Originais – Originals janeiro | março • 2013 - IPUB
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Originais – Originals janeiro | março • 2013 - IPUB
ISSN 0047-2085 CODEN JBPSAX 1 janeiro | março • 2013 Volume 62, Número 1, 2013 Originais – Originals Associação entre depressão, níveis de dor e falta de apoio social em pacientes internados em enfermarias de clínica médica The impact of depression on survival of Parkinson’s disease patients: a five-year study Componentes atencionais e de funções executivas em meninos com TDAH: dados de uma bateria neuropsicológica flexível Uso de álcool e tabaco entre estudantes de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo Hospitalização integral para tratamento dos transtornos alimentares: a experiência de um serviço especializado Prevalência e fatores associados aos transtornos mentais comuns em residentes médicos e da área multiprofissional Termos psicopatológicos em bandas e músicas de rock and roll Órgão Oficial do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro Official Journal of the Institute of Psychiatry - Federal University of Rio de Janeiro Editores Antônio Egidio Nardi Leonardo Franklin da Costa Fontenelle Editores Eméritos Eustáchio Portella Nunes João Romildo Bueno Márcio Versiani Editores Associados Alexandre Valença Jerson Laks Mauro Mendlowicz Editor Júnior William Berger Conselho Editorial Internacional Allen Frances (Duke University) Charles Marmar (University of California San Francisco) Christos Pantelis (University of Melbourne) Dan J. 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Venceslau Brás, 71 Campus Praia Vermelha – 22290-140 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Telefax: (5521) 3873-5510 E-mail: [email protected] www.ipub.ufrj.br/jpb.htm Rua Anseriz, 27 Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP Telefax: (11) 3093-3300 www.segmentofarma.com.br E-mail: [email protected] INDEXADA EM: Scientific Eletronic Library Online – SciELO American Psychological Association – PsychoINFO British Libray Document Supply Center – BLDSC Scopus Index Medicus Latino-Americano – LILACS Institute de L’ Information Scientifique et Techinique – INIST Libray of the Royal Netherlands Academy of Arts and Sciences – KNAW Free Medical Journals – FMJ CIP-BRASIL - CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ J82 Jornal Brasileiro de Psiquiatria/Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Psiquiatria. – Rio de Janeiro, 1948 -. v.62, n.1, 2013 Trimestral ISSN 0047-205801965 – a responsabilidade passa a ser da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Psiquiatria 1982 – publicado pela ECN ed. Científica Nacional Editado pela Segmento Farma Editores a partir do v.56, n.1-4, 2007 Continuação de: Anais do Instituto de Psiquiatria 1942-1947 1. Psiquiatria - Periódicos brasileiros. I. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Psiquiatria CDD 616.89 CDU 616.89 OBS.: As notas de responsabilidade foram dados obtidos junto à Biblioteca Nacional Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 www.segmentofarma.com.br • [email protected] Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Gerente financeira: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão Editora-chefe: Daniela Barros MTb 39.311 Comunicações médicas: Cristiana Bravo Gerentes de negócios: Marcela Crespi e Philipp Santos Coordenadora comercial: Andrea Figueiro Gerente editorial: Cristiane Mezzari Coordenadora editorial: Sandra Regina Santana Assistente editorial: Camila Mesquita Estagiárias de produção editorial: Aline Oliveira e Patrícia Harumi Diagramação: Flávio Santana Revisoras: Glair Picolo Coimbra e Sandra Gasques Produtor gráfico: Fabio Rangel • Cód. da publicação: 14867.4.2013 Todos os anúncios devem respeitar rigorosamente o disposto na RDC nº96/08 sumário Artigos originais – Original articles Associação entre depressão, níveis de dor e falta de apoio social em pacientes internados em enfermarias de clínica médica Association of depression, levels of pain and lack of social support in patients admitted to general medical wards Camila Andrade Marques, Betina Stefanello, Camila Nemoto de Mendonça, Letícia Maria Furlanetto..........................................1 The impact of depression on survival of Parkinson’s disease patients: a five-year study O impacto da depressão na sobrevida de pacientes com doença de Parkinson: cinco anos de estudo Cláudia Débora Silberman, Cláudia Soares Rodrigues, Eliasz Engelhardt, Jerson Laks .................................................................8 Componentes atencionais e de funções executivas em meninos com TDAH: dados de uma bateria neuropsicológica flexível Attentional components and executive functions in children with ADHD: data of a flexible neuropsychological battery Hosana Alves Gonçalves, Rafael Mattevi Mohr, André Luiz Moraes, Larissa de Souza Siqueira, Mirella Liberatore Prando, Rochele Paz Fonseca.....................................................................................................................................................................13 Uso de álcool e tabaco entre estudantes de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo Alcohol and tobacco use among Psychology students at the Federal University of Espírito Santo Marcos Vinícius Ferreira dos Santos, Denis Soprani Pereira, Marluce Miguel de Siqueira ...........................................................22 Hospitalização integral para tratamento dos transtornos alimentares: a experiência de um serviço especializado Inpatient treatment for eating disorders: the experience of a specialized service Raphaela Fernanda Muniz Palma, José Ernesto dos Santos, Rosane Pilot Pessa Ribeiro.............................................................31 Prevalência e fatores associados aos transtornos mentais comuns em residentes médicos e da área multiprofissional Prevalence and factors associated with commom mental disorders in medical and multiprofessional health residents Carla Novaes Carvalho, Djalma Agripino de Melo-Filho, João Alberto Gomes de Carvalho, Ana Carla Guedes de Amorim.......38 Termos psicopatológicos em bandas e músicas de rock and roll Psychopathological terms in bands and songs of rock and roll Thaísa Silva Gios, Francisco Lotufo Neto.......................................................................................................................................46 sumário Revisões de literatura – Literature reviews Programas metacognitivos com enfoque em cognição social na reabilitação da esquizofrenia: uma revisão sistemática Metacognitive programs focusing social cognition for the rehabilitation of schizophrenia: a systematic review Hélio Anderson Tonelli, Fernanda Liboni, Diego Augusto Nesi Cavicchioli...................................................................................51 O que é comportamento de risco para transtornos alimentares em adolescentes? What is adolescents’ eating disorder risk behavior? Greisse Viero da Silva Leal, Sonia Tucunduva Philippi, Viviane Ozores Polacow, Táki Athanássios Cordás, Marle dos Santos Alvarenga..........................................................................................................................................................62 Comunicação breve – Brief communication Notas sobre a versão em língua portuguesa da Escala de Bem-Estar Espiritual Notes on the Portuguese-language version of the Spiritual Well-Being Scale Edson Zangiacomi Martinez, Rodrigo Guimarães dos Santos Almeida, Fabiana Rodrigues Garcia, Antonio Carlos Duarte de Carvalho...............................................................................................................................................76 Relatos de caso – Case reports Cerebral calcifications and schizophreniform disorder Calcificações cerebrais e transtorno esquizofreniforme Leonardo Fernandez Meyer, Flávio Jozef, José Geraldo Vernet Taborda, Marco Antonio Alves Brasil, Alexandre Martins Valença...........................................................................................................................................................81 Cessação tabágica em paciente com tremor essencial Smoking cessation in a patient with essential tremor Carolina Ferreira da Costa, Ervin Cotrik, Alberto Araújo, Marco Antônio Brasil ...........................................................................85 Cartas ao editor – Letters to the editor Early-onset of psychiatric features in mild frontotemporal dementia with impaired memory test: a case report and neuropsychological evaluation Sintomas psiquiátricos prematuros em demência frontotemporal leve com desempenho deficitário em teste de memória: relato de caso e avaliação neuropsicológica Gabriel Coutinho, Dídia Fortes, Flavia Miele, Paulo Mattos..........................................................................................................89 Consumo prejudicial de álcool entre usuários da Estratégia Saúde da Família Harmful alcohol consumption between users of Family Health Strategy Ângela Maria Mendes Abreu, Rafael Tavares Jomar, Maria Helena do Nascimento Souza, Raphael Mendonça Guimarães.......91 artigo original Associação entre depressão, níveis de dor e falta de apoio social em pacientes internados em enfermarias de clínica médica Association of depression, levels of pain and lack of social support in patients admitted to general medical wards Camila Andrade Marques1, Betina Stefanello1, Camila Nemoto de Mendonça1, Letícia Maria Furlanetto1 RESUMO Palavras-chave Depressão, dor, apoio social, pacientes internados, hospital geral. Objetivo: Verificar a associação entre depressão, níveis de dor e falta de apoio social em pacientes clínicos internados. Métodos: Em um estudo transversal, 1.147 adultos admitidos nas enfermarias de clínica médica de um hospital universitário foram selecionados por randomização e avaliados durante a primeira semana de internação. Foram utilizados: Subescala Cognitivo-afetiva do Inventário Beck de Depressão (BDI-13), Índice Charlson de Comorbidade Física e escalas numéricas para avaliar dor e percepção de gravidade física. Foram considerados deprimidos os pacientes que pontuaram acima de 10 no BDI-13. Investigou-se apoio social por meio da pergunta direta: “Com quantos parentes ou amigos você se sente à vontade e pode falar sobre tudo ou quase tudo?”. Foram considerados como tendo falta de apoio social os pacientes que relataram ter menos que quatro parentes ou amigos confidentes. Foram utilizados os testes T de Student, Qui-quadrado e Regressão Logística. Resultados: Dos 1.147 pacientes, 25,3% apresentavam depressão. Escolaridade [odds ratio (OR): 0,96; intervalo de confiança (IC): 0,89-0,96; p < 0,001], renda familiar (OR: 0,92; IC: 0,86-0,99; p = 0,018), maior intensidade de dor (OR: 1,04; IC: 1,00-1,08; p = 0,036), falta de apoio social (OR: 2,02; IC: 1,49-2,72; p < 0,001) e percepção de maior gravidade física (OR: 1,07; IC: 1,02-1,13; p = 0,008) se associaram independentemente à depressão. Conclusão: Pacientes clínicos deprimidos relatam mais falta de apoio social e dor, mesmo após controlar para variáveis confundidoras sociodemográficas e clínicas. ABSTRACT Objective: To evaluate the association of depression, levels of pain and lack of social support in medical inpatients. Methods: In a cross sectional observational study, 1,147 adults admitted to the general medical wards of a university hospital were randomized and evaluated during the first week of admission. The following instruments were used: cognitive-affective subscale of the Beck Depression Inventory (BDI-13), Charlson Comorbidity Index and numerical scales to evaluate pain and perception of medical burden. Patients who scored > 10 in the BDI-13 were considered depressed. Social support was investigated asking the 1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Clínica Médica, Florianópolis, SC, Brasil. Recebido em 20/9/2012 Aprovado em 3/2/2013 Endereço para correspondência: Letícia Maria Furlanetto Av. Rio Branco, 333/804, Centro – 88015-200 – Florianópolis, SC, Brasil Telefax: (+55 48) 3234-9756 E-mail: [email protected] 2 artigo original Marques CA et al. Keywords Depression, pain, social support, medical inpatients, general hospital. following question: “How many relatives or friends do you feel at easy and can talk about almost everything?”. Those who had less than four relatives or close friends were considered as having lack of social support. The Student T test, Chi-square test and Logistic Regression analysis were used. Results: Of the 1,147 patients that comprised the sample, 25.3% had depression. Educational level [odds ratio (OR): 0.96; confidence interval (CI): 0.89-0.96; p < 0.001], household income (OR: 0.92; CI: 0.86-0.99; p = 0.018), pain levels (OR: 1.04; CI: 1.00-1.08; p = 0.036), lack of social support (OR: 2.02; CI: 1.49-2.72; p < 0.001) and perception worse physical illness severity (OR: 1.07; CI: 1.02-1.13; p = 0.008) were independently associated with depression. Conclusion: Depressive medical inpatients report more lack of social support and pain even after controlling for social, demographic and clinical variables. INTRODUÇÃO Pacientes com transtornos do humor relatam maiores níveis de dor1. A prevalência de episódios depressivos entre pacientes clínicos com dor é alta (42%)2. Pacientes com comorbidade de doenças físicas e depressão apresentam mais dor crônica e têm pior evolução apesar do tratamento adequado3. Observou-se que pacientes com artrite, portanto com dor crônica, têm maior predisposição de desenvolver transtornos do humor4. Estudos recentes vêm demonstrando mecanismos inflamatórios que exercem papel na fisiopatologia tanto da depressão como da dor e de diversas outras doenças sistêmicas5. Em pacientes com artrite reumatoide, a depressão e a inflamação (medida por meio da dosagem da proteína C reativa) têm correlação entre si, mas influenciam a dor de forma independente6. De maneira semelhante, em pacientes com câncer de mama, o tratamento da depressão foi efetivo para reduzir os indicadores de inflamação7. Contudo, ainda existem poucos estudos no Brasil sobre a interface da depressão com a dor e outros aspectos psicossociais. Uma pesquisa realizada na comunidade revelou que os indivíduos que relatavam ter dor apresentavam mais transtornos depressivos e ansiosos, além de terem pior qualidade de vida, maior incapacidade, maior utilização dos cuidados de saúde e uso de substâncias8. Por ser um achado subjetivo do exame clínico, a percepção da dor depende não só das vias biológicas (como o que ocorre na inflamação), mas também das características psicológicas do paciente. Um ensaio clínico mostrou que pacientes com dor crônica e com padrões negativos de pensamento (como o catastrófico) perceberam maiores níveis de dor em relação àqueles que tinham como padrão de pensamento a aceitação da dor9. Outra pesquisa evidenciou a associação entre a gravidade da depressão e a intensidade do pensamento catastrófico em pacientes com anemia falciforme10. Entre pacientes com dor coronariana aguda a depressão persistente vem sendo associada com aumento na mortalidade e na morbidade cardíaca11. Ou seja, apesar de repetidos estudos sobre o assunto, os mecanismos psicológicos e fisiológicos da dor e sua associação com depressão não estão esclarecidos e ainda são objeto de controvérsia. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):1-7. Discute-se, também, o papel do apoio social no aparecimento, manutenção ou melhora da depressão. Ambos – apoio social e depressão – podem influenciar, direta ou indiretamente, na evolução e bem-estar de pacientes clínicos, como observado entre pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM)12. A depressão mostrou-se um fator preditor de mortalidade após um ano de IAM, porém o apoio social não se relacionou diretamente com a sobrevivência. Contudo, altos níveis de apoio social se relacionaram com melhora nos sintomas depressivos, podendo ser, assim, um fator protetor indireto para pessoas com IAM12. Além disso, pacientes com insuficiência cardíaca deprimidos apresentaram mais pessimismo, baixa percepção de apoio social e um padrão de comportamento de evitação13. Ou seja, além de se isolarem, ainda não perceberam o apoio que tinham. Provavelmente esse mesmo fenômeno aconteceu com um grupo de pacientes em uso de terapia antirretroviral que, em um ano de seguimento, apresentou concomitantemente aumento na sintomatologia depressiva e diminuição nos níveis de apoio social14. Entre idosos com quadros dolorosos, a rede social e o estado funcional parecem estar mais relacionados com a depressão do que com a dor objetiva propriamente dita15. A associação entre apoio social e depressão também foi evidenciada em pacientes submetidos ao transplante de medula óssea16. Nesses pacientes, após seguimento de um ano, observou-se que o aumento no suporte social percebido esteve relacionado à redução nos níveis de depressão16. A depressão, a dor e a falta de apoio social são realidades recorrentes na prática clínica e interferem diretamente no diagnóstico e tratamento de diversas patologias. Vale salientar a importância do tratamento e do acompanhamento desses pacientes no contexto intra-hospitalar e após alta, pois já se evidenciou que os transtornos psiquiátricos em pacientes clínicos hospitalizados não remitem espontanea mente17. Ter história familiar psiquiátrica positiva e menor escolaridade já se mostrou relacionado com a persistência dos transtornos ansiosos, da depressão e dos transtornos somatoformes após a alta17. Identificar precocemente a combinação de diferentes riscos e instituir o tratamento adequado previne novos episódios de depressão18. artigo original Apesar da vasta literatura sobre o assunto, ainda não é possível definir exatamente o quanto essas variáveis interagem gerando sofrimento psíquico ou bem-estar, nem como isso acontece, nos pacientes clínicos. O objetivo deste estudo é verificar se existe associação entre depressão, níveis de dor e falta de apoio social em pacientes internados em enfermarias de clínica médica de um hospital universitário. MÉTODOS Desenho e local Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido nas Enfermarias de Clínica Médica do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago de Florianópolis, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC). A cidade de Florianópolis, localizada no estado de Santa Catarina, tem aproximadamente 450 mil habitantes, com 97% localizados na área urbana. O Hospital Universitário é referência, atendendo à Grande Florianópolis e aos casos provenientes do interior do estado. Amostra Foram anotados os nomes de todos os pacientes consecutivamente internados nas Enfermarias de Clínica Médica do HU-UFSC desde 15 de abril de 2006 até 30 de junho de 2011, excluindo os meses não letivos (janeiro, fevereiro e julho), que no total somaram 7.093 pacientes. Embora o cálculo da amostra necessária para avaliar a prevalência de sintomatologia depressiva moderada a grave em pacientes clínicos, com estimativa de 30% e nível de significância de 0,05, tenha sido de 323 pacientes, com a finalidade de atingir os objetivos do estudo (associação entre variáveis), foi necessária uma amostra maior (superior a 1.000 indivíduos) até que os resultados ficassem constantes por causa das múltiplas análises realizadas. Por meio de uma lista de números randômicos, foram selecionados 1.630 pacientes, que foram abordados, esclarecidos sobre a natureza do estudo e convidados a participar. Esse número foi escolhido considerando que 29,6% (N = 483) foram excluídos, sendo 259 por incapacidade física que impossibilitasse a realização de forma adequada da entrevista (por afasia, dispneia, prejuízo cognitivo etc.), 117 por causas administrativas (por exemplo, estar fora do leito realizando exames complementares, cirurgias etc.), 13 por estarem sendo reinternados e 94 por recusarem. Portanto, compuseram a amostra 1.147 pacientes que consentiram e que não preenchiam critérios de exclusão. Procedimentos Os pacientes foram avaliados antes de completar uma semana de internação. Os dados foram colhidos por alunos da graduação em Medicina já com formação em psicopatologia e sob supervisão direta da professora (LMF), com experiência em interconsulta há mais de 20 anos. Foram coletados dados Depressão, dor e apoio social 3 sociodemográficos como idade, sexo, estado civil, escolaridade em anos, renda familiar em salários-mínimos e dados da história clínica, bem como preenchidos os questionários descritos a seguir, por meio de entrevista e dados do prontuário. O Miniexame do Estado Mental (MMSE) foi utilizado com a finalidade de rastrear pacientes com prejuízo cognitivo, principalmente delirium e/ou demência19. É composto de 11 perguntas e requer somente de 5 a 10 minutos para ser administrado. O ponto de corte sugerido pelos autores da escala é de 23/24 para a suspeita de prejuízo cognitivo19. Contudo, pelo fato de pacientes com baixa escolaridade poderem ter pontuação inferior nessa escala, sem que apresentem prejuízo cognitivo20, quando apropriado, foram utilizados os pontos de corte de acordo com o proposto por Bertolucci et al. (13 para analfabetos; 18 para aqueles com 1 a 8 anos incompletos e 26 para pacientes com 8 ou mais anos de escolaridade)21. O Inventário Beck de Depressão (BDI) foi elaborado para medir a gravidade de depressão em adolescentes e adultos22. Entretanto, vem sendo usado como instrumento de rastreamento de depressão. A subescala cognitivo-afetiva (primeiros 13 itens – BDI-13) mostrou-se válida em pacientes atendidos por causa de doenças físicas no nosso hospital23. Foram considerados como tendo depressão aqueles pacientes que pontuaram acima de 10 no BDI-13. As percepções de gravidade física e de dor foram avaliadas usando-se escalas do tipo NRS (Numerical Rating Scales)24 de 11 pontos (0 a 10), sendo perguntado, respectivamente: “De zero a dez, qual número melhor descreve a gravidade de sua doença no momento? Zero (0) seria sem doença e dez (10) seria doença mais grave possível”. E, “De zero a dez, qual número melhor descreve sua dor agora? Zero (0) seria ‘sem dor’ e dez (10) seria a dor mais forte possível”. Foi avaliado apoio social com a seguinte pergunta: “Com quantos parentes ou amigos você se sente à vontade e pode falar sobre quase tudo?” Essa pergunta foi validada em uma amostra brasileira por Chor et al.25. Foram considerados como tendo falta de apoio social aqueles pacientes que relataram ter menos que quatro parentes ou amigos confidentes. Esse ponto de corte foi escolhido porque um estudo anterior mostrou que indivíduos com menos de quatro confidentes têm maior chance de evoluir com depressão26. A gravidade física objetiva foi medida pelo Índice Charlson de Comorbidade Física. Esse instrumento foi elaborado para ser utilizado em estudos de avaliação de prognóstico, uma vez que é capaz de prever mortalidade. No cômputo desse item são avaliados não só o número de doenças, mas também a gravidade delas27. Análise estatística A análise estatística foi feita utilizando o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 17.0 para Windows. Foram considerados estatisticamente significativos os valores de p ≤ 0,05. Quando foram feitas múltiplas comparações, J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):1-7. 4 artigo original Marques CA et al. foi utilizada a correção de Bonferroni. Para a análise descritiva dos dados, foram empregadas frequências, porcentagens, médias, medianas e desvios-padrão. Foi utilizado o teste T de Student para amostras independentes e o teste do Qui-quadrado, conforme apropriado, com o objetivo de comparar os pacientes deprimidos (BDI-13 > 10) e não deprimidos. Aqueles fatores que foram significativamente diferentes (p ≤ 0,05) na análise univariada foram analisados na multivariada, por meio da Regressão Logística (com o modo “stepwise likelihood-ratio”) conjuntamente com a gravidade física objetiva, para verificar sua associação independente com a depressão. Aspectos éticos O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética para Pesquisas com Seres Humanos da UFSC. Os pacientes foram orientados sobre o estudo e informados que em nada seria alterado seu tratamento caso a decisão fosse a de não participar. Aqueles que concordaram em participar assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Caso fosse detectada qualquer alteração mental sugestiva de ter benefício de alguma intervenção, os pacientes e médicos-assistentes foram informados para que a interconsulta psiquiátrica pudesse ser solicitada, se julgassem necessário. RESULTADOS Como já dito, a amostra foi composta por 1.147 pacientes. Desses, a maioria era do sexo masculino (55,7%), com média de idade ± desvio-padrão (DP) de 49,72 ± 16,18 anos, era casada ou mantinha união estável (63,6%). A renda familiar média ± DP foi de 3,27 ± 2,90 salários-mínimos e a escolaridade média ± DP foi de 6,48 ± 4,29 anos. A tabela 1 detalha as características sociodemográficas da amostra. As doenças digestivas (19,6%) e as doenças respiratórias (14,4%) foram as principais responsáveis pelas internações dos pacientes que compuseram a amostra deste estudo (Tabela 2). A porcentagem de pacientes que relatou falta de apoio social (com menos de quatro parentes e amigos íntimos) foi de 33,8% (N = 383). A média do número de parentes e amigos confidentes ± DP foi de 12,08 ± 16,8. Dos pacientes incluídos na pesquisa, 25,3% foram considerados como tendo depressão. A tabela 3 descreve a comparação entre deprimidos e não deprimidos em relação às variáveis sociodemográficas e clínicas. Na Regressão Logística foram incluídas as variáveis: escolaridade, renda familiar, dor, apoio social e gravidade física percebida, que mostraram diferenças estatisticamente significativas entre deprimidos e não deprimidos, mostradas na tabela 3. A comorbidade física objetiva (Índice Charlson de Comorbidade Física) foi incluída nessa análise, mesmo não tendo sido significativa na análise univariada por causa da J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):1-7. sua importância do ponto de vista clínico nesse grupo. Na análise multivariada observou-se que a baixa escolaridade [odds ratio (OR): 0,96; intervalo de confiança (IC): 0,89-0,96; p < 0,001], a baixa renda familiar (OR: 0,92; IC: 0,86-0,99; p = 0,018), a maior intensidade de dor (OR: 1,04; IC: 1,00-1,08; p = 0,036), a percepção de falta de apoio social (OR: 2,02; IC: 1,49-2,72; p < 0,001) e a percepção de maior gravidade física (OR: 1,07; IC: 1,02-1,13; p = 0,008) se associaram independentemente à depressão. Tabela 1. Características sociodemográficas da amostra (N = 1.147) Características N (1.147)* % Sexo Masculino Feminino 639 508 55,7 44,3 Idade (anos) 18 a 64 Maior ou igual a 65 920 227 80,2 19,8 Estado civil Casado(a)/união estável Solteiro(a) Separado(a) Viúvo(a) 729 168 147 103 63,6 14,6 12,8 9 Renda familiar salários-mínimos* Menor que 2 2a4 5a6 Maior que 6 216 537 109 102 22,4 55,7 11,3 10,6 Escolaridade (anos)* 0 1a4 5a8 8 ou mais anos 80 415 313 326 7 36,2 27,3 28,4 *Os valores que, somados, não atingirem o N total da amostra são decorrentes do não preenchimento completo pelo entrevistado, por desconhecimento ou recusa. Tabela 2. Doenças que motivaram a internação, de acordo com a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão) Motivo da internação N (1.147) % Digestivas 225 19,6 Respiratórias 165 14,4 Cardíacas/circulatórias 157 13,7 Hematológicas/imunitárias 146 12,7 Endócrinas/nutricionais/metabólicas 101 8,8 Neurológicas 87 7,6 Neoplasias 60 5,2 Osteomusculares/tecido conjuntivo 43 3,7 Mal-definidas 42 3,7 Geniturinárias 37 3,2 Infecciosas/parasitárias 35 3,1 Pele/subcutâneo 11 1 Causas externas 9 0,8 Lesões/envenenamentos 8 0,7 artigo original Depressão, dor e apoio social 5 Tabela 3. Análise univariada comparando deprimidos e não deprimidos internados em enfermarias de clínica médica em relação às variáveis sociodemográficas, clínicas e fatores psicossociais (N = 1.147) Variável* Depressão? † Não Sim Homens 76,1 23,9 Mulheres 72,4 27,6 P Sexo (%) Idade 0,17 49,84 ± 16,29 49,22 ± 15,53 0,56 Escolaridade (anos) 6,83 ± 4,46 5,53 ± 3,66 < 0,001 Renda familiar ‡ 3,49 ± 2,95 2,69 ± 2,74 < 0,001 70,9 54,1 < 0,001 Rede de apoio social§ (%) Variáveis clínicas Gravidade física objetiva 1,13 ± 1,46 1,01 ± 1,4 0,23 Gravidade física percebida 6 ± 2,95 6,83 ± 3,02 < 0,001 4,12 ± 3,79 5,20 ± 3,92 < 0,001 ║ ¶ Dor ** * Os dados estão expressos em média ± desvio-padrão, exceto quando especificados de outra forma. † Foram considerados como tendo depressão aqueles pacientes que pontuaram acima de 10 na Subescala Cognitivo-afetiva (primeiros 13 itens – BDI-13) do Inventário Beck de Depressão. ‡ Renda familiar em salários-mínimos. § Responderam um número maior que 3 à pergunta: “Com quantos parentes e amigos você se sente à vontade e pode falar sobre tudo ou quase tudo?”. ║ Índice Charlson de Comorbidade Física. ¶ Respondendo: “De zero a dez, qual número melhor descreve a gravidade de sua doença no momento? Zero seria sem doença e dez seria a doença mais grave possível”. ** Respondendo: “De zero a dez qual número melhor descreve sua dor agora? Zero seria sem dor e dez seria a dor mais forte possível”. DISCUSSÃO Este é um dos primeiros estudos realizados em nossa comunidade que avalia tanto a comorbidade psiquiátrica como fatores psicossociais, dor e outros aspectos clínicos em pacientes internados por doenças físicas. Cerca de um quarto dos pacientes internados por doenças físicas nas Enfermarias de Clínica Médica do HU-UFSC que compuseram a nossa amostra tinham depressão (25,3%). Verificando-se a correlação entre as variáveis, observou-se que os deprimidos tinham menor escolaridade e menor renda familiar, menor apoio social, maior gravidade física percebida, assim como maiores níveis de dor. Não houve diferença estatisticamente significativa em relação a sexo, idade e comorbidade física objetiva. Na análise multivariada, menor escolaridade, menor renda familiar, falta de apoio social, maior intensidade da dor e percepção de maior gravidade física associaram-se significativamente à depressão, mesmo após ajustar para fatores de confusão. Esses achados estão condizentes com outros estudos2,16,28,29. Diferentemente de nossos achados, Iliffe et al.15 verificaram que a intensidade da dor não estava estatisticamente relacionada com a depressão, mesmo encontrando prevalência semelhante de depressão na amostra analisada (19%). Esse mesmo estudo revelou uma associação entre depressão e risco de isolamento social. Talvez a diferença encontrada seja devida à diferença de amostras, sendo a amostra de Iliffe exclusivamente de pessoas acima de 65 anos, não hospitalizadas e independentes para autocuidado15. Existem limitações para este estudo, que são as seguintes: 1) O diagnóstico da depressão foi feito por meio de uma escala, e não por um psiquiatra. Contudo, os estudos que associam depressão com maior mortalidade utilizaram essa mesma escala, o BDI11,12; 2) Nossa amostra foi composta por pacientes internados em um hospital universitário, com nível de atenção terciário. É possível que pacientes na atenção primária ou secundária tenham padrões diferentes; 3) Por ser um estudo transversal, não é possível estabelecer relação de causa e efeito; 4) Pacientes muito graves e incapacitados (por exemplo, com dispneia intensa) foram excluídos por não conseguirem responder à entrevista, portanto não estão representados na nossa amostra. Seria importante que estudos futuros desenvolvessem métodos para detectar depressão, dor e apoio social nesse grupo; 5) O apoio social foi avaliado por meio de pergunta direta, o que pode gerar questionamentos quanto à sua validade. Cabe ressaltar que essa pergunta na realidade é um instrumento já validado, inclusive em uma amostra brasileira25. Apesar de existirem questionários mais completos para essa avaliação, a simplicidade e a rapidez dos instrumentos são fundamentais em pesquisas realizadas nas enfermarias de clínica médica, uma vez que os pacientes estão muito debilitados e necessitam de tempo para fazer exames e o tratamento da doença de base. Como significado clínico para esses achados, observa-se a importância de questionar sobre rede de apoio social e sintomas sugestivos de depressão em indivíduos com doenças físicas, sobretudo naqueles com maiores níveis de dor, pois esses fatores são frequentes e podem estar influindo em seu quadro clínico. Simples perguntas, como “Com quantos parentes e amigos você se sente à vontade e pode falar sobre tudo ou quase tudo?” Ou “De zero a dez, qual o número que descreve sua dor agora?”, podem ajudar a detectar fatores relacionados e a suspeitar da presença de depressão, perJ Bras Psiquiatr. 2013;62(1):1-7. 6 artigo original Marques CA et al. mitindo, assim, o diagnóstico e o tratamento precoce dessa doença. Uma pesquisa revelou que em idosos o tratamento da depressão e orientações para lidar com a doença física e aprimorar a capacidade de realizar atividades diárias levaram à percepção de maior apoio social, melhoria das condições gerais do paciente e sua qualidade de vida relacionada à saúde30. Além disso, vem sendo demonstrado que o tratamento da depressão pode, além de reduzir os sintomas depressivos, levar a uma redução de marcadores inflamatórios.7 É possível que, por meio do estudo das vias de ativação de imunidade mediada por células e outros mecanismos que estimulam a manutenção de processos inflamatórios possam ser gerados dados que ajudem a elucidar a alta associação entre dor, depressão e diversas doenças sistêmicas5. Contudo, apesar das novas vias que vêm sendo propostas, não se pode esquecer da importância de um bom manejo clínico desses pacientes, que envolve aspectos do correto tratamento da dor, da relação médico-paciente e da rede de apoio social. CONCLUSÃO Os pacientes internados nas Enfermarias de Clínica Médica do HU-UFSC que apresentavam depressão (BDI-13 > 10) relataram maiores níveis de dor e mais falta de apoio social, mesmo após controlar para variáveis confundidoras sociodemográficas e clínicas. Estudos longitudinais podem ajudar a elucidar a natureza dessa associação. CONTRIBUIÇÕES INDIVIDUAIS Camila Andrade Marques – Coleta, análise dos dados e redação do manuscrito. Betina Stefanello e Camila Nemoto de Mendonça – Coleta, análise dos dados e revisão do manuscrito. Letícia Maria Furlanetto – Elaboração do projeto, supervisão da coleta, análise dos dados e redação do manuscrito. CONFLITOS DE INTERESSE E SUPORTE FINANCEIRO Nenhum autor tem conflitos de interesse. Este trabalho teve apoio financeiro do CNPq, por meio de Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) concedida às três primeiras autoras (Camila Andrade Marques, Betina Stefanello, Camila Nemoto de Mendonça). J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):1-7. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos outros integrantes do grupo de pesquisa do LETH (Laboratório de Estudos em Transtornos de Humor) que participaram da coleta de dados. REFERÊNCIAS 1. Williams LJ, Pasco JA, Jacka FN, Dodd S, Berk M. 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J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):1-7. Original article The impact of depression on survival of Parkinson’s disease patients: a five-year study O impacto da depressão na sobrevida de pacientes com doença de Parkinson: cinco anos de estudo Cláudia Débora Silberman1, Cláudia Soares Rodrigues2, Eliasz Engelhardt1, Jerson Laks1 ABSTRACT Keywords Parkinson’s disease, depression, mortality. Objective: The aim of this study is to evaluate the survival rate in a cohort of Parkinson’s disease patients with and without depression. Methods: A total of 53 Parkinson’s disease subjects were followed up from 2003-2008 and 21 were diagnosed as depressed. Mean time of follow up was 3.8 (SD 95% = 1.5) years for all the sample and there was no significant difference in mean time of follow up between depressed and nondepressed Parkinson’s disease patients. Survival curves rates were fitted using the Kaplan-Meier method. In order to compare survival probabilities according to the selected covariables the Log-Rank test was used. Multivariate analysis with Cox regression was performed aiming at estimating the effect of predictive covariables on the survival. Results: The cumulative global survival of this sample was 83% with nine deaths at the end of the study – five in the depressed and four in the nondepressed group, and 55.6% died in the first year of observation, and none died at the fourth and fifth year of follow up. Conclusion: Our finding point toward incremental death risk in depressed Parkinson’s disease patients. RESUMO Palavras-chave Doença de Parkinson, depressão, mortalidade. Objetivo: O objetivo deste estudo é avaliar a taxa de mortalidade em uma coorte de parkinsonianos com e sem depressão. Métodos: O total de 53 pacientes com doença de Parkinson foi acompanhado de 2003 a 2008, e 21 deles foram avaliados com depressão. O tempo médio de doença foi de 3,8 (DP 95% = 1,5) anos para toda a amostra e não houve diferença significativa entre os parkinsonianos, com e sem depressão, acompanhados durante esse período. Curvas de sobrevida foram obtidas utilizando-se o método de Kaplan-Meier. A fim de comparar as probabilidades de sobrevivência de acordo com as covariáveis selecionadas, o teste Log-Rank foi usado. A análise multivariada com regressão de Cox foi realizada com o objetivo de estimar o efeito de covariáveis preditivas sobre a sobrevivência. Resultados: A sobrevivência global acumulada dessa amostra foi de 83%, com nove mortes no final do estudo – cinco no grupo com depressão e quatro no grupo sem depressão. Além disso, 55,6% morreram durante o primeiro ano de observação, e nenhum morreu no quarto e quinto ano de acompanhamento. Conclusão: Nossos achados indicam um incremento no risco de morte em pacientes com doença de Parkinson e depressão. 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brazil. 2 Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brazil. Received in 10/19/2013 Approved in 2/4/2013 Address for correspondence: Cláudia Débora Silberman Rua Barata Ribeiro, 774/407, Copacabana – 22051-000 – Rio de Janeiro, RJ, Brazil Telephone: (21) 2236-7989 E-mail: [email protected] Original article INTRODUCTION Parkinson’s disease (PD) is a chronic subcortical neurodegenerative disease which is best diagnosed by motor symptoms and sings. The non motor signs, however, are quite important as they progress contributing to the incapacities that ensue over the course of the disease1. Among the nonmotor symptoms in PD, depression is highly prevalent with rates around 35%2. Several studies have shown that PD exerts a negative impact on the patient’s survival, with a risk ranging from 1.5 to 2.9 as compared to the general population3-8. Likewise, depression has been reported as an independent variable contributing to increase mortality risk9. Indeed, a six-year follow up study with chronic depressed elderly pointed to an incremental mortality risk of 41%10. The severity of the depressive symptoms seems to hold a direct relationship with mortality in the elderly10,11. Based on these data it would be reasonable to present the hypothesis that PD patients with depression would have a lower survival rate than the PD patients without depression. Conversely a previous review yielded only two studies with conflicting results. The early one did not find an association between depression and survival in PD12, whereas Hughes et al.13, reported that depressed PD patients presen ted a 1.64 (CI 1.26-2.99) risk of death as compared to controls. In order to provide more information on this issue, the aim of this study is to evaluate the survival rate in a cohort of PD patients with and without depression. Mortality of depressed parkinsonian patients 9 stages (HY)18. This scale is used when patients were on the on period. All the patients had a normal CT scan. A psychiatrist evaluated the patients to determine a diagnosis of depression according to the DSM-IV criteria19 and its severity as measured by the Montgomery Asberg Depression Rating Scale (MADRS)20 and the Beck Depression Inventory (BECK)21,22. With the use of standard clinical criteria, such as the UK Parkinson’s disease brain bank criteria, accuracy of a clinical diagnosis of the disease can be improved significantly; however, up to 10% of the patients diagnosed with the disease in life will still have to be reclassified at post-mortem examination23. Diagnostic sensitivity and specificity of these criteria have been estimated as 98.6% and 91.1% respectively24. Study design METHOD The study started as a cross-sectional study aiming to compare frontal functions in depressed and nondepressed PD. The methodology of this study is described elsewhere25. In 2008, the whole population was reassessed. Data on death and respective causes were collected in two complementary ways: an active search via telephone contact plus information search in the Mortality Information System, a database held by the Coordination of Vital Data of the Health Department of the State of Rio de Janeiro, Brazil. The data were captured by certificates reports from 2003 to 2007. To prevent mistakes regarding the presence of homonyms the data were compared with the information recorded in our own databank of the cohort. In most cases, the cause of death was not specified. Some causes identified were from cardiovascular causes (like Acute Myocardial Infarction), infectious (pneumonia and septicemia) and pulmonary (obstructive pulmonary disease). Patients Ethics A consecutive series of PD patients (n = 100) were screened in three neurologic outpatient facilities from January 2003 to April 2006. Patients with dementia or with any other neurological or clinical disorders other than PD were not included in the study, as well as subjects with psychiatric disorders other than depression. Smokers and drug addicts were excluded. Patients using antidepressant medications at baseline or who were taking such medications until three months prior to the inclusion interview were also excluded from the study. In order to evaluate the cognitive status and to exclude dementia the Mini-Mental State Examination (MMSE)14 and CAMDEX/ CAMCOG (Cambridge Examination for Mental Disorders of the Elderly15 (required score above 80) were used. We employed a validated Brazilian version of the CAMCOG16. The study was approved by the local Ethics Committee and all the patients signed the informed consent prior to any procedure. A written permission was issued by the Health State Department to access the mortality database. Neurological examination All the patients were examined by a neurologist for a detailed diagnosis of PD according to the United Kingdom Parkinson’s Disease Society Brain Bank (UK-PDS-BB) criteria17. PD staging and severity was ascertained using the Hoehn and Yahr Statistical analysis Descriptive analysis of patient characteristics and initial cognitive tests were carried out to obtain frequency distributions, and the means and standard deviations. The date of inclusion into the cohort was considered as the baseline for the survival analysis of each patient. The primary endpoint was all causes mortality during the follow-up period and survival time was calculated since the cohort inclusion until the death date. All individuals who did not have death registry or who could not be contacted by telephone were censored at the end of data collection period. Follow-up losses were not considered in this study as analyses were based on secondary data, phone contact, and on clinical visits. The annual mortality rates and survival rates were estima ted using the Kaplan Meier method26. In order to compare J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):8-12. Original article Silberman CD et al. 10 survival probabilities according to the selected covariables the Log-rank test was used. Next, a multivariate analysis with Cox regression was performed aiming at estimating the effect of predictive covariables on the survival. Statistical analysis was performed using SPSS17.0 statistic software (SPSS Inc., USA). RESULTS A total of 53 PD subjects met the inclusion criteria for the study and 21 were diagnosed as depressed at the psychiatric examination. Baseline characteristics of the patients with and without depression are shown in table 1. The severity of PD by Hohen an Yahr stages and the presence of depression are shown in table 2. Mean (standard deviation) time of follow up was 3.8 (1.5) years for all the sample and there was no significant difference in mean time of follow up between depressed and nondepressed PD patients. The cumulative global survival of this sample was 83% with nine deaths at the end of the study – five in the depressed and four in the nondepressed group (Table 3). Of note, 55.6% died in the first year of observation, and none died at the fourth and fifth year of follow up (Table 4). The depressed group shows a higher rate of mortality than the nondepressed one as shown in figure 1. Table 5 shows that the Hazard Ratio (HR) for deaths of PD patients with depression is 2.17 higher than for the nondepressed group, although not statistically significant (p = 0.15). Additionally, the better the cognitive status, the lower the death risk is (HR = 0.98), again not statistically significant (p = 0.495). As age and cognitive status are considered confounding variables for examining mortality risk in patients with PD and depression, an analysis was run controlling for these covariables. In this analysis, the mortality HR reached 2.42 in depressed patients (p = 0.103). Table 2. Severity by Hohen and Yahr stages in patients with or without depression Depression Yes 1 9 19.6% 1 2.2% 10 21.7% 2 6 13.0% 3 6.5% 9 19.6% 2.5 9 19.6% 6 13% 15 32.6% 3 4 8.7% 5 10.9% 9 19.6% 3 6.5% 3 6.5% 18 39.1% 46 100.0% 4 Total 28 60.9% Table 3. Distribution of deaths in the sample with and without depression Deaths No No Depression Yes Total 28 4 32 87.5% 12.5% 100% N 16 5 21 % 76.2% 23.8% 100% N 44 9 53 % 83.0% 17.0% 100% % Cummulative % Population at risk Mortality rate Death- 1st year 5 55.6 55.6 53 0.09434 Death- year 2 22.2 77.8 47 0.042553 100 45 0.044444 2nd Death- year 2 22.2 Total 9 100.0 3rd Depression = 0 Nondepressed (n = 32) Mean (standarddeviation) p-value* 68.38 (10.39) 68.55 (8.40) 0.716 Education (years) 2.24 (1.57) 2.38 (1.69) 0.860 Duration of disease (years) 7.76 (5.00) 5.41 (2.81) 0.113 0.50 MMSE** 22.15 (6.73) 22.66 (7.48) 0.534 0.25 CAMCOG*** 58.05 (36.40) 70.97 (27.56) 0.217 MADRS**** 11.57 (9.46) 3.21 (3.79) 0.001 BDI***** 18.95 (11.69) 7.38 (5.24) p < 0.001 J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):8-12. N % Frequency Depressed (n = 21) Mean (standard deviation) * Mann-Whitney U test; ** MMSE: Mini-Mental State Examination; *** CAMCOG: Cambridge Cognitive Examination; **** MADRS: Montgomery Asberg Depression Scale; ***** BDI: Beck Depression Inventory. Total Yes Table 4. Annual frequency and mortality rates Table 1. Sociodemographic and clinical profile of PD patients with and without depression Age Total No 1.00 Depression = 1 Kaplan-Meier survival estimates 0.75 0.00 0 500 1,000 Analysis time Figure 1. Kaplan-Meier survival estimates. 1,500 2,000 Original article Mortality of depressed parkinsonian patients Table 5. Cox regression adjusted only by depression or by depression + age + MEEM Depression only Variable HR SD Z p value CI 95% Depression 2.17 1.17 1.43 0.152 0.751- 6.255 Variable HR SD Z P value CI 95% Depression 2.42 1.31 1.63 0.103 0.837- 7.003 MMSE 0.98 0.03 -0.68 0.495 0.917-1.043 Age 1.04 0.03 1.15 0.249 0.976-1.100 Depression + MEEM + age MMSE: Mini-Mental State Examination; HR: Hazard Ratio; SD: standard deviation; CI: confidence interval; Z: Z statistical test. DISCUSSION The influence of depression on mortality of PD patients is still a matter of debate. PD alone was associated to a threefold increase of the mortality risk compared to non PD in elderly populations3-8. On the other hand, another study which observed a chronically depressed elderly population for 6 years found a 41% increase in the mortality rate compared to nondepressed subjects10. To the best of our knowledge, this is the first Brazilian study and the third study in the world over the last 18 years to address mortality rates in PD comparing depressed and nondepressed patients. Albeit not statistically significant, the HR for mortality in depressed PD patients was 2.45 times higher than in nondepressed ones when we controlled for cognitive status. Another study found that the HR for mortality in depressed PD patients was 2.66 (95% CI: 1.594.44) over 11 years of observation13. Despite the differences in the two studies, such as the presence of a control group, the sample size, and time of follow up, all these results are pointing to the same direction. Of note in our study, half of the deaths occurred in the first year of observation (55.6%), a high rate which might be also associated with the higher age of patients, duration of disease, and worse economic and cultural status of the population27,28. A recent study in a large elderly male population29 has presented convincing data with regards to the direct relationship between mortality and severity of depressive symptoms (dose-response relationship) even when controlled by factors as health status and age. Depression may increase mortality risk by a number of reasons. Firstly, comorbidity with clinical disorders is higher and depression also complicates the course of these disorders30. Secondly, a series of pathophysiological cascades with cytokines (e.g., IL6, alpha TNF) and lower levels of protective factors (e.g., BDNF, IGF1)31 are triggered by depressive states. Inflammatory states are then a possible cause of higher mortality and neurodegeneration. All these factors also are present in PD. 11 So, it remains to be studied the impact of having depression when a neurodegenerative disorder is already diagnosed. There are some limitations in our study which warrant some comments. The first one is the small sample size which possibly impacted in the lack of statistical significance. The absence of a group without PD and depression precluded a better study of the interaction of the two disease and its association with mortality. Moreover, as patients were not actively followed, the presence of follow-up and information biases could not be excluded. In most cases, the cause of death was not specified (there is a serious problem with the completion of death certificates in Brazil). Some causes identified were from cardiovascular causes (like Acute Myocardial Infarction), infectious (pneumonia and septicemia) and pulmonary (obstructive pulmonary disease). CONCLUSION In summary, our finding points towards an incremental death risk in depressed PD patients. Further studies with larger samples are warranted to dissect whether this risk is present and irrespective of other variables, such as depression symptom severity and staging of PD, as well as whether treatment of depression is able to lower this risk. INDIVIDUAL CONTRIBUTIONS Cláudia Débora Silberman – Principal investigator. Contributed to conception, design analysis and interpretation of the data. Also contributed to drafting the article, revising it critically and approval of the final version to be published. Cláudia Soares Rodrigues – Responsible for all statistical calculations. She also contributed to: analysis and interpretation of data, revising the article critically; and had given the final approval of the version to be published. Eliasz Engelhardt – Contributed to conception, analysis and interpretation of the data; revising it critically for important intellectual content; and had given the final approval of the version to be published. Jerson Laks – Contributed to conception, design analysis and interpretation of the data. He also contributed to drafting the article, revising it critically and approval of the final version to be published. ACKNOWLEDGMENTS To the Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) for supporting Jerson Laks, who is a Researcher 2 of CNPq. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):8-12. 12 Silberman CD et al. CONFLICTS OF INTEREST The authors declare no conflict of interest concerning the work presented here. Original article 15. Roth M, Tym E, Mountjoy CQ, Huppert FA, Hendrie H, Verma S, et al. CAMDEX. A standardized instrument for the diagnosis of mental disorder in the elderly with special reference to the early detection of dementia. Br J Psychiatry. 1986;149:698-709. 16. Bottino CMC, Almeida OP, Tamai S, Forlenza OV, Scalco MZ, Carvalho IAM. Entrevista estruturada para o diagnóstico de transtornos mentais em idosos – CAMDEX – The Cambridge examination for mental disorders of the elderly. Brazilian version (translated and adapted on behalf of the editors). Cambridge: Cambridge University Press; 1999. REFERENCES 17. De Rijk MC, Rocca WA, Anderson DW, Melcon MO, Breteler MM, Maraganore DM. A population perspective on diagnostic criteria for Parkinson’s disease. Neurology. 1997;48:1277-81. 1. Hely MA, Morris JGL, Reid WGJ, Trafficante R. Sydney multicenter study of Parkinson’s disea se: non-L-dopa-responsive problems dominate at 15 years. Mov Disord. 2005;20:190-9. 18. Hoehn MM, Yahr MD. Parkinsonism: onset, progression, and mortality. Neurology. 1967;17:427-42. 2. Reijnders JS, Ehrt U, Weber WE, Aarsland D, Leentjens AF. A systematic review of prevalence studies of depression in Parkinson’s disease. Mov Disord. 2008;23:183-9. 19. American Psychiatric Association. Task force on nomenclature and statistics. Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 4th ed. Washington, D.C: American Psychiatric Association; 1994. 3. 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Silberman CD, Laks J, Capitão CF, Rodrigues CS, Moreira I, Vasconcellos LF, et al. Frontal functions in depressed and nondepressed Parkinson’s disease patients: impact of severity stages. Psychiatry Res. 2007;149:285-9. 9. Wulsin LR, Vaillant GE, Wells VE. A systematic review of the mortality of depression. Psychosom Med. 1999;61:6-17. 10. Schoevers RA, Geerlings MI, Deeg DJ, Holwerda TJ, Jonker C, Beekman AT. Depression and excess mortality: evidence for a dose response relation in community living elderly. International J Geriatr Psychiatry. 2009;24:169-76. 11. Schulz R, Beach SR, Ives DG, Martire LM, Ariyo AA, Kop WJ. Association between depression and mortality in older adults. The cardiovascular health study. Arch Intern Med. 2000;160:1761-8. 12. Starkstein SE, Bolduc PL, Mayberg HS, Preziosi TJ, Robinson RG. Cognitive impairments and depression in Parkinson’s disease: a follow up study. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1990;53:597-602. 26. Armitage P, Berry G. Survival analysis. 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Curr Opin Psychiatry. 2008;21:562-7. 14. Folstein MF, Folstein SE, Mchugh PR. Mini mental state: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiatr Res. 1975;12:189-98. 31. Laks J, Engelhardt E. Peculiarities of geriatric psychiatry: a focus on aging and depression. CNS Neurosc Ther. 2010;16:374-9. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):8-12. artigo original Componentes atencionais e de funções executivas em meninos com TDAH: dados de uma bateria neuropsicológica flexível Attentional components and executive functions in children with ADHD: data of a flexible neuropsychological battery Hosana Alves Gonçalves1, Rafael Mattevi Mohr1, André Luiz Moraes1, Larissa de Souza Siqueira1, Mirella Liberatore Prando1, Rochele Paz Fonseca1 RESUMO Palavras-chave Atenção, funções executivas, neuropsicologia, TDAH. Objetivo: Comparar o desempenho de sete meninos com diagnóstico comprovado de TDAH (G1) e 14 controles saudáveis (G2) em tarefas neuropsicológicas. Método: G1 e G2 foram pareados por sexo, idade e escolaridade em tarefas atencionais e executivas (Fluência Verbal e Discurso Narrativo da Bateria MAC, Teste de Cancelamento dos Sinos – versão infantil, Geração Aleatória de Números, Go-no Go do NEUPSILIN-Inf e N-Back auditivo). Resultados: Destacaram-se diferenças entre os grupos quanto à atenção concentrada seletiva, à memória de trabalho, ao automonitoramento, à iniciação e à inibição. Conclusão: Foi possível verificar contribuições incipientes para um raciocínio de relações intercomponentes das FE e atencionais em pacientes com TDAH. ABSTRACT Keywords Attention, executive functions, neuropsychology, ADHD. Objective: To compare the performance of seven boys with a confirmed diagnosis of ADHD (G1) and 14 healthy controls (G2) in neuropsychological tasks. Method: G1 and G2 were matched by gender, age and educational level. They were assessed through attentional and executive tasks (verbal fluency and narrative discourse from MAC Battery, Bells Test – children’s version, Number Random Generation, Go-no Go and auditory N-Back). Results: There were remarkable differences between groups for sustained focused attention, working memory, self-monitoring, initiation and inhibition. Conclusion: Contributions for incipient comprehension of relationships among cognitive components in ADHD patients could be identified. 1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Grupo de Neuropsicologia Clínica e Experimental. Recebido em 2/4/2012 Aprovado em 18/2/2013 Endereço para correspondência: Hosana Alves Gonçalves Rua Professor Cristiano Fischer, 2320/204, Petrópolis – 91410-000 – Porto Alegre, RS, Brasil E-mail: [email protected] 14 artigo original Gonçalves HA et al. INTRODUÇÃO O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um dos quadros psiquiátricos de maior interesse dos pesquisadores em avaliação neuropsicológica infantil. É um dos transtornos mais comuns encontrados entre crianças e adolescentes, e estima-se sua prevalência na população entre 3% e 7%1,2. O portador de TDAH demonstra um padrão de desatenção e/ou hiperatividade mais frequente e grave do que o observado em crianças saudáveis com mesmo nível desenvolvimental. Esse comprometimento, por sua vez, dificulta a realização de processos que envolvam esforço mental por determinado período de tempo1,3,4. Atualmente, estudos neuropsicológicos sugerem que as limitações em quadros de TDAH podem ser verificadas em mais de um domínio cognitivo. As funções mais associadas ao possível prejuízo cognitivo relacionado ao TDAH são atenção5, memória de trabalho6 e componentes de funções executivas7. Mesmo sendo um quadro psiquiátrico bastante estudado na atualidade, alguns sintomas comportamentais do TDAH são verificados na população em geral e ainda existem mitos acerca dos aspectos clínicos do transtorno mesmo entre profissionais que atendem esse público, fatores que podem contribuir para um excesso de falso-positivos desse quadro8. Além disso, parece haver discrepância entre o índice de portadores do transtorno observado quando se utilizam entrevistas baseadas nos critérios do DSM-IV-TR e a avaliação neuropsicológica9. Sabe-se que o TDAH é um transtorno que pode acarretar diversos prejuízos cognitivos que acarretam dificuldades escolares, interpessoais e outros, afetando a qualidade de vida do portador. Contudo, a avaliação neuropsicológica ainda não é plenamente incluída nos protocolos de avaliação clínica desses pacientes e nos estudos científicos. Com essa avaliação, busca-se identificar e descrever os padrões de funcionamento cognitivo típico, esperado de acordo com o nível sociocultural, desenvolvimental e outras diferenças individuais da população9. Além disso, permite caracterizar as funções cognitivas cujo desempenho permanece intacto e aquelas com desempenho prejudicado, possibilitando, assim, compreender as dissociações neurocognitivas presentes no TDAH. De acordo com alguns estudos, componentes das funções executivas (FE) podem estar alterados no TDAH10. Porém, parece não haver um posicionamento claro na literatura sobre quais das habilidades executivas e dos subcomponentes atencionais encontram-se mais prejudicados. Não há clareza, ainda, se as principais defasagens estão mais associadas às tarefas neuropsicológicas que exigem input auditivo-verbal ou visual. Assim, nota-se a necessidade de reconhecer a existência de possíveis dissociações entre esses domínios cognitivos relacionados ao TDAH. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):13-21. Um dos maiores fatores que contribui para essa falta de consenso na literatura sobre um perfil cognitivo específico de crianças com TDAH é a heterogeneidade dos critérios de inclusão das amostras, assim como os diferentes instrumentos selecionados para distintos componentes cognitivos. Sabe-se que o TDAH se destaca por ser um quadro acompanhado de comorbidades que podem dificultar o diagnóstico preciso11. Portadores desse transtorno podem ter déficits específicos de aprendizagem como dislexia12, transtornos de humor e de ansiedade11, transtornos de conduta11, entre outros quadros, tornando mais difícil manter o rigor metodológico de estudos feitos com esses grupos. Ademais, relata-se a existência de outros fatores confundidores do diagnóstico do TDAH, como dificuldades de acuidade auditiva e/ou visual12, desvios específicos de linguagem13 e déficits intelectuais14, embora este último não seja um dado consensual na literatura. Na tentativa de procurar compreender quais habilidades executivas e atencionais diferenciam crianças com TDAH de seus pares saudáveis, no presente estudo buscou-se verificar se há diferenças entre meninos com esse quadro (sem comorbidade identificada) e controles saudáveis em tarefas que mensuram planejamento, organização, busca e manutenção de estratégias bem-sucedidas, executivo central da memória de trabalho, inibição e iniciação e atenção concentrada seletiva. Esse estudo sustenta a hipótese inicial de que o grupo clínico terá desempenho inferior aos controles em todas essas funções. MÉTODO Amostra Participaram deste estudo sete meninos portadores de TDAH recrutados de ambulatórios e clínicas médicas de Porto Alegre/RS, que preencheram os critérios de inclusão, sendo selecionados de uma amostra total de 30 participantes indicados e triados. No grupo clínico (G1) foram incluídos pacientes com TDAH dos tipos combinado (n = 6) ou predominantemente desatento (n = 1) e no grupo controle, 14 meninos saudáveis (G2), em um delineamento 2:1. Os critérios de inclusão do G1 foram pertencer ao sexo masculino, ter entre 7 e 12 anos de idade, ter cursado ou estar cursando pelo menos o primeiro ano do ensino fundamental, ter diagnóstico médico e psicológico recente de TDAH dos tipos predominantemente desatento ou combinado, de acordo com os critérios do DSM-IV-TR2, não ter histórico de repetência escolar e não ter recebido até o momento nenhum tratamento específico para o transtorno. Eles foram selecionados por conveniência no serviço de neuropsicologia do Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia (SAPP) da Faculdade de Psicologia da PUCRS. artigo original Os participantes do G1 receberam diagnóstico de TDAH pela avaliação psiquiátrica, e esse diagnóstico foi confirmado pela K-SADS-PL (Kaufman, Birmaher, Brent, Rao, Flynn, Moreci, Williamson e Ryan, 1997), pelo questionário abreviado de Conners (Barbosa e Gouveia, 1993) e pela SNAP-IV (Mattos, Serra-Pinheiro, Rohde e Pinto, 2006). Foram excluídos 23 participantes do G1 por diferentes fatores: QI inferior a 70 (n = 5), perda auditiva condutiva e/ou neurossensorial (n = 1), diagnóstico de TDAH do tipo predominantemente hiperativo (n = 1), sexo feminino (n = 7), idade superior a 12 anos (n = 1), e tratamento farmacológico atual para o TDAH (n = 8). Para o G2, foram selecionadas crianças sem repetência escolar, sem queixas de aprendizagem, sem déficits sensoriais não corrigidos, ausência de transtornos psiquiátricos e/ ou neurológicos e que pudessem ser emparelhadas às crianças do G1 quanto à idade, ao tipo de escola (pública ou privada), ao nível cognitivo e ao sexo. Os critérios de inclusão foram investigados a partir de entrevistas e administração de instrumentos específicos descritos a seguir. As informações de desempenho cognitivo dos participantes do grupo controle (G2) foram oriundas de um banco de dados de estudos de normatização de instrumentos neuropsicológicos para crianças. Esses participantes foram selecionados por conveniência de escolas da região metropolitana de Porto Alegre e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para pesquisa de normatização aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS. Procedimentos e instrumentos Os pais e/ou responsáveis dos participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e um questionário de dados sociodemográficos e de saúde. Logo após, os professores de ambos os grupos preencheram o Questionário Abreviado de Conners traduzido para o português brasileiro por Barbosa e Gouveia15, com o intuito de assinalar possíveis déficits atencionais e sintomas de hiperatividade referentes à criança. Com o objetivo de descartar prejuízos intelectuais, o G1 respondeu à Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI)16 e o G2, ao Teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven17. Verificados esses critérios, as crianças do G1 foram submetidas a uma avaliação audiológica completa (audiometria tonal, imitanciometria, para exclusão de déficits sensoriais auditivos). Os participantes foram, então, avaliados individualmente em quatro sessões de aproximadamente 50 minutos de duração. A coleta de dados foi feita conforme aprovação do projeto na Comissão Científica (protocolo 06009) e no CEP-PUCRS (09-04864) em salas de atendimento apropriadas para avaliação neuropsicológica (iluminadas e ventiladas, livres de estímulos visuais e auditivos competitivos). Os instrumentos neuropsicológicos utilizados neste estudo são apresentados a seguir. Atenção e funções executivas no TDAH 15 Tarefas de caracterização da amostra Questionário Abreviado de Conners15: este instrumento investiga a presença de sintomas atencionais e de hiperatividade associados ao TDAH. Cada item pode ter pontuação de 0 a 3 (0 = nenhum, 1 = pouco, 2 = razoável, 3 = muito). Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI)16: composta por quatro subtestes (Vocabulário, Cubos, Semelhanças e Raciocínio Matricial), busca fazer uma avaliação do nível intelectual do participante. Neste estudo, utilizou-se a versão breve de aplicação desse instrumento e apenas os subtestes Vocabulário e Raciocínio Matricial foram aplicados. Para fazer parte da amostra deste estudo, os participantes deveriam ter QI igual ou superior a 70. Teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven17: esta tarefa consiste num conjunto de figuras que são mostradas à criança. Ela é uma medida de inteligência geral em que o participante precisa completar a figura-alvo com uma das opções que lhe são apresentadas. Foram incluídas no grupo controle aquelas crianças com percentil igual ou superior a 26. Tarefas neuropsicológicas para exame das funções executivas a) Subtestes de Fluência Verbal da Bateria Montreal de Avaliação da Comunicação – Bateria MAC18. Esta bateria é um instrumento de avaliação de quatro componentes do processamento comunicativo: discursivo, pragmático-inferencial, léxico-semântico e prosódico. Neste estudo, foram utilizadas as tarefas de fluência verbal livre (FVL), fluência verbal fonêmico-ortográfica (FVO) e fluência verbal semântica (FVS), adaptadas para uma versão infantil por Prando19. Na modalidade livre da tarefa de fluência verbal, avaliam-se iniciativa, memória semântica e planejamento de clusters semântico na busca por palavras que se enquadrem nos critérios da tarefa; a criança deve evocar todas as palavras que lembrar, exceto nomes próprios e números, por 2,5 minutos. Na ortográfica, aspectos relacionados à linguagem e uso de estratégias de evocação podem ser analisados, e a criança deve evocar palavras que começam com a letra “p”, em 2 minutos; e na semântica, palavras que sejam roupas/vestimentas, em 2 minutos. Todas as modalidades são subdivididas em blocos de 30 segundos. Calculou-se o escore total de acertos para cada modalidade, além do número de perseverações (repetição da mesma palavra durante a tarefa). As perseverações foram classificadas em graus variando de perseveração de grau 1 até grau 6; quanto menor for o grau da perseveração, mais próxima a palavra foi repetida, logo o erro é mais severo. b) Geração Aleatória de Números (GAN)20. Esta tarefa avalia componentes executivos de inibição, flexibilidade cognitiva e automonitoramento. Consiste na J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):13-21. 16 artigo original Gonçalves HA et al. produção de números ao acaso, dentro de determinado intervalo de tempo. A criança é solicitada a verbalizar números entre 1 e 10 cada vez que ouvir um estímulo sonoro pré-registrado em equipamento de áudio com menômetro. É enfatizado que ela não deve dizer sequências conhecidas de números (por exemplo, 1-2-3 ou 9-8-7) e não deve repetir os números um perto do outro, sendo considerados erros perseverativos os números repetidos até quatro intervalos de estímulos. Primeiramente a tarefa é realizada em velocidade de 2 segundos e posteriormente, de 1 segundo, tendo cada etapa duração de 90 segundos. Calculou-se o número total de acertos por etapa (escores máximos de 45 para 2 segundos e 90 para 1 segundo), bem como escore de perseverações, omissões, intrusões (números que não estivessem entre 1 e 10) e número de sequências diretas e indiretas. c) Subteste Go-no Go do Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve Infantil NEUPSILIN-INF21 para crianças de 6 a 12 anos: avalia subcomponentes das funções executivas como automonitoramento, inibição, iniciação e flexibilidade cognitiva, além de atenção concentrada e seletiva auditiva. Uma gravação de áudio com 60 números aleatórios é apresentada à criança. Ela é orientada a falar “sim” cada vez que ouvir o número 8, mantendo-se em silêncio quando qualquer outro número for apresentado. O Go-no Go é um paradigma que permite observar erros de omissão (quando o participante não responde quando se espera que o faça) e comissão (quando o paciente responde quando se espera que ele não responda). d) Teste de Cancelamento dos Sinos, versão infantil, adaptado da versão canadense para adultos22. Esse instrumento se propõe a avaliar atenção concentrada e seletiva, percepção visual, velocidade de processamento, organização, seleção e manutenção de estratégias bem-sucedidas, além de mostrar-se sensível para a detecção de negligência visual leve e moderada. É apresentada ao participante uma folha com estímulos-alvo (sinos com alça e badalo), distratores relacionados (sinos com apenas alça e sinos com apenas badalo) e distratores não relacionados ao alvo e, em seguida, solicita-se que a criança risque somente os sinos-alvo. Pontuam-se o tempo de realização da tarefa e os escores de erros e acertos. e)N-Back 23. É um dos paradigmas reconhecidos internacionalmente por avaliar o componente executivo central da memória de trabalho por meio de estímulos auditivos e visuais. O teste é composto de quatro etapas: na primeira, a criança precisa repetir o alvo em questão; na segunda, evocar o alvo anterior; na J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):13-21. f) 1. 2. 3. terceira, o alvo apresentado duas vezes antes; e na quarta, evocar o alvo apresentado três vezes antes. Analisam-se, então, o número de acertos até o primeiro erro (span), o número de erros que a criança cometeu para então voltar a acertar e o número total de acertos da tarefa. Tarefa de Discurso Narrativo (DN) da Bateria Montreal de Avaliação da Comunicação – Bateria MAC18,19. A tarefa é composta de três etapas, nesta ordem: Reconto parcial da história: busca-se avaliar a memória episódica, a memória de trabalho e o processamento de inferências discursivo-pragmático nesta tarefa. A criança ouve um texto com informações implícitas e é instruída a ouvir cada parágrafo, recontando-o logo após com suas palavras. Há um escore total de 18 pontos para as informações essenciais lembradas (mais relevantes para o entendimento da narrativa) e de 29 pontos, para as informações presentes lembradas (principais e detalhes); Reconto integral da história: é dada a instrução de que a história será lida novamente, mas sem pausas e, ao final, a criança deverá recontá-la. Um total de 13 pontos é esperado; Avaliação da compreensão do texto: a criança é solicitada a fornecer um título para a história (escore de 0 = título sem relação direta com a história ou inapropriado; 1 = de acordo com a história, mas sem a inferência representada; ou 2 = com representação da inferência); logo após, deve responder a 11 perguntas de compreensão do texto (pontuação máxima = 11). Por fim, a criança decide se quer manter o título fornecido ou se deseja trocá-lo. Ao longo dessas cinco etapas, o examinador deve observar se o participante desencadeou a inferência dos processos implícitos à história. Apenas a variável ocorrência de inferência foi considerada nesse estudo por ser a única relacionada ao funcionamento executivo. Análise de dados Para comparar escores médios do desempenho executivo e atencional entre grupos, utilizou-se o teste Mann-Whitney. O teste Qui-Quadrado foi utilizado para comparar a distribuição entre grupos quanto a variáveis dependentes categóricas (processamento de inferências e estratégia de cancelamento). As análises foram feitas com a versão 17.0 do software estatístico SPSS, considerando-se p ≤ 0,05. RESULTADOS O QI médio dos participantes de G1 foi correspondente a 95,42 (DP = 12,29) e, de acordo com a WASI, esse valor classificaria o QI dos participantes como médio. Já a média do artigo original Atenção e funções executivas no TDAH percentil dos participantes do G2, de acordo com o Raven, foi o equivalente a 85 (DP = 16,15), que corresponde a um desempenho médio superior. As características sociodemográficas e clínicas dos grupos G1 e G2 podem ser observadas na tabela 1. Houve diferença entre grupos apenas no escore do Questionário Abreviado de Conners. Na tabela 2, podem ser observados média e desvio-padrão da quantidade de palavras evocadas em cada bloco de 30 segundos e o total de palavras em cada modalidade das tarefas de fluência verbal, bem como o número de perseverações dos participantes de G1 e G2. Os resultados da tabela 2 indicam que o G1 teve desempenho significativamente inferior ao G2 no número de palavras evocadas no primeiro minuto da modalidade livre da tarefa de fluência verbal. Essas diferenças foram mais eviden- 17 tes nos primeiros 30 segundos da modalidade fonêmico-ortográfica, no segundo bloco da tarefa semântica e no total de palavras evocadas nos três critérios da tarefa. O número de perseverações de grau 5 (palavras repetidas após terem sido primeiramente evocadas três blocos antes) também foi maior no G1. Na tabela 3 estão apresentados os valores médios da discrepância entre cada modalidade da tarefa. De acordo com os resultados da tabela acima, o G1 teve desempenho inferior ao G2 na busca por estratégias bem-sucedidas e na exploração de campos semânticos. Esse resultado sugere que os participantes clínicos desse estudo apresentam menor desempenho na habilidade de iniciação verbal. Na tabela 4, são apresentados os valores de média e desvio-padrão dos grupos nas tarefas GAN, Go-no Go, Teste de Cancelamento dos Sinos e N-Back Auditivo. Tabela 1. Dados de caracterização da amostra G1 G2 P Idade (M/DP) 8,29 (1,38) 8,29 (1,32) 1,000 Ano escolar (M/DP) 2,43 (0,97) 2,64 (1,22) 0,930 Tipo de escola (pública/privada) % 28,6-71,4 28,6-71,4 1,000 Escore total Conners (M/DP) 19,86 (4,70) 2,29 (5,49) 0,001 Escore socioeconômico ABEP* (M/DP) 27,33 (9,93) 27,54 (7,92) 0,840 * Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa. Tabela 2. Resultados qualitativos e quantitativos dos grupos nas tarefas de Fluência Verbal Fluência Verbal Livre Fluência Verbal fonêmico-ortográfica Fluência Verbal Semântica G1 M DP G2 M DP p G1 M DP G2 M DP p G1 M DP G2 M DP p Total Bloco 1 4,71 1,60 9,43 4,73 0, 039 2,57 1,51 5,79 3,40 0,020 Total Bloco 2 3,71 1,89 7,50 3,03 0, 016 1 1,15 2,21 1,92 0,168 5,71 3,09 8,50 2,76 0,060 0,71 0,75 2,79 2,25 0,025 Total Bloco 3 3,00 1,63 5,43 3,39 0, 066 1 1,00 2,14 1,87 0,221 1 1,15 1,07 1,20 0,937 Total Bloco 4 3,43 1,39 5,14 4,43 0, 227 0,86 1,06 1,50 1,22 0,261 0,57 0,78 1,00 1,30 0,569 Total Bloco 5 3,43 3,78 8,21 4,50 0,066 - - - - - - Total Blocos 18,29 8,88 35,7 15,51 0, 023 4,00 2,16 11,50 7,23 0, 006 8,00 2,82 13,36 3,43 0, 004 Pers.* 1 0 0 1,000 0 0 1,000 0 0 1,000 Pers. 2 0,14 0,37 0 0,157 0 0,07 0,26 0,480 0,29 0,75 0,07 0,26 0,558 Pers. 3 0,29 0,48 0,29 0,61 0,802 0 0,07 0,26 0,480 0,14 0,37 0,14 0,36 1,000 Pers. 4 0,14 0,37 0,07 0,26 0,608 0 0 1,000 0,57 1, 13 0,07 0,26 0,177 Pers. 5 0,43 0,53 0 0,010 0,14 0,37 0,07 0,26 0,608 0,084 1,86 0 0, 040 Pers. 6 0 0,07 0,26 0,480 - 0 - - 0 - * Perseveração. Tabela 3. Discrepâncias entre as três modalidades da tarefa de Fluência Verbal G1 G2 M DP M p DP FVL-FVS* 10,28 8,01 21,71 13,95 0,040 FVL-FVO** 14,28 7,84 23,57 15,23 0,232 FVS-FVO*** 4,00 2,51 1,85 5,39 0,214 * Fluência Verbal Livre – Fluência Verbal Semântica ; ** Fluência Verbal Livre – Fluência Verbal Fonêmico-ortográfica ; *** Fluência Verbal Semântica – Fluência Verbal Fonêmico-ortográfica. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):13-21. artigo original Gonçalves HA et al. 18 Tabela 4. Desempenho dos grupos no GAN, no Go-no Go, no Teste dos Sinos e no N-Back G1 GAN Go-no Go Teste de Cancelamento dos Sinos DP M DP Total de acertos/45 (M DP) 23,29 11,499 34 3,34 0,027 Total de pers.*/45 4,43 4,117 4,29 2,92 0,880 Total de omissões/45 9,29 10,420 3,14 2,38 0,070 Total de acertos/90 28,86 18,151 47,14 15,22 0,052 Total de pers./90 6,57 5,533 9,29 5,26 0,330 Total de omissões/90 34,71 18,13 18 13,71 0,031 Total de acertos/60 42,57 12,89 54,71 6,01 0,013 Total de erros de omissão/60 10,43 10,01 3,07 4,48 0, 052 Total de erros de comissão/60 5,57 3,64 2,21 1,96 0, 008 Escore total de omissões 10,57 5,44 5,43 4,10 0, 051 0 1, 000 Escore de erros Sinos sem Badalo 1,29 1,79 0 0, 002 Escore de erros Sinos sem Alça 0,14 0,37 0 0, 157 N-Back 1A (span) 5,86 3,53 8,57 2,73 0, 063 N-Back 1A (total de acertos) 7,00 3,46 9,36 1,08 0, 031 N-Back 1B (span) 3,71 3,49 9,29 0,91 0,011 N-Back 1B (total de acertos) 5,86 3,07 8,14 2,68 0, 004 N-Back 2A (span) 0,71 1,25 4,00 3,23 0, 009 N-Back 2A (total de acertos) 1,71 3,40 4,64 3,43 0, 040 N-Back 2B (span) 0,71 1,25 3,36 3,24 0, 028 N-Back 2B (total de acertos) 1,00 1,91 3,93 3,47 0, 038 N-Back 3A (span) 0,14 0,37 1,21 2,42 0, 586 0 0 1,21 2,42 0, 586 N-Back 3B (span) 0,43 1,13 0,71 1,43 0, 663 N-Back 3B (total de acertos) 0,57 1,51 0,71 1,43 0, 785 N-Back 3A (total de acertos) O G2 tem um desempenho significativamente superior ao G1 no total de acertos nos dois tempos da tarefa GAN, conforme apresentado na tabela 3. Da mesma forma, esses participantes apresentaram maior número de erros tipo omissões/90. No Go-no Go o desempenho do G1 foi inferior em todas as variáveis analisadas. Diferenças significativas apareceram apenas nas partes 1 e 2 do N-Back. Os resultados da avaliação de variáveis qualitativas das tarefas Discurso narrativo e Teste dos Sinos indicaram que não houve diferença significativa entre G1 e G2. Na figura 1, pode-se visualizar o percentual de crianças de ambos os grupos que processaram a inferência do texto (p = 1,00) e o percentual de crianças que utilizaram estratégias organizadas no cancelamento de sinos-alvo. Embora a média de meninos com TDAH tenha sido inferior à dos controles na escolha por estratégias organizadas, essa diferença não foi significativa (p = 0,270). J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):13-21. p M Escore de erros Distratores não relacionados N-Back G2 0 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 57,10% 57,10% 42,90% 28,60% Processamento de inferências no discurso narrativo Grupo TDAH (G1) Estratégia organizada no teste dos sinos Grupo controle (G2) Figura 1. Desempenho dos grupos no Discurso Narrativo e nas estratégias de cancelamento do Teste dos Sinos. artigo original DISCUSSÃO O presente estudo, com caráter preliminar, buscou verificar se há diferenças no desempenho de meninos com TDAH e controles saudáveis em tarefas que mensuram atenção e componentes das funções executivas. Ressalta-se que foram utilizados instrumentos, até onde se sabe, inéditos na clínica neuropsicológica do TDAH. A partir dos resultados comparativos de grupos, observou-se que as crianças com TDAH do tipo desatento ou combinado apresentaram, em geral, desempenho inferior em todas as medidas neuropsicológicas. Quanto às habilidades atencionais, destacaram-se diferenças quanto à atenção concentrada seletiva. Em relação aos componentes executivos, observa-se que meninos com TDAH podem ter mais dificuldades que seus pares sem o transtorno em atividades que exijam iniciação e inibição, automonitoramento e executivo central da memória de trabalho (MT). Essas evidências corroboram achados anteriores de autores que defendem que o déficit inibitório pode ser uma das causas das dificuldades atencionais e executivas de crianças com TDAH1,7. Ambas dificuldades podem influenciar negativamente em situações novas que exigem automonitoramento e envolvimento do componente executivo central da MT24. Isso pode justificar, ao menos parcialmente, o grande número de queixas escolares e cotidianas de manutenção do foco atencional dessas crianças, além de falhas na execução de tarefas escolares que exigem revisão constante. Nas tarefas de fluência verbal, nota-se menor desempenho do grupo clínico nas três modalidades, indicando possíveis dificuldades nas habilidades verbais, mnemônicas e executivas (iniciação, automonitoramento, organização e planejamento verbal). Essa hipótese pode ainda ser confirmada pelo cálculo de discrepância entre FVL e FVS, em que os participantes tiveram média significativamente menor, sugerindo um possível déficit na capacidade de iniciação e de busca lexical em campos semânticos. Tarefas de fluência verbal vêm sendo cada vez mais associadas ao funcionamento executivo na literatura, especialmente no que diz respeito às estratégias de busca para a evocação das palavras. Os resultados deste estudo divergem dos de outros que também usaram a comparação entre TDAH e controles saudáveis25. Tal discordância pode se justificar pelo tempo de execução da tarefa de fluência verbal, que no presente estudo foi de 2 a 2,5 minutos, enquanto tradicionalmente a versão mais aplicada tem duração de 1 minuto. O tempo maior de aplicação desse tipo de tarefa pode ser mais sensível para distinguir a performance de grupos clínicos da de controles26. Os achados deste estudo, embora preliminares, também sugerem que meninos com TDAH têm um número significativamente maior do que seus pares saudáveis em erros de perseveração nas tarefas de FVL e FVS. Nesse contexto, Atenção e funções executivas no TDAH 19 a análise desse tipo de erro é considerada uma importante interpretação na clínica neuropsicológica para avaliar possível comprometimento inibitório e de automonitoramento27. Um estudo de Shuai et al.28 também encontrou maior número de palavras repetidas em tarefas de fluência verbal de meninos com TDAH do que de controles saudáveis. Diversos processos cognitivos parecem estar envolvidos nesse tipo de erro, e o próprio déficit atencional pode acarretar erros de perseveração em tarefas neuropsicológicas. A distância entre a evocação de uma palavra e sua repetição em nosso estudo sugere que, além de processos atencionais e inibitórios, os processos mnemônicos de trabalho podem ter influenciado na quantidade de erros perseverativos significativamente maior no grupo clínico do que no de controles saudáveis. A MT é uma atividade cognitiva complexa que envolve o armazenamento de uma informação por tempo curto e limitado enquanto ela é manipulada29, destacando-se a atua ção do componente executivo central, um dos quatro subsistemas da MT gerenciador atencional que atua sobre dois subsistemas auxiliares: a alça fonológica e o esboço visuoespacial. O desempenho do grupo clínico na tarefa N-Back tende a fortalecer a hipótese de dificuldade executiva e de memória de trabalho, pois o G1 teve desempenho inferior ao do G2 em ambos, N-Back 1 e 2. Como já citado, esse é um déficit esperado para populações com TDAH, e nossos achados corroboram outros estudos que utilizaram esse instrumento em amostras maiores de portadores do transtorno29. Mais especificamente com relação ao executivo central da MT, o N-Back 3 é o nível de maior complexidade de exame desse componente executivo. Assim, não houve diferenças entre os grupos provavelmente pelo fato de esse nível da tarefa ser muito complexo para ambos os grupos, considerando a fase de desenvolvimento dos participantes, o que contribuiu para um possível efeito de chão. Quanto ao controle inibitório, o G1 parece apresentar mais dificuldades em relação ao G2 quando se considera seu desempenho na tarefa Go-no Go. Os resultados nessa tarefa corroboram os encontrados no Teste dos Sinos em relação ao número de omissões e ao cancelamento de distratores relacionados. Outros estudos que usaram o Go-no Go para avaliar crianças com TDAH encontraram diferenças significativas entre pacientes e grupo controle quanto aos erros de comissão, dado que sugere falta de inibição e alta impulsividade29, corroborando nossos achados. Tanto o GAN quando o Go-no Go são ferramentas utilizadas para investigar habilidades de inibição, de atenção concentrada, de flexibilidade cognitiva, de velocidade de processamento e de automonitoramento, pois enquanto recebe o input a criança precisa de autocontrole e revisão constante do seu desempenho para não errar. Percebe-se que em ambas as tarefas o desempenho do G1 foi inferior ao dos controles, principalmente quando a tarefa de GAN exigiu maior velocidade de processamento da criança. Esse J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):13-21. 20 artigo original Gonçalves HA et al. achado reforça os resultados de Bayliss e Roodenrys30, que encontraram diferenças importantes entre crianças com TDAH e controles nessa tarefa, entre outras. Uma tarefa de input externo em que se observou maior quantidade de erros nos meninos com TDAH é o Teste de Cancelamento dos Sinos. Tanto erros de omissão quanto erros do tipo cancelamento de não alvos tiveram escores significativamente maiores no G1, sugerindo rebaixamento atencional e de automonitoramento, em comparação ao grupo controle. Além disso, o fato de diferenças significativas terem ocorrido apenas em relação ao cancelamento de sinos sem badalo pode indicar que esse estímulo seja mais sensível para detectar possíveis déficits atencionais entre crianças com TDAH e controles. No entanto, quanto à escolha por estratégias de cancelamento, não parece haver diferenças entre os dois grupos, sugerindo que crianças com TDAH podem não ter dificuldades de organização e planejamento com estímulos visuais quando há demanda de maior foco atencional. Podem-se relacionar os resultados quantitativos do Teste dos Sinos com os resultados do Go-no Go e do GAN, uma vez que todos exigem automonitoramento e outras funções cognitivas importantes, que, estando prejudicadas, podem gerar déficits funcionais, como nas atividades acadêmicas, observados na maioria dos casos de TDAH31. No que tange às tarefas que mensuraram componentes executivos e mnemônicos associados à linguagem oral, existem na literatura neuropsicológica estudos que defendem que crianças com TDAH têm prejuízos na compreensão da linguagem e em habilidades pragmáticas32. No entanto, na tarefa de DN não foram observadas diferenças entre o G1 e o G2 quanto ao processamento inferencial. A hipótese é que essa diferença não deve ter sido evidenciada por causa do número reduzido de participantes ou pelo fato de a amostra selecionada neste estudo não ter queixas de linguagem. O tamanho da amostra, reduzida por seu caráter preliminar relacionado aos critérios de inclusão eleitos para este estudo, pode ser considerado uma limitação dele, no entanto foi possível verificar contribuições incipientes para um raciocínio de relações intercomponentes das FE em pacientes com TDAH. Apesar de haver desempenho inferior em tarefas que examinam componentes executivos como iniciação, inibição, automonitoramento e executivo central da MT e em processos atencionais seletivos, parece não haver diferenças entre crianças com TDAH e pares saudáveis em habilidades de organização visual e linguístico-pragmáticas. Isso pode ter ocorrido também em virtude do tamanho reduzido da amostra. Esses dados precisam ser confirmados por estudos de ocorrência de déficits com base em normas de instrumentos neuropsicológicos, ainda não encontrados na literatura. Outra limitação deste estudo pode ter sido a amostragem por conveniência de ambos os grupos. No entanto, procurou-se privilegiar a existência de queixas e consequências do J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):13-21. quadro clínico, bem como a motivação familiar e individual para maior adesão à pesquisa, na medida em que cada participante passou por diversas sessões de avaliação. É necessário, ainda, um grande investimento para que se obtenha um panorama específico de quais componentes das FE estão prejudicados em cada tipo de TDAH e nas manifestações desse quadro em diferentes fases do ciclo vital. O aprimoramento teórico e metodológico da neuropsicologia das FE em constante crescimento deve colaborar para que tais desafios sejam alcançados no contexto da avaliação de crianças, adolescentes e adultos com TDAH. Em suma, os resultados deste manuscrito podem contribuir para a literatura nacional sobre aspectos neuropsicológicos do TDAH com base no uso de novos instrumentos, especialmente no uso de testes de fluência livre, uma vez que esse construto é raramente (ou nunca) estudado com portadores de TDAH em nosso meio. Neste estudo foram unidos instrumentos de avaliação ainda não disponíveis para a população científica e clínica brasileiras que estão em fase final de normatização, sendo a princípio sua utilização pioneira nessa população clínica. Além disso, esses dados podem contribuir para a obtenção de evidências preliminares de validade de critério desse conjunto de tarefas, até onde se sabe inéditas na aplicabilidade para o TDAH. Contribuições individuais Hosana Alves Gonçalves – Trabalhou na idealização do estudo, na revisão da literatura, na coleta de dados, na análise e discussão dos resultados e na redação geral do artigo. Rafael Mattevi Mohr – Contribuiu na busca e tabulação dos artigos utilizados como suporte teórico deste estudo, na interpretação dos resultados e na versão final a ser publicada. André Luiz Moraes – Contribuiu nas análises estatísticas e interpretação dos resultados e na revisão geral do artigo. Larissa de Souza Siqueira – Contribuiu na interpretação dos resultados e na redação do artigo. Mirella Liberatore Prando – Contribuiu na idealização do estudo, na análise dos resultados e na revisão geral do artigo. Rochele Paz Fonseca – Contribuiu na concepção e no desenho geral do estudo, revisou todo seu conteúdo intelectual e aprovou a versão final a ser publicada. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de produtividade da orientadora Rochele Paz Fonseca, à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela bolsa de mestrado de Hosana Alves Goncalves; ao Programa de Bolsas de Mestrado e Doutorado (Probolsas) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), pelas artigo original bolsas de doutorado de Larissa de Souza Siqueira e Mirella Liberatore Prando; aos autores do Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve Infantil NEUPSILIN – INF, que contribuíram cedendo o uso para fins de pesquisa de uma das 26 tarefas desse instrumento em fase de publicação; e aos autores da tarefa N-Back, que fez parte da bateria de instrumentos deste estudo. Atenção e funções executivas no TDAH 21 14. Di Trani M, Casini MP, Capuzzo F, Gentile S, Bianco G, Menghini D, et al. Executive and intellectual functions in attention-deficit/hyperactivity disorder with and without comorbi dity. Brain Dev. 2011;33:462-9. 15. Barbosa GA, Gouveia VV. O fator hiperatividade do Questionário de Conners: validação conceptual e normas diagnósticas. Temas: Teoria e Prática do Psiquiatra. 1993;23(46):188-202. 16. Yates DB, Trentini CM, Tosi SD, Corrêa SK, Poggere LC, Valli F. Apresentação da Escala de Inteligência Wechsler abreviada (WASI). Avaliação Psicológica. 2006;5(2):227-33. 17. Angelini AL, Alves ICB, Custódio EM, Duarte WF, Duarte JLM. Matrizes Progressivas Coloridas de Raven: Escala Especial. Manual. São Paulo: CETEPP; 1999. 18. Fonseca RP, Parente MAMP, Côté H, Ska B, Joanette Y. Bateria Montreal de Avaliação da Comunicação – Bateria MAC. São Paulo: Pró-Fono; 2008. REFERÊNCIAS 1. Wahlstedt C. Neuropsychological deficits in relation to symptoms of ADHD: Independent Contributions and Interactions. Child Neuropsychol. 2009;15(3):262-79. 2. 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J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):13-21. artigo original Uso de álcool e tabaco entre estudantes de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo Alcohol and tobacco use among Psychology students at the Federal University of Espírito Santo Marcos Vinícius Ferreira dos Santos1, Denis Soprani Pereira1, Marluce Miguel de Siqueira2 RESUMO Descritores Estudantes universitários, detecção do abuso de substâncias, substâncias psicoativas. Objetivo: Traçar o perfil do uso de álcool e tabaco entre universitários do curso de gradua ção em Psicologia do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo. Métodos: Trata-se de um estudo de corte transversal, com abordagem quantitativa. A população estudada foi de alunos matriculados no referido curso no segundo semestre do ano de 2010, constituindo uma amostra de 221 estudantes. O questionário utilizado foi o mesmo utilizado no I Levantamento Nacional entre Universitários, proposto pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Resultados: A maioria dos estudantes era solteira (90,1%), do sexo feminino (81%), estava na faixa etária de 18 a 24 anos (81%), era da raça/cor caucasoide/branca (57,5%) e 55% referiram pertencer às classes econômicas B1 e B2. Encontrou-se maior prevalência de álcool (85,07%) e tabaco (33,07%) na frequência uso na vida, sendo o uso de álcool maior que na população geral. As substâncias associadas ao uso de álcool na vida foram a maconha (p-valor = 0,007), os tranquilizantes (p = 0,011) e os anfetamínicos (p = 0,045). Já para o uso de tabaco na vida, as substâncias mais associadas foram a maconha (p = 0,0001), os inalantes (p = 0,0001), os alucinógenos (p = 0,0001) e os anfetamínicos (p = 0,001). Conclusão: É necessária maior abordagem nos currículos de graduação, especialmente da Psicologia, sobre o consumo de substâncias psicoativas e seus impactos para o indivíduo, a família e a sociedade, bem como a criação de programas preventivos específicos para estudantes universitários. ABSTRACT Objective: Profiling the use of alcohol and tobacco among the undergraduate students of Psychology at the Center for Human and Natural Sciences of Federal University of Espírito Santo. Methods: The study population were students enrolled in the second semester of 2010 in the psychology undergraduate, comprising a sample of 221 students. The questionnaire used was the same used in the National Survey of College I, proposed by the National Drug Policy Secretariat. Results: Most students were single (90.1%), female (81%) were in 18-24 years (81%), were the white/Caucasian race (57.5%) and 55% reported belonging to social classes B1 and B2. We found a higher prevalence of alcohol (85.07%) and tobacco (33.07%) in the frequency lifetime use, with alcohol consumption greater Recebido em 9/6/2012 Aprovado em 20/2/2013 1 Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPGSC); Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas (CEPAD), UFES, Vitória, ES, Brasil. 2 UFES, PPGSC-UFES, Departamento de Enfermagem; CEPAD-UFES, Vitória, ES, Brasil. Endereço para correspondência: Marcos Vinícius Ferreira dos Santos Rua dos Navegantes, 73, São Pedro – 29030-270 – Vitória, ES, Brasil Email: [email protected] artigo original Keywords Undergraduate students, substance abuse detection, psychoactive substance. Uso de álcool e tabaco por estudantes de psicologia 23 than in the general population. The substances associated with the use of alcohol in his life were marijuana (p-value = 0.007), tranquilizers (p = 0.011) and amphetamines (p = 0,045). As for tobacco use in life, the more substances were marijuana related (p = 0.0001), inhalants (p = 0.0001), hallucinogens (p = 0.0001) and amphetamines (p = 0.001). Conclusion: We need a better approach in undergraduate curricula, especially in psychology course, on the consumption of psychoactive substances and their impacts on the individual, family and society as well as the creation of specific prevention programs for college students. INTRODUÇÃO Substâncias psicoativas (SPA) são substâncias que alteram o comportamento, a consciência, o humor e a cognição, atuando no sistema nervoso central1. Seus efeitos negativos são responsáveis por afetar a estabilidade das estruturas dos Estados e sociedades. As SPA afetam homens e mulheres, independentemente de grupos étnicos, sociais, faixa etária e instrução2. O consumo de álcool, produtos de tabaco e outras drogas é um fenômeno mundial que tem transcendido a categoria de problema de saúde3. O uso de produtos de tabaco afeta 25% da população mundial adulta. Quando comparado às drogas ilícitas, as estimativas apontam que 200 mil mortes por ano são decorrentes do consumo de substâncias ilícitas, enquanto 5 milhões são atribuídas ao uso de tabaco. Em relação ao consumo de álcool, quase 2 bilhões de pessoas no mundo fazem uso dele4. O álcool é responsável por 4% de todas as mortes no mundo; cerca de 2,5 milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência do consumo de álcool, número maior que as mortes causadas pela AIDS/ HIV, tuberculose ou violência física5. Conforme o II Levantamento Domiciliar sobre o uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil – estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país2 –, o álcool e os produtos de tabaco, em comparação às demais substâncias psicoativas, foram as de maior prevalência de uso. E a prevalência de uso na vida de tabaco e álcool foi relatada por 44% e 74,6% das pessoas entrevistadas, respectivamente. Existe na atualidade uma atenção especial a esse uso entre os universitários. O maior uso de álcool e tabaco por essa população específica está relacionado a determinados fatores já identificados, como não possuir religião ou não frequentar celebrações religiosas, morar longe dos pais e apresentar mais horas livres nos dias úteis e alta renda familiar6,7. O ingresso na universidade pode se tornar um período crítico, pois a autonomia que se insere na vida de muitos estudantes é fator gerador de insegurança e de maior vulnerabilidade para o início e a manutenção do uso SPA8. Portanto, conhecer o padrão do uso de SPA dessa população é primordial e deve anteceder à implementação de estratégias de prevenção ao consumo de drogas, pois possibilita o desenvolvimento de políticas públicas, incluindo prevenção e tratamento, com resultados potencialmente mais proveitosos9. O uso de SPA por universitários já foi objeto de diversos estudos envolvendo várias universidades do país. Em uma pesquisa de revisão acerca do uso de SPA entre estudantes do ensino superior entre 1997 e 200710, encontram-se os estudos de prevalência realizados na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), na Universidade de Alfenas (Unifenas), na Universidade Federal de Alfenas (Unifal), na Universidade Federal do Ceará (UFC) e nas Faculdades de Medicina da Bahia (FM-UFBA). A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) também foi cenário de pesquisas semelhantes com universitários dos cursos de Odontologia11, Enfermagem12 e Farmácia13 e Medicina14, onde o álcool foi a substância com maior prevalência de uso seguida pelo tabaco, um resultado relevante e comum a todos os estudos mencionados. No I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras3, observou-se que, em relação ao uso na vida, as drogas relatadas com maior frequência foram: álcool (86,2%) e tabaco (46,7%); enquanto nos últimos 12 meses antecedendo a aplicação do questionário as substâncias mais frequentemente usadas foram: álcool (72,0%) e tabaco (27,8%). Nos últimos 30 dias, as drogas mais frequentemente consumidas foram: álcool (60,5%), tabaco (21,6%), maconha (9,1%), anfetamínicos (8,7%), tranquilizantes (5,8%), inalantes (2,9%) e alucinógenos (2,8%). Os universitários da área da saúde constituem alvo de especial atenção no que se refere ao consumo de SPA. Isso pelo fato de que estarão envolvidos na promoção da saúde e prevenção de diversas morbidades, entre elas a dependência por substâncias psicoativas. Nesse contexto, os universitários do curso de Psicologia, que se insere entre as áreas da saúde e das ciências humanas, devem ter atenção privilegiada, pois, ao exercerem sua profissão, estarão diretamente envolvidos na identificação, prevenção e tratamento de indivíduos com problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):22-30. 24 artigo original Santos MVF et al. De acordo com o exposto, objetiva-se com este estudo traçar o perfil do uso de álcool e tabaco entre os estudantes universitários do curso de Psicologia da UFES. Métodos Trata-se de um estudo quantitativo, de corte transversal, rea lizado no Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN) da UFES, no segundo semestre do ano de 2010 (2010/2). A população estudada foi constituída dos 300 alunos que estavam devidamente matriculados no curso de Psicologia, no período de 2010/2. A amostra foi calculada no software Epi-Info 6.04, com intervalo de confiança de 95%, erro de 5% e prevalência esperada de 30% relativa ao fenômeno que ocorre com menor frequência nesse estudo, que seria o consumo na vida de tabaco, resultando numa amostra de 156 universitários. Como a pesquisa foi realizada com os que estavam presentes em sala de aula no momento da aplicação do instrumento, a amostra foi constituída por 221 estudantes. Inicialmente, enviou-se uma carta à chefia do colegiado de Psicologia solicitando a colaboração dos professores na concessão de 40 minutos de suas respectivas aulas para a aplicação dos questionários. Realizou-se um estudo piloto, a fim de calibrar os aplicadores e identificar possíveis adaptações necessárias ao questionário. A aplicação do questionário foi realizada em sala de aula, por bolsistas de iniciação científica devidamente treinados, com anuência prévia dos professores, após breve explicação dos objetivos do trabalho pelos pesquisadores. Todos que aceitaram participar da pesquisa assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, de acordo com a Resolução nº 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O instrumento utilizado foi o proposto pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) para o I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras3. Esse instrumento é um questionário constituído por 98 questões fechadas, contendo breve explicação sobre a pesquisa. Por meio dele é possível identificar o perfil e o estilo de vida do universitário brasileiro, com ênfase sobre o uso de drogas e seus transtornos, comportamentos de risco e existência de comorbidades psiquiátricas, como sintomas depressivos, persecutórios e de sofrimento psicológico, como também informações acadêmicas, atividades gerais, satisfação e desempenho acadêmico, comportamentos gerais e políticas institucionais. Por meio desse instrumento, o consumo de substâncias psicoativas é identificado de acordo com a classificação da Organização Mundial de Saúde15: • Uso na vida: quando a pessoa fez uso de qualquer droga psicotrópica pelo menos uma vez na vida; • Uso no ano: quando a pessoa utilizou droga psicotrópica pelo menos uma vez nos 12 meses que antecederam a pesquisa; J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):22-30. • Uso no mês: quando a pessoa utilizou droga psicotrópica pelo menos uma vez nos 30 dias que antecederam a pesquisa. Objetivando alcançar a finalidade desta pesquisa, utilizaram-se apenas os dados relativos ao perfil socioeconômico, consumo de substâncias psicoativas e os dados referentes ao Alcohol, Smoking and Substance Involving Screening Test (ASSIST). O ASSIST é um questionário estruturado que contém questões sobre o uso de substâncias psicoativas. As questões abordam: frequência de uso das substâncias (na vida e nos últimos três meses); problemas relacionados ao uso; preocupação a respeito do uso por parte de pessoas próximas ao usuário; prejuízo na execução de tarefas esperadas; tentativas malsucedidas de cessar ou reduzir o uso; sentimento de compulsão e uso por via injetável. A pontuação varia de 0 a 39, sendo para o álcool considerada a faixa de pontuação de 0 a 10 como indicadora do uso sem risco; de 11 a 26 como indicadora do uso de risco moderado; e quando superior a 27 pontos, indicadora de uso de alto risco para o desenvolvimento de dependência, com necessidade de encaminhamento para tratamento intensivo. Para outras substâncias psicoativas, as pontuações respectivamente necessárias para uso sem risco, uso de risco moderado e uso de alto risco são: 0-3 pontos; 4-26 pontos e superior a 27 pontos16. Os dados foram analisados com o auxílio do programa Statistical Package for the Social Science (SPSS 17). Foram utilizadas a análise univariada para a descrição das variáveis quantitativas relacionadas ao perfil socioeconômico e a análise bivariada para verificar a associação entre o uso de SPA lícitas (álcool e tabaco) e as variáveis independentes (sexo, idade, religião e nível socioeconômico) por meio do teste Qui-quadrado com nível de significância de 5%. Este estudo integra o projeto de pesquisa intitulado “Uso de Substâncias Psicoativas entre Universitários do Curso de Psicologia”, que foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFES, de acordo com os dispositivos da Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde sobre Pesquisa com Seres Humanos. RESULTADOS Participaram deste estudo 221 estudantes, o que corresponde a 73,66% de todos os alunos matriculados no período. Conforme a tabela 1, a maioria dos estudantes era solteira (90,1%), do sexo feminino (81%), estava na faixa etária de 18 a 24 anos (81%), era da raça/cor caucasoide/branca (57,5%). Acerca do nível socioeconômico, 55% referiram pertencer às classes econômicas B1 e B2. Quanto à religião, houve predomínio de católicos (41,18%) e evangélicos/protestantes (24,9%), e os que não possuem religião (21,27%). Quando se tratou de atividade remunerada, 53,15% referiram exercer atividade remunerada, no mínimo 20 horas semanais, no período de aplicação da pesquisa. artigo original Uso de álcool e tabaco por estudantes de psicologia Tabela 1. Perfil socioeconômico dos estudantes de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2011 Variável socioeconômica N % Masculino 38 17,2 Feminino 179 81 4 1,8 221 100 Sexo Não informado Total Faixa etária Até 17 anos 12 5,42 De 18 a 24 anos 179 81 De 25 a 34 anos 18 8,14 Acima de 35 anos 9 4,07 Não informado 3 1,37 221 100 2 0,9 Total Nível socioeconômico A1 A2 12 5 B1 56 25 B2 66 30 C1 52 24 C2 25 11,3 D 7 3,2 E 1 0,5 221 100 Total Estado civil 25 Na tabela 2 podem ser observados os dados de prevalência de uso de diversas substâncias psicoativas, nos quais se nota que as mais consumidas foram as substâncias lícitas. Na vida, as substâncias mais usadas foram, respectivamente, álcool (85,07%), tabaco (33,03%), tranquilizantes (20,81%), maconha (17,19%) e os inalantes (10,41%); no ano, álcool (63,80%), tabaco (19,91%), maconha (12,22%), tranquilizantes (8,6%), inalantes (1,81%) e anfetamínicos (1,81%); no mês, álcool (52,49%), tabaco (13,12%), maconha (9,05%), tranquilizantes (3,62%) e posteriormente anfetamínicos, alucinógenos e analgésicos opiáceos, com 1,36% de prevalência cada. Quanto ao uso de SPA lícitas segundo a idade de experimentação, a faixa etária de maior prevalência para o álcool foi a de 15 a 17 anos (48,6%), seguida pela de 12 a 14 anos (32,6%), com idade média de experimentação de 14,84 anos, com idade mínima de 5 e máxima de 21 anos. Para o tabaco, a faixa etária de maior prevalência foi a de 18 anos ou mais (37,9%) seguida pela faixa de 15 a 17 anos (33,3%), e a média foi de 16,55 anos, com mínima de 9 e máxima de 24 anos. Tabela 2. Uso de substâncias psicoativas entre estudantes de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2011 Substância psicoativa Uso na vida Uso no ano Uso no mês N % N % N % Casado 18 8,1 Solteiro 199 90,1 Álcool 188 85,07 141 63,8 116 52,49 Separado 2 0,9 Tabaco 73 33,03 44 19,91 29 13,12 Não informado 2 0,9 221 100 Tranquilizantes 46 20,81 19 8,6 8 3,62 Total Religião Maconha 38 17,19 27 12,22 20 9,05 Inalantes 23 10,41 4 1,81 2 0,9 Anfetamínicos 13 5,88 4 1,81 3 1,36 Não tenho 47 21,27 Católica 91 41,18 Espírita 19 8,6 Alucinógenos 12 5,43 8 3,62 3 1,36 Analgésicos opiáceos 8 3,62 6 2,71 3 1,36 Umbanda/candomblé 1 0,45 Evangélica/protestante 55 24,9 Codeína 8 3,62 3 1,36 2 0,9 0,45 Cocaína 6 2,71 2 0,9 2 0,9 0,45 0 0,00 Judaica 1 Outras 4 1,8 Ecstasy 4 1,81 1 Não informado 3 1,35 Drogas sintéticas 3 1,36 0 0 0 0,00 221 100 Chá de ayahuasca 3 1,36 1 0,45 0 0,00 Branco 127 57,5 Sedativos 3 1,36 1 0,45 0 0,0 Negro 16 7,2 Esteroides anabolizantes 2 0,9 2 0,9 1 0,45 Mulato/Pardo 71 32,1 Anticolinérgicos 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Asiático/amarelo 2 0,9 Total Raça/Cor Cetamina 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Crack 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Heroína 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Índio 2 0,9 Outras 1 0,5 Não informado 2 0,9 Merla 0 0,00 0 0,00 0 0,00 100 Relevin 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Total 221 J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):22-30. artigo original Santos MVF et al. 26 A tabela 3 mostra o padrão do uso de risco (de moderado a alto) de álcool e tabaco, conforme a classificação obtida pela pontuação do ASSIST. O valor percentual apresentado na tabela é relativo ao total de indivíduos pertinentes a cada categoria analisada. Foi detectado que 16,3% dos estudantes usaram álcool com esse padrão e que 4,07% usaram tabaco dessa forma. Quanto ao uso com risco, moderado ou alto, para álcool pode-se observar que 16,2% das mulheres, 15,8% dos homens, 23,4% dos que não têm religião, 21% dos esTabela 3. Perfil do uso de risco de álcool e tabaco entre estudantes de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, conforme ASSIST. Vitória. ES, 2011 Álcool Variável Tabaco N (%) N (%) 36 16,3 9 4,07 Feminino 29 16,2 7 3,9 Masculino 6 15,8 2 5,3 Não respondeu 1 - 0 0,0 Não tenho religião 11 23,4 4 8,5 Espírita 4 21 1 5,3 Católica 17 18,6 3 3,3 Evangélico/protestante 3 5,4 0 0,0 Umbanda/candomblé 1 100 1 100 De 18 a 24 anos 35 19,5 8 4,5 De 25 a 34 anos 1 5,5 1 5,5 Outras faixas etárias 0 0,00 0 0,00 Sim 19 16 7 5,88 Não 16 15,7 2 1,96 Uso de risco Sexo Religião Faixa etária píritas e 19,5% dos incluídos na faixa etária de 18 a 24 anos fizeram esse tipo de uso; já para o tabaco, 3,9% das mulheres, 5,3% dos homens, 8,5% dos que não têm religião, 5,3% dos espíritas. Dos que exerciam algum tipo de atividade remunerada, 5,88% usaram tabaco com padrão de risco e 1,96 dos que não exerciam usaram tabaco dessa forma. A tabela 4 apresenta a associação entre o uso na vida de SPA lícitas e uso na vida de SPA ilícitas. Observou-se que as substâncias associadas ao uso de álcool na vida foram a maconha (p = 0,007), os tranquilizantes (p = 0,011) e os anfetamínicos (p = 0,045). Já para o uso de tabaco na vida, as substâncias mais associadas foram a maconha (p = 0,0001), os inalantes (p = 0,0001), os alucinógenos (p = 0,0001) e os anfetamínicos (p = 0,001). As SPA ilícitas associadas ao uso na vida de tabaco (maconha, inalantes, alucinógenos e anfetamínicos) foram também associadas ao uso na vida de álcool e tabaco, possuindo o mesmo resultado do teste Qui-Quadrado. Na tabela 5, é possível verificar o uso na vida de álcool e tabaco relacionado às variáveis: sexo, idade, religião e nível socioeconômico. O percentual discriminado na tabela refere-se ao total de indivíduos pertinentes a cada categoria analisada. O uso de álcool não apresentou relação com as variáveis sexo (p = 0,119), religião (p = 0,561) e nível socioeconômico (p = 0,189), mas apresentou relação a variável idade (p = 0,001). Já para uso na vida de tabaco, assim como o uso de álcool e de tabaco associado, observou-se associação com religião (p = 0,022) e idade (p = 0,001). DISCUSSÃO Atividade remunerada Notou-se a prevalência de universitários do sexo feminino (81%), corroborando outros estudos12,23-25, que também encontraram prevalência de estudantes do sexo feminino. Tabela 4. Uso na vida de SPA lícitas em relação ao uso de SPA Ilícitas entre estudantes de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2011 Uso na vida de SPA ilícita Uso na vida Maconha n (%) Inalantes p-valor n (%) p-valor Cocaína n (%) Alucinógenos p-valor n (%) p-valor Tranquilizantes n (%) p-valor Anfetamínicos n (%) p-valor Álcool Sim 38 (100%) Não 0 (0%) 0,007 22 (96%) 1 (4%) 0,283 6 (100%) 0 (0%) 0,693 12 (100%) 0 (0%) 0,055 44 (98%) 1 (2%) 0,011 13 (100%) 0 (0%) 0,045 Tabaco Sim 35 (92%) Não 3 (8%) 0,0001 18 (78%) 3 (22) 0,0001 5 (83,3%) 1 (16,7%) 0,011 12 (100%) 0 (0%) 0,0001 18 (40%) 27 (60%) 0,298 10 (77%) 3 (23%) 0,001 Álcool e tabaco Sim 35 (92%) Não 3 (8%) J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):22-30. 0,0001 18 (78%) 3 (22) 0,0001 5 (83,3%) 1 (16,7%) 0,011 12 (100%) 0 (0%) 0,0001 18 (40%) 27 (60%) 0,298 10 (77%) 3 (23%) 0,001 artigo original Uso de álcool e tabaco por estudantes de psicologia 27 Tabela 5. Uso na vida de álcool e tabaco entre estudantes de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, segundo sexo, idade, religião e nível socioeconômico – Vitória-ES, 2011 Variável Álcool (n = 188) n (%) Tabaco (n = 73) n (%) Álcool e tabaco (n = 73) n (%) Sexo p-valor = 0,119 p-valor = 0,593 p-valor = 0,593 Masculino 34 (89,5%) 18 (47,3%) 18 (47,3%) Feminino 150 (83,8%) 51 (28,5%) 51 (28,5%) n=4 n=4 n=4 p-valor = 0,561 p-valor = 0,022 p-valor = 0,022 45 (95,75%) 25 (53,2%) 25 (53,2%) Católica 81 (89%) 27 (26,7%) 27 (26,7%) Evangélica/protestante 38 (69%) 9 (16,4%) 9 (16,4%) Outras 21 (84%) 10 (40%) 10 (40%) Não informado Religião Não tenho religião Não informada Idade Até 18 anos n=3 n=2 n=2 p-valor = 0,001 p-valor = 0,001 p-valor = 0,001 30 (73,2%) 10 (24,4%) 10 (24,4%) 19 a 24 anos 132 (88%) 51 (34%) 51 (34%) 25 a 34 anos 16 (88,9%) 6 (33,3%) 6 (33,3%) 35 ou mais anos 7 (77,8%) 4 (44,4%) 4 (44,4%) Não informado Nível socioeconômico A1 n=3 n=2 n=2 p-valor = 0,109 p-valor = 0,189 p-valor = 0,189 2 (100%) 1 (50%) 1 (50%) A2 12 (100%) 7 (58,3%) 7 (58,3%) B1 45 (80,4%) 13 (23,2%) 13 (23,2%) B2 59 (89,4%) 26 (39,4%) 26 (39,4%) C1 46 (88,5%) 15 (28,8%) 15 (28,8%) C2 18 (72%) 7 (28%) 7 (28%) D 5 (71,4%) 3 (72,8%) 3 (72,8%) E 1 (100%) 1 (50%) 1 (50%) Encontrou-se também predomínio da faixa etária de 18 a 24 anos (81%), da raça/cor caucasoide/branca (57,5%) e pertencentes às classes socioeconômicas B1 e B2 (55%). Acerca da religião, houve predomínio de católicos (41,18%) e evangélicos/protestantes (24,9%) e os que não possuem religião (21,27%). Resultados semelhantes foram encontrados no I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras3, no qual foi encontrado predomínio da faixa etária de 18 a 24 anos (58%), da raça/cor caucasoide/branca (61,6%) e pertencentes às classes econômicas B1 e B2 (49,1%), da religião católica (50,0%), seguida da evangélica (17,4%) e espírita (8,9%), e 14,9% dos universitários respondentes relataram não seguir nenhuma religião. Quanto à faixa etária, os dados concordam com Kerr-Correa et al.17, que encontraram em seu trabalho predomínio de faixas etárias jovens. Alguns estudos realizados na UFES11-14 também se aproximam dos resultados desta pesquisa, já que a maioria dos estudantes pertencia à faixa etária de 18 a 24 anos e à classe socioeconômica B. Em relação ao uso de SPA, as lícitas foram as mais prevalentes. Dessa forma, esta pesquisa corrobora estudos realizados entre a população geral2, entre universitários brasileiros3,17-19 e com universitários da UFES11-14. Na vida, as substâncias mais usadas foram, respectivamente, álcool (85,07%), tabaco (33,03%), tranquilizantes (20,81%) e maconha (17,19%); no ano, álcool (63,80%), tabaco (19,91%), maconha (12,22%) e tranquilizantes (8,6%); no mês, álcool (52,49%), tabaco (13,12%), maconha (9,05%) e tranquilizantes (3,62%). Observou-se a prevalência de uso na vida de álcool de 85,07%, dado semelhante ao encontrado por Kerr-Côrrea et al.17, que detectaram prevalência de 84% para o uso na vida dessa substância entre estudantes de Medicina da Unesp, como também por Mardegan et al.12, que constataram prevalência de 82,1% para o uso na vida de álcool entre estudantes de enfermagem da UFES. As prevalências de uso de álcool obtidas em nossa pesquisa são superiores às da população geral. Carlini et al. encontraram no II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):22-30. 28 Santos MVF et al. Drogas Psicotrópicas no Brasil2 as prevalências de 74,6% (vida), 49,8% (ano) e 38,3% (mês). Laranjeira et al., em um levantamento sobre uso de álcool na população geral, constataram que 52% dos brasileiros acima de 18 anos beberam pelo menos uma vez ao ano, sendo essa prevalência menor do que a constatada pelo presente estudo (63,80%), em que a maioria possui 18 anos ou mais (93,2%). Contudo, o uso de álcool foi inferior ao constatado em universitários brasileiros3. Já em outra pesquisa19 realizada com 538 estudantes, em que 48,9% da amostra era de universitários do curso de Psicologia, as prevalências de uso do álcool foi de 96,7% (vida), 67,6% (ano) e 76,6% (mês) e para o tabaco foi de 65,1% (vida), 37,9% (ano) e 45,5% (mês), dados superiores aos que encontramos nos universitários de psicologia da UFES. A prevalência do uso do tabaco obtida se diferencia das prevalências detectadas por outras pesquisas. Em estudos realizados entre a população geral2 e entre universitários brasileiros3,13,17-19,23,25, as prevalências de uso (vida, ano e mês) são superiores, como exemplificado pelo trabalho de Chiapetti e Serbena19 com universitários do curso de Psicologia, que detectou altas prevalências de uso de tabaco de 65,1% (vida), 37,9% (ano) e 45,5% (mês). Pesquisas realizadas com estudantes de Odontologia11, Medicina14 e Enfermagem12 da UFES detectaram que o uso na vida para o tabaco foi inferior a 33,03%, valor encontrado no presente estudo. Em relação ao uso de SPA ilícitas no ano e no mês, corroboramos os dados obtidos pelo II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil2, pelo I Levantamento Nacional entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras3, como também por Chiapetti e Serbena19, que detectaram a maconha como SPA ilícita mais prevalente. Todavia, quanto ao uso na vida, nosso estudo se diferencia dos anteriormente citados por encontrar maior uso de tranquilizantes (20,81%), explicado por ser a maioria dos universitários pesquisados do sexo feminino, pois, conforme Wagner et al.26, as mulheres usam mais medicações com potencial de abuso que os homens. Em estudos com estudantes de enfermagem, assim como este de maioria feminina, obtiveram-se achados discordantes no que diz respeito às SPA mais usadas (exceto álcool e tabaco). Como exemplo, há a pesquisa realizada na Universidade Federal de Passo Fundo23, na qual as substâncias mais prevalentes na vida, no ano e no mês (exceto álcool e tabaco) foram os estimulantes e os benzodiazepínicos, e o estudo conduzido na Universidade Federal do Espírito Santo12, que encontrou os ansiolíticos e anfetamínicos como as substâncias mais consumidas na vida, no ano e no mês após as SPA lícitas. A Universidade Católica de Minas Gerais24 também foi cenário de estudo semelhante, sendo os ansiolíticos e inalantes após álcool e tabaco as substâncias mais usadas na vida. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):22-30. artigo original Sobre o uso de SPA lícitas segundo a idade de experimentação, observou-se que houve predomínio de experimentação antes dos 18 anos, tendo 81% dos universitários experimentado álcool e 62% experimentado tabaco com idade inferior a 18 anos. Os achados deste estudo se relacionam à posição de autores como Baus et al.20, Kerr-Corrêa et al.17 e Tavares et al.21, pois afirmam que a introdução no consumo de substâncias tem ocorrido cada vez mais precocemente. Mesmo que legalmente a idade mínima para compra de bebidas alcoólicas no Brasil seja de 18 anos, 80,8% dos respondentes já haviam experimentado alguma bebida alcoólica antes dos 18 anos de idade (48,6% entre 15 e 17 anos e 32,6% entre 12 e 14 anos), semelhante ao que se notou no I Levantamento Nacional entre Universitários3, em que 54% dos entrevistados já haviam experimentado alguma bebida alcoólica antes dos 16 anos de idade. Corroborando esses dados, Laranjeira et al.9 encontraram que a população brasileira entre 18 e 25 anos teve média de 15,3 anos para idade de experimentação e de 17,3 anos para início de consumo regular de álcool. Enquanto isso, os menores de 18 anos tiveram idade média de 13,9 anos para idade de experimentação e de 14,6 anos para início de uso regular. Detectou-se que 16,2% das mulheres, 15,8% dos homens e 19,5% dos incluídos na faixa etária de 18 a 24 anos têm risco, de moderado a alto, de desenvolver dependência do álcool. Então, em nossa pesquisa, o sexo feminino teve maior uso com padrão de risco (no mínimo moderado) e o sexo masculino e os pertencentes à faixa etária de 18 a 24 anos tiverem um uso menor, em relação ao que se observou no I Levantamento Nacional entre Universitários3, em que 13,62% das mulheres, 26,9% dos homens e 25,3% incluídos na faixa etária de 18 a 24 anos obtiveram pontuação indicativa de risco moderado a alto. Evidenciou-se a relação do uso na vida de álcool, tabaco e ambas as drogas ao uso na vida de SPA ilícitas (maconha, inalantes, cocaína, alucinógenos, anfetamínicos e tranquilizantes) com significância estatística. O uso de álcool na vida associou-se estatisticamente com o uso na vida de maconha, tranquilizantes e anfetamínicos. Nota-se que o uso de tabaco, em relação ao do álcool, manteve maior associação com o uso na vida de SPA ilícitas. Maconha, inalantes, cocaína, alucinógenos e anfetamínicos estiveram associados ao uso na vida de tabaco e mantiveram a associação com experimentação de álcool e tabaco. As frequências de uso na vida (de tabaco e outra SPA ilícita) são iguais às de uso na vida (de álcool e tabaco e outra SPA ilícita), evidenciando que todos os que usaram tabaco na vida também fizeram uso de álcool na vida. A maconha esteve mais associada ao uso na vida de álcool (p = 0,007), tabaco (p = 0,0001) e álcool e tabaco (p = 0,0001); esse resultado pode estar relacionado ao fato de a maconha ser uma das SPA ilícitas mais prevalentes2-4,11-14,17-20 e também aos achados de Ortega-Perez et al.22, que encon- artigo original traram a maconha como terceira droga com maior uso e a primeira ilícita a ser usada na vida, quando questionaram estudantes universitários sobre a ordem do uso e experimentação de SPA. Verificou-se a associação da variável experimentação do álcool com a variável idade (p = 0,001). Contudo, não esteve associada a religião (p = 0,119) e sexo (p = 0,561), dessa forma, em relação à variável sexo, concorda-se com Silva et al.6. O tabaco esteve associado às variáveis religião (p = 0,022) e idade (p = 0,001). Mais da metade (53,2%) dos que não possuíam religião usou pelo menos uma vez na vida essa substância, seguida pelos católicos, dos quais 26,7% usaram tabaco ao menos uma vez na vida, e por último os protestantes, com 16,4%. Esses dados divergem do estudo de Silva et al.6, no qual o uso de álcool apresentou relação com o tipo de religião praticada (p < 0,001), mas não com o uso de tabaco. Pesquisas apontam a religião como fator de proteção em relação ao uso de substâncias psicoativas27-30. Funai e Pillon30 afirmam que o consumo de álcool entre estudantes universitários e o comportamento religioso são temas complexos, importantes, ainda pouco explorados e de difícil mensuração. Segundo Dalgalarrondo et al.27, os protestantes históricos e os pentecostais apresentam relativamente menor uso das SPA do que os católicos e os espíritas. As pesquisas que envolvem religião e saúde, em sua maioria, não têm a religião como foco do estudo31. Contudo, ao longo dos últimos anos, dados quantitativos vêm apontando íntima relação da religião com a prevenção do consumo de drogas, evidenciando a existência de uma associação positiva entre o não consumo de drogas e a prática de alguma religião27. Mais de 80% dos estudos publicados antes de 2000 que investigaram a relação entre religiosidade e uso de SPA encontraram correlação inversa entre essas variáveis32. Uso de álcool e tabaco por estudantes de psicologia 29 sobre a criação de programas preventivos específicos para estudantes universitários. Contribuições individuais Marcos Vinícius Ferreira dos Santos – Contribuiu na análise e interpretação dos dados, na elaboração do artigo e na aprovação da versão final a ser publicada. Denis Soprani Pereira – Contribuiu na concepção e no desenho do estudo, na elaboração do artigo, na análise dos dados e na aprovação da versão final a ser publicada. Marluce Miguel de Siqueira – Contribuiu na concepção e no desenho do estudo, na revisão crítica do conteúdo intelectual e na aprovação da versão final a ser publicada. CONFLITOS DE INTERESSE Declaramos que não existem conflitos de interesses pes soais, comerciais, acadêmicos, políticos e/ou financeiros neste manuscrito. AGRADECIMENTOS Agradecemos à Profa. Ms. Kellen Dettmann Wandekoken e a Profa. Dra. Luziane Zacché Avellar, que contribuíram de forma significativa para a melhoria da versão final deste trabalho, e também aos membros da equipe CEPAD-UFES, que forneceram apoio técnico-administrativo para execução dele. REFERÊNCIAS CONCLUSÃO Atualmente, o consumo de substâncias psicoativas (SPA) entre universitários recebe atenção de vários pesquisadores, principalmente porque as consequências negativas decorrentes do uso de SPA no percurso acadêmico poderão influenciar o exercício profissional desses estudantes. Os resultados obtidos subsidiarão a elaboração de medidas de prevenção do uso de substâncias psicoativas nessa população, sendo essas mais eficazes quando paralelas à identificação dos estudantes mais expostos, vulneráveis ou em potencial risco para abuso ou dependência de substâncias psicoativas. Dessa forma, espera-se uma maior abordagem nos currículos de graduação sobre o consumo (uso, abuso e dependência) de substâncias psicoativas e seus impactos para o indivíduo, a família e a sociedade, bem como 1. World Health Organization. Nomenclature and classification of drug and alcohol-related problems: a WHO memorandum. Bull World Health Org. 1981;59:225-45. 2. 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Objetivo: Descrever as características da hospitalização integral para o tratamento de transtornos alimentares em um serviço especializado de Ribeirão Preto, SP. Métodos: Foram revisados todos os prontuários dos pacientes em seguimento pelo serviço, de 1982 até 2011, especialmente aqueles que tiveram indicação de internação integral. Foram coletados dados sociodemográficos e referentes ao diagnóstico. Resultados: No período referido, 186 pacientes receberam atendimento pelo serviço e, desses, 44,6% (n = 83) foram internados para tratamento. Ao longo do tempo, houve redução na relação atendimento/internação, passando de 77,7% para 36,2% dos casos. A média de internações foi de 1,9 ± 3,9 vezes, e 73,5% (n = 61) dos pacientes foram hospitalizados apenas uma vez. A duração média da internação, independentemente do número de hospitalizações, foi de 70,6 ± 115,9 dias (variação de 3 a 804 dias). A predominância foi do sexo feminino, raça branca, solteira, sem filhos e com idade média de 23,3 ± 10,8 anos. O diagnóstico predominante foi de anorexia nervosa (85,5%), sobretudo em seu tipo restritivo (54,2%). As indicações mais frequentes para internação foram para realização de terapia nutricional (50,9%), seguida da investigação do quadro clínico (30,1%) e por causa de depressão e/ou ideação suicida (10,9%). Conclusão: A hospitalização integral é uma modalidade terapêutica necessária para o tratamento desses quadros, e sua frequência foi considerada significativa, porém diminuiu ao longo do tempo. Esse resultado pode ser explicado pela tendência de desospitalização a partir da reforma psiquiátrica, do diagnóstico e tratamento mais precoces e da experiência adquirida pelos profissionais do serviço ao longo dos anos. ABSTRACT Objective: To describe the characteristics of inpatient treatment for eating disorders in a specialized service in Ribeirao Preto, SP. Methods: We reviewed all the medical records of patients followed up for the service between 1982 and 2011, particularly those who received inpatient treatment. Sociodemographic data and related to diagnosis were collected. Results: In the said period, 186 patients were treated by the service and 44.6% (n = 83) Recebido em 18/9/2012 Aprovado em 20/2/2013 1 Universidade de São Paulo (USP), Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem em Saúde Pública. 2 USP, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP). 3 USP-EERP, Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública. Endereço para correspondência: Raphaela Fernanda Muniz Palma Rua Malachias José dos Santos, 42, Jardim Independência 14076-210 – Ribeirão Preto, SP, Brasil E-mail: [email protected] 32 artigo original Palma RFM et al. Keywords Eating disorders, inpatient treatment, anorexia nervosa, bulimia nervosa. were hospitalized for treatment. A reduction was observed in hospitalization rates of 77,7% to 36,2% over time. The average hospitalization was 1.9 ± 3.9 times of which 73.5% (n = 61) patients were hospitalized only once. The mean duration of hospitalization, regardless of the number of hospitalizations was 70.6 ± 115.9 days (range 3-804 days). Most patients were female, Caucasian, unmarried, childless and with a mean age of 23.3 ± 10.8 years old. The predominant diagnosis was anorexia nervosa (85.5%), especially in its restrictive type (54.2%). The most common indications for hospitalization were for nutritional support therapy (50.9%), followed by the clinical research (30.1%) and due to depression or suicidal ideation (10.9%). Conclusion: Inpatient treatment was a therapeutic modality required for treatment of these patients and their frequency was significant, but decreased over time. This result can be explained by the trend of deinstitutionalization from the psychiatric reform, earlier diagnosis and treatment and the experience gained by service professionals over the years. INTRODUÇÃO Os transtornos alimentares (TA) são doenças graves e complexas cuja etiologia é multifatorial, envolvendo fatores genéticos, fisiológicos, psicológicos e ambientais. Dessa forma, torna-se imprescindível o olhar atento e multifacetado para o manejo terapêutico que se apresenta, quase sempre, bastante desafiador, requerendo abordagem de uma equipe multidisciplinar bem treinada em serviços especializados1. Os TA mais conhecidos e discutidos são a anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN). O nível de cuidado apropriado para o paciente é determinado no momento do seu diagnóstico inicial e, posteriormente, sempre que uma mudança relevante em sua condição exija transição para um nível diferente. As configurações incluem o seguimento ambulatorial, tratamento domiciliar, hospitalização parcial em hospitais-dia e hospitalização integral para pacientes graves que apresentam complicações agudas da doença. Ao determinar o nível inicial de atendimento ou a mudança para um nível diferente de cuidados, é essencial analisar em conjunto a condição física geral, complicações médicas, deficiências, comorbidade psiquiátrica, comportamento, interação familiar, recursos sociais, meio ambiente e serviços disponíveis2-4. A hospitalização integral é a modalidade terapêutica utilizada pelas equipes quando outras tentativas de tratamento falharam ou não conseguem obter resultados satisfatórios. Ocorre em serviços especializados sob regime de internação em hospitais de nível terciário ou hospitais universitários. As indicações para hospitalização integral de pacientes com TA, em geral, englobam o estado nutricional insatisfatório, na maioria das vezes com peso abaixo de 75% de adequação segundo o índice de massa corporal ou perda de 15% do peso corporal em três meses; episódios de descompensação clínica com distúrbios hidroeletrolíticos; níveis de pressão arterial sistólica/diastólica baixos, inferior a 90/60 mmHg em adultos e 80/50 mmHg em crianças e adolescentes, frequência cardíaca menor que 50 bpm; preJ Bras Psiquiatr. 2013;62(1):31-7. sença de comorbidades psiquiátricas ou risco de suicídio iminente; pouca continência familiar e situações de tensão ambiental; e também abuso de substâncias e exacerbação de sintomas purgativos5,6. No início dos anos 1980, foi criado pela Divisão de Nutrologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão o Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares (GRATA) para prestar assistência a portadores de TA no Hospital das Clínicas (HCFMRP-USP). Ao longo dos anos, à sua equipe agregaram-se vários profissionais e, atual mente, o serviço conta com uma equipe multidisciplinar composta por médicos (nutrólogo e psiquiatra), psicólogos e nutricionistas, além de estagiários nas áreas de psicologia e nutrição7. O serviço oferece atendimento semanal na esfera ambulatorial, com frequência de retorno variada, dependendo da necessidade do caso. São oferecidos atendimentos clínicos individuais com médicos nutrólogos e psiquiatras, consultas com nutricionistas, apoio psicológico, além da psicoterapia individual para pacientes e familiares. Atividades educativas/ informativas e de apoio em grupo de natureza psicológica e nutricional também são realizadas antes dos atendimentos para pacientes e familiares separadamente. Os pacientes que necessitam de intervenção hospitalar para tratamento e/ou estabilização do quadro clínico são encaminhados para internação nas enfermarias de Clínica Médica (Unidade Metabólica) ou Psiquiatria no HCFMRP-USP. A admissão hospitalar é mediada pelos médicos que compõem a equipe do GRATA, geralmente residentes ou médicos contratados do HCFMRP-USP; o seguimento dos pacientes nessa situação é realizado pela equipe fixa de profissionais do hospital, com possibilidade de assistência de outras especialidades como terapeutas ocupacionais e assistentes sociais por pedido de interconsulta8. O objetivo do presente estudo foi descrever as indicações e as características da hospitalização integral para tratamento de pacientes com transtornos alimentares seguidos por um serviço especializado desde o início do seu funcionamento. artigo original MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal de caráter descritivo e exploratório com delineamento quantitativo. Inicialmente, foi realizado levantamento no sistema informatizado do hospital junto ao Departamento de Seção de Dados Médicos dos registros de pacientes que foram internados entre 1982 e 2011 com diagnóstico de AN ou BN. Foram incluídos no estudo pacientes com diagnóstico de AN ou BN seguidos pelo GRATA, que foram internados no período referido, independentemente do sexo e idade, com duração de internação igual ou superior a três dias. Foram excluídos do estudo aqueles pacientes que, apesar do diagnóstico do TA, não receberam atendimento pelo GRATA ou cujos prontuários não foram encontrados nos arquivos médicos. Os dados foram coletados a partir da revisão dos prontuários dos pacientes, seguindo o instrumento de coleta desenvolvido para a pesquisa. Foram colhidos dados sociodemográficos, da doença (tempo de sintomas e idade no diagnóstico e internação, tempo de tratamento da doença antes da internação) e informações relacionadas às internações (número, duração e indicação das internações). A definição das faixas etárias de crianças e adolescentes seguiu a classificação da Organização Mundial da Saúde9: crianças até 10 anos de idade e adolescentes entre 10 e 19 anos. Os pacientes adultos compreenderam aqueles com idade superior a 19 anos. As informações foram transportadas para um banco de dados com técnica de dupla-digitação e validação no programa Excel do software Microsoft Office, versão 2007. Os resultados descritivos foram obtidos por meio do cálculo das médias (desvio-padrão), valores mínimos e máximos para as variáveis contínuas, além das frequências para as variáveis categóricas. Foi empregado o teste para análise de variância (ANOVA) e utilizou-se o método Bonferroni para verificar diferenças estatísticas entre as múltiplas comparações nesse teste. O valor de p < 0,05 foi adotado como significante e todos os cálculos das análises estatísticas foram realizados com auxílio do software SPSS versão 17.0 (SPSS Inc. Chicago, USA). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HCFMRP-USP (nº 976/2010). RESULTADOS No período de abrangência do estudo, o GRATA prestou atendimento para 186 pacientes com TA; 83 (44,6%) deles necessitaram de, no mínimo, uma internação durante o tratamento. Ao longo dos anos, constatou-se que a escolha da hospitalização como modalidade terapêutica foi diminuindo (Figura 1). No início do funcionamento do serviço, na década Hospitalização integral e transtornos alimentares 33 de 1980, 77,7% dos pacientes (n = 14) em tratamento foram internados. Já na década seguinte, a relação entre pacientes atendidos e internados caiu para a metade (n = 28), e, a partir de 2000, a internação ocorreu em apenas 36,2% dos casos (n = 41) em seguimento. 113 Pacientes atendidos pelo GRATA Pacientes internados 55 18 14 28 41 Década de 1980 Década de 1990 A partir do ano de 2000 Figura 1. Número de pacientes atendidos pelo GRATA (Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares, n = 186) no período do estudo que necessitaram de internação (n = 83) durante o tratamento, segundo década. Ribeirão Preto, 2011. Com relação ao número de internações, a média foi de 1,9 ± 3,9 vezes (com variação de 1 a 26 vezes). Constatou-se que a maioria dos pacientes que necessitaram de intervenção hospitalar para tratamento (n = 61; 73,5%) foi internada apenas uma vez; 18 pacientes (21,7%) tiveram de duas a cinco internações; e apenas quatro pacientes (4,8%) necessitaram de mais de cinco internações. A média de idade na admissão hospitalar foi de 23,3 ± 10,8 anos (variação de 8 a 58 anos), aumentando naturalmente com o decorrer do tempo para 30,9 ± 16,6 anos (variação de 9 a 68 anos) na última internação daqueles que foram internados mais de uma vez. Na primeira (n = 83) havia duas crianças (2,4%), 37 adolescentes (44,6%) e 44 adultos (53%); para aqueles que tiveram mais de uma internação (n = 22), a proporção na última internação foi de duas crianças (9%), nove adolescentes (41%) e 11 adultos (50%). O tempo médio total de hospitalização, independentemente do número de internações, foi de 70,6 ± 115,9 dias, com extensa variação (3 a 804 dias). A duração da internação daqueles hospitalizados apenas uma vez (n = 61) foi de 41 ± 37,6 dias (mínimo 3; máximo 159 dias) e para aqueles hospitalizados mais vezes (n = 22), somando-se todas as internações, a duração média foi de 152 ± 199 dias (mínimo 15, máximo 804 dias). As indicações para internação mais frequentes foram para realização de terapia nutricional (suporte nutricional ou reposição hidroeletrolítica), seguida da investigação do quadro clínico e por causa de depressão e/ou ideação suicida (Figura 2). J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):31-7. 34 artigo original Palma RFM et al. Tabela 1. Caracterização sociodemográfica dos pacientes hospitalizados com transtornos alimentares (n = 83), Ribeirão Preto, 2011 72,7% 59% Variáveis 30,1% 9,1% Terapia nutricional Investigação do quadro Primeira internação 10,9% 18,2% Depressão/ideação suicida Última internação Figura 2. Número de pacientes hospitalizados com transtornos alimentares no HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo), segundo indicação na primeira (n = 83) e última internação (n = 22), Ribeirão Preto, 2011. Aproximadamente um terço dos pacientes (30,1%) em sua primeira hospitalização foi internado para investigação do quadro, número que naturalmente caiu na última internação. A necessidade de internação de pacientes por causa de depressão/ideação suicida ocorreu em poucos casos, e em análise mais detalhada observou-se que foi proporcionalmente maior entre pacientes com BN internados apenas uma vez. A tabela 1 apresenta a distribuição da amostra segundo as características sociodemográficas. Evidencia-se predominância de pacientes do sexo feminino e da raça branca, com média de idade na época do diagnóstico de 22,6 ± 10,7 anos, variando de 8 a 58 anos, sendo 53% adultos (n = 44) e 47% crianças e adolescentes (n = 39). A maioria era solteira, sem filhos, e cerca da metade dos pacientes era estudante cursando o ensino médio. Observa-se que a maior parte deles reside em cidades do estado de São Paulo, com cerca de um terço na cidade de Ribeirão Preto, SP. A distribuição dos pacientes segundo diagnóstico do TA (Tabela 2) demonstrou preponderância de AN (n = 71; 85,5%). Quando observados os seus subtipos, aproximadamente metade deles apresentava anorexia nervosa do tipo restritivo (AN-R), em menor escala apresentaram anorexia nervosa do tipo compulsão periódica/purgativo (AN-CP). Pacientes portadores de BN abarcaram a minoria dos casos. Em relação à idade na época do diagnóstico, essa foi semelhante entre os portadores de AN-R e AN-CP e maior naqueles com BN, sem diferença estatística. O tempo dos sintomas da doença antes do diagnóstico foi de 32,4 ± 45,8 meses, com extensa variação de 1 a 240 meses. Quando separados diagnósticos e subtipos, observou-se que o tempo de sintomas dos pacientes com AN-R foi menor, e para os portadores de AN-CP ou BN o período sintomatológico foi, pelo menos, três vezes maior. O tempo de sintomas apresentados pelos pacientes com AN-R diferiu significativamente daqueles com AN-CP e BN (p < 0,05). J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):31-7. [n (%)] Sexo Feminino Masculino 79 (95,2) 4 (4,8) Estado civil Solteiro Casado/amasiado Divorciado/viúvo 63 (76) 16 (19,3) 4 (4,7) Filhos Sim Não 18 (21,7) 65 (78,3) Raça Branca Mulata Negra 78 (94) 4 (4,8) 1 (1,2) Escolaridade Ensino fundamental Ensino médio Ensino superior 21 (25,3) 42 (50,6) 20 (24,1) Procedência Ribeirão Preto Outras cidades do Estado de São Paulo Outros Estados 30 (36,1) 43 (51,8) 10 (12,1) Ocupação Estudante Do lar Exerce atividades profissionais 46 (55,4) 18 (21,7) 19 (22,9) Tabela 2. Caracterização dos pacientes hospitalizados com TA (n = 83), segundo o diagnóstico e subtipos, Ribeirão Preto, 2011 n (%) AN-R Idade (anos) Tempo de sintomas (meses) Tempo de tratamento antes da internação (meses) 45 (54,2) AN-CP Idade (anos) Tempo de sintomas (meses) Tempo de tratamento antes da internação (meses) 26 (31,3) BN Idade (anos) Tempo de sintomas (meses) Tempo de tratamento antes da internação (meses) 12 (14,5) ± DP Mín Máx 21,7 15,4* 3,4 12,6 18,7 17,1 8 1 1 58 108 30 23,4 45,1* 8,3 9,4 56,8 19,9 12 2 1 52 240 96 24 68,2* 1,6 3,9 62,9 3,6 19 1 1 32 180 12 * AN-R < AN-CP e BN (p < 0,05). TA: transtornos alimentates; : valor médio; DP: desvio-padrão; Mín: valor mínimo; Máx: valor máximo; AN-R: anorexia nervosa tipo restritivo; AN-CP: anorexia nervosa tipo compulsão periódica/purgativo; BN: bulimia nervosa. O tempo de tratamento para o TA entre o diagnóstico e a primeira internação teve média de 4,8 ± 12,5 meses e variação de 1 a 96 meses. O maior tempo de tratamento antes da internação ocorreu entre pacientes com AN-CP, evidenciado tanto na média como no tempo máximo apresentado, seguidos de pacientes com AN-R. Os portadores de BN apre- artigo original sentaram os intervalos mais curtos de tratamento antes da internação. Não foram identificadas diferenças significativas entre as médias de tempo de tratamento antes da internação nos diferentes diagnósticos. DISCUSSÃO Os quadros mais graves de TA podem levar à necessidade de internação para tratamento durante o curso da doença, na tentativa de reverter ou minimizar as complicações clínicas e comorbidades associadas. Entretanto, pouco se sabe sobre a relação de pacientes atendidos e internados nos serviços especializados. Os resultados na literatura referem-se às descrições específicas dos pacientes internados. Casper e Jabine10 publicaram que 88% dos pacientes necessitaram de pelo menos uma internação no período de oito anos após diagnóstico do TA. A frequência de internação entre os pacientes seguidos pelo GRATA nos seus 30 anos de serviço foi de 44,6%, índice considerado representativo, pois quase metade dos pacientes foi internada no mínimo uma vez para tratamento da doença. Na literatura, há escassez de dados sobre as características dos pacientes com TA internados e o tipo de tratamento prestado11. Wiseman et al.12, em estudo sobre a hospitalização de pacientes com TA em Nova Iorque, observaram mudança nos padrões entre 1980 e 1998, com aumento no número de hospitalizações, passando de 20 para 182. A experiência de um centro de tratamento especializado em TA em Denver, também nos Estados Unidos, demonstrou que, apenas entre os anos de 2008 e 2010, 76 pacientes foram admitidos para tratamento hospitalar13. No GRATA, apesar de evidenciado aumento no número de hospitalizações com o passar dos anos, observou-se que a escolha de hospitalização como modalidade terapêutica diminuiu nos últimos 30 anos. Houve redução na relação atendimento/internação, passando de 77,7% para 36,2% dos casos. Nas últimas décadas, o declínio na frequência de internações por TA tem sido observado em vários países. Na Polônia, entre 2003 e 2007, os hospitais psiquiátricos apresentaram redução de 5% nesse índice, e nos hospitais gerais a queda foi de 14%14. Nos Estados Unidos, o mesmo cenário foi notado, visto que o tratamento hospitalar para TA ocorre apenas em casos crônicos, abrangendo principalmente a estabilização (suporte nutricional e hidratação) dos episódios agudos. Ao longo do tempo, com o aumento nos custos das internações, somado ao fato de que pacientes crônicos são frequentemente passíveis de readmissão e/ou necessitam de longos períodos de hospitalização, muitas companhias de planos de saúde passaram a não cobrir os custos da internação, tratando os pacientes em ambulatório12. A redução dessa modalidade de tratamento para TA também pode ser vista como reflexo das novas políticas de saú- Hospitalização integral e transtornos alimentares 35 de, fruto do movimento da reforma psiquiátrica. Esse movimento tomou força na segunda metade da década de 1970, com objetivo de modificar o sistema de tratamento clínico da doença mental15. No Brasil, o tratamento hospitalar para essas doenças sempre foi, em sua grande maioria, disponibilizado por grupos assistenciais em centros universitários vinculados a hospitais públicos com profissionais prestando serviços de forma voluntária16. A diminuição dessas internações pode estar associada ao fato de que, anteriormente, o tratamento hospitalar era imediatamente indicado, dado o acometimento físico e clínico dos pacientes que se encontravam quase sempre, muito debilitados. Com o passar dos anos, o melhor reconhecimento desses quadros pelos profissionais de saúde e sociedade como um todo favoreceu o diagnóstico e o tratamento precoces, evitando a exacerbação dos sintomas. Dessa forma, a abordagem terapêutica utilizando seguimento ambulatorial ou hospital-dia foi possível para a recuperação dos pacientes. Outro aspecto a ser considerado é a experiência adquirida pelos profissionais dos serviços para o manejo dos casos mais graves, o que também contribuiu para diminuição da hospitalização integral em primeira instância17-19. As indicações para hospitalização, desde o início do funcionamento do serviço até os dias atuais, seguem critérios clínicos claramente estabelecidos, por exemplo: peso corporal abaixo de 75% do esperado, bradicardia, hipotensão, distúrbios hidroeletrolíticos graves, comprometimento orgânico, falta de suporte ambiental e/ou risco de suicídio2,20. As características sociodemográficas dos pacientes hospitalizados pelo GRATA foram semelhantes em relação a outros estudos11-14,21. A AN, por causa de suas graves consequências nos sistemas orgânicos decorrentes da desnutrição, é o diagnóstico de TA mais prevalente nas intervenções hospitalares22-24. A distribuição dos pacientes internados pelo GRATA de acordo com o diagnóstico também demonstrou preponderância de AN, sobretudo em seu subtipo restritivo. Os estudos da literatura científica apontam que pacientes com AN são mais jovens. No presente estudo, a média de idade mais baixa foi encontrada entre pacientes com AN (21,7 anos). Entretanto, esse valor é superior às médias demonstradas em outros estudos, que variaram de 10 a 20,7 anos11,21,22,23,25,26. O tempo de sintomas apresentado pelos pacientes até que eles sejam diagnosticados é bastante variável. As perturbações psicológicas que comumente se apresentam, próprias do quadro, passam comumente despercebidas em primeira instância pela família, por serem associadas às características típicas da adolescência, tais como: irritabilidade, alteração no caráter, humor depressivo, isolamento, ou em alguns casos, hiperatividade27. A instalação do quadro de TA pode ser inicialmente dissimulada com justificativas que não despertam intensa preocupação, visto que atualmente um J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):31-7. 36 artigo original Palma RFM et al. regime alimentar com limitações quantitativas e qualitativas dos alimentos é encarado como atitude normal28. Diante de qualquer alegação referente à perda de peso, é comum os pacientes explicarem sua atitude pelo desejo de emagrecer, pois encaram-se demasiadamente gordos, mesmo apresentando-se aos olhos alheios uma magreza impressionante. A negação da doença, parte integrante do quadro dos TA, bem como a inadmissível recuperação do peso principalmente entre os anoréxicos, faz com que a procura pelo tratamento assuma uma tendência tardia28. A despeito dos esforços para mascarar a doença, os TA acabam sendo reconhecidos com grande variação no tempo de sintomas até o diagnóstico: são detectados mais rapidamente em portadores de AN, dado o progressivo e rápido emagrecimento, e tardiamente entre pacientes com BN, que comumente mantêm o peso dentro da faixa de normalidade. A pesquisa de Hudson et al.25 revelou que o tempo médio de sintomas apresentados por pacientes com AN foi de 1,7 ano e na BN, de 8,3 anos. Os achados do presente estudo, quando comparados aos desse autor, indicam tempo médio de sintomas menores, sendo 15,4 meses (1,3 ano) para pacientes com AN-R; 45,1 meses (3,7 anos) na AN-CP e 68,2 meses (5,7 anos) nos casos de BN. Apesar de as hospitalizações ocorrerem mais frequentemente e em menor tempo nos pacientes com AN12,13,21,29, os achados do presente estudo demonstram que aqueles com BN apresentaram os intervalos mais curtos de tratamento antes da internação (1,6 ± 3,6 meses). A inversão observada nessa amostra pode ser explicada pelo fato de que alguns desses pacientes foram internados para avaliação do quadro clínico e definição do diagnóstico. A maior parte deles foi internada em menor espaço de tempo, em virtude de distúrbios hidroeletrolíticos e complicações clínicas associadas aos mecanismos compensatórios recorrentes para evitar o ganho de peso, como indução de vômitos e abuso de laxantes. A maioria dos pacientes deste estudo foi internada para receber terapia nutricional, objetivando a recuperação do peso e compensação dos distúrbios hidroeletrolíticos. As taxas de internação do presente estudo foram semelhantes àquelas descritas por Chu et al.13, em que 71% dos pacientes foram internados para estabilização médica no ACUTE. Indicações para internação objetivando a investigação do quadro e diagnóstico estiveram presentes em aproximadamente um terço dos casos na admissão hospitalar, número que naturalmente caiu na última internação. Parte deles tinha diagnóstico de BN, o que pode explicar o fato de esses pacientes terem sidos submetidos a internações mais curtas (média 1,6 mês) do que os portadores de AN. As internações devidas à depressão/ideação suicida aumentaram na última internação entre aqueles mais graves que necessitaram de mais de uma internação. A depressão é uma comorbidade psiquiátrica que deve ser considerada e tratada por causa de sua associação direta com o suicídio. Estudos mostram que sua prevalência pode ser alta entre pacientes com TA11,22. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):31-7. Pesquisas que adotam como metodologia a coleta de dados por meio de revisão de prontuários apresentam, inevitavelmente, viés importante relacionado à perda ou omissão de informações registradas pelos profissionais de saúde. Essa foi a principal dificuldade encontrada no desenvolvimento deste estudo, cuja perda amostral variou de 1,2% a 9% nas diferentes variáveis estudadas. Dados sobre a hospitalização integral de pacientes portadores de AN ou BN são pouco conhecidos. No Brasil, isso se deve ao fato de existirem poucos serviços especializados que oferecem tratamento, sobretudo hospitalar, com predomínio de atividades de natureza assistencial. Consequentemente, investigações científicas nessa área apresentam limitações relacionadas às dificuldades na formação e treinamento de pesquisadores, além da falta de investimentos em recursos humanos, pois a maioria dos serviços conta com profissionais que atuam de forma voluntária. Esses fatores certamente contribuem para o pequeno conhecimento científico sobre o tema. CONCLUSÃO Conclui-se que a hospitalização integral é uma modalidade terapêutica necessária para o tratamento de anorexia ou bulimia nervosa, e a frequência de internação do serviço foi considerada significativa, porém diminuiu ao longo do tempo. A maioria dos pacientes foi internada apenas uma vez e era composta de mulheres brancas, adultas jovens, solteiras e portadoras de anorexia nervosa, sobretudo em seu tipo restritivo. A indicação mais frequente de internação dos pacientes foi para realização de terapia nutricional. Os resultados encontrados são compatíveis com outros dados da literatura. A diminuição da frequência de internação pode ser resultado da tendência de desospitalização para as doenças mentais como um todo a partir da reforma psiquiátrica, da divulgação pela mídia e do maior reconhecimento desses quadros pela sociedade em geral e pelos profissionais de saúde, favorecendo o diagnóstico e o tratamento mais precoces. Além disso, a experiência adquirida pelos profissionais do serviço no manejo dos casos mais graves possibilitou que o seguimento fosse dado em nível ambulatorial e hospital-dia. Porém, futuros estudos são necessários para comprovar essa hipótese. CONTRIBUIÇÕES INDIVIDUAIS Raphaela Fernanda Muniz Palma – Participou da concepção e desenho do estudo e foi responsável pela elaboração do artigo, além da coleta, análise e interpretação dos dados, aprovando sua versão final para publicação. Rosane Pilot Pessa Ribeiro – Contribuiu significativamente na concepção e no desenho do estudo e orientou a análise, artigo original a interpretação dos dados e a elaboração do artigo, aprovando sua versão final para publicação. José Ernesto dos Santos – Contribuiu significativamente na concepção e no desenho do estudo, revisou criticamente seu conteúdo intelectual e aprovou sua versão final para publicação. Hospitalização integral e transtornos alimentares 37 10. Casper RC, Jabine LN. An eight-year follow-up: outcome from adolescent compared to adult onset anorexia nervosa. J Youth Adolesc. 1996; 25:499-517. 11. Calderon R, Vander Stoep A, Collett B, Garrison MM, Toth K. Inpatients with eating disorders: demographic, diagnostic and service characteristics from a Nationwide Pediatric Sample. Int J Eat Disord. 2007;40(7):622-8. 12. Wiseman CV, Sunday SR, Klapper F, Harris WA, Halmi KA. Changing patterns of hospitalization in eating disorder patients. Int J Eat Disord. 2001;30(1):69-74. 13. Chu ES, Gaudiani JL, Mascolo M, Statland B, Sabel A, Carroll K, et al. ACUTE center for eating disorders. J Hosp Med. 2012;7(4):340-4. AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Cláudia Benedita dos Santos pela assessoria nas análises estatísticas e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pelo auxílio financeiro para execução do projeto (processo nº 2010/02417-8). CONFLITOS DE INTERESSE Os autores do manuscrito – Raphaela Fernanda Muniz Palma, Prof. Dr. José Ernesto dos Santos e Profa. Dra. Rosane Pilot Pessa Ribeiro – não possuem conflitos de interesse a serem declarados. REFERÊNCIAS 1. Cartwright MM. Eating disorder emergencies: understanding the medical complexities of the hospitalized eating disordered patient. Crit Care Nurs Clin North Am. 2004;16:515-30. 2. Guimarães DBS, Salzano FT, Abreu CN. Indicações para internação hospitalar completa ou parcial. Rev Bras Psiquiatr. 2002;24(3):60-2. 3. Cabrera CC. 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Objetivo: Determinar a prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) e sua associação a fatores sociodemográficos e profissionais em residentes de medicina, enfermagem, nutrição e saúde coletiva da cidade do Recife (PE). Métodos: Estudo transversal foi conduzido, em 2007, envolvendo uma amostra aleatória de 178 residentes que responderam a questões sociodemográficas e sobre a formação profissional e ao Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20). Calcularam-se as prevalências de TMC e estimaram-se as razões de prevalência (RP) e os intervalos de confiança. Resultados: A prevalência total dos TMC foi de 51,1% e não se observou associação aos fatores sociodemográficos. A prevalência do evento foi 39% maior nos médicos que nos não médicos (p = 0,049) e 46% maior em residentes médicos das especialidades cirúrgicas que entre os de enfermagem, nutrição e saúde coletiva (p = 0,048). Cinco das queixas do SRQ-20 foram mais frequentes no sexo feminino (p < 0,05). Conclusão: Os dados demonstram a elevada magnitude dos TMC nessa população, principalmente nos residentes médicos, e servem para educadores e gestores de serviços de saúde no sentido de viabilizar estratégias para prevenir e recuperar a qualidade de vida dos residentes. ABSTRACT Objective: To determine the prevalence of common mental disorders (CMD) and its association with sociodemographics and professionals resident in medicine, nursing, nutrition and public health from the city of Recife (PE). Methods: A survey was conducted in 2007, involving a random sample of 178 residents, who responded to question about sociodemographics and professional training and the Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20). The prevalence of CMD were calculated, also prevalence ratios (PR) and confidence intervals were estimated. Results: The overall prevalence of CMD was 51.1%, and there was no association with sociodemographics factors. The prevalence of the event was 39% higher among the Recebido em 5/10/2012 Aprovado em 3/2/2013 1 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento. 2 UFPE, Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social. 3 Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco. Endereço para correspondência: Carla Novaes Carvalho Programa de Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento, Universidade Federal de Pernambuco Av. Professor Moraes Rego, s/n, bloco A, térreo, Cidade Universitária 50670-420 – Recife, PE, Brasil Telefone: (81) 2126-8539 E-mail: [email protected] artigo original Keywords Mental disorders, mental health, internship and residency, medical education. Transtornos mentais comuns em residentes 39 physicians than in the non-medical (p = 0,049) and 46% greater in the surgical specialties medical residents than among nursing, nutrition and public health (p = 0,048). Five of the SRQ-20 items were more frequent in female (p < 0,05). Conclusion: These findings indicate the high magnitude of CMD in this population, especially medical residents and serve to educators and managers of health services in order to define strategies to prevent and recover the mental health and the quality of life of the residents. INTRODUÇÃO O conceito de transtornos mentais comuns (TMC) desenvolveu-se, na década de 1970, por meio de pesquisas sobre adoecimento mental no âmbito da atenção primária em saúde, contexto em que se verifica maior prevalência de transtornos não psicóticos em contraste com o perfil de casos psiquiátricos mais graves do ambiente hospitalar1. A expressão TMC foi criada por Goldberg e Huxley1 e se refere a sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas. Esses autores destacam que os transtornos, apesar de inicialmente não serem graves, causam enorme sofrimento e, posteriormente, podem estar associados à incapacidade e ao absenteísmo no trabalho. Os TMC, embora não configurem uma entidade clínica específica, descrita em manuais nosológicos, estão relacionados, segundo Mari e Jorge2, aos transtornos de ansiedade, somatização e depressão sem sintomas psicóticos, constituindo, portanto, uma dimensão desses fenômenos psicopatológicos, expressa no nível coletivo, cuja abordagem é realizada principalmente pelos estudos epidemiológicos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)3, os transtornos depressivos ocupam o quarto lugar entre as dez primeiras causas de incapacidade no mundo. Eles representam, como categoria diagnóstica única, a principal causa de inaptidão quando se consideram os anos vividos com esse problema. Os estudos iniciais sobre TMC em países industrializados referiam uma variação na prevalência entre 7% e 30%1. No Nordeste do Brasil, investigação realizada, em 1993, em Olinda (PE), encontrou prevalência de 35% e associação desses transtornos às condições de vida e estrutura ocupacional4. Inquérito desenvolvido, em 1994, em Pelotas (RS), revelou que 22,7% da população adulta da zona urbana sofria de TMC5. Os transtornos mentais são resultado de múltiplos determinantes, destacando-se os de origem genética, comportamentais e ambientais, e se associam a alguns fatores como sexo, faixa etária, situação conjugal, condições de vida e trabalho1,4. O interesse em perscrutar o construto TMC tem crescido para além de sua detecção na população geral. Estudos foram desenvolvidos para mensurar sua magnitude em várias profissões6-8, incluindo os profissionais de saúde9-12. Pitta9 observou prevalência elevada em trabalhadores do setor de hemodiálise (45,5%) e da UTI pediátrica (32,1%) em um hospital geral de São Paulo. Constata-se uma concordância entre os estudos quando revelam que médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde constituem grupos expostos à insalubridade mental9-12. Segundo Smith et al.13, a magnitude dos transtornos mentais em residentes médicos parece estar aumentando, caracterizando o grupo como de maior risco de adoecimento14,15. A residência constitui uma das fases mais estressantes na formação do médico, principalmente durante o primeiro ano de treinamento, quando expõe o jovem treinando a sofrimentos que podem provocar alterações comportamentais indesejáveis15-17. Small18 descreveu, em residentes médicos, um quadro sindrômico, denominado de house officer stress syndrome, caracterizado por distúrbios cognitivos episódicos, raiva crônica, ceticismo, discórdia familiar, depressão, ideação suicida e suicídio e abuso de drogas. A residência se caracteriza pelo treinamento em serviço sob supervisão, cuja finalidade é a criação de competência profissional para desenvolver conhecimentos, atitudes e habilidades. O residente exercita a prática médica amparando-se nos saberes científico e tecnológico, ao mesmo tempo em que está em contato permanente com a dor, o sofrimento, a doença e a morte16. Nesse processo, configurado pela dualidade trabalhador-aprendiz, o residente enfrenta uma tensão interna constante que tanto pode ajudar no seu aperfeiçoamento quanto atuar como fator desencadeante de transtornos mentais. Antes restrita aos médicos, a modalidade de treinamento se expandiu para enfermeiros, nutricionistas e outras categorias profissionais da área de saúde. As investigações sobre saúde mental em grupos de profissionais sob treinamento em regime de residência são escassas, ao contrário daquelas desenvolvidas em graduandos19-21 ou em grupos profissionalizados12,22. Nesse sentido, esta investigação teve como objetivo determinar a prevalência de transtornos mentais comuns e sua associação com variáveis sociodemográficas e relativas à formação profissional em pós-graduandos dos programas de residência de medicina, enfermagem, nutrição e saúde coletiva da cidade do Recife. MÉTODO Universo e amostra O universo do estudo foi formado pelo total de pósgraduandos, do primeiro e segundo anos, matriculados, J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):38-45. 40 artigo original Carvalho CN et al. em 2007, nos programas de residência da cidade do Recife (PE), com acesso direto para as áreas de medicina, enfermagem, nutrição e saúde coletiva, gerenciados pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade de Pernambuco (UPE), Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE) e Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). Na época de investigação, havia 617 pessoas nessa condição. Para o cálculo amostral, utilizaram-se os seguintes parâmetros: intervalo de confiança de 95%, erro de amostragem de 10% e uma prevalência estimada do evento de 50%, com a finalidade de maximizar o tamanho amostral. O cálculo foi desenvolvido no programa Epi-Info, versão 6,0, obtendo-se um n = 167. Considerando possíveis perdas, o tamanho da amostra foi aumentado em 20%, obtendo-se um total de 200 participantes. A composição da amostra foi estratificada segundo a proporção de residentes em cada programa, considerando as diferentes especialidades, medicina, enfermagem, nutrição, saúde coletiva, e ano de treinamento. O procedimento de seleção dos participantes foi aleatório e realizado de modo sistemático a partir dos intervalos de amostragem. Nos casos em que o residente escolhido encontrava-se em férias, em viagem, em algum treinamento fora da cidade ou, ainda, em gozo de licença-maternidade, selecionava-se, na listagem, o nome localizado logo abaixo do seu. Não houve reposição amostral, e quando, após três tentativas, o residente não era encontrado, considerava-se perda. Desenho de estudo e coleta de dados Conduzido entre outubro e dezembro de 2007, o estudo transversal avaliou 178 residentes para detecção de TMC por meio da versão brasileira do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20). Além disso, foram respondidas questões sobre dados sociodemográficos e formação profissional, incluindo idade, sexo, estado conjugal, profissão, ano de conclusão do curso de graduação, nome do programa de residência, ano de treinamento, cidade em que residia antes do treinamento, número de filhos e situação de moradia, que fizeram parte do questionário original procedente da dissertação de mestrado da autora23. O instrumento de coleta foi testado em estudo piloto. A coleta dos dados ocorreu no próprio local de trabalho dos participantes, em geral após as reuniões das equipes da residência ou, por meio de agendamento, quando os residentes sorteados não estivessem presentes. Após serem prestadas as orientações sobre a pesquisa e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, todos os residentes sorteados preenchiam o questionário, em uma sala isolada, sob supervisão direta da autora ou de um dos auxiliares da pesquisa, que permaneciam no local para prestar esclarecimentos. Os questionários foram distribuídos dentro de envelopes padronizados e, após devolução, cada residente os depositava em uma urna, de modo a garantir a confidencialidade do processo. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):38-45. O SRQ-20 foi desenvolvido por Harding et al.24 . Quando um instrumento é aplicado, dois aspectos devem ser considerados em sua avaliação: a validade e a confiabilidade. O primeiro, também chamado de acurácia, se refere à sua capacidade de medir o que se propõe medir, e o segundo, também chamado de precisão ou fidedignidade, revela o grau de concordância entre as múltiplas medidas de um mesmo fenômeno. Embora a confiabilidade seja uma condição necessária, ela não é suficiente para avaliar a validade. Do ponto de vista operacional, a validade do SRQ-20 é aferida tomando-se como padrão-ouro a entrevista psiquiátrica. Nesse sentido, percebe-se variação entre 62,9% e 90% de sua sensibilidade e entre 44% e 95,2% de sua especificidade25. Em relação à confiabilidade desse instrumento, Santos et al.26, usando a fórmula de Kuder-Richardson (KD-20) para avaliar a consistência interna do instrumento, encontraram um coeficiente geral e padronizado de 0,80, semelhante ao do estudo de Iacoponi e Mari27. O SRQ-20 é composto por 20 questões do tipo “sim/não”, das quais quatro se referem a queixas somáticas e 16, a sintomas psíquicos. Cada um dos 20 itens pode apresentar como escore 0 ou 1, indicando, respectivamente, ausência ou presença do sintoma nos últimos 30 dias. O ponto de corte utilizado em muitas investigações tem sido de 7 ou 86,11,25, no entanto muitos autores defendem o uso de ponto de corte diferenciado entre os sexos, 7 ou 8 para o feminino e 5 ou 6 para o masculino, a fim aumentar a validade, diminuindo os bias de classificação19,21,24,25,28. Neste estudo, considerou-se caso de TMC o participante do sexo masculino que respondeu de modo afirmativo a, no mínimo, seis questões do SRQ-20 ou do sexo feminino que respondeu, dessa maneira, a pelo menos oito questões. Numa primeira abordagem, os programas de residência foram categorizados segundo áreas: medicina, enfermagem, nutrição e saúde coletiva. Em relação aos programas médicos, buscou-se, ainda, agregá-los segundo a natureza predominante da prática: clínica ou cirúrgica. Assim, as especialidades cujos profissionais desenvolviam rotineiramente a prática cirúrgica, incluindo o ato anestésico, foram classificadas como “cirúrgicas” e as outras foram consideradas “clínicas”. Nesse sentido, procurou-se vincular os profissionais a seus ambientes de trabalho e a inserção no bloco cirúrgico foi um critério demarcador de “exposição”. Desse modo, elaborou-se a seguinte classificação: “especialidades cirúrgicas”: cirurgia geral, obstetrícia-ginecologia, anestesiologia, oftalmologia, traumatologia-ortopedia e otorrinolaringologia; e “especialidades clínicas”: clínica médica, pediatria, radiologia, infectologia, neurologia, psiquiatria e dermatologia. Plano de descrição e análise Os dados foram processados e analisados no programa Epi-Info, versão 6,0 (2001), determinando-se as prevalências de artigo original Transtornos mentais comuns em residentes TMC, global e específicas, e sua associação com as variáveis sociodemográficas e relativas à formação profissional pela razão de prevalência (RP), cuja significância estatística foi avaliada pelo teste X2 ou, quando necessário, pelo teste exato de Fisher, considerando os intervalos de confiança a 95% e valores do p. A probabilidade máxima de erro para rejeição da hipótese nula foi de 5%. Todo o processo da pesquisa obedeceu aos princípios éticos dispostos na Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, garantindo aos participantes, entre outros direitos, o seu consentimento livre e esclarecido, sigilo das informações e privacidade. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, registro no 287/07, em 16 de outubro de 2007. RESULTADOS Registrou-se uma perda de 11% (22/200), sete recusaram-se a participar e 15 não foram localizados. O grau de preenchimento médio das questões foi de 99,1%. A idade média dos participantes foi de 27 ± 2,43 anos e 68,5% eram do sexo feminino. Cerca de 67% residiam no Recife antes do treina- 41 mento e 88% moravam com outra(s) pessoa(s). Aproximadamente 74% eram solteiros e 90% não tinham filhos. A prevalência global de TMC foi de 51,1% e não se observou associação estatisticamente significante (p > 0,05) com sexo, idade, cidade onde residia antes do treinamento, situação de moradia, estado conjugal e número de filhos (Tabela 1). A maioria dos residentes era formada de médicos (68%). Aproximadamente 67% dos participantes concluíram a graduação em/ou depois de 2005 e quase 95% realizavam seu primeiro treinamento, 55,1% cursavam o primeiro ano (R1) e 44,9%, o segundo (R2). Cerca de 31% se concentravam nas especialidades “cirúrgicas” da medicina, 36% nas especialidades “clínicas” da medicina e 32% nas áreas de enfermagem, nutrição e saúde coletiva. A prevalência de TMC foi 39% maior nos residentes médicos do que nos não médicos (p = 0,049). Os treinandos vinculados a especialidades “cirúrgicas” apresentaram prevalência de TMC 46% maior do que a dos residentes de enfermagem, nutrição ou saúde coletiva (p = 0,048), mas não se observou diferença quando se comparou com os residentes das áreas “clínicas” (p > 0,05). Não se mostraram como fatores associados aos TMC o tempo de conclusão do curso de graduação, a existência de treinamento anterior e o ano de treinamento (p > 0,05) (Tabela 2). Tabela 1. Prevalência de TMC segundo variáveis sociodemográficas Prevalência Totala RPb (IC 95%) p 51,6 1,03 (0,76-1,41) > 0,05 28 50,0 1,00 62,4 58 52,3 1,06 (0,79-1,43) 67 37,6 33 49,3 1,00 Recife 120 67,4 62 51,7 1,03 (0,76-1,41) Outra cidade 58 32,6 29 50,0 1,00 Não 157 88,2 81 51,6 1,08 (0,67-1,74) > 0,05 Sim 21 11,8 10 47,6 1,00 > 0,05 Solteiro 131 73,6 67 51,1 1,00 (0,72-1,39) > 0,05 Casado ou unido 47 26,4 24 51,1 1,00 Nenhum 161 90,4 86 53,4 1,82 (0,86-3,85) 1 ou mais 17 9,6 5 29,4 1,00 Variáveis no % no % 178 100 91 51,1 Feminino 122 68,5 63 Masculino 56 31,5 ≤ 27 111 > 27 Total Sexo Idade > 0,05 Cidade onde residia anteriormente > 0,05 Mora sozinho Estado conjugal Número de filhos a b > 0,05 A soma do total em cada categoria varia em virtude da exclusão de indivíduos para os quais não havia informação. RP: razão de prevalência. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):38-45. artigo original Carvalho CN et al. 42 Tabela 2. Prevalência de TMC segundo formação profissional Variáveis Prevalência Totala RPb (IC95%) p 56,2 1,39 (0,98-1,98) 0,049 40,4 1,00 65 55,1 1,30 (0,93-1,83) 25 42,4 1,00 88 52,1 1,56 (0,61-3,98) 3 33,3 1,00 no % no Sim 121 68,0 68 Não 57 32,0 23 2005 e depois 118 66,7 antes de 2005 59 33,3 Sim 169 94,9 Não 9 5,1 % Médico Ano de conclusão da graduação > 0,05 1a residência > 0,05 Ano do treinamento Primeiro (R1) 98 55,1 53 54,1 1,14 (0,85-1,53) Segundo (R2) 80 44,9 38 47,5 1,00 > 0,05 Programa de residência Medicina “Esp. Cirúrgicas” 56 31,5 33 58,9 1,46 (0,99-2,14) 0,048 Medicina “Esp. Clínicas” 65 36,5 35 53,8 1,33 (0,91-1,97) > 0,05 Enfermagem ou Nutrição ou Saúde Coletiva 57 32,0 23 40,4 1,00 A soma do total em cada categoria varia em virtude da exclusão de indivíduos para os quais não havia informação. b RP: razão de prevalência. a As três queixas, incluídas no SRQ-20, mais relatadas pelo conjunto dos residentes foram: “sentir-se nervoso, tenso ou preocupado” (73%), “dormir mal” (69,1%) e “cansar-se com facilidade” (61,2%). Entre as mulheres, a queixa mais prevalente foi “sentir-se nervosa, tensa ou preocupada” (73,8%) e entre os homens, “dormir mal” (76,8%). De um total de 20 queixas, somente cinco delas apresentaram diferença estatisticamente significante entre os sexos, e em todos os casos a magnitude foi maior no sexo feminino. “Cansar-se com facilidade” e “ter sensações desagradáveis no estômago” foram, respectivamente, 62% (p < 0,001) e 66% (p = 0,02) mais relatadas pelas mulheres do que pelos homens (p < 0,02). No mesmo sentido, as prevalências das queixas “sentir dores de cabeça”, “assustar-se com facilidade” e “chorar mais do que de costume” foram, respectivamente, duas (< 0,01), mais de três (< 0,001) e mais de seis (< 0,001) vezes maior nas mulheres do que nos homens (Tabela 3). No grupo dos médicos, as três queixas mais frequentes foram: “sentir-se nervoso, tenso ou preocupado” (73,6%), “dormir mal” (68,6%) e “sentir-se cansado o tempo todo” (61,2%). Já entre os profissionais não médicos, foram: “sentir-se nervoso, tenso ou preocupado” (71,9%), “dormir mal” (70,2%) e “cansar-se com facilidade” (68,4%). Quando se compararam os dois grupos, a única queixa cuja prevalência mostrou diferença estatisticamente significante foi “dificuldade no serviço (seu trabalho lhe causa sofrimento)”, cerca de 2,7 vezes maior entre os médicos do que entre os não médicos (p = 0,001) (Tabela 4). J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):38-45. DISCUSSÃO A prevalência global dos TMC entre os residentes foi de 51,1%, magnitude considerada elevada quando comparada à encontrada em investigações envolvendo a população em geral (7%-35%)1,3,4,29 ou grupos específicos, como estudantes da área de saúde (29,6%-44,7%)19-21 ou médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde (26%-43,3%)9,11,12,22,30,31. Nenhuma variável sociodemográfica se associou aos TMC, e isso já era esperado em relação à idade, uma vez que a amostra foi bastante homogênea. O diferencial por sexo é sempre observado em outros estudos que mostram maior prevalência no sexo feminino32-35. A explicação dada nesses casos é que a mulher se expõe à sobrecarga de papéis sociofamiliares, como a dupla jornada de trabalho, no lar e fora dele32-35. Quando as perguntas do Self-Reporting Question naire (SRQ-20) foram avaliadas isoladamente, diferenças nas prevalências entre os sexos foram verificadas e em todas as situações a magnitude foi maior no sexo feminino. Coutinho et al.33 alegam que a explicação para se detectar uma maior frequência de TMC no sexo feminino vincula-se a um possível viés de informação, gerado no momento da classificação. A adoção de pontos de corte diferenciados entre os sexos possivelmente minimizou a ocorrência desse bias neste estudo. artigo original Transtornos mentais comuns em residentes 43 Tabela 3. Prevalência das “queixas” do SRQ-20 segundo sexo Queixas Total Masculino Feminino p n % n % n % Sente-se nervoso, tenso ou preocupado 130 73,0 40 71,4 90 73,8 > 0,05 Dorme mal 123 69,1 43 76,8 80 65,6 > 0,05 Cansa-se com facilidade 109 61,2 24 42,9 85 69,7 < 0,001 Sente-se cansado o tempo todo 108 60,7 31 55,4 77 63,1 > 0,05 Sente-se triste ultimamente 102 57,3 27 48,2 75 61,5 > 0,05 Dificuldade para realizar atividades diárias 99 55,6 26 46,4 73 59,8 > 0,05 Má digestão 75 42,1 21 37,5 54 44,3 >0,05 Tem sensações desagradáveis no estômago 74 41,6 16 28,6 58 47,5 0,02 Dores de cabeça 70 39,3 13 23,2 57 46,7 < 0,01 Dificuldade para tomar decisões 66 37,1 18 32,1 48 39,3 > 0,05 Dificuldade de pensar com clareza 62 34,8 19 33,9 43 35,2 > 0,05 Assusta-se com facilidade 56 31,5 7 12,5 49 40,2 < 0,001 Dificuldade no serviço (seu trabalho lhe causa sofrimento) 54 30,3 18 32,1 36 29,5 > 0,05 Chora mais do que de costume 46 25,8 3 5,4 43 35,2 < 0,001 Perda do interesse pelas coisas 42 23,6 11 19,6 31 25,4 > 0,05 Falta de apetite 25 14,0 11 19,6 14 11,5 > 0,05 Tremores nas mãos 23 12,9 7 12,5 16 13,1 > 0,05 Incapacidade de desempenhar um papel útil na vida 16 9,0 5 8,9 11 9,0 > 0,05 Sente-se uma pessoa inútil, sem préstimo 12 6,7 4 7,1 8 6,6 > 0,05 Tem tido ideia de acabar com a vida 5 2,8 2 3,6 3 2,5 > 0,05 Tabela 4. Prevalência das “queixas” do SRQ-20 segundo profissão Queixas Médico n Não médico % n % p Sente-se nervoso, tenso ou preocupado 89 73,6 41 71,9 > 0,05 Dorme mal 83 68,6 40 70,2 > 0,05 Sente-se cansado o tempo todo 74 61,2 34 59,6 > 0,05 Dificuldade para realizar atividades diárias 71 58,7 28 49,1 > 0,05 Sente-se triste ultimamente 70 57,9 32 56,1 > 0,05 Cansa-se com facilidade 70 57,9 36 68,4 > 0,05 Má digestão 54 44,6 21 36,8 > 0,05 Tem sensações desagradáveis no estômago 50 41,3 24 42,1 > 0,05 Dificuldade de pensar com clareza 47 38,8 15 26,3 > 0,05 Dores de cabeça 46 38,0 24 42,1 > 0,05 Dificuldade para tomar decisões 46 38,0 20 35,1 > 0,05 Dificuldade no serviço (seu trabalho lhe causa sofrimento) 46 38,0 8 14,0 0,001 Assusta-se com facilidade 34 28,1 22 38,6 > 0,05 Perda do interesse pelas coisas 28 23,1 14 24,6 > 0,05 Chora mais do que de costume 26 21,5 20 35,1 = 0,05 Falta de apetite 18 14,9 7 12,3 > 0,05 Tremores nas mãos 18 14,9 5 8,8 > 0,05 Incapacidade de desempenhar um papel útil na vida 11 9,1 5 8,8 > 0,05 Sente-se uma pessoa inútil, sem préstimo 9 7,4 3 5,3 > 0,05 Tem tido ideia de acabar com a vida 4 3,3 1 1,8 > 0,05 J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):38-45. 44 artigo original Carvalho CN et al. A migração entre cidades não esteve associada aos TMC no estudo de Almeida-Filho et al.36, e a condição de morar sozinho foi considerada fator de risco por Coutinho et al.33 e Lima37. Em relação à vida conjugal, a ausência na amostra de situações que aumentam o risco de TMC, como divórcio, separação e filhos com idade até 1433,35, possivelmente explicaria a igualdade estatística nas prevalências observadas. A prevalência de TMC em residentes médicos foi 39% maior do que em residentes não médicos (p = 0,049). Caso o tamanho da amostra fosse maior, possivelmente a precisão dessa associação aumentaria. Hipóteses vinculadas à organização do processo do trabalho médico podem explicar essa diferença23. O perfil sobre o relato das “queixas” foi muito semelhante nos dois grupos. Somente uma “queixa” apresentou diferença estatisticamente significante: os médicos vincularam seu trabalho com sofrimento. Ao comparar a saúde mental de médicos com a de outros profissionais, alguns autores verificaram naqueles maior incidência de suicídio e de reações depressivas38-40. A prevalência de TMC observada nos residentes médicos (56,2%) foi mais elevada do que a encontrada em professores (entre 44% e 50,3%)6,41 e em médicos-residentes americanos (50%)42. O treinamento vinculado ao trabalho em ambiente cirúrgico, por ser mais estressante do que aquele realizado nas áreas de enfermagem, nutrição e saúde coletiva, constitui uma possibilidade de explicação para o fato de se observar uma prevalência de TMC maior nos residentes médicos das especialidades cirúrgicas que requerem habilidade técnica, controle emocional, autoconfiança, maior pragmatismo, capacidade para direcionar ações para resolução de problemas num curto espaço de tempo14. As diferenças de prevalência de TMC encontradas entre os profissionais médicos e das outras áreas de saúde pesquisadas pode ser em parte explicada pelas particularidades entre elas. Muito embora todas as profissões investigadas lidem com questões de saúde, o residente médico enfrenta situações de maior responsabilidade diante do paciente. Na literatura são relatados fatores estressantes como a relação médico-paciente, o comunicar doenças graves, o lidar com a morte, o medo de adquirir doenças contagiosas, rodízios em ambientes diferentes, isolamento familiar e social, fadiga, privação de sono, sobrecarga de trabalho, pavor de cometer erros, entre outras demandas que envolvem a formação médica13-18,43,44. O tempo de conclusão do curso e o fato de o residente estar no primeiro treinamento não se mostraram associados aos TMC. Alguns estudos14,15 mostram que a prevalência de depressão e ansiedade é maior no primeiro ano de treinamento, com tendência à queda até sua conclusão. Algumas limitações vinculadas ao desenho de estudo poderiam relativizar essas conclusões. Trata-se de um corte transversal que avalia em um só momento a “exposição” e o “efeito”, limitando ou impedindo o estabelecimento da sequência temporal correta entre eles. Não se pode afastar a possibilidade J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):38-45. de que uma parcela dos residentes já sofresse de TMC antes de entrar nos programas de residência, o que diminuiria a força de associação entre a vinculação ao treinamento e a ocorrência do efeito. Uma investigação do tipo coorte ajudaria a esclarecer as dúvidas quanto à magnitude e aos fatores de risco. A estratégia montada para prevenir perdas se mostrou eficaz, reduzindo o viés de seleção. O uso de questionário autoaplicável e o anonimato das respostas minimizaram o viés de informação concernente a perguntas sobre a intimidade dos pesquisados. O elevado grau de preenchimento médio das questões não comprometeu a análise dos dados. O ponto de corte diferenciado entre os sexos para o SRQ20 procurou evitar bias de classificação6,19,21,24,25. Quanto ao risco de subestimação do evento não parece ter ocorrido, uma vez que foi observada uma elevada prevalência de TMC na amostra. Deve-se ressaltar, ainda, que o instrumento do SRQ-20 permite apenas a suspeição de um caso de transtorno mental, sendo a entrevista psiquiátrica o padrão-ouro para o diagnóstico. CONCLUSÃO O estudo revelou elevada magnitude de TMC na população de treinandos em programas de residência no estado de Pernambuco, além de mostrar diferenciais nas prevalências do problema entre médicos e não médicos e no perfil de “queixas” do SRQ-20 entre os sexos. Esses resultados servem de reflexão para educadores, preceptores, gestores e coordenadores dos programas e serviços de saúde no sentido de elaborar estratégias para o enfrentamento da questão que afeta a qualidade de vida desses profissionais em formação. CONTRIBUIÇÕES INDIVIDUAIS Carla Novaes Carvalho – Participou da concepção do projeto, revisão da literatura, coleta e análise dos dados, interpretação dos resultados, redação do artigo, aprovação da versão final a ser publicada. Djalma Agripino de Melo-Filho – Contribuiu com a concepção do projeto, orientação sobre a literatura, análise e interpretação dos dados, redação do artigo e revisão crítica relevante do conteúdo e aprovação final da versão a ser publicada. João Alberto Gomes de Carvalho – Colaborou na concepção do projeto, revisão do artigo e aprovação da versão final. Ana Carla Guedes de Amorim – Participou na concepção e coleta de dados do projeto, da redação do artigo e da aprovação da versão a ser publicada. artigo original Transtornos mentais comuns em residentes 45 FONTES DE FINANCIAMENTO 20. Lima MC, Domingues MS, Cerqueira AT. Prevalência e fatores de risco para transtornos mentais comuns entre estudantes de medicina. Rev Saude Publica. 2006;40(6):1035-41. Nenhuma. 21. Facundes VL, Ludermir AB. Common mental disorders among health care students. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(3):194-200. AGRADECIMENTOS 22. Araújo TM, Aquino E, Menezes G, Santos CO, Aguiar L. Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbios psíquicos entre trabalhadoras de enfermagem. Rev Saude Publica. 2003;37(4):424-33. Agradecimento especial a Igor Henrique Figueira da Silva, pelo grande auxílio prestado na laboriosa coleta de dados. 23. Carvalho CN. Transtornos mentais comuns associados ao processo de trabalho e qualidade de vida em pós-graduandos dos programas de residência na área de saúde no Recife [dissertação]. [Recife (PE)]: Universidade Federal de Pernambuco; 2008. 118p. CONFLITO DE INTERESSES 24. Harding TW, De Arango MV, Baltazar J, Climent CE, Ibrahim HH, Ladrido-Ignacio L, et al. Mental disorders in primary health care: a study of their frequency and diagnosis in four developing countries. Psychol Med. 1980;10(2):231-41. 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J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):38-45. artigo original Termos psicopatológicos em bandas e músicas de rock and roll Psychopathological terms in bands and songs of rock and roll Thaísa Silva Gios1, Francisco Lotufo Neto2 RESUMO Palavras-chave Psicopatologia, psiquiatria, neurologia, música, rock and roll. Objetivo: Investigar o uso de termos psicopatológicos nos nomes de bandas de rock and roll e em suas músicas. Método: Termos psicopatológicos do glossário do DSM-IV foram digitados em português e inglês na página do YouTube. Bandas e músicas de rock and roll foram identificadas. O mesmo procedimento foi realizado, a título de comparação, com o glossário de termos neurológicos da CID-10. Resultados: Foram encontrados nomes de bandas ou músicas referentes a 62 termos psiquiátricos e a 24 termos neurológicos. Os termos psiquiá tricos foram mais frequentes, apresentando diferença estatisticamente significativa. Foram encontradas 60 bandas de rock com nomes inspirados na psiquiatria e na neurologia. Dessas, 44 bandas usavam nomes psiquiátricos e 16 bandas usavam termos neurológicos. Bandas e músicas de rock usam mais nomes psiquiátricos que neurológicos. Predominaram nas músicas nomes relacionados ao uso de substâncias. Ao se compararem nomes de bandas e canções brasileiras e estrangeiras, não se encontrou diferença estatisticamente significativa. Conclusão: Bandas de rock and roll usam com maior frequência termos psicopatológicos em seus nomes e em suas músicas. Bandas brasileiras apresentam resultados semelhantes. ABSTRACT Keywords Psychopathology, psychiatry, neurology, music, rock and roll. Objective: To investigate the use of psychopathology terms in the names of rock and roll bands and in their songs or musics. Method: Psychopathological terms from the DSM-IV glossary were typed in Portuguese and English on the YouTube page. Bands and music of rock and roll were identified. The same procedure was performed, for comparison, with the glossary of neurological terms of ICD-10. Results: Sixty-two psychiatry and 24 neurology related words were used by rock and roll bands and songs. A frequent use of psychiatric and neurological terms in band names and songs of rock was found. The psychiatric terms were more frequent. Sixty bands used psychiatric and neurology related names (44 bands used psychiatry names and 16 neurology). The names predominant in music were related to substance use. When comparing names and songs of Brazilian and other countries bands no difference was found. Conclusion: Rock and Roll bands use with greater frequency psychopathology and psychiatric terms in their names and musics. Brazilian bands held similar results. 1 Universidade Regional de Blumenau (Furb), Blumenau, SC, Brasil. 2 Universidade de São Paulo (FMUSP), Faculdade de Medicina, Departamento de Psiquiatria. Recebido em 12/11/2012 Aprovado em 3/2/2013 Endereço para correspondência: Francisco Lotufo Neto Departamento de Psiquiatria, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo Rua Dr. Ovídio Pires de Campos 785 05403-903 – São Paulo, SP, Brasil E-mail: [email protected] artigo original INTRODUÇÃO Durante o século XX a arte foi analisada pela maioria das teorias psicológicas da época. A psiquiatria e a psicoterapia influenciaram o modernismo, o surrealismo, o expressionismo e o pós-modernismo. A arte daquele que sofre de um transtorno mental, denominada por Dubuffet de arte bruta, foi valorizada com a criação de museus especializados e exposições1-3. Cinema e histórias em quadrinhos frequentemente têm como tema a psicopatologia4,5. Principalmente no cinema, o doente é visto de forma estereotipada, ora como homicida cruel, ora como muito inteligente, sedutor e iluminado, ora como narcisista, parasita, egoísta e autocentrado. Por vezes é visto como alguém de espírito livre e rebelde, de certa forma destacado da sociedade por sua tendência crítica e desafiadora6. Em geral, é mais bem retratado que o psiquiatra e o psicoterapeuta, comumente vistos como portadores de traços psicopáticos ou pouco inteligentes, necessitados da ajuda do paciente. A interface da música popular brasileira com a psicopatologia foi estudada por Marques Filho et al.7. Essa relação de formas artísticas com a psicopatologia levou à interrogação se isso também ocorre no rock and roll, estilo musical da preferência de muitos jovens. Estudos recentes demonstram associação entre a preferência musical por jazz e rock e tentativas de suicídio, depressão, delinquência, drogas e disfunção familiar. O rock parece proporcionar maior hostilidade, tristeza, fadiga e tensão nos indivíduos em relação aos demais estilos musicais8-10. Por esses motivos, o tema merece ser estudado. OBJETIVO Realizar um estudo transversal investigando o uso de termos neurológicos e psicopatológicos em nomes de grupos musicais e músicas de rock and roll e comparar os achados em bandas brasileiras e estrangeiras. MATERIAIS E MÉTODOS Os instrumentos utilizados foram o site YouTube, o DSM-IV e a Classificação Internacional de Doenças 10ª edição (CID10). Todos os 144 termos psiquiátricos do glossário do DSM-IV foram utilizados na pesquisa (páginas 45-57). A título de comparação, todos os 241 termos neurológicos do capítulo VI da CID-10 (G00-G99) foram utilizados também (páginas 382-416). Os termos psicopatológicos presentes no glossário do DSM-IV foram digitados em português e inglês na página inicial do YouTube. A pesquisa na internet foi realizada entre Psicopatologia e rock and roll 47 os dias 23/12/2011 e 4/1/2012. As três primeiras páginas de busca foram então analisadas, buscando a presença de nomes de bandas de rock and roll ou músicas. Foram excluídos epônimos que não tiveram inspiração psiquiátrica ou neurológica. Após encontrar as bandas e músicas, buscou-se a nacionalidade delas no próprio site YouTube. Para comparação dos dados, foi utilizada a mesma metodologia em relação aos termos neurológicos presentes na CID-10. Os resultados foram organizados em tabelas e analisados pelo teste t de Fisher. Valor de p menor ou igual a 0,05 foi considerado estatisticamente significante. RESULTADOS Foram encontrados nomes de bandas ou músicas referentes a 62 termos psiquiátricos e a 24 termos neurológicos. Os termos psiquiátricos foram mais frequentes, apresentando diferença estatisticamente significativa (p = 0,000002). Bandas de rock and roll inspiradas na psicopatologia Foram encontradas 60 bandas de rock com nomes inspirados na psiquiatria e na neurologia. Dessas, 44 bandas usavam nomes psiquiátricos e 16 bandas usavam termos neurológicos. Bandas de rock usam mais nomes psiquiátricos que neurológicos (p = 0,00009). Onze outras bandas foram excluídas por remeterem a nomes próprios ou não terem significado relacionado às áreas em estudo: Rett Kurs, Nina Becker, Zé Paulo Becker, Thane Thomsen, Ove Thomsen, Isaacs, Gregory Isaacs, The Isaacs, Síndrome de Bar, Kanye West, Aura Dione. Esses nomes são epônimos de algumas síndromes psiquiátricas e neurológicas, mas não tiveram inspiração no rock. Exemplos de bandas nacionais brasileiras que utilizaram nomes psiquiátricos são: Delirium tremens, Hienas Distímicas, Narcolepsia, Carrossel Delirante, Conduta Destrutiva, Esputo Catatônico, Dirty Alcool, Alcool Club, Grupo Substância, Palhaço Paranoide, Banda Paranoide, Parafilia Horrenda, Mc Insônia, Parassônia, Hipersônica, Dissonia, Cleptomania, Distonia, Sem Abuso. As bandas internacionais encontradas que usam termos psiquiátricos, com as respectivas nacionalidades, são: Delirium Tremens (Alemanha), Delerium (Canadá), Anorexia Nervosa (França), Dispareunia (Peru), Mal de Parkinson (Argentina), Bipolar (Espanha), Distimic Suicide (Chile), Ciclotímico (México), Gallinero Ciclotimico (Argentina), Hardcore Ciclotimico (México), Ciclo Timia (Irlanda), Borderline Insane (Portugal), Santa Demencia (México), Demencia Mortalis (República Tcheca), Demencia (Argentina), Quartet Doloroso (Estados Unidos), Sex Pistols (Inglaterra) e Parafilia (França). Em relação às bandas Borderline, Facticio, Delirium, Sono e Esquizoide, não foram encontradas pela busca no site YouTube a nacionaliJ Bras Psiquiatr. 2013;62(1):46-50. 48 artigo original Gios TS, Lotufo Neto F dade específica e a descrição da banda, e as músicas eram em idioma estrangeiro. Foram comparadas as bandas brasileiras e estrangeiras (Tabela 1) e seu uso de nomes psiquiátricos e neurológicos. Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa (p = 0,77). Tabela 1. Nomes psiquiátricos e neurológicos em bandas brasileiras e estrangeiras nas, 5 alemãs, 6 mexicanas, 2 equatorianas, 4 espanholas e 3 panamenhas. As demais 8 bandas encontradas não exibiam nacionalidade específica no site YouTube. Foram comparados os termos neurológicos e psiquiátricos entre as músicas brasileiras e estrangeiras, conforme a tabela 3. Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa, com valor de p de 0,44. Bandas brasileiras (N/%) Bandas estrangeiras (N/%) Tabela 3. Nomes psiquiátricos e neurológicos em músicas brasileiras e estrangeiras Psiquiatria 20 (45,4%) 24 (54,5%) Músicas brasileiras (N/%) Músicas estrangeiras (N/%) Neurologia 8 (50%) 8 (50%) Psiquiatria 84 (52%) 75 (47,1%) Neurologia 11 (64,7%) 6 (35,2%) p = 0,77. p = 0,44. Músicas de rock and roll inspiradas na psicopatologia DISCUSSÃO Foram encontrados 176 nomes de canções utilizando termos neurológicos e psiquiátricos. Desses, 159 músicas utilizaram termos psiquiátricos e 17, neurológicos (p = 0,00009). Foram excluídos sete outros nomes de músicas por não estarem relacionados às áreas em estudo. Em relação aos termos psiquiátricos, predominaram nas músicas nomes relacionados ao uso de substâncias como: “Esbórnia e álcool”, “Anfetamina mil grau”, “Cocaína”, “Nicotina”, “Que corra la nicotina”. Na tabela 2, observam-se os temas psicopatológicos mais frequentes encontrados. Os nomes das bandas e músicas sugestivos de psicopatologia foram classificados em temas pelos autores segundo seu valor de face. Tabela 2. Temas psicopatológicos usados nos nomes de grupos de rock e em suas canções Bandas Músicas Uso de substâncias 4 38 Psicoses 3 12 Sexualidade 3 9 Transtornos de personalidade 4 12 Transtornos do humor 7 13 Transtornos de ansiedade 0 5 Transtornos somatoformes 0 3 Sono 6 26 Cognição 8 12 Transtornos na infância/adolescência 2 7 Transtornos alimentares 1 1 Outros 7 21 Foram encontradas 75 músicas estrangeiras com termos psiquiátricos: 6 norte-americanas, 3 chilenas, 6 italianas, 4 colombianas, 3 neozelandesas, 5 inglesas, 3 canadenses, 3 finlandesas, 3 australianas, 2 francesas, 2 peruanas, 7 argentiJ Bras Psiquiatr. 2013;62(1):46-50. O rock and roll, desde a década de 1950, possui fama de ser a música da juventude, da rebeldia, da liberdade e do idealismo. A música popular é vista como uma reflexão e uma inspiração para os movimentos de jovens, modas e estilos de vida11. A banda é um projeto comum que une e combina a expressão da personalidade de seus membros. O nome da banda está relacionado aos subgêneros com que dialoga, remetendo às suas características musicais e à visão de mundo. Simboliza as aspirações e ideologias dos músicos. Notam-se atualmente muitos nomes de bandas que remetem a temáticas comuns como: destruição, pessimismo, sarcasmo, zombaria e psicopatologia. Nos videoclipes, nas capas de CD e discos, metáforas e grafias tornam as palavras extraordinárias e ampliam o seu significado. A prevalência de comorbidades psiquiátricas é marcante entre os músicos do rock, como transtornos de ansiedade, transtornos psicóticos e transtornos relacionados ao uso de substâncias12-14. O uso frequente de termos psiquiátricos por bandas e compositores de rock and roll pode ter diversos significados: assinalar a prevalência elevada desses transtornos na população ou o receio e desconforto que esses sintomas provocam; enfatizar a associação do transtorno mental com protesto ou com liberdade individual, ser diferente ou fora dos padrões ou a busca por uma identidade própria que não se conforma com a tradição. Segundo Bob Gruen15, o punk é uma atitude. Uma atitude agressiva que questiona autoridade e tudo o mais. Tem a ver com querer um mundo melhor e ficar furioso por não consegui-lo rapidamente. Punk é fazer as coisas do seu próprio jeito, sem orientação ou preocupação com possíveis críticas. O Punk começou a partir dos excluídos e daqueles que não concordavam com a sociedade convencional, com um culto que se formou nos pequenos bares de Nova York e Londres. O bar inicial de muitas bandas, bar CBGB, era um lugar muito artigo original liberal, em que a única regra imposta pelo proprietário era que as bandas que lá tocavam tinham que escrever suas próprias canções15. Foram encontradas algumas bandas e músicas usando termos neurológicos. Mesmo essa especialidade tão próxima da psiquiatria não despertou o mesmo interesse. No mundo da cultura e das ciências humanas, a preocupação com a psiquiatria é muito maior, é carregada de ideologia e desperta maior polarização e paixão. É incomum encontrar nomes ligados a outras especialidades médicas como gastroenterologia ou cardiologia, por exemplo. O fenômeno é também internacional. Em diferentes culturas o uso da psicopatologia está relacionado ao nome de bandas e músicas de rock. Países como México, Peru, Argentina, República Tcheca, Inglaterra, Estados Unidos, Portugal, Irlanda, Canadá, entre outros, apresentam nomes de bandas e músicas com termos psiquiátricos em inglês, conforme resultados do presente estudo. O número absoluto de bandas e músicas brasileiras que usam termos psicopatológicos é semelhante ao do resto do mundo. Isso pode ser explicado pela força e atração da cultura anglo-saxã (língua, produtos, roupas, festas, filmes, televisão) e pelos nossos problemas sociais e grande prevalência de transtornos mentais. O rock and roll parece manter a visão romântica dos transtornos mentais que foi trazida pela contracultura na década 1970, quando a influência da antipsiquiatria estava no auge. O show de rock é um espetáculo muitas vezes fantasioso em que os artistas expõem sob máscaras e músicas seus ideais e comportam-se como a se libertar das convenções-padrão. A iluminação dramática e os efeitos de fumaça deixam a performance parecer surreal; parecem pertencer à outra dimensão, sem regras ou restrições, somente liberdade. Os membros da banda Kiss, por exemplo, tornaram-se únicos, maquiando-se como monstros, cuspindo fogo e sangue15. Expressar comportamentos e usar nomes de sintomas e transtornos mentais permitiria atos impulsivos e inconsequentes, às vezes amorais, mas também uma catarse coletiva, estados alterados de consciência que aliviam ansiedades, tristeza e angústias. Até mesmo perante a justiça a conduta diante de alguém com transtorno mental é diferente: a incapacidade de entender o caráter ilícito de seus atos permite que o doente mental seja considerado inimputável e tenha julgamento e pena diferenciados. Na visão romântica do rock and roll, suspender a ordem e as regras seria sinônimo de liberdade ou agressão à ordem estabelecida. Tal observação lembra a famosa frase de Raul Seixas, famoso cantor roqueiro, na época da contracultura dos anos 1970: “Faz o que tu queres há de ser tudo da lei”. No presente estudo predominou nas músicas pesquisadas termos relacionados ao uso de substâncias como: álcool, anfetamina, cocaína e nicotina. Foram encontradas 38 músicas relacionadas a esse tema. Dessas, apenas uma defendia o abandono das drogas, enfatizando seus efeitos deletérios. Psicopatologia e rock and roll 49 As demais 37 incentivavam o uso. O impacto que isso pode ter merece ser analisado. As drogas ilícitas por si só remetem à ideia de anarquia, geralmente presente nas músicas de rock. Em 2008, um estudo analisou o conteúdo de 279 músicas populares norte-americanas, constatando que 33,3% referenciaram o uso de substâncias. Dessas músicas, 66 eram rock e 62 rap e, respectivamente, 14% e 77% delas incentivavam o uso. Do total de músicas, 2,9% referenciaram o tabaco, 23,7% o álcool, 13,6% a maconha e 11,5% drogas inespecíficas. O uso da droga foi associado com festas, sexo, violência e humor. Somente 4% das músicas expuseram mensagens antiuso de drogas13. O mesmo fenômeno é encontrado na música popular brasileira. Segundo resultado de estudo brasileiro de 2004, ao estudar a relação entre substâncias e músicas populares, há predominância de músicas discursando a favor da discriminação da cannabis por seu caráter dito inofensivo e pretensas vantagens de seu uso; uma minoria de músicas enfatiza os riscos de dependência da cannabis, do álcool e da heroína7. Conhecer rock and roll pode facilitar o estabelecimento de vínculo com adolescentes e jovens aficionados e pode facilitar atividades terapêuticas discutindo letras de músicas. Porém, a apropriação de termos médicos pelo vocabulário popular, como “esquizofrênico”, “imbecil” e “cretino”, e sua atribuição em casos cotidianos sem nenhum rigor científico, assim como o uso metafórico desses termos com significados depreciativos e insanos, pode contribuir para o estigma que alguns transtornos mentais possuem, dificultando a procura de tratamento para as comorbidades psiquiátricas e segregando parte da sociedade16. A visão antipsiquiátrica ou o reducionismo psicológico pode ser prejudicial, pois as pessoas podem ter dificuldade de separar o normal do patológico e buscar ajuda. O incentivo de muitas músicas ao uso de substâncias é outro ponto negativo que separa a Psiquiatria do rock and roll. Contribuições individuais Os dois autores trabalharam ativamente em todas as fases do projeto. Conflitos de interesse Não há. REFERÊNCIAS 1. Aguilar N. Imagens do inconsciente. In: Mostra do Redescobrimento. 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Adicionalmente, foram elaborados critérios de inclusão para selecionar os trabalhos com abordagem metacognitiva. Resultados: Dezessete estudos foram selecionados, abrangendo essencialmente programas de reconhecimento do afeto facial e de emoções, Teoria da Mente (ToM), imitação e tomada de perspectiva em situações sociais. Conclusão: A maior parte dos estudos mostrou que seus programas são eficazes para melhorar medidas de psicopatologia, CS e funcionamento social. Futuras pesquisas deverão esclarecer sobre segurança, especificidade e durabilidade dessas intervenções. ABSTRACT Keywords Schizophrenia, social cognition, psychotherapy, sociobiology. Objective: To review systematically the literature on psychotherapeutic programs focusing on SC, designed to schizophrenia, which methods include metacognitive strategies. Me thods: A search on MedLine base for papers published in English or Portuguese has been performed, using the phrase “Social cognition” AND “Schizophrenia” [Mesh] AND “Psychotherapy” [Mesh] and the limits “Humans”, “Clinical Trial”, “Meta-Analysis” and “Randomized Controlled Trial”. Additionally, inclusion criteria have been formulated in order to select papers with metacognitive approach. Results: Seventeen articles have been selected, which comprised essentially facial emotion recognition, emotion recognition, Theory of Mind (ToM), imitation and perspective taking in social situations. Conclusion: The great majority of papers have shown that their programs are effective in improving measures of psychopathology, SC and social functioning. Future research might clarify about safety, specificity and durability of such interventions. 1 Instituto de Psiquiatria do Paraná. 2 Universidade Estadual de Londrina (UEL). Recebido em 12/11/2012 Aprovado em 3/2/2013 Endereço para correspondência: Hélio Anderson Tonelli Av. Cândido de Abreu, 526, cj. 311, Torre B 80530-000 – Curitiba, PR, Brasil Email: [email protected] 52 REVISÃO DE LITERATURA Tonelli HA et al. INTRODUÇÃO Por se tratar de uma doença crônica e potencialmente incapacitante, a esquizofrenia é considerada um sério problema de saúde pública, para o qual estratégias terapêuticas multidimensionais devem, idealmente, ser desenvolvidas. Abordagens psicoterapêuticas individuais ou grupais são coadjuvantes do tratamento farmacológico e podem ser empregadas de forma fácil, tanto em pacientes ambulatoriais quanto em internados. Os principais alvos terapêuticos dessas abordagens costumam ser as dificuldades interpessoais e sintomas resistentes à medicação. Circuitos cerebrais especificamente relacionados ao processamento da informação do ambiente social – ou cognição social (CS) – estão disfuncionais na esquizofrenia, gerando sintomas que poderiam ser entendidos como reações “para mais” ou “para menos” a esse ambiente (respectivamente, sintomas paranoides e afastamento social)1. Por auxiliar na compreensão da origem dos sintomas da esquizofrenia, o estudo da CS pode ser útil para o desenvolvimento de estratégias psicoterapêuticas a serem empregadas com a farmacoterapia, melhorando a evolução do transtorno em médio e longo prazo. A maior parte das técnicas de psicoterapia e reabilitação desenhadas para a esquizofrenia dirige-se tanto à melhora cognitiva geral quanto da interação social, e as mais estudadas são as psicoterapias de remediação cognitiva e o treino de habilidades sociais. Embora úteis, esses programas não levam em conta as características qualitativas dos estímulos cognitivos sociais2, tendendo a considerar as distorções apresentadas pelos pacientes em suas interpretações do ambiente social mais como uma consequência de prejuízos cognitivos gerais, como déficits atencionais e de função executiva. Dessa forma, essas intervenções têm uma abordagem baseada nos sintomas, ou, segundo Aghotor et al.3, do tipo “porta da frente”, por não considerarem a origem cognitiva social dos sintomas. Assim, o foco das psicoterapias cognitivas para a esquizofrenia seria a modificação de crenças e esquemas mal-adaptativos decorrentes de déficits cognitivos4, e não da cognição propriamente dita. Programas com foco na cognição baseiam-se na melhora de parâmetros cognitivos gerais (memória, aprendizado, atenção e função executiva) ou sociais (reconhecimento de emoções, capacidade de inferência de estados mentais em outros indivíduos e estilos atribucionais) e seriam mais adequadamente designados como “treino cognitivo” e considerados estratégias do tipo “porta dos fundos”3. Abordagens metacognitivas, por sua vez, são desenvolvidas para focar vieses cognitivos subjacentes aos sintomas esquizofrênicos e promover alguma reflexão sobre os próprios processos cognitivos. O termo “metacognição” foi utilizado pela primeira vez em 1976 por Flavell5, que o definiu J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):51-61. como “aquilo que se refere ao conhecimento que alguém tenha a respeito de seus próprios processos cognitivos, ou a qualquer coisa que a estes processos se relacionem (...)”. Metacognição, portanto, define a cognição acerca de cognição, isto é, aquilo que sabemos sobre e reconhecemos em nossa própria cognição. Programas metacognitivos com enfoque em CS empregam diversas tarefas que têm em comum a avaliação supervisionada, o estímulo à reflexão e o aprendizado baseados na observação de como a mente interpreta e reage aos mais diversos estímulos sociais. Tais técnicas podem auxiliar na correção de erros na interpretação desses estímulos, levando a comportamentos mais adaptativos e à melhora nos relacionamentos interpessoais. Este manuscrito tem como objetivo revisar sistemática e criticamente a literatura sobre programas psicoterapêuticos para a esquizofrenia que se baseiem em CS (ou incluam em algum de seus subprogramas), cujo método envolva estratégias metacognitivas, procurando por ensaios clínicos que comparem esses programas a outros métodos terapêuticos não farmacológicos já tradicionalmente utilizados em set tings ambulatoriais ou hospitalares. MÉTODOS Em uma primeira etapa da preparação deste manuscrito, foi realizada uma busca na base de dados MedLine, por trabalhos publicados em português ou inglês, no período compreendido entre 1/1/1990 e 1/8/2011, utilizando a frase de busca “Social cognition” AND “Schizophrenia” [Mesh]) AND “Psychotherapy” [Mesh] e os limitadores “Humans”, “Clinical Trial”, “Meta-Analysis” e “Randomized Controlled Trial”. Essa busca tinha por finalidade encontrar estudos sobre intervenções psicoterápicas utilizando conceitos sociocognitivos e resultou em 11 artigos2,6-15, dos quais um foi excluído por não se tratar de um ensaio clínico7. Outros 10 manuscritos3,16-24 foram selecionados a partir da leitura dos artigos acima, pois pareciam preencher os critérios de inclusão do tema a ser discutido. Após a leitura deles, dois foram descartados por não se tratarem de ensaios clínicos22,24 e outro23, por não envolver diretamente CS. Em uma segunda etapa, foram selecionados os artigos que estudaram estratégias psicoterapêuticas metacognitivas. Uma vez que nem todos os trabalhos selecionados explicitavam isso, procurou-se estabelecer um critério objetivo com o qual fosse possível afirmar que estratégias metacognitivas de tratamento haviam sido utilizadas. Assim, a alusão à abordagem do tipo “porta de trás” foi escolhida na elaboração desses critérios: segundo ela, o principal objetivo deve ser a mudança da “infraestrutura cognitiva” por meio do aumento da atenção dos pacientes à própria cognição. De acordo com essa perspectiva, optou-se por definir, se não REVISÃO DE LITERATURA Cognição social e reabilitação da esquizofrenia mencionado no manuscrito, que uma estratégia metacognitiva fora adotada quando o método incluía o favorecimento da conscientização dos pacientes acerca de seus déficits por meio do estímulo à observação, avaliação e/ou simulação e correção dos próprios processos cognitivos sociais3. Segundo esses critérios, todos os 17 artigos inicialmente selecionados puderam ser incluídos. RESULTADOS Dos 17 artigos incluídos, 14 são estudos controlados3,6,8-21 e três, não controlados2,12,17. As principais características desses estudos e seus principais achados estão sumarizados na tabela 1. De forma geral, os estudos incluídos compararam programas realizados em grupo ou individualmente (os programas metacognitivos avaliados estão resumidos na tabela 2) com outros tipos de intervenção-controle, como grupo de discussão de jornais3, terapia de solução de problemas6; “estratégias 53 terapêuticas usuais”, incluindo manejo de medicação, psicoterapia suportiva, psicoeducação e terapia ocupacional2,14,18; psicoterapia suportiva9,13,15; seguimento medicamentoso isolado8; treino de habilidades sociais19 e psicoterapia de remediação cognitiva18. Um estudo examinou os efeitos de sua intervenção sobre a psicopatologia ou cognição em portadores de esquizofrenia e comparou-os com controles históricos17. Três programas foram estudados em mais de uma publicação: Cognitive Enhancement Therapy (CET)9,12,13,15, Social Cognition Interaction Training (SCIT)2,11,19 e Training of Affect Recognition (TAR)17,18. Os programas estudados abrangeram várias abordagens, baseadas nas principais linhas de estudo de CS (Tabela 2), incluindo tarefas de reconhecimento e percepção de emoções, processamento cognitivo “teoria da mente” (ou “ToM”, associado à habilidade de inferência de estados mentais em terceiros), atribuição e julgamento de situações sociais, tomada de perspectiva, apreciação, avaliação e imitação de ações em contextos sociais. Tabela 1. Principais características e achados dos trabalhos selecionados Estudos controlados Número de participantes Principais características do estudo Principais achados 16 Penn e Combs, 2000 40 pacientes internados (23 homens e 17 mulheres) com diagnósticos de esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo, de acordo com a Entrevista Clínica Estruturada para DSM-IV, foram alocados aleatoriamente para um dos quatro grupos da pesquisa Compararam o impacto da imitação de expressões faciais sobre o reconhecimento de emoções com o obtido via reforço monetário. Os autores compararam quatro grupos em relação ao seu desempenho na identificação do afeto facial e na generalização do reconhecimento de afeto. Os grupos receberam abordagens distintas quanto à execução das tarefas: treino simples, treino com reforço financeiro (a cada acerto o indivíduo recebia imediatamente $ 0,10), treino de imitação das emoções mostradas (ou feedback facial) e treino combinado; feedback facial e reforço financeiro (grupo “combinação”) Os grupos “reforço”, “feedback facial” e “combinação” melhoraram significativamente seu desempenho no teste de identificação do afeto facial em relação ao treino simples, isto é, houve ampliação da capacidade de identificar vários tipos distintos de afetos observados em fotos de faces. Todavia, houve limitadas evidências de que os efeitos das intervenções se generalizavam para a discriminação do afeto facial, isto é, a habilidade de perceber se duas faces distintas mostradas sequencialmente exibem a mesma emoção Hogarty et al., 200415 120 pacientes ambulatoriais satisfazendo critérios diagnósticos do DSM-II-R ou do DSM-IV para esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo (59% homens e 41% mulheres) foram randomizados para Cognitive Enhancement Therapy (CET) ou controle Estudaram o efeito do CET sobre a cognição de portadores de esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo. O CET foi comparado a técnicas psicoterápicas suportivas ao longo de dois anos. Foram realizadas avaliações cognitivas e psicopatológicas na baseline e aos 12 e 24 meses Aos 12 meses foi observado um efeito robusto do CET em domínios neurocognitivos, com efeitos marginais sobre a cognição social. No entanto, a partir dos 24 meses houve melhoras significativas no grupo CET em todas as medidas comportamentais e de cognição, exceto em sintomas residuais Roncone et al., 200421 20 portadores de esquizofrenia residual, de acordo com critérios do DSM-IV (13 homens e 7 mulheres), aleatoriamente alocados para Instrumental Enrichment Programme (IEP) ou controle (tratamento medicamentoso e psicoterapia de apoio) Estudaram a eficácia do IEP em uma população de esquizofrênicos com déficits ToM, comparando este programa com um grupo controle, durante seis meses Houve melhora estatisticamente significativa do grupo IEP em diversos domínios cognitivos sociais, como habilidades ToM e de reconhecimento de emoções, principalmente tristeza e medo Wölwer et al., 200518 77 pacientes ambulatoriais com diagnóstico de esquizofrenia de acordo com a CID-10 (60 homens e 17 mulheres), alocados aleatoriamente para os grupos Training of Affect Recognition (TAR); Cognitive Remediation Training (CRT) e tratamento usual Compararam o TAR com duas outras estratégias, CRT e tratamento usual (que não incluía treino cognitivo algum), a fim de observar seus efeitos sobre o reconhecimento do afeto facial Os pacientes recebendo TAR apresentaram melhora significativa no reconhecimento do afeto facial em relação aos outros grupos. O grupo CRT, de tratamento ativo, não modificou o desempenho sobre o reconhecimento de emoções, mas apresentou melhora na memória verbal Choi e Kwon, 200614 34 pacientes ambulatoriais diagnosticados com esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo de acordo com DSM-IV (19 homens e 15 mulheres) foram randomicamente alocados para receberem Social Cognitive Enhancement Training (SCET) ou tratamento convencional Avaliaram o impacto do SCET sobre a avaliação de contexto social em esquizofrênicos. O SCET foi comparado a tratamento convencional, caracterizado por atividades de otimização da aderência à medicação e do funcionamento social e ocupacional. Os autores utilizaram instrumentos para aferição de CS antes e após o tratamento, que foi realizado por seis meses Neste trabalho, o SCET melhorou déficits atencionais, de memória e de função executiva em esquizofrênicos em relação ao tratamento convencional, mas não houve generalização desses efeitos no funcionamento social. Além disso, houve fracas evidências de que o SCET tenha efeito sobre o reconhecimento de emoções continuação J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):51-61. 54 REVISÃO DE LITERATURA Tonelli HA et al. Estudos controlados Número de participantes Principais características do estudo Principais achados 28 pacientes ambulatoriais de um serviço de psiquiatria forense (21 homens e 7 mulheres), com diagnóstico de transtorno do espectro da esquizofrenia de acordo com a Entrevista Clínica Estruturada para DSM-IV Compararam o Social Cognition and Interaction Training (SCIT) a uma estratégia de treino de habilidades sociais em indivíduos com transtornos do espectro da esquizofrenia ao longo de 18 semanas Além de demonstrar melhora em todos os parâmetros CS, os autores reportaram diminuição de incidentes agressivos no grupo SCIT, argumentando que um bom rendimento cognitivo social permite a configuração de relações interpessoais mais saudáveis, diminuindo o risco de agressão em indivíduos com transtornos do espectro da esquizofrenia. As alterações favoráveis observadas na cognição dos indivíduos recebendo SCIT mantiveram-se mesmo após terem sido estatisticamente controladas com os dados sobre alterações sintomáticas ao longo do tempo Eack et al., 200713 38 pacientes ambulatoriais com diagnóstico de esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo de acordo com a Entrevista Clínica Estruturada para DSM-IV (26 homens e 12 mulheres), alocados aleatoriamente para CET ou EST [Terapia Suportiva Enriquecida (Enriched Supportive Therapy)] Examinaram os efeitos do CET sobre a CS em esquizofrênicos com doença recente. O CET foi comparado a o EST, caracterizado por estratégias de redução do estresse e psicoeducação, ao longo de um ano Os indivíduos recebendo CET apresentaram melhora significativa na compreensão e no manejo de emoções, tanto em si mesmos quanto em terceiros; e na habilidade de utilizar emoções para facilitar o pensamento e a tomada de decisões, desenvolvendo a habilidade de compreender o significado das emoções em um contexto social. Não houve, contudo, diferenças significativas na competência de perceber acuradamente emoções Combs et al., 200911 18 pacientes do estudo de Combs et al., 200719 (12 homens e 6 mulheres) Publicaram dados acerca da estabilidade dos efeitos no grupo SCIT na população anteriormente estudada por Combs et al. (2007)19. Além de submeterem essa população a medidas de percepção de emoções e funcionamento social após seis meses, os autores compararam essa população com um grupo de indivíduos de uma comunidade não psiquiátrica Os resultados foram favoráveis ao SCIT, já que seis meses após o primeiro estudo os escores do grupo SCIT mantiveram-se significantemente maiores do que na baseline, além de não ter havido diferenças entre o desempenho desse grupo e do grupo não clínico Eack et al., 20099 58 pacientes ambulatoriais preenchendo critérios para esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo de acordo com a Entrevista Estruturada para DSM-IV (40 homens e 18 mulheres) aleatoriamente alocados para CET ou EST Examinaram os efeitos do CET sobre a CS em esquizofrênicos e portadores de transtorno esquizoafetivo com doença recente, reforçando que podem existir diferenças na capacidade de resposta a métodos psicoterapêuticos em sujeitos com doença recente e tardia graças à preservação da neuroplasticidade naqueles. O estudo foi realizado ao longo de dois anos. O CET foi comparado à terapia suportiva enriquecida (EST), e os sujeitos experimentais foram avaliados no primeiro e no segundo ano No primeiro ano os indivíduos recebendo CET tiveram melhoras importantes em estilos cognitivos disfuncionais, CS e sintomatologia, em relação ao grupo EST. Após dois anos as diferenças se tornaram altamente significativas favorecendo o CET Gil Sanz et al., 200910 14 pacientes ambulatoriais diagnosticados de acordo com os critérios da CID-10 (7 homens e 7 mulheres), aleatoriamente alocados para os grupos experimental e controle Examinaram os efeitos da aplicação do Social Cognition Training Program (SCTP), sobre o reconhecimento de emoções e percepção social em esquizofrênicos ao longo de 10 semanas O grupo SCTP mostrou desempenho significativamente superior nas medidas de percepção e interpretação de situações sociais, mas não de reconhecimento de emoções em relação ao grupo controle, que não recebeu treino em percepção social Matsui et al., 20098 20 pacientes ambulatoriais preenchendo critérios do DSM-IV para esquizofrenia, alocados aleatoriamente para reabilitação cognitiva com ênfase em informação social ou controle Os autores compararam um programa de reabilitação cognitiva com ênfase em informação social com tratamento convencional (definido como seguimento medicamentoso), ao longo de três meses. Apesar de o programa avaliado não ter um módulo desenhado especificamente para o tratamento cognitivo social, os autores tinham como alvo principal proporcionar um aumento na competência da avaliação de situações sociais, por meio de uma estreita interação pacienteterapeuta, o que, em última análise, favoreceria a criação de novas macroestruturas cognitivas ou representações mentais sobre o ambiente social Os indivíduos recebendo reabilitação cognitiva demonstraram desempenho significativamente maior em medidas de CS em relação ao controle. Tais melhoras foram mantidas por pelo menos três meses após o final da intervenção Aghotor et al., 20103 30 portadores de transtorno do espectro da esquizofrenia (20 homens e 10 mulheres), de acordo com critérios da CID-10, foram alocados para Metacognitive Training (MCT) ou grupo controle Compararam a eficácia e a segurança do MCT com um grupo controle ativo sem características psicoterápicas em portadores de transtornos do espectro da esquizofrenia Os sujeitos recebendo MCT apresentaram melhoras tanto em parâmetros psicopatológicos quanto cognitivos, contudo nenhum resultado teve significação estatística Combs et al., 2007 19 continuação J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):51-61. REVISÃO DE LITERATURA Estudos controlados Cognição social e reabilitação da esquizofrenia Número de participantes Principais características do estudo Principais achados 32 pacientes ambulatoriais diagnosticados com esquizofrenia de acordo com a Entrevista Estruturada do DSM-IV-TR (13 mulheres e 19 homens), aleatoriamente alocados para receberem Emotion and ToM Imitation Training (ETIT) ou Treinamento em Solução de Problemas (TSP) Compararam o ETIT, baseado na observação de emoções e na imitação de ações como fontes de melhora cognitiva social na esquizofrenia, com TSP O grupo ETIT apresentou melhor desempenho em medidas de processamento ToM, no reconhecimento de determinadas emoções, como raiva, tristeza e nojo; no desempenho social e em escores da dimensão positiva medidas pela escala BPRS em relação ao grupo TSP Veltro et al., 201120 24 pacientes ambulatoriais diagnosticados de acordo com os critérios do DSM-IV-TR foram alocados aleatoriamente para Problem Solving Treatment (PST) ou Cognitive Emotional Rehabilitation (REC) Compararam duas estratégias semelhantes em sua forma, mas distintas em seu foco terapêutico para o tratamento da esquizofrenia: o PST e a REC. Ambos utilizam técnicas metacognitivas baseadas em um trabalho supervisionado; contudo, a REC tem como principal alvo o reconhecimento de emoções e o PST, o treino no planejamento de solução de problemas Embora os treinos tenham sido diferencialmente eficientes em seus domínios específicos de ação, ambos associaram-se a melhoras na psicopatologia e no funcionamento social Fromann et al., 200317 16 pacientes portadores de esquizofrenia (13 homens e 3 mulheres) de acordo com o International Diagnostic Checklist of ICD-10 Os autores aplicaram o TAR em uma pequena amostra de esquizofrênicos. Em seguida, compararam os resultados com dois grupos controle históricos, compostos de indivíduos saudáveis e de portadores de esquizofrenia A maior parte dos pacientes da amostra atual apresentou melhora significativa na capacidade de reconhecer afeto facial não atribuível a eventuais diferenças no estado psicopatológico observadas antes e após o treino Hogarty et al., 200612 106 pacientes do estudo de Hogarty et al., 200415 Examinaram se os efeitos observados nos indivíduos recebendo CET do estudo de Hogarty et al. (2004)15 eram mantidos após um ano. Os autores reavaliaram os pacientes daquele estudo um ano mais tarde, do ponto de vista neuropsicológico e comportamental Houve manutenção das melhoras tanto na CS quanto em outros domínios cognitivos gerais Roberts e Penn, 20092 31 pacientes ambulatoriais com diagnóstico de transtornos do espectro da esquizofrenia de acordo com a Entrevista Estruturada para DSM-IV (13 mulheres e 18 homens) receberam SCIT ou “tratamento usual” Compararam o SCIT com tratamento usual (manejo de medicação, técnicas de psicoterapia individual ou grupal, manejo de caso, psicoeducação e terapia ocupacional) em portadores de transtornos do espectro da esquizofrenia, ao longo de 20 semanas Os indivíduos recebendo SCIT também receberam o tratamento usual. O grupo SCIT melhorou significativamente a performance na percepção de emoções, não havendo efeito significativo nas medidas ToM nem em vieses atribucionais agressivos Mazza et al., 2010 6 55 Tabela 2. Principais características dos programas estudados Programa Principais características Linhas de abordagem CS Metacognitive Training3 Programa de intervenção em grupo consistindo de oito sessões de duração entre 45 e 60 minutos, cujo objetivo é conscientizar os pacientes de distorções cognitivas sociais Estilos atribucionais disfuncionais e “jumping to conclusions” focando situações sociais, processamento cognitivo “Teoria da Mente” (ToM) Emotion and ToM Imitation Training6 Programa de intervenção em grupo com duração de 12 semanas e desenhado para esquizofrênicos ToM e imitação de expressões faciais Reabilitação cognitiva com ênfase em informação social8 Programa de intervenção individual consistindo de 12 sessões semanais de 40 minutos “Social knowledge” (esquemas ou macroestruturas cognitivas a respeito de como compreender comportamentos humanos) Cognitive Enhancement Therapy (CET)9,12,13,15 Programa de intervenção em grupo para remediação de déficits cognitivos e sociocognitivos para pacientes esquizofrênicos e esquizoafetivos, cujo subprograma CS caracteriza-se por 45 sessões de grupo de treino sociocognitivo Além de um subprograma neurocognitivo, disponibiliza um subprograma CS cuja finalidade é estimular o aprendizado de informações a respeito do ambiente social e estimular interações sociais Social Cognitive Training Program(SCTP)10 O programa estudado neste trabalho consiste de intervenção em grupo, realizado duas vezes por semana, em 20 sessões Reconhecimento de emoções (módulo do programa desenhado pelos autores) e percepção social (módulo extraído do programa Terapia Integrada da Esquizofrenia) Social Cognition and Interaction Training (SCIT)2,11,19 Programa de intervenção em grupo com duração de 18 a 24 semanas, com ênfase em processos sociocognitivos disfuncionais em esquizofrênicos Percepção e discriminação de emoções faciais e ToM Social Cognitive Enhancement Training (SCET)14 Programa de intervenção em grupo, consistindo de duas sessões semanais e duração de seis meses Percepção de pistas sociais em cartoons e organização deles na ordem da informação contextual, além de discussão dos resultados Training of Affect Recognition (TAR)17,18 Programa de intervenção em grupo, consistindo de 12 sessões a ser desenvolvido em duas sessões de 45 minutos por semana Reconhecimento do afeto facial Cognitive Emotional Rehabilitation20 Programa de intervenção em grupo, com sessões semanais durando de 75 a 90 minutos e duração de seis meses Percepção de emoções, ToM Instrumental Enrichment Programme21 Programa de intervenção em grupo, com sessões semanais com duração de até 1 hora, aplicado pelos autores durante 22 semanas Aquisição de consciência de déficits, de conceitos a respeito da dificuldade de reconhecer emoções; estímulo a novos processos de aprendizado social, compreensão da utilidade dos processos cognitivos envolvidos nas interações sociais, modificação das percepções de si mesmo e de terceiros J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):51-61. REVISÃO DE LITERATURA Tonelli HA et al. 56 Quatro estudos descreveram seus programas de tratamento explicitamente como metacognitivos3,6,20,21. Os tipos de desfecho avaliados abrangeram melhoras em medidas de psicopatologia, cognição geral, processamento ToM, reconhecimento de emoções ou do afeto facial, desempenho social, interpretação e percepção de situações sociais e número de incidentes agressivos. A tabela 3 resume os principais parâmetros psicopatológicos, cognitivos e sociocognitivos avaliados em cada estudo. A maior parte dos estudos documentou melhora significativa de parâmetros CS e até mesmo de parâmetros cognitivos gerais e de sintomatologia nos grupos recebendo programas metacognitivos baseados em CS, exceto Aghotor et al.3 (que não demonstraram diferenças significativas entre grupos em medidas de psicopatologia ou de cognição), Choi e Kwon14 (que, embora com seu programa tenham en- contrado melhora em déficits neurocognitivos, não conseguiram demonstrar algum impacto dessas melhoras sobre o funcionamento social, bem como efeito sobre reconhecimento de emoções) e Penn e Combs16 (os quais registraram melhora da capacidade de identificação, mas não da de discriminação do afeto facial). Alguns estudos comparando programas com foco em CS com programas não CS demonstraram especificidade dos tratamentos2,6,9,13,15,18-21. Poucos estudos preocuparam-se em estudar a manutenção dos resultados favoráveis de seus programas ao longo do tempo8,11 ou em avaliar a resposta diferencial à exposição de pacientes com doença recente ou tardia aos programas9,13. Os trabalhos aqui revisados fazem pouca ou nenhuma menção ao papel dos psicofármacos utilizados por suas populações nos resultados obtidos. Tabela 3. Avaliação de psicopatologia, cognição geral e CS nos estudos incluídos Estudo Avaliação da psicopatologia e/ou da cognição geral Avaliação da cognição social Penn e Combs, 200016 BPRS37 Hogarty et al., 200415 Velocidade de processamento, habilidades visuoespaciais, memória verbal, memória de trabalho, linguagem, flexibilidade cognitiva, velocidade psicomotora; checagem de sintomas positivos e negativos, ansiedade, depressão, autoestima, temores cotidianos e energia Fluência verbal e função executiva; Accertamento Disabilità (versão italiana da Disability Assessment Schedule)40 Atenção, memória de trabalho, compreensão situacional, funções executivas, fluência verbal; PANSS 42 Organização e sequenciamento perceptual, distinção entre detalhes essenciais e não essenciais aferidos pela versão coreana da Escala de Inteligência de Wechsler para Crianças Revisada45 PANSS 42; WRAT-III reading48; Zigler-Glick Pre-morbid Social Competence Scale49; medidas de flexibilidade cognitiva Face Emotion Identification Task (FEIT)38; Face Emotion Discrimination Task (FEDT)38 Social Cognition Profile39 Roncone et al., 200421 Wölwer et al., 200518 Choi e Kwon, 200614 Combs et al., 200719 Eack et al., 200713 Combs et al., 200911 QI na baseline Social Functioning Scale55 Eack et al., 20099 Velocidade de processamento, memória verbal, memória de trabalho, habilidades linguísticas, velocidade psicomotora, estilo cognitivo; medidas de ajustamento em domínios social e vocacional e ajustamento em papéis sociais maiores e de sintomas positivos e negativos, ansiedade, depressão e autoestima PANSS 42; subteste Direct Digits do Integrative Program of Neuropsychological Exploration of the Test Barcelona60; Disability Scale of the World Health Organization61 Funcionamento executivo, memória verbal, flexibilidade cognitiva, planejamento, capacidade estratégica e memória de trabalho PANSS 42 Gil Sanz et al., 200910 Matsui et al., 20098 Aghotor et al., 20103 Mazza et al., 2010 6 Veltro et al., 201120 Fromann et al., 200317 Hogarty et al., 200612 Roberts e Penn, 20092 J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):51-61. Versão italiana da BPRS37,65; Personal and Social Performance Scale66; medidas de QI, memória de trabalho, velocidade psicomotora, memória verbal, função executiva e fluência verbal QI, memória de trabalho, velocidade psicomotora, memória verbal, função executiva e fluência verbal PANSS 42 Major Role Adjustment Inventory70; Global Assessment Scale71; medidas de velocidade de processamento, inteligência e fluência verbal PANSS 42; The Social Skills Performance Assessment (SSPA)58 Histórias ToM lidas aos sujeitos experimentais; reconhecimento de emoções por meio de cartoons; Mach IV Scale41 Performance of Facial Affect (PFA Test)43; Benton Face Recognition Test (BFRT)44 Social Behavior Sequencing Task46; Emotion Recognition Task47 Face Emotion Identification Test50; Face Emotion Discrimination Test50; Social Perception Scale51; Hinting Task52; Ambiguous Intentions Attributional Questionnaire53; Need for Closure Scale54; Social Functioning Scale55 The Mayer-Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT)56 Face Emotion Identification Test50; The Bell-Lysaker Emotion Recognition Task (BLERT)57; The Social Skill Performance Assessment (SSPA)58 Cognitive Style and Social Cognition Elegibility Interview and the Cognitive Styles Inventory59; The Mayer-Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT)56 Teste computadorizado de reconhecimento de emoções composto de 30 fotos coloridas selecionadas do NimStim Face Stimulus Set; Escala de Percepción Social62 Script Test63 Trecho do BADE procedure64, apropriado para avaliação do jumping to conclusions. Advanced Theory of Mind Scale67; histórias contendo falsas crenças; questionários de Empatia68; Emotion Attribution Task Colleagues69 Advanced Theory of Mind Scale67; histórias contendo falsas crenças; Emotion Attribution Task Colleagues69 Performance of Facial Affect (PFA)43 Cognitive Style and Social Cognition Elegibility Interview and the Cognitive Styles Inventory59; medidas de autoconfiança, percepção social, capacidade suportiva e tolerância do Social Cognition Profile59 The Face Emotion Identification Task (FEIT)38; The Bell-Lysaker Emotion Recognition Task (BLERT)57; Hinting Task52; The Awareness of Social Inference Test (TASIT)72; The Ambiguous Intentions Hostility Questionnaire – Ambiguous Items (AIHQ-A)53 REVISÃO DE LITERATURA DISCUSSÃO A já consolidada ideia de que o tratamento psiquiátrico deve incluir tanto a recuperação sintomática quanto a funcional tem estimulado a pesquisa por estratégias terapêuticas não farmacológicas que visem à minimização dos efeitos dos transtornos mentais sobre as relações sociais dos pacientes. Prejuízos no funcionamento social provocam diminuição na qualidade de vida e aumento do risco de recaídas na esquizofrenia25. Baseado nisso, muitos programas psicoterápicos cujo objetivo principal é a reabilitação social foram desenvolvidos, alguns deles tendo como foco principal as alterações cognitivas gerais presentes e já bem documentadas na esquizofrenia. Apesar disso, a relação entre cognição, sintomas esquizofrênicos e desempenho social ainda não está bem esclarecida4. O estudo da CS, além de ser um importante auxiliar na compreensão da origem dos sintomas esquizofrênicos, tem gerado novas estratégias de treinamento dirigido aos portadores desse transtorno, o que se reflete em um número crescente de publicações sobre o tema. CS é um termo abrangente, referindo-se aos processos cognitivos relacionados à convivência com outras pessoas e englobando uma ampla gama de linhas de pesquisa em que as principais são o reconhecimento de emoções, a compreensão de situações sociais e as habilidades ToM. Grosso modo, todas essas linhas estudam os processos mentais a partir dos quais compreendemos os outros seres humanos, seja porque os concebemos como indivíduos que têm desejos, crenças e intenções, seja porque somos capazes de identificar estados emocionais nas outras pessoas, com as quais também estamos aptos a sincronizar emocionalmente. Tais informações sobre os outros são fundamentais para se entender como formamos nossas representações mentais acerca de outras mentes. Na medida em que incorporam tanto a observação dos processos emocionais a que os outros estão sujeitos (os quais são, inclusive, passíveis de serem simulados por quem os observa) quanto as atitudes proposicionais de terceiros (desejos, crenças e intenções), as representações mentais a respeito das mentes dos outros são a chave para a previsão de seu comportamento e, portanto, para relacionamentos interpessoais saudáveis. Esse tipo de representação mental está comprometido na esquizofrenia26 e os trabalhos aqui revisados mostram que incluir pacientes esquizofrênicos em atividades que estimulem diversas formas de análise, reflexão e exposição a domínios cognitivos sociais pode auxiliá-los a melhorar seu rendimento na interpretação adequada de estímulos sociais, na medida em que podem contribuir para a remediação de suas representações deficitárias. Essas melhoras refletir-se-iam na diminuição da gravidade de sintomas positivos e negativos (principalmente afastamento social) e, possivelmen- Cognição social e reabilitação da esquizofrenia 57 te, as intercorrências com agressividade, além da facilitação à ressocialização. Os principais domínios CS explorados pelos programas estudados são o reconhecimento e percepção de emoções, inferência de estados mentais (ToM), tomada de perspectiva em situações sociais e imitação de ações sociais (Tabela 3). A maior parte dos programas associa diferentes tarefas envolvendo esses domínios, o que auxilia nos resultados favoráveis em termos de melhora clínica e CS. De fato, a atomização da CS em domínios distintos facilita o estudo de cada um deles, contudo a CS caracteriza-se essencialmente pelo funcionamento sinérgico de todos os domínios que a caracterizam. Reconhecimento e percepção de emoções O ser humano é altamente visual e emprega um tempo considerável de seu cotidiano olhando e analisando faces humanas. De fato, rostos são fontes valiosas de informações indispensáveis no convívio social. O processamento da informação oriunda de faces humanas parece ser separável em níveis neurais distintos27: enquanto uma análise visual básica seria realizada no córtex visual, a percepção de faces seria processada no giro occipital inferior, a percepção da identidade facial no giro fusiforme lateral e a percepção de variáveis sociais da face, como olhar e formato da boca – diferentes nas diversas emoções –, seria realizada no sulco temporal superior. Amígdala e córtex pré-frontal decodificariam adicionalmente as informações de todas essas regiões. A interpretação errônea do afeto facial por esquizofrênicos é um possível mecanismo de produção de sintomas como delírios persecutórios ou afastamento social. Felizmente, o reconhecimento do afeto facial parece ser passível de melhora por meio de treino27. A maioria dos programas envolvendo treino em reconhecimento de afeto em esquizofrênicos mostrou melhora significativa no reconhecimento de emoções em relação aos controles, sendo a única exceção o SCTP10, que, contudo, foi estudado em uma amostra pequena de sujeitos experimentais. Mesmo levando em conta as diferenças qualitativas e quantitativas dos programas – e elas são importantes, na medida em que eles variam muito em conteúdo, tempo e rotinas de aplicação (Tabela 2) –, todos parecem ser úteis na melhora do reconhecimento de emoções e, talvez por isso, possam promover melhoras clínicas em sintomas positivos ou negativos, conforme mostraram alguns dos trabalhos revisados6,17,18,20,21. Todavia, duas situações devem ser levadas em conta ao se interpretarem esses resultados: a primeira, e mais geral, é que a natureza da relação melhora clínica-funcional e melhora cognitivo-social ainda é um assunto em aberto e merece mais estudos antes de uma conclusão definitiva. A segunda, mais especificamente relacionada aos programas discutidos nesta seção, é que nenhum deles concentrouJ Bras Psiquiatr. 2013;62(1):51-61. 58 REVISÃO DE LITERATURA Tonelli HA et al. -se especificamente no treinamento de reconhecimento de emoções; pelo contrário, boa parte combinou tarefas de reconhecimento de emoções, de inferência de estados mentais e de imitação, o que pode ter aumentado o poder de identificação de afetos nos sujeitos experimentais. A motivação para determinada tarefa parece também ter um impacto sobre o desempenho, e isso é bem ilustrado no trabalho de Penn e Combs16, que mostraram que o simples reforço monetário para o acerto pode melhorar a performance dos sujeitos experimentais em tarefas de identificação (mas não de discriminação) de afetos faciais. Inferência de estados mentais (ou habilidades ToM) A habilidade mental humana automática de se atribuírem estados mentais a terceiros tem a finalidade principal de compreensão e predição comportamental, facilitando o convívio social. É importante destacar o papel da automaticidade e da espontaneidade dessa habilidade em humanos saudáveis. Elas recheiam nossas descrições do ambiente social com expressões relativas a estados mentais, como “querer”, “ter a intenção de”, “acreditar”, “pensar” etc. As habilidades ToM parecem ser dissociáveis em dois domínios distintos: o domínio ToM implícita (ou ToMi), que é a capacidade automática propriamente dita e que permite um processamento rápido das informações do ambiente social; e o domínio ToM explícita (ou ToMe), que é a capacidade de aprender as regras do jogo social, de forma a otimizar o convívio com outros seres humanos28 por meio da reflexão. ToMi e ToMe parecem recrutar circuitos neurais distintos e, do ponto de vista da eficiência, a ToMe é mais lenta, não permitindo um processamento on-line da informação social. Indivíduos que nascem com prejuízos na capacidade automática de inferir estados mentais de terceiros (ToMi), como alguns autistas e esquizofrênicos, estão sujeitos ao desenvolvimento de dificuldades na interação social ou isolamento social e de sintomas psicóticos29. Felizmente, eles podem compensar essa dificuldade por meio do aprendizado de regras sociais (desenvolvimento do domínio ToMe), embora isso envolva maiores empregos de esforço e tempo. É possível que os resultados favoráveis apresentados por muitos dos programas revisados em relação aos parâmetros ToM devam-se, pelo menos em parte, à possibilidade de que o julgamento supervisionado de emoções e sua descrição, a imitação de emoções avaliadas e o estímulo da mudança de perspectiva em relação à avaliação de uma situação social, além do simples suporte psicoterapêutico oferecido pelos programas estudados, fomentem o desenvolvimento de circuitos ToMe, podendo resultar, entre outros fatores diretamente associados à melhora do contato interpessoal, em diminuição de incidentes agressivos, conforme mostrado em sujeitos expostos ao SCIT19. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):51-61. Tomada de perspectiva em situações sociais A avaliação do ambiente social pode estar comprometida na esquizofrenia graças a vieses cognitivos afetando tomadas de decisão. Por exemplo, esses pacientes tendem a coletar quantidade insuficiente de informação oriunda do ambiente social para chegar a uma conclusão (jumping to conclusions), além de frequentemente acusarem pessoas por eventos negativos – em vez de avaliarem a possibilidade de eles serem multicausais (apresentam um estilo atribucional peculiar) – e de apresentarem diminuição da clareza de memórias autobiográficas, nas quais confiam excessivamente (déficits em processos metamnêmicos)30. Esses prejuízos afetam o que Matsui et al.8 chamam de “social knowledge”, um repertório de esquemas cognitivos sobre como as pessoas deveriam se comportar em determinadas situações sociais. Esses autores demonstraram que a reabilitação cognitiva melhora domínios constituintes desses esquemas, como o julgamento e o sequenciamento de eventos sociais. Todavia, o grupo controle de Matsui et al. era constituído apenas de indivíduos em seguimento medicamentoso, assim recebendo quantidade proporcionalmente menor de atenção que aqueles expostos ao programa. De qualquer forma, a maioria dos estudos que continham em seus programas tarefas relacionadas à avaliação de situações sociais comparou seus programas com intervenções ativas de estruturação variável e demonstrou resultados favoráveis2,3,8,9,11-15,19-21. Imitação O principal modo de representação mental do ser humano moderno baseia-se em sua capacidade de simbolização. Todavia, a representação simbólica parece ter sido precedida por um modo ancestral de representações baseado na imitação31. De fato, existem evidências de uma cultura mimética (mas não simbólica) no Homo erectus, que já desenvolvia ferramentas e utensílios de complexidade variável. Uma cultura baseada na elaboração de objetos manufaturados precisa envolver mecanismos de rememoração motora de etapas complexas de sua confecção, além de métodos eficientes de propagação desse conhecimento entre os mais jovens, a fim de que a cultura seja preservada. Tais métodos basearam-se na imitação. No entanto, no Homo sapiens o mimetismo ultrapassa os limites da manufatura de utensílios e adquire uma dimensão representacional sociocognitiva, na medida em que atos motores aprendidos por imitação passam a ter um significado semântico, por exemplo, quando levamos a mão ao rosto para expressar vergonha. Outros aspectos vestigiais da cultura mimética em humanos modernos envolvem o papel da imitação no aprendizado e na compreensão de outras mentes em crianças32 e a função central da representação mimética na arte, principalmente pantomima e dança31. REVISÃO DE LITERATURA Os circuitos cerebrais relacionados à imitação envolvem o sulco temporal superior (STS), responsável pelo processamento visual de ações de terceiros, a parte rostral do lóbulo parietal inferior e a parte posterior do giro frontal anterior e córtex pré-motor ventral adjacente33, que criam uma representação motora da ação observada, a ser reenviada ao STS. O STS fará um pareamento entre a descrição visual da ação e de sua representação motora, criando um significado adicional para a ação observada. Esse significado adicional relaciona-se diretamente à capacidade de representar internamente as ações observadas e executadas por terceiros (e não exclusivamente sua decodificação visual) e parece ser importante tanto no desenvolvimento de representações mentais sobre os outros quanto em mecanismos de empatia, ambos comprometidos na esquizofrenia e em outros transtornos mentais34,35. Mazza et al.6 e Penn e Combs16 demonstraram que o treino imitativo pode melhorar parâmetros cognitivos sociais em esquizofrênicos e, em consequência, não apenas melhorar o desempenho interpessoal desses indivíduos, mas aliviar sintomas positivos e negativos do transtorno. O treino imitativo pareceu apurar a compreensão que os sujeitos experimentais tinham das outras pessoas, principalmente por meio do desenvolvimento da habilidade de reconhecer emoções em terceiros. É sabido que a imitação se manifesta precocemente em seres humanos: bebês com 1 a 3 semanas de idade já são capazes de imitar a protrusão da língua e a abertura de boca encenados por adultos com quem interagem. Meltzoff36 propõe que, ao imitarem gestos, bebês começam a modular comparativamente sua produção comportamental com a de outros humanos, detectando coincidências entre elas, em um processo denominado pareamento intermodal ativo (PIA). No PIA, movimentos percebidos e movimentos executados seriam registrados em um único sistema representacional, um passo inicial para a posterior compreensão de estados mentais de terceiros, propiciada pela possibilidade de conexão cognitiva entre o mundo visível dos outros e os estados internos do bebê. Assim se configuraria inicialmente a capacidade humana de compreender outras mentes e também de sincronizar emocionalmente com elas. CONCLUSÃO É possível concluir, a partir do estudo dos programas aqui revisados, que intervenções metacognitivas dirigidas a domínios cognitivos sociais podem auxiliar na recuperação clínica e funcional de esquizofrênicos. Contudo, algumas considerações merecem ser feitas sobre os achados dos trabalhos revisados. Um questionamento importante diz respeito à correlação entre melhora clínica e melhora de parâmetros cogni- Cognição social e reabilitação da esquizofrenia 59 tivos sociais, isto é, qual seria o sentido dessa correlação: a melhora clínica acarretaria melhoras cognitivas ou a recuperação cognitiva é que estaria por trás da recuperação clínica? Evidentemente, melhoras clínicas podem suscitar melhoras cognitivas (neste caso, as alterações cognitivas de um dado transtorno deveriam ser consideradas estado-dependentes); no entanto, a observação de que déficits cognitivos sociais podem ocorrer em indivíduos vulneráveis à esquizofrenia e em parentes de portadores de esquizofrenia34, bem como em períodos intercríticos da doença, sugere que esses déficits podem ser traço-dependentes e, portanto, passíveis inclusive de intervenções preventivas. Pesquisas envolvendo a aplicação desses programas em indivíduos vulneráveis poderiam auxiliar a responder essas questões. Outro ponto a ser discutido que diz respeito a um fator considerado importante em relação aos estudos de eficiência de programas psicoterapêuticos em geral se refere ao argumento de que a maior atenção dispensada por terapeutas e pesquisadores a pacientes expostos a esses programas pode estar diretamente vinculada às suas melhoras clínicas e cognitivas. Esse efeito pode ter sido mais evidente nos trabalhos que não comparam seus programas com outras intervenções ativas. A comparação de programas com foco em CS com outros não orientados para CS pode ser útil para demonstrar a especificidade das intervenções. A possibilidade de que CS seja um domínio cognitivo especializado e distinto de outros domínios cognitivos gerais permanece em aberto, principalmente porque, apesar de processar um tipo particular de informação, o domínio CS recruta diversos circuitos cognitivos não sociais28. Muitos programas aqui revisados utilizaram métodos de reabilitação baseados em capacidades humanas como a imitação e o reconhecimento e identificação de emoções. A maior compreensão a respeito da neurofisiologia e da neuropsicologia dessas habilidades e de sua relação com a construção da mente humana moderna poderá ser valiosa para a elaboração de programas de tratamento e de prevenção de transtornos mentais como a esquizofrenia. Futuros estudos deverão se concentrar em responder alguns questionamentos ainda em aberto a respeito de programas metacognitivos com enfoque em CS para o tratamento da esquizofrenia, incluindo a sua segurança, a durabilidade em médio e longo prazo dos efeitos sobre cognição, funcionamento social e psicopatologia e as populações de pacientes que podem obter mais benefícios com a exposição a esses programas. Contribuições individuais Hélio Tonelli – Elaboração da revisão, leitura dos manuscritos selecionados e redação do artigo. Fernanda Liboni – Elaboração da revisão, leitura dos manuscritos selecionados e redação do artigo. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):51-61. 60 Tonelli HA et al. REVISÃO DE LITERATURA Diego Augusto Nesi Cavicchioli – Revisão crítica do manuscrito final. 17. Frommann N, Streit M, Wölwer W. Remediation of facial affect impairments in patients with schizophrenia: a new training program. Psychiatry Res. 2003;117:281-4. CONFLITOS DE INTERESSE 19. Combs DR, Adams SD, Penn DL, Roberts D, Tiegreen J, Stem P. Social Cognition and Interaction Training (SCIT) for inpatients with schizophrenia spectrum disorders: preliminary findings. Schizophr Res. 2007;91:112-6. Drs. Tonelli, Liboni e Cavicchioli declaram não ter conflitos de interesses financeiros que possam ter enviesado o presente estudo, pois não receberam nenhum suporte financeiro governamental ou comercial para sua realização. O financiamento do trabalho envolveu recursos próprios dos autores. REFERÊNCIAS 1. Newman LS. What is social cognition? 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Objetivo: Caracterizar comportamento de risco para transtornos alimentares (TA) e sua frequência entre adolescentes em uma revisão da literatura nacional e internacional. Métodos: Foi realizada uma busca bibliográfica por meio de uma revisão integrativa nas bases de dados PubMed (US National Library of Medicine) e Lilacs e no portal SciELO, utilizando-se os descritores relacionados à “eating disorder risk behavior”. Foram selecionados artigos publicados nos últimos 10 anos, nos idiomas português, espanhol e inglês, e especificamente com adolescentes. Foram avaliados 76 artigos e analisados a nomenclatura e os instrumentos utilizados para avaliar comportamento de risco para TA e sua prevalência. Resultados: Encontrou-se uma série de termos para avaliar risco para TA. A metodologia mais utilizada foi a de questionários e escalas, destacando-se o EAT-26 ou 40 e o BITE, dentre os mais frequentes; a prevalência de risco variou de 0,24% a 58,4%. Conclusão: Diferentes nomenclaturas e instrumentos são utilizados para avaliar comportamento de risco para TA entre adolescentes, com grande amplitude nos resultados de prevalência. Maior padronização de termos e metodologia de avaliação permitiriam melhor comparação entre estudos epidemiológicos em diferentes localidades. ABSTRACT Keywords Eating disorders, adolescent, risk. Recebido em 28/8/2012 Aprovado em 20/10/2012 Objective: To characterize eating disorder (ED) risk behavior and its prevalence among adolescents in a review of national and international literature. Methods: We carried out an integrative review on PubMed (U.S. National Library of Medicine), Lilacs and SciELO, using descriptors related to “eating disorder risk behavior”. Articles published in the last 10 years, in Portuguese, Spanish and English, and specifically with adolescents were selected. The nomenclature and instruments used to assess eating disorder risk behaviors and its frequency were evaluated and analyzed in 76 articles. Results: Several terms to assess ED risk behavior were found; questionnaires and scales were used, mainly EAT-26 or 40 and BITE. The prevalence of risk ranged from 0.24% to 58.4%. Conclusion: Different names and instruments are used to assess ED risk behavior among adolescents, and there is a wide variation in the prevalence. Standardization of terms and evaluation methodology might enhance a better comparison of epidemiological studies in different locations. 1 Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Saúde Pública (FSP); Instituto de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da USP (IPq-HC-FMUSP), Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim), Programa de Transtornos Alimentares. 2 FSP/USP, Departamento de Nutrição. 3 USP, Escola de Educação Física e Esporte (EEFE); IPq-HC-FMUSP, Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim), Programa de Transtornos Alimentares. 4 FMUSP, Departamento de Psiquiatria; IPq-HC-FMUSP, Ambulim, Programa de Transtornos Alimentares. Endereço para correspondência: Greisse Viero da Silva Leal Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, Departamento de Nutrição Av. Doutor Arnaldo, 715 01246-904 – São Paulo, SP, Brasil Email: [email protected] REVISÃO DE LITERATURA INTRODUÇÃO Os transtornos alimentares (TA) têm critérios diagnósticos baseados em características psicológicas, comportamentais e fisiológicas1. Caracterizam-se por severas perturbações no comportamento alimentar e imagem corporal, e seus critérios diagnósticos são estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, no Código Internacional de Doenças (CID-10), e pela Associação de Psiquiatria Americana, no Manual de Estatísticas de Doenças Mentais (DSM-IV)2. Os quadros mais conhecidos são a anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN). Quando todos os critérios diagnósticos não são preenchidos para uma dessas síndromes, utiliza-se o diagnóstico de Transtorno Alimentar Sem Outra Especificação (TASOE)3 e, dentre eles, destaca-se o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP). Transtornos alimentares são mais frequentes entre mulheres adolescentes ou adultas jovens, afetando 3,2% das mulheres com idade entre 18 e 30 anos, e com uma relação homem:mulher variando de 1:6 a 1:101,4. Estudos sobre a prevalência de AN entre mulheres na adolescência tardia e início da idade adulta verificam taxas de 0,5% a 1%, segundo o DSM-IV. Com relação à BN, pelo menos 90% dos indivíduos são mulheres, e a sua prevalência entre adolescentes e adultas jovens é de aproximadamente 1% a 3%3,5. Os TA têm uma etiologia multifatorial (diferentes fatores interagindo para o desenvolvimento e perpetuação da doença)4. Há, portanto, dificuldade na realização de estudos de incidência e prevalência, pois são necessárias avaliações e abordagens que contemplem os vários aspectos envolvidos em sua gênese e manutenção. Assim, pesquisas sobre comportamento de risco podem dar um indício do problema em determinado local e população2,6. Embora os TA tenham definição e critérios diagnósticos padronizados internacionalmente, não há a mesma preocupação em relação àquilo que se denomina “comportamentos de risco para TA”. Esses são avaliados considerando-se basicamente a presença dos sintomas clássicos dos quadros: restrição alimentar (hábito de fazer dietas restritivas ou jejum), compulsão alimentar e práticas purgativas (uso de laxantes, diuréticos e vômitos autoinduzidos)7-10. Diferentes nomenclaturas podem ser adotadas para avaliar esses mesmos aspectos, por exemplo, comportamento alimentar anormal11, suspeita de transtornos alimentares12, risco de transtornos alimentares13, comportamentos de risco para transtornos alimentares7, sintomas de transtornos alimentares14, atitudes alimentares anormais15, padrões alimentares anormais16. Outra terminologia utilizada é o “comer transtornado”, definido pela Associação de Psiquiatria Americana e pela Associação Dietética Americana como todo espectro dos problemas alimentares, da “simples dieta” aos TA clássicos1,4. Nesse conceito podem estar incluídas também práticas não saudáveis para controle do peso, tais como fazer Risco para transtornos alimentares 63 jejum ou comer muito pouca comida, pular refeições, usar de substitutos de alimentos como suplementos ou shakes, tomar remédios para emagrecer ou fumar mais cigarros17. Dessa forma, para conhecer o “estado da arte” da presença de TA ou comportamentos de risco numa determinada população e local, os pesquisadores necessitam usar uma gama de nomenclaturas possíveis. Considerando-se que os comportamentos de risco para TA ocorrem anteriormente aos distúrbios clássicos e que podem levar a prejuízos físicos e emocionais, isolamento social, insatisfação corporal – além do risco de evoluir para quadros completos –, justifica-se a sua identificação precoce9,18,19. Comportamentos de risco para TA são avaliados habitual mente por meio de questionários padronizados, tais como o Eating Attitudes Test (EAT), Eating Disorder Inventory (EDI), Eating Disorder Examination versão questionário (EDE-Q), Binge Eating Scale (BES), Bulimia Test (BULIT), Bulimic Investigatory Test, Edinburgh (BITE), entre outros, que surgiram pela necessidade de sistematizar os métodos de estudos de TA após o estabelecimento de seus critérios diagnósticos. Alguns desses instrumentos abrangem todos os tipos de TA, enquanto outros são mais específicos para um ou outro transtorno isoladamente6. No Brasil, os estudos sobre TA e/ou comportamentos de risco são ainda, em sua maioria, locais e pontuais2,7,10,14,20-25, sem uma padronização de nomenclatura e metodologia de avaliação. Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi caracterizar o comportamento de risco para transtornos alimentares, incluindo os instrumentos utilizados para identificação, a nomenclatura adotada e sua prevalência ou frequência entre adolescentes em uma revisão integrativa da literatura nacional e internacional. MÉTODOS Foi realizada uma busca bibliográfica por meio de revisão integrativa26 nas bases de dados PubMed (US National Library of Medicine) e Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e no portal SciELO (The Scientific Electronic Library Online), utilizando-se os descritores agrupados de diferentes formas, conforme sentenças descritas no quadro 1. Como as expressões “comportamento de risco para transtornos alimentares” ou “eating disorder risk behavior” não se caracterizavam como descritores em Ciências da Saúde e, portanto, se mostraram insuficientes para localização de trabalhos, uma série de descritores possivelmente relacionados ao tema foi utilizada, incluindo o nome de alguns instrumentos padronizados e de alguns autores de referência. Quadro 1 Os critérios adotados para inclusão dos artigos no estudo foram: a amostra deveria incluir apenas adolescentes (10J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. REVISÃO DE LITERATURA Leal GVS et al. 64 19 anos); os estudos deveriam ser originais – transversais e/ ou longitudinais; deveriam avaliar a presença de comportamentos de risco para transtornos alimentares, tais como compulsão alimentar, uso de laxantes e/ou diuréticos, vômito autoinduzido, prática de dieta restritiva, além de práticas não saudáveis para controle do peso (independentemente da nomenclatura utilizada); e apresentar a frequência ou a prevalência desses comportamentos. Quadro 1 – Estratégias de busca utilizadas em cada base de dados a partir das palavras-chave Conjuntos PubMed Número de artigos encontrados Número de artigos selecionados 1 Eating disorders AND adolescent AND risk 142 27 2 Disordered eating AND adolescent AND risk 58 6 3 EAT-26 AND adolescent AND risk 17 2 4 BITE AND adolescent AND risk 2 2 5 EDI AND adolescent AND risk 12 0 6 EDE AND adolescent AND risk 4 0 7 Hay, Phillipa J (author) AND adolescent (title/abstract) AND eating disorders (title/abstract) OR disordered eating (title/abstract) 462 19 8 Hay P AND prevalence of eating behaviors 7 0 9 Hay P (author) 54 0 SciELO Número de artigos encontrados Número de artigos selecionados 1 Transtornos alimentares AND adolescentes 8 4 2 EAT AND adolescente 7 1 3 BITE AND adolescente 5 1 Lilacs Número de artigos encontrados Número de artigos selecionados 1 Transtornos da alimentação AND adolescente AND risco 34 9 2 EAT-26 AND adolescente AND risco 23 2 3 BITE AND transtornos alimentares 8 2 4 EDI AND transtornos alimentares 11 0 5 EDE AND transtornos alimentares 1 1 Google acadêmico Número de artigos encontrados Número de artigos selecionados 141 0 Conjuntos Conjuntos Conjuntos 1 “Phillipa Hay” eating disorders J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. Como critérios de exclusão de artigos foram utilizados: artigos de revisão; pesquisas focadas em grupos específicos (como portadores de diabetes mellitus, atletas e bailarinos); artigos com indivíduos com AN e BN já diagnosticados; pesquisas focalizadas na associação de fatores de risco para TA (influência da mídia, família, amigos etc.), ou comportamento alimentar, ou prevenção e tratamento de TA; e artigos com foco em outras psicopatologias, fatores genéticos, compulsão por bebidas, orientação sexual, insatisfação corporal, síndrome do comer noturno, uso de substâncias, abuso sexual, body checking, complicações clínicas, saúde oral, refeições em família e teasing – e que não apresentavam a frequência ou a prevalência de comportamento de risco para TA. RESULTADOS Foram identificadas 996 publicações de acordo com as estratégias de busca definidas. No caso da base de dados PubMed, pela extensão dos resultados, foram adotados limites: artigos publicados nos últimos 10 anos; idiomas português, espanhol e inglês; faixa etária da adolescência; e palavras-chave no título ou resumo. Após avaliação dos títulos e resumos, utilizando-se os critérios de inclusão e exclusão, 190 artigos foram considerados potencialmente elegíveis para inclusão nesta revisão. Após a leitura dos artigos, 74 foram excluídos por terem sido realizados com grupos específicos ou com indivíduos adultos e por se tratar de revisões, 36 eram repetidos e 2 não estavam disponíveis, sendo incluídos na presente revisão 76 artigos (Figura 1). Dos artigos selecionados, que avaliaram especificamente comportamento de risco para TA em adolescentes, foram destacados a autoria, o ano de publicação, a população de estudo, o país de origem, a nomenclatura utilizada e o instrumento utilizado para avaliar comportamento de risco para TA e sua frequência ou prevalência. Podem ser observados nas tabelas 1, 2, 3 e 4 os trabalhos encontrados no Brasil; América Latina; Estados Unidos e Canadá; Europa, Ásia, África e Austrália, respectivamente. Artigos encontrados (n = 996) Excluídos (n = 806) Títulos e resumos retidos (n = 190) PubMed (151); Lilacs (32); SciELO (7) Segundo exame (excluídos) (n = 74) Repetidos (n = 36) Artigos não disponíveis (n = 2) Artigos incluídos na revisão (n = 76) Figura 1. Etapas de seleção dos artigos incluídos na revisão integrativa. REVISÃO DE LITERATURA Risco para transtornos alimentares 65 Tabela 1 – Estudos brasileiros realizados sobre comportamentos de risco para transtornos alimentares entre adolescentes Autor/Ano População de estudo Idade (anos) Estado/País Questionário Nomenclatura utilizada Prevalência/Frequência* 1.148 meninas 10-19 Florianópolis, Brasil Eating Attitudes Test (EAT-26) Sintomas de anorexia nervosa 15,6% Dunker et al., 200921 183 meninas 15-18 São Paulo, Brasil Eating Attitudes Test (EAT-26) Comportamento de risco para TA Escola particular 34,3%* Escola pública 28,4%* Ferreira e Veiga, 20087 561 12-19 Rio de Janeiro, Brasil Questionário adaptado de Hay (1998)40: questões sobre compulsão, dieta restritiva, uso de laxante, diurético ou vômito autoinduzido Comportamento de risco para TA (eating disorder risk behavior) Compulsão: 37,3% Dieta restritiva: 24,7% Laxante: 2,1% Diurético: 1,6% Vômito autoinduzido: 1,4% Gomes et al., 201014 300 meninas 10-15 Paraná, Brasil Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Eating Attitudes Test (EAT-26) Sintomas de TA BITE: 4,2%* Sampei et al., 200923 544 meninas 10-17 São Paulo, Brasil Eating Attitudes Test (EAT-26) Atitudes alimentares (eating attitudes) Japonesas Pré-menarca: 4,9%* Pós-menarca: 12,7%* Caucasianas Pré-menarca: 26,7%* Pós-menarca: 19,4%* Souza-Kaneshima, 200824 187 15-19 Paraná, Brasil Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Comportamentos favoráveis ao desenvolvimento da bulimia nervosa Comportamento alimentar compulsivo: 3,74%* Comportamento alimentar não usual: 39,04%* Vale et al., 201125 652 meninas 14-20 Fortaleza, Brasil Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Comportamentos de risco para TA (risk behaviors for eating disorders) 25,2% Vilela et al., 200410 1.807 7-19 Minas Gerais, Brasil Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Eating Attitudes Test (EAT-26) Possíveis TA e comportamento alimentar inapropriados (possible eating disorders and inappropriate eating behaviors) BITE: 1,1%* Alves et al., 2008 20 EAT-26: 3,6%* EAT-26: 13,3%* Tabela 2 – Descrição de estudos realizados na América Latina sobre comportamentos de risco para transtornos alimentares em adolescentes Autor/Ano População de estudo Idade (anos) Estado/País Metodologia Nomenclatura utilizada Prevalência/Frequência* Barriguete-Meléndez et al., 200911 25.166 10-19 México Perguntas próprias: The Brief Questionnaire for Risky Eating Behaviors (10 itens que avaliam comportamento alimentar e medo de ganhar peso nos últimos 3 meses) Comportamento alimentar anormal (abnormal eating behaviors) 0,8% Bay et al., 200512 1.971 10-19 Argentina Eating Disorder Examination Questionnaire (EDE-Q) Suspeita de TA 19,2% Behar et al., 200727 296 Alunos do ensino médio Vina del Mar, Chile Eating Attitudes Test (EAT-40) Risco de TA 12%* Correa et al., 200628 1.050 11-19 Santiago, Chile Eating Disorder Inventory (EDI-2) Risco de TA 8,3%* González e Viveros, 200929 298 13-14 Veracruz, México Eating Attitudes Test (EAT-40) Risco de TA 8%* continuação J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. 66 REVISÃO DE LITERATURA Leal GVS et al. Autor/Ano Granillo et al., 2005 30 Mancilla-Díaz et al., 200931 População de estudo Idade (anos) Estado/País Metodologia Nomenclatura utilizada Prevalência/Frequência* 1.866 meninas 11-20 México, Cuba e Porto Rico IMC < 17 kg/m , amenorreia (há mais de 2 meses), restrição dietética e sintomas bulímicos (compulsão, exercício excessivo, vômito auto- induzido, uso de remédios para emagrecer e uso de laxantes) Risco para TA (risk for eating disorders) IMC < 17 kg/m2: 2,5% Amenorreia: 5,5% Restrição alimentar: 53,3% Sintomas bulímicos: 1,9% 615 13-16 México Eating Attitudes Test (EAT-40) Bulimia Test (BULIT) Comportamentos alimentares transtornados (disordered eating behaviours) EAT-40: 12,7% 2 BULIT: 9,7% Palma-Coca et al., 201132 25.056 10-19 México The Brief Questionnaire for Disordered Eating Behaviors (CBCAR) Comportamento alimentar transtornado (disordered eating behaviour) 4% Power et al., 200833 723 meninas 12-19 Quito, Equador Eating Attitudes Test (EAT-26) Eating Attitudes Test (EAT-40) Atitudes alimentares anormais (abnormal eating attitudes) EAT-40: 13%* EAT-26: 14,4%* Toro et al., 200634 467 meninas espanholas 329 meninas mexicanas 11-18 Espanha e México Eating Attitudes Test (EAT-26) The Eating Disorders Assessment Questionnaire (CETCA) Risco para TA (risk of eating disorders) 24,6% espanholas* 22,5% mexicanas* Tabela 3 – Descrição de estudos realizados nos Estados Unidos e no Canadá sobre comportamentos de risco para transtornos alimentares em adolescentes Autor/Ano População de estudo Idade (anos) Estado/País Metodologia Nomenclatura utilizada Prevalência/frequência* Austin et al., 200835 5.567 15,9 (média) EUA Eating Attitude Test (EAT-26) Comer transtornado (disordered eating) 14,5% meninas 3,6% meninos Cook et al., 200736 1.133 15-19 Canadá Centers for Disease Control and Prevention’s Youth Risk Factor Surveillance Instrument Comportamento alimentar transtornado (disordered eating behaviour) Geral: 16%* Grupo que se achava maior: Jejum: 15%* Remédios para emagrecer: 5,6%* Vômito autoinduzido: 7,5%* D’Souza et al., 200537 1.027 14-19 EUA Eating Attitude Test (EAT-26) Sintomas de TA (eating disorder symptoms) 22% meninas* 2% meninos* Doyle et al., 200738 81 12-17 San Diego e St. Louis, EUA Eating Disorder Examination – Questionnaire (EDE-Q) Risco para TA (risk for eatings disorders) Purgação: 1,2%* Uso de remédios para emagrecer: 3,7%* Exercício físico excessivo: 33,3%* Compulsão: 29,6%* Haines et al., 201039 6.022 meninas e 4.518 meninos 11-17 EUA Perguntas próprias sobre métodos purgativos, compulsão alimentar e prática de dietas restritivas Comer transtornado (disordered eating) 1998 Purgação Meninas: 3,7% Meninos: 0,7% Compulsão Meninas: 7,1% Meninos: 2,0% Follow-up (1999-2001) Purgação Meninas: 7,8% Compulsão Meninas: 11,8% Meninos: 4,5% Haines et al., 201113 5.740 16 (média) EUA Eating Attitudes Test (EAT-26) Risco de TA (risk of eating disorders) Meninas: 14,4% Meninos: 3,8% continuação J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. REVISÃO DE LITERATURA Risco para transtornos alimentares Autor/Ano População de estudo Idade (anos) Estado/País Metodologia Nomenclatura utilizada Prevalência/frequência* Haley et al., 2010 40 16.289 Série escolar: 8ª e 11ª Oregon Counties, EUA Questões próprias: comportamento não saudável para perda de peso, para manter ou evitar ganho de peso: jejum, vomitar, usar laxantes, tomar remédios para emagrecer sem consentimento médico Práticas não saudáveis para perda de peso (unhealthy weight loss practices –UWLP) 11,6% Jonat e Birmingham, 2004 41 396 12-19 Canadá Eating Attitudes Test (EAT-26) Comer transtornado (disordered eating) Meninas: 17,3%* Meninos: 8,3%* McVey et al., 2004 42 2.279 meninas 10-14 Ontario, Canadá Children’s Eating Attitudes Test (ChEAT) Atitudes alimentares negativas (negative eating attitudes) 10,5% NeumarkSztainer et al., 2006 43 2.516 12-20 Minneapolis/ St. Paul, EUA Questões próprias sobre frequência de dieta no último ano e outros métodos para perder ou manter peso no último ano (dieta, jejum, remédios para emagrecer, vômito autoinduzido, uso de laxantes) Comer transtornado (disordered eating) Dieta restritiva: Meninas: 57% Meninos: 25,3% Práticas não saudáveis para controle do peso: Meninas: 57,8% Meninos: 31,3% NeumarkSztainer et al., 200944 412 adolescentes com sobrepeso (follow-up) 12-20 Minneapolis/ St. Paul, EUA Questões próprias sobre compulsão alimentar, métodos extremos para controle do peso (remédios para emagrecer, vômito autoinduzido, uso de laxantes e diuréticos) e práticas não saudáveis para controle do peso (jejum, comer muito pouca comida, usar substitutos de alimentos e pular refeições) Comer transtornado (disordered eating) (1998-1999): 30,8% (2003-2004): 40,1% Pinhas et al., 2008 45 868 13-20 Toronto, Canadá Eating Attitudes Test (EAT-26) Comer transtornado (disordered eating) Judias: 25% Não judias: 18% Pisetsky et al., 2008 46 13.917 Série escolar: 9ª-12ª EUA Questão própria: resposta positiva para comportamentos para controlar o peso (jejuar, tomar remédio para emagrecer, vomitar e usar laxante) Comer transtornado (disordered eating) Meninas: 21,8% Meninos: 11,2% The McKnight Investigators, 200347 1.103 meninas Série escolar: 6ª-9ª Califórnia, EUA McKnight Eating Disorder Examination for adolescents (com base no DSM-IV para classificar TA clínicos ou subclínicos) Fatores de risco para TA (risk factors for eating disorder) Transtorno alimentar parcial ou completo: 2,9%* Waasdorp et al., 200748 340 12-21 EUA Eating attitude test (EAT-26) Comer transtornado (disordered eating) 8%* 67 Tabela 4 – Descrição de estudos realizados em países da Europa, Ásia, África e Austrália sobre comportamentos de risco para transtornos alimentares em adolescentes Autor/Ano População de estudo Idade (anos) País Metodologia Nomenclatura utilizada Prevalência/Frequência* Alonso et al., 200549 2.483 12-18 Espanha Eating Attitudes Test (EAT-40) Risco de desenvolver TA (risk of developing eating disorders) Meninas: 12,3% Meninos: 3,2% Ballester et al., 200250 1.025 14-19 Girona, Espanha Eating attitude test (EAT-40) Risco potencial de transtornos do comportamento alimentar (potential risk of TCA) Meninas: 16,3% Meninos: 0,4% Beato-Fernández et al., 200451 1.076 13-15 Espanha Eating Attitudes Test (EAT-40) Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Comportamento alimentar anormal (abnormal eating behavior) 3,7%* Díaz-Benavente et al., 200352 789 12 a 15 Sevília, Espanha Eating Attitude Test (EAT-40) Risco de TA (risk of eating disorders) 8,8%* Boschi et al., 200353 156 meninas 14-18 Itália Eating Disorder Inventory 2 (EDI-2) Transtorno alimentar não especificado – TANE (eating disorders with particular attention to the partial syndromes – EDNOS) BN: 1,28%* TCAP: 1,28%* TANE: 10,25%* Calado et al., 201054 1.115 14-16 Espanha Eating Attitude Test (EAT-26) Padrões alimentares transtornados (disordered eating patterns) 10,2% Costarelli et al., 201155 202 15-18 Grécia Eating Attitude Test (EAT-26) Atitudes alimentares transtornadas (disordered eating attitudes) 18,3%* continuação J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. 68 REVISÃO DE LITERATURA Leal GVS et al. Autor/Ano População de estudo Idade (anos) País Metodologia Nomenclatura utilizada Prevalência/Frequência* Cotrufo et al., 200756 2.925 11-13 Itália Eating Disorder Inventory-2 (EDI-2) Atitude alimentar transtornada e comportamento alimentar anormal (eating disorder attitude and abnormal eating behaviours) 14%* Domine et al., 200957 3.890 meninos 16-20 Suíça Questões próprias indicadoras de DEB – disordered eating behaviors: medo de ganhar peso, insatisfação corporal após comer muito, pensar sobre comida, gostar da sensação de estômago vazio, comer muito com perda de controle e vômito autoinduzido Comportamento alimentar transtornado (disordered eating behaviors) Preocupação com o peso ou comportamento alimentar não saudável: 50% Eapen et al., 200658 495 meninas 13-18 Emirados Árabes Unidos Eating Attitudes Test (EAT-40) Atitudes alimentares transtornadas (disordered eating attitudes) 23,4%* Fichter et al., 200559 N = 2631 (1.980) N = 2920 (1.998) 13-19 Grécia e Alemanha Anorexia Nervosa Inventory for Self-Rating (ANIS) Distúrbios alimentares (eating disturbances) Anorexia nervosa Meninas Munique: 0%* Veria: 0,59%* Bulimia nervosa Munique: 1,89%* Veria: 1,18%* Gandarillas et al., 2004 60 4.334 15-18 Espanha Critérios do DSM-IV e Eating Disorder Inventory (EDI) Risco para TA (risk for eating disorders) Meninas: 15,3% Meninos: 2,2% Goñi Grandmontagne e Rodríguez Fernández, 2004 61 740 12-16 Burgos, Espanha Eating Disorders Inventory (EDI) Transtornos do comportamento alimentar (eating behavior disorders) 21,2%* González-Juárez et al., 200762 2.195 12-18 Espanha Eating Attitudes Test (EAT-26) Em risco de apresentar TA (en riesgo de presentar trastornos de la alimentación) 8,8% Grange et al., 2004 63 813 16,8 (média) África do Sul Eating Attitudes Test (EAT-26) Comer transtornado (disordered eating) 38,3%* Hautala et al., 200864 372 15-17 Finlândia Sick, Control, One, Fat, Food (SCOFF) questionnaire Sintomas de TA (eating disorders symptoms) 12%* Hautala et al., 200865 1.036 14-15 Finlândia Sick, Control, One, Fat, Food (SCOFF) questionnaire Comer transtornado (disordered eating) Meninas: 24% * Meninos: 16% * HerpertzDahlmann et al., 200866 1.895 11-17 Alemanha Sick, Control, One, Fat, Food (SCOFF) questionnaire Comportamentos e atitudes alimentares transtornados (disordered eating behaviour and attitudes) Meninas: 29,4% Meninos: 14,4% Isomaa et al., 201067 128 15 Finlândia Rating of Anorexia and BulimiaTeenager version (RAB-T) Risco de TA (risk of eating disorders) Meninas: 14,4%* Meninos: 0,6% * Kaluski et al., 200868 2.978 meninas 11-19 Israel Questionário adaptado do Sick, Control, One, Fat, Food (SCOFF) questionnaire Comer transtornado (disordered eating) 30% Knez et al., 2006 69 480 10-16 Croácia Children’s Eating Attitude Test (ChEAT-26) Comportamentos e atitudes alimentares transtornados (disturbed eating attitudes and behaviors) Comportamento alimentar moderadamente transtornado: 31%* Comportamento alimentar severamente transtornado: 7,5%* Lal e Abraham, 201170 461 meninas 12-17 Delhi, India Quality of Life for Eating Disorders questionnaire (QOLED) Comportamento alimentar – Eating behavior (EB) Transtorno Alimentar – Eating disorder (ED) EB: 1,2%* Latzer e Tzischinsky, 200371 1.316 meninas 12-18 Israel Eating Disorder Inventory-2 (EDI-2) com 11 subescalas Comportamentos e atitudes alimentares transtornados (disordered eating behaviors and attitudes) Adolescentes mais velhas obtiveram escores maiores no EDI-2 ED: 1,1%* continuação J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. REVISÃO DE LITERATURA Risco para transtornos alimentares Autor/Ano População de estudo Idade (anos) País Metodologia Nomenclatura utilizada Prevalência/Frequência* Latzer e Tzischinsky, 200572 1.270 meninas 12-18 Israel Eating Attitude Test (EAT-26) Atitudes alimentares anormais (abnormal eating attitudes) 19,5% Latzer et al., 200773 1.131 meninas 12-18 Israel Eating Disorder Inventory-2 (EDI-2) Comer transtornado (disordered eating) 13% Lobera et al., 200974 841 12-19 Espanha Eating Attitudes Test (EAT-40) Comportamento alimentar de risco (conductas alimentarias de riesgo) Pontuação de risco: SCOFF: 21,29%* EAT-40: 7,13%* Sick Control On Fat Food (SCOFF) López-Guimera et al., 200875 323 meninas 13,11 (média) Catalonia, Espanha Eating Attitude Test (EAT-26) Atitudes alimentares transtornadas (disordered eating attitudes) 14%* faziam dieta e destas, 70%* apresentavam atitudes alimentares desordenadas Maor et al., 200615 283 Série escolar: 7ª-12ª Israel Eating Attitudes Test (EAT-26) Atitudes alimentares anormais (abnormal eating attitudes) 20,8%* Marlowe, 200576 836 10-15 Bermuda, Reino Unido Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Eating Attitudes Test (EAT-40) Atitudes alimentares anormais (abnormal eating atitudes) BITE: 0,24%* 69 EAT: 7,3%* Mateos-Padorno et al., 201077 1.364 12-17 Island of Gran Canaria Eating attitude test (EAT-40) Risco de TA (risk of eating disorders) 13,4%* Miotto et al., 200278 847 15-19 Itália Eating Attitudes Test (EAT-40) Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Risco de TA (risk of eating disorders) Padrões alimentares anormais (abnormal eating patterns) BITE: Meninas: 4,1% Meninos: 0,3% EAT: Meninas: 15,8% Meninos: 2,8% Miotto et al., 200316 930 15-19 Itália Eating Attitudes Test (EAT-40) Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Padrões alimentares anormais (abnormal eating patterns) EAT Meninas: 15% Meninos: 2,7% BITE Meninas: 4,2% Meninos: 0,3% Miotto et al., 200379 847 15-19 Itália Eating Attitudes Test (EAT-40) Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Risco de TA (risk of eating disorders) Padrões alimentares anormais (abnormal eating patterns) EAT Meninas: 15,8% Meninos: 2,8% BITE Meninas: 4,1% Meninos: 0,3% Muro-Sans e Amador-Campos, 200780 1.155 10-17 Espanha Eating Disorder Inventory-2 (EDI-2) e uma entrevista clínica estruturada (EDE-12) Transtornos alimentares (eating disorders) EDI-2: 8% EDI-2 + EDE-12: 1,28% (2,31% das meninas e 0,17% dos meninos) Murrin et al., 200781 2.469 10-17 Irlanda IMC e percepção do tamanho corporal . Risco para TA: adolescentes com baixo peso (IMC < 18,5 kg/m2) e que pensavam estar muito gordos. Risco para TA (risk of eating disorders) 10,7% O’Dea, 200982 470 11-14 Australia Eating Disorders Inventory (EDI) Risco de TA (eating disorders risk) 15,1%* em alto risco Pamies-Aubalat et al., 201183 2.142 12-16 Alicante, Espanha Eating Attitude Test (EAT-40) Comportamento de risco para desenvolver TA (risk behaviours of developing an ED) 11,2% Preti et al., 2006 84 828 15-19 Itália Eating Attitudes Test (EAT-40) Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) Comer transtornado (disordered eating) Meninas: 12,7% Meninos: 2,8% Soo et al., 2008 85 489 meninas 15-17 Malásia Restrained Eating scale of the Dutch Eating Behaoiour Questionnaire (RESDEBQ) Binge Scale Questionnaire (BSQ) Comportamento alimentar (eating behaviour) Dieta restritiva: 36% Compulsão alimentar: 35,4% continuação J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. 70 REVISÃO DE LITERATURA Leal GVS et al. Autor/Ano População de estudo Idade (anos) País Metodologia Nomenclatura utilizada Prevalência/Frequência* Tam et al., 200786 2.382 10-21 Hong Kong Eating attitude test (EAT-26) Comer transtornado (disordered eating) Meninas: 6,5% Meninos: 3,9% Toselli et al., 200587 2.146 14-19 Itália Inventory for the Screening of Eating Disorders (ISED) Comportamento alimentar transtornado (disordered eating behaviours) Dieta restritiva Meninas: 58,4% Meninos: 27,6% Atividade física Meninas: 44,9% Meninos: 27,8% Vômito autoinduzido Meninas: 6,3% Meninos: 2,3% Laxantes Meninas: 2,7% Meninos: 2% Veses et al., 201188 195 13-18 Espanha SCOFF questionnaire Risco de TA (risk of eating disorders) Meninas: 24,7% * Meninos: 17,3% * Yanez et al., 200789 969 meninas 12-16 Barcelona, Espanha Eating Attitude Test (EAT-26) Atitudes alimentares anormais (abnormal eating attitudes) 10,1% Foram encontrados nos artigos localizados 27 diferentes termos ou conjunto de termos para caracterizar “comportamentos de risco para TA”, variando entre comportamentos, atitudes, padrões, práticas, sintomas e risco de transtornos alimentares. A nomenclatura mais frequente foi “risco de transtornos alimentares” (“risk of eating disorders”), utilizado em 16 estudos (21,0%), seguido de “comer transtornado” (“disordered eating”), utilizado em 14 estudos (18,4%). No contexto do Brasil, “comportamento de risco para transtorno alimentar” (“eating disorder risk behavior”) foi utilizado em 3 (37,5%) dos 8 estudos nacionais, sendo as outras maneiras de nomear comportamento de risco para TA utilizadas muito variadas. Outros nomes também foram frequentes – “comportamento alimentar transtornado” (“disordered eating behaviors”) e “atitudes alimentares transtornadas” (“disoredered eating attitudes”) foram utilizados em 7 (9,2%) estudos cada. Os termos “atitudes alimentares anormais” (“abnormal eating attitudes”) e “comportamentos alimentares anormais” (“abnormal eating behaviors”) foram utilizados em 5 (6,6%) e 3 (3,9%) estudos, respectivamente, além dos termos “padrões alimentares anormais” (“abnormal eating patterns”) e “sintomas de transtornos alimentares” (“eating disorders symptoms”), que foram utilizados em 3 (3,9%) estudos cada. Observa-se, em todas as tabelas, que os pesquisadores utilizaram basicamente questionários validados ou desenvolvidos especificamente para a pesquisa como instrumentos para avaliar comportamento de risco para TA. Verificou-se que 65 (85,5%) trabalhos avaliaram comportamento de risco para TA utilizando questionários padronizados e, em alguns casos, mais de um tipo de questionário foi utilizado no mesmo trabalho. Dentre os que usaram questionários, 39 (51,3%) utilizaram EAT (versão 26 ou 40), 10 (13,1%) utilizaram o BITE, 9 J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. (11,8%) utilizaram EDI, 6 (7,9%) utilizaram o Sick, Control, One, Fat, Food (SCOFF) questionnaire, 3 (3,9%) utilizaram EDE-Q e 2 (2,6%) utilizaram o Children’s Eating Attitudes Test (ChEAT). Os outros questionários foram utilizados em apenas um estudo cada (1,3%), sendo eles: BULIT, Anorexia Nervosa Inventory for Self-Rating (ANIS), Rating of Anorexia and Bulimia-Teenager version (RAB-T), The Eating Disorders Assessment Questionnaire (CETCA), Inventory for the Screening of Eating Disorders (ISED), The Brief Questionnaire for Disordered Eating Behaviors (CBCAR), Quality of Life for Eating Disorders questionnaire (QOLED), Restrained Eating scale of the Dutch Eating Behavior Questionnaire (RESDEBQ) e Binge Scale Questionnaire (BSQ). Além disso, 12 (15,8%) trabalhos fizeram uso de questões desenvolvidas pelos autores do estudo, que envolviam perguntas diretas sobre medo de ganhar peso e métodos para perder peso como vômito autoinduzido, uso de laxantes, diuréticos ou remédios para emagrecer; fazer jejum, comer pouca comida, usar substitutos alimentares, pular refeições, fumar mais cigarros e fazer dieta restritiva. Entre os estudos nacionais, observou-se o predomínio dos questionários padronizados EAT-26 e BITE, e o primeiro foi utilizado por 5 estudos (62,5%) e o segundo, por 4 (50%), ambos tendo sido utilizados em conjunto em 2 trabalhos. Apenas um estudo nacional não utilizou questionário padronizado, optando por questões desenvolvidas e adaptadas por Hay (1998)8 sobre compulsão, dieta restritiva, uso de laxante, diurético ou vômito autoinduzido. A prevalência/frequência de comportamentos de risco para TA variou de 1,1%10 a 39,04%24 nos estudos nacionais (Tabela 1); de 0,8%11 a 53,3%30 na América Latina (Tabela 2); de 2%37 a 57,8%43 nos estudos realizados nos Estados Unidos e no Canadá (Tabela 3); e nos estudos realizados na Europa, Ásia, África e Austrália (Tabela 4) a prevalência variou de 0,24%76 a 58,4%87. REVISÃO DE LITERATURA Observando-se a prevalência/frequência de comportamentos de risco segundo o tipo de questionário utilizado, verifica-se variação de 2%37 a 38,3%63 segundo o EAT-26; de 0,4%50 a 23,4%58 segundo o EAT-40; de 1,9%30 a 57%43 utilizando-se perguntas próprias para avaliar comportamentos de risco para TA; de 0,24%76 a 39,04%24 segundo o BITE; de 2,2%60 a 21,2%61 segundo o EDI; e de 12%64 a 30%68 segundo o SCOFF. DISCUSSÃO A presente revisão objetivou caracterizar o que é denominado “comportamento de risco” para TA entre adolescentes por diferentes autores e encontrou que uma variedade de nomes e instrumentos são utilizados nos estudos originais sobre o tema. Os principais termos usados para caracterizar a presença de comportamentos de risco para TA foram “risco de transtornos alimentares”13,27-30,34,38,52,60,67,77-79,81,82,88 e “comer transtornado”35,39,41,43-46,48,63,65,68,73,84,86. Mesmo assim, mais de 60% dos estudos utilizaram outras diversas nomenclaturas e, no contexto do Brasil, observa-se que também não há padronização dos termos. Dessa forma, um pesquisador que objetiva conhecer e comparar dados sobre essa temática encontra dificuldade na seleção dos trabalhos e na compreensão daquilo que os autores se propuseram a avaliar. Destaca-se, ainda, que os instrumentos utilizados para avaliar a frequência ou prevalência de “risco de TA” e de “comer transtornado” variaram entre diferentes questionários, de padronizados a questões desenvolvidas especificamente para o estudo, havendo, portanto, distinção nos instrumentos de avaliação. O EAT (tanto na versão 26 ou 40 questões) foi o principal instrumento utilizado para avaliar comportamento de risco para TA entre os estudos selecionados. Esse é possivelmente o instrumento de autopreenchimento mais utilizado na área dos TA para estudos de rastreamento e avaliações em populações clínicas, em várias línguas e culturas, dada a sua facilidade de aplicação, eficiência, economia e não necessidade de treinamento para administração6,90. No entanto, esse instrumento foi desenvolvido inicialmente como um teste para diagnóstico de anorexia nervosa e, como não se adequou para o diagnóstico do distúrbio, passou a ser utilizado para detectar casos clínicos em população de alto risco e identificar indivíduos com preocupações anormais com alimentação e peso. Ele avalia sintomas de restrição alimentar e identifica comportamentos de dieta, os quais podem ou não estar associados a sintomas mais específicos de TA. Como o EAT é uma escala que foi desenvolvida há muito tempo, alguns cuidados com a interpretação dos resultados tornam-se necessários. Deve-se questionar, por Risco para transtornos alimentares 71 exemplo, se a resposta positiva à questão “eu como alimentos dietéticos” é, nos dias atuais, uma medida de comer transtornado; da mesma forma, para se responder que se conhece o valor calórico dos alimentos, em uma época de obrigatoriedade de rótulos alimentares91. Além dessas considerações, podem existir questões de tradução e diferenças de interpretações culturais2. No Brasil, uma primeira tradução do teste foi disponibilizada em 199492 e uma validação com adolescentes do sexo feminino foi publicada em 200493. A versão de Bighetti et al.93 encontrou alpha de Cronbach de 0,82 e a de Nunes et al.22 foi reavaliada em 2005 e teve consistência interna (alpha de Cronbach) de 0,75; essa reavaliação também mostrou baixos coeficientes de validade para o instrumento aplicado em um contexto do Brasil, concluindo que existem dúvidas sobre a capacidade do teste de identificar comportamentos alimentares anormais na população jovem feminina22. Ainda sobre tradução, nenhuma das versões em português parece trazer corretamente o significado da afirmativa “I worry about the amount of calories in the food I eat”. Foi traduzida por Nunes et al.92 como “sei quantas calorias têm os alimentos que como” e, por Bighetti et al.93, como “presto atenção à quantidade de calorias dos alimentos que eu como”, considerando que um comportamento mais transtornado seria contar as calorias de tudo que se consome91. Ademais, segundo Garfinkel e Newman94, o EAT tem boas propriedades psicométricas de confiabilidade e validade, razoável sensibilidade e especificidade para TA, mas valor preditivo positivo muito baixo, em virtude de os TA serem relativamente incomuns. Por isso, os autores afirmam que o EAT é válido para rastreamento de distúrbios da alimentação em geral, em população de risco e subgrupos específicos, e para comparações entre grupos e diferentes culturas. Observa-se, no entanto, pelos resultados encontrados nesta revisão, que a variabilidade nos resultados de frequência ou prevalência foi muito grande e, dadas as considerações anteriores, pode ser temerário fazer comparações entre grupos, apenas com o resultado do EAT, assim como pensar em maior ou menor frequência de risco de TA em determinado grupo, sem avaliações concomitantes e considerações amplas sobre o contexto socioeconômico e cultural, além de considerar-se a cultura alimentar e a cultura de “dieta” e de imagem corporal do grupo avaliado. O segundo questionário mais utilizado para rastrear sintomas de TA foi o BITE, desenvolvido para o rastreamento e avaliação da gravidade da BN, e apresentando propriedades psicométricas adequadas no estudo original6. Esse instrumento fornece os resultados em duas escalas, uma de gravidade e outra de sintomas específicos de BN, o que pode explicar menores frequências na comparação dos resultados de estudos que utilizaram o BITE e trabalhos que utilizaram outros questionários – mesmo assim, a amplitude dos resultados é grande. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. 72 Leal GVS et al. O EDI, terceiro instrumento mais utilizado, foi desenvolvido para avaliar características comportamentais e psicológicas da AN e BN. É composto por 64 itens em oito subescalas que avaliam a busca da magreza, bulimia, insatisfação corporal, perfeccionismo, falta de confiança, consciência corporal e medo da maturidade6. Vários estudos constataram sua validade e confiabilidade, e existem normas publicadas para aplicação em adolescentes, mas não há estudo de adaptação do EDI para o português95. No caso dos resultados de frequência ou prevalência com EDI, a amplitude foi menor do que com EAT e BITE. Observa-se, portanto, que é difícil comparar os resultados encontrados por meio desses questionários, uma vez que uma gama de características é avaliada, e não apenas ou especificamente os comportamentos específicos de TA, como restrição, compulsão e purgação. Alguns fatores podem auxiliar na análise da grande variabilidade na prevalência e frequência de comportamentos de risco encontrada nos estudos: 1) diferentes comportamentos são avaliados por meio de cada instrumento; quando o estudo avaliou sintomas mais severos, encontrou prevalências menores, tal fato foi verificado em estudos que utilizaram o BITE, por exemplo, cujo resultado pode ser variado em diferentes graus de problema alimentar, de acordo com o escore do instrumento10,24; 2) outro exemplo é a avaliação de práticas não saudáveis para controle do peso, que são comportamentos menos severos (comer pouca comida, pular refeição, usar substitutos de alimentos, tomar remédios para emagrecer e fumar mais cigarros) e apresentam maior prevalência43; 3) alguns estudos apresentaram seus resultados em relação à amostra completa e outros dicotomizaram segundo sexo37,50,60, aparentando prevalências menores; 4) outros estudos apresentam apenas resultados de comportamentos específicos como restrição alimentar30,87 ou sintomas bulímicos30, o que pode levar à apresentação de menores prevalências; 5) pode haver também superestimação dos comportamentos de risco devido a dificuldade de entendimento do questionário por parte do entrevistado, como no estudo com adolescentes sul-africanos63 que tiveram dificuldade de compreender o questionário em inglês e responderam positivamente a alguns itens do EAT, não por apresentarem preocupação com o peso, mas sim por práticas culturais (vomitar o alimento como ritual de limpeza para proteger o corpo de doenças) e circunstâncias socioeconômicas (após ficar com muita fome, comiam demais quando havia comida disponível e “tinham” que vomitar), caracterizando falsos-positivos. Como exemplo do fator 2 listado acima, além dos sintomas clássicos de TA, outros comportamentos de risco menos graves para TA são avaliados por alguns autores que têm utilizado o termo “práticas não saudáveis para controle do peso”43,44 para agrupar: fazer jejum ou comer muito pouca comida, pular refeições, usar substitutos de alimentos como suplementos ou shakes, tomar remédios para emagrecer J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. REVISÃO DE LITERATURA ou fumar mais cigarros. Esses comportamentos contribuem para aumentar o risco de desenvolver transtornos alimentares clinicamente significantes e, portanto, também devem ser avaliados, mas não é adequado comparar sua prevalência com a de sintomas mais graves, específicos para TA, pois tais práticas tendem a ser mais prevalentes que os sintomas clássicos de TA43. Um fator relevante das avaliações realizadas com questões focadas nos comportamentos específicos é que estas deveriam gerar resultados mais facilmente comparáveis. No entanto, a variabilidade ainda é razoável nos resultados obtidos de questões específicas elaboradas pelos autores sobre restrição alimentar: 24,7% em estudo nacional7, 53,3% na América Latina30 e 57%43 em meninas, nos Estados Unidos; uso de laxantes, vômitos autoinduzidos e diuréticos: 5,1% no Brasil7 e 7,8% nos Estados Unidos39; e de compulsão alimentar: 37,3% no Brasil7 e 11,8% em meninas, nos Estados Unidos39. Isso se deve, pelo menos em parte, ao fato de que esses questionários não geram escores, e, portanto, seus resultados são apresentados detalhando-se cada comportamento. Dessa forma, verifica-se maior prevalência de restrição alimentar, seguida de compulsão alimentar e menores prevalências de comportamentos compensatórios (uso de laxantes, vômitos autoinduzidos e diuréticos). A vantagem de perguntas específicas relativas aos questionários longos seria a possibilidade de facilitar o entendimento por parte dos adolescentes. Questionários simplificados são, portanto, uma alternativa eficaz para rastrear o risco de desenvolver TA entre adolescentes7. Dentre eles, destaca-se o SCOFF questionnaire, que consiste em cinco questões relativas às características fundamentais da AN e BN, desenvolvido para rastrear mulheres adultas em risco de TA, podendo também ser utilizado com adolescentes36,64,66. Questões próprias foram desenvolvidas para alguns estudos: McKnight et al.47 elaboraram quatro questões, concluindo que foram eficazes para identificar 80% das adolescentes que poderiam desenvolver TA. No Brasil, Ferreira e Veiga7 adaptaram um questionário elaborado por Hay8, que foi baseado no Eating Disorder Examination (EDE)96 e considerado o “padrão-ouro” para o rastreamento dos TA2. Esse questionário é composto por duas perguntas: a primeira investiga a frequência de compulsão alimentar e a segunda, subdividida em quatro questões, investiga a frequência de métodos para controlar o ganho de peso ou possíveis mecanismos compensatórios à ingestão alimentar excessiva, tais como o comportamento purgativo (uso de laxantes, diuréticos ou vômitos autoinduzidos) e dieta muito restritiva ou jejum97. Ferreira e Veiga97 avaliaram esse questionário para identificar comportamentos de risco para TA em adolescentes do Rio de Janeiro e encontraram boa confiabilidade para rastrear a frequência da realização de dietas restritivas e para investigar o uso de diuréticos, laxantes e vômitos autoinduzi- REVISÃO DE LITERATURA dos e confiabilidade moderada para avaliar a frequência dos episódios de compulsão alimentar. Os autores concluíram também que, pelo fato de ser bem mais curto e simples do que os demais, e mesmo assim abranger questões acerca dos principais comportamentos indicadores da presença de risco para o desenvolvimento de TA, esse questionário pode ser útil em estudos epidemiológicos para rastreamento do problema em jovens. Além dos aspectos discutidos, sabe-se que vários fatores podem dificultar a caracterização do que é comportamento de risco para TA4; esses distúrbios podem se apresentar de maneira distinta em diferentes culturas. Por exemplo, critérios diagnósticos baseados em normas ocidentais podem não ser apropriados para países não ocidentais98; diferenças raciais e étnicas também são observadas ao se estudar a prevalência de psicopatologias em adolescentes99. E, de qualquer forma, deve-se atentar para a atual “globalização” de costumes alimentares e ideais de beleza100, que se disseminam pela mídia e que afetam até culturas distintas101. Os presentes resultados chamam a atenção para a necessidade de padronização dos termos utilizados em pesquisas sobre risco de TA, assim como de padronização do método de avaliação do fenômeno, o que possibilitaria a comparação de dados dentro do mesmo país ou em diferentes locais e realidades. Reconhece-se também a necessidade de se definir melhor o que é comportamento disfuncional e o que é risco para o desenvolvimento do quadro. Sugere-se que comportamentos de risco para transtornos alimentares poderiam ser caracterizados pela presença dos sintomas clássicos de TA, ou seja, restrição alimentar, compulsão ou purgação, e que as práticas menos graves para controle do peso poderiam ser denominadas “comer transtornado”. A padronização dos termos e metodologias de avaliação dos TA para identificação precoce desses comportamentos é essencial para o desenvolvimento de métodos de intervenção mais efetivos e para subsidiar ações de prevenção. CONCLUSÃO Foi encontrada ampla variação na maneira de caracterizar o comportamento de risco para TA, assim como nos tipos de instrumentos e nomenclaturas utilizados. Os comportamentos de risco para TA foram caracterizados principalmente pela presença dos sintomas clássicos (restrição alimentar, purgação e compulsão), mas também foram associados a diferentes características alimentares, de peso e de imagem corporal. O principal instrumento utilizado nos estudos foi o EAT e os termos mais frequentes foram “risco para transtornos alimentares” e “comer transtornado”. A frequência de com- Risco para transtornos alimentares 73 portamentos de risco para TA variou de acordo com o tipo de instrumento utilizado e com a região ou país de origem. CONTRIBUIÇÕES INDIVIDUAIS Greisse Viero da Silva Leal – Realizou a busca bibliográfica para concepção do artigo, assim como a análise dos resultados, discussão e conclusão. Marle dos Santos Alvarenga – Contribuiu para o desenho metodológico do estudo, discussão e conclusão e revisou criticamente seu conteúdo intelectual. Sonia Tucunduva Philippi – Revisou criticamente seu conteúdo intelectual. Viviane Ozores Polacow e Táki Athanássios Cordás – Revisaram a versão final. Todos os autores aprovaram a versão final a ser publicada. CONFLITOS DE INTERESSE Nenhum autor possui conflitos de interesse a serem declarados. REFERÊNCIAS 1. American Dietetic Association (ADA). Position of the American Dietetic Association: nutrition intervention in the treatment of anorexia nervosa, bulimia nervosa, and other eating disorders. J Am Diet Assoc. 2006;106:2073-82. 2. Alvarenga MS, Scagliusi FB, Philippi ST. Comportamento de risco para transtorno alimentar em universitárias brasileiras. Rev Psiq Clín. 2011;38(1):3-7. 3. American Psychiatry Association (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV). 4ª ed. 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J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):62-75. comunicação breve Notas sobre a versão em língua portuguesa da Escala de Bem-Estar Espiritual Notes on the Portuguese-language version of the Spiritual Well-Being Scale Edson Zangiacomi Martinez1, Rodrigo Guimarães dos Santos Almeida2, Fabiana Rodrigues Garcia1, Antonio Carlos Duarte de Carvalho1 RESUMO Palavras-chave Espiritualidade, escalas, psicometria, religião. Objetivo: Testar a Escala de Bem-Estar Espiritual (EBE), a versão em português da Spiritual Well-Being Scale (SWB), em uma amostra de universitários matriculados em cursos de pós-graduação da área da saúde, avaliando suas qualidades psicométricas. Entre os diferentes instrumentos que objetivam mensurar a espiritualidade, encontra-se a SWB, adaptada recentemente para a língua portuguesa. Os 20 itens desse instrumento originalmente dividem-se em duas dimensões: bem-estar religioso (BER) e bem-estar existencial (BEE). Métodos: A consistência interna dessas dimensões foi avaliada pelo coeficiente alfa de Cronbach. Foi utilizada análise fatorial com rotação oblíqua para avaliar a estrutura fatorial latente. Quatrocentos e quarenta e um indivíduos responderam ao instrumento. Resultados: O instrumento apresenta satisfatória consistência interna, mas a análise fatorial sugere que os itens da dimensão BEE distribuem-se em dois fatores distintos, o que chama a atenção para a complexidade da estrutura fatorial do instrumento. Conclusão: A estrutura fatorial da escala EBE não é clara, e a presença de um efeito teto em grupos religiosos específicos pode prejudicar os estudos que buscam associações entre espiritualidade e aspectos relacionados à saúde. O uso do instrumento exige cautela, e posteriores estudos de revisão da escala são necessários. ABSTRACT Objective: This study aims to test the factor structure of the Portuguese-language version of the Spiritual Well-being Scale (SWB) in a sample of postgraduate students of courses in the health area, assessing its psychometric qualities. Among the different instruments used to measure the spirituality, the SWB was recently adapted into Portuguese language. The 20 items of this instrument are originally divided into two dimensions: Religious Well-Being (RWB) and Existential Well-Being (EWB) subscales. Methods: The internal consistency of the subscales was assessed by the Cronbach’s alpha coefficient. A factor analysis with oblique rotation was used to assess the latent factor structure. Four hundred and forty-one indivi duals answered the SWB scale. Results: The instrument has satisfactory internal consistency, but the factor analysis suggests that the items of the EWB subscale are distributed in two distinct factors, which draws attention to the complexity of the factor structure of the instrument. Conclusion: The factorial structure of the instrument is unclear, and the presence of 1 Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP-FMRP), Departamento de Medicina Social, Ribeirão Preto, SP, Brasil. 2 USP-FMRP, Fundação Hemocentro, Ribeirão Preto, SP, Brasil. Recebido em 21/9/2012 Aprovado em 25/1/2013 Instituição onde o trabalho foi elaborado: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. Endereço para correspondência: Edson Zangiacomi Martinez Departamento de Medicina Social, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900 14049-900 – Ribeirão Preto, SP, Brasil E-mail: [email protected] comunicação breve Keywords Spirituality, scales, psychometrics, religion. Notas sobre a escala EBE 77 a ceiling effect for religious groups may hinder the studies about the associations between spirituality and health-related characteristics. The use of the SWB scale requires caution and a subsequent revision of the scale is needed. INTRODUÇÃO As crenças, práticas e experiências espirituais têm sido desde tempos remotos um dos componentes mais prevalentes e influentes da maioria das sociedades1, o que torna a dimensão religiosa/espiritual importante para os estudos em saúde. Como exemplo, Koenig2 destaca que resultados desses estudos podem trazer informações úteis para o cuidado clínico de pacientes psiquiátricos, considerando a possibilidade de crenças religiosas ou espirituais serem utilizadas para lidar melhor com a doença ou exacerbá-la. Em adição, espiritualidade e religiosidade mostram-se associadas a pontos importantes na própria relação médico-paciente, qualidade de vida e enfrentamento da doença3. A espiritualidade é definida por Koenig et al.4 como uma “busca pessoal para entender questões finais sobre a vida e seu sentido, sobre as relações com o sagrado ou transcendente, que pode ou não levar ao desenvolvimento de práticas religiosas ou formações de comunidades religiosas”. É um conceito que se difere de religiosidade, entendida como “extensão na qual um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião, podendo ser esta organizacional ou não”. Em uma análise conceitual, Tanyi5 revisou 76 artigos e 19 livros buscando um significado para o termo “espiritualidade”. Esse estudo mostrou que espiritualidade e religião são conceitos distintos, sendo a espiritualidade, então, definida como a busca do indivíduo pelo significado da vida, enquanto a religião envolve uma entidade organizada com rituais e práticas orientadas a uma força maior ou Deus. E, ainda, a espiritualidade pode estar associada à religião para alguns indivíduos, mas para outros, como os ateus, pode não estar. Uma revisão sobre diferentes instrumentos que objetivam mensurar a espiritualidade foi conduzida por Meezenbroek et al.6. Entre esses instrumentos, encontra-se a Spiritual Well-Being Scale (SWB), introduzida e testada por Paloutzian e Ellison7. A escala SWB possui 20 itens divididos em duas dimensões: o bem-estar existencial (BEE, composta por 10 itens, uma dimensão “horizontal”, associada a um propósito na vida e satisfação com a própria existência) e o bem-estar religioso (BER, também composta por 10 itens, uma dimensão “vertical”, referente a um senso de bem-estar em relação a Deus). Os itens são apresentados em uma escala de Likert de seis pontos; para o cálculo dos escores, os itens que expressam sensações negativas têm suas pontuações “invertidas”. Assim, os escores da dimensão BER são obtidos da soma das pontuações dos itens ímpares da escala, e os escores da dimensão BEE são obtidos da soma dos itens pares (a amplitude é de 6 a 60 pontos). A escala SWB foi adaptada para a língua portuguesa (recebendo o nome de Escala de Bem-Estar Espiritual – EBE) e validada por Marques et al.8, que encontraram satisfatórias qualidades psicométricas e indicaram sua aplicabilidade em estudos em contexto local. Entretanto, segundo Meezenbroek et al.6, o uso da escala SWB para predizer propriamente um bem-estar não é recomendado. O argumento é que os itens do domínio de bem-estar existencial (BEE) podem trazer respostas socialmente desejáveis, enquanto o domínio de bem-estar religioso (BER) é sujeito a um efeito teto em grupos religiosos específicos, dado que o indivíduo pode ser influenciado a responder em concordância com os postulados de sua organização religiosa. O objetivo do presente trabalho é testar a Escala de Bem-Estar Espiritual (EBE), a versão em português da escala SWB introduzida por Marques et al.8, em uma amostra de estudantes universitários matriculados em cursos de pós-graduação da área da saúde, avaliando suas qualidades psicométricas. MÉTODOS Participaram do estudo 441 estudantes de pós-graduação de cursos da área da saúde. Os dados foram coletados nos anos de 2011 e 2012 em salas de aula da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto. Após um breve rapport, quando elucidado que a palavra “Deus” utilizada no instrumento pode ser entendida como uma “força superior” ou “inteligência suprema” na qual o indivíduo acredita (recomendação esta sugerida por Marques et al.8), os sujeitos foram informados sobre os propósitos da pesquisa e convidados a responder à escala. A coleta de dados foi conduzida durante aulas de disciplinas de bioestatística, que são de interesse de alunos de vários cursos de pós-graduação e oferecidas no campus, com ênfase em saúde. No estudo das capacidades psicométricas do instrumento, utilizou-se o coeficiente alfa de Cronbach para exame da consistência interna. Foi estimado o coeficiente de correlação entre cada item da escala e o indicador total, depurado de sua própria contribuição. Essa correlação mede a associação do item com as outras medidas tomadas em conjunto. O coeficiente alfa calculado quando o respectivo item é desprezado mostra o impacto que teria a retirada desse item do questionário. A análise fatorial com rotação oblíqua (oblimin) foi utilizada para avaliar a estrutura fatorial latente. A pesquisa e a elaboração do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foram realizadas dentro de padrões éticos, sendo aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):76-80. comunicação breve Martinez EZ et al. 78 Hospital das Clínicas e Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. RESULTADOS Responderam ao instrumento 323 mulheres, com idade entre 21 e 52 anos (média 28,3, desvio-padrão 5,39) e 118 homens, com idade entre 22 e 55 anos (média 29,6, desvio-padrão 5,53). A religião mais frequente é a católica, seguida da espírita (Tabela 1). A tabela 1 descreve que 23,6% dos participantes atingiram a pontuação máxima da dimensão BER, sendo esse percentual igual a 43,8% para os evangélicos, o que sugere a presença de um efeito teto condicionado à religião declarada. O efeito teto não é importante para a dimensão BEE (Tabela 1). A consistência interna (representada pelo coeficiente alfa de Cronbach) dos fatores foi de 0,922 para o domínio de bem-estar religioso, 0,790 para o domínio de bem-estar existencial e 0,906 para a escala total. A tabela 2 mostra, além do conteúdo dos itens, a correlação entre cada item dos domínios BER e BEE e o respectivo coeficiente alfa que seria encontrado caso aquele item seja desprezado no respectivo domínio. Os itens 5, 9 e 13 são aqueles com menor correlação com o total do respectivo domínio, mas indicando um desprezível aumento no coeficiente alfa quando desprezados em seu cálculo. Para os itens constantes do domínio BEE, Tabela 1. Religião dos participantes segundo sexo e percentual que atingiu a pontuação máxima dos domínios de bem-estar religioso (BER) e existencial (BEE) Religião Total n (%) Percentual que atingiu a pontuação máxima dos domínios Sexo Tabela 2. Itens constantes do domínio de bem-estar religioso (BER) e existencial (BEE) da escala EBE e resultados do exame de consistência interna Item Conteúdo Correlação entre o item e o total Alfa de Cronbach se o item é desprezado Bem-estar religioso (alfa de Cronbach 0,922) 1 Não encontro satisfação na oração pessoal com Deus 0,7285 0,9129 3 Creio que Deus me ama e se preocupa comigo 0,7853 0,9102 5 Acredito que Deus é impessoal e não se interessa por minhas situações cotidianas 0,4247 0,9292 7 Tenho uma relação pessoal significativa com Deus 0,8111 0,9083 9 Não recebo muita força pessoal e apoio de meu Deus 0,5219 0,9233 11 Acredito que Deus se preocupa com meus problemas 0,8244 0,9074 13 Não tenho uma relação pessoal satisfatória com Deus 0,4667 0,9269 15 Meu relacionamento com Deus ajuda-me e não me sentir sozinho 0,8057 0,9082 Feminino n (%) Masculino n (%) BER (%) BEE (%) 17 Sinto-me plenamente realizado quando estou em íntima comunhão com Deus 0,8228 0,9074 19 Minha relação com Deus contribui para minha sensação de bem-estar 0,8775 0,9044 0,7868 Católica 246 (55,8%) 189 (58,5%) 57 (48,3%) 26,0% 2,5% Espírita 82 (18,6%) 65 (20,1%) 17 (14,4%) 29,8% 10,3% Crê em Deus, mas não possui religião 58 (13,2%) 35 (10,8%) 23 (19,5%) 5,9% 0 Evangélica 16 (3,6%) 13 (4,0%) 3 (2,5%) 43,8% 6,3% Ateu 16 (3,6%) 3 (0,9%) 13 (11,0%) 0 0 Protestante 9 (2,0%) 8 (2,5%) 1 (0,9%) 11,1% 11,1% Agnóstico 8 (1,8%) 4 (1,2%) 4 (3,4%) 0 0 Testemunha de Jeová 2 (0,4%) 2 (0,6%) 0 100,0% 50,0% Igreja Messiânica 2 (0,4%) 2 (0,6%) 0 50,0% 0 Budista 1 (0,2%) 1 (0,3%) 0 0 0 Bahá’í 1 (0,2%) 1 (0,3%) 0 0 0 Total 441 (100%) 323 (100%) 118 (100%) 23,6% 4,0% J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):76-80. destaca-se a relativamente baixa correlação dos itens com o total, embora o impacto da retirada “um a um” desses itens do domínio tenha baixo impacto sobre o coeficiente alfa. A tabela 3 apresenta os resultados da análise fatorial, considerando ou não os ateus e agnósticos. Optou-se pela rotação oblíqua para que os resultados fossem comparáveis aos da literatura, mas observou-se que a estrutura obtida de uma análise fatorial com rotação varimax é semelhante (resultados não mostrados). Foram retidos três fatores, pelo critério de preservar aqueles com autovalores maiores que 1. Na tabela, são indicados em negrito os pesos fatoriais maiores que 0,4. A estrutura fatorial é semelhante quando os ateus Bem-estar existencial (alfa de Cronbach 0,790) 2 Não sei quem sou, de onde vim ou para onde vou 0,3750 4 Sinto que a vida é uma experiência positiva 0,4460 0,7765 6 Sinto-me inquieto quanto ao meu futuro 0,3489 0,7962 8 Sinto-me bastante realizado e satisfeito com a vida 0,7083 0,7477 10 Tenho uma sensação de bem-estar a respeito do rumo que minha vida está tomando 0,6099 0,7558 12 Não aprecio muito a vida 0,4045 0,7804 14 Sinto-me bem acerca do meu futuro 0,6324 0,7515 16 Sinto que a vida está cheia de conflito e infelicidade 0,3967 0,7853 18 A vida não tem muito sentido 0,5958 0,7592 20 Acredito que existe algum verdadeiro propósito para minha vida 0,3798 0,7812 comunicação breve Notas sobre a escala EBE 79 Tabela 3. Estrutura fatorial dos itens da escala EBE, com rotação oblíqua Pesos fatoriais Item 1 a Todos os respondentes (n = 441) Excluindo os ateus e agnósticos (n = 425) Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 1 Fator 2 Fator 3 0,7589 0,0981 -0,0723 0,6876 0,1113 -0,0708 2 0,4161 -0,0335 0,3966 0,4799 -0,0340 0,2984 3 0,8710 -0,0573 -0,0684 0,8239 -0,1038 -0,0507 4 0,0317 0,6501 0,0569 0,0051 0,6266 0,0572 5 0,6262 -0,2725 0,1454 0,6502 -0,2399 0,0852 6 -0,0381 -0,1006 0,7922 0,0711 -0,1337 0,7627 7 0,8660 -0,0029 -0,0003 0,8267 -0,0080 0,0044 8 0,0780 0,5825 0,4434 0,0642 0,5416 0,4823 9 0,6530 0,0225 -0,0259 0,6437 0,0372 0,0028 10 0,0084 0,4568 0,5192 0,0081 0,3862 0,5752 11 0,8772 0,0040 -0,0270 0,8385 0,0018 -0,0279 12 0,0402 0,7443 -0,0912 0,0247 0,7692 -0,0415 13 0,5315 0,1385 -0,1306 0,5278 0,1669 -0,1420 14 -0,0712 0,4752 0,5648 -0,0447 0,4085 0,6093 15 0,7922 0,0910 0,1318 0,7522 0,1059 0,1499 16 0,0126 0,0964 0,5862 -0,0074 0,0400 0,6160 17 0,8512 -0,0039 0,0620 0,8131 -0,0001 0,0687 18 0,2131 0,5866 0,1819 0,1510 0,6169 0,1813 19 0,8927 0,0247 0,0103 0,8619 0,0254 0,0201 20 0,5919 0,3602 -0,1037 0,5351 0,3851 -0,1569 Autovalores 7,8 2,9 2,1 7,3 2,8 1,1 Proporçãoa 39,2% 14,5% 5,2% 36,6% 14,0% 5,4% Proporção em que o fator contribui para a variação total. e agnósticos são excluídos ou não. Todos os itens do domínio religioso (identificados por números ímpares) possuem maior peso no fator 1, mas observa-se que os itens 2 e 20 (originalmente da dimensão BEE) também possuem expressivo peso nesse fator. A estrutura fatorial apresentada sugere que os itens da dimensão BEE distribuem-se em dois fatores distintos (fatores 2 e 3). No fator 3, destacam-se os pesos dos itens 6, 10, 14 e 16. DISCUSSÃO Os valores encontrados para os coeficientes alfa nesta pesquisa são próximos aos encontrados por Marques et al.8 em uma amostra de 506 adultos residentes em Porto Alegre, ao propor a adaptação e validação da escala. Isso sugere alta consistência interna, ou seja, os 10 itens de cada domínio parecem formar conjuntos consistentes no sentido de mensurar um mesmo objeto. Entretanto, algumas notas sobre o efeito teto e a estrutura fatorial do instrumento sugerem cautela em seu uso. Bufford et al.9 também destacaram o efeito teto encontrado em amostras de evangélicos, e Ledbetter et al.10 argumentaram que, como consequência, a associação entre a escala EBE e outras variáveis de interesse em saúde pode ser subestimada em grupos religiosos específicos. Embora alguns autores tenham encontrado uma solução com dois fatores ao aplicar a análise fatorial aos itens da escala EBE7,8,11, o presente estudo encontrou uma estrutura de três fatores. O fator 1 sugere que os itens ímpares da escala EBE podem ser úteis na mensuração de bem-estar religioso. O fato de o item 20 possuir peso maior sobre o fator 1 que sobre o fator 2 é compatível com os resultados de Genia11 e de Scott et al.12, o que, juntamente com uma baixa correlação entre esse item e o total da dimensão original (0,3798 – ver tabela 2), indica a necessidade de uma revisão. O fator 2 destaca os itens 4, 8, 12 e 18, que expressam uma realização pessoal, um significado, uma satisfação com a vida pes soal, enquanto o fator 3 destaca os itens 6, 10, 14 e 16, que expressam uma visão acerca da vida futura, expectativas e anseios. Esse resultado sugere que os itens da dimensão de bem-estar existencial da escala EBE podem estar explicando dois constructos distintos. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):76-80. 80 comunicação breve Martinez EZ et al. Dessa forma, o presente estudo chama a atenção para a complexidade da estrutura fatorial do instrumento, o que traz a necessidade de novos estudos sobre a escala e uma natural revisão de sua interpretação. Essa complexidade é também discutida por Ledbetter et al.13, sugerindo ambiguidades na interpretação dos domínios. Scott et al. também encontraram uma solução de três fatores, mas essa não possui estrutura semelhante à encontrada no presente estudo. Miller et al.14 encontraram uma solução de três fatores para indivíduos caucasianos e de cinco fatores para afro-americanos, o que sugere que a estrutura fatorial da escala pode ter relações com composições étnicas. Utsey et al.15 testaram, por uma análise fatorial confirmatória, a estrutura original de dois fatores do instrumento e as estruturas de três e cinco fatores sugeridas por Miller et al.14 em uma amostra de afro-americanos, mas nenhuma dessas soluções mostrou-se adequada aos dados. Um aspecto que distingue o presente estudo dos outros citados é que se utilizou aqui a versão do instrumento traduzida para a língua portuguesa. Entretanto, acredita-se que as considerações aqui apresentadas independam da linguagem do instrumento. Edson Zangiacomi Martinez e Rodrigo Guimarães dos Santos Almeida – Colaboraram na coleta dos dados. Edson Zangiacomi Martinez – Participou da análise estatística e elaboração dos resultados. Rodrigo Guimarães dos Santos Almeida, Fabiana Rodrigues Garcia e Antonio Carlos Duarte de Carvalho – Contribuíram na revisão bibliográfica e interpretação dos resultados. Referências 1. Moreira-Almeida A. Espiritualidade e saúde: passado e futuro de uma relação controversa e desafiadora [editorial]. Rev Psiq Clín. 2007;34(Supl 1):3-4. 2. Koenig HG. Religião, espiritualidade e psiquiatria: uma nova era na atenção à saúde mental. Rev Psiq Clín. 2007;34(Supl 1):5-7. 3. Lucchetti G, Almeida LGC, Granero AL. Espiritualidade no paciente em diálise: o nefrologista deve abordar? J Bras Nefrol. 2010;32:128-32. 4. Koenig HG, McCullough M, Larson DB. Handbook of religion and health: a century of research reviewed. New York: Oxford University Press; 2001. 5. Tanyi RA. Towards clarification of the meaning of spirituality. J Adv Nurs. 2002;39:500-9. 6. Meezenbroek EJ, Garssen B, Van den Berg M, Van Dierendonck D, Visser A, Schaufeli WB. Measuring spirituality as a universal human experience: a review of spirituality questionnaires. J Relig Health. 2012;51:336-54. 7. Paloutzian RF, Ellison CW. Loneliness, spiritual well-being, and the quality of life. In: Peplan LA, Pearlman D (Eds.). Loneliness: a sourcebook of current theory, research and therapy. New York: Wiley; 1982. CONCLUSÃO 8. Marques LF, Sarriera JC, Dell’Aglio DD. Adaptação e validação da Escala de Bem-Estar Espiritual (EBE). Aval Psicol. 2009;8:179-86. Os resultados apresentados reforçam as afirmações de outros autores de que a estrutura fatorial da escala EBE não é clara, e a presença de um efeito teto em grupos religiosos específicos pode prejudicar os estudos que buscam associações entre a espiritualidade e aspectos relacionados à saúde. Assim, o uso do instrumento exige cautela, e posteriores estudos de revisão da escala são necessários. 9. Bufford RK, Paloutzian RF, Ellison CW. Norms for the Spiritual Well-Being Scale. J Psychol Theology. 1991;19:56-70. Contribuições individuais Todos os autores contribuíram na concepção e no desenho do estudo, na redação do artigo e revisaram seu conteúdo intelectual. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):76-80. 10. Ledbetter MF, Smith LA, Vosler-Hunter WL, Fischer JD. An evaluation of the research and clinical usefulness of the Spiritual Well-Being Scale. J Psychol Theology. 1991;19:49-55. 11. Genia V. Evaluation of the Spiritual Well-Being Scale in a sample of College students. Int J Psychol Religion. 2001;11:25-33. 12. Scott EL, Agresti AA, Fitchett G. Factor analysis of the “Spiritual Well-Being Scale” and its clinical utility with psychiatric inpatients. J Sci Stud Relig. 1998;37:314-21. 13. Ledbetter MF, Smith LA, Fischer JD, Vosler-Hunter WL. An evaluation of the construct validity of the Spiritual Well-Being Scale: a factor-analytic approach. J Psychol Theology. 1991;19:94-103. 14. Miller G, Fleming W, Brown-Anderson F. Spiritual Well-Being Scale ethnic differences between Caucasians and African-Americans. J Psychol Theology. 1998;26:358-64. 15. Utsey SO, Lee A, Bolden MA, Lanier Y. A confirmatory test of the factor validity of scores on the spiritual well-being scale in a community sample of African Americans. J Psychol Theology. 2005;33:251-7. Case report Cerebral calcifications and schizophreniform disorder Calcificações cerebrais e transtorno esquizofreniforme Leonardo Fernandez Meyer1,2,3, Flávio Jozef2, José Geraldo Vernet Taborda4, Marco Antonio Alves Brasil1, Alexandre Martins Valença2,5 ABSTRACT Keywords Basal ganglia calcification, organic psychosis, Fahr’s disease, dementia, schizophreniform disorder, calcium and phosphorus metabolism disturbances, hypoparathyroidism. Objectives: Discuss pathophysiological aspects of cerebral calcifications (CC) and highlight its importance related to the occurrence of neuropsychiatric syndromes. Method: Single case report. Result: Man 52 years old, 20 years after going through a total thyroidectomy, starts showing behavioral disturbance (psychotic syndrome). He was diagnosed as schizophrenic (paranoid subtype) and submitted to outpatient psychiatric treatment. During a psychiatric admission to evaluate his progressive cognitive and motor deterioration, we identified a dementia syndrome and extensive cerebral calcifications, derived from iatrogenic hypoparathyroidism. Conclusion: The calcium and phosphorus disturbances, including hypoparathyroidism, are common causes of CC. Its symptoms can imitate psychiatric disorders and produce serious and permanent cognitive sequelae. The exclusion of organicity is mandatory in any psychiatric investigative diagnosis in order to avoid unfavorable outcomes, such as in the present case report. RESUMO Palavras-chave Calcificação dos gânglios da base, psicose orgânica, doença de Fahr, demência, transtorno esquizofreniforme, distúrbios do metabolismo do cálcio e fósforo, hipoparatireoidismo. Received in 10/10/2012 Approved in 2/20/2013 Objetivos: Discutir aspectos fisiopatológicos das calcificações cerebrais (CC) e ressaltar sua importância na ocorrência de síndromes neuropsiquiátricas. Método: Relato de caso individual. Resultado: Homem 52 anos de idade, 20 anos após tireoidectomia total, iniciou com alteração comportamental (síndrome psicótica), foi diagnosticado como portador de esquizofrenia paranoide e encaminhado para ambulatório de psiquiatria. Durante internação psiquiátrica, para avaliação de importante deterioração cognitivo e motora, foi verificada a vigência de síndrome demencial e extensas CC, secundários a hipoparatiroidismo iatrogênico. Conclusão: Os distúrbios do metabolismo do cálcio e do fósforo, incluindo o hipoparatiroidismo, são causas frequentes de CC. Seus sintomas podem mimetizar transtornos psiquiátricos e provocar sequelas cognitivas permanentes. A exclusão de organicidade é mandatória durante toda investigação diagnóstica na psiquiatria, a fim de evitar desfechos desfavoráveis, como no presente relato de caso. 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), Rio de Janeiro, RJ, Brazil. 2 UFRJ, Instituto de Psiquiatria (IPUB), Rio de Janeiro, RJ, Brazil. 3 Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brazil. 4 Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre, RS, Brazil. 5 Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brazil. Address for correspondence: Leonardo Fernandez Meyer Rua Professor Alfredo Gomes 1, ap. 202 22251-080 – Rio de Janeiro, RJ, Brazil E-mail: [email protected] Case report Meyer LF et al. 82 INTRODUCTION Cerebral calcifications (CC) are not uncommon and can occur in several clinical conditions. Historically recognized as Fahr’s syndrome, they can vary in presentation from accidental findings to severe neuropsychiatric syndromes1-4. Researchers have found that lesions are usually located at the basal ganglia and cerebellum and may reach the internal capsule and the thalamus, regardless the etiology1,3. The reason for this tropism is unknown, but recent findings suggest that cellular and histochemical specificities, such as vascular permeability and the presence of other electrolytes (iron, zinc and magnesium), may contribute to the process3-5. CC development is slow and may remain asymptomatic for long periods of time3,4. The principal causes of CC are shown in table 1. Pathologies most statistically associated to CC are calcium and phosphorus metabolic disturbances (endocrinopathies and genetic syndromes)3,4. Even though uncommon, hypoparathyroidism is a possible cause of severe psychiatric disturbances, whether these be related or not to CC5. Parathormone (PTH) deficiency results in a reduction in serum calcium levels and an increase in serum phosphate levels, thus producing mineral deposits in the skin, retina and cerebrum1. Clinical symptoms of calcium imbalance previously demonstrated include: tetany, Chvostek sing (facial muscle cramps), laryngeal stridor, muscle stiffness, movement disturbances (freezing), and seizures1-5. The last of which may be the only manifestation of this condition1. Table 1. Causes associated to cerebral calcification Parathormone metabolism, calcium and phosphorus Injured Without sistemic involvement Preserved Hypoparathireoidism Down syndrome Idiopathic Primary Neuromyophaties mitochondrial Fahr’s disease Systemic lupus erythematosus Diffuse neurofibrillary Tangles with calcification Acute lymphocytics leukemia Aging/physiological Post-surgical External radiation Hypomagnesemia Pseudohypoparathyroidism Hyperparathyroidism Revesz syndrome Infections: CMV, HIV, neurotoxoplasmosis, EBV Toxicosis: Lead e CO EBV: Epstein-Barr vírus; CO: carbon monoxid; CMV: citomegalovirus; HIV: human immunodeficiency virus. Neuropsychiatric syndromes are commonly seen when CC are secondary to hypoparathyroidism and tend to be se rious problems1-4. Acute conditions, such as delirium, may derive from electrolytic disturbances, especially in post surgical and toxic forms1. Cognitive deterioration is the most common psychiatric symptom resulting from hypoparathyroi dism1. Mood disorders (anxiety, panic attacks, depression and J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):81-4. neurasthenia) are frequent and may be the first clinical manifestations of this condition. Symptoms are intermittent, with periods of spontaneous remission1,3. The onset of psychotic symptoms tends to occur later and seem to be associated with the calcification of the basal ganglia3. Hypothyroidism is commonly part of greater global cognitive impairment, in post surgical hypoparathyroidism. The objective of this case report is to present some neuropsychiatric aspects related to CC in patients with calcium and phosphorus disturbances. In this case report, the patient was admitted to a psychiatric hospital, with a prior diagnosis of schizophrenia. After clinical investigation, the case revealed to be post surgical hypoparathyroidism with extensive CC. The psychiatric Institution authorized the publication of data gathered for this study. CASE REPORT A few weeks after his divorce in 2005, a 52-year-old man began to show signs of behavioral disorder, specifically social withdrawal, functional impairment and aggressiveness, associated to psychotic symptoms (persecutory delusions and hallucinations involving imperative voices). He was diagnosed as schizophrenic (paranoid subtype) and achieved satisfactory symptomatic control during outpatient psychiatric treatment, at that time. However, from 2006 onwards, he developed cognitive impairment and movement disorders. These symptoms weakened his adherence to treatment and resulted in several psychiatric hospitalizations, always triggered by psychotic relapse symptoms (delusions, hallucinations and psychomotor agitation). Yet his response conventional antipsychotic therapy was positive. In June 2009, the patient was admitted to a psychiatric hospital to better evaluate the general deterioration of his condition. He was dehydrated, malnourished, showed psychomotor retardation, choreoathetotic appendicular and orolingual movements, myoclonias, pancerebellar ataxia, pyramidal signs, paratonia and Chvostek sing. A clinical exam of other organic systems came up normal, except for hypotension (100/70 mmHg). The laboratory investigation came up normal, except for: PTH < 3 pg/ml; TSH = 64,5 µUI/ml; T4-L = 0,15 ng/dl; Ca++ = 0,65 mmol/L and phosphorus = 47 mg/dl. The cranial CT scan revealed extensive CC (Figure 1). While taking the psychiatric examination, the patient remained awake, with hypoprosexia, temporal and spatial disorientation, hypokinesia and upper stereotyped movements. He showed no response to external stimulation nor to simple verbal commands and sometimes became restless when hearing his name. He was unable to speak complete words, babbled unspecific sounds and did not seem to understand the examiner’s questions. A decrease in displays of affectivity and inaccessible memory were also verified. No hallucinato- Case report Cerebral calcifications and schizophreniform disorder ry attitude was observed. The application of neurocognitive tests such as MMSE (Mini Mental State Exam), were unsuccessful because of his global cognitive deterioration. A B C D Figure 1. Brain CT revealing extensive calcification of: A) Cerebellar anterior lobe; midbrain; temporal periventricular white matter. B) Cerebellar white matter, including inferior cerebellar peduncles; cerebellar amygdale. C) White matter of frontal, parietal and occipital gyri, including U-fibers; internal capsule; caudate, lentiform and thalamus nuclei; choroid plexus and pineal. D) centrum semiovale. An investigation of his prior medical history revealed a Papilliferous Carcinoma of the Thyroid, treated with total resection in 1986. His post-surgical control and treatment in an outpatient endocrinological clinic was irregular and the patient abandoned the treatment altogether, at the onset of psychiatric symptoms. It has been verified family history of schizophrenia on his maternal grandparents. During his psychiatric admission (17 days), the patient received adequate nutritional support, the correction of electrolytic disturbances and calcium and phosphorus reposition (1 g/day and 10 µg/day, respectively). He also started T4-L reposition (12,5-25 mg/day) and his insomnia was successfully treated with clonazepam. Despite the treatment adopted, cognitive deficits reminded, such as severe dementia syndrome (aphasia, alogia, temporal and spatial disorientation and movement disorders). In light of the complexity of the case, he was transferred to a general hospital. His final diagnosis, after clinical investigation, was Dementia in hypercalcemia (Dementia in other specified diseases classified elsewhere, F – 02.8, by ICD-10). 83 DISCUSSION Our case report seeks to highlight the importance of excluding general medical and/or substance related conditions whenever a psychiatric condition appears. We also look into an extreme case of extensive CC, derived from iatrogenic hypoparathyroidism. The “exclusion of substance/general medical condition”, proposed by DSM-IV and ICD-10, is mandatory for all psychiatric diagnoses, even though clinical components and family history are standard of primary mental disorders. The patient’s initial clinical manifestations consisted in a delusional-hallucinatory syndrome, with characteristics of paranoid schizophrenia, and he also had a positive family history of mental disorder. The atypical characteristics of his syndrome were the absence of a premorbid personality and the late onset, in his fifties. The post surgical hypoparathyroidism and the period of time that elapsed until the onset of psychiatric symptoms are compatible with the patient’s clinical condition, as well as the laboratory and imaging findings1,3-5. However, it’s likely that hypothyroidism contributed to the patient’s cognitive-motor neurological condition. Seizures and signs of tetany could be seen in most of the cases described3,4,6,7, yet our patient only manifested the latter. Despite the protective effect of the blood-brain barrier, the sub cortical nuclei are vulnerable to impregnation by minerals such as copper (Wilson’s disease), iron (neurodegeneration associated with pantothenate kinase) and calcium3,4,8. CC occurs in several clinical conditions (Table 1) and may commonly be classified as part of three main groups: Idiopathic, Familial and especially calcium and phosphorus metabolic disorders1. Among the latter, the more prominent metabolic disorder are the results of endocrine etiologies, such as hypoparathyroidism, including the most regularly occurring post-surgical/iatrogenic type3,5. Calcifications are usually located at the basal ganglia, dentate, thalamus and semioval center1. Extensive CC and/or CC located in other cerebral locations are rare, such as in the case report presented here3,6,7,9,10. In cases of primary hypoparathyroidism, calcifications tend to be diffuse, while in secondary hypoparathyroidism they tend to be more localized3. Recent histochemical studies have revealed the presence of other chemical elements in these lesions such as copper, zinc, magnesium, aluminum, potassium, iron and calcium. These elements surround the organic matrix and lead to mineralization3. Special attention should be given to iron, which is found in higher concentrations in these CC regions and apparently increases local dopaminergic neurotransmission3. Clinical manifestation seems to vary according to the patient’s age at the onset of the calcification process: from 20 and 40 years of age symptoms are predominantly manifested as schizophreniform psychosis, with no neurologiJ Bras Psiquiatr. 2013;62(1):81-4. 84 Case report Meyer LF et al. cal signs3. When the onset occurs after 49 years of age, the psychosis is often accompanied by disorders of movement and dementia3. Psychotic symptoms characterized by paranoid delusions, auditory hallucinations (sometimes musical), complex visual hallucinations, hiker behavior and catatonic states, were reported within this age range3,5. The extension of the calcification and the severity of the neuropsychiatric symptoms are directly correlated, even though they bear no relationship to any specific kind of symptomatology3. Our patient developed belated psychiatric symptoms and had already been diagnosed with dementia, close to the kind of outcomes found in literature on the subject6,11. In most patients the prognosis is negative, with permanent cognitive and behavioral damage6,7,11,12. Similar case reports have been found for patients with Fahr’s disease6. Treatment of the underlying cause, when possible, can improve neuropsychiatric symptoms, yet rarely stops the progression of CC3-5. Clinical intervention in electrolytic disturbances and intoxications is mandatory. The theoretical benefit of using chelating agents (deferoxamine, penicillamine) has not been proven by clinical studies up to this date2,4. In cases of hypoparathyroidism, calcium reposition (1-2 g/day), together with vitamin D (calcitriol, cholecalciferol) is recommended, in order to maintain serum calcium levels at 8-8.5 mg/day and urinary calcium under 200 mg/day2,4. The psychotic symptoms may not respond to antipsychotic medication. Lithium carbonate is recommended for refractory patients1. CONCLUSION Mental disorders derived from organic causes are generally reversible, if the appropriate treatment is started early on in the process. Metabolic disturbances linked to calcium and phosphorus are potential causes of severe neuropsychiatric syndromes and permanent cognitive damage. Excluding organicity is mandatory in any psychiatric diagnosis investigation. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):81-4. Individual contributions Leonardo Fernandez Meyer – Responsible for the data collection, analysis, revision, bibliography and copy-editing the article. The other authors helped with the bibliography, discussions on the theme and final copy-editing. REFERENCES 1. David AS, Fleminger S, Kopelman M, Lovestone S, Mellers J. Lishman’s Organic Psychiatry. 4th ed. Oxford, UK: Wiley-Blackwell; 2009. 2. Aminoff MJ. Neurology and clinical medicine. 4th ed. New York: Churchill Livingstone, 2004. 3. Casanova MF, Araque JM. 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Arq Bras Endocrinol Metabol. 2011;55(05). relato de caso Cessação tabágica em paciente com tremor essencial Smoking cessation in a patient with essential tremor Carolina Ferreira da Costa1, Ervin Cotrik1, Alberto Araújo2, Marco Antônio Brasil1 RESUMO Palavras-chave Cessação tabágica, tremor essencial, depressão, ansiedade. Existem pacientes que, apesar dos esforços da equipe do programa de cessação tabágica, mostram-se refratários à redução do tabagismo. Entre os motivos mais citados para isso, estão abuso de álcool, ansiedade e depressão. Além desses, o tremor essencial, frequentemente negligenciado pelos pacientes e médicos, tem implicações clínicas diretas e indiretas para aqueles que desejam parar de fumar. Antes entendida como uma doença benigna, o tremor essencial tem fortes associações com transtornos psiquiátricos, além de piorar com a abstinência de nicotina e com o uso de determinados medicamentos para a cessação. Descrevemos um caso de tremor essencial e comorbidades psiquiátricas no seu percurso para a abstinência tabágica. Com relação à associação entre nicotina e o curso do tremor essencial, maiores estudos são necessários. Mas diagnosticar sua presença apresenta relevância clínica, podendo ser um marcador de pior prognóstico para a cessação. ABSTRACT Keywords Smoking cessation, essential tremor, depression, anxiety Recebido em 18/10/2012 Aprovado em 18/2/2013 There are patients that are resistant to reducing tobacco use, despite the effort of the professionals helping them to quit. Among the most cited motives, there are alcohol abuse, anxiety and depression. Furthermore, frequently neglected by patients and doctors, essential tremor has direct and indirect clinical implications for those who want to stop smoking. Once known as a benign condition, essential tremor has strong association with psychiatric disorders and can get worse because of nicotine abstinence and certain medications used in smoking cessation. We report a case of essential tremor and psychiatric comorbidities on the path towards tobacco abstinence. Regarding the link between nicotine and the course of essential tremor, further studies are necessary. However, diagnosing its presence is clinically relevant and should be considered a marker of worse prognosis in smoking cessation. 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Hospital Clementino Fraga Filho (UFRJ-HCFF), Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica, Rio de Janeiro, RJ, Brazil. 2 UFRJ-HCFF, Instituto de Doenças do Tórax (IDT), Núcleo de Estudos e Tratamento em Tabagismo (NETT), Rio de Janeiro, RJ, Brazil. Endereço de correspondência: Carolina Ferreira da Costa Av. das Américas, 4801, sala 304, Barra da Tijuca 22631-000 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil E-mail: [email protected] 86 relato de caso Costa CF et al. INTRODUÇÃO O tabagismo é a maior causa de morte evitável no mundo e mobiliza grandes gastos em saúde pública em virtude de suas consequências clínicas1. Além disso, por muitas vezes, mascara e atrasa o diagnóstico e o tratamento adequados de quadros psíquicos, que prejudicam por vários anos a capacidade funcional e a qualidade de vida do paciente2. Existem pacientes que, apesar dos esforços da equipe do programa de cessação tabágica, mostram-se refratários à redução do tabagismo. Alguns dos motivos que aumentam a chance de insucesso são abuso de álcool, ansiedade e depressão3. Outro motivo pouco difundido é o paciente tabagista com tremor essencial, cujo tratamento pode gerar aumento do tremor de várias maneiras, desde a escolha da terapia (por exemplo, bupropiona) até a síndrome de abstinência4. O prejuízo da rotina diária, às vezes, é o suficiente para o paciente desistir de seu objetivo. Além desses obstáculos, o tratamento pode ser dificultado por comorbidades psiquiátricas associadas ao tremor essencial. Atualmente, sua dimensão clínica inclui também componentes não motores e sua clássica característica de benignidade é questionada5,6. O caso descrito a seguir relata o percurso de um paciente para alcançar a abstinência tabágica na vigência de tremor essencial, depressão maior e transtorno de ansiedade generalizada. RELATO DO CASO DSP, masculino, 50 anos, separado, bibliotecário, em sua quarta tentativa de cessação. Iniciou o uso aos 12 anos ocasionalmente e, aos 20 anos, passou a usar uma média de dois maços por dia. Obteve escore 9 no Teste de Fagerström7. Apresentava hipertensão arterial, dislipidemia e nefrolitía se como comorbidades clínicas. Tomava losartana 50 mg/d, sinvastatina 10 mg/d, citrato de potássio 540 mg/d e cloxazolam 1 mg sob demanda, prescritos por seu clínico. Há três anos, terminou um relacionamento amoroso de longa data. A partir daí, passou a se isolar socialmente, mantendo-se mais em seu quarto, apresentando humor deprimido, anedonia e agorafobia e aumentou o consumo de cerveja (cerca de 4 a 10 latas/dia). É ansioso desde a infância, cumprindo critérios para transtorno de ansiedade generalizada. Antes de procurar atendimento, já havia parado de usar álcool há um mês por recomendação médica. Na avaliação inicial, apresentava AUDIT8 = 12 e HADS9 12/12. Na primeira sessão, foi iniciada terapia de reposição com adesivo de nicotina 14 mg e bupropiona 150 mg/d com aumento em uma semana para 300 mg/d, para ajudar na redução em 25% do número de cigarros até o próximo encontro. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):85-8. Na segunda sessão, havia conseguido diminuir o uso para 15 cigarros/dia. Parou totalmente cerca de quatro dias depois, por iniciativa própria, sendo necessário aumento da dose do adesivo de nicotina para 21 mg. No primeiro dia de abstinência, passou a apresentar tremor de repouso postural e de ação grosseiros, que o impediam de realizar movimentos finos no dia a dia. Nesse momento, apresentou piora da autoestima, pensamentos de desesperança, insônia e aumento da fissura tabágica. Apresentava o tremor desde 12 anos de idade, inicialmente de pequena intensidade, passando a ficar mais visível e a incomodá-lo a partir de 20 anos de idade, quando começou também a fumar mais. Não possuía história familiar e não sabia informar se, ao começar a fumar aos 12 anos, sentia alívio ou piora do tremor. Na sua última tentativa de parar de fumar há cinco anos, não usou medicação e não apresentou sintomas de abstinência ou tremor tão perceptíveis como atualmente. A última recordação de o tremor tê-lo incomodado foi após a parada do uso de tramadol em sua última crise renal há dois anos. Mesmo assim, lembra-se do tremor ter ficado menos intenso que atualmente. Foi introduzido clonazepam 0,5 mg/manhã e 1,0 mg/ noite para redução do tremor e melhora dos sintomas de ansiedade. Obteve alguma melhora, mas ainda tinha episódios de intenso tremor cinético (por exemplo, ao levantar uma chaleira). O paciente foi referido para avaliação de um neurologista, que confirmou o diagnóstico de tremor essencial e manteve a conduta. Optamos por reduzir gradualmente a bupropiona, manter o clonazepam e iniciar sertralina 50 mg/d. Houve melhora progressiva dos sintomas motores de volta ao nível basal e melhora parcial dos sintomas do humor ao longo de um mês. O paciente mantém-se em abstinência do tabaco e álcool há dois meses e três meses, respectivamente. DISCUSSÃO O caso descreve um paciente com as seguintes características: elevado grau de dependência tabágica, alta pontuação no HADS9 para ansiedade e depressão e AUDIT8 compatível com uso problemático de álcool. Ou seja, um quadro com múltiplas comorbidades (depressão, ansiedade e abuso de álcool) que já apresentariam, sozinhas, um prognóstico reservado para cessação. Além disso, possuía comorbidade com tremor essencial que piorou dramaticamente após a abstinência. A piora do tremor pode ter sido influenciada por vários fatores: abstinência de nicotina, piora dos sintomas depressivos e ansiosos, e introdução do inibidor de recaptação de noradrenalina relato de caso e dopamina (bupropiona). Em sua última tentativa de parar, não notou tamanha piora clínica, o que nos levou a entender o uso da bupropiona como fator principal. O quadro de tremor essencial pode iniciar em qualquer idade, apesar de a incidência aumentar acentuadamente ao longo dos anos. Em mais de 90% dos casos, não exige cuidados médicos10. Tal fato pode explicar o motivo de não ter sido dada a devida importância pelo próprio durante as perguntas de rotina, já que os pacientes costumam aprender a conviver com o quadro. Na segunda semana de tratamento, ao pedir atendimento fora de seu horário, com tremor grosseiro em membros superiores, o paciente possuía a firme crença de que apenas a abstinência do cigarro havia produzido aquele sintoma. Porém, o tremor não era algo novo e sim um tremor pior do que já existia e que não havia sido informado. Não havia feito também uso de álcool ou drogas ilícitas. A partir de então, passamos a acompanhá-lo semanalmente no ambulatório, além da terapia de grupo, para observar a evolução do sintoma que poderia gerar interrupção do tratamento. Na literatura, sobre a relação existente entre uso de nicotina e tremores em geral, existem estudos11,12 que apontam para melhora imediata do tremor parkinsoniano, enquanto a nicotina pioraria outros tipos de tremores como o fisiológico, o induzido ou o tremor essencial. Porém, em um estudo de coorte prospectivo11, no qual foi observada a incidência de novos casos de tremor essencial entre fumantes e não fumantes, houve associação entre os casos de fumantes “pesados” na linha de base e baixo risco de desenvolvimento da doença. Tal característica é semelhante à vista na doença de Parkinson, que apresenta algumas ligações clínicas com o tremor essencial, já que alguns casos evoluem para sintomas parkinsonianos em longo prazo. Já em um estudo caso-controle, os fumantes que desenvolviam tremor essencial tinham idade mais jovem de início do tremor13. Portanto, mais estudos precisam ser feitos para elucidar a relação biológica entre tabagismo e desenvolvimento de tremor essencial, já que não está claro se o cigarro seria um fator protetor ou agravante. Em relação ao álcool, o uso crônico está associado a aumento do risco de desenvolver o quadro pela hipótese de neurotoxicidade cerebelar14, o que poderia se aplicar ao caso do paciente. Reforçando a importância clínica do tremor essencial, estudos atuais expandiram sua dimensão, incluindo manifestações não motoras como: alterações neuropsiquiátricas (depressão, ansiedade, traços de personalidade, parkinsonismo, sinais cerebelares, distúrbios do sono, fadiga, evolução para demência) e déficits sensoriais (olfatório e auditivo). Além disso, enquanto alguns estudos de neuroimagem e neuropatológicos alegam que o tremor essencial é uma doença progressiva neurodegenerativa, outros afirmam ser apenas um distúrbio não degenerativo funcional dos cir- Cessação tabágica e tremor essencial 87 cuitos e receptores5. Assim, tal condição deixa de ser vista como uma doença puramente motora e passa a ser uma família heterogênea de doenças, unidas pelo fato de apresentarem tremor cinético, podendo ter caráter progressivo e degenerativo5,6. Pacientes que apresentam tremor essencial possuem duas vezes mais associação com sintomas depressivos e três vezes mais associação com uso de antidepressivos, que não são utilizados apenas para o tratamento de depressão maior, mas para fadiga crônica e ansiedade, por exemplo4. Além disso, a comorbidade entre depressão e tremor essencial piora de forma significativa a qualidade de vida6, merecendo atenção do profissional de saúde e aumentando o desafio para o paciente que quer parar de fumar. CONCLUSÃO O relato de caso levanta duas questões importantes relacionadas ao tremor essencial: sua relação com o uso de nicotina e sua importância clínica na cessação tabágica. A respeito da primeira questão, mais estudos precisam ser feitos para elucidar a natureza da associação. Já clinicamente, existem nuances sutis que surgem por causa da presença do tremor essencial e que precisam ser consideradas para a cessação tabágica. Elas determinam a escolha da terapia medicamentosa e a orientação dada ao paciente sobre o que esperar dos sintomas de abstinência. Além disso, é um alerta para a presença de comorbidades psiquiátricas que dificultam a cessação, necessitando de tratamento mais intensivo e individualizado. Assim, esse transtorno motor não deve mais ser visto como uma entidade meramente benigna e monossintomática. Sua presença pode ser um marcador de pior prognóstico e propomos que sua busca seja ativa pelos médicos que almejam a cessação tabágica de seus pacientes. CONTRIBUIÇÕES INDIVIDUAIS Todos os autores participaram ativa e criticamente em todas as fases da elaboração do manuscrito e aprovaram sua versão final. A autora Carolina Ferreira da Costa foi responsável pela revisão bibliográfica, descrição do caso clínico, discussão e revisão do manuscrito; o autor Ervin Cotrik foi responsável pela revisão bibliográfica, elaboração da introdução, elaboração do resumo e revisão do manuscrito; o autor Alberto Araújo contribuiu com a descrição do caso clínico, elaboração da discussão e conclusão, além da revisão do artigo e referências bibliográficas segundo modelo Vancouver; o autor Marco Antônio Brasil contribuiu com a elaboração da introdução, discussão e conclusão, além da revisão do manuscrito. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):85-8. 88 Costa CF et al. relato de caso CONFLITOS DE INTERESSE 6. Chandran V, Pal PK, Reddy JY, Thennarasu K, Yadav R, Shivashankar N. Non-motor features in essential tremor. Acta Neurol Scand. 2012;125(5):332-7. Drs. Carolina Ferreira da Costa, Ervin Cotrik, Alberto Araújo e Marco Antônio Brasil não possuem conflitos de interesse a serem declarados. 7. Heatherton TF, Kozlowski LT, Frecker RC, Fagerström KO. The Fagerström Test for Nicotine Dependence: a revision of the Fagerström Tolerance Questionnaire. Br J Addict. 1991;86(9):1119-27. 8. Saunders JB, Aasland OG, Babor TF, Dela Fuente JR, Grant M. Development of the Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT): WHO Collaborative Project on Early Detection of Persons with Harmful Alcohol Consumption-II. Addiction. 1993;88(6):791-804. REFERÊNCIAS 9. Zigmond AS, Snaith RP. The Hospital Anxiety and Depression Scale. Acta Psychiatr Scand. 1983;67(6):361-70. 1. Roemer R. Recent developments in legislation to combat the world smoking epidemic. Geneva. Switzerland: World Health Organization; 1986. 10. Louis ED, Greene PE. Tremor essencial. In: Rowland LP, editor. MERRIT Tratado de Neurologia. 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. p. 588-9. 2. Gigliotti AP, Lemos T. Qual a relação entre o tabagismo e as comorbidades psiquiátricas. In: Araújo AJ, editor. Manual de condutas e práticas em tabagismo. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. 1ª ed. Rio de Janeiro: GenBooks; 2012. p. 271-3. 11. Louis, ED, Benito-León J, Bermejo-Pareja F. Population-based prospective study of cigarette smoking and risk of incident essential tremor. Neurology. 2008;70(19):1682-7. 3. Cruz E. Como orientar o paciente a desenvolver habilidades para prevenir a recaída. In: Araujo AJ, editor. Manual de condutas e práticas em tabagismo. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. 1ª ed. Rio de Janeiro: GenBooks; 2012. p. 356-60. 4. Louis ED, Benito-León J, Bermejo-Pareja F. Neurological Disorders in Central Spain (NEDICES) Study Group Self-reported depression and anti-depressant medication use in essential tremor: cross-sectional and prospective analyses in a population-based study. Eur J Neurol. 2007;14:1138-46. 5. Benito-León J, Louis ED. Update on essential tremor. Minerva Med. 2011;102(6):417-40. J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):85-8. 12. 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J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2009;80(5):494-7. letter Early-onset of psychiatric features in mild frontotemporal dementia with impaired memory test: a case report and neuropsychological evaluation Sintomas psiquiátricos prematuros em demência frontotemporal leve com desempenho deficitário em teste de memória: relato de caso e avaliação neuropsicológica Gabriel Coutinho1, Dídia Fortes2, Flavia Miele3, Paulo Mattos4 Dear editor, Frontotemporal dementia (FTD) is characterized by behavioral changes which may precede cognitive decline, being mainly a presenile disturbance with an insidious onset and high fa milial incidence1. Degeneration affects mainly prefrontal and temporal anterior brain areas; executive functions (EFs) and language deficits are commonly found. Changes in eating habits and psychosis have being recently studied as earliest symptoms. We present a FTD case starting with mood symptoms, psychosis and compulsions to discuss differential diagnosis. CASE A., male, 61 years-old, right-handed, graduated, recently retired after working as a manager of a company. Relatives reported first mood changes when he was 56, presenting depressive and hippomaniac episodes of brief duration. A change of eating habits followed and the patient lost almost 10 kg in 3 months. A. believes his neighbors will sue him, despite the lack of reasons. He is spending hours a day organizing documents he believes will be necessary for the legal process; he started presenting fixed idea for cleaning, washing his hands many times a day. A.’s wife reported difficulties to return home after going to the church because he needs to ensure that people will not gather to speak at his back. There is a current though of bankruptcy, despite his high income; he sold his car because of this fear – even after checking his bank balance. He had no history of psychiatric disorders. He was afraid of taking his medicines because of the risk of being “poisoned”. Neuropsychological evaluation: A. presented difficulties to initiate behavior, such as telling the examiner when he finished the task. Performance in memory was below expected for age, both for visual and verbal material. Verbal memory was evaluated through a prose memory test, with weak performance in immediate recall, but a very similar performance in delayed recall – corresponding to normal ranges. The performance in Complex Figure was impaired after a 5 minute delay. Results revealed cognitive inflexibility, planning difficulties, impaired verbal fluency and formulation hypothesis ability and also perseveration. Language was normal. Results are in tables 1 and 2. Received in 10/18/2012 Approved in 11/12/2012 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto D’OR de Pesquisa e Ensino (ID’or), Centro de Neuropsicologia Aplicada (CNA), Programa de Ciências Morfológicas (PCM), Rio de Janeiro, RJ, Brazil. 2 UFRJ, Grupo de Estudos do Déficit de Atenção (GEDA), Rio de Janeiro, RJ, Brazil. 3 UFRJ, CNA, ID’or, Rio de Janeiro, RJ, Brazil. 4 UFRJ, Faculdade de Medicina, CNA, ID’Or, Rio de Janeiro, RJ, Brazil. Address for correspondence: Gabriel Coutinho Centro de Neuropsicologia Aplicada Rua Diniz Cordeiro, 30, 2º andar 22281-100 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil E-mail: [email protected] letter Coutinho G et al. 90 Table 1. Executive functions – cognitive flexibility WCST scores Raw scores % Iles Total errors 35 4% Perseverative responses 14 27% Perseverative errors 12 30% Nonperseverative errors 23 1% Categories completed 1 6%-10% Table 2. Complementary cognitive functions Raw score Percentile Classification Rey Complex Figure – copy 34 - Normal Rey Complex Figure – retrieval 21 - Impaired Vocabulary 36 37 Normal Matrix 12 50 Normal Digit Span 11 16 Low-avarage Blocks 33 50 Normal Log. Memory immediate recall 22 5 Borderline Log.Memory late recall 14 25 Normal 15 63 Normal Trail A Visualspatial span 41 (T score) - Normal Trail B 41 (T score) - Normal 40 - Normal Token Test DISCUSSION Psychiatric features, such as psychosis2, bipolar disorder3 and obsessive-compulsive disorder (OCD)4 should be examined because those symptoms might be due to strokes or J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):89-90. degenerative processes. In the present case, profile showing prominent EFs deficits, with constructional abilities unimpaired and a peculiar memory impairment, may be important to avoid the misdiagnose of FDT with psychiatric symptoms. Examinee’s memory performance might be different from AD individuals mainly because immediate recall of prose memory does not exclusively demand long-term memory structures. This task overloads episodic buffer and central executive (working memory), and the influence of retention is more important in delayed recall. Baddeley and Wilson5 demonstrated that amnesic patients could perform normally in prose memory immediate recall, despite having a zero score in delayed recall. The current performance was the opposite, with weak performance in immediate recall, but good performance in delayed recall, showing no retention deficit. Complex figures demand planning abilities (EFs), which might explain impaired performance. This finding is extremely important to differentiate FTD and AD individuals. REFERENCES 1. Neary D, Snowden J, Mann D. Frontotemporal dementia. Lancet Neurol. 2005;4:771-80. 2. Loy CT, Kril JJ, Trollor JN, Kiernan MC, Kwok JB, Vucic S, et. al. 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Neuropsychologia. 2002;40:1737-43. carta Consumo prejudicial de álcool entre usuários da Estratégia Saúde da Família Harmful alcohol consumption between users of Family Health Strategy Ângela Maria Mendes Abreu1, Rafael Tavares Jomar2, Maria Helena do Nascimento Souza1, Raphael Mendonça Guimarães3 Prezado Editor, O consumo de álcool tem sido apontado como responsável por grande número de acidentes de trânsito, violência doméstica, aumento da morbimortalidade por doenças cardiovasculares, cirrose hepática e distúrbios psiquiátricos. Seu consumo abusivo está também relacionado a cerca de 2,5 milhões de mortes anuais em todo o mundo, sendo considerado o primeiro fator de risco para a carga global de doenças em países das Américas1. Mais da metade da população brasileira consome álcool, 25% dela já experimentou pelo menos um tipo de problema relacionado ao seu consumo, 3% preenchem critérios para abuso e 9% para dependência dessa substância2. Portanto, estudos que identifiquem características sociais, demográficas e individuais associadas ao consumo prejudicial de álcool são necessários para o desenvolvimento de estratégias de redução desse padrão de consumo no Brasil3. Apresentam-se aqui resultados preliminares de um inquérito domiciliar em andamento que objetiva identificar o consumo prejudicial de álcool entre residentes de áreas adscritas à Estratégia Saúde da Família (ESF) da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Para tanto, o Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT), um dos instrumentos mais empregados no mundo para a identificação de grupos de risco e rastreamento do uso prejudicial de álcool que apresenta boa qualidade psicométrica no contexto brasileiro4, foi aplicado em amostra intencional de 196 usuários da ESF (144 mulheres e 52 homens), com idades entre 19 e 57 anos e idade média de 36,5 anos (+/-13,05). A maioria dos entrevistados era casada (63,8%), possuía ensino fundamental incompleto (30,1%) e renda familiar mensal entre 1-2 salários-mínimos (55,6%). No tocante ao consumo prejudicial de álcool, 19,4% dos entrevistados enquadraram-se nessa classificação. Nesse padrão de consumo, houve maior proporção estatisticamente significante (a um nível de 0,05 pelo teste x2) entre indivíduos do sexo masculino (p < 0,001) e entre aqueles com renda familiar mensal superior a 3 salários-mínimos (p < 0,03). Apesar de o presente estudo apresentar frequência maior, uma metanálise aponta que entre 6% e 15% das pessoas que demandam cuidados em serviços de atenção primária à saúde fazem consumo prejudicial ou são dependentes de álcool, entretanto apenas um terço delas tem tal problema detectado pelos profissionais que as atendem5. Avaliar sistematicamente o consumo de álcool, portanto, é importante para prevenir consequências sociais e de saúde nas populações, especialmente naquelas atendidas pela ESF Recebido em 31/10/2012 Aprovado em 12/11/2012 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), Núcleo de Pesquisa de Enfermagem e Saúde Coletiva (NUPENSC), Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2 Instituto Nacional de Câncer, Hospital do Câncer I (HCI-INCA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3 UFRJ, Instituto de Estudos de Saúde Coletiva (IESC), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Endereço para correspondência: Ângela Maria Mendes Abreu Rua Afonso Cavalcanti, 275, Cidade Nova 20211-110 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil E-mail: [email protected] 92 carta Abreu AMM et al. que têm a promoção da saúde e a prevenção de agravos como práticas sanitárias prioritárias. Para tanto, acreditamos não somente na atuação dos profissionais da ESF na promoção de hábitos saudáveis diante do consumo de álcool, mas também na prática de intervenções eficazes de controle do consumo prejudicial dessa substância. Apontam-se como limitações deste estudo a possibilidade de causalidade reversa, o fato de a amostra ser intencional e o elevado número de indivíduos do sexo feminino entrevistados (73,4%), o que ocorreu pelo fato de a coleta de dados ter sido realizada somente no período diurno de dias úteis, fazendo com que o número de donas de casa entrevistadas fosse elevado, o que pode ter implicado ainda a elevada proporção de consumidores de baixo risco encontrada (80,6%). J Bras Psiquiatr. 2013;62(1):91-2. REFERÊNCIAS 1. World Health Organization. Global status report on alcohol and health. Geneva: World Health Organization; 2011. 2. Laranjeira R, Pinsky I, Sanches M, Zaleski M, Caetano R. Alcohol use patterns among Bra zilian adults. Rev Bras Psiquiatr. 2010;32(3):231-41. 3. Silveira CM, Silveira CC, Silva JG, Silveira LM, Andrade AG, Andrade LHSG. Epidemiologia do beber pesado e beber pesado episódico no Brasil: uma revisão sistemática da literatura. Rev Psiq Clín. 2008;35(Supl 1):31-8. 4. Santos WS, Gouveia VV, Fernandes DP, Souza SSB, Grangeiro ASM. Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT): explorando seus parâmetros psicométricos. J Bras Psquiatr. 2012;61(3):117-23. 5. Aertgeerts B, Buntinx F, Kester A. The value of the CAGE in screening for alcohol abuse and alcohol dependence in general clinics population: a diagnostic meta-analysis. J Clin Epidemiol. 2004;57(1):30-9. instruções aos autores Foco e políticas gerais: O Jornal Brasileiro de Psiquiatria (JBP) é o periódico oficial do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ). Ele é o jornal psiquiátrico com maior tradição no Brasil, sendo regularmente publicado há mais de 70 anos. O Jornal Brasileiro de Psiquiatria esforça-se para publicar estudos de alta qualidade que tenham como objetivo o avanço do conhecimento sobre os transtornos mentais e a melhoria da assistência e cuidado dos pacientes que sofrem dessas condições. O Jornal visa educar e atualizar clínicos, acadêmicos e pesquisadores em psiquiatria, psicologia, sociologia e em outros campos científicos relacionados à saúde mental. O Jornal Brasileiro de Psiquiatria publica artigos originais, relatos breves, revisões, relatos de casos, cartas ao editor e resenhas de livros que sirvam aos objetivos acima mencionados, como também aqueles com características eurísticas, que possam auxiliar os pesquisadores a vislumbrar novas linhas de estudo e investigação. Todos os manuscritos são revisados por pareceristas anônimos o mais rápido possível. Preparação dos manuscritos Tipos de artigos aceitos: O Jornal Brasileiro de Psiquiatria publica os seguintes tipos de manuscritos: 1. Artigos originais – Relatos de estudos originais baseados na excelência científica em psiquiatria e que proporcionem um avanço na pesquisa clínica e experimental. Artigos originais devem conter novos dados, oriundos de um número representativo de pacientes, utilizando métodos adequados e confiáveis. Os artigos não devem ultrapassar 4.000 palavras. 2. Relatos breves – Pequenos relatos de estudos originais, avaliações ou estudos-piloto, contendo no máximo 2.000 palavras e 15 referências. 3. Revisões – Revisões sistemáticas objetivas e concisas desenhadas para reunir informações relevantes e atualizadas sobre um tópico específico de particular interesse e importância em psiquiatria e saúde mental. Os autores devem analisar e discutir criticamente a literatura disponível. Revisões devem conter no máximo 6.000 palavras. 4. Relatos e séries de casos – Devem fornecer uma curta descrição original de casos clínicos e estratégias de tratamento particularmente interessantes para pesquisadores e clínicos. Podemos citar como exemplos a apresentação incomum de um transtorno conhecido, um tratamento inovador ou um efeito adverso claramente relacionado a uma medicação específica, que nunca havia sido relatado. Apesar de concisos, os relatos devem trazer uma descrição cronológica detalhada dos casos, destacando sua relevância e originalidade. Os autores devem fornecer uma extensiva revisão da literatura sobre os aspectos clínicos e terapêuticos do tópico relatado, comparando-o com casos similares descritos na literatura científica internacional. Relatos e séries de casos não devem ultrapassar o limite de 1.500 palavras e 15 referências. 5. Cartas ao editor – São comunicações discutindo artigos recentemente publicados neste jornal, descrevendo pesquisas originais ou descobertas científica relevantes. As cartas não devem ter mais de 500 palavras e cinco referências. 6. Editoriais – Comentários críticos e baseados em evidências feitos por pesquisadores com grande experiência em uma área específica do conhecimento, a pedido dos editores deste jornal. Devem conter no máximo 900 palavras e cinco referências. 7. Resenhas de livros – Curtas revisões (no máximo 500 palavras) sobre livros recém-publicados dentro do foco do Jornal Brasileiro de Psiquiatria que poderiam interessar psiquiatras e profissionais de saúde mental. Originalidade e autoria O Jornal Brasileiro de Psiquiatria somente considera para publicação manuscritos compostos de material original, que não estão submetidos para avaliação em nenhum outro periódico, ou que não tenham sido publicados em outros meios. As únicas exceções são resumos com menos de 400 palavras. Os autores devem identificar tabelas, figura e/ou qualquer outro material que tenham sido publicados em outros locais e obter a autorização dos proprietários dos direitos autorais antes de reproduzir ou modificar esses materiais. Ao submeter um manuscrito, os editores entendem que os autores estão de acordo e seguem essas exigências, que todos os autores participaram substancialmente do trabalho e que cada um deles reviu e aprovou a versão submetida. Assim, cada autor precisa declarar sua contribuição individual ao artigo na carta de apresentação (veja a seguir). Declaração de conflitos de interesse e suporte financeiro O Jornal Brasileiro de Psiquiatria exije que todos os autores declarem individualmente qualquer potencial conflito de interesse e/ou qualquer tipo de suporte financeiro para o estudo obtido nos últimos três anos ou em um futuro previsível. Esta declaração inclui, mas não está limitada, à compra e à venda de ações, bolsas, fomentos, empregos, afiliações, royalties, invenções, relações com organizações financiadoras (governamentais, comerciais, não profissionais, etc.), aulas, palestras para indústrias farmacêuticas, patentes (solicitadas, registradas, em análise ou fase de preparação) ou viagens; independente do valor envolvido. Se um ou mais autores não possuírem conflitos de interesse a serem declarados, isso precisa ser explicitamente informado (por exemplo, Drs. Leme Lopes e Nobre de Mello não possuem conflitos de interesse a serem declarados). Os autores interessados em obter mais informações sobre esse tópico podem ler um editorial publicado no British Medical Journal, intitulado “Beyond conflict of interest”, que está disponível em: http://www.bmj.com/cgi/content/full/317/7154/281. Os conflitos de interesse e declarações de suporte financeiro devem ser escritos em uma sessão separada, intitulada “Conflitos de Interesse”, após a sessão “Conclusões”. Questões éticas O Jornal Brasileiro de Psiquiatria considera a integridade ética a pedra fundamental da pesquisa científica e da assistência a seres humanos. Assim, na sessão intitulada “Material e Métodos”, os autores devem identificar a aprovação e o comitê de ética da instituição que revisou o estudo. Ainda, em caso de estudos envolvendo seres humanos, os autores devem declarar explicitamente que todos os participantes concordaram em participar da pesquisa e que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Além disso, os autores devem descrever os métodos empregados para avaliar a capacidade dos voluntários em entender e dar seu consentimento informado para participar do estudo, além de descrever também as estratégias utilizadas no estudo para garantir a proteção dos participantes. Finalmente, em caso de estudos envolvendo animais, os autores devem declarar que as normas institucionais e nacionais para o cuidado e emprego de animais de laboratório foram estritamente seguidas. Registro de experimentos clínicos Antes de submeter um manuscrito para avaliação pelo Jornal Brasileiro de Psiquiatria, os ensaios clínico precisam ser registrados em uma base pública de registros de experimentos clínicos. Um ensaio clínico é aqui definido como qualquer pesquisa que recruta prospectivamente seres ou grupos de humanos para receber uma ou mais intervenções (farmacológica ou não), a fim de se avaliar seu impacto na saúde. Esses ensaios podem ser registrados antes ou durante o recrutamento dos voluntários. Para ser considerada válida, uma base de registros de ensaios clínicos precisa ser acessível gratuitamente ao público, deve possuir mecanismos que possibilitem ser pesquisáveis eletronicamente, deve ser aberta para o registro de todos os ensaios prospectivos e gerenciada por uma agência sem fins lucrativos. Alguns exemplos são a National Institutes of Health Clinical Trials (http://www.clinicaltrials.gov), a Netherlands Trial Register (http://www.trialregister.nl), a UMIN Clinical Trials Registry (http://www.umin.ac.jp/ ctr) e o Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (http://www.ensaiosclinicos.gov.br), entre outras. O nome do estudo e sua URL, o nome da base de registro de ensaios clínicos e sua URL, assim bem como o número de registro do estudo devem ser descritos imediatamente após a seção “Declaração de Conflito de Interesses”. Estrutura geral do manuscrito Abreviações devem ser evitadas. Porém, abreviações oficiais podem ser usadas, desde de que a primeira menção do termo no texto seja feita de forma completa e por extenso, seguida de sua abreviação entre parênteses. Os autores devem usar o nome genérico dos medicamentos, em vez de seus nomes comerciais. Todas as páginas devem ser numeradas, com a contagem total de palavras indicada na primeira página (não devem ser contadas as palavras do resumo em português e inglês, das referências e das figuras e ilustrações). A primeira página deve conter o título, o título curto (ambos em português e em inglês), a contagem total de palavras do manuscrito, o nome dos autores e suas afiliações. O título do artigo não deve conter siglas ou acrônimos. O título curto deve conter até 50 caracteres (incluindo espaços) e um máximo de cinco palavras. Diferente do título, o título curto deve aparecer no topo de cada página do manuscrito (no mesmo idioma que o manuscrito foi escrito). A segunda página deve conter o resumo em português e o número de registro do experimento (quando aplicável, ver acima). O resumo deve ser informativo, claro e sucinto, descrevendo o conteúdo do manuscrito em até 250 palavras. Para artigos originais, relatos breves e revisões, o resumo deve ser estruturado em 4 tópicos: objetivo(s), métodos, resultados e conclusões. Após o resumo, devem ser incluídas até cinco palavras-chave. Essas palavras, se possível, devem ser retiradas da lista de termos MeSH do Index Medicus e ser escolhidas considerando sua utilidade para a localização do artigo. Para artigos escritos em português, esses termos podem ser encontrados nos Descritores de Ciências da Saúde, publicados pela BIREME. A terceira página deve conter o resumos e as palavras-chave em inglês. Ambos devem ser equivalentes às suas versões em português. A quarta página deve conter o início ou toda a Introdução. Em artigos originais, relatos breves e revisões, a Introdução deve ser seguida pelas seções Métodos, Resultados, Discussão, instruções aos autores Conclusões, Contribuições Individuais, Conflitos de Interesses, Agradecimentos e referências; nesta ordem. Apesar do Jornal Brasileiro de Psiquiatria não estipular um número máximo de páginas, os autores devem sempre respeitar o número máximo de palavras e referências permitido para cada tipo de artigo. Tabelas e figuras devem vir após as referências, devem ser citadas no texto, e o local desejado para sua inserção deve ser indicado no manuscrito. Introdução – Deve incluir uma revisão sucinta de toda a literatura diretamente relacionada ao assunto em questão, além disso, deve descrever os objetivos do estudo. Métodos – Deve relatar o desenho do estudo e descrever detalhadamente os métodos empregados, de forma a permitir que outros autores sejam capazes de replicá-lo. Resultados – Devem ser descritos de forma lógica, sequencial e sucinta, usando-se, ocasionalmente, o auxílio de tabelas e figuras. Discussão – A discussão deve limitar-se a destacar as conclusões do estudo, considerando as similaridades e diferenças dos seus resultados e daqueles de outros autores, as implicações dos seus resultados, as limitações do seu estudo e as perspectivas futuras. Conclusões – Os autores devem especificar, de preferência em um único parágrafo curto, somente as conclusões que podem ser respaldadas pelos dados do estudo, assim como sua importância clínica (sem generalizações excessivas). Contribuições individuais – Nesta seção, o manuscrito deve descrever as contribuições específicas feitas por cada um dos autores. Para ser considerado um autor, cada colaborador deve preencher, no mínimo, todas as seguintes condições: (1) ter contribuído significativamente na concepção e desenho dos estudo, ou na análise e interpretação dos dados; (2) ter contribuído substancialmente na elaboração do artigo, ou revisado criticamente o seu conteúdo intelectual e (3) ter aprovado sua versão final a ser publicada. Conflitos de interesse – Cada autor deve revelar qualquer potencial conflito de interesse (financeiro ou não) que possa ter potencial de ter enviesado o estudo. Caso um ou mais dos autores não possuam conflitos de interesse a serem declarados, isso deve ser afirmado explicitamente (ver seção Declaração de Conflitos de Interesse e Suporte Financeiro). Agradecimentos – Nesta seção, os autores devem reconhecer as assistências pessoais e técnicas recebidas, assim como fornecer informação detalhada a respeito de todas as fontes de financiamento ou outras formas de auxílio econômico. Referências – Devem seguir o estilo Vancouver (“Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www. nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html]), ordenadas numericamente de acordo com sua citação no texto. Exemplos: Artigos: • Versiani M. A review of 19 double-blind placebo-controlled studies in social anxiety disorder (social phobia). World J Biol Psychiatry. 2000;1(1):27-33. • Appolinario JC, McElroy SL. Pharmacological approaches in the treatment of binge eating disorder. Curr Drug Targets. 2004;5(3):301-7. • Dekker J, Wijdenes W, Koning YA, Gardien R, Hermandes-Willenborg L, Nusselder H, et al. Assertive community treatment in Amsterdam. Community Ment Health J. 2002;38:425-34. Livros: • Goodwin FFK, Jamison KR. Manic-depressive illness. New York: Oxford University Press; 1990. Capítulos de livros: • Heimberg RG, Juster HR. Cognitive-behavioral treatments: literature review. In: Heimberg RG, Liebowitz MR, Hope DA, Schneier FR, editors. Social Phobia – Diagnosis Assessment and Treatment. New York: The Guilford Press, 1995. Referências a páginas da internet: • Associação Brasileira de Psiquiatria – Diretrizes para a Indústria da moda. Recomendações da Comissão Técnica Brasileira de Grupos Especializados no Estudo e Tratamento de Transtornos Alimentares. Disponível em: http://www.abpbrasil.org. br/newsletter/comissao_ta/diretrizes_moda.pdf. Acessado em: 12 de Abril de 2007. Tabelas e figuras: Todas as tabelas e figuras devem seguir a formatação do estilo da APA (Publication Manual of the American Psychological Association, Sixth Edition). Além disso, todas devem ser numeradas com algarismos arábicos e ter suas respectivas legendas. Devem ainda estar em formato digital próprio para a sua reprodução. Cada tabela deve ser autoexplicativa e, não deve repetir informações apresentadas no texto. Os lugares para a inserção das tabelas devem ser claramente assinalados no texto. Ilustrações e fotografias devem ser enviadas em arquivos de alta resolução, nos formatos .tif ou .jpg. Submissão dos manuscritos Visando reduzir o tempo entre a submissão do manuscrito, a decisão final dos editores, e sua eventual publicação, o Jornal Brasileiro de Psiquiatria implementou o sistema de submissão e acompanhamento online por meio do Editorial Manager (www.editorialmanager.com/jbp). Dessa forma, o Jornal Brasileiro de Psiquiatria não aceita mais manuscritos enviados por e-mail. Todos os manuscritos, sem exceções, devem ser submetidos por meio do sistema do Editorial Manager. Durante o processo de submissão, os autores precisarão fornecer um título e um título curto (máximo de cinco palavras), indicar o autor de correspondência, incluir um resumo conciso e uma carta de apresentação e sugerir quatro pareceristas em potencial (atenção: os pareceristas sugeridos não podem trabalhar na mesma instituição/departamento, ter relações próximas ou ter publicado como coautor de qualquer um dos autores). Não seguir este último requerimento pode levar à recusa do manuscrito. Carta de apresentação Na carta de apresentação os autores devem fornecer o nome completo e as afiliações de todos os autores e o endereço de contato do autor para correspondência (endereço, endereço de e-mail, telefones, fax, etc.). Além disso, os autores devem explicar por que eles acreditam que o manuscrito submetido é adequado para publicação no Jornal Brasileiro de Psiquiatria, destacando sua relevância e seus aspectos inovadores. Os autores são ainda solicitados a declarar claramente que o manuscrito submetido representa um material original, que não foi publicado anteriormente e que não está sendo avaliado para publicação em nenhum outro lugar. Se os autores receberam ajuda de escritores técnicos ou revisores de idiomas quando prepararam o manuscrito, isso deve ser explicitado na carta de apresentação, junto com a declaração de que os autores são totalmente responsáveis pelo conteúdo científico do manuscrito. Para ser considerado um autor, cada colaborador deve, no mínimo, preencher todas as seguintes condições: (1) ter contribuído significativamente na concepção e desenho dos estudo, ou na análise e interpretação dos dados; (2) ter contribuído substancialmente na elaboração do artigo, ou revisado criticamente o seu conteúdo intelectual e (3) ter aprovado sua versão final a ser publicada. A supervisão/coordenação geral do grupo de pesquisa por si só não justifica a autoria. Participação somente na aquisição de verbas provenientes de fontes financiadoras ou na coleta de dados também não são suficientes para justificar autoria. A fim de garantir que todas essas condições sejam satisfeitas, os autores são solicitados a incluir uma declaração a respeito da autoria, descrevendo separadamente o papel de cada um dos autores no estudo e na preparação do manuscrito. Caso essa declaração sobre autoria não tenha sido incluída na carta de apresentação, o manuscrito não será revisto. Após a submissão Revisão por pares Após receber o manuscrito por meio do Editorial Manager, os editores julgarão se ele será revisto pelos pareceristas anônimos. Sua decisão será baseada no foco de publicação do jornal e na estrutura, originalidade e relevância do manuscrito para o campo. Em seguida, caso os revisores decidam assim, o manuscrito será enviado a pelo menos dois revisores anônimos e independentes (que não são necessariamente aqueles sugeridos pelos autores). Os editores do Jornal Brasileiro de Psiquiatria esforçam-se para manter rápido o processo de publicação. Geralmente o período entre a submissão e o aceite do manuscrito é de cerca de três meses. Os autores receberão um e-mail dos editores com sua decisão final e uma cópia dos comentários dos revisores. No caso de ter sido indicada a revisão do manuscrito, os autores devem enviar um texto final com as alterações necessárias (respondendo cada item levantado pelos revisores), seguindo as instruções dadas pelos editores. Os autores devem reproduzir o item levantado pelo revisor imediatamente antes de cada uma das suas respostas. Enviar apenas as respostas separadas dos itens levantados pelos revisores poderá lentificar o processo de avaliação do manuscrito. Todo esse processo pode ser acompanhado pelos autores por intermédio do Editorial Manager. Carta de autorização Os autores devem submeter a seguinte carta de autorização juntamente ao manuscrito: “Os autores abaixo-assinados aprovam, por meio desta, a submissão deste trabalho e da subsequente transferência de todos os seus direitos autorais para o Jornal Brasileiro de Psiquiatria, a fim de permitir a sua publicação. Os autores atestam ainda que seu trabalho representa um material original, que não infringe nenhum direito autoral de terceiros, e que nenhuma parte deste trabalho foi publicada ou será submetida para publicação em outro lugar, até que tenha sido rejeitado pelo Jornal Brasileiro de Psiquiatria. Finalmente, os autores concordam em indenizar os editores por qualquer dano ou prejuízo secundário a quebra desse acordo. No caso de o manuscrito não ser publicado, seu direito autoral retorna a seus autores.” Todos os autores devem assinar este documento e incluir seus nomes completos, endereços, telefones e e-mails. Essa carta deve ser escaneada e submetida aos editores por meio do Editorial Manager. Instructions for authors Focus and general policies: The Brazilian Journal of Psychiatry (JBP) is the official journal of the Institute of Psychiatry of the Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ). It is the most traditional psychiatric journal in Brazil, being regularly published for more than 70 years. The Brazilian Journal of Psychiatry endeavors to publish high quality studies aiming to advance the knowledge about mental disorders and to improve the care of patients suffering from such conditions. The journal strives to educate and update clinicians, scholars, and researchers in psychiatry, psychology, sociology, and in others scientific fields related to mental health. The Brazilian Journal of Psychiatry publishes original articles, brief reports, reviews, case reports, letters to the editor, and book reviews that serve the above mentioned goals, as well as those with heuristic features that could help researchers envisage new avenues of study and investigation. All manuscripts are peer-reviewed by anonymous referees as fast as possible. Manuscript preparation Types of articles accepted: The Brazilian Journal of Psychiatry publishes the following types of manuscripts: 1. Original articles – Reports of original studies based on scientific excellence in psychiatry and providing advances in clinical and experimental research. Original articles must contain new data derived from a representative number of participants and employ sound and adequate methods. Articles must not exceed 4,000 words. 2. Brief Communications – Short reports of original studies, evaluations, or pilot data, containing no more than 2,000 words and 15 references. 3. Reviews – Concise and objective systematic articles designed to bring together updated and relevant information about a specific topic of particular importance and interest in psychiatry and mental health. Authors are required analyze and discuss the available literature. It should contain a maximum of 6,000 words. 4. Case reports – They should provide a short original description of clinical cases and treatment strategies of particular interest for researchers or clinicians. One could cite as examples uncommon presentations of a known disorder, an innovative treatment, and a not previously reported side effect unequivocally related to a specific medication. They must contain a detailed, yet concise and chronologically-ordered description of the cases, highlighting its relevance and originality. Authors must provide a comprehensive literature review about the clinical and therapeutics aspects of the reported topic, comparing their reports with similar cases described in the international scientific literature. Case and series reports should not exceed 1,500 words and 15 references. 5. Letters to the Editor– Communications discussing articles recently published in the journal or describing original researches or meaningful scientific discoveries. Letters should have no more than 500 words and five references. 6. Editorials – Critical comments and made by researchers with expertise in a specific area of knowledge at the editors’ invitation. They must contain a maximum of 900 words and five references. 7. Book reviews – Brief reviews (maximum of 500 words) about recently published books within the scope of the Brazilian Journal of Psychiatry that may interest the psychiatry and mental health professionals. Originality and authorship The Brazilian Journal of Psychiatry only considers for publication manuscripts consisting of original material that are not currently under consideration for publication or have not been published elsewhere. The only exceptions are abstracts with less than 400 words. Authors must identify tables, figures, and/or any other material that have been published elsewhere, and permission from the copyright owners must be obtained before reproducing or modifying the materials. In submitting a manuscript, the editors understand that the authors comply with this requirement, and that all of them have substantially participated in the work and have personally reviewed and given final approval of the version submitted. Therefore, each author is required to declare his or her individual contribution to the article in the cover letter (see below) and in the manuscript, in a section after the “Conclusions” entitled “Individual contributions”. Conflicts of interest and financial disclosures The Brazilian Journal of Psychiatry demands that all authors individually report any potential conflicts of interest and/or any kind of financial support for the study obtained within the last 3 years and for the foreseeable future. This disclosure includes, but is not limited to, stock options/ownership, grants, stipends, employments, affiliations, royalties, inventions, relationship with sponsoring organizations (governmental, nonprofit, and/or commercial sources), lectures and speakers bureau for any pharmaceutical company, patents (filed, received, pending, or in preparation), travel funds; regardless of value or amount. If one or more authors have no conflicts of interest to disclose, this must be explicitly stated (for example, Drs. Leme Lopes and Nobre de Mello have no conflicts of interest to report). Interested authors can read an editorial about this subject, entitled “Beyond conflict of interest”, in the British Medical Journal available at: http://www.bmj.com/cgi/content/full/317/7154/281. The conflicts of interest and financial disclosures must be written as a discrete section entitled “Conflicts of Interest”, after the “Individual contributions” section. Ethical issues The Brazilian Journal of Psychiatry considers ethical integrity a cornerstone for scientific research and care of human beings. Therefore, in the section entitled “Methods”, authors are required to identify the licensing and the institutional review board or committee that reviewed and approved the research. Also, in cases of studies involving human subjects, authors must clearly state that all participants agreed and signed the informed consent form, and must describe the methods used to evaluate the capacity of subject to understand and give informed consent, and strategies used in the study to ensure the protection of human subjects. Finally, in cases of studies involving animals, authors must declare that institutional and national guidelines for the care and use of laboratory animals were strictly followed. Clinical trial registration Before submitting a manuscript to be considered for publication in the Brazilian Journal of Psychiatry, clinical trials must be registered in a public trials registry. A clinical trial is herein defined as any research that prospectively enrolls human subjects or groups to one or more interventions (pharmacological or not) to estimate its impacts on health outcomes. These trials can be registered before or at the onset of subjects’ enrollment. To be considered valid, a public trial registry must be freely accessible to the public, must be electronically searchable, opened to all prospective registrants and managed by a non-profit organization. Some examples are the National Institutes of Health Clinical Trials (http://www.clinicaltrials.gov), the Netherlands Trial Register (http://www.trialregister.nl), the UMIN Clinical Trials Registry (http://www.umin. ac.jp/ctr), and the Brazilian Registry of Clinical Trials (http://www.ensaiosclinicos.gov.br), among others. The trial name and its URL, the public trial registry name and its URL, as well as the registration number, must be included immediately after the conflicts of interest disclosure. Overall structure of the manuscript Abbreviations should be avoided; official abbreviations, however, may be used, keeping in mind that the first mention of a term in the text must be complete, followed by its abbreviation between brackets. Authors must use generic names of medications, as opposed to its trade names. All pages must be numbered, with total words count indicated at the first page (except for abstracts, both in Portuguese and in English, references, pictures and illustrations). The first page should contain the Title and the Running Head (both in English and in Portuguese), as well as the manuscript’s total word count, and the authors’ names and affiliations. Article titles should not contain acronyms. The Running Head should contain a total of up to 50 characters (with spaces) and no more than five words. Different from the Title, the Running Head must also appear at the top of each page of the manuscript (in the same language that the manuscript was written). The second page must contain an abstract in Portuguese and the trial registration information (when applicable, see above). The abstract must be informative, clearly and concisely describing the manuscripts’ content in no more than 250 words. In original articles, brief communications and reviews, abstracts have to be structured in four topics: objective(s), methods, results and conclusions. A maximum of five key words in Portuguese should follow the abstract. They should, if possible, be drawn from the MeSH list of Index Medicus and be chosen with a view to useful cross-indexing of the article. For articles written in Portuguese, these terms are available at Descritores de Ciências da Saúde, published by BIREME. The third page must contain the abstract and key words in English both of which must be identical to their versions in Portuguese. The fourth page should contain the entire or the beginning of the Introduction section. In original articles, brief reports, and reviews, the Introduction section must be followed by the sections Methods, Results, Discussion, Conclusions, Individual Contributions, Conflicts of Interest, Acknowledgments, and References in this order. Although the Journal of Brazilian Psychiatry does not stipulate a maximum number of pages, authors must always respect the maximum number of words and references allowed to each kind of article accepted. Tables and figures should come after the references, be cited in the text, and their desired position in the manuscript should be indicated. Instructions for authors Introduction – Must contain a concise review of any literature directly related to the topic, as well as the aim of the study. Methods – Must depict the model of study and a detailed description of the methods employed, in order to permit its replication by other authors. Results – Must be described logically, sequentially and concisely, with the occasional help of tables and illustrations. Discussion – The discussion must be limited to highlighting the conclusions of the study, consider any similarities or differences with the results of other authors, implications of the findings, limitations and future perspectives. Conclusions – Authors must specify, preferentially in a short paragraph, solely the conclusions the study data allow to support, together with their clinical significance (avoiding excessive generalizations). Individual contributions – Manuscript must include the specific contributions made by each author in this section. For being considered an author, each collaborator must meet at least all the following conditions: (1) had substantially contributed to conception and design or analysis and interpretation of data; (2) had substantially contributed to drafting the article or revising it critically for important intellectual content; and (3) had given the final approval of the version to be published. Conflicts of interest – Each author must disclose any potential conflict of interest that might have the potential to have biased the study (whether financial or not). If one or more author has no conflict of interest to declare, this must be explicitly stated (see Section Conflicts of Interest and Financial Disclosures). Acknowledgments – In this section, authors must recognize personal and technical assistance, as well as provide detailed information regarding all sources of grants and other modalities of material or financial support. References – Must be presented in Vancouver stile (“Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html]) in the same numerical order they were quoted in the text, as shown in the following examples. Articles: • Versiani M. A review of 19 double-blind placebo-controlled studies in social anxiety disorder (social phobia). World J Biol Psychiatry. 2000;1(1):27-33. • Appolinario JC, McElroy SL. Pharmacological approaches in the treatment of binge eating disorder. Curr Drug Targets. 2004;5(3):301-7. • Dekker J, Wijdenes W, Koning YA, Gardien R, Hermandes-Willenborg L, Nusselder H, et al. Assertive community treatment in Amsterdam. Community Ment Health J. 2002;38:425-34. Books: • Goodwin FFK, Jamison KR. Manic-depressive illness. New York: Oxford University Press; 1990. Book chapter: • Heimberg RG, Juster HR. Cognitive-behavioral treatments: literature review. In: Heimberg RG, Liebowitz MR, Hope DA, Scneier FR, editors. Social Phobia – Diagnosis Assessment and Treatment. New York: The Guilford Press, 1995. References to web pages: • Associação Brasileira de Psiquiatria – Diretrizes para a Indústria da moda. Recomendações da Comissão Técnica Brasileira de Grupos Especializados no Estudo e Tratamento de Transtornos Alimentares. Available at: http://www.abpbrasil.org.br/ newsletter/comissao_ta/diretrizes_moda.pdf. Accessed on: April 12, 2007. Tables and illustrations All tables and figures should be formatted in APA style (Publication Manual of the American Psychological Association, Sixth Edition). All of them must be numbered in Arabic numerals, with the respective legends. They should be in a digital format proper for reproduction. Each table must be self-explanatory, and must not repeat the information already present in the text. Places for table’s insertion must be clearly indicated in the text. Illustrations and photographs must be sent in high resolution files, format.tif or.jpg. Printing will be charged on the authors. Manuscript submission In order to reduce the time between manuscript submission and the editors’ final decision and eventual publication, the Brazilian Journal of Psychiatry has implemented an Editorial Manager internet-based submission and tracking system (www.editorialmanager.com/jbp). Therefore, the Journal no longer accepts submissions through e-mails. All manuscripts, with no exceptions, must be submitted through the Editorial Manager system. During the submission process the authors must provide a Title and a Running Head (no more than five words), indicate a corresponding author, include a concise abstract, add a cover letter and suggest four potential reviewers (attention: the suggested reviewers can not work at the same institution/department, have close relationships, or have published as a co-author with any of the authors). Lack of attention to this latter requirement can lead to rejection. Cover letter In the cover letter, authors must provide the complete name and affiliations of all authors and the contact information for the corresponding author (postal and e-mail addresses, telephone and fax numbers, etc.). Also, authors should explain why they consider the submitted article suitable for publication in the Brazilian Journal of Psychiatry, highlighting its relevance and innovative aspects. In addition, authors are required to clearly state that the manuscript represents original material, that has not been published previously, and that is not being considered for publication elsewhere. If authors received any assistance from technical writers and language editors while preparing the manuscript, such assistance must be noted in the cover letter along with the declaration that the author(s) is (are) entirely responsible for the scientific content of the paper. For being considered an author, each collaborator must meet all the following conditions: (1) had substantially contributed to conception and design or analysis and interpretation of data; (2) had substantially contributed to drafting the article or revising it critically for important intellectual content; and (3) had given the final approval of the version to be published. General supervision of the research group alone does not justify authorship. Participation solely in the acquisition of funding or the collection of data is also not sufficient. In order to assure that all these conditions are met, authors are required to include a statement regarding authorship, separately describing the role of each author in the study and manuscript preparation. If there is no statement regarding authorship in the cover letter, the paper will not be reviewed. After submission Peer review After receiving a manuscript through the Editorial Manager, editors will judge if it will be reviewed by the anonymous reviewers. Their decision will be based on the publishing scope of the journal, and on the structure, originality, and relevance of the manuscript to the field, and structure. Then, if the editors decide so, the manuscript will be submitted to at least two anonymous and independent reviewers (not necessarily those suggested by the authors). The Editors of the Brazilian Journal of Psychiatry strive to keep a rapid publication timeline. Generally, the process from manuscript submission to acceptance takes about three months. Authors will receive by e-mail the editors’ final decision, along with copies of the reviewer’s comments. In case of reviews, authors must return the final text with necessary changes (responding each item raised by the reviewers), according to the editors’ instructions. Authors must reproduce the reviewer’s comments before their answers. Including just the answers to the reviewer’s comments is not enough and can lead to delays in processing. All this process can be tracked by authors through Editorial Manager. Permission letter Authors are required to fill a permission letter and submit it along with the manuscript: “The undersigned authors hereby approves submission of this work and all subsequent for publication and transfer, assign, or otherwise convey all copyright ownership to the Brazilian Journal of Psychiatry. Also, the undersigned authors warrant that this work represents original material and does not infringe upon the copyright of any third party; that no part of the work has been published or will be submitted for publication elsewhere unless and until it is rejected by Brazilian Journal of Psychiatry. Finally, the authors agree to indemnify the Publisher against any loss or damages arising out of a breach of this agreement. In the event that our submission is not published, copyright ownership shall revert to the Author(s).” All authors need to sign this document, and include their complete name, addresses for postage, phone, and e-mail. This letter must be scanned and submitted for the Editors through the Editorial Manager System.