Arquivos - CAIO ARES
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Volume 6 • Número 2 Publicação Oficial do Projeto Alfa e Instituto H. Ellis Mai/Jun/Jul/Ago 2010 SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA ISSN 1981-7932 Reprodução Humana O IMPACTO DA EMOÇÃO NA INFERTILIDADE. RELATO DE EXPERIÊNCIA. Alcina de Cássia Meirelles página 3 CONTROVÉRSIAS DA DOAÇÃO DE SÊMEN. Sidney Glina página 8 OS DESREGULADORES ENDÓCRINOS NA ENDOMETRIOSE. Bianca Bianco, Denise Maria Christofolini, Caio Parente Barbosa página 10 EVENTOS DO PROJETO ALFA página 13 Sexualidade Humana HIPERPROLACTINEMIA E FUNÇÃO SEXUAL. Andréa Glezer, Simão A. Lottenberg página 14 ATIVIDADE FÍSICA PODE MELHORAR A FUNÇÃO ERÉTIL? Paulo Oliveira, Ana Terra Andrade, Carolina Dórea página 18 FORUM DE DISCUSSÃO com CAIO ARES “O HOMEM MAIS INTELIGENTE DO MUNDO” sobre SEXUALIDADE HUMANA: A CIÊNCIA DO AFETO. página 22 Agenda de Eventos página 23 Instituto H.Ellis Instituto H.Ellis SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA Arquivos H. Ellis Revista Criada e editada pelo Instituto H. Ellis, para profissionais de saúde. Carta aos Leitores Editores: Sidney Glina, Cila Ankier. Caro Leitor, Co - editor: Jeff Raul Cortés González A revista Arquivos H. Ellis agora atinge um âmbito maior por estar sendo publicada também em espanhol, o que permite que seja acessada pelos colegas de toda Ibero-América. Conselho Científico: Elvio Tognoti, Jonathas Borges Soares, Nelson Antunes Jr, Newton Busso, Sidnei di Sessa. Trata-se de uma revista científica que busca a atualização constante de seus leitores, com artigos de revisão sobre o que há de mais novo em Medicina Sexual e Reprodutiva. Secretária: Lourdes Braga O objetivo dos Editores é que os artigos sejam publicados de acordo com a vontade de seus autores, com pouquíssima ou nenhuma edição, buscando manter um canal aberto de comunicação entre os autores e leitores. Por essa razão não temos uma estruturação fixa de como devem ser os artigos, nem mesmo em relação ao tamanho dos mesmos. Obviamente todos os artigos são revisados e precisam apresentar uma estrutura coerente para serem publicados. Para manter o interesse e a atualização, muitos autores publicam suas contribuições sob convite dos Editores, mas os trabalhos espontâneos são muito bem-vindos e têm constantemente aparecido nos AHE. Esta é uma revista que pode ser muito aperfeiçoada com a participação dos leitores. As críticas e sugestões são muito importantes e pedimos aos leitores que se sintam à vontade para enviá-las. Diagramação: Blunn Comunicação e Marketing Endereço para correspondência: www.arquivoshellis.com.br [email protected] R. Cincinato Braga, 37 – s/102 Bela Vista - CEP: 01333-011 São Paulo - SP Tel: + 55 (11) 3515-7902. Fax: + 55 (11) 3515-7900 Instituto H. Ellis www.instituto-h-ellis.com.br Projeto Alfa www.projetoalfa.com.br Blog: http://arquivoshellisexualidadereproducao. blogspot.com/ Os editores não se responsabilizam pelas informações de artigos assinados. É permitida a reprodução de parte ou de todo conteúdo desta publicação, desde que citada a fonte e o autor, sem alteração de conteúdo Boa leitura! Sidney Glina Envie suas sugestões e artigos www.arquivoshellis.com.br [email protected] Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 R. Cincinato Braga, 37 – s/102 – Bela Vista CEP: 01333-011 - São Paulo - SP Tel: + 55 (11) 3515-7902. Fax: + 55 (11) 3515-7900 INSTRUÇÃO AOS AUTORES Saiba como colaborar com Arquivos H.Ellis, acessando wwww.arquivoshellis.com.br Página 2 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA O IMPACTO DA EMOÇÃO NA INFERTILIDADE. RELATO DE EXPERIÊNCIA. Alcina de Cássia Meirelles “Há no céu e na terra, Horácio, bem mais coisas do que sonhou jamais nossa filosofia”. (William Shakespeare) I nicio este artigo lembrando essa frase de Shakespeare porque penso que, no que concerne ao relacionamento amoroso do casal infértil, existem muito mais aspectos importantes do que têm sido abordados em artigos, livros e nas discussões pertinentes ao tema. Antes de prosseguir, parafraseando Carl Rogers quero deixar claro que: “Eu falo enquanto pessoa, dentro de um contexto de uma realidade e de uma experiência pessoais”. E que, portanto, minhas afirmações e observações são totalmente empíricas, não tendo desenvolvido ainda pesquisa científica na área. No entanto, meu interesse pelo ser humano remonta ao início de minha existência, pois desde tenra idade, era atenta aos conflitos gerados pelos relacionamentos interpessoais, primeiramente no âmbito familiar e, posteriormente, no âmbito social. Os médicos, em geral, se focam exclusivamente O que venho observando é que, não nos aspectos clínicos e físicos sem levar em conta os necessariamente, as escolhas entre os parceiros aspectos psíquicos (internos) e os emocionais amorosos são como deveriam ser: por amor (manifestos), tão claramente visíveis, em alguns verdadeiro. Amor verdadeiro é um tema bastante casos. polêmico e, pelo que parece, ainda não totalmente compreendido pela maioria das pessoas. No Psicólogos e outros pesquisadores apontam as entanto, os grandes sábios e os grandes poetas em emoções geradas pelo longo período de tentativas diferentes épocas e culturas já nos definiram o mal sucedidas para engravidar, concentrando as amor. Focarei neste artigo, os pressupostos de observações nos conflitos decorrentes do problema Rollo May, psicólogo americano e do médico da infertilidade. chinês Mantak Chia. Ambos dão significado semelhante às relações amorosas, cada um com Segundo meu ponto de vista e minha experiência sua linguagem e seus substratos filosóficos, de dez anos de trabalho com casais “tidos” como evidentemente. inférteis, no Centro de Referência da Saúde da Mulher - CRSM (Hospital Pérola Byington) e na E farei a relação do quanto todo o contexto clínica particular, não conseguir engravidar nessa relacional e existencial dos casais, entremeado de população de casais inférteis, tem múltiplas emoções, influencia no processo de conseguir ou implicações e variáveis e, em muitos casos, começa não gerar uma criança. desde o momento da escolha dos parceiros, a quem elegem para se casar e constituir uma família e em O que considero como contexto relacional do como desenvolvem esse relacionamento amoroso. casal é exatamente o modo como as relações entre os parceiros se desenvolvem. Escolhem-se pelos mais diferentes motivos (conscientes ou inconscientes), convivem por diferentes períodos de tempo no “namoro” e se unem denominando-se casados tendo assinado ou não um papel oficial que diante da sociedade, os torna marido e mulher. O que entra em jogo desde o início e continua ao estreitarem a convivência e a “intimidade”, são os interesses pessoais – explícitos (raramente!) ou ocultos (o que é mais comum; e para observar isto é só nos lembrarmos de alguns casais que se adoravam no inicio do proculturaalternativa.blogspot.com Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 3 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA casamento, passam a agir quase como inimigos, na hora da separação, quando um dos dois não está permitindo que o outro, que deseja a separação, tenha satisfeitos seus “novos” interesses pessoais.) Aqui entra ativamente a participação do funcionamento psíquico de cada um e, mesmo não sendo psicanalista, tenho, intuitivamente, a psicanálise como fundamento da minha prática profissional. E, portanto, levo em conta que o funcionamento do nosso aparelho psíquico subjaz a uma história, que se inicia muito cedo na vida de todos nós, e que influencia diretamente o relacionamento do casal. E é aqui que meu olhar acurado enxerga no casal tido como infértil, aquilo que ele não fala, porque não compreende e não percebe estar acontecendo com ele. Normalmente, nas entrevistas psicológicas com os casais que procuram o serviço, sigo um roteiro semi-estruturado (encontra-se no final do artigo), roteiro esse aperfeiçoado ao longo desses anos, desde o começo de minha prática nessa especialidade quando dei início no CRSM (1996) a um programa de assistência psicológica aos casais inférteis. Essas questões fazem com que esses casais se mostrem a mim, gradativamente, sem grande constrangimento (pelo meu modo de conduzir a entrevista) e me ajudam a ir percebendo nos âmbitos (consciente e inconsciente) o que ocorre efetivamente nessa relação, e naquele parceiro (ou nos dois) e o que pode estar “bloqueando” a gravidez. E aqui entra a explicitação do nosso tema: o impacto da emoção na infertilidade. E novamente afirmamos que muitas questões subjazem a esse “impacto emocional”. Lembramos que emoção é a manifestação de diferentes sentimentos, e que por trás desses sentimentos existe um complexo integrado envolvendo os aspectos: psíquicos, biológicos, socioculturais e espirituais, que não podemos deixar de considerar. E ainda, como esses dois universos complexos, que representam cada parceiro, estão interagindo e desenvolvendo o relacionamento propriamente dito. E muitas vezes, ao longo da entrevista, pela “mágica” que pode ocorrer em uma “consulta terapêutica”, modalidade de atendimento que também intuitivamente, venho realizando há muitos anos nos meus atendimentos dentro do hospital, um dos dois verbaliza, por conscientizarse naquele momento, dentro daquele contexto, o ponto principal da questão: “é, eu acho que no fundo eu não quero ter filho”. E outras afirmações desse tipo se seguem a esta, por outros casais, como por exemplo, uma paciente de um dos nossos grupos de avaliação psicológica, Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 que me perguntou baixinho: “pode não querer ter filho? pode ter medo?” A psicossomática tem nos guiado na compreensão clara das manifestações orgânicas de fatores psíquicos e não podemos fechar os olhos para o que vemos diante de nós. Em uma das entrevistas com um casal, a esposa refere menstruar durante todo o mês. O marido tenta tomar à frente das respostas quase o tempo todo da entrevista, com certa ansiedade, e isto já nos deixa em sentido de alerta. Algo não vai bem ali, pelo modo como isso está se passando. E em um determinado momento, ela me olha, buscando a minha cumplicidade, a minha compreensão, e olha para o marido dizendo - sinto muito, mas eu vou falar - “eu não quero engravidar, porque eu tenho muito medo da dor. Minha mãe me falou a vida inteira que o parto é um grande e insuportável sofrimento. E minha sogra também fala isso sempre. Sinto muito “bem”, mas eu não quero!”. Será que alguém que esteja lendo este relato tem dúvida de que ela menstrua o mês todo para evitar a gravidez? Ou seja, seu organismo “atende” a sua solicitação não verbalizada ou admitida por ela, até aquele momento de nossa entrevista: “por favor, não permita que eu engravide!” yvannasaraiva.blogspot.com E assim vemos muitos e muitos casos, que durante a entrevista vão se desvelando para nosso olhar acurado, de casais que têm evidentes bloqueios psíquicos (desejos ambíguos, desejo de não engravidar, “obsessão” no lugar de desejo), ansiedades, bloqueio de sua “energia vital” e distanciamento amoroso, interferindo na sua possibilidade de engravidar. E procuramos explicitar isso a eles, do melhor modo possível. Mostramos ao casal seus motivos ocultos (que conseguimos perceber e compreender ali durante a entrevista) e explicamos que nós psicólogos acreditamos que isso deve estar contribuindo para sua não gravidez. No entanto, deixamos claro também que não podemos afirmar, com cem por Página 4 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA cento de garantia, que ao se submeterem à psicoterapia, conscientizando-se e aceitando “visceralmente” os motivos inconscientes, com consequente mudança de padrão interno e externo em sua atuação na vida, engravidarão com certeza. Mas que, de acordo com nossa experiência nessa área, aumentarão muito suas chances. Já acompanhamos muitos casos de casais que, ao tratarmos dos conflitos psíquicos de cada um, dos conflitos relacionais entre o casal, conflitos econômicos, conflitos familiares, enfim, ao tratarmos do universo psíquico e existencial, obtivemos mudanças significativas em suas vidas e, em algum momento, próximo ou distante, conseguiram engravidar. Vamos agora então, ampliar esse escopo, da emoção na infertilidade e nos aprofundar no relacionamento definindo as relações sexuais ou mais amplamente consideradas, as relações amorosas, segundo os autores já citados acima, Rollo May e Mantak Chia. Rollo May define quatro espécies de amor, segundo a tradição ocidental. “Uma é a sexual ou o que chamamos de sensualidade, libido. A segunda é Eros, o impulso de amar para procriar ou criar – o ímpeto, segundo os gregos, em direção a formas mais elevadas de ser e relacionar-se. A terceira é philia, ou amizade, o amor fraterno. A quarta é ágape, ou caritas, como a chamavam os latinos, o amor dedicado ao bem do próximo.” Segundo ele, toda experiência humana de amor autêntico é uma mistura, em proporções variáveis, das quatro espécies de amor. E o que chama a minha atenção, e me faz concordar com ele é quando diz que “sexo é uma necessidade, mas Eros é um desejo; é essa mistura do desejo que complica o amor. Com respeito à nossa preocupação com o orgasmo nos debates sobre sexo, entre nós americanos, podemos concordar que, a finalidade do ato sexual no sentido biológico e fisiológico é, na verdade, o orgasmo. Mas não para Eros. Eros procura a união com o outro em alegria e paixão, e a procriação de novas dimensões de experiência, que ampliem e aprofundem o ser de ambos (...) Eros é o anseio de unir-se, de estabelecer o pleno relacionamento”. (grifos meus) (May 1978). É aqui que entra nosso entendimento a respeito de grande parte dos casais tidos como inférteis: o Eros, definido acima, deixa de existir na relação amorosa (se é que um dia existiu, pois como falei, são muitos e equivocados os motivos que levam Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 os casais a se unirem em matrimônio e, infelizmente, parece que nem sempre o fazem por amor, até mesmo por desconhecer o que é o amor). Principalmente, quando já tendo consultado um médico, são orientados a realizar o “coito programado” e passam a determinar dia e hora exata para se relacionarem sexualmente, independentemente de terem “desejo” ou não de fazê-lo, na tentativa obcecada de engravidar. Ou seja, quanto mais esse casal se empenha para ter um filho, mais parece se distanciar da possibilidade de tê-lo. E completamos mais um pouco nosso entendimento sobre a união entre um homem e uma mulher, quando existe amor verdadeiro, citando o taoísta Mantak Chia que nos fala do “orgasmo de corpo e alma”: “(...) o orgasmo verdadeiro ocorre quando tanto o homem quanto a mulher continuam a pulsar juntos. Sua energia sexual completa um circuito fechado entre seus dois pólos magnéticos, deixando cada um deles mais totalmente carregado do que antes. Esse ciclo é o Tao, os símbolos preto e branco de yin e yang fluindo um no outro em perfeita harmonia circular. Sozinho, o fluxo de energia sexual não pode completar esse círculo: o amor deve estar presente (...) Esse círculo de energia não consegue conexão se um homem apenas encaixa seu pênis na vagina de uma mulher, sem amá-la com o coração (...) É por isto que sexo apenas, sem amor, faz você infeliz – você está conectando apenas metade de si mesmo com a mulher, e sua metade inferior, diga-se de passagem. O fluxo de chi no círculo do Tao é interrompido, e sem esse fluxo total entre yin e yang, nenhuma quantidade de sexo irá satisfazer seu desejo mais profundo pela totalidade.” (grifos meus) (Mantak e Winn 1984). www.northernsun.com De certo modo, conhecendo um pouquinho de medicina chinesa e acupuntura, atualmente, ouso relacionar o fluir dessa energia chi acima descrita (energia ou força vital) à obtenção da gravidez, pois me lembro do atendimento de alguns casais onde, no momento em que, a mulher que estava Página 5 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA com a “vida estagnada”, somente focada no filho que queria ter, tomou consciência e aceitou, verdadeiramente, que filho não é tudo nada vida, e permitiu que sua “energia” fluísse, operando mudanças em sua vida, em um determinado momento desse processo, engravidou naturalmente. Claro que teríamos muito mais por dizer, com uma temática tão vasta e rica como essa e muito mais complexa do que se imagina, como minha experiência tem me mostrado. E por isso mesmo, cada aspecto já abordado, poderia ser aprofundado e detalhado, e muito mais páginas poderiam ser escritas, transformando nosso artigo em um verdadeiro tratado, que não seria a finalidade nesse momento. Creio, após toda essa explanação permeada pela riqueza de uma pequena parte dos textos de Rollo May e Mantak Chia, e fundamentada na minha experiência de atendimento psicológico, avaliação, orientação, acompanhamento, de quase dois mil casais, em diferentes momentos do Programa de Fertilização Assistida, tanto no CRSM, quanto no consultório particular, que os que lêem esse artigo já devem ter entendido porque citei Shakespeare e fiz referências ao “universo” não desvelado ainda, de um modo mais amplo, das emoções na infertilidade. Breve definição de alguns conceitos citados no texto: ? Consultas Terapêuticas – modalidade de atendimento criada pelo psicanalista inglês Donald Winnicott: as consultas terapêuticas ou a exploração integral das primeiras entrevistas psicológicas representam uma nova possibilidade de avaliação, intervenção e ajuda psicológica, em que o encontro analítico se respalda basicamente em uma comunicação significativa entre os membros do encontro. A comunicação significativa, isto é, o ponto-ápice dessa modalidade de intervenção e avaliação psicológicas, gradualmente se configura ao longo do próprio processo de comunicação e contato entre analista e paciente. Em virtude desse caráter surpreendente e flexível das consultas, essas não podem ser definidas por meio de técnicas rígidas, conforme já destacado, ou mesmo estabelecidas anteriormente ao contato analítico. Assim sendo, cada encontro analítico adquire uma configuração própria, resultado da conjunção das interações e Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 características tanto do analista quanto de seus pacientes (Lescovar 2004). ? ? Yin e yang - são termos relativos para expressar que a polaridade não é estática, mas dinâmica, em constante mutação, significando que não existe apenas frio e calor, mas calor transmutando-se em frio e frio se transformando em calor. Essa polaridade dinâmica é o reflexo da contraposição interna que constitui a força motriz que impulsiona as mudanças (Jia 2004). Energia chi – qui é invisível, contínuo, pode significar tanto uma substância básica como a força motriz que impulsiona as atividades vitais. Energia ou Prana, no Hinduismo, é uma palavra de etimologia grega “en-ergon” que significa “em atividade” (Jia 2004). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Jia JE. Ch'an Tao, Conceitos básicos: medicina tradicional chinesa, Lien Ch'i e meditação. 2ª. ed. São Paulo: Ícone; 2004. p.49-50, 71. Lescovar, GZ. As consultas terapêuticas e a psicanálise de D. W. Winnicott. Estud psicol. (Campinas) 2004;21(2):43-61. Mantak C, Winn M. Segredos taoístas do amor, cultivando a energia sexual masculina. 1ª. ed. São Paulo: Roca; 1998. p.191. Rollo M. Eros e repressão. 2ª. ed. São Paulo: Vozes; 1978. p.81-2. Alcina de Cássia Meirelles: Psicóloga; Diretora Técnica de Serviço de Saúde e Membro do Comitê de Ética e Pesquisa, Núcleo de Psicologia, do CRSM - Centro de Referência da Saúde da Mulher, Hospital Pérola Byington; Implantou o Programa de Assistência Psicológica aos Casais Inférteis em 1996; Membro do Comitê de Psicologia da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. São Paulo (SP), Brasil. Email: [email protected] Página 6 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA Secretaria de Estado da Saúde Coordenadoria de Serviços de Saúde Centro de Referência da Saúde da Mulher NÚCLEO DE PSICOLOGIA ESTERILIDADE CONJUGAL Roteiro de Entrevista Semi-Dirigida – Casal Individual Consulta Nova Data: Paciente : Matrícula: Prontuário: Religião: idade: Endereço: bairro: Nascimento: CEP: Local: fone : recados Tempo em São Paulo: Escolaridade: Profissão/Ocupação: Dados do Companheiro Nome: idade: Nascimento: Telefone: Local: Religião: Tempo em São Paulo: Escolaridade: Profissão/ocupação: Moradia: própria ( ) alugada ( ) outros: Motivo da consulta/diagnóstico: Estado Civil: Filhos: do casal ( ) dele ( ) dela ( ) gravidez/aborto: 1ª. União - dele ( ) dela ( ) 2ª. União – dele ( ) dela ( ) Genetograma: ela O---O ele O----O Observações: 1.Tempo de união: namoro: 2 – Fizeram uso de algum método contraceptivo? Qual ? Quanto tempo? 3- Há quanto tempo vem tentando engravidar? Infertilidade nas famílias? Já fizeram tratamento? 4 - Sonharam juntos ter filhos, desde que se conheceram? Nº de filhos desejados? 5- Como está o relacionamento do casal? (se conversam sobre os problemas/relações sexuais) 6. O que gostam de fazer como lazer? (sair com amigos, sair sozinho, viajar,etc) 7- Procuram manter a infertilidade em segredo? Evitam estar em ambientes c/ grávidas ou crianças? 8- Gostam de sua ocupação profissional? Tem algum projeto de vida? 9-O que representa ser mãe para você? 10- O que representa ser pai para você? 11- Qual o significado de uma criança na vida de uma pessoa? 12- Qual a expectativa de vocês em relação a ter um filho? 13- Em caso de não haver êxito aceitam outra solução, como por exemplo, a adoção? 14- ENCAMINHAMENTOS: Psicoterapia individual: externa ( ) interna ( ) Nutrição ( ) Grupo psico-corporal ( ) Psiquiatria: externa ( ) interna ( ) Sexologia ( ) Observações: Assinatura e carimbo do profissional: Nota: este questionário é o básico. Dele, foram gerados outros, com modificações adequadas de acordo com a necessidade: grupos de casais em pré-fertilização, para casais do programa de óvulodoação, triagem/avaliativa em grupo,etc. Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 7 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA CONTROVÉRSIAS DA DOAÇÃO DE SÊMEN. Sidney Glina H á algum tempo surgiu na mídia a notícia de um adolescente inglês que conseguiu identificar seu pai genético por meio de um serviço na Internet de pesquisa genética. A mãe do rapaz havia engravidado por uma inseminação de sêmen de doador. A notícia em si mostra como a Internet é um instrumento poderoso e como pode ser utilizada de várias maneiras, principalmente nas mãos de pessoas talentosas; por outro lado também levanta um tema muito polêmico em todo o mundo. A inseminação com sêmen de doador é utilizada quando por alguma razão o homem não produz seus próprios gametas; são casos bastante especiais que não são resolvidos nem se utilizando as técnicas mais modernas de fertilização in vitro. No Brasil o assunto não tem uma regulamentação específica, embora, há anos, existam projetos de lei circulando pelo Congresso Nacional. Há uma resolução do Conselho Federal de Medicina de 1992 que diz que a doação de gametas deve ser anônima, voluntária, não podendo o doador receber nenhuma compensação financeira por ela. REPRODUÇÃO HUMANA www.drcarlos.med.br Em todo o mundo, busca-se garantir ao casal que usa o sêmen doado que o doador não terá acesso à identidade da criança gerada, preservando a privacidade e, inclusive, a possibilidade de o casal não informar à própria criança que foi fruto de uma inseminação com os espermatozoides de outra pessoa. Também é uma preocupação garantir ao doador que este não será identificado; evitando que no futuro possam aparecer filhos ou filhas inesperados. Aqui começam as polêmicas e problemas; segundo vários advogados e juízes, a lei brasileira garante ao filho a possibilidade de conhecer a identidade dos pais. Assim, caso a criança seja informada que é filho ou filha de um doador, poderá acionar a Justiça com grandes possibilidades de que esta obrigue o Banco de Sêmen a fornecer-lhe a identidade do seu pai genético. Na minha experiência acho muito difícil isso acontecer em nosso país. Não conheço nenhum casal nessas condições que informe à família ou à criança que a gravidez foi obtida com sêmen doado. Mas existem condições especiais que podem fazer com que isso ocorra; imaginem uma Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 8 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA muito cuidado com a figura do doador. Afinal ele, em um ato de boa vontade, doou seus gametas que foram ajudar um outro casal a realizar um sonho. A inseminação com doador permite que a mulher experimente a gravidez e garanta aos filhos pelo menos 50% da herança genética do casal. Na adoção, que seria a outra opção, a mulher não fica grávida e a criança tem uma carga genética completamente diferente. www.feapsclm.org criança que necessita de um transplante de medula e é importante que seus pais possam fazer a doação para aumentar as chances de sucesso do procedimento. Nesses casos, principalmente se a mãe não pode doar, é muito provável que o casal informe e o pai genético possa vir a ser identificado. Do ponto de vista da criança parece muito justo existir esse direito, entretanto na ótica do doador o aparecimento de um filho nessas circunstâncias pode ser totalmente indesejado. Mais ainda quando este já tem uma família constituída, podendo surgir problemas inclusive por causa de herança. Essas situações são mesmo controversas e ensejam discussões acaloradas, mas é preciso O doador dispende voluntariamente um tempo enorme para fazer as doações, colher os exames necessários e não pode no futuro ser punido, como se tivesse abandonado um filho. É claro que em casos de doenças, a criança poderia ter acesso, por exemplo, à tal doação de medula, mas a identidade e os bens do doador, poderiam ser preservados. Sidney Glina: Professor Livre Docente na Faculdade do ABC; Chefe do Departamento de Urologia do Hospital Ipiranga, Diretor do Instituto H. Ellis, Diretor Administrativo do Projeto Alfa; Presidente da International Society of Sexual Medicine (2000-2002); Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (2005-2007); Editor responsável da Revista Einstein. São Paulo (SP), Brasil. Email: [email protected] www.crioestaminal.pt Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 9 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA OS DESREGULADORES ENDÓCRINOS NA ENDOMETRIOSE. Bianca Bianco, Denise Maria Christofolini, Caio Parente Barbosa INTRODUÇÃO Numerosos compostos naturais e sintéticos podem interferir no eixo reprodutivo de mamíferos resultando na diminuição da fertilidade, perdas gestacionais e aumento de doenças ginecológicas, como endometriose, puberdade precoce e câncer de mama e endométrio. Tais compostos são denominados desreguladores endócrinos (DE) (Caserta et al. 2008). Um desregulador endócrino é uma substância exógena ou uma mistura de substâncias, naturais ou sintéticas, que podem danificar diretamente um órgão endócrino; alterar diretamente a função de um órgão endócrino; interagir com um receptor de hormônios ou alterar o metabolismo de um hormônio em um órgão endócrino e, consequentemente, causar efeitos adversos à saúde de um organismo, sua prole ou, ainda, uma população (WHO 2002). Os DEs estão difundidos nas cadeias alimentares e no ambiente e podem ser agrupados em duas classes: ? substâncias sintéticas - utilizadas na agricultura e seus subprodutos, como pesticidas, herbicidas, fungicidas e moluscicidas; empregadas nas indústrias e seus subprodutos, como dioxinas, PCB (bifenilas policloradas), alquilfenois e seus subprodutos, HAP (hidrocarbonetos aromáticos policíclicos), ftalatos, bisfenol A e metais pesados; compostos farmacêuticos, como os estrogênios sintéticos DES (dietilestilbestrol) e 17α-etinilestradiol; e naturais derivadas de plantas fitoestrogênios, tais como, genisteína e metaresinol e estrogênios naturais 17β-estradiol, estrona e estriol (Mantovani et al. 1999). ? substâncias A exposição aos DEs pode ocorrer sob diferentes formas, por meio do contato direto ocupacional e/ou domiciliar ou indireto com a ingestão de água ou alimentos contaminados e o contato com o solo. No caso dos seres humanos, estima-se que mais de 90% dessas substâncias ambientais são absorvidas por via digestiva, principalmente através de alimentos contaminados (Reys 2001). A ENDOMETRIOSE E OS DESREGULADORES ENDÓCRINOS A endometriose é uma a das doenças ginecológicas benignas mais comuns. A lesão endometrial é uma condição esteroidedependente na qual tecido histologicamente similar ao endométrio com glândulas e/ou estroma cresce fora da cavidade uterina, implantando-se em tecidos e órgãos podendo causar dor pélvica, dismenorreia e infertilidade (Giudice e Kao 2004). Estima-se que aproximadamente 10-15% das mulheres em período reprodutivo (Barbosa et al. 2009), cerca de 40% das mulheres com dor pélvica e 50% com problemas de fertilidade possuam essa doença (Giudice e Kao 2004). Até o momento, não existe uma teoria única que identifique e explique todos os aspectos clínicos dessa doença considerada multifatorial. Contaminantes ambientais têm sido implicados na fisiopatologia da endometriose (Caserta et al. 2008), uma vez que a exposição a poluentes ambientais tóxicos podem levar à modificação epigenética de genes críticos (Heidel et al. 2006), resultando em expressão gênica alterada. Estudos demonstraram que a exposição à TCDD (dioxina 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-pdioxina), subproduto de processos industriais, devida à combustão incompleta de compostos orgânicos, como incineradores que processam lixo municipal, resíduo industrial ou material hospitalar; fumaça de veículos automotores e cigarro, está associada com o aumento da prevalência e a gravidade da endometriose (Koninckx et al. 1994, Pauwels et al. 2001). A ursasentada.blogspot.com Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 10 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA exposição humana e animal à TCDD não só afeta os níveis de receptores esteroides e a expressão gênica, mas também pode afetar o metabolismo dos hormônios esteroides e o transporte sérico (Pocar et al. 2005). A TCDD também pode modular a produção local e a ação de citocinas endometriais causando desregulação do sistema imunológico do trato reprodutivo pelo redirecionamento dos elementos do transporte e comportamentos dos leucócitos (Shi et al. 2006). O rompimento da relação imune-endócrina potencialmente conduz ao aumento da sensibilidade endometrial às citocinas próinflamatórias, notável em pacientes com endometriose (Osteen et al. 2005). Na Bélgica, Koninckx et al. (1994) observaram que a prevalência de endometriose em mulheres com infertilidade era de 60 a 80% e que as concentrações de TCDD no leite desse país está entre os mais altos do mundo (WHO 1998). Pauwels et al. (2001) conduziram um estudo casocontrole em mulheres belgas e encontraram um aumento da endometriose associada com elevados níveis séricos de dioxina e compostos derivados. Esse estudo forneceu uma das mais importantes evidências populacionais de que o desenvolvimento da endometriose pode estar relacionado à influência tóxica da TCDD. 24ur.com diario.iol.pt e/ou B estava presente no soro de 63,8% das mulheres com endometriose, sugerindo importante relação entre a exposição ao bisfenol A ou B e a endometriose. A interação entre o bisfenol A e/ou B com os receptores estrogênicos produz a ativação do mesmo fator de transcrição, o 17-β-estradiol (Quesada et al. 2002), localizado próximo à região promotora do gene da aromatase. Esse mecanismo, provavelmente, determina a atividade da aromatase e, consequentemente, a produção de estrogênio favorecendo a proliferação e a inflamação características da endometriose. Além disso, estudos prévios demonstraram relação entre concentrações séricas aumentadas de bisfenol A e seus metabólitos, secreção alterada de hormônios gonadotróficos e aumentos dos hormônios androgênicos (Takeuchi et al. 2006). O mecanismo pelo qual o bisfenol age não está totalmente claro, mas, sabe-se que esse composto produz alteração no sistema endócrino que regula a proliferação, a diferenciação e a interação celular provocando efeitos adversos na saúde humana (Cobellis et al. 2009). CONCLUSÃO A relação entre os desreguladores endócrinos e a endometriose é complexa. O mecanismo exato de ação deles ainda não foi totalmente elucidado, mas acredita-se que essas substâncias possam levar à modificação epigenética e resultar em expressão gênica alterada. Mais estudos epidemiológicos e experimentais são necessários para esclarecer o real papel dos desreguladores endócrinos na fisiopatologia da endometriose. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24ur.com nsbrasil.com.br Cobellis et al. (2009) investigaram as concentrações séricas de bisfenol A e B (composto utilizado na fabricação de plásticos presentes na resina do forro de latas de alimento e bebida e na composição de material odontológico selante) no soro de 58 mulheres com endometriose e 11 mulheres férteis sem a doença. Altas concentrações de bisfenol A e B estavam presentes, respectivamente, em 51,7% e 27,6% das mulheres com endometriose e em nenhuma mulher do grupo controle. O composto bisfenol A Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Barbosa CP, Souza AMB, Bianco B, Christofolini DM, Mafra FA, Lima GR. Frequency of endometriotic lesions in peritoneum samples of asymptomatic fertile women and correlation with CA125. São Paulo Med J. 2009;127:342-5. Caserta D, Maranghi L, Mantovani A, Marci R, Maranghi F, Moscarini M. Impact of endocrine disruptor chemicals in gynaecology. Hum Reprod Update. 2008;14(1):59-72. Página 11 REPRODUÇÃO HUMANA Instituto H.Ellis Quesada I, Fuentes E, Viso-León MC, Soria B, Ripoll C, Nadal A. Low doses of the endocrine disruptor bisphenol-A and the native hormone 17beta-estradiol rapidly activate transcription factor CREB. FASEB J. 2002;16(12):1671–3. Reys LL. Tóxicos ambientais desreguladores do sistema endócrino. Rev Facul Med Lisboa. 2001;6(1): 213-25. nutricaosaudeeboaalimentacao.blogspot.com Cobellis L, Colacurci N, Trabucco E, Carpentiero C, Grumetto L. Measurement of bisphenol A and bisphenol B levels in human blood sera from healthy and endometriotic women. Biomed Chromatogr. 2009;23(11):1186-90. Giudice LC, Kao LC. Endometriosis. Lancet. 2004;364(9447):1789-99. Heindel JJ, McAllister KA, Worth L Jr, Tyson FL. Environmental epigenomics, imprinting and disease susceptibility. Epigenetics. 2006;1(1):1–6. Koninckx PR, Braet P, Kennedy SH, Barlow DH. Dioxin pollution and endometriosis in Belgium. Hum Reprod. 1994;9(6):1001-2. 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E-mail: [email protected] Denise Maria Christofolini: Disciplina de Ginecologia Patológica e Reprodução Humana – Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – Faculdade de Medicina do ABC. Santo André, (SP), Brasil. Caio Parente Barbosa: Disciplina de Ginecologia Patológica e Reprodução Humana – Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – Faculdade de Medicina do ABC. Santo André, (SP), Brasil. Página 12 Instituto H.Ellis REPRODUÇÃO HUMANA EVENTOS DO PROJETO ALFA Reunião científica mensal aberta a todos os profissionais da área de reprodução. www.spmr.com.br Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 13 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA HIPERPROLACTINEMIA E FUNÇÃO SEXUAL. Andréa Glezer, Simão A. Lottenberg INTRODUÇÃO A prolactina (PRL) é um hormônio secretado pela hipófise anterior e apresenta como principal função, no ser humano, o desenvolvimento adicional das glândulas mamárias durante a gestação, bem como a promoção da galactopoiese. A secreção de PRL encontra-se sob um tônus inibitório dopaminérgico, portanto, afecções que comprimam a haste hipofisária, reduzindo o tônus dopaminérgico, ou drogas que interfiram nesse tônus são causas importantes de hiperprolactinemia. Gestação e lactação são causas fisiológicas de hiperprolactinemia e devem sempre ser pesquisadas em mulheres em idade fértil. Drogas são outra causa muito frequente e as principais são: neurolépticos (sulpirida, haloperidol, risperidona), antidepressivos, em especial os tricíclicos, antieméticos (metroclopramida), antiulcerosos (cimetidina) e alguns antihipertensivos (metil-DOPA, reserpina, bloqueadores de canal de cálcio). Hipotireoidismo primário, insuficiência renal e hepática também são causa de hiperprolactinemia. Prolactinomas e outros tumores da região que causem desconexão da haste hipofisária causam hiperprolactinemia. No caso da desconexão de haste, os níveis de PRL atingem até 150-200 ng/mL, enquanto que nos prolactinomas, os valores de PRL são proporcionais à massa tumoral. Em tumores com mais de 1 cm de diâmetro, designados macroprolactinomas, os níveis de PRL frequentemente são maiores que 200 ng/mL (Bronstein 2006). A macroprolactina é uma isoforma de PRL de alto peso molecular que corresponde a menos de 5% da PRL total circulante, e que não apresenta atividade biológica. No entanto, por razões ainda não bem determinadas, a macroprolactina pode tornar-se a principal isoforma circulante e causar hiperprolactinemia por ter maior meia-vida e causar menor inibição no tônus dopaminérgico. A macroprolactinemia é encontrada em cerca de 20% dos casos de hiperprolactinemia e deve sempre ser pesquisada quando há uma dissociação clínico-laboratorial, ou seja, níveis elevados de PRL em indivíduo assintomático (Glezer et al. 2006). HIPERPROLACTINEMIA NO SEXO MASCULINO A PRL não apresenta um papel bem definido no comportamento sexual humano, exceto por uma possível contribuição no orgasmo. No homem, todos os estados de hiperprolactinemia podem inibir a maioria dos aspectos do comportamento sexual masculino. A hiperprolactinemia interfere na pulsatilidade do LH (hormônio luteinizante), resultando em menor secreção de testosterona e os sintomas mais comumente descritos são: disfunção erétil e redução da libido. A PRL também tem ação direta sobre os testículos. Receptores de PRL já foram demonstrados no epitélio seminífero, bem como nas células de Sertoli e Leydig. Nas primeiras, a PRL parece aumentar o número de receptores de FSH, enquanto que nas últimas, ela está envolvida com www.infoescola.com Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 14 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA a manutenção da morfologia celular, aumento do número dos receptores de LH e aumento da produção androgênica e de esteróides. Portanto, níveis normais de PRL são necessários para a função testicular. A hiperprolactinemia, porém, e não a hipoprolactinemia, é a entidade de maior importância clínica quanto à frequência e à repercussão. Em uma série de homens com hiperprolactinemia (Buvat et al. 1985), 88% apresentavam disfunção erétil e 80% redução da libido, enquanto que outros sinais e sintomas de hipogonadismo foram bem menos frequentes: 40% de redução de pelos corpóreos, ginecomastia em 21% e galactorréia em 23%. Buvat e Lemaire (1997) realizaram uma avaliação retrospectiva da apresentação clínica e laboratorial de 1022 homens com disfunção erétil. Nesse estudo, 6,6% (68) apresentaram duas dosagens de testosterona séricas baixas. A prevalência de testosterona reduzida foi maior nos indivíduos com mais de 50 anos e não se correlacionou com redução de libido. Em 59 pacientes com testosterona baixa, as dosagens de LH e de PRL também foram realizadas. Os níveis de LH estavam altos em 3 casos (5%) e inapropriadamente normais ou baixos no restante, sugerindo uma disfunção hipotálamo-hipofisária. A dosagem de PRL estava alta em cinco casos e após nova repetição, a hiperprolactinemia foi confirmada em apenas dois casos. Portanto, a hiperprolactinemia esteve presente em 0,4% dos casos com disfunção erétil no estudo referido. Compilando sete séries de pacientes com disfunção erétil, níveis consideráveis de hiperprolactinemia (PRL > 35 ng/mL) foram encontrados em 0,76% dos casos (25/3265) e adenomas hipofisários em 0,4% (18/4363). Apesar de ser uma condição rara, a hiperprolactinemia é facilmente identificável e potencialmente tratável. Por outro lado, há relatos de pacientes portadores de prolactinoma que não apresentam repercussão clínica do hipogonadismo. Carani et al. (1995) descreveram seis pacientes com PRL sérica acima de 300 ng/mL e ereções normais, como os controles. Buvat et al. (1985) descreveram sete casos de pacientes com hiperprolactinemia e disfunção erétil, com níveis normais de testosterona. Durante o tratamento dos pacientes, a recuperação da função sexual se correlacionou melhor com a redução dos níveis de PRL do que com os níveis de testosterona. Uma possível explicação para o efeito testosterona independente Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 da PRL seria a menor conversão de testosterona em dihidrotestosterona, seu metabólito mais ativo. Porém, a explicação mais plausível parece ser o aumento da síntese, turnover e liberação de dopamina pelos neurônios hipotalâmicos, promovida pela PRL. Em ratos, a hiperprolactinemia promove estímulo do comportamento sexual pela dopamina, seguida de efeito inibitório pela downregulation dos receptores de dopamina (Selmanoff et al. 1991). A interação da PRL nos sistemas serotoninérgicos e de opioides, ambos envolvidos com o comportamento sexual, também poderiam explicar essa interrelação (Buvat 2003). salud.kioskea.net Em casos como os descritos acima, nos quais há hiperprolactinemia sem redução dos níveis de testosterona séricos, é fundamental a pesquisa de macroprolactina. A macroprolactinemia é uma armadilha diagnóstica (Glezer et al. 2002) e deve sempre ser pesquisada em casos pauci ou assintomáticos com hiperprolactinemia. Apesar de mais frequente em mulheres, alguns indivíduos do sexo masculino portadores de isoformas de PRL pouco ativas já foram descritos (Tritos et al. 1998, Strachan et al. 2003). Outra causa que explicaria a falta de sintomas de hipogonadismo em um indivíduo com prolactinoma seria a co-produção de LH e PRL por um mesmo adenoma hipofisário. Tamagno et al. descreveram esse paradoxo em um indivíduo do sexo masculino, de 57 anos, com hiperprolactinemia, LH em níveis no limite superior da normalidade e testosterona sérica normal. O paciente não apresentava impotência ou redução da libido. A imunohistoquímica da massa hipofisária operada foi positiva para PRL, LH e subunidade alfa (Tamagno et al. 2008). Com relação a outros sintomas de disfunção erétil, a hiperprolactinemia não parece estar implicada. Schwartz et al. (1982) encontraram hiperprolactinemia em 10% dos casos de Página 15 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA ejaculação precoce e em nenhum de anorgasmia. A baixa prevalência e a falta de melhora clínica com o tratamento com agonistas dopaminérgicos sugeriu que a hiperprolactinemia não seja a etiologia dos sintomas. Nos casos de prolactinoma, a terapêutica com o uso de agonista dopaminérgico é recomendada com os objetivos de normalizar a prolactina, os aspectos sexuais, bem como promover redução tumoral. Os prolactinomas são mais frequentes em mulheres, porém, após a quinta década de vida, se igualam em proporção para ambos os sexos. Provavelmente, por causar sintomas insidiosos e muitas vezes subestimados, o diagnóstico em homens é mais tardio, e os macroprolactinomas, muitas vezes com déficit visual e hipopituitarismo são frequentes. Para as queixas sexuais, tratamentos não específicos como psicoterapia e inibidores da fosfodiesterase 5 também são descritos como eficazes (Buvat 2003). Porém, os agonistas dopaminérgicos são fundamentais para a restauração da qualidade do líquido seminal, cuja motilidade pode ser normalizada com tratamento ainda mais prolongado do que aquele obtido para a normalização dos níveis de PRL (Ciccarelli et al. 2005, De Rosa et al. 2006). A reversão do hipopituitarismo ocorre na maioria dos pacientes tratados clinicamente (Sibal et al. 2002), no entanto, alguns pacientes mantêm hipogonadismo, com baixos níveis de testosterona, apesar da normalização de prolactina, provavelmente por lesão definitiva do setor gonadotrófico. Nesses casos, salvo contraindicação, a reposição de testosterona é recomendada. Deve-se monitorar para que essa reposição não promova novo aumento de PRL e crescimento tumoral. Se isso ocorrer, a administração concomitante de inibidores de aromatase pode ser eficaz (Gillam et al. 2002). No entanto, a reposição de testosterona não restaura a fertilidade masculina. Ribeiro e Abucham (2009) descreveram 14 homens portadores de prolactinoma, em hipogonadismo apesar do uso de agonistas dopaminérgicos, tratados com clomifeno. Dez deles (71%) apresentaram normalização dos níveis de testosterona, independentemente do valor de PRL sérica ao início do tratamento. Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 HIPERPROLACTINEMIA NO SEXO FEMININO Os problemas sexuais que atingem o sexo feminino incluem a redução da libido, diminuição da lubrificação vaginal, dificuldade ou falta de orgasmo e dispareunia. Os hormônios endógenos que potencialmente influenciam a sexualidade feminina incluem estrógeno, andrógenos, progesterona, prolactina, ocitocina e glicocorticoides. Esses ainda interagem com neurotransmissores como serotonina, catecolaminas, dopamina, etc. Portanto, questões sexuais podem ter origem em alterações hormonais. Para averiguar essa possibilidade, a avaliação da história menstrual é fundamental, uma vez que mulheres com ciclos menstruais regulares, raramente apresentam disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-ovário e, portanto, níveis de estrógeno e de prolactina devem estar normais (Davis et al. 2004). Em mulheres com hiperprolactinemia, a alteração na pulsatilidade das gonadotrofinas promove hipogonadismo de origem central, o que causa encurtamento da fase luteal, ciclos menstruais anovulatórios, oligo e amenorreia, à medida que os níveis de PRL se elevam. Portanto, muitas mulheres na fase fértil procuram auxílio médico com queixa principal de alteração do ciclo menstrual. As queixas sexuais decorrentes do hipogonadismo podem aparecer na investigação médica, em especial, redução da libido e secura vaginal. Com o tratamento da hiperprolactinemia, os sintomas devem ser revertidos, exceto quando há hipogonadismo definitivo em alguns casos de macroprolactinomas. Nessa situação, a reposição hormonal estrogênica pode ser utilizada e a monitorização dos níveis de PRL é necessária. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bronstein MD. Disorders of prolactin secretion and prolactinomas. In: DeGroot LJ, Jameson JL (ed). Endocrinology. 5 ed. Philadelphia: Elsevier; 2006. p. 485-510. 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Paulo Oliveira, Ana Terra Andrade, Carolina Dórea INTRODUÇÃO A metade do último século foi caracterizada por intensas mudanças no estilo de vida dos moradores de zonas urbanas em todo o mundo ocidental. A maioria da população antes ocupava a zona rural, hoje vive em cidades. Observaram-se mudanças na quantidade e qualidade de alimentos ingeridos diariamente, e redução nas atividades físicas. Essa associação vem gerando uma população crescente de sedentários e de obesos. Com a melhoria das condições de vida, saneamento, vacinas e outros avanços da ciência, a expectativa de vida da população vem aumentando e no Brasil, em 2008, era de 72,8 anos (IBGE 2008). Em todos os estudos sobre prevalência de disfunção erétil (DE), o fator independente de maior importância é a idade. Com o aumento da expectativa de vida, maior prevalência de doenças crônicas, de fatores que compõem a síndrome metabólica (SM), cresce progressivamente o número de pessoas com DE em todo o mundo. No entanto, alguns fatores que estão intimamente envolvidos na gênese da DE podem ser modificados. O modo de se fazer atividade física que seja capaz de modificar ou prevenir um estado de DE não está estabelecido na literatura médica, embora as evidências sejam cada vez mais fortes de que a DE pode ser tratada com exercícios físicos e mudanças no estilo de vida. O objetivo desse estudo é avaliar a influência da atividade física na prevalência da DE, com base em uma revisão de literatura. FATORES DE RISCO Idade Estudos clássicos mostram uma relação direta entre o aumento da idade e a prevalência de DE. A maioria dos estudos de prevalência sobre DE avaliam a população acima dos 40 anos de idade e, praticamente todos, atestam que a prevalência aumenta com a idade (Feldman et al. 1994, Montorsi et al. 2002). Obesidade, Sedentarismo e Síndrome Metabólica Nos EUA, 64% dos indivíduos (mais do que 127 milhões de pessoas) têm sobrepeso, desses 30% (60 milhões) são obesos e 4% são obesos mórbidos (CDC 2005). Uma estimativa de 325.000 mortes e entre 4,3 a 5,7% dos custos diretamente relacionados à saúde são atribuídos à obesidade anualmente (Flegal et al. 1998). A obesidade é um dos fatores de risco associados com a DE. O excesso de tecido adiposo, principalmente de gordura visceral, é capaz de desencadear uma série de processos imunológicos, metabólicos, hormonais e clínicos, que promoverão um estado inflamatório vascular e um aumento do risco de doenças cardiovasculares (DCV) (Lee et al. 2004, Esposito et al. 2004, 2005, Revnic et al. 2007). Homens obesos apresentam menores níveis de testosterona no plasma e diminuição na concentração plasmática de insulina A SM que já é um tema muito debatido na literatura das doenças coronarianas tem ganhado bastante importância nos últimos trabalhos sobre disfunção sexual. Segundo o “Adult Treatment Panel III” (ATP-III) guideline (Executive Summary 2001), a SM é definida pela presença de no mínimo três dessas características: obesidade central (circunferência abdominal > 102 cm em homens e > 88 cm em mulheres), elevação de triglicérides (> 150 mg/dl), níveis reduzidos de HDL - colesterol (< 40 mg/dl em homens e < 50 mg/dl em mulheres), hipertensão arterial (130x85 mmHg), elevação da glicemia (> 110 mg/dl). saladaverde.com.br Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 18 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA Já existem estudos que comprovam a melhoria da SM após o tratamento cirúrgico da obesidade. Alguns autores chegam a publicar taxas de cura da síndrome metabólica de 95,6% após a perda significativa de peso um ano após a cirurgia bariátrica (Lee et al. 2004). A prevalência de DE em indivíduos com a SM é maior do que nos indivíduos sem essas características (grupo padrão), com relação de 2x1 (26,7x13%). Além disso, Esposito et al. também mostraram que a prevalência de DE é diretamente proporcional ao número de características presentes da SM (Esposito et al. 2005). Em um estudo conduzido em 18 grandes cidades do Brasil com homens jovens, de 18 a 40 anos de idade, não foi encontrada associação de DE com estilo de vida (Martins e Abdo 2009). Esse achado é compatível com o baixo índice de síndrome metabólica, de doenças crônicas, de obesidade e de doenças cardiovasculares nessa população. ESTUDOS QUE MOSTRAM MELHORIA DA FUNÇÃO ERÉTIL EM PACIENTES TRATADOS COM BASE EM ATIVIDADE FÍSICA E MUDANÇA NO ESTILO DE VIDA Em um estudo que acompanha profissionais de saúde nos Estados Unidos, Bacon et al. avaliaram mais de trinta mil questionários e encontraram que o grau de atividade física é inversamente proporcional ao grau de DE, e que a mudança no grau de atividade física favorece uma melhora na atividade sexual. Entretanto, uma mudança no padrão de exercícios só favorece indivíduos que o fazem antes dos 60 anos (Bacon et al. 2003). Esposito et al. estudando homens com obesidade mórbida na Itália, mostrou que em dois anos, um programa de acompanhamento médico e nutricional bem estruturado, com exercícios regulares e modificação na dieta, levou esse grupo a uma melhora do peso e da função erétil, em relação ao grupo em que apenas foram sugeridas mudanças alimentares e exercícios (Esposito et al. 2004). Sedentarismo A falta de atividade física regular tem sido mostrada em diversos estudos como um fator independente entre as causas de DE (Nicolosi et al. 2003, Esposito et al. 2004, Laurmann et al. 2005). Quanto maior o grau de sedentarismo, maior a prevalência de DE. Diversos estudos têm demonstrado recuperação na função erétil de boa parte desses indivíduos com uma mudança no estilo de vida, nos hábitos alimentares e, principalmente, no grau de atividade física. www.meionorte.com A disfunção do endotélio vascular, a regulação da liberação de óxido nítrico e a aterogênese compõem uma tríade que é a base das disfunções cardiovasculares, incluindo a DE. Essa é considerada por muitos pesquisadores como uma manifestação precoce de DCV (Laydner et al. 2009). No tratamento da DE, a idade é um fator que não pode ser modificado. No entanto, o tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas, a obesidade, a SM e o sedentarismo são fatores de risco para a saúde passíveis de modificação, de tratamento e de recuperação da função erétil prejudicada em parcela significativa desses pacientes (Rosen et al. 2005, Hannan et al. 2009). Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Alguns estudos muito interessantes foram publicados, tentando responder a uma pergunta até então obscura: quanto de atividade física é necessária para se melhorar a função erétil? Para obter essa resposta, Kratzik et al. avaliaram 674 homens entre 45 e 60 anos, trabalhadores da prefeitura de Viena, Áustria, e encontraram que uma atividade física com gasto energético maior que 3000 kcal por semana diminui o risco de DE grave em 82,9%, quando comparados a homens com atividade física de < 3000 Kcal (Kratzik et al. 2009). Outros estudos também quantificaram o gasto energético (Quadro 1), embora nenhum deles tenha possibilidade de comparar os parâmetros com os outros. Página 19 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA Quadro 1. Estudos que quantificam o gasto energético durante exercícios físicos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONCLUSÃO A atividade física pode, sim, modificar, prevenir e tratar pacientes com DE. Todos os estudos que avaliaram a atividade física quanto à prevalência e grau de DE, mostram algum benefício. No entanto, é necessário lembrar que essa não deve ser uma medida isolada, visto que a disfunção endotelial ocorre em todo o organismo. Uma mudança global de hábitos é importante e necessária. O segundo consenso de Princeton sobre DE e DCV fala claramente que: homens com DE sem causa aparente devem ter uma investigação mais detalhada sobre sua função cardiovascular, incluindo um exame físico mais minucioso, a medida de pressão sanguínea, a dosagem de lípides, glicemia de jejum, e eletrocardiograma. “Homens com disfunção erétil e outros fatores de risco cardiovascular, em particular, obesidade e sedentarismo, devem ser aconselhados na modificação do estilo de vida” (Kostis et al. 2005). Desse modo, pelas evidências científicas que dispomos hoje, é possível tratar uma parcela dos homens com DE com uma mudança firme em seu estilo de vida, com atenção especial para reduzir o excesso de peso, controlar doenças crônicas, ter uma alimentação saudável com restrição calórica e um programa adequado de atividade física regular. E quanto mais jovem iniciar esse condicionamento, melhor o resultado. Entretanto, o nível de atividade física, a frequência, a duração e a manutenção ainda não estão bem estabelecidos. Bacon CG, Mittleman MA, Kawachi I, Giovannucci E, Glasser DB, Rimm EB. Sexual function in men older than 50 years of age: results from the health professionals follow-up study. Ann Intern Med. 2003;139(3):161-8. CDC – Centers for Disease Control and Prevention. National Center for Chronic Prevention and Health Promotion. Defining overweight and obesity. Disponível em: www.cdc.gov/nccdphp/dnpa/ obesity/defining.htm. Acessado em 25/03/2005. Esposito K, Giugliano F, Di Palo C, Giugliano G, Martella R, D'Andrea F, D'Armieto M, Giugliano D. Effect of lifestyle changes on erectile dysfunction in obese men: A randomized controlled trial. JAMA. 2004;291(24):2978-84. Esposito K, Giugliano F, Martedì E, Feola G, Marfella R, D'Armiento M, Giugliano D. High proportions of erectile dysfunction in men with the metabolic syndrome. Diabetes Care. 2005;28(5):1201-3. 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Email: [email protected] Ana Terra Andrade e Carolina Dórea: Fisioterapeutas, com especialização em disfunções do assoalho pélvico. www.arquivoshellis.com.br - [email protected] Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 21 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA FORUM DE DISCUSSÃO com CAIO ARES “O HOMEM MAIS INTELIGENTE DO MUNDO” sobre SEXUALIDADE HUMANA: A CIÊNCIA DO AFETO Recebemos esse comentário representativo: Estimado Sidney Aproveito esta oportunidade para felicitá-lo pela notável qualidade dos artigos de reprodução e sexualidade que aparecem em sua revista virtual e cuja leitura considero imprescindível para nós que estamos interessados nesses temas. Como leitor devoto, é necessário que mencione algo sobre o artigo “FORUM DE DISCUSSÃO com CAIO ARES “O HOMEM MAIS INTELIGENTE DO MUNDO” sobre SEXUALIDADE HUMANA: A CIÊNCIA DO AFETO” uma forma astuta de conduzir a leitura de uma denúncia particular de alguém que, certamente, tem razões e convicções válidas para fazê-la, usando como isca umas perguntas muito interessantes sobre o tema da sexualidade na pós modernidade. Ignoro se este será um recurso válido em outros ambientes, porém em uma revista científica de tal qualidade, a manobra utilizada para divulgar a “epístola” aturde. Agradeço-lhe, como sempre, que compartilhe conosco seu trabalho e sobretudo que se dê ao trabalho de traduzi-lo para o espanhol. Espero vê-lo logo Cordialmente Prezado Dr. Uribe Agradecemos por sua carta inteligente e perspicaz. A revista Arquivos H. Ellis tem como objetivo publicar assuntos comprovados cientificamente, ainda em estudo, inovadores, controversos e de experiência profissional, para conhecimento e discussão. Achamos que o artigo em questão provoca controvérsia e poderia promover o debate. Mas entendo sua visão e talvez a denúncia em questão poderia não se adequar ao escopo de nossa revista. Obrigado por prestigiar nossa revista. Um grande abraço Sidney Glina Juan Fernando Uribe A Urologista Medellín, Colômbia Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 22 Instituto H.Ellis SEXUALIDADE HUMANA AGENDA DE EVENTOS MAIO 09-13 Congresso Europeu de Sexologia – EFS Porto www.efs2010.com Portugal MAIO 21-27 Congresso da APA – Associação Americana de Psiquiatria Nova Orleans (LA) www.psych.org Estados Unidos MAIO/ JUNHO 29-03 Congresso da AUA - Associação Americana de Urologia São Francisco (CA) www.auanet.org Estados Unidos JULHO 01-05 XII Congresso Venezuelano de Sexologia e VI Reunião da AISM – Academia Internacional de Medicina Sexual Maracaíbo www.svsm.com.ve Venezuela SETEMBRO 26-30 Congresso Bienal da ISSM – International Society for Sexual Medicine Seul www.issm2010.info Coreia SETEMBRO/ OUTUBRO 30-02 XI Congresso Espanhol de Sexologia e V Encontro Iberoamericano de Profissionais da Sexologia Santiago de Compostela www.congresosexologia-fess2010.es Espanha OUTUBRO 18-22 Congresso Espanhol de Psiquiatria Barcelona Espanha OUTUBRO 21-23 XV CLASES, 30 anos da FLASSES - Federación Latinoamericana de Sociedades de Sexología y Educación Sexual Alicante www.flasses.net - www.sexologia2010.com Espanha OUTUBRO/ NOVEMBRO 29-02 XXVI Congresso da APAL - Asociacion Psiquiatrica de America Latina Puerto Vallarta www.anfitriones.com.mx México NOVEMBRO 10-13 Congresso Anual da Sociedade de Medicina Sexual da América do Norte Miami (FL) www.smsna.org Estados Unidos NOVEMBRO 19-21 XVIII Simpósio Internacional de Sexualidade: Sexo Total Caracas www.rubenhernandez.com Venezuela Volume 6 • Número 2 • Mai/Jun/Jul/Ago 2010 Página 23