O Desafio do Islam - Site Luz do Islam

Transcrição

O Desafio do Islam - Site Luz do Islam
O Desafio do Islam
Wahiduddin Khan
Tradução: Samir El Hayek
1
2
O Desafio do Islam
Introdução Para a Fé
3
4
Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso
"Os sábios, dentre os servos de Allah,
Só a Ele temem"
(Alcorão Sagrado, 35:28)
"De pronto lhes mostraremos os Nossos sinais em
todas as regiões (da terra), assim como em suas
próprias pessoas, até que lhes seja esclarecido
que esta é a verdade."
(Alcorão Sagrado, 41:52)
5
6
7
8
9
10
Capítulo I
A Questão dos Opositores à Religião
"O desenvolvimento científico do século passado é considerado
uma explosão do conhecimento que destruiu todas as fábulas humanas
sobre deuses e religiões, da mesma forma que os pensamentos antigos
sobre a matéria foram desintegrados com a explosão do átomo…" Esta
é a questão da ciência moderna dirigida contra a religião, como diz o
Professor Julian Huxley. As páginas seguintes são a resposta dada a esse
desafio, uma vez que a ciência moderna descobriu as verdades da religião;
porém, não conseguiu, de nenhuma forma, prejudicá-la. Tudo que foi
alcançado pela ciência moderna é a corroboração do que o Islam
denominou "a verdade", há quatorze séculos atrás.
"De pronto lhes mostraremos os Nossos sinais em todas as
regiões (da terra), assim como em suas próprias pessoas, até que
lhes seja esclarecido que esta é a verdade." (Alcorão, 41:52)
A religião, na opinião dos cientistas ateus, é algo inverídico, é a
manifestação do instinto humano à procura da Verdade Universal,
tentando explicá-la. Esse próprio instinto humano é uma coisa aceitável.
Porém, os conhecimentos e os meios limitados que proporcionaram as
respostas inverídicas a nossos antepassados, são os mesmos que habitam
hoje os pensamentos sobre Deus e religião. Hoje, porém, após termos
meios científicos suficientes e apesar de os conhecimentos modernos
terem corrigido muitas das nossas crenças sociais e de civilização, chegou
a hora de reexaminarmos todos os pensamentos dos nossos antepassados.
O filósofo francês, August Comte, no início do século passado,
disse que a história da evolução do pensamento humano se divide em
três fases:
Primeira: A Fase Teológica, durante a qual os eventos eram
explicados em nome de Deus.
11
Segunda: A Fase Metafísica, em que os eventos foram explicados
em nome de "elementos exteriores" desconhecidos, mas sem citar o nome
de Deus.
Terceira: A Fase Positiva, durante a qual o homem começou a
explicar os fenômenos, considerando-os como elementos submetidos a
leis gerais, que podem ser sentidos através da observação ou do
conhecimento científico. Nesse período não são citados os "espíritos, os
deuses e a força absoluta".
De acordo com isso, vivemos a terceira fase, denominada pela
filosofia moderna de positivismo lógico. A teoria do Positivismo Lógico
ou do Empirismo Científico só foi reconhecida como movimento
científico, no último quarto deste século. Porém, como ideologia, nasceu
muitos anos antes disso. Ela é definida por grandes cientistas e filósofos,
como David Hume e Bertrand Russel. Essa ideologia, hoje, tornou-se,
devido ao grande número de instituições científicas que desempenham
papéis preponderantes em sua defesa, um dos mais importantes
movimentos científicos modernos. Um dos pesquisadores diz: "Todo
conhecimento verdadeiro depende da experiência, onde será analisada a
sua comprovação, de uma forma direta ou indireta."1
Baseados nisso, os opositores da religiãio alegam que a evolução
pela qual o homem alcançou o nível mais alto da humanidade, nega, por
si, a religião… O estranho disso é que os pensamentos evoluídos
modernos afirmam que só é verdade o que pode ser analisado e
experimentado cientificamente. A religião é baseada em uma "verdade"
impossível de ser observada ou verificada cientificamente. Em outras
palavras, a explicação teológica dos acontecimentos, que não pode ser
afirmada com métodos científicos, é nula, inverídica.
Deriva-se disso a afirmação: "A religião é uma explicação falsa
para fatos reais", ou seja, o conhecimento limitado do homem antigo
não apresentou a explicação real para os acontecimentos, ao passo que a
lei geral da evolução nos permitiu procurarmos as verdades por
intermédio do Empirismo Verdadeiro.
1. Dicionário da Filosofia, pág. 265,
12
Podemos afirmar a mesma coisa de maneira diferente. A situação
dos teólogos das religiões antigas é semelhante à do homem que preenche
"um cheque sem fundo". Eles formaram expressões sem nenhum
fundamento científico. A expressão: "A verdade absoluta, imutável" é
correta gramaticalmente, mas não tem fundamento científico algum.2
Newton afirmou a inexistência de um deus que governava as
estrelas. Laplace, com sua famosa teoria, afirmava que o sistema cósmico
não necessita de qualquer fábula divina. Darwin e Pasteur, no campo da
biologia, emitiram a mesma opinião. A psicologia e os importantes
conhecimentos históricos, conseguidos nesse século, ocuparam o lugar
de Deus que, supunha-se, dirigia os assuntos da vida humana e da
história".3
Os opositores da religião tem três fundamentos:
Primeiro Fundamento: O herói dessa revolução da biologia é Isaac
Newton, que apresentou ao mundo a teoria que afirmava que o Universo
está sujeito a leis fixas, de acordo com as quais os corpos celestes se
movem. Depois dele, outros desenvolveram a teoria no âmbito científico
e disseram: Tudo o que acontece no Universo, da terra até ao céu, está
sujeito a uma lei específica, e a denominaram "lei da natureza". Depois
dessa afirmativa, os cientistas foram obrigados a reconhecer que Deus
foi Quem colocou este Universo em movimento. Voltaire apresentou
um exemplo disso, dizendo: "O Universo é como o relógio em que o
montador coloca as peças em seu devido lugar e a põe em funcionamento,
então sua relação é cortada." David Hume, porém, livrou-se do deus
inerte, dizendo: "Vemos os relógios sendo feitos nas fábricas, mas não
vemos o Universo sendo feito. Como, então, podemos aceitar que ele
tem um criador?"
A evolução científica esclareceu ao homem muitos pontos da
corrente dos acontecimentos, antes desconhecidos. Ele não sabia porque
o sol nascia e se punha. Deduziu que era uma força sobrenatural que o
fazia nascer e se pôr. Hoje, porém, sabemos que o motivo é a própria
rotação da terra. De modo que, desvaneceu-se a necessidade da força
sobrenatural, ao descobrirmos os motivos causadores desse movimento
2. "Religion and Scientific Outlook" (A Religião e a Perspectiva Científica), pág. 20.
3. "Religion Without Revelation" (A Religião sem Revelação), N. York, pág. 58.
13
cósmico. "Se o arco-íris é formado pelos raios solares que incidem sobre
as gotas da chuva, o que nos leva a dizer que é um sinal de Deus?"
Por isso, e por outros motivos, Huxley diz:
"Se os fenômenos são causados por leis naturais, não há necessidade
de ligá-los às causas sobrenaturais".4
Segundo Fundamento: Os cientistas ficaram mais convencidos
ainda, após as pesquisas psicológicas terem chegado à conclusão de que
a religião é resultado do subconsciente humano, e não era a descoberta
de uma realidade exterior.
Um psicólogo famoso diz: "Deus não é nada, além de uma projeção
do homem numa tela cósmica." A crença na vida terrena e na outra vida
não é mais que uma figura idealista das experiências humanas. A
revelação e a inspiração não são mais que a manifestação anormal das
fábulas de repressão infantis.
A psicologia moderna acha que a mente humana é composta de
duas coisas: o "consciente", o centro dos pensamentos que passam pela
mente em épocas normais, e o "inconsciente", a memória dos
pensamentos que já passaram por nossa mente e já os esquecemos; estes
só se manifestam em épocas anormais, como na loucura e na histeria.
Esta segunda parte é bem maior do que a primeira. Podemos compará-la
a um iceberg, onde só um nono dele aparece acima da água.
Freud descobriu, depois de muita pesquisa, que o subconsciente
capta pensamentos da infância que geram atos irracionais; é o caso das
crenças religiosas. A idéia de Paraíso e de Inferno são reflexos das
esperanças que se formam no homem durante sua infância, porém, ele
não teve oportunidade de realizá-las, e portanto permanecem enterrados
no subconsciente. Este, por sua vez, impõe uma outra vida onde pode
conseguir tudo o que deseja, a exemplo da pessoa que não consegue o
que quer na vida real, mas consegue-o em sonho. Assim, surgiu o
complexo de diferenciação entre os crimes sociais grandes e pequenos,
e dele derivou-se uma teoria de nível cósmico.
Ralph Linton diz:
"A crença num ser onipotente, ditador, que só admite submissão
total, foi a primeira coisa produzida pela sociedade semítica. Quem criou
4. Idem.
5. Revista "Iqbal Review", Abril de 1962.
14
esse sistema foi um poder anormal. O resultado foi que a lei de Moisés
apareceu com relações extraordinárias detalhadas sobre as proibições
em todos os campos da vida humana. Os que acreditaram nessas relações
foram as pessoas simples, que recebiam cegamente as ordens de seus
pais e as obedeciam. A imaginação judaica do divino é o sonho idealista
de um semita, com algo de exagero e de devassidão nas descrições e
potencialidades."6
Tereceiro Fundamento: A história. Dizem que as questões religiosos
surgiram por razões históricas que cercaram o homem. Ele não tinha
capacidade para escapar dos desígnios, das eventualidades, das
inundações, dos terremotos e das doenças. Então, criou uma força
hipotética à qual apela para salvar-se das desgraças. Daí a razão do
surgimento de algo ao redor do qual as pessoas se unem, sem se dividirem.
Aventaram o nome de "Deus", Cuja força supera a do homem, e que
todos se apressam em aprazê-Lo.
O editor da Enciclopédia das Ciências Sociais, no subtítulo
"religião", diz:
"Entre as coisas que ajudaram na criação da religião, a situação
política e social desempenhou um papel muito importante. Os nomes e
os atributos divinos surgiram das situações que imperavam na terra. A
crença em que Deus fosse o Soberano é uma das figuras da soberania
terrena. A soberania celestial é uma cópia fiel da soberania terrena. O
soberano na terra era o juiz supremo; então, Deus passou a ter esses
atributos e foi denominado "Juiz Supremo" o Qual julgará o homem
pelo bem e pelo mal. Essa crença judiciária, que diz que Deus é julgador
e castigador, não se encontra apenas no judaísmo, mas tem posição básica
nas crenças religiosas, cristãs e muçulmanas."7
"O cérebro do homem criou a religião e a aprefeiçoou extribado
na sua ignorância e incapacidade de enfrentar as forças externas." Julian
Huxley acrescenta a essa declaração: "A religião é o resultado de uma
relação especial entre o homem e o seu ambiente."8
Diz ainda:
6. "Tree of Culture" (A Árvore da Cultura), Ralph Linton.
7. "Enciclopédia das Ciências Sociais", 1957 vol.13, pág. 233.
8. "Man in the Modern World" (O Homem no Mundo Moderno), pág. 130.
15
"Esse ambiente já está ultrapassado; ele era o responsável por essa
relação. Depois do desaparecimento dele e do encerramento da sua
relação com o homem, não há mais necessidade para a religião. A crença
religiosa atingiu o último ponto benéfico para nós; não consegue mais
aceitar as evoluções."
O homem inventou uma força além da natureza para elevar o ônus
da religião; inventou a magia, então o espiritismo, então a crença divina,
até inventar a idéia do Deus Único. A religião, com essas evoluções,
atingiu o último estágio de sua vida. Sem dúvida, essas crenças eram,
numa época específica das nossas vidas, parte benéfica da nossa
civilização. Tais fatos, porém, perderam hoje suas imperiosidades para a
evoluída sociedade atual."9
A filosofia comunista considera a religião uma "fraude histórica",
baseada em causas econômicas, uma vez que ela analisa a história à luz
da economia. Ela considera que os acontecimentos históricos que criaram
a religião são o antigo sistema burguês colonialista. Esse sistema hoje
está ultrapassado. Que a religião também desapareça junto com ele, diz
ela.
O filósofo comunista Engels diz:
"Todos os valores morais, na sua análise final, são gerados por
circunstâncias econômicas."10
A história humana é a história das lutas de classe, durante as quais
os burgueses sugaram o sangue dos pobres. O objetivo da criação da
religião e das bases morais é a proteção dos direitos dos burgueses.
O Manifesto Comunista diz:
"A constituição, a moral e a religião são estratagemas da burguesia
por trás dos quais ela se protege seguindo a sua ganância".
Lenin diz, em seu discurso no Terceiro Congresso da Juventude
Comunista, em outubro de 1920:
"Não cremos em Deus. Sabemos muito bem que os prelados, os
latifundiários e os burgueses invocam o nome de Deus para nos explorar
e defender os seus interesses. Rejeitamos veementemente todas essas
bases de cunho moral que surgiram de poderes além da natureza, que
9. Idem, pág. 131.
10. "Anti Duhring", Moscou, 1954, pág. 131.
16
não condizem com nossos pensamentos de classe. Afirmamos que tudo
não passa de ardil; é um véu sobre as mentes dos agricultores e dos
trabalhadores para o bem do colonialismo e do feudalismo. Declaramos
que o nosso sistema só segue o fruto de nossa luta proletária. O princípio
de toda a nossa organização moral é a conservação dos esforços da classe
proletária.11
Este é o caso dos antireligiosos, de acordo com o qual, alguns
novos cientistas alegam o que pode ser resumido nas palavras de um
médico americano: "A Ciência provou que a religião constitui o mais
cruel e o pior logro da história."12
No próximo capítulo, se Deus quiser, vamos verificar, com bases
científicas, a veracidade dessa afirmação.
11. Lenin, "Selected Works" (Obras Seletas), Moscou 1947, Vol.II, pág. 667.
12. "Science and Christian Belief" (A Ciência e a Crença Cristã), de C.A Coulson,
pág. 4.
17
Segundo Capítulo
Crítica à Alegação dos Opositores
No primeiro capítulo apresentamos as alegações dos opositores
que afirmavam a desnecessidade da religião em nossa época. Na verdade,
tal questão não tem nenhum fundamento. Nos capítulos seguintes iremos
apresentar os pensamentos básicos da religião, um por um, para
verificarmos como era, antes da época moderna.
Eis uma crítica geral, contra à dos opositores.
PRIMEIRO: A Verdade Sobre a Natureza
Falemos primeiro sobre a prova apresentada em nome da biologia,
que diz que os eventos acontecem de acordo com a "lei natural", e que
não há necessidade de supormos que o causador de tais acontecimentos
é um Deus desconhecido. O que melhor foi dito a este respeito é a
afirmativa de um sábio cristão: "A natureza é um fato, não uma
explicação, porque o que foi descoberto não é um manifesto das causas
da existência da religião". A religião nos mostra as causas, os impulsos
reais concernentes ao Universo, e o que foi descoberto é o esqueleto
visível do Universo. É da ciência moderna o detalhamento dos
acontecimentos, e não a explicação do evento. Tudo o que a ciência
abrange é a resposta à pergunta: "O que é isto?" Ela não consegue
responder à pergunta "Por que?" A explicação que nos diz respeito é
relacionada à segunda pergunta.
Vamos explicar isso com um simples exemplo: o pintinho vive
seus primeiros dias dentro do ovo, do qual sai depois do rompimento da
casca. O homem antigo acreditava que Deus o fazia sair. Hoje, porém,
através do microscópio, vemos que no vigésimo primeiro dia aparece
uma pequena espora no bico do pintinho que ele utiliza para quebrar a
casca e dela sair. Tal espora desaparece depois de alguns dias de sua
saída.
18
Esta observação, como os pertinazes alegam, eliminou a teoria
antiga de que Deus tirava o pintinho do ovo, uma vez que observamos
de fato que um período de vinte e um dias fez o evento acontecer. Na
verdade, a observação moderna só nos fornece novos elos para o evento,
sem fazer-nos descobrir a verdadeira causa. A situação agora mudou; a
pergunta não é mais sobre a quebra da casca, mas sobre a espora. A
causa verdadeira se esclarecerá quando procurarmos a razão que originou
a espora; a razão que sabia prefeitamente que o pintinho iria necessitar
de tal espora para sair do ovo. Por isso, só podemos considerar a situação
final (a observação microscópica) como sendo uma observação da
realidade por meio de uma maneira mais ampla, mas que não é uma
explicação do fenômeno.
O biólogo americano, Professor Cecil P. Hamann, diz: "A
fenomenal transformação dos alimentos em uma parte do corpo era
atribuída antigamente a Deus. Hoje, porém, com a observação moderna,
passou a ser uma reação química. Eliminou isso, acaso, a existência de
Deus? Que força foi que submeteu os elementos químicos,
transformando-os em reação benéfica? Depois da entrada dos alimentos
no corpo humano, eles passam por várias etapas, através de um sistema
próprio. É impossível que exista este sistema extraordinário por acaso.
Isso nos obriga a crermos que Deus executa as poderosas leis que Ele
criou para a vida."13
O homem antigo pensava que o céu chovia. Hoje, porém, sabemos
tudo sobre o processo da evaporação da água do mar até à precipitação
da chuva. Todas essas descobertas são quadros da realidade, mas não
constituem uma explicação da mesma. A ciência não descobre para nós
como essa realidade se tornou lei. Como será que acontece entre o céu e
a terra, essa extraordinária ação benéfica, a ponto de os cientistas
derivarem dela as leis científicas? A verdade quanto à alegação do homem,
após a sua descoberta ao sistema natural, de ter descoberto a explicação
do Universo, não é mais que um engano a si próprio. Ele colocou, com
essa alegação, um elo do meio da corrente no lugar do elo final.
O cientista americano Cecil, acrescentou:
13. "The Evidence of God in an Expounding Universe" (A Evidência de Deus num
Universo em Expansão), pág. 221.
19
"A natureza não explica nada. Ela própria necessita de uma
explicação."
Se você perguntar a um médico:
– Qual é a causa de o sangue ser vermelho?
Ele responderá:
– É por haver no sangue células vermelhas, cada uma das quais
com um volume de 1/1750 cm.
– Bom! Mas por que as células são vermelhas?
– Porque há na célula uma substância chamada de hemoglobina. É
uma substância que proporciona a cor vermelha quando se mistura com
o oxigênio no coração.
– Muito bom! De onde vêm essas células que contêm a
hemoglobina?
– São fabricadas no fígado.
– Estranho! Como é que todas essas coisas são interligadas –
sangue, células, fígado etc. – formando um todo para desempenhar sua
função com tal precisão?
– É o que chamamos de lei natural.
– O que quer dizer com a lei natural, doutor?
– Queremos dizer as reações internas alheias às forças naturais e
químicas.
– Mas por que essas forças resultam sempre numa determinada
função? Como organizam sua ação, para que os pássaros voem, os peixes
vivam na água, o homem exista no mundo com todas as suas capacidades?
- Não me pregunte sobre isso, porque minha ciência só fala sobre
o que acontece e não por que acontece.
Fica claro, com essas respostas, o alcance da eficiência da ciência
moderna para explicar as razões e os motivos por trás deste Universo.
Sem dúvida que esclareceu muitas coisas desconhecidas de nós. A
religião, porém, é a resposta para uma outra pergunta, sem relação com
essas descobertas científicas modernas. Se essas descobertas fossem
multiplicadas por um milhão, a humanidade continuaria necessitando
da religião. Todas essas descobertas são elos importantes da corrente.
Porém, o que tenciona substituir a religião precisa explicar completamente
o Universo. O Universo, nesta sua situação, é como uma máquina que
20
trabalha dentro de uma caixa; só sabemos que ela está funcionando. Se
abrirmos a caixa veremos como a máquina está interligada com
engrenagens e polias, umas fazendo girar outras, e veremos todo o seu
movimento. Significa, acaso, isso, que descobrimos o inventor da
máquina, só porque a vimos trabalhando? Será que podemos entender
logicamente que a nossa observação atesta que a máquina é autocriativa,
e funciona por si? Se isso não é lógico, como podemos afirmar, então,
depois de observarmos os eventos cósmicos, que o Universo se autocriou
e é automotriz?
O Professor A. Harris aproveitou esse exemplo quando criticou a
teoria de Darwin sobre a criação e a evolução; disse: "A dedução de que
a seleção natural explica o processo da permanência do melhor, não logra
explicar o acontecimento do melhor."14
SEGUNDO: O Inconsciente e o Exemplo Psicológico
Tratemos agora do exemplo utilizado pela psicologia que diz que
Deus e a outra vida são comparações da personalidade humana, e suas
esperanças, em nível universal. Não consigo entender o ponto de dedução
nesse exemplo. Se eu mesmo admitir que a personalidade humana e
suas esperanças estão presentes de fato e em nível universal, não entendo
como a lógica dos opositores poderá anular essa minha alegação!
Sabemos que a substância do feto, que só pode ser vista através do
microscópio, informa sobre uma pessoa de 1,80 cm de altura; que o
átomo que não pode ser visto possui um sistema matemático cósmico
parecido com o sistema solar. Não há estranhar que o sistema que vemos,
a nível humano no feto, e a nível do sistema solar no átomo, exista
também, e de uma forma mais complexa, a nível universal. A consciência
e a natureza do homem procuram um mundo totalmente evoluído. Caso
essa esperança seja para um mundo real, não vejo nela qualquer um dos
caminhos de impossibilidade!
Não há dúvida nas afirmações dos cientistas que dizem: o intelecto
humano guarda pensamentos que aparecerão depois, numa forma
incomum. Só que é uma analogia estranha o fato de nos apegarmos a
essa teoria para invalidarmos a religião. É uma analogia fora de lugar; é
14. "Revolt Against Reason" (Revolta Contra a Razão), Arnold Lann, pág. 133.
21
uma dedução incomum de uma realidade comum. Parece-se com quem,
ao ver, um escultor fazer um ídolo, diz: "Este é o criador do homem".
É vício do pensamento moderno extrair de um evento comum uma
evidência incomum. Esta evidência não tem peso, em lógica. Suponhamos
que um homem, caminhando na rua, começasse a proferir palavras sem
nexo, devido a pensamentos armazenados em sua mente. Poderíamos
nesse caso aproveitar tal acontecimento para pesquisar as palavras dos
profetas que desvendam o segredo do Universo? Tal dedução não é
científica, nem lógica, e prova que quem a usa não possui qualificação
para discernir entre as palavras do homem da rua e as palavras dos
profetas, e não podem afirmar que esse delírio é o responsável pelo que
a religião revelou.
Os valores mudam por si, de acordo com as circunstâncias. É
errôneo pensarmos que eles estão restritos aos pensadores modernos.
Suponhamos que um grupo de habitantes de outros planetas
descesse à terra; que eles ouvissem mas não soubessem falar. Suponhamos
que procurassem os motivos que faziam as pessoas falarem, e, durante
sua pesquisa, tivesse início uma ventania e dois galhos começassem a
roçar, produzindo sons. Isso se repetiria até os ventos pararem. Então,
seu líder declararia: "Descobrimos o segredo da fala dos humanos: é
que suas bocas possuem duas arcadas dentárias; quando uma arcada roça
na outra, forma-se som!"
Tal descoberta, porém, não desvenda o segredo da fala humana,
como também não se pode considerar as palavras profeticas como
estranhas, comparando-as ao delírio do homem da rua em estado de
loucura ou de histeria.
O inconsciente humano, do ponto de vista científico, é
originariamente vazio, nada apresentando antes do nascimento do
homem. Aloja-se nele através do consciente coisa que o preocupa agora,
porque o inconsciente não é mais do que um depósito dos conhecimentos
e para as observações que o homem fez durante sua vida, mesmo que
tenha sido uma só vez. É impossível armazenar verdades desconhecidas
anteriormente. O mais estranho ainda é que a religião transmitida pelos
profetas abrange verdades eternas, que não passaram pela cabeça de
ninguém em qualquer época. Se o inconsciente é o depósito desses
22
conhecimentos, donde os trouxeram aquelas pessoas que falam sobre
coisas ignoradas por elas?
A religião transmitida pelos profetas está ligada, de uma forma ou
de outra, a todas as ciências contemporâneas: naturais, astronômicas,
biológicas, humanas, psicológicas, históricas, civis, políticas, sociais etc..
Todo o evento da história humana tem como fonte o consciente além do
inconsciente, e não está livre de erros, mentiras e provas falsas. As
declarações dos profetas, porém, estão livres de todos esses vícios, apesar
de estarem relacionadas com todas as ciências. Já se passaram vários
séculos, em que os últimos corrigiram os primeiros, enquanto as
declarações dos profetas continuam verdadeiras através dos tempos e
ninguém conseguiu, até agora, apresentar algo de errado em suas
declarações; todos os que tentaram falharam.
Eis um exemplo utilizado por um grande cientista que alegou ter
descoberto um erro científico no Alcorão:
James Henry Breasted, diz:
"O calendário lunar é muito utilizado no mundo, principalmente
no ocidente asiático, devido à influência política islâmica naquela região.
Mohammad estabeleceu uma confusão entre o calendário solar e o lunar,
que é impossível de imaginar, a ponto de anular a intercalação dos meses.
O ano lunar é formado por 354 dias – onze dias a menos de que o ano
solar. De modo que, a cada 33 anos acrescenta-se um ano lunar, e a cada
século acrescentam-se três anos. Se o mês de Ramadan, por exemplo,
cair este ano no mês de junho, daqui a seis anos cairá no mês de abril."
Passaram-se 1416 anos desde a Hégira. Como um século solar
corresponde a 103 anos lunares, o calendário lunar registrou 43 anos a
mais durante este período. A igreja oriental judaica supriu esta falta e
escolheu o sistema de intercalação dos meses para tornar solar o seu
calendário. Este é o motivo de a Ásia ocidental ainda permanecer
utilizando esse inútil sistema antigo, ou seja, o calendário lunar.
Não estamos aqui discutindo a diferença entre os calendários solar
e lunar, mas há necessidade de esclarecermos que aquilo de que o autor
acusou o Profeta do Islam é, na verdade, um erro estúpido cometido
pelo próprio autor. O Alcorão nunca proibiu a intercalação dos meses,
23
mas proibiu a antecipação ou o atraso dos meses. O Alcorão diz: "A
antecipação do mês sagrado é um excesso de incredulidade." (9:37)
Entre os bons costumes que o profeta Abraão estipulou para os
árabes foi de tornar sagrados quatro meses do ano, não havendo neles
lutas nem disputas, e que são: Zul Qui’da, Zul Hijja, Muharram e Rajab.
Os árabes viajavam durante euses meses, com toda liberdade, para
cumprirem os rituais da peregrinação.
Quando a profanação invadiu as tribos, fizeram a inovação de
substituírem um mês não sagrado com um sagrado. Eles colocavam Safar
no lugar de Rajab para poderem combater durante o mês sagrado. Esta
inovação é que foi descrita no Alcorão como "excesso de incredulidade."
Os sábios afirmam que a intercalação dos meses era uma facilidade
para os árabes regularem o calendário. Algumas tribos intercalavam um
mês a cada três anos para adaptarem o calendário lunar ao solar. Isso
nada tem a ver com a antecipação dos meses.
O que o Profeta do Islam disse na época da idolatria nada tem a
ver com a declaração de James Henry Breasted. Se as palavras do Profeta
tivessem tido origem no consciente ou no inconsciente, haveria nelas
erros, sem dúvida.
Terceiro: A Dedução Histórica e Social
Aqueles que se baseiam na história ou na sociedade para apresentar
as falhas originais, não estudam a religião de uma forma correta. Por
isso, ela parece para eles uma coisa estranha. O exemplo disso é o vermos
algo quadrado de um ângulo oblíquo, como triângulo. O erro que eles
cometem é por causa de considerarem a religião como um problema
objetivo. Colocam na mesma sacola tudo o que é denominado religião,
sem nenhuma distinção, em qualquer época da história. Então, à luz
dessa coletânea, analisam a verdade sobre a religião. Sua posição está
desviada desde o início da jornada. A religião aparesenta para eles, devido
a essa posição viciada, um ato social, e não o descobrimento de uma
verdade. É sabido que todo aquele que descobre uma verdade tem uma
prova cabal. É necessário, quando se procura essas verdades, estudarlhes as evidências e a história à luz da sua prova categórica. Quanto aos
assuntos gerados pelos eventos sociais, eles não possuem exemplos
24
cabais, e sua permanência irá depender da necessidade da sociedade por
eles.
A religião difere totalmente disso. Não é possível procurarmos
suas verdades como se procuram as evoluções no campo da arquitetura,
da tecelagem, de automobilismo, porque a religião é o conhecimento de
uma verdade, completamente aceita ou rejeitada pela sociedade, ou aceita
de uma forma parcial. Porém, a religião, seja como for, permanece como
verdade única em si, mas difere nas suas formas aceitas. Por isso, é
impossível compreendermos as realidades da religião, como mero índice
de todas as formas existentes nas sociedades, em nome dela.
Tomemos, como exemplo, a palavra "república". É um termo
político que designa um determinado sistema de governo. De acordo
com essa definição, podemos julgar se um país é republicano ou não.
Se, porém, procurarmos o significado de "república" nos sistemas
políticos que existem nos continentes, denominados Repúblicas, e
afirmarmos que todos esses países são repúblicas, então a palavra
"república" fica sem sentido. Em tal caso, a República da China difere
da República dos Estados Unidos, da mesma forma que a República do
Paquistão difere da República da Índia. Se observarmos todas as
descobertas à luz da filososfia da evolução, essa palavra perde de fato o
seu sentido, porque a França, que fundou o sistema republicano, irá provar
que a república, após o seu surgimento e ascensão, foi representada pela
ditadura militar de De'Gaulle.
Essa conjectura leva a um resultado estranho: o de não haver
necessidade para Deus nas religiões! Pois há um exemplo disso na história
das religiões; é o exemplo do budismo, que está totalmente livre da idéia
de Deus. Então, um grupo de pessoas acreditou na necessidade de se
procurar uma religião sem Deus. Se aceitarmos o pensamento que diz
que algo semelhante à religião é necessário ao homem, devido ao
despertar da criação e da organização social, então, não há necessidade
da existência de Deus; e que se diga: "A religião ideal para esta época
deve ser a budista, pois o deus da época atual é sua sociedade; e o seu
objetivo político, e o mensageiro desse deus é o parlamento, que orienta
25
o povo a seu bel prazer; os templos desse deus atual não são as mesquitas
ou as igrejas antigas, mas as grandes indústrias e as enormes usinas."15
Os pesquisadores modernos possuem um grande poder de criar
novos pensamentos que se transformam, de religião de Deus, em idéia
de religião sem deus. Isso é gerado pelo método errôneo que eles
utilizaram em suas pesquisas, com os olhos tapados a todos os outros
pontos científicos, criando uma sombra de dúvida sobre suas tabelas
evolutivas. A exemplo disso, a conclusão a que os sociólogos e os
humanistas chegaram, com suas pesquisas precisas de que a teoria de
monoteísmo é uma espécie de idéia tirada do politeísmo, fê-los
extraviarem-se do caminho e se dirigirem para um caminho estranho
que desorientou os sábios, e confundiu-se com a evolução, do politeísmo
para o monoteísmo.
A idéia de politeísmo possuia valores sociais cujo objetivo era que
os que acatassem esses préstimos vivessem em paz, com o
reconhecimento mútuo entre eles. "A idéia monoteísta, porém, anulava
essa possibilidade com a criação de uma teoria da religião superior, cujo
resultado foi o início de infindáveis guerras sangrentas entre os povos
do mundo. Assim, a idéia monoteísta cavou a sua própria sepultura, por
evoluir numa direção contraditória. Esta é a lei do crescimento e da
evolução."16
Porém, deixemos, de fato a realidade nesta lista. A história
conhecida afirma que o primeiro profeta foi Noé, e ele pregava o
monoteísmo. O politeísmo não é do mesmo nível, mas significa que o
homem associa Deus com outras divindades, que o fazem aproximar-se
d'Ele, que interferem junto a Ele. Na presença dessas verdades, as teorias
do desenvolvimento e da evolução caem por terra.
A teoria de Marx é a mais fútil dentre este tipo de teorias. Ela
afirma que a situação social é a responsável pela formação da sociedade;
por outro lado, a época em que as religiões tomaram vulto foi uma era
feudal e capitalista; foi a época dos aproveitadores e surrupiadores, o
mesmo acontecendo com os pensamentos religiosos e morais que foram
gerados nessa época e que possuem a mesma característica dos
aproveitadores colonialistas.
15. "Religion Without Revelation" (Religião sem Revelação), Julian Huxley.
16. "Man in the Modern World" (O Homem no Mundo Moderno), pág. 112.
26
Na verdade, a teoria de Marx, cientificamente falando, não possui
qualquer valor. Da mesma forma, quando analisada cientificamente e
experimentada, não há nada que possa comprová-la. A teoria marxista
anula a vontade humana, afirmando que os acontecimentos são
provenientes dos agentes dos contratempos econômicos. Isso significa
que o homem não possui personalidade. É moldado pelo ambiente, como
é moldado o sabão pela temperatura; não possui meios para traçar novos
rumos ou trilhar novos caminhos, mas sai a procura de um sistema que
sua vida econômica lhe permita adaptar-se. Se isso é verdadeiro, como
conseguiu Karl Marx, filho do sistema capitalista, pensar contra os
agentes econômicos predominantes em sua época? Teria ele ido até à
lua e pesquisado sobre a situação da terra?
Em outra expressão: Se é verdade que determinada religião é filha
de uma época em particular, como o marxismo não foi filho do sistema
econômico de sua época? Se tal situação não pode ser aplicada ao
marxismo, como pode ser aplicada à religião? Na verdade, tal pensamento
é falso e não possui nenhuma prova científica nem racional.
Além do mais, os erros dessa teoria se manifestaram através da
experiência russa, onde o marxismo foi adotado por um período de mais
de setenta anos, durante o qual a Rússia declarou que a situação produtiva
do país havia mudado totalmente, que o sistema agrícola, de troca e
distribuição de renda, aconteceu com base não exploratória. Quando
Stalin morreu, porém, os próprios líderes russos confessaram que a
injustiça e a corrupção eram correntes na sua época; que ele explorava o
povo da mesma forma que os povos eran explorados nos países
colonialistas. Se levarmos em consideração que a censura rígida que os
jornais e os meios de comunicação sofriam, através do quê Stalin
conseguiu enganar o mundo que a sua época era a da justiça e da equidade,
sem dúvida; essa censura continuou até ao desmoronamento da União
Soviética, o que nos faz concluir que as coisas aconteciam por trás das
cortinas da propaganda, a exemplo do que acontecia na época de Stalin.
Todavia, o vigésimo e o quinquagésimo Congresso do Partido Comunista
revelaram tanto as injustiças de Stalin, como os segredos dos governantes
russos da época.17
17. Isso foi atestado pelo afastamento de Khruchev em outubro de 1960.
27
Esse sistema, cuja experiência durou quase um século, nos mostra
que o homem não muda com a mera mudança do sistema agrícola e de
troca. Se a mente humana segue o sistema econômico, por que então
encontramos injustiça, corrupção e exploração no sistema comunista
russo?
O caso da época atual não demora em se transformar em um sofisma
científico; uma vez que os cientistas desta época tratam seus casos à luz
da ciência moderna, mas esse tratamento é inútil porque baseia-se na
ciência absoluta, estamos numa época em que é necessário levar em
consideração outras coisas. O exemplo disso é: Se aplicarmos um estudo
científico em coisas científicas imperfeitas, esse ato pode acarretar
resultados não científicos, imperfeitos e falsos.
Em 1964 promoveu-se um congresso internacional dos
orientalistas, em Nova Delhi, com um mil e duzentos participantes de
todas as partes do mundo. Um dos participantes apresentou um estudo
em que ele afirmava que muitos monumentos tidos como construídos
por muçulmanos, não são, na realidade, da autoria deles, mas dos reis
hindús. Como exemplo, ele citou o farol de Qutb, de Delhi, que dizem
que foi o rei Qutbuddin Aibak quem construiu, quando, em verdade foi
construído pelo rei hindú Samaudra Jobt, 23 séculos antes. Ele diz que
os historiadores muçulmanos erraram ao afirmarem que o construtor do
farol foi o Rei Qutbuddin. Para afirmar tal coisa ele se baseou no fato de
que usou-se, na construção do farol em questão, algumas pedras que
foram cortadas em época anterior à da época do Rei Qutbuddin. Isso
parece ser uma prova científica, uma vez que algumas pedras do farol
são, de fato, do tipo descrito pelo cientista. Porém, será que é suficiente
olharmos algumas das pedras do farol para descobrirmos o seu construtor?
Não haveria, acaso, outras coisas para serem observadas? Tal afirmativa
não se aplica à totalidade do farol, pois há uma outra explicação que diz
que essas pedras velhas vieram de construções antigas, como se dá o
caso em muitas construções históricas em pedra. Não há inconveniente
em aceitarmos essa explicação, uma vez que quando vemos o farol de
Qutbuddin à luz de seu estilo arquitetônico, suas plantas e planejamento,
bem como a mesquita inacabada a seu lado, e o outro farol incompleto,
chegamos à conclusão de que a primeira explicação é uma comparação
falsa, baseada em erros.
28
Este é o caso dos opositores. Eles acreditaram que os argumentos
científicos modernos anularam a religião, tanto que, se olharmos
detalhadamente a realidade ampla, chegaremos a uma conclusão
totalmente diferente da primeira.
O fato que me convence da veracidade da religião é que muitas
mentes exemplares, depois de terem deixado a religião, começaram a
delirar com palavras sem nexo, perdidas nas trevas, ou seja, o homem,
depois de perder a base da religião, não encontra outro arrimo para seus
pensamentos. Os nomes que constam da lista dos opositores, em sua
maioria, são de mentalidades importantes. Porém, depois de deixarem a
religião, começaram a escrever coisas sem sentido, a ponto de nos
deixarem em dúvida, sem entendermos como tais palavras foram escritas
por sábios. O registro produzido por eles abrange fábulas e opiniões
conflitantes, confissões de desconhecimento da verdade, bem como
abrangem exemplos parecidos com sofismas. A falsidade deles demonstra
que fecham os olhos às verdades patentes. Eles construíram pontes
imaginárias de alegações, com seus exemplos representados pela
irregularidade. Isso é atributo dos casos falsos. Os casos verdadeiros,
porém, baseiam-se em provas científicas fixas e não peculiares.
A verdade da religião e o sofismo dos opositores transparecem
mais quando olhamos o quadro da vida humana à luz da religião. É um
quadro lindo, delicado, que se coaduna com os pensamentos sublimes
do homem, da mesma forma que as leis matemáticas se coadunam com
o Universo. É um quadro contrário ao que traçam os opositores, que
apresentam um quadro disforme, que não se coaduna com a inteligência
humana. Vejamos o que diz Bertrand Russel.
"O homem é fruto de agentes sem objetivo. Seu nascimento,
crescimento, temor, suas esperanças, paixões e crenças, tudo é resultado
de um sistema matemático que combina com o sistema do átomo. O
túmulo é o destino final do homem. Nenhuma força será capaz de
ressuscitá-lo. Todos os esforços, sacrifícios, belos pensamentos,
heroísmos geniais, serão enterrados para sempre juntamente com o
desaparecimento do sistema solar. Toda luta humana será enterrada
juntamente com a terra, após a destruição do Universo. Se esses
pensamentos não fossem conclusivos, seriam os mais próximos da
29
realidade, a ponto de dizermos que qualquer filosofia que tentasse negálos falharia."18
Essa citação é o resumo do pensamento materialista. O Universo,
à luz desse pensamento, quase perde os seus objetivos, não restando
mais que as trevas, onde enfraquecem as medidas do bem e do mal,
sendo que a eliminação do homem pelas bombas não é considerada
injusta, uma vez que, cedo ou tarde irá desaparecer. O pensamento
religioso, porém, é o pensamento da luz e da esperança. A vida e a morte
estão interligadas a ele, com objetivos determinados, e todos os valores
e os sublimes pensamentos encontram espaço nele. Mesmo que alguns
cientistas, para corroborarem seus pensamentos com as leis matemáticas,
creiam que alcançaram a verdade, a corroboração da mente humana com
o pensamento religioso é uma prova conclusiva de que ele é a verdade
procurada pela natureza humana. Então, não encontramos fundamentos
reais para negarmos o valor do pensamento religioso. Esta é a medida
científica que o matemático americano, o professor Earl Chester Rex
cita, dizendo:
"Utilizo, em minhas pesquisas, a medida científica islâmica, usada
para escolher entre dois ou mais pensamentos diferentes sobre a mesma
verdadade. É a medida que, de acordo com ela, escolhemos o pensamento
que traduz de uma forma simples os problemas conflitantes. Os cientistas
adotaram essa medida para escolherem entre as teorias de Ptolomeu e
Copérnico. A primeira dizia que a terra era o centro do sistema solar,
enquanto a outra dizia que o sistema solar é onde a terra se encontra. A
teoria de Ptolomeu era extremamente complexa e por isso os cientistas a
rejeitaram."19
Não há objeção quanto ao fato de que essas provas não
convenceram muitas pessoas, pois as portas de suas mentes materialistas
estavam cerradas, ignorando, por mais científica que fosse, a conversa
sobre Deus e religião. É certo que esta sua posição não é tomada por
causa que as nossas provas são fracas, mas é resultante do fanatismo que
eles nutrem contra os pensamentos religiosos. O cientista britânico, James
Jeans, um dos mais famosos cientistas da era moderna, falou a verdade
18. "Limitations of Science" (Limitações da Ciência), pág. 133.
19. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), pág. 179.
30
quando disse em seu livro "Mysterious Universe" (O Universo
Misterioso):
"Nossas mentes estão repletas de fanatismos, e escolhem a
explicação materialista das realidades."20
Wittaker Chambers, em seu livro "Witness" (O Testemunho), cita
um caso em que podia ser o ponto de mudança em sua vida. Lembra que
enquanto olhava para a sua filha, os ouvidos dela lhe chamaram a atenção.
Então começou a pensar que seria impossível que houvesse, por mera
coincidência, algo tão complexo e preciso como os ouvidos. Seria
necessário que fosse o resultado de uma vontade preparadora. Ele, porém,
repeliu tais pensamentos de sua mente, para não ser obrigado a crer,
logicamente, no Ser que preparou aquilo, porque sua inteligência não
estava preparada para receber esse último pensamento.
O Professor Doutor Thomas Daywood Parkes, depois de comentar
as considerações acima mencionadas, diz:
"Conheço um grande número de professores universitários e de
colegas cientistas meus que enfrentaram muitas vezes tais sentimentos,
quando faziam experiências químicas e naturais nos laboratórios."21
Há consenso entre os cientistas desta época quanto à Teoria da
Evolução. Ela passou a ocupar, de fato, todos os ramos das ciências
modernas. Em todo o caso que necessitava de Deus para a sua explicação,
colocavam, sem vacilação, essa teoria.
Este é um dos lados da teoria. O outro lado, porém, o lado tenebroso,
que afirma que a Teoria da Evolução Orgânica é tirada da Teoria da
Evolução, continua até hoje sem provas nem exemplos científicos! Muitos
cientistas afirmaram que só acreditam nessa teoria; isso porque não
possuem qualquer substituto para ela, além da crença direta em Deus!"
Sir Arthur Keith escreveu:
"A Teoria da Criação e da Evolução não é certa, cientificamente
falando, nem é possível comporvá-la com exemplos. Só cremos nela
porque a única alternativa, além dela, é a crença imediata na criação
direta, e não é possível nem mesmo pensar-se nisso"22
20. "Mysterious Universe" (O Universo Misterioso), pág. 189.
21. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), págs. 73-74.
22. Revista "Islamic Thought" (O Pensamento Islâmico), Dezembro de 1961.
31
Confesso aqui a minha incapacidade de convencer aqueles que
são dominados pelo fanatismo cego da explicação materialista, em
detrimento da religião. Esse fanatismo tem raízes profundas, como afirma
um cientista americano: "A existência da crença divina é razoável, e a
negação de Deus é um sofisma insuficiente para o homem escolher um
lado da crença divina. As pessoas pensam que a crença em Deus irá
tirar-lhes a liberdade de pensamento, crença essa que, no conceito deles,
escravizou as mentes dos cientistas. Portanto, qualquer pensamento que
limita essa liberdade incentiva-lhes a ferocidade."23
De acordo com isso, Julian Huxley afirma que a profecia é a
manifestação da superioridade, de uma forma incomum, que não pode
ser aceita. Ou seja, o significado da crença num profeta é o de se crer
que suas palavras sejam palavras de Deus, e então executamos,
expontânea ou forçadamente, tudo que nos ordena.
Porém, se o homem é criado e não criador, adorador e não adorado,
como pode eliminar as verdades com meros pensamentos que brotam
em sua mente?… Nós não podemos mudar as realidades; podemos, sim,
reconhecê-las ou crer nelas. Se não desejamos ser iguais à avestruz, é
melhor nos submetermos à verdade, antes de perdermos a oportunidade.
Se negarmos a verdade, em nada poderemos prejudicá-la; só
prejudicaremos a nós mesmos, na outra vida.
23. George H. Blount, "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), pág. 130.
32
Terceiro Capítulo
O Método de Dedução Científica
A questão da época atual contra a religião é a questão do método
de dedução, ou seja, o método novo que a ciência moderna descobriu
com as suas evoluções nos inúmeros campos, de tal forma que não é
mais enfrentada com convocação e com crenças religiosas. Esse método
moderno é o conhecimento da verdade por intermédio da experiência e
da pesquisa, num tempo em que as crenças religiosas se relacionam com
o mundo de nosso subconsciente, sem possibilidade de se submeter à
experiência. Toda a religião é construída sobre comparações e deduções
e é isso que a torna falsa, porque não tem base científica.24
A questão da época atual contra a religião é falsa porque não tem
base científica. O novo método não refuta a existência de coisas que não
foram diretamente experimentadas, como não refuta a comparação de
coisas que não vimos com coisas que vimos experimentalmente; isso é
chamado "comparação científica". É considerado como experiência
direta, porque a experiência não é considerada verdade científica, só por
ter sido observada: como a comparação não é nula só porque é
comparação. A possibilidade, tanto da verdade como da falsidade, ocorre
por igual.
As pessoas antigamente construíam os navios de madeira, porque
acreditavam que na água só boiava o material com menos peso que ela.
Quando alguns afirmaram que os navios de metal boiavam como os de
madeira, foram desacreditados e foram alvo de escárneo. Um ferreiro
pegou um pedaço de ferro e jogou num balde de água para mostrar às
pessoas que um pedaço de qualquer metal, afundava no balde. Tal ato
24. Como exemplo, os religiosos, se desejam confirmar a existência de Deus, não usam
para tal o telescópio, mas presumem que o sistema Universal e seu espírito
extraoridinário demonstram que há por trás deles uma inteligência Divina. Este exemplo
não confirma diretamente a existência de Deus, mas atesta a relação necessária para a
fé em Deus depois de se ter acreditado n'Ele.
33
foi uma experiência falsa, pois se o metal utilizado tivesse o formato de
uma concha, teriam-no visto flutuar e corroborar a afirmação daquele
que disse que os navios flutuariam.
No início do século XX tínhamos telescópios fracos. Quando
olhávamos o céu através de tais telescópios, víamos corpos de intensa
luminosidade. Deduzíamos que seriam nuvens de vapor e gás, em um
estágio anterior ao de se tornarem estrela. Mas quando fizemos
telescópios mais potentes e observamos os corpos novamente, soubemos
que esses inumeráveis corpos luminosos eram a formação de muitas
estrelas que pareciam nuvens, devido à enorme distância entre eles e a
terra.
Assim, verificamos que a experiência e a observação não são os
únicos meios da ciência, e esta não está restrita aos assuntos observados
com a experiência direta. Inventamos muitas máquinas e meios modernos
para observação mais ampla. Porém, as coisas observadas com tais meios
muitas vezes são superficiais, sem importância proporcional. As teorias
extraídas de tais observações são assuntos que devem ser examinados.
Os que examinam a ciência moderna verificam que a maioria das suas
opiniões é "o resultado das observações, e que tais opiniões não são
experimentadas em seguida, pois algumas observações levam os
cientistas a acreditarem na existência de algumas verdades axiomáticas.
Os cientistas de nossa época não conseguem expressar-se sem utilizar as
palavras: "força", "energia", "natureza", "lei da natureza" etc.. Eles,
porém, não sabem o que seja "força, energia, natureza e lei da natureza."
Criaram palavras que expressam fatos conhecidos para explicarem causas
desconhecidas. Esses cientistas não conseguem traduzir especificamente
essas palavras, da mesma forma que o religioso não consegue explicar
os atributos de Deus. Ambos creêm em causas desconhecidas.
O Dr. Alexis Carrel diz:
"O nosso universo, graças às magníficas descobertas da física e da
astrofísica, tornou-se duma espantosa grandeza."25
A ciência moderna não alega, nem mesmo consegue argumentar
que a verdade está restrita aos nossos conhecimentos adquiridos através
da experiência direta. Na verdade, a água é líquida, e podemos observar
25. O Homem, Esse Desconhecido, pág. 31.
34
essa verdade a olho nú. Mas, a verdade é que cada molécula de água é
composta de dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, e é
impossível observarmos essa verdade científica mesmo com o auxílio
do mais possante microscópio do mundo. Mas foi confirmado pelos
cientistas, por dedução lógica.
O Professor A.E. Mander diz:
"As verdades que conhecemos diretamente são chamadas de fatos
perceptíveis, apesar de os fatos que conhecemos não se restringirem aos
fatos perceptíveis. Há muitos outros fatos que não conhecemos
diretamente, mas chegamos a eles de uma forma ou de outra. Nosso
método para isso é a descoberta. Esse tipo de verdade é o que chamamos
de fatos inferidos. O mais importante aqui é entendermos que não há
qualquer diferença entre os dois fatos, a não ser na denominação, pois
conhecemos a primeira diretamente e a segunda, por intermédio de algo.
Mas a verdade sempre é a verdade, quer a conheçamos por observação
ou através da descoberta."26
Mander acrescenta: "Muito pouco das verdades universais é
captado pela percepção. Como podemos conhecer o muito que resta?
Há um meio: é a descoberta ou a dedução da causa. Ambos são meios
intelectuais que iniciamos com verdades conhecidas, e chegamos a uma
teoria de que tal coisa existe aqui, mesmo que não a vejamos nunca."27
Aqui perguntamos: Como podemos utilizar-nos da constatação
lógica de coisas que nunca vimos? Como podemos chamar essa
constatação, de acordo com o requisito da mente, de verdade científica?
O próprio Mander responde a pergunta:
"O sistema explanatório é verdadeiro, porque o Universo é
racional".
Todo o Universo está interligado, suas verdades são compatíveis,
e o seu sistema é admirável. Por isso, qualquer estudo das suas verdades,
é nulo.
Mander diz a este respeito:
"Os eventos tangíveis fazem parte das verdades universais. Essas
verdades, porém, captadas pelos sentidos, são parciais, e não são
26. A.E. Mander, "Clearer Thinking" (Pensamento Esclarecedor), pág. 46.
27. Idem., pág. 49.
35
interligadas. Se as separamos das suas congêneres, perdem totalmente o
seu significado. Se as estudarmos à luz das muitas verdades que
conhecemos, direta ou indiretamente, captaremos sua veracidade."
Então ele apresenta um exemplo para explicar isso, dizendo:
"Vemos que, ao morrer, o pássaro cai no chão. Sabemos que
precisamos de força para levantar uma pedra; observamos que a lua
gravita no espaço, e sabemos que subir a montanha é mais difícil que
descê-la. A cada dia observamos muitas realidades que não têm nenhuma
relação uma com a outra; então conhecemos uma realidade constatada,
que é a "lei da gravidade". Aqui, todas essas realidades se interligam, e
descobrimos, pela primeira vez, que todas estão inteiramente interligadas
dentro do sistema. O mesmo caso acontece com os eventos sensíveis, se
os analisarmos separadamente. Não encontramos entre eles qualquer
organização. São separados e não interligados. Mas quando ligamos os
eventos sensitivos com as realidades descobertas, aparece um quadro
organizado para as realidades."28
A lei da gravidade não pode ser nunca observada, e todas as coisas
que os cientistas observaram não representam em si a lei da gravidade,
mas outras realidades, por causa das quais, logicamente, crêem na
existência dessa lei.
Hoje essa lei é aceita cientificamete. É a lei descoberta por Newton. Mas, qual é a realidade dessa lei, do ponto de vista experimental?
Eis o Newton, escrevendo para Bently, dizendo:
"É um caso intrigante encontrarmos uma matéria inanimada e
insensível influenciando outra matéria, apesar de não haver qualquer
relação entre elas."29
Uma teoria complexa e incompreensível, impossível de ser
observada, é considerada hoje, sem discussão, uma verdade científica!
Por que? Porque explica algumas observações! Então, não há necessidade
de que a verdade, como sabemos, seja comprovada com experiência;
então seguimos dizendo que a crença no desconhecido, que liga algumas
observações e explica o seu conteúdo geral, é considerada verdade
científica do mesmo nível.
28. "Clearer Thinking" (Pensamento Explanatório), pág. 51.
29. Trabalhos de W. Bently III, pág. 221
36
O Professor Mander diz:
"A afirmação de que conhecemos a verdade significa que
conhecemos o seu significado. Em outros termos, é que pesquisamos
sobre a existência de alguma coisa e sobre sua situação, e o explicamos.
A maior parte das nossas crenças está nesse rol. São na realidade
"explicações de observações."
Ele continua falando sobre as verdades observadas:
"Quando fazemos alguma 'observação', queremos dizer algo além
da observação sensorial absoluta. Significa 'observação sensorial' e
'conhecimento', no que se refere a questão da interpretação."30
A Teoria da Evolução Orgânica
Será que esta é a base científica, que fundamentados nela, os
cientistas concordaram quanto à veracidade da Teoria da Evolução
orgânica, como disse Mander? "Será que confirmou-se a veracidade dessa
teoria, de tal modo que podemos considerá-la 'a coisa mais próxima da
verdade?'"31
Simpson diz a este respeito:
"A Teoria da Evolução é uma verdade patente, e não é uma medida
ou uma consideração manipulada para a pesquisa científica.32
O editor da Enciclopédia Britânica acredita que a Teoria da
Evolução nos animais é "verdadeira", e que essa teoria conseguiu um
consenso geral entre os cientistas e intelectuais após Darwin.
R. S. Lyll diz:
"A Teoria da Evolução continua ganhando apoio cada dia maior,
após Darwin, a ponto de não haver dúvida entre cientistas e intelectuais
de que essa é a única explicação lógica que traduz detalhadamente o ato
da criação."33
Será que essa teoria, cuja veracidade tem concenso entre os
cientistas, foi observada por alguns deles, ou experimentada em
laboratório? Não! Isso é impossível. A alegação da evolução é complexa;
30. Idem, pág. 113.
31. "Clearer Thinking" (Pensamento Explanatório), pág. 56.
32. "Meaning of Evolution" (O Significado da Evolução), pág. 127.
33. "Organic Evolution" (A Evolução Orgânica), pág. 15.
37
depende de um passado muito distante e é inútil perguntar sobre a sua
experiência e observação. É, de acordo com Lyll, uma "explicação lógica"
para traduzir os fenômenos da criação; não é uma observação real. Foi
essa a causa que levou Sir Arthur Keith, o defensor entusiasta da Teoria
da Evolução a se conformar com que essa teoria não é uma observação
ou experiência, mas é uma mera crença. Ele diz: "A Teoria da Evolução
é uma crença básica no sistema mental".34 Uma enciclopédia diz que a
Teoria de Darwin é uma teoria baseada numa explicação sem provas."35
Será que faz com que seja algo inobservável e impossível de ser
experimentado como uma verdade científica?
Mander cita as causas disso, apontando:
1. Essa Teoria se coaduna com todas as realidades conhecidas.
2. A teoria inclui explicações para muitos fatos que só podem ser
compreendidos através dela.
3. Não surgiu ainda uma outra teoria que se coadunasse às
realidades com tanta precisão.36
Se esses exemplos são suficientes para tornar a Teoria da Evolução
numa verdade científica, com maior ênfase, e de uma forma mais
completa, encontram-se também na religião. A afirmativa da aceitação
da Teoria da Evolução, e a negação da religião do ponto de vista científico,
não significa em absoluto do que o caso dos opositores seja o de dedução
científica, mas está relacionado com o "resultado". Se a mesma dedução
afirmasse um caso natural absoluto, os opositores a aceitariam, mas a
rejeitariam se afirmasse um caso de cunho divino, porque seria
indesejável para eles.
A Questão do Estabelecimento da Verdade
Com isso não se pode afirmar que a religião seja a "crença no
incognoscível" e que a ciência seja a crença na "observação científica".
Ambas, religião e ciência, contam com a crença no incognoscível. Porém,
o círculo verdadeiro da religião é o círculo do estabelecimento, de uma
vez por todas, da "Verdade". A pesquisa da ciência se restringe aos
34. "Revolt Against Reason" (A Revolta Contra a Razão), pág. 112.
35. Idem, pág. 111.
36. "Clearer Thinking" (Pensamento Explanatório), pág. 112
38
fenômenos primários e exteriores. Quando a ciência penetra o campo do
estabelecimento final da verdade, ou seja, o campo em que ela denuncia
a religião, é necessário agirmos no "segundo campo", como disse Sir
Arthur Adinginn. "O nosso mundo, na época atual, atua em duas armações
ao mesmo tempo. Uma é geral, que o homem normal utiliza, que pode
ser tocada e vista. A outra, porém, é a "armação científica", a maior
parte da qual está no espaço onde os elétrons gravitam, irrestritos e
invisíveis." Sir Arthur continua, dizendo: "Assim encontramos para cada
coisa uma figura com duas faces: uma é observável e a outra é ideológica,
sem chance de ser observada, mesmo com o uso de microscópio ou
telescópio.37
A primeira face é observada pela ciência, e é vista a grande
distância, mas não consegue afirmar que observa a outra face. O mal da
ciência moderna é que ela emite uma opinião a respeito de uma
determinada coisa, depois da observação dos fenômenos desta. O "outro
campo", porém, é o campo do conhecimento e o estabelecimento das
realidades das coisas. A ciência, nesse campo, está a procura das
realidades desconhecidas por intermédio de ralidades conhecidas.
Quando um cientista reúne uma quantidade razoável de "realidades
observadas", sente a necessidade de estipular uma teoria ou suposição
científica. Com termos mais precisos, sente a necessidade de um
pensamento dogmático e intuitivo que tem o papel de explicar as
observações, e as interligar. Se tal pensamento for bem sucedido, de
uma forma completa na explicação das realidades, passa a ser uma
realidade científica, mesmo que não tenha nunca sido observada, como
foram observadas as outras realidades que conhecemos através da
observação científica.
Isso significa que o cientista crê na existência de algo desconhecido,
devido ao aparecimento de seus resultados e seus vestígios. Toda a
verdade em que cremos é sempre uma suposição, no início, até que
descubramos novas verdades que dêem apoio à sua veracidade. Então, a
nossa convicção vai aumentando até alcançarmos a certeza. Se as
deduções não forem suficientes, ela é abandonada. Dentre os exemplos
dessas realidades citamos o do átomo, que não pode ser negado, apesar
37. "Nature of the Physical World" (A Natureza do Mundo Físico), págs. 7-8.
39
de não ser observado de forma conhecida, mas considerado a maior
verdade científica descoberta nesta época. Este é o motivo que levou um
cientista apresentar as teorias científicas da seguinte forma:
"As teorias são quadros mentais que explicam leis conhecidas."
A Veracidade das Teorias Científicas
As verdades conhecidas no mundo como "verdades observadas",
não são verdades observadas de fato, mas são explicações de algumas
observações, porque a ponderação humana não pode ser descrita como
completa. Por isso, todas essas explicações são consideradas
suplementares e possivelmente mudam com a evolução da observação.
O Professor Sullivan, depois de criticar as teorias científicas, diz:
"A exposição das teorias científicas afirma que o significado da
'teoria científica verdadeira' constitui 'hipóteses práticas bem-sucedidas'.
É possível que todas as teorias científicas sejam falsas, porque as teorias
que consideramos hoje 'verdades', não são mais que considerações dos
nossos meios limitados de observação. O caso da verdade no mundo
científico continua sendo 'um caso pragmático.'"38
Os cientistas, apesar disso, continuam considerando que o objetivo
que explica suas observações não é inferior ao valor da própria "verdade
observada." Eles não conseguem dizer que só as verdades observadas
são a ciência e que todas as outras teorias explanatórias não entram no
círculo da ciência, porque não são observadas… Na verdade, isso é o
que denominamos "crença no incognoscível." É, em relação aos crentes,
cega, mas é a melhor explicação para as verdades que os cientistas
observam.
A exemplo dos cientistas que rejeitaram a teoria da luz, apresentada
por Newton, conhecida pelo nome: "Teoria Corpuscular da Luz", porque
ele não conseguiu explicar, no seu tempo, os fenômenos modernos da
luz, nós hoje rejeitamos os pensamentos dos filósofos ímpios, porque
falharam em explicar os fenômenos da natureza.
A fonte das verdades religiosas é a mesma utilizada pela ciência
moderna para comprovar alguma teoria científica. Chegamos finalmente
à conclusão, depois de estudarmos as verdades observadas, que a
38. J. W. N. Sullivan, "Limitations of Science" (As limitações da Ciência), pág. 158.
40
explicação da religião quanto à natureza foi o núcleo da verdade, imutável,
no decorrer dos tempos, no tempo em que toda teoria formulada pelo
homem, há um século atrás, mais ou menos, é rejeitada agora ou está em
dúvida.
Se a religião diz a verdade, então, a cada passo que dermos, a
observação demonstrará que cada nova descoberta científica é uma
comprovação das verdades religiosas.
Nos próximos capítulos discutiremos os pensamentos religiosos a
partir desse ângulo.
41
QUARTO CAPÍTULO
A Natureza dá Testemunho da Existência de Deus
A igreja cristã publicou um livreto na índia sob o título: "A natureza
e a Ciência Falam sobre Deus". Creio que este é o melhor título que se
podia dar a esse livreto.
A maior prova da existência de Deus é a Sua criação, coisa que
está à nossa frente. E as verdades naturais mais sólidas que conhecemos
nos levam a crer que, indubitavelmente, este mundo tem um Deus Único.
Não conseguirmos entender a nós mesmos ou a vastidão de todo o
Universo, se não tivermos crença na existência de Deus.
A existência do Universo e o sistema fabuloso que ele abrange,
seus segredos minuciosos, não podem ser explicados, a menos que uma
força os tenha criado. Esta força é ilimitada e não é cega.
PRIMEIRO – Teoria da Dúvida na Existência
Há um pequeno grupo de pensadores que duvidam da existência
dessa força. Crêem também que nem o homem, nem o Universo existem,
que a existência nada mais é que a inexistência absoluta.
Se aceitarmos esse pensamento, sem dúvida a questão de Deus
ficará confusa para nós. Porém, quando cremos que o Universo existe,
somos obrigados, em seguida, a crer em Deus ou na Força Criadora,
como a denominamos. É impossível crermos na existência do nada
absoluto. Este é um falso silogismo.
Essa dúvida na existência do Universo, e que de vez em quando
toma a forma da teoria de "agnoticismo", pode ser considerada uma piada
filosófica, sem nenhuma relação com a verdade. Quando pensamos, nosso
pensamento é, em si, prova absoluta de que existimos.39 Quando
tropeçamos, em nosso caminho, em pedras e sentimos dor, isso prova de
que há um mundo que existe por si, além da nossa existência. Assim, os
39. O autor está utilizando a famosa expressão filosófica: "Penso, logo existo". (N.T.)
42
nossos sentidos captam, a todo instante, inúmeras coisas, que nos
proporcionam dor, alegria, sabor etc.. Esses sentimentos são provas para
cada indivíduo de que ele existe num Universo e que possui a sua própria
existência. Então, se alguém duvidar da sua própria existência e da
existência do Universo, isso é um caso excepcional, isolado, sem relação
com a experiência de milhões de pessoas. Diremos acerca desse indivíduo
único: que ele perdeu a sua razão e esqueceu até de si próprio.
Além disso, se aceitarmos que o próprio Universo não existe fora
de nós mesmos, isso não é prova suficiente e necessária para a não
existência de Deus.
De qualquer forma, a teoria da dúvida é a única que não admite a
existência de Deus, com tudo que abrange de ignorância, sofismo e
irrealidade. É uma teoria sem sentido, incompreensível para a maioria
das pessoas, e não conseguiu ser aceita no mundo científico.
A Existência e a Criação
O homem e o mundo comuns crêem, em qualquer circunstância
que prove que eles existem e que o Universo existe. Com base no
conhecimento e nessa crença, todas as atividades científicas e biológicas
são edificadas.
Se crermos na existência do Universo, então será necessário
crermos, logicamente, no Deus desse Universo. De modo que, não tem
sentido crermos nas criaturas e negarmos a existência do Criador. Nada
conhecemos que surgisse do nada, sem ser criado. Qualquer que seja o
volume de qualquer coisa, grande ou pequena, possui um criador. Como,
então, podemos crer que um Universo igual ao nosso surgiu do nada,
sem ter um Criador?
John Stuart Mill, em sua biografia, cita que seu pai lhe ensinou
que a pergunta: "Quem me criou?” não é suficiente para afirmar a
existência de Deus, pois suscita, automaticamente a pergunta! "Quem
criou Deus?" Bretrand Russel considerou esta segunda pergunta suficiente
para negar a primeira.40
Nós sabemos que esse exemplo é muito antigo entre os ateus. A
exigência disso é que se supormos um Criador para o Universo,
necessitaremos considerá-Lo eterno!
40. Morton White, "The Age of Analysis" (A Idade da Análise), págs. 21,22.
43
O Eterno – Criador ou Matéria?
Se necessitamos considerar a eternidade do Criador, porque não
cremos na eternidade do Universo? Essas palavras não têm sentido,
porque não conseguimos qualquer descrição do Universo que afirma
que ele se criou por si.
Esse exemplo tinha seu valor até o século XIX. Hoje, porém, após
a descoberta da Segunda Lei da Termodinâmica, vemos que tal exemplo
perdeu toda base que possuía.
Essa lei, chamada de "Lei da Entropia", afirma que o Universo
não pode ser eterno. Ela nos diz que a temperatura está sempre mudando,
de quente para frio. O inverso é impossível, ou seja, a mudança constante
dessa temperatura de baixa para alta. A lei da entropia é o equilíbrio da
temperatura entre os corpos.
De acordo com esta importante descoberta científica, a potência
do Universo diminui dia a dia. Vai chegar o instante em que a temperatura
de todas as coisas existentes estará em equilíbrio. Não restará mais
nenhuma energia útil para a vida e para o trabalho. Isto feito, todas as
reações químicas e naturais acabarão e, automaticamente, terminará a
vida.
Partindo-se dessa verdade que afirma que as reações químicas e
naturais estão em movimento, e que a vida existe, é confirmado para nós
que o Universo não é eterno, pois se fosse eterno teria perdido a sua
energia havia muito tempo, de acordo com esse princípio, e não teria
sobrado no Universo um só sopro de vida.
Essa investigação científica moderna é citada por um antropologista
americano, o Professor Eduard Luther Kasill, que diz:
"Dessa forma, as pesquisas científicas confirmam,
inadvertidamente, que este Universo teve início e, em consequência,
ficou confirmada a existência de Deus, porque tudo que possui início,
não pode se iniciar por si; necessita de um impulso inicial, o Criador,
Deus."41
Sir James diz o mesmo: "A ciência moderna crê que o princípio da
Entropia permanecerá até terminar toda a energia do Universo, e esse
processo não chegou ainda ao fim, porque se tal acontecesse, não
41. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), pág. 51.
44
existiríamos na face da terra, e nem estaríamos pensando nela. Esse
processo se aproxima com velocidade, juntamente com o tempo. Portanto,
é preciso que tenha início; é necessário que tenha havido um processo
no Universo, que podemos chamar de "criação num determinado tempo",
portanto, não é possível que o Universo seja eterno.42
Há muitas testemunhas naturais afirmando que o Universo não
existia desde a eternidade, e que possuía um período limitado. A título
de exemplo, vemos a astronomia atestando que o Universo está em
permanente expansão; de que todas as galáxias e os corpos celestes estãose distanciando com uma fabulosa velocidade. Poderemos explicar tal
situação, se considerarmos um início em que as partes estavam
centralizadas e aglomeradas; então, começou o movimento e surgiu a
temperatura. Os cientistas calculam que o Universo surgiu como
consequência de uma "explosão" anormal que ocorreu há 5 trilhões de
anos.
A crença nessa descoberta científica, de que o Universo tem uma
vida limitada, choca-se com a negação da existência.
O exemplo daquele que crê no acontecimento do Universo, mas o
nega por causa da existência de seu Criador, é o mesmo daquele que
alega que o palácio de Taj Mahal construiu-se por si próprio, sem o
concurso dos construtores e dos engenheiros, apesar de se admitir que
foi construído no século XVII, e que não existiu desde a eternidade.
SEGUNDO - As Descobertas Astronômicas
A astronomia nos esclarece que o número das estrelas, no céu, é
parecido com o número dos grãos de areia existentes nas praias do mundo.
Há entre elas aquelas que são um pouco maiores que a terra, mais a
maior parte é muito grande, a ponto de podermos colocar, em uma só,
milhões de estrelas do tamanho da terra, e permanecer ainda local vago
nela.
O nosso Universo é muito vasto. Para compreender isto,
suponhamos um avião imaginário, andando à velocidade de 300 mil
quilômetros por segundo, e que este avião esteja girando em órbita do
Universo. Tal viagem imaginária levaria um bilhão de anos. Acrescenta42. "The Mysterious Universe" (O Misterioso Universo), pág. 133.
45
se a isso o fato de que o Universo não está em repouso, mas está em
expansão contínua, sendo que, após um bilhão e trezentos milhões de
anos essas distâncias duplicarão. Com efeito, esse avião imaginário não
conseguiria completar a órbita em torno do Universo, permanecendo na
sua viagem para sempre, devido à expansão constante do Universo.43
Quando o céu está claro, conseguimos ver a olho nú de cinco a
seis mil estrelas aproximadamente. Esse número, porém, alcança os dois
milhões de estrelas quando usamos um telescópio comum. O telescópio
mais possante do mundo é do monte Palomar, no Estados Unidos da
América, através do qual dá para observarmos bilhões de estrelas.
O cosmo é muito vasto; nele se movem astros e planetas
incontáveis, com uma velocidade extraordinária. Alguns seguem suas
trajetórias isoladamente, outros seguem aos pares, e outros em forma de
galáxias. Se observarmos a luz do sol que penetra pela nossa janela,
veremos que há muitos corpúsculos de pó que se movem através do ar.
Se conseguirmos imaginar isso de uma forma bem maior, conseguiremos
algo sobre os astros do Universo, com a grande diferença de que os
corpúsculos de pó se movem e se chocam entre si. Os corpos celestes,
porém, apesar de seu número, seguem seus cursos, cada um muito distante
do outro. Seu exemplo é como os navios que singram o alto mar, distantes
uns dos outros, um desconhecendo o paradeiro do outro. Este Universo
é composto de muitas galáxias, e todas estão em movimento.
O movimento mais próximo de nós é o da lua que dista 384000
km da terra. Ela gira em torno da terra e completa a sua órbita em vinte
nove dias e meio. Da mesma forma, a terra dista do sol 149600000 km.
Ela gira ao redor de seu eixo com a velocidade de 1600 km por hora,
numa órbita de 300000 km, completando-a uma vez por ano. Juntamente
com a terra há nove planetas que giram em torno do sol com velocidades
extraordinárias. O planeta mais distante de nosso sistema solar é Plutão,
que gira numa órbita de 12 bilhões de quilômetros ao redor do sol. Ao
redor de certos planetas giram trinta e uma luas. Além desses planetas,
existem dois mil astros aproximadamente, milhares de cometas, todos
girando ao redor do sol, cujo diâmetro é de 188400 km, e cujo volume é
um milhão e duzentas mil vezes maior que a terra.
43. Esta é a teoria cósmica de Einstein, mas é apenas medida matemática. Na verdade,
o homem não conseguiu até agora compreender a Vastidão do Universo.
46
Esse sol não é estático, nem está parado num determinado lugar.
Ele, por sua vez, com todos os astros e estrelas, gira nesse sistema com
a velocidade de 960000 km por hora. Há milhares de sistemas, além do
sistema solar, que formam o que chamamos de galáxias, formando todos
uma bandeja onde giram estrelas e planetas isolados ou juntamente, como
gira o pião. As galáxias, por sua vez, se movem também. A galáxia onde
está situado o nosso sistema solar, gira ao redor de seu eixo, completando
sua órbita em duzentos e vinte milhões de anos luz.
Os cientistas calculam que o Universo é composto de mais de um
bilhão de galáxias. Em cada galáxia há bilhões de estrelas. Calcula-se
que a galáxia mais próxima de nós é a que observamos à noite como se
fossem linhas brancas; galáxia essa que abrange um traço cujo
comprimento é de 100 mil anos luz. Nós distamos dessa galáxia
aproximadamente 30 mil anos luz. Essa galáxia é uma parte de uma
galáxia maior composta de dezessete galáxias cujo diâmetro é de dois
milhões de anos luz.
Juntamente com essas rotações, acontece um outro movimento: a
expansão do Universo para todos os lados, como uma bexiga de borracha,
quando é assoprada. O nosso sol gira em torno de seu eixo, e nós também
giramos com ele na margem exterior da galáxia, distanciando-se dessa
margem exterior a uma velocidade de 20 km por segundo. Todas as
estrelas que fazem parte do sistema solar seguem o mesmo processo.
Assim, todos os planetas caminham para um lado ou para outro,
juntamente com sua rotação, de acordo com o seu sistema. Alguns se
movem a uma velocidade de 13 km por segundo, e outros se movem à
velocidade de 50 km por segundo, e outros, ainda, movem-se à velocidade
de 75 km por segundo. Todas as estrelas, de acordo com isso, se
distanciam uma da outra a cada segundo, de seu lugar, com uma
velocidade enorme. Esse movimento estranho acontece de acordo com
um sistema e leis específicas, para que não se choquem, nem haja
diferença de velocidade.
O movimento da terra ao redor do sol é preciso, não tendo qualquer
perigo de haver uma mudança na velocidade de sua rotação, até após um
século. A lua, que segue o movimento da terra, gira numa órbita específica
e precisa, com uma pequena diferença que se repete a cada vinte e oito
47
anos e meio, com uma precisão extraordinária. Esse é o caso de todos os
corpos celestes. Os astrônomos acham que as galáxias se misturam umas
com as outras. Uma galáxia, com todos os seus bilhões de planetas em
movimento, penetra em outra galáxia semelhante e, então, sai dela,
levando todos os seus planetas sem que ocorra qualquer choque entre os
planetas das duas galáxias.
A mente, quando imagina esse sitema preciso, não consegue aceitar
que tudo isso tenha ocorrido por si, mas admite que há uma energia
sobrenatural que sustenta esse sistema, e o controla.
Os Sistemas Complexos
Esse sistema, que existe nos grandes mundos, é também
encontrado, em sua figura completa, no menor mundo que conhecemos.
Sabemos, de acordo com o conhecimento moderno, que o átomo é o
menor mundo. Ele é tão pequeno que não pode ser visto mesmo com o
auxílio do mais potente microscópio eletrônico. Ele, de acordo com isso,
é nada, em relação à menor coisa que a vista humana possa ver. Esse
átomo, porém, possui, de uma forma extraordinária, um sistema de órbita
semelhante ao existente no sistema solar. O átomo é o nome dado a um
conjunto de eletrons que não tem contato entre si. Há um vazio entre
eles muito grande (proporcionalmente). Tomemos como exemplo um
pedaço de fero onde as moléculas são bastante compactas. Os elétrons
dentro dele não ocupam mais do que 10-9 da área do átomo. O resto da
área é vazio. Se conseguirmos uma fotografia ampliada do elétron e do
próton verificamos que a distância entre eles é de 300 m
aproximadamente.
O elétron, a parte negativa do átomo, gira ao redor do próton, a
parte positiva do átomo; esses elementos, que nãopassam de pontos
imaginários, giram ao redor do seu núcleo do mesmo jeito que a terra
gira ao redor do sol, de tal modo que não se pode situar o elétron num
determinado lugar, devido à sua velocidade, mas é imaginado que ele
existe ao longo de trajetória, porque ele gira ao redor de seu núcleo
bilhões de vezes por segundo!
É impossível que esse sistema atômico tenha surgido por si, não
há meios de observá-lo, nem é possível explicar a sua função dentro do
48
átomo, a não ser por meio da ciência. Ele foi adotado pela ciência. Então,
por que não tiramos disso uma prova de que existe um Organizador Que
comanda esse sistema? É impossível que haja o sistema no átomo sem
um Organizador que o controle.
Ficamos perplexos ao ver o emaranhado complexo dos fios de
televisão, da mesma forma que ficamos confusos constatando que um
telefonema de São Paulo até Tóquio, no Japão, é completado em alguns
segundos. Se a complexidade do sistema dos fios de televisão nos deixam
perplexos, que se há de dizer do nosso sistema nervoso, que é maior e
mais complexo ainda? Milhões de informações percorrem o nosso sistema
nervoso criado pela natureza, de um lado para o outro, noite e dia. Essas
informações são responsáveis pelo ritmo do coração, pelo movimento
de todos os nossos diferentes orgãos. Se esse sistema não existisse em
nosso corpo, este se tornaria num emaranhado de coisas, cada uma
desempenhando um papel diferente do outro.
A central de comunicação dessas informações é o cérebro do
homem. Ele é composto de um trilhão de células nervosas, e de todas
essas células saem nervos que se espalham por todo o corpo. Eles são
chamados de "tecido nervoso". Nesse tecido se desenrola o sistema de
recebimento e transmissão das informações, com a velocidade de 110
km por hora. Por intermédio desse tecido é que sentimos sabor, ouvimos,
vemos e executamos todos os nossos movimentos. Há três mil
corpúsculos gustativos, e cada um tem um nervo particular ligado com o
cérebro. Por intermédio desses corpúsculos a pessoa sente os diferentes
paladares. No ouvido existem dez mil células auditivas, e, através de um
sistema complexo de células receptoras de luz, elas desempenham o papel
de remeter a figura captada para o cérebro. Há uma rede de tecidos
nervosos ao longo de nossa pele. Ao aproximarmos da pele algo quente,
trinta mil células captam a temperatura, sentem o processo e o remetem
imediatamente ao cérebro. Ao aproximarmos da pele algo frio, um quarto
de milhão de células, que captam as coisas frias, sentem a frieza. Depois,
informam o cérebro imediatamente; então, o corpo treme, as veias da
pele se expandem, e aumenta o fluxo de sangue ao local para aumentarlhe a temperatura. Se essas células sentirem uma temperatura muito
elevada os informantes transmitirão a informação ao cérebro, que,
49
imediatamente, seleciona três milhões de glândulas sudoríparas,
selecionam espontaneamente o suor frio, liberando-o para fora do corpo.
O sistema nervoso abrange muitas ramificações. Entre elas há a
que desempenha papéis autônomos no corpo como a digestão, a
respiração, as batidas do coração. Esse ramo inclui dois sistemas
chamados: sistema simpático e parassimpático. São denominados
autônomos porque regulam as atividades que não dependem da nossa
vontade, como os batimentos cardíacos, os movimentos peristáticos, o
diâmetro da pupilas etc.. As ações dos nervos simpáticos e
parassimpáticos são antagônicas, isto é, quando um se inibe, o outro
estimula determinada função, e vice-versa.
Imitando a Natureza
Os melhores aparelhos inventados pelo homem não se comparam,
nem de longe, ao sistema fabuloso que existe no Universo. Por isso, a
imitação do sistema da natureza tornou-se hoje uma atividade científica
que se preocupa em elaborar aparelhos mecânicos de acordo com esse
sistema. Surgiu, então, uma nova ciência chamada de biônica que,
anteriormente, se limitavam às descobertas e à utilização das
potencialidades latentes na natureza.
Hoje, o sistema biológico utiliza-se de muitos meios para adquirir
conhecimentos que auxiliam na solução de problemas de engenharia.
Como exemplo, podemos citar a máquina fotográfica. É, na
realidade, uma imitação mecânica do olho humano. O diafragma é a
íris. O filme é a retina do nosso olho. É nela que ficam gravadas as
imagens que "focalizamos" para depois serem enviados ao cérebro, onde
passam pelo processo de "revelação". A lente é o cristalino, por onde
penetram os raios luminosos, levando a imagem até à retina, onde ela é
fixada. Ao passar pelo cristalino, a imagem se torna menor e invertida
(de cabeça para baixo) na retina, o mesmo ocorrendo com a máquina
fotográfica.
Há inúmeros exemplos além desse, que atestam que os cientistas
naturais e tecnológicos imitam, em seus projetos, os métodos vivos da
natureza.
Muitos problemas preocuparam os cientistas desde os tempos
remotos, quando a natureza já os tinha solucionado havia muito tempo.
50
E, se as máquinas fotográficas e as máquinas teleimpressoras não podem
existir sem a mente humana, como podemos imaginar que o sistema do
Universo, que é muito mais complexo do que qualquer outro sistema,
surgiu por si, sem uma mente por trás dele? Ele necessita de um
engenheiro que o coloque em ordem, que é Deus. É impossível que a
mente imagine um sistema sem um autor. É inconcebível não crermos
na existência de um autor para o Universo; é inconcebível negarmos
esse autor. Na verdade, a mente humana não possue base mental para
negar a existência de Deus.
TERCEIRO - Essência Estranha do Universo
O Universo não é como um cesto de papel, mas envolve uma
essência estranha. Tal essência não se pode originar, a não ser por
intermédio de uma mente que criou o Universo e dispõe dele.
É impossível que haja um sistema e uma essência numa operação
material cega, que aconteceu por acaso. O Universo é equilibrado e
proporcional ao extremo. Cadvish disse: "Podemos pedir a qualquer
pessoa, quer creia em Deus, quer não, que nos explique como o equilíbrio
do Universo lhe é propício, se ele, o Universo, surgiu por acaso?"44
A vida sobre a terra necessita de inúmeras situações, cuja
probabilidade matemática se vê impossibilitada de reunir. Porém, vemos
que tais situações, impossíveis de se reunir, matematicamente falando,
encontram-se, de fato sobre a face da terra. Por isso, somos forçados a
crer que há uma energia extraordinária, inteligente, por trás do Universo
causadora de tais situações.
O Equilíbrio Sobre a Terra
A terra é o mundo mais importante que conhecemos, pois ela
encerra coisas que não existem em outro lugar deste vasto Universo.
Ela, com toda sua imensidão, como nos parece, não equivale a um átomo
desse extraordinário Universo. Se o seu volume fosse maior ou menor
de que realmente é, a vida seria impossível sobre ela. Se tivesse o
volume da lua, por exemplo, seu diâmetro seria um quarto do atual, sua
gravidade seria um sexto da gravidade atual. O resultado disso seria o de
44. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), pág. 88.
51
não poder reter a água e a atmosfera a seu redor, como é o caso da lua,
onde não há água, nem é rodeada por uma atmosfera, devido à exiguidade
de sua força de gravidade. A diminuição da gravidade da terra, até ao
nível da gravidade da lua, causaria o aumento do frio durante a noite,
congelado tudo, e o aumento do calor durante o dia, queimando tudo.
O mesmo se dá com a diminuição do volume da terra ao nível da
lua, não retendo um grande volume de água. A abundância da água é
essencial para a conservação do equilíbrio das estações sobre a terra.
Um cientista denominou tal processo de "A fabulosa roda do equilíbrio."
Com isso, a camada da atmosfera ir-se-ia elevar e enfraquecer, causando
o aumento e a diminuição da temperatura a níveis extremos.
Ao contrário disso, se o diâmetro da terra fosse o dobro do atual,
sua gravidade dobraria, sua camada atmosférica, que dista 800 km da
terra, iria baixar para muito próximo da terra. Isso acarretaria um aumento
da pressão atmosférica, prejudicando as condições de vida.
Se aumentasse o volume da terra, e ficasse com o mesmo volume
do sol, por exemplo, sua força de gravidade aumentaria cento e cinquenta
vezes, fazendo com que a camada da sua atmosfera se aproximasse a
uma distância de 6 km da superfície. A pressão atmosférica seria de uma
tonelada sobre um decímetro quadrado. Isso impossibilitaria o
aparecimento de corpos viventes. Isso significa que o animal que pesa
1kg passaria a pesar 500 kg; o volume do homem diminuiria ao tamanho
de um grande rato, e lhe impossibilitaria a exitência do cérebro porque
ele precisaria de muitos tecidos nervosos no corpo, e tal sistema só
existiria se o volume do corpo fosse proporcional.
Aparentemente nós estamos em pé na terra. Na realidade, estamos
de cabeça para baixo. Para explicarmos isso, lembremo-nos de que a
terra tem o formato de uma esfera pendurada, em que as pessoas habitam.
A posição das pessoas em relação às outras significa que os habitantes
da América estão debaixo dos habitantes da Índia, seus antípodas, e viceversa.
A nossa terra não está inerte. Ela gira em torno de seu eixo a uma
velocidade de 1600 km por hora. Isso faz com a nossa posição sobre ela
seja semelhante à de uma pedrinha colocada na superfície de uma roda
que gira com velocidade, a ponto de lançá-la no espaço. Mas a terra não
nos lança! Ficamos estáveis na sua superfície. Como isso se dá?
52
A terra possue gravidade e, por causa disso, atrai as coisas para
ela. A gravidade da terra e a pressão atmosférica constante nos seguram
proporcionalmente. Assim, somos atraídos por essas duas forças, de
todos os lados para a esfera terrestre.
A pressão atmosférica é de aproximadamente 110 kg. por decímetro
quadrado. O homem, porém, não sente essa pressão porque ela é aplicada
em todos os lados, como acontece quando estamos nadando. Por outro
lado, o ar, como é sabido, é formado por gases de tantas utilidades, que
é difícil restringí-las a um só livro.
Newton, através de sua observação e estudo, chegou à conclusão
de que os corpos se atraem mutuamente, mas não conseguiu descobrir a
causa disso. Ele confessou que não tinha explicação para esse processo.
Isso foi citado por White Head. Disse ele:
"Newton descobriu, quando fez tal confissão, a extraordinária
verdade filisófica de que a natureza, se não tivesse essência, não teria
explicação, da mesma forma que o morto não consegue nos contar sobre
tal realidade. Todas as explicações naturais e lógicas, ultimamente, não
são mais que manifestações de um objetivo, porque não é possível que
um morto tenha objetivos."45
Seguindo com a exposição, White Head diz: "Se este Universo
não está sob o domínio de uma autoridade (Existência com Inteligência),
por que então possue essa essência espantosa?"
A terra completa uma volta ao redor de seu eixo a cada vinte e
quatro horas e alguns minutos. Isso significa que gira em torno de seu
eixo com a velocidade de mil e seiscentos quilômetros por hora. Se esta
velocidade diminuir para 400 quilómetros por hora, os períodos da noite
e do dia aumentariam dez vezes em relação ao que é hoje. Isso faria com
que o sol, devido a sua alta temperatura, queimasse tudo que existe sobre
a face da terra; o que restasse, seria destruído pela extrema baixa de
temperatura durante a noite.
O sol é considerado hoje o nosso meio de vida. A sua temperatura
na superfície é de aproximadamente 6000 graus Kelvin. A sua distância
da terra é de 140 000 000 de quilômetros. Essa grande distância é
constante. Nisso há um prodígio para nós, porque se ela diminuisse e o
45. "The Age of Analysis" (A Idade da Análise), pág. 85.
53
sol se aproximasse da terra, por exemplo, cerca da metade da distância
atual, todas as folhas queimariam imediatamente por causa do aumento
da temperatura. Se aumentasse a distância, o frio excessivo, resultante
do distanciamento, eliminaria a vida sobre a terra. Se o sol fosse
substituído por um outro astro, com temperaturas dez mil vezes superiores
à sua, a terra seria um forno abrasador.
A terra gira no espaço, completando o giro ao redor do sol num
ângulo de 33 graus em relação ao seu eixo, fato que ocasiona as estações
do ano, e a conseqüente utilização da maioria das regiões da terra para a
agricultura e moradia. Se a terra não tivesse essa inclinação, a escuridão
cobriria os dois polos durante todo o ano e os vapores do mar iriam para
os polos norte e sul, e não sobraria sobre a terra a não ser montanhas de
gelo, e o predomínio dos desertos, ocasionando influências que
impossibilitariam a vida sobre a terra.
Se as deduções dos cientistas fossem verdadeiras, ou seja, de que
a matéria organizou-se desta forma propícia equilibrada, quão estranhas
e assombrosas seriam essas deduções. Dizem: A terra separou-se do sol.
Isso significa que a sua temperatura inicial era igual à desse astro. Então,
começou a se resfriar, pois é impossível a mistura do oxigênio com o
hidrogênio, a não ser que a temperatura diminuísse para dois mil graus
Celsius. Nessa fase forma-se a água. Dessa maneira, os processos de
transformação continuaram por milhões de anos, até a terra atingir a sua
configuração atual, há um bilhão de anos. Os gases saíram da atmosfera
da terra, indo para o espaço cósmico, e os outros gases se transformaram
em moléculas de água ou se juntaram aos outros elementos da terra, ou
permaneceram em forma de ar, a maioria em forma de oxigênio e
nitrogênio. Esse ar, com sua densidade, é considerado uma parte dos
dois milhões de partes da terra. Nem todos os gases foram atraídos pela
terra, nem todos se transformaram em ar. Se isso acontecesse, a vida do
homem seria impossível. Se suposéssemos o impossível e a vida existisse
nesses ambientes, com o decímetro quadrado, suportando milhares de
quilogramas de pressão atmosférica, seria impossível a vida humana na
sua forma atual.
Se a litosfera fosse três metros mais grossa do que a espessura
atual, o oxigênio não existiria46, e sem ele a vida animal seria impossível.
46. A camada da terra absorveria, então, todo o oxigênio.
54
Da mesma forma, se os oceanos fossem alguns metros mais
profundos, atrairiam dióxido de carbono e o oxigênio47, e a vida animal
e vegetal seria impossível.
Se a camada atmosférica da terra fosse mais rarefeita, os meteoros
penetrariam todos os dias a camada exterior da terra, e a veríamos
iluminada durante a noite e lhes cairiam sobre todas as regiões da terra e
as queimariam. Esses meteoros têm uma velocidade de 70 km/s e, devido
a essa elevada velocidade, queimariam tudo que fosse possível queimar
sobre a terra, e esta ficaria como se fosse uma peneira, em não muito
tempo.
Se a camada atmosférica da terra não nos protegesse desses
cometas, eles nos queimariam a todos, pois sua velocidade é noventa
vezes maior do que o tiro de espingarda, e sua alta temperatura é suficiente
para aniquilar tudo, juntamente com o homem. Nós, então, estamos sob
a proteção dessa camada densa o suficiente para não permitir que os
raios solares actínicos, a não ser na proporção suficiente para a vida
vegetal, a formação das vitaminas, a eliminação dos micróbios etc…
Esse equilíbrio de quantidades necessárias é fantástico. Pois a
camada atmosférica é formada por seis gases: 78% de nitrogênio, 21%
de oxigênio e outros gases em quantidade muito pequena. Essa camada
exerce uma pressão de 1,033 kgf/cm2. As outras quantidades do oxigênio
existente hoje foram atraídas pela terra e representam 0,8% da água
existente sobre a face da terra. O oxigênio é o único meio de respiração
de todos os animais na terra, sem nenhum outro meio disponível.
Lei da Pressão e do Equilíbrio
Aqui surge uma pergunta importante: Como esses gases se juntam,
apesar do seu movimento ininterrupto, conservando sua
proporcionalidade no espaço indispensável à vida?
A resposta é: Se a proporção do oxigênio fosse 50% ou mais, em
lugar dos 21%, a tendência de combustão aumentaria. Se uma só árvore
pegasse fogo, em alguma floresta, nessas condições toda a floresta se
consumiria em instantes.
47. Seriam absorvidos pela água.
55
Se essa proporção diminuísse, e se tornasse 10%, seria possível,
no decorrer dos séculos, que os animais se adaptassem a essa proporção,
mas seria impossível o progresso da civilização humana, como ocorre
atualmente.48 Se o oxigênio existente sobre a face da terra fosse absorvida
como foi uma grande quantidade de oxigênio absorvido anteriormente,
seria impossível a existência do animal sensitivo.
O oxigênio, o hidrogênio, o dióxido de carbono e os outros gases
se combinam, formando elementos importantes para a vida animal. Para
a base da vida humana, e de acordo com tal base, não existiria uma
chance em dez milhões de que esses elementos, em suas devidas
proporções, e com todas as suas particularidades necessárias para a vida,
se juntassem sobre um planeta particular, por acaso.
Por isso, um famoso cientista diz:
"A ciência não tem explicação para os fatos; e o ela dizer que são
"acidentais", é desafiar a matemática."
Há muitos acontecimentos que não apresentam meios para sua
compreensão ou explicação, a não ser que aceitemos que há uma Mente
Superior que os faz acontecer.
Uma das importantes particularidades que existem quanto à água
é que a densidade do gelo é menor, em relação, à densidade da água. A
água, então, é elemento líquido, cuja densidade diminui após o
congelamento. Esse processo tem um valor extraordinário em relação à
vida. Devido a isso, o gelo bóia na água, e não afunda. Se afundasse,
toda a água se congelaria. O gelo desempenha o papel de protetor da
água que está debaixo dele, conservando-lhe a temperatura acima do
nível de congelamento, conservando a vida dos peixes e animais
marítimos. Quando a primavera chega, o gelo derrete. Se o gelo não
tivesse essa característica, os habitantes das regiões polares enfrentariam
problemas insolúveis, gerados pelo não derretimento do gelo.
No início do século XX as árvores de carvalho foram atingidas
pela praga de endoteca, espalhando-se rapidamente pelas florestas
48. Os orgãos do corpo humano, em tais condições, não poderiam continuar suas
atividades cotidianas, como em situações normais, devido à impossibilidade da
existência de tecidos e células do corpo e do cérebro em tal situação, porque, toda vez
que o oxigênio diminui, as atividades do corpo e da mente diminuem também.
56
americanas, causando tantos estragos que alguém, ao ver aqueles danos,
disse que a floresta nunca mais se encheria novamente!
Nenhum tipo de árvore, até aquela época, havia alcançado a
distinção e o valor atingidos pelo carvalho. Era chamada de "rainha das
árvores da floresta americana", antes da chegada da endoteca, vinda da
Ásia, lá por volta de 1900.
Hoje, porém, não há nem vestígios das árvores de carvalho nas
florestas americanas. Porém, as florestas foram refeitas rapidamente com
outra espécie de árvore chamada de "Tulipa", que ocupava uma pequena
proporção das florestas e não se tinha desenvolvido. Ela aproveitou a
oportunidade e se desenvolveu, ocupando o espaço deixado pelo carvalho.
Hoje, nenhum negociante de madeira se lembra da existência daquelas
árvores. A árvore que substituiu o carvalho engrossa uma polegada a
cada ano e cresce seis polegadas de altura, fornecendo madeira de
excelente qualidade, utilizada em todos os tipos de indústrias de precisão.
Dentre os acontecimentos científicos importantes que sucederam
neste século, está o que aconteceu na Austrália. Plantaram um certo tipo
de cacto nas fazendas para protegê-las. Não havia na Austrália qualquer
espécie de lagarta que atacava e comia essa planta. Então, o cacto
começou a se espalhar de forma assustadora, dominando uma área
equivalente a todas as ilhas britânicas. O cacto invadiu cidades e aldeias,
destruindo as fazendas e as plantações, impossibilitando a agricultura.
Não conseguiram eliminá-lo por nenhum método. Tornou-se um exército
enorme, avançado para conquistar toda a Austrália, sem haver nada que
pudesse fazer frente a ele. Essa situação perdurou até que os cientistas
experts em insetos começaram procurar uma lagarta que comesse cacto.
Descobriram uma que só se alimentava dele e procriava rapidamente, e
não tinha nenhum inseto antagônico na Austrália. Rapidamente, a pequena
lagarta dominou o cacto e acabou com a calamidade australiana.
Será possível que essa lei de checagem e equilíbrio tenha surgido
sem um planejamento inteligente, por mero acaso?
As Leis Matemáticas Exatas
Há no Universo leis matemáticas exatas, de uma forma assombrosa.
Até a matéria inerte, que não possui sentidos, segue determinados
57
sistemas. A água, por exemplo, onde quer que esteja nesta vasta terra,
consiste de um líquido formado de 11,1% de hidrogênio e 88,9% de
oxigênio. Por isso, qualquer cientista que esteja esquentando água em
seu laboratório pode dizer, categoricamente, que o ponto de ebulição da
água é 100 graus Célsius, sem necessitar de um termômetro, desde que
a pressão atmosférica permaneça com 760 mm. Se esta pressão
diminuisse, precisaríamos de menos energia para atingirmos a
temperatura necessária para a ebulição. Dando-se o contrário, com a
pressão acima dos 760 mm, o ponto de ebulição aumentaria na proporção
do aumento da pressão. Esta experiência foi repetida várias vezes para
se certificar do ponto de ebulição até antes de ferver a água e a previsão
do mesmo sem o uso do termômetro. Se esse sistema não fosse constante
na matéria, o homem não teria base para sustentar suas descobertas e
suas experiências científicas. Sem esse sistema o nosso mundo seria
controlado pelas coincidências e pelos acasos. Porém, é impossível aos
naturalistas dizerem: Com um determinado evento, numa determinada
situação, acontece tal coisa.
Classificação dos Elementos Períodicos
A primeira coisa que o estudante observa no laboratório de química
é a classificação dos elementos periódicos. O cientista russo Mendeleiv
criou uma tabela com números atômicos, que foi denominada "tabela
periódica". Na época dele, nem todos os elementos haviam sido
descobertos para preencherem todos os quadros existentes na tabela.
Mendeleiv deixou tais quadros vazios, e os cientistas, posteriormente,
os preencheram, como o cientista russo o tinha previsto muitos anos
antes de sua descoberta. Essa tabela abrange todos os elementos, com
números e pesos diferentes. Os números dos elementos designam o
número dos prótons do núcleo do átomo de cada elemento. O hidrogênio,
elemento mais simples, possui no seu núcleo um só próton; o hélio possue
dois, o lítio, três. Só foi possível caracterizar-se a tabela periódica dos
diferentes elementos devido às suas leis matemáticas fantásticas. Será
que há exemplo mais demonstrativo do que a descoberta do elemento
101, com o descobrimento de seus prótons?
Não é possível que os cientistas chamem esse fabuloso sistema da
natureza de o "Acaso Periódico", porque é a "Lei Periódica". Não
58
podemos negar a atribuição desses a um Deus e Engenheiro… A
descrença da ciência moderna em Deus é a negação da realidade do seu
descobrimento, com resultado absoluto. Em 11 de Agosto de 1999 haverá
um eclipse solar que será visto totalmente em Cornfall, no sul da
Inglaterra. Isso não é profecia, mas os astronomos, estudando o sistema
solar, deduziram que tal evento terá de acontecer.
Quão assombrados ficamos quando olhamos para o céu e vemos
astros e estrelas incontáveis, esses corpos celestes que continuam
pendurados no espaço, há inumeráveis séculos, gravitando na vastidão
do espaço, seguindo um sistema determinado, a ponto de prevermos
todos os acontecimentos futuros, séculos antes de seu aparecimento! É
um aviamento inédito, desde o átomo até a molécula da água, até os
astros nas profundezas do espaço. Um sistema que faz deduzir leis
científicas.
A teoria de Newton explica a gravitação universal e, graças a ela,
foi possível prever-se a descoberta de Netuno e de Plutão. João Godofredo
Galle foi quem observou Netuno pela primeira vez, em 1846,
confirmando as previsões e os cálculos realizados por Urbain Leverrier
e por John C. Adams.
Particularidades Sábias
A coisa mais irregular e mais anormal é crermos que o Universo,
com sua indubitabilidade matemática sejam frutos do acaso!
Dentre as particularidades sábias deste Universo está a de ser
propício para as atividades do homem quando necessário. Tomemos como
exemplo o nitrogênio. O ar contém 78% de nitrogênio, bem como outras
substâncias químicas. Nesse caso é chamado de nitrogênio composto.
Tudo é absorvido pelas plantas para nos proporcionar a parte nitrogênica
no alimento. Se não fosse esse processo, o homem e os animais
pereceriam, bem como tudo o que depende da alimentação vegetariana,
porque nenhum alimento vegetal cresce sem essa solução química.
Há dois métodos únicos para a solução do nitrogênio na terra. O
primeiro é através do processo bactereológico. É elaborado pelas bactérias
que vivem nas raízes das árvores, debaixo da terra. Elas extraem o
nitrogênio do ar, elaborando vários compostos nitrogenados importantes
para a vida das plantas. Esses compostos permanecem com as raízes
59
depois da colheita. O outro processo é efetuado pela tempestade na qual
tenha sido oxidado o nitrato de amônio, pelas descargas elétricas. Esse
composto chega à terra por meio da chuva. A quantidade de nitrogênio
obtida por intermédio desse processo, por ano, é de aproximadamente
dois quilos e meio por acre, equivalente a 150 kg de nitrato de sódio.49
Essa quantidade de composto nitrogenado não é suficiente, porque
nos campos plantados por várias vezes, esgota-se o nitrogênio. Por isso,
vemos os agricultores mudarem de um pedaço de terra para outro, depois
de certo tempo. Um fato estranho que aconteceu neste século, quando as
terras para plantação foram ficando escassas, com a diminuição do
nitrogênio, assustando a humanidade com o espectro da aridez, é que foi
descoberto, nesse período perigoso, o terceiro processo para obtenção
do nitrogênio do ar. Uma das primeiras experiências feitas nesse sentido
foi o ocasionamento de tempestades artificiais, utilizando-se aparelhos
com três milhões de cavalos de potência. Porém, não foi bem sucedida,
a não ser na obtenção de pequena quantidade de composto nitrogenado.
O homem avançou com essas experiências até encontrar o terceiro
processo: a utilização do ar na fabricação do composto nitrogenado na
qualidade de fertilizante. Desta feita, o homem coseguiu preparar, para
o seu alimento, um processo importante, sem o qual morreria de fome.
Isso é um acontecimento fantástico na história da terra, pois o homem
descobriu, pela primeira vez na sua história, uma solução para a crise de
alimento, afastando as sombras para a catástrofe dos habitantes da terra,
quando parecia impossível evitá-la.
Há inúmeros acontecimentos que afirmam a existência da sabedoria
do homem e da essência do Universo. Todo nosso conhecimento nos
certifica que o que foi descoberto é bem menos do que aquilo que não
conseguimos até agora descobrir! Apesar disso, o que foi descoberto
pelo homem é muito. Se quisermos fazer um índice para os títulos desses
conhecimentos, necessitaremos de um livro enorme comparado com este
livro que está em nossas mãos. Mesmo assim, sobraria muito para ser
relacionado.
Tudo o que a língua humana pode pronunciar sobre os prodígios
de Deus é imcompleto, pois, por mais que pesquisemos, chegamos à
49. "The Mayesterious Universe" (O Misterioso Universo), págs. 3 e 4.
60
conclusão de que não conseguimos abrangê-los, e só citamos alguns
deles.
Na verdade, se o homem conseguisse descobrir todos os segredos
do Universo, todos os habitantes da terra, com todos os meios necessários,
jamais conseguiriam relacioná-los. Isso não é, acaso, atestado pelas
palavras de Deus:
"Ainda que todas as árvores da terra se convertessem em
cálamos e o oceano (em tinta), e lhes fossem somados mais sete
oceanos, isso não exauriria as palavras de Deus." (Alcorão, 31:27). E
"Dize-lhes: Se o oceano se transformasse em tinta com que se
escrevessem as palavras de meu Senhor, esgotar-se-ia antes de se
esgotarem as Suas palavras, ainda que para isso se empregasse outro
tanto de tinta." (Alcorão, 18:109).
Todo aquele que tiver a oportunidade de examinar as páginas do
Universo, reconhecerá de que não há exagero nessas palavras de Deus,
mas são a expressão simples sobre as verdades que realmente existem.
É o Acaso, ou são Processos Sábios?
Os opositores da religião aceitam tudo o que expusemos nas páginas
anteriores quanto aos sistemas fantásticos, quanto à sabedoria fora do
comum, quanto a essência do Universo, mas explicam-no de outra forma.
São incapazes de visualizar nisso um símbolo ou um sinal para um
Organizador e Preparador… Acreditam que tudo isso seja produto do
puro acaso.
Huxley diz: "Se seis macacos sentassem à frente de máquinas de
escrever e permanecessem batendo em suas teclas por milhões de anos,
não estranharíamos se encontrássemos em alguns dos últimos papéis
escritos por eles um dos poemas de Shakespeare! É o caso do Universo
atual, resultado de processos cegos, que giravam na matéria por bilhões
de anos."50
Quaisquer expressões nesse sentido constituiriam insensatez em
todo o sentido da palavra. Todo o nosso conhecimento ignora, até hoje,
que o acaso produziu uma fantástica realidade com efeito fantástico na
vastidão do Universo. Conhecemos alguns acasos e a sua resultante.
50. "The Mayesterious Universe" (O Universo Misterioso), págs. 3-4.
61
Quando há ventos, eles carregam os pólens de uma roseira vermelha
para um branca, resultando uma roseira amarela. Esse evento não explica
o nosso acaso, a não ser parcial e excepcionalmente, pois a existência
em série da roseira, e a sua ligação assombrosa com o sistema universal,
não podem ser explicadas com o acaso do sopro do vento. Pode
proporcionar a roseira amarela, mas não a própria roseira. A verdade
parcial e excepcional que existe na convencional lei do acaso será nula
se desejarmos explicar o Universo por intermédio dela.
O professor Edwin Conclain diz: "A afirmação de que a vida surgiu
como resultado de um acontecimento convencional é parecida com a
imaginação de conseguirmos uma enciclopédia que resultou de uma
explosão ocasional numa gráfica."51
Já foi dito que a explicação do Universo por intermédio da lei do
acaso não é insensatez; é, como crê Sir James, a aplicação das leis das
probabilidades puramente matemáticas."52
Um cientista americano diz:
"A teoria do acaso não é suposição, mas é teoria matemática
elevada. É aplicada em questões onde, na sua pesquisa, há poucos
conhecimentos exatos. Ela abrange leis específicas para discernir entre
o verdadeiro e o falso, na precisão da possibilidade de algum determinado
acontecimento, chegando-se a um resultado: o conhecimento da
possibilidade de ocorrência de um evento através do acaso."53
Se suposermos que a matéria surgiu por si no Universo, e
suposermos também que a sua agregação e reação foram automáticas
(mesmo não encontrando base de sutentação para tais suposições),
também nesse caso não conseguiremos explicar o Universo, porque outro
acaso se nos enterpõe. Para azar nosso, a matemática que nos fornece a
teoria do acaso, ela própria anula qualquer possibilidade matemática da
existência do Universo atual por intermédio da lei do acaso.
A ciência conseguiu descobrir a idade do Universo e o seu volume.
A idade e o volume descobertos pela ciência moderna são insuficientes,
de qualquer forma, para permitir a existência desses Universo através da
lei das probabilidades.
51. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), pág. 174.
52. "The Mayesterious Universe" (O Universo Misterioso), págs. 3.
53. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), pág. 23.
62
Podemos compreender alguma coisa da lei do acaso no seguinte
exemplo:
"Se pegarmos dez moedas e as enumerarmos de 1 a 10, e as
colocarmos no bolso e as misturarmos, e tentarmos tirá-las em ordem
novamente, de 1 a 10, colocando a moeda novamente no bolso após tirála de novo, a probabilidade de se tirar a moeda com o número dois é de
uma em dez; a probabilidade de se tirar as duas moedas, na ordem 1 e 2,
é uma em cem; a probabilidade de se tirar as moedas na ordem 1,2,3,4,
é uma em dez mil; a probabilidade de se tirar as moedas na ordem
primitiva, é uma em dez bilhões de tentativas, ou seja 10-10.
Esse exemplo foi citado pelo famoso cientista americano, Krissi
Moris. Ele segue, dizendo:
"O objetivo da apresentação de uma questão simples como esta é
o de mostrarmos como as realidades se complicam em proporções muito
grandes perante as probabilidades."54
Ora, meditemos na questão do Universo! Se ele é fruto do acaso e
da coincidência, quanto tempo levou para a sua formação, de acordo
com a lei das probabilidades matemáticas?
Os corpos são formados por células. A célula é um composto muito
pequeno e extremamente complexo. Ela é estudada sob uma denominação
entitulada citologia. Dentre as partes que formam a célula há a proteína.
É um composto químico formado de cinco elementos: carbono,
hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e fósforo. Cada parte da proteína contém
quarenta mil átomos desses elementos!
Há na natureza mais de cem elementos químicos espalhados por
toda parte. Qual é a proporção necessária e propícia na composição desses
elementos para a lei do acaso? Será que há probabilidade de combinação
de cinco elementos, dentre esse grande número, para a formação da
proteína, por acaso e por coincidência absoluta? Podemos deduzir, da
lei das probabilidades matemáticas, a quantidade de matéria necessária
para ocasionar o movimento constante necessário, como também
podemos imaginar o tempo que levaria o processo.
54. "Man Does not Stand Alone" (O Homem não Está Sozinho), pág. 17.
63
Um famoso matemático suiço, Charles Bougin Joy tentou calcular
o tempo através da matemática. Ele concluiu, com suas pesquisas, que a
probabilidade de acontecer puramente a coincidência que criaria o
Universo, se houver matéria, é de 10-160 ou seja, um sobre 10x10, cento
e sessenta vezes. Em outros termos é 1 sobre 1 seguido de 160 zeros. É
um número impossível de ser lido.
A possibilidade da ocorrência da proteína, por acaso, exige matéria
um bilhão de vezes maior do que a matéria existente em todo o Universo,
para poder movimentá-la e impulsioná-la. Quanto ao tempo necessário
para que surja uma ocorrência bem sucedida para esse processo, será
mais de que 10243 anos, ou seja, 1 seguido de 243 zeros.
Uma parte da proteína é formada por "cadeias" compridas de
aminoácidos. A parte mais importante no processo é a composição dessas
cadeias. Se as misturarmos de uma forma errada, passarão a ser um
veneno letal, em lugar de ser vital.
O professor G.B. Leathes calculou que a probabilidade da
composição dessas cadeias é efetuada de 1048 maneiras. Ele diz: "É
totalmente impossível que tais cadeias se juntem puramente por acaso,
de uma forma específica, para que haja a parte da proteína que abranja
mil partes dos cinco elementos acima citados.
É preciso esclarecer o leitor que falarmos em possibilidade, na lei
das probabilidades matemáticas, não quer dizer que tenha de ocorrer o
evento que estamos esperando, depois da ocorrência das tentativas
citadas, naquele longíssimo tempo. Significa que sua ocorrência durante
esse período é provável, não necessária. É possível, por outro lado, que
nunca ocorra, mesmo que se seja tentado até à eternidade.
Esta parte da proteína, de composição química, só passa a ter vida
quando passa a fazer parte da célula. Aí começa a vida. Tal fato gera a
pergunta mais importante em nossa pesquisa: Qual é a procedência do
calor quando a proteína penetra na célula? Essa pergunta não tem resposta
nos livros dos opositores ateus.
É claro que a explicação dada por eles, protegidos que estão pela
lei das probabilidades matemáticas, não se adapta à própria célula, mas
a uma pequena parte dela, a proteína. É um átomo que não pode ser visto
nem com os mais potentes microscópios, enquanto vivemos, no corpo
de cada um de nós há mais de centenas de bilhões dessas células.
64
O cientista francês Conte de Nouy preparou uma tese a respeito
do assunto. Seu resumo é o seguinte: A estimativa do tempo, da
quantidade de matéria, do espaço infinito necessário para a ocorrência
dessa probabilidade, é muito maior do que a matéria e o espaço existentes
agora, e o tempo é muito maior do que aquele que o desenvolvimento da
vida levou sobre a face da terra. Ele vê que o volume dessas estimativas,
necessárias para o nosso processo, não podem ser nem imaginados ou
planejados nos limites da razão que o homem possui hoje. Para que
aconteça um evento, por acaso, do tipo que precisamos para a elaboração
de um Universo com luz, caminhando em sua órbita de 1082 anos luz, ou
seja, 1 seguido de 82 zeros de anos de luz; este volume seria bem maior
do que o volume da luz realmente existente em nosso Universo atual. A
luz da galáxia mais distante no Universo nos chega em alguns milhões
de anos luz. De acordo com isso, a teoria de Einstein sobre a expansão
do Universo não é suficiente para esse suposto processo.
Quanto a esse processo, nós teríamos de movimentar a matéria
suposta no Universo suposto com a velocidade de quinhentos trilhões
de movimentos por segundo, no tempo de 10243 bilhões de anos, ou seja,
1 bilhão seguido de 243 zeros, para que pudesse acontecer a probabilidade
da ocorrência da proteína que dá a vida.
De Nouy diz a esse respeito:
"Não devemos esquecer que a terra existe há dois bilhões de anos
e que a vida, em todas as hipóteses, existe há apenas um bilhão de anos,
quando a terra esfriou."55
Os cientistas tentaram descobrir a idade do Universo.
O resultado da pesquisa demonstrou que nosso Universo tem 5x1011
de anos. É um período muito curto, insuficiente para que haja a
probabilidade do aparecimento da proteína, de acordo com a lei das
probabilidades matemáticas.
No que se relaciona com a terra, onde a vida apareceu, sabemos
exatamente a sua idade. Na opinião dos cientistas ela é uma parte do sol
que dele se desprendeu como resultado de um choque entre o sol e um
planeta gigante. Desde então, essa parte começou a girar no espaço, como
uma chama de fogo. Não era possível, então, surgir a vida sobre ele,
55. "Human Destiny" (O Destino do Homem), págs. 30, 36.
65
devido à sua alta temperatura. Depois de transcorrer um tempo muito
longo, a terra começou a se esfriar, solidificar-se e a se agregar, até surgir
a perspectiva do início da vida sobre sua superfície.
Conseguimos descobrir a idade do Universo de várias maneiras. A
melhor maneira que conhecemos para esse estudo é por meio de
elementos radioativos. Os átomos se desprendem constantemente desses
elementos, em determinada proporção, e essa desintegração diminue o
número dos átomos. Esta proporção é constante, sob quaisquer
circunstâncias de alta e baixa temperatura e de pressão. Por isso,
acertaremos se considerarmos a velocidade de transformação do urânio
em chumbo, que é específica e constante.
O urânio é encontrado em muitas elevações e montanhas. É
indubitável que esse urânio faça parte da montanha, desde que se
solidificou na sua última forma, quando da solidificação da terra. Ao
lado do urânio encontramos chumbo. Não podemos afirmar que todo o
chumbo foi formado pela desintegração do urânio. Isso é resultante do
fato de que o chumbo, desta forma formado, é mais leve do que o chumbo
normal. De acordo com esta base, podemos afirmar se qualquer pedaço
de chumbo é resultante do urânio ou não. Com efeito, podemos calcular
o tempo que levou o processo de desintegração do urânio com precisão.
Ele se encontrava na montanha desde o primeiro dia da solidificação.
Com isso conseguimos descobrir o tempo da solidificação da própria
montanha.
As experiências atestaram que passaram um bilhão e quatrocentos
milhões de anos desde a solidificação das montanhas consideradas, na
prática, as mais velhas da terra. Alguns de nós pensam que a idade da
terra é o dobro ou o triplo da idade das montanhas. As experiências
práticas, porém, negam com veemência essa opinião anormal. O Professor J. W. N. Sullivan diz que a idade média da terra é de 2 bilhões de
anos.56
Reflitamos agora, depois que concluirmos que a matéria inanimada
necessita de bilhões de bilhões de anos para que haja a probabilidade do
aparecimento da proteína, casualmetne; como é que, nesse curto espaço
de tempo, apareceram milhões de espécies animais e mais de duzentos
56. J. W. N. Sullivan. "Limitations of Science" (As Limitações da Ciência,), pág. 78.
66
milhões de espécies de plantas? Como essa enorme quantia se espalhou
sobre a face da terra? Como surgiu dentre dessas espécies de animais
aquele ser superior que denominamos "homem"? Não entendo como
ousamos ter tais crenças, quando sabemos muito bem que a Teoria da
Evolução se baseia em "mudanças puramente por acaso".
Quanto a essas mudanças, pelo cálculo do matemátio Patau, cada
nova mudança, em qualquer espécie, leva dois milhões de gerações para
se efetuar.57
No que diz respeito ao cão, que alegam ser o avô do cavalo, quanto
de tempo foi necessário, de acordo com os cálculos do matemático Patau,
para o cão se tornar cavalo?
Quanto de verdade há no que o cientista americano Marlyn B.
Kraider diz:
"A probabilidade matemática para preencher as condições
necessárias para a criação, através do acaso, é, na realidade, muito
próxima de zero."58
Temo-nos prolongado no assunto para que apareça a amplitude da
nulidade da teoria da criação por acaso. Na verdade, não tenho dúvidas
de que é puramente impossível o aparecimento da proteína e do átomo
por acaso, da mesma forma que é impossível que a nossa mente, que
perscruta os segredos do Universo, seja fruto do acaso, por mais
exagerados que sejamos quanto à suposição do longo período que o
processo da matéria do Universo levou para se formar. A teoria da criação
não é provável apenas à luz da lei das probabilidades matemáticas, mas
ao mesmo tempo não goza de qualquer peso lógico.
Qualquer afirmação nesse sentido é absurda e cheia de insipidez…
Da mesma forma é classificada a pessoa que supõe que a queda de um
copo d'água ou duma xícara de café irá desenhar o mapa mundi! Não há
inconveniente em perguntarmos para tal pessoa: De onde veio essa
camada de terra, a gravidade, a água, o copo, para que haja a fantástica
coincidência?
O biólogo Hackel foi infeliz quando declarou:
"Dêem-me ar, água, os elementos químicos, e tempo, e eu criarei
o homem". Hackel, porém, esqueceu (ou ignorou), em sua declaração,
57. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), pág. 117
58. Idem, pág. 67.
67
que, ao dizer que necessitava da matéria e das condições materiais, anulou
a sua declaração em si.
O Professor Kraissi Morisson diz a este respeito:59
"Hackel ignora, em sua declaração, os gens hereditários, a questão
da própria vida. A primeira coisa de que irá precisar para a criação do
homem são os átomos que precisam ser observados, então criará os gens
ou os cromossomos, para depois do arranjo desses átomos, vesti-los com
o manto de vida.
Porém, a possibilidade da criação, nessa tentativa, depois de tudo,
é uma chance em bilhões. Se supomos que Hackel teve êxito em sua
tentativa, ele não pode chamá-la de acaso, mas será o resultado da sua
inteligência."60 Se fosse possível ao Universo criar-se por si só, isso
significaria que ele desfruta dos atributos do Criador, e, nesse caso,
seríamos obrigados a crer que o Universo é Deus… Portanto, concluímos
que devemos aceitar a existência de Deus. Esse Deus será estranho: será
oculto e manifesto ao mesmo tempo! Deveríamos preferir crer naquele
Deus que criou o mundo material, não sendo uma parte deste Universo,
mas o seu Governante e Arranjador, ao invés de adotarmos esse tipo de
fábula."61
59. Ex-Presidente da Academia Americana de Ciências.
60. "Man Does not Stand Alone" (O Homem não Está Sozinho), pág. 87.
61. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), pág. 71.
68
QUINTO CAPÍTULO
A EVIDÊNCIA DA OUTRA VIDA
Dentre as mais importantes verdades com que a religião nos
convoca a nela crermos é a idéia da outra vida. Seu objetivo é que há um
outro mundo, diferente do nosso mundo atual; que viveremos nesse
mundo eternamente; que este nosso mundo é um local de seleção e de
teste, aonde o homem é colocado até a um término prefixado; que Deus
acabará com este mundo quando chegar o seu término, para a construção
de um outro mundo, de uma forma nova; que as pessoas serão
ressuscitadas e suas obras serão expostas, boas e más, perante o tribunal
de Deus, quando cada pessoa será recompensada pelos atos praticados
durante a vida terrena.
Acaso essa teoria é verdadeira ou não? Há possibilidade da
existência dessa outra vida? Apresentaremos alguns aspectos da questão.
PRIMEIRO - A Possibilidade da Outra Vida
O primeiro lado dessa apresentação será a tese sobre a
"possibilidade da existência da outra vida". Há, acaso, acontecimentos e
sinais que atestam essa alegação?
A idéia da outra vida requer, em primeiro lugar, que o homem e o
Universo, em sua forma atual, não sejam eternos. Nas páginas anteriores
vimos, que, indubitavelmente, a eternidade do Universo e do homem é
impossível, e tivemos certeza absoluta que o homem morre, que o
Universo terá fim, de acordo com a lei da entropia. Não sei se haverá um
meio de sobrevivência nesse final terrível.
A Questão da Morte
Aqueles que não crêem na outra vida tentam, naturalmente, fazer
deste Universo um mundo eterno para a sua felicidade. Por isso, procuram
encontrar as causa da morte para que possam evitar tais causas e se
69
tornarem eternos. Porém, fracassam, redondamente, e toda vez que se
envolvem na questão fracassam, com uma nova afirmativa sobre a certeza
da morte.
Por que a morte? Há aproximadamente duzentas respostas para
essa importante pergunta, muito formulada nos congressos científicos;
dentre elas há: a perda das eficiências do corpo; encerramento do processo
das partes estruturais; o enregecimento dos tecidos nervosos; a
substituição do material albuminoso, de muito movimento, pelo pouco
movimento; o enfraquecimento dos tecidos nervosos, a proliferação das
bactérias no corpo, e muitas outras respostas que ocorrem em torno do
fenômeno da morte.
A afirmação de que o corpo perde sua eficiência atrai a mente…
os elementos de ferro, os calçados, os tecidos, tudo perde, sua eficiência
depois de um determinado tempo. Nossos corpos também se deterioram
e perdem a sua eficiência à exemplo das peles que usamos no inverno. A
ciência moderna, porém, não nos apoia, porque a observação científica
do corpo humano atesta que ele não se parece com as peles dos animais,
com os elementos de ferro, nem se parece com as montanhas… A coisa
que mais se parece com ele é um rio que corre há milhares de anos sobre
a face da terra. Quem consegue afirmar que o rio corrente deteriora,
enfraquece e envelhece? De acordo com essa base, o Dr. Lins Balange62
afirma que o homem é eterno até certo ponto, teoricamente, pois as células
de seu corpo são agentes que atuam no tratamento e na cura das doenças,
expontaneamente. Apesar disso, o homem envelhece e morre. As causas
desse fenômeno são mistérios que confundem os cientistas.
O nosso corpo está em renovação constante, a matéria albuminosa
que existe nas células do sangue deteriora e se renova da mesma forma.
Todas as células do corpo morrem e são substituídas por novas células,
menos as células nervosas. As pesquisas científicas afirmam que o sangue
humano é renovado no todo, a cada quatro anos aproximadamente, como
se renovam todos os átomos do corpo humano em alguns anos. Isso nos
esclarece que o corpo humano não é como o esqueleto, mas como o rio
corrente, ou seja, é uma "atividade constante". Nessas circunstâncias
todas as teorias que afirmam que a causa da morte está no corpo e na
62. Ganhador do Prêmio Nobel de Ciência.
70
perda de suas forças, é nula. Todas as coisas do corpo que se deterioraram
ou se intoxicaram na infância e na juventude sairam do corpo há muito
tempo. Não tem sentido transformá-las na causa da morte. Esta encontrase em outro lugar, e não nos intestinos, nos tecidos do corpo ou no coração.
Alguns cientistas alegam que os tecidos nervosos são a causa da
morte, porque permanecem no corpo até o final da vida, sem se
renovarem. Se a afirmação, de que o sistema nervoso é o ponto fraco do
corpo humano fosse verdadeira, poderíamos deduzir que qualquer corpo
sem o sistema nervoso deve viver por mais tempo do que os corpos com
tal sistema. A observação científica, porém, não nos apoia. Esse sistema
não existe, por exemplo, nas árvores. Algumas vivem longo período. A
planta do trigo, por exemplo, que não possui o sistema nervoso, vive
apenas um ano. A constituição da ameba, também, não possue sistema
nervoso, e, apesar disso, só vive meia hora. A conclusão dessa explicação
é que os animais considerados superiores, que possuem um sistema mais
completo, devem viver um tempo mais longo do que os animais inferiores.
A realidade, porém, também não nos apoia. A tartaruga e o crocodilo, e
o peixe espada vivem mais tempo do que qualquer outro animal, e todos
são animais inferiores, com sistemas fracos.
Todas as pesquisas que tentaram transformar a morte em uma
questão incerta, que pode ser evitada, fracassaram. Só sobraram as
probabilidades deixadas pelos tempos, ou seja, que o homem pode morrer
com qualquer idade, a qualquer tempo, e não conseguimos captar
qualquer possibilidade de derrotar a morte, apesar de todos os nossos
esforços.
O Dr. Alexis Carrel discutiu essa questão num artigo longo
chamado:" O Tempo Interior", onde cita os esforços fracassados
empreendidos nesse campo. Ele diz:
"O homem jamais se cansará de aspirar a imortalidade. Não a
conseguirá, porque lha impedem as leis da sua constituição orgânica. É
fora de dúvida que conseguirá retardar, e, por ventura, até inverter, durante
alguns anos, a marcha inexorável do tempo fisiológico. Mas jamais
vencerá a morte."63
63. "O Homem, Esse Desconhecido", pág. 210.
71
2 – Fenômenos e Exemplos Naturais
À luz dessa realidade, a questão do fim do mundo não é mais
incompreensível. Temos conhecimento de umas poucas ressureições que
ocorrem sobre a face da terra. Ela acontecerá novamente em proporção
mais ampla, abrangendo toda a terra.
O primeiro fenômeno que nos admoesta da possibilidade da
ressurreição são os tremores de terra. O interior da terra possue elementos
de altas temperaturas observadas quando das erupções vulcânicas. Esses
elementos têm uma influência muito grande sobre a terra. Alguns causam
estrondos terríveis. Os tremores de terra, que sentimos e chamamos de
terremotos, continuam, até hoje, sendo uma palavra terrível na vida do
homem, apesar do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, em
comparação ao que era na vida do homem antigo. Esses terremotos são
uma expedição natural contra o homem, que não possui meios de os
controlar. A escolha está totalmente nas mãos da primeira parte. O homem
nada possui para enfrentar os terremotos. São admoestações que o
lembram sempre que ele vive sobre uma substância vermelha, em brasa,
apenas separando-o dela uma casca montanhosa e fina, cuja espessura
não ultrapassa os cinquenta quilômetros. Essa casca não é, em relação
ao globo terrestre, mais que uma casca de maçã.
O geógrafo, George Jamov, diz: "Há um inferno natural aceso sob
os nossos mares azuis, sob as nossas cidades civilizadas e repletas de
habitantes. Em outras palavras, estamos sobre uma grande mina de
dinamite que pode explodir a qualquer momento e destruir todo o sistema
terreno."64
Esses terremotos atingem todas as partes da terra. Os jornais dão
notícias a respeito deles todas as manhãs. A sua maior concentração ocorre
nas regiões vulcânicas, por razões geográficas. O terremoto mais antigo
que a história registra é o da região de Shangai, China, ocorrido em
1556, matando oito milhões de pessoas aproximadamente. Outro
terremoto ocorreu na cidade de Lisboa, capital de Portugal, em 1775,
destruindo toda a cidade e matando trinta mil pessoas em seis minutos.
Diz-se que esse terremoto atingiu um quarto da Europa. Um terremoto
do mesmo tipo ocorreu no estado de Assam, na Índia, em 1897,
64. "Biography of the Earth" (Biografia da Terra), pág. 62.
72
considerado um dos cinco maiores terremotos da história. Ele causou
grande devastação numa grande região do norte da Índia, mudando a
trajetória do gigantesco rio Bramaputra, perturbando as montanhas do
Everest, elevando-as em quase trinta metros.
Esses terremotos são ressurreições em pequena escala; quando a
terra explodir, com um apavorante estrondo, quando as paredes e os
tetos dos prédios ruírem, como se fossem de papel; quando houver uma
reviravolta na terra; quando as demolições ocuparem o lugar das
construções das grandes cidades, em alguns segundos, quando os corpos
das pessoas se acumularem nas praças e ruas das cidades, como se
acumulam os peixes nas costas marítimas, será o terremoto da
ressurreição.
Nesse instante o homem sentirá a sua impotência perante as forças
da natureza. O terremoto não bate às portas das cidades; vem de repente,
sem pedir licença ou dar aviso. A desgraça maior é que não se consegue
antecipar a localização do terremoto nem a hora de sua ocorrência. Ele
próprio é a admoestação de uma ressurreição geral, que ocorrerá
repentinamente. Esse terremoto é o exemplo vivo de que o Criador da
terra pode destruí-la, quando quizer.
O mesmo ocorre com o espaço exterior. O Universo é um espaço
ilimitado; percorrem-no incontáveis fogos terríveis, que são os planetas
e as estrelas. Seu exemplo é como o de milhões de piões girando sobre
uma determinada superfície, com a máxima velocidade imaginável. Essa
órbita pode transformar-se, qualquer dia, num grande choque, impossível
de se imaginar. Nesse terrível instante, o que acontecer com o Universo
será milhares de bombardeios cheios de bombas atômicas, seguindo seu
caminho no espaço, e se chocando de uma vez. O choque das galáxias
não é totalmente impossível. O estranho, na verdade, é a não ocorrência
desse choque. O estudo astronômico atesta a possibilidade do choque
entre os corpos celestes. A teoria do surgimento do sistema solar é a de
um choque entre os corpos celestes no passado. Se conseguirmos imaginar
esse choque, de forma mais ampla, conseguiremos entender perfeitamente
a possibilidade que citamos. Essa ocorrência é o que chamamos de
ressurreição.
A idéia da outra vida, que determina que o sistema do Universo
que existe atualmente, será destruído um dia, não significa mais que a
73
realidade do Universo, que observamos de uma forma inicial reduzida,
e que um dia será uma grande forma final. A ressurreição é uma verdade
que conhecemos profundamente. Hoje a conhecemos na medida do
possível; amanhã vê-la-emos realmente.
3 – A Vida Após a Morte
A segunda questão desta pesquisa é a questão da vida após a morte.
"Haverá vida após a morte?" Essa pergunta é repetida sempre na
mente moderna. Ela responde: "Não, não há, porque a vida que conheço
só existe em determinadas situações, composta de elementos materiais.
Essa composição química não existe após a morte. Portanto, não há vida
após a morte."
T.R. Miles crê que "a ressurreição após a morte é uma verdade
teatral e não literal". Ele acrescenta: "É uma questão forte em mim se o
homem continua vivo após a morte. É possível que essa questão seja
literalmente verdadeira. É possível descobrirmos sua veracidade ou
falacidade, por intermédio da experiência. A questão principal, porém,
em nosso caminho, é que não temos meios de descobrir a resposta final
para essa pergunta, a não ser após à morte. Por isso, podemos fazer
comparação."
Mas como por comparação ele não corrobora a questão, então
ela não é uma verdade literal. Sua comparação é a seguinte:
"De acordo com a neurologia, é impossível conhecermos e
contactarmos o mundo exterior, a não ser quando a mente humana opera
em sua situação normal, ou após à morte. Essa realização é impossível
devido à dispersão da composição do sistema mental.65
Há, todavia, outras comparações mais fortes que essas. Elas
afirmam que a dispersão dos átomos existentes no corpo humano não
elimina a vida. Esta é uma outra coisa, autoindependente, que continua
após a transformação e o desaparecimento dos átomos da matéria.
É sabido que o corpo humano é formado de partículas chamadas
células. São pequenos átomos complexos. Seu número no corpo humano
normal é mais do que 26x1016 de células. Parece que essas células são
65. "Religion and Scientific Outlook" (O Ponto de Vista da Religião e da Ciência),
pág. 206.
74
como tijolos pequenos com os quais é construída a estrutura do nosso
corpo. A diferença, porém, entre os tijolos do nosso corpo e os tijolos de
argila é muito grande. Estes, que são usados nas construções, permanecem
imutáveis como os tijolos feitos na olaria e utilizados pela primeira vez.
Enquanto os tijolos da nossa estrutura mudam a cada minuto, ou a cada
segundo, as células do nosso corpo diminuem rapidamente, à exemplo
das maquinas que desgastam com o atrito e o uso. Essa diminuição,
porém, é compensada pelos alimentos. Eles preparam para o corpo os
moldes dos tijolos necessários, após a diminuição e o consumo das
células.66 O corpo humano muda constantemente. É como um rio corrente
que está sempre cheio de água, não sendo possível encontrarmos a mesma
água que corria instantes atrás. A água do rio muda constantemente e,
apesar disso, continua o mesmo rio de longo tempo.
O nosso corpo é semelhante ao rio, sujeito a um processo constante,
chegando o tempo que não permanecerá nele qualquer célula antiga,
porque as células novas as substituem. Esse processo se repete
rapidamente na infância e na juventude, e continua com certa
vagarosidade na velhice. Se calcularmos a proporção de renovação nesse
processo, concluiremos que ela acontece uma vez a cada dez anos. O
processo de esvaecimento do corpo material aparente é constante. O
homem, porém, internamente não muda; permanece como era: suas
atividades, seus costumes, suas precauções, suas esperanças, seus
pensamentos, tudo permanece como era. Em todas as fases da vida ele
sente que é o "homem anterior"; que existia há dezenas de anos; porém,
não sente que algo de seus órgãos mudou, desde as unhas de seus pés até
os cabelos.
Se o homem morresse com a morte do corpo, seria necessário que
sentisse, pelo menos, a morte das células e a sua total transformação.
Porém, já sabemos muito bem que isso não acontece. Tal realidade atesta
que o homem ou a vida humana é outra coisa além do corpo, e ela
permanece, apesar da mudança do corpo e de sua morte. Ele é como um
rio constante, onde as células mudam constantemente! Isso fez com que
um cientista classificasse o homem como algo independente, inalterável,
66. A comparação da célula com o tijolo é superficial. Na verdade, desempenha uma
função muito complexa. Forma um corpo completo e é estudada em citologia.
75
apesar das mudanças seqüenciais. Ele crê: "A personalidade é a
imutabilidade em mudança."
Se a morte fosse o fim para o homem, seria possível dizermos,
depois de cada uma das etapas da mudança química que ocorre no corpo,
que o homem morreu, e que vive, após a sua morte! Isso significa que o
homem de cinqüenta anos, que vemos caminhando na rua, já morreu
cinco vezes nesta curta vida. Se esse homem não morre, depois da morte
de parte material de seu corpo, por cinco vezes, como posso crer que ele
morreu realmente na sexta vez? e que não tem mais possibilidade de
viver?
Algumas pessoas não admitem essa dedução. Dizem: "A mente,
ou a existência interior, que chamamos 'homem' só existe como resultado
da relação do corpo com o mundo exterior; e as idéias e as esperanças
não existem durante a operação material, a não ser como a temperatura
resultante do atrito entre duas peças de ferro.
A filosofia moderna rejeita a alma com veemência. Sir James crê
que os sentimentos não existem como entidade, mas são funções e
processamentos. Muitos filósofos modernos insistem em que os
sentimentos em si não são mais que as reações nervosas do que acontece,
de movimento e atividade, no mundo exterior. De acordo com essa teoria,
não há possibilidade de vida após a morte, devido à desintegração do
sistema físico, e porque o centro nervoso do corpo não tem mais
existência. Ele é que reagia e lidava com o mundo exterior. Os filósofos
crêem, de acordo com isso, que a teoria da vida após a morte tornou-se
sem fundamento, metafísico ou efetivo.
Digo: se essa é a realidade do homem, tentemos criar um homem
vivo e com sentimentos, uma vez que hoje conhecemos perfeitamente
todos os elementos que compõem o corpo humano. Esses elementos
existem na terra e no espaço exterior, e podemos consegui-los.
Conhecemos também a precisão da estrutura do sistema físico e
conhecemos seu esqueleto e seus tecidos. Temos à nossa disposição
escultores famosos que podem esculpir corpos iguais aos corpos
humanos, com todas as suas características. Experimentemos, apesar de
os que se opõem à alma persistirem em afirmar a veracidade de seus
princípios, e façamos centenas desses corpos, e coloquemo-los em várias
76
regiões da terra, e esperemos o tempo em que esses corpos comecem a
andar, a falar, a comer, "devido à influência do mundo exterior".
SEGUNDO – A Necessidade da Outra Vida
Vamos pensar agora nas causas em que a religião se baseou para
crer nessa teoria: A vida, como imaginamos, não é "manhã e tarde",
como a vê o filósofo alemão Nitzche, nem se enche e se esvazia com o
tempo, nem possui um objetivo além desse. A outra vida tem um
grandioso objetivo; será a recompensa ou o castigo pelos atos efetuados
na terra, bons ou maus. Essa parte da teoria da outra vida torna-se
transparente quando sabemos que os atos de cada pessoa são registrados
e conservados constantemente e sem interrupção. O homem possue três
dimensões através dos quais ele é conhecido; são: sua intenção, sua fala,
seus atos. Esses três dimensões são registrados na íntegra. Cada letra
proferida por nós – e cada ato praticado por qualquer um dos nossos
orgãos – é registrado no espaço e pode ser exposto a qualquer tempo,
com todos os pormenores, para sabermos tudo o que ele disse ou praticou
nesta vida terrena, quer seja de bem ou de mal.
Os pensamentos vêm à nossa mente, e quão rápido os esquecemos!
Parece que terminaram, não mais existem. Mas, após um longo tempo,
sonhamos com eles, ou falamos sobre eles em hora de histeria ou de
alucinação, sem nada sabermos a respeito do que falamos. Esses eventos
são apenas o que a mente ou a memória sente, mas há outros pontos
dessa memória que não sentimos, cuja existência é independente e cuja
entidade é autônoma.
As experiências expecíficas atestam que todos os nossos
pensamentos são guardados integralmente, e não podemos apagá-los.
Atestam também que a personalidade não está restrita ao que chamamos
de inconsciente, mas há outras partes que estão por trás do inconsciente,
e representam um grande aspecto da nossa personalidade, quiça o maior.
Ele se parece com o iceberg, cujos oito nonos estão ocultos pela água e
só aparece um nono dele. É o que chamamos de inconsciente que registra
e conserva tudo que pensamos e intencionamos fazer.
Freud, em sua trigésima primeira conferência, diz:
"As leis da lógica, bem como os princípios da contradição, não
cessam sem a atividade do inconsciente, ou seja, do Id, ou desejos
77
conflitantes que existem nele lado a lado, sem que uma parte ilumine a
outra. Nada há no inconsciente que pareça recusar algo desses desejos
conflitantes. Ficamos confusos ao observarmos que o inconsciente anula
a opinião dos nossos filósofos que dizem que todas as nossas atividades
mentais conscientes, que se coadunam com o pensamento temporal, não
têm em si qualquer sinal da passagem do tempo com sua marcha. É uma
verdade confusa. Os filósofos não fizeram por observar a verdade de
que a passagem do tempo não modifica nada na atividade intelectual, ou
nos impulsos conativos que não saem do inconsciente, mesmo as
observações imaginárias que foram guardadas por dezenas de anos, como
se isso tivesse acontecido ontem.67
Os psicólogos, aceitam, de um modo geral, hoje essa teoria.
Significa dizer que tudo que o homem lembra de bem ou de mal, é gravado
no incosciente, e aí permanece para sempre, sem sofrer influência da
mudança do tempo e dos acontecimentos; isso acontece a despeito da
vontade humana, quer queira, quer não.
Freud não conseguiu captar o que há por trás dessa atividade de
causas, e que papel ela desempenha no engenho do Universo. Por isso,
vemo-lo convocando os filósofos a pensarem e a observarem. Porém, se
compararmos essa realidade com a teoria da outra vida, conseguiremos
chegar à sua realidade rapidamente, ou seja, de que essa realidade
confirma especificamente a possibilidade da existência de um registro
completo das atividades do homem durante sua vida, indicando quando
começará sua outra vida. A sua própria existência testemunhará os atos
cometidos por ele e as suas intenções vividas.
"Criamos o homem e sabemos o que a sua alma lhe confidencia,
porque estamos mais perto dele do que a (sua) artéria jugular."
(Alcorão Sagrado, 50:16)
O Problema das Palavras
Tomemos aqui o problema das palavras: A teoria da outra vida
afirma que o homem é responsável pelas suas declarações. Tudo que ele
profere de palavras, boas ou más, de louvores ou de maldições, com o
uso da língua na transmissão da verdade ou da falsidade, tudo será
67. Nova Conferência Introdutória Sobre Psicanálise, pág. 99.
78
preservado num registro completo. "Não pronunciará palavra alguma
sem que junto a ele esteja presente uma sentinela (que a anotará)"
(Alcorão Sagrado, 50:18). Este registro será exposto perante o tribunal
da outra vida para o julgamento do homem.
A possibilidade da ocorrência desse fato não contraria a ciência
moderna. Sabemos que quando uma pessoa movimenta a língua para
falar, movimenta ondas no ar, a exemplo do que acontece com a água
quando nela é atirada uma pedra. Se colocarmos uma campainha elétrica
dentro de uma garrafa hermeticamente fechada e apertarmos o botão
que a aciona, não ouviremos nenhum som, apesar de estarmos vendo a
campainha, porque as ondas não conseguem atravessar a garrafa. Essas
ondas, em circunstâncias normais, atingem os tímpanos, os quais se
encarregam de remetê-las para o cérebro que irá codificá-las e nos fazer
entender o seu significado.
Há afirmações que dizem que essas ondas permanecem em seu
estado no espaço para sempre, após a sua ocorrência pela primeira vez,
sendo possível ouvi-las novamente. O nosso conhecimento moderno,
porém, tem sido incapaz, até agora, de reproduzir esses sons, ou, em
outras palavras, de conseguir captar essas ondas novamente, apesar de
continuarem em movimento no espaço, desde há muito tempo. Os
cientistas, até hoje, não dedicaram atenção especial a esse campo, depois
de descobrirem, teoricamente, a possibilidade da invenção de um aparelho
para captar as vozes de antigamente, a exemplo do que acontece com o
aparelho de rádio que capta as programações das emissoras. O maior
problema, porém, que enfrentamos não é a capatação das vozes de
antanho, mas o discernimento entre as muitas vozes, para que possamos
decifrar cada voz. Este era o caso das emissoras, e que foi solucionado.
Milhares de emissoras no mundo transmitem seus programas noite e
dia, cujas ondas passam no espaço com a velocidade de 300 000 km por
segundo. Na realidade, deveríamos, ao ligarmos um receptor, ouvir um
emaranhado de vozes inintelegíveis. Isso, porém, não acontece, porque
todas as emissoras transmitem seus programas em frequências diferentes
umas das outras. Algumas transmitem em ondas curtas, outras em ondas
médias, e seus programas se diferenciam pelo comprimento das ondas,
o que nos faculta escutarmos cada programação com a sintonia na onda
transmitida.
79
Os nossos cientistas não foram bem sucedidos na invenção de uma
máquina que pudesse captar as vozes do passado. Se tivessem sido,
iríamos ouvir a história de todas as épocas e de todos os tempos, com
suas próprias vozes. De acordo com isso, confirma-se a possibilidade de
se ouvir, no futuro, as vozes passadas. Se conseguirmos inventar essa
máquina, então, a teoria da outra vida não ficará distante da lógica, que
diz que tudo que o homem pronuncia é registrado e será julgado no Dia
da Ressurreição.
A nossa discussão do problema não anula a existência dos anjos
de Deus, ou, em outras palavras, a existência de registradores invisíveis,
registrando, no espaço, tudo que se pronuncia de palavras, corroborando
as palavras de Deus: "Não pronunciará palavra alguma sem que junto
a ele esteja presente uma sentinela (que a anotará)." (Alcorão Sagrado,
50:18)
A Questão das Atividades
Examinaremos agora a questão das atividades. Nossos
conhecimentos neste campo corroboram de um forma surpreendente a
possibilidade da outra vida.
A ciência moderna afirma sua crença de que todas as nossas
atividades, quer seja à luz do dia ou nas trevas, quer isolada, quer
coletivamente, todas elas existem no espaço em forma de imagem. Será
possível, a qualquer momento, reunirmos essas imagens para
descobrirmos tudo o que o homem praticou de atos benéficos ou maléficos
durante toda a sua vida. As pesquisas científicas afirmam que tudo o que
acontece, quer seja no escuro ou no claro, inerte ou em movimento,
emite "calor" constantemente, em todo lugar, em qualquer circunstância.
Esse calor reflete as formas e a distância com exatidão, à exemplo das
vozes que são a reflexão exata das ondas moduladas pela língua. Já se
inventou um aparelho de precisão para fotografar as ondas de calor
emitidas por qualquer ser; em seguida ele emite uma fotografia completa
do ser que emitiu essas ondas de calor. Como exemplo, podemos citar a
nós mesmos, escrevendo, em nosso escritório, que deixaremos dentro
de uma hora. Ao fazê-lo, as ondas de calor emitidas pelo nosso corpo
durante a nossa estada aí permanecerão para sempre, e será possível
registramo-las a qualquer tempo através daquele aparelho. Ele, porém,
80
só conseguirá registrar as ondas de calor após algumas horas da ocorrência
do fenômeno, sendo incapaz de registrar as ondas anteriores.
Esse aparelho de infravermelho fotografa igualmente tanto no
escuro como no claro. Os cientistas da Inglaterra e dos Estados Unidos
começaram aproveitar esse aparelho para as suas investigações. Uma
certa noite um avião desconhecido sobrevoou os céus de Nova York.
Eles fotografaram as ondas de calor dos céus da cidade com o tal aparelho
e descobriram o tipo de avião. Esse aparelho é chamado de evapógrafo.
Um jornal publicou um artigo a respeito do assunto, dizendo: "Graças a
esses aparelhos conseguiremos observar a nossa história nas telas do
cinema, no futuro! Tal fato proporcionará descobertas fantásticas, que
mudarão os nossos conceitos básicos sobre a história."
Esse aparelho é fantástico, mostrando que a vida de cada um de
nós pode ser registrada totalmente, como os aparelhos fotográficos
automáticos registram todos os movimentos dos atores de cinema. Se
você agredir um pobre ou aliviar o fardo de alguém estranho, ou se
preocupar com o bem ou com o mal, todos os seus movimentos são
registrados na tela do mundo, onde você será incapaz de eliminá-los ou
a fugir deles, quer você esteja no escuro ou no claro. Sua vida é como o
roteiro filmado em estúdio cinematográfico em que depois assistirmos
na tela do cinema, ou a gravação em vídeo, podemos ver logo em seguida
na tela de um televisor, sendo que a fita pode ser guardada por longo
tempo, em local bem distante da ocorrência da gravação. Ao vermos as
imagens, sentimos como se estivéssemos vivendo os acontecimentos. É
o que acontecerá com o homem e com os atos praticados por ele. Um
filme completo de tais atos será exibido para cada um no Dia da
Ressurreição, quando as pessoas gritarão:
"Ai de nós! Que significa este Livro? Não omite nem pequena,
nem grande falta!" (Alcorão Sagrado, 18:49)
Os detalhes científicos que apresentamos nas páginas anteriores
esclarecem que os elementos do mundo são responsáveis pelo registro
completo de todos os atos do homem. Tudo o que passa pela nossa mente
é registrado para sempre; tudo que pronunciarmos será registrado com
precisão. Vivemos perante câmeras operando ininterruptamente, sem
distinguir entre noite e dia. Todos os nossos atos, mentais, orais, nervosos,
81
são registrados com precisão. Ao detalharmos essa extraordinária teoria
científica, só podemos aceitar que cada um de nós comparecerá perante
o Tribunal Divino; que esse Tribunal é que preparou essa fabulosa
organização para apresentar os testemunhos que não podem ser alterados.
Nenhum cientista consegue apresentar uma explicação mais precisa
do fenômeno além do que apresentamos. Se essas realidades não
conseguem fazer as pessoas sentirem suas responsabilidades perante o
poderoso Tribunal do Dia de Prestação de Contas, não sabemos que
realidade irá abrir-lhes os olhos.
TERCEIRO – A Necessidade do Outro Mundo
Verificamos, nas páginas anteriores, que a ocorrência de algo
parecido com o outro mundo, defendida pela religião, é possível. O nosso
conhecimento nos confirmou que a outra vida é possível. A questão agora
é verificarmos se este mundo necessita, de fato, de algo como a outra
vida; necessitará o mundo, em sua estrutura atual a sua ocorrência?
1º) A Questão Psicológica
Analisemos primeiro a questão psicológica do assunto. O professor Kingham, em seu livro "A Apologia de Platão" diz: "A crença na
vida após a morte não é um agonsticismo animado". É possível
considerarmos tal afirmação um resumo dos pensamentos dos nossos
filósofos ateus. Eles acham que a crença na outra vida é invenção da
mente humana que procura um mundo livre, independente dos limites
deste mundo, com seus problemas, cheio de alegria.
O que a induz a ter essa crença é a sua esperança de conseguir uma
vida melhor, onde não haja necessidade de esforço nem de sacrifícios.
Tal crença leva o homem para o mundo do idealismo e da ficção, que
sonha alcançar após à morte. Em verdade, porém na opinião dos filósofos,
nada disso existe.
Na minha opinião, essa necessidade humana, por si só, é uma prova
psicológica muito forte da existência da outra vida. É como a sede, que
indica a existência da água e a sua relação intrínseca entre a água e o
homem. Da mesma forma, a procura psicológica do homem a um outro
mundo é, por si só, uma prova de que algo parecido com isso existe na
82
realidade, ou é, ao menos, possível existir. Essa necessidade psicológica
atesta a relação do nosso destino com essa realidade. A história nos mostra
que essse instinto humano existe desde tempos mais remotos.
O que não conseguimos entender é como algo inexistente pode
influenciar a humanidade, de uma forma constante, em âmbito geral?
Essa própria realidade nos indica uma forte circunstância da possibilidade
da existência da outra vida. A negação dessa necessidade psicológica,
sem provas, é considerada ignorância e fanatismo.
Aqueles que negam essa forte necessidade psicológica, alegando
a sua nulidade, são os mais incapazes de compreender a realidade sobre
a face da terra, apesar de alardearem compreensão, sem qualquer prova,
sem qualquer exemplo.
Se esses pensamentos fossem frutos do ambiente, como alegam,
coisa que não se coaduna com o pensamento humano, como então existe
essa forma fantástica desde os tempos mais remotos? Acaso encontramos
algo semelhante em outros pensamentos humanos que permaneçam até
a época atual, desde milhares de anos? Será que o mais inteligente dos
inteligentes conseguiria inventar um pensamento frágil, e então fazê-lo
penetrar na alma humana, como se aí estivesse desde a eternidade?
Todo homem tem muitas esperanças, e não se contenta apenas
com ser bem sucedido. O homem deseja uma vida perene, mas a vida
que lhe foi dada está sujeita à lei da morte. O estranho é que quando o
homem está no limiar de uma vida bem sucedida, depois de adquirir
estudos, conhecimentos, experiências, é surpreendido pela morte. Uma
estatística a respeito dos empresários bem sucedidos demonstra que
alcançam a estabilidade entre os 45 e 65 anos, então, passam a ganhar
muito dinheiro. Nesse momento, subitamente, seus batimentos cardíacos
param, à noite ou durante o dia, e então partem para um mundo
desconhecido, deixando seus vastos negócios para trás.
O Professor Winwood Reade diz:
"É uma questão importante que nos leva a pensar se temos ou não
uma relação pessoal com Deus. Há, acaso, um outro mundo além do
nosso? Seremos, acaso, recompensados pelos nossos atos naquele
mundo? Essa pergunta não é apenas um grande problema filosófico,
mas é, ao mesmo tempo, a mais importante das nossas perguntas práticas.
83
É uma pergunta que está ligada aos nossos muitos interesses. A nossa
vida presente é muito curta, suas alegrias são comuns, temporárias.
Quando conseguimos o que almejamos, somos surpreendidos pela morte.
Se conseguíssemos descobrir um caminho que tornasse perenes as nossas
alegrias, ninguém iria deixar de segui-lo, a não ser os loucos entre nós."68
O próprio escritor, divaga, negando essa importante exigência
psicológica, devido a questões sem peso nem valor. Ele diz: "Essa crença
e muito razoável, quando não estudamos os seus ângulos com
profundidade. Depois de nos aprofundarmos, torna-se claro que é uma
questão absurda, o que pode ser demonstrado facilmente: o agricultor
ignorante não pode ser responsabilizado por seus maus atos, e irá para o
Paraíso, mas os gênios como Goethe, Rosseau, serão queimados no fogo
do inferno. O indivíduo que permanece ignorante, portanto, é preferível
aos gênios como Goethe e Rosseau! Essa afirmação é absurda."69
Essa posição é semelhante à tomada pelo Lord Klain quanto à
pesquisa científica efetuada por Maxwell. Aquele afirmou que não
consegue compreender uma teoria qualquer antes da colocação de seu
protótipo mecânico. De acordo com essa suposicão, nego a teoria de
Maxwell sobre o eletromagnetismo, porque não se aplicou a um protótipo
material do Lord. Posições e alegações ficitícias como essas, tornam-se
estranhas no mundo natural moderno. O famoso cientista J. W. N. Sullivan
pergunta:
"Como pode alguém pensar em alegar que a natureza deva ser
como algum engenheiro do século XIX que a coloca em seu
laboratório?"70
Dirijo as seguintes palavras ao professor Winwood:
"Como pode um filósofo do século XX dizer que o mundo exterior deve-se adaptar ao que ele alega?"
O nosso escritor não consegue entender uma questão muito simples:
Que a verdade não necessita da realidade exterior, mas a realidade exterior é que necessita da "verdade". A verdade é que esse mundo tem um
Deus, perante o Qual compareceremos no Dia do Julgamento. É
68. "Martyrdom of Man" (O Martírio do Homem), pág. 414.
69. Idem, pág. 415.
70. J.W.N. Sullivan, "The Limitations of Science" (As Limitações da Ciência), pág. 9.
84
necessário que cada um de nós, quer seja Rosseau, ou um cidadão
qualquer, seja obediente e fiel a Deus. A nossa salvação não pode ser
conseguida através da descrença; ela está latente em nossa crença e
obediência. O estranho é que o nosso escritor não se lembrou de pedir a
Goethe e Rosseau que seguissem a verdade, mas pediu a mudança dela.
Quando esta não obedeceu, ele começou a negá-la! Essa posição parecese com a de quem nega a conservação dos segredos militares que, às
vezes, homenageia um simples soldado razo, e condena um excelente
cientista como Rosenberg e sua bela esposa à cadeira elétrica.
Não há ninguém, na face da terra, além do homem, que pense no
amanhã. Ele se distingue do resto dos animais devido a preocupação
constante com o amanhã, pela sua luta incessante, sua diligência
permanente, a fim de melhorar sua situação. Sem dúvida que encontramos
alguns animais que trabalham para o seu futuro, como as formigas, que
armazenam seus alimentos para o inverno, as aves, que constroem os
ninhos para seus filhotes. Esses atos dos animais, porém, são instintos.
São feitos sem sentimentos de responsabilidade. Não se comportam assim
por causa de sua preocupação com o amanhã, mas é um instinto natural
do qual se beneficiarão posteriormente. Pensar no futuro requer uma
mente inteligente, racional, que são as distinções do ser humano apenas,
das quais os outros animais não desfrutam.
Essa enorme diferença entre o homem e o animal confirma que o
homem deve ter mais distinções em relação às outras espécies para delas
se beneficiar. A vida animal é a chamada "vida de hoje". O pensamento
no amanhã não existe para ela. A vida do homem, porém, requer o amanhã
e, se negarmos isso, estaremos contrariando a natureza. Alguns cientistas
e filósofos crêem que a frustração das esperanças do homem, na sua
vida presente, é o que o faz pensar em uma vida melhor. Eles acham que
esse pensamento desapareceria se fosse permitido ao homem uma
situação de conforto total. Um grande número das famílias romanas se
convertem ao cristianismo, porque ele lhes prometia as alegrias do
Paraíso. Por isso, os cientistas e os filósofos desta comunidade deduzem
que a felicidade humana e o conforto da sociedade foram crescendo,
cada vez mais, até chegarem, finalmente, à teoria da outra vida.
A História dos últimos quatrocentos anos, porém, em que se
desenvolveram a ciência e a tecnologia, desmente essa dedução. A
85
primeira coisa que o desenvolvimento e a tecnologia prepararam para o
homem foi o de lhe proporcionar vários meios, monopolizados por
determinadas pessoas que, por sua vez, o exploram, eliminando os
pequenos trabalhadores e profissionais, transformando a corrente das
fortunas em suas riquezas e tesouros, transformando as pessoas do povo
em trabalhadores pobres e necessitados. É possível ler sobre essas
descrições maléficas, resultantes do desenvolvimento tecnológico, no
livro de Karl Marx, "O Capital", considerado como o clamor da classe
trabalhadora dos séculos XVIII e XIX. A reação desse clamor começou,
então, e foi seguido por longa luta, deflagrada pelas classes trabalhadoras,
fazendo a situação melhorar um pouco. Porém, na minha opinião, essa
mudança da situação dos trabalhadores é superficial. O trabalhador de
hoje necessita mais do que necessitava ontem. A verdadeira felicidade,
porém, é mais escassa, porque o sistema tecnológico não deu ao homem
mais que aparências materiais, sem valores espirituais para poder fornecer
aos seguidores desse sistema a felicidade e o sossego do coração,
corroborando o que o poeta Blake disse a respeito da civilização moderna!
"Encontrei um estigma em cada rosto; estigma de fraqueza, marcas
de infortúnio."
Bertrand Russell confessou que os animais do nosso mundo são
cobertos com felicidade e alegria, enquanto os indivíduos são mais
merecedores dessa felicidade. Mas estão desprovidos dela no nosso
mundo moderno.71 Hoje, como diz Russel, é impossível conseguir-se
essa dádiva: a felicidade!72
Quando alguém visita Nova York, vê os seus altos edifícios, como
o do Empire State, com 102 andares. É um edifício muito alto. A
temperatura, nos seus andares superiores, é muito baixa em relação aos
andares inferiores. Quando se sai do eidfício e se observa da rua, não se
acredita que se esteve naquele gigante de trezentos e cinquenta metros
de altura. O elevador não leva mais que três minutos para chegar ao
andar superior. Após se ver o edifício e desfrutar das vistas, vai-se para
os night clubs e se vê homens e mulheres dançando colados… A pessoa
pensa: "Quão felizes essas pessoas são!" Assiste-se a danças sensuais
71. "Conquest of Happiness" (A Conquista da Felicidade), pág. 11.
72. Idem, pág 93.
86
em que mulheres bonitas assediam os espectadores, sentando-se à sua
frente, com ares de tristeza, e lhe pergunta:
– Você acha que sou feia?
– Não, não acho…
– Devo ter perdido a minha beleza, não?
– Não, na minha opinião você é linda!
– Agradeço a sua gentileza. Mas os rapazes não flertem comigo,
nem me notam! A vida para mim se tornou um tédio.
O que vi em Nova York não é mais que uma pequena amostra do
drama do homem moderno na época moderna.
As ciências e a tecnologia construíram arranha-céus, mas
arrancaram a felicidade dos corações de seus habitantes. Construiram
fábricas movidas por máquinas enormes, mas privaram seus funcionários
do descanso que almejam. Esse é o resultado da história científica e
tecnológica. Como podemos almejar ou imaginar um mundo repleto de
paz e felicidade produzido pela tecnologia?
2ª) A Necessidade Moral
Quando estudamos o problema do ponto de vista moral, vemos
que a outra vida é necessária. A história do homem não tem sentido sem
ela. A racionalidade do homem o faz distinguir entre o bem e o mal;
entre o útil e o inútil, entre a justiça e a injustiça. Essa natureza é que
distingue o homem dos outros animais. Porém, eis o homem, que seu
Senhor honrou, desperdiçando a racionalidade que Deus lhe deu, mais
do que àqueles que não desfrutam dela. Ele tiraniza seu semelhante,
matando-o, expulsando-o e lhe causando todo tipo de maldade.
Os animais irracionais não injustiçam seus semelhantes; o leão
não ataca outro leão, o tigre não ataca outro tigre; o homem, porém,
passou a assassinar seus irmãos, até seus parentes próximos, coisa que
não tem paralelo na lei da selva.
Sem dúvida, encontramos rasgos da verdade e da justiça na história
humana, que devem ser levados em consideração. A maior parte da
história, porém abunda de narrações de injustiça, de corrupção e de
agressão. O historiador se desespera quando vê que os acontecimentos
históricos se chocam com a consciência humana.
87
Vamos citar algumas declarações desses historiadores:
Voltaire diz:
"A história nada mais é do que um relato de crimes e infortúnios."73
Herbert Spencer diz:
"A história é uma confusão de palavras vazias, sem qualquer
benefício."
Napoleão diz:
"Toda história é um título de uma novela sem sentido."
Edward Jean diz:
"A história do homem não passa de um registro dos seus crimes,
da sua loucura e do seu desapontamento."
Haikal diz:
"A única lição que o governo e o povo tiraram da história, é que
nada aprenderam da história."74
Será que toda a comédia humana terminará numa catástrofe? A
nossa natureza diz:
Não… A propensão à justiça e à eqüidade da consciência humana
requer a não ocorrência dessa possibilidade. É necessário que haja o dia
da distinção entre o autêntico e o falso; é necessário que o injusto e o
injustiçado recebam suas respectivas pagas. Essa necessidade é
impossível de ser distanciada dos valores históricos, como é impossível
de ser afastda da natureza humana.
Esse vazio distante, que faz distinção entre a realidade e a natureza,
necessita de algo que o preencha. Essa distância enorme entre o que
acontece e o que deveria acontecer significa que uma outra comédia foi
preparada para a vida, e que forçosamente aparecerá. Esse vazio enorme
exige a complementação da vida. Fico em dúvida ainda quando vejo
que essa situação não leva os humanos a crerem que o que não existe
hoje, e é exibido pela razão, acontecerá certamente amanhã.
"Se não houver ressureição, quem haverá de castigar os sedutores?"
– Uma sentença muitas vezes repetida por mim, acompanhada por amarga
dor, quando leio os jornais. Eles são uma pequena amostra do que
acontece todo dia no mundo. O quadro é aterrador… Falam de
73. "História da Filosofia", Will Durant, pág. 214.
74. "Western Civilization" (Civilização Ociental), E. Menall, Burns, pág. 871.
88
assassinatos, de raptos, de assaltos, de acusações falsas, de tráfico político,
de promoções maléficas.
Os jornais nos informam de como um governo repele os opositores
débeis em nome dos interesses da nação e da segurança nacional; como
pessoas dominan terras que nunca possuíram, com uso das armas. Esses
jornais não passam de estórias a respeito do sofrimento do fraco e do
forte, do governante e do governado.
Os acontecimentos do mundo, principalmente os assassinatos em
massa, as depredações, os incêndios, mostram que as pessoas são capazes
de cometer qualquer crime, imaginável ou não. Pessoas que carregam
os símbolos secularistas, republicanos, de não agressão, conseguem, ao
mesmo tempo, cometer os piores tipo de segregação, de tirania, de
agressão, sem similar na história. Todos esses crimes horríveis, que os
animais mais selvagens não cometeriam, acontecem diariamente em
várias partes da terra, sem que haja uma reação à altura para acabar com
eles.
Será que este mundo foi criado para que seja palco de sofrimento,
de atos satânicos, de selvageria, de pirataria, sem que o justos e os injustos
sejam julgados pelos seus atos? Um mundo desse tipo demonstra, por si
só, que é incompleto e necessita de algo para completá-lo.
3ª) A Questão de Comportamento
Estudemos isso de um outro ângulo. Uma questão importante fez
o homem pensar desde os tempos mais remotos: é o método de obrigar
as pessoas a terem um bom comportamento. Se supomos que alguns
membros da sociedade foram investidos de autoridade política para
realizarem esse objetivo, é possível que os governados se comportem
bem, com medo do castigo. Porém, quem fará com que os investidos de
poder político instituam a justiça e a eqüidade?
Se recorremos ao código e aos tribunais, como, então, poderemos
utilizá-los para atingirmos os locais e as partes que não obedecem à
polícia e ao código?
Se recorrermos à propaganda e pedirmos aos maldosos que parem
de cometer crimes, quem nos obedecerá? Quem deixará de auferir os
lucros fáceis? A ameaça de castigo terreno não é suficiente para coibir
os desvios do homem. Todos nós sabemos que a mentira, o suborno, o
89
favoritismo, a exploração do próximo, e os métodos similares conhecidos,
não cessam sem a possibilidade do castigo.
Nada será bem sucedido na repressão dos crimes, a não ser o
impulso do fundo do coração do homem. Quanto à consciência que
penetrar no íntimo do homem, nenhum fator exterior a irá anular. Tal
característica só é possível por intermédio da crença na vida futura. Uma
força propulsora está oculta nesta crença, fazendo com que o evitar cada
indivíduo a prática criminal seja do seu interesse pessoal. No entanto,
trata-se de um interesse coletivo. Todos, quer sejam líderes ou liderados,
quer estejam nas trevas ou na luz, acham que é inevitável que um dia
encontrarão a Deus. Todos sentem que Deus os vê, que os julgará
certamente. Essa preocupação com a crença em outra vida foi que fez o
juiz Mathew Halos, um dos mais famosos juízes do século XIX, dizer:
"A afirmação de que a religião é um logro, visa anular todas as
nossas responsabilidades para a estabilização do sistema social".75
Quão importante este lado é para a teoria da outra vida!
A importância dessa teoria está no fato de que muitos dos nossos
cientístas ateus, que não crêem na realidade da outra vida, foram
obrigados, de acordo com as experiências históricas, a dizer que nada há
além da "outra vida", para observarem o homem e fazerem-no seguir o
caminho do bem e da justiça em todas as circunstâncias.
Kant negou a existência de Deus, dizendo:
"Não há provas suficientes da sua existência."76 Ele nega o lado
teórico da religião, mas, ao mesmo tempo, é obrigado a aceitar o seu
lado prático quanto à questão moral.
Voltaire também não acreditava nas verdades extraterrenas, mas
dizia: "A importância de Deus e da outra vida é muito grande, pois são
as bases do estabelecimento dos princípios morais".77 Ele vê que essa
crença sozinha é responsável pela existência de uma estrutura moral
para o bem da sociedade.
Se essa crença cessar, não mais encontraremos um motivo para a
prática do bem; isso causará o desmoronamento do sistema social.
75. "Religion Without Revelation" (A Religião Sem Revelação), pág. 115.
76. "História da Filosofia", Will Durant, pág. 266.
77. Windelband, "History of Philosophy" (História da Filosofia), pág. 496.
90
Aqueles que acham que a outra vida é fictícia, devem pensar em
como uma idéia fictícia adquiriu uma importância tão extraordinária em
relação à realidade da vida!
Por que não conseguimos, sem ela, estabelecer um sistema social
saudável?
Por que os valores das nossas vidas desmoronam quando,
abandonamos essa idéia?
É possível que uma idéia fictícia ocupe essa grande importância
na vida?
Há, acaso, um outro exemplo no Universo para uma idéia fictícia
inexistente que desfrute dessa importância real da vida, apesar de não
ter nenhuma relação com a nossa realidade?
A nossa sociedade promete dar outra vida à organização da vida, e
seu estabelecimento sobre bases justas e reais, é, por si, a confirmação
de que a outra vida é uma das verdades do Universo. Não exageraremos
se afirmarmos que o lado lógico da dedução confirma a realidade dessa
teoria, de uma forma científica prática.
4º) A Necessidade Cósmica
Analisemos a questão por um terceiro ângulo, o que chamaremos
de necessidade universal. Nas páginas anteriores falamos sobre a
existência de Deus no Universo. Ficou plenamente confirmado que os
estudos científicos e ideológicos nos fazem afirmar a existência de um
Deus desse Universo. Fica a pergunta: se há uma relação entre Deus e o
homem por haver necessidade de ela surgir, quando surgirá claramente?
Quanto ao mundo de hoje, é possível afirmarmos que essa relação
não surgiu ainda. O homem que não crê em Deus, diz: "Não temo a
Deus!" e nada lhe acontece; pelo contrário consegue a liderança e assume
as rédeas do governo!
Quanto aos que transmitem a mensagem de Deus, as autoridades
imobilizam as atividades, alegando que são "ilegais". Há também
escritórios e instituições que se dedicam noite e dia a brincadeiras; dizem:
"Nossa nave chegou à lua, e não teve o prazer de encontrar o Deus de
vocês". Todos os meios oficiais de comunicação apoiam essas
instituições. Cada vez que os divulgadores apresentaram suas mensagens
91
os cientistas da época os enfrentaram, dizendo: "Vocês são reacionários
que se debatem nas trevas!"
As crianças nascem, crescem e morrem.
Os povos alcançam o auge e decaem.
As revoluções acontecem e desaparecem.
O sol nasce e se põe, mas nunca aparecem os sinais da existência
de Deus.
Nessa altura as nossas mentes e os nossos corações nos exigem
crermos na existência de Deus ou negarmos essa existência. Se optarmos
por crer em Deus, deveremos forçosamente crer na outra vida. Não há
outro caminho para explicar a relação do homem com Deus.
Darwin reconheceu que este Universo tem um Criador, mas a
evolução da espécie, que ele apresentou, não possui nenhum elo entre o
Criador e as criaturas, como também não sente a necessidade do "fim"
deste Universo, uma necessidade que o impele a estabelecer essa ligação.
Não sei como Darwin preencherá esse vazio enorme na sua teoria
biológica. A minha razão nega um Deus que não tenha nenhuma relação
com as questões universais, nem suas criaturas o vejam com aparência
de criador. Quão estranho é este "criador" de Darwin, que, quando vem,
é um gigante, então é eliminado sem os motivos que o levaram a essa
criação, sem explicar a suas criaturas os seus vários atributos!
Se pensarmos um pouco nessa questão, veremos nossos corações
gritarem: "Sabei que a hora chegará indubitavelmente." (Alcorão,
40:59) Se observarmos atentamente, vê-la-emos chegando rapidamente,
prestes a explodir, como o feto na barriga da mãe. Quão próxima está!
Acontecerá repentinamente:
"Perguntar-te-ão acerca da hora (do Desfecho): Quando
acontecerá? Responda-lhes: Seu conhecimento está só em poder do
meu Senhor, e ninguém, a não ser Ele, pode revelá-lo; (isso) a seu
devido tempo. Pesada será nos céus e na terra e virá
inesperadamente." (Alcorão, 7:187).
QUARTO – O Testemunho Experimental
Continuamos a nossa tese em outro lado da questão:
Há, acaso, testemunho experimental que ateste a vida após a morte?
92
A primeira prova da outra vida é esta nossa vida em si. Aqueles
que negam a outra vida confessam a intuitividade da primeira vida. Será
que a vida que surgiu uma vez, não conseguirá se repetir? Essa experiência
que vivemos hoje, será que é impossível acontecer outra vez? Nada há
mais inimigo da lógica e da razão humana do que aceitarmos o
acontecimento de um evento no presente e o negarmos no futuro! É uma
estranha contradição. O homem alega que os deuses que ele inventou,
com seus poderes penetrantes para explicar o Universo, conseguem
recriar o Universo, mas se nega obstinadamente a aceitar aquela teoria
semelhante que a religião apresenta. Sir James Jeans apresenta a teoria
dessas pessoas, dizendo:
"Não é estranho que a nossa terra tenha surgido por acaso, resultado
de alguns acontecimentos. Se o nosso Universo permanecer na sua
situação por um longo período, semelhante à sua criação, por acaso, não
estará tão longe o acontecimento de qualquer coisa que inferirmos sobre
a terra."78
A Teoria da Evolução diz que todos os animais evoluíram de um
único animal, chegando ao que são hoje, através de longo período. De
acordo com essa explicação dada por Darwin, a girafa existente
atualmente pertencia à espécie de animais pequenos, de casco fendido.
Ela porém, através de evoluções longas, de mutações e diferenças
pequenas, que aconteceram com a espécie animal, conseguiu esse corpo
enorme e estranho, que tem hoje.
Darwin, no capítulo nove de sua teoria, diz:
"É determimante para mim, se tivermos um longo período… É
possivel um animal de casco fendido transformar-se num animal como a
girafa".79
Assim, todos os cientistas que tentaram explicar o Universo e a
vida, de forma natural, foram obrigados a admitir que se houver as
mesmas condições que auxiliaram na criação da primeira vida, é possivel
recriar a vida novamente. A possibilidade do acontecimento da outra
vida é mais viável, teoricamente, do que a possibilidade da primeira
vida, que de fato já aconteceu; e qualquer coisa que admitirmos que
78. "Modern Scientific Thought" (O Pensamento Científico Moderno), pág. 3.
79. "Origin of Species" (A Origem das Espécies), pág. 169.
93
criou a vida, quem quer que seja o criador, é forçoso admitirmos, de
forma intuitiva, que esse criador é capaz, certamente, de recriar as mesmas
condições, como da primeira vez. Devemos admitir isso, a menos que
neguemos a primeira vida (que existe atualmente) ... Carecemos de todas
as bases sobre as quais construímos os apoios da negação da outra vida,
quando admitimos a existência da primeira vida!
QUINTO – A Pesquisa Psicológica
A Pesquisa psicológica confirma o que citamos acima: que todos
os pensamentos do homem, ou melhor, todas as células do seu cérebro
permanecem inalteráveis. Esse fato confirma explicitamente a tese de
que o cérebro humano não faz parte do seu corpo.
Todas as células e todos os tecidos do seu corpo mudam
conpletamente em poucos anos. O registro do incosciente, porém, não
aceita nenhuma mudança, ou equívoco ou dúvida, apesar da passagem
de centenas de anos. Se esse registro memorial é um ser no corpo, não
sei qual é a sua posição quanto a esse corpo e em que parte se oculta,
particularmente! Se faz parte do corpo, por que não desaparece quando
as partes do corpo desaparecem, após alguns anos? Quão fantastico é
esse registro, cujas páginas se autodestroem, mas não acaba, nem
desaparece!
As novas pesquisas psicológicas atestam, de uma vez por todas,
que a existência humana não se restringe a esse corpo material que
obedece constantemente as ações da destruição, do atrito e do
desaparecimento, mas é algo diferente de tudo isso, que não desaparece,
mas permanece independente, sem cessar.
Sabemos, também, que os limites e as leis do tempo não têm função,
a não ser no nosso mundo. Se há um outro mundo, que começa a partir
da morte de nossos corpos materiais, ele está isento do limite e das leis.
Tudo que executamos de trabalho e atos sentimentais sai do campo desses
limites e dessas leis, mesmo que haja "outra vida mental", como afirma
Freud, isso significa que a vida corrente nunca acaba, mas recomeça sua
marcha após à morte, e eis-nos vivos. Essa morte não é mais que um
dos resultado dos limites e leis temporárias. A nossa verdadeira exitência,
porém, é o inconsciente, como diz Freud.
94
Ele é independente, livre desses limites e dessas leis e não é afetado
pela morte, que só atinge o corpo material, permanecendo o inconsciente,
que é o verdadeiro homem. Como exemplo, posso citar um acontecimento
ocorrido há um quarto de século atrás, ou um pensamento que me ocorreu
vinte anos atrás, os quais eu já esqueci completamente. Apesar disso,
vejo-os em meus sonhos hoje. A explicação disso para os psicólogos, é
que estavam guardados no inconsciente como se tivessem acontecido
ontem!
Perguntamos aqui: onde está o inconsciente? Já que foi tudo
gravado nas células, como é gravada a voz nas fitas e nos discos, tais
células, que registraram o acontecimento de um quarto de século atrás
ou a idéia de vinte anos atrás, e já desapareceram, há muito anos, e não
tem nenhuma relação com o meu corpo atual. Que relação tem essa idéia
a ver com o meu corpo? Trata-se de um testemunho experimental que
afirma, de uma vez por todas, que há um outro mundo, fora dos nossos
corpos materiais, totalmente independente, que não desaparece com o
desaparecimento do corpo ou de uma parte dele.
SEXTO – As Pesquisas Psíquicas
As pesquisas psíquicas atestam a vida após à morte, experimental
e cientificamente; o que nos leva a estranhar, nessas pesquisas, é que
elas não afirmam a "permanência pura" da alma, mas afirmam a
permanência pessoal que conhecíamos antes de morrer!
Há muitas peculiaridades das quais o homem desfruta há muito
tempo, mas que só foram descobertas recentemente. Dentre essas
peculiaridades está a "visão", considerada das mais antigas distinções
da espécie humana. São verdades revolucionárias que os psicólogos
descobriram a respeito dessa distinção, e que os nossos antepassados
desconheciam.
Há outros fenômenos recentemente estudados, cujas pesquisas e
estatísticas, foram feitas em diferentes partes do mundo; essas pesquisas
resultaram em coisas muito importantes.
Dentre essas pesquisas há o que é chamado de "Pesquisas
Psíquicas". É um ramo da psicologia cujo objetivo é a tentativa de
descobrir as distinções humanas paranormais. O primeiro instituto
destinado a este tipo de pesquisas foi fundado em 1882 na Inglaterra.
95
Os cientistas do Instituto iniciaram seus trabalhos em 1889 e já
pesquisaram 17 mil cidadões. Ele continua sob o nome de "Sociedade
de Pesquisas Psíquicas". Muitos desses institutos foram fundados em
várias partes do mundo. Eles confirmam, após pesquisas e experiencias
de grande amplitude, que a personalidade humana continua existindo,
após a deterioração do corpo físico, de uma forma estranha.
Um caixeiro viajante de uma firma americana estava, uma vez,
anotando os pedidos de seus clientes, no quarto do hotel Saint Josph,
estado do Missouri, quando pressentiu que alguém estava ao seu lado.
Ele disse: "Virei o rosto rapidamente e vi que era minha irmã".
Sua irmã havia morrido havia nove anos. Depois de um instante, o
rosto dela desapareceu. O homem ficou tão assustado com o fenômeno,
que, em vez de prosseguir viagem, resolveu voltar para casa, em Saint
Louis.
Em casa, narrou o ocorrido a seus parentes, com pormenores, como
havia tido a visão. Quando, durante a narrativa, ele disse: "E vi na sua
face direita uma ferida de cor vermelha.", sua mãe deu um grito e
levantou-se abalada, dizendo: "Fui eu que causei o ferimento que você
viu. Foi um acidente. Fiquei arrependida e senti pena. Removi os vestígios
do ferimento e cobri com uma pomada". Ela acrescentou: "Desde então,
nunca revelei isso a ninguém".80
Esses tipos de acontecimentos não são particularidades da América
e Europa; acontecem em todas as partes do mundo. Mas, como a maior
parte das pesquisas científicas modernas foram efetuadas naquela região
do mundo, forçosamente, as testemunhas experimentais têm de vir
também daquela região. Se alguns dos nossos cientistas tivessem um
pouco de ambição e confiança em si, e tivessem começado a empreender
o mesmo trabalho em sua região, teriam acumulado muitos exemplos
nos países asiáticos e africanos. Eu mesmo, sei de muitos acontecimentos
similares que apoiam essa teoria de uma forma extraordinária.
Infelizmente, as preocupações nos impedem empreendermos tais
pesquisas científicas, por causa dos gastos materiais e do tempo
necessário.
80. "Human Personality and its Survival After Bodily Death" (A Personalidade Humana e sua
Sobrevivência Após à Morte Física). F.W.H. Myers, 1903, vol II, pág. 27.
96
Há acontecimentos incontáveis como este. Eles atestam a existência
de "personagens conhecidos" depois de sua morte. É inconcebível
considerarmos esses acontecimentos como "imaginação e irrealidade"
como algumas pessoas se acostumaram dizer a este respeito. O segredo
da ferida na face direita da moça, e ela havia morrido a algum tempo,
não era do conhecimento de ninguém, além da moça e de sua mãe.
Há outros acontecimentos que atestam a permanência da vida após
à morte. Eles se relacionam com que chamamos de "Automatistas".81
Esse nome é dado a quem apresenta sinais de praticar atos sem a
sua vontade. Tal fato demonstra que espíritos de pessoas já mortas tomam
os corpos desses vivos. Essas pessoas revelam, durante os trabalhos,
coisas só conhecidas pelos mortos, donos dos espíritos.
Após algum tempo, tais revelações aparecem como verdades reais.
Há outras pessoas que falam e escrevem ao mesmo tempo, sem
que a escrita tenha relação com a fala. "Isso atesta que um espírito, além
do seu próprio, habita seu corpo e o faz escrever".82
Muitos dos nossos cientistas têm dúvida quanto à aceitação dessas
deduções. O escritor Prade diz:
"Qualquer ramo das ciências modernas não atesta a possibilidade
da vida após à morte. Elas inspiram-se para isso na exclusão de suspeitos
nas pesquisas psíquicas".83 Contudo, a dedução me parece o mesmo que
dizer: "O pensar" é uma exclusão suspeita, porque ninguem, dentre os
milhões de animais existentes na face da terra acredita nesse fênomeno,
além do homem.
A permanência e o desaparecimento da vida está relacionado
com a psicologia, porque é uma questão puramente psicológica, e só
pode ser estudada dentro da psicologia. O procuramos em outros setores
da ciência, é o mesmo que pedir a botânica e a mineralogia de confirmar
o fenômeno de pensar. Não podemos, também, fazer do nosso estudo,
dentro do corpo humano, um arbítrio para esse problema importante. A
81. Talvez se encontrem entre esse o que nós denominamos popularmente de pessoas
tomadas.
82. "A Philosophical Scrutiny of Religion" (Uma Investigação Filosófica da Religião),
pág. 407.
83. "Religion, Philosophy and Physical Researches" (Religião, Filosofia e Pesquisas
Físicas), Londres, 1953, pág. 235.
97
causa disso é que a parte em que pedimos a sua permanência e a
continuação de sua vida, a alma, não se encontra na parte material, mas
em outro corpo.
Essa é a questão que levou muitos de nossos sábios a confessarem
que "a vida após a morte" é um fato real, depois de realizarem pesquisas
científicas longas e completas. O professor Dukass, professor de filosofia
na Universidade de Brown, lançou luzes às questões psicológicas e
filosóficas quanto à questão da vida após a morte, no Décimo Sétimo
Capítulo de seu livro. O Dr. Dukass não crê na vida após à morte como
uma crença religiosa, mas aponta, durante sua pesquisa, muitas provas
destituídas de questões religiosas que o obrigaram a crer nela. Ele diz no
final do capítulo citado:
"Um grupo dos nosso sábios mais eruditos examinou as provas
relacionadas à questão. Examinaram-nas com olho crítico e chegaram
finalmente à conclusão de que há provas que fazem a idéia da
"permanência da alma" uma teoria razoável e passível de acontecer.
Acham que tais provas só podem ser explicadas dessa forma. Dentre
esses eruditos que efetuaram tais pesquisas podemos citar: Professor
Alfred Russel Wales, Sir William Kraucass, F.H. Mayres, Cesar
Lombrazo, Camil Flamarion, Sir Oliver Logg, Dr. Richard Hagxen, Mr.
Henry Sidwick".
O Dr. Dukass continua dizendo:
Despreende-se disso que a crença da permanência da vida após a
morte, no que crêem muitos de nós como crença religiosa, não é apenas
uma realidade, mas talvez seja a única das inúmeras crenças religiosas
que podem ser atestadas com a prova experimental. Se isso é verdade, é
possível também que encontremos informações conclusivas a respeito
do assunto, sem se levar em consideração as idéias que os religiosos
inventaram a respeito do tipo de vida após à morte, e nem se precisa,
então, crer no caráter religioso dessa teoria.84
Parece que o Dr. Dukass, após chegar a esse ponto de
esclarecimento da questão da vida após à morte, e negar o seu caráter
religioso, assemelha-se a um interiorano que teima que não há meio de
84. "A Philosophical Scrutiny of Religion" (Escrutíneo Filosófico da Religião), pág.
412 .
98
falar com um parente seu que mora em cidade desenvolvida. Se for ligada
uma linha telefônica com seu parente e for-lhe dado o auscultador, ele
dirá, depois de conversar com o parente: "Não é viável que a voz seja do
meu parente. É possível que a voz tenha saído de alguma máquina."
99
SEXTO CAPÍTULO
A CONFIRMAÇÃO DA MISSÃO
Uma das crenças importantes da religião, após a crença em Deus,
é a crença na missão, ou na revelação e na inspiração. Significa que
Deus, Altíssimo, revela Suas palavras a uma pessoa que Ele escolhe
dentre o povo, para informar a humanidade o que compraz a Deus.
Quando somos incapazes de captar uma linha quente entre Deus e o
mensageiro, negamo-lo. Hoje, porém, conseguimos compreender essa
questão com facilidade total, devido às realidades conhecidas.
Há muitos fatos que se desenrolam ao nosso redor a todo instante,
e somos incapazes de entendê-los, ou ouvi-los, ou senti-los com os nossos
sentidos. A ciência moderna conseguiu nos facilitar a sua compreensão
com o auxílio dos aparelhos científicos inventados pelas pessoas.
Esses aparelhos podem captar o som de uma mosca voando a uma
distância de alguns quilômetros, como se estivesse ao lado do nosso
ouvido.
Entre os aparelhos científicos inventados há aqueles que registram
as colisões dos raios cósmicos no espaço!
Inventamos muitos aparelhos que conseguem capatar
acontecimentos impossíveis de captar através dos meios auditivos
normais.
Essa capacidade de audição fora do normal não é privilégio dos
aparelhos modernos apenas; sabe-se que Deus cumulou alguns animais
com ela. É indubitável que o aparelho auditivo do homem seja muito
limitado. Os aparelhos de alguns animais, porém, diferem muito do
aparelho humano. O cão, por exemplo, consegue sentir o cheiro do animal
que já passou por algum lugar. Por isso os cães são utilizados a auxiliar
para desvendar crimes e capturar criminosos. A fechadura quebrada pelo
ladrão é cheirada pelo cão treinado, então parte seguindo a pista, e captura
o ladrão em meio a milhares de pessoas.
100
Há muitos animais que ouvem sons fora do nosso diapasão. As
pesquisas provam, nesse campo, que alguns animais estão providos com
capacidades telepáticas. Se colocarmos uma fêmea da mariposa numa
sala com a janela aberta, ela emitirá um som que será ouvido pelo macho a grande distância, o qual pode emitir um som de retorno.
Há uma outra espécie de inseto, o grilo, que mexe as patas e asas e
emite sons anormais que podem ser ouvidos a quilômetros de distância,
deslocando, com isso, seiscentas toneladas de ar, para chamar a fêmea.
Ela, por sua vez, mesmo imóvel, emite uma resposta, inaudível para
nós, mas que pode ser captada pelo macho, que a irá encontrar onde ela
estiver.
As pesquisas confirmam também que o gafanhoto tem uma
capacidade extraordinária de audição, pois ele ouve e sente o movimento
que se dá dentro do núcleo do átomo de hidrogênio!
Há muitos outros exemplos que confirmam a possibilidade da
existência de dons não visuais nos que têm capacidadse extrasensoriais.
Se é este o caso, por que estranhamos a alegação de que uma pessoa
ouve a voz de seu Senhor, inaudível para o resto das pessoas, se é possível
haver movimentos e sons inaudíveis para audição humana, mas que, os
aparelhos os registram, se há mensagens que só alguns animais captam?
Por que a estranheza e a dúvida?
Deus, por um motivo que só Ele conhece, envia Suas mensagens
por vários meios, desconhecidos pelo homem escolhido para a mensagem,
depois de adquirir a capacidade de captá-la e compreendê-la. Não há, na
realidade, choque, entre a nossa visão e as experiências científicas. É
um dado, dentre muitos, que vemos e experimentamos em locais e meios
diferentes. A revelação é uma capacidade que encontramos em forma de
realidade, após à experiência.
Ficou demonstrado que as experiências telepáticas e do
conhecimento do incognoscível não são particulares dos animais. Mas
são natos no homem. O Dr. Alexis Carrel diz: "Os limites psicológicos
do indivíduo, no espaço e no tempo, não são, evidentemente, senão meras
suposições."85 O telepata consegue fazer você dormir, rir, chorar, como
consegue transmitir-lhe palavras ou vontades estranhas a você. É um
85. O Homem, Esse Desconhecido, pág. 291.
101
processo em que não se usa quaisquer meios, nem ninguém presente, a
não ser o telepata e o receptor.
Como se pode duvidar do mesmo processo entre a criatura e o
Criador? Depois de crermos em Deus e examinarmos todas essas
experiências, entre elas a telepatia, não vemos porque negar-se a revelação
e a inspiração.
Em 1950, algumas pessoas da Baviera apresentaram uma queixa
contra um mágico sueco de nome Vranter Strobill, acusando-o de
intromissão nos programas de uma emissora de rádio através da telepatia.
Vranter Strobill se apresentava no hotel Regina em Munique,
quando mostrou um maço de baralho para um dos espectadores e lhe
pediu para escolher uma carta. Disse também que iria transmitir o nome
daquela carta e o nome do hotel, em ordem, como estavam no pensamento
do espectador, ao locutor da rádio que estava transmitindo o noticiário
radiofônico de Munique, sem que o locutor soubesse alguma coisa a
respeito!
Depois de alguns segundos, ouviu-se a voz trémula do locutor, a
dizer: "Hotel Regina, dama de espada."
A voz do locutor estava trêmula e apavorada, mas continuou o
noticiário. Muitos ouvintes da cidade de Munique estranharam, e centenas
deles ligaram para a emissora pedindo explicações sobre o fenômeno.
Era impossível ligar o noticiário com "O Hotel e a dama de espada". Um
médico da emissora foi examinar o locutor e o encontrou extremamente
nervoso. O locutor declarou: "Senti uma dor forte na cabeça, e não sei o
que aconteceu depois disso."
Os cientistas apresentaram várias teorias para explicarem esse
quadro telepático. Uma das teorias diz que o cérebro transmite ondas
que se espalham por todo o mundo com uma velocidade extraordinária.
Por isso, foi chamada de Teoria das Ondas Cerebrais.86
Nós dizemos: Se o homem consegue transferir os pensamentos
para outro ser humano, a distâncias enormes, sem o uso de qualquer
meio material aparente, por que é impossível acontecer o mesmo processo
(e há vários exemplos a respeito)? Não é mais que uma experiência que
86. "Religion, Philosophy an Physical Research" (Religião, Filosofia e Pesquisas
Físicas), C.D. Broad, págs. 47-48; "O Homem, Esse Desconhecido", págs, 291-92.
102
nos faz entender a relação das elocuções e dos seus significados que
unem a criatura a Deus quando Ele envia Sua mensagem.
A Telepatia é uma questão conhecida pelas pessoas. Ela nos mostra
a compreensão do sistema telepático entre Deus e as criaturas, o qual se
completa quando alcança o grau de revelação. Essa revelação pode ser
uma "telepatia cósmica" da espécie das telepatias que conhecemos em
nossa vida de níveis limitados.
PRIMEIRO – A Necessidade da Mensagem
Será preciso, após o esclarecimento da possibilidade da revelação
e da inspiração, procurarmos se é "necessário" que Deus fale com um
ser humano, para notificar Suas palavras às pessoas?
A maior prova dessa necessidade é que a questão transmitida pelo
mensageiro é um dos mais importantes relacionamentos com a vida
humana e seu destino. O homem consegue chegar a essas realidades
com seus esforços pessoais. Ele procura, desde milhares de anos, a
verdade sobre o Universo para entender os segredos do começo da vida
e, seu final, a verdade sobre o bem e o mal, as condições da formação do
homem para a humanidade, a organização dos aparelhos da vida para
que os esforços humanos possam caminhar um passo na trilha do bem e
do conforto; esses esforços que não foram coroados pelo êxito, até hoje.
Desvendamos os segredos do ferro, do petróleo, e conhecemos as
verdades da natureza, só depois de um pequeno esforço. Somos incapazes,
porém, de descobrir "a ciência humana", apesar dos esforços dos nossos
maiores gênios em pesquisas ininterruptas nesse campo. Estes não
conseguiram, até agora, determinar seus princípios e bases. Essa é a
maior prova de que o homem necessita de orientação de Deus para que
possa conhecer-se!
É incontestável que o homem moderno não seja bem-sucedido
ainda em desvendar o enigma da vida. Mas tem esperança de que o
destino o ajude um dia a desvendar esse segredo complexo. Sem dúvida,
a incapacidade do conjunto da ciência e da indústria em satisfazer as
necessidades psicológicas do homem confirma o pensamento que diz:
"Demos uma importância anormal à ciência material, deixando as
ciências humanas em sua fase primária", mas aqueles que foram levados,
103
pela sua ambição, a agir nesse campo, campo da ciência humana, também
não conseguiram descobrir nada; continuaram vacilantes em seu extravio.
O Dr. Alexis Carrel, prêmio nobel da ciência, diz:
"Os princípios da Revolução Francesa, as visões de Marx e de
Lenin, só se aplicam a homens abstratos. É preciso reconhecerem com
clareza que as leis das relações humanas permanecem desconhecidas. A
sociologia e a economia política não são mais que ciências conjunturais
– isto são pseudo ciências".87
É indubitável que nossas ciências modernas abriram perspectivas
perante o homem. Mas, ao mesmo tempo complicaram a questão e não
ajudaram na solução da crise, em nenhuma fase.
O professor J.W.N. Sullivan diz:
"O Universo descoberto pela ciência moderna é mais obscuro e
ambíguo do que toda a história do pensamento. Não há dúvida de que o
nosso conhecimento sobre a natureza seja superior ao de todas as épocas
passadas. Todos esses conhecimentos, porém, não são convicentes.
Enfrentamos hoje a ambiguidade e contradição em todos os lugares".88
Essa triste catástrofe que enfrentamos, depois de longas pesquisas
científicas materiais a respeito do segredo da vida, nos mostra que o
desvendar desse segredo não foi permitido ao homem."89
A nossa situação impõe o conhecimento do segredo da vida, pois
não conseguimos conhecê-lo. Por isso, o que mais almejamos é conseguilo. A mais sublime parte da nossa personalidade, o cérebro, não sossega
sem isso. A nossa vida está dispersa por ignorarmos essa verdade.
O segredo da vida é a nossa grande necessidade, de um lado, mas,
do outro, não conseguimos obtê-lo só por intermédio de nosssos esforços.
Somente essa situação é suficiente para descobrirmos a nossa
necessidade premente pela revelação. A importância do segredo da vida
e a alienação desse segredo da esfera da força humana demonstram que
é preciso que o conhecimeto venha também de fora, como a luz e o calor
vitais para a vida humana, que estão aqui, mas foram providenciados de
fora.90
87. "O Homem, Esse Desconhecido", pág. 42.
88. "Limitations of Science" (Limitações da Ciência), pág. 1.
89. O Homem, Esse Desconhecido, pág. 21.
90. Trataremos essa questão com maior detalhes nos próximos capítulos.
104
A nossa função, após aceitarmos a possibilidade e a necessidade
da revelação, é perscrutarmos a pessoa que alega ser profeta… se ele é
realmetne o intermediário da revelação… A crença religiosa descreveu
o advento de um grande número de profetas. Mas, examinaremos, neste
caso, a profecia do Mensageiro do Islam: Mohammad Ibn Abdullah (que
Deus o abençoe e lhe dê paz). A profecia de todos os profetas anteriores
a ele será automaticamente confirmada se a profecia dele o for, por ser
ele o derradeiro Profeta, porque ele corrobora a todos eles, e porque a
salvação ou a perdição da humanidade na batalha pela vida depende da
crença nesse Profeta ou da sua negação. Ele nasceu em Makka, na manhã
de 29 de agosto de 570. Ao atingir os quarenta anos de idade, declarou
que Deus o havia enviado como o derradeiro Profeta, e o incumbiu de
transmitir a Sua mensagem a todos os grupos de raça humana. Que aquele
que o seguisse seria salvo na vida futura e quem o negasse estaria perdido.
Isso repercute hoje sobre nossas cabeças com força máxima. Não
é um som ordinário que pode ser ignorado. É o maior apelo da nossa
história, convocando-nos a pensarmos acuradamente e analisarmos com
exatidão. Ou o aceitamos como veraz ou o rejeitamos como mentiroso.
SEGUNDO: A Avaliação da Mensagem
Cada idéia passa por três fases para que se torne uma verdade
científica:
1ª fase: A hipótese
2ª fase: A observação
3ª fase: A verificação
Em primeiro vem a fase das verdades, que supomos, em seguida
as observamos e estudamos para descobrir sua veracidade ou falsidade.
Se, à luz do estudo, verificamos que são certas, e as aceitamos,
transformando-as em verdades científicas, tal situação muda. Algumas
vezes observamos coisas que nos conduzem a uma teoria, então
começamos o estudo à sua luz.
De acordo com essa base, a alegação da profecia é uma hipótese.
É nosso dever verificarmos se as observações sustentam a tese. Se a
sustentarem, tornar-se-á uma verdade atestada que devemos aceitar. Mas
que observações necessitamos para atestarmos a hipótese? Quais são as
105
particularidades e as distinções que o Mensageiro reuniu e que não nos
fornecem explicações, além de que ele era Profeta?
Na minha opinião são necessárias duas medidas para que possamos
aquilatar os profetas?
Primeira: Que seja um homem exemplar, de forma anormal. O
escolhido para ser o porta-voz de Deus, para revelar às pessoas o método
e o segredo da vida, deve ter um caráter elevadíssimo e levar uma vida
exemplar. Se a sua vida tiver essas características, ela é a maior prova do
que ele diz, pois se os seus apelos fossem nulos, não seria possível que a
grande verdade da sua própria vida se manifestasse, para elevá-lo acima
de toda a humanidade.
Segunda: Que suas palavras e sua mensagem estejam repletas de
características impossíveis de ser obtidas por uma pessoa comum. Tais
características não são alcançadas a não ser por quem tem pleno
conhecimento do Senhor do Universo, uma vez que é impossível para
uma pessoa comum ter o conheciemtno revelado por Deus ao Profeta.
Estaremos analisando o Mensageiro à luz dessas duas avaliações.
A história testemunhou definitivamente que o Profeta Mohammad
desfrutava de características fora do normal. É possível que os fanáticos
neguem qualquer verdade, por mais específica que seja. É possível
também os rejeitadores alegarem qualquer coisa com o fito de
expeculação. Porém, aqueles que não são infectados com o vírus do
fanatismo e usam o raciocínio para analisar as verdades com a mente
aberta, convencem-se, após analisar a vida de Mohammad que ela foi a
mais elevada e mais bela vida que a humanidade conheceu.
Mohammad foi investido da profecia aos quarenta anos de idade.
Antes disso ele adquiriu notoriedade devido ao seu excelente caráter, a
ponto de as pessoas o terem apelidado de "Assádik Alamin" (O leal
sincero). Há consenso entre a tribo de Coraix quanto à sua sinceridade e
lealdade.
Dentre os acontecimentos que ocorreram cinco anos antes de sua
profecia, há o fato da colocação da Pedra Negra quando da reconstrução
do templo da Caaba. A tribo de Coraix era a encarregada de fazê-lo.
Houve desentendimento sobre quem iria ter a honra de colocar a Pedra
Negra no seu lugar. Tal desentendimento prolongou-se por quatro dias,
106
acirrando os ânimos, e a luta era eminente. Concordaram, então, que o
árbitro fosse o primeiro que adentrasse o recinto sagrado no dia seguinte.
A primeira pessoa que o adentrou foi Mohammad. Todos gritaram! "É o
Amin, nós o aceitamos."91
Não conhecemos nenhum personagem de tanta honra e
consideração e de uma vida tão fora do comum como ele. Ao atingir os
quarenta anos de idade, tornou-se alvo de disputa entre eles.
Ao receber a revelação pela primeira vez, enquanto estava na
caverna de Hira, ele considerou o acontecimento um fato estranho que
nunca tinha experimentado antes. Retornou para sua casa como receio
no coração e narrou o acontecido para sua esposa, Khadija, que era mais
velha que ele. Ela lhe disse; "Deus não te abandonará nunca, pois tu
auxilias aos teus parentes e aos necessitados, e honras os hóspedes, e
amainas as vicessitudes da vida dos outros."
Abu Táleb, tio do profeta, não aceitou crer nele. Mas quando viu o
filho, Áli, adotar o Islam, perguntou a este:
"Que religião é esta?" Respondeu-lhe: "Creio em Deus, no Profeta
e pratico a oração com ele." Abu Táleb lhe disse: "Ele não te pede a não
ser a prática do bem; portanto, segue-o?"92
Ao reunir, pela primeira vez, as pessoas, após receber a revelação,
ao lado do monte Assafa, perguntou-lhes: "Homens de Coraix, se vos
dissesse que há cavaleiros no vale que estão-vos espreitando, acreditaríeis,
acaso, em mim?" Todos respenderam! "Sim, pois nunca soubemos que
mentes!"
Esse extraordinário registro da vida do Profeta, de antes da
revelação, não tem similar no mundo. Não se sabe de nenhum poeta,
filósofo, pensador ou escritor que tenha recebido tal testemunho! Quando
Mohammad declarou a sua profecia, a sua veracidade não tinha dúvida,
nem havia motivo para ser checado pelo povo de Makka. Eles conheciam
muito bem a sua vida na sua totalidade. Por isso, ninguém o acusou de
mentiroso ou astuto. Pelo contrário, começaram dizer que ele perdeu a
razão, que ele era poeta, que era mágico, ou que seu corpo havia sido
91. Tradição narrrada por Bukhári, capítulo da Pedra Negra.
92. "Ideal Prophet" (O Profeta Ideal), pág. 58. Ver também "A Biografia do Profeta",
de Ibn Hicham, vol. I, pág. 265.
107
tomado por maus espíritos, e coisas semelhantes que os livros de história
registram. Esses livros, porém, não citam qualquer tentativa que possa
colocar em dúvida a sua honestidade e veracidade. A história registra,
sim, que: "Todos os habitantes de Makka que quizessem guardar algo,
entregavam-no a ele por terem plena confiança nele."93 No ano treze da
profecia, alguns jovens de Coraix combinaram matá-lo. Cercaram a sua
casa para assassiná-lo. Em tal situação crítica, ele resolveu emigrar para
Yasrib, mas pediu a seu primo Áli, que devolvesse pela manhã seguinte
tudo que foi confiado a ele a seus legítimos donos.
An Nadhr Ibn Háress, um dos maiores oponentes do Profeta,
considerado como um dos mais eloqüentes de Makka, discursando, um
dia, perante os coraixitas, disse:
"Povo de Coraix, por Deus, estais perante um problema insolúvel.
Mohammad, que desde criança foi uma pessoa juvenil, o mais
conciliatório, o mais veraz, o mais honesto dentre vós, até que seus
cabelos embranqueceram; e quando se apresentou perante vós com a
sua mensagem, vós o acusastes de mago. Mas nós já conhecemos os
magos e seus círculos. Dissestes que ele é um energúmeno! Por Deus,
ele não é um energúmeno, pois conhecemos a loucura, e ele não tem
nenhum sintoma de louco. Ó coraixitas, refleti na posição que tomastes.
Por Deus que há algo de extraordinário reservado para vós."94
An-Nadhr era um dos inimigos mais recalcitrantes do Profeta.
Abu Lahab, tio do Profeta, que também era um dos mais aguerridos
adversários dele, uma vez lhe disse: "Ó Mohammad, não digo que és
mentiroso, mas a tua mensagem é nula."95
A profecia de Mohammad era para toda a humanidade, não restrita
somente à Península Arábica. Por isso, ele enviou mensagens para todos
os imperadores vizinhos. O imperador Bizantino, Heráclito, recebeu uma
mensagem do Profeta, convocando-o para a nova religião. Ele então
ordenou a seus homens que trouxessem alguma pessoa da tribo do Profeta
à sua presença. Alguns comerciantes coraixitas estavam, na época, na
Síria e foram levados à presença do Imperador.
93. "A Biografia do Profeta", de Ibn Hicham, vol. 2, pág. 98.
94. "Biografia do Profeta" de Ibn Hicham, vol. 1, pág. 319.
95. Tradição narrada por At-Tirmizi
108
Heráclito perguntou:
– Quem de vós é parente próximo do Profeta?
Abu Sufyan respondeu: – Sou eu.
Então desenrolou-se um diálogo histórico entre ambos, do qual
citamos o seguinte:
Heráclito: – Foi ele acusado alguma vez de mentira antes de sua
missão?
Abu Sufyan: – Não!
Heráclito: – Ele trai?
Abu Sufyan: – Não! Em todo o tempo que o conhecemos, nunca
soubemos que ele traiu.
Heráclito disse: – É certo que se ele não mente para as pessoas,
não pode mentir para Deus.
Na época desse diálogo Abu Sufyan não tinha ainda acreditado no
Profeta. Era seu inimigo, e lutava contra ele.96
A história nunca testemunhou um depoimento como esse de
alguém, sobre seu inimigo.
Esta realidade é a prova final da veracidade da missão do Profeta
árabe. O Dr. Litz disse a respeito de Mohammad:
"Posso dizer com toda convicção que Deus, como fonte de todo o
bem e das bençãos, se revelou algo a Seus servos, então a religião de
Mohammad é uma religião revelada. Se os sinais de preferência e da
confiança da crença inabalável, os meios de discernimento entre o bem
e o mal, e o afastamento do mal são indícios de inspiração, então a
mensagem de Mohammad é esta inspiração."97
Mohammad sofreu todo tipo de maldade e percorreu os caminhos
de compulsão e perseguição quando iniciou a sua missão. Sua tribo o
combateu encarniçadamente. Colocaram em seu caminho espinhos,
jogaram sobre ele sujidade, e, uma vez, enquanto orava, Ucba Ibn Abi
Mu'it apertou-lhe o pescoço com toda a força, derrubando-o ao chão.
Todas essas provações não afetaram o ânimo do Profeta. Então
começaram utilizar outros métodos, boicotando-o e à sua família, os
Bani Háchem, obrigando-os a se isolarem no cercado dos Bani Háchem
96. Tradição narrada por Bukhari.
97. "A Vida de Mohammad", de Abul Fadhl.
109
proibindo a todos os demais fazerem transações com eles. Tal boicote e
cerco durou três anos, durante os quais os muçulmanos comiam plantas
amargas para enganarem o estomago. Um dos Companheiros narra que
uma vez conseguiu um pedaço seco de pele. Ele o colocou de molho,
assou-o, pôs de molho novamente e o comeu.
Depois do encerramento do cerco, o Profeta (que Deus o abençoe
e lhe dê paz) foi até Táif que fica a 60 quilometros de Makka. O local era
habitado pelos chefes e os abstados de Saquif. Eles rechaçaram o Profeta,
dirigindo-lhe palavras injuriosas e desafiadoras. Ao mesmo tempo,
instruíram seus escravos e suas crianças para ofendê-lo e apedrejá-lo,
ferindo-o em vários lugares, fazendo-o fugir. Afastando-se dali, ele sentou
para descansar ao lado do muro de Utba Ibn Rabi'a, desesperado, vertendo
sangue pelos ferimentos. Esta foi a situação que o Profeta descreveu, ao
dizer para Aicha:
"De todas as situações que enfrentei, a pior foi o dia da Acaba."
Apesar do maltrato excessivo, o Profeta continou pregando a verdade, a
ponto de os coraixitas planejaram assassiná-lo. De acordo com o plano
engendrado por eles, seus líderes e jovens cercaram a casa do Profeta,
dispostos a matá-lo a hora de sair para cumprir a Oração da Alvorada.
Mas, com a anuência de Deus, saiu da casa sem ser atingido por nenhum
mal, e empreendeu a Hégira para Madina.
Os coraixitas, então, declararam guerra contra ele e seus aliados e
obrigaram-no a entrar na luta por dez anos. Em suas batalhas ele perdeu
seus dentes, e cairam mártires muitos de seus companheiros. Ele sofreu,
junto com seus companheiros, o que os povos fracos sofrem quando
lhes é imposta a guerra.
Foram vinte e três anos de lutas. Dois anos antes do encerramento
de sua missão, ele conquistou Makka. Nesse dia seus mais encarniçados
inimigos se apresentaram, impotentes à sua frente, esperando o tratamento
que os vitoriosos aplicam aos derrotados. Mas, aquele que Deus
denominou "misericórdia para a humanidade" lhes perguntou:
"Ó coraixatis, o que pensais que irei fazer convosco?"
Responderam: "Farás o bem, pois és um honrado irmão e filho de
um digno irmão."
O Profeta, então, disse: "Ide, estais livres!"
110
Este é, sem dúvida, o maior exemplo de misericórdia e perdão. É
um dos milagres da história da humanidade. Se tal acontecimento se
tivesse dado antes da história escrita, ou se não fosse atestado
historicamente, muitos diriam que era fábula dos antigos, pois não nasceu
um ser humano com tal caráter!
O professor Bosworth Smith diz:
"Quando dou uma olhada geral sobre as características e o heroísmo
de Mohammad, do início e de seu desenrolar, quando vejo seus
companheiros nos quais insuflou o espírito da vida, e de quantos
heroísmos milagrosos foram capazes, vejo que ele é a mais sagrada das
pessoas e ocupa o nível mais alto, a ponto de dizer que a humanidade
não teve ninguém semelhante a ele".98
O alto exemplo que o profeta desenvolveu em toda sua vida, com
seu caráter altíssimo, suas indiferenças pelas riquezas e prazeres, não
tem similar na história. Era um comerciante próspero em Makka, sua
esposa, Khadija, era uma das mulheres mais ricas dentre os árabes, porém
seu comércio e a fortuna da sua esposa foram gastos pela sua causa.
Então foi acometido por uma grande calamidade, a ponto de uma vez
dizer:
"Fui aterrorizado pela causa de Deus como ninguém o foi, fui
injuriado pela causa de Deus como ninguém o foi. Passei trinta dias sem
ter, eu e Bilal, nada para comer a não ser algo que coubesse sobre o
braço do rapaz".99
O profeta passou por tudo isso por causa da sua misão. Ele teve a
oportunidade de desfrutar de outro tipo de vida, diferente da vida
miserável que levou. Quando ainda estava em Makka, foram-lhe
oferecidas muitas vantagens materiais que lhe garantiriam conforto e
grandeza. Enviaram-lhe Utba Ibn Rabi'a, que lhe disse:
"Ó sobrinho, pelos laços da familia, tu és um de nós. Criaste para
teu povo um problema grave que dispersou sua unidade. Escuta-me!
Expor-te-ei certos assuntos, alguns por si só sem contestação. Se
pretendes com o teu procedimento acumular riquezas, dar-tas-emos dos
nossos bens para tornar-te o mais abastado de nós todos. Se procuras
98. "Mohammad and Mohammadanism" (Mohammad e Mohammadanismo), pág. 340.
99. Relatado por At-Tirmizi, tendo Anas como fonte.
111
honrarias, faremos de ti o de maior prestígio e, de tua presença, uma
condição indispensável na grandes decisões. Se ambicionas o reinado
do país, proclamaremos a tua soberania sobre todos nós. E se o que tu
sentes, o que domina o teu ser, é por influência demoníaca, oferecemos
o necessário, de nossos bens, aos médicos, procurando a tua cura".
"Terminaste?" Respondeu: "Sim!"
Disse-lhe: "Ouve!" Então recitou os primeiros versículos da 41ª
Surata. Quando chegou no versículo: "Advirto-vos da vinda de uma
centelha semelhante que adveio aos povos de Ad e de Samud", Ubta
colocou a mão sobre a boca do Profeta e lhe pediu por Deus que parasse.100
Em Madina o Profeta era o chefe do Estado Muçulmano, auxiliado
por Companheiros exemplares, que sacrificaram a vida por ele, sem que
houvesse similaridade em toda a história. Os fatos históricos, porém,
atestam que até o fim de seus dias, quando sua bandeira cobria toda a
Península Arábica, ele continuou levando a vida de um homem comum,
sem ser atraído pelos prazeres do mundo.
Ômar narra: "Uma vez entrei no quarto do Profeta e o encontrei
deitado no chão sobre uma esteira, encostado numa almofada estofada
de sisal, o chão a marcar-lhe o corpo. Disse-lhe: 'Ó Mensageiro de Deus,
pede a Deus que enriqueça a tua comunidade, pois Ele enriqueceu os
persas e os romanos, mesmo quando eles não O adoravam.' Disse-me:
'Tu pensas nisso, ó Ibn Al Khattab? Àqueles foi concedido o prazer da
vida terrena, e a nós o da vida futura.'"101
Aicha narra que passavam dois meses, sem que se acendesse um
fogo na casa do Profeta. Urwa Ibn Azzubair perguntou-lhe:
"De que vos alimentáveis, ó tia?" Respondeu: "De água e tâmaras.
Tinhamos também vizinhos cristãos que nos davam leite. Que Deus os
recompense!"
Em outra tradição ela cita que a família de Mohammad nunca
comeu, por três dias seguidos, pão de trigo, até à morte do Profeta.102
O Profeta (que Deus o tenha em sua misericórdia) levou essa vida
dura, apesar de ter o poder de levar uma vida de conforto. Quando faleceu,
100. "Biografia de Mohammad", de Ibn Hicham - Vol. 1, pág. 261
101. Tradição narrada por Bukhari e Muslim.
102. "Al Tabakat Alkubra" (As Grandes Classes), de Ibn Saad, vol. 1, pág. 400.
112
nada deixou de herança, nenhum dinheiro, nem ovelhas, nem camelos.
Nem fez qualquer testamento. O extraordinário Profeta, que sabia que
os limites de seu império muçulmano chegariam até à África e Ásia,
alcançando o coração da Europa, disse: "Nós, os profetas, nada deixamos
de herança. Tudo que deixarmos deverá ser dado em caridade."
Todos esses acontecimentos que citamos, de disposição, de
sinceridade, de elevado caráter, não foram casuais em sua vida, mas em
todo o seu decorrer, e é, na verdade, uma pequena amostra dos
acontecimentos de sua vida típica. Ele elevou a humanidade aos mais
altos pináculos com que ela jamais sonhou. Se ele não tivesse existido,
os historiadores seriam obrigados a dizer que não existiu um ser humano
de seu quilate, nem existirá na história.
Não é totalmente estranho dizer-se que ele era o Profeta de Deus.
O estranho é que alguém o negue, por teimosia e engano.
Quando cremos em sua missão, somos capazes de desvendar o
segredo de sua milagrosa vida. Se negarmos a sua profecia, porém,
perderemos toda base para explicarmos a origem de seus extraordinários
dons, que não possui similaridade na história. O Professor Bosworth
Smith reconheceu essas realidades e convocou toda a humanidade a crer
na missão do Profeta:
"Mohammad, até ao fim da vida reivindicou para si apenas aquele
título com o qual começou, o qual a mais elevada filosofia cristã um dia,
se aventurará a crer, e concordar em lhe outorgar: o Profeta, um verdadeiro
Profeta de Deus."103
O outro lado da confirmação da missão de Mohammad, porém, é
aquele livro que o encarregado da missão trouxe, afirmando que é uma
revelação Divina.
Esse livro abrange tantas particularidades e distinções, que indicam
que não é de origem humana, que é de origem divina. Como o estudo
desse lado é muito importante, dedicamos a ele um capítulo à parte.
103. "Mohammad and Mohammadanism" (Mohammad e Mohammadanismo), pág.
344.
113
SÉTIMO CAPÍTULO
O Alcorão é a Voz de Deus
Abu Huraira narra que o Profeta Mohammad disse:
"A todos os prefetas foram dadas normas por igual e foram seguidos
pelas pessoas. Eu fui inspirado por Deus e espero ter o maior número de
seguidores no Dia da Ressureição."104
Esta tradição determina os pontos verdadeiros da nossa pesquisa.
Ela diz: O mais importante meio para se conhecer um profeta é o livro
que ele propicia, alegando que provém de Deus. O Alcorão, livro do
Profeta Mohammad, está em nossas mãos, e prova a sua veracidade.
Quais são as particularidades que atestam que o Alcorão provém
de Deus?
São inúmeras, que podemos resumir no seguinte:
1) O milagre do Alcorão.
A primeira particularidade que chama a atenção do pesquisador
da ciência é o desafio explícito que o Alcorão lançou a todas as pessoas,
há quatorze séculos, principalmente àqueles que refutavam a Mensagem
do Alcorão. Nenhum gênio ou humano conseguiu responder ao desafio,
até agora. O Alcorão clamou em alta voz, sem imprecisão ou
ambiguidade:
"E se tendes dúvidas a respeito do que temos revelado a Nosso
servo (Mohammad), componde uma surata semelhante às dele (o
Alcorão), e apresentai vossas testemunhas independentemente de
Deus, se sois verazes." (2:23)
É o mais estranho desafio da história e o mais perplexo. Nenhum
escritor da história da humanidade, com todas as suas faculdades mentais,
teve coragem de lançar um desafio igual. Não é possível que um autor
escreva um livro que outros não consigam escrever um semelhante ou
melhor. É possível produzir-se algo semelhante a qualquer obra humana
104. Sahih Al-Bukhári - Capítulo "As Prevenções"
114
com quaisquer palavras que os seres humanos não conseguem igualar; e
a humanidade, no decorrer da história, tenta em vão eliminar o desafio;
isso afirma automaticamente que não são palavras humanas, mas são de
origem divina, e tudo o que é de origem divina, não se pode enfrentar o
desafio.
A história registra alguns fatos em que algumas pessoas se iludiram
e tentaram enfrentar o desafio.
O primeiro se deu com o profeta árabe Lubaid Ibn Rabi'a, famoso
pela sua eleqüência, sua retórica e pela força dos seus versos. Quando
soube que Mohammad desfiava as pessoas, ele compôs alguns versos
em resposta ao que foi dito, e pendurou-os na porta da Caaba, ato este só
ousado por um pequeno grupo dentre os grandes poetas árabes.
Quando um muçulmano viu aquilo, sentiu o amor próprio ferido.
Ele, então, escreveu alguns versículos do Alcorão e os dependurou ao
lado dos versos de Lubaid. Quando este passou pela Caaba, no dia
seguinte, ficou estupefato com os versículos do Alcorão e exclamou:
"Por Deus, essas não são palavras humanas. Eu me converto ao
Islam."
A influência da eleqüência do Alcorão naquele gigante da poesia
árabe, fez com que ele abandonasse a poesia. Um dia Ômar Ibn Al Khattab
lhe pediu: "Declama para nós algum poema seu". Ele, então, leu a 2ª
Surata do Alcorão e disse: "Nunca mais declamo poemas depois que
Deus me ensinou a Surata Albácara e a Surata de Aal Imran."
Quanto ao segundo fato eis que é mais estranho que o primeiro.
Diz respeito a Ibn Al Mucaf'a, e é citado pelo orientalista Walsten, em
seu livro, onde diz:
"A alegação de Mohammad quanto ao milagre literário do Alcorão
não era sem fundamento. É apoiada por um evento dado um século após
o advento do Islam"105
Um grupo de ateus e ímpios ficou perturbado pela influência que
o Alcorão exercia sobre as pessoas em geral. Resolveram enfrentar o
desafio do Alcorão, entrando em contato com Abdullah Ibn Al-Mucafa’,
um extraordinário literato e escritor, conhecido pelo seu talento, que
aceitou a tarefa.
105. "Mohammad, His Life and Doctrine" (Mohammad, sua Vida e Doutrina), pág.
143
115
Ele lhes pediu um ano de prazo e lhes impôs a condição de se
responsabilizarem pelas suas necessidades durante esse período.
Passados seis meses, foram procurá-lo para verem o que ele havia
feito, para enfrentar o desafio do Profeta do Islam.
Encontraram-no sentado, com a pena em sua mão, absorto em
pensamentos profundos, com um monte de papel à sua frente e com seu
quarto repleto de papéis escritos e amassados.
"Este genial escritor tentou, com todas as suas forças, atingir o seu
objetivo, mas foi acometido de um grande fracasso em sua tentativa.
Apesar de ter passado seis meses, não conseguiu compor um só versículo
do mesmo estilo do Alcorão. Este fato fez com que ele desistisse de seu
fracassado intento"106
De sorte que o desafio do Alcorão permanece, através dos séculos
e das gerações, uma extraordinária particularidade, que atesta, sem
dúvida, ser ele composto de palavras divinas e que, para qualquer pessoa,
com suas faculdades normais, é suficientes para ser acreditado.
É indubitável que os árabes, conhecidos como inigualáveis na
história pela sua eleqüência e retórica, a ponto de denominarem a outros
de bárbaros, por se orgulharem de sua retórica, foram obrigados a se
inclinar perante o Alcorão, reconhecendo sua incapacidade de igualá-lo.
Os livros da tradição narram, baseados em Ibn Abbáss, que
Dhamad, um feiticeiro que dizia curar os loucos, quando chegou a Makka,
ouviu alguns néscios de Coraix dizerem que Mohammad estava louco.
Disse: "Se puder ver esse homem, talvez Deus o cure por meu
intermédio." Foi ter com ele e lhe disse: "Ó Mohammad, sou feiticeiro e
Deus cura a quem lhe apraz por meu intermédio. Está interessado em se
curar?"
O Mensageiro de Deus lhe disse: "Louvado seja Deus, a quem
pedimos ajuda. A quem Deus encaminhar, ninguém extraviará, e a quem
se extraviar, ninguém o orientará. Presto testemunho de que há outra
divindade além de Deus, Único, sem parceiros e que Mohammad é seu
servo e mensageiro." Dhamad pediu: "Repita essas suas palavras." O
Mensageiro as repetiu por três vezes. Dhamad disse, então:
"Já ouvi padres, magos e poetas, mas nunca ouvi palavras como
estas." Há inúmeros reconhecimentos emitidos pelos senhores da poesia,
106. "Ijaz Alcor'an" (O Milagre do Alcorão), de Ar-Raf'i
116
da literatura e de pensadores, a respeito do Alcorão, registrado nas páginas
da história.
2 – As Profetizações do Alcorão
A segunda particularidade da grandiosidade do Alcorão depreende
das suas profecias que posteriormente ocorreram de forma estranha.
Um grande número de pessoas notáveis se aventuraram a profetizar
futuros acontecimentos, com eles próprios ou com outros. Porém, o tempo
depois provou a falsidade de tais profecias. Muitos, no início,
conseguiram, devido às oportunidades, às situações, às capacidades, às
ajudas e aos apoios, serem bem sucedidos, pois deduziram que
conseguiram resultados satisfatórios, mas o tempo sempre anula tais
profecias. O próprio tempo foi quem atestou a veracidade das profecias
do Alcorão. Todos os fatos ocorreram em situações diversas.
A história nos informa isso e nos causa perplexidade. Continuamos
a estudar o fenômeno à luz do nosso conhecimento material e não
conseguimos captar a sua realidade, a não ser que os consideremos de
origem não humana.
Napoleão Bonaparte era um dos maiores comandantes de sua época.
Suas primeiras conquistas demonstraram que se igualaria a Cesar e a
Alexandre. Por isso, a ilusão subiu-lhe à cabeça, a ponto de pensar que o
destino estava nas mãos dele. Tal pensamento cresceu tanto nele, que
dispensou seus companheiros, alegando que o destino só lhe reservou
vitórias completas sobre a humanidade! Todos nós, porém, sabemos qual
foi o seu destino.
Napoleão saiu de Paris em 12 de junho de 1815 à frente de seu
poderoso exército para eliminar seus inimigos no caminho. Após seis
dias, o Duque de Welington infligiu ao exército de Napoleão a mais
acachapante derrota em Waterloo, na Bélgica. O Duque comandava
soldados ingleses, alemães e holandeses. Quando Napoleão perdeu as
esperanças e teve certeza de seu inexorável destino, tentou fugir,
abandonando o comando das forças francesas, para ir para América. Ao
chegar ao litoral, foi preso pela polícia marítima e colocado a bordo de
um navio da marinha britânica. Foi, então, enviado a uma ilha desabitada
ao sul do Oceano Atlântico, a ilha de Sta. Helena, onde morreu após
alguns anos de desgraça, miséria e solidão, em 5 de maio de 1821.
117
O Manifesto Comunista, que apareceu em 1848, profetizou que o
primeiro país que comandaria a revolução comunista, seria a Alemanha.
Mas, apesar de terem transcorrido cento e quarenta anos, a Alemanha
continua livre de tal revolução e o comunismo foi abolido no país onde
foi fundado.
Karl Marx escreveu em maio de 1849, dizendo: "A República
Vermelha surge nos céus de Paris!" Apesar de terem passado sobre essa
"profecia" mais de um século e meio, o sol da República Vermelha não
apareceu sobre os habitantes de Paris!
Adolf Hitler, em seu famoso discurso, proferido em Munique em
4 de março de 1931, disse:
"Sigo o meu caminho, ciente de que a vitória está no meu
destino."107
Todo o mundo sabe hoje qual foi o destino do General alemão: Foi
a derrota e o sucídio.
Entre esse exército de profetas e profecias, nada encontramos além
da realização das profecias do Alcorão. Esse fato é suficiente para atestar
que suas palavras têm origem divina, que dominam as situações e os
acontecimentos, e ele conhece tudo o que irá acontecer, até à eternidade.
Citaremos aqui duas profecias dentre as muitas vaticinadas pelo
Profeta do Islam e que foram realizadas na sua totalidade. Uma das duas
profecias diz respeito do próprio Islam e a outra diz respeito à vitória
dos romanos.
Quando o Profeta iniciou sua missão, a Península Arábica ergueuse contra ele, e ele teve que enfrentar três frentes ao mesmo tempo.
Primeira: As tribos politeístas, depois que se tornaram seus
inimigos.
Segunda: O capitalismo judeu.
Terceira: Os hipócritas que se infiltraram por entre os muçulmanos
para elimirarem seu movimento internamente.
O Profeta lutava pelo sua causa em todas as frentes: A força dos
politeístas, o capitalismo judeu e a quinta coluna. Ele enfrentou esse
dilúvio opressor com determinação, mesmo sendo auxiliado por apenas
um pequeno grupo de imigrantes de Makka, de habitantes de Madina e
107. "A Study of History" (Um Estudo de História), Aleridgment, pág. 447.
118
de alguns escravos que haviam-se convertido. Não há dúvida de que
alguns líderes de Coraix o apoiaram, mas eles também foram boicotados
por seus familiares e sofreram a inimizade da sua tribo, à exemplo do
que aconteceu com o Profeta.
Esse movimento se desenvolveu pulatinamente, lutando e se defendendo até a situação se deteriorar, obrigando o Profeta e seus
companheiros a imigrarem para vários lugares, reunindo-se depois, em
Madina, em situação precária, de necessidade e pobreza, depois de terem
deixado seus bens em Makka, sua cidade natal.
Para medirmos a desgraça desses imigrantes, citamos aquele grupo
que vivia na Mesquita do Profeta, pois não tinham casa para morrar, e
dormiam na Suffa no fundo da Mesquita. Foram por isso, denominados
por moradores da Suffa".
Os livros de história nos informam que o número desses
Companheiros atingiu, algumas vezes o de quatrocentos.
Abu Huraira narra: "Vi setenta moradores da Suffa orando, alguns
com o traje até aos joelhos, outros um pouco abaixo. Quando um se
inclinava, segurava o traje para não aparecerem suas vergonhas."
O mesmo Abu Huraira narra: "Viram-me correr entre o púlpito da
mesquita do Profeta e o quarto de Aicha. As pessoas diziam: 'Está louco!'
Mas eu não estava louco, estava com fome."
Nessa miserável situação, em que os muçulmanos estavam sofrendo
de pobreza, temerosos que o seu inimigo os cercasse e os sequestrasse,
vemos o Alcorão profetizar:
"Deus decretou: Veneceremos, Eu e Meu mensageiro." (58:21).
"Pretendem extinguir a luz de Deus com suas (infamantes)
bocas; porém, Deus completará Sua luz, embora desgoste os
incrédulos. Foi Ele Quem enviou Seu Mensageiro com a orientação
e com a verdadeira religião, para fazê-la prevalecer sobre toda
religião, ainda que isto desgoste os idólatras." (61:8-9)
Não passou muito tempo para que os muçulmanos vissem toda a
Península Arábica sob o seu domínio. Um pequeno grupo, sem montarias,
sem armamentos, derrotou inimigos com poderosos exércitos, com
equipamentos e armamentos.
Não é de nossa alçada explicarmos essas profecias à luz da
terminologia materialista. Devemos aceitar que o fornecedor dessas
119
informações incognoscíveis não as inventou ele próprio, mas fê-lo como
legatário de Deus. Se ele fosse um ser humano normal, não seria possível
que suas palavras ditassem a história.
O Professor Stubart disse: "Nenhum ser humano da história
consegue se assemelhar à personalidade de Mohammad."
Ele acrescenta:"Se estudássemos a história à luz de que ele teve de
meios materiais, e extraoridinários heroísmos, por ele apresentados, não
encontraríamos um nome tão ilustre, tão claro como o nome do Profeta
Mohammad"108
Esse fato é a mais importante prova de que Mohammad é o
Mensageiro de Deus. Sir William Muir, o maior inimigo do Islam,
reconhece esse fato, indiretamente, quando diz:
"Mohammad desbaratou as manobras de seus inimigos sob a terra
e ele tinha plena certeza de sua vitória, juntamente com um pequeno
grupo de Companheiros, apesar de estar totalmente descoberto
militarmente. Em outra expressão: Ele vivia na toca do leão, mas
demonstrou uma fabulosa determinação, cuja semelhança só foi citada
na Bíblia, quando um profeta disse a Deus: "So sobrei eu do meu povo."109
Quanto à segunda profecia que consta do Alcorão, trata-se de
vaticínio da vitória dos romanos sobre os persas. No início da Surata dos
Bizantinos, o Alcorão diz:
"Alef, Lam, Ra. Os bizantinos foram derrotados, em terra
muito próxima; porém, depois da derrota vencerão, dentro de alguns
anos." (30:1-3)
O Império Persa situava-se a leste da Península Arábica, do outro
lado do Golfo Arábico, no tempo em que o Império Bizantino se estendia
do oeste da Península, no litoral do Mar Vermelho até ao Mar Negro. O
Império Persa era também chamado de Império Sassânida. Os limites de
ambos os impérios se estendiam até o Rio Dajla e Eufrates, ao norte da
Península Arábica. Eram os dois impérios mais fortes daquela época.
108. "Islam and its Founder" (O Islam e seu Fundador), pág. 228.
109. "Life of Mohammad" (A Vida de Mohammad), pág. 228. Talvez seja isso que o
Alcorão nos diz a respeito de Moisés, que disse: "Ó Senhor meu, somente posso ter
controle sobre mim e meu irmão" (5:25).
120
A história do Império Bizantino, como narra o historiador Gibbon,
começa na século II da era cristã, e desfrutava, então, a fama de ser a
mais desenvolvida civilização do mundo.
Os historiadores se ocuparam da queda do Império Romano como
com nenhum outro império.110
Não se deve refutar nenhum livro que trate do assunto, mas
podemos basear-nos no livro do historiador Gibbon: "Declínio e Queda
do Império Romano", que é o mais detalhado e fidedigno. O autor cita,
no capítulo 5, os acontecimentos relacionados com a nossa pesquisa.
O imperador constantino adotou a religião cristã em 325, e tornoua a religião oficial do Estado. Por isso, muitos romanos se converteram.
Por outro lado, os persas, adoradores do sol, refutaram aquela adoção.
O Imperador que assumiu o Império Romano no final do século
VII foi Maurício. Era um imperador que negligenciava os assuntos do
império. Por isso, seu exército comandou uma revolução contra ele sob
o comando de Phocas, tornando-se, este, imperador, com a vitória da
revolução e a eliminação, de uma forma brutal, da família reinante. Ele
enviou um embaixador para o Imperador do Irã, Chosroes II, filho de
Anucharwan, o justo.
Chosroes era fiel ao Imperador Maurício, pois este lhe havia dado
asilo em 590-591, devido a uma tentativa de golpe no Império Persa. O
Imperador Maurício o ajudou com um exército a recuperar o trono. Narrase também que Chosroes casou com a filha de Maurício durante a sua
estada em Bizâncio e, por isso, o chamava de pai.
Quando Cosroes soube do golpe romano, enfureceu-se e ordenou
a prisão do embaixador romano, e anunciou que não reconheceria a
legitimidade do novo governo romano.
Ele mandou seus exércitos para a Síria, e Phocas não conseguiu
enfrentar os exércitos persas, que conquistaram as cidades de Antióquia
e Jerusalém, ampliando, assim, os limites do Império Persa até ao vale
do Nilo. Algumas seitas cristãs como a nestoriana e a jacobita, aborrecidas
com o novo sistema romano, apoiaram os novos conquistadores, seguidos
pelos judeus, o que facilitou a vitória persa.
110. "Western Civilization" (A Civilização Ocidental), pág. 210.
121
Alguns auxiliares dos romanos mandaram uma carta para o
governador romano nas colônias, pedindo-lhe salvar o império. O
governador enviou um poderoso exército sob o comando de seu filho, o
jovem Heráclito. Ele tomou o caminho marítimo, em total segredo, que
Phocas não soube de sua vinda, a não ser quando viu a frota se
aproximando do litoral romano. Heráclito, sem resistência que pudesse
ser citada, conquistou o Império e matou Phocas, o traidor.
Parece que Heráclito não conseguiu, apesar de ter reconquistado o
Império e de ter matado Phocas, parar a incursão persa, e os romanos
perderam todos os setores leste e sul da capital, deixando a bandeira
cristã de tremular sobre o Iraque, a Síria, a Palestina, o Egito e a Ásia
menor. Foi substituída pela bandeira persa. Então, o Império Romano
encolheu-se em sua capital, e todos os caminhos foram fechados num
implacável boicote enconômico. Houve seca e proliferação de doenças
infeciosas e só sobraram alguns ramos, do gigantesco Império.
O povo da capital vivia com medo, aguardando a invasão dos
persas. Por isso, todos os mercados foram fechados, o comércio entrou
em crise e os institutos de ensino se transformaram em cemitérios
abandonados.
Os adoradores do fogo começaram a tiranizar os súditos romanos
para acabarem com o cristianismo. Debochavam publicamente dos
sagrados sentimentos religiosos, destruiam as igrejas e derramou-se o
sangue de 100.000 cristãos aproximadamente, construiram templos para
a adoração do fogo em todos os lugares e obrigaram as pessoas a adorarem
o sol e o fogo.
Eles usurparam a cruz sagrada e a mandaram para Madáen.
O historiador Gibbon, no volume 5 de seu livro, diz:
"Se a intenção de Choroes fosse realmente boa, teria feito as pazes
com os romanos, depois que eles mataram Phocas, e teria recebido
Heráclito como melhor amigo por ter vingado seu aliado e pai de sua
esposa, Maurício. Ele, porém, mostrou as suas verdadeiras intenções
quando determinou a continuação da guerra."111
111. "The History of the Decline and Fall of the Roman Empire' (A História do Declínio
e Queda do Império Romano), Edward Gibbon, V. 5, pág. 74.
122
Pode-se avaliar o grande pricipício que se formou entre os romano
e os persas examinando-se a carta enviada por Choeroes a Heráclito, de
Jerusalém, dizendo:
"Do deus Chosróes, o maior dos deuses, deus de toda a terra, para
seu servo vil e negligente, Heráclito: Você diz que acredita em seu Deus.
Por que o seu Deus não salva Jerusalém das minhas mãos?"
O desespero e o desânimo tomaram conta de Heráclito por causa
dessa péssima situação.
Resolvou voltar para seu palácio, em Cartagena, no litoral africano,
sem se importar mais em defender o Império, preocupando-se apenas
em se salvar. Ordenou os navios imperiais de zarparem e saiu para
escolher um deles que o levaria para o seu asilo voluntário.
Nessa hora difícil os sacerdotes romanos apelaram, em nome da
religião e de Cristo, e conseguiram convencer Heráclito a permanecer.
Ele foi com os sacerdotes para a Igreja de Santa Sofia para prometer a
Deus que viveria e morreria com o povo que Deus escolheu para ele.
Convencido pelo General iraniano, Sain, Heráclito enviou um embaixador
para Chosroes, pedindo paz. Mas, quando o embaixador romano chegou
ao palácio, Chosroés recebeu-o com muita irritação, gritando: "Não quero
receber esse embaixador, mas exijo que Heráclito seja posto a ferros e
trazido à minha presença. Não faço as pazes com o romano até que ele
abandone o seu Deus cristão, e adore o sol, nosso deus."112
Depois de seis anos de guerra, o imperador persa aceitou fazer as
pazes com Heráclito sob certas condições, e que o imperador romano
pagasse mil talentos de ouro, mil talentos de prata, mil peças de seda,
mil cavalos, e mil moças virgens.113
Gibbon descreve tais condições como "ofensivas", sem dúvida, e
que era possível que Heráclito as aceitasse, se não fosse o tempo exíguo
que lhe foi concedido para efetuar o pagamento de um Império saqueado,
de esperanças limitadas. Por isso, resolveu utilizar essa fortuna como
última tentativa contra seus inimigos.
Enquanto reinava essa situação nas duas capitais, romana e persa,
reinava entre os habitantes de uma capital local, na Península Arábica, a
112. Idem, pág. 76.
113. "Talento", medida antiga de peso grega, equivalente a vinte e seis quilogramas.
123
Makka uma situação semelhante. Os persas eram masdeístas, adoradores
do sol e do fogo. Os romanos acreditavam em Cristo, na revelação, na
mensagem e em Deus, Excelso.
Os muçulmanos, apoiavam moralmente os romanos e desejavam
que eles derrotassem os politeístas e descrentes. Os descrentes de Makka,
por outro lado, apoiavam os persas, por estes adorarem as aparências
materiais. A luta entre os romanos e os persas tornou-se um símbolo
externo da luta que se desenvolvia entre os muçulmanos e os politeístas
de Makka. Moralmente, cada um dos dois grupos sentia que o resultado
dessa luta externa seria o mesmo resultado de sua luta interna. Quando
os persas derrotaram os romanos em 16 d.C., conquistando todas as
regiões orientais do Império Romano, os politeístas apreoveitaram a
oportunidade para mofar dos muçulmanos, dizendo: "Nossos irmãos
derrotaram os vossos irmãos. Da mesma forma, nós vos derrotaremos se
não fizerdes a paz conosco e deixardes a vossa religião! Os muçulmanos
estavam em Makka em situação de maior fraqueza material. Nessa
situação desesperadora, o Profeta proferiu as seguintes palavras:
"Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso. Alif, Lam,
Mim. Os bizantinos foram derrotados em terra muito próxima;
porém depois da derrota vencerão. (Isto) dentro de alguns anos,
porque é de Deus a decisão do passado e do futuro, e nesse dia os
crentes se regozijarão, com o socorro de Deus. Ele socorre a quem
lhe apraz e Ele é o Poderoso, o Misericordiosíssimo. É a promessa
de Deus, e Deus jamais quebra Sua promessa; porém, a maioria dos
humanos o ignora." (30:1-6)
Comentando essa profecia, Gibbon escreve: "Naquela época,
quando o Alcorão profetizou isso, nenhuma profecia estava mais distante
de acontecer, porque os primeiros doze anos do governo de Heráclito
anunciavam o final do Império Romano".
É sabido que essa profecia proveio de quem é o Senhor de todos
os meios e todas as situações, em Cujas mãos estão os corações e os
destinos das pessoas. Logo que Gabriel deu essa informação ao Profeta,
começaram aparecer mudanças no Império Romano!
Gibbon narra o fato da seguinte forma: "É um dos mais destacados
heroísmos da história o que vemos em Heráclito. Esse imperador
124
apresentava um excesso de indolência e gosto pelos prazeres, e pelas
fantasias, nos primeiros e últimos anos de seu governo. Parecia um
espectador, resignado com os problemas de seu povo. Mas, a névoa que
cobre o céu, de manhã e à noite, desaparece por causa do calor do sol.
Foi o que aconteceu em relação a Heráclito. Ele se transformou, de
repente, de impotente Arcadius114 em César115 da guerra, conseguindo
restituir a glória romana durante seis guerras corajosas que empreendeu
contra os persas.
Era dever dos historiadores romanos removerem a cortina de sobre
a verdade, revelando os segredo desse despertar e dormir. Depois da
passagem desses séculos podemos dizer que houve incentivos políticos
por trás desse heroísmo, mas foi o fruto do próprio instinto de Heráclito.
Ele abandonou todos os prazeres e abandonou sua sobrinha Martina,
com quem se tinha ilegalmente casado.
Heráclito, aquele imperador negligente, sem determinação, traçou
uma fabulosa estratégia para derrotar os persas, e começou a se preparar
para a empreitada. Mas, apesar disso, quando saiu à frente de seu exército,
muitos habitantes de Constantinopla achavam estar vendo o último
exército da história bizantina. Heráclito sabia que a frota marítima persa
era fraca. Por isso, preparou sua marinha para atacar os persas pela
retaguarda. Levou seu exército pelo Mar Negro até a Armênia e atacou
os persas de surpresa no mesmo campo em que Alexandre derrotara o
exército persa, quando invadiu o Egito e Damasco, e os persas não
conseguiram enfrentar esse ataque de surpresa, e puseram-se em fuga.
Os persas possuiam um grande exército na Ásia Menor. Heráclito,
porém, surpreendeu-o novamente com sua frota e infligiu-lhe pesada
derrota. Depois dessa sua importante vitória, Heráclito retornou para
sua capital, Constantinopla, por via marítima, e fez acordo com os ávaros,
consegindo, com seu auxílio, paralizar a marcha dos persas perto de sua
capital.
Depois das duas guerras citadas, Heráclito empreendeu três outras
guerras contra os persas, nos anos 623, 624 e 625, conseguindo chegar
114. Arcádius, um dos imperadores romanos, filho mais velho de Teosias I., assumiu o
poder em 395 d.C e ficou conhecido pela sua covardia.
115. César, famoso comandante e político romano que governou de 144 a 101 a. C.
125
até às terras do Iraque, através do Mar Negro, obrigando os persas a se
retirarem de todas as terras romanas, assumindo Heráclito uma posição
que lhe permitia penetrar no coração do império persa. A última guerra
entre ambos os Impérios foi a que ocorreu em dezembro de 627, à beira
do Rio Dajla.
Quando Chosroes viu que não conseguia parar a marcha dos
romanos, tentou fugir de seu palácio preferido, Destkard, mas uma
revolução interna surgiu no Império e seu filho Chirowe o depôs,
colocando-o na prisão do palácio, onde morreu cinco dias após à sua
deposição.
Seu filho matou dozoito dos filhos de seu pai, Chosroes, na frente
de seus olhos.
O próprio Chirowe não conseguiu assumir o trono mais de oito
meses, pois um de seus irmãos o matou, desencadeando uma luta dentro
da casa real. No curto espaço de quatro anos, nove imperadores
assumiram o poder. Tal situação caótica não permitia que os persas
continuassem sua guerra com os romanos. Por isso, Kubad II, filho de
Chosroes Abrowiz II, pediu a paz e anunciou sua desistência das terras
romanas, devolvendo também, a cruz sagrada. Heráclito retornou a
Constantinopla em março de 628, numa comemoração fabulosa, com
sua carruagem sendo puxada por quatro elefantes, sendo recebido por
milhares de pessoas fora da capital, carregando tochas e ramos de
oliveira".116
Assim, a profecia do Alcorão foi realizada com a vitória dos
romanos no tempo previsto, ou seja, em menos de dez anos, como foi
insinuado com a expressão "em poucos anos".
Gibbon ficou estupefato com a realização dessa profecia, mas
tentou diminuir-lhe o valor, ligando-a à missiva que o profeta enviou a
Chosroes.
Gibbon diz: "Quando o imperador persa conseguiu a vitória sobre
os romanos, recebeu uma carta de um súdito inexpressivo, de Makka,
convocando-o a crer em Mohammad, o Mensageiro de Deus. Ele, porém,
refutou a convocação e rasgou a carta. Quando o Profeta soube da notícia,
pelo embaixador árabe, disse: Deus rasgará com o império e acabará
com as suas forças".
116. Declínio e Queda do Império Romano, vol. 5, pág. 94.
126
"Mohammad, que sentou no Oriente sobre o séquito dos dois
poderosos impérios, rejubilou-se quando soube da luta entre ambos e,
mesmo sabendo das conquistas persas, profetizou que a vitória iria ser
dos romanos após alguns anos. Naquela época, esta profecia era a mais
distante de acontecer, porque os primeiros doze anos do governo de
Heráclito, denotavam a aniquilação do Império Romano".117
Parece que todos os historiadores do Islam sabem muito bem que
essa profecia não tem nenhuma relação com a carta que o Profeta enviou
para Chosroes Abrowiz, porque essa carta foi enviada no ano 7 da Hégira,
após o pacto de Hudaibiya, ou seja, em 628, sendo que a profecia foi
efetuada em Makka, em 616, muito antes da Hégira. Entre os dois eventos
há doze anos aproximadamente".118
3 – O Alcorão e as Descobertas Modernas
A terceira particularidade que estudaremos neste capítulo, a respeito
da veracidade do Alcorão, é que apesar da revelação do Alcorão ter sido
feita muitos séculos antes da época da ciência moderna, nimguém
conseguiu provar a existência de qualquer erro científico nele. Se fosse
composto de palavras humanas, isso seria impossível .
Um grupo de estudantes chineses, estudavam na Universidade da
California há alguns anos atrás. Doze desses estudantes foram até ao
sacerdote da Igreja de Barckley, pedindo-lhe que organizasse um curso
sobre a religião cristã aos domingos, dizendo-lhe que eles não estavam
dispostos a abraçar o cristianismo, mas queriam saber a proporção da
influência dessa religião na civilização americana.
O sacerdote escolheu um cientista matemático e astrônomo, o
Professor Peter W. Stonner para ministrar o curso. Depois de quatro
meses eles se converteram ao cristianismo.
As causas desse estranho acontecimento são-nos narradas pelo
próprio professor:
"A primeira pergunta a me ser formulada foi: O que podia dizer a
eles sobre a religião? Eles não acreditavam no Evangelho, e o seu ensino
pelo método tradicional não traria proveito. Nessa época lembrei-me
117. Idem, págs. 73-74.
118. "Encyclopaedia of Religion and Ethics" (Enciclopédia da Religião e da Ética).
127
que durante meus estudos eu observava uma forte relação entre as ciências
modernas e o livro do Gênesis e, por isso, achei que seria importante
expor o fato perante o grupo.
"Sabíamos, eu e o grupo, que aquilo que foi narrado nesse livro
sobre a formação do mundo foi escrito milhares de anos antes das
descobertas científicas modernas sobre a terra e o céu. Sentíamos também
que os pensamentos das pessoas na época de Moisés, pareciam bobagens
se as estudássemos à luz da ciência moderna.
"Passamos todo o inverno estudado o Livro do Gênesis e os
estudantes faziam as perguntas a respeito desse livro e depois procuravam
as respostas com afinco na biblioteca da Universidade. Depois do inverno
o sacerdote me informou que os estudantes foram ter com ele para
informá-lo que pretendiam abraçar o cristianismo, declarando que
chegaram à conclusão de que a Bíblia era um livro revelado por Deus".119
A título de exemplo, o livro do Gênesis sobre a condição da terra,
no começo, diz: "Havia trevas sobre a face do abismo".120
Esta é a melhor descrição da situação em que a terra se encontrava
naquele tempo, como a ciência moderna nos informa. A face da terra era
muito quente, e a água se evaporou por causa da alta temperatura, e a luz
não alcançava a superficie da terra, porque a água dos nossos mares
estava ligada a uma grossa nuvem, no espaço, e as trevas dominavam a
terra.
Nós cremos que o Evangelho e o Tora são livros divinos, a exemplo
do Alcorão, e por isso encontramos neles citações da onisciência divina.
Mas os textos originais foram perdidos e há uma diferença enorme entre
o Evangelho verdadeiro e o Evangelho desta época, depois de passarem
dois mil anos repletos de tentativas de tradução de um idioma para outro,
ficando o texto original cheio de interpolações humanas, de acordo com
a afirmativa do sábio americano A. C. Morrison.121
119. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), págs. 137-138.
120. O Livro do Gênesis diz: "E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a
face do abismo." (1:2).
121. "Man Does not Stand Alone" (O Homem não Está Sozinho), pág.120 - Está patente
que os Evangelhos não foram escritos durante a vida de Cristo, nem mesmo meio
século depois de sua morte. O Tora também foi escrita no fim do período Babilônico,
586-538 a.C..
128
Uma vez que esses documentos perderam seu valor, devido ao
que aconteceu, Deus, Excelso, enviou uma "nova edição" de Seu Livro
para a humanidade. Esse livro é o Alcorão Sagrado e, devido à sua
veracidade e perfeição, possui todas as distinções e particularidades
inexistentes nos livros anteriores a ele.
O Alcorão foi revelado numa época em que o homem conhecia
muito pouco a respeito da natureza.
Ele pensava que as chuvas desciam do céu e que a terra era plana,
e que o céu era o teto da terra.
Via as estrelas como pregos brilhantes de prata colocados na
abóbada do céu, ou que eram lâmpadas penduradas no espaço. Os antigos
hindus acreditavam que a terra estava equilibrada nos dois chifres da
"Vaca mãe", e que quando mudava a terra de um chifre para o outro,
acontecia terremotos.
Os cientistas achavam que o sol estava fixo, sem movimento, e
que girava ao redor da terra, até que veio Copérnico, no século XVI, e
apresentou a sua teoria a respeito do movimento do sol.
Assim, a ciência foi-se desenvolvendo paulatinamente, aumentando
a força da observação e do estudo perante o homem. Ele descobriu muitos
segredos, e agora qualquer parte do conhecimento sobre as partes do
corpo e as partes das diferentes ciências foram mudadas completamente,
e provou-se a invalidade das crenças da época antiga.
Isso prova que de todas as afirmativas humanas, nenhuma
permanece inalterada para sempre, porque o homem fala sobre o que é
conhecido das crenças e ciências da sua época. Ele repete o que encontra
em sua época, quer suas palavras caiam no campo das sensibilidades ou
das insensibilidades. Por isso, não encontramos um livro que tenha
passado por ele um largo tempo, sem que encontremos nele um monte
de erros em todos os campos, devido às novas descobertas em todos os
campos.
A questão do Alcorão, porém, difere totalmente de tudo isso. Ele é
a verdade em tudo que diz, como era nos séculos da ignorância, sem que
tivesse ocorrido nenhuma mudança em seu texto, apesar da passagem
dos séculos e das longas épocas. Isso, por sí, é uma prova de que sua
fonte é um cérebro magnífico, conhecedor do cognoscível e do
129
incognoscível. Ele conhece todas as verdades nas suas formas finais e
reais.
Sua onisciência desconhece os limites de tempo e de espaço. Se
essas palavras fossem de origem humana, de conhecimento e de visão
limitados, o tempo as teria anulado há muitos anos atrás, como acontecerá
a todas as palavras humanas no futuro.
O eixo verdadeiro da Mensagem do Alcorão é a felicidade eterna.
Por isso, ele não entra em nenhum âmbito de nossa ciência e arte
modernas, mas se dirige ao homem com a realidade. Trata de tudo que
diz respeito ao homem, que é uma questão delicada e uma posição muito
importante. Porque o homem, quando é ignorante, ou tem conhecimento
insuficiente sobre um determinado assunto, então se encoraja em falar a
respeito da questão, mesmo geralmente, e forçosamente se perde em sua
palestra, utilizando-se de palavras ou expressões sem relação com a
realidade.
A título de exemplo, Aristóteles disse, como prova da prioridade
do homem sobre a mulher: "A boca da mulher tem menos dentes que a
boca do homem". É sabido que isso nada tem a ver com a anatomia, mas
demonstra a ignorância do afirmante. O número dos dentes, tanto no
homem como na mulher, é igual.
É fantástico saber que o Alcorão, até no que diz respeito à maioria
das ciências modernas, de uma forma ou de outra, não possui uma só
palavra que a ciência tivesse confirmado depois, ser de autoria de uma
pessoa insipiente. Isso demonstra que são palavras de um Ente acima da
natureza, Onisciente, numa época em que ninguém sabia nada. Ele
conhece, também, o que as pessoas ignoram nesta época, apesar do
desenvolvimento da ciência.
Apresentaremos aqui alguns exemplos que mostrarão claramente
que o Alcorão trata das verdades que só foram conhecidas em nossa
época, mesmo que esse tratamento esteja dentro de sinais não específicos.
É preciso ser dito, como introdução para essa tese, que a adaptação
das palavras do Alcorão com a ciência reside no fato de que a ciência
moderna conseguiu desvendar os segredos concernentes à tese, o que
nos forneceu material suficiente para traduzirmos os sinais do Alcorão a
esse respeito. E se um estudo de um assunto no futuro eliminar uma das
130
verdades científicas modernas, em todo ou em parte, isso não prejudicará
em absoluto a verdade do Alcorão, mas significará que o exegeta errou
em sua tentativa de explicar um sinal generalizado do Alcorão. Estou
convencido que as futuras descobertas serão mais corroborantes dos sinais
do Alcorão, com maior explicação para seus significados ocultos.
Divisão dos Versículos do Alcorão
Podemos dividir os versículos alcorânicos relativos a esse assunto
em dois tipos:
Primeiro: o tipo conhecido pelas pessoas, até aquela época, assuntos
secundários e superficiais.
Segundo: totalmente desconhecido pelo homem.
Há muitas coisas a cujo respeito os povos antigos só tinham
conhecimento parcial. Esse conhecimento era ínfimo em relação ao
conhecimento e à disposição do homem hoje, devido às invenções
modernas. O Alcorão enfrentou, ao menos quanto a estas, um grande
problema. Não se tratava de um livro de ciências e engenharia. Por isso,
se ele começasse a revelar os segredos da natureza, as pessoas iriam
descordar entre si a respeito do que foi revelado, e seria impossível
alcançar o objetivo real da revelação do Alcorão: a reforma e o
enriquecimento do pensamento humano. Um dos milagres do Alcorão é
que ele fala com a linguagem científica, antes mesmo de sua descoberta,
como também usa palavras e expressões incompreensíveis para os
antigos, quando versam sobre descobertas da época moderna!
1º Tipo:
A) O Alcorão cita uma lei pertinente à água, em duas Suratas: "O
Discernimento" e "O Clemente". Na primeira lemos:
"Ele foi Quem estabeleceu os dois mares; um é doce e saboroso
e o outro é salgado e amargo, e estabeleceu entre os dois uma linha
divisória e uma barreira intransponível" (13:2).
Quanto ao outro versículo, ele diz:
"Liberamos os dois mares para que se encontrassem. Entre
ambos há uma barreira para não ser ultrapassada." (55:19-20).
O fenômeno natural que o Alcorão cita nesse versículo é conhecido
pelo homem desde as épocas mais remotas, ou seja, que se dois rios se
131
encontrarem numa corrente de água, a água de um deles não se mistura
com a do outro. A título de exemplo, podemos citar vários afluentes do
Rio Amazonas, onde se vê as duas águas independentes, como se
houvesse uma linha entre elas. O mesmo se dá com os rios que correm
perto dos mares. A água dos mares, quando sobe, penetra na água do rio,
mas não se misturam as duas águas. A água doce permanece inalterável
debaixo da água salgada.
Esse fenômeno, como já citamos era conhecido do homem da
antiguidade. Mas sua lei só foi descoberta há alguns anos. A observação
e a experiência comprovam que há uma lei que regula os líquidos
chamada "Lei da Tensão da Superfície." Ela faz a separação entre os
líquidos, porque a atração das moléculas difere de um líquido para outro.
Por isso, cada líquido conserva sua independência em seu aspecto. A
ciência moderna aproveitou muito dessa lei, formulada pelo Alcorão
com as palavras: "Entre ambos há uma barreira para não ser ultrapassada."
A observação dessa barreira não se ocultava à vista dos antigos, como
não contraria a observação moderna. Podemos, com certeza, dizer que,
o que se quer dizer com a barreira é a elasticidade superficial existente
nas duas águas e que as separa uma da outra.
Podemos compreender essa elasticidade superficial com um
exemplo simples: se você encher um copo com água, a água só se
derramará se ela se elevar acima da superfície do copo.
O motivo disso é que as moléculas dos líquidos, quando não
encontram algo para se ligar a eles acima da superfície do copo,
transformam-se naquilo que está abaixo dela. Então surge uma película
elástica na superfície da água, que não permite que ela saia do copo. É
uma película tão forte que, se colocarmos uma agulha sobre ela, ela não
afunda. Esse fenômeno é chamado de elasticidade superficial, que não
permite a mistura da água com o óleo, ou o que faz a separação entre a
água doce e a salgada.
B) Há também no Alcorão evidências exemplares como:
"Foi Deus Que erigiu o céu sem colunas aparentes." (13:2)
Esse versículo concorda com o que o homem da antiguidade via.
Ele observava um mundo enorme e independente no espaço, formado
pelo sol, pela lua e pelas estrelas, mas não via qualquer pilar ou coluna.
132
O homem atual vê nesse versículo uma explicação para suas observações
as quais confirmam que os céus não possuem colunas no espaço infinito,
apesar de haver colunas invisíveis, representadas pela lei da gravidade,
que ajuda todos esses corpos a permanecer em seus lugares determinados.
C) O Alcorão disse a respeito do sol e das estrelas:
"Cada qual gira em sua órbita" (36:2).
O homem da antiguidade via as estrelas movimentando-se e se
afastando de sua localização após determinado tempo. Por isso, a
afirmação do Alcorão não lhes era estranha. Mas, as experiências
modernas vestiram essas afirmações com uma nova roupagem, pois não
há uma definição mais precisa do que "girar" para o movimento dos
corpos celestes.
D) E o Alcorão disse a respeito da noite e do dia:
"Ele ensombrece o dia com a noite, que o sucede
incessantemente."(7:54)
Esse versículo explicava ao homem antigo o segredo da vinda da
noite após o dia… Entretanto, abrange um indício fabuloso a respeito da
rotação da terra ao redor de seu eixo, responsável pela sucessão do dia e
da noite, de acordo com o nosso conhecimento moderno. Devo lembrar
aos leitores aqui que entre as observações que o cosmanauta russo Gagarin
citou, depois de circundar a terra, está a de que ele viu uma rápida sucessão
de trevas e de luz sobre a terra devido ao seu giro ao redor de seu eixo.
Há muitas outras explicações a esse respeito no Alcorão.
Segundo Tipo de Versículos
Quanto ao segundo tipo dos versículos alcorânicos relacionados
com o assunto, o homem antigo nada sabia a respeito. O Alcorão trata
desses assuntos revelando segredos muito importantes confirmados pela
ciência moderna. Vamos expôr, nas páginas seguintes, exemplos de vários
ramos das ciências modernas.
Primeiro: Astronomia
O Alcorão apresenta uma idéia determinada, de conhecimentos
específicos, a respeito do começo do mundo material. Essa idéia não era
conhecida do homem, há um século atrás. Quanto ao homem antigo,
133
não há como falar o que era possível passar pela sua restrita mente essa
idéia ou partes dela. A ciência moderna veio para corroborar o que foi
revelado pelo Alcorão.
O Alcorão diz o seguinte a respeito do início do mundo:
"Não vêem, acaso, os incrédulos, que os céus e a terra eram
uma só massa, a qual desagregamos?" (21:30)
Quanto ao fim do mundo, ele diz:
"Será o dia em que enrolaremos o céu como um rolo de
pergaminho." (21:104)
O mundo, de acordo com a exegese desses versículos era uma só
massa, então esta começou a se expandir e é possível, apesar da sua
expansão, agregá-la novamente em pequeno traço.
Esta é a nova teoria científica a respeito do Universo. Os cientistas
concluíram, por intermédio das suas pesquisas e observações quanto
aos fenômenos universais, que a matéria era sólida e inerte no início, e
estava em forma de gás quente, denso, firme. Então, houve uma grande
explosão dessa matéria, há 5 trilhões de anos aproximadamente. Então,
a matéria começou a se expandir e se distanciar. Por causa disso, o
movimento da matéria tornou-se um caso inexorável, de acordo com as
leis da natureza que dizem: "A força gravitacional entre essas partes da
matéria é inversamente proporcional à distância entre elas (então a
distância entre elas aumenta de forma notável)".
Os cientistas acreditavam que o diâmetro da matéria era de 109
anos luz. Esse diâmetro, porém, de acordo com o Porfessor Edington, é
dez vezes maior do que era antes. Esse processo de expansão e aumento
é contínuo.
O Professor Edington diz:
"O exemplo das galáxias é o de manchas pintadas num balão
elástico que se está enchendo continuamente. Da mesma forma se
distanciam de seus irmãos todos os astros celestes com seu próprio
movimento no processo de expansão cósmica"122
Quanto à segunda questão, ela nos foi confirmada, como exposta
no Alcorão. O homem antigo via, a olho nú, as estrelas se afastando
umas das outras, mas as via próximas uma das outras devido às distâncias
fantásticas da terra, mas que, na realidade, estão a distâncias regulares.
122. "The Limitation of Science" (A Limitação da Ciência) , pág. 20.
134
Não ficamos apenas nisso; descobrimos também que a maioria
dos corpos celestes que eram vistos na antiguidade, e que se pensava
que fossem incompletos e compactos, possuem na realidade um espaço
vazio. Descobrimos também que todo corpo material gira em torno de
um núcleo próprio dele, como o sistema solar ao redor de cujo núcleo
giram vários planetas e estrelas. O sistema atômico é um exemplo disso.
Conseguimos observar o espaço vazio no sistema solar, mas não
conseguimos observar o espaço vazio no sistema atômico, devido ao
seu pequeníssimo tamanho. Não conseguimos mesmo observar esse
sistema.123 Isso significa que tudo, mesmo se parecer compacto, possui
algum vazio dentro dele. Como exemplo podemos citar que, se
esvaziarmos o espaço dos átomos no corpo humano, não encontraremos
a não ser uma quantia muito pequena de matéria, cuja existência é finita.
Assim sendo, os astrofísicos dizem que, se concentrarmos o que
há no espaço, sem deixarmos lugar vazio, o volume do Universo seria
trinta vezes o volume do sol! É possível imaginar o tamanho do Universo,
ao sabermos que a mais distante galáxia que o homem conseguiu
descobrir dista alguns milhões de anos luz do sistema solar?
3) Os cientistas deduziram, através de suas pesquisas, que num
futuro próximo, e de acordo com o sistema de órbita dos corpos celestes, inexoravelmente, a lua se aproximará da terra e se partirá, devido
à força da gravidade, e suas particulas se espalharão pelo espaço.124 Esse
fenômeno se dará de acordo com a mesma lei que rege as marés. O
nosso satélite é o nosso vizinho mais próximo. Dista apenas 360 mil
quilômetros da terra. Tal proximidade afeta as marés duas vezes
diariamente quando há formação de ondas de até 60 metros de altura.
Porém a influência dessa atração sobre a superfície da terra alcança
algumas polegadas.
A distância que separa a terra da lua é exatamente propícia para o
benefício dos habitantes da terra. Se essa distância diminuísse para 100
mil quilômetros, por exemplo, haveria uma grande inundação marítima
e suas ondas cobririam a maior parte das regiões da terra habitada,
afundando tudo, podendo desintegrar até as montanhas pela força das
ondas marítimas. A terra se fenderia devido à pouca gravidade.
123. Ver o Quarto Capítulo deste livro.
124. "Man Does not Stand Alone" (O Homem não está Sozinho), pág. 24.
135
Os astrônomos opinam também que a terra já passou por todos
esses ciclos, durante a sua formação, até alcançar essa distância que tem
da lua, de acordo com a lei astronômica. Essa mesma lei é que trará a lua
para perto da terra novamente.
Eles dizem que esse acontecimento se dará antes de um bilhão de
125
anos. Então, a lua se fenderá e se espalhará no espaço da terra na
forma de um anel.
Não seria essa teoria uma das mais concordantes para a profecia
existente no Alcorão Sagrado sobre a fendidura da lua, quando da
proximidade do Dia da Ressureição?
O Alcorão diz:
"A hora se aproxima e a lua estará fendida." (54:1)
Segundo – Quanto às Camadas da Terra
O Alcorão repete mais de uma vez que as montanhas foram fixadas
na terra para proteger o seu equilíbrio.
O Alcorão diz:
"Fixou na terra firmes montanhas, para que não oscile
convosco." (31:10).
A ciência ignorava tal fato no decorrer dos treze passados séculos.
Os geógrafos modernos, porém, o conhecem muito bem sob o nome de
"Mostasia". Mas a ciência moderna está nos primeiros estágios quanto
aos segredos dessa lei. O Professor Angien diz:
"Descobriu-se hoje que a matéria menos pesada se elevou na
superfície da terra, ao passo que os locais de matéria pesada se tornaram
grandes vales. É o que vemos hoje em forma de mares. De sorte que, a
elvação e o afundamento permitiram a conservação do equilibrio da
terra."126
Outro cientista diz:
"Há, também, nos mares, depressões parecidas com as da terra
firme. Elas, porém, são mais profundas e mais vastas do que as da terra
125. Essas são conjecturas a respeito da possibilidade científica e dos seus cálculos de
tempo. Não é inevitável que este fenômeno ocorra em tempo menor do que o estipulado
pelos astrônomos, e suas afirmações não anulam tal possibilidade.
126. G. R. Von Angien, "Geomorphology" (Geomorfologia), págs 26-27, N. York, 1948.
136
firme. Parece que houve depressões profundas nos oceanos. A profundeza
de algumas dessa depressões alcança onze quilômetros abaixo da
superfície do mar. Tal profundidade é superior à altura da montanha
mais alta do mundo. Se colocássemos o Evereste, o pico mais alto do
Himalaia, cuja altura é de 8840 metros, numa dessas depressões, a
superfície do mar estaria um quilômetro e meio acima dele.
"O estranho, com esses fenômenos, é que essas depressões
marítimas se encontram próximas do litoral em vez de se situarem em
alto mar. Podemos imaginar as altas pressões que causaram tais
depressões nos oceanos. Mas a sua proximidade de ilhas e vulcões
mostram que há uma relação entre as alturas das montanhas e as profundas
depressões marítimas. É que o equilíbrio da terra se baseia na elevação e
na depressão, em suas diferentes partes. Alguns grandes cientistas
geógrafos dizem que é possível que as depressões sejam indício de ilhas
que surgirão no futuro. A causa disso é que as montanhas e as depressões
na terra e no mar, respectivamente, se formam nesses vales, ocasionando
vastas regiões desses vales, depois de serem preenchidas pelas montanhas.
Por isso, é possível, de acordo com a inexistência do equilíbrio resultante
desse processo, que surjam novas montanhas, a qualquer instante, ou
surja um novo conjunto de ilhas. O que atesta isso é a existência de
vestígios de elevações marinhas em algumas montanhas litorâneas.
De qualquer modo, não há nenhuma teoria, à luz dos conhecimentos
atuais, que explique a existência das depressões marítimas, os abissais
de frio constante, em escuridão total, sob uma pressão de sete toneladas
por polegada, permanecendo como um enigma perante o homem, como
o enigma do mar da outra vida!127
O Alcorão diz que já se passou um longo tempo sobre a terra,
durante o qual Deus a organizou. O Alcorão diz:
"Depois disso dilatou a terra, da qual fez brotar a água e o
pasto." (79:30-31)
Esse versículo se adapta perfeitamente à mais hodierna descoberta
científica.
É a teoria do distanciamento ou dilatação dos continentes. Essa
teoria diz que todos os continentes estavam, em algum tempo,
127. "The World we Live in" (O Mundo em que Vivemos), N. York, 1955.
137
interligados. Então, dividiram-se e começaram a se distanciar, sendo
separados por vastos oceanos. Essa teoria foi lançada no mundo em 1915,
pela primeira vez, quando o geólogo alemão, Alfred Wagner anunciou
que se todos os continentes se aproximassem uns dos outros, eles se
interligariam, como acontece com os quebra-cabeças das crianças, que
podem ser vistos em três formas que explicam essa teoria (ver páginas
seguinte).
Há também uma grande semelhança entre os diferentes litorais,
onde se encontram montanhas parecidas e com a mesma idade.
Verificamos também o mesmo tipo de fauna e flora. Isso foi o que levou
o litorânico, Professor Ronald Good, dizer, em seu livro: A Geografia
das Plantas Florescentes.:
"Os botânicos estão de acordo com a teoria que diz que não é
possível explicar o fenômeno da existência de plantas semelhantes em
vários continentes, a não ser que aceitemos que os continentes estavam
interligados há algum tempo atrás."
Essa teoria se tornou cientifica depois da comprovação do
magnetismo fóssil. Os cientistas hoje, depois de estudarem os átomos
das pedras, conseguem determinar a localização de qualquer lugar onde
se encontra a colina daquela pedra no passado. Esse estudo provou,
através de magnetismo geológico, que certas partes da terra não se
encontravam no passado nos locais que se encontram hoje, mas se
encontravam nos locais determinados pela teoria do distanciamento dos
continentes. A essa respeito o Professor Blacket128 diz:
"O estudo das pedras da Índia mostra que se encontravam ao sul
do equador há setenta milhões de anos atrás. Da mesma forma, o estudo
das montanhas do sul da África prova que o continente africano se separou
do polo sul há trezentos milhões de anos".
.Ao constatarmos essa extraordinária coincidência entre o dito no
passado longínquo e o que foi descoberto recentemente, só podemos
crer que as palavras do versículo provêm de um Ser cuja onisciência
abrange o passado, o presente e o futuro.
128. P.M.S. Blacket é professor de ciência natural na Universidade Real de Londres.
138
Terceiro: Nutricionismo
A relação dos alimentos determinada pelo Alcorão proíbe o
consumo de sangue. O homem ignorava a importância dessa proibição.
A análise do sangue, porém, comprovou que essa lei estava baseada
numa importância particular em relação à saúde. A análise confirma que
o sangue possui uma grande quantidade de ácido úrico, uma substância
venenosa, se for utilizada como alimento. Este é o segredo da ordem do
Alcorão para se abater os animais. O significado do abate, na terminologia
islâmica, é fazê-lo de uma forma determinada, até que flua todo o sangue
do animal, cortando-lhe a veia jugular localizada no pescoço, e não
cortarmos as outras veias, para que permaneça a ligação do cérebro com
o coração, até que o animal morra, para que o motivo da morte não seja
o choque violento que atinge alguns membros principais do corpo do
animal, como o cérebro ou o coração, ou o fígado. A razão disso é que o
sangue coagula nas veias, e fica nas partes do corpo, se o animal morrer
instantaneamente, por causa de um choque violento, envenenando, assim,
toda a carne, devido ao contágio do ácido úrico.
O Alcorão, também proibiu a carne de porco. O homem também
ignorava, na antiguidade, a razão dessa proibição. Hoje, porém, sabe
que a carne de porco causa uma porção de doenças porque possui uma
grande quantidade de ácido úrico a mais do que qualquer outro animal
na superfície da terra. Os outros animais, porém, expelem essa substância
constantemente através da urina. O homem expele 90% dessa substância
com o auxílio da clitina. O porco porém, não consegue expelir do ácido
úrico a não ser 2%. O resto se mistura à sua carne e por isso o porco
sofre de reumatismo. Os consumidores de carne de porco, também,
sofrem de reumatismo, artrite etc..
O estudioso do Alcorão encontra muitos exemplos parecidos com
o que citamos nas páginas anteriores. É um exemplo definitivo de que o
Alcorão provém de uma fonte não humana. As pesquisas modernas
atestam, de uma forma assombrosa, a veracidade da profecia constante
do Alcorão:
"Mostrar-lhes-emos os Nossos sinais em todas as regiões (da
terra), assim como em suas próprias pessoas, até que lhes seja
esclarecido que ele (Alcorão) é a verdade." (41:53).
139
Encerraremos este capítulo com um caso narrado pelo sábio
indiano, Dr. Ináyat Allah, Al-Machriqui, que diz:
"Era domingo, um dos dias do ano de 1909. Chovia a cântaros. Saí
de casa por um motivo qualquer e vi o famoso astrônomo Sir James
Jeans, professor da Universidade de Cambridge, que estava indo à igreja,
levando o Evangelho e o guarda-chuva debaixo do braço. Aproximeime dele, comprimentei-o, porém ele não respondeu ao meu cumprimento.
Fi-lo novamente e ele me perguntou: 'O que você deseja?' Respondi:
'Duas coisas, senhor! O primeiro é que o seu guarda-chuva está debaixo
do seu braço, apesar da chuva forte!' Ele sorriu e abriu rapidamente o
guarda-chuva. Continuei: 'A segunda coisa é: o que faz um homem
famoso como o senhor dirigir-se à igreja?' Perante essa pergunta, Sir
James parou um instante e então disse: 'Convido você hoje a tomar o chá
da tarde comigo!' Quando cheguei, à tarde, à casa dele, fui recebido pela
senhora James às quatro horas em ponto, que me avisou que o senhor
James me esperava. Quando entrei no seu quarto, encontrei uma pequena
mesa sobre a qual estavam os apetrechos do chá. O professor estava
absorto em seus pensamentos. Quando pressentiu minha presença,
perguntou! 'Qual foi mesmo a sua pergunta?' Sem esperar a minha
resposta, começou discorrer sobre a formação dos corpos celestes, seus
extraordinários sistemas, suas distâncias, suas órbitas, suas gravitações,
suas fantásticas luzes, fazendo-me sentir o coração acelerado com a
reverência e a majestade de Deus. Quanto ao senhor James, seus cabelos
estavam de pé, as lágrimas lhe corriam dos olhos e suas mãos tremiam
de temor a Deus. Ele parou repentinamente, e então disse: 'Ó Ináyat,
quando olho para as maravilhas da criação de Deus, começo a tremer de
temor a Deus. Quando ajoelho perante Deus, digo-Lhe: És Poderoso!
Acho que cada parte de mim se apoia nessa prece e sinto uma calma e
uma felicidade extraordinárias. Minha felicidade supera a dos outros
mil vêzes. Você entende porque frequento a igreja?'"
O Alamma Ináyat acrescenta, dizendo: "Esta palestra causou uma
inundação em minha mente. Disse-lhe: 'Senhor, fui muito influenciado
pelos detalhes científicos que me narrou. Isso me fez lembrar de um
versículo de meu Livro Sagrado. Se me permitir, posso lê-lo!' Ele
balançou a cabeça, dizendo: 'Com todo gosto!' Então, li o versículo
seguinte:
140
"E entre as montanhas há brancas, vermelhas, de diferentes
cores, e há as de intenso negro. E entre os humanos, entre os répteis
e entre o gado há-os também de diferentes cores. Os sábios entre os
servos de Deus a Ele temem."(35:25-26).
"O senhor James deu um grito, dizendo: 'O que você disse? Os
sábios dentre os servos de Deus a Ele temem? É fantástico! Muito
estranho! A descoberta que fiz levou-me cinqüenta anos de estudo e
observação. Quem informou Mohammad a respeito disso? É verdade
que esse versículo consta do Alcorão? Se isso é verdade, pode escrever
uma declaração minha de que o Alcorão é um livro revelado por Deus.'
Ele, então, disse:
"Mohammad era iletrado e era incapaz de descobrir esse segredo
por si. Mas, Deus foi Quem lhe informou esse segredo... Fabuloso!...
Fantástico! Muito estranho!"129
129. Al-Machriqui é um dos grandes cientistas indianos, naturalista e matemático. É
muito famoso no Ocidente devido as suas inúmeras descobertas e seus pensamentos
modernos. Foi o primeiro cientista a expor a idéia da Bomba Atômica, mas abandonou
o campo da ciência para ingressar na política, devido à péssima situação dos muçulmanos
na Índia (isso antes da independência). Ele fundou o Partido Popular e seus adeptos
fanáticos acreditavam na necessidade da instauração dos preceitos religiosos à força.
Adotaram a picareta como seu símbolo. A mais importante obra do sábio é "O
Complemento da Mensagem do Islam". A comissão do Prêmio Nobel pediu-lhe que
traduzisse o livro para a língua inglesa para lhe concederem o prêmio de ciências, mas
ele se negou a fazê-lo, dizendo! "Não necessito de um prêmio de uma comissão que
não reconhece a importância do idioma urdu."
141
OITAVO CAPÍTULO
A Religião e os Problemas da Civilização
A Legislação
A pergunta fundamental que se apresenta quando estudamos os
problemas da civilização é sobre a legislação ou a constituição. Esses
problemas surgem das relações entre os indivíduos, e a legislação é quem
determina essas relações fundamentadas na justiça e eqüidade. Porém, é
confuso o dizer: O homem não conseguiu até agora descobrir um código
de vida. É verdade que todos os países do mundo são regidos por
constituições. Porém, essas costituições falhas não alcançam os seus
objetivos. Eles não existem, na verdade, pois sua execução só é possível
pela força e coação.
É do conhecimento dos legisladores que a todas as constituições
correntes nessa época, faltam-lhes bases científicas e teóricas que
possibilitem a sua fixação. O Professor L.L. Fuller acha que o código
não foi descoberto ainda. O próprio Fuller escreveu um livro sob o título:
"O Código a Procura de si Próprio".
Inúmeros livros foram escritos a respeito do assunto. Muitos
cérebros entre os nossos sábios ocuparam seu tempo à procura dos valores
do código. O Editor da Enciclopédia Chambers deu uma importância
científica crucial, elevando-o até ao extremo. Todos esses esforços,
porém, não conseguiram produzir um tipo de código de consenso.
Divergiram tanto, que um especialista em legislação diz: "Se você pedir
a dez especialistas informações sobre o código, deve esperar ouvir dez
respostas diferentes!"
Os experts da legislação se dividiram em várias correntes
ideológicas, mas, apesar de seu grande número, não encontramos lugar
nelas para alguns importantes cientistas jurídicos. O professor G.W. Paton
diz a respeito de John Hasting: "Ele não é capaz de elucidar qualquer
uma das divisões amplas do código."130
130. "A Text Book of Jurisprudence" (O Livro-texto da Jurisprudência), pág. 5.
142
A causa desse desacordo entre os jurisprudentes é a incapacidade
de chegarem a uma base comum sobre a qual possam construir a estrutura
do código. Eles acham que é impossivel colocar os valores, que procuram
reunir na estrutura do codigo, numa só balança.
"É uma realidade... A civilização ocidental não encontra outra
solução para esse problema a não ser a de saltitar de um tempo para
outro, de um fim para outro."131
John Hasting observou que todos os códigos só serão eficientes se
tiverem uma força que os apoie. Ele diz no seu livro "The Code" (O
Código), publicado pela primeira vez em 1861:
"O código é a sentença proferida por uma pessoa que ocupa uma
alta posição política, para alguém que ocupe uma posição inferior à
dele."132
A legislação, de acordo com isso, tornou-se "editada pela
autoridade."133 Por isso, os sábios modernos promoveram uma campanha
contra esta idéia. Disseram: "Não é possível coibir as tendências dos
governantes, a não ser que o consenso geral tenha o apoio básico na
legislação." Eles negaram qualquer código ou constituição que não levava
em conta a anuência do povo. De acordo com isso, muitos controles,
que têm o consenso dos sábios e professores de ética, não podem ser
efetivos porque o povo não os aceita. Como exemplo, os americanos
não conseguiram introduzir uma medida que proibisse o consumo de
bebidas alcoólicas, porque o povo não a aceitava. Os britânicos também
tiveram que introduzir alterações importantes na lei criminal, e permitiram
tipos de relações sexuais antes proibidos apesar do barulho dos
intelectuais e do protesto dos professores de jurisprudência.
Há uma outra questão sobre a qual divergem os professores da
jurisprudência: se o Código é passível de mudança ou não?
A teoria do "Código Natural" encontrou uma grande circulação na
Idade Média e nas épocas posteriores a ela, impelida pelo pensamento
de que a natureza humana é a verdadeira fonte da jurisprudência.
131. W. Friedman, "A Legal Theory" (A Teoria Legal), pág. 18.
132. "A Text Book of Jurisprudence" (O Livro-texto da Jurisprudência), pág. 56.
133. Idem, pág. 4.
143
"A natureza exige que o direito de domínio e o governo sejam de
suas exigências naturais e seus apoios pioneiros. A natureza forneceu
esses apoios ao homem em forma de 'cérebro'."134
Essa teoria forneceu uma base cósmica para os jurisprudentes.
Foi dito: É preciso um código unificado, que sirva para todas as épocas.
Essa é a teoria dos sábios dos séculos XVII e XVIII a respeito dos códigos.
Então, surgiram outras correntes que negavam a possibilidade do
conhecimento da base cósmica da constituição. Koehler diz a respeito:
"Não há uma constituição eterna. A legislação que serve para
uma época talvez não deva servir para outra. Devemos procurar sempre
uma costituição que se coadune com cada civiliação. Uma constituição
pode ser benéfica para certo povo e maléfica para outros."135
Esta escola eliminou a constância do código. Ela convoca o
homem para o ideologismo da mudança cega e do relativismo, sem chegar
a um fim específico, pois falta-lhe a base. Essa ideologia virou todos os
valores humanos pelo avesso.
Há uma outra corrente que pede que se obtenha maior número
de valores de justiça na jurisprudência. O Lord Wright escreve a respeito
da teoria de Dean Roscoe Pound:
"Roscoe Pound apresenta uma teoria que acho válida, depois de
todas as minhas experiências e pesquisas a respeito do código. Ele diz
que o objetivo fundamental e primordial da jurisprudência é 'procurar a
justiça'.136 Se aceitarmos essa teoria, surge uma pergunta importante: 'O
que é a justiça? Como podemos determiná-la?' Mais uma vez voltamos
para John Austin!
Mais uma vez nos deparamos com o fenômeno de que o homem
não consegue descobrir uma base real para a jurisprudência, apesar dos
enormes esforços despendidos neste campo, há centenas de anos. A cada
dia os sentimentos de desilusão aumentam entre os jurisprudentes, porque
a filosofia moderna falhou em sua procura dos objetivos da constituição.
O Professor G.W. Paton pergunta:
"O que deve a constituição ideal abranger? É uma pergunta
relacionada aos valores e entra na esfera da filosofia da legislação. Quanto
134. Boden Liener, "Jurisprudence" (A Jurisprudência), pág. 164.
135. "Philosophy of Law" (A Filosofia da Lei), pág. 5.
136. "Interpretation of Modern Legal Philosophies" (Interpretação da Filosofias
Modernas e Legais), Nova Iorque, pág 794.
144
mais pedimos para a filosofia nos ajudar, quanto menos ela está preparada
para fazê-lo. Falhamos em encontrar um 'equilíbrio para os valores' que
seja aceito por todas as partes.
"Na verdade, não há fundamento em nenhuma organização, a não
ser na religião. As realidades religiosas, porém, servem como crença e
intuição, e é impossível aceitá-las na base da dedução lógica."137
O Professor Paton emitiu uma opinião sobre alguns especialistas
em legislação, dizendo: "Todas as tentativas de estudos filosóficos à
procura dos "objetivos" na filosofia da legislação terminaram sem
nenhum resultado."138
O próprio Paton pergunta: "Há, relamente 'valores ideais' que
limitam as bases no desenvolvimento das legislações? Os legisladores
não conseguiram alcançar esses valores até agora, apesar de sua
premência." Então, diz:
"Os antigos defensores da teoria do 'código natural' extraíram suas
bases das realidades inspiratórias da religião. Mas se não quisermos
apresentar uma legislação secular, onde encontraremos os fundamentos
dos valores acordados."139
Essa experiência vigorosa convida o homem a retornar para a
direção de que ele se desviou há séculos. A religião participava ativamente
da formação das constituições dos tempos antigos. O especialista em
códigos, Sir Henry Maine, diz: "Não há nenhum código, que tenha seu
registro por escrito, desde o código chinês até o peruano, que tenha
relações com os rituais religiosos, desde o início."140
Chegou o tempo de reconhecermos a verdade: a humanidade não
consegue estipular uma constituição para ela sem a orientação de Deus.
E, invés de empreendermos esforços infrutíferos, devemos reconhecer a
realidade que o Dr. Freedman nos apresenta, dizendo:
"Depois de estudarmos esses esforços diversos, torna-se claro que
é necessária a orientação da religião para avaliação da medida exata da
137. "A Text Book of Jurisprudence" (O Livro-texto da Jurisprudência), pág. 104.
138. Idem, pág. 106.
139. Idem, pág. 109.
140. Sir Henry Maine, "Early Law & Custom" (As Leis e os Costumes Primordiais),
pág. 5.
145
justiça. É a base utilizada pela religião prática, que só ela carrega com
tanta veracidade e simplicidade.141
Encontramos na religião todas as bases necessárias procuradas
pelos legisladores para a formulação de uma constituição ideal. Para se
corroborar essa nossa afirmativa, apresentaremos um estudo resumido
do mais importante problema da legislação humana.
Primeiro – A fonte da Legislação
A primeira e mais importante pergunta em relação a qualquer
legislação é quanto à procura da fonte dessa legislação. Quem irá formulála? Quem a colocará em vigor?
Os jurisprudentes não conseguiram responder a essa pergunta. Se
nós concedermos tal distinção ao governante, só porque é governante,
não há uma base teórica e científica que lhe permita, a ele ou a seus
auxiliares no governo, desfrutar de tal distinção. Essa concessão, por
outro lado, não é benéfica, pois a permissão ao governante de se utilizar
da força para a execução de alguma ordem, é uma questão que o povo
não suporta.
Se conferirmos a autoridade de legislação aos membros da
sociedade, estaremos conferindo-a aos mais ignorantes e insensatos, pois
a sociedade – qualquer sociedade – se for analisada como um todo, não
desfruta de conhecimento, de raciocínio nem de experiência necessários
para a tarefa. A autoridade requer muita habilidade, de conhecimento e
experiência, virtudes essas escassas entre as pessoas do povo em geral.
Por outro lado, se elas quizerem fazê-lo não terão tempo suficiente para
estudar e compreender os problemas legislativos.
Para saírem desse impasse, os legisladores chegaram a uma solução
média: Que os adultos da sociedade elejam representantes seus e esses,
por sua vez, legislem em nome do povo.
Verificamos a insensatez dessa solução quando vemos que o partido político que possue 51% no Congresso manda nos outros partidos
que representam 49% da população.
Essa solução também possui um vazio enorme, onde a minoria
governa a maioria da população.
141. "Legal Theory" (A Teoria Legal), pág. 450.
146
Dessa forma, deparamo-nos novamente com o fenômeno da
procura de uma base, para o código e sua fonte.
A religião aceita esse perigoso desafio que pode destruir a felicidade
de toda a humanidade. Ela diz: "A fonte de legislação é somente Deus, o
Criador da terra e do Universo. Aquele Que aprefeiçoou as leis da natureza
é o Único capaz de estipular um código para a civilização e sua
sobrevivência. Não há outro além d'Ele, a quem se possa conferir esse
direito."
Essa resposta é tão racional e tão simples, que clama, dizendo, se
conseguirmos ouvir a sua fala: Há alguém além de Deus, Glorificado e
Exaltado seja, que possa resolver esse problema?
Essa resposta nos levou para a sua posição quanto à legislação e o
legislador, depois que se tornou impossível para nós darmos um passo
nas trevas do extravio da verdadeira orientação.
Não é possível ser aceito um homem como governante e legislador
para o homem. Ninguém tem esse direito a não ser o Criador do homem
e seu Governante natural: Deus.
Segundo - O Elemento Básico Para a Legislação.
Uma das mais importantes perguntas que os legisladores fazem é
sobre a espcificação dos elementos básicos de legislação que não podem
ser descartados em qualquer constituição quando da sua reforma ou
renovação ou troca.
Esses especialistas não conseguiram chegar a um acordo no
asssunto, apesar das longas pesquisas empreendidas nesse campo. Eles
concordaram teoricamente da necessidade de um elemento na legislação
que deve ser constante e eterna, juntamente com outros elementos
flexíveis que podem ser descartados quando necessário.
Acham também que a falta do elemento perene e do relativo, na
constituição, será a fonte de infelicidade constante da humanidade. Um
dos juízes americanos, o juíz Cardoso explicou isso da seguinte forma:
"A necessidade premente da legislação, hoje, é formularmos uma
filosofia que concilie entre as tendências antagônicas a respeito da
constância de um elemento e a mudança de outro elemento"142
142. "The Growth of Law" (O Crescimento da Lei).
147
Outro especialista, o Prefessor Roscoe Pound, diz:
"A autoridade é premente na legislação. Isso, porém, não significa
que a legislação se torne ineflexível. Por isso, os filósofos empreenderam
extremos esforços para conciliarem entre os valores da autoridade e da
mudança nesse campo."143
Na verdade, não é possível se chegar a uma base que distinga entre os elementos do código formulado pelo homem. Cada elemento que
apregoa que serve para ser definitivo deve apresentar uma prova disso.
Porém, é incapaz de fazê-lo. Vemos hoje um elemento da constituição
sendo considerado conveniente para perdurar, mas amanhã chegam outras
pessoas e anunciam a desnecessidade daquele elemento em sua
constituição – Sabendo-se que a constituição é formulada de acordo com
a vontade do povo –, pois ele não mais lhes interessa ou acham que
deixou de ser útil, com o passar do tempo.
A única solução para o nosso problema é a lei divina, que nos
concede todos os elementos essenciais e necessários. Essa lei aproveita
as partes principais e radicais e deixa o resto em aberto para as diferentes
deligências, de acordo com o tempo e o lugar.
Ela determina os elementos essenciais e secundários de acordo
com uma constituição qualquer. Por um lado, ela é qualificada e desfruta
do argumento de preferência, pois provém de Deus. Por outro, é
necessário considerarmos a verdadeira e última palavra no assunto. Essa
é uma importante distinção na legislação divina que o homem não
consegue mudar.
Terceiro – Determinação do Entendimento do Crime
É necessário que a constituição tenha um argumento ao qual se
apoie para considerar um ato qualquer como crime. O código formulado
pelo homem diz que "crime é tudo aquilo que prejudica a segurança
geral, ou o sistema de governo existente." A legislação humana não
encontra outra base além dessa para considerar um ato como crime. Essa
base incentivou o novo código a determinar que o crime de fornicação
não é crime, a não ser que seja feito à força por um dos participantes. O
novo código não considera a fornicação crime, mas considera a coação
anterior à fornicação como o crime.
143. "Interpretation of Legal History" (Interpretação da História da Lei), pág.1.
148
Apossar-se alguém dos bens de algum cidadão é ilícito, também o
é tirar-lhe a castidade e manchar-lhe a honra. Os bens de uma pessoa
porém, tornam-se lícitos para uma outra pessoa, a partir da anuência do
primeiro lado, dono dos bens. Assim, o código prevê que a quebra da
castidade de uma das partes é permitida à outra, se for com consentimento.
No consentimento de ambas as partes, o código passa a protegê-las. Se
uma terceira parte se intrometer no caso, ela é que se torna criminosa e
não as duas primeiras partes.
O crime de fornicação faz proliferar uma grande corrupção entre a
sociedade. Ele cria o problema das crianças desnaturadas (ilegais) e
enfraquece os laços do casamento. Ele resulta, também, da preferência
dos gozos superficiais da vida e cria uma mentalidade traidora, gerando
o roubo e os assaltantes, fomentando os assassinatos, os suicídios e os
raptos, corrompendo toda a sociedade. O código, porém, não consegue
coibi-la, pois não encontra base para proibir o que é feito de comum
acordo.
O código também não conseguiu proibir a bebida alcoólica, porque
crê que a comida e a bebida são um dos direitos da natureza humana, e o
homem é livre para consumir o que desejar, de comida e bebida, e o
código não pode se intrometer em seus direitos naturais. Assim, o
consumo de bebida alcoólica, e a embriaguês que dela resulta, não é um
crime, na realidade, a não ser que o ébrio saia à rua embriagado e agrida
algum cidadão. O crime não é a situação de embriaguês, mas a agressão
aos outros, em tal situação.
A bebida alcoólica faz mal à saúde, desperdiça os bens das pessoas,
e leva os alcoólatras a calamidades financeiras, enfraquecendo seus
sentimentos morais, transformando-as em animais paulatinamente. O
álcool é o maior auxiliar dos criminosos. Ele atrofia os sentimentos finos,
induzindo o homem a praticar qualquer crime de roubo, assassinato,
estupro. O código humano, porém, apesar desses vícios, não conseguiu
proibir o álcool, porque não encontra resposta que justifique sua
intromissão num dos direitos naturais do homem.
Não conseguimos encontrar uma solução para esse problema a
não ser na lei de Deus. Sua lei mostra o Seu agrado como Criador do
Universo. O fato de qualquer código ser código de Deus leva consigo o
149
princípio de execução, sem necessidade de uma outra prova. Assim, o
código divino preenche uma grande lacuna, incluindo qualquer ato no
âmbito do código.
Quarto –O Código e a Moral
O código não consegue ser independente, por si, em qualquer
tempo. Ele precisa se conciliar com a moral. Para explicarmos esse ponto,
dizemos:
1 – Se apresentarmos um caso perante o código, a título de exemplo,
e ambas as partes e suas testemunhas mentirem, a verdade não aparecerá
perante o juíz. Ele precisa ser justo, mas não consegue fazê-lo, por mais
que tente. Por isso, era necessário um outro código, por detrás do código,
que movesse as pessoas, levando-as a recorrerem às explicações
verdadeiras para chegarem à justiça. Todos os tribunais do mundo
reconhecem esse princípio, pois exigem de cada testemunha que jure
por Deus que declarará a verdade, antes de prestar o seu testemunho. É
uma prova cristalina que atesta a importância das crenças religiosas para
proteger a sacraticidade do código.
Parece que a nossa sociedade eliminou a importância das crenças
religiosas, tornando o juramento nos tribunais objeto de riso,
considerando-o um costume totalmente inútil.
2 – É indispensável que qualquer ato condenado pelo código seja
crime, também na opinião da sociedade, e que qualquer artigo do código
escrito não consiga criar uma mentalidade na sociedade que considere
qualquer ato como crime, como o considera o código; pois é indispensável
que o criminoso sinta que é culpado e a sociedade o considere culpado.
A polícia prende com todo convencimento, então o juíz, como toda
tranqüilidade, dá uma sentença contra aquele homem. Por isso, era
indispenável que cada crime fosse considerado culpa também. Essa é a
opinião dos professores da história da lei:
Uma lei não atinge o seu objetivo, a menos que seja aplicada às
crenças correntes entre a sociedade para a qual foi elaborada essa lei. Se
a lei não for aplicada à crença da sociedade, estará fadada ao fracasso".144
144. "A Text Book of Jurisprudence" (O livro-texto da Jurisprudência), pág. 16.
150
Essa opinião, emitida pela escola histórica da lei, não é certa no
seu objetivo verdadeiro, que ele aponta com absolutez, mas é
externamente verdadeiro.
3 – O temor à polícia e ao tribunal não é suficiente para coibir os
crimes. É indispensável que haja algo coercitivo na sociedade que vede
as pessoas de praticarem crimes, porque o suborno, o favoritismo, o
serviço de advogados hábeis, o falso testemunho, todos esses expedientes
são suficientes para proteger os criminoso de qualquer polícia ou tribunal
humano. O criminoso não teme o castigo, qualquer castigo, se conseguir
escapar das mãos do código.
A lei divina dispensa todos esses casos. A crença na Outra Vida,
pregada pela lei divina, é o melhor reprimidor do cometimento dos crimes.
É suficiente para fazer permanecer o sentimento de culpa na consciência
do indivíduo, mesmo que preste um falso testemunho perante o juiz.
Há no recinto de um tribunal um monumento que lembra às pessoas
o testemunho falso de um indivíduo. Ele disse: "Se eu estiver mentindo
que Deus me mate aqui e agora! Ao terminar de proferir a sentença, caiu
morto."145
Há outros casos desse tipo que aconteceram devido ao sentimento
de culpa de seus autores.
As determinações parlamentares não criam no povo sentimentos
quanto à repugnância por um ato qualquer, a não ser que sejam apoiadas
por leis divinas, arraigadas nas crenças da sociedade.
O coercitivo que coibe a prática dos crimes não é a religião em si;
é o fato de não só nos apresentar uma lei, mas nos informa que o
Legislador vê todos os nossos atos, bons ou maus. Todas as nossas
intenções, declarações e nossos movimentos são registrados pelos
aparelhos do Legislador. Apresentar-nos-emos, após a morte, à Sua frente
e não conseguiremos esconder o mais ínfimo dos nossos atos.
Se conseguirmos escapar do castigo do tribunal terreno, não
conseguiremos, certamente, escapar do castigo do Legislador Celestial.
Se tentarmos evitar o castigo terreno, sofreremos um castigo maior
no Dia da Ressurreição, que supera o castigo terreno em milhões de
vezes em severidade e violência.
145. Sir Alfred Denning, "The Changing Law" (A Lei Mutável), pág. 103.
151
Quinto – O Código e o Indivíduo
Lemos na história da Inglaterra que o Rei James I elaborou um
decreto que dizia que o rei podia governar o país livremente, como seria
da sua alçada emitir um sentença não sujeita a julgamento ou apelação.
O Presidente do Tribunal Superior da época era um juiz famoso, o
Lord Coke. Homem extremamente religioso, passava um quarto de seu
dia na Igreja. Ele foi ter com o Rei para lhe dizer: "Não é da competência
de V. Majestade emitir uma sentença. É indispensável que todos os juízes
vão ao tribunal para analizá-la."
O Rei lhe disse: "Acho, e já ouvi isso, que as leis são elaboradas
baseadas no raciocínio. Será que tenho menos raciocínio que seus juízes?"
Lord Coke lhe respondeu: "Não há dúvida que V. Majestade
desfruta de ciência e de suficiência exemplares. Mas a lei exige uma
longa experiência e uma análise profunda. Além disso, é a balança de
ouro que pesa os direitos dos vassálos e lhes protege as personalidades."
O Rei irritou-se e disse: "Será que eu também estou sujeito à lei?
Tal afirmativa é rebeldia e traição!"
A resposta de Lord Coke foi lembrar ao Rei a opinião de Bracton,
que disse:
"O Rei não está sujeito a nenhuma pessoa, mas está sujeito a Deus
e à lei."146 Aqui, se tirarmos Deus do Código, não encontramos uma base
razoável para dizer que: "O Rei está sujeito à lei", porque os que
formularam a lei e publicaram com a sua anuência, conseguem, ao mesmo
tempo, modificá-la e mudá-la, se quiseram fazê-lo. Como, então, podem
submeter-se à lei?
Se o homem for o legislador ele irá substituir a lei e a divindade ao
mesmo tempo e, então, tornar-se-á impossível abrangê-lo dentro da esfera
da lei, de alguma forma.
Esse defeito nas leis modernas, apesar de todas as repúblicas
confessarem o princípio da iguladade civil, tal igualdade não é praticada
na realidade em nenhum país. Se quisermos julgar um presidente da
república ou um governador qualquer, não conseguiremos tratá-los como
se trata os cidadãos comuns, porque precisaríamos da anuência do país
antes de irmos para o tribunal.
146. Sir Alfred Denning, "The Changing Law" (A Lei Mutável), págs. 117-118.
152
Em outras palavras, se quisermos julgar um político famoso, ou
algum membro do poder executivo, devemos perguntar a eles próprios
se nos permitem fazê-lo.
Essa é a falha de toda a constituição e todo o código humanos. É
um defeito existente onde há essa espécie de constituições objetivos.
Não é possível alcançar-se a justiça integral, a não ser à sombra da
Lei Divina, onde cada homem é igual ao próximo, perante a lei, onde
podemos julgar qualquer autoridade política e executiva, da mesma forma
que julgamos qualquer cidadão, porque o Governante, nessa lei, é Deus,
e somente Deus, e os governados são todos os membros da sociedade,
sem distinção nenhuma.147
Sexto – O Código e a Justiça
A maior e mais importante base na estrutura do código é a justiça,
a cuja procura os especialistas do código estão há muitos séculos. Ela
faz parte do código divino, na sua forma mais completa e perfeita. A
afirmativa de que a desorientação do homem para a base de justiça, devese ao fato de que as nossas pesquisas continuam falhas e exigem um
aumento na pesquisa, é afirmativa nula. Tais palavras demonstram que o
homem é incapaz de chegar a tal base.
Já percorremos uma longa distância no âmbito das pesquisas
naturais e alcançamos resultados extraordinários em todos os campos.
Mas, apesar dos nossos esforços duplicados na pesquisa de leis civis,
não conseguimos êxito nem em um por cento do exigido. Isso prova que
a causa do nosso fracasso não é a falta de esforços, mas a causa real é
que esse assunto está totalmente fora da alçada da pesquisa humana.
O homem tirou a primeira fotografia em 1826. O cientista francês
que inventou o aparelho fotográfico precisou de oito horas ininterruptas
para fotografar a fachada de uma casa. Agora, as máquinas de vídeo
conseguem fazer mais de mil fotografias em um minuto. Isso significa
147. Há muitos exemplos disso ocorridos no primeiro período do Ímperio Muçulmano.
Pessoas simples do povo processavam perante os juízes os califas, os governadores, os
homens públicos. Não seria isso o vestígio dos princípios elevados do Islam, o eco do
dito do Profeta Mohammad que diz: "Interferis numa lei de Deus? Por Aquele em
Cujas mãos está a alma de Mohammad, se Fátima, filha de Mohammad, roubasse, eu
lhe cortaria a mão."
153
que conseguimos hoje fazer mais de 500 mil fotografias no mesmo tempo
em que o processo da primeira fotografia levou, ou seja, a nossa
velocidade aumentou quinhentas mil vezes em apenas 160 anos.
No início do século XX não havia nas ruas dos Estados Unidos
mais do que quatro automóveis, quando hoje passam pelas ruas milhões
de automóveis. O milagre da ciência leva o homem a dividir o tempo em
um milionésimo de segundo. Os telescópios conseguem detectar qualquer
diferença na rotação da terra, mesmo que seja de um milionésimo. Foram
desobertos aparelhos de medição tão precisos, que são capazes de detectar
a diferença no peso de duas letras escritas numa folha de papel de uma
enciclopédia de trinta volumes.
Esta é a situação do homem, no campo científico, enquanto não
consegue qualquer evolução no campo do código civil.
Apresentaremos aqui alguns exemplos em diferentes campos da
vida para mostrarem a veracidade da afirmativa de que a constituição
divina é a única base verdadeira que serve para ser a fonte dos códigos
de vida do homem.
A Mulher e a Sociedade
O Islam não considera o homem e a mulher iguais. Ele proíbe as
relações livres entre eles. Os cientistas, no início da época científica,
começaram escarnecer dessas leis e as denominaram "atrasos da época
da ignorância." Disseram com veemência que o homem e a mulher são
iguais, herdam os gens humanos de maneira idêntica, e seria um grande
crime obstruírmos o caminho de suas relações livres.
Esse pensamento criou uma nova sociedade no Ocidente. Mas as
longas e amargas experiências que a humanidade viveu depois dessa
permissividade sexual foram as mais duras. Concluiu-se, depois dessas
experiências, que o homem e a mulher não são inata nem naturalmente
iguais. Qualquer sociedade que se basear na sua igualdade causará
grandes danos à civilização humana.
a) Na realidade o homem e a mulher se diferenciam totalmente em
suas capacidades naturais. Considerá-los iguais é contrariar as próprias
leis da natureza.
O Dr. Alexis Carrel, ganhador do Prêmio Nobel de Ciência,
apresenta a diferença fisiológica entre o homem e a mulher, dizendo:
154
"As diferenças existentes entre o homem e a mulher não são apenas
devidas à forma particular dos órgãos genitais, à presença do útero, à
gestação ou ao modo de educação; têm uma causa mais profunda: a
estrutura dos tecidos e a total impregnação do organismo por substâncias
químicas específicas segregadas pelo ovário. A ignorância destes fatos
fundamentais foi que levou os promotores do feminismo à idéia de que
os dois sexos podem ter a mesma educação, as mesmas ocupações, os
mesmos poderes e as mesmas responsabilidades. A mulher é, na realidade,
profundamente diversa do homem. Cada célula do seu corpo tem os
seus sistemas orgânicos, e, sobretudo, com o sistema nervoso. As leis
fisiológicas são tão inexoráveis como as do mundo sideral, e é impossível
substituí-las pelos desejos humanos; temos de as aceitar tais quais são.
As mulheres devem desenvolver as suas aptidões no sentido da sua
própria natureza, sem procurar imitar os homens"148
As experiências científicas comprovaram o resultado dessas
diferenças naturais. A mulher fracassou em apresentar qualquer igualdade
com o homem em qualquer campo; o homem consegue sobrepujá-la nos
campos, considerados no passado, como monopólio feminino.
Isso não é tudo… Se negarmos as leis naturais, e as regras cósmicas,
e começarmos contrariá-las, quebraremos as nossas caras com as nossas
mãos. Assim, o sistema imposto pelo homem, ignorando as considerações
que diferenciam ambos os sexos, acarretou certos tipos de doenças e
crimes no seio da sociedade. Os jovens dessa nova sociedade se queixam
de tipos de doenças venérias, morais, psicológicas, resultantes dessa
mistura terrível.
Uma das cenas que se repetem perante os médicos dessa sociedade
é o comparecimento de jovens ao consultório médico que se queixam de
dor de cabeça e insônia. Ficam algum tempo falando sobre as dores…
Então começa a falar sobre um rapaz que ela encontrou por acaso, havia
algum tempo atrás… Nesse ponto o médico sente que ela se atrapalha
com as palavras. Ele lhe pergunta: "Então, ele a convidou para o seu
apartamento. O que você lhe disse?" A jovem, estupefata, responde:
"Como você soube que eu ia lhe dizer isso?"
É possível concluir-se tudo o que a jovem dirá ao médico depois
desse diálogo. Isso é o que firam os sábios ocidentais. Isso é o que fez os
148. O Homem, Esse Desconhecido, págs. 108-109.
155
sábios ocidentais se desiludirem. Concluíram que a conservação da honra
é uma balela à sombra de uma sociedade de relações livres. Um médico
ocidental disse:
"É possível que o homem e a mulher cheguem a um ponto em que
seja impossível controlar os nervos e os sentimentos através das
penalidades."
Há uma campanha enérgica contra esses fenômenos em forma de
artigos e livros. Alguns sábios ocidentais começaram sentir a catástrofe
que ameaça sua civilização. Mas apesar disso, são incapazes de
compreender as raízes da questão.
A conhecida médica, Marion Hilliard, publicou um artigo contra a
mistura livre. Disse: "Não posso aceitar, como médica, que as relações
puras possam perdurar entre um homem e uma mulher que permaneçam
juntos sozinhos por um longo tempo."
Ela continua dizendo:
"Não sou tão estúpida a ponto de aconselhar os jovens a não se
beijarem. Mas a maioria das mães não informam seus filhos que o beijo
não amaina os sentimentos, mas os inflamam."
A Dra. Hilliard aceita, com essas palavras, o código divino que
proíbe essas manifestações, para que o homem não chegue à beira dos
hodiendos crimes sexuais. Mas a doutora. não sabe como coibir esse
comportamento que se relaciona inexoravelmente com os atos
demoníacos!
b) A lei islâmica permite a poligamia, e houve um grande clamor
contra essa permissão que a denominaram "lembranças da época da
ignorância." As experiências práticas, porém, vieram confirmar que é
uma lei que se coaduna com a natureza humana, porque a proibição da
poligamia é a abertura de inúmeras portas para a imoralidade:
Se consultarmos as publicações da ONU e de outras organizações,
verificaremos através dos números e estatísticas que o homem enfrenta
o problema dos filhos ilegítimos, que são mais numerosos que os
legítimos, e que a percentagem dos filhos ilegítimos aumentou em
sessenta por cento. Em alguns países, porém, e a título de exemplo, o
Panamá, essa percentagem ultrapassou os setenta e cinco por cento, ou
seja, três filhos ilegítimos em cada quatro nascimentos. A maior
percentagem dessas crianças ilegítimas é encontrada na América Latina.
156
Essa publicação afirma também que a percentagem das crianças
ilegítimas é nula nos países islâmicos. Ela diz ainda que essa percentagem
é menos que um por cento no Egito, apesar de ser o país muçulmano que
mais sofreu a influência ocidental.
Quais são as causas que protegem os países islâmicos dessa
calamidade? Os editores da publicação estatística afirmam que os países
muçulmanos estão protegidos contra a epidemia porque praticam a
poligamia."
Esse sábio código divino conseguiu proteger nossos países
islâmicos de uma calamidade real desta época.
As experiências humanas comprovaram que o antigo código divino
é o que está constituído sobre a verdade, e é misericórida para a
humanidade.
A Civilização
O Islam instituiu o talião para quem matar intencionalmente, a
não ser que os herdeiros do morto aceitem a compensação pecuniária.
Essa lei enfrentou críticas severas dos legisladores na época presente. A
justificativa da sua crítica é que essa lei faz perder uma outra alma, depois
de ter-se perdida a primeira de fato. Isso os levou a abominarem a pena
de morte na maioria dos países.
A lei islâmica tem duas importantes utilidades:
Primeira: Aniquila as raízes desse crime, porque ninguém se entrega
à praticá-lo ao ver o castigo sofrido por um dos membros da sociedade.149
Segunda: É a compensação pescuniária. O Legislador levou em
consideração todos os resultados. Se o filho único de uma pessoa idosa
for morto, o assassino deve pagar ao pai do assassinado uma quantia que
o satisfaça. Ele, então, perdoa o crime pela compensação recebida. A lei
islâmica deu aos pais o poder da elevação da quantia da compensação,
para poder apagar o fogo da vingança.
149. O único país que aplica o sistema islâmico nesse âmbito é a Arabia Saudita.
Todos os encarregados dos assuntos sauditas sabem que a proporção de homicídios
nela é a mais baixa no mundo. Os casos de crimes de morte anualmente não passam de
alguns devido ao castigo imposto aos criminosos. Da mesma forma, os casos de roubo
são nulos nesse país, pelo mesmo motivo.
157
Essa legislação é extraordinariamente prudente. Sua experiência
confirma que o instinto de homicídio foi eliminado em todos os países
em que foi adotada. A experiência também confirma que em todos os
países que aboliram essa lei a percentagem de homicídios subiu
assustadoramente chegando, em alguns países a doze por cento.
Há inúmeros outros exemplos: países que aboliram a pena de morte,
mas instituiram-na novamente, devido às consequências. O Parlamento
do Ceilão em 1956, sancionou uma lei, abolindo a pena de morte em
todo o seu território. A proporção dos crimes de morte aumentou
assustadoramente após a publicação da lei. O povo do Ceilão só percebeu
o erro cometido no dia 26 de setembro de 1959, quando um homem
invadiu a casa do Primeiro Ministro e o matou em seu quarto. A primeira
coisa que os membros do parlamento fizeram após o enterro do Primeiro
Ministro, foi convocar o parlamento para uma sessão extraordinária que
durou quatro horas e anunciaram, no seu encerrametno, a modificação
da lei, instituindo novamente a pena de morte.
O Sistema de Vida
O sistema aceito pelo Islam para a vida é o de propriedade privada
para os meios de produção agrícola. A estrutura de vida no Islam é baseada
na propriedade privada. Esse sistema perdurou muitos séculos no mundo.
Depois da revolução industrial enfrentou críticas severas, levando os
intelectuais a aboli-lo.
Entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do
século XX circulou na Europa o sentimento de que a propriedade privada
é uma das leis criminosas que proliferaram na Idade Média. Conseguiuse então introduzir um sistema de propriedade coletiva, considerada forte
base para o sistema de vida.
A primeira experiência da nova teoria, a propriedade coletiva, foi
efetuada numa vasta área da terra. Teve uma promoção extraordinária e
foram depositadas nela muitas esperanças. Mas a longa experiência
demonstrou que esse sistema, apesar dos esforços enormes despendidos,
só trouxe resultados inferiores à produção conseguida na propriedade
privada, além de suas inúmeras falhas, que se resumem em sua
artificialidade, a ponto de se usar a força para a sua execução. Ela também
158
coíbe o desenvolvimento humano. É, ao mesmo tempo, mais
centralizadora, mais exploradora e mais ditatorial que o sistema
capitalista.
Como resultado da propriedade coletiva vimos a Rússia, que era
um dos grandes países exportadores de produtos agrícolas no tempo
tezarista, ser obrigada a comprar milhões de toneladas de trigo do mundo
capitalista. O mesmo se dá com a China.
Essas amargas experiências da humanidade atestam que a Mente
Divina, Fonte do Código verdadeiro, conhece bem a natureza humana e
compreende melhor os seus problemas.
A religião tem resposta específica para todas as perguntas que se
fazem em nossa luta cultural. Ela nos orienta para a verdadeira legislação
natural, colocando-nos a base teórica do código. Ela nos concede uma
base correta para cada problema da vida humana, para que possa alcançar
os altos graus do desenvolvimento. É a forma única para a igualdade
completa entre o governante e o governado; ela prepara a base
psicológica, sem a qual o código se atrofia e se paralisa. Ela nos cria
aquele clima propício, imprescindível para a evolução vital e efetiva.
Assim, a religião nos proporciona tudo o de que necessitamos para
a construção da civilização, numa época em que o ateísmo e a descrença
só nos proporcionam, perdição e privação.
159
NONO CAPÍTULO
A Vida que Testemunhamos
Fredirich Engles escreveu:
"É imprescindível que o homem tenha vestimentas para proteger
o seu corpo, que tenha pão para satisfazer o seu estômago, para que
possa discutir filosofia e política."
Na realidade, as primeiras respostas que o homem procura obter
na sua vida são as das seguintes perguntas:
Quem sou eu?
Que Universo é este?
Como principiou minha vida?
Para onde eu vou?
São as perguntas inatas e básicas. O homem abre os olhos num
mundo que abrange tudo, menos as respostas para essas perguntas. O
sol lhe proporciona o calor necessário, mas o homem negligencia a sua
sociedade e as causas do seu papel para serví-la. O ar fornece a vida ao
homem, mas o homem é incapaz de influir nele para responder à pergunta:
Quem é você? Porque você executa esse trabalho?
Ele pensa na sua existência, mas não compreende quem é e porque
veio para este mundo.
O raciocínio humano é incapaz de colocar respostas para essas
perguntas fundamentais na vida humana, mas não pára de procurar, mas
sem conseguir uma resposta.
Essas perguntas, mesmo que pareçam meras sentenças nos bocas
das pessoas, elas perturbam sua alma. São devolvidas de uma forma
acompanhada por reação, a ponto do homem enlouquecer.
Sabemos que Engels era um pensador ateu. Seu altruísmo, porém
resultou de uma sociedade acometida de perturbação e instabilidade.
Quando pequeno, ele amava perdidamente a religião e passava longas
horas na igreja. Depois de crescer e ampliar sua visão no estudo, negou
160
a religião tradicional. Ele escreveu a respeito dessa mudança numa carta
para um amigo seu. Disse:
"Faço preces diariamente e passo o dia todo fazendo preces para
descobrir a verdade. A prece passou a ser a minha paixão, a partir do
momento que a dúvida invadiu o meu coração. Não consigo aceitar a
crença. Meu coração se enche de lágrimas enquanto escrevo essas linhas.
Meu coração chora; meus olhos choram, mas sinto que não estou isento
da misericórdia de Deus. Tenho esperança de alcançar a Deus a Quem
desejo ver com todo o meu coração e toda minha alma. Juro por minha
vida que este meu sofrimento e minha procura são um vislumbre do
Espirito Santo. Não deixo o meu pensamento, mesmo que o Evangelho
o desminta dez mil vezes!"
O instinto da pesquisa pela verdade perturbou a alma de Engles, o
jovem. A tradicional religião cristã não lhe forneceu a tranqüilidade que
ela procurava. Então ele se rebelou contra ela e se afundou nas filosofias
políticas, materialistas, ateístas.
As raízes desse instinto humano são os sentimentos do povo pela
sua necessidade ao Senhor Criador. A idéia de que: "Deus é o meu Criador
e eu sou Seu servo" está inscrita no subconsciente humano. É um pacto
secreto feito com o homem, desde o seu primeiro dia. Ela corre em cada
célula de seu corpo. Quando um homem qualquer perde esse
subconsciente, ele sente um enorme vazio, e sua alma lhe pede das
profundezas que procure o seu Deus a Quem não mais vê, que se O
encontra, cai de joelhos, e então esquece de tudo.
A orientação para se conhecer a Deus não é mais que tentar chegar
à fonte verdadeira dessa tendência humana. Aqueles que não se orientam
para o conhecimento procuram outras coisas. Cada coração procura quem
o oriente para o melhor de suas esperanças.
Assim, quando algum líder vai ao mausoléu dos heróis e coloca
uma coroa de flores e então fica parado com a cabeça inclinada, ele faz
o mesmo gesto que o crente faz perante o seu Deus, ao genuflectir e se
prostrar.
Quando um comunista passa perante a estátua de Lenin, tira o
chapéu e anda devagar, ele também, a exemplo do religioso, apresenta
as suas melhores saudações ao seu deus. Cada homem é impelido a adotar
161
algo, destinando-lhe as oferendas de suas verdadeiras esperanças. Mas,
se o homem apresentar oferendas a alguém além de Deus, ele estará
associando alguém a Quem merece sozinho ser adorado: "A idolatria é
grave iniqüidade."(31:13), e iniqüidade é o colocar algo fora de seu
lugar. Se você quiser usar a tampa de alguma vasilha como chapéu, isso
será iniqüidade, e o homem, ao tender para outro além de Deus, para
preencher a lacuna psicológica, adotando outro que não seja Deus para
protegê-lo, ele se desvia de seu verdadeiro lugar e aproveita, de seu
instinto, a pior causa para a desorientação.
Uma vez que esse instinto é inato, ele aparece sempre na sua forma
natural orientada para Deus. Porém, a sociedade e a situação do ambiente
fornecem a esse instinto uma outra orientação, fazendo com que a dúvida
assalte inicialmente o homem. Mas, logo ele se livra dessas dúvidas,
intencional ou involuntariamente, porque desfruta de maior liberdade
na vida nova, aceitando-a, mesmo superficialmente.
Bertrand Russel era muito religioso, e era assíduo frequentador
das missas. Um dia seu avô lhe perguntou: "Qual a sua prece preferida?"
O jovem Bertrand Russel respondeu: "A vida me cansa enquanto
estiver afundado nos pecados, ó meu Deus!" Quando ele atingiu os treze
anos de idade, os pensamentoos de rebeldia começaram assaltando,
influenciados pelo ambiente que o rodeava, aquele jovem, que era
frequentador assíduo das missas, tornou-se Bertrand Russel o filósofo
ateu, descrente nas verdades celestiais.
Uma rádio britânica entrevistou-o em 1959 e, ao ser perguntado
por Freeman, o crítico político da emissora, "Você acha que a paixão de
se ocupar com a matemática e a filosofia pode substituir os sentimentos
religiosos no homem?", respondeu: "Sim, aos quarenta anos de idade
alcancei a tranquilidade citada por Platão. É possivel conseguí-la por
entermédio da matemática. É um mundo eterno, livre, incomensurável.
Consegui, nesse mundo, uma tranquilidade parecida com a que os
religiosos conseguem."
Esse pensador britânico negou a autenticidade da divindade, mas
não conseguiu prescindir da sua necessidade premente, devido ao instinto
natural com o qual o homem nasceu. Utilizou-se da matemática e da
filosofia, colocando-as no local que pertence a Deus. Foi obrigado
162
também a atribuir à matemática e à filosofia as mesmas atribuições de
Deus: A eternidade, a liberdade e a incomensurabilidade. O segredo disso
é que ele não consegue, sem elas, a tranquilidade procurada pelo homem.
Casos simelhantes acontecam diariamente em todas as partes da
terra, e milhares de pessoas que negam a existência de Deus inclinam-se
perante o seu deus, para acalmar o seu instinto de adoração, porque a
divindade é uma necessidade inata no homem. Esses aspectos são
suficientes para apoiar esse instinto como natural, porque o homem
necessita inclinar-se perante muitos outros, quando deixa de se inclinar
perante Deus, ou seja, sua natureza não consegue preencher o vazio que
se forma quando da negação da existência de Deus.
Na verdade, o homem não tranquiliza o seu instinto quando adota
outras divindadas após a descrença em Deus. Dizemos: Aqueles que
adotam outra divindade além de Deus ficam desprovidos da verdadeira
tranquilidade, a exemplo da criança órfão que tenta substituir a mãe com
bonecos de plástico.
Cada ateu, por mais que se ache ou que outros achem que ele é
bem-sucedido, enfrenta em sua vida situações em que é obrigado a pensar
se a verdade que ele aceitou não é artificial e inútil!
Quando Nehru terminou a sua auto-biografia em 1935, doze anos
antes da independência da Índia, escreveu em seu final:
"Sinto que terminou uma fase da minha vida; que uma nova fase
irá começar. O que abrangerá essa fase? Ninguém pode prever, pois os
papéis da próxima vida estão selados."
Quando os novos papéis da vida de Nehru apareceram, encontrouse ele como primeiro-ministro do terceiro maior país do mundo,
governando um sexto da humanidade, sem parceiro. Mas Nehru não se
contentou com isso, e continuou sentindo, estando no auge de sua carreira
política, que hvia outras páginas do livro de sua vida que ainda não
foram abertas.
Passava pela sua cabeça a mesma pergunta que nasce com o
homem. Nehru, ao se dirigir ao Congresso dos Orientalistas, promovido
em Nova Delhi, em janeiro de 1964, com a participação de mil e duzentos
representantes de todo o mundo, disse:
"Sou político, e não encontro muito tempo para a meditação, mas
preciso de vez em quando pensar. Qual é razão deste mundo? Quem
163
somos? O que fazemos? Estou convencido que há uma força que traça
as nossas possibilidades."150
Este é o pensamento de intranqilidade que domina as almas
daqueles que descrêem na adoração a Deus. Durante os seus prazeres
efêmeros e os atos que conseguiram a estabilidade… Mas logo sentem
novamente que estão desprovidos da tranqüilidade, da felicidade e da
estabilidade.
Essa situação, em que desaparecem a tranqüilidade e a estabilidade
dos corações desprovidos da misericórdia de Deus, não perdura apenas
durante os dias e os anos dessa vida provisória. É muito mais importante
que isso.
É uma questão eterna, representa nela os vestígios da vida sombria
e obscura, à beira da qual ficam essas pessoas.
É o primeiro sintoma para a vida de asfixia eterna, que os admoesta
a respeito das situações assustadoras por que suas almas passarão.
É uma fumaça do Inferno no qual se eternizarão certamente.
Se a casa de um deles pegasse fogo, a fumaça chamaria a atenção
dele sobre o perigo, para que se pudesse salvar, se conseguisse acordar a
tempo. Mas, quando as línguas de fogo alcançarem a sua cama, terá
perdido a oportunidade e não terá escapatória. É a perdição que o cerca
por todas os lados. Foi condenado a se queimar devido à apatia de seus
sentidos, e à ignorância de seu próprio interesse.
Será que as pessoas despertarão em tempo para a salvação? O
despertar útil é o que acontece antes da perda da oportunidade; e o
despertar na hora da perdição e do desmoronamento, não fornece ao seu
atuante mais que a permanência no Inferno.
O Professor Michel Preacher escreveu uma biografia de Nehru. O
autor, numa entrevista com Nehru, em Nova Delhi aos 13 de junho de
1956, perguntou-lhe:
"Quais são os valores necessários para um ambiente salutar, de
acordo com a sua filosofia política da vida?"
O Primeiro Ministro respondeu:
"Acredito em alguns critérios. São os critérios morais. É preciso
que cada membro e ambiente se apeguem a ele. Quando eliminamos
150. National Herald Journal, número 4, janeiro de 1964.
164
esses critérios, não conseguimos chegar a resultados úteis, apesar do
grande desenvolvimento material. Quanto aos meios de se conseguir
esses critérios e a sua conservação na sociedade, não os conheço. Há
uma consideração religiosa para a execução desses critérios, mas nos
parece muito estreita, com todos os seus métodos e caminhos. Eu me
preocupo muito com os valores morais e espirituais, longe de religião.
Mas não conheço como é possível conservá-los na nova vida. É um
problema sério!"151
Essa pergunta e sua resposta mostram claramente o vazio que o
homem enfrenta em sua vida; as instituições de valores morais são as
necessidades mais prementes, prosseguindo na marcha da civilização.
O homem, porém, depois de abandonar a divindade, começou a vagar
cegamente à procura desses valores e dos meios da sua instituição na
vida dos membros da sociedade. Apesar de terem-se passado centenas
de anos, o homem continua nas primeiras etapas da sua procura a esses
valores desprovidos da religião.
Por exemplo, instituiu-se um ministério de desburocratização para
eliminar as barreiras entre o povo e os governantes. Mas a mentalidade
burrocrática dos responsáveis não desaparece, apesar de todos os esforços
que são dispensados nessas oportunidades, em nome da moral.
Penduram-se grandes cartazes nas estações e dentro dos vagões
dos trens, que dizem: "O viajar sem a passagem é crime social" mas a
percentagem dos que viajam sem passagem não é suficiente para mover
a consciência do indivíduo quanto a proteger a disciplina.
Empregam-se enormes esforços para se combater os crimes através
da imprensa, dizendo que o crime não compensa. Mas, a proporção
crescente dos crimes, um dia após outro, demonstra que o castigo pelos
crimes na vida não é repressiva, a ponto de evitar que os criminosos
pratiquem os crimes.
Há muitas frases escritas nas paredes das repartições públicas,
dizendo que o dar e receber suborno é crime. Mas a pessoa, quando vê
que os crimes de suborno correm soltos à vista das próprias frases, é
obrigado a reconhecer que a propaganda governamental não consegue
coibir esse péssimo crime social.
151. Nehru, Uma Biografia Política, págs. 607-8.
165
É escrito em cada vagão do trem: "O trem é propriedade do povo;
danificá-lo é crime contra o povo." Os viajantes, porém, nos mesmos
vagões, roubam suas lâmpadas elétricas, quebram seus vidros, de vez
em quando ateiam fogo nele, o que prova que o interesse do povo não é
mais forte que o interesse individual.
Os maiores líderes e políticos anunciam em seus discursos: "A
utilização dos meios governamentais em proveito particular é traição ao
direito do povo e do país." Mas as grandes obras falham em atingir os
seus objetivos, porque a maior parte do orçamento destinado vai para o
bolso dos responsáveis por tais obras, em vez de gastá-lo nos dividos
lugares. Assim, os valores desapareceram da vida nacional, apesar de
todos os esforços empreendidos pelos reformadores e líderes. Todos os
meios utilizados fracassam.
Esses fenômenos, na realidade, são provas de que a civilização
ateísta levou a humanidade para a lama, desviando-a do caminho
imprescindível para a continuação da marcha. A única solução para essa
crise é o retorno a Deus, aceitando-se a importância da religião, na vida;
é a única base que auxilia, da melhor maneira, na marcha da humanidade,
e não há outros meios para isso.
O Professor Chester Bowles, ex-embaixador dos Estados Unidos
na Índia, escreveu:
"Os países em desenvolvimento enfrentam dois tipos de problemas
em sua marcha industrial. Ambos os tipos são muito complexos. O
primeiro é o de se conseguir capital, matéria-prima, conhecimento
tecnológico e os melhores meios para a sua utilização. Quanto ao segundo
tipo desses problemas, ele diz respeito ao povo e à administração pública.
Temos, antes de perseguirmos na nossa revolução industrial que nos
certificar de que essa indústria não nos gere mais problemas do que resolve. Ghandi disse: 'Os conhecimentos científicos e as descobertas
aumentarão a ânsia do homem, quando o homem é a mais importante
das coisas.'"152
O povo constitui uma sociedade que obedece os programas de
desenvolvimento, mas os elementos de desenvolvimento, como capital
152. "The Making of a Just Society" (A Formação de uma Sociedade Justa), Delhi,
1963, págs. 68-69.
166
e tecnologia, não são de grande valia numa sociedade em que impera o
vazio político e civil.
Qual é o caminho que irá preencher essa lacuna para a construção
de uma sociedade onde povo e governo venham a cumprir cada um com
o seu papel para a elevação do conceito do país?
É uma pergunta sem resposta para os pensadores modernos. Na
verdade, o homem não consegue chegar a uma resposta, à sombra da
sociedade ateísta, pois cada projeto de desenvolvimento que é atingido
por contradições revolucionárias mostra que as crenças pessoais dos seus
membros contrariam a crença coletiva. O programa de desenvolvimento,
por exemplo, visa construir uma sociedade opulenta, desfrutando de
segurança e paz. Os pensadores, então, dizem: "O objetivo básico do
homem é conquistar a felicidade material!" Com isso, negam o princípio
primordial do seu programa, porque estimulam os membros a agirem
contrariamente às necessidades da sociedade.
Essa contradição resulta do fato de que nenhum programa desse
tipo atingiu seus objetivos até hoje, e todas as filosofias materialistas
para o desenvolvimento da vida social falharam.
Conseguir o homem a felicidade material significa que procura,
com todas suas forças, realizar todos os seus desejos. Mas não há caminho
para se atingir os objetivos pessoais, neste mundo limitado, sem se
influênciar os outros. Por isso, quando o indivíduo procura realizar os
seus desejos, isso transforma-se em prejuízo para os outros, pois o desejo
individual destrói o desejo coletivo. Quando o indivíduo recebe tão
pequeno salário, que seu rendimento não seja suficiente para atingir a
sua felicidade pessoal, ele procura alcançar isso por todos os meios,
mesmo recorrendo ao roubo, ao suborno, à fraude, à falsificação, a
usurpação dos bens dos outros. Então, a sociedade passa a sofrer os
mesmos problemas que um de seus membros sofria.
O mundo moderno sofre hoje um problema não experimentado
em toda sua história. É o problema da criminalidade dos menores, que
se tornou parte integrante da sociedade moderna. De onde surgiram esses
criminosos menores de idade? São as vítimas da felicidade material.
Muitos jovens se aborecem da vida conjugal depois de pouco tempo de
casados. Então, começam procurar novos rostos e novos corpos e pedem
167
o divórcio. O maior prjudicado no caso é a sociedade, que paga o preço
do divórcio ao recolher crianças órfãs, com seus pais ainda em vida. Por
outro lado, a sociedade debilitada, por sua vez, não consegue proporcionar
para esses menores alimentação, vestimenta, moradia e educação. Eles
se tornam livres de todas as responsabilidades de se revoltarem contra a
sociedade que os gerou. Essa situação começa com vandalismo e culmina
com os crimes sujos dos quais eles próprios foram fruto.
Sir Alfred Deening disse: "A maior parte dos menores criminosos
são fruto de famílias desfeitas.153
Essa contrariedade entre a filosofia social e os objetivos dos
indivíduos é a fonte de todos os problemas sociais. Todos os
acontecimentos que denominamos, em nossos dicionários, como "crimes
e culpas" são tentativas de um povo para alcançarem seus desejos pessoais
na vida, depois de fracassarem em realizá-los por um motivo ou outro.
Esses acontecimentos surgem na maior parte das vezes em forma de
assassinato, rapto, fraude, falsificação, pirataria, guerra, fornicação, e
crimes semelhantes que a humanidade enfrenta.
Essa contrariedade mostra claramente que o objetivo principal da
vida é tão somente conseguir o agrado de Deus na outra vida. É o único
objetivo que consegue salvar a sociedade e o indivíduo da grande
contrariedade, conduzindo-os para o caminho da felicidade, prosperidades
recíprocas, porque o indivíduo com esse objetivo, não colide com os
almejos da sociedade, mas participa com seu esforço, de uma forma
positiva e eficaz.
A distinção da teoria da "outra vida" é a confirmação de que é a
única base para o bom êxito dos projetos sociais num tempo em que
mostra que esse é o único objetivo do indivíduo também, porque aquilo
que não tiver relação com a realidade não consegue se transformar nessa
estranha magnitude de importância e de acordo com os objetivos da
humanidade.
A medicina e a cirurgia modernas evoluiram tanto, até ao mais
alto limite nesse século, que os médicos começaram dizer: "A ciência
consegue eliminar todas as doenças, fora a morte e a velhice." Mas as
doenças aumentam e se popularizam, proliferando-se rapidamente.
153. "The Changing Law" (A Lei Mutável), pág. 111.
168
Dentre elas podemos citar as doenças nervosas, resultantes dos fortes
conflitos por que o indivíduo e a sociedade passam.
A ciência moderna tentou alimentar todos os lados materiais do
corpo humano, mas falhou em alimentar os sentimentos, as esperanças e
os desejos. A colheita disso foi conseguir um corpo alto, saudável, mas o
outro lado do corpo, a raíz do homem, começou a sofrer crises ilimitadas.
Uma estatística afirma que oitenta por cento dos doentes das
grandes cidades americanas sofrem de problemas nervosos, de uma forma
ou de outra. Os psicólogos modernos dizem que a principal causa dessas
doenças psicológicas são: a aversão, o rancor, o delito, o medo, a
imposição, o desespero, o controle, a dúvida, o egoísmo e o incômodo,
causado pelo ambiente, à vida desprovida da crença em Deus.
Essa crença em Deus fornece ao homem uma formidável
consciência, capacitando-o a enfrentar os mais difíceis problemas. Ele
diligenciaria por um objetivo sublime, ignorando os objetivos sujos e
vis.
A crença em Deus fornece ao homem um motor que é base de
todos os bens morais, a fonte da força da fé, descrita por Sir William
Osler como: "É uma extraordinária força motora que não pode ser pesada
em nenhuma balança nem pode ser testada nas indústrias."
Essa fé é o segredo do depósito da saúde psicológica abundante,
desfrutada por seus praticantes e qualquer espírito desprovido dessa
crença só termina nas piores doenças.
É um infortúnio para o homem o fato de que os psicólogos
empreendam o que podem de sacrifícios para descobrir novas doenças
psicológicas e nervosas. Mas, ao mesmo tempo, são negligentes em
encontrarem um tratamento para essas doenças. Esse fenômeno, gera
sentimentos aflitivos de que esses cientistas fracassaram no último campo
e por isso dedicam-se ao segundo campo, ocultando sua decepção, e
apresentam seus heroísmos perante o mundo.
Por isso, um cientista cristão disse: "Os psicólogos empregam todos
os seus esforços na descoberta dos segredos da fechadura que trancará
todas as nossas portas quanto à saúde!"
A nova sociedade segue em duas direções ao mesmo tempo. De
um lado procura conseguir todos os confortos materiais, ao mesmo tempo
169
em que, ao abandonar a religião, cria situações que tornam a vida um
inferno. Fornece o remédio oralmente e aplica o veneno através de injeção
intravenosa.
Citaremos aqui o testemunho desse fenômeno, prestado por um
médico de nome Paul Ernest Adolf, que diz:
"Conheci, durante os meus estudos de medicina, as mudanças que
acontecem com os tecidos do corpo atingido com ferimentos. Durante
as experiências observei que sintomas limitados ocorrem com esses
tecidos, o que faz cicatrizar esses ferimentos. Quando me formei médico,
estava totalmente convencido da minha capacidade de que conseguiria
realizar resultados, com os meios medicinais necessários. Mas logo fui
atingido por um grande choque, pois as circunstâncias me obrigaram a
sentir que descuidara do mais importante elemento da medicina: Deus.
"Entre os pacientes que eu tratava, no hospital, encontrava-se uma
senhora de setenta anos que sofrera uma fratura na cocha. As radiografias
mostraram que os ossos do seu corpo se regeneravam rapidamente. Por
isso, felicitei-a pela rápida cura. Um dos cirrurgiões indicou-me que lhe
desse alta em vinte e quatro horas por ela ter conseguido andar sem se
apoiar em nada. Isso foi num domingo, dia que sua filha constumava ir
visitá-la semanalmente. Disse-lhe: 'Sua mãe está passando bem agora;
pode vir amanhã para levá-la para casa.' A filha não respondeu nada na
minha frente mas foi ter com a mãe e lhe disse que havia concluído, com
o marido, que não podiam preparar a sua volta (da mãe) para a casa
deles; e que seria melhor encontrar para ela um local num asilo de velhos.
Após a passagem de algumas horas, passei pelo leito da senhora e observei
que ela teve uma rápida recaída e, após vinte e quatro horas, ela veio a
falecer, não por causa da fratura da perna, mas pelo coração partido.
Antes tentei prestar todos as assistências necessárias para salvá-la, mas
sua situação não melhorou. Os ossos de sua cocha tinham melhorado
muito, mas não encontrei remédio para seu coração partido. Ministreilhe todo tipo de vitaminas e sais minerais e todos os meios de regeneração
dos ossos, mas a senhora não conseguiu mais levantar-se. Na verdade,
seus ossos haviam-se regenerado, mas não tinha forças para viver, porque
o elemento essencial para a vida dela não eram as vitaminas e sais
minerais, nem a regeneração dos ossos, mas a esperança, a esperança de
170
viver de uma forma específica. Quando perdeu a esperança na vida, a
saúde foi-se com ela.
"Esse acontecimento teve uma influência em mim, porque eu senti
que ele nunca poderia ter acontecido se a senhora conhecesse o Deus da
esperança, em Quem eu creio."154
Esse exemplo nos fornece um quadro do conflito que o mundo
enfrenta em cada fase da sua existência. O mundo tenta hoje, com todas
as forças, apagar os sentimentos religiosos dos corações das pessoas,
tencionando desenvolver o homem e negligenciando-lhe a alma, seu
elemento essencial.
Dentre os resultados dessas tentativas está o fato de a medicina
conseguir regenerar os ossos de uma perna fraturada, mas a falta da
crença na divindade leva o indivíduo à morte, apesar de o seu corpo
estar com boa saúde.
Esse conflito destruiu a humanidade. Os corpos que estão sob as
roupas luminosas são os que mais necessitam da tranqüilidade e da
felicidade verdadeiras. As casas majestosas são habitadas por corações
partidos; as cidades iluminadas pela luz da civilização são fontes de
crimes e geradoras de desgraças; os governos poderoso são acometidos
de conspirações internas e minados pela desconfiança, e as obras
gigantescas estão fadadas ao fracasso devido à corrupção de seus
encarregados. A vida tornou-se indesejável, apesar do desenvolvimento
mateiral enorme, e tudo isto e aquilo resulta do fato de o homem estar
desprovido da dádiva da crença em Deus. Desprovemos a nós mesmos
da fonte e da base preparados para nós pelo nosso Criador e Senhor.
A causa das doenças psicológicas, citadas por nós, é uma verdade
patente e reconhecida pelos psicólogos. O famoso psicólogo, o Professor
G.G. Jung, resume suas experiências nesse campo, da seguinte forma:
"Muitas pessoas, de todos os países civilizados, pediram-me
conselhos sobre suas doenças psicológicas, nos últimos trinta anos. O
problema de todos aqueles que ultrapassaram a primeira metade de suas
vida, ou seja, depois dos 35 anos, era a falta da crença religiosa. É possível
dizer-se que sua doença não é mais que a perda daquilo que as religiões
154. "The Evidence of God" (A Evidência de Deus), págs. 212-214.
171
fornecem aos crentes em todas as épocas. Nenhum desses doentes
conseguiu sarar, antes de readquirir sua crença religiosa."155
O Alcorão diz: "Para aquele que tiver coração que escuta
atentamente e é testemunha (da verdade)." (50:37).
Se quisermos mais esclarecimentos, tomemos as palavras do
Professor A.C. Morrison, Ex-Presidente da Acadamia de Nova Iorque:
" A modéstia, o respeito, a generosidade, a moralidade, os valores,
os sentimentos altruísticos e o tudo que é considerdo como 'sopros
divinos', não pode ser conseguido através do ateísmo. Este é uma espécie
de egoísmo em que o indivíduo senta no Trono de Deus. Esta civilização
desaparecerá, sem a crença e a religião. A harmonia transformar-se-á em
anarquia, o equilíbrio, o controle pessoal, e a confiança desaparecerão.
A maldade proliferará em todos os lugares. É uma necessidade premente
o fortalecermos as nossas relações com Deus. "156
155. "Science and Christian Belief" (A Ciência e a Crença Cristã), pág. 110.
156. "Man Does not Stand Alone" (O Homem Não Está Sozinho), pág. 123.
172

Documentos relacionados