. v. 21.: il. Publicação semestral. 1. Educação Agrícola – Brasil. 2. Ensino Superior Brasil. 3. Agricultura – Ensino – Brasil. Editorial da REAS Depois do esforço inicial, em 1982, para criarmos uma revista de padrões internacionais, por diversas razões a REAS foi perdendo periodicidade em sua publicação, parando de ser publicada no seu volume 20, nº1, 2002. Em 2006 houve um mutirão para relançar a REAS, desejo expresso por toda a diretoria da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior – ABEAS, que se mostrou decidida a fazer com que a REAS se consolidasse como uma revista cientifica de excelência; que alcançasse a todos os indicadores e parâmetros de qualidade das revistas de alto nível, e que fosse referenciada na maioria de catálogos e bases de dados ao ser usado. Para isso a ABEAS determinou que fosse editada em dois formatos, impresso e eletrônico, com conteúdos idênticos, com o objetivo de alcançar uma maior difusão e impacto dos trabalhos por ela publicados. Depois desse esforço inicial mais um ano se passou, e somente agora editamos outro número da REAS, e ainda hoje vemos com grande pesar que esta iniciativa cheia de ambições e esperanças não se concretizou: ainda não foi possível cumprir nosso sonho de estabilizar cronologicamente a sua publicação. Ainda nos falta consolidar seu corpo editorial. Apesar de termos iniciado com competentes e ilustres profissionais, compondo o Comitê Editorial da REAS, segundo nosso parecer a falta de tempo dedicado a essa nobre tarefa constituiu um dos motivos principais de sua descontinuidade. Assim estamos abertos para compor um novo comitê editorial e aumentar o grupo de pareceristas, para que logremos uma publicação mais estável. Neste momento em que a ABEAS realiza sua 47ª Reunião e 2º Congresso de Educação Agrícola Superior com o Tema: “Água nas Ciências Agrárias: produção com sustentabilidade” temos o prazer de divulgar os trabalhos apresentados nas “comunicações” que vão desde estudos de profissionais com uma longa e sólida carreira até profissionais recém-formados e aqueles que acreditam na educação continuada e completam sua formação em nosso curso de especialização por tutoria a distancia. Na primeira seção: Fórum de Debates, resgatamos a discussão sobre o “Primeiro Emprego” tema que têm preocupado, nos últimos anos, a várias instâncias de nossa sociedade. O professor Fernando Bemerguy, da UFRA, apresenta uma proposta prática, visando à solução deste problema: Primeiro em “Diretrizes Curriculares e as Novas Atribuições Profissionais. Resolução 1.010/05 do Confea”, o autor discute Como Preparar Profissionais para o setor tecnológico aptos a enfrentar os desafios desse novo século Em “Meu Primeiro Emprego” ele sugere um estagio supervisionado para dar experiência aos profissionais recémformados. E por fim, ele apresenta em “Kit Tecnológico para Formandos e Profissionais”, uma oportunidade de que tais profissionais utilizem a tecnologia da informação, para sua própria capacitação. Na seção referente aArtigos apresentamos o resultado de pesquisa na área agricultura familiar, um tema atual e necessário para o desenvolvimento do Brasil rural. Assim o artigo “As concepções de estudantes e professores da ESALQ/USP sobre a abordagem da relação agricultura familiar - sustentabilidade no currículo da Engenharia Agronômica”, da professora Luciana Jacob, discute a formação e a sustentabilidade do currículo dos engenheiros agrônomos corroborando para trazer novos subsídios para a formação profissional. A discussão prossegue com o artigo dos professores Maria de Fátima Paliot, José Horta Valadres, José Ambrósio Ferreira Neto e Sheila Maria Doula, discutem a “pedagogia” da Escola Rural de Massaroca (ERUM); e os professores Cleide Isnaia Coimbra Silva Mello, José Ambrósio Ferreira Neto, Denílson Santos de Azevedo e Sheila Maria Doula apresentam a “Relação entre o CEFET - Petrolina e o contexto rural de Sequeiro” que além da dificil situação climática tem que se adaptar a descontinuidade das políticas públicas. Na sequência o professor Mariano da Rocha Sales e a professora Cleonir Carpes Daltrozo, ambos da UFSM, apresenta a situação da agricultura familiar no sul do país, com o artigo “Sistema de tratamento de fluentes caseiros” e afirma que o” maior obstáculo para quem se dispões a lutar por essa causa é a desinformação no que diz respeito ao meio ambiente”. Na seção Comunicações, apresentamos os resumos dos painéis apresentados para o Segundo Congresso da ABEAS. (47ª Reunião e 2º Congresso da ABEAS). Os temas foram subdivididos e reorganizados para efeito da edição da REAS. O primeiro tema contemplado é a Educação Agrícola Superior debatida por meio dos painéis: “O círculo hermenéutico-dialético (chd) como alternativa metodológica para a educação agrícola superior” escrito pela mestranda Maria do Carmo da Silveira Xavier, prof.ª Heloísa Flora Brasil Nóbrega Bastos e prof. Helaine Sivini Ferreira ambas da UFRPE; “Avaliação pedagógica da metodologia utilizada na disciplina conservação do solo e da água na UFCG”,apresentado pela graduanda Denise de Jesus Lemos Ferreira (UFCG),Pedagoga Débora dos Santos Galdino (UEPB), e as mestrandas em Engenharia Agrícola Joelma Sales dos Santos e Aline Costa Ferreira (UFCG); “O curso superior de tecnologia em agro negócios da Faculdade de Sorriso ( FAIS)”, da prof. Cynthia Moleta Cominesi e dos graduandos Ademir Pegorini, Ronaldo Kraemer, todos da FAIS. O segundo tema apresentado é a Agricultura Familiar, com o painel “Educação, Natureza e Cultura em Casas Familiares Rurais do Pará: Análises Iniciais”, de Edilene Santos Portilho e Luiz Mauro Sampaio Magalhães, da UFRRJ; seguido por “(Re) organização dos agricultores familiares e reforço dos jovens e mulheres na construção de um modelo de desenvolvimento sustentável” de Jadson Rodrigo Barreto Seelig de Souza (UFRPE), Yoly Souza Ramos (UFRPE), Jaqueline Rogéria Barreto Seelig de Souza Pinheiro (Assistente Social), Yldry Souza Ramos (UEPB), Maria Lindinalva Silva Panta, (UVA). O terceiro tema apresentado é o Controle Ambiental, começando pelo “Diagnóstico ambiental da zona rural do município de Sossego no Estado da Paraíba”. O estudo foi realizado pelas mestrandas Joelma Sales dos Santos, Aline Costa Ferreira, Silvana Silva de Medeiros, Kaline Dantas Travasso, mestrando Geraldo Moura Baracuhy Neto, e a Prof. Dr.ªVera Lúcia Antunes de Lima, todos da UFCG. Em seguida apresentamos o “Estudo da ambiência urbana - município de Cabaceiras, PB”, realizado pelos mestrandos Kaline Dantas Travassos, Joelma Sales dos Santos, Aline Costa Ferreira, Silvana Silva de Medeiros, Geraldo de Moura Baracuhy Neto, Silvana Fernandes Neto, e pelo prof. Msc. Josinaldo Xavier de Medeiros. Seguido pelo “Dossiê ambiental - zona rural do município de Cabaceiras, PB”, realizado pelos mestrandos Silvana Fernandes Neto, Kaline Dantas Travassos; Aline Costa Ferreira; Joelma S. dos Santos (UFCG); Geraldo Moura Baracuhy Neto, Ilvana Silva de Medeiros da UFCG e o Prof. Msc. Josinaldo Xavier de Medeiros UFPB; Na mesma direção está o “Levantamento dos tipos de tratamentos de dejetos suínos nos criatórios da região metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, visando à preservação do meio ambiente”. Este estudo foi realizado pelas graduandas Izaura Maria Barros de Lorena e Elizabete Cristina da Silva, o prof. Wilson Moreira Dutra Junior e os zootecnistas Clenilson Marquezin e Mabel de Souza Lima, todos da UFRPE. O “Plano de controle ambiental da estação da tratamento dos efluentes de uma indústria de laticínios” escrito pela Eng.Agrônoma Lêda Verônica Benevides Dantas Silvada UFCG, o Eng.Agrícola Braz Henrique Nunes, “Estação de tratamento dos efluentes de uma indústria de laticínios” escrito pela Eng. Agrônoma Lêda Verônica Benevides Dantas Silvada UFCG, o Eng Agrícola Braz Henrique Nunes Rodrigues, pesquisador da Embrapa Meio Norte; a Prof. Drª. Vera Lúcia Antunes de Lima da UFCG; e a Eng. Agrícola Joelma Sales dos Santos (UFCG). O tema também foi contemplado com planos de estudos para o aproveitamento do eco-sistema natural como a “Policultura noa SemiÁrido: uma educação ambiental sustentável”, escrito pelos Eng Agrônomos Leirson Dantas Bispo, Marcelo Ribeiro, e o Técnico Agrícola Júlio César Santana Vieira da ADRA, BA. O “Reuso de água à luz da legislação brasileira”, escrito pela Especialista em GNRH (UFCG) Luciana de Paiva Luquez, prof. Drª. Vera Lúcia Antunes de Lima, prof. MsC. Antônio Carlos Félix Ribeiro, Msc Ronaldo Trecenti e o “Desempenho do bagaço de cana-de-açúcar como material envoltório na drenagem agrícola”, elaborado pelos mestrandos Michele S. Santos e Helder M. M. Barros e a Prof. Dra. Vera L. A. de Lima, também da UFCG. E para completar este tema apresentamos o trabalho “Turismo e Desenvolvimento Sustentável nos Assentamentos da Reforma Agrária do Cariri paraibano” elaborado por Luciana Ramos Cantalice (UFCG) Maria de Fátima Martins (UFPB) e Gesinaldo Ataíde Cândido (UFCG). Um quarto tema foi categorizado como Pesquisas e apresenta trabalhos como: “ O geoprocessamento nos cursos de graduação” realizado pelo prof. Dr. Pedro Roberto de A. Madruga, doutoranda Adriana Gindri Salbego, e a mestranda Roberta Araújo Madruga, todos da UFSM.; e o estudo sobre o “Rendimento de grãos por capulho do gergelim cultivar CNPA G4, sob déficit hídrico e adubação com duas fontes de nitrogênio”, realizado pelos graduandos Joab Josemar Vitor Ribeiro do Nascimento, José Sebastião Costa de Sousa, Denise de Jesus Lemos Ferreira, Luciano Barreto Mendes, o mestrando Sandi Alves Bezerra, e o prof. Dr. Carlos Alberto Vieira de Azevedo da UFCG. Nesta categoria encontramos também os estudos sobre a “Deterioração socioeconômica na microbacia do riacho da serra, PB elaborados pela mestranda Aline Costa Ferreira, graduanda Denise de Jesus Lemos Ferreira, Prof. Drª Soahd Arruda Rached Farias e o Prof. Dr. José Dantas Neto da UFCG; “ Destino adequado do passivo ambiental proveniente do uso de agro químicos no projeto de irrigação icó-mandantes” desenvolvido pelos mestrandos Yoly Souza Ramos, Jadson Rodrigo Barrêto Seelig de Souza (UFCG), Eng. Química Ana Cláudia Santana de Almeida, mestranda Yldry Souza Ramos mestranda (UFPB.), e a Assistente Social Jaqueline Rogéria Barrêto Seelig de Souza Pinheira. Nesta linha de Pesquisa apresentamos ainda o trabalho “Orientação sobre criação de caprinos e ovinos na região do Curimataú paraibano” , estudado pela graduanda Valneide Rodrigues da Silva , o prof. Dr. Dermeval Araújo Furtado, profª. Msc. Marluce Azevedo de Araújo, prof. Msc. Luiz Felipe de Almeida Lucena; o prof. Associado , Jose Wallace B. do Nascimento e a graduanda Nelle Lira Furtado, todos da UFCG. Desejamos um ótimo 2008 para todas as escolas, associadas e aos nossos leitores. Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 SUMÁRIO FÓRUM DE DEBATES Diretrizes Curriculares e as Novas Atribuições Profissionais. Resolução 1.010/05 do Confea Fernando Bemerguy 01 Primeiro Emprego - Fernando Bemerguy 04 Kit Tecnológico para Formandos e Profissionais - Fernando Bemerguy 06 ARTIGOS Apedagogia da Escola Rural de Massaroca (ERUM): O desenvolvimento local e a dificuldade de superação das Políticas Públicas - Maria de Fatima Paliot, José Horta Valadares, José Ambrósio Ferreira Neto e Sheila Maria Doula 10 Para Além do Rio: a relação entre o CEFET Petrolina e o Contexto Rural de segueiro - Gleide I. C. 15 S. Melo, José A. F. Neto, Denilson S. de Azevedo e Sheila M. Doula. As concepções de estudantes e professores da ESALQ/USP sobre a abordagem da relação agricultura familiar - sustentabilidade no currículo da EngenhariaAgronômica 20 Luciana Jacob Sistemas de Tratamento de Efluentes Caseiros - José Sales Mariano da Rocha e Cleonir Carpes Daltrozo 26 COMUNICAÇÕES Tema - Educação Agrícola Superior O círculo hermenéutico-dialético (CHD) como alternativa metodológica para a educação agrícola superior”- Maria do C. da Silva Xavier, Heloisa F. B. Nóbrega e Helaine S.Ferreira 30 Avaliação pedagógica da metodologia utilizada na disciplina conservação do solo e da água na UFCG - Denise J. L. Ferreira, Débora S. Galdino, Joelma S. Santos e Aline C. Ferreira 32 O curso superior de tecnologia em agro negócios da Faculdade de Sorriso ( FAIS) - Cynthia M. Cominesi, Ademir Pegorini e Ronaldo Kraemer 34 Tema - Agricultura Familiar Educação, Natureza e Cultura em Casas Familiares Rurais do Pará: Análises Iniciais - Edilene Santos Portilho, Luiz Mauro Sampaio Magalhães 36 (Re) organização dos agricultores familiares e reforço dos jovens e mulheres na construção de um modelo de desenvolvimento sustentável - Jadson Rodrigo Barreto Seelig de Spuz, Yoly Souza Ramos, Maria Lindinalva Silva Panta, Jaqueline R. Barreto Seelig de Souza, Yldry S. Ramos 38 Diagnóstico ambiental da zona rural do município de Sossego no Estado da Paraíba - Joelma Sales dos Santos, Aline Costa Ferreira, Silvana Silva de Medeiros,Kaline Dantas Travassos Geraldo Moura Baracuhy Neto, Vera Lúcia Antunes de Lima 40 Estudo da ambiência urbana - município de Cabaceiras, PB - Kaline Dantas Travassos, Joelma Sales dos Santos, Aline Costa Ferreira, silvana Silva de Medeiros, Geraldo de Moura Bracuhy Neto, Silvana Fernandes Neto e Josivaldo Xavier de Medeiros 42 Dossiê ambiental - zona rural do município de Cabaceiras, PB - Silvana Fernandes Neto, Kaline Dantas Travassos, Aline Costa Ferreira, Joelma S. dos Santos, Geraldo Moura Baracuhy Neto, Silvana Silva de Medeiros e Josinaldo Xavier de Medeiros 44 Levantamento dos tipos de tratamentos de dejetos suínos nos criatórios da região metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, visando à preservação do meio ambiente”. Isaura Maria Barros de Lorena, Elizabete Cristina da Silva, Wilson Moreira Dutra Junior, Clenilson Marquezin e Mabel de Souza Lima. 46 Plano de controle ambiental da estação de tratamento dos efluentes de uma indústria de laticínios - Lêda Verônica Benevides Dantas Silva, Braz Henrique Nunes Rodrigues 48 Policultura no Semi-Árido: uma educação ambiental sustentável - Leirson Dantas Bispo, Marcelo Ribeiro, Júlio Cezar Santana Vieira 50 O Turismo e Desenvolvimento Sustentável nos Assentamentos da Reforma Agrária do Cariri paraibano - Luciana Ramos Cantálice, Maria de Fátima Martins Gesinaldo A. Cândido 52 Reúso de água à luz da legislação brasileira - Luciana de Paiva Luquez, Vera Lúcia Antunes de Lima, Antônio Carlos Felix Ribeiro, Ronaldo Trecenti 56 Desempenho do bagaço de cana-de-açúcar como material envoltório na drenagem agrícola Michele S. Santos, Helder M. M. Barros, Vera L. A. de Lima 58 Tema - Pesquisas O geoprocessamento nos cursos de graduação - Pedro Roberto de Araújo Madruga, Adriana G. Salbego, Roberta A. Madruga Rendimento de grãos por capulho do gergelim, cultivar CNPA G4, sob déficit hídrico e adubação com duas fontes de nitrogênio - Joab J. V. R. Nascimento, José S. C. de Souza, Denise J. L. Ferreira, Soahd A. R. Farias e José Dantas Neto 61 63 Estudo sobre a deterioração socioeconômica na micro bacia do riacho da serra, PB - Aline Costa Ferreira, Denise de Jesus Lemos Ferreira, Soadh Arruda Rached Farias e José Dantas Neto 65 Destino adequado do passivo ambiental proveniente do uso de agro químicos no projeto de irrigação icó-mandantes - Yoly S. Ramos, Jadson R B. S. de Souza, Ana C. S. Almeida 67 Orientação sobre criação de caprinos e ovinos na região do Curimataú paraibano - Valneide R. da Silva, Dermeval A. Furtado, Marluce A. de Araújo, Luiz Felipe de Almeida. Lucena, José Wallace B. do Nascimento, Nelle L. Furtado 69 Dossiê Ambiental da Área Urbana da Cidade de Pedra Lavrada - PB - Aline Costa Ferreira, Denise de Jesus Lemos Ferreira, Silvana Silva de Medeiros, Kaline Dantas Travassos, Débora Rafaelly Soares Silva, Vera Lúcia Antunes de Lima 71 01 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 Diretrizes Curriculares e as Novas Atribuições Profissionais. Resolução 1.010/05 do CONFEA Fernando Antonio Souza Bemerguy Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA [email protected] Introdução A introdução de tema tão importante – Diretrizes Curriculares e as Novas Atribuições Profissionais, frente à Resolução 1.010/05 do CONFEA, que vem suceder a antiga Resolução 218/73, que detalhava as atribuições de todos os formandos nas áreas de engenharia, arquitetura e agronomia do Sistema CONFEA/CREA. Em todos os campos ela está presente seja na educação, saúde, alimentos, informática, energia, transportes, comunicação, meio ambiente e enfim, em todas as atividades do homem. Tecnologia é sinônimo de Engenharia, no seu sentido mais amplo e completo e, portanto, cabe a nós – os profissionais – zelar pelo seu progresso científico, técnico e profissional. Tecnologia, Desenvolvimento e Inovação à aplicação da ciência para produzir as tecnologias. Esta é, portanto, responsável pela utilização dos conhecimentos científicos, transformando-os em ferramentas e processos necessários à produção de bens e serviços. A tecnologia é a maior riqueza de uma nação, situando-se acima dos recursos naturais por mais abundantes que sejam. O desenvolvimento de uma nação, segundo os economistas, está vinculado a quatro fatores, o progresso tecnológico, capital físico, capital humano e a integração mundial. Metodologia Como Preparar Profissionais para o setor tecnológico aptos a enfrentar os desafios desse novo Século? Algumas de nossas universidades já estão avançando com experiências inovadoras na formação de recursos humanos para o setor tecnológico e para melhor entendimento das propostas que apresentaremos no campo da regulamentação profissional, que implicam em mudanças de paradigmas, apresentamos a seguir a nova concepção da formação profissional para o setor tecnológico já em andamento em universidades brasileiras. Conhecimento Tecnológico e Formação Profissional para que haja, efetivamente, uma mudança conceitual, paradigmática, na formação de recursos humanos e engajamento por parte dos envolvidos, é necessário que se conheça em profundidade o projeto de reestruturação da educação e formação superior. Para tanto, é preciso rememorar os conceitos e a evolução da ciência e da tecnologia como bases para a formação profissional.Assim, é praticamente impossível conhecer tudo sobre tudo e para compensar surgiu a especialização, que se centraliza em determinada particularidade cada vez mais limitada. Por conseqüência, para o trato de questões mais complexas, criaram-se os sistemas com abordagens interdisciplinares. Esta realidade foi marcante na área do ensino que, seguindo o modelo de desenvolvimento corrente no século passado, as universidades partiram para as especializações. Equivocadamente, no entanto, criaram especializações na graduação e não pós-graduação como seria desejável. Hoje não se concebe alternativa senão o enfoque sistêmico e interdisciplinar dos conhecimentos. A formação profissional na área tecnológica deve levar em conta a capacitação para o enfrentamento de problemas da atualidade, de forma crítica e transformadora. Resultados e Discussão Em função da complexidade operacional de mudanças estruturais da educação superior, exigidas pela sociedade e constantes da nova legislação, tem havido certa dificuldade por parte das universidades, razão pela quais os números de adesões têm sido bastante tímidos até o momento. O MEC além de proporcionar o arcabouço de suporte legal para a consecução da reforma, criou e instalou, em 2006, uma universidade federal totalmente concebida nessas novas diretrizes, com visão sistêmica do desenvolvimento científico e tecnológico. Em outras palavras um usuário não precisa saber sobre chips e sistemas de telecomunicações para fazer uso de um celular ou computador. São assim com os microcomputadores, celulares e demais engenhos da microeletrônica que se beneficiam dos mesmos subsistemas. O mesmo acontece com biologia molecular e outras áreas do conhecimento. E isto tem repercussão direta na competitividade e empregabilidade dos profissionais, pois a obsolescência obriga as empresas a uma corrida desenfreada na busca de inovações, dos produtos de próxima geração. Por isso, hoje não se pode formar um engenheiro com as características estanques de currículos engessados, cujos conhecimentos estarão defasados antes mesmo de seu ingresso no mercado de trabalho. A nova concepção de formação profissional formulada pela Universidade Federal de ABC, recém criada pelo MEC, está calcada na fórmula três - dois, sendo um bacharelado em três anos e especialização de dois anos para os diversos ramos das engenharias. Os três primeiros anos do curso dão direito ao diploma de Bacharel em Ciência e Tecnologia que abre as portas para as distintas especializações das engenharias. Ao final de cinco anos o formando terá uma sólida formação científicotecnológica obtida nos três anos do curso de bacharelado, 02 seguida da especialização da área tecnológica ou de licenciaturas. A vantagem desse sistema é que separa, distingue a formação dos cientistas e dos engenheiros. A formação básica, que é científica e permanente, fica desvinculada da formação profissional que é dinâmica e deve prosseguir na pós-graduação em diversas especializações de distintos ramos. Outra grande vantagem desse sistema é que o aluno não precisa se decidir pela escolha da carreira logo aos 17/18 anos, tornando-se candidato a uma profissão antes do “Saber”, sem conhecer a ciência básica da carreira. Esta decisão tomada precocemente tem sido a responsável por 49% da evasão escolar logo nos dois primeiros semestres do curso superior. Agora, além de tomar contato com a ciência, na fase do bacharelado inicial, o aluno disporá de mais tempo e opções para a escolha da profissão. É importante notar que esse novo conceito de formação superior se acopla perfeitamente ao espírito da Resolução 1010/2005 do CONFEA, que agrega atribuições em função da titulação pós-graduada, havendo, portanto, convergência de conceitos. Por outro lado, esse projeto também se alinha às tendências européias - processo de Bolonha e às norte-americanas que há bastante tempo privilegiam a especialização pós-graduada. Há então convergência de conceitos em relação aos blocos mundiais, o que facilitará a mobilidade profissional nos diversos continentes do mundo. Conclusões A Lei 9.394, de 20/12/96, a LDB, trouxe profundas modificações para o ensino superior. As legislações complementares incluindo leis, decretos, portarias ministeriais e resoluções do Conselho Nacional de Educação - CNE determinaram uma série de modificações na vida acadêmica e das instituições de ensino superior. As novas diretrizes curriculares com obrigatoriedade de flexibilização curricular, extinção dos currículos mínimos e a articulação da graduação com a pós-graduação introduzindo-se o conceito da “educação continuada e permanente” para os futuros profissionais, são algumas das inovações mais visíveis. As novas diretrizes determinam que os estudantes devam ser estimulados a desenvolver o raciocínio crítico/analítico, trabalhar em equipe e serem treinados para educação continuada e permanente. A legislação da educação superior estabelece, ainda, que o diploma se constitui apenas em certificado de estudos acadêmicos e, por conseqüência, não gera mais o direito automático de exercício da profissão. A reforma da educação superior, desencadeada a partir da LDB, trouxe muitas inovações na formação de nível superior, implicando profundas mudanças no ambiente universitário. Por outra parte, há implicações diretas no sistema profissional no âmbito da regulamentação do exercício das profissões e suas relações com o sistema educacional. A plena compreensão dessas mudanças inovadoras é essencial para que possamos vislumbrar os impactos no Sistema CONFEA/CREA. Nesse sentido, podemos resumir os destaques da reforma da educação superior, conforme a seguir: a) Estímulo ao estudante: raciocínio crítico/analítico; trabalho em equipe; educação continuada e permanente; b) Extinção do currículo mínimo. Introdução das Diretrizes Curriculares; c) Redução da duração dos cursos. Graduação é etapa inicial da formação; d) Formação integrada à Pós-Graduação; e) Educação continuada e permanente; f) Permite a Inserção de até 20% de cursos semipresenciais – EAD; g) Diploma - não dá mais o direito automático de exercício da profissão; h) Permite maior mobilidade do futuro profissional no mercado de trabalho; i)Avaliação da Educação Superior – SINAES; j)Auto-avaliação e avaliações externas; k) Uso para fins de reconhecimento/recredenciamento de cursos e instituições. Compreendidas as reformas recentes da educação superior podemos visualizar, logo de início, dois grandes impactos sobre o sistema profissional. O primeiro deles é que agora o diploma é considerado apenas como certificado de conclusão de estudos acadêmicos, não gerando direito automático de exercício da profissão. Se o diploma não é mais sinônimo de direito automático de exercício profissional, conforme estabelecido pela LDB e suas normas complementares e “que cabe aos conselhos profissionais estabelecer as condições para o exercício da profissão”, então porque o CONFEA não faz uso desse direito? É, portanto de pleno direito que o próprio sistema profissional determine o perfil de cada um dos ramos da engenharia, evitando-se a proliferação de títulos profissionais na graduação e reservando as especialidades para a pósgraduação. O Conselho Federal de Medicina assim procede há muito tempo e com o total aval do MEC que apenas indica um único representante na comissão tripartite responsável pela aprovação/criação de novas áreas de especialização da medicina. O segundo impacto direto da reforma da educação sobre o sistema profissional é que o curso de graduação não conduz mais à formação plena, não forma um profissional acabado, pronto para o mercado. Pela nova LDB, o curso de graduação é considerado como fase inicial do processo formativo. O formando deverá complementar sua formação na especialização pós-graduada, seja ela strito ou lato sensu. Este impacto já foi de certa forma, absorvido pelo sistema CONFEA/CREA quando se aprovou a Resolução 1.010/05, que estende as atribuições em função de titulação pós-graduada que o engenheiro vier a adquirir na sua modalidade. Considerando, portanto, o novo modelo de formação superior com os ciclos intermediários e de especialização (profissional pleno), o CONFEA poderia, por analogia e coerência, conceder a titulação de tecnólogo para o egresso do curso do bacharelado intermediário, seguindo-se o de engenheiro, arquiteto e engenheiro agrônomo para os egressos do 2º ciclo com especialização de 2 anos. Essa, no entanto, é uma discussão que demandará mais tempo, embora já tenham sido sistematizadas as diversas especializações no Anexo II da Resolução 1.010/05. Além dessa novidade, os conselhos e as entidades de classe podem e devem incentivar seus associados a se inscreverem no cadastro de consultores do MEC (INEP) para integrarem as comissões verificadoras para fins de autorização e credenciamento de cursos e instituições de ensino, conforme previsto no SINAES- Sistema Nacional de Avaliação da E d u c a ç ã o S u p e r i o r . O CONFEA deveria de imediato e a exemplo da área da Medicina, assumir as funções de regulador das condições para o exercício profissional no âmbito de suas áreas de atuação. Vale dizer, deixar de ser apenas o normatizador do “como exercer a profissão”, passando a determinar as condições técnicas para tal exercício. Deveria criar uma comissão tripartite, composta por um seu representante, um do Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 03 MEC e outro das Entidades de Classes. Esta comissão se encarregaria de determinar quais as áreas de especialidades seriam reconhecidas pelo Sistema Profissional, determinando, inclusive, os conteúdos mínimos, duração e outros parâmetros. As Diretrizes Curriculares e as Novas Atribuições Profissionais do Sistema CONFEA/CREA tem por objetivos, dentre outros, discutir a eficiência, a eficácia, a efetividade do Sistema e a conscientização do universo profissional sobre a sua importância política, social e ética e também a participação de seus segmentos na discussão, planejamento e implementação de um processo nacional de desenvolvimento. Caberá, portanto, às lideranças nacionais do sistema a responsabilidade de conduzir as discussões com vistas ao equacionamento de questões tão relevantes para o desenvolvimento da engenharia em nosso país. A sugestão seria a criação, pelo CONFEA, de um conjunto de medidas complementares a essas ações, criandose: · Exame de proficiência Profissional; · Residência Profissional acoplada à pós-graduação; · Comissão Nacional de Acreditação Profissional, com emissão de certificados de atualização profissional exigível a cada cinco anos; · Participação nos processos de autorização de cursos em faculdades, conforme disposto no Decreto 5.773/2006, artigo 37. Quais as ações e instrumentos legais que deverão ser acionados? Com a palavra o Sistema CONFEA/CREA e as Entidades de Classes. De sua parte o MEC está totalmente aberto a colaboração, sobretudo nesse momento em que todas as normas da educação superior conduzem à cooperação com os segmentos profissionais que, doravante passarão a desempenhar importante papel no processo de formação e qualificação continuada e permanente de seus profissionais. Referências Almeida Filho, Naomar de. Protopia - Notas Sobre a Universidade Nova. Editora da UFBA, Salvador, Ba, 2007. 27p. Instituto Euvaldo Lodi. Núcleo Nacional. Inova Engenharia Propostas Para Modernização da Educação Em Engenharia no Brasil.Brasília, IEL-SENAI-DN,2006. 103 p. ilust. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Superior. Projeto de Expansão da Educação Superior - Universidade Federal doABC. MEC;SESU, 2006, projeto. Silva, Paulo Roberto da. O Ensino de Ciências Agrárias: Perspectivas e Tendências Para a Década de 80. Brasília, Ministério da Educação e Cultura. SESU. ABEAS, 1982.112p.ilust. Silva, Paulo Roberto da. Textos Referenciais Sistema CONFEA/CREAVI CEP e 64ª. SOEAA Sistema CONFEA/CREA - Lei 5.194 – 66 Sistema CONFEA/CREA Resoluções CONFEA: 218- 73, 1.010/ 2005 e 1.016/2006 LDB – Lei 9.394/96 Decretos 5.622/2005 (EAD); 2.206/96 e 2.306/97 Pareceres CNE/CES 776 , de 03/12/97; 583/01, de 04/04/2001; 67/03, de 11/03/2003; 188, de 07/05/2003; 329/ 04, de 11/11/2004 e 184/06, de 07/07/2006. Edital 4/97 - SESu/MEC de 04/12/1997 Resolução CNE/CES – 01/2001 (PG lato sensu) Portaria MEC nº 4.059/04 de 10 / 12 / 04 (semi-presenciais) Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 04 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 Primeiro Emprego Fernando Antônio Souza Bemerguy Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA [email protected] Introdução A pouca experiência dos profissionais recém formados os leva a sentirem e não conseguirem espaço de oportunidades, e muitas dificuldades no mercado de trabalho e em suas oportunidades de emprego, o Programa Meu Primeiro Emprego, proposto pela ABEAS em parcerias com o Sistema CONFEA/CREA/MUTUA, Instituições de Ensino Superior – IES, Entidades de Classes eAssociações. Considerando o atual modelo de desenvolvimento nacional, concentrador de renda, social e economicamente excludente, a urgência da implementação de uma discussão nacional dentro do Sistema CONFEA/CREA/MUTUA conjuntamente com as Entidades Nacionais, Câmaras Especializadas, Instituições de Ensino e a Sociedade de Projetos que possibilitem a todos o pleno exercício da cidadania; que a nossa participação nesse projeto constitui-se um dever ético-profissional, e, mais que isso, um posicionamento cidadão; que as questões debatidas neste 6º.CNP, sejam todas elas precedidas de ampla discussão em todas as regiões brasileiras, das quais participem milhares de profissionais e que a crise ética que afeta os Poderes da República não pode ser ignorada pois, além de agredir os valores nacionais, dilui os recursos penosamente arrecadados. Considerando o momento raro e histórico pela qual passa a sociedade brasileira e todo o planeta que procura integrar-se ao mundo globalizado por meio de indicadores sócio-econômicos e de índice de desenvolvimento humano, como centro de tudo o homem e a natureza, cada vez mais expressivos e qualificados, justificadores da consecução dos crescentes níveis de bem estar social a que os brasileiros aspiram e tem direito; considerando que somente a formulação solidária e a implementação participativa de um consistente e duradouro processo democrático de desenvolvimento sustentável poderá conduzir à concretização de tais ideais; considerando a importância, por todos os profissionais declarada, de uma mais intensa participação das profissões vinculadas ao Sistema CONFEA/CREA nas diferentes etapas desse processo; considerando que a ordenação e a potencialização da participação desejada esta em grande parte condicionada à eficiência, eficácia, efetividade e a unidade de ação das autarquias, entidades e instituições que integram esse Sistema. Metodologia As Entidades, Associações e a Sociedade Civil Organizada levantarão e terão as demandas das Empresas e do mercado de trabalho à atividade fim e demandada para alocar o formando ainda sem experiência e com dificuldades de emprego, pois não tem experiências e com dificuldades de trabalho, onde o mesmo ficaria por seis meses a um ano, aprendendo e ganhando experiências e conhecimentos profissionais como primeiro emprego, aperfeiçoamento ou mesmo residência denominada: Meu Primeiro Emprego. Os formandos dos Cursos de Ciências Agrárias, Engenharia Agronômica, Engenharia Agrícola, Engenharia Florestal, Engenharia de Pesca, Medicina Veterinária e Zootecnia, com melhores desempenhos acadêmicos, baixa renda familiar e interessados Delegacias Regionais a os Programas de Assentamentos, Colonização e desenvolvimento Rural os estudantes das Áreas de Ciências Agrárias das Instituições Públicas e Privadas de todo o país para conhecer, acompanhar e orientar na realização da educação, educação ambiental, conscientização e mudanças de conceitos de responsabilidades sociais de todo o segmento organizado da sociedade civil, envolvendo assim, os diversos segmentos. Resultados e Discussão Instituições de Ensino Públicas e Privadas da rede Municipal, Estadual e Federal. Os estudantes selecionados de todo país, no primeiro momento em número de oito por Estado da Federação, perfazendo um total de duzentos e dezeseis estudantes, que terão cinco dias de preparação, orientação e acompanhamentos e trinta dias de permanência nos Assentamentos e Propriedades Rurais Conclusões Teremos como Produto Final os dados levantados, índices de desenvolvimento humano, catalogados com todos os dados de desenvolvimento técnico e social dos assentamentos, projetos de colonização de todo o Brasil com informações de coordenadas geográficas através de GPS, informações importantes aos Programas de Governo, localização exata das propriedades rurais do Brasil, por estado, por região, dados para monografias dissertações de tese de mestrado e doutorado, trabalhos de conclusão de cursos para os alunos da graduação de todo o País, publicações dos resultados em revistas e periódicos outros órgãos de Circulação Nacional. Além de que teremos a oportunidade de todos os estudantes do Brasil conhecerem e constatarem outras realidades de seu país, bem como formamos cidadania das novas gerações com visão criticas e consciente de outros Brasis, dentro de enfoque e eixos transversais de políticas sociais mais responsáveis e pensamento de desenvolvimento 05 de País com sustentabilidade e melhor distribuição de conhecimento e de economia. 1. Desenvolvimento e Formação de Recursos Humanos em Recursos Naturais e EducaçãoAmbiental 1.1 Programa de impacto na área dos Recursos Naturais nos Programas de Assentamentos, Colonização e Superintendências Regionais do IBAMA. 1.2 FlorestaAmazônica e outros Biomas 1.3 Pequena Agricultura, Suinocultura, Avicultura, Rizicultores e Piscicultura. 1.4 Cultura deArroz e outras Culturas 1.5 ProgramaAmbiente e Rios Limpos 2. Além das Ações sugeridas, incluem-se as seguintes sugestões a serem avaliadas. 2.1 Projeto Água nossa de cada dia; 2.2 Produção, Editoração e Reprodução Gráfica de Material Institucional e Educativo O mundo está vivenciando um processo de migração para uma nova forma de sociedade onde a informação está sendo considerada como a principal fonte de poder, em substituição ao capital, principal instrumento da sociedade industrial. Conseqüentemente, as esferas pública e privada estão sendo impelidas a assumirem um novo perfil institucional, onde o conhecimento e a informação são as bases de sustentação do seu modo de agir. Por seu turno, as questões em torno da gestão de Recursos Naturais e Recursos Hídricos assumem papel preponderante na agenda política atual, e neste contexto a informação e o conhecimento têm relevância dobrada, constituindo-se em recursos estratégicos neste novo paradigma. Os conhecimentos científicos, tecnológicos e as informações gerenciais são utilizados para gerar serviços, produtos e formas de gestão adequadas às demandas dominantes no campo da Gestão dos Recursos Naturais e Hídricos, que impõe uma atuação comprometida com a realidade. Assim a execução deste Componente visa produzir e difundir uma base de informações e conhecimentos necessários aos vários atores envolvidos no processo de Gestão Ambiental, dos Recursos Naturais e da Água. Serão elaborados e reproduzidos materiais contendo informações, conhecimentos oriundos de estudos e pesquisa, cursos e eventos, configurados em cadernos técnicos, livros, apostilas, vídeos, CD-Rom, disquetes, informe, dentre outros. Poderá ser o objeto deste componente a produção científica e tecnológica em estoques nas universidades e instituições de pesquisa. A definição para a seleção do material a ser publicado será efetuada conjuntamente com a contratante. Estruturar, Programar e Ministrar Cursos de Especialização (Lato Sensu), Usando a Metodologia de Ensino à distância, Formação de mão-de-obra especializada para direção e gerenciamento das diversas Agências de Bacias Hidrográficas, Federais e Estaduais, que serão criadas pelas ações do IBAMA e ANA, consolidando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Naturais e Hídricos. Treinar profissionais de extensão rural e professores de 2º grau (técnicos) para possibilitá-los gerenciar os ensinamentos do Uso Adequado e Gestão da Água, para os pequenos e médios produtores de todo o país para os alunos das escolas agrotécnicas. Treinar profissionais de extensão rural e professores de 1º. 2º. 3º grau (técnicos) para possibilitá-los gerenciar os ensinamentos do Uso Adequado e Gestão dos Recursos Naturais, para os pequenos e médios produtores de todo o país para os alunos das escolas Treinar profissionais de extensão rural e professores de 1º., 2º e 3º. Grau (técnicos) para possibilitá-los gerenciar os ensinamentos do Uso Adequado e Gestão dos Recursos de Fauna e Pesca, para os pequenos e médios produtores de todo o país para os alunos das escolas agrotécnicas e IES. Referências FAO/INCRA. Perfil da agricultura familiar no Brasil: dossiê estatístico. Projeto UFT/BRA/036/BRA, ago., 1996. GIULIANI, Gian Mário. Neo-Ruralismo: o novo estilo dos velhos modelos. Revista Ciências Sociais, n.14, ano 5, out. 1990. HOFFMANN, R. et allii. Administração da Empresa Agrícola, São Paulo. Pioneira, 1984 LAMARCHE, Hugues. A agricultura Familiar; comparação internacional. TraduçãoAngela Maria Naoko Tijiwa. Campinas: Editora UNICAMP, 1993. LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: Planejamento, Implantação e Controle. São Paulo, EditoraAtlas, 1981. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Novo retrato da agricultura familiar – o Brasil redescoberto – Brasília: 2000. ORSI, Sérgio Dias. Desafios institucionais para a inserção das pequenas agroindústrias rurais no Distrito Federal. Rio de Janeiro: UFRRJ/CPDA. 187p. Dissertação de mestrado, 2001. SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de economia, São Paulo. Editora Best Seller, 2000. WILKINSON, John. Distintos enfoques e debates sobre a produção familiar no meio rural . CPDA/DAS/UFRRJ, Rio de Janeiro, 2000. (versão preliminar não corrigida) Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 06 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 Kit Tecnológico para Formandos e Profissionais Fernando Antônio Souza Bemerguy Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA [email protected] Introdução O Brasil possui uma posição geopolítica estratégica na América Latina e pode utilizar essa singularidade para sua emancipação das imposições dos planos definidos nas agências internacionais de fomento. Trata-se, acima de tudo, do resgate das perspectivas de autodeterminação nacional, voltadas para a tomada de decisões sobre um projeto de futuro, cuja realização se concretize numa democracia efetiva, na qual os princípios da liberdade, da solidariedade e da eqüidade se firmem muito além das formalidades institucionais. Somente junto às bases populares é possível pensar uma integração continental, fundada nos direitos humanos, na emancipação de gênero, no direito à imigração, nos direitos dos pobres, dos povos indígenas e quilombolas e no desenvolvimento ambientalmente sustentável, alicerces fundamentais para a livre manifestação da diversidade cultural, um sonho plenamente possível de ser efetivamente realizado. É de se destacar também que o Brasil é a última grande fronteira agrícola mundial, porque as áreas agricultáveis disponíveis nos paises centrais estão esgotadas ou em processo crescente de esgotamento. Além disso, dispomos de grandes quantidades de água, energia solar e tecnologias avançadas. A agricultura familiar é uma questão central para a agricultura no Brasil. Se não, vejamos os números a seguir: 30% da área total utilizada pela agricultura; 38% do valor bruto da produção agropecuária; 4 milhões (85%) dos estabelecimentos rurais do país; 77% da população ocupada pela agricultura; 7 em cada 10 empregos no campo; 84% da produção da mandioca; 67% do feijão; 54% do leite; 49% do milho; 58% dos suínos; 40% das aves e ovos. Metodologia O projeto objetiva capacitar jovens profissionais recém formados e profissionais das ciências agrárias a utilizarem eficientemente a tecnologia da informação. Além de viabilizar o acesso aos sistemas comerciais existentes, será dada atenção especial à formação de senso crítico para a análise dos sistemas, a fim de que esses profissionais possam ter participação ativa, não só na escolha e utilização, como também no desenvolvimento, implementação e manutenção de softwares que contribuam para a solução de problemas na agropecuária. O aumento da competição na agricultura e a interação cada vez maior dos elementos das cadeias produtivas do agronegócio reforçam a necessidade de informações e de instrumentos de análise. Profissionais das ciências agrárias devem ser, portanto, capazes de utilizar a tecnologia da informação em suas atividades profissionais. O objetivo geral do projeto é capacitar jovem recém formado e profissionais em ciências agrárias a utilizarem a tecnologia da informação de forma eficiente e a desenvolverem capacidade de análise crítica, de tal forma que esses profissionais sejam capazes de selecionar e utilizar softwares agropecuários, como também participar do desenvolvimento, implementação e manutenção dos sistemas, contribuindo efetivamente para a solução de problemas na agropecuária. Essa capacitação pretende suprir deficiências observadas entre estes profissionais na área de informática aplicada. Especificamente, pretende-se: a. b. c. d. Disponibilizar aos cerca de 300.000 profissionais ligados ao setor agrícola, versões demonstrativas dos sistemas, as quais deverão possuir todas as funções do sistema comercial, incluindo manual e informações detalhadas do software; Capacitar profissionais de ciências agrárias, nos princípios básicos da tecnologia da informação, para modelar problemas em suas respectivas atividades profissionais, viabilizando o desenvolvimento de sistemas eficientes. Essa capacitação será realizada através de cursos, seminários e palestras; Estimular a formação de parcerias entre profissionais de ciências agrárias, pesquisadores e empresas de software através da disponibilização de informações no site daABEAS; Disponibilizar a todas as Instituições de Ensino Superior das Universidades Brasileiras dos Cursos de Ciências Agrárias, Engenharia Agronômica, Engenharia Florestal, Engenharia Agrícola e Engenharia de Pesca ao formando, oferecendo aos mesmos oportunidades de trabalho e empreendedorismo na inserção do mercado de trabalho ao recém formado; Resultados e Discussão Os sistemas serão distribuídos em versões demonstrativas, que contenham toda a funcionalidade do sistema original, além de incluir manual e material informativo. Tais versões permitirão aos recém formados e profissionais de ciências agrárias a utilização dos softwares sem qualquer prejuízo para o objetivo do projeto, que é capacitar esses profissionais a utilizarem a tecnologia da informação de forma eficiente. Como essas versões não têm objetivo comercial, seu custo é mínimo, pois é muito baixo o esforço computacional para limitar a capacidade de um sistema, tornando-o uma versão demonstrativa funcional. 07 Desse modo, os recursos a serem alocados ao projeto podem ser otimizados. É importante destacar que soluções de informática, apesar do grande retorno para as empresas rurais, podem apresentar custos elevados. Tais benefícios não podem ser auferidos pelos Conselhos Regionais, mas justificando, portanto, a compra dos sistemas completos. Nesta análise, alguns aspectos são destacáveis: 1. As desregulamentações dos mercados e até de algumas profissões, as privatizações e aberturas de mercado segundo a lógica da OMC (Organização Mundial de Comércio), o crescimento dos setores financeiros, a maior insegurança e precarização dos vínculos de trabalho. 2. O papel das novas tecnologias, o aumento e rapidez das telecomunicações e da capacidade de transmitir grande massa de dados à longa distância e em tempo extremamente reduzido, as redes de comunicação com o aumento da importância da informática, o surgimento da nanotecnologia e da biotecnologia. 3. A busca por maiores aumentos de produtividade, as novas formas de organizar os processos de trabalho, a automatização dos processos de produção e de projeto, a diminuição da necessidade da atuação dos profissionais do Sistema junto às máquinas ou no “chão-de-fábrica”. 4. O aumento da necessidade de profissionais no setor de serviços, com postos de trabalho mais próximos aos clientes e mais voltados a satisfazerem suas demandas e interesses. 5. O aumento da consciência da sociedade quanto às limitações energéticas e ambientais e de atendimento das questões colocadas pela ecologia. Isto tem indicado que a busca por novas formas de energia é uma área promissora para os profissionais, bem como o estudo da reciclagem dos materiais e das pesquisas de impacto ambiental. 6. O aumento do peso dos direitos do consumidor na fabricação dos produtos e no fornecimento de serviços. 7. O aumento da importância de uma engenharia de “software” com um ciclo que engloba a modelagem matemática do problema, a elaboração de algoritmos e programas computacionais e sua conseqüente documentação para utilização pelos usuários. No Brasil, os gastos em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB, estão em torno de 1%, no mesmo nível da Irlanda e da República Checa. Já na França, Alemanha e EUA, os percentuais giram em torno de 2,5%. Na Coréia e no Japão, são de 3,0% do PIB. A perda de oportunidades de retomada do desenvolvimento nas últimas décadas significou também a privação do acompanhamento das grandes alterações tecnológicas e estratégicas ocorridas no mundo, na dimensão exigida pela contemporaneidade. Não podemos concordar que a busca de uma competitividade da produção brasileira continue baseada na transferência de riquezas pela via de benefícios fiscais e pela baixa remuneração do trabalho. Tal modelo retira benefícios que poderiam ser ofertados a um contingente considerável da população brasileira e os transfere para um grupo bastante seleto de famílias das elites brasileiras e estrangeiras. Um Sistema Nacional de Inovações deve ser voltado para uma integração entre as agências federais com as instituições regionais e locais de desenvolvimento. Deve, também, ser capaz de selecionar os ramos de atividade que poderiam ser fomentados, distinguindo-os quanto às perspectivas de competitividade no curto, no médio e no longo prazo. Além disso, tem que definir a necessidade efetiva de força de trabalho qualificada, ou seja, quantos profissionais das áreas tecnológicas são exigidos e com quais qualificações os mesmos devem ser formados e treinados para atender às necessidades de desenvolvimento de atividades previamente selecionadas. Conclusões Alguns princípios e diretrizes com relação a inovação em ciência e tecnologias os programas de desenvolvimento tecnológico devem priorizar e estar integrados com os princípios e programas de desenvolvimento econômico sustentado e sustentável do país, instituir programa de estímulo continuado e crescente de desenvolvimento tecnológico e inovação, com definição de recursos orçamentários referidos ao PIB e não passiveis de contingenciamentos de quaisquer naturezas, priorizar tecnologias não apenas de ponta, mas também inovações tecnológicas orientadas para produção de bens de massa e serviços destinados aos grandes contingentes de pessoas ainda privadas de qualidade de vida digna, instituir políticas e programas de permanente avaliação dos processos C&T&I com transparência e participação da sociedade e divulgar, ampliar e generalizar os centros de excelência existentes em áreas tecnológicas tais como: comunicação, formação profissional, agricultura, pesca e aqüicultura, entre outros. Pode-se afirmar, com toda a segurança, que não existe na face do nosso planeta país igual ao nosso quanto a possibilidades de desenvolvimento sustentado e sustentável. Isso pode ser demonstrado até numericamente. Nossos índices de pobreza e miséria, de qualidade de vida, de concentração de renda, de corrupção e tantos outros, se referido a escalas mundiais, nos situam em posições deprimentes. De nossa parte, acreditamos firmemente na prevalência desses valores fundamentais e esperamos que a transição para um outro futuro possa se dar rapidamente, sem mais e maiores perdas de tempo. Entendemos que já existem alguns sinais de mudanças e transformações. Referências ABEAS, Projeto Kit Profissional, 2004. ABEAS, Projeto Kit Formando, 2004. Aziz Galvão da Silva Jr. - UFV, 2004. FAO/INCRA. Perfil da agricultura familiar no Brasil: dossiê estatístico. Projeto UFT/BRA/036/BRA, ago., 1996. GIULIANI, Gian Mário. Neo-Ruralismo: o novo estilo dos velhos modelos. Revista Ciências Sociais, n.14, ano 5, out. 1990. HOFFMANN, R. et allii. Administração da Empresa Agrícola, São Paulo. Pioneira, 1984 LAMARCHE, Hugues. A agricultura Familiar; comparação internacional. Tradução Angela Maria Naoko Tijiwa. Campinas: Editora UNICAMP, 1993. LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: Um Enfoque Administrativo. Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getulio Vargas, 1995. LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: Planejamento, Implantação e Controle. São Paulo, EditoraAtlas, 1981. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Novo retrato da agricultura familiar – o Brasil redescoberto – Brasília: 2000. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 08 ORSI, Sérgio Dias. Desafios institucionais para a inserção das pequenas agroindústrias rurais no Distrito Federal. Rio de Janeiro: UFRRJ/CPDA. 187p. Dissertação de mestrado, 2001. PATRIARCA, Maria Clarice Silva e Francis, David . Uma análise da gestão - ou administração – das propriedades agrícolas familiares tradicionais e empresariais. Mestranda em Desenvolvimento Econômico – UFU - E-mail: [email protected] . mimeo. S/dada, PINTO, João Bosco Guedes. Tecnologia e pequena produção no desenvolvimento rural. Doc. A-9 do Ministério do Interior/ SUDENE/Polonordeste/OEA, Recife, dez. 1981. SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de economia, São Paulo. Editora Best Seller, 2000. SILVA, José Pereira da. Análise Financeira das Empresas. EditoraAtlas, São Paulo, 2001. TEIXEIRA, Vanessa Lopes. Pluriatividade e agricultura familiar na região serrana do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRRJ/CPDA. 185p. Dissertação de Mestrado, 1998. WILKINSON, John. Distintos enfoques e debates sobre a produção familiar no meio rural . CPDA/DAS/UFRRJ, Rio de Janeiro, 2000. (versão preliminar não corrigida) Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 10 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 A PEDAGOGIA DA ESCOLA RURAL DE MASSAROCA (ERUM), O DESENVOLVIMENTO LOCAL E A DIFICULDADE DE SUPERAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS. 1 2 3 4 Maria de Fátima Palitot, José Horta Valadres, José Ambrósio Ferreira Neto, Sheila Maria Doula 1-Professora - Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina- CEFET. Mestrado em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa- MG. E-mail: [email protected] 2-Professor da Universidade Federal de Viçosa-MG. Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ. E-mail: jvaladares uol com.br 3-Professor da Universidade Federal Rural de Viçosa-MG. Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected] 4-Professora da Universidade Federal de Viçosa-MG. Doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] RESUMO O presente artigo analisa um modelo alternativo de escola, imaginado à luz da pedagogia de alternância, que procura minimizar os problemas enfrentados pelos jovens da Escola Rural de Massaroca (ERUM), na busca pelo ensino básico, e qual a contribuição socioeconômica e produtiva desencadeada pela ação escolar no desenvolvimento local, diante das dificuldades de superação e descontinuidade das políticas públicas. Palavras-chave: pedagogia da alternância-desenvolvimento local - políticas públicas. ABSTRACT This article analyses an alternative school model, imagined under the influence of a pedagogy that alternates school and productive activities and that pursues to minimize the problems faced by the young students of Escola Rural de Massaroca (ERUM) in their search for the acquisition of knowledge taught in elementary and junior high school; and to evaluate the productive and socioeconomic contribution triggered by the school action in the local development to overcome the shortcomings of discontinuous public policies. Key words: pedagogy - local development - public policies Introdução Este artigo analisa um modelo alternativo de escola para o meio rural, que procura minimizar os problemas enfrentados pelos jovens de Massaroca, na busca pela aquisição do ensino básico. Especificamente propõe-se investigar a conexão entre o trabalho desenvolvido pela escola, analisando práticas pedagógicas desenvolvidas nesse contexto, observando se o saber local e as necessidades tecnológicas das famílias são valorizados pela escola e como esta se apropria e media o conhecimento e as técnicas desenvolvidas pelas instituições parceiras. O Distrito de Massaroca, onde está situada a ERUM, ocupa uma área de 400 km² e está localizado a 62 km da sede municipal de Juazeiro-BA, na rodovia BR-407, no sentido Juazeiro-Salvador. É uma zona de pecuária extensiva (caprino, ovino e bovinocultura) associada a uma agricultura tradicional de subsistência (milho, feijão- de- corda, andu) e, em alguns mamona), bem como extrativismo vegetal (madeira, umbu e maxixe). Na visão de REIS (2004:39) “é uma imagem viva da grande diversidade de situações ambientais observadas no semi-árido brasileiro”. Conforme dados fornecidos pela Secretaria de Educação Municipal e Desenvolvimento Social de Juazeiro e a Direção Regional de Educação e Cultura de Juazeiro- DIREC 15, a situação atual das escolas do Município e do Estado em 2007, é a que se pode observar na tabela 1. Das cento e cinqüenta e seis escolas registradas pela Secretaria Municipal de Educação e pela Direção Regional de Educação e Cultura de Juazeiro, apenas a Escola Rural de Massaroca tenta viabilizar uma proposta pedagógica direcionada às especificidades do homem do campo apenas a Escola Rural de Massaroca busca viabilizar uma proposta pedagógica direcionada, demonstrando assim a dificuldade de se multiplicar pedagogias desta natureza e de se romper com paradigmas educacionais arraigados em currículos “urbanos”. A ERUM foi criada em 1995 a partir dos anseios, 11 necessidades e organização dos agricultores locais. Os produtores rurais e as comunidades locais, representados pelo Comitê de Associações Agropastoris de Massaroca (CAAM) e pela professora Valdete Gama, foram os idealizadores da Escola que conta, também, com o apoio do poder público Municipal. Tratando-se de uma escola municipal, de 5ª a 8ª série, o calendário escolar, apesar de ser flexível às necessidades locais, estabelece os duzentos dias letivos previstos em lei. A metodologia da escola trabalha com projetos norteadores das abordagens pedagógicas por série, assim distribuídos: Compreensão do Espaço Local- 5ª série; Políticas Públicas e Condições de Vida-6ª série; Sistema socioeconômico-7ª série; Projeto de Desenvolvimento Local-8ª série. Tabela 1 – Distribuição das Escolas Municipais e Estaduais na Sede e nos Distritos Localidades Sede Carnaíba Massaroca Abóbora Juremal Pinhões Itamotinga Junco Total Escolas Municipais 33 5 2 3 3 3 32 20 101 Escolas Estaduais 26 1 1 1 1 1 9 5 45 Fonte: Dados da Secretarias Municipal e Estadual de Educação (2007) Tabela 2- Blocos Temáticos e Áreas de Conhecimento Série Espaço 5ª Geografia 6ª Geografia 7ª 8ª Geografia Geografia Organização Social Processo Necessidade de Vida Produtivo História e Ensino Religioso Técnicas Ciências agrícolas História e Ensino Religioso Técnicas Técnicas agrícolas agrícolas História e Ensino Religioso Ciências Ciências História e Ensino Religioso Técnicas Técnicas agrícolas agrícolas Convívio Social (todas as áreas do conhecimento) Fonte: Registro Escolar ERUM (2007) As disciplinas-chaves, em destaque na Tabela 2, apresentam peso maior dentro do bloco, por se tratar de disciplinas que trazem a realidade local para a sala de aula, dando sentido aos blocos temáticos e extrapolando os conteúdos didáticos. Os blocos temáticos atuam de forma interdisciplinar com as demais disciplinas do currículo comum (Português, Língua Estrangeira, Matemática, Educação Física, EducaçãoArtística etc.). Visando extrapolar os muros escolares a ERUM tem como Instituições parceiras a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), a Associação de Desenvolvimento e Ação Comunitária (ADAC), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), através do Centro de Pesquisa Agropecuária Semi-Árido (CPATSA), e o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa para o Desenvolvimento (CIRAD). Essas entidades atuam em conjunto para programar métodos e instrumentos de pesquisa e desenvolvimento com as comunidades rurais daquele Distrito. Analisando as práticas da pedagogia da escola, inspirada em princípios norteadores da pedagogia de alternância, no que se refere ao conhecimento e a interação entre os diversos atores locais, o estudo de que se originou este artigo se propõe também a investigar quais as contribuições desse processo de ensinoaprendizagem na configuração da dinâmica do desenvolvimento local de Massaroca-BA. A PEDAGOGIA DE ALTERNÂNCIA NO BRASIL E O MODELO ALTERNATIVO DA ESCOLARURALDE MASSAROCA(ERUM) Conforme SILVA (2003) as primeiras experiências de alternância no Brasil, tiveram início em meados dos anos 60, no estado do Espírito Santo, inicialmente marcadas em sua base pela atuação do padre jesuíta Pietrogrande, de origem italiana. Segundo a autora, a região sul do Espírito Santo vivia uma intensa crise socioeconômica na cafeicultura que ocasionou o êxodo rural desordenado e o desemprego acelerado. Nesse contexto houve a inserção do padre jesuíta que viria a se tornar um dos grandes responsáveis pela organização das primeiras experiências de formação em alternância no país. Segundo Pessoti (1991) no plano pedagógico, uma das características deste primeiro período foi a combinação entre as experiências francesas e italianas, tendo as Escola-Famílias Agrícolas (EAFs) herdado o modelo pedagógico das primeiras, enquanto os objetivos de formação, a organização e funcionamento foram herdados da segunda. Após o golpe militar de 1964, houve um período de progressiva retração das ações desses movimentos sociais, vindo a ressurgir no período de1973 a 1987, que compreende a segunda fase de consolidação dos modelos de EAFs no estado do Espírito Santo e o início de sua expansão para outros estados brasileiros. Atualmente o movimento nacional de EAFs conta com aproximadamente 113 unidades em 16 estados brasileiros, sendo 90% destinadas ao ensino fundamental.(SILVA,2003,p.73). Em 1985, conforme documentos cedidos pela EBDA, as instituições iniciaram trabalhos com enfoque comunitário em Lagoinha, mas sem uma proposta metodológica muito clara. Em 1987, com a chegada dos franceses Jean Philippe Tonneau e Jean Poudevigne e o apoio destas instituições foi definida uma proposta metodológica para ser trabalhada nas comunidades citadas. Em 1990, de acordo com Reis (2004, p.40), com a continuidade da cooperação internacional Brasil-França, através da Associação Serra Serrane, surge um segundo intercâmbio que leva ao Sul da França um técnico da Associação de Desenvolvimento e Ação Comunitária (ADAC), um técnico da EMBRAPA/CPATSA, dois agricultores de Massaroca e uma professora que na época coordenava as escolas de Ensino Fundamental I da localidade. Dentre os objetivos do intercâmbio, dois se destacavam: buscar conhecer os sistemas produtivos da região de Hautes Garrigues e o sistema educacional rural da França. A professora Valdete Gama que participou desta viagem de estudos, quando regressou a Massaroca introduziu nas discussões da organização dos agricultores a necessidade de se priorizar a educação. No seu entendimento, um projeto de desenvolvimento sustentável não poderia deixar de enfatizar a importância da educação enquanto elemento social, de construção e troca de conhecimentos e saberes que valorizassem também o saber do homem do campo. O objetivo era construir uma escola sem os vícios da pedagogia tradicional, que não fala a língua do educando, não considera a sua cultura, os seus costumes, suas tradições e suas vocações econômicas; que tem um saber centrado no professor, repleto de conhecimentos alheios e distantes da realidade dos discentes (FREIRE, 1993). Neste imaginário, é criada a ERUM, em 22 de maio de 1995, como uma escola dotada de procedimentos educacionais específicos e diferenciada. Enraizada na cultura do campo, a proposta da nova escola contemplava o processo de formação/recuperação de valores e cultura local, as concepções e os modos de vida dos grupos sociais que vivem no campo. A proposta pedagógica da ERUM foi concebida a partir do pensamento das comunidades que mobilizadas e organizadas buscaram na educação mais um meio para romper com os ciclos viciosos de analfabetismo, ameaça de miséria, e o abandono em que tem vivido boa parte da população rural e, em particular, algumas regiões do Nordeste Brasileiro. Exemplificando-se a utilização desta metodologia, foi analisado um momento vivido pela escola, chamado “restituição”, quando alunos, professores, agricultores, e comunidade local reuniram-se na localidade de Canoa. Após o histórico feito pelos alunos em sala de aula, foi apresentado o Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 12 diagnóstico daquela comunidade, assinalados os principais problemas e sugeridos aos moradores e líderes comunitários algumas alternativas de solução que poderiam ser encaminhados aos políticos locais e regionais. Após o levantamento feito pelos alunos, e relacionados aos problemas observados foram sugeridas algumas ações: 1) a estruturação de um projeto, realizado em sala de aula, para o beneficiamento de peles, melhorando a qualidade do couro e agregando maior valor ao produto final; 2) com relação á saúde animal foi comprovado um quadro de desnutrição e coceira, com reflexos diretos na qualidade das peles dos animais. Nesse caso, foi sugerido que os líderes comunitários procurariam agentes de saúde solicitando apoio zootécnico para minimizar este problema. Percebeu-se que as ações pedagógicas da escola, nesse particular exemplo, orientavam-se para a organização, a discussão em grupo e a criação de alternativas para a superação e a resolução de problemas comuns aos moradores de Canoa. Naquela oportunidade também foram apresentadas algumas danças típicas, com a finalidade de resgatar e prestigiar a cultura local. Observou-se também durante a execução do Projeto de Segurança Alimentar, uma parceria da ERUM com a ADAC que algumas atividades teóricas e práticas foram estabelecidas em sala de aula, buscando a interdisciplinaridade. O Projeto de Segurança Alimentar trabalha em duas vertentes: a partir da escola – implantação de hortas comunitárias - com vistas a enriquecer o cardápio escolar; e a criação de quintais produtivos, para um melhor aproveitamento dos espaços no entorno da casa dos agricultores. Dada a proximidade com pontos de água incentiva-se a adoção, nesses quintais, do sistema galinha x horta frutífera, incrementando a economia familiar e melhorando a alimentação. Todos os alunos estão engajados no projeto. Observaram-se durante a construção do viveiro, das hortas comunitárias e dos galinheiros produtivos, várias atividades interdisciplinares. Enquanto os alunos construíam o conhecimento aliavam técnicas agrícolas, à matemática, às ciências, à geografia, português, entre outras.Os professores buscam trabalhar articulando teoria, à pratica, em um contato permanente , através da reuniões com a Coordenadora da ADAC, para garantir o sucesso do projeto. Os alunos e ex-alunos da Escola Rural de Massaroca são oriundos das seguintes localidades: Lagoinha, Jacaré, Sítio Souza, Lagoa do Meio, Lagoa do Tanquinho, Lagoa do Jacaré, Canoa, Saquinho, Água Branca, Juá, Cachoeirinha, Caldeirão do Tibério, Caldeirão Grande, Juá, Malhada da Onça, Massaroca, Poças, Frade, Papagaio, Caraíbeira, Poções, Lotério , Lagoa de Caiçara e Baraúna. Eles são em sua maioria do sexo masculino, e atualmente têm uma faixa etária, no período em que fazem o curso, entre 7 e 17 anos. Segundo registros escolares as turmas iniciais, nos anos de 1995 a 1997, absorviam alunos com a faixa etária de 17 a 30 anos, realidade que foi modificada à medida que a mentalidade dos agricultores foi despertando para a necessidade de se iniciar o período escolar mais cedo. Conforme informações retiradas do registro escolar, a escola foi fundada em 1995 e ficou até 2001 sob a gestão administrativa do Comitê de Associação Agropastoril de Massaroca(CAAM), que construiu o prédio escolar e também pagava os professores. A partir de 2001 as escolas “isoladas” do distrito convergiram para a Escola Rural de Massaroca, agruparam-se, e passaram a receber recursos humanos e materiais da Prefeitura Municipal de Juazeiro. De acordo com a Tabela 3 a situação de alunos matriculados é a seguinte: Tabela 3 –Matrícula e evasão na ERUM, 2001 - 2007 Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Alunos matriculados 210 200 190 180 170 145 155 Evasão anual 6 4 6 3 2 - Fonte: Dados da pesquisa (2007) Com referência à evasão escolar, constata-se que houve uma redução gradativa como mostra a Tabela 3. Empreendeu-se uma busca também no sentido de perceber se a escola está correspondendo aos anseios das comunidades e se o que ela oferece é o que realmente aspiram e necessitam os jovens daquelas comunidades rurais. Para tal, retirou-se uma amostra de vinte pais, vinte alunos e vinte ex-alunos da Escola Rural de Massaroca, escolhidos aleatoriamente, para opinar sobre os motivos pelos quais estes atores buscaram esta escola, qual o nível de satisfação e quais as expectativas com o ensino desenvolvido naquela ambiência escolar. Os agricultores familiares e pais de alunos que responderam ao questionário são oriundos das localidades deste estudo e campo de ação da Escola Rural de Massaroca. Também foram entrevistados vinte alunos do ensino fundamental I e II, de 1ª a 8ª série, regularmente matriculados no estabelecimento, e vinte ex-alunos, de acordo com as tabelas 4 e 5 abaixo: Tabela 4-Motivos pelos quais alunos e pais buscaram a escola Fonte: dados da pesquisa (2007). Foi perguntado aos alunos e aos pais destes, o motivo pelo qual buscavam uma escola e se havia a necessidade de estudo para aqueles que desejavam desenvolver trabalhos na propriedade agrícola. Analisando os dados percebeu-se que uma pequena parcela – 10% de pais e 25% de alunos-busca a escola com o objetivo de dar seguimento aos trabalhos na roça, a grande maioria – 75% dos pais e 50% de alunos desejam continuar os estudos enquanto uma outra parcela- 15% dos pais e 25% dos alunos - pretende arrumar um emprego na cidade (Tabela 4). Os pais justificaram-se, apontando a grande importância do estudo para aumentar a possibilidade dos filhos ascenderem socialmente, afirmando que possibilitam aos filhos a escolaridade possível, argumentando que propiciam a estes a chance que “não tiveram de estudar” para melhorar a qualidade de vida, vendo no trabalho da roça a única opção e uma imposição advinda da “falta de cultura”. Esta concepção dos pais e agricultores é assimilada pelos filhos que também anseiam “melhorar de vida” e “ampliar os conhecimentos”. Notou-se também que muitos dos alunos entrevistados aspiram continuar os estudos nas áreas de agropecuária e agronomia. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 13 Tabela 5- Nível de satisfação dos pais, alunos e ex-alunos com a Escola Rural de Massaroca Nível de satisfação Muito satisfeitos Satisfeitos Pouco satisfeitos Insatisfeitos Total (%) Pais 70 25 5 100 Alunos 70 30 100 Ex-alunos 45 55 100 Fonte: dados da pesquisa (2007). Verificou-se, também, de acordo com a Tabela 5, o nível de satisfação dos pais e ex-alunos em relação ao ensino desenvolvido pela Escola e suas justificativas para tal, havendo apenas um registro de “pouco satisfeitos”, num percentual de 5%. A maioria das respostas dividiu-se entre “satisfeitos” e “muito satisfeitos”. Segundo justificativas de alguns entrevistados a Escola Rural não é a única escola existente naquelas comunidades rurais a oferecer o ensino de 1ª a 8ª série. Existe uma outra escola em Massaroca, mas segundo alguns alunos e ex-alunos eles preferiram estudar na escola rural porque além de ampliar seus conhecimentos em ler, contar, interpretar, têm maior contato com a realidade do mundo rural e de suas comunidades, porque dentre os objetivos da escola está o de desenvolver o processo de socialização dos jovens promovendo maior convivência, cooperação, respeito mútuo e valorização de sua visão de mundo e de sua cultura. Alguns alunos e ex-alunos citaram a dificuldade da equipe administrativa escolar de manter viva a filosofia e a metodologia trabalhada pela escola e solicitaram uma maior atenção por parte do poder público municipal e outras entidades que às vezes não respeitam as “peculiaridades” da metodologia trabalhada na escola, insistindo em enquadrá-la nos padrões tradicionais, contribuindo para a progressiva descaracterização da Escola Rural de Massaroca. Contraditoriamente, segundo professores, alunos, pais e ex-alunos, todas as vezes que esses órgãos públicos precisam de uma escola “diferente”, que trabalhe um “currículo contextualizado” é à Escola Rural de Massaroca que eles recorrem. Tabela 6- Expectativas quanto ao curso Motivos Acham que estão aptos para continuar os estudos Acham que estão aptos para emprego na cidade Acham que estão aptos para desenvolver trabalhos na roça Total (%) Pais 65 25 10 100 Alunos 55 20 25 100 Ex-alunos 80 15 5 100 , 100 90 80 70 60 50 40 30 SIM NÃO 20 10 0 Pais Alunos Figura 1- Contribuição da ERUM para o desenvolvimento local Fonte: dados da pesquisa, 2007. Constata-se que a maioria dos atores envolvidos afirma que a criação da escola provocou melhorias na vida das comunidades. Apenas uma parcela reduzida, 5% de pais, 5% de alunos e 10% de ex-alunos, afirma não ter observado estas mudanças. Dentre pais, alunos e ex-alunos que optaram pelo “sim”, estes afirmam que a criação da escola rural melhorou a vida nas comunidades rurais, dado que oportunizou mais estudo e conhecimento para os jovens ao prepará-los para entender a realidade em que eles vivem, resgatando o saber, a cultura e os valores do homem do campo. Abriu espaços envolvendo a parte social, melhorou a economia local, através da venda de produtos que agregam valor à renda, avançou nas técnicas e estudos pertinentes à agropecuária, também despertou a capacidade de maior união e de organização entre as pessoas e as comunidades rurais. Entretanto, observam que muitas ações ainda faltam para que a escola continue formando cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. A maioria sugere mais ação por parte dos dirigentes locais e regionais, solicitam mudanças na estrutura do prédio escolar, construção de salas, de quadras poli esportivas, de uma biblioteca e aquisição de recursos multimídia. Solicitam também mais dinamismo e participação das comunidades, através da união das associações e das parecerias existentes, fortalecendo assim o projeto pedagógico escolar, sugerem mais clareza e organização da gestão escolar e ratificam a necessidade de recursos econômicos e políticas públicas direcionadas àqueles espaços. O próximo quadro destina-se apenas aos ex-alunos, numa tentativa de observar a trajetória destes quando saíram da Escola Rural de Massaroca: Fonte: dados da pesquisa, 2007. 25% Com relação à Tabela 6, pais, alunos e ex-alunos julgam que o ensino desenvolvido ali contribui muito para a atuação prática dos discentes e acreditam que estarão preparados, ao formarem-se, tanto para continuar os estudos quanto para o trabalho. Os pais também têm muita convicção disso, e é essa confiança que depositam na escola. No entanto, dentre os jovens que terminaram o curso, apenas a minoria (5%), permanece hoje no meio rural, trabalhando na pequena propriedade de seus pais. Uma parcela de 15% está empregada na cidade ou em outras regiões. A maioria, (80%), continua o ensino médio ou fez Curso Técnico em Agropecuária. Quanto à influência da escola, após a sua criação, para o desenvolvimento local, contribuindo para melhoria da qualidade de vida das comunidades, observe-se a Figura 1. Ex-alunos Desenvolvem trabalho na roça 5% Continuam os estudos 70% Trabalham na cidade Figura 2-Destino dos Ex-alunos Fonte: dados da pesquisa Sobre a Figura 2, os ex-alunos (5%) que permaneceram no campo são unânimes em manifestar satisfação por terem cursado o ensino fundamental I e II na ERUM, considerando a contribuição dos conhecimentos Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 14 Considerações Finais Referências Bibliográficas Este trabalho procurou refletir sobre o modelo alternativo de educação proposto pela Escola Rural de Massaroca (ERUM), num contexto rico em parcerias e profícuo para o desenvolvimento local, apesar de algumas ingerências peculiares a qualquer processo educativo e de desenvolvimento. Entretanto ele não tem a pretensão de concluir sobre temática tão complexa, embora se proponha a tecer alguns comentários: Constata-se que naquele “locus” a escola é para os agricultores familiares uma das instituições de referência local pela peculiaridade de pedagogia desenvolvida. Pedagogia que resgata através de seu fazer pedagógico diário a auto-estima do agricultor, pela valorização de si mesmo e da cultura local, a crença na possibilidade de mudança, no despertar da consciência coletiva e do enfrentamento coletivo dos problemas que atingem aquelas comunidades. Além do disposto na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que caracteriza a educação rural com identidade e especificidades próprias, que merecem um tratamento especial colocado a serviço do desenvolvimento, existe um novo desafio a ser transposto: como transformar as leis e instruções em realidade? Como agir para que elas deixem o papel e passem a fazer parte do dia-a-dia dos docentes, gestores, da Secretaria de Educação, dos Conselhos de Educação, no âmbito do município, estado e nação? Cita-se o pensamento de Baptista (2003, p.65), sobre a importância da participação da sociedade civil. Sabe-se que o governo e as instâncias oficiais não conseguem fazer nada trabalhando sozinho. Tanto porque a educação é tarefa de todos: sociedade civil e poder público, como também porque o poder público, para ser mais ágil e eficiente, precisa estar sendo cobrado, monitorado, instigado pela sociedade civil organizada. A combinação teoria e prática fruto desse intercâmbio só não são mais satisfatórias devido à ausência de políticas agrárias de incentivo ao agricultor familiar e de uma política de educação séria para esse público e meio, com a oferta de uma educação contextualizada, que contemple seus interesses. Os currículos “urbanos” existentes no meio rural desvinculam a pessoa e desestimula no seu propósito de buscar através da educação, a sua libertação e a contribuição para o desenvolvimento do local onde este vive. Constatou-se que é muito importante a participação dos Órgãos Públicos para o fortalecimento daqueles espaços, no sentido de apoiar iniciativas como a da Escola Rural de Massaroca (ERUM), de maneira que a proposta pedagógica seja valorizada e multiplicada para outras realidades similares, viabilizando esta oportunidade aos agricultores de outros municípios. Propostas pedagógicas e modelos alternativos de educação para o meio rural devem ser pensadas e consideradas pelos órgãos públicos competentes para que a educação não se torne uma prática unificada, sem sentido para o homem que vive no campo, num país tão diverso como o nosso. Se a diversidade e pluralidade culturais tão visíveis e notáveis em nosso país podem ser detectadas com tanta facilidade, não é possível mais insistir em se imaginar a educação como igual, num país com tantas diversidades (REIS, 2004). BAPTISTA, F.M.C. Educação rural: das experiências à política pública.Abaré, 2003. (Debates eAções, 2). BARROS, E.R.B.; SABOURIN, E.; PERES, J.I.; CARON, P. Desenvolvimento local e associações de pequenos agricultores: o caso de Massaroca (Juazeiro-BA). São Paulo: Ática, 1994. E M P R E S A B A I A N A D E D E S E N V O LV I M E N TO AGRÍCOLA – EBDA. Programa Cabra Forte dos municípios de Massaroca e Juremal. Juazeiro, 2005. E M P R E S A B A I A N A D E D E S E N V O LV I M E N TO AGRÍCOLA – EBDA. Proposta de investimento rural de Lagoinha. Juazeiro, 1999. FREIRE, P. Extensão ou comunicação. 5.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. PESSOTI, A.L. Escola e família agrícola. 6.ed. São Paulo: Globo, 2002 REIS, E.S. Educação do campo e desenvolvimento rural sustentável: avaliação de uma prática educativa. Gráfica e Editora Franciscana, 2004. SILVA, L.H. As experiências de formação de jovens do campo: alternância ou alternâncias? Viçosa: UFV, 2003. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 15 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 PARA ALÉM DO RIO: A RELAÇÃO ENTRE O CEFET PETROLINA E O CONTEXTO RURAL DE SEQUEIRO Gleide Isnaia Coimbra Silva Mello, José Abrósio Ferreira Neto, Denílson Santos de Azevedo, Sheila Maria Doula 1-Professora - Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina- CEFET. Mestrado em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa- MG. E-mail: [email protected] 2-Professor da Universidade Federal de Viçosa-MG. Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ. E-mail: jvaladares uol com.br 3-Professor da Universidade Federal Rural de Viçosa-MG. Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected] 4-Professora da Universidade Federal de Viçosa-MG. Doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] RESUMO Este artigo resulta de uma pesquisa descritiva que buscou compreender as relações entre o Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina (CEFET Petrolina), em Pernambuco, e o contexto rural de sequeiro em seu entorno. O trabalho focalizou a atuação institucional frente à realidade socioeconômica típica dessas áreas rurais, cujas atividades produtivas contrastam fortemente com o modelo hegemônico de produção agrícola presente na região do Submédio São Francisco: a agricultura irrigada, centrada especialmente na fruticultura para exportação. A crítica ao processo de modernização agrícola conservadora e aos papéis da educação, da pesquisa e da extensão rural diante desse modelo de desenvolvimento excludente norteou o estudo. Em que pese a atuação do CEFET Petrolina na formação de profissionais para a atividade que é responsável pela significativa participação regional no comércio internacional de frutas frescas, é necessária uma interação que venha a contemplar, adequadamente, as demandas identificadas no âmbito das atividades produtivas do semi-árido de sequeiro, de forma a contribuir com o desenvolvimento sustentado dessa face característica do raio de abrangência institucional. PALAVRAS-CHAVE: educação profissional, sequeiro, irrigação, sustentabilidade. ABSTRACT This article is the result of a descriptive research that seeked to understand the relations between the Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina (CEFET Petrolina), in the state of Pernambuco and the rural context of the dry lands in its environs. The work focused the institutional activity in the face of the socioeconomic reality typical of these rural areas, whose productive activities are in strong contrast with the hegemonic model of agricultural production in this region of the submedium São Francisco River: irrigated agriculture centered especially in fruit production for export. The study particularly criticized the modernization process of conservative agriculture, the role of education, the research and rural extension co-existing with a model of development that promotes social exclusion. Despite the performance of CEFET Petrolina in the formation of the professionals for which it is responsible due to the significant regional participation in the international commerce of fresh fruits, it is necessary to address adequately the demands identified in the range of the productive activities of the semi-arid dry lands, in order to contribute to the sustainable development of this sensitive part within the scope of the institutional activities. KEYWORDS: professional education, dry lands, irrigation, sustainable development Introdução O entorno do CEFET Petrolina é marcado pela diversidade socioeconômica entre as áreas irrigadas pelo Rio São Francisco e as de sequeiro, estas últimas, ainda bastante alijadas de políticas públicas que lhes ensejem um desenvolvimento sustentado do ponto de vista social, econômico e ambiental. Considerando-se o exposto nas diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional (Parecer CEB/CNE nº 16/99), em que esta não deve limitar-se ao atendimento linear das demandas mercadológicas, mas favorecer o acesso qualitativo ao conhecimento científico e tecnológico, porque o considera necessário à prática social, torna-se imperioso que o CEFET Petrolina, dentro do seu limite de atuação, contribua para o desenvolvimento das relações produtivas que caracterizam as diferentes identidades rurais presentes em sua área de influência, de modo a desenvolver relações mais democráticas com o seu ambiente externo. Portanto, como o cenário socioeconômico onde a instituição está inserida não expressa apenas a ostentação tecnológica de uma agricultura extremamente especializada, fruto da articulação regional com o mercado globalizado, este trabalho procurou investigar, “para além do rio”, como o contexto de sequeiro se revela nas ações do CEFET Petrolina. 16 O pequeno município de Dormentes-PE, de pouco mais de quinze mil habitantes, serviu como unidade de análise por estar inteiramente localizado no sequeiro, à semelhança de outros municípios que também compreendem o raio de atuação do CEFET Petrolina; e ainda por figurar entre a clientela dos cursos técnicos da área de agropecuária da instituição. Dormentes exerce papel complementar relevante em relação a Petrolina, no pólo irrigado, disponibilizando volume significativo de mão-de-obra para a fruticultura. Entretanto, a despeito desse vínculo, detém o maior índice de pobreza (71,6%) contra os 13,6% de Petrolina, dentre os sete municípios que constituem o Território do Sertão do São Francisco, em Pernambuco (SDT/MDA, 2005, p. 44) Não obstante a situação de desigualdade com relação ao acesso a condições de vida mais dignas, Dormentes tem vivenciado expansão em número de habitantes, conforme dados do IBGE (2006), referentes à gestão pública do município entre os anos de 2001 e 2005. Portanto, continua produzindo sua existência, numa clara demonstração de que é também portadora de soluções diante das muitas adversidades. De acordo com Guimarães Filho e Lopes (2001, p. 6), há no semi-árido nordestino mais de 10 milhões de pessoas excluídas das economias regional e nacional. Para melhor compreender as relações entre o CEFET Petrolina e o contexto de sequeiro, realizou-se pesquisa de campo, com incursões ao município de Dormentes e visitas ao próprio CEFET. Da comunidade externa foram consultados egressos ou respectivos familiares e representantes locais de diferentes instâncias, incluindo prefeito, vereadores, secretário de agricultura, presidenta do sindicato de trabalhadores rurais e diretora de escola de ensino médio. Quanto aos representantes da comunidade interna, foram ouvidos os dirigentes responsáveis pelas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Utilizaram-se como instrumentos de coleta entrevistas semi-estruturadas. Houve ainda consulta a documentos institucionais do CEFET Petrolina. O fato de a maior parte dos técnicos em Zootecnia estar exercendo suas respectivas funções profissionais somente em localidades fora da região, também reforça o que foi comprovado anteriormente. 26% 74% Retornaram Migraram Figura 1- Situação dos egressos do CEFET Petrolina em relação ao município de origem, em 2006. Fonte: dados da pesquisa. Os dados constantes na Figura 2 apresentam um reflexo positivo quanto ao índice de absorção dos técnicos formados pelo CEFET em postos de trabalho na sua área de formação, correspondendo a um percentual de 66%, de acordo com a soma das quatro primeiras categorias. Neste aspecto, a agricultura irrigada, em especial a fruticultura, é responsável pela maioria absoluta das vagas, tornando-se importante salientar que, mesmo dentre aqueles inseridos em atividades comerciais e de serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), há também envolvimento com a fruticultura. Quanto à pecuária, estão atuando em empresas do setor primário apenas 5% do total de egressos, percentual que pode elevar-se caso seja incluída parte dos técnicos a que se referem a terceira e a quarta categorias, comércio de insumos agropecuários e ATER, respectivamente, onde também se constatam egressos envolvidos indiretamente na produção animal. A despeito disso, a primeira categoria, fruticultura, continua a deter o maior percentual. Resultados e discussão “Aqui ele não teve oportunidade de trabalhar com zootecnia” (depoimento da irmã do egresso José Eduardo de Macedo, 2006) 39% 31% 11% 11% ga do ea pr e ár D es em Fo ra da AT c. ro pe ag C om ér .d e in su m os ER 3% ia Pe cu ár ut ic ul tu ra 5% Fr Trajetória dos egressos dos cursos técnicos da área de agropecuária formados entre os anos de 1994 e 2002 A grande maioria dos jovens provenientes do município de Dormentes, que concluiu cursos técnicos direcionados à agropecuária no CEFET Petrolina, migrou para outras localidades, em busca de inserção profissional (Figura 1). A procura por trabalho, de preferência mais condizente com sua formação, determinou que muitos egressos deixassem seu município de origem. Apenas 30% dos que voltaram para Dormentes exercem atividades relacionadas à qualificação profissional obtida no CEFET Petrolina, enquanto os 70% restantes atuam em outras atividades, constituindo-se, a maior parte deles, técnicos em Zootecnia, podendo-se inferir que as chances de emprego no mercado regional, para um técnico com essa especialização, demonstram-se ainda escassas, em comparação com as possibilidades de inserção de um técnico em Agricultura. Alguns depoimentos, a exemplo da fala abaixo transcrita, ratificam essa constatação. Figura 2 -Atividades onde estão inseridos os egressos. Fonte: dados da pesquisa. Dentre os que trabalham em comércio da área, é importante assinalar que dois deles possuem seu próprio negócio no município de origem, aspecto interessante do ponto de vista da formação para o empreendedorismo e que reforça a importância de se estimular, mais intensamente, através da qualificação profissional, o desenvolvimento dessa habilidade como estratégia de sobrevivência no mundo do trabalho. Essa necessidade se torna premente, sobretudo, diante da escassez Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 17 de oportunidades de emprego, na região, para técnicos em Zootecnia, os quais terão que desenvolver de maneira especial um comportamento empreendedor, de modo a alcançar maior condição de empregabilidade. Ressalte-se aqui a ação apenas mediata da escola, já que esta não detém o poder de criar, nem de garantir emprego. Com relação às atividades de ATER, a ênfase aqui se desloca para a atuação de um dos egressos em seu município de origem. Sob esse aspecto, observa-se a relevância do CEFET Petrolina para o contexto de sequeiro, em razão de que esse técnico exerce suas funções profissionais em uma realidade que lhe é peculiar, podendo dessa forma contribuir para o fortalecimento das atividades produtivas locais já existentes e para o incentivo de atividades potenciais. O forte vínculo que o egresso mantém com a comunidade facilita a interação necessária entre o saber empiricamente construído pela cultura local e o saber formalmente elaborado via formação técnica, como provam os depoimentos colhidos na primeira incursão. Assim, é importante que o currículo dos cursos possa abordar a extensão rural sob uma proposição democrática, ensejando a sustentabilidade. Para isto, é necessário que o extensionista em formação compreenda a agricultura “como um processo de construção social e não simplesmente como a aplicação de algumas tecnologias geradoras de dependência e de externalidades negativas” (CAPORAL e COSTABEBER, 2002, p. 13). Pesquisa e extensão no CEFET Petrolina No intuito de analisar o desempenho institucional na região de sequeiro em estudo, além dos cursos técnicos da área de agropecuária, foram também considerados os cursos de formação inicial e continuada oferecidos pelo CEFET Petrolina ao longo dos dez últimos anos, por representarem um importante instrumento de articulação com a comunidade externa. A Figura 3 apresenta o quantitativo de pessoas atendidas no decorrer do decênio 1996-2005. Refere-se, exclusivamente, aos cursos disponibilizados pelo campus agrícola (Unidade Sede) do CEFET Petrolina, por estarem direcionados à agropecuária. Quanto ao público-alvo, trata-se de jovens e adultos das diferentes localidades do raio de abrangência da instituição, incluindo comunidades de sequeiro. 9000 8000 7000 6000 5000 4000 Constataram-se ainda, porém em menor proporção,cursos voltados para a agropecuária praticada nas regiões de sequeiro, os quais, segundo os depoimentos colhidos entre os representantes da comunidade de Dormentes são efetivos em seu papel de auxiliar o pequeno produtor rural daquelas áreas em suas tarefas, e de explorar também potencialidades da região. A queda acentuada, entre 2004 e 2005, da oferta de formação inicial e continuada, encontra-se refletida no discurso da presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Dormentes, reproduzido abaixo, ao manifestar sua insatisfação diante do distanciamento do CEFET Petrolina. “A gente se deu muito bem; é muito bom ser parceiro. A gente sente falta desses momentos... Dava pra ser mais parceiro... Fica um de lá e outro de cá e a gente não sabe o que é que tá acontecendo... Hoje mesmo eu sinto essa falta.” (Sra. Terezinha – Presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Dormentes, 2006) A incipiente presença da instituição nessa área é reconhecida pela totalidade dos dirigentes entrevistados, conforme as falas abaixo. “A gente só se preocupa com a parte irrigada, não é? E tem muita gente do sequeiro vindo estudar aqui... A atuação deixa muito a desejar.” (Diretor de Ensino, 2007) “Acho que a gente tem um déficit grande com a caatinga.” (Diretor de Pesquisa e pós-graduação, 2007) “Hoje o CEFET não está atuando de maneira nenhuma nessa área.” (Diretor de Articulação Empresaria e Comunitária, 2007) Quanto à pesquisa, observou-se também uma forte tendência à supervalorização da agricultura irrigada, em detrimento da realidade existente no semi-árido de sequeiro. A grande maioria dos projetos de pesquisa, concluídos ou em andamento, estão direcionados ao contexto irrigado (Tabela 1). Os projetos de números 4 e 11, respectivamente, a despeito de, segundo a Diretoria de Pesquisa e Ps-graduação, َ contemplarem as áreas de sequeiro, envolvem culturas não tradicionais dessas áreas: goiaba (Psidium guajava L.) e acerola (Malpighia emarginada DC), as quais, no Submédio São Francisco ocorrem, predominantemente, em condições irrigadas. Analisando sob essa ótica, respaldada por consulta realizada entre alguns especialistas da área agrícola, professores da própria instituição, o percentual de pesquisas não diretamente relacionadas com o sequeiro estaria próximo de 90%. Além desses dois projetos, o de número 6 se refere a uma pesquisa pura no campo da Física, segundo o próprio autor do trabalho, condição que torna ainda menor o percentual de participação do sequeiro no âmbito da pesquisa. 3000 Considerações finais 2000 1000 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Figura 3 - Número de pessoas atendidas, pelo CEFET Petrolina, em cursos de formação inicial e continuada. Fonte: dados da pesquisa. Predomina, neste caso, a qualificação e requalificação em atividades ligadas à agricultura irrigada, de acordo com os relatórios de gestão do período. Tal verificação traduz a força exercida, sobre as ações institucionais, pela produção agrícola para o mercado externo, capitaneada pela fruticultura na região do Submédio São Francisco. A instituição tem cumprido o seu papel frente às demandas por qualificação técnica de nível médio para as atividades agrícolas dominantes do mercado regional, como prova a capacidade de absorção, ainda significativa, dos egressos nas empresas do pólo irrigado. Diante disso, torna-se importante salientar que, devido à escassez de políticas de emprego e renda mais efetivos nas áreas mais carentes do semiárido nordestino, a instituição de ensino acaba se conformando às tendências mercadológicas de maior projeção, pelas quais são também atraídos jovens provenientes daquelas regiões à procura de uma profissionalização que lhes confira possibilidades mais concretas de inserção no mundo do trabalho, mesmo fora de suas comunidades de origem. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 18 TABELA 1- Projetos de pesquisa desenvolvidos e em andamento no CEFET Petrolina, 2007. Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 TÍTULO DO PROJETO SITUAÇÃO Desenvolvimento vegetativo e reprod utivo de viníferas submetidas a três sistemas de poda no Vale do São Francisco, Brasil Taxa de decomposição de estercos em função da profundidade de incorporação e do tempo sob irrigação por micro aspersão Matérias estranhas em polpas congeladas de abacaxi, cajá e maracujá produzidas em Petrolina – PE e Juazeiro – BA Ecologia da polinização e biologia floral de Psidium guajava L. na região do Vale do Submédio São Francisco. Efeito da adição de taninos no potencial de envelhecimento de vinho tinto Shiraz elaborado no Vale do São Francisco Estudos teóricos e experimentais de correções para aberrações cromáticas Avaliação do desempenho de um sistema de ir rigação tipo pivô central para fins de manejo Prospecção das principais pragas e doenças da atemóia na região do Submédio do Vale do São Francisco Evolução de maturação e de determinação do ponto de colheita de banan a nas condições de cultivo da região do Submédio do Vale do São Francisco Taxa de decomposição de resíduos orgânicos em função da profundidade e do tempo de incorporação sob irrigação por gotejamento Ecologia da polin ização e biologia floral de Malpighia emarginada DC. na região do Vale do Submédio São Francisco Utilização da resistência induzida como componente do manejo de doenças na cultura da videira no Vale do São Francisco Levantamento e grau de infestação das principais pragas da bananeira na região do Vale do São Francisco Tecnologias e otimização do sistema de produção da videira na zona da mata de Pernambuco Implantação e acompanhamento do sistema de produção integrada de uvas finas de mesa, uva de vinho e manga na unidade piloto do Cefet-Petrolina Avaliação e validação de inovação tecnológica do semi árido nordestino Desenvolvimento de tecnologia para a produção integrada de banana na região do Submédio São Francisco Concluído CONTEMPLA AS ÁREAS DE SEQUEIRO Não Concluído Não Concluído Não Concluído Sim Em andamento Não Em andamento Sim Em andamento Não Em andamento Não Concluído Não Em andamento Não Concluído Sim Em andamento Não Concluído Sim Concluído Não Concluído Não Concluído Não Em andamento Não Fonte: dados da pesquisa O Curso Técnico em Agricultura do CEFET Petrolina não tem oferecido condições de atuação profissional em áreas onde se praticam atividades agrícolas típicas de sequeiro, em razão do seu direcionamento para as atividades do pólo hegemônico regional, onde se encontra a maior oferta de emprego. Não se pretende sugerir neste trabalho uma renúncia ao enfoque da agricultura irrigada, contudo, é necessário não se perder de vista a realidade agropecuária do sequeiro, de modo que a instituição não abdique de seu papel de promover os interesses do seu todo constituinte, assumindo uma postura ética e política mais condizente com os princípios democráticos que figuram no próprio cânon da Educação Profissional. A pesquisa de que trata este artigo voltou-se, especialmente, à investigação das relações entre o CEFET Petrolina e o semi-árido de sequeiro a partir do tripé ensino, pesquisa e extensão, no intuito de investigar a atuação institucional em face de um contexto socioeconômico específico que marca o seu entorno. Em se tratando do primeiro componente, este se revela bastante coerente com o arranjo produtivo responsável pela vultosa participação regional no mercado externo – a produção de frutas frescas. Entretanto, ainda que a instituição deva, obrigatoriamente, planejar ações orientadas também pelas políticas agrícolas, as quais valorizam uma pesquisa científica fortemente vinculada às leis de apropriação derivadas do mercado (Luckács apud MUNIZ, 1995), não significa que o ensino deva se tornar “um mero instrumento passivo em mãos e a serviço do Estado, do capital ou de qualquer outro poder externo” (FERNANDEZ apud LIMA FILHO, 2005), sendo isto também válido em se tratando também dos outros dois componentes do tripé, co-participantes da exclusão das demandas do sequeiro. As constatações feitas por meio da pesquisa de campo, confrontadas com a bibliografia consultada, demonstram a urgência em se rever o papel da instituição, o qual não deve restringir-se ao favorecimento do “acesso às conquistas científicas e tecnológicas da sociedade” (Parecer CNE/CEB nº 16/99), desenvolver tecnologias e diagnosticar demandas. Passa-se a exigir uma reorganização de suas ações a partir do reconhecimento do complexo sistema de relações de interdependência existente em seu entorno: um sistema do qual também faz parte. O desafio é, portanto, articular-se mais efetivamente com a diversidade de atores e organizações nele existentes. É o que Rolling (2001) denomina inovação institucional, Nessa perspectiva, em que a tecnologia é reconhecida como “uma forma de ser da sociedade” (MUNIZ,1999), múltiplas experiências, visões de mundo, valores, teorias e previsões podem ser compartilhadas ou complementares na condução de ações para a resolução de problemas coletivos. Este trabalho fez um pequeno recorte do universo de abrangência do CEFET Petrolina, mas que se encaixa em muitos outros espaços de características semelhantes, situados no raio de atuação da entidade, entretanto, alijados de processos decisórios de intervenções institucionais. Diante da dicotomia imposta pelas características agroecológicas e socioeconômicas de seu entorno, determinada, por um lado, pelo modelo de exploração agrícola adotado para imprimir o desenvolvimento regional; por outro, a agropecuária típica do semi-árido dependente de chuva, a instituição de ensino deve buscar uma atuação cooperativa mais condizente com a totalidade que forma seu ambiente externo e, com base nos princípios de: igualdade – contribuir para a universalização do direito ao trabalho; autonomia – construir seu projeto pedagógico a partir de um processo democrático que possibilite a participação não só dos agentes internos ao espaço escolar, mas também da comunidade externa, ensejando ainda a colaboração interinstitucional; e de atualização permanente de cursos e currículos – levar em conta as demandas locais e regionais, contribuindo para um desenvolvimento que, de fato, promova a sustentabilidade social, econômica e ambiental da região onde se insere. Referências Bibliográficas BRASIL. Decreto nº 5.224 de 1º de outubro de 2004. Dispõe sobre a organização dos Centros Federais de Educação Tecnológica e dá outras providências. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/legisla03.pdf> Acesso em 03.11.2006 CAPORAL, F. R. e COSTABEBER, J. A. Construindo uma nova extensão rural no Rio Grande do Sul. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. PortoAlegre, v.3, n.4, p. 10-15, 2002. CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva: artigo a artigo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE PETROLINA. Relatórios de Gestor: 1999 a 2005 َ __________. Diretoria de Pesquisa e Ps-graduação. Projetos de pesquisa desenvolvidos e em andamento no CEFET Petrolina. Jan. 2007. DELGADO, Guilherme Costa. O setor de subsistência na economia brasileira: gênese histórica, reprodução e configuração contemporânea. Brasília: IPEA. 2004. EAFDABV. Projeto de Transformação da Escola Agrotécnica Federal Dom Avelar Brandão Vilela em Centro de Referência da Educação Profissional. Petrolina. 1997. ____________ Relatórios de Gestor: 1996 a 1998. GUIMARÃES FILHO, Clóvis; LOPES, Paulo Roberto Coelho. Subsídios para formulação de um programa de convivência com a seca no semi-árido brasileiro. Petrolina-PE: Embrapa Semi-Árido, 2001. IBGE -Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades@. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/cidades>.Acesso em 16.06.05 Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 19 LIMA FILHO, D. L. Formação de tecnólogos: lições da experiência, tendências atuais e perspectivas. Boletim Técnico do SENAC, Rio de Janeiro, v. 25, n. set/dez, p. 41-53, 1999. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA. Parecer CNE/CEB nº 16/99. Trata das Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação Profissional de Nível Técnico. 2000 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA. Resolução CNE/CEB nº 04/99. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação Profissional de Nível Técnico. 2000. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO/ SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL. Diagnóstico preliminar. (1ª aproximação). Território Sertão do São Francisco. Pernambuco. Disponível em http://serv-sdt-mda.gov.br/gnc/gnc/ep/estudos/PE_SaoFrancisco.doc. Acesso em 10.09.2006. MOREIRA, R. J. Ruralidades e globalizações: Ensaiando uma interpretação. Ruralidades Cpda, CPDA, Rio de Janeiro, v. 1, p. 1-24, 2002. MUNIZ, José Norberto. O conhecimento científico como falsa consciência necessária. Cadernos de Ciência & Tecnologia. Brasília, v. 12, n.1/3, p. 29-38, 1 9 9 5 . D i s p o n í v e l e m <http://atlas.sct.embrapa.br/pdf/cct/v12/cc12n1_3_03.pdf> Acesso em 06.06.05. _____________________. A Extensão Rural em tempos de mudança. Informe Agropecuário. Belo Horizonte, v. 20, n. 199, p. 56-61, jul./ago.1999. ROLLING, N. Some Perspectives on New Institutional Coherence for Guiding Rural R & D Efforts. Regional Workshop. Costa Rica, 2001. VALEXPORT - Associação dos Produtores Exportadores de Hortigranjeiros e D e r i v a d o s d o Va l e d o S ã o F r a n c i s c o . D i s p o n í v e l e m <http://www.valexport.com.br/downloads.htm >Acesso em 18.05.06 Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 20 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 As concepções de estudantes e professores da ESALQ/USP sobre a abordagem da relação agricultura familiar - sustentabilidade no currículo da Engenharia Agronômica Luciana Jacob Mestre em Educação pela Faculdade de Educação/Universidade de Brasília, Engenheira Agrônoma pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/Universidade de São Paulo. [email protected]. (19) 3435-2614 RESUMO Neste trabalho, propomos uma reflexão sobre a formação universitária possibilitada pelo curso de agronomia e dirigimos nosso olhar analítico sobre um foco determinado: a construção de saberes para um grupo social específico - agricultores familiares , que sejam fundados na racionalidade da sustentabilidade. Para tanto, buscamos mapear os espaços de formação nesta perspectiva existentes no curso de Engenharia Agronômica da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Na busca de atingir o objetivo proposto, entendemos ser importante uma discussão sobre dois aspectos, que podem ser colocados na forma de perguntas: o que está sendo ensinado na universidade e por quê? Qual a concepção que os estudantes e professores interessados na temática em questão têm de seus próprios currículos? Os procedimentos metodológicos utilizados foram observação participante, análise documental, aplicação de questionário e entrevistas semi-estruturadas. A análise dos dados foi feita através de triangulação de dados e fontes. Apesar de não existir na ESALQ uma linha específica de formação voltada para a agricultura familiar e sustentabilidade, muitos estudantes trilham caminhos e constroem sua formação dentro desta perspectiva. No entanto, estes caminhos não são explícitos nem bem estruturados; seu percurso depende do esforço individual de cada estudante; e, principalmente, não passam – em geral – pelo ensino disciplinar. A superação da polarização e a construção de espaços educativos dialógicos são primordiais para que a formação do agrônomo-educador encontre seu lugar na ESALQ. Isto pode ser garantido através do confrontamento entre idéias e posturas divergentes, em um espaço onde estes conflitos possam ocorrer abertamente. Além disso, há a necessidade de uma maior conscientização institucional sobre a importância da agricultura familiar e do papel do engenheiro agrônomo no fortalecimento deste grupo social, dentro de uma perspectiva de sustentabilidade, para que seja possível uma abertura dos paradigmas teóricos em que se concretizam as práticas acadêmicas. Em meio a esse processo emergente de possibilidade dialógica entre diferentes paradigmas dentro da ESALQ, estudantes vêm construindo sua formação e, fazendo suas opções de caminhada, constituindo-se agrônomos-educadores. PALAVRAS-CHAVE: formação, agrônomo-educador, agricultura familiar, sustentabilidade, ESALQ/USP. ABSTRACT This research project proposes a reflection about the academic formation in agronomy and the existence of teachingresearch-extension lines gone back to the construction of the relationships between family agriculture and sustainable. For so much, we looked for know the formation spaces in this existent perspective in the course of Agronomic Engineering of the Superior School of Agricultura "Luiz de Queiroz" of the University of São Paulo (ESALQ/USP). In the search of reaching the proposed objectives, we understood to be important a discussion on two aspects, that can be placed in the form of questions: what is in the university being taught and why? Which the conception that the students and teachers interested in the thematic in subject have of its own curricula? The used methodological procedures were participant observation, documental analysis, questionnaire application and semi-structured interviews. The analysis of the data was made through triangulation of data and sources. In spite of not existing in ESALQ a specific line of formation gone back to the family agriculture and sustentabilidade, many students thrash roads and build formation inside of this perspective. However, these roads are not explicit nor well structured; its course depends on each student's individual effort; and, mainly, they don't pass - in general - for the teaching to discipline. The overcoming of the polarization and the construction of spaces educational dialogic are primordial so that the agricultural-educator's formation finds its place in ESALQ. This can only be guaranteed through the confrontation between ideas and postures divergentes, in a space where these conflicts can happen openly. Besides, there is the need of a larger institutional understanding on the importance of the family agriculture and of the agricultural engineer's paper in the invigoration of this social group, inside of a sustainable perspective, so that it is possible an opening of the theoretical paradigms in that the academic practices are summed up. Amid that emergent process of possibility dialogic among different paradigms inside of ESALQ, students come building its formation and, making its walk options, being constituted agricultural. WORD-KEY: formation, agricultural-educator, family agriculture, sustainable, ESALQ/USP 21 Introdução A necessidade de um processo de transição para a sustentabilidade, devido à complexidade e ao agravamento dos problemas sócio-ambientais gerados pelo triunfo da racionalidade econômica e da razão tecnológica, leva ao debate sobre a reorientação dos processos de produção e aplicação de conhecimentos. Um dos caminhos possíveis para a condução desta transição é o desenvolvimento de pesquisas que analisem a inserção da universidade neste processo, pois ela desempenha papel fundamental na transformação do conhecimento por sua responsabilidade social na formação de novos saberes e novos profissionais que contribuam para a resolução de problemas sócio-ambientais cada vez mais complexos, para os quais as disciplinas tradicionais não oferecem resposta (Leff, 1995). Neste artigo, propomos uma reflexão sobre a formação universitária possibilitada pelo curso de agronomia e dirigimos nosso olhar analítico sobre um foco determinado: a construção de saberes para um grupo social específico agricultores familiares -, que sejam fundados na racionalidade da sustentabilidade. Dessa forma, a perspectiva que estudamos enfrenta, ao nosso ver, o desafio de compreender como e com qual profundidade o processo de incorporação dos saberes sócio-ambientais para a agricultura familiar se desenvolve nos diversos espaços de formação do curso de Engenharia Agronômica. A opção por se trabalhar com agricultores familiares "trata-se antes de tudo de uma opção social da universidade. Escolher o segmento da sociedade para o qual irá deslocar seus investimentos, pesquisas e extensão é uma decisão fundamental. Tal opção não é isenta, todavia, de embates internos e externos. No plano interno, o encaminhamento burocrático-institucional apresenta dificuldades que por vezes parecem incontornáveis. Além disso, quando se trata de um segmento social em que o conjunto das agências estatais tende sistematicamente a abandonar, em uma silenciosa resposta política a suas iniciativas bem sucedidas de luta pela terra, a tarefa da universidade ganha duas dimensões claras: a de constante denúncia e de construção dos mecanismos que permitam operacionalizar a superação de tal quadro" (Bergamasco et al, 1995: 91). Refletindo sobre o papel dos agrônomos frente à possibilidade de fortalecimento da agricultura familiar, parecenos interessante pesquisar como se dá sua formação, em que sentido ela caminha, quais as possibilidades de mudança para uma ação mais educativa e menos extensionista (Freire, 1977). Quando pensamos em estudar a formação destes sujeitos, que denominamos agrônomos-educadores, alguns aspectos merecem ser analisados. Dentre eles, propomos o debate sobre o currículo, que não pode ser entendido à margem do contexto no qual se configura e tampouco independentemente das condições em que se desenvolve; é um objeto social e histórico e sua peculiaridade dentro de um sistema educativo é importante traço substancial. Para Silva (2002), é através de um processo de invenção social que certos conhecimentos acabam fazendo parte do currículo e outros não. A partir da noção de que currículo é uma construção social, acreditamos que a pergunta importante não é “quais conhecimentos são válidos?”, mas sim “quais conhecimentos são considerados válidos?”. Leff (2001) aponta que a “formação ambiental, sua dispersão temática e a especificidade de suas especializações depende das transformações possíveis dos paradigmas científicos tradicionais onde se insere o saber ambiental” (2001: 218). Nesta perspectiva, acreditamos que seja também necessário um percurso teórico sobre as transformações da agricultura familiar, uma análise do paradigma produtivo vigente e sobre qual tipo de assistência técnica e qual ambiente educativo no meio rural são necessários neste contexto. Acreditamos que alguns aspectos do currículo - que não apenas o conjunto de disciplinas - devem ser abordados. Os grupos de estágio e de pesquisa que se formam no âmbito da universidade, bem como seus trabalhos de extensão, que se configuram como oportunidades dos estudantes serem autores de uma práxis educativa, apresentam-se como um campo interessante a ser estudado. No entanto, estes espaços não serão debatidos no presente artigo; nos deteremos a refletir sobre a as percepções dos estudantes e professores acerca da abordagem curricular relacionada à temática Agricultura Familiar e Sustentabilidade e sobre os espaços curriculares existentes para o debate dessas questões. O Contexto Esta pesquisa foi realizada na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ), localizada em Piracicaba/SP, vinculada à Universidade de São Paulo (USP). Esta Escola tem, atualmente, seis cursos de graduação: Ciências Biológicas, Ciências de Alimentos, Ciências Econômicas, Engenharia Florestal, Gestão Ambiental e Engenharia Agronômica, sendo que este último será nosso objeto de estudo. Atualmente, existem 1468 estudantes matriculados nos seis cursos de graduação, sendo que o curso de EngenhariaAgronômica possui 977. A estrutura da ESALQ conta com 11 departamentos, que comportam 228 professores; o curso de Agronomia tem a duração ideal de 10 semestres, sendo a duração mínima de 9 e a máxima de 18 semestres. Com relação à possibilidade de realização de estágios, o Projeto Pedagógico da Escola apresenta as seguintes alternativas: Estágios Curriculares Supervisionados I e II; Estágio Profissionalizante e Estágio Vivencial (ambos os estágios curriculares de conclusão de curso); e Estágios Extracurriculares. Outra possibilidade de complementação da formação do agrônomo, segundo o Projeto, é o Programa de Licenciatura em Ciências Agrárias. "Este programa também é opcional para os alunos do Curso de Engenharia Agronômica. Foi instituído visando à formação de professores para atuar no ensino técnico agrícola e para a capacitação em diferentes áreas do magistério formal e não-formal e treinamento de técnicos para o meio rural e empresas agroindustriais". Caminhos metodológicos construídos Na busca de atingir o objetivo proposto, entendemos ser importante uma discussão sobre dois aspectos, que podem ser colocados na forma de perguntas, que se configuram como os nossos problemas de pesquisa e constituem nossa estratégia metodológica: o que está sendo ensinado na universidade e por quê? Qual a concepção que os estudantes e professores interessados na temática em questão têm de seus próprios currículos? Todas as possíveis respostas necessariamente são influenciadas pela história da agricultura familiar no Brasil, as perspectivas atuais e sua importância política, cultural, social e econômica. Assim, como pano de fundo desta análise, foi desenvolvido um breve estudo sobre a agricultura familiar e a sustentabilidade. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 22 Para cada problema da pesquisa delineamos um procedimento metodológico específico, devido às particularidades de cada um. Tais procedimentos possuem características qualitativas e quantitativas e, em muitas ocasiões, as análises só foram possíveis a partir de um olhar direcionado a esses dois aspectos conjuntamente. Esta pesquisa configura-se essencialmente como um estudo de caso. Os procedimentos qualitativos utilizados foram observação participante, análise documental e entrevistas semi-estruturadas. Em nosso caso, a observação participante foi especialmente importante para captar os eventos extracurriculares e informais que aconteceram no âmbito da ESALQ entre março de 2003 e maio de 2004, período em que foi realizada a pesquisa de campo. A análise documental foi feita a partir do levantamento de quais e quantas disciplinas, obrigatórias e optativas, desenvolvem algum aspecto relacionado à temática da agricultura familiar e sustentabilidade. Optamos por analisar aquelas disciplinas citadas pelos estudantes, uma vez que este trabalho se desenvolve a partir da percepção dos sujeitos envolvidos. Lado a este procedimento foram realizadas entrevistas com professores responsáveis por algumas das disciplinas citadas, com a intenção de captar a abordagem dada à temática. Dentre os 228 docentes da ESALQ, conversamos com 20. As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas também com estudantes de último ano e remanescentes; obtivemos, também neste caso, 20 entrevistas semiestruturadas. Foi construído um roteiro de questões que envolvem a relação entre a agricultura familiar e a sustentabilidade, baseado no referencial teórico da nossa pesquisa (Altieri, 1989a; Altieri, 2001; Carneiro, 1998; Ehlers, 1999; Lamarche, 1998; Leff, 2001; Sachs, 2000; Schneider, 2003; Wanderley, 1996), que tornou possível a visualização da relação entre as dimensões ambiental, cultural, econômica, técnica, social e política da temática. Este foi um instrumento importante tanto como referência para a realização das entrevistas como para a análise dos dados coletados. A análise de dados foi feita através de triangulação de fontes e dados. A análise das entrevistas foi feita a partir da construção de categorias, tanto no caso dos estudantes como no dos professores. Estas categorias foram traçadas conforme os depoimentos apresentaram confluências; como esta parte da pesquisa é essencialmente qualitativa, foi dada atenção também aos detalhes, às especificidades e às divergências de opinião. As disciplinas foram analisadas tanto qualitativamente, através do estudo de seus conteúdos, quanto quantitativamente. Agricultura Familiar e Sustentabilidade Entender as relações entre a agricultura familiar e o conceito de sustentabilidade requer o esclarecimento de seus significados, bem como a análise de que tipos de relações queremos debater neste trabalho. Propomos que a discussão seja feita a partir de dois olhares sobre a relação sustentabilidade - agricultura familiar. Um olhar foca a sustentabilidade entendida como reprodução do grupo social composto pelas famílias rurais. Assim, procuraremos entender como a agricultura familiar garante sua reprodução inserida em um macro-contexto capitalista de produção e como se operam as transformações que possibilitam que este grupo social se sustente, nas dimensões cultural, técnica, política, social, ambiental e econômica. O outro olhar foca o fortalecimento da agricultura familiar como um fator contributivo para a construção de sociedades sustentáveis. Abordaremos a importância deste grupo social no desenvolvimento de processos que visam a consolidação de um paradigma produtivo fundado sobre o conceito de sustentabilidade. Primeiramente iremos abordar brevemente, sob a ótica de diferentes autores, algumas características relacionadas ao conceito de agricultura familiar e definir o significado do termo para esta pesquisa. O debate sobre a agricultura familiar é relativamente recente no Brasil (Schneider, 2003; Wanderley, 1996; Lamarche, 1993 e 1998). Diferentes classificações para possibilitar uma categorização foram delineadas, destacandose a de Kageyama e Bergamasco (1989), que usa como critério de classificação as categorias sociais presentes na estrutura fundiária brasileira e a existência do trabalho assalariado utilizado pelos estabelecimentos rurais. D e s t e t r a b a l h o s u rg i u a o p o s i ç ã o e n t r e estabelecimentos empresariais e familiares. Tendo como base a mesma lógica, o estudo realizado em 1994, fruto da parceira entre a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, divide os agricultores em duas categorias: “patronal” e “familiar”. Como características da produção patronal aparecem a separação entre a gestão e o trabalho, a organização descentralizada, a ênfase na especialização produtiva e em práticas agrícolas padronizáveis, o uso predominante do trabalho assalariado e a adoção de tecnologias dirigidas à eliminação das decisões “de terreno” e “de momento”. O modelo familiar caracteriza-se, segundo o estudo, pela relação íntima entre trabalho e gestão, a direção do processo produtivo conduzido pelos proprietários, a ênfase na diversificação produtiva e na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida, a utilização do trabalho assalariado em caráter complementar e a tomada de decisões imediatas, ligadas ao alto grau de previsibilidade do processo produtivo. Lamarche (1993) e Wanderley (1996) concordam com relação à não linearidade do conceito de agricultura familiar. É possível a coexistência de várias formas de produção familiar, desde o campesinato até a agricultura familiar totalmente inserida no capitalismo. O denominador comum é a ligação íntima entre trabalho, propriedade e família. Para Wanderley (1996), a agricultura familiar é um conceito genérico, que incorpora uma diversidade de situações específicas e particulares. A autora compreende a agricultura familiar como aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo. É importante insistir que este caráter familiar não é um mero detalhe superficial e descritivo: o fato de uma estrutura produtiva associar familia-produçãotrabalho tem conseqüências fundamentais para a forma como ela age econômica e socialmente (idem). Lamarche (1993, p.15) concebe a agricultura familiar de forma parecida: “A exploração familiar (...) corresponde a uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à família. A interdependência desses três fatores no funcionamento da exploração engendra necessariamente noções mais abstratas e complexas, tais como a transmissão do patrimônio e da exploração”. A partir destes referenciais teóricos, delimitamos o significado da produção familiar para este trabalho. Ela possui elementos fundamentais que a caracterizam: a agricultura é praticada por uma família que trabalha na terra com autonomia para as tomadas de decisão, sendo que sua produção tende a ser diversificada. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 23 ASustentabilidade da Produção Familiar A sustentabilidade da produção familiar, nesta pesquisa, refere-se às formas que esse grupo encontra de garantir sua reprodução social. O debate sobre as estratégias dos agricultores familiares para sua persistência no campo, de modo geral, vem girando em torno da questão da ampla capacidade de adaptação da unidade familiar agrícola e decorrente caráter pluriativo destes estabelecimentos - como resposta aos desafios propostos pela agricultura moderna ou como uma forma histórica de sobrevivência, inerente à lógica camponesa de vida (Schneider, 2003; Veiga, 2001; Romeiro, 2001; Graziano da Silva, 1999; Carneiro, 1998; Lamarche, 1993; Wanderley, 1986). No entanto, a ênfase que queremos dar à reprodução da agricultura familiar é sobre a diversificação da produção dentro da propriedade, como uma busca a complexificação e sustentabilidade do sistema produtivo. Esta diversificação representa uma possibilidade estratégica estrutural pela não dependência total em relação ao mercado. Além disso, queremos chamar a atenção, também, para o aspecto da autonomia do agricultor familiar nestes processos de reprodução social: (...) É em razão das decisões tomadas pela família e pelo grupo doméstico, frente às condições materiais e ao ambiente social e econômico no qual estiver inserida, que ocorrerá ou não sua reprodução social, econômica, cultural e moral” (Schneider, 2003, p.95). A Agricultura Familiar para a Sustentabilidade Para entendermos os possíveis papéis do grupo social composto pela agricultura familiar na construção de sociedades sustentáveis, revisitamos a história e os conceitos que alguns autores vêm atribuindo à sustentabilidade (Sachs 2002 e Leff, 2001) e às suas relações com a agricultura (Altieri, 2001; Soares, 2001; Ricci, 2001; Gliessman, 2000; Ehlers, 1999; Couto Rosa, 1999; Abramovay, 1998; Jesus, 1996; Romeiro, 1996; Bergamasco et al 1995; Flores, 1991;Altieri, 1989a). Identificamos que os autores consultados enfocam em seus trabalhos diversas dimensões do conceito de sustentabilidade e da sua relação com a agricultura familiar. Claramente, a ênfase maior é para a dimensão ambiental ou ecológica, comum a todos os conceitos. Neste sentido, diversos elementos são abordados, como a degradação dos recursos naturais, as condições climáticas, a utilização de agrotóxicos, o caráter agressivo da monocultura e a capacidade de suporte dos agroecossistemas. Outra dimensão recorrente é a social, que envolve, segundo os autores, principalmente a necessidade de um desenvolvimento equânime, a geração de renda e trabalho, a segurança alimentar, a satisfação das necessidades humanas e o atendimento das necessidades sociais das famílias e comunidades rurais. A dimensão econômica, enfatizada principalmente por Ehlers, Altieri e Soares, aborda o retorno financeiro aos agricultores, a produtividade, o crédito agrícola e, especificamente sobre a relação da sustentabilidade com a agricultura familiar, a participação deste grupo social na geração de renda e emprego para o país. A substituição de sistemas de produção simplificadores por sistemas complexos está no centro do debate sobre a dimensão tecnológica da sustentabilidade. Propostas alternativas de agricultura, como agricultura ecológica, biodinâmica, permacultura, dentre outras, questionam não apenas as técnicas de manejo convencionais, mas a própria concepção do sistema produtivo vigente. As dimensões política e cultural da sustentabilidade são as menos abordadas pelos autores consultados. Gliessman, Soares e Couto Rosa referem-se à agricultura sustentável intimamente relacionada ao respeito às tradições, conhecimentos e modos de vida locais. Abramovay, Couto Rosa, Rudá Ricci e Romeiro enfatizam a dimensão política, levantando questões como participação, autonomia, importância de movimentos sócio-políticos e capital social da agricultura. O Currículo daAgronomia As entrevistas com os estudantes e professores demonstraram haver três tipos de percepções com relação ao currículo e, especificamente, à formação voltada às questões ligadas a agricultura familiar e sustentabilidade. Essas percepções, para fins de análise, serão apresentadas sob o formato de categorias. A primeira relaciona-se com o entendimento do vínculo da nossa temática com a necessidade de um currículo interdisciplinar, onde as diversas disciplinas se configurariam como um espaço de diálogo entre saberes diferentes e complementares, possibilitando uma visão mais integrada dos conteúdos curriculares. Por outro lado, dentro desta categoria, houve a percepção de que o ensino na ESALQ não incentiva o desenvolvimento de uma visão complexa dos conhecimentos propostos. Assim, muitos entrevistados atentaram para o fato de que a ESALQ, da forma em que está estruturada, não possibilita que haja um diálogo entre as disciplinas, professores e departamentos. Em decorrência, enxergam a formação de forma fragmentada, desconectada e restrita, principalmente quando se trata dos assuntos relacionados a sustentabilidade e agricultura familiar. A segunda categoria abrange as percepções dos estudantes e professores acerca da abordagem dada a sustentabilidade e agricultura familiar, as possibilidades de caminhada e os entraves, a ênfase à agricultura patronal e a polarização entre agricultura alternativa e agricultura convencional. Foi praticamente unânime entre os entrevistados a constatação de que a ESALQ tem como foco principal a formação visando o trabalho com “agricultura convencional” para “grandes produtores”. No entanto, muitos apontaram a existência de caminhos possíveis para a formação de quem se preocupa com a sustentabilidade e a agricultura familiar. Parece claro para a maioria dos estudantes que o caminho a ser percorrido pelos que pretendem direcionar sua formação para os temas da sustentabilidade e da agricultura familiar existe. No entanto ele não é explícito e nem bem estruturado; seu percurso depende do esforço individual de cada estudante; e, principalmente, o caminho não passa – em geral – pelo ensino disciplinar. Por fim, a terceira categoria surgiu da percepção que os estudantes possuem sobre o crescimento da abordagem da questão ambiental pela instituição. Este crescimento, no entanto, não veio acompanhado de outras questões relacionadas à sustentabilidade, nem de uma abordagem sobre agricultura familiar, em específico. Dentre os motivos citados, destacaram-se a criação dos novos cursos – principalmente Gestão Ambiental – e a atuação dos recentes ingressantes na Escola. Disciplinas pesquisadas Durante as entrevistas com estudantes, levantamos Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 24 quais disciplinas obrigatórias e optativas contribuíram para o fortalecimento de sua formação ligada a questões sócioambientais na agricultura, em geral, ou na agricultura familiar, em particular. Levamos em consideração todas as disciplinas apontadas, mas nos detivemos na análise daquelas que foram citadas por mais de um estudante. As disciplinas citadas mais de uma vez foram: Agribusiness Cooperativo; Agroecologia e Agricultura Orgânica; Comunicação Rural; Disciplinas do curso de Licenciatura em geral; Projetos em Educação Ambiental; Recursos Florestais em Propriedades Agrícolas (obrigatória); Sistemas Agrícolas Sustentáveis; Sistemas de Produção; Sociedade, Cultura e Natureza; Sociologia e Extensão (obrigatória); e Tópicos de Educação Voltados à QuestãoAmbiental. Foram citadas também por três estudantes algumas disciplinas chamadas por eles de “tradicionais”, mas que vêm integrando, mesmo que superficial e pontualmente, a questão ambiental em aula, como Manejo Integrado de Pragas, Plantas Daninhas e Máquinas e Implementos Agrícolas. Segundo os estudantes, ao lado de práticas agrícolas “convencionais”, foram descritas algumas alternativas de manejo que causam menos impacto ao ambiente, mas que, no entanto, não são o foco central das disciplinas. Porém, segundo a pesquisa realizada por Sorrentino (1995), “a 'ambientalização' das disciplinas não passa somente pela incorporação de conteúdos ambientais. Apesar de importantes, se não acompanhados pela adoção de métodos de ensino com eles coerentes passam a ser motivos de conflitos e tensão em sala de aula”. De forma quantitativa, percebemos que das 48 disciplinas obrigatórias da grade curricular da Agronomia, apenas duas, segundo os estudantes, tratam de algum aspecto relacionado a questões sócio-ambientais, ou seja, 5%. Dentre as optativas, 19 disciplinas abrangem estas questões, ou seja, 10,5% das 181 existentes na grade. Para efeito de análise, consideraremos o curso de Licenciatura como uma disciplina somente, devido à não especificação dos estudantes durante as entrevistas, salvo pela disciplina Prática de Ensino. Esta decisão foi tomada em comum acordo com as professoras da Licenciatura. Através da análise das disciplinas, segundo suas ementas e depoimentos de professores e estudantes, detecta-se a inclusão da temática da sustentabilidade e agricultura familiar nas disciplinas curriculares, e isto vem se dando principalmente: -pela abordagem das disciplinas da área de ciências humanas (sociologia e antropologia), que se propõem a debater questões como cooperativismo, modelos de desenvolvimento, educação, história e psicologia; -e através do debate sobre sistemas de produção (especialmente agricultura ecológica, agricultura orgânica e sistemas agroflorestais) e inclusão de práticas alternativas de manejo em sistemas convencionais. Conclusões Se pudéssemos, de forma bem geral, expressar em uma palavra a característica mais marcante no currículo da ESALQ, esta seria: polarização. A todo momento, durante as entrevistas, a análise das disciplinas e a vivência cotidiana com professores e estudantes, observamos posturas, opiniões e discursos opostos. Agricultura convencional e agricultura alternativa; agricultura familiar e agricultura patronal. Mas claro que o currículo da ESALQ se configura como um território muito mais complexo que este. Muitos fatores permeiam e influenciam na composição curricular da Escola, dentre eles a própria tradição da ESALQ, as relações de poder que se estabelecem, as políticas públicas referentes à agricultura e o mercado de trabalho do agrônomo. Afinal, o currículo é uma construção social e se produz e reproduz em um contexto social e histórico específico. Não obstante, pudemos observar muitos espaços onde o diálogo entre questões opostas é possível, onde as obviedades sobre os conteúdos e sobre a pedagogia são questionadas. As possibilidades de formação do agrônomo esalqueano são muitas. Além das disciplinas essenciais, os estudantes podem escolher, dentro de um rol muito grande de optativas, aquelas que conduzirão a sua formação mais especializada; e isto pode ser feito livremente ou através das áreas de concentração. Além das disciplinas, há diversas modalidades de estágio, curriculares ou não, que complementam o ensino formal. Percebemos, no entanto, que muitas vezes as disciplinas é que complementam a formação vivenciada nos grupos e estágios individuais! Acreditamos que construir caminhos para a formação de agrônomos-educadores não significa somente reorganizar as disciplinas e as linhas de pesquisa acadêmica, adicionando questões socioambientais, mas sobretudo a necessidade de internalização deste saber nos paradigmas científicos dominantes e nas práticas docentes que prevalecem. Analisando as percepções de estudantes e professores sobre o currículo, especialmente sobre a abordagem dada às relações entre agricultura familiar e sustentabilidade, concluímos: - Segundo estudantes e professores, a ESALQ não tem a preocupação institucionalizada em formar agrônomos que pretendam trabalhar com agricultura familiar e sustentabilidade; não existe nenhuma linha específica de ensino ou pesquisa que possibilite aos estudantes percorrerem os caminhos necessários para se tornarem agrônomoseducadores; -Porém, parece claro para a maioria dos entrevistados que o caminho a ser percorrido pelos que pretendem direcionar sua formação para estes temas existe. No entanto ele não é explícito e nem bem estruturado; seu percurso depende do esforço individual de cada estudante; e, principalmente, o caminho não passa – em geral – pelo ensino disciplinar; -Para que se construam caminhos neste sentido, existe a percepção de professores e estudantes da necessidade de um currículo interdisciplinar, onde as diversas disciplinas se configurariam como um espaço de diálogo entre saberes diferentes e complementares, possibilitando uma visão mais integrada dos conteúdos curriculares; -Um espaço importantíssimo para a formação do agrônomo-educador, na nossa opinião e na da grande maioria dos entrevistados, são os estágios e as vivências extra-sala de aula. Estes estágios, além de permitirem um contato próximo com a realidade – aliás, uma demanda constante dos estudantes – possibilitam uma práxis multidisciplinar, apontada por muitos entrevistados como uma necessidade na formação do agrônomo-educador. Porém, para cumprir este papel é necessário que a atuação destes grupos de extensão seja uma práxis onde a comunidade seja sujeito da ação e não seu mero objeto; - O crescimento da abordagem da questão ambiental foi apontado por muitos professores e estudantes, tendo como principais motivos a criação dos cursos novos, especialmente Gestão Ambiental, e a postura dos novos ingressantes na universidade. Apesar disso, a dimensão social, na opinião dos entrevistados, não acompanha o crescimento da dimensão ambiental; um ponto importante é que a necessidade do fortalecimento da área de ciências humanas foi citada por muitos. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 25 Concluímos que o mais rico espaço de formação de estudantes - nas área de agricultura familiar e sustentabilidade existente na ESALQ são os grupos de estágio e/ou pesquisa. Nestes espaços, os estudantes vivenciam uma práxis educativa que os permite transcender os conteúdos e as práticas das disciplinas, possibilitando uma visão mais complexa das questões sócio-ambientais relacionadas à agricultura. Algumas questões ainda precisam ser debatidas. Como efetivamente acontecem os processos de formação dentro destes grupos? Qual a relação que suas práticas possuem com as disciplinas? Ainda: que estratégias deve ter a universidade para valorizar este tipo de formação? Será que o caminho seria a formalização destas atividades dentro do currículo, atribuindo-lhe créditos, por exemplo? E será que esta formalização não tiraria o sabor das atividades extracurriculares? A superação da polarização e a construção de espaços educativos dialógicos são primordiais para que a formação do agrônomo-educador encontre seu lugar na ESALQ. Isto só pode ser garantido através do confrontamento entre idéias e posturas divergentes, em um espaço onde estes conflitos possam ocorrer abertamente. Além disso, há a necessidade de uma maior conscientização institucional sobre a importância da agricultura familiar e do papel do engenheiro agrônomo no fortalecimento deste grupo social - dentro de uma perspectiva de sustentabilidade - para que seja possível uma abertura dos paradigmas teóricos em que se concretizam as práticas acadêmicas. Referências Bibliográficas ALTIERI, Miguel. Agroecologia, as bases científicas da agricultura alternativa. Rio de Janeiro: PTA/FASE, 1989a. ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS, 2001. BERGAMASCO et all, Sonia Maria P. P. A universidade e a (re)construção socioambiental nos assentamentos rurais in Cadernos de Desenvolvimento e Ambiente, Número 2.Curitiba: Editora da UFPR, 1995. CARNEIRO, Maria José. Camponeses, Agricultores e Pluriatividade. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 1998. EHLERS, Eduardo. Agricultura Sustentável: Origens e perspectivas de um novo paradigma. Guaíba: Agropecuária, 1999. FLORES, Murilo X. et alii. Pesquisa para a agricultura sustentável. Revista de Economia Sociologia Rural, Brasília, v. 29, n. 1, jan-mar. 1991. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia: Processos Ecológicos em Agricultura Sustentável. Porto Alegre: Editora Universidade/ UFGRS, 2000. GRAZIANO DA SILVA, José. O Novo Rural Brasileiro. Campinas: Instituto de Economia da UNICAMP, 1999. JESUS, Eli Lino. Da agricultura alternativa à agroecologia: para além das disputas conceituais in Agricultura Sustentável. V.1, n. 1 (jan/abr, 1994). Jaguariúna, SP: Empraba – CNPMA, 1994. LAMARCHE (coord), Huges. A Agricultura Familiar: comparação internacional. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1993. LAMARCHE (coord), Huges. A Agricultura Familiar: comparação internacional. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1998. LEFF, Enrique. As Universidades e a Formação Ambiental na América Latina in Cadernos de Desenvolvimento e Ambiente, Número 2.Curitiba: Editora da UFPR, 1995. LEFF, Enrique. Saber Ambiental: Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. RICCI, Rudá. Movimentos Sociais nos Anos 90. in: Diálogos: Revista Eletrônica de História. Volume 2, no 1 – outubro de 2001. ROMEIRO, Ademar Ribeiro (2001). As perspectivas da agricultura familiar, in Gilson Bittencourt, Antonio M. Buainain, Carlos Guanziroli, Ademar Romeiro e Alberto Sabbato (orgs.) Agricultura Familiar e Reforma Agrária no Século XXI. Petrópolis: Vozes (no prelo). SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000. SCNHEIDER, Sérgio. A Pluriatividade na Agricultura Familiar. PortoAlegre: Editora da UFRGS, 2003. SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. SOARES, Adriano Campolina. A multifuncionalidade da agricultura. In: Revista Proposta, no 87. Rio de Janeiro. Fase: 2000/2001. SORRENTINO, Marcos. Educação Ambiental e Universidade: um estudo de caso. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 1995. VEIGA et alii, José Eli da. O Brasil Rural precisa de uma Estratégia de Desenvolvimento. Brasília: Convênio FIPE – IICA(MDA/CNDRSNEAD), 2001. WANDERLEY, Maria Nazareth Baudel. Raízes Históricas do Campesinato Brasileiro. Trabalho apresentado no XX Encontro anual da ANPOCS. GT 17. Processos Sociais Agrários. Caxambu- MG,1996. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 26 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 Sistema de Tratamento de Efluentes Caseiros Prof. Tit. Dr. José Sales Mariano da Rocha Cleonir Carpes Daltrozo José Sales Mariano da Rocha é professor titular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) - RS, professor titular da Universidade de Coimbra – Portugal; autor de 08 livros na área ambiental. É professor visitante de 04 universidades do Brasil e autor dos projetos de criação dos cursos de Engenharia Florestal, Especialização em Geomática e Mestrado em Engenharia Agrícola da UFSM ([email protected]). Cleonir Carpes Daltrozo é advogada especialista e mestranda em Geomática na Universodade Federal de Santa Maria (UFSM) ([email protected]) INTRODUÇÃO Muitas pessoas se preocupam com os problemas ambientais, porém não sabem o que podem fazer para resolvêlos. O maior obstáculo para quem se dispõe a lutar por essa causa é a desinformação no que diz respeito ao meio ambiente. Os materiais orgânicos se decompõem naturalmente pela ação dos microrganismos que se alimentam deles. São, portanto, materiais biodegradáveis. Produtos químicos tóxicos e resíduos lançados no mar e em rios, riachos, lagos e lagoas causam danos irrecuperáveis à vida da fauna e flora, atingindo, mais cedo ou mais tarde, o ser humano. O mesmo acontece quando esgotos domésticos sem tratamento são lançados nos rios, em quantidades superiores às que a depuração e oxigenação natural das águas podem aceitar. Porém, a partir de 1960, os governos e as organizações preocupadas com o meio ambiente, no mundo inteiro, começaram a perceber que, para garantir o futuro do planeta, é necessário controlar e, principalmente, reduzir a poluição. O esgoto é uma vertente muito importante relacionada com a poluição, especialmente o esgoto doméstico (objeto e escopo deste trabalho técnico). QUALIDADE DE VIDA Qualidade de vida é a soma de todos os fatores positivos que o meio ambiente reúne para a vida humana, proporcionando satisfação física, psicológica e afetiva. É tudo o que dá tranqüilidade, segurança e esperança num futuro melhor. Na prática, a qualidade de vida de uma sociedade começa a melhorar quando ela sabe responder a todas as pressões negativas e a todos os impactos ambientais que a cercam. O nível de progresso e bem-estar da população está intimamente ligado às suas condições sanitárias e ambientais. Assim, todos os esforços que as empresas fazem para diminuir a poluição, todos os esforços dos governos para aumentar a infra-estrutura de saneamento de água e esgotos, para limpar a cidade, para cuidar das áreas verdes, e para diminuir o ruído, são esforços que melhoram a qualidade de vida. Mais uma vez o esgoto doméstico entra em foco quando se fala em qualidade de vida. POLUIÇÃO Chama-se poluição a qualquer tipo de alteração física, química ou biológica das características originais dos Recursos Naturais Renováveis (solo, vegetação, animais silvestres, água e ar) capaz de prejudicar os seres vivos que neles habitam. Alterar a proporção ou as características de um elemento que faz parte do próprio meio também pode constituir poluição. O esgoto doméstico é o mais comum poluente orgânico das águas doces e das zonas costeiras, quando altamen-te concentrado. A matéria orgânica transportada através dos esgotos proporciona o alimento a uma multiplicidade de organis-mos como bactérias e protozoários. Esgoto é a água que contém dejetos produzidos pelo homem. A maior parte dos esgotos dirige-se a lagos, rios, oceanos, ou outros cursos d'água. Em muitos países, quase todo o esgoto, recebe algum tipo de tratamento antes de ser lançado na água sob a forma de um líquido semitransparente. O sistema de esgotos existe para afastar a possibilidade de contato e contaminação dos despejos e dos dejetos humanos junto à população e águas de abastecimento. A água superficial ou subterrânea pode ser infectada por organismos patogênicos, existentes nos esgotos. As-sim, ela pode conter: * Bactérias - Provocam infecções intestinais epidérmicas e endêmicas (febre tifóide, cólera, shigelose, salmonelose, leptospirose, etc.). * Vírus - provocam hepatite, infecções nos olhos etc.. * Protozoários - Responsáveis pelas amebíases, giardíases, entre outras. * Vermes – Esquistossomose, lombrigas e outras infestações. As valas negras a céu aberto e a presença de esgoto dentro ou perto de casa é a maior causa de mortalidade in-fantil. Toda população brasileira tem direito ao saneamento básico, tirando as águas sujas de perto das crianças. O se-gundo passo é tratar o esgoto. Há uma série de soluções, desde a mais simples até a mais completa, para eliminar esse alto risco ambiental e sanitário. A falta de um adequado sistema de tratamento de esgotos pode ocasionar sérios danos ao ambiente, à saúde e à qualidade de vida, normalmente apresentados através de: Rios poluídos e contaminados; Disseminação de doenças transmitidas por veiculação hídrica; Proliferação de insetos e roedores transmissores de doenças; Mau cheiro; Deterioração do ambiente; Baixo nível de qualidade de vida. 27 No Brasil, mais de 90% do esgoto é lançado em rios e no mar ou a céu aberto. A falta de saneamento básico e de redes de tratamento de esgoto é um dos maiores problemas do país. Toda casa deveria ter uma rede de canos para levar a água suja para grandes centrais de tratamento. Mas na zo-na rural é praticamente inviável devido às distâncias extremamente grandes entre residências e um local para o trata-mento coletivo. Além da poluição das águas superficiais, os esgotos contaminam também as águas subterrâneas. As medidas de proteção dos recursos hídricos subterrâneos devem ser adotadas com dois objetivos: garantir a quantidade da água do manancial e preservar a sua qualidade. As águas subterrâneas são muito importantes, e em muitos casos essenciais, para o fornecimento de água potável para a área rural e também para a área urbana. Contudo, na maioria dos casos, a preven-ção da poluição das fontes de águas subterrâneas e a proteção do conjunto de aqüíferos têm recebido pouca atenção. No que concerne às águas subterrâneas, a poluição tem tendência a aparecer devagar, mas é muito persistente e, muitas vezes, a purificação é tecnicamente problemática, excessivamente custosa e em geral, pouca prática. APROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS A proteção dos aqüíferos pode ser conseguida através da redução da carga poluidora nas fontes, do afastamento adequado das fontes produtoras de poluentes, da compatibilização do uso e ocupação do solo com a infraestrutura sanitária e do controle da ocupação e, conseqüentemente, da impermeabilização do solo. O tratamento das águas residuárias, antes do lançamento no solo, é uma forma eficiente de reduzir a poluição das águas subterrâneas. Um exemplo é o tratamento de esgotos antes da disposição dos mesmos no solo, através de práticas de espalhamento no terreno, de irrigação ou mesmo no solo, antes de alcançarem os aqüíferos. Muitas pessoas preferem, por exemplo, beber a água cristalina de nascentes ou de poços artesianos em lugar de água de torneira que foi convenientemente tratada e distribuída. Freqüentemente, entretanto, a água dos poços e nascentes pode ser contaminada pela proximidade com fossas e lançamento de esgotos. A contaminação se dá por infiltração através do solo, de tal maneira que as partículas em suspensão (causadoras da turbidez) ficam retidas neste, enquanto que as bactérias e vírus, bem como princípios ativos (venenos) por serem muito menores, atravessam o solo atingindo a água do poço ou da nascente, que embora "cristalina" passará a transmitir doenças. O lançamento de esgotos ou despejos industriais orgânicos em um determinado rio aumenta a concentração de matéria orgânica no meio, que, por sua vez, desencadeia a proliferação de bactérias que aumenta a atividade total de respiração e, por conseguinte ocorre uma demanda maior de oxigênio. Portanto o esgoto lançado causa um consumo maior de oxigênio no meio. Esse consumo (demanda) é provocado sempre por intermédio de uma atividade biológica ou bioquímica (atividade bacteriana): a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). A poluição na água acontece de uma forma muito mais visível que no ar, pois ela altera consideravelmente as características físicas da água, como dureza, pH, cor e odor, tornando o efluente contaminado e impróprio para o consumo.Além disso, um curso de água poluído passa a alterar todo o ecossistema daquela região, causando a morte dos peixes sensíveis que darão lugar a outros mais grotescos, alterando assim o ecossistema. DESEQUILÍBRIO DOS ECOSSISTEMAS À medida que a matéria orgânica aumenta, começará um desequilíbrio no consumo da mesma, pois os microrganismos que mais se beneficiam quando há excesso de alimento se proliferam de forma rápida, sendo que a população de peixes não aumenta em igual velocidade. O desequilíbrio aumenta também na medida em que o consumo de oxigênio no ambiente passa a ser maior e a reposição através da superfície líquida (que é muito lenta) ou através da fotossíntese de vegetais verdes microscópicos (algas, por exemplo) não é suficiente. O esgoto lançado "escurece" o ambiente líquido dificultando a penetração dos raios luminosos indispensáveis à realização da fotossíntese. Em termos simplistas pode-se dizer que quanto maior o volume de esgotos ou efluentes lançados em um determinado rio, maior será o consumo de oxigênio provocado neste. Isto é, quanto maior for a concentração de matéria orgânica, maior será a proliferação de bactérias, maior a atividade total de respiração e maior, por conseguinte, a demanda de oxigênio. O resultado disso é a redução das concentrações de oxigênio a um nível incompatível com as necessidades respiratórias dos peixes o que causaria a morte de todos. Portanto o lançamento de esgotos em um rio provoca a deterioração do mesmo, devido à queda do nível de oxigênio ali dissolvido (quando a água fica esverdeada diz-se que o rio está eutrofizado – tem excesso de algas). Se o lançamento deste excesso de matéria orgânica for diminuído, através do tratamento dos esgotos e efluentes lançados, o rio, com o tempo, se autodepurará, podendo existir novamente o “equilíbrio do ecossistema”. A água poluída favorece o desenvolvimento de microorganismos patogênicos, isto é, que causam doenças na espécie humana. Desses micróbios, alguns dos mais comumente encontrados nas águas poluídas são os causadores de amebíase, cólera, febre tifóide, hepatite e leptospirose, todas doenças graves. No entanto, os mais freqüentes mesmo são os chamados coliformes fecais, que vivem aos milhões nos intestinos das pessoas e são laçados em grandes quantidades, juntamente com as fezes, nos esgotos. O SISTEMA DE TRATAMENTO DE EFLUENTES CASEIROS Um adequado sistema de tratamento de esgoto constitui a forma eficaz de controlar a poluição do meio ambiente. Com ele eliminam-se os problemas causados pelos lançamentos indevidos de esgoto em galerias pluviais, águas de subsolo (lençol freático), cursos de água em geral ou diretamente sobre o solo. A poluição biológica é causada por detritos orgânicos suscetíveis de sofrerem fermentação. Podese dizer que a poluição é causada por um "excesso de alimento" (eutrofização) despejado no ecossistema, seja ele rio, lagoa ou represa. Qualidade de vida é a soma de todos os fatores positivos que o meio ambiente reúne para á vida humana. Mas muitas vezes o nível de progresso da população, que deveria contribuir Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 28 para melhorar esta qualidade, proporciona o contrário. É o caso do lançamento de efluentes diretamente em a natureza o que acarreta inúmeros problemas. O presente trabalho, visando melhorar a qualidade de vida no meio rural, propõe a construção de um sistema ecológico de tratamento de efluentes caseiros. Este sistema caracteriza-se por ser simples (fácil execução e entendimento) e de baixo custo. Tais construções visarão contribuir para a melhoria do meio ambiente, da saúde e da qualidade de vida da população que vive no meio rural, promovendo a diminuição na poluição de rios, córregos, solos e águas subterrâneas através da maior eficiência e do menor custo de um sistema biológico de tratamento de esgotos. A agropecuária, sendo uma atividade de risco, vem procurando aos poucos, inovar-se usando técnicas modernas de produção para um melhor planejamento da atividade. Uma delas é a construção de Sistemas de Tratamento de Efluentes Caseiros (Esgotos) no meio rural visto a sua importância para o saneamento básico. Os despejos deverão ser tratados e afastados de modo que atendam os seguintes requisitos: - Nenhum manancial destinado ao abastecimento domiciliar deve correr perigo de poluição. - As condições necessárias à vida nas águas receptoras não podem ser prejudicadas. - Não deve haver risco de poluição das águas subterrâneas. - Odores desagradáveis, presença de insetos e outros inconvenientes não podem ser observados no local. - Não deve haver poluição do solo capaz de afetar direta e indiretamente pessoas e animais. A proposta, para atender a estes requisitos, é a construção de um Sistema Biológico de Tratamento de Efluentes Caseiros conforme o esquema que segue. O esquema é auto-explicativo. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 Comunicações 30 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 O CÍRCULO HERMENÉUTICO-DIALÉTICO (CHD) COMO ALTERNATIVA METODOLÓGICA PARA A EDUCAÇÃO AGRÍCOLA SUPERIOR Maria do Carmo da Silveira Xavier1 Heloísa Flora Brasil Nóbrega Bastos 2 Helaine Sivini Ferreira2 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, [email protected] 2 Professoras do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências - UFRPE INTRODUÇÃO Num mundo cada vez mais globalizado e competitivo, se faz necessário o uso de recursos e estratégias diversas com o intuito de melhorar os processos de formação dos profissionais e técnicos que estão nas universidades, de forma, que os mesmos estejam mais bem preparados para os novos desafios que se impõem. Nesse contexto, surge a necessidade de buscar novas metodologias educacionais, reestruturar velhas ferramentas, tornando-as mais dinâmicas e versáteis para que possam vir a contribuir eficazmente neste processo de formação. Assim, o que se pretende com este trabalho é apresentar o círculo hermenêutico-dialético (CHD), desde sua concepção inicial, passando pelas várias estruturações sugeridas por pesquisadores que o utilizaram, até a última versão elaborada por nós, como parte de uma dissertação que vem sendo desenvolvida no Programa de Pós–Graduação em Ensino das Ciências da Universidade Federal Rural de Pernambuco. A técnica do círculo hermenêutico-dialético (CHD) consiste em um processo de construção e reconstrução da realidade e é mencionada inicialmente com uma ferramenta para coleta de dados por Guba e Lincoln (1989). No CHD, falase de hermenêutico porque o mesmo possui um caráter interpretativo, e dialético porque implica na comparação e no contraste entre diferentes pontos de vista (FURTADO, 2001). AFigura 01 (a) ilustra uma representação esquemática do modelo do CHD tal como proposto por Guba e Lincon (1989). Neste esquema, R1 representa o primeiro entrevistado, que a partir de seus relatos, iniciará as primeiras construções, caracterizadas como C1. Estas servirão como subsídios para o segundo entrevistado e, assim, sucessivamente (FURTADO, 2001). Os autores do CHD propõem que inicialmente se faça uma entrevista e, logo a seguir, uma síntese dos dados coletados, para ser apresentada a uma segunda pessoa, a qual deve ser solicitada um comentário e o acréscimo de novos dados e sugestões (OLIVEIRA, 1999). Oliveira (1999) ao fazer uso do CHD durante sua pesquisa de doutorado verificou que ao chegar a terceira pessoa, quase nada era acrescido, uma vez que a pessoa entrevistada se limitava a concordar com a síntese dos dados coletados, juntos aos entrevistados anteriores. Assim, o CHD permitia pouca interação entre os envolvidos, o que tornava as mudanças pouco significativas. Então, Oliveira (1999), propôs uma adaptação dessa técnica de forma que cada pessoa respondia as questões e, somente após as suas respostas, apresentava-se a síntese da entrevista anterior ou o resultado de todas as entrevistas já realizadas. Desta forma, foi possível a inserção de novos elementos e o CHD tornou-se mais interativo, com maior enriquecimento das informações, garantindo melhor aproximação da realidade Figura 01 - Representações do círculo hermenêutico-dialético: como concebido (a) e com as adaptações propostas por Oliveira (1999). A concepção proposta por Oliveira (1999) está apresentada na figura 01 (b), na qual A - significa aluno entrevistado, C - significa construção teórica, e P - significa pesquisador. De acordo com a nova estruturação, inicialmente, coletam-se as construções teóricas individuais do primeiro aluno (A1). Estas serão apresentadas ao segundo aluno apenas após a coleta de suas construções teóricas individuais. Desta forma, o segundo aluno tem a oportunidade de alterar ou não suas construções em função das colocações do entrevistado anterior. Esta dinâmica se repete até que o último aluno seja entrevistado. O CHD é finalizado quando ocorre um encontro final com a presença de todos os entrevistados, para discussão coletiva e registro de novas informações, fase dita consenso. Apesar do aumento da interatividade e da inserção de novos elementos conseguidos com a nova estruturação proposta por Oliveira (1999), Neves (2006), ao utilizar esta ferramenta em sua dissertação, percebeu que ainda havia alguns pontos que precisavam ser ajustados. Ele observou que as construções do aluno A1 eram sempre deficitárias se comparadas às dos outros alunos que participavam do círculo, num indício claro que a ferramenta, tal como estruturada, não privilegiava igualmente todos os indivíduos do grupo. O primeiro indivíduo a ser entrevistado era privado dos processos dialéticos na sua interação como o pesquisador, visto que não 31 tinha a oportunidade de compartilhar as construções dos demais, para vir ou não a modificar as suas próprias. Em análise a aspectos observados por Neves (2006) relacionados com a aplicabilidade da ferramenta, motivou pesquisa quanto a sua função além de coletar dados, auxiliando significativamente os processos de construção do conhecimento cientifico. Este é um ponto muito importante visto que ressalta a versatilidade do CHD, contudo, ao considerarmos esta possibilidade, percebemos que do ponto de vista pedagógico, tal como concebida, a utilização do CHD só beneficiava o pequeno grupo que participava efetivamente do processo (5 ou 6 alunos). Assim, com o intuito de ampliar a aplicabilidade do CHD e melhorar sua dinâmica é que propusemos uma nova reestruturação no círculo hermenêutico-dialético, conforme será apresentado a seguir. CONCLUSÕES Diante do exposto, é pertinente afirmar que o CHD se consolida como excelente ferramenta para coleta de dados e também como importante estratégia didática para o ensino, por auxiliar os processos de construção de conteúdos. As novas modificações propostas viabilizam sua aplicação em salas de aula por permitir o envolvimento de grandes grupos sem que haja o comprometimento dos processos hermenêuticos e dialéticos. Desta forma a utilização do novo CHD se apresenta como uma alternativa metodológica confiável e inovadora que pode perfeitamente ser utilizada na Educação Agrícola Superior trazendo inúmeros benefícios na formação dos seus profissionais. BIBLIOGRAFIA METODOLOGIA A primeira reestruturação proposta no CHD consiste na inclusão do primeiro pesquisado (A1) no processo, tal como sugerido por Neves (2006), mediante o completo fechamento do círculo antes da etapa do consenso. Assim, ele teria as mesmas oportunidades que os demais de reestruturar suas colocações em função das demais apresentadas. A outra grande reestruturação pretendida propõe a participação conjunta de grupos maiores, ou seja, envolve os entrevistados já previstos pelo CHD (5 ou 6 alunos) e, acresce alunos observadores (até 15 indivíduos). O novo CHD é vivenciado em três momentos: inicialmente todos os participantes escrevem suas concepções iniciais sobre o tema abordado (ou questões propostas) pelo pesquisador, em seguida, uma vez que estas concepções estão documentadas, tem-se inicio a etapa de reconstruções conceituais. Uma análise prévia das respostas permite selecionar aqueles alunos com maior suporte teórico (5 ou 6 alunos) para efetivamente vivenciar a dinâmica do CHD, enquanto que, os demais são denominados de observadores críticos do processo hermenêutico-dialético. Enquanto a dinâmica do círculo ocorre, os observadores, que não podem interferir no processo fazem anotações para poderem contribuir para uma discussão crítica/construtiva promovida no momento seguinte, 3ª fase, por ocasião da construção coletiva (consenso) propiciada pela ferramenta em questão. A ferramenta CHD, com as alterações propostas foi aplicada, como um piloto, com 23 alunos do 1º ano do Ensino Médio do CODAI-UFRPE, São Lourenço da Mata, PE em dois encontros, totalizando quatro horas de aula. FURTADO, J. P. Um método construtivista para a avaliação em saúde. Ciênc. Saúde coletiva, Rio de Janeiro, vol.6, nº. 1, 2001, p. 165-181. GUBA, E. e LINCOLN, Y. S. Fourth generation evaluation. Newbury Park: Sage, 1989. 294 p. NEVES, R. F. A interação do Ciclo da Experiência de Kelly com o Círculo Hermenêutico-Dialético, para a construção de conceitos de Biologia. Recife, 2006, PPGEC / UFRPE. Dissertação de Mestrado em Ensino das Ciências. OLIVEIRA, Maria Marly de. Formação em associativismo e desenvolvimento no Nordeste do Brasil: a experiência de Camaragibe. Canadá, 1999. 320 f. Tese( Doutorado em Educação) Universidade de Sherbrooke. OLIVEIRA, Maria Marly de Como fazer Pesquisa Qualitativa. Recife: Ed. Bagaço, 2005.192 p. RESULTADOS Os resultados indicaram que se conseguiu inserir no processo, o primeiro aluno a participar do CHD, suas construções modificadas não deixaram a desejar quando comparadas com as dos outros alunos que participam posteriormente a ele, no CHD. O fato de trabalhar com um número maior de alunos não comprometeu nenhuma das etapas do CHD e tanto os alunos que participaram efetivamente do CHD, quanto os observadores se sentiram contemplados e foram bastante participativos. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 32 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA DA METODOLOGIA UTILIZADA NA DISCIPLINA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NA UFCG 1 2 3 3 Denise de Jesus Lemos Ferreira , Débora dos Santos Galdino , Joelma Sales dos Santos , Aline Costa Ferreira 1 3 Graduanda em Eng. Agrícola UAEAg/CTRN/UFCG. e-mail: [email protected] 2 Graduada em Pedagogia CEDUC/UEPB. e-mail: [email protected] Engenheira Agrícola, Pós-Graduanda em Engenharia Agrícola na Área de Irrigação e Drenagem, UAEAg/CTRN/UFCG. e-mail: [email protected], [email protected] INTRODUÇÃO O método de aprendizagem utilizando fichas (questionários) é feito com o objetivo de melhorar o processo de ensino da disciplina Conservação do Solo e da Água, a qual aborda temas como erosão do solo, desastres naturais, capacidade de uso do solo, conservação da água, práticas conservacionistas entre outros, que se encerem no cenário visto no semi-árido nordestino retratado nas fichas. Com isso, surgiu a necessidade de realizar uma pesquisa com os ex-alunos da disciplina referentes aos três últimos períodos, totalizando cerca de 20 alunos, na busca de saber se os mesmos assimilaram os conhecimentos aplicados na disciplina de forma satisfatória. Sabendo-se que o conhecimento vai além da perspectiva de educação, acentuando a consciência crítica e autonomia intelectual tornando o aluno um sujeito histórico, deixando sua condição de objeto e tornando-se um cidadão. Segundo Freire (1983), “A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos.” Ainda podemos complementar esse pensamento com o que diz Freinet (2002), “Na origem de toda conquista há não o conhecimento, que só vem normalmente em função das necessidades da vida, mas a experiência, o exercício e o trabalho”. Nesse contexto, objetivou-se com essa pesquisa avaliar o aprendizado dos alunos conforme a metodologia utilizada na disciplina, Conservação da Água e do Solo, observando suas dificuldades e o respectivo grau de aceitação. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada no Laboratório de Ciências e Tecnologias Agroambientais da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, com o intuído de avaliar o método Construtivista Sociointeracionista, em relação às aulas da disciplina Conservação do Solo e da Água, com a finalidade de observar as indagações (grau de aceitação e dificuldades) dos ex-alunos da disciplina quanto ao método. Para a obtenção da avaliação foram entrevistados 20 ex-alunos os quais abrangem três turmas da disciplina, representando 100% de cobertura sobre a opinião de cada um. A metodologia utilizada em sala de aula consiste na distribuição do conteúdo programado da disciplina em fichas (questionários), as quais contêm cerca de 500 perguntas que contam com recursos fotográficos (paisagens de problemas vividos no semi-árido nordestino), gráficos e tabelas, distribuídas em 45 fichas, sendo algumas perguntas repetitivas para maior fixação dos temas tratados, bem como o recurso da aula de campo para que os alunos tenham uma maior convivência com a realidade que irão trabalhar. A intervenção do professor nas aulas busca aperfeiçoar o aprendizado, incentivando o aluno a resgatar conhecimentos prévios sobre os temas a serem trabalhados mediando e ampliando o debate com o seu conhecimento formal, utilizando-se das fichas de aprendizagem em duplas e/ou em grupos para que haja troca de conhecimentos por ambas as partes, uma vez feito esse trabalho retoma-se o debate o que faz dessa mediação um construir e reconstruir constante, como citado por Freire (1983) “O saber se faz através de uma superação constante. O saber superado já é uma ignorância.”. Esse método busca a independência dos alunos junto às tarefas dirigidas pelo professor, para que eles possam resolvê-las de modo independente e criador, o que exige determinados conhecimentos, compreensão dos objetivos da tarefa, domínio do método de solução de forma que os alunos possam aplicar conhecimentos e habilidades já adquiridos sem orientação direta do professor. Na medida em que são assimilados conhecimentos, habilidades e hábitos são desenvolvidas as capacidades cognoscitivas (observação, compreensão, análise e síntese, generalizações, fazer relação entre os fatos e idéias etc.), indispensáveis para a independência de pensamento e o estudo ativo, LIBÂNEO (1994). A avaliação para a disciplina Conservação do Solo e da Água é feita de forma continua, onde 50% da nota e retirada das (fichas+freqüência) e os outros 50% de provas periódicas. Para a avaliação do método, realizou-se uma pesquisa na qual os alunos avaliaram seu rendimento e sua satisfação em relação à metodologia usada em sala de aula na disciplina conforme o método Construtivista Sociointeracionista, de acordo com a proposta de Galdino & Ferreira (2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados indicam que 60% sentiram algumas dificuldades, devido desconhecerem o assunto tratado nas fichas, nesse momento o professor faz sua intervenção dando suporte para que os alunos pudessem tirar suas respectivas dúvidas e, 25% responderam que da maneira como é ministrada a disciplina os mesmos não sentem dificuldades na metodologia, atendendo as expectativas de aprendizagem. Em relação ao uso da ficha 65% dos alunos acharam que o método contribui no processo de aprendizagem, já que as aulas teóricas e práticas estão correlacionadas, ajudando o aluno a vivenciar os problemas vividos pelo pequeno agricultor. Um total de 80% dos alunos entrevistados responderam que com os conteúdos das fichas é possível fazer a relação com sua vida profissional, 33 já que nelas estão retratados casos reais proporcionando uma maior sensibilização sobre a problemática rural (60%). Com relação ao método que utiliza duplas para responder as fichas, 60% dos entrevistados preferiam que fosse utilizado o método em grupo de forma rotativa para uma maior interação de idéias. Em termos de comparação com as aulas tradicionais e as aulas utilizando as fichas, 90% dos alunos ficaram satisfeitos com o método, pois proporciona uma maior fixação dos temas ministrados pelo professor, além de afirmarem que o método atende todas as expectativas, sugerindo apenas uma maior discussão sobre os temas tratados nas fichas, bem como maior número de aulas práticas e discussão das questões incorretas em sala de aula o que dá a oportunidade de maior troca de experiências e com isso maior aprendizado. Figura 1. Visão dos alunos quanto à aprendizagem utilizando as fichas. 20 15 10 5 0 1 2 3 Sim Não 4 5 6 CONCLUSÕES Verificou-se que 80% dos alunos entrevistados associaram os conteúdos das fichas com sua futura vida profissional e que o Método Construtivista Sociointeracionista, quando comparado ao tradicional, atinge 90% de aceitação por parte dos alunos, já que para ambos os casos as fichas retratam problemas reais que ocorrem no Semi-Árido Nordestino. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, P. Educação e Mudança. vol.1. 11ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor). FREINET, C. et al. Fundamentos Teóricos. Vol. 9. Brasília: SESI/DN, 2002. Algumas Vezes Figura 2. (A) – Adesão ao método com três opções de uso, (B) – Preferência quanto à forma de distribuição ao longo do período letivo. (A) (B) 15 15 10 10 Fixos 5 Rotativos 5 0 7 0 Individual Dupla 8 Grupo Figura 3. Satisfação quanto ao método utilizado na disciplina comparado ao método tradicional. 20 15 Aula tradicional 10 Aula + fichas 5 0 9 Quadro 1. Questionário elaborado para pesquisa de avaliação de satisfação dos alunos em relação à metodologia utilizada na disciplina conservação do solo e da água*, ** PESQUISA DE AVALIAÇÃO 01. Você sentiu dificuldades em responder as fichas de aprendizagem? ( ) Sim ( ) Não ( ) Algumas vezes 02. Em sua opinião o uso das fichas ajuda no processo de aprendizagem da disciplina supra citada? ( ) Sim ( ) Não ( ) Algumas vezes 03. Você conseguiu fazer relação entre as aulas teóricas e práticas? ( ) Sim ( ) Não ( ) Algumas vezes 04. Você busca outra fonte de pesquisa além do livro utilizado na disciplina para responder as fichas? ( ) Sim ( ) Não ( ) Algumas vezes 05. Em relação aos conteúdos aplicados nas fichas, você consegue fazer relação com sua vida profissional? ( ) Sim ( ) Não ( ) Algumas vezes 06. Você considera que as fichas contribue m para desenvolver certa “sensibilidade” na leitura das questões de campo? ( ) Sim ( ) Não ( ) Algumas vezes 07. Você acharia melhor utilizar o método das fichas de forma. ( ) Individual ( ) Dupla ( ) Grupo 08. No caso de utilizar o método das fichas em duplas ou grupos, os mesmos deveriam ser: ( ) Fixos ( ) Rotativos 09. Comparan do as aulas tradicionais e as aulas mais as fichas de aprendizagem, o que você considera de melhor metodologia para fixação dos conteúdos? ( ) Aula tradicional ( ) Aula + fichas 10. O que você propõe para aperfeiçoar o método utilizado na disciplina? * Elaborado por Débora dos Santos Galdino e Denise de Jesus Lemos Ferreira (monitora da disciplina) ** Todas as perguntas continham suas respectivas justificativas Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 34 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 O CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM AGRONEGÓCIOS DA FACULDADE DE SORRISO – FAIS 2 2 Cynthia Moleta Cominesi, Ademir Pegorin i, Ronaldo Kraemer Professora Ms. Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios – Fais. [email protected] Acadêmicos do 2° semestre do Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios - Fais Introdução Na atual economia mundial, um conceito ganha a cada dia mais força dentro do Brasil. Ele ganhou força com o crescimento da produção agrícola e foi definido por dois professores da Universidade de Harvard – USA, John Davis e Ray Goldberg em 1957 foi o Agribusiness ou Agronegócio. Estes autores definiram-no como sendo: O conjunto de todas as operações e transações envolvidas desde a fabricação dos insumos agropecuários, das operações de produção nas unidades agropecuárias, até o processamento, distribuição e consumo dos produtos agropecuários in natura ou industrializados (BATALHA, 2001 p. 25). Há que se enfatizar as significâncias crescentes do agronegócio, que produz alimentos, gera alguns milhões de empregos, além de diversificar e aumentar consideravelmente as exportações brasileiras. Dentro do cenário mundial o Brasil tem o maior superávit comercial agrícola do mundo, sendo o terceiro maior exportador de produtos agrícolas em termos absolutos estando atrás apenas dos EUA e da União Européia, e somos considerados como a última fronteira agrícola do mundo, tendo em vista o imenso potencial a ser explorado em bases sustentáveis. Neste cenário se destaca o Mato Grosso, e dentro dele a cidade de Sorriso como um grande celeiro e produtor de matéria-prima para o agronegócio brasileiro. Sorriso responde por 2% da produção nacional de grãos sendo o maior produtor de soja do Brasil respondendo por 3,5% da produção nacional e é considerado a cidade que produz mais soja em todo o mundo. Além disso, a cidade abriga inúmeras indústrias relacionadas à produção agrícola. Neste contexto, o presente resumo tem como objetivo realizar uma discussão a cerca da Educação Tecnológica e sobre o Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios da Faculdade de Sorriso – FAIS. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica para entendermos a importância do Agronegócio bem como a necessidade de capacitação nesta área. Além disso,foi utilizado o Projeto Pedagógico do Curso Superior da Faculdade de Sorriso – FAIS como fonte de análise. Histórico do desenvolvimento da profissão de Tecnólogo A profissão de Tecnólogo não é recente, pois a Resolução n° 313 de 26 de Setembro de 1986 já dispunha sobre o exercício profissional dos tecnólogos das áreas submetidas à regulamentação e fiscalização instituídas pela Lei N° 5194 de 24 de dezembro 1966. O Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia no uso de suas atribuições que lhe confere a letra “f” do Artigo 27 da Lei n° 554/68 de 24 de dezembro de 1966, permitiu a criação de cursos superiores de curta duração visando ao exercício de atividades em áreas regulamentadas e fiscalizadas pelos Conselhos de Engenharia, Arquitetura eAgronomia. A Resolução N° 1010, de 22 de agosto de 2005 dispõe sobre a regulamentação da atribuição de títulos profissionais, atividades, competências e caracterização do âmbito de atuação dos profissionais inseridas no Sistema Confea/Crea para efeito de fiscalização do exercício profissional, resolve estabelecer normas estruturadas dentro de uma concepção matricial para a atribuição de títulos profissionais, atividades e competências no âmbito da atuação profissional. Para o diplomado em curso de graduação de Tecnologia em Agronegócio será atribuída a titulação de Tecnólogo em Agronegócio. A Resolução N° 1.018 de 8 de dezembro de 2006 dispõe sobre os procedimentos para registro das instituições de ensino superior e das entidades de classe de profissionais técnicos de nível médio nos Creas. Esta resolução fixa procedimentos para registro e revisão de registros das instituições de ensino superior. Na nova organização da educação profissional e tecnológica de graduação, orientada por meio de eixos tecnológicos o curso superior de Tecnologia em Agronegócio esta incluído no eixo tecnológico dos Recursos Naturais que compreende tecnologias relacionadas à produção animal, vegetal, mineral, aqüícola e pesqueira. Abrange ações de prospecção, avaliação técnica e econômica, planejamento, extração, cultivo e produção referente aos recursos naturais. Inclui, ainda, tecnologia de máquinas e implementos, estruturada e aplicada de forma sistemática para atender às necessidades de organização e produção dos diversos segmentos envolvidos, visando à qualidade e à sustentabilidade econômica, ambiental e social. O Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios – Faculdade de Sorriso – FAIS Tendo em vista este potencial econômico do Agronegócio no Estado do Mato Grosso e no município de Sorriso, aliada a carência de profissionais capacitados para atuarem nos três segmentos integrantes do agronegócio e a carência de cursos de nível Superior nesta área, a Faculdade de Sorriso-FAIS instituiu o Curso Superior de Tecnologia em Agronegócio. De acordo com o Projeto Político Pedagógico do Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios da Faculdade de Sorriso – Fais (2005), o objetivo geral do curso é: Propiciar formação ou aprimoramento de profissionais da produção, 35 armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agropecuários, capacitados para a utilização de equipamentos de alta tecnologia e procedimentos na área de produção de alimentos, produtos e serviços em propriedades rurais, e urbanas. Ademais, busca formar profissionais voltados à prática e à teoria das operações de comércio exterior e técnicas de gestão, capazes de usar os dados financeiros e econômicos para exercer julgamento, avaliar riscos e tomar decisões de negócios. Deverá, portanto, ser capaz de estabelecer uma compreensão sistêmica e estratégica, com uma visão do todo, de modo integrado e relacionado com o meio ambiente externo. Serão capacitados para a leitura e compreensão de textos especializados, elaboração de pareceres e relatórios e familiarizados com os conceitos de Gestão do Agronegócio e Desenvolvimento Sustentável (p. 37). O profissional além de possuir visão crítica e ser exigente com os resultados técnicos, ter potencial para acompanhar os avanços tecnológicos, possuir visão holística e ser capacitado para interagir com as pessoas, sobretudo com populações tradicionais, produtores rurais e clientes de agroindústrias. De uma forma geral, o egresso da Faculdade de Sorriso – FAIS deve ser capaz de: planejamento e acompanhamento de atividades voltadas para a agropecuária, estar apto para verificar a vocação da propriedade rural, sua situação técnica, econômica e legal e os recursos disponíveis na região, definir os insumos, quantificar a mão-de-obra e controlar a rotina dos serviços, definir os insumos, quantificar a mão-de-obra e controlar a rotina dos serviços, selecionar técnicas de cultivo, materiais, recursos humanos, máquinas, implementos e equipamentos adequados à realidade da propriedade rural, pesquisar e aplicar novas tecnologias para otimizar a produtividade de plantações e criações, identificar e analisar dados, informações estatísticas, séries econômicas; que o auxiliam na compreensão dos cenários do agronegócio, analisar cadeias produtivas, diferenciando os conceitos de complexos agroindustriais, sistemas agroindustriais, clusters e arranjos produtivos, planejar, implementar e avaliar projetos do agronegócio, auxiliar os profissionais de outras áreas a compreenderem a dinâmica dos complexos agroindustriais e entre outras atribuições. O curso de Tecnologia em Agronegócio tem duração de cinco semestres totalizando 2420 horas. A matriz curricular do curso está disposta no Quadro 1. Para um melhor desenvolvimento, as disciplinas foram organizadas em três módulos denominados: Módulo de Gestão, Processos e Produção. O tecnólogo em agronegócio terá como área de atuação granjas, empresas de produtos agrícolas, empresas de pesquisa agropecuária, cooperativas agrícolas, pequenas e médias propriedades rurais, profissional autônomo, estabelecimentos agro-pastoris que operam nos ramos de negócios rurais, repartições públicas e privadas que atuam com atividades rurais, órgãos ambientais, ONGs e entre outros. Considerações Finais O Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios é um curso recente e em fase de adaptações. A primeira turma iniciou no primeiro semestre com 30 alunos matriculados, a segunda turma iniciou no segundo semestre de 2007, com 50 alunos matriculados. Assim, percebe-se que o curso está em franco desenvolvimento e que tem despertado interesse na comunidade de Sorriso. Ainda enfrenta alguns problemas como a grande confusão que existe sobre o que é um curso técnico e a nível de ensino médio e um curso superior de tecnologia. Ainda, por ser muito recente falta o conhecimento por parte das pessoas da existência do mesmo na Faculdade de Sorriso – FAIS, assim sabemos que é de suma importância a divulgação do curso não só para o benefício da faculdade em si, mas também para realmente criar um mercado de trabalho promissor para os futuros tecnólogos emAgronegócios. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATALHA, Mário Otávio (org.). Gestão Agroindustrial. São Paulo:Atlas, 2001 FAIS, Faculdade de Sorriso. Projeto Político Pedagógico do Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios. FAIS, Sorriso - MT, 2005. Lei N° 5194 de 24 de dezembro 1966. Resolução n° 313 de 26 de Setembro de 1986. AResolução N° 1010, de 22 de agosto de 2005. AResolução N° 1.018 de 8 de dezembro de 2006 Quadro 1 – Matriz Curricular do Curso Superior de Tecnologia emAgronegócios. 1° MÓDULO : GESTÃO I SEMESTRE Introdução à Tecnologia em Agronegócios 40 Informática Aplicada e Sistemas de Informações 80 Fundamentos da Teoria Econômica 80 Cooperativismo e Desenvolvimento Rural 80 Metodologia Científica 80 Legislação Aplicada 40 TOTAL II SEMESTRE Administração no Agronegócio 400 80 Análise de Cadeias Produtivas 80 Contabilidade e Gestão Financeira no Agronegócio 80 Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 80 Gestão de Pessoas e Comportamento Humano 40 Práticas de Projetos Agropecuários e Relatório de Pesquisa I 70 TOTAL 430 3° MÓDULO : PROCESSOS III SEMSTRE Comercialização e Marketing do Agronegócio 80 Empreendedorismo e Planejamento Estratégico 80 Logística do Agronegócio 40 Tecnologia de Produtos Agropecuários 80 Microbiologia 40 Ecotoxicologia 40 Práticas de Projetos Agropecuários e Relatório de Pesquisa II TOTAL 70 430 4° MÓDULO: PRODUÇÃO IV SEMESTRE Agronomia : Conceitos e Fundamentos 80 Zootecnia: Conceitos e Fundamentos 80 Agricultura:Culturas de Interesse Econômico 80 Máquinas e Mecanização Agrícola 40 Morfologia, Gênese, Física e Conservação do Solo 80 Práticas de Projetos Agropecuários e Relatório de Pesquisa III TOTAL 70 430 V SEMESTRE Agrossilvicultura: Manejo de Sistemas Agroflorestais 80 Suinocultura/Avicultura e Bovino de Corte 80 Ecologia Agrícola 40 Integração Lavoura Pecuária 80 Manejo de Doenças e Pragas na Agricultura 80 Práticas de Projetos Agropecuários e Relatório de Pesq uisa IV Seminário Avançado 40 Atividades Complementares 240 Trabalho de Conclusão de Curso 70 20 TOTAL 730 Carga horária total 2420 hrs Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 36 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 EDUCAÇÃO, NATUREZA E CULTURA EM CASAS FAMILIARES RURAIS DO PARÁ: ANÁLISES INICIAIS 1 Edilene Santos Portilho Luis Mauro Sampaio Magalhães2 1-Mestranda em Educação Agrícola pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola – UFRRJ. E-mail: [email protected] 2- Professor do Departamento de Ciências Ambientais e Florestais – UFRRJ. E-mail: [email protected] Introdução Este trabalho constitui-se de uma pesquisa em nível de mestrado que estuda elementos da educação, natureza e cultura em três Casas Familiares Rurais (CFRs) do Pará, na Região do Baixo Tocantins, compreendendo os municípios de Tucuruí, Cametá e Igarapé Miri. Os trabalhos de campo ocorreram através de vivências nas CFRs e nas propriedades rurais das famílias associadas, em três viagens, com cerca de um mês cada uma – a pesquisa iniciou-se em 2006 e ainda se encontra em andamento. As Casas Familiares Rurais formaram-se tendo como base a Pedagogia da Alternância das Maison Familiales Rurales, experiência educativa acontecida primeiramente na França, em 1937, e trazida ao Brasil através de membros da igreja católica, na década de 1960. Nas décadas de 80 e 90, ocorreu a disseminação desse modelo sob variadas denominações, dentre Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), Casas Familiares Rurais (CFRs) e Centros Familiares de Formação porAlternância (CEFAs) (SILVA, 2004). Após a criação da primeira CFR na Região Transamazônica, houve a necessidade de se fundar outras CFRs e, atualmente, existem mais de 20 CFRs só no Estado do Pará, geridas pela ARCAFAR/Norte-Nordeste (Associação das Casas Familiares Rurais). As CFRs em estudo, assim como a grande maioria delas, estão imersas em conflitos sócio-ambientais. Registrouse, a partir dos anos 1960, que as políticas governamentais estimularam a ocupação da Região Transamazônica, intensificando o fluxo migratório especialmente em direção ao sul e sudeste paraense. Segundo Assis (2007), a política de incentivos fiscais e de crédito, a abertura de estradas, a construção de pontes e ferrovias, a ativação de novas áreas de garimpo e a instalação de uma hidrelétrica e de indústrias funcionavam como elementos de atração para os indivíduos de diferentes regiões. Enquanto o Estado declarava-se disposto a renunciar até a metade dos impostos a empresas, os incentivos para a população trabalhadora foi minimizado (COSTA, 1998:49). Nos anos 70, essa ditadura foi desafiada por um forte poder de resistência e de organização popular que se multiplicou no Pará. Foi criada nesta época a Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma pastoral social da igreja católica fundada com a colaboração de religiosos e militantes leigos que trata de questões fundiárias. Foi reforçada também a participação de posseiros nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e apossaram-se das direções “pelegas” dos Sindicatos &Moreira p.35. Vol.IV). Esse processo de organização política contribuiu para a fundação da primeira Casa Familiar Rural, em Medicilândia, no Pará, em 1995. As Casas Familiares Rurais têm como princípio norteador de seu projeto educativo a Pedagogia da Alternância, utilizando-se modalidades de tempos/espaços educativo, alternando o estudo em uma semana nas Casas Familiares Rurais e duas semanas nas propriedades rurais dos estudantes. A formação dos jovens baseia-se na combinação de períodos de vivências no ambiente das Casas – onde são diretamente acompanhados pelos monitores – e no ambiente familiar – onde estão diretamente assistidos por seus familiares e indiretamente pelos monitores. A metodologia educativa adotada nas CFRs conta com uma série de ferramentas pedagógicas que favorecem a animação dos princípios dessa pedagogia. As ferramentas pedagógicas não devem ser materiais prontos, e sim materiais construídos pelos próprios sujeitos do processo educativo, integrando os diversos atores envolvidos (monitores, jovens e familiares) e os tempos/espaços (Casa Familiar Rural e propriedade familiar rural), enfatizando suas demandas de ordem cultural, econômica e social. Alterna-se a formação agrícola com a formação teórica, e, além das disciplinas básicas, inclui-se também uma preparação para a vida associativa e comunitária (Silva, 2006:6). Os grandes desafios presentes nos espaços/tempos, talvez, sejam o da prática da transversalidade do conhecimento no dia-a-dia e a relação de constante negociação entre os atores envolvidos: as famílias lavradoras e os monitores. Ambos mantêm uma relação de adesão/resistência quanto aos conhecimentos de cada categoria, que nomeamos como os “ditos tradicionais” (dos lavradores) e os “ditos acadêmicos” (dos monitores). Na perspectiva da ARCAFAR, o processo de formação do jovem nos tempos/espaços deve ser mediado pelo monitor que é o “animador da troca de conhecimentos. Ele vai estimular os jovens, não vai ensinar ninguém” (Marcelo Silva, formador pedagógico das CFRs). Aspectos metodológicos Para se obter uma aproximação maior, tanto do ambiente de pesquisa, quanto dos protagonistas das CFRs, temse como referência a idéia de Little (2006: 91), que recomenda um diálogo entre a pesquisa ecológica política e o paradigma da complexidade. Para isso é necessário articular alguns princípios da pesquisa, como: a) ter as relações (naturais, 37 sociais ou sócio-ambientais) como o foco central; b) usar análises contextualistas que coloquem as relações dentro de seus respectivos marcos históricos e ambientais; c) utilizar metodologias processuais, através do acompanhamento dos fluxos de pessoas e de idéias, e da identificação da dinâmica interna do sistema. O acompanhamento no campo se deu através de vivências nas CFRs e em algumas propriedades rurais. Utilizou-se a etnografia como forma de registro, com variados instrumentos de registro, como observações participativas, entrevistas-conversas, filmagens e fotografias, a fim de se entender uma parte da dinâmica das relações sociais estabelecidas no ambiente de várzea e em terra firme, os dois diferentes ambientes em que se localizam as propriedades das famílias associadas às CFRs. Procurou-se também fazer um registro dos elementos ligados a educação popular na região, buscando-se os elementos básicos que motivaram a criação das Casas Familiares Rurais em cada município. O que se pode enxergar O processo de luta das famílias integrantes das CFRs, visando à educação e à garantia a direitos básicos, pode ser compreendido como uma busca da pedagogia da complexidade, que proporcione pensar a realidade sócioambiental como um processo de construção social (Leff, 2001:258). Dessa forma, tem-se uma formação voltada para valores, atitudes e competências, permitindo aos diferentes integrantes atuar de maneira mais consciente e atenta às complexidades do ambiente sócio-ambiental em que se inserem. Durante o estudo de cada CFR, observaram-se processos gerais semelhantes, tais como: todas as Casas, diretamente ligadas à ARCAFAR, passaram pelo mesmo processo de fundação, são regidas por estatutos votados pelas famílias associadas através assembléias, formam os jovens utilizando a pedagogia da alternância e ensinam os conteúdos determinados a partir de temas geradores escolhidos pelas famílias. No decorrer das vivências, definiu-se o conflito entre os saberes dos monitores (baseados no estudo acadêmico) com saberes dos lavradores (baseados em uma cultura obtida e aperfeiçoada através de gerações). Mais do que achar respostas, é necessário compreender as dimensões desse conflito. A principal pergunta é: “Será que os profissionais que são formados nas universidades do Estado do Pará dão suporte às demandas de ordem de política, filosófica, social e econômica das famílias lavradoras com as quais se dispõem a trabalhar?” Inicialmente, pode-se afirmar que os discursos dos pais e das lideranças apresentaram insatisfações quanto ao entendimento dos monitores, quanto à aplicação da pedagogia no cotidiano. Essa falta de entendimento vem comprometendo sensivelmente a relação entre as famílias e os monitores, e, consequentemente, a própria pedagogia desenvolvida nas CFRs. Essa experiência, querida pelos seus atores sociais e condizentes com suas perspectivas, tem como meta a profissionalização dos jovens como empreendedores do seu próprio futuro, desenvolvendo projetos de produção agrícola próprios e adequados a sua realidade social, cultural, econômica e ambiental. É importante compreender que a situação de conflito entre os saberes tradicionais e acadêmicos deve ser evidenciada e sinalizada, a fim de despertar perspectivas para uma educação emancipadora nas CFRs. Defender a importância dos saberes tradicionais das famílias é fundamental para a manutenção de um estilo de vida própria naquele ambiente, para que as Casas Familiares Rurais sejam um ambiente propício à construção e ao diálogo consciente dos diversos tipos de saber. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, William Santos de. A construção da representação dos trabalhadores rurais no sudeste paraense / Tese (doutorado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto de Ciências Humanas e Sociais. HÉBETTE, J. Cruzando a fronteira: 30 anos de estudos do campesinato naAmazônia. Belém: EDUFPA, 2004. Vol. IV. LEFF, Enrique. Saber Ambiental. Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder. Petrópolis, RJ, Vozes/PNUMA, 2001. 343p. LITTLE, Paulo Elliot. Ecologia Política como etnografia: um guia teórico e metodológico . In: Horizontes Antropológicos/ UFRGS.IFCH. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Ano 12, n. 25 (2006). Porto Alegre: PPGAS, 2006. SILVA, Lourdes Helena da. Modalidades, Representações e práticas de alternância na formação dos jovens agricultores. In: Revista de formação por alternância. Brasília: União das Escolas Famílias agrícolas do Brasil. Vol. 1. No 2, 2006.108 p. Documento: Histórico ARCAFAR/PA em 25 de setembro de 2006. Conclusões A Pedagogia da Alternância adotada pelas CFRs constitui um elemento fundamental à educação daquelas populações, por priorizar a participação dos pais, a adaptação do aprendizado às demandas locais, a passagem de princípios de associativismo e cooperação e a preservação do modo de vida baseada na agricultura praticada pelas famílias. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 38 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 (RE) ORGANIZAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES E REFORÇO DOS JOVENS E MULHERES NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1 Jadson Rodrigo Barrêto Seelig de Souza , Yoly Souza Ramos2, Jaqueline Rogéria Barrêto Seelig de Souza Pinheiro3, Yldry Souza Ramos4, Maria Lindinalva Silva Panta5. 1 – Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Engenharia Agrícola pela UFRPE; 2 – Engenheira Agrícola, Especialista em Ecologia e Meio Ambiente, e Mestranda em Engenharia Agrícola pela UFRPE; 3 –. Assistente Social; 4 – Psicóloga do trabalho, Especialista em Psicologia clinico-hospitalar, e Mestranda em Saúde coletiva, pela UEPB; 5 – Graduanda em Pedagogia pela UVA. INTRODUÇÃO Com a ampla difusão de valores associados à modernização da agricultura nas instituições da sociedade, verdadeiros processos de erosão cultural vão se disseminando no mundo rural. Disso têm resultado rupturas nas formas tradicionais de produção e disseminação de conhecimentos para o manejo dos ecossistemas e nos mecanismos de sociabilidade em comunidades de produtores familiares. De tão avassaladora, a força ideológica dos mitos da modernidade influencia o imaginário dos próprios produtores familiares que, em muitas situações, passam a assumir uma percepção negativa de si mesmos e de seus modos de vida. Embora esse processo ocorra de forma generalizada nas comunidades rurais influenciadas pelo avanço das formas produtivas da Revolução Verde, é sobretudo nas novas gerações que ele exerce seu papel mais insidioso. Meios de comunicação de massa e sistemas educacionais inadequados difundem valores relacionados a um mundo cujas relações sociais são cada vez mais reguladas pelos mecanismos do mercado e cujo meio natural é percebido sobretudo por sua dimensão instrumental/utilitária. Com isso, padrões de produção e de consumo insustentáveis ganham prestígio entre crianças, jovens e mulheres rurais. Na contra corrente, culturas rurais vêm sendo revalorizadas por um número crescente de movimentos sociais e por experiências práticas no campo do ensino e do desenvolvimento, nas quais as novas gerações de agricultores e agricultoras procuram restaurar sua identidade, resultando em um novo contexto de relações entre o rural e o urbano. Muitos desses movimentos e experiências encontram nas dinâmicas de inovação agroecológica estímulos para o exercício de práticas e vivências que buscam incorporar as tradições culturais e atribuir um sentido inovador à noção de modernidade. Com isso novas perspectivas econômicas e socioculturais para a inserção no mundo rural vão sendo descortinadas pelas novas gerações de agricultores que se associam localmente em torno a projetos de promoção da agricultura ecológica. Há claras evidências de que a rápida expansão da produção familiar de base agroecológica, no Brasil como em outros países, está fundamentalmente associada aos impactos econômicos positivos alcançados pelas famílias produtoras na sustentabilidade de seus sistemas produtivos. Faltam, no entanto, sistematizações e estudos que confiram maior consistência a essas evidências, concorrendo simultaneamente para sensibilizar novos praticantes de um modelo de desenvolvimento que garanta a sustentabilidade e para alavancar debates, propostas e medidas de fomento no âmbito das políticas públicas. Este projeto teve como objetivo refletir sobre a forma de (re)organização dos agricultores familiares, beneficiários do Programa de Reforma Agrária no município de Catende, Estado de Pernambuco, sua relação com o modelo de desenvolvimento adotado e a sustentabilidade deste, bem como a utilização de jovens e mulheres na construção de um plano de ruptura com o modelo tecnológico proveniente da Revolução Verde, visando fomentar a construção de comunidades rurais mais justas no âmbito social, econômico e ambiental. METODOLOGIA Os agricultores familiares estudados, tinham no mínimo dois anos de experiência. O primeiro procedimento foi identificar a forma de organização e descrever como esta influenciou na adoção do modelo de produção adotado, bem como qual a contribuição que mulheres e jovens podem dar, para que seja possível a implementação de projetos de desenvolvimento. E, baseando-se nesta identificação, analisaram-se alternativas para a construção de um plano de ruptura com o modelo tecnológico promovido pela Revolução Verde. A análise teve que ser abrangente, pois estes agricultores executam várias tarefas em diferentes regiões; teve que ser internamente coerente, por realizarem várias atividades o estudo destes agricultores não pôde ter um único resultado; teve que ser confiável, por fim; teve que corresponder aos objetivos e aos critérios dos protagonistas locais. Trabalhou-se para desenvolver um modelo de avaliação do desempenho individual e coletivo dos assentados que se fundamentou na eleição de alguns indicadores, entre os quais: 1) a capacidade de trabalhar agroecologicamente, 2) a capacidade de absorção de novas tecnologias alternativas, 3) capacidade de aplicar os recursos provenientes de Programas de Fortalecimento da Agricultura Familiar, 4) atuação na reivindicação coletiva. Outros procedimentos utilizados foram: revisão bibliográfica; levantamento de dados secundários; análise de documentos, estatutos, atas e projetos; aplicação de entrevistas e questionários. 39 RESULTADOS E DISCUSSÃO A organização local dos produtores familiares desempenhou um papel de suma importância na construção de uma alternativa aos modelos advindos da Revolução Verde. O fortalecimento de dinâmicas sociais de experimentação e de intercâmbio de conhecimentos, tem possibilitado um maior desenvolvimento socioeconômico da população estudada, tendo em vista o aumento ao acesso ao crédito, à inserção desses agricultores no mercado. A inserção de jovens e mulheres no processo possibilitou o estabelecimento de vínculos entre os processos de transformação local e a dimensão macro em que são formulados e debatidos os projetos coletivos, assim as organizações locais passam também a exercer o papel de atores políticos. De um lado se empenham na mobilização de suas bases para incorporar e propor novos caminhos para o desenvolvimento local. Portanto, construir um conceito de desenvolvimento rural de forma sustentável, que se baseia no descobrimento, sistematização, análise e potencialização dos elementos locais frente ao processo de modernização, para através deles, desenhar de forma participativa, estratégias de desenvolvimento definidas baseando-se da própria identidade local do ecossistema no qual se encontram inseridos, só se fez possível com a maior sensibilidade e absorção por parte das mulheres e jovens no processo. MOTA, Ana Elizabete, AMARAL, Ângela. (1998). A Restruturação do capital, fragmentação do trabalho e serviço social. In: MOTA, Ana Elizabete (org.). A nova fábrica de consensos, São Paulo: Cortez. OLSON, Mancur (1999). Lógica da ação coletiva. São Paulo: Edusp. OSTROM, Elinor (1998) A behavioral approach to the rational choice theory of collective action. In: American Political Science Review, v. 92, n. 01. SABOURIN, Eric (1999). Práticas de reciprocidade economia de dádiva em comunidades rurais do nordeste brasileiro. Revista Raízes, ano XVIII (20): 41-49. SABOURIN, Eric (1999b). Meio ambiente e sustentabilidade da agricultura familiar no semi-árido nordestino. Revista Raízes, ano XVIII (20): 132-143. SEVILLA GUZMÁN, E., GONZÁLEZ DE MOLINA, M. (eds.). (1993). Ecologia, Campesinato e Historia. La Piqueta. Madrid. YAZBEK, M. Carmelita. (2001). Pobreza e exclusão social: Expressões da questão social no Brasil. Temporális N 3, Brasília:ABEPESSE, Grafline. ZIMMERMANN, Neusa de Castro (1994). Os desafios da organização interna de um assentamento rural. In: Medeiros, Leonilde... et al., “Assentamentos rurais: uma visão multidisciplinar”. São Paulo: Edunesp. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABATH, Edistia Maria. (2003).Democracia em tempos de globalização. In: Presença ética: ética política e emancipação humana.Ano III N 3. BERGAMASCO, Sonia Maria Pessoa Pereira (1994). Assentamentos rurais: reorganização do espaço produtivo e processos de socialização. In: Medeiros, Leonilde... et al., “Assentamentos rurais: uma visão multidisciplinar”. São Paulo: Edunesp. CALATRAVA, J. (1995). “Actividad agraria y sustentabilidad em el desarrollo rural. El papel de la investigacionextensión com enfoque sistêmico”. En: Ramos Leal, E. y Cruz Villalon, J.(eds.). Hacia um nuevo sistema rural. Madrid: MAPA. CUNHA, Luis H. (2002) Manejo comunitário de recursos naturais na Amazônia: arranjos institucionais e mediação externa. Belém: NAEA/UFPA, tese de doutorado, mimeo. FERREIRA, José Ambrósio (2000). Racionalidade individual, ação coletiva e a luta pela reforma agrária. Revista Brasileira da Associação Brasileira de Reforma Agrária. vol. 29 (03), vol. 30 (01, 02 e 03): 15-30. KLIKSBERG, Bernardo.(2001) “Falácias e Mitos do Desenvolvimento”. São Paulo: Cortez. OTTMANN, G. (2001).Uma estratégia de sustentabilidade a partir da Agroecologia. RevistaAgroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, V.2, N 1, p. 35-45. MEDEIROS, Leonilde. CINTRAO, Rosangela. HEREDIA, Beatriz Maria A (2004). Impactos dos assentamentos: um estudo sobre o meio rural brasileiro. São Paulo: Edunesp. MENEZES, M. A., OLIVEIRA, M. G. C. e MIRANDA, R. S. (2004). Juventude em assentamentos rurais. 24a. Reunião daABA, Recife. MOREIRA, Roberto José (2003). Cultura, política e o mundo rural na contemporaneidade. Estudos Sociedade e Agricultura (20): 113-143. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 40 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE SOSSEGO ESTADO DA PARAÍBA 1 1 1 Joelma Sales dos santos , Aline Costa Ferreira , Silvana Silva de Medeiros , Kaline Dantas Travasso1, Geraldo Moura Baracuhy Neto2, Vera Lúcia Antunes de Lima3 1 2 Engenheira Agrícola, Aluna de Pós-Graduação em Irrigação e Drenagem, UAEAg/UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected] Administrador de Empresas, Aluno de Pós-Graduação em Recursos Naturais, UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected] 3 Engenheira Agrícola, Profa. Doutora da UAEAg/ CTRN/UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO No Brasil, o início da influência do homem sobre o meio ambiente pode ser notada a partir da chegada dos portugueses. Antes da ocupação do território brasileiro, os indígenas que aqui habitavam (estimados em 8 milhões) sobreviviam basicamente da exploração de recursos naturais, por isso, utilizavam-nos de forma sustentável (WALLAVER, 2000). A preocupação com o meio ambiente caminha a passos lentos no Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos, principalmente em função de prioridades ainda maiores como, por exemplo, a pobreza. As carências em tantas áreas impedem que sejam empregadas tecnologias/investimentos na área ambiental. Dessa forma, estamos sempre atrasados com relação aos países desenvolvidos e, com isso, continuamos poluindo. Uma solução para minimizar esse problema é o dossiê de ambiência, que representa uma coleção de documentos e dados sobre um determinado assunto; expressa também listagem, rol ou coletânea de informações sobre um tema específico. O dossiê de ambiência tem como objetivo principal, mostrar os potenciais de desenvolvimento, pela administração municipal, a fim de elevar o nível de vida da população e melhorar a qualidade da ambiência local, solucionando, senão todos, pelo menos uma parte dos problemas sócio-econômicos e ambientais existente. Conhecendo os problemas ambientais é possível aos administradores do Município fazer um planejamento em longo prazo de como melhorar o ambiente e a qualidade de vida de seus municípios. Neste sentido o dossiê converterá os problemas em metas e estas serão priorizadas, de acordo com a demanda da população. O presente estudo apresenta, de forma objetiva e resumida, os problemas ambientais encontrados na zona rural do município de Sossego, PB, a partir do conceito de "dossiê da ambiência" sugerido por Rocha (1997). METODOLOGIA O dossiê de ambiência foi realizado no Município de Sossego, PB, que compreende uma área de 119,7 Km2 é parte integrante da Microrregião do Curimataú Ocidental, que integra a Mesorregião do Agreste Paraibano. O Dossiê de Ambiência foi desenvolvido de acordo com processo metodológico apresentado por Rocha (1997) estruturado nas seguintes etapas: Levantamento de informações gerais do Município, contextualização dos problemas ambientais e encaminhamentos e equacionamento dos problemas ambientais identificados. 1) Levantamento de informações gerais do Município no ambiente rural: Constitui de avaliação geral da área, através de visita in loco, registro fotográfico; e anotação dos principais problemas ambientais observados. Coletaram-se, também, informações que compreendem a localização e acesso, aspectos históricos, físicos, sócio-culturais, geográficos, clima, ambientais, econômicas, infra-estruturais e assentamentos do município. 2) Contextualização dos problemas ambientais, destacando a deterioração das condições ambientais, econômicas, e de infra-estrutura como um indicador do não aproveitamento das potencialidades do município, do distanciamento das instituições políticas e as deficiências dos sistemas de educação e saúde. 3) Análise crítica dos problemas ambientais, relacionando-os ao meio ambiente e a infra-estrutura do município, como uma avaliação preliminar. 4) Encaminhamento e o equacionamento dos problemas ambientais identificados: A partir de um diagnóstico construído com as informações coletadas e contextualizadas foram definidas alternativas para o equacionamento de diversos problemas ambientais observados, tratando-os como meta. Para tanto tomou-se como base na metodologia preconizada por Vilfredo Pareto apresentada por Rocha (1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 encontra-se as metas em ordem decrescente de ocorrência quanto à degradação ambiental que foi encontrada na área rural do município de Sossego, PB. Analisando as variáveis individuais (Tabela1) percebe-se que um dos maiores problemas encontrados e com maior grau de deterioração foi o uso do solo, representando 9,32 % de deterioração. O segundo problema ambiental detectado foi o manejo integrado de microbacias hidrográfica, responsável por 9,24% da deterioração da área rural do município. Para que uma determinada Microbacia Hidrográfica possa estar devidamente equilibrada entre o aproveitamento dos seus recursos e a qualidade ambiental, se faz necessário que todas as variáveis que estejam atuando naquele ambiente sejam consideradas. 41 Tabela 1. Metas para recuperação ambiental para a Área Rural do Município de Sossego, PB. Variável de deterioração Mapa de Uso do Solo Manejo Integrado de Microbacias Hidrográfica Planejamento Físico Rural Destinação do Lixo Esgotamento Sanitário Abastecimento D'água Avaliação da ProduçãoAgrosilvopastoril Plano de Recuperação de Áreas Degradadas Plano de Controle Ambiental Projeto Turístico Educação Ambiental Técnica Controle de Erosão Viveiro de Produção de Mudas Florestais Sinalização das Estradas Aprisionamento de Animais Silvestre TOTAL Peso 5,21 5,17 3,75 3,74 3,73 3,72 3,70 3,69 3,67 3,64 3,61 3,58 3,24 2,90 2,58 55,93 Deterioração (%) 9,32 9,24 6,70 6,69 6,67 6,65 6,62 6,60 6,56 6,51 6,45 6,40 5,79 5,19 4,61 100,00 Deterioração acumulada (%) 9,32 18,56 25,26 31,95 38,62 45,27 51,89 58,49 65,05 71,56 78,01 84,41 90,20 95,39 100,00 Encontra-se representado no Gráfico de Pareto (Figura 1), as metas para a área rural do Município de Sossego, PB. D e te riora ç ão A c um ulada (% ) 12 0 1 00 95 ,3 9 10 0 90 ,2 84 ,4 1 78 ,01 71 ,56 80 6 5, 05 5 8,4 9 5 1, 89 60 4 5,2 7 3 8, 62 3 1,9 5 40 25 ,2 6 18 ,5 6 20 9 ,3 2 5, 21 5,1 7 3 ,75 3,7 4 3,7 3 3 ,72 3, 7 3,6 9 3 ,67 3,6 4 3, 61 3 ,58 7 8 9 10 1 1 1 2 1 3 1 4 15 3 ,2 4 2 ,9 dos solos da área rural representou 6,40 %. Um dos fatores que contribuiu para essa percentual foi o desmatamento das áreas nativas para implantação de agricultura de subsistência.Portanto, a prática do desmatamento, seguida das queimas o solo fica mais susceptível ao carreamento pelas águas das chuvas. No município foram encontradas algumas inscrições rupestres, marcas deixadas por nossos antepassados nas pedras, abandonadas entre a remanescente da mata nativa local. Para que essas inscrições e outros atrativos sejam explorados pelo turismo é necessário que a prefeitura faça um estudo de viabilidade para ver se a cidade tem condições de suportar a visitação popular. Foi analisado o problema do desmatamento no município de Sossego e através deste foi detectado que os viveiros de produção de mudas se encontram com 90,20% de deterioração acumulada. Com 5,79 % das incidências, avaliados dentro dos 80% da priorização por Pareto, o problema da produção de mudas se encontra escassa em Sossego. Deve-se produzir mudas nativas da região para facilitar o plantio e o desenvolvimento das mesmas. O problema da sinalização das estradas, principalmente as com bifurcações, também é uma preocupação, essas devem apresentar algum tipo de sinalização/placas que indique a localidade de destino, uma maneira de facilitar a orientação daqueles que não possuem conhecimento da região. O aprisionamento de animais silvestres representa apenas 4,61% dos problemas ambientais analisados. Esse fato foi observado, apenas, em casos isolados de aprisionamento de aves em gaiolas por alguns moradores. 2,5 8 0 1 2 3 4 5 6 P e so s P ES OS DE TE RIORAÇÃ O ACUMULA DA (% ) Figura 1. Gráfico de Vilfredo Pareto para a área rural do Município de Sossego, PB A destinação do lixo na zona rural representa uma deterioração 6,69%, quanto a essa questão o município deve implantar um sistema de coleta que contemple também a zona rural evitando a poluição dos rios e incentivando aos moradores a coleta seletiva a uma futura reciclagem desse material. GRACIOLI, et. al (2005) sugerem esse estímulo através da troca desse lixo por alimentos de forma que a cada quantidade de lixo recolhido, a pessoa receba uma cesta básica. Em Sossego observa-se que o lançamento de esgotos é feito diretamente em açudes, onde é retirado água para diversas atividades domésticas, além da dessedentação de animais. Um dos grandes problemas observados na visita in loco foi à falta de abastecimento de água, representando 6,65% da deterioração. A implantação de sistema de abastecimento de água visa fundamentalmente contribuir com a população para: controlar e prevenir doenças; implantar hábitos higiênicos na população; facilitar a limpeza pública; propiciar conforto, bem estar e segurança. HELLER e CASSEB (1995) acrescentam importantes itens referentes ao aspecto econômico alcançado pela população beneficiada pelo abastecimento público, tais como: aumento da vida média; diminuição de gastos com médicos e hospitais; aumento da vida produtiva dos indivíduos economicamente ativos; facilidade para a implantação de indústrias, inclusive a de turismo e facilidade no combate a incêndios. Foi identificada uma grande quantidade de culturas cultivadas em pequenas áreas sem nenhum estudo prévio de aptidão agrícola (6,62% da deterioração). O plano de recuperação de áreas degradadas representa 6,60%. Apesar de que ter sido pequeno o índice de solos erodidos, a deterioração CONCLUSÕES Os cinco principais problemas ambientais encontrados, no município de Sossego, em ordem crescente de importância foram: Mapa de Uso do Solo, Manejo Integrado de Microbacias Hidrográfica, Planejamento Físico Rural, Destinação do Lixo e Esgotamento Sanitário. A metodologia aplicada foi adequada para os propósitos apresentados e pode ser utilizada para o diagnóstico de problemas ambientais em pequenas cidades, independente de sua localização geográfica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GRACIOLI, C. R.; BRUN, E. J.; ROCHA, J. S. M. da. Problemas ambientais no município de São Pedro das Missões, RS. Rev. Fac. Zootec. Vet.Agro. v. 12, n. 1, p. 135-151, 2005. HELLER, L.; CASSEB, M. M. S. Abastecimento de água. In: BARROS, R. T. V. et al. (Org.). Manual de saneamento e proteção ambiental para os municípios. Belo Horizonte: UFMG/Escola de Engenharia, 1995. p. 63-112. ROCHA, J. S. M. Manual de Projetos Ambientais. Imprensa Universitária da UFSM-RS, 1997, Santa Maria-RS, 423 p. WALLAVER, J. P., ABC do meio ambiente, fauna brasileira, Editora IBAMA, Brasília, DF (2000). Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 42 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 ESTUDO DA AMBIÊNCIA URBANA - MUNICÍPIO DE CABACEIRAS/PB 1 2 3 4 Kaline Dantas Travassos , Joelma Sales dos Santos , Aline Costa Ferreira , Silvana Silva de Medeiros 7 Geraldo de Moura Baracuhy Neto5, Silvana Fernandes Neto6, Josinaldo Xavier de Medeiros . Eng. Agrícola – Pós-Grad. Desenv. Sustent. para o Semi-árido - UFCG - [email protected] Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem-UFCG – [email protected] Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem-UFCG – [email protected] 4 Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem-UFCG – [email protected] 5 Admin. de Empresa – Mestrando em Recursos Naturais – [email protected] 6 Geógrafa- Mestranda em Recursos Naturais -UFCG – [email protected] 7 Prof. Ms. Dpto de Ciências Agrárias – UFPB – [email protected] RESUMO Foi realizado um levantamento ambiental de caracterização da ambiência do município de Cabaceiras, PB. A metodologia utilizada foi à proposta por Rocha (1997), que é composta de visitas in loco, fotografias e preenchimento de questionários por pessoas da comunidade e secretários da prefeitura. Os resultados obtidos em campo foram analisados e definidos os percentuais para cada parâmetro de acordo com a metodologia de "Paretto". Os diagnósticos foram analisados em ordem decrescente de ocorrência, detectando os problemas da ambiência da área urbana do município e transformando-os em metas que foram priorizadas de acordo com as necessidades e carência dos habitantes. Para os principais diagnósticos verificados os prognósticos são os seguintes: Esgotamento sanitário, levantamento e análise da qualidade de vida da área urbana, nas comunidades, vilas e povoados e gestão integrada dos resíduos sólidos e destinação do lixo. Palavras-chave: área urbana, diagnóstico, prognóstico INTRODUÇÃO A sociedade humana destaca-se pela capacidade de unir esforços e agregar-se social e economicamente ao redor de sistemas produtivos, o que possibilitou, ao longo da sua evolução, a formação de aglomerados humanos conhecidos como cidades, do latim "civitas". A partir da formação desses aglomerados começam a surgir problemas de natureza ambiental, advindos das atividades produtivas, residenciais e sociais dos seres humanos. Estes problemas existem desde o surgimento do homem primitivo, quando ele começou a desenvolver técnicas, como o uso do fogo, da pecuária e da agricultura. Chaffun (1997) mencionou que é nas cidades onde se concentra a maior parte das atividades econômicas, onde se consome a maioria dos recursos e onde se gera maior parte da poluição. Segundo o CEMPRE (2000), as cidades acumulam riquezas. Entretanto, são também imensas consumidoras de recursos naturais e geram significativas quantidades de lixo que precisam ser dispostas de maneira segura e sustentável. Do ponto de vista social e econômico, o impacto fundamental e a crescente transferência de encargos e responsabilidades sociais para os municípios, acompanhados de forte controle financeiro. No plano político-administrativo, impõe-se uma nova pauta para o poder executivo local sobre a gestão pública, onde o planejamento municipal e a participação da sociedade civil são fatores decisivos para a convivência e superação da crise e para a consolidação das políticas públicas no campo da produção e circulação de bens e serviços, bem como da assistência social. O Dossiê de Ambiência representa um relato completo de todos os problemas ambientais de um município, visando o meio em que a população vive que no presente trabalho trata-se da área urbana, mostrando ainda como resolver estes problemas, onde estão às soluções e quanto custa cada projeto. Este trabalho objetiva um aprofundamento e estudo dos problemas ambientais da zona urbana de Cabaceiras - PB, pois a metodologia utilizada foi a citada por Rocha (1997) que é denominada "dossiê da ambiência", onde propõe diagnosticar todos os problemas sociais, ambientais e econômicos do município e seus respectivos prognósticos. MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa foi desenvolvida no município de Cabaceiras, PB, localizado na Mesorregião da Borborema e na Microrregião do Cariri Oriental, com as seguintes coordenadas geográficas: 7029'20'' de Latitude Sul e 36017'14'' de Longitude Oeste. Possui uma extensão territorial em torno de 407 km2, com uma população de 6.180 habitantes. O dossiê de ambiência do município de Cabaceiras, PB, foi realizado com base na metodologia desenvolvida por Rocha (1997), que consiste num registro completo de problemas ambientais observados durante a pesquisa realizada nas zonas urbanas e rurais de um município. No presente estudo, trabalhou-se com o ambiente urbano. Avaliação da área geral do município, em questão, foi realizada através de visitas “in loco” por toda a zona urbana onde todos os problemas verificados foram registrados através de fotografias, as quais eram identificadas através de números e discrição inscritas para que as informações não fossem perdidas. Também foram aplicados questionários, aos secretários municipais e a população do município. Para a analise das priorizações dos 43 dados foi utilizado o gráfico de Paretto, uma ferramenta estatística empregada para se estabelecer a ordem em que às causas de determinados problemas ou perdas devem ser sanadas, conforme indicado pela metodologia proposta por Rocha (1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 01 mostra a priorização das metas para área urbana, do município de Cabaceiras, segundo adaptação da metodologia proposta por Vilfredo Paretto. A priorização foi conseguida através de “Pesos” atribuídos a cada Meta, “Pesos” estes analisados ao longo dos anos, de acordo a experiência da Equipe Técnica, usando-se intervalos lógicos de valores de deterioração ambiental, que foram calculados em porcentagem, por temas, mediante médias ponderadas. Portanto, a prioridade está relacionada diretamente com a maior deterioração ambiental (META 1= maior deterioração). As Metas descritas, estão em ordem de prioridade. Tabela 01: Metas para a Área Urbana município de Cabaceiras. Meta 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 Nome da Meta Destinação dos Resíduos Sólidos Esgotamento Sanitário Abastecimento de Água Educação Ambiental Técnica Manejo integrado de Microbacias Hidrográfica Plano de Controle Ambiental Mapa de Uso do Solo Planejamento Físico Rural Estudo de Avaliação da Produção Agrosilvopastoril Estudo, Inventário e Manejo da Fauna e Flora Viveiro de Produção de Mudas Florestais Plano de Recuperação de Áreas Degradadas Aprisionamento de Animais Silvestre Controle de Erosão Turismo TOTAIS Pesos Deterioração (%) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CEMPRE. Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. 2. ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000. 370p. CHAFFUN, N. Dinâmica global e desafio urbano. In: BONDUKI, N. (Org.). Habitat: as práticas bem sucedidas em habitação, meio ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 1997. 267p. ROCHA, J. S. M. (1997). Manual de projetos ambientais. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 423p. Deterioração Acumulada (%) 3,74 3,73 3,72 3,61 5,17 6,59 6,58 6,56 6,36 9,11 6,59 13,17 19,73 26,09 35,21 3,67 5,21 3,75 3,70 6,47 9,19 6,61 6,52 51,68 50,86 57,48 64,00 3,69 6,51 70,50 3,24 5,71 76,22 3,69 6,51 82,72 2,58 4,55 87,27 3,58 3,64 56,72 6,31 6,42 100 93,58 100,00 - CONCLUSÕES A partir da metodologia aplicada estudo da ambiência urbana - município de Cabaceiras/PB foi possível observar a existência de muitas famílias com renda baixa, com problemas sociais, tecnológicos, econômicos, entre outros. Portanto vimos a importância da realização desse trabalho, pois ele foi de grande importância para a avaliação da qualidade de vida das famílias residentes neste município. Através desta metodologia foi possível detectar as deficiências e indicar as medidas possíveis para superá-las, logo estes resultados prognosticados proporcionará um aumento substancial do nível de vida da população do município de Cabaceiras. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 44 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 DOSSIÊ AMBIENTAL - ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE CABACEIRAS-PB. Silvana Fernandes Neto1, Kaline Dantas Travassos2; Aline Costa Ferreira2; Joelma S. dos Santos4 ; Geraldo Moura Baracuhy Neto5, Silvana Silva de Medeiros6, Josinaldo Xavier de Medeiros7. 1Geógrafa – Mestranda em Recursos Naturais – UFCG – [email protected] 2Eng. Agrícola – Pós-Grad. Desenv. Sustent. para o Semi-árido - UFCG - [email protected] 3Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem - UFCG – [email protected] 4Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem - UFCG – [email protected] 5Admin. de Empresa – Mestrando em Recursos Naturais – [email protected] 6Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem-UFCG – [email protected] 7Prof. Ms. Dpto de Ciências Agrárias – UFPB – [email protected] RESUMO O objetivo do presente trabalho foi analisar e caracterizar a ambiência do município de Cabaceiras-PB. Para isto, utilizouse da metodologia proposta por Rocha (1997), que consiste num registro completo dos problemas ambientais, utilizando o “Gráfico de Paretto”, como ferramenta para análise dos dados. O uso desta ferramenta permitiu definir parâmetros a dados referentes à população da zona rural, bem como encaminhar alternativas de soluções para os problemas ambientais, ordenando-os em prioridades, de modo a favorecer a concentração de recursos em ações relevantes no município. Palavras-chave: ambiência, diagnóstico, problemas ambientais INTRODUÇÃO O Brasil tem passado por inúmeras mudanças estruturais, decorrentes da sua rápida inserção no mundo globalizado. A nova forma de relação com o resto do mundo e, sobretudo, com o grande capital internacional mudou e esta mudando as relações internas entre a União, Estados e Municípios e, especialmente, a relação do poder público com a sociedade civil, que cada vez mais se organiza na defesa de interesses corporativos e direitos difusos. De fato, vive-se uma nova ordem social, econômico-financeira e de gestão pública no nosso País. Do ponto de vista social e econômico, o impacto e a crescente transferência de encargos e responsabilidades sociais para os municípios, acompanhados de forte controle financeiro. No plano político-administrativo, impõe-se uma nova pauta para o poder executivo local sobre a gestão pública, onde o planejamento municipal e a participação da sociedade civil são fatores decisivos para a convivência e superação da crise e para a consolidação das políticas públicas no campo da produção e circulação de bens e serviços, bem como da assistência social. Um terceiro e imprescindível elemento a ser considerado, na atual conjuntura, é a variável ambiental. Para efeito de aprovação, as agências financiadoras de projetos de desenvolvimento, público e privadas, classificam os projetos segundo o grau de risco ambiental, priorizando aqueles que apresentem características concretas de sustentabilidade. A contribuição é factível, na medida em que reúne os problemas ambientais mais relevantes que interferem na qualidade de vida da população e as potencialidades do município que podem ser aproveitadas para a geração de trabalho, emprego, renda e novos meios de renda, apresentando alternativas viáveis, indicativos de parceria e estimativas de custos para algumas das ações propostas. Este trabalho teve como objetivos realizar um estudo dos problemas ambientais da zona rural do município de Cabaceiras - PB, para isso utilizou-se a metodologia apresentada por Rocha (1997) denominada "dossiê de ambiência", que propõe o diagnóstico dos problemas sociais, ambientais e econômicos do município e seus respectivos prognósticos. MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa foi desenvolvida no município de Cabaceiras-PB, que está localizado na Mesorregião da Borborema e na Microrregião do Cariri Oriental, delimitado pelas coordenadas de 7 29'20'' de Latitude Sul e 36 17'14'' de Longitude Oeste. Possui uma extensão territorial de aproximadamente 407 km2, com uma população em torno de 6.180 habitantes. O dossiê de ambiência no município de Cabaceiras-PB foi realizado com base na metodologia proposta por Rocha (1997), que consiste num registro completo de problemas ambientais da área de estudo. No caso, este estudo desenvolveu-se na zona rural do município de Cabaceiras/PB. Avaliação geral da área do município em questão foi realizada através de visitas “in loco” por toda a zona rural, com registro fotográfico dos problemas encontrados. Cada registro foi identificado através de número e descrito com informações pertinentes ao local. Também foram aplicados questionários, aos secretários municipais e a população das comunidades rurais. Para a analise das priorizações dos dados foi utilizado o “Gráfico de Paretto”, uma ferramenta estatística empregada para se estabelecer a ordem em que às causas de determinados problemas ou perdas devam ser sanadas, conforme indicado pela metodologia proposta por Rocha (1997). 45 RESULTADOS E DISCUSSÃO A priorização das metas para área rural, do município de Cabaceiras foi obtida através de “Pesos” atribuídos a cada Meta. Estes “Pesos” foram analisados ao longo de anos experiência da Equipe Técnica, usando-se de intervalos lógicos de valores de deterioração ambiental, calculados em porcentagem, por temas, e mediante médias ponderadas, Tabela 01. Tabela 01: Metas para a Área Rural do município de Cabaceiras. Nº. Metas Pesos Deterioração (%) Deterioração Acumulada (%) 01 02 03 04 05 Destinação dos Resíduos Sólidos Esgotamento Sanitário Abastecimento de Água Educação Ambiental Técnica Manejo integrado de Microbacias Hidrográfica Plano de Controle Ambiental Mapa de Uso do Solo Planejamento Físico Rural Estudo de Avaliação da Produção Agrosilvopastoril Estudo, Inventário e Manejo da Fauna e Flora Viveiro de Produção de Mudas Florestais Plano de Recuperação de Áreas Degradadas Aprisionamento de Animais Silvestre Controle de Erosão Turismo TOTAIS 3,74 3,73 3,72 3,61 5,17 6,59 6,58 6,56 6,36 9,11 6,59 13,17 19,73 26,09 35,21 3,67 5,21 3,75 3,70 6,47 9,19 6,61 6,52 51,68 50,86 57,48 64,00 3,69 6,51 70,50 3,24 5,71 76,22 3,69 6,51 82,72 2,58 4,55 87,27 3,58 3,64 56,72 6,31 6,42 100 93,58 100,00 - 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 Destaca-se que a mesma pode ser aplicada para estudos em pequenos municípios, fazendo uso dos mesmos parâmetros, ou com alguma adaptação à realidade de cada região, mas conservando os mesmos princípios. Com relação à economia do município de CabaceirasPB, constatou-se que a mesma é baseada na produção familiar, com isto, faz-se necessário à implantação de políticas que contemplem o acesso dos produtores a crédito rural, a programas de incentivo a produção, através de apoio financeiro e técnico, garantia de preços e estrutura de armazenamento, pois o município apresenta potencialidades que poderiam ser mais bem exploradas. O cenário do setor rural demonstra tendências de deterioração da ambiência, podendo comprometer a qualidade de vida da população no presente e principalmente, às gerações futuras, caso o “homem” não controle suas ações. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ROCHA, J. S. M. (1997) Manual de projetos ambientais. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 423p. A prioridade está relacionada diretamente com a maior Deterioração Ambiental (Meta 1 = maior deterioração). As Metas descritas, portanto já estão em ordem de prioridade. Pode-se observar que são inúmeras as potencialidades que o município de Cabaceiras oferece solos de boa aptidão, opções não agrícolas (ecoturismo), artesanatos em couro e madeira, o processo produtivo baseado na agricultura de subsistência, fruticultura irrigada, e a pecuária que consiste basicamente na criação de bovinos, caprinos e ovinos. Verificaram-se extensas áreas afetadas pelo desmatamento e consequentemente ocorrência de erosões. O controle pode ser feito através da intervenção concreta do poder público, especialmente no que se refere à criação de programas de educação ambiental nas escolas partindo da fase infantil, criação de um Órgão MunicipalAmbiental, que possua no seu quadro, profissionais especializados, desenvolver projetos de recuperação de áreas degradadas, projetos de florestamentos, arborização, planejamento físico rural e áreas de reservas florestais. Tais projetos possibilitarão a uma maior conscientização da população, diminuindo as ações antrópicas principalmente no que se refere ao desmatamento e as queimadas. É fundamental que todas as ações, factíveis de serem implantadas, tenham enfoque no manejo integrado de microbacias hidrográficas, com conteúdos que contemplem a organização da produção e comercialização, o aporte de tecnologias apropriadas ao ecossistema, a exemplo de barragens subterrâneas, florestamento de coroas, encostas e matas ciliares, aporte financeiro para projetos de produção permanente e intensiva ligada a fruticultura, horticultura e pecuária de forma a viabilizar uma maior apropriação da renda pelas famílias produtoras. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os objetivos propostos no trabalho foram possíveis de serem alcançados a partir da metodologia desenvolvida. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 46 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 LEVANTAMENTO DOS TIPOS DE TRATAMENTOS DE DEJETOS SUÍNOS NOS CRIATÓRIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL, VISANDO À PRESERVAÇÃO DO MEIO 1 AMBIENTE Izaura Maria Barros de Lorena2; Elizabete Cristina da Silva;3 Wilson Moreira Dutra Junior4 Clenilson Marquezin5; Mabel de Souza Lima5 1-Projeto Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq) 2-Graduanda de Zootecnia-UFRPE, Recife-PE. E-mail: [email protected] 3-Graduanda de Zootecnia-UFRPE, Recife-PE. E-mail: [email protected] 4-Pofessor do Departamento de Zootecnia- UFRPE, Recife-PE. E-mail: [email protected] 5-Zootecnistas pela UFRPE, Recife-PE. E-mail: [email protected] Introdução A suinocultura é uma atividade de fundamental importância para geração de empregos e renda no Brasil. A atividade é principalmente praticada nos pequenos criatórios brasileiros, tornando-se agravante pela falta de instalações para o destino dos dejetos. Apesar da falta de infra-estrutura nestes pequenos criatórios, a preocupação maior é com a criação industrial pelo alto número de animais criados em sistema intensivo, e sem soluções para o tratamento dos dejetos, poluindo em grande escala os mananciais de água no Brasil, afetando a qualidade de água para o consumo humano. Diversas entidades têm se preocupado com a recuperação do meio ambiente e, estão buscando alternativas para preservação dos recursos naturais. Porém, para criação de medidas de controle da poluição ambiental ocasionado pelos dejetos suínos, é necessário ter um conhecimento das precauções adotadas por cada produtor de acordo com sua realidade, pois se sabe que, a suinocultura é reconhecida, principalmente, pela sua capacidade de produção apesar do baixo nível de tecnologia, concluindo que apesar do produtor adotar práticas inadequadas, isto deve-se muitas vezes a falta de conhecimentos técnicos. A Embrapa Suínos e Aves pensando na preservação do meio ambiente, já desenvolveu vários projetos que buscam a melhoria do meio ambiente como o biodigestor, que além de permitir uma estabilização biológica do dejeto com possibilidade para sua utilização posterior como biofertilizante, ainda gera gás que pode ser usado na propriedade rural em sistema de aquecimento e geração de energia. Este trabalho teve como objetivo avaliar a problemática do destino dos dejetos suínos enfrentados pelos produtores da Região Metropolitana do Recife- PE, e com isso, capacitá-los através de palestras e mini-cursos à utilizarem de forma racional esses dejetos sem prejudicar o meio ambiente. Material e Métodos O trabalho foi realizado durante o período de setembro 2004 a abril 2005, na região Metropolitana do Recife, no estado de Pernambuco, através de visitas in loco por professores e alunos do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, objetivando avaliar a forma como os criadores de suínos aproveitam os dejetos suínos em suas propriedades. Essa avaliação contemplou as seguintes questões: localizar os criatórios de suínos da região, a área disponível do produtor, o número de animais da propriedade, o ciclo de vida dos suínos nas propriedades, se foram vistoriadas por algum órgão público, se há tratamento dos dejetos produzidos pelos animais, e qual destino destes, bem como, a forma de utilização dos mesmos pelos produtores. Foram visitadas 44 propriedades urbanas e rurais que tinham como atividade a suinocultura. Os dados foram obtidos por meio de um questionário previamente elaborado de forma a dinamizar o trabalho e facilitar a análise dos resultados. Para conscientização dos produtores foi ministrado um dia de campo na área rural do município de Paulista, Mata do Ronca. O curso foi realizado na Associação de Micro e Pequenos Produtores da Mata do Ronca, o critério adotado para escolha do local foi pelo maior déficit de manejo dos dejetos e carência de infra-estrutura. O curso foi divido em duas etapas, uma teórica, abordando os temas: Manejo Alimentar e Instalações para Suínos; Endo e Ectoparasitas que acometem os Suínos e Dejetos Suínos: Aproveitamento na Forma de Compostagem. E uma prática de como fazer compostagem aproveitando os dejetos e outros resíduos orgânicos, a qual, foi realizada numa propriedade piloto. Resultados e Discussão Das propriedades visitadas 65,9% estavam na área urbana e 34,1% na área rural, onde observou-se que 59% das propriedades urbanas têm área menor que 1 hectare com média de 18 animais por propriedade. As propriedades com 1 a 10 hectares constituem 36,4%, sendo 6,9% localizadas no núcleo urbano e 29,5% no núcleo rural e a média dos animais para essas propriedades foi de 74 cabeças. Nas propriedades com mais de 10 hectares a média foi de 3.113 animais que constituem apenas 4,6% das propriedades e estão localizadas no núcleo rural da região. O ciclo de vida dos suínos nas criações varia, como mostra a Tabela 1. Observou-se que, apenas 22,7% das propriedades já foram vistoriadas por algum órgão público (vigilância sanitária, secretaria do meio ambiente e Companhia de 47 Proteção dos Recursos Hídricos), mas apenas 2,3% fazem tratamentos dos dejetos e criam em áreas apropriadas, enquanto as demais, têm seus dejetos lançados em canais ou até mesmo a céu - aberto, e suas áreas são impróprias para criação devido a sua localização. Quanto ao destino dos dejetos, 9,1% dos produtores fazem algum tipo de tratamento. E do total dos produtores 13,6% utilizam os dejetos em lavouras, 2,3% para alimentar animais e 2,3% para lançamento no solo, observando-se com isso, que os produtores estão usando os dejetos inadequadamente uma vez que a quantidade de propriedades que tratam os dejetos é muito pequena. De acordo com a Tabela 2 os dejetos suínos de 61,5% das propriedades são lançados dentro da propriedade a céu – aberto, e apenas 4,5% têm seus dejetos coletados pelos serviços de Limpeza Urbana (coleta de lixo das prefeituras). Segundo SOBESTIANSKY, et al (1998), a exploração suína é considerada pelos órgãos de fiscalização ambiental como uma atividade de grande potencial poluidor, com isso os dados obtidos neste trabalho podem justificar plenamente esta afirmativa. Compareceram ao ciclo de palestra apenas 12 produtores, sendo que a comunidade é composta por mais de 200 integrantes, uma das justificativas para isso, é que o pequeno produtor ainda tem receio da aproximação de qualquer órgão publico, e como muitos são conscientes de que criam os animais inadequadamente, principalmente, quando o assunto em questão são tratamentos de dejetos e sanidade, e preferem ficar em casa de portas fechadas, temendo uma punição dos órgãos ambientais, perdendo com isso oportunidades para melhorar seu sistema de produção. Porém, nos que se fizeram presentes, observou-se uma grande participação e preocupação pela forma que os mesmos conduzem a suinocultura, e alegam que, se tivessem apoio à atividade, a realidade seria outra, porém a preocupação atual da grande maioria, é adequar a criação para que não falte os recursos básicos para o do sustento familiar e a suinocultura é a principal fonte de renda desses pequenos produtores. Conclusão Em função dos problemas causados pelos dejetos suínos da região Metropolitana do Recife – PE, é desejável a criação de um programa racional de controle dos dejetos, em cada propriedade com apoio Oficial, de acordo com as exigências e características do criador, visando a sua correta utilização, para evitar problemas ambientais. O Dia de Campo proporcionou aos produtores aprendizados para o desenvolvimento de suas atividades diárias com os suínos, como o desenvolvimento da prática de compostagem para o aproveitamento dos dejetos, dessa forma, evitando-se a poluição ambiental e contribuindo para mais uma atividade que venha ser desenvolvida pelo produtor com seus próprios recursos. Os produtores puderam debater e tirar dúvidas sobre o manejo sanitário e profilático do rebanho, outro problema agravante na suinocultura de subsistência, e ainda desmistificou algumas opiniões a respeito do consumo da carne suína. Também ficaram cientes quanto as melhores formas de conduzir, o manejo nutricional e tipos de instalações para os suínos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REDAÇÃO NORDESTE RURAL, Os Suínos. Disponível em: http://www.nordesterural.com.br.2005. Acesso em: 10 de set. de 2007. SOBESTIANSKY, J.; WENTZ, I.; SILVEIRA, P. R. S. DA; SESTI, L. A. C. Produção, Manejo e Saúde do Rebanho. In: EMBRAPA/CNPSA, 1998. p.223. (EMBRAPA/CNPSA. Suinocultura Intensiva). Tabela 1. Ciclo de vida dos animais em porcentagem, por tamanho das propriedades da Região Metropolitana do Recife-PE. Ciclo de Vida dos Animais (%) Incompleto Completo Crescimento Terminação Tamanho das Propriedades <1ha 1-10ha 4,5 25,0 6,8 22,7 2,3 25,0 2,3 6,8 >10ha Propriedades (%) 2,3 2,3 - 9,1 52,3 9,1 29,5 Tabela 2. Destino dos dejetos dos suínos em porcentagem por tamanho de propriedades da Região Metropolitana do Recife-PE. Destino dos dejetos % Tamanho da Propriedade <1ha 1-10ha >10ha Total Céu aberto Canal Fossa Decantação Biodigestor Coleta 31,8 29,5 61,3 22,7 2,3 25 2,3 2,3 2,3 2,3 4,6 2,3 2,3 4,5 4,5 Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 48 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DOS EFLUENTES DE UMA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS 1 2 LÊDA VERÔNICA BENEVIDES DANTAS SILVA ; BRAZ HENRIQUE NUNES RODRIGUES ; VERA LÚCIA ANTUNES DE LIMA3; JOELMA SALES DOS SANTOS4 1 Engenheira Agrônoma, Aluna de Pós-Graduação em Irrigação e Drenagem, UAEAg / UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected] 2 Engenheiro Agrícola, Pesquisador da Embrapa Meio Norte, Parnaíba-PI. e-mail: [email protected] 3 Engenheira Agrícola, Profa. Doutora da UAEAg / CTRN / UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected] 4 EngenheiraAgrícola,Aluna de Pós-Graduação em Irrigação e Drenagem, UAEAg / UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO METODOLOGIA Na atualidade, muito se tem falado sobre o tema água. A pressão sobre o uso da água tende a aumentar e as restrições com relação ao lançamento de efluentes no corpo receptor também. A revisão recente da Resolução do CONAMA Nº 357/2005, que estabelece as condições e padrões para o lançamento de efluentes, e a criação da Lei Federal 9.433 de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, constituem exemplos da crescente preocupação com a poluição hídrica (ROCHA, 2006). As modernas práticas de gerenciamento de recursos hídricos estão focadas na minimização da carga poluidora e na redução do consumo de água na linha de processamento, constituindo, desta forma, um controle preventivo (SILVA, 2006). As indústrias de laticínios representam um setor agroindustrial de elevado potencial gerador de resíduos. Os efluentes líquidos destas indústrias abrangem as águas de lavagem de equipamentos e piso, os esgotos sanitários gerados, as águas pluviais captadas na indústria, e o leite e seus derivados (MACHADO et al, 2001). Segundo Silva (2006), a geração dos efluentes líquidos nas indústrias de laticínios está relacionada ao volume de água consumido. Strydom (1997) relata que o valor da relação entre o volume de efluentes líquidos gerados e o volume de água consumida pelos laticínios está situado entre 0,75 e 0,95, justificando a tendência de muitos projetistas de igualar, por medida de segurança, o volume de efluentes ao volume de água consumido. A fim de minimizar os impactos negativos que seriam causados ao meio ambiente pelo lançamento destes efluentes não tratados sugere-se a construção de estações de tratamento dos resíduos, garantindo assim que as indústrias de laticínios,além de produzir gêneros alimentícios de qualidade e gerar empregos e renda, o façam sem causar degradação ao meio ambiente. No entanto, a construção das estações de tratamento pode constituir uma atividade impactante negativamente, caso não sejam tomadas as devidas precauções, neste sentido, objetivou-se com este trabalho, orientar um empreendedor na tomada de ações preventivas a fim de minimizar os impactos negativos causados ao meio ambiente pela construção de uma estação de tratamento, cumprindo, portanto a Lei Nº. 6.938 de 27 de abril de 1981. O Plano de Controle Ambiental foi elaborado afim de atender às determinações da Política Estadual de Meio Ambiente gerenciada pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMAR, órgão do Governo Estadual do Piauí responsável pelo licenciamento e fiscalização das atividades efetivas e potencialmente poluidoras e de degradação do Estado. A execução do PCA abrangeu os seguintes itens: Diagnóstico Ambiental; Descrição e Análise dos Impactos; Proposição de Medidas Mitigadoras e Monitoramento. O Diagnóstico Ambiental compreendeu a identificação, justificativa e descritivo técnico do empreendimento que se propõe instalar; bem como a caracterização da área de influência - direta e indireta – através da consulta de dados disponíveis na literatura sobre o meio físico (inserção geográfica, geologia, solos, relevo, clima, hidrografia), biológico (vegetação e fauna), e antrópico (uso e ocupação do solo, demografia e aspectos socioeconômicos) da região. O Estudo dos Impactos envolveu a identificação, descrição e análise dos impactos ambientais positivos e negativos decorrentes da implantação e operação do empreendimento. Uma vez conhecidos e caracterizados os impactos, foram propostas medidas ambientais mitigadoras e o monitoramento a serem adotados nas fases de implantação, operação e manutenção do empreendimento. RESULTADOS E DISCUSSÃO DiagnósticoAmbiental O empreendimento em questão trata-se de um sistema para tratamento dos efluentes gerados pela Indústria de Pasteurização de Leite, sendo a área de influencia para efeito dos impactos considerada da seguinte forma: Área de Influência Direta – local onde efetivamente será implantado o empreendimento; Área de Influência Indireta – área da cidade de Parnaíba, em razão desta receber os benefícios ou adversidades oriundas da obra. 49 A área de implantação do empreendimento possui característica semi-urbana, com alto grau de degradação em local onde anteriormente existia uma plantação de capim para alimentação de gado Vacum. O rio Igaraçu foi adotado como corpo receptor final do efluente advindo do sistema de tratamento. Este rio se desmembra do rio Parnaíba e tem extensão de 50 km com declividade média de 1,5 m/km. Sua bacia tem uma área de 890 km2, vazão média de 120 m3/s. Na área de lançamento do efluente não haverá alteração do meio ambiente, pois o resíduo estará devidamente tratado e, portanto, não possuirá elementos tóxicos que possam desequilibrar o ecossistema. Entretanto, a área circunvizinha à do empreendimento apresenta variedade de formas de vida aquática, formada por peixes e algas. Tem sido registrada na cidade de Parnaíba grande incidência de doenças parasitárias e de veiculação hídrica. Isto se deve principalmente à inexistência de esgotamento sanitário nas regiões de difícil taxa de infiltração, as quais inviabilizariam a utilização de fossas sépticas ou outro tipo similar. A população residente nestas áreas se vê obrigada a jogar os excedentes de esgotos em locais indevidos, provocando riscos de doença para toda a comunidade. Diante do disposto acima, pode se afirmar que a iniciativa do Laticínio de dotar a Indústria de um sistema de tratamento de esgotos sanitários implicará em impacto positivo que trará benefícios não só para os empregados, mas também para a comunidade. Estudo de Impactos Ambientais Os Impactos Ambientais advindos da instalação do empreendimento foram divididos em três categorias (quadros 1,2 e 3), de acordo com o meio afetado. Medidas Mitigadoras Foram sugeridas diversas medidas mitigadoras e do monitoramento a serem adotadas a fim de viabilizar a construção do empreendimento dentre as quais podemos destacar as seguintes: dotar os veículos transportadores de materiais de lonas de proteção da carga, evitando o desgarramento da matéria e poeira; determinar a jornada de trabalho dentro do horário comercial local, evitando assim incômodos e poluição sonora dentro do horário de repouso da comunidade; efetuar controle constante do nível da água na caixa de gordura da estação de tratamento afim de evitar a proliferação de insetos; controle severo e minucioso dos aspectos construtivos em todas as fases de execução da obra; adoção de operações de limpeza periódica do empreendimento objetivando, além da manutenção do bom funcionamento da estação de tratamento, a garantia do bem estar da população e do meio ambiente que a circundam. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981 - Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 a g o . 1 9 8 1 . D i s p o n í v e l e m : <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm>. Acesso em: 15 set. 2007. ___. Lei 9.433 de 08 de Janeiro de 1997 - Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, Cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, Regulamenta o Inciso XIX do Art.21 da Constituição Federal, e altera o Art.1º da Lei Nº 8.001/1990, que Modificou a Lei Nº 7.990/1989. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 06 jul. 1997. D i s p o n í v e l e m : <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm>. Acesso em:20 abr. 2007 ___. Resolução CONAMA 357 de 17 de Março de 2005. "Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.” Diário Oficial da República Federativa do Brasil, B r a s í l i a , D F, 1 8 m a r. 2 0 0 5 . D i s p o n í v e l e m <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf> Acesso em 20 de abr. 2007. MACHADO, R. M. G.; SILVA, P. C.; FREIRE, V. H. Controle ambiental em indústrias de laticínios. BRASIL ALIMENTOS – nº 7 – Março/Abril de 2001. Disponível em: <http://www.brasilalimentos.com.br/BA/pdf/~>. Acesso em: 15 set. 2007. ROCHA, S. D. F. Tratamento de Efluentes Líquidos Industriais. Informativo do Conselho Regional de Química de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2006. SILVA, D. J. P. Diagnóstico do Consumo de Água e da Geração de Efluentes em uma Indústria de Laticínios e Desenvolvimento de um Sistema Multimídia de Apoio. Viçosa, Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa, 72p.,2006. (Dissertação de Mestrado). STRYDOM, J. P. Two-phase anaerobic digestion of three different dairy effluents using a hybrid bioreactor. Water AS, v.23, n.2, p.151-155. 1997. QUADROS: 1. No meio biológico Impactos Negativos Redução da área de vegetação natural devido aos desmatamentos para execução da obra. Possibilidade de proliferação de insetos devido ao material do efluente. 2. No meio físico Impactos Positivos Melhoria sanitária do solo urbano, uma vez que os esgotos não mais serão lançados como vem ocorrendo Despoluição do lençol freático uma vez que os esgotos não mais serão lançados em fossas sépticas Despoluição dos riachos e águas dentro do perímetro urbano em razão de não mais receberem esgotos brutos obras Transporte de materiais de con strução das obras durante a execução Poluição do ar, em razão da operação das máquinas e transporte na fase de execução das obras Possibilidade de acidente Modificação da paisagem em razão da construção da obra Quebra de sossego em razão dos ruídos dos equipamentos durante a execução da obra. CONCLUSÕES A implantação do empreendimento é benéfica, pois proporcionará à comunidade resultados positivos naqueles aspectos relacionados à qualidade de vida. Os impactos sobre o meio físico e biológico serão insignificantes , haja vista que o efluente não trará qualquer alteração ao meio ambiente. Sugere-se que o empreendedor sempre conserve limpos os elementos de tratamento. Sugere-se que periodicamente sejam realizadas, pelo órgão competente, visitas ao empreendimento a fim de detectar falhas ou anormalidades no tratamento do efluente. Impactos Negativos Desmatamento da área de implantação das 3.No meio antrópico Impactos Positivos Melhoria do poder aquisitivo local com o surgimento de empregos durante a fase de construção das obras e de sua produção. Melhoria do faturamento do comércio local em razão de maior oferta de empregos e aquisição de materiais para as obras, e o produto industrializado. Melhoria das condições sanitárias das áreas de lazer. Eliminação de despesas com manutenção e construções de fossas. Aumento de serviços formais e informais. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 Impactos Negativos Aumento das despesas de serviços pela inclusão dos serviços de esgotos sanitários, que não existiam no tipo de tratamento atual. Expectativa desconfortável da população por temer emissão de gases fétidos para a atmosfera. 50 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 POLICULTURA NO SEMI-ÁRIDO: UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL SUSTENTÁVEL 1 2 3 Leirson Dantas Bispo , Marcelo Ribeiro , Júlio César Santana Vieira 1 2 Eng. Agrônomo, ADRA– Salvador,BA. [email protected] Eng. Agrônomo, ADRA– Salvador,BA. [email protected] 3 Técnico Agropecuário, ADRA – Salvador, BA. [email protected] INTRODUÇÃO E De acordo com a Associação...(2005), a Caatinga é o terceiro bioma mais degradado do Brasil, sendo o primeiro a mata atlântica e o segundo o cerrado. A caatinga hoje em dia, encontra-se em estado muito devastado, tendo reduzido drasticamente sua biodiversidade, em comparação com a vegetação intacta. Segundo MAIA (2004) isto é o resultado de um conjunto de ações prejudiciais praticadas pela população que não estava consciente de seus efeitos em longo prazo, já que a natureza vigorosa parecia recuperar qualquer dano. Em face de uma deficiência metodológica de educação ambiental e às agruras do clima, que resultam em cíclicas estiagens, o desempenho do frágil modelo agrícola é severamente prejudicado, fato que impõe graves restrições à sobrevivência e determina os piores resultados no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE), do Estado. Assim, a produção agrícola só poderá ser mantida em longo prazo, se a terra, a água e as florestas, que constituem a sua base, não sofrerem degradação (CMMAD, 1991 apud Tavares et al 2005). No período agrícola 2003- 2004 foi iniciado pela ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais), com recursos próprios, o Projeto de Policultura no Semi-árido, com ênfase na educação agrária voltada para alternativas de práticas agrícolas defasadas. A Policultura no Semi-árido é em parte uma imitação do ecossistema local natural do sertão. Através de ações como buscar evitar a monocultura, produtos químicos e provisão de alimentação humana e animal através de plantas propícias para isto, evitando a degradação do solo que assola o sertão, destruição das plantas e melhorando a fertilidade do solo. Como o principio é baseado em sistemas de plantio mais densos do que a monocultura, mais CO2 será retirado da atmosfera e processado nas plantas e conseqüentemente auxiliará na retirada deste gás da atmosfera, minimizando do efeito estufa. O objetivo de este trabalho foi reunir informações a fim de educar sustentavelmente os agricultores familiares e informar a importância e a potencialidade para o desenvolvimento social, econômico e ambiental no semi-árido, permitindo segurança alimentar, preservação ambiental, fixação do homem no campo, incremento da renda familiar e da qualidade de vida. Jesus da Lapa e Sitio do Mato. O município de Uauá possui uma área de 2.951.km², estando localizado na bacia do rio Vaza Barris, Microrregião homogênea de Euclides da Cunha, ao norte do estado, distando 416 km de Salvador e tendo como limites os municípios de Canudos, Curaçá, Monte Santo, Chorrochó, Jaguarari e Andorinha (PEIXOTO, 2001). A temperatura é elevada, com média anual de 24º C, sendo que o mês de janeiro é o mais quente, com média das máximas de 31º C. Como a precipitação é baixa, o déficit hídrico ao longo do ano é bastante acentuado, da ordem de 830mm (PEIXOTO, 2001). A metodologia aplicada ocorreu nas seguintes atividades desenvolvidas: Caracterização do diagnóstico sócio-econômico das comunidades; identificação das lideranças; construção da identidade grupal de cada comunidade; desenvolvimento dos conceitos-chave da policultura; implantação e manejo dos campos de policultura de 1.000 m2 em propriedades distintas, orientação nos campos implantados com a distribuição de sementes, assistência técnica e, principalmente, educação dos agricultores. O tamanho dos campos foi de 1.000 m2 porque uma área pequena já é suficiente para que os agricultores assimilem e compreendam a tecnologia. O agricultor também tem mais segurança ao utilizar apenas uma área pequena, não comprometendo toda sua propriedade com um experimento, além de poder continuar se dedicando normalmente às suas atividades, possibilitando assim que mais agricultores queiram experimentar. Também existe a vantagem de que uma área pequena pode ser comparada com outras na mesma propriedade. As responsabilidades para a implementação e a gestão após o fim do projeto serão transferidos para a comunidade através do uso de multiplicadores, que são agricultores capacitados através da educação ambiental. As culturas utilizadas foram às espécies anuais como o milho, o feijão, o sorgo, o guandu, a fava, o algodão, a melancia comum, a melancia de cavalo e o girassol. As forrageiras perenes: Maringá, sabiá, gliricídia, neem e a palma. Dentre as espécies nativas, envolve a umburana de cheio, o mandacaru, a umburana de cambão, o licurí, e a maniçoba. E as espécies frutíferas como a pinha, o cajueiro, a mangueira, o umbuzeiro e o mamoeiro. RESULTADOS E DISCUSSÃO METODOLOGIA O presente trabalho está sendo conduzido em quatro municípios da Bahia, sendo Uauá, Riacho de Santana, Bom Os dados foram coletados por amostragem no município de Uauá, selecionando-se 20 agricultores aleatoriamente do grupo de 150 famílias que compõem o 51 projeto na Regional São Paulinho. As espécies perenes como: Gliricídia, Sabiá, Moringa e Neem foram introduzidas através de Projeto de Policultura passando a ser cultivadas por 75%, 40%, 75% e 35% dos agricultores, respectivamente. A Palma, apesar de ser cultivada pelos agricultores, haja vista a forte inclinação pecuária do município, houve um aumento de 40% no número de produtores que passaram a cultivar a palma. Este dado pode estar associado ao cultivo da palma dentro do sistema agroflorestal sucessional. O grau de aceitação dos agricultores em relação a estas espécies está associado diretamente ao alto potencial forrageiro apresentado por estas. Através de dados obtidos em relação às culturas anuais, observou-se que houve um aumento significativo em dois anos do projeto com a introdução dessas novas culturas, com uma percentagem média de 90%. Aumentou em 25% o número de agricultores que passou a cultivar o algodão, sendo este cultivado com objetivo forrageiro. O número de agricultores que passou a cultivar a melancia comum e a melancia de cavalo aumentou de 50% e 65%, respectivamente. Os Sistemas Agroflorestais sucessionais desenvolvidos podem variar em diversidade, formando consórcios complexos. O grau de diversidade de cultivo não provoca competição entre as espécies, uma vez que cada espécie tem uma função específica dentro do sistema. O aumento na diversidade não provocou redução na produtividade das culturas tradicionais como o milho e o feijão. De acordo com os dados sobre as espécies nativas, verificou-se que espécies como Umburana de Cheiro e Maniçoba não eram cultivadas pelos agricultores, passando a ser cultivadas por 70% e 25% dos agricultores após a implantação do projeto, respectivamente. Para culturas como Mandacaru, Umburana de Cambão e Licurí observou-se um aumento de 25%, 30% e 20% no número de agricultores que passou a cultivá-las. A introdução das espécies nativas tem como essência promover o equilíbrio ecológico no sistema. O crescimento da conscientização dos agricultores de Uauá em relação conservação do ecossistema local está refletido no percentual deste grupo que passou a cultivar espécies nativas. Em relação às espécies frutíferas, conclui-se que houve um aumento médio de 55% de agricultores que passaram a cultivá-las. Este aumento no percentual de agricultores que passaram a cultivar fruteira pode ser explicado pelo fato do sistema agroflorestal sucessional favorecer a cultivos destas espécies sem prejuízo das demais culturas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO AGRÍCOLA SUPERIOR. Estratégia de Combate à Desertificação. Brasília, 2005. 58p. (Curso de desenvolvimento sustentável para o semi-árido brasileiro, módulo 18). MAIA, Gerda Nickel. Caatinga: Árvores e Arbustos e suas Utilidades. Leitura eArte: São Paulo-SP. 1 ed. 2004. 413p. PEIXOTO, S. E., et al. Sistemas Agrícolas dos Pequenos Produtores do Município de Uauá – BA. Petrolina, BA: EMBRAPA-CNPMF, 2001.61P. (EMBRAPA-CNPMF. Documentos, 154). TAVARES, E. D. et al. A Agroecologia como Base para a Sustentabilidade de Sistemas Agroflorestais Familiares In: SEMINÁRIO PETROBRAS DE EXPERIÊNCIAS FLORESTAIS,2005, Salvador. Anais... Salvador: Petrobras, 2005. 1CD-ROM. CONCLUSÕES A educação ambiental desenvolvida pelo projeto possibilitou um aumento da biodiversidade, consorciando culturas de subsistência, espécies nativas forrageiras e frutíferas. Em situação atual percebe-se uma melhor qualidade de vida dos agricultores, juntamente com uma segurança alimentar, preservação ambiental e aumento de renda. Conclui-se, também, que o projeto vem trazendo resultados positivos para as regiões do semi-árido envolvidas e que é necessário ampliar o mesmo para outras regiões, priorizando àquelas com menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE). Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 52 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 O Turismo e Desenvolvimento Sustentável nos Assentamentos da Reforma Agrária do Cariri paraibano Luciana Ramos Cantalice (UFCG) [email protected], Maria de Fátima Martins (UFPB) [email protected] Gesinaldo Ataíde Cândido (UFCG) [email protected] Introdução O turismo vem sendo desenvolvido principalmente em áreas verdes, pois as pessoas para “fugir” do cotidiano dos grandes centros urbanos procuram lugares que sejam tranqüilos e que permitam contato com a natureza. Com essa demanda, o turismo rural é uma das modalidades que vem crescendo, pois permite ao visitante vivenciar um pouco o diadia no campo, a harmonia entre a flora e fauna, participando das atividades realizadas naturalmente pelos camponeses. Ao mesmo tempo, surge como uma alternativa de renda para os proprietários rurais, agricultores familiares e camponeses, diversificando as atividades que já realizam e fomentando a chamada “pluriatividade”. Como ressalta um importante estudioso do meio rural, “as atividades não agrícolas cada vez mais constituem formas alternativas e/ou complementares de geração de renda dos produtores rurais no meio rural” (Campanhola, 1999). Nesse sentido, o turismo rural tem se constituído num mecanismo eficaz para a manutenção das famílias no campo, pois articulada às atividades agrícolas, gera um significativo retorno econômico, além de fomentar a valorização da cultura camponesa e os ensinamentos da vida no campo. No meio rural brasileiro, segundo Campanhola & Graziano da Silva (1999), a principal modalidade de turismo rural é o agro turismo, que consiste em atividades internas à propriedade, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas. No Cariri paraibano existem atrativos naturais e culturais que despertam interesses suficientes capazes de transformá-lo em um núcleo turístico. O turismo rural, juntamente com outras atividades não agrícolas, como o artesanato e a gastronomia desenvolvidos pelas famílias rurais, têm sido de grande relevância como retorno econômico em curto prazo. A produção cultural como uma das atividades que deveriam ser desenvolvidas em vista da valorização das potencialidades próprias da região e dos camponeses e em favor do levante da auto-estima, desenvolvimento do capital sócio-cultural e da geração de emprego e renda. A relativa queda nas modalidades do turismo convencional e, principalmente aquele turismo baseado na exploração de sol e praia, por um lado, e por outro, as riquezas e potencialidades do Cariri, têm contribuído de maneira expressiva para o aparecimento de novas modalidades de turismo. E ao mesmo tempo, a crise da produção agrícola familiar também é fator relevante para a busca de novas alternativas de sustentabilidade para as famílias rurais. Dentre as modalidades de turismo que apresenta potencial a partir de um plano de desenvolvimento sustentável do Cariri paraibano é possível citar: o agro turismo, o turismo rural, o eco-turismo, o arborismo, o turismo de aventura, o turismo científico, o turismo cultural. O presente artigo apresenta uma proposta de turismo rural nos Assentamentos Rurais, a partir da identificação do potencial turístico, das vantagens e dos benefícios dos investimentos no fortalecimento da atividade turística; evidenciando a relevância do turismo e sua contribuição para a geração do desenvolvimento sustentável. O Turismo como promoção do Desenvolvimento Sustentável A atividade turística a partir da década de 70 passou a se preocupar mais com o meio ambiente e a maneira de como se pode explorar o turismo, de forma sustentável, que respeitem o potencial natural da localidade a ser desenvolvida turisticamente e a sua comunidade. Foi quando o termo “turismo verde” ou “turismo sustentável” começaram a ficar em evidência. No contexto das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável das populações rurais no Brasil, em particular aos agricultores familiar e camponês a atividade turística surge como uma importante atividade econômica. Com efeito, sob a perspectiva da pluriatividade, um dos segmentos estratégicos é a atividade do turismo rural, que, atrelada às atividades agrícolas e as demais realizadas pelo camponês, potencializa a geração de emprego e renda no campo principalmente nos países em desenvolvimento. Enquanto empreendimento, o turismo rural necessita de estruturação e adequação para a recepção dos turistas, sendo um investimento capaz de tornar as propriedades em empresas turísticas. De fato os recursos turísticos rurais devem ser preparados para o turismo de maneira planejada, integrada e consciente do uso dos recursos naturais e culturais diferenciais turísticos, além dos aspectos históricos que fundamentaram a tradição familiar no desenvolvimento de atividades rurais (Balderramas, 2000). O planejamento sob uma metodologia científica é fundamental para o desenvolvimento sustentável da atividade turística, vindo a gerar emprego, renda e preservação do meio ambiente com a participação efetiva da comunidade residente, no entanto é necessário encontrar o equilíbrio entre os interesses econômicos e a preservação do meio ambiente. De acordo com Ruschmann (1997), outras formas de turismo estão sendo propostas nos países desenvolvidos que é o turismo “brando”, e recebem as denominações de “alternativo”,“ecológico” e “responsável”. É de grande relevância observar que a exploração do turismo rural deve ter sempre o caráter de complementaridade. A atividade agrícola realizada nas propriedades não deve ser abandonada, além de ser mais um atrativo para o turista que pode participar ativamente do trabalho na agricultura e ficar sabendo que os alimentos consumidos nas refeições, provêem 53 do estabelecimento visitado, é ainda mais estimulante. E também é fundamental esclarecer sobre a sazonalidade que pode existir na atividade turística. Não podendo ser o turismo rural, atividade exclusiva dos pequenos proprietários. Outro fator importante, que deve ser abordado, são os efeitos negativos e indesejáveis que podem surgir com o turismo. Para Schneider e Fialho (2000), a descaracterização da cultura local, devido a modificação nos padrões de sociabilidade tradicionais, decorrentes da intensificação das relações mercantis e, sobretudo, pela ampliação dos horizontes socioculturais dos mais jovens, que muitas vezes negam as práticas culturais familiares. Outras características são o surgimento e o aumento da violência e do uso de drogas, típico de situações sociais de intensificação das relações humanas, e um fato que ocorre com maior freqüência, é o aumento do custo de vida das populações residentes. No entanto, esses impactos podem ser contornados pela população e pelo poder público através de intervenções conscientes e planejadas, devendo, ser recolhidas como indicação de cautela e não de desestímulo. Com as devidas precauções quanto os efeitos maléficos do turismo, o turismo rural constitui se numa estratégia capaz de gerar o desenvolvimento local, com várias possibilidades de aplicação, em especial em assentamentos rurais, dada as suas dificuldades econômicas e sociais e o seu potencial em termos de prática do turismo rural. Para Bergamasco e Norder (1996), os assentamentos são considerados espaços onde os problemas sociais poderão ser encaminhados de forma sustentável e permanente, base para o modelo de desenvolvimento rural socialmente eqüitativo, sem estar completamente vinculado às exigências comerciais impostas às “empresas rurais”. Procedimentos Metodológicos O presente artigo caracteriza-se como relato de uma pesquisa qualitativa, conduzida sob a forma de um estudo de caso, que buscou analisar com maior profundidade a descrição da realidade de uma localidade rural para fins de intervir de maneira responsável com a inserção do turismo sustentável. Foi utilizada como técnica a pesquisa-ação, a qual pontua que toda investigação deve ser pautada pela busca de soluções efetivas para problemas reais. (Caniello & Tonneau, 2006). Sendo assim, o trabalho foi realizado fundamentalmente no sentido de consolidar os processos coletivos para garantir o desenvolvimento sustentável do Cariri paraibano. Para sua elaboração, foram realizadas pesquisas de campo e em acervos bibliográficos no Cariri paraibano, que se originou a partir de demandas antes discutidas com os alunos da Universidade Camponesa (UniCampo) nos anos de 2003 e 2004. E também com entrevistas e diálogos realizados com os assentados da reforma agrária do Cariri, nos quais foram observados aspectos importantes como: situação atual dos assentados; percepção da evolução; propriedade e as instalações; a produção; os planos futuros; o manejo dos recursos naturais e a percepção sobre os mecanismos de degradação das terras. Também foram analisados os pontos fortes e fracos dos assentamentos na perspectiva do desenvolvimento do turismo. A construção do projeto produtivo em turismo sustentável foi iniciada tomando-se em consideração os resultados das pesquisas e oficinas realizadas, desde 2003, nos cursos promovidos pela UniCampo. Nestas pesquisas foi feito um diagnóstico do potencial turístico da região estudada, o qual serviu de base para a elaboração de um acervo de imagens e fotografias com a finalidade de dar continuidade à pesquisa de maneira intervencionista para melhorar a realidade dos camponeses dessa região (Lima & Cantalice, 2005). Objetivou-se, com esse procedimento, inserir o turismo no contexto econômico como solução em curto prazo da permanência do homem do campo no meio rural e da valorização das tradições das atividades agrícolas, e as demais praticadas pelos camponeses, e principalmente como uma maneira de preservação do meio ambiente natural. O processo de implementação e monitoramento desse projeto foi realizado com a participação efetiva da comunidade, pois se acredita que para haver um desenvolvimento sustentável a população residente deve estar envolvida nesse processo. E nesse caso, desde a construção do projeto houve a participação efetiva da comunidade, através dos alunos da UniCampo, que são camponeses residentes de vários municípios do Cariri e muitos deles são assentados da reforma agrária. A responsabilização de cada uma das pessoas que querem o sucesso da atividade, bem como de outros parceiros institucionais potenciais, que estão no momento num processo de sensibilização e envolvimento com os destinos do projeto, como: Prefeitura Municipal de Camalaú (Secretaria de Saúde, Secretaria de Cultura), Secretaria Municipal de Cultura de Sumé, Fazenda Juá, Associação dos Alunos da UniCampo, Associação do Assentamento Novo Mundo, Associação dos Pescadores de Camalaú. Resultados Projeto Turístico Na região do Cariri, foi identificada a oportunidade da exploração de várias modalidades de turismo; lazer, aventura e também de pesquisa, pela existência de vários sítios com inscrições rupestres e da própria história do Cariri. Nos assentamentos rurais, na maioria das fazendas desapropriadas para a reforma agrária, existe uma casa grande na fazenda que geralmente é de uso coletivo dos assentados - sede do assentamento, na qual são realizadas reuniões, festas etc. E identificou-se no assentamento Novo Mundo, no município de Camalaú, a possibilidade da adaptação da casa grande, para uma pousada, para hospedagem dos turistas, além de ser ampla e bem localizada, ao lado existe um açude apropriado para banho, pesca e outras atividades aquáticas, como canoagem, caiaque etc. Quanto à hospedagem, a casa sede do assentamento tem condições de hospedar até 20 pessoas confortavelmente e também de servir alimentação, com alguns dos alimentos colhidos do próprio assentamento.O local apresenta muitas oportunidades para o desenvolvimento de outras atividades não agrícolas e que venha gerar renda na produção familiar. O interesse tanto nacional quanto internacional por estas modalidades de lazer é crescente e vem se posicionando melhor àquelas atividades que privilegiam a natureza, as expressões da cultura local, as ações coletivas e o comércio justo. Um fator relevante, é que os assentados do Novo Mundo já trabalham de maneira coletiva em outros projetos dentro do assentamento. Tendo formado associação para tomar decisões coletivas, facilitando assim a implantação desse projeto de turismo dentro do assentamento, com divisões de trabalho, de renda e com a responsabilidade de todos para viabilizar da melhor maneira essa atividade no assentamento. O novo Cariri apresenta alguns pontos fortes: Atrativos: Sítios rupestres; Serras com trilhas para caminhadas; Açudes para banho; pesca; canoagem; caiaque; pedalinho; Cavalgada; Passeio de carroça; Caminhada “conhecendo o assentamento”; Participação das atividades do campo, plantio, Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 54 colheita, ordenhamento de vacas e cabras etc.; Culinária; Proximidade de lugares turisticamente desenvolvidos; Participação de um possível “Circuito turístico do Cariri”; Associação do Assentamento Novo Mundo; Casa sede ampla, servindo de hospedagem; Boas cozinheiras no assentamento; Assentados preocupados com o meio ambiente; Grande interesse do gestor municipal em desenvolver a atividade turística na região. Dessa forma, oferece um pacote diferenciado, este pode ser um fator também favorável, pois muitas pessoas procuram lugares exóticos e que sejam pouco visitados, fugindo um pouco do turismo convencional. Diante dos pontos ressaltados acima, nota-se que existem muitos elementos favoráveis para o desenvolvimento da atividade turística no Assentamento Novo Mundo, em Camalaú, sendo possível reverter o quadro desfavorável, principalmente por intermédio da mobilização dos assentados em torno do projeto turístico e de sua ação coletiva junto ao governo municipal. Demanda Turística para o Cariri De acordo com as potencialidades da região foi definido um “pacote turístico”, iniciando assim, um processo de construção de turismo sustentável e desenvolvimento para a região o Cariri paraibano, considerando o turismo como “produto”. Com base nas necessidades dos turistas se dá a construção de um “pacote turístico personalizado” como um elemento diferenciador das propostas convencionais praticadas no mundo do mercado turístico. A construção desse pacote foi possível a partir da participação de todas as pessoas da comunidade e potenciais turistas, tendo a preocupação valorizarem a cultura local, qualidade e quantidade de atrativos, bem como, adequar uma proposta de turismo sustentável com grande potencial para atrair o turista. O pacote turístico apresenta as opções de hospedagem para os turistas; condições de alojamento - casa sede do assentamento Novo Mundo em Camalaú'; atividades de lazer no entorno do município (caminhada ecológica, pescaria, etc.); as opções de cardápio das refeições, tendo como prioridade utilizar a produção local de alimentos. Além disso, houve a preocupação em minimizar os custos, valorizar a localidade e seus atrativos turísticos, e também avaliar os benefícios financeiros e os impactos ambientais desse projeto. Foi organizada a logística do 'Pacote turístico', como a contratação do pessoal de apoio (cozinheira, arrumadeira e ajudante), ajustes na casa sede, onde funcionou a hospedagem dos turistas. Com também a decoração, painel de fotografias com exposição da flora, fauna e outros atrativos, a confecção de camisetas com pinturas rupestres e temas do Cariri para vender em feiras e outros eventos dentro do contexto do projeto. A capacitação e treinamento de pessoas da localidade através de oficinas de expressão oral e escrita, de gerenciamento e administração de projetos, contabilidade, oficina de produção visual com técnicas de fotografia e vídeo resultado em equipes de gestão por atividade para atuar no projeto turístico. Com a preocupação em atender bem o turista e de oferecer serviços de qualidade, o projeto acompanha todas as etapas de organização e preparação para receber os turistas, providenciando os detalhes da ornamentação, faxina e arrumação dos quartos, compras. O projeto providencia também a orientação para as mulheres do assentamento contratadas para os serviços de cozinha e limpeza da casa, com a supervisão dos coordenadores do projeto. Dentre as atividades e atrativos para os turistas: almoço regional, café da manhã regional típico junino, jantar junino, caiaque e canoa no açude de Camalaú, festa tradicional de São João, cavalgadas, passeio de carroça de burro e caminhadas ecológicas Considerações Finais Os benefícios da prática do turismo nos Assentamentos Rurais ou em qualquer meio rural com potencial turístico são mais que evidentes e representam uma melhoria na qualidade de vida da população. Por meio da exploração das atividades rurais incrementam a renda das famílias, bem como, propiciam a sua permanência, de forma equilibrada e sustentável nas comunidades rurais, evitando o êxodo rural e a explosão das cidades responsáveis pelo desequilíbrio e aumento dos problemas ambientais locais e globais. É importante ressaltar que a prática do turismo rural exige a transformação de comunidades rurais em empresas organizadas, oferecendo atividades planejadas e uma estrutura adequada para a recepção dos turistas, buscando não causar impacto ao meio ambiente. Por meio do uso consciente dos recursos naturais e do comprometimento das pessoas (proprietários, colaboradores, clientes, entre outros) os impactos ambientais são minimizados, respeitando as limitações e a renovação dos recursos naturais da região. Dessa forma, a disseminação dos conhecimentos sobre a problemática ambiental atual foi trabalhada amplamente com todos os participantes do projeto turístico como forma de agregar os valores ambientais às atividades turísticas oferecidas e evitar impactos significativos no meio ambiente que comprometa a condições ambientais locais. Um fator relevante no assentamento em estudo é a forma de trabalho dos assentados que tem como requisito a apreciação coletiva para a tomada de todas as decisões, gerando ações mais planejadas e refletidas, aspecto positivo de um projeto que exige resultados sustentáveis. O desenvolvimento do Turismo nos Assentamentos Rurais da ReformaAgrária no Cariri paraibano é uma excelente alternativa para os assentados, considerando as grandes dificuldades do clima e do solo, para a sobrevivência exclusiva da agricultura e também como incremento à pluriatividade no campo, beneficiando as famílias assentadas, no que tange às questões econômicas. Existem benefícios ainda maiores, como o conhecimento e a valorização do seu território, o resgate da auto-estima e a mobilização em torno de ações que possam viabilizar, com dignidade, a vida dessas populações historicamente colocadas à margem dos processos de desenvolvimento. Esta conclusão fica claramente comprovada a partir da mudança na percepção das pessoas da região que estão diretamente ou indiretamente evolvidas no projeto, onde reconhecem o potencial turístico como uma grande riqueza, evidenciando a preocupação e a grande responsabilidade em cuidar e proteger. Diante do exposto, pode-se afirmar que os resultados da atividade turística no meio rural representam significativos benefícios para o desenvolvimento sustentável local tais como: a melhoria na qualidade de vida das famílias rurais, a valorização da atividade agrícola e a preservação do meio ambiente. Tudo isso possibilita que as gerações futuras mantenham suas tradições e seu modo de vida simples e saudável, sem deixar de usufruir das novas tecnologias e do convívio com pessoas de culturas diferentes e o enriquecimento dos seus conhecimentos. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 55 Referências Bibliográficas ALMEIDA, Ruth Trindade de: A arte rupestre nos Cariris Velhos. João Pessoa, Editora Universitária da UFPB, 1978. BALDERRAMAS, Helerson de Almeida. Turismo Rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. Apresentação. Bauru, EDUSC, 2000. BERGAMASCO, Sônia Maria. NORBER, Luiz Antônio Cabello. O que são os assentamentos rurais. São Paulo, Brasiliens, 1996. CABRAL, Elisa Maria (org.): Os Cariris Velhos da Paraíba. João Pessoa, Editora Universitária da UFPB /A União Editora, 1997. CAMPANHOLA, Clayton & SILVA, José Graziano. Turismo Rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. In: O agroturismo como nova fonte de renda para o pequeno agricultor brasileiro. Bauru, EDUSC, 2000. CANIELLO, Márcio & TONNEAU, Jean-Philippe (orgs.). Universidade Camponesa: programa, ações, avaliação e perspectivas. Campina Grande, Editora da UFCG, 2006b, no prelo. LIMA, Josafá Paulino de & CANTALICE, Luciana Ramos. Relatório do Grupo de Pesquisa-Ação em Produção Cultural: Projeto Turismo no Cariri. Campina Grande, UFCG, 2005. MARTIN, Gabriela: Pré-História do Nordeste do Brasil. 3ª edição atualizada. Recife, Editora Univesitária da UFPE, 1999. RIETVELD, Pe. João Jorge: Na sombra do Umbuzeiro: história da paróquia de São Sebastião do Umbuzeiro. João Pessoa, Imprell, 1999. RUSCHMAN, Doris. Turismo e Planejamento Sustentável. Campinas, Papirus, 1997. SCHNEIDER, Sérgio. FIALHO, Marco Antônio Verardi. Turismo Rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. In: Atividades não agrícolas e turismo rural no Rio Grande do Sul. Bauru, EDUSC, 2000. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 56 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 REÚSO DE ÁGUA À LUZ DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA Luciana de Paiva Luquez (Especialista em GNRH (UFCG), Prof. Drª Vera Lúcia Antunes de Lima, Prof. MsC Antônio Carlos Félix Ribeiro, Msc Ronaldo Trescenti INTRODUÇÃO Apesar de possuir as maiores reservas de água doce do mundo, o Brasil sofre com a falta de água em diversas localidades do país e com o problema da poluição dos mananciais. Segundo BREGA FILHO & MANCUSO (2002), a prática de reuso de água no meio agrícola, além de garantir a recarga do lençol freático, serve para fertilização de diversas culturas, bem como para fins de dessedentação de animais. A utilização de água proveniente de reuso é diferenciada para irrigação de cultivares para consumo humano e animal, necessitando essas de um nível maior de qualidade. A reutilização da água é uma atitude significativa na consciência quanto à responsabilidade ambiental com a finalidade de preservar a qualidade de vida atual e das futuras gerações, garantindo um desenvolvimento sustentável. O presente trabalho teve por objetivo pesquisar e identificar a legislação vigente no Brasil ao reuso da água, principalmente para a irrigação. MATERIAIS E MÉTODO Materiais - Os Instrumentos Legais do Brasil, referentes à sustentabilidade do meio ambiente e usos da água foram o Decreto nº 24.643 de 10/07/34, a Lei nº 6.938, de 31/08/81, a Constituição Federal, de 05/10/88, a Lei nº 8.171, de 17/01/91, a Lei nº 9.433, de 08/01/97, a Lei nº 9.605, de 12/02/98, a Lei nº 9.984, de 17/07/00 e a Resolução CONAMAnº 357, de 17/03/05 (PRESIDÊNCIA, 2007). Método - Os escopos das referidas legislações e sua especificidade foram analisados com ênfase na reutilização de águas para a irrigação agrícola. RESULTADOS E DISCUSSÃO O Decreto n 24.643 de 10/07/34, conhecido como Código das Águas, foi concebido no intuito de modernizar a legislação vigente à época de uso das águas no Brasil, de acordo com as necessidades e interesse da coletividade nacional (PRESIDÊNCIA, 2007). A Constituição de 1988 reza em seu artigo 225, que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado que permita a todos o direito ao bem-estar e a qualidade de vida (PRESIDÊNCIA, 2007). A Lei nº 6.938, de 31/08/81, dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PRESIDÊNCIA, 2007), considera o meio ambiente como um patrimônio público. Dentre seus princípios temos a racionalização do uso da água de forma planejada e, ainda os incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais. Assim, o reuso da água é um instrumento valioso no propósito atingir a racionalização do uso da água. No art. 4º da Lei n 6.938/81 estão enumerados dentre seus objetivos o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais, permitindo assim a elaboração de normativas mais específicas e restritivas com a finalidade de preservação do meio ambiente. O princípio do poluidor-pagador é considerado uma maneira de favorecer o reuso de água, pois com a cobrança pela utilização da água e pela poluição hídrica gerada, tem-se um estímulo à diminuição desses custos pela reutilização da água nos processos produtivos bem como de melhoria na qualidade e quantidade dos efluentes lançados nos corpos hídricos. A Lei nº 8.171, de 17/01/91 fixa os fundamentos, define os objetivos e as competências institucionais, prevê os recursos e estabelece as ações e instrumentos da política agrícola, relativamente às atividades agropecuárias, agroindustriais e de planejamento das atividades pesqueira e florestal (PRESIDÊNCIA, 2007). A Política Nacional de Recursos Hídricos foi instituída pela Lei nº 9.433/1997 e estabelece o uso múltiplo das águas, tendo como alguns de seus instrumentos, o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água, a outorga dos direitos de uso e a cobrança pelo uso dos recursos hídricos (PRESIDÊNCIA, 2007). A Resolução CONAMA nº 357/2005 (MMA, 2007), dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Para o reúso de água, a classificação das águas é uma ferramenta de grande importância, uma vez que um determinado tipo de água após sua utilização pode ser reclassificado e destinado para usos menos exigentes em termos de padrão de qualidade. A classificação das águas com seus usos preponderantes determinados permite um referenciamento no que tange ao reúso da água. Uma vez redefinida a classe da água de um corpo hídrico após o uso, sem que os efluentes lançados a jusante interfiram nos parâmetros de qualidade conferidos, essa água poderá ser reutilizada. No caso de reúso de água para irrigação na agricultura, obedecendo aos parâmetros técnicos e padrões de qualidade específicos para essa destinação de uso, pode-se inferir que as águas doces da classe especial, classe 1 e as águas salobras da classe especial podem ser destinadas à irrigação de plantas frutíferas e hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película. E ainda que, as águas doces da classe 2, podem ser usadas na irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras. 57 CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS O reuso é uma forma de racionalização da utilização da água pois, possibilita maior controle da poluição hídrica e incremento na oferta de mesma, porém faz-se necessária elaboração de legislação específica que contemple uma classificação de água reutilizada, no qual os parâmetros de qualidade sejam respeitados e onde estejam discriminadas as destinações de reutilização. Na agricultura irrigada o uso de efluentes tratados é uma ferramenta importante para minimizar os custos de produção e aumento da produtividade agrícola, portanto a técnica de reuso de água deve ser disseminada na comunidade rural através de procedimentos de pesquisa e extensão rural, bem como em todas as esferas da sociedade brasileira através da educação ambiental. BREGA FILHO, D. & MANCUSO, P. C. S. Conceito de reuso de água. In: Reuso de água; Capítulo 2. Eds. P. C. Sanches Mancuso & H. Felício dos Santos. Universidade de São Paulo - Faculdade de Saúde Pública, Associação Brasileira de Engenharia Sanitária eAmbiental - ABES. São Paulo, 2002. CROOK, J. Critérios de Qualidade da Água para Reuso. Revista DAE/SABESP. n.174, vol.53 pp. 10-18. NovDez 1993. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 58 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 DESEMPENHO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR COMO MATERIAL ENVOLTÓRIO NA DRENAGEM AGRÍCOLA 1 2 3 MICHELE S. SANTOS ; HELDER M. M. BARROS ; VERA L. A. DE LIMA 1. Eng. .Agrônoma,Mestrando em Eng. Agrcola, UAEAG-CTRN-UFCG, Campina Grande,PB, E-mail: [email protected] 2. Eng. Agrcola ,Mestrando em Eng. Agrícola, UAEAG-CTRN-UFCG, Campina Grande,PB. E-mail: [email protected] 3. Eng. Agrícola, Profª. Doutora da UAEAG-CTRN-UFCG, Campina Grande, PB E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A drenagem agrícola é uma prática significativa para o sucesso de projetos de irrigação, principalmente para aqueles situados em regiões de acentuada deficiência hidroclimática. A drenagem subterrânea é importante para evitar o encharcamento em regiões de baixo ou nulo déficit hídrico e para evitar o encharcamento e também a salinização em zonas de alto déficit hídrico, como na maioria das áreas do Nordeste Brasileiro. Uma das decisões mais importantes a ser tomada durante a fase de planejamento de um projeto de drenagem subterrânea diz respeito à necessidade ou não do uso de envoltórios para os drenos e, se necessário, que material deve ser usado para os diversos tipos de tubos e de solos existentes (Almeida, 2000). A necessidade de envoltórios para drenos depende, principalmente, das características e propriedades do solo da região onde a drenagem subterrânea será implantada. Diversos tipos de material são colocados ao redor de drenos entubados com a finalidade de evitar o carreamento de partículas do solo para o seu interior. O carreamento pode causar entupimento do dreno ou até mesmo do envoltório, quando este não é bem selecionado e, com isso, levar o sistema de drenagem ao completo fracasso. Como envoltório pode ser empregado material sintético ou manta, material orgânico natural ou material de origem mineral. Envoltórios de cascalho, brita ou areia grossa lavada são os mais utilizados para uso na drenagem de qualquer tipo de solo. A escolha do envoltório deve, de uma maneira geral, ser feita em função do custo final do material colocado no local da obra, custo de instalação e efetividade do material. O uso de sistemas de drenagem alternativos pode baratear os custos de implantação de projetos de irrigação, contribuindo de forma relevante para o sucesso da agricultura irrigada. Esta pesquisa teve como objetivo avaliar as características hidráulicas do envoltório de bagaço de cana-de-açúcar, quando utilizado em sistemas de drenagem subterrânea e sob condições de laboratório, comparando-o com as características hidráulicas do envoltório de brita zero quando utilizados como envelopes em tubos de drenagem, (Drenoflex, Kananet e tubo de PVC liso), mediante parâmetros típicos de avaliações propostos na literatura. METODOLOGIA O trabalho foi realizado no Laboratrio َ de Engenharia de Irrigação e Drenagem da Universidade Federal de Campina Grande (Campus I, UAEAg-CTRN). Usando-se um modelo físico composto de nove tanques construídos de alvenaria e impermeabilizados internamente. Cada tanque medindo 0,8 m de comprimento, 1,0 m de largura e 0,9 m de altura, aplicvel a uma condição de fluxo bidimensional tal como a condição mais usual de campo, foi construído baseado no modelo usado por Broughton et al.(1987). Avaliou-se os sistemas compostos pelos tubos Drenoflex, PVC liso e Kananet usando como envoltórios brita zero e bagaço de cana-de-açúcar. Os tubos Drenoflex e Kananet são materiais convencionalmente usados na drenagem, sendo o Drenoflex um tubo de PVC flexível e o Kananet um tubo de polietileno corrugado flexível, com distribuição uniforme dos furos por todo o perímetro das corrugações de forma helicoidal. O tubo de PVC liso normalmente usado para esgoto doméstico. Para cada sistema de drenagem instalado, foram realizados ensaios para as seguintes avaliaçes: ُ A carga hidráulica de entrada (he) e a carga hidráulica total (htot) foram avaliadas mediante uma régua graduada instalada paralelamente aos piezômetros, localizada na parte externa do modelo físico. Para a carga hidráulica de entrada (he) tomou-se uma leitura direta do nível d'água no piezômetro inserido no sistema drenante. Para a carga hidráulica total (htot) foi tomada à média das leituras nos piezômetros localizados nas laterais do sistema drenante. A razão entre as referidas cargas é dada pela seguinte equação: (1) he / htot he htot Em que: he/htot = razão entre as cargas hidráulicas de entrada e total, adimensional; he = carga hidráulica de entrada, em m; htot = carga hidráulica total, em m. O fluxo foi avaliado no ponto de descarga de cada tanque. O teste era realizado quando o material poroso encontrava-se saturado, o qual era constatado pelo posicionamento dos níveis hidráulicos nos piezômetros. O tempo de descarga por tanque durou, em média, 1 hora e 30 minutos. Na determinação desta variável adotou-se a seguinte equação: (2) q 86.400 V *2 t 59 -1 -1 (3) re he q*L 1 Em que: re = resistência de entrada, em dia. m-1; he = carga hidráulica na entrada, em m; q = descarga do dreno, em m3.dia-1.m-1; L = comprimento do sistema drenante, em m. Para a determinação desta variável adotou-se a seguinte equação, conforme sugestão de Wesseling & Van Someren (1972). re * K (4) Em que: = fator de resistência de entrada, adimensional; re = resistência de entrada, em dia. m-1; K = condutividade hidráulica do meio poroso, em m.dia-1. Os efeitos de diferentes tubos e envoltórios nos parâmetros hidráulicos de sistemas de drenagem foram avaliados através de métodos normais de análise de variância (Teste F), adotando-se o Teste de Tukey para a comparação das médias. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da análise estatística da Tabela 1 mostram que a carga hidráulica de entrada não foi influenciada significativamente pelos 3 tipos de tubos utilizados, no entanto sofrem efeitos significativos dos envoltórios ao nível de 1% de probabilidade, pelo Teste F. O coeficiente de variação foi de 8,48%, indicando uma ótima precisão experimental, segundo Ferreira (1991). O efeito da interação tubos x envoltórios não foi significativo. Emrelação a variável razão entre as cargas hidráulicas de entrada e total estas sofreram efeitos significativos dos tipos de tubos e envoltórios, aos níveis de 5% e 1% de probabilidade, respectivamente, pelo teste F. O efeito da interação tubos x envoltórios não foi significativo. O coeficiente de variação de 4,38% indica uma ótima precisão na determinação, segundo Ferreira (1991). De acordo com a Tabela 1 a resistência de entrada nمo sofreu influência significativa dos tipos de tubos utilizados, no entanto, sofreu efeitos significativos dos envoltórios ao nível de 1% de probabilidade, pelo teste F. O efeito da interação tubos x envoltórios não foi significativo. A Figura 1 apresenta as curvas do comportamento da resistência de entrada em relação a carga hidráulica de entrada para os tratamentos com envoltório de brita zero. Verifica-se que os tubos drenoflex e PVC liso tiveram suas curvas praticamente superpostas e com valores superiores aos da curva do tubo kananet. As curvas da resistência de entrada em relação à carga hidráulica de entrada, para os tratamentos com o envoltório de bagaço de cana são mostradas na Figura 2. -1 Resistência de entrada (dia.m ) 3 Em que: q = fluxo, em m .dia .m ; V = volume de água 3 coletado, em m ; t = tempo de coleta do volume d'água, em s; 2= fator de ajuste, uma vez que q é a descarga por unidade de comprimento de dreno e considerou-se 0,5 m de comprimento útil do tubo drenante. Wesseling & Van Someren (1972). A variável resistência de entrada foi calculada mediante a seguinte equação, sugerida por Wesseling & Van Someren (1972): 0,01 0,008 0,006 0,004 0,002 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 Carga hidraúlica de entrada (m) Tabela 1. Resumo da analise estatstica das variáveis cargas hidráulica de entrada (he), razão entre as cargas hidráulicas de entrada e total (he/htot), resistência de entrada (re), Drenoflex Kananet 0,01 0,008 0,006 0,004 0,002 0 0 fluxo (q) e fator de resistência de entrada (α) PVC Liso Figura 1. Curvas da resistência de entrada em relação à carga hidráulica de entrada para os diferentes sistemas drenantes com envoltório de brita zero. -1 Resistência de entrada (dia.m ) A análise estatística das variáveis, carga hidráulica de entrada (he), razão entre as cargas hidráulicas de entrada e total (he/htot), fluxo (q), resistência de entrada (re) e fator de resistência de entrada () estمo apresentadas na Tabela 1. Observou-se que os efeitos dos envoltrios sobre todas as َ variáveis estudadas foram positivos ao nível de 1% de probabilidade pelo Teste F, enquanto que os tipos de tubos só influenciaram significativamente na razão entre as cargas hidráulicas de entrada e total, ao nível de 5% de probabilidade. O efeito da interaçمo tubos x envoltórios só foi significativo no fator de resistência de entrada, ao nível de 5% de probabilidade. 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 Carga hidraúlica de entrada (m) Causas de variação Tipos de tubos Envoltórios Tubos x Envoltórios Q M do Resíduo Coeficiente de variação (%) he (m) he/htot 0,807 ns 8,102 ** 0,591 ns 0,001 8,483 4,44 * 11,87 ** 1,89 ns 0,002 4,38 Variáveis re (dia.m-1) Teste F 1,67 ns 39,21 ** 2,75 ns 0,00 12,99 q(m³.dia-1.m-1) α 1,85 ns 54,35 ** 2,75 ns 11,97 11,20 1,41 ns 46,15 ** 3,51 * 0,0003 12,11 Drenoflex PVC Liso Kananet Figura 2. Curvas da resistência de entrada em relação à carga hidráulica de entrada para os diferentes sistemas drenantes com envoltório de bagaço de cana-de-açúcar. (*) significativo a 5% e (**) a 1% de probabilidade; (ns) não significativo Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 60 Na Figura 3, têm-se as curvas do fluxo em relação ao tempo acumulado de drenagem para os tubos com o envoltório de brita zero. Percebe-se que as curvas dos tubos drenoflex e PVC liso encontram-se superpostas, evidenciando comportamentos semelhantes entre estes tubos com o envoltório brita zero. O tubo kananet foi o que contribuiu para um maior rebaixamento do lençol freático, pois, apresentou maior fluxo. A Figura 4 apresenta as curvas da variável fluxo em relação ao tempo acumulado de drenagem para os diferentes tubos com o envoltório de bagaço de cana-de-açúcar. Constata-se que, inicialmente os tubos drenoflex e kananet, apresentaram uma descarga superior em relação ao tubo PVC liso. O tubo kananet apresentou melhor performance ao longo de todo o tempo, caracterizada pela maior intensidade de fluxo. CONCLUSÕES ُ Os resultados obtidos permitem inferir as seguintes concluses e recomendações: · O desempenho dos materiais drenantes testados apresentaram resistência de entrada classificada como muito boa; · O envoltório de bagaço de cana apresentou desempenho satisfatório em relação ao rebaixamento do lençol freático; · A utilização dos tubos convencionais (Drenoflex e Kananet) com envoltório de bagaço de cana apresentou resistência de entrada bastante satisfatória; O envoltório de bagaço de cana-de-açúcar inibiu a entrada · de partículas do material poroso para o interior dos tubos Drenoflex, PVC liso e Kananet; Os resultados obtidos mostraram que o material envoltório · testado na pesquisa como alternativo (bagaço de cana) mostrou-se tecnicamente viável para drenagem agrícola; REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 60 50 40 3 -1 . -1 Flu xo (m.d ia m ) 70 30 20 10 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 Tempo acumulado (s) Drenoflex PVC Liso Kananet Figura 3. Curvas do fluxo em relação ao tempo acumulado de drenagem para os diversos sistemas drenantes com o envoltório de brita zero. 60 50 40 3 -1. -1 F lu x o ( m .d ia m ) 70 30 20 ALMEIDA, F. P. Avaliaçمo de sistemas drenantes alternativos na drenagem subterrânea.Campina Grande: UFCG, 2000, 83p. (Dissertaçمo de Mestrado). BROUGHTON, R.S., CHIRADA, K.E. & BONNELL, R.B. Test of drain tubes with holesansmall ots. In: Drenage Design and Manegement. Michigan.:ASAE, 1987. p. 362 – 371. (Publication ,7). DIELEMAN, P.J. & TRAFFORD, B.D. Ensayos de drenaje. In: Irrigation and Drainage, Paper.Roma: FAO/ONU, 1976. p.172. FERREIRA, P.V. Estatstica Experimental Aplicada à Agronomia. Maceió: EDUFAL,1991. 437 p. WESSELING, J. & VAN SOMEREN, C. L. Drainage Materials. Provisional report of the experience gained in the Netherlands. In: Irrigation and Drainage Paper . Washington: FAO/ ONU, 1972. p.55 – 83. 10 0 0 1000 2000 3000 4000 Tempo acumulado (s) Drenoflex PVC Kananet Figura 4. Curvas do fluxo em relação ao tempo acumulado de drenagem para os diferentes sistemas drenantes com o envoltório de bagaço de cana de açúcar. O efeito da interação tubos x envoltórios foi significativo ao nível de 5% de probabilidade, concluindo que o efeito significativo dos envoltórios está na dependência do tipo de tubo utilizado. Todos os envoltórios são recomendáveis para a referida variável. O coeficiente de variação foi de 12,11% indicando uma boa precisão experimental, segundo Ferreira (1991). Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 61 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 O GEOPROCESSAMENTO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO 1 2 3 Pedro Roberto de A. Madruga Adriana Gindri Salbego Roberta Araujo Madruga 1 Eng. Florestal; Doutor em Geoprocessamento; Prof. Titular da UFSM; Coordenador Adj. da Câmara de Eng. Florestal do CREA-RS. 2 Eng. Civil; Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Engª. Agrícola - UFSM. 3 Geógrafa; Mestranda em Sensoriamento Remoto pelo CEPSRM da UFRGS. INTRODUÇÃO O geoprocessamento, ciência que utiliza técnicas matemáticas e computacionais no tratamento de informações geográficas, tornou-se uma ferramenta indispensável para o exercício profissional, principalmente para os que atuam na área tecnológica. Exemplo disto são os inúmeros concursos realizados por órgãos federais, estaduais e municipais, que apresentaram questões referentes ao geoprocessamento (Polícia Federal, Ibama, Ministério Público, Secretarias e órgãos ambientais), bem como empresas privadas, como, por exemplo, a Votorantin Celulose e Papel, Aracruz Florestal, Stora Enso, entre outras. Neste contexto, estão inseridos os profissionais da área de abrangência do Sistema Confea/Creas, que passaram a ser regidos pela nova legislação. Esta legislação culminou de uma consulta efetuada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA ao Confea, acerca de quais profissionais estariam habilitados a desenvolverem atividades definidas pela Lei 10.267 de 28 de agosto de 2001, no tocante à regularização de propriedades rurais junto ao INCRA. O Confea, em Sessão Plenária, deliberou que os profissionais habilitados para assumirem a responsabilidade técnica pelos serviços de determinação das coordenadas dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais, para efeito do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais – CNIR (INCRA) são os profissionais que possuam afinidade de habilitação com a modalidade de origem na graduação, estando de acordo com o art. 3º, parágrafo único, da Lei 5.194, de 24 de dezembro de 1966, sendo as seguintes modalidades: Engenheiro Agrimensor (art. 4º da Resolução 218, de 1973); Engenheiro Agrônomo (art. 5º da Resolução 218, de 1973); Engenheiro Cartógrafo, Engenheiro de Geodésia e Topografia, Engenheiro Geógrafo (art. 6º da Resolução 218, de 1973); Engenheiro Civil, Engenheiro de Fortificação e Construção (art. 7º da Resolução 218, de 1973); Engenheiro Florestal (art. 10 da../.. Continuação da Decisão PL-2087/2004 Resolução 218, de 1973); Engenheiro Geólogo (art. 11 da Resolução 218, de 1973); Engenheiro de Minas (art. 14 da Resolução 218, de 1973); Engenheiro de Petróleo (art. 16 da Resolução 218, de 1973); Arquiteto e Urbanista (art. 21 da Resolução 218, de 1973); Engenheiro de Operação – nas especialidades Estradas e Civil (art. 22 da Resolução 218, de 1973); Engenheiro Agrícola (art. 1º da Resolução 256, de 27 de maio de 1978); Geólogo (art. 11 da Resolução 218, de 1973); Geógrafo (Lei 6.664, de 26 de junho de 1979); Técnico de Nível Superior ou Tecnólogo - da área específica (art. 23 da Resolução 218, de 1973); Técnico de Nível Médio em Agrimensura; Técnicos de Nível Médio em Topografia; e outros tecnólogos e Técnicos de Nível Médio das áreas acima explicitadas. O Confea, na mesma deliberação, definiu que os profissionais acima mencionados devem ter cursados os seguintes conteúdos formativos: a) Topografia aplicada ao georreferenciamento; b) Cartografia; c) Sistemas de referência; d) Projeções cartográficas; e) Ajustamentos; f) Métodos e medidas de posicionamento geodésico. Para o caso dos profissionais que não tenham, à época da graduação, cursado tais conteúdos, poderão fazê-lo através de cursos de formação continuada, especialização ou pós-graduação, e/ou comprovando experiência profissional específica na área. Diante desta nova demanda, criada pela necessidade de conhecimentos na área de geoprocessamento, alguns cursos já alteraram os seus currículos, a exemplo dos cursos de Engenharia Florestal e Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria, que possuem atualmente as seguintes disciplinas no âmbito do geoprocessamento: - Curso de Engenharia Florestal: Topografia e elementos de geodésia, Cartografia, Ajustamento de observações geodésicas, Fotogrametria e fotointerpretação, Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento, Sistemas geográficos de informações. - Curso de Agronomia: Topografia, Elementos de geodésia, Ajustamento de observações geodésicas, Introdução a geomática. CONCLUSÃO Para que os cursos de graduação da área tecnológica, em especial os pertencentes ao Sistema Confea/creas, atendam as necessidades/demandas, e formem um profissional apto a atuar no mercado de trabalho, faz-se necessário que sejam criados e/ou alterados os conteúdos programáticos das seguintes disciplinas: Introdução à Cartografia, Topografia, Fotogrametria, Sistema de Posicionamento Global, Sensoriamento Remoto, Fotointerpretação, Introdução a Geodésia e Sistema de Informações Geográficas. E, aqueles cursos que desejarem que seus egressos tenham atribuições para o georreferenciamento de propriedades rurais, de acordo com a Lei 10.267/2001, devem incluir nos conteúdos formativos: Topografia aplicada ao georreferenciamento, Cartografia, Sistemas de referência, Projeções cartográficas, Ajustamentos e Métodos e medidas de posicionamento geodésico. BIBLIOGRAFIA ASSAD, E. D., SANO, E.E., Sistema de Informações Geográficas. Aplicações na Agricultura. EMBRAPA. 1998. 62 BLASCHKE, T.; KUH, H. Sensoriamento Remoto e SIG Avançados: Novos Sistemas Sensores, Métodos Inovadores. Ed. MundoGeo, 2005. BURROUGH, P.A.; MACDONNELL, R.A. Principles of Geographical Information. Oxford University Press. 1998. BUZAI, G.D., DURAN, D. S.I.G.: Enseñar e investigar con sistemas de información geográfica. Ed. Troquel, BuenosAires. 1997. CASANOVA, M.; DAVIS, C.; VINHAS L.; QUEIROZ, G. R.; CÂMARA, G. Banco de Dados Geográficos. Ed. MundoGeo, 2005. EASTMAN, J. R., IDRISI for windows - User's Guide Version 1.0. Clark University: Worcester, USA. may 1995. MAGUIRE, D.J.; GOODCHILD, M.F.; RHIND, D.W. Geographical Information Systems: Principles and Applications (2 Volumes). Harlow, Longman Scientific & Technical. 1991. ndogeo.com.br) MOREIRA, M. A., Fundamentos de Sensoriamento Remoto e Metodologias deAplicação. UFV. 2003. PEREIRA, R.S., MADRUGA, P.R. de A., HASENACK, H. Geoprocessamento aplicado ao planejamento de uso de recursos naturais - Curso. UFSM-CCR-FATEC, Santa Maria, RS. 1995. 40p. SENDRA, J.B., MARTÍNEZ, F.J.E., HERNÁNDEZ, E.G., GARCÍA M.J.S., Sistemas de Información Geográfica: prácticas con PC ARC/INFO e IDRISI. ed. RA-MA Madrid, 1994. SILVA, A. B. Sistema de Informações Geo-referenciadas: conceitos e fundamentos. 2003. Fator GIS (www.fatorgis.com.br). Revista InfoGeo ( www.mundogeo.com.br) Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 63 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 RENDIMENTO DE GRÃOS POR CAPULHO DO GERGELIM CULTIVAR CNPA G4, SOB DÉFICIT HÍDRICO E ADUBAÇÃO COM DUAS FONTES DE NITROGÊNIO 1 1 1 Joab Josemar Vitor Ribeiro do Nascimento , José Sebastião Costa de Sousa , Denise de Jesus Lemos Ferreira , Luciano Barreto Mendes1, Sandi Alves Bezerra2, Carlos Alberto Vieira de Azevedo3 INTRODUÇÃO O gergelim é conhecido pelo nome científico de Sesamum indicum L., Dicotyledonae, Pedaliaceae; vulgarmente também é conhecido por sésamo, zirgelim, girgilim e jorgelim. A planta pode crescer como pequeno arbusto alcançando altura de 1,8m; tem hábito de crescimento ramificado ou não, as folhas da parte alta têm forma de ponta de lança, as mais baixas crescem mais largas, arredondadas ou dentadas. As flores podem ter cor rósea, branca ou violeta e o fruto é uma baga alongada com pelugem contendo sementes pequenas com cor variando do branco ao preto (Epstein, 2000). Essa espécie, de distribuição tropical e subtropical, é tolerante à seca e sua produção é proveniente de pequenos e médios agricultores, exercendo, portanto, uma apreciável função social. O principal produto do gergelim é o grão (semente) que são comestíveis, fornecem óleo e farinha, contem vitaminas A, B, C, e possuem bom teor de cálcio, fósforo e ferro. São pequenas, achatadas, de coloração variando do branco ao preto (Beltrão et al., 1989). A diversificação do uso e o aumento do consumo acarretou uma significativa demanda por melhores informações sobre o seu cultivo, visando ao aumento da produção e à redução das importações (LAGO et al., 2001). O lançamento periódico de novas cultivares exige estudos sobre as melhores práticas culturais pertinentes a elas: o aumento do rendimento de sementes por capulho, para maior produção e melhor qualidade das sementes; a determinação da sensibilidade da cultura ao estresse hídrico, tendo em vista à economia de água na região é de grande valia, devido à escassez do recurso na região; o uso de produtos não convencionais na adubação, como o biossólido, como adubo na agricultura, traz para o solo benefícios inerentes à matéria orgânica e proporciona reciclagem de nutrientes, dando-os destino ambientalmente correto. O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do déficit hídrico e a adubação com duas fontes de nitrogênio sobre o rendimento de grãos por capulho, em plantas de gergelim cultivar CNPAG4 (BRS 196). 5,18 g kg-1; P5+ de 96 mg dm-3; Ca2+; Mg2+ e K+ de 24,4, 35,4 e 1,3 mmolc dm-3, respectivamente; nitrogênio 0,04%, com condutividade do estrato de saturação do solo (CEes) de 1,22 dS m-1, RAS 1,46, pHes 5,21, e teores de sódio, cloreto, bicarbonato e potássio 3,05, 7,5, 2,9, e 0,48 mmolc L-1, respectivamente. A umidade na Capacidade de Campo (CC) e Ponto de Murcha (PMP) foram: CC 16% e PMP 6% com densidade de 1,55 g cm-3. A unidade experimental era constituída de um vaso plástico contendo 24,1 kg de solo, destorroado, seco, peneirado e homogeneizado. Foi feita uma adubação (fundação), constituída de doses de NPK recomendadas por Beltrão et al.(2001), nas quantidades de fósforo, potássio, uréia e biossólido de 40, 60, 125 e 1375 kg ha-1, respectivamente. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco repetições, no esquema fatorial 2x4, com tratamentos definidos por duas fontes de nitrogênio (biossólido e uréia) e quatro níveis de água (40, 60, 80 e 100% da capacidade de campo). As sementes foram postas para germinar e durante o período compreendido entre a semeadura e a germinação, manteve-se o solo na capacidade de campo. Aos 15 dias após a emergência (DAE) foram iniciados os tratamentos. Os níveis de água foram mantidos através de pesagem diária de oito vasos, tidos como indicadores, e à medida que a água perdida do solo e da planta por evapotranspiração da cultura (ETc) atingisse peso inferior a 28,470, 27,470, 26,540 e 25,670 kg, equivalentes a 100, 80, 60 e 40% da capacidade de campo, respectivamente, as parcelas eram irrigadas com quantidade de água suficiente para que o teor de água no solo atingisse o peso equivalente à capacidade de campo. Para determinação do rendimento de grãos foram utilizados os frutos (capulhos) colhidos aos 90 DAE, de cada parcela experimental, postos para secar a sombra com ventilação, por um período suficiente até atingir peso constante. O efeito dos tratamentos sobre o rendimento de grãos foi testado mediante a análise de variância, pelo Teste F. Para comparação entre as médias dos diferentes tratamentos, utilizou-se o teste Tukey, a 5% de probabilidade. METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO O experimento foi conduzido com a cultivar CNPA G4 (BRS 196), em condições de casa de vegetação no Centro de Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande. O solo foi coletado nos 20 cm superficiais de um perfil de solo franco-arenoso e submetido a análises físicas, químicas e de fertilidade, com teores de matéria orgânica, de De acordo com a análise de variância (Tabela 1), não houve diferença estatística significativa, a 5% de probabilidade, do efeito das diferentes fontes de nitrogênio, sobre o rendimento de grãos por capulhos, na fase de amostragem. Entretanto, houve efeito significativo (p≤0,05) 64 do déficit hídrico, que afetou de forma significativa aos 90 dias após a emergência. Não houve interação dos fatores estudados sobre a. O coeficiente de variação foi relativamente bom, atingindo 22,17%. Tabela 1 – Análise de variância do rendimento de grãos do gergelim, aos 90 dias após a emergência (DAE), sob duas fontes de nitrogênio e déficit hídrico, Campina Grande, PB, 2007(I). Fonte de Variação GL Adubação Déficit Hídrico Adubação x Déficit Hídrico Resíduo CV (%) 1 3 3 22 Quadrado Médio Rendimento de Grãos por Capulhos, em massa (%) 90 (DAE) 3.41056 ns 190.15855 * 114.00802 ns 45.38845 22.17609 (I) *, **, ns. Significativo para 5%, 1% e não significativo respectivamente, pelo Teste F. TABELA 2 – Rendimento de grãos por capulho na planta do gergelim, sob duas fontes de nitrogênio e déficit hídrico crescente no solo, Campina Grande, PB, 2007(II). Déficit Hídrico (% C.C.) 100 80 60 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELTRÃO, N.E. de M.; NÓBREGA, L.B. da; SOUZA,R.P. de; SOUZA, J.E.G. de. Efeitos da adubação, configuração de plantio e cultivares na cultura do gergelim no nordeste do Brasil. Campina Grande: Embrapa Algodão PA, (Embrapa Algodão. Boletim de Pesquisa, 21). 23p. 1989. BELTRÃO, N.E. de M.; SILVA, L.C.; QUEIROGA, V. de P.; VIEIRA, D.J. Preparo do solo, adubação e calagem. In: Beltrão, N. E. De M.; VIEIRA, D.J. O agronegócio do gergelim no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 2001. cap 6, p. 109-131.2001 b. EMBRAPA-CPATSA (1993) - EMBRAPA CPATSA. Relatório Técnico de Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido. 1970-1990. Petrolina, PE: Embrapa CPATSA. 1993. 175p. EPSTEIN, L. Cultura – Gergelim SDA / DDA – SEAGRI – Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária. Salvador.Agosto, 2000. LAGO, A. A.; CAMARGO, O. B. A.; SAVY FILHO, A.; MAEDAJ. A. Maturação e produção de sementes de gergelim cultivar IAC-China. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 36, n. 2, p. 363-369, fev. 2001. 90 (DAE) 26.04900 b 27.40000 ab 35.19400 a 32.87700 ab Na Tabela 2, encontram-se os resultados das médias do rendimento de grãos por capulho da planta do gergelim, em função do déficit hídrico no solo. Verificou-se que o déficit hídrico correspondente a 60% da capacidade de campo proporcionou o melhor rendimento de grãos. CONCLUSÕES · O déficit hídrico correspondente a 60% da capacidade de campo possibilitou maiores rendimentos percentuais de grãos por capulho, mostrando que o déficit hídrico afeta a quantidade de grãos por capulho. A adubação com biossólido apresentou efeito · equivalente à adubação com uréia, sobre o rendimento de grãos por capulho do gergelim (Sesamum indicum L.). Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 65 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 ESTUDO DE DETERIORIZAÇÃO SOCIO-ECONÔMICA NA MICROBACIA DO RIACHO DA SERRA, PB 1 2 3 Aline Costa Ferreira , Denise de Jesus Lemos Ferreira , Soahd Arruda Rached Farias José Dantas Neto4 1 Mestranda em Irrigação e Drenagem, UAEAg./CTRN/UFCG,e-mail: [email protected] 2 Graduanda em Engenharia Agrícola , UAEAg./CTRN/UFCG, e-mail: [email protected] 3Dra. em Irrigação e Drenagem, CEDAC, e-mail: [email protected] 4Prof. Dr. da UAEAg/CTRN/UFCG, e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A deterioração de uma bacia hidrográfica atinge não só o meio ambiente, mas também as diretrizes sociais, econômicas e culturais de uma região. Sendo assim, podemos entender o estudo socio-econômico de uma Microbacia como uma forma de ter bases fundadas para avaliar e corrigir os problemas existentes no local. Rocha & Kurtz (2001), frisam que o diagnóstico sócio-econômico visa analisar a deterioração social, econômica e tecnológica da população do meio rural (produtor e núcleo familiar), dentro de um contexto de Manejo Integrado de Microbacia Hidrográfica, tais resultados passam a ser utilizados em prognósticos, através de recomendações, que podem ser uma forma de projeto no sentido de elevar a qualidade e o nível de vida no respectivo local de estudo. Nesse sentido, temos como objetivo desse trabalho avaliar a situação sócio-econômica da microbacia do Riacho da Serra, estabelecendo dessa forma condições para melhorar a vida da população residente no local. METODOLOGIA O município de São José do Sabugi, situado no Estado da Paraíba, compreende uma área de 215,36 Km2, dentro do seu espaço geográfico, encontra-se a área de estudo, com 1.749 ha, referente à Microbacia Hidrográfica do Riacho da Serra, entre as coordenadas em UTM: Norte-Sul 246.671-241.571 e Leste Oeste 744.378 e 736.378, tal microbacia pertence a Sub-bacia do Seridó/ bacia Rio Piranhas/Açu. Possui 55 proprietários (todos submetidos ao questionário sócio-economico), num total aproximadamente de 350 habitantes, que abrange as comunidades rurais Riacho da Serra, Jacu, Camalaú, Manoel Lopes e Latadinha. A metodologia utilizada consiste em fazer um levantamento e analisar alguns elementos dentro dos limites da microbacia, conforme proposta de Baracuhy (2001), que são: A - Fator Social (Número de variáveis: 12-demográfica, 17habitação, 17-consumo de alimentos, 1-participação em organização, 3-salubridade e 3-cumprimento de leis); B - Fator Econômico (Número de variáveis: 3-produção, 1-animais de trabalho, 1-animais de produção e 7-comercialização, crédito e rendimento); C - Fator Tecnológico (Número de variáveis: 15- Tecnológico e 3 – Maquinário e Verticalização da produção). O valor maior atribuído em cada item (código) representa a maior deterioração e o valor menor representa a menor deterioração, e é sempre considerado o valor 1. A partir de sistema de equação linear dos valores de moda encontrado para cada Fator do questionário. RESULTADOS E DISCUSSÃO O diagnóstico Sócio-Econômico abrange todos os fatores e suas variáveis: social, econômica e tecnológica, as quais podem ser observadas com seus respectivos valores na tabela1. Dentro do fator Social, a variável Demográfica teve como fatores que elevaram a deterioração, a idade elevada (moda 51-60 anos) e a escolaridade do chefe de família e da familia, com moda de 1 a 4º série do fundamental, outro agravante é o numero de pessoas e famílias existentes por propriedade, o que contribuem para a deterioração demográfica de 38,03%. Como prognóstico orienta-se um trabalho de educação para jovens e adultos, para melhoramento educacional na microbacia, e cadastrar as famílias que vivem juntas e pouca terra, a serem contempladas em assentamentos próximos ou no próprio município. A variável habitação embora tenha tido um valor de deterioração não tão agravante (2º menor do social), com 28,87%, tem como variáveis agravantes, o pé-direito e o tipo de piso das residências, além do descarte inapropriado das embalagens de agrotóxicos, do lixo caseiro e do esgoto, onde através de medidas de saneamento, e orientação para devolução das embalagens de agrotóxicos para as lojas de vendas do produto, conforme rege a Lei, poderiam ser melhoradas, promovendo maior qualidade de vida nas habitações. AVariável alimentação foi uma das menores dentro do grupo de deterioração com 21,01%, sendo acusado a ausência no cardápio à macaxeira, e com uso semanal do peixe, derivados de milho como bolos, angus e xerém e aves. Para aumentar a diversificação, poderia ser dado curso de culinária e incentivar também o peixeamento em açudes. A variável organização apresentou uma deterioração na ordem de 55,56%, o que representa valor significativo, pois a comunidade da região estudada precisa se engajar mais, participando além das reuniões, de saber o conteúdo dos estatutos, realizarem projetos coletivos e também existir maior rotatividade para preenchimento da diretoria, permitindo a muitos, os tramites da entidade e suas obrigações. Como maior valor individual de variável, temos a deterioração de “Cumprimento as Leis” com 66,67%, indicando que não cumprem horário de jornada de 66 trabalho e não utilizam o trabalho com carteira assinada, para a variável salubridade foram considerados os parâmetros: infestação de pragas, salubridade para o homem e combate às pragas domésticas (50%), indicando que a qualidade de vida da relação do homem do campo com o trabalho rural, fica a desejar. Em geral, a deterioração social ficou em torno de 30,98%, o que numericamente identifica uma qualidade de vida não muito crítica e foi um dos menores valores com relação aos outros fatores estudados (econômico e tecnológico). As variáveis do fator econômico dentro do diagnóstico Sócio-Econômico, apresentaram valores modais sempre mais próximo ao valor máximo atribuído, o que segundo o Tabela 1, proporciona alta deterioração na microbacia, e identifica carência da comunidade quanto ao fator financeiro, necessitando de políticas governamentais eficazes para amenizar a situação. Com relação a variável produção foram considerados os parâmetros: produtividade agrícola média, florestamento e pastagens plantadas. A deterioração encontrada de 57,14% caracteriza que a produtividade agrícola média se encontra abaixo da média, considerando os principais tipos de cultivos locais que não tem florestamento e arborização. A variável comercialização que engloba crédito agrícola e poder aquisitivo teve um grau máximo de deterioração (73,68%) dentre as outras do diagnóstico Econômico. Verificou-se que a produtividade agrícola é baixa e tem como venda, ligada direto ao atravessador, diminuindo ainda mais a margem de lucro do produtor, consequentemente, uma renda baixa, com complementação de pensão e aposentaria rural, para apoio ao trabalho, à falta de animais de serviço, implica também em baixo rendimento no trabalho de campo, e, portanto uma deterioração de 63,33%. Merece análise e ação do poder público, no âmbito de incentivo à produção agrícola através de financiamento de custeio e investimento para as propriedades, além de capacitações de manejo do solo e como melhorar a fertilidade dos mesmos. A deterioração do fator tecnologia (45,19%) é evidenciada pela ausência de máquinas agrícolas na microbacia, além de não existir industrialização agrária nem artesanato (100%) somado as propriedades não disporem de manejo das mesmas, terem aproveitamento menor que 50% de sua área; as práticas de manejo e conservação de solo não existem, o que leva a conflito de uso da terra, tendo pouca assistência técnica; Esta variável deverá ser mobilizada em toda a microbacia de Riacho da Serra em grande parte através de cursos e capacitações para melhorar a conscientização da população local. O valor total da deterioração Sócio-Econômica encontrada para a microbacia do Riacho da Serra foi de 37,96% (Tabela 1). O valor é menor do que os 40,62%, encontrado por Rocha (1995) na sub-bacia do Rio Passo Fundo, RS e 55,77% encontrado por Baracuhy (2001) em assentamento, em Campina Grande, PB. Os autores citam que um valor aceitável, onde não existe a necessidade da intervenção humana é na ordem de 10%. Para redução de tal valor encontrado, sugere-se realizar algumas ações de prognósticos orientadas durante este trabalho. CONCLUSÕES Observa-se que para reduzir a deterioração socioeconômica da microbacia (37,96%) é necessário realizar algumas ações prognosticadas, das quais podemos citar capacitações e interferência do poder governamental em ações do seu âmbito de atuação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARACUHY, J.G.V. Manejo integrado de micro bacias no semi-árido nordestino: estudo de um caso. Campina Grande: UFPB, 2001. 221p. Tese Doutorado. ROCHA, J.S.M. da & Kurtz, S.M.J.M. Manual de manejo integrado de bacias hidrográficas. 4 Ed. Santa Maria: UFSM, 2001. 302 p. ROCHA, J. S. M.da, FLORES, T. C., et al. Estudo da qualidade de vida em duas vilas de Santa Maria – RS – Brasil. Santa Maria: FIC, 1995. 17 p. (Projeto de Pesquisa). Tabela 1. Resultado do diagnóstico socio-econômico, sendo apresentado também à equação da reta e o resultado de cada deterioração encontrada. Soma dos Valores atribuídos no questionário Deterioração encontrada Máximo Valores encontrados na microbacia geral (X) Valores de a Diagnóstico demográfico 12 Diagnóstico habitacional 17 Diagnóstico alimentar 17 Diagnóstico organizacional 1 Diagnóstico de salubridade 3 Diagnóstico de cumprimento as Leis 3 Unidades críticas de deterioração 53 social Diagnóstico da produção 3 Diagnóstico de animais de trabalho 1 Diagnóstico de animais de produção 1 Diagnóstico de comercialização, crédito 7 e rendimentos Unidades críticas de deterioração 12 econômica Diagnóstico tecnologico 15 Diagnóstico maquinário e verticalização da 3 produção Unidade crítica de deterioração 18 tecnologica Unidade crítica de deterioração sócio 83 economica 83 114 136 10 27 9 39 45 42 6 15 7 1,408 1,031 0,840 11,111 4,167 16,667 379 154 0,307 .X -16,258 = 30,98 10 7 10 7 3 5 14,286 .X 16,667 .X 11,111 .X -42,857 = -16,667 = -11,111 = 57,14 33,33 44,44 45 35 2,632 .X -18,421 = 73,68 63,33 .X .X .X .X .X .X -16,901 -17,526 -14,286 -11,111 -12,500 -50,000 Y (%) microbacia geral DIAGNÓSTICOS Valores de b Minimo Equação da reta = = = = = = 38,03 28,87 21,01 55,56 50,00 66,67 72 50 1,667 .X -20,000 = 108 51 1,075 .X -16,129 = 38,71 14 14 9,091 .X -27,273 = 100,00 122 65 0,962 .X -17,308 = 45,19 573 269 0,204 .X -16,939 = 37,96 Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 67 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 DESTINO ADEQUADO DO PASSIVO AMBIENTAL PROVENIENTE DO USO DE AGROQUÍMICOS NO PROJETO DE IRRIGAÇÃO ICÓMANDANTES Yoly Souza Ramos1, Jadson Rodrigo Barrêto Seelig de Souza2, Ana Cláudia Santana de Almeida3, Yldry Souza Ramos4, Jaqueline Rogéria Barrêto Seelig de Souza Pinheiro5. 1 – Engenheira Agrícola, Especialista em Ecologia e Meio Ambiente, e Mestranda em Engenharia Agrícola pela UFRPE. 2 – Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Engenharia Agrícola pela UFRPE. 3 – Engenheira Química. 4 – Psicóloga do trabalho, Especialista em Psicologia clinico-hospitalar, e Mestranda em Saúde coletiva, pela UEPB. 5 – Assistente Social. INTRODUÇÃO A agricultura é considerada a alavanca inicial para o desenvolvimento econômico de uma região, quanto mais tecnificada for a agricultura, maiores serão o consumo de insumos e a produção, gerando assim, renda e distribuindo melhores recursos na cadeia produtiva. Agregada a esta realidade, há o acúmulo das embalagens vazias de agroquímicos, gerando um passivo ambiental, quando não tríplice lavada. Em decorrência lógica de tais predicativos, os passivos ambientais implicam em obrigações futuras; mediante os resultados econômicos em função de obrigações contraídas perante terceiros. Ressalte-se que nem sempre tais obrigações são contraídas de forma voluntária, sendo que, algum tempo atrás, poder-se-ía afirmar que, muitas eram originadas de forma inconsciente, uma vez que, os efeitos nocivos da exposição dos resíduos das atividades econômicas não eram conhecidos, reconhecidos e/ou divulgados. O projeto de irrigação de Icó-Mandantes, localizado no município de Petrolândia – PE, foi criado pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF, na década de 80, por meio do Programa de Reassentamento de Itaparica, devido ao enchimento do reservatório da Usina Hidroelétrica de Luiz Gonzaga, numa área de 834 km2, atingindo assim 10.500 famílias. Dessarte, as famílias reassentadas foram contempladas com lotes com área que variam de1,5 a 6,0 hectares; sendo contemplados com sistema de irrigação por aspersão convencional. A administração de cada lote compete ao agricultor, gerando um quadro bastante complexo primordialmente no que se refere ao controle fitossanitário das plantas, tendo em vista que a assistência técnica é feita de forma ineficiente e o manejo do uso dos agroquímicos é inapropriado, sendo fato existencial, para o acúmulo de passivos. O manejo do passivo ambiental proveniente do uso de agroquímicos no Projeto de Irrigação de Icó-Mandantes, é realizado sem nenhum critério ou normativo ambiental, e muitas vezes as embalagens vazias de agroquímicos são jogadas em rios, queimadas a céu aberto, abandonadas nas lavouras, enterradas sem critério algum, recicladas sem controle ou até reutilizadas para o acondicionamento de água e alimentos, contaminando o meio ambiente e colocando em risco a saúde pública. Mediante esta realidade, a CHESF como ação pró-ativa, em parceria com a Prefeitura, através da Secretaria de Saúde e Agricultura, o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias - inpEV e a Cooperativa que representa os agricultores mencionados, buscou destinar de forma ambientalmente correta, o quantitativo de embalagens vazias de agroquímicos, tampas e pulverizadores, armazenados de maneira inadequada nas propriedades. Com esta perspectiva, o presente trabalho mostra um estudo de caso, com fulcro na relação do homem do campo e seus resíduos, no sentido de entender os diversos aspectos dessa convivência para atentar a detalhes sócio-econômicos que levou ao estabelecimento de uma nova forma de lidar com a política de educação ambiental. MATERIAL E MÉTODOS Foi adotada para a pesquisa a seguinte metodologia: 1 - Revisão bibliográfica de suporte técnico no âmbito de referenciais admitidos para a implantação do descarte ambientalmente adequado do passivo de agroquímicos. 2Cursos de sensibilização e capacitação em Educação Ambiental. 3 - Revisão documental do estudo de caso: a) Revisão, análise e sistematização documental a respeito dos procedimentos adotados para o destino ambientalmente adequado do passivo de agroquímico do Projeto IcóMandantes, com o reconhecimento dos atores envolvidos e a participação de cada um. b) Contratação de empresa especializada para o transporte de resíduos perigosos e documentação pertinente para a obtenção da Autorização de Transporte de Resíduos Perigosos – ATRP, expedida pelo órgão ambiental competente; c) Campanha de recolhimento de embalagens vazias de agroquímicos, com palestras informado o manejo correto dos agroquímicos e a obrigatoriedade legal de cada ator envolvido no elo da cadeia dosAgroquímicos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tomando por base o alarmante quadro verificado no estudo do estado da arte, em relação ao destino de embalagens de agroquímicos, e após o curso de sensibilização e capacitação em Educação Ambiental, que levou em consideração a crise ambiental do século XXI, a percepção de cada ator, e a necessidade de preservação do meio ambiente. A partir disso, foi deflagrada a campanha de recolhimento de embalagens vazias de agroquímicos, no Projeto Icó-Mandantes, devido à ação reivindicadora dos agricultores daquela região, que sentiram a necessidade de destinarem o passivo de agroquímicos existentes em suas propriedades, com o auxílio das entidades públicas e privadas. Foram ministradas palestras sobre: meio ambiente, recursos hídricos, o manejo ambientalmente adequado dos agroquímicos; leis e normativos 68 legais referentes a agroquímicos e toxicidade e os primeiros socorros em caso de contaminação. Após as palestras supra mencionadas, foi realizado o recolhimento volante das embalagens vazias de Agroquímicos, tampas e pulverizadores nos locais determinados, já acondicionadas nos big bags, outrora distribuídos aos agricultores e orientados pelos técnicos da cooperativa a realizar os procedimentos cabíveis para este armazenamento. Após a entrega dos big bags, com capacidade de 100 litros cada, a etapa seguinte, foi o acondicionamento das embalagens vazias de agroquímicos e suas respectivas tampas, nos mesmos. Após este procedimento efetuado pelos agricultores, ocorreu a entrega dos big bags ao caminhão volante, que encaminhou para serem depositados, temporariamente, no galpão pertencente à cooperativa, que armazenou todas as embalagens coletadas no interregno. Em seguida, os big bags de 100 litros foram acondicionados em outros com capacidade de 1000 litros (cedidos pelo inpEV), que foram fechados hermeticamente e, dispostos no veículo. Por fim, o passivo foi envolvido por uma lona, com intento de funcionar como um impermeabilizante para prevenir o fluxo do líquido na rodovia, caso chovesse. O caminhão foi sinalizado com as placas da ONU 3082 – “substância que apresenta risco para o meio ambiente” e o número de risco 90, conforme a Portaria n.º 420 do Ministério dos Transportes, de 12 de fevereiro de 2004, que aprova as instruções complementares ao regulamento do transporte terrestre de produtos perigosos. Dessarte, todo o passivo ambiental foi pesado, a fim de levantar o quantitativo das embalagens usadas ao longo de 10 (dez) anos de uso de Agroquímicos no projeto de irrigação. O caminhão foi pesado antes e após o acondicionamento do passivo, para obter o quantitativo do peso que, aferidos, pesaram 2.132kg, referente a 26 big bags. Destaca-se que todas estas etapas do transporte do passivo ambiental de agroquímicos foram acompanhadas por técnicos de segurança do trabalho e do meio ambiente da Chesf, para verificar a colocação das placas de sinalização e o acondicionamento dos big bags no caminhão; o envolvimento do passivo com lona, a utilização de EPI pelos empregados, bem como conferir a documentação pertinente ao transporte de resíduos perigosos, conforme exigência legal. Outrossim, o caminhão seguiu o seu destino até o posto de recebimento de embalagens vazias de Agroquímicos, situado no Município de Carpina - PE, devidamente licenciado pelo órgão ambiental competente, para posteriore tratamento final - a incineração. Deflagrar ações de inibição a partir da mobilização da sociedade para efetivação da legislação pertinente enfraquecem os lobbies dos fabricantes através de campanhas de esclarecimento sobre os impactos negativos dos agrotóxicos, é um ponto importante a seguir e a Chesf como uma empresa sapiente de sua responsabilidade social realizou o seu papel, sendo pioneira em assumir o ônus do descarte dos passivos ambientais existentes no Projeto de Irrigação de IcóMandantes, no município de Petrolândia - PE. Para uma solução de inibição a nível governamental, convém que seja criado um instrumento econômico na forma de ecotaxas que compensem os custos sociais e ambientais decorrentes desta opção tecnológica - o uso de agrotóxicos. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Ministério de Transporte. Portaria n.º 420, de 12 de fevereiro de 2004. Aprova as Instruções Complementares ao Regulamento do Transporte Terrestre de Produtos Perigosos. Diário Oficial da União. Brasília, 31 maio de.2004.270 p.Destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos. In: www.inpev.org.br. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A Campanha de Recolhimento de Embalagens Vazias de Agrotóxicos no Projeto Icó-Mandantes foi um marco divisor, pois a partir desta ação pró-ativa da Chesf, os agricultores se interaram de suas responsabilidade legais, bem como o cumprimento da realização da tríplice lavagem das embalagens de agrotóxicos, não gerando mais passivos ambientais em suas propriedades rurais. Dessarte, pontua-se que no Projeto Icó-Mandantes, assim como demais sítios agrícolas espalhados no Brasil, existem muitos obstáculos que impedem o surgimento de uma agricultura menos agressiva à coletividade e ao meio ambiente. Essa realidade surge a partir da desconstrução da premissa sobre o uso de agrotóxicos e da falta de informação dos agricultores, sendo eles mesmos os maiores responsáveis pelas contaminações ocupacionais e ambientais. De fato, constata-se que esta realidade supra é fruto da desinformação, principalmente em função da omissão dos fabricantes, que, em seus esforços de venda, dão ênfase apenas aos resultados agronômicos e não acentuam as demais conseqüências do uso destas substâncias no meio ambiente. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 69 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 ORIENTAÇÃO SOBRE CRIAÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS NA REGIÃO DO CURIMATAÚ PARAIBANO 1 2 3 Valneide Rodrigues da Silva , Dermeval Araújo Furtado , Marluce Azevedo de Araújo , Luiz Felipe de A. Lucena4, Jose Wallace B. do Nascimento5 & Nelle Lira Furtado6 1 Graduanda UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected] Prof. Dr. da UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected] 3 Profa Msc. da UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected] 4 Msc. da UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected] 5 Prof. Associado da UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected] 6 Graduanda em Jornalismo da UEPB. Campina Grande. E:mail: [email protected] 2 INTRODUÇÃO A ovino-caprinocultura nordestina tem apresentado crescimento expressivo nos últimos anos, ocupando lugar de destaque no cenário nacional. Ela tem se mostrado uma atividade do agro negócio bastante promissora, principalmente devido ao impacto econômico que gera na Região Nordestes, que concentra em torno de 70,0% da criação. Apesar de suas características edafoclimáticas contribuírem bastante para a criação dessas espécies (IBGE, 1996; Berro, 2006); a pratica do manejo alimentar utilizada de forma inadequada traz conseqüências negativas à produção animal, visto que os criadores acabam não fazendo uso racional dos recursos forrageiros naturais disponíveis nas épocas de fartura e assim lançam mão de complementação alimentar, de forma abusiva e sem previa adaptação (Afonso, 2005). A criação de caprinos e ovinos no nordeste brasileiro é praticada desde a colonização, principalmente pelo fato dessas espécies serem mais adaptadas as condições ambientais e climáticas desfavoráveis do que a maioria das outras espécies. A Região Nordeste tem mais de 80% coberta pela vegetação nativa da Caatinga. Este tipo de vegetação é utilizado como principal fonte de alimentação para a maioria dos rebanhos. No entanto, durante a época seca o uso da vegetação como única fonte alimentar limita o potencial produtivo dos rebanhos. A pesquisa cientifica nesta região procurou ao longo dos últimos trinta anos, desenvolver tecnologias para aperfeiçoar o uso da vegetação nativa através de técnicas sustentáveis de uso da Caatinga; bem como, desenvolveu e aprimorou o uso de outras fontes de alimentação para estes rebanhos, principalmente durante a época seca. Associadas à melhoria da alimentação do rebanho foram desenvolvidas também técnicas para melhorar o desempenho reprodutivo e produtivo do rebanho tais como um manejo sanitário especifico para as espécies, considerando o ambiente trabalhado, e, hoje, para as enfermidades mais importantes, existem recomendações que auxiliam os produtores no manejo da criação de caprinos e ovinos. O nordeste brasileiro tem sido destacado durante séculos como área de vocação para a exploração de ruminantes domésticos, notadamente caprinos e ovinos, pelo potencial da vegetação natural para manutenção e sobrevivência dos animais destas espécies. Dentre as várias alternativas encontradas para a convivência com a seca, a caprinocultura e a ovinocultura têm sido apontadas como as mais viáveis. Novos conceitos de organização e gerenciamento da unidade produtiva, com implementação do regime de manejo adequado para cada fase da exploração (produção, recria e terminação) e a adoção de técnicas modernas, são prérequisitos para a promoção da qualidade de vida do homem rural, com coerência dos índices indicados pelas organizações internacionais em relação aos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Os objetivos desta pesquisa foram orientar os produtores rurais no projeto e na construção de instalações para caprinos e ovinos e também diagnosticar o nível tecnológico empregado nas instalações do Curimataú paraibano, a através de visitas, palestras e cursos de capacitação, buscando melhorar os índices produtivos dos animais, como também a renda dos produtores. METODOLOGIA A pesquisa foi desenvolvida junto aos criadores de caprinos e ovinos, associados à CAPRISA (Cooperativa dos Caprinocultores de Barra de Santa Rosa), na cidade de Barra de Santa Rosa no Curimatau Paraibano, onde foram pesquisadas trinta e três propriedades. Em cada local foi realizado um levantamento de dados, com base em um questionário previamente desenvolvido (Lucena, 2004) com os resultados obtidos, foi possível traçar um perfil do nível tecnológico dos sistemas de produção, tipos de instalações, raças mais exploradas, produção e conservação de forragem, entre outros itens, e também traçar as principais metas e ações que deveriam ser utilizadas com o objetivo de melhorar a produção e produtividades dos animais, como também a qualidade de vida dos proprietários. Para a realização do trabalho foi colocada uma estagiaria junto aos produtores, que recebeu uma bolsa de Iniciação Tecnológica do SEBRAE/IEL/CNPq com a função de realizar as pesquisas e diagnosticar os problemas, após o que comunicava aos professores participantes do projeto, que indicavam as melhores soluções. Foram realizados cursos de treinamento, dias de campo e palestras para os produtores rurais. 70 RESULTADOS CONCLUSÕES O principal sistema de criação encontrado foi semiextensivo (87,87%), o que mostra que os produtores já tinham alguma preocupação com o rebanho, onde os animais eram colocados em instalações para pernoitarem e receberem algum tipo de suplementação com concentrados e minerais. As instalações eram rústicas e muitas delas em precário estado de conservação. Através de visitas técnicas, palestras e seminários foram destacados a importância das instalações para os animais, salientando que estas devem abrigar os animais das intempéries do tempo e propiciar a estes conforto térmico. No final dos trabalhos todas as propriedades implantaram o sistema de avaliação através da fichas de vacinação, vermifugação e controle zootécnico dos animais, sendo que 20 propriedades já haviam melhorados as suas instalações, como dimensionado um galpão para ser utilizado como deposito de ração, alteração no piso das instalações, instalações de bebedouro dentro dos apriscos, pedilúvios e cabriteiros. No item de infra-estrutura houve a construção de cercas divisórias, para separar os filhotes dos animais adultos, foi colocado saleiro e comedouro dentro das instalações. Também foram construídas áreas cobertas para abrigar os animais, pois os mesmos dormiam ao relento, com cercas divisórias nas instalações e melhoramento dos comedouros e saleiros. Foram implantados sistemas de produção, conservação e utilização de feno e silagem para os animais, principalmente com a utilização de forrageiras nativas, como a maniçoba, flor da seda, jureminha e feijão bravo na suplementação alimentar. No interior das instalações, observou-se que 90,9% delas possuíam o piso de terra batida. A justificativa para utilização desse tipo de piso era o custo, que é praticamente zero, e a notável capacidade de adaptação que os caprinos e ovinos dessa região possuem, acostumados a viver em condições de rusticidade, no campo aonde pastam e por ficarem no aprisco apenas para pernoitarem. Neste caso foi sugerido e acatado pelos produtores, que estes nivelassem o piso, com inclinação de 2 a 5%, o que ocorreu, evitando o empoçamento de água nas instalações. Observou-se que 45,4% dos criadores pesquisados exploravam animais definidos com SRD, ou seja, sem raça definida, que geralmente são animais de baixo padrão genético e baixa produtividade e que isto ocorria em razão do reduzido poder financeiro dos proprietários como também pela falta de conhecimento técnico dos produtores, que realizavam um cruzamento desordenado entre as raças. O primeiro passo na conscientização dos produtores foi, através de palestras e explicações técnicas, destacar a importância do patrimônio genético do rebanho, onde os animais de raça ou seus cruzamentos são mais produtivos, e em parceria com o SEBRAE, foram selecionados alguns reprodutores e matrizes, principalmente para produção de leite, que foram comprados pela CAPRISA e efetuados uma melhoria no rebanho, que mesmo ficando animais SRD, eram animais melhorados e em processo de melhoramento; salientando que em novembro de 2005 a produção de leite era de 80 litros ao dia e em maio de 2006 estava em 800 litros dia. Observa-se que 82% dos produtores da CAPRISA, caracterizam-se por produzir carne, enquanto que a 12% pela atividade de leite e 3% para reprodução, sendo que a exploração para carne era tida como uma reserva suplementar, ou uma poupança. Após um ano de trabalho junto aos produtores rurais da CAPRISA, observou-se que a maioria das propriedades já tinha adotado as fichas para os animais, realizavam marcações, vermifugações e vacinações dos animais, ou seja, adotaram novas técnicas de manejo, promoveram modificações nas instalações, propiciando melhor conforto aos animais e houve um aumento substancial na produção de leite, demonstrando que os produtores rurais do Curimataú paraibano são bastante receptivos a novas tecnologias. REFERÊNCIAS Afonso, J.A.B.; Kuchembuck, M.R.G.; Zamith, L.P.; Kohayagawa, A.; Laposy, C.B., Mendonça, C.L.; Takarira, R.K. Avaliação do uso da monensina sódica na prevenção da acidose láctica ruminal experimental em ovinos. Veterinária Notícias, v.11, n.1, p.35-43, 2005. Berro, L. Vale do Capibaribe: Uma “terra prometida”. O Berro, n. 91, p. 100-103, 2006. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rebanho ovino – efetivo por Estado, Disponível em: http:// www.ibge.gov.br. 1996. acesso em: 15 ago 2006. LUCENA, L. F. de A. Caracterização de instalações da Caprinocultura no Cariri Paraibano. Universidade Federal de Campina Grande. Paraíba. 71p. 2004. Dissertação de Mestrado. Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007 71 Revista Educação Agrícola Superior Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007 DOSSIÊ AMBIENTAL DA ÁREA URBANA DA CIDADE DE PEDRA LAVRADA – PB Aline Costa Ferreira1, Denise de Jesus Lemos Ferreira2, Silvana Silva de Medeiros1, Kaline Dantas Travassos3, Débora Rafaelly 3 4 Soares Silva , Vera Lúcia Antunes de Lima 1Engenheira Agrícola, Mestranda em Irrigação e Drenagem, UAEAg/UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: ; [email protected]; [email protected] 2Graduanda em Engenharia Agrícola, UAEAg/CTRN/UFCG, E-mail: [email protected] 3Engenheira Agrícola. e-mail: [email protected]; [email protected] 4Engenheira Agrícola, Profa. Doutora da UAEAg/ CTRN/UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A falta de opção no campo tem ocasionado o crescimento acelerado das cidades brasileiras, e isso tem refletido em problemas ambientais, os mais evidentes referemse à escassez de serviços sanitários, deficiências de moradias e serviços básicos, falta de segurança e degradação ambiental, além da vulnerabilidade a acidentes e desastres naturais. O objetivo de se estudar os impactos ambientais é, principalmente, o de avaliar as conseqüências de algumas ações, para que possa haver a prevenção da qualidade de determinado ambiente que poderá sofrer a execução de certos projetos ou ações, ou logo após a implementação dos mesmos. O estudo para a avaliação de impacto permite que certa questão seja compreendida: proteção e preservação do ambiente e o crescimento e desenvolvimento econômico. Muitas vezes podemos encontrar grandes áreas impactadas, ou até mesmo países e estados, devido ao rápido desenvolvimento econômico, sem o controle e manutenção dos recursos naturais. A conseqüência pode ser poluição, uso incontrolado de recursos como água e energia etc. Do ponto de vista social e econômico, o impacto fundamental é a crescente transferência de encargos e responsabilidades sociais para os Municípios, acompanhados de forte controle financeiro. O Dossiê de Ambiência proporciona subsídios para a adoção de medidas que atendam a tão indispensáveis condições. A contribuição é factível, na medida em que reúnem os problemas ambientais mais relevantes que interferem na qualidade de vida da população e as potencialidades do município que podem ser aproveitadas para a geração de trabalho, emprego, renda e novos meios de renda, apresentando alternativas viáveis, indicativos de parceria e estimativas de custos para algumas das ações propostas. Para que a população do Município de Pedra Lavrada possa ter uma qualidade de vida satisfatória, é necessário que sejam considerados as condições de ordem social, econômica, ambiental e cultural do local, portanto o presente trabalho apresenta como meta principal à identificação de problemas nesta direção, visando sugerir melhorias que venham a contribuir de maneira significativa à população deste Município onde foi utilizada a metodologia de Rocha (1997), onde serão detectados os diagnósticos e consequentemente seus prognósticos. METODOLOGIA Este trabalho foi realizado no município de Pedra Lavrada localizado na Microrregião do Seridó Oriental Paraibano e na Mesorregião da Borborema, apresentando uma área de 391,3 Km2 e altitude de 516 m (IDH, 2000). A população do Município de Pedra Lavrada segundo o Censo Demográfico do IBGE/2000 é de 6.617 habitantes, apresentando uma densidade demográfica de 16,9 hab/ Km2 sendo, 2.446 na área urbana. O Dossiê de Ambiência foi desenvolvido no município de acordo com processo metodológico apresentado por Rocha (1997) estruturado nas seguintes etapas se compõe de quatro etapas principais: Levantamento de informações gerais do Município, contextualização dos problemas ambientais e encaminhamentos e equacionamento dos problemas ambientais identificados. a) Levantamento de informações gerais do Município em visita a toda área urbana, uso de questionários em entrevista realizados com secretários municipais, representantes de instituições públicas e de organizações da sociedade civil, levantamento fotográfico e exaustiva revisão. b) Contextualização dos problemas ambientais, destacando a deterioração das condições ambientais, econômicas, e de infra-estrutura como um indicador do não aproveitamento das potencialidades do município. c) Análise crítica dos problemas ambientais, relacionando-os ao meio ambiente e a infra-estrutura do município, como uma avaliação preliminar. d) Encaminhamentos e o equacionamento dos problemas ambientais identificados – A partir de um diagnóstico construído com as informações coletadas e contextualizadas foram definidas alternativas para o equacionamento de diversos problemas ambientais observados, tratando-os como meta. A priorização foi conseguida através de “pesos” atribuídos a cada meta, “pesos” estes analisados ao longo dos anos, de acordo com a experiência da Equipe Técnica, usando-se intervalos lógicos de valores de Deterioração Ambiental, que foram calculados em porcentagens, por temas, mediante médias ponderadas. Para tanto tomou-se como base na metodologia preconizada por Vilfredo Paretto apresentada por Rocha (1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1 encontra-se em ordem de ocorrência dados pela priorização dos problemas feita pela análise de Pareto. A priorização das metas está relacionada diretamente com a maior Deterioração Ambiental, as quais são descritas em ordem de prioridade. Alguns problemas ambientais foram detectados no município de Pedra Lavrada, os quais foram transformados em metas que através de ações públicas podem ser solucionadas. Verifica-se que se fazer necessário que sejam 72 tomadas algumas previdências, principalmente, em relação a projeto de conservação e pesquisa para áreas deterioradas devido à extração de minérios, que representou 8,58 da deterioração detectada no município. Verificou-se que o matadouro público encontra-se em condições precárias e funciona fora das normas necessária de saúde pública. No município foi detectado esgoto a eu aberto em praticamente todas as ruas visitadas, sendo necessárias algumas providencias nesse setor já que isso pode ser um vetor de doenças na comunidade. O município não possuiu aterro sanitário e o lixo é posto a céu aberto. Precisam ser revistas as calçadas das cidades, pois são bastante altas, com muitos degraus e objetos que dificultam a acessibilidade de cadeirantes, idosos e grávidas. Também foram detectados, casos isolados, de aprisionamento de animais em gaiolas. CONCLUSÕES Foram encontrados os seguintes problemas ambientais que mais interferem na qualidade de vida do município de Pedra Lavrada: Saneamento básico, Melhoria habitacional, Gestão dos resíduos sólidos, Saúde pública e Pavimentação das ruas. Se faz necessários que sejam tomadas algumas providencias em relação a disposição do lixo sólido e do saneamento básico do município. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS OLIVEIRA, S. T. Ferramentas para o aprimoramento da qualidade. São Paulo: Pioneira, 1996. 115p. (Série: Qualidade Brasil). ROCHA, J. S. M. Manual de Projetos Ambientais. Imprensa Universitária da UFSM-RS, Santa Maria-RS, 423p., 1997. Tabela 1. Metas para a Área Urbana do Município de Pedra Lavrada, PB Metas Nome da meta Pesos Deterioração (%) 01 Projeto de conservação e pesquisa para áreas deterioradas devido à extração de minérios Melhoria da infra-estrutura (principalmente o matadouro público) Saneamento básico Melhoria habitacional Gestão dos resíduos sólidos Saúde publica Pavimentação das ruas Arborização urbana Plano de controle ambiental Órgão municipal de meio ambiente Acessibilidade nos passeios públicos Educação ambiental técnica Legislação e instrumentos de gestão (cód. Tributário, de obras, de postura, cadastro imobiliário urbano e demarcação do perímetro urbano) Implementação e acompanhamento da agenda 21 Aprisionamento de animais silvestres Projeto turístico Total 5,50 8,58 Deterioração acumulada (%) 8,58 3,74 5,84 14,42 5,50 3,73 3,72 3,61 5,17 3,67 5,21 3,75 3,70 3,69 3,24 8,58 5,82 5,81 5,63 8,07 5,73 8,13 5,85 5,77 5,76 5,06 23,00 28,82 34,63 40,26 48,33 54,06 62,19 68,04 73,81 79,57 84,63 3,69 2,58 3,58 64,08 5,76 4,06 5,59 100,00 90,39 94,41 100,00 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16