Completo - Energia Nuclear - Passado Presente e Futuro

Transcrição

Completo - Energia Nuclear - Passado Presente e Futuro
III
Sumário
Introdução ....................................................................................................... 5
1 - História da Energia Nuclear ....................................................................... 6
Radioatividade............................................................................................. 6
Definição .................................................................................................. 6
Conceitos iniciais ..................................................................................... 7
Histórico da Radioatividade...................................................................... 7
Conceitos Específicos ............................................................................ 12
Elementos radioativos ............................................................................... 13
Projeto Manhattan ..................................................................................... 18
Efeitos Colaterais ................................................................................... 19
Testes Nucleares....................................................................................... 20
O Tratado de Não Proliferação Nuclear ..................................................... 25
Usinas nucleares no mundo ...................................................................... 29
Acidentes nucleares .................................................................................. 30
Three Mile Island, EUA, 1979................................................................. 31
Chernobyl, URSS, 1986 ......................................................................... 32
Goiânia, Brasil, 1987 .............................................................................. 35
2 - Aplicações da Energia Nuclear ................................................................ 40
Reatores Nucleares ................................................................................... 40
Bomba A ................................................................................................... 41
Fissão nuclear ........................................................................................... 42
A primeira bomba atômica ..................................................................... 44
Hiroshima e Nagasaki................................................................................ 45
Corrida EUA x URSS ................................................................................. 48
Bomba H ................................................................................................... 50
Arsenais nucleares .................................................................................... 51
Onde estão as bombas? ........................................................................ 52
Submarino nuclear .................................................................................... 55
Submarinos Nucleares x Submarinos Convencionais ............................ 55
Propulsão dos Submarinos Nucleares ................................................... 56
Submarinos Nucleares de Ataque .......................................................... 56
4
Submarinos Nucleares Balísticos ........................................................... 58
Navios nucleares ....................................................................................... 60
Míssil balístico intercontinental (ICBM) ...................................................... 61
Fases de vôo ......................................................................................... 62
História .................................................................................................. 62
ICBMs modernos ................................................................................... 64
Mísseis específicos ................................................................................ 65
3 - O Programa Nuclear Brasileiro................................................................. 66
O acordo nuclear Brasil-Alemanha ............................................................ 67
O Programa do Nuclear da Marinha .......................................................... 67
O Programa Nuclear Paralelo .................................................................... 69
Cronologia do Programa Nuclear Brasileiro ............................................... 71
As reservas de urânio brasileiras ............................................................... 75
Instalações nucleares estratégicas brasileiras ........................................... 76
Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto ............................................... 76
Unidade de Concentrado de Urânio em Caetité - BA ............................. 76
Unidade de Tratamento de Minérios em Caldas - MG ............................ 77
Sistema de Gerenciamento de Rejeitos Sólidos de Angra 2................... 77
Unidade de Produção de Hexafluoreto de Urânio................................... 78
Novas centrais nucleares .......................................................................... 78
Cronograma ........................................................................................... 79
O futuro da energia nuclear no Brasil......................................................... 79
Os novos reatores nucleares nacionais .................................................. 79
A Fusão Nuclear .................................................................................... 80
Anexos .......................................................................................................... 82
Referências Bibliográficas ............................................................................. 87
5
Introdução
Energia nuclear é a energia liberada numa reação nuclear, ou seja, em
processos de transformação de núcleos atômicos. Alguns isótopos
de certos
elementos apresentam a capacidade de se transformar em outros isótopos ou
elementos através de reações nucleares, emitindo energia durante esse processo.
Baseia-se no princípio da equivalência de energia e massa (observado por Albert
Einstein), segundo a qual durante reações nucleares ocorre transformação de
massa em energia. Foi descoberta por Hahn, Strassmann e Meitner com a
observação de uma fissão nuclear depois da irradiação de urânio com nêutrons.
A tecnologia nuclear tem a finalidade de aproveitar a energia nuclear,
convertendo o calor emitido na reação em energia elétrica. Isso pode acontecer
controladamente em um reator nuclear ou descontroladamente em uma bomba
atômica. Em outras aplicações, aproveita-se da radiação ionizante emitida.
Este trabalho visa descrever o histórico da energia nuclear no mundo, desde
a descoberta da radioatividade, passando pelos diversos tipos de aplicação dessa
tecnologia e fechando com o histórico do Programa Nuclear Brasileiro.
Buscamos, também, demonstrar através de números, gráficos e tabelas, a
importância que esse tipo de geração de energia terá em um mundo que busca
limitar suas emissões de carbono, devido ao Aquecimento Global.
Por último, mas não menos importante: procuraremos dar uma pequena
introdução sobre os planos (nacionais e internacionais) para o futuro, como novas
tecnologias de reatores; a conversão de urânio altamente enriquecido, usado em
milhares de ogivas nucleares em desativação, em combustível nuclear; e o Santo
Graal do futuro energético da humanidade, a Fusão Nuclear, processo responsável
pelo brilho das estrelas.
6
1 - História da Energia Nuclear
Radioatividade
Definição
Por definição, temos as seguintes definições para Radioatividade e Radiação
encontradas no Dicionário Aurélio:
Radioatividade
“Propriedade de certos elementos químicos (rádio, urânio etc.) de
transformar-se espontaneamente em outros elementos, emitindo uma radiação
eletromagnética.”
Radiação
“Emissão de raios, de partículas.”
“Elemento constitutivo de uma onda luminosa ou eletromagnética: radiação
infravermelha, ultravioleta.”
“Transmissão de energia pelo espaço.”
“Transmissão do som através da matéria etc.”
“Radiação solar, energia emitida pelo Sol, uma parte da qual é absorvida ao
nível da camada de ozônio da estratosfera e outra atinge a troposfera.”
Desta forma, fica claro que há uma diferenciação entre estes dois termos que
muitas vezes são utilizados de forma errônea.
7
Conceitos iniciais
Para
o
correto
entendimento
e
explicação da história da Radioatividade, é
necessário que alguns conceitos iniciais, como
a composição do átomo, por exemplo, sejam
relembrados. A imagem ao lado elucida este
ponto.
Histórico da Radioatividade
A. Tubos de Raios Catódicos
Após a descoberta da teoria do átomo, foi em
um tubo de raios catódicos que, em 1897, o físico J.
J. Thompson verificou a existência do elétron.
A construção do tubo de raios catódicos e a
descoberta dos chamados raios catódicos (elétrons
na verdade) desencadearam o início da descoberta
J. J. Thompson e o Tubo de Raios
Catódicos.
de uma nova área da física: a Radioatividade.
Sua maior aplicação foi (e ainda é em alguns casos) em aparelhos de TV
convencionais.
8
B. Raios X
Em 1895, Wilhem Conrad Röntgen também
estudava os tubos catódicos e percebeu que embora
o tubo estivesse inteiramente coberto por papelão
preto, ainda eram produzidos raios que iluminavam
uma tela fosforescente fora dele. Segundo parecia, os
raios eram dotados de um poder de penetração.
Percebendo a propriedade que estes raios
tinham
de
relativamente
atravessar
baixa,
materiais
ele
de
começou
densidade
a
realizar
Wilhen Conrad Röntgen..
las para produzir
experiências com chapas fotográficas e descobriu que poderia usá-las
fotos que eram sombras do interior dos objetos.
Röntgen havia descoberto os Raios X (ele utilizou este nome, pois a princípio
não sabia se eram ondas ou partículas), um fato que revolucionou os campos da
Física e da Medicina. Por sua descoberta recebeu o primeiro Prêmio Nobel em
Física, em 1901.
Mais tarde, os raios-X foram identificados como sendo uma radiação
eletromagnética da mesma natureza que a luz visível,, só que com freqüências
muitos mais elevadas (carregadas por partículas chamadas fótons).
9
C. Pesquisas Adicionais - Academia Francesa de Ciências
A descoberta dos raios X despertou grande
interesse entre os investigadores, que ficaram curiosos
quanto à possível existência de outras radiações.
Em 20 de janeiro de 1896, semanas depois de
Röntgen ter feito sua descoberta, Henri Poincaré fez um
relatório sobre os Raios X para a Academia Francesa de
Ciências. Além de sua explicação sobre os raios X,
estavam
algumas
observações
referentes
a
Henri Poincaré.
fosforescências estranhas que ele observou. Este fenômeno interessou Henri
Becquerel.
D. Henri Becquerel – Substâncias Fosforescentes
Becquerel pensou em investigar se todos os corpos
fosforescentes
investigar
os
poderiam
emitir
materiais
raios
similares.
fosforescentes,
Ao
descobriu
evidências do que queria descobrir e apresentou ensaios
à academia sustentando a idéia completamente falsa de
que
substâncias
fosforescentes
produziriam
raios
penetrantes, como os raios X.
Com esta idéia, ele iniciou suas investigações
Henri Becquerel.
utilizando um composto à base de Urânio.
Colocando o composto sobre uma chapa fotográfica, Becquerel exponha-os
exponha
ao Sol por um período e, então, revelava a chapa. Assim, constatou que este
material afetava a chapa de forma similar aos raios X. Mas as investigações
adicionais, de 26 e 27 de fevereiro, foram adiadas por causa do céu nublado de
Paris e o Urânio, que Becquerel pretendia expor ao Sol, foi colocado em um
envelope que ficou sobre a chapa dentro de uma gaveta.
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No primeiro dia de março, ele revelou a chapa fotográfica com a expectativa
de obter uma imagem fraca e, para sua surpresa, a imagem foi clara e forte. Isto
significou que o Urânio emitia radiação sem a necessidade de uma fonte de energia
do tipo do Sol.
Becquerel havia descoberto a espontânea emissão de radiação vinda de um
material em busca de estabilidade atômica,, posterior definição de Radioatividade.
Depois, Becquerel demonstrou que a radiação emitida pelo Urânio
compartilhava certas características como os raios X. Porém não era como os raios
X,, pois podia ser desviado por um campo magnético e, por essa razão, deveria ser
composto por partículas carregadas.
Por sua descoberta, Becquerel foi, em 1903, gratificado com um Prêmio
Nobel em Física. Porém, não foi Becquerel quem deu esse nome ao fenômeno
meno nem
que explicou a sua origem.
E. Marie Sklodowska-Curie
Após a divulgação das estranhas emissões de radiação vinda de alguns
materiais, houve um pequeno período de grande
interesse por este fenômeno e um intervalo de cinco anos
sem maiores estudos.
Até que, ao iniciar os estudos para obter seu
doutorado, Marie Sklodowska-Curie interessou-se pelo
fenômeno observado por Becquerel.
A relativa negligência de Becquerel com relação
Marie Sklodowska-Curie
Curie
.
aos raios foi uma das razões que fizeram Marie Curie decidir estudá-los,
los, além de ser
um excelente assunto para ser apresentado como tese de doutorado.
11
Marie e seu marido, Pierre, souberam desta estranha emanação e que ela
ionizava o ar à volta do material. Sendo Pierre um mecânico talentoso, que preferia
referia
fazer sua própria aparelhagem, desenvolveram um método com o qual poderiam
medir o quanto era radioativo uma amostra de material com relação a outra.
F. Ernest Rutherford
Através
descobriram
de seus
e
trabalhos,
divulgaram
a
Marie
e
Pierre
radioatividade
de
determinados materiais. Com esta descoberta muitas
pessoas se interessaram pelas pesquisas neste campo.
Dentre estas pessoas, estava Ernest Rutherford, pupilo
de J. J. Thompson.
Em
seu
primeiro
ensaio
escrito,
Rutherford
observou que as substâncias radioativas têm alto peso
atômico e sua radioatividade parece ser independente de
Ernest Rutherford.
.
estados químicos (implicando atividade em altos níveis).
Para compreender a explicação de Rutherford sobre a radioatividade, era
preciso um salto de imaginação muito grande com relação a qualquer uma das duas
explicações já existentes.
Radioatividade é uma manifestação da desintegração dos núcleos atômicos.
Quando o elemento rádio emite radiação, está enviando
nviando partículas subatômicas:
minúsculos elétrons e partículas um pouco maiores com cargas positivas, que hoje
sabemos serem núcleos de hélio, bem como raios gama (onda eletromagnética de
comprimentos de onda muito mais curtos do que a luz visível).
Todos os elementos mais pesados, com se verifica, são inerentemente
instáveis e se acham em contínua transmutação.. Um átomo de urânio ou rádio
repetidamente altera a si mesmo, algumas vezes após segundos ou minutos e, em
12
outras vezes, após milhares de anos. Agora chamamos este processo de
"decadência" e temos um conhecimento detalhado de cadeias de decadência.
Com o avanço das pesquisas E. Rutherford descobriu as radiações alfa e
beta, o que foi fundamental para a descoberta do seu modelo atômico em 1911,
iniciando uma teoria que serviu como base para a explicação dos fenômenos
radioativos.
Por suas investigações na desintegração dos elementos e a química das
substâncias radioativas, Ernest Rutherford recebeu, em 1908, um prêmio Nobel de
Química.
Conceitos Específicos
Assim, após este histórico, chegou-se a definição que Radioatividade é a
desintegração espontânea de núcleos atômicos mediante a emissão de partículas
subatômicas chamadas partículas alfa e partículas beta e de radiações
eletromagnéticas denominadas raios X e raios gama.
Partículas alfa
São agrupamentos de dois prótons e dois
nêutrons emitidos do núcleo de alguns elementos.
Partículas beta
São elétrons de alta energia emitidos de núcleos atômicos num processo
conhecido como decaimento beta.
13
Radioatividade é também conseguida com a desintegração “não” espontânea
de núcleos atômicos mediante o bombardeamento de partículas com Nêutrons
(Fissão) ou mediante fusão com outros elementos.
Fissão Nuclear.
.
Fusão Nuclear.
.
A Fissão nuclear é a divisão do núcleo de um átomo em dois núcleos
menores, com liberação de grande quantidade de energia. É este fato que levou
muitos engenheiros e cientistas a iniciar projetos para o desenvolvimento de
reatores de fusão para gerar eletricidade.
Dentro deste conceito, uma grande mente surge para contribuir com a
evolução e a utilização desta energia: Albert Einstein e sua equação E = mc².
Elementos radioativos
A radioatividade é um fenômeno natural ou artificial, pelo qual algumas
substâncias ou elementos químicos, chamados radioativos, são capazes de emitir
radiações, as quais têm a propriedade de impressionar placas fotográficas, ionizar
gases, produzir fluorescência, atravessar corpos opacos à luz ordinária, etc. As
radiações emitidas pelas substâncias radioativas são principalmente partículas alfa,
partículas beta e raios gama. A radioatividade é uma forma de energia nuclear,
usada em medicina (radioterapia), e consiste no fato de alguns átomos como os do
urânio, rádio e tório serem “instáveis”, perdendo constantemente partículas alfa, beta
e gama (raios-X). O urânio, por exemplo, tem 92 prótons, porém através dos séculos
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vai perdendo-os na forma de radiações, até terminar em chumbo, com 82 prótons
estáveis.
A radioatividade pode ser:
•
Radioatividade natural ou espontânea: É a que se manifesta nos elementos
radioativos e nos isótopos que se encontram na natureza e poluem o meio
ambiente.
•
Radioatividade artificial ou induzida: É aquela que é provocada por
transformações nucleares artificiais.
Dentre os metais naturalmente radioativos, podemos destacar os seguintes:
Rádio - Metal de símbolo Ra, número atômico 88, massa atômica 226,05,
descoberto em 1898 por P. e M. Curie, é dotado de intensa radioatividade. O rádio é
um metal alcalino terroso, que funde a 700 °C. Muit o raro na natureza, é extraído da
pechblenda. Desintegra-se com uma vida média de 1620 anos, produzindo uma
emanação gasosa de hélio e de radônio. Esse último, também radioativo, transmutase no polônio que, por uma série de novas desintegrações, conduz finalmente ao
chumbo 206. As radiações alfa, beta e gama emitidas pelo rádio são dotadas de
grande poder bactericida e sua ação fisiológica acarreta a destruição dos tecidos e a
suspensão da mitose, donde diversas aplicações terapêuticas (curieterapia).
Tório - Metal raro de símbolo Th, número atômico 90, massa atômica
232,038, branco, cristalino, de densidade 12,1g/cm³, e que funde a 1700°C,
aproximadamente. Estudos recentes demonstraram que o poder energético das
reservas mundiais de tório é superior ao poder energético de todas as reservas de
urânio, carvão, petróleo e gás natural juntas. A tabela abaixo mostra as atuais oito
maiores reservas de tório do mundo.
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País
Reservas de Tório (Ton)
Reservas base de Tório (Ton)
Austrália
300.000
340.000
Índia
290.000
300.000
Noruega
170.000
180.000
Estados Unidos
160.000
300.000
Canadá
100.000
100.000
África do Sul
35.000
39.000
Brasil
16.000
18.000
Malásia
4.500
4.500
Outros países
90.000
100.000
Total Mundial
1.200.000
1.400.000
Já esta outra tabela mostra dados de acordo com a OECD, "Trends in Nuclear
Fuel Cycle", Paris, France (2001):
País
Reservas
confirmadas (ton)
Reservas adicionais
Estimadas (ton)
Brasil
606,000
700,000
Turquia
380,000
500,000
Índia
319,000
—
Estados Unidos
137,000
295,000
Noruega
132,000
132,000
Groenlândia
54,000
32,000
Canadá
45,000
128,000
Austrália
19,000
—
África do Sul
18,000
—
Egito
15,000
309,000
Outros países
505,000
—
Total mundial
2,230,000
2,130,000
Devemos observar que, até o ano de 2009, o Brasil havia prospectado
apenas 25% do seu território em busca de jazidas de minerais radioativos, em
especial, urânio e tório. O país aparece no 1º e 6º lugares como detentor das
maiores jazidas mundiais de tório e urânio, respectivamente.
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Urânio - Metal de símbolo U, número atômico 92, massa atômica 238,07, e
densidade de 18,7g/cm³, extraído do óxido de urânio. Último elemento natural da
classificação periódica, o urânio foi isolado em 1841 por Péligot. Trata-se de um
sólido cinza-ferro, que funde a 1800°C e se oxida f acilmente. O óxido uranoso, ou
urano, UO2, é um sólido negro, de propriedades básicas, a que correspondem os
sais ufanosos, verdes.
O anidrido urânico, UO3, alaranjado, é anfótero e produz, em reação com os
ácidos, sais de uranila (pois contém o radical UO2). Tais sais são amarelos e
dotados de fluorescência verde. O UO3 dá também, ao reagir com as bases, os
uronatos, como o Na2UO4; este, incorporado ao vidro, resulta no vidro de urânio,
que se torna fosforescente sob a ação de raios ultravioletas.
O minério de urânio mais importante é a pechblenda, ou uraninita, U3O8.
Existem, todavia, muitos outros, que vêm sendo ativamente extraídos.
Foi no urânio que Henri Becquerel descobriu a radioatividade. O produto
natural é uma mistura de três isótopos, entre os quais o U238, mais abundante,
gerador da família do rádio, e o U235, gerador da família do actínio. Sob a ação de
nêutrons, o urânio 238 pode transformar-se em plutônio, e o urânio 235 pode sofrer
fissão nuclear.
Em virtude da baixa concentração do urânio em seus diversos minérios (em
geral menos de 1%), os tratamentos metalúrgicos compreendem inicialmente uma
concentração física e, depois, uma concentração química dos sais de urânio. Após a
purificação do concentrado, o metal é elaborado, a partir do tetrafluoreto, por
redução metalotérmica pelo magnésio ou pelo cálcio. É afinado por refusão a vácuo
antes de enformado e tratado termicamente. O urânio é utilizado, sobretudo, como
combustível nos reatores nucleares (barras, tubos, anéis); seja em estado puro, seja
em liga como o molibdênio, ou ainda em compostos refratários (óxido, carboneto).
Pode também ser enriquecido num isótopo físsil, principalmente pelo processo
seletivo da difusão gasosa do hexafluoreto através de paredes porosas, ou pelo
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processo de ultracentrifugação. A tabela abaixo mostra os países com as maiores
reservas de urânio conhecidas.
Reservas atuais em Toneladas de U3O8
Cazaquistão
957.000
Austrália
910.000
África do Sul
369.000
Estados Unidos
355.000
Canadá
332.000
Brasil
309.000
Namíbia
287.000
Total Mundial
4.416.000
* Fonte: Brasil. MCT
Polônio - Metal de símbolo Po, radioativo, de número atômico 84, massa
atômica 210, que acompanha geralmente o rádio.
18
Projeto Manhattan
A energia nuclear só veio a se tornar algo prático porque o mundo estava em
plena guerra de conquista na década de 40. Da teoria (1905) à prática foram 37
anos. O medo de que o outro lado fizesse uso da energia contida no átomo custou
apenas 3 anos (1939-1942) de empenho entre cientistas e autoridades norteamericanas para obter através de pesquisas o domínio da matéria. O ataque a Pearl
Harbor aumentou o temor norte-americano e a necessidade em dar uma resposta ao
mundo implicando na entrada do país na Segunda Guerra Mundial e após o fim dela,
usar as bombas nucleares serviu para mostrar sua capacidade e conter nações com
potencial risco bélico no cenário mundial.
O primeiro reator surgiu em 1942 com Enrico Fermi, o Chicago Pile 1. O
capítulo seguinte àquele dia acabou destruindo Hiroshima e Nagasaki. Às
05h29min45s de 16 de julho de 1945, os Estados Unidos explodiram a primeira
bomba atômica da história, conhecida como "Gadget". Este foi o objetivo atingido
pelo Manhattan Engineer District of the US Army Corps of Engineers, mais
conhecido como "Projeto Manhattan", desenvolver e construir armas nucleares.
Julius Oppenheimer dirigia um grupo de cientistas americanos e de refugiados
europeus em Los Alamos - Novo México. A mensagem "O navegador italiano
aportou, os nativos estão se mantendo calmos" era a senha para as autoridades em
Washington que o objetivo havia sido atingido.
Na ocasião do teste, Oppenheimer citou um trecho do Bhagavad-Gita, quando
Vishnu tenta convencer o príncipe a cumprir seu dever e para isto toma sua forma
de muitos braços: "Agora, tornei-me a morte, o destruidor dos mundos."
O Projeto Manhattan foi assim chamado por estar ligado ao Distrito de
Engenharia de Manhattan do US Army Corps of Engineers e porque boa parte da
pesquisa inicial foi realizada em Nova York, que depois foi transferida para um local
menos movimentado.
19
Julius Oppenheimer, que dirigia o projeto e selecionou os cientistas, disse
mais: "Esperamos até que a explosão passasse, saímos do abrigo e depois era tudo
muito solene. Sabíamos que o mundo nunca mais seria o mesmo. Alguns riram,
outros choraram. Muitos permaneceram calados." A bomba era composta de duas
pequenas bolas de plutônio, recobertas por níquel e em cujo centro estava um
núcleo de berílio e urânio. O teste seria no dia 4 de julho, mas os preparativos finais
que incluíam a montagem do núcleo de plutônio só terminaram no dia 12 de julho. A
explosão experimental aconteceu no meio do deserto do Novo México, a cerca de
100 km da cidade de Alamogordo. A região era habitada apenas por formigas,
aranhas, cobras e escorpiões. A água com gipsita, que provocava diarréia e de ph
alcalino deixava a pele irritada e os cabelos duros.
Os cientistas estavam a 32 km. Câmeras e instrumentos de medição, ligados
por 800 km de cabos, foram colocados à distâncias de 9 a 18 km do ponto da
explosão. O teste superou em 4 vezes os cálculos. A explosão de Alamogordo foi o
auge deste ambicioso projeto norte-americano durante a Segunda Guerra. Este
teste era apenas um preparativo para o que viria depois. Veja o filme do Newseum
sobre a explosão em Hiroshima e Nagasaki.
Efeitos Colaterais
O físico nuclear Alvin Weinberg disse à comissão especial sobre energia
atômica do Senado norte-americano em dezembro de 1945: "Atomic power can cure
as well as kill. It can fertilize and enrich a region as well as devastate it. It can widen
man's horizons as well as force him back into the cave." A força atômica pode tanto
curar quanto matar. Pode adubar e enriquecer uma região bem como devastá-la.
Pode ampliar os horizontes do homem bem como levá-lo de volta às cavernas.
Em 1946 os cientistas de Oak Ridge, num golpe de misericórdia, entregaram
ao Barnard Cancer Hospital em St. Louis radioisótopos para uso médico. Outra
guerra viria a dar impulso a outra faceta da energia nuclear, a indústria de geração
energética, que cresceu na década de 70 depois da crise do petróleo.Em 1955, a
20
URSS utilizou seu conhecimento para gerar energia elétrica, antes queimou sua
bomba em 1949; e os EUA o fizeram em 1957 (usina nuclear de Shippingport,
Penn), com parte do grupo da Universidade de Chicago, que não estava interessado
em armas nucleares - indo para o Laboratório de Argonne.
Testes Nucleares
Uma explosão nuclear de teste é uma experiência que envolve a detonação
de uma arma nuclear.
As motivações para o teste podem, normalmente, ser categorizadas:
•
Relacionadas com a arma em si (verificar que a arma funciona, ou
estudar como funciona);
•
Efeitos da arma (como a arma se comporta sob condições diversas, e
como estruturas se comportam quando submetidas à arma).
Com efeito, os testes nucleares têm sido também usados como demonstração
da força militar e científica do país que os realiza.
Testes de armas nucleares são, normalmente, classificados como sendo
"atmosféricos" (na atmosfera ou acima desta), "subterrâneas", ou "subaquáticas". De
todos estes, são os testes subterrâneos levados a cabo em profundas minas são os
que menos riscos de saúde colocam em termos de cinza nuclear. Testes
atmosféricos, os quais entram em contacto com o solo ou com outros materiais,
apresentam o risco mais elevado. Armas nucleares têm sido testadas sendo
largadas de aviões, do alto de torres, suspensas de balões, em barcas no mar,
presas a cascos de navios, e até disparadas por foguetões para o espaço exterior
(para este tema, veja mais abaixo).
21
O primeiro teste nuclear foi conduzido
pelos Estados Unidos em 16 de Julho de
1945, durante o Projeto Manhattan, tendo
recebido o nome de código Trinity. A
primeira bomba de hidrogênio, de nome de
código
Ivy
Mike,
foi
testada
no
atol
Enewetak, nas Ilhas Marshall, a 1º de
Novembro de 1952, também pelos Estados
Unidos. A maior arma nuclear alguma vez
testada
foi
a
Tsar
Bomba
da
União
Trinity, primeiro teste nuclear da história,
em 16 de julho de 1945.
Soviética, em Nova Zembla, com uma potência estimada de 50 Mton.
Nos Estados Unidos, os testes nucleares com os piores efeitos em termos de
contaminação radioativa foram realizados no estado de Nevada (população de 799
mil pessoas) e no atol Bikini (ilhas Marshal,, no Oceano Pacífico, área de 5 km²);
km na
Rússia, eles ocorreram no Polígono Semipalatinskij (população de 803 mil pessoas
em territórios adjacentes) e na Novaja Zemlia (região de tundra e deserto ártico, com
83 mil km2). Outros países a realizar testes
stes nucleares, em menor escala, foram
França e China.
Em 1963, todos os estados nucleares e vários não-nucleares
nucleares assinaram o
Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares, comprometendo-se
se a não
testarem armas nucleares na atmosfera, debaixo de água,, ou no espaço exterior. O
tratado permitia testes subterrâneos. A França continuou os seus testes
atmosféricos até 1974, enquanto a China continuou até 1980. O último teste
subterrâneo por parte dos Estados Unidos foi em 1992; por parte da União Soviética
em 1990; Reino Unido em 1991; e França e China até 1996. Após adotarem o
Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares em 1996, todos estes estados
se comprometeram a descontinuar todos os ensaios nucleares. A Índia e o
Paquistão, ambos não-signatários,
ios, realizaram os últimos testes nucleares em 1998.
Os Estados Unidos conduziram apenas seis testes antes da União Soviética
desenvolver a sua primeira bomba atômica, de nome de código “Joe 1”,, e testá-la
testá a
22
29 de Agosto de 1949. A princípio, nenhum dos dois países possuia muitas armas
nucleares de reserva, pelo que os testes eram em número limitado (quando os
Estados Unidos usaram duas armas na sua “Operation Crossroads” em 1946,
estavam a explodir mais de 20% do seu arsenal da altura).
Testes
diversos
nucleares
perigos.
podem
Vários
destes
acarretar
ficaram
conhecidos no ensaio Castle Bravo, realizado
pelos Estados Unidos, em 1954. O desenho da
arma era, basicamente, uma nova forma de
bomba de hidrogênio, tendo os cientistas
subestimado
o
quão
vigorosamente
os
materiais da arma viriam a reagir. Como
resultado, a explosão - com uma potência de
Castle Bravo, maior teste nuclear
realizado
ealizado pelos EUA, com potência de
15 MTon.
15 Mton - foi mais de duas vezes mais
poderosa do que o previsto.
Fora esse problema, a arma gerou
também uma grande quantidade de cinzas
radioativas, mais do que o previsto, e uma
mudança no padrão climático provocou o
espalhamento das cinzas numa direção que
não tinha sido evacuada a tempo. A mancha
de cinzas espalhou altos níveis de radiação por
Operation Crossroads, 1946. Foram
detonados dois artefatos de 26 kTon
cada.
mais de 160 km, contaminando várias ilhas
habitadas em atóis vizinhos (as populações tiveram de ser evacuadas às pressas,
pressas
muitas sofrendo de queimaduras e, mais tarde, de outros efeitos como elevada taxa
de cancro e de defeitos de nascença), bem como uma embarcação de pesca
japonesa.
Castle Bravo foi o pior acidente nuclear dos Estados Unidos, mas muitos dos
seus problemas constituintes (enorme
enorme e imprevisível potência, mudança de padrões
climáticos, contaminação não planejada
ada de populações e respectivas cadeias de
23
fornecimento alimentar) ocorreram, igualmente, durante ensaios levados a cabo por
outros países.
Quase todas as novas potências nucleares anunciaram a sua posse de tais
armas com um ensaio nuclear. A única potência nuclear reconhecida que reclama
nunca ter conduzido um teste é a África do Sul (que, desde então, afirma ter
desmantelado completamente o seu arsenal).
senal). O Estado de Israel é considerado pela
maioria das agências de informação de vários países como possuindo um arsenal
nuclear de tamanho considerável, embora nunca tenha levado a cabo testes.
Os testes nucleares têm também sido
usados com claros propósitos políticos. O
exemplo mais explícito foi a detonação, em
1961, da maior bomba nuclear alguma vez
criada, a Tsar Bomba, um colosso de 100
Mton criado pela União Soviética. Esta arma
era grande demais para ser usada contra um
alvo inimigo, não se julgando que alguma
tenha sido realmente desenvolvida, com
Tsar Bomba, da URSS, maior artefato
nuclear já detonado, com 57 Mton.
exceção da que foi detonada. A arma foi usada pela União Soviética não com o
intuito de desenvolver uma arma real ou para fins científicos, mas como uma
exibição do poder e força soviética.
Têm, desde então, havido muitas tentativas de limitar o número e tamanho de
testes nucleares; a maior foi o Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares
de 1996, o qual não foi ratificado
do pelos Estados Unidos. Os últimos testes nucleares
a nível mundial aconteceram em 1998. Desde então, este tema tem sido alvo de
controvérsia nos Estados Unidos, com um número significativo de políticos a
afirmarem que ensaios futuros poderão ser necessários
ios para manter as
envelhecidas ogivas da Guerra Fria. Devido aos testes nucleares serem vistos como
impulsionadores de desenvolvimento de mais armas, muitos outros políticos opõemopõem
se a testes futuros, tentando contrariar uma possível aceleração da corrida ao
armamento.
24
As potências nucleares conduziram pelo menos 2.000 explosões nucleares de
teste (os números são aproximados, já que alguns destes têm sido disputados):
•
Estados Unidos: 1050 testes (envolvendo 1125 engenhos), a maior
parte deles na área de testes de Nevada e na zona de testes do
Pacífico nas Ilhas Marshall, com dez outros testes levados a cabo em
vários pontos dos Estados Unidos, incluindo Alasca, Colorado,
Mississipi, e Novo México.
•
União Soviética: entre 715 e 969 ensaios, a maioria na área de testes
da Sibéria e Nova Zembla, e mais alguns em vários pontos da Rússia,
Cazaquistão, Turcomenistão e Ucrânia.
•
França: 210 testes, a maior parte deles realizados em Reggane e
Ekker, na Algéria, e Fangataufa e Moruroa, na Polinésia Francesa.
•
Reino Unido: 45 ensaios, 21 em território australiano, incluindo 9 no
continente (Austrália do Sul, em Maralinga e Emu Field), e muitos
outros em território dos Estados Unidos, como parte da colaboração
com este último.
•
China: 45 testes (23 atmosféricos e 22 subterrâneos, todos conduzidos
na Base de testes de Lop Nur, em Malan, Xinjiang)
•
Índia: 5 ou 6 testes, em Pokhran.
• Paquistão: entre 3 e 6 testes, em Chagai Hills.
25
Testes nucleares realizados entre 1945 e 1998. Não entram nessa lista os dois testes realizados
pela Coreia do Norte em 2006 e 2009.
O Tratado de Não Proliferação Nuclear
O Tratado de Não-Proliferação
Proliferação Nuclear (TNP) é um tratado entre Estados
soberanos assinado em 1968, em vigor a partir de cinco de março de 1970.
Atualmente conta com a adesão de 189 estados, cinco dos quais reconhecem ser
detentores de armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e
China - que são também os cinco membros permanentes do Conselho de
Segurança da ONU.. Em sua origem tinha como objetivo limitar as armas nucleares
desses cinco países (a antiga União Soviética foi substituída pela Rússia). Esses
países estão obrigados, pelos termos do tratado, a não transferir armas nucleares
para os chamados "países não-nucleares", nem auxiliá-los a obtê-las.
las. A China e a
França, entretanto, não ratificaram o tratado até 1992.
26
Até ao presente, 189 países ratificaram o documento, e nenhum deles se
retirou do pacto, exceto a Coréia do Norte, que o fez em 2003.
Os signatários não-nucleares concordaram em não procurar desenvolver ou
adquirir esse tipo de arma, embora possam pesquisar e desenvolver a energia
nuclear para fins pacíficos, desde que monitorizados por inspetores da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA), sediada em Viena, na Áustria.
Índia, Paquistão e Israel são não-signatários do tratado, mas os dois primeiros
já realizaram testes nucleares e acredita-se que Israel tenha armas nucleares. A
Índia tem criticado o monopólio nuclear perpétuo que o tratado representa, por dizer
que ele legitima as armas existentes, mas não reconhece outras. Em 1991
descobriu-se que o Iraque estava violando o tratado, durante as inspeções da AIEA
feitas após a Guerra do Golfo. Em 1994, o país detonou o que chamou de "artefato
nuclear pacífico".
Mas o tratado teve seus efeitos. A África do Sul e toda a América Latina
abandonaram toda atividade nuclear não-pacífica. Até agora, os inspetores da AIEA
foram autorizados a visitar apenas os lugares declarados pelos signatários do
tratado. Mas, depois do caso do Iraque, seus poderes foram ampliados, e os
inspetores foram autorizados a fazer um trabalho especial nos países que fazem
parte do tratado, incluindo pesquisa em lugares que não tinham sido declarados.
Os novos poderes da AIEA provocaram uma crise com a Coréia do Norte em
1993: o país, que tinha se juntado ao tratado em 1985, ameaçou se retirar. Os nortecoreanos iniciaram o período de 90 dias de aviso prévio exigido dos signatários que
desejam se retirar, mas foram persuadidos pelos Estados Unidos a suspender esse
movimento um dia antes do fim do prazo. De acordo com a AIEA, esse aviso prévio
de 1993 não teria validade. Um porta-voz da agência informou que, do ponto de
vista legal, a Coréia do Norte teria que informar a todos os outros signatários e ao
Conselho de Segurança da ONU sobre suas intenções de se retirar do tratado, antes
que o período de aviso prévio começasse a ter validade.
27
O programa de energia nuclear do Irã é usado como pretexto para os Estados
Unidos alegarem que o país desenvolve capacidade nuclear militar, o que tem
provocado tensão crescente no Oriente Médio, apesar das declarações do governo
do Irã de que o programa destina-se ao fornecimento de energia e uso científico não para fins bélicos.
Israel, que desenvolveu tecnologia nuclear suficiente para fabricar armas
nucleares, é citado pelo instituto como detentor de capacidade atômica militar.
Segundo David Albright, Frans Berkhout e William Walker, autores do livro Plutonium
and Highly Enriched Uranium 1996: World Inventories, Capabilities and Policies, em
fins de 1995, Israel possuía 460 kg de plutônio, a Índia possuía 330 kg e o
Paquistão, 210 kg de urânio altamente enriquecido. Esses estoques estão fora do
controle internacional e admite-se que seja parte dos programas nucleares de cada
um desses países.
Entre 3 e 28 de maio de 2010, realizou-se mais uma Conferência de Revisão
do Tratado de Não Proliferação Nuclear, na sede das Nações Unidas, em Nova
York. Em 28 de maio, os países signatários do TNP chegaram a um documento de
consenso - o primeiro em dez anos - que inclui a interdição total de armas de
destruição em massa no Oriente Médio. O documento final da Conferência prevê
planos de ação para cada um dos três pilares do TNP:
1. Desarmamento,
2. Controle dos programas nucleares nacionais, e
3. Utilização pacífica da energia atômica.
28
O mapa abaixo ilustra a situação da proliferação nuclear atualmente,
mostrando os cinco membros do Conselho de Segurança da ONU (azul claro), os
três países não signatários do TNP que possuem armas nucleares (vermelho), Israel
(amarelo), que especialistas suspeitam que possua armas nucleares, os estados
que sofrem acusações de possuírem programas nucleares com fins militares (Irã e
Síria, em preto), os países que compartilham armas com a OTAN (Itália, Grécia,
Turquia, Alemanha, em azul escuro) e os estados que já possuíram armas nucleares
no passado (, em verde).
Países com armas nucleares:
██ Estados com Armas Nucleares (TNP) (China, França, Rússia, Reino Unido e EUA)
██ Estados com Armas Nucleares não TNP (Índia, Coreia do Norte, Paquistão)
██ Estados com Armas Nucleares não-declaradas (Israel)
██ Estados acusados de terem programas de armas nucleares (Irã e Síria)
██ Países que compartilham armas com a OTAN
██ Estados que possuíam armas nucleares anteriormente
29
Usinas nucleares no mundo
Usina
industrial
nuclear
é
uma
instalação
empregada
na
geração
eletricidade a partir de fonte nuclear, que se
caracteriza pelo uso de materiais radioativos
que,
através
de uma reação nuclear,
produzem calor. Este calor é empregado por
um ciclo termodinâmico convencional para
mover um alternador e produzir energia
elétrica.
A Central Nuclear Almirante Álvaro
Alberto,, no Rio de Janeiro, responde por
3% da energia produzida no Brasil.
As centrais nucleares apresentam um ou mais reatores, que são
compartimentos impermeáveis à radiação, em cujo interior estão colocados barras
ou outras configurações geométricas de minerais com algum elemento radioativo
(em geral o urânio). No processo de decomposição radioativa, estabelece-se
se uma
reação em cadeia que é sustentada e moderada mediante o uso de elementos
auxiliares, dependendo do tipo de tecnologia empregada.
A energia nuclear, além de produzir uma grande quantidade de energia
elétrica, também produz resíduos nucleares que devem ser isolados em depósitos
impermeáveis durante longo tempo. Por outro lado, os reatores das centrais
nucleares não produzem gases tóxicos,, que é a característica da combustão dos
combustíveis fósseis.
Para saber mais, consulte, na seção “Anexos”,, as imagens três e quatro que
mostram, respectivamente, o total de usinas nucleares em operação por país e o
total de usinas em construção por país.
30
Acidentes nucleares
Devido à confidencialidade do governo e da indústria, nem sempre é possível
determinar com certeza a freqüência ou a extensão de alguns eventos no início da
história da indústria nuclear. Nos dias atuais, acidentes e incidentes que resultem
em ferimentos, mortes ou séria contaminação ambiental tendem a serem melhores
documentados pela Agência Internacional de Energia Atômica.
Devido à diferente natureza dos eventos, é melhor dividi-los em acidentes
“nucleares” e "de radiação”. Um exemplo de acidente nuclear pode ser aquele no
qual o núcleo do reator é danificado, tal como em Three Mile Island, enquanto um
acidente de radiação pode ser um evento de acidente de Medicina Nuclear, onde um
trabalhador derruba a fonte de radiação num rio. Estes acidentes de radiação, tais
como aqueles envolvendo fontes de radiação, como os radio nucleotídeos usados
para a elaboração de radiofármacos, frequentemente têm tanta ou mais
probabilidade de causar sérios danos aos trabalhadores e ao público quanto os bem
conhecidos acidentes nucleares, possivelmente porque dispositivos de Tomografia
por emissão de pósitrons (PET), a cintilografia e a radioterapia designadamente,
estão presentes em muitos dos hospitais e o público em geral desconhece seus
riscos. Foi o caso, por exemplo, do acidente radiológico de Goiânia, Brasil.
A seguir, descreveremos alguns dois mais famosos acidentes nucleares da
história, seja pelo seu ineditismo (como o acidente de Three Mile Island), seja pelo
seu alcance e número de vítimas (como Chernobyl), seja pela sua proximidade com
nosso dia a dia (como o acidente de Goiânia).
31
Three Mile Island, EUA, 1979
Three Mile Island é a localização de
uma central nuclear que em 28 de Março de
1979 sofreu uma fusão parcial, havendo
vazamento
de
radioatividade
para
a
atmosfera. A central nuclear fica na ilha no
Rio Susquehanna no condado de Dauphin,
Pensilvânia, próximo de Harrisburg, com
uma área de 3,29 km².
O acidente foi causado por falha do
Three Mile Island,, palco do segundo pior
acidente nuclear da história.
equipamento, devido o mau estado do
sistema técnico e erro operacional. Houve corte de custos que provocaram
economicamente na manutenção e troca de material. Mas, principalmente
apontaram-se
se erros humanos, com decisões e ações erradas tomadas por pessoas
despreparadas.
O acidente desencadeou-se
se pelos problemas mecânico e elétrico que
ocasionaram a parada de uma bomba de água que alimentava o gerador de vapor,
que acionou certas bombas de emergência que tinham sido deixadas fechadas. O
núcleo do reator começou a se aquecer e parou e a pressão aumentou. Uma válvula
abriu-se
se para reduzir a pressão que voltou ao normal. Mas a válvula permaneceu
aberta, ao contrário do que o indicador do painel de controle assinalava. Então, a
pressão continuou a cair e seguiu-se uma perda
da de líquido refrigerante ou água
radioativa: 1.500.000 litros de água foram lançados no rio Susquehanna.. Gases
radioativos escaparam e atingiram a atmosfera. Outros elementos radioativos
atravessaram as paredes.
Um dia depois, foi medida a radioatividade em volta da usina: alcançava até
16 quilômetros com intensidade de até oito vezes maior que a letal. Apesar disso, o
governador do estado da Pensilvânia iniciou a retirada só dois dias depois do
acidente. O governador Dick Thornburgh aconselhou o chefe da
a NRC, Joseph
32
Hendrie, a iniciar a evacuação "pelas mulheres grávidas e crianças em idade prépré
escolar em um raio de cinco milhas ao redor das instalações".
talações". Em poucos dias, 140
mil pessoas haviam deixado a área voluntariamente.
Este acidente foi considerado
o o pior de todos os tempos, até acontecer outro
muito pior, em Chernobyl...
Chernobyl, URSS, 1986
O acidente nuclear de Chernobyl
ocorreu dia 26 de abril de 1986, na Usina
Nuclear
de
Chernobyl
(originalmente
chamada Vladimir Lenin) na Ucrânia (então
parte da União Soviética). É considerado o
pior acidente nuclear da história da energia
nuclear,
produzindo
uma
nuvem
de
radioatividade que atingiu a União Soviética,
Usina nuclear de Chernobyl atualmente:
palco do pior acidente nuclear da história.
Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido, com a liberação de 400 vezes mais
contaminação que a bomba que foi lançada sobre Hiroshima.. Grandes áreas da
Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas, resultando na evacuação
e reassentamento de aproximadamente 200 mil pessoas.
O acidente fez crescer preocupações sobre a segurança da indústria nuclear
soviética, diminuindo sua expansão por muitos anos, e forçando o governo soviético
a ser menos secreto. Os agora separados países de Rússia, Ucrânia e Bielorrússia
lorrússia
têm suportado um contínuo e substancial custo de descontaminação
ação e cuidados de
saúde devido ao acidente.. É difícil dizer com precisão o número de mortos causados
pelos eventos de Chernobyl, devido às mortes esperadas por câncer que ainda não
ocorreram e são difíceis de atribuir especificamente ao acidente. Um relatório da
Organização das Nações Unidas de 2005 atribuiu 56 mortes até aquela data – 47
trabalhadores acidentados e nove crianças com câncer da tireóide – e estimou que
cerca de 4.000 pessoas morrerão de doenças relacionadas com o acidente.
33
Cidade fantasma de Pripyat com a usina nuclear de Chernobyl ao fundo.
A usina de Chernobyl está situada no assentamento de Pripyat, Ucrânia, 18
quilômetros a noroeste da cidade de Chernobyl, a 16 quilômetros da fronteira com a
Bielorrússia, e cerca de 110 quilômetros ao norte de Kiev. A usina era composta por
quatro reatores, cada um capaz de produzir um GigaWatt
att de energia elétrica (3,2
GigaWatts de energia térmica). Em conjunto, os quatro reatores
tores produziam cerca de
10% da energia elétrica utilizada pela Ucrânia à época do acidente. A construção da
instalação começou na década de 1970, com o reator nº 1 comissionado em 1977,
seguido pelo nº 2 (1978), nº 3 (1981), e nº 4 (1983). Dois reatores adicionais
dicionais (nº 5 e
nº 6) estavam em construção quando da ocorrência do acidente.. As quatro unidades
geradoras usavam um tipo de reator chamado RBMK-1000.
Há duas teorias oficiais, mas contraditórias, sobre a causa do acidente. A
primeira foi publicada em agosto
gosto de 1986, e atribuiu a culpa, exclusivamente, aos
operadores da usina. A segunda teoria foi publicada em 1991 e atribuiu o acidente a
34
defeitos no projeto do reator RBMK, especificamente nas hastes de controle. Ambas
teorias foram fortemente apoiadas por diferentes grupos, inclusive os projetistas dos
reatores, pessoal da usina de Chernobyl, e o governo. Alguns especialistas
independentes agora acreditam que nenhuma teoria estava completamente certa.
Na realidade o que aconteceu foi uma conjunção das duas, sendo que a
possibilidade de defeito no reator foi exponencialmente agravado pelo erro humano.
Porém o fator mais importante foi que Anatoly Dyatlov, engenheiro chefe
responsável pela realização de testes nos reatores, mesmo sabendo que o reator
era perigoso em algumas condições e contra os parâmetros de segurança dispostos
no manual de operação, levou a efeito intencionalmente a realização de um teste de
redução de potência que resultou no desastre. A gerência da instalação era
composta em grande parte de pessoal não qualificado em RBMK: o diretor, V.P.
Bryukhanov, tinha experiência e treinamento em usina termelétrica a carvão. Seu
engenheiro chefe, Nikolai Fomin, também veio de uma usina convencional. O próprio
Anatoli Dyatlov, ex-engenheiro chefe dos Reatores 3 e 4, somente tinha "alguma
experiência com pequenos reatores nucleares".
O acidente aconteceu à noite, entre 25 e 26 de abril de 1986, durante um
teste que deveria ser de rotina. A equipe operacional planejou testar se as turbinas
poderiam produzir energia suficiente para manter as bombas do líquido de
refrigeração funcionando, no caso de uma perda de potência, até que o gerador de
emergência, a óleo diesel, fosse ativado. Para prevenir o bom andamento do teste
do reator, foram desligados os sistemas de segurança. Para o teste, o reator teve
que ter sua capacidade operacional reduzida para 25%. Este procedimento não saiu
de acordo com planejado. Por razões desconhecidas, o nível de potência de reator
caiu para menos de 1% e por isso a potência teve que ser aumentada. Mas 30
segundos depois do começo do teste, houve um aumento de potência repentina e
inesperada. O sistema de segurança do reator, que deveria ter parado a reação de
cadeia, falhou. Em frações de segundo, os níveis de potência e temperatura subiram
em demasia. O reator ficou descontrolado. Houve uma explosão violenta. A
cobertura de proteção, de 1000 toneladas, não resistiu. A temperatura de mais de
2.000°C derreteu as hastes de controle. A grafite q ue cobria o reator pegou fogo.
35
Material radiativo começou a ser lançado na atmosfera. O restante da história já
conhecemos...
Goiânia, Brasil, 1987
O acidente radiológico de Goiânia foi um grave episódio de contaminação por
radioatividade ocorrido no Brasil. A contaminação teve início em 13 de setembro de
1987, quando um aparelho utilizado em radioterapias das instalações de um hospital
abandonado foi encontrado, na zona central de Goiânia.
O instrumento, irresponsavelmente deixado no hospital, foi encontrado por
catadores de papel, que entenderam tratar-se de sucata. Foi desmontado e
repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação, o qual afetou
seriamente a saúde de centenas de pessoas.
A contaminação em Goiânia originou-se de uma cápsula que continha cloreto
de césio - um sal obtido do radioisótopo 137 do elemento químico césio. A cápsula
radioativa era parte de um equipamento radioterapêutico, e, dentro deste,
encontrava-se revestida por uma caixa protetora de aço e chumbo. Essa caixa de
proteção continha também uma janela feita de irídio, que permitia a passagem da
radiação para o exterior.
A caixa contendo a cápsula radioativa estava, por sua vez, contida num
contentor giratório que dispunha de um colimador. Este servia para direcionar o feixe
radioativo, bem como para controlar a sua intensidade.
Não se pôde conhecer ao certo o número de série da fonte radioativa, mas
pensa-se que a mesma tenha sido produzida por volta de 1970, pelo Laboratório
Nacional de Oak Ridge, nos Estados Unidos. O material radioativo contido na
cápsula totalizava 93 gramas e a sua radioatividade era, à época do acidente, de
50,9 Terabecquerels (TBq) ou 1375 Ci.
36
3000.
O equipamento radioterápico em questão era do modelo Cesapam F-3000
Foi projetado, nos anos 1950, pela empresa italiana Barazetti e Cia
a., e
comercializado pela empresa italiana Generay SpA.
O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) era um instituto privado, localizado
na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia. O equipamento que gerou a
contaminação na cidade entrou em funcionamento em 1971,
971, tendo sido desativado
em 1985, quando o IGR deixou de operar no endereço mencionado. Com a
mudança de localização, o equipamento de teleterapia foi abandonado no interior
das antigas instalações. A maior parte das edificações pertencentes à clínica foi
fo
demolida, mas algumas salas - inclusive aquela em que se localizava o aparelho foram mantidas em ruínas.
Local onde funcionava o antigo ferro-velho de Devair,
vair, uma das quatro vítimas fatais do césio 137.
37
Foi no ferro-velho de Devair que a cápsula de césio foi aberta para o
reaproveitamento do chumbo. O dono do ferro-velho expôs ao ambiente 19,26 g de
cloreto de césio-137 (CsCl), um sal muito parecido com o sal de cozinha (NaCl),
mas que emite um brilho azulado quando em local desprovido de luz. Devair ficou
encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta
para a mulher Maria Gabriela, bem como o distribuiu para familiares e amigos. Pelo
fato de esse sal ser higroscópico, ou seja, absorver a umidade do ar, ele facilmente
adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e o organismo
internamente. Devair passou pelo tratamento de descontaminação no Hospital
Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, e morreu sete anos depois.
Tão logo expostas à presença do material radioativo, as pessoas em algumas
horas começaram a desenvolver sintomas: náuseas, seguidas de tonturas, com
vômitos e diarréias. Alarmados, os familiares dos contaminados foram inicialmente a
drogarias procurar auxílio, alguns procuraram postos de saúde e foram
encaminhados para hospitais.
Os profissionais de saúde, vendo os sintomas, pensaram tratar-se de algum
tipo de doença contagiosa desconhecida, medicando os doentes em conformidade
com os sintomas descritos. Maria Gabriela, esposa do dono do ferro velho,
desconfiou que aquele pó que emitia um brilho azul era o responsável pelos
sintomas que ocorriam na sua família. Ela e um empregado do ferro-velho do marido
levaram a cápsula de césio para a Vigilância Sanitária.
Somente no dia 29 de setembro de 1987, foi dado o alerta de contaminação
por material radioativo de milhares de pessoas. Maria Gabriela foi uma dos
pacientes tratados no Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro. Foi a primeira vítima
da contaminação, falecendo no dia 23 de outubro de 1987 de complicações relativas
à contaminação com césio. Outra vítima, considerada o retrato da tragédia, Leide
das Neves Ferreira, ingeriu involuntariamente pequenas quantidades de césio
depois de brincar com o pó azul. A menina de seis anos foi a vítima com a maior
dose de radiação do acidente.
38
Não conseguiu sobreviver e morreu no dia 23 de outubro de 1987, duas horas
depois da tia. Foi enterrada em um caixão blindado, erguido por um guindaste, por
causa das altas taxas de radiação. O seu enterro virou uma briga judicial, pois os
coveiros e a população da época não aceitavam que ela fosse enterrada em um
caixão, mas sim cremada para que os seus restos mortais não contaminassem o
solo do cemitério e as outras covas. Depois de dias de impasse, Leide das Neves foi
enterrada em um caixão de chumbo lacrado para que a radiação não fosse
transmitida.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a
população da região. No total 112.800 pessoas foram expostas aos efeitos do césio,
muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas
apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a
desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas,
sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e
acabaram morrendo.
Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para
remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de
radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e
tintas azuis. Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados
removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram
considerados material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido
para o Parque Estadual Telma Ortegal.
A limpeza produziu 13,4 toneladas de lixo atômico, que necessitou ser
acondicionado em 14 contêineres que foram totalmente lacrados. Dentro destes
estão 1.200 caixas e 2.900 tambores, que
ambiente por 180 anos.
permanecerão perigosos para o meio
39
Para armazenar esse lixo atômico e
atendendo às recomendações do IBAMA, da
CNEN e da CEMAm, o Parque Estadual
Telma Ortegal foi criado em Goiânia, hoje
pertencente ao município de Abadia de Goiás,
onde se encontra uma "montanha" artificial.
Assim, os rejeitos foram enterrados em uma
vala de aproximadamente 30 (trinta) metros
Montanha de dejeto radioativos em
Abadia de Goiás.
de profundidade, revestida de uma parede de aproximadamente um metro de
espessura de concreto e chumbo, e sobre a vala foi construída a montanha.
Após o acidente, os imóveis em volta do acidente radiológico tiveram os seus
valores reduzidos a preços insignificantes,, pois quem morava na região queria sair
daquele lugar, mas o medo da população da existência de radiação no ar impedia a
compra e construção de novas habitações.
Somente no final dos anos 90, a região começou a passar uma imagem
menos "assustadora" para os novos inquilinos, através de ações
es do governo
municipal e estadual para a revitalização da região, revalorizando as casas que
estavam nas mediações do acidente.
Aos poucos, a região atingida pelo acidente vem sendo valorizada,
aumentando o interesse de grandes empreiteiras construírem prédios
rédios de luxo, onde
antes eram apenas casebres abandonados.
40
2 - Aplicações da Energia Nuclear
Reatores Nucleares
O projeto de uma Usina Nuclear é
fiscalizado e analisado, passo a passo, por
uma equipe diferente da que o elaborou: o
Órgão Fiscalizador. Da mesma forma, a
construção é fiscalizada e auditada por
equipes do Órgão Fiscalizador que não
foram
envolvidas
diretamente
ou
indiretamente na obra. É claro que existem
vazamentos em Reatores Nucleares, como
existem em outras usinas térmicas. O que
não
existe
é
vazamento
de
Reatores
Modelo esquemático dos reatores de
Angra 1 e 2.
Nucleares, como muitas vezes se faz crer
pela mídia.
As águas de refrigeração dos Circuitos Primário e Secundários circulam por
meio de bombas rotativas (para
para “puxar” a água) em sistemas fechados. Em
qualquer instalação industrial e também nos Reatores Nucleares, bombas de
refrigeração são colocadas em diques, como um “box” de banheiro, dotados de
ralos, para recolher a água que possa vazar pelas “juntas”. No caso de vazamento
em Reatores, a água recolhida vai para um tanque, onde é analisada e tratada,
podendo até voltar para o circuito correspondente.
Aí está a diferença: podem existir vazamentos, inclusive para dentro da
Contenção, ou seja, no Reator e não para o meio ambiente, isto é, do Reator. Por
esse motivo, os “vazamentos” ocorridos em 1986 (de água) e em 1995 (falhas em
varetas), ambos dentro da instalação, não causaram maior preocupação por parte
dos operadores de Angra I. No segundo caso, a Usina operou ainda por cerca de
três meses, sob controle, até a parada prevista para manutenção. Não houve parada
41
de emergência. Em resumo e comparando com um fato do dia a dia: é como se uma
torneira de uma pia em um apartamento estivesse com defeito, pingando ou
deixando escorrer água (vazando).
). Existiria um vazamento no apartamento ou até
no edifício, mas não se deveria dizer que teria havido um vazamento do edifício.
Bomba A
A bomba atômica é uma aplicação
bélica da fissão nuclear que utiliza a imensa
quantidade de energia e radiação liberadas
numa reação de fissão em cadeia para
causar destruição. Podemos descrever esta
ação por etapas:
Exemplo de uma Bomba A
1) O início da explosão de uma
re em pleno ar.
bomba atômica corresponde ao início da reação em cadeia que ocorre
Ao ser detonada, atinge temperaturas da ordem de milhões de graus Celsius.
2)) Após 10/4 segundos, a massa gasosa em que se transformou a bomba
emite elevadas quantidades de raio X e raios ultravioleta,, podendo destruir a retina e
cegar pessoas que olharem diretamente para o clarão.
3)) Entre 10/4 e 6 segundos, a radiação já foi totalmente absorvida pelo ar ao
redor, que se transforma numa enorme bola de fogo cuja expansão provoca a
destruição de todos os materiais inflamáveis num raio médio de 1 km, assim como
queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus,, dependendo da distância do
ponto zero e dos obstáculos entre a pessoa e explosão.
4)) Após 6 segundos, a esfera de fogo atinge o solo iniciando uma onda de
choques e devastação que se propaga através de um deslocamento de ar
comparável a um furacão, com ventos de 200 a 400 km/h.
42
5) Após 2 minutos a esfera de fogo já se transformou completamente num
cogumelo que atinge a estratosfera. As partículas radioativas se espalham pela
atmosfera levadas pelos ventos fortes e acabam se precipitando em diversos pontos
da Terra durante muitos anos.
Fissão nuclear
A palavra fissão significa partição, quebra, divisão. Fissão nuclear é a quebra
de um núcleo atômico pesado e instável através de bombardeamento desse núcleo
com nêutrons moderados, originando dois núcleos atômicos médios, mais 2 ou 3
nêutrons e uma quantidade de energia enorme.
Em 1934, Enrico Fermi, bombardeando núcleos com nêutrons de velocidade
moderada, observou que os núcleos bombardeados capturavam os nêutrons. Pouco
tempo depois, após o bombardeamento de urânio com nêutrons moderados, a
equipe do cientista alemão Otto Hahn constatou a presença de átomos de bário,
vindo a concluir que, após o bombardeio, núcleos instáveis de urânio, partiam-se
praticamente ao meio. Como os nêutrons não possuem carga elétrica, não sofrem
desvio de sua trajetória, devido ao campo eletromagnético do átomo. Estando muito
acelerado, atravessariam completamente o átomo; estando a uma velocidade muito
lenta, seriam rebatidos; mas com velocidade moderada, ficam retidos, e o novo
núcleo formado, instável, sofre desintegração posterior com emissão de partículas
43
beta. Somente alguns átomos são capazes de sofrer fissão, entre eles o urânio-235
e o plutônio.
A enorme quantidade de energia produzida numa fissão nuclear provém da
transformação da matéria em energia. Na fissão nuclear há uma significativa perda
de massa, isto é, a massa dos produtos é menor que a massa dos reagentes. Tal
possibilidade está expressa na famosa equação de Einstein: E=mc2, onde E é
energia, m massa e c a velocidade da luz no vácuo. No processo de fissão, cerca de
87,5% da energia liberada aparece na forma de energia cinética dos produtos da
fissão e cerca de 12,5% como energia eletromagnética.
Reação em Cadeia e Massa Crítica Esse bombardeamento do núcleo de um
átomo com um nêutron causa a fissão do núcleo desse átomo e a liberação de 2 ou
3 novos nêutrons. Esses nêutrons podem provocar a fissão de 2 ou 3 átomos que
irão liberar outros nêutrons.
A reação em cadeia só ocorre acima de determinada massa de urânio. A
mesma ocorre com velocidade máxima quando a amostra do material físsil é grande
suficiente para a maioria dos nêutrons emitidos serem capturados por outros
núcleos. Portanto, a reação em cadeia se mantém, se a massa do material é
superior a certo valor característico chamado massa crítica. Para o urânio-235, a
massa crítica é de aproximadamente 3,25 kg.
Alguns elementos químicos, como o boro, na forma de ácido bórico ou de
metal, e o cádmio, em barras metálicas, têm a propriedade de absorver nêutrons,
porque seus núcleos podem conter ainda um número de nêutrons superior ao
existente em seu estado natural, resultando na formação de isótopos de boro e de
cádmio.
44
A primeira bomba atômica
Em
1939,
Einstein
informou
ao
presidente dos Estados Unidos, Franklin
Roosevelt,
que
talvez
fosse
possível
construir uma bomba atômica. Em 1945, um
homem genial inventava uma bomba capaz
de destruir toda a vida no planeta.
No início da década de 40, um grupo
de cientistas foi ao Novo México para tentar
detonar uma bomba atômica, antes que os
Trinity: primeiro teste nuclear da História,
em 16 de julho de 1945, no Novo
México, EUA. Potência: 40 kTon.
alemães construíssem a sua. Muitos cientistas, tentando escapar do nazismo e do
fascismo, encontraram abrigo nos Estados Unidos, onde continuaram
ontinuaram suas
pesquisas. Enrico Fermi era um deles. Em 1942, foi o primeiro físico a produzir uma
reação atômica em cadeia, sob controle, comprovando assim a teoria de Einstein. O
experimento secreto aconteceu em Chicago.
Na Alemanha, uma experiência semelhante
melhante havia fracassado. Em silêncio, os
americanos continuaram as pesquisas em Los Alamos - Novo México. A pergunta
que os cientistas precisavam responder era a seguinte: uma reação em cadeia, não
controlada, poderia ser usada para fazer uma bomba? Havia
a quem temesse que a
bomba faria explodir todo o planeta. Ao mesmo tempo, os americanos anteviam a
possibilidade de usar a bomba contra o Japão, forçando, assim, o fim da guerra.
Em julho de 1945, dois aparelhos foram levados, secretamente, até o deserto
do Novo México. Os americanos estavam ansiosos para testar a nova invenção. A
explosão foi tão poderosa que chegou a ser vista de três estados americanos. Havia
começado a era nuclear.
45
Hiroshima e Nagasaki
"Soldados alemães, cidadãs e cidadãos da Alemanha: nosso líder, Adolf
Hitler, se foi...".
Com esse pronunciamento no dia 8 de maio de 1945 o almirante Dönitz, que
fora nomeado por Hitler seu sucessor, anunciou pela rádio a rendição incondicional
da Alemanha. Hitler e sua companheira de anos Eva Braun, haviam cometido
suicídio no dia 30 de abril de 1945, após seu bunker em Berlim estar totalmente
cercado pelo exército vermelho da URSS.
A Segunda Guerra Mundial terminava, mas somente no continente europeu.
No Pacífico o Japão ainda resistia às investidas norte-americanas. Em maio de 1945
os líderes aliados reunidos na Conferência de Potsdan, haviam exigido a rendição
incondicional do império japonês. Essa imposição já era aceita por uma parte do
gabinete japonês, mas não pelos generais - o Japão nunca
nca havia perdido uma
guerra.
Eram 8h 16min 8s do dia 6 de agosto
de 1945. A interrogação foi a primeira
reação de um dos tripulantes do Enola Gay,
após presenciar a devastação produzida
pela primeira bomba atômica jogada sobre
uma cidade povoada.
Enola Gay foi o nome dado ao avião
norte-americano B-29 pelo seu comandante
em homenagem à própria mãe. A cidade era
Cidade
dade de Hiroshima, Japão, após o
bombardeamento. 100 mil pessoas
morreram nesse ataque.
ima, no Japão, que desapareceu em baixo de uma nuvem em forma de
Hiroshima,
cogumelo. As notícias sobre a cidade eram desencontradas, e ninguém sabia
exatamente o que ocorrera. No dia 9 outra bomba atômica foi lançada sobre a
cidade de Nagasaki. Os norte-americanos haviam
aviam treinado durante meses uma
46
29 para um ataque especial. Nos aviões, quase ninguém sabia o
esquadrilha de B-29
que transportava.
Morreram cerca de 100 mil pessoas em Hiroshima
ima e 80 mil em Nagasaki. As
vítimas eram civis, cidadãos comuns, já que nenhuma das
as duas cidades era alvo
militar muito importante. O cenário histórico dessa tragédia que permanece até hoje
na memória de milhares de japoneses era a guerra no Pacífico, entre Japão e
Estados Unidos no contexto do término da Segunda Guerra Mundial.
Cidade de Nagasaki, Japão, após o bombardeamento dos EUA. 80 mil pessoas morreram nesse
ataque.
47
Os generais japoneses ainda tentaram resistir, até serem convencidos do
contrário pelo próprio imperador Hiroito. No dia 15 de agosto de 1945 os japoneses
escutam pelo rádio a rendição incondicional do país. Em 2 de setembro o
encouraçado norte-americano USS Missouri entrou na baía de Tóquio e a paz foi
assinada. A Segunda Guerra chegava ao fim, deixando um saldo de 50 milhões de
mortos em seis anos. A bomba atômica tinha sido mais um episódio desumano na
história da Segunda Guerra Mundial.
“Será que não existia uma maneira menos estúpida de forçar a rendição
japonesa?”
Para alguns historiadores o governo norte-americano tinha que dar um basta,
pois não podia mais resistir às pressões do Congresso, que não aceitava mais
perdas de vidas norte-americanas, numa guerra que já se prolongara demais. Uma
outra corrente, entretanto, acharia que estúpida é a pergunta feita acima, já que o
uso de armas atômicas contra o Japão não correspondia a qualquer necessidade
bélica. O Japão estava em negociações secretas com os Estados Unidos para
capitulação definitiva. Era uma questão de dias.
Para essa segunda corrente, as bombas atômicas tinham outro endereço: a
URSS. Se até agora EUA e URSS estavam do mesmo lado, isso era fruto de uma
aliança circunstancial, contra um inimigo comum que já não os preocupava mais: o
nazifascismo.
As bombas de Hiroshima e Nagasaki, segundo essa última interpretação,
marcam o início do contexto conhecido como "Guerra Fria": a disputa políticoideológica e militar que bi-polarizou o mundo entre o socialismo soviético e o
capitalismo norte-americano por mais de 40 anos, até a desintegração da URSS, a
reunificação da Alemanha e mais simbolicamente a queda do muro de Berlim em
novembro de 1989.
Nas duas conferências que selaram o final da guerra, realizadas pelos três
grandes vencedores - norte-americanos, britânicos e soviéticos - em Yalta e
48
Potsdam, são estabelecidos os pontos de divisão do mundo entre os blocos
capitalista e socialista. Em 25 de abril de 1945 a Conferência de São Francisco
rancisco criou
a Organização das Nações Unidas, cuja carta foi promulgada em junho.
Quanto ao Japão, que teve mais de um milhão e oitocentas mil vítimas, além
de 40% das cidades arrasadas e a economia totalmente destruída, foi
desmilitarizado e ocupado pelos
los Estados Unidos até 1951, quando as Nações
Unidas (exceto a URSS e China), concluíram com ele, o Tratado de São Francisco,
devolvendo sua soberania e marcando sua reconstrução integrada ao capitalismo
internacional.
Corrida EUA x URSS
A crença de que agentes soviéticos
procuravam se infiltrar por todos os lados
era apenas uma das faces do clima de
pavor anticomunista vivido pelos norteamericanos. Desde 1949, quando a União
Soviética realizou seu primeiro teste nuclear,
havia também o receio de que os soviéticos
subitamente decidissem utilizar a bomba
atômica.
Gradualmente, foi se cristalizando na
opinião pública dos Estados Unidos a idéia
de que a União Soviética preparava em
O fim da Segunda Guerra Mundial (1945)
marcou o início da Guerra Fria entre as
duas superpotências mundiais à época:
os EUA e a URSS.
segredo um fulminante ataque nuclear contra o território norte-americano,
americano, a ser
desencadeado sem prévio aviso. Imaginava-se
se que os impiedosos soviéticos não
hesitariam em cometer assassinato em massa,
ssa, como parte de seu projeto de
conquistar o mundo. A crença de que o apocalipse nuclear poderia acontecer a
qualquer momento - talvez dali a cinco minutos - acentuava o clima de pânico.
49
A montagem de abrigos subterrâneos antiatômicos tornou-se um dos ramos
mais lucrativos da indústria de construção civil nos anos 50: nenhuma família se
sentiria totalmente protegida a menos que contasse com um deles em sua casa. A
Defesa Civil, por sua vez, desenvolveu esquemas de emergência, a serem
imediatamente ativados caso alguma cidade norte-americana fosse vítima de um
ataque nuclear.
Assistindo à televisão, as crianças aprendiam como deveriam agir, caso tal
ataque fosse realizado. Um personagem de desenho animado - Burt, a tartaruga repetia as instruções: "Jogue-se ao chão, cubra os olhos!" Outro filme, também
repetido à exaustão, dava mais detalhes:
“Este é Tony, um escoteiro mirim. Tony sabe que a bomba pode explodir a
qualquer momento. Mas ele está preparado: jogue-se ao chão, cubra os olhos! Muito
bem, Tony! O clarão da bomba exige reflexos rápidos!
“Tony sabe o que fazer - não se desespera, nem sai correndo.
Fica parado, até o perigo passar.
A Defesa Civil virá socorrê-lo.
Ela nos protege em caso de ataque nuclear.
Devemos obedecer suas instruções.
Devemos saber nos abrigar também nos ônibus escolares ou coletivos:
jogue-se ao chão, cubra os olhos!
E afaste-se das janelas, por causa dos cacos de vidro!”
Preparar a população para o caso de um ataque atômico era apenas uma das
medidas a serem tomadas. Outras tinham a ver com a conquista de uma
superioridade nuclear inquestionável em relação à União Soviética. Se os Estados
Unidos não eram mais o único país a dispor de bombas atômicas, então que ao
menos possuísse mais e melhores bombas. O governo passou a investir um volume
cada vez maior de recursos no desenvolvimento de novos modelos de bombas
nucleares, sempre mais poderosas.
50
Em novembro de 1952, finalmente, foi
realizado o primeiro teste com a bomba de
hidrogênio, também conhecida como bomba
H. Ao contrário das que tinham sido jogadas
no Japão em 1945, baseadas no principio
da fissão nuclear, a bomba de hidrogênio
funciona com base na fusão nuclear - o que
implica uma explosão muitas vezes mais
destrutiva.
A
primeira
bomba
H,
que
explodiu no teste realizado na ilha de
Ivy Mike: primeiro teste termonuclear da
história, com potência de 10,4 Mton (ou
10,4 milhões de toneladas de TNT).
Elugelab, no atol de Eniwetok, no Pacífico, tinha uma potência quase mil vezes
superior à da bomba de Hiroshima. No futuro seriam desenvolvidos novos modelos
de bomba H, ainda mais poderosos. Nenhum preço parecia alto demais na luta
contra a subversão em escala internacional.
Bomba H
A bomba de hidrogênio ou também conhecida como bomba de fusão é uma
das maiores armas existentes na terra. Essa bomba
omba tem uma força explosiva muitas
vezes maior que a da bomba atômica. Sua explosão tem poder de produzir
precipitação
radioativa
com
capacidade
mortífera.
funcionamento, vamos a alguns conceitos básicos.
E
para
entender
seu
51
Seu funcionamento é baseado em fusão nuclear, ou seja, junção de dois ou
mais átomos leves para se transformarem em átomos pesados. Um exemplo muito
simples de fusão são as estrelas (como o nosso Sol), que brilham pela fusão de
hidrogênio, e formando átomos de hélio. Quando a fusão ocorre, esse átomo criado
possui um núcleo mais estável e com cerca de 70% da massa dos átomos de
hidrogênio combinados, portanto produz uma grande quantidade de energia (30% da
massa), que no caso do sol e estrelas, se dá na forma de radiação eletromagnética
(das ondas de rádio aos raios gama, passando pelo espectro da luz visível,
infravermelhos – calor, ultravioleta e raios x).
Alguns efeitos causados durante a explosão de uma bomba de H são as
precipitações radioativas, que são mais ou menos como uma “neve radioativa”;
ondas de choque, que são efeitos de choque térmico e eletromagnético, além do
chamado inverno nuclear, que é uma espécie de fumaça espessa e tóxica que
bloqueia a luz do sol e provocaria severas mudanças no planeta.
Ao explodir, uma bomba de hidrogênio funciona em fases. Primeiro a bomba
explode, em milésimos de segundo ela fornece calor e pressão necessários para a
fusão e quando ocorre a reação, grandes quantidades de energia são liberadas
produzindo uma gigantesca explosão.
Arsenais nucleares
Com gastos militares que atingiram
US$ 478,2 bilhões em 2005, ou 48% do total
mundial, os Estados Unidos estão no topo
das nações que mais gastam com
o
chamado setor militar. Para se ter uma idéia
do que isso representa os gastos de Reino
Unido, França, Japão e China, os quatro
países mais militarizados, exceto os EUA,
somaram
bilhões.
juntos
‘modestos’
US$
177,5
Arsenais nucleares dos EUA e da
Rússia entre 1945 e 2005.
52
Esses números fazem parte de um levantamento realizado pelo SIPRI
(Stockholm International Peace Research Institute), que aponta também para a
crescente e alarmante ‘terceirização’ das atividades relacionadas à guerra e aos
assuntos de ‘segurança’, principalmente nos EUA.
Não é por acaso que nesses quase quatro anos de invasão e ocupação do
Iraque, o número oficial de baixas norte-americanas é relativamente baixo, apenas
3.000 soldados. Isso se dá porque os ‘terceirizados’ não aparecem nas estatísticas
oficiais, afinal, não são responsabilidade do governo dos EUA, mas sim de suas
empresas, as ‘contractors’.
A selvageria e agressividade do imperialismo estadunidense contra os povos
dos países dominados, como demonstrado pelas dezenas de guerras de rapina que
ele promoveu ao longo do século XX e nesse começo de século XXI que
presenciamos, têm sido amparadas por um formidável arsenal nuclear, usado para
chantagem, persuasão e intimidação.
Como mostra levantamento recentemente publicado no Boletim dos Cientistas
Atômicos, a maior concentração de armas de destruição em massa, neste caso as
nucleares, encontra-se em território norte-americano, ou está localizada em bases
dos EUA em países da OTAN. Os cientistas norte-americanos, concretamente,
fizeram esta importante denúncia, baseada em fatos e pesquisas, sobre o potencial
destruidor dessa imensa quantidade de armas nucleares em poder dos EUA.
A ameaça recente de um ataque nuclear de Israel contra o Irã, com o apoio
dos EUA, traz à tona a questão do arsenal nuclear israelense, cuja existência nunca
foi assumida pelos governos israelitas.
Onde estão as bombas?
A edição de novembro/dezembro de 2006 do Boletim dos Cientistas Atômicos
(Bulletin of the Atomic Scientists) traz um artigo que mostra que os Estados Unidos
53
armazenam suas quase 10 mil ogivas nucleares em 18 localidades de 12 estados e
seis países europeus.
Hans M. Kristensen, da Federação de Cientistas Americanos (FAS) e Robert
S. Norris, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC), identificaram as
localizações prováveis das armas nucleares através do cruzamento de informações
de anos de monitoramento de documentos desclassificados (públicos), declarações
oficiais, relatórios, vazamentos de informações e conversas com oficiais da ativa e
da reserva, além de fotos comerciais de satélite de alta resolução.
De acordo com eles, a maior concentração de ogivas nucleares encontra-se
na Instalação de Armas Estratégicas do Pacífico em Bangor, estado de Washington.
Ali estão localizadas mais de 2.300 ogivas – provavelmente a maior concentração de
armas nucleares num único lugar em todo o mundo. Cerca de metade dessas ogivas
é composta de mísseis balísticos submarinos em ação no oceano Pacífico.
Cerca de 1.700 ogivas estão espalhadas na forma de mísseis balísticos em
submarinos classe Ohio, que operam nos oceanos Pacífico e Atlântico, e
aproximadamente 400 ogivas estão em oito bases em seis países europeus –
Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda, Turquia e Grã-Bretanha (para maiores
informações
sobre
ogivas
norte-americanas
na
Europa,
acesse
http://www.nukestrat.com/us/afn/nato.htm). Os Estados Unidos são o único estado
nuclear que mantém armas nucleares em países estrangeiros.
O crescimento das localidades de armazenamento nuclear dos EUA diminuiu
consideravelmente na década passada em comparação com o período entre 1992 e
1997, quando o Pentágono removeu armas nucleares de 10 estados e numerosas
bases européias. Ao longo da década passada, os Estados Unidos removeram
armas nucleares de três estados – Califórnia, Virgínia e Dakota do Sul, e de um país
europeu – Grécia.
Os especialistas mostram que mais de 2/3 de todas as ogivas nucleares dos
EUA estão ainda armazenadas em bases para mísseis balísticos e bombardeiros,
54
ainda que a Guerra Fria tenha terminado há mais de 16 anos. Mais de 2.000 dessas
ogivas estão em prontidão para lançamento. Somente 28% das ogivas norteamericanas foram transferidas para instalações de armazenamento separadas. A
maior destas, um abrigo subterrâneo na Base Aérea de Kirtland em Albuquerque,
Novo México, armazena mais de 1.900 ogivas.
As dez localidades norte-americanas que atualmente mantêm armas
nucleares são: a Instalação para Armas Estratégicas do Pacífico, Bangor,
Washington; Base Aérea de Nellis, Nevada; Base Aérea de Warren, Wyoming; Base
Aérea de Kirtland, Novo México; Base Aérea de Malmstrom, Montana; Base Aérea
de Minot, Dakota do Norte; Planta Pantex, Texas; Base Aérea de Barksdale,
Louisiana; Base Aérea de Whiteman, Missouri; e a Instalação para Armas
Estratégicas do Atlântico, em Kings Bay, Geórgia.
O governo dos EUA se recusa a divulgar onde armazena as armas nucleares,
mas os pesquisadores são enfáticos em afirmar que todas as localidades são
conhecidas há anos por armazenar armas nucleares. A segurança das armas
nucleares é determinada não pelo conhecimento de sua localização, mas pela
proteção militar física das instalações e para que as armas não possam ser
detonadas por pessoal não-autorizado.
De acordo com o relatório “Global nuclear stockpiles, 1945-2006” (Estoques
Nucleares globais, 1945-2006), a distribuição das armas nucleares no mundo é
atualmente a seguinte:
EUA – aproximadamente 10.000 ogivas, das quais mais de 5.113
operacionais;
Rússia – aproximadamente 5.000 ogivas operacionais;
França – cerca de 350 ogivas operacionais;
Grã-Bretanha - cerca de 200 ogivas operacionais;
China – aproximadamente 200 ogivas operacionais;
Índia e Paquistão – cerca de 160 ogivas operacionais, considerados os dois
arsenais;
55
Israel [*] – entre 120 e 180 ogivas operacionais, apesar das negativas do
governo israelense;
Coréia do Norte – cerca de 10 ogivas operacionais;
[*] Outras fontes estimam que Israel possua entre 150 e 300 ogivas, além de
um sofisticado sistema de lançamento composto por aviões bombardeiros e mísseis
balísticos de médio e longo alcance conhecidos como Jericho.
Submarino nuclear
Submarinos são embarcações que navegam e executam operações
preferencialmente submersas. Embora possam ter diversos empregos, como
pesquisa e serviços em plataformas de prospecção de petróleo, é, no entanto, na
aplicação militar que eles têm maior destaque.
Submarinos Nucleares x Submarinos Convencionais
Os submarinos de propulsão convencional são submarinos cuja energia, tanto
para propulsão quanto para o uso a bordo, provém de um conjunto de baterias
recarregadas através do acionamento de grupos diesel geradores instalados a
bordo. A operação de carregamento das baterias requer grande quantidade de
combustível, que é armazenado no próprio submarino, e oxigênio; proveniente do ar
atmosférico, admitido através de tubos especiais de ventilação (Snorkel). Isso faz
com que esses submarinos, além de carregar muito combustível, sejam obrigados a
permanecer próximos à superfície por longos períodos de tempo, tornando-se lentos
e vulneráveis. Sua autonomia dificilmente chega aos 40 dias de operação.
Já nos submarinos de propulsão nuclear a energia provém da fissão nuclear
em reatores termo-nucleares. A sua reserva de energia é muito maior que a de um
submarino convencional, não precisando recorrer ao "snorkel" para gerá-la. Os
submarinos nucleares podem operar permanentemente submersos por longos
períodos, ficando sua autonomia limitada apenas pela resistência humana.
56
Propulsão dos Submarinos Nucleares
Uma planta de propulsão de um
submarino nuclear é constituída por um ou
mais reatores termo-nucleares do tipo PWR
- Pressurized Water Reactor, (reator a água
pressurizada) que são resfriados por um ou
mais circuitos fechados (circuitos primários),
constituídos de bomba, gerador de vapor e
pressurizador.
Os
geradores
de
vapor
Submarino de propulsão nuclear francês
Le Triomphant.
produzem vapor que trabalha em um circuito fechado (circuitos secundários),
constituído de turbinas, condensadores e bombas. As turbinas acionam os
geradores elétricos de bordo e, ainda podem acionar diretamente a linha de eixo
xo de
propulsão ou acionar um gerador elétrico, cuja energia alimentará um MEP - motor
elétrico de propulsão.
Submarinos Nucleares de Ataque
A tabela abaixo apresenta as características principais dos submarinos
nucleares de ataque de cada um dos cinco países que os possuem:
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA)
CLASSE
Constr.
Em
Constr.
Início
Oper.
Baixa
Diam.(m)
Desl.
Sub
(ton)
Comprim.
(m)
VMax
(nós)
Pot.Eixo
(Hp)
Obs.
Nautilus
1
-
1954
1987
8,4
4040
97,4
20
15.000
1 PWR 2
Hélices
Sea Wolf
1
-
1957
1987
8,4
4200
102,9
20
15.000
1 MCR 2
Hélices
Skate
4
-
1958
1986
7,6
2360
81,5
25
6.600
1 PWR 2
Hélices
Triton
1
-
1959
1986
11,3
6670
136,2
20
34.000
2 PWR 2
Hélices
Skipjack
5
-
1959
1990
8,5
3500
76,7
30
15.000
1 PWR 1 Hélice
Halibut
1
-
1959
1986
9
5000
106,6
20
6.600
Convertido
SSGN
57
Tillibee
1
-
1960
1987
7,1
2640
83,2
15
2.500
1 PWR Prop.
Elétrica
Permit
14
-
1961
1989
9,7
4300
84,9
27
15.000
Reprojeto do
Thresher
Sturgeon
32
-
1967
-
9,7
4960
92,1
26
15.000
1 PWR 1 Hélice
Narwhal
1
-
1969
-
11,5
5830
95,9
25
17.000
Reat. Circ.
Natural
NR1
1
-
1969
-
4,5
700
44,8
*
*
Pesquisa
G.P.Lipscomb
1
-
1973
1990
9,7
6480
120,5
25
*
1 PWR Prop.
Elétrica
Los Angeles
62
8
1976
-
10,1
6927
109,8
>30
35.000
1 PWR 1 Hélice
SSGN
Sea Wolf
-
3
1998
pv.
-
12,9
9150
107,6
>30
60.000
1 PWR 1 Hélice
TOTAL
125
11
FRANÇA
CLASSE
Constr.
Em
Constr.
Início
Op.
Baixa
Diam.
(m)
Desl.Sub(ton)
Comp.(m)
Vel Max
(nós)
Pot.
Eixo
(Hp)
Obs.
Amethyste
6
-
1982
-
7,6
2670
73,6
25
9.500
1 PWR
Integrado
TOTAL
6
INGLATERRA
CLASSE
Constr.
Em
Constr.
Início Oper.
Baixa
Diam.
(m)
Desl.Sub
(ton)
Comprim
(m)
VMax
(nós)
Pot.Eixo
(Hp)
Obs.
Trafalgar
7
-
1983
-
9,8
5900
85,4
32
15.000
1 PWR 1
Hélice
Swiftsure
5
-
1974
-
9,8
4900
82,9
>30
15.000
1 PWR 1
Hélice
Valiant
1
-
1966
-
10,1
4800
86,9
28
15.000
1 PWR 1
Hélice
Dreadnought
1
-
1963
1983
9,8
4000
81
28
15.000
1 PWR 1
Hélice
TOTAL
14
CHINA
CLASSE
Constr.
Em
Constr.
Início
Oper.
Baixa
Diam.
(m)
Desl.
Sub
(ton)
Comprim
(m)
VMax
(nós)
Pot.Eixo
(Hp)
Obs.
Han
5
-
1974
-
11
5000
108
25
*
1 PWR Prop.
Eletr.
TOTAL
5
58
RÚSSIA
CLASSE
Constr.
Em
Constr.
Início
Oper.
Baixa
Diam.
(m)
Desl.Sub
(ton)
Comprim.(m)
VMax
(nós)
Pot.Eixo
(Hp)
November
13
-
1958
-
9,1
5000
109,7
30
22.000
Obs.
1º SNA Russo
2 PWR 2 Hélices
SSGN
2 PWR 2 Hélices
SSGN
Echo I
5
-
1960
-
9,8
5500
112
28
30.000
Echo II
9
-
1961
-
9,8
6200
116
24
30.000
Victor I
14
-
1967
-
10
5300
93
30
30.000
Charlie I
11
-
1967
-
9,9
4800
94
24
30.000
SSGN
2 MCR Prop.
Elétrica 1 Hélice
Alfa
6
-
1970
-
9,5
3600
81,4
43
45.000
Victor II
7
-
1972
-
10
6000
102
30
30.000
Papa
1
-
1973
-
12,2
8000
109
30
75.000
Charlie II
5
-
1973
-
9,9
5500
102
24
30.000
Victor III
26
-
1978
-
10
6300
104
30
30.000
Oscar I/II
10
3
1978
-
18,3
16000
150
25
60.000
Uniform
2
-
1982
-
7
2500
73
10
30.000
2 PWR 1 Hélice
1PWR 1 Hélice
2 PWR 2 Hélices
SSGN
SSGN
2 PWR 1 Hélice
2 PWR 2 Hélices
SSGN
Pesquisa
Mike
1
-
1983
-
12
9700
110
32
60.000
*
Akula
10
5
1983
-
13
8000
107
32
40.000
2 PWR 1 Hélice
1984
-
12,4
7600
110
34
30.000
2 PWR 1 Hélice
Sierra
4
1
TOTAL
124
9
Submarinos Nucleares Balísticos
A tabela abaixo apresenta as características principais dos submarinos
nucleares balísticos (capazes de lançamento de mísseis balísticos) de cada um dos
cinco países que os possuem:
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA)
CLASSE
Constr
Em Constr
Início
Oper
Baixa
Diam.
(m)
Desl.Sub
(ton)
Comprim.
(m)
VMax
(nós)
Pot.Eixo
(Hp)
G.
Washington
5
-
1960
1988
10,1
6700
126
30
15.000
Ethan Allen
5
-
1962
1992
10,1
7900
200
30
15.000
Lafayette
31
-
1963
-
10,1
8250
129,5
>25
15.000
Ohio
13
5
1982
-
12,8
18700
170,7
>20
60.000
TOTAL
54
5
Obs.
1 PWR
1 Hélice
1 PWR
1 Hélice
1 PWR
1 Hélice
1 PWR
1 Hélice
59
FRANÇA
CLASSE
Constr
.
Em
Constr
.
Início
Oper.
Baixa
Diam
(m)
Desl.Su
b
(ton)
Comprim.
(m)
VMax (nós)
Pot.Eixo
(Hp)
Le
Triomphant
1
2
1994
-
12,5
14120
138
25
41.000
L'Inflexible
1
-
1971
-
10,6
8920
128,7
25
16.000
Le
Redoutable
5
-
1970
-
10,5
9000
128
>20
16.000
TOTAL
7
2
Obs.
1 PWR
PumpJet
1 PWR
1 Hélice
1 PWR
1 Hélice
INGLATERRA
CLASSE
Constr.
Em Constr.
Início
Oper.
Baixa
Diam.
(m)
Desl.Sub
(ton)
Comprim. (m)
VMax
(nós)
Pot.Eixo
(Hp)
Obs.
Vanguard
2
2
1993
-
12,8
16000
149,9
25
27.500
1 PWR
1 Hélice
Resolution
3
-
1967
-
10,5
8500
129,5
25
15.000
1 PWR
1 Hélice
TOTAL
5
2
CHINA
CLASSE
Constr.
Xia
1
TOTAL
1
Em
Constr.
-
Início
Oper.
1987
Baixa
Diam.
(m)
Desl.Sub
(ton)
Comprim.
(m)
-
10
8000
120
VMax
(nós)
22
Pot.Eixo
(Hp)
Obs.
*
1 PWR
Prop.
Elétrica
RÚSSIA
CLASSE
Constr.
Em
Constr.
Início
Oper.
Baixa
Diam.
(m)
Desl.Sub
(ton)
Comprim.
(m)
VMax
(nós)
Pot.Eixo
(Hp)
Obs.
Hotel II/III
8
-
1958
-
9,1
5500
115,2
26
22.000
1 PWR
Yankee
I/II
15
-
1967
-
11,6
9450
160
26
50.000
Delta I
18
-
1972
-
12
11000
139
25
60.000
Delta II
4
-
1973
-
11
12750
152
25
60.000
Delta III
13
-
1974
-
12
13250
155
25
60.000
Typhoon
6
-
1982
-
23
25000
170
24
120.000
Delta IV
6
4
1985
-
12
13600
160
24
60.000
TOTAL
70
4
2 PWR
2 Hélices
1 PWR
2 Hélices
1 PWR
2 Hélices
1 PWR
2 Hélices
2 PWR
2 Hélices
1 PWR
2 Hélices
60
Navios nucleares
As plantas propulsoras de navios de superfície são compostas por motores
diesel, turbinas a gás ou a vapor e motores elétricos, utilizados isoladamente ou em
forma combinada, de modo a atender os requisitos de operação e otimizar os custos
de instalação e manutenção. A energia necessária à movimentação desses
equipamentos pode ser proveniente de combustíveis fósseis, os mais variados, ou
da fissão nuclear de materiais radioativos.
Navios com propulsão nuclear têm como principal característica a utilização
de um reator nuclear de água pressurizada (PWR - Pressurized Water Reactor), por
meio do qual é produzido vapor para a movimentação das turbinas de propulsão e
para geração da energia elétrica necessária a bordo.
Embora alguns países tenham utilizado a propulsão nuclear em navios
mercantes e navios quebra-gelo, seu uso se consagrou em navios militares do tipo
porta-aviões (CVN) e cruzadores (CGN), permitindo, graças à grande capacidade de
armazenamento de energia, a manutenção de altas velocidades por longos períodos
de tempo, sem necessidade de reabastecimento.
A tabela a seguir mostra as principais características dos navios de superfície
com propulsão nuclear.
NAVIOS DE SUPERFÍCIE COM PROPULSÃO NUCLEAR - NAVIOS DE GUERRA
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA)
CLASSE
Construídos
Em
Constr.
Início
Oper.
Tipo
L(m)
B(m)
D(m)
Deslocam.
Carreg.
VMax
(nós)
Pot.Eixo
(Hp)
Nimitz
9
-
1975
CVN
332,9
40,8
11,9
102.000
>30
260.000
Enterprise
1
-
1961
CVN
342,3
40,5
11,9
93.970
33
280.000
Virginia
2
-
1978
CGN
178,3
19,2
9,6
11.300
>30
70.000
California
2
-
1974
CGN
181,7
18,6
9,6
10.450
>30
70.000
TOTAL
12
-
Obs
2 PWR 4
Hélices
8 PWR 4
Hélices
2 PWR 2
Hélices
2 PWR 2
Hélices
61
FRANÇA
CLASSE
Construídos
Em
Constr.
Início
Oper.
Tipo
L(m)
B(m)
D(m)
Deslocam.
Carreg.
VMax
(nós)
Pot.
Eixo(Hp)
Obs
C. de Gaulle
1
1
2001
CVN
261,5
64,4
8,5
39.680
27
83.000
2 PWR
2 Hélices
TOTAL
1
1
Míssil balístico intercontinental (ICBM)
Um míssil balístico intercontinental,
ou ICBM, é um míssil balístico que possui
um alcance extremamente elevado (maior
que
5.500
km
ou
3.500
milhas),
normalmente desenvolvido para carregar
armas nucleares.
Os ICBMs se diferenciam dos demais
mísseis balísticos por possuírem um alcance
Míssil balístico Minuteman, dos EUA,
capaz de levar múltiplas ogivas
nucleares.
e velocidades maiores do que os mesmos. Outras classes de mísseis balísticos são
os mísseis balísticos de alcance médio (IRBMs) mísseis balísticos de curto alcance e
os mísseis balísticos de palco. Estass categorias são essencialmente subjetivas,
sendo os limites entre as mesmas escolhidas pelas autoridades competentes.
As seguintes nações possuem sistemas de ICBM operacionais: a Rússia,
Rússi os
Estados Unidos, a França , o Reino Unido e a China. A Índia possui
ui IRBMs, mas
estão no processo de desenvolvimento de ICBMs, assim como o Paquistão.
Acredita-se
se que a Coréia do Norte também esteja desenvolvendo um foguete ICBMs
Taepodong-2, tendo realizado testes com sucesso limitado em 1998 e 2006.
62
Em 2002, os Estados Unidos e a Rússia assinaram o acordo SORT visando a
redução de seu estoque de ICBMs para não mais que 2.200 ogivas cada.
Fases de vôo
As seguintes fases de vôo podem ser distinguidas:
Fase de arranque — 3 a 5 minutos (para um foguete sólido menor do que
para um foguete com propelentes líquidos); a altitude no final desta fase é
normalmente entre 150 e 400 km, dependendo da trajetória escolhida, e a
velocidade de saída é normalmente de 7 km/s;
Fase intermediária — aproximadamente 25 minutos — vôo sub-orbital numa
órbita elíptica; a órbita é parte de uma elipse com eixo principal vertical; o apogeu
(metade da fase intermediária) ocorre numa altitude de cerca de 1200 km; o eixo
intermediário possui um tamanho entre metade do raio da Terra e o raio da elipse; a
projeção da órbita na superfície da Terra é próxima de um grande círculo,
ligeiramente deformada devido à rotação da Terra durante o tempo de vôo; o míssil
pode lançar também várias ogivas independentes, incluindo contramedidas.
Fase de reentrada (iniciando-se a 100 km de altitude) — 2 minutos — o
impacto ocorre numa velocidade de até 4 km/s (para ICBMs antigos, menor que 1
km/s).
História
63
O progenitor do ICBM foi o alemão
A9/10, o qual nunca foi desenvolvido, mas
apenas proposto por Wernher von Braun. O
progenitor do IRBM foi o alemão Foguete V2
(Vergeltung
ou
"represália",
oficialmente
chamado de A4) foguete desenvolvido por
von Braun que usava propelente líquido e
um sistema de guia inercial. Era lançado de
um lançador móvel, o qual o tornava menos
suscetível para ataques aéreos dos Aliados.
Míssil V-2
2 Alemão, usado contra a
Inglaterra na Segunda Guerra Mundial:
precursor
dos
modernos
mísseis
balísticos.
Depois da 2ª Guerra Mundial von Braun e outros cientistas nazistas foram
fo
transferidos secretamente para os Estados Unidos para trabalhar diretamente para o
Exército estadunidense através da Operação Paperclip, desenvolvendo o V2 para o
Redstone IRBM e Jupiter IRBM. Devido aos artigos do tratado, os Estados Unidos
foram capazes de criar bases de IRBMs em países próximos a URSS com um
alcance estratégico.
A URSS não teve território similar na década de 50, então sob a direção do
engenheiro de propulsão reativa Sergei Korolev, projetou um programa para
desenvolver seus próprios foguetes.. Korolev teve acesso a alguns materiais dos V2
capturados, mas descobriu que o seu design era pobre, desenvolvendo o seu
próprio design distinto, o R-7, que foi testado em agosto de 1957 e, em 4 de outubro
de 1957, colocou o primeiro satélite (Sputnik) no espaço, assim abrindo a era da
exploração espacial para a humanidade.
Nos Estados Unidos, a competição entre as forças armadas significaria
aria que
cada força desenvolveria seu próprio programa de ICBMs, em um lento
ento progresso. O
primeiro ICBM estadunidense foi o Atlas, operacional em 1959. Ambos, o R7 e o
Atlas requeriam uma grande base de lançamento, o que os tornava vulneráveis a
ataques, e não poderiam ser mantidos em um estado de pronta utilização.
Sob a direção de Robert McNamara, os Estados Unidos o desenvolvimento
de ICBMs propelidos a combustíveis sólidos: o Minuteman, o Polaris e o Skybolt.
Skybolt
ICBMs modernos tendem a serem menores que seus ancestrais (devido ao aumento
64
da precisão e ao fato de as ogivas ficarem menores e mais leves), e usam
combustíveis sólidos, fazendo-os menos úteis como bases para lançamentos de
veículos orbitais. O desenvolvimento desses sistemas foi governado pela teoria
estratégica de Destruição Mutuamente Garantida (em inglês: MAD).
ICBMs modernos
ICBMs modernos tipicamente carregam MIRV’s (Multiple Independent
Reintrance Vehicle), onde cada qual carrega uma ogiva nuclear separada,
permitindo um único míssil acertar múltiplos alvos. MIRV foi um resultado da rápida
diminuição em tamanho e peso das modernas ogivas e os Tratados de Limitação de
Armas Estratégicas, onde foram impostas limitações no número de veículos de
lançamentos. O Sistema Nacional de Mísseis de Defesa dos EUA, no Alasca, foi
considerado operacional em 2004.
ICBMs podem ser desenvolvidos de múltiplas plataformas:
•
Em silo de míssil, que oferece alguma proteção de ataque militar
(incluindo, nas esperanças dos desenvolvedores, alguma proteção a
um primeiro ataque nuclear);
•
Em submarinos: submarino lançador de mísseis balísticos (SLMB); a
maioria ou todos SLBMs possuem o longo alcance dos ICBMs (o
oposto dos IRBMs);
•
Em caminhões pesados; isto aplica para uma versão do RT-2UTTH
Topol russo, capaz de se mover através de terrenos sem estrada, e
lançando um míssil de qualquer ponto ao longo de sua rota;
•
Em lançadores móveis sobre trilhos; este modo de lançamento se
aplica, por exemplo, para o SS-24 "Scapel" russo.
Os três último tipos são móveis e, por isso mesmo, difíceis de se localizar.
65
Mísseis específicos
ICBMs terrestres e mísseis de cruzeiro
A Força Aérea dos Estados Unidos atualmente opera 500 ICBMs em cerca de
3 bases localizadas primariamente ao norte dos estados das Montanhas Rochosas.
Estes são da variante única do ICBM LGM-30 Minuteman III. Mísseis Peacekeeper
(mantenedor da paz) foram planejados em 2005.
Mísseis balísticos de submarinos
Tipos específicos de mísseis balísticos de submarinos incluem:
•
Classe George Washington
•
Classe Ethan Allen
•
Classe Lafayette
•
Classe Benjamin Franklin
•
Classe Ohio
•
Classe Resolution
•
Classe Vanguard
•
Classe Typhoon
•
Classe Delta IV
•
Classe Le Redoutable
•
Classe Triomphant
•
Classe Xia
66
3 - O Programa Nuclear Brasileiro
O Programa Nuclear Brasileiro nasceu na década de 1940, logo após a
Segunda Guerra Mundial. Em meados de 1950, o Brasil e os Estados Unidos
firmaram dois acordos de cooperação na área nuclear: o primeiro foi o Acordo de
Cooperação para o Desenvolvimento de Energia Atômica com Fins Pacíficos, que
previa a transferência ao Brasil de urânio altamente enriquecido para ser usado
como combustível em reatores de pesquisa também fornecidos pelos EUA. O
segundo acordo era chamado de Programa Conjunto para o Reconhecimento e a
Pesquisa de Urânio no Brasil e previa a pesquisa e avaliação das reservas de urânio
em solos nacionais e a posterior exportação do minério aos EUA.
Em 1953, na presidência do CNPq, o almirante Álvaro Alberto acertou
secretamente com a Alemanha a construção de três ultracentrífugas de tecnologia
desenvolvida pelos nazistas, que seriam enviadas para o Brasil para o
desenvolvimento dessa tecnologia no país. No entanto, antes de serem remetidas
ao país, um vazamento de informações alertou os EUA, que utilizaram as tropas de
ocupação posicionadas na Alemanha para apreendê-las.
Com a criação do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) em 1951 e da
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) em 1956, o governo brasileiro passa
a preparar uma política nacional de Energia Nuclear. A partir daí, foram criados
estoques estratégicos de minérios nucleares, como o urânio, o nióbio e o tório.
Em 1971, o país adquiriu um reator nuclear da Westinghouse, movido à
urânio enriquecido, depois de um acordo com os EUA, no que viria a se tornar a
primeira unidade da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, conhecida como
Angra I. O contrato de compra representava apenas uma simples aquisição de
equipamento, sem qualquer transferência de tecnologia.
67
"O Brasil adotou como tecnologia de reatores os reatores a água leve
pressurizada (PWR), que usam como combustível urânio enriquecido até 3,5%".
(GONÇALVES, 2008).
O acordo nuclear Brasil-Alemanha
Com o crescimento da demanda energética no país, o presidente Ernesto
Geisel assinou o acordo nuclear Brasil-Alemanha, em 1975. A cooperação entre os
dois países previa a instalação de oito usinas nucleares no Brasil até o ano 2000,
mas por conta de diversos atrasos em seus cronogramas, e por outros motivos que
trataremos no próximo tópico, apenas uma - Angra II -, foi concluída no prazo.
Produzindo o dobro da quantidade de energia de Angra I (1.350 MW/h), a
usina fornece apenas 13,5% dos 10.000 MW/h que o projeto original previa.
Para legalizar esse acordo internacional o governo brasileiro foi obrigado a
assinar um termo de compromisso com a Agência Internacional de Energia Atômica,
no qual seria proibida a utilização da tecnologia com fins bélicos. Tal acordo não
impedia que outros materiais fossem utilizados na fabricação de armas nucleares.
O Programa do Nuclear da Marinha
Desde 1979 a Marinha do Brasil desenvolve seu Programa Nuclear, cujo
propósito é dominar a tecnologia necessária ao projeto e construção de um
submarino com propulsão nuclear, arma com poder dissuasório maior que o do
submarino convencional, por sua capacidade de operar quase indefinidamente sem
depender da atmosfera.
Este programa é dividido em dois grandes projetos: o Projeto do Ciclo do
Combustível e o Projeto do Laboratório de Geração Núcleo-Elétrico (LABGENE).
68
O Projeto do Ciclo do Combustível entrou em operação no final da década de
1970, quando foram iniciados os estudos para desenvolver, no Brasil, a tecnologia
de separação isotópica, principal desafio tecnológico para a fabricação de
combustível nuclear. Em 1982, foi construída a primeira ultracentrífuga, e, seis anos
depois, foi inaugurada a primeira cascata de ultracentrífugas para a produção
contínua de urânio enriquecido. Finalmente, em 2010, o país conquistou sua
completa autonomia no ciclo do combustível nuclear, composto pelas fases de
extração (do minério contendo urânio), redução (a óxido de urânio, ou Yellowcake),
conversão (do Yellowcake para hexafluoreto de urânio), enriquecimento (separação
do U 235 do U 238), reconversão (do gás em metal), fabricação de pastilhas e,
finalmente, montagem de elementos combustíveis.
Paralelamente ao Ciclo do Combustível, mas com algum atraso, foram
iniciados os estudos relativos ao projeto LABGENE, buscando o desenvolvimento e
construção de uma planta nuclear de geração de energia elétrica, totalmente
projetada e construída no país, inclusive o reator.
O projeto conseguiu desenvolver um reator que terá potência entre 11 e 15
MW elétricos (MWe), o suficiente para iluminar uma cidade de cerca de 20.000
habitantes. Esse projeto, por sua característica dual, também é um protótipo em
terra do sistema de propulsão naval que, por sua vez, permitirá a capacitação
necessária para adequá-lo ao submarino nuclear, cujo reator terá estimados 50
MWe.
Em 2007 o governo brasileiro liberou verbas no valor de R$ 1,3 bilhão para a
continuidade dos estudos e desenvolvimento do reator do submarino nuclear, a
serem realizados até 2020.
Em 2008, após a aprovação da Estratégia Nacional de Defesa, a Marinha do
Brasil apresentou seu plano de reequipamento e modernização, a ser realizado até
2030, onde consta a necessidade de se construir seis submarinos nucleares para a
vigilância de três áreas distintas, cada uma patrulhada por duas unidades.
69
Em 2009, o Brasil assinou contratos de cooperação estratégica com a França
para a construção de um estaleiro, uma nova base naval, a construção de quatro
novos submarinos convencionais e o projeto e a construção de um casco de
submarino nuclear, a ser desenvolvido por técnicos militares brasileiros em conjunto
com os militares franceses. Estes contratos estão avaliados em 6,8 bilhões de euros.
Este reator do LABGENE servirá de base tanto para projetar os reatores para
os submarinos como para os três primeiros reatores civis na faixa de 600 a 800 MW
e que serão construídos, pelo planejamento da Nuclebrás, após a conclusão de
Angra III. O plano é que no futuro as novas plantas nucleares civis brasileiras sejam
de projeto brasileiro apenas, sem mais aquisições de usinas no exterior.
O Programa Nuclear Paralelo
“Em 1979, devido à desmoralização do Programa Nuclear Brasileiro, deu-se
início ao Programa Nuclear Paralelo, patrocinado pela Marinha, pelo Conselho
Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares (IPEN)”. (Kuramoto e Appoloni, 2000).
Este programa teve seu nascimento em um projeto eminentemente militar:
nos anos 1970, durante o chamado “milagre econômico”, o regime militar procurou
levar adiante o projeto “Brasil Potência”, injetando recursos no desenvolvimento em
áreas consideradas estratégicas ao país, como a indústria bélica, a indústria
aeronáutica, de informática, espacial, telecomunicações e nuclear.
Problemas com a tecnologia de jato-centrifugação para o enriquecimento de
urânio e a fiscalização internacional contra a proliferação de armas nucleares
culminaram no pouco desenvolvimento do programa nesse período. Ao mesmo
tempo, a Argentina crescia rapidamente no setor nuclear.
Temendo a perda da supremacia nuclear na América do Sul foi projetado um
programa paralelo e totalmente clandestino, às margens da fiscalização nacional e
70
internacional, cuja finalidade era desenvolver a tecnologia de ultracentrifugação para
o enriquecimento de urânio.
As três forças armadas deram início a estudos visando a construção de um
submarino de propulsão nuclear, usando o urânio enriquecido como combustível.
Experiências nessa área eram levadas a cabo pelo CTA (Centro de Tecnologia
Aeronáutica), pela Marinha e pelo IPEN.
Para manter o programa em sigilo, a despeito da vitória do PMDB (opositor ao
regime) para o governo do estado de São Paulo, o IPEN foi transferido para o
governo federal, subordinado à CNEN. A USP (Universidade de São Paulo) firmou
um convênio com o Ministério de Minas e Energia, cujo objetivo era o
desenvolvimento de aplicações pacíficas para a energia nuclear. Desse modo, dois
programas coexistiam: um programa nuclear militar e um civil.
Em 1982 registrou-se a primeira experiência de enriquecimento de urânio em
ultracentrífugas construídas inteiramente no Brasil, com índice de 1,2%, ao passo
que Angra I usava material com enriquecimento mínimo de 3%. Desde então,
obteve-se uma sucessão de progressos nesse setor.
A Aeronáutica, pretendendo seguir seu próprio caminho nas experiências com
enriquecimento a laser, construiu, a partir de 1981, na Serra do Cachimbo, PA,
covas e cisternas de até 320 metros de profundidade, com um a três metros de
diâmetro, para testes nucleares e depósito de desejos radioativos.
Preocupado com a rival Argentina, o presidente José Sarney divulgou em
rede nacional, em 1987, que cientistas brasileiros haviam dominado a tecnologia de
enriquecimento de urânio por ultracentrifugação, e, através do decreto-lei 2.464, de
31 de agosto de 1988, trouxe os projetos paralelos da clandestinidade para a
oficialização e conhecimento da sociedade brasileira. Com este decreto, também
estava determinado o término da construção das usinas de Angra II e III, além da
construção de um reator em Iperó, SP, para servir de protótipo aos reatores do
submarino nuclear.
71
Em 1989, o almirante Othon Pinheiro da Silva, diretor do Centro Experimental
de Aramar, em Iperó, SP, previa o início da produção de urânio enriquecido a 20%,
em escala comercial, a partir de 1990.
Em setembro de 1990, o presidente Fernando Collor fechou a área de testes
da Serra do Cachimbo, e, uma semana depois, anunciou às Nações Unidas que o
Brasil rejeitava a ideia de qualquer teste que implicasse em explosões nucleares,
afastando o país, definitivamente, do círculo de nações nuclearizadas.
Cronologia do Programa Nuclear Brasileiro
•
1950 - Programa nuclear brasileiro que remonta à década de 1950 com a
criação do CNPq, liderado na época pelo Almirante Álvaro Alberto da Mota e
Silva, que empresta seu nome à Central Nuclear de Angra dos Reis.
•
1953 - O governo brasileiro assinou com representantes da Societé des
Produits Chimiques des Terres Rares um contrato de encomenda, na França,
de usinas para obtenção de urânio nuclearmente puro.
•
1954 - O urânio metálico passou a ser produzido no Brasil. Logo, o governo
brasileiro aumentou o interesse em desenvolver um programa nuclear próprio,
a fim de deixar de ser um simples fornecedor de minério para a onipotente
indústria nuclear dos países europeus.
•
1956 - O programa nuclear brasileiro teria começado, de acordo com a Folha
de São Paulo, em Outubro de 1956, altura em que o então presidente
Juscelino Kubitschek criou a Comissão Nacional de Energia Nuclear.
•
1957 - O primeiro reator da América Latina foi instalado no Instituto de
Energia Atômica (IEA) – hoje Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
(IPEN) –, em São Paulo, sob a coordenação do professor Marcello Damy.
•
1958 - O IEA-R1 foi o primeiro reator nuclear da América Latina, inaugurado
no Brasil no dia 25 de janeiro de 1958 pelo então presidente Juscelino
Kubitschek. O reator foi construido com a ajuda do governo norte-americano,
dentro do programa “Atoms for Peace”.
72
•
1962 - Criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e
estabelecimento do PND II (PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO),
que incrementou um programa de uso energia nuclear no Brasil, em especial,
com
relação
às
usinas
nucleares;
era
o
programa
nacional
de
desenvolvimento da energia nuclear.
•
1967 - Embora fosse um dos signatários do Tratado de Tlatelolco, que proibia
armas nucleares na América Latina, o governo militar brasileiro, sem
embargo, achava que a opção nuclear era crucial aos planos de segurança
do país em longo prazo, porque permitia a transferência de tecnologia nuclear
a um programa secreto de enriquecimento de urânio, com o código de
Solimões (apropriadamente designado com o nome da cabeceira do Rio
Amazonas). O objetivo era dominar todas as fases da produção de energia
nuclear, inclusive aquelas para possível uso militar.
•
1968 - Primeiro programa organizado de Iniciação Científica no país, sob
coordenação do Prof. Epaminondas S. B. Ferraz, sob o título de Curso de
Introdução à Energia Nuclear na Agricultura, CIENA.
•
1971 - O Programa Nuclear Brasileiro entrou em sua fase comercial, com a
encomenda de Angra 1, de 657 MW, à companhia americana Westinghouse.
Angra 1 foi desde o início fonte de problemas.
•
1972 - A construção da usina Angra I tem início, em plena ditadura militar.
•
1973 - A Crise do Petróleo atingira fortemente o Brasil, então grande
importador (cerca de 80% do consumo interno), o que levou o Governo a
buscar ampliar as fontes alternativas de energia, tendo sido disponibilizados
prioritariamente recursos para implantar e executar o Programa Nacional do
Álcool, o Programa Nacional de Carvão e o Programa Nuclear Brasileiro.
Houve também a preocupação de ampliar o aproveitamento hidrelétrico com
Tucuruí, Itaipu entre outros.
•
1974 – É criada a Nuclebrás, com o monopólio no setor nuclear, sobretudo
nas pesquisas nucleares e minerais, como as jazidas de urânio.
•
1975 - É assinado o acordo nuclear Brasil-Alemanha, que inclui a prospecção
e mineração de urânio, produção de reatores, enriquecimento de urânio,
produção de elementos combustíveis e reprocessamento de combustível
73
irradiado. Previa inicialmente a construção de oito usinas nucleares com
geração conjunta de 10.000 MWe.
•
1977 - O “Livro Branco” do Programa Nuclear Brasileiro é elaborado, com o
objetivo de promover a construção de Reatores Nucleares para a geração de
energia elétrica no Brasil a médio e longo prazo.
•
1978 - É criado o Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear (IBQN),
organização sem fins lucrativos, com o objetivo de trazer para o Brasil as mais
modernas técnicas de Garantia da Qualidade, contribuindo para o
aperfeiçoamento tecnológico e gerencial das empresas e organizações
brasileiras então envolvidas no Programa Nuclear Brasileiro (PNB).
•
1980 - Decreto 85565, de 18 de dezembro de 1980, regulamenta o Decretolei 1809, de 07 de outubro de 1980, que estabelece o Sistema de Proteção ao
Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON).
•
1982 - Marco zero da entrada definitiva do país na era nuclear. Iniciou-se o
funcionamento da unidade I da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto mais
conhecida como Angra I.
•
1983 - Contrato assinado com a empreiteira Andrade Gutierrez, visando
concluir a construção de Angra 3, depois de um longo debate sobre a
conveniência de levar adiante o programa nuclear brasileiro.
•
1986 – O acidente de Chernobyl abala a opinião pública mundial sobre
energia nuclear. No Brasil, o presidente José Sarney vem a público, em
pronunciamento
oficial,
informar
que
o
país
dominara
o ciclo
de
enriquecimento de urânio com tecnologia 100% nacional.
•
1989 - Um estudo realizado pelo Congresso norte-americano concluiu que o
Brasil produziu, graças ao Programa Nuclear Paralelo, um sistema para guiar
mísseis que poderia tornar a próxima geração de mísseis do país idêntica aos
que as superpotências possuiam.
•
1990 - Tem início a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, com a
construção da usina nuclear Angra 2, que viabilizou projetos da INB como a
implantação das fábricas de pó e pastilhas, o início da planta de
enriquecimento de urânio e a abertura de nova mina de urânio, em Caetité
(BA).
74
•
1994 - Brasil renuncia ao desenvolvimento de armas nucleares, e o objetivo
do enriquecimento de urânio a 20% no país, é a fabricação de combustíveis
que alimentam os reatores de radioisótopos.
•
1997 – O Brasil, na pessoa do presidente Fernando Henrique Cardoso,
assina o Tratado de Não Proliferação Nuclear, que o obriga, dentre outros, a
aceitar inspeções internacionais em suas instalações nucleares e não
desenvolver tecnologia nuclear com fins bélicos.
•
2004 - O Brasil proíbe inspetores da Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA), órgão ligado à ONU, de ter acesso ilimitado às instalações da
fábrica de enriquecimento de urânio, gerando tensão internacional. O
presidente Lula determinou que o governo iniciasse a revisão do Programa
Nuclear Brasileiro, com vistas à retomada ou não dos projetos de construção
de usinas.
•
2005 - A revisão do Programa Nuclear Brasileiro conta com planos de
construção de outras duas grandes usinas e quatro geradoras de pequeno
porte.
•
2006 - O Brasil entra para o seleto grupo de sete países que produzem e
dominam a tecnologia de combustível nuclear. Isso foi alcançado com a
inauguração da primeira unidade de enriquecimento de urânio por ultracentrifugadoras, de tecnologia nacional, instalada nas Indústrias Nucleares do
Brasil (INB), em Resende, na região sul fluminense, com capacidade de
abastecer as usinas de Angra I e II e, futuramente, Angra III.
•
2007 - O Brasil anunciou o relançamento do seu Programa Nuclear após uma
interrupção de vinte anos e a construção da sua terceira central atômica.
•
2008 - O governo publicou, no Diário Oficial da União, decreto que cria o
Comitê
de
Desenvolvimento
do
Programa
Nuclear
Brasileiro,
sob
responsabilidade da Casa Civil. O Brasil e a França assinam um grande
acordo global na área de defesa, numa parceria que envolve aquisição de
quatro submarinos convencionais e um de propulsão nuclear.
•
2009 – O Governo Federal aportou R$ 1,3 bilhão, ao longo de dez anos, a
para que a Marinha complete o desenvolvimento da tecnologia de reatores a
serem usados no submarino nuclear e em pequenas centrais nucleares.
75
Enquanto isso, o Brasil é pressionado a assinar o protocolo adicional ao TNP,
considerado por vários setores como “gravemente intrusivo”.
•
2010 - O programa nuclear brasileiro, assim como os desenvolvidos na
Argentina, África do Sul e Índia, é considerado um dos mais avançados do
mundo, e o país tem capacidade de enriquecer urânio a 20% de acordo com
as normas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em maio,
Brasil e Turquia conseguem assinatura de acordo para troca de combustível
nuclear com o Irã.
As reservas de urânio brasileiras
O Brasil, segundo dados oficiais (INB - Indústrias Nucleares do Brasil S.A.),
ocupa a sexta posição no ranking mundial de reservas de urânio (por volta de
309.000 ton. de U3O8). Segundo esta empresa, apenas 25% do território nacional
foi objeto de prospecção, e as duas principais jazidas são a de Caetité, Bahia (mina
Lagoa Real), e Santa Quitéria (Ceará).
Descoberta em 1976, a mina de Caetité é feita a céu aberto, numa das 33
ocorrências localizadas numa faixa com cerca de 80 km de comprimento por 30 a 50
km de largura. Localizada a 20 km da sede do município, o complexo instalado
produz um pó do mineral, conhecido por “yellow cake”. Esta reserva possui um teor
médio de 3.000 ppm (partes por milhão), capaz de suprir dez reatores do porte de
Angra 2 durante toda sua vida útil.
A INB já tem planos de retomar as pesquisa geológica em busca do urânio
em território nacional, e está em negociações com a Companhia de Pesquisa e
Recursos Minerais (CPRM) para que analise levantamentos aerogeofísicos
realizados ao longo dos últimos vinte anos e selecione áreas para fazer
detalhamentos, mapeamentos e sondagens. Em dois anos, será possível ter uma
idéia muito mais clara das reais possibilidades de ampliação das reservas nacionais.
Duas reservas já se mostram promissoras. A primeira é Rio Cristalino, no sul
do Pará, que ainda carece de sondagens mais precisas para se definir qual é o
76
potencial verdadeiro da jazida. Estima-se que ela tenha cerca de 150 mil toneladas
de urânio. A segunda é Pitinga, localizada a 280 km de Manaus. Trata-se de uma
mina de estanho com urânio associado de propriedade do Grupo Paranapanema
que, pelos cálculos da possui um potencial de cerca de 150 mil toneladas de urânio.
Além disso, toda a área da Amazônia Legal (bacia sedimentar) apresenta enorme
potencial para novas descobertas.
Instalações nucleares estratégicas brasileiras
Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto
A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto é formada pelo conjunto das
usinas nucleares Angra 1, Angra 2 e Angra 3, de propriedade da Eletronuclear,
subsidiária das Centrais Elétricas Brasileiras - Eletrobrás. São o resultado de um
longo Programa nuclear brasileiro que remonta à década de 1950 com a criação do
CNPq liderado na época principalmente pela figura do Almirante Álvaro Alberto da
Mota e Silva, que lhe empresta o nome.
Unidade de Concentrado de Urânio em Caetité - BA
A Unidade de Concentrado de Urânio em Caetité - BA é um complexo míneroindustrial onde são conduzidas
atividades
de pesquisa mineral,
lavra e
processamento metalúrgico de minério de urânio, para produção de concentrado de
urânio na forma de diuranato de amônio (DUA). O empreendimento está localizado
no município de Caetité, no sudoeste do estado da Bahia, distando 45 km da sede
municipal. A operação industrial está prevista para um prazo de 16 anos, para
processamento de minério explorado da Jazida da Cachoeira - Anomalia 13, com
teor médio de 2.900 ppm de U3O8, para produção anual de DUA de 300 toneladas
em equivalente a U3O8. Em março de 2000 foi concedida a Autorização para
Operação Inicial (AOI) do empreendimento.
77
Unidade de Tratamento de Minérios em Caldas - MG
A Unidade de Tratamento de Minérios em Caldas - MG, anteriormente com a
denominação Complexo Mínero-Industrial do Planalto de Poços de Caldas - CIPC, é
o primeiro empreendimento de lavra e processamento de minério de urânio a operar
no Brasil, estando localizado em local denominado Campo do Cercado.
Compreende uma mina a céu aberto, bota-foras, instalações de tratamento de
minérios, usina de processamento metalúrgico para produção de concentrado de
urânio, bacia de rejeitos, área de utilidades industriais e fábrica de ácido sulfúrico.
Existem também depósitos de armazenamento de torta II e mesotório.
A usina foi projetada para uma produção anual de DUA de 500 toneladas em
equivalente a U3O8. A lavra de minério de urânio teve início em 1977 e a operação
da usina foi encerrada em 1995 por inviabilidade econômica. Neste período foram
produzidos em torno de 1.200 toneladas de U3O8. Após o encerramento das
atividades com minério de urânio, a INB vem buscando viabilizar o funcionamento
das instalações da UTM com outros bens minerais. Desde 1998 encontra-se em
licenciamento a produção de terras raras a partir da monazita pela rota de processo
sulfúrica. A INB pretende também processar minérios contendo columbita e zirconita,
além de outros concentrados contendo terras raras.
Sistema de Gerenciamento de Rejeitos Sólidos de Angra 2
A Unidade II da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto - CNAAA II - Angra 2
teve concedida a Licença de Construção em novembro de 1981. Em março de 2000
foi concedida a Autorização para Operação Inicial (AOI) e em julho o reator alcançou
sua criticalidade nuclear, o que marcou o início operacional da central nuclear. Angra
2 de tecnologia KWU/Siemens possui uma potência líquida de 1230 MW.
O Sistema de Gerenciamento de Rejeitos Sólidos de Angra 2 destina-se ao
processamento de rejeitos radioativos de médio e baixo níveis e acondicionamento
para armazenagem inicial na usina anteriormente a deposição final.
78
Unidade de Produção de Hexafluoreto de Urânio
O Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) trabalha em
pesquisa e desenvolvimento, com o propósito de promover sistemas nucleares e
energéticos para propulsão naval.
As atividades do CTMSP atendem à decisão da Marinha pelo projeto e
construção de um submarino, necessário à preservação dos interesses marítimos do
nosso País.
Para atender às necessidades experimentais do programa de pesquisa e
desenvolvimento do CTMSP, funciona em Iperó, no interior de São Paulo, o Centro
Experimental Aramar. Este Centro abriga instalações de testes, laboratórios de
validação experimental e algumas oficinas especiais.
Novas centrais nucleares
Em julho de 2008, o Governo Federal criou o Comitê de Desenvolvimento do
Programa Nuclear Brasileiro. A função do Comitê é fixar diretrizes e metas para o
desenvolvimento do Programa e supervisionar sua execução.
Para atender ao Plano Decenal de Energia - PDE 2007/2016, elaborado pela
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) vinculada ao Ministério de Minas e Energia,
a Usina Angra 3, com capacidade de produzir 1.405 MWe, deverá entrar em
operação em 2015, concluindo assim a implantação da Central Nuclear Almirante
Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Já o Plano Nacional de Energia (PNE 2030) que subsidia o Governo na
formulação de sua estratégia para a expansão da oferta de energia até 2030 aponta
a necessidade de o sistema elétrico brasileiro ter mais 4.000 MW de origem nuclear
até 2025.
79
O Comitê, então, apresentou a necessidade da construção de mais quatro
usinas nucleares com capacidade de 1.000 MW cada, sendo duas no Nordeste e
outras duas no Sudeste. Conforme a evolução futura da necessidade de expansão
da oferta de eletricidade existe a possibilidade de construção de mais usinas.
Cronograma
•
2008: início da seleção de local para a Central Nuclear do Nordeste
•
2010: seleção do local para a Central Nuclear do Nordeste
•
2019: início da operação da primeira usina Central Nuclear do Nordeste
•
2021: início da operação da segunda usina da Central Nuclear do Nordeste
O futuro da energia nuclear no Brasil
Os novos reatores nucleares nacionais
Técnicos do governo federal estão detalhando o projeto daquele que será o
maior reator nuclear de pesquisa da América Latina. Orçado inicialmente em US$
500 milhões, o Reator Multipropósito Brasileiro tem o objetivo de tornar o país
independente na produção de isótopos radioativos para medicina.
O reator, de 20 megawatts (quatro vezes a potência do principal instrumento
do gênero em operação no Brasil), deverá começar a ser montado em 2010. O
provável local onde será construido e operado é o Centro Experimental de Aramar,
em Iperó, interior de São Paulo, onde a Marinha projeta seu submarino nuclear.
O novo reator também deverá ser parte integrante do programa brasileiro de
energia nuclear, uma vez que poderá servir de modelo para futuros reatores de
fissão a serem desenvolvidos no país, incluindo o modelo a ser usado nos
submarinos nucleares da Marinha.
80
Após Angra III, o governo planeja fazer mais quatro usinas. Hoje o Brasil
fabrica o próprio combustível nuclear e importa uma série de materiais, mas a
expansão do programa demandará investimentos em mais tecnologia nacional.
Foram afastadas as preocupações com proliferação atômica. O combustível
para o novo reator terá urânio enriquecido a 20%, limite aquém do qual é possível
fabricar uma bomba, que é 95%. Além disso, todas as instalações nucleares do
Brasil estão sob inspeção internacional da AIEA (Agência Internacional de Energia
Atômica), não havendo dúvida quanto às intenções do país.
A Fusão Nuclear
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, assinou em 07/11/2006,
no Instituto de Física da USP – Universidade de São Paulo, a portaria que cria uma
Rede Nacional de Fusão. A iniciativa pretende reunir, inicialmente, 80 pesquisadores
de 16 instituições nacionais para desenvolver pesquisas na área de tecnologia de
fusão nuclear.
Embora a tecnologia da fusão nuclear só venha a ter aplicações práticas em
30 ou 40 anos, o Brasil precisa estar preparado para quando isso ocorrer. Adalberto
Fazzio, presidente da SBF, diz que o objetivo da RNF é promover o avanço da
pesquisa em fusão nuclear no Brasil, desenvolvendo capacitação científica e
técnica, necessárias para a viabilização da tecnologia como fonte de energia.
A fusão nuclear controlada teve sua viabilidade científica demonstrada nos
anos 90, com equipamentos denominados “tokamaks” – pequenos reatores onde
ocorre a fusão de núcleos atômicos. Os primeiros experimentos foram realizados na
Europa, com o JET – Joint European Torus e, nos Estados Unidos, com o TFTR –
Tokamak Fusion Test Reactor.
O próximo desafio é desenvolver reatores grandes o suficiente para gerar
energia para abastecimento público. Já existe projeto de um protótipo de reator de
81
fusão nuclear chamado ITER – International Thermonuclear Experimental Reactor,
que será construído na França.
O protótipo é resultado da colaboração internacional entre a Comunidade
Européia, Rússia, Japão e Estados Unidos. Recentemente, China, Coréia do Sul e
Índia juntaram-se ao grupo. “A intenção do Brasil é ir gradualmente se integrando ao
Iter”, revelou Rezende em comunicado à imprensa.
O Brasil já vem realizando pesquisas na área há cerca de 30 anos, com
grupos de cientistas em várias instituições. A RNF pretende coordenar e ampliar
essas
atividades,
estabelecer
prioridades
e
gerenciar
as
colaborações
internacionais.
Com a RNF, o Brasil pretende desenvolver tecnologias próprias e ingressar
no esforço internacional que busca viabilizar o uso da fusão nuclear em larga escala.
Para o futuro, está prevista a criação de um Laboratório Nacional de Fusão.
82
Anexos
83
84
85
Fig. 1 - Yellowcake, concentrado de Urânio (U3O8)
Fig. 2 - Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro
86
Fig. 3 - Centro Experimental Aramar, em Iperó, São Paulo
Fig. 4 - Maquete do Submarino Nuclear Brasileiro
87
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