Revista Educação Agrícola Superior

Transcrição

Revista Educação Agrícola Superior
Educação
Agrícola Superior
Volume 21 - Número 2 - Nov. - 2007
ISSN - 0101-756 - X
A B E A S
Associação Brasileira de
Educação Agrícola
Superior
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
ABEAS
Diretoria Triênio 2005-2007
Presidente
José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy - [email protected] / [email protected]
1º Vice-Presidente
Ricardo Antônio de Arruda Veiga - [email protected] / [email protected]
2º Vice-Presidente
Eugenio Nilmar dos Santos - [email protected]
1º Secretário
Geraldo Antônio de Andrade Araújo - [email protected]
2° Secretário
Moacir Cerqueira da Silva - [email protected]
1º Tesoureiro
Pedro Roberto de Azambuja Madruga - [email protected]
2º Tesoureiro
Raimundo Pinheiro Neto - [email protected]
Secretaria Executiva
Ronaldo Pereira de Sousa - [email protected]
CONSELHO EDITORIAL
Ana Maria Dantas Soares - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRJ - Presidenta
Antônio Carlos Albério - Ex- presidente da Associação Brasileira Educação Agrícola Superior, ABEAS /
Universidade Federal Rural do Amazonas, UFRA - Vice-Presidente
Ana Maria de Souza Braga - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ, Moacir Cerqueira Silva - Universidade Federal
Rural do Amazonas - UFRA, José Guilherme da Mota - Associação Brasileira Educação Agrícola Superior - ABEAS, Pedro Roberto de
Azambuja Madruga - Universidade Federal de Santa Maria UFSM, Venice Grings - Universidade Federal de Santa Maria UFSM.
Pareceristas convidados para este número
José M.H. Conduru, Universidade Federal Rural do Amazonas- UFRA, Demerval Araújo Furtado, Universidade Federal
de Campina Grande - UFCG / PB
Coordenação editorial
Thelma Rosane Pereira de Souza, Universidade de Brasília - UnB - Brasília - DF
Secretaria de apoio
Tayane Pereira de Oliveira e Hérico Bragança
Projeto Gráfico, Capa e Diagramação
Luiz Felipe de Almeida Lucena
Desenhista Industrial
Ficha Catalográfica
Revista Educação Agrícola Superior / Associação Brasileira de Educação
Agrícola Superior – v. 21. n. 2 (nov..2007) - . Brasília: ABEAS, 2007.
v. 21.: il.
Publicação semestral.
1. Educação Agrícola – Brasil. 2. Ensino Superior Brasil. 3. Agricultura – Ensino – Brasil.
Editorial da REAS
Depois do esforço inicial, em 1982, para criarmos uma revista de padrões internacionais, por diversas razões a REAS foi
perdendo periodicidade em sua publicação, parando de ser publicada no seu volume 20, nº1, 2002. Em 2006 houve um mutirão para
relançar a REAS, desejo expresso por toda a diretoria da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior – ABEAS, que se
mostrou decidida a fazer com que a REAS se consolidasse como uma revista cientifica de excelência; que alcançasse a todos os
indicadores e parâmetros de qualidade das revistas de alto nível, e que fosse referenciada na maioria de catálogos e bases de dados
ao ser usado. Para isso a ABEAS determinou que fosse editada em dois formatos, impresso e eletrônico, com conteúdos idênticos,
com o objetivo de alcançar uma maior difusão e impacto dos trabalhos por ela publicados. Depois desse esforço inicial mais um ano
se passou, e somente agora editamos outro número da REAS, e ainda hoje vemos com grande pesar que esta iniciativa cheia de
ambições e esperanças não se concretizou: ainda não foi possível cumprir nosso sonho de estabilizar cronologicamente a sua
publicação.
Ainda nos falta consolidar seu corpo editorial. Apesar de termos iniciado com competentes e ilustres profissionais, compondo o
Comitê Editorial da REAS, segundo nosso parecer a falta de tempo dedicado a essa nobre tarefa constituiu um dos motivos
principais de sua descontinuidade. Assim estamos abertos para compor um novo comitê editorial e aumentar o grupo de
pareceristas, para que logremos uma publicação mais estável.
Neste momento em que a ABEAS realiza sua 47ª Reunião e 2º Congresso de Educação Agrícola Superior com o Tema: “Água nas
Ciências Agrárias: produção com sustentabilidade” temos o prazer de divulgar os trabalhos apresentados nas “comunicações” que
vão desde estudos de profissionais com uma longa e sólida carreira até profissionais recém-formados e aqueles que acreditam na
educação continuada e completam sua formação em nosso curso de especialização por tutoria a distancia.
Na primeira seção: Fórum de Debates, resgatamos a discussão sobre o “Primeiro Emprego” tema que têm preocupado,
nos últimos anos, a várias instâncias de nossa sociedade. O professor Fernando Bemerguy, da UFRA, apresenta uma proposta
prática, visando à solução deste problema: Primeiro em “Diretrizes Curriculares e as Novas Atribuições Profissionais. Resolução
1.010/05 do Confea”, o autor discute Como Preparar Profissionais para o setor tecnológico aptos a enfrentar os desafios desse
novo século Em “Meu Primeiro Emprego” ele sugere um estagio supervisionado para dar experiência aos profissionais recémformados. E por fim, ele apresenta em “Kit Tecnológico para Formandos e Profissionais”, uma oportunidade de que tais
profissionais utilizem a tecnologia da informação, para sua própria capacitação.
Na seção referente aArtigos apresentamos o resultado de pesquisa na área agricultura familiar, um tema atual e necessário
para o desenvolvimento do Brasil rural. Assim o artigo “As concepções de estudantes e professores da ESALQ/USP sobre a
abordagem da relação agricultura familiar - sustentabilidade no currículo da Engenharia Agronômica”, da professora Luciana
Jacob, discute a formação e a sustentabilidade do currículo dos engenheiros agrônomos corroborando para trazer novos subsídios
para a formação profissional. A discussão prossegue com o artigo dos professores Maria de Fátima Paliot, José Horta Valadres, José
Ambrósio Ferreira Neto e Sheila Maria Doula, discutem a “pedagogia” da Escola Rural de Massaroca (ERUM); e os professores
Cleide Isnaia Coimbra Silva Mello, José Ambrósio Ferreira Neto, Denílson Santos de Azevedo e Sheila Maria Doula apresentam a
“Relação entre o CEFET - Petrolina e o contexto rural de Sequeiro” que além da dificil situação climática tem que se adaptar a
descontinuidade das políticas públicas. Na sequência o professor Mariano da Rocha Sales e a professora Cleonir Carpes Daltrozo,
ambos da UFSM, apresenta a situação da agricultura familiar no sul do país, com o artigo “Sistema de tratamento de fluentes
caseiros” e afirma que o” maior obstáculo para quem se dispões a lutar por essa causa é a desinformação no que diz respeito ao meio
ambiente”.
Na seção Comunicações, apresentamos os resumos dos painéis apresentados para o Segundo Congresso da ABEAS.
(47ª Reunião e 2º Congresso da ABEAS). Os temas foram subdivididos e reorganizados para efeito da edição da REAS. O primeiro
tema contemplado é a Educação Agrícola Superior debatida por meio dos painéis: “O círculo hermenéutico-dialético (chd) como
alternativa metodológica para a educação agrícola superior” escrito pela mestranda Maria do Carmo da Silveira Xavier, prof.ª
Heloísa Flora Brasil Nóbrega Bastos e prof. Helaine Sivini Ferreira ambas da UFRPE; “Avaliação pedagógica da metodologia
utilizada na disciplina conservação do solo e da água na UFCG”,apresentado pela graduanda Denise de Jesus Lemos Ferreira
(UFCG),Pedagoga Débora dos Santos Galdino (UEPB), e as mestrandas em Engenharia Agrícola Joelma Sales dos Santos e Aline
Costa Ferreira (UFCG); “O curso superior de tecnologia em agro negócios da Faculdade de Sorriso ( FAIS)”, da prof. Cynthia
Moleta Cominesi e dos graduandos Ademir Pegorini, Ronaldo Kraemer, todos da FAIS.
O segundo tema apresentado é a Agricultura Familiar, com o painel “Educação, Natureza e Cultura em Casas Familiares Rurais do
Pará: Análises Iniciais”, de Edilene Santos Portilho e Luiz Mauro Sampaio Magalhães, da UFRRJ; seguido por “(Re) organização
dos agricultores familiares e reforço dos jovens e mulheres na construção de um modelo de desenvolvimento sustentável” de
Jadson Rodrigo Barreto Seelig de Souza (UFRPE), Yoly Souza Ramos (UFRPE), Jaqueline Rogéria Barreto Seelig de Souza
Pinheiro (Assistente Social), Yldry Souza Ramos (UEPB), Maria Lindinalva Silva Panta, (UVA).
O terceiro tema apresentado é o Controle Ambiental, começando pelo “Diagnóstico ambiental da zona rural do município de
Sossego no Estado da Paraíba”. O estudo foi realizado pelas mestrandas Joelma Sales dos Santos, Aline Costa Ferreira, Silvana
Silva de Medeiros, Kaline Dantas Travasso, mestrando Geraldo Moura Baracuhy Neto, e a Prof. Dr.ªVera Lúcia Antunes de Lima,
todos da UFCG. Em seguida apresentamos o “Estudo da ambiência urbana - município de Cabaceiras, PB”, realizado pelos
mestrandos Kaline Dantas Travassos, Joelma Sales dos Santos, Aline Costa Ferreira, Silvana Silva de Medeiros, Geraldo de Moura
Baracuhy Neto, Silvana Fernandes Neto, e pelo prof. Msc. Josinaldo Xavier de Medeiros. Seguido pelo “Dossiê ambiental - zona
rural do município de Cabaceiras, PB”, realizado pelos mestrandos Silvana Fernandes Neto, Kaline Dantas Travassos; Aline
Costa Ferreira; Joelma S. dos Santos (UFCG); Geraldo Moura Baracuhy Neto, Ilvana Silva de Medeiros da UFCG e o Prof. Msc.
Josinaldo Xavier de Medeiros UFPB; Na mesma direção está o “Levantamento dos tipos de tratamentos de dejetos suínos nos
criatórios da região metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, visando à preservação do meio ambiente”. Este estudo foi
realizado pelas graduandas Izaura Maria Barros de Lorena e Elizabete Cristina da Silva, o prof. Wilson Moreira Dutra Junior e os
zootecnistas Clenilson Marquezin e Mabel de Souza Lima, todos da UFRPE. O “Plano de controle ambiental da estação da
tratamento dos efluentes de uma indústria de laticínios” escrito pela Eng.Agrônoma Lêda Verônica Benevides Dantas Silvada
UFCG, o Eng.Agrícola Braz Henrique Nunes, “Estação de tratamento dos efluentes de uma indústria de laticínios” escrito pela
Eng. Agrônoma Lêda Verônica Benevides Dantas Silvada UFCG, o Eng Agrícola Braz Henrique Nunes Rodrigues, pesquisador da
Embrapa Meio Norte; a Prof. Drª. Vera Lúcia Antunes de Lima da UFCG; e a Eng. Agrícola Joelma Sales dos Santos (UFCG). O
tema também foi contemplado com planos de estudos para o aproveitamento do eco-sistema natural como a “Policultura noa SemiÁrido: uma educação ambiental sustentável”, escrito pelos Eng Agrônomos Leirson Dantas Bispo, Marcelo Ribeiro, e o Técnico
Agrícola Júlio César Santana Vieira da ADRA, BA. O “Reuso de água à luz da legislação brasileira”, escrito pela Especialista em
GNRH (UFCG) Luciana de Paiva Luquez, prof. Drª. Vera Lúcia Antunes de Lima, prof. MsC. Antônio Carlos Félix Ribeiro, Msc
Ronaldo Trecenti e o “Desempenho do bagaço de cana-de-açúcar como material envoltório na drenagem agrícola”, elaborado pelos
mestrandos Michele S. Santos e Helder M. M. Barros e a Prof. Dra. Vera L. A. de Lima, também da UFCG. E para completar este
tema apresentamos o trabalho “Turismo e Desenvolvimento Sustentável nos Assentamentos da Reforma Agrária do Cariri
paraibano” elaborado por Luciana Ramos Cantalice (UFCG) Maria de Fátima Martins (UFPB) e Gesinaldo Ataíde Cândido
(UFCG).
Um quarto tema foi categorizado como Pesquisas e apresenta trabalhos como: “ O geoprocessamento nos cursos de
graduação” realizado pelo prof. Dr. Pedro Roberto de A. Madruga, doutoranda Adriana Gindri Salbego, e a mestranda Roberta
Araújo Madruga, todos da UFSM.; e o estudo sobre o “Rendimento de grãos por capulho do gergelim cultivar CNPA G4, sob
déficit hídrico e adubação com duas fontes de nitrogênio”, realizado pelos graduandos Joab Josemar Vitor Ribeiro do Nascimento,
José Sebastião Costa de Sousa, Denise de Jesus Lemos Ferreira, Luciano Barreto Mendes, o mestrando Sandi Alves Bezerra, e o
prof. Dr. Carlos Alberto Vieira de Azevedo da UFCG. Nesta categoria encontramos também os estudos sobre a “Deterioração
socioeconômica na microbacia do riacho da serra, PB elaborados pela mestranda Aline Costa Ferreira, graduanda Denise de Jesus
Lemos Ferreira, Prof. Drª Soahd Arruda Rached Farias e o Prof. Dr. José Dantas Neto da UFCG; “ Destino adequado do passivo
ambiental proveniente do uso de agro químicos no projeto de irrigação icó-mandantes” desenvolvido pelos mestrandos Yoly Souza
Ramos, Jadson Rodrigo Barrêto Seelig de Souza (UFCG), Eng. Química Ana Cláudia Santana de Almeida, mestranda Yldry Souza
Ramos mestranda (UFPB.), e a Assistente Social Jaqueline Rogéria Barrêto Seelig de Souza Pinheira. Nesta linha de Pesquisa
apresentamos ainda o trabalho “Orientação sobre criação de caprinos e ovinos na região do Curimataú paraibano” , estudado pela
graduanda Valneide Rodrigues da Silva , o prof. Dr. Dermeval Araújo Furtado, profª. Msc. Marluce Azevedo de Araújo, prof. Msc.
Luiz Felipe de Almeida Lucena; o prof. Associado , Jose Wallace B. do Nascimento e a graduanda Nelle Lira Furtado, todos da
UFCG.
Desejamos um ótimo 2008 para todas as escolas, associadas e aos nossos leitores.
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
SUMÁRIO
FÓRUM DE DEBATES
Diretrizes Curriculares e as Novas Atribuições Profissionais. Resolução 1.010/05 do Confea Fernando Bemerguy
01
Primeiro Emprego - Fernando Bemerguy
04
Kit Tecnológico para Formandos e Profissionais - Fernando Bemerguy
06
ARTIGOS
Apedagogia da Escola Rural de Massaroca (ERUM): O desenvolvimento local e a dificuldade
de superação das Políticas Públicas - Maria de Fatima Paliot, José Horta Valadares,
José Ambrósio Ferreira Neto e Sheila Maria Doula
10
Para Além do Rio: a relação entre o CEFET Petrolina e o Contexto Rural de segueiro - Gleide I. C.
15
S. Melo, José A. F. Neto, Denilson S. de Azevedo e Sheila M. Doula.
As concepções de estudantes e professores da ESALQ/USP sobre a abordagem da relação
agricultura familiar - sustentabilidade no currículo da EngenhariaAgronômica
20
Luciana Jacob
Sistemas de Tratamento de Efluentes Caseiros - José Sales Mariano da Rocha e Cleonir Carpes
Daltrozo
26
COMUNICAÇÕES
Tema - Educação Agrícola Superior
O círculo hermenéutico-dialético (CHD) como alternativa metodológica para a educação
agrícola superior”- Maria do C. da Silva Xavier, Heloisa F. B. Nóbrega e Helaine S.Ferreira
30
Avaliação pedagógica da metodologia utilizada na disciplina conservação do solo e da água na
UFCG - Denise J. L. Ferreira, Débora S. Galdino, Joelma S. Santos e Aline C. Ferreira
32
O curso superior de tecnologia em agro negócios da Faculdade de Sorriso ( FAIS) - Cynthia M.
Cominesi, Ademir Pegorini e Ronaldo Kraemer
34
Tema - Agricultura Familiar
Educação, Natureza e Cultura em Casas Familiares Rurais do Pará: Análises Iniciais - Edilene
Santos Portilho, Luiz Mauro Sampaio Magalhães
36
(Re) organização dos agricultores familiares e reforço dos jovens e mulheres na construção de
um modelo de desenvolvimento sustentável - Jadson Rodrigo Barreto Seelig de Spuz, Yoly Souza
Ramos, Maria Lindinalva Silva Panta, Jaqueline R. Barreto Seelig de Souza, Yldry S. Ramos
38
Diagnóstico ambiental da zona rural do município de Sossego no Estado da Paraíba - Joelma
Sales dos Santos, Aline Costa Ferreira, Silvana Silva de Medeiros,Kaline Dantas Travassos
Geraldo Moura Baracuhy Neto, Vera Lúcia Antunes de Lima
40
Estudo da ambiência urbana - município de Cabaceiras, PB - Kaline Dantas Travassos, Joelma
Sales dos Santos, Aline Costa Ferreira, silvana Silva de Medeiros, Geraldo de Moura Bracuhy
Neto, Silvana Fernandes Neto e Josivaldo Xavier de Medeiros
42
Dossiê ambiental - zona rural do município de Cabaceiras, PB - Silvana Fernandes Neto, Kaline
Dantas Travassos, Aline Costa Ferreira, Joelma S. dos Santos, Geraldo Moura Baracuhy Neto,
Silvana Silva de Medeiros e Josinaldo Xavier de Medeiros
44
Levantamento dos tipos de tratamentos de dejetos suínos nos criatórios da região
metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, visando à preservação do meio ambiente”.
Isaura Maria Barros de Lorena, Elizabete Cristina da Silva, Wilson Moreira Dutra Junior,
Clenilson Marquezin e Mabel de Souza Lima.
46
Plano de controle ambiental da estação de tratamento dos efluentes de uma indústria de
laticínios - Lêda Verônica Benevides Dantas Silva, Braz Henrique Nunes Rodrigues
48
Policultura no Semi-Árido: uma educação ambiental sustentável - Leirson Dantas Bispo,
Marcelo Ribeiro, Júlio Cezar Santana Vieira
50
O Turismo e Desenvolvimento Sustentável nos Assentamentos da Reforma Agrária do Cariri
paraibano - Luciana Ramos Cantálice, Maria de Fátima Martins Gesinaldo A. Cândido
52
Reúso de água à luz da legislação brasileira - Luciana de Paiva Luquez, Vera Lúcia Antunes de
Lima, Antônio Carlos Felix Ribeiro, Ronaldo Trecenti
56
Desempenho do bagaço de cana-de-açúcar como material envoltório na drenagem agrícola Michele S. Santos, Helder M. M. Barros, Vera L. A. de Lima
58
Tema - Pesquisas
O geoprocessamento nos cursos de graduação - Pedro Roberto de Araújo Madruga, Adriana G.
Salbego, Roberta A. Madruga
Rendimento de grãos por capulho do gergelim, cultivar CNPA G4, sob déficit hídrico e
adubação com duas fontes de nitrogênio - Joab J. V. R. Nascimento, José S. C. de Souza, Denise
J. L. Ferreira, Soahd A. R. Farias e José Dantas Neto
61
63
Estudo sobre a deterioração socioeconômica na micro bacia do riacho da serra, PB - Aline
Costa Ferreira, Denise de Jesus Lemos Ferreira, Soadh Arruda Rached Farias e José Dantas Neto 65
Destino adequado do passivo ambiental proveniente do uso de agro químicos no projeto de
irrigação icó-mandantes - Yoly S. Ramos, Jadson R B. S. de Souza, Ana C. S. Almeida
67
Orientação sobre criação de caprinos e ovinos na região do Curimataú paraibano - Valneide R.
da Silva, Dermeval A. Furtado, Marluce A. de Araújo, Luiz Felipe de Almeida. Lucena, José
Wallace B. do Nascimento, Nelle L. Furtado
69
Dossiê Ambiental da Área Urbana da Cidade de Pedra Lavrada - PB - Aline Costa Ferreira,
Denise de Jesus Lemos Ferreira, Silvana Silva de Medeiros, Kaline Dantas Travassos, Débora
Rafaelly Soares Silva, Vera Lúcia Antunes de Lima
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01
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Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
Diretrizes Curriculares e as Novas Atribuições Profissionais.
Resolução 1.010/05 do CONFEA
Fernando Antonio Souza Bemerguy
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
[email protected]
Introdução
A introdução de tema tão importante – Diretrizes
Curriculares e as Novas Atribuições Profissionais, frente à
Resolução 1.010/05 do CONFEA, que vem suceder a antiga
Resolução 218/73, que detalhava as atribuições de todos os
formandos nas áreas de engenharia, arquitetura e agronomia do
Sistema CONFEA/CREA. Em todos os campos ela está
presente seja na educação, saúde, alimentos, informática,
energia, transportes, comunicação, meio ambiente e enfim, em
todas as atividades do homem. Tecnologia é sinônimo de
Engenharia, no seu sentido mais amplo e completo e, portanto,
cabe a nós – os profissionais – zelar pelo seu progresso
científico, técnico e profissional.
Tecnologia, Desenvolvimento e Inovação à aplicação
da ciência para produzir as tecnologias. Esta é, portanto,
responsável pela utilização dos conhecimentos científicos,
transformando-os em ferramentas e processos necessários à
produção de bens e serviços.
A tecnologia é a maior riqueza de uma nação,
situando-se acima dos recursos naturais por mais abundantes
que sejam. O desenvolvimento de uma nação, segundo os
economistas, está vinculado a quatro fatores, o progresso
tecnológico, capital físico, capital humano e a integração
mundial.
Metodologia
Como Preparar Profissionais para o setor
tecnológico aptos a enfrentar os desafios desse novo Século?
Algumas de nossas universidades já estão avançando
com experiências inovadoras na formação de recursos
humanos para o setor tecnológico e para melhor entendimento
das propostas que apresentaremos no campo da
regulamentação profissional, que implicam em mudanças de
paradigmas, apresentamos a seguir a nova concepção da
formação profissional para o setor tecnológico já em
andamento em universidades brasileiras.
Conhecimento Tecnológico e Formação Profissional
para que haja, efetivamente, uma mudança conceitual,
paradigmática, na formação de recursos humanos e
engajamento por parte dos envolvidos, é necessário que se
conheça em profundidade o projeto de reestruturação da
educação e formação superior. Para tanto, é preciso rememorar
os conceitos e a evolução da ciência e da tecnologia como bases
para a formação profissional.Assim, é praticamente impossível
conhecer tudo sobre tudo e para compensar surgiu a
especialização, que se centraliza em determinada
particularidade cada vez mais limitada. Por conseqüência, para
o trato de questões mais complexas, criaram-se os sistemas
com abordagens interdisciplinares. Esta realidade foi marcante
na área do ensino que, seguindo o modelo de desenvolvimento
corrente no século passado, as universidades partiram para as
especializações. Equivocadamente, no entanto, criaram
especializações na graduação e não pós-graduação como seria
desejável.
Hoje não se concebe alternativa senão o enfoque
sistêmico e interdisciplinar dos conhecimentos. A formação
profissional na área tecnológica deve levar em conta a
capacitação para o enfrentamento de problemas da atualidade,
de forma crítica e transformadora.
Resultados e Discussão
Em função da complexidade operacional de
mudanças estruturais da educação superior, exigidas pela
sociedade e constantes da nova legislação, tem havido certa
dificuldade por parte das universidades, razão pela quais os
números de adesões têm sido bastante tímidos até o momento.
O MEC além de proporcionar o arcabouço de suporte
legal para a consecução da reforma, criou e instalou, em 2006,
uma universidade federal totalmente concebida nessas novas
diretrizes, com visão sistêmica do desenvolvimento científico e
tecnológico.
Em outras palavras um usuário não precisa saber
sobre chips e sistemas de telecomunicações para fazer uso de
um celular ou computador. São assim com os
microcomputadores, celulares e demais engenhos da microeletrônica que se beneficiam dos mesmos subsistemas. O
mesmo acontece com biologia molecular e outras áreas do
conhecimento. E isto tem repercussão direta na
competitividade e empregabilidade dos profissionais, pois a
obsolescência obriga as empresas a uma corrida desenfreada na
busca de inovações, dos produtos de próxima geração. Por isso,
hoje não se pode formar um engenheiro com as características
estanques de currículos engessados, cujos conhecimentos
estarão defasados antes mesmo de seu ingresso no mercado de
trabalho.
A nova concepção de formação profissional
formulada pela Universidade Federal de ABC, recém criada
pelo MEC, está calcada na fórmula três - dois, sendo um
bacharelado em três anos e especialização de dois anos para os
diversos ramos das engenharias.
Os três primeiros anos do curso dão direito ao diploma
de Bacharel em Ciência e Tecnologia que abre as portas para as
distintas especializações das engenharias. Ao final de cinco
anos o formando terá uma sólida formação científicotecnológica obtida nos três anos do curso de bacharelado,
02
seguida da especialização da área tecnológica ou de
licenciaturas. A vantagem desse sistema é que separa, distingue
a formação dos cientistas e dos engenheiros.
A formação básica, que é científica e permanente, fica
desvinculada da formação profissional que é dinâmica e deve
prosseguir na pós-graduação em diversas especializações de
distintos ramos. Outra grande vantagem desse sistema é que o
aluno não precisa se decidir pela escolha da carreira logo aos
17/18 anos, tornando-se candidato a uma profissão antes do
“Saber”, sem conhecer a ciência básica da carreira. Esta
decisão tomada precocemente tem sido a responsável por 49%
da evasão escolar logo nos dois primeiros semestres do curso
superior. Agora, além de tomar contato com a ciência, na fase
do bacharelado inicial, o aluno disporá de mais tempo e opções
para a escolha da profissão.
É importante notar que esse novo conceito de
formação superior se acopla perfeitamente ao espírito da
Resolução 1010/2005 do CONFEA, que agrega atribuições em
função da titulação pós-graduada, havendo, portanto,
convergência de conceitos. Por outro lado, esse projeto
também se alinha às tendências européias - processo de
Bolonha e às norte-americanas que há bastante tempo
privilegiam a especialização pós-graduada. Há então
convergência de conceitos em relação aos blocos mundiais, o
que facilitará a mobilidade profissional nos diversos
continentes do mundo.
Conclusões
A Lei 9.394, de 20/12/96, a LDB, trouxe profundas
modificações para o ensino superior. As legislações
complementares incluindo leis, decretos, portarias ministeriais
e resoluções do Conselho Nacional de Educação - CNE
determinaram uma série de modificações na vida acadêmica e
das instituições de ensino superior. As novas diretrizes
curriculares com obrigatoriedade de flexibilização curricular,
extinção dos currículos mínimos e a articulação da graduação
com a pós-graduação introduzindo-se o conceito da “educação
continuada e permanente” para os futuros profissionais, são
algumas das inovações mais visíveis. As novas diretrizes
determinam que os estudantes devam ser estimulados a
desenvolver o raciocínio crítico/analítico, trabalhar em equipe
e serem treinados para educação continuada e permanente.
A legislação da educação superior estabelece, ainda, que o
diploma se constitui apenas em certificado de estudos
acadêmicos e, por conseqüência, não gera mais o direito
automático de exercício da profissão.
A reforma da educação superior, desencadeada a partir da
LDB, trouxe muitas inovações na formação de nível superior,
implicando profundas mudanças no ambiente universitário.
Por outra parte, há implicações diretas no sistema profissional
no âmbito da regulamentação do exercício das profissões e suas
relações com o sistema educacional. A plena compreensão
dessas mudanças inovadoras é essencial para que possamos
vislumbrar os impactos no Sistema CONFEA/CREA. Nesse
sentido, podemos resumir os destaques da reforma da educação
superior, conforme a seguir:
a) Estímulo ao estudante: raciocínio crítico/analítico; trabalho
em equipe; educação continuada e permanente;
b) Extinção do currículo mínimo. Introdução das Diretrizes
Curriculares;
c) Redução da duração dos cursos. Graduação é etapa inicial da
formação;
d) Formação integrada à Pós-Graduação;
e) Educação continuada e permanente;
f) Permite a Inserção de até 20% de cursos semipresenciais –
EAD;
g) Diploma - não dá mais o direito automático de exercício da
profissão;
h) Permite maior mobilidade do futuro profissional no mercado
de trabalho;
i)Avaliação da Educação Superior – SINAES;
j)Auto-avaliação e avaliações externas;
k) Uso para fins de reconhecimento/recredenciamento de
cursos e instituições.
Compreendidas as reformas recentes da educação
superior podemos visualizar, logo de início, dois grandes
impactos sobre o sistema profissional. O primeiro deles é que
agora o diploma é considerado apenas como certificado de
conclusão de estudos acadêmicos, não gerando direito
automático de exercício da profissão.
Se o diploma não é mais sinônimo de direito
automático de exercício profissional, conforme estabelecido
pela LDB e suas normas complementares e “que cabe aos
conselhos profissionais estabelecer as condições para o
exercício da profissão”, então porque o CONFEA não faz uso
desse direito?
É, portanto de pleno direito que o próprio sistema
profissional determine o perfil de cada um dos ramos da
engenharia, evitando-se a proliferação de títulos profissionais
na graduação e reservando as especialidades para a pósgraduação. O Conselho Federal de Medicina assim procede há
muito tempo e com o total aval do MEC que apenas indica um
único representante na comissão tripartite responsável pela
aprovação/criação de novas áreas de especialização da
medicina.
O segundo impacto direto da reforma da educação
sobre o sistema profissional é que o curso de graduação não
conduz mais à formação plena, não forma um profissional
acabado, pronto para o mercado. Pela nova LDB, o curso de
graduação é considerado como fase inicial do processo
formativo. O formando deverá complementar sua formação na
especialização pós-graduada, seja ela strito ou lato sensu. Este
impacto já foi de certa forma, absorvido pelo sistema
CONFEA/CREA quando se aprovou a Resolução 1.010/05,
que estende as atribuições em função de titulação pós-graduada
que o engenheiro vier a adquirir na sua modalidade.
Considerando, portanto, o novo modelo de formação
superior com os ciclos intermediários e de especialização
(profissional pleno), o CONFEA poderia, por analogia e
coerência, conceder a titulação de tecnólogo para o egresso do
curso do bacharelado intermediário, seguindo-se o de
engenheiro, arquiteto e engenheiro agrônomo para os egressos
do 2º ciclo com especialização de 2 anos. Essa, no entanto, é
uma discussão que demandará mais tempo, embora já tenham
sido sistematizadas as diversas especializações no Anexo II da
Resolução 1.010/05.
Além dessa novidade, os conselhos e as entidades de
classe podem e devem incentivar seus associados a se
inscreverem no cadastro de consultores do MEC (INEP) para
integrarem as comissões verificadoras para fins de autorização
e credenciamento de cursos e instituições de ensino, conforme
previsto no SINAES- Sistema Nacional de Avaliação da
E d u c a ç ã o
S u p e r i o r .
O CONFEA deveria de imediato e a exemplo da área
da Medicina, assumir as funções de regulador das condições
para o exercício profissional no âmbito de suas áreas de
atuação. Vale dizer, deixar de ser apenas o normatizador do
“como exercer a profissão”, passando a determinar as
condições técnicas para tal exercício. Deveria criar uma
comissão tripartite, composta por um seu representante, um do
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
03
MEC e outro das Entidades de Classes. Esta comissão se
encarregaria de determinar quais as áreas de especialidades
seriam reconhecidas pelo Sistema Profissional, determinando,
inclusive, os conteúdos mínimos, duração e outros parâmetros.
As Diretrizes Curriculares e as Novas Atribuições
Profissionais do Sistema CONFEA/CREA tem por objetivos,
dentre outros, discutir a eficiência, a eficácia, a efetividade do
Sistema e a conscientização do universo profissional sobre a
sua importância política, social e ética e também a participação
de seus segmentos na discussão, planejamento e
implementação de um processo nacional de desenvolvimento.
Caberá, portanto, às lideranças nacionais do sistema a
responsabilidade de conduzir as discussões com vistas ao
equacionamento de questões tão relevantes para o
desenvolvimento da engenharia em nosso país.
A sugestão seria a criação, pelo CONFEA, de um
conjunto de medidas complementares a essas ações, criandose:
·
Exame de proficiência Profissional;
·
Residência Profissional acoplada à pós-graduação;
·
Comissão Nacional de Acreditação Profissional, com
emissão de certificados de atualização profissional
exigível a cada cinco anos;
·
Participação nos processos de autorização de cursos
em faculdades, conforme disposto no Decreto
5.773/2006, artigo 37.
Quais as ações e instrumentos legais que deverão ser
acionados? Com a palavra o Sistema CONFEA/CREA e as
Entidades de Classes. De sua parte o MEC está totalmente
aberto a colaboração, sobretudo nesse momento em que todas
as normas da educação superior conduzem à cooperação com
os segmentos profissionais que, doravante passarão a
desempenhar importante papel no processo de formação e
qualificação continuada e permanente de seus profissionais.
Referências
Almeida Filho, Naomar de. Protopia - Notas Sobre a
Universidade Nova. Editora da UFBA, Salvador, Ba, 2007.
27p.
Instituto Euvaldo Lodi. Núcleo Nacional. Inova Engenharia Propostas Para Modernização da Educação Em Engenharia no
Brasil.Brasília, IEL-SENAI-DN,2006. 103 p. ilust.
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Superior.
Projeto de Expansão da Educação Superior - Universidade
Federal doABC. MEC;SESU, 2006, projeto.
Silva, Paulo Roberto da. O Ensino de Ciências Agrárias:
Perspectivas e Tendências Para a Década de 80. Brasília,
Ministério da Educação e Cultura. SESU. ABEAS,
1982.112p.ilust.
Silva, Paulo Roberto da. Textos Referenciais Sistema
CONFEA/CREAVI CEP e 64ª. SOEAA
Sistema CONFEA/CREA - Lei 5.194 – 66
Sistema CONFEA/CREA Resoluções CONFEA: 218- 73,
1.010/ 2005 e 1.016/2006 LDB – Lei 9.394/96
Decretos 5.622/2005 (EAD); 2.206/96 e 2.306/97
Pareceres CNE/CES 776 , de 03/12/97; 583/01, de
04/04/2001; 67/03, de 11/03/2003; 188, de 07/05/2003; 329/
04, de 11/11/2004 e 184/06, de 07/07/2006.
Edital 4/97 - SESu/MEC de 04/12/1997
Resolução CNE/CES – 01/2001 (PG lato sensu)
Portaria MEC nº 4.059/04 de 10 / 12 / 04 (semi-presenciais)
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
Primeiro Emprego
Fernando Antônio Souza Bemerguy
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
[email protected]
Introdução
A pouca experiência dos profissionais recém
formados os leva a sentirem e não conseguirem espaço de
oportunidades, e muitas dificuldades no mercado de trabalho e
em suas oportunidades de emprego, o Programa Meu Primeiro
Emprego, proposto pela ABEAS em parcerias com o Sistema
CONFEA/CREA/MUTUA, Instituições de Ensino Superior –
IES, Entidades de Classes eAssociações.
Considerando o atual modelo de desenvolvimento
nacional, concentrador de renda, social e economicamente
excludente, a urgência da implementação de uma discussão
nacional dentro do Sistema CONFEA/CREA/MUTUA
conjuntamente com as Entidades Nacionais, Câmaras
Especializadas, Instituições de Ensino e a Sociedade de
Projetos que possibilitem a todos o pleno exercício da
cidadania; que a nossa participação nesse projeto constitui-se
um dever ético-profissional, e, mais que isso, um
posicionamento cidadão; que as questões debatidas neste
6º.CNP, sejam todas elas precedidas de ampla discussão em
todas as regiões brasileiras, das quais participem milhares de
profissionais e que a crise ética que afeta os Poderes da
República não pode ser ignorada pois, além de agredir os
valores nacionais, dilui os recursos penosamente arrecadados.
Considerando o momento raro e histórico pela qual
passa a sociedade brasileira e todo o planeta que procura
integrar-se ao mundo globalizado por meio de indicadores
sócio-econômicos e de índice de desenvolvimento humano,
como centro de tudo o homem e a natureza, cada vez mais
expressivos e qualificados, justificadores da consecução dos
crescentes níveis de bem estar social a que os brasileiros
aspiram e tem direito; considerando que somente a formulação
solidária e a implementação participativa de um consistente e
duradouro processo democrático de desenvolvimento
sustentável poderá conduzir à concretização de tais ideais;
considerando a importância, por todos os profissionais
declarada, de uma mais intensa participação das profissões
vinculadas ao Sistema CONFEA/CREA nas diferentes etapas
desse processo; considerando que a ordenação e a
potencialização da participação desejada esta em grande parte
condicionada à eficiência, eficácia, efetividade e a unidade de
ação das autarquias, entidades e instituições que integram esse
Sistema.
Metodologia
As Entidades, Associações e a Sociedade Civil
Organizada levantarão e terão as demandas das Empresas e do
mercado de trabalho à atividade fim e demandada para alocar o
formando ainda sem experiência e com dificuldades de
emprego, pois não tem experiências e com dificuldades de
trabalho, onde o mesmo ficaria por seis meses a um ano,
aprendendo e ganhando experiências e conhecimentos
profissionais como primeiro emprego, aperfeiçoamento ou
mesmo residência denominada: Meu Primeiro Emprego.
Os formandos dos Cursos de Ciências Agrárias,
Engenharia Agronômica, Engenharia Agrícola, Engenharia
Florestal, Engenharia de Pesca, Medicina Veterinária e
Zootecnia, com melhores desempenhos acadêmicos, baixa
renda familiar e interessados Delegacias Regionais a os
Programas de Assentamentos, Colonização e desenvolvimento
Rural os estudantes das Áreas de Ciências Agrárias das
Instituições Públicas e Privadas de todo o país para conhecer,
acompanhar e orientar na realização da educação, educação
ambiental, conscientização e mudanças de conceitos de
responsabilidades sociais de todo o segmento organizado da
sociedade civil, envolvendo assim, os diversos segmentos.
Resultados e Discussão
Instituições de Ensino Públicas e Privadas da rede
Municipal, Estadual e Federal.
Os estudantes selecionados de todo país, no primeiro
momento em número de oito por Estado da Federação,
perfazendo um total de duzentos e dezeseis estudantes, que
terão cinco dias de preparação, orientação e acompanhamentos
e trinta dias de permanência nos Assentamentos e Propriedades
Rurais
Conclusões
Teremos como Produto Final os dados levantados,
índices de desenvolvimento humano, catalogados com todos os
dados de desenvolvimento técnico e social dos assentamentos,
projetos de colonização de todo o Brasil com informações de
coordenadas geográficas através de GPS, informações
importantes aos Programas de Governo, localização exata das
propriedades rurais do Brasil, por estado, por região, dados
para monografias dissertações de tese de mestrado e doutorado,
trabalhos de conclusão de cursos para os alunos da graduação
de todo o País, publicações dos resultados em revistas e
periódicos outros órgãos de Circulação Nacional.
Além de que teremos a oportunidade de todos os
estudantes do Brasil conhecerem e constatarem outras
realidades de seu país, bem como formamos cidadania das
novas gerações com visão criticas e consciente de outros
Brasis, dentro de enfoque e eixos transversais de políticas
sociais mais responsáveis e pensamento de desenvolvimento
05
de País com sustentabilidade e melhor distribuição de
conhecimento e de economia.
1. Desenvolvimento e Formação de Recursos Humanos em
Recursos Naturais e EducaçãoAmbiental
1.1 Programa de impacto na área dos Recursos Naturais nos
Programas de Assentamentos, Colonização e
Superintendências Regionais do IBAMA.
1.2 FlorestaAmazônica e outros Biomas
1.3 Pequena Agricultura, Suinocultura, Avicultura,
Rizicultores e Piscicultura.
1.4 Cultura deArroz e outras Culturas
1.5 ProgramaAmbiente e Rios Limpos
2. Além das Ações sugeridas, incluem-se as seguintes
sugestões a serem avaliadas.
2.1 Projeto Água nossa de cada dia;
2.2 Produção, Editoração e Reprodução Gráfica de Material
Institucional e Educativo
O mundo está vivenciando um processo de migração
para uma nova forma de sociedade onde a informação está
sendo considerada como a principal fonte de poder, em
substituição ao capital, principal instrumento da sociedade
industrial.
Conseqüentemente, as esferas pública e privada estão
sendo impelidas a assumirem um novo perfil institucional,
onde o conhecimento e a informação são as bases de
sustentação do seu modo de agir.
Por seu turno, as questões em torno da gestão de Recursos
Naturais e Recursos Hídricos assumem papel preponderante na
agenda política atual, e neste contexto a informação e o
conhecimento têm relevância dobrada, constituindo-se em
recursos estratégicos neste novo paradigma.
Os conhecimentos científicos, tecnológicos e as
informações gerenciais são utilizados para gerar serviços,
produtos e formas de gestão adequadas às demandas
dominantes no campo da Gestão dos Recursos Naturais e
Hídricos, que impõe uma atuação comprometida com a
realidade.
Assim a execução deste Componente visa produzir e difundir
uma base de informações e conhecimentos necessários aos
vários atores envolvidos no processo de Gestão Ambiental, dos
Recursos Naturais e da Água.
Serão elaborados e reproduzidos materiais contendo
informações, conhecimentos oriundos de estudos e pesquisa,
cursos e eventos, configurados em cadernos técnicos, livros,
apostilas, vídeos, CD-Rom, disquetes, informe, dentre outros.
Poderá ser o objeto deste componente a produção científica e
tecnológica em estoques nas universidades e instituições de
pesquisa.
A definição para a seleção do material a ser publicado
será efetuada conjuntamente com a contratante.
Estruturar, Programar e Ministrar Cursos de Especialização
(Lato Sensu), Usando a Metodologia de Ensino à distância,
Formação de mão-de-obra especializada para direção e
gerenciamento das diversas Agências de Bacias Hidrográficas,
Federais e Estaduais, que serão criadas pelas ações do IBAMA
e ANA, consolidando o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Naturais e Hídricos. Treinar profissionais de
extensão rural e professores de 2º grau (técnicos) para
possibilitá-los gerenciar os ensinamentos do Uso Adequado e
Gestão da Água, para os pequenos e médios produtores de todo
o país para os alunos das escolas agrotécnicas.
Treinar profissionais de extensão rural e professores
de 1º. 2º. 3º grau (técnicos) para possibilitá-los gerenciar os
ensinamentos do Uso Adequado e Gestão dos Recursos
Naturais, para os pequenos e médios produtores de todo o país
para os alunos das escolas
Treinar profissionais de extensão rural e professores
de 1º., 2º e 3º. Grau (técnicos) para possibilitá-los gerenciar os
ensinamentos do Uso Adequado e Gestão dos Recursos de
Fauna e Pesca, para os pequenos e médios produtores de todo o
país para os alunos das escolas agrotécnicas e IES.
Referências
FAO/INCRA. Perfil da agricultura familiar no Brasil:
dossiê estatístico. Projeto
UFT/BRA/036/BRA, ago., 1996.
GIULIANI, Gian Mário. Neo-Ruralismo: o novo estilo
dos velhos modelos. Revista Ciências
Sociais, n.14, ano 5, out. 1990.
HOFFMANN, R. et allii. Administração da Empresa
Agrícola, São Paulo. Pioneira, 1984
LAMARCHE, Hugues. A agricultura Familiar;
comparação internacional. TraduçãoAngela
Maria Naoko Tijiwa. Campinas: Editora UNICAMP,
1993.
LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: Planejamento,
Implantação e Controle. São Paulo,
EditoraAtlas, 1981.
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO.
Novo retrato da agricultura familiar – o
Brasil redescoberto – Brasília: 2000.
ORSI, Sérgio Dias. Desafios institucionais para a inserção
das pequenas agroindústrias rurais no
Distrito Federal. Rio de Janeiro: UFRRJ/CPDA. 187p.
Dissertação de mestrado, 2001.
SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de economia, São
Paulo. Editora Best Seller, 2000.
WILKINSON, John. Distintos enfoques e debates sobre a
produção familiar no meio rural .
CPDA/DAS/UFRRJ, Rio de Janeiro, 2000. (versão
preliminar não corrigida)
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
06
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
Kit Tecnológico para Formandos e Profissionais
Fernando Antônio Souza Bemerguy
Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA
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Introdução
O Brasil possui uma posição geopolítica estratégica
na América Latina e pode utilizar essa singularidade para sua
emancipação das imposições dos planos definidos nas agências
internacionais de fomento. Trata-se, acima de tudo, do resgate
das perspectivas de autodeterminação nacional, voltadas para a
tomada de decisões sobre um projeto de futuro, cuja realização
se concretize numa democracia efetiva, na qual os princípios da
liberdade, da solidariedade e da eqüidade se firmem muito além
das formalidades institucionais. Somente junto às bases
populares é possível pensar uma integração continental,
fundada nos direitos humanos, na emancipação de gênero, no
direito à imigração, nos direitos dos pobres, dos povos
indígenas e quilombolas e no desenvolvimento
ambientalmente sustentável, alicerces fundamentais para a
livre manifestação da diversidade cultural, um sonho
plenamente possível de ser efetivamente realizado.
É de se destacar também que o Brasil é a última grande
fronteira agrícola mundial, porque as áreas agricultáveis
disponíveis nos paises centrais estão esgotadas ou em processo
crescente de esgotamento. Além disso, dispomos de grandes
quantidades de água, energia solar e tecnologias avançadas.
A agricultura familiar é uma questão central para a
agricultura no Brasil. Se não, vejamos os números a seguir:
30% da área total utilizada pela agricultura; 38% do valor bruto
da produção agropecuária; 4 milhões (85%) dos
estabelecimentos rurais do país; 77% da população ocupada
pela agricultura; 7 em cada 10 empregos no campo; 84% da
produção da mandioca; 67% do feijão; 54% do leite; 49% do
milho; 58% dos suínos; 40% das aves e ovos.
Metodologia
O projeto objetiva capacitar jovens profissionais
recém formados e profissionais das ciências agrárias a
utilizarem eficientemente a tecnologia da informação. Além de
viabilizar o acesso aos sistemas comerciais existentes, será
dada atenção especial à formação de senso crítico para a análise
dos sistemas, a fim de que esses profissionais possam ter
participação ativa, não só na escolha e utilização, como
também no desenvolvimento, implementação e manutenção de
softwares que contribuam para a solução de problemas na
agropecuária.
O aumento da competição na agricultura e a interação
cada vez maior dos elementos das cadeias produtivas do
agronegócio reforçam a necessidade de informações e de
instrumentos de análise. Profissionais das ciências agrárias
devem ser, portanto, capazes de utilizar a tecnologia da
informação em suas atividades profissionais.
O objetivo geral do projeto é capacitar jovem recém
formado e profissionais em ciências agrárias a utilizarem a
tecnologia da informação de forma eficiente e a desenvolverem
capacidade de análise crítica, de tal forma que esses
profissionais sejam capazes de selecionar e utilizar softwares
agropecuários, como também participar do desenvolvimento,
implementação e manutenção dos sistemas, contribuindo
efetivamente para a solução de problemas na agropecuária.
Essa capacitação pretende suprir deficiências observadas entre
estes profissionais na área de informática aplicada.
Especificamente, pretende-se:
a.
b.
c.
d.
Disponibilizar aos cerca de 300.000 profissionais
ligados ao setor agrícola, versões demonstrativas dos
sistemas, as quais deverão possuir todas as funções do
sistema comercial, incluindo manual e informações
detalhadas do software;
Capacitar profissionais de ciências agrárias, nos
princípios básicos da tecnologia da informação, para
modelar problemas em suas respectivas atividades
profissionais, viabilizando o desenvolvimento de
sistemas eficientes. Essa capacitação será realizada
através de cursos, seminários e palestras;
Estimular a formação de parcerias entre profissionais
de ciências agrárias, pesquisadores e empresas de
software através da disponibilização de informações
no site daABEAS;
Disponibilizar a todas as Instituições de Ensino
Superior das Universidades Brasileiras dos Cursos de
Ciências Agrárias, Engenharia Agronômica,
Engenharia Florestal, Engenharia Agrícola e
Engenharia de Pesca ao formando, oferecendo aos
mesmos oportunidades de trabalho e
empreendedorismo na inserção do mercado de
trabalho ao recém formado;
Resultados e Discussão
Os sistemas serão distribuídos em versões
demonstrativas, que contenham toda a funcionalidade do
sistema original, além de incluir manual e material
informativo. Tais versões permitirão aos recém formados e
profissionais de ciências agrárias a utilização dos softwares
sem qualquer prejuízo para o objetivo do projeto, que é
capacitar esses profissionais a utilizarem a tecnologia da
informação de forma eficiente. Como essas versões não têm
objetivo comercial, seu custo é mínimo, pois é muito baixo o
esforço computacional para limitar a capacidade de um
sistema, tornando-o uma versão demonstrativa funcional.
07
Desse modo, os recursos a serem alocados ao projeto
podem ser otimizados. É importante destacar que soluções de
informática, apesar do grande retorno para as empresas rurais,
podem apresentar custos elevados. Tais benefícios não podem
ser auferidos pelos Conselhos Regionais, mas justificando,
portanto, a compra dos sistemas completos.
Nesta análise, alguns aspectos são destacáveis:
1. As desregulamentações dos mercados e até de algumas
profissões, as privatizações e aberturas de mercado
segundo a lógica da OMC (Organização Mundial de
Comércio), o crescimento dos setores financeiros, a maior
insegurança e precarização dos vínculos de trabalho.
2. O papel das novas tecnologias, o aumento e rapidez das
telecomunicações e da capacidade de transmitir grande
massa de dados à longa distância e em tempo
extremamente reduzido, as redes de comunicação com o
aumento da importância da informática, o surgimento da
nanotecnologia e da biotecnologia.
3. A busca por maiores aumentos de produtividade, as novas
formas de organizar os processos de trabalho, a
automatização dos processos de produção e de projeto, a
diminuição da necessidade da atuação dos profissionais do
Sistema junto às máquinas ou no “chão-de-fábrica”.
4. O aumento da necessidade de profissionais no setor de
serviços, com postos de trabalho mais próximos aos
clientes e mais voltados a satisfazerem suas demandas e
interesses.
5. O aumento da consciência da sociedade quanto às
limitações energéticas e ambientais e de atendimento das
questões colocadas pela ecologia. Isto tem indicado que a
busca por novas formas de energia é uma área promissora
para os profissionais, bem como o estudo da reciclagem
dos materiais e das pesquisas de impacto ambiental.
6. O aumento do peso dos direitos do consumidor na
fabricação dos produtos e no fornecimento de serviços.
7. O aumento da importância de uma engenharia de
“software” com um ciclo que engloba a modelagem
matemática do problema, a elaboração de algoritmos e
programas computacionais e sua conseqüente
documentação para utilização pelos usuários.
No Brasil, os gastos em pesquisa e desenvolvimento
em relação ao PIB, estão em torno de 1%, no mesmo nível da
Irlanda e da República Checa. Já na França, Alemanha e EUA,
os percentuais giram em torno de 2,5%. Na Coréia e no Japão,
são de 3,0% do PIB.
A perda de oportunidades de retomada do
desenvolvimento nas últimas décadas significou também a
privação do acompanhamento das grandes alterações
tecnológicas e estratégicas ocorridas no mundo, na dimensão
exigida pela contemporaneidade.
Não podemos concordar que a busca de uma
competitividade da produção brasileira continue baseada na
transferência de riquezas pela via de benefícios fiscais e pela
baixa remuneração do trabalho. Tal modelo retira benefícios
que poderiam ser ofertados a um contingente considerável da
população brasileira e os transfere para um grupo bastante
seleto de famílias das elites brasileiras e estrangeiras.
Um Sistema Nacional de Inovações deve ser voltado para uma
integração entre as agências federais com as instituições
regionais e locais de desenvolvimento. Deve, também, ser
capaz de selecionar os ramos de atividade que poderiam ser
fomentados, distinguindo-os quanto às perspectivas de
competitividade no curto, no médio e no longo prazo. Além
disso, tem que definir a necessidade efetiva de força de trabalho
qualificada, ou seja, quantos profissionais das áreas
tecnológicas são exigidos e com quais qualificações os mesmos
devem ser formados e treinados para atender às necessidades
de desenvolvimento de atividades previamente selecionadas.
Conclusões
Alguns princípios e diretrizes com relação a inovação
em ciência e tecnologias os programas de desenvolvimento
tecnológico devem priorizar e estar integrados com os
princípios e programas de desenvolvimento econômico
sustentado e sustentável do país, instituir programa de estímulo
continuado e crescente de desenvolvimento tecnológico e
inovação, com definição de recursos orçamentários referidos
ao PIB e não passiveis de contingenciamentos de quaisquer
naturezas, priorizar tecnologias não apenas de ponta, mas
também inovações tecnológicas orientadas para produção de
bens de massa e serviços destinados aos grandes contingentes
de pessoas ainda privadas de qualidade de vida digna, instituir
políticas e programas de permanente avaliação dos processos
C&T&I com transparência e participação da sociedade e
divulgar, ampliar e generalizar os centros de excelência
existentes em áreas tecnológicas tais como: comunicação,
formação profissional, agricultura, pesca e aqüicultura, entre
outros.
Pode-se afirmar, com toda a segurança, que não existe
na face do nosso planeta país igual ao nosso quanto a
possibilidades de desenvolvimento sustentado e sustentável.
Isso pode ser demonstrado até numericamente.
Nossos índices de pobreza e miséria, de qualidade de
vida, de concentração de renda, de corrupção e tantos outros, se
referido a escalas mundiais, nos situam em posições
deprimentes.
De nossa parte, acreditamos firmemente na
prevalência desses valores fundamentais e esperamos que a
transição para um outro futuro possa se dar rapidamente, sem
mais e maiores perdas de tempo. Entendemos que já existem
alguns sinais de mudanças e transformações.
Referências
ABEAS, Projeto Kit Profissional, 2004.
ABEAS, Projeto Kit Formando, 2004.
Aziz Galvão da Silva Jr. - UFV, 2004.
FAO/INCRA. Perfil da agricultura familiar no Brasil: dossiê
estatístico. Projeto UFT/BRA/036/BRA, ago., 1996.
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velhos modelos. Revista Ciências Sociais, n.14, ano 5, out.
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HOFFMANN, R. et allii. Administração da Empresa Agrícola,
São Paulo.
Pioneira, 1984
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internacional. Tradução Angela Maria Naoko Tijiwa.
Campinas: Editora UNICAMP, 1993.
LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: Um Enfoque
Administrativo. Rio de Janeiro,
Editora da Fundação Getulio Vargas, 1995.
LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: Planejamento,
Implantação e Controle.
São Paulo, EditoraAtlas, 1981.
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pequenas agroindústrias rurais no Distrito Federal. Rio de
Janeiro: UFRRJ/CPDA. 187p. Dissertação de mestrado, 2001.
PATRIARCA, Maria Clarice Silva e Francis, David . Uma
análise da gestão - ou administração – das propriedades
agrícolas familiares tradicionais e empresariais. Mestranda em
Desenvolvimento Econômico – UFU - E-mail:
[email protected] . mimeo. S/dada,
PINTO, João Bosco Guedes. Tecnologia e pequena produção
no desenvolvimento rural. Doc. A-9 do Ministério do Interior/
SUDENE/Polonordeste/OEA, Recife, dez. 1981.
SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de economia, São
Paulo. Editora Best
Seller, 2000.
SILVA, José Pereira da. Análise Financeira das Empresas.
EditoraAtlas, São Paulo,
2001.
TEIXEIRA, Vanessa Lopes. Pluriatividade e agricultura
familiar na região serrana do estado do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: UFRRJ/CPDA. 185p. Dissertação de Mestrado, 1998.
WILKINSON, John. Distintos enfoques e debates sobre a
produção familiar no meio rural . CPDA/DAS/UFRRJ, Rio de
Janeiro, 2000. (versão preliminar não corrigida)
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
10
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
A PEDAGOGIA DA ESCOLA RURAL DE MASSAROCA (ERUM), O
DESENVOLVIMENTO LOCAL E A DIFICULDADE DE SUPERAÇÃO DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS.
1
2
3
4
Maria de Fátima Palitot, José Horta Valadres, José Ambrósio Ferreira Neto, Sheila Maria Doula
1-Professora - Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina- CEFET.
Mestrado em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa- MG. E-mail: [email protected]
2-Professor da Universidade Federal de Viçosa-MG.
Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ. E-mail: jvaladares uol com.br
3-Professor da Universidade Federal Rural de Viçosa-MG. Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. E-mail:
[email protected]
4-Professora da Universidade Federal de Viçosa-MG. Doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente artigo analisa um modelo alternativo de escola, imaginado à luz da pedagogia de alternância, que procura
minimizar os problemas enfrentados pelos jovens da Escola Rural de Massaroca (ERUM), na busca pelo ensino básico, e qual a
contribuição socioeconômica e produtiva desencadeada pela ação escolar no desenvolvimento local, diante das dificuldades de
superação e descontinuidade das políticas públicas.
Palavras-chave: pedagogia da alternância-desenvolvimento local - políticas públicas.
ABSTRACT
This article analyses an alternative school model, imagined under the influence of a pedagogy that alternates school and
productive activities and that pursues to minimize the problems faced by the young students of Escola Rural de Massaroca (ERUM)
in their search for the acquisition of knowledge taught in elementary and junior high school; and to evaluate the productive and
socioeconomic contribution triggered by the school action in the local development to overcome the shortcomings of discontinuous
public policies.
Key words: pedagogy - local development - public policies
Introdução
Este artigo analisa um modelo alternativo de escola
para o meio rural, que procura minimizar os problemas
enfrentados pelos jovens de Massaroca, na busca pela
aquisição do ensino básico.
Especificamente propõe-se investigar a conexão entre o
trabalho desenvolvido pela escola, analisando práticas
pedagógicas desenvolvidas nesse contexto, observando se o
saber local e as necessidades tecnológicas das famílias são
valorizados pela escola e como esta se apropria e media o
conhecimento e as técnicas desenvolvidas pelas instituições
parceiras.
O Distrito de Massaroca, onde está situada a ERUM,
ocupa uma área de 400 km² e está localizado a 62 km da sede
municipal de Juazeiro-BA, na rodovia BR-407, no sentido
Juazeiro-Salvador. É uma zona de pecuária extensiva (caprino,
ovino e bovinocultura) associada a uma agricultura tradicional
de subsistência (milho, feijão- de- corda, andu) e, em alguns
mamona), bem como extrativismo vegetal (madeira, umbu e
maxixe). Na visão de REIS (2004:39) “é uma imagem viva da
grande diversidade de situações ambientais observadas no
semi-árido brasileiro”.
Conforme dados fornecidos pela Secretaria de
Educação Municipal e Desenvolvimento Social de Juazeiro e a
Direção Regional de Educação e Cultura de Juazeiro- DIREC
15, a situação atual das escolas do Município e do Estado em
2007, é a que se pode observar na tabela 1.
Das cento e cinqüenta e seis escolas registradas pela
Secretaria Municipal de Educação e pela Direção Regional de
Educação e Cultura de Juazeiro, apenas a Escola Rural de
Massaroca tenta viabilizar uma proposta pedagógica
direcionada às especificidades do homem do campo apenas a
Escola Rural de Massaroca busca viabilizar uma proposta
pedagógica direcionada, demonstrando assim a dificuldade de
se multiplicar pedagogias desta natureza e de se romper com
paradigmas educacionais arraigados em currículos “urbanos”.
A ERUM foi criada em 1995 a partir dos anseios,
11
necessidades e organização dos agricultores locais. Os
produtores rurais e as comunidades locais, representados pelo
Comitê de Associações Agropastoris de Massaroca (CAAM) e
pela professora Valdete Gama, foram os idealizadores da
Escola que conta, também, com o apoio do poder público
Municipal.
Tratando-se de uma escola municipal, de 5ª a 8ª série,
o calendário escolar, apesar de ser flexível às necessidades
locais, estabelece os duzentos dias letivos previstos em lei.
A metodologia da escola trabalha com projetos norteadores das
abordagens pedagógicas por série, assim distribuídos:
Compreensão do Espaço Local- 5ª série; Políticas Públicas e
Condições de Vida-6ª série; Sistema socioeconômico-7ª série;
Projeto de Desenvolvimento Local-8ª série.
Tabela 1 – Distribuição das Escolas Municipais e Estaduais na
Sede e nos Distritos
Localidades
Sede
Carnaíba
Massaroca
Abóbora
Juremal
Pinhões
Itamotinga
Junco
Total
Escolas
Municipais
33
5
2
3
3
3
32
20
101
Escolas Estaduais
26
1
1
1
1
1
9
5
45
Fonte: Dados da Secretarias Municipal e Estadual de Educação
(2007)
Tabela 2- Blocos Temáticos e Áreas de Conhecimento
Série
Espaço
5ª
Geografia
6ª
Geografia
7ª
8ª
Geografia
Geografia
Organização Social
Processo
Necessidade de Vida
Produtivo
História e Ensino Religioso
Técnicas
Ciências
agrícolas
História e Ensino Religioso
Técnicas
Técnicas agrícolas
agrícolas
História e Ensino Religioso
Ciências
Ciências
História e Ensino Religioso
Técnicas
Técnicas agrícolas
agrícolas
Convívio Social (todas as áreas do conhecimento)
Fonte: Registro Escolar ERUM (2007)
As disciplinas-chaves, em destaque na Tabela 2, apresentam peso maior dentro do bloco, por se tratar de
disciplinas que trazem a realidade local para a sala de aula, dando sentido aos blocos temáticos e
extrapolando os conteúdos didáticos.
Os blocos temáticos atuam de forma interdisciplinar com as demais disciplinas do currículo comum
(Português, Língua Estrangeira, Matemática, Educação Física, EducaçãoArtística etc.).
Visando extrapolar os muros escolares a ERUM tem como Instituições parceiras a Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola (EBDA), a Associação de Desenvolvimento e Ação Comunitária (ADAC), a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), através do Centro de Pesquisa Agropecuária
Semi-Árido (CPATSA), e o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa para o Desenvolvimento
(CIRAD). Essas entidades atuam em conjunto para programar métodos e instrumentos de pesquisa e
desenvolvimento com as comunidades rurais daquele Distrito.
Analisando as práticas da pedagogia da escola, inspirada em princípios norteadores da pedagogia de
alternância, no que se refere ao conhecimento e a interação entre os diversos atores locais, o estudo de que
se originou este artigo se propõe também a investigar quais as contribuições desse processo de ensinoaprendizagem na configuração da dinâmica do desenvolvimento local de Massaroca-BA.
A PEDAGOGIA DE ALTERNÂNCIA NO
BRASIL E O MODELO ALTERNATIVO DA
ESCOLARURALDE MASSAROCA(ERUM)
Conforme SILVA (2003) as primeiras experiências de
alternância no Brasil, tiveram início em meados dos anos 60, no
estado do Espírito Santo, inicialmente marcadas em sua base
pela atuação do padre jesuíta Pietrogrande, de origem italiana.
Segundo a autora, a região sul do Espírito Santo vivia uma
intensa crise socioeconômica na cafeicultura que ocasionou o
êxodo rural desordenado e o desemprego acelerado.
Nesse contexto houve a inserção do padre jesuíta que
viria a se tornar um dos grandes responsáveis pela organização
das primeiras experiências de formação em alternância no país.
Segundo Pessoti (1991) no plano pedagógico, uma das
características deste primeiro período foi a combinação entre as
experiências francesas e italianas, tendo as Escola-Famílias
Agrícolas (EAFs) herdado o modelo pedagógico das primeiras,
enquanto os objetivos de formação, a organização e
funcionamento foram herdados da segunda.
Após o golpe militar de 1964, houve um período de
progressiva retração das ações desses movimentos sociais,
vindo a ressurgir no período de1973 a 1987, que compreende a
segunda fase de consolidação dos modelos de EAFs no estado
do Espírito Santo e o início de sua expansão para outros estados
brasileiros. Atualmente o movimento nacional de EAFs conta
com aproximadamente 113 unidades em 16 estados brasileiros,
sendo 90% destinadas ao ensino
fundamental.(SILVA,2003,p.73).
Em 1985, conforme documentos cedidos pela EBDA,
as instituições iniciaram trabalhos com enfoque comunitário
em Lagoinha, mas sem uma proposta metodológica muito
clara. Em 1987, com a chegada dos franceses Jean Philippe
Tonneau e Jean Poudevigne e o apoio destas instituições foi
definida uma proposta metodológica para ser trabalhada nas
comunidades citadas.
Em 1990, de acordo com Reis (2004, p.40), com a
continuidade da cooperação internacional Brasil-França,
através da Associação Serra Serrane, surge um segundo
intercâmbio que leva ao Sul da França um técnico da
Associação de Desenvolvimento e Ação Comunitária
(ADAC), um técnico da EMBRAPA/CPATSA, dois
agricultores de Massaroca e uma professora que na época
coordenava as escolas de Ensino Fundamental I da localidade.
Dentre os objetivos do intercâmbio, dois se destacavam: buscar
conhecer os sistemas produtivos da região de Hautes Garrigues
e o sistema educacional rural da França.
A professora Valdete Gama que participou desta
viagem de estudos, quando regressou a Massaroca introduziu
nas discussões da organização dos agricultores a necessidade
de se priorizar a educação. No seu entendimento, um projeto de
desenvolvimento sustentável não poderia deixar de enfatizar a
importância da educação enquanto elemento social, de
construção e troca de conhecimentos e saberes que
valorizassem também o saber do homem do campo.
O objetivo era construir uma escola sem os vícios da
pedagogia tradicional, que não fala a língua do educando, não
considera a sua cultura, os seus costumes, suas tradições e suas
vocações econômicas; que tem um saber centrado no professor,
repleto de conhecimentos alheios e distantes da realidade dos
discentes (FREIRE, 1993).
Neste imaginário, é criada a ERUM, em 22 de maio de
1995, como uma escola dotada de procedimentos educacionais
específicos e diferenciada. Enraizada na cultura do campo, a
proposta da nova escola contemplava o processo de
formação/recuperação de valores e cultura local, as concepções
e os modos de vida dos grupos sociais que vivem no campo.
A proposta pedagógica da ERUM foi concebida a
partir do pensamento das comunidades que mobilizadas e
organizadas buscaram na educação mais um meio para romper
com os ciclos viciosos de analfabetismo, ameaça de miséria, e o
abandono em que tem vivido boa parte da população rural e, em
particular, algumas regiões do Nordeste Brasileiro.
Exemplificando-se a utilização desta metodologia, foi
analisado um momento vivido pela escola, chamado
“restituição”, quando alunos, professores, agricultores, e
comunidade local reuniram-se na localidade de Canoa. Após o
histórico feito pelos alunos em sala de aula, foi apresentado o
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
12
diagnóstico daquela comunidade, assinalados os principais
problemas e sugeridos aos moradores e líderes comunitários
algumas alternativas de solução que poderiam ser
encaminhados aos políticos locais e regionais.
Após o levantamento feito pelos alunos, e
relacionados aos problemas observados foram sugeridas
algumas ações: 1) a estruturação de um projeto, realizado em
sala de aula, para o beneficiamento de peles, melhorando a
qualidade do couro e agregando maior valor ao produto final; 2)
com relação á saúde animal foi comprovado um quadro de
desnutrição e coceira, com reflexos diretos na qualidade das
peles dos animais. Nesse caso, foi sugerido que os líderes
comunitários procurariam agentes de saúde solicitando apoio
zootécnico para minimizar este problema.
Percebeu-se que as ações pedagógicas da escola,
nesse particular exemplo, orientavam-se para a organização, a
discussão em grupo e a criação de alternativas para a superação
e a resolução de problemas comuns aos moradores de Canoa.
Naquela oportunidade também foram apresentadas algumas
danças típicas, com a finalidade de resgatar e prestigiar a
cultura local.
Observou-se também durante a execução do Projeto de
Segurança Alimentar, uma parceria da ERUM com a ADAC
que algumas atividades teóricas e práticas foram estabelecidas
em sala de aula, buscando a interdisciplinaridade.
O Projeto de Segurança Alimentar trabalha em duas
vertentes: a partir da escola – implantação de hortas
comunitárias - com vistas a enriquecer o cardápio escolar; e a
criação de quintais produtivos, para um melhor aproveitamento
dos espaços no entorno da casa dos agricultores. Dada a
proximidade com pontos de água incentiva-se a adoção, nesses
quintais, do sistema galinha x horta frutífera, incrementando a
economia familiar e melhorando a alimentação. Todos os
alunos estão engajados no projeto.
Observaram-se durante a construção do viveiro, das
hortas comunitárias e dos galinheiros produtivos, várias
atividades interdisciplinares. Enquanto os alunos construíam o
conhecimento aliavam técnicas agrícolas, à matemática, às
ciências, à geografia, português, entre outras.Os professores
buscam trabalhar articulando teoria, à pratica, em um contato
permanente , através da reuniões com a Coordenadora da
ADAC, para garantir o sucesso do projeto.
Os alunos e ex-alunos da Escola Rural de Massaroca
são oriundos das seguintes localidades: Lagoinha, Jacaré, Sítio
Souza, Lagoa do Meio, Lagoa do Tanquinho, Lagoa do Jacaré,
Canoa, Saquinho, Água Branca, Juá, Cachoeirinha, Caldeirão
do Tibério, Caldeirão Grande, Juá, Malhada da Onça,
Massaroca, Poças, Frade, Papagaio, Caraíbeira, Poções,
Lotério , Lagoa de Caiçara e Baraúna. Eles são em sua maioria
do sexo masculino, e atualmente têm uma faixa etária, no
período em que fazem o curso, entre 7 e 17 anos.
Segundo registros escolares as turmas iniciais, nos anos de
1995 a 1997, absorviam alunos com a faixa etária de 17 a 30
anos, realidade que foi modificada à medida que a mentalidade
dos agricultores foi despertando para a necessidade de se
iniciar o período escolar mais cedo.
Conforme informações retiradas do registro escolar, a
escola foi fundada em 1995 e ficou até 2001 sob a gestão
administrativa do Comitê de Associação Agropastoril de
Massaroca(CAAM), que construiu o prédio escolar e também
pagava os professores. A partir de 2001 as escolas “isoladas” do
distrito convergiram para a Escola Rural de Massaroca,
agruparam-se, e passaram a receber recursos humanos e
materiais da Prefeitura Municipal de Juazeiro. De acordo com a
Tabela 3 a situação de alunos matriculados é a seguinte:
Tabela 3 –Matrícula e evasão na ERUM, 2001 - 2007
Ano
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Alunos matriculados
210
200
190
180
170
145
155
Evasão anual
6
4
6
3
2
-
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
Com referência à evasão escolar, constata-se que
houve uma redução gradativa como mostra a Tabela 3.
Empreendeu-se uma busca também no sentido de perceber se a
escola está correspondendo aos anseios das comunidades e se o
que ela oferece é o que realmente aspiram e necessitam os
jovens daquelas comunidades rurais. Para tal, retirou-se uma
amostra de vinte pais, vinte alunos e vinte ex-alunos da Escola
Rural de Massaroca, escolhidos aleatoriamente, para opinar
sobre os motivos pelos quais estes atores buscaram esta escola,
qual o nível de satisfação e quais as expectativas com o ensino
desenvolvido naquela ambiência escolar.
Os agricultores familiares e pais de alunos que
responderam ao questionário são oriundos das localidades
deste estudo e campo de ação da Escola Rural de Massaroca.
Também foram entrevistados vinte alunos do ensino
fundamental I e II, de 1ª a 8ª série, regularmente matriculados
no estabelecimento, e vinte ex-alunos, de acordo com as tabelas
4 e 5 abaixo:
Tabela 4-Motivos pelos quais alunos e pais buscaram a escola
Fonte: dados da pesquisa (2007).
Foi perguntado aos alunos e aos pais destes, o motivo
pelo qual buscavam uma escola e se havia a necessidade de
estudo para aqueles que desejavam desenvolver trabalhos na
propriedade agrícola. Analisando os dados percebeu-se que
uma pequena parcela – 10% de pais e 25% de alunos-busca a
escola com o objetivo de dar seguimento aos trabalhos na roça,
a grande maioria – 75% dos pais e 50% de alunos desejam
continuar os estudos enquanto uma outra parcela- 15% dos pais
e 25% dos alunos - pretende arrumar um emprego na cidade
(Tabela 4).
Os pais justificaram-se, apontando a grande
importância do estudo para aumentar a possibilidade dos filhos
ascenderem socialmente, afirmando que possibilitam aos
filhos a escolaridade possível, argumentando que propiciam a
estes a chance que “não tiveram de estudar” para melhorar a
qualidade de vida, vendo no trabalho da roça a única opção e
uma imposição advinda da “falta de cultura”. Esta concepção
dos pais e agricultores é assimilada pelos filhos que também
anseiam “melhorar de vida” e “ampliar os conhecimentos”.
Notou-se também que muitos dos alunos
entrevistados aspiram continuar os estudos nas áreas de
agropecuária e agronomia.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
13
Tabela 5- Nível de satisfação dos pais, alunos e ex-alunos com
a Escola Rural de Massaroca
Nível de satisfação
Muito satisfeitos
Satisfeitos
Pouco satisfeitos
Insatisfeitos
Total (%)
Pais
70
25
5
100
Alunos
70
30
100
Ex-alunos
45
55
100
Fonte: dados da pesquisa (2007).
Verificou-se, também, de acordo com a Tabela 5, o
nível de satisfação dos pais e ex-alunos em relação ao ensino
desenvolvido pela Escola e suas justificativas para tal, havendo
apenas um registro de “pouco satisfeitos”, num percentual de
5%. A maioria das respostas dividiu-se entre “satisfeitos” e
“muito satisfeitos”.
Segundo justificativas de alguns entrevistados a Escola Rural
não é a única escola existente naquelas comunidades rurais a
oferecer o ensino de 1ª a 8ª série. Existe uma outra escola em
Massaroca, mas segundo alguns alunos e ex-alunos
eles preferiram estudar na escola rural porque além de ampliar
seus conhecimentos em ler, contar, interpretar, têm maior
contato com a realidade do mundo rural e de suas comunidades,
porque dentre os objetivos da escola está o de desenvolver o
processo de socialização dos jovens promovendo maior
convivência, cooperação, respeito mútuo e valorização de sua
visão de mundo e de sua cultura.
Alguns alunos e ex-alunos citaram a dificuldade da
equipe administrativa escolar de manter viva a filosofia e a
metodologia trabalhada pela escola e solicitaram uma maior
atenção por parte do poder público municipal e outras
entidades que às vezes não respeitam as “peculiaridades” da
metodologia trabalhada na escola, insistindo em enquadrá-la
nos padrões tradicionais, contribuindo para a progressiva
descaracterização da Escola Rural de Massaroca.
Contraditoriamente, segundo professores, alunos,
pais e ex-alunos, todas as vezes que esses órgãos públicos
precisam de uma escola “diferente”, que trabalhe um “currículo
contextualizado” é à Escola Rural de Massaroca que eles
recorrem.
Tabela 6- Expectativas quanto ao curso
Motivos
Acham que estão aptos para continuar os estudos
Acham que estão aptos para emprego na cidade
Acham que estão aptos para desenvolver trabalhos na roça
Total (%)
Pais
65
25
10
100
Alunos
55
20
25
100
Ex-alunos
80
15
5
100
,
100
90
80
70
60
50
40
30
SIM
NÃO
20
10
0
Pais
Alunos
Figura 1- Contribuição da ERUM para o desenvolvimento local
Fonte: dados da pesquisa, 2007.
Constata-se que a maioria dos atores envolvidos
afirma que a criação da escola provocou melhorias na vida das
comunidades. Apenas uma parcela reduzida, 5% de pais, 5% de
alunos e 10% de ex-alunos, afirma não ter observado estas
mudanças.
Dentre pais, alunos e ex-alunos que optaram pelo
“sim”, estes afirmam que a criação da escola rural melhorou a
vida nas comunidades rurais, dado que oportunizou mais
estudo e conhecimento para os jovens ao prepará-los para
entender a realidade em que eles vivem, resgatando o saber, a
cultura e os valores do homem do campo. Abriu espaços
envolvendo a parte social, melhorou a economia local, através
da venda de produtos que agregam valor à renda, avançou nas
técnicas e estudos pertinentes à agropecuária, também
despertou a capacidade de maior união e de organização entre
as pessoas e as comunidades rurais.
Entretanto, observam que muitas ações ainda faltam
para que a escola continue formando cidadãos conscientes de
seus direitos e deveres. A maioria sugere mais ação por parte
dos dirigentes locais e regionais, solicitam mudanças na
estrutura do prédio escolar, construção de salas, de quadras poli
esportivas, de uma biblioteca e aquisição de recursos
multimídia. Solicitam também mais dinamismo e participação
das comunidades, através da união das associações e das
parecerias existentes, fortalecendo assim o projeto pedagógico
escolar, sugerem mais clareza e organização da gestão escolar e
ratificam a necessidade de recursos econômicos e políticas
públicas direcionadas àqueles espaços.
O próximo quadro destina-se apenas aos ex-alunos,
numa tentativa de observar a trajetória destes quando saíram da
Escola Rural de Massaroca:
Fonte: dados da pesquisa, 2007.
25%
Com relação à Tabela 6, pais, alunos e ex-alunos
julgam que o ensino desenvolvido ali contribui muito para a
atuação prática dos discentes e acreditam que estarão
preparados, ao formarem-se, tanto para continuar os estudos
quanto para o trabalho. Os pais também têm muita convicção
disso, e é essa confiança que depositam na escola.
No entanto, dentre os jovens que terminaram o curso, apenas a
minoria (5%), permanece hoje no meio rural, trabalhando na
pequena propriedade de seus pais. Uma parcela de 15% está
empregada na cidade ou em outras regiões. A maioria, (80%),
continua o ensino médio ou fez Curso Técnico em
Agropecuária.
Quanto à influência da escola, após a sua criação, para
o desenvolvimento local, contribuindo para melhoria da
qualidade de vida das comunidades, observe-se a Figura 1.
Ex-alunos
Desenvolvem trabalho na
roça
5%
Continuam os estudos
70%
Trabalham na cidade
Figura 2-Destino dos Ex-alunos
Fonte: dados da pesquisa
Sobre a Figura 2, os ex-alunos (5%) que
permaneceram no campo são unânimes em manifestar
satisfação por terem cursado o ensino fundamental I e II na
ERUM, considerando a contribuição dos conhecimentos
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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Considerações Finais
Referências Bibliográficas
Este trabalho procurou refletir sobre o modelo
alternativo de educação proposto pela Escola Rural de
Massaroca (ERUM), num contexto rico em parcerias e
profícuo para o desenvolvimento local, apesar de algumas
ingerências peculiares a qualquer processo educativo e de
desenvolvimento. Entretanto ele não tem a pretensão de
concluir sobre temática tão complexa, embora se proponha a
tecer alguns comentários:
Constata-se que naquele “locus” a escola é para os
agricultores familiares uma das instituições de referência local
pela peculiaridade de pedagogia desenvolvida. Pedagogia que
resgata através de seu fazer pedagógico diário a auto-estima do
agricultor, pela valorização de si mesmo e da cultura local, a
crença na possibilidade de mudança, no despertar da
consciência coletiva e do enfrentamento coletivo dos
problemas que atingem aquelas comunidades.
Além do disposto na Lei de Diretrizes e Bases (LDB),
que caracteriza a educação rural com identidade e
especificidades próprias, que merecem um tratamento especial
colocado a serviço do desenvolvimento, existe um novo
desafio a ser transposto: como transformar as leis e instruções
em realidade? Como agir para que elas deixem o papel e
passem a fazer parte do dia-a-dia dos docentes, gestores, da
Secretaria de Educação, dos Conselhos de Educação, no
âmbito do município, estado e nação?
Cita-se o pensamento de Baptista (2003, p.65), sobre a
importância da participação da sociedade civil. Sabe-se que o
governo e as instâncias oficiais não conseguem fazer nada
trabalhando sozinho. Tanto porque a educação é tarefa de
todos: sociedade civil e poder público, como também porque o
poder público, para ser mais ágil e eficiente, precisa estar sendo
cobrado, monitorado, instigado pela sociedade civil
organizada.
A combinação teoria e prática fruto desse intercâmbio
só não são mais satisfatórias devido à ausência de políticas
agrárias de incentivo ao agricultor familiar e de uma política de
educação séria para esse público e meio, com a oferta de uma
educação contextualizada, que contemple seus interesses. Os
currículos “urbanos” existentes no meio rural desvinculam a
pessoa e desestimula no seu propósito de buscar através da
educação, a sua libertação e a contribuição para o
desenvolvimento do local onde este vive.
Constatou-se que é muito importante a participação
dos Órgãos Públicos para o fortalecimento daqueles espaços,
no sentido de apoiar iniciativas como a da Escola Rural de
Massaroca (ERUM), de maneira que a proposta pedagógica
seja valorizada e multiplicada para outras realidades similares,
viabilizando esta oportunidade aos agricultores de outros
municípios.
Propostas pedagógicas e modelos alternativos de
educação para o meio rural devem ser pensadas e consideradas
pelos órgãos públicos competentes para que a educação não se
torne uma prática unificada, sem sentido para o homem que
vive no campo, num país tão diverso como o nosso.
Se a diversidade e pluralidade culturais tão visíveis e notáveis
em nosso país podem ser detectadas com tanta facilidade, não é
possível mais insistir em se imaginar a educação como igual,
num país com tantas diversidades (REIS, 2004).
BAPTISTA, F.M.C. Educação rural: das experiências à política
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Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
15
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
PARA ALÉM DO RIO: A RELAÇÃO ENTRE O CEFET PETROLINA E O
CONTEXTO RURAL DE SEQUEIRO
Gleide Isnaia Coimbra Silva Mello, José Abrósio Ferreira Neto, Denílson Santos de Azevedo, Sheila Maria Doula
1-Professora - Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina- CEFET.
Mestrado em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa- MG. E-mail: [email protected]
2-Professor da Universidade Federal de Viçosa-MG.
Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ. E-mail: jvaladares uol com.br
3-Professor da Universidade Federal Rural de Viçosa-MG. Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. E-mail:
[email protected]
4-Professora da Universidade Federal de Viçosa-MG. Doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
RESUMO
Este artigo resulta de uma pesquisa descritiva que buscou compreender as relações entre o Centro Federal de Educação
Tecnológica de Petrolina (CEFET Petrolina), em Pernambuco, e o contexto rural de sequeiro em seu entorno. O trabalho focalizou a
atuação institucional frente à realidade socioeconômica típica dessas áreas rurais, cujas atividades produtivas contrastam
fortemente com o modelo hegemônico de produção agrícola presente na região do Submédio São Francisco: a agricultura irrigada,
centrada especialmente na fruticultura para exportação. A crítica ao processo de modernização agrícola conservadora e aos papéis
da educação, da pesquisa e da extensão rural diante desse modelo de desenvolvimento excludente norteou o estudo. Em que pese a
atuação do CEFET Petrolina na formação de profissionais para a atividade que é responsável pela significativa participação
regional no comércio internacional de frutas frescas, é necessária uma interação que venha a contemplar, adequadamente, as
demandas identificadas no âmbito das atividades produtivas do semi-árido de sequeiro, de forma a contribuir com o
desenvolvimento sustentado dessa face característica do raio de abrangência institucional.
PALAVRAS-CHAVE: educação profissional, sequeiro, irrigação, sustentabilidade.
ABSTRACT
This article is the result of a descriptive research that seeked to understand the relations between the Centro Federal de
Educação Tecnológica de Petrolina (CEFET Petrolina), in the state of Pernambuco and the rural context of the dry lands in its
environs. The work focused the institutional activity in the face of the socioeconomic reality typical of these rural areas, whose
productive activities are in strong contrast with the hegemonic model of agricultural production in this region of the submedium
São Francisco River: irrigated agriculture centered especially in fruit production for export. The study particularly criticized the
modernization process of conservative agriculture, the role of education, the research and rural extension co-existing with a model
of development that promotes social exclusion. Despite the performance of CEFET Petrolina in the formation of the professionals
for which it is responsible due to the significant regional participation in the international commerce of fresh fruits, it is necessary to
address adequately the demands identified in the range of the productive activities of the semi-arid dry lands, in order to contribute
to the sustainable development of this sensitive part within the scope of the institutional activities.
KEYWORDS: professional education, dry lands, irrigation, sustainable development
Introdução
O entorno do CEFET Petrolina é marcado pela
diversidade socioeconômica entre as áreas irrigadas pelo Rio
São Francisco e as de sequeiro, estas últimas, ainda bastante
alijadas de políticas públicas que lhes ensejem um
desenvolvimento sustentado do ponto de vista social,
econômico e ambiental.
Considerando-se o exposto nas diretrizes curriculares
nacionais para a educação profissional (Parecer CEB/CNE
nº 16/99), em que esta não deve limitar-se ao atendimento
linear das demandas mercadológicas, mas favorecer
o acesso qualitativo ao conhecimento científico e tecnológico,
porque o considera necessário à prática social, torna-se
imperioso que o CEFET Petrolina, dentro do seu limite de
atuação, contribua para o desenvolvimento das relações
produtivas que caracterizam as diferentes identidades rurais
presentes em sua área de influência, de modo a desenvolver
relações mais democráticas com o seu ambiente externo.
Portanto, como o cenário socioeconômico onde a
instituição está inserida não expressa apenas a ostentação
tecnológica de uma agricultura extremamente especializada,
fruto da articulação regional com o mercado globalizado, este
trabalho procurou investigar, “para além do rio”, como o
contexto de sequeiro se revela nas ações do CEFET Petrolina.
16
O pequeno município de Dormentes-PE, de pouco
mais de quinze mil habitantes, serviu como unidade de análise
por estar inteiramente localizado no sequeiro, à semelhança de
outros municípios que também compreendem o raio de atuação
do CEFET Petrolina; e ainda por figurar entre a clientela dos
cursos técnicos da área de agropecuária da instituição.
Dormentes exerce papel complementar relevante em relação a
Petrolina, no pólo irrigado, disponibilizando volume
significativo de mão-de-obra para a fruticultura. Entretanto, a
despeito desse vínculo, detém o maior índice de pobreza
(71,6%) contra os 13,6% de Petrolina, dentre os sete
municípios que constituem o Território do Sertão do São
Francisco, em Pernambuco (SDT/MDA, 2005, p. 44)
Não obstante a situação de desigualdade com relação
ao acesso a condições de vida mais dignas, Dormentes tem
vivenciado expansão em número de habitantes, conforme
dados do IBGE (2006), referentes à gestão pública do
município entre os anos de 2001 e 2005. Portanto, continua
produzindo sua existência, numa clara demonstração de que é
também portadora de soluções diante das muitas adversidades.
De acordo com Guimarães Filho e Lopes (2001, p. 6), há no
semi-árido nordestino mais de 10 milhões de pessoas excluídas
das economias regional e nacional.
Para melhor compreender as relações entre o CEFET
Petrolina e o contexto de sequeiro, realizou-se pesquisa de
campo, com incursões ao município de Dormentes e visitas ao
próprio CEFET. Da comunidade externa foram consultados
egressos ou respectivos familiares e representantes locais de
diferentes instâncias, incluindo prefeito, vereadores, secretário
de agricultura, presidenta do sindicato de trabalhadores rurais e
diretora de escola de ensino médio. Quanto aos representantes
da comunidade interna, foram ouvidos os dirigentes
responsáveis pelas áreas de ensino, pesquisa e extensão.
Utilizaram-se como instrumentos de coleta
entrevistas semi-estruturadas. Houve ainda consulta a
documentos institucionais do CEFET Petrolina.
O fato de a maior parte dos técnicos em Zootecnia
estar exercendo suas respectivas funções profissionais somente
em localidades fora da região, também reforça o que foi
comprovado anteriormente.
26%
74%
Retornaram
Migraram
Figura 1- Situação dos egressos do CEFET Petrolina em relação ao município
de origem, em 2006.
Fonte: dados da pesquisa.
Os dados constantes na Figura 2 apresentam um
reflexo positivo quanto ao índice de absorção dos técnicos
formados pelo CEFET em postos de trabalho na sua área de
formação, correspondendo a um percentual de 66%, de acordo
com a soma das quatro primeiras categorias. Neste aspecto, a
agricultura irrigada, em especial a fruticultura, é responsável
pela maioria absoluta das vagas, tornando-se importante
salientar que, mesmo dentre aqueles inseridos em atividades
comerciais e de serviço de Assistência Técnica e Extensão
Rural (ATER), há também envolvimento com a fruticultura.
Quanto à pecuária, estão atuando em empresas do
setor primário apenas 5% do total de egressos, percentual que
pode elevar-se caso seja incluída parte dos técnicos a que se
referem a terceira e a quarta categorias, comércio de insumos
agropecuários e ATER, respectivamente, onde também se
constatam egressos envolvidos indiretamente na produção
animal. A despeito disso, a primeira categoria, fruticultura,
continua a deter o maior percentual.
Resultados e discussão
“Aqui ele não teve oportunidade de trabalhar com
zootecnia” (depoimento da irmã do egresso José Eduardo de
Macedo, 2006)
39%
31%
11%
11%
ga
do
ea
pr
e
ár
D
es
em
Fo
ra
da
AT
c.
ro
pe
ag
C
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m
os
ER
3%
ia
Pe
cu
ár
ut
ic
ul
tu
ra
5%
Fr
Trajetória dos egressos dos cursos técnicos da área de
agropecuária formados entre os anos de 1994 e 2002
A grande maioria dos jovens provenientes do município de
Dormentes, que concluiu cursos técnicos direcionados à
agropecuária no CEFET Petrolina, migrou para outras
localidades, em busca de inserção profissional (Figura 1). A
procura por trabalho, de preferência mais condizente com sua
formação, determinou que muitos egressos deixassem seu
município de origem.
Apenas 30% dos que voltaram para Dormentes
exercem atividades relacionadas à qualificação profissional
obtida no CEFET Petrolina, enquanto os 70% restantes atuam
em outras atividades, constituindo-se, a maior parte deles,
técnicos em Zootecnia, podendo-se inferir que as chances de
emprego no mercado regional, para um técnico com essa
especialização, demonstram-se ainda escassas, em
comparação com as possibilidades de inserção de um técnico
em Agricultura. Alguns depoimentos, a exemplo da fala abaixo
transcrita, ratificam essa constatação.
Figura 2 -Atividades onde estão inseridos os egressos.
Fonte: dados da pesquisa.
Dentre os que trabalham em comércio da área, é
importante assinalar que dois deles possuem seu próprio
negócio no município de origem, aspecto interessante do ponto
de vista da formação para o empreendedorismo e que reforça a
importância de se estimular, mais intensamente, através da
qualificação profissional, o desenvolvimento dessa habilidade
como estratégia de sobrevivência no mundo do trabalho. Essa
necessidade se torna premente, sobretudo, diante da escassez
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
17
de oportunidades de emprego, na região, para técnicos em
Zootecnia, os quais terão que desenvolver de maneira especial
um comportamento empreendedor, de modo a alcançar maior
condição de empregabilidade. Ressalte-se aqui a ação apenas
mediata da escola, já que esta não detém o poder de criar, nem
de garantir emprego.
Com relação às atividades de ATER, a ênfase aqui se
desloca para a atuação de um dos egressos em seu município de
origem. Sob esse aspecto, observa-se a relevância do CEFET
Petrolina para o contexto de sequeiro, em razão de que esse
técnico exerce suas funções profissionais em uma realidade
que lhe é peculiar, podendo dessa forma contribuir para o
fortalecimento das atividades produtivas locais já existentes e
para o incentivo de atividades potenciais. O forte vínculo que o
egresso mantém com a comunidade facilita a interação
necessária entre o saber empiricamente construído pela cultura
local e o saber formalmente elaborado via formação técnica,
como provam os depoimentos colhidos na primeira incursão.
Assim, é importante que o currículo dos cursos possa
abordar a extensão rural sob uma proposição democrática,
ensejando a sustentabilidade. Para isto, é necessário que o
extensionista em formação compreenda a agricultura “como
um processo de construção social e não simplesmente como a
aplicação de algumas tecnologias geradoras de dependência e
de externalidades negativas” (CAPORAL e COSTABEBER,
2002, p. 13).
Pesquisa e extensão no CEFET Petrolina
No intuito de analisar o desempenho institucional na
região de sequeiro em estudo, além dos cursos técnicos da área
de agropecuária, foram também considerados os cursos de
formação inicial e continuada oferecidos pelo CEFET
Petrolina ao longo dos dez últimos anos, por representarem um
importante instrumento de articulação com a comunidade
externa. A Figura 3 apresenta o quantitativo de pessoas
atendidas no decorrer do decênio 1996-2005. Refere-se,
exclusivamente, aos cursos disponibilizados pelo campus
agrícola (Unidade Sede) do CEFET Petrolina, por estarem
direcionados à agropecuária. Quanto ao público-alvo, trata-se
de jovens e adultos das diferentes localidades do raio de
abrangência da instituição, incluindo comunidades de
sequeiro.
9000
8000
7000
6000
5000
4000
Constataram-se ainda, porém em menor
proporção,cursos voltados para a agropecuária praticada nas
regiões de sequeiro, os quais, segundo os depoimentos colhidos
entre os representantes da comunidade de Dormentes são
efetivos em seu papel de auxiliar o pequeno produtor rural
daquelas áreas em suas tarefas, e de explorar também
potencialidades da região.
A queda acentuada, entre 2004 e 2005, da oferta de
formação inicial e continuada, encontra-se refletida no
discurso da presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Dormentes, reproduzido abaixo, ao manifestar sua
insatisfação diante do distanciamento do CEFET Petrolina.
“A gente se deu muito bem; é muito bom ser parceiro. A gente sente
falta desses momentos... Dava pra ser mais parceiro... Fica um de
lá e outro de cá e a gente não sabe o que é que tá acontecendo...
Hoje mesmo eu sinto essa falta.” (Sra. Terezinha – Presidenta do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Dormentes, 2006)
A incipiente presença da instituição nessa área é
reconhecida pela totalidade dos dirigentes entrevistados,
conforme as falas abaixo.
“A gente só se preocupa com a parte irrigada, não é? E tem muita
gente do sequeiro vindo estudar aqui... A atuação deixa muito a
desejar.” (Diretor de Ensino, 2007)
“Acho que a gente tem um déficit grande com a caatinga.” (Diretor
de Pesquisa e pós-graduação, 2007)
“Hoje o CEFET não está atuando de maneira nenhuma nessa
área.” (Diretor de Articulação Empresaria e Comunitária, 2007)
Quanto à pesquisa, observou-se também uma forte
tendência à supervalorização da agricultura irrigada, em
detrimento da realidade existente no semi-árido de sequeiro. A
grande maioria dos projetos de pesquisa, concluídos ou em
andamento, estão direcionados ao contexto irrigado (Tabela 1).
Os projetos de números 4 e 11, respectivamente, a
despeito de, segundo a Diretoria de Pesquisa e Ps-graduação,
َ
contemplarem as áreas de sequeiro, envolvem culturas não
tradicionais dessas áreas: goiaba (Psidium guajava L.) e
acerola (Malpighia emarginada DC), as quais, no Submédio
São Francisco ocorrem, predominantemente, em condições
irrigadas. Analisando sob essa ótica, respaldada por consulta
realizada entre alguns especialistas da área agrícola,
professores da própria instituição, o percentual de pesquisas
não diretamente relacionadas com o sequeiro estaria próximo
de 90%. Além desses dois projetos, o de número 6 se refere a
uma pesquisa pura no campo da Física, segundo o próprio autor
do trabalho, condição que torna ainda menor o percentual de
participação do sequeiro no âmbito da pesquisa.
3000
Considerações finais
2000
1000
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Figura 3 - Número de pessoas atendidas, pelo CEFET Petrolina, em cursos de
formação inicial e continuada.
Fonte: dados da pesquisa.
Predomina, neste caso, a qualificação e requalificação
em atividades ligadas à agricultura irrigada, de acordo com os
relatórios de gestão do período. Tal verificação traduz a força
exercida, sobre as ações institucionais, pela produção agrícola
para o mercado externo, capitaneada pela fruticultura na região
do Submédio São Francisco.
A instituição tem cumprido o seu papel frente às
demandas por qualificação técnica de nível médio para as
atividades agrícolas dominantes do mercado regional, como
prova a capacidade de absorção, ainda significativa, dos
egressos nas empresas do pólo irrigado. Diante disso, torna-se
importante salientar que, devido à escassez de políticas de
emprego e renda mais efetivos nas áreas mais carentes do semiárido nordestino, a instituição de ensino acaba se conformando
às tendências mercadológicas de maior projeção, pelas quais
são também atraídos jovens provenientes daquelas regiões à
procura de uma profissionalização que lhes confira
possibilidades mais concretas de inserção no mundo do
trabalho, mesmo fora de suas comunidades de origem.
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18
TABELA 1- Projetos de pesquisa desenvolvidos e em andamento
no CEFET Petrolina, 2007.
Nº
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
TÍTULO DO PROJETO
SITUAÇÃO
Desenvolvimento vegetativo e reprod utivo de viníferas
submetidas a três sistemas de poda no Vale do São
Francisco, Brasil
Taxa de decomposição de estercos em função da
profundidade de incorporação e do tempo sob irrigação por
micro aspersão
Matérias estranhas em polpas congeladas de abacaxi, cajá e
maracujá produzidas em Petrolina – PE e Juazeiro – BA
Ecologia da polinização e biologia floral de
Psidium
guajava L. na região do Vale do Submédio São Francisco.
Efeito da adição de taninos no potencial de envelhecimento
de vinho tinto Shiraz elaborado no Vale do São Francisco
Estudos teóricos e experimentais de correções para
aberrações cromáticas
Avaliação do desempenho de um sistema de ir rigação tipo
pivô central para fins de manejo
Prospecção das principais pragas e doenças da atemóia na
região do Submédio do Vale do São Francisco
Evolução de maturação e de determinação do ponto de
colheita de banan a nas condições de cultivo da região do
Submédio do Vale do São Francisco
Taxa de decomposição de resíduos orgânicos em função da
profundidade e do tempo de incorporação sob irrigação por
gotejamento
Ecologia da polin ização e biologia floral de
Malpighia
emarginada DC. na região do Vale do Submédio São
Francisco
Utilização da resistência induzida como componente do
manejo de doenças na cultura da videira no Vale do São
Francisco
Levantamento e grau de infestação das principais pragas da
bananeira na região do Vale do São Francisco
Tecnologias e otimização do sistema de produção da videira
na zona da mata de Pernambuco
Implantação e acompanhamento do sistema de produção
integrada de uvas finas de mesa, uva de vinho e manga na
unidade piloto do Cefet-Petrolina
Avaliação e validação de inovação tecnológica do semi
árido nordestino
Desenvolvimento de tecnologia para a produção integrada
de banana na região do Submédio São Francisco
Concluído
CONTEMPLA
AS ÁREAS DE
SEQUEIRO
Não
Concluído
Não
Concluído
Não
Concluído
Sim
Em andamento
Não
Em andamento
Sim
Em andamento
Não
Em andamento
Não
Concluído
Não
Em andamento
Não
Concluído
Sim
Em andamento
Não
Concluído
Sim
Concluído
Não
Concluído
Não
Concluído
Não
Em andamento
Não
Fonte: dados da pesquisa
O Curso Técnico em Agricultura do CEFET Petrolina
não tem oferecido condições de atuação profissional em áreas
onde se praticam atividades agrícolas típicas de sequeiro, em
razão do seu direcionamento para as atividades do pólo
hegemônico regional, onde se encontra a maior oferta de
emprego. Não se pretende sugerir neste trabalho uma renúncia
ao enfoque da agricultura irrigada, contudo, é necessário não se
perder de vista a realidade agropecuária do sequeiro, de modo
que a instituição não abdique de seu papel de promover os
interesses do seu todo constituinte, assumindo uma postura
ética e política mais condizente com os princípios
democráticos que figuram no próprio cânon da Educação
Profissional.
A pesquisa de que trata este artigo voltou-se,
especialmente, à investigação das relações entre o CEFET
Petrolina e o semi-árido de sequeiro a partir do tripé ensino,
pesquisa e extensão, no intuito de investigar a atuação
institucional em face de um contexto socioeconômico
específico que marca o seu entorno. Em se tratando do primeiro
componente, este se revela bastante coerente com o arranjo
produtivo responsável pela vultosa participação regional no
mercado externo – a produção de frutas frescas. Entretanto,
ainda que a instituição deva, obrigatoriamente, planejar ações
orientadas também pelas políticas agrícolas, as quais valorizam
uma pesquisa científica fortemente vinculada às leis de
apropriação derivadas do mercado (Luckács apud MUNIZ,
1995), não significa que o ensino deva se tornar “um mero
instrumento passivo em mãos e a serviço do Estado, do capital
ou de qualquer outro poder externo” (FERNANDEZ apud
LIMA FILHO, 2005), sendo isto também válido em se tratando
também dos outros dois componentes do tripé, co-participantes
da exclusão das demandas do sequeiro.
As constatações feitas por meio da pesquisa de
campo, confrontadas com a bibliografia consultada,
demonstram a urgência em se rever o papel da instituição, o
qual não deve restringir-se ao favorecimento do “acesso às
conquistas científicas e tecnológicas da sociedade” (Parecer
CNE/CEB nº 16/99), desenvolver tecnologias e diagnosticar
demandas. Passa-se a exigir uma reorganização de suas ações a
partir do reconhecimento do complexo sistema de relações de
interdependência existente em seu entorno: um sistema do qual
também faz parte. O desafio é, portanto, articular-se mais
efetivamente com a diversidade de atores e organizações nele
existentes. É o que Rolling (2001) denomina inovação
institucional, Nessa perspectiva, em que a tecnologia é
reconhecida como “uma forma de ser da sociedade”
(MUNIZ,1999), múltiplas experiências, visões de mundo,
valores, teorias e previsões podem ser compartilhadas ou
complementares na condução de ações para a resolução de
problemas coletivos.
Este trabalho fez um pequeno recorte do universo de
abrangência do CEFET Petrolina, mas que se encaixa em
muitos outros espaços de características semelhantes, situados
no raio de atuação da entidade, entretanto, alijados de
processos decisórios de intervenções institucionais. Diante da
dicotomia imposta pelas características agroecológicas e
socioeconômicas de seu entorno, determinada, por um lado,
pelo modelo de exploração agrícola adotado para imprimir o
desenvolvimento regional; por outro, a agropecuária típica do
semi-árido dependente de chuva, a instituição de ensino deve
buscar uma atuação cooperativa mais condizente com a
totalidade que forma seu ambiente externo e, com base nos
princípios de: igualdade – contribuir para a universalização do
direito ao trabalho; autonomia – construir seu projeto
pedagógico a partir de um processo democrático que possibilite
a participação não só dos agentes internos ao espaço escolar,
mas também da comunidade externa, ensejando ainda a
colaboração interinstitucional; e de atualização permanente de
cursos e currículos – levar em conta as demandas locais e
regionais, contribuindo para um desenvolvimento que, de fato,
promova a sustentabilidade social, econômica e ambiental da
região onde se insere.
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Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
20
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
As concepções de estudantes e professores da ESALQ/USP sobre a
abordagem da relação agricultura familiar - sustentabilidade no
currículo da Engenharia Agronômica
Luciana Jacob
Mestre em Educação pela Faculdade de Educação/Universidade de Brasília, Engenheira Agrônoma pela Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”/Universidade de São Paulo. [email protected]. (19) 3435-2614
RESUMO
Neste trabalho, propomos uma reflexão sobre a formação universitária possibilitada pelo curso de agronomia e dirigimos
nosso olhar analítico sobre um foco determinado: a construção de saberes para um grupo social específico - agricultores familiares , que sejam fundados na racionalidade da sustentabilidade. Para tanto, buscamos mapear os espaços de formação nesta perspectiva
existentes no curso de Engenharia Agronômica da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo
(ESALQ/USP). Na busca de atingir o objetivo proposto, entendemos ser importante uma discussão sobre dois aspectos, que podem
ser colocados na forma de perguntas: o que está sendo ensinado na universidade e por quê? Qual a concepção que os estudantes e
professores interessados na temática em questão têm de seus próprios currículos? Os procedimentos metodológicos utilizados
foram observação participante, análise documental, aplicação de questionário e entrevistas semi-estruturadas. A análise dos dados
foi feita através de triangulação de dados e fontes.
Apesar de não existir na ESALQ uma linha específica de formação voltada para a agricultura familiar e sustentabilidade,
muitos estudantes trilham caminhos e constroem sua formação dentro desta perspectiva. No entanto, estes caminhos não são
explícitos nem bem estruturados; seu percurso depende do esforço individual de cada estudante; e, principalmente, não passam –
em geral – pelo ensino disciplinar.
A superação da polarização e a construção de espaços educativos dialógicos são primordiais para que a formação do
agrônomo-educador encontre seu lugar na ESALQ. Isto pode ser garantido através do confrontamento entre idéias e posturas
divergentes, em um espaço onde estes conflitos possam ocorrer abertamente. Além disso, há a necessidade de uma maior
conscientização institucional sobre a importância da agricultura familiar e do papel do engenheiro agrônomo no fortalecimento
deste grupo social, dentro de uma perspectiva de sustentabilidade, para que seja possível uma abertura dos paradigmas teóricos em
que se concretizam as práticas acadêmicas.
Em meio a esse processo emergente de possibilidade dialógica entre diferentes paradigmas dentro da ESALQ, estudantes
vêm construindo sua formação e, fazendo suas opções de caminhada, constituindo-se agrônomos-educadores.
PALAVRAS-CHAVE: formação, agrônomo-educador, agricultura familiar, sustentabilidade, ESALQ/USP.
ABSTRACT
This research project proposes a reflection about the academic formation in agronomy and the existence of teachingresearch-extension lines gone back to the construction of the relationships between family agriculture and sustainable. For so
much, we looked for know the formation spaces in this existent perspective in the course of Agronomic Engineering of the Superior
School of Agricultura "Luiz de Queiroz" of the University of São Paulo (ESALQ/USP). In the search of reaching the proposed
objectives, we understood to be important a discussion on two aspects, that can be placed in the form of questions: what is in the
university being taught and why? Which the conception that the students and teachers interested in the thematic in subject have of
its own curricula? The used methodological procedures were participant observation, documental analysis, questionnaire
application and semi-structured interviews. The analysis of the data was made through triangulation of data and sources.
In spite of not existing in ESALQ a specific line of formation gone back to the family agriculture and sustentabilidade,
many students thrash roads and build formation inside of this perspective. However, these roads are not explicit nor well structured;
its course depends on each student's individual effort; and, mainly, they don't pass - in general - for the teaching to discipline.
The overcoming of the polarization and the construction of spaces educational dialogic are primordial so that the
agricultural-educator's formation finds its place in ESALQ. This can only be guaranteed through the confrontation between ideas
and postures divergentes, in a space where these conflicts can happen openly. Besides, there is the need of a larger institutional
understanding on the importance of the family agriculture and of the agricultural engineer's paper in the invigoration of this social
group, inside of a sustainable perspective, so that it is possible an opening of the theoretical paradigms in that the academic practices
are summed up.
Amid that emergent process of possibility dialogic among different paradigms inside of ESALQ, students come building
its formation and, making its walk options, being constituted agricultural.
WORD-KEY: formation, agricultural-educator, family agriculture, sustainable, ESALQ/USP
21
Introdução
A necessidade de um processo de transição para a
sustentabilidade, devido à complexidade e ao agravamento dos
problemas sócio-ambientais gerados pelo triunfo da
racionalidade econômica e da razão tecnológica, leva ao debate
sobre a reorientação dos processos de produção e aplicação de
conhecimentos.
Um dos caminhos possíveis para a condução desta
transição é o desenvolvimento de pesquisas que analisem a
inserção da universidade neste processo, pois ela desempenha
papel fundamental na transformação do conhecimento por sua
responsabilidade social na formação de novos saberes e novos
profissionais que contribuam para a resolução de problemas
sócio-ambientais cada vez mais complexos, para os quais as
disciplinas tradicionais não oferecem resposta (Leff, 1995).
Neste artigo, propomos uma reflexão sobre a
formação universitária possibilitada pelo curso de agronomia e
dirigimos nosso olhar analítico sobre um foco determinado: a
construção de saberes para um grupo social específico agricultores familiares -, que sejam fundados na racionalidade
da sustentabilidade. Dessa forma, a perspectiva que estudamos
enfrenta, ao nosso ver, o desafio de compreender como e com
qual profundidade o processo de incorporação dos saberes
sócio-ambientais para a agricultura familiar se desenvolve nos
diversos espaços de formação do curso de Engenharia
Agronômica.
A opção por se trabalhar com agricultores familiares
"trata-se antes de tudo de uma opção social da universidade.
Escolher o segmento da sociedade para o qual irá deslocar seus
investimentos, pesquisas e extensão é uma decisão
fundamental. Tal opção não é isenta, todavia, de embates
internos e externos. No plano interno, o encaminhamento
burocrático-institucional apresenta dificuldades que por vezes
parecem incontornáveis. Além disso, quando se trata de um
segmento social em que o conjunto das agências estatais tende
sistematicamente a abandonar, em uma silenciosa resposta
política a suas iniciativas bem sucedidas de luta pela terra, a
tarefa da universidade ganha duas dimensões claras: a de
constante denúncia e de construção dos mecanismos que
permitam operacionalizar a superação de tal quadro"
(Bergamasco et al, 1995: 91).
Refletindo sobre o papel dos agrônomos frente à
possibilidade de fortalecimento da agricultura familiar, parecenos interessante pesquisar como se dá sua formação, em que
sentido ela caminha, quais as possibilidades de mudança para
uma ação mais educativa e menos extensionista (Freire, 1977).
Quando pensamos em estudar a formação destes
sujeitos, que denominamos agrônomos-educadores, alguns
aspectos merecem ser analisados. Dentre eles, propomos o
debate sobre o currículo, que não pode ser entendido à margem
do contexto no qual se configura e tampouco
independentemente das condições em que se desenvolve; é um
objeto social e histórico e sua peculiaridade dentro de um
sistema educativo é importante traço substancial. Para Silva
(2002), é através de um processo de invenção social que certos
conhecimentos acabam fazendo parte do currículo e outros não.
A partir da noção de que currículo é uma construção social,
acreditamos que a pergunta importante não é “quais
conhecimentos são válidos?”, mas sim “quais conhecimentos
são considerados válidos?”.
Leff (2001) aponta que a “formação ambiental, sua
dispersão temática e a especificidade de suas especializações
depende das transformações possíveis dos paradigmas
científicos tradicionais onde se insere o saber ambiental”
(2001: 218). Nesta perspectiva, acreditamos que seja também
necessário um percurso teórico sobre as transformações da
agricultura familiar, uma análise do paradigma produtivo
vigente e sobre qual tipo de assistência técnica e qual ambiente
educativo no meio rural são necessários neste contexto.
Acreditamos que alguns aspectos do currículo - que
não apenas o conjunto de disciplinas - devem ser abordados. Os
grupos de estágio e de pesquisa que se formam no âmbito da
universidade, bem como seus trabalhos de extensão, que se
configuram como oportunidades dos estudantes serem autores
de uma práxis educativa, apresentam-se como um campo
interessante a ser estudado.
No entanto, estes espaços não serão debatidos no
presente artigo; nos deteremos a refletir sobre a as percepções
dos estudantes e professores acerca da abordagem curricular
relacionada à temática Agricultura Familiar e Sustentabilidade
e sobre os espaços curriculares existentes para o debate dessas
questões.
O Contexto
Esta pesquisa foi realizada na Escola Superior de
Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ), localizada em
Piracicaba/SP, vinculada à Universidade de São Paulo (USP).
Esta Escola tem, atualmente, seis cursos de graduação:
Ciências Biológicas, Ciências de Alimentos, Ciências
Econômicas, Engenharia Florestal, Gestão Ambiental e
Engenharia Agronômica, sendo que este último será nosso
objeto de estudo. Atualmente, existem 1468 estudantes
matriculados nos seis cursos de graduação, sendo que o curso
de EngenhariaAgronômica possui 977.
A estrutura da ESALQ conta com 11 departamentos,
que comportam 228 professores; o curso de Agronomia tem a
duração ideal de 10 semestres, sendo a duração mínima de 9 e a
máxima de 18 semestres.
Com relação à possibilidade de realização de estágios,
o Projeto Pedagógico da Escola apresenta as seguintes
alternativas: Estágios Curriculares Supervisionados I e II;
Estágio Profissionalizante e Estágio Vivencial (ambos os
estágios curriculares de conclusão de curso); e Estágios
Extracurriculares.
Outra possibilidade de complementação da formação
do agrônomo, segundo o Projeto, é o Programa de Licenciatura
em Ciências Agrárias. "Este programa também é opcional para
os alunos do Curso de Engenharia Agronômica. Foi instituído
visando à formação de professores para atuar no ensino técnico
agrícola e para a capacitação em diferentes áreas do magistério
formal e não-formal e treinamento de técnicos para o meio rural
e empresas agroindustriais".
Caminhos metodológicos construídos
Na busca de atingir o objetivo proposto, entendemos
ser importante uma discussão sobre dois aspectos, que podem
ser colocados na forma de perguntas, que se configuram como
os nossos problemas de pesquisa e constituem nossa estratégia
metodológica: o que está sendo ensinado na universidade e por
quê? Qual a concepção que os estudantes e professores
interessados na temática em questão têm de seus próprios
currículos?
Todas as possíveis respostas necessariamente são
influenciadas pela história da agricultura familiar no Brasil, as
perspectivas atuais e sua importância política, cultural, social e
econômica. Assim, como pano de fundo desta análise, foi
desenvolvido um breve estudo sobre a agricultura familiar e a
sustentabilidade.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
22
Para cada problema da pesquisa delineamos um
procedimento metodológico específico, devido às
particularidades de cada um. Tais procedimentos possuem
características qualitativas e quantitativas e, em muitas
ocasiões, as análises só foram possíveis a partir de um olhar
direcionado a esses dois aspectos conjuntamente.
Esta pesquisa configura-se essencialmente como um
estudo de caso. Os procedimentos qualitativos utilizados foram
observação participante, análise documental e entrevistas
semi-estruturadas. Em nosso caso, a observação participante
foi especialmente importante para captar os eventos
extracurriculares e informais que aconteceram no âmbito da
ESALQ entre março de 2003 e maio de 2004, período em que
foi realizada a pesquisa de campo.
A análise documental foi feita a partir do
levantamento de quais e quantas disciplinas, obrigatórias e
optativas, desenvolvem algum aspecto relacionado à temática
da agricultura familiar e sustentabilidade. Optamos por
analisar aquelas disciplinas citadas pelos estudantes, uma vez
que este trabalho se desenvolve a partir da percepção dos
sujeitos envolvidos.
Lado a este procedimento foram realizadas entrevistas
com professores responsáveis por algumas das disciplinas
citadas, com a intenção de captar a abordagem dada à temática.
Dentre os 228 docentes da ESALQ, conversamos com 20.
As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas
também com estudantes de último ano e remanescentes;
obtivemos, também neste caso, 20 entrevistas semiestruturadas.
Foi construído um roteiro de questões que envolvem a
relação entre a agricultura familiar e a sustentabilidade,
baseado no referencial teórico da nossa pesquisa (Altieri,
1989a; Altieri, 2001; Carneiro, 1998; Ehlers, 1999; Lamarche,
1998; Leff, 2001; Sachs, 2000; Schneider, 2003; Wanderley,
1996), que tornou possível a visualização da relação entre as
dimensões ambiental, cultural, econômica, técnica, social e
política da temática. Este foi um instrumento importante tanto
como referência para a realização das entrevistas como para a
análise dos dados coletados.
A análise de dados foi feita através de triangulação de
fontes e dados. A análise das entrevistas foi feita a partir da
construção de categorias, tanto no caso dos estudantes como no
dos professores. Estas categorias foram traçadas conforme os
depoimentos apresentaram confluências; como esta parte da
pesquisa é essencialmente qualitativa, foi dada atenção
também aos detalhes, às especificidades e às divergências de
opinião.
As disciplinas foram analisadas tanto
qualitativamente, através do estudo de seus conteúdos, quanto
quantitativamente.
Agricultura Familiar e Sustentabilidade
Entender as relações entre a agricultura familiar e o
conceito de sustentabilidade requer o esclarecimento de seus
significados, bem como a análise de que tipos de relações
queremos debater neste trabalho. Propomos que a discussão
seja feita a partir de dois olhares sobre a relação
sustentabilidade - agricultura familiar. Um olhar foca a
sustentabilidade entendida como reprodução do grupo social
composto pelas famílias rurais. Assim, procuraremos entender
como a agricultura familiar garante sua reprodução inserida em
um macro-contexto capitalista de produção e como se operam
as transformações que possibilitam que este grupo social se
sustente, nas dimensões cultural, técnica, política, social,
ambiental e econômica. O outro olhar foca o fortalecimento da
agricultura familiar como um fator contributivo para a
construção de sociedades sustentáveis. Abordaremos a
importância deste grupo social no desenvolvimento de
processos que visam a consolidação de um paradigma
produtivo fundado sobre o conceito de sustentabilidade.
Primeiramente iremos abordar brevemente, sob a
ótica de diferentes autores, algumas características
relacionadas ao conceito de agricultura familiar e definir o
significado do termo para esta pesquisa.
O debate sobre a agricultura familiar é relativamente
recente no Brasil (Schneider, 2003; Wanderley, 1996;
Lamarche, 1993 e 1998). Diferentes classificações para
possibilitar uma categorização foram delineadas, destacandose a de Kageyama e Bergamasco (1989), que usa como critério
de classificação as categorias sociais presentes na estrutura
fundiária brasileira e a existência do trabalho assalariado
utilizado pelos estabelecimentos rurais.
D e s t e t r a b a l h o s u rg i u a o p o s i ç ã o e n t r e
estabelecimentos empresariais e familiares. Tendo como base a
mesma lógica, o estudo realizado em 1994, fruto da parceira
entre a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária, divide os agricultores em duas categorias: “patronal” e
“familiar”.
Como características da produção patronal
aparecem a separação entre a gestão e o trabalho, a organização
descentralizada, a ênfase na especialização produtiva e em
práticas agrícolas padronizáveis, o uso predominante do
trabalho assalariado e a adoção de tecnologias dirigidas à
eliminação das decisões “de terreno” e “de momento”. O
modelo familiar caracteriza-se, segundo o estudo, pela relação
íntima entre trabalho e gestão, a direção do processo produtivo
conduzido pelos proprietários, a ênfase na diversificação
produtiva e na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida,
a utilização do trabalho assalariado em caráter complementar e
a tomada de decisões imediatas, ligadas ao alto grau de
previsibilidade do processo produtivo.
Lamarche (1993) e Wanderley (1996) concordam
com relação à não linearidade do conceito de agricultura
familiar. É possível a coexistência de várias formas de
produção familiar, desde o campesinato até a agricultura
familiar totalmente inserida no capitalismo. O denominador
comum é a ligação íntima entre trabalho, propriedade e família.
Para Wanderley (1996), a agricultura familiar é um
conceito genérico, que incorpora uma diversidade de situações
específicas e particulares. A autora compreende a agricultura
familiar como aquela em que a família, ao mesmo tempo em
que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no
estabelecimento produtivo. É importante insistir que este
caráter familiar não é um mero detalhe superficial e descritivo:
o fato de uma estrutura produtiva associar familia-produçãotrabalho tem conseqüências fundamentais para a forma como
ela age econômica e socialmente (idem).
Lamarche (1993, p.15) concebe a agricultura familiar
de forma parecida:
“A exploração familiar (...) corresponde a uma
unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho
estão intimamente ligados à família. A interdependência desses
três fatores no funcionamento da exploração engendra
necessariamente noções mais abstratas e complexas, tais como
a transmissão do patrimônio e da exploração”.
A partir destes referenciais teóricos, delimitamos o
significado da produção familiar para este trabalho. Ela possui
elementos fundamentais que a caracterizam: a agricultura é
praticada por uma família que trabalha na terra com autonomia
para as tomadas de decisão, sendo que sua produção tende a ser
diversificada.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
23
ASustentabilidade da Produção Familiar
A sustentabilidade da produção familiar, nesta
pesquisa, refere-se às formas que esse grupo encontra de
garantir sua reprodução social. O debate sobre as estratégias
dos agricultores familiares para sua persistência no campo, de
modo geral, vem girando em torno da questão da ampla
capacidade de adaptação da unidade familiar agrícola e
decorrente caráter pluriativo destes estabelecimentos - como
resposta aos desafios propostos pela agricultura moderna ou
como uma forma histórica de sobrevivência, inerente à lógica
camponesa de vida (Schneider, 2003; Veiga, 2001; Romeiro,
2001; Graziano da Silva, 1999; Carneiro, 1998; Lamarche,
1993; Wanderley, 1986).
No entanto, a ênfase que queremos dar à reprodução
da agricultura familiar é sobre a diversificação da produção
dentro da propriedade, como uma busca a complexificação e
sustentabilidade do sistema produtivo. Esta diversificação
representa uma possibilidade estratégica estrutural pela não
dependência total em relação ao mercado.
Além disso, queremos chamar a atenção, também,
para o aspecto da autonomia do agricultor familiar nestes
processos de reprodução social:
(...) É em razão das decisões tomadas pela família e
pelo grupo doméstico, frente às condições materiais e ao
ambiente social e econômico no qual estiver inserida, que
ocorrerá ou não sua reprodução social, econômica, cultural e
moral” (Schneider, 2003, p.95).
A Agricultura Familiar para a Sustentabilidade
Para entendermos os possíveis papéis do grupo social
composto pela agricultura familiar na construção de sociedades
sustentáveis, revisitamos a história e os conceitos que alguns
autores vêm atribuindo à sustentabilidade (Sachs 2002 e Leff,
2001) e às suas relações com a agricultura (Altieri, 2001;
Soares, 2001; Ricci, 2001; Gliessman, 2000; Ehlers, 1999;
Couto Rosa, 1999; Abramovay, 1998; Jesus, 1996; Romeiro,
1996; Bergamasco et al 1995; Flores, 1991;Altieri, 1989a).
Identificamos que os autores consultados enfocam em
seus trabalhos diversas dimensões do conceito de
sustentabilidade e da sua relação com a agricultura familiar.
Claramente, a ênfase maior é para a dimensão ambiental ou
ecológica, comum a todos os conceitos. Neste sentido, diversos
elementos são abordados, como a degradação dos recursos
naturais, as condições climáticas, a utilização de agrotóxicos, o
caráter agressivo da monocultura e a capacidade de suporte dos
agroecossistemas.
Outra dimensão recorrente é a social, que envolve,
segundo os autores, principalmente a necessidade de um
desenvolvimento equânime, a geração de renda e trabalho, a
segurança alimentar, a satisfação das necessidades humanas e o
atendimento das necessidades sociais das famílias e
comunidades rurais.
A dimensão econômica, enfatizada principalmente
por Ehlers, Altieri e Soares, aborda o retorno financeiro aos
agricultores, a produtividade, o crédito agrícola e,
especificamente sobre a relação da sustentabilidade com a
agricultura familiar, a participação deste grupo social na
geração de renda e emprego para o país.
A substituição de sistemas de produção
simplificadores por sistemas complexos está no centro do
debate sobre a dimensão tecnológica da sustentabilidade.
Propostas alternativas de agricultura, como agricultura
ecológica, biodinâmica, permacultura, dentre outras,
questionam não apenas as técnicas de manejo convencionais,
mas a própria concepção do sistema produtivo vigente.
As dimensões política e cultural da sustentabilidade
são as menos abordadas pelos autores consultados. Gliessman,
Soares e Couto Rosa referem-se à agricultura sustentável
intimamente relacionada ao respeito às tradições,
conhecimentos e modos de vida locais. Abramovay, Couto
Rosa, Rudá Ricci e Romeiro enfatizam a dimensão política,
levantando questões como participação, autonomia,
importância de movimentos sócio-políticos e capital social da
agricultura.
O Currículo daAgronomia
As entrevistas com os estudantes e professores
demonstraram haver três tipos de percepções com relação ao
currículo e, especificamente, à formação voltada às questões
ligadas a agricultura familiar e sustentabilidade. Essas
percepções, para fins de análise, serão apresentadas sob o
formato de categorias.
A primeira relaciona-se com o entendimento do
vínculo da nossa temática com a necessidade de um currículo
interdisciplinar, onde as diversas disciplinas se configurariam
como um espaço de diálogo entre saberes diferentes e
complementares, possibilitando uma visão mais integrada dos
conteúdos curriculares. Por outro lado, dentro desta categoria,
houve a percepção de que o ensino na ESALQ não incentiva o
desenvolvimento de uma visão complexa dos conhecimentos
propostos. Assim, muitos entrevistados atentaram para o fato
de que a ESALQ, da forma em que está estruturada, não
possibilita que haja um diálogo entre as disciplinas, professores
e departamentos. Em decorrência, enxergam a formação de
forma fragmentada, desconectada e restrita, principalmente
quando se trata dos assuntos relacionados a sustentabilidade e
agricultura familiar.
A segunda categoria abrange as percepções dos
estudantes e professores acerca da abordagem dada a
sustentabilidade e agricultura familiar, as possibilidades de
caminhada e os entraves, a ênfase à agricultura patronal e a
polarização entre agricultura alternativa e agricultura
convencional.
Foi praticamente unânime entre os entrevistados a
constatação de que a ESALQ tem como foco principal a
formação visando o trabalho com “agricultura convencional”
para “grandes produtores”. No entanto, muitos apontaram a
existência de caminhos possíveis para a formação de quem se
preocupa com a sustentabilidade e a agricultura familiar.
Parece claro para a maioria dos estudantes que o
caminho a ser percorrido pelos que pretendem direcionar sua
formação para os temas da sustentabilidade e da agricultura
familiar existe. No entanto ele não é explícito e nem bem
estruturado; seu percurso depende do esforço individual de
cada estudante; e, principalmente, o caminho não passa – em
geral – pelo ensino disciplinar.
Por fim, a terceira categoria surgiu da percepção que
os estudantes possuem sobre o crescimento da abordagem da
questão ambiental pela instituição. Este crescimento, no
entanto, não veio acompanhado de outras questões
relacionadas à sustentabilidade, nem de uma abordagem sobre
agricultura familiar, em específico.
Dentre os motivos citados, destacaram-se a criação
dos novos cursos – principalmente Gestão Ambiental – e a
atuação dos recentes ingressantes na Escola.
Disciplinas pesquisadas
Durante as entrevistas com estudantes, levantamos
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quais disciplinas obrigatórias e optativas contribuíram para o
fortalecimento de sua formação ligada a questões sócioambientais na agricultura, em geral, ou na agricultura familiar,
em particular. Levamos em consideração todas as disciplinas
apontadas, mas nos detivemos na análise daquelas que foram
citadas por mais de um estudante. As disciplinas citadas mais
de uma vez foram:
Agribusiness Cooperativo; Agroecologia e
Agricultura Orgânica; Comunicação Rural; Disciplinas do
curso de Licenciatura em geral; Projetos em Educação
Ambiental; Recursos Florestais em Propriedades Agrícolas
(obrigatória); Sistemas Agrícolas Sustentáveis; Sistemas de
Produção; Sociedade, Cultura e Natureza; Sociologia e
Extensão (obrigatória); e Tópicos de Educação Voltados à
QuestãoAmbiental.
Foram citadas também por três estudantes algumas
disciplinas chamadas por eles de “tradicionais”, mas que vêm
integrando, mesmo que superficial e pontualmente, a questão
ambiental em aula, como Manejo Integrado de Pragas, Plantas
Daninhas e Máquinas e Implementos Agrícolas. Segundo os
estudantes, ao lado de práticas agrícolas “convencionais”,
foram descritas algumas alternativas de manejo que causam
menos impacto ao ambiente, mas que, no entanto, não são o
foco central das disciplinas. Porém, segundo a pesquisa
realizada por Sorrentino (1995), “a 'ambientalização' das
disciplinas não passa somente pela incorporação de conteúdos
ambientais. Apesar de importantes, se não acompanhados pela
adoção de métodos de ensino com eles coerentes passam a ser
motivos de conflitos e tensão em sala de aula”.
De forma quantitativa, percebemos que das 48
disciplinas obrigatórias da grade curricular da Agronomia,
apenas duas, segundo os estudantes, tratam de algum aspecto
relacionado a questões sócio-ambientais, ou seja, 5%. Dentre
as optativas, 19 disciplinas abrangem estas questões, ou seja,
10,5% das 181 existentes na grade. Para efeito de análise,
consideraremos o curso de Licenciatura como uma disciplina
somente, devido à não especificação dos estudantes durante as
entrevistas, salvo pela disciplina Prática de Ensino. Esta
decisão foi tomada em comum acordo com as professoras da
Licenciatura.
Através da análise das disciplinas, segundo suas
ementas e depoimentos de professores e estudantes, detecta-se
a inclusão da temática da sustentabilidade e agricultura familiar
nas disciplinas curriculares, e isto vem se dando
principalmente:
-pela abordagem das disciplinas da área de ciências
humanas (sociologia e antropologia), que se propõem a debater
questões como cooperativismo, modelos de desenvolvimento,
educação, história e psicologia;
-e através do debate sobre sistemas de produção
(especialmente agricultura ecológica, agricultura orgânica e
sistemas agroflorestais) e inclusão de práticas alternativas de
manejo em sistemas convencionais.
Conclusões
Se pudéssemos, de forma bem geral, expressar em
uma palavra a característica mais marcante no currículo da
ESALQ, esta seria: polarização. A todo momento, durante as
entrevistas, a análise das disciplinas e a vivência cotidiana com
professores e estudantes, observamos posturas, opiniões e
discursos opostos. Agricultura convencional e agricultura
alternativa; agricultura familiar e agricultura patronal.
Mas claro que o currículo da ESALQ se configura
como um território muito mais complexo que este. Muitos
fatores permeiam e influenciam na composição curricular da
Escola, dentre eles a própria tradição da ESALQ, as relações de
poder que se estabelecem, as políticas públicas referentes à
agricultura e o mercado de trabalho do agrônomo. Afinal, o
currículo é uma construção social e se produz e reproduz em um
contexto social e histórico específico.
Não obstante, pudemos observar muitos espaços onde
o diálogo entre questões opostas é possível, onde as obviedades
sobre os conteúdos e sobre a pedagogia são questionadas.
As possibilidades de formação do agrônomo
esalqueano são muitas. Além das disciplinas essenciais, os
estudantes podem escolher, dentro de um rol muito grande de
optativas, aquelas que conduzirão a sua formação mais
especializada; e isto pode ser feito livremente ou através das
áreas de concentração. Além das disciplinas, há diversas
modalidades de estágio, curriculares ou não, que
complementam o ensino formal. Percebemos, no entanto, que
muitas vezes as disciplinas é que complementam a formação
vivenciada nos grupos e estágios individuais!
Acreditamos que construir caminhos para a formação
de agrônomos-educadores não significa somente reorganizar
as disciplinas e as linhas de pesquisa acadêmica, adicionando
questões socioambientais, mas sobretudo a necessidade de
internalização deste saber nos paradigmas científicos
dominantes e nas práticas docentes que prevalecem.
Analisando as percepções de estudantes e professores
sobre o currículo, especialmente sobre a abordagem dada às
relações entre agricultura familiar e sustentabilidade,
concluímos:
- Segundo estudantes e professores, a ESALQ não tem
a preocupação institucionalizada em formar agrônomos que
pretendam trabalhar com agricultura familiar e
sustentabilidade; não existe nenhuma linha específica de
ensino ou pesquisa que possibilite aos estudantes percorrerem
os caminhos necessários para se tornarem agrônomoseducadores;
-Porém, parece claro para a maioria dos entrevistados
que o caminho a ser percorrido pelos que pretendem direcionar
sua formação para estes temas existe. No entanto ele não é
explícito e nem bem estruturado; seu percurso depende do
esforço individual de cada estudante; e, principalmente, o
caminho não passa – em geral – pelo ensino disciplinar;
-Para que se construam caminhos neste sentido, existe
a percepção de professores e estudantes da necessidade de um
currículo interdisciplinar, onde as diversas disciplinas se
configurariam como um espaço de diálogo entre saberes
diferentes e complementares, possibilitando uma visão mais
integrada dos conteúdos curriculares;
-Um espaço importantíssimo para a formação do
agrônomo-educador, na nossa opinião e na da grande maioria
dos entrevistados, são os estágios e as vivências extra-sala de
aula. Estes estágios, além de permitirem um contato próximo
com a realidade – aliás, uma demanda constante dos estudantes
– possibilitam uma práxis multidisciplinar, apontada por
muitos entrevistados como uma necessidade na formação do
agrônomo-educador. Porém, para cumprir este papel é
necessário que a atuação destes grupos de extensão seja uma
práxis onde a comunidade seja sujeito da ação e não seu mero
objeto;
- O crescimento da abordagem da questão ambiental
foi apontado por muitos professores e estudantes, tendo como
principais motivos a criação dos cursos novos, especialmente
Gestão Ambiental, e a postura dos novos ingressantes na
universidade. Apesar disso, a dimensão social, na opinião dos
entrevistados, não acompanha o crescimento da dimensão
ambiental; um ponto importante é que a necessidade do
fortalecimento da área de ciências humanas foi citada por
muitos.
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Concluímos que o mais rico espaço de formação de
estudantes - nas área de agricultura familiar e sustentabilidade existente na ESALQ são os grupos de estágio e/ou pesquisa.
Nestes espaços, os estudantes vivenciam uma práxis educativa
que os permite transcender os conteúdos e as práticas das
disciplinas, possibilitando uma visão mais complexa das
questões sócio-ambientais relacionadas à agricultura.
Algumas questões ainda precisam ser debatidas.
Como efetivamente acontecem os processos de formação
dentro destes grupos? Qual a relação que suas práticas possuem
com as disciplinas? Ainda: que estratégias deve ter a
universidade para valorizar este tipo de formação? Será que o
caminho seria a formalização destas atividades dentro do
currículo, atribuindo-lhe créditos, por exemplo? E será que esta
formalização não tiraria o sabor das atividades
extracurriculares?
A superação da polarização e a construção de espaços
educativos dialógicos são primordiais para que a formação do
agrônomo-educador encontre seu lugar na ESALQ. Isto só
pode ser garantido através do confrontamento entre idéias e
posturas divergentes, em um espaço onde estes conflitos
possam ocorrer abertamente.
Além disso, há a necessidade de uma maior
conscientização institucional sobre a importância da
agricultura familiar e do papel do engenheiro agrônomo no
fortalecimento deste grupo social - dentro de uma perspectiva
de sustentabilidade - para que seja possível uma abertura dos
paradigmas teóricos em que se concretizam as práticas
acadêmicas.
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Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
Sistema de Tratamento de Efluentes Caseiros
Prof. Tit. Dr. José Sales Mariano da Rocha
Cleonir Carpes Daltrozo
José Sales Mariano da Rocha é professor titular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) - RS, professor titular da Universidade de Coimbra
– Portugal; autor de 08 livros na área ambiental. É professor visitante de 04 universidades do Brasil e autor dos projetos de criação dos cursos de
Engenharia Florestal, Especialização em Geomática e Mestrado em Engenharia Agrícola da UFSM ([email protected]). Cleonir Carpes
Daltrozo é advogada especialista e mestranda em Geomática na Universodade Federal de Santa Maria (UFSM) ([email protected])
INTRODUÇÃO
Muitas pessoas se preocupam com os problemas
ambientais, porém não sabem o que podem fazer para resolvêlos. O maior obstáculo para quem se dispõe a lutar por essa
causa é a desinformação no que diz respeito ao meio ambiente.
Os materiais orgânicos se decompõem naturalmente
pela ação dos microrganismos que se alimentam deles. São,
portanto, materiais biodegradáveis. Produtos químicos tóxicos e
resíduos lançados no mar e em rios, riachos, lagos e lagoas
causam danos irrecuperáveis à vida da fauna e flora, atingindo,
mais cedo ou mais tarde, o ser humano.
O mesmo acontece quando esgotos domésticos sem
tratamento são lançados nos rios, em quantidades superiores às
que a depuração e oxigenação natural das águas podem aceitar.
Porém, a partir de 1960, os governos e as organizações
preocupadas com o meio ambiente, no mundo inteiro,
começaram a perceber que, para garantir o futuro do planeta, é
necessário controlar e, principalmente, reduzir a poluição. O
esgoto é uma vertente muito importante relacionada com a
poluição, especialmente o esgoto doméstico (objeto e escopo
deste trabalho técnico).
QUALIDADE DE VIDA
Qualidade de vida é a soma de todos os fatores
positivos que o meio ambiente reúne para a vida humana,
proporcionando satisfação física, psicológica e afetiva. É tudo o
que dá tranqüilidade, segurança e esperança num futuro melhor.
Na prática, a qualidade de vida de uma sociedade começa a
melhorar quando ela sabe responder a todas as pressões
negativas e a todos os impactos ambientais que a cercam.
O nível de progresso e bem-estar da população está
intimamente ligado às suas condições sanitárias e ambientais.
Assim, todos os esforços que as empresas fazem para diminuir
a poluição, todos os esforços dos governos para aumentar a
infra-estrutura de saneamento de água e esgotos, para limpar a
cidade, para cuidar das áreas verdes, e para diminuir o ruído,
são esforços que melhoram a qualidade de vida. Mais uma vez
o esgoto doméstico entra em foco quando se fala em qualidade
de vida.
POLUIÇÃO
Chama-se poluição a qualquer tipo de alteração física,
química ou biológica das características originais dos Recursos
Naturais Renováveis (solo, vegetação, animais silvestres, água
e ar) capaz de prejudicar os seres vivos que neles habitam.
Alterar a proporção ou as características de um elemento que
faz parte do próprio meio também pode constituir poluição.
O esgoto doméstico é o mais comum poluente
orgânico das águas doces e das zonas costeiras, quando
altamen-te concentrado.
A matéria orgânica transportada através dos esgotos
proporciona o alimento a uma multiplicidade de organis-mos
como bactérias e protozoários. Esgoto é a água que contém
dejetos produzidos pelo homem. A maior parte dos esgotos
dirige-se a lagos, rios, oceanos, ou outros cursos d'água. Em
muitos países, quase todo o esgoto, recebe algum tipo de
tratamento antes de ser lançado na água sob a forma de um
líquido semitransparente. O sistema de esgotos existe para
afastar a possibilidade de contato e contaminação dos despejos
e dos dejetos humanos junto à população e águas de
abastecimento.
A água superficial ou subterrânea pode ser infectada
por organismos patogênicos, existentes nos esgotos. As-sim,
ela pode conter:
* Bactérias - Provocam infecções intestinais epidérmicas e
endêmicas (febre tifóide, cólera, shigelose, salmonelose,
leptospirose, etc.).
* Vírus - provocam hepatite, infecções nos olhos etc..
* Protozoários - Responsáveis pelas amebíases, giardíases,
entre outras.
* Vermes – Esquistossomose, lombrigas e outras infestações.
As valas negras a céu aberto e a presença de esgoto dentro ou
perto de casa é a maior causa de mortalidade in-fantil. Toda
população brasileira tem direito ao saneamento básico, tirando
as águas sujas de perto das crianças. O se-gundo passo é tratar o
esgoto. Há uma série de soluções, desde a mais simples até a
mais completa, para eliminar esse alto risco ambiental e
sanitário.
A falta de um adequado sistema de tratamento de
esgotos pode ocasionar sérios danos ao ambiente, à saúde e à
qualidade de vida, normalmente apresentados através de:
Rios poluídos e contaminados;
Disseminação de doenças transmitidas por
veiculação hídrica;
Proliferação de insetos e roedores transmissores de
doenças;
Mau cheiro;
Deterioração do ambiente;
Baixo nível de qualidade de vida.
27
No Brasil, mais de 90% do esgoto é lançado em rios e
no mar ou a céu aberto.
A falta de saneamento básico e de redes de tratamento de esgoto
é um dos maiores problemas do país.
Toda casa deveria ter uma rede de canos para levar a água suja
para grandes centrais de tratamento. Mas na zo-na rural é
praticamente inviável devido às distâncias extremamente
grandes entre residências e um local para o trata-mento
coletivo.
Além da poluição das águas superficiais, os esgotos
contaminam também as águas subterrâneas. As medidas de
proteção dos recursos hídricos subterrâneos devem ser
adotadas com dois objetivos: garantir a quantidade da água do
manancial e preservar a sua qualidade. As águas subterrâneas
são muito importantes, e em muitos casos essenciais, para o
fornecimento de água potável para a área rural e também para a
área urbana. Contudo, na maioria dos casos, a preven-ção da
poluição das fontes de águas subterrâneas e a proteção do
conjunto de aqüíferos têm recebido pouca atenção. No que
concerne às águas subterrâneas, a poluição tem tendência a
aparecer devagar, mas é muito persistente e, muitas vezes, a
purificação é tecnicamente problemática, excessivamente
custosa e em geral, pouca prática.
APROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
A proteção dos aqüíferos pode ser conseguida através
da redução da carga poluidora nas fontes, do afastamento
adequado das fontes produtoras de poluentes, da
compatibilização do uso e ocupação do solo com a infraestrutura sanitária e do controle da ocupação e,
conseqüentemente, da impermeabilização do solo.
O tratamento das águas residuárias, antes do
lançamento no solo, é uma forma eficiente de reduzir a
poluição das águas subterrâneas. Um exemplo é o tratamento
de esgotos antes da disposição dos mesmos no solo, através de
práticas de espalhamento no terreno, de irrigação ou mesmo no
solo, antes de alcançarem os aqüíferos.
Muitas pessoas preferem, por exemplo, beber a água
cristalina de nascentes ou de poços artesianos em lugar de água
de torneira que foi convenientemente tratada e distribuída.
Freqüentemente, entretanto, a água dos poços e nascentes pode
ser contaminada pela proximidade com fossas e lançamento de
esgotos. A contaminação se dá por infiltração através do solo,
de tal maneira que as partículas em suspensão (causadoras da
turbidez) ficam retidas neste, enquanto que as bactérias e vírus,
bem como princípios ativos (venenos) por serem muito
menores, atravessam o solo atingindo a água do poço ou da
nascente, que embora "cristalina" passará a transmitir doenças.
O lançamento de esgotos ou despejos industriais
orgânicos em um determinado rio aumenta a concentração de
matéria orgânica no meio, que, por sua vez, desencadeia a
proliferação de bactérias que aumenta a atividade total de
respiração e, por conseguinte ocorre uma demanda maior de
oxigênio.
Portanto o esgoto lançado causa um consumo maior de
oxigênio no meio.
Esse consumo (demanda) é provocado sempre por
intermédio de uma atividade biológica ou bioquímica
(atividade bacteriana): a Demanda Bioquímica de Oxigênio
(DBO).
A poluição na água acontece de uma forma muito mais visível
que no ar, pois ela altera consideravelmente as características
físicas da água, como dureza, pH, cor e odor, tornando o
efluente contaminado e impróprio para o consumo.Além disso,
um curso de água poluído passa a alterar todo o ecossistema
daquela região, causando a morte dos peixes sensíveis que
darão lugar a outros mais grotescos, alterando assim o
ecossistema.
DESEQUILÍBRIO DOS ECOSSISTEMAS
À medida que a matéria orgânica aumenta, começará
um desequilíbrio no consumo da mesma, pois os
microrganismos que mais se beneficiam quando há excesso de
alimento se proliferam de forma rápida, sendo que a população
de peixes não aumenta em igual velocidade.
O desequilíbrio aumenta também na medida em que o
consumo de oxigênio no ambiente passa a ser maior e a
reposição através da superfície líquida (que é muito lenta) ou
através da fotossíntese de vegetais verdes microscópicos
(algas, por exemplo) não é suficiente. O esgoto lançado
"escurece" o ambiente líquido dificultando a penetração dos
raios luminosos indispensáveis à realização da fotossíntese.
Em termos simplistas pode-se dizer que quanto maior
o volume de esgotos ou efluentes lançados em um determinado
rio, maior será o consumo de oxigênio provocado neste. Isto é,
quanto maior for a concentração de matéria orgânica, maior
será a proliferação de bactérias, maior a atividade total de
respiração e maior, por conseguinte, a demanda de oxigênio. O
resultado disso é a redução das concentrações de oxigênio a um
nível incompatível com as necessidades respiratórias dos
peixes o que causaria a morte de todos. Portanto o lançamento
de esgotos em um rio provoca a deterioração do mesmo, devido
à queda do nível de oxigênio ali dissolvido (quando a água fica
esverdeada diz-se que o rio está eutrofizado – tem excesso de
algas).
Se o lançamento deste excesso de matéria orgânica for
diminuído, através do tratamento dos esgotos e efluentes
lançados, o rio, com o tempo, se autodepurará, podendo existir
novamente o “equilíbrio do ecossistema”.
A água poluída favorece o desenvolvimento de
microorganismos patogênicos, isto é, que causam doenças na
espécie humana. Desses micróbios, alguns dos mais
comumente encontrados nas águas poluídas são os causadores
de amebíase, cólera, febre tifóide, hepatite e leptospirose, todas
doenças graves. No entanto, os mais freqüentes mesmo são os
chamados coliformes fecais, que vivem aos milhões nos
intestinos das pessoas e são laçados em grandes quantidades,
juntamente com as fezes, nos esgotos.
O SISTEMA DE TRATAMENTO DE EFLUENTES
CASEIROS
Um adequado sistema de tratamento de esgoto
constitui a forma eficaz de controlar a poluição do meio
ambiente. Com ele eliminam-se os problemas causados pelos
lançamentos indevidos de esgoto em galerias pluviais, águas de
subsolo (lençol freático), cursos de água em geral ou
diretamente sobre o solo. A poluição biológica é causada por
detritos orgânicos suscetíveis de sofrerem fermentação. Podese dizer que a poluição é causada por um "excesso de alimento"
(eutrofização) despejado no ecossistema, seja ele rio, lagoa ou
represa.
Qualidade de vida é a soma de todos os fatores positivos
que o meio ambiente reúne para á vida humana. Mas muitas
vezes o nível de progresso da população, que deveria contribuir
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
28
para melhorar esta qualidade, proporciona o contrário. É o caso
do lançamento de efluentes diretamente em a natureza o que
acarreta inúmeros problemas.
O presente trabalho, visando melhorar a qualidade de
vida no meio rural, propõe a construção de um sistema
ecológico de tratamento de efluentes caseiros. Este sistema
caracteriza-se por ser simples (fácil execução e entendimento)
e de baixo custo.
Tais construções visarão contribuir para a melhoria do
meio ambiente, da saúde e da qualidade de vida da população
que vive no meio rural, promovendo a diminuição na poluição
de rios, córregos, solos e águas subterrâneas através da maior
eficiência e do menor custo de um sistema biológico de
tratamento de esgotos.
A agropecuária, sendo uma atividade de risco, vem
procurando aos poucos, inovar-se usando técnicas modernas de
produção para um melhor planejamento da atividade.
Uma delas é a construção de Sistemas de Tratamento de
Efluentes Caseiros (Esgotos) no meio rural visto a sua
importância para o saneamento básico.
Os despejos deverão ser tratados e afastados de modo
que atendam os seguintes requisitos:
- Nenhum manancial destinado ao abastecimento domiciliar
deve correr perigo de poluição.
- As condições necessárias à vida nas águas receptoras não
podem ser prejudicadas.
- Não deve haver risco de poluição das águas subterrâneas.
- Odores desagradáveis, presença de insetos e outros
inconvenientes não podem ser observados no local.
- Não deve haver poluição do solo capaz de afetar direta e
indiretamente pessoas e animais.
A proposta, para atender a estes requisitos, é a
construção de um Sistema Biológico de Tratamento de
Efluentes Caseiros conforme o esquema que segue. O
esquema é auto-explicativo.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
Comunicações
30
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
O CÍRCULO HERMENÉUTICO-DIALÉTICO (CHD) COMO
ALTERNATIVA METODOLÓGICA PARA A EDUCAÇÃO
AGRÍCOLA SUPERIOR
Maria do Carmo da Silveira Xavier1
Heloísa Flora Brasil Nóbrega Bastos 2
Helaine Sivini Ferreira2
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, [email protected]
2
Professoras do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências - UFRPE
INTRODUÇÃO
Num mundo cada vez mais globalizado e competitivo,
se faz necessário o uso de recursos e estratégias diversas com o
intuito de melhorar os processos de formação dos profissionais
e técnicos que estão nas universidades, de forma, que os
mesmos estejam mais bem preparados para os novos desafios
que se impõem. Nesse contexto, surge a necessidade de buscar
novas metodologias educacionais, reestruturar velhas
ferramentas, tornando-as mais dinâmicas e versáteis para que
possam vir a contribuir eficazmente neste processo de
formação. Assim, o que se pretende com este trabalho é
apresentar o círculo hermenêutico-dialético (CHD), desde sua
concepção inicial, passando pelas várias estruturações
sugeridas por pesquisadores que o utilizaram, até a última
versão elaborada por nós, como parte de uma dissertação que
vem sendo desenvolvida no Programa de Pós–Graduação em
Ensino das Ciências da Universidade Federal Rural de
Pernambuco.
A técnica do círculo hermenêutico-dialético (CHD)
consiste em um processo de construção e reconstrução da
realidade e é mencionada inicialmente com uma ferramenta
para coleta de dados por Guba e Lincoln (1989). No CHD, falase de hermenêutico porque o mesmo possui um caráter
interpretativo, e dialético porque implica na comparação e no
contraste entre diferentes pontos de vista (FURTADO, 2001).
AFigura 01 (a) ilustra uma representação esquemática
do modelo do CHD tal como proposto por Guba e Lincon
(1989). Neste esquema, R1 representa o primeiro entrevistado,
que a partir de seus relatos, iniciará as primeiras construções,
caracterizadas como C1. Estas servirão como subsídios para o
segundo entrevistado e, assim, sucessivamente (FURTADO,
2001). Os autores do CHD propõem que inicialmente se faça
uma entrevista e, logo a seguir, uma síntese dos dados
coletados, para ser apresentada a uma segunda pessoa, a qual
deve ser solicitada um comentário e o acréscimo de novos
dados e sugestões (OLIVEIRA, 1999).
Oliveira (1999) ao fazer uso do CHD durante
sua pesquisa de doutorado verificou que ao chegar a
terceira pessoa, quase nada era acrescido, uma vez
que a pessoa entrevistada se limitava a concordar
com a síntese dos dados coletados, juntos aos
entrevistados anteriores. Assim, o CHD permitia
pouca interação entre os envolvidos, o que tornava
as mudanças pouco significativas. Então, Oliveira
(1999), propôs uma adaptação dessa técnica de forma que cada
pessoa respondia as questões e, somente após as suas respostas,
apresentava-se a síntese da entrevista anterior ou o resultado de
todas as entrevistas já realizadas. Desta forma, foi possível a
inserção de novos elementos e o CHD tornou-se mais
interativo, com maior enriquecimento das informações,
garantindo melhor aproximação da realidade
Figura 01 - Representações do círculo hermenêutico-dialético:
como concebido (a) e com as adaptações propostas por Oliveira
(1999).
A concepção proposta por Oliveira (1999) está
apresentada na figura 01 (b), na qual A - significa aluno
entrevistado, C - significa construção teórica, e P - significa
pesquisador. De acordo com a nova estruturação, inicialmente,
coletam-se as construções teóricas individuais do primeiro
aluno (A1). Estas serão apresentadas ao segundo aluno apenas
após a coleta de suas construções teóricas individuais. Desta
forma, o segundo aluno tem a oportunidade de alterar ou não
suas construções em função das colocações do entrevistado
anterior. Esta dinâmica se repete até que o último aluno seja
entrevistado. O CHD é finalizado quando ocorre um encontro
final com a presença de todos os entrevistados, para discussão
coletiva e registro de novas informações, fase dita consenso.
Apesar do aumento da interatividade e da inserção de
novos elementos conseguidos com a nova estruturação
proposta por Oliveira (1999), Neves (2006), ao utilizar esta
ferramenta em sua dissertação, percebeu que ainda havia
alguns pontos que precisavam ser ajustados. Ele observou que
as construções do aluno A1 eram sempre deficitárias se
comparadas às dos outros alunos que participavam do círculo,
num indício claro que a ferramenta, tal como estruturada, não
privilegiava igualmente todos os indivíduos do grupo. O
primeiro indivíduo a ser entrevistado era privado dos processos
dialéticos na sua interação como o pesquisador, visto que não
31
tinha a oportunidade de compartilhar as construções dos
demais, para vir ou não a modificar as suas próprias.
Em análise a aspectos observados por Neves (2006)
relacionados com a aplicabilidade da ferramenta, motivou
pesquisa quanto a sua função além de coletar dados, auxiliando
significativamente os processos de construção do
conhecimento cientifico.
Este é um ponto muito importante visto que ressalta a
versatilidade do CHD, contudo, ao considerarmos esta
possibilidade, percebemos que do ponto de vista pedagógico,
tal como concebida, a utilização do CHD só beneficiava o
pequeno grupo que participava efetivamente do processo (5 ou
6 alunos). Assim, com o intuito de ampliar a aplicabilidade do
CHD e melhorar sua dinâmica é que propusemos uma nova
reestruturação no círculo hermenêutico-dialético, conforme
será apresentado a seguir.
CONCLUSÕES
Diante do exposto, é pertinente afirmar que o CHD se
consolida como excelente ferramenta para coleta de dados e
também como importante estratégia didática para o ensino, por
auxiliar os processos de construção de conteúdos. As novas
modificações propostas viabilizam sua aplicação em salas de
aula por permitir o envolvimento de grandes grupos sem que
haja o comprometimento dos processos hermenêuticos e
dialéticos. Desta forma a utilização do novo CHD se apresenta
como uma alternativa metodológica confiável e inovadora que
pode perfeitamente ser utilizada na Educação Agrícola
Superior trazendo inúmeros benefícios na formação dos seus
profissionais.
BIBLIOGRAFIA
METODOLOGIA
A primeira reestruturação proposta no CHD consiste
na inclusão do primeiro pesquisado (A1) no processo, tal como
sugerido por Neves (2006), mediante o completo fechamento
do círculo antes da etapa do consenso. Assim, ele teria as
mesmas oportunidades que os demais de reestruturar suas
colocações em função das demais apresentadas.
A outra grande reestruturação pretendida propõe a
participação conjunta de grupos maiores, ou seja, envolve os
entrevistados já previstos pelo CHD (5 ou 6 alunos) e, acresce
alunos observadores (até 15 indivíduos). O novo CHD é
vivenciado em três momentos: inicialmente todos os
participantes escrevem suas concepções iniciais sobre o tema
abordado (ou questões propostas) pelo pesquisador, em
seguida, uma vez que estas concepções estão documentadas,
tem-se inicio a etapa de reconstruções conceituais. Uma análise
prévia das respostas permite selecionar aqueles alunos com
maior suporte teórico (5 ou 6 alunos) para efetivamente
vivenciar a dinâmica do CHD, enquanto que, os demais são
denominados de observadores críticos do processo
hermenêutico-dialético. Enquanto a dinâmica do círculo
ocorre, os observadores, que não podem interferir no processo
fazem anotações para poderem contribuir para uma discussão
crítica/construtiva promovida no momento seguinte, 3ª fase,
por ocasião da construção coletiva (consenso) propiciada pela
ferramenta em questão.
A ferramenta CHD, com as alterações propostas foi
aplicada, como um piloto, com 23 alunos do 1º ano do Ensino
Médio do CODAI-UFRPE, São Lourenço da Mata, PE em dois
encontros, totalizando quatro horas de aula.
FURTADO, J. P. Um método construtivista para a
avaliação em saúde. Ciênc. Saúde coletiva, Rio de Janeiro,
vol.6, nº. 1, 2001, p. 165-181.
GUBA, E. e LINCOLN, Y. S. Fourth generation
evaluation. Newbury Park: Sage, 1989. 294 p.
NEVES, R. F. A interação do Ciclo da Experiência de
Kelly com o Círculo Hermenêutico-Dialético, para a
construção de conceitos de Biologia. Recife, 2006, PPGEC /
UFRPE. Dissertação de Mestrado em Ensino das Ciências.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Formação em
associativismo e desenvolvimento no Nordeste do Brasil: a
experiência de Camaragibe. Canadá, 1999. 320 f. Tese(
Doutorado em Educação) Universidade de Sherbrooke.
OLIVEIRA, Maria Marly de Como fazer Pesquisa
Qualitativa. Recife: Ed. Bagaço, 2005.192 p.
RESULTADOS
Os resultados indicaram que se conseguiu inserir no
processo, o primeiro aluno a participar do CHD, suas
construções modificadas não deixaram a desejar quando
comparadas com as dos outros alunos que participam
posteriormente a ele, no CHD.
O fato de trabalhar com um número maior de alunos
não comprometeu nenhuma das etapas do CHD e tanto os
alunos que participaram efetivamente do CHD, quanto os
observadores se sentiram contemplados e foram bastante
participativos.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA DA METODOLOGIA UTILIZADA NA
DISCIPLINA CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NA UFCG
1
2
3
3
Denise de Jesus Lemos Ferreira , Débora dos Santos Galdino , Joelma Sales dos Santos , Aline Costa Ferreira
1
3
Graduanda em Eng. Agrícola UAEAg/CTRN/UFCG. e-mail: [email protected]
2
Graduada em Pedagogia CEDUC/UEPB. e-mail: [email protected]
Engenheira Agrícola, Pós-Graduanda em Engenharia Agrícola na Área de Irrigação e Drenagem, UAEAg/CTRN/UFCG. e-mail: [email protected],
[email protected]
INTRODUÇÃO
O método de aprendizagem utilizando fichas
(questionários) é feito com o objetivo de melhorar o processo
de ensino da disciplina Conservação do Solo e da Água, a qual
aborda temas como erosão do solo, desastres naturais,
capacidade de uso do solo, conservação da água, práticas
conservacionistas entre outros, que se encerem no cenário visto
no semi-árido nordestino retratado nas fichas.
Com isso, surgiu a necessidade de realizar uma pesquisa
com os ex-alunos da disciplina referentes aos três últimos
períodos, totalizando cerca de 20 alunos, na busca de saber se
os mesmos assimilaram os conhecimentos aplicados na
disciplina de forma satisfatória. Sabendo-se que o
conhecimento vai além da perspectiva de educação,
acentuando a consciência crítica e autonomia intelectual
tornando o aluno um sujeito histórico, deixando sua condição
de objeto e tornando-se um cidadão. Segundo Freire (1983), “A
educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não
educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de
educação, mas estes não são absolutos.” Ainda podemos
complementar esse pensamento com o que diz Freinet (2002),
“Na origem de toda conquista há não o conhecimento, que só
vem normalmente em função das necessidades da vida, mas a
experiência, o exercício e o trabalho”. Nesse contexto,
objetivou-se com essa pesquisa avaliar o aprendizado dos
alunos conforme a metodologia utilizada na disciplina,
Conservação da Água e do Solo, observando suas dificuldades
e o respectivo grau de aceitação.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada no Laboratório de Ciências e
Tecnologias Agroambientais da Universidade Federal de
Campina Grande – UFCG, com o intuído de avaliar o método
Construtivista Sociointeracionista, em relação às aulas da
disciplina Conservação do Solo e da Água, com a finalidade de
observar as indagações (grau de aceitação e dificuldades) dos
ex-alunos da disciplina quanto ao método. Para a obtenção da
avaliação foram entrevistados 20 ex-alunos os quais abrangem
três turmas da disciplina, representando 100% de cobertura
sobre a opinião de cada um. A metodologia utilizada em sala de
aula consiste na distribuição do conteúdo programado da
disciplina em fichas (questionários), as quais contêm cerca de
500 perguntas que contam com recursos fotográficos
(paisagens de problemas vividos no semi-árido nordestino),
gráficos e tabelas, distribuídas em 45 fichas, sendo algumas
perguntas repetitivas para maior fixação dos temas tratados,
bem como o recurso da aula de campo para que os alunos
tenham uma maior convivência com a realidade que irão
trabalhar. A intervenção do professor nas aulas busca
aperfeiçoar o aprendizado, incentivando o aluno a resgatar
conhecimentos prévios sobre os temas a serem trabalhados
mediando e ampliando o debate com o seu conhecimento
formal, utilizando-se das fichas de aprendizagem em duplas
e/ou em grupos para que haja troca de conhecimentos por
ambas as partes, uma vez feito esse trabalho retoma-se o debate
o que faz dessa mediação um construir e reconstruir constante,
como citado por Freire (1983) “O saber se faz através de uma
superação constante. O saber superado já é uma ignorância.”.
Esse método busca a independência dos alunos junto
às tarefas dirigidas pelo professor, para que eles possam
resolvê-las de modo independente e criador, o que exige
determinados conhecimentos, compreensão dos objetivos da
tarefa, domínio do método de solução de forma que os alunos
possam aplicar conhecimentos e habilidades já adquiridos sem
orientação direta do professor. Na medida em que são
assimilados conhecimentos, habilidades e hábitos são
desenvolvidas as capacidades cognoscitivas (observação,
compreensão, análise e síntese, generalizações, fazer relação
entre os fatos e idéias etc.), indispensáveis para a
independência de pensamento e o estudo ativo, LIBÂNEO
(1994). A avaliação para a disciplina Conservação do Solo e da
Água é feita de forma continua, onde 50% da nota e retirada das
(fichas+freqüência) e os outros 50% de provas periódicas. Para
a avaliação do método, realizou-se uma pesquisa na qual os
alunos avaliaram seu rendimento e sua satisfação em relação à
metodologia usada em sala de aula na disciplina conforme o
método Construtivista Sociointeracionista, de acordo com a
proposta de Galdino & Ferreira (2007).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados indicam que 60% sentiram algumas
dificuldades, devido desconhecerem o assunto tratado nas
fichas, nesse momento o professor faz sua intervenção dando
suporte para que os alunos pudessem tirar suas respectivas
dúvidas e, 25% responderam que da maneira como é
ministrada a disciplina os mesmos não sentem dificuldades na
metodologia, atendendo as expectativas de aprendizagem. Em
relação ao uso da ficha 65% dos alunos acharam que o método
contribui no processo de aprendizagem, já que as aulas teóricas
e práticas estão correlacionadas, ajudando o aluno a vivenciar
os problemas vividos pelo pequeno agricultor. Um total de 80%
dos alunos entrevistados responderam que com os conteúdos
das fichas é possível fazer a relação com sua vida profissional,
33
já que nelas estão retratados casos reais proporcionando uma
maior sensibilização sobre a problemática rural (60%). Com
relação ao método que utiliza duplas para responder as fichas,
60% dos entrevistados preferiam que fosse utilizado o método
em grupo de forma rotativa para uma maior interação de idéias.
Em termos de comparação com as aulas tradicionais e as aulas
utilizando as fichas, 90% dos alunos ficaram satisfeitos com o
método, pois proporciona uma maior fixação dos temas
ministrados pelo professor, além de afirmarem que o método
atende todas as expectativas, sugerindo apenas uma maior
discussão sobre os temas tratados nas fichas, bem como maior
número de aulas práticas e discussão das questões incorretas
em sala de aula o que dá a oportunidade de maior troca de
experiências e com isso maior aprendizado.
Figura 1. Visão dos alunos quanto à aprendizagem utilizando
as fichas.
20
15
10
5
0
1
2
3
Sim
Não
4
5
6
CONCLUSÕES
Verificou-se que 80% dos alunos entrevistados
associaram os conteúdos das fichas com sua futura
vida profissional e que o Método Construtivista
Sociointeracionista, quando comparado ao
tradicional, atinge 90% de aceitação por parte dos
alunos, já que para ambos os casos as fichas retratam
problemas reais que ocorrem no Semi-Árido
Nordestino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, P. Educação e Mudança. vol.1. 11ª ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
(Coleção magistério. 2º grau. Série formação do
professor).
FREINET, C. et al. Fundamentos Teóricos. Vol. 9.
Brasília: SESI/DN, 2002.
Algumas Vezes
Figura 2. (A) – Adesão ao método com três opções de uso, (B)
– Preferência quanto à forma de distribuição ao longo do
período letivo.
(A)
(B)
15
15
10
10
Fixos
5
Rotativos
5
0
7
0
Individual
Dupla
8
Grupo
Figura 3. Satisfação quanto ao método utilizado na disciplina
comparado ao método tradicional.
20
15
Aula tradicional
10
Aula + fichas
5
0
9
Quadro 1. Questionário elaborado para pesquisa de avaliação de satisfação dos alunos em relação à metodologia utilizada na
disciplina conservação do solo e da água*, **
PESQUISA DE AVALIAÇÃO
01. Você sentiu dificuldades em responder as fichas de aprendizagem?
( ) Sim
( ) Não
( ) Algumas vezes
02. Em sua opinião o uso das fichas ajuda no processo de aprendizagem da disciplina supra citada?
( ) Sim
( ) Não
( ) Algumas vezes
03. Você conseguiu fazer relação entre as aulas teóricas e práticas?
( ) Sim
( ) Não
( ) Algumas vezes
04. Você busca outra fonte de pesquisa além do livro utilizado na disciplina para responder as fichas?
( ) Sim
( ) Não
( ) Algumas vezes
05. Em relação aos conteúdos aplicados nas fichas, você consegue fazer relação com sua vida profissional?
( ) Sim
( ) Não
( ) Algumas vezes
06. Você considera que as fichas contribue m para desenvolver certa “sensibilidade” na leitura das questões de campo?
( ) Sim
( ) Não
( ) Algumas vezes
07. Você acharia melhor utilizar o método das fichas de forma.
( ) Individual
( ) Dupla
( ) Grupo
08. No caso de utilizar o método das fichas em duplas ou grupos, os mesmos deveriam ser:
( ) Fixos
( ) Rotativos
09. Comparan do as aulas tradicionais e as aulas mais as fichas de aprendizagem, o que você considera de melhor
metodologia para fixação dos conteúdos?
( ) Aula tradicional
( ) Aula + fichas
10. O que você propõe para aperfeiçoar o método utilizado na disciplina?
* Elaborado por Débora dos Santos Galdino e Denise de Jesus Lemos Ferreira
(monitora da disciplina)
** Todas as perguntas continham suas respectivas justificativas
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
O CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM AGRONEGÓCIOS
DA FACULDADE DE SORRISO – FAIS
2
2
Cynthia Moleta Cominesi, Ademir Pegorin i, Ronaldo Kraemer
Professora Ms. Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios – Fais. [email protected]
Acadêmicos do 2° semestre do Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios - Fais
Introdução
Na atual economia mundial, um conceito ganha a cada
dia mais força dentro do Brasil. Ele ganhou força com o
crescimento da produção agrícola e foi definido por dois
professores da Universidade de Harvard – USA, John Davis e
Ray Goldberg em 1957 foi o Agribusiness ou Agronegócio.
Estes autores definiram-no como sendo:
O conjunto de todas as operações e transações envolvidas
desde a fabricação dos
insumos agropecuários, das operações de produção nas
unidades agropecuárias, até o processamento, distribuição e
consumo dos produtos agropecuários in natura ou
industrializados (BATALHA, 2001 p. 25).
Há que se enfatizar as significâncias crescentes do
agronegócio, que produz alimentos, gera alguns milhões de
empregos, além de diversificar e aumentar consideravelmente
as exportações brasileiras. Dentro do cenário mundial o Brasil
tem o maior superávit comercial agrícola do mundo, sendo o
terceiro maior exportador de produtos agrícolas em termos
absolutos estando atrás apenas dos EUA e da União Européia, e
somos considerados como a última fronteira agrícola do
mundo, tendo em vista o imenso potencial a ser explorado em
bases sustentáveis.
Neste cenário se destaca o Mato Grosso, e dentro dele a
cidade de Sorriso como um grande celeiro e produtor de
matéria-prima para o agronegócio brasileiro. Sorriso responde
por 2% da produção nacional de grãos sendo o maior produtor
de soja do Brasil respondendo por 3,5% da produção nacional e
é considerado a cidade que produz mais soja em todo o mundo.
Além disso, a cidade abriga inúmeras indústrias relacionadas à
produção agrícola.
Neste contexto, o presente resumo tem como objetivo
realizar uma discussão a cerca da Educação Tecnológica e
sobre o Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios da
Faculdade de Sorriso – FAIS.
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica
para entendermos a importância do Agronegócio bem como a
necessidade de capacitação nesta área. Além disso,foi utilizado
o Projeto Pedagógico do Curso Superior da Faculdade de
Sorriso – FAIS como fonte de análise.
Histórico do desenvolvimento da profissão de Tecnólogo
A profissão de Tecnólogo não é recente, pois a
Resolução n° 313 de 26 de Setembro de 1986 já dispunha sobre
o exercício profissional dos tecnólogos das áreas submetidas à
regulamentação e fiscalização instituídas pela Lei N° 5194 de
24 de dezembro 1966. O Conselho Federal de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia no uso de suas atribuições que lhe
confere a letra “f” do Artigo 27 da Lei n° 554/68 de 24 de
dezembro de 1966, permitiu a criação de cursos superiores de
curta duração visando ao exercício de atividades em áreas
regulamentadas e fiscalizadas pelos Conselhos de Engenharia,
Arquitetura eAgronomia.
A Resolução N° 1010, de 22 de agosto de 2005 dispõe
sobre a regulamentação da atribuição de títulos profissionais,
atividades, competências e caracterização do âmbito de
atuação dos profissionais inseridas no Sistema Confea/Crea
para efeito de fiscalização do exercício profissional, resolve
estabelecer normas estruturadas dentro de uma concepção
matricial para a atribuição de títulos profissionais, atividades e
competências no âmbito da atuação profissional.
Para o diplomado em curso de graduação de Tecnologia
em Agronegócio será atribuída a titulação de Tecnólogo em
Agronegócio.
A Resolução N° 1.018 de 8 de dezembro de 2006 dispõe
sobre os procedimentos para registro das instituições de ensino
superior e das entidades de classe de profissionais técnicos de
nível médio nos Creas. Esta resolução fixa procedimentos para
registro e revisão de registros das instituições de ensino
superior.
Na nova organização da educação profissional e
tecnológica de graduação, orientada por meio de eixos
tecnológicos o curso superior de Tecnologia em Agronegócio
esta incluído no eixo tecnológico dos Recursos Naturais que
compreende tecnologias relacionadas à produção animal,
vegetal, mineral, aqüícola e pesqueira. Abrange ações de
prospecção, avaliação técnica e econômica, planejamento,
extração, cultivo e produção referente aos recursos naturais.
Inclui, ainda, tecnologia de máquinas e implementos,
estruturada e aplicada de forma sistemática para atender às
necessidades de organização e produção dos diversos
segmentos envolvidos, visando à qualidade e à
sustentabilidade econômica, ambiental e social.
O Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios –
Faculdade de Sorriso – FAIS
Tendo em vista este potencial econômico do
Agronegócio no Estado do Mato Grosso e no município de
Sorriso, aliada a carência de profissionais capacitados para
atuarem nos três segmentos integrantes do agronegócio e a
carência de cursos de nível Superior nesta área, a Faculdade de
Sorriso-FAIS instituiu o Curso Superior de Tecnologia em
Agronegócio.
De acordo com o Projeto Político Pedagógico do Curso
Superior de Tecnologia em Agronegócios da Faculdade de
Sorriso – Fais (2005), o objetivo geral do curso é: Propiciar
formação ou aprimoramento de profissionais da produção,
35
armazenamento, processamento e distribuição dos produtos
agropecuários, capacitados para a utilização de equipamentos
de alta tecnologia e procedimentos na área de produção de
alimentos, produtos e serviços em propriedades rurais, e
urbanas. Ademais, busca formar profissionais voltados à
prática e à teoria das operações de comércio exterior e técnicas
de gestão, capazes de usar os dados financeiros e econômicos
para exercer julgamento, avaliar riscos e tomar decisões de
negócios. Deverá, portanto, ser capaz de estabelecer uma
compreensão sistêmica e estratégica, com uma visão do todo,
de modo integrado e relacionado com o meio ambiente externo.
Serão capacitados para a leitura e compreensão de textos
especializados, elaboração de pareceres e relatórios e
familiarizados com os conceitos de Gestão do Agronegócio e
Desenvolvimento Sustentável (p. 37).
O profissional além de possuir visão crítica e ser
exigente com os resultados técnicos, ter potencial para
acompanhar os avanços tecnológicos, possuir visão holística e
ser capacitado para interagir com as pessoas, sobretudo com
populações tradicionais, produtores rurais e clientes de
agroindústrias.
De uma forma geral, o egresso da Faculdade de Sorriso –
FAIS deve ser capaz de: planejamento e acompanhamento de
atividades voltadas para a agropecuária, estar apto para
verificar a vocação da propriedade rural, sua situação técnica,
econômica e legal e os recursos disponíveis na região, definir
os insumos, quantificar a mão-de-obra e controlar a rotina dos
serviços, definir os insumos, quantificar a mão-de-obra e
controlar a rotina dos serviços, selecionar técnicas de cultivo,
materiais, recursos humanos, máquinas, implementos e
equipamentos adequados à realidade da propriedade rural,
pesquisar e aplicar novas tecnologias para otimizar a
produtividade de plantações e criações, identificar e analisar
dados, informações estatísticas, séries econômicas; que o
auxiliam na compreensão dos cenários do agronegócio,
analisar cadeias produtivas, diferenciando os conceitos de
complexos agroindustriais, sistemas agroindustriais, clusters e
arranjos produtivos, planejar, implementar e avaliar projetos
do agronegócio, auxiliar os profissionais de outras áreas a
compreenderem a dinâmica dos complexos agroindustriais e
entre outras atribuições.
O curso de Tecnologia em Agronegócio tem duração de
cinco semestres totalizando 2420 horas. A matriz curricular do
curso está disposta no Quadro 1. Para um melhor
desenvolvimento, as disciplinas foram organizadas em três
módulos denominados: Módulo de Gestão, Processos e
Produção.
O tecnólogo em agronegócio terá como área de atuação
granjas, empresas de produtos agrícolas, empresas de pesquisa
agropecuária, cooperativas agrícolas, pequenas e médias
propriedades rurais, profissional autônomo, estabelecimentos
agro-pastoris que operam nos ramos de negócios rurais,
repartições públicas e privadas que atuam com atividades
rurais, órgãos ambientais, ONGs e entre outros.
Considerações Finais
O Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios é um
curso recente e em fase de adaptações. A primeira turma iniciou
no primeiro semestre com 30 alunos matriculados, a segunda
turma iniciou no segundo semestre de 2007, com 50 alunos
matriculados. Assim, percebe-se que o curso está em franco
desenvolvimento e que tem despertado interesse na
comunidade de Sorriso.
Ainda enfrenta alguns problemas como a grande
confusão que existe sobre o que é um curso técnico e a nível de
ensino médio e um curso superior de tecnologia. Ainda, por ser
muito recente falta o conhecimento por parte das pessoas da
existência do mesmo na Faculdade de Sorriso – FAIS, assim
sabemos que é de suma importância a divulgação do curso não
só para o benefício da faculdade em si, mas também para
realmente criar um mercado de trabalho promissor para os
futuros tecnólogos emAgronegócios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATALHA, Mário Otávio (org.). Gestão Agroindustrial. São
Paulo:Atlas, 2001
FAIS, Faculdade de Sorriso. Projeto Político Pedagógico do
Curso Superior de Tecnologia em Agronegócios. FAIS, Sorriso
- MT, 2005.
Lei N° 5194 de 24 de dezembro 1966.
Resolução n° 313 de 26 de Setembro de 1986.
AResolução N° 1010, de 22 de agosto de 2005.
AResolução N° 1.018 de 8 de dezembro de 2006
Quadro 1 – Matriz Curricular do Curso Superior de Tecnologia
emAgronegócios.
1° MÓDULO : GESTÃO
I SEMESTRE
Introdução à Tecnologia em Agronegócios
40
Informática Aplicada e Sistemas de Informações
80
Fundamentos da Teoria Econômica
80
Cooperativismo e Desenvolvimento Rural
80
Metodologia Científica
80
Legislação Aplicada
40
TOTAL
II SEMESTRE
Administração no Agronegócio
400
80
Análise de Cadeias Produtivas
80
Contabilidade e Gestão Financeira no Agronegócio
80
Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
80
Gestão de Pessoas e Comportamento Humano
40
Práticas de Projetos Agropecuários e Relatório de Pesquisa I
70
TOTAL
430
3° MÓDULO : PROCESSOS
III SEMSTRE
Comercialização e Marketing do Agronegócio
80
Empreendedorismo e Planejamento Estratégico
80
Logística do Agronegócio
40
Tecnologia de Produtos Agropecuários
80
Microbiologia
40
Ecotoxicologia
40
Práticas de Projetos Agropecuários e Relatório de Pesquisa
II
TOTAL
70
430
4° MÓDULO: PRODUÇÃO
IV SEMESTRE
Agronomia : Conceitos e Fundamentos
80
Zootecnia: Conceitos e Fundamentos
80
Agricultura:Culturas de Interesse Econômico
80
Máquinas e Mecanização Agrícola
40
Morfologia, Gênese, Física e Conservação do Solo
80
Práticas de Projetos Agropecuários e Relatório de Pesquisa
III
TOTAL
70
430
V SEMESTRE
Agrossilvicultura: Manejo de Sistemas Agroflorestais
80
Suinocultura/Avicultura e Bovino de Corte
80
Ecologia Agrícola
40
Integração Lavoura Pecuária
80
Manejo de Doenças e Pragas na Agricultura
80
Práticas de Projetos Agropecuários e Relatório de Pesq uisa
IV
Seminário Avançado
40
Atividades Complementares
240
Trabalho de Conclusão de Curso
70
20
TOTAL
730
Carga horária total
2420
hrs
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
36
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
EDUCAÇÃO, NATUREZA E CULTURA EM CASAS FAMILIARES
RURAIS DO PARÁ: ANÁLISES INICIAIS
1
Edilene Santos Portilho
Luis Mauro Sampaio Magalhães2
1-Mestranda em Educação Agrícola pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola – UFRRJ. E-mail: [email protected]
2- Professor do Departamento de Ciências Ambientais e Florestais – UFRRJ. E-mail: [email protected]
Introdução
Este trabalho constitui-se de uma pesquisa em nível de
mestrado que estuda elementos da educação, natureza e cultura
em três Casas Familiares Rurais (CFRs) do Pará, na Região do
Baixo Tocantins, compreendendo os municípios de Tucuruí,
Cametá e Igarapé Miri. Os trabalhos de campo ocorreram
através de vivências nas CFRs e nas propriedades rurais das
famílias associadas, em três viagens, com cerca de um mês cada
uma – a pesquisa iniciou-se em 2006 e ainda se encontra em
andamento.
As Casas Familiares Rurais formaram-se tendo como
base a Pedagogia da Alternância das Maison Familiales
Rurales, experiência educativa acontecida primeiramente na
França, em 1937, e trazida ao Brasil através de membros da
igreja católica, na década de 1960. Nas décadas de 80 e 90,
ocorreu a disseminação desse modelo sob variadas
denominações, dentre Escolas Famílias Agrícolas (EFAs),
Casas Familiares Rurais (CFRs) e Centros Familiares de
Formação porAlternância (CEFAs) (SILVA, 2004).
Após a criação da primeira CFR na Região Transamazônica,
houve a necessidade de se fundar outras CFRs e, atualmente,
existem mais de 20 CFRs só no Estado do Pará, geridas pela
ARCAFAR/Norte-Nordeste (Associação das Casas Familiares
Rurais).
As CFRs em estudo, assim como a grande maioria
delas, estão imersas em conflitos sócio-ambientais. Registrouse, a partir dos anos 1960, que as políticas governamentais
estimularam a ocupação da Região Transamazônica,
intensificando o fluxo migratório especialmente em
direção ao sul e sudeste paraense. Segundo Assis (2007), a
política de incentivos fiscais e de crédito, a abertura de estradas,
a construção de pontes e ferrovias, a ativação de novas áreas de
garimpo e a instalação de uma hidrelétrica e de indústrias
funcionavam como elementos de atração para os indivíduos de
diferentes regiões. Enquanto o Estado declarava-se disposto a
renunciar até a metade dos impostos a empresas, os incentivos
para a população trabalhadora foi minimizado (COSTA,
1998:49).
Nos anos 70, essa ditadura foi desafiada por um forte
poder de resistência e de organização popular que se
multiplicou no Pará. Foi criada nesta época a Comissão
Pastoral da Terra (CPT), uma pastoral social da igreja católica
fundada com a colaboração de religiosos e militantes leigos que
trata de questões fundiárias. Foi reforçada também a
participação de posseiros nas Comunidades Eclesiais de Base
(CEBs) e apossaram-se das direções “pelegas” dos Sindicatos
&Moreira p.35. Vol.IV). Esse processo de organização política
contribuiu para a fundação da primeira Casa Familiar Rural, em
Medicilândia, no Pará, em 1995.
As Casas Familiares Rurais têm como princípio
norteador de seu projeto educativo a Pedagogia da Alternância,
utilizando-se modalidades de tempos/espaços educativo,
alternando o estudo em uma semana nas Casas Familiares
Rurais e duas semanas nas propriedades rurais dos estudantes.
A formação dos jovens baseia-se na combinação de períodos de
vivências no ambiente das Casas – onde são diretamente
acompanhados pelos monitores – e no ambiente familiar – onde
estão diretamente assistidos por seus familiares e indiretamente
pelos monitores.
A metodologia educativa adotada nas CFRs conta
com uma série de ferramentas pedagógicas que favorecem a
animação dos princípios dessa pedagogia. As ferramentas
pedagógicas não devem ser materiais prontos, e sim materiais
construídos pelos próprios sujeitos do processo educativo,
integrando os diversos atores envolvidos (monitores, jovens e
familiares) e os tempos/espaços (Casa Familiar Rural e
propriedade familiar rural), enfatizando suas demandas de
ordem cultural, econômica e social. Alterna-se a formação
agrícola com a formação teórica, e, além das disciplinas
básicas, inclui-se também uma preparação para a vida
associativa e comunitária (Silva, 2006:6).
Os grandes desafios presentes nos espaços/tempos,
talvez, sejam o da prática da transversalidade do conhecimento
no dia-a-dia e a relação de constante negociação entre os atores
envolvidos: as famílias lavradoras e os monitores. Ambos
mantêm uma relação de adesão/resistência quanto aos
conhecimentos de cada categoria, que nomeamos como os
“ditos tradicionais” (dos lavradores) e os “ditos acadêmicos”
(dos monitores).
Na perspectiva da ARCAFAR, o processo de
formação do jovem nos tempos/espaços deve ser mediado pelo
monitor que é o “animador da troca de conhecimentos. Ele vai
estimular os jovens, não vai ensinar ninguém” (Marcelo Silva,
formador pedagógico das CFRs).
Aspectos metodológicos
Para se obter uma aproximação maior, tanto do
ambiente de pesquisa, quanto dos protagonistas das CFRs, temse como referência a idéia de Little (2006: 91), que recomenda
um diálogo entre a pesquisa ecológica política e o paradigma da
complexidade. Para isso é necessário articular alguns
princípios da pesquisa, como: a) ter as relações (naturais,
37
sociais ou sócio-ambientais) como o foco central; b) usar
análises contextualistas que coloquem as relações dentro de
seus respectivos marcos históricos e ambientais; c) utilizar
metodologias processuais, através do acompanhamento dos
fluxos de pessoas e de idéias, e da identificação da dinâmica
interna do sistema.
O acompanhamento no campo se deu através de
vivências nas CFRs e em algumas propriedades rurais.
Utilizou-se a etnografia como forma de registro, com variados
instrumentos de registro, como observações participativas,
entrevistas-conversas, filmagens e fotografias, a fim de se
entender uma parte da dinâmica das relações sociais
estabelecidas no ambiente de várzea e em terra firme, os dois
diferentes ambientes em que se localizam as propriedades das
famílias associadas às CFRs.
Procurou-se também fazer um registro dos elementos
ligados a educação popular na região, buscando-se os
elementos básicos que motivaram a criação das Casas
Familiares Rurais em cada município.
O que se pode enxergar
O processo de luta das famílias integrantes das CFRs,
visando à educação e à garantia a direitos básicos, pode ser
compreendido como uma busca da pedagogia da
complexidade, que proporcione pensar a realidade sócioambiental como um processo de construção social (Leff,
2001:258). Dessa forma, tem-se uma formação voltada para
valores, atitudes e competências, permitindo aos diferentes
integrantes atuar de maneira mais consciente e atenta às
complexidades do ambiente sócio-ambiental em que se
inserem.
Durante o estudo de cada CFR, observaram-se
processos gerais semelhantes, tais como: todas as Casas,
diretamente ligadas à ARCAFAR, passaram pelo mesmo
processo de fundação, são regidas por estatutos votados pelas
famílias associadas através assembléias, formam os jovens
utilizando a pedagogia da alternância e ensinam os conteúdos
determinados a partir de temas geradores escolhidos pelas
famílias.
No decorrer das vivências, definiu-se o conflito entre
os saberes dos monitores (baseados no estudo acadêmico) com
saberes dos lavradores (baseados em uma cultura obtida e
aperfeiçoada através de gerações). Mais do que achar
respostas, é necessário compreender as dimensões desse
conflito. A principal pergunta é: “Será que os profissionais que
são formados nas universidades do Estado do Pará dão suporte
às demandas de ordem de política, filosófica, social e
econômica das famílias lavradoras com as quais se dispõem a
trabalhar?”
Inicialmente, pode-se afirmar que os discursos dos
pais e das lideranças apresentaram insatisfações quanto ao
entendimento dos monitores, quanto à aplicação da pedagogia
no cotidiano. Essa falta de entendimento vem comprometendo
sensivelmente a relação entre as famílias e os monitores, e,
consequentemente, a própria pedagogia desenvolvida nas
CFRs.
Essa experiência, querida pelos seus atores sociais e
condizentes com suas perspectivas, tem como meta a
profissionalização dos jovens como empreendedores do seu
próprio futuro, desenvolvendo projetos de produção agrícola
próprios e adequados a sua realidade social, cultural,
econômica e ambiental.
É importante compreender que a situação de conflito
entre os saberes tradicionais e acadêmicos deve ser
evidenciada e sinalizada, a fim de despertar perspectivas para
uma educação emancipadora nas CFRs. Defender a
importância dos saberes tradicionais das famílias é
fundamental para a manutenção de um estilo de vida própria
naquele ambiente, para que as Casas Familiares Rurais sejam
um ambiente propício à construção e ao diálogo consciente
dos diversos tipos de saber.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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dos trabalhadores rurais no sudeste paraense / Tese
(doutorado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Instituto de Ciências Humanas e Sociais.
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LITTLE, Paulo Elliot. Ecologia Política como etnografia:
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agricultores. In: Revista de formação por alternância. Brasília:
União das Escolas Famílias agrícolas do Brasil. Vol. 1. No 2,
2006.108 p.
Documento: Histórico ARCAFAR/PA em 25 de setembro de
2006.
Conclusões
A Pedagogia da Alternância adotada pelas CFRs
constitui um elemento fundamental à educação daquelas
populações, por priorizar a participação dos pais, a adaptação
do aprendizado às demandas locais, a passagem de princípios
de associativismo e cooperação e a preservação do modo de
vida baseada na agricultura praticada pelas famílias.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
38
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
(RE) ORGANIZAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES E
REFORÇO DOS JOVENS E MULHERES NA CONSTRUÇÃO DE UM
MODELO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
1
Jadson Rodrigo Barrêto Seelig de Souza ,
Yoly Souza Ramos2,
Jaqueline Rogéria Barrêto Seelig de Souza Pinheiro3,
Yldry Souza Ramos4, Maria Lindinalva Silva Panta5.
1 – Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Engenharia Agrícola pela UFRPE; 2 – Engenheira Agrícola, Especialista em
Ecologia e Meio Ambiente, e Mestranda em Engenharia Agrícola pela UFRPE; 3 –. Assistente Social; 4 – Psicóloga do trabalho,
Especialista em Psicologia clinico-hospitalar, e Mestranda em Saúde coletiva, pela UEPB; 5 – Graduanda em Pedagogia pela UVA.
INTRODUÇÃO
Com a ampla difusão de valores associados à
modernização da agricultura nas instituições da sociedade,
verdadeiros processos de erosão cultural vão se disseminando
no mundo rural. Disso têm resultado rupturas nas formas
tradicionais de produção e disseminação de conhecimentos
para o manejo dos ecossistemas e nos mecanismos de
sociabilidade em comunidades de produtores familiares. De
tão avassaladora, a força ideológica dos mitos da modernidade
influencia o imaginário dos próprios produtores familiares que,
em muitas situações, passam a assumir uma percepção
negativa de si mesmos e de seus modos de vida. Embora esse
processo ocorra de forma generalizada nas comunidades rurais
influenciadas pelo avanço das formas produtivas da Revolução
Verde, é sobretudo nas novas gerações que ele exerce seu papel
mais insidioso. Meios de comunicação de massa e sistemas
educacionais inadequados difundem valores relacionados a um
mundo cujas relações sociais são cada vez mais reguladas pelos
mecanismos do mercado e cujo meio natural é percebido
sobretudo por sua dimensão instrumental/utilitária. Com isso,
padrões de produção e de consumo insustentáveis ganham
prestígio entre crianças, jovens e mulheres rurais. Na contra
corrente, culturas rurais vêm sendo revalorizadas por um
número crescente de movimentos sociais e por experiências
práticas no campo do ensino e do desenvolvimento, nas quais
as novas gerações de agricultores e agricultoras procuram
restaurar sua identidade, resultando em um novo contexto de
relações entre o rural e o urbano.
Muitos desses movimentos e experiências encontram
nas dinâmicas de inovação agroecológica estímulos para o
exercício de práticas e vivências que buscam incorporar as
tradições culturais e atribuir um sentido inovador à noção de
modernidade. Com isso novas perspectivas econômicas e
socioculturais para a inserção no mundo rural vão sendo
descortinadas pelas novas gerações de agricultores que se
associam localmente em torno a projetos de promoção da
agricultura ecológica. Há claras evidências de que a rápida
expansão da produção familiar de base agroecológica, no
Brasil como em outros países, está fundamentalmente
associada aos impactos econômicos positivos alcançados pelas
famílias produtoras na sustentabilidade de seus sistemas
produtivos. Faltam, no entanto, sistematizações e estudos que
confiram maior consistência a essas evidências, concorrendo
simultaneamente para sensibilizar novos praticantes de um
modelo de desenvolvimento que garanta a sustentabilidade e
para alavancar debates, propostas e medidas de fomento no
âmbito das políticas públicas. Este projeto teve como objetivo
refletir sobre a forma de (re)organização dos agricultores
familiares, beneficiários do Programa de Reforma Agrária no
município de Catende, Estado de Pernambuco, sua relação com
o modelo de desenvolvimento adotado e a sustentabilidade
deste, bem como a utilização de jovens e mulheres na
construção de um plano de ruptura com o modelo tecnológico
proveniente da Revolução Verde, visando fomentar a
construção de comunidades rurais mais justas no âmbito social,
econômico e ambiental.
METODOLOGIA
Os agricultores familiares estudados, tinham no
mínimo dois anos de experiência. O primeiro procedimento foi
identificar a forma de organização e descrever como esta
influenciou na adoção do modelo de produção adotado, bem
como qual a contribuição que mulheres e jovens podem dar,
para que seja possível a implementação de projetos de
desenvolvimento. E, baseando-se nesta identificação,
analisaram-se alternativas para a construção de um plano de
ruptura com o modelo tecnológico promovido pela Revolução
Verde. A análise teve que ser abrangente, pois estes agricultores
executam várias tarefas em diferentes regiões; teve que ser
internamente coerente, por realizarem várias atividades o
estudo destes agricultores não pôde ter um único resultado;
teve que ser confiável, por fim; teve que corresponder aos
objetivos e aos critérios dos protagonistas locais. Trabalhou-se
para desenvolver um modelo de avaliação do desempenho
individual e coletivo dos assentados que se fundamentou na
eleição de alguns indicadores, entre os quais: 1) a capacidade
de trabalhar agroecologicamente, 2) a capacidade de absorção
de novas tecnologias alternativas, 3) capacidade de aplicar os
recursos provenientes de Programas de Fortalecimento da
Agricultura Familiar, 4) atuação na reivindicação coletiva.
Outros procedimentos utilizados foram: revisão
bibliográfica; levantamento de dados secundários; análise de
documentos, estatutos, atas e projetos; aplicação de entrevistas
e questionários.
39
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A organização local dos produtores familiares
desempenhou um papel de suma importância na construção de
uma alternativa aos modelos advindos da Revolução Verde. O
fortalecimento de dinâmicas sociais de experimentação e de
intercâmbio de conhecimentos, tem possibilitado um maior
desenvolvimento socioeconômico da população estudada,
tendo em vista o aumento ao acesso ao crédito, à inserção
desses agricultores no mercado. A inserção de jovens e
mulheres no processo possibilitou o estabelecimento de
vínculos entre os processos de transformação local e a
dimensão macro em que são formulados e debatidos os projetos
coletivos, assim as organizações locais passam também a
exercer o papel de atores políticos. De um lado se empenham na
mobilização de suas bases para incorporar e propor novos
caminhos para o desenvolvimento local. Portanto, construir um
conceito de desenvolvimento rural de forma sustentável, que se
baseia no descobrimento, sistematização, análise e
potencialização dos elementos locais frente ao processo de
modernização, para através deles, desenhar de forma
participativa, estratégias de desenvolvimento definidas
baseando-se da própria identidade local do ecossistema no qual
se encontram inseridos, só se fez possível com a maior
sensibilidade e absorção por parte das mulheres e jovens no
processo.
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Restruturação do capital, fragmentação do trabalho e
serviço social. In: MOTA, Ana Elizabete (org.). A nova
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OTTMANN, G. (2001).Uma estratégia de sustentabilidade a
partir da Agroecologia. RevistaAgroecologia e
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MEDEIROS, Leonilde. CINTRAO, Rosangela. HEREDIA,
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Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
40
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO
DE SOSSEGO ESTADO DA PARAÍBA
1
1
1
Joelma Sales dos santos , Aline Costa Ferreira , Silvana Silva de Medeiros ,
Kaline Dantas Travasso1, Geraldo Moura Baracuhy Neto2, Vera Lúcia Antunes de Lima3
1
2
Engenheira Agrícola, Aluna de Pós-Graduação em Irrigação e Drenagem, UAEAg/UFCG, Campina Grande-PB. e-mail:
[email protected]
Administrador de Empresas, Aluno de Pós-Graduação em Recursos Naturais, UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected]
3
Engenheira Agrícola, Profa. Doutora da UAEAg/ CTRN/UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
No Brasil, o início da influência do homem sobre o
meio ambiente pode ser notada a partir da chegada dos
portugueses. Antes da ocupação do território brasileiro, os
indígenas que aqui habitavam (estimados em 8 milhões)
sobreviviam basicamente da exploração de recursos naturais,
por isso, utilizavam-nos de forma sustentável (WALLAVER,
2000). A preocupação com o meio ambiente caminha a passos
lentos no Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos,
principalmente em função de prioridades ainda maiores como,
por exemplo, a pobreza. As carências em tantas áreas impedem
que sejam empregadas tecnologias/investimentos na área
ambiental. Dessa forma, estamos sempre atrasados com
relação aos países desenvolvidos e, com isso, continuamos
poluindo. Uma solução para minimizar esse problema é o
dossiê de ambiência, que representa uma coleção de
documentos e dados sobre um determinado assunto; expressa
também listagem, rol ou coletânea de informações sobre um
tema específico.
O dossiê de ambiência tem como objetivo principal,
mostrar os potenciais de desenvolvimento, pela administração
municipal, a fim de elevar o nível de vida da população e
melhorar a qualidade da ambiência local, solucionando, senão
todos, pelo menos uma parte dos problemas sócio-econômicos
e ambientais existente. Conhecendo os problemas ambientais é
possível aos administradores do Município fazer um
planejamento em longo prazo de como melhorar o ambiente e a
qualidade de vida de seus municípios. Neste sentido o dossiê
converterá os problemas em metas e estas serão priorizadas, de
acordo com a demanda da população. O presente estudo
apresenta, de forma objetiva e resumida, os problemas
ambientais encontrados na zona rural do município de Sossego,
PB, a partir do conceito de "dossiê da ambiência" sugerido por
Rocha (1997).
METODOLOGIA
O dossiê de ambiência foi realizado no Município de
Sossego, PB, que compreende uma área de 119,7 Km2 é parte
integrante da Microrregião do Curimataú Ocidental, que
integra a Mesorregião do Agreste Paraibano. O Dossiê de
Ambiência foi desenvolvido de acordo com processo
metodológico apresentado por Rocha (1997) estruturado nas
seguintes etapas: Levantamento de informações gerais do
Município, contextualização dos problemas ambientais e
encaminhamentos e equacionamento dos problemas
ambientais identificados.
1) Levantamento de informações gerais do Município
no ambiente rural: Constitui de avaliação geral da área, através
de visita in loco, registro fotográfico; e anotação dos principais
problemas ambientais observados. Coletaram-se, também,
informações que compreendem a localização e acesso,
aspectos históricos, físicos, sócio-culturais, geográficos, clima,
ambientais, econômicas, infra-estruturais e assentamentos do
município.
2) Contextualização dos problemas ambientais,
destacando a deterioração das condições ambientais,
econômicas, e de infra-estrutura como um indicador do não
aproveitamento das potencialidades do município, do
distanciamento das instituições políticas e as deficiências dos
sistemas de educação e saúde.
3) Análise crítica dos problemas ambientais,
relacionando-os ao meio ambiente e a infra-estrutura do
município, como uma avaliação preliminar.
4) Encaminhamento e o equacionamento dos
problemas ambientais identificados: A partir de um diagnóstico
construído com as informações coletadas e contextualizadas
foram definidas alternativas para o equacionamento de
diversos problemas ambientais observados, tratando-os como
meta. Para tanto tomou-se como base na metodologia
preconizada por Vilfredo Pareto apresentada por Rocha (1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 encontra-se as metas em ordem
decrescente de ocorrência quanto à degradação ambiental que
foi encontrada na área rural do município de Sossego, PB.
Analisando as variáveis individuais (Tabela1)
percebe-se que um dos maiores problemas encontrados e com
maior grau de deterioração foi o uso do solo, representando
9,32 % de deterioração. O segundo problema ambiental
detectado foi o manejo integrado de microbacias hidrográfica,
responsável por 9,24% da deterioração da área rural do
município. Para que uma determinada Microbacia
Hidrográfica possa estar devidamente equilibrada entre o
aproveitamento dos seus recursos e a qualidade ambiental, se
faz necessário que todas as variáveis que estejam atuando
naquele ambiente sejam consideradas.
41
Tabela 1. Metas para recuperação ambiental para a Área Rural
do Município de Sossego, PB.
Variável de deterioração
Mapa de Uso do Solo
Manejo Integrado de Microbacias Hidrográfica
Planejamento Físico Rural
Destinação do Lixo
Esgotamento Sanitário
Abastecimento D'água
Avaliação da ProduçãoAgrosilvopastoril
Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
Plano de Controle Ambiental
Projeto Turístico
Educação Ambiental Técnica
Controle de Erosão
Viveiro de Produção de Mudas Florestais
Sinalização das Estradas
Aprisionamento de Animais Silvestre
TOTAL
Peso
5,21
5,17
3,75
3,74
3,73
3,72
3,70
3,69
3,67
3,64
3,61
3,58
3,24
2,90
2,58
55,93
Deterioração (%)
9,32
9,24
6,70
6,69
6,67
6,65
6,62
6,60
6,56
6,51
6,45
6,40
5,79
5,19
4,61
100,00
Deterioração acumulada (%)
9,32
18,56
25,26
31,95
38,62
45,27
51,89
58,49
65,05
71,56
78,01
84,41
90,20
95,39
100,00
Encontra-se representado no Gráfico de Pareto
(Figura 1), as metas para a área rural do Município de Sossego,
PB.
D e te riora ç ão A c um ulada (% )
12 0
1 00
95 ,3 9
10 0
90 ,2
84 ,4 1
78 ,01
71 ,56
80
6 5, 05
5 8,4 9
5 1, 89
60
4 5,2 7
3 8, 62
3 1,9 5
40
25 ,2 6
18 ,5 6
20
9 ,3 2
5, 21
5,1 7 3 ,75
3,7 4 3,7 3 3 ,72
3, 7
3,6 9
3 ,67
3,6 4 3, 61 3 ,58
7
8
9
10 1 1 1 2 1 3 1 4 15
3 ,2 4 2 ,9
dos solos da área rural representou 6,40 %. Um dos fatores que
contribuiu para essa percentual foi o desmatamento das áreas
nativas para implantação de agricultura de
subsistência.Portanto, a prática do desmatamento, seguida das
queimas o solo fica mais susceptível ao carreamento pelas
águas das chuvas. No município foram encontradas algumas
inscrições rupestres, marcas deixadas por nossos antepassados
nas pedras, abandonadas entre a remanescente da mata nativa
local. Para que essas inscrições e outros atrativos sejam
explorados pelo turismo é necessário que a prefeitura faça um
estudo de viabilidade para ver se a cidade tem condições de
suportar a visitação popular.
Foi analisado o problema do desmatamento no
município de Sossego e através deste foi detectado que os
viveiros de produção de mudas se encontram com 90,20% de
deterioração acumulada. Com 5,79 % das incidências,
avaliados dentro dos 80% da priorização por Pareto, o
problema da produção de mudas se encontra escassa em
Sossego. Deve-se produzir mudas nativas da região para
facilitar o plantio e o desenvolvimento das mesmas. O
problema da sinalização das estradas, principalmente as com
bifurcações, também é uma preocupação, essas devem
apresentar algum tipo de sinalização/placas que indique a
localidade de destino, uma maneira de facilitar a orientação
daqueles que não possuem conhecimento da região. O
aprisionamento de animais silvestres representa apenas 4,61%
dos problemas ambientais analisados. Esse fato foi observado,
apenas, em casos isolados de aprisionamento de aves em
gaiolas por alguns moradores.
2,5 8
0
1
2
3
4
5
6
P e so s
P ES OS
DE TE RIORAÇÃ O ACUMULA DA (% )
Figura 1. Gráfico de Vilfredo Pareto para a área rural do
Município de Sossego, PB
A destinação do lixo na zona rural representa uma
deterioração 6,69%, quanto a essa questão o município deve
implantar um sistema de coleta que contemple também a zona
rural evitando a poluição dos rios e incentivando aos moradores
a coleta seletiva a uma futura reciclagem desse material.
GRACIOLI, et. al (2005) sugerem esse estímulo através da
troca desse lixo por alimentos de forma que a cada quantidade
de lixo recolhido, a pessoa receba uma cesta básica. Em
Sossego observa-se que o lançamento de esgotos é feito
diretamente em açudes, onde é retirado água para diversas
atividades domésticas, além da dessedentação de animais. Um
dos grandes problemas observados na visita in loco foi à falta
de abastecimento de água, representando 6,65% da
deterioração. A implantação de sistema de abastecimento de
água visa fundamentalmente contribuir com a população para:
controlar e prevenir doenças; implantar hábitos higiênicos na
população; facilitar a limpeza pública; propiciar conforto, bem
estar e segurança. HELLER e CASSEB (1995) acrescentam
importantes itens referentes ao aspecto econômico alcançado
pela população beneficiada pelo abastecimento público, tais
como: aumento da vida média; diminuição de gastos com
médicos e hospitais; aumento da vida produtiva dos indivíduos
economicamente ativos; facilidade para a implantação de
indústrias, inclusive a de turismo e facilidade no combate a
incêndios. Foi identificada uma grande quantidade de culturas
cultivadas em pequenas áreas sem nenhum estudo prévio de
aptidão agrícola (6,62% da deterioração). O plano de
recuperação de áreas degradadas representa 6,60%. Apesar de
que ter sido pequeno o índice de solos erodidos, a deterioração
CONCLUSÕES
Os cinco principais problemas ambientais
encontrados, no município de Sossego, em ordem crescente de
importância foram: Mapa de Uso do Solo, Manejo Integrado de
Microbacias Hidrográfica, Planejamento Físico Rural,
Destinação do Lixo e Esgotamento Sanitário. A metodologia
aplicada foi adequada para os propósitos apresentados e pode
ser utilizada para o diagnóstico de problemas ambientais em
pequenas cidades, independente de sua localização geográfica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GRACIOLI, C. R.; BRUN, E. J.; ROCHA, J. S. M. da.
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Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
42
Revista Educação Agrícola Superior
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ESTUDO DA AMBIÊNCIA URBANA - MUNICÍPIO DE
CABACEIRAS/PB
1
2
3
4
Kaline Dantas Travassos , Joelma Sales dos Santos , Aline Costa Ferreira , Silvana Silva de Medeiros
7
Geraldo de Moura Baracuhy Neto5, Silvana Fernandes Neto6, Josinaldo Xavier de Medeiros .
Eng. Agrícola – Pós-Grad. Desenv. Sustent. para o Semi-árido - UFCG - [email protected]
Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem-UFCG – [email protected]
Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem-UFCG – [email protected]
4
Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem-UFCG – [email protected]
5
Admin. de Empresa – Mestrando em Recursos Naturais – [email protected]
6
Geógrafa- Mestranda em Recursos Naturais -UFCG – [email protected]
7
Prof. Ms. Dpto de Ciências Agrárias – UFPB – [email protected]
RESUMO
Foi realizado um levantamento ambiental de caracterização da ambiência do município de Cabaceiras, PB. A metodologia
utilizada foi à proposta por Rocha (1997), que é composta de visitas in loco, fotografias e preenchimento de questionários por
pessoas da comunidade e secretários da prefeitura. Os resultados obtidos em campo foram analisados e definidos os percentuais
para cada parâmetro de acordo com a metodologia de "Paretto". Os diagnósticos foram analisados em ordem decrescente de
ocorrência, detectando os problemas da ambiência da área urbana do município e transformando-os em metas que foram
priorizadas de acordo com as necessidades e carência dos habitantes. Para os principais diagnósticos verificados os prognósticos
são os seguintes: Esgotamento sanitário, levantamento e análise da qualidade de vida da área urbana, nas comunidades, vilas e
povoados e gestão integrada dos resíduos sólidos e destinação do lixo.
Palavras-chave: área urbana, diagnóstico, prognóstico
INTRODUÇÃO
A sociedade humana destaca-se pela capacidade de
unir esforços e agregar-se social e economicamente ao redor de
sistemas produtivos, o que possibilitou, ao longo da sua
evolução, a formação de aglomerados humanos conhecidos
como cidades, do latim "civitas". A partir da formação desses
aglomerados começam a surgir problemas de natureza
ambiental, advindos das atividades produtivas, residenciais e
sociais dos seres humanos. Estes problemas existem desde o
surgimento do homem primitivo, quando ele começou a
desenvolver técnicas, como o uso do fogo, da pecuária e da
agricultura. Chaffun (1997) mencionou que é nas cidades onde
se concentra a maior parte das atividades econômicas, onde se
consome a maioria dos recursos e onde se gera maior parte da
poluição. Segundo o CEMPRE (2000), as cidades acumulam
riquezas. Entretanto, são também imensas consumidoras de
recursos naturais e geram significativas quantidades de lixo
que precisam ser dispostas de maneira segura e sustentável. Do
ponto de vista social e econômico, o impacto fundamental e a
crescente transferência de encargos e responsabilidades sociais
para os municípios, acompanhados de forte controle
financeiro. No plano político-administrativo, impõe-se uma
nova pauta para o poder executivo local sobre a gestão pública,
onde o planejamento municipal e a participação da sociedade
civil são fatores decisivos para a convivência e superação da
crise e para a consolidação das políticas públicas no campo da
produção e circulação de bens e serviços, bem como da
assistência social. O Dossiê de Ambiência representa um relato
completo de todos os problemas ambientais de um município,
visando o meio em que a população vive que no presente
trabalho trata-se da área urbana, mostrando ainda como
resolver estes problemas, onde estão às soluções e quanto custa
cada projeto. Este trabalho objetiva um aprofundamento e
estudo dos problemas ambientais da zona urbana de Cabaceiras
- PB, pois a metodologia utilizada foi a citada por Rocha (1997)
que é denominada "dossiê da ambiência", onde propõe
diagnosticar todos os problemas sociais, ambientais e
econômicos do município e seus respectivos prognósticos.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa foi desenvolvida no município de
Cabaceiras, PB, localizado na Mesorregião da Borborema e na
Microrregião do Cariri Oriental, com as seguintes coordenadas
geográficas: 7029'20'' de Latitude Sul e 36017'14'' de Longitude
Oeste. Possui uma extensão territorial em torno de 407 km2,
com uma população de 6.180 habitantes.
O dossiê de ambiência do município de Cabaceiras,
PB, foi realizado com base na metodologia desenvolvida por
Rocha (1997), que consiste num registro completo de
problemas ambientais observados durante a pesquisa realizada
nas zonas urbanas e rurais de um município. No presente
estudo, trabalhou-se com o ambiente urbano. Avaliação da área
geral do município, em questão, foi realizada através de visitas
“in loco” por toda a zona urbana onde todos os problemas
verificados foram registrados através de fotografias, as quais
eram identificadas através de números e discrição inscritas para
que as informações não fossem perdidas. Também foram
aplicados questionários, aos secretários municipais e a
população do município. Para a analise das priorizações dos
43
dados foi utilizado o gráfico de Paretto, uma ferramenta
estatística empregada para se estabelecer a ordem em que às
causas de determinados problemas ou perdas devem ser
sanadas, conforme indicado pela metodologia proposta por
Rocha (1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 01 mostra a priorização das metas para área
urbana, do município de Cabaceiras, segundo adaptação da
metodologia proposta por Vilfredo Paretto. A priorização foi
conseguida através de “Pesos” atribuídos a cada Meta, “Pesos”
estes analisados ao longo dos anos, de acordo a experiência da
Equipe Técnica, usando-se intervalos lógicos de valores de
deterioração ambiental, que foram calculados em
porcentagem, por temas, mediante médias ponderadas.
Portanto, a prioridade está relacionada diretamente
com a maior deterioração ambiental (META 1= maior
deterioração). As Metas descritas, estão em ordem de
prioridade.
Tabela 01: Metas para a Área Urbana município de
Cabaceiras.
Meta
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
Nome da Meta
Destinação dos Resíduos Sólidos
Esgotamento Sanitário
Abastecimento de Água
Educação Ambiental Técnica
Manejo integrado de
Microbacias Hidrográfica
Plano de Controle Ambiental
Mapa de Uso do Solo
Planejamento Físico Rural
Estudo de Avaliação da
Produção Agrosilvopastoril
Estudo, Inventário e Manejo da
Fauna e Flora
Viveiro de Produção de Mudas
Florestais
Plano de Recuperação de Áreas
Degradadas
Aprisionamento de Animais
Silvestre
Controle de Erosão
Turismo
TOTAIS
Pesos
Deterioração (%)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEMPRE. Lixo municipal: manual de
gerenciamento integrado. 2. ed. São Paulo: IPT/CEMPRE,
2000. 370p.
CHAFFUN, N. Dinâmica global e desafio urbano.
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em habitação, meio ambiente e gestão urbana nas cidades
brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 1997. 267p.
ROCHA, J. S. M. (1997). Manual de projetos
ambientais. Santa Maria: Universidade Federal de Santa
Maria, 423p.
Deterioração
Acumulada (%)
3,74
3,73
3,72
3,61
5,17
6,59
6,58
6,56
6,36
9,11
6,59
13,17
19,73
26,09
35,21
3,67
5,21
3,75
3,70
6,47
9,19
6,61
6,52
51,68
50,86
57,48
64,00
3,69
6,51
70,50
3,24
5,71
76,22
3,69
6,51
82,72
2,58
4,55
87,27
3,58
3,64
56,72
6,31
6,42
100
93,58
100,00
-
CONCLUSÕES
A partir da metodologia aplicada estudo da ambiência
urbana - município de Cabaceiras/PB foi possível observar a
existência de muitas famílias com renda baixa, com problemas
sociais, tecnológicos, econômicos, entre outros. Portanto
vimos a importância da realização desse trabalho, pois ele foi
de grande importância para a avaliação da qualidade de vida
das famílias residentes neste município. Através desta
metodologia foi possível detectar as deficiências e indicar as
medidas possíveis para superá-las, logo estes resultados
prognosticados proporcionará um aumento substancial do
nível de vida da população do município de Cabaceiras.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
44
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
DOSSIÊ AMBIENTAL - ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE
CABACEIRAS-PB.
Silvana Fernandes Neto1, Kaline Dantas Travassos2; Aline Costa Ferreira2; Joelma S. dos Santos4 ;
Geraldo Moura Baracuhy Neto5, Silvana Silva de Medeiros6, Josinaldo Xavier de Medeiros7.
1Geógrafa – Mestranda em Recursos Naturais – UFCG – [email protected]
2Eng. Agrícola – Pós-Grad. Desenv. Sustent. para o Semi-árido - UFCG - [email protected]
3Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem - UFCG – [email protected]
4Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem - UFCG – [email protected]
5Admin. de Empresa – Mestrando em Recursos Naturais – [email protected]
6Eng. Agrícola - Mestranda em Irrigação e Drenagem-UFCG – [email protected]
7Prof. Ms. Dpto de Ciências Agrárias – UFPB – [email protected]
RESUMO
O objetivo do presente trabalho foi analisar e caracterizar a ambiência do município de Cabaceiras-PB. Para isto, utilizouse da metodologia proposta por Rocha (1997), que consiste num registro completo dos problemas ambientais, utilizando o “Gráfico
de Paretto”, como ferramenta para análise dos dados. O uso desta ferramenta permitiu definir parâmetros a dados referentes à
população da zona rural, bem como encaminhar alternativas de soluções para os problemas ambientais, ordenando-os em
prioridades, de modo a favorecer a concentração de recursos em ações relevantes no município.
Palavras-chave: ambiência, diagnóstico, problemas ambientais
INTRODUÇÃO
O Brasil tem passado por inúmeras mudanças
estruturais, decorrentes da sua rápida inserção no mundo
globalizado. A nova forma de relação com o resto do mundo e,
sobretudo, com o grande capital internacional mudou e esta
mudando as relações internas entre a União, Estados e
Municípios e, especialmente, a relação do poder público com a
sociedade civil, que cada vez mais se organiza na defesa de
interesses corporativos e direitos difusos. De fato, vive-se uma
nova ordem social, econômico-financeira e de gestão pública
no nosso País. Do ponto de vista social e econômico, o impacto
e a crescente transferência de encargos e responsabilidades
sociais para os municípios, acompanhados de forte controle
financeiro. No plano político-administrativo, impõe-se uma
nova pauta para o poder executivo local sobre a gestão pública,
onde o planejamento municipal e a participação da sociedade
civil são fatores decisivos para a convivência e superação da
crise e para a consolidação das políticas públicas no campo da
produção e circulação de bens e serviços, bem como da
assistência social. Um terceiro e imprescindível elemento a ser
considerado, na atual conjuntura, é a variável ambiental. Para
efeito de aprovação, as agências financiadoras de projetos de
desenvolvimento, público e privadas, classificam os projetos
segundo o grau de risco ambiental, priorizando aqueles que
apresentem características concretas de sustentabilidade. A
contribuição é factível, na medida em que reúne os problemas
ambientais mais relevantes que interferem na qualidade de vida
da população e as potencialidades do município que podem ser
aproveitadas para a geração de trabalho, emprego, renda e
novos meios de renda, apresentando alternativas viáveis,
indicativos de parceria e estimativas de custos para algumas
das ações propostas. Este trabalho teve como objetivos realizar
um estudo dos problemas ambientais da zona rural do
município de Cabaceiras - PB, para isso utilizou-se a
metodologia apresentada por Rocha (1997) denominada
"dossiê de ambiência", que propõe o diagnóstico dos
problemas sociais, ambientais e econômicos do município e
seus respectivos prognósticos.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa foi desenvolvida no município de
Cabaceiras-PB, que está localizado na Mesorregião da
Borborema e na Microrregião do Cariri Oriental, delimitado
pelas coordenadas de 7 29'20'' de Latitude Sul e 36 17'14'' de
Longitude Oeste. Possui uma extensão territorial de
aproximadamente 407 km2, com uma população em torno de
6.180 habitantes.
O dossiê de ambiência no município de Cabaceiras-PB
foi realizado com base na metodologia proposta por Rocha
(1997), que consiste num registro completo de problemas
ambientais da área de estudo. No caso, este estudo
desenvolveu-se na zona rural do município de Cabaceiras/PB.
Avaliação geral da área do município em questão foi
realizada através de visitas “in loco” por toda a zona rural, com
registro fotográfico dos problemas encontrados. Cada registro
foi identificado através de número e descrito com informações
pertinentes ao local. Também foram aplicados questionários,
aos secretários municipais e a população das comunidades
rurais.
Para a analise das priorizações dos dados foi utilizado o
“Gráfico de Paretto”, uma ferramenta estatística empregada
para se estabelecer a ordem em que às causas de determinados
problemas ou perdas devam ser sanadas, conforme indicado
pela metodologia proposta por Rocha (1997).
45
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A priorização das metas para área rural, do município
de Cabaceiras foi obtida através de “Pesos” atribuídos a cada
Meta. Estes “Pesos” foram analisados ao longo de anos
experiência da Equipe Técnica, usando-se de intervalos lógicos
de valores de deterioração ambiental, calculados em
porcentagem, por temas, e mediante médias ponderadas,
Tabela 01.
Tabela 01: Metas para a Área Rural do município de
Cabaceiras.
Nº.
Metas
Pesos
Deterioração
(%)
Deterioração
Acumulada (%)
01
02
03
04
05
Destinação dos Resíduos Sólidos
Esgotamento Sanitário
Abastecimento de Água
Educação Ambiental Técnica
Manejo integrado de Microbacias
Hidrográfica
Plano de Controle Ambiental
Mapa de Uso do Solo
Planejamento Físico Rural
Estudo de Avaliação da Produção
Agrosilvopastoril
Estudo, Inventário e Manejo da
Fauna e Flora
Viveiro de Produção de Mudas
Florestais
Plano de Recuperação de Áreas
Degradadas
Aprisionamento de Animais
Silvestre
Controle de Erosão
Turismo
TOTAIS
3,74
3,73
3,72
3,61
5,17
6,59
6,58
6,56
6,36
9,11
6,59
13,17
19,73
26,09
35,21
3,67
5,21
3,75
3,70
6,47
9,19
6,61
6,52
51,68
50,86
57,48
64,00
3,69
6,51
70,50
3,24
5,71
76,22
3,69
6,51
82,72
2,58
4,55
87,27
3,58
3,64
56,72
6,31
6,42
100
93,58
100,00
-
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
Destaca-se que a mesma pode ser aplicada para estudos
em pequenos municípios, fazendo uso dos mesmos parâmetros,
ou com alguma adaptação à realidade de cada região, mas
conservando os mesmos princípios.
Com relação à economia do município de CabaceirasPB, constatou-se que a mesma é baseada na produção familiar,
com isto, faz-se necessário à implantação de políticas que
contemplem o acesso dos produtores a crédito rural, a
programas de incentivo a produção, através de apoio financeiro
e técnico, garantia de preços e estrutura de armazenamento,
pois o município apresenta potencialidades que poderiam ser
mais bem exploradas.
O cenário do setor rural demonstra tendências de
deterioração da ambiência, podendo comprometer a qualidade
de vida da população no presente e principalmente, às gerações
futuras, caso o “homem” não controle suas ações.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ROCHA, J. S. M. (1997) Manual de projetos ambientais. Santa
Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 423p.
A prioridade está relacionada diretamente com a maior
Deterioração Ambiental (Meta 1 = maior deterioração). As
Metas descritas, portanto já estão em ordem de prioridade.
Pode-se observar que são inúmeras as potencialidades
que o município de Cabaceiras oferece solos de boa aptidão,
opções não agrícolas (ecoturismo), artesanatos em couro e
madeira, o processo produtivo baseado na agricultura de
subsistência, fruticultura irrigada, e a pecuária que consiste
basicamente na criação de bovinos, caprinos e ovinos.
Verificaram-se extensas áreas afetadas pelo
desmatamento e consequentemente ocorrência de erosões. O
controle pode ser feito através da intervenção concreta do
poder público, especialmente no que se refere à criação de
programas de educação ambiental nas escolas partindo da fase
infantil, criação de um Órgão MunicipalAmbiental, que possua
no seu quadro, profissionais especializados, desenvolver
projetos de recuperação de áreas degradadas, projetos de
florestamentos, arborização, planejamento físico rural e áreas
de reservas florestais. Tais projetos possibilitarão a uma maior
conscientização da população, diminuindo as ações antrópicas
principalmente no que se refere ao desmatamento e as
queimadas.
É fundamental que todas as ações, factíveis de serem
implantadas, tenham enfoque no manejo integrado de
microbacias hidrográficas, com conteúdos que contemplem a
organização da produção e comercialização, o aporte de
tecnologias apropriadas ao ecossistema, a exemplo de
barragens subterrâneas, florestamento de coroas, encostas e
matas ciliares, aporte financeiro para projetos de produção
permanente e intensiva ligada a fruticultura, horticultura e
pecuária de forma a viabilizar uma maior apropriação da renda
pelas famílias produtoras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os objetivos propostos no trabalho foram possíveis de
serem alcançados a partir da metodologia desenvolvida.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
LEVANTAMENTO DOS TIPOS DE TRATAMENTOS DE DEJETOS
SUÍNOS NOS CRIATÓRIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE,
PERNAMBUCO, BRASIL, VISANDO À PRESERVAÇÃO DO MEIO
1
AMBIENTE
Izaura Maria Barros de Lorena2; Elizabete Cristina da Silva;3 Wilson Moreira Dutra Junior4
Clenilson Marquezin5; Mabel de Souza Lima5
1-Projeto Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq)
2-Graduanda de Zootecnia-UFRPE, Recife-PE. E-mail: [email protected]
3-Graduanda de Zootecnia-UFRPE, Recife-PE. E-mail: [email protected]
4-Pofessor do Departamento de Zootecnia- UFRPE, Recife-PE. E-mail: [email protected]
5-Zootecnistas pela UFRPE, Recife-PE. E-mail: [email protected]
Introdução
A suinocultura é uma atividade de fundamental
importância para geração de empregos e renda no Brasil. A
atividade é principalmente praticada nos pequenos criatórios
brasileiros, tornando-se agravante pela falta de instalações para
o destino dos dejetos. Apesar da falta de infra-estrutura nestes
pequenos criatórios, a preocupação maior é com a criação
industrial pelo alto número de animais criados em sistema
intensivo, e sem soluções para o tratamento dos dejetos,
poluindo em grande escala os mananciais de água no Brasil,
afetando a qualidade de água para o consumo humano.
Diversas entidades têm se preocupado com a
recuperação do meio ambiente e, estão buscando alternativas
para preservação dos recursos naturais. Porém, para criação de
medidas de controle da poluição ambiental ocasionado pelos
dejetos suínos, é necessário ter um conhecimento das
precauções adotadas por cada produtor de acordo com sua
realidade, pois se sabe que, a suinocultura é reconhecida,
principalmente, pela sua capacidade de produção apesar do
baixo nível de tecnologia, concluindo que apesar do produtor
adotar práticas inadequadas, isto deve-se muitas vezes a falta
de conhecimentos técnicos.
A Embrapa Suínos e Aves pensando na preservação do
meio ambiente, já desenvolveu vários projetos que buscam a
melhoria do meio ambiente como o biodigestor, que além de
permitir uma estabilização biológica do dejeto com
possibilidade para sua utilização posterior como
biofertilizante, ainda gera gás que pode ser usado na
propriedade rural em sistema de aquecimento e geração de
energia.
Este trabalho teve como objetivo avaliar a problemática
do destino dos dejetos suínos enfrentados pelos produtores da
Região Metropolitana do Recife- PE, e com isso, capacitá-los
através de palestras e mini-cursos à utilizarem de forma
racional esses dejetos sem prejudicar o meio ambiente.
Material e Métodos
O trabalho foi realizado durante o período de setembro
2004 a abril 2005, na região Metropolitana do Recife, no estado
de Pernambuco, através de visitas in loco por professores e
alunos do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal
Rural de Pernambuco, objetivando avaliar a forma como os
criadores de suínos aproveitam os dejetos suínos em suas
propriedades. Essa avaliação contemplou as seguintes
questões: localizar os criatórios de suínos da região, a área
disponível do produtor, o número de animais da propriedade, o
ciclo de vida dos suínos nas propriedades, se foram vistoriadas
por algum órgão público, se há tratamento dos dejetos
produzidos pelos animais, e qual destino destes, bem como, a
forma de utilização dos mesmos pelos produtores.
Foram visitadas 44 propriedades urbanas e rurais que
tinham como atividade a suinocultura. Os dados foram obtidos
por meio de um questionário previamente elaborado de forma a
dinamizar o trabalho e facilitar a análise dos resultados.
Para conscientização dos produtores foi ministrado um
dia de campo na área rural do município de Paulista, Mata do
Ronca. O curso foi realizado na Associação de Micro e
Pequenos Produtores da Mata do Ronca, o critério adotado para
escolha do local foi pelo maior déficit de manejo dos dejetos e
carência de infra-estrutura.
O curso foi divido em duas etapas, uma teórica,
abordando os temas: Manejo Alimentar e Instalações para
Suínos; Endo e Ectoparasitas que acometem os Suínos e
Dejetos Suínos: Aproveitamento na Forma de Compostagem.
E uma prática de como fazer compostagem aproveitando os
dejetos e outros resíduos orgânicos, a qual, foi realizada numa
propriedade piloto.
Resultados e Discussão
Das propriedades visitadas 65,9% estavam na área
urbana e 34,1% na área rural, onde observou-se que 59% das
propriedades urbanas têm área menor que 1 hectare com média
de 18 animais por propriedade. As propriedades com 1 a 10
hectares constituem 36,4%, sendo 6,9% localizadas no núcleo
urbano e 29,5% no núcleo rural e a média dos animais para
essas propriedades foi de 74 cabeças. Nas propriedades com
mais de 10 hectares a média foi de 3.113 animais que
constituem apenas 4,6% das propriedades e estão localizadas
no núcleo rural da região. O ciclo de vida dos suínos nas
criações varia, como mostra a Tabela 1.
Observou-se que, apenas 22,7% das propriedades já
foram vistoriadas por algum órgão público (vigilância
sanitária, secretaria do meio ambiente e Companhia de
47
Proteção dos Recursos Hídricos), mas apenas 2,3% fazem
tratamentos dos dejetos e criam em áreas apropriadas, enquanto
as demais, têm seus dejetos lançados em canais ou até mesmo a
céu - aberto, e suas áreas são impróprias para criação devido a
sua localização.
Quanto ao destino dos dejetos, 9,1% dos produtores
fazem algum tipo de tratamento. E do total dos produtores
13,6% utilizam os dejetos em lavouras, 2,3% para alimentar
animais e 2,3% para lançamento no solo, observando-se com
isso, que os produtores estão usando os dejetos
inadequadamente uma vez que a quantidade de propriedades
que tratam os dejetos é muito pequena. De acordo com a Tabela
2 os dejetos suínos de 61,5% das propriedades são lançados
dentro da propriedade a céu – aberto, e apenas 4,5% têm seus
dejetos coletados pelos serviços de Limpeza Urbana (coleta de
lixo das prefeituras). Segundo SOBESTIANSKY, et al (1998),
a exploração suína é considerada pelos órgãos de fiscalização
ambiental como uma atividade de grande potencial poluidor,
com isso os dados obtidos neste trabalho podem justificar
plenamente esta afirmativa.
Compareceram ao ciclo de palestra apenas 12
produtores, sendo que a comunidade é composta por mais de
200 integrantes, uma das justificativas para isso, é que o
pequeno produtor ainda tem receio da aproximação de
qualquer órgão publico, e como muitos são conscientes de que
criam os animais inadequadamente, principalmente, quando o
assunto em questão são tratamentos de dejetos e sanidade, e
preferem ficar em casa de portas fechadas, temendo uma
punição dos órgãos ambientais, perdendo com isso
oportunidades para melhorar seu sistema de produção. Porém,
nos que se fizeram presentes, observou-se uma grande
participação e preocupação pela forma que os mesmos
conduzem a suinocultura, e alegam que, se tivessem apoio à
atividade, a realidade seria outra, porém a preocupação atual da
grande maioria, é adequar a criação para que não falte os
recursos básicos para o do sustento familiar e a suinocultura é a
principal fonte de renda desses pequenos produtores.
Conclusão
Em função dos problemas causados pelos dejetos
suínos da região Metropolitana do Recife – PE, é desejável a
criação de um programa racional de controle dos dejetos, em
cada propriedade com apoio Oficial, de acordo com as
exigências e características do criador, visando a sua correta
utilização, para evitar problemas ambientais.
O Dia de Campo proporcionou aos produtores
aprendizados para o desenvolvimento de suas atividades
diárias com os suínos, como o desenvolvimento da prática de
compostagem para o aproveitamento dos dejetos, dessa forma,
evitando-se a poluição ambiental e contribuindo para mais uma
atividade que venha ser desenvolvida pelo produtor com seus
próprios recursos.
Os produtores puderam debater e tirar dúvidas sobre o
manejo sanitário e profilático do rebanho, outro problema
agravante na suinocultura de subsistência, e ainda
desmistificou algumas opiniões a respeito do consumo da
carne suína. Também ficaram cientes quanto as melhores
formas de conduzir, o manejo nutricional e tipos de instalações
para os suínos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REDAÇÃO NORDESTE RURAL, Os Suínos. Disponível em:
http://www.nordesterural.com.br.2005. Acesso em: 10 de
set. de 2007.
SOBESTIANSKY, J.; WENTZ, I.; SILVEIRA, P. R. S. DA;
SESTI, L. A. C. Produção, Manejo e Saúde do Rebanho. In:
EMBRAPA/CNPSA, 1998. p.223. (EMBRAPA/CNPSA.
Suinocultura Intensiva).
Tabela 1. Ciclo de vida dos animais em porcentagem, por tamanho das propriedades da Região Metropolitana do Recife-PE.
Ciclo de Vida dos Animais
(%)
Incompleto
Completo
Crescimento
Terminação
Tamanho das Propriedades
<1ha
1-10ha
4,5
25,0
6,8
22,7
2,3
25,0
2,3
6,8
>10ha
Propriedades (%)
2,3
2,3
-
9,1
52,3
9,1
29,5
Tabela 2. Destino dos dejetos dos suínos em porcentagem por tamanho de propriedades da Região Metropolitana do Recife-PE.
Destino dos dejetos %
Tamanho da Propriedade
<1ha
1-10ha
>10ha
Total
Céu aberto
Canal
Fossa
Decantação
Biodigestor
Coleta
31,8
29,5
61,3
22,7
2,3
25
2,3
2,3
2,3
2,3
4,6
2,3
2,3
4,5
4,5
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
48
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL DA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DOS EFLUENTES DE UMA INDÚSTRIA DE
LATICÍNIOS
1
2
LÊDA VERÔNICA BENEVIDES DANTAS SILVA ; BRAZ HENRIQUE NUNES RODRIGUES ;
VERA LÚCIA ANTUNES DE LIMA3; JOELMA SALES DOS SANTOS4
1
Engenheira Agrônoma, Aluna de Pós-Graduação em Irrigação e Drenagem, UAEAg / UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected]
2
Engenheiro Agrícola, Pesquisador da Embrapa Meio Norte, Parnaíba-PI. e-mail: [email protected]
3
Engenheira Agrícola, Profa. Doutora da UAEAg / CTRN / UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected]
4
EngenheiraAgrícola,Aluna de Pós-Graduação em Irrigação e Drenagem, UAEAg / UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Na atualidade, muito se tem falado sobre o tema água.
A pressão sobre o uso da água tende a aumentar e as restrições
com relação ao lançamento de efluentes no corpo receptor
também. A revisão recente da Resolução do CONAMA Nº
357/2005, que estabelece as condições e padrões para o
lançamento de efluentes, e a criação da Lei Federal 9.433 de
1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos,
constituem exemplos da crescente preocupação com a poluição
hídrica (ROCHA, 2006).
As modernas práticas de gerenciamento de recursos
hídricos estão focadas na minimização da carga poluidora e na
redução do consumo de água na linha de processamento,
constituindo, desta forma, um controle preventivo (SILVA,
2006).
As indústrias de laticínios representam um setor
agroindustrial de elevado potencial gerador de resíduos. Os
efluentes líquidos destas indústrias abrangem as águas de
lavagem de equipamentos e piso, os esgotos sanitários gerados,
as águas pluviais captadas na indústria, e o leite e seus
derivados (MACHADO et al, 2001). Segundo Silva (2006), a
geração dos efluentes líquidos nas indústrias de laticínios está
relacionada ao volume de água consumido. Strydom (1997)
relata que o valor da relação entre o volume de efluentes
líquidos gerados e o volume de água consumida pelos laticínios
está situado entre 0,75 e 0,95, justificando a tendência de
muitos projetistas de igualar, por medida de segurança, o
volume de efluentes ao volume de água consumido.
A fim de minimizar os impactos negativos que seriam
causados ao meio ambiente pelo lançamento destes efluentes
não tratados sugere-se a construção de estações de tratamento
dos resíduos, garantindo assim que as indústrias de
laticínios,além de produzir gêneros alimentícios de qualidade e
gerar empregos e renda, o façam sem causar degradação ao
meio ambiente.
No entanto, a construção das estações de tratamento
pode constituir uma atividade impactante negativamente, caso
não sejam tomadas as devidas precauções, neste sentido,
objetivou-se com este trabalho, orientar um empreendedor na
tomada de ações preventivas a fim de minimizar os impactos
negativos causados ao meio ambiente pela construção de uma
estação de tratamento, cumprindo, portanto a Lei Nº. 6.938 de
27 de abril de 1981.
O Plano de Controle Ambiental foi elaborado afim de
atender às determinações da Política Estadual de Meio
Ambiente gerenciada pela Secretaria do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos – SEMAR, órgão do Governo Estadual do
Piauí responsável pelo licenciamento e fiscalização das
atividades efetivas e potencialmente poluidoras e de
degradação do Estado.
A execução do PCA abrangeu os seguintes itens:
Diagnóstico Ambiental; Descrição e Análise dos Impactos;
Proposição de Medidas Mitigadoras e Monitoramento.
O Diagnóstico Ambiental compreendeu a
identificação, justificativa e descritivo técnico do
empreendimento que se propõe instalar; bem como a
caracterização da área de influência - direta e indireta – através
da consulta de dados disponíveis na literatura sobre o meio
físico (inserção geográfica, geologia, solos, relevo, clima,
hidrografia), biológico (vegetação e fauna), e antrópico (uso e
ocupação do solo, demografia e aspectos socioeconômicos) da
região.
O Estudo dos Impactos envolveu a identificação,
descrição e análise dos impactos ambientais positivos e
negativos decorrentes da implantação e operação do
empreendimento.
Uma vez conhecidos e caracterizados os impactos,
foram propostas medidas ambientais mitigadoras e o
monitoramento a serem adotados nas fases de implantação,
operação e manutenção do empreendimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
DiagnósticoAmbiental
O empreendimento em questão trata-se de um sistema
para tratamento dos efluentes gerados pela Indústria de
Pasteurização de Leite, sendo a área de influencia para efeito
dos impactos considerada da seguinte forma: Área de
Influência Direta – local onde efetivamente será implantado o
empreendimento; Área de Influência Indireta – área da cidade
de Parnaíba, em razão desta receber os benefícios ou
adversidades oriundas da obra.
49
A área de implantação do empreendimento possui
característica semi-urbana, com alto grau de degradação em
local onde anteriormente existia uma plantação de capim para
alimentação de gado Vacum.
O rio Igaraçu foi adotado como corpo receptor final
do efluente advindo do sistema de tratamento. Este rio se
desmembra do rio Parnaíba e tem extensão de 50 km com
declividade média de 1,5 m/km. Sua bacia tem uma área de 890
km2, vazão média de 120 m3/s. Na área de lançamento do
efluente não haverá alteração do meio ambiente, pois o resíduo
estará devidamente tratado e, portanto, não possuirá elementos
tóxicos que possam desequilibrar o ecossistema. Entretanto, a
área circunvizinha à do empreendimento apresenta variedade
de formas de vida aquática, formada por peixes e algas.
Tem sido registrada na cidade de Parnaíba grande
incidência de doenças parasitárias e de veiculação hídrica. Isto
se deve principalmente à inexistência de esgotamento sanitário
nas regiões de difícil taxa de infiltração, as quais
inviabilizariam a utilização de fossas sépticas ou outro tipo
similar. A população residente nestas áreas se vê obrigada a
jogar os excedentes de esgotos em locais indevidos,
provocando riscos de doença para toda a comunidade.
Diante do disposto acima, pode se afirmar que a
iniciativa do Laticínio de dotar a Indústria de um sistema de
tratamento de esgotos sanitários implicará em impacto positivo
que trará benefícios não só para os empregados, mas também
para a comunidade.
Estudo de Impactos Ambientais
Os Impactos Ambientais advindos da instalação do
empreendimento foram divididos em três categorias (quadros
1,2 e 3), de acordo com o meio afetado.
Medidas Mitigadoras
Foram sugeridas diversas medidas mitigadoras e do
monitoramento a serem adotadas a fim de viabilizar a
construção do empreendimento dentre as quais podemos
destacar as seguintes: dotar os veículos transportadores de
materiais de lonas de proteção da carga, evitando o
desgarramento da matéria e poeira; determinar a jornada de
trabalho dentro do horário comercial local, evitando assim
incômodos e poluição sonora dentro do horário de repouso da
comunidade; efetuar controle constante do nível da água na
caixa de gordura da estação de tratamento afim de evitar a
proliferação de insetos; controle severo e minucioso dos
aspectos construtivos em todas as fases de execução da obra;
adoção de operações de limpeza periódica do empreendimento
objetivando, além da manutenção do bom funcionamento da
estação de tratamento, a garantia do bem estar da população e
do meio ambiente que a circundam.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981 - Dispõe sobre
a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 31
a g o .
1 9 8 1 .
D i s p o n í v e l
e m :
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm>. Acesso
em: 15 set. 2007.
___. Lei 9.433 de 08 de Janeiro de 1997 - Institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos, Cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, Regulamenta o Inciso XIX do
Art.21 da Constituição Federal, e altera o Art.1º da Lei Nº 8.001/1990,
que Modificou a Lei Nº 7.990/1989. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 06 jul. 1997.
D i s p o n í v e l
e m :
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm>. Acesso
em:20 abr. 2007
___. Resolução CONAMA 357 de 17 de Março de 2005.
"Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras
providências.” Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
B r a s í l i a , D F, 1 8 m a r. 2 0 0 5 . D i s p o n í v e l e m
<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf>
Acesso em 20 de abr. 2007.
MACHADO, R. M. G.; SILVA, P. C.; FREIRE, V. H.
Controle ambiental em indústrias de laticínios. BRASIL
ALIMENTOS – nº 7 – Março/Abril de 2001. Disponível em:
<http://www.brasilalimentos.com.br/BA/pdf/~>. Acesso em: 15 set.
2007.
ROCHA, S. D. F. Tratamento de Efluentes Líquidos
Industriais. Informativo do Conselho Regional de Química de Minas
Gerais. Belo Horizonte, 2006.
SILVA, D. J. P. Diagnóstico do Consumo de Água e da
Geração de Efluentes em uma Indústria de Laticínios e
Desenvolvimento de um Sistema Multimídia de Apoio. Viçosa,
Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de
Viçosa, 72p.,2006. (Dissertação de Mestrado).
STRYDOM, J. P. Two-phase anaerobic digestion of three
different dairy effluents using a hybrid bioreactor. Water AS, v.23,
n.2, p.151-155. 1997.
QUADROS:
1. No meio biológico
Impactos Negativos
Redução da área de vegetação natural devido aos desmatamentos para execução da obra.
Possibilidade de proliferação de insetos devido ao material do efluente.
2. No meio físico
Impactos Positivos
Melhoria sanitária do solo urbano, uma vez
que os esgotos não mais serão lançados como vem
ocorrendo
Despoluição do lençol freático uma vez que
os esgotos não mais serão lançados em fossas sépticas
Despoluição dos riachos e águas dentro do
perímetro urbano em razão de não mais receberem
esgotos brutos
obras
Transporte de materiais de con strução das
obras durante a execução
Poluição do ar, em razão da operação das
máquinas e transporte na fase de execução das obras
Possibilidade de acidente
Modificação da paisagem em razão da
construção da obra
Quebra de sossego em razão dos ruídos dos
equipamentos durante a execução da obra.
CONCLUSÕES
A implantação do empreendimento é benéfica, pois
proporcionará à comunidade resultados positivos naqueles
aspectos relacionados à qualidade de vida.
Os impactos sobre o meio físico e biológico serão
insignificantes , haja vista que o efluente não trará qualquer
alteração ao meio ambiente.
Sugere-se que o empreendedor sempre conserve
limpos os elementos de tratamento.
Sugere-se que periodicamente sejam realizadas, pelo
órgão competente, visitas ao empreendimento a fim de detectar
falhas ou anormalidades no tratamento do efluente.
Impactos Negativos
Desmatamento da área de implantação das
3.No meio antrópico
Impactos Positivos
Melhoria do poder aquisitivo local com o
surgimento de empregos durante a fase de construção
das obras e de sua produção.
Melhoria do faturamento do comércio local
em razão de maior oferta de empregos e aquisição de
materiais para as obras, e o produto industrializado.
Melhoria das condições sanitárias das áreas
de lazer.
Eliminação de despesas com manutenção e
construções de fossas.
Aumento de serviços formais e informais.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
Impactos Negativos
Aumento das despesas de serviços pela
inclusão dos serviços de esgotos sanitários, que não
existiam no tipo de tratamento atual.
Expectativa desconfortável da população por
temer emissão de gases fétidos para a atmosfera.
50
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
POLICULTURA NO SEMI-ÁRIDO: UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
SUSTENTÁVEL
1
2
3
Leirson Dantas Bispo , Marcelo Ribeiro , Júlio César Santana Vieira
1
2
Eng. Agrônomo, ADRA– Salvador,BA. [email protected]
Eng. Agrônomo, ADRA– Salvador,BA. [email protected]
3
Técnico Agropecuário, ADRA – Salvador, BA. [email protected]
INTRODUÇÃO
E
De acordo com a Associação...(2005), a Caatinga é o
terceiro bioma mais degradado do Brasil, sendo o primeiro a
mata atlântica e o segundo o cerrado. A caatinga hoje em dia,
encontra-se em estado muito devastado, tendo reduzido
drasticamente sua biodiversidade, em comparação com a
vegetação intacta. Segundo MAIA (2004) isto é o resultado de
um conjunto de ações prejudiciais praticadas pela população
que não estava consciente de seus efeitos em longo prazo, já
que a natureza vigorosa parecia recuperar qualquer dano.
Em face de uma deficiência metodológica de
educação ambiental e às agruras do clima, que resultam em
cíclicas estiagens, o desempenho do frágil modelo agrícola é
severamente prejudicado, fato que impõe graves restrições à
sobrevivência e determina os piores resultados no Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e Índice de
Desenvolvimento Econômico (IDE), do Estado. Assim, a
produção agrícola só poderá ser mantida em longo prazo, se a
terra, a água e as florestas, que constituem a sua base, não
sofrerem degradação (CMMAD, 1991 apud Tavares et al
2005).
No período agrícola 2003- 2004 foi iniciado pela
ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos
Assistenciais), com recursos próprios, o Projeto de Policultura
no Semi-árido, com ênfase na educação agrária voltada para
alternativas de práticas agrícolas defasadas.
A Policultura no Semi-árido é em parte uma imitação
do ecossistema local natural do sertão. Através de ações como
buscar evitar a monocultura, produtos químicos e provisão de
alimentação humana e animal através de plantas propícias para
isto, evitando a degradação do solo que assola o sertão,
destruição das plantas e melhorando a fertilidade do solo.
Como o principio é baseado em sistemas de plantio mais densos
do que a monocultura, mais CO2 será retirado da atmosfera e
processado nas plantas e conseqüentemente auxiliará na
retirada deste gás da atmosfera, minimizando do efeito estufa.
O objetivo de este trabalho foi reunir informações a
fim de educar sustentavelmente os agricultores familiares e
informar a importância e a potencialidade para o
desenvolvimento social, econômico e ambiental no semi-árido,
permitindo segurança alimentar, preservação ambiental,
fixação do homem no campo, incremento da renda familiar e da
qualidade de vida.
Jesus da Lapa e Sitio do Mato.
O município de Uauá possui uma área de 2.951.km²,
estando localizado na bacia do rio Vaza Barris, Microrregião
homogênea de Euclides da Cunha, ao norte do estado, distando
416 km de Salvador e tendo como limites os municípios de
Canudos, Curaçá, Monte Santo, Chorrochó, Jaguarari e
Andorinha (PEIXOTO, 2001).
A temperatura é elevada, com média anual de 24º C,
sendo que o mês de janeiro é o mais quente, com média das
máximas de 31º C. Como a precipitação é baixa, o déficit
hídrico ao longo do ano é bastante acentuado, da ordem de
830mm (PEIXOTO, 2001).
A metodologia aplicada ocorreu nas seguintes
atividades desenvolvidas: Caracterização do diagnóstico
sócio-econômico das comunidades; identificação das
lideranças; construção da identidade grupal de cada
comunidade; desenvolvimento dos conceitos-chave da
policultura; implantação e manejo dos campos de policultura
de 1.000 m2 em propriedades distintas, orientação nos campos
implantados com a distribuição de sementes, assistência
técnica e, principalmente, educação dos agricultores.
O tamanho dos campos foi de 1.000 m2 porque uma
área pequena já é suficiente para que os agricultores assimilem
e compreendam a tecnologia. O agricultor também tem mais
segurança ao utilizar apenas uma área pequena, não
comprometendo toda sua propriedade com um experimento,
além de poder continuar se dedicando normalmente às suas
atividades, possibilitando assim que mais agricultores queiram
experimentar. Também existe a vantagem de que uma área
pequena pode ser comparada com outras na mesma
propriedade.
As responsabilidades para a implementação e a gestão
após o fim do projeto serão transferidos para a comunidade
através do uso de multiplicadores, que são agricultores
capacitados através da educação ambiental.
As culturas utilizadas foram às espécies anuais como
o milho, o feijão, o sorgo, o guandu, a fava, o algodão, a
melancia comum, a melancia de cavalo e o girassol. As
forrageiras perenes: Maringá, sabiá, gliricídia, neem e a palma.
Dentre as espécies nativas, envolve a umburana de cheio, o
mandacaru, a umburana de cambão, o licurí, e a maniçoba. E as
espécies frutíferas como a pinha, o cajueiro, a mangueira, o
umbuzeiro e o mamoeiro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
METODOLOGIA
O presente trabalho está sendo conduzido em quatro
municípios da Bahia, sendo Uauá, Riacho de Santana, Bom
Os dados foram coletados por amostragem no
município de Uauá, selecionando-se 20 agricultores
aleatoriamente do grupo de 150 famílias que compõem o
51
projeto na Regional São Paulinho.
As espécies perenes como: Gliricídia, Sabiá, Moringa
e Neem foram introduzidas através de Projeto de Policultura
passando a ser cultivadas por 75%, 40%, 75% e 35% dos
agricultores, respectivamente. A Palma, apesar de ser cultivada
pelos agricultores, haja vista a forte inclinação pecuária do
município, houve um aumento de 40% no número de
produtores que passaram a cultivar a palma. Este dado pode
estar associado ao cultivo da palma dentro do sistema
agroflorestal sucessional. O grau de aceitação dos agricultores
em relação a estas espécies está associado diretamente ao alto
potencial forrageiro apresentado por estas.
Através de dados obtidos em relação às culturas
anuais, observou-se que houve um aumento significativo em
dois anos do projeto com a introdução dessas novas culturas,
com uma percentagem média de 90%. Aumentou em 25% o
número de agricultores que passou a cultivar o algodão, sendo
este cultivado com objetivo forrageiro. O número de
agricultores que passou a cultivar a melancia comum e a
melancia de cavalo aumentou de 50% e 65%, respectivamente.
Os Sistemas Agroflorestais sucessionais
desenvolvidos podem variar em diversidade, formando
consórcios complexos. O grau de diversidade de cultivo não
provoca competição entre as espécies, uma vez que cada
espécie tem uma função específica dentro do sistema. O
aumento na diversidade não provocou redução na
produtividade das culturas tradicionais como o milho e o feijão.
De acordo com os dados sobre as espécies nativas,
verificou-se que espécies como Umburana de Cheiro e
Maniçoba não eram cultivadas pelos agricultores, passando a
ser cultivadas por 70% e 25% dos agricultores após a
implantação do projeto, respectivamente. Para culturas como
Mandacaru, Umburana de Cambão e Licurí observou-se um
aumento de 25%, 30% e 20% no número de agricultores que
passou a cultivá-las. A introdução das espécies nativas tem
como essência promover o equilíbrio ecológico no sistema. O
crescimento da conscientização dos agricultores de Uauá em
relação conservação do ecossistema local está refletido no
percentual deste grupo que passou a cultivar espécies nativas.
Em relação às espécies frutíferas, conclui-se que
houve um aumento médio de 55% de agricultores que passaram
a cultivá-las. Este aumento no percentual de agricultores que
passaram a cultivar fruteira pode ser explicado pelo fato do
sistema agroflorestal sucessional favorecer a cultivos destas
espécies sem prejuízo das demais culturas.
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2005. 1CD-ROM.
CONCLUSÕES
A educação ambiental desenvolvida pelo projeto
possibilitou um aumento da biodiversidade, consorciando
culturas de subsistência, espécies nativas forrageiras e
frutíferas.
Em situação atual percebe-se uma melhor qualidade
de vida dos agricultores, juntamente com uma segurança
alimentar, preservação ambiental e aumento de renda.
Conclui-se, também, que o projeto vem trazendo
resultados positivos para as regiões do semi-árido envolvidas e
que é necessário ampliar o mesmo para outras regiões,
priorizando àquelas com menores Índices de Desenvolvimento
Humano (IDH) e Índice de Desenvolvimento Econômico
(IDE).
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
O Turismo e Desenvolvimento Sustentável nos Assentamentos
da Reforma Agrária do Cariri paraibano
Luciana Ramos Cantalice (UFCG) [email protected], Maria de Fátima Martins (UFPB) [email protected]
Gesinaldo Ataíde Cândido (UFCG) [email protected]
Introdução
O turismo vem sendo desenvolvido principalmente em
áreas verdes, pois as pessoas para “fugir” do cotidiano dos
grandes centros urbanos procuram lugares que sejam
tranqüilos e que permitam contato com a natureza. Com essa
demanda, o turismo rural é uma das modalidades que vem
crescendo, pois permite ao visitante vivenciar um pouco o diadia no campo, a harmonia entre a flora e fauna, participando das
atividades realizadas naturalmente pelos camponeses. Ao
mesmo tempo, surge como uma alternativa de renda para os
proprietários rurais, agricultores familiares e camponeses,
diversificando as atividades que já realizam e fomentando a
chamada “pluriatividade”. Como ressalta um importante
estudioso do meio rural, “as atividades não agrícolas cada vez
mais constituem formas alternativas e/ou complementares de
geração de renda dos produtores rurais no meio rural”
(Campanhola, 1999).
Nesse sentido, o turismo rural tem se constituído num
mecanismo eficaz para a manutenção das famílias no campo,
pois articulada às atividades agrícolas, gera um significativo
retorno econômico, além de fomentar a valorização da cultura
camponesa e os ensinamentos da vida no campo. No meio rural
brasileiro, segundo Campanhola & Graziano da Silva (1999), a
principal modalidade de turismo rural é o agro turismo, que
consiste em atividades internas à propriedade, que geram
ocupações complementares às atividades agrícolas.
No Cariri paraibano existem atrativos naturais e
culturais que despertam interesses suficientes capazes de
transformá-lo em um núcleo turístico. O turismo rural,
juntamente com outras atividades não agrícolas, como o
artesanato e a gastronomia desenvolvidos pelas famílias rurais,
têm sido de grande relevância como retorno econômico em
curto prazo. A produção cultural como uma das atividades que
deveriam ser desenvolvidas em vista da valorização das
potencialidades próprias da região e dos camponeses e em
favor do levante da auto-estima, desenvolvimento do capital
sócio-cultural e da geração de emprego e renda.
A relativa queda nas modalidades do turismo
convencional e, principalmente aquele turismo baseado na
exploração de sol e praia, por um lado, e por outro, as riquezas e
potencialidades do Cariri, têm contribuído de maneira
expressiva para o aparecimento de novas modalidades de
turismo. E ao mesmo tempo, a crise da produção agrícola
familiar também é fator relevante para a busca de novas
alternativas de sustentabilidade para as famílias rurais. Dentre
as modalidades de turismo que apresenta potencial a partir de
um plano de desenvolvimento sustentável do Cariri paraibano é
possível citar: o agro turismo, o turismo rural, o eco-turismo, o
arborismo, o turismo de aventura, o turismo científico, o
turismo cultural.
O presente artigo apresenta uma proposta de turismo
rural nos Assentamentos Rurais, a partir da identificação do
potencial turístico, das vantagens e dos benefícios dos
investimentos no fortalecimento da atividade turística;
evidenciando a relevância do turismo e sua contribuição para a
geração do desenvolvimento sustentável.
O Turismo como promoção do Desenvolvimento
Sustentável
A atividade turística a partir da década de 70 passou a se
preocupar mais com o meio ambiente e a maneira de como se
pode explorar o turismo, de forma sustentável, que respeitem o
potencial natural da localidade a ser desenvolvida
turisticamente e a sua comunidade. Foi quando o termo
“turismo verde” ou “turismo sustentável” começaram a ficar
em evidência.
No contexto das políticas públicas voltadas para o
desenvolvimento sustentável das populações rurais no Brasil,
em particular aos agricultores familiar e camponês a atividade
turística surge como uma importante atividade econômica.
Com efeito, sob a perspectiva da pluriatividade, um dos
segmentos estratégicos é a atividade do turismo rural, que,
atrelada às atividades agrícolas e as demais realizadas pelo
camponês, potencializa a geração de emprego e renda no
campo principalmente nos países em desenvolvimento.
Enquanto empreendimento, o turismo rural necessita
de estruturação e adequação para a recepção dos turistas, sendo
um investimento capaz de tornar as propriedades em empresas
turísticas. De fato os recursos turísticos rurais devem ser
preparados para o turismo de maneira planejada, integrada e
consciente do uso dos recursos naturais e culturais diferenciais
turísticos, além dos aspectos históricos que fundamentaram a
tradição familiar no desenvolvimento de atividades rurais
(Balderramas, 2000).
O planejamento sob uma metodologia científica é
fundamental para o desenvolvimento sustentável da atividade
turística, vindo a gerar emprego, renda e preservação do meio
ambiente com a participação efetiva da comunidade residente,
no entanto é necessário encontrar o equilíbrio entre os
interesses econômicos e a preservação do meio ambiente. De
acordo com Ruschmann (1997), outras formas de turismo estão
sendo propostas nos países desenvolvidos que é o turismo
“brando”, e recebem as denominações de
“alternativo”,“ecológico” e “responsável”.
É de grande relevância observar que a exploração do
turismo rural deve ter sempre o caráter de complementaridade.
A atividade agrícola realizada nas propriedades não deve ser
abandonada, além de ser mais um atrativo para o turista que
pode participar ativamente do trabalho na agricultura e ficar
sabendo que os alimentos consumidos nas refeições, provêem
53
do estabelecimento visitado, é ainda mais estimulante. E
também é fundamental esclarecer sobre a sazonalidade que
pode existir na atividade turística. Não podendo ser o turismo
rural, atividade exclusiva dos pequenos proprietários.
Outro fator importante, que deve ser abordado, são os
efeitos negativos e indesejáveis que podem surgir com o
turismo. Para Schneider e Fialho (2000), a descaracterização da
cultura local, devido a modificação nos padrões de
sociabilidade tradicionais, decorrentes da intensificação das
relações mercantis e, sobretudo, pela ampliação dos horizontes
socioculturais dos mais jovens, que muitas vezes negam as
práticas culturais familiares. Outras características são o
surgimento e o aumento da violência e do uso de drogas, típico
de situações sociais de intensificação das relações humanas, e
um fato que ocorre com maior freqüência, é o aumento do custo
de vida das populações residentes. No entanto, esses impactos
podem ser contornados pela população e pelo poder público
através de intervenções conscientes e planejadas, devendo, ser
recolhidas como indicação de cautela e não de desestímulo.
Com as devidas precauções quanto os efeitos
maléficos do turismo, o turismo rural constitui se numa
estratégia capaz de gerar o desenvolvimento local, com várias
possibilidades de aplicação, em especial em assentamentos
rurais, dada as suas dificuldades econômicas e sociais e o seu
potencial em termos de prática do turismo rural. Para
Bergamasco e Norder (1996), os assentamentos são
considerados espaços onde os problemas sociais poderão ser
encaminhados de forma sustentável e permanente, base para o
modelo de desenvolvimento rural socialmente eqüitativo, sem
estar completamente vinculado às exigências comerciais
impostas às “empresas rurais”.
Procedimentos Metodológicos
O presente artigo caracteriza-se como relato de uma
pesquisa qualitativa, conduzida sob a forma de um estudo de
caso, que buscou analisar com maior profundidade a descrição
da realidade de uma localidade rural para fins de intervir de
maneira responsável com a inserção do turismo sustentável.
Foi utilizada como técnica a pesquisa-ação, a qual pontua que
toda investigação deve ser pautada pela busca de soluções
efetivas para problemas reais. (Caniello & Tonneau, 2006).
Sendo assim, o trabalho foi realizado fundamentalmente no
sentido de consolidar os processos coletivos para garantir o
desenvolvimento sustentável do Cariri paraibano.
Para sua elaboração, foram realizadas pesquisas de
campo e em acervos bibliográficos no Cariri paraibano, que se
originou a partir de demandas antes discutidas com os alunos da
Universidade Camponesa (UniCampo) nos anos de 2003 e
2004. E também com entrevistas e diálogos realizados com os
assentados da reforma agrária do Cariri, nos quais foram
observados aspectos importantes como: situação atual dos
assentados; percepção da evolução; propriedade e as
instalações; a produção; os planos futuros; o manejo dos
recursos naturais e a percepção sobre os mecanismos de
degradação das terras. Também foram analisados os pontos
fortes e fracos dos assentamentos na perspectiva do
desenvolvimento do turismo.
A construção do projeto produtivo em turismo
sustentável foi iniciada tomando-se em consideração os
resultados das pesquisas e oficinas realizadas, desde 2003, nos
cursos promovidos pela UniCampo. Nestas pesquisas foi feito
um diagnóstico do potencial turístico da região estudada, o qual
serviu de base para a elaboração de um acervo de imagens e
fotografias com a finalidade de dar continuidade à pesquisa de
maneira intervencionista para melhorar a realidade dos
camponeses dessa região (Lima & Cantalice, 2005).
Objetivou-se, com esse procedimento, inserir o
turismo no contexto econômico como solução em curto prazo
da permanência do homem do campo no meio rural e da
valorização das tradições das atividades agrícolas, e as demais
praticadas pelos camponeses, e principalmente como uma
maneira de preservação do meio ambiente natural. O processo
de implementação e monitoramento desse projeto foi realizado
com a participação efetiva da comunidade, pois se acredita que
para haver um desenvolvimento sustentável a população
residente deve estar envolvida nesse processo. E nesse caso,
desde a construção do projeto houve a participação efetiva da
comunidade, através dos alunos da UniCampo, que são
camponeses residentes de vários municípios do Cariri e muitos
deles são assentados da reforma agrária.
A responsabilização de cada uma das pessoas que
querem o sucesso da atividade, bem como de outros parceiros
institucionais potenciais, que estão no momento num processo
de sensibilização e envolvimento com os destinos do projeto,
como: Prefeitura Municipal de Camalaú (Secretaria de Saúde,
Secretaria de Cultura), Secretaria Municipal de Cultura de
Sumé, Fazenda Juá, Associação dos Alunos da UniCampo,
Associação do Assentamento Novo Mundo, Associação dos
Pescadores de Camalaú.
Resultados
Projeto Turístico
Na região do Cariri, foi identificada a oportunidade da
exploração de várias modalidades de turismo; lazer, aventura e
também de pesquisa, pela existência de vários sítios com
inscrições rupestres e da própria história do Cariri. Nos
assentamentos rurais, na maioria das fazendas desapropriadas
para a reforma agrária, existe uma casa grande na fazenda que
geralmente é de uso coletivo dos assentados - sede do
assentamento, na qual são realizadas reuniões, festas etc. E
identificou-se no assentamento Novo Mundo, no município de
Camalaú, a possibilidade da adaptação da casa grande, para
uma pousada, para hospedagem dos turistas, além de ser ampla
e bem localizada, ao lado existe um açude apropriado para
banho, pesca e outras atividades aquáticas, como canoagem,
caiaque etc.
Quanto à hospedagem, a casa sede do assentamento tem
condições de hospedar até 20 pessoas confortavelmente e
também de servir alimentação, com alguns dos alimentos
colhidos do próprio assentamento.O local apresenta muitas
oportunidades para o desenvolvimento de outras atividades não
agrícolas e que venha gerar renda na produção familiar. O
interesse tanto nacional quanto internacional por estas
modalidades de lazer é crescente e vem se posicionando melhor
àquelas atividades que privilegiam a natureza, as expressões da
cultura local, as ações coletivas e o comércio justo.
Um fator relevante, é que os assentados do Novo
Mundo já trabalham de maneira coletiva em outros projetos
dentro do assentamento. Tendo formado associação para tomar
decisões coletivas, facilitando assim a implantação desse
projeto de turismo dentro do assentamento, com divisões de
trabalho, de renda e com a responsabilidade de todos para
viabilizar da melhor maneira essa atividade no assentamento.
O novo Cariri apresenta alguns pontos fortes:
Atrativos: Sítios rupestres; Serras com trilhas para caminhadas;
Açudes para banho; pesca; canoagem; caiaque; pedalinho;
Cavalgada; Passeio de carroça; Caminhada “conhecendo o
assentamento”; Participação das atividades do campo, plantio,
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colheita, ordenhamento de vacas e cabras etc.; Culinária;
Proximidade de lugares turisticamente desenvolvidos;
Participação de um possível “Circuito turístico do Cariri”;
Associação do Assentamento Novo Mundo; Casa sede ampla,
servindo de hospedagem; Boas cozinheiras no assentamento;
Assentados preocupados com o meio ambiente; Grande
interesse do gestor municipal em desenvolver a atividade
turística na região. Dessa forma, oferece um pacote
diferenciado, este pode ser um fator também favorável, pois
muitas pessoas procuram lugares exóticos e que sejam pouco
visitados, fugindo um pouco do turismo convencional.
Diante dos pontos ressaltados acima, nota-se que
existem muitos elementos favoráveis para o desenvolvimento
da atividade turística no Assentamento Novo Mundo, em
Camalaú, sendo possível reverter o quadro desfavorável,
principalmente por intermédio da mobilização dos assentados
em torno do projeto turístico e de sua ação coletiva junto ao
governo municipal.
Demanda Turística para o Cariri
De acordo com as potencialidades da região foi definido
um “pacote turístico”, iniciando assim, um processo de
construção de turismo sustentável e desenvolvimento para a
região o Cariri paraibano, considerando o turismo como
“produto”. Com base nas necessidades dos turistas se dá a
construção de um “pacote turístico personalizado” como um
elemento diferenciador das propostas convencionais
praticadas no mundo do mercado turístico. A construção desse
pacote foi possível a partir da participação de todas as pessoas
da comunidade e potenciais turistas, tendo a preocupação
valorizarem a cultura local, qualidade e quantidade de
atrativos, bem como, adequar uma proposta de turismo
sustentável com grande potencial para atrair o turista.
O pacote turístico apresenta as opções de hospedagem para
os turistas; condições de alojamento - casa sede do
assentamento Novo Mundo em Camalaú'; atividades de lazer
no entorno do município (caminhada ecológica, pescaria, etc.);
as opções de cardápio das refeições, tendo como prioridade
utilizar a produção local de alimentos. Além disso, houve a
preocupação em minimizar os custos, valorizar a localidade e
seus atrativos turísticos, e também avaliar os benefícios
financeiros e os impactos ambientais desse projeto. Foi
organizada a logística do 'Pacote turístico', como a contratação
do pessoal de apoio (cozinheira, arrumadeira e ajudante),
ajustes na casa sede, onde funcionou a hospedagem dos
turistas. Com também a decoração, painel de fotografias com
exposição da flora, fauna e outros atrativos, a confecção de
camisetas com pinturas rupestres e temas do Cariri para vender
em feiras e outros eventos dentro do contexto do projeto. A
capacitação e treinamento de pessoas da localidade através de
oficinas de expressão oral e escrita, de gerenciamento e
administração de projetos, contabilidade, oficina de produção
visual com técnicas de fotografia e vídeo resultado em equipes
de gestão por atividade para atuar no projeto turístico.
Com a preocupação em atender bem o turista e de
oferecer serviços de qualidade, o projeto acompanha todas as
etapas de organização e preparação para receber os turistas,
providenciando os detalhes da ornamentação, faxina e
arrumação dos quartos, compras. O projeto providencia
também a orientação para as mulheres do assentamento
contratadas para os serviços de cozinha e limpeza da casa, com
a supervisão dos coordenadores do projeto.
Dentre as atividades e atrativos para os turistas:
almoço regional, café da manhã regional típico junino, jantar
junino, caiaque e canoa no açude de Camalaú, festa tradicional
de São João, cavalgadas, passeio de carroça de burro e
caminhadas ecológicas
Considerações Finais
Os benefícios da prática do turismo nos Assentamentos
Rurais ou em qualquer meio rural com potencial turístico são
mais que evidentes e representam uma melhoria na qualidade
de vida da população. Por meio da exploração das atividades
rurais incrementam a renda das famílias, bem como,
propiciam a sua permanência, de forma equilibrada e
sustentável nas comunidades rurais, evitando o êxodo rural e a
explosão das cidades responsáveis pelo desequilíbrio e
aumento dos problemas ambientais locais e globais.
É importante ressaltar que a prática do turismo rural exige
a transformação de comunidades rurais em empresas
organizadas, oferecendo atividades planejadas e uma estrutura
adequada para a recepção dos turistas, buscando não causar
impacto ao meio ambiente. Por meio do uso consciente dos
recursos naturais e do comprometimento das pessoas
(proprietários, colaboradores, clientes, entre outros) os
impactos ambientais são minimizados,
respeitando as
limitações e a renovação dos recursos naturais da região.
Dessa forma, a disseminação dos conhecimentos sobre a
problemática ambiental atual foi trabalhada amplamente com
todos os participantes do projeto turístico como forma de
agregar os valores ambientais às atividades turísticas
oferecidas e evitar impactos significativos no meio ambiente
que comprometa a condições ambientais locais. Um fator
relevante no assentamento em estudo é a forma de trabalho dos
assentados que tem como requisito a apreciação coletiva para a
tomada de todas as decisões, gerando ações mais planejadas e
refletidas, aspecto positivo de um projeto que exige resultados
sustentáveis.
O desenvolvimento do Turismo nos Assentamentos
Rurais da ReformaAgrária no Cariri paraibano é uma excelente
alternativa para os assentados, considerando as grandes
dificuldades do clima e do solo, para a sobrevivência exclusiva
da agricultura e também como incremento à pluriatividade no
campo, beneficiando as famílias assentadas, no que tange às
questões econômicas.
Existem benefícios ainda maiores, como o
conhecimento e a valorização do seu território, o resgate da
auto-estima e a mobilização em torno de ações que possam
viabilizar, com dignidade, a vida dessas populações
historicamente colocadas à margem dos processos de
desenvolvimento. Esta conclusão fica claramente comprovada
a partir da mudança na percepção das pessoas da região que
estão diretamente ou indiretamente evolvidas no projeto, onde
reconhecem o potencial turístico como uma grande riqueza,
evidenciando a preocupação e a grande responsabilidade em
cuidar e proteger.
Diante do exposto, pode-se afirmar que os resultados
da atividade turística no meio rural representam significativos
benefícios para o desenvolvimento sustentável local tais como:
a melhoria na qualidade de vida das famílias rurais, a
valorização da atividade agrícola e a preservação do meio
ambiente. Tudo isso possibilita que as gerações futuras
mantenham suas tradições e seu modo de vida simples e
saudável, sem deixar de usufruir das novas tecnologias e do
convívio com pessoas de culturas diferentes e o
enriquecimento dos seus conhecimentos.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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Revista Educação Agrícola Superior
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REÚSO DE ÁGUA À LUZ DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
Luciana de Paiva Luquez (Especialista em GNRH (UFCG), Prof. Drª Vera Lúcia Antunes de Lima,
Prof. MsC Antônio Carlos Félix Ribeiro, Msc Ronaldo Trescenti
INTRODUÇÃO
Apesar de possuir as maiores reservas de água doce do
mundo, o Brasil sofre com a falta de água em diversas
localidades do país e com o problema da poluição dos
mananciais.
Segundo BREGA FILHO & MANCUSO (2002), a
prática de reuso de água no meio agrícola, além de garantir a
recarga do lençol freático, serve para fertilização de diversas
culturas, bem como para fins de dessedentação de animais. A
utilização de água proveniente de reuso é diferenciada para
irrigação de cultivares para consumo humano e animal,
necessitando essas de um nível maior de qualidade.
A reutilização da água é uma atitude significativa na
consciência quanto à responsabilidade ambiental com a
finalidade de preservar a qualidade de vida atual e das futuras
gerações, garantindo um desenvolvimento sustentável.
O presente trabalho teve por objetivo pesquisar e
identificar a legislação vigente no Brasil ao reuso da água,
principalmente para a irrigação.
MATERIAIS E MÉTODO
Materiais - Os Instrumentos Legais do Brasil,
referentes à sustentabilidade do meio ambiente e usos da água
foram o Decreto nº 24.643 de 10/07/34, a Lei nº 6.938, de
31/08/81, a Constituição Federal, de 05/10/88, a Lei nº
8.171, de 17/01/91, a Lei nº 9.433, de 08/01/97, a Lei nº 9.605,
de 12/02/98, a Lei nº 9.984, de 17/07/00 e a Resolução
CONAMAnº 357, de 17/03/05 (PRESIDÊNCIA, 2007).
Método - Os escopos das referidas legislações e sua
especificidade foram analisados com ênfase na reutilização de
águas para a irrigação agrícola.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Decreto n 24.643 de 10/07/34, conhecido como
Código das Águas, foi concebido no intuito de modernizar a
legislação vigente à época de uso das águas no Brasil, de
acordo com as necessidades e interesse da coletividade
nacional (PRESIDÊNCIA, 2007).
A Constituição de 1988 reza em seu artigo 225, que
todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado que permita a todos o direito ao bem-estar e a
qualidade de vida (PRESIDÊNCIA, 2007).
A Lei nº 6.938, de 31/08/81, dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente (PRESIDÊNCIA, 2007),
considera o meio ambiente como um patrimônio público.
Dentre seus princípios temos a racionalização do uso da água
de forma planejada e, ainda os incentivos ao estudo e à pesquisa
de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos
recursos ambientais. Assim, o reuso da água é um instrumento
valioso no propósito atingir a racionalização do uso da água.
No art. 4º da Lei n 6.938/81 estão enumerados dentre
seus objetivos o estabelecimento de critérios e padrões da
qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de
recursos ambientais, permitindo assim a elaboração de
normativas mais específicas e restritivas com a finalidade de
preservação do meio ambiente.
O princípio do poluidor-pagador é considerado uma
maneira de favorecer o reuso de água, pois com a cobrança pela
utilização da água e pela poluição hídrica gerada, tem-se um
estímulo à diminuição desses custos pela reutilização da água
nos processos produtivos bem como de melhoria na qualidade
e quantidade dos efluentes lançados nos corpos hídricos.
A Lei nº 8.171, de 17/01/91 fixa os fundamentos, define
os objetivos e as competências institucionais, prevê os recursos
e estabelece as ações e instrumentos da política agrícola,
relativamente às atividades agropecuárias, agroindustriais e de
planejamento das atividades pesqueira e florestal
(PRESIDÊNCIA, 2007).
A Política Nacional de Recursos Hídricos foi instituída pela Lei
nº 9.433/1997 e estabelece o uso múltiplo das águas, tendo
como alguns de seus instrumentos, o enquadramento dos
corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da
água, a outorga dos direitos de uso e a cobrança pelo uso dos
recursos hídricos (PRESIDÊNCIA, 2007).
A Resolução CONAMA nº 357/2005 (MMA, 2007),
dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes.
Para o reúso de água, a classificação das águas é uma
ferramenta de grande importância, uma vez que um
determinado tipo de água após sua utilização pode ser
reclassificado e destinado para usos menos exigentes em
termos de padrão de qualidade.
A classificação das águas com seus usos preponderantes
determinados permite um referenciamento no que tange ao
reúso da água. Uma vez redefinida a classe da água de um
corpo hídrico após o uso, sem que os efluentes lançados a
jusante interfiram nos parâmetros de qualidade conferidos,
essa água poderá ser reutilizada.
No caso de reúso de água para irrigação na agricultura,
obedecendo aos parâmetros técnicos e padrões de qualidade
específicos para essa destinação de uso, pode-se inferir que as
águas doces da classe especial, classe 1 e as águas salobras da
classe especial podem ser destinadas à irrigação de plantas
frutíferas e hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que
se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem
remoção de película. E ainda que, as águas doces da classe 2,
podem ser usadas na irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas
e forrageiras.
57
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O reuso é uma forma de racionalização da utilização da
água pois, possibilita maior controle da poluição hídrica e
incremento na oferta de mesma, porém faz-se necessária
elaboração de legislação específica que contemple uma
classificação de água reutilizada, no qual os parâmetros de
qualidade sejam respeitados e onde estejam discriminadas as
destinações de reutilização.
Na agricultura irrigada o uso de efluentes tratados é
uma ferramenta importante para minimizar os custos de
produção e aumento da produtividade agrícola, portanto a
técnica de reuso de água deve ser disseminada na comunidade
rural através de procedimentos de pesquisa e extensão rural,
bem como em todas as esferas da sociedade brasileira através
da educação ambiental.
BREGA FILHO, D. & MANCUSO, P. C. S. Conceito de reuso
de água. In: Reuso de água; Capítulo 2. Eds. P. C.
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Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
58
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
DESEMPENHO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR COMO
MATERIAL ENVOLTÓRIO NA DRENAGEM AGRÍCOLA
1
2
3
MICHELE S. SANTOS ; HELDER M. M. BARROS ; VERA L. A. DE LIMA
1. Eng. .Agrônoma,Mestrando em Eng. Agrcola, UAEAG-CTRN-UFCG, Campina Grande,PB, E-mail: [email protected]
2. Eng. Agrcola ,Mestrando em Eng. Agrícola, UAEAG-CTRN-UFCG, Campina Grande,PB. E-mail: [email protected]
3. Eng. Agrícola, Profª. Doutora da UAEAG-CTRN-UFCG, Campina Grande, PB E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A drenagem agrícola é uma prática significativa para o
sucesso de projetos de irrigação, principalmente para aqueles
situados em regiões de acentuada deficiência hidroclimática. A
drenagem subterrânea é importante para evitar o
encharcamento em regiões de baixo ou nulo déficit hídrico e
para evitar o encharcamento e também a salinização em zonas
de alto déficit hídrico, como na maioria das áreas do Nordeste
Brasileiro.
Uma das decisões mais importantes a ser tomada
durante a fase de planejamento de um projeto de drenagem
subterrânea diz respeito à necessidade ou não do uso de
envoltórios para os drenos e, se necessário, que material deve
ser usado para os diversos tipos de tubos e de solos existentes
(Almeida, 2000). A necessidade de envoltórios para drenos
depende, principalmente, das características e propriedades do
solo da região onde a drenagem subterrânea será implantada.
Diversos tipos de material são colocados ao redor de
drenos entubados com a finalidade de evitar o carreamento de
partículas do solo para o seu interior. O carreamento pode
causar entupimento do dreno ou até mesmo do envoltório,
quando este não é bem selecionado e, com isso, levar o sistema
de drenagem ao completo fracasso. Como envoltório pode ser
empregado material sintético ou manta, material orgânico
natural ou material de origem mineral. Envoltórios de cascalho,
brita ou areia grossa lavada são os mais utilizados para uso na
drenagem de qualquer tipo de solo.
A escolha do envoltório deve, de uma maneira geral,
ser feita em função do custo final do material colocado no local
da obra, custo de instalação e efetividade do material. O uso de
sistemas de drenagem alternativos pode baratear os custos de
implantação de projetos de irrigação, contribuindo de forma
relevante para o sucesso da agricultura irrigada.
Esta pesquisa teve como objetivo avaliar as características
hidráulicas do envoltório de bagaço de cana-de-açúcar, quando
utilizado em sistemas de drenagem subterrânea e sob condições
de laboratório, comparando-o com as características
hidráulicas do envoltório de brita zero quando utilizados como
envelopes em tubos de drenagem, (Drenoflex, Kananet e tubo
de PVC liso), mediante parâmetros típicos de avaliações
propostos na literatura.
METODOLOGIA
O trabalho foi realizado no Laboratrio
َ de Engenharia
de Irrigação e Drenagem da Universidade Federal de Campina
Grande (Campus I, UAEAg-CTRN). Usando-se um modelo
físico composto de nove tanques construídos de alvenaria e
impermeabilizados internamente. Cada tanque medindo 0,8 m
de comprimento, 1,0 m de largura e 0,9 m de altura, aplicvel a
uma condição de fluxo bidimensional tal como a condição mais
usual de campo, foi construído baseado no modelo usado por
Broughton et al.(1987).
Avaliou-se os sistemas compostos pelos tubos
Drenoflex, PVC liso e Kananet usando como envoltórios brita
zero e bagaço de cana-de-açúcar. Os tubos Drenoflex e Kananet
são materiais convencionalmente usados na drenagem, sendo o
Drenoflex um tubo de PVC flexível e o Kananet um tubo de
polietileno corrugado flexível, com distribuição uniforme dos
furos por todo o perímetro das corrugações de forma helicoidal.
O tubo de PVC liso normalmente usado para esgoto doméstico.
Para cada sistema de drenagem instalado, foram
realizados ensaios para as seguintes avaliaçes:
ُ A carga
hidráulica de entrada (he) e a carga hidráulica total (htot) foram
avaliadas mediante uma régua graduada instalada
paralelamente aos piezômetros, localizada na parte externa do
modelo físico. Para a carga hidráulica de entrada (he) tomou-se
uma leitura direta do nível d'água no piezômetro inserido no
sistema drenante. Para a carga hidráulica total (htot) foi tomada
à média das leituras nos piezômetros localizados nas laterais do
sistema drenante. A razão entre as referidas cargas é dada pela
seguinte equação:
(1)
he / htot he
htot
Em que: he/htot = razão entre as cargas hidráulicas de entrada e
total, adimensional; he = carga hidráulica de entrada, em m; htot = carga
hidráulica total, em m.
O fluxo foi avaliado no ponto de descarga de cada
tanque. O teste era realizado quando o material poroso
encontrava-se saturado, o qual era constatado pelo
posicionamento dos níveis hidráulicos nos piezômetros. O
tempo de descarga por tanque durou, em média, 1 hora e 30
minutos. Na determinação desta variável adotou-se a seguinte
equação:
(2)
q 86.400
V
*2
t
59
-1
-1
(3)
re
he
q*L 1
Em que: re = resistência de entrada, em dia. m-1; he =
carga hidráulica na entrada, em m; q = descarga do dreno, em
m3.dia-1.m-1; L = comprimento do sistema drenante, em m.
Para a determinação desta variável adotou-se a
seguinte equação, conforme sugestão de Wesseling & Van
Someren (1972).
re * K
(4)
Em que:
= fator de resistência de entrada,
adimensional; re = resistência de entrada, em dia. m-1; K =
condutividade hidráulica do meio poroso, em m.dia-1.
Os efeitos de diferentes tubos e envoltórios nos
parâmetros hidráulicos de sistemas de drenagem foram
avaliados através de métodos normais de análise de variância
(Teste F), adotando-se o Teste de Tukey para a comparação das
médias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da análise estatística da Tabela 1
mostram que a carga hidráulica de entrada não foi influenciada
significativamente pelos 3 tipos de tubos utilizados, no entanto
sofrem efeitos significativos dos envoltórios ao nível de 1% de
probabilidade, pelo Teste F. O coeficiente de variação foi de
8,48%, indicando uma ótima precisão experimental, segundo
Ferreira (1991). O efeito da interação tubos x envoltórios não
foi significativo.
Emrelação a variável razão entre as cargas hidráulicas
de entrada e total estas sofreram efeitos significativos dos tipos
de tubos e envoltórios, aos níveis de 5% e 1% de probabilidade,
respectivamente, pelo teste F. O efeito da interação tubos x
envoltórios não foi significativo. O coeficiente de variação de
4,38% indica uma ótima precisão na determinação, segundo
Ferreira (1991).
De acordo com a Tabela 1 a resistência de entrada n‫م‬o
sofreu influência significativa dos tipos de tubos utilizados, no
entanto, sofreu efeitos significativos dos envoltórios ao nível
de 1% de probabilidade, pelo teste F. O efeito da interação
tubos x envoltórios não foi significativo. A Figura 1 apresenta
as curvas do comportamento da resistência de entrada em
relação a carga hidráulica de entrada para os tratamentos com
envoltório de brita zero. Verifica-se que os tubos drenoflex e
PVC liso tiveram suas curvas praticamente superpostas e com
valores superiores aos da curva do tubo kananet. As curvas da
resistência de entrada em relação à carga hidráulica de entrada,
para os tratamentos com o envoltório de bagaço de cana são
mostradas na Figura 2.
-1
Resistência de entrada (dia.m
)
3
Em que: q = fluxo, em m .dia .m ; V = volume de água
3
coletado, em m ; t = tempo de coleta do volume d'água, em s; 2=
fator de ajuste, uma vez que q é a descarga por unidade de
comprimento de dreno e considerou-se 0,5 m de comprimento
útil do tubo drenante. Wesseling & Van Someren (1972).
A variável resistência de entrada foi calculada
mediante a seguinte equação, sugerida por Wesseling & Van
Someren (1972):
0,01
0,008
0,006
0,004
0,002
0
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
Carga hidraúlica de entrada (m)
Tabela 1. Resumo da analise estatstica das variáveis cargas hidráulica de entrada (he),
razão entre as cargas hidráulicas de entrada e total (he/htot), resistência de entrada (re),
Drenoflex
Kananet
0,01
0,008
0,006
0,004
0,002
0
0
fluxo (q) e fator de resistência de entrada (α)
PVC Liso
Figura 1. Curvas da resistência de entrada em relação à
carga hidráulica de entrada para os diferentes sistemas
drenantes com envoltório de brita zero.
-1
Resistência de entrada (dia.m
)
A análise estatística das variáveis, carga hidráulica de
entrada (he), razão entre as cargas hidráulicas de entrada e total
(he/htot), fluxo (q), resistência de entrada (re) e fator de
resistência de entrada () est‫م‬o apresentadas na Tabela 1.
Observou-se que os efeitos dos envoltrios
sobre todas as
َ
variáveis estudadas foram positivos ao nível de 1% de
probabilidade pelo Teste F, enquanto que os tipos de tubos só
influenciaram significativamente na razão entre as cargas
hidráulicas de entrada e total, ao nível de 5% de probabilidade.
O efeito da interaç‫م‬o tubos x envoltórios só foi significativo no
fator de resistência de entrada, ao nível de 5% de probabilidade.
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
Carga hidraúlica de entrada (m)
Causas de variação
Tipos de tubos
Envoltórios
Tubos x Envoltórios
Q M do Resíduo
Coeficiente de variação (%)
he (m)
he/htot
0,807 ns
8,102 **
0,591 ns
0,001
8,483
4,44 *
11,87 **
1,89 ns
0,002
4,38
Variáveis
re (dia.m-1)
Teste F
1,67 ns
39,21 **
2,75 ns
0,00
12,99
q(m³.dia-1.m-1)
α
1,85 ns
54,35 **
2,75 ns
11,97
11,20
1,41 ns
46,15 **
3,51 *
0,0003
12,11
Drenoflex
PVC Liso
Kananet
Figura 2. Curvas da resistência de entrada em relação
à carga hidráulica de entrada para os
diferentes
sistemas drenantes com envoltório de bagaço de
cana-de-açúcar.
(*) significativo a 5% e (**) a 1% de probabilidade; (ns) não significativo
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
60
Na Figura 3, têm-se as curvas do fluxo em relação ao
tempo acumulado de drenagem para os tubos com o envoltório
de brita zero. Percebe-se que as curvas dos tubos drenoflex e
PVC liso encontram-se superpostas, evidenciando
comportamentos semelhantes entre estes tubos com o
envoltório brita zero. O tubo kananet foi o que contribuiu para
um maior rebaixamento do lençol freático, pois, apresentou
maior fluxo. A Figura 4 apresenta as curvas da variável fluxo
em relação ao tempo acumulado de drenagem para os
diferentes tubos com o envoltório de bagaço de cana-de-açúcar.
Constata-se que, inicialmente os tubos drenoflex e kananet,
apresentaram uma descarga superior em relação ao tubo PVC
liso. O tubo kananet apresentou melhor performance ao longo
de todo o tempo, caracterizada pela maior intensidade de fluxo.
CONCLUSÕES
ُ
Os resultados obtidos permitem inferir as seguintes concluses
e recomendações:
·
O desempenho dos materiais drenantes testados
apresentaram resistência de entrada classificada como
muito boa;
·
O envoltório de bagaço de cana apresentou desempenho
satisfatório em relação ao rebaixamento do lençol freático;
·
A utilização dos tubos convencionais (Drenoflex e
Kananet) com envoltório de bagaço de cana apresentou
resistência de entrada bastante satisfatória;
O envoltório de bagaço de cana-de-açúcar inibiu a entrada
·
de partículas do material poroso para o interior dos tubos
Drenoflex, PVC liso e Kananet;
Os resultados obtidos mostraram que o material envoltório
·
testado na pesquisa como alternativo (bagaço de cana)
mostrou-se tecnicamente viável para drenagem agrícola;
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
60
50
40
3
-1 . -1
Flu xo (m.d ia m )
70
30
20
10
0
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
Tempo acumulado (s)
Drenoflex
PVC Liso
Kananet
Figura 3. Curvas do fluxo em relação ao tempo
acumulado de drenagem para os diversos sistemas
drenantes com o envoltório de brita zero.
60
50
40
3
-1. -1
F lu x o ( m
.d ia m )
70
30
20
ALMEIDA, F. P. Avaliaç‫م‬o de sistemas drenantes alternativos
na drenagem subterrânea.Campina Grande: UFCG, 2000,
83p. (Dissertaç‫م‬o de Mestrado).
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10
0
0
1000
2000
3000
4000
Tempo acumulado (s)
Drenoflex
PVC
Kananet
Figura 4. Curvas do fluxo em relação ao tempo
acumulado de drenagem para os diferentes sistemas
drenantes com o envoltório de bagaço de cana de
açúcar.
O efeito da interação tubos x envoltórios foi
significativo ao nível de 5% de probabilidade, concluindo que o
efeito significativo dos envoltórios está na dependência do tipo
de tubo utilizado. Todos os envoltórios são recomendáveis para
a referida variável. O coeficiente de variação foi de 12,11%
indicando uma boa precisão experimental, segundo Ferreira
(1991).
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
61
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
O GEOPROCESSAMENTO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO
1
2
3
Pedro Roberto de A. Madruga Adriana Gindri Salbego Roberta Araujo Madruga
1
Eng. Florestal; Doutor em Geoprocessamento; Prof. Titular da UFSM; Coordenador Adj. da Câmara de Eng. Florestal do CREA-RS.
2
Eng. Civil; Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Engª. Agrícola - UFSM.
3
Geógrafa; Mestranda em Sensoriamento Remoto pelo CEPSRM da UFRGS.
INTRODUÇÃO
O geoprocessamento, ciência que utiliza técnicas
matemáticas e computacionais no tratamento de informações
geográficas, tornou-se uma ferramenta indispensável para o
exercício profissional, principalmente para os que atuam na
área tecnológica. Exemplo disto são os inúmeros concursos
realizados por órgãos federais, estaduais e municipais, que
apresentaram questões referentes ao geoprocessamento
(Polícia Federal, Ibama, Ministério Público, Secretarias e
órgãos ambientais), bem como empresas privadas, como, por
exemplo, a Votorantin Celulose e Papel, Aracruz Florestal,
Stora Enso, entre outras.
Neste contexto, estão inseridos os profissionais da área de
abrangência do Sistema Confea/Creas, que passaram a ser
regidos pela nova legislação. Esta legislação culminou de uma
consulta efetuada pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária – INCRA ao Confea, acerca de quais
profissionais estariam habilitados a desenvolverem atividades
definidas pela Lei 10.267 de 28 de agosto de 2001, no tocante à
regularização de propriedades rurais junto ao INCRA.
O Confea, em Sessão Plenária, deliberou que os
profissionais habilitados para assumirem a responsabilidade
técnica pelos serviços de determinação das coordenadas dos
vértices definidores dos limites dos imóveis rurais, para efeito
do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais – CNIR (INCRA) são
os profissionais que possuam afinidade de habilitação com a
modalidade de origem na graduação, estando de acordo com o
art. 3º, parágrafo único, da Lei 5.194, de 24 de dezembro de
1966, sendo as seguintes modalidades: Engenheiro Agrimensor
(art. 4º da Resolução 218, de 1973);
Engenheiro Agrônomo (art. 5º da Resolução 218, de
1973); Engenheiro Cartógrafo, Engenheiro de Geodésia e
Topografia, Engenheiro Geógrafo (art. 6º da Resolução 218, de
1973); Engenheiro Civil, Engenheiro de Fortificação e
Construção (art. 7º da Resolução 218, de 1973); Engenheiro
Florestal (art. 10 da../.. Continuação da Decisão PL-2087/2004
Resolução 218, de 1973); Engenheiro Geólogo (art. 11 da
Resolução 218, de 1973); Engenheiro de Minas (art. 14 da
Resolução 218, de 1973); Engenheiro de Petróleo (art. 16 da
Resolução 218, de 1973); Arquiteto e Urbanista (art. 21 da
Resolução 218, de 1973); Engenheiro de Operação – nas
especialidades Estradas e Civil (art. 22 da Resolução 218, de
1973); Engenheiro Agrícola (art. 1º da Resolução 256, de 27 de
maio de 1978); Geólogo (art. 11 da Resolução 218, de 1973);
Geógrafo (Lei 6.664, de 26 de junho de 1979); Técnico de Nível
Superior ou Tecnólogo - da área específica (art. 23 da Resolução
218, de 1973); Técnico de Nível Médio em Agrimensura;
Técnicos de Nível Médio em Topografia; e outros tecnólogos e
Técnicos de Nível Médio das áreas acima explicitadas.
O Confea, na mesma deliberação, definiu que os
profissionais acima mencionados devem ter cursados os
seguintes conteúdos formativos: a) Topografia aplicada ao
georreferenciamento; b) Cartografia; c) Sistemas de referência;
d) Projeções cartográficas; e) Ajustamentos; f) Métodos e
medidas de posicionamento geodésico. Para o caso dos
profissionais que não tenham, à época da graduação, cursado
tais conteúdos, poderão fazê-lo através de cursos de formação
continuada, especialização ou pós-graduação, e/ou
comprovando experiência profissional específica na área.
Diante desta nova demanda, criada pela necessidade de
conhecimentos na área de geoprocessamento, alguns cursos já
alteraram os seus currículos, a exemplo dos cursos de
Engenharia Florestal e Agronomia da Universidade Federal de
Santa Maria, que possuem atualmente as seguintes disciplinas
no âmbito do geoprocessamento:
- Curso de Engenharia Florestal: Topografia e elementos
de geodésia, Cartografia, Ajustamento de observações
geodésicas, Fotogrametria e fotointerpretação, Sensoriamento
Remoto, Geoprocessamento, Sistemas geográficos de
informações.
- Curso de Agronomia: Topografia, Elementos de
geodésia, Ajustamento de observações geodésicas, Introdução
a geomática.
CONCLUSÃO
Para que os cursos de graduação da área tecnológica, em
especial os pertencentes ao Sistema Confea/creas, atendam as
necessidades/demandas, e formem um profissional apto a atuar
no mercado de trabalho, faz-se necessário que sejam criados
e/ou alterados os conteúdos programáticos das seguintes
disciplinas: Introdução à Cartografia, Topografia,
Fotogrametria, Sistema de Posicionamento Global,
Sensoriamento Remoto, Fotointerpretação, Introdução a
Geodésia e Sistema de Informações Geográficas. E, aqueles
cursos que desejarem que seus egressos tenham atribuições
para o georreferenciamento de propriedades rurais, de acordo
com a Lei 10.267/2001, devem incluir nos conteúdos
formativos: Topografia aplicada ao georreferenciamento,
Cartografia, Sistemas de referência, Projeções cartográficas,
Ajustamentos e Métodos e medidas de posicionamento
geodésico.
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RENDIMENTO DE GRÃOS POR CAPULHO DO GERGELIM CULTIVAR
CNPA G4, SOB DÉFICIT HÍDRICO E ADUBAÇÃO COM DUAS FONTES
DE NITROGÊNIO
1
1
1
Joab Josemar Vitor Ribeiro do Nascimento , José Sebastião Costa de Sousa , Denise de Jesus Lemos Ferreira ,
Luciano Barreto Mendes1, Sandi Alves Bezerra2, Carlos Alberto Vieira de Azevedo3
INTRODUÇÃO
O gergelim é conhecido pelo nome científico de
Sesamum indicum L., Dicotyledonae, Pedaliaceae;
vulgarmente também é conhecido por sésamo, zirgelim,
girgilim e jorgelim. A planta pode crescer como pequeno
arbusto alcançando altura de 1,8m; tem hábito de crescimento
ramificado ou não, as folhas da parte alta têm forma de ponta de
lança, as mais baixas crescem mais largas, arredondadas ou
dentadas. As flores podem ter cor rósea, branca ou violeta e o
fruto é uma baga alongada com pelugem contendo sementes
pequenas com cor variando do branco ao preto (Epstein, 2000).
Essa espécie, de distribuição tropical e subtropical, é
tolerante à seca e sua produção é proveniente de pequenos e
médios agricultores, exercendo, portanto, uma apreciável
função social. O principal produto do gergelim é o grão
(semente) que são comestíveis, fornecem óleo e farinha,
contem vitaminas A, B, C, e possuem bom teor de cálcio,
fósforo e ferro. São pequenas, achatadas, de coloração variando
do branco ao preto (Beltrão et al., 1989). A diversificação do
uso e o aumento do consumo acarretou uma significativa
demanda por melhores informações sobre o seu cultivo,
visando ao aumento da produção e à redução das importações
(LAGO et al., 2001).
O lançamento periódico de novas cultivares exige
estudos sobre as melhores práticas culturais pertinentes a elas:
o aumento do rendimento de sementes por capulho, para maior
produção e melhor qualidade das sementes; a determinação da
sensibilidade da cultura ao estresse hídrico, tendo em vista à
economia de água na região é de grande valia, devido à
escassez do recurso na região; o uso de produtos não
convencionais na adubação, como o biossólido, como adubo na
agricultura, traz para o solo benefícios inerentes à matéria
orgânica e proporciona reciclagem de nutrientes, dando-os
destino ambientalmente correto.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito
do déficit hídrico e a adubação com duas fontes de nitrogênio
sobre o rendimento de grãos por capulho, em plantas de
gergelim cultivar CNPAG4 (BRS 196).
5,18 g kg-1; P5+ de 96 mg dm-3; Ca2+; Mg2+ e K+ de 24,4, 35,4 e 1,3
mmolc dm-3, respectivamente; nitrogênio 0,04%, com
condutividade do estrato de saturação do solo (CEes) de 1,22
dS m-1, RAS 1,46, pHes 5,21, e teores de sódio, cloreto,
bicarbonato e potássio 3,05, 7,5, 2,9, e 0,48 mmolc L-1,
respectivamente. A umidade na Capacidade de Campo (CC) e
Ponto de Murcha (PMP) foram: CC 16% e PMP 6% com
densidade de 1,55 g cm-3. A unidade experimental era
constituída de um vaso plástico contendo 24,1 kg de solo,
destorroado, seco, peneirado e homogeneizado.
Foi feita uma adubação (fundação), constituída de doses
de NPK recomendadas por Beltrão et al.(2001), nas
quantidades de fósforo, potássio, uréia e biossólido de 40, 60,
125 e 1375 kg ha-1, respectivamente.
O delineamento experimental foi inteiramente
casualizado com cinco repetições, no esquema fatorial 2x4,
com tratamentos definidos por duas fontes de nitrogênio
(biossólido e uréia) e quatro níveis de água (40, 60, 80 e 100%
da capacidade de campo).
As sementes foram postas para germinar e durante o
período compreendido entre a semeadura e a germinação,
manteve-se o solo na capacidade de campo. Aos 15 dias após a
emergência (DAE) foram iniciados os tratamentos. Os níveis
de água foram mantidos através de pesagem diária de oito
vasos, tidos como indicadores, e à medida que a água perdida
do solo e da planta por evapotranspiração da cultura (ETc)
atingisse peso inferior a 28,470, 27,470, 26,540 e 25,670 kg,
equivalentes a 100, 80, 60 e 40% da capacidade de campo,
respectivamente, as parcelas eram irrigadas com quantidade de
água suficiente para que o teor de água no solo atingisse o peso
equivalente à capacidade de campo.
Para determinação do rendimento de grãos foram
utilizados os frutos (capulhos) colhidos aos 90 DAE, de cada
parcela experimental, postos para secar a sombra com
ventilação, por um período suficiente até atingir peso
constante.
O efeito dos tratamentos sobre o rendimento de grãos
foi testado mediante a análise de variância, pelo Teste F. Para
comparação entre as médias dos diferentes tratamentos,
utilizou-se o teste Tukey, a 5% de probabilidade.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O experimento foi conduzido com a cultivar CNPA
G4 (BRS 196), em condições de casa de vegetação no Centro
de Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de
Campina Grande. O solo foi coletado nos 20 cm superficiais de
um perfil de solo franco-arenoso e submetido a análises físicas,
químicas e de fertilidade, com teores de matéria orgânica, de
De acordo com a análise de variância (Tabela 1), não
houve diferença estatística significativa, a 5% de
probabilidade, do efeito das diferentes fontes de nitrogênio,
sobre o rendimento de grãos por capulhos, na fase de
amostragem. Entretanto, houve efeito significativo (p≤0,05)
64
do déficit hídrico, que afetou de forma significativa aos 90 dias
após a emergência. Não houve interação dos fatores estudados
sobre a. O coeficiente de variação foi relativamente bom,
atingindo 22,17%.
Tabela 1 – Análise de variância do rendimento de grãos
do gergelim, aos 90 dias após a emergência (DAE), sob duas
fontes de nitrogênio e déficit hídrico, Campina Grande, PB,
2007(I).
Fonte de Variação
GL
Adubação
Déficit Hídrico
Adubação x Déficit Hídrico
Resíduo
CV (%)
1
3
3
22
Quadrado Médio
Rendimento de Grãos por Capulhos, em massa (%)
90 (DAE)
3.41056 ns
190.15855 *
114.00802 ns
45.38845
22.17609
(I)
*, **, ns. Significativo para 5%, 1% e não significativo
respectivamente, pelo Teste F.
TABELA 2 – Rendimento de grãos por capulho na
planta do gergelim, sob duas fontes de nitrogênio e déficit
hídrico crescente no solo, Campina Grande, PB, 2007(II).
Déficit Hídrico (% C.C.)
100
80
60
40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELTRÃO, N.E. de M.; NÓBREGA, L.B. da; SOUZA,R.P.
de; SOUZA, J.E.G. de. Efeitos da adubação, configuração de
plantio e cultivares na cultura do gergelim no nordeste do
Brasil. Campina Grande: Embrapa Algodão PA, (Embrapa
Algodão. Boletim de Pesquisa, 21). 23p. 1989.
BELTRÃO, N.E. de M.; SILVA, L.C.; QUEIROGA, V. de P.;
VIEIRA, D.J. Preparo do solo, adubação e calagem. In:
Beltrão, N. E. De M.; VIEIRA, D.J. O agronegócio do gergelim
no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência
de Tecnologia, 2001. cap 6, p. 109-131.2001 b.
EMBRAPA-CPATSA (1993) - EMBRAPA CPATSA.
Relatório Técnico de Centro de Pesquisa Agropecuária do
Trópico Semi-Árido. 1970-1990. Petrolina, PE: Embrapa
CPATSA. 1993. 175p.
EPSTEIN, L. Cultura – Gergelim SDA / DDA – SEAGRI –
Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária.
Salvador.Agosto, 2000.
LAGO, A. A.; CAMARGO, O. B. A.; SAVY FILHO, A.;
MAEDAJ. A. Maturação e produção de sementes de
gergelim cultivar IAC-China. Pesq. agropec. bras., Brasília,
v. 36, n. 2, p. 363-369, fev. 2001.
90 (DAE)
26.04900 b
27.40000 ab
35.19400 a
32.87700 ab
Na Tabela 2, encontram-se os resultados das médias do
rendimento de grãos por capulho da planta do gergelim, em
função do déficit hídrico no solo. Verificou-se que o déficit
hídrico correspondente a 60% da capacidade de campo
proporcionou o melhor rendimento de grãos.
CONCLUSÕES
·
O déficit hídrico correspondente a 60% da capacidade
de campo possibilitou maiores rendimentos percentuais de
grãos por capulho, mostrando que o déficit hídrico afeta a
quantidade de grãos por capulho.
A adubação com biossólido apresentou efeito
·
equivalente à adubação com uréia, sobre o rendimento de
grãos por capulho do gergelim (Sesamum indicum L.).
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
65
Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
ESTUDO DE DETERIORIZAÇÃO SOCIO-ECONÔMICA NA
MICROBACIA DO RIACHO DA SERRA, PB
1
2
3
Aline Costa Ferreira , Denise de Jesus Lemos Ferreira , Soahd Arruda Rached Farias
José Dantas Neto4
1 Mestranda em Irrigação e Drenagem, UAEAg./CTRN/UFCG,e-mail: [email protected]
2 Graduanda em Engenharia Agrícola , UAEAg./CTRN/UFCG, e-mail: [email protected]
3Dra. em Irrigação e Drenagem, CEDAC, e-mail: [email protected]
4Prof. Dr. da UAEAg/CTRN/UFCG, e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A deterioração de uma bacia hidrográfica atinge não só o
meio ambiente, mas também as diretrizes sociais, econômicas e
culturais de uma região. Sendo assim, podemos entender o
estudo socio-econômico de uma Microbacia como uma forma
de ter bases fundadas para avaliar e corrigir os problemas
existentes no local. Rocha & Kurtz (2001), frisam que o
diagnóstico sócio-econômico visa analisar a deterioração
social, econômica e tecnológica da população do meio rural
(produtor e núcleo familiar), dentro de um contexto de Manejo
Integrado de Microbacia Hidrográfica, tais resultados passam a
ser utilizados em prognósticos, através de recomendações, que
podem ser uma forma de projeto no sentido de elevar a
qualidade e o nível de vida no respectivo local de estudo. Nesse
sentido, temos como objetivo desse trabalho avaliar a situação
sócio-econômica da microbacia do Riacho da Serra,
estabelecendo dessa forma condições para melhorar a vida da
população residente no local.
METODOLOGIA
O município de São José do Sabugi, situado no Estado
da Paraíba, compreende uma área de 215,36 Km2, dentro do seu
espaço geográfico, encontra-se a área de estudo, com 1.749 ha,
referente à Microbacia Hidrográfica do Riacho da Serra, entre
as coordenadas em UTM: Norte-Sul 246.671-241.571 e Leste Oeste 744.378 e 736.378, tal microbacia pertence a Sub-bacia
do Seridó/ bacia Rio Piranhas/Açu. Possui 55 proprietários
(todos submetidos ao questionário sócio-economico), num
total aproximadamente de 350 habitantes, que abrange as
comunidades rurais Riacho da Serra, Jacu, Camalaú, Manoel
Lopes e Latadinha.
A metodologia utilizada consiste em fazer um
levantamento e analisar alguns elementos dentro dos limites da
microbacia, conforme proposta de Baracuhy (2001), que são: A
- Fator Social (Número de variáveis: 12-demográfica, 17habitação, 17-consumo de alimentos, 1-participação em
organização, 3-salubridade e 3-cumprimento de leis); B - Fator
Econômico (Número de variáveis: 3-produção, 1-animais de
trabalho, 1-animais de produção e 7-comercialização, crédito
e rendimento); C - Fator Tecnológico (Número de variáveis:
15- Tecnológico e 3 – Maquinário e Verticalização da
produção). O valor maior atribuído em cada item (código)
representa a maior deterioração e o valor menor representa a
menor deterioração, e é sempre considerado o valor 1. A partir
de sistema de equação linear dos valores de moda encontrado
para cada Fator do questionário.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O diagnóstico Sócio-Econômico abrange todos os
fatores e suas variáveis: social, econômica e tecnológica, as
quais podem ser observadas com seus respectivos valores na
tabela1.
Dentro do fator Social, a variável Demográfica teve
como fatores que elevaram a deterioração, a idade elevada
(moda 51-60 anos) e a escolaridade do chefe de família e da
familia, com moda de 1 a 4º série do fundamental, outro
agravante é o numero de pessoas e famílias existentes por
propriedade, o que contribuem para a deterioração
demográfica de 38,03%. Como prognóstico orienta-se um
trabalho de educação para jovens e adultos, para melhoramento
educacional na microbacia, e cadastrar as famílias que vivem
juntas e pouca terra, a serem contempladas em assentamentos
próximos ou no próprio município. A variável habitação
embora tenha tido um valor de deterioração não tão agravante
(2º menor do social), com 28,87%, tem como variáveis
agravantes, o pé-direito e o tipo de piso das residências, além do
descarte inapropriado das embalagens de agrotóxicos, do lixo
caseiro e do esgoto, onde através de medidas de saneamento, e
orientação para devolução das embalagens de agrotóxicos para
as lojas de vendas do produto, conforme rege a Lei, poderiam
ser melhoradas, promovendo maior qualidade de vida nas
habitações.
AVariável alimentação foi uma das menores dentro do
grupo de deterioração com 21,01%, sendo acusado a ausência
no cardápio à macaxeira, e com uso semanal do peixe,
derivados de milho como bolos, angus e xerém e aves. Para
aumentar a diversificação, poderia ser dado curso de culinária e
incentivar também o peixeamento em açudes. A variável
organização apresentou uma deterioração na ordem de 55,56%,
o que representa valor significativo, pois a comunidade da
região estudada precisa se engajar mais, participando além das
reuniões, de saber o conteúdo dos estatutos, realizarem projetos
coletivos e também existir maior rotatividade para
preenchimento da diretoria, permitindo a muitos, os tramites da
entidade e suas obrigações. Como maior valor individual de
variável, temos a deterioração de “Cumprimento as Leis” com
66,67%, indicando que não cumprem horário de jornada de
66
trabalho e não utilizam o trabalho com carteira assinada, para a
variável salubridade foram considerados os parâmetros:
infestação de pragas, salubridade para o homem e combate às
pragas domésticas (50%), indicando que a qualidade de vida da
relação do homem do campo com o trabalho rural, fica a
desejar.
Em geral, a deterioração social ficou em torno de
30,98%, o que numericamente identifica uma qualidade de
vida não muito crítica e foi um dos menores valores com
relação aos outros fatores estudados (econômico e
tecnológico).
As variáveis do fator econômico dentro do
diagnóstico Sócio-Econômico, apresentaram valores modais
sempre mais próximo ao valor máximo atribuído, o que
segundo o Tabela 1, proporciona alta deterioração na
microbacia, e identifica carência da comunidade quanto ao
fator financeiro, necessitando de políticas governamentais
eficazes para amenizar a situação. Com relação a variável
produção foram considerados os parâmetros: produtividade
agrícola média, florestamento e pastagens plantadas. A
deterioração encontrada de 57,14% caracteriza que a
produtividade agrícola média se encontra abaixo da média,
considerando os principais tipos de cultivos locais que não tem
florestamento e arborização. A variável comercialização que
engloba crédito agrícola e poder aquisitivo teve um grau
máximo de deterioração (73,68%) dentre as outras do
diagnóstico Econômico. Verificou-se que a produtividade
agrícola é baixa e tem como venda, ligada direto ao
atravessador, diminuindo ainda mais a margem de lucro do
produtor, consequentemente, uma renda baixa, com
complementação de pensão e aposentaria rural, para apoio ao
trabalho, à falta de animais de serviço, implica também em
baixo rendimento no trabalho de campo, e, portanto uma
deterioração de 63,33%. Merece análise e ação do poder
público, no âmbito de incentivo à produção agrícola através de
financiamento de custeio e investimento para as propriedades,
além de capacitações de manejo do solo e como melhorar a
fertilidade dos mesmos.
A deterioração do fator tecnologia (45,19%) é
evidenciada pela ausência de máquinas agrícolas na
microbacia, além de não existir industrialização agrária nem
artesanato (100%) somado as propriedades não disporem de
manejo das mesmas, terem aproveitamento menor que 50% de
sua área; as práticas de manejo e conservação de solo não
existem, o que leva a conflito de uso da terra, tendo pouca
assistência técnica; Esta variável deverá ser mobilizada em
toda a microbacia de Riacho da Serra em grande parte através
de cursos e capacitações para melhorar a conscientização da
população local.
O valor total da deterioração Sócio-Econômica
encontrada para a microbacia do Riacho da Serra foi de 37,96%
(Tabela 1). O valor é menor do que os 40,62%, encontrado por
Rocha (1995) na sub-bacia do Rio Passo Fundo, RS e 55,77%
encontrado por Baracuhy (2001) em assentamento, em
Campina Grande, PB. Os autores citam que um valor aceitável,
onde não existe a necessidade da intervenção humana é na
ordem de 10%. Para redução de tal valor encontrado, sugere-se
realizar algumas ações de prognósticos orientadas durante este
trabalho.
CONCLUSÕES
Observa-se que para reduzir a deterioração socioeconômica da microbacia (37,96%) é necessário realizar
algumas ações prognosticadas, das quais podemos citar
capacitações e interferência do poder governamental em ações
do seu âmbito de atuação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARACUHY, J.G.V. Manejo integrado de micro bacias no
semi-árido nordestino: estudo
de um caso. Campina Grande: UFPB, 2001. 221p. Tese
Doutorado.
ROCHA, J.S.M. da & Kurtz, S.M.J.M. Manual de manejo
integrado de bacias hidrográficas. 4 Ed. Santa Maria:
UFSM, 2001. 302 p.
ROCHA, J. S. M.da, FLORES, T. C., et al. Estudo da
qualidade de vida em duas vilas de Santa Maria – RS –
Brasil. Santa Maria: FIC, 1995. 17 p. (Projeto de Pesquisa).
Tabela 1. Resultado do diagnóstico socio-econômico, sendo apresentado também à equação da reta e o resultado de cada deterioração encontrada.
Soma dos Valores
atribuídos no
questionário
Deterioração
encontrada
Máximo
Valores
encontrados na
microbacia
geral (X)
Valores de a
Diagnóstico demográfico
12
Diagnóstico habitacional
17
Diagnóstico alimentar
17
Diagnóstico organizacional
1
Diagnóstico de salubridade
3
Diagnóstico de cumprimento as Leis
3
Unidades críticas de deterioração
53
social
Diagnóstico da produção
3
Diagnóstico de animais de trabalho
1
Diagnóstico de animais de produção
1
Diagnóstico de comercialização, crédito
7
e rendimentos
Unidades críticas de deterioração
12
econômica
Diagnóstico tecnologico
15
Diagnóstico maquinário e verticalização da
3
produção
Unidade crítica de deterioração
18
tecnologica
Unidade crítica de deterioração sócio
83
economica
83
114
136
10
27
9
39
45
42
6
15
7
1,408
1,031
0,840
11,111
4,167
16,667
379
154
0,307 .X
-16,258 =
30,98
10
7
10
7
3
5
14,286 .X
16,667 .X
11,111 .X
-42,857 =
-16,667 =
-11,111 =
57,14
33,33
44,44
45
35
2,632 .X
-18,421 =
73,68
63,33
.X
.X
.X
.X
.X
.X
-16,901
-17,526
-14,286
-11,111
-12,500
-50,000
Y (%)
microbacia
geral
DIAGNÓSTICOS
Valores de b
Minimo
Equação da reta
=
=
=
=
=
=
38,03
28,87
21,01
55,56
50,00
66,67
72
50
1,667 .X
-20,000 =
108
51
1,075 .X
-16,129 =
38,71
14
14
9,091 .X
-27,273 =
100,00
122
65
0,962 .X -17,308
=
45,19
573
269
0,204 .X -16,939
=
37,96
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
DESTINO ADEQUADO DO PASSIVO AMBIENTAL PROVENIENTE DO
USO DE AGROQUÍMICOS NO PROJETO DE IRRIGAÇÃO ICÓMANDANTES
Yoly Souza Ramos1, Jadson Rodrigo Barrêto Seelig de Souza2, Ana Cláudia Santana de Almeida3,
Yldry Souza Ramos4, Jaqueline Rogéria Barrêto Seelig de Souza Pinheiro5.
1 – Engenheira Agrícola, Especialista em Ecologia e Meio Ambiente, e Mestranda em Engenharia Agrícola pela UFRPE. 2 – Engenheiro Agrônomo,
Mestrando em Engenharia Agrícola pela UFRPE. 3 – Engenheira Química. 4 – Psicóloga do trabalho, Especialista em Psicologia clinico-hospitalar, e
Mestranda em Saúde coletiva, pela UEPB. 5 – Assistente Social.
INTRODUÇÃO
A agricultura é considerada a alavanca inicial para o
desenvolvimento econômico de uma região, quanto mais
tecnificada for a agricultura, maiores serão o consumo de
insumos e a produção, gerando assim, renda e distribuindo
melhores recursos na cadeia produtiva. Agregada a esta
realidade, há o acúmulo das embalagens vazias de
agroquímicos, gerando um passivo ambiental, quando não
tríplice lavada. Em decorrência lógica de tais predicativos, os
passivos ambientais implicam em obrigações futuras;
mediante os resultados econômicos em função de obrigações
contraídas perante terceiros. Ressalte-se que nem sempre tais
obrigações são contraídas de forma voluntária, sendo que,
algum tempo atrás, poder-se-ía afirmar que, muitas eram
originadas de forma inconsciente, uma vez que, os efeitos
nocivos da exposição dos resíduos das atividades econômicas
não eram conhecidos, reconhecidos e/ou divulgados. O projeto
de irrigação de Icó-Mandantes, localizado no município de
Petrolândia – PE, foi criado pela Companhia Hidroelétrica do
São Francisco – CHESF, na década de 80, por meio do
Programa de Reassentamento de Itaparica, devido ao
enchimento do reservatório da Usina Hidroelétrica de Luiz
Gonzaga, numa área de 834 km2, atingindo assim 10.500
famílias. Dessarte, as famílias reassentadas foram
contempladas com lotes com área que variam de1,5 a 6,0
hectares; sendo contemplados com sistema de irrigação por
aspersão convencional. A administração de cada lote compete
ao agricultor, gerando um quadro bastante complexo
primordialmente no que se refere ao controle fitossanitário das
plantas, tendo em vista que a assistência técnica é feita de forma
ineficiente e o manejo do uso dos agroquímicos é inapropriado,
sendo fato existencial, para o acúmulo de passivos.
O manejo do passivo ambiental proveniente do uso de
agroquímicos no Projeto de Irrigação de Icó-Mandantes, é
realizado sem nenhum critério ou normativo ambiental, e
muitas vezes as embalagens vazias de agroquímicos são
jogadas em rios, queimadas a céu aberto, abandonadas nas
lavouras, enterradas sem critério algum, recicladas sem
controle ou até reutilizadas para o acondicionamento de água e
alimentos, contaminando o meio ambiente e colocando em
risco a saúde pública. Mediante esta realidade, a CHESF como
ação pró-ativa, em parceria com a Prefeitura, através da
Secretaria de Saúde e Agricultura, o Instituto Nacional de
Processamento de Embalagens Vazias - inpEV e a Cooperativa
que representa os agricultores mencionados, buscou destinar
de forma ambientalmente correta, o quantitativo de
embalagens vazias de agroquímicos, tampas e pulverizadores,
armazenados de maneira inadequada nas propriedades. Com
esta perspectiva, o presente trabalho mostra um estudo de caso,
com fulcro na relação do homem do campo e seus resíduos, no
sentido de entender os diversos aspectos dessa convivência
para atentar a detalhes sócio-econômicos que levou ao
estabelecimento de uma nova forma de lidar com a política de
educação ambiental.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi adotada para a pesquisa a seguinte metodologia:
1 - Revisão bibliográfica de suporte técnico no âmbito de
referenciais admitidos para a implantação do descarte
ambientalmente adequado do passivo de agroquímicos. 2Cursos de sensibilização e capacitação em Educação
Ambiental. 3 - Revisão documental do estudo de caso: a)
Revisão, análise e sistematização documental a respeito dos
procedimentos adotados para o destino ambientalmente
adequado do passivo de agroquímico do Projeto IcóMandantes, com o reconhecimento dos atores envolvidos e a
participação de cada um. b) Contratação de empresa
especializada para o transporte de resíduos perigosos e
documentação pertinente para a obtenção da Autorização de
Transporte de Resíduos Perigosos – ATRP, expedida pelo órgão
ambiental competente; c) Campanha de recolhimento de
embalagens vazias de agroquímicos, com palestras informado
o manejo correto dos agroquímicos e a obrigatoriedade legal de
cada ator envolvido no elo da cadeia dosAgroquímicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tomando por base o alarmante quadro verificado no
estudo do estado da arte, em relação ao destino de embalagens
de agroquímicos, e após o curso de sensibilização e capacitação
em Educação Ambiental, que levou em consideração a crise
ambiental do século XXI, a percepção de cada ator, e a
necessidade de preservação do meio ambiente. A partir disso,
foi deflagrada a campanha de recolhimento de embalagens
vazias de agroquímicos, no Projeto Icó-Mandantes, devido à
ação reivindicadora dos agricultores daquela região, que
sentiram a necessidade de destinarem o passivo de
agroquímicos existentes em suas propriedades, com o auxílio
das entidades públicas e privadas. Foram ministradas palestras
sobre: meio ambiente, recursos hídricos, o manejo
ambientalmente adequado dos agroquímicos; leis e normativos
68
legais referentes a agroquímicos e toxicidade e os primeiros
socorros em caso de contaminação. Após as palestras supra
mencionadas, foi realizado o recolhimento volante das
embalagens vazias de Agroquímicos, tampas e pulverizadores
nos locais determinados, já acondicionadas nos big bags,
outrora distribuídos aos agricultores e orientados pelos
técnicos da cooperativa a realizar os procedimentos cabíveis
para este armazenamento. Após a entrega dos big bags, com
capacidade de 100 litros cada, a etapa seguinte, foi o
acondicionamento das embalagens vazias de agroquímicos e
suas respectivas tampas, nos mesmos. Após este procedimento
efetuado pelos agricultores, ocorreu a entrega dos big bags ao
caminhão volante, que encaminhou para serem depositados,
temporariamente, no galpão pertencente à cooperativa, que
armazenou todas as embalagens coletadas no interregno. Em
seguida, os big bags de 100 litros foram acondicionados em
outros com capacidade de 1000 litros (cedidos pelo inpEV),
que foram fechados hermeticamente e, dispostos no veículo.
Por fim, o passivo foi envolvido por uma lona, com intento de
funcionar como um impermeabilizante para prevenir o fluxo do
líquido na rodovia, caso chovesse. O caminhão foi sinalizado
com as placas da ONU 3082 – “substância que apresenta risco
para o meio ambiente” e o número de risco 90, conforme a
Portaria n.º 420 do Ministério dos Transportes, de 12 de
fevereiro de 2004, que aprova as instruções complementares ao
regulamento do transporte terrestre de produtos perigosos.
Dessarte, todo o passivo ambiental foi pesado, a fim
de levantar o quantitativo das embalagens usadas ao longo de
10 (dez) anos de uso de Agroquímicos no projeto de irrigação.
O caminhão foi pesado antes e após o acondicionamento do
passivo, para obter o quantitativo do peso que, aferidos,
pesaram 2.132kg, referente a 26 big bags. Destaca-se que
todas estas etapas do transporte do passivo ambiental de
agroquímicos foram acompanhadas por técnicos de segurança
do trabalho e do meio ambiente da Chesf, para verificar a
colocação das placas de sinalização e o acondicionamento dos
big bags no caminhão; o envolvimento do passivo com lona, a
utilização de EPI pelos empregados, bem como conferir a
documentação pertinente ao transporte de resíduos perigosos,
conforme exigência legal. Outrossim, o caminhão seguiu o seu
destino até o posto de recebimento de embalagens vazias de
Agroquímicos, situado no Município de Carpina - PE,
devidamente licenciado pelo órgão ambiental competente, para
posteriore tratamento final - a incineração.
Deflagrar ações de inibição a partir da mobilização da
sociedade para efetivação da legislação pertinente
enfraquecem os lobbies dos fabricantes através de campanhas
de esclarecimento sobre os impactos negativos dos
agrotóxicos, é um ponto importante a seguir e a Chesf como
uma empresa sapiente de sua responsabilidade social realizou o
seu papel, sendo pioneira em assumir o ônus do descarte dos
passivos ambientais existentes no Projeto de Irrigação de IcóMandantes, no município de Petrolândia - PE. Para uma
solução de inibição a nível governamental, convém que seja
criado um instrumento econômico na forma de ecotaxas que
compensem os custos sociais e ambientais decorrentes desta
opção tecnológica - o uso de agrotóxicos.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério de Transporte. Portaria n.º 420,
de 12 de fevereiro de 2004. Aprova as Instruções
Complementares ao Regulamento do Transporte Terrestre de
Produtos Perigosos. Diário Oficial da União. Brasília, 31
maio de.2004.270 p.Destinação final de embalagens vazias de
agrotóxicos. In: www.inpev.org.br.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A Campanha de Recolhimento de Embalagens
Vazias de Agrotóxicos no Projeto Icó-Mandantes foi um marco
divisor, pois a partir desta ação pró-ativa da Chesf, os
agricultores se interaram de suas responsabilidade legais, bem
como o cumprimento da realização da tríplice lavagem das
embalagens de agrotóxicos, não gerando mais passivos
ambientais em suas propriedades rurais. Dessarte, pontua-se
que no Projeto Icó-Mandantes, assim como demais sítios
agrícolas espalhados no Brasil, existem muitos obstáculos que
impedem o surgimento de uma agricultura menos agressiva à
coletividade e ao meio ambiente. Essa realidade surge a partir
da desconstrução da premissa sobre o uso de agrotóxicos e da
falta de informação dos agricultores, sendo eles mesmos os
maiores responsáveis pelas contaminações ocupacionais e
ambientais. De fato, constata-se que esta realidade supra é fruto
da desinformação, principalmente em função da omissão dos
fabricantes, que, em seus esforços de venda, dão ênfase apenas
aos resultados agronômicos e não acentuam as demais
conseqüências do uso destas substâncias no meio ambiente.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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Revista Educação Agrícola Superior
Publicação da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS .Vol. 21 Nº 02 - Nov. 2007
ORIENTAÇÃO SOBRE CRIAÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS NA
REGIÃO DO CURIMATAÚ PARAIBANO
1
2
3
Valneide Rodrigues da Silva , Dermeval Araújo Furtado , Marluce Azevedo de Araújo , Luiz Felipe de A.
Lucena4, Jose Wallace B. do Nascimento5 & Nelle Lira Furtado6
1 Graduanda UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected]
Prof. Dr. da UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected]
3
Profa Msc. da UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected]
4
Msc. da UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected]
5
Prof. Associado da UAEG/UFCG/CTRN- Campina Grande, email: [email protected]
6
Graduanda em Jornalismo da UEPB. Campina Grande. E:mail: [email protected]
2
INTRODUÇÃO
A ovino-caprinocultura nordestina tem apresentado
crescimento expressivo nos últimos anos, ocupando lugar de
destaque no cenário nacional. Ela tem se mostrado uma
atividade do agro negócio bastante promissora, principalmente
devido ao impacto econômico que gera na Região Nordestes,
que concentra em torno de 70,0% da criação. Apesar de suas
características edafoclimáticas contribuírem bastante para a
criação dessas espécies (IBGE, 1996; Berro, 2006); a pratica do
manejo alimentar utilizada de forma inadequada traz
conseqüências negativas à produção animal, visto que os
criadores acabam não fazendo uso racional dos recursos
forrageiros naturais disponíveis nas épocas de fartura e assim
lançam mão de complementação alimentar, de forma abusiva e
sem previa adaptação (Afonso, 2005).
A criação de caprinos e ovinos no nordeste brasileiro é
praticada desde a colonização, principalmente pelo fato dessas
espécies serem mais adaptadas as condições ambientais e
climáticas desfavoráveis do que a maioria das outras espécies.
A Região Nordeste tem mais de 80% coberta pela vegetação
nativa da Caatinga. Este tipo de vegetação é utilizado como
principal fonte de alimentação para a maioria dos rebanhos. No
entanto, durante a época seca o uso da vegetação como única
fonte alimentar limita o potencial produtivo dos rebanhos.
A pesquisa cientifica nesta região procurou ao longo dos
últimos trinta anos, desenvolver tecnologias para aperfeiçoar o
uso da vegetação nativa através de técnicas sustentáveis de uso
da Caatinga; bem como, desenvolveu e aprimorou o uso de
outras fontes de alimentação para estes rebanhos,
principalmente durante a época seca.
Associadas à melhoria da alimentação do rebanho
foram desenvolvidas também técnicas para melhorar o
desempenho reprodutivo e produtivo do rebanho tais como um
manejo sanitário especifico para as espécies, considerando o
ambiente trabalhado, e, hoje, para as enfermidades mais
importantes, existem recomendações que auxiliam os
produtores no manejo da criação de caprinos e ovinos.
O nordeste brasileiro tem sido destacado durante
séculos como área de vocação para a exploração de ruminantes
domésticos, notadamente caprinos e ovinos, pelo potencial da
vegetação natural para manutenção e sobrevivência dos
animais destas espécies. Dentre as várias alternativas
encontradas para a convivência com a seca, a caprinocultura e a
ovinocultura têm sido apontadas como as mais viáveis.
Novos conceitos de organização e gerenciamento da
unidade produtiva, com implementação do regime de manejo
adequado para cada fase da exploração (produção, recria e
terminação) e a adoção de técnicas modernas, são prérequisitos para a promoção da qualidade de vida do homem
rural, com coerência dos índices indicados pelas organizações
internacionais em relação aos Índices de Desenvolvimento
Humano (IDH). Os objetivos desta pesquisa foram orientar os
produtores rurais no projeto e na construção de instalações para
caprinos e ovinos e também diagnosticar o nível tecnológico
empregado nas instalações do Curimataú paraibano, a através
de visitas, palestras e cursos de capacitação, buscando
melhorar os índices produtivos dos animais, como também a
renda dos produtores.
METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida junto aos criadores de
caprinos e ovinos, associados à CAPRISA (Cooperativa dos
Caprinocultores de Barra de Santa Rosa), na cidade de Barra de
Santa Rosa no Curimatau Paraibano, onde foram pesquisadas
trinta e três propriedades. Em cada local foi realizado um
levantamento de dados, com base em um questionário
previamente desenvolvido (Lucena, 2004) com os resultados
obtidos, foi possível traçar um perfil do nível tecnológico dos
sistemas de produção, tipos de instalações, raças mais
exploradas, produção e conservação de forragem, entre outros
itens, e também traçar as principais metas e ações que deveriam
ser utilizadas com o objetivo de melhorar a produção e
produtividades dos animais, como também a qualidade de vida
dos proprietários. Para a realização do trabalho foi colocada
uma estagiaria junto aos produtores, que recebeu uma bolsa de
Iniciação Tecnológica do SEBRAE/IEL/CNPq com a função
de realizar as pesquisas e diagnosticar os problemas, após o
que comunicava aos professores participantes do projeto, que
indicavam as melhores soluções. Foram realizados cursos de
treinamento, dias de campo e palestras para os produtores
rurais.
70
RESULTADOS
CONCLUSÕES
O principal sistema de criação encontrado foi semiextensivo (87,87%), o que mostra que os produtores já tinham
alguma preocupação com o rebanho, onde os animais eram
colocados em instalações para pernoitarem e receberem algum
tipo de suplementação com concentrados e minerais. As
instalações eram rústicas e muitas delas em precário estado de
conservação. Através de visitas técnicas, palestras e seminários
foram destacados a importância das instalações para os
animais, salientando que estas devem abrigar os animais das
intempéries do tempo e propiciar a estes conforto térmico.
No final dos trabalhos todas as propriedades
implantaram o sistema de avaliação através da fichas de
vacinação, vermifugação e controle zootécnico dos animais,
sendo que 20 propriedades já haviam melhorados as suas
instalações, como dimensionado um galpão para ser utilizado
como deposito de ração, alteração no piso das instalações,
instalações de bebedouro dentro dos apriscos, pedilúvios e
cabriteiros. No item de infra-estrutura houve a construção de
cercas divisórias, para separar os filhotes dos animais adultos,
foi colocado saleiro e comedouro dentro das instalações.
Também foram construídas áreas cobertas para abrigar os
animais, pois os mesmos dormiam ao relento, com cercas
divisórias nas instalações e melhoramento dos comedouros e
saleiros.
Foram implantados sistemas de produção, conservação
e utilização de feno e silagem para os animais, principalmente
com a utilização de forrageiras nativas, como a maniçoba, flor
da seda, jureminha e feijão bravo na suplementação alimentar.
No interior das instalações, observou-se que 90,9% delas
possuíam o piso de terra batida. A justificativa para utilização
desse tipo de piso era o custo, que é praticamente zero, e a
notável capacidade de adaptação que os caprinos e ovinos
dessa região possuem, acostumados a viver em condições de
rusticidade, no campo aonde pastam e por ficarem no aprisco
apenas para pernoitarem. Neste caso foi sugerido e acatado
pelos produtores, que estes nivelassem o piso, com inclinação
de 2 a 5%, o que ocorreu, evitando o empoçamento de água nas
instalações.
Observou-se que 45,4% dos criadores pesquisados
exploravam animais definidos com SRD, ou seja, sem raça
definida, que geralmente são animais de baixo padrão genético
e baixa produtividade e que isto ocorria em razão do reduzido
poder financeiro dos proprietários como também pela falta de
conhecimento técnico dos produtores, que realizavam um
cruzamento desordenado entre as raças. O primeiro passo na
conscientização dos produtores foi, através de palestras e
explicações técnicas, destacar a importância do patrimônio
genético do rebanho, onde os animais de raça ou seus
cruzamentos são mais produtivos, e em parceria com o
SEBRAE, foram selecionados alguns reprodutores e matrizes,
principalmente para produção de leite, que foram comprados
pela CAPRISA e efetuados uma melhoria no rebanho, que
mesmo ficando animais SRD, eram animais melhorados e em
processo de melhoramento; salientando que em novembro de
2005 a produção de leite era de 80 litros ao dia e em maio de
2006 estava em 800 litros dia.
Observa-se que 82% dos produtores da CAPRISA,
caracterizam-se por produzir carne, enquanto que a 12% pela
atividade de leite e 3% para reprodução, sendo que a
exploração para carne era tida como uma reserva suplementar,
ou uma poupança.
Após um ano de trabalho junto aos produtores rurais da
CAPRISA, observou-se que a maioria das propriedades já
tinha adotado as fichas para os animais, realizavam marcações,
vermifugações e vacinações dos animais, ou seja, adotaram
novas técnicas de manejo, promoveram modificações nas
instalações, propiciando melhor conforto aos animais e houve
um aumento substancial na produção de leite, demonstrando
que os produtores rurais do Curimataú paraibano são bastante
receptivos a novas tecnologias.
REFERÊNCIAS
Afonso, J.A.B.; Kuchembuck, M.R.G.; Zamith, L.P.;
Kohayagawa, A.; Laposy, C.B., Mendonça, C.L.; Takarira,
R.K. Avaliação do uso da monensina sódica na prevenção da
acidose láctica ruminal experimental em ovinos. Veterinária
Notícias, v.11, n.1, p.35-43, 2005.
Berro, L. Vale do Capibaribe: Uma “terra prometida”. O
Berro, n. 91, p. 100-103, 2006.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Rebanho ovino – efetivo por Estado, Disponível em: http://
www.ibge.gov.br. 1996. acesso em: 15 ago 2006.
LUCENA, L. F. de A. Caracterização de instalações da
Caprinocultura no Cariri Paraibano. Universidade Federal de
Campina Grande. Paraíba. 71p. 2004. Dissertação de
Mestrado.
Revista Educação Agrícola Superior - Vol. 21 Nº 02 - Nov - 2007
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DOSSIÊ AMBIENTAL DA ÁREA URBANA DA CIDADE DE
PEDRA LAVRADA – PB
Aline Costa Ferreira1, Denise de Jesus Lemos Ferreira2, Silvana Silva de Medeiros1, Kaline Dantas Travassos3, Débora Rafaelly
3
4
Soares Silva , Vera Lúcia Antunes de Lima
1Engenheira Agrícola, Mestranda em Irrigação e Drenagem, UAEAg/UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: ; [email protected]; [email protected]
2Graduanda em Engenharia Agrícola, UAEAg/CTRN/UFCG, E-mail: [email protected]
3Engenheira Agrícola. e-mail: [email protected]; [email protected]
4Engenheira Agrícola, Profa. Doutora da UAEAg/ CTRN/UFCG, Campina Grande-PB. e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A falta de opção no campo tem ocasionado o
crescimento acelerado das cidades brasileiras, e isso tem
refletido em problemas ambientais, os mais evidentes referemse à escassez de serviços sanitários, deficiências de moradias e
serviços básicos, falta de segurança e degradação ambiental,
além da vulnerabilidade a acidentes e desastres naturais. O
objetivo de se estudar os impactos ambientais é,
principalmente, o de avaliar as conseqüências de algumas
ações, para que possa haver a prevenção da qualidade de
determinado ambiente que poderá sofrer a execução de certos
projetos ou ações, ou logo após a implementação dos mesmos.
O estudo para a avaliação de impacto permite que certa questão
seja compreendida: proteção e preservação do ambiente e o
crescimento e desenvolvimento econômico. Muitas vezes
podemos encontrar grandes áreas impactadas, ou até mesmo
países e estados, devido ao rápido desenvolvimento
econômico, sem o controle e manutenção dos recursos naturais.
A conseqüência pode ser poluição, uso incontrolado de
recursos como água e energia etc. Do ponto de vista social e
econômico, o impacto fundamental é a crescente transferência
de encargos e responsabilidades sociais para os Municípios,
acompanhados de forte controle financeiro. O Dossiê de
Ambiência proporciona subsídios para a adoção de medidas
que atendam a tão indispensáveis condições. A contribuição é
factível, na medida em que reúnem os problemas ambientais
mais relevantes que interferem na qualidade de vida da
população e as potencialidades do município que podem ser
aproveitadas para a geração de trabalho, emprego, renda e
novos meios de renda, apresentando alternativas viáveis,
indicativos de parceria e estimativas de custos para algumas
das ações propostas. Para que a população do Município de
Pedra Lavrada possa ter uma qualidade de vida satisfatória, é
necessário que sejam considerados as condições de ordem
social, econômica, ambiental e cultural do local, portanto o
presente trabalho apresenta como meta principal à
identificação de problemas nesta direção, visando sugerir
melhorias que venham a contribuir de maneira significativa à
população deste Município onde foi utilizada a metodologia de
Rocha (1997), onde serão detectados os diagnósticos e
consequentemente seus prognósticos.
METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado no município de Pedra
Lavrada localizado na Microrregião do Seridó Oriental
Paraibano e na Mesorregião da Borborema, apresentando uma
área de 391,3 Km2 e altitude de 516 m (IDH, 2000). A
população do Município de Pedra Lavrada segundo o Censo
Demográfico do IBGE/2000 é de 6.617 habitantes,
apresentando uma densidade demográfica de 16,9 hab/ Km2
sendo, 2.446 na área urbana. O Dossiê de Ambiência foi
desenvolvido no município de acordo com processo
metodológico apresentado por Rocha (1997) estruturado nas
seguintes etapas se compõe de quatro etapas principais:
Levantamento de informações gerais do Município,
contextualização dos problemas ambientais e
encaminhamentos e equacionamento dos problemas
ambientais identificados.
a) Levantamento de informações gerais do Município
em visita a toda área urbana, uso de questionários em entrevista
realizados com secretários municipais, representantes de
instituições públicas e de organizações da sociedade civil,
levantamento fotográfico e exaustiva revisão.
b) Contextualização dos problemas ambientais,
destacando a deterioração das condições ambientais,
econômicas, e de infra-estrutura como um indicador do não
aproveitamento das potencialidades do município.
c) Análise crítica dos problemas ambientais,
relacionando-os ao meio ambiente e a infra-estrutura do
município, como uma avaliação preliminar.
d) Encaminhamentos e o equacionamento dos
problemas ambientais identificados – A partir de um
diagnóstico construído com as informações coletadas e
contextualizadas foram definidas alternativas para o
equacionamento de diversos problemas ambientais
observados, tratando-os como meta. A priorização foi
conseguida através de “pesos” atribuídos a cada meta, “pesos”
estes analisados ao longo dos anos, de acordo com a
experiência da Equipe Técnica, usando-se intervalos lógicos de
valores de Deterioração Ambiental, que foram calculados em
porcentagens, por temas, mediante médias ponderadas. Para
tanto tomou-se como base na metodologia preconizada por
Vilfredo Paretto apresentada por Rocha (1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na tabela 1 encontra-se em ordem de ocorrência
dados pela priorização dos problemas feita pela análise de
Pareto. A priorização das metas está relacionada diretamente
com a maior Deterioração Ambiental, as quais são descritas em
ordem de prioridade. Alguns problemas ambientais foram
detectados no município de Pedra Lavrada, os quais foram
transformados em metas que através de ações públicas podem
ser solucionadas. Verifica-se que se fazer necessário que sejam
72
tomadas algumas previdências, principalmente, em relação a
projeto de conservação e pesquisa para áreas deterioradas
devido à extração de minérios, que representou 8,58 da
deterioração detectada no município. Verificou-se que o
matadouro público encontra-se em condições precárias e
funciona fora das normas necessária de saúde pública. No
município foi detectado esgoto a eu aberto em praticamente
todas as ruas visitadas, sendo necessárias algumas
providencias nesse setor já que isso pode ser um vetor de
doenças na comunidade. O município não possuiu aterro
sanitário e o lixo é posto a céu aberto. Precisam ser revistas as
calçadas das cidades, pois são bastante altas, com muitos
degraus e objetos que dificultam a acessibilidade de
cadeirantes, idosos e grávidas. Também foram detectados,
casos isolados, de aprisionamento de animais em gaiolas.
CONCLUSÕES
Foram encontrados os seguintes problemas
ambientais que mais interferem na qualidade de vida do
município de Pedra Lavrada: Saneamento básico, Melhoria
habitacional, Gestão dos resíduos sólidos, Saúde pública e
Pavimentação das ruas. Se faz necessários que sejam tomadas
algumas providencias em relação a disposição do lixo sólido e
do saneamento básico do município.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, S. T. Ferramentas para o aprimoramento da
qualidade. São Paulo: Pioneira, 1996. 115p. (Série: Qualidade
Brasil).
ROCHA, J. S. M. Manual de Projetos Ambientais. Imprensa
Universitária da UFSM-RS, Santa Maria-RS, 423p., 1997.
Tabela 1. Metas para a Área Urbana do Município de Pedra Lavrada, PB
Metas
Nome da meta
Pesos
Deterioração
(%)
01
Projeto de conservação e pesquisa para áreas
deterioradas devido à extração de minérios
Melhoria da infra-estrutura (principalmente o
matadouro público)
Saneamento básico
Melhoria habitacional
Gestão dos resíduos sólidos
Saúde publica
Pavimentação das ruas
Arborização urbana
Plano de controle ambiental
Órgão municipal de meio ambiente
Acessibilidade nos passeios públicos
Educação ambiental técnica
Legislação e instrumentos de gestão (cód.
Tributário, de obras, de postura, cadastro imobiliário
urbano e demarcação do perímetro urbano)
Implementação e acompanhamento da agenda 21
Aprisionamento de animais silvestres
Projeto turístico
Total
5,50
8,58
Deterioração
acumulada
(%)
8,58
3,74
5,84
14,42
5,50
3,73
3,72
3,61
5,17
3,67
5,21
3,75
3,70
3,69
3,24
8,58
5,82
5,81
5,63
8,07
5,73
8,13
5,85
5,77
5,76
5,06
23,00
28,82
34,63
40,26
48,33
54,06
62,19
68,04
73,81
79,57
84,63
3,69
2,58
3,58
64,08
5,76
4,06
5,59
100,00
90,39
94,41
100,00
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16