courrier/courrier 29-09-06

Transcrição

courrier/courrier 29-09-06
c onvidado
GENTE D’AMANHÃ
INGRID MATTSON
Contra estereótipos
Irrelevante, a ONU ?
A
DR
prefira a lei da selva ao direito internacional, a ausência de siste61.ª Assembleia Geral da ONU averba já vários episóma (ou um sistema baseado na arbitragem do mais forte) a um
dios grotescos: Chávez a chamar «diabo» a Bush; este
sistema multilateral que, mesmo defeituoso, permita aos diferen«vendendo» a versão surreal de um Médio Oriente
tes actores comunicarem para resolver conflitos e problemas.
«no bom caminho»; Ahmadinejad denunciando a injusMesmo sem a noção abrangente de «segurança humana»
tiça no Iraque, mas ignorando Darfur, onde muçulma(que implica combate à pobreza, subdesenvolvimento, pandenos massacram muçulmanos, etc.... Mas também há inmias, etc., em que a ONU é insubstituível), pode lamentar-se
tervenções esperançosas como a de Mahmud Abbas, defendenque as Nações Unidas não tenham conseguido pôr fim ao conflido um governo de unidade nacional palestiniano, que reconheto israelo-palestiniano, impedido a invasão criminosa do Iraça Israel e renuncie à violência. Ou de Tzipi Livni, a ministra
que, ou obrigado o Irão a interromper a corrida para a bomba
dos Negócios Estrangeiros israelita, admitindo que os palestinianuclear. No entanto, é a ONU que, através do ACNUR, dá espenos «têm direito à liberdade e a existirem como nação soberança a milhões de refugiados pelo mundo inteiro. É a UNRWA
rana num Estado próprio». A cacofonia, o desencontro de menque minora trágicas consequências do conflito israelo-árabe,
sagens, de prioridades e de perspectivas constituem a razão de
acorrendo a milhões de palestinianos; é a ONU que é chamada
ser da ONU.
pelos EUA a coordenar o esforDesde a fundação, a ONU esço internacional para tentar salteve sempre sob fogo. Mas, ao
ANA GOMES
var o que resta do Iraque; é uma
contrário das profecias desvaloriEurodeputada socialista e ex-dirigente do PS
agência da ONU, a AIEA, a únizadoras de muitos cépticos —
com Ferro Rodrigues, nasceu em Lisboa há 52 anos.
ca fonte de avaliação credível padesignadamente Bush e Blair,
Diplomata formada em Direito, foi consultora
ra todos os actores da crise nunas vésperas da invasão do Irade Eanes em Belém e representou Portugal
clear iraniana. Em todos estes foque — a ONU continua relevanna ONU, Tóquio e Londres. Destacou-se na secção
cos de insegurança, a ONU faz o
te e constitui até, cada vez mais,
de interesses de Portugal na Indonésia (e tornou-se
que pode em circunstâncias de
principal eixo de acção e fonte
embaixadora), pela defesa do povo de Timor-Leste.
tremenda adversidade. Não faz
de legitimidade para qualquer inimilagres. Porque, acima de tudo, depende da vontade, dos funciativa em questões de paz e segurança. De facto, nunca a ONU
dos e da influência dos seus Estados-membros. Principalmente
foi tão requisitada: em Julho de 2006 havia quase 73 mil capacedos que se sentam no Conselho de Segurança — e, entre estes,
tes azuis activos em diferentes regiões do planeta.
essencialmente, dos cinco membros permanentes. Que são tamRecentemente, missões da ONU têm sido indispensáveis pabém quem, há anos, realmente bloqueia a reforma do Conselho
ra assegurar a transição para a paz em países tão diversos como
e, portanto, de todo o sistema.
o (sul do) Sudão, Líbano, Congo, Haiti, Burundi, a Libéria e TiGuerra e conflitos estão para ficar. Urge reformar a ONU,
mor-Leste. Só em Agosto passado, o Conselho de Segurança
dar ao Conselho de Segurança mais representatividade, legitimiaprovou três resoluções (Líbano, Timor Leste e Darfur) que predade e autoridade: disso depende a sua eficácia. Urge dotar as
vêm a colocação no terreno de mais 37 mil capacetes azuis —
Operações de Manutenção de Paz de fundos e meios humanos
um aumento de 50 por cento. Nada mau para uma instituição
para responder a tempo à procura crescente de capacetes azuis.
que há quem apresente como «inútil e ultrapassada».
Tal como atacar a democracia a pretexto de que ela está
O que isto demonstra não é a imperfeição do sistema da
«podre» ignora a responsabilidade de todos em contribuir para
ONU (imperfeição óbvia e agravada pela ausência de reforma
a sua vitalidade, os ataques à «utilidade» da ONU não passam
do Conselho de Segurança), mas sim a falta de alternativas à
de manobras de diversão de quem, realmente, está contra o
ONU como instrumento principal para procurar (sublinho o promultilateralismo eficaz.
curar) garantir a paz e a segurança globais. A não ser que se
RITA GUNASEKARAN
Advogada, por fim!
«Muitas vozes muçulmanas ergueram-se
para exigir ao Papa
que pedisse descul- Íx Ilustração
pa, mas não ouvi ne- de Turcios,
Colômbia
nhum muçulmano pedir perdão por ter
conquistado a Espanha e lá ter ficado durante oito séculos [de 711 a 1492]». O antigo líder da direita espanhola fez estas afirmações a 22 de Setembro, numa conferência proferida em inglês, no Instituto Hudson, um «think-tank» conservador, em Washington. El País, Madrid
l Revisionista
UDO PASTÖRS, líder do partido NPD
(neonazi) no Estado alemão
de Mekclemburgo-Pomerânia Ocidental
CONDOLEEZZA RICE,
secretária de Estado americana
l Previdente
«Não gostaríamos todos de encontrar alguém com quem quiséssemos viver para toda a vida? Claro que sim! Mas nunca vi o casamento como algo de absoluto. É algo que decidimos fazer com alguém. E eu nunca decidi fazê-lo com ninguém em particular. Mas quem sabe?
Talvez um dia destes...». Solteira invetera-
«Acontecimentos imprevisíveis». Referindo-se às violentas manifestações que tiveram lugar na Hungria, anunciou aos seus
compatriotas que o fenómeno poderia contagiar a Alemanha. Objectivo: denegrir a
democracia parlamentar. Süddeutsche Zeitung, Munique
«Nem tudo na colonização é negatico.
Considero que a Europa foi um grande
elemento de civilização e, se olharmos
para a situação actual na Etiópia, na So- Íx Ilustração
mália e na Líbia, com- de David Smith,
Reino Unido
parando-a com o
tempo da presença
italiana, creio que é possível reavaliar o
nosso papel». La Stampa, Turim
l Confiante
da, respondeu nestes termos à pergunta
«Gostava de se casar?», numa entrevista
concedida à nova apresentadora do telejornal da CBS, Katie Couric, a primeira mulher
a desempenhar essa função. CBS, Nova
Iorque
CHERIE BLAIR,
mulher do primeiro-ministro britânico
l Enervado
«É mentira!», exclamou, assim que Gordon Brown, provável sucessor do seu marido, garantia perante o Congresso do Partido Trabalhista que colaborar durante dez
anos com Tony Blair fora, para ele, «um privilégio». Cherie é perita em declarações
embaraçosas para o marido. The Guardian, Londres
GEORGI ROGATCHEV
patrão da companhia
de aquecimentos de Sófia
l Honesto
«Nunca utilizei o ‘jacuzzi’, nem a sala de
manutenção, nem os demais equipamentos de lazer». O seu antecessor, Valentin
Dimitrov, de quem foi adjunto, é acusado
de um desvio de 1,64 milhões de euros,
parte dos quais serviu para converter o seu
gabinete num «spa» de luxo. Monitor, Sófia
DR
l Rancoroso
GIANFRANCO FINI,
presidente da Aliança Nacional, ex-ministro
dos Negócios
Estrangeiros de Itália
ELO terceiro
ano consecutivo, figura entre os
50 melhores advogados da Califórnia do Sul, numa
classificação nada condescendente, pois é estabelecida pela seriíssima revista
americana «Law
and Politics». «Este êxito coroa uma viagem de 40 anos», resume o diário de Madrasta The Hindu. No início dos anos 60,
com um diploma de advogada obtido de
forma brilhante, preparava-se para a carreira profissional, em Madrasta, quando o
casamento a levou para os Estados Unidos da América. Emigrada, começou por
levar uma vida de mãe dedicada, criando
os dois filhos que entretanto dera à luz.
Nessa altura, os estrangeiros não podiam
advogar nos Estados Unidos. Só 19 anos
depois de se ter formado, na Índia, pôde
concorrer, com sucesso, a um lugar de
advogada na Califórnia. Nesse momento,
Sucharita, a indiana, tornou-se Rita, a
americana. Directora de um departamento no escritório Haight, Brown & Bonesteel, em Los Angeles, passou a ser sócia
do mesmo. Esta especialista em jurisdições de apelo acumula, além disso, as
responsabilidades de presidente de vários comités e associações judiciais. A reputação de trabalhadora infatigável justifica-se plenamente.
P
PALAVRAS DITAS
JOSÉ MARIA AZNAR,
ex-Presidente
do Governo espanhol
lenço esconde uma canadiana vulgar. Nascida há 43 anos
numa família católica praticante do
Ontário, uma de
sete irmãos, Ingrid Mattson é
uma mãe sorridente. Acompanha o filho ao futebol e ajuda a filha a fazer os trabalhos de
casa. Gosta de jardinar, lê «The New Yorker» e adora ver Paris Hilton na TV. Mas
esta ex-católica e ex-ateia foi eleita para
presidir à Sociedade Islâmica da América
do Norte (ISNA), que tem 60 mil membros
e reivindica o título de principal organização muçulmana do subcontinente. Mattson é a primeira mulher e a primeira convertida a chegar à liderança da ISNA, cujas missões são, sobretudo, educativas.
Numa América que associa muçulmanos
a terroristas, muitos contam com esta mulher, refutação em carne e osso de todos
os estereótipos, para difundir a imagem
de um Islão tolerante e civilizado, aquele
que a seduziu ao ouvir versículos do Corão numa cassete oferecida por africanos
que conheceu numas férias de Verão em
Paris, quando era estudante. Regressada
ao Canadá, estudou árabe. Depois, foi para o Paquistão trabalhar num campo de
refugiados. Ali conheceu o marido, um engenheiro egípcio. Doutorada em Estudos
Islâmicos pela Universidade de Chicago,
hoje ensina essa cadeira na Universidade
do Connecticut. Los Angeles Times, Los Angeles
O