CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS
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Voltar CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS - Unileste-MG Curso de Filosofia – 7º período - Disciplina: Filosofia da Linguagem Professor Ismar Dias de Matos A SEMIÓTICA DE PEIRCE É mérito do semiótico Charles Sanders Peirce (1839-1914) haver elaborado a tríplice função do sinal, que pode ser entendido como “algo que representa algo diferente de si para os intérpretes”. E isto significa, então, que todo sinal implica: a) Uma relação com a coisa representada, isto é, mediatiza algo do mundo; b) Uma relação com o significado, isto é, mediatiza algo como algo significativo, que pertence a um sistema lingüístico; e c) Uma relação com os seus intérpretes, isto é, mediatiza algo como algo significativo que tem que ser interpretado pelos membros de uma comunidade lingüística. Essa tríplice relação semiótica mostra que o essencial em todo conhecimento é a interpretação de algo como algo, mediado pelos sinais. Ora, a interpretação de algo como algo “pressupõe sempre um nós que compreende e interpreta o sentido das proposições mediadas pelos sinais lingüísticos. O conhecimento, a partir de sua mediação pela linguagem, só pode ser concebido como a compreensão comunicativa e formação de um consenso sobre algo do mundo”. É importante mostrar que a originalidade do sistema de Peirce reside na própria definição que ele dá do signo: “Um signo... é um Primeiro, que mantém com um Segundo, chamado Objeto, uma relação triádica tão verdadeira que é capaz de determinar um Terceiro, denominado Interpretante, para que este assuma a mesma relação triádica com respeito ao mencionado Objeto que a reinante entre o Signo e o Objeto”. Para compreender essa definição é preciso lembrar que toda experiência humana se organiza em três níveis, que Peirce denomina: Primariedade, Secundariedade e Terceiridade e que correspondem, grosso modo, às qualidades sentidas, à experiência do esforço e aos signos. O Signo é, por seu turno, uma dessas relações de três termos: o que provoca o processo de encadeamento, seu objeto e o efeito que o signo produz ou interpretante. Numa acepção ampla, o Interpretante é, portanto, o sentido do Signo; numa acepção mais estrita, a relação paradigmática entre um Signo e outro: portanto, o Interpretante é também sempre signo, que terá também seu interpretante etc. até o infinito. É importante esclarecer que a semiose ou representação pode ser assim especificada: um Signo é algo que representa, para um interpretante, algo diferente em um certo aspecto ou qualidade. Aí estão implícitas três categorias – a qualidade, a relação diática e a relação triádica, a saber: 1) A qualidade isenta de relações, em vista da qual se expressa algo como algo em seu ser-assim, por meio de um Signo (categoria da Primeiridade). A essa categoria corresponde o tipo sígnico do ÍCONE1, que deve estar implícito em 1 “Defino um Ícone como sendo um signo que é determinado por seu objeto dinâmico em virtude de sua natureza interna. Defino um Índice como sendo um signo determinado por seu objeto dinâmico em virtude da relação real que mantém com ele. Defino um Símbolo como sendo um signo que é determinado por seu objeto dinâmico no sentido apenas no qual ele será interpretado” (DUCROT, Oswald e TODOROV, Tzvetan. Dicionário enciclopédico das ciências da linguagem, p. 90). todo predicado de um juízo experiencial, a fim de que se integre à síntese da representação o teor imagético de uma qualidade universal. 2) A relação diática do Signo com os objetos por ele designados (categoria da Secundariedade). A essa categoria corresponde o tipo sígnico do ÍNDICE, que enquanto função dos pronomes e dos advérbios, deve estar representado em todo juízo experiencial, a fim de garantir a identificação espácio-temporal dos objetos a serem determinados por predicados. 3) A relação triádica do Signo como “mediação” de algo para um interpretante (categoria da Terceiridade). A essa categoria corresponde o tipo sígnico do SÍMBOLO, que tem a função da síntese como “representação” em conceitos de algo como algo. Conforme Peirce, os conceitos ficariam “vazios” sem a integração das funções de ÍCONE e ÍNDICE. Também essas funções são “cegas” sem sua integração à função de SÍMBOLO (representação), pois só a representação pode tornar plena de sentido a função de índice da pulsação sangüínea ou de uma placa de rua, por exemplo, ou a função de ícone de uma imagem, um modelo, um diagrama. Em sua obra mais importante – Transformação da filosofia – Apel procura esclarecer o pensamento acima descrito: “Para que se possa entender em que medida essa dedução semiótica das três categorias fundamentais e dos três tipos de signo realmente contribuem para o esclarecimento das condições de possibilidade e de validade da experiência, é preciso, com Peirce, ordenar os três tipos fundamentais de conclusão às três categorias, ou aos três tipos de signos: à terceiridade corresponde a dedução, como mediatização racionalmente necessária; à secundidade, a indução, como confirmação do que é geral pelos fatos apresentáveis aqui e agora; e à primeiridade, a abdução, como cognição de novas qualidades do ser-assim (também chamada retrodução ou hipótese)”. Para Peirce, decorrem três coisas da relação trivalente dos signos em face dos fundamentos da filosofia: a) Não há nenhuma cognição de algo como algo sem uma mediatização sígnica real com base em veículos sígnicos materiais. Nessa concretização da função mediatizadora da cognição reside a transformação semiótica da epistemologia em sentido estrito. b) Não há qualquer função de representação do signo para a consciência sem um mundo real, que em princípio precisa ser pensado como representável em aspectos, isto é, cognoscível em aspectos. c) Não há nenhuma representação de algo como algo por meio de um signo sem que haja interpretação por um intérprete real.
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