Global Update and People Building Trust July08Por
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Iniciativas de Mudança OLHAR GLOBAL JULHO 2008 – Nº 12 Vinte e oito ex-comandantes do Movimento de Liberação Isatabu (IFM) assistiram ao curso sobre criação de paz e comunidade, organizado em Junho por Asas da Transformação, como é conhecido Iniciativas de Mudança nas Ilhas Salomão. Foi a primeira vez que o grupo se reuniu desde o acordo de paz de Townsville, em 2000. Desde 1998 até 2003, quando Austrália enviou suas tropas, as Ilhas Salomão sofreram um período de violência e anarquia, com milhares de mortos e desabrigados. Muitas das lutas aconteceram na ilha de Guadalcanal entre o IFM e o povo de Malaita. Quando alguns militantes guales se recusaram a firmar o Acordo de Paz de Towsville, o IFM começou a se fragmentar ocorrendo assim outros enfrentamentos. O objetivo do curso era sanar estas feridas. A princípio, havia tensão no grupo. Houve acusações. “Tu mataste meu irmão”, “Tu incendiaste a aldeia do meu primo”. Entretanto, essas tensões fizeram descobrir que todos haviam sido vítimas e perpetradores e que “a mudança deve começar por nós mesmos”. Ao término da semana, os homens se Mike Lowe Ex-combatentes das Ilhas Salomão trabalham pela paz Ex-militantes comprometeram a regressar a suas comunidades e trabalhar pela reconciliação. Joseph Sangu, um dos comandantes superiores, disse: “Temos aberto os olhos. Devemos deixar de nos acusarmos. Necessitamos envolver todos no processo de reconciliação”. Leone Ladu Koio, que administrou o IFM durante o conflito, disse: “A verdadeira reconciliação precisa tanto das vítimas quanto daqueles que estavam ativamente envolvidos... não podemos esperar até que nossos líderes se reconciliem com outros líderes. O problema foi nosso e só nós podemos resolvê-lo”. Além do Tribalismo morte por proteger aos Kikuyos; um homem que foi atingido por uma flecha envenenada disse “meu coração foi sarado”. Mburu afirmou que essa era a primeira vez que se sentia tão feliz depois do ataque, do qual também saiu ferido. Apesar de já haver perdoado a seus atacantes, sente agora “a grande necessidade de rejeitar esses sentimentos de seu coração e perdoar completamente”. Ann Njeri Em Maio se realizaram duas oficinas de Círculos de Paz no Quênia, reunindo 24 mulheres de seis tribos, incluindo líderes do Governo e comunidades, ONGs e agricultores. A violência após as eleições no Quênia deixou um saldo de cerca de 1000 mortos e mais de 600.000 desabrigados. No decorrer da oficina, uma jovem jornalista se questionava: “Por que odeio as pessoas?”. Outra decidiu perdoar seu cunhado que dirigiu a matança de Kikuyus em sua área. Ao final, as mulheres prometeram a si mesmas “pôrse de pé em defesa da paz”. Três membros da Campanha ‘Quênia, eu me importo’ foram convidadas a falar nas escolas de Eldoret, área dominada pelos Kalenjins. Dois valentes Kikuyos foram e contaram aos estudantes sua própria decisão de combater a corrupção e o tribalismo, começando em suas próprias vidas. Ao voltar de uma jornada cansativa, acharam os anciãos da aldeia reunidos. “Eles desejavam fazer-nos sentir a salvo”, escreveu Ann Njeri. Um confessou sua vergonha pelo que sua gente havia feito, dizendo “nem todos os Kalenjins são assassinos.” Uma das piores atrocidades foi a queima de uma igreja que abrigava mulheres e crianças que fugiam da violência. O pastor, Ver. Stephen Mburu, falou numa reunião de IM-Quênia, realizado em Maio. Durante várias horas se escutaram uns aos outros - os Kalenjins, que enfrentaram a Círculos de Paz Últimas Notícias CALENDÁRIO Grande Esperança em Liverpool A Universidade de Liverpool, UK, foi a sede do Congresso Global Juvenil, A Grande Esperança, realizado em Junho. Estiveram presentes 600 pessoas de 55 países. IM convidou vários oradores internacionais que falaram sobre “Relações Religiosas no Mundo”: Sushobha Barve, que trabalha pela reconciliação em Cachemira, Niketu Iralu, que trabalha pela paz em Nagaland; e Ramez Salame de Beirut, que tem feito um trabalho semelhante no Líbano. Também, estiveram o Imame Ashafa e o Pastor Wuye, diretores do Centro de Mediação Inter-Religiosa em Kaduna, Nigéria, protagonistas do filme O Imame e o Pastor, realizada por FTL filmes de IM. Na sessão de encerramento, o prior da Catedral de Liverpool disse, “o imame e o pastor transformaram uma área de desespero em uma área de esperança e desenvolvimento... a esperança vem de Deus e se pratica com coragem.” Dias depois, diversos destes oradores participaram na conferência “Sobre a Construção da Confiança”, organizada por IM em Derbyshire,UK. Abdool Kadir Gooljar, Presidente da Sociedade Muçulmana da Grã-Bretanha, disse: ”Creio firmemente que nosso trabalho com IM será uma plataforma firme para trazer paz entre religiões e um mundo melhor para as crianças do amanhã”. Lições da Guerra Civil O programa de IM Esperança nas Cidades em parceria com o Centro da Guerra Civil Americana (ACWC) em Richmond, Virgínia, lançou o programa-piloto para que os estudantes saibam sobre a Guerra Civil e explorem, através do diálogo, os seus efeitos de hoje. A história da Guerra Civil é apresentada sob três aspetos: a União, a Confederação e os Afro-americanos. Mark Howell, diretor de educação de ACWC, disse que os organizadores “estão muito animados pela forma que os estudantes respondem e desejam expandir esta oportunidade”. Arte em ação Em meio à multidão que participou da ‘caminhada de arte’ mensal em Richmond, centenas de pessoas foram estimuladas a criar sua própria peça de arte. Esperança nas Cidades convidou as pessoas a refletir sobre “De onde veio a injustiça em Richmond ?” e a expressar sua visão. Este criativo diálogo deu lugar ao aprofundamento acerca dos Caux, Suíça Conferências Internacionais: 3 - 9 Julho Serviço Global - Liderança desafios que enfrenta a comunidade e a visões positivas para o futuro. Também apresentou o trabalho de Esperança nas Cidades a uma população jovem, convidada a participar nos esforços para converter estas visões em realidade. Do Líbano para o mundo Como parte do Pangea Day, “evento global que une o mundo através de um filme“, foi transmitida por 92 emissoras de TV ao redor do mundo uma entrevista com dois ex-comandantes da milícia libanesa, agora ativos em IM. Assaad Chaftari e Mohiftaaeddine Shihab lutaram nas milícias cristã e muçulmana respectivamente, durante a Guerra Civil no Líbano. Quando lhes perguntaram sobre como conseguiram se unir, Chaftari disse que o primeiro passo foi mudar alguns aspetos de começar a ver os outros como realmente são e não como ele gostaria que fossem. Isto fez com que ele fizesse uma declaração pública na imprensa, onde pedia perdão à suas vítimas e suas famílias e perdoando aqueles que lhe haviam causado prejuízo. Referindo-se à recente violência no Líbano, o entrevistador disse que eles eram uma prova viva de que os problemas podem se solucionar. Resposta libanesa a pedido de desculpas palestino Sob iniciativa de membros da equipe de IM no Líbano, uma carta foi recentemente publicada no jornal árabe Al-Safir em resposta ao ‘pedido de desculpas palestino ao Líbano’, publicada pela PLO, que propõe futuras relações e inclui uma desculpa incondicional por “qualquer dano que (os palestinos) tenham causado ao nosso caro Líbano” desde 1948. Quarenta e quatro libaneses cristãos firmaram um “Apelo a nossos irmãos palestinos no Líbano” desculpando-se pelos “atos injustos” cometidos pelos cristãos durante a guerra, que trouxe a morte de palestinos inocentes. No dia seguinte, um representante da PLO publicou na imprensa libanesa: “Estamos muito satisfeitos com o intercâmbio de desculpas” que “constitui um bom começo para um mútuo entendimento da necessidade dos libaneses por estabilidade e necessidade dos palestinos de regressarem a seus lares”. 11 - 16 Julho Confiança e Integridade na Economia Global 18 - 23 Julho Lidando com as causas básicas da insegurança humana 25 Julho - 01 Agosto Ferramentas para a Transformação 3 - 10 Agosto Artes para renovação 12 - 17 Agosto Desenvolvendo o Diálogo Cultural www.caux.ch/2008 Coréia 9-16 Agosto 14ª Conferência Juvenil da Ásia do Pacífico África do Sul 20 Setembro – 15 Novembro Capacitação para líderes Harambe Bolonha, Itália Bolonha, Itália 9-13 Outubro Entre a super abundância e a fome Richmond, USA 6 Novembro Dia Metropolitano de Richmond Olhar Global é uma tradução do boletim bimensal GLOBAL UPDATE editado por IM Internacional. E-mail: [email protected]. Incentivamos todos a fazer réplicas e distribuir em sua comunidade. Por favor, envie seus comentários em inglês para [email protected]. ou em português para iniciativasdemudanca@ terra.com.br Construindo a confiança em meio às divisões do mundo Iniciativas de Mudança www.iofc.org/pt/ JULHO 2008 – No 12 FRÉDÉRIC CHAVANNE Membros da equipe Iniciativa para o Diálogo GENTE PROMOVENDO CONFIANÇA A base para uma cidadania comum Compartilhando uma mesma cidadania nos subúrbios de Paris, os residentes aprendem a dialogar para abordar a divisão existente entre o Ocidente e o mundo muçulmano. Frédéric e Natalie Chavanne relatam abaixo. No inicio do século XXI, aprender a viver com nossas diferenças parece ser um desafio crescente. A globalização não tem nos ajudado a diminuir nossos conflitos, ao contrário, parece estar sabotando nossa identidade. Frente ao atual sentimento de insegurança ou injustiça no mundo, as pessoas que nos são semelhantes ou compartilham os mesmos interesses estão fortemente tentadas a permanecer unidas. Seria isto uma ameaça para a coesão social em nossos países ou para a paz mundial? ‘Tenho achado aliados com quem construir uma nova forma de cidadania, com ferramentas e determinação’. Em particular, parece que a distância entre pessoas ou países muçulmanos e aqueles de cultura ocidental está crescendo. Os ataques nos Estados Unidos em Setembro de 2001, seguidos pelos ataques em Madri, Bali e outros lugares no Iraque e no Oriente Médio, a controvérsia sobre a publicação das caricaturas do profeta Maomé, a declaração do Papa em Ratisbonne, a perseguição das minorias cristãs em países de maioria muçulmana; tudo dá impressão de que a situação piora. Iniciativas de Mudança Na equipe francesa de Iniciativas de Mudança, 20 franceses do Norte da África e “nativos” estão tratando de responder a isto, através do Programa Iniciativa para o Diálogo. Dez anos de uma abordagem de fé e disponível a escutar, apesar de suas vidas corridas, têm lhes permitido se conhecer e se apreciar, falar honesta e profundamente e criar relações de confiança. Reuniões alegres de convivência têm tido papel relevante, especialmente nas generosas refeições oferecidas por famílias muçulmanas. Particularmente memorável foi a festa de Natal, organizada há dois anos pelos cristãos, à solicitude de seus companheiros muçulmanos, que desejavam conhecer mais profundamente o significado desta festa religiosa. Desde Setembro de 2001, o grupo tem organizado reuniões para falar sobre os conflitos internos, que têm provocado os eventos aos quais nos referimos anteriormente. A chave tem sido a abertura e a humildade com que falam deles mesmos e os erros de seus grupos culturais. “Quanto mais profundo falamos a respeito de nossos sentimentos e nossas feridas, mais profundamente nos conhecemos”, ressalta Alain, um dos mais antigos no grupo. “Em nossas reuniões, temos um momento de reflexão, logo após dar liberdade às palavras e emoções”, enfatiza Natalie. “Logo compartilhamos algum pensamento inesperado ou alguma sábia idéia que veio de um ou outro, durante o silêncio. Isto nos ajuda a por as coisas em perspectiva, a não nos deixarmos levar pela amargura ou por nossa primeira reação, e a permanecer construindo pontes entre as pessoas. É como um antídoto que deixa fora o espírito partidário, a dúvida e a falta de esperança, a desconfiança com outras pessoas, o desejo de fazer com que o outro pense como eu”. “Graças a este grupo tenho conseguido mudar, não me sentir mais uma imigrante, mas uma cidadã francesa”, conta Raoudha, tunisiana, mãe e facilitadora de conselheiros profissionais em integração. “Tenho achado aliados com quem construir uma nova forma de cidadania, com ferramentas e determinação”. “Conhecendo meus amigos africanos, muitos dos quais tiveram que sair de seu país, valorizo o privilégio de ter uma terra onde me sinta em casa”, explica Natalie, que vive com sua família em uma agradável região a oeste de Paris. “Pergunto-me a que lugar da França pertenceria, se não tivesse sido capaz de criar relações significativas com pessoas de uma cultura tão diferente da minha, transmitindo imagens e idéias herdadas de uma família particular e um passado colonial”. ‘Quanto mais profundo falamos sobre nossos sentimentos e nossas feridas, mais profundamente nos conhecemos’. Erwan, agora coordenador de Iniciativas para o Diálogo, lembra sua primeira reunião no círculo de diálogo há quase dois anos. Foi um início decisivo para este jovem engenheiro. “O tema era compartilhar um dos valores principais da minha vida. Nunca estive reunido em presença de mulheres islâmicas que estivessem com véu”, lembra. “Surpreendeu e me comoveu a maneira como mexiam com a cabeça, quando eu descrevia o que era importante para mim”. Daqui têm surgido algumas iniciativas. Fékri, que ensina inglês em Coignières, localizado no subúrbio parisiense onde 70% da população é de imigrantes, fundou uma associação que ajuda aos muçulmanos em algumas de suas necessidades, tais como obter apoio nas escolas e um salão de orações, doado pelas autoridades locais. Béchir e sua esposa Jamila fundaram a associação Espace Savoir Sinergy (Grupo de Experiência Sinérgica), que busca ajudar a jovens executivos muçulmanos que desejam ter um papel ativo na convivência em harmonia na França. Samia emprega sua experiência no Programa Educação para a Paz de IM trabalhando com escoteiros muçulmanos. Raoudha apóia jovens marginalizados de sua vizinhança. No final de Maio de 2008, o grupo ofereceu uma apresentação no Salão Internacional de Iniciativas para a Paz, realizado em Paris, como parte da Década Internacional de uma Cultura de Paz. O tema da apresentação foi “Devemos ser iguais para viver uma mesma cidadania?”. “Não”, replica Natalie, “mas devemos estar de acordo com alguns pontos. Citarei quatro deles. Em primeiro lugar, devemos abraçar o desejo por um futuro e um projeto comum. Todos sonhamos com uma sociedade que se estenda a todo canto da Europa, na qual todos possamos viver em harmonia”. “Em segundo lugar, devemos acolher a diversidade como sinal dos tempos, é algo que não tem retorno. Poderíamos até falar de herança da humanidade a qual devemos respeitar e aprender a lidar. Porém, será contraproducente se julgarmos apenas por cima àqueles quem têm dificuldade em aceitá-la. Todas as mudanças materiais e sociais que têm afetado nossa forma de viver durante os últimos 30 anos têm sacudido as raízes dos indivíduos, as famílias, as sociedades, pelo qual é compreensível que muitos se sintam ameaçados pelo surgimento de novas culturas dentro de sua sociedade de origem. Queremos contribuir para a mútua aceitação das diferenças neste país”. “Terceiro, devemos estar abertos a aprender e a compreender a lógica interna dos demais. Minha maneira de pensar não é tudo. E, por último, devemos nos unir baseados em nossos valores comuns, os quais falam no coração de cada um”. O grande desafio para a equipe é transmitir o que tem aprendido. Outrossim, é sua ambição de definir uma nova cidadania européia que permitirá a todos, mantendo-se fiéis à sua própria herança, estarem abertos e adaptar-se às diferenças e à diversidade que é agora a característica que define a nossa sociedade. Tradução inglês-francês por Mary Jones e Lyndsay Collinge Para mais informação visite www.iofc.org/pt/ GENTE PROMOVENDO CONFIANÇA